Relatório 4 – Químicos para couro

34
Relatório 4 – Químicos para couro

Transcript of Relatório 4 – Químicos para couro

Page 1: Relatório 4 – Químicos para couro

Relatório 4 – Químicos para couro

Page 2: Relatório 4 – Químicos para couro

Autoria e Edição de Bain & Company 1ª Edição Maio 2014

Bain & Company Rua Olimpíadas, 205 - 12º andar 04551-000 - São Paulo - SP - Brasil Fone: (11) 3707-1200 Site: www.bain.com

Gas Energy Av. Presidente Vargas, 534 - 7° andar 20071-000 - Rio de Janeiro - RJ - Brasil Fone: (21) 3553-4370 Site: www.gasenergy.com.br

O conteúdo desta publicação é de exclusiva responsabilidade dos autores, não refletindo, necessariamente, a opinião do BNDES. É permitida a reprodução total ou

parcial dos artigos desta publicação, desde que citada a fonte.

Este trabalho foi realizado com recursos do Fundo de Estruturação de Projetos do BNDES (FEP), no âmbito da Chamada Pública BNDES/FEP No. 03/2011. Disponível com mais detalhes em <http://www.bndes.gov.br>.

Page 3: Relatório 4 – Químicos para couro

Potencial de diversificação da indústria química Brasileira - Relatório 4

Índice

1. Escopo ............................................................................................................................................ 4

2. Condições da demanda ............................................................................................................... 4

2.1. Cadeia produtiva do couro e a relevância do Brasil ....................................................... 4

2.2. Produção do couro no Brasil e no mundo ........................................................................ 7

2.3. Demanda de couro no Brasil e no mundo ...................................................................... 12

2.4. Demanda de químicos para couro no Brasil e no mundo ............................................ 17

2.5. Balança comercial do segmento de químicos para couro ............................................. 19

2.6. Sofisticação da demanda local .......................................................................................... 20

3. Fatores de produção .................................................................................................................. 20

3.1. Matérias-primas ................................................................................................................. 20

3.2. Tecnologias e suas tendências .......................................................................................... 22

3.3. Disponibilidade dos recursos humanos.......................................................................... 23

3.4. Ambiente regulatório ........................................................................................................ 23

3.5. Outros fatores de produção .............................................................................................. 25

4. Dinâmica da indústria ............................................................................................................... 26

4.1. Estratégia de atuação dos players ..................................................................................... 26

4.2. Investimentos ...................................................................................................................... 28

4.3. Principais clientes ............................................................................................................... 29

5. Indústrias relacionadas ............................................................................................................. 30

6. Diagnóstico ................................................................................................................................. 31

7. Linha de ação .............................................................................................................................. 32

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ................................................................................................ 33

Page 4: Relatório 4 – Químicos para couro

4

Potencial de diversificação da indústria química Brasileira - Relatório 4

Químicos para couro 1. Escopo

Químicos para couro representam o grupo de produtos químicos utilizados durante os diversos processos de transformação da pele do animal em couro. Trata-se de uma variedade de preparações e formulações químicas utilizadas no processo de produção do couro, no qual os químicos mais utilizados são sais de cromo, sulfeto de sódio, sulfato de amônio, ácido sulfúrico, óxido de cálcio (cal), ácido fórmico, formiato de sódio, resinas poliuretânicas e acrílicas, taninos naturais 1 e sintéticos 2 , bem como as preparações e formulações de fungicidas, bactericidas, solventes, óleos de engraxe3, corantes, ceras e lacas.

De acordo com a segmentação adotada neste Estudo, estão fora do escopo deste Relatório produtos que, embora também sejam utilizados como químicos para o tratamento de couro, possuem maior aplicação fora da indústria do couro e, por isso, foram agrupados em outros segmentos. Como exemplo, pode-se citar o ácido sulfúrico (segmento “Ácidos inorgânicos”), as resinas poliuretânicas (segmento “Poliuretanos e seus intermediários”), os tensoativos (segmento “Tensoativos”) e os fungicidas e bactericidas (segmento de “Defensivos”).

2. Condições da demanda

2.1. Cadeia produtiva do couro e a relevância do Brasil

A indústria do couro está diretamente ligada ao mercado da carne bovina e depende, portanto, da dinâmica dos setores de agropecuária e de alimentos, uma vez que o couro é subproduto desses dois segmentos. Assim, a cadeia produtiva de couro e derivados inicia-se na atividade da criação dos animais, seguida pelo abate. A pele é tratada ainda no frigorífico ou vendida para os curtumes, onde é submetida a outros processamentos até que se obtenha o couro tratado, então destinado às indústrias de uso final. A indústria química representa um elo de grande importância nessa cadeia produtiva, uma vez que proporciona insumos que possibilitam a transformação do couro bruto em produto comercializável. A Figura 1 ilustra os principais elos da cadeia produtiva do couro.

1 Extraídos de vegetais como acácia, quebracho, castanheiro, barbatimão, mimosa, etc. 2 Em geral, compostos polifenólicos. 3 Produtos finais que têm estruturas de sulfonatos, sulfitados, alcanolamidas, sulfosuccinatos, ésteres fosfóricos e derivados de transesterificações.

Page 5: Relatório 4 – Químicos para couro

5

Potencial de diversificação da indústria química Brasileira - Relatório 4

Figura 1: Principais elos da cadeia produtiva do couro

Na pecuária de corte do Brasil, destaca-se a criação de bovinos. Em 2012, o País apresentava um número de 203 milhões de cabeças de gado 4 , com crescimento médio anual de aproximadamente 3% desde 2008. De acordo com esse indicador, o País possui o segundo maior rebanho bovino do mundo, superado somente pela Índia que contava com cerca de 327 milhões de cabeças de gado em 2012, mas com crescimento médio anual de aproximadamente 1% no mesmo período. Esses dados podem ser verificados na Figura 2.

4 Dados da USDA – Ending Stock - http://www.fas.usda.gov/psdonline/

Page 6: Relatório 4 – Químicos para couro

6

Potencial de diversificação da indústria química Brasileira - Relatório 4

Figura 2: Rebanho de gado no mundo em 2012

O suporte financeiro do Governo para fomento ao rebanho bovino nacional traz perspectivas positivas ao setor. O Plano Agrícola e Pecuário 2012-2013 intensifica as medidas de apoio ao setor agropecuário, destinando recursos para renovação de pastagem e reconstrução de rebanho através do melhoramento genético. Ademais, os pecuaristas podem se beneficiar do Programa Agricultura de Baixo Carbono5 para implementar a integração lavoura-pecuária-floresta (ILPF). Esse programa oferece oportunidade para a reconstrução de pastagens degradadas e pode, no longo prazo, ter um impacto significativo para a produção de carne bovina, na medida em que permite a regeneração e a ampliação da área destinada ao gado no País.

Apesar de a Índia apresentar o maior rebanho bovino do mundo, a taxa de abate é maior no Brasil. Em 2012, foram abatidas no País cerca de 40 milhões de cabeças de gado, contra 35 milhões na Índia. De acordo com as projeções para o setor pecuário, feitas pelo Estudo Projeções do Agronegócio 2012-13, que servem como base para o planejamento estratégico do MAPA - Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento – a expectativa de crescimento do consumo de carne bovina no Brasil, para o período de 2013-2023, é de 3,6% ao ano, enquanto que, para a produção, espera-se cerca de 2% ao ano. A Figura 3 ilustra essas projeções. O aumento da população e o aumento do poder de compra dos consumidores são tidos como os principais drivers para maior consumo de carne bovina no Brasil. Dado que o couro é um subproduto do setor de carne bovina, a indústria deverá ser beneficiada pelo crescimento do consumo.

5 Plano Agrícola e Pecuário 2012-2013

Page 7: Relatório 4 – Químicos para couro

7

Potencial de diversificação da indústria química Brasileira - Relatório 4

Figura 3: Projeção de produção e consumo de carne bovina no Brasil

2.2. Produção do couro no Brasil e no mundo

No mercado de couro bovino, o Brasil é o terceiro maior produtor mundial6, atrás da China e da Índia, segundo as últimas estatísticas da FAO (Food and Agriculture Organization) de 2013. A Figura 4 indica que, de 2004 a 2012, a produção global de couro cresceu a uma taxa anual de cerca de 1%. O Brasil apresentou taxa de crescimento superior à média global, com valor apenas inferior ao apresentado pela Índia. China e Índia têm se mantido como importantes produtores de couro, com vantagens relacionadas ao reduzido custo da mão de obra e às economias de escala devido à alta capacidade de produção instalada 7 . O Brasil mostra potencial para assumir a liderança global no setor, dada a grandeza do rebanho bovino nacional.

6 Dados da FAO - World Statistical Compendium for raw hides and skins, leather and leather footwear 1993-2012. 7 Informe setorial BNDES – Outubro 2007 (no. 3)

Fonte: MAPA – Projeção do Agronegócio 2012-13

Page 8: Relatório 4 – Químicos para couro

8

Potencial de diversificação da indústria química Brasileira - Relatório 4

Figura 4: Produção de couro bovino no Mundo

As estatísticas descritas na Figura 5 mostram que, no mercado de couro bovino, em 2012, a produção brasileira foi de cerca de 40 milhões de peles de couro8, representando 11% da produção mundial. Especialistas do setor acreditam que a produção de couro no Brasil deva crescer em 2 milhões de peças até 20209.

