Relatório 3 – Químicos para mineração

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Autoria e Edição de Bain & Company 1ª Edição Fevereiro 2014

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Este trabalho foi realizado com recursos do Fundo de Estruturação de Projetos do BNDES (FEP), no âmbito da Chamada Pública BNDES/FEP No. 03/2011. Disponível com mais detalhes em <http://www.bndes.gov.br>.

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Potencial de diversificação da indústria química Brasileira - Relatório 3

Índice

Químicos para beneficiamento de minérios ..................................................................................... 4

1. Condições de demanda ............................................................................................................... 4

1.1. A indústria de mineração no Brasil ................................................................................... 4

1.2. Químicos para mineração ................................................................................................... 6

1.3. Químicos para beneficiamento de minérios ..................................................................... 7

1.4. Perspectivas tecnológicas e de demanda ........................................................................ 11

2. Fatores de produção .................................................................................................................. 12

2.1. Matérias-primas ................................................................................................................. 12

2.2. Recursos humanos ............................................................................................................. 13

2.3. Infraestrutura e logística ................................................................................................... 13

2.4. Ambiente Regulatório ....................................................................................................... 13

3. Dinâmica da Indústria ............................................................................................................... 14

4. Diagnóstico ................................................................................................................................. 15

5. Linha de ação .............................................................................................................................. 16

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ................................................................................................ 17

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Químicos para beneficiamento de minérios

A mineração é um dos maiores setores da economia brasileira. Em 2012, o setor representou 4,2% do PIB e 20% do total de exportações do País1. Além disso, estima-se que a cadeia de mineração seja responsável por 2,2 milhões de empregos2.

A cadeia produtiva da mineração inclui diversos subgrupos de químicos. Estes subgrupos foram classificados, por este Estudo, em segmentos químicos distintos. O presente Relatório dedica-se ao subgrupo “químicos para beneficiamento de minérios”.

1. Condições de demanda

1.1. A indústria de mineração no Brasil

A indústria extrativa mineral brasileira atingiu em 2012 uma produção equivalente a 51 bilhões de dólares. Apesar de um leve desaquecimento em 2012, ao longo dos últimos cinco anos a atividade mineradora cresceu em ritmo acelerado, com uma taxa média superior a 16% ao ano entre 2008 e 2012, conforme exibido na Figura 1.

Figura 1: Valor da produção mineral no Brasil

O setor de mineração é base para diversas cadeias produtivas e tem ganhado relevância frente ao PIB do País, saindo de 3,2% de participação no PIB brasileiro em 2000 para 4,2% em

1 IBRAM (INSTITUTO BRASILEIRO DE MINERAÇÃO) 2 IBRAM

Nota: incluindo fosfato, potássio e agregados (areia e pedra britada); valores estimados para o ano de 2012Fonte: IBRAM

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20123. Este crescimento foi impulsionado pela expressiva demanda chinesa por commodities minerais. Atualmente, a China é responsável por cerca de 50% da demanda mundial por minério de ferro, sendo também o destino de mais da metade das exportações brasileiras deste mineral4.

As perspectivas de crescimento da indústria de mineração devem continuar positivas. O nível de investimentos recentes e planejados para o setor deve gerar um aumento do volume de produção nos próximos anos. O investimento previsto para a indústria de mineração brasileira no período de 2012 a 2016 é de 75 bilhões de dólares, 20% superior ao investimento projetado no período de 2010 a 20145.

O minério de ferro é o produto mais representativo em termos de volume produzido. Em 2011, foram produzidos 369 milhões de toneladas de minério de ferro. Em segundo lugar aparece a bauxita, com uma produção de 31 milhões de toneladas. Uma série de outros minerais compõe um menor volume de produção, como manganês, cobre, ouro e nióbio. A Figura 2 a seguir ilustra o volume de produção no Brasil por tipo de minério, para os 10 principais minérios produzidos no Brasil em 2011.

Figura 2: Produção mineral por tipo de minério

O uso de produtos químicos é de grande importância no processo produtivo da mineração. Eles estão diretamente relacionados à produtividade e à eficiência dos processos de mineração, desde a etapa de extração até a recuperação dos recursos naturais utilizados para tal. Esses produtos facilitam a exploração e a produção dos minérios e, portanto, influenciam diretamente na rentabilidade das empresas mineradoras. Percebe-se que as necessidades dessas empresas se tornam cada vez mais sofisticadas. Isso ocorre principalmente por dois motivos: (i) à medida que as reservas mais ricas vão se exaurindo, as empresas avançam suas frentes de lavra e de exploração para reservas mais pobres e de maior complexidade,

3 MME 4 DNPM e IBRAM 5 IBRAM

Fonte: IBRAMNota: Exclui produção dos agregados minerais

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exigindo químicos mais especializados e de maior tecnologia; e (ii) existe uma tendência cada vez maior de extração de minerais a partir de depósitos polimetálicos6, os quais exigem maior complexidade no processo de extração.

1.2. Químicos para mineração

O mercado mundial de químicos para mineração é estimado em 18,7 bilhões de dólares em 2012 e apresenta tendência positiva de crescimento no Brasil e no mundo7. Este grupo de químicos abrange produtos com uso em todas as etapas da cadeia de processamento dos minerais e pode ser dividido em quatro subgrupos de acordo com suas aplicações: (i) “explosivos e perfuração”; (ii) “processamento/beneficiamento”; (iii) “tratamento da água e resíduos”; e (iv) “outros químicos”.

O subgrupo de explosivos e perfuração inclui os químicos usados durante o estágio de preparação da mina. Os químicos para processamento e beneficiamento são os químicos utilizados após o minério ser extraído do solo, por exemplo, no processo de separação do mineral e dos resíduos do solo. O subgrupo de químicos para o tratamento de água e resíduos inclui os produtos químicos utilizados no tratamento de água de mina, que ocorre predominantemente durante a fase de fechamento da mina, quando a área minerada deve ser reabilitada. Por fim, o subgrupo “outros” inclui demais tipos de produtos químicos usados durante o processo de extração. A participação de mercado de cada um destes subgrupos, assim como o crescimento histórico acumulado e a projeção para os próximos anos podem ser observados na Figura 3.

Figura 3: Crescimento e projeção do mercado global de químicos para mineração

6 Entrevistas com participantes da indústria de mineração. 7 Global Industry Analysts

Fonte: Global Industry Analysts, Análise Bain/Gas Energy

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As projeções para o mercado de químicos para mineração indicam que o mercado global deve crescer a uma média de 5% ao ano até 2018.

Apesar da relevância do mercado descrito, deve-se ressaltar que, para fins deste Estudo, os produtos dos grupos “explosivos e perfuração”8, “tratamento de água e resíduos” e “outros” foram classificados em segmentos distintos, os quais acabaram não sendo priorizados durante a análise multicritério9 na Fase 2 do Estudo. Para o presente Relatório, serão abordados apenas os produtos referentes ao grupo de “processamento/beneficiamento de minérios”. Dessa forma, considerando o escopo desse Relatório, o mercado de químicos para beneficiamento de minérios tem valor total de mercado estimado em 4,6 bilhões de dólares no ano de 201210, representando aproximadamente 23% do valor total do mercado global de químicos para mineração.

1.3. Químicos para beneficiamento de minérios

O segmento de químicos para o beneficiamento de minérios congrega uma ampla variedade de produtos que costumam ser classificados de acordo com sua função no processo produtivo11. Dentro deste grupo, estão incluídas categorias de produtos como espumantes, floculantes, depressores, solventes, dentre outros. Os tipos e a quantidade dos químicos a serem utilizados neste processo de beneficiamento dependem da composição do minério e dos tipos de minerais a serem recuperados, portanto, cada região ou mesmo mina diferente utiliza combinações distintas e específicas.

A Figura 4 a seguir apresenta os principais produtos utilizados nesta etapa e suas respectivas funções.

8 Apesar do maior valor de mercado do subsegmento de explosivos, a maior parte deste mercado está relacionada à exploração de minas de carvão na Ásia 9 Maiores detalhes sobre a ferramenta multicritério e o processo de classificação os segmentos podem ser encontrados no relatório 2, disponível em www.bndes.gov.br 10 Global Industry Analysts 11 O beneficiamento do minério inclui os processos de flotação, lixiviação, extração e amalgamação dos minerais.

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Figura 4: Aplicação e produtos utilizados no beneficiamento dos minerais

Dos químicos utilizados no processo de beneficiamento, grande parte são commodities, como xantatos, cal e ácido clorídrico. Alguns químicos com este tipo de aplicação também são demandados por outros setores. Em boa parte dos casos, estes outros setores consomem um volume maior destes químicos do que o setor de mineração. Por essa razão, para fins deste Estudo, esses produtos foram classificados e analisados em outros segmentos da indústria química, nos quais possuem maior relevância.

A Figura 5 ilustra alguns exemplos de químicos com aplicações no beneficiamento de minérios e em outras indústrias. Estes produtos foram selecionados pela sua relevância na etapa de processamento de uma diversa gama de minerais.

Figura 5: Apresentação e aplicação dos químicos para beneficiamento de minérios

Espumantes promovem a separação física entre os minerais (porção flotante) e a polpa (contendo os resíduos minerais)

Floculantes são coletores que se ligam aos minerais, mantendo-os juntos durante o processo de flotação

Depressores inibem a flotação de minerais, sendo utilizados para melhorar a seletividade dos processos de flotação

Solventes são usados para separar ainda mais os minerais após a flotação, num processo de tratamento adicional

São importantes para separar e coletar materiais durante o processo de beneficiamento

• Metil isobutilcarbinol (MIBC)

• Óleo de pinho (de tall)

• Certos álcoois

• Polipropilenoglicóis

• Xantatos

• Sulfonatos de petróleo

• Aminas graxas

• Ditiofosfatos

• Tionocarbamatos

• Cal

• Silicato de sódio

• Hidrosulfureto

• Dicromatos

• Acido Clorídrico

• Cianeto de sódio

• Ácido sulfúrico

• Soda cáustica

• Ativadores

• Antiescalantes

• Aglomerantes

• Extratores

• Dispersantes

• Controladores de pH

FLOCULANTESESPUMANTES DEPRESSORES SOLVENTES OUTROSFu

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ADITIVOS PARA PROCESSAMENTO / BENEFICIAMENTO

Fonte: Environmental Protection Agency (EPA); Entrevistas com especialistas; Análise Bain / Gas Energy

Fonte: AliceWeb; The Essential Chemical Industry - online; Dow; Análise Bain / Gas Energy

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Apesar do ácido sulfúrico e da soda cáustica serem importantes no processo de beneficiamento do minério, estima-se que apenas 5 a 10% do volume desses químicos seja destinado a aplicações no segmento de mineração. Desta forma, a soda cáustica foi agrupada, na Fase 1 deste Estudo, no segmento “cloro e álcalis” e o ácido sulfúrico, classificado no segmento de “ácidos inorgânicos”. O MIBC12, que é um produto químico importante para o processamento do cobre e da bauxita, é usado principalmente no segmento de lubrificantes e, por isso, será tratado neste segmento. Dessa forma, o Consórcio focou suas análises em produtos químicos para beneficiamento de minério que não foram incluídos em outros segmentos do Estudo.

Avaliando a distribuição geográfica do mercado de químicos para beneficiamento de minérios, a região da Ásia-Pacífico surge como a mais relevante, seguida por Estados Unidos, Europa e África do Sul. A evolução da demanda de químicos para beneficiamento de minérios por região do globo nos últimos anos pode ser observada na Figura 6.

Figura 6: Mercado total de químicos para beneficiamento por região

Dados específicos sobre o tamanho do mercado brasileiro não são públicos, porém é possível estimar um intervalo de valor para esse mercado. Utilizando mercados de porte comparável ao brasileiro, como os mercados de Canadá e África do Sul, pode-se estimar que o mercado nacional de químicos para mineração esteja entre 190 e 250 milhões de dólares em 2012, dadas as proporções existentes entre a produção mineradora nestes países e suas respectivas indústrias de químicos para mineração.

Tendo em vista a composição das reservas minerais do Brasil, onde o minério de ferro predomina com ampla vantagem como o principal produto em volume, é importante entender os químicos utilizados no seu beneficiamento. A Figura 7 apresenta uma

12 MIBC (Metil Isobutil Carbinol) é utilizado principalmente na produção de químicos de óleo lubrificante (cerca de 70% do consumo), como um espumante de flutuação para o tratamento de minérios (cerca de 20%) e como um químico para revestimentos de superfície.

Fonte: Global Industry Analysts, Análise Bain/Gas Energy

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estimativa da demanda de químicos utilizados ao longo do processo de beneficiamento do minério de ferro. Dentre os três grupos, fundentes se apresenta como o grupo mais relevante em volume, seguido por aglomerantes e reguladores de pH e outros químicos enquadrados no grupo de “outros usos”.

Figura 7: Demanda por químicos para beneficiamento de minério de ferro (2012)

Com relação à balança comercial, levando em conta a totalidade dos químicos que possuem aplicações em beneficiamento, estima-se um valor total de importações de 93 milhões de dólares para os químicos para beneficiamento de minérios13. Contudo, considerando apenas os produtos que serão aprofundados neste segmento pelo Consórcio, o valor total de importações é reduzido para 39 milhões de dólares em 2012 (0,2% do total de importações da indústria química no ano). A Figura 8 traz o detalhamento da evolução das importações e exportações desde 2008.

13 Este valor considera a totalidade dos químicos com aplicação em beneficiamento ponderada pela proporção de seu volume utilizada no segmento de mineração.

Fonte: Entrevistas com players da indústriaNota: *Estes números excluem os explosivos, não enquadrados neste segmento pelo Consórcio.

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Figura 8: Balança comercial do Brasil no grupo de químicos para beneficiamento de minérios

A especificidade do produto final e o baixo valor agregado da maior parte dos produtos utilizados neste segmento são fatores que explicam porque a corrente de comércio deste subgrupo é tão pequena em relação ao tamanho do mercado. O preço médio dos químicos para mineração importados em 2012 foi de 0,31 dólares por quilo, incluindo-se os produtos classificados em outros segmentos, o que demonstra o caráter de commodity do segmento.14

1.4. Perspectivas tecnológicas e de demanda

Como descrito, a indústria de mineração nacional é dominada pela produção do ferro, que ao contrário de metais mais valiosos, como ouro ou cobre, requer processos de separação e beneficiamento mais simples e menor uso de químicos, pois o mineral aparece em concentrações elevadas nas minas onde é extraído15. Essa natureza distingue a demanda da indústria brasileira de outros produtores na América Latina, como, por exemplo, o Chile, onde a maioria da produção é de cobre, um minério normalmente encontrado em depósitos polimetálicos e que necessita de maior uso de químicos no processo de extração.

As perspectivas tecnológicas e de demanda para químicos para beneficiamento de minérios nos próximos anos, tanto no Brasil quanto no mundo, são baseadas em três principais tendências:

• Aumento dos volumes de produção de minérios; • Redução do teor dos minérios nas minas em exploração; • Regulações mais restritas para sustentabilidade e meio ambiente.

14 Aliceweb; análise Bain 15 Informações cedidas através de entrevistas com especialistas do setor.

Nota: O segmento “classificado em outros segmentos” derivou do percentual médio dos outros químicos utilizados embeneficiamento de minériosFonte: Aliceweb; Análise Bain / Gas Energy

Imp.

Exp.

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Enquanto a primeira tendência impulsiona a demanda por químicos para beneficiamento de minérios em geral, a segunda e a terceira impulsionam a demanda por químicos mais sofisticados, capazes de recuperar minerais em jazidas com baixo teor de minério, sem causar grandes impactos ao meio ambiente.

Com o desenvolvimento da atividade mineradora, cada vez mais ocorre a exploração em minas de menor qualidade e que, portanto, possuem menor teor de minérios para extração. Para permitir a exploração de minério neste tipo de condições, faz-se necessário o uso de químicos com maior tecnologia incorporada, os quais garantem maior eficiência na recuperação dos minérios.

Devido à diversidade de minas em todo o mundo e à dificuldade de se estabelecer processos padrão para a extração de minérios, o mercado de especialidades químicas para beneficiamento de minérios tem evoluído. Atualmente é observada a entrada de uma gama de produtos neste subgrupo como, por exemplo, espessantes, diluidores, ácidos, coletores e cianetos. Assim, o que se espera é que as especialidades químicas para o segmento de beneficiamento de minérios ganhem importância à medida que cada projeto/operação exigir produtos químicos com diferentes composições.

Essa tendência deve incentivar o investimento em pesquisa e desenvolvimento de alguns produtos de maior valor agregado no médio prazo, embora a maior parcela do mercado continue sendo composta por commodities de baixo preço médio.

2. Fatores de produção

2.1. Matérias-primas

Uma grande parte dos produtos químicos utilizados para mineração são provenientes de fontes inorgânicas, como o cianeto de sódio16. Outra parte envolve químicos orgânicos derivados de petroquímicos como o propeno (por exemplo, propilenoglicol, produzido a partir da hidratação do óxido de polipropileno e usado como espessante). Finalmente, alguns químicos desse segmento são óleos (por exemplo, pinho e tall oil17) e álcoois (por exemplo, álcoois alifáticos e aromáticos), são usualmente subprodutos de outros processos industriais como, por exemplo, a produção de papel. Essas matérias-primas são relativamente disponíveis em muitos mercados.

