Religiosa - Diocese do Porto oficial Discurso do Santo Padre 12.45 – Cerimónia de boas-vindas,...

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1 | 11 de Maio de 2010 EDIÇÃO ESPECIAL DIGITAL Semanário de Actualidade Religiosa 11 de Maio de 2010 | nº 1242 Director: Paulo Rocha Assinatura Anual: 36 euros | Número avulso: 0.90 euros

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1 | 11 de Maio de 2010

EDIÇÃO ESPECIAL DIGITAL

Semanário de Actualidade Religiosa

11 de Maio de 2010 | nº 1242Director: Paulo RochaAssinatura Anual: 36 euros | Número avulso: 0.90 euros

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Director: Paulo Rocha. Chefe de Redacção: Octávio Carmo. Redacção: Lígia Silveira, Luís Filipe Santos, Rui Martins, Sónia Neves. Correspondentes: António Pinheiro (Roma). Paginação:Manuel Costa. Secretaria: Ana Gomes. Colaboração: Ana Valente, Margarida Ataíde e Maria Fernanda Silva. Grafismo: Terra das Ideias.AGÊNCIA ECCLESIA: nº registo 109665; Propriedade: Conferência Episcopal Portuguesa - Secretariado Nacional das Comunicações Sociais da Igreja, pessoa Colectiva nº 500966575.Redacção e Administração: Quinta do Cabeço, Porta D - 1885-076 MOSCAVIDE. Tel.: 218855472; Fax: 218855473. [email protected]; www.agencia.ecclesia.pt; Impressão: GráficaEborense, Évora. Tiragem: 1500 exemplaresAs notícias deste Semanário podem ser publicadas livremente. Os artigos assinados devem manter a assinatura do autor e a respectiva fonte.

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EDITORIAL

A propósito da visita Apostólica de

Bento XVI ao nosso país, têm-se

multiplicado as tentativas de traçar

um perfil do Papa partindo das sin-

gularidade do seu carácter ou da

sua biografia. "Como definir o Papa

Ratzinger?", parece ser a preocu-

pação dominante. E não falta quem

sublinhe o seu brilhante passado

académico, o seu estatuto intelec-

tual reconhecido, o timbre

germânico do seu temperamento

ou até a timidez afável do seu sorri-

so. É claro que tudo isso tem impor-

tância para perceber o Pastor que

nos visita, mas também é necessá-

rio dizer que essa informação é, no

fundo, completamente irrelevante.

Quando Bento XVI desembarcar em

Portugal ele não é apenas o 266º

sucessor do Apóstolo Pedro que

vem até nós. Ele hoje é Pedro. Não

representa apenas os cinco anos do

seu Pontificado, mas os dois mil

anos de história da Igreja. A sua so-

licitude não é apenas a expressão

de um estilo pessoal, mas a mani-

festação de um carisma confiado

para a edificação da comunidade.

A missão que ele transporta ouviu-

a da boca do próprio Cristo: "Apas-

centa as minhas ovelhas" (Jo 21,16).

E, por isso, parecem artificiais ou

um bocado ociosas as comparações

entre pontífices. O que realmente

deve contar é o mistério desta pe-

regrinação no tempo que a Igreja

realiza, peregrinação diversa nas

As sandálias do Pescador

circunstâncias e nos tempos, mas

idêntica no sentido e no horizonte.

Chamava-se Joseph Raztinger, cha-

ma-se hoje Bento XVI, isto é Pedro.

Não podiam ser mais claras as pa-

lavras que pronunciou na sua pri-

meira homilia como Papa: "o meu

verdadeiro programa de governo é

não fazer a minha vontade, não per-

seguir ideias minhas, pondo-me

contudo à escuta, com a Igreja in-

teira, da palavra e da vontade do

Senhor e deixar-me guiar por Ele,

de forma que seja Ele mesmo quem

guia a Igreja nesta hora da nossa

história". Nos passos de Bento XVI

ouvimos o rumor das sandálias do

pescador.

José Tolentino Mendonça

Editorial ........................................... 2Programa ......................................... 4Os passos de Bento XVI em Portugal .................................... 5Lisboa .............................................. 10Fátima .............................................. 21Porto ............................................... 28Notícias ........................................... 30Papa Teólogo ................................. 35O Pontificado de Bento XVI ............. 42A Igreja Católica em Portugal .......... 48

Opinião ........................................... 56

José Tolentino Mendonça ............... 57António Rego .................................. 57Octávio Carmo ................................ 58Paulo Rocha ................................... 58

Adriano Moreira .............................. 59Rui Marques ................................... 59Helena Matos ................................. 60Daniel Serrão ................................... 61Francisco Sarsfield Cabral ............... 62Júlio Pedrosa de Jesus .................... 63Guilherme d'Oliveira Martins .......... 64Hélder Reis ..................................... 65 Isabel Jonet ................................... 66Maria Rosário Carneiro ................... 67

Entrevista de Pedro Silva Pereira .... 68

Para que serve a visita do Papa?D. Carlos Azevedo ........................... 70

Chamava-se Joseph Raztinger,chama-se hoje Bento XVI,isto é Pedro.

indiceindiceindiceindiceindice

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PROGRAMA

11 de Maio, terça-feira11 de Maio, terça-feira11 de Maio, terça-feira11 de Maio, terça-feira11 de Maio, terça-feira

ROMA

08.50 – Partida de avião do Aeroporto In-ternacional Leonardo da Vinci deFumicino para Lisboa

LISBOA

11.00 – Chegada ao Aeroporto Internacio-nal da Portela, Lisboa Acolhimento oficial Discurso do Santo Padre

12.45 – Cerimónia de boas-vindas, frenteao Mosteiro dos Jerónimos Breve visita ao Mosteiro dosJerónimos

13.30 – Visita de cortesia ao Presidenteda República, no Palácio de Belém

18.15 – Santa Missa no Terreiro do Paço.Homilia do Santo Padre Mensagem do Santo Padre co-memorativa do 50º aniversário da inau-guração do Santuário de Cristo Rei deAlmada

12 de Maio, quarta-feira12 de Maio, quarta-feira12 de Maio, quarta-feira12 de Maio, quarta-feira12 de Maio, quarta-feira

07.30 – Santa Missa, em privado, na Ca-pela da Nunciatura Apostólica

10.00 – Encontro com o mundo da cultu-ra, no Centro Cultural de Belém Discurso do Santo Padre

12.00 – Encontro com o Primeiro Ministro,na Nunciatura Apostólica

15.45 – Despedida da Nunciatura Apostó-lica

16.40 – Partida de helicóptero do Aero-porto Internacional da Portela de Lisboapara Fátima

PROGRAMAViagem Apostólica de Sua Santidade Bento XVI a Portugal

no 10º aniversário da beatificação de Jacinta e Francisco Marto, Pastorinhos de Fátima (11-14 de Maio de 2010)

FÁTIMA

17.10 – Chegada ao heliporto no grandeparque do novo Estádio Municipal de Fá-tima

17.30 – Visita à Capelinha das Aparições Oração do Santo Padre

18.00 – Celebração das Vésperas comsacerdotes, diáconos, religiosos/as, se-minaristas e agentes de pastoral, na Igre-ja da SS.ma Trindade Discurso do Santo Padre

21.30 – Bênção das velas, na Capelinhadas Aparições Discurso do Santo Padre. Oraçãodo Rosário

13 de Maio, quinta-feira13 de Maio, quinta-feira13 de Maio, quinta-feira13 de Maio, quinta-feira13 de Maio, quinta-feira

10.00 – Santa Missa na esplanada doSantuário de Fátima Homilia do Santo Padre. Sauda-ções do Santo Padre

13.00 – Almoço com os Bispos de Portu-gal e com o Séquito Papal no Refeitórioda Casa de Nossa Senhora do Carmo

17.00 – Encontro com as Organizações daPastoral Social, na Igreja da SS.ma Trin-dade. Discurso do Santo Padre

18.45 – Encontro com os Bispos de Portu-gal no Salão da Casa de Nossa Senhorado Carmo. Discurso do Santo Padre

14 de Maio, sexta-feira14 de Maio, sexta-feira14 de Maio, sexta-feira14 de Maio, sexta-feira14 de Maio, sexta-feira

08.00 – Despedida da Casa de Nossa Se-nhora do Carmo

08.40 – Partida de helicóptero doheliporto de Fátima para o Porto

GAIA09.30 – Chegada ao heliporto do Quartelda Serra do Pilar

PORTO10.15 – Santa Missa na Avenida dos Alia-dos Homilia do Santo Padre

13.30 – Cerimónia de despedida no Aero-porto Internacional Sá Carneiro do Porto. Discurso do Santo Padre

14.00 – Partida de avião do Porto paraRoma

ROMA18.00 – Chegada ao Aeroporto deCiampino, Roma

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OS PASSOS DE BENTO XVI

Dia 11 de MaioDia 11 de MaioDia 11 de MaioDia 11 de MaioDia 11 de Maio

07.50 – Partida de avião do Aeroporto In-ternacional Leonardo da Vinci deFumicino para Lisboa.

O Papa é acompanhado por um séquitode 29 pessoas, incluindo o Secretário deEstado, Cardeal Tarcisio Bertone, paraalém do Cardeal Saraiva Martins, e dobispo D. Manuel Monteiro de Castro, se-cretário da Congregação dos Bispos,além do Pe. António Ferreira da Costa, quetrabalha na Secretaria de Estado doVaticano.Do séquito ainda fazem parte o porta-vozdo Vaticano, Pe. Federico Lombardi, omédico pessoal, Patrizio Polisca, e qua-tro seguranças da Guarda Suíça.

Em Portugal, o presidente da Conferên-cia Episcopal, D. Jorge Ortiga; o Cardeal-Patriarca de Lisboa, D. José Policarpo, e oCoordenador-geral da visita e bispo auxi-liar de Lisboa, D. Carlos Azevedo, inte-gram o séquito desde a chegada ao Ae-roporto da Portela e à partida no Aero-porto Sá Carneiro.A comitiva conta também com AlbertoGasbarri, organizador das viagenspontifícias, um conjunto de fotógrafos eelementos da televisão do Vaticano.

11.00 – Chegada ao Aeroporto da Portela,Lisboa. Os sinos das igrejas do Patriarca-do de Lisboa tocam para assinalar a che-gada de Bento XVI a Portugal.D. Rino Passigato, Núncio Apostólico emPortugal, e o Chefe do Protocolo, o em-baixador Bouza Serrano, sobem a bordodo avião e convidam o Bento XVI a des-cer.Primeiro sai o Papa e de seguida o séqui-to.Bento XVI é conduzido à tribuna do pro-tocolo de Estado.Um coro formado por 30 crianças da Aca-demia de Santa Cecília dá as boas-vin-das ao Papa, cantando o Hino Oficial, daautoria de Heitor Morais e de AntónioCartageno.O Presidente da República, Aníbal Cava-co Silva, a Primeira-Dama, Maria CavacoSilva, e D. José Policarpo, Cardeal Patri-arca de Lisboa, acolhem e saúdam BentoXVI ao fundo das escadas.

Os passos de Bento XVI em PortugalHoras, percursos, celebrações, discursos, saudações, recepções, convidados, ofertas: detalhes de 4 dias com o Papa

Dirigem-se também para o pódio e far-se-ão os discursos da chegada (AníbalCavaco Silva e Bento XVI).O Presidente da República apresenta asautoridades presentes: Presidente daAssembleia da República, Jaime Gama;Primeiro-Ministro, José Sócrates; Presi-dente do Supremo Tribunal de Justiça,Noronha Nascimento; Presidente do Tri-bunal Constitucional, Rui Moura Ramos;Ministro dos Negócios Estrangeiros, LuisAmado; Embaixador junto da Santa Sé,Rocha Páris, e os bispos presentes.

11.30 - Do aeroporto desloca-se em“Papamóvel” para a Nunciatura Apostó-lica, efectuando o seguinte percurso:

Praça do Aeroporto – Alameda das Comu-nidades Portuguesas – Rotunda do Reló-gio – Avenida Gago Coutinho – Avenida dosEstados Unidos da América – Entrecampos– Avenida da República – Saldanha – Ave-nida Fontes Pereira de Melo – Rua LatinoCoelho – Avenida Luís Bivar.

No veículo seguem Bento XVI, D. JoséPolicarpo e o secretário particular doPapa, Mons. Georg Gaenswein.

12.30 - O Papa, em viatura fechada, partepara Belém, onde, frente ao Mosteiro dosJerónimos, decorre a cerimónia oficial deboas-vindas.O trajecto a efectuar é o seguinte:

Avenida Luís Bívar - Rua Pinheiro Chagas- Avenida Fontes Pereira de Melo - Mar-quês de Pombal - Avenida Eng. DuartePacheco - Avenida das Descobertas - Ave-nida do Restelo - Avenida Torre de Belém- Avenida da Índia - Mosteiro dosJerónimos.

12.45 – Cerimónias de boas-vindas, comhonras militares.Tocam-se os hinos (Portugal e Santa Sé)e é disparada uma salva de 21 tiros.Bento XVI e Aníbal Cavaco Silva dirigem-se para a tribuna onde estão as autorida-des, seguindo-se a parada militar das for-ças da Guarda de Honra.

13.00 - Enquanto o Presidente da Repú-blica se dirige para o Palácio de Belém,Bento XVI faz uma breve visita ao Mos-

teiro dos Jerónimos.É recebido pelo prior da paróquia de San-ta Maria de Belém, Cón. José ManuelFerreira, e pela directora do Mosteiro,Isabel Cruz Almeida.Grupo de cerca de 300 crianças dacatequese e das escolas católicas dadiocese vai acolher Bento XVI com umamúsica à entrada do mosteiro.Depois o Papa vai dirige-se até à capela-mor, atrás do altar, onde terá um momen-to de oração em frente ao sacrário. Have-rá um genuflexório para o papa se ajoe-lhar e ao lado do altar estará a imagemda Nossa Senhora de Fátima, para apre-ciar.Visitará também o claustro do mosteiro.

13.15 – Partida, em “Papamóvel”, para oPalácio de Belém, passando peloArruamento na Praça do Império - Aveni-da da Índia - Praça Afonso deAlbuquerque - Rua de Belém - Palácio deBelém.Neste trajecto, a guarda de honra é feitapor forças da GNR a cavalo.

13.30 – Chegado ao Palácio de Belém,Bento XVI dirige-se para a Sala das Bicasonde será tirada a fotografia oficial e fei-ta a assinatura do livro de honra.O Presidente da República apresenta aoPapa os membros da Casa Civil e Militarna Sala Dourada e depois, na Sala Ver-de, Bento XVI apresenta o séquito papal.A troca de presentes será na Sala dosEmbaixadores. O Presidente convida de-pois o Papa para o gabinete de trabalho.

14.00 – Despedida e regresso à NunciaturaApostólica.A viagem é feita em viatura fechada peloseguinte percurso: Palácio de Belém -Rua de Belém - Praça Afonso deAlbuquerque - Avenida da Índia - AvenidaTorre de Belém - Avenida do Restelo -Avenida das Descobertas - Avenida Eng.Duarte Pacheco - Marquês de Pombal -Avenida Fontes Pereira de Melo - Rua Pi-nheiro Chagas - Avenida Luís Bívar.

17.30 – Saída da Nunciatura, em“Papamóvel”, para o Terreiro do Paço.O trajecto passa pelas seguintes artéri-as: Avenida Luís Bivar – Rua Pinheiro Cha-gas – Avenida Fontes Pereira de Melo –

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OS PASSOS DE BENTO XVI

Marquês de Pombal – Avenida da Liber-dade – Restauradores – Rossio – Rua doOuro – Rua do Comércio – Praça do Muni-cípio – Rua do Arsenal – Terreiro do Paço.

A passagem pela Praça do Município des-tina-se a saudar as pessoas doentes ecom dificuldades de locomoção que aíestarão concentradas.

18.15 – Ao entrar para a celebraçãoeucarística, o Papa dirige-se no“Papamóvel” para o torreão sul do Mi-nistério das Finanças, onde foi prepara-da uma sala para se paramentar.Além da sala destinada a Bento XVI es-tão previstas quatro outras para aparamentação de bispos, padres,diáconos e acólitos.Ainda no exterior, recebe os cumprimen-tos do presidente da Câmara Municipalde Lisboa, António Costa, que lhe entre-ga as chaves da cidade, distinção apro-vada por unanimidade pela edilidade.

No mesmo local recebe outras ofertas:uma pintura de S. Nuno de Santa Maria eum pendão (como forma de agradecimen-to pela canonização do santo português),uma imagem de Nossa Senhora e ofertasdos três clubes de Lisboa (Belenenses,Benfica e Sporting), entre as quais se en-contram camisolas com a designação Ben-to 16 assinadas pelos futebolistas.A missa, em português e em latim (tal comoacontecerá em Fátima e no Porto), seráconcelebrada por cerca de 400 sacerdo-tes – que ajudarão a distribuir as 40 milhóstias da comunhão – bem como 50diáconos, 100 seminaristas e 400 acólitos.Três centenas de cadetes dos três ramosdas Forças Armadas Portuguesas vãoprestar apoio durante a Comunhão juntodos 400 pontos em que ela vai decorrer.ento XVI vai distribuir a comunhão a 30pessoas, situação que se vai repetir nasmissas a que preside em Fátima e no Por-to.Um coro constituído por cerca de 300 vo-zes de vários coros de Lisboa, apoiadopor perto de uma centena deinstrumentistas, de várias orquestras, vaiacompanhar a celebração.O coro é dirigido pelo Pe. Pedro Louren-ço, formado em liturgia pela universida-de de Santo Anselmo, em Roma.A harmonização dos cânticos, bem comoa composição para instrumentos, está acargo do Pe. António Cartageno, compo-sitor do hino de boas-vindas a Bento XVI.

À entrada do Papa, o coro entoará as pa-lavras que Jesus dirigiu a Simão: “Tu ésPedro e sobre esta pedra edificarei a mi-nha Igreja”.O Papa dirige-se depois ao altar em pro-cissão com os ministros.Ao chegar ao altar, faz uma inclinaçãoprofunda, beija o altar e incensa a cruz eo altar.A seguir, dirige-se à cátedra, onde, de-pois de terminado o cântico de entrada, oPatriarca de Lisboa, Cardeal D. José daCruz Policarpo, dá as boas vindas ao San-to Padre.Depois dirige-se para junto dele, paraentregar uma oferta da diocese (Relíquiade S. Vicente) como recordação pela visi-ta apostólica. Bento XVI fará tambémuma oferta à diocese de Lisboa.

Após a oração depois da Comunhão, Ben-to XVI voltado para o Santuário de Cristo-Rei (Almada, Diocese de Setúbal) dirigeuma palavra ao Monumento a Cristo Reie oferece uma casula ao Santuário deCristo Rei.D. Gilberto Canavarro Reis, bispo deSetúbal, e o Reitor do Santuário de CristoRei, Pe. Sezinando Alberto, oferecem tam-bém uma prenda a Bento XVI.20.30 - Após a celebração o Papa dirige-se, em “Papamóvel”, para a NunciaturaApostólica, onde jantará.

O percurso, igualmente em “Papamóvel”,é o seguinte: Terreiro do Paço – Rua daPrata – Praça da Figueira – Rossio – Res-tauradores – Avenida da Liberdade – Mar-quês de Pombal – Avenida Fontes Pereirade Melo – Rua Latino Coelho – AvenidaLuís Bivar.

21.00 - À noite, os jovens reúnem-se emfrente da Nunciatura em oração e cânticosnuma serenata ao Papa, estando previs-to que Bento XVI assome à janela paralhes fazer uma saudação e dirigir umamensagem.

Dia 12 de MaioDia 12 de MaioDia 12 de MaioDia 12 de MaioDia 12 de Maio

07.30 – Celebração, em privado, naNunciatura Apostólica.

09.45 - O Papa, em viatura fechada, se-gue da Nunciatura para o Centro Culturalde Belém, cumprindo o seguinte trajecto:Avenida Luís Bívar - Rua Pinheiro Chagas- Avenida Fontes Pereira de Melo - Mar-quês de Pombal - Avenida Eng. DuartePacheco - Avenida das Descobertas - Ave-nida do Restelo - Avenida Torre de Belém- Avenida da Índia - CCB.

10.00 – Encontro com agentes da culturano Centro Cultural de Belém (Lisboa).

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OS PASSOS DE BENTO XVI

Bento XVI é conduzido ao palco pelo Car-deal Patriarca de Lisboa, D. José Policarpo,onde é recebido por D. Manuel Clemen-te, Presidente da Comissão Episcopal daCultura, Bens Culturais e ComunicaçõesSociais, e pela Ministra da Cultura,Gabriela Canavilhas.

No palco, na mesa da presidência vãoestar Bento XVI (sentado numa cadeirade meados de 1700 em madeira douradae veludo carmesim que pertence ao Mu-seu do Patriarcado de Lisboa, feita para oD. José Manoel Câmara, segundo Carde-al Patriarca de Lisboa), o secretário deEstado do Vaticano, D. Tarcisio Bertone,D. José Policarpo, D. Manuel Clemente eGabriela Canavilhas.

Em duas mesas laterais, com cinco luga-res cada, vão estar o cineasta ManoelOliveira, que fará uma intervenção, o pa-dre Tolentino Mendonça, director do Se-cretariado Nacional da Pastoral da Cultu-ra, a maestrina Joana Carneiro, o presi-dente do Centro Nacional de Cultura epresidente do Tribunal de Contas, Guilher-me de Oliveira Martins, a escultora GraçaCosta Cabral, o presidente do Conselhode Reitores das Universidades Portugue-sas e reitor da Universidade Nova, AntónioRendas, o subdirector da Cinemateca, oescritor e crítico literário Pedro Mexia, oneurocirurgião, escritor e membro do Con-selho de Estado João Lobo Antunes, aactriz Glória de Matos e o presidente daFundação Calouste Gulbenkian, Rui Vilar.

O Coro da Gulbenkian, sob a regência domaestro Jorge Matta, é o responsável portrês momentos musicais, com duas obrasde Francisco António Almeida, “O quamsuavis” (excerto) e “Magnificat” (excerto),e de Diogo Dias Melgás, “RecordareVirgo”.

O encontro inclui uma saudação de D.Manuel Clemente, durante a qual ofere-ce ao Papa uma obra de ourivesaria cria-da por Siza Vieira: um ovo, em prata ebiscuit, que se abre para mostrar umapomba, símbolo do espírito.O mais idoso cineasta em actividade emtodo o mundo, Manoel de Oliveira, foi apersonalidade convidada para fazer umaintervenção, terminando a sessão comum discurso de Bento XVI.Um grupo seleccionado de participantesvai depois apresentar cumprimentos aoPapa.

A organização do evento convidou paraos cumprimentos Emília Nadal (esculto-ra), António Caeiro (tradutor), ManuelBraga da Cruz (reitor da UniversidadeCatólica), Eurico Carrapatoso (composi-tor), Alice Vieira (escritora), José CarlosSeabra Pereira (director da Revista Estu-dos, do Centro Académico de Democra-cia Cristã, de Coimbra), Pedro Calapez(artista plástico), Henrique Leitão (profes-sor da Faculdade de Ciências da Univer-sidade Nova de Lisboa), Alberto Caetano(arquitecto) e Carminho Rebello deAndrade (fadista).

Para estarem presentes no encontro eparticiparem na cerimónia de cumprimen-tos foram também convidados represen-tantes das cinco principais confissõesreligiosas em Portugal: Comunidade Ju-daica (José Carp), Comunidade Hindu(Ashok Hansraj), Aliança Evangélica Por-tuguesa (Fernando Soares Loja), Comu-nidade Islâmica (Abdool Vakil) e Comu-nidade Ismaelita (Nazimudin AhmadMahomed).

11.00 - Dirige-se, em viatura fechada, paraa Nunciatura Apostólica, fazendo o per-curso inverso do da manhã: CCB - Aveni-da da Índia - Avenida Torre de Belém -Avenida do Restelo - Avenida das Desco-bertas - Avenida Eng. Duarte Pacheco -Marquês de Pombal - Avenida FontesPereira de Melo - Rua Pinheiro Chagas -Avenida Luís Bívar.

12.00 – Bento XVI recebe o Primeiro-Mi-nistro, José Sócrates e o Ministro dos Ne-gócios Estrangeiros, Luis Amado, naNunciatura.Neste encontro estará também o CardealTarcisio Bertone.

15.45 – Despedida da Nunciatura Apostó-lica.

16.00 - Viagem, em “Papamóvel”, para oAeroporto.O percurso será também o inverso do efec-tuado no dia da chegada: Avenida LuísBívar - Rua Pinheiro Chagas - AvenidaFontes Pereira de Melo - Saldanha - Ave-nida da República - Entrecampos – Ave-nida dos Estados Unidos da América –Avenida Gago Coutinho – Rotunda doRelógio – Alameda das ComunidadesPortuguesas – Praça do Aeroporto.Junto à Nunciatura estará uma escolta a

cavalo dos alunos do Colégio Militar.

16.40 – Partidas dos três helicópteros deLisboa até Fátima. O Merlin que transpor-ta o Papa é o primeiro a deslocar, fazendoum desvio para sobrevoar o Santuário deCristo-Rei, onde será saudado por crian-ças da diocese de Setúbal.No helicóptero papal vão também algunselementos (12 pessoas) do séquito papal.

17.10 - Em Fátima, no heliporto, a receberBento XVI vão estar o bispo de Leiria-Fá-tima, D. António Marto, a GovernadoraCivil de Santarém, Sónia Sanfona, o Pre-sidente da Câmara Municipal de Ourém,Paulo Fonseca, o Presidente da Junta deFreguesia de Fátima, Natálio Reis, e au-toridades militares.Após a saudação far-se-á uma fotografiacom os pilotos dos helicópterosDirige-se (juntamente com D. AntónioMarto e o secretário particular de BentoXVI), em “Papamóvel”, para o Santuário.