Figura 5: Produção e exportação de couro no Brasil

8 As estatísticas do setor são medidas/calculadas por peças de couro. Esse número não considera os demais tipos de pele, como de caprinos, ovinos e répteis. Para esses tipos, o País produziu 3 milhões de peles, segundo Estudo de Competitividade do setor de Curtumes no Brasil. CICB. 2013. 9 Entrevistas

Fonte: FAO –World Statistical Compendium for raw hides, skin and leather 2013.Nota: *Números preliminares

Fonte: CICB /AICSUL/FAO

Page 9: Relatório 4 – Químicos para couro

9

Potencial de diversificação da indústria química Brasileira - Relatório 4

O Brasil exportou 29 milhões de peles de couro em 2012, o que corresponde, aproximadamente, a um peso líquido de 400 mil toneladas e a 2 bilhões de dólares. As exportações brasileiras de couro bovino vêm apresentando, desde 2004, média de crescimento anual em torno de 1%. Conforme mostra a Figura 6, do montante exportado em dólares nesse ano, a China foi o principal país de destino, com participação de 34,9%. A Itália foi o segundo maior país importador do couro brasileiro, com uma participação de cerca de 20,6%, seguida dos EUA (12,5%) e da Hungria (3,8%)10.

Figura 6: Exportação brasileira de couro por destino

O processo de produção do couro é extenso e envolve a preparação, formulação e atuação de diversos produtos químicos. As etapas desse processo bem como os principais produtos químicos nelas utilizados estão relacionados no Quadro 1. São três as etapas principais do processo produtivo: o curtimento, o recurtimento e o acabamento.

10 CICB

Fonte: CICBNota: *Inclui exportações para Hong Kong

Page 10: Relatório 4 – Químicos para couro

10

Potencial de diversificação da indústria química Brasileira - Relatório 4

Quadro 1: Etapas de produção do couro e produtos químicos associados

A etapa de curtimento tem como resultado o wet blue, que é o couro curtido com sais de cromo, permanecendo úmido (mais de 60% de umidade) e sem receber nenhum tipo de acabamento. É, portanto, o de menor valor agregado no processo produtivo. A etapa seguinte, o recurtimento, tem como resultado o couro semiacabado, ou seja, com base no wet blue, o couro recebe tratamento adicional e é preparado para receber o acabamento final. Por fim, a etapa de maior valor agregado, o acabamento, é responsável pela transformação do couro semiacabado em acabado, o qual recebe o tratamento químico adequado de acordo com as especificações necessárias para a aplicação final. O couro pode ser comercializado em qualquer um desses três estágios de tratamento. A Tabela 1 apresenta, segundo os dados do CICB (Centro das Indústrias de Curtumes do Brasil), o preço médio do couro em 2012, por peça e por peso, ilustrando a diferença existente entre as etapas de tratamento.

Tabela 1: Preço médio do couro em 2012

Acabamento

Secagem e Lixamento

Recurtimento,Tingimento e Engraxe

Enxugamentoe Rebaixamento

Curtimento

Píquel

Desencalageme Purga

Descarne

Depilação e Encalagem

Remolho

Pele Verdeou salgada

1ª etapa do tratamento após a retirada da pele do animal. Se o tempo do início de seu processamento for acima de 2-4 horas, ela deve sofrer um processo de conservação

Sal

Etapa em que a pele deve readquirir toda a água que possuía em estado verde. Processo feito em fulões – equipamentos específicos para esta etapa

Emulgadores, engraxantes, enzimas especiais, carbonato de sódio, tensoativos, soda barrilha, sal, bactericidas

Remoção do pelo e preparação da pele para as operações mecânicas posteriores.

Sulfeto de sódio, aminas especiais, emulgadores, cal, enzimas proteolíticas e lipolíticas, tensoativos

Operação mecânica realizada em máquina especial e que consiste em retirar do lado da carne aderida a pele do animal toda a gordura, restos de carne e outros resíduos

Operações físico-mecânicas, não são usados produtos químicos

Processo químico para a retirada de toda a alcalinidade que foi introduzida na Depilação e Encalagem. Na purga, ocorre a remoção de todas as impurezas que se encontram na pele

Sulfato de amônio, cloreto de amônio, desencalantes especiais, emulgadores, ácido fórmico e enzimas proteolíticas

Tratamento químico realizado em Fulões com o objetivo de acidificar a pele até o ponto correto, preparando-a para receber o Curtimento

Sal, ácido sulfúrico, fórmico ou clorídrico.

Transformação da pele em couro. É um processo químico também realizado em fulão

Sulfato de cromo, taninos vegetais ou outros curtentes isentos de cromo ebasificantes de reação alcalina (carbonato de sódio, bicarbonato de sódio, óxido de magnésio).

Operação mecânica em que os couros são desaguados em máquina de enxugar e preparados para divisão ou rebaixamento. O rebaixamento tem por finalidade deixar o couro na espessura a qual se destina no final

Operações físico-mecânicas, não são usados produtos químicos

Etapas químicas realizadas em fulão que visam dar ao couro as características de cor, maciez e textura desejáveis ao final do processo produtivo.

Sais de cromo, resinas acrílicas, melamínicas e diciandiamidas, taninos fenólicos e naftalênicos, taninos vegetais, proteínas, corantes, neutralizantes (bicarbonato de sódio, acetato de sódio, formiato de sódio ou cálcio) e álcoois graxos

O couro é secado em máquinas adequadas às características do artigo final. Os couros defeituosos são submetidos à operação de Lixamento com lixas e máquinas especiais

Operações físico-mecânicas, não são usados produtos químicos

Etapa final do processo em que o couro recebe o acabamento específico Resinas acrílicas, resinas poliuretânicas, fillers, pigmentos orgânicos e inorgânicos, ceras especiais, ligantes acrílicos, butadiênicos e poliuretânicos, lacas nitrocelulósicas ou poliuretânicas, acetobutirato de celulose e poliuretâncias, silicones e soventes

ETAPAS DESCRIÇÃO PRODUTOS

Fonte: ABQTIC, ABIQUIM, Elaboração Consórcio Bain & Company

Curt

imento

Rec

urt

imen

toAca

bam

ento

Couro Wet Blue 61,22 2,17

Couro Semiacabado 76,69 9,56

Couro Acabado 100,02 17,58

TIPO DE COUROUS$/COURO

(2012)US$/KG(2012)

Fonte: CICBNota: US$/kg obtido das exportações nacionais

Page 11: Relatório 4 – Químicos para couro

11

Potencial de diversificação da indústria química Brasileira - Relatório 4

Dentre as exportações brasileiras, nota-se pela Figura 7 que o couro no estágio wet blue foi o de maior representatividade nos últimos anos.

Figura 7: Exportações nacionais de couro

Desde 2011, percebe-se que o crescimento médio anual das exportações de wet blue tem sido maior que o de outras categorias de couro. Entre 2011 e 2013, as exportações desse produto cresceram cerca de 39% ao ano, enquanto as do couro acabado cresceram por volta de 12% ao ano, possuindo representatividade inferior no último ano. Conforme levantado, as exportações de wet blue avançaram desde o início dos anos 1990 e aumentaram com a queda da produção calçadista brasileira, quando a indústria de curtumes, ao se dar conta da demanda global por wet blue, buscou ampliar a participação do País no mercado externo11.

Com relação às exportações, no âmbito das políticas de desenvolvimento que permeiam o setor, alguns governos têm adotado medidas que desestimulam a exportação de couro wet blue. Essas medidas buscam preservar a geração de valor agregado pelas suas indústrias domésticas, de maneira que incorporem tecnologia e tenham o ciclo completo de produção realizado internamente de forma competitiva. Tais medidas abrangem desde impostos sobre a exportação deste tipo de couro até a proibição total da exportação de peles cruas.

A Argentina, por exemplo, aplica 15% de imposto de exportação na saída do couro inacabado sobre o valor do americano, o que representa 25% sobre o valor FOB argentino12. A Rússia aplica uma taxa de 20% de imposto de exportação também sobre o couro inacabado, enquanto a Índia proíbe a exportação de wet blue e taxa em 25% a exportação de couro semiacabado e acabado. No caso do Brasil, há uma tarifa sobre a exportação do couro wet blue de 9%, mas o crescimento da demanda mundial e dos preços internacionais compensa tal sobretaxa, não impedindo o aumento do volume exportado desse tipo de couro. 11 Informe setorial BNDES – Outubro 2007 (no. 3) 12 http://www.courobusiness.com.br/comercio/26.php. Acessado em 19/12/2013.

Fonte: CICB (2012)

Page 12: Relatório 4 – Químicos para couro

12

Potencial de diversificação da indústria química Brasileira - Relatório 4

Além desse tipo de medida, observa-se também que alguns países impõem fortes barreiras tarifárias à entrada de couros de maior valor agregado em seus territórios. Um exemplo disso é o realizado pelos países da União Europeia, que aplicam uma sobretaxa de 6,5% às importações dos semiacabados e acabados, e de até 17% no caso dos produtos manufaturados de couro13. As políticas tarifárias vigentes nos diversos países visam proteger os setores de bens finais, favorecendo a importação de matérias-primas e produtos com menor valor agregado.

