RELATÓRIO TÉCNICO DA FAUNA DA CONTRA COSTA DE...

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GOVERNO DO ESTADO DO PARÁ SECRETARIA ESPECIAL DE ESTADO DE INFRAESTRUTURA E LOGÍSTICA PARA O DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL SECRETARIA DE ESTADO DE MEIO AMBIENTE DIRETORIA DE ÁREAS PROTEGIDAS COORDENADORIA DE ECOSSISTEMAS RELATÓRIO TÉCNICO DA FAUNA DA CONTRA COSTA DE SOURE – MAR TERRITORIAL – ILHA DE MARAJÓ – PARÁ BELÉM/PA 2012

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GOVERNO DO ESTADO DO PARÁ SECRETARIA ESPECIAL DE ESTADO DE INFRAESTRUTURA E

LOGÍSTICA PARA O DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL SECRETARIA DE ESTADO DE MEIO AMBIENTE

DIRETORIA DE ÁREAS PROTEGIDAS COORDENADORIA DE ECOSSISTEMAS

RELATÓRIO TÉCNICO DA FAUNA DA CONTRA COSTA DE SOURE – MAR TERRITORIAL –

ILHA DE MARAJÓ – PARÁ

BELÉM/PA 2012

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Simão Robison Oliveira Jatene Governador do Estado do Pará

Helenilson Cunha Pontes

Vice-governador do Estado do Pará

Vilmos da Silva Grunvald Secretário Especial de Estado de Infraestrutura e

Logística para o Desenvolvimento Sustentável

José Alberto da Silva Colares Secretário de Estado de Meio Ambiente

Crisomar Lobato Diretor de Áreas Protegidas

Jocilete de Almeida Ribeiro

Coordenadora de Ecossistemas

Nívia Gláucia Pinto Pereira Gerente de Proteção à Fauna - GPFAUNA

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EQUIPE TÉCNICA

GPFAUNA Luciana Alves de Souza

Rosilene do Socorro da Costa Bittencourt Thatiana Figueiredo (Colaboradora Eventual)

Pedro Alexandre Machado Sampaio (Colaborador Eventual) Joyce Ferreira Macedo de Andrade (Estagiária) Ana Luísa Creão Duarte Pinheiro (Estagiária)

João Marcelo Vieira Lima

Revisão Ortográfica

DADOS INTERNACIONAIS PARA CATALOGAÇÃO NA PUBLICAÇÃO (Biblioteca da SEMA)

Relatório Técnico da Fauna da Contra Costa de Soure – Mar Territorial Ilha do Marajó. / Secretaria de Estado de Meio Ambiente. – Belém: SEMA, 2010.

p. 119.

1. Meio Ambiente. 2. Fauna. 3. Ilha do Marjó - Soure I. Secretaria de Estado de Meio Ambiente. II Título.

. CDD 22.ed. – 333.72

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LISTA DE FOTOGRAFIAS

Fotografia 1................................................................................................................29

Fotografia 2................................................................................................................29

Fotografia 3................................................................................................................29

Fotografia 4................................................................................................................29

Fotografia 5................................................................................................................31

Fotografia 6................................................................................................................31

Fotografia 7................................................................................................................31

Fotografia 8................................................................................................................32

Fotografia 9................................................................................................................33

Fotografia 10..............................................................................................................33

Fotografia 11..............................................................................................................35

Fotografia 12..............................................................................................................35

Fotografia 13..............................................................................................................52

Fotografia 14..............................................................................................................62

Fotografia 15..............................................................................................................66

Fotografia 16..............................................................................................................67

Fotografia 17..............................................................................................................67

Fotografia 18..............................................................................................................67

Fotografia 19..............................................................................................................69

Fotografia 20..............................................................................................................73

Fotografia 21..............................................................................................................74

Fotografia 22..............................................................................................................74

Fotografia 23..............................................................................................................81

Fotografia 24..............................................................................................................81

Fotografia 25..............................................................................................................82

Fotografia 26..............................................................................................................88

Fotografia 27..............................................................................................................92

Fotografia 28..............................................................................................................92

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LISTA DE PRANCHAS

Prancha 1...................................................................................................................28

Prancha 2...................................................................................................................30

Prancha 3...................................................................................................................33

Prancha 4...................................................................................................................41

Prancha 5...................................................................................................................47

Prancha 6...................................................................................................................50

Prancha 7...................................................................................................................53

Prancha 8...................................................................................................................54

Prancha 9...................................................................................................................71

Prancha 10.................................................................................................................77

Prancha 11.................................................................................................................78

Prancha 12.................................................................................................................79

Prancha 13.................................................................................................................79

Prancha 14.................................................................................................................82

Prancha 15.................................................................................................................83

Prancha 16.................................................................................................................84

Prancha 17.................................................................................................................95

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LISTA DE MAPAS

Mapa 1........................................................................................................................10

Mapa 2........................................................................................................................11

Mapa 3........................................................................................................................16

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SUMÁRIO

PARTE II - MEIO BIOLÓGICO ................................................................................. 14 CAPÍTULO II – FAUNA DA CONTRA COSTA DE SOURE E MAR TERRITORIAL 14 1 INTRODUÇÃO ....................................................................................................... 14 2 METODOLOGIA .................................................................................................... 23

2.1 METODOLOGIA DA FAUNA TERRESTRE E AVIFAUNA .............................. 23 2.2 METODOLOGIA DA FAUNA AQUÁTICA ........................................................ 24

3 DESCRIÇÃO DO MEIO BIOLÓGICO .................................................................... 25

3.1 CARACTERIZAÇÃO DA ÁREA DE ESTUDO ................................................. 25 3.1.1 Área Estuarina, Área Costeira e Manguezais........................................ 25 3.1.2 Áreas de Várzea e Campos Submersíveis ............................................ 28

3.2 DESCRIÇÃO DA FAUNA PARA UNIDADE DE CONSERVAÇÃO PROPOSTA ............................................................................................................................... 30

3.2.1 Município de Soure ................................................................................. 31 3.2.2 Fauna Aquática ........................................................................................ 36 3.2.3 Município de Chaves ............................................................................... 59 3.2.4 Levantamento da Fauna Aquática ......................................................... 68

4 ATIVIDADE PESQUEIRA ...................................................................................... 91 5 COMUNIDADES OU POPULAÇÕES SINGULARES.......................................... 100

5.1 ESPÉCIES AMEAÇADAS, ENDÊMICAS, DE DISTRIBUIÇÃO RESTRITA E PRINCIPAIS PRESSÕES E AMEAÇAS À FAUNA LOCAL. ................................ 100

6 PRINCIPAIS PROBLEMAS QUE AFETAM A FAUNA ....................................... 101 7 RECOMENDAÇÕES ............................................................................................ 102 8 CONCLUSÃO ...................................................................................................... 104 REFERÊNCIAS ....................................................................................................... 106 ANEXO A - Listagem de espécies de animais estudadas. ................................. 115

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PARTE II - MEIO BIOLÓGICO

CAPÍTULO II – FAUNA DA CONTRA COSTA DE SOURE E MAR TERRITORIAL

1 INTRODUÇÃO

A diversidade biológica na Terra não está distribuída uniformemente, pois os

organismos não se distribuem ao acaso. Esse padrão de distribuição de espécies é

fortemente influenciado por caracteres históricos e ecológicos e deve ser visualizado

dentro do processo evolutivo de toda a biota. Como consequência disso, existem

áreas que possuem maior biodiversidade do que outras nos seus principais aspectos

como taxonômico, genético e de ecossistemas (CARVALHO, 2009).

A criação de Unidades de Conservação deve levar em consideração os

requisitos ecológicos das espécies e a quantidade de espaço necessário para

suportar uma população mínima viável, ou seja, a população deve ser grande o

bastante para manter a espécie fora do perigo da extinção estocástica. (RICKLEFS,

2003). Assim o estudo de fauna de regiões insuficientemente conhecidas tem

grande importância, não só para o acompanhamento do status de uma determinada

espécie como também o levantamento de espécies bioindicadoras que fornecem

informações relevantes do ecossistema em que vivem (GRELLE et al., 1999). A

Região Amazônica é responsável por grande número de espécies novas devido às

extensas áreas ainda inexploradas, alvo de recentes expedições científicas. É nessa

região que foram descritas recentemente quatro novas espécies de primatas

(FERRARI et al., 1998).

O conhecimento científico existente sobre a diversidade amazônica ainda é

pequeno, principalmente em função de sua grande dimensão, elevada riqueza de

espécies e diversidade de habitat. Apesar do pouco conhecimento, sabe-se que a

maioria das espécies não é amplamente distribuída na região, mas ocorre em

mosaicos delimitados principalmente pelos grandes rios que cortam a floresta,

formando várias áreas de endemismo. (DA SILVA et al., 2005 apud PAULA;

LEMOS, 2008).

O estudo de fauna em áreas protegidas é ainda insuficientemente, sendo o

mesmo considerado especialmente importante já que várias espécies são

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consideradas bioindicadoras, fornecendo indícios da situação do ecossistema em

que vivem, ou seja, é como uma avaliação integrada dos efeitos ecológicos. Alia-se a

isso o fato de muitas espécies silvestres serem frágeis ecologicamente,

necessitando normalmente de grandes espaços relativamente preservados para a

manutenção de populações viáveis. Os mamíferos também ocupam vários níveis na

cadeia trófica, atuando tanto como dispersores de sementes quanto como

predadores de topo da cadeia alimentar, sendo afetados direta ou indiretamente por

perturbações nos níveis inferiores (TERBORGH et al., 1999).

O Arquipélago do Marajó está localizado, integralmente, no Estado do Pará, é

considerado como uma área extremamente rica devido aos seus recursos naturais

(hídricos e biológicos), apresentando uma diversidade de ecossistemas com

espécies da flora e fauna ameaçadas de extinção ou endêmicas, contando com

belezas únicas.

O Ministério do Meio Ambiente através da realização de uma série de

workshops para a definição de áreas prioritárias que resultaram na identificação de

900 áreas para a conservação da biodiversidade, sendo 385 na Amazônia e 164 na

zona costeira e marinha. Entre as áreas da Zona Costeira e Marinha, a região do

Marajó foi considerada como de importância extremamente alta para conservação.

O Arquipélago é formado por um conjunto de ilhas, formando a maior ilha

fluviomarítima do mundo, com 49.606 Km.

A área proposta para Unidade de Conservação (UC), foco desse trabalho,

localiza-se nos municípios de Soure, S 00º43’00’’, O 48º31’24’1” e Chaves S

00º09’36” , O 49°59’18”, compondo a Microrregião geográfica do Arari, formada

pelos municípios: Cachoeira do Arari, Chaves, Muaná, Ponta de Pedras, Salvaterra,

Santa Cruz do Arari e Soure.

O Município de Soure foi fundado, em 1847, com o nome de Monteforte e,

1859, recebeu o nome de Soure. Apresenta área igual a 3.513 Km², com população

estimada em 23.001 habitantes em 2010 (IBGE).

O Município de Chaves foi criado no ano de 1758. Apresenta área de

13.084,879 km², sendo o maior município do Arquipélago do Marajó, estando a uma

altitude de 6 metros. Em 2007, apresentava população estimada de 21.005

habitantes (IBGE).

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É importante ressaltar que houve, na época, a solicitação do Prefeito Municipal

de Soure, Sr. João Luiz Melo, a fim de realizar estudos para a criação de uma

Unidade de Conservação (Reserva Biológica) na Costa de Soure localizada entre a

Ilha do Machado e Pacoval, onde está o maior viveiro pesqueiro do Brasil.

A finalidade desses estudos é a conservação dos recursos pesqueiros, uma

vez que a exploração dos mesmos está se intensificando na área. Complementou

ainda, que o Arquipélago do Marajó tem um enorme potencial pesqueiro e a Reserva

da Biosfera deverá incluir as doze milhas náuticas do mar territorial, havendo,

portanto, a necessidade de pesquisas científicas voltadas para isso. Além disso, os

municípios de Soure e Salvaterra são considerados o portal do turismo no Marajó,

uma potencialidade que deveria ser mais bem explorada. Citou que cada município

tem sua potencialidade econômica, alguns têm a agropecuária, outros a exploração

de açaí e assim por diante (LIMA, 2009).

Entre as ações com o intuito de aumentar os esforços para a conservação

dos recursos naturais encontram-se a criação de Unidades de Conservação da

Natureza (UCs) que ainda não garantem a preservação dos ecossistemas, mas que

em conjunto com outras ações e políticas públicas podem assegurar uma

manutenção eficaz dos ecossistemas, evitando a fragmentação de habitat

importantes para a biodiversidade.

A fauna e flora da zona costeira compõem um sistema biológico complexo e

sensível, que abriga extraordinária interrelação de processos e pressões, exercendo

um papel fundamental na maior parte dos mecanismos reguladores costeiros. Esses

ecossistemas são responsáveis por ampla gama de “funções ecológicas”, tais como

a prevenção de inundações, intrusão salina e erosão costeira, proteção contra

tempestades, reciclagem de nutrientes e substâncias poluidoras e provisão de

habitat e recursos para uma variedade de espécies explotadas, direta ou

indiretamente (BRASIL, 2002 apud BRASIL, 2007).

Segue abaixo dois recortes do Mapa de Áreas Prioritárias para a Zona

Costeira e Marinha, especificamente na Região do Marajó, demonstrando a

definição do Ministério do Meio Ambiente - MMA das áreas de importância biológica

para a Zona Costeira e Marinha e suas respectivas ações prioritárias. (Mapas 1 e 2)

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Fonte: MMA (2007).

Mapa 1 – Recorte do Mapa de Áreas Prioritárias para a Zona Costeira e Marinha da Região Norte.

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Mapa 2 – Recorte do Mapa de Áreas Prioritárias para a Zona Costeira e Marinha, evidenciando o Arquipélago do Marajó.

Fonte: MMA (2007).

Código Área Ação

AmZc268 Corredor do Maguari Criar UC – PI

Zm037 Plataforma do Amapá + Definição de Área Exclusão Pesca

Golfão Marajoara

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Como se pode observar nos mapas acima, a foz amazônica e a Ilha de

Marajó são indicadas como áreas de importância biológica muito alta e, portanto,

prioritárias para conservação.

O arquipélago marajoara, formado por dezesseis municípios dos quais doze

compõem a Ilha de Marajó, uma das regiões de grande beleza cênica e forte

influência da “ditadura das águas”, abrigando uma diversidade de paisagens e

ecossistemas que não existem em nenhum outro lugar do mundo. Esses

ecossistemas únicos contêm uma variedade enorme de espécies animais e vegetais

que garantem a subsistência do povo marajoara.

O Arquipélago do Marajó está situado na Região Norte do Brasil, nordeste do

Estado do Pará, (CRUZ, 1987), entre as latitudes 00º 10’ e 01º 48’ S e as longitudes

48º 22’ e 50º 49’ W (NASCIMENTO, 1991). É uma das mais ricas regiões do país

em termos de recursos hídricos e biológicos, além de possuir localização estratégica

e privilegiada. É formado por um conjunto de ilhas, que, em seu todo, constitui a

maior ilha flúvio-marítima do mundo, com 49.606 Km². Em sua porção noroeste,

recebe águas doces, barrentas e cheias de nutrientes do Rio Amazonas; ao norte,

as águas marinhas do Oceano Atlântico; a nordeste, as águas doces e barrentas da

Baía do Marajó; ao sul, as águas doces e barrentas do Rio Pará, propiciando

pescarias em áreas continentais e marinhas, com elevada diversidade de peixes

provenientes desses dois sistemas. (PROBIO-MARAJÓ, 2007).

Pertence ao Bioma Zona Costeira/Marinha e está inserida no próprio contexto

da Bacia Amazônica, que possui a maior rede hidrográfica do planeta que são

determinantes para que a região sofra alagações periódicas, pois seus rios são

condicionados pelo próprio regime das chuvas que caem na região, que por sua vez

dependem da circulação atmosférica dentro da zona intertropical Sul-Americana e

dos deslocamentos das massas de ar. O clima é equatorial úmido quente-chuvoso

com temperatura média em torno dos 25º C, com chuvas torrenciais bem

distribuídas por todo o ano. Esse clima se caracteriza por possuir duas estações

anuais intensas, tanto a estação chuvosa quanto a seca. Nessa, o solo tende a

secar com o passar dos dias, rachando e tornando-se árido e duro, proporcionando

as torroadas (sulcos e alterações de terreno). Na estação chuvosa, as chuvas

contribuem para o aumento no volume da água dos rios, provocando as enchentes

que inundam a ilha em mais de dois terços de sua superfície (CRUZ, 1987).

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Situada dentro da zona neotropical, a vegetação do Bioma Zona

Costeira/Marinho no Arquipélago do Marajó apresenta ecossistemas variados, há

ainda uma vasta fauna e micro-organismos, que contribuem para o balanço

ecológico desse bioma. Essa diversidade biológica é resultado da interação das

variadas condições geoclimáticas predominantes. Por essas e outras características,

é considerado como sendo a maior reserva de diversidade biológica do mundo,

havendo estimativas de que abrigue pelo menos a metade de todas as espécies

vivas do planeta (IBGE, 2004).

O presente relatório técnico compõe a descrição e avaliação rápida da

biodiversidade local dos municípios de Chaves e Soure com enfoque no diagnóstico

faunístico de expedições realizadas entre os períodos de junho de 2010 a maio de

2011. Os trabalhos em campo se justificam pela elevada importância ecológica da

área de estudo no âmbito de sua biodiversidade faunística e de ecossistemas

costeiros e estuarinos imprescindíveis à renovação natural dos estoques alvo de

uma das atividades econômicas mais relevantes do Estado do Pará que é a

atividade pesqueira.

A área de estudo compreende a zona da contra costa de Chaves e Soure que

se estende desde o Rio Arapixi no Município de Chaves até faixa do Mar Territorial,

pertencente ao Estado do Pará.

No estado, os estudos para criação de Unidades de Conservação de

Proteção Integral no Arquipélago do Marajó decorreram em função da iniciativa do

Governo do Estado do Pará/Secretaria de Estado de Meio Ambiente, no

cumprimento das determinações do Macrozoneamento Ecológico-Econômico do

Pará, instituído por meio da Lei nº 6.745/2005. No âmbito desse estudo foi apontado

um conjunto de ilhas na foz do Rio Amazonas no qual se inclui os municípios de

Chaves e Soure, como áreas de relevante importância ecológica e referência para

criação de Unidade de Conservação de Proteção Integral, assim como da Lei nº

7.398/2010 que "Dispõe sobre o Zoneamento Ecológico-Econômico da Zona

Costeira do Estado do Pará".

Os levantamentos práticos de fauna em campo ocorreram no final da estação

chuvosa no decorrer de duas excursões em campo de treze dias cada entre os

meses de junho de 2010 (Município de Chaves) e de maio de 2011 (Município de

Soure. Foram, também, realizados, de acordo com os conhecimentos técnico-

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científicos disponíveis em literatura, análises das informações pautadas nos

questionários aplicados.

Para execução dos trabalhos em campo foram realizadas duas expedições

(em grande embarcação) nas áreas em questão (Soure e Chaves), fazendo uso de

meio flutuante de grande porte que configurava o barco-mãe. Esse era a base

central dos levantamentos no qual todas as equipes estavam alocadas. As equipes

trabalhavam separadamente e se deslocavam com auxílio de embarcações menores

para realização das pesquisas técnico-científicas junto aos moradores das áreas

visitadas. Todos os levantamentos realizados são de grande importância, pois a

descrição e avaliação diagnóstica dos ecossistemas, da fauna e flora locais, bem

como os estudos de meio físico e socioeconomia são imprescindíveis para a

implementação futura de um manejo mais adequado a essa área.

Os trabalhos foram concentrados em alguns pontos específicos que foram

previamente determinados. Tais pontos foram: as sedes municipais para

levantamentos de ordem fundiária, socioeconômica, aplicação de questionários e

realização de arranjos institucionais. No Município de Chaves: comunidades da

Região de Arapixi (Vila São Sebastião do Arapixi, Comunidade Anunciação,

Comunidade Santa Luzia, e Vila Morais), Região do Canhoão (Vila Marataná,

Comunidade Pedra, Comunidade Bonito, Comunidade Arauá, Comunidade São

Pedro, Comunidade São Tomé, Vila Nossa Senhora e Nazaré, Vila Nossa Senhora

das Graças e Comunidade Redenção e na Região do Canal das Tartarugas (Ilha da

Melancia, Comunidade Taperebá, Comunidade Vila Nova, Vila Santa Quitéria, Vila

Nascimento, Nossa Senhora do Livramento e Comunidade Santo Antônio localizada

na Ilha do Camaleão). É fundamental esclarecer que essa divisão por “região”, foi

um recurso didático estabelecido pelas equipes da execução para facilitar as

metodologias aplicadas nas diferentes comunidade e vilas.

No Município de Soure, foram definidos os seguintes pontos de avaliação:

Praia do Machado; Ilha e Praia dos Camaleões, Canal e Rio das Tartarugas; Rio

Maruim; Rio e Praia Araraquara; Rio Pacoval e áreas do Mar Territorial para

levantamentos de meio físico, meio biológico, infraestrutura e saneamento básico,

meio socioeconômico e cultural.

Esses estudos foram realizados com o objetivo comum de preservação e/ou

conservação dos ecossistemas, pois a proteção e manejo adequado dessas áreas

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são cruciais para a manutenção da biodiversidade local para fins de pesquisa

técnico-científica, no grande propósito de atender as normas de educação

ambiental, e corroborar com o Sistema Nacional de Criação de Unidade de

Conservação (SNUC). E, finalmente, esta Unidade criada, servirá como uma das

Zonas Núcleo, atendendo ao critério estabelecido pela Órgão das Nações Unidas

para a Educação, Ciência e Cultura (UNESCO), visando o reconhecimento do

Arquipélago do Marajó como Reserva da Biosfera.

Espera-se que com a criação da UC e após implementação de seu plano de

manejo os moradores da área e seu entorno sejam sensibilizados no sentido de

colaborar com uma utilização sustentável da biodiversidade ali existente e passem a

ser os principais defensores da conservação ambiental e do uso moderado dos

recursos, uma vez que dependem deles para garantir a subsistência familiar e o bem

estar das comunidades locais e arredores.

Segue abaixo o mapa da área proposta para criação das Unidades de

Conservação estudadas, sendo diagnosticada a necessidade de unidades de

proteção integral e outra de uso sustentável na área em questão. Mapa 3 - Área coberta pela UC, sendo a ilha menor a do Machado e a maior, dos Camaleões.

Fonte: SEMA (2011).

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2 METODOLOGIA

2.1 METODOLOGIA DA FAUNA TERRESTRE E AVIFAUNA

Os Métodos seguiram as normas e procedimentos estabelecidos em estudos

anteriores para Avaliação Ecológica Rápida em grandes áreas (SOBREVILLA;

BATH, 1992; SAYRE et al., 2003).

Para o levantamento de fauna foi utilizado o método de Avaliação Ecológica

Rápida (EAR), comumente usado para avaliações de curta duração em grandes

áreas previamente selecionadas (SOBREVILLA; BATH, 1992; SAYRE et al., 2003),

além de técnica do Observador Participante, em que o pesquisador se identifica

junto à comunidade, dedicando o seu tempo nas tarefas relacionadas à pesquisa.

No processo do EAR, os critérios para a seleção das áreas se baseiam nos valores

biológicos supostos e conhecidos, nas condições de acesso dos ambientes, na

proximidade de paisagens, no grau de ameaças e na disponibilidade de informações

dos setores amostrados.

A coleta de dados no campo deu-se por entrevistas com moradores,

utilizando questionários semiestrutrados e pranchas impressas com fotografias das

prováveis espécies ocorrentes na região, e através de identificação visual/auditivo

direta por método de procura ativa diurna e aleatória empregada para diagnóstico da

herpetofauna, mamíferos e aves. O uso das pranchas auxiliou a confirmação de

espécies da fauna citadas e/ou avistadas. Quanto às identificações indiretas

incluíram vocalizações, pegadas, fezes, penas, pêlos, carcaças, etc. (BECKER ;

DALPONTE, 1999). Sempre que possível, os animais avistados eram fotografados

para posterior confirmação da espécie (Anexo A).

Durante as procuras ativas, foi utilizado binóculo em caminhadas, com

paradas intercaladas o que permite uma melhor percepção de ruídos e movimentos.

O método de censo, por transecto de aves e primatas não foi realizado devido às

condições alagadiças e o curto período de visitação às áreas. Foram consideradas

as observações de outros membros da equipe e dos guias de campo. Houve

observações quando embarcado em canoa motorizada, com o intuito de pesquisar

ambientes de matas ciliares, bosques de siriúba Avicennia germinans (Ecossistema

Manguezal) e ao longo de extensos trechos de praias, onde foi empregado esforço

adicional na procura de organismos de ecologia aquática e semiaquática. O método

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de observação, percorrendo margens de corpos d’água a bordo de canoa

motorizada é bem conhecido e também empregado para diagnósticos rápidos de

fauna.

