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O Agronegcio na Economia Brasileira 1994 a 1999
CNA - CONFEDERAO NACIONAL DA AGRICULTURA
O AGRONEGCIO NA ECONOMIA BRASILEIRA
1994 A 1999
JOAQUIM JOS MARTINS GUILHOTO Universidade de So Paulo e University of Illinois
MARIA CRISTINA ORTIZ FURTUOSO Universidade de So Paulo
GERALDO SANTANA DE CAMARGO BARROS
Universidade de So Paulo
SETEMBRO 2000
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O Agronegcio na Economia Brasileira 1994 a 1999
PREFCIO
O trabalho aqui apresentado o resultado de uma pesquisa conduzida no Centro de Estudos
Avanados em Economia Aplicada da Universidade de So Paulo (CEPEA-USP), com o suporte da
Confederao Nacional da Agricultura (CNA), cujo objetivo final foi o de fornecer subsdios para a
estimao do crescimento mensal do PIB do Agronegcio Brasileiro.
A metodologia e os resultados apresentados, portanto, fornecem a base para o delineamento do
Agronegcio Brasileiro. Desta forma feito um estudo detalhado do Agronegcio Brasileiro no perodo de
1994 a 1999.
Deve ser deixado um agradecimento especial ao suporte recebido da CNA e do seu departamento
econmico, em especial nas pessoas de Vicente Nogueira Netto, Getlio Pernambuco, e Paulo Mustefaga,
cujos comentrios e apoio certamente contriburam para a qualidade final do trabalho. Os comentrios e o
apoio recebido dentro do CEPEA-USP e do Departamento de Economia, Administrao e Sociologia da
ESALQ-USP so tambm reconhecidos. Ao estagirio Gustavo de Souza e Silva deixado o nosso
agradecimento pelo trabalho na entrada dos dados e na confeco das figuras aqui apresentadas. Como em
todo trabalho, as falhas que ainda permanecem so de responsabilidade dos autores.
Piracicaba Setembro de 2000
Joaquim Guilhoto Cristina Furtuoso Geraldo Barros
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O Agronegcio na Economia Brasileira 1994 a 1999
NDICE
Pgina
PREFCIO........................................................................................................................................................................................I
1. INTRODUO.......................................................................................................................................................................1
1.1. A EVOLUO HISTRICA DAS RELAES ENTRE A AGRICULTURA E A INDSTRIA.....................................................................................................1
1.2. OBJETIVOS....................................................................................................................................................................................................................................................................11
2. FORMULAES GERAIS SOBRE O AGRONEGCIO.......................................................................................13
3. REFERENCIAL TERICO..............................................................................................................................................35
3.1. FONTE E TRATAMENTO DAS INFORMAES BSICAS..................................................................................................................................................................35
3.2. LIGAES INTERINDUSTRIAIS E SETORES-CHAVE.............................................................................................................................................................................37
3.2.1. Os ndices de Rasmussen-Hirschman.........................................................................................................................................................................................37
3.2.2. O ndice puro de ligaes interindustriais................................................................................................................................................................................39
3.3. OS SETORES INDUSTRIAIS LIGADOS AGRICULTURA.....................................................................................................................................................................43
3.4. CLCULO DO PRODUTO INTERNO BRUTO DO AGRONEGCIO BRASILEIRO..................................................................................................................44
4. ANLISE DOS RESULTADOS.......................................................................................................................................53
4.1. INTRODUO ..............................................................................................................................................................................................................................................................53
4.2. UMA ANLISE SETORIAL DA ECONOMIA BRASILEIRA.................................................................................................................................................................54
4.3. COMPOSIO DO AGRONEGCIO BRASILEIRO...................................................................................................................................................................................65
4. 4. ESTRUTURA DO AGRONEGCIO NO BRASIL EM 1995..................................................................................................................................................................99
4.5. A EVOLUO DO PIB DO AGRONEGCIO NO BRASIL DE 1994 A 1999 ........................................................................................................................110
5. COMENTRIOS FINAIS ...............................................................................................................................................125
A.1. CLASSIFICAO DE ATIVIDADES E PRODUTOS DA MATRIZ DE INSUMO-PRODUTO DE 1995........................................................................................................................................................................................................127
A.2. COMPOSIO DOS SETORES DO AGRONEGCIO...................................................................................130
REFERNCIAS ........................................................................................................................................................................134
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O Agronegcio na Economia Brasileira 1994 a 1999
CAPTULO 1
INTRODUO
1.1 A evoluo histrica das relaes entre a Agricultura e a Indstria
A histria da agricultura brasileira mostra o papel fundamental que esse setor sempre desempenhou
no desenvolvimento da economia do pas. A literatura econmica apresenta publicaes que detalham os
surtos econmicos brasileiros durante os ciclos do gado, da cana-de-acar, da borracha, do cacau1, etc.
Ainda hoje, a atividade agrcola continua contribuindo de maneira significativa sob vrios aspectos
econmicos e sociais.
Essa tradio econmica que o pas possui na agricultura, ainda que com diferentes graduaes,
uma tendncia que dever prevalecer no futuro, principalmente em razo dos seus vastos recursos naturais.
No entanto, o avano da economia em muito depender da performance dos produtos primrios, quer
tenham como destino a exportao ou o consumo interno. Neste sentido, existe uma extensa literatura2 que
apresenta evidncias empricas que comprovam o processo de inverso da tendncia do padro de
crescimento que o setor agrcola brasileiro vem experimentando desde a crise econmica dos anos 80,
quando ocorre a perda da dinmica das exportaes em favor do maior dinamismo do mercado interno.
1 FURTADO (1976), PAIM (1957), SZMRECSNYI (1990), SIMONSEN (1969). 2 LOPES (1987), MANOEL & BARROS (1987), DIAS(1989), RESENDE (1988).
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Porm, de importncia fundamental salientar as mudanas substanciais que vm ocorrendo em nvel
mundial no relacionamento da agricultura com os outros setores da economia.
Para efeitos desta apreciao, lembremos da figura originria do campons europeu. A unidade
familiar, que coincidia com a unidade rural, operava prxima auto-suficincia, seus integrantes se
dedicavam plantao e criao comercial, ao mesmo tempo em que criavam seus animais de trao,
produziam seus instrumentos de transporte, suas ferramentas e demais itens necessrios. Seus membros
produziam o prprio po, bebiam o prprio vinho e at as roupas eram feitas em casa e todo o
processamento do alimento era domstico. Todas as operaes relacionadas com o cultivo, o processamento,
o armazenamento e a comercializao dos produtos eram funes da fazenda (Barros de Castro, 1969).
Nessas circunstncias, era perfeitamente coerente aglutinar todas essas atividades dentro do significado do
termo agricultura.
Ao passarmos anlise do caso brasileiro, h que assinalar preliminarmente que este pas contou
com dois modelos agrcolas: plantation e de subsistncia.3 Como descreve Jank et al. (1995), a agricultura
de plantation caracterizou os ciclos econmicos de nossa histria: gado, cana-de-acar, caf, cacau e
borracha. Esta forma de agricultura se distingue por apresentar grandes extenses de terras e monocultura, os
grandes latifndios, com alto grau de independncia operacional, sendo explorados por tcnicas de
agricultura extensiva, em que o produto final fundamentalmente destinava-se ao mercado externo. At o
incio da Segunda Guerra Mundial, a economia brasileira dependia grandemente das lavouras de exportao.
O outro modelo de agricultura - de subsistncia - coexistia com o primeiro, atravs da pequena propriedade,
apresentando pequenas extenses de terra e policultivo. Cabe salientar que apesar de pobre e ineficiente, a
agricultura de subsistncia atendeu procura de alimentos e matrias-primas pela populao urbana e a mo-
3 Coexistem neste campo teses discrepantes a respeito do desempenho da agricultura no desenvolvimento brasileiro. A esse respeito
pode-se consultar os trabalhos de: LAMBERT(1967), GUIMARES (1977), OLIVEIRA (1946), FURTADO (1964), FRANK (1967), DELFIM NETTO (1966), entre outros.
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de-obra rural das plantations.4 Nessa poca, a unidade produtiva agrcola era praticamente auto-
suficiente que constitua o chamado setor primrio.
Juntamente com a revoluo tecnolgica da agricultura em nvel mundial no perodo do ps-guerra,
as atividades agrcolas tiveram ampla expanso e crescente especializao, influenciadas decisivamente pelo
desenvolvimento econmico e a crescente urbanizao. Esse processo, basicamente, imps uma nova ordem
agrcola em que o moderno agricultor um especialista envolvido com as operaes de cultivo e criao de
animais, transferindo as funes de armazenar, processar e distribuir produtos agropecurios, bem como de
suprimento de insumos e fatores de produo, para organizaes alm da fazenda.
A agropecuria antes voltada exclusivamente para a auto-suficincia, modernizou-se, inserindo-se
na economia de mercado e constituindo novos elos ou segmentos do sistema alimentar. Basicamente, esse
processo resultou na estruturao de um moderno parque industrial que fornece bens de capital e insumos
para o campo, setor denominado a montante da fazenda. Por outro lado, formaram-se complexas redes de
armazenamento, transporte, processamento, industrializao e distribuio, setor a jusante.
Atualmente, o valor das atividades ligadas agricultura, realizadas fora da fazenda, so
substancialmente maiores do que o total das operaes nela realizadas. Como exemplo, Pinazza (1986) cita o
caso dos Estados Unidos, segundo dados de 1975, cuja composio percentual do complexo agroindustrial5
j representava: 35% para insumos, 15% para agricultura e 50% para indstria e distribuio. Evidncia clara
desse fenmeno que, em nvel mundial, esse complexo engloba mais da metade dos ativos totais, emprega
mais da metade da mo-de-obra e representa metade das despesas dos consumidores. Em 1989 o Produto
Interno Bruto (PIB) agrcola dos EUA foi de U$161 bilhes e o PIB do complexo agrcola foi de U$1.600
bilhes, ou seja, so gerados cerca de dez dlares para cada dlar de produto agrcola (Jank et al., 1995).
4 DELFIM NETTO (1966) baseando-se numa anlise de projees de demanda de produtos alimentares e confrontando-as com o
crescimento da respectiva oferta, conclui que: no existem razes... para que a procura de alimentos aqui considerada tenha crescido mais rapidamente que sua oferta.
5 Na captulo seguinte apresenta-se uma discusso mais rigorosa dos conceitos e abordagens relativas as atividades relacionadas agricultura.
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O Agronegcio na Economia Brasileira 1994 a 1999
Em decorrncia deste fenmeno, o conceito tradicional da economia que classifica as
diferentes atividades em setores primrio, secundrio e tercirio, como setores estanques e no integrados
deu lugar a uma anlise que enfoca um sistema interligado de produo, processamento e comercializao
dos produtos de origem agrcola O Complexo do Agronegcio.
A contribuio acadmica pioneira para quantificar essa abordagem conceitual surgiu em 1957,
quando os economistas norte-americanos Ray Goldberg e John H. Davis criaram o termo Agribusiness.
Os autores, fazendo uso das tcnicas matriciais de insumo-produto, desenvolvidas por Wassily Leontief,
estudaram as transformaes e a reestruturao da agricultura. Analisando os problemas relacionados com o
setor agrcola da economia afirmavam que esses eram muito mais complexos e no se restringiam a simples
atividade rural. Da a necessidade de se tratar os problemas agrcolas sob um enfoque sistmico
(Agribusiness) e no mais esttico (agricultura).
Davis e Goldberg (1957) e Goldberg (1968), analisando o agronegcio norte-americano entre 1910,
1947 e 1965, observaram que a soma das funes ligadas agricultura, realizadas fora da fazenda, cresceram
significativamente nesse perodo, e se tornaram consideravelmente maiores que o total das operaes
realizadas no mbito da fazenda propriamente dita. Estimaram que, aps a consolidao das grandes
transformaes no setor rural, na nova estrutura do agronegcio norte-americano, em 1965, da produo
agropecuria comprada pelos consumidores, o campo produziu somente 11% e a cidade o restante,
aproximadamente 89% (Tabela 1, Davis & Goldberg, 1957, citado por Lauschner, 1993).
No que se refere aos investimentos analisado o ativo total em comparao com a produo o que
indicar a renda (ou valor adicionado) gerada por cada unidade de investimento nas diferentes etapas do
agronegcio. Observa-se que a agricultura gerava renda de US$16 bilhes, em 1965, com o emprego de
US$237,6 bilhes de investimentos ou ativo total, representando renda de 0,067 por cada unidade de
investimento. Esse comportamento contrasta com os setores de insumos rurais e de
processamento-distribuio do agronegcio. Note que o setor a montante empregou US$27 bilhes para
produzir renda de US$32 bilhes, enquanto o setor a jusante empregava US$87 bilhes para uma renda de
US$102 bilhes, em 1965. Isso significa que cada investimento gerava 1,185 e 1,172 de renda,
respectivamente, mostrando que a produtividade do capital significativamente maior no segmento a
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montante e a jusante do agronegcio, o que sem dvida deveria ser considerado em conta para qualquer
poltica rural.
Sabe-se que o processo de expanso e especializao da agricultura no ocorreu de forma
homognea em todas as regies do planeta, pois depende do estgio de desenvolvimento econmico e social
de cada uma delas. Ou seja, a participao e a interao dos agentes agricultores, fornecedores de
insumos e fatores de produo, processadores e distribuidores ocorreram em graduaes diferentes nos
vrios nveis do sistema agroalimentar (Pinazza & Arajo, 1993).
Tabela 1 Produo, Ativo total (Investimentos) e Emprego de Mo-de-Obra Ativa do Agronegcio dos
Estados Unidos: 1910, 1947, 1964 e 1965 Produo Ativo total Emprego
Valor (US$ bilhes) Porcentagem Evoluo (US$ bilhes) (US$ Milhes) Produo/ Ativo Total
Agregados do Complexo
Agroindustrial 1910 1947 1965 1910 1965 1910 1965 1947 1964 1947 1965 1947 1965
I. Produo e distribuio de insumos rurais (Montante)
1,0 12,8 32 11 21 1 32,0 8,0 27,0 5,0 6,6 1,600 1,185
II. Produo rural 4,8 16,5 16 54 11 1 3,3 132,0 237,0 10,0 6,1 0,125 0,067
III Armazenamento, Processamento, Dis -tribuio (Jusante)
3,1 33,6 102 35 68 1 32,9 29,8 87,0 9,5 11,0 1,128 1,172
IV. Complexo Rural 8,9 62,9 150 100 100 1 16,9 169,8 351,6 24,5 24,0 0,370 0,427
Fonte: LAUSCHNER (1993)
indubitvel que o crescimento do agronegcio mundial continuar se processando de forma
desigual entre os diferentes nveis da cadeia vertical. Entretanto, projees realizadas do agronegcio
mundial at o ano 2028 mostram que as funes de processamento e distribuio representaro cerca de
81,6% de todo o faturamento do sistema, contra 62,4% e 50,0%, respectivamente, em 1980 e 1950. A
agricultura ter sua participao reduzida de 32,4% em 1950 para 9,6% em 2028, enquanto os fornecedores
de insumos e fatores de produo tambm tero sua participao reduzida no perodo de 17,6% para 8,8%
(Goldberg, 1990).
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A agricultura brasileira incorporou esse processo de transformaes ocorridas em nvel
mundial. A atividade agropecuria foi redirecionada, modernizando-se e integrando-se ao mercado. Essas
transformaes e reestruturaes do setor rural iniciaram-se a partir dos anos 50, que, paralelamente ao
crescimento extensivo da produo agrcola, passa por um processo de modernizao de sua base tcnica,
com atuao efetiva do Estado.
O processo de modernizao da agricultura brasileira se inicia com a introduo de maquinrios, de
elementos qumicos (fertilizantes, defensivos, etc.), novas ferramentas e culturas. definida como uma
mudana na base tcnica da produo em que h a substituio da produo artesanal rural por uma
agricultura moderna, intensiva e mecanizada.6 Segundo Kageyama (1990), esse processo implica tanto
numa integrao intra-setorial como na mercantilizao da agricultura promovendo a substituio de
componentes internos usados no setor rural por compras extra-setoriais (mquinas e insumos), oferecendo
condies para o desenvolvimento de indstrias de bens de capital e insumos para a agricultura.
Dados apresentados por Kageyama (1990) mostram que o crescimento do consumo intermedirio7
como porcentagem do valor bruto da produo agropecuria passou de uma participao de cerca de 10%,
em 1949, para 25% no final da dcada de 60 e atingindo aproximadamente 40% em 1980. A participao do
consumo intermedirio no valor da produo representa uma medida do processo de modernizao, que
indica a dependncia da agricultura de compras industriais para a produo de suas mercadorias. Ressalte-se
que a intensificao do crescimento da participao do consumo intermedirio na agricultura ocorre a partir
dos anos 60.
No perodo ps-65, o processo de modernizao entra numa fase mais avanada, a de
industrializao da agricultura brasileira, ... que representa mudana qualitativa fundamental no longo
6 Em certa medida, a modernizao do campo restringida pela capacidade de importar, enquanto depende da importao dos
insumos de sua nova base tcnica (KAGEYAMA, 1990). 7 O consumo intermedirio significa o valor de todos os insumos de bens e servios que desaparecem no decorrer do processo de
produo. Englobam as despesas com sementes, defensivos, fertilizantes, raes e medicamentos para animais, aluguel de mquinas, embalagens e outros itens que possam ser considerados matrias-primas ou insumos produtivos (RIBEIRO & GHEVENTER, 1983).
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processo de transformao da sua base tcnica, o que torna o processo de modernizao
irreversvel.(Ver Kageyama, 1990)
Kageyama (1990) discorre sobre trs transformaes bsicas que diferenciam a modernizao
agrcola do processo de industrializao. Primeiro, no se resume apenas utilizao de insumos modernos
na produo agrcola. A industrializao do campo envolve um processo de mudana nas relaes de
trabalho, passando a ser essencialmente uma relao de trabalho coletivo (cooperativo) onde o trabalhador
individual substitudo por trabalhadores assalariados voltados para uma determinada atividade. A segunda
alterao qualitativa quando se incorpora a mecanizao de todo o processo produtivo. A terceira grande
mudana qualitativa a internalizao do Departamento de Meios de Produo para a Agricultura (D1), ou
seja, implantao e desenvolvimento dos setores produtores de bens de capital e insumos para a agricultura.
Segundo a autora, a partir da, a capacidade de modernizao do setor passa a ser endgena. Deve-se lembrar
que a modernizao em seu incio se processava atravs de importaes, o que restringia grandemente a
generalizao deste processo.
A anlise da evoluo do setor industrial produtor de bens de produo para a agricultura est
razoavelmente tratada na literatura sobre modernizao e produtividade do setor agrcola brasileiro. Com
efeito, os estudos mostram uma importante expanso do setor nas ltimas dcadas, especialmente a partir da
implantao da estratgia de modernizao agrcola. Para uma anlise mais pormenorizada da constituio
do setor, ver entre outros, Baum (1977), Barros et al. (1980) e Contador & Ferreira (1984).
A propsito do processo de consolidao do D1 (Departamento de Meios de Produo para a
agricultura), vale ressaltar que esse setor industrial desenvolveu-se concomitantemente com o processo de
substituio de importaes de outras indstrias de base nacional. No entanto, seu grande momento ocorre
somente aps a metade dos anos 60 quando a produo interna se acelera. Os dados revelam que a produo
nacional de fertilizantes inorgnicos atinge volume significativo em 1973 e a indstria de tratores e
implementos agrcolas pesados, que iniciou suas atividades em 1960 apresentou taxas de crescimento
expressivas, entre o perodo 1960-1986 (18% ao ano em mdia) (Barros & Manoel, 1992).
Essas transformaes foram dinamizadas, em grande parte, pelo Sistema Nacional de Crdito Rural,
atravs de grandes disponibilidades de crdito subsidiado, conjugado com a implantao de novos blocos de
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substituio de importaes de meios de produo para a agricultura atravs do II Plano Nacional de
Desenvolvimento (1974/79)(Barros, 1983).
Neste contexto, como conseqncia, a agricultura brasileira registra profundas transformaes a
partir de meados da dcada de 60 at os anos 80: o setor cresce a taxas expressivas; o crescimento da
produtividade da terra passa a explicar cerca de 61,4% do crescimento da produo; a produtividade do
trabalho cresce em torno de 1,9% ao ano; altera-se o mix da produo com a evoluo da cultura da soja, por
exemplo; ocorre tambm uma expanso da fronteira agrcola em direo aos limites geogrficos do Brasil
Central e regio Norte (Alves, 1989).
Vale lembrar que, embora estas transformaes tenham sido intensas e dominantes, no ocorreram
de forma uniforme entre regies e produtos.
Esse processo culmina na constituio dos complexos agroindustriais (Agronegcios) nos anos 70,
que se d a partir da integrao intersetorial entre as indstrias que produzem para a agricultura, a agricultura
(moderna) propriamente dita e as agroindstrias processadoras. A produo agrcola passa ento a fazer parte
de uma cadeia e a depender da dinmica da indstria, ou seja, h uma crescente integrao da agricultura
indstria onde o corte setorial agricultura/indstria perde importncia. 8
Um papel-chave nesse padro atual de desenvolvimento da agricultura o desempenhado pelo
Estado como elemento aglutinador, atravs das polticas governamentais especficas (fundos de
financiamento para determinadas atividades agroindustriais, programas de apoio a certos produtos agrcolas,
etc. (Kageyama, 1990).
Silva (1993) explicita os impactos fundamentais esperados da formao dos Agronegcios sobre a
estrutura produtiva do pas. Para o autor, a concentrao e centralizao de capitais tende a crescer nos
prximos anos, em funo da esperada consolidao dos Agronegcios na dcada de 90. Clculos
disponveis, com base em dados censitrios de 1975, 1980 e 1985, mostram que menos de 10% dos
estabelecimentos rurais brasileiros estariam engajados no novo sistema de produo. Essas informaes
8 Ver Silva, 1993.
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mostram o carter heterogneo da chamada modernizao da agricultura brasileira, tanto no que se
refere ao tamanho dos produtores como a regio de localizao que atinge principalmente os mdios e
grandes produtores e as regies Centro-Oeste, Sudeste e Sul. Entretanto, para Silva a heterogeneidade da
modernizao agrcola no deve ser associada a idia de atraso, uma vez que esses 10% de estabelecimentos
rurais representavam um tero da produo agropecuria do pas j em 1975, subindo para cerca de 50% em
1980 (Silva, 1993). Estudo da FAO (Guazirole, 1994) mostra que a agricultura familiar para 15 produtos
importantes produz mais de 50% deles. Ratificando as estatsticas nacionais, pesquisas mais recentes de
mercado realizadas pelas indstrias de insumos indicam a ocorrncia de uma crescente concentrao de
produo e profissionalizao dos empresrios do campo.
A especializao e a busca de economia de escala so os meios pelos quais os produtores rurais
procuram acompanhar o movimento de modernizao. Os desenvolvimentos tecnolgicos esperados tanto
no que diz respeito a colheita, carregamento e transporte iro contribuir para a reduo dos custos de
produo das commodities agrcolas. Pesquisas feitas pela Universidade de Braslia, citados por Wedekin
(1994), mostram que o custo de produo de soja nos cerrados chega a diminuir 40-45% quando a rea de
cultivo passa de 50 para 1 mil hectares. Para obter melhores resultados na comercializao da safra, os
representantes do segmento mais dinmico do setor agrcola brasileiro pressionam as indstrias de insumos e
bens de capital por novos e melhores produtos; aderem a novos processos de produo e aprimoram o
sistema de informaes.
Outra importante tendncia em relao estrutura produtiva diz respeito crescente integrao com
o setor de servios e com os fornecedores de insumos gerando os Agronegcios completos, os quais
apresentam ligaes especficas com a agroindstria tanto frente (agroindstria processadora) como
para trs(indstria fornecedora de insumos e equipamentos) (Silva, 1993).
Barros (1985) num estudo sobre agroindstria e comercializao estima o grau de integrao da
agricultura brasileira aos segmentos do Complexo Agroindustrial. O procedimento adotado foi o de
empregar os parmetros utilizados pela Fundao Getlio Vargas na elaborao das Contas Nacionais. Cada
segmento do setor produtor de insumos foi avaliado em termos da proporo do valor da produo
agropecuria que absorve. Quanto aos segmentos referentes comercializao e industrializao, sua
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importncia foi avaliada em termos da proporo que o produto agrcola a ele referente representa no
produto de cada segmento. Os resultados mostram que 90,9% do valor da produo agropecuria se destina
comercializao. J o setor distribuio conta com 52% do valor de sua produo provenientes da
agricultura. No segmento agroindustrial, a produo agropecuria varia, sendo que a indstria txtil e a de
alimentos so as que apresentam as maiores relaes insumo-produto (56% e 46,2% respectivamente).
Dados apresentados por Jank (1990) mostram como a recente performance das exportaes
agrcolas brasileiras reflete, na verdade, as profundas alteraes ocorridas na agricultura brasileira nas ltimas
dcadas. Os produtos agrcolas tradicionais (acar, caf, cacau e algodo) que representavam 70% das
exportaes totais da agroindstria no incio da dcada de 70 passaram para menos de 30% nos anos 90, e os
novos complexos agroindustriais ganharam maior espao no cenrio mundial, particularmente os produtos
com maior agregao de valor. Por sua vez, Pfeifer Filho (1990) aponta a agroindstria como um segmento
de dupla importncia, conquistando mercados externos e garantindo o abastecimento interno.
Em sntese, as consideraes anteriores deixam patente que a integrao da agricultura indstria
implica uma verdadeira reestruturao do setor rural, estabelecendo profundas relaes tecnolgicas,
produtivas, financeiras e de negcios com as demais atividades da economia. Amplia-se a viso sistmica no
fluxo produo-consumo e as cadeias agroalimentares ganham espaos junto ao mercado interno e ao
mercado mundial de alimentos.
No Brasil, so escassos os levantamentos sobre o Complexo Agroindustrial, e as pesquisas
disponveis comumente apresentam problemas em relao a abrangncia e a periodicidade. Nos aspectos
ligados a questo alimentar ainda prevalece o enfoque funcional assim como na literatura econmica
predomina a anlise da agricultura propriamente dita. Por sua vez, a Fundao IBGE, que a instituio
responsvel pelo clculo das Contas Nacionais do Brasil, adota metodologia em que apresenta
separadamente os trs setores econmicos agricultura, indstria e servios dificultando a anlise
intersetorial.
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1.2 Objetivos
Partindo da percepo dessa nova dinmica de insero da agricultura indstria, que se caracteriza
por um fenmeno de alcance mundial e irreversvel, a perspectiva deste trabalho estudar a evoluo do
Agronegcio Brasileiro no contexto dessas transformaes, em seus mltiplos aspectos.
A compreenso da articulao agricultura/indstria permite aprofundar a teoria sobre o mesmo,
explicitando alguns aspectos estruturais que orientem a reflexo. Do mesmo modo, indiscutvel sua
validade para efeito de subsdios ao planejamento das polticas setoriais como tambm ao gerenciamento do
Agronegcio.
Desta forma, objetiva-se:
Delinear uma metodologia de clculo do Produto Interno Bruto (PIB) para o Agronegcio
Brasileiro;
Decompor as estimativas por segmentos, isto : a) indstria de insumos para a agropecuria; b)
agropecuria; c) indstria de base agrcola; e d) distribuio;
As estimativas obtidas para o setor agropecurio como um todo sero tambm estimadas para os
dois componentes do setor agropecurio, isto , lavoura e pecuria.
No captulo seguinte feita uma reviso de trabalhos que abordam a agricultura sob uma perspectiva
sistmica tanto no que se refere a descrever as transformaes agrcolas nas ltimas dcadas como no de
conceituar as diferentes noes usualmente empregadas.
No terceiro captulo encontram-se as informaes bsicas dos dados utilizados bem como dos
procedimentos metodolgicos adotados. A anlise dos ndices de ligaes interindustriais visando a
determinao de setores-chave tem o intuito de propiciar uma viso mais compreensiva da economia a nvel
nacional e em especial do desempenho e potencial dos setores agrcola e agroindustriais. As abordagens de
identificao de setores-chave tem importncia, uma vez que permitem desenvolver um procedimento
analtico de delimitao dos componentes do Agronegcio. Complementando, apresenta-se o procedimento
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adotado para o clculo do PIB do Agronegcio brasileiro. No captulo 4 encontram-se os resultados
obtidos. Enquanto que os comentrios finais so realizados no ltimo captulo.
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CAPTULO 2
FORMULAES GERAIS SOBRE O AGRONEGCIO
O Agronegcio pode ser definido formalmente como um conjunto formado pela sucesso de
atividades vinculadas produo e transformao de produtos agropecurios e florestais (Mller, 1989).
Entre os grupos econmicos atrelados ao setor agrcola, podemos visualizar um conjunto de atividades
econmicas envolvendo empresas que oferecem produtos e servios para a agricultura, denominado de
indstria para a agricultura, compondo a cadeia retrospectiva da agropecuria, setor a montante, ou seja,
as empresas que se incumbem da produo de bens de capital e de insumos industriais para o setor rural.
Tambm, h aqueles grupos que adquirem da agricultura suas matrias-primas, denominados de
agroindstria e constituindo a cadeia prospectiva da agropecuria, setor a jusante. Como argumenta
Santana (1994) estes grupos, muitas vezes influenciados pela poltica econmica, imprimem agricultura
uma dinmica industrial auxiliando na superao da forma tradicional de produzir no campo. Assim, a
agricultura pode estar vinculada a setores industriais e at mesmo comerciais, dependendo no somente do
crescimento da agroindstria, do mercado interno e de exportao, como tambm da indstria produtora de
insumos e mquinas e das instituies de ensino e pesquisa. Esse conjunto de atividades, agrcolas e
industriais, so interdependentes, mas heterogneos quanto ao grau de importncia na evoluo do
Agronegcio.
Esta definio foi batizada pelo termo Agribusiness por Davis & Goldberg (1957), que o
descreveram como sendo a soma total das operaes de produo e distribuio de suprimentos agrcolas;
das operaes de produo na fazenda; do armazenamento, processamento e distribuio dos produtos
agrcolas e itens produzidos partir deles.
O conceito enfatiza a mudana nas interrelaes entre o setor agrcola e o restante da economia.
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Este conceito procura abarcar todos os vnculos intersetoriais existentes no setor agrcola
deslocando o centro de anlise de dentro para fora da fazenda, substituindo a anlise parcial usualmente
utilizada em estudos sobre economia agrria pela anlise sistmica da agricultura. Cabe ressaltar que a
aferio das interrelaes agricultura indstria-servios s aconteceu quando do desenvolvimento das
tcnicas de insumo-produto, atravs da matriz de relaes intersetoriais especificada por LEONTIEF
(1946).
No Brasil, a abordagem sistmica de Davis e Goldeberg foi utilizada explicitamente por ARAJO
et al. (1990), que realizaram um levantamento das dimenses bsicas do Agribusiness Brasileiro, no seu
todo e na decomposio dos seus agregados principais. As estimativas consolidadas pelos autores foram
baseadas a partir de um conjunto de informaes constantes dos censos econmicos, relatrios de produo e
faturamento de setores industriais, dentre outros. Pelos dados de 1980, tm-se os seguintes valores expressos
em bilhes de dlares, decompostos nos grandes elos da cadeia: o valor dos insumos e dos bens de produo
para a agricultura foi de 8,5 bilhes de dlares ou 11,4%; o valor dos bens produzidos pela agricultura
atingiu 29,3 bilhes de dlares, assim distribudos: produo vegetal - 17,8 bilhes, produo animal - 11,5
bilhes, com uma participao de 27,8% no valor adicionado; o setor de processamento alcanou 52,1
bilhes de dlares, com uma participao de 30,5% no valor adicionado; e o setor de distribuio registrou
um valor de produo de 74,7 bilhes de dlares, com uma participao de 30,3% no valor adicionado.
Desta forma, os negcios do Agribusiness Brasileiro representaram 46% dos gastos relativos ao consumo
total das famlias, correspondendo a uma magnitude equivalente a 32% do PIB brasileiro.
importante destacar que os autores ao estudarem a evoluo do Complexo Agroindustrial
Brasileiro com relao a repartio de seu valor adicionado, verificaram uma mudana acentuada no perodo
compreendido entre 1970 e 1980 (Tabela 2).
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Tabela 2
Distribuio do Valor Adicionado entre os Agregados no
Agronegcio Brasileiro entre 1970 e 1980
Anos Agregado 1970 1980
I - Produo insumos agrcolas 12% 11,4% II - Produo dos agricultores 38% 27,8% III Armazenagem, processamento, distribuio final, etc. 50% 60,8%
Fonte: ARAJO et al. (1990)
Malassis (1968), oriundo da Escola Francesa de Organizao Industrial, tambm se empenhou em
estudar o sistema agroindustrial, levando a cabo diversos trabalhos tericos e empricos dirigidos ao
desenvolvimento do corpo conceitual e metodolgico desse novo ramo da economia. Para esse autor h uma
perspectiva histrica na anlise do Agribusiness, em que o Agronegcio se constitui numa etapa do
desenvolvimento capitalista onde a agricultura se industrializa.
Louis Malassis adota, ainda, uma tica nova para analisar a insero da agricultura no
desenvolvimento econmico global. No primeiro momento, o autor examina a industrializao da
agricultura e seus reflexos. No segundo momento, adota o conceito de complexo agrcola integrado, com o
propsito de descrever e analisar os resultados dos processos de integrao em nvel macroeconmico.
Assim, introduz a anlise dos fluxos e encadeamentos por produto dentro de cada um desses subsetores,
utilizando a abordagem de cadeia ou filire agroalimentar.
Define cadeia agroindustrial como a seqncia de aes fsicas e o conjunto de agentes e
operaes envolvidos na obteno de um produto agroalimentar ou agroindustrial (Malassis, 1968).
Atreladas s cadeias agro-industriais esto as atividades correlatas como a pesquisa voltada produo, os
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servios financeiros, os servios de transporte e de informao, como tambm os mecanismos de
regulao (estrutura de funcionamento dos mercados, a interveno do Estado, etc.).
Outro ponto fundamental, exposto tanto por Davis & Goldberg como por Malassis que com o
desenvolvimento da agroindstria, a produo agrcola se organiza cada vez mais em grupos complexos e
combinaes agroalimentares. Se o grupo de Agribusiness se ocupou em estudar esta articulao em
termos de eficincia econmica na integrao vertical (em nvel de agricultura, de empresas e grupos de
empresas de transformao e de comercializao), a economia agroalimentar na interpretao francesa, e
fundamentalmente de Malassis, se preocupou em demonstrar as relaes de dominao da agricultura pela
agroindstria e as transformaes histricas da economia agroalimentar.9
interessante a esse respeito a colocao de Silva (1991), de que a terminologia utilizada pelo grupo
francs, embora seja marxista, incorpora basicamente a mesma linha dos pesquisadores norte-americanos, j
citados, que conceituaram Agribusiness, ou seja, os seus desdobramentos so sistmicos, enfocando as
relaes de interdependncia entre a agricultura e a indstria, exprimindo uma complementaridade entre as
empresas capitalistas e os produtores rurais em relao a um produto dado.10
Mller (1989) define o Agronegcio como as relaes entre indstria e agricultura na fase em que a
agricultura apresenta intensas conexes para trs, com a indstria para a agricultura, e para frente, com as
agroindstrias. O Agronegcio uma forma de unificao das relaes interdepartamentais com os ciclos
econmicos e as esferas de produo, distribuio e consumo, relaes estas associadas s atividades
agrrias. O autor introduz na anlise uma srie
de informaes tcnicas e econmicas, que apontam a intensificao da relao entre agricultura e indstria,
com a crescente oligopolizao dos setores industriais a montante e a jusante.
9 MALASSIS & PADILLA (1986) propem uma classificao geral da economia da produo e consumo de alimentos,
identificando quatro estgios: 1. Economia agroalimentar pre-agrcola; 2. Economia alimentar agrcola e domstica; 3. Economia alimentar agrcola comercializada e diversificada; e, 4. Economia alimentar agro-industrial internacionalizada.
10 Esta reviso bibliogrfica baseou-se, em grande parte, no extenso estudo sobre complexos agroindustriais desenvolvido por SILVA (1991).
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importante notar que, na definio de Mller, a modernizao da agricultura o resultado da
interao entre industrializao do campo, agroindustrializao das atividades agrrias e mudanas sociais e
polticas entre os grupos sociais.11 Ou seja, a constituio do Agronegcio produto da modernizao e a
sua manuteno e expanso constituem-se no principal vetor da modernizao. Cabe salientar que o autor
enfatiza que a agricultura brasileira no pode ser vista como uma produo industrial stricto sensu, mas
sim como um movimento de industrializao. No Brasil no ocorreu o que se verificou em pases centrais do
capitalismo: a universalizao da industrializao das atividades agrrias. Ou seja, houve a modernizao de
uma parcela da agricultura tradicional, com a manuteno de uma grande faixa atrasada (Tabela 3). A
magnitude do setor agrcola dinmico revela que a industrializao do campo foi parcial segundo regies,
produtos e tipos de produtores. Ademais, enfatiza a enorme participao do Estado no processo de
incorporao das atividades agrrias lgica da forma industrial de produzir e distribuir. Neste texto, Mller
d nfase aos aspectos das mudanas e alteraes de cunho scio-poltico nas interrelaes do Agribusiness.
Para esse autor, a modernizao da agricultura deve ser encarada como um processo geral que
acelera e prepara a base do seu desenvolvimento capitalista, passando a predominar na atividade agrria a
racionalidade empresarial. Esta postura difere grandemente da interpretao de Guimares (1979), que
considera a conexo agricultura/indstria e a conseqente mudana da base tcnica da produo agrcola,
resultado de um desvirtuamento e numa apropriao indevida da indstria do lucro e da renda da terra dos
agricultores.
11 Industrializao do campo definida como uma forte interdependncia entre a agricultura e indstria para a agricultura;
agroindustrializao o processo em que ocorre forte interdependncia entre agricultura e a indstria beneficiadora e processadora; e mudanas sociais referem-se s alteraes nas relaes de trabalho, basicamente.
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Tabela 3
Tipologia da Agricultura Brasileira.
Agricultura (%) % do total Tipo 1 Tipo 2 Atrasada Dinmica Est. rea VP Ano
(*) Grande e mdia empresa
Grande 1.000 ha +
76,0 67,0
24,0 33,0
0,6 0,9
39,6 45,0
12,6
16,1
1970 1980
(*) Latifndio Mdio 50-1000 ha
78,0 63,0
22,0 37,0
15,4 16,9
45,0 42,2
39,6 44,0
1970 1980
(*) Pequena empresa Pequeno 10-50 ha
83,0 68,0
17,0 32,0
32,3 31,5
12,3 10,1
29,9 16,7
1970 1980
(*) Minifndio Micro At 10 ha
91,0 77,0
9,0 23,0
50,6 40,8
3,1 2,5
17,9 12,4
1970 1980
Fonte: MLLER (1989). Obs.: Vide especificaes no texto.
Agricultura dinmica: o ndice expressa a percentagem de estabelecimentos que tomaram emprstimos bancrios para investimento e/ou custeio em relao ao total de estabelecimentos que declararam haver feito despesas (com mo-de-obra, insumos, juros); a agricultura atrasada complementar dinmica.
Est.: percentual de estabelecimentos em relao ao total dos estabelecimentos recenseados.
rea: rea total ocupada pelos estabelecimentos recenseados. VP: valor da produo total.
Como salientado por Leite (1990), est presente em toda a anlise de Mller o papel fundamental da
indstria para a agricultura como elemento dinmico do Agronegcio. A forma de difuso do progresso
tcnico na agricultura passa a depender no somente da diferena de preos relativos dos insumos dos
mercados de fatores, como principalmente das inovaes tecnolgicas, introduzidas pelo setor a montante.
sobretudo este segmento que d o carter nacional s mudanas na agricultura, por se tratar de unidades de
capital oligopolizadas cuja estratgia de acumulao tem o mercado nacional como horizonte.
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Fazemos aqui referncia ao trabalho de Delgado (1985), que analisa o desenvolvimento
agropecurio brasileiro, fazendo um corte histrico de 1960 a 1980, utilizando a abordagem de macro-
complexo, em dois blocos analticos, que enfatizam, num primeiro momento, os aspectos histricos desse
processo recente e, no segundo momento, uma abordagem terica, centrada na experincia brasileira, do
desenvolvimento do capital financeiro na agricultura. O autor descreve um minucioso estudo sobre a
evoluo do setor rural, destacando os elementos de mudana significativa na estrutura econmica, as
transformaes que ocorreram na sociedade como um todo, enfocando o processo de urbanizao, o
comrcio exterior agrcola, mudanas na base tcnica de produo rural e a consolidao concomitante do
sistema nacional de crdito rural, que leva a cabo o projeto de modernizao agrcola.
Delgado corrobora o estudo de Mller (1989) no que se refere ao papel desempenhado pelo setor a
montante no movimento de industrializao agrcola, identificando-o como o cerne da mudana na base
tcnica da produo rural que modifica efetivamente o processo produtivo. deste ramo industrial que
emanam as inovaes que esto incorporadas aos novos meios de produo adotados. A ele se integra todo o
aparato de pesquisa e extenso rural, formando o Departamento de Meios de Produo para a agricultura
(D1), que dirige tecnologicamente a modernizao agrcola. Embora o ramo industrial a jusante (indstria
processadora de alimentos e matrias-primas) tambm induza a mudanas nas tcnicas de produo agrcola,
no que se refere a tipos de produto, exigncias sanitrias, qualidade e homogeneidade da matria-prima,
regularidade de sua entrega, impondo um perfil tecnolgico produo que deve ser seguido pelos
agricultores, por si s, essas exigncias no so suficientes para induzir em geral o movimento de alterao
da base tcnica de produo.
Da anlise realizada por Delgado, queremos destacar o fato desta fundamentar-se na integrao de
capitais e no na integrao tcnico-produtiva. Concebe a integrao tcnica como um momento do
processo mais geral de integrao de capitais ou de fuso de capitais mltiplos em conglomerados, operantes
tambm no setor rural. Segundo o autor, ... o processo de integrao de capitais na agricultura brasileira
revela a presena de uma nova estratgia do grande capital na agricultura e o que distingue a constituio
do Agronegcio e no a integrao das atividades agrrias numa cadeia produtiva. A agricultura passa a se
constituir num ramo da indstria onde ocorre grandes aplicaes de capitais. Esse capital financeiro organiza
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a aplicao dos excedentes financeiros da sociedade, tendo como primordial objetivo uma taxa mdia
de lucro do conjunto de atividades e mercados onde opera. Entre as formas citadas pelo estudo de como se
d o processo de integrao de capitais tem-se: as grandes sociedades annimas e grupos econmicos,
organizados sob a forma de holdings, empresas de participao e administrao, bancos de
investimento, multicooperativas e grandes atacadistas. Outra linha de integrao a disseminao dos
chamados contratos formais ou acordos informais de quase-integrao entre a grande agroindstria e os
pequenos e mdios produtores rurais.
Para Delgado (1985), o Agronegcio brasileiro est atrelado ao Estado, que desempenha funes
patrocinadora, financiadora ou reguladora. Essa dominao crescente da regulao estatal, atravs de seus
aparatos de poltica agrcola, possibilita a captura de margens diferenciais de lucro e ganhos extraordinrios
por parte dos capitais que se integram, ou mais profundamente organizam-se como conglomerados na
agricultura. importante perceber que, para o autor, o eixo de articulao fundamental do Estado a
regulao financeira, administrando os financiamentos, redirecionando os capitais para os diversos ramos
atravs de mecanismos monetrios-financeiros, de penalizaes e incentivos fiscais.
O trabalho de Fonseca (1987), citado por Leite (1990), detalha um pouco mais os aspectos ligados
as inovaes tecnolgicas na agricultura, colocando o setor rural como o segmento demandante de
inovaes de fornecedores especializados e science based, e identificando como a fonte de gerao de
nova tecnologia o setor produtor de bens de produo para a agricultura (mquinas e implementos) e o setor
qumico, concluindo que estes ramos determinam uma trajetria que reflete decisivamente nos demais
setores formadores do Agronegcio.
Estudo do Banco Nacional de Desenvolvimento Econmico e Social (BNDES), coordenado por
Ramalho (1988), teve por objetivo analisar a lgica de crescimento do setor agropecurio e identificar os
ncleos pressionadores de seu dinamismo, onde a abordagem escolhida foi a do Agronegcio.
O trabalho constata a importncia do progresso tecnolgico no desenvolvimento do Agronegcio e
na definio adotada atravs da qual os autores consideram o setor fornecedor para a agropecuria formado
basicamente pelas indstrias produtoras de bens de capital e a indstria qumica, que desempenham o papel
de ncleo gerador do progresso tcnico do Agronegcio, modernizando-o e proporcionando um aumento de
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produtividade. O setor agropecurio visto como sendo o segmento dominado tecnologicamente pelos
fornecedores de mquinas, equipamentos e insumos que promovem as inovaes. Por sua vez, a
viabilizao da introduo do progresso tcnico fica a cargo da agroindstria e da indstria de alimentos
atravs da presso que exercem sobre os produtores, estabelecendo suas compras com base na escala
produtiva, nas especificaes e nos custos da matria-prima, promovendo uma adequao da forma de
organizao da produo deste setor aos requisitos que viabilizam a introduo do padro tecnolgico.
Lauschner (1993) valendo-se dos conceitos desenvolvidos por Davis & Goldberg (1957) e
denominando-os de complexo rural, procura analisar o que significa no contexto da agricultura o complexo
rural, a agroindstria e o futuro da estrutura fundiria das exploraes rurais. A questo central do trabalho
analisar se a grande empresa pode ser benfica para o pequeno produtor se ela for agroindstria, procurando
atravs da anlise de insumo-produto verificar a importncia da agroindstria como agente de gerao de
renda e emprego.
Embora Lauschner considere conveniente, para a anlise da problemtica rural, a viso sistmica de
complexo rural (ou Agribusiness) centraliza sua anlise no segmento de transformao e processamento
agropecurio, reconhecendo que essa abordagem no d conta de entender a dinmica do setor. Argumenta
que as decises do complexo rural situam-se cada vez mais ao nvel dos que transformam os produtos
rurais, ou seja, ao nvel dos gestores das agroindstrias, decorrendo que o setor motriz do complexo dado
pela agroindstria, que transforma a agricultura cada vez mais em uma economia de uso de capital
intensivo. E conclui que a agroindstria o agente econmico que pode oferecer o melhor apoio aos
produtores, como forma de agregar valor, ampliar a renda e o emprego rural, dinamizar as pequenas cidades,
fortalecer a economia frente ao exterior e como instituio de apoio direto das exploraes rurais. O autor
ainda conclui que ... a agroindstria cooperativa o modelo ideal de organizao e de autopromoo do
pequeno produtor rural.
preciso destacar que quando se estuda a agroindstria dentro de uma viso sistmica, um dos
problemas metodolgicos que surgem referente a sua delimitao. Amaro et al.(1987) baseando-se em
conceituaes de alguns organismos internacionais, entre eles a FAO (Food of Agriculture Organization),
BID (Banco Interamericano de Desenvolvimento) e ONUDI (Organizaes das Naes Unidas para o
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Desenvolvimento Industrial) sobre a agroindstria apresenta a seguinte definio: no Complexo
Agroindustrial a agroindstria a unidade produtora integrante dos segmentos funcionalmente localizados
nos nveis de suprimentos produo (indstria a montante), transformao e acondicionamento, e que
transforma o produto agrcola, em primeira ou segunda transformao, para a sua utilizao intermediria ou
final.
A FUNDAO SEADE Sistema Estadual de Anlise de Dados (1990), em seu trabalho sobre a
agroindstria paulista, que teve como principais objetivos, analisar as causas do desenvolvimento recente da
agroindstria no Estado de So Paulo, sua localizao e concentrao, considera a agroindstria como o setor
que realiza o beneficiamento dos produtos agrcolas em sua primeira fase, no computando os produtos
agrcolas em sua fase final.
Por sua vez, Lauschner (1993), mediante critrios especficos, diferencia as agroindstrias em
sentido amplo e restrito. O conceito de agroindstria em sentido amplo refere-se a unidade produtiva que
transforma o produto agropecurio natural ou manufaturado para utilizao intermediria ou final.
Considera a agroindstria em sentido restrito como sendo a unidade produtiva que, por um lado,
transforma, para a utilizao intermediria ou final, o produto agropecurio ou seus subprodutos no
manufaturados; e que, por outro lado, adquire diretamente do produtor rural o mnimo de 25% do valor total
dos insumos utilizados. Assim, a agroindstria em sentido restrito engloba o setor de transformao dos
produtos rurais mais prximo produo rural, no no que tange ao espao geogrfico mas em relao ao
grau de participao dos insumos no processo produtivo. Na definio restrita o autor exclui as indstrias que
utilizam como matria-prima o produto agropecurio j transformado, no considerando, por exemplo, a
indstria txtil, a indstria de calados, indstrias de massa e biscoito, por serem segmentos industriais que
utilizam como matria-prima um produto rural j industrializado e a parcela de insumos que adquirem
diretamente do setor produtivo rural insignificante quando no nula.
No entanto, tanto a distino entre processar e beneficiar quanto a separao feita por Lauschner
entre agroindstria ampla e restrita levam a uma restrio conceitual grande, uma vez que s consideram a
agricultura industrializada (Mller, 1989).