Vale notar que, além da Itália, os países asiáticos, principalmente a China, têm comprado wet blue de grandes produtores como o Brasil, para realizar as etapas de acabamento em fábricas locais, destinando o couro acabado para a fabricação local dos mais variados produtos, que se tornam, assim, mais baratos e competitivos no mercado internacional. Ao contrário do Brasil, a China é grande importadora, pois, apesar da elevada produção interna, o consumo local de couro também é elevado.

A posição do Brasil como exportador de wet blue não só representa uma desvantagem em termos de valor agregado do produto, como também gera consequências ambientais para o País. A etapa de fabricação do couro wet blue é a mais poluente na cadeia de produtiva, visto que concentra o maior número de processos e substâncias impactantes ao meio ambiente, além de envolver grande consumo de água durante o processo de tratamento14.

Buscando aprimorar a posição do Brasil no comércio global, o CICB tem realizado diversos programas de promoção do couro nacional, tendo como objetivo aumentar o volume de exportações de couro de alto valor agregado. Como exemplo, pode-se citar o projeto Brazilian Leather, desenvolvido em parceria com a Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos (Apex-Brasil). Espera-se que tais iniciativas possam ter um resultado positivo no médio e longo prazo.

2.3. Demanda de couro no Brasil e no mundo

No mercado mundial, a principal indústria consumidora de couro é a indústria calçadista, com aproximadamente 55% do consumo total. Em seguida, aparecem em destaque a indústria de estofamento para móveis (15%), a indústria automotiva (10%) e a de vestuário (10%)15.

A China tem se destacado como um importante mercado consumidor de couro no contexto global. No passado, artigos de couro produzidos nesse país eram quase que exclusivamente destinados à exportação. Atualmente, boa parte da produção chinesa é destinada ao mercado interno. Observa-se um aumento na demanda por produtos de couro entre a crescente classe média chinesa. Além disso, produtos de luxo têm ganhado popularidade entre os chineses, e dentre esses produtos estão os artigos de couro de alta

13 http://www.courobusiness.com.br/encontro/04.php 14 Entrevistas realizadas 15 http://www.leathercouncil.org/ict%20stats2008.pdf. Acessado em 01/04/2014. Os 10% restantes são compostos por produtos menores, como luvas e artefatos de couro.

Page 13: Relatório 4 – Químicos para couro

13

Potencial de diversificação da indústria química Brasileira - Relatório 4

qualidade. Em 2012, a China foi o principal destino das exportações brasileiras, tendo adquirido 726 milhões de dólares16 em couro brasileiro.

No Brasil, a estimativa do Centro das Indústrias de Curtumes do Brasil (CICB) é que, do couro produzido localmente, cerca de 70% é exportado e o restante é vendido à indústria nacional e utilizado para uso próprio. Como pode ser observado na Figura 8, quando consideradas as exportações, as principais indústrias consumidoras de couro são: móveis (51%), calçados e artefatos (30%) e automóveis (16%). Esse padrão de consumo não é observado no mercado local, no qual a participação da indústria de móveis (11%) é menos relevante, enquanto a participação da indústria de vestuário (20%) é mais expressiva.

Figura 8: Distribuição da produção e venda de couro nacional

Móveis

Segundo dados da Euromonitor (Figura 9), o mercado mundial de mobiliário doméstico foi equivalente a 529 bilhões de dólares em 2012 e cresceu a uma taxa de 1,5% entre 2007 e 2012. Esse mercado deve ter o crescimento acelerado para 4,1% ao ano até 2017, representando um valor de 652 bilhões de dólares.

O Brasil aparece como um dos dez maiores mercados, apresentando um valor de 20,2 bilhões de dólares em 2012. O mercado brasileiro apresentou crescimento maior que a média mundial entre 2007 e 2012 (4,3%) e deve continuar a crescer acima da média global até 2017, quando deve se tornar o sétimo maior mercado global.

Dentro desse universo, as principais aplicações para o couro se encontram em móveis para dormitórios e escritórios, bem como em assentos e estofados. De acordo com especialistas do setor, a penetração de couro em móveis tende a aumentar ao longo dos próximos anos.

16 Inclui exportações para Hong Kong

Fonte: CICB (2012)

Page 14: Relatório 4 – Químicos para couro

14

Potencial de diversificação da indústria química Brasileira - Relatório 4

Desta forma, o crescimento do mercado de couro para a indústria moveleira deve ser maior do que o crescimento esperado para esta indústria em si.

Figura 9: Mercado mundial de mobiliário doméstico

Calçados e artefatos

A produção mundial de calçados de couro demonstrou estagnação entre os anos de 2001 e 2011. Conforme dados da FAO (Figura 10), a produção global foi de aproximadamente 4,5 bilhões de pares em 2011, sendo dominada principalmente pela China.

Nesse contexto, o Brasil aparece como o quarto maior produtor mundial, entretanto, a indústria calçadista brasileira vem perdendo competitividade ao longo dos últimos anos, ao sofrer os efeitos desfavoráveis da concorrência chinesa, da carga tributária elevada e da valorização cambial17.

Na categoria de calçados de couro, que representa 27% da produção local de calçados18, percebe-se que a produção nacional tem apresentado declínio entre 2001 e 2011, com uma redução total da produção de aproximadamente 12 milhões de pares. Além disso, o volume exportado decaiu de 117 milhões de pares em 2001 para 24 milhões de pares em 2011, e o País perdeu relevância no mercado mundial, decaindo de terceiro para décimo quarto maior exportador global em um período de 6 anos.

Com relação a projeções futuras, especialistas entrevistados indicam que a produção global deve se manter em estagnação, devido à perda de espaço dos calçados de couro para calçados esportivos, que vêm ganhando participação de mercado19. A produção brasileira,

17 Entrevistas com especialistas 18 Abicalçados/IEMI 2013 19 Entrevistas com especialistas

Fonte: Euromonitor

Previsão

Page 15: Relatório 4 – Químicos para couro

15

Potencial de diversificação da indústria química Brasileira - Relatório 4

salvo a interferência de políticas de desenvolvimento que busquem reverter a competitividade da indústria nacional, deve manter a tendência de declínio.

Figura 10: Volume de exportação de calçados no Brasil por tipo

Automóveis

O mercado de couro para a indústria automobilística é visto como de alto valor agregado e é almejado pelas empresas produtoras de couro. No entanto, não é um mercado de fácil acesso, dadas as exigências das montadoras quanto à qualidade exigida dos fornecedores de couro.

Nos países desenvolvidos, a demanda por interiores de veículos em couro tem crescido e abrange não só assentos, mas também painéis de porta, tetos e painéis de instrumentos20. Como mostra a Figura 11, a frota atual de carros no mundo é de 1,2 bilhão de unidades e deve crescer para 1,4 bilhão em 2017, um crescimento médio anual de 4,3%.

No Brasil, a frota é de 54,2 milhões, sendo esperado que atinja 65,9 milhões de veículos em 2017, um crescimento médio anual de 5%, ou seja, pouco superior à média mundial.

20 BNDES Setorial, Panorama do Setor de Couro no Brasil. Rio de Janeiro, n. 16, p. 57-84, set. 2002

Fonte: FAO (2013)

Page 16: Relatório 4 – Químicos para couro

16

Potencial de diversificação da indústria química Brasileira - Relatório 4

Figura 11: Frota brasileira e mundial de carros

O Governo Federal tem dado apoio ao desenvolvimento da indústria automobilística no País. O Programa Inovar-Auto 21 foi criado com o objetivo de estimular o investimento na indústria nacional, por meio da concessão de desconto de até 30% no IPI para automóveis produzidos e vendidos no Brasil. A condição é o estímulo e o investimento à inovação local, considerando toda a cadeia de valor, que envolve revestimento de couro. Estima-se que até 2015 o Programa gerará cerca de 50 bilhões de reais em investimentos no setor.

Há três empresas que se destacam no mercado de montadoras de bancos e revestimentos de couro para veículos: Viposa (Caçador-SC), Midori Atlântica (São Paulo-SP) e Bantec (São Paulo-SP). Entrevistas com profissionais desse mercado apontaram que, além da tendência de uso crescente destes produtos, cerca de 40% dos veículos montados hoje já utilizam revestimento de couro. O item deixou de ser visto apenas em automóveis importados ou de luxo, ganhando penetração em carros de entrada, como Volkswagen Gol e Fiat Uno22. Essas empresas adquirem o couro de fornecedores nacionais, que já o fornecem de forma finalizada, não necessitando a reaplicação de químicos.

Em suma, considerando as visões apresentadas acerca dos principais mercados consumidores de couro, devem ser ressaltadas a mudança no mix de consumo e o crescimento moderado do mercado global. Espera-se um maior crescimento do consumo de couro nas indústrias de móveis e estofados de automóveis, enquanto a demanda por couro da indústria de calçados tende a diminuir ou manter-se estável. Levantamento

21 Inovar-auto: Programa de Incentivo à Inovação Tecnológica e Adensamento da Cadeia Produtiva de Veículos Automotores 22 Matéria UOL: “Por estética, conforto e saúde, banco de couro vira item de carro popular”, 25/03/2014

Previsão

Fonte: Denatran; Datamonitor; Euromonitor; Análise Bain/Gas EnergyNota: Assume-se que o ciclo de vida médio global de um veículo é de 12 anos

Page 17: Relatório 4 – Químicos para couro

17

Potencial de diversificação da indústria química Brasileira - Relatório 4

realizado pela FAO23 mostra que, no médio e no longo prazo, o consumo global de couro deve se expandir, particularmente nos países em desenvolvimento, onde a base de consumo cresce com maior intensidade, como Ásia e América Latina.