2.2 METODOLOGIA DA FAUNA AQUÁTICA

A metodologia de trabalho utilizada em campo consistiu basicamente na

Avaliação Ecológica Rápida (AER), em atividades como o levantamento da fauna

aquática existente na região através de excursões biológicas ao longo dos principais

rios, igarapés e canais da região com uso de pequenos meios flutuantes. E também

nas caminhadas diurnas em ambientes de praia para visualização aleatória de

espécies da fauna; realização de pescarias experimentais com redes de espera,

tarrafas e aparelhos com linha e anzol; documentação fotográfica; registros de

coordenadas geográficas das áreas visitadas com uso de GPS, entrevistas

estruturadas e semiestruturadas com moradores locais através da aplicação de

questionários e pranchas específicas para a fauna aquática.

Não houve aplicação da metodologia do Mapa Falado devido às dificuldades

de acesso às diferentes comunidades da região e difícil comunicação para

mobilização dos moradores a participarem de sua construção. Além da necessidade

de um maior tempo em campo para mobilizar os moradores e para organizar a

reunião. No entanto, em viagem realizada anteriormente ao Município de Soure já

havia sido aplicada a metodologia supracitada cujos dados adquiridos foram

incluídos neste trabalho.

A classificação sistemática dos indivíduos foi realizada com base em

bibliografia especializada e chaves de identificação, objetivando atingir até o menor

táxon possível, pois nem sempre se consegue chegar ao nível de espécie. Foram

utilizadas as obras de: (FIGUEIREDO; MENEZES, 1978; 1980); (FOWLER, 1954);

(CERVIGÒN et al., 1992); (SZPILMAN, 1992 e 2000) e (MAGALHÃES, 2003).

O objetivo da equipe da fauna aquática foi fazer o levantamento dos principais

grupos componentes da zoologia aquática de água doce e estuarina de interesse

econômico e turístico na área de estudo, assim como, identificar a presença de

espécies ameaçadas de extinção, espécies endêmicas, espécies raras e espécies

bioindicadoras de um ambiente saudável na mesma.

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3 DESCRIÇÃO DO MEIO BIOLÓGICO

3.1 CARACTERIZAÇÃO DA ÁREA DE ESTUDO

3.1.1 Área Estuarina, Área Costeira e Manguezais

A área de estudo está compreendida entre ao Rio Arapixi e a área estuarina

do Rio Amazonas localizada na Plataforma Continental Amazônica, na contra costa

do Município de Soure pertencente à Ilha de Marajó no Pará a até algumas milhas

náuticas da costa, no mar territorial, chegando a englobar uma parte da zona

conhecida pelos pescadores como “Lixeira” situada na direção da Ilha de Marajó

entre as coordenadas geográficas 00º20’N a 01º10’N e 047º00’W a 047º55’W,

segundo Cutrim et al. (2001). A área é dominada pela pronunciada periodicidade do

ciclo das chuvas e da descarga fluvial no oceano que, no primeiro semestre do ano,

desloca as águas mais salinas, de origem oceânica para longe da costa,

principalmente pela forte descarga dos rios Amazonas e Pará. (ZACARDI et al.,

2008, p. 10 apud EGLER; SCHWASSMANN, 1962).

Os ambientes costeiros são favoráveis aos estágios iniciais dos ciclos de vida

de diversos seres aquáticos, principalmente, de peixes sendo, portanto,

frequentados por espécies ecologicamente distintas ou que exibem diferentes

hábitos de desova (ZACARDI et al., 2008, p. 10 apud DOYLE et al., 1993). É

caracterizado por possuir maior disponibilidade de alimento, baixa abundância de

predadores, além de apresentarem padrões de circulação que favorecem a retenção

dos estágios ictioplanctônicos (ZACARDI et al., 2008, p. 10 apud CASTILLO et al.,

1991). Apresenta uma grande quantidade de algas e muitos indivíduos juvenis de

peixes e principalmente de camarões. (CUTRIM et al., 2001). A foz amazônica

caracteriza-se por um gigantesco complexo deltaico-estuarino submetido à ação de

processos fluviais e marinhos, com desenvolvimento de planícies alagadas,

caracterizando o grande número de ilhas do arquipélago marajoara (ZACARDI et al.,

2008, p. 10 apud COUTINHO, 1995).

Segundo Barthem (1985), o Estuário Amazônico forma um ambiente peculiar

e pouco conhecido, abrigando espécies marinhas e dulcícolas, representando para o

Estado do Pará um rendimento anual por volta de dezenas de milhões de dólares

oriundos através da exportação de pescado e camarões capturados nessa área, em

grande escala, principalmente, pela pesca industrial. A atividade pesqueira aí

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desenvolvida é diversificada, atuando desde pescadores artesanais, que empregam

tecnologia simples e pequenas embarcações de casco de madeira, até empresas de

grande porte, que fazem uso de tecnologia sofisticada e embarcações de casco de

metal.

A área estudada é, ainda, fortemente influenciada pelo sistema de dispersão

de sedimentos do Rio Amazonas, cuja descarga máxima ocorre entre os meses de

maio a junho, quando atinge 240.000 m3/s, decrescendo nos meses de outubro e

novembro, quando alcança 110.000 m3/s. (CUTRIM et al., 2001, p. 61-62 apud

NITTROUER et al., 1990). Na época de maior precipitação, as águas do Rio

Amazonas invadem o Oceano Atlântico sobre a plataforma continental, até

aproximadamente 70 km da costa, gerando uma pluma superficial de água de baixa

salinidade e coloração barrenta (ZACARDI et al., 2008, p. 10 apud CAMARGO;

ISAAC, 2003).

A flutuação da descarga do rio causa o deslocamento da zona de contato

entre as águas oceânicas e costeiras no estuário. No período chuvoso,

caracterizado pelo aumento da descarga dos rios, as águas marinhas se afastam da

costa e da Baía do Marajó, ao sul da Ilha de Marajó, e a parte externa da foz do Rio

Amazonas, ao norte da mesma, tornam-se uma continuação do Rio Amazonas. No

período de seca ocorre o inverso, pois as águas com influência marinha penetram

na Baía de Marajó e se aproximam da desembocadura do Rio Amazonas, mas não

chegam a penetrar no rio (EGLER; SCHWASSMANN, 1962; SCHWASSMANN et al.,

1989; BARTHEM; SCHWASSMANN, 1994).

Encontram-se muitos relatos de que a ictiofauna amazônica possui boa

representatividade com 85% das espécies citadas como espécies amazônicas.

Dever-se-ia, portanto, concretizar a devida importância da realização de um

levantamento amostral das espécies de peixes endêmicos marajoaras, delimitados

ao estuário amazônico/marajoara. Já ressaltando dentro desse levantamento a

composição taxonômica dos recursos pesqueiros do Arquipélago do Marajó, com

ênfase na dinâmica biológica e de inundação, com propriedade para divulgar a

biologia e ecologia dos peixes do golfão marajoara.

A biodiversidade na região estudada é consideravelmente alta de acordo com

a bibliografia levantada. Também chamado de golfão marajoara, o golfão do

Amazonas é caracterizado, segundo Avaliação (1999), pela riqueza biológica em

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ecossistemas de campos inundáveis, manguezais, várzeas, igapós e vegetação de

terra firme, que servem de abrigo para rotas de aves migratórias, espécies vegetais

e animais ameaçados de extinção.

A degradação ambiental na região é em parte causada por fatores externos,

naturais ou antrópicos, alguns dos quais ainda não foram suficientemente

estudados, sendo o Bioma Zona Costeira/Marítimo na Região Norte considerado

bem preservado em relação à região Sul da Costa brasileira. A ação de ventos

erosivos em Soure e Salvaterra é bastante preocupante, pois afeta especialmente os

manguezais e dunas existentes no local. Moradores do lugar chegam a afirmar que

“[...] o mar está invadindo a terra”. A força erosiva da água é testemunhada,

portanto, por quem mora no local. (PROBIO-MARAJÓ, 2007).

Os manguezais servem como local de reprodução e de alimentação para

várias espécies de animais marinhos e de água doce, além de abrigarem uma fauna,

também com baixa diversidade específica, porém com muitos indivíduos, alguns

deles de importância econômica como o camarão, o caranguejo e a ostra. (PROBIO-

MARAJÓ, 2007).

A área da costa marítima do arquipélago caracteriza-se por apresentar uma

diversidade de espécies aquáticas concentradas nessa faixa devido à grande

quantidade de alimentos descarregada pelo Rio Amazonas no Oceano Atlântico,

sendo considerada como zona de alimentação onde os peixes jovens migradores

permanecem para se desenvolver. (PROBIO-MARAJÓ, 2007).

No estuário do Rio Amazonas, concentra-se um grande número de ilhas com

cobertura principal de sedimentos fluviais recentes, separadas entre si por uma

densa rede de canais (SIOLI, 1984). As ilhas são de relevo plano, boa parte

inundável em toda a preamar. Pela influência tanto marinha quanto fluvial, compõem

uma mosaico de diferentes tipos de vegetação com características ecológicas muito

peculiares, o que possivelmente se reflete na variabilidade de comunidades

faunísticas (PROBIO-MARAJÓ, 2007).

As restingas litorâneas do Marajó estão associadas às áreas de praias dos

municípios de Salvaterra e Soure, sofrendo influência do Oceano Atlântico,

notadamente entre os meses de julho e dezembro, quando as águas da Baía do

Marajó se tornam salobras. (PROBIO-MARAJÓ, 2007, apud LISBOA, 1993, p.10).

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Os manguezais marajoaras apresentam porte elevado devido à deposição de

sedimentos do Rio Amazonas e a energia das correntes do canal Norte. As espécies

vegetais mais características são: mangue vermelho, mangue branco, siriúba e

tinteiro as quais, quase sempre, estão associadas com espécies de várzea

(PROBIO-MARAJÓ, 2007, apud ALMEIDA, 1994, p. 11-12).

A grande força hidrodinâmica presente no local relacionada às variações no

volume e vazão das águas. Favorece uma peculiaridade na costa marajoara, pois

essa região fica a mercê da ditadura das águas, sofrendo influência direta da força

das águas do Rio Amazonas que desembocam no Oceano Atlântico, e da força das

águas oceânicas que invadem aquele rio, dependo da época do ano. A força das

águas é tanta, principalmente, a da descarga amazônica, pois representa, segundo

o Ministério do Meio Ambiente (2007) 20% de toda a água doce que alimenta os

oceanos do planeta por todos os rios. Essa grande atividade hídrica chega a

provocar fenômenos naturais como a “pororoca”, gerando constantes processos de

erosão e sedimentação além de promover a formação de extensos manguezais e de

uma faixa litorânea elevada. A porção oeste da Ilha de Marajó recebe os sedimentos

lamosos despejados pelo Rio Amazonas, nutrindo o solo em que se desenvolve uma

vegetação exuberante e radicalmente oposta às regiões de campos com

predominância de vegetação arbustiva e capins típicos de savana encontrados na

porção leste do arquipélago marajoara.

3.1.2 Áreas de Várzea e Campos Submersíveis

A dinâmica anual de descarga dos rios tem sido apontada como o fator chave

que caracteriza a sazonalidade das planícies e do Estuário Amazônico. A flutuação

da descarga dos rios causa a alagação das áreas marginais e a ampliação da

medida de superfíice de água doce do estuário. A extensão do terreno

periodicamente alagado provém grande parte da base energética que sustenta os

recursos pesqueiros explorados comercialmente. Frutos, folhas e sementes,

derivados de florestas e campos alagados, algas planctônicas e periféricas, que

crescem nos ambientes lacustres e nas áreas alagadas menos sombreadas, são as

principais fontes de energia primária para a cadeia trófica aquática amazônica.

(GOULDING, 1980; GOULDING et al., 1988; ARAUJO-LIMA et al., 1986;

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FORSBERG et al., 1993; ARAÚJO-LIMA et al., 1995; JUNK et al., 1997; SILVA JR,

1998).

Os ambientes aquáticos tropicais apresentam ciclos sazonais que interferem

na biota aquática. Os fatores determinantes dos ciclos anuais na Amazônia são os

ventos e as precipitações. A principal consequência dos mesmos é a oscilação da

vazão e, consequentemente, do nível dos rios em uma escala raramente observada

fora dos trópicos. Nos períodos de maior vazão, os rios transbordam o seu leito e

alagam as áreas marginais, provocando a expansão dos ambientes aquáticos. A

alagação pode ser causada pelas chuvas locais, pelo transbordamento do rio e pela

maré (WELCOMME, 1985). O alagamento por chuvas locais ocorre principalmente

nas cabeceiras dos rios e em planícies afastadas dos grandes rios. Dentre as áreas

alagadas por chuvas locais e de importância para a pesca destacam-se os campos

da Ilha de Marajó e da costa do Amapá. (BARTHEM; FABRÉ, 2003).

Acredita-se que as cabeceiras dos igarapés e dos lagos de terra firme da

planície amazônica possuam importância ecológica para diversas espécies de

peixes migradores como os jaraquis e como áreas de refúgio para espécies de

hábitos sedentários, como acarás, pirarucu, tucunaré, entre outras. Contudo, esses

habitat de alagação sazonal ainda são pouco explotados pela pesca profissional

realizada para fins comerciais (BARTHEM; FABRÉ, 2003).

De acordo com o Plano de Desenvolvimento Territorial Sustentável do

Arquipélago do Marajó (2007), a hidrografia do arquipélago marajoara é de vital

importância à diversidade biológica, pois a ação dos rios de água barrenta promove

o enriquecimento nutricional sedimentar das várzeas, assim como constituem o

principal meio de transporte e comunicação entre as cidades e as vilas. Apresenta

grande potencial pesqueiro cujas principais espécies são: dourada, filhote,

piramutaba, pescada branca, sarda, tucunaré, pirarucu, piranhas dentre outros. Nos

meses de alagação ocorre um período de alimentação abundante com rápido

crescimento dos peixes, devido à grande quantidade de recursos alimentares

disponíveis, trazidos de outras áreas pelas cheias e movimentos de maré

(WELCOMME; HALLS, 2001).

O fenômeno das cheias que se intensifica de fevereiro a maio é agravado por

não haver escoamento das águas que ficam represadas devido à má drenagem e

composição argilosa do solo. Por outro lado, a estiagem se prolonga de agosto a

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setembro, secando os lagos e rios, estorricando os campos. Quase sempre o verão

na ilha é bastante rigoroso com escassez de água até nas áreas mais baixas. Os

rios pequenos secam por completo e os maiores baixam acentuadamente o nível,

tornando a locomoção mais difícil, pois ficam praticamente inavegáveis. Grande

parte do gado morre por falta de vegetação nos campos e por sede. (MIRANDA

NETO, 1940).

Os recursos hídricos da ilha são derivados principalmente da precipitação e,

em menor grau, da maré das águas que a cercam e que incluem o Oceano Atlântico,

o Rio Amazonas e a Baia de Marajó. Pode-se dizer que o Marajó possui uma

hidrografia adaptada pelo seu ambiente como se constata visualmente como sendo

bem particular, uma vez que os seus rios formam-se através de furos que recebem

as águas dos rios Amazonas, Pará e Tocantins, enchendo e vazando de acordo com

o ritmo das marés. Durante o inverno, a elevação do volume de águas do Rio

Amazonas é ocasionada pelo aumento dos índices de pluviosidade responsáveis

pelas chuvas que caem impiedosamente até maio, caracterizando um inverno

equatorial. É nesse período que cerca de dois terços das áreas de campo ficam ao

sabor das enchentes, escondendo os leitos dos rios e formando grandes e piscosos

lagos (PROBIO-MARAJÓ, 2007).

Os campos naturais são conhecidos regionalmente como campos do Marajó e

cobertos por gramíneas e ciperáceas, a maioria deles é inundável durante o inverno

amazônico. As águas de inundação podem ser originadas tanto pelo

transbordamento do leito dos rios, quanto pelo acúmulo das águas pluviais. O

alagamento ocorre devido à composição dos solos dos campos que possuem

elevado teor de argila e, portanto, são mal drenados (PROBIO-MARAJÓ, 2007).

3.2 DESCRIÇÃO DA FAUNA PARA UNIDADE DE CONSERVAÇÃO PROPOSTA

Os textos referentes às descrições da fauna terrestre, avifauna e fauna

aquática dos municípios de Soure e Chaves, abaixo expostos, foram resultantes de

expedições que ocorreram em períodos distintos e elaborados por diferentes

profissionais, portanto não apresentam muita semelhança em sua estrutura textual.

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3.2.1 Município de Soure

Encontra-se à margem direita do Rio Paracauari que é o mais importante do

município, com seu curso no sentido geral de oeste para leste, servindo de limite

natural com o Município de Salvaterra e desaguando na Baía do Marajó.

Os afluentes da margem esquerda do Rio Paracauari pertencem ao Município

de Soure, onde se destaca o Rio do Saco ou Cuieiras. Importante também é o Rio

das Tartarugas, a oeste, retificado e transformado no Canal das Tartarugas,

servindo de limite com o Município de Chaves. Entre os principais rios que servem o

município pode-se citar: Paracauari, Cambu, Pacoval, Umiriaduba, Caju-Una,

Cauaximguba, Araraquara e Maruim Grande. Ressalta-se, ainda, a presença de

vários lagos como: Guará, Cipó, Assacu, Tenente, Goiaba, dentre outros. Em visão

aérea, a cidade de Soure parece um tabuleiro de xadrez natural, cujas divisões são

determinadas por água e o verde das matas (PROBIO-MARAJÓ, 2007). O município

possui ainda um grande número de igarapés que aumentam consideravelmente seu

volume de água na época do inverno (AMAM, 2008).

3.2.1.1 Avifauna e Fauna Terrestre

A grande massa populacional de fauna terrestre encontrada nessa região foi

de aves. Principalmente aves adaptadas para o ambiente aquático, espécies

características de campos alagados, várzeas e áreas de restinga da Ilha do Marajó.

A proteção dessa área é importantíssima para preservação dessas aves, pois no

período de mudas (setembro a novembro) as espécies ficam incapacitadas de voar,

tornando-se muito vulneráveis a predação e caça (SOUZA et al, 2008).

Grande concentração de garça-branca-pequena Egretta thula sempre foi

observada em todas as localidades visitadas. Assim como o avistamento de garças-

azuis Egretta caerulea, garça-branca-grande Cosmerodio alba, colhereiros Platalea

ajaja, guarás Eudocimus ruber e biguás Phalacrocorax brasilianus (Prancha 1). Na

comunidade visitada em Araraquara houve relatos de formação de ninhais de

guarás, parâmetro importante a ser considerado nas ações de conservação, ainda

mais quando se trata de uma espécie que esteve com o status “vulnerável” na lista

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vermelha da União Internacional para a Conservação da Natureza e dos Recursos

Naturais (IUCN) em anos anteriores. Prancha 1 - 1 - Bando de garça-branca-pequena no Rio Araraquara; 2 - Colhereiro, garça-azul e

garça-branca-grande; 3 - Guarás; 4 - Biguás.

Fonte: SEMA (2011).

Nas áreas de formação de praia (Ilha do Machadinho, Araraquara) foram

observados pequenos bandos de aves migratórias como: maçariquinho Calidris

pusilla (Fotografia 1), maçarico Tringa solitaria. Possuem sua área de reprodução no

hemisfério norte (América do norte). Entre o outono e o inverno migram para o Brasil

onde encontram fartura de alimentação e com a chegada da estação chuvosa

retornam para o extremo hemisfério norte para as áreas de reprodução (ANTAS,

2009).

Outras espécies encontradas nesses ambientes foram o trinta-réis-grande Phaetusa simplex (Fotografia 2), o talha-mar Rynchops niger cinerescens (Fotografia

3) exemplos de aves piscívoras que nidificam na areia da praia. Perturbações

constantes nas áreas de praia onde nidificam essas espécies podem muitas vezes

1 2

3 4

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levar a abandono de ninhos (ANTAS, 2009). Foi visualizada, ainda, a ave conhecida

como quero-quero Vanellus chilensis (Fotografia 4).

Fotografia 1 - Maçariquinho Fotografia 2 - Bando de Trinta-réis-grande

. . Fonte: SEMA (2011). Fonte: SEMA (2011). Fotografia 3 - Talha-mar ou corta-água Fotografia 4 - Quero-quero

. Fonte: SEMA (2011). Fonte: SEMA (2011).

Em excursão realizada ao longo do Rio Maruim até a sede da Fazenda Santa

Maria e em transecto realizado em terra com duração de, aproximadamente, uma

hora e meia em área da fazenda foram avistadas as seguintes aves: garças brancas

(grandes C. alba e pequenas E. thula), colhereiros P. ajaja, guarás E. ruber, japiim

Cacinus cela, tesourinha Tyrannus savana, tucano-açu Ramphastus toco, ciganas

Opisthocomus hoazin, gavião carcará Polyborus plancus, anus pretos Crotophaga

ani, pomba galega (vocalização) e saracura (vocalização) (Prancha 2).

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Prancha 2 - 1. Cigana; 2. Japiim; 3. Anu preto; 4. Tesourinha; 5. Gavião carcará e 6. Tucano Açu.

Fonte: SEMA (2011).

Quanto à mastofauna, em avistamento direto, foi observada uma capivara

Hydrochoerus hydrochaeris adulta no leito do Rio Araraquara (Fotografia 5) e um

grupo de seis guaribas Alouatta sp. (Fotografias 6), sendo 3 filhotes, 2 machos

adultos e 1 fêmea adulta. Nas outras localidades, a vocalização de guaribas também

foi ouvida com bastante frequência. Nas regiões de ilhas visitadas (Ilha machadinho

e Camaleão), os mamíferos foram pouco representativos.

Fotografia 5 – Capivara no Rio Araraquara

Fonte: SEMA (2011).

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5 4 6

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Fotografia 6 - Guariba. Fotografia 7 - Guariba com filhote na costa.

Fonte: SEMA (2011). Fonte: SEMA (2011).

Nas entrevistas realizadas com as comunidades locais, também foram citadas

as espécies guaxinim Procyon lotor, quati Nasua nasua, cutia Dasyprocta sp., tatus

Dasypus sp., paca Cuniculus paca, macaco da noite Aotus azarae infulatus, macaco

de cheiro Saimiri sciureus, tamanduá Tamandua tetradactyla, entre outros.

Na Ilha Machadinho, existe a criação de bovinos, suínos, caprinos e

principalmente bubalinos (Fotografia 9). Animais originalmente africanos, os búfalos

iniciam sua história no Brasil por volta de 1895, na Ilha do Marajó. Somente a partir

então, começam a ocorrer importações de grandes lotes de búfalos para diversas

regiões brasileiras. Esses animais, com o seu grande porte e em grandes grupos,

podem acabar destruindo ambientes alagados, drenando essas regiões, além de

ocasionar a compactação do solo. Ainda assim, a utilização dos búfalos na região do

Marajó é amplamente difundida. Constituem força indispensável nas tarefas pesadas

das fazendas, até como montaria da polícia local na sede do Município de Soure.

ref.). Fotografia 8 - Jacaré tinga juvenil. Fotografia 9 - Búfalo.

Fonte: SEMA (2011). Fonte: SEMA (2011).

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Nos pontos de amostragem pudemos avistar como representantes da

herpetofauna, o crocodiliano Caiman crocodilus conhecido por jacaré tinga

(Fotografia 8), iguanas Iguana iguana e a sucuri Eunectes murinus (Fotografia 10),

dentre outros citados nas entrevistas.

Os anfíbios foram todos descritos a partir de informação das comunidades

dos pontos de amostragem (tabela 3). Fotografia 10 - Filhote de sucuri.

Fonte: SEMA (2011).

3.2.2 Fauna Aquática 3.2.2.1 Fauna Terrestre e Avifauna

Na cidade de Soure a equipe de fauna aquática realizou entrevistas com

pescadores artesanais profissionais que se encontravam na sede municipal para

armação da embarcação para próxima viagem de pesca. Foram aplicados cinco

questionários.

No mercado municipal foram registradas algumas espécies da ictiofauna e

carcinofauna comercializadas no local, como por exemplo, a pescada branca

Plagioscion squamosissimus; o bacu Lithodoras dorsalis; a dourada

Brachyplatystoma rousseauxii; a sarda apapá Pellona castelnaeana e P. flavipinnis;

a pratiqueira Mugil curema; o bagre Sciades couma; o filhote B. filamentosum; a

piramutaba B. vaillantii; o mandii Pimelodus sp. e caranguejo-uçá Ucides cordatus

(Prancha 3).

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Prancha 3: 1. Disposição dos peixes na bancada para venda no Mercado Municipal; 2.Pescada

branca; 3. Bacu; 4. Dourada; 5. Sarda apapá; 6. Pratiqueira; 7. Diferentes espécies de bagres; 8.

Bagre Ariídeo; 9. Filhote; 10. Piramutaba; 11. Mandii e 12. Caranguejo-uçá

Fonte: SEMA (2011).

O percurso realizado por via fluvial teve sua saída da sede municipal de

Soure, partindo do Rio Paracauari, percorrendo sua região costeira até porção do

Mar Territorial, próximo a foz amazônica e finalmente subindo o Rio Amazonas, já na

contra-costa do município em direção à Ilha do Machado que seria o primeiro ponto

1 2 3

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10 11 12

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de pesquisas. Na viagem, foram avistados vários botos tucuxi, um deles estava

morto e flutuava sobre as águas. Foram capturados, com linha e anzol, alguns

peixes das famílias Auchenipteridae cuja espécie foi o mandubé Ageneiosus sp.

(Fotografias 11 e 12) e Ariidae (possivelmente pertencente aos gêneros Arius sp. ou

Sciades sp.). Os primeiros foram capturados pela manhã e os últimos no início da

tarde. Fotografia 11 - Mandubé (vista dorsal). Fotografia 12 - Mandubé (vista ventral).

Fonte: SEMA (2011). Fonte: SEMA (2011).

Levantamento etnozoológico – Sede Municipal de Soure

Na sede municipal de Soure, cinco moradores foram entrevistados com o

auxílio de um questionário e uma prancha contendo imagens da fauna aquática,

sendo que todos eram pescadores profissionais. Dentre os moradores, três já

residem em Soure há mais de 20 anos. Os outros dois há 50 anos.

Dos entrevistados, apenas um negou a presença de berçário na região,

enquanto que os demais citaram o Rio Paracauari, o Pacoval e a cabeceira dos rios

como berçários de peixes. Em seguida, todos afirmaram que não há cultivo de

animais nessa área.

Dos animais aquáticos citados pelos moradores para o local encontram-se:

boto, tartaruga, caranguejo, cobra, boto-rosa (raramente), peixe-boi-amazônico,

tracajá, matá-matá, mussuã e uma variedade de peixes como pescada amarela,

bagre, dourada, piramutaba, tainha, pescada branca e dourada. Todos os

entrevistados confirmaram a presença desses animais através de visualização.

Foi perguntado aos pescadores se era comum outros animais aparecerem

presos em suas redes de pesca. Quatro responderam que sim, citando a tartaruga e

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as cobras. O quinto entrevistado disse nunca ter visto outros tipos de animais na

rede a não ser peixes.

Durante o período de cheia, os peixes de água doce identificados como mais

comuns na área foram: dourada, filhote, pescada branca, piramutaba, sarda, piaba,

cangata. Enquanto que os de água salgada foram: pescada amarela, tainha e xaréu.

Na época de seca, os peixes mais comuns de água doce são: dourada,

tamoatá, tucunaré, pescada branca, sardinha, piaba e piramutaba; o bandeirado no

período de junho em diante, quando a água fica salobra. Os peixes de água salgada

mais comuns no período de seca foram: pescada amarela, pratiqueira e tainha.

Os peixes dulcícolas mais utilizados para consumo são: dourada, pescada

branca, filhote, tainha, tamoatá, tucunaré, jeju, bacu, piaba, traíra e aracu. Os peixes

utilizados para consumo de água salgada são: pescada amarela, tainha, gurijuba,

bandeirado, camorim (muito raramente), xaréu, peixe cachorro e tainha.

Em relação à presença de quelônios na região, todos os entrevistados

confirmaram sua ocorrência, sendo que um dos entevistados citou a tartaruga

marinha e a suruanã que desovam na região. Outros dois falaram que as mesmas

são bem raras e os demais disseram encontrá-las, desovando na Praia do Machado,

na Praia de São João e na costa do Marajó.

A mastofauna aquática da região se faz presente pela ocorrência de peixe-

boi, que foi confirmada por quatro entrevistados, apenas um afirmou nunca tê-lo

visto. Apesar de sua presença ser rara, um pescador disse haver tal animal na frente

de Joanes (Salvaterra) e outro falou ter um casal dos mesmos na praia do Garrote

(Soure).

A presença de boto também foi confirmada por quatro moradores, sendo que

o primeiro disse ter certa frequência de avistamento das espécies. O segundo

relatou ser raro o avistamento, o terceiro confirmou a presença do tucuxi na ponta do

Maguari e o quarto falou já ter visto o boto-rosa na área.

Em se tratando da herpetofauna, grupo dos ofídios, dois entrevistados

confirmaram a presença de cobras grandes na região. Um citou a sucuri e cobra

d’água e o outro citou a sucuri e jararaca, comentando que alguns pescadores

utilizam redes de pesca tão finas que os filhotes desses animais acabam ficando

presos. Não foram relatados problemas causados por esses animais. Os outros três

entrevistados disseram não avistá-las com frequência na região.

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Os crocodilianos foram mencionados por três dos entrevistados sendo eles:

jacaré-açu, jacaré coroa e jacaré tinga, os demais disseram não haver jacaré na

área. Foram expostas problemáticas referentes à presença desses animais. Dois

entrevistados comentaram sobre acidentes na pesca e sobre o jacaré-açu que ataca

e come as pessoas.

Os pescadores entrevistados falaram sobre os animais que atualmente são

pouco visualizados e, anteriormente, eram comuns, dentre os quais foram citados o

boto-rosa e o peixe-boi. Foi observado pelos pescadores que, de maneira geral, o

pescado vem diminuindo em quantidade, principalmente a piramutaba, devido à

utilização de redes inadequadas para sua pesca.

Com relação aos crustáceos da região, a ocorrência de caranguejo foi

confirmada por quatro dos entrevistados, citando o caranguejo-uçá utilizado tanto

para consumo quanto para comércio. Foi mencionado que esses animais são

encontrados nas praias como: a Barra Velha, Pesqueiro e Araruna. Em relação à

safra, as respostas foram bem variadas, sendo que o primeiro entrevistado

confirmou o período de maio a junho. O segundo de janeiro a maio, o terceiro de

janeiro a fevereiro e o último falou que nos mangais da região a safra ocorre de

janeiro a março. A população de siris na região foi confirmada por quatro pescadores

entrevistados. Esses animais sofrem coleta para consumo no período do verão e

sua safra ocorre de maio a dezembro, sendo coletados principalmente na Praia do

Pesqueiro, Praia do Araruna e afluentes do Rio Paracauari.

Os crustáceos Decapoda foram confirmados por todos os entrevistados que

citaram o camarão-cascudo, o camarão-liso e o camarão-regional para a região. Os

mesmos são utilizados tanto para consumo quanto para o comércio. Um dos

entrevistados comentou que a safra ocorre de forma permanente, enquanto os

outros afirmaram que durante os meses de janeiro a junho diminui a quantidade

coletada. No entanto, nos demais meses a coleta é farta. Esses são encontrados

nos afluentes do Rio Paracauari, na costa do Marajó, em Ponta de Pedras, em

Cachoeira o Arari, nos lagos e igarapés de Soure e nas áreas costeiras das praias

do Rio Paracauari.

Com relação à redução populacional de crustáceos na região, todos os

entrevistados confirmaram a diminuição dos caranguejos. Um entrevistado afirmou

haver predação intensa, devido à captura excessiva em períodos de reprodução. O

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segundo disse não saber o porquê da redução, o terceiro falou haver redução, mas

disse ser raro na região, enquanto o último declarou que o caranguejo é muito

consumido devido ao aumento da população humana que demanda por mais

alimento. A redução da população de camarão foi confirmada apenas por três

entrevistados, justificando para isso a superexploração e consequentemente o

tamanho do animal também reduziu. O siri, segundo os entrevistados não sofreu

redução da população, pois não há muito consumo. Já em relação ao tamanho dos

crustáceos, quatro responderam haver apenas a redução de tamanho do caranguejo

e camarão, devido à captura no período de reprodução. O siri continua com o

mesmo tamanho. Apenas um entrevistado disse haver redução no tamanho do

caranguejo.

Os moluscos da região, como ostra, turu e mexilhão tiveram sua coleta

confirmada por apenas dois entrevistados, sendo que sua coleta ocorre basicamente

para consumo.

Em referência às ameaças sofridas por animais aquáticos, foram

mencionados: superexploração ocorrida com os peixes, principalmente, no verão

(sobrepesca no verão), a presença de inúmeras lanchas no mar aberto, a presença

de barcos que operam com redes de arrasto com finalidades de comercialização do

pescado. O jacaré, a cobra e a tartaruga não sofrem ameaças. As tartarugas que

antes ficavam presas nas redes eram consumidas e atualmente são soltas. Quanto

aos exemplares ameaçados da mastofauna aquática foi citado que os botos são

caçados e, às vezes, morrem afogados por ficarem presos nas redes de pesca,

tendo sua carne aproveitada para consumo. O peixe-boi que, no passado, era

caçado, atualmente, devido à proibição da caça, não está mais sendo ameaçado.

Posteriormente, os entrevistados falaram sobre algumas medidas que

poderiam ser tomadas para diminuir as ameaças aos animais acima citados, dentre

elas foram mencionados: acordo de pesca, fiscalização do IBAMA, proibição da

pesca de arrasto e utilização de apetrechos de pesca com tamanho de malha

adequado, evitando a pesca sobre indivíduos juvenis que não atingiram idade

reprodutiva.

Quanto à utilização da madeira da região (manguezal), foi mencionado por

três entrevistados, que antes eram utilizadas para a fabricação de barcos e para

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fazer fogo, porém atualmente a madeira é comprada de Igarapé-Miri, Abaetetuba e

Moju para construção das embarcações.

Os entrevistados citaram as seguintes variedades de espécies de avifauna

que ocorrem na região: garça, guará, gavião carijó, coruja, pavãozinho, gaivota,

maçarico, arara vermelha, bem-te-vi, gavião caramujeiro, gavião papa pinto, gavião

real, socó-boi, pato do mato, mutum, papagaio, colhereiro e mergulhão.

Na região, encontram-se as seguintes espécies da mastofauna: capivara,

cutia, paca, tatu, porco do mato, onça pintada (raramente), caititu, suçuarana,

guariba, macaco de cheiro, macaco preto, rato soia, mucura, lontra, preguiça,

guaxinim, veado vermelho, tamanduá bandeira, tamanduá mirim e tamanduaí. Como

representantes da herpetofauna foram citados: sucuri, jararaca, camaleão, sapo

cururu, gia, rã, surucucu, cascavel, jiboia branca, jiboia vermelha, cobra coral, cobra

cipó, cobra papagaio, cobra verde, caninana e sucuriju.

Ilha do Machado – Soure

Realizou-se uma caminhada com cerca de três horas e meia na Ilha do

Machado no período da manhã em ecossistemas de campos naturais, parcialmente

alagados e ecossistemas de restinga na Praia do Machado. No período vespertino,

houve aplicação de questionários e pranchas de fauna aquática, fauna terrestre,

avifauna e entrevistas semiestruturadas com os moradores da ilha.

Nas áreas de campo foram avistados: biguás, garça branca pequena,

maçariquinho, urubu comum, bem-te-vi (canto), gavião caboclo, quero-quero, dois

bandos de marreca cabocla e polícia inglesa do norte (passeriforme preto com peito

vermelho).

Bem cedo pela manhã, a equipe realizou caminhada na Praia do Machado e

durante o percurso observou-se um enxame de libélulas. Foi encontrado na areia o

plastrão de uma tartaruga-da-Amazônia que media três palmos de largura e três

palmos e meio de comprimento. Segundo informações do guia, que acompanhava a

equipe na Praia do Machado, é um dos pontos de desova da tartaruga (Prancha 4).

Foram encontrados dois moluscos gastrópodes conhecidos comumente como

caracóis. Na praia, encontraram-se, também, algumas ossadas de bagres, uma

delas possuía ainda o escudo dorsal visível, possivelmente pertenceu a algum bagre

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ariídeo (família Ariidae). Na praia, foi registrada a carcaça de um caranguejinho

conhecido como sarará (Prancha 4). No Rio Amazonas, às margens da Ilha

Machado, foram avistados cardumes de tralhotos e, mais adiante, foram vistos, na

praia, botos tucuxi e boto-rosa, tentando capturar alguns peixes do cardume que se

aproximavam da beira. Prancha 4 - 1. Plastrão de tartaruga-da-Amazônia; 2 e 3. Moluscos Gastropoda (caracóis); 4. Ossada de bagre ariídeo; 5. Carcaça de caranguejo sarará; 6. Bagre; 7. Dourada; 8. Piramutaba; 9. Filhote; 10. Candiru Açu; 11 e 12. Caranguejos encontrados em resquício de Mangue.

Fonte: SEMA (2011). Em pescarias experimentais realizadas com utilização de linha e anzol no Rio

Amazonas em frente à Ilha do Machado foram capturados alguns exemplares da

ictiofauna, descritos a seguir: bagre da família Ariidae Sciades couma; Dourada

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Brachyplatystoma rousseauxii, Piramutaba B. vaillantii, Filhote B. filamentosum,

pertencentes à Família Pimelodidae e Candiru-açu Cetopsis coecutiens Família

Cetopsidae (Prancha 4).

Na Ilha do Machado, foi identificada uma pequena área de Manguezal

localizada no centro da ilha por trás de dunas de areia em que foram capturados

dois exemplares juvenis do caranguejo chama-maré, sendo um macho e uma

fêmea, possivelmente, da espécie Uca mordax. Pode-se notar através das imagens

da prancha que há dimorfismo sexual na espécie, pois o macho apresenta um dos

quelípodos mais desenvolvidos que o outro. Enquanto que nas fêmeas, ambos os

quelípodos possuem o mesmo tamanho (Prancha 4).

Na área da praia, foram vistas várias aves como: urubu de cabeça vermelha,

aracuã, japu, garça branca grande, um bando de corta-água ou talha-mar com

aproximadamente cem animais, gavião papa pinto, maçariquinho, pica pau,

gaivotas, japu de máscara negra e anu preto.

Levantamento Etnozoológico na Ilha do Machado

Os três moradores da única casa existente em toda a ilha foram entrevistados

com aplicação de questionários e pranchas de figuras de animais representantes da

fauna aquática, a cada um deles para levantamento etnozoológico. Dentre os

entrevistados, apenas um é pescador profissional. Os outros dois vivem no local há

mais de trinta anos e cuidam da casa, de pequenas plantações de tomate e

pimentão para subsistência e do pequeno rebanho de gado bovino e bubalino,

caprino, ovino, suíno e aves domésticas no sítio de propriedade do Sr. Olavo

Sarmento que reside em Belém.

Os entrevistados citam a Ilha do Machado como berçário de peixes, assim

como o Lago Gerafim, onde os peixes vão desovar no período do inverno. Segundo

um deles, esse lago é considerado um banco sagrado, pois os antigos moradores da

ilha costumavam enterrar seus mortos em áreas ali próximas.

Os animais aquáticos que já foram vistos pelos moradores entrevistados são:

peixe-boi-amazônico (uma casal), boto-malhado ou rosa, boto-tucuxi, jacaré tinga,

jacaré coroa, tartaruga-da-Amazônia e tartaruga verde ou suruanã, essa última

citada por apenas um morador.

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Segundo os moradores, os peixes-boi são avistados na Praia do Machado e

no Igarapé do Machado. Com relação à tartaruga-da-Amazônia disseram que a

mesma foi avistada e desova na Praia do Machado no período entre os meses de

agosto e novembro. Em janeiro do ano seguinte, retornam à praia para desenterrar

os filhotes. De acordo com relatos de um dos entrevistados, a tartaruga verde ou

suruanã proveniente de águas marinhas também desova na Praia do Machado.

Os moradores afirmaram que durante suas pescarias jamais encontraram

animais diferentes de peixes presos as redes de pesca. Admitiram somente a

captura acidental de camarões quando pescam com tarrafa.

Os peixes mais comuns durante o período da enchente são: bagre, bacu cuiu

cuiu, pratiqueira, pescada branca, tainha, dourada e sarda apapá. Já os mais

frequentes na estação seca são: cachorrinho ou uéua, tamoatá, piranha vermelha,

traíra, jeju, aracu, anunjá e acari.

Os peixes dulcícolas mais consumidos tanto para consumo e/ou comércio

são: bacu (consumo), pescada branca, dourada, sarda apapá, filhote e piramutaba

(comércio), tamoatá, anunjá, acari, traíra, jeju e aracu (consumo/comércio).

Enquanto que os peixes de água salgada mais consumidos são: pratiqueira e

bandeirado (comércio), tainha e bagre (consumo).

Com relação aos répteis ofídios foram citados: jiboia, sucuriju, jararaca

(grande quantidade), caninana verde, cobra d’água e surucucu. Quanto aos

crocodilianos, foi mencionada a ocorrência de jacaré tinga e jacaré coroa. Conforme

relatos dos moradores a cobra jararaca costuma causar problemas quando atacam e

picam as pessoas e quando na época da enchente sobem pelas águas e entram nas

habitações humanas. Já os jacarés não causam nenhum tipo de problema ao

homem, pois ficam apenas nos lagos do interior da ilha.

Segundo os moradores da ilha, os animais aquáticos antes vistos com

frequência, hoje são raramente encontrados. São eles: jacarés, tartaruga-da-

Amazônia, peixe-boi (bastante raros), boto-malhado ou rosa, cobra d’água e

capivara.

Com relação aos crustáceos Brachyura foi citada a ocorrência das seguintes

espécies: caranguejo-uçá, caranguejo sarará, caranguejinho vermelho de água

doce. Não há coleta intensa do recurso, quando é coletado para consumo. Durante

todo o ano podem ser vistos. O uçá é encontrado no centro da Ilha do Machado nas

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áreas alagadas de mangue; o vermelhinho de água doce é encontrado nos campos

e o sarará é visto em áreas alagadas por baixo das casas palafitas. Segundo relatos,

o caranguejo-uçá sempre existiu na Ilha do Machado. Houve uma época que devido

à retirada excessiva e desordenada o recurso entrou em declínio populacional na

área. No entanto, os moradores capturaram alguns exemplares machos e fêmeas

noutro lugar e os soltaram no manguezal no centro da Ilha para reintrodução da

espécie no local. Quanto ao caranguejo vermelhinho que dá no campo não houve

redução da quantidade. Está até aumentando porque não conseguem coletar o

recurso. Não houve alteração em relação ao tamanho.

Em se tratando dos siris, houve relatos da ocorrência de duas espécies

marinhas que aparecem no período de estiagem quando as águas ficam salobras.

As espécies mencionadas foram: o siri azul e o siri vermelho que são encontrados à

beira da praia e, às vezes, nos igarapés e beiradas dos rios que cortam a Ilha do

Machado. Não há coleta desse recurso devido à sua pequena quantidade na área

em questão. Os caranguejos de água doce têm grande importância nos processos

ecológicos dos ambientes aquáticos (MAGALHÃES, 2000). Geralmente apresentam

hábitos crípticos e noturnos. Têm como preferência ambiente de águas limpas com

grandes quantidades de oxigênio dissolvido. Entretanto, eventualmente, podem ser

encontrados em arroios e rios de pouca corrente (MAGALHÃES, 1999).

As populações de chama-marés são compostas por um grande número de

indivíduos se comparados com outros braquiúros semiterrestres. Dessa forma,

constituem uma fonte de alimento de diversos animais como mamíferos, aves,

peixes e caranguejos de grande porte. Pelo mesmo motivo, ao cavarem as tocas,

esses animais trazem uma enorme quantidade de solo das profundidades para a

superfície, influenciando de modo significativo a dinâmica dos grãos de areia ou

argila. Também, a sua numerosidade propicia a transferência de nutrientes e energia

das áreas entre-marés para a coluna d’água do estuário em geral, pois, eles se

alimentam de micro-organismos e matéria orgânica particulada presentes na

superfície do solo (MAGALHÃES, 1999).

Entre os crustáceos Decapoda foi mencionada a ocorrência do camarão

cascudo ou regional. Esse recurso é coletado para consumo e a safra ocorre entre

os meses de maio a julho. São encontrados nos igarapés da ilha e no Lago Gerafim.

Quanto à quantidade disponível do recurso, a maioria dos entrevistados disse que

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não houve alterações com o passar dos anos. Apenas um morador disse que o

número de camarões diminuiu, porém acredita que o recurso não tenha sido

esgotado e, sim, que passaram a se refugiar noutro lugar. Em referência ao tamanho

dos exemplares do crustáceo citado, foi dito que não houve mudanças no decorrer

dos anos.

Com relação aos moluscos não foi mencionada a ocorrência de ostras, nem

de mexilhões nem de turus na região da ilha, não havendo, portanto, coleta desses

recursos.

Em relação às ameaças sofridas por animais aquáticos, foi mencionado que

os peixes, em geral, estão diminuindo em quantidade devido ao elevado número de

pescadores operando na região. Quanto às ameaças sofridas pela mastofauna

aquática foi falado que os botos não sofrem grandes ameaças. O peixe-boi-

amazônico que já foi muito caçado em tempos remotos, hoje, não sofre ameaças.

Dentre os répteis, os quelônios e crocodilianos não sofrem ameaças, apenas

os ofídios são mortos por defesa quando querem atacar os humanos. No grupo dos

crustáceos, os caranguejos não são ameaçados e os camarões são capturados

apenas para consumo de subsistência. Para redução das pressões sofridas pelos

peixes, os moradores acreditam que deveria haver maior fiscalização nas áreas de

pesca a fim de impedir que alguns barcos operem arrastos de fundo em zonas onde

essa prática é proibida. Os moradores admitiram extrair as madeiras de siriúba e

jaranduba para fazer lenha e construção de casas. Compram madeira da Vila

Nascimento no Município de Chaves.

Rio Maruim – Fazenda Santa Maria – Soure

Nas primeiras horas da manhã realizou-se uma incursão ao longo do Rio

Maruim até a sede da Fazenda Santa Maria. Durante o percurso foram avistadas na

floresta marginal ao rio várias garças brancas (grandes e pequenas). No transecto

realizado em terra, com duração de aproximadamente uma hora e meia foram

avistados um camaleão (réptil) e aves como: guarás, colhereiros, ciganas, gaviões,

anus pretos, pomba galega (vocalização) e saracura (vocalização). No retorno da

equipe pelo mesmo rio, avistaram-se na margem os seguintes animais: tucanos,

colhereiros, guarás, jacaré-tinga e ouviu-se o canto de um bando de guaribas.

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Em pescaria experimental realizada por empregados da fazenda com

utilização de rede de emalhar foram capturadas as espécies de peixes a seguir:

carataí ou cachorrinho de padre Pseudauchenipterus nodosus; bagre marinho

Sciades sp., bacu Lithodoras dorsalis; sarda apapá Pellona flavipinnis e pescada

branca Plagioscion squamosissimus (Prancha 5).

Prancha 5: 1. Carataí; 2. Bagre marinho; 3. Bacu (visão lateral); 4. Bacu (visão frontal); 5. Sarda apapá e 6. Pescada branca.

Fonte: SEMA (2011).

Levantamento Etnozoológico em Santa Maria – Rio Maruim

No Rio Maruim, foram entrevistados quatro moradores com aplicação de

questionários e pranchas de figuras de animais representantes da fauna aquática.

Dentre os entrevistados, apenas um era pescador profissional. Os outros três vivem

no local há mais de quinze anos e cuidam da sede da Fazenda Santa Maria, do

rebanho de bubalinos e suínos e de um pequeno comércio.

De acordo com as informações coletadas junto aos moradores, as áreas de

desova dos peixes ficam situadas nos campos naturais, no interior da fazenda, nos

lagos, cabeceiras dos rios e furos do Rio Maruim.

Há cultivo de peixes, pirarucu e tamoatá, em tanque escavado na área da

fazenda. A alimentação desses animais é feita com base em pequenos peixes e

camarões que os encarregados da fazenda pescam e jogam no tanque diariamente.

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Os animais aquáticos e semiaquáticos que já foram visualizados pelos

entrevistados nas águas da região são: jacaré tinga, tartaruga-da-Amazônia, boto-

rosa, boto-tucuxi e capivara. Durante as pescarias realizadas no Rio Maruim e

igarapés, os únicos animais diferentes de peixes que já foram encontrados presos

às redes foram as cobras d’água.

Os peixes mais comuns na época da enchente que ocorre de janeiro a março

são: bagre, pescada branca, carataí, tamoatá, jeju, piranha, bacu, anunjá,

piramutaba e sardinha. Enquanto na vazante os mais comuns são: tamoatá, traíra,

jeju, aracu, ueua, anunjá e bagre.

Os mais consumidos na área são o tamoatá, dourada, filhote, traíra, jeju,

aracu, ueua, anunjá e cascudo. Não há consumo de peixes marinhos no Rio Maruim

e áreas próximas.

Segundo a maioria dos entrevistados há ocorrência e desova de tartaruga-da-

amazônia na praia do Rio Maruim. Apenas um morador disse que ocorre peixe-boi-

amazônico nessa mesma praia. Os outros entrevistados disseram que não se

encontra mais esse mamífero aquático na região. Há ocorrência de boto-tucuxi e

boto-rosa ou malhado no Rio Maruim.

Quanto às cobras existentes no local foram citadas: cobra d’água, jararaca,

surucucu, cascavel, jiboia e sucuriju. O único problema causado pelas cobras é

quando picam os humanos. Quanto aos crocodilianos encontrados na área foi citada

a ocorrência de jacaré tinga e jacaré coroa. Segundo os moradores, os jacarés não

causam problemas, pois só atacam os humanos se forem importunados por eles.

Os animais que não são mais encontrados na região são: jacaré açu,

capivara e paca.

