RELAÇÕES INTERPESSOAIS NO AMBIENTE ESCOLAR ANGELICA FARIA DE... · “É preciso toda uma aldeia...

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UNIVERSIDADE CÂNDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU” PROJETO VEZ DO MESTRE RELAÇÕES INTERPESSOAIS NO AMBIENTE ESCOLAR Por Maria Angélica Faria de Souza Peçanha Sardinha Prof. Orientador: Luiz Cláudio Lopes Alves RIO DE JANEIRO JUNHO/2003

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UNIVERSIDADE CÂNDIDO MENDES

PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”

PROJETO VEZ DO MESTRE

RELAÇÕES INTERPESSOAIS NO AMBIENTE ESCOLAR

Por Maria Angélica Faria de Souza Peçanha Sardinha

Prof. Orientador: Luiz Cláudio Lopes Alves

RIO DE JANEIRO

JUNHO/2003

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UNIVERSIDADE CÂNDIDO MENDES

PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”

PROJETO VEZ DO MESTRE

RELAÇÕES INTERPESSOAIS NO AMBIENTE ESCOLAR

Monografia apresentada como requisito parcial para a

conclusão do curso de pós-graduação Lato Sensu em

Administração Escolar.

Por Maria Angélica Faria de Souza Peçanha Sardinha.

Prof. Orientador: Luiz Cláudio Lopes Alves.

RIO DE JANEIRO

JUNHO/2003

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AGRADECIMENTOS

Agradeço primeiramente a Deus, por iluminar meus

caminhos. A minha família , à amiga Vanda pelo incentivo

e à amiga Denise pelo companheirismo durante todo o

curso.

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DEDICATÓRIA

Aos meus filhos – Mayara e Matheus - e a minha mãe – Eucy

– por me incentivarem e por compreenderem o fato de não

conseguir, neste período, reservar tempo suficiente para me

dedicar a eles.

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EPÍGRAFE

“Sendo superior, nunca repreendas ninguém com ira, mas

só depois que ela passar. Assim, a repreensão será mais

proveitosa”.

(Santa Teresa do Menino Jesus)

“É preciso toda uma aldeia para se educar uma criança”.

(Provérbio Africano)

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RESUMO

Este estudo visa analisar diferentes tipos de problemas referentes às relações

interpessoais no ambiente escolar, principalmente com relação ao gestor / dirigente, a

fim de que sejam desenvolvidas possíveis soluções que possam vir a tornar o ambiente

de trabalho mais agradável para todos.

Se faz relevante, afinal, que as relações interpessoais sejam pensadas e analisadas,

insistentemente, levando-se em consideração que todos os envolvidos são os meios de

solução dos problemas.

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SUMÁRIO INTRODUÇÃO 08

CAPÍTULO I 09

O FATOR HUMANO NAS ORGANIZAÇÕES 10

1.1- A autoridade 10

1.2- Incentivos 11

CAPÍTULO II 12

O PAPEL DO GESTOR EDUCACIONAL 13

2.1- A função pedagógica do Gestor Educacional 14

Influências nas relações interpessoais

CAPÍTULO III 16

OS FATORES QUE SÃO FORMAS DE SOLUÇÃO 17

DOS PROBLEMAS NAS ORGANIZAÇÕES EDUCACIONAIS

3.1- O projeto político-pedagógico 18

3.2- A gestão democrática como forma de solução 18

3.3- A importância da organização das pessoas envolvidas 21

e do bom relacionamento destas para a elaboração do

projeto político-pedagógico

CAPÍTULO IV 25

ESTUDO DE CASO 25

Gestores Educacionais no Município de São Gonçalo 26

CONCLUSÃO 29

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 31

ANEXOS 32

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INTRODUÇÃO

Existem problemas de relações interpessoais em todos os setores da vida: na

família, no comércio, no trabalho etc.

Pesquisas evidenciaram a existência dentro de um grupo social, de laços de

amizade, de simpatia ou mesmo de antipatia, que podem reforçar ou destruir o grupo (de

trabalho, familiar etc.).

O educador Paulo Freire analisou com clareza as relações, por exemplo, entre

autoridade e autoritarismo, onde a autoridade não abandona a generosidade, o clima de

respeito, a seriedade, a humildade nas relações. Enquanto o autoritarismo é o “mandar”,

que vai ser então incompatível com o exercício da autoridade.

Analisar as relações interpessoais para que essas possam vir a ser melhoradas,

humanizadas, se faz extremamente importante e saudável, sejam essas relações advindas

de um ambiente de trabalho ou não.

No Capítulo I serão abordados os desacertos e as diferenças no que se refere ao

fator humano nas organizações educacionais, bem como os incentivos significativos e

apropriados para que haja uma melhoria do trabalho produtivo de cada um.

No Capítulo II será apresentado o papel do gestor educacional dentro da

instituição, a função pedagógica que também possui (apesar de muitos não exercerem

tal função, na realidade), e as influências dos seus atos e de suas decisões nas relações

interpessoais.