A viagem faz-se no seguinte itinerário:Estádio Municipal (Eira da Pedra),Estradade Minde, Rotunda Sul, Avenida D. JoséAlves Correia da Silva; entrada no Recin-to junto à Igreja Santíssima Trindade.

17.30 - Na Capelinha das Aparições esta-rá o Reitor do Santuário, Pe. VirgílioAntunes, para saudar Bento XVI.O acolhimento musical é feito pelo CoroInfantil do Santuário de Fátima, o “ScholaCantorum Pastorinhos de Fátima”, ento-ando o Hino da Visita, “Bem-vindo, SantoPadre”.Segue-se uma oração de Bento XVI (pri-meiro em silêncio e depois em voz alta),na qual faz uma referência a João PauloII e à protecção de Nossa Senhora deFátima na tarde de 13 de Maio de 1981,quando sofreu o atentado na Praça deSão Pedro, em Roma.

O Papa faz depois a oferta da Rosa deOuro ao Santuário, após o que parte de“Papamóvel” para a Igreja da SantíssimaTrindade onde se paramentará para acelebração das Vésperas.

18.00 - Esta cerimónia, que vai contar comcerca de 5.000 sacerdotes e seminaris-tas, começa com uma saudação de D.António Francisco Santos, bispo de Aveiroe Presidente da Comissão Episcopal dasVocações e Ministérios.O Papa faz aqui o primeiro dos três dis-

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cursos previstos para Fátima.Terminada a oração conclusiva de Vés-peras, segue-se um momento de silênciopara a adoração e oração pessoal.Bento XVI volta a tomar lugar no“Papamóvel”, dirigindo-se para a Casa deNossa Senhora do Carmo, onde fica alo-jado e toma as refeições.

21.30 - Depois do jantar, o Papa dirige-se,de novo no “Papamóvel”, para aesplanada do Santuário, onde inicia, pe-las 21.30, a vigília com a oração do Terço.O reitor do Santuário oferece a Bento XVIo rosário oficial do Santuário.Bento XVI fará também uma meditação eapós o Terço retira-se para a Casa deNossa Senhora do Carmo.Segue-se a Procissão de Velas e a Mis-sa, presidida pelo cardeal TarcisioBertone.

Dia 13 de MaioDia 13 de MaioDia 13 de MaioDia 13 de MaioDia 13 de Maio

Saída da Casa do Carmo, em“Papamóvel”, para a Capelinha das Apa-rições onde se paramentará. Aí integra-se na procissão.

10.00 – Missa na esplanada do Santuá-rio. Na presidência da celebração, BentoXVI será ladeado por D. António Marto epelo Cardeal Tarcisio Bertone.O Bispo de Leiria-Fátima dá as boas vin-das ao Papa.Depois dirige-se para junto dele, para re-ceber uma oferta como recordação pelavisita apostólica.A homilia da missa é feita por Bento XVI.Nos ritos finais, Bento XVI saúda e benzeos doentes junto à Colunata Norte. No fi-nal da celebração, o Papa cumprimenta-rá o Presidente da República à entradada Basílica.Visitará depois o túmulo dos pastorinhos,no que será acompanhado pelo bispo deLeiria-Fátima e pelo Reitor do Santuáriode Fátima.Após a visita, dirige-se, em “Papamóvel”,para a Casa do Carmo.

13.00 – Almoço com os bispos de Portu-gal e com o séquito papal.

Mais tarde, mais uma vez de“Papamóvel”, dirige-se para a Igreja daSantíssima Trindade, onde, às 17.00, pre-side ao encontro com os membros dasorganizações da Pastoral Social.

O encontro começa com uma saudaçãodo Presidente da Comissão Episcopal daPastoral Social, D. Carlos Azevedo, a quese segue a celebração da Palavra e umdiscurso de Bento XVI.As preces serão feitas por Isabel Jonet,Presidente do Banco Alimentar Contra aFome. Após o discurso aos agentes daPastoral Social, o Papa faz a bênção daprimeira pedra da «Unidade de CuidadosContinuados Bento XVI» que a União dasMisericórdias Portuguesas irá construirem Fátima.

Antes de saída da Igreja da SantíssimaTrindade, Bento XVI cumprimentará 15 fi-guras ligadas às organizações da Pasto-ral Social.Nessa comitiva estará incluída, entre ou-tros, a Ministra da Saúde, Ana Jorge, oPresidente da Cáritas, Eugénio da Fonse-ca, o Presidente da Confederação Nacio-nal das Instituições de Solidariedade(CNIS), Pe. Lino Maia, e o Presidente daUnião das Misericórdias, Manuel Lemos.

O encontro é animado pelo Grupo FigoMaduro, constituído por mãe e quatro fi-lhos e que já tinha cantado para João

Paulo II em 2000, no dia 12 de Maio, quan-do o Papa de então chegou ao aeroportomilitar de Figo Maduro, que acabou pordar o nome ao grupo.

No final regressa de “Papamóvel” à Casade Nossa Senhora do Carmo.

18.45 – Encontro dos bispos de Portugalcom Bento XVI na Casa de Nossa Senho-ra do Carmo.O encontro é aberto pelo presidente daConferência Episcopal Portuguesa, D. Jor-ge Ortiga, que dirige uma saudação aoPapa.Os bispos portugueses oferecem ao Papaum conjunto de 20 aguarelas, da autoriade Avelino Leite.As aguarelas têm como temática os mis-térios do Rosário.No encontro, Bento XVI faz o terceiro eúltimo discurso de Fátima.

Dia 14 de MaioDia 14 de MaioDia 14 de MaioDia 14 de MaioDia 14 de Maio

08.00 – Despedida da Casa de Nossa Se-nhora do Carmo.

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08.40 - Partida para o Porto em Helicóp-tero.O percurso em “Papamóvel” entre a Casade Nossa Senhora do Carmo até ao Está-dio Municipal de Fátima é o inverso dachegada no dia 12: Casa de Nossa Se-nhora do Carmo - Avenida D. José AlvesCorreia da Silva - Rotunda Sul - Estradade Minde - Estádio Municipal (Eira daPedra)

Na despedida estarão as mesmas autori-dades que estavam à chegada. Na via-gem até ao Porto, o helicóptero que trans-porta o Papa sobrevoa as vinhas do Alto-Douro, Património Mundial da UNESCO.

09.30 – Chegada ao heliporto da Serra doPilar (Gaia), ao Regimento de Artilharianº 5. Nesse local estará o bispo do Porto,D. Manuel Clemente, o presidente daCâmara Municipal de Gaia, Luis FilipeMenezes, a Governadora Civil do Porto,Isabel Santos, o chefe do Estado Maiordo Exército, general José Pinto Ramalho,e o Comandante do Regimento, coronelPedro Calado.

Depois da saudação, Bento XVI segue em

“Papamóvel” para a Avenida dos Aliados,Porto, onde vai presidir à missa.

O trajecto é o seguinte: Ponte do Infante- Rua Alexandre Herculano - Rua do Du-que de Loulé - Rua General Sousa Dias(Viaduto Duque de Loulé) - Rua Saraivade Carvalho - Av. Afonso Henriques - Pç.Almeida Garrett - Praça da Liberdade - Av.Aliados

Ao chegar à Avenida, o “Papamóvel” dáuma volta completa à zona, antes de sedirigir para o edifício da Câmara Munici-pal do Porto, onde Bento XVI é recebidopelo presidente da Câmara, Rui Rio.

Depois de se paramentar numa sala daCâmara Municipal, o Papa dirige-se parao altar, para dar início à celebração, pre-vista para as 10.15.Terminado o cântico de entrada, o bispodo Porto, D. Manuel Clemente, dá asboas-vindas ao Papa. Depois dirige-separa junto de Bento XVI para entregar aoferta da Diocese e receber do Papa umarecordação pela visita apostólica.Serão oferecidas também algumas pren-das a Bento XVI; a Universidade do Porto

e a Universidade Católica, por exemplo,entregam dois produtos resultantes dainvestigação científica.Na bênção conclusiva, Bento XVI benzetambém a primeira pedra do SeminárioRedemptoris Mater, que ficará instaladono Seminário do Bom Pastor, no Porto.

13.30 – Cerimónia de despedida no Aero-porto Sá Carneiro (Porto).A viagem é feita em viatura fechada, como seguinte trajecto:Av. Aliados - Pç. General Humberto Del-gado - R. Heróis e Mártires de Angola - R.Camões - R. S.Brás - R. Cantor Zeca Afon-so - R. António Cândido - R. Faria Guima-rães - VCI

Na cerimónia de despedida no AeroportoInternacional Sá Carneiro vão estar o Pre-sidente da República, Aníbal Cavaco Sil-va, e outras entidades civis e militares.

Ouvem-se os hinos nacionais (Portugal eSanta Sé), seguindo-se as intervençõesde despedida do Papa e do Presidenteda República.14.00 – Partida de avião da TAP paraRoma.

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D. José Policarpo analisa as transforma-ções sociais e eclesiais e a oportunidadeque constitui a visita de Bento XVI a Por-tugal.

Agência Ecclesia – Que oportunidadeconstitui esta visita de Bento XVI a Portu-gal?D. José da Cruz Policarpo – É a oportuni-dade de estar com o Papa, o que não éfrequente! É uma novidade dos últimos50 anos: as igrejas de todo o Mundo po-dem estar fisicamente com o Santo Pa-dre. E isso é sempre importante porque oPapa é sempre o Papa, independente-mente da pessoa.Para a Igreja o Papa é um sacramento,desenvolve um ministério único, o minis-tério de Pedro, é o garante a unidade. E aunidade não é só estarmos bem uns comos outros. Trata-se de garantir a unidadena fé, por exemplo, e que hoje é um pro-blema difícil em virtude da variedade deopinião, do fenómeno - que já existe des-de o início da Igreja mas que hoje é maisabundante - das pessoas usarem o seudireito de pensar a fé. Esta unidade da féé absolutamente fundamental. E estePapa, além do ministério que é o dele, agraça própria do ministério de Pedro, éum homem muito preparado para isto,pela sua formação teológica e pelo esta-tuto que tem de grande teólogo, talvezdos maiores de todos os tempos.

AE – Inscreve-se nessa construção daunidade o diálogo com os anglicanos?

CP – O problema ecuménico é um proble-ma velho na Igreja, uma das chagas daIgreja. E mostra que esta unidade não éfácil. Aliás, a Igreja sentiu desde o princí-pio esse desafio, que é também um de-safio da Humanidade. Hoje, com aglobalização e com o mundo contempo-râneo, é um desafio mais premente: fa-zer a unidade apesar das diferenças (émais fácil fazer unidade na uniformida-de, serem todos iguais, pensarem todosda mesma maneira, comportarem-se to-dos da mesma maneira).A Igreja sempre aceitou este desafio! In-felizmente ao longo dos séculos não foifácil e não foi possível manter essa uni-dade na diferença. As diferençasautonomizaram-se, aconteceram separa-ções e cismas. Esse é certamente um dos

desafios que se põem à Igreja desde queas separações começaram a acontecer.E começaram a acontecer muito cedo.Há uma coisa que, ao mesmo tempo, nosfaz pensar e é uma interpelação para aIgreja Católica: verificar que a unidadeentre essas diferenças é mais difícil ain-da do que deles com a Igreja Católica. AIgreja Católica, o Papa concretamente,continua a ser o grande pólo, a grandehipótese! Todos dialogam com o Papa.Mas não dialogam todos uns com os ou-tros!

AE – O ministério do Sucessor de Pedroestá também na origem de muitas sepa-rações?JCP – As grandes separações dentro daIgreja tiveram sempre na sua origem adificuldade de aceitar o ministério dePedro. A primeira grande separação foi ade Constantinopla, no século XI, e é sem-pre a dificuldade de aceitar que a últimapalavra é a de Pedro, do sucessor dePedro.Hoje, penso que toda a gente olha para oPapa com simpatia.

AE – O Papa João Paulo II lançou o deba-te acerca do ministério do sucessor dePedro. Esse é um debate que está emaberto na Igreja?

JCP – Não é propriamente um debate.O Papa João Paulo II foi sensível a su-gestões que surgiam no âmago do pro-cesso ecuménico, sobretudo nas IgrejasOrtodoxas, que estariam dispostas a umacerta unidade global se o Papa não fos-se o que é.Foi por acaso na missa do dia em que fuicardeal que João Paulo II lançou essedesafio: pediu-nos que o ajudássemos ereflectir em novas formas de exercício doministério de Pedro. Mas depois terminoua frase dizendo: “mas como é que pode-mos renunciar a mil anos de exercício in-discutível do ministério de Pedro?”É evidente que a Igreja Católica não poderenunciar ao ministério de Pedro como aúltima palavra decisiva em questões defé, de compreensão do que é a Igreja.Não creio que seja uma certeza que estáem debate. A Igreja Católica está abertaa formas novas desse exercício. Até emcomunhão com os outros irmãos, porexemplo as grandes igrejas ortodoxas.

Já surgiu uma sugestão, e eu próprio tam-bém a apoio: que se realizasse uma es-pécie de sínodo entre os grandes chefesdas Igrejas para que as grandes ques-tões fossem vistas em conjunto. Mas des-de que o Papa seja o Papa!

Bento XVI pela esperançaBento XVI pela esperançaBento XVI pela esperançaBento XVI pela esperançaBento XVI pela esperança

AE – O Papa vem a Portugal numa alturaem que a sociedade está a atravessaruma crise económica e financeira quepoderá potenciar um clima de contesta-ção como já existe na Grécia. Que sinaisde esperança espera que a viagem deBento XVI possa trazer a Portugal?

JCP – Na medida que as experiências es-pirituais fortes existam elas têm influên-cia na vivência das dificuldades que asociedade atravessa.Nesse sentido, não só a vinda do Papamas uma seriedade na vivência da fé.É um facto que o sofrimento torna as pes-soas mais sensíveis à dimensão espiritu-al. Oxalá Portugal e a Europa possamperceber isso: que as dificuldades nosabrem, nos façam fazem perceber que“nem só de pão vive o Homem”, como dizo Evangelho, que há outras dimensõesque são mais profundamente humanasque as materiais, que nos dão força, luz eresistência para vencer as dificuldades.De resto os dois fenómenos não têm ne-cessariamente convergências um com ooutro. O Papa vem a um país que estácom algumas dificuldades, já foi a outroque estava com maiores. A Igreja tem aíuma palavra de calma, de esperança ede iluminação através da sua DoutrinaSocial.

AE – Que diferenças se descobrem nasociedade de hoje em relação àquela vi-sitada pelo Papa João Paulo II?JCP – Não encontro assim tantas diferen-ças… As diferenças que existem decor-rem da evolução da sociedade e da cul-tura.Do ponto de vista das questões sociais epolíticas há diferenças: entramos na zonaEuro, adoptamos parâmetros e modelosde bem-estar que não estavam acessí-veis no ritmo normal ao crescimento dePortugal.O acesso a determinados patamares debem-estar tem duas características: por

O povo português está a abdicar de saber quem é

LISBOA

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um lado dificilmente são ao mesmo tem-po para toda a gente o que cria clivagensna sociedade; por outro lado, cria neces-sidades e parâmetros de “apetite” que,se não são satisfeitos, criam muito mal-estar.O que nós hoje estamos a sofrer são asdoenças próprias de uma sociedade de-senvolvida. Nesse aspecto sim: estamosnum outro patamar de progresso, mastambém de problemas, diferente do queestávamos em 1982, a primeira vez que oPapa veio a Portugal. É bom que o povoportuguês tenha consciência: o queestamos a viver são as consequências e,de certo modo, as frustrações de um sis-tema em que estamos metidos e que tam-bém tem as suas vantagens.O que há de novo hoje em relação a 1982e a 1991, quando Santo Padre veio a se-gunda vez, é o fenómeno daglobalização. Nós somos muito maisinterdependentes. A maioria das pesso-as não o sente, mas isso tem umaconsequência real na formação de opi-nião, na maneira como as pessoas rea-

gem aos problemas…O Santo Padre pode ajudar-nos a termoscalma e serenidade porque, desde que opovo português tenha consciência naverdade dos problemas reais e dos cami-nhos necessários para os superar, eu nãoacredito que o povo português não se unapara os resolver. Estamos num patamarjá muito avançado da civilização. Quan-do ouço falar em todas crises, faz-meimpressão que as pessoas não digam, aomesmo tempo, que estamos entre os 21países mais desenvolvidos do Mundo!Na época de globalização, não podemosver os nossos problemas a olhar para onosso umbigo, temos que os situar noconjunto da Humanidade em queestamos inseridos e - repito a ideia - des-de que os problemas sejamequacionados com objectividade e comverdade e o povo português assuma queas soluções apontadas são necessárias,eu não acredito que o povo portuguêsque, ao longo da sua história deu tantasprovas de ser capaz de lutar contra asadversidades, que não o faça.

Eu penso que estas crises não só superá-veis como provocam o crescimento e odesenvolvimento.

Diminuímos o número de cristãos queDiminuímos o número de cristãos queDiminuímos o número de cristãos queDiminuímos o número de cristãos queDiminuímos o número de cristãos queandam a fazer de contaandam a fazer de contaandam a fazer de contaandam a fazer de contaandam a fazer de conta

AE – E a Igreja que hoje acolhe Bento XVIé uma Igreja muito diferente da que aco-lheu João Paulo II tendo em conta todosesses desenvolvimentos?

CP – É a mesma. A Igreja é um fenómenoque vive perfeitamente inserida no tem-po, mas tem uma capacidade de resis-tência ao tempo. Porque tem uma men-sagem de eternidade e acredita na vidaeterna, quando muita gente não acredi-ta. O que não é um pormenor: marca pro-fundamente a maneira de estar no Mun-do e de viver esta história em que nósestamos inseridos.Não é uma Igreja diferente. Mesmo nu-mericamente. É uma Igreja que sentehoje, talvez com mais acuidade, algunsdesafios que já nessa altura se punham.É uma Igreja que ou se afirma pela au-tenticidade da sua fé ou tem pouca influ-ência no Mundo em que está inserida.Diminuímos o número de cristãos queandam a fazer de conta! Temos de sercristãos a sério.É o desafio duma radicalidade e autenti-cidade, que sempre existiu. Encontramo-lo em todas as páginas do Evangelho eagora na nossa Igreja, no princípio doséculo XXI, com o fenómeno de umadescristianização e de uma seculariza-ção muito intensa. Nós não estamos so-zinhos! Vivemos numa sociedade ondeexistem outras forças que querem mar-car a sua presença, porventuradominadora em termos de compreensãodo Homem, de compreensão da vida e daHistória. É a sociedade plural.Mas não ficamos de braços cruzados.Queremos marcar a nossa visão do Ho-mem e da vida numa sociedade onde háoutras visões do Homem e da vida. Essesdesafios são porventura mais acutilanteshoje do que eram há 30 anos.

AE – O Patriarcado de Lisboa passou porum projecto de evangelização, o ICNE(Congresso Internacional para a NovaEvangelização). Introduziu diferenças navida da Igreja e na convicção dos católi-cos?JCP – Já nessa altura do ICNE avisei osentusiastas da minha posição: que não

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estivessem à espera de resultados ime-diatos e visíveis.Aconteceu uma sensibilidade nova à uni-versalidade. Pela primeira vez a diocesede Lisboa sentiu-se irmã e em igualdadede circunstâncias com Viena de Áustria,com Paris, com Bruxelas, Com Budapes-te… Isso foi importante!Há um facto, que nunca mais esquecerei:um grupo de congressistas de Lisboa foifiel e estive em todos os congressos. Issofoi uma experiência nova para a Igreja deLisboa.Por outro lado, permanece a intuição deque há uma atenção particular às gran-des cidades. Ser Igreja numa grande ci-dade não é a mesma coisa de uma dioceserural. Essa sensibilidade existiu. Dá pas-sos curtos. Mas nós próprios, neste mo-mento, estamos com processos de refle-xão pastoral que nos levam a admitir que,numa grande cidade, há ritmos e esque-mas que não são os mesmos das Caldasda Rainha ou de Alcobaça.Depois houve uma maior sensibilidadedada à missão e isso levou a que haja,ainda hoje, vigararias que organizam ex-periências missionárias. E esta sensibili-dade à missão cresceu e muitos milharesde pessoas, todos os anos, jovens e me-nos jovens e até casais, fazem experiên-cias missionárias, quer cá dentro quer láfora.Há ainda intuições de fundo, que quandoaderimos ao programa já tínhamos, comoa revisão do que é ser cristãos, a forma-ção dos cristãos e a participação dos lei-gos. Uma grande conquista do ICNE é umaconsciência mais aguda de que a missãoda Igreja é obra de todos e não só dosbispos e padres.Isto já é muito. Mas não se contabiliza. Éuma alma que se vai renovando.

Igreja em renovaçãoIgreja em renovaçãoIgreja em renovaçãoIgreja em renovaçãoIgreja em renovação

AE – “É preciso mudar o estilo de organi-zação da comunidade eclesial portugue-sa e a mentalidade dos seus membrospara se ter uma Igreja ao ritmo do Concí-lio Vaticano II”. São palavras do PapaBento XVI dirigidas ao episcopado portu-guês na última visita Ad Limina (em 2007).Que consequências teve este desafio?JCP – Descobrimos posteriormente que odesafio que o Santo Padre nos lançou ti-nha sido inspirado num outro discurso auma outra conferência episcopal. Issoacontece!O Santo Padre disse-o e nós levamo-lo a

sério. Mas ele apareceu-nos, na altura,um pouco desajustado em relação aosnossos relatórios (antes da visita AdLimina nós apresentámos um longo rela-tório dos 5 anos da diocese. O meu tinha160 páginas)Ainda em Roma nós fizemos uma reuniãoonde eu próprio, a pedido do Presidenteda Conferência Episcopal Portuguesa,lancei um repto de caminhos de renova-ção. A Conferência Episcopal assumiu-oe está em curso, num ritmo que tem a sualentidão. Neste momento encontra-senuma fase muito interessante: perscru-tar, levar as igrejas todas a pensar em simesmas e ouvir o mundo para percebernovos caminhos da missão. Esta é umagrande resposta. Se todas as Conferênci-as Episcopais dessem uma resposta des-tas aos discursos do Papa no fim de visitaAd Limina seria muito bom.

AE – Numa recente entrevista à ECCLESIA,o Ministro da Presidência disse que o Papaviria a Portugal num momento em que há

um bom ambiente nas relações entre oEstado e a Igreja. Concorda com esta afir-mação?JCP – Nós não queremos, seja com quegoverno for, um ambiente de conflito por-que não é essa a maneira da Igreja estarem diálogo com a sociedade. Que não seconfunda isso com uma identificação comos critérios de cada governo.A Igreja, numa sociedade democrática,tem obrigação - no meu caso quero tam-bém – de dialogar respeitosamente, parabem da sociedade, com todos os gover-nos legitimamente empossados.Eu sou partidário e estou profundamenteconvencido que uma conversa francaentre nós e os responsáveis públicos so-bre os problemas que se põem à Naçãona óptica da Igreja é mais fecundas doque qualquer manifestação.Essa é a política que nós temos seguidoe que, devo dizer, temos sidocorrespondidos pelos governos, indepen-dentemente do partido.Quando começámos a revisão da

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concordata - como Patriarca de Lisboa,não fiz parte da comissão negocial daSanta Sé, mas fui sempre ouvido - luteimuito (e o Governo de então partilhou daminha perspectiva) para que não se tra-tasse de fazer retoques na concordata.Em causa estava um espírito novo. Evitá-mos a expressão “Nova Concordata” por-que sabíamos que ia contra os princípiosdo Cardeal Secretário de Estado de en-tão. Mas, no fundo, era uma nova versão.Porquê nova: porque o princípio que ainspirava era o da cooperação. Cada umna sua diferença, a laicidade do Estado ea independência da Igreja num estadolaico, mas cada um na sua missão espe-cífica. O princípio da cooperação para obem da sociedade. Este princípio inspiraa concordata do primeiro ao último nú-mero e exprime bem o que deve ser.É evidente que podem existir focos queparecem conflitos, mas nós não quere-mos conflitos. Conhecemos as diferençase dizemos francamente a Doutrina daIgreja quando as diferenças são mais

importantes e notórias.Veto político: a última afirmação presi-dencial

AE – Há um processo legislativo prestesa terminar: o casamento de pessoas domesmo sexo. O que desejaria que o Pre-sidente da República fizesse neste mo-mento?JCP – Não tenho coragem de lhe dar umconselho até porque constitucionalmen-te a margem dele não é muito grande.Tenho muita pena que a pessoa do Prof.Aníbal Cavaco Silva, de quem sou amigohá muito tempo, tenha de assinar uma leidessas.Só vejo o veto político como uma formade ele marcar a sua posição pessoal.Eu costumo dizer que há dimensões naEuropa de hoje nas quais “temos de be-ber o cálice até ao fim”. Passa de paíspara país, com grande lobby internacio-nal.É uma questão grave, não em si mesma.É uma questão antropológica de compre-

ensão da pessoa humana, em si mesmae na família. É uma questão de civiliza-ção. E a história mostra que quando ascomunidades se afastaram da sã culturada pessoa humana não foram longe.

Eu diria que é um “pormenor” no conjun-to da vida da Nação, mas com particularsignificado para aquilo que nós somoscomo povo, para o espírito que nos ani-ma, para aquilo que pensamos de nósmesmos.

Um povo, como uma pessoa, nunca podeabdicar de ter uma ideia de si mesmo:quem és tu? O que andas aqui a fazer? Oque pensas da vida?

Um povo não pode abdicar disso. Sintoque o povo português está a abdicar desaber quem é!

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D. Carlos Azevedo, coordenador geral daComissão Organizadora da Viagem Apos-tólica de Bento XVI, é também o respon-sável pela Comissão de Lisboa. Em en-trevista à Agência ECCLESIA, levanta aponta do véu sobre os vários momentosque o Papa vai viver na capital portugue-sa, ao longo de mais de 24 horas.

Agência ECCLESIA (AE) - As paróquias re-ceberam uma brochura com informaçõessobre a visita do Papa à diocese de Lis-boa. Que informações são importantesreter?D. Carlos Azevedo (CA) - São informaçõespráticas. Incidem sobre os locais onde aspessoas se podem deslocar, com indica-ções precisas para estacionamento se oautomóvel for o veículo de transporte. Noentanto, pedimos que, de preferência, aspessoas se desloquem em transportespúblicos, que vão ser reforçados, em es-pecial na hora de saída. Prevemos que achegada seja paulatina, mas a saída serásimultânea.A acompanhar a brochura de informaçõesseguiu também uma pagela com uma ora-ção para que a visita seja preparada es-piritualmente.

AE - Há lugar para o imprevisto numa visi-ta agendada ao minuto? Encontros doPapa que não estão agendados com osjovens ou com amigos portugueses?CA - Não está previsto. Para a Nunciaturaestá previsto o encontro com o Primeiro-Ministro, José Sócrates, e com o Ministrodos Negócios Estrangeiros, Luís Amado.É possível que haja alguma surpresa nanoite com os jovens. Nós assim o deseja-mos, que o Santo Padre possa ir à janelae saudar os jovens.

AE - Será suficiente para os jovens o Papadirigir-se à janela?CA - A mensagem de esperança que Ben-to XVI envia aos jovens, o lugar que lhesestá reservado nas celebrações mostraque, como povo de Deus, os jovens estãocada vez mais inseridos na comunidadee na pastoral. Não querendo criar um gru-po à parte, também é bom o contacto di-recto.

AE - O próprio Bento XVI cria esse contac-to em muitas viagens apostólicas querealizou...CA - Mas em Portugal era impossível. O

Muito para (vi)ver em Lisboaprograma feito para a visita não permitiaisso. Em 2011 está prevista a JornadaMundial da Juventude, para Madrid. Pen-samos que dada a proximidade muitosjovens portugueses se preparam para ira Espanha. De qualquer forma é simpáti-co que os jovens queiram estar com oPapa e, certamente, Bento XVI vai res-ponder a esta vontade e irá saudá-los.

AE - Sobre a celebração eucarística noTerreiro do Paço, os paramentos, o mis-sal, o leccionário ou o evangeliário irãosair do Tesouro da Sé de Lisboa?CA -As peças foram escolhidas e estãoainda a ser confirmadas mas em princí-pio serão do Museu da Sé de Lisboa e deSão Vicente de Fora.

AE - Os paramentos do Papa chegam doVaticano?CA - Não sabemos ainda. Temos uma pro-posta. Vai depender do clima nesse dia.Temos um paramento possível feito emPortugal. O Vaticano traz outro. Dependedas circunstâncias do clima. Os paramen-tos para os bispos são feitos em Portugale são novos, tanto as mitras como os pa-ramentos. Haverá um ar de festa.

AE - O paramento para Bento XVI foi feitode propósito?CA - Sim, para a medida e para o gostoque sabemos que o Papa tem nos para-mentos que usa. Foi já visto pelo respon-sável pelas celebrações pontifícias, oMonsenhor Guido Marini, quando esteveem Portugal, e ficou dependente do cli-ma, devido ao peso do paramento.

AE - E depois, será oferecido ao Papa oupoderá integrar o espólio do Tesouro daSé?CA - Ainda não imaginámos.

AE - Mas está nos planos da diocese?CA - Bom, sabemos que o Santo Padre vaitrazer um presente para cada uma dasdioceses e a diocese de Lisboa vai tam-bém dar-lhe um presente. Lisboa vai ofe-recer-lhe uma relíquia de São Vicente.

AE - Sobre o encontro com o mundo dacultura, a decorrer em Lisboa, o númerode participantes está fechado?CA - As inscrições fecharam na passadaSexta-feira (dia 23 de Abril). Temos umalista de espera de pessoas que manifes-

taram interesse em estar presentes.Aguardamos as respostas aos convites.

AE - Que critérios estiveram na base dosconvites?CA - Quisemos ter presente a repre-sentatividade cultural. Não podem estarpresentes todas as pessoas. Por isso pro-curámos que as personalidades presen-tes pudessem representar as diferentesáreas – da arte, do saber, do mundo daciência e das letras. Pedimos a cadadiocese que apresentasse sugestões eas pessoas indicadas tiveram a primaziado convite, tal como entidades oficiais,as várias academias, universidades, tam-bém alguns estudantes finalistas dasvárias universidades de Lisboa.

AE - Há nomes que são cartão de visita nopanorama cultural português?CA - Sim, pessoas muito representativascomo poderão ver no dia 12 de Maio.

AE - Está previsto um encontro entre aMinistra da Cultura, Gabriela Canavilhas,e o Papa Bento XVI?CA - A senhora Ministra da Cultura vai tera oportunidade de cumprimentar o Papano encontro. Está previsto um encontrocom algumas personalidades represen-tativas. A senhora Ministra, enquanto res-ponsável pela pasta da cultura, represen-ta a cultura portuguesa no seu todo. Noencontro poderá ao cumprimentar, dirigiralgumas palavras.

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CULTURA

Representantes das principais confis-sões religiosas em Portugal vão estar pre-sentes no Encontro de Bento XVI com oMundo da Cultura (dia 12 de Maio, emLisboa) e no final vão participar na restri-ta cerimónia de cumprimentos ao Papa.Segundo o Coordenador-geral da Visita,D. Carlos Azevedo, desde o início esteveprevisto que seria no âmbito do Encontrocom a Cultura que se situaria o DiálogoInter-religioso. Para o encontro foram con-vidados representantes da Aliança Evan-gélica Portuguesa (Fernando Loja), dasComunidades Israelita (José Carp), Hindu(Ashok Hansraj), Islâmica (Abdool Vakil)e Ismaelita (Nazimudin AhmadMahomed).

Cultura espera palavra inconformista de Bento XVIO director do Secretariado Nacional daPastoral da Cultura, Pe. José TolentinoMendonça, acredita que Bento XVI vai sercapaz de “uma palavra inconformista” e“audaciosa” na sessão marcada para 12de Maio no Centro Cultural de Belém.“Penso que a mensagem do Santo Padrechegará de certeza aos corações, e só asua presença é uma consolação e umestímulo para todos aqueles que se re-conhecem nos valores universais, da paz,da comunidade humana e da justiça”, dis-se o sacerdote à ECCLESIA.“Não é preciso ser cristão para estar pre-sente”, afirmou o biblista, recordando quea sessão com o mundo da cultura que vaiocorrer em Lisboa é o único momento nãolitúrgico na visita do Papa.No entender do Pe. Tolentino Mendonça,“o eco e o impacto” das intervenções deBento XVI “vão muito para lá das frontei-

ras do catolicismo”, pelo que o encontroacolhe “criadores, investigadores e ho-mens e mulheres ligados ao ensino e àcultura nas suas várias modalidades, queencontrem na pessoa do Papa uma refe-rência nesta construção comum do mun-do”.“O que é necessário – prosseguiu – é essavontade de dialogar, de escutar, de parti-cipar numa assembleia que por sua na-tureza é de uma cordialidade imensa” e“ao mesmo tempo com uma carga sim-bólica muito forte”.O sacerdote destacou também “o desejode o Santo Padre encontrar-se com a gen-te da cultura nesta sua passagem por Lis-boa e por Portugal” e assinalou que Ben-to XVI “é exemplar no sentido em que asua palavra vai ao encontro de uma ex-periência que todos realizam”.Para o Pe. Tolentino Mendonça, a rela-

ção entre cristianismo e cultura é “natu-ral” porque “a fé não é uma abstracção,mas traduz-se num estilo de vida e numdeterminado olhar sobre a pessoa huma-na”.O responsável pela Pastoral da Cultu-ra afirma que o catolicismo é um “lugarde inspiração para essa tensão históri-ca e utópica que é a procura de ummundo mais coerente e consistente emtermos dos seus valores e das suas pro-curas”.A esperança – que, recordou o sacerdote,foi objecto de uma das encíclicas de Ben-to XVI – é uma das contribuições que aIgreja pode dar ao país: “Sendo esta umahora de encruzilhada, com as dificulda-des que conhecemos, é também um mo-mento de transformação, de possibilida-de de novos caminhos”, frisou o Pe.Tolentino Mendonça.

«Ovo» de Siza para impressionar o PapaUm «ovo» de prata desenhado por SizaVieira é o presente que os representan-tes do mundo da Cultura vão oferecer aBento XVI , no final do encontro que vãomanter com o Papa a 12 de Maio, no Cen-tro Cultural de Belém, em Lisboa.A peça de ourivesaria foi apresentadaesta Sexta-feira aos jornalistas, a quemSiza confessou ter ficado “aflito” quan-do recebeu o convite.“Primeiro veio a ideia de uma pomba,porque é hábito dar à pomba umasimbologia com múltiplos significados”,referiu. Depois, veio a ideia de criar uma“caixa” com a forma de um ovo.Em declarações à ECCLESIA, o arquitectoportuguês admitiu ter-se inspirado a re-ferências que todos têm no espírito. SizaVieira trabalhou com “plena liberdade deescolha” e não levou “muito tempo” adefinir aquilo que queria fazer.“Foi um trabalho tranquilo e não foi feitono meio de obstruções, crises ou polémi-cas”, assegura, revelando que não po-derá estar presente no dia em que a peçavai ser entregue ao Papa.D. Carlos Azevedo, Coordenador-geral davisita de Bento XVI a Portugal, confes-sou-se “muito impressionado” com o re-sultado do trabalho, no qual vislumbra a“energia da simplicidade”.Assinada pelo arquitecto Siza Vieira, apeça foi executada pelo ourives Manuel

Alcino. Trata-se de um trabalho em pratae biscuit (porcelana não vidrada), querepresenta a inspiração e o Espírito San-to.Aludindo à forma de ovo, com uma dimen-são de “renascimento”, o Coordenador-geral da visita de Bento XVI disse ser es-sencial encontrar “algo que ajude a ir àessência das coisas”, ajudando a encon-trar um “renascimento espiritual”. D.Carlos Azevedo destacou ainda o “alcan-ce” da personalidade escolhida para de-senhar este presente para o Papa.

A peça será entregue por D. Manuel Cle-mente, presidente da Comissão Episco-pal da Cultura, Bens Culturais e Comuni-cações Sociais, no encontro que irá de-correr no Centro Cultural de Belém.Sobre os preparativos gerais da visita, D.Carlos Azevedo assegurou que está tudoa “correr muito bem” e a ser tratado“atempadamente”. “Tudo está a postospara receber de modo belo, feliz e festi-vo o Santo Padre”, concluiu, recusandocomparações do actual Papa com JoãoPaulo II.

Representantes das principais confissões religiosasRepresentantes das principais confissões religiosasRepresentantes das principais confissões religiosasRepresentantes das principais confissões religiosasRepresentantes das principais confissões religiosas«Todos manifestaram uma grande hon-ra, uma grande graça, por poderem terum momento, ainda que breve, para cum-primentar o Santo Padre», referiu D. CarlosAzevedo.O Encontro com o Mundo da Cultura de-corre no dia 12 de Maio, estando já com-pletamente esgotada a lotação prevista.Na mesa da presidência do Encontro vãoestar, além de Bento XVI, o secretário deEstado do Vaticano, cardeal TarcisioBertone, o Cardeal Patriarca de Lisboa, D.José Policarpo, o Bispo do Porto e presi-dente da Comissão Episcopal da Cultura,Bens Culturais e Comunicações Sociais,D. Manuel Clemente, e a ministra da Cul-tura, Gabriela Canavilhas.

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CULTURA

D. Manuel Clemente, presidente da Co-missão Episcopal da Cultura, Bens Cultu-rais e Comunicações Sociais, fala àECCLESIA sobre as suas expectativas parao encontro de Bento XVI com o mundocultural português, no próximo dia 12 deJaneiro.O Bispo do Porto considera que o Papa éuma “grande referência cultural” nosnossos dias.

Agência ECCLESIA (AE) – Que expectati-vas tem D. Manuel Clemente para o en-contro do Papa com o mundo da culturaem Portugal?D. Manuel Clemente (MC) – A cultura faz-se no dia-a-dia, em variadíssimas activi-dades e na criatividade dos homens emulheres da cultura, da literatura, dasartes plásticas, da música. Depois, tam-bém é bom que haja uma oportunidadede encontro, que as pessoas se vejamumas às outras. Vem quem quer, ninguémé obrigado a ir, mas rapidamente se en-cheu a sala, porque não é todos os diasque homens e mulheres da cultura têmoportunidade de se encontrarem com umagrande referência, porque o Papa é umagrande referência cultural.

AE – Cultura, Igreja, Evangelhos estive-ram frente a frente ao longo dos séculos.Há algum percurso de reaproximação nostempos actuais?MC – É importante perceber de que tipode aproximação se está a falar: Jesus Cris-to fala da semente lançada à terra, dofermento na massa. Quem é cristão, quemse refere a Jesus não apenas como umepisódio, mas como algo substancial,projecta isso na sua maneira de ver omundo, sentir as coisas.Se tem uma sensibilidade artística, o exer-cício de uma arte, isso também se projec-to aí e é assim que o Evangelho se trans-forma em cultura, através dos criadoresculturais que também se deixem recriarpela pessoa de Jesus Cristo.A relação entre Igreja e Cultura, portan-to, não se faz de maneira formal, por de-creto, mas porque há homens e mulhe-res profundamente motivados pelo Evan-gelho de Cristo que depois reflectem essamotivação naquilo que criam.

AE – Mas essa inspiração evangélica naarte pareceu não existir nos últimosanos…

Festa da Cultura com o Papa em PortugalMC – Eu aí sou mais cuidadoso, porqueàs vezes a inspiração evangélica é clara,patente, e às vezes é mais subliminar. Oque aconteceu na viragem do século XIXpara o século XX, em boa parte desseséculo e ainda no nosso é que essa ins-piração religiosa se introverteu mais, nãoé tão explícita.Não quer dizer que a arte, a cultura, aliteratura actuais não tenham uma refe-rência religiosa, ela pode é não ser tãopatente, porque a própria religiosidadeinteriorizou mais. Vamos ver o que é queisto dá no futuro.

AE – Da parte da Igreja é visível um esfor-ço para que essa inspiração se torne maisexplícita. De que forma é que isso temsido feito?MC – Encontros, contactos, produção, nãopode ser de outra maneira. Houve épo-cas em que essa produção era mais evi-dente, concretamente aqui em Portugal,porque grande parte das instituições pro-dutoras de cultura, senão quase todas,estavam ligadas à Igreja: os mosteiros,as Catedrais…Não é assim nas sociedades contempo-râneas, que é mais secular. Os cristãos,quer pessoalmente, quer através de al-gumas instituições que estão aí, partici-pam dessa cidadania e levam a motiva-ção evangélica ao mundo da arte e dacultura. É um outro tipo de realidade, éoutro tipo de relação.

Não digo que é mais nem que é menos,não se pode comparar o que aconteciano séc. XVII ou XVIII com o que aconteceno século XXI.

AE – É preciso reequacionar a presençada Igreja?MC – Dos cristãos, digo eu. Às vezes atéde pessoas que não sendo confessionais,são tão sensíveis aos valores evangéli-cos que são capazes de os plastificar ede os concretizar.

No encontro com o mundo da Cultura,previsto para as 10h00 do dia 12 deMaio, no Centro Cultural de Belém, Lis-boa, o Papa vai sentar-se numa cadeirafeita em meados de 1700 para o 2º Car-deal Patriarca de Lisboa, D. José Manoelda Câmara (1754-1758).A cadeira, de braços, reflecte bem ohibridismo por que se pauta a generali-dade da produção de mobiliário portu-guês dessa época.Peça executada no contexto das diver-sas encomendas destinadas ao novoedifício da Igreja Patriarcal de Lisboa,após o terramoto de 1755, poderá seratribuída ao entalhador Silvestre de Fa-ria Lobo, ou a um artífice do seu círculode influência.Conceituado mestre entalhador da Casa

A relação entre Igreja e Culturanão se faz de maneira formal(...) há homens e mulheresprofundamente motivadospelo Evangelho de Cristoque reflectem essa motivaçãonaquilo que criam

Real, com vasta actividade, por estesmesmos anos, ao serviço da Congrega-ção Patriarcal, a ele se devem, com efei-to, diversas peças para a nova Igreja.De elegante sinuosidade, sem dúvidafiliada nos modelos franceses dasfauteuils do tempo de Luís XV, nela sereconhecem também anacrónicas estru-turas de perfil rectilíneo.Revestida a veludo carmesim e madeiradourada, especial destaque merece otrabalho decorativo do seu espaldar,com ornamentação entalhada de gostorocaille, enquadrando o escudo do pa-triarca D. José Manoel da Câmara.A peça pode ser vista em Lisboa, na ex-posição “A Igreja Lisbonense e os Patri-arcas”.A mostra está patente ao público no nú-cleo museológico do Mosteiro de SãoVicente de Fora.

Cadeira históricaCadeira históricaCadeira históricaCadeira históricaCadeira histórica

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CULTURA

Manoel de Oliveira já escreveu o discur-so que vai dirigir a Bento XVI no próximodia 12 de Maio, no Centro Cultural deBelém, no qual aborda a questão “da fée das artes”. O cineasta português foi apersonalidade escolhida para falar aoPapa em nome dos agentes da cultura,num encontro em que também intervemo próprio Bento XVI, para além de D. Ma-nuel Clemente, Bispo do Porto e presi-dente da Comissão episcopal responsá-vel por esta área.Manoel de Oliveira não entende este dis-curso como um “prémio”, mas reconheceque ficou “surpreendido” com o conviteque lhe foi dirigido.A poucos meses de completar 102 anosde idade, o realizador já foi galardoadoem vários pontos do globo pela sua obrana Sétima Arte. Ainda assim, a sua paixãoe vocação pelo cinema “continua bemviva e vai-se confirmando”, como disse àAgência ECCLESIA.Estes mais de cem prémios são sinóni-

Manoel de Oliveira tem discurso para o Papamos de reconhecimento. Perdeu-lhes aconta, mas recorda aquele que recebeude João Paulo II. “Foi um Papa excepcio-nal”, afirma.Manoel de Oliveira compara o percursodos dois últimos Papas: “Este (BentoXVI, ndr) é talvez mais culto, o outro ti-nha um sentido religioso e humano notá-vel”. João Paulo II “até pediu perdão pe-los erros cometidos pelo catolicismo”,acrescenta.Depois de afirmar que “Deus é único”, ocineasta deixa lugar à dúvida: “Se é queexiste”. “Já S. Paulo o fazia, quando dis-se: «Se Cristo não ressuscitou, toda anossa fé é vã»”, justifica.A inquietação religiosa “é permanente”e a “dúvida é presente”, todavia écontrabalançada “com a própria fé”, afir-mou Manoel de Oliveira. Para o cineasta,tanto “é inquietante aceitar a existênciade Deus como negá-la”.No diálogo com Deus “nunca ouvimos avoz” dele, mas “através dos apóstolos” e

“dos homens que dizem que Deus disse”.Apesar desta dúvida instalada, Manoelde Oliveira reconhece que “alguma coi-sa há que justifique todo este Cosmos eUniverso” porque “ninguém nasceu porvontade própria”. Como somos criaturas,logo “haverá um Criador”.Foi formado no seio de uma família cató-lica e estudou num colégio dos Jesuítas,em Espanha. “Com dúvida ou sem ela, oaspecto religioso acompanhou-me sem-pre”, confessou. “Todos os meus filmessão religiosos”, diz ainda.Com dezenas de obras realizadas, o ci-neasta escusou-se a referir que filmesgostaria de aconselhar ao Papa. “Quemsou eu para aconselhar Bento XVI?”, res-pondeu o decano do cinema mundial.A respeito deste encontro, o padre e poe-ta Tolentino Mendonça – director do Se-cretariado Nacional da Pastoral da Cultu-ra – afirma que o Papa saberá que “quemlhe fala é um dos grandes criadores des-sa extraordinária arte que é o cinema”.

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Infografia: Voz da Verdade

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LISBOA

Infografia: Voz da Verdade

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Esta relação entre o sumo-pontífice e amensagem de Fátima não surge comoapêndice, mas faz parte integrante damensagem aos Pastorinhos e justificaprecisamente os motivos que levaram aque Fátima acabasse por se impor à Igre-ja e ao papado do século XX. Não foramos Papas que fizeram Fátima ser o que ée ter o relevo que tem, mas foi Fátimaque os fez cá vir, o que faz de Fátima tam-bém um santuário papal. Neste sentido opapado do século XX ficou ligado ao san-tuário, reconhecendo-lhe a importânciadevida devido à pertinência da mensa-gem que aqui foi revelada a três crian-ças.A beata Jacinta trata familiarmente o Papacomo Santo Padre, e na terceira parte dodito Segredo surge essa figura vestida debranco. Jacinta rezava sempre no fim dasAvé-Marias pelo Santo Padre, e na visãodo inferno o Santo Padre é visto a sofrer.Numa das idas ao poço, Jacinta tem a vi-são do Santo Padre a sofrer, a ser injuria-do. Pede para rezar por ele. Na loca doCabeço, diz ter visto o Santo Padre a re-zar diante do Imaculado Coração de Ma-ria numa grande casa, símbolo e imagemda Igreja.Como qualquer aparição mariana, a Igre-ja precisa de muito tempo para lhe reco-nhecer crédito ou não. No caso de Fáti-ma, esta referência explícita ao SantoPadre, a oração por ele, e o facto de talser transmitido por três crianças que es-tavam dispostas a tudo para preservaresta verdade, de facto chamou a aten-ção desde os inícios para a seriedade dasaparições por parte das autoridades ecle-siásticas. Já dois papas visitaram nesseestatuto o santuário. Vem o terceiro, queconhece bem a mensagem de Fátima,pois até comentou e balizou a terceiraparte do segredo aquando da sua apre-sentação. Mas a reactualização da pro-fecia que Fátima é, implica todo o grandepapado do terrível e violento século XX.Na verdade, o homem vestido de brancoe a oração pelo Sumo-pontífice inserema mensagem na mais lídima tradiçãomagisterial da Igreja, e serve esta figurapara representar (precisamente porqueé real) toda a comunidade eclesial. A se-riedade da mensagem, a sua coerência eintegração plena no todo do corpodoutrinal da fé, as graças que em Fátimacontinuam a ser concedidas ao povo deDeus, a fé com que vive o santuário, o

O Papa e Fátima

A convite do Santuário de Fátima, as cri-anças e jovens a frequentar a catequesena Paróquia de Fátima estão a preparar-se para acolher o Papa Bento XVI, natarde de 12 de Maio.“A Igreja e particularmente a nossa Pa-róquia vibram com a alegre notícia davinda de Sua Santidade o Papa BentoXVI à nossa terra. Faz agora10 anos, osaudoso Papa João Paulo II veio visitar-nos e declarou Bem-aventurados osnossos queridos Francisco e JacintaMarto, de Aljustrel”, afirma o Prior deFátima, Pe. Rui Marto.“O nosso coração vibra de alegria pro-funda e deseja agradecer a Deus e aco-lher o melhor que soubermos e puder-mos o querido Papa Bento XVI”, afirmao sacerdote.

acolhimento imediato que recebeu amensagem e o alcance universal queFátima granjeou no seio do povo de Deusconstituem sinais indeléveis que levaramos sumos-pontífices e a Igreja a reconhe-cerem relevância a esta mensagem e umalcance universal da mesma, o mesmo édizer, uma projecção católica, não só doponto de vista da projecção, mas sobre-tudo do ponto de vista da profecia queoferece novamente ao mundo e à Igreja.Por isso, em Fátima a Igreja encontra-sedesde o seu filho mais universal que é osucessor de Pedro.Naturalmente que as referências na men-sagem ao sumo-pontífice levaram a olharcom atenção o sentido dessas mesmasreferências. Mas a própria história do sé-culo XX, com a perseguição sistemática àIgreja e com a crise das ideologias narespectiva crítica à fé, não deixaram depermitir uma leitura dos sinais dos tem-pos ajudando a essa leitura, a qual, à boamaneira apocalíptica, desvela o sentidocom imagens cuja semântica vai para ládo momento da respectiva origem. Comessa linguagem simbólica, a Igreja emFátima conseguiu ser ajudada a ler o sé-culo XX em toda a carga de dramaticidadeque trouxe à humanidade, esse séculopor muitos já considerado o século maisviolento da história da humanidade.Consideramos que a união do filho maisuniversal da Igreja à mensagem de Fáti-

ma, para lá das referências explícitas nasaparições, resultam da consistência uni-versal da mensagem que aqui foi deixa-da nos três ciclos das aparições. Aindaque acentuando alguns aspectos do mis-tério de Deus e da Sua acção na história,o forte convite à adoração eucarística naaparição do Anjo, o insistente convite àpenitência e o anúncio dos desígnios demisericórdia que Deus continua a dispen-sar à humanidade situam-se em plenaconformidade com a tradição neo-testa-mentária e com a tradição da Igreja, ondeo próprio sucessor de Pedro se revê semdificuldade. Por isso, a este santuárioperegrinam todos os filhos da Igreja,mormente o seu filho mais universal, por-que é mais um lugar católico, que nãoobstante a particularidade da sua histó-ria, configura uma mensagem universal,a qual, no caso da figura papal, não dei-xa também de a considerar, pronuncian-do-se mesmo sobre ela para dizer que noséculo XX e sempre ao longo da história,a figura papal e a Igreja são incom-preendidas. No fundo, reactualiza-se aprópria experiência de Jesus. Logo, Fáti-ma é deixada aí com sinal. É esse outrosinal, como tantos sacrários espalhadosao longo da terra, que Bento XVI não es-quece, e diante do qual pode ajoelhar-secom toda a Igreja.

José Carlos Carvalho, UCP

Crianças acolhem o PapaCrianças acolhem o PapaCrianças acolhem o PapaCrianças acolhem o PapaCrianças acolhem o Papa Assim, toda a catequese se prepara parareceber Bento XVI à sua chegada àCapelinha, pelas 17h15 do dia 12 deMaio.A organização é complexa, está a cargoda Paróquia de Fátima, em estreita co-laboração com o Santuário. Envolve sa-cerdotes, catequistas, pais e as própri-as crianças e adolescentes. Nesta re-cepção de acolhimento de boas-vindase de agradecimento a Bento XVI pelasua visita a Fátima, as crianças serãoacompanhadas pelos seus catequistase por um médico.Os votos do Padre Rui Marto são “queNossa Senhora e os Pastorinhos nos gui-em neste acontecimento e o nosso co-ração sinta a presença de Jesus na Pes-soa que Ele escolheu para sucessor dePedro”.

LeopolDina Simões

FÁTIMA

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Na altura de noticiar a azáfama dos pre-parativos que rodeiam uma visita papal,Fátima parece colocada à margem, tal aexperiência dos responsáveis pelo San-tuário em acolher grandes celebrações.D. António Marto, Bispo de Leiria-Fátima,não quer que os fiéis da Diocese se es-queçam que são os primeiros responsá-veis por fazer com que o Papa se sintaem casa nesse espaço, acorrendo às ce-lebrações do 12 e 13 de Maio.

Agência ECCLESIA (AE) – Com que pers-pectivas vai acolher Bento XVI a Diocesede Leiria-Fátima?D. António Marto (AM) – São três senti-mentos, diríamos assim, com que acolhe-mos o Papa. Primeiro, a alegria e o rego-zijo de termos entre nós o pastor univer-sal da Igreja e fazermos uma grande ex-periência da beleza da Igreja, aqui emFátima.Depois, é um sentimento de gratidão pelahonra com que nos distinguiu em fazer-nos uma visita aqui em Fátima. Era umdesejo desde há longo tempo cultivado,pelos menos desde 2007, no 90.º aniver-sário das aparições, e que agora se con-cretiza.Em terceiro lugar, um sentimento do domda consolação que o Papa traz, no senti-do de que é um reconhecimento da actu-alidade da mensagem de Fátima para ostempos de hoje, que eu espero que eledesenvolva, e do carisma do Santuário, asua importância, a sua relevância querpara a Igreja quer para o mundo, porqueé um centro de peregrinação universal.

AE – A presença de Bento XVI dará umnovo vigor à mensagem de Fátima?AM – Ninguém melhor do que ele conse-guiu fazer toda a leitura teológica destamensagem, que foi dirigida para um mo-mento histórico, do século XX, quer parao mundo quer para a Igreja. Ninguémmelhor do que ele, também, conseguiráfazer a sua reactualização para circuns-tâncias novas. É como aquelas profeciasdo Antigo Testamento que ainda valempara hoje, nunca se esgota a mensagem,temos de a reinterpretar.Espero que o Papa faça essa reactuali-zação de uma maneira muito pertinentee muito bela, como só ele consegue fa-zer.

AE – Podemos falar num Papa de Fátima,

Leiria-Fátima quer ser casa de Bento XVIcomo foi João Paulo II?AM – É difícil dizer, porque João Paulo IIsentiu-se ele mesmo protagonista damensagem, na medida em que foi umPapa do século XX e, sobretudo, na ter-ceira do segredo aparece a figura do Papaque encabeça a peregrinação, a Via Sa-cra dos mártires. Ele sentiu-se parte tam-bém dessa mensagem e da sua realiza-ção para o século passado, daí a grandedevoção que o trouxe aqui três vezes.Não sei se isto acontecerá a outro Papa,de qualquer modo Bento XVI é tambémum Papa mariano, um teólogo que temtextos lindíssimos sobre Maria na histó-ria da salvação, como modelo de fé paraos cristãos.

AE – Apesar da dimensão nacional e in-ternacional de se que reveste a visita aFátima, este é também um momento es-pecial para a própria comunidadediocesana…AM – Sim, já na Quaresma dirigi uma men-sagem aos meus diocesanos a dizer-lhesque nós somos os primeiros anfitriões detão ilustre e estimado peregrino, por con-

seguinte temos de nos mobilizar para oreceber com a maior alegria, com o maiorentusiasmo, com o maior afecto filial.Várias vezes tenho chamado a atençãopara isso. Na peregrinação diocesana, emMarço, quando estiveram 40 mil pessoasno Santuário, repeti esse apelo, que foicorrespondido com aplausos. Espero umamobilização dos que estão mais perto,espero que não se deixem levar pelo co-modismo de ver só pela Televisão e queparticipem nas celebrações.

AE – A viagem acontece no 10.º aniversá-rio da beatificação do Francisco e daJacinta. É um momento relevante?AM – É uma coincidência feliz, que incluitambém o 100.º aniversário do nascimentoda Jacinta, que foi quem mais sentiu o so-frimento do Papa, a que ficou mais impres-sionada com aquela visão que fazia partedo segredo, que rezava e oferecia sacrifí-cios pelo Papa. A visita vem reavivar o afectoe a comunhão da Igreja com o Papa que écaracterístico da mensagem de Fátima, pre-cisamente neste momento em que a Igre-ja é abalada por alguns casos.

A visita de Bento XVI ao nosso país podereavivar o interesse pela mensagem deFátima, considera a Ir. Ângela Coelho,vice-postuladora da causa de cano-nização dos Pastorinhos.Esta responsável acredita que a presen-ça do Papa “vai fazer com que teólogosolhem novamente para a mensagem ese interroguem sobre o que se passouem Fátima”.A peregrinação de Bento XVI a Portugalacontece no 10.° aniversário da beatifi-cação de Jacinta e Francisco, Pasto-rinhos de Fátima, como destaca o pró-prio Vaticano.“Nota-se muito entusiasmo nas pesso-as relativamente a Fátima e anseio quea vinda do Papa faça as pessoas pensa-rem de outra forma e olharem para oFrancisco e para a Jacinta, que são ago-ra ‘os meus meninos’, que tenho de de-fender e trabalhar no seu processo”,referiu a vice-postuladora.Em entrevista à Ecclesia, a Ir. ÂngelaCoelho recorda a visita que o então Car-deal Ratzinger fez à Cova da Iria, em1996, e o contacto privilegiado que tevecom o “segredo de Fátima”, enquanto

Novo interesse sobre a mensagem de FátimaNovo interesse sobre a mensagem de FátimaNovo interesse sobre a mensagem de FátimaNovo interesse sobre a mensagem de FátimaNovo interesse sobre a mensagem de Fátimaprefeito da Congregação para a Doutri-na da Fé.A religiosa sublinha que Bento XVI, um“gigante intelectual”, “escolhe cuidado-samente as suas viagens com intuitopastoral e teológico”.“Vai ser uma experiência que ele já vi-veu enquanto Cardeal e agora vai vivercomo Papa e decerto que nos vai sur-preender”, refere.A vice-postuladora da causa de cano-nização dos Pastorinhos recorda que,em 1996, o Cardeal Joseph Ratzinger nãopôde regressar de imediato a Roma porcausa de uma greve, tendo reagido comsatisfação ao facto, que lhe permitiu“encontrar tempo para digerir” tudo oque viveu em Fátima.Após ter conhecimento do atraso, o ac-tual Papa passeou pelos lugares do San-tuário de Fátima “para sentir a fé do nos-so povo tão simples, mas tão verdadeiraao mesmo tempo”, indica a Ir. ÂngelaCoelho.Nessa peregrinação de 13 de Outubro, oCardeal Ratzinger visitou também a IrmãLúcia e esteve sozinho com a Videntede Fátima.

FÁTIMA

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Dez anos depois de terem cantado paraJoão Paulo II, Madalena Vidal e os seusquatro filhos vão cantar para Bento XVI,em Fátima.Contando já com 134 actuações desdeque nasceram, os «FigoMaduro» vãoapresentar-se em Fátima, a 13 de Maio,na Igreja da Santíssima Trindade, parao encontro de Bento XVI com a PastoralSocial (17h00), onde interpretarão 7 te-mas musicais. Destes, apenas o«Sanctus» será ouvido quando o Papaestiver presente.Ao som das notas da guitarra,violoncelo, violino e flauta, a melodiados «FigoMaduro» vai animar este en-contro.Madalena e os filhos João Maria (9anos), Madalena (12 anos), Maria (14anos) e Luísa (16 anos) actuaram pelaprimeira vez no Aeroporto de Figo Ma-duro quando João Paulo II visitou Portu-gal em 2000. Passados dez anos, asvozes e os sons serão ouvidos por Ben-to XVI.Luísa Vidal adianta que “poder cantarpara uma pessoa assim é qualquer coi-sa de espectacular e que não acontece

A visita do Papa é sempre um aconteci-mento, primariamente eclesial. É umaoportunidade para a Igreja visitada seanalisar e poder fazê-lo em comunhãocom quem preside à unidade na caridadee tem como missão “confirmar os seusirmãos na fé”. Por isso, eu esperava queesta visita fosse sobretudo um tempo detrabalho pastoral dos responsáveis daIgreja – bispos, padres, religiosos e lei-gos – com o Papa para, em conjunto, pro-curarem soluções para os desafios quese colocam hoje à nossa Igreja. Daí a mi-nha estranheza ao verificar que, além dosBispos, apenas os organismos da Pasto-ral Social se vão encontrar com o Papa,que certamente deixará palavras mar-cantes para a vida e a prática de todos osparticipantes.Se muitos agentes da Pastoral Social es-tão carenciados das palavras oportunasdo Papa, muito mais o está o Povo deDeus no seu conjunto. As comunidadescristãs não se têm assumindo ainda comoo agente principal, não perceberam queo serviço da caridade, em igualdade coma liturgia e a catequese, é um dos pilaresque suportam a missão da Igreja. Até sepoderia ir mais longe: o serviço da cari-dade é o pilar que dá credibilidade aosoutros dois.Isto mesmo diz o Papa: “A natureza ínti-ma da Igreja exprime-se num tríplice de-ver: anúncio da Palavra de Deus, cele-bração dos Sacramentos, serviço da cari-dade. São deveres que se reclamam mu-tuamente, não podendo um ser separa-do dos outros. Para a Igreja, a caridadenão é uma espécie de actividade de as-sistência social que se poderia mesmodeixar a outros, mas pertence à sua natu-reza, é expressão irrenunciável da suaprópria essência” (DCE 25).Afirmada esta verdade fundamental, oPapa retira algumas ilações. Primeira: acomunidade deve organizar-se e não seruma manta de retalhos onde meia dúziade pessoas ou grupos, muitas vezes semarticulação, se esgotam em energia e ine-ficácia pastoral: “A Igreja, enquanto co-munidade, deve praticar o amor. Conse-quência disto é que o amor tem necessi-dade também de organização enquantopressuposto para um serviço comunitá-rio ordenado” (DCE 20). Em segundo lu-gar, alerta para o risco de converter avivência do amor num mero exercícioassistencial, que sossega as consciênci-

Bento XVI e a Pastoral Socialas e camufla a realidade e as suas cau-sas mais profundas: “É muito importanteque a actividade caritativa da Igreja man-tenha todo o seu esplendor e não se dis-solva na organização assistencial co-mum, tornando-se uma simples varianteda mesma” (DCE 31).Mas não é nada fácil, dados os nossoshábitos multisseculares, fazer esta con-versão. Por isso, o Papa faz propostas esugestões que, levadas a sério, rasgarãoos horizontes do serviço da caridade. Éevidente que há uma primeira forma deactuar: a rápida ajuda a quem está emextrema dificuldade. Não de qualquermaneira: “segundo o modelo oferecidopela parábola do bom Samaritano, a cari-dade cristã é, em primeiro lugar, simples-mente a resposta àquilo que, numa deter-minada situação, constitui a necessidadeimediata: os famintos devem ser saciados,os nus vestidos, os doentes tratados parase curarem, os presos visitados”.Este cuidado do outro está ao alcance dequalquer um. No entanto há, hoje, novasformas de pobreza, de carências, de ex-clusões que exigem competências ade-

quadas. Não basta, pois, o voluntarismo.É preciso saber o que deve ser feito emcada situação concreta.Mas mesmo o saber técnico, dado pelainteligência, precisa de ser informadopela sabedoria, ditada pelo coração: “Acompetência profissional é uma primeirae fundamental necessidade, mas por sisó não basta. É que se trata de seres hu-manos e estes necessitam sempre dealgo mais que um tratamento apenas tec-nicamente correcto: têm necessidade dehumanidade, precisam da atenção docoração. Todos os que trabalham nas ins-tituições caritativas da Igreja devem dis-tinguir-se pelo facto de que não se limi-tam a executar habilidosamente a acçãoconveniente naquele momento, mas deque se dedicam ao outro com as aten-ções sugeridas pelo coração, de modoque ele sinta a sua riqueza de humanida-de. Por isso, para tais agentes, além dapreparação profissional, requer-se tam-bém e sobretudo a «formação do cora-ção»” (DCE 31).

José Dias da Silva, vogal da ComissãoNacional Justiça e Paz

Família canta para o PapaFamília canta para o PapaFamília canta para o PapaFamília canta para o PapaFamília canta para o Papatodos os dias”.“Quando estivemos no aeroporto,aquando da visita de João Paulo II a Por-tugal, também foi extraordinário”, recor-da.A progenitora do grupo, Madalena Vidal,espera que Bento XVI goste das músi-cas. “O maior elogio que as pessoas nospodem fazer é dizer que lhes tocou. Épara isso que fazemos a música”.Com a morte do pai das crianças, o pro-jecto tornou-se profissional, com o ob-jectivo de assegurar a continuidade doprojecto de educação que o casal tinhapara os filhos, através da música.Alinhamento musical:- “Dona Nobis Pacem”, Mary LynnLightfoot- “Seigneur Je Vous En Prie”, Poulenc- “The Lord Bless You And Keep You”,John Rutter- “Oh Virgem Maria”, dos “Cânticos Re-ligiosos Alentejanos”.- “Schlussgesang”, F. Schubert- “Ave Maria”, Gounod- “Sanctus”, Robert Prizeman (Libera):Arranjo de Tiago Marques para«FigoMaduro»

PASTORAL SOCIAL

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1. Entre os dias 11 e 14 de Maio, o PapaBento XVI estará em Portugal. Vem comoperegrino. Para reavivar a fé, dinamizar aesperança, revigorar a caridade e forta-lecer a unidade.O programa da peregrinação papal inclui:“visita de cortesia ao Presidente da Re-pública”, encontro com o “mundo da cul-tura” e o “Primeiro-Ministro” e “SantaMissa”, em Lisboa, “visita à Capelinha dasAparições”, “celebração das Vésperas”com sacerdotes, “bênção das velas”,“Santa Missa” e encontro com as “Orga-nizações de Pastoral Social” e com os“Bispos de Portugal”, em Fátima, e “San-ta Missa” no Porto.Não sendo a primeira visita papal a estePaís, porém, é a primeira vez em que éincluído no programa um encontro espe-cial com as organizações de pastoral so-cial. Certamente para insistir na impor-tância do “amor ao próximo”, especial-mente “para com as viúvas e os órfãos,os presos, os doentes e necessitados dequalquer género”, que “é um dever an-tes de mais para cada um dos fiéis, masé-o também para a comunidade eclesialinteira, e isto a todos os seus níveis: des-de a comunidade local passando pelaIgreja particular até à Igreja universal nasua globalidade”. Também para reafir-mar que “não precisamos de um Estadoque regule e domine tudo, mas de umEstado que, segundo o princípio desubsidiariedade, reconheça e apoie asiniciativas que nascem das diversas for-ças sociais e conjugam espontaneidadee proximidade aos homens carecidos deajuda. A Igreja é uma destas forças vivas:nela pulsa a dinâmica do amor suscitadopelo Espírito de Cristo. Este amor não ofe-rece aos homens apenas uma ajuda ma-terial, mas também refrigério e cuidadopara a alma”.2. No encontro do Santo Padre com asOrganizações da Pastoral Social estaráum significativo grupo de 308 dirigentesde outras tantas IPSS filiadas na CNIS,ligadas ou não à Igreja Católica. Aliás,espelhando fielmente aquilo que, desdeos seus alvores, é a organização repre-sentativa das IPSS, em que nas suas qua-se 2700 Instituições há IPSS de erecçãocanónica (41%), Instituições de outrasIgrejas e Instituições laicas ou nãoconfessionais numa harmoniosa comu-nhão. Curiosamente, os primeiros dirigen-tes a manifestarem vontade de marcar

Bento XVI em Portugal com preocupações sociaispresença no encontro com o Santo Padreforam precisamente dirigentes de outrasIgrejas e dirigentes sem opção religiosaou sem qualquer referência de trans-cendentalidade. Evidentemente, também,e em bom número, os dirigentes de Insti-tuições de erecção canónica querem es-tar e vão estar onde certamente devemestar. O Santo Padre sentir-se-á em boacompanhia e todos muito beneficiarãocom o seu pensamento e com o seu ma-gistério apostólico.Na grande pluralidade e na firme coesãotambém radica a força da CNIS: espaçode todos para um serviço a todos e umavoz mais audível num mundo carecido devozes credíveis e fortes. Isso não signifi-ca que, pelo número e pela especifi-ci-dade, não seja chegada a altura de sejustificar uma federação de centros soci-ais paroquiais ou de instituições de erec-ção canónica. Até para defesa da matrizque as individualiza no contexto da soli-dariedade social. Mas o estarem numaorganização como a CNIS todas estasInstituições ligadas à Igreja com outrasInstituições, é mutuamente vantajoso. Damatriz personalista e cristã em que umassão arautos, todas beneficiam; da matrizqualificativa e organizativa em que ou-tras se arvoram, todas lucram. E, inequi-vocamente, a presença de todas numaorganização como a CNIS, dá mais forçaà solidariedade e dá mais solidariedadeà força. O que, por um lado, une transver-salmente todas estas Instituições é aabertura para o todo e para o infinito quefaz com que o ser humano seja humano;simultaneamente, o que também aproxi-ma é a certeza de que o homem é homemporque se ultrapassa infinitamente a simesmo, e por isso é tanto mais homemquanto menos fica fechado em si, “limi-tado”.3. Na homilia que precedeu o início doConclave que o elegeria como Papa Ben-to XVI, duas palavras-chave se destaca-ram no discurso do cardeal Ratzinger:verdade e misericórdia. Prenúncio?Verdade significa o que é real ou possi-velmente real dentro de um sistema devalores, o que implica o imaginário, a re-alidade e a ficção, questões centrais tan-to em antropologia cultural, artes, filoso-fia e a própria razão. A misericórdia é acapacidade de fazer sintonizar o própriocoração com o coração de quem carecede expressões de um amor que envolve

e que perdoa.Talvez as palavras que precederam a suaeleição papal ajudem a compreender oseu pontificado.A visita do Santo Padre a Portugal foi pre-cedida de algumas notícias que provo-cam inequívocos incómodos na Igreja ena sociedade. E não satisfaz dizer queonde há homens há pecados: realiza oanunciar e o servir um ideal que se prati-ca e que liberta. E a Igreja convive muitomelhor com o ideal que anuncia do quecom o pecado de que se penitencia.Também algumas vozes se erguerampara questionar o possível silêncio doPapa. Nada credíveis para atingir a suapessoa, o seu magistério e o seu pontifi-cado.Pelo contrário: ao assumir uma posturade clareza, de transparência, de exigên-cia e de verdade, Bento XVI indica umcaminho que não deixará certamente derecolocar os servidores e a Igreja no seulugar de perita em humanidade e de ca-minho para a humanidade.A cruzada de purificação liderada por estePapa também é luz para as nossas Insti-tuições: a razão da existência das Insti-tuições é as pessoas. Pelo que a quali-dade nas Instituições em que tanto seinsiste não é apenas uma exigência nagestão ou nos equipamentos. Ainda éisso, sem dúvida. Mas a qualidade estásobretudo nas pessoas. Igualmente étodo um processo de capacidade de de-senvolvida misericórdia, de contínua pu-rificação, de inequívoca transparência, deiniludível exigência e de permanente ver-dade.As Instituições de que todo o mundo ca-rece são aquelas que são servidas porpessoas, que não se servem das pesso-as, mas que estão ao serviço das pesso-as.

Lino Maia, presidente da CNIS

O Santo Padre sentir-se-á emboa companhia e todos muitobeneficiarão com o seu pensa-mento e com o seu magistério

PASTORAL SOCIAL

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No próximo dia 12 de Maio em Fátima, oPapa vai estar com sacerdotes, religio-sos e religiosas, consagrados e consa-gradas. Sendo habitual aquando das suasvisitas pastorais, este encontro adquireuma importância acrescida, por ser a pri-meira vez que o Papa Bento XVI visitaPortugal e por se realizar em plena cele-bração do Ano Sacerdotal. Espera-se queo Santo Padre venha confirmar na fé, naesperança e na caridade aqueles que,nestas “terras de Santa Maria”, optarampor seguir Jesus Cristo em especial formade consagração.O encontro terá ainda sentido pela co-munhão eclesial da Igreja universal comas Igrejas particulares, ao serviço dasquais os sacerdotes exercem o seu mi-nistério e nas quais se inserem caris-maticamente os consagrados. Nas legíti-mas expressões plurais, aponta-se sem-pre para a unidade essencial da Igrejagerada no único Espírito de Cristo.O encontro valerá também pela reafir-mação dos princípios doutrinais da fé epelo apelo aos sacerdotes e consagra-dos a viverem os seus ministérios ecarismas em criativa fidelidade a Cristo eprofeticamente empenhados na missãoa que são chamados.Esta vespertina presença orante do Papasó pode provocar a renovação dos gran-des dinamismos pastorais da Igreja a quenos apelava João Paulo II para o terceiromilénio: a santidade, a comunhão, a mis-são.O que o Papa nos dirá certamente nospode surpreender em muito e nos deveinterpelar de modo qualitativamentenovo. Espero que diga coisas essenciaisaos sacerdotes, como tem feito desde aproclamação deste Ano Sacerdotal, ins-pirado pelo exemplo do Santo Cura d’Ars:viver o sacerdócio no amor do Coraçãode Jesus; manter a fidelidade corajosa àsua vocação de “amigos de Cristo”;centrar a sua espiritualidade na Eucaris-tia celebrada e adorada, na Reconcilia-ção, na Palavra escutada, meditada e vi-vida; ansiar no seu ministério pela identi-ficação entre Pessoa e Missão em Jesus;

Papa com Sacerdotes e ConsagradosSignificado de um encontro

evidenciar espaços de colaboração comos fiéis leigos; sentir a urgência do anún-cio e testemunho da verdade do Amor;distinguir-se, na sua vida e acção, pelovigoroso testemunho evangélico; viver osconselhos evangélicos de pobreza, cas-tidade e obediência segundo modalida-des apropriadas à condição de pres-bítero; saber acolher a nova primaveraque o Espírito está hoje a suscitar na Igre-ja através dos movimentos eclesiais enovas comunidades; viver a comunhãoentre o seu ministério ordenado e oscarismas como impulso para um renova-do compromisso da Igreja no anúncio eno testemunho do Evangelho da espe-rança e da caridade em todo o mundo;enfim, viver como “pastores segundo ocoração de Deus”.Isso tudo nos disse Bento XVI na carta deanúncio do Ano Sacerdotal, em que nãodeixa de recordar que “infelizmente exis-tem também situações, nunca suficien-temente deploradas, em que é a própriaIgreja a sofrer pela infidelidade de algunsdos seus ministros. Daí advém então parao mundo motivo de escândalo e de re-pulsa. O máximo que a Igreja pode apro-veitar de tais casos não é tanto a acintosarelevação das fraquezas dos seus minis-tros, como sobretudo uma renovada econsoladora consciência da grandeza dodom de Deus, concretizado em figurasesplêndidas de generosos pastores, dereligiosos inflamados de amor por Deuse pelas almas, de directores espirituaisesclarecidos e pacientes”.E termina o seu apelo convidando a olharo futuro com a confiança da fé no DivinoMestre: “Amados sacerdotes, Cristo con-ta convosco. A exemplo do Santo Curad’Ars, deixai-vos conquistar por Ele esereis também vós, no mundo actual,mensageiros de esperança, de reconcili-ação, de paz”.No mesmo espírito, a 2 de Fevereiro des-te ano, o Papa “eleva ao Senhor um hinode agradecimento e de louvor pela pró-pria vida consagrada. Se ela não existis-se, como seria mais pobre o mundo! Dei-xando de lado as avaliações superficiais

de funcionalismo, a vida consagrada éimportante precisamente pelo seu sersuperabundância de gratuidade e deamor, o que se torna ainda mais verda-deiro num mundo que corre o risco de fi-car sufocado na vertigem do efémero. Avida consagrada, ao contrário, testemu-nha a superabundância do amor que es-timula a ‘perder’ a própria vida, como res-posta à superabundância de amor doSenhor, que foi o primeiro a ‘perder’ a suavida por nós”.São apenas alguns ditos, que julgo fun-damentais, do Santo Padre aos sacerdo-tes e consagrados. Estou certo que nosdirá “algo de novo” a 12 de Maio. Masmais importante do que aquilo que nospossa dizer de modo repetido ou inova-dor, é essencial que provoque em todosnós renovados dinamismos de santida-de, comunhão e missão.Só assim seremos fecundos na renova-ção da Igreja que somos e construímos!Só assim seremos mensageiros da espe-rança e da alegria, da paz e da reconcili-ação!Que o Papa nos recorde as razões da fé eda esperança, e nos fale ao coração, con-vidando-nos a viver segundo o coraçãode Deus!

Manuel Barbosa, scjpresidente da Confederação dosInstitutos Religiosos de Portugal

Mais importante do que aquiloque nos possa dizer de modorepetido ou inovador, é essencialque provoque em todos nósrenovados dinamismosde santidade, comunhãoe missão

PASTORAL SOCIAL

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FÁTIMA

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FÁTIMA

Infografia: Voz da Verdade

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É em clima de missão que Bento XVI serárecebido no Porto, quando presidir à mis-sa do dia 14 de Maio, na Avenida dos Alia-dos. A diocese multiplica-se em iniciati-vas desde o início do ano, na “Missão2010” e é nessa dinâmica que D. ManuelClemente entende a presença do Papa,um encorajamento para aprofundar o “sen-tido missionário da existência cristã”.

Agência ECCLESIA (AE) – Que oportunida-de constitui para a Diocese do Porto estavisita do Papa em ano de Missão?D. Manuel Clemente (MC) – É umabelíssima oportunidade e circunstância,porque a Missão tem sido o nosso objec-tivo e o nosso programa, ao longo destesmeses de 2010 nas nossas variadíssimascomunidades.A presença do Papa, primeiro dos Após-tolos, aquele que nos confirma na fé e navida eclesial, é muito bem-vida e certa-mente nos encorajará ainda mais nessesentido missionário da existência cristã.Por isso, a altura não podia ser melhor.Não foi essa a razão imediata do convite,dado que quando foi anunciado que oPapa viria a Portugal se procurou que nãofosse apenas de Fátima para o Sul, pro-curando vir a algum sítio de Fátima parao Norte. O Papa aceitou e estamos muitogratos por isso. Há esta coincidência como dinamismo missionário em que aDiocese está a crescer, ao longo desteano de 2010.

AE – A temática da Missão será abordadapelo Papa no Porto?MC – Sim, até pela circunstância litúrgica.O Papa estará breves horas no Porto, ba-sicamente a celebrar a Eucaristia na Ave-nida dos Aliados. O dia 14 de Maio é afesta de São Matias, Apóstolo, por isso, apartir dos textos da liturgia, não poderiafugir a esta dimensão apostólica, mis-sionária, evangelizadora da Igreja. Tudoisto são felizes coincidências.

AE – Coloca a Avenida dos Aliados ba-nhada a vermelho…MC – (risos) Pois, mas é um vermelholitúrgico. Acontece até noutras datas, quetambém são festas nacionais, em que aIgreja veste de vermelho. São cores bo-nitas, é a cor do Espírito Santo.

AE – Para este ano da Missão, a Diocesepromove eventos, megaeventos, até. So-

Clima de missão para receber o Papa no Portocialmente é importante que a evan-gelização aconteça também nesseseventos?MC – É como tudo na vida, há momentoshabituais e depois temos aquelas circuns-tâncias mais sublinhadas: de certa ma-neira, comemoramos a vida todos os dias,mas é no dia do nosso aniversário queisso tem uma certa celebração. Essesmomentos são importantes, porque aque-les que andamos a trabalhar mais isola-damente encontramo-nos uns com osoutros e transmitimos entusiasmo, maisalegria, mais convicção e é essa a reali-dade das festas e das concentrações.Não é aí que as coisas se resolvem, é nodia-a-dia, no empenhamento simples, se-reno, humilde, concreto, na fidelidade detodos os momentos. Estas celebrações,estes festejos confirmam-nos e confortam-nos, passam uma mesma convicção e nes-se sentido têm todo o cabimento.Encontramos no próprio Evangelho Jesusretirado em oração, com o pequeno gru-po dos discípulos mas também com asmultidões. Tudo isso faz parte da vida.

AE – É uma oportunidade para chegar apessoas diferentes, a novas fronteiras?MC – É, porque há muita gente que vemcom alguma curiosidade, para ver, mes-mo sem um espírito propenso, mas queacaba por sentir-se tocada.

AE – Como sente a preparação da Diocesepara acolher do Papa?MC- É difícil estar a responder por 477paróquias, fora as congregações religio-sas, movimentos e associações, mas aqui-lo que eu vejo é um conjunto de realiza-ções que manifestam grande alegria egrande expectativa.

AE – É sadia a sintonia de interesses quehá entre a Igreja e diversas instituiçõescivis?MC – É, tal como seria com outra entida-de cultural, religiosa ou política que tam-bém tivesse uma grande expressividadee cá viesse, porque as nossas autorida-des não têm para si uma convicção religi-osa específica, mas serve os cidadãos,também nas suas convicções religiosas.

A comissão organizadora do Porto da vi-agem apostólica de Bento XVI a Portu-gal espera mostrar o que “de bom sefaz” nas mais diversas áreas, do mobili-ário à gastronomia, aproveitando a pre-sença do Papa na cidade.Em conferência de imprensa, a comis-são constituída pela Igreja Católica epela Câmara do Porto, o Pe. AméricoAguiar, vigário-geral da Diocese, desta-cou que autarquias, empresas e associ-ações empresariais da região estão acolaborar com a organização da visita,o que contribuiu para reduzir os custosda operação, seguindo o lema “máximoempenho, custo mínimo”.Presente na conferência de imprensa, opresidente da Câmara de Paredes, Cel-so Ferreira, confirmou que a suaautarquia, tal como a sua congénere dePaços de Ferreira, apoiadas por empre-sas locais, vão fornecer todo o mobiliá-rio para o altar papal.“A visita do papa não é fracturante, éum momento de união”, disse CelsoFerreira, justificando o envolvimentoautárquico na iniciativa.“Estamos motivados, estamos mobiliza-

dos”, acrescentou.Por sua vez, o chefe de gabinete do pre-sidente da autarquia do Porto disse quea cidade espera corresponder às exigên-cias de um acontecimento que “colocaos olhos do mundo sobre a cidade du-rante quase cinco horas”.“É o maior desafio organizativo que al-guma vez foi posto à Câmara do Porto”,disse Manuel Teixeira, explicando que avisita de João Paulo II, em 1982, foi me-nos exigente por não ter havido celebra-ção de Missa nem recepção nos Paçosdo Concelho. A divulgação da visita incluiuma campanha de mobilização para oevento na Galiza, Espanha, com a distri-buição de materiais promocionais emcastelhano. “El Papa visita Oporto - va-mos todos a recibirlo” será a frase domi-nante em mupis (mobiliário urbano), nadecoração de postos de turismo e em fo-lhetos a distribuir por toda a Galiza.As comunidades piscatórias de Afurada(Gaia), Cantareira (Porto), Angeiras(Matosinhos) e Cortegaça (Ovar) mani-festaram interesse em saudar o papa apartir de embarcações atracadas noDouro, na manhã de 14 de Maio.

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PORTO

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PORTO

Infografia: Voz da Verdade

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www.bentoxviportugal.ptwww.bentoxviportugal.ptwww.bentoxviportugal.ptwww.bentoxviportugal.ptwww.bentoxviportugal.ptComo não poderia deixar de ser, o espa-ço virtual criado para a visita do PapaBento XVI a Portugal tinha de ser alvo dereferência desta nossa rubrica. Assim,esta semana sugerimos que navegue atéao sítio criado pela Conferência Episco-pal Portuguesa, que pretende, ser fontede informação do programa da visita pa-pal, repositório de notícias, fotografias eoutros conteúdos relacionados com a vi-sita que o Santo Padre irá realizar entreos dias 11 e 14 de Maio próximos.Com um design muito bem conseguido, outilizador ao entrar neste sítio, conseguefacilmente descobrir onde se encontra eacima de tudo, perceber o grande objec-tivo desde espaço virtual. Dada a quanti-dade de informação disponível, não po-demos analisar todas as opções, portan-to, iremos apenas destacar aquelas queconsideramos mais relevantes. No item“Portugal e os papas”, podemos ler ex-celentes artigos relacionados com astrês visitas de João Paulo II (o Papa deFátima), com a visita em 1967 de Paulo VI(o humilde peregrino) e ainda os Papasna história de Fátima. Caso pretenda sa-ber um pouco mais sobre Bento XVI, no-meadamente a sua biografia bem comoas viagens apostólicas que tem realiza-do, basta clicar na opção “Bento XVI”.

Bento XVI em Portugal OnlineUma das áreas mais relevantes que es-tão ao dispor é o item “multimédia”, aíencontramos os vídeos, as fotografias, osregistos sonoros, os documentos em for-mato digital, as apresentações empowerpoint e ainda uma ligação para afantástica infografia produzida pela Agên-cia Ecclesia, onde o tema principal é avinda do sucessor de Pedro ao nosso país.Em “recortes”, dispomos de todas as no-tícias e comentários que são publicadas

Cerca de 2500 profissionais da Comuni-cação Social de 24 países, incluindo Por-tugal, estão acreditados para a cobertu-ra noticiosa da Visita de Bento XVI a Por-tugal, entre 11 e 14 de Maio, informa osite oficial.Os jornalistas, técnicos, produtores e ou-tros profissionais estão ligados a 240 ór-gãos de Comunicação Social.A acreditação, feita junto do Ministériodos Negócios Estrangeiros, decorreu du-rante o mês de Abril.O maior contingente de pedidos deacreditação provém de Portugal (1821),seguindo-se a Espanha (94), Itália (66) eAlemanha (34).Cerca de 960 dos profissionais são jorna-listas, repórteres fotográficos, operado-res de imagem e editores. Também fo-ram acreditados 48 comen-tadores, todos

2500 profissionais da comunicação social

NOTÍCIAS

portugueses.A RTP é o órgão de Comunicação Socialque mais acreditações solicitou (663), se-guindo-se a SIC (258), TVI (252), a RádioRenascença (111) e a Agência Lusa (64).Dos jornais portugueses, o Diário de Notí-cias foi quem mais profissionais acredi-tou (20), contra 16 do Público, enquantoa TSF pediu acreditação para 27 elemen-tos.Nos semanários, o Expresso tem 13 pro-fissionais acreditados e o Sol apenas 3,enquanto nas revistas a Visão pediu cre-denciais para 14 profissionais e a Sábadopara sete.Na Agência Ecclesia foram acreditados18 profissionais, onde se contabilizam,para este efeito, os elementos daLogomédia que produzem o ProgramaEcclesia e 70x7, em emissão na RTP2.

No total foi feita ainda a acreditação de225 viaturas.Os jornalistas que solicitaram aacreditação pessoal e de viaturas de ser-viço poderão levantar os cartões deacreditação na cidade que foi assinala-da no formulário, mediante a apresenta-ção da Carteira Profissional de Jornalistaou do original da carta emitida pelo Ór-gão de Comunicação Social que acom-panhou o Formulário de Acreditação.Os cartões que não forem recolhidos nacidade que estiver assinalada no formu-lário de acreditação passarão a estar dis-poníveis na cidade seguinte, segundo oprograma da visita.

na imprensa nacional relacionadas coma visita pontifícia. Por último, caso pre-tenda participar de uma forma mais pró-xima em qualquer dos dias em que oSumo Pontífice estará em terras lusita-nas, nomeadamente saber os locais e ahora onde vai estar Bento XVI, basta clicarem “como participar”.

Fernando Cassola Marques

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Síntese

Os paramentos que vão ser utilizados pordiáconos, padres e bispos na missa a queBento XVI vai presidir em Lisboa foramoferecidos por católicos que querem man-ter o anonimato.A confecção das vestes litúrgicas para aseucaristias em Lisboa e no Porto foi con-fiada ao Centro Social Paroquial deSacavém, que tem a tarefa praticamenteconcluída.O Pe. Alberto Gomes, responsável pelainstituição, estima que serão realizadasentre duas mil a três peças, que começa-ram a ser produzidas há dois meses, comrecurso a horas extraordinárias.Na missa de Lisboa, os paramentos se-rão de cor branca – em tom de pérola –,obedecendo às regras determinadas parao tempo litúrgico – denominado “Pascal”.Para os bispos, a casula – peça colocadasobre as outras vestes litúrgicas – foi tecidaem cetim, a que se acrescentou uma faixaque rodeia o pescoço e uma lista verticaldo topo até à bainha, ambas em brocadodourado com fundo vermelho.A mitra – colocada pelos bispos sobre acabeça – vai ser do mesmo material, in-cluindo uma cruz idêntica à que está nocartaz oficial da visita do Papa.Os paramentos dos padres, fabricados empano mais simples, mantêm a lista de bro-cado dourado em torno do pescoço, en-quanto que as dalmálticas – peças que osdiáconos usam sobre as vestes litúrgicas– ganham um motivo rectangular na fren-te e faixas nas extremidades das mangas,sempre com a mesma decoração.As vestes usadas na missa de 11 de Maio,no Terreiro do Paço, vão ficar no Patriar-cado de Lisboa, à excepção das mitras edas casulas, que serão oferecidas res-pectivamente aos bispos e padres.O desenho dos paramentos e os motivosdecorativos foram concebidos pelo Pe.Alberto Gomes, que os submeteu à apro-vação da Comissão Organizadora da visi-ta de Bento XVI a Portugal.O sacerdote estima que o clero presentena missa de Lisboa chegará ao meio mi-lhar, entre diáconos, padres e bispos.A paramentaria fez para os bispos cercade 50 casulas e estolas (faixas longas eestreitas usadas pelo clero), 85 mitras –que vão ser usadas em Lisboa e nas eu-caristias de Fátima e Porto –, 60 alvas (tú-nicas brancas) e igual número de amitos(panos que se colocam em torno do pes-coço).

Paramentos originais acompanham o PapaAs costureiras confeccionaram tambémperto de 80 estolas e 8 dalmáticas paraos diáconos e 350 casulas e igual núme-ro de estolas para os padres, número queterá de ser reforçado dado que o númerode sacerdotes inscritos já ultrapassaaquele total.A comitiva papal também usará as ves-tes feitas no Centro Social e Paroquial deSacavém, que também concebeu um pa-ramento para Bento XVI, cuja utilização,devido ao peso, está dependente dascondições atmosféricas e do estado físi-co do Papa.Apesar de manter o segredo sobre o va-lor total das vestes litúrgicas que vão serutilizadas na missa de Lisboa, respeitan-do o pedido dos doadores, o Pe. AlbertoGomes referiu à Agência ECCLESIA queuma casula feita com o mesmo tecidoescolhido para os bispos, e sem qualquerdecoração, custa cerca de 75 Euros.

Desenho ExclusivoDesenho ExclusivoDesenho ExclusivoDesenho ExclusivoDesenho ExclusivoO vermelho vai dominar as vestes quediáconos, padres e bispos vão usar namissa a que Bento XVI vai presidir no dia14 de Maio, diante da Câmara Municipaldo Porto. A cor é utilizada pela Igreja paraevocar a memória dos apóstolos, e nessedia assinala-se a memória de São Matias,que se juntou ao grupo original dos discí-pulos de Jesus após a morte de Judas.A paramentaria fez também 500 estolascom uma face vermelha e outra branca,tendo sido esta a cor utilizada quandoforam usadas pela primeira vez, na euca-ristia da última Quinta-feira Santa.A cor vermelha, que tem sobrepostosmotivos dourados, servirá preferencial-mente para a missa do dia 14 de Maio, jáque o desenho inclui menções ao Papa eà missa a que Bento XVI vai presidir.No lado esquerdo – “sobre o coração”,como realçou o Pe. Alberto Gomes – en-contram-se a cruz e a estrela que consti-tuem o brasão do actual bispo do Porto,D. Manuel Clemente, simbolizando res-pectivamente o sacrifício de Cristo e a res-surreição. Na outra extremidade foram de-senhadas duas chaves cruzadas, numaalusão ao poder e serviço desempenhadopelos papas. Em baixo bordaram-se as le-tras alfa e ómega – primeira e última doalfabeto grego, que simbolizam Cristo comoprincípio e fim de todas as coisas – segui-das, em baixo, pelas palavras “Bento XVI”e “Porto-XIV-V-MMX”.

CTTCTTCTTCTTCTTOs CTT vão lançar a 10 de Maio umaemissão de selos alusivos à visita deBento XVI a Portugal, que decorre de 11a 14 de Maio, com passagens por Lis-boa, Fátima e Porto. A série é constituí-da por três selos com os três Papas quevisitaram ou vão visitar Portugal: PauloVI em 1967, João Paulo II, em 1982, 1991e 2000, e agora Bento XVI. Um quartoselo é dedicado especificamente à vi-sita de Bento XVI.

CadeiraCadeiraCadeiraCadeiraCadeiraNo encontro com o mundo da Cultura,previsto para as 10h00 do dia 12 deMaio, no Centro Cultural de Belém, Lis-boa, o Papa vai sentar-se numa cadei-ra feita em meados de 1700 para o 2ºCardeal Patriarca de Lisboa, D. JoséManoel da Câmara (1754-1758).

SéquitoSéquitoSéquitoSéquitoSéquitoO séquito da visita de Bento XVI a Portu-gal é constituído por 29 pessoas, inclu-indo o Secretário de Estado, CardealTarcisio Bertone, para além do CardealSaraiva Martins e D. Manuel Monteirode Castro, secretário da Congregaçãodos Bispos. Em Portugal, o Presidenteda Conferência Episcopal, o Cardeal-Patriarca de Lisboa e o coordenador ge-ral da visita integram o séquito desde achegada ao Aeroporto da Portela à par-tida no Aeroporto Sá Carneiro.

TTTTTrrrrraduçõesaduçõesaduçõesaduçõesaduçõesO site oficial da Viagem Apostólica deBento XVI a Portugal(www.bentoxviportugal.pt) tem dispo-níveis versões em castelhano, inglês eitaliano. Os vários conteúdos existen-tes na página em português vão sendoprogressivamente incluídos nas pági-nas em língua estrangeira.

FátimaFátimaFátimaFátimaFátimaO Coro Adulto do Santuário de Fátimavai animar as celebrações da Peregri-nação Internacional Aniversária deMaio, nos dias 12 e 13, que este anosão presididas pelo Papa. São 80 vo-zes a cantar, a juntar às dos muitos mi-lhares de peregrinos que se espera quevenham a acolher Bento XVI neste san-tuário nacional português.

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D. Ilídio Leandro, Bispo de Viseu, convidatodos os fiéis da Diocese a irem ao en-contro do Papa, sublinhando a dimensãonacional da viagem de Bento XVI, emespecial a sua passagem por Fátima.“Embora visite as cidades de Lisboa e doPorto, a sua vinda concretiza-se na con-dição de peregrino de Fátima, local privi-legiado para esse encontro com BentoXVI”, escreve o prelado numa notadivulgada pelo site oficial da Diocese.O Bispo de Viseu fala do Papa como “Cris-tão Peregrino de Nossa Senhora de Fáti-ma”, frisando que é nesse Santuário queBento XVI “centrará a sua Peregrinação”.“Para aí se convidam todos os Cristãos,aproveitando, também, o facto de o Go-verno ter concedido tolerância de pontopara todo o país”, acrescenta.Ali, escreve D. Ilídio Leandro, os cristãosdevem “fazer sentir a Bento XVI” queestão com ele e apoiam a sua “acção cla-ra, frontal, corajosa ao serviço do anún-

Português assina presente dos Bispos ao PapaOs bispos portugueses vão oferecer aBento XVI um conjunto de vinte aguare-las sobre os mistérios do Rosário, da au-toria do pintor Avelino Leite. Em declara-ções à ECCLESIA, D. Carlos Azevedo, co-ordenador-geral da visita do Papa a Por-tugal explica que a intenção foi permitirque Bento XVI “levasse alguma coisa re-lacionado com Maria”.A oferta das aguarelas do pintor de San-to Tirso será feita no encontro dos Bisposcom Bento XVI, dia 13 de Maio, em Fáti-ma. A troca de presentes é um acto cordi-al e habitual nas deslocações e encon-tros do Papa, tanto no Vaticano como noestrangeiro.Avelino Leite confessou estar a trabalharo melhor que sabe para “não desiludir”.Ao explicar a forma de fazer a ponte en-tre a realidade teológica e a plasticidadeda pintura, o pintor realça que é funda-mental “estar dentro do tema e dos mis-térios para colocar algo de nós própriosnesse trabalho”.O Rosário inclui uma meditação conheci-da como “mistério”, que introduz a reci-tação do pai-nosso e das ave-marias, re-cordando passagens da vida de Jesus eda Virgem Maria. Actualmente, os misté-rios estão divididos em 4 grupos: gozosos,luminosos, dolorosos e gloriosos.Não há uma cor específica para cada mis-

tério, “mas uma intensidade de cores nosmistérios”, indica Avelino Leite.Em relação aos Mistério Luminosos, o pin-tor desvenda que estas aguarelas “têmmais luz, mais ouro, mais amarelos e bran-cos”. Na transposição da dor para asaguarelas dos Mistérios Dolorosos, o ar-tista afirma que “é uma explicação difí-cil, porque saem naturalmente para opapel”.Com vários trabalhos de temática religio-sa, o pintor considera esta área “alician-te”. Quando se coloca a tónica na inspi-ração, o artista de S. Tirso confidencia quese inspira em várias coisas: “na forma-ção religiosa, nas vivências e nas leitu-ras”.Com aguarelas “não muito objectivas ealgo enigmáticas”, Avelino Leite escla-rece que “cada um retira, conforme a von-tade e sensibilidade”.D. Carlos Azevedo afirma que este pintor“consegue tratar os temas da arte religi-osa cristã com uma densidade espirituale, em simultâneo, com uma beleza de corsuave que vai de encontro à linguagem egramática contemporânea sem deixar dese inspirar nas fontes da tradição”.Nascido em 1953, Avelino Leite frequen-tou a Escola Superior de Belas Artes doPorto e já apresentou as suas obras emvárias dezenas de mostras e exposições.

Bispo de Viseu convida a ver o Papacio de Jesus Cristo Ressuscitado e da SuaBoa Nova, no respeito pelas diferenças eno diálogo com todas as pessoas que seabrem à verdade e ao bem”.“Este é o momento de preferir, à televi-são ou a outros meios de acompanha-mento da notícia, a presença na Cova daIria”, precisa.D. Ilídio Leandro considera que “o Papaquer encontrar-se connosco e dirigir umaMensagem aos cristãos de Portugal”, paraajudar a “tomar opções e a dar coerência eorientação à construção da vida pessoal ecomunitária”. “Ao mesmo tempo, é oportu-nidade para Lhe dizermos que estamoscom Ele, quer na promoção destes princí-pios, quer na rejeição de tudo o que traduze promove o relativismo, o permissivismoe a inversão de valores, num sério prejuízoda dignidade e da felicidade da pessoa ede toda a Comunidade Humana que que-remos e somos chamados a construir”, con-clui o Bispo de Viseu.

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Síntese

Três alunos de Joseph Ratzinger e umajornalista que acompanha as viagens doPapa deram a conhecer algumas facetasde Bento XVI que visita Portugal de 11 a14 de Maio.Numa mesa-redonda realizada na Univer-sidade Católica Portuguesa (UCP), em Lis-boa, os quatro oradores mostraram «Ben-to XVI – visto de perto».O «aluno» D. António Marto, Bispo deLeiria-Fátima, disse aos presentes queBento XVI fez a “sua teologia sempre emdiálogo com a cultura: com a sabedoriagrega, concretamente platónica; com afilosofia medieval e com o pensamentomoderno e contemporâneo”.O Pe. Noronha Galvão é um dos portu-gueses que melhor conhece Bento XVI,pois foi aluno do então Cardeal JosephRatzinger e participa nos célebres encon-tros anuais de antigos alunos com o Papa.Os seminários que o professor Ratzingerdirigia eram “grandes escolas de discus-são teológica”.Ao caracterizar o pensamento teológicodo actual Papa, o Pe. Noronha Galvãoacentua a “amplidão que ele abarca”.“Tem um grande rigor científico, basean-

Vaticano: números da Igreja em PortugalO Vaticano divulgou os números oficiaisda Igreja Católica em Portugal, os quaisfalam numa percentagem de católicos de88,3% da população, confirmando aindaa quebra no número de padres. Os dadosdisponibilizados pela sala de imprensada Santa Sé referem-se à situação no dia31 de Dezembro de 2008.De 2000 a 2008, o número de sacerdotesdiocesanos baixou de 3159 para 2825(menos 11%), enquanto que o clero reli-gioso desceu de 1078 para 972 (uma que-bra de quase 10%).Os seminaristas de filosofia e teologiatambém são menos, segundo os últimosdados disponíveis: de 547, entre dioce-sanos e religiosos, em 2000 passou-separa 444 em 2008 (menos 19%).Segundo o Vaticano, a percentagem decatólicos em Portugal é de 88,3% doshabitantes - 9,36 milhões de católicospara uma população de 10,6 milhões depessoas.O Recenseamento da Prática Dominical,datado de 2001, mostrava que o númerototal de praticantes não chegava, contu-do, aos 2 milhões de fiéis.

A Igreja Católica em Portugal conta com52 Bispos, 3797 padres, 212 diáconos per-manentes, 312 religiosos e 5965 religio-sas, para além de 594 membros de Insti-tutos seculares.O número de catequistas é de 63 906 numtotal de 4380 paróquias e 2878 outroscentros pastorais, espalhados por 21Dioceses.Um dado curioso diz respeito aos titula-res das Dioceses: desde o ano 2000, fo-ram 13 as Dioceses que passaram a serlideradas por um novo Bispo.O Vaticano elenca também os centrosescolares que são propriedade da Igrejaou são dirigidos pelos seus membros: há793 estabelecimentos até à primária, 80secundários e 26 institutos superiores ea UCP, servindo um total de quase 130mil alunos.Quanto a “centros caritativos e sociais”são contabilizados 43 hospitais, 155 am-bulatórios, 799 casas para idosos, 663orfanatos ou asilos, 55 consultórios fa-miliares e centros para a protecção davida, 462 centros educativos especiais e168 outras instituições.

Das aulas aos doces de Bento XVIdo-se, por norma, no estudo exegético daSagrada Escritura”, mas, por outro lado,integra “sempre a perspectiva da espiri-tualidade e da pastoral” – disse o oradorno Auditório Cardeal Medeiros. Domina opensamento filosófico, político e das ciên-cias naturais. O pensamento de Ratzingersitua-se no “tempo que vivemos”.O jesuíta António Vaz Pinto também «be-beu» da sabedoria do professor Ratzinger.Foi estudar Teologia para a Alemanha ematriculou-se numa disciplina lecciona-da pelo actual Papa. “Fiz com ele a ca-deira de Eclesiologia” – disse o Pe. VazPinto.Com 5 anos de pontificado (completadosa 19 de Abril), Bento XVI ainda é compa-rado com o seu antecessor, mas a com-paração “é injusta” – disse a jornalistaAura Miguel.A jornalista da Rádio Renascença disseainda que o actual Papa vive em “regimede mosteiro” porque “é o seu estilo”. AuraMiguel que lançou, recentemente, um li-vro intitulado «As razões de Bento XVI»contou algumas preferências do Papaalemão: “percebi que ele gostava imen-so de doces”.

EmbaixadorEmbaixadorEmbaixadorEmbaixadorEmbaixadorO último acto diplomático do represen-tante diplomático de Portugal junto daSanta Sé, Rocha Páris, é a visita de Ben-to XVI a Portugal, de 11 a 14 de Maio.Em declarações à Agência ECCLESIA,Rocha Páris sublinha que foi “um privi-légio” representar Portugal junto daSanta Sé. Este episódio da vida do em-baixador português reveste-se do “mai-or significado”. Rocha Páris, realça quea preparação tem sido “bem feita” masé uma visita “difícil e de enorme res-ponsabilidade, visto que é a primeiravez que Bento XVI visita Portugal”.

MúsicaMúsicaMúsicaMúsicaMúsicaA 12 de Maio de 2000, Madalena Vidale os seus quatro filhos cantaram paraJoão Paulo II na Base Militar de FigoMaduro. Agora, 10 anos depois, o en-contro será com Bento XVI. Contandojá com 134 actuações desde que nas-ceram, os «FigoMaduro» vão apresen-tar-se em Fátima, a 13 de Maio, na Igre-ja da Santíssima Trindade, para o en-contro do Papa com a Pastoral Socialonde interpretarão 7 temas musicais.

CicloperegrinaçãoCicloperegrinaçãoCicloperegrinaçãoCicloperegrinaçãoCicloperegrinaçãoSão amigos, católicos, têm entre 19 e34 anos, e nos dias 11 e 12 de Maio vãopercorrer de bicicleta, as estradas queligam o Porto a Fátima. A primeira vezque o grupo fez esta peregrinação foiem Maio de 2000 quando o Papa JoãoII esteve em Portugal pela última vez.“Vemos nesta peregrinação uma opor-tunidade de rezar, estar perto do Papae aceitar os desafios dele”, diz o res-ponsável, Francisco Adão da Fonseca.

SiteSiteSiteSiteSiteEstá online o site específico para a pre-sença de Bento XVI em Lisboa, nos dias11 e 12 de Maio(www.bentoxvilisboa.com), o qual apre-senta todas as informações indispen-sáveis para a participação na missa noTerreiro do Paço: as zonas reservadasa estacionamentos, os condicionamen-tos de trânsito automóvel, as zonas emque não vai ser possível circular a pé,bem como informações dos vários ope-radores de transportes (Carris, Metro,CP, Transtejo, Táxis e autocarros).

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A jornalista Isabel Teixeira da Mota foinomeada Porta-Voz da Coordenação-ge-ral da Visita de Bento XVI a Portugal, um«privilégio» que não pediu «nem pediria»,mas que aceita «com toda a boa-vontadepara estar ao serviço daquilo que a Igre-ja» lhe pede nesta altura.Com a missão de divulgar a mensagemoficial da estrutura central que prepara aViagem Apostólica do Papa a Portugal,Isabel Teixeira da Mota não vê surpresasno facto de a escolha ter recaído numamulher.«Porque não uma mulher? As mulherestêm tido uma participação muito impor-tante e relevante em toda a história daIgreja», sublinhou, referindo que na fun-dação da própria Igreja está uma mulher,a Mãe de Jesus.Recordou também que nas mais recen-tes Viagens Apostólicas de Bento XVI,casos do Brasil e República Checa, a fun-ção de porta-voz foi entregue a mulhe-res, pelo que a Coordenação-geral da Vi-sita a Portugal decidiu seguir esses exem-

plos.Isabel Teixeira da Mota sublinhou aindaque se aguarda,«neste momento parti-cular que o país vive», que Bento XVI sejaportador de «palavras de grande espe-rança, de grande ânimo».Licenciada em Sociologia (Faculdade deCiências Sociais e Humanas da Universi-dade Nova de Lisboa, 1995) e pós-gradu-ada em Ciência Política (ISCTE – InstitutoSuperior de Ciências do Trabalho e daEmpresa, Lisboa, 2004), Isabel Teixeirada Mota tem colaborado como voluntá-ria em numerosas iniciativas da Igreja, deâmbito pastoral, cultural e social.Quanto ao que se espera da viagem doPapa, a porta-voz recordou o lema destadeslocação («Contigo caminhamos naEsperança - Sabedoria e Missão»), refe-rindo que se aguardam de Bento XVI «pa-lavras de sabedoria», como tem sido há-bito, e que o Pontífice Romano confirmeos cristãos católicos na sua missão nes-te mundo: «de nos convertermos e deanunciar a beleza do amor de Deus».

Coordenação-geral da visita nomeia porta-voz

Bento XVI vai ficar no quarto que aco-lheu João Paulo II aquando da terceira eúltima peregrinação do Papa polaco a Fá-tima, no ano 2000. O alojamento, situadono segundo piso da Casa de Nossa Se-nhora do Carmo, pertencente ao Santuá-rio de Fátima, inclui casa de banho, escri-tório e sala de estar, de pequenas dimen-sões. O quarto, voltado para um pátio in-terior, é semelhante a outros onde resi-dem padres e onde se alojam peregrinos.De acordo com a Sala de Imprensa doSantuário, os serviços do Vaticano res-ponsáveis pela organização da visita nãoimpuseram qualquer condição especialem termos de alojamento e de refeições.

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Bento XVI na Casa Nossa Senhora das DoresA comitiva papal vai ficar alojada no mes-mo local, em que também pernoitarão etomarão as refeições alguns bispos por-tugueses e outros convidados. O Papachegará a Fátima às 17h10 do dia 12 deMaio, numa viagem de helicóptero quesairá do aeroporto militar de Figo Madu-ro, em Lisboa, e que sobrevoará o Santu-ário de Cristo Rei, em Almada. Depois deaterrar no novo Estádio Municipal, na lo-calidade de Eira da Pedra, Bento XVI vaidirigir-se ao Santuário, onde ficará até às8h00 do dia 14. Às 8h40 partirá doheliporto de Fátima, chegando às 9h30ao quartel da Serra do Pilar, em Vila Novade Gaia.

Na única noite que dorme em Lisboa, nodia 11 de Maio, Bento XVI vai ficar insta-lado no quarto principal da NunciaturaApostólica, a embaixada da Santa Sé jun-to do Estado português.O quarto e as instalações da Nunciaturaestão a ser alvo de pequenas obras inte-rior para adaptação ao gosto do Papa.O núncio apostólico, Monsenhor RinoPassigato, que tem uma colecção pesso-al de arte contemporânea e é ele própriopintor, mandou colocar um quadro da Vir-gem Maria com o Menino – Menino daPaz -, um outro quadro com motivos mu-sicais, pelos gostos musicais de BentoXVI, e um outro quadro com naturezamorta.

Todos os quadros são de autores italia-nos, explicou o núncio, referindo que ain-da não teve oportunidade de adquirir qua-dros de autores contemporâneos portu-gueses.São Pedro e São Francisco, em estanho ebronze, de um autor alemão, estão à ca-beceira da cama.Os dois santos são os padroeiros deMonsenhor Rino Passigato: São Pedropela sua ligação à Santa Sé e São Fran-cisco pela devoção italiana de onde éoriginal.Por cima da cama está um crucifixo sim-ples de marfim.Cooperadoras da Família preparam comi-da italiana e portuguesa para Bento XVISão leigas que se dedicam ao serviço dafamília e estão a trabalhar na NunciaturaApostólica há vários anos. Para a visitade Bento XVI, não lhes foi pedido qual-quer dieta especial, mas apenas algumasrefeições ligeiras.Será servido o almoço e o jantar do dia 11e o almoço do dia 12, os quais, segundoas informações da Nunciatura, terão comoementa principal alguns pratos tradicio-nais portugueses, mas também algumasmassas e pastas italianas.Também serão servidas refeições de pei-xe e de carne para que o Papa possa des-frutar das diferentes comidas.Bento XVI deverá tomar as refeições comos dez acompanhantes pessoais que fi-carão instalados na Nunciatura Apostóli-ca e com o próprio Monsenhor RinoPassigato.Todas as refeições serão tomadas na salade jantar principal.

A casa do Papa em LisboaA casa do Papa em LisboaA casa do Papa em LisboaA casa do Papa em LisboaA casa do Papa em Lisboa

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PAPA TEÓLOGO

Um Papa teólogo

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A menos de um mês da visita de BentoXVI ao nosso país, a Agência ECCLESIAapresenta, neste semanário, um dossierespecial dedicado ao percurso do actualPapa enquanto teólogo de referência naIgreja Católica.Passados cinco anos desde a sua elei-ção, é claro para todos que as posiçõesde Bento XVI não nascem de caprichos,resultam de anos de estudo, ministériopastoral e experiência no Vaticano. OPapa tem atrás de si um passado de de-dicação indesmentível a um programaeclesial e teológico próprio, que o distin-gue entre os pensadores da Igreja e daprópria Europa, onde nasceu e sempreviveu.Quando ele fala, as pessoas ouvem: assuas intervenções são pesadas e medi-das, aparecendo como referência do pen-samento eclesial. Na opinião pública,contudo, surge, muitas vezes, com a ima-gem de “carrasco” - o seu papel comoresponsável pela recta doutrina católicaescureceu, porventura, as grandes posi-ções assumidas nos últimos 50 anos, pelomenos.A acção de Bento XVI, contudo, deve serentendida à luz da sua convicção de fun-do: o serviço à Verdade não admitedistorções, relativismo, desvios.Concorde-se ou não, a sua análise é qua-se sempre certeira: após a queda do co-munismo, escolheu como adversário orelativismo e deixou claro que a Igrejadeve apresentar e defender posiçõesabsolutas, como referências dogmáticas.No texto que assina nesta edição, JoãoDuque, secretário da Comissão Episcopalpara a Doutrina da Fé e Ecumenismo,aborda o percurso de Joseph Ratzingercomo teólogo, acentuando a sua conti-nuidade, desde o entusiasmo geradopelo espírito do Concílio Vaticano II aocepticismo em relação a determinadosmodos de aplicação e recepção desseConcílio.“Sempre que a relação entre verdade dafé cristã e história humana foi interpreta-da como relativização dessa verdade,que passa a ser construída, em cada cir-cunstância histórica, a partir dos dadosdo mundo, como se não tivesse uma tra-dição própria ou como se essa tradiçãofosse falsa – sempre que uma correnteteológica ou uma tendência pastoral, atémesmo litúrgica, enveredou por essaperspectiva de ruptura, Ratzinger teve

Um Papa teólogodificuldade em aceitar os ímpetos danova teologia”, explica.Autor de obras fundamentais, e já comoPapa, os escritos principais de Bento XVIsão, para João Duque, “escritos teológi-cos sobre o que considera serem os pila-res do cristianismo, num mundo em quecorremos o risco de relativizar tudo”.

Ecumenismo e políticaJosé Eduardo Borges de Pinho, professorde Teologia na UCP, considera que “navida, na teologia e na intervenção eclesialde J. Ratzinger/Bento XVI o ecumenismoconstitui, como uma das consequênciasessenciais do Vaticano II, uma dimensãoimprescindível da vivência e da reflexãoteológica católicas”.“Para ele, não só a teologia não podeignorar o ecumenismo enquanto indis-pensável busca de um acolhimento ple-no da herança cristã, como também a ta-refa ecuménica tem de ser assumidacomo prioridade fundamental no nossotempo”, indica.O teólogo português observa que o Papaassume um “posicionamento crítico” facea um ecumenismo “superficial” que,“subalternando e não enfrentando até aofim a questão da verdade, não consegueatingir a unidade propriamente dita”.O biblista Joaquim Carreira das Neves lem-bra, por seu lado, que o teólogo JosephRatzinger aborda o Judaísmo em todosos trabalhos teológicos que recorrem àsEscrituras Hebraicas (Antigo Testamen-to-AT), sublinhando que “não há qual-quer abordagem de teologia cristã quenão pressuponha um exame analépticoao AT”.“Na sua análise exegética ao AT é impor-

tante reconhecer que Ratzinger cita con-tinuamente os exegetas mais recentes,especialmente os alemães, católicos eprotestantes, sublinha.O exegeta franciscano recorda que “o fi-lósofo, o teólogo e o pastor-papa J.Ratzinger visitou Auschwitz, Israel e foiorar a sinagogas de judeus. InterrogouDeus sobre o Holocausto, dialogou e oroucom rabis nas sinagogas. Determinoucomo acção primária no seu pontificadoo ecumenismo”.“O pensador e teólogo está submergidono «mistério de Deus» em escatologiahistórica. Não há Deus sem história, acomeçar pela história de Israel. O pas-tor-papa apresenta-se como servidor da«verdade cristã» – o Messias já veio parajudeus e cristãos”, explica.João Caetano, Presidente do CADC, emCoimbra, destaca que foi como filósofopolítico e teólogo filosófico que JosephRatzinger, no período anterior à sua elei-ção como Papa, reflectiu sobre os con-ceitos políticos mais importantes do mun-do ocidental: democracia, liberdade, go-verno e Estado, entre outros. “Fê-lo emmúltiplas obras e intervenções, durantedezenas de anos, revelando uma coerên-cia notável, que se reflecte na sua actua-ção como Papa, sobretudo na CartaEncíclica «Deus é Amor», de 2005”.Para este responsável, “o actual Papa vêa democracia como a forma mais adequa-da de organizar a política, mas assinala-lhe contradições e limitações graves notempo presente, provocadas pela faltade conhecimento e observação, pelosagentes políticos, de fundamentos mo-rais sólidos, que ele identifica como osvalores absolutos do cristianismo”.

Como tive a ocasião de esclarecer nodiscurso à Cúria Romana a 22 de De-zembro de 2005, uma corrente inter-pretativa, apelando-se a um presumível“espírito do Concílio”, julgou estabele-cer uma descontinuidade e até umacontraposição entre a Igreja antes e aIgreja depois do Concílio, ultrapassan-do por vezes os próprios confins objecti-vamente existentes entre o ministériohierárquico e as responsabilidades dosleigos na Igreja.A noção de “Povo de Deus”, em particu-lar, foi interpretada por alguns segundouma visão puramente sociológica, com

uma ruptura quase exclusivamente ho-rizontal, que excluía a referência verti-cal a Deus.Trata-se de uma posição em aberto con-traste com a palavra e com o espírito doConcílio, o qual não quis uma ruptura,uma outra Igreja, mas um verdadeiro eprofundo renovamento, na continuida-de do único sujeito Igreja, que cresceno tempo e se desenvolve, permane-cendo contudo sempre idêntico, únicosujeito do Povo em peregrinação.(Discurso do Papa Bento XVI na Aber-tura do Congresso Eclesial da Diocesede Roma, 26 de Maio de 2009)

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Foi como filósofo político e teólogo filo-sófico que Joseph Ratzinger, no períodoanterior à sua eleição como Papa, reflec-tiu sobre os conceitos políticos mais im-portantes do mundo ocidental: democra-cia, liberdade, governo e Estado, entreoutros. Fê-lo em múltiplas obras e inter-venções, durante dezenas de anos, reve-lando uma coerência notável, que se re-flecte na sua actuação como Papa, so-bretudo na Carta Encíclica “Deus é Amor”,de 2005.Não é contudo correcto classificar o per-curso do actual Papa como político, por-que ele nunca formulou um programa deacção política nem agiu politicamente.Foi como homem de fé e de pensamentoque procurou determinar o significado dapolítica e da democracia, e, por essa via,do direito, circunscrevendo a sua refle-xão aos fundamentos da convivência hu-mana.À semelhança de João Paulo II, o actualPapa vê a democracia como a forma maisadequada de organizar a política, masassinala-lhe contradições e limitaçõesgraves no tempo presente, provocadaspela falta de conhecimento e observa-ção, pelos agentes políticos, de funda-mentos morais sólidos, que ele identificacomo os valores absolutos do cristianis-mo. Segundo ele, tanto a organizaçãocomo a actividade política devem funda-mentar-se nos valores cristãos, porqueforam eles que permitiram criar os laçossociais das sociedades ocidentais.A sua reflexão é actual e pertinente, nãose afastando, no domínio dos factos, doque é aceite pela maioria dos filósofospolíticos contemporâneos. MasRatzinger acrescenta um elemento, quedecorre da sua condição de homem defé, embora sempre numa atitude filosófi-ca. A moralidade social tem como postu-lado, desde Kant, a existência de Deus, eeste é um elemento que não pode serignorado.As democracias puramente formais vigen-tes, baseadas na regra da maioria e daminoria, criam “um direito governado pelaestatística”. Mas a maioria não tem o di-reito de, só porque é maioria, definir oque é verdadeiro e justo, de acordo comos valores do momento e muito menoscontra o sentimento verdadeiro das pes-soas. Mas é isso que acontece realmen-te, e por isso denuncia aquilo a que cha-ma “idolatria da democracia”, em que a

Pensamento político de Bento XVIlegitimidade invocada pelos agentes po-líticos para as suas decisões é apenas ada maioria, sem qualquer vínculo exter-no ou conteúdo moral.Bento XVI perspectiva a relação entre ademocracia e o cristianismo do seguintemodo: não existe verdadeira democraciasem fundamentos morais consensuaisque permitam uma determinação livre davontade das pessoas. Os fundamentosmorais do cristianismo são, no plano ra-cional, o que possibilita a harmonia soci-al, pois são absolutos, pelo que devemser assumidos explicitamente pelosordenamentos político-jurídicos. De res-to, a política é o reino do relativo, justifi-cando-se a existência de diversidade deopiniões sobre a maior parte das matéri-as.Bento XVI duvida da existência de umaefectiva liberdade de escolha nos Esta-dos democráticos contemporâneos, por-que, segundo ele, a vontade dos eleito-res é manipulada através da propagan-da veiculada pela comunicação social,que faz parte de uma oligarquia que de-termina o que é moderno e progressista,o que devem pensar as pessoas. Essaoligarquia engloba a comunicação soci-al, assim como grandes empresas e as-sociações de interesses – os poderesfácticos da sociedade –, cujas activida-des, ao contrário do que aconteceu emséculos precedentes, não são controla-das pelas pessoas e põem em causa arepresentação democrática.Diante dos interesses organizados, o bemcomum é hoje uma miragem, o que levaRatzinger, hoje Papa, a perguntar se osistema da maioria e da minoria será ver-dadeiramente um sistema de liberdade.A democracia funda-se na liberdade, quenão é no entanto o direito de fazer o quese deseja mas o pressuposto de uma ra-cional auto-determinação da vontade. OPapa é contra a “tirania da irracio-nalidade”, ao mesmo tempo que negaque o homem saiba sempre o que quer. Oque vale para a liberdade vale, segundoele, também para a democracia. Não exis-te democracia sem uma sentida e com-preendida relação de interdependênciaentre os membros da colectividade polí-tica, o que explica o conceito de autori-dade e lhe confere conteúdo, por exem-plo em matéria social.Segundo o Papa, não é conforme à natu-reza humana uma acção ou decisão fun-

dada no egoísmo e que separa o indiví-duo, nas suas relações, da vontade dosoutros. O homem em sociedade quer maisdo que pode e nem sempre quer bem.Sob pena de se autodestruir, o homemdeve aprender a harmonizar a sua vonta-de com a sua natureza racional. Ora avontade da maioria não expressa sem-pre a vontade individual, por força da re-ferida manipulação das consciências edas modas ou da própria pressão do mer-cado, sofrendo o homem contemporâneoque se julga livre “a influência da multi-dão”. “A subtil voz da consciência – es-creveu Ratzinger quando era cardeal – ésufocada pelos gritos da multidão. A in-decisão, o respeito humano conferem for-ça ao mal”. Existe uma “ditadura da apa-rência”, que se manifesta na actividadepolítica, “na qual em muitos casos o querealmente conta é o que “aparece” dosfactos – aquilo que é afirmado, escrito,mostrado –, mais do que os factos em simesmos”. Não existe hoje uma transfe-rência do poder das pessoas para as ins-tituições políticas, que não passam de“um poder indeterminado e sem rosto”.Diante da dissolução dos laços consoli-dados nas sociedades políticas, ao lon-go de milénios, por influência do cristia-nismo, as democracias são hoje “gran-des sistemas anónimos” que capturarama liberdade de auto-determinação daspessoas. A democracia baseada na mai-oria é uma “forma de relativismo moral”,que desemboca “na anarquia ou no tota-litarismo”, se não houver uma sólida for-mação da consciência moral das pesso-as.Este é o desafio que Bento XVI, comoPapa que pensa, de modo inovador, a or-ganização política, nos deixa para já, es-perando-se mais desenvolvimentos nofuturo.

João Carlos Relvão CaetanoPresidente do CADC

Não existe verdadeira democra-cia sem fundamentos moraisconsensuais que permitam umadeterminação livre da vontadedas pessoas

PAPA TEÓLOGOPAPA TEÓLOGO

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Perdoem-me os leitores, antes de tudo, apresunção de falar do rico percurso teo-lógico de Joseph Ratzinger / Bento XVIem tão poucos parágrafos. É um atrevi-mento que, em realidade, não terá des-culpa possível. Mas há circunstâncias queatenuam os atrevimentos. E, assumidaesta desculpa inicial, já poderei, com al-guma despreocupação, referir ao de leveaquilo que considero ser o essencial des-se percurso. Que sirva, simplesmente, dealiciante para que o leitor possa mergu-lhar nos recantos mais fundos dessa teo-logia.Antes de mais, convém não perder o hori-zonte do início, pois aí se lançam as ba-ses de tudo. E, nesse início, encontra-sesobretudo a consciência da importânciado pensamento histórico em teologia. Porinfluência de Agostinho e de Boaventura,essa reapropriação da dimensão históri-ca da revelação e da correspondente te-ologia foi, sem dúvida, um dos mais im-portantes passos da renovação teológi-ca do séc.XX, influenciada pela NouvelleThéologie francesa (Daniélou, DeLubac...) e conducente ao Concílio doVaticano II. É preciso ter noção de que,com essa perspectiva teológica, recupe-rava-se, de forma nova, um modo de re-lação com a Escritura e com os escritosda história do cristianismo, sobretudo dosprimeiro séculos, que a denominada Te-ologia Neo-escolástica tinha praticamen-te abandonado. Basicamente, reafirma-va-se uma relação intrínseca entre a ver-dade cristã e as transformações da histó-ria, contra uma visão lógico-estática eeterna dessa verdade. Os trabalhosacadémicos do jovem teólogo JosephRatzinger são importantes contributospara essa renovação. E foram, por issomesmo, controversos na academia.Esta perspectiva aproximou Ratzinger doespírito do Concílio Vaticano II, com o qualnaturalmente se entusiasmou. Mais tar-de, contudo, tornou-se céptico em rela-ção a determinados modos de aplicaçãoe recepção desse concílio. Sempre que arelação entre verdade da fé cristã e his-tória humana foi interpretada comorelativização dessa verdade, que passaa ser construída, em cada circunstânciahistórica, a partir dos dados do mundo,como se não tivesse uma tradição pró-pria ou como se essa tradição fosse falsa– sempre que uma corrente teológica ouuma tendência pastoral, até mesmo

Tópicos de um percurso teológicolitúrgica, enveredou por essa perspecti-va de ruptura, Ratzinger teve dificuldadeem aceitar os ímpetos da nova teologia.Isso aconteceu já em Tübingen, na altu-ra em que se desenvolveram importan-tes projectos de Teologia Política e deTeologia da Esperança, sob forte influ-ência da tradição neo-marxista. Não ne-gando elementos válidos a esses projec-tos teológicos, Ratzinger foi, sobretudo,duro crítico do seu caminho de fundamen-tação da verdade cristã fora da grandetradição cristã, recorrendo a intuições eargumentos próprios de filosofias políti-cas que, além do mais, considerava duvi-dosas. Foi nessa atitude crítica que es-creveu a «Introdução ao Cristianismo» e,sobretudo, a «Escatologia» (esta, elabo-rada já no contexto menos polémico deRegensburg, mas mantendo o mesmogesto crítico em relação aos projectosescatológicos seus contemporâneos).Essas obras, que apresentam umareleitura do cristianismo e dos seus gran-des temas em termos contemporâneos,mas numa linha de perfeita continuidadecom a tradição cristã, sem cedências fá-ceis a certas modas filosóficas, marca-rão o núcleo da sua perspectiva, em rela-ção à teologia actual: uma perspectivarenovadora mas, ao mesmo tempo, críti-ca em relação ao que ele consideravauma aventura perigosa, por terrenos teo-lógicos que poderiam levar à própria de-turpação da doutrina cristã.Parece-me, na minha humilde opinião, tersido esta leitura da teologia dos anos 70e 80 do séc. XX (sempre com base numaatitude polémica) que determinou a suaatitude como Cardeal Prefeito da Congre-gação da Doutrina da Fé. Assim como, jáenquanto Arcebispo de Munique, se ti-nha assumido como defensor de uma re-lação estreita com a tradição teológicado cristianismo, contra rupturas mais oumenos atrevidas, assim agora, com mui-to mais razões, assumiu essa posição, emrelação a toda a Igreja Católica. Seja naleitura que fez da Teologia da Liberta-ção, seja, mais recentemente, em rela-ção à Teologia das Religiões não cristãs,a perspectiva de fundo é de vigilância,para evitar a ruptura com os elementosconsiderados fundamentais da tradiçãocristã e que poderíamos identificar com averdade do cristianismo, na relação aosdiversos momentos da história, mas semse deixar determinar, em absoluto, pelo

relativismo do historicismo total, ou pelofascínio de correntes filosófico-políticasde moda.Poderemos dizer que esta preocupaçãoessencial tem determinado o pontificadode Bento XVI. Os seus escritos principaissão, de facto, escritos teológicos sobre oque considera serem os pilares do cristi-anismo, num mundo em que corremos orisco de relativizar tudo. Assumindo, ago-ra, um tom afirmativo e conciliador, dife-rentemente do tom polémico dos escri-tos anteriores, não deixa de se situar nomesmo registo fundamental. Ao mesmotempo, vai abandonando a radicalidadede certa perspectiva crítica, reconhecen-do elementos importantes nas tentativasteológicas a que anteriormente se tinhaoposto. Não porque tenha mudado deperspectiva, mas porque, entretanto, odebate teológico fundamental se alterousignificativamente.Exemplo disso é o caso feliz de certascoincidências (sem encobrir reais diferen-ças), sobretudo quanto à centralidade dareferência a Deus, entre a sua teologia ea teologia de Johann Baptist Metz, tidocomo fundador da Nova Teologia Políti-ca e que foi, sem dúvida, um dos alvos dasua crítica, na fase de Tübingen. Por umlado, Metz é hoje mais céptico e críticoem relação ao rumo que a nossa culturafoi tomando, sendo também forte opositordo actual relativismo dito «pós-modernis-ta». Ao mesmo tempo, Bento XVI, sobre-tudo nas Encíclicas Spe Salvi e Caritas inVeritate, avalia de modo mais vasto a di-mensão política da esperança e da pró-pria actividade teológica. Nesse sentido,parece-me que podemos encontrar, nopercurso teológico de Ratzinger/BentoXVI, independentemente do seu múnusde Bispo de Roma, um dos maiores e maisequilibrados contributos para a renova-ção teológica na cultura actual.

João DuqueProf. Teologia na UCP, Secr. Com.

Episcopal Doutrina da Fé e Ecumenismo

Aperspectiva de fundo é devigilância, para evitar a rupturacom os elementos consideradosfundamentais da tradição cristã

PAPA TEÓLOGO

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1.Nestas notas sobre o pensamentoecuménico de Joseph Ratzinger/BentoXVI ressalto, antes de mais, quatro con-siderações básicas.Em primeiro lugar, anoto o facto de queos textos do teólogo J. Ratzinger sobrequestões ecuménicas não são em núme-ro muito elevado e surgem a maior partedas vezes motivados por situações pon-tuais (frequentemente, são reflexões crí-ticas sobre desenvolvimentos em cursona cena ecuménica). Isso não invalida ogrande alcance de algumas dessas re-flexões, mas não dispomos de um escritocom uma visão de conjunto sistematiza-da.Não obstante isso, importa sublinhar quena vida, na teologia e na intervençãoeclesial de J. Ratzinger/Bento XVI oecumenismo constitui, como uma dasconsequências essenciais do Vaticano II,uma dimensão imprescindível da vivênciae da reflexão teológica católicas. Paraele, não só a teologia não pode ignorar oecumenismo enquanto indispensávelbusca de um acolhimento pleno da he-rança cristã, como também a tarefaecuménica tem de ser assumida comoprioridade fundamental no nosso tempo(é, por isso, preocupação e dever queestão no coração de Bento XVI desde oinício do seu pontificado).Importa não esquecer – terceiro aspecto- que, como noutros âmbitos, a figuraecuménica de Joseph Ratzinger estámarcada na memória presente pela suaacção como Prefeito da Congregação paraa Doutrina da Fé. Os documentos publi-cados – sublinho a Communionis Notio,de 1992, e a Declaração Dominus Jesus,de 2000 - e as questões (importantes)nele levantadas colocaram-no inevitavel-mente sob o fogo da discussão teológicae da diversidade de leituras em termosecuménicos.É notório, por fim, que, no pensamento eno modo de agir de J. Ratzinger/BentoXVI, a situação e o futuro ecuménicosassentam num caminho bipolar diferen-ciado que privilegia a aproximação aomundo cristão do Oriente em compara-ção com o diálogo católico-protestante,atravessado por divergênciaseclesiológicas profundas e por novos pro-blemas no campo ético. Para o teólogo J.Ratzinger (que foi membro da ComissãoInternacional de Diálogo Teológico Ca-tólico-Ortodoxa), o facto de a tradição

Bento XVI e o ecumenismo – a busca e a afirmação da verdadeoriental/ortodoxa ter mantido, apesar daruptura, a unidade estrutural baseadasobre o princípio vigente desde o séculoII da sucessão apostólica no episcopadoé um elemento diferenciador absoluta-mente decisivo.

2. Esta preocupação prioritária já deu osseus frutos com o renascer de um novoclima no diálogo católico-ortodoxo e aaprovação, em 2007, em Ravena, pelaComissão Teológica Mista de um docu-mento sobre as “Consequênciaseclesiológicas e canónicas da naturezasacramental da Igreja”. Pela primeira vez,os representantes ortodoxos reconhecemaí um nível universal da Igreja e admitemque, também a esse nível universal, exis-te um Primaz, o qual, à luz da prática emvigor desde a Igreja antiga, só pode ser oBispo de Roma. Na perspectiva da próxi-ma reunião plenária prevista para Setem-bro deste ano, a Comissão trabalha ago-ra um documento sobre “O papel do bis-po de Roma na Comunhão da Igreja noprimeiro milénio”. Num livro de 1982 –recorde-se – J. Ratzinger retomou umaafirmação feita já em 1976: “No que res-peita à doutrina do papado, Roma nãodeve exigir do Oriente mais do que foiformulado e vivido no primeiro milénio”.O que não quer dizer – clarificou posteri-ormente – que se possa simplesmenteeliminar o segundo milénio da história daIgreja e o desenvolvimento dogmáticonele verificado.

3. Poucos saberão que, no mais conheci-do dicionário teológico protestante –Religion in Geschichte und Gegenwart, V,1961 – J. Ratzinger escreveu um texto so-bre a avaliação do “Protestantismo naperspectiva católica”. As reflexões entãofeitas indiciam convicções teológicas fun-das que permanecem ao longo da vidado teólogo, do responsável eclesial naCúria Romana, do bispo de Roma. Aí sesalienta que a questão fulcraleclesiológica que separa o protestantis-mo da Igreja católica (e dos ortodoxos) éa questão da sucessão apostólica comoforma indispensável da tradição da fé.Não obstante isso – observa – o protes-tantismo tem riquezas que não podem serignoradas no mundo católico. Se, em ra-zão do não reconhecimento da sucessãoapostólica em sentido estrito, não se podefalar aqui de “Igreja” em sentido pleno,

é, no entanto, indiscutível a existência deelementos que importa valorizar comorealização positiva da fé cristã. Nessa li-nha de pensamento deixa claro que oministério (mesmo se está fora dasucessio propriamente dita) e a eucaris-tia protestantes não são realidades “nu-las”, sem qualquer valor salvífico eeclesial.

4. As tomadas de posição da Congrega-ção para a Doutrina da Fé – concentro-me aqui na Declaração Dominus Jesus,onde se reafirma como interpretação cor-recta conciliar a convicção de que a Igre-ja de Jesus Cristo existe plenamente sóna Igreja católica (fora dela existem ape-nas elementos de santificação e de ver-dade) – foram mal acolhidas pelas “Co-munidades eclesiais” (evita-se intencio-nalmente o termo “Igreja”) provenientesda Reforma. Essa posição, no entanto, jáestava presente num comentário feito unsbons anos antes por J. Ratzinger sobre onº 8 da Lumen Gentium: com a fórmulasubsistit (em vez de est) o Concílio, to-cando embora no ponto nevrálgico doproblema ecuménico, quis afirmar que aIgreja de Jesus Cristo se pode encontrarna Igreja católica “como sujeito concretoneste mundo”, contrariando-se assimqualquer “relativismo eclesiológico”.Um ano antes (1999) tinha-se procedido,não sem dificuldades, à assinatura daDeclaração conjunta católico-luteranasobre a justificação pela fé. Este sinalconcreto da “fraternidade redescoberta”entre católicos e luteranos (palavras deBento XVI) não teria sido possível sem aintervenção positiva final do CardealRatzinger. Foi, sem dúvida, um passo deenorme significado ecuménico, mas, narealidade, o conteúdo deste documentoainda não foi “recebido” nem no campoluterano nem na Igreja católica.Compreende-se assim melhor porquê

Apreocupação pela verdade nãopode ser adequadamente mantidacom exigências unilaterais emaximalistas de parte a parte

PAPA TEÓLOGO

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Bento XVI é uma figura “respeitada” nomundo protestante, sem despertar, noentanto, especial “entusiasmo” ecumé-nico (ainda em Janeiro passado MargotKässmann, bispa luterana e ex-Presiden-te da Igreja Evangélica Alemã, dizia que,cinco anos depois, nada mais havia a es-perar em termos ecuménicos do actualpontificado). A crítica, mesmo que injustae precipitada, aponta para um problemareal: o diálogo ecuménico com as Igre-jas/Comunidades eclesiais do Ocidenteatravessa uma fase difícil. A realizaçãoem Fevereiro passado, em Roma, de umSimpósio para fazer um balanço dos diá-logos ecuménicos no pós-Concílio e arecente visita de Bento XVI à comunida-de luterana de Roma adquirem neste con-texto particular significado.

5. Como noutros aspectos do seu pontifi-cado e da sua vida (recordo o lema epis-

copal “Cooperador da verdade”), BentoXVI coloca também aqui como tarefa nu-clear a busca e a afirmação da verdade.Daí o seu posicionamento crítico face aum ecumenismo “superficial” que,subalternando e não enfrentando até aofim a questão da verdade, não consegueatingir a unidade propriamente dita.Mas ele sabe também que a preocupa-ção pela verdade não pode ser adequa-damente mantida com exigências unila-terais e maximalistas de parte a parte.Maximalismo católico - escreveu - seria,por exemplo e relativamente ao protes-tantismo, considerar “nulos” os ministé-rios eclesiais protestantes e exigir, purae simplesmente, a conversão ao catoli-cismo. Como seria maximalismo protes-tante pedir à Igreja católica o reconheci-mento, sem limitações, de todos os seusministérios e a aceitação de uma concep-ção de Igreja que renunciasse à estrutu-

ra apostólica sacramental.De resto, há na maneira de sentir e depensar o problema ecuménico em J.Ratzinger/Bento XVI um realismo quesurpreende. Consciente das dificuldadesque acompanham esta complexa tarefa,tem apelado com insistência a que sesaiba valorizar o presente: apesar do malque representa, a divisão dos cristãos éuma realidade que devemos saber ver naabertura aos dons de Deus, procurandocaminhar o mais possível em conjunto,assumindo o que de positivo e fecundose vai manifestando, purificando a fé co-mum na descoberta da centralidade doamor evangélico. Também aqui é “o amorna verdade” que nos ajudará a saber dis-tinguir entre o que é essencial e aquiloque não o é.

José Eduardo Borges de PinhoProfessor de Teologia na UCP

O actual Papa é olhado pela elite inte-lectual como um grande pensador, aomesmo tempo filósofo e, sobretudo, teó-logo. A obra bibliográfica de Bento XVIsoma uns seiscentos títulos. De todossobressai o primeiro volume do livro Je-sus de Nazaré, que já atingiu dois milhõesde exemplares. Também são bem conhe-cidos os seus diálogos com filósofosagnósticos e a sua posição ética e políti-ca sobre a Europa e o mundo.Pediram-me para apresentar o rosto e opensamento do teólogo e do Papa na suarelação com o Judaísmo. O teólogoJoseph Ratzinger aborda o Judaísmo emtodos os trabalhos teológicos que recor-rem às Escrituras Hebraicas (Antigo Tes-tamento-AT) e, como sabemos, não háqualquer abordagem de teologia cristãque não pressuponha um exame analé-ptico ao A.T. Na sua análise exegética aoAT é importante reconhecer que Ratzingercita continuamente os exegetas mais re-centes, especialmente os alemães, ca-tólicos e protestantes. De todos os seusestudos ao AT gostaria de referir o seupensamento sobre o “pecado original”.Perante a letra do mito da criação (Gn 1-3), Ratzinger é do parecer que a narrativamitológica deve ser compreendida a par-tir da chave hermenêutica das duas ima-gens, a do “jardim” e a da “serpente”. Aserpente simbolizava para os judeus os

A Teologia de Ratzinger e a sua relação com o Judaísmo

PAPA TEÓLOGO

cultos da fertilidade, patentes na religiãodos cananeus que viviam paredes-meiascom os judeus depois da conquista daTerra Prometida. Os judeus eram atraí-dos por estes cultos e, deste modo, aban-donavam o Deus da Aliança. O pecadoconsiste neste abandono da Aliança deum Deus Único, Santo, Indizível, com leispróprias. O povo era atraído pelos deu-ses concretos dos cananeus e suasliturgias de “delírio e êxtase” (1).Ratzinger não refere o pensamento deSanto Agostinho que influenciou a Igrejade modo muito negativo, mas realça opecado “original” de todos quantos vêma este mundo alterado por não aceita-rem a Aliança de Deus. “Nisso podemosdizer que reside a raiz do pecado, sob aforma de negação, por parte dos sereshumanos, da sua condição de criaturas,na medida em que recusam aceitar a nor-ma e as limitações que nelas estão im-plícitas. Eles não querem ser criaturas,não querem estar sujeitos a uma norma,não querem ser dependentes… queremser Deus” (2).Esta maneira própria de interpretar o ATé próprio de um grande teólogo que nãose prende à tradição cristã depois de San-to Agostinho. Entretanto, o teólogo JosephRatzinger é nomeado bispo, arcebispo,cardeal e, finalmente, Papa. Na entrevista,como Papa, que concede ao jornalista Peter

Seewald, em 2005, ao ser interrogado so-bre o “pecado original”, já refere SantoAgostinho e a doutrina “oficial” da Igreja(3). E é a partir desta obra quedescortinamos o pensamento de JosephRatzinger (Bento XVI) sobre o judaísmo.O jornalista começa por lhe perguntar:Qual a razão que levou Deus a eleger umpovo? E porquê esse em particular? J.Ratzinger responde: “O Antigo Testa-mento, em especial no Deuteronómio,sublinha repetidamente a singularidadedesta eleição. (…) Não é possível expli-car racionalmente esta eleição que per-manece um mistério. O ensinamento quedaqui podemos retirar é que é Deu quemescolhe. Ele não escolhe para excluir ooutro, mas para aceder a uns através dosoutros, para entrar no jogo da história”.O jornalista refere, depois, o exílio dostrês mil anos de história, e pergunta: Porque motivo o Egipto dos faraós foi tãogrande e poderoso, e o povo com queDeus estabeleceu a sua aliança foi per-seguido através dos séculos, expulso etorturado, até à tentativa de aniquilaçãoabsoluta com o holocausto? J. Ratzingerresponde: “As categorias de Deus sãodiferentes. A eleição de Deus não confe-re grandeza no sentido das categoriasterrenas. (…) Eis porque foi um povo empermanente risco de ser esmagado, en-talado entre duas grandes potências, o

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Egipto e a Babilónia. Deus escreve a suaprópria história em qualquer coisa quenão num poder mundano. Daí que o im-portante na Igreja não seja o poder terre-no, mas o facto de sempre encarnar e re-presentar a alteridade de Deus. (…) É umverdadeiro enigma que esse povo dimi-nuto, tanto tempo sem uma terra nemqualquer instituição política, existindosomente na sua dispersão pelo mundo,conserve, apesar de tudo, a sua religião,que mantenha a sua identidade, que con-tinue a ser Israel, que os judeus tenhampermanecido judeus e continuado a serum povo ao longo dos dois mil anos quepassaram sem pátria. Se mais não hou-ver, este fenómeno por si só permitiriaentrever que alguma coisa de diferenteestá aqui em causa. (…) Neste sentido, énotório que há mais coisas em jogo doque casualidades históricas. Todas asgrandes potências daquela época já de-sapareceram. Já não existem nem os an-tigos egípcios, nem os babilónios, nemos assírios. Israel permanece, ensina-nosalgo sobre a firmeza e, inclusivamente,sobre o mistério de Deus.”O jornalista volta a perguntar: Os judeussão ainda o povo eleito de Deus? E J.Ratzinger responde: “Esta é uma ques-tão muito debatida nos últimos tempos.É óbvio que os judeus mantêm uma rela-ção especial com Deus e que Ele não osabandona. E esta também é a perspecti-va do Novo Testamento. Paulo diz-nos naEpístola aos Romanos: “No final todo oIsrael será conduzido ao redil”. A outrapergunta é: Até que ponto, depois dosacontecimentos do Novo Testamento,depois da criação da Igreja, povo de Deusescolhido entre todos os povos, uma vidabaseada no Antigo Testamento que sefecha ao que é novo, procedente de Cris-to, continua a ser um caminho válido?Existem hoje as mais diferentes teorias aeste respeito. Como cristãos, estamosconvencidos de que o AT está interna-mente orientado para Cristo e de que sóencontra a sua autêntica resposta, emsentido pleno, quando é lido a partir deCristo. Com efeito, o cristianismo não éuma religião por oposição à religião deIsrael, é o Antigo Testamento lido à luzde Cristo. (…) Desse modo, o Novo Testa-mento não é um enxerto. Nem a nossarelação com o AT consiste em nos apro-priarmos ilegalmente de algo que, naverdade, pertence a outros, consiste simna existência de um caminho interno quedeixa o AT reduzido a um fragmento

PAPA TEÓLOGO

inacabado se não for assumido peloNovo Testamento. Esta é uma das condi-ções basilares do cristianismo. Mas estaconvicção corre paralelamente a outra, ade que Israel tem hoje uma missão espe-cial. É verdade que esperamos o momen-to em que também Israel diga sim a Cris-to. (…) Por isso este povo continua a figu-rar de modo especial no plano divino.”O jornalista volta a perguntar: Quer istodizer que os judeus têm de reconhecer oMessias? Responde J. Ratzinger: “É noque acreditamos. (…) Na verdade, nós oscristãos sempre saberemos que Cristo étambém o Messias de Israel. Quando e deque maneira se realizará a união entre ju-deus e gentios – a unidade do povo de Deus- , isso, evidentemente, está nas mãos deDeus. (…) Por um lado o “não” a Cristo levaos israelitas a uma situação de conflito coma posterior acção divina, mas ao mesmotempo sabemos que eles têm asseguradaa fidelidade a Deus. Não estão excluídosda salvação, contribuem para ela determi-nantemente, e são objecto da paciênciade Deus, tal como nós.” (4)O facto de J. Ratzinger referir as váriasopiniões sobre Israel como “povo eleito”tem a ver com as relações entre a Igrejado NT e a Igreja do AT. Para muitos teólo-gos recentes, a questão deve colocar-sea partir da função do Reino de Deus anun-ciado por Jesus. O “Reino de Deus” émais do que a Igreja concreta. Estamostodos, judeus e cristãos, a caminho darealização misteriosa desse Reino. O Con-cílio Vaticano II fala dos judeus como

“povo de Deus” e da Igreja como “o novopovo de Deus”. Será que o “novo” ocupao lugar do “antigo”? É nesta dialécticaque nos encontramos.Nem o jornalista nem J. Ratzinger coloca-ram o problema das catequeses polémi-cas e apologéticas dos evangelhos. EmJoão 8, 44, o Jesus “joânico” afirma que o“pai dos judeus é o diabo”. Em Mc 16, 16,só os que “forem baptizados serão sal-vos”. Em Ac 4, 12, segundo S. Pedro, “nãohá salvação a não ser através de JesusCristo”. Não se trata, nos dois evange-lhos citados, de palavras do “Jesus his-tórico”, mas da Igreja em polémica comos judeus e os pagãos. O mesmo se digada catequese de Lucas nos Actos dosApóstolos. Mas foi esta catequese queoriginou as guerras posteriores entre cris-tãos e judeus.Finalmente, o filósofo, o teólogo e o pas-tor-papa J. Ratzinger visitou Auschwitz,Israel e foi orar a sinagogas de judeus.Interrogou Deus sobre o Holocausto, dia-logou e orou com rabis nas sinagogas.Determinou como acção primária no seupontificado o ecumenismo. O pensador eteólogo está submergido no “mistério deDeus” em escatologia histórica. Não háDeus sem história, a começar pela histó-ria de Israel. O pastor-papa apresenta-se como servidor da “verdade cristã” – oMessias já veio para judeus e cristãos.

Pe. Joaquim Carreira das Neves, OFMProfessor Jubilado da UCP

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O PONTIFICADO DE BENTO XVI5 anos de Pontificado5 anos de Pontificado

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O PONTIFICADO DE BENTO XVI

No dia 19 de Abril de 2005, pouco mais de24 horas depois do início do Conclave,Joseph Ratzinger era eleito como o 265.ºPapa da história da Igreja Católica. Assu-me o nome de Bento XVI e apresenta-seao mundo como “um simples e humildetrabalhador da vinha do Senhor”.O Cardeal Joseph Ratzinger era um bri-lhante teólogo alemão que João Paulo IIquis chamar para junto de si, projectan-do-o assim nas luzes da ribalta em 1981quando o nomeou prefeito da Congrega-ção da Doutrina da Fé. Tornou-se umareferência obrigatória em assuntosdoutrinais nos últimos anos de históriada Igreja Católica, granjeando por isso orespeito de muitos, mas a oposição detantos outros.Bento XVI carrega consigo uma visão es-tratégica da Igreja e do mundo, muito cla-ra, que se centra na necessidade de refe-rências, de valores, de um pensamentoforte contra a “ditadura do relativismo”.Em entrevista à Agência ECCLESIA,Pacheco Pereira sublinha que o Papa “temuma noção de reforço dessa identidadede combate ao relativismo e do combatea um conjunto de teorias – caso da Teo-logia da Libertação – que transformava ocristianismo numa espécie deprogressismo político muito influenciadopelo marxismo”.“Estes aspectos da reflexão do Papa sãointeressantes”, assinala.O teólogo português Henrique Noronhae Galvão é um antigo aluno de JosephRatiznger e fez o doutoramento sob a suaorientação. Desde então têm mantidocontacto nos encontros anuais que oPapa efectua com os seus ex-alunos,mesmo depois de suceder a João PauloII, em Castel Gandolfo.Nesta edição do semanário AgênciaECCLESIA, que apresenta um Dossier so-bre o quinto aniversário de pontificado, oPe. Noronha e Galvão escreve que daspreocupações fundamentais do actualPapa, como teólogo, “constou sempre atentativa de restaurar, na crisecivilizacional que diagnostica no nossotempo, as referências fundamentais daexistência humana que estão em perigo”.“Uma das suas fontes principais de inspi-ração é Santo Agostinho, também ele vi-

Um pontificado sem rótulosvendo num tempo de profunda crise emque a Idade Antiga soçobrava perante asinvasões bárbaras”, recorda.A vaticanista Aura Miguel, da Rádio Re-nascença, afirma que “entre as preocu-pações que Bento XVI tem manifestadonos últimos tempos e em viagens pasto-rais – tendo como horizonte a visita deleao nosso país - vale a pena sublinhar al-gumas coisas que tem dito à Europa.Esta Europa “cansada da fé”, onde Por-tugal se inclui e que, explica, segundo ajornalista portuguesa com acreditaçãopermanente junto da Santa Sé, “a priori-dade do Papa em centrar todas as suasviagens pastorais deste ano no VelhoContinente”.“Bento XVI tem-se revelado um Papa re-alista”, escreve.

Geopolítica da PazGeopolítica da PazGeopolítica da PazGeopolítica da PazGeopolítica da PazO Pe. Fernando Silva de Matos, Conse-lheiro Eclesiástico da Embaixada de Por-tugal junto da Santa Sé, regista que “nosencontros com os Embaixadores, com osChefes de Estado, com os Governantesdas nações, quer no Vaticano, quer nospaíses visitados, torna-se evidente a sen-sibilidade do Chefe da Igreja Católica emrelação à causa da paz”.O sacerdote elenca “algumas vias tidaspelo Papa como fundamentais para al-cançar este objectivo”: diálogo inter-re-ligioso, renúncia às armas e à violênciapara a resolução dos conflitos, elimina-ção da pobreza e da fome nos países sub-desenvolvidos e a laicidade positiva.Elias Couto, Editor de “Cristo e a Cidade”,diz por seu lado que “Bento XVI apare-ceu como um Papa tímido nos contactospessoais” e “alguns tomaram isso comofraqueza”.“Enganaram-se. O seu estilo talvez nãoseja o ideal para a hipermediatização deque todos sofremos. Será, no entanto,profundamente benéfico para a Igreja.Assim esta saiba aproveitar o seu exem-plo e aprender com a sua sabedoria”,observa.Bento XVI líder espiritual dos mais de milmilhões de católicos em todo o mundo,continua fiel à linha definida desde o iní-cio do pontificado, centrado em devolverJesus ao mundo, com tudo o que isso im-

plica.Praticamente todas as crises internacio-nais já mereceram, por parte de BentoXVI, um apelo em favor da paz, da recon-ciliação e do diálogo. Antes da obsessãocolectiva com os casos de abusos sexu-ais envolvendo o clero católico, o Papatinha emergido como uma figura de refe-rência num cenário de crise, não propria-mente por causa de qualquer receita es-pecífica para restaurar a regulação nasrelações entre o trabalho e o capital ouentre as questões financeiras e as ne-cessidades das famílias e empresas, masporque para lá das teorias e práticas eco-nómicas, apresentou um conjunto de exi-gências éticas essenciais para superar oactual estado de coisas, num horizonteaberto à esperança e à confiança.

Diálogo sem fronteirasDiálogo sem fronteirasDiálogo sem fronteirasDiálogo sem fronteirasDiálogo sem fronteirasCom quase cinco anos de pontificado,começa a fazer pouco sentido a fórmulade “pontificado de transição” – até por-que a média dos pontificados na IgrejaCatólica é de 7 anos e 5 meses – e assis-te-se, por isso, a uma busca quase inces-sante pelo “rótulo” mais adequado paracatalogar um Papa que não é facilmentedecifrável e que se vê, sitematicamente,reduzido à “polémica” mais recente.Se no começo da sua missão, Bento XVIera o Papa “invisível”, hoje já se multipli-cam as teorias em torno das suas pala-vras e gestos.Algumas destas revelaram-se fruto deleituras superficiais e inconsistentes –como bem exemplificou a célebre polé-mica em torno a utilização ou não de sa-patos «Prada».Bento XVI continuou a mostrar vontadede estar aberto ao diálogo com todos, nãosó com aqueles que vivem na Igreja, mastambém com aqueles que estão fora. Odiálogo entre fé e razão será, sem dúvi-da, uma das grandes marcas do primeiroPapa eleito no século XXI.Aura Miguel destaca, a este respeito, “ointeresse com que largos sectores inte-lectuais seguem este pontificado (a par-tir das suas interpelações culturais), ten-do em conta a lucidez e extraordináriacapacidade do Papa para falar aos queestão de fora, ou hesitantes”.

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O conclave de 2005 que elegeu JosephRatzinger foi dos mais rápidos. Durou 24horas e o novo Papa foi eleito após so-mente quatro votações. O panorama doscardeais eleitores foi muito diferente dosconclaves anteriores, cuja predominân-cia era essencialmente europeia e italia-na. Desta vez, o leque foi muito mais di-versificado e, por isso, equilibrado, emidades e proveniências, correspondenteà vitalidade da Igreja espalhada pelomundo. Foi esse “mosaico” que se uniupara escolher o actual Papa. A rapidezda escolha desmentiu os prognósticos demuitos sectores (incluindo meios eclesi-ásticos e comunicação social), de quehavia uma forte resistência à eleição deRatzinger; aconteceu exactamente o con-trário: os cardeais deram ao mundo umsinal de união ao elegerem tão depressaeste Papa.Depois da sua eleição, alguns conside-raram que este Papa não viajaria tantocomo o anterior, tendo em conta a suaidade. Afinal, Bento XVI já realizou 13 vi-agens fora de Itália, foi a quatro conti-nentes (só falta a Ásia) e tem agendadaspara este ano cinco visitas pastorais –todas elas para a Europa: além de Malta– que é já a 17 e 18 de Abril - e ao nossopaís, em Maio, o Papa vai a Chipre, emSetembro à Grã-Bretanha e a Espanha(Santiago de Compostela e Barcelona),em Novembro.

O panorama da EuropaO panorama da EuropaO panorama da EuropaO panorama da EuropaO panorama da EuropaEntre as preocupações que Bento XVI temmanifestado nos últimos tempos e emviagens pastorais – tendo como horizon-te a visita dele ao nosso país - vale apena sublinhar algumas coisas que temdito à Europa. Esta Europa “cansada dafé”, onde Portugal se inclui e que, expli-ca, no meu entender, a prioridade do Papaem centrar todas as suas viagens pasto-rais deste ano no Velho Continente..Quando Bento XVI visitou a Baviera, emSetembro de 2006, afirmou que o Ociden-te está ferido de morte. Ou seja, “sofrede patologias mortais da religião e darazão”, cujas consequências só podemser desastrosas para a humanidade. E ossintomas destas “patologias” percebem-se pela maneira como os outros nosolham: “As populações da África e da Ásiaadmiram as nossas realizações técnicas

Pensamento e personalidade de Bento XVIe a nossa ciência, mas ao mesmo tempoassustam-se perante um certo tipo derazão que exclui Deus da visão do ho-mem. (...) Para eles, a verdadeira ameaçaà sua identidade não está na fé cristã,mas no desprezo de Deus e no cinismoque considera um direito da liberdade ri-dicularizar o sagrado.” (Munique,homilia, 10.09.2006)Foi também na Alemanha, que o Papadeixou várias advertências: Não sabemosusar a razão convenientemente, estamos“mirrados” desde o iluminismo, perdeu-se o temor de Deus e o respeito pelo sa-grado, enfim, “o Ocidente está há muitotempo ameaçado por esta aversão con-tra as perguntas fundamentais da suarazão” (Universidade de Regensburg,lectio magistralis, 12.09.2006)Esta insensibilidade do homem ociden-tal penetra na nossa maneira de encararo mundo – disse o Papa, desta vez, naPraça de Espanha, em Roma. Insensibili-dade ao ponto de nos acostumarmos “to-dos os dias, através dos jornais, da tele-visão e da rádio ao mal narrado, repetidoe ampliado”; habituamo-nos assim “àscoisas mais horríveis que nos tornam in-sensíveis e nos intoxicam. (...) E os meiosde comunicação social tendem a fazerque nos sintamos sempre «espectado-res», como se o mal só afectasse os ou-tros.” Resultado: está em curso uma “con-taminação do espírito, que faz com queos nossos rostos sorriam menos, estejammais tristes e não olhem os outros nosolhos (...). Passamos a ver tudo superfici-almente” (Roma, homenagem àImaculada 08.12.2009)A questão viria ser retomada na Repúbli-ca Checa, no passado mês de Setembro:“Nada é mais desumano e destrutivo doque o cinismo que nega a grandeza danossa busca da verdade. Não há pior doque o relativismo que corrompe os ver-dadeiros valores que inspiram a constru-ção de um mundo mais unido e fraterno.Por isso, é preciso readquirir confiançana fidelidade e nobreza de espírito e nasua capacidade de alcançar a verdade(...)” (Praga, Discurso às autoridades ci-vis e políticas, 26.09.2009)

Um Papa realistaUm Papa realistaUm Papa realistaUm Papa realistaUm Papa realistaBento XVI tem-se revelado um Papa rea-lista e uma chave de leitura fundamental

para perceber este pontificado é a últimahomilia que proferiu antes de ser eleito,onde ficaram famosas as palavras queproferiu, quer sobre a “ditadura dorelativismo”, quer sobre o risco de per-manecermos com uma fé infantil, “emestado de menoridade”: “Ter uma fé cla-ra, de acordo com o Credo da Igreja, écom frequência rotulado como funda-mentalismo. Ao passo que o relativismo,isto é, o deixar-se levar de um lado parao outro, ao sabor de qualquer vento dedoutrina, surge como a única posturaadequada aos tempos de hoje. Vai-se,assim, constituindo uma ditadura dorelativismo que não reconhece nadacomo definitivo e que deixa como últimamedida apenas o próprio eu e as suasvontades”. Nesta homilia, Ratzingeracrescentou ainda que “adulta” não éuma fé que segue as ondas da moda, nema última novidade; adulta e madura éuma fé profundamente enraizada na ami-zade com Cristo”. (Homilia Pro EligendoRomano Pontefice, 18.04.2005)Esta lucidez de Ratzinger sobre o pano-rama da nossa fé vem da sua vasta expe-riência como Prefeito da Congregaçãopara a Doutrina da Fé. Pelas funções quedesempenhou durante mais de 24 anos,conhece bem onde estão as feridas dohomem e da Igreja. Por isso, são profun-damente realistas as suas intervenções.

PortugalPortugalPortugalPortugalPortugalÉ com estas e outras preocupações queBento XVI definiu a sua agenda de via-

Bento XVI tem-se reveladoum Papa realista e uma chavede leitura fundamental paraperceber este pontificadoé a última homilia que proferiuantes de ser eleito

O PONTIFICADO DE BENTO XVI

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gens para este ano. E é com elas queaterrará em Portugal no próximo dia 11 deMaio, para uma visita de quatro dias aonosso país.Quatro dias para uma visita papal é maisdo que é costume na Europa (Malta, porexemplo, são dois dias e Chipre três) e ésignificativo que o seu programa incluaencontros com fiéis em Lisboa e Porto,com toda a visibilidade que isso implica.Creio mesmo que se a visita do Papa fos-se apenas centrada em Fátima, seria

Pode reconhecer-se nas intervenções fei-tas por Bento XVI, ao longo do seu ponti-ficado, as orientações fundamentais doseu pensamento, já presentes no seuensino universitário anterior e nas suasobras teológicas. Das suas preocupaçõesfundamentais como teólogo constousempre a tentativa de restaurar, na crisecivilizacional que diagnostica no nossotempo, as referências fundamentais daexistência humana que estão em perigo.Uma das suas fontes principais de inspi-ração é St. Agostinho, também ele viven-do num tempo de profunda crise em quea Idade Antiga soçobrava perante as in-vasões bárbaras. Foi apenas pela sabe-doria da fé cristã, descoberta ao ouvir apregação de St. Ambrósio, que pôde su-perar o cepticismo do seu tempo, a des-crença de a razão humana poder atingira verdade. Também Joseph Ratzinger con-sidera que só a fé que Jesus Cristo nostrouxe pode salvar uma razão debilitadahoje pela redução ao positivismo, a quallhe retira toda a capacidade de encon-trar o verdadeiro sentido da vida e a ver-dadeira esperança. É essa esperança queo Papa quer restituir ao homem actual –como explanou na encíclica Salvos naesperança – reconduzindo-o àquela fon-te de valores que só o autêntico amor decaridade nos revela. Já na sua primeiraencíclica mostrara como Deus é Amor, detal modo que uma razão aberta ao misté-rio de Deus se torna capaz de encontrarna vida pessoal e social a orientação deque carece. Este tema está sempre liga-do ao motivo da verdade, presente já noseu lema episcopal e papal (coopera-tores veritatis), verdade cuja solidez sóDeus pode garantir. Caridade na verdade– a sua terceira encíclica – é assim a pers-

Enquadramento teológico do pontificadopectiva de fundo de toda a doutrina soci-al da Igreja.O horizonte último do pensamento doPapa é aberto pela fé em Jesus Cristo,que fez questão de apresentar, de ma-neira pessoal e fundamentada, no livroJesus de Nazaré. Ao escrevê-lo não comoexercício do seu magistério eclesial mascomo testemunho de fé pessoal, ele re-petia o que já fizera Pedro cujo ministérioBento XVI actualiza para o nosso tempo.Antes de receber das mãos de Jesus afunção de primeiro responsável da Igre-ja, Pedro fez a sua profissão de fé emJesus, reconhecendo-o como o Messias,o Filho de Deus (cf. Mt 16,16). Uma fé queJesus declara não provir “nem da carnenem do sangue mas apenas do Pai” (cf.Mt 16,17). Esta a origem necessária da féem Jesus Cristo, dom de Deus que o Espí-rito renova em cada tempo que é dado àIgreja viver.Deste modo, abre-se o horizonte do mis-tério trinitário de Deus revelado pela féem Jesus Cristo e que, simultaneamente,é condição indispensável para que o co-nhecimento de Jesus se não feche nosestreitos limites de uma concepçãopositivista da história. O “Jesus real” nãoé o da orgulhosa redução positivista, in-capaz de reconhecer o seu autêntico sig-nificado e perdendo-se, por isso, nas maisarbitrárias e contraditórias interpreta-ções. Mas se, pelo contrário, a razão aco-lhe na humildade o mistério que infinita-mente a ultrapassa, e também infinita-mente a dignifica, tudo ganha coerência,e a mensagem de Jesus aparece límpidae salvadora.Segundo a visão agostiniana que J.Ratzinger partilha, o mistério trinitário di-vino surge como a tripla referência últi-

ma do ser, do saber e do querer, para aexistência da pessoa humana criada àimagem e semelhança de Deus. É, comefeito, no seu ser criado que ela remetepara o Pai criador, no seu saber verdadei-ro que ela remete para o Verbo e Filho deDeus, no seu querer de amor que ela re-mete para o Espírito Santo, o Dom deDeus que derrama a caridade nos nossoscorações (cf. Rm 5,5). É este conhecimen-to de Deus que possibilita e garante alucidez indispensável para desmascarartodo o pensamento ideológico nas suasformas mais delirantes, isto é, quandoconstruídas sem referência à realidade,à verdade e ao valor, tentando, pelo seuartifício, escravizar-nos aos interessesdominantes. A fé cristã em Deus é a con-dição da liberdade.

H. Noronha Galvãoprofessor de Teologia – UCP

arrumá-la numa espécie de “prateleirareligiosa”, confinada ao perímetro geo-gráfico de um Santuário – um dos maio-res do mundo, é certo, mas que muitosconsideram a “sacristia do país” - hipóte-se, aliás, pouco “ratzingeriana”, uma vezque este Papa, não tendo uma relaçãopessoal tão intensa com Fátima como ti-nha João Paulo II, tem-se distinguido tam-bém por falar aos que estão fora da Igre-ja. É prova disso o interesse com que lar-gos sectores intelectuais seguem este

Das suas preocupaçõesfundamentais como teólogoconstou sempre a tentativade restaurar (…) as referênciasfundamentais da existênciahumana

pontificado (a partir das suas interpela-ções culturais), tendo em conta a lucideze extraordinária capacidade do Papa parafalar aos que estão de fora, ou hesitan-tes.É também neste contexto que se têm or-ganizado sucessivos encontros com omundo dos intelectuais e da cultura - queem Lisboa será na manhã de 12 de Maiono CCB.

Aura Migueljornalista

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1. 1. 1. 1. 1. Ainda tenho nos ouvidos a exclama-ção de um jornalista-padre, enviado es-pecial de uma rádio portuguesa para in-formar sobre o conclave, referindo-se àidade do novo Papa: “Será um pontifica-do breve, graças a Deus!”. JosephRatziger, teólogo e cardeal, sempre forade separar as águas. Sabia-se que, comoPapa, não seria de outra forma. E, por isso,o seu pontificado não poderia deixar deser marcado pela polémica e pelas opo-sições internas e externas.2. 2. 2. 2. 2. Assim tem acontecido. Foi o discursoem Ratisbona, aproveitado por meia Eu-ropa para fazer coro com o fundamen-talismo islâmico, pseudo-ofendido poruma breve frase do Papa. Bento XVI saiuda polémica como “ignorante” mas criouum novo patamar nas relações com oIslão, patamar cuja palavra-chave é “re-ciprocidade”. Até hoje, numa Europa decócoras perante o fundamentalismoislâmico, ninguém lhe agradeceu... Foi aliberalização do uso do ritual anterior aoVaticano II para celebrar a Eucaristia. Foio levantamento da excomunhão aos bis-pos da Fraternidade S. Pio X, escandali-zando “judeus e gregos”, por junto. Foi ouso do preservativo e a SIDA... Nas últi-mas semanas, tem sido a pedofilia dealguns padres e religiosos e a cultura deencobrimento que lhes permitiu levar pordiante esses crimes – cultura, aliás, par-tilhada socialmente e não usada apenaspor alguns bispos católicos e por algu-mas instâncias da Cúria vaticana.3. 3. 3. 3. 3. Esta última polémica será marcantepara o pontificado de Bento XVI. Assina-la uma tentativa ignóbil de decapitar aliderança da Igreja Católica, aproveitan-do os crimes de alguns dos seus mem-bros. Assinala o regresso das culpabi-lizações colectivas, dos “bodesexpiatórios”, ao melhor estilo nazi oucomunista. Assinala também um separarde águas, mesmo no interior da IgrejaCatólica, decisivo para o seu futuro naEuropa. Agora, os bispos sabem que nãopodem deixar de tomar a sério a tarefade governar a Igreja que lhes foi confia-da. Sabem que não podem deixar correras coisas, permitindo abusos edesmandos que redundam sempre emgrave prejuízo para a causa do Evange-lho. Sabem que só estreitamente unidosao Papa poderão levar por diante o seuministério num ambiente cada vez maishostil. Sabem que os candidatos ao mi-

nistério presbiteral deverão ser escru-tinados de um modo sempre mais exigen-te, não deixando que a preocupação coma quantidade de padres a ordenar eclip-se a exigência de qualidades humanas evirtudes cristãs naqueles que se apresen-tam à ordenação. Sabem que, cada vezmais, deverão ordenar homens madurose espiritualmente provados e não jovens– em alguns casos ainda a viver na ado-lescência –, a quem ninguém entregariaa gestão de uma pequena fábrica, quan-to mais o cuidado humano e espiritual deuma comunidade cristã.4. 4. 4. 4. 4. O pontificado de Bento XVI e toda adureza que o tem rodeado terá – assimespero – consequências também nomodo como os leigos se relacionam coma Igreja e vivem a sua fé. Numa Igrejaeuropeia cada vez mais minoritária e cul-turalmente perseguida, acabou o tempodo leigo espectador, consumidor de sa-cramentos e anti-clerical. Hoje, e maisainda amanhã, os leigos definem-se pelacapacidade de viver intensamente a co-

Bento XVI: polémicas e razões

Agência ECCLESIA (AE) – Aquando daeleição de Bento XVI, escreveu algunstextos laudatórios sobre a figura e o pen-samento do actual Papa. Identifica-secom o seu pensamento?José Pacheco Pereira (JPP) – Não há umaidentidade completa de pensamento. Al-gumas preocupações do Papa, na altu-ra Cardeal Ratzinger, são, no meu pontode vista, relevantes para falar de algunsproblemas contemporâneos. Não soucristão. Para mim, o que é mais interes-sante na identidade da Igreja é aquiloque penso ser socialmente virtuoso nes-sa identidade. Especialmente, num paíscomo Portugal cuja soberania, indepen-dência e identidade está ligada à Igreja.

AE – Diálogo de filósofos?JPP - Não. Apesar de ser formado em Fi-losofia nunca exerci a arte, mas tenhocuriosidade por um aspecto importantedo pensamento teológico que é aradicalidade da sua aproximação às coi-sas. É evidente que a tradição teológicaalemã – que o Papa é um dos elemen-tos – é muito importante para pensar efazer uma reflexão que vai muito paraalém da Igreja. Está relacionada com ossistemas de valores, com a metafísica,

munhão eclesial, apaixonados pela Igre-ja, procurando levar o ensino da Igrejapara o quotidiano da família, da política,da economia, da cultura – pois só assimpoderão levar à sociedade o fermentovivificante do Evangelho... Tudo o resto,sobretudo a dissidência pela dissidência,é mero folclore sociológico e, não raro,contributo evidente para a descre-dibilização da Igreja.5. 5. 5. 5. 5. Bento XVI apareceu como um Papa tí-mido nos contactos pessoais. Alguns to-maram isso como fraqueza. Enganaram-se. O seu estilo talvez não seja o idealpara a hipermediatização de que todossofremos. Será, no entanto, profunda-mente benéfico para a Igreja. Assim estasaiba aproveitar o seu exemplo e apren-der com a sua sabedoria. Não colherá,certamente, aplausos na praça pública.Servirá, porém, a causa do Evangelho queé, bem vistas as coisas, a causa do ho-mem e da humanização das sociedades.

Elias CoutoEditor de www.cristoeacidade.com

Pensador contemporâneoPensador contemporâneoPensador contemporâneoPensador contemporâneoPensador contemporâneo e com muitos aspectos da filosofia oci-dental.

AE – O pensamento de Bento XVI mar-cará o início do século XXI?JPP – Não sei, mas uma coisa é certa:ele marcou o pensamento da Igreja atéser eleito Papa. A encíclica «Caritas inVeritate» é interessante porque remetepara uma reflexão sobre um concílio ondeele teve um papel importante. Emboraainda fosse júnior, teve um papel na re-dacção de alguns documentos do II Con-cílio do Vaticano. O retorno ao pensamen-to de Paulo VI é interessante.

AE – Apesar de não ser católico, interes-sa-se pelas encíclicas de Bento XVI?JPP - Faz parte da nossa cultura geralconhecer o essencial das encíclicas,pelo menos desde o fim do século XIX. Éfundamental ter uma ideia sobre a his-tória da Igreja. Fui formado num tempoonde se sabia pequenas minudênciassobre o marxismo, mas não se pode co-nhecer a história do pensamento euro-peu sem a Igreja. Temos uma tradiçãocultural, essencialmente, francesa. OPapa tem outra tradição… Para quemgosta de filosofia é outro mundo. É ou-tra complexidade.

(versão completa em www.agencia.ecclesia.pt)

O PONTIFICADO DE BENTO XVI

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Bento XVI é esperado em Portugal de 11a 14 de Maio, para uma visita que se inse-re no quadro amplo da preocupação doactual Papa com a Igreja na Europa, masque assume um relevo particular pelosimbolismo que o nosso país – sempreapresentado como uma nação católica –e Fátima assumem nesse contexto.O próprio Papa tem recordado o signifi-cado especial dos acontecimentos daCova da Iria e já em 2006, a 14 de Maio,lembrava “as aparições de Fátima”, ondeem 1917 Nossa Senhora “se manifestouvárias vezes a três crianças, os pas-torinhos Francisco, Jacinta e Lúcia”.“A mensagem que lhes confiou, em con-tinuidade com a de Lourdes, era uma for-te chamada à oração e à conversão; men-sagem verdadeiramente profética consi-derando o século XX funestado por inau-ditas destruições, causadas por guerrase por regimes totalitários, e por devasta-doras perseguições contra a Igreja”,acrescentou.“Se não faltaram preocupações e sofri-mentos, se ainda permanecem motivosde apreensão pelo futuro da humanida-de, é confortador o que a «Branca Se-nhora» prometeu aos pastorinhos: «Nofim o meu Coração Imaculado triunfará»”,disse Bento XVI.No Dossier que a Agência ECCLESIA apre-senta esta semana, D. Jorge Ortiga, pre-sidente da Conferência Episcopal Portu-guesa, admite em entrevista que “a Igre-ja Católica já não é uma força maioritária”.“Ela tem de se situar também num con-texto de adversidades e contratempos,porque nem tudo facilita o encontro coma própria fé”, indica.O confronto “com uma mentalidadenova” deve levar a Igreja a repensar, “nãoa sua moral e os seus princípios funda-mentais. Antes a reinterpretá-los, man-tendo o que é a sua identidade e a suaespecificidade, mas encontrando respos-tas, pelo diálogo e o conhecimentomultidisciplinar”.Alfredo Teixeira, teólogo e antropólogo(UCP), sublinha que se diversificaram “osmodos de exprimir a identidade crente,diferenças bem patentes nas práticasparoquiais”.“Na passagem de regimes de sociabili-dade «comunitária» para regimes de so-ciabilidade «societária», as formas práti-

Igreja em mudança espera o Papa em Portugalcas de articulação do crer e do pertencerconheceram significativas mutações. Sea paróquia é comunidade, teologicamentedefinida como resposta a um chamamen-to que a precede, tal condição não deveconduzir ao esquecimento da complexi-dade da sua textura humana”, assinala.D. António Marcelino, Bispo emérito deAveiro, faz a ponte entre a visita que osBispos portugueses realizaram ao Vatica-no, em 2007, e a viagem do Papa.“O desafio pastoral da evangelização,tarefa essencial e permanente da Igreja,ganhou contornos mais acentuados como crescimento da indiferença religiosa, aemergência da modernidade, a dificulda-de de os cristãos se situarem activos numcontexto de pluralismo, a organização davida influenciada pelo laicismo infiltradonos dinamismos sociais mais activos, ainstabilidade de instituições sociais antesindiscutíveis, como a família”, escreve.Para este responsável, “o desafio é ain-da mais forte, quando se verifica que,mesmo em pessoas e ambientes, visivel-mente marcados pela indiferença e aban-dono da prática dominical e sacramen-tal, subsiste um tradicionalismo religio-

so arreigado, que, para muitos que o vi-vem, dispensa uma formação séria e que,emergindo em momentos determinados,cria problemas e dificulta a renovaçãopastoral que se impõe”.No encontro de Novembro de 2007, oPapa afirmava que “é preciso mudar oestilo de organização da comunidadeeclesial portuguesa e a mentalidade dosseus membros para se ter uma Igreja aoritmo do Concílio Vaticano II, na qual es-teja bem estabelecida a função do cleroe do laicado”.D. António Marcelino considera que “pormais pressões que existam no terreno ocaminho da Igreja, tal como o de Cristo,são as pessoas”.Maria Carlos Ramos, do Graal, apresentapor seu lado uma visão feminina sobreos desafios da Igreja, afirmando que “asmulheres são hoje mais exigentes.Subestimá-las é um erro de estratégia eum pecado mortal”.“Muitas vezes e de muitos modos, ao lon-go da história da Igreja, encontramosmulheres que se levantam e protestamcontra uma Igreja masculina na sