RELENDO MACAHÉ - TRATADO DESCRITIVO DO BRASIL

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RELENDO MACAHÉ 1 na obra TRATADO DESCRITIVO do BRASIL de Gabriel Soares de Sousa (1587) Coordenadoria de Ensino Coordenação de História Secretaria Municipal de Educação Prefeitura Municipal de Macaé 2011

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RELENDO MACAHÉ

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na obra

TRATADO DESCRITIVO do

BRASIL

de

Gabriel Soares de Sousa

(1587)

Coordenadoria de Ensino

Coordenação de História

Secretaria Municipal de Educação

Prefeitura Municipal de Macaé

2011

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Glossário:

1. RELENDO MACAHÉ

2. O Autor 3. O Livro – Por Voltaire Schiling 4. Macaé no livro 5. Sugestões para o Ensino Fundamental 6. Descritores 7. Bibliografia 8. Agradecimentos

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1. Relendo Macahé

Neste segundo RELENDO MACAHÉ, conheceremos, ou recordaremos um dos mais importantes livros escritos sobre o Brasil no século XVI: TRATADO DESCRITIVO DO BRASIL de Gabriel Soares de Sousa.

Tal produção é junto com Viagem à Terra do Brasil de Jean de Léry e os escritos de Hans Staden, Anchieta, Caminha e Frei Vicente do Salvador, dos mais importantes relatos acerca do Brasil nos primeiros tempos da colonização.

Gabriel Soares de Sousa, sertanista e fazendeiro, naturalista e escritor, pouco escreveu sobre Macaé, atendo-se mais a detalhes geográficos, não fazendo alusão aos indígenas, à flora, fauna ou qualquer outro habitante.

Embora seja uma produção menor em proporções que a de Jean de Léry, destaca-se em proporções e importâncias se relacionado aos demais autores, como Frei Vicente do Salvador – que fez apenas uma rápida referência as “Ilhas de Santa Anna”, por exemplo.

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2. O Autor

Colonizador, dono de engenho, comerciante, sertanista e

navegador português nascido no Ribatejo, conhecido por ter escrito TRATADO DESCRITIVO DO BRASIL (1587), um trabalho que constituiu um dos primeiros e mais extraordinários relatos sobre o Brasil colonial, contendo importantes dados geográficos, botânicos, etnográficos e lingüísticos, e publicado postumamente por Adolfo de Varnhagen (1879), em Lisboa.

Membro da expedição naval de Francisco Barreto, que partira com destino à África, mas acabou por alcançar o Brasil. Estabelecido na Bahia (1569), montou o engenho Jaguaripe e voltou a Portugal (1584) para obter da corte o privilégio de exploração de minérios e pedras preciosas ao longo do rio São Francisco. Enquanto aguardava a permissão régia escreveu seu famoso tratado, dividido em duas partes: Roteiro geral e Memorial das grandezas da Bahia, descrevendo informações sobre geografia, costumes dos índios, agricultura, animais e plantas brasileiros. Por exemplo, ele relatou que os índios guaianazes dividiam por um lado fronteiras com os índios tamoios e do outro com os carijós. Os guaianazes viviam continuamente guerra com seus vizinhos, matando-se uns aos outros cruelmente.

Nomeado governador e capitão-mor da conquista das Minas, regressou ao Brasil com 360 colonos, quatro freiras carmelitas e o governador-geral do Brasil, D. Francisco de Sousa. Chegando à Bahia, empreendeu uma expedição que percorreu mais de cem léguas ao longo do rio São Francisco, mas morreu de uma febre em pleno sertão, após atingir as nascentes do rio Paraguaçu.

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3. O Livro– Por Voltaire Schiling*

O Tratado Descritivo

"Estará bem empregado todo o cuidado que Sua Majestade mandar Ter d'este novo reino; pois está para edificar nele um grande império, o qual com pouca despesa destes reinos se fará tão soberano que seja um dos Estados do mundo." - Gabriel Soares de Sousa - Tratado Descritivo do Brasil em 1587.

Foi uma carta enviada pelo seu irmão João Coelho de Souza, mensagem de um moribundo vinda lá dos fundões da Bahia, que fez com que Gabriel Soares de Souza se assanhasse por também em meter-se no sertão. A missiva chegara por uma pessoa de confiança. Mencionava vestígios de ouro e até de diamantes que o desbravador encontrara em suas andanças de três anos pelos rios e selvas do Brasil. Gabriel incendiou-se. Largou sua fazenda à beira do rio Jequiriçá no Recôncavo - onde desde 1567 se estabelecera "com escravos, carro de boi e éguas,... além de índios forros"-, e foi-se a brigar com a burocracia do rei lá em Madri (era a época do Domínio Filipino) atrás de concessões. Apresentou-se como herdeiro do falecido.

A Bahia de Todos os Santos foi minuciosamente descrita por Gabriel Soares de Souza.

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Pediu índios flecheiros, mercês, foros de fidalguia" par ele para quatro dos seus cunhados que o acompanhariam na expedição, e até uma requisição para tirar da cadeia gente que tivesse alguma serventia para a bandeira. Quase enlouqueceram o pobre homem com as protelações e dilações, mas por fim arrancou deles o que precisava. Até um titulo pomposo de "capitão-mor e governador da conquista e descobrimento do Rio São .Francisco" arranjou. Hei-lo de volta ao Brasil em 1591. Deu azar. A urca em que vinha naufragou na embocadura do Vaza-barris. Num nada viu-se "governando" um pedaço de areia da praia do Sergipe.

Gabriel Soares devia ser bom de conversa. Ao alcançar Salvador, convenceu o governador a arrumar-lhe os necessários para a grande aventura. Queria descer o Rio São Francisco até as suas cabeceiras, seguindo o roteiro deixado pelo irmão porque sabia que lá encontraria coisa grossa Mas ele não era só de conversa. Gabriel talvez fosse um dos reinóis mais qualificados para alcançar tal sucesso. Uns anos antes, em 1587, ainda em Madri, na espera, registrara cuidadosamente num enorme calhamaço - que Varnhagem depois numa edição exemplar, dividiu em 20 títulos e 196 sub-capítulos -, tudo o que vira, sabia ou ouvira dizer num Tratado Descritivo do Brasil (que apesar de circular em Lisboa desde 1599, com o título de "Notícia do Brasil", só o publicaram em 1825). Inspirou-o, superando-o de longe, a "História" de Pêro Magalhães de Gândavo, quem por primeiro registrara algo mais alentado sobre as terras descobertas.

No enciclopédico "Tratado", Gabriel Soares nos conduz a um detalhado e maravilhoso passeio por aquele Brasil dos primórdios. Tendo como ponto de partida os acidentes mais setentrionais da costa brasileira, estendeu-se do Rio Amazonas até o Rio da Prata. Em meio a isso tudo nos conta as histórias dos tupinambás, dos tapuias, dos potiguares e de tantas outras tribos mais. O que comiam, como pescavam e de que como caçavam ou combatiam das canoas e jangadas que faziam. Fala-nos da mandioca, do milho, dos legumes, da pimenta e dos cajus, dos mamões e dos jaracatiás, dos insetos, dos anfíbios, das jibóias e dos bugios. Homem do seu tempo, Gabriel Soares também se deixou embalar pelas histórias fantásticas, de índios assombrados, entre outras por aquela que relatava as maldades do Upupiara, o homem marinho, o terror do Recôncavo, meio bicho, meio peixe, que saltava das

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profundezas dos rios e abocanhava quem estivesse em suas margens. Diz Gabriel que cinco escravos índios seus sumiram assim. Num outro ataque, o único que se salvou ficou tão "assombrado que esteve para morrer". Foi enfático também o autor, na luta dos portugueses em dominar aquele mundo bravio, imenso e doido. Todos os historiadores do Brasil que se seguiram, como Frei Vicente de Salvador ou Robert Southley, beberam em suas páginas.

O Upupiara, o monstro do Recôncavo.

Gabriel Soares queria mesmo era chamar a atenção de El-Rei da Espanha para "os grandes merecimentos" que o novo mundo deveria ter da Coroa, alertando-o para o fato de que "se os estrangeiros se apoderarem desta terra, custará muito lançá-los fora dela". Impressionou-se em Lisboa, e em Madri, como os funcionários da Corte não tinham idéia da dimensão e da vastidão do Brasil. É uma "costa de mil léguas" enfatizou, de "terra quase toda muito fértil, mui sadia, fresca e lavada de bons ares, e regada de frescas e frias águas", e que além de” ferro, aço, cobre, ouro, esmeralda, cristal e muito salitre", tem "mais quantidade de madeira que nenhuma parte do mundo". Era impossível que não percebessem a magnitude do que ele vira nos seus 17 anos de Brasil.

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Dito isso, apetrechou-se de carnes e farinhas e rumou com a bandeira para o sertão. Saiu do Recôncavo pelas margens do Rio Paraguaçu. Das cabeceiras deste, quase uns 600 quilômetros ao sul da Bahia, até chegar ao Rio São Francisco mais adentro, ainda teria que percorrer a pé uns 250 quilômetros de serras e matas virgens. Desafiando as febres, as pragas, as cobras, e os morcegos que devastaram a animália, fundou arraiais pelo caminho. Supõe-se que Gabriel Soares sucumbiu, ele e Aracy, o seu índio guia bem próximo à paragem onde o irmão morrera sete anos antes.

A abundância e variedade da pesca nativa sempre impressionaram Gabriel Soares de Souza

Matou-o a exaustão. Ele que manifestara em testamento o desejo de ser sepultado com o "hábito de São Bento", no mosteiro da ordem em Salvador, dando-se ao exagero de recomendar "150 missas rezadas e 15 cantatas" para o sossego da sua alma pecadora, foi, supõe-se, inumado às pressas numa cova anônima cercada pelos matos baianos. Gabriel Soares estava no sentido certo. Um século depois da sua malfadada aventura, outros, vindos de outros caminhos, deram com as pepitas douradas e com os belos diamantes das Minas Gerais, como também ele acertara em prever que o Brasil se tornaria “um grande império".

*Voltaire Schilling é professor de História, pesquisador, autor e colunista do portal Terra.

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4. Macaé no livro

C A P Í T U L O XLVII Em que se torna a dizer de como corre a costa do cabo

de São Tomé até o cabo Frio.

Do cabo de São Tomé à ilha de Santa Ana são oito léguas, e corresse a costa nordeste - sudoeste. A terra firme desta costa é muito fértil e boa. Esta ilha de Santa Ana fica em vinte e dois graus e um terço, a qual está afastada da terra firma duas léguas para o mar, e tem dois ilhéus junto de si. E quem vem do mar em fora parece-lhe tudo uma coisa. Tem esta ilha da banda da costa um bom surgidouro e abrigada por ser limpo tudo, onde tem de fundo cinco e seis braças; e na terra firme defronte da ilha tem boa aguada, e na mesma ilha há boa água de uma lagoa. Por aqui não há de que guardar senão do que virem sobre a água.

E quem vem do mar em fora, para saber se está tanto avante como esta ilha, olhe para a terra firme, e verá em meio das serras um pico, que parece frade com capelo sobre as costas, o qual demora a leste-noroeste, e podem os navios entrar por qualquer das bandas da ilha como lhe mais servir o vento, e ancorar defronte entre ela e a terra firme.

Da ilha de Santa Ana à baía do Salvador são três léguas e dessa baía a baía Formosa são sete léguas; da baía Formosa ao cabo Frio são duas léguas. E corre-se a costa norte-sul. Até essa baía Formosa corriam os goitacás no seu tempo, mas vivem já mais afastados do mar, pelo que não há que arrecear para se povoar qualquer parte desta costa do Espírito Santo até o cabo Frio.