2.4. Demanda de químicos para couro no Brasil e no mundo

Conforme apresentado no Quadro 1, as diferentes etapas de tratamento do couro demandam diferentes produtos químicos: geralmente, as fases de acabamento necessitam de produtos especializados, ao passo que as fases iniciais utilizam predominantemente os considerados commodities.

Na etapa do curtimento, utilizam-se químicos orgânicos e inorgânicos, estes últimos em maior volume. A maior parte desses inorgânicos é classificada como commodity. Como exemplo de produtos aplicados nessa etapa, temos o sulfato de cromo, sulfeto de sódio, sulfato de amônio, ácido sulfúrico, óxido de cálcio (cal), preparações fungicidas, bactericidas, tensoativos e enzimas.

Já para o recurtimento, são usados, principalmente, produtos químicos orgânicos e da química fina, como corantes, taninos, resinas e óleos de engraxe.

Por fim, na etapa do acabamento são usadas especialidades químicas, geralmente produtos químicos orgânicos, que compõem os pigmentos, os corantes, as ceras, as resinas e as lacas. Além desses, também existe uma diversidade de produtos auxiliares, como espessantes para regular a viscosidade, ceras para permitir a aderência de estampagem ou prensagem, bem como lacas de nitrocelulose, poliuretânicas ou acrílicas, para dar o toque final de resistência à abrasão, ao brilho e à fixação24.

No Brasil, atualmente, do volume total de produtos químicos associados a cada uma das etapas, a quantidade de produtos para o curtimento é a mais expressiva, representando cerca de 82% do total. Já para o recurtimento e o acabamento, os volumes correspondem a 13% e 5%, respectivamente25.

Tendo por base as entrevistas realizadas com especialistas do setor, estima-se que o custo médio com produtos químicos para a etapa de curtimento seja de cerca de 10% do total dos custos nela envolvidos. Deste total, 30% estão associados ao sulfato de cromo. Na etapa do recurtimento, os custos envolvidos com produtos químicos são maiores e representam cerca de 12% a 15% dos custos totais. Isso se explica pela grande quantidade de insumos empregados, uma combinação de dois ou mais produtos, dependendo das exigências requeridas pelo fabricante do produto final. Por fim, na etapa do acabamento, os custos dos químicos correspondem a 20% do total26.

Percebe-se que o consumo de químicos tem maior relevância no custo total nas etapas finais de tratamento. Estas etapas, apesar de utilizarem menor volume de químicos, demandam alguns mais específicos, e que exigem dos fornecedores maior know-how tecnológico para sua produção.

23 World Statistical Compendium for raw hides and skins, leather and leather footwear 1993-2012 24 http://www.quimicaederivados.com.br/revista/qd423/couro3.htm 25 ABIQUIM 26 Entrevistas com especialistas

Page 18: Relatório 4 – Químicos para couro

18

Potencial de diversificação da indústria química Brasileira - Relatório 4

Estima-se que o volume global de vendas de químicos para couro tenha sido de cerca de 4,7 bilhões de dólares em 201227. O crescimento esperado para o mercado global é de 2% ao ano nos próximos anos, tendo como fator determinante o aumento do consumo de carne28, que consequentemente gera maior disponibilidade de couro.

No Brasil, estima-se que o mercado de químicos para couro seja de aproximadamente 380 milhões de dólares29. A Figura 12 ilustra não só o volume financeiro de tal mercado, mas também os preços médios dos químicos usados nas etapas de tratamento. O Consórcio não obteve informações específicas sobre a rentabilidade dos produtos em cada etapa, mas as diferenças de preços médios e a relevância de custo do químico em cada fase do tratamento tendem a corroborar a visão de que produtos de acabamento apresentam as melhores margens dentre os demais do segmento.

Figura 12: Tamanho do mercado e preço médio dos químicos utilizados no tratamento do couro por etapa

De acordo com relatórios de mercado da empresa LANXESS, o segmento de químicos para o couro no Brasil apresenta crescimento estável, devendo crescer em linha com as projeções para o mercado global30. Contudo, segundo detectado pelo Consórcio nas entrevistas com especialistas, não há expectativa, nos próximos anos, de expansão da produção local. Caso não sejam tomadas providências para o aprimoramento tecnológico e produtivo, e não havendo maior integração nos setores consumidores, a tendência será de aumento no volume de importações.

Atualmente, o País conta com capacidade instalada suficiente para atender a demanda local, porém não há competitividade frente aos produtos importados. As empresas têm know-how e tecnologia para suprir a demanda do mercado das commodities químicas, ou seja, aquelas que são empregadas nas fases iniciais do beneficiamento do couro. A demanda por especialidades,

27 Relatório de Analista. 28 Dados da USDA – Ending Stock - http://www.fas.usda.gov/psdonline/ 29 Dados obtidos com base em entrevistas com especialistas do setor. 30 LANXESS Business profile 2012

Fonte: Abiquim, entrevistas. Elaboração Bain/Gas Energy

Preço médio de químicos para Couro (2012)Em US$/kg

Mercado de químicos para Couro (2012)Em US$ milhões

Page 19: Relatório 4 – Químicos para couro

19

Potencial de diversificação da indústria química Brasileira - Relatório 4

por sua vez, dependerá das políticas internas dos grandes players em seus centros de produção globais.

2.5. Balança comercial do segmento de químicos para couro

Em 2012 as importações brasileiras de produtos químicos para couro foram de cerca de 111 milhões de dólares, enquanto as exportações representaram cerca de 83 milhões de dólares. Conforme ilustrado na Figura 13, nesta balança comercial, os produtos mais relevantes são tanantes vegetais, especificamente os tanantes de mimosa31, e produtos tanantes naturais – que correspondem a cerca de 67% das exportações. Nas importações, contudo, o que se observa é uma composição mais diversificada de produtos, com valores relativamente pequenos. Entre tais produtos, os derivados de óleos naturais e ésteres, os óleos de engraxe e os tanantes poliméricos ou de condensação são os mais relevantes e correspondem a 45% das importações.

Figura 13: Balança comercial Brasileira de químicos para o couro

De forma geral, os produtos exportados pelo Brasil em volumes relevantes são químicos que apresentam vantagem comparativa local em termos de matéria-prima, como é o caso dos taninos vegetais.

Referente às importações, observou-se que as ‘formulações de engraxe’ e os ‘derivados de óleos naturais’ são os dois grupos mais representativos em valor, correspondendo a 34% das importações realizadas em 2012. Esses químicos possuem sinergia com o segmento de oleoquímicos e poderiam ser produzidos localmente, dado o potencial existente no Brasil nos insumos de origem animal e vegetal. Atualmente, esses produtos estão sendo importados pelos players multinacionais devido à baixa disponibilidade e à falta de

31 Nome popular dado a Acácia Negra

Fonte: Alice Web ; Análise Bain / Gas Energy

Imp.

Exp.

Page 20: Relatório 4 – Químicos para couro

20

Potencial de diversificação da indústria química Brasileira - Relatório 4

competitividade dos produtos nacionais32. Além disso, observa-se que os tanantes de cromo e o dicromato de sódio são produtos com volume financeiro relativamente significativo entre as importações, cuja soma em 2012 representou 12% do importado pelo segmento. Estes produtos são principalmente usados durante a etapa de curtimento do couro para a produção do wet blue.

2.6. Sofisticação da demanda local

De forma geral, como já apresentado, devido ao foco do mercado brasileiro nas etapas iniciais de produção do couro, pode-se caracterizar a demanda local por químicos para couro como pouco sofisticada, sendo este um dos principais obstáculos ao desenvolvimento da cadeia local deste segmento. As exportações brasileiras do couro acabado têm sido menos expressiva do que as de wet blue, devido a questões de competitividade e de posicionamento dos curtumes no Brasil. A cadeia a jusante nacional também vem apresentando perda de competitividade, gerando incerteza com relação ao crescimento do consumo de químicos para couro de maior valor agregado.

Caso houvesse, no Brasil, um adensamento da cadeia a jusante ou se as condições de mercado permitissem uma maior exportação de couro acabado, novas oportunidades surgiriam no segmento, levando a um incremento da oferta local de químicos para couro de modo a suprir a demanda de químicos relacionados a estágios mais avançados de acabamento do couro.

3. Fatores de produção

3.1. Matérias-primas

Os produtos do segmento de químicos para couro utilizam uma série de matérias-primas, nas quais se incluem compostos sintéticos orgânicos ou inorgânicos, dentre os quais se destacam a cromita (dicromato de sódio) e os óleos e os extratos naturais de origem vegetal ou animal.

