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Setembro 2010 | Relatório de Inflação | 51 As perspectivas de recuperação nas principais economias maduras não vêm se concretizando no ritmo esperado nos primeiros meses do ano, sendo a economia dos Estados Unidos da América (EUA) uma das maiores fontes de preocupação. Nesse cenário, em que persiste elevada ociosidade dos fatores de produção na economia global e as expectativas em relação à inação seguem ancoradas, os bancos centrais das economias maduras e de importantes economias emergentes optaram por um ritmo mais moderado ou até mesmo pelo adiamento da normalização da política monetária. Nesse ambiente, os mercados financeiros experimentaram acentuada volatilidade no decorrer do trimestre encerrado em agosto, ressaltando-se o impacto, no ultimo mês do período, do aumento do sentimento de aversão ao risco provocado pela percepção de que o ritmo da retomada econômica mundial pode não ocorrer nos termos de projeções anteriores. Apesar do sentimento cauteloso em relação às economias maduras, ressaltem- se os movimentos de apreciação do dólar e do iene e o aumento da procura por títulos de longo prazo das maiores economias desenvolvidas. As cotações das commodities aumentaram desde o último Relatório de Inação, destacando-se os impactos das restrições na oferta no segmento agrícola. Vale enfatizar, no entanto, que o mencionado choque de oferta, especialmente em países do Hemisfério Norte, até o momento não constituiu um determinante signicativo da trajetória da inação nas economias maduras e emergentes. 4.1 Atividade econômica As quatro maiores economias desenvolvidas voltaram a apresentar ritmo de crescimento diferenciado no segundo trimestre do ano. Entretanto, em oposição ao observado nos dois trimestres anteriores, as taxas anualizadas 4 Economia internacional

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As perspectivas de recuperação nas principais economias maduras não vêm se concretizando no ritmo esperado nos primeiros meses do ano, sendo a economia dos Estados Unidos da América (EUA) uma das maiores fontes de preocupação. Nesse cenário, em que persiste elevada ociosidade dos fatores de produção na economia global e as expectativas em relação à infl ação seguem ancoradas, os bancos centrais das economias maduras e de importantes economias emergentes optaram por um ritmo mais moderado ou até mesmo pelo adiamento da normalização da política monetária.

Nesse ambiente, os mercados financeiros experimentaram acentuada volatilidade no decorrer do trimestre encerrado em agosto, ressaltando-se o impacto, no ultimo mês do período, do aumento do sentimento de aversão ao risco provocado pela percepção de que o ritmo da retomada econômica mundial pode não ocorrer nos termos de projeções anteriores. Apesar do sentimento cauteloso em relação às economias maduras, ressaltem-se os movimentos de apreciação do dólar e do iene e o aumento da procura por títulos de longo prazo das maiores economias desenvolvidas.

As cotações das commodities aumentaram desde o último Relatório de Infl ação, destacando-se os impactos das restrições na oferta no segmento agrícola. Vale enfatizar, no entanto, que o mencionado choque de oferta, especialmente em países do Hemisfério Norte, até o momento não constituiu um determinante signifi cativo da trajetória da infl ação nas economias maduras e emergentes.

4.1 Atividade econômica

As quatro maiores economias desenvolvidas voltaram a apresentar ritmo de crescimento diferenciado no segundo trimestre do ano. Entretanto, em oposição ao observado nos dois trimestres anteriores, as taxas anualizadas

4Economia internacional

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de expansão dos PIBs dos EUA, 1,6%, e do Japão, 1,5%, situaram-se em patamar inferior às relativas ao Reino Unido, 5,0%, e à Área do Euro, 3,9%, esta favorecida pelo crescimento de 9,1% registrado na Alemanha.

Nos EUA, embora a taxa anualizada de crescimento da renda real disponível atingisse 4,4% no trimestre encerrado em junho, o consumo das famílias aumentou 2%, fazendo com que a taxa de poupança das famílias crescesse 0,6 p.p., para 6,1% da renda disponível. Na Área do Euro, mesmo em ambiente de incertezas derivadas da crise de endividamento soberano e de gradual eliminação dos incentivos à aquisição de veículos, o consumo das famílias cresceu à taxa anualizada de 1,9%, a mais elevada desde o terceiro trimestre de 2007. No Japão, a exaustão de incentivos ao consumo de bens duráveis contribuiu para que o consumo registrasse redução anualizada de 0,1% no trimestre.

Os investimentos empresariais apresentaram ritmo de aceleração acentuado nos EUA, expresso em taxa anualizada de crescimento de 17,6% no trimestre encerrado em junho, segundo resultado positivo em sequência nesse tipo de comparação. Na Área do Euro, a formação bruta de capital fi xo apresentou crescimento anualizado de 7,5% no período, primeira expansão desde o primeiro trimestre de 2008, com ênfase na recuperação dos gastos com máquinas e equipamentos e na expansão da atividade da construção. No Japão, a taxa de crescimento anualizada dos investimentos atingiu 6,2% no período, terceiro resultado favorável consecutivo nesse tipo de análise, contrastando com o recuo de 6,4% observado no Reino Unido. Os investimentos residenciais variaram, respectivamente, 27,1% e -5,1%, nos EUA e no Japão, ressaltando-se que o resultado registrado nos EUA traduziu a prorrogação dos incentivos tributários à aquisição da primeira moradia.

A demanda externa exerceu contribuição de -3,4 p.p. para a variação anualizada do PIB dos EUA no segundo trimestre, contrastando com os impactos assinalados no Japão, 1,4 p.p., e na Área do Euro e no Reino Unido, ambos de 0,1 p.p. As exportações de bens e serviços registraram, no período, crescimentos anualizados de 25,8% no Japão, 18,6% na Área do Euro, 9,1% nos EUA e 4,3% no Reino Unido, enquanto as importações de bens e serviços variaram, respectivamente, 17,4%, 18,6%, 32,4% e 3,5%, nas economias mencionadas.

A produção manufatureira na Área do Euro registrou crescimento anualizado de 10,4% no segundo

Tabela 4.1 – Maiores economias desenvolvidasComponentes do PIB e outros indicadores

