Relatório de Inflação

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Relatório de Inflação Volume 21 | Número 4 | Dezembro 2019 ISSN 1517-6576

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Relatório de InflaçãoVolume 21 | Número 4 | Dezembro 2019

ISSN 1517-6576

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ISSN 1517-6576CNPJ 00.038.166/0001-05

Relatório de Inflação Brasília v. 21 nº 4 dez. 2019 p. 1‑73

Relatório de InflaçãoVolume 21 | Número 4 | Dezembro 2019

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É permitida a reprodução das matérias, desde que mencionada a fonte: Relatório de Inflação, volume 21, nº 4.

Convenções estatísticas

... dados desconhecidos. - dados nulos ou indicação de que a rubrica assinalada é inexistente.0 ou 0,0 menor que a metade do último algarismo, à direita, assinalado. * dados preliminares.

O hífen (-) entre anos (1970-1975) indica o total de anos, incluindo-se o primeiro e o último.A barra (/) entre anos (1970/1975) indica a média anual dos anos assinalados, incluindo-se o primeiro e o último, ou, se especificado no texto, o ano-safra ou o ano-convênio.

Eventuais divergências entre dados e totais ou variações percentuais são provenientes de arredondamento.

Não é citada a fonte dos quadros e dos gráficos de autoria exclusiva do Banco Central do Brasil.

Atendimento ao Cidadão

Banco Central do BrasilSBS – Quadra 3 – Bloco B – Edifício-Sede – 2º subsolo70074-900 Brasília – DFTelefone: 145 (custo de ligação local)Internet: <https://www.bcb.gov.br/acessoinformacao/faleconosco>

Relatório de InflaçãoPublicação trimestral do Comitê de Política Monetária (Copom), em conformidade com o Decreto nº 3.088, de 21 de junho de 1999.

Os textos, os quadros estatísti cos e os gráficos são de responsabilidade dos componentes nomeados a seguir:

– Departamento Econômico (Depec) (E-mail: [email protected]);

– Departamento de Estudos e Pesquisas (Depep) (E-mail: [email protected]);

− Departamento de Assuntos Internacionais (Derin) (E-mail: [email protected]);

− Departamento de Estatísticas (DSTAT) (E-mail: [email protected]).

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Princípios de Condução da Política Monetária no BrasilMissão e objetivosO Banco Central do Brasil (BCB) tem como missão assegurar a estabilidade do poder de compra da moeda e um sistema financeiro sólido e eficiente. O cumprimento da missão de assegurar a estabilidade de preços se dá por meio do regime de metas para a inflação, definidas pelo Conselho Monetário Nacional.

A experiência, tanto doméstica quanto interna‑cional, mostra que a melhor contribuição da política monetária para que haja crescimento econômico sustentável, desemprego baixo e melhora nas condições de vida da população é manter a taxa de inflação baixa, estável e previsível.

A literatura econômica indica que taxas de inflação elevadas e voláteis geram distorções que levam a aumento dos riscos e impactam negativamente os investimentos. Essas distorções encurtam os horizontes de planejamento das famílias, empresas e governos e deterioram a confiança de empresários. Taxas de inflação elevadas subtraem o poder de compra de salários e de transferências, com repercussões negativas sobre a confiança e o consumo das famílias. Além disso, produzem dispersão ineficiente de preços e diminuem o valor informacional que os mesmos têm para a eficiente alocação de recursos na economia.

Inflação alta e volátil tem, ainda, efeitos redistributivos de caráter regressivo. As camadas menos favorecidas da população, que geralmente têm acesso mais restrito a instrumentos que as protejam da perda do poder de compra da moeda, são as mais beneficiadas com a estabilidade de preços.

Em resumo, taxas de inflação elevadas reduzem o potencial de crescimento da economia, afetam a geração de empregos e de renda, e pioram a distribuição de renda.

ImplementaçãoA política monetária tem impacto sobre a economia com defasagens longas, variáveis e incertas, usualmente estimadas em até dois anos. Devido à substancial incerteza associada a projeções de inflação no horizonte relevante para a condução da política monetária, em grande medida decorrente da incidência natural de choques favoráveis e desfavoráveis na economia ao longo do tempo, é de se esperar que, mesmo sob condução apropriada da política monetária, a inflação realizada oscile em torno da meta. O Copom deve procurar conduzir a política monetária de modo que suas projeções de

inflação apontem inflação convergindo para a meta. Dessa forma, é natural que a política monetária seja realizada olhando para o futuro.

O arcabouço de metas para a inflação no Brasil é flexível. O horizonte que o BCB vê como apropriado para o retorno da inflação à meta depende tanto da natureza dos choques que incidem sobre a economia quanto de sua persistência.

O BCB entende que uma comunicação clara e transparente é fundamental para que a política monetária atinja seus objetivos de maneira eficiente. Assim, regularmente o BCB publica avaliações sobre os fatores econômicos que determinam a trajetória da inflação, além de riscos potenciais a essa trajetória. Os Comunicados e Atas do Copom, e o Relatório de Inflação são veículos fundamentais na comunicação dessas avaliações.

Relatório de InflaçãoAs projeções para a inflação são apresentadas em cenários com condicionantes para algumas variáveis econômicas. Tradicionalmente, os condicionantes referem‑se às trajetórias da taxa de câmbio e da taxa do Sistema Especial de Liquidação e de Custódia (Selic) ao longo do horizonte de projeção. Essas trajetórias normalmente são oriundas das expectativas coletadas pela pesquisa Focus, realizada pelo BCB com analistas independentes, ou consideram constantes os valores dessas variáveis. Os cenários apresentados envolvem uma combinação desses condicionantes. Cenários alternativos também podem ser apresentados. É importante ressaltar que esses cenários são alguns dos instrumentos quantitativos que servem para orientar as decisões de política monetária do Copom, e que seus condicionantes não constituem e nem devem ser vistos como previsões do Comitê sobre o comportamento futuro dessas variáveis.

As projeções condicionais de inflação divulgadas neste Relatório contemplam intervalos de probabilidade que ressaltam o grau de incerteza associado às mesmas. As previsões de inflação dependem não apenas dos condicionamentos feitos para as taxas de juros e de câmbio, mas também de um conjunto de pressupostos sobre o comportamento de variáveis exógenas. O Copom utiliza um conjunto amplo de modelos e cenários, com condicionantes a eles associados, para orientar suas decisões de política monetária. Ao expor alguns desses cenários, o Copom procura dar maior transparência às decisões de política monetária, contribuindo para sua eficácia no controle da inflação, que é seu objetivo precípuo.

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Em 19 de dezembro, mesma data da publicação original, correções foram efetuadas no boxe “Atualização da estrutura de ponderação do IPCA e repercussão nas suas classificações”. Foram retiradas as menções a “artigos ortopédicos” nas tabelas e no texto. No texto da página 52, o original "... experimentarão ajustes pontuais: “tapete” e “artigos ortopédicos”, que estavam classificados como bens semiduráveis, passarão a integrar o grupo de bens duráveis; ..." foi substituído por " ...experimentarão ajustes pontuais: "tapete", que estava classificado como bem semidurável, passará a integrar o grupo de bens duráveis; ...".Na tabela 5 as alterações de classificação foram: exclusão do item “Frango” dos itens não comercializáveis; substituição do trecho “Recreação (exceto Jogos de azar)” por “Recreação (exceto Jogos de azar, Instrumento musical, Bicicleta, Alimento para animais, Brinquedo e Material de caça e pesca)”; e substituição do trecho “Serviços pessoais (exceto Cartório)” por “Serviços pessoais (exceto Cartório e Conselho de classe) ”.Na tabela 6 os pesos de alguns componentes, na nova classificação, foram corrigidos: Livres, de 74,97% para 74,91%; Serviços subjacente, de 21,72% para 21,66%; Serviços ex-subjacente, de 15,49% para 15,55%; Bens industriais, de 24,64% para 24,59%; Bens industriais semi-duráveis, de 6,35% para 6,29%; Monitorados, de 25,03% para 25,09%; e Não-comercializáveis, de 44,10% para 44,04%. Ademais, os nomes de alguns itens e subitens foram substituídos nas tabelas 3, 4 e 5 para refletirem a nomenclatura que passará a ser usada pelo IBGE com a adoção da nova estrutura. As alterações foram: de “Milho” para “Milho (em grão)”, de “Palombeta” para “Peixe-palombeta”, de “Filhote” para “Peixe-filhote”, de “Aruanã” para “Peixe-aruanã”, de “Salmão (pescados)” para “Peixe-salmão”, de “Microcomputador” para “Computador pessoal”, de “Telefone fixo” para “Plano de telefonia fixa” e de “Telefone celular” para “Plano de telefonia móvel”.

Errata

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Sumário

Princípios de Condução da Política Monetária no Brasil 3

Sumário executivo 7

Conjuntura econômica 111.1 Cenário externo________________________________________________________________________ 11

1.2 Conjuntura interna _____________________________________________________________________ 14

Atividade econômica e mercado de trabalho _____________________________________________ 14

Crédito _______________________________________________________________________________ 19

Fiscal _________________________________________________________________________________ 22

Demanda externa e Balanço de Pagamentos ______________________________________________ 23

1.3 Inflação e expectativas de mercado ______________________________________________________ 25

Índices de preços ______________________________________________________________________ 26

Índice de difusão e núcleos ______________________________________________________________ 28

Expectativas de mercado _______________________________________________________________ 28

Perspectivas para a inflação 612.1 Revisões e projeções de curto prazo _____________________________________________________ 62

2.2 Projeções condicionais __________________________________________________________________ 63

2.3 Condução da política monetária e balanço de riscos _______________________________________ 67

BoxesProjeções para crescimento do PIB em 2019 e 2020 ___________________________________________ 29

Evolução dos mercados de trabalho formal e informal nos recentes ciclos

de atividade econômica _________________________________________________________________ 32

Indicadores de subutilização da força de trabalho ajustados por horas trabalhadas _______________ 37

Projeção para a evolução do crédito em 2019 e 2020 __________________________________________ 41

Projeção para o Balanço de Pagamentos de 2019 e 2020 ______________________________________ 43

Evolução recente da balança comercial ______________________________________________________ 46

Atualizações da estrutura de ponderação do IPCA e repercussão nas suas classificações __________ 51

Impacto de atualizações na cesta de referência do IPCA _______________________________________ 56

Proxy da taxa de juros estrutural implícita nas expectativas da pesquisa Focus ___________________ 59

Apêndice 69

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Sumário executivo

Dados de atividade econômica a partir do segundo trimestre indicam que o processo de recuperação da economia brasileira ganhou tração, em relação ao observado até o primeiro trimestre de 2019. O cenário do Copom supõe que essa recuperação seguirá em ritmo gradual.

No terceiro trimestre de 2019, o Produto Interno Bruto (PIB) registrou o segundo aumento consecutivo na margem, confirmando a retomada do processo de recuperação econômica. Do lado da oferta, houve crescimento dos três setores da economia, destacando‑se, no âmbito da atividade industrial, os avanços da indústria extrativa e da construção civil. Pela ótica da demanda, o consumo das famílias segue em trajetória consistente de expansão, sustentado pelos aumentos da massa salarial e do crédito às pessoas físicas e, na margem, pelos efeitos iniciais da liberação de recursos do Fundo de Garantia por Tempo de Serviço (FGTS) e do Programa de Integração Social (PIS)/ Programa de Formação de Patrimônio do Servidor Público (Pasep). Houve também expansão da formação bruta de capital fixo (FBCF), influenciada pela importação de equipamentos para extração de petróleo e pelo desempenho da construção civil.

Resultados positivos dos indicadores de atividade econômica divulgados desde o Relatório de Inflação anterior contribuíram para a elevação das projeções de crescimento do PIB. Para 2019, a projeção passou de 0,9% para 1,2%, considerando, principalmente, o maior carregamento estatístico e os estímulos da liberação extraordinária de recursos do FGTS e do PIS/Pasep no quarto trimestre, que se intensificaram com a antecipação no cronograma de saques. A projeção para o crescimento do PIB em 2020 foi revista de 1,8% para 2,2%. Ressalte‑se que essa perspectiva está condicionada ao cenário de continuidade das reformas e ajustes necessários na economia brasileira.

Os dados sugerem que a economia segue operando com alto nível de ociosidade dos fatores de

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produção, refletido nos baixos índices das medidas tradicionais de utilização da capacidade da indústria e, principalmente, na taxa de desemprego.

No cenário externo, a provisão de estímulos monetários nas principais economias, em contexto de inflação abaixo das metas, tem sido capaz de produzir ambiente relativamente favorável para economias emergentes.

As expectativas de inflação para 2019, 2020, 2021 e 2022 apuradas pela pesquisa Focus encontram‑se em torno de 3,8%, 3,6%, 3,75% e 3,5%, respectivamente.

O Copom avalia que diversas medidas de inflação subjacente encontram‑se em níveis confortáveis, inclusive os componentes mais sensíveis ao ciclo econômico e à política monetária.

No que se refere às projeções condicionais de inflação, no cenário com trajetórias para a taxa de juros e câmbio extraídas da pesquisa Focus, as projeções do Copom situam‑se em torno de 4,0% para 2019, 3,5% para 2020 e 3,4% para 2021. Esse cenário supõe trajetória de juros que encerra 2019 em 4,50% a.a., reduz‑se para 4,25% no início de 2020, encerra o ano em 4,50% e se eleva até 6,25% a.a. em 2021. Também supõe trajetória para a taxa de câmbio que termina 2019 em R$4,15/US$, 2020 em R$4,10/US$ e 2021 em R$4,00/US$. No cenário com trajetória de taxa de juros da pesquisa Focus e taxa de câmbio constante em R$4,20/US$ , as projeções condicionais para a inflação situam‑se ao redor de 4,0% para 2019, 3,7% para 2020 e 3,7% para 2021.

As projeções apresentadas utilizam o conjunto de informações disponíveis até a reunião do Copom realizada em 10 e 11.12.2019 (227ª reunião). Para os condicionantes utilizados nas projeções, em especial os advindos da pesquisa Focus, realizada pelo Banco Central do Brasil, a data de corte é 6.12.2019, a menos de indicação contrária.

Em sua reunião mais recente (227ª reunião), o Copom decidiu, por unanimidade, pela redução da taxa básica de juros em 0,5 ponto percentual, para 4,50% a.a. O Comitê entende que essa decisão reflete seu cenário básico e balanço de riscos para a inflação prospectiva e é compatível com a convergência da inflação para a meta no horizonte relevante para a condução da política monetária, que inclui o ano‑calendário de 2020 e, em grau menor, o de 2021.

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Na ocasião, o Comitê comunicou que seu cenário básico para a inflação envolve fatores de risco em ambas as direções. Por um lado, (i) o nível de ociosidade elevado pode continuar produzindo trajetória prospectiva abaixo do esperado. Por outro lado, (ii) o atual grau de estímulo monetário, que atua com defasagens sobre a economia, em um contexto de transformações na intermediação financeira, aumenta a incerteza sobre os canais de transmissão e pode elevar a trajetória da inflação no horizonte relevante para a política monetária. O risco (ii) se intensifica no caso de (iii) deterioração do cenário externo para economias emergentes ou (iv) eventual frustração em relação à continuidade das reformas e à perseverança nos ajustes necessários na economia brasileira.

O Copom reitera que a conjuntura econômica prescreve política monetária estimulativa, ou seja, com taxas de juros abaixo da taxa estrutural.

O Copom avalia que o processo de reformas e ajustes necessários na economia brasileira tem avançado, mas enfatiza que perseverar nesse processo é essencial para permitir a consolidação da queda da taxa de juros estrutural e para a recuperação sustentável da economia. O Comitê ressalta ainda que a percepção de continuidade da agenda de reformas afeta as expectativas e projeções macroeconômicas correntes.

O Copom entende que o atual estágio do ciclo econômico recomenda cautela na condução da política monetária. O Comitê enfatiza que seus próximos passos continuarão dependendo da evolução da atividade econômica, do balanço de riscos e das projeções e expectativas de inflação.

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Conjuntura econômica

Este capítulo do Relatório de Inflação analisa a evolução recente da conjuntura econômica, considerando o cenário internacional e doméstico, bem como as perspectivas para a economia do país nos próximos trimestres. A avaliação do cenário internacional aborda as principais economias avançadas e emergentes, com ênfase em aspectos que tendem a exercer influências sobre a economia brasileira, em especial, os indicadores de inflação e de atividade.

A análise da conjuntura doméstica abrange os principais condicionantes da atividade econômica, considerada tanto pela evolução das contas nacionais como pela trajetória de indicadores setoriais de maior frequência e tempestividade. Avaliam‑se também os aspectos centrais associados aos movimentos no mercado de trabalho, à evolução do mercado de crédito, aos desempenhos das contas públicas e das contas externas do país. A seção final do capítulo analisa o comportamento da inflação e das expectativas de mercado, considerando as trajetórias dos principais indicadores de preços.

1.1 Cenário externo

A atividade global continua em desaceleração gradual, embora indicadores mais recentes sinalizem alguma estabilização. O ritmo de crescimento da atividade no terceiro trimestre aumentou ligeiramente nos Estados Unidos da América (EUA) e Área do Euro e recuou no Japão e na China. Para o quarto trimestre, indicadores relacionados com atividade divulgados para os meses de outubro e de novembro sugerem que a desaceleração permanece como cenário central, mas há indícios localizados de estabilização. Os preços ao consumidor e os núcleos de inflação nas economias centrais continuam abaixo das metas de médio prazo para a inflação. A postura acomodatícia disseminada dos bancos centrais de economias avançadas e emergentes tem contribuído para oferecer suporte ao crescimento, com condições

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-3-2-101234567

EUA Área do Euro Japão Reino Unido China*

Gráfico 1.1 – PIB1/%

1/ Var% T/T-1. Taxas anualizadas, c/ajuste sazonal. Último: 3º tri/2019.* China: Var% T/T-4, sem ajuste sazonalFonte: Bloomberg.

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financeiras globais mais frouxas e redução da probabilidade de cenários de cauda para a atividade.

Os movimentos recentes de preços de ativos financeiros internacionais têm revelado incertezas quanto aos sinais de estabilização da atividade, mas principalmente a ansiedade com a resolução da disputa comercial entre EUA e China. A curva de juros americana atual indica arrefecimento das preocupações com uma recessão global, quando comparada à curva de setembro.

Com condições financeiras globais mais frouxas, o apetite por ativos mais arriscados de economias avançadas e emergentes aumentou desde o Relatório de Inflação de setembro. A queda no diferencial de juros tem contribuído para manter certa apreciação do dólar frente a uma cesta de moedas de economias emergentes. Nas últimas semanas, eventos idiossincráticos e o aumento da incerteza no ambiente de negócios têm causado maior volatilidade nos mercados de câmbio, particularmente na América Latina. Apesar desse contexto específico local, as condições financeiras globais mais frouxas revelam um ambiente externo relativamente mais favorável para as economias emergentes desde o Relatório de setembro.

Nos EUA, o PIB cresceu 2,1% no terceiro trimestre (taxa trimestral anualizada), com contribuição dominante do consumo e sinais de fraqueza no investimento. Dados parciais do quarto trimestre sugerem persistência dessa composição, ainda sem evidências para a retomada de investimento, tendo a demanda externa bastante pressionada pelas incertezas do comércio global. O mercado de trabalho mantém ritmo robusto de geração de postos de trabalho, com aumento da taxa de participação e crescimento gradual dos rendimentos. Os preços ao consumidor seguem sem demonstrar pressões significativas e o deflator dos gastos com consumo (PCE, em inglês) continua abaixo da meta de política monetária. O núcleo de serviços tem se mantido em patamar moderado nos últimos meses, enquanto o núcleo de bens continua em deflação persistente, apesar do movimento de alta recente. O Comitê de Política Monetária (FOMC) do Federal Reserve reduziu a taxa dos Fed Funds em 0,25 p.p. na reunião de outubro, continuando o ciclo atual que já soma 0,75 p.p. Na visão do FOMC, a economia americana tem apresentado crescimento próximo ao potencial, ausência de pressões inflacionárias e perspectivas positivas, entretanto, as incertezas associadas ao cenário

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Jan2017

Abr Jul Out Jan2018

Abr Jul Out Jan2019

Abr Jul Out

EUA Área do Euro Japão Reino Unido

Gráfico 1.4 – Inflação (núcleo), economias avançadas Variação % anual

Fonte: Bloomberg

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Global EUA Área doEuro

Japão China Ásia Em. Am. Latina

2017 2018 2019 2020

Gráfico 1.2 – Projeções de crescimento1/%

1/ Var% A/A-1. Taxas realizadas em 2017/18 e projetadas 2019/20.Fonte: Bloomberg

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Fev2017

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Mai Ago Nov Fev2019

Mai Ago Nov

Manufatura Novas encomendas de exportaçãoFonte: Thomson Datastream

Gráfico 1.3 – PMI GlobalÍndice de difusão

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externo têm produzido efeitos negativos sobre a atividade.

Na Área do Euro, a atividade cresceu 0,2% (taxa trimestral) no terceiro trimestre, com todos os países‑membros registrando crescimento. A Alemanha cresceu 0,1%, evitando uma recessão técnica após a contração de 0,2% na atividade do segundo trimestre. Indicadores antecedentes sinalizam manutenção do ritmo no quarto trimestre. As projeções para 2020 sugerem crescimento disseminado, porém abaixo do produto potencial. Os riscos de uma desaceleração mais pronunciada continuam, porém os efeitos da incerteza sobre o investimento e os riscos de propagação da queda da indústria de transformação sobre o setor de serviços têm se revelado contidos até agora. As medidas de política monetária anunciadas em setembro pelo Banco Central Europeu (BCE) podem oferecer sustentação para a atividade; entretanto, a possibilidade de uma resposta fiscal nos países com espaço estrutural tem se mostrado desafiadora, diante das dificuldades de coordenação política e do sistema de incentivos estabelecidos para a consolidação fiscal do bloco.

No Japão, o PIB registrou crescimento de 1,8% (taxa trimestral anualizada) no terceiro trimestre, acima das expectativas de mercado, mas refletindo uma desaceleração frente aos períodos anteriores. A demanda interna cresceu em todos os componentes, de maneira similar ao segundo trimestre. O consumo privado teve a maior contribuição, com influência da antecipação de compras associada ao aumento da alíquota do Imposto sobre Valor Agregado (IVA) em outubro.1 As exportações líquidas mostraram novamente contribuição negativa, consistente com os sinais de fraqueza da demanda externa. As expectativas indicam que a economia japonesa deve experimentar acentuada contração no quarto trimestre, em decorrência da antecipação de compras pelo aumento do imposto. A continuidade dos vetores diminutivos de crescimento que vêm do setor externo deve afetar o desempenho do Japão também em 2020. Por outro lado, as medidas fiscais anunciadas nas últimas semanas podem ajudar a rebalancear as perspectivas para a atividade japonesa.

Na China, a economia cresceu 6,0% (taxa interanual) no terceiro trimestre, a menor taxa desde 1992. A atividade continua em ritmo de moderação do

1/ A alíquota do IVA, no Japão, aumentou de 8% para 10% em 1º de outubro de 2019, incidindo sobre a maioria dos produtos. O ajuste nas alíquotas do IVA é uma medida de consolidação fiscal planejada em duas fases: a primeira etapa teve um aumento da alíquota de 5% para 8% em 1º de abril de 2014.

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Gráfico 1.5 – Índice de Incerteza*Média de longo prazo = 100

Fonte: Bloomberg*Baker-Bloom-Davis US economic policy uncertainty index.

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consumo total e do investimento, registrando patamares inferiores aos de 2018. Em relação ao segundo trimestre (crescimento de 6,1% na taxa interanual), o setor externo contribuiu positivamente, mas continua em desaceleração. O prolongamento das incertezas sobre uma resolução para a disputa comercial com os EUA e os efeitos das tarifas vigentes têm reduzido a confiança de empresas e famílias, o que torna mais complexa a sustentação do processo estrutural de desalavancagem. Os riscos associados a um cenário de desaceleração mais pronunciada na China permanecem.

Em síntese, o cenário externo mostra um processo gradual de diminuição do ritmo do crescimento global, porém com redução dos riscos de cauda e sinais tentativos de estabilização da atividade. Por sua vez, os índices de preços ao consumidor nas economias avançadas continuam com variações abaixo das metas para a inflação e sem mostrar pressões adicionais. Apesar de um balanço de riscos mais favorável, permanecem incertezas relacionadas à sustentação do crescimento global, à disputa comercial entre EUA e China e ao desfecho do Brexit. Com a atuação sincronizada dos bancos centrais de países avançados e emergentes para ajustamento das políticas monetárias, as condições financeiras globais mostram relativo afrouxamento, com a recuperação do apetite ao risco dos investidores internacionais por ativos de maior retorno nas economias avançadas e emergentes.

1.2 Conjuntura interna

Atividade econômica e mercado de trabalho

Dados de atividade econômica a partir do segundo trimestre indicam que o processo de recuperação da economia brasileira ganhou tração, em relação ao observado até o primeiro trimestre de 2019.

De acordo com dados das Contas Nacionais Trimestrais (CNT), o PIB cresceu 0,6% no terceiro trimestre de 2019, em relação ao trimestre anterior (dados com ajuste sazonal), quando crescera 0,5%.2 O resultado repercutiu, sob a ótica da oferta, avanços respectivos de 1,3%, 0,8% e 0,4% na agropecuária,

2/ Ressalte‑se que as estatísticas das CNT divulgadas pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) em dezembro incorporaram revisões do desempenho do PIB no primeiro trimestre (de ‑0,1% para 0,0%) e no segundo trimestre (de 0,4% para 0,5%).

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27.22019

18.6 9.7 30.7 20.8 10.9 1.10 22.10 12.11 3.12

Alemanha Japão EUA (direita)

Gráfico 1.6 – Retorno anual, títulos soberanos 10 anos% a.a.

Fonte: Thomson Datastream

% a.a

Gráfico 1.7 – PIB1/

Média 2016 = 100

Fonte: IBGE1/ Série com ajuste sazonal.

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I2016

III I2017

III I2018

III I2019

III

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na indústria e no segmento de serviços. Destaque‑se, no âmbito da atividade industrial, os avanços na indústria extrativa (12,0%)3 e na construção civil (1,3%), parcialmente compensados por recuos na indústria de transformação (‑1,0%) e na produção e distribuição de eletricidade, gás e água (‑0,9%).

Do lado da demanda, a alta de 0,8% no consumo das famílias evidencia a consistência na expansão desse componente, sustentada pelos aumentos da massa salarial e do crédito às pessoas físicas e, na margem, pelos efeitos iniciais da liberação extraordinária dos recursos do FGTS e do PIS/Pasep. A FBCF apresentou crescimento de 2,0%, influenciada pela importação de equipamentos para extração de petróleo, enquanto o consumo do governo recuou 0,4%, em cenário de restrição fiscal.

Resultados positivos dos indicadores de atividade econômica divulgados desde o Relatório de Inflação anterior contribuíram para a elevação das projeções de crescimento do PIB. Para 2019, a projeção passou de 0,9% para 1,2%, considerando, principalmente, o maior carregamento estatístico4 e os estímulos da liberação extraordinária de recursos do FGTS e do PIS/Pasep no quarto trimestre, que se intensificaram com a antecipação no cronograma de saques. Para 2020, a projeção do PIB foi revista de 1,8% para 2,2%.5 Ressalte‑se que essa perspectiva está condicionada ao cenário de continuidade das reformas e ajustes necessários na economia brasileira.

As últimas divulgações da Pesquisa Industrial Mensal – Produção Física (PIM‑PF), do IBGE, indicam reversão da trajetória de queda experimentada pela atividade industrial até o mês de julho. A produção física da indústria registrou crescimento de 1,4% no trimestre finalizado em outubro, relativamente aos três meses encerrados em julho, quando diminuíra 0,7%. A produção da indústria extrativa cresceu 9,9%, repercutindo o aumento da produção petrolífera e a gradual normalização da produção de minério de ferro, após o rompimento da barragem de Brumadinho. A indústria de transformação avançou 1,0%, com variações positivas em 13 das 25 atividades. Na abertura por categorias de uso, houve aumentos na produção de bens intermediários (1,6%), bens de consumo duráveis (1,8%) e semi e

3/ A expansão da indústria extrativa no terceiro trimestre foi impulsionada pelo aumento da produção de petróleo e pela recuperação da produção de minério de ferro, esta última após forte redução no primeiro semestre, provocada pelo rompimento da barragem em Brumadinho.

4/ O aumento do carregamento estatístico para o ano corrente decorre da revisão das contas nacionais para o primeiro semestre e do desempenho melhor que o esperado no terceiro trimestre.

5/ Ver boxe “Projeções para evolução do PIB em 2019 e 2020”, neste Relatório.

Gráfico 1.8 – Produção industrial1/

2012 = 100

Fonte: IBGE1/ Séries com ajuste sazonal.

75

80

85

90

95

100

105

110

115

75

79

83

87

91

95

Abr2015

Out Abr2016

Out Abr2017

Out Abr2018

Out Abr2019

Out

Indústria geral Transformação Extrativa (dir.)

Tabela 1.1 – Produto Interno BrutoTrimestre ante trimestre imediatamente anteriorDados dessazonalizados

Variação %

Discriminação 2018 2019

II Tri III Tri IV Tri I Tri II Tri III Tri

PIB a preços de mercado -0,0 0,5 0,1 -0,0 0,5 0,6

Agropecuária -1,3 0,6 -0,4 1,8 -0,5 1,3

Indústria -0,4 0,1 -0,2 -0,4 0,7 0,8

Serviços 0,3 0,5 0,1 0,3 0,2 0,4

Consumo das famílias -0,1 0,8 0,3 0,6 0,2 0,8

Consumo do governo 0,4 0,3 -1,2 0,6 -0,3 -0,4

FBCF -0,8 4,9 -1,6 -0,8 3,0 2,0

Exportação -2,8 6,9 1,9 -4,7 -2,0 -2,8

Importação -2,9 9,7 -6,2 1,4 0,7 2,9

Fonte: IBGE

Page 18: Relatório de Inflação

16 \ Relatório de Inflação \ Banco Central do Brasil \ Dezembro 2019

não duráveis (1,1%), enquanto a produção de bens de capital registrou variação negativa (‑0,5%).

Indicadores qualitativos sinalizam melhora ainda incipiente da percepção dos empresários quanto ao ambiente de negócios do setor fabril. O Índice de Confiança da Indústria6 (ICI) atingiu 95,5 pontos na média do trimestre encerrado em novembro, 0,1 ponto acima do trimestre encerrado em agosto, quando diminuíra 2,1 pontos, segundo dados dessazonalizados da Fundação Getulio Vargas (FGV). Destaque‑se o desempenho do ICI em novembro, quando avançou 1,7 ponto, repercutindo elevações do componente de situação atual (0,4 ponto) e, principalmente, do componente de expectativas (2,9 pontos).

O nível de utilização da capacidade instalada (Nuci), da indústria de transformação, aumentou para 75,5% no trimestre encerrado em novembro, terceiro período consecutivo de alta, considerados dados dessazonal izados da Sondagem da Indústria da FGV. A alta de 0,1 p.p. no trimestre repercutiu elevações nas categorias de bens intermediários (1,2 p.p.) e bens de consumo (0,7 p.p.), contrabalançadas pelo recuo em bens de capital (‑1,2 p.p.). Apesar da recuperação ao longo do ano, o Nuci segue significativamente abaixo da sua média histórica, indicando que a indústria continua operando com elevado nível de ociosidade.

Indicadores mais tempestivos da atividade industrial, contudo, sinalizam acomodação da atividade fabril em novembro. Segundo dados da Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea), a produção de veículos recuou 12,2% no mês (dados dessazonalizados). No mesmo sentido, o fluxo de veículos pesados em estradas com pedágio, medido pela Associação Brasileira de Concessionárias de Rodovias (ABCR), recuou 0,9% em novembro, na série com ajuste sazonal.

O setor de serviços apresenta sinais mais favoráveis nos últimos meses. O ritmo de crescimento da atividade no setor mostra aceleração no trimestre encerrado em outubro, em relação ao encerrado em julho, segundo projeções para a Pesquisa Mensal de Serviços (PMS), do IBGE.7 A expansão projetada deve ser liderada pelo crescimento nos segmentos de serviços profissionais, administrativos

6/ Valores acima de 100 pontos indicam sentimento de otimismo.7/ A divulgação da PMS, referente ao mês de outubro, ocorreu após a reunião do Copom. Portanto, utilizou‑se projeção para o resultado

do mês, com base em indicadores coincidentes.

Gráfico 1.9 – Confiança e Nuci1/

Indústria de transformaçãoPontos %

Fonte: FGV1/ Séries com ajuste sazonal.

73

74

75

76

77

70

80

90

100

110

Mai2015

Nov Mai2016

Nov Mai2017

Nov Mai2018

Nov Mai2019

Nov

Confiança Nuci (dir.)

Gráfico 1.10 – Anfavea e ABCR1/

2016=100

Fontes: Anfavea e ABCR1/ Séries com ajuste sazonal.

80

90

100

110

80

90

100

110

120

130

140

150

Mai2015

Nov Mai2016

Nov Mai2017

Nov Mai2018

Nov Mai2019

Nov

Anfavea ABCR (dir.)

Gráfico 1.11 – Índice de volume de serviços1/

Média 2014 = 100

Fonte: IBGE1/ Série com ajuste sazonal.

85

87

89

91

93

95

97

99

Mar2015

Set Mar2016

Set Mar2017

Set Mar2018

Set Mar2019

Set

Page 19: Relatório de Inflação

Dezembro 2019 \ Banco Central do Brasil \ Relatório de Inflação \ 17

e complementares, e serviços de transportes, serviços auxiliares aos transportes e correios, setores mais correlacionados à atividade industrial.

O Índice de Confiança de Serviços (ICS) aumentou 1,9 ponto no trimestre finalizado em novembro, em relação ao terminado em agosto, quando avançara 0,9 ponto, de acordo com dados dessazonalizados da FGV. O avanço no trimestre refletiu crescimentos de 2,7 pontos no componente de situação atual e de 1,1 ponto no componente de expectativas.

No âmbito da demanda, o volume de vendas do comércio segue em expansão, sugerindo manutenção de trajetória crescente do consumo das famílias. As vendas do comércio ampliado avançaram 1,8% no trimestre encerrado em outubro, em relação ao finalizado em julho, quando registraram elevação de 1,6%, segundo dados dessazonalizados da Pesquisa Mensal do Comércio (PMC) do IBGE. Oito dos dez segmentos pesquisados apresentaram crescimento das vendas, com destaque para outros artigos de uso pessoal e doméstico, 3,5%; equipamentos e materiais para escritório, informática e comunicação, 3,5%; e móveis e eletrodomésticos, 2,8%. A elevação das vendas na maior parte dos segmentos pesquisados foi influenciada pelo início da liberação do Saque Imediato do FGTS e pelas ações promocionais realizadas na Semana da Pátria, ambos no mês de setembro. Os únicos resultados negativos nessa base de comparação ocorreram nos segmentos combustíveis e lubrificantes, ‑1,3%; e livros, jornais, revistas e papelaria, ‑3,3%. No conceito restrito, que exclui os segmentos automobilísticos e de material de construção, as vendas cresceram 1,5% no trimestre finalizado em outubro, após terem crescido 0,6% no trimestre anterior.

Indicadores coincidentes sugerem continuidade da expansão das vendas do comércio nos últimos meses de 2019. Destaque para as vendas de automóveis e veículos comerciais leves, divulgadas pela Federação Nacional da Distribuição de Veículos Automotores (Fenabrave), que avançaram 1,8% no trimestre encerrado em novembro, em relação ao terminado em agosto, quando haviam recuado 2,5% (dados dessazonalizados).

Os resultados recentes do Índice de Confiança do Consumidor (ICC) e do Índice de Confiança do Comércio (ICOM), ambos da FGV, corroboram a melhora da percepção de consumidores e empresários do setor varejista neste final de ano. O ICC avançou 0,7 ponto no trimestre encerrado em novembro, enquanto o

Gráfico 1.12 – Índice de volume de vendas1/

Média 2014 = 100

Fonte: IBGE1/ Série com ajuste sazonal.

80

83

86

89

92

95

98

Abr2015

Out Abr2016

Out Abr2017

Out Abr2018

Out Abr2019

Out

Comércio restrito Comércio ampliado

Gráfico 1.13 – Vendas de veículos1/

Milhares

Fonte: Fenabrave1/ Séries com ajuste sazonal.

140

160

180

200

220

240

Mai2015

Nov Mai2016

Nov Mai2017

Nov Mai2018

Nov Mai2019

Nov

Gráfico 1.14 – Índices de confiança1/

Pontos

Fonte: FGV1/ Séries com ajuste sazonal.

60

70

80

90

100

110

Mai2015

Nov Mai2016

Nov Mai2017

Nov Mai2018

Nov Mai2019

Nov

ICC ICOM Nível neutro

Page 20: Relatório de Inflação

18 \ Relatório de Inflação \ Banco Central do Brasil \ Dezembro 2019

ICOM registrou crescimento de 2,0 pontos, ambos repercutindo, essencialmente, altas no componente de situação atual (dados dessazonalizados).

Em relação ao investimento, indicadores mensais sugerem continuidade da recuperação, ainda que com algum arrefecimento frente ao ritmo dos últimos trimestres. O Indicador Ipea de FBCF, que busca estimar a trajetória mensal da medida oficial das contas nacionais, apontou crescimento de 1,0% no trimestre encerrado em outubro, relativamente ao encerrado em julho, quando crescera 2,7%. A produção de bens de capital recuou 0,5% no trimestre finalizado em outubro relativamente ao trimestre anterior, quando crescera 2,0%. Em aceleração, a produção de insumos típicos da construção civil cresceu 0,5% no período, ante 0,2% no período anterior.

As perspectivas favoráveis para o investimento são reforçadas pelo desempenho recente do setor de construção civil, que, além de se destacar na geração recente de postos de trabalho, acumulou crescimento de 3,7% no segundo e terceiro trimestres de 2019, de acordo com as CNT. Permanecem, contudo, os riscos de que os efeitos de restrições fiscais sobre o segmento de infraestrutura limitem a recuperação do setor de construção nos próximos trimestres.

O mercado de trabalho segue em processo de gradual recuperação, ainda evidenciando elevado nível de ociosidade da capacidade produtiva da economia brasileira. A taxa de desocupação, divulgada pela Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (PNAD Contínua), do IBGE, situou‑se em 11,6% no trimestre encerrado em outubro, 0,1 p.p. abaixo da observada no mesmo período do ano anterior. Na margem, considerando‑se a série com ajuste sazonal, a taxa de desocupação trimestral aumentou 0,2 p.p. em relação a julho, para 12,0%, resultado da estabilidade da população ocupada e do crescimento de 0,3% da força de trabalho. Ainda de acordo com os dados dessazonalizados da PNAD Contínua, a estabilidade da população ocupada entre julho e outubro repercutiu o aumento do número de trabalhadores formais (0,3%) e redução da ocupação em posições informais (‑0,4%).8 Ressalte‑se que o baixo dinamismo do mercado de trabalho é ainda mais pronunciado quando se consideram medidas mais amplas de desocupação, que levam em conta a evolução da subocupação.9

8/ O boxe “Evolução dos mercados de trabalho formal e informal nos recentes ciclos de atividade econômica”, neste Relatório, analisa a evolução do mercado de trabalho sob o prisma da segregação entre trabalhadores formais e informais.

9/ O boxe “Indicadores de utilização da força de trabalho ajustados por horas trabalhadas” apresenta medidas alternativas de desocupação, com enfoque nas horas totais disponíveis no mercado de trabalho.

Gráfico 1.17 – Emprego formal1/

Geração líquida de empregosMilhares

Fonte: Secretaria de Trabalho/ME1/ Dados dessazonalizados.

-200

-160

-120

-80

-40

0

40

80

Abr2015

Out Abr2016

Out Abr2017

Out Abr2018

Out Abr2019

Out

Mensal MM3M

Gráfico 1.16 – Taxa de desocupação1/

MM3M%

Fonte: IBGE1/ Série com ajuste sazonal.

7

8

9

10

11

12

13

14

Abr2015

Out Abr2016

Out Abr2017

Out Abr2018

Out Abr2019

Out

Gráfico 1.15 – Indicadores de FBCF1/

Média 2016 = 100

Fontes: IBGE e Ipea1/ Séries com ajuste sazonal.

80

90

100

110

120

Abr2015

Out Abr2016

Out Abr2017

Out Abr2018

Out Abr2019

Out

Produção de bens de capitalIpea FBCFProdução de insumos da construção

Page 21: Relatório de Inflação

Dezembro 2019 \ Banco Central do Brasil \ Relatório de Inflação \ 19

As estatísticas do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged), do Ministério da Economia, mostram que a criação de vagas no mercado formal de trabalho em 2019 encontra‑se em ritmo superior ao observado no ano anterior. De acordo com o Caged, até o mês de outubro, houve geração líquida de 767,7 mil empregos formais, ante 696,9 mil em igual período de 201810. Em doze meses, houve geração de 491,9 mil vínculos, 15,2% desses provenientes de trabalho intermitente. Em termos dessazonalizados, o saldo do trimestre encerrado em outubro atingiu 189,6 mil postos formais, frente a 79,8 mil postos nos três meses anteriores, destacando‑se a geração de vagas em serviços de administração de imóveis e técnicos, construção civil e comércio varejista. O índice de emprego formal cresceu 0,4%, ante variação de 0,2% no trimestre finalizado em julho, descontando‑se os efeitos sazonais.

O rendimento médio real do trabalho11 elevou‑se 0,7% no trimestre finalizado em outubro, após acumular redução de 0,6% nos dois trimestres anteriores, segundo dados dessazonalizados da PNAD Contínua. Nesse contexto, a massa salarial real, importante vetor para a manutenção do crescimento do consumo das famílias, aumentou 0,9% (mesma variação do trimestre anterior), também influenciada pelo crescimento de 0,1% da população ocupada com rendimento.

Tendo em vista a defasagem com que o mercado de trabalho normalmente reage ao crescimento econômico, espera‑se que a consolidação do processo de recuperação da economia brasileira favoreça a intensificação da retomada do mercado de trabalho nos próximos trimestres.

Crédito

O mercado de crédito segue em trajetória de expansão, impulsionado pela recuperação gradual da atividade econômica. Destaca‑se, no período mais recente, o aumento no saldo das modalidades lastreadas com recursos livres, especialmente as linhas de financiamento de veículos e de crédito consignado, importantes vetores de expansão do consumo das famílias. Observa‑se, adicionalmente, relativa estabilidade na inadimplência e queda das taxas de juros médias.

10/ Dados sem ajustes para contemplar declarações fora do prazo.11/ Rendimento médio real de todos os trabalhos.

Gráfico 1.18 – Emprego formal1/

Geração líquida de empregos por setorMilhares, MM3M

Fonte: Secretaria de Trabalho/ME1/ Dados dessazonalizados.

-80

-60

-40

-20

0

20

40

Abr2015

Out Abr2016

Out Abr2017

Out Abr2018

Out Abr2019

Out

Indústria de transformação Construção

Comércio Serviços

Gráfico 1.19 – Rendimento do trabalhoTrimestre/Trimestre do ano anteriorVariação %

Fonte: IBGE

-4

-2

0

2

4

6

8

10

Abr2015

Out Abr2016

Out Abr2017

Out Abr2018

Out Abr2019

Out

Rendimento real Rendimento nominal

Gráfico 1.20 – Saldo das operações de créditoR$ bilhões

1 300

1 400

1 500

1 600

1 700

1 800

1 900

2 000

2 600

2 800

3 000

3 200

3 400

3 600

3 800

4 000

Out2016

Jan2017

Abr Jul Out Jan2018

Abr Jul Out Jan2019

Abr Jul Out

Total PJ (eixo d.) PF (eixo d.)

Page 22: Relatório de Inflação

20 \ Relatório de Inflação \ Banco Central do Brasil \ Dezembro 2019

O saldo das operações de crédito do Sistema Financeiro Nacional (SFN) cresceu 2,5% no trimestre encerrado em outubro, melhor resultado para esse período do ano desde 2014. A carteira de crédito livre cresceu 3,8% no período, com expansões de 4,0% e 3,6% nos segmentos de pessoas físicas e jurídicas, respectivamente; enquanto o saldo do crédito direcionado avançou 0,8%, refletindo aumento de 2,5% na parcela referente às famílias e retração de 1,6% nas modalidades voltadas às empresas. No segmento de pessoas jurídicas, houve crescimento mais pronunciado nas modalidades de financiamento de veículos (18,3%) e desconto de duplicatas (10,5%). Para pessoas físicas, cabe destacar as elevações em financiamento de veículos (5,6%) e crédito consignado (3,6%).

No conceito de crédito ampliado ao setor não financeiro12, o estoque de financiamentos totalizou R$10,0 trilhões (140,8% do PIB) em outubro de 2019, sendo 44,2% do montante referente a dívidas do setor público. O saldo da dívida aumentou 3,3% no trimestre encerrado em outubro, refletindo variações de 3,3% no endividamento do governo geral e de 3,2% no do setor privado não financeiro. O estoque de títulos privados emitidos pelas empresas no mercado de capitais doméstico cresceu 2,9% entre julho e outubro, enquanto o montante de empréstimos e títulos captados pelas empresas no exterior aumentou 5,1% (redução de 1,2% quando se considera o estoque da dívida em dólares).

As concessões de crédito, dessazonalizadas, aumentaram 1,7% no trimestre encerrado em outubro, na comparação com o trimestre anterior, corroborando tendência de expansão do crédito junto ao SFN. As modalidades de crédito não rotativo apresentaram maior dinamismo no segmento de pessoas físicas, registrando crescimento de 8,9% no trimestre. Nota‑se, ainda, o aumento de 9,4% no volume de novas operações do crédito direcionado, ressaltando a modalidade de financiamento imobiliário, em linha com os sinais de recuperação da construção civil. Considerando o financiamento obtido fora do SFN no período de doze meses encerrado em outubro, nota‑se aumento de 14,8% nos fluxos captados pelas empresas no mercado doméstico, enquanto o volume em dólares captado no mercado externo diminuiu 19,4%.

12/ Estatística que inclui, além dos saldos das operações de crédito do SFN, empréstimos e financiamentos concedidos pelos demais setores institucionais residentes; os estoques dos títulos públicos, privados e instrumentos securitizados; e os empréstimos e emissões de títulos cujos credores são não residentes. Para maiores detalhes, ver o boxe “Crédito ampliado ao setor não financeiro”, publicado no Relatório de Economia Bancária do Banco Central Brasil, ano 2018.

Gráfico 1.21 – Concessões dessazonalizadasMM3M – R$ bilhõesRecursos livres Recursos direcionados

4

8

12

16

20

100

125

150

175

200

Out2016

Jan2017

Abr Jul Out Jan2018

Abr Jul Out Jan2019

Abr Jul Out

PF livres PJ livres PJ direc PF direc

Gráfico 1.22 – Captações PJ (R$ bilhões) 1/

Acumulado 12 meses

Fontes: Anbima e BCB1/ SFN – exclui conta garantida, cheque especial e cartão de crédito.

Mercado de capitais – considera debêntures, notas promissórias e ações.S. externo – inclui emprést./títulos de empresas não financ. e op. intercia.

0250500750

1.0001.2501.5001.7502.000

Out2016

Jan2017

Abr Jul Out Jan2018

Abr Jul Out Jan2019

Abr Jul Out

SFN Mercado de capitais Setor externo

Page 23: Relatório de Inflação

Dezembro 2019 \ Banco Central do Brasil \ Relatório de Inflação \ 21

No trimestre encerrado em outubro, o Indicador de Custo do Crédito (ICC)13 das operações de crédito livre recuou 0,7 p.p. e 1,0 p.p. nos segmentos de pessoas físicas e jurídicas, respectivamente, resultando em decréscimo de 0,8 p.p. para a carteira agregada de crédito livre. O ICC dos financiamentos às empresas com recursos livres atingiu 17,6% a.a. em outubro, o menor valor da série iniciada em janeiro de 2013. Considerando as operações financiadas com recursos direcionados, observou‑se estabilidade do ICC no período. O aumento da participação das operações com funding de recursos livres (que possuem ICC mais elevado) no estoque de crédito do SFN suavizou os efeitos da queda do ICC do crédito livre, tendo sido observada queda de 0,3 p.p. no ICC relativo ao total das operações em curso no SFN.

A taxa média de juros das novas operações de crédito do SFN recuou 1,1 p.p. no trimestre encerrado em outubro, em linha com o ciclo de política monetária14. As taxas dos empréstimos a pessoas físicas e jurídicas recuaram 1,3 p.p. e 1,0 p.p., respectivamente. Nas operações com recursos livres, houve quedas de 2,5 p.p. nos empréstimos às famílias (para 49,7% a.a. em outubro), ressaltando‑se a redução de 20,1 p.p. na taxa do crédito pessoal não consignado, e de 1,6 p.p. no dos financiamentos às empresas, cuja taxa atingiu 17,6%, o menor valor da série.

A taxa de inadimplência (operações com atrasos superiores a 90 dias) manteve‑se estável no trimestre finalizado em outubro, situando‑se em 3,0%. Houve pequeno aumento na taxa das operações com pessoas físicas (0,1 p.p.) compensado por retração de 0,2 p.p. nos atrasos do crédito às pessoas jurídicas. Nas operações com recursos livres, o indicador recuou 0,1 p.p., enquanto nas operações com recursos direcionados a inadimplência manteve‑se estável.

A evolução recente do mercado de crédito, em particular da carteira de crédito livre, ensejou revisão da projeção para o crescimento do saldo de crédito em 2019, de 5,7% (Relatório de Inflação de setembro) para 6,9%. Para 2020, a projeção de crescimento do crédito foi mantida em 8,1%.15

13/ Mede o custo médio das operações de crédito em aberto, independentemente da data de contratação.14/ O Copom reduziu a meta para a taxa Selic em 0,5 p.p. nas reuniões de 31 de julho, 18 de setembro e 30 de outubro, reduzindo a taxa

de 6,5% a.a. para 5,0% a.a. nesse período.15/ Para mais detalhes, ver boxe “Projeção para a evolução do crédito em 2019 e 2020” neste Relatório.

Gráfico 1.23 – Indicador de Custo de Crédito (ICC)Recursos livres% a.a.

15

25

35

45

55

Out2016

Jan2017

Abr Jul Out Jan2018

Abr Jul Out Jan2019

Abr Jul Out

Total PJ PF

Gráfico 1.24 – Taxas de jurosRecursos livres% a.a.

10

20

30

40

50

60

70

80

Out2016

Jan2017

Abr Jul Out Jan2018

Abr Jul Out Jan2019

Abr Jul Out

Total PJ PF

Gráfico 1.25 – Inadimplência1/

%

1/ Atrasos acima de 90 dias.

2,0

2,5

3,0

3,5

4,0

4,5

Out2016

Jan2017

Abr Jul Out Jan2018

Abr Jul Out Jan2019

Abr Jul Out

Total PJ PF

Page 24: Relatório de Inflação

22 \ Relatório de Inflação \ Banco Central do Brasil \ Dezembro 2019

Dados da última Pesquisa Trimestral sobre Condições de Crédito (PTC) 16, realizada entre 2 e 9 de dezembro de 2019, junto a instituições financeiras, indicam continuidade da expansão do crédito. Para o primeiro trimestre de 2020, a expectativa é de aumento do volume de novas concessões de crédito em todos os segmentos considerados: de pessoas jurídicas (grandes empresas e micro, pequenas e médias empresas) e de pessoas físicas (consumo e habitacional).

Fiscal

O deficit primário do setor público consolidado, excluindo estatais financeiras e empresas dos grupos Petrobras e Eletrobras, totalizou R$33,0 bilhões nos dez primeiros meses de 2019, ante deficit de R$51,5 bilhões no mesmo período de 2018. O resultado primário do governo central foi negativo em R$54,6 bilhões, em decorrência de deficit de R$179,9 bilhões do Instituto Nacional de Seguro Social (INSS), que prevaleceu sobre o superavit de R$125,7 bilhões do governo federal. Em 2018, o deficit do governo central totalizou R$66,3 bilhões no mesmo período.

A redução no deficit primário do governo central no período foi favorecida pelo crescimento nominal de 4,1% (R$41,2 bilhões) das receitas líquidas, ante expansão de 2,6% (R$28,7 bilhões) das despesas primárias. Considerados valores reais, sobressaíram os aumentos nas receitas do imposto sobre a renda e do Regime Geral de Previdência Social (RGPS), de R$19,7 bilhões e R$9,3 bilhões, respectivamente. Com relação às despesas, também em termos reais, houve recuo dos dispêndios com subsídios e subvenções, de R$3,8 bilhões, assim como das despesas discricionárias, de R$16,7 bilhões. Entretanto, o ajuste foi prejudicado pelo aumento de R$14,7 bilhões nas despesas previdenciárias.

Os entes subnacionais e empresas estatais apresentaram resultados positivos no mesmo período, contribuindo para atenuar o deficit das contas públicas consolidadas. Enquanto as empresas

16/ Os dados apresentados neste Relatório referem‑se a avaliação das instituições sobre a porcentagem de aprovação de novos empréstimos, considerando quatro segmentos (grandes empresas; micro, pequenas e médias empresas; crédito habitacional pessoas físicas; e crédito voltado ao consumo) tanto no que se refere aos últimos três meses, como para os próximos três meses. Os indicadores apresentados correspondem a uma média das respostas de cada entrevistado, variando entre ‑2 (aprovação consideravelmente inferior) a +2 (aprovação consideravelmente superior). Para mais detalhes da metodologia da PTC, ver Annibal, Clodoaldo e Koyama, Sérgio (2011), “Pesquisa Trimestral de Condições de Crédito no Brasil”, BCB, Trabalho para Discussão nº 245.

Tabela 1.2 – Necessidades de financiamento do setor público – Resultado primário Acumulado no ano até outubro

R$ bilhões

Segmento 2017 2018 2019

Governo Central 95,9 66,3 54,6

d/q Governo Federal -59,9 -102,9 -125,7

d/q INSS 155,2 168,3 179,9

Governos regionais -18,0 -10,9 -19,4

Empresas estatais -0,6 -4,0 -2,1

Total 77,4 51,5 33,0

Gráfico 1.26 – Indicadores de aprovação de crédito

* Os valores do I 2020 correspondem às expectativas dos respondentes para esse trimestre. Os demais correspondem às percepções sobre a situação em cada trimestre.

-1,2

-0,8

-0,4

0,0

0,4

0,8

I2013

I2014

I2015

I2016

I2017

I2018

I2019

I2020*

Micro, pequenas e médias empresasGrandes empresasPessoas física – ConsumoPessoa física – Habitacional

Pontos

Gráfico 1.27 – Necessidades de Financiamento do Setor PúblicoAcumulado em 12 meses (% PIB)

8,8 9,2

6,8 6,4

2,22,9

1,2 1,3

6,6 6,35,5 5,1

,01,02,03,04,05,06,07,08,09,0

10,011,0

Jan2016

Abr Jul Out Jan2017

Abr Jul Out Jan2018

Abr Jul Out Jan2019

Abr Jul Out

Juros nominais Nominal Primário

Page 25: Relatório de Inflação

Dezembro 2019 \ Banco Central do Brasil \ Relatório de Inflação \ 23

estatais contribuíram com R$2,1 bilhões de superavit, os governos regionais colaboraram com R$19,4 bilhões, favorecidos pelo aumento de 8,7% (R$17,8 bilhões) nas transferências por repartição de receitas da União. Cabe ressaltar que a Lei de Diretrizes orçamentárias (LDO) estabeleceu, como meta indicativa para o resultado do setor público em 2019, deficit de R$132,0 bilhões. Em doze meses, resultado até outubro foi deficitário em R$89,8 bilhões.

Os juros nominais apropriados pelo setor público somaram R$304,5 bilhões até outubro de 2019, abaixo dos R$317,2 bilhões apropriados no mesmo período de 2018. Essa redução foi influenciada pela evolução da taxa de juros implícita da Dívida Líquida do Setor Público (DLSP), que recuou 1,3 p.p. em relação ao mesmo período do ano anterior.

No que se refere aos indicadores de endividamento, a DLSP alcançou R$3.961,8 bilhões (55,2% do PIB) no encerramento do mês de outubro, crescimento de 2,0 p.p. em relação ao mesmo mês do ano anterior. A Dívida Bruta do Governo Geral (DBGG), que inclui governo Federal, INSS, governos estaduais e municipais, totalizou R$5.549,4 (77,3% do PIB), elevando‑se 0,9 p.p. desde outubro de 2018. A reversão dessa trajetória ascendente da dívida pública está condicionada à continuidade das reformas e ajustes estruturais no âmbito da política fiscal.

Demanda externa e Balanço de Pagamentos

Estima‑se que as transações correntes tenham registrado deficit de US$45,5 bilhões no período de janeiro a novembro de 201917 (2,7% do PIB) ante saldo negativo de US$35,4 bilhões em igual período do ano anterior (2,1% do PIB).18 A ampliação do deficit refletiu, principalmente, a redução no saldo da balança comercial. Nos doze meses acumulados até novembro, o deficit em transações correntes situou‑se em 2,8% do PIB, resultado acima do observado em novembro de 2018. De acordo com boxe de projeções de balanço de pagamentos, apresentado neste Relatório, o deficit em conta

17/ Até a data de corte para as informações desta publicação, os dados das contas externas não estavam ainda compilados para novembro. Assim, a análise desta seção considerou estimativas para os dados do balanço de pagamentos do mês, a partir de dados parciais para o período.

18/ Vale destacar que os números de 2018 e 2019 sofreram revisão na divulgação dos dados em outubro de 2019, quando foram incorporados as informações das pesquisas Capitais Brasileiros no Exterior (CBE) e Censo de Capitais Estrangeiros no País.

Page 26: Relatório de Inflação

24 \ Relatório de Inflação \ Banco Central do Brasil \ Dezembro 2019

corrente deverá se manter em 2,8% do PIB em dezembro deste ano19.

Estima‑se que o saldo da balança comercial tenha recuado US$12,4 bilhões nos onze primeiros meses do ano, quando comparado a igual período de 2018, influenciado por maior recuo das exportações vis‑à‑vis as importações. Do lado das exportações, o recuo reflete a redução da demanda global, a crise econômica na Argentina e a retração das importações chinesas de soja, devido à peste suína africana20. No âmbito da importações, destaque‑se a redução nas compras de produtos do setor automotivo. As exportações recuaram 6,3% no período (ou US$13,9 bilhões) enquanto as importações recuaram 0,9% (US$1,5 bilhão), totalizando US$206,3 bilhões e US$171,6 bilhões, respectivamente.

O deficit na conta de serviços nos onze primeiros meses do ano manteve‑se relativamente estável, ao recuar 0,2% na comparação interanual. Destaca‑se a redução de US$1,0 bilhão nas receitas de outros serviços de negócios, inclusive arquitetura e engenharia.

O deficit em renda primária atingiu US$49,3 bilhões de janeiro a novembro de 2019, redução de 1,7% em relação ao mesmo período de 2018. Esse comportamento refletiu forte aumento nas despesas de lucros reinvestidos, US$27,5 bilhões ante US$14,9 bilhões em 2018, quase totalmente compensado pelo aumento das receitas da mesma conta, US$14,3 bilhões, ante US$2,5 bilhões em 2018. Deve‑se observar que essa rubrica foi a que mais experimentou alteração (sobretudo para 2018) em decorrência da revisão das estatísticas do setor externo, aspecto previamente salientado na edição anterior do Relatório de Inflação.

No âmbito das contas financeiras, o investimento direto no exterior, acumulado de janeiro a novembro, passou de ‑US$1,3 bilhão em 2018 para +US$21,1 bilhões neste ano, repercutindo o aumento na constituição de ativos brasileiros no exterior21. Em relação aos investimentos em carteira, houve aumento dos ativos, que acumularam US$14,2 bilhões em 2019, ante US$3,1 bilhões no ano anterior, com aumentos nos investimentos em ações (US$2,6 bilhões), fundos de investimento (US$5,0 bilhões) e títulos de dívida (US$3,5 bilhões).

19/ Para detalhamento da projeção do balanço de pagamentos, ver boxe “Projeções para o Balanço de Pagamentos de 2019 e 2020”.20/ Para evolução das exportações, ver boxe “Evolução Recente da Balança Comercial”.21/ O aumento na constituição de ativos brasileiros no exterior vem ocorrendo por meio de reinvestimento de lucros e de redução dos

regressos ao Brasil de participação no capital de empresas estrangeiras por residentes.

Tabela 1.3 – Balanço de PagamentosUS$ bilhões

PeríodoNov Jan- Ano Nov* Jan-

nov nov

Transações correntes -3,1 -35,4 -41,5 -2,3 -45,5

Balança comercial 3,6 47,1 53,0 2,8 34,7

Exportações 21,0 220,2 239,5 17,6 206,3

Importações 17,4 173,1 186,5 14,9 171,6

Serviços -2,9 -32,3 -35,7 -2,4 -32,2

dos quais: viagens -0,9 -11,4 -12,3 -0,8 -10,7

dos quais: transportes -0,5 -5,7 -6,2 -0,5 -5,5

dos quais: aluguel de equip. -1,5 -14,1 -15,8 -0,9 -13,4

Renda primária -3,9 -50,1 -58,8 -2,9 -49,3

dos quais: juros -1,2 -19,9 -22,5 -1,1 -21,8

dos quais: lucros e dividendos -2,8 -30,5 -36,5 -1,8 -27,6

Renda secundária 0,2 -0,1 -0,0 0,2 1,4

Conta capital 0,0 0,4 0,4 -0,1 0,2

Conta financeira -2,2 -36,4 -42,4 -2,6 -48,8

Investimentos ativos1/ 2,2 12,4 12,3 2,9 35,3

Invetimento direto no exterior 0,7 -1,3 2,0 2,3 21,1

Investimento em carteira -0,1 3,1 0,5 1,6 14,2

Outros investimentos 1,6 10,6 9,9 -1,0 0,0

dos quais: ativos de bancos -1,2 -1,4 0,4 -0,4 -2,4

Investimentos passivos 3,7 61,9 60,4 3,8 70,4

IDP 9,1 69,9 78,2 7,1 69,2

Participação no capital 6,1 50,2 57,3 5,6 66,4

Operação intercompanhia 3,0 19,6 20,8 1,5 2,8

Ações totais2/ -2,0 -1,6 -3,1 0,7 -1,6

Títulos no país -3,4 -1,5 -4,3 -2,2 -0,4

Emprést. e títulos LP3/ -0,4 -7,1 -8,9 -0,2 0,5

Crédito comercial e outros4/ 0,4 2,2 -1,4 -1,5 2,7

Derivativos 0,7 2,5 2,8 0,6 1,7

Ativos de reserva -1,4 10,6 2,9 -2,2 -15,4

Erros e omissões 0,9 -1,4 -1,3 -0,1 -3,5

Memo:

Transações correntes/PIB (%) -2,2

IDP / PIB (%) 4,1

Taxa de rolagem (%) 106,9 92,2 92,1 37,8 101,4

1/ Inclui investimentos diretos, investimentos em carteira e outros investimentos.2/ Inclui ações negociadas em bolsas brasileiras e no exterior. 3/ Inclui créditos de organismos, agências e compradores.4/ Inclui empréstimos e títulos de cuto prazo.* Dados preliminares.

2018 2019

Page 27: Relatório de Inflação

Dezembro 2019 \ Banco Central do Brasil \ Relatório de Inflação \ 25

O ingresso líquido de investimento direto no país totalizou US$69,2 bilhões nos onze primeiros meses de 2019, ante US$69,9 bilhões em igual período do ano passado. Destaque para o aumento das entradas em participação de capital, que acumularam US$66,4 bilhões em 2019, ante US$50,2 bilhões no ano anterior, repercutindo a evolução dos reinvestimentos de lucros no Brasil, que tiveram resultado US$12,6 bilhões superior ao ano anterior. Em sentido contrário, houve recuo das operações intercompanhia (US$2,8 bilhões esse ano, ante US$19,6 bilhões em 2018) em meio à redução nos créditos recebidos do exterior e aumento nas amortizações pagas ao exterior.

O crédito externo de longo prazo, considerando operações de títulos e empréstimos diretos do setor privado no mercado internacional, proporcionou desembolsos de US$35,3 bilhões nos onze primeiros meses do ano, redução de 8,6% em relação ao mesmo período do ano passado; e amortizações de US$34,8 bilhões, redução de 16,9%. Esses recursos correspondem à taxa de rolagem de 101,4%, ante 92,2% em igual período de 2018.

Considerados os fluxos recentes, o estoque estimado de dívida externa apresentou ligeira elevação em outubro, atingindo US$326,8 bilhões, ante US$320,6 bilhões ao final de 2018. A relação entre o estoque de reservas internacionais e os vencimentos de dívida externa em doze meses atingiu 321,8% em outubro (331,9% em dezembro de 2018). O estoque de reservas internacionais, por sua vez, alcançou 20,1% do PIB em outubro, montante equivalente a vinte e quatro meses de importações de bens.

1.3 Inflação e expectativas de mercado

A inflação ao consumidor manteve‑se em patamar abaixo do padrão sazonal compatível com a meta no trimestre encerrado em novembro, influenciada pela evolução benigna dos preços livres, em particular dos alimentos in natura. As diversas medidas de inflação subjacente situaram‑se em níveis confortáveis no trimestre, inclusive os componentes mais sensíveis ao ciclo econômico e à política monetária.

Contrastando com o resultado do trimestre, a inflação mensal de novembro mostrou‑se

Gráfico 1.28 – IPCA – Padrão sazonalVariação % mensal

Fontes: IBGE e BCB

-0,3

-0,1

0,1

0,3

0,5

0,7

0,9

1,1

1,3

Dez Jan Fev Mar Abr Mai Jun Jul Ago Set Out Nov

Faixa sazonal ajustada para meta (2,75% – 5,75%)2017/20182018/2019

Page 28: Relatório de Inflação

26 \ Relatório de Inflação \ Banco Central do Brasil \ Dezembro 2019

relativamente elevada, pressionada pelo reajuste em jogos de azar, pelo acionamento da bandeira vermelha 1 e pelo forte aumento nos preços de carnes. Todavia, as projeções para a inflação medida pelo Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), apuradas pela pesquisa Focus, mantiveram‑se em torno das metas estabelecidas no horizonte relevante para a política monetária.

Índices de preços

A evolução do setor externo mostrou‑se inflacionária no trimestre encerrado em novembro, quando o Índice de Commodities – Brasil (IC‑Br) avançou 12,86% (‑5,37% no trimestre anterior), resultado da alta de 9,13% no índice em dólares e depreciação cambial de 3,40%. A alta no trimestre foi disseminada entre os três segmentos, com as commodities agropecuárias avançando 15,68%, as metálicas 4,36% e as energéticas 11,04%. Entre os produtos, destaquem‑se os avanços dos preços, em dólares, do boi gordo, do zinco e do petróleo tipo Brent.

Nesse contexto, o Índice de Preços ao Produtor Amplo – Disponibilidade Interna (IPA‑DI) avançou 2,68% nos três meses encerrados em novembro, ante recuo de 0,30% no trimestre anterior, acumulando elevação de 6,24% em doze meses (4,48% em agosto). A variação dos preços agropecuários passou de 1,05% no trimestre encerrado em agosto para 7,22% em novembro, influenciada, sobretudo, pela alta nos preços do milho e da carne bovina. Dentre os preços agropecuários relevantes para a dinâmica da inflação ao consumidor, destaque para a forte aceleração dos preços das carnes bovina e suína, em meio ao aumento das exportações brasileiras desses produtos para China.

O Índice de Preços ao Produtor Amplo (IPA) industrial avançou 1,19% no trimestre (ante recuo de 0,73% no anterior), repercutindo elevações nos preços de derivados do petróleo e carnes industrializadas, parcialmente compensadas por expressivas quedas nos preços do minério de ferro. O núcleo de transformação22 acelerou de ‑0,30% para 0,56%, entre os trimestres encerrados em agosto e em novembro.

A inflação medida pelo IPCA avançou de 0,31%, no trimestre encerrado em agosto, para 0,57%

22/ Núcleo da transformação exclui da variação do IPA da indústria de transformação o movimento nos preços de alimentos e combustíveis.

Gráfico 1.30 – Preços ao produtor – IPA-DIVariação % em 3 meses

Fonte: FGV

-8

-4

0

4

8

Mai2017

Ago Nov Fev2018

Mai Ago Nov Fev2019

Mai Ago Nov

IPA-DI Agrícola Industrial

Gráfico 1.31 – Evolução do IPCAVariação %

Fontes: IBGE e BCB

0

2

4

6

8

10

Mai2017

Ago Nov Fev2018

Mai Ago Nov Fev2019

Mai Ago Nov

IPCA (12 meses)IPCA (3 meses anualizado dessaz.)Núcleos de inflação (3 meses anualizado dessaz.)

Gráfico 1.29 – IC-Br e seus componentesVariação % em 3 meses

-30

-20

-10

0

10

20

30

40

Mai2017

Ago Nov Fev2018

Mai Ago Nov Fev2019

Mai Ago Nov

IC-Br AgropecuáriasMetálicas Energéticas

Page 29: Relatório de Inflação

Dezembro 2019 \ Banco Central do Brasil \ Relatório de Inflação \ 27

no trimestre até novembro, mantendo‑se abaixo do padrão sazonal compatível com o centro da meta (0,97%)23. Acumulada em doze meses, a inflação passou de 3,43% em agosto para 3,27% em novembro.

Os preços no segmento de alimentação no domicílio registraram alta de 0,27% nos três meses encerrados em novembro, após recuo de 1,29% até agosto, permanecendo abaixo do padrão sazonal para o período. Destaca‑se, em particular, a variação ainda negativa dos preços de produtos in natura24, e, em sentido contrário, a forte alta nos preços de carnes em novembro. Em doze meses, a inflação de alimentos diminuiu de 4,52% para 3,51%.

A inflação de serviços recuou de 0,87% no trimestre encerrado em agosto para 0,43% em novembro. O movimento repercutiu, principalmente, a desaceleração do componente ex‑subjacente, com ênfase para a os preços de passagem aérea. Também houve redução da inflação subjacente de serviços, em contexto de elevada ociosidade dos fatores de produção e expectativas de inflação ancoradas. Em doze meses, a inflação de serviços manteve‑se em níveis confortáveis, passando de 3,98% para 3,41%.

A despeito de pressões sazonais nos preços de etanol e da volatilidade recente nos preços de higiene pessoal, a inflação do segmento de bens industriais segue contida (0,52% no trimestre encerrado em novembro), também influenciada pela ociosidade da economia. Em doze meses, a inflação do setor avançou de 1,48% em agosto para 1,79% em novembro.

Os preços administrados aceleraram de 0,81% no trimestre encerrado em agosto para 0,98% em novembro. O componente energético passou de 0,31% para 0,51%, repercutindo aumentos nos preços da gasolina e óleo diesel, em linha com a evolução das cotações internacionais. O componente não‑energético apresentou variação de 1,25% (ante 1,11%), destacando‑se o impacto do reajuste dos jogos lotéricos em novembro. A variação acumulada em doze meses dos preços administrados passou de 3,74% em agosto para 4,24% em novembro.

23/ Padrão sazonal obtido a partir das médias aparadas mensais, com exclusão de 20% de cada cauda, para o período de 2012 a 2018, ajustadas para que o acumulado no ano se situe em 4,25%. A faixa sazonal do gráfico 1.28 foi igualmente calculada, considerando padrão sazonal do período, ajustado para que o acumulado no ano se situe no intervalo entre 2,75% e 5,75%.

24/ Os preços dos alimentos in natura usualmente sobem de forma mais acentuada no final do ano, após o início do período chuvoso. O atraso das chuvas em 2019, no entanto, favoreceu preços mais baixos no trimestre.

Gráfico 1.33 – IPCA – ServiçosVariação % em 12 meses

Fontes: IBGE e BCB

2,5

4,5

6,5

8,5

Mai2017

Ago Nov Fev2018

Mai Ago Nov Fev2019

Mai Ago Nov

Serviços Serviços subjacenteServiços ex-subjacente

Gráfico 1.34 – IPCA – Bens industriaisVariação % em 12 meses

Fontes: IBGE e BCB

-2

-1

0

1

2

3

4

Mai2017

Ago Nov Fev2018

Mai Ago Nov Fev2019

Mai Ago Nov

Bens industriais Industriais subjacenteDemais bens industriais

Gráfico 1.32 – IPCA – Alimentação no domicílioVariação % em 12 meses

Fontes: IBGE e BCB

-20-15-10-505

1015202530

Mai2017

Ago Nov Fev2018

Mai Ago Nov Fev2019

Mai Ago Nov

Alimentação no domicílio Industrializados

In natura Semielaborados

Gráfico 1.35 – IPCA – AdministradosVariação % em 12 meses

Fontes: IBGE e BCB

-6-30369

12151821

Mai2017

Ago Nov Fev2018

Mai Ago Nov Fev2019

Mai Ago Nov

Administrados Energia elétrica

Combustíveis administrados Ex-energia

Page 30: Relatório de Inflação

28 \ Relatório de Inflação \ Banco Central do Brasil \ Dezembro 2019

Índice de difusão e núcleos

O índice de difusão, que mensura a proporção dos componentes do IPCA com variação de preços positiva, registrou média de 54,31% no trimestre encerrado em novembro, ante 50,57% no finalizado em agosto e 59,01% em igual período do ano anterior. Na série livre de efeitos sazonais, a média trimestral do índice de difusão recuou de 55,39% em agosto para 53,55% em novembro.

A média dos núcleos de inflação acompanhados pelo BCB25 oscilou de 2,67% em agosto para 2,63% em novembro, sob a métrica anualizada da média móvel trimestral dessazonalizada. Quatro dos sete núcleos mostraram recuo. No acumulado em doze meses, a média dos núcleos manteve‑se relativamente estável, passando de 3,04% para 3,00%.

Expectativas de mercado

De acordo com a Pesquisa Focus, a mediana das projeções para a variação anual do IPCA em 2019 passou de 3,45% em 13 de setembro para 3,84% em 6 de dezembro. As medianas das projeções para 2020, 2021 e 2022, que eram respectivamente de 3,80%, 3,75% e 3,50% em 13 de setembro, passaram para 3,60%, 3,75% e 3,50% em 6 de dezembro. Para a inflação doze meses à frente, suavizada, a mediana das previsões passou de 3,41% para 3,90%.

As medianas das expectativas para o aumento dos preços administrados ou monitorados por contratos em 2019 e 2020 atingiram, respectivamente, 5,10% e 4,00% em 6 de dezembro (4,50% e 4,20% em 13 de setembro). A mediana das projeções manteve‑se em 4,00% para 2021 e em 3,75% para 2022.

25/ Ex‑0, Ex‑1, Ex‑2, Ex‑3, Dupla ponderação, Médias aparadas com e sem suavização.

Gráfico 1.36 – Índice de difusão e núcleos de inflação3 meses dessazonalizado% de subitens com aumentos no mês Var. % anualizada

Fontes: IBGE e BCB

1

2

3

4

5

48

53

58

63

Mai2017

Ago Nov Fev2018

Mai Ago Nov Fev2019

Mai Ago Nov

Índice de difusão Média dos núcleos de inflação (dir.)

Gráfico 1.37 – Expectativas de mercado – IPCAMediana (%)

3,3

3,4

3,5

3,6

3,7

3,8

3,9

4,0

4,1

26.42019

17.5 6.6 27.6 17.7 6.8 26.8 6.12

2019 2020 2021 2022

Tabela 1.4 – Resumo das expectativas de mercado

2019 2020 2019 2020 2019 2020

Em %IPCA 3,84 4,00 3,45 3,80 3,84 3,60IGP-M 5,98 4,10 5,07 4,05 5,79 4,14IPA-DI 7,25 4,45 5,61 4,21 6,94 4,32Preços administrados 5,20 4,40 4,50 4,20 5,10 4,00Selic (fim de período) 5,75 6,50 5,00 5,00 4,50 4,50Selic (média do período) 6,31 6,50 5,94 5,00 5,88 4,41PIB 0,93 2,20 0,87 2,00 1,10 2,24Em R$/US$Câmbio (fim de período) 3,80 3,80 3,90 3,90 4,15 4,10Câmbio (média do período) 3,82 3,79 3,90 3,89 3,95 4,07

(continua)

13.9.2019 6.12.201914.6.2019

Tabela 1.4 – Resumo das expectativas de mercado(continuação)

2021 2022 2021 2022 2021 2022

Em %IPCA 3,75 3,75 3,75 3,50 3,75 3,50IGP-M 4,00 4,00 4,00 3,75 4,00 3,85IPA-DI 4,00 3,88 3,87 3,75 3,75 3,75Preços administrados 4,00 3,75 4,00 3,75 4,00 3,75Selic (fim de período) 7,50 7,50 7,00 7,00 6,25 6,50Selic (média do período) 7,50 7,50 6,25 7,00 5,60 6,50PIB 2,50 2,50 2,50 2,50 2,50 2,50Em R$/US$Câmbio (fim de período) 3,85 3,90 3,90 3,95 4,00 4,00Câmbio (média do período) 3,80 3,85 3,90 3,95 4,00 4,00

14.6.2019 13.9.2019 6.12.2019

Page 31: Relatório de Inflação

Dezembro 2019 \ Banco Central do Brasil \ Relatório de Inflação \ 29

Projeções para crescimento do PIB em 2019 e 2020

Este boxe atualiza as projeções do Banco Central para o crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) em 2019 e 2020.

Revisão da projeção para 2019

A projeção para o crescimento do PIB em 2019 foi revisada para 1,2%, ante 0,9% no Relatório de Inflação de setembro (Tabela 1). Esse ajuste na projeção repercute os resultados divulgados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) para o terceiro trimestre do ano, a revisão da série histórica do PIB e o conjunto de informações setoriais disponíveis para o trimestre em curso.

O resultado acima do esperado para o PIB do terceiro trimestre de 2019 favoreceu o carregamento estatístico para o ano corrente, contribuindo para a elevação da estimativa de crescimento anual. Para o crescimento do quarto trimestre, destaca‑se o impulso decorrente das liberações extraordinárias de recursos do Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS) e do Programa de Integração Social (PIS)/ Programa de Formação do Patrimônio do Servidor Público (Pasep).

No âmbito da oferta, a previsão para a variação anual da agropecuária passou de 1,8% para 2,0%, refletindo revisão das contas trimestrais e aumento da previsão de abates, em cenário de forte elevação dos preços de carnes. A projeção para o desempenho da atividade industrial passou de 0,1% para 0,7%, em decorrência dos aumentos nas projeções para indústria extrativa (de ‑1,6% para ‑0,4%), indústria de transformação (de ‑0,2% para 0,2%) e, principalmente, construção civil (de 0,1% para 2,1%), setor que apresentou crescimento significativo ao longo dos últimos dois trimestres, revertendo tendência observada ao longo dos últimos anos. A estimativa de expansão da atividade do setor de serviços em 2019 foi ligeiramente revisada (de 1,0% para 1,1%), com destaque para elevações nas projeções para comércio (de 1,2% para 2,0%) e serviços de informação (de 2,5% para 3,5%). Em sentido oposto, as estimativas para outros serviços e administração, saúde e educação públicas foram reduzidas para 1,2% e ‑0,2%, na ordem, ante projeções anteriores de 1,6% e 0,1%.

No âmbito dos componentes domésticos da demanda agregada, a estimativa de crescimento para o consumo das famílias foi revista de 1,6% para 2,0%, enquanto para a formação bruta de capital fixo (FBCF), de 2,6% para 3,3%. Ambas as alterações

Tabela 1 – Produto Interno BrutoAcumulado no ano

Variação %Discriminação 2018

Anterior Atual

Agropecuária 1,4 1,8 2,0

Indústria 0,5 0,1 0,7 Extrativa mineral 0,8 -1,6 -0,4 Transformação 1,5 -0,2 0,2 Construção civil -3,8 0,1 2,1 Prod./dist. de eletricidade, gás e água 2,6 2,8 2,0

Serviços 1,5 1,0 1,1 Comércio 2,5 1,2 2,0 Transporte, armazenagem e correio 2,2 -0,3 -0,1 Serviços de informação 0,9 2,5 3,5 Interm. financeira e serviços relacionados 0,0 0,2 0,6 Outros serviços 1,5 1,6 1,2 Atividades imobiliárias e aluguel 3,2 1,9 2,2 Adm., saúde e educação públicas 0,3 0,1 -0,2

Valor adicionado a preços básicos 1,3 0,9 1,1

Impostos sobre produtos 1,6 1,3 1,7

PIB a preços de mercado 1,3 0,9 1,2

Consumo das famílias 2,1 1,6 2,0Consumo do governo 0,4 -0,3 -0,6Formação bruta de capital fixo 3,9 2,6 3,3Exportação 4,0 -0,5 -3,0Importação 8,3 1,9 1,7

Fonte: IBGE1/ Estimativa.

20191/

Page 32: Relatório de Inflação

30 \ Relatório de Inflação \ Banco Central do Brasil \ Dezembro 2019

refletem, principalmente, crescimentos no terceiro trimestre maiores do que antecipados e revisões nas contas trimestrais.

Para a exportação e importação de bens e serviços, estimam‑se variações respectivas de ‑3,0% e 1,7%, em 20191, ante projeções anteriores de ‑0,5% e 1,9%. A alteração na projeção para as exportações reflete, em grande medida, a redução dos valores referentes ao primeiro semestre do ano, no contexto da revisão da série histórica do PIB.2 Nesse cenário, as contribuições da demanda interna e do setor externo para a evolução do PIB em 2019 são estimadas em 1,9 p.p. e ‑0,7 p.p., respectivamente.

Revisão da projeção para 2020

A projeção para o crescimento do PIB em 2020 foi revisada de 1,8% para 2,2% (Tabela 2), refletindo elevação do carregamento estatístico, após a revisão das projeções para 2019, além de previsão de ritmo de crescimento ao longo de 2020 ligeiramente superior ao considerado no Relatório de Inflação anterior. Ressalta‑se que essa perspectiva está condicionada ao cenário de continuidade das reformas e ajustes necessários na economia brasileira.

Pelo lado da oferta, as previsões para agropecuária, indústria e serviços foram revistas, respectivamente, para 2,9%, 2,9% e 1,7%, ante 2,6%, 2,2% e 1,4% no Relatório de Inflação anterior. A elevação na previsão da atividade no setor primário repercute os primeiros prognósticos para a safra de 20203 e as boas perspectivas para a pecuária. Na indústria e em serviços, as elevações nas previsões foram bastante disseminadas entre atividades, repercutindo melhores perspectivas para os diversos setores da economia.

No âmbito dos componentes da demanda interna, estima‑se expansão de 2,3% para o consumo das famílias e de 4,1% para a FBCF, ante 2,2% e 2,9%, respectivamente, na previsão anterior. Parte da alta na previsão para a FBCF está associada a prognóstico mais favorável para a construção civil. A projeção para o consumo do governo foi alterada de 0,5% para 0,3%, devido ao menor carregamento estatístico, após a divulgação do resultado do terceiro trimestre de 2019 para esse componente.

A estimativa para o crescimento das exportações foi revista de 1,7% para 2,5%, enquanto a projeção para as importações passou de 1,6% para 3,8%. O aumento na previsão para as exportações está associado, entre outros fatores, a elevações nas estimativas de crescimento da produção agropecuária e extrativa mineral, setores voltados ao mercado externo. O

1/ Prognósticos para exportação, importação e FBCF estão sujeitos a níveis de incertezas mais elevados que o usual devido a indefinições quanto ao volume de exportação e importação de equipamentos para a indústria de petróleo e gás, no âmbito do Regime Aduaneiro Especial de Exportação e Importação de Bens destinados às Atividades de Pesquisa e de Lavra das Jazidas de Petróleo e de Gás Natural (Repetro).

2/ Sobre a evolução recente das exportações, ver boxe “Evolução Recente da Balança Comercial”, neste Relatório.3/ A Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) prevê alta de 1,9% para a safra de grãos de 2019/2020 ante a safra de 2018/2019,

com a produção de soja, leguminosa com elevada participação no valor adicionado bruto da agricultura, crescendo 5,3%. Além disso, a safra de café deve apresentar elevação acentuada, em ano de sazonalidade bianual favorável. Em sentido oposto, a produção da segunda safra de milho deve recuar, influenciada por atraso no plantio de soja em importantes regiões produtoras, motivado por atraso no início das chuvas.

Tabela 2 – Produto Interno BrutoAcumulado no ano

Variação %Discriminação 2018 20191/

Anterior Atual

Agropecuária 1,4 2,0 2,6 2,9Indústria 0,5 0,7 2,2 2,9Serviços 1,5 1,1 1,4 1,7

Valor adicionado a preços básicos 1,3 1,1 1,7 2,0

Impostos sobre produtos 1,6 1,7 2,3 2,9

PIB a preços de mercado 1,3 1,2 1,8 2,2

Consumo das famílias 2,1 2,0 2,2 2,3Consumo do governo 0,4 -0,6 0,5 0,3Formação bruta de capital fixo 3,9 3,3 2,9 4,1Exportação 4,0 -3,0 1,7 2,5Importação 8,3 1,7 1,6 3,8

Fonte: IBGE1/ Estimativa.

20201/

Page 33: Relatório de Inflação

Dezembro 2019 \ Banco Central do Brasil \ Relatório de Inflação \ 31

aumento na projeção para as importações reflete as perspectivas favoráveis para a indústria de transformação e para a FBCF, com consequente aumento da demanda por insumos, máquinas e equipamentos, bem como o aumento na projeção para o consumo das famílias. As contribuições das demandas interna e externa para o crescimento do PIB no ano estão estimadas em 2,4p.p. e ‑0,2p.p., respectivamente.

Page 34: Relatório de Inflação

32 \ Relatório de Inflação \ Banco Central do Brasil \ Dezembro 2019

A população ocupada (PO)1 no Brasil aumentou 7,3% entre o primeiro trimestre de 2012 e o terceiro trimestre de 2019, ao longo de três fases distintas: crescimento até o primeiro trimestre de 2015, recuo nos sete trimestres seguintes e retomada a partir do final de 2016, em linha com a evolução da atividade econômica (Gráfico 1). No mesmo período, a massa real de rendimentos do trabalho (massa de rendimentos) acumulou alta de 14,4%, com períodos de expansão e contração aproximadamente coincidentes com os da PO (Gráfico 2).

A desagregação dos dados por categorias de ocupação mostra que a evolução da PO e da massa de rendimentos não ocorreu de forma homogênea ao longo do tempo. Entre o primeiro trimestre de 2012 e o quarto trimestre de 2016, os trabalhadores formais foram responsáveis pelas maiores variações na PO e na massa de rendimentos, enquanto no ciclo de expansão iniciado ao final de 2016, os informais tiveram papel preponderante (Gráficos 3 e 4)2. Considerando que trabalhadores formais, em geral, trabalham mais horas semanalmente, recebem mais por hora trabalhada, possuem maior nível de escolaridade e também maior

1/ De acordo com dados da PNAD Contínua. Considerou‑se neste boxe somente a PO com rendimento. A medida de rendimentos utilizada foi a habitualmente recebida em todos os trabalhos, deflacionada pelo IPCA. Os dados foram ajustados sazonalmente pelo Banco Central.

2/ Neste boxe, trabalhadores formais são formados por empregados de setor privado com carteira, trabalhadores domésticos com carteira, trabalhadores do setor público e empregadores, enquanto informais são formados pelo restante da população ocupada.

Evolução dos mercados de trabalho formal e informal nos recentes ciclos de atividade econômica

0

2

4

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Mar2013

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Set Mar2017

Set Mar2018

Set Mar2019

Set

Contribuição PO formal Contribuição PO informalMassa total

Gráfico 2 – Massa de rendimentos do trabalhoVariação dessazonalizada acumulada desde I Tri 2012, %

Fontes: IBGE e BCB

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Mar2013

Set Mar2014

Set Mar2015

Set Mar2016

Set Mar2017

Set Mar2018

Set Mar2019

Set

Contribuição PO formalContribuição PO informalPO TotalPIB

Gráfico 1 – População ocupada e PIBVariação dessazonalizada acumulada desde I Tri 2012, %

Fontes: IBGE e BCB

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I Tri 2012a

I Tri 2015

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IV Tri 2016

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III Tri 2019

Períodocompleto

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%

Gráfico 3 – Decomposição de evolução da PO em formais e informais

Fontes: IBGE e BCB

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I Tri 2012a

I Tri 2015

I Tri 2015a

IV Tri 2016

IV Tri 2016a

III Tri 2019

Períodocompleto

Formal Informal Total

%

Gráfico 4 – Decomposição de evolução da massa de rendimentos em formais e informais

Fontes: IBGE e BCB

%

Fontes: IBGE e BCB

Page 35: Relatório de Inflação

Dezembro 2019 \ Banco Central do Brasil \ Relatório de Inflação \ 33

estabilidade no trabalho e nos rendimentos3, este boxe analisa a evolução recente do mercado de trabalho sob o prisma da desagregação entre trabalhadores formais e informais.

No primeiro ciclo de expansão da PO, iniciado no primeiro trimestre de 20124 e encerrado no primeiro trimestre de 2015, o contingente de trabalhadores formais cresceu 7,8%, com altas expressivas entre os trabalhadores do setor privado com carteira, do setor público e empregadores. A PO do setor informal ficou praticamente estável (+0,8%), com recuos nos números de empregados do setor privado sem carteira e de domésticos sem carteira compensando boa parte da elevação na quantidade de trabalhadores por conta própria. No mesmo período, os rendimentos médios dos trabalhadores formais e informais cresceram em magnitudes semelhantes (5,0% e 6,2%, respectivamente), repercutindo, principalmente, as altas nos rendimentos médios de empregados do setor privado com carteira e de trabalhadores por conta própria. Como resultado dos crescimentos da PO e do rendimento médio de formais e informais, a massa de rendimentos acumulou alta expressiva no período (11,4%), com os trabalhadores formais contribuindo com a maior parte desse crescimento.5

Entre o primeiro trimestre de 2015 e o final de 2016, período em que o Produto Interno Bruto (PIB) nacional recuou 6,4%, houve diminuição de 5,1% no contingente de trabalhadores do setor formal, com queda de 6,4% entre os empregados do setor privado com carteira, enquanto o rendimento médio desse setor manteve‑se praticamente estável, evidenciando rigidez de salários. Nessa fase de forte recuo da atividade econômica, o desempenho do setor informal começou a se destacar. A PO desse setor cresceu 1,7%, compensando parte da queda entre os formais, com destaque para o aumento no número de empregados do setor privado sem carteira e, principalmente, de trabalhadores por conta própria. Porém, o rendimento médio dos informais apresentou forte recuo (‑4,9%), refletindo a maior flexibilidade para ajustes nos rendimentos e a ampliação da oferta de trabalhadores, em razão da escassez de vagas no setor formal. Dessa forma, a massa de rendimentos recuou 4,5% no período, com contribuições de ‑3,6 p.p. dos trabalhadores formais, repercutindo recuo na ocupação, e de ‑0,9 p.p. dos informais, em virtude da redução nos rendimentos médios no segmento.

Por fim, no período mais recente, diferentemente do observado no primeiro ciclo de expansão da série, os trabalhadores informais dominaram o crescimento da PO. Entre o quarto trimestre de 2016 e o terceiro trimestre de 2019, o contingente de trabalhadores informais apresentou expressiva elevação (12,0%), contribuindo com 5,0 p.p. do aumento de 4,7% da PO – a maior parte da contribuição decorreu de aumentos de empregados nos segmentos do setor privado sem carteira e, principalmente, de trabalhadores por conta própria. No setor formal, recuos no número de empregados com carteira do setor privado e de empregados domésticos com carteira sobrepujaram as elevações nas quantidades de trabalhadores do setor público e de empregadores. Em relação aos rendimentos médios, houve incrementos de 4,4% e 4,3% para os trabalhadores formais e informais, respectivamente, interrompendo as tendências observadas na fase anterior. A massa de rendimentos acumulou alta de 7,5% no período, com a maior parte (4,6 p.p.) repercutindo elevações da PO e do rendimento médio dos trabalhadores informais.

Os Gráficos 5 e 6 apresentam de maneira sintética as contribuições para a evolução da massa de rendimentos dos trabalhadores formais e informais discutidas anteriormente, além de decompor a variação do rendimento em variações do número médio de horas trabalhadas por semana e do rendimento médio recebido por hora de trabalho. Essa decomposição mostra que, de maneira geral, a variação do número médio de horas trabalhadas

3/ Considerando a média dos últimos quatro trimestres, os trabalhadores formais receberam 62,4% a mais por hora trabalhada do que os informais e trabalharam 15,6% mais horas semanalmente. Neste período, 73,2% dos trabalhadores formais possuíam ao menos o segundo grau completo, ante 44,6% entre os informais. Além disso, a taxa de transição da ocupação para desocupação ou para fora da força de trabalho entre dois trimestres consecutivos foi, em média, de 4,7% entre os formais e de 14,8% entre os informais.

4/ O primeiro trimestre de 2012 é o início da série da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (PNAD Contínua).5/ As Tabelas 1, 2 e 3, ao final do boxe, permitem uma análise mais detalhada de cada uma das distintas fases da evolução recente

do mercado de trabalho. As contribuições de cada categoria populacional “i” para a variação da PO com rendimento, da massa de

rendimentos (M) e do rendimento médio (R) foram calculadas, respectivamente, como ∆𝑃𝑂𝑖∆𝑃𝑂 ,

∆𝑀𝑖∆𝑀 𝑒 𝑓𝑖

𝑅𝑖𝑅∆𝑅𝑖𝑅𝑖

+𝑅𝑖 − 𝑅𝑅 ∆𝑓𝑖 , onde

𝑓𝑖 =𝑃𝑂𝑖𝑃𝑂

. No caso do rendimento médio, o primeiro termo representa o efeito da variação do rendimento médio de cada categoria

e o segundo, o efeito da variação de composição.

Page 36: Relatório de Inflação

34 \ Relatório de Inflação \ Banco Central do Brasil \ Dezembro 2019

semanalmente teve maior importância para a variação da massa de rendimentos dos trabalhadores informais do que dos formais. Entre o primeiro trimestre de 2012 e o primeiro trimestre de 2015 houve, entre os informais, redução de 4,3% no número médio de horas trabalhadas por semana, possivelmente associada à decisão de se ofertar menos horas de trabalho em cenário de forte crescimento do rendimento médio por hora trabalhada6. Do primeiro trimestre de 2015 ao quarto trimestre de 2016 e dessa data até o terceiro trimestre de 2019, continuou havendo redução no número médio de horas trabalhadas no setor informal, porém em menor magnitude. Nesses períodos, a redução do número de horas possivelmente esteve associada a uma maior dificuldade de se trabalhar o número de horas desejado, em contexto de elevadas taxas de desocupação.

Para complementar a análise, a variação da massa de rendimentos do setor informal foi decomposta por categorias de ocupação (Gráficos 7 e 8)7, 8

Entre o primeiro trimestre de 2015 e o quarto trimestre de 2016 a massa salarial dos trabalhadores informais recuou 3,2%. Parcela expressiva dessa queda (‑2,2 p.p.) decorreu de recuos na população ocupada, no número médio de horas trabalhadas semanalmente e nos rendimentos médios por hora de trabalhadores qualificados da construção civil. Em sentido oposto, elevações na população ocupada de trabalhadores qualificados da agropecuária; dirigentes e especialistas em administração pública e de empresas; condutores de veículos e operadores de equipamentos pesados móveis9, entre outras categorias, evitaram que a queda da massa salarial fosse ainda mais pronunciada. Destaca‑se ainda que nesse período a maioria das ocupações apresentou redução na média de horas trabalhadas semanalmente e no rendimento médio por hora.

A partir do quarto trimestre de 2016 a massa de rendimentos do setor informal passou a crescer, acumulando alta significativa, de 16,8%, até o terceiro trimestre de 2019. Contribuíram positivamente para a elevação da massa de rendimentos 31 das 43 ocupações, com a principal contribuição proveniente de vendedores10. Profissionais de saúde e condutores de veículos e operadores de equipamentos pesados móveis ampliaram suas contribuições para elevação da massa de rendimentos. Os destaques negativos foram trabalhadores ambulantes e gerentes de hotéis, restaurantes, comércios e outros serviços.

6/ Nesse período, houve também redução no número médio de horas trabalhadas semanalmente entre os formais, porém em menor intensidade.

7/ Ocupações de acordo com o Código Brasileiro de Ocupações para pesquisas domiciliares, na abertura de dois dígitos, totalizando 43 ocupações. A análise com este nível de desagregação deve ser tomada com o devido cuidado tendo em vista a perda de precisão associada à fragmentação amostral.

8/ Nos Gráficos 7 e 8, somente as oito ocupações que mais contribuíram para elevação e para o recuo da massa de rendimentos são apresentadas.

9/ Desagregação adicional desta ocupação mostra que a maior parte da elevação da PO foi proveniente do aumento no número de condutores de automóveis, caminhonetes e motocicletas, possivelmente associado à disseminação de serviços de transporte de passageiros e de mercadorias contratados por meio de aplicativos. Convém ressaltar, novamente, que a análise com este nível de desagregação deve ser tomada com relativa cautela, tendo em vista a perda de precisão associada à fragmentação amostral.

10/ A população ocupada de vendedores, especialmente os vendedores à domicílio, já vinha subindo de maneira expressiva entre o primeiro trimestre de 2015 e o quarto trimestre de 2016. Porém, neste período a contribuição para a evolução da massa de rendimentos foi praticamente nula em decorrência de reduções no rendimento médio por hora e no número médio de horas trabalhadas semanalmente.

-7

0

7

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21

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I Tri 2012a

I Tri 2015

I Tri 2015a

IV Tri 2016

IV Tri 2016a

III Tri 2019

Períodocompleto

Gráfico 5 – Evolução da massa de rendimentos – formais

PO Horas médias

Rend./hora Total

%

Fontes: IBGE e BCB

-7

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7

14

21

28

I Tri 2012a

I Tri 2015

I Tri 2015a

IV Tri 2016

IV Tri 2016a

III Tri 2019

Períodocompleto

Gráfico 6 – Evolução da massa de rendimentos – informais

PO Horas médias

Rend./hora Total

%

Fontes: IBGE e BCB

Page 37: Relatório de Inflação

Dezembro 2019 \ Banco Central do Brasil \ Relatório de Inflação \ 35

Tabela 1 – Evolução da população ocupada

Part. %1/ Var. % Contr. p.p. Part. %1/ Var. % Contr.

p.p. Part. %1/ Var. % Contr. p.p. Part. %1/ Var. % Contr.

p.p.

Total 100,0 7,3 7,3 100,0 4,9 4,9 100,0 -2,3 -2,3 100,0 4,7 4,7

Formal 58,4 1,9 1,1 59,6 7,8 4,6 59,0 -5,1 -3,0 56,9 -0,4 -0,2

Privado com carteira 39,0 -1,4 -0,5 40,5 7,8 3,1 39,5 -6,4 -2,6 37,2 -2,2 -0,9

Domésticos com carteira 2,1 -7,6 -0,2 2,2 0,3 0,0 2,3 1,0 0,0 2,1 -8,7 -0,2

Setor público 12,7 6,2 0,8 12,7 6,3 0,8 12,7 -3,5 -0,5 12,8 3,6 0,5

Empregador 4,5 25,4 1,0 4,2 17,0 0,7 4,5 -0,3 0,0 4,8 7,6 0,4

Informal 41,6 14,9 6,2 40,4 0,8 0,3 41,0 1,7 0,7 43,1 12,0 5,0

Privado sem carteira 12,0 5,8 0,8 12,1 -7,3 -0,9 11,3 1,2 0,1 12,3 12,9 1,5

Domésticos sem carteira 4,8 8,2 0,4 4,7 -1,4 -0,1 4,6 0,2 0,0 4,9 9,6 0,5

Conta própria 24,8 21,1 5,0 23,5 5,6 1,3 25,1 2,4 0,6 26,0 12,0 3,0

Familiar 0,0 17,4 0,0 0,0 36,2 0,0 0,0 -57,1 0,0 0,0 101,0 0,0

Fontes: IBGE e BCB

1/ Participação média no período.

Período completo I Tri 2012 – I Tri 2015 I Tri 2015 – IV Tri 2016 IV Tri 2016 – III Tri 2019

Em suma, o processo de recuperação do mercado de trabalho observado nos últimos anos tem se apoiado primordialmente no setor informal, diferentemente do que foi observado no ciclo de expansão que precedeu a última recessão. O movimento pode estar associado não apenas ao gradualismo que caracteriza a retomada da atividade econômica, mas também a fatores tecnológicos que ampliaram as possibilidades de se ofertar trabalho autonomamente. Ademais, trabalhadores do setor informal, em geral, trabalham menos horas por semana e recebem menos por hora trabalhada, e isso tem impactos em medidas de produtividade do trabalho usualmente computadas, que ignoram esses fatores.11

11/ Ver boxe “Produtividade do trabalho e horas trabalhadas”, no Boletim Regional de outubro de 2019, para uma análise de como o controle para horas trabalhadas pode mudar a avaliação de como evoluiu a produtividade do trabalho desde a última recessão.

-2,5

-2,0

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PO Horas médias Rend./hora Total

Principais contrib. positivas Principais contrib. negativas

Gráfico 7 – Contribuição para variação da massa de rendimentos dos informais (I Tri 2015 – IV Tri 2016)

%

Fontes: IBGE e BCB

-1

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0

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2

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PO Horas médias Rend./hora Total

Principais contrib. positivas Principais contrib. negativas

Gráfico 8 – Contribuição para variação da massa de rendimentos dos informais (IV Tri 2016 – III Tri 2019)%

Fontes: IBGE e BCB

Page 38: Relatório de Inflação

36 \ Relatório de Inflação \ Banco Central do Brasil \ Dezembro 2019

Tabela 2 – Evolução do rendimento médio

Rend. R$1/ Var. % Contr.

p.p.Rend. R$1/ Var. % Contr.

p.p.Rend. R$1/ Var. % Contr.

p.p.Rend. R$1/ Var. % Contr.

p.p.

Total 2 266 6,6 6,6 2 254 6,2 6,2 2 255 -2,2 -2,2 2 286 2,6 2,6

Formal 2 791 9,6 6,0 2 738 5,0 4,0 2 764 0,1 -0,3 2 866 4,4 2,3

Privado com carteira 2 201 5,9 2,3 2 179 5,1 2,0 2 195 -1,3 -0,5 2 230 2,2 0,8

Domésticos com carteira 1 227 15,8 0,3 1 186 9,9 0,2 1 215 1,4 0,0 1 281 3,9 0,2

Setor público 3 711 11,6 2,3 3 618 4,3 1,0 3 680 2,3 0,4 3 830 4,6 0,9

Empregador 6 040 -1,1 1,0 6 238 0,3 0,9 5 963 -3,1 -0,2 5 878 1,8 0,4

Informal 1 530 5,3 0,6 1 540 6,2 2,2 1 524 -4,9 -1,9 1 520 4,3 0,3

Privado sem carteira 1 368 7,5 0,6 1 351 -0,2 0,6 1 348 -1,9 -0,3 1 396 9,7 0,4

Domésticos sem carteira 751 9,3 0,1 734 10,1 0,4 761 -2,1 -0,1 766 1,4 -0,1

Conta própria 1 758 2,6 -0,2 1 799 7,1 1,3 1 746 -6,4 -1,5 1 721 2,4 0,0

Familiar 746 27,7 0,0 778 57,2 0,0 652 -34,9 0,0 777 24,7 0,0

Fontes: IBGE e BCB

1/ Valores médios do rendimento médio real no período.

IV Tri 2016 – III Tri 2019Período completo I Tri 2012 – I Tri 2015 I Tri 2015 – IV Tri 2016

Tabela 3 – Evolução da massa de rendimentos do trabalho

Part. %1/ Var. % Contr. p.p. Part. %1/ Var. % Contr.

p.p. Part. %1/ Var. % Contr. p.p. Part. %1/ Var. % Contr.

p.p.

Total 100,0 14,4 14,4 100,0 11,4 11,4 100,0 -4,5 -4,5 100,0 7,5 7,5

Formal 71,9 11,8 8,4 72,4 13,2 9,5 72,3 -5,0 -3,6 71,3 3,9 2,8

Privado com carteira 37,9 4,5 1,7 39,2 13,2 5,1 38,4 -7,6 -3,0 36,3 -0,1 0,0

Domésticos com carteira 1,2 7,0 0,1 1,1 10,2 0,1 1,2 2,3 0,0 1,2 -5,1 -0,1

Setor público 20,8 18,6 3,8 20,3 10,9 2,2 20,8 -1,3 -0,3 21,4 8,3 1,8

Empregador 12,0 24,1 2,8 11,8 17,3 2,0 11,8 -3,4 -0,4 12,5 9,5 1,2

Informal 28,1 21,0 5,9 27,6 7,0 2,0 27,7 -3,2 -0,9 28,7 16,8 4,6

Privado sem carteira 7,3 13,8 1,1 7,3 -7,5 -0,6 6,8 -0,7 0,0 7,5 23,8 1,7

Domésticos sem carteira 1,6 18,3 0,3 1,5 8,5 0,1 1,6 -1,9 0,0 1,6 11,2 0,2

Conta própria 19,2 24,3 4,5 18,8 13,2 2,4 19,4 -4,2 -0,8 19,6 14,7 2,8

Familiar 0,0 49,9 0,0 0,0 114,1 0,0 0,0 -72,1 0,0 0,0 150,7 0,0

Fontes: IBGE e BCB

1/ Média da participação do total da massa de rendimentos no período.

Período completo I Tri 2012 - I Tri 2015 I Tri 2015 - IV Tri 2016 IV Tri 2016 - III Tri 2019

Page 39: Relatório de Inflação

Dezembro 2019 \ Banco Central do Brasil \ Relatório de Inflação \ 37

Períodos de contração econômica e recuperação gradual, como o vivenciado pela economia brasileira nos últimos anos, podem provocar aumento da subocupação, saída de pessoas do mercado de trabalho por desalento1 e entrada de pessoas oferecendo trabalho para complementar a renda domiciliar. Simultaneamente, inovações tecnológicas e alterações da legislação têm contribuído para a flexibilização das relações trabalhistas nos últimos anos. Nesse contexto, medidas mais amplas de subutilização da força de trabalho (FT) – comparativamente à usual taxa de desocupação (TD) – ganham relevância para avaliação do nível de ociosidade no mercado de trabalho. Explorando dados da PNAD Contínua, este boxe apresenta medidas de subutilização do fator trabalho com enfoque nas horas totais disponíveis da força de trabalho ou, de forma mais abrangente, nas horas totais disponíveis do mercado de trabalho, considerando‑se não só a FT, mas também a força de trabalho potencial (FTP)2.

Tendo como referência a taxa de desocupação, expressa como:

𝑇𝐷 = 1 −𝑃𝑂

𝑃𝑂 + 𝑃𝐷 ,

em que PO e PD são, respectivamente, as populações ocupada e desocupada, a abordagem com enfoque nas horas disponíveis da FT estima uma taxa de desocupação ajustada pelas horas (TDAH) dada por:

𝑇𝐷𝐴𝐻 = 1 −𝐻𝑝𝑃𝑂𝑝 + 𝐻𝑠𝑃𝑂𝑠

𝐻𝑝 𝑃𝑂𝑝 + 𝑃𝑂𝑠 + 𝑃𝐷 ,

em que os subscritos p e s representam a partição da população ocupada em plenamente ocupados e subocupados, respectivamente, e Hi representa as horas médias semanais trabalhadas pelos ocupados da partição i∈ {p,s}. No segundo termo dessa fórmula, o denominador caracteriza o número total de horas de trabalho semanais que podem ser ofertadas pela força de trabalho, sob a hipótese de que as horas médias trabalhadas pelos trabalhadores plenamente ocupados são uma medida apropriada de potencial3. No numerador, tem‑se o total observado de horas trabalhadas no período.

A TDAH dá peso diferenciado para a população plenamente ocupada e para a população subocupada, diferentemente do que ocorre na medida tradicional de desemprego. Também difere da “taxa combinada da subocupação por insuficiência de horas e da desocupação”, divulgada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), que exclui totalmente as horas trabalhadas pelos subocupados (i.e., imputa Hs = 0).

1/ A força de trabalho é composta de pessoas ocupadas ou desocupadas. Essas últimas são aquelas que estavam sem trabalho e disponíveis para trabalhar na semana de referência e realizaram busca efetiva por trabalho no período de referência de 30 dias. Trabalhadores subocupados, um subgrupo da população ocupada, correspondem aos que trabalharam por menos de 40 horas semanais, estavam disponíveis e gostariam de trabalhar por mais horas. Desalentados são pessoas que gostariam de ter um trabalho e estavam disponíveis para trabalhar, mas não realizaram busca efetiva por trabalho.

2/ A força de trabalho potencial é definida como o conjunto de pessoas de 14 anos ou mais de idade que não estavam ocupadas nem desocupadas, mas que possuíam potencial de migrar para a força de trabalho; inclui os chamados desalentados e pessoas que realizaram busca efetiva por trabalho, mas não se encontravam disponíveis para trabalhar na semana de referência.

3/ Uma medida ideal seria o número de horas de trabalho que os indivíduos subocupados, desocupados e na FTP estivessem dispostos a ofertar. Na ausência dessa informação, utilizou‑se como proxy a média de horas trabalhadas pelos ocupados que não se declararam subocupados. Uma vantagem de se usar essa proxy, e não um valor fixo para o número de horas potenciais, é tornar o indicador mais robusto a mudanças de caráter estrutural nas jornadas de trabalho.

Indicadores de subutilização da força de trabalho ajustados por horas trabalhadas

Page 40: Relatório de Inflação

38 \ Relatório de Inflação \ Banco Central do Brasil \ Dezembro 2019

Na mesma linha, outro indicador proposto é a taxa de desocupação ampliada ajustada pelas horas (TDAAH), que ainda inclui no denominador as horas que poderiam ser ofertadas pela força de trabalho potencial (FTP):

𝑇𝐷𝐴𝐴𝐻 = 1 −𝐻𝑝𝑃𝑂𝑝 + 𝐻𝑠𝑃𝑂𝑠

𝐻𝑝 𝑃𝑂𝑝 + 𝑃𝑂𝑠 + 𝑃𝐷 + 𝐹𝑇𝑃

A TDAAH é semelhante à “taxa composta de subutilização da força de trabalho”, divulgada pelo IBGE, exceto por considerar as horas trabalhadas pelos subocupados.

O Gráfico 1 mostra que os indicadores ajustados por horas trabalhadas evoluem de forma semelhante à TD no longo prazo, sendo que a TDAH e a TDAAH são, respectivamente, 2,5 p.p. e 7,3 p.p. maiores que a TD, considerada a média da série iniciada em 20124. No período mais recente, no entanto, a retração da ociosidade sugerida pelo indicador tradicional de desocupação não é tão evidente nas medidas mais amplas. Enquanto a TD recuou 0,6 p.p. entre o terceiro trimestre de 2017 e o mesmo período de 2019, essa retração ficou em 0,3 p.p. na TDAH, refletindo o aumento da subocupação5. A TDAAH diminuiu 0,2 p.p. nesse intervalo, evidenciando elevação da FTP, decorrente do crescimento do desalento6. Os níveis atuais da TD, TDAH e TDAAH são, respectivamente, 12,1%, 15,4% e 21,2%7.

As taxas de desocupação ajustadas pelas horas podem ser reescritas como funções da população ocupada total, da população desocupada, da razão entre os subocupados e a população ocupada total (f) e da razão entre as horas médias trabalhadas pelos subocupados e pelos plenamente ocupados (h)8, o que permite decompor as variações da TDAH e da TDAAH como resultado da evolução dessas variáveis. A decomposição da variação da TDAH mostra que, apesar da redução da população de desocupados e do aumento dos ocupados terem contribuído para o recuo da TDAH ao longo dos últimos trimestres, a elevação da participação dos subocupados evitou sua queda, deixando‑a praticamente estável (Gráfico 2). Portanto, a ociosidade medida

4/ Consideraram‑se as horas habitualmente trabalhadas em todos os trabalhos e foram descartados da amostra os ocupados sem informação sobre horas trabalhadas. Mudança metodológica da pesquisa – vide Nota Técnica do IBGE “Reformulação do questionário da PNAD Contínua a partir do 4º trimestre de 2015” – alterou conceitos e medidas, provocando quebra de nível em algumas séries, inclusive nas de subocupados e horas trabalhadas. Para mitigar o problema, foi realizado encadeamento/retropolação das séries calculadas antes e depois do 4º trimestre de 2015.

5/ O número de subocupados cresceu 13,2% entre o 3º trimestre de 2017 e o mesmo período de 2019. A participação dos subocupados na população ocupada alcançou 7,5% no 3º trimestre de 2019, enquanto o mínimo da série foi 3,7% e ocorreu no 2º trimestre de 2014.

6/ O número de desalentados aumentou 11,8% entre o 3º trimestre de 2017 e o mesmo período de 2019. O número de pessoas que realizaram busca efetiva por trabalho, mas não se encontravam disponíveis para trabalhar na semana de referência, diminuiu 2,1% nesse intervalo.

7/ Entre as taxas de subutilização divulgadas pelo IBGE, a taxa combinada da subocupação por insuficiência de horas e da desocupação ficou estável em 18,6% na comparação do 3º trimestre de 2019 com os mesmos períodos dos dois anos anteriores; a taxa combinada da desocupação e da força de trabalho potencial passou de 18,5% no 3º trimestre de 2017, para 18,3% e 18,1% nos anos seguintes; e a taxa composta da subutilização da força de trabalho, de 24,1% para 24,3% e 24,2%, nas mesmas referências (dados dessazonalizados).

8/ 𝑇𝐷𝐴𝐻 = 1−𝑃𝑂[1−𝑓 1−ℎ ]

𝑃𝑂 +𝑃𝐷 e 𝑇𝐷𝐴𝐴𝐻 = 1−

𝑃𝑂 1− 𝑓 1−ℎ𝑃𝑂 +𝑃𝐷 +𝐹𝑇𝑃 , em que 𝑓 =

𝑃𝑂𝑠𝑃𝑂

e ℎ =𝐻𝑠𝐻𝑝

.

0

5

10

15

20

25

I2012

II III IV I2013

II III IV I2014

II III IV I2015

II III IV I2016

II III IV I2017

II III IV I2018

II III IV I2019

II III

TD TDAH TDAAH

Gráfico 1 – Taxa de desocupação e indicadores alternativos1/

%

Fontes: IBGE e BCB1/ Dados dessazonalizados.

Page 41: Relatório de Inflação

Dezembro 2019 \ Banco Central do Brasil \ Relatório de Inflação \ 39

pela TDAH não diminuiu tanto quanto a medida pela TD porque houve aumento da margem extensiva de participação de subocupados, mas não devido à uma redução das horas médias trabalhadas por esse grupo em relação aos plenamente ocupados.

Os movimentos de flexibilização da legislação trabalhista, que incluíram terceirização de atividade‑fim e novos arranjos de trabalho, em especial as modalidades de trabalho intermitente e em regime de tempo parcial9, e o ritmo lento da recuperação econômica tendem a acentuar a participação de trabalhadores com jornadas reduzidas, reforçando a necessidade de monitorar, no âmbito da análise conjuntural, medidas ajustadas para as horas trabalhadas. De fato, a retomada recente do mercado de trabalho caracteriza‑se pelo crescimento da participação de empregados sem carteira, trabalhadores por conta própria e empregadores, inclusive microempreendedores individuais. Embora ainda relativamente pouco representativos, observa‑se também aumento da participação de trabalhadores formais das modalidades de trabalho intermitente e em regime de tempo parcial.

Destaca‑se que as medidas de ociosidade apresentadas são menos tempestivas que a medida tradicional de desocupação, pois as horas trabalhadas são disponibilizadas apenas em frequência trimestral. No entanto, essa limitação pode ser contornada por meio de versões modificadas da TDAH e da TDAAH

10:

𝑇𝐷𝐴𝐻∗ = 1 −

𝑃𝑂𝑝 + 𝐻𝑠𝐻𝑝

𝑃𝑂𝑠

𝑃𝑂𝑝 + 𝑃𝑂𝑠 + 𝑃𝐷 𝑒

𝑇𝐷𝐴𝐴𝐻∗ = 1 −

𝑃𝑂𝑝 + 𝐻𝑠𝐻𝑝

𝑃𝑂𝑠

𝑃𝑂𝑝 + 𝑃𝑂𝑠 + 𝑃𝐷 + 𝐹𝑇𝑃 ,

em que 𝐻𝑠 e 𝐻𝑝 são, respectivamente, as médias ao longo dos quatro trimestres anteriores da média de horas trabalhadas semanalmente pelos subocupados e pelos plenamente ocupados. Essas versões modificadas produzem resultados muito próximos dos obtidos com as versões originais, com a vantagem de poderem ser computadas mensalmente (Gráfico 3).

9/ A Lei nº 13.429/2017 flexibilizou as regras para contratação de empresas de prestação de serviços a terceiros. A Lei nº 13.467/2017, da reforma trabalhista, entre outras medidas, introduziu a modalidade de trabalho intermitente, modificou as regras da modalidade de trabalho em regime de tempo parcial (antes, a jornada era de até 25 horas semanais, sem possibilidade de realização de horas extras; atualmente, esses contratos podem prever jornada de até 30 horas semanais, sem possibilidade de horas extras, ou jornada de até 26 horas semanais, com possibilidade de até 6 horas extras) e regulamentou o teletrabalho. Note‑se que, para efeito da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (PNAD Contínua), o trabalhador intermitente que não foi convocado para trabalhar na semana de referência é considerado desocupado.

10/ As versões originais de TDAH e TDAAH podem ser escritas como 𝑇𝐷𝐴𝐻 = 1−𝑃𝑂𝑝 + 𝐻𝑠

𝐻𝑝𝑃𝑂𝑠

𝑃𝑂𝑝 +𝑃𝑂𝑠 +𝑃𝐷 e 𝑇𝐷𝐴𝐴𝐻 = 1−𝑃𝑂𝑝 + 𝐻𝑠

𝐻𝑝𝑃𝑂𝑠

𝑃𝑂𝑝 +𝑃𝑂𝑠 + 𝑃𝐷+ 𝐹𝑇𝑃 . Para

construção das versões modificadas, os valores contemporâneos de Hs e Hp foram substituídos pelas médias dos quatro trimestres anteriores.

-2

-1

0

1

2

3

4

I2013

III I2014

III I2015

III I2016

III I2017

III I2018

III I2019

III

Efeito PO Efeito PD Efeito fEfeito h Var. TDAH

Gráfico 2 – Decomposição da variação da TDAH(em 4 trimestres)p.p.

Fontes: IBGE e BCB

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40 \ Relatório de Inflação \ Banco Central do Brasil \ Dezembro 2019

Em síntese, o presente boxe apresentou indicadores de taxa de desocupação ajustados pelas horas de trabalho para complementar a avaliação do nível de ociosidade no mercado de trabalho. A evolução recente dos indicadores alternativos sugere retomada mais lenta do mercado de trabalho do que a apontada pela TD, evolução explicada, em parte, pelo aumento dos subocupados.

0

5

10

15

20

25

Abr2013

Out Abr2014

Out Abr2015

Out Abr2016

Out Abr2017

Out Abr2018

Out Abr2019

Out

TDAH* TDAH TDAAH* TDAAH

Gráfico 3 – Indicadores alternativos (trimestrais) e alternativos modificados (mensais)1/

%

Fontes: IBGE e BCB1/ Dados dessazonalizados.

Page 43: Relatório de Inflação

Dezembro 2019 \ Banco Central do Brasil \ Relatório de Inflação \ 41

Este boxe apresenta a revisão das projeções de crescimento do saldo de crédito em 2019 e 2020, desagregadas nos segmentos de pessoas jurídicas e físicas, e de recursos livres e direcionados (Tabela 1). As novas estimativas consideram as estatísticas de crédito divulgadas desde o Relatório de Inflação de setembro, assim como a evolução recente da economia doméstica e suas perspectivas.

Em comparação ao Relatório de Inflação anterior1, houve aumento na projeção para crescimento do estoque total de crédito em 2019, de 5,7% para 6,9%, com elevações nas estimativas para o saldo do crédito destinado a pessoas jurídicas, de ‑0,9% para 0,9%, bem como para pessoas físicas, de 11,0% para 11,8%.

No que tange ao estoque de crédito a pessoas jurídicas, houve elevação na projeção de crescimento do segmento de recursos livres (de 8,0% para 10,5%), influenciada pela aceleração recente no ritmo de expansão das novas operações, especialmente para as empresas de pequeno e médio porte, movimento consistente com a recuperação da atividade econômica. O crédito às grandes empresas segue contido, influenciado pelo processo de substituição de financiamento bancário por dívidas fora do Sistema Financeiro Nacional (SFN).2

A projeção para a variação do saldo do crédito direcionado às empresas em 2019 segue indicando contração acentuada (‑11,0%, ante ‑12,0%), em linha com a redução de participação do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES). Há que se destacar a diminuição na diferença entre o custo de financiamento nos créditos livre e direcionado, que tem contribuído para a dinâmica mais vigorosa do segmento livre.

Os empréstimos para pessoas físicas financiados com recursos livres continuam sendo o principal vetor de crescimento do crédito no país. A expansão generalizada dessas modalidades de crédito, em linha com o

1/ Boxe “Projeções para a evolução do crédito em 2019 e 2020”, publicado no Relatório de Inflação de setembro de 2019.2/ O endividamento de todas as empresas não financeiras que buscaram recursos com emissão de debêntures e notas promissórias

entre janeiro e outubro de 2019, consideradas de grande porte em sua maioria, aumentou R$133,8 bilhões no mercado de capitais doméstico, enquanto a dívida dessas empresas no SFN diminuiu R$37,8 bilhões (82,6% desse valor em operações com recursos livres).

Projeção para a evolução do crédito em 2019 e 2020

Tabela 1 – Saldo de créditoVar % em 12 meses

2017 2018 Out 2019 2019 2020

Total -0,5 5,0 6,3 6,9 8,1

Livres 1,8 10,7 13,4 13,9 12,9

PF 5,2 10,9 16,2 16,9 15,4

PJ -1,9 10,4 9,9 10,5 9,7

Direcionados -2,7 -0,9 -1,7 -1,3 1,6

PF 6,1 5,4 6,0 6,2 8,1

PJ -11,1 -8,1 -11,6 -11,0 -8,6

Total PF 5,7 8,2 11,3 11,8 12,2

Total PJ -6,6 1,3 0,0 0,9 2,5

Ocorrido Projeção

Page 44: Relatório de Inflação

42 \ Relatório de Inflação \ Banco Central do Brasil \ Dezembro 2019

aumento da confiança do consumidor e a expansão do consumo das famílias, corrobora a revisão da projeção de crescimento desse segmento em 2019 (de 15,5% para 16,9%). Em relação ao saldo de crédito com recursos direcionados, projeta‑se crescimento próximo ao publicado no Relatório de Inflação de setembro (6,2% ante 6,0%), com perspectiva de aceleração no ano seguinte.

Para 2020, manteve‑se a projeção de crescimento de 8,1% do estoque de crédito no SFN, porém, com revisão para cima na previsão de desempenho dos empréstimos a pessoas físicas (de 11,2% para 12,2%) e redução na evolução esperada para os financiamentos às empresas (de 3,8% para 2,5%). A revisão da trajetória do crédito às famílias incorpora o ritmo de crescimento mais forte que vem sendo observado em 2019, com repercussão, principalmente, no segmento de recursos livres. Em que pese o aumento na projeção de crescimento do crédito livre às famílias (de 13,0% para 15,4%), espera‑se ligeira moderação em relação ao desempenho estimado para 2019, tendo em vista a evolução ainda gradual do mercado de trabalho, o aumento da base de comparação e a elevação nos indicadores de endividamento e comprometimento de renda com serviços financeiros. As operações com recursos direcionados devem registrar crescimento de 8,1%, ante projeção anterior de 9,0%, com as operações de financiamento de imóveis mostrando uma dinâmica mais forte que a do crédito rural.

A evolução dos empréstimos às pessoas jurídicas deve seguir limitada pelo segmento de recursos direcionados (projeção revisada de ‑5,0% para ‑8,6%), no contexto de diminuição da participação de bancos públicos. Por outro lado, o segmento de recursos livres deve registrar expansão de 9,7% (projeção anterior de 9,5%), em consonância ao processo de recuperação da atividade econômica.

Em conjunto, as projeções apresentadas apontam aceleração gradual do estoque total de crédito nos próximos meses, sustentado pelo crescimento robusto das operações com recursos livres em 2019 (13,9%) e 2020 (12,9%). Concomitante, espera‑se gradual aceleração do crédito com recursos direcionados, com perspectiva de retração em 2019 (‑1,3%) e discreto crescimento em 2020 (1,6%).

Page 45: Relatório de Inflação

Dezembro 2019 \ Banco Central do Brasil \ Relatório de Inflação \ 43

Este boxe apresenta as projeções revisadas para o balanço de pagamentos de 2019 e 2020. As novas estimativas consideram a evolução econômica doméstica e internacional e os dados mais recentes relativos aos fluxos de bens, serviços e de capitais, bem como revisões das estatísticas divulgadas desde a edição anterior do Relatório de Inflação.

Revisão da projeção para 2019

A revisão da projeção do saldo da balança comercial para 2019 incorporou os impactos da desaceleração da economia Argentina, da peste suína que afeta principalmente a China, bem como a evolução recente do câmbio e do comércio mundial, além das revisões nos dados de setembro, outubro e novembro provenientes da Secretaria de Comércio Exterior (Secex) do Ministério da Economia (ME). A nova projeção estima superavit de US$39 bilhões da balança comercial este ano, ante superavit de US$43 bilhões indicados na projeção feita em setembro de 2019. Essa alteração refletiu a desaceleração das exportações em ritmo superior ao esperado anteriormente, haja vista a evolução recente. Para as importações, a revisão decorre fundamentalmente da incorporação dos dados divulgados desde o Relatóriode Inflação anterior, ligeiramente aquém do nível esperado, em parte pela menor importação de bens destinados às atividades de pesquisa e de lavra das jazidas de petróleo e de gás natural – (Regime Aduaneiro Especial de Exportação e Importação de Bens destinados às Atividades de Pesquisa e de Lavra das Jazidas de Petróleo e de Gás Natural – Repetro)1. Estima‑se que as exportações e as importações atinjam US$226 bilhões e US$187 bilhões, na ordem, considerando importações líquidas de US$7 bilhões no âmbito do Repetro.

O deficit da conta de serviços está estimado em US$35,6 bilhões para o ano, valor US$1,5 bilhão acima da previsão anterior. A revisão reflete ligeiro ajuste na conta de aluguel de equipamentos, que passou de deficit de US$13,5 bilhões para US$14,5 bilhões, além de ajustes marginais nas demais contas.

Os pagamentos líquidos de juros foram projetados em US$24,3 bilhões, acima da projeção anterior de US$20,5 bilhões, considerando a atualização do cronograma de pagamento do serviço da dívida externa. Adicionalmente, a projeção para as remessas líquidas de lucros e dividendos para 2019 passou de US$26,5 bilhões para US$32 bilhões, majoritariamente em virtude de revisões estatísticas nas contas de receitas e despesas, que vieram acima do esperado.2

O superavit da renda secundária foi mantido em relação ao Relatório anterior e deverá atingir US$1,5 bilhão no ano.

Dessa forma, o saldo em transações correntes deverá alcançar deficit de US$51,1 bilhões em 2019 (2,8% do Produto Interno Bruto – PIB), acima da previsão constante no Relatório de Inflação de setembro (US$36,3 bilhões, correspondente a 2,0% do PIB), notadamente em razão da revisão no saldo da balança comercial, bem como da incorporação de revisões estatísticas nas contas de serviços e renda primária.

1/ A Lei n° 13.586/2017 instituiu alterações no tratamento tributário dispendido aos investimentos no setor de óleo e gás, o que produzirá impactos nas transferências de propriedade de bens entre empresas não residentes e residentes. Os valores considerados nas projeções apresentadas neste Relatório podem passar por ajuste em decorrência das estratégias empresariais sobre o pagamento dessas importações. A esse respeito ver, por exemplo, Nota divulgada pelo Ministério da Indústria, Comércio Exterior e Serviços em julho de 2018, disponível em: http://www.mdic.gov.br/index.php/component/content/article?id=3423.

2/ Para maiores detalhes: https://www.bcb.gov.br/estatisticas/estatisticassetorexterno.

Projeção para o Balanço de Pagamentos de 2019 e 2020

Page 46: Relatório de Inflação

44 \ Relatório de Inflação \ Banco Central do Brasil \ Dezembro 2019

Em relação à conta financeira, a projeção para os ingressos líquidos de Investimentos Diretos no País (IDP) foi elevada em US$5 bilhões, para US$80 bilhões (4,4% do PIB), em função do resultado de meses recentes e do efeito da revisão na série de dados para os meses anteriores de 2019. O valor esperado para o ano permanece em patamar significativamente superior ao deficit previsto para transações correntes.

As projeções para as aplicações líquidas em Investimentos Diretos no Exterior (IDE) e os investimentos em carteira no exterior (ativos) foram majoradas em US$6 bilhões e US$5 bilhões, respectivamente, atingindo US$22 bilhões e US$15 bilhões ao final de 2019.

Considerando os demais itens da conta financeira, no âmbito dos investimentos em carteira do lado do passivo, os ingressos líquidos em ações e fundos de investimento foram revisados para ‑US$1,6 bilhão e os títulos no país foram reduzidos de US$12 bilhões para zero, considerando a evolução dos últimos meses. A taxa de rolagem projetada, calculada sobre as operações de longo prazo em empréstimos e títulos negociados no mercado internacional, permaneceu em 100%.

Revisão da projeção para 2020

Para 2020, tendo em perspectiva a aceleração da atividade econômica interna e as operações no âmbito do Repetro, espera‑se aumento do deficit em transações correntes, que deverá atingir US$57,7 bilhões ao final do ano (3,1% do PIB). Projeta‑se recuo do saldo da balança comercial para US$32 bilhões, resultado de US$225 bilhões de exportações, recuo de 0,4% em relação a 2019, e de US$193 bilhões de importações, expansão de 3,2%. Para as exportações, estima‑se crescimento do quantum, principalmente em básicos, que deve ser mais do que compensado pela retração de preços internacionais, em cenário de desaceleração da atividade global. Destaca‑se, também, o aumento das importações – que supõe

elevação de quantum – em linha com a expectativa de aceleração do PIB interno. Contudo, a perspectiva de diminuição dos preços de bens importados explica a maior parte da revisão do valor em relação ao Relatório anterior. Em função das novas estimativas, o crescimento correspondente da corrente de comércio anual deverá ser de 1,2%.

Para a conta de serviços, projeta‑se ligeiro aumento do deficit em relação a 2019, atingindo US$36 bilhões (1,1% em relação ao previsto para 2019), acima do esperado no Relatório de setembro. Destaca‑se a redução, em relação a 2019, das despesas líquidas com aluguel de equipamentos, que deverão atingir US$13 bilhões ao final do ano, influenciada, entre outros fatores, pelos impactos das mudanças no Repetro, uma vez que

Tabela 1 – Projeções do balanço de pagamentosUS$ bilhões

Período 2019 2020

Jan- Ano Jan- Ano1/ Ano1/

nov nov*

Transações correntes -35,4 -41,5 -45,5 -51,1 -57,7

Balança comercial 47,1 53,0 34,7 39,0 32,0

Exportações 220,2 239,5 206,3 226,0 225,0

Importações 173,1 186,5 171,6 187,0 193,0

Serviços -32,3 -35,7 -32,2 -35,6 -36,0

dos quais: viagens -11,4 -12,3 -10,7 -12,0 -13,5

dos quais: transportes -5,7 -6,2 -5,5 -6,1 -6,5

dos quais: aluguel de equip. -14,1 -15,8 -13,4 -14,5 -13,0

Renda primária -50,1 -58,8 -49,3 -56,1 -55,8

dos quais: juros -19,9 -22,5 -21,8 -24,3 -22,0

dos quais: lucros e dividendos -30,5 -36,5 -27,6 -32,0 -34,0

Renda secundária -0,1 -0,0 1,4 1,5 2,0

Conta capital 0,4 0,4 0,2 0,4 0,4

Conta financeira -36,4 -42,4 -48,8 -54,2 -57,3

Investim. ativos2/ 12,4 12,3 35,3 38,1 17,4

Inv. direto no ext. -1,3 2,0 21,1 22,0 14,0

Inv. carteira 3,1 0,5 14,2 15,0 5,0

Outros investimentos 10,6 9,9 0,0 1,1 -1,6

dos quais: ativos de bancos -1,4 0,4 -2,4 -1,4 -0,6

Investim. passivos 61,9 60,4 70,4 80,0 89,4

IDP 69,9 78,2 69,2 80,0 80,0

Ações totais3/ -1,6 -3,1 -1,6 -1,6 5,0

Títulos no país -1,5 -4,3 -0,4 - -

Emprést. e tít. LP4/ -7,1 -8,9 0,5 -0,8 -0,4

Emprést. e tít. CP 4,6 5,6 12,8 12,5 -

Crédito comercial e outros -2,3 -7,0 -10,1 -10,0 4,8

Derivativos 2,5 2,8 1,7 1,7 -

Ativos de reserva 10,6 2,9 -15,4 -14,0 14,7

Erros e omissões -1,4 -1,3 -3,5 -3,5 0,0

Memo:

Transações corr./PIB (%) -2,2 -2,8 -3,1

IDP / PIB (%) 4,1 4,4 4,3

Taxa de rolagem (%) 92,2 92,1 101,4 100,0 100,0

1/ Projeção.2/ Inclui investimentos diretos, investimentos em carteira e outros investimentos.3/ Inclui ações negociadas em bolsas brasileiras e no exterior. 4/ Inclui créditos de organismos, agências e compradores.* dados preliminares.

2018

Page 47: Relatório de Inflação

Dezembro 2019 \ Banco Central do Brasil \ Relatório de Inflação \ 45

as plataformas e equipamentos de não residentes que operam no Brasil (e implicam despesas de aluguel) deverão ser nacionalizadas. Por outro lado, estima‑se aumento nas despesas líquidas de viagens para US$13,5 bilhões, ante projeção de US$13 bilhões no Relatório de setembro.

Do lado da renda primária, espera‑se relativa estabilidade das remessas líquidas de 2020, atingindo deficit de US$55,8 bilhões (ante US$48 bilhões no Relatório de setembro). A projeção para o pagamento de juros, US$22 bilhões, situa‑se abaixo do valor esperado para 2019, refletindo cenário de menores taxas de juros no mercado internacional. As remessas líquidas de lucros e dividendos, US$34 bilhões, deverão crescer em relação ao previsto para 2019, em linha com a retomada da atividade doméstica.

A melhor perspectiva para a performance da economia brasileira em 2020 deverá também estimular a continuidade de ingressos de investimentos estrangeiros em volumes expressivos, a despeito das incertezas no cenário externo e no comércio internacional. Projeta‑se IDP em US$80 bilhões no ano (manutenção em relação ao Relatório de Inflação anterior) já incorporando as contrapartidas das importações de plataformas e equipamentos no âmbito do Repetro. Estima‑se aumento dos investimentos em ações em 2020, para US$5 bilhões, ante saídas líquidas de US$1,6 bilhão projetadas para 2019. Assim como em 2019, as captações de longo prazo, por meio de empréstimos e títulos, deverão se manter no mesmo patamar das amortizações, com a taxa de rolagem atingindo 100%.

Do lado dos ativos, a projeção para o investimento brasileiro no exterior para 2020 situa‑se em US$14 bilhões (mesmo valor do Relatório de Inflação anterior), com recuo em relação ao esperado para 2019 (US$22 bilhões), em cenário de desaceleração da economia mundial. Por último, manteve‑se a projeção dos investimentos em carteira no exterior, em US$5 bilhões.

Page 48: Relatório de Inflação

46 \ Relatório de Inflação \ Banco Central do Brasil \ Dezembro 2019

O saldo das transações correntes vem mostrando deterioração nos últimos meses, atingindo deficit de 2,8% do Produto Interno Bruto (PIB) em novembro deste ano1, ante 0,7% do PIB registrado em janeiro de 2018. O movimento reflete, entre outros fatores, o resultado da balança comercial, cujo superavit recuou de 3,1% para 2,2% do PIB nesse período (Gráfico 1).2

A deterioração no saldo comercial refletiu, inicialmente, o aumento mais intenso das importações relativamente às exportações, em contexto de retomada gradual da economia doméstica. A partir de janeiro de 2019, contudo, as exportações iniciaram movimento de retração moderada, acompanhado de relativa estabilidade nos valores importados (Gráfico 2). Assim, a diminuição de 26,7% do saldo comercial nos dez primeiros meses de 20193 em relação ao mesmo período do ano anterior – equivalente a US$11,6 bilhões – decorreu, fundamentalmente, da perda de dinamismo das vendas externas. Nesse contexto, o objetivo deste boxe é analisar os fatores que explicam a piora das exportações, identificando os principais destinos e produtos responsáveis pelo movimento que contribuiu para o aprofundamento do deficit em transações correntes.

Parceiros comerciais relevantes, Argentina e China estão entre os principais destinos para os quais o Brasil reduziu suas vendas externas de mercadorias, com quedas respectivas de US$5,0 bilhões e de US$0,6 bilhão, no acumulado de 2019 em relação ao mesmo período de 2018. No lado positivo, compensando parcialmente a redução dessas exportações, houve aumentos de US$0,8 bilhão para Estados Unidos e US$0,7 bilhão para o Japão. O Gráfico 3 ilustra essa evolução, apresentando as variações das exportações, por destino, tanto em bilhões de dólares (eixo horizontal), quanto em

1/ Dados referentes a novembro de 2019 são estimativas baseadas na apuração preliminar do balanço de pagamentos do mês.2/ A redução do saldo da balança comercial é, em termos de eventos de natureza econômica contemporânea, o principal fator de

deterioração recente das transações correntes, cujo saldo também foi afetado por revisões de dados estatísticos (principalmente na conta de lucros e dividendos).

3/ Os exercícios apresentados neste boxe não incorporam a estimativa de novembro do Balanço de Pagamentos, mas consideram os novos valores divulgados pela Secretaria de Comércio Exterior (Secex) do Ministério da Economia (ME) para as exportações de setembro e outubro.

Evolução recente da balança comercial

-0,3

3,1

2,2

-4,2

-0,7

-2,8

-5

-4

-3

-2

-1

0

1

2

3

4

Nov2009

Nov2010

Nov2011

Nov2012

Nov2013

Nov2014

Nov2015

Nov2016

Nov2017

Nov2018

Nov2019*

Gráfico 1 – Transações CorrentesAcumulado 12 meses (% PIB)

Rendas Primária e SecundáriaServiçosSaldo Balança ComercialTransações Correntes / PIB

*Dados preliminares.

62 61 60 58 5754

51 51 5152 53 52 52 50 50 49 48 46 46 45 41 41 39

150160170180190200210220230240

Fev2018

Abr2018

Jun2018

Ago2018

Out2018

Dez2018

Fev2019

Abr2019

Jun2019

Ago2019

Out2019

*Dez2019

Gráfico 2 – Evolução recente do saldo comercialAcumulado 12 meses (US$ bilhões)

Saldo Balança Comercial Importações

Exportações * Projeção

Varia

ção

%

Gráfico 3 Jan

Malásia0,8

Japão0,7

Estados Unidos

0,8

Taiwan0,4

Suíça0,4

Argentina-5,0

China-0,6

Holanda-1,2 Chile

-0,9Índia-0,9

-45%

-25%

-5%

15%

35%

55%

-5,5 -4,5 -3,5 -2,5 -1,5 -0,5 0,5 1,5

Varia

ção

%

Variação US$ bilhões

Gráfico 3 – Exportações principais destinos Jan-out/2019

Fonte: Secex/ME

Page 49: Relatório de Inflação

Dezembro 2019 \ Banco Central do Brasil \ Relatório de Inflação \ 47

percentual (eixo vertical), ambas em relação ao mesmo período de 2018. Além disso, a área dos círculos representa a participação de cada país na pauta de exportação brasileira, no acumulado em doze meses até outubro de 2019.

Argentina

O Brasil é o principal parceiro comercial da Argentina4, com participação média de 25,6% no total das importações do país na última década. A pauta de exportação brasileira para o país vizinho é predominantemente de produtos manufaturados, que responderam por mais de 90% do valor exportado na média dos últimos dez anos (Gráfico 4).

No entanto, a participação brasileira no total das importações argentinas passou de 26,3%, em 2017, para 19,5%, em 2019, este último considerando o acumulado em doze meses até outubro. Essa queda, influenciada pela crise econômica argentina, teve como principal fator a redução das importações de automóveis no país vizinho, que é o principal destino de produtos do setor automotivo brasileiro. Segundo dados do Instituto Nacional de Estatísticas e Censos (Indec), da Argentina, as importações de automóveis de passageiros diminuíram, em termos interanuais, 56,3% de janeiro a outubro de 2019, enquanto as demais importações argentinas recuaram 22,8%.

Para estimar os impactos da crise econômica argentina sobre as exportações brasileiras, considerou‑se cenário contrafactual, simulando condições menos adversas para a economia do país vizinho em 2018 e 2019. Para a taxa de câmbio, utilizou‑se a evolução de uma cesta de moedas de países latino americanos5, enquanto para o crescimento real do PIB delineou‑se estabilidade em relação ao ano anterior6. Usaram‑se dados ocorridos para a participação das importações argentinas em relação ao seu PIB. Para a participação das exportações brasileiras no total das importações argentinas, utilizou‑se a média de 2015 a 2017, como forma de atenuar o recuo mais acentuado das importações no setor automotivo.

4/ Segundo informações do Indec, o Brasil foi o principal parceiro comercial do país no período de janeiro a outubro de 2019. No lado das exportações argentinas, o Brasil comprou US$8,6 bilhões em bens argentinos, o que representou 16,0% das exportações totais. No lado das importações, o Brasil vendeu US$8,8 bilhões no período, atingindo participação de 20,6% nas importações totais do país.

5/ A cesta de moedas foi composta por países sul‑americanos como Brasil, Chile, Colômbia e Uruguai. Consideraram‑se as evoluções médias da taxa de câmbio desses países para o cálculo do efeito cambial. Assim, o cenário considera desvalorizações cambiais interanuais na Argentina de 5,7% e 9,4% em 2018 e 2019, respectivamente, ante 69,6% e 64,1% efetivamente observadas. Também foi considerado um repasse de 55% da variação do câmbio para a inflação em 12 meses, em linha com o seguinte trabalho: Carriere‑Swallow, Y., B. Gruss, N. Magud, and F. Valencia (2016), “Monetary Policy Credibility and Exchange Rate Pass‑Through,” IMF Working Paper 16/240. Considerando os valores contrafactuais do câmbio e o repasse cambial citado, corrigiu‑se o deflator do PIB (em moeda local).

6/ Foram presumidas taxas de crescimento real do PIB de 0%, para os anos de 2018 e 2019, ante os valores de ‑2,5% e ‑3,1% disponibilizados e estimados pelo Fundo Monetário Internacional (FMI) no documento World Economic Outlook (WEO) de outubro de 2019.

Malásia

4049

41

11

1

1616

9

30,6 26,3

19,5

0

5

10

15

20

25

30

35

0

10

20

30

40

50

60

70

80

90

100

2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014 2015 2016 2017 2018 2019*

%US$ bilhõesGráfico 4 – Importações argentinas

Manufaturados – Brasil Básicos e SemiManuf. – BrasilDemais países Part. Brasil - Imp. Arg. (eixo dir.)

*Acumulado 12 meses até outubro.Fontes: Secex/ME e Indec

Page 50: Relatório de Inflação

48 \ Relatório de Inflação \ Banco Central do Brasil \ Dezembro 2019

Nesse cenário, as exportações brasileiras para a Argentina teriam sido US$3,5 bilhões7 maiores que o ocorrido no acumulado de janeiro a outubro de 2018, e US$5,5 bilhões no período equivalente de 2019 (Gráfico 5). O valor contrafactual das exportações de 2018 apresentou crescimento em relação ao ocorrido em 2017, particularmente em virtude do maior valor de PIB nominal argentino em dólares considerado neste exercício, em relação ao ocorrido em 2018. No resultado do exercício para 2019, a queda entre os valores contrafactuais de 2018 e 2019 é explicada pela aceleração da desvalorização cambial considerada e pela redução das importações do país como proporção do PIB.

O contrafactual evidencia que os efeitos da crise argentina foram importantes na redução das exportações brasileiras. A queda da demanda gerada pela crise econômica impactou as importações totais do país sul‑americano, que, de janeiro a outubro de 2019, recuaram 25,6% em termos interanuais, destacando‑se o impacto mais pronunciado nas importações do setor automobilístico.

China

Nas últimas décadas, a China aumentou substancialmente a importação de produtos brasileiros, com destaque para soja, petróleo e minério de ferro, representando importante vetor na mudança da pauta de exportações do Brasil8. As vendas para o país asiático saltaram de US$16,5 bilhões, em 2008, para US$63,9 bilhões, em 2018, passando a representar 26,6% da pauta de exportações brasileira, ante 8,4% em 2008 (Gráfico 6). O resultado recorde de 2018 foi influenciado pela guerra comercial entre Estados Unidos e China, que elevou tanto o preço da soja brasileira como o volume vendido pelos produtores nacionais.

7/ A diferença entre os valores no gráfico e o valor apresentado se deve ao arredondamento dos números.8/ Conforme apresentado no boxe “Evolução da pauta exportadora brasileira e seus determinantes”, publicado no Relatório de Inflação

de março de 2019.

12,2

10,911,0

14,5

13,3

8,3

16,7

13,8

6

8

10

12

14

16

18

2014 2015 2016 2017 2018 2019

Gráfico 5 – Cenário contrafactualExportações para Argentina (US$ bilhões Jan-out)

Exportações ocorridas ContrafactualFontes: Secex/ME e BCB

7,5

35,0

5,3

21,0

2,6

6,0

1,1

1,3

8,4%

26,6% 27,6%

0%

5%

10%

15%

20%

25%

30%

-

10

20

30

40

50

60

70

2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014 2015 2016 2017 20182019*

US$

bilh

ões

Manufaturados SemimanufafutradosSoja Básicos (Ex-Soja)Part. China Exp. Brasil (eixo dir.)

* Acumulado 12 meses até outubro.

Gráfico 6 – Exportações brasileiras para a China

Fonte: Secex/ME

Page 51: Relatório de Inflação

Dezembro 2019 \ Banco Central do Brasil \ Relatório de Inflação \ 49

No acumulado de janeiro a outubro de 2019, no entanto, as exportações para a China recuaram 1,2% em termos interanuais, impactadas pela redução de US$6,1 bilhões nos embarques de soja (reduções de 15,6% no volume e de 11,6% no preço médio). Dois fatores explicam grande parte desse movimento: primeiro, houve atenuação das restrições chinesas em relação à soja estadunidense; segundo, a peste suína africana que atingiu o país provocou redução da demanda por soja, importante insumo para a produção de ração animal (Gráfico 7).

Com o intuito de mensurar os efeitos desses dois fatores, delinearam‑se dois cenários contrafactuais. O primeiro busca mensurar os ganhos decorrentes do aumento nas exportações da soja brasileira em 2018, no contexto da guerra comercial. Para a estimativa do impacto sobre a quantidade exportada, foi construído cenário considerando que a participação brasileira no total das importações de soja da China9 apresentou crescimento igual ao crescimento médio observado entre os anos 2015 e 2017. O efeito preço foi estimado a partir da diferença média entre as cotações da soja brasileira e estadunidense10, no período entre 2015 e 2017, o qual foi adicionado aos preços na bolsa de Chicago de 2018 e 201911. Portanto, considerou‑se que todo aumento do prêmio foi causado pelas tensões comerciais.

Os resultados do exercício sugerem que, na ausência da guerra comercial, as exportações no acumulado do ano até outubro de 2018 teriam sido US$4,6 bilhões menores que as ocorridas, dos quais US$3,3 bilhões seriam pelo aumento do volume exportado e US$1,5 bilhão devido ao diferencial de preço12. Em 2019 as exportações teriam sido US$0,3 bilhão inferiores ao ocorrido, refletindo menor quantidade contrafactualmente exportada, parcialmente compensada pela redução do prêmio da soja brasileira (Tabela 1).

9/ A participação brasileira foi calculada utilizando dados da Secex/ME para exportações do Brasil, aplicados sobre os dados de importação total da China, provenientes da China Customs obtidos junto à Bloomberg.

10/ Prêmio da soja brasileira foi calculado considerando a diferença entre o preço médio anual do Porto de Paranaguá e o preço médio anual negociado na bolsa de Chicago, ambos obtidos no sítio da Associação Brasileira das Indústrias de Óleos Vegetais (Abiove), disponíveis em http://abiove.org.br. Foi considerado que o impacto no preço se deu inteiramente pelo aumento do valor da soja brasileira, sem impacto nos preços norte‑americanos.

11/ Uma vez obtido o contrafactual para o preço dos embarques de soja no porto de Paranaguá, foi calculado o contrafactual do preço implícito da balança comercial (que equivale à divisão do valor das exportações pela quantidade em quilogramas exportada), mantendo a razão observada entre o preço implícito e o do porto de Paranaguá.

12/ O efeito agregado da guerra comercial foi construído multiplicando os contrafactuais da quantidade e do preço estimados, de modo que a soma dos efeitos quantidade e preço não corresponde ao efeito total.

Tabela 1 – Impacto nas exportações de soja para ChinaAcumulado ano (Jan-Out)

US$ bilhões

2018 2019

Total 2,4 -5,8

Guerra comercial 4,6 0,3

Efeito Quantidade 3,3 0,5

Efeito Preço 1,5 -0,2

Peste suína -2,8 -6,2

70

75

80

85

90

95

100

0

10

20

30

40

50

60

70

80

90

Abr2016

Out2016

Abr2017

Out2017

Abr2018

Out2018

Abr2019

Out2019

Milh

ões

de to

nela

das

Parti

cipa

ção

(em

%)

Gráfico 7 – Importações de soja pela ChinaAcumulado 12 meses

Brasil Estados Unidos Demanda chinesa (eixo dir.)

Fonte: Bloomberg

Gráfico 8

Page 52: Relatório de Inflação

50 \ Relatório de Inflação \ Banco Central do Brasil \ Dezembro 2019

O segundo cenário contrafactual buscou dimensionar a diminuição da demanda chinesa pela soja brasileira devido à peste suína13. Para tanto, delineou‑se cenário no qual o consumo de soja do país asiático continuaria crescendo em 2018 e 2019 no ritmo médio visto entre 2015 e 2017. Em seguida, para calcular o contrafactual das exportações de soja brasileira, manteve‑se a participação do Brasil nos volumes importados igual à ocorrida14. Os resultados do exercício sugerem que a peste suína reduziu as exportações brasileiras em US$2,8 bilhões em 2018 e em US$6,2 bilhões em 2019 (Tabela 1).15

Combinando os dois cenários, é possível inferir que, na ausência dos choques do país asiático, o valor acumulado de janeiro a outubro das exportações brasileiras teria sido US$2,4 bilhões menor em 2018 e US$5,8 bilhões maior em 201916, sendo o episódio da guerra comercial o principal vetor desse impacto no ano passado e a peste suína o mais relevante em 2019.

Efeitos Argentina e China

Analisando conjuntamente os efeitos estimados da Argentina e da China, dois importantes destinos dos produtos brasileiros, conclui‑se que grande parte da recente deterioração das exportações adveio dos choques sofridos por esses dois países (Tabela 2). Se esses episódios não tivessem ocorrido, a queda das exportações no acumulado dos dez primeiros meses de 2019, em relação ao mesmo período de 2018, teria sido de US$0,3 bilhão, ante US$10,6 bilhões observados. Nesse cenário, considerando a deterioração menos pronunciada do saldo da balança comercial, o deficit de transações correntes em 2019 teria sido menor: US$31,8 bilhões, ante US$43,2 bilhões efetivamente realizados, considerando o valor acumulado no ano (Gráfico 8). Esse resultado representaria ligeira piora em relação ao contrafactual do mesmo período de 2018.

13/ Assumiu‑se que toda a redução na demanda chinesa por soja foi ocasionada pela peste suína, ignorando os possíveis efeitos da desaceleração econômica do país asiático. Considerando que a soja é um produto básico, largamente utilizada como ração animal, sendo, portanto, menos sensível ao ciclo econômico, essa hipótese é plausível.

14/ Optou‑se por um cenário conservador, no qual não foram considerados os possíveis efeitos da queda da demanda chinesa sobre o preço internacional da soja. Considerando esse efeito, a magnitude do resultado encontrado seria ainda maior.

15/ É importante notar que a redução nos rebanhos suínos na Ásia devido à peste africana impulsionou a venda de carnes brasileiras para a China, que teve aumento de 45% no acumulado do ano até outubro, o equivalente a aproximadamente US$1,0 bilhão. Tal cifra é significativamente inferior ao valor não recebido devido à soja que deixou de ser exportada.

16/ O efeito total dos dois choques sobre o país asiático foi construído utilizando as hipóteses dos dois cenários contrafactuais, da seguinte forma: i) utilizou‑se a participação da soja brasileira no total das importações do efeito quantidade da guerra comercial; ii) essa participação foi atribuída à demanda chinesa do cenário contrafactal da peste suína, obtendo o montante de soja exportada; iii) utilizou‑se o preço calculado no cenário contrafactual da guerra comercial; e iv) com o preço e a quantidade estimados, calculou‑se o valor equivalente das exportações.

Tabela 2 – Efeito dos choques nas exportações brasileirasAcumulado ano (Jan-out)*

US$ bilhões

2018 2019 Diferença

Exportação - Ocorrido 199,2 188,6 -10,6

Impacto China 2,4 -5,8 -8,2

Impacto Argentina -3,5 -5,5 -2,1

Exportação - contrafactual 200,3 199,9 -0,3

*Dados preliminares, incluindo as revisões anunciadas pela Secex/ME para exportações de setembro e outubro.

-32,4

-43,2

-31,3 -31,8

2018 2019Ocorrido Contrafactual

*Dados preliminares, incluindo revisões anunciadas pela Secex/ME para exportações de setembro e outubro.

Gráfico 8 –Transações CorrentesAcumulado ano até outubro, em US$ bilhões*

Page 53: Relatório de Inflação

Dezembro 2019 \ Banco Central do Brasil \ Relatório de Inflação \ 51

O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) atualizará, a partir de janeiro de 2020, a estrutura de ponderação do Sistema Nacional de Índices de Preços ao Consumidor (SNIPC), composto pelo Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo 15 (IPCA-15), Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo Especial (IPCA-E) e Índice Nacional de Preços ao Consumidor (INPC). A nova estrutura reflete as mudanças no padrão de consumo das populações-objetivo captadas pela Pesquisa de Orçamentos Familiares (POF) 2017-2018, em substituição à estrutura atual derivada da POF 2008-2009, que vigorou por 96 meses (de janeiro de 2012 a dezembro de 2019).

A população-objetivo para o IPCA continua sendo a de famílias com renda entre 1 e 40 salários mínimos1, residentes nas áreas urbanas das regiões de abrangência – as mesmas 16 áreas que compõem o índice atualmente2. Contudo, os pesos regionais foram atualizados (Tabela 1), refletindo a evolução da renda das famílias entre as diferentes regiões3. Destacam-se as quedas nas participações das regiões metropolitanas do Rio de Janeiro (-2,65 p.p.) e Belo Horizonte (-1,12 p.p.); e os aumentos nas participações da região metropolitana de São Paulo (+1,65 p.p.), de Brasília (+1,29 p.p.) e de Goiânia (+0,57 p.p.).

Com as mudanças no padrão de consumo, o IPCA passará a ser composto por 377 subitens, ante os atuais 383, resultado da inclusão de 58 subitens e da exclusão de 64. Não houve mudança no nível de grupos. Mesmo no nível inferior, apenas o subgrupo 72, antes referido como Recreação, fumo e fotografia, foi renomeado para Recreação e fumo, devido à supressão do item Fotografia e filmagem. A Tabela 2 apresenta, em nível de grupos e principais subgrupos

ou itens, os pesos correspondentes ao mês de janeiro de 2018, de acordo com as POFs 2008-2009 e 2017-2018.

Destacam-se a redução no peso do grupo Alimentação e bebidas (-5,59 p.p.) e os aumentos nos grupos Transportes (+2,55 p.p.) e Comunicação (+2,54 p.p.). A diminuição do peso de Alimentação e bebidas no orçamento das famílias ocorreu tanto em Alimentação no domicílio (-2,56 p.p.) como em Alimentação fora do

1/ Esta faixa garante cobertura de 90% das famílias pertencentes às áreas de cobertura do SNIPC.2/ Em janeiro de 2012, quando a POF 2008-2009 foi implementada, a coleta de preços do IPCA cobria 11 localidades: as regiões

metropolitanas de Belém, Fortaleza, Recife, Salvador, Belo Horizonte, Rio de Janeiro, São Paulo, Curitiba e Porto Alegre, além de Brasília e do município de Goiânia. Ao longo da vigência da POF, no entanto, a abrangência geográfica do IPCA foi ampliada, com a inclusão da região metropolitana de Vitória e do município de Campo Grande, em janeiro de 2014; e posteriormente com a incorporação dos municípios de Rio Branco, São Luís e Aracaju, em maio de 2018.

3/ Os pesos regionais são calculados em dois estágios. Primeiro, calcula-se o peso de cada Grande Região do país (N, NE, SE, S, CO) com base na participação de cada região na renda familiar monetária disponível nacional. Em seguida, o peso de cada Grande Região é distribuído entre as áreas de cobertura da própria região, sendo o coeficiente de proporcionalidade também calculado com base na renda familiar monetária disponível.

Atualizações da estrutura de ponderação do IPCA e repercussão nas suas classificações

Município ou POF 2008-2009 POF 2017-2018 Diferença

Região Metropolitana (RM) (%) (%) (p.p.)

Brasil 100,00 100,00 0,00

Aracaju 0,79 1,02 0,23

Belém 4,23 3,91 -0,32

Belo Horizonte 10,86 9,74 -1,12

Brasília 2,80 4,09 1,29

Campo Grande 1,51 1,58 0,07

Curitiba 7,79 8,05 0,26

Fortaleza 2,91 3,22 0,31

Goiânia 3,59 4,16 0,57

Porto Alegre 8,40 8,59 0,19

Recife 4,20 3,93 -0,27

Rio Branco 0,42 0,51 0,09

Rio de Janeiro 12,06 9,41 -2,65

Salvador 6,12 5,99 -0,13

São Luís 1,87 1,62 -0,25

São Paulo 30,67 32,32 1,65

Vitória 1,78 1,86 0,08

Fonte: IBGE (Notas Técnicas 01/2018 e 02/2019)

Tabela 1 – Mudanças na ponderação regional do IPCA

Page 54: Relatório de Inflação

52 \ Relatório de Inflação \ Banco Central do Brasil \ Dezembro 2019

domicílio (-3,03 p.p.). A elevação do peso de Transportes resultou, principalmente, do acréscimo no peso de Veículo próprio (+3,55 p.p.), destacando-se os aumentos nos subitens “emplacamento e licença”, “automóvel usado”, “seguro voluntário de veículos” e “automóvel novo”. No grupo, o maior peso em Veículo próprio foi em parte compensado por redução no peso de Transporte público (-1,53 p.p.), explicado especialmente pelo menor gasto das famílias com “ônibus urbano”. O maior peso no grupo Comunicação está associado a gastos maiores na aquisição de “aparelho telefônico” e em diversos tipos de serviços.

Classificações dos itens do IPCA

Em razão das mudanças na composição do IPCA, as classificações dos segmentos de serviços (S), bens duráveis (D), não duráveis (ND) e semiduráveis (SD), que observam critérios internacionais4, experimentarão ajustes pontuais: "tapete", que estava classificado como bem semidurável, passará a integrar o grupo de bens duráveis; e “aparelhos ortodônticos” serão reclassificados como serviços.

Diante da inexistência de um critério internacional estabelecido para a classificação dos subitens em comercializáveis (C) ou não-comercializáveis (NC), utiliza-se como referência dados de comércio exterior. Serviços são sempre classificados como NC. As principais alterações ocorrerão nos itens leite e derivados – os subitens, exceto “leite em pó”, foram reclassificados como NC – e panificados – “pão francês”, “pão doce” e “bolo” serão reclassificados como NC (até então, todo o item era considerado comercializável).

4/ De acordo com a revisão de 2018 da Classificação do Consumo Individual de Acordo com a Finalidade (sigla em inglês: Coicop), sob responsabilidade da divisão de estatísticas da Organização das Nações Unidas (ONU).

Tabela 2 – IPCA: estruturas de ponderação – janeiro de 2018

Grupo Diferença (p.p.)

POF 2008-2009 POF 2017-2018

Alimentação e bebidas 24,58 18,99 -5,59

Alimentação no domicílio 15,67 13,11 -2,56

Alimentação fora do domicílio 8,91 5,88 -3,03

Habitação 15,72 15,16 -0,56

Energia elétrica residencial 3,62 3,96 0,34

Artigos de residência 3,98 4,02 0,04

Vestuário 5,96 4,80 -1,16

Transportes 18,28 20,84 2,55

Transporte público 4,70 3,16 -1,53

Veículo próprio 8,11 11,66 3,55

Combustíveis 5,48 6,01 0,53

Saúde e cuidados pessoais 12,04 13,46 1,41

Plano de saúde 3,90 3,63 -0,27

Higiene pessoal 2,68 4,11 1,44

Despesas pessoais 10,96 10,60 -0,36

Educação 4,83 5,95 1,13

Cursos regulares 3,11 4,44 1,33

Comunicação 3,65 6,19 2,54

Plano de telefonia móvel 1,30 1,72 0,42

Acesso à internet 0,23 0,59 0,37

Aparelho telefônico 0,13 1,21 1,07

Combo de telefonia, internet e TV por assinatura - 1,81 1,81

Fonte: IBGE (POF 2017-2018 Primeiros Resultados) e BCB

Peso em jan/2018 (%)

Page 55: Relatório de Inflação

Dezembro 2019 \ Banco Central do Brasil \ Relatório de Inflação \ 53

Tabela 3 – Classificações do IPCA: novos itens

SNIPC COICOP A-I-S-M1 C-NC2 D-SD-ND3 S-NS4 IN-SE-AI5

1101079 01.1.1.1.6 Milho (em grão) A C ND - SE1102061 01.1.1.5 Macarrão instantâneo A C ND - AI1103002 01.1.7.5.2 Batata-doce A NC ND - IN1103020 01.1.7.2.5 Abobrinha A NC ND - IN1103025 01.1.7.2.2 Pepino A NC ND - IN1104067 01.1.8.1.1 Açúcar demerara A C ND - AI1106022 01.1.6.5.3 Melão A C ND - IN1106012 01.1.6.2.3 Laranja - lima A C ND - IN1107081 01.1.2.2 Cupim A C ND - SE1107208 01.1.2.2 Picanha A C ND - SE1108052 01.1.3.1 Peixe-palombeta A NC ND - SE1108092 01.1.3.1 Peixe-filhote A NC ND - SE1108125 01.1.3.1 Peixe-aruanã A NC ND - SE1109023 01.1.3.2 Bacalhau A C ND - AI1111021 01.1.4.3 Requeijão A NC ND - AI1111038 01.1.4.6 Leite fermentado A NC ND - AI1114003 01.1.6.9 Polpa de fruta (congelada) A C ND - AI1114087 02.1.2.1 Vinho (alimentação no domicílio) A C ND - AI1114090 01.2.1 Suco em pó A C ND - AI1114091 01.2.3.0 Chá mate (erva mate) A C ND - AI1115013 01.1.9.2 Alimento infantil A C ND - AI1116022 01.1.9.3 Colorau A C ND - AI1116023 01.1.9.3 Caldo de tucupi A C ND - AI1201052 11.1.1 Vinho (alimentação fora do domicílio) S NC - S -1201088 11.1.1 Sorvete (alimentação fora do domicílio) S NC - S -2103038 04.3.1.1 Madeira e taco I C ND - -2103049 04.3.1.1 Pedras I C ND - -2104003 05.6.1.1 Saco para lixo I C ND - -2104019 05.6.1.1 Sabão líquido I C ND - -2104020 05.6.1.1 Limpador multiuso I C ND - -2104041 05.6.1.1 Papel toalha I C ND - -2104085 05.6.1.1 Amaciante e alvejante I C ND - -3102001 05.1.1.3 Artigos de iluminação I C D - -3102337 13.2.9.1 Utensílios para bebê I C SD - -3202008 09.2.1.1 Videogame (console) I C SD - -3301088 08.3.5 Conserto de aparelho celular S NC - S -3301130 07.2.3 Conserto de bicicleta S NC - S -4201040 09.2.2.2 Mochila I C SD - -4201098 03.2.1 Sandália/chinelo I C SD - -5101051 07.3.2 Transporte por aplicativo S NC - NS -5101053 07.3.1.2 Integração transporte público M - - - -6101064 14.2.1.0 Antidiabético M - - - -6101148 14.2.1.0 Neurológico M - - - -6102012 06.1.3.1 Óculos de grau I C D - -7101011 13.1.3.1 Cabelereiro e barbeiro S NC - S -7101034 13.9.0.9 Cartório M - - - -7101144 13.1.3.2 Sobrancelha S NC - S -7201015 09.4.5.0 Tratamento de animais (clínica) S NC - S -7201067 09.2.2 Material de caça e pesca I C SD - -7201256 09.4.5.0 Serviço de higiente para animais S NC - S -7201266 09.6.1 Cinema, teatro e concertos S NC - S -8101008 14.4.5 Educação de jovens e adultos S NC - NS -8101045 14.4.3 Curso técnico S NC - NS -8102007 09.7.1.1 Livro didático I NC SD - -8102008 09.7.1.9 Livro não didático I NC SD - -9101010 08.3.9.1 TV por assinatura S NC - NS -9101115 08.3.9.2 Serviços de streaming S NC - NS -9101116 08.3.4.0 Combo de telefonia, internet e TV por assinatura S NC - NS -

5/ IN = alimentos in-natura; SE = alimentos semi elaborados; AI = alimentos industrializados.4/ S = serviços - subjacente; NS = serviços - não subjacente.

Código Estrutura a partir de jan/2020

1/ A = Alimentos; I = bens industriais; S = serviços; M = monitorados.2/ C = bens comercializáveis; NC = bens não comercializáveis.3/ D = bens duráveis; SD = bens semi-duráveis; ND = bens não duráveis.

Descrição

Page 56: Relatório de Inflação

54 \ Relatório de Inflação \ Banco Central do Brasil \ Dezembro 2019

Descrição

SNIPC COICOP Estrutura atual Estrutura a partir de jan/2020

1106 01.1.6 Frutas não comercializáveis comercializáveis1108075 01.1.3.1 Peixe-salmão não comercializáveis comercializáveis1111004 01.1.4.1 Leite longa vida comercializáveis não comercializáveis1111008 01.1.4.3 Leite condensado comercializáveis não comercializáveis1111011 01.1.4.5 Queijo comercializáveis não comercializáveis1111019 01.1.4.6 Iogurte e bebidas lácteas comercializáveis não comercializáveis1111031 01.1.5.2 Manteiga comercializáveis não comercializáveis1112015 01.1.1.3 Pão francês comercializáveis não comercializáveis1112017 01.1.1.3 Pão doce comercializáveis não comercializáveis1112019 01.1.1.3 Bolo comercializáveis não comercializáveis3102005 05.1.1.4 Tapete semi-duráveis duráveis6201005 06.2.2.9 Aparelho ortodôntico semi-duráveis serviços, serviços - subjacente7101090 13.9.0.9 Conselho de classe serviços monitorados

Tabela 4 – Classificações do IPCA: principais modificações

Código Classificação

Livres Calculado por exclusão de monitorados.

Alimentos Alimentação no domicílio.

Alimentos in natura Tubérculos, raízes e legumes; Hortaliças e verduras; Frutas; Ovo de galinha.Alimentos semi-elaborados Cereais, leguminosas e oleaginosas; Carnes; Pescados; Frango inteiro; Frango em pedaços; Leite longa vida.

Alimentos industrializados

Farinhas, féculas e massas; Açúcares e derivados; Carnes e peixes industrializados; Leite e derivados (exceto Leite longavida); Panificados; Óleos e gorduras; Bebidas e infusões; Enlatados e conservas; Sal e condimentos.