A cromita é um óxido mineral derivado do cromo que existe em abundância nas regiões da África do Sul, da Índia e do Cazaquistão. No continente americano, o Brasil é praticamente o único produtor de cromo, mas no cenário mundial tem participação modesta tanto em reservas (0,53%) como em produção (2,35% da oferta mundial)33. As reservas lavráveis brasileiras são da ordem de 1,39 milhão de toneladas.

Geograficamente, 93,5% da reserva nacional estão localizadas no estado da Bahia, nos municípios de Campo Formoso, Andorinha, Santa Luz e Piritiba. Os demais Estados que possuem reservas de cromo são o Amapá (3,5%), no município de Mazagão e o estado de

32 Entrevistas com especialistas do setor 33 Departamento Nacional de produção mineral – DNPM – Anuário 2012

Page 21: Relatório 4 – Químicos para couro

21

Potencial de diversificação da indústria química Brasileira - Relatório 4

Minas Gerais (3,0%), no município de Alvorada de Minas34. As empresas engajadas na exploração e produção de cromo no Brasil são a Cia. Ferro-Ligas da Bahia S/A – FERBASA, a Magnesita S/A e a Mineração Vila Nova Ltda35.

No mundo, as principais indústrias consumidoras deste material são as indústrias de aço e de ferro-ligas, de refratários e química36. A indústria metalúrgica absorve 94% da produção global de cromita, enquanto a indústria de refratários e a produção de areia de fundição respondem pela demanda de 4%. A indústria química, por fim, responde pela demanda remanescente de 2%. Em 2008 o Ministério de Minas e Energia (MME) estimou que o perfil de consumo interno da cromita equivalia a 80% para produção de ferro-ligas, 16% para siderurgia, 2% para fundição, 1% para químicos e 1% para refratários.

Atualmente, a produção de sulfato de cromo local para a indústria de produtos químicos para couro é concentrada em um único player, a MK Química, dado que os demais produtores identificados fecharam suas plantas locais. Este produtor só consegue atender cerca de 16% da demanda interna, devido à dificuldade de competição com os produtos importados, que compõem a fatia predominante do mercado. Desta forma, entende-se que o Brasil não possui vantagem competitiva relevante para a produção interna da cromita e seus derivados.

Já com relação às matérias-primas de origem vegetal, como aquelas destinadas à produção dos taninos vegetais, diferentemente do panorama da cromita, percebe-se que o Brasil possui amplo potencial e competitividade, dado que estes produtos têm relevância nas exportações brasileiras do segmento.

O mercado mundial de taninos vegetais está estimado em 160 mil toneladas por ano, sendo cerca de 100 mil toneladas provenientes de acácias e o restante dos outros tipos: castanheira (origem italiana), quebracho (argentino) e de tara (peruano). No Brasil, destacam-se as produções de taninos a partir da acácia negra (mimosa) e do quebracho.

A produção local da acácia negra se concentra no Rio Grande do Sul, em virtude de reflorestamentos desta espécie; estima-se que existam cerca de 200 mil hectares de florestas plantadas nesta região. Uma das principais vantagens da espécie no Brasil é a idade de corte, que varia de 5 a 10 anos, ao passo que na África do Sul, outro produtor de destaque, o corte ocorre normalmente aos 11 anos. Estima-se que a produtividade local varie entre 10 e 25 metros cúbicos anuais por hectare, sendo a produção média de casca cerca de 15 toneladas por hectare.

O quebracho, apresar de presente em território brasileiro, não apresenta um mercado extrativista organizado. Sua madeira, dura e resistente, contém 20% de tanino, mas por ser uma espécie que apresenta crescimento lento, de 20 a 30 anos até o corte, não se caracteriza como uma espécie de reflorestamento intensivo. É encontrado não só na região nordeste até o norte de Minas Gerais e Goiás na caatinga, mas também penetra a oeste até o Mato Grosso

34 http://educacao.uol.com.br/disciplinas/geografia/minerais-metalicos-ocorrencia-e-exploracao-no-Brasil.htm 35 Ministério de Minas e Energia (MME) – Relatório Técnico 21. Agosto 2009 36MINISTÉRIO DE MINAS E ENERGIA - MME

Page 22: Relatório 4 – Químicos para couro

22

Potencial de diversificação da indústria química Brasileira - Relatório 4

e Rondônia. No nordeste, de acordo com a Embrapa, a exploração excessiva e sem reposição levou à diminuição das reservas dessa espécie37.

A TANAC, empresa localizada em Montenegro no Rio Grande do Sul, é hoje uma das principais empresas produtoras de taninos vegetais do mundo e a maior do Brasil. Atualmente, possui capacidade instalada para a produção de 36 mil toneladas de tanino por ano. Já a outra concorrente brasileira, a Seta, tem duas fábricas com capacidade total de 27 mil toneladas deste insumo por ano.

De modo geral, apesar de possuir competitividade em taninos vegetais, o Brasil atua como importador das principais matérias-primas utilizadas em produtos do segmento de químicos para couro. Esta importação de insumos acaba sendo um obstáculo para o desenvolvimento do segmento, posto que os tributos de importação encarecem os produtos finais produzidos nacionalmente e dificultam sua competição com os similares importados.

3.2. Tecnologias e suas tendências

A sustentabilidade tem sido um direcionador importante do desenvolvimento tecnológico do segmento, com vários países impondo novas regulações referentes à proibição ou limitação de uso de químicos tidos como poluentes. Os curtumes, nesse contexto, têm procurado reduzir o impacto ambiental inerente a sua atividade não só por meio do tratamento e reaproveitamento de recursos, bem como pela eliminação do uso de produtos poluentes.

Muitos dos produtos considerados commodities e usados nas primeiras etapas de tratamento do couro provocam impacto considerável ao meio ambiente. Esses produtos liberam gases tóxicos e se tornam poluentes em contato com a água, que é o principal insumo durante o processo. Diante de tal cenário, as empresas de químicos para couro têm buscado desenvolver produtos alternativos e/ou substitutos para reduzir o impacto ambiental. Um exemplo disso são as enzimas utilizadas nas primeiras etapas de curtimento que visam, entre outros efeitos, à redução dos teores de tensoativos utilizados e à diminuição do consumo de água durante o processo38.

O uso da biotecnologia é tido como uma promissora alternativa na substituição de produtos poluentes. Esta tecnologia tem propiciado o lançamento de produtos por meio do desenvolvimento, produção e aplicação de enzimas biodegradáveis. No Brasil, por exemplo, as empresas MK Química, Buckman e Novozymes já ofertam alguns produtos de enzimas para o tratamento do couro. Contudo, o obstáculo para o desenvolvimento e aplicação desses produtos ainda está na viabilidade econômica, principalmente em comparação com produtos químicos já commoditizados.

Algumas iniciativas de pesquisa e desenvolvimento em químicos para couro têm obtido destaque em âmbito nacional, de acordo com os especialistas entrevistados. Um exemplo relevante é o Laboratório de Estudos em Couro e Meio Ambiente (LACOURO), localizado

37 Embrapa Florestas. http://www.cnpf.embrapa.br/publica/comuntec/edicoes.htm. Acessado em 27/02/2014 38 MK Química – Material “a sustentabilidade e os insumos químicos para couros”.

Page 23: Relatório 4 – Químicos para couro

23

Potencial de diversificação da indústria química Brasileira - Relatório 4

na UFRGS. Esse laboratório da Escola de Engenharia (EE) é vinculado ao Departamento de Engenharia Química (DEQUI) da Universidade e promove pesquisas voltadas para o couro, incluindo temas como a utilização de polímeros no acabamento, o desenvolvimento de corantes fúngicos para o tingimento e o desenvolvimento biotecnológico para maior sustentabilidade do processo e para o aproveitamento dos subprodutos gerados. A entidade tem trabalhado com a maioria das grandes empresas e curtumes. Nesse cenário, vale ressaltar que o suporte da indústria é essencial39.

Outro exemplo a ser citado é o Centro Tecnológico de Estância Velha. Esta instituição de ensino forma químicos de nível superior com foco em transformação de pele em couro, além de gerar tecnologias para a área de processamento de couro e meio ambiente. O Centro do Couro conta, atualmente, com curtume-escola, oficinas, laboratórios, sistema depurador de efluentes industriais e núcleo de informação tecnológica em suas instalações.

3.3. Disponibilidade dos recursos humanos

O Vale dos Sinos – região onde se concentra a maior parte de indústrias de couro e calçados do Rio Grande do Sul e o maior polo setorial do Brasil – é formador de mão de obra qualificada para toda a cadeia produtiva, inclusive técnicos químicos para o couro, havendo aproximadamente dez mil profissionais formados na região desde a criação do Centro Tecnológico do Couro – Senai (Estância Velha-RS) e do Centro Tecnológico do Calçado Senai (Novo Hamburgo). Em Estância Velha, está localizada uma das únicas escolas para a formação de químicos industriais e técnicos com foco em couros do Brasil.

Mesmo com tal estrutura de capacitação, alguns especialistas entrevistados afirmaram que, devido à instabilidade desse mercado no Brasil, muitos profissionais, formados nessas escolas, passaram a atuar em outros mercados como México, Estados Unidos, Austrália, Europa e Ásia40. Nessas regiões, há maior participação do couro acabado na produção, fase que requer aplicação de melhores técnicas e prevalece o desenvolvimento tecnológico.

Com relação ao quesito disponibilidade de mão-de-obra, o Consórcio não identificou qualquer barreira relevante que impossibilita o desenvolvimento do segmento de químicos para couro no Brasil. A oferta de mão-de-obra é adequada e está apta a atender as demandas dos players locais.

3.4. Ambiente regulatório

O ambiente regulatório do segmento contempla um item que interfere diretamente na competitividade do País e que foi relatado por todos os especialistas entrevistados como a principal dificuldade para as empresas locais: trata-se do não cumprimento efetivo dos mecanismos de drawback nesta indústria.

39 Revista do Couro – Março 2013 40 http://www.quimica.com.br/pquimica/couro-e-curtumes/quimica-do-couro-ciencia-transforma-pele-natural-em-couro-duravel/3/

Page 24: Relatório 4 – Químicos para couro

24

Potencial de diversificação da indústria química Brasileira - Relatório 4

O regime especial de drawback41 consiste na suspensão ou eliminação de tributos incidentes sobre insumos importados na manufatura de produto a ser exportado. Devido ao fato de a indústria de couro brasileira ser predominantemente exportadora, os curtumes podem se utilizar deste regime para importação de insumos químicos sem tributos de importação. Desta forma, os insumos importados acabam tendo preços mais competitivos frente aos seus similares produzidos localmente. Esse mecanismo por si só, não representa um obstáculo à indústria local, pois, como forma de compensar os incentivos à importação de insumos decorrentes do drawback, a legislação brasileira permite que os curtumes possam reaver parte dos tributos incorporados no preço final dos produtos (PIS, COFINS, ICMS, etc.) ao comprarem químicos fabricados nacionalmente. Isso permite melhor equilíbrio na relação de preços entre produtos nacionais e importados.

A grande dificuldade apontada pelos especialistas é que este mecanismo de créditos tributários não é efetivo, uma vez que vários curtumes alegam dificuldades e demora na obtenção dos créditos. Isto leva os curtumes a preferirem a importação desonerada à incerteza do reembolso, o que prejudica as empresas fabricantes de químicos para couro no Brasil.

Algumas das multinacionais que atuam no segmento de químicos para couro optaram por fechar suas unidades produtivas no Brasil e realizar importações para manterem seus custos competitivos. As empresas que mantiveram sua produção local de químicos, de maneira geral, apresentam capacidade produtiva parcialmente ociosa e têm enfrentado dificuldades para manterem sua rentabilidade42 . Resolver este obstáculo é uma questão-chave para permitir a restruturação do segmento no País.

Junto a players do setor, foi realizada a estimativa da diferença de competitividade entre o produto nacional e o importado para um dos produtos mais relevantes do segmento, o sulfato de cromo (Figura 14).

O Consórcio observou que, devido a não eficácia dos créditos tributários de Cofins, PIS/Pasep e ICMS, as empresas locais necessitam de uma estrutura de custo mais enxuta para se manterem competitivas.

O mercado nacional opera pela paridade com a importação, em que o preço interno é formado pelo preço internacional, mais os custos de aquisição do importado. Dessa forma, o produto importado apresenta a desvantagem dos custos de frete, armazenagem, dentre outros.

O mecanismo do drawback não deveria interferir na competitividade relativa dos produtos, pois a isenção do imposto de importação seria balanceada pelos créditos tributários para a compra dos produtos locais. Entretanto, a não obtenção desses créditos acaba por onerar o produto nacional a ponto de ultrapassar os custos típicos de importação acrescidos aos importados (Figura 14). Nesse contexto, assumindo posições de custo equivalentes entre empresas nacionais e internacionais, os produtores nacionais operariam com margens inferiores.

41 Decreto Lei nº 37, de 21/11/66 42 Entrevistas com especialistas

Page 25: Relatório 4 – Químicos para couro

25

Potencial de diversificação da indústria química Brasileira - Relatório 4

Figura 14: Cálculo do preço da mercadoria

Outro tema de destaque no contexto do ambiente regulatório, se refere à sustentabilidade ambiental. Ao longo dos últimos anos, diversos países, incluindo o Brasil, têm estabelecido não apenas níveis de exigência na utilização de químicos poluentes, mas também critérios rígidos nos limites e isenção de substâncias nocivas. Como exemplos, podem-se citar os países europeus, que possuem diversas imposições quanto à sustentabilidade dos produtos químicos utilizados em tratamento de couro para o mercado local.

A Comissão Europeia, por meio do REACH43 (regulação no registro, avaliação, autorização e restrição de produtos químicos), não só proíbe a utilização de alguns produtos para o tratamento do couro, considerados perigosos, como também proíbe o uso de couro tratado com esses químicos em produtos finais, seja o couro de origem nacional ou importada. No médio prazo, estas legislações mais rígidas relacionadas ao meio-ambiente podem vir a favorecer o País, dado o potencial local existente para o fornecimento de produtos e matérias-primas com base em recursos naturais não poluentes.

3.5. Outros fatores de produção

Com relação aos demais fatores de produção, a infraestrutura e os elevados custos de logística no Brasil são apontados como entraves a investimentos na expansão da capacidade local. Esse fator é apontado de forma ampla, pois não se limita à baixa qualidade das rodovias e ferrovias,

43 Registration, Evaluation, Authorization and Restriction of Chemicals http://ec.europa.eu/enterprise/sectors/chemicals/reach/index_en.htm

Fonte: ABIQUIM; Entrevistas com especialistas do setorNota: Sulfato de cromo usado como referência para cálculo; câmbio utilizado de R$ 2,35

Page 26: Relatório 4 – Químicos para couro

26

Potencial de diversificação da indústria química Brasileira - Relatório 4

mas também às exigências burocráticas e às restrições normativas que cercam as operações logísticas44.

A disponibilidade de capital para financiamento não foi apontada como um item relevante para o desenvolvimento do segmento de químicos para couro no País.

4. Dinâmica da indústria

4.1. Estratégia de atuação dos players

O mercado de químicos para o tratamento do couro é concentrado em poucos players, os quatro principais (Lanxess, BASF, TFL e Stahl) controlam cerca de 40% do mercado mundial45. De acordo com o Anuário da Abiquim, há cerca de 60 empresas no Brasil que atuam nesse segmento, embora a dominância do mercado também esteja centralizada em poucos players46.

De modo geral, algumas empresas se dedicam a atender a demanda de químicos utilizados em todo o processo de tratamento do couro, enquanto outras oferecem somente produtos dedicados a etapas específicas. Neste segundo grupo, por exemplo, estão a Chemicals, produtora de corantes ácidos para o couro, e a Isogama, produtora de biocidas e conservantes47.

Dado que a variedade dos produtos utilizados no segmento de couro é alta e a tecnologia necessária para produção não representa barreira relevante, o nível de competição no segmento é elevado. Nesse contexto, as maiores empresas globais de químicos para couro têm adotado a estratégia de realocar sua produção no leste asiático, como forma de reduzir custos de produção e ganhar competitividade. Essa tendência tem levado ao fechamento de fábricas no Brasil e à existência de uma capacidade ociosa na indústria local, que vem perdendo espaço na competição com produtos importados.

A seguir, segue um panorama sobre os principais players do segmento.

A Lanxess é a líder global no segmento. Ela lidera o grupo de principais players juntamente com a BASF, Stahl e TFL, e tem atuação na oferta de produtos químicos para todas as etapas do tratamento do couro. A companhia opera uma mina de minério de cromo em Rustenburg, na África do Sul, o que lhe permite ter autossuficiência nesse insumo e realizar suprimento para terceiros. O minério de cromo é processado na cidade de Newcastle, também na África do Sul, e entregue à planta em Merebank, Durban, onde a Lanxess utiliza os produtos químicos de cromo

44 http://www.quimica.com.br/pquimica/logistica-transporte-embalagem/transporte-quimico-competitividade-setorial-exige-absorver-impactos-das-mudancas-normativas-sem-afetar-qualidade/. Acessado em 08/01/2014 45 Relatório de Analista 46 Percepção coletada em entrevistas. Consórcio não teve acesso a dados de market share do mercado local 47 Planilha de empresas da ABIQUIM

Page 27: Relatório 4 – Químicos para couro

27

Potencial de diversificação da indústria química Brasileira - Relatório 4

para a produção de sais de curtimento de couro para a indústria mundial. A Lanxess é o único produtor de químicos para couro que tem sua própria mina de minério de cromo48.

Além da integração vertical para trás na produção de cromo, a Lanxess também possui uma unidade de produção de taninos sintéticos na Alemanha. A empresa se beneficia de uma rede integrada com outras unidades de negócios, o que lhe permite não só acesso a serviços periféricos - como os de logística e de fornecimento de energia – mas também acesso a matérias-primas. Um exemplo disso é o uso de ftalato de sódio, um subproduto da fabricação de resinas de troca iônica, usado na produção de taninos.

No Brasil, a Lanxess estabeleceu seus negócios nas áreas de pigmentos inorgânicos e produtos para o tratamento de couros. Após fechamento de uma planta local em 2006 na Bahia, a empresa possui atualmente uma única unidade fabril localizada em Porto Feliz (SP) e um laboratório em São Leopoldo (RS) para atender as empresas coureiro-calçadistas do Vale dos Sinos.