Taxa % anualilzada

2008 2009 2010

III IV I II III IV I II

PIB

Estados Unidos -4,0 -6,8 -4,9 -0,7 1,6 5,0 3,7 1,6

Área do Euro -1,8 -7,4 -9,8 -0,3 1,6 0,5 0,8 3,9

Reino Unido -3,5 -8,1 -9,0 -2,8 -1,0 1,7 1,3 5,0

Japão -4,8 -10,3 -16,4 9,7 -0,3 3,4 5,0 1,5

Consumo das famílias

Estados Unidos -3,5 -3,3 -0,5 -1,6 2,0 0,9 1,9 2,0

Área do Euro -0,2 -2,6 -2,2 0,3 -0,8 0,9 -0,4 1,9

Reino Unido -2,2 -6,0 -6,1 -1,6 -1,1 2,5 -0,5 3,0

Japão -0,6 -3,5 -5,6 5,4 2,6 2,8 2,2 -0,1

Investimento empresarial

Estados Unidos -8,6 -22,7 -35,2 -7,5 -1,7 -1,4 7,8 17,6

Área do Euro1/ -4,8 -15,1 -19,5 -5,7 -4,3 -4,6 -4,8 7,5

Reino Unido -8,6 -5,0 -34,8 -36,8 -1,5 -13,5 35,1 -6,4

Japão -13,3 -24,3 -30,9 -19,2 -6,7 6,8 3,2 6,2

Investimento residencial

Estados Unidos -22,6 -32,6 -36,2 -19,7 10,6 -0,8 -12,3 27,1

Área do Euro2/ -5,7 -7,6 -4,4 -4,6 -5,3 -5,6 -9,1 2,1

Reino Unido -23,5 -20,2 -30,2 -18,3 9,3 -21,1 -9,3 nd

Japão 18,9 11,9 -25,9 -33,2 -25,8 -11,0 1,2 -5,1

Exportações de bens e serviços

Estados Unidos -5,0 -21,9 -27,8 -1,0 12,2 24,4 11,4 9,1

Área do Euro -4,3 -26,0 -29,7 -4,5 12,0 7,3 8,8 18,6

Reino Unido -1,5 -15,5 -27,6 -6,3 2,8 16,9 -6,6 4,3

Japão -2,1 -45,9 -68,1 48,6 38,4 24,8 31,0 25,8

Importações de bens e serviços

Estados Unidos -0,1 -22,9 -35,3 -10,6 21,9 4,9 11,2 32,4

Área do Euro 0,3 -17,5 -28,4 -10,7 11,5 4,8 16,1 18,6

Reino Unido -5,0 -19,9 -27,2 -9,7 5,1 18,9 6,7 3,5

Japão 13,8 3,1 -53,8 -18,3 27,6 6,1 12,6 17,4

Gastos governamentais

Estados Unidos 5,3 1,5 -3,0 6,2 1,6 -1,4 -1,6 4,3

Área do Euro3/ 2,1 3,3 3,4 2,7 2,6 -0,6 0,8 1,9

Reino Unido 1,7 6,8 0,4 -3,6 7,8 2,4 8,6 nd

Japão -0,5 3,9 4,4 6,3 -0,5 1,4 1,2 -0,9

Produção manufatureira

Estados Unidos -10,4 -18 -20,9 -8,5 10,9 7,2 7,0 8,4

Área do Euro -8,2 -24 -32,5 -6,4 10,9 5,4 10,3 10,4

Reino Unido -7,6 -16 -19,5 -2,0 -3,6 1,4 6,4 4,8

Japão -12,3 -38,0 -59,3 28,9 22,8 25,9 30,9 6,2

Taxa de desemprego4/

Estados Unidos 6,2 7,4 8,6 9,5 9,8 10,0 9,7 9,5

Área do Euro 7,7 8,2 9,1 9,5 9,8 9,8 10,0 10,0

Reino Unido 5,9 6,4 7,1 7,8 7,9 7,8 8,0 7,8

Japão 4,0 4,4 4,8 5,3 5,3 5,2 5,0 5,3

Fontes: BEA, Cabinet Office e Eurostat

1/ Inclui investimentos com construções residenciais e investimentos públicos.2/ Gastos totais com contruções.3/ Exclusivamente gastos com consumo.4/ Taxa ao final do período.

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trimestre do ano; seguindo-se as expansões assinaladas nos EUA, 8,4%; no Japão, 6,2%; e no Reino Unido, 4,8%. Os setores industriais dessas economias haviam apresentado crescimentos anualizados de 10,3%, 7%, 30,9% e 6,4%, respectivamente, no trimestre encerrado em março.

Nesse cenário, o PMI relativo à atividade manufatureira7 das principais economias desenvolvidas, após ter alcançado, em abril, os níveis mais elevados desde 2006, experimentaram relativo arrefecimento, atingindo, em agosto, 56,3 pontos nos EUA; 55,1 na Área do Euro; 54,3 no Reino Unido; e 50,1 no Japão.

Na economia norte-americana, foram criados 194 mil postos de trabalho fora do governo federal8 no trimestre encerrado em agosto, ante 417 mil naquele fi nalizado em maio, com a taxa de desemprego atingindo 9,6%, ante 9,7% em maio. Na Área do Euro, a recuperação da atividade econômica se traduziu na geração de 143 mil postos de trabalho no trimestre encerrado em junho, primeiro resultado positivo desde o segundo trimestre de 2008, ante eliminação de 79 mil empregos no trimestre fi nalizado em março. A taxa de desemprego desta economia manteve-se estável em 10%, no período. No Japão e no Reino Unido, as respectivas taxas de desemprego situaram-se em 5,2% e 7,8%, em julho, registrando, na ordem, variações de 0,2 p.p. e -0,2 p.p. em relação a março.

Na China, a taxa de crescimento anual do PIB atingiu 10,3% no trimestre encerrado em junho, ante 11,9% naquele fi nalizado em março. Embora o crescimento anual das vendas reais do varejo tenha acelerado para 17,5%, a expressiva desaceleração das vendas de veículos – de 72,5%, no primeiro trimestre, para 29% – sugere arrefecimento da demanda por bens de consumo. A expansão anualizada da Formação Bruta de Capital Fixo atingiu 20,1%, recuando pelo quarto trimestre consecutivo, enquanto o crescimento trimestral anualizado da produção industrial totalizou 15,9%. As exportações reduziram o ritmo de crescimento para 28,8% e as importações, infl uenciadas, também, pela exaustão das políticas de acumulação dos estoques de commodities, recuaram 1,4%, na mesma base de comparação. Considerando o enfraquecimento da demanda doméstica e as perspectivas de desaceleração do crescimento do comércio internacional, as autoridades chinesas divulgaram, em

7/ Os PMIs referentes à Área do Euro, Reino Unido e Japão são fornecidos pela Markit e o relativo aos EUA, pelo Institute for Supply Management (ISM).8/ Dado o efeito de contratações temporárias de trabalhadores para o censo no país, a partir de fevereiro, e posterior dispensa, a variação do número de pessoas

empregadas, excluindo-se o governo federal, representa melhor medida do comportamento do mercado de trabalho entre os dois primeiros trimestres de 2010.