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5. Sugestões para o Ensino Fundamental Objetivos: - Desenvolver a consciência histórica por meio da análise de narrativas. - Contribuir para a compreensão do processo de construção do momento histórico. - Desenvolver o pensamento crítico sobre o período e as diversas visões do fato histórico. Material necessário: A cópia do Tratado Descritivo do Brasil que fala sobre Macaé. Flexibilização: Para alunos com deficiência intelectual, apresente o texto antecipadamente ao aluno com deficiência intelectual para que ele acompanhe melhor as discussões com a turma. Ele pode identificar os elementos importantes do texto - o autor, quando foi escrito, o assunto tratado, os personagens etc. - junto dos colegas e deve participar das discussões em sala, expondo sua opinião, mesmo que não consiga chegar a raciocínios muito elaborados. No caso da história brasileira recente, conversas com pessoas que viveram o período e o trabalho com outros materiais (filmes, música, fotografias) podem contribuir para a aprendizagem. Amplie o tempo de realização dessa atividade para o aluno e conte com o apoio do profissional responsável pelo AEE. Desenvolvimento: Distribua as cópias do artigo. Comece a análise pedindo que os alunos identifiquem a autoria do documento e a data (que pode estar na capa da publicação). Há um autor? Onde ele aparece? Como a narrativa histórica sempre é uma interpretação, o aluno precisa identificar quem a escreveu e quando. Pergunte se o documento é da mesma época do fato narrado. Conduza a análise de forma que os estudantes vejam de que maneira o autor explica os fatos, evidenciando as passagens em que ele coloca uma opinião, por exemplo, ou termos que deixam claro o fato de

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o autor viver no mesmo período narrado. A explicação é uma importante competência do pensamento histórico. Identifique com a garotada os personagens que estão envolvidos na explicação do autor e como ele se relaciona com os personagens narrados. É favorável ou contrário? É possível analisar as impressões do autor e o que se pensava sobre Macaé, bem como as expectativas a análise pedindo que os alunos identifiquem a autoria do documento e a data (que pode estar na capa da publicação). Há um autor? Onde ele aparece? Como a narrativa histórica sempre é uma interpretação, o aluno precisa identificar quem a escreveu e quando. Pergunte se o documento é da mesma época do fato narrado. Conduza a análise de forma que os estudantes vejam de que maneira o autor explica os fatos, evidenciando as passagens em que ele coloca uma opinião, por exemplo, ou termos que deixam claro o fato de o autor viver no mesmo período narrado. A explicação é uma importante competência do pensamento histórico. Identifique com a garotada os personagens que estão envolvidos na explicação do autor e como ele se relaciona com os personagens narrados. É favorável ou contrário? Com as respostas a essas perguntas, conduza a turma a refletir sobre o propósito da narrativa (contar sobre um fato, dar uma opinião, fazer uma reivindicação e assim por diante). Relacione o que foi levantado ao que é descrito no livro didático. Assim os alunos percebem ideias relevantes que ficaram de fora do livro. Avaliação: Observe se os estudantes entenderam os elementos envolvidos na expedição do navegador e cronista ao Brasil. Veja se eles identificaram os interesses envolvidos.

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6. Descritores

Em Língua Portuguesa:

a) Localizar informações explícitas em um texto. b) Inferir o sentido de uma palavra ou expressão. c) Inferir uma informação implícita no texto. d) Interpretar texto com auxílio de material gráfico diverso (propagandas,

quadrinhos, fotos, entre outros). e) Identificar o tema de um texto. f) Identificar a finalidade de textos de diferentes gêneros.

Em Matemática:

a) Identificar a localização/movimentação de objeto em mapas, croquis e outras representações gráficas.

b) Estabelecer relações entre unidades de medida de tempo.

c) Calcular o resultado de uma adição ou subtração de números naturais.

d) Calcular o resultado de uma multiplicação ou divisão de números naturais.

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7. Bibliografia LERY, Jean. Viagem à Terra do Brasil. São Paulo: Cia. Das Letras, 1999. SOUSA, Gabriel Soares de. Tratado Descritivo do Brasil em 1587. São Paulo: EBP, 1938. SOUZA, Laura de Melo. O Diabo e a terra de Santa Cruz. São Paulo: Cia. Das Letras, 1986. THEVET, André. As singularidades da França Antártica. Trad. Eugenio Amado. São Paulo: EDUSP, 1978. TODOROV, Tzvetan. A conquista da América. Trad. Beatriz Perrone Moisés. São Paulo: Martins Fontes, 1982. VAINFAS, Ronaldo. Trópico dos pecados. Rio de Janeiro: Campus, 1989. www.cienciahoje.org.br www.revistaescola.com.br www.terra.com.br/voltaireschilling

8. Agradecimentos: Portal Terra/Voltaire Schiling. Revista Ciência Hoje na Escola.

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