O caranguejo existente na referida área é o vermelhinho dulcícola que não é

coletado. É visto com maior frequência de janeiro a junho nos campos da fazenda.

Com relação ao siri, o único encontrado na região, em pequena quantidade, é o

vermelho do salgado que aparece no Rio Maruim de julho a dezembro. Não há

coleta desse recurso. Não houve redução da quantidade, nem do tamanho de

caranguejos e siris na área estudada.

O camarão encontrado é o cascudo ou regional que é coletado para

consumo. Sua safra ocorre de maio a junho. É encontrado no Rio Maruim e nos

igarapés da região. Segundo os moradores, houve redução da quantidade

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disponível desse recurso, mas não souberam dizer por que isso ocorreu. Com

relação ao tamanho desse crustáceo, não houve alterações.

Segundo os entrevistados, não há ocorrência de ostras e nem mexilhões no

local. O único molusco encontrado é o turu que não é coletado.

Em se tratando das ameaças sofridas pelos animais aquáticos, os moradores

disseram que no inverno desce a água suja dos campos que vem matando muitos

peixes ao longo de seu percurso. No verão forte, muitos peixes morrem devido à

seca dos lagos e diminuição da vazão dos rios.

Foi mencionado que alguns animais sofrem algumas ameaças, mas justificam

que somente causam dano aos animais por necessidade e para se defenderem

(referindo-se principalmente às cobras). No entanto, quando há oportunidade e na

falta de outros alimentos, o jacaré tinga é caçado para consumo de sua carne. Não

ocorreram ameaças contra os peixes-bois. Entretanto, é raro vê-los atualmente, pois

muitos desses animais morreram no passado. Para diminuição das pressões

negativas sofridas pelos peixes foi sugerida a construção de uma barragem na

época da seca ou que se faça um tanque escavado para que os peixes possam ficar

a salvo da seca.

Quanto à pergunta que falava sobre a utilização de madeira do mangue ou da

floresta, foi respondido que utilizam madeira da floresta para fazer lenha e

construção de casas. As espécies extraídas geralmente são o jenipapeiro e a

siriubeira.

Ilha dos Camaleões (Vila Santo Antônio)

A Ilha é constituída por áreas que estão todo o tempo excessivamente

molhadas ou alagadas e a vegetação nela existente é tipicamente de várzea. O local

é habitado por pescadores profissionais que herdaram o ofício da pesca de seus

pais e o estão transmitindo a seus filhos. A única vila existente na ilha é a Vila Santo

Antônio constituída por pescadores e suas famílias.

A excursão ao redor da Ilha dos Camaleões foi realizada pela manhã, sendo

importante destacar que já havia ocorrido uma primeira visita durante a viagem de

campo ao Município de Chaves (viagem anterior realizada no período de 14 a 28 de

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junho de 2010), ocasião em que houve a aplicação de questionários voltados à

fauna aquática e terrestre nessa ilha.

Observou-se que o ecossistema nela predominante é a várzea (Prancha 6)

contendo plantas como: açaizeiros, tabocais, verônica, gauaçu, abuizeiro,

mungubeira e miriti. A ilha é entrecortada por inúmeros igarapés dentre os quais se

destacam: o Igarapé Segredo, Igarapé Maria Grande, Igarapé Camarão e o Igarapé

Camaleãozinho. Esses dois últimos foram percorridos pela equipe em embarcação

motorizada de pequeno porte.

Foram avistados os seguintes animais: garça branca grande, anu preto,

periquito, papagaio, araçari, guará, garça branca pequena, colhereiro, mergulhão

(biguá), passarinho (peito branco), maçarico, urubu comum, maçariquinho, gavião

(ventre branco), tralhoto e caranguejo sarará (Prancha 6). Prancha 6: 1. e 2. Ecossistemas de várzea observados na ilha do Camaleão; 3 e 4. Vegetação de Restinga encontrada na Praia do Camaleão; 5. Peixe tralhoto Anableps sp. e 6. Caranguejo sarará.

Fonte: SEMA (2011).

Praia dos Camaleões (Ilha dos Camaleões)

A excursão da equipe à Praia dos Camaleões teve início nas primeiras horas

da manhã para que fosse possível a visualização e registro de algumas espécies de

aves e outros animais que têm hábitos diurnos e iniciam suas atividades bem cedo.

1 2 3

4 5 6

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Na área da praia do Camaleão, há grande quantidade de juncais e

ecossistemas de restinga (Prancha 6).

A praia foi mencionada pelos pescadores como local de desova de tartaruga-

da-Amazônia e outras espécies de quelônios. As formações vegetacionais presentes

na praia são rasteiras e a do interior da ilha é constituída por bambuzais e palmeiras

de açaí e buriti e outras espécies típicas de ecossistema de várzea. A praia fica

localizada na porção da ilha que recebe influência de águas marinhas do Oceano

Atlântico, por isso é banhada por águas salobras cuja salinidade sofre alterações de

acordo com a época do ano.

De acordo com Pereira et al. (2010), o achado de uma ossatura craniana sem

mandíbula na Praia dos Camaleões confirma a provável presença de boto-tucuxi na

região próxima à Ilha do Camaleão. Um possível indício de captura acidental em

redes-de-espera da pesca ou resultado da atividade de caça para o comércio de

olhos e órgãos genitais, vendidos como amuletos em Belém (Fotografia 13).

Fotografia 13: Ossatura craniana de boto-tucuxi encontrada na praia dos Camaleões

Fonte: SEMA (2010). Na praia, não foram encontradas habitações humanas, no entanto a mesma é

muito visitada nas estações de veraneio para recreação por pessoas residentes em

áreas próximas vindas dos municípios de Chaves e Soure. A Vila de Santo Antônio

visitada pela equipe fica situada na porção da Ilha dos Camaleões que recebe

influência do Rio Amazonas e seus afluentes.

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Na praia, foram visualizadas algumas vértebras, possivelmente de jacarés. O

escudo dorsal e vértebras de espécies de bagre e uma concha de molusco

gastrópode conhecido comumente como caracol.

Rio Araraquara

o Praia Araraquara

Inicialmente a equipe visitou a Praia Araraquara para realização de

caminhada investigatória a fim de identificar a fauna e os ecossistemas existentes. A

vegetação presente na paria é de restinga e o terreno é irregular com presença de

altas dunas de areia e formação de pequenos lagos nas áreas mais baixas devido à

movimentação das marés (Prancha 7). Prancha 7 - 1. Praia Araraquara; 2, 3 e 4. Dunas de areia existentes na praia Araraquara; 5. Lagos

formados nas áreas mais baixas da praia, localizados entre as dunas de areia e 6. Siri morto

encontrado na praia.

Fonte: SEMA (2011).

Observou-se, também, que por trás das dunas altas o terreno desce

novamente e a vegetação ali presente é característica do ecossistema de várzea

com algumas plantas do ecossistema de mangue.

Foram vistos na areia, animais mortos: um siri, provavelmente, do gênero

Callinectes sp. (Prancha 7) e uma jiboia, além de várias pegadas de animais como

1 2 3

4 5 6

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aves e alguns mamíferos que, provavelmente, saíram da mata a procura de alimento

e/ou água. Foi ouvido o canto de guaribas e foram vistas as seguintes aves:

papagaio, gaivota, maçariquinho, quero-quero e gavião. Nas águas marginais da

praia, foram vistos alguns exemplares do peixe conhecido como tralhoto Anableps

sp.

Rio Araraquara

Em excursão pelo Rio Araraquara (Prancha 8) foram visualizados animais

como: tucano, garças brancas (pequenas e grandes), urubu de cabeça vermelha,

bando de guarás, colhereiro, bem-te-vi, ciganas, quero-quero, marreca, taiquiri,

ninhos de japiim (Prancha 8), capivara, jacaré tinga e uma família de guaribas

composta por três adultos (uma fêmea e dois machos) e três filhotes.

A equipe visitou um retiro (Prancha 8) localizado no rio Araraquara para

realização de entrevistas estruturadas e semiestruturadas com os moradores da

área fazendo uso de pranchas com figuras de representantes da fauna aquática

para identificação das espécies encontradas na região em questão. Prancha 8: 1. Rio Araraquara, Soure; 2. Árvore com ninhos de japiim e 3. Retiro Vitória localizado na margem do Rio Araraquara.

Fonte: SEMA (2011).

Levantamento etnozoológico no Rio Araraquara – Retiro Vitória e

Martolândia

Quatro moradores foram entrevistados com aplicação de questionários e

visualização de pranchas com imagens de animais da fauna aquática. Dentre os

entrevistados, dois eram pescadores profissionais, que residem no local entre 4 e 12

anos. Entre os restantes, um era vaqueiro e reside há 8 anos na fazenda e o outro,

1 2 3

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era uma senhora, dona de casa, que já morava a 12 anos na região. Todos eles

moram no retiro da fazenda de propriedade do Senhor Herculano Barbosa dos

Santos.

Dos entrevistados, três afirmaram a existência de áreas de berçário na região,

citando os lagos existentes nos campos, as cabeceiras dos rios, o Lago do Poço

Comprido e o Lago Aninga Redonda como berçários de peixes. Todos afirmaram

que não existe o cultivo de animais aquáticos, porém comentaram que alguns

fazendeiros fazem barragens nos lagos, para que os mesmos não tenham

diminuição no nível de água no período da seca.

Os entrevistados comentaram que os animais existentes na região são

confirmados por eles através de visualização, rastro e vocalização. Os animais

citados que ocorrem no local foram: alguns peixes como bagre, tamoatá, traíra,

pirarucu e piranha, jacaré tinga, jacaré coroa e jacaré açu, boto-rosa, boto-tucuxi,

tracajá, perema, sucuri, sucuriju e capivara.

Quando perguntados sobre os outros animais que ficam presos nas redes de

pesca, os entrevistados citam além dos peixes o jacaré e a sucuri.

Durante o período de cheia, os peixes dulcícolas citados para a região foram:

bacu, pescada branca, filhote, dourada, bagre e piaba ou piramutaba, enquanto que

dos peixes de água salgada o único citado para o local foi o bagre marinho. Os

peixes de água doce comuns no período da seca que foram citados pelos

moradores são: traíra, tamoatá, piranha, aracu, jeju, apaiari, acará, anunjá e piranha

vermelha, em grande quantidade.

Os peixes de água doce que mais são consumidos pelos moradores e

comercializados quando pegos em grande quantidade são: tamoatá, traíra, apaiari,

piranha, anunjá, bagre e tamoatá. Enquanto os peixes de água salgada, dois

entrevistados citaram dourada, pescada amarela e bagre marinho. Os outros dois

disseram que não há consumo de peixes de água salgada.

Entre os quelônios da região, dois dos entrevistados confirmaram a

ocorrência da tartaruga-da-amazônia, que desova na praia da goiabeira e na praia

do Araraquara, durante o mês de novembro. Os demais disseram que não há

ocorrência da espécie na região.

Com relação à mastofauna aquática, todos os entrevistados negaram a

ocorrência de peixe-boi na região, porém comentaram que há muitos anos atrás

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esses animais eram encontrados nos rios. A presença de boto foi confirmada na

região por todos os entrevistados. Esses citaram o boto-rosa e o tucuxi na praia e

Rio Araraquara.

A herpetofauna da região é marcada pela ocorrência de répteis ofídios

confirmados por todos os entrevistados. As espécies citadas pelos mesmos foram:

sucuri, coral, jararaca (em pouca quantidade) encontradas nas áreas de campos,

cobra-cipó e pepeua. Dos entrevistados, apenas um disse que há problemas pela

presença das cobras, pois elas picam as pessoas. Quanto aos crocodilianos, foi

mencionada a ocorrência dos mesmos por todos os entrevistados, sendo citados: o

jacaré tinga, o jacaré coroa e o jacaré Açu. Um dos entrevistados relatou que o

jacaré tinga faz ninhos no mês de abril e o jacaré coroa ocorre em pouca

quantidade. Outro morador mencionou que o jacaré açu é pouco visto atualmente.

Todos os entrevistados negaram a presença de problemas causados por jacarés.

Aos entrevistados foi perguntado sobre os animais que com o passar dos

tempos não foram mais vistos. O primeiro respondeu que não se vê mais nem o

camaleão e nem a raposa, consumidos por alguns moradores. O segundo disse que

em tempos antigos era possível ver onça e o peixe-boi e que, nos dias de hoje, o

jacaré açu é raramente visto. O terceiro também citou a raridade de se visualizar o

jacaré açu e, também, comentou sobre o desaparecimento do peixe pirarucu. O

quarto entrevistado citou o peixe jeju como desaparecido e justificou sua ausência,

dizendo que o mesmo serve de alimento para o bagre marinho.

Com relação aos crustáceos Brachyura, dois dos entrevistados disseram não

existirem no local, enquanto que os outros dois confirmaram sua ocorrência. Um

deles citou o caranguejo-uçá e o sarará, sendo que esse último em pouca

quantidade. O outro entrevistado citou o caranguejo vermelhinho dizendo que são

encontrados nos campos nos meses de janeiro a março e de junho a julho. Ambos

comentaram que não há coleta desse recurso. Três dos entrevistados disseram não

haver redução da população de caranguejos, sendo que apenas um comentou ter

havido certa redução e acrescentou dizendo que os mesmos servem de alimento

para aves como o gavião e o guará que se alimentam de sarará e camarões.

Os siris foram citados por dois entrevistados, como espécies que habitam a

região, sendo citada apenas a espécie de siri vermelho e em pouca quantidade.

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Esses animais não são coletados e ocorrem nos igarapés, no período de novembro

a dezembro.

Entre os crustáceos Decapoda foi mencionada, pelos entrevistados, a

ocorrência do camarão-liso e do camarão-cascudo, ambos utilizados para consumo,

sendo que todos mencionaram que os mesmos são encontrados no Rio Araraquara.

Em relação à safra, todos disseram períodos distintos, sendo o primeiro entre maio a

junho, o segundo de junho a julho, o terceiro de março a maio e o último de abril a

junho.

Dois dos entrevistados afirmaram a redução da população de camarão,

justificado pelo alto consumo, também foi comentado que a quantidade pode variar

com o tempo, sendo possível em um ano ter o recurso em abundância e no outro a

sua escassez.

Com relação aos moluscos, não foi mencionada a ocorrência de ostras, nem

de mexilhões, apenas de turu que foi confirmada por um entrevistando e disse que a

safra do mesmo é o tempo todo.

Em referência às ameaças sofridas por animais aquáticos foi mencionado que

o camarão teve sua população reduzida devido à entrada de pescadores na região

para a comercialização e devido servir de alimento para os peixes. As cobras

venenosas são mortas para a defesa dos moradores que se sentem ameaçados por

esses animais. E, por fim, o tamoatá que serve de alimento para o bagre, tendo sua

população também reduzida, já que o bagre teve sua população aumentada. Os

demais animais mencionados não sofrem grandes ameaças, como é o caso do

jacaré, do boto, da tartaruga e o peixe-boi.

Para redução das pressões sofridas pelo peixe tamoatá, os moradores

acreditam que deveria ser feita uma represa que o separasse de seu predador, o

bagre.

Dos moradores entrevistados, apenas um admitiu retirar madeira para fazer

lenha, porém o mesmo afirmou que tira a madeira seca.

Levantamento etnozoológico no Canal das Tartarugas

Apenas um pescador foi entrevistado no Canal das Tartarugas, através da

aplicação de questionário e visualização de pranchas, contendo figuras de animais

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da fauna aquática. O mesmo confirmou ser pescador profissional e comentou que às

vezes trabalha como prático em navios de pesquisa.

O entrevistado atualmente mora em Soure, mas contou que morou durante

quinze anos no Canal das Tartarugas. Ele confirmou a presença de berçários de

peixes no lago do Arari, localizado na Vila Jenipapo em Santa Cruz do Arari, e disse

que em fevereiro o Lago Arari comunica-se com o Canal das Tartarugas.

Segundo o entrevistado, não há cultivo de animais aquáticos, mas existem

alguns fazendeiros que constroem barragens para aprisionar peixes no Lago Arari e

nos igarapés da região.

Os animais aquáticos que foram citados pelo entrevistado como existentes na

região são: capivara, boto-malhado, peixe-boi-da-amazonia, tartaruga-da-amazônia

e tartaruga marinha suruanã que aparece no mês de março para desovar nas praias

que se formam. Tais animais têm sua existência confirmada através de visualização

pelo entrevistado.

Segundo o pescador entrevistado, às vezes, alguns animais ficam presos na

rede de pesca, como o boto, a tartaruga e o capitari que é como chamam para o

macho da tartaruga. Durante a cheia do canal, os peixes mais frequentes são:

tamoatá, sarda apapá, anunjá, tucunaré e dourada. Os que são mais comuns no

período da seca são: tamoatá, apaiari, traíra e jeju.

Todos os peixes citados acima, quando pescados em grande quantidade,

apresentam sua maior parte destinada à venda sendo uma pequena parte retirada

para o consumo do pescador e sua família.

Os répteis ofídios citados pelo entrevistado foram: jararaca, em grande

quantidade, jiboia, surucucu e cascavel (raro). Esses animais ocasionam grandes

problemas para os moradores, pois ocorrem vários acidentes com picadas de cobra.

Os crocodilianos presentes na região são: jacaré açu, jacaré coroa e jacaré

tinga, os mesmos não trazem problemas a população.

Dentre os crustáceos Brachyura da região, foi citado pelo pescador o

caranguejo vermelhinho, presente nos campos, que aparece mais no período de

setembro e outubro. Não há coleta desse recurso, pois os moradores não o

consomem, consequentemente, a quantidade desses animais aumentou, mas o seu

tamanho permanece o mesmo. Há também a ocorrência do siri vermelho, uma

espécie marinha que aparece durante a seca da maré, no período de setembro, nas

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beiras dos rios; não há coleta de siris, por isso ele acredita que a população desses

animais não reduziu e seu tamanho também continua o mesmo.

Entre os crustáceos Decapoda foi mencionada a ocorrência do camarão-

cascudo que é utilizado para consumo. Sua safra ocorre no período de agosto a

outubro, o mesmo aparece na beira das praias e nos igarapés. Possuem grande

fartura, enchendo a saca dos pescadores. Não houve redução populacional desse

recurso e seu tamanho continua o mesmo.

O único molusco citado para a região foi o turu, mas o mesmo não é

consumido. Não foi mencionada à ocorrência de ostras e nem de mexilhões no local.

Com relação às ameaças sofridas pela ictiofauna foi citado que a seca dos

rios faz com que muitos peixes morram, devido às barragens construídas por alguns

fazendeiros. Essas barragens impedem o fluxo do rio, causando seca total em

algumas áreas descendentes se seu percurso natural. Para o boto, peixe-boi e

caranguejo não foram registradas ameaças. Para os representantes da

herpetofauna as tartarugas e jacarés, às vezes, são utilizados para consumo, não

ocorrendo a comercialização de suas carnes.

Quanto às cobras, foi relatado que algumas espécies peçonhentas oferecem

perigo aos moradores, e por esse motivo são mortas. A ameaça sofrida pelos

camarões é, apenas, o esforço de captura para o consumo de subsistência das

famílias ribeirinhas presentes na região.

Para diminuir a morte de inúmeros peixes no período de seca, o pescador

entrevistado sugeriu a construção de tanques para colocar os animais durante essa

época.

Foi relatada a utilização da madeira da floresta para produção de lenha,

sendo extraída a madeira jaranduba para essa finalidade. Para a construção das

casas, os moradores do Canal das Tartarugas compram madeira proveniente do

Município de Afuá.

3.2.3 Município de Chaves

O trabalho de excursões no Município de Chaves iniciou na Comunidade de

São Sebastião de Arapixi, onde a equipe de fauna terrestre fez seu primeiro

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momento de atividades junto à equipe de fauna aquática, percorrendo o Rio Arapixi

até próximo as cabeceiras dos rios.

Ao término dessa incursão, nos limites da fazenda Egito foram obtidas mais

informações sobre a composição da paisagem, o que possibilitou a observação

inicial de pequenos bandos dispersos de cegonhas cabeça-seca Mycteria

americana, tuiuiú Jabiru mycteria e um espécime de cauauá Ciconia maguari, além

de grandes concentrações de garça-branca Casmerodius albus, garcinha Egreta

thula e maguari Ardea cocoi.

A vegetação de sub-bosque está presente ao longo de toda a borda do Rio

Arapixi, ladeada por extensas áreas de campos de pastagem.

A composição da avifauna de sub-bosque foi variada e incluiu espécies

representativas para a região: pavãozinho-do-Pará Eurypyga helias da família

Eurypygidae; gavião-carijó Rupornis magnirostris ave de rapina da família dos

acipitrídeos; gavião-caramujeiro Rostrhamus sociabilisum, ave paludícola da família

dos acipitrídeos, exclusivamente malófago, encontrada em locais pantanosos da

América tropical e temperada; papagaio-curica Amazona amazônica psitaciforme;

inhanbu-relogio Crypturellus strigulosus ave Tinamiforme da família dos tinamídeos;

jacu Penelope ochrogaster ave galinácea da família dos cracídeos, além de aves

piciformes da família dos Ramphastidae e Picidae, com destaque para os tucanos

Ramphastos toco e Pteroglossus bitorquatus e pica-pau-de-banda-branca

Dryocopus lineatus, respectivamente.

Foi frequente a presença de espécies de borda de floresta alimentando-se de

frutos e insetos no campo, como por exemplo, a pipira-vermelha Ramphocelus

carbo, o sanhaçu-da-Amazônia Thraupis episcopus, o siriri Tyrannus melancholicus,

o anu-preto Crotophaga ani e anu-coroca Crotophaga major. Estão presentes

também outras espécies que são tipicamente associadas aos campos, como por

exemplo: a rolinha-roxa Columbina talpacoti e o periquito-verde Brotogeris

viridissimus.

As espécies da mastofauna, frequentemente citadas como animais de valor

cinegético estão representados por dois marsupiais: mucura-chichica Caluromys

philander e mucura-branca Didelphis marsupialis, além do tatu-galinha Dasypus

novemcinctus (Xenarthra), a mais caçada devido, provavelmente, habitar ampla

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variedade de sistemas (MEDRI, 2008), ter alta densidade local e ser “um animal de

carne saborosa”, segundo os entrevistados.

Em toda a região, a caça de tatu galinha dá-se por procura ativa em possíveis

abrigos. Os animais são fisgados com uma haste de metal, uma técnica “rudimentar”

e de baixo custo, semelhante à praticada na Ilha de Caviana. (Fotografia 14 e 15). Fotografia 14- Toca ativa de tatu-galinha Fotografia 15 - Animal sendo eviscerado (caça de subsistência).

Fonte: SEMA (2010). Fonte: SEMA (2010).

No fim da tarde, houve visita em moradias nas proximidades de São

Sebastião do Arapixi, onde foi executada busca ativa de fauna, em caminhada de

uma hora em trilhas de uma extensa área florestada, consorciada com açaizais.

Nesse setor, foram avistadas seis tocas ativas de tatu galinha e um bando de

macacos guariba Alouatta belzebul, constituído por sete indivíduos, sendo: dois

machos adultos, quatro animais adultos de sexo não determinado e um infante; um

indicativo para período de reprodução dessa espécie.

A guariba é o símio mais caçado em toda a região e, ao que parece, possui

grandes populações e ampla distribuição regional. A espécie pode ser facilmente

identificada durante o início das manhãs e fins de tarde, quando os grupos

vocalizavam para delimitação de seus territórios.

Outras espécies de primatas ocorrentes na região são: macaco-de-cheiro

Saimiri sciureus, macaco-prego Cebus apella, sagui Saguinus midas e macaco-da-

noite Aotus infulatus, esta última espécie, segundo as entrevistas, tem ocorrência

confirmada em todos os setores amostrados.

Entre os mamíferos roedores, de médio e grande porte, mais frequentes e sob

menor pressão de caça, destacam-se a cutia-vermelha Dasyprocta leporina, a paca

14 15

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Cunicullus paca e a capivara Hydrochoerus hidrochaeris, animal de hábito

semiaquático. Esse é o maior mamífero roedor do mundo, que parece não ser

caçado na maioria das regiões, ao contrário de localidades próximas ao Lago Arari,

onde sua caça sustenta o grande mercado ilegal de carne salgada para feira livre do

Município de Abaetetuba no Baixo Rio Tocantins (SAMPAIO, 2003).

O fato de os caçadores terem citado os mamíferos como fauna cinegética

mais consumida, pode estar relacionado com a disponibilidade e/ou preferência por

estes animais, bem como aos seus benefícios energéticos. A carne de fauna

silvestre possui alto teor proteico se comparada a outros alimentos, como a farinha

de mandioca e o peixe (REDFORD, 1997).

Na costa, os locais de caça são relativamente próximos às residências,

possivelmente por conta da disponibilidade de fonte de proteína alternativa de menor

custo nas criações de animais domésticos como galinhas Gallus gallus domesticus,

patos Anas domesticus e porcos Sus domesticus, presentes em todas as moradias

visitadas pela equipe de fauna terrestre e avifauna. Essa realidade parece

direcionar, em alguns casos, caçadas a porcos domésticos afugentados da área de

moradia.