20

30

40

50

60

70

Ago2008

Nov Fev2009

Mai Ago Nov Fev2010

Mai Ago

Gráfico 4.1 – PMI manufaturaMaiores economias desenvolvidas

EUA Área do EuroJapão Reino Unido

Fonte: Bloomberg

2

4

6

8

10

12

Ago2008

Nov Fev2009

Mai Ago Nov Fev2010

Mai Ago

EUA Área do EuroJapão Reino Unido

Fonte: Bloomberg

Gráfico 4.2 – Evolução das taxas de desempregoMaiores economias desenvolvidas

Tabela 4.2 – ChinaComponentes do PIB e outros indicadores

% [(T)/(T-4)]

2008 2009 2010

III IV I II III IV I II

PIB 9,0 6,8 6,5 8,1 9,6 11,3 11,9 10,3

Vendas no varejo 17,1 17,6 15,7 16,8 16,8 15,7 16,8 17,5

Vendas de veículos1/ -1,9 -8,2 3,6 31,6 73,8 85,7 72,5 29,0

Formação Bruta de

Capital Fixo 20,2 25,3 38,8 50,1 47,4 29,9 22,8 20,1

Exportações de bens 18,5 4,4 -10,9 -9,1 -5,5 13,9 30,2 28,8

Importações de bens 10,6 -2,4 -3,8 18,1 28,7 25,9 19,2 -1,4

Produção industrial 12,9 6,4 5,6 9,0 12,4 18,0 19,6 15,9

Taxa de desemprego2/ 4,0 4,2 4,3 4,3 4,3 4,3 4,2 nd

Fonte: Thomson

1/ Inclui vendas a empresas.2/ Taxa de desemprego urbano ao final do período.

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julho, medidas suplementares de estímulo a investimentos em infraestrutura envolvendo cerca de US$100 bilhões, e à demanda doméstica por veículos9.

4.2 Política monetária e inflação

A trajetória favorável da infl ação nas principais economias maduras, onde em alguns casos, emergem até mesmo preocupações com defl ação, em cenário de taxas de desemprego ainda elevadas, permitiu aos respectivos bancos centrais manter os incentivos monetários criados durante a crise fi nanceira. Na Ásia e América Latina, o comportamento dos preços das commodities – mesmo com o fortalecimento da demanda interna e redução do hiato do produto – até o momento não vem exercendo pressões relevantes sobre os preços ao consumidor, permitindo às respectivas autoridades monetárias a adoção de um ritmo mais moderado, ou mesmo o adiamento, na normalização da política monetária.

Nos EUA, a variação anual do Índice de Preços ao Consumidor (IPC) atingiu 1,2% em julho, ressaltando-se que a variação anual do núcleo do IPC, que exclui energia e alimentos, mantém-se em 0,9% há quatro meses, menor patamar desde 1966. A trajetória da infl ação, em cenário de recuperação da atividade econômica mais frágil do que a prevista há alguns meses e de elevada ociosidade dos fatores de produção, contribuiu para que o Federal Reserve (Fed) mantivesse, em agosto, os limites da banda de fl utuação da meta para os Fed funds em 0% e 0,25%. Adicionalmente, para prover estímulos adicionais à economia doméstica, o Comitê Federal de Mercado Aberto (FOMC) anunciou, em 10 de agosto, a manutenção do volume de ativos em seu balanço, reinvestindo em treasuries de longo prazo os recursos gerados com o vencimento de títulos lastreados em hipotecas das agências Fannie Mae e Freddie Mac.

No Reino Unido, a variação anual do IPC segue acima do teto da meta desde janeiro, apesar do amplo hiato do produto, mas se encontra em declínio desde maio, atingindo 3,1% em julho, ante 3,7% em abril. O Banco da Inglaterra (BoE) manteve inalterado o programa de compra de ativos, em £200 bilhões, e a taxa de juro básica, em 0,5% a.a. Vale mencionar que embora as expectativas infl acionárias de médio prazo tenham passado a incorporar o impacto da elevação de 2,5 p.p., para 20%, do imposto sobre o valor agregado, anunciada para janeiro de 2011, as

9/ Entre as medidas de estímulo à indústria automotiva, destaque-se o subsídio de 3 mil yuans para compra de veículos de menor cilindrada, com maior efi ciência energética.

-3

-1

1

3

5

7

9

Jan2007

Jul Jan2008

Jul Jan2009

Jul Jan2010

Jul

EUA Área do Euro JapãoReino Unido China

Gráfico 4.3 – Inflação ao consumidorVariação anual%

Fontes: BLS, Eurostat, Bloomberg e ONS

-30

-20

-10

0

10

20

30

Out2007

Jan2008

Abr Jul Out Jan2009

Abr Jul Out Jan 2010

Abr Jul

EUA Área do EuroJapão Reino Unido

Fonte: Thomson

Gráfico 4.5 – Inflação de energiaVariação anual%

012345678

Ago2008

Nov Fev 2009

Mai Ago Nov Fev 2010

Mai Ago

Gráfico 4.4 – Taxas de juros oficiaisTaxas anuais%

EUA Área do Euro Reino Unido

Japão China

Fontes: Fed, BCE, BoJ, Banco da Inglaterra e Banco do Povo da China

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expectativas de mercado são de que a variação do IPC volte a respeitar os limites da meta no horizonte de dois anos.

Na Área do Euro, a variação anual do IPC, infl uenciada pela alta de 6,1% do preço da energia, atingiu 1,6% em agosto, ante 1,7% em julho, mantendo-se na zona de conforto de 1% a 2%. A variação anual do núcleo do IPC mantém-se em torno de 1% desde meados de 2009. O Banco Central Europeu (BCE) manteve, em setembro, a taxa básica de juro em 1% a.a. Adicionalmente, em resposta à persistência do estresse fi nanceiro nos mercados europeus, o BCE, diferentemente do anunciado no primeiro trimestre, comunicou, em 10 de junho, que novas operações de refi nanciamento de três meses serão realizadas com taxa fi xa e sem restrição de volume.

No Japão, o cenário de tímida recuperação da demanda interna, valorização do iene e redução na taxa de crescimento das exportações não favorece a redução do hiato do produto e segue exercendo pressões de baixa sobre o nível de preços. Nesse ambiente, em que a variação do IPC acumulada em doze meses atingiu -0,9% em julho, o Banco do Japão (BoJ) manteve a taxa básica em 0,1% a.a. e anunciou, em meados de junho, novo programa de assistência fi nanceira, envolvendo ¥3 trilhões, com o objetivo de ampliar a liquidez do sistema fi nanceiro e facilitar a oferta de crédito ao segmento corporativo. Esses empréstimos serão ofertados à taxa de 0,1% a.a., com vencimento de 1 ano, podendo ser rolados por até três períodos. Adicionalmente, em reunião extraordinária ao fi nal de agosto, o BoJ ampliou, de ¥20 trilhões para ¥30 trilhões, a linha de crédito emergencial para o mercado fi nanceiro. Diferentemente dos recursos já concedidos por prazo trimestral, os atuais empréstimos serão feitos com vencimento de seis meses.

Na China, embora o índice de infl ação anual ao consumidor, em trajetória de aceleração desde meados de 2009, tenha atingido 3,3% em julho, as expectativas infl acionárias seguem infl uenciadas pelas desacelerações observadas nas economias local e global. Ressalte-se, ainda, que a evolução recente do IPC chinês esteve condicionada pelos aumentos nos preços de alimentos, que refl etiram os efeitos das restrições de oferta decorrentes de chuvas e inundações em áreas de plantio. O Banco do Povo da China (BPC) manteve inalteradas as taxas de juros básicos, em 5,31% a.a., e de recolhimento compulsório, em 17% para grandes instituições e 15% para aquelas de menor porte. Vale ressaltar que, mesmo mantendo o caráter acomodatício de sua política monetária, o BPC, visando evitar a elevação dos preços de imóveis e a formação de nova bolha imobiliária nas grandes cidades, restringiu o acesso ao crédito imobiliário.

-4048

12162024

Jan2007

Jul Jan2008

Jul Jan2009

Jul Jan2010

Jul

EUA Área do Euro JapãoReino Unido China

Gráfico 4.6 – Inflação de alimentos1/

Variação anual%

Fonte: Thomson 1/ Para Área do Euro e Reino Unido, dado inclui bebidas alcoolicas e tabaco.

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4.3 Mercados financeiros internacionais

A evolução dos mercados financeiros esteve condicionada, no decorrer do trimestre encerrado em agosto, pelas expectativas em relação à sustentabilidade da retomada econômica nos EUA e, em menor escala, pelo desempenho da economia da China. Os principais indicadores do mercado fi nanceiro internacional mostraram volatilidade substancial bem como evidências de elevada aversão ao risco, provocadas pela percepção de que a retomada da economia global ocorria em menor intensidade do que a prevista anteriormente.

Os prêmios dos Credit Default Swaps (CDS) de bancos da Europa e dos EUA seguiram pressionados no trimestre encerrado em agosto. Na Europa, os receios sobre a exposição de grandes bancos em mercados de países com alto risco de default soberano recuaram após a divulgação dos resultados dos testes de estresse aplicados aos principais bancos da região. Adicionalmente, o bom desempenho dos balanços das instituições financeiras divulgados no período, em especial de grandes bancos dos EUA, favoreceram o aumento da confi ança no setor. No entanto, o recrudescimento das dúvidas sobre a sustentabilidade do crescimento econômico nas maiores economias e a persistência de desconfi anças sobre a sustentabilidade fi scal de algumas economias europeias proporcionaram novo ciclo de alta nos CDS do segmento bancário ao longo de agosto. No trimestre, os prêmios médios exigidos para os cinco maiores bancos europeus e norte-americanos, por critério de capitalização de mercado, após terem recuado, na ordem, para 103 p.b. e 115 p.b., em 8 de agosto, atingiram 140 p.b. e 160 p.b., respectivamente, ao fi nal do mês.

Os principais mercados acionários alternaram movimentos de alta, infl uenciados pelos bons resultados corporativos, e de retração, em resposta à frustração quanto à intensidade da recuperação das economias norte-americana e de preocupações com o desempenho da chinesa. Nesse cenário, os índices Standard and Poor's 500 (S&P 500), dos EUA;Financial Times Securities Exchange Index (FTSE 100), do Reino Unido; e Deutscher Aktienindex (DAX), da Alemanha, após acumularem ganhos respectivos de 3,5%, 4,3% e 6,5% entre o fi nal de maio e 9 de agosto, registraram, na ordem, variações de -3,7%, 0,7% e -0,7%, no trimestre. O índice Nikkei, do Japão, infl uenciado, adicionalmente, pelo refl exo da valorização do iene sobre as ações das empresas exportadoras, apresentou tendência de baixa ao longo de todo o trimestre, acumulando perda de 9,7% no período.

60

90

120

150

180

22.72008

30.9 9.12 17.22009

28.4 7.7 15.9 24.11 2.22010

13.4 22.6 31.8

EUA (S&P500) Reino Unido

Japão Alemanha

Gráfico 4.8 – Bolsas de valores: EUA, Europa e Japão 31.12.2003 = 100

Fonte: Bloomberg

0

10

20

30

40

50

60

70

80

90

26.102007

24.32008

19.8 14.12009

11.6 6.11 5.42010

31.8

Fonte: Thomson

Gráfico 4.9 – VIX

0

80

160

240

320

400

6.22009

31.3 21.5 13.7 2.9 23.10 15.12 4.22010

29.3 19.5 9.7 31.8

Bancos Europa Bancos EUAFonte: Thomson1/ Calculado pela média aritmética dos prêmios de CDS dos cinco maiores

bancos dos EUA e da Europa pelo critério de capitalização de mercado.Por tratar-se de amostra não aleatória, pode não refletir o comportamentodo sistema financeiro como um todo.

Gráfico 4.7 – Prêmios CDS 5 anos – Principais bancos1/

p.b.

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O Chicago Board Options Exchange Volatility Index(VIX) – que mede a volatilidade implícita de curto prazo do índice S&P 500 e constitui importante indicativo da aversão ao risco – atingiu 26,1 p.b no fi nal de agosto, ante 32,1 p.b. no fi nal de maio. Ressalte-se que a média do indicador totalizou 26,8 p.b. no trimestre terminado em agosto, ante 22,2 p.b. naquele fi nalizado em maio.

Evidenciando as perspectivas mais otimistas quanto à evolução de suas economias, os mercados acionários emergentes registraram ganhos ao longo do trimestre encerrado em agosto. No período, os índices Korea Composite Stock Price Index (Kospi), da Coreia do Sul; Bombay Stock Exchange Sensitive Index (Sensex), da Índia; Ibovespa, do Brasil; e Shanghai Composite, da China acumularam altas respectivas de 6,2%, 6,1%, 3,3% e 1,8%.

A perspectiva de continuidade de políticas monetárias acomodatícias nas maiores economias desenvolvidas e a procura por ativos de menor risco continuaram impulsionando os preços dos títulos de longo prazo das economias maduras. Os rendimentos anuais dos títulos de dez anos seguiram recuando, com os papéis alemães atingindo, em 31 de agosto, mínima histórica de 2,12%, e os dos EUA, 2,47%, menor rendimento desde junho de 2008.

Os prêmios de risco soberano de países europeus com maiores difi culdades fi scais, medidos através dos seus CDS de cinco anos, seguiram em alta durante o trimestre encerrado em agosto. Entre os fi nais de maio e de agosto, os CDS soberanos da Grécia, Irlanda, Portugal e Espanha aumentaram, na ordem, 263 p.b., 120 p.b., 40 p.b. e 25 p.b., enquanto o CDS soberano do Brasil recuou 4 p.b. Apesar do aumento da aversão ao risco ter impactado negativamente a demanda por ativos de países emergentes em agosto, no trimestre encerrado nesse mês, o indicador de risco soberano Emerging Markets Bonds Index Plus (Embi+) recuou 18 p.b., para 299 p.b. Ressalte-se que o índice associado ao Brasil recuou, no mesmo período, 2 p.b.

O dólar dos EUA acumulou, no trimestre encerrado em agosto, depreciações em relação ao euro, 2,9%; à libra esterlina, 5,3%; e ao iene, 7,7%, ressaltando-se que, especificamente em agosto, em resposta ao ambiente de aumento da aversão ao risco, a moeda dos EUA experimentou apreciações em relação ao euro, 2,2%, e à libra esterlina, 2,9%, mas sofreu depreciação de 2,6% ante o iene. Vale registrar que, em 24 de agosto, o iene atingiu a menor cotação por dólar (ou seja, maior nível) dos últimos quinze anos.

100

170

240

310

380

13.52008

22.7 30.9 9.12 17.22009

28.4 7.7 15.9 24.11 2.22010

13.4 22.6 31.8

Brasil Coreia do Sul Índia China

Gráfico 4.10 – Bolsas de valores: mercados emergentes31.12.2003 = 100

Fonte: Bloomberg

2

3

4

5

16.92008

26.11 5.22009

17.4 29.6 8.9 18.11 28.12010

9.4 21.6 31.8

EUA Alemanha Reino Unido

Fonte: Bloomberg

Gráfico 4.11 – Retorno sobre títulos governamentais -10 anos% a.a.

0

300

600

900

1200

10.22009

14.4 16.6 18.8 20.10 22.12 23.22010

27.4 29.6 31.8

Brasil Espanha GréciaPortugal Irlanda

Fonte: Thomson

Gráfico 4.12 – CDS Soberanos 5 anosp.b.

0

150

300

450

600

750

10.22009

14.4 16.6 18.8 20.10 22.12 23.22010

27.4 29.6 31.8

África do Sul Brasil RússiaTurquia México

Fonte: Bloomberg

Gráfico 4.13 – Emerging Markets Bond Index Plus(Embi+) – Paísesp.b.

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58 | Relatório de Inflação | Setembro 2010

Em relação às moedas de mercados emergentes, o dólar dos EUA acumulou, no período, depreciações em relação ao real, 3,6%; à lira turca, 3,1%; e ao rublo russo, 0,3%; e apreciação de 1,6% ante a rúpia indiana. Especifi camente em agosto, o dólar registrou apreciações respectivas de 0,1%, 1,2%, 2% e 1,4%, em relação às moedas mencionadas.

4.4 Commodities

Os preços internacionais das commodities, após recuarem acentuadamente em maio, apresentaram elevada volatilidade no trimestre encerrado em agosto, traduzindo as incertezas inerentes à crise fi scal na Europa, ao ritmo de recuperação da economia dos EUA e ao desempenho da economia da China. As commodities agrícolas registraram valorização acentuada no trimestre, movimento que, em parte, refl ete o impacto de adversidades climáticas em diversas regiões do mundo. O índice Commodity Research Bureau (CRB) registrou valorização de 7,1% no trimestre encerrado em agosto. Consideradas médias trimestrais, o indicador registrou variações respectivas de -0,8% e 16,7%, em relação aos trimestres fi nalizados em maio de 2010 e em agosto de 2009.

De acordo com o índice S&P Goldman Sachs Commodity Index (GSCI), da Standard & Poor ’s em conjunto com o Goldman Sachs, os preços das commoditiesregistraram valorização de 2,2% no trimestre encerrado em agosto, registrando-se variações respectivas de 27,1%, 4,4% e -2,6% nos segmentos de commodities agrícolas, metálicas e energéticas.

A evolução do índice relativo às commoditiesagrícolas refl etiu, em especial, a valorização de 42,5% registrada no contrato futuro para primeira entrega de trigo, negociado na Chicago Board of Trade (CBT), movimento associado à forte estiagem que afetou áreas de cultivo na Rússia, Ucrânia e Cazaquistão. Também na bolsa de Chicago, os contratos para primeira entrega de soja e milho assinalaram, no mesmo período, valorizações respectivas de 7,5% e 18,2%, refletindo problemas climáticos em alguns países produtores e, principalmente, o aumento das importações desses produtos pela China. Os contratos futuros para primeira entrega de açúcar e café, negociados na Intercontinental Exchange de Nova York (ICE), registraram altas respectivas de 39,2% e 31,7%, em cenário de reduzidos estoques mundiais e restrições de oferta.

70

80

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100

110

120

130

140

11.122008

11.32009

9.6 7.9 4.12 4.32010

2.6 31.8

Libra/dólar Euro/dólar Iene/dólar

Gráfico 4.14 – Cotações do dólar1.6.2005 = 100

Fonte: Bloomberg

60

70

80

90

100

110

120

130

140

10.92008

9.12 9.32009

4.9 3.9 2.12 2.32010

31.5

Rublo/dólar Real/dólarRúpia/dólar Lira/dólar

Gráfico 4.15 – Moedas de países emergentes1.6.2005 = 100

Fonte: Bloomberg

110

120

130

140

150

160

170

180

190

2.12009

11.3 18.5 23.7 29.9 4.12 10.22010

19.4 24.6 31.8

Gráfico 4.16 – Índice CRBJan/2003 = 100

Fonte: Commodity Research Bureau

100

150

200

250

300

350

2.12009

11.3 18.5 23.7 29.9 4.12 10.22010

19.4 24.6 31.8

Agrícolas Metais EnergéticasFonte: S&P GSCI

Gráfico 4.17 – Índice de preço de commoditiesJan/2003 = 100

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Setembro 2010 | Relatório de Inflação | 59

Em relação às commodities metálicas, registraram-se, de acordo com a London Metal Exchange (LME), elevações trimestrais nos preços do estanho, 17,9%; chumbo, 12%; cobre, 7,5%; zinco, 6,8%; e alumínio, 1,5%. O preço do minério de ferro de teor 63,5% subiu 2% no mercado à vista chinês, no trimestre, segundo o Metal Bulletin, mesmo após recuar 16,8% até o dia 16 de julho.

As cotações médias dos barris de petróleo dos tipos Brent e WTI aumentaram, respectivamente, de US$76,25 e US$73,74, em maio, para US$76,69 e US$76,60 em agosto. Incorporando perspectivas menos otimistas quanto à evolução da economia mundial para o restante de 2010 e para 2011, o DOE reduziu as previsões de preços médios do barril do tipo WTI relativas aos últimos trimestres de 2010 e de 2011 para US$81,33 e US$85,00, respectivamente, ante US$84,00 e US$87,00, no relatório de maio.

4.5 Conclusão

As economias emergentes seguem registrando ritmo de crescimento mais intenso do que as maduras, com ênfase na sustentação proporcionada pelo fortalecimento de suas demandas domésticas. Persistem, contudo, preocupações em relação ao desempenho da economia chinesa. Além disso, a retomada da economia norte-americana vem ocorrendo em ritmo menos intenso do que o desenhado anteriormente, contribuindo para os aumentos da volatilidade nos mercados fi nanceiros e do sentimento de aversão ao risco.

Nesse ambiente em que os fatores de produção registram ociosidade acentuada em escala global, as perspectivas em relação à evolução da infl ação permanecem benignas nas economias maduras, e em alguns casos emergem preocupações com a deflação. Dessa forma, pressões inerentes às elevações nos preços das commoditiesnão constituem, até o momento, restrição à manutenção da postura acomodatícia dos bancos centrais em importantes economias maduras e emergentes.

100

150

200

250

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400

450

2.12009

11.3 18.5 23.7 29.9 4.12 10.22010

19.4 24.6 31.8

Trigo Milho SojaAçúcar Café

Fontes: NYB-ICE e Chicago Board of Trade

Gráfico 4.18 – Commodities agrícolasJan/2003 = 100

20

35

50

65

80

95

110

6.112008

6.12009

6.3 6.5 6.7 3.9 3.11 1.12010

3.3 3.5 1.7 31.8

Brent WTI

Fonte: Bloomberg

Gráfico 4.19 – Petróleo – Mercado à vistaUS$ por barril