A BASF também conta com um portfólio de produtos que abrange todo o processamento do couro. Além de fábricas na França, nos EUA, na Índia e na China, a BASF também atua no Brasil, importando de sua matriz tecnologias para tingimento e acabamento de couros para bancos de automóveis e para estofamentos da indústria moveleira. Como o couro para automóvel precisa passar por testes rigorosos de qualidade, a BASF importa seus corantes estáveis e disponibiliza a linha de resinas acrílicas e poliuretânicas, produzidas em sua unidade de Guaratinguetá-SP49.

A Stahl é composta de quatro divisões que oferecem produtos e serviços, tanto no processamento do couro, como em revestimentos de alto desempenho para determinadas áreas do mercado. A empresa é especializada em revestimentos de alta qualidade para couro, substratos flexíveis e não flexíveis, artigos têxteis e produtos relacionados, além de químicos e corantes para o processamento de couro50. No Brasil, está localizada no Rio Grande do Sul e trabalha tanto com a fabricação local de alguns produtos, quanto com importação intraindústria daqueles fabricados fora do País. Para atender algumas regiões estratégicas da indústria de couro, a Stahl utiliza uma estrutura ampla de distribuição de produtos com representantes e distribuidores.

A MK Química é uma das primeiras empresas nacionais no ramo e conta com um portfólio de produtos para atender as três etapas de beneficiamento do couro. Sua produção se concentra na fábrica principal de Portão (RS) e na de Juazeiro (BA). Trata-se do único fornecedor que produz localmente químicos para couro à base de cromo.

A TANAC, empresa nacional com planta no Rio Grande do Sul, tem capacidade instalada de 36 mil toneladas por ano para produção de extratos vegetais. Nessa unidade são desenvolvidos e produzidos os taninos para o tratamento do couro, oriundos de fontes naturais renováveis. A empresa possui aproximadamente 30 mil hectares de florestas próprias, que garantem o abastecimento de matéria-prima para as suas unidades. Além de atender a demanda local, a empresa exporta para mais de 70 países51, sendo a líder global na produção de taninos vegetais.

48 Site da companhia 49 http://www.quimicaederivados.com.br/revista/qd423/couro3.htm 50 http://www.stahl.com/default.aspx?cms=67&lang=pt-PT 51 http://www.tanac.com.br/pt-br/como_comprar

Page 28: Relatório 4 – Químicos para couro

28

Potencial de diversificação da indústria química Brasileira - Relatório 4

A Buckman atua no Brasil desde 1971 e está localizada na cidade de Sumaré, em São Paulo. A empresa tem buscado soluções ecologicamente corretas para reduzir o consumo de químicos comprovadamente poluidores, além de focar em soluções no processo de reaproveitamento de água em programas para controle de microrganismos e na preservação de peles verdes. A linha de preparações químicas inclui sistemas para ribeira 52 , em conjunto com aplicações em recurtimento e acabamento; sua linha de produtos químicos para couro inclui fixadores, antiespumantes, floculantes, coagulantes, bactericidas, fungicidas, preservantes, desengraxantes, agentes dispersantes, taninos sintéticos, pigmentos, corantes e produtos enzimáticos.

4.2. Investimentos

Conforme descrito anteriormente, a maior parte dos investimentos recentes no setor envolveu o estabelecimento de unidades produtivas globais no continente asiático. A seguir, é apresentado um breve histórico sobre os investimentos recentes realizados pelas empresas do segmento.

Em dezembro de 2010, a Lanxess anunciou investimentos para construção de uma unidade de químicos para couro em Changzhou, na China. Com investimento de 30 milhões de euros e com capacidade para a produção de 50 mil toneladas, a planta foi inaugurada em 2013 para fabricação de produtos premium para couro53. Além disso, na planta de Newcastle, na África do Sul, a empresa investiu cerca de 40 milhões de euros em uma nova unidade de concentração de CO2. A companhia opera uma planta no local para a produção de dicromato de sódio – que é, subsequentemente, transformado em materiais de curtimento de cromo para a indústria de couro mundial. A tecnologia de produção requer fornecimento contínuo de CO2 altamente concentrado, o que será viabilizado por meio da nova unidade, trazendo autossuficiência nesse produto para a empresa54.

A BASF55, em 2012, anunciou o remodelamento de seus negócios para a indústria do couro e têxtil, focando na região da Ásia-Pacífico e em químicos de maior valor agregado para o setor automotivo e para artigos têxteis premium. O plano inclui o estabelecimento de um centro global de pesquisa e desenvolvimento para esses dois segmentos em Xangai, na China56, já esperado para 2014. Esse novo centro estará localizado dentro do campo de inovação da BASF, já estabelecido na região e que serve como plataforma de integração de recursos de P&D.

Em 2012, a Clariant colocou à venda sua unidade global de negócios de químicos para couro57. Em 2013, essa unidade foi comprada pela Stahl.

No Brasil, em 2012, a Oxiteno (Grupo Ultrapar) adquiriu uma empresa de produtos químicos no Uruguai, produtora de taninos, detergentes e surfactantes, por 79 milhões de dólares. A empresa,

52 Sub-etapa do curtimento que envolve hidratação, limpeza e depilação do couro 53 Relatório Anual da Lanxess 2011 e 2012. 54 http://lanxess.com/en/corporate/products-solutions/product-stories/2013-00115e/ 55 http://www.investimentosenoticias.com.br/ultimas-noticias/tempo-real/basf-mantera-o-foco-de-seu-negocio-de-quimicos-para-couros-e-texteis.html 56http://www.performancechemicals.basf.com/ev/internet/leather/en_GB/news/announcements/ focus_leather_textile 57 http://www.bloomberg.com/news/2013-02-03/clariant-disposal-seen-ending-leather-chemical-m-a-false-starts.html

Page 29: Relatório 4 – Químicos para couro

29

Potencial de diversificação da indústria química Brasileira - Relatório 4

a American Chemical, é dona de uma fábrica de produtos químicos com capacidade produtiva de 81 mil toneladas por ano e está localizada próxima ao porto de Montevidéu. Os principais mercados consumidores são as indústrias de limpeza, de higiene pessoal e de couro58.

4.3. Principais clientes

Os curtumes são a unidade industrial característica da indústria do couro. É a unidade que processa a pele do animal e fornece o material para as demais etapas de tratamento do couro. Os curtumes podem ser classificados de acordo com seu envolvimento nas etapas de processamento. Assim, têm-se os curtumes não integrados (curtume de wet blue, semiacabado e de acabamento) e os integrados, que são os mais abrangentes, pois realizam todas as operações referentes ao processamento do couro.

Atualmente, o Brasil conta com cerca de 650 curtumes em operação59, segundo os dados da RAIS/Ministério do Trabalho. De acordo com a classificação do Estudo de Competitividade do Setor de Curtumes no Brasil, publicado pelo CICB em 2013, 12,9% dos curtumes são considerados de grande porte, com o restante se dividindo em grupos de pequenas e médias empresas60. Os curtumes de grande porte são responsáveis por 72% da produção nacional de couro, enquanto os de médio e pequeno porte correspondem aos 28% restantes.

Tais curtumes se localizam, majoritariamente, na região sul e sudeste, que concentram cerca de 75% dos estabelecimentos. Os estados do Rio Grande do Sul e São Paulo são responsáveis pela maior aglomeração de curtumes, conforme ilustra a Figura 15.

58 Relatório de Analista 59 Esse número exclui pelo menos 363 empresas, identificadas como fechadas ou inativas pelo Estudo do CICB. 60 Critério: micro - de 1 a 9 funcionários; pequena – de 10 a 49 funcionários; média – de 50 a 249 funcionários; grande – mais de 250 funcionários.

Page 30: Relatório 4 – Químicos para couro

30

Potencial de diversificação da indústria química Brasileira - Relatório 4

Figura 15: Concentração geográfica dos curtumes brasileiros

Esta distribuição dos clientes tem impacto na localização das empresas de químicos para couro que atuam no Brasil. Players como BASF, Bayer, Clariant e MK Química têm seu escritório central ou fábrica na região do Vale dos Sinos (RS), enquanto a TFL Brasil e a Lanxess têm fábrica e escritórios em São Leopoldo (RS)61.

5. Indústrias relacionadas De acordo com as entrevistas realizadas com especialistas do setor, identificou-se que as máquinas e equipamentos utilizados na indústria destinada ao setor de químicos para couro são, em sua maioria, fabricados no País. Existe, portanto, disponibilidade e adequação tecnológica para as unidades produtivas estabelecidas localmente. Este tópico não representa vantagem ou desvantagem competitiva relevantes para o Brasil no segmento analisado.

61 Sites das empresas

Fonte: RAIS/Minstério do Trabalho. Elaboração Bain/ Gas Energy

CONCENTRAÇÃO GEOGRÁFICA DOS CURTUMES BRASILEIROS

Menor que 2%

de 2%- 5%

de 5%- 15%

Maior que 15%RS30,3%

ES1%

SP22,1%

MG10,1%

MS2,2%

MT3,4%

GO2,8%

AM0,3%

AC0,1% RO

0,7%

RR0,7%

AP0%

PA1,5%

TO0,7% BA

3,4%

PI0,4%

MA1,5%

CE2,2%

RJ1%

SC1,9%

SE 0,6%

AL 0,3%

PE 2,2%PB 0,4%

RN 0,9%

PR9,1%

Page 31: Relatório 4 – Químicos para couro

31

Potencial de diversificação da indústria química Brasileira - Relatório 4

6. Diagnóstico

Como observado neste Relatório, apesar de o Brasil ser um dos maiores produtores de couro do mundo e dessa indústria ter apresentado crescimento alinhado com o PIB no decorrer dos últimos anos, existem alguns obstáculos que têm dificultado a competitividade da indústria local deste segmento.

Sob a ótica das condições de demanda, o foco das exportações brasileiras de couro no estágio wet blue expressa uma demanda pouco sofisticada de químicos, o que leva a um consumo predominantemente de commodities e abre pouco espaço para o desenvolvimento local de produtos com caráter de especialidades. Este fator se soma à perda gradual de competitividade das indústrias nacionais consumidoras de couro, especialmente a calçadista, que vem perdendo participação nas exportações globais. Os mercados com maior potencial de crescimento de consumo são o moveleiro e o automobilístico, entretanto, considerando o crescimento agregado dos mercados consumidores, espera-se que o segmento de químicos para couro cresça em média 2% ao ano, abaixo da projeção esperada para o crescimento do PIB brasileiro.

Do ponto de vista dos fatores de produção, o ambiente regulatório pouco efetivo relacionado ao sistema de drawback e aos créditos de tributos, atrelado ainda à necessidade de importação de matérias-primas e aos demais fatores referentes ao “Custo Brasil” têm levado diversas empresas do segmento a fecharem unidades produtivas locais, priorizando regiões mais competitivas em custo, como países asiáticos. Os players remanescentes apresentam capacidade parcialmente ociosa e dificuldades crescentes na concorrência com produtos importados.

Este panorama ainda é agravado pela escalada tarifária padrão imposta por outros países consumidores de couro, os quais incentivam a entrada do couro nos estágios iniciais de tratamento e dificultam as importações de produtos acabados que possam concorrer com suas indústrias locais, o que tem contribuído para o Brasil permanecer como exportador de matéria-prima (couro wet blue) na indústria do couro.

Apesar de tal contexto dificultar novos investimentos no segmento, existem oportunidades que podem ser exploradas. Com um mercado nacional estimado em 380 milhões de dólares e com uma balança comercial pouco representativa frente a outros segmentos priorizados pelo Estudo, as oportunidades aqui apontadas apresentam menor potencial quando consideradas no âmbito geral do Estudo de Diversificação. Entretanto, tais iniciativas gerariam impacto significativo quando considerada a cadeia do couro no Brasil.

Percebe-se, neste Relatório, que boa parte dos obstáculos relacionados ao segmento de químicos para couro refere-se à cadeia a jusante do couro e a mercados consumidores. Entretanto, a descrição de oportunidades de investimento nestes elos da cadeia foge ao escopo do presente Estudo.

Com relação aos químicos para couro especificamente, deve-se incentivar a produção de taninos vegetais e o desenvolvimento local de químicos com base em óleos naturais, como as formulações de engraxe para o processo do couro. Enquanto a primeira medida poderia permitir o aumento das exportações do Brasil neste tipo de produto, a segunda alavancaria o

Page 32: Relatório 4 – Químicos para couro

32

Potencial de diversificação da indústria química Brasileira - Relatório 4

potencial nacional existente nas matérias-primas com base em oleoquímica. Sobre o fomento à produção dos taninos, a empresa TANAC surge como player estratégico para a oportunidade, pois representa uma companhia nacional com liderança global em seu nicho de atuação.

7. Linha de ação

Políticas de fomento ao segmento podem ser aplicadas tanto diretamente para o segmento de químicos para couro, quanto para às cadeias a jusante do couro e seus mercados consumidores.

Conforme identificado por especialistas do setor, como política de desenvolvimento prioritária a ser avaliada já no curto prazo para o segmento, deve-se fazer valer os mecanismos de créditos tributários referentes à compra de químicos para couro produzidos nacionalmente, garantindo, assim, o funcionamento do regime de drawback sem prejuízos aos produtores locais. É essencial gerir de maneira mais eficaz esses mecanismos, evitando que os mesmos se tornem um ônus intransponível à indústria nacional.

Por fim, com relação à cadeia a jusante, deve-se estudar mecanismos de incentivo que aumentem a competitividade da indústria de couro no Brasil. Ao gerar maior incentivo à produção do couro acabado por meio de políticas estratégicas e direcionadoras, será possível criar um cenário mais favorável ao desenvolvimento do segmento de químicos para couro no País.

Page 33: Relatório 4 – Químicos para couro

33

Potencial de diversificação da indústria química Brasileira - Relatório 4

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ABQTIC. <http://www.guiabrasileirodocouro.com.br/>. Acessado em 06/03/2014

ABQTIC. Revista do Couro. Edição de março, 2013

ABREU, M. Reciclagem do resíduo de cromo da indústria do curtume como pigmentos cerâmicos, 2006. Tese (Doutorado) – Universidade de São Paulo, 2006

ALICEWEB – Dados sobre importação e exportação dos segmentos.

BASF. <http://www.performancechemicals.basf.com/ev/internet/leather/en_GB/news/ announcements/focus_leather_textile>. Acessado em 06/03/2014

BEEF POINT. Entenda porque a Índia deve ter a maior exportação mundial de carne em 2013, 44% maior que a brasileira (USDA), 2013.

BLOOMBERG. Clariant exit seen ending leather-chemical M&A false starts. <http://www.bloomberg.com/news/2013-02-03/clariant-disposal-seen-ending-leather-chemical-m-a-false-starts.html > Accessado em 04/02/2013.

BNDES. Informe setorial, Área Industrial (no. 3), 2007.

BNDES. Setorial, Panorama do Setor de Couro no Brasil. Rio de Janeiro, n. 16, p. 57-84, 2002 BNDES. Potencial de diversificação da indústria química brasileira, Relatório 2, 2014.

CICB. Estudo de Competitividade do Setor de Curtumes no Brasil, 2013

COUROBUSINESS. <http://www.courobusiness.com.br/comercio/26.php>. Acessado em 06/03/2014

COUROBUSINESS. <http://www.courobusiness.com.br/comercio/04.php>. A Acessado em 06/03/2014

DNPM. Anuário 2012, 2012

EMBRAPA FLORESTAS. <http://www.cnpf.embrapa.br/publica/comuntec/edicoes.htm. Acessado em 27/02/2014>. Acessado em 06/03/2014

EUROPEAN COMISSION. Enterprise and Industry, REACH. <http://ec.europa.eu/enterprise/sectors/chemicals/reach/index_en.htm> Acessado em 06/03/2014 FOOD AND AGRICULTURE ORGANIZATION OF THE UNITED NATIONS. World Statistical Compendium for raw hides and skins, leather and leather footwear 1993-2012, 2013.

FOREIGN AGRICULTURE SERVICE. Ending Stock. <http://apps.fas.usda.gov/psdonline/> Acessado em 06/03/2014

Page 34: Relatório 4 – Químicos para couro

34

Potencial de diversificação da indústria química Brasileira - Relatório 4

INVESTIMENTOS E NOTÍCIAS. BASF manterá o foco de seu negócio de Químicos para Couros e Têxteis. <http://www.investimentosenoticias.com.br/ultimas-noticias/tempo-real/basf-mantera-o-foco-de-seu-negocio-de-quimicos-para-couros-e-texteis.html> Acessado em 06/03/2014 LANXESS. Business Profile, 2012

LANXESS. Relatório Anual, 2012

LANXESS. <http://lanxess.com/en/corporate/products-solutions/product-stories/2013-00115e/> Acessado em 06/03/2014

MINISTÉRIO DA AGRICULTURA, PECUÁRIA E ABASTECIMENTO. Plano Agrícola e Pecuário 2012-2013, 2012.

MINISTÉRIO DA AGRICULTURA, PECUÁRIA E ABASTECIMENTO. Projeções do Agronegócio Brasil 2012/13, 2013.

MINISTÉRIO DAS MINAS E ENERGIA. Relatório Técnico 21. 2009

MK QUÍMICA. A sustentabilidade e os insumos químicos para o couro, 2013

QUÍMICA.COM.BR. <http://www.quimicaederivados.com.br/revista/qd423/couro3.htm> Acessado em 06/03/2014

QUÍMICA.COM.BR. <http://www.quimica.com.br/pquimica/couro-e-curtumes/quimica-do-couro-ciencia-transforma-pele-natural-em-couro-duravel/3/> Acessado em 06/03/2014

QUÍMICA.COM.BR. <http://www.quimica.com.br/pquimica/logistica-transporte-embalagem/transporte-quimico-competitividade-setorial-exige-absorver-impactos-das-mudancas-normativas-sem-afetar-qualidade/> Acessado em 06/03/2014

STAHL. <http://www.stahl.com/default.aspx?cms=67&lang=pt-PT> Acessado em 06/03/2014

TANAC. <http://www.tanac.com.br/pt-br/como_comprar> Acessado em 06/03/2014

UOL. <http://educacao.uol.com.br/disciplinas/geografia/minerais-metalicos-ocorrencia-e-exploracao-no-Brasil.htm> Acessado em 06/03/2014