No Capítulo III serão analisadas formas de solução para os problemas das

relações existentes no ambiente escolar e que poderão vir a tornar mais agradável e

rentável o trabalho de todos os envolvidos. Será verificado que o fator humano, que é o

causador dos problemas, também vem a ser a solução destes, para isso, uma gestão

democrática se faz necessária e vital para o sucesso da instituição.

No Capítulo IV será apresentado um Estudo de Caso referente ao Município de

São Gonçalo/RJ, onde ganhos foram adquiridos com o antigo governo (ex.: eleição

democrática para diretores de escola) e que vieram a “cair por terra” com a atual

administração. Tudo pelo bem da política e pelo descaso com a educação.

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CAPÍTULO I

O FATOR HUMANO NAS ORGANIZAÇÕES

Prova Quádrupla:

“- Disse a verdade?

- É eqüitativo para todos os interessados?

- Criará boa vontade e melhores amizades?

- Será vantajoso para todos?”

R.Taylor

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1 – O FATOR HUMANO NAS ORGANIZAÇÕES

As pessoas são semelhantes pelo fato de terem o comportamento causado,

motivado e dirigido para um fim.

Entretanto, são diferentes porque estão sujeitas a diferentes estímulos, variam no

que se refere à motivação e se comportam de modo diferente para alcançar essas metas.

Conviver com os outros nem sempre é fácil e mais difícil ainda é trabalhar com

pessoas estranhas, em contato diário.

Desta forma, as relações interpessoais no ambiente de trabalho, inclusive nas

organizações educacionais, variam em duração, distribuição de força, regras de

comportamento que podem, até mesmo, serem determinadas pelo ambiente de trabalho

e pelo grau de intimidade. Estes fatores irão influenciar em aspectos, tais como: ética na

relação, meios a serem empregados pelo indivíduo para satisfazer as suas necessidades

etc.

1.1 – A autoridade:

Segundo Dimock – Filosofia da Administração, (1968), as estruturas das

organizações parecem até ter sido projetadas com base na autoridade. Organizações

foram construídas em forma de pirâmides porque tal forma viria a facilitar o exercício

da autoridade.

As pirâmides criam diferenças de situação e os que estão nos degraus superiores

podem usar sua influência sobre os que estão nos inferiores.

Os “superiores”, numa organização, recorrem naturalmente à autoridade toda vez

que um problema de modificação surge entre os subordinados. De fato, o “superior” é

até mesmo considerado numa relação, como aquele que tem mais autoridade.

Entretanto, como qualquer outro instrumento, a autoridade pode ser usada com

habilidade ou não.

Alguns dirigentes ou gestores parecem supervisionar melhor com menos

autoridade do que com mais. Entretanto, alguns funcionam melhor com mais poder do

que com menos.

A questão não é apenas quanta autoridade, mas como ela é usada e por quem.

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As organizações, educacionais ou não, são lugares em que as pessoas não podem

fazer o que lhes agrada apenas, mas onde elas são obrigadas a submeter-se a regras e

padrões.

Se as pessoas viessem trabalhar quando sentissem vontade ou dissessem o que

tivessem vontade de dizer, nenhuma empresa ou instituição sobreviveria.

Assim, a autoridade é um instrumento importante que irá restringir

comportamentos, a fim de nivelar as variações individuais.

Se por um lado não se precisa saber muito bem sobre um determinado funcionário

para que um gestor venha a demiti-lo ou rebaixá-lo, por outro lado muito se precisará

saber sobre ele para descobrir como tornar o seu trabalho mais agradável.

Logo, restringir o funcionário utilizando a autoridade é um trabalho simples,

rápido e muitas vezes serve apenas para a satisfação pessoal do gestor.

O difícil é utilizar este instrumento para manter um trabalho homogêneo e um

ambiente agradável para todos, onde poderão, respeitando limites e regras, realizar um

bom trabalho, que agradará ao gestor, aos funcionários e aos clientes.

A autoridade deve se tornar, então, mais uma fonte de meios para ajudar os

“subordinados” a satisfazerem as suas necessidades.

O gestor / dirigente fará isto através de seu trabalho e não através de ameaças.

1.2 – Os incentivos:

O dinheiro é um incentivo significativo, porém não é o único. É mais apropriado

como incentivo individual, entretanto, o trabalho produtivo de cada um deverá servir de

acréscimo para a produção da organização como um todo.

Os planos dos gestores devem ser traçados focalizando todos os funcionários em

um objetivo comum da organização e não apenas na finalidade individual de cada um.

Esse interesse comum pela finalidade da organização resulta em mudanças

básicas nas relações entre os funcionários; entre funcionários e gestores, e, resulta,

assim, num nível maior de satisfação para todos.