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Mller (1989) reconhece que a distino entre transformar e beneficiar fundamental no
estudo de cadeias agroalimentares mas questiona esta segmentao no mbito da agroindstria, julgando to
relevante a mudana radical na forma do valor de uso quanto seu beneficiamento e conservao. Ressalta
que o mais importante o porte e a concentrao tecnoeconmica dos capitais investidos nos ramos
agroindustriais como tambm a distino entre as formas de produzir.
O autor reconhece que ao se estipular 25% do valor total dos insumos utilizados na transformao
objetiva-se operacionalizar o conceito e delimit-lo. Mas argumenta que este ndice alm de ficar na
dependncia dos preos relativos, uma magnitude diminuta do mesmo pode estar dizendo pouco sobre seu
impacto na agricultura. Como exemplo, cita os casos das indstrias de papel e papelo e borracha. Conclui
ser um corte que dever ser feito ad-hoc, para fins especficos, dependendo do que se quer enfatizar
(agricultura, indstria) e do nvel de agregao.
Um outro ponto citado por Mller que adquire relevncia para a agricultura brasileira que os
setores industriais fornecedores para a agricultura abastecem com suas produes tanto os segmentos
agrcolas que produzem matrias-primas, como soja, trigo, como os segmentos produtores de bens in
natura, como o arroz, feijo, hortifrutigranjeiros, que representam um mercado altamente significativo.
Desta forma conclui que, na anlise do Agronegcio, a conceituao de agroindstria no sentido restrito deve
ser vista com cautela, uma vez que h fluxos associados industrializao do campo que no passam pela
transformao.
Por sua vez, Delgado (1985) define o grupo de indstrias a jusante, componente do Complexo
Agroindustrial, usando os critrios de origem agropecuria das matrias-primas utilizadas e estabelecendo o
limite inferior de 50% de sua participao no valor da produo industrial. Alm disso, faz uma classificao
de ramos industriais neste segmento composto de: produtos alimentares; qumica; fumo; madeiras;
mobilirio; couros e peles; bebidas; txtil; papel e papelo.
Essa ambigidade que o conceito Agronegcio apresenta ainda no est definitivamente
equacionada, havendo bastante controvrsia, e provocando dificuldades metodolgicas e operacionais.
Contudo, no se pode esquecer das limitaes provenientes da forma como as estatsticas nacionais so
computadas.
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No caso de Ramalho (1988), as indstrias compradoras de matrias-primas agropecurias
foram tratadas em duas categorias a agroindstria e a indstria de alimentos. O argumento do autor o de
que a distino entre esses dois ramos deve-se a lgicas concorrenciais distintas (diferenciao do produto,
economia de escala) que podero influenciar de forma diferenciada o setor agropecurio.
Para Ramalho (1988) a agroindstria caracterizada como sendo o primeiro processamento da
matria-prima oriunda do setor agropecurio. Seus produtos so homogneos tendo como mercado a
exportao e outras indstrias. Os principais ramos formadores da agroindstria so: acar e lcool, moinho
de trigo, leos vegetais e suco de laranja. As lgicas concorrenciais adotadas so semelhantes, independente
do segmento de atuao, o que permite trat-los de uma forma agregada. A maior parte desses produtos so
commodities tendo seus preos definidos no mercado internacional. A influncia que exerce sobre o setor
agropecurio no sentido de obter grandes lotes de produo e a custos compatveis com o processamento
agroindustrial. Grande parte das empresas agroindustriais atua tambm na indstria de alimentos,
verticalizando-se, j que seu porte financeiro e a dimenso do mercado conferem capacidade competitiva
para atuao conjunta nos dois ramos de atividade, o que faz com que no Brasil a separao entre
agroindstria e a indstria de alimentos no seja to ntida. A indstria de alimentos tanto pode executar o
processamento da matria-prima adquirida do produtor rural como o da obtida da agroindstria. O que a
diferencia da agroindstria o fato de estabelecer uma relao com o consumidor final, conferindo-lhe
estratgias de comercializao mais elaboradas. Da mesma forma que na agroindstria, a estrutura da
indstria de alimentos pode ser melhor visualizada se segmentada. Tambm, para esse setor as estratgias
concorrenciais so muito semelhantes em todos os subsetores. Neste trabalho, a estrutura das indstrias de
alimentos foi dividida em: massas, caf solvel, torrefaes, laticnios, conservas, frigorficos e diversos.
Especificamente, em relao a afirmao do autor de lgicas concorrenciais semelhantes, cabe
lembrar sempre que h uma falsa homogeneidade do processo de produo de commodities pois na
verdade so ramos distintos, como por exemplo, pecuria, soja e outros, com formas de concorrncias
particulares e processos de formaes de preos peculiares a cada mercado.
No Brasil, a produo de vrios segmentos da indstria de alimentos descentralizada, com
participaes de pequenas e mdias unidades localizadas nas proximidades das zonas de produo agrcola.
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No entanto, o capital, a propriedade ou o controle do mesmo concentrado. A diferenciao de
produtos tem sido a principal forma de expanso da indstria alimentar, que muitas vezes se restringe a
alteraes de embalagens, no ocorrendo modificaes na composio. A procura de novos campos de
valorizao do capital, depois de esgotados os produtos tradicionais de cada empresa, leva-a a investir
pesadamente em novos campos, desenvolvendo novos produtos. Esse perfil de administrao tem reflexos
na estrutura de consumo alimentar da populao, modificando-a e incorporando novos hbitos alimentares.
A produo agropecuria no fica imune a esse processo, tendo de se adequar ao novo tipo de demanda
criada pela indstria de processamento alimentar (Ramalho, 1988).
O fundamental a ressaltar que, independentemente da conceituao adotada para agroindstria, h
um consenso entre os analistas econmicos de que o desenvolvimento agroindustrial o caminho mais
eficiente de um pas adicionar valor sobre o produto agrcola produzido (Goldberg, 1957; Lauschner, 1993).
O desenvolvimento do Agronegcio propicia novos mercados que possibilitam, alm da ampliao da
exportao, gerar rendas e impostos para o pas.
Sorj (1980), utilizando tambm uma perspectiva intersetorial, realiza um trabalho com o objetivo de
caracterizar as transformaes ao nvel da estrutura de classes e do papel desempenhado pelo Estado. O
trabalho focaliza o ciclo histrico de expanso agroindustrial brasileiro, e apresenta uma srie de dados que
corrobora a intensidade das relaes entre agricultura/indstria, sobrepujando os interesses industriais,
apoiados pelas polticas de Estado. Analisa, tambm, a estrutura do Complexo Agroindustrial e as diferentes
formas de insero da produo agrcola, englobando no exame desde o setor D1 (indstria de insumos para
a agricultura) at o setor de supermercados. O autor apresenta a seguinte conceituao para o Agronegcio:
conjunto formado pelos setores produtores de insumos e maquinarias agrcolas, de transformao industrial
dos produtos agropecurios e de distribuio, e de comercializao e financiamento nas diversas fases do
circuito agroindustrial.
Para Sorj ... a integrao da agricultura com a indstria remonta s origens da colonizao do
Brasil, onde a produo agrcola de exportao j era processada internamente. Entretanto, a agroindstria
fornecedora de insumos e bens de capital para o setor agrcola assim como o segmento de processamento de
alimentos em grande escala para o mercado interno podem ser visualizados como um acontecimento
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contemporneo. Atuaram, concomitantemente, os nveis crescentes de acumulao de capital, a
expanso do mercado urbano e o prprio crescimento da agricultura, para a utilizao crescente de
tecnologia avanada. O surgimento do Complexo Agroindustrial s foi possibilitado, na opinio do autor,
pelo desenvolvimento agrcola anterior e se transformou no maior acelerador das transformaes na
agricultura. As caractersticas presentes no Agronegcio so: alto grau de concentrao do capital,
concorrncia oligoplica, presena de recursos estrangeiros e nacionais.
Farina (1988) formula o conceito de Sistema Agroindustrial de alimentos objetivando uma
abordagem sistmica, mas privilegiando o setor alimentar, ancorado nos estudos de organizao industrial.
Para tal, denomina Sistema Agroindustrial de Alimentos (SAA), a cadeia que se inicia na produo agrcola
de culturas alimentares, passa pelo processo de transformao industrial e atravs da rede de distribuio
chega ao consumidor final. O perfil e complexidade de tal sistema esto diretamente associados ao grau de
desenvolvimento econmico do pas e o elo industrial ser to mais importante quanto mais avanado o
processo de industrializao e urbanizao.
No que tange a contribuio do sistema alimentar para a formao do Produto Interno Bruto
Brasileiro, a autora calcula, atravs dos dados dos Censos Comercial, Agrcola e Industrial, a sua
participao em 1980, chegando aos seguintes resultados: o sistema agroindustrial de alimentos responde por
17% do PIB, com a agricultura, a atividade industrial e a distribuio, contribuindo com 72%, 20% e 8%,
respectivamente, no valor de produo (Tabela 4).
Em que pese as diferenas metodolgicas dos diferentes trabalhos e que levam a resultados
diferentes, deve-se observar que Farina trabalha com Valor de Produo para a agricultura e Valor de
Transformao Industrial para a indstria alimentar. Cabe ressaltar que a forma de clculo utilizada leva a
uma superestimativa da importncia do setor agrcola, na medida em que no desconta o valor dos insumos
industriais, o que salientado pela prpria autora. No que se refere ao ramo industrial no inclui as indstrias
ofertantes de insumos e de bens de capital para a agricultura, alm de focalizar somente as indstrias
alimentares.
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Tabela 4
Contribuio do Sistema Alimentar para o PIB do Brasil - 1980
No DE ESTA-
BELECIMENTOS VALOR
ADICIONADO (Cz$ mil)
PARTICIPAO NO SISTEMA ALIMENTAR
1. Agricultura (V.P.) 1.430.181.770 72% 2 . Ind. Alimentar (V.T.I.) Alimentos 48.876 372.940.358 19% Raes 490 21.818.733 1% TOTAL (2) 49.366 394.759.091 20% 3 . Distribuio (V.A.) Atacado 34.249.962 2% Varejo 125.302.537 6% TOTAL (3) 159.552.499 8% TOTAL (1 + 2 + 3) 1.984.493.360 % PIB 17% 100%
Fonte: FARINA (1988) PIB-80 = 11..929.648.800 (Cr$ mil)
Embora a anlise trate o Sistema Agroindustrial de Alimentos como um todo, a premissa bsica de
que o segmento industrial que define sua dinmica, onde a indstria de transformao um segmento
chave nesse sistema, respondendo pela composio do design dos produtos, principalmente os menos
tradicionais, que cada vez mais so incorporados na cesta alimentar da populao. Salienta, tambm, o fato
da indstria transportar, estocar e tornar menos perecveis os alimentos. Particularmente, admite-se que o
comando de direo articulado pelas grandes empresas nacionais e estrangeiras responsveis por novas
tcnicas que permitem uma sincronizao dos fluxos de produo no mercado, diferenciando-a das outras
indstrias de bens de consumo pelo fato de utilizarem insumos agrcolas. A autora adota a teoria do
crescimento da firma onde as unidades bsicas de anlise so as firmas e as estruturas. Dada as
peculiaridades do crescimento da indstria de alimentos (crescimento da renda e do emprego), as inovaes
concentram-se na diversificao dos produtos alimentares finais, numa clara utilizao de estratgias de
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O Agronegcio na Economia Brasileira 1994 a 1999
mercado. importante ressaltar que Farina aponta entre outras falhas, na metodologia usual do
Agronegcio, a no considerao na anlise das estratgias concorrenciais. Streeter et al. (1991), citado por
Santana (1994), seguem a mesma lgica de Farina, abarcando na viso ampla do Complexo Agroindustrial
(Agronegcio), somando cadeia retrospectiva e prospectiva, o consumidor, como agente influente na
localizao dos nichos de mercados. A Figura 1 apresenta esquematicamente tal processo, onde o
Agronegcio visto como um encadeamento de atividades inter-relacionadas, compostas pelas empresas
fornecedoras de insumos para a agricultura, a produo agrcola, as atividades de armazenamento,
distribuio, processamento e os consumidores. Integrando esses segmentos e oferecendo uma estrutura de
apoio, visualiza-se as firmas e o governo, atuando na rea de servios, financiamentos e
pesquisa/desenvolvimento. Streeter e seus colaboradores reconhecem a importncia crescente do
comportamento do consumidor, que passa a atuar decisivamente no desenvolvimento do Agronegcio e
salientam o esforo do setor varejista de comercializao no atendimento dos gostos e preferncias do
consumidor, no sentido de adequ-los aos sinais da demanda. Nesta viso, os produtos traro inseridos uma
gama de servios deles indissociveis e refletiro um novo perfil de demanda. O consumo de alimentos
passa a ser analisado por uma tica que abrange critrios de sade, alm dos nutricionais (protena e energia),
como tambm aumentam os padres de exigncias quanto qualidade e diversificao de produtos dos
consumidores. Neste cenrio, a pesquisa e o desenvolvimento tecnolgico tem contribudo decisivamente
para o aperfeioamento do processo de comercializao, no que se refere s preferncias do consumidor e
tambm no fortalecimento das ligaes de produo, dentro do Agribusiness. Concluem os autores que o
mercado a fora motora que coordena e imprime a dinmica competitiva do complexo agroindustrial.
O estudo extenso e detalhado de Santana (1994) apresenta uma anlise em que o objetivo avaliar,
sob vrios cenrios de poltica econmica, os impactos que a expanso do Agronegcio brasileiro exerce
sobre a produo, o emprego e a distribuio da renda em toda economia.
Utiliza o conceito de macroeconomic linkage, para estimar as influncias das diferentes polticas
econmicas sobre as relaes intersetoriais. Como modelo emprico faz uso da estrutura de equilbrio geral
da economia brasileira, atravs da matriz de contabilidade social, e interpretada por meio da anlise dos
multiplicadores e da estrutura de passos da economia. Para tal utiliza dados de 1975 e 1985.
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Entre os resultados obtidos ressalta-se os referentes anlise dos multiplicadores globais que
mostra forte dependncia intersetorial entre as atividades do Agronegcio e destas com toda economia. As
anlises de interdependncia econmica e de estrutura de passos mostram que as atividades do Agronegcio
apresentam as maiores linkages para frente e/ou para trs, como tambm os melhores canais para a
transmisso dos efeitos, na estrutura da economia brasileira, indicando ser este bloco de atividades
especialmente importante, para receber estmulos visando um crescimento sustentado.
Farina & Zylberstajn (1992), em resenha em que debatem o Sistema Agroindustrial Brasileiro,
analisam as diferentes formas pelas quais os diferentes segmentos componentes do sistema se
interrelacionam para garantir seu processo de acumulao. Essas ligaes podem assumir a forma de uma
completa integrao vertical, relaes impessoais de mercado por meio de sistema de preos, ou podem dar-
se atravs de contratos formais e informais.
Os autores reconhecem que a viso sistmica contm elevado grau de abstrao, uma vez que as
cadeias produtivas apresentam heterogeneidade na dinmica, organizao e desempenho, o que leva a que a
anlise atravs das cadeias agroindustriais expressem melhor as relaes comerciais e tecnolgicas presentes
nos diferentes setores. Entretanto, consideram que a cadeia produtiva pode ser definida como um recorte
dentro do complexo agroindustrial mais amplo privilegiando as relaes entre agropecuria, indstria de
transformao e distribuio, em torno de um produto especfico (frango, leite, laranja, etc.).
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Fonte: STREETER et al. (1991), citado por SANTANA (1994).
Figura 1
Estrutura Representativa da Dinmica e da Coordenao de Atividades do Agronegcio
Coordenao
Tem Tem
Relacionado ao
parade
sobreLigado por
Facilita
Revela
Usando
Via
requer
Descoberta
Preo
AcordosInstitucionais
Atributos doProduto
INFORMAOTECNOLGICA
Variedade
Convenincia
Estabilidade de Preo
Valor
Qualidade
Valor Nutritivo
SeguranaAlimentar
AmbienteEmpresarial
AGENTE
VAREJISTA
CONSUMIDOR
Estratgia deMarketing
Estratgia
de Compra
Gostos ePreferncias
Atacadista
Consistncia/Segurana
de
Todo
Com base em
Valor Adicional
COMPLEXO
AGROINDUSTRIAL
Processamento
Armazenamentoe Distribuio
Agricultores
Fornecedoresde Insumos
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O Agronegcio na Economia Brasileira 1994 a 1999
Outra tendncia deste artigo o de sustentar um novo padro de crescimento para o sistema
agroindustrial, voltado para a crescente diversidade de produtos, onde o papel do consumidor decisivo no
sentido de exercer, cada vez mais, seu poder de compra de forma a orientar as estratgias empresariais.
Assim, o mercado consumidor pode ratificar ou rejeitar as estratgias de crescimento das empresas, e a
crescente organizao, informao e conscientizao dos consumidores tem alterado o super ambiente12
em que as empresas industriais operam, condicionando suas estratgias competitivas.
Em suma, a relevncia da anlise sistmica do Agronegcio j amplamente disseminada
na literatura brasileira onde h um crescente reconhecimento da importncia de uma perspectiva
intersetorial na economia agrcola em substituio aos enfoques tradicionais de anlise econmica
que utilizam a tica de setores primrio - secundrio - tercirio na economia. Sendo assim, o
conceito analtico de Agribusiness se afigura como unidade de anlise adequada para se estudar a
dinmica da agricultura considerando as mltiplas relaes do setor rural com a indstria e os
correspondentes mercados.
No entanto, percebe-se claramente que quando se estuda a agricultura dentro de uma viso global
um dos problemas que surgem referente a noo de complexo a ser adotada. Trata-se de uma conceituao
que depende do que se quer enfatizar.
Furtuoso (1998) tendo como base as matrizes insumo-produto do Brasil de 1980 a 1994 analisa o
comportamento do complexo agroindustrial brasileiro (Agronegcio). Faz uso dos conceitos de ndices de
ligaes, para a definio de setores-chave e desenvolve um procedimento, a partir do ndice Puro de
Ligaes Interindustriais, visando a identificao dos componentes do complexo agroindustrial. Foram
estimados, tambm, o Produto Interno Bruto do setor agrcola e do conjunto de setores vinculados ao setor
rural. Este estudo permite concluir que a agricultura brasileira apresenta um estgio avanado com alto grau
de interligao entre os setores produtivos nacionais e que o complexo agroindustrial brasileiro responde por
aproximadamente 32% do Produto Interno Bruto (PIB). (Tabela 5). Visto de uma perspectiva desagregada,
12 Superambiente definido, pelos autores, como um conjunto de fatores externos empresa, e que dificilmente so afetados por
suas estratgias de crescimento.
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O Agronegcio na Economia Brasileira 1994 a 1999
no perodo 1980/93, os resultados mostram a expressiva perda de peso da agropecuria no PIB do
Agronegcio, passando de 33,8% para 24,6%. A Indstria de Base Agrcola e o segmento de Distribuio
sobressaem-se como plos mais dinmicos, passando de 56% para 66,1%, enquanto a Indstria Para a
Agricultura diminui gradativamente sua participao, passando de 10,3% em 1980 para 9,4% em 1993.
(Tabela 6)
O mtodo de fracionamento matricial13 utilizado (GU) para delimitao do complexo agroindustrial
permite uma mensurao mais precisa do Agronegcio e confirma o firme processo de integrao entre
essas atividades. Isso importante por mostrar o potencial do setor agrcola dentro da estrutura econmica,
por meio dos altos efeitos para trs e para frente.
O modelo analtico desenvolvido neste trabalho foi a base metodolgica utilizada na presente
pesquisa com algumas alteraes introduzidas visando o seu refinamento.
Com base no exposto acima, pode-se definir o Agronegcio como sendo um conjunto formado por:
a) setores industriais que fornecem bens e servios para a agricultura, que se denominar de Indstria para a
Agricultura; b) a agricultura propriamente dita que se subdividir em agricultura e pecuria; c) setores
industriais que tm na agricultura seus mercados fornecedores, que denominaremos de Indstria de Base
Agrcola; e d) o Setor de Distribuio, que englobar os segmentos de transporte, comrcio e servios. A
metodologia utilizada no delineamento do Agronegcio apresentada no prximo captulo, enquanto que os
resultados so apresentados no captulo 4.
13 Para maiores detalhes metodolgicos consultar Furtuoso (1998).
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O Agronegcio na Economia Brasileira 1994 a 1999
Tabela 5
Produto Interno Bruto a Custo de Fatores do
Complexo Agroindustrial Brasileiro e do Brasil: 1980 a 1994
1980 1985 US$(1) Cr$ milhes % US$(1) Cr$ bilhes %
Complexo Agroindustrial
68.508 3.401.432 33,13 65.333 403.848 36,15
Produto Interno Bruto 206.077 10.267.828 100,00 180.444 1.117.245 100,00
1990 1991 US$(1) Cr$ milhes % US$(1) Cr$ milhes %
Complexo Agroindustrial
117.229 8.027.778 29,70 100.376 41.128.411 28,46
Produto Interno Bruto 394.900 27.039.473 100,00 352.604 144.479.802 100,00
1992 1993 US$(1) Cr$ milhes % US$(1) CR$ milhes %
Complexo Agroindustrial
108.096 475.624.242 30,73 121.570 10.764.985 31,98
Produto Interno Bruto 351.744 1.547.675.795 100,00 380.096 33.657.539 100,00
1994 US$(1) R$ milhes %
Complexo Agroindustrial
146.471 93.580,2 31,71
Produto Interno Bruto 461.772 295.026,2 100,00
(1) Calculado pela taxa mdia de cmbio. Fonte: Furtuoso (1998)
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O Agronegcio na Economia Brasileira 1994 a 1999
Tabela 6
Produto Interno Bruto a Custo de Fatores do
Complexo Agroindustrial Brasileiro: 1980 a 1994
1980 1985 Agregados do Complexo Agroindustrial US$(1) Cr$ milhes % US$(1) Cr$ bilhes %
I Indstria para a Agricultura 7.182 348.718 10,25 6.667 40.860 10,12 II Agropecuria 23.204 1.147.902 33,75 20.889 130.418 32,29 III Indstria de Base Agrcola 15.470 772.443 22,71 15.111 92.528 22,91 IV Distribuio Final 22.652 1.132.369 33,29 22.667 140.042 34,68 Complexo Agroindustrial 68.508 3.401.432 100,00 65.333 403.848 100,0
1990 1991 Agregados do Complexo Agroindustrial US$(1) Cr$ milhes % US$(1) Cr$ milhes %
I Indstria para a Agricultura 12.048 825.652 10,29 9.980 4.087.830 9,94 II Agropecuria 33.012 2.261.619 28,17 27.691 11.346.876 27,59 III Indstria de Base Agrcola 25.863 1.770.211 22,05 23.329 9.559.197 23,24 IV Distribuio Final 46.305 3.170.296 39,49 39.376 16.134.507 39,23 Complexo Agroindustrial 117.229 8.027.778 100,0 100.376 41.128.411 100,0
1992 1993 Agregados do Complexo Agroindustrial US$(1) Cr$ milhes % US$(1) Cr$ milhes %
I Indstria para a Agricultura 10.762 47.352.969 9,96 11.371 1.006.887 9,35 II Agropecuria 27.434 120.708.295 25,38 29.880 2.645.906 24,58 III Indstria de Base Agrcola 24.481 107.713.622 22,65 27.788 2.460.617 22,86 IV Distribuio Final 45.420 199.849.356 42,01 52.530 4.651.575 43,21 Complexo Agroindustrial 108.096 475.624.242 100,0 121.570 10.764.985 100,0
1994 Agregados do Complexo Agroindustrial US$(1) R$ milhes %
I Indstria para a Agricultura 13.332 8.517,92 9,10 II Agropecuria 48.107 30.735,35 32,84 III Indstria de Base Agrcola 30.668 19.593,98 20,94 IV Distribuio Final 54.364 34.732,96 37,12 Complexo Agroindustrial 146.471 93.580,20 100,0
1 Calculado pela taxa mdia de cmbio Fonte: Furtuoso (1998)
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CAPTULO 3
REFERENCIAL TERICO
3.1 Fonte e Tratamento das Informaes Bsicas
Para efeito desse trabalho utilizam-se as informaes provenientes das matrizes de insumo-produto
calculadas oficialmente pelo IBGE correspondente ao perodo de 1985 a 1996 e integradas ao Novo Sistema
de Contas Nacionais do IBGE. Vale mencionar que se tratam das ltimas informaes disponveis na
matria apresentando, assim, o mximo grau de atualidade possvel. Utilizam-se, tambm, dados das Contas
Nacionais e do Censo Agropecurio de 1995/1996, e atravs de vrias tcnicas de anlise e de delineamentos
de complexos produtivos faz-se o delineamento e mensurao do complexo do agronegcio no Brasil.
Tendo em vista o objetivo do presente trabalho, de quantificao do PIB do Agronegcio, a Matriz
de insumo-produto um instrumento adequado para esse fim, uma vez que a anlise dos fluxos de bens e
servios na economia e dos aspectos bsicos do processo de produo - estrutura de produo e de insumos
das atividades, assim como a gerao primria da renda (Salrios, Encargos Sociais e demais Rendimentos
do trabalho; Excedente Operacional Bruto das Atividades Econmicas; Impostos e Subsdios sobre as
Atividades Econmicas) so os principais objetos das Tabelas de insumo-produto.
As matrizes de insumo-produto de 1980 a 1996 fazem parte fundamental do Novo Sistema de
Contas Nacionais (NSCN) do IBGE e apresentam alteraes metodolgicas em relao s matrizes
anteriormente publicadas, 1970 e 1975, principalmente no que diz respeito ao conceito de produo. Nos
anos em questo, utilizou-se um conceito amplo de produo com o intuito de englobar, por exemplo, a
parcela da economia no computada nos censos econmicos. O tratamento dos dados bsicos se encontra no
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O Agronegcio na Economia Brasileira 1994 a 1999
texto Novo Sistema de Contas Nacionais Metodologia e Resultados Provisrios Ano Base 1980
- volume I - no 10 - dez. 1988 - DPE.
O princpio bsico adotado pelo IBGE na definio do processo de produo o de considerar a
unidade produtiva, o estabelecimento (local fsico) onde se realiza uma nica atividade econmica. As
atividades so formadas agregando-se os estabelecimentos com estruturas relativamente homogneas de
consumo e produo. levado em conta que as unidades produtivas podem produzir produtos tpicos de
outras atividades; os estabelecimentos so classificados pela produo principal, resultando assim uma
produo secundria de produtos no representativos de sua atividade (FIBGE, 1988).
Segundo o IBGE, a construo da classificao de atividades nas Tabelas de Insumo-Produto feita
baseada no conjunto de estabelecimentos j classificados nos censos econmicos e inquritos especiais, e
adota critrios de homogeneidade quanto a mercados (destino de bens e servios produzidos) e tecnologia
(semelhana de insumos ou processos de produo). Em relao aos bens e servios, so reunidos
considerando-se a homogeneidade quanto origem atividade produtora e procedncia nacional ou
importada e ao destino tipo de consumidor e/ou usos especficos dentro de cada grupo.
Os dados setoriais contendo as informaes da agropecuria foram desagregados em dois setores: a)
Agricultura (incluindo extrativa vegetal); e b) Pecuria. O restante da agregao original (IBGE) foi mantida,
resultando em uma matriz de 43 setores.14
O procedimento utilizado para a desagregao do setor agropecurio, em dois subsetores,
Agricultura e Pecuria, foi realizado ponderando-se os valores de produo e de insumos pela participao
de cada produto no valor de produo total e de consumo intermedirio total, de acordo com os dados do
Censo Agropecurio de 1995 e quando no disponvel dos Censos de anos anteriores.
No caso da Agricultura so consideradas as informaes disponveis para: caf em coco, cana-de-
acar, arroz em casca, trigo em gro, soja em gro, algodo em caroo, milho em gro e outros produtos da
14 Os dados disponveis tm a sua apresentao numa abordagem do tipo produto por setor, permitindo que cada produto seja
produzido por mais de um setor e que cada setor produza mais de um produto, ou seja, a matriz de produo e a matriz de insumos devem ser combinadas gerando o enfoque de Leontief (setor x setor) conforme descritos em Miller e Blair (1985).
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lavoura. Para a Pecuria, utilizam-se os dados referentes a bovinos e sunos, leite natural, aves vivas e
outros produtos da pecuria.
3.2 Ligaes interindustriais e setores-chave
Visando o delineamento do Agronegcio brasileiro realiza-se a anlise dos setores-chave que nos
permite visualizar a economia em questo e em especial os setores agrcola e agroindustriais.
A identificao de setores-chave passa necessariamente pela definio de ndices de ligaes
interindustriais. Neste campo existem recentes metodologias para estimativas de ligaes, mais consistentes
matematicamente. Os novos mtodos de medio possibilitam uma viso mais ampla da economia, mas no
substituem as abordagens tradicionais, uma vez que os vrios procedimentos so complementares entre si.15
Essas anlises permitem obter informaes sobre a economia em questo e inferir como se
comporta frente s polticas setoriais.
3.2.1 Os ndices de Rasmussen-Hirschman
Segundo Leontief (1951), os fluxos intersetoriais, em uma dada economia, podem ser determinados
por fatores econmicos e tecnolgicos a partir de um sistema de equaes simultneas, da forma:
X AX Y= + (1)
onde X um vetor (n x 1) que denota o valor da produo total por setor; Y um vetor (n x 1) do valor da
demanda final setorial; e A representa a matriz (n x n) dos coeficientes tcnicos de produo, isto , a matriz
de coeficientes diretos de insumos de ordem (n x n). Neste modelo, o vetor de demanda final geralmente
tratado como exgeno, assim o vetor de produo total