Serviços

Alimentação fora do domicílio; Aluguel residencial; Condomínio; Mudança; Mão de obra (Reparos); Consertos e manutenção;Passagem aérea; Transporte escolar; Transporte por aplicativo; Seguro voluntário de veículo; Conserto de automóvel;Estacionamento; Pintura de veículo; Aluguel de veículo; Serviços médicos e dentários; Serviços laboratoriais e hospitalares;Serviços pessoais (exceto Cartório e Conselho de classe); Recreação (exceto Jogos de azar, Instrumento musical, Bicicleta,Alimento para animais, Brinquedo e Material de caça e pesca); Cursos regulares; Cursos diversos; Plano de telefonia móvel;TV por assinatura; Acesso à internet; Serviços de streaming; Combo de telefonia, internet e TV por assinatura.

Serviços - Subjacente

Alimentação fora do domicílio; Aluguel residencial; Condomínio; Mudança; Consertos e manutenção; Transporte escolar;Seguro voluntário de veículo; Conserto de automóvel; Estacionamento; Pintura de veículo; Aluguel de veículo; Serviçosmédicos e dentários; Serviços laboratoriais e hospitalares; Costureira; Manicure; Cabeleireiro e barbeiro; Depilação;Despachante; Serviço bancário; Sobrancelha; Clube; Tratamento de animais (clínica); Casa noturna; Serviço de higiene paraanimais; Cinema, teatro e concertos.

Serviços - Ex-Subjacente Calculado pela exclusão do grupo Serviços ex-subjacente.

DuráveisMobiliário; Artigos de iluminação; Tapete; Refrigerador; Ar-condicionado; Máquina de lavar roupa; Fogão; Chuveiro elétrico;Televisor; Aparelho de som; Computador pessoal; Joias e bijuterias; Automóvel novo; Automóvel usado; Motocicleta; Óculosde grau; Instrumento musical; Bicicleta e Aparelho telefônico

Semi-duráveisCortina; Utensílios de metal; Utensílios de vidro e louça; Utensílios de plástico; Utensílios para bebê; Cama, mesa e banho;Ventilador; Videogame (console); Roupas; Calçados e acessórios; Tecidos e armarinhos; Acessorios e peças (Veículos);Pneu; Brinquedo; Material de caça e pesca; Livro didático; Livro não didático.

Não duráveis Alimentação no domicílio; Reparos (habitação) exceto mão-de-obra; Artigos de limpeza; Carvão vegetal; Flores naturais; Óleolubrificante; Etanol; Higiene pessoal; Alimento para animais; Cigarro; Jornal diário; Revista; Caderno; Artigos de papelaria.

Monitorados

Taxa de água e esgoto; Gás de botijão; Gás encanado; Energia elétrica residencial; Ônibus urbano; Táxi; Trem; Ônibusintermunicipal; Ônibus interestadual; Metrô; Integração transporte público; Emplacamento e licença; Multa; Pedágio; Gasolina;Óleo diesel; Gás veicular; Produtos farmacêuticos; Plano de saúde; Cartório; Conselho de classe; Jogos de azar; Correio;Plano de telefonia fixa.

Comercializáveis Calculado por exclusão de Não comercializáveis e Monitorados

Não comercializáveisTodos os tipos de feijão; Flocos de milho; Farinha de mandioca; Tubérculos; raízes e legumes; Hortaliças e verduras;Pescados (exceto salmão); Leite e derivados (exceto leite em pó); Pão francês; Pão doce; Bolo; Cimento (Reparos); Tijolo;Areia; Carvão vegetal; Automóvel usado; Alimento para animais; Leitura; Serviços.

Núcleo EX0 Exclui Alimentação no domicílio e Monitorados.

Núcleo EX1Exclui Cereais, leguminosas e oleaginosas; Tubérculos, raízes e legumes; Açúcares e derivados; Hortaliças e Verduras;Frutas; Carnes; Pescados; Aves e ovos; Leite e derivados; Óleos e gorduras; Combustíveis (domésticos); Combustíveis(veículos).

Núcleo EX2Exclui Cereais, leguminosas e oleaginosas; Farinhas, féculas e massas; Tubérculos, raízes e legumes; Açúcares e derivados;Hortaliças e Verduras; Frutas; Carnes; Pescados; Aves e ovos; Leite e derivados; Óleos e gorduras; Sal e condimentos;Aparelhos eletroeletrônicos; Automóvel novo; Automóvel usado; Etanol; Fumo; Serviços Ex-Subjacente; Monitorados.

Núcleo EX3 Exclui Alimentação no domicílio; Aparelhos eletroeletrônicos; Automóvel novo; Automóvel usado; Etanol; Fumo; Serviços Ex-subjacente; Monitorados.

Tabela 5 – Classificações do IPCA a partir de janeiro de 2020: estrutura completa¹

1/ Sempre que o nível de agregação considerado for superior ao subitem, significa que todos os subitens pertencentes àquela agregação recebem a mesma classificação.

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Dezembro 2019 \ Banco Central do Brasil \ Relatório de Inflação \ 55

O conjunto de subitens classificados como monitorados também será atualizado, com a inclusão de “cartório” e “conselho de classe”.

A Tabela 3 apresenta a classificação para os novos subitens, introduzidos com a POF 2017-2018, enquanto a Tabela 4 mostra as alterações realizadas na classificação dos componentes já existentes na POF atual. Destaque-se que essas atualizações serão implementadas em janeiro de 2020 de forma não retroativa. A Tabela 5, na sequência, apresenta as classificações para a nova estrutura completa, incluindo também a composição dos núcleos por exclusão.

A Tabela 6 compara os pesos das diversas classificações nas duas POFs. Observa-se importante diminuição do peso de alimentos e, em sentido contrário, aumento do peso de serviços, este último influenciado pelo componente “ex-subjacente”. Destaca-se, ainda, o aumento do peso do segmento de não-comercializáveis, em detrimento dos comercializáveis. Os bens industriais terão peso um pouco maior, enquanto a ponderação dos monitorados ficará relativamente estável.

Referências

IBGE, Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, Pesquisa de Orçamentos Familiares 2017 – 2018 / Primeiros Resultados. Disponível em https://biblioteca.ibge.gov.br/visualizacao/livros/liv101670.pdf (consulta em nov/2019).

UN, United Nations – Statistical Papers – Series M – No. 99, Classification of Individual Consumption According to Purpose (COICOP) 2018. Disponível em https://unstats.un.org/unsd/classifications/Econ/Download/In%20Text/COICOP_2018_pre_edited_white_cover_version_2018_12_26.pdf (consulta em nov/2019).

POF 2008-2009 POF 2017-2018

Classificação atual Nova classificação

100,00 100,00

74,72 74,91

15,67 13,11

35,82 37,22

22,44 21,66

13,38 15,55

23,24 24,59

7,83 10,82

7,74 6,29

7,67 7,48

25,28 25,09

74,72 74,91

33,93 30,87

40,80 44,04

25,28 25,09Monitorados

Subjacente

Ex-Subjacente

Semi-duráveis

Não-duráveis

Monitorados

Livres

Comercializáveis

Duráveis

Não-comercializáveis

Livres

Alimentos

Serviços

Bens industriais

Tabela 6 – Classificações do IPCA: novos pesos

%

IPCA

Pesos em janeiro de 2018

Page 58: Relatório de Inflação

56 \ Relatório de Inflação \ Banco Central do Brasil \ Dezembro 2019

A estrutura de ponderação do Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) será atualizada em janeiro de 2020, com a incorporação da nova cesta de referência gerada a partir da Pesquisa de Orçamentos Familiares (POF) 2017‑20181. Nesse contexto, este boxe avalia os impactos da nova estrutura de pesos do IPCA sob diferentes aspectos. Primeiramente, são apresentadas estimativas de como a inflação teria se comportado no período recente, caso a nova estrutura já estivesse em vigor. Em seguida, apresenta‑se o impacto observado em outros episódios de mudança de estrutura de ponderação. Por fim, estima‑se o impacto que a mudança deve exercer sobre a inflação em 2020.

Impacto da mudança da POF para a inflação no período recente

Esta seção compara o IPCA divulgado2 para o período 2017‑2019 com o contrafactual baseado na hipótese de que a nova estrutura do IPCA já estivesse em vigor. O período escolhido abarca aquele em que ocorreu a coleta de dados da nova POF, de tal forma que inflação recalculada sob a nova estrutura tende a refletir melhor a variação do custo de vida da população objetivo no período.

O cálculo do contrafactual sob a nova estrutura de ponderação considera as variações divulgadas para os subitens que já faziam parte da cesta do IPCA e imputa a variação do item a que pertence ou de subitem correlato no caso dos novos subitens. O exercício sugere que a inflação medida pelo IPCA teria sido de 10,75%, no acumulado do período, caso a nova estrutura já estivesse em vigor – pouco abaixo dos 11,02% registrados sob a estrutura atual. Em termos anualizados, a diferença é de ‑0,09 p.p. (3,46% contra 3,55%).

Em 2017, a inflação teria sido maior caso a nova estrutura estivesse em vigor (3,19%, contra 2,95%), repercutindo o aumento no peso do grupo educação e, principalmente, a diminuição do peso do subgrupo alimentação no domicílio. Naquele ano, houve deflação dos preços de alimentos, enquanto o grupo educação registrou alta bem superior à inflação. Em 2018 e 2019, contudo, a inflação teria sido menor sob a nova estrutura (3,48%

1/ Para maiores detalhes, ver boxe “Atualizações da estrutura de ponderação do IPCA e repercussão nas suas classificações”, neste Relatório.

2/ Para o IPCA de dezembro de 2019, considerou‑se a projeção divulgada no capítulo 2 deste Relatório.

Impacto de atualizações na cesta de referência do IPCA

1

2

3

4

5

6

Mar2017

Jun Set Dez Mar2018

Jun Set Dez Mar2019

Jun Set Dez

Media Núcleos POF 2008 Média Núcleos POF NovaIPCA POF Nova IPCA POF 2008

Gráfico 1 – Evolução recente do IPCA e núcleos% em 12 meses

Fonte: BCB * Projeção

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Dezembro 2019 \ Banco Central do Brasil \ Relatório de Inflação \ 57

ante 3,75%; e 3,72% ante 3,95%, respectivamente), resultado mais em linha com o viés desinflacionário de atualizações da cesta de referência.3 O contrafactual construído para os núcleos de inflação sugere que a nova estrutura de pesos teria diminuído a inflação subjacente nos três anos avaliados (Gráfico 1).

Comparação com episódios anteriores de mudança de POF

O mesmo exercício foi aplicado para estimar o impacto de outras mudanças na estrutura de pesos, decorrentes da adoção de atualizações de POF pelo SNIPC4. Os episódios considerados foram: (i) da POF 1987‑1988 para a POF 1995‑1996, em agosto de 1999; (ii) da POF 1995‑1996 para a POF 2002‑2003, em julho de 2006; e (iii) da POF 2002‑2003 para a POF 2008‑2009, em janeiro de 2012.

Usando como referência os três anos que antecederam as respectivas atualizações de estrutura, o exercício encontrou aumento da inflação em dois dos três episódios: o da POF 1987‑1988 para a 1995‑1996 (impacto anualizado de +0,71 p.p.) e o da POF 1995‑1996 para a 2002‑2003 (impacto anualizado de +0,40 p.p.). Apenas na mudança da POF 2002‑2003 para 2008‑2009 teria ocorrido redução da inflação, de ‑0,49 p.p. (Tabela 1).

A influência de aspectos conjunturais sobre esse tipo de exercício é evidenciada quando se compara a inflação oficial dos três anos seguintes à mudança da POF com aquela que teria ocorrido caso a estrutura não tivesse sido atualizada (Tabela 2). Para o primeiro episódio considerado, encontrou‑se novamente aumento da inflação, mas desta vez bem menor. Nos dois episódios seguintes, observou‑se redução significativa da inflação: ‑0,56 p.p. na mudança da POF 2002‑2003 para 2008‑2009 e ‑0,34 p.p. na mudança da POF 1995‑1996 para 2002‑2003.

3/ Atualizações na estrutura de pesos do IPCA tendem a provocar redução na inflação em decorrência de questões metodológicas relacionadas a mudanças de qualidade em bens duráveis e do viés de substituição que índices de Laspeyres (como o IPCA) trazem ao cálculo da inflação.

4/ Sistema Nacional de Índices de Preços ao Consumidor, do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

Tabela 1 – Contrafactual nos três anos anteriores à mudança

Mudança de POF Período de comparação DiferençaPOF anterior POF nova

1987-1988 para 1995-1996 agosto/96 a julho/99 4,56 5,27 0,71

1995-1996 para 2002-2003 julho/03 a junho/06 5,78 6,17 0,40

2002-2003 para 2008-2009 janeiro/09 a dezembro/11 5,57 5,08 -0,49

IPCA acumulado, anualizado (%)

Tabela 2 – Contrafactual nos três anos após à mudança

Mudança de POF Período de comparação DiferençaPOF anterior POF nova

1987-1988 para 1995-1996 agosto/99 a setembro/01 6,91 6,97 0,06

1995-1996 para 2002-2003 julho/06 a agosto/08 5,15 4,81 -0,34

2002-2003 para 2008-2009 janeiro/12 a fevereiro/14 6,58 6,01 -0,56

IPCA acumulado, anualizado (%)

Page 60: Relatório de Inflação

58 \ Relatório de Inflação \ Banco Central do Brasil \ Dezembro 2019

Estimativas de impacto da mudança da POF para a inflação em 2020

Para a avaliação do impacto da mudança a ser implementada no próximo ano foram utilizadas projeções de inflação para 2020 desagregadas no nível de subitem. Essas projeções foram então agregadas usando tanto a estrutura de ponderação derivada da POF 2008‑2009 quanto a estrutura de ponderação derivada da POF 2017‑2018. Esses exercícios sugerem que a atualização da cesta de referência terá impacto de cerca de ‑0,30 p.p. sobre o IPCA de 2020, dependendo do cenário utilizado. Ao controlar variações de preços no nível mais desagregado do IPCA e isolar exclusivamente o impacto da diferença nos pesos, esses exercícios fornecem uma medida direta do efeito esperado da mudança da POF. Não obstante, a magnitude do efeito esperado da atualização da cesta de referência é condicional às projeções para as variações de preços dos diversos subitens que compõem o IPCA, de tal forma que o impacto efetivo dependerá da composição da inflação que será de fato observada em 2020. Portanto, a incerteza em relação ao impacto da mudança na estrutura guarda correspondência com a própria incerteza em relação às projeções desagregadas de inflação. Naturalmente, projeções diferentes resultarão em estimativas de impacto diferentes, ainda que a mesma metodologia seja seguida.

É importante ressaltar que essas projeções desagregadas não correspondem às projeções divulgadas neste Relatório de Inflação, construídas com o uso de modelos macroeconômicos semiestruturais. Projeções desagregadas componente a componente, que combinam de forma flexível modelagem econométrica mais simples com julgamento de analistas, fazem, contudo, parte do conjunto mais amplo de projeções consideradas internamente para fins analíticos. Diferentemente do exercício aqui proposto, o impacto da mudança na estrutura de ponderação do IPCA é capturado nas projeções dos modelos semiestruturais por intermédio das expectativas de mercado, cuja fonte são as previsões apontadas na Pesquisa Focus; do efeito sobre as projeções nos preços administrados; do impacto sobre a inércia inflacionária sobre os preços livres, entre outros.

Page 61: Relatório de Inflação

Dezembro 2019 \ Banco Central do Brasil \ Relatório de Inflação \ 59

A taxa de juros estrutural da economia, referência fundamental na formulação da política monetária, pode ser definida como aquela consistente, no médio prazo, com inflação na meta e crescimento do produto igual ao crescimento potencial (Blinder, 1998). Em linha com esse conceito, quando a taxa de juros real efetiva está acima do valor estrutural, a política monetária é contracionista; quando está abaixo, é expansionista.

Uma dificuldade inerente à condução da política monetária reside no fato de que a taxa de juros estrutural não é observável. Além disso, tal taxa pode variar ao longo do tempo, de acordo com a evolução de seus determinantes, como a taxa de crescimento do produto potencial, preferências dos agentes econômicos entre consumo, poupança e investimento, eficiência do sistema financeiro e o prêmio de risco da economia. Portanto, a literatura e a prática da política monetária atribuem elevado grau de incerteza às estimativas da taxa estrutural e prescrevem que sejam reavaliadas frequentemente. Nesse sentido, este boxe complementa as estimativas usuais de taxa estrutural, ao apresentar uma variável calculada a partir de informações extraídas do Sistema Expectativas de Mercado (pesquisa Focus1) e que, sob algumas condições, deveria ser correlacionada com a taxa estrutural.2

Na pesquisa Focus, as instituições participantes apresentam suas expectativas para diversas variáveis macroeconômicas. Em particular, são informadas expectativas da taxa do Sistema Especial de Liquidação e de Custódia (Selic) e taxa de inflação para até quatro anos‑calendário à frente. Partindo da premissa de que as expectativas para horizontes mais longos sejam pouco influenciadas por flutuações econômicas de curto prazo, espera‑se que a taxa de juros real implícita nas expectativas de Selic e inflação para esses horizontes reflita percepções dos agentes sobre a taxa de juros estrutural da economia brasileira.3 Com essa motivação, extraíram‑se as expectativas individuais para as duas variáveis, para o horizonte de três anos‑calendário à frente, a partir de março de 2010.4

O Gráfico 1 ilustra a evolução da média mensal dos dados diários da proxy da taxa de juros estrutural implícita nas expectativas presentes na pesquisa Focus. São apresentadas duas medidas: uma restrita e uma ampliada. A primeira delas considera somente as instituições que informaram simultaneamente expectativas para Selic e Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) (em média, 41 ao longo do período). Nesse caso, com as expectativas individuais, calcula‑se uma taxa de juros real para cada instituição e, em seguida, computa‑se a mediana. A segunda medida, que leva em conta todas as instituições que informaram ao menos uma das duas variáveis (em média, 50 ao longo do período), refere‑se à taxa de juros real calculada a partir das medianas das expectativas de taxa Selic e inflação. A área sombreada no gráfico representa o intervalo entre os percentis 10 e 90 das medidas individuais. Após atingir o nível de 5,76% a.a. em janeiro de 2016, a segunda proxy situava‑se em 2,9% a.a. em novembro de 2019, valor mínimo do período considerado, sugerindo tendência de redução da taxa estrutural.

1/ Nome do relatório semanal produzido com os dados do referido sistema.2/ Este tópico foi abordado em três boxes do Relatório de Inflação: “Taxa de Juros Real de Equilíbrio”, em setembro de 2010; “Evolução

da Taxa de Juros Real de Equilíbrio no Brasil”, em setembro de 2012; e “Taxa de juros estrutural e condução da política monetária no Brasil”, em setembro de 2017.

3/ É importante ressaltar que essa premissa pode não ser válida em contextos de expectativas de inflação desancoradas.4/ Para o horizonte de quatro anos‑calendário à frente, há poucas observações disponíveis. Portanto, optou‑se por concentrar o exercício

no horizonte de três anos‑calendário. Por exemplo, ao longo de 2010 são consideradas as expectativas formadas para 2013.

Proxy da taxa de juros estrutural implícita nas expectativas da pesquisa Focus

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60 \ Relatório de Inflação \ Banco Central do Brasil \ Dezembro 2019

Em abril de 2017, no âmbito do Questionário Pré‑Copom5, o Banco Central incluiu uma questão acerca da taxa de juros estrutural. Com o intuito de contrastar as respostas coletadas por tal questionário com os dados da proxy aqui apresentada, o Gráfico 2 compara as respostas dos agentes à época com as suas respectivas estimativas implícitas levantadas na pesquisa Focus do mesmo período.6 Observa‑se relativa aderência das respostas ao questionário com as expectativas válidas na pesquisa Focus, do conjunto de 24 agentes que informaram ambas, corroborando a abordagem proposta para inferir a avaliação dos agentes econômicos sobre o nível da taxa estrutural.

Em suma, usando um enfoque não explorado anteriormente, o boxe apresentou uma nova variável proxy para a taxa de juros estrutural da economia brasileira, referenciada na percepção dos agentes econômicos. Essa métrica sugere que a taxa de juros estrutural se encontra em níveis historicamente baixos.7 Nesse contexto, a continuidade do processo de reformas e a perseverança nos ajustes necessários na economia brasileira são essenciais para permitir a consolidação da queda da taxa de juros estrutural, para o funcionamento pleno da política monetária e para a recuperação sustentável da economia.

Referência

Blinder, A. (1998). Central Banking in Theory and Practice, Cambridge: The MIT Press.

5/ Questionário enviado aos participantes da pesquisa Focus na semana anterior ao Copom com o objetivo de colher subsídios acerca de temas relevantes da conjuntura econômica. A pergunta foi “Qual sua estimativa para a taxa de juros neutra da economia brasileira, no curto prazo, daqui a 2 anos e daqui a 5 anos?”. A análise desses dados aparece no boxe “Taxa de juros estrutural e condução da política monetária no Brasil” do Relatório de Inflação de setembro de 2017.

6/ Para o questionário de 2017, utilizou‑se a média entre as respostas para 2 e 5 anos, por coincidir com o horizonte médio utilizado para construir a taxa neutra extraída do Focus. Isso porque, para os primeiros dias de cada ano, o horizonte é de 48 meses, e vai se reduzindo até chegar a 36 meses, ao fim do ano.

7/ Dentre os possíveis fatores responsáveis pela redução da taxa de juros estrutural nos últimos anos, estão a redução nos prêmios de risco, decorrente da perspectiva de continuidade de reformas e ajustes na economia brasileira; a mudança na composição do crédito, com menor participação do segmento direcionado; além dos juros internacionais mais baixos.

0

1

2

3

4

5

6

7

8

Mar2010

Mar2011

Mar2012

Mar2013

Mar2014

Mar2015

Mar2016

Mar2017

Mar2018

Mar2019

Percentis 10 a 90 Medida restrita

Medida ampliada

Gráfico 1 – Proxy da taxa de juros estrutural (Focus)% a.a.

2

3

4

5

6

7

2 3 4 5 6 7

Prox

yim

plíc

ita n

a pe

squi

sa F

ocus

Estimativas diretas – Questionário Pré-Copom

Gráfico 2 – Estimativas da taxa de juros estrutural, em abril/2017% a.a.

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Dezembro 2019 \ Banco Central do Brasil \ Relatório de Inflação \ 61

Perspectivas para a inflação

Este capítulo do Relatório de Inflação analisa as perspectivas para a inflação até 2022, cobrindo, portanto, a totalidade dos anos‑calendário para os quais há definição das metas para a inflação, por parte do Conselho Monetário Nacional (CMN).

As projeções apresentadas utilizam o conjunto de informações disponíveis até a reunião do Copom realizada em 10 e 11.12.2019 (227ª reunião). Para os condicionantes utilizados nas projeções, em especial os advindos da pesquisa Focus, realizada pelo Banco Central do Brasil, a data de corte é 6.12.2019, a menos de indicação contrária.

As projeções condicionais para a inflação são apresentadas em quatro cenários, dependendo do condicionante usado para as trajetórias da taxa de câmbio e da taxa Selic ao longo do horizonte de projeção. Os condicionantes podem ser trajetórias oriundas das expectativas coletadas na pesquisa Focus ou trajetórias em que os valores dessas variáveis permanecem constantes ao longo do horizonte de projeção.

O primeiro cenário assume que a taxa Selic e a taxa de câmbio permanecem constantes ao longo do horizonte de projeção, enquanto o segundo cenário supõe trajetórias extraídas da pesquisa Focus para essas duas variáveis.

Também são apresentados outros dois cenários, chamados de cenários “híbridos”, que combinam como pressupostos taxa Selic constante e taxa de câmbio da pesquisa Focus e, alternativamente, taxa Selic da pesquisa Focus e taxa de câmbio constante.

É importante salientar que as projeções condicionais de inflação divulgadas neste Relatório contemplam intervalos de probabilidade que ressaltam o grau de incerteza presente na supracitada data de corte. As projeções dependem não apenas das hipóteses sobre as taxas de juros e de câmbio, mas também de um conjunto de pressupostos sobre o comportamento de variáveis exógenas.

2

Page 64: Relatório de Inflação

62 \ Relatório de Inflação \ Banco Central do Brasil \ Dezembro 2019

Em seu processo de tomada de decisão, o Copom analisa um amplo conjunto de variáveis e modelos, em relação aos quais exerce julgamentos com base no conjunto de informações disponíveis. Ao expor alguns cenários que informam suas deliberações, o Copom procura dar maior transparência às decisões de política monetária, contribuindo para sua eficácia no controle da inflação, que é seu objetivo precípuo.

2.1 Revisões e projeções de curto prazo

No trimestre encerrado em novembro, a inflação ao consumidor, medida pelo IPCA, situou‑se 0,10 p.p. acima do cenário básico apresentado no Relatório de Inflação de setembro (Tabela 2.1), repercutindo pressões concentradas no último mês do período.

Em setembro e outubro, a baixa pluviosidade contribuiu para postergação da alta sazonal dos preços de alimentos in natura, o que respondeu por parcela relevante da surpresa de ‑0,16 p.p. na inflação do bimestre. Em novembro, entretanto, a inflação situou‑se 0,26 p.p. acima do projetado, repercutindo a combinação da elevação acentuada nos preços de carnes com o reajuste dos jogos lotéricos e o acionamento da bandeira vermelha 1.

As projeções de curto prazo no cenário básico do Copom consideram variações de 0,81%, 0,53% e 0,45% para o IPCA nos meses de dezembro, janeiro e fevereiro, respectivamente (Tabela 2.2). Caso se concretize, a alta de 1,80% no trimestre será consideravelmente superior à variação de 0,90% observada entre dezembro de 2018 e fevereiro de 2019, implicando aceleração da inflação acumulada em doze meses, de 3,27% em novembro de 2019 para 4,19% em fevereiro de 2020.

As taxas de inflação mais altas esperadas para o trimestre encerrado em fevereiro, em comparação com as observadas entre setembro e novembro, refletem a perspectiva de alta adicional nos preços de carnes, recuperação dos preços de alimentos in natura – movimento compatível com período chuvoso – e de elevação dos preços de combustíveis, influenciados pela depreciação do câmbio e entressafra da cana. Destacam‑se, ainda, as altas sazonais nos custos de passagem aérea, ônibus urbano e educação, em dezembro, janeiro e fevereiro, respectivamente.

Tabela 2.1 – IPCA – Surpresa inflacionáriaVariação %

2019

Set Out Nov No trim. 12 meses até nov.

Cenário do Copom1/ 0,06 0,16 0,25 0,47 3,17

IPCA observado -0,04 0,10 0,51 0,57 3,27

Surpresa -0,10 -0,06 0,26 0,10 0,10

Fontes: IBGE e BCB1/ Cenário na data de corte do Relatório de Inflação de setembro de 2019.

Tabela 2.2 – IPCA – Projeções de curto prazoVariação %

2019 2020

Dez Jan Fev No trim. 12 meses até fev

Cenário do Copom1/ 0,81 0,53 0,45 1,80 4,19

Fontes: IBGE e BCB1/ Cenário na data de corte.

Page 65: Relatório de Inflação

Dezembro 2019 \ Banco Central do Brasil \ Relatório de Inflação \ 63

2.2 Projeções condicionais

O valor da taxa de câmbio utilizado nos cenários que supõem trajetória constante para essa variável é de R$4,20/US$26, acima do valor de R$4,05/US$ do Relatório de Inflação de setembro de 2019 (Gráfico 2.1). A mediana das expectativas para a taxa de câmbio para os finais de ano, extraídas da pesquisa Focus de 6.12.2019, é de apreciação para o restante de 2019 e para 2020 e 2021, estabilizando‑se em 2022. Na comparação com os valores de 13.9.2019, utilizados no Relatório de setembro, a taxa de câmbio para os finais de ano depreciou de R$3,90/US$ para R$4,15/US$ para 2019, de R$3,90/US$ para R$4,10/US$ para 2020, de R$3,90/US$ para R$4,00/US$ para 2021 e de R$3,95/US$ para R$4,00/US$ para 2022.

No caso da taxa Selic, na comparação com o Relatório de setembro, o valor suposto nos cenários que utilizam taxa constante reduziu‑se de 6,00% a.a. para 5,00% a.a. (Gráfico 2.2). Consistente com essa trajetória para a taxa Selic e com o comportamento dos prêmios de risco, a taxa projetada do swap pré‑DI de 360 dias, depois da queda verificada até o quarto trimestre de 2019, apresenta valores crescentes nos dois trimestres seguintes, ficando relativamente estável a partir de então.