Mesmo dispondo dos principais insumos localmente, o Brasil não apresenta vantagem clara em matéria-prima na produção de produtos químicos para beneficiamento de minérios, quanto à disponibilidade, qualidade e custos.

16 De acordo com a GIA, os químicos para mineração oriundos de fontes inorgânicas representaram 57% do mercado global em 2013 17 Também conhecido como crude tall oil (CTO), é um produto extraído do subproduto da fabricação de celulose de fibra longa composto de ácidos graxos e ácidos resinosos.

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2.2. Recursos humanos

Um desafio para o setor de químicos para beneficiamento de minérios é a falta de mão-de-obra qualificada na indústria a jusante: a indústria extrativa mineral é um dos setores com maior dificuldade relacionada à mão-de-obra. 36% das empresas de mineração afirmam que a falta de mão de obra qualificada prejudica a qualidade dos produtos18. Esta dificuldade impacta o segmento de químicos para beneficiamento de minérios, pois o processo de especificação e aplicação destes produtos depende de mão-de-obra qualificada para sua correta execução.

2.3. Infraestrutura e logística

A cadeia da mineração também é fortemente impactada por fatores como infraestrutura e logística. Mesmo antes do início da exploração mineral efetiva, a infraestrutura já é um fator determinante na priorização de áreas e na decisão sobre o estabelecimento de novos projetos. O Plano Nacional de Mineração (PNM-2030) cita que a má qualidade da infraestrutura no Brasil tem se apresentado como um problema para a atração de investimentos do setor no país, dada a relevância da logística para a viabilização de novos projetos de mineração.

Os custos de transporte e logística representam fatores relevantes no custo final e na decisão de compra do cliente no segmento de químicos para mineração. A logística pode ser responsável por até 20% do custo dos produtos químicos, dado o baixo valor agregado destes e suas margens reduzidas de comercialização19. Além disso, vários reagentes de mineração, tais como os xantatos, apresentam componentes instáveis, são tóxicos e podem sofrer combustão espontânea, sendo considerados perigosos quando transportados, o que torna o processo logístico ainda mais complexo. Por esta razão, há dificuldades também com a importação de determinados produtos, que acabam sendo produzidos em unidades locais próximas às regiões mineradoras.

2.4. Ambiente Regulatório

O Ministério de Minas e Energia (MME) é o principal órgão regulador do setor de mineração e, portanto, decide sobre a abertura e o funcionamento das minas. Além do MME, o Ministério do Meio Ambiente e o Ibama também são bastante influentes no setor, dado o potencial impacto ambiental da atividade mineradora (pela degradação de ecossistemas e elevado consumo de água, entre outros).

18 Confederação Nacional da Indústria (CNI), 2007. 19 International Mining “Careful Chemistry”. Junho de 2011

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O setor foi identificado como chave no Plano Brasil Maior e, em consequência disso, o MME elaborou o Plano Nacional de Mineração 2030 – uma ferramenta estratégica que busca nortear as políticas de médio e longo prazo para o setor. Além disso, o governo está apoiando arranjos produtivos locais (APL) de base mineral, além de já apoiar alguns centros de pesquisa como o Centro de Tecnologia Mineral (CETEM) e o Centro de Desenvolvimento de Tecnologia Nuclear (CDTN) também com o objetivo de desenvolver novas tecnologias para o setor de mineração. Todavia, o foco deste apoio está em outros elos da cadeia de mineração, especificamente no de transformação dos minerais, onde o Brasil pode criar empregos e melhorar sua balança comercial. Nesse contexto, uma possível oportunidade consiste na inserção de elos de insumos químicos para mineração no escopo de discussões do Plano Nacional de Mineração 2030 e/ou das iniciativas de desenvolvimento tecnológico do setor.

3. Dinâmica da Indústria

O mercado global de químicos para beneficiamento de minérios é dominado por empresas globais diversificadas tais como a BASF, Clariant e Dow. A disponibilidade de dados sobre volumes de mercado e rentabilidades por segmentos é escassa. Em geral, as empresas globais costumam apresentar ao mercado dados consolidados em que o segmento de químicos para mineração é tratado em conjunto com outros segmentos como petróleo, fertilizantes ou intermediários industriais. No mercado brasileiro, também competem empresas nacionais com atuação regional. Contudo, estas empresas são de capital fechado e não disponibilizam seus dados ao mercado. A Figura 9 traz uma breve descrição das principais empresas do segmento.