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CAPÍTULO II

O PAPEL DO GESTOR EDUCACIONAL

“Quanto mais se eleva o indivíduo na atividade

administrativa, tanto mais verdadeira é a afirmação de que

ele tem que ser um especialista na capacidade de

generalizar, de maneira efetiva”.

Ordway Tead

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O PAPEL DO GESTOR EDUCACIONAL

O trabalho essencial do gestor educacional é criar as condições mais favoráveis a

um ambiente propício.

Deve saber o que está acontecendo na organização, deve confiar nas atividades de

seus auxiliares.

Quanto mais equilíbrio houver no gestor tanto maiores serão as probabilidades de

sucesso em seu empreendimento.

O gestor é equilibrado quando possui uma personalidade que o qualifica para uma

posição de liderança, inspirando confiança em outros e que não os trata como simples

peças de seus próprios desejos.

Tem equilíbrio quando seu senso de justiça dá a seus funcionários a segurança

necessária e quando demonstra que não tomará decisões baseadas em favoritismos ou

arbitrariedades. Quando tem visão para planejar, coordenar e combinar todos os

componentes da organização em um todo unificado e que funcione.

O gestor bem sucedido é aquele que detém equilíbrio mental, de personalidade, de

conhecimento técnico, de conhecimento dos funcionários, de julgamento, de

compreensão e que tem um senso de objetivo social e de direção.

Em uma instituição educacional, o gestor será bem sucedido se também conhecer

de perto a sua clientela.

Não só se tornam importantes as boas relações entre o gestor e seus funcionários,

como também entre este e seus clientes.

Para tal, o gestor deve ter capacidade para generalizações claras; interesse em

realizar e/ou construir; sensibilidade para exigir, porém, mantendo relações humanas

saudáveis; compreender a importância da comunidade e do trabalho organizado. Deve

ser um líder, eliminando obstáculos e desordens, mas ao mesmo tempo deve

desenvolver o espírito de grupo e estimular a sua integração, aceitando também

conselhos de seus funcionários e clientes.

Isto fará com que se sintam importantes e lisonjeados e poderão, até mesmo,

surpreendê-lo.

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O diretor / gestor é fator essencial para a implantação ou para o desenvolvimento

de qualquer inovação pedagógica e para o sucesso e/ou continuidade dos referidos

programas.

Ele irá mediar as relações entre o professorado e os órgãos e secretarias ligadas ao

sistema educacional.

Mas ele também criará, permitirá ou tolerará a abertura de novos espaços

necessários à transformação do cotidiano escolar.

A ação do diretor é fundamental no processo de construção de conhecimento e ele

irá, muitas vezes, determinar os limites e flexibilidades das normas que regulam o

comportamento das pessoas na instituição.

Entretanto, o papel do diretor foi-se definindo cada vez mais como o de

responsável pela parte burocrática. Mas para que o objetivo final da instituição se

concretize, a questão pedagógica deve ser discutida.

Há a necessidade de se compreender a instituição escolar como um local de

ensino e aprendizagem, no qual todos os indivíduos envolvidos podem ensinar e

aprender.

2.1 – A função pedagógica do gestor educacional (influências nas

relações interpessoais):

O diretor deve ser um líder pedagógico, ou seja, deve levar o professor a

desenvolver-se profissionalmente.

Precisa estar bem informado e motivado a “dividir” seus conhecimentos com os

outros, ou seja, deve estar atualizado em relação aos novos programas e metodologias;

deve participar de cursos, treinamentos etc.

Burocracia se aprende até sozinho, mas um líder pedagógico precisa de trabalho

coletivo, de colaboração.

Assim, interessante seria se diretores, professores e funcionários participassem

juntos das reuniões, cursos etc.. Isso seria uma forma de motivar e os problemas

experimentados por cada categoria seriam conhecidos mutuamente.

Como líder pedagógico, cabe ao diretor estar atento ao trabalho de cada professor,

incentivando. O que se observa, na maioria das vezes, é que a relação diretor-professor

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se baseia na fiscalização ou discussão sobre erros (disciplinares ou pedagógicos).

Poucas são as discussões críticas sobre situações inadequadas de ensino, em busca de

uma solução coletiva. Muito menos há referência à apreciações ou elogios aos esforços

e às boas realizações dos professores.

A sala do diretor não deve ser vista como o local onde se impõe disciplina (tanto

para os alunos quanto para os professores e os funcionários). Ela deve estar sempre

aberta, pois há o reconhecimento de que somente o exercício de funções burocráticas

não corresponde mais às necessidades de professores, funcionários, alunos, comunidade

etc.

O diretor precisa ser atuante.

Decisões impostas de cima para baixo têm, geralmente, resultados negativos. As

transformações necessárias só podem ocorrer através de um trabalho que envolva o

maior número possível de profissionais da escola para discussão e análise.

Cabe também ao diretor legitimar perante a comunidade, a família, as

reformulações dos métodos ou pedagógicos que estão ocorrendo dentro da escola.