A mediana das expectativas para a taxa Selic extraídas da pesquisa Focus, também na comparação entre 13.9.2019 e 6.12.2019, reduziu de 5,00% a.a. para 4,50% a.a. para os finais de 2019 e 2020, de 7,00% a.a. para 6,25% a.a. para o final de 2021 e de 7,00% a.a. para 6,50% para os finais de 2022 e 2023 (Gráfico 2.2).27 Nessa trajetória, a taxa Selic cai 0,50 p.p. na reunião de dezembro e 0,25 p.p. na reunião de fevereiro de 2020, chegando então a 4,25% a.a., e permanece nesse patamar nas quatro reuniões seguintes, subindo então em setembro e outubro de forma a terminar 2020 em 4,50% a.a. A taxa Selic volta a subir em março, abril e maio de 2021, atingindo 5,25% a.a. em maio, último mês para o qual a pesquisa Focus coletou dados mensais. Nessa trajetória, a taxa Selic atinge 6,25% a.a. ao final de 2021 e 6,50% a.a. ao final de 2022, mantendo‑se nesse patamar em 2023. Consistente com essa trajetória para a taxa Selic e o comportamento dos

26/ Valor obtido pelo procedimento usual de arredondar a cotação média da taxa de câmbio R$/US$ observada nos cinco dias úteis encerrados na sexta‑feira anterior à reunião do Copom.

27/ Como descrito no boxe “Modelo agregado de pequeno porte – 2017” (Relatório de Inflação de junho de 2017), a trajetória da taxa do swap pré‑DI de 360 dias depende da trajetória da taxa Selic usada como condicionante para o mesmo período e da trajetória do prêmio (diferença entre a taxa do swap e a taxa esperada para a Selic). Portanto, a taxa do swap ao longo de 2022 depende também da trajetória da Selic ao longo de 2023.

Gráfico 2.1 – Taxa de câmbio usada nas projeções

Obs.: Os valores referem-se a médias trimestrais.

3,6

3,7

3,8

3,9

4,0

4,1

4,2

4,3

I2019

II III IV I2020

II III IV I2021

II III IV I2022

II III IV

Expectativa Focus (RI Set 19)Constante (RI Set 19)Constante (RI Dez 19)Expectativa Focus (RI Dez 19)

R$/US$

Gráfico 2.2 – Meta da taxa Selic usada nas projeções

Obs.: Os valores referem-se a médias trimestrais.

3,54,04,55,05,56,06,57,07,58,0

I2019

II III IV I2020

II III IV I2021

II III IV I2022

II III IV I2023

II III IV

Expectativa Focus (RI Set 19)Constante (RI Set 19)Constante (RI Dez 19)Expectativa Focus (RI Dez 19)

% a.a.

Page 66: Relatório de Inflação

64 \ Relatório de Inflação \ Banco Central do Brasil \ Dezembro 2019

prêmios de risco, nos cenários que utilizam essa trajetória, a taxa projetada do swap pré‑DI de 360 dias continua sua trajetória de queda até o primeiro trimestre de 2020 e sobe ao longo do restante do horizonte de projeção, até se estabilizar em 2022.

As projeções aqui apresentadas dependem ainda de considerações sobre a evolução das reformas e ajustes necessários na economia. Seus efeitos sobre as projeções são capturados por meio dos preços de ativos, do grau de incerteza, das expectativas apuradas pela pesquisa Focus e através do seu efeito na taxa de juros estrutural da economia. Além desses canais, a política fiscal influencia as projeções condicionais de inflação por meio de impulsos sobre a demanda agregada.

As projeções apresentadas embutem o entendimento de que o processo de reformas estruturais, como as fiscais e creditícias, contribui para a redução gradual da taxa de juros estrutural.

Com base na combinação das projeções de curto prazo e dos condicionantes acima, foram construídas projeções para a variação do IPCA acumulada em quatro trimestres. Essas projeções se baseiam na utilização de um conjunto de modelos e de informações disponíveis, combinado com exercício de julgamento.

A projeção central associada ao cenário que combina taxas Selic e de câmbio constantes por todo o horizonte de projeção indica que a inflação acumulada em quatro trimestres, após atingir valor observado de 2,89% no terceiro trimestre de 2019, termina o ano ao redor de 4,0% (Tabela 2.3, Gráfico 2.3 e Tabela 2.4). A inflação projetada cai para cerca de 3,6% em 2020 e sobe para aproximadamente 3,7% e 3,9% em 2021 e 2022, respectivamente. Nesse cenário, as projeções para a inflação de preços administrados são de cerca de 5,1% para 2019 e 3,9% para 2020, 4,0% para 2021 e 3,9% para 2022.

Ainda nesse cenário, as probabilidades estimadas de a inflação ultrapassar os limites superior e inferior do intervalo de tolerância da meta em 2019 situam‑se próximas de 0%. Para 2020, essas probabilidades situam‑se ao redor de 8% e 21%, respectivamente. Para 2021, as probabilidades são de 13% para o limite superior e 15% para o limite inferior e, para 2022, os valores são 22% e 9%, respectivamente.

Na comparação com o Relatório de Inflação de setembro de 2019 (Tabela 2.5), as projeções no

Gráfico 2.3 – Projeção de inflação no cenário com Selic e câmbio constantes Leque de inflação

Obs.: Inflação medida pelo IPCA, acumulada em quatro trimestres (%).

0

2

4

6

8

I2019

II III IV I2020

II III IV I2021

II III IV I2022

II III IV

%

2019 IV 4,25 4,0 4,0 4,0 4,0

2020 I 3,8 3,7 3,8 3,7

2020 II 3,7 3,7 3,8 3,6

2020 III 3,8 3,8 3,9 3,7

2020 IV 4,00 3,6 3,5 3,7 3,4

2021 I 3,3 3,2 3,4 3,1

2021 II 3,4 3,3 3,5 3,2

2021 III 3,7 3,5 3,7 3,4

2021 IV 3,75 3,7 3,4 3,7 3,4

2022 I 3,8 3,4 3,7 3,5

2022 II 3,8 3,4 3,6 3,6

2022 III 3,9 3,4 3,6 3,7

2022 IV 3,50 3,9 3,4 3,5 3,8

Obs.: Inflação medida pelo IPCA, acumulada em quatro trimestres (%).

Selic Focus e câmbio constante

Meta para a

inflação

Tabela 2.3 – Projeções centrais de inflação em diferentes cenários

Ano TSelic e câmbio

constantes

Selic e câmbio Focus

Selic constante e

câmbio Focus

Page 67: Relatório de Inflação

Dezembro 2019 \ Banco Central do Brasil \ Relatório de Inflação \ 65

cenário com Selic e câmbio constantes aumentaram em torno de 0,6 p.p. para 2019. A surpresa inflacionária em novembro e a revisão da inflação projetada para dezembro – decorrentes principalmente do reajuste dos jogos lotéricos, do choque de preço de proteínas e do comportamento da bandeira tarifária de energia elétrica – mais do que compensaram a inflação em setembro e outubro mais baixa que a esperada. As projeções de curto prazo foram particularmente afetadas pelos efeitos do choque de preço de proteínas, que ocorreu de forma mais intensa e prematura que esperada anteriormente. As projeções consideram um efeito direto mais concentrado no último bimestre deste ano, constituindo‑se o principal fator de elevação das projeções para 2019. As projeções para 2020, 2021 e 2022 se mantiveram estáveis. No sentido de aumentar as projeções desses anos, contribuíram os efeitos inerciais da inflação projetada mais alta para 2019, a depreciação da taxa de câmbio e a queda na taxa Selic. No sentido contrário, atuaram a redução das expectativas de inflação, a mudança na distribuição temporal dos efeitos do choque de preço de proteínas considerada nas projeções, com aumento do impacto direto para 2019 e redução para 2020, e a reavaliação na projeção de alguns itens dos preços administrados. No âmbito dos administrados, destaca‑se a presença de condições benignas para a ocorrência de reajustes menores nas tarifas de energia elétrica, que já vêm se materializando nos últimos meses e devem prosseguir nos trimestres seguintes.

No cenário com taxas Selic e de câmbio da pesquisa Focus, a projeção central indica que a inflação acumulada em quatro trimestres finaliza 2019 em torno de 4,0%, cai para cerca de 3,5% em 2020, e 3,4% em 2021 e 2022 (Gráfico 2.4 e Tabela 2.6). Nesse cenário, as projeções para a inflação de preços administrados são de cerca de 5,1% para 2019, 3,6% para 2020, 3,5% para 2021 e 3,6% para 2022.

Nesse cenário, as probabilidades estimadas de a inflação ultrapassar os limites superior e inferior do intervalo de tolerância da meta em 2019 são próximas de 0%. As probabilidades referentes aos limites superior e inferior para os anos seguintes são, respectivamente, de 7% e 23% em 2020, 9% e 20% em 2021 e 12% e 16% em 2022.

Nesse cenário, em relação ao Relatório de Inflação de setembro de 2019 (Tabela 2.7), a projeção para 2019 aumentou em cerca de 0,7 p.p. para 2019, caiu 0,1 p.p. para 2020, 0,3 p.p. para 2021 e 0,4 p.p. para

Tabela 2.4 – Projeção de inflação no cenário com Selic

Projeção central e intervalos de probabilidade

50%

30%

10%

Central

2019 IV 3,9 3,9 4,0 4,0 4,0 4,1 4,1

2020 I 3,4 3,6 3,7 3,8 3,9 4,0 4,2

2020 II 3,1 3,4 3,6 3,7 3,8 4,0 4,3

2020 III 3,0 3,4 3,7 3,8 3,9 4,2 4,6

2020 IV 2,7 3,1 3,4 3,6 3,8 4,1 4,5

2021 I 2,4 2,8 3,1 3,3 3,5 3,8 4,2

2021 II 2,5 2,9 3,2 3,4 3,6 3,9 4,3

2021 III 2,8 3,2 3,5 3,7 3,9 4,2 4,6

2021 IV 2,8 3,2 3,5 3,7 3,9 4,2 4,6

2022 I 2,9 3,3 3,6 3,8 4,0 4,3 4,7

2022 II 2,9 3,3 3,6 3,8 4,0 4,3 4,7

2022 III 3,0 3,4 3,7 3,9 4,1 4,4 4,82022 IV 3,0 3,4 3,7 3,9 4,1 4,4 4,8

Obs.: Inflação medida pelo IPCA, acumulada em quatro trimestres (%).

e câmbio constantes

Ano Trim.

Ano RI de setembro RI de dezembro

2019 3,4 4,0

2020 3,0 3,8

2020 3,1 3,7

2020 3,2 3,8

2020 3,6 3,6

2021 3,5 3,3

2021 3,5 3,4

2021 3,6 3,7

2021 3,7 3,7

2022 3,8 3,8

2022 3,8 3,8

2022 3,8 3,9

2022 3,9 3,9

Obs.: Inflação medida pelo IPCA, acumulada em quatro trimestres (%).

I

II

III

IV

Tabela 2.5 – Projeções nos Relatórios anterior e atual – Cenário com Selic e câmbio constantes

Trim.

IV

I

III

IV

II

III

IV

I

II

Gráfico 2.4 – Projeção de inflação no cenário com Selic e câmbio da pesquisa Focus Leque de inflação

Obs.: Inflação medida pelo IPCA, acumulada em quatro trimestres (%).

0

2

4

6

8

I2019

II III IV I2020

II III IV I2021

II III IV I2022

II III IV

%

Page 68: Relatório de Inflação

66 \ Relatório de Inflação \ Banco Central do Brasil \ Dezembro 2019

2022. Além dos fatores apontados no cenário com Selic e câmbio constantes, destaca‑se a contribuição, para a redução nas projeções, da apreciação cambial mais acentuada na trajetória oriunda da pesquisa Focus, em comparação à utilizada no Relatório de Inflação de setembro (Gráfico 2.1).

Na comparação das projeções entre, de um lado, o cenário com Selic e câmbio constantes e, de outro, o cenário com Selic e câmbio da pesquisa Focus, observa‑se que, neste último, a menor Selic até o primeiro trimestre de 2021 pressiona a inflação para cima, ao passo que a apreciação cambial na maior parte do horizonte considerado produz efeitos baixistas sobre a inflação. Os efeitos da trajetória de apreciação cambial preponderam por todo o horizonte temporal. No caso de 2022, adicionam‑se ainda os efeitos desinflacionários da trajetória da taxa Selic na pesquisa Focus mais alta que a Selic constante a partir de maio de 2021.

Na comparação com as projeções de inflação da reunião do Copom em outubro (226ª reunião), houve aumento de aproximadamente 0,6 p.p. para 2019 e queda de 0,1 p.p. para 2020 e 2021 (ver Ata da 226ª reunião). A elevação da projeção para 2019 decorreu das realizações de inflação em outubro e novembro mais altas do que se esperava por ocasião da 226ª reunião e da revisão das projeção para dezembro, decorrente principalmente do choque de preço de proteínas. Para 2020, do lado altista, destacam‑se a depreciação cambial recente e os efeitos inercias da inflação mais alta que a projetada para 2019. Por sua vez, os principais fatores baixistas foram a trajetória de apreciação cambial ao longo do horizonte de projeções embutida na pesquisa Focus, a mudança na distribuição temporal dos efeitos do choque de preço de proteínas considerada nas projeções, com aumento do impacto direto para 2019 e redução para 2020, e a reavaliação na projeção de alguns itens dos preços administrados. No âmbito dos administrados, destaca‑se a presença de condições benignas para a ocorrência de reajustes menores nas tarifas de energia elétrica, que já vêm se materializando nos últimos meses e devem prosseguir nos trimestres seguintes.

No cenário híbrido com câmbio constante e taxa Selic oriunda da pesquisa Focus, as projeções de inflação são de cerca de 4,0% para 2019, 3,7% para 2020 e 2021 e 3,5% para 2022 (Tabela 2.8). Nesse cenário, as projeções para a inflação de preços administrados são de 5,1% para 2019, 3,9% para 2020, 4,1% para 2021 e

Ano RI de setembro RI de dezembro

2019 3,3 4,0

2020 2,9 3,7

2020 3,0 3,7

2020 3,1 3,8

2020 3,6 3,5

2021 3,6 3,2

2021 3,6 3,3

2021 3,7 3,5

2021 3,7 3,4

2022 3,7 3,4

2022 3,7 3,4

2022 3,7 3,4

2022 3,8 3,4

Obs.: Inflação medida pelo IPCA, acumulada em quatro trimestres (%).

II

III

IV

I

II

III

IV

Tabela 2.7 – Projeções nos Relatórios anterior e atual – Cenário com Selic e câmbio da pesquisa Focus

Trim.

I

IV

I

II

III

IV

Projeção central e intervalos de probabilidade

50%

30%

10%

Central

2019 IV 3,9 3,9 4,0 4,0 4,0 4,1 4,1

2020 I 3,3 3,5 3,6 3,7 3,8 3,9 4,1

2020 II 3,1 3,4 3,6 3,7 3,8 4,0 4,3

2020 III 3,0 3,4 3,7 3,8 3,9 4,2 4,6

2020 IV 2,6 3,0 3,3 3,5 3,7 4,0 4,4

2021 I 2,3 2,7 3,0 3,2 3,4 3,7 4,1

2021 II 2,4 2,8 3,1 3,3 3,5 3,8 4,2

2021 III 2,6 3,0 3,3 3,5 3,7 4,0 4,4

2021 IV 2,5 2,9 3,2 3,4 3,6 3,9 4,3

2022 I 2,5 2,9 3,2 3,4 3,6 3,9 4,3

2022 II 2,5 2,9 3,2 3,4 3,6 3,9 4,3

2022 III 2,5 2,9 3,2 3,4 3,6 3,9 4,3

2022 IV 2,5 2,9 3,2 3,4 3,6 3,9 4,3

Obs.: Inflação medida pelo IPCA, acumulada em quatro trimestres (%).

Tabela 2.6 – Projeção de inflação no cenário com Selic e câmbio da pesquisa Focus

Ano Trim.

Page 69: Relatório de Inflação

Dezembro 2019 \ Banco Central do Brasil \ Relatório de Inflação \ 67

3,8% para 2022. Entre o segundo trimestre de 2020 e o segundo trimestre de 2021, as projeções de inflação são superiores às do cenário com taxa Selic constante em virtude de a trajetória de Selic da pesquisa Focus ser mais baixa até o primeiro trimestre de 2021. A partir do primeiro trimestre de 2022, entretanto, as projeções de inflação são mais baixas, refletindo os efeitos da trajetória mais alta para a Selic da pesquisa Focus a partir do segundo trimestre de 2021.

Na comparação com as projeções de inflação da reunião do Copom em outubro (226ª reunião), houve aumento de aproximadamente 0,6 p.p. para 2019, estabilidade para 2020 e aumento de 0,1 p.p. para 2021 (ver Ata da 226ª reunião). Os fatores foram os mesmos que os apontados no cenário com Selic e câmbio Focus, mas sem os efeitos desinflacionários da apreciação cambial embutida na pesquisa Focus.

Por fim, no cenário híbrido com taxa de câmbio da pesquisa Focus e taxa Selic constante, as projeções de inflação são de aproximadamente 4,0%, 3,4% 3,4% e 3,8% para 2019, 2020, 2021 e 2022, respectivamente (Tabela 2.9). A projeção para 2020 é mais baixa que nos demais cenários uma vez que supõe apreciação cambial no final de 2019 e em 2020 e taxa mais elevada para a Selic no período.

2.3 Condução da política monetária e balanço de riscos

Dados de atividade econômica a partir do segundo trimestre indicam que o processo de recuperação da economia brasileira ganhou tração, em relação ao observado até o primeiro trimestre de 2019. O cenário do Copom supõe que essa recuperação seguirá em ritmo gradual.

No cenário externo, a provisão de estímulos monetários nas principais economias, em contexto de inflação abaixo das metas, tem sido capaz de produzir ambiente relativamente favorável para economias emergentes.

As expectativas de inflação para 2019, 2020, 2021 e 2022 apuradas pela pesquisa Focus encontram‑se em torno de 3,8%, 3,6%, 3,75% e 3,5%, respectivamente.

O Copom avalia que diversas medidas de inflação subjacente encontram‑se em níveis confortáveis,

Projeção central e intervalos de probabilidade

50%

30%

10%

Central

2019 IV 3,9 3,9 4,0 4,0 4,0 4,1 4,1

2020 I 3,4 3,6 3,7 3,8 3,9 4,0 4,2

2020 II 3,2 3,5 3,7 3,8 3,9 4,1 4,4

2020 III 3,1 3,5 3,8 3,9 4,0 4,3 4,7

2020 IV 2,8 3,2 3,5 3,7 3,9 4,2 4,6

2021 I 2,5 2,9 3,2 3,4 3,6 3,9 4,3

2021 II 2,6 3,0 3,3 3,5 3,7 4,0 4,4

2021 III 2,8 3,2 3,5 3,7 3,9 4,2 4,6

2021 IV 2,8 3,2 3,5 3,7 3,9 4,2 4,6

2022 I 2,8 3,2 3,5 3,7 3,9 4,2 4,6

2022 II 2,7 3,1 3,4 3,6 3,8 4,1 4,5

2022 III 2,7 3,1 3,4 3,6 3,8 4,1 4,52022 IV 2,6 3,0 3,3 3,5 3,7 4,0 4,4

Obs.: Inflação medida pelo IPCA, acumulada em quatro trimestres (%).

Tabela 2.8 – Projeção de inflação no cenário comSelic da pesquisa Focus e câmbio constante

Ano Trim.

Projeção central e intervalos de probabilidade

50%

30%

10%Central

2019 IV 3,9 3,9 4,0 4,0 4,0 4,1 4,1

2020 I 3,3 3,5 3,6 3,7 3,8 3,9 4,1

2020 II 3,0 3,3 3,5 3,6 3,7 3,9 4,2

2020 III 2,9 3,3 3,6 3,7 3,8 4,1 4,5

2020 IV 2,5 2,9 3,2 3,4 3,6 3,9 4,3

2021 I 2,2 2,6 2,9 3,1 3,3 3,6 4,0

2021 II 2,3 2,7 3,0 3,2 3,4 3,7 4,1

2021 III 2,5 2,9 3,2 3,4 3,6 3,9 4,3

2021 IV 2,5 2,9 3,2 3,4 3,6 3,9 4,3

2022 I 2,6 3,0 3,3 3,5 3,7 4,0 4,4

2022 II 2,7 3,1 3,4 3,6 3,8 4,1 4,5

2022 III 2,8 3,2 3,5 3,7 3,9 4,2 4,6

2022 IV 2,9 3,3 3,6 3,8 4,0 4,3 4,7

Obs.: Inflação medida pelo IPCA, acumulada em quatro trimestres (%).

Tabela 2.9 – Projeção de inflação no cenário com Selic constante e câmbio da pesquisa Focus

Ano Trim.

Page 70: Relatório de Inflação

68 \ Relatório de Inflação \ Banco Central do Brasil \ Dezembro 2019

inclusive os componentes mais sensíveis ao ciclo econômico e à política monetária.

Em sua reunião mais recente (227ª reunião), o Copom decidiu, por unanimidade, pela redução da taxa básica de juros em 0,5 ponto percentual, para 4,50% a.a. O Comitê entende que essa decisão reflete seu cenário básico e balanço de riscos para a inflação prospectiva e é compatível com a convergência da inflação para a meta no horizonte relevante para a condução da política monetária, que inclui o ano‑calendário de 2020 e, em grau menor, o de 2021.

Na ocasião, o Copom comunicou que seu cenário básico para a inflação envolve fatores de risco em ambas as direções. Por um lado, (i) o nível de ociosidade elevado pode continuar produzindo trajetória prospectiva abaixo do esperado. Por outro lado, (ii) o atual grau de estímulo monetário, que atua com defasagens sobre a economia, em um contexto de transformações na intermediação financeira, aumenta a incerteza sobre os canais de transmissão e pode elevar a trajetória da inflação no horizonte relevante para a política monetária. O risco (ii) se intensifica no caso de (iii) deterioração do cenário externo para economias emergentes ou (iv) eventual frustração em relação à continuidade das reformas e à perseverança nos ajustes necessários na economia brasileira.

O Copom reitera que a conjuntura econômica prescreve política monetária estimulativa, ou seja, com taxas de juros abaixo da taxa estrutural.

O Copom avalia que o processo de reformas e ajustes necessários na economia brasileira tem avançado, mas enfatiza que perseverar nesse processo é essencial para permitir a consolidação da queda da taxa de juros estrutural e para a recuperação sustentável da economia. O Comitê ressalta ainda que a percepção de continuidade da agenda de reformas afeta as expectativas e projeções macroeconômicas correntes.

O Copom entende que o atual estágio do ciclo econômico recomenda cautela na condução da política monetária. O Comitê enfatiza que seus próximos passos continuarão dependendo da evolução da atividade econômica, do balanço de riscos e das projeções e expectativas de inflação.

Page 71: Relatório de Inflação

Dezembro 2019 \ Banco Central do Brasil \ Relatório de Inflação \ 69

Apêndice

Administração do Banco Central do Brasil

Membros do Comitê de Política Monetária

Page 72: Relatório de Inflação

70 \ Relatório de Inflação \ Banco Central do Brasil \ Dezembro 2019

Administração do Banco Central do Brasil

Diretoria Colegiada

Roberto Oliveira Campos NetoPresidente

Bruno Serra FernandesDiretor de Política Monetária

Carolina de Assis BarrosDiretora de Administração

Fabio KanczukDiretor de Política Econômica

Fernanda NechioDiretora de Assuntos Internacionais e de Gestão de Riscos Corporativos

João Manoel Pinho de Mello Diretor de Organização do Sistema Financeiro e de Resolução

Maurício Costa de MouraDiretor de Relacionamento Institucional e Cidadania

Otávio Ribeiro DamasoDiretor de Regulação

Paulo Sérgio Neves de SouzaDiretor de Fiscalização

Page 73: Relatório de Inflação

Dezembro 2019 \ Banco Central do Brasil \ Relatório de Inflação \ 71

Membros do Comitê de Política Monetária

Membros do Copom

PresidenteRoberto Oliveira Campos Neto

DiretorBruno Serra Fernandes

DiretoraCarolina de Assis Barros

DiretorFabio Kanczuk

DiretoraFernanda Nechio

DiretorJoão Manoel Pinho de Mello

DiretorMaurício Costa de Moura

DiretorOtávio Ribeiro Damaso

DiretorPaulo Sérgio Neves de Souza

Departamentos cujos chefes são responsáveis por apresentações técnicas nas reuniões do Copom (Circular nº 3.868/2017)

Departamento de Assuntos Internacionais – Derin João Barata Ribeiro Blanco Barroso

Departamento Econômico – DepecTulio José Lenti Maciel

Departamento de Estudos e Pesquisas – DepepAndré Minella

Departamento de Operações Bancárias e de Sistema de Pagamentos – DebanFlávio Túlio Vilela

Departamento de Operações do Mercado Aberto – DemabAndré de Oliveira Amante

Departamento das Reservas Internacionais – Depin Alan da Silva Andrade Mendes

Page 74: Relatório de Inflação

72 \ Relatório de Inflação \ Banco Central do Brasil \ Dezembro 2019

Siglas

a.a. Ao anoABCR Associação Brasileira de Concessionárias de RodoviasAbiove Associação Brasileira das Indústrias de Óleos VegetaisAnfavea Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos AutomotoresBCB Banco Central do BrasilBNDES Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e SocialCaged Cadastro Geral de Empregados e DesempregadosCBE Capitais Brasileiros no ExteriorCMN Conselho Monetário NacionalCNT Contas Nacionais TrimestraisConab Companhia Nacional de AbastecimentoCopom Comitê de Política MonetáriaDBGG Dívida Bruta do Governo GeralDepec Departamento EconômicoDepep Departamento de Estudos e PesquisasDerin Departamento de Assuntos InternacionaisDLSP Dívida Líquida do Setor PúblicoDSTAT Departamento de EstatísticasEUA Estados Unidos da AméricaFBCF Formação bruta de capital fixoFenabrave Federação Nacional da Distribuição de Veículos AutomotoresFGTS Fundo de Garantia do Tempo de ServiçoFGV Fundação Getulio VargasFMI Fundo Monetário InternacionalFOMC Comitê Federal de Mercado AbertoFT Força de trabalhoFTP Plano de Transações FinanceirasIBGE Instituto Brasileiro de Geografia e EstatísticaIC-Br Índice de Commodities – BrasilICC Indicador de Custo do CréditoICC Índice de Confiança do ConsumidorICI Índice de Confiança da IndústriaICOM Índice de Confiança do Comércio AmpliadoICS Índice de Confiança de ServiçosIDE Investimento Direto no ExteriorIDP Investimentos Diretos no PaísIndec Instituto Nacional de Estadística y CensosINSS Instituto Nacional do Seguro SocialIPA Índice de Preços ao Produtor AmploIPA-DI Índice de Preços ao Produtor Amplo – Disponibilidade InternaIPCA Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo

Page 75: Relatório de Inflação

Dezembro 2019 \ Banco Central do Brasil \ Relatório de Inflação \ 73

Ipea Instituto de Pesquisa Econômica AplicadaIVA Imposto sobre o Valor AgregadoLDO Lei de Diretrizes OrçamentáriasME Ministério da EconomiaNuci Nível de utilização da capacidade instaladaONU Organização das Nações Unidasp.b. Pontos basep.p. Pontos percentuaisPasep Programa de Formação de Patrimônio do Servidor PúblicoPCE Deflator dos gastos com consumoPIB Produto Interno BrutoPIM-PF Pesquisa Industrial Mensal – Produção FísicaPIS Programa de Integração SocialPMC Pesquisa Mensal do ComércioPMS Pesquisa Mensal de ServiçosPNAD Contínua Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios ContínuaPO População ocupadaPOF Pesquisa de Orçamentos FamiliaresPTC Pesquisa Trimestral sobre Condições de CréditoRepetro Regime Aduaneiro Especial de Exportação e Importação de Bens destinados às

Atividades de Pesquisa e de Lavra das Jazidas de Petróleo e de Gás NaturalRGPS Regime Geral de Previdência SocialSecex Secretaria de Comércio ExteriorSelic Sistema Especial de Liquidação e de CustódiaSFN Sistema Financeiro NacionalSNIPC Sistema Nacional de Índices de Preços ao ConsumidorTD Taxa de desocupaçãoWEO Perspectivas da Economia Mundial

Page 76: Relatório de Inflação