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Figura 9: Principais empresas no segmento de químicos para beneficiamento de minérios no Brasil

As grandes empresas globais, como BASF e Clariant, possuem plantas posicionadas em regiões estratégicas para a indústria de mineração no mundo (como África do Sul e Chile), desfrutando de vantagens logísticas frente aos fabricantes asiáticos. Entretanto, fabricantes chineses de baixo custo estão mudando a dinâmica do mercado de químicos para mineração. A entrada desses fabricantes tem aumentado a pressão sob as margens de lucro das grandes empresas, resultando, em alguns casos, na saída de alguns players de determinados compostos. Clariant e Cytec, por exemplo, abandonaram a produção de xantatos20.

4. Diagnóstico

Atualmente, observa-se que o segmento de químicos para beneficiamento de minérios é composto principalmente por produtos caracterizados como commodities ou constituídos a partir de commodities. Neste contexto, o maior desafio para o desenvolvimento deste segmento de químicos no Brasil é a competição com os produtores asiáticos de baixo custo, os quais geralmente apresentam fatores de produção mais competitivos e possuem plantas de escala global. A competição com estes produtores tem gerado pressão nas margens de lucro das empresas do setor.

Porém, em alguns casos, os custos logísticos inviabilizam as importações de químicos para beneficiamento, fazendo com que a indústria nacional consiga competir localmente dada sua proximidade dos clientes finais e matérias-primas. Entretanto, atualmente o mercado destes 20 Relatórios do setor

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produtos parece não apresentar tamanho, margens de lucro ou perspectivas de crescimento suficientes para atração de grandes investimentos.

No médio prazo, espera-se nesse segmento que surjam químicos mais especializados e, portanto com maior nível de tecnologia e valor agregado. Contudo, as oportunidades para o Brasil decorrentes dessa tendência são dificultadas por dois obstáculos principais. O primeiro se refere à baixa sofisticação da demanda local, caracterizada essencialmente pela produção de minério de ferro, o qual apresenta baixa complexidade de extração frente a outros minérios. O segundo se refere à necessidade de maiores investimentos em P&D desses químicos de maior valor agregado. Mesmo o Brasil apresentando um bom sistema de pesquisa sobre mineração, ainda não existe um direcionamento nacional claro que torne este ativo um diferencial chave na competição do setor21.

Após pesquisa extensiva acerca do mercado, inclusive com a participação de grandes players envolvidos na cadeia (produtores, clientes, fornecedores, associações de classe e universidades), o Consórcio não identificou oportunidades de negócio específicas para este segmento que apresentassem a mesma importância e impacto relativos das identificadas em outros segmentos deste Estudo.

5. Linha de ação

Em linha com os obstáculos identificados, o Consórcio indica duas iniciativas que podem ter impacto neste segmento de químicos.

O Brasil possui uma das maiores companhias de mineração do mundo, a Vale. A relevância da demanda deste player pode contribuir para o desenvolvimento da indústria de químicos para beneficiamento de minérios no País. Ações da Vale que busquem fomentar produtos ou segmentos específicos do mercado de químicos para beneficiamento de minérios podem alterar consideravelmente o panorama desse segmento no País, contribuindo para o aumento de sua relevância e competitividade.

Para as empresas de capital nacional em busca de ganhos de escala e de experiência, uma estratégia de atuação poderia envolver uma maior aproximação com a Vale, formando acordos de fornecimento locais em uma primeira etapa, e internacionais, em uma segunda etapa.

Outra ação relevante seria o alinhamento do P&D entre os centros de pesquisa, as universidades e as empresas que atuam nesse segmento. O mercado brasileiro de químicos para beneficiamento de minérios (e para mineração como um todo), por ser de alto volume, deveria ser capaz de atrair investimentos, tanto de empresas multinacionais quanto nacionais, para desenvolver pesquisa aplicada e criar novos produtos de maior valor agregado, vislumbrando uma maior participação no mercado global.

21 Entrevistas com especialistas de universidades

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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

ALICEWEB – Dados sobre importação e exportação dos segmentos.

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DOW CHEMICALS – Product Safety Reports

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GLOBAL INDUSTRY ANALYSTS, INC. Mining Chemicals – A Global Strategic Report, 2013

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INSTITUTO BRASILEIRO DE MINERAÇÃO (IBRAM), CONFEDERAÇÃO NACIONAL DA INDÚSTRIA. Mineração e Economia Verde, 2012

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