O interessante é que aconteça essa modificação nas relações dentro da escola e

também com a comunidade, que irá levar a uma concepção de Educação como um ato

coletivo que não mais irá se centralizar na figura de uma só pessoa (professor ou aluno),

mas nas relações estabelecidas entre todos os indivíduos envolvidos, inclusive o diretor.

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CAPÍTULO III

OS FATORES QUE SÃO FORMAS DE SOLUÇÃO DOS

PROBLEMAS NAS ORGANIZAÇÕES EDUCACIONAIS

“Todos os homens se gabam do aperfeiçoamento da

sociedade e nenhum homem se aperfeiçoa.”

Ralph Waldo Emerson

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OS FATORES QUE SÃO FORMAS DE SOLUÇÃO DOS

PROBLEMAS NAS ORGANIZAÇÕES EDUCACIONAIS

A comunicação é o instrumento básico no que se refere a relações interpessoais,

pois serve tanto para coletar dados como para influenciar.

É um instrumento que efetua mudanças.

Assim, deverá ser utilizada com coerência por todos, principalmente pelo gestor

da organização educacional, a fim de que o trabalho discorra de forma harmoniosa,

prazerosa e eficiente, para atender com eficácia as necessidades de todos (do gestor-

líder, dos funcionários, professores e dos clientes).

A articulação do diretor com os demais profissionais da escola e com a

comunidade irá contribuir para formar, na escola, um coletivo de dirigentes. Assim, irá,

até mesmo, retirar do diretor a responsabilidade que lhe é atribuída quando uma escola

“naufraga”. O coletivo será responsável pelo fracasso ou pelo progresso da escola, pois

apoiou o diretor na tomada de decisões (apoiou ou se omitiu).

Atualmente, ganha força a proposta de não mais termos apenas um indivíduo na

direção de uma escola e sim um colegiado, formado por representantes de todos os

envolvidos no processo educacional.

É importante que o diretor tome consciência de que sozinho não pode administrar

todos os problemas e passa a compartilhar responsabilidades com alunos, professores,

funcionários e pais.

A escola é um espaço privilegiado de formação permanente, assim, os professores

podem decidir, coletivamente, o que precisam aprender para ensinar aos alunos (para

que seus alunos aprendam).

Com isso, o diretor precisa tratar o professor como se deseja que este trate o

aluno, também considerando suas condições concretas de existência e dando meios para

que construa conhecimentos que permita com que este possa interferir na realidade.

Quando todos participam das decisões que dizem respeito à escola, todos devem

avaliar os resultados obtidos através do seu trabalho, da sua participação.

Quando os alunos fracassam, não são somente eles que estão sendo “reprovados”,

mas, principalmente, todo o projeto político-pedagógico que se mostrou inadequado e a

escola precisa prestar contas disso à comunidade a qual serve.

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3.1 – O projeto político-pedagógico:

Em muitos campos de ação, inclusive e sobretudo na educação, sempre foram

importantes as idéias. Mas idéias não são realizadas na prática, servem apenas para

serem usadas como instrumentos para debates e para compreensões. Por isso, são

necessárias ferramentas para transformar idéias em prática, para tornar a escola um

espelho de todos os envolvidos.

O envolvimento dessa participação coletiva caminha para a realização do Projeto

Político-Pedagógico, que será baseado numa atitude solidária de todos os envolvidos

(pois se ajudarão ou auxiliarão compartilhando idéias e compreendendo o outro para a

construção do conhecimento coletivo).

Um Projeto Político-Pedagógico deve ser discutido, elaborado com a participação

e o engajamento de toda a comunidade escolar (direção, equipe técnico-pedagógica,

docentes, discentes, pais, funcionários e até mesmo membros da comunidade local),

para então caracterizar o aspecto político da sua construção.

Cabe ao projeto político-pedagógico objetivar a formação do cidadão capaz de

vivenciar a realidade de forma clara, tornando-se um indivíduo com autonomia,

participativo, crítico, consciente, que vise o bem comum.

O projeto assume sua função pedagógica a partir do momento em que a escola

explicita o seu posicionamento quanto ao processo ensino-aprendizagem.

É importante registrar que o projeto só terá validade a partir do momento em que

seja definido o seu perfil e deverá destacar princípios, tais como: solidariedade,

humanismo, ética, pluralidade cultural, diversidade, harmonia do ser humano com a

natureza.

Nessa busca para acertar na elaboração do projeto, a escola terá maiores

oportunidades de encontrar o seu verdadeiro perfil, dando assim, a si mesma, maiores e

melhores condições de atender às necessidades dos alunos, através dos docentes, da

equipe técnico-pedagógica, da equipe administrativa etc.

3.2 – A gestão democrática como forma de solução:

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Uma gestão democrática compreende: Conselhos Deliberativos (com

representantes de diversos segmentos da comunidade escolar), eleição de diretores de

escola pela comunidade escolar, autonomia financeira representada pelo repasse direto

dos recursos financeiros à escola (delegando a ela a responsabilidade pela forma de

utilização desses recursos).

Entretanto, ainda há um desacerto dos diretores com a democracia, ou seja, as

escolas ainda não conseguiram implementar processos democráticos em seu interior.

Algumas soluções podem ser:

- Construir uma gestão democrática ultrapassando uma série de limites impostos

pela sociedade (pela forma como ela está organizada) e exigindo dos diversos

segmentos da escola (professores, diretores, supervisores, funcionários, alunos, pais,

comunidade), a compreensão do que seja democracia.

- Incluir a participação direta de todos nas tomadas de decisões, pois o que ocorre

atualmente é a utilização de instrumentos democráticos, mas sem a implementação

de práticas democráticas (com a participação de todos)

Há a necessidade de se contar com a construção de um novo e diferente projeto de

escola. Um projeto que, mesmo financiado pelos governos, represente efetivamente os

anseios e as expectativas de todos os segmentos envolvidos.

Há muito tempo é negado à escola e a todos que nela atuam a possibilidade de

gerenciar democraticamente, através da descentralização da administração, dos recursos

financeiros, conferindo maior autonomia às escolas.

Exercer uma gestão democrática significa construir a identidade da escola,

conferindo a ela autonomia, principalmente para definir e elaborar o Projeto Político-

Pedagógico, que deverá ter:

- A participação dos profissionais da educação na elaboração do projeto da escola;

- A participação da comunidade escolar e dos conselhos escolares ou equivalentes.

É importante ressaltar que o pensamento educativo, nesse momento, permite a

utilização de novas ferramentas para a implementação de ações pedagógicas desta nova

escola que se quer, com qualidade.

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A primeira diz respeito à gestão democrática, onde a gestão não é só administrar

um bem, mas é a gestão de um serviço público. Assim, a participação e a democracia se

tornam ainda mais importantes dentro deste contexto.

Participar é fazer parte do todo, do conjunto, não somente colaborar com decisões

que já foram tomadas e sim participar da construção do trabalho atuando em todas as

questões. Todos estarão envolvidos nesse processo coletivo: o professor, o diretor, a

servente, a merendeira, o aluno etc.

Através de todos será conceituada a identidade da escola, que envolverá as

questões sociais, culturais, todos os sentimentos, desejos, vivências, características

próprias etc.

Na realidade, existiram e existem grandes lutas sociais contra a forma autoritária

de poder, pois esse tipo de atuação acaba por estabelecer relações desiguais nas quais

ficam evidentes quem são os dominantes e quem são os dominados, os governantes e os

governados e a escola (que é espelho da realidade em que vive), trará esse modelo

centralizador e transmitirá a todos essa forma de ver a realidade.

Entretanto, há a autonomia administrativa e a pedagógica.

Utilizar os recursos financeiros e deles dispor de maneira mais adequada para a

escola, são condições fundamentais para o exercício da autonomia na escola, dentro do

aspecto administrativo.

No entanto, os administradores não são somente professores e diretores. O uso

dos recursos disponíveis deverá ser administrado por todos os envolvidos na ação

escolar e por aqueles a quem a educação escolar se propõe a atender.

Assim como na autonomia administrativa, a pedagógica também esbarra nos

limites do Estado que tem como dever estabelecer um currículo mínimo necessário para

a formação do cidadão, até porque a educação não está voltada somente aos interesses

individuais, mas aos de toda sociedade.

Embora o Estado ofereça um conteúdo mínimo, cabe à escola organizar seus

métodos de ensino e conteúdos que serão de interesse do meio social do qual participa.

Vale ressaltar que projeto político-pedagógico é diferente de proposta pedagógica.

O projeto pressupõe a definição da escola que se deseja construir, a sua filosofia

que servirá de base para toda a dinâmica escolar. Estabelece as mudanças e as

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intervenções necessárias para a transformação da sociedade em que a escola está

inserida (sempre buscando uma sociedade mais justa e mais humana).

A proposta pedagógica inclui ações concretas, ou seja, como agir no sentido de

colocar em prática os conteúdos curriculares, mas levando-se em conta para esta

concretização a escola idealizada no projeto.

3.3- Importância da organização das pessoas envolvidas e do bom

relacionamento destas para a elaboração do projeto político-

pedagógico:

Vale salientar que, como todos deverão participar na elaboração do projeto,

necessário se faz que haja relações interpessoais saudáveis entre os envolvidos para que

se chegue a um resultado adequado à realidade da escola.

Alguns passos podem ser seguidos, que facilitarão a elaboração do projeto:

- Apresentação da proposta de formulação do projeto:

Reunião com os diretores, orientadores pedagógicos e orientadores educacionais

com a Superintendência de Educação para apresentação da proposta de trabalho do

projeto, destacando a definição do que seja Projeto Político-Pedagógico e as etapas

de formulação do projeto.

- Estruturação do trabalho de construção do projeto nas unidades escolares:

Reunião da equipe técnico-pedagógica da unidade escolar para:

• Debater sobre o que seja projeto; etapas de formulação do projeto;

divisões de tarefas entre a equipe; agenda e cronograma de trabalho.

- Encontros com a comunidade escolar (alunos, pais e responsáveis, professores e

funcionários), para:

• Discutir a necessidade da participação de todos os envolvidos na

definição de uma proposta administrativa e pedagógica coerente e adequada aos

anseios e às necessidades da escola;

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• Eleger representantes da comunidade escolar para fazer parte da

comissão que vai dar corpo ao texto final do projeto;

• Estabelecer a pauta de discussão dos encontros onde serão discutidos

vários temas, tais como:

«Finalidades da escola em seus aspectos culturais, políticos, sociais e tipo de

formação;

«Estrutura organizacional administrativa, que realiza a parte de recursos

humanos, físicos e financeiros e abrange todos os elementos de natureza física,

estado de manutenção do prédio e das instalações e equipamentos, materiais

didáticos, mobiliário, distribuição das dependências e espaços livres, limpeza,

iluminação;

«Estrutura organizacional pedagógica, que organiza as funções educativas para

que a escola atinja de forma efetiva as suas finalidades e irá tratar sobre as

interações políticas, as questões de ensino-aprendizagem e as questões de

currículo.;

«Organização curricular;

«Rendimento do tempo e espaços escolares – calendário, horário;

«Processo decisório, para minimizar as relações hierárquicas de mando e

submissão e para tal sugere-se que haja processos eletivos de escolhas de

dirigentes e regras de rotatividade nos cargos, participação e representação dos

diversos segmentos da comunidade – interna e externa -, processos coletivos de

avaliação dos serviços;

«O processo de avaliação, que envolverá três momentos: descrição da realidade

escolar, compreensão da realidade e proposição de alternativas de ação, criando

coletivamente alternativas para solução dos problemas. A avaliação deve ser

democrática para que haja um diagnóstico correto para os problemas existentes.

Vale também sugerir um roteiro para a elaboração do documento que registrará o

projeto político-pedagógico a ser desenvolvido pela escola, ressaltando, entretanto, que

as escolas têm autonomia para elaborar o seu próprio roteiro:

- Identificação da escola

• Nome da escola e seu significado;

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• Endereço completo, telefone, fax etc.;

• Nome do projeto (de acordo com a filosofia da escola);

• Dados da equipe que é responsável pela direção e condução dos trabalhos

na escola;

• História da criação da escola e da escolha do patrono.

- Missão da escola

• O propósito da escola;

• Para onde se deseja caminhar;

• Os desejos dos professores;

• As aspirações da comunidade escolar;

• O que a Lei determina como finalidade da escola.

- Objetivos

• Que devem ser vinculados aos propósitos já descritos e devem detalhar

como será aplicada a Lei 9394/96.

- Estrutura organizacional da escola

• Fluxo dos trabalhos desenvolvidos na escola;

• Dinâmica sobre como se toma uma decisão na escola, quais são os

agentes dessa decisão, se existem Conselho de Classe e Conselho Escolar.

- Estrutura dos cursos e fluxo de currículo

• Grade curricular aprovada e discutida pelos professores, levando-se em

consideração a interdisciplinaridade, as inter-relações existentes entre as matérias

trabalhadas.

- Proposta pedagógica da escola

• É necessário que se tenha conhecimento da parte teórica que dará

embasamento à prática pedagógica;

• As metodologias mais usadas pelos professores.

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- Biblioteca ou sala de leitura

• O incentivo à leitura é essencial. Se não houver na escola biblioteca ou

sala de leitura podem ser descritas as atividades que a escola realiza para

incentivar o hábito da leitura.

- Anexos

• A escola pode incluir os anexos que desejar.

As relações interpessoais na escola e da escola com a comunidade deverão ser

sempre apoiadas em solidariedade, reciprocidade, participação coletiva. É importante

não fugir dos conflitos e dos atritos que ocorrem durante as discussões e debates para a

elaboração do projeto. Estes conflitos e atritos devem ser confrontados e servirão como

oportunidades de viabilizar condições de novas relações de trabalho que venham a

favorecer o diálogo entre os diferentes segmentos.

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CAPÍTULO IV

ESTUDO DE CASO

GESTORES EDUCACIONAIS NO MUNICÍPIO DE SÃO

GONÇALO/RJ

SETOR PÚBLICO MUNICIPAL

“Uma escola assim – aberta, viva, em constante interação

com a realidade, dirigida democraticamente, sem excluir ou

desqualificar ninguém (...) passa a articular interesses da

maioria da população”.

Madza Julita Nogueira

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GESTORES EDUCACIONAIS NO MUNICÍPIO DE SÃO

GONÇALO/RJ (SETOR PÚBLICO MUNICIPAL)

Houve um enorme ganho para toda a classe ligada à Educação no município de

São Gonçalo/RJ, quando, na antiga administração da Prefeitura Municipal, foi garantida

a eleição para escolha dos gestores escolares.

Professores, funcionários e comunidade poderiam, então, escolher dentre os que

se candidatassem, o gestor que possuísse perfil e qualidades que agradassem à maioria e

pudesse administrar a instituição educacional com maior eficiência e eficácia.

Entretanto, nesta atual administração houve um retrocesso.

Por questões meramente políticas, a eleição de diretores de escola foi substituída

por indicações de políticos.

Assim, a democracia foi substituída pela imposição.

Com isso, antigos gestores que já não eram mais queridos neste cargo, tanto pela

comunidade como pelos professores e funcionários, permaneceram em seus lugares pois

foram indicados por políticos que não estavam nem um pouco preocupados com a

Educação. Bem como excelentes gestores foram exonerados de seus cargos para dar

lugar a parentes de políticos que sequer sabiam redigir ou expressar-se verbalmente.

A cidade de São Gonçalo possui uma gestora que, apesar de possuir nível

superior (escolaridade), fala “a gente vamos”, “a gente temos”; tudo que é por ela

redigido tem de ser corrigido por uma pessoa que a esteja auxiliando, pois escreve

“bombeiro idráucolo” (ao invés de bombeiro hidráulico), o piso está “estofado” (ao

invés de estufado), e que, ao ter que redigir umas poucas palavras para serem

discursadas em homenagem a uma vereadora local, se dirige a ela com a palavra

“saudosa” (expressão usada quando nos referimos a alguém que já faleceu).

Esta gestora conta com a sorte de ser assessorada por pessoas competentes que

corrigem os seus inúmeros erros para que ela não venha a passar por constrangimentos

junto à comunidade e à Secretaria de Educação.

Vale ressaltar que os erros mencionados foram apenas alguns poucos exemplos e

que, pela quase total falta de conhecimento técnico e pedagógico, esta gestora vem a

demonstrar seu “poder” utilizando-se do instrumento ´autoritarismo`. Como todos os

que a cercam passam a ser uma ameaça ao seu “trabalho”, a saída é impor situações que

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façam com que todos percebam quem é que manda. Isso, nas poucas vezes em que

aparece na escola.

Não é difícil imaginar o ambiente de trabalho que se criou nesta instituição

educacional (onde educação deveria ser prioridade).

Em contatos realizados com professores e funcionários de outras escolas,

verificou-se que esta forma de tratamento para com os “subordinados” também acontece

em inúmeras outras instituições educacionais municipais.

Toda esta problemática não é causada necessariamente por culpa da Secretaria de

Educação, pois esta veio a pressionar os políticos do local (inclusive o Prefeito), para

que ocorressem as eleições para diretores de escola. Entretanto, a Política prevaleceu

sobre a Educação, ao invés de andarem juntas.

A conseqüência disso tudo está sendo vivenciada em inúmeras escolas do

município em questão. Professores e funcionários com problemas de relacionamento

(entre si, com os gestores e até mesmo com os alunos e seus responsáveis); uma

proliferação de “educadores” descompromissados com a Educação; uma proliferação de

gestores que passam a prejudicar o trabalho de toda a equipe (pedagogica e

administrativamente); etc.

Um exemplo claro é o esforço da Secretaria de Educação para conscientizar os

professores da importância do seu papel junto aos alunos, comunidade etc., realizando

palestras, seminários, cursos de formação continuada, cursos sobre ciclos (implantado

no município, mas ainda não compreendido pela maioria dos gestores e dos

professores), cursos sobre os Parâmetros Curriculares Nacionais e os Referenciais

Teóricos etc.. Todos gratuitos e em horários diversos, inclusive aos sábados, para que

todos tenham acesso a eles. Entretanto, pouquíssimos são aqueles que se inscrevem ou

freqüentam para que venham a adquirir maiores conhecimentos e se capacitarem ainda

mais.

Ademais, com a aprovação do Plano de Cargos e Salários, aquele que apresentar

certificado de conclusão de cursos ou eventos como estes, receberão gratificação de 3%

(três por cento) em seus contracheques. Nem assim há interesse destas pessoas da Rede

Municipal.

O motivo é óbvio. Os próprios gestores não freqüentam os cursos ou seminários

etc.. Como querem estimular os professores a freqüentarem?

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Os professores são “massacrados” por cobranças muitas vezes sem fundamento e

até grosseiras realizadas pelos gestores e ainda devem permanecer animados para

cumprir o seu papel dentro e fora da sala de aula.

Não se está nesse momento se falando em aumento salarial (é claro que seria bem

vindo), mas sim em : presença do gestor na escola, e, com postura e atuação de um

líder, trabalhando junto com a equipe, abrindo caminhos para esta “passe” com maior

facilidade, retirando alguns obstáculos, exigindo o cumprimento de regras sem humilhar

ou menosprezar seus funcionários; gestores que dão o exemplo, estudando, se

atualizando, participando de cursos, seminários etc., juntamente com a equipe; gestores

que venham a possuir conhecimento pedagógico e administrativo para desempenhar

bem a sua função dentro da instituição.

Cobrar um trabalho correto da equipe sem que se tenha conhecimento algum (ou

quase nenhum) é a realidade de muitos gestores no município em questão.

E, com todo o exposto, além de tornar difícil as relações interpessoais e um

ambiente de trabalho nada saudável, quem acaba por “pagar a conta” é o aluno.

Há a necessidade de se levantar questões de relacionamento dentro do ambiente

escolar, afim de que as relações sejam humanizadas.

Se queremos “educar para a cidadania”, devemos nos apossar primeiramente

desta idéia, colocando-a em nossas vidas, nas nossas ações (inclusive e principalmente

os gestores educacionais).

A democratização das relações de poder dentro da escola faz parte da escola que

se preocupa com a cidadania (“escola cidadã”).

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CONCLUSÃO

As relações interpessoais são uma arte. A arte de se dar bem com os outros, de

obter e conservar a cooperação e a confiança dos membros do grupo.

As relações que se desenvolvem entre as pessoas dependem das atitudes, da

personalidade de cada um e de uma escala de valores.

Se olharmos todos os setores da vida moderna, verifica-se que o homem não pode

viver nem trabalhar sozinho.

O homem não pode progredir isolado, cada indivíduo é uma personalidade

diferente do outro indivíduo.

Na escola, para um bom entrosamento entre os diretores, professores,

manipuladores e outros funcionários, torna-se necessário estabelecer vínculos

duradouros de confiança, equilíbrio e segurança, respeitando opiniões, explicando

decisões, respeitando sentimentos e emoções alheias, dando liberdade de pensamento

etc..

Uma escola aberta, viva e que constantemente esteja integrada com a realidade,

dirigida democraticamente, que não exclua ou desqualifique ninguém é aquela que irá

articular os interesses e as necessidades de todos.

O nome “diretor” passa a ser questionado e vem ganhando força a proposta de

uma direção exercida por vários envolvidos, não apenas por um único indivíduo.

O diretor deve se conscientizar de que sozinho não pode administrar todos os

problemas existentes na instituição em que atua e que compartilhar responsabilidades

fará com que seu trabalho se torne mais fácil e fará também com que o seu

relacionamento para com os demais se torne mais democrático e humanizado.

Como a compreensão entre os homens deve ser uma das finalidades da educação,

devemos começar a dar exemplos para aqueles que estão se espelhando em nós

educadores (alunos, comunidade, sociedade em geral).

A escola tem o poder de exercer uma prática transformadora, de construção

crítica. Os diretores, coordenadores, professores, têm o poder para transformar a

sociedade, tornando-a mais justa, mediante conquistas lentas, mas contínuas.

Desta forma podemos concluir que através de nossas atitudes, de nossas

relações interpessoais dentro do ambiente de trabalho (no caso do ambiente escolar),

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podemos demonstrar aos que nos observam e trocam aprendizados conosco, que a

educação que pregamos é um instrumento de equalização social ou de discriminação

social.

Concluímos ainda que também depende dos exemplos que damos, o futuro

daqueles que estamos educando.

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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

DIMOCK, Marshall E., Filosofia da Administração. Biblioteca do dirigente moderno. 2ª

ed. Rio de Janeiro: Editora Fundo de Cultura S/A, 1968.

LEAVITT, Harold J. Direção de empresas. Biblioteca do dirigente moderno. 4ª ed. Rio

de Janeiro. Editora Fundo de Cultura S/A, 1968.

- SALTO PARA O FUTURO: Um olhar sobre a escola / Secretaria de Educação a

Distância. Brasília: Ministério da Educação, Seed, 2000.

WEIL, Pierre. Relações humanas na família e no trabalho. São Paulo: Companhia

Editora Nacional, 1958.

NOGUEIRA, Madza Julita. Diretor / Dirigente: a construção de um projeto pedagógico

na escola pública. Artigo da Série Idéias n.º 15. São Paulo: FDE, 1992.

TORRES, Artemis e GARSKE, Lindalva Maria N. Diretores de escola: o desacerto com

a democracia. Artigo da publicação Em Aberto n.º 72. Brasília: INEP, 2000.

LIMA, Elvira Cristina de Azevedo Souza. A escola e seu diretor: algumas reflexões.

Artigo da Série Idéias n.º 12. São Paulo: FDE, 1992.

- PROJETO POLÍTICO-PEDAGÓGICO – ÉTICA, AUTONOMIA, CIDADANIA,

PARTICIPAÇÃO. Prefeitura Municipal de São Gonçalo. Secretaria Municipal de

Educação, 2002.

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ANEXOS

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