Em todos os setores amostrados constatou-se ampla distribuição de rato-toró

Dactylomys dactylinus, pequeno roedor de comportamento noturno e facilmente

notado por sua vocalização característica durante a delimitacão de território.

Segundo informações de um caçador local (J. 52 anos; 40 de caça),

ungulados como a anta Tapirus terrestris (maior mamífero terrestre neotropical) e

veado-vermelho Mazama americana, estão com suas populações em declínio na

região, provavelmente em virtude da intensa pressão de caça em um passado

recente. Em todas as áreas amostradas, as espécies de porco-queixada Tayassu

pecari e caititu Pecari tajacu não foram avistadas e, segundo as entrevistas, não

ocorrem no setor do Marajó.

Nesse setor, os carnívoros mais frequentes são a jaguatirica Felis pardalis,

com ocorrência em todas as áreas amostradas, cachorro-do-mato Cerdocium tous e

três espécies de procionídeos: quati Nasua nasua, guaxinim Procyon cancrivorus e

jupará Potos flavus.

Foram relatadas as ocorrências de gato-mourisco Herpailurus yaguarondi,

gato maracajá peludo Leopardus wiedii (em perigo de extinção), onça vermelha

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Puma concolor e onça pintada Panthera onca; principalmente durante o verão,

quando as espécies passam a ocupar áreas mais extensas.

Viagem às Comunidades Nazaré, São Pedro e Redenção (Vila Ganhoão)

Para esta região, confirmou-se a ocorrência de uma população, relativamente

grande, de marrecas Dendrocygna autumnalis e o reduzido número de pato-do-mato

Cairina moschata. Segundo os entrevistados, nos setores de campos mais

próximos, são observadas grandes concentrações de marrecas, onde realizam a

muda completa das penas das asas (desasagem) e se alimentam. Nesses locais e

em toda região, essa espécie está sob intensa pressão de caça e catação de seus

ovos, principalmente durante o verão, quando aumentam suas concentrações nos

campos e bordas de lagoas.

Não foi avistado o pato-do-mato Cairina moschata. Segundo os entrevistados,

essa espécie ocorre em pequenas concentrações. Trata-se de uma ave de médio

porte que habita lagos, rios e bordas de mata, onde se concentram em pequenos

bandos formados por apenas um macho e várias fêmeas. Seu status de

conservação é ameaçado, principalmente pela destruição de seu habitat e caça

ilegal. Esse quadro parece não ser diferente para esse setor da Ilha de Marajó.

Segundo entrevistas, em toda a região, há intensa matança anual de cauauás

Ciconia maguari em ambientes de campos onde as populações estão em declínio.

Trata-se de uma ave migratória de grande porte, com aproximadamente 4,5 kg e

1,40 m de altura, de comportamento solitário, seletivo e distribuição restrita para

essa porção da Amazônia. As populações dessa espécie parecem ser conservadas

nas ilhas particulares Caviana e Mexiana, onde a perseguição e a caça são

reduzidas, o que leva a crer tratar-se de uma espécie guarda-chuva, particularmente

efetiva na delimitação de tamanho e tipo de habitat a ser protegido. A discussão

sobre a necessidade de criação de áreas de proteção integral na costa de Marajó é

particularmente importante para essa singular flag species.

Na Vila de Nazaré, foi realizada busca ativa de répteis e anfíbios ao longo de

trilhas em terra firme. Confirmou-se a ocorrência de nove espécies de lagartos, com

ampla distribuição na Amazônia: Kentropyx calcarata, Mabuya nigropunctata,

Coleodactylus amazonicus, Gonatodes humeralis, Plica plica e Plica umbra. Três

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moradores entrevistados confirmaram a ocorrência de calango-verde Anolis

fuscoauratus. Em todos os setores amostrados, identificaram-se, com maior

frequência, lagartos da família Teiidae: jacuruxi Dracaena guianensis (Fotografia 16

e 17) e lagarto-teiú Tupinambis teguixim, considerado o maior lagarto do Brasil.

Nenhuma das espécies identificadas encontra-se em listas de espécies ameaçadas

de extinção para o estado do Pará.

Fotografia 16 - Pôr do Sol em Vila São Pedro. Fotografia 17- Jacuruxi em Comportamento de

Termorregulação

Fonte: SEMA (2010). Fonte: SEMA (2010).

Entre as serpentes ocorrentes na região, identificou-se em entrevistas, a

surucucu-de-fogo ou surucucu-pico-de-jaca Lachesis muta, a maior cobra venenosa da América do Sul, chegando a medir, quando adulta, 4,5 m; cobra-cipó Chironius carinatus, uma espécie diurna e arborícola da família dos

Colubrídeos, além das espécies constritoras da família Boidea, como a sucuri-verde

ou sucuri-preta Eunectes murinus e jiboia Boa constrictor; espécies amplamente

distribuídas nos setores de campos alagados e de terra firme, respectivamente.

Neste setor, foram fotografadas duas espécies de crocodilianos: jacaré-tinga

Caiman crocodilus (Fotografia 18) e jacaré açu Melanosuchus Niger (Fotografia 19).

Essas espécies ocorreram, também, nas demais áreas amostradas. É provável que

nessa porção da Ilha de Marajó ocorram as duas outras espécies de jacarés

amazônicos: jacaré-coroa Paleosuchus trigonatus e Jacaré-paguá Paleosuchus

palpebrosus.

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Fotografia 18 - Jacaré tinga. Fotografia 19 - Jacaré açu.

Fonte: SEMA (2010). Fonte: SEMA (2010).

Não foram realizadas procuras noturnas de anfíbios na região. Identificou-se a

ocorrência de sapo-cururu Bufo sp. próximo a faixa entre marés, na porção média da

Praia dos Camaleões. Anfíbios são excelentes indicadores biológicos de áreas

degradadas. Mais um bom motivo para conservá-los. (Fotografia 20).

Fotografia 20 - Sapo-cururu na Praia dos Camaleões.

Fonte: SEMA (2010).

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Viagem à Vila Nascimento, Vila Nova e Nossa Senhora do Livramento

(Rio das Tartarugas) Chaves/PA.

Na Comunidade de Vila Nova percorreu-se, durante duas horas, trilhas ao

longo de plantações de açaizais nativos, onde se identificou pegadas de guaxinins

Procyon cancrivorus, cachorro-do-mato Cerdocyon thous e lontra Lontra longicaudis.

Segundo os entrevistados, nesse setor, os xenarthras tamanduá-bandeira

Myrmecophaga tridactyla (espécie vulnerável, IUCN-2004), tamanduá de colete

Tamandua tetradactyla e tamanduaí Cyclopes didactylus, são frequentes e utilizam

os habitat de campos naturais e vegetação de sub-bosque, principalmente durante o

verão. Segundo as entrevistas, essas espécies estão sob reduzida pressão de caça

e possuem um bom status de conservação.

Houve visitas aos setores de campo de pastagens nativa e inundável, com

faixas de estratos arbustivo-arbóreos, localizados imediatamente atrás da

comunidade, onde foram avistados e identificados grupos de maçarico-cauauá

Himantopus himantopu ao longo de todo o percurso. Provavelmente, são indivíduos

sexualmente imaturos ou populações sedentárias residentes. Os campos

encharcados são áreas de alimentação para essa espécie e outras comunidades de

aves que utilizam os recursos alimentares ali disponíveis, principalmente pelas

populações dos ciconiformes como o guará Eudocimus ruber e o colhereiro Platalea

ajaja.

Viagem às comunidades de Santo Antônio, Santa Quitéria e Mandubé na

Ilha dos Camaleões/Chaves/PA.

Nesse setor, percorreram-se ecossistemas de praia, campos e matas de

açaizais. Em visita à Comunidade de Santa Quitéria, encontraram-se, em uso

decorativo, carapaças de duas espécies de tartarugas: tartaruga-da-Amazônia

Podocnemis expansa e tartaruga-verde Chelonia mydas, uma espécie marinha e

cosmopolita listada entre as Em perigo pela IUCN (Internatinal Union for

Conservation of Nature and Natural Resources), que utiliza áreas de ilhas e baías

para o forrageio. (Fotografia 21 e 22).

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O auxiliar de campo (Sr. Antônio, 57 anos, 43 de pesca) nascido nessa

região, relatou sobre uma possível desova de tartaruga-marinha ao longo da faixa de

praia na Ilha dos Camaleões.

Não foi avistado camaleão Iguana iguana, no entanto os entrevistados na ilha,

afirmam haver grande desova dessa espécie durante o verão, ao longo da faixa de

praia, sobretudo nos setores de tabocais Guadua latifolia e na vegetação de

restinga, entre pequenas dunas. Durante o verão, época de reprodução, essa

espécie é perseguida para consumo de sua carne e ovos, que são bastante

apreciados na região. A captura é realizada principalmente nos ninhos, construídos

em covas escavadas no chão. O fato dessa espécie não ter sido avistada pode ser

um indicativo de que suas populações tenham sido afetadas pela caça. Fotografia 21 - Carapaça de tartaruga-da-Amazônia. Fotografia 22 - Carapaça de tartaruga-verde (Praia dos Camaleões).

Fonte: SEMA (2010). Fonte: SEMA (2010).

Foi relatado durante os trabalhos a ocorrência do peixe-boi-amazônico

Trichechus inunguis, lontra Lontra longicaudis (espécie ameaçada de extinção) e o

boto-tucuxi Sotalia fluviatilis (ver em detalhe no tópico fauna aquático).

Nesse setor, ao longo da foz do Rio Tartaruga e da margem da Praia-dos-

Camaleões, identificaram-se pequenos grupos de biguás Phalacrocorax olivaceus,

quero-quero Vanellus chilensis, ave da ordem dos Charadriiformes, pertencendo à

família dos Charadriidae; curicacas Theristicus caudatus, talha-mar Rynchops niger,

gavião-belo Busarellus nigricollis, carcarás Polyborus plancus, garça-real Pilherodius

pileatus, socó-boi Tigrisoma lineatum, carão Aramus guarauna, além de espécies

com populações mais numerosas como maçarico-rasteiro Calidris pusilla e

batuirinha Charadrius collaris, aves migratórias que foram avistadas forrageando ao

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longo da margem de praias; setor de parada e invernada para algumas espécies de

aves migratórias. Essas espécies também foram observadas, em menor número, ao

longo dos campos interiores.

3.2.4 Levantamento Da Fauna Aquática

Comunidade de São Sebastião do Arapixi

Iniciou-se a excursão ao longo do Igarapé Arapixi em uma pequena canoa

motorizada, tripulada por dois auxiliares de campo selecionados pela comunidade.

Durante esse percurso navegado por 45 minutos, numa velocidade média de 7 km/h,

em direção a cabeceira do Rio Arapixi, com auxílio de binóculo e máquina

fotográfica, foi realizada busca ativa de anfíbios, repteis, aves e mamíferos, dividindo

os setores de amostragem entre as margens do rio. O início e o fim do percurso

foram georreferenciados com receptor GPS Garmin, que também determina

distância percorrida, tempo e velocidade. Ao longo do igarapé, foram avistadas

algumas aves como: garça branca, tucano, urubu, socoí, anu preto e pomba. A

vegetação ciliar existente às margens do igarapé é tipicamente de várzea constituída

por aningas, açaizeiros, bromélias, mungubeiras, etc. (Prancha 9). Prancha 9 - 1. Igarapé Arapixi; 2. Vegetação ciliar e 3. Aningal.

Fonte: SEMA (2010).

A equipe seguiu pelo Igarapé Arapixi até chegar ao ponto em que surge uma

bifurcação a partir da qual, seguindo em linha reta, o igarapé passa a se chamar

Santo Antônio e desviando para a esquerda encontra-se o Rio Egito. Próximo a essa

bifurcação, localiza-se a Fazenda Egito às margens do Igarapé Santo Antônio cuja

proprietária é a Senhora Maria Bernadete Franco. A atividade realizada na fazenda é

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a pecuária de gado de corte com um rebanho bovino (Nelore Branco) com

aproximadamente três mil cabeças. A comercialização do animal é realizada em

Paragominas e o leite produzido é, por ser em pequena quantidade, utilizado para

consumo dos donos e trabalhadores da fazenda.

O senhor Raimundo Rodrigues que vive na região há 45 anos é o responsável

pela administração da Fazenda Egito e conta com a ajuda de mais seis empregados

que residem em suas casas localizadas dentro dos limites dessa mesma fazenda

onde trabalham. De acordo com seus relatos verbais, os peixes existentes na região

são: tamoatá, traíra, jeju, piranha vermelha, aracu, jandiá, acari, acari chicote,

apaiari, tambaqui, acará, cachorrinho de padre, mandubé, ituí vermelho, rebeca

(muito), arraia de fogo (pintada e vermelha), sardinha. O melhor período para

pescaria ocorre no mês de junho, quando as águas estão mais baixas, facilitando a

captura dos peixes.

Os corpos aquáticos existentes nos arredores da fazenda são identificados

pelos moradores como locais de desova de peixes (berçários). No mês de setembro,

para evitar que as águas sequem totalmente, faz-se uma tapagem (barragem), tendo

como consequência a contenção dos peixes que ficam impedidos de seguirem o

curso natural das águas, ocasionando a escassez de peixes em outras regiões

situadas rio abaixo.

Os ofídios comuns na área são a sucuriju, a jararaca, a surucucu e a

jiboia. Há registros de animais aquáticos antes encontrados na região e que hoje

são raros: boto-tucuxi, quelônios, pirarucu, tucunaré, pescada branca, jacundá,

uéua, jacaré tinga, capivara e cutia.

A caça na região quase já não é praticada devido à fuga dos animais

silvestres das matas próximas à fazenda para locais mais distantes e de difícil

acesso. Fato esse que aconteceu, provavelmente, por conta do manejo de

pastagens para criação de gado de corte ou devido à intensidade da caça

predatória. A dieta proteica dos moradores locais é realizada principalmente através

do consumo de carne bovina dos animais provenientes da criação da fazenda.

Realizam coleta de água das chuvas para utilização no período da seca para

cozinhar, beber e tomar banho.

Foram realizadas duas pescarias experimentais em Arapixi. A primeira delas

foi realizada no Igarapé Santo Antônio em frente à Fazenda Egito, utilizando como

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apetrechos de pesca a linha e o anzol. Os peixes capturados foram: jandiá Rhamdia

quelen e piranha vermelha Serrasalmus sp.. A segunda foi feita no Igarapé Arapixi

quando a equipe retornava à sede da Comunidade de São Sebastião do Arapixi,

utilizando o mesmo apetrecho de pesca. Capturou-se apenas uma espécie cujo

nome comum é mandubé Ageneiosus sp. (Fotografia 23). Também nesse retorno,

ouviu-se a vocalização de um grupo de guaribas proveniente de uma mata próxima

à comunidade. Fotografia 23 - Peixe mandubé capturado no Igarapé Arapixi

Fonte: SEMA (2010).

No período vespertino, a equipe de fauna aquática aplicou seus questionários

específicos e sua prancha de animais aquáticos aos moradores de Arapixi.

Posteriormente, três técnicas desta Secretaria de Estado de Meio Ambiente (SEMA)

participaram da reunião com pescadores locais e Superintendência do Patrimônio da

União (SPU) a fim de dar esclarecimentos sobre como proceder para minimizar

conflitos de pesca entre pescadores e fazendeiros por meio da criação de acordos

de pesca.

Comunidade do Ganhoão - Vila Nazaré

A Vila Nazaré pertencente à Comunidade do Ganhoão está localizada às

margens do Rio Ganhoão (Fotografia 24). Essa vila possui uma economia baseada

principalmente nas atividades de extrativismo de açaí (Fotografia 25), da pesca

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artesanal (peixe e camarão) e pecuária bubalina. Segundo relatos verbais de

moradores locais, essa vila já recuou 400 metros adentro de seu território ao longo

dos 55 anos de existência, provavelmente, como consequência da erosão

provocada pela força das águas da Foz do Rio Amazonas sob grande influência das

águas marinhas do Oceano Atlântico. Fotografia 24 - Rio Ganhoão. Fotografia 25 - Açaizal em Vila Nazaré / Ganhoão.

Fonte: SEMA (2010). Fonte: SEMA (2010).

A equipe da fauna aquática aplicou seus questionários e pranchas de fotos

específicos sobre animais aquáticos para alguns moradores da Vila Nazaré e fez

registros fotográficos e georreferenciamento do lugar.

De acordo com relatos verbais do senhor Martiniano Martins Ferreira de 64

anos de idade, morador da Vila Nazaré, a tradição da pesca é passada de pai para

filho. Seu progenitor lhe ensinou o ofício quando tinha apenas nove anos de idade. A

maioria dos pescadores profissionais do lugar pesca em alto mar e chega a ir até

Oiapoque e Calçoene, no Estado do Amapá. A produção pesqueira é descarregada

e comercializada em Belém, no mercado do Ver-o-Peso. Algumas vezes, apenas,

quando o preço do pescado não está bom na capital paraense, a produção é levada

para comercialização no Amapá.

A colônia de pescadores que os assiste é a Z-22 de Chaves, pois é a única

existente para auxiliar os pescadores de todo o município. Esse fato traz um grande

problema, pois muitos profissionais de pesca ficam sem assistência, por isso o

Senhor Martiniano Ferreira associou-se à colônia de pescadores do Amapá e recebe

seguro desemprego de pescador há cinco anos devido ter sofrido um acidente de

trabalho que o deixou impossibilitado de exercer sua atividade profissional.

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O apetrecho de pesca mais usado é a rede de nylon cujo tamanho da malha

varia de quarenta milímetros entrenós a tamanhos maiores. O método de utilização

da rede de emalhar varia entre os pescadores, porém a maioria a estende pela

manhã para recolher à tarde ou à noite para recolher pela manhã (rede de espera).

Algumas espécies de peixe, como o piraíba, são pescadas com espinhel por serem

bastante grandes e pesadas para a pescaria com rede.

Segundo relatos verbais, não há tantos problemas gerados entre os

pescadores profissionais e os donos das embarcações que operam em alto mar.

Esses barcos devem ser maiores e com propulsão mais potente do motor, além de

possuir um porão que comporte uma considerável quantidade de gelo para

conservação, pois essas pescarias chegam a durar, aproximadamente, trinta dias.

São poucos os pescadores que possuem suas próprias embarcações para operar no

mar. Geralmente possuem pequenos barcos usados para pescarias em áreas mais

próximas e retornando no fim do mesmo dia em que saíram para pescar.

O atrito identificado na área ocorre entre pescadores e fazendeiros, pois

esses últimos fazem, no período da seca, o represamento dos rios cujas nascentes

ficam em suas propriedades. Os peixes e outros recursos aquáticos ficam presos

nos campos e chegam a faltar nas áreas mais abaixo nos cursos dos rios que secam

nessa época do ano, dificultando a vida dos pescadores e suas famílias.

Os peixes existentes na região do Ganhoão são: branquinha ou pritipioca

Potamorhina sp. (bastante), acari barbado – família Loricariidae, acari-bodó

Ancistrus sp., ituí - famílias Sternopygidae e Apteronotidae, ituí terçado

Rhamphichthys rostratus, aruanã Astronotus sp., aracu pintado Leporinus sp.,

pirapitinga Piractus brachypomus, piranha vermelha Serrasalmus sp., tambaqui

Colossoma macropomum, jeju Hoplerythrinus unitaeniatus, tamoatá Hoplosternum

littorale, bacu pedra Megalodoras uranoscopus, bacu cuiú-cuiú Centrodoras

brachiatus, barba-chata ou babão Goslinia platynema, filhote Brachyplatystoma

filamentosum, mapará Hypophthalmus marginatus, piramutaba ou piaba

Brachyplatystoma vaillantii.

Também são encontrados na região recursos como o camarão-regional ou

cascudo Macrobrachium amazonicum, camarão gigante-da-Malásia Macrobrachium

rosenbergii (espécie exótica), camarão pitu Macrobrachium carcinus (com listra preta

lateral), caranguejo vermelhinho – família Pseudothelphusidae (nos campos),

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caranguejo sarará nas beiradas dos rios e áreas alagadas (visualizado pela equipe),

tartaruga-da-Amazônia Podocnemis expansa, tracajá Podocnemis unifilis, muçuã

Kinosternon scorpioides, perema Rhinoclemys punctularia e matá-matá Chelys

fimbriatus (raro).

Entre os mamíferos aquáticos citados pelo pescador entrevistado estão: o

peixe-boi-amazônico Trichechus inunguis (muito encontrado), boto-malhado ou rosa

Inia geoffrensis, boto-cinza ou tucuxi Sotalia fluviatilis e lontra Lontra longicaudis.

Vila São Pedro

As equipes foram levadas até a Vila São Pedro localizada quase em frente à

Vila Nazaré, na outra margem do Rio Ganhoão. Logo na chegada, foram

visualizados alguns peixes conhecidos pelo nome de tralhotos Anableps microlepis

(Prancha 10) nadando sobre as águas, bem próximo à embarcação, onde as

equipes estavam alocadas. No local, foram realizadas entrevistas através da

aplicação dos questionários e pranchas de figuras de representantes da fauna

aquática, registros fotográficos e georreferenciamento.

Na Via São Pedro, a economia também se baseia nas atividades de

extrativismo do açaí, da pesca artesanal (de peixe e camarão) e pecuária bubalina.

Assim como nas outras vilas pertencentes à comunidade do Ganhoão. (Prancha 10). Prancha 10 - 1. Vila São Pedro; 2. Peixe tralhoto ou quatro-olhos e 3. Açaizais.

Fonte: SEMA (2010).

A excursão ao longo do Rio Ganhoão teve como primeira parada o Igarapé

Inajá (Prancha 11) localizado ainda nos limites da Vila Nazaré e que desemboca no

rio supracitado. O desembarque foi em uma propriedade rural situada à margem

direita do Igarapé Inajá, onde foram avistadas algumas espécies de aves como:

japiim e marrecas (Prancha 11). A esposa do dono da propriedade declarou que

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essas marrecas vistas pela equipe já foram domesticadas e são criadas juntamente

com as galinhas e não fogem, ficando o tempo todo ali próximo à residência principal

da propriedade. No sítio, pode-se observar que alguns moradores fazem pequenas

plantações suspensas por estacas para evitar problemas com os alagamentos

periódicos trazidos pelas chuvas que ocorrem no local. Nessas hortas, são

cultivadas chicória, alfavaca, coentro, cebolinha e, ainda, plantas ornamentais

(Prancha 11). Há, também, no sítio uma criação de gado bubalino que durante o dia

pasta livremente pelo campo e à noite fica preso em curral feito de vigas de madeira.

A equipe visualizou algumas espécies de peixes ósseos capturadas no Rio

Ganhoão. As espécies foram: cachorro de padre ou anunjá Parauchenipterus

galeatus, curimatá ou branquinha Curimata sp., acari Ancistrus sp., pescada branca

Plagioscion squamosissimus, traíra Hoplias malabaricus, piramutaba

Brachyplatystoma vaillantii. (Prancha 11).

Prancha 11 - 1. Igarapé Inajá na maré baixa; 2. Marrecas domesticadas; 3. Plantação suspensa de hortaliças e plantas rnamentais; 4. Cachorro de padre ou anunjá; 5. Piramutaba; 6. Acari; 7. Curimatá; 8. Pescada branca e 9. Traíra.

Fonte: SEMA (2010).

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Posteriormente, seguiu-se rio acima até chegar ao Rio Redenção às margens

do qual se situa a Vila Redenção (Prancha 12) também pertencente à Comunidade

do Ganhoão. Os moradores dessa vila vivem, principalmente, da atividade da pesca

artesanal e extrativismo do fruto da palmeira do açaí. A equipe da fauna aquática

avistou algumas espécies de aves, procurando alimentar-se com pequenos

invertebrados que ficam desprotegidos nas porções de praias que surgem com a

vazante da maré. As aves avistadas foram: mergulhões, gaivotas, garças brancas e

colhereiros.

Prancha 12 - 1. Rio e Vila Redenção; 2. Crianças deslocando-se em canoa a remo; 3. Palmeiras de Açaí; 4. Aves em busca de alimentos na areia; 5. Ave colhereiro e 6. Garças brancas.

Fonte: SEMA (2010).

Nas proximidades do Rio São Tomé, onde moram algumas famílias de

pescadores artesanais foram aplicados questionários e pranchas de figuras de

espécies da fauna aquática.

Realizou-se uma pescaria experimental no Rio São Tomé com utilização de

rede de pesca. Foram capturados alguns exemplares representantes da fauna

aquática do local, a citar: camarão-regional ou cascudo Macrobrachium

amazonicum, mapará Hypophthalmus marginatus, mandubé Ageneiosus sp.,

piramutaba Brachyplatystoma vaillantii, arraia Potamotrygon sp.; branquinha família

Characidae; sardinha Triportheus sp., curimatá Curimata sp. e pescada branca

Plagioscion squamosissimus (Prancha 13).

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Prancha 13 - 1. Camarão-regional; 2. Mapará; 3. Mandubé; 4. Piramutaba; 5. Arraia; 6. Branquinha; 7. Sardinha; 8. Curimatá e 9. Pescada branca.

Fonte: SEMA (2010).

COMUNIDADE NASCIMENTO

A região é tipicamente de várzea e sofre forte influência do movimento trazido

pelo encontro das águas doces e barrentas do Rio Amazonas com as águas

marinhas do Oceano Atlântico. A grande força desses movimentos de águas no local

provoca um dinâmico e frequente processo de erosão das margens e deposição de

sedimentos no leito de alguns rios e igarapés, causando o seu assoreamento e o

aparecimento de novos “bancos de áreas”.

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Nascimento

Há mais de dez vilas em Nascimento todas habitadas, em sua maioria, por

pescadores artesanais e suas famílias. Esses pescadores praticam a atividade da

pesca em alto mar em pesqueiros localizados ao longo da Costa Norte brasileira até

próximos à cidade de Oiapoque no Estado do Amapá. Algumas famílias possuem

pequenas criações de gado bubalino, seguindo o método de pecuária extensiva. Na

vila, foram aplicados alguns questionários de fauna aquática e realizados muitos

registros fotográficos e georreferenciamento. No Rio Nascimento, em frente à vila,

foram visualizados alguns peixes como: tralhoto Anableps microlepis (Fotografia 26)

e foi capturado um bacu Lithodoras dorsalis com linha e anzol (Fotografia 27).

Fotografia 26 - Peixe tralhoto ou quatro-olhos. Fotografia 27 - Peixe bacu.

Fonte: SEMA (2010). Fonte: SEMA (2010).

Vila Nova

Essa vila faz parte da Comunidade Nascimento e é habitada por pescadores

e suas famílias. As pescarias são realizadas em alto mar e chegam a durar até trinta

dias, pois operam em áreas distantes da costa. As embarcações utilizadas para

essa atividade são de médio a grande porte, propulsionadas por motores potentes

conferindo-lhes maior autonomia. Antes da partida, as embarcações devem ter seus

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porões abastecidos de gelo para conservação do pescado. A produção é levada

para comercialização no Ver-o-Peso, em Belém. (Prancha 14).

A equipe da fauna aquática visitou o local para aplicação de questionários,

documentação fotográfica e georreferenciamento. No percurso por terra, foram

visualizadas aves como guarás e garças brancas, alguns lagartos e pequenos

caranguejos conhecidos como sararás nas áreas de alagação das marés. (Prancha

14). Prancha 14 - 1. Ponte de acesso à Vila Nova; 2. Pescador consertando rede de pesca e 3. Caranguejo sarará.

Fonte: SEMA (2010).

Vila Santo Antônio

A equipe da fauna aquática visitou a vila situada na Ilha dos Camaleões para

aplicação de questionários, documentação fotográfica e georreferenciamento. A Ilha

é constituída por áreas que estão todo o tempo excessivamente molhados ou

alagados e a vegetação existente é tipicamente de várzea. O local é habitado por

pescadores profissionais que herdaram o ofício da pesca de seus pais e o estão

transmitindo a seus filhos. (Fotografia 28 e 29). Fotografia 28 - 1. Vila Santo Antônio Fotografia 29. Pescadores tecendo rede de pesca. Fonte: SEMA (2010). Fonte: SEMA (2010).

Vila Santa Quitéria Fonte: SEMA (2010).

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Em expedição à Vila Quitéria, a equipe da fauna aquática entrevistou alguns

pescadores através da aplicação de questionários e fez registros fotográficos e

georreferenciamento do local.

Foram visualizados alguns peixes capturados por pescadores artesanais da

vila que operam em áreas próximas em pequenas embarcações. Os peixes

identificados forma bacus e ituí branco pertencentes às ordens dos Siluriformes e

Gymnotiformes e famílias Doradidae e Sternopygidae, respectivamente.

Rio das Tartarugas

Em expedição até o Rio das Tartarugas que serve de limite entre os

municípios de Chaves e Soure a equipe desembarcou na Vila de Nossa Senhora do

Livramento cuja entrada fica às margens do Igarapé das Graças. No local, foram

aplicados alguns questionários a pescadores, foi realizada documentação fotográfica

e georreferenciamento (Prancha 15). Prancha 15 - 1. Rio das Tartarugas; 2. Igarapé das Graças e 3. Vila Nossa Senhora do Livramento. Fonte: SEMA (2010).

Praia dos Camaleões (Ilha dos Camaleões)

A excursão da equipe à Praia dos Camaleões teve início nas primeiras horas

da manhã para que fosse possível a visualização e registro de algumas espécies de

aves e outros animais que têm hábitos diurnos e iniciam suas atividades bem cedo.

A praia foi mencionada pelos pescadores como local de desova de tartaruga-

da-amazônia e outras espécies de quelônios. As formações vegetacionais presentes

na praia são rasteiras e a do interior da ilha é constituída por bambuzais e palmeiras

de açaí e buriti dentre outras espécies típicas de ecossistema de várzea. A praia fica

localizada na porção da ilha que recebe influência de águas marinhas do Oceano

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Atlântico, por isso é banhada por águas salobras cuja salinidade sofre alterações de

acordo com a época do ano (Prancha 16).

Na praia, não foram encontradas habitações humanas, no entanto é muito

visitada nas estações de veraneio para recreação por pessoas residentes em áreas

próximas vindas dos municípios de Chaves e Soure. A Vila de Santo Antônio

visitada pela equipe fica situada na porção da Ilha dos Camaleões que recebe

influência do Rio Amazonas e seus afluentes.

Na praia, foram visualizadas algumas vértebras, possivelmente de jacarés, o

escudo dorsal e vértebras de uma espécie de bagre e uma concha de molusco

gastrópode conhecido como caracol. No retorno à Vila Nascimento, foram

identificadas espécies de aves como mergulhões e colhereiros (Prancha 16). Prancha 16 - 1. Praia dos Camaleões; 2. Molusco Gastropoda conhecido como caracol encontrado na praia e 3. Aves Mergulhões.

Fonte: SEMA (2010).

Análise dos Questionários da Fauna Aquática no Município de Chaves

Os questionários registrados nas comunidades visitadas refletiram a

preocupação dos pescadores, constatada na reunião em São Sebastião do Arapixi,

devido à problemática ambiental e social gerada, principalmente, pela não utilização

dos recursos naturais que se encontram dentro das fazendas pelos moradores locais

e pela falta do pescado nos rios e igarapés das proximidades. Em geral, essas

fazendas são ricas em peixes, pois se encontram em lugares estratégicos para a

reprodução desses animais como as cabeceiras de rios e/ou os campos alagados.

Outras classes de animais como aves, répteis e mamíferos de grande porte

também são abundantes nesses ecossistemas, atraídos pela rica diversidade de

espécies da fauna e flora, caracterizando um local propício à obtenção de energia e

nutrientes para muitos seres heterotróficos.

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2

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O levantamento etnobiológico realizado através do questionário foi aplicado

nas seguintes vilas e comunidades: Comunidade de São Sebastião do Arapixi,

Comunidade do Ganhoão (Vila Nazaré, Vila São Pedro, Vila São Tomé) e

Comunidade Nascimento (Vila Nova, Vila Nossa Senhora do Livramento, Vila Santa

Quitéria e Vila Santo Antônio na Ilha do Camaleão). As informações aqui descritas

refletem o olhar dos habitantes das localidades visitadas sobre o ecossistema no

qual estão inseridos, o grau de conservação dos recursos naturais que os rodeiam, a

utilização desses recursos e as problemáticas ambientais existentes.

Segundo a análise dos questionários, os campos alagados e as cabeceiras de

rios são os principais locais para desova de peixes, sendo que o Lago do Lagarto e

o Igarapé Santo Antônio foram destacados por alguns moradores da Comunidade

São Sebastião de Arapixi. A Fazenda Cajueiro foi citada por um morador da Vila

Nazaré por apresentar locais de reprodução e crescimento de peixes. Todos os

moradores entrevistados na Vila Nova confirmaram o Rio da Tartaruga como um

local importante para a desova dos peixes.

A lista de mamíferos aquáticos da Amazônia é composta por 25 espécies já

identificadas, sendo sua maioria representada por cetáceos. Um número significativo

desses animais foi observado neste estudo de campo, pelo menos seis espécies,

confirmando a ocorrência de 16,4% das 25 espécies aquáticas de mamíferos

registradas para o Marajó. Tal fato revela a importância ecológica da região para a

conservação desses mamíferos aquáticos. No entanto, o maior problema para a

conservação desses animais é a deficiência de dados, já que os estudos sobre

mamíferos aquáticos na Amazônia ainda é bastante escasso, dificultando as ações

de conservação para essas espécies.

Com relação aos mamíferos aquáticos, nas áreas alvo do estudo

pertencentes aos municípios de Chaves e Soure foi relatada a presença das duas

espécies da ordem dos sirênios: o peixe-boi-amazônico Trichechus inunguis no

Município de Chaves e o peixe boi marinho Trichechus manatus para o Município de

Soure. Inclusive nos questionários aplicados, todos os entrevistados das

comunidades e vilas pesquisadas confirmaram a ocorrência desses mamíferos

nesses municípios do Marajó. Segundo Emmons e Feer (1999), esse dado também

se confirma. De acordo com Domning (1981), a Costa Norte brasileira apresenta a

singularidade da presença de duas espécies de peixe-boi: o amazônico e o marinho

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que se confirmou em seus levantamentos científicos indicando, ainda, que o peixe-

boi-amazônico ocorre em toda a região do estuário amazônico, desde o Amapá até

a porção continental do Pará, incluindo a Ilha de Marajó e as ilhas da Costa

Atlântica.

Segundo Lázaro Magalhães do Setor de Comunicação do Projeto PIATAM

OCEANO (2008), um artigo brasileiro recentemente publicado na Inglaterra

confirmou o reaparecimento do peixe-boi marinho na Amazônia Atlântica. Além de

relatar o recente achado de um crânio de peixe-boi marinho numa das praias da

costa leste da Ilha de Marajó. Sua importância está justamente em ser o primeiro

registro confirmado de um peixe-boi marinho na costa do Pará em décadas. O crânio

de um exemplar da espécie foi encontrado em uma das praias de Soure, no Marajó,

ainda em 2005, durante atividades de monitoramento do grupo de pesquisa. Em

2007, mais de 40 pescadores experientes foram entrevistados em Soure para uma

avaliação sobre mamíferos aquáticos. A maioria deles relatou a ocorrência de

peixes-boi na área, embora não pudessem afirmar com precisão de quais espécies

estavam se referindo. Com apoio dos projetos PIATAM MAR e PIATAM OCEANO, já

houve duas observações de peixes-boi marinhos na Praia do Garrote (Soure) em

fevereiro e também em maio de 2007.

No passado, os sirênios foram caçados por décadas e quase levados à

extinção ao longo da Costa Amazônica, particularmente no caso do peixe-boi-

marinho que ainda pode ser avistado, segundo os pescadores residentes na área,

em alguns trechos ao longo da Praia dos Camaleões, onde os encontros são

casuais. A espécie de água doce, por alimentar-se em áreas com grandes

concentrações de vegetação aquática, são raramente vistos, apesar de serem

supostamente sociais (EISENBERG, 1989). Atualmente todas as espécies de

peixes-boi são consideradas vulneráveis ou em perigo de extinção (MONTEIRO-

FILHO et al., 2006). Constam na Lista Nacional das Espécies da Fauna Brasileira

Ameaçadas de Extinção de 27 de maio de 2003 (IBAMA, 2004) e na lista da Red List

of hreatened Species (IUCN) de 2003 (IUCN, 2004).

O peixe-boi apresenta uma grande importância ecológica, já que as espécies

da ordem dos sirênios são os únicos mamíferos aquáticos herbívoros, portanto

consumidores primários e suas excretas servem como ótimos fertilizantes.

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Para a ordem dos cetáceos, há ocorrência do boto-tucuxi Sotalia fluviatilis e

do boto-rosa, malhado ou vermelhinho Inia geoffrensis, pertencentes à subordem

Odontocetos e famílias Delphinidae e Iniidae, respectivamente. A relação dessas

espécies com os humanos é repleta de conflitos. A espécie do boto-rosa é

considerada o “boto mau”, pois é aquele que rasga a rede do pescador e come os

peixes ali presentes. O pescador apresenta rejeição à espécie. Sentimento contrário

ocorre com relação ao boto-tucuxi ou botinho, que não apresenta nenhum

complicador, portanto é considerado “amigo do pescador”.

O achado de uma ossatura craniana sem mandíbula confirmou a presença de

boto-tucuxi na região. Um possível indício de captura acidental em redes-de-espera

da pesca ou resultado da atividade de caça para o comércio de olhos e órgãos

genitais, vendidos como amuletos em Belém (Fotografia 30). Fotografia 30 - Ossatura craniana sem mandíbula de boto-tucuxi Sotalia fluviatilis (Praia dos Camaleões).

Fonte: SEMA (2010).

De maneira geral, os cetáceos sofrem inúmeras ameaças de origem antrópica

como: a sobrepesca, que torna escasso o recurso preferencial de sua dieta

alimentar; o peixe, que os obriga a direcionar sua alimentação a outros recursos da

cadeia trófica aquática ou a deslocarem-se a outro local, onde possam encontrar

maior fartura de nutrientes e menor disputa por eles. Outra pressão sofrida por

esses animais é que os mesmos são alvo da caça ilegal devido serem usados como

isca na pesca do cação e de outras espécies de tubarão em alto mar. Essa caça é

proibida no Brasil desde o ano de 1987 através da Lei Federal nº 7.643 de 18 de

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dezembro de 1987, tendo como punição ao infrator a pena de reclusão de dois a

cinco anos e multa de 50 a 100 obrigações do tesouro nacional. (SICILIANO;

ALVES, 2005).

É importante ressaltar que o boto-tucuxi é o único delfinídeo essencialmente

fluvial. Um estudo molecular constatou que esse golfinho se encontra isolado

reprodutivamente da espécie marinha há mais de dois milhões de anos (CUNHA et

al., 2005). E o boto-rosa é endêmico das bacias Amazônica e do Orinoco

(SICILIANO; ALVES, 2005).

Os botos são animais pertencentes ao topo da cadeia alimentar nos biomas

onde estão inseridos. Sua presença em determinada região sugere a condição de

uma cadeia trófica, ainda bem estruturada demonstrando o bom estado de

conservação dos ecossistemas dos quais fazem parte.

Para a ordem dos carnívoros, os entrevistados citaram a ocorrência da lontra

Lontra longicaudis. A lontra, de maneira análoga aos sirênios, também foi

intensamente caçada na Amazônia, e sua pele era exportada para confecção de

casacos da alta-costura internacional (CARTER; ROSAS, 1997).

É importante esclarecer que apesar de ter sido mencionada nos questionários

pelos entrevistados, os mesmos não visualizaram o animal, apenas sabem de sua

existência através de relatos de outras pessoas que já o encontraram na região. Foi

comentada a dificuldade de avistamento desse animal nos dias atuais. Apenas um é

visto ao longo de um ano (365 dias) aproximadamente, caracterizando sua raridade

na região. Os pesquisadores Emmons e Feer (1999) confirmam a ocorrência desse

mamífero em terras marajoaras.

Para os roedores com vida semiaquática verificou-se a presença da capivara

Hydrochaerus hydrochaeris, mamífero que se distribui amplamente por toda a

América tropical, do Panamá ao Uruguai e noroeste da Argentina (OJASTI, 1973;

AZCARATE, 1980; EMMONS, 1990). Esse roedor é um herbívoro generalista que se

alimenta de gramíneas e plantas aquáticas, apresentando uma grande plasticidade

alimentar, adaptando-se facilmente a outros itens como: milho, cana-de-açúcar,

arroz, feijão, soja entre outros facilitando sua ocorrência em áreas antropizadas

(OJASTI, 1973).

Por esse motivo e, possivelmente, devido à diminuição quantitativa de seus

predadores naturais, a capivara tem sido reportada como espécie-praga em várias

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regiões do país, porém os entrevistados não mencionaram nenhuma problemática

ocasionada por esse animal em seus cultivos de subsistências nas comunidades

visitadas. Entretanto, foi informado que à caça comercial é destinada principalmente

para o Município de Abaetetuba através de embarcações, com saída de mais de 500

kg de carne. Foi informada a presença desses animais nas proximidades dos

campos existentes no interior das regiões visitadas. (Fotografia 31).

Para os répteis da ordem dos crocodilianos, foi relatada nas respostas aos

questionários a presença do jacaré-açu Melanosuchus niger, do jacaré tinga Caiman

crocodilus e do jacaré coroa Paleosuchus trigonatus. Para esse grupo, registra-se no

Brasil a ocorrência de cinco espécies pertencentes à subfamília Aligatoridae: jacaré

tinga C. crocodilus, jacaré do papo amarelo C. latirostris, jacaré-açu M. niger, jacaré

anão ou jacaré-paguá P. palpebrosus e jacaré coroa P. trigonatus, sendo que

apenas o jacaré do papo amarelo não ocorre na Amazônia. Das três espécies

mencionadas nos questionários apenas o jacaré tinga e jacaré açu Melanosuchus

niger foram confirmadas em campo. (Fotografia 32).

As principais ameaças sofridas por esse grupo são: a destruição de seu

habitat natural e a grande pressão da caça predatória sobre esse recurso para

consumo e/ou venda de sua carne muito apreciada na dieta alimentar dos ribeirinhos

e de seu couro comercializado para produção de bolsas, cintos, sapatos entre outros

utensílios. (MAGNUSSON et al., 1997; BRAZAITS et al., 1996).

Atualmente suas populações estão concentradas em lagos das propriedades

particulares, sob menor pressão de caça. Essas espécies são caçadas em toda a

região, compondo um dos itens principais na dieta dos moradores locais e no

mercado ilegal de carne silvestre no baixo Rio Tocantins (BAIA JR, 2010).

Na análise dos questionários, constatou-se que as pessoas residentes na

área estudada, geralmente não encontram problemas gerados por esses animais, da

mesma forma como o caboclo marajoara, geralmente, não os ameaça, a não ser

quando os encontram nos campos (onde são normalmente vistos). O ataque ocorre

por sentirem-se ameaçados e acabam por abater o animal, visando sua integridade

física e segurança, pois os jacarés são bastante ariscos e traiçoeiros, havendo

relatos de que atacam e devoram seres humanos quando se sentem em perigo.

No passado, com a introdução da pecuária na Ilha de Marajó, deu-se início a

grandes matanças de jacaré-açu que abasteceram o mercado internacional de peles

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(SMITH, 1980). A literatura científica relata que as perturbações antrópicas tais como

a circulação de embarcações motorizadas, a sobre-explotação do estoque

pesqueiro, a modificação da vegetação ciliar, a alteração de habitat e de sítios de

reprodução, a contaminação das águas e a caça, causam efeitos negativos sobre as

populações de crocodilianos. (THORBJARNARSON, 1992; BRAZAITIS et al., 1996).

O jacaré-açu está listado no Apêndice I da CITES (Convenção sobre o

Comércio Internacional de Espécies da Flora e da Fauna Selvagens em Perigo de

Extinção). Dessa forma, o comércio internacional de seus produtos e subprodutos é

legalmente proibido. Em 2003, essa espécie deixou de ser classificada como

ameaçada de extinção no Brasil (MACHADO et al, 2005).

O jacaré tinga, por sua vez, consta no Apêndice II da CITES e a

comercialização internacional de seus produtos e subprodutos é permitida sob

determinadas condições. Segundo a lista de animais ameaçados de extinção do

IBAMA (2008), não há espécies da ordem Crocodylia em risco de ameaça.

Contudo, na Lista Vermelha de animais em risco de extinção da International

Union for the Conservation of Nature (IUCN, 2007), o jacaré anão e o jacaré tinga

estão indicados com baixo risco para a ameaça de extinção, enquanto que para o

jacaré-açu recomendam-se previsões de ações futuras para garantia de sua

conservação. Fotografia 31 - Capivara. Fotografia 32 - Jacaré-Açu.

Fonte: SEMA (2010). Fonte: SEMA (2010).

Para a ordem dos quelônios foram mencionados nos questionários o muçuã

Kinosternon scorpioides e o tracajá Podocnemis unifilis. Pelo menos um terço dos

entrevistados mencionou a ocorrência da tartaruga-da-amazônia Podocnemis

expansa na Ilha de Mexiana e na Ilha dos Camaleões, ambas pertencentes ao

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município de Chaves, onde também relataram haver praias que servem como locais

de desova para essa espécie animal.

Cunha (1975) em trabalho científico publicou a informação de que o Museu

Paraense Emílio Goeldi recebeu, em 1973, uma tartaruga marinha da espécie

Dermochelys coriacea (tartaruga de couro). Ela havia sido capturada por um barco

pesqueiro no litoral paraense próximo às ilhas do Marajó e Mexiana nas

coordenadas 0º 33’ 8” N e 48º 57’ 2” W. Nesse mesmo trabalho, relatou ter recebido

informações colhidas em Soure de que a tartaruga de couro havia sido vista nas

praias por pescadores ao norte, nos locais conhecidos como Pacoval e Mirinduba.

O biólogo Pedro Alexandre Sampaio responsável pelo relatório de fauna

terrestre nessa excursão de campo registrou em suas entrevistas o relato sobre a

ocorrência dos quelônios muçuã Kinosternon scorpioides, iaçá Podocnemis

sextuberculata (espécie vulnerável – IUCN 2004) e perema Rhinoclemmys

punctularia.

O tracajá é um quelônio de tamanho médio pertencente à família

Podocnemididae. Quase todos os aspectos sobre a biologia e ecologia dessa

espécie ainda não foram estudados. Em função da contínua pressão por caça, suas

populações têm diminuído bastante e atualmente a União Mundial para a Natureza -

IUCN classifica esta espécie na lista de espécies ameaçadas de extinção (IUCN,

1996).

A tartaruga-da-amazônia também conhecida pelos nomes de araú, jurará-açu

e tartaruga do Amazonas é um quelônio fluvial pertencente à família

Podocnemididae, encontrada no Rio Amazonas e seus afluentes. É uma espécie de

grande porte, são os maiores quelônios de água doce da América do Sul, podendo

atingir pouco mais de um metro de comprimento e pesar sessenta quilos, o que

resulta em um animal muito grande e pesado, por isso torna-se uma presa fácil fora

da água, principalmente, para grandes predadores como as onças e o homem. Sua

alimentação é baseada em frutos, raízes, sementes e folhas de plantas arbóreas e

herbáceas, bem como em crustáceos, moluscos e pequenos peixes.

Todas as tartarugas do género Podocnemis se encontram atualmente no

Anexo II da Convenção CITES, assinada por mais de 100 países em todo o mundo,

motivo pelo qual seu comércio e utilização obedecem a regras muito restritas.

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O muçuã é considerado um animal de pequeno porte, dificilmente atingindo

mais de 27 cm de comprimento. Essa espécie faz parte do grupo das tartarugas

conhecidas como tartarugas do lodo ou almiscaradas. Quando atacadas exalam

uma substância de odor intenso, chamado almíscar, que é secretada por glândulas

situadas diante das patas posteriores. Embora seja um dos menores quelônios da

América do Sul, mostra-se valente quando acuado, tentando morder o seu eventual

agressor. Desde a saída do ovo, os filhotes já apresentam agressividade precoce,

fundamental para a sobrevivência. A espécie apresenta hábitos alimentares

onívoros, comendo folhas, frutos e pequenos animais. Embora seja alvejada pela

caça predatória essa espécie não está classificada na Lista Vermelha da IUCN de

2004, como espécie ameaçada de extinção.

As principais ameaças sofridas pelos quelônios acima citados é a caça de

subsistência pelo ribeirinho que os utilizam para alimentação de sua família e a caça

predatória cuja finalidade é a comercialização, pois a carne desses animais é uma

iguaria muito apreciada na culinária dos estados do Norte brasileiro. No Pará,

especialmente, o muçuã é bastante procurado para apreciação do inigualável sabor.

Porém, de acordo com os questionários aplicados, a maioria da população humana

nas áreas estudadas relatou que não costuma caçar esses animais, só os capturam

quando são encontrados eventualmente.

Para os répteis da ordem Squamata que têm hábitos semiaquáticos foi

relatada a presença da sucuri ou sucuriju Eunectes murinus espécie amplamente

distribuída nos setores de campos alagados e da cobra d’água Helicops sp..

Não foi pesquisada nenhuma espécie do grupo dos anfíbios pela equipe da

fauna aquática, muito embora dependam de ambientes aquáticos para a reprodução

e fase inicial da vida. Foram considerados como pertencentes à fauna terrestre por

viver a maior parte do tempo em ambiente terrestre, portanto foram estudados pelo

colaborador eventual responsável pelo levantamento de animais terrestres.

Para o grupo dos crustáceos, os relatos apontam a presença de duas

espécies de camarões: o camarão-canela Macrobrachium acanthurus e o camarão-

cascudo Macrobrachium amazonicum que são consumidos e comercializados

localmente, sendo importante mencionar que sua coleta é intensificada nos meses

de maio, junho e julho, período de safra em que são capturados em tamanho maior

“graúdo” para a comercialização. A prática extrativa do camarão através da pesca

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artesanal feita com uso de matapis e de tarrafas foi constatada cotidianamente

durante a permanência das equipes em campo. Esse fato ratifica a informação

supracitada quanto ao período anual de coleta do camarão, pois a maioria dos

moradores locais respondeu que esse crustáceo era coletado, praticamente, todos

os dias para complementação do consumo proteico deles e de suas famílias

(Prancha 17).

Segundo observações da equipe, a prática de captura desse recurso é

realizada, principalmente, pelas mulheres dos pescadores e seus filhos. A pesca do

camarão não é a atividade econômica principal das comunidades e vilas visitadas,

uma vez que, constatou-se que tal atividade possui fins comerciais apenas nos

períodos de safra quando há aumento significativo na quantidade e tamanho desse

recurso. Nos outros meses do ano, em que se pratica a extração camaroeira sua

finalidade primordial é o consumo de subsistência dos pescadores e de suas

famílias. O camarão, na maioria das vezes, logo após a captura é cozido na água

com sal e em seguida é escorrido e colocado no sol para o processo de secagem.

Com esse beneficiamento o produto é conservado por mais tempo. Prancha 17 - 1. e 2. Camarões do gênero Macrobrachium visualizados em campo e 3. Camarão após processo de salga secando ao Sol.

Fonte: SEMA (2010).

Outro crustáceo visto pelas equipes nas regiões do Ganhoão e de

Nascimento foi o caranguejo conhecido como sarará, pequeno crustáceo de água

salobra, facilmente visualizado na maré vazante, possivelmente, pertence à família

Grapsidae.

Para o grupo dos peixes foram citados o aracu Schizodon spp., o jandiá

Rhamdia quelen, o filhote Brachyplatystoma filamentosum, a traíra Hoplias

malabaricus, o uéua Acestrorrhycus falcatus, a pescada branca Plagioscion

squamosissimus, a sarda-apapá Pellona sp., a piranha Serrasalmus spp., o

tambaqui Colossoma macropomum, o anunjá ou cachorro de padre

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Parauchenipterus spp., a tainha Mugil sp., a dourada Brachyplatystoma flavicans, o

tamoatá Hoplosternum littorale, o apaiari Astronotus sp., o jeju Hoplerythrinus

unitaeniatus, o mandubé Ageneiosus sp., e o ituí Eigenmannia sp..

Entre as principais problemáticas apontadas nos questionários para a fauna

aquática, encontra-se a construção de represas nos corpos aquáticos cujas

cabeceiras ou nascentes ficam nas fazendas; a pesca intensiva, desordenada e

imprópria, como a tapagem nos igarapés, assim como a falta de respeito ao período

de defeso. A solução mais adequada para resolver esses problemas seria um

programa de educação ambiental nas comunidades ribeirinhas e criação de acordos

de pescas.

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4 ATIVIDADE PESQUEIRA

A área estudada é citada por alguns pesquisadores na rota de algumas

espécies migratórias, que se utilizam do estuário amazônico como berçário ou zona

de crescimento, como é o caso da piramutaba cuja desova de acordo com Barthem

e Goulding (1997) ocorre na porção ocidental da Bacia Amazônica. Estima-se que

os cardumes de piramutaba migrem de maio a outubro, percorrendo a distância de

3.330Km entre o estuário ao Alto Amazonas onde procriam. A migração de volta dos

pré-adultos e/ou adultos do Alto Amazonas para o estuário é difícil de ser

constatada, pois a velocidade de retorno é muito rápida aliada à forte correnteza do

Amazonas durante a enchente. No entanto, dados de captura no estuário sugerem

que as classes de maior comprimento são menos abundantes no verão e voltam a

ser abundantes depois de janeiro (IBAMA, 1999).

A ictiofauna dos rios marajoaras caracteriza-se por possuir, espécies

extremamente tolerantes às mudanças de direção do fluxo, à riqueza de nutrientes

dos igarapés, às águas transparentes ou negras do igapó e, principalmente, à

influência da salinidade variável que caracteriza a área do estuário, até o Município

de Breves, porém pode ocorrer situação contrária com espécies oceânicas

resistentes em baixa salinidade, como é o caso de Carcharhinus leucas e Pristis

perotteti, que inclusive são capturadas em trechos do Rio Amazonas bastante

distantes do mar (THORSON, 1974).

As espécies residentes das áreas inundadas do interior marajoara são

compostas por peixes de médio porte, até cerca de 15 cm de comprimento, que

incluem os peixes das família Erythrinidae (traíras e jejus), Pimelodidae (bagres,

jundiás e mandis) e, principalmente, da família Cichlidae (acarás, jacundás e

apaiaris). Essa ictiofauna residente permanece o ano inteiro circulando pelas áreas

inundadas da floresta de campo alagado realizando suas atividades alimentares e

reprodutivas. Algumas espécies cujo desenvolvimento adulto nem sempre se dá

nessa área da floresta inundada, apresentam-se nos campos alagados em enormes

populações de peixes juvenis de índole alimentar piscívora, principalmente bagres.

(BARTHEM; GOULDING, 1997).

A presença de rica vegetação flutuante produz movimentos que acompanham

o fluxo e refluxo da maré, apresentando-se não somente como locais de refúgio para

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juvenis de espécies residentes, mas como eficiente meio para a dispersão de ovos,

larvas e jovens ao longo do ecossistema do arquipélago.

O Estado do Pará apresenta uma conformação geográfica favorável à

exploração pesqueira e aquícola, uma vez que possui áreas interiores (rios e lagos),

de alto-mar, estuarinas e costeiras (562 Km² de litoral, que correspondem a 7% da

costa brasileira).

A produção paraense de pescado é a maior do Brasil. Em 2005, a produção

paraense foi de aproximadamente 145 mil toneladas, considerando a pesca de

origem marinha e continental, sendo o segmento da pesca artesanal responsável

por 80% da produção paraense, dos quais 60% comercializados com a indústria.

A pesca na Região Amazônica se destaca em relação às demais regiões

brasileiras, tanto costeiras quanto de águas interiores, pela riqueza de espécies

exploradas, pela quantidade de pescado capturado e pela dependência da

população tradicional a essa atividade.

A riqueza total da ictiofauna da Bacia Amazônica ainda é desconhecida,

sendo esta responsável pelo grande número de espécies da região neotropical, que

pode alcançar 8.000 espécies (VARI; MALABARBA et al.,1998). Outra questão

relevante é a unidade populacional explorada pela pesca. A maioria das espécies

importantes para a pesca comercial é razoavelmente bem conhecida, mas pouco se

sabe se os indivíduos dessas estão agrupados numa única população, ou estoque

pesqueiro, ou em várias (BAILEY; PETRERE, 1989; BATISTA, 2001). E não se

sabe, portanto, até quando essas populações vão suportar a subre-explotação que

vêm sofrendo ao longo dos anos na região.

As espécies Amazônicas apresentam estratégias notáveis para se adaptarem

às mudanças sazonais nos diversos ambientes que ocupam. A compreensão dessas

adaptações é de fundamental relevância para o entendimento da abundância e da

composição dos recursos pesqueiros e, consequentemente, para a definição de

políticas de manejo da pesca (MONTAG et al., 2009).

No Marajó, a pesca é uma das mais importantes e tradicionais atividades do

arquipélago, dada sua importância na subsistência alimentar das populações e na

movimentação econômica que representa. A cadeia produtiva da pesca no

Arquipélago do Marajó envolve o suprimento de bens e insumos necessários ao

desenvolvimento da atividade. Nela, está incluída a produção de embarcações, de

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motores e petrechos de pesca e insumos básicos como gelo e combustível. (Plano

de Desenvolvimento Territorial Sustentável do Arquipélago do Marajó, 2007).

A pesca nos municípios da ilha é principalmente artesanal, observando-se a

falta de organização, a dispersão dos produtores, elevadas perdas, baixa qualidade

de alguns produtos, ausência de infraestrutura de apoio, gerando um fluxo de

comercialização incerto e injusto para os pequenos produtores. Apesar disso, a

pesca artesanal é o segmento que mais absorve mão-de-obra, sendo também

responsável pela exploração dos estoques pesqueiros de espécies variadas,

utilizadas para o abastecimento alimentar das famílias e para a comercialização em

diferentes mercados.

A pesca artesanal é uma das mais importantes atividades econômicas da

região marajoara, cujo pescado é explorado, inclusive por pescadores de fora do

arquipélago, principalmente no final do verão. Segundo Machado (1994), as águas

estão em seus níveis mais baixos nos lagos e rios. Entretanto, os recursos da

região são subaproveitados. A invasão das áreas de pesca do Marajó por moradores

de outras regiões é um relato frequente dos pescadores entrevistados pela equipe

de fauna aquática.

Existe, portanto, um grande contraste na região que apesar de tamanha

riqueza em recursos naturais renováveis. A grande maioria da população marajoara

vive em condições de extrema pobreza e abandono. Miranda Neto (2005) e Cruz

(1999) chegaram a citar que tal riqueza natural até o momento não foi suficiente

para elevar o nível de vida do caboclo marajoara, encontrando-se em cidades como

Soure um grande contraste social e econômico, seja em relação aos outros

municípios, seja em relação aos próprios moradores. Azcona (apud MARAJÓ, 2006)

afirma que os políticos locais, com raríssimas exceções, não tem se empenhado

pela luta por políticas de desenvolvimento, não conseguindo deixar as disputas

políticas, corrupção e apresentar soluções para o desenvolvimento do arquipélago.

A disponibilidade de recursos pesqueiros tem sido, portanto, suficiente para

manter o trabalhador no local. Esse fato pode ser constatado com o alto índice de

frequência da atividade de pesca e destino de comercialização da produção. A

renda, porém, é baixa, sendo que mais da metade dos pescadores marajoaras

(60,2%) aufere até dois salários mínimos por mês. Quanto à comercialização do

produto, é feita preferencialmente a atravessadores, sendo a média estadual de

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70%. Em relação ao destino da produção, a maioria pesca para comercializar, e

apenas 8,2% desses profissionais destinam a produção para subsistência.

A pesca no Marajó é realizada principalmente em rios, com pouco mais de

40% do total, condição na qual a média estadual é de cerca de 60%. Das principais

espécies pescadas no estado, muitas são encontradas na região de estudo. A

frequência de uma ou outra varia de acordo com a época do ano.

As 10 espécies mais capturadas no Marajó e no Estado do Pará podem ser

observadas na tabela 1 abaixo:

Tabela 1 – Espécies mais capturadas no Marajó (PA)

Espécies Marajó (%) Estado (%)

Pescada (Cynoscion spp.) 14 13,8

Traíra (Hoplias spp.)

Dourada (Brachyplatystoma rousseauxii)

Aracu (Leporinus spp.)

Tamoatá (Hoplosternum spp.)

Bagre (Arius spp. e Sciades spp.)

Sarda (Pelonna spp.)

Camarão (Macrobrachium amazonicum)

Piranha (Serrasalmus spp.)

Anunjá (Trachycoristes galeatus)

Total

9,4

8,8

7,5

7,5

6,1

4

4

3,9

3,6

68,8

2,2

7,1

3,3

1,6

3

2,3

2,6

1,2

0,8

37,9

A pescada constitui-se na espécie mais expressiva tanto no Marajó quanto na

média estadual. O destino do volume capturado na pesca artesanal é em sua

maioria a comercialização, atingindo no Marajó 88,4% da produção, contra 89,1% na

média estadual. Observa-se que a comercialização se dá principalmente por

atravessadores, seguida do público em geral, e uma pequena parcela, em torno de

3%, para empresas. O consumo marajoara chega a 8,2%, ao passo que no estado

está em 7,2%.

Os pescadores queixam-se constantemente da prática de captura predatória

de caranguejos por profissionais de outras regiões, além da pesca por barcos de

pesca industriais. Por outro lado, organizados em associações, trabalham pelo

desenvolvimento comunitário em harmonia com a conservação ambiental, uma vez

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que o uso dos recursos naturais de modo sustentável constitui uma base para o bem

estar das comunidades locais. Procura-se, assim, uma maior participação no

processo de gestão ambiental.

Na pesca comercial, o caranguejo, o camarão, a piramutaba e a serra

destacam-se na produção e como recursos economicamente importantes, capazes

de viabilizar, se bem aproveitados, a emancipação do setor pesqueiro artesanal.

A frota industrial é proibida de pescar na Baía de Marajó, segundo a Portaria

007/76-SUDEPE, que delimita a atuação dessa frota ao norte do paralelo 00º 05’ N e

à leste do meridiano 48° 00’ W (Loureiro 1985). Mas inúmeras denúncias de

pescadores locais indicam que embarcações dessa frota penetram nessa área no

início do verão para pescarem cardumes de piramutaba que se afastam das áreas

mais abertas e salgadas do estuário e buscam águas mais doces no interior da baía.

As embarcações artesanais, na maioria, são pequenas canoas que operam

na região estuarina, exercendo a pesca com linha de mão, espinhel, tarrafa, redes

de espera, matapi, para a captura do camarão e a coleta manual de caranguejo, siris

e ostras. As embarcações motorizadas dedicam-se a pesca de peixes com o uso de

redes de espera e outras a compra de pescados (geleiras), oriundos da pesca

regional.

A inexistência de infraestrutura de apoio à pesca tira do produtor qualquer

poder de barganha, expondo a classe à ambição dos atravessadores

(intermediários). Mesmo assim, muitos são da opinião de que sem eles seria ainda

pior, pois não teriam como vender a produção deixando o setor estagnado. Embora

o sistema de Colônia de Pescadores mantenha uma atuação na região, apesar das

denúncias de irregularidades em algumas colônias, existe a consciência de que a

falta de maior organização do setor pesqueiro é um grande entrave para o

desenvolvimento da pesca regional.

Pesca em Soure

A seletividade da pesca comercial tem contribuído para a diminuição de

estoques naturais de peixes. Esse efeito negativo tem um aumento progressivo dos

custos econômicos e ecológicos de uma pesca indiscriminada e predatória. A

atividade pesqueira referente à instrumentação e apetrechos pesqueiros aí

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existentes é diversificada, atuando desde pescadores artesanais, que empregam

tecnologias simples e pequenas embarcações de casco de madeira, até empresas

de grande porte, que empregam tecnologia sofisticada e embarcações de casco de

metal.

A pesca exerce um papel muito importante, uma vez que é a segunda

atividade econômica do município. Sua prática é predominantemente artesanal e

rudimentar com atividade bastante difundida. Segundo informações da Colônia de

Pescadores Z-1, há em torno de três mil pescadores associados em Soure. As

principais espécies comercializadas são: piramutaba, dourada, gurijuba, bagre,

xaréu, sarda, tainha e pratiqueira. (Plano Diretor Participativo Municipal de Soure,

2006).

A composição da ictiofauna estuarina na foz amazônica é marcada

sazonalmente pelas alterações da salinidade e turbidez da água, devido aos

deslocamentos da zona de contato entre o rio e o mar. Durante os meses de

inverno, de janeiro a maio, quando a água está completamente doce, predomina em

abundância e diversidade, as espécies com distribuições em águas continentais.

Segundo a literatura no verão, de junho a dezembro, a situação se inverte,

predominando as espécies marinhas na Baía do Marajó. Algumas espécies de

ambos os grupos, marinho e de água doce, conseguem resistir às alterações da

salinidade da Baía do Marajó ao longo do ano. No entanto, a maior parte da

população dessas migra para áreas mais distantes do estuário nos períodos mais

desfavoráveis. As espécies de água doce migram para o interior dos rios das bacias

do Tocantins e Amazonas durante o verão e as espécies marinhas se afastam da

Costa durante o inverno.

As espécies das famílias Gobiidae e Anablepidae aparentemente não

realizam migrações, tendo em vista que indivíduos dessa foram encontrados

frequentemente em quase todas as estações do ano na baía. No entanto, apesar de

demonstrarem adaptações naturais a gradientes salinos, foi observada nas praias da

Ilha do Marajó, no final do verão de 1982, uma grande quantidade de Gobioides

grahamae mortos que foram trazidos à costa pela ação dos ventos. Essa

mortandade de G. grahamae parece ter sido causada pela brusca variação da

salinidade durante marés de sizígia nos períodos de transição. Como os moradores

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da região relatam que essa mortandade ocorre em cada mudança da estação, tudo

indica que esse seja um fenômeno natural.

Existem poucos estudos sobre grau de resistência a diferentes concentrações

de salinidade para as espécies amazônicas pertencentes ao grupo primário definido

por Myres (1949) “estritamente intolerante à água salgada”. A ocorrência de

Astyanax cf bimaculatus, Brachyplatystoma vaillantii, B. flavicans e Hypostomus

watwata em águas de salinidade em torno de 8º/oo pode explicar a distribuição

dessas duas espécies de brachyplatystoma ao longo da costa norte da América do

Sul, da foz do Rio Pará até a foz do Rio Orinoco, e de H. watwata até a foz do Rio

Essequibo.

A resistência à água salobra parece ser uma característica fundamental para

a sobrevivência de espécies de água doce que vive nos ambientes fluviais próximos

à costa marinha. A invasão anual do mar no estuário coincide com o período de

estiagem, quando os igarapés encontram-se extremamente secos. Nessa época, os

peixes que habitam são obrigados a procurar receber o rio para os trechos mais

perenes. No verão, a água salobra invade comumente esses rios. Não foi estudado

o porquê dessa resistência, entretanto não foram visualizadas as pequenas poças

de água que são formadas nas praias durante o baixo mar, uma vez que essa

ocorrência é no período do verão.

A atividade pesqueira da região também convive com essa sazonalidade,

concentrando seus esforços nas espécies da família Pimelodidae e do gênero

Plagioscion no inverno, e das famílias Ariidae, Mulidae e Carcharhinidae, do gênero

Cynoscion e de Pristis perotteti no verão. A mudança do estoque de pescado obriga

o pescador a alterar a cada estação o tamanho da malha de sua rede de emalhar,

para manter a eficiência de captura razoável durante o ano todo.

Em se tratando de movimento migratório das populações que vive

transitoriamente na foz amazônica, parece ser associado à disponibilidade alimentar

existente em larga escala no estuário. A deposição de matéria orgânica proveniente

do rio e a grande produtividade de diatomáceas nas áreas de contato entre o rio e o

mar (MILLIMAN et al., 1975). Essas formam a base da cadeia alimentar que é

aproveitada direta ou indiretamente pelas espécies de peixes consumidas de

população.

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A ocorrência na Baía do Marajó de fêmeas grávidas ou ovadas, alevino

recém-paridos e indivíduos incubando ovos no ventre ou na boca sugere que o

estuário amazônico representa também zona reprodução e/ou criação de certa

consideração de espécies pertencentes às várias famílias de peixes de água doce,

estuarina e marinha. Todas as espécies de água doce que foram observadas se

reproduzindo no estuário o fazem durante o inverno em água doce. As espécies de

água salgada ou de estuário se reproduzem no sal maioria no verão ou no período

de transição, quando o mar exerce influência na salinidade da baía já a literatura

comenta que somente duas desovam durante o inverno água doce.

Já na ecologia da reprodução da maioria dos suliriformes da Amazônia é

pouco conhecida. Goulding (1979, 1980 e 1981) de acordo com a literatura nunca se

encontrou alevinos de Brachyplatystoma flavicans, B. vaillantii e Lithodoras dorsalis

na Amazônia Central ou nas cabeceiras dos tributários que drenam os maciços do

Brasil e das Guianas (Gouding, e comunicação pessoal). A reprodução dessas

espécies ainda é desconhecida e apesar de existir uma atividade pesqueira intensa,

tanto no estuário quanto nas calhas principais dos rios da Bacia Amazônica, que

explora essas espécies principais as do gênero Brachyplatystoma, são raríssimos os

indivíduos que são capturados ovados. O registro de alevinos de Brachyplatystoma

flavicans, B. vaillantii e Lithodoras dorsalis são os primeiros em toda Amazônia e

sugerem que as espécies se reproduzem nas proximidades do estuário.

A pesca do camarão é uma atividade que se identifica como potencial

socioeconômico do município, além de ser uma das mais tradicionais, pelas diversas

formas de aproveitamento, como a venda direta ao consumidor pelos pescadores,

vendedores ambulantes e no mercado municipal; a entrega direta ao atravessador; a

comercialização da massa aos hotéis, pousadas e restaurantes e o aproveitamento

no consumo familiar. Os apetrechos de pesca utilizados nesta pescaria são matapi,

tarrafa, rede de arrasto, montaria e casco. Há, em torno de 300 pescadores atuando

nesta atividade, dos quais apenas 120 são associados à Associação dos

Camaroeiros de Soure. As espécies de camarão comercializadas no município são:

camarão cascudo e camarão liso ou camarão do Maranhão. (Plano Diretor

Participativo Municipal de Soure, 2006).

O caranguejo exerce um papel expressivo na economia extrativista do

município sendo exportados, aproximadamente, dez mil crustáceos ao mês dentro

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de peras de caranguejos ou já beneficiados. A comercialização desses produtos é

através de transporte marítimo e rodofluvial. (Plano Diretor Participativo Municipal de

Soure, 2006).

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5 COMUNIDADES OU POPULAÇÕES SINGULARES

5.1 ESPÉCIES AMEAÇADAS, ENDÊMICAS, DE DISTRIBUIÇÃO RESTRITA E PRINCIPAIS PRESSÕES E AMEAÇAS À FAUNA LOCAL.

Com maior representação, uma questão crítica para as aves costeiras

migratórias se refere à perda e degradação de áreas utilizadas durante a migração e

nos locais de invernada. As áreas úmidas nos Estados Unidos decaíram na década

de 80, de uma estimativa original de 77 a 90 milhões de hectares para

aproximadamente 42 milhões de hectares. Essa perda foi devida principalmente ao

desenvolvimento urbano das áreas costeiras e à agricultura nas áreas interiores

(SOUZA et al, 2008). Ainda que as espécies encontradas na área de estudo (Calidris

pusilla e Tringa solitária) não estejam sob ameaça de extinção, chegam à costa

brasileira em busca de fartura alimentar tão importante quanto às áreas de

invernada ou reprodução (RICKLEFS, 2003).

Algumas espécies descritas na área da UC apresentam o status “Em perigo”

na IUNC: Aracuã (O. superciliaris), Gato maracajá (L. wiedii). Status “Vulnerável”:

Araçari (P. bitorquatus), Tamanduá bandeira (M. tridactyla), Guariba (A. belzebul).

Jacuraru (T. merianae). Porém em termos estaduais apenas o Araçari e o Jacuraru

apresentam o status “vulnerável”.

A espécie de sucuri pintada (Eunectes deschauenseei) citada nas entrevistas

com a comunidade possui alto endemismo na Ilha do Marajó. Essa tem distribuição

restrita na Ilha do Marajó e Guiana francesa. Espécies com alto grau de endemismo

devem ser cuidadosamente avaliadas, ainda mais pelo fato dos dados da população

de E. deschauenseei ser insuficiente para indicação de seu status segundo a IUNC.

É importante ressaltar que o estuário na região da Contra costa de Soure é o

único lugar de possível simpatria – coexistência de duas espécies variantes de um

mesmo gênero em uma mesma área – do peixe-boi marinho e do peixe-boi

amazônico (SICILIANO et al., 2008) com probabilidade de existência de um híbrido

dessas espécies.

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6 PRINCIPAIS PROBLEMAS QUE AFETAM A FAUNA

Segundo a AMAM (2008), os principais problemas ambientais são: o

desmatamento do manguezal, retirada indiscriminada de pedra e areia, pesca

predatória industrial e artesanal, degradação de pastagens na pecuária. O búfalo

animal exótico ao Marajó e símbolo do mesmo vive em lugares alagados,

comprometendo igarapés, agindo como compactador do solo e destruidor de

margens e encostas.

De acordo com o Plano Diretor Participativo Municipal de Soure (2006), está

ocorrendo, no município, há alguns anos, a poluição do Rio Paracauari através dos

resíduos lançados pelo Matadouro Municipal e dos esgotos de alguns bairros do

município.

Outro foco de poluição é através do depósito de lixo a céu aberto e sem

nenhum tratamento (Lixão do Muturí), que constantemente vem contaminando o

solo e provavelmente os lençóis subterrâneos de água, bem como a poluição do

manancial que fica muito próximo do local. Tal contaminação ocorre porque nesse

depósito joga-se além do lixo residencial, também aqueles gerados pelos

estabelecimentos de saúde (Plano Diretor Participativo Municipal de Soure, 2006).

A população do município costuma fazer das ruas depósito de resíduos

sólidos, porém, esses são coletados pelas carroças de búfalos que também

recolhem os resíduos sólidos residenciais que têm como destinação final o lixão do

Muturí (Plano Diretor Participativo Municipal de Soure, 2006).

Há, também, a ocorrência de atividades irregulares como o uso indiscriminado

de pescado e crustáceos durante o período de defeso, a presença das lanchas na

prática da pesca de arrastão, a destruição das áreas de mangues pelos nativos, as

retiradas indiscriminadas de madeiras dos mangues para as canoarias e retiradas do

caranguejo sem o devido cuidado com a preservação (Plano Diretor Participativo

Municipal de Soure, 2006).

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7 RECOMENDAÇÕES

A conservação da biodiversidade em unidades de conservação depende não

só de sua criação, mas principalmente do conhecimento dos impactos causados

sobre seu ecossistema, do desenvolvimento de estratégias apropriadas de

fiscalização e manejo, e da participação e envolvimento efetivo da comunidade

residente a sua volta. Algumas interferências antrópicas, como a fragmentação de

habitat e a caça ocasionam efeitos diretos e indiretos sobre a estrutura da

comunidade e a falta de manejo podem desencadear mudanças irreversíveis no

ecossistema (PAULA; LEMOS, 2008)

Serão listadas atividades consideradas importantes para constarem no

Programa de Monitoramento da unidade de conservação:

- Como os carnívoros são importantes para os ecossistemas naturais e para a

conservação da biodiversidade em geral, principalmente porque exercem o papel de

predadores, regulando as populações de suas presas. Portanto, é proposto o

monitoramento de algumas espécies indicadoras com grande potencial de indicação

da qualidade ambiental, como Panthera onca, Puma concolor, Leopardus pardalis,

Leopardus wiedi, Cerdocyon thous principalmente em áreas mais sujeitas a

distúrbios ambientais.

-O Monitoramento de espécies cinegéticas, pois as espécies de valor

cinegético, que são mais susceptíveis às atividades de caça como Tayassu pecari e

algumas espécies de edentados, tendem a ser as primeiras a desaparecer em áreas

com alta pressão dessa atividade;

- Levantamento minucioso da biodiversidade da área proposta;

- Levantamento e monitoramento da espécie Eunectes deschauenseei para

conhecimento do status populacional da espécie na área da UC;

- Levantamento e monitoramento das espécies Trichechus inunguis e T.

Manatus para conhecimento de status populacional e confirmação de simpatria entre

as espécies;

- Acordos de pesca são essências para a conservação das espécies

pesqueiras, caso não haja um controle racional na exploração dessas espécies em

breve se instalará uma problemática ambiental devido à superexploração dos

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recursos pesqueiros, podendo ocasionar problemas socioeconômicos e,

principalmente, ecológicos;

- Fiscalização das embarcações em condições não legalizadas;

- Combate à caça e comercialização de carne de espécies silvestres, como

por exemplo, da capivara, que é caçada e comercializada nas proximidades da Vila

Nascimento, Município de Chaves. Ações de fiscalização com aplicação de

penalidades sobre os transgressores e educação ambiental com sensibilização da

população são fundamentais para finalizar essa prática;

-Avaliação dos estoques pesqueiros para possíveis determinações de

manejo.

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8 CONCLUSÃO

A dimensão da Bacia Hidrográfica do Rio Amazonas e a sua grande

heterogeneidade ambiental são razões de fundamental importância para a

manutenção de sua alta diversidade. O número de espécies de peixes encontradas

na Bacia do Rio Amazonas, segundo estimativa de Roberts (1972) supera 1.300,

quantidade superior à encontrada nas demais bacias do mundo.

Ambientes como o canal principal dos rios e os diferentes tipos de áreas

alagadas pelas cheias; florestas e campos periodicamente alagados pela chuva; e,

áreas costeiras alagadas pelas marés, abrigam não somente espécies endêmicas,

mas também sustentam grande biomassa de peixes, exploradas pela pesca

artesanal ou de subsistência.

Não há informações seguras sobre ameaças, desaparecimento ou extinção

de espécies de peixes na Amazônia Brasileira. Entretanto, é constatada a

diminuição, ou mesmo o desaparecimento local de algumas espécies, devido à

pesca intensa ou a alguma alteração ambiental, como desmatamento da floresta

marginal, mineração no canal do rio ou represamento.

Identificam-se como ações prioritárias para a conservação e a utilização

sustentável da diversidade biológica do sistema aquático da Amazônia Brasileira a

realização de estudos sobre a taxonomia, biogeografia, biologia e ecologia das

espécies endêmicas a determinadas regiões e das espécies migradoras e a

identificação de ações para proteger e manejar os seguintes ambientes: áreas

alagadas da Planície Amazônica (várzeas e igapós), áreas alagadas.

Além de o estuário representar uma zona importante para a alimentação e

reprodução de muitas espécies de interesse comercial, e também uma importante

fonte de renda para o Estado do Pará, a comercialização de pescado para outros

países gera no estado uma renda em torno de dezenas de milhões de dólares

anuais. Dessa forma, administradores governamentais devem atentar para a

manutenção desse sistema ainda natural, aumentando o seu controle sobre as

atividades de pesca predatória causada por arrastos de parelha à costa e sobre a

poluição proveniente de indústrias que serão brevemente instaladas nas

proximidades do estuário. O único impasse sobre a criação dessa unidade no que

tange a sua categoria de proteção integral é o grande potencial pesqueiro da área.

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A Zona Costeira é uma região importante para a manutenção dos recursos

naturais aquáticos do continente e da zona marinha. É um ambiente complexo,

diversificado e de extrema importância para a sustentação da vida costeira e

marinha e, por isso, deve ser um dos principais focos de atenção para a

conservação ambiental e manutenção da biodiversidade, tanto terrestre como

aquática (MMA, 2007).

No disposto da fauna aquícola e terrestre, alguns autores nortistas renomados

concluíram que a composição natural da fauna do arquipélago reflete fenômenos

geológicos e históricos, tal como, a elevação e o decréscimo do nível do oceano.

Como a região do Marajó possui um mosaico de diferentes tipos de vegetação com

características ecológicas muito peculiares e, por conseguinte, refletindo em uma

considerável diversidade faunística, esforços para a preservação e conservação da

biodiversidade são extremamente necessários.

É uma área ainda bem conservada, com presença de espécies topo de

cadeia, espécies ameaçadas e espécies endêmicas, sendo provável área de

simpatria do peixe-boi (amazônico e marinho), com presença de áreas de

manguezais, que para a fauna, destacam-se por funcionarem como berçários de

diversas espécies marinhas e de água doce. Significa a manutenção das espécies

de peixes superexploradas como gurijuba, serra, gó, pargo, etc.

Proteger a Zona Costeira e uma parte da Zona Marinha significa proteger os

manguezais existentes naquela área, assim como, manutenção de ecossistemas de

várzeas e igapós. A indicação de um mosaico de unidades de conservação (UC de

proteção integral e outra de uso sustentável) é a estratégia mais adequada para o

perfil socioeconômico e importância biológica extremamente alta da área.

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ANEXO A - Listagem de espécies de animais estudadas.

Tabela 1. Listagem de espécies de aves na área estudada. AVIFAUNA

Táxon Nome Comum O E S PELECANIFORMES Phalacrocoracidae Phalacrocorax brasilianus Biguá X X Br

Ardeidae Egretta thula Garça Branca Pequena X X Br Ardea alba Garça Branca Grande X X Br Egretta caerulea Garça Azul X X Br Ardea cocoi Maguari X X Br Butorides striatus Socoí X X Br Tigrisoma lineatum Socó-boi X X Br Nycticorax nycticorax Taquiri X X Br Cochlearius cochlearius Arapapá _ X Br

ACCIPITRIFORMES Accipitridae Heterospizias meridionalis Gavião Caboclo X X Br Rosthramus sociabilis Gavião Caramujeiro X _ Br Rupornis magnirostris Gavião pega pinto _ X Br

Cathartidae Cathartes aura Urubu Cabeça vermelha X X Br

FALCONIFORMES Falconidae Milvago chimachima Gavião Carrapateiro X X Br Polyborus plancus Caracaraí (Carcará) X X Br Falco rufigularis Falcão Cauré _ X Br

STRIGIFORMES Strigidae Pulsatrix perspicillata Murucututu _ X Br

Tytonidae Tyto alba Coruja Suindara _ X Br

CHARADRIIFORMES Scolopacidae Calidris pusilla Maçariquinho X X Br Tringa solitaria Maçarico X X Br

Charadiidae Vanellus chilensis Quero quero X X Br

Rynchopidae Rynchops niger cinerescens Corta água X _ Br

Sternidae Sterna superciliaris Trinta-réis-anão X X Br Phaetusa simplex Trinta-réis-grande X X Br

CUCULIFORMES Crotophagidae Guira guira Anu Branco X X Br Crotophaga ani Anu Preto X X Br

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PICIFORMES Picidae Dryocopus lineatus Pica Pau X X Br

Ramphastidae Rhampastos toco Tucano Açu X X Br Pteroglossus bitorquatus Araçari _ X Vu

PSITTACIFORMES Psittacidae Aratinga jandaya Jandaia X _ Br Brotogeris versicolurus Periquito de mangueira _ X Br Amazona amazonica Papagaio do mangue _ X Br

CICONIFORMES Ciconiidae Mycteria americana Cabeça Seca _ X Br Ciconia maguari Cauauã X X Br

Threskiornithidae Eudocimus ruber Guará X X Br Ajaia ajaja Colhereiro X X Br

GRUIFORMES Aramidae Aramus guarauna Carão X X Br

Rallidae Aramides cajanea Saracura X(v) X Br Porphyrio flavirostris Frango d’agua _ X Br

GALLIFORMES Cracidae Ortalis superciliaris Aracuã X _ Ep

OPISTHOCONIFORMES Opisthocomidae Opisthocomus hoazin Cigana X X Br

ANSERIFORMES Anatidae Dendrocygna autumnalis Marreca Cabocla X X Br Amazonetta brasiliensis Marreca Ananaí _ X Br Cairina moschata Pato do mato _ X Br

EURYPYGIFORMES Eurypygidae Eurypyga helias Pavãozinho do Pará _ X Br

COLUMBIFORMES Columbidae Patagioenas cayennensis Pomba Galega X X Br Geotrygon violacea Juruti _ X Br

CAPRIMULGIFORMES Caprimulgidae Hydropsalis sp. Bacurau Br

PASSERIFORMES Tyrannidae Tyrannus savana Tesourinha X X Br Sturnella militaris Polícia Inglesa do Norte X X Br Pitangus sulphuratus Bem ti vi X X Br

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Icteridae Cacicus cela Japiim X X Br Gymnomystax mexicanus Aritauá X X Br

Thraupidae Ramphocelus carbo Pipira X X Br Thraupis sayaca Suí azul X X Br

APODIFORMES Trochilidae Thalurania sp. Beija-flor X X Br

Status: Br - baixo risco de extinção; EP – em perigo de extinção; Vu: vulnerável ; Dd: dados deficientes Fonte. Lista vermelha IUNC (2008); Lista de espécies ameaçadas do Estado do Pará. O: Observação; E: Entrevista; S: Status.

Tabela 2. Listagem de espécies de mamíferos na área estudada. MASTOFAUNA

Táxon Nome Comum O E S CARNIVORA Felidae Leopardus wiedii Gato maracajá _ X Ep Panthera onça Onça pintada _ X Vu Puma concolor Suçuarana _ X Vu

Canidae Cerdocyon thous Cachorro do mato _ X Br

Procyonidae Procyon lotor Guaxinim _ X Br Nasua nasua Quati _ X Br

XENARTHRA Dasypodidae Dasypus novemcinctus Tatu _ X Br

Myrmecophagidae Tamandua tetradactyla Tamanduá colete _ X Br Myrmecophaga tridactyla Tamanduá bandeira _ X Vu

Cyclopedidae Cyclopes didactylus Tamanduaí _ X Br

RODENTIA Dasiproctidae Dasyprocta sp. Cutia _ X Br

Cuniculidae Cuniculus paca Paca _ X Br

Caviidae Hydrochoerus hydrochaeris Capivara X X Br

DIDELPHIMORPHIA Didelphidae Didelphis sp. Mucura _ X Br

ARTIODACTYLA Cervidae Ozotoceros sp. Veado _ X Br

PRIMATES

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Aotidae Aotus azarae infulatus Macaca da noite _ X Qa

Cebidae Saimiri sciureus Macaco de cheiro _ X Br

Atelidae Aloatta belzebul Guariba X X Vu

Status: Br - baixo risco de extinção; Qa – quase ameaçado; EP – em perigo de extinção; Vu: vulnerável ; Dd: dados deficientes. Fonte. Lista vermelha IUNC (2008) O: Observação; E: Entrevista; S: Status.

Tabela 3. Listagem de espécies de répteis na área estudada. HERPETOFAUNA

Táxon Nome Comum O E S SQUAMATA Viperidae Bothrops sp. Jararaca _ X Br

Boidae Boa constrictor Jiboia _ X Br Corallus caninus Periquitamboia _ X Br Eunectes murinus Sucuri X X Br Eunectes deschauenseei Sucuri malhada _ X Dd

Teiidae Tupinambis merianae Jacuraru _ X Vu Ameiva ameiva Calango verde X X Br

Iguanidae Iguana iguana Iguana X X Br

CROCODYLIA Alligatoridae Paleosuchus trigonatus Jacaré coroa _ X Br Melanosuchus niger Jacaré Açu _ X Br Caiman crocodilus Jacaretinga X X Br

Status: Br - baixo risco de extinção; EP – em perigo de extinção; Vu: vulnerável ; Dd: dados Fonte. Lista vermelha IUNC (2008); Lista de espécies ameaçadas do Estado do Pará. O: Observação; E: Entrevista; S: Status.

Tabela 4. Listagem de espécies de anfíbios na área estudada.

HERPETOFAUNA Táxon Nome Comum O E S

ANURA Bufonidae

Rhinella marina Sapo Cururu _ X Br Hylidae

Phyllomedusa hypochondrialis Perereca verde _ X Br Leptodactylidae

Lithodytes lineatus Ponta de Flecha _ X Br Status: Br - baixo risco de extinção; EP – em perigo de extinção; Vu: vulnerável ; Dd: dados Fonte. Lista vermelha IUNC (2008); Lista de espécies ameaçadas do Estado do Pará.

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O: Observação; E: Entrevista; S: Status. Tabela 5. Listagem de espécies de peixes na área aquática estudada.

ICTIOFAUNA Táxon Nome Comum O E L

BATRACHOIDIFORMES Batrachoididae Batrachoides surinamensis Pacamão* X R.M

BELONIFORMES Belonidae Potamorrhaphis guianensis Peixe agulha X I.M –

R.M CARCHARHINIFORMES Carcharhinidae

Carcharhinus leucas Cação branco* X R.M Carcharhinus porosus Cação* X R.M Carcharhinus porosus Cação sucuri* X R.M Isogomphodon oxyrhynchus Cação pato* X R..M Sphyrna tudes Cação rodela* X R.M CHARACIFORMES Acestrorhynchidae

Acestrorhynchus falcatus Uéua X X I.M Acestrorhynchus sp. Uéua X X I.M Acestrorhynchus spp. Uéua X X I.M Anostomidae

Laemolyta sp. Aracu caneta X X I.M-R.M Leporinus spp. Aracu ou Piau X X I.M-R.M Schizodon spp. Aracu X X I.M-R.M Schizodon vittatus Aracu X X I.M-R.M Carangidae

Oligoplites palometa Timbira ou pratiuira* X R.M Characidae

Astyanax sp. Matupiri X I.M-R.M Catoprion mento Pacu piranha X I.M-R.M Colossoma macropomum Tambaqui X I.M-R.M Metynnis spp. Pacu X I.M-R.M Piaractus brachypomus Pirapitinga X I.M-R.M Pygocentrus nattereri Piranha vermelha X X I.M-R.M Serrasalmus rhombeus Piranha preta X X I.M-R.M Serrasalmus spp. Piranha branca X X I.M-R.M Triportheus spp. Sardinha X X I.M-R.M Ctenoluciidae

Boulengerella sp. Bicuda X I.M-R.M Curimatidae Curimata spp. Curimatá X X I.M-R.M Cynodontidae

Hydrolycus scomberoides Cachorra X I.M-R.M Cynodon gibbus Peixe cachorro X I.M-R.M Erythrinidae

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Erythrinus erythrinus Traíra X X R.M Hoplerythrinus unitaeniatus Jeju X I.M-R.M Hoplias lacerdae Trairão X I.M-R.M Hoplias malabaricus Traíra X X I.M-R.M Lebiasinidae Nannostomus sp. Peixe lápis X I.M Mugilidae

Mugil curema Pratiqueira* X X I.M-R.M Mugil liza Caica X I.M Mugil spp. Tainha X X I.M-R.M Prochilodontidae

Potamorhina altamazonica Branquinha cab. Lisa X I.M-R.M Potamorhina latior Branquinha comum X X I.M-R.M Potamorhina pristigaster Branquinha peito de aço X R.M Prochilodus sp. Curimatá X X R.M Psectrogaster amazonica Branquinha cascuda X I.M Semaprochilodus insignis Pitioca escama grossa X I.M Semaprochilodus sp. Pitioca ou pitipioca X IM.-RM CLUPEIFORMES Engraulidae

Anchoviella cayannensis Manjubinha* X X R.M Anchoa spinifer Sardinha de gato* X X R.M Lycengraulis batesii Manjuba* X I.M-R.M Lycengraulis grossidens Manjubão* X R.M Pristigasteridae Pellona spp. Pellona flavipinnis

Sarda apapá

X X I.M-R.M

CYPRINODONTIFORMES Anablepidae

Anableps microlepis Tralhoto X X I.M-R.M ELOPIFORMES Megalopidae

Megalops atlanticus Pirapema X I.M-R.M GYMNOTIFORMES Apteronotidae Apteronotus albifrons Ituí Cavalo X R.M

Gymnotidae Electrophorus electricus Poraquê X I.M-R.M Gymnotus spp. Sarapó X I.M-R.M Hypopomidae

Hypopygus sp. Ituí X I.M-R.M Sternopygidae

Eigenmannia sp. Ituí X I.M Sternopygus macrurus Ituí preto X I.M-R.M Ramphichthyidae

Ramphichthys sp. Ituí terçado X I.M OSTEOGLOSSIFORMES Arapaimidae

Arapaima gigas Pirarucu X X R.M Osteoglossidae

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Osteoglossum bicirrhosum Aruanã* X I.M-R.M PERCIFORMES Centropomidae

Centropomus parallelus Camurim X I.M Cichlidae

Aquidens sp. Acará-bicudo X I.M Aquidens spp. Acará branco X R.M Astronotus crassipinnis Apaiari X I.M-R.M Astronotus ocellatus Acará – Açu X I.M Caquetaia spectabilis Acará bicudo X R.M Cichla monoculus Tucunaré comum X R.M Cichla ocellaris Tucunaré Açu X R.M Cichla orinocensis Tucunaré botão X R.M Chaetobranchopsis orbicularis Acará X I.M Crenicichla sp. Jacundá X R.M

Geophagus sp. Acará X I.M Satanoperca jurupari Acará jurupari X R.M Gobiidae

Awaous flavus Amuré do mangue X I.M Bathygobius soporator Amuré da praia X I.M-R.M Gobioides sp. Amuré X I.M-R.M Sciaenidae

Cynoscion acoupa Pescada amarela* X R.M Cynoscion microlepidotus Pescada corvina* X R.M Plagioscion auratus Pescada preta X I.M-R.M Plagioscion squamosissimus Pescada branca X X I.M-R.M Stellifer sp. Pescada curuca X R.M Macrodon ancylodon Pescada GO X X P.A Plagioscion sp. Pescada cascuda X P.A Lutjanidae

Lutjans purpureus Pargo* X P.A MYLIOBATIFORMES Myliobatidae Manta birostris Arraia jamanta X P.A Aetobatus narinari Arraia pintada X P.A Dasyatis guttata Arraia bicuda X P.A PLEURONECTIFORMES Achiridae

Hypoclinemus mentalis Solha X I.M-R.M PRISTIFORMES Pristidae

Pristis perotteti Espadarte X I.M RAJIFORMES Potamotrygonidae

Potamotrygon aiereba Arraia aramaçá X I.M-R.M Potamotrygon motoro Arraia de fogo X I.M-R.M Potamotrygon spp. Arraia X X I.M-R.M SILURIFORMES Ariidae

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Amphiarius phrygiatus Cangatá branco X I.M-R.M Amphiarius rugispinnis Jurupiranga X I.M-R.M Arius proops Uritinga X R.M Arius sp. Bagre X X I.M-R.M Aspistor quadriscutis Cangatá verdadeiro X I.M Bagre bagre Bandeirado* X I.M-R.M Cathorops spixii Curicica X R.M Hexanematichthys parkeri Gurijuba X X I.M Notarius grandicassis Cangatá cambeua X I.M Sciades sp. Bagre X X I.M-R.M Aspredinidae

Aspredo aspredo Rebeca X I.M-R.M Aspredinichthys filamentosus Rebeca X I.M-R.M Auchenipteridae

Ageneiosus sp. Mandubé X X R.M Ageneiosus sp. Mandubé pintado X X R.M Ageneiosus ucayalensis Mandubé X X I.M Auchenipterus sp. Anunjá X R.M Auchenipterichthys sp. Anunjá X I.M Pimelodus blochii Mandii X I.M-R.M Pseudauchenipterus nodosus Carataí X I.M-R.M Pseudauchenipterus sp. Anunjá X I.M-R.M Trachycorystes galeatus Cachorro de padre X X I.M-R.M Callichthyidae

Hoplosternum littorale Tamoatá X X I.M Hoplosternum sp. Tamoatá X X I.M Hoplosternum spp. Tamoatá X X R.M Cetopsidae

Cetopsis coecutiens Candiru Açu X R.M Doradidae Acanthodoras sp. Cuiu cuiu X I.M-R.M Lithodoras dorsalis Bacu pedra X I.M Oxydoras Níger Bacu X I.M Heptapteridae Rhamdia quelen Jandiá X I.M-R.M Rhamdia sp. Jandiá X I.M-R.M Loricariidae Ancestridium sp. Uacari X I.M-R.M Ancistrus sp. Acari X X I.M-R.M Farlowella sp. Acari-farlowella X I.M Hypostomus sp. Acari X X R.M Hypostomus spp. Acari X X I.M-R.M Hypostomus plecostomus Acari ananá X I.M Pterygoplichthys pardalis Acari boi X I.M-R.M Reganella sp. Acari chicote X I.M-R.M Rineloricaria sp. Acari rabudo X I.M-R.M Pimelodidae Brachyplatystoma filamentosum Filhote X X I.M-R.M Brachyplatystoma platynemum Barba chata / barbado X I.M-

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R.M

Brachyplatystoma rousseauxii Dourada X X I.M-R.M

Brachyplatystoma vaillantii Piramutaba X I.M-R.M

Calophysus macropterus Piracatinga X R.M Hypophthalmus marginatus Mapará X X I.M

Hypophthalmus sp. Mapará X X I.M-R.M

Phractocephalus hemeliopterus Pirarara X R.M

Platynematichthys notatus Piranambu X I.M-R.M

Pseudoplatystoma fasciatum Surubim ou pintado X R.M SYNBRANCHIFORMES Synbranchidae

Synbranchus sp. Muçum ou lampreia X I.M-R.M

TETRAODONTIFORMES Tetraodontidae

Colomesus spp. Baiacu X I.M

*Essas espécies aparecem no período do verão quando as águas ficam salobras devido à invasão das águas oceânicas no rio Maruim. *Pargo: Juvenil. Tabela 6. Listagem de espécies de répteis na área aquática estudada.

HERPETOFAUNA Táxon Nome Comum O E L

PLEURODIRA Podocnemididae

Podocnemis expansa Tartaruga-da-amazônia X X I.M Podocnemis unifilis Tracajá X I.M TESTUDINES Chelidae

Chelys fimbriatus Matá-matá X I.M Dermochelyidae

Dermochelys coriácea Tartaruga de couro X I.M Geoemydidae

Rhinoclemmys punctularia Perema X I.M Kinosternidae

Kinosternon scorpioides Muçuã X I.M TESTUDINATA Cheloniidae Chelonia mydas

Tartaruga verde ou suruanã X X I.M

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Tabela 7. Listagem de espécies de répteis na área aquática estudada. MASTOFAUNA

Táxon Nome Comum O E L CARNIVORA Mustelidae

Lontra longicaudis Lontra X I.M CETACEA Delphinidae

Sotalia fluviatilis Boto-tucuxi X X I.M Sotalia guianensis Boto cinza ou tucuxi marinho Iniidae

Inia geoffrensis Boto-rosa X X I.M SIRENIA Trichechidae

Trichechus inunguis Peixe-boi-da-amazônia X I.M Trichechus manatus Peixe-boi-marinho X I.M

Tabela 8. Listagem de espécies de répteis na área aquática estudada. CARACIFAUNA

Táxon Nome Comum O E L DECAPODA Grapsidae

Goniopsis cruentata Aratu ou sarará X I.M Ocypodidae

Ucides cordatus Caranguejo uca X I.M Palaemonidae

Macrobrachium amazonicum Camarão cascudo X X I.M Macrobrachium carcinus Camarão pitu X Macrobrachium rosenbergii Gigante da Malásia Portunidae

Callinectes sp. Siri azul X I.M Sesarmidae

Aratus pisonii Aratu I.M Trichodactylidae

Dilocarcinus sp. Caranguejo dulcícola X I.M Uca (Celuca) Lepdodactyla

Uca maracoani

*O: Observado; E: Entrevistados que visualizaram; L: Local de ocorrênica; I.M: Ilha do

Machado; R.M: Rio Maruim; P.A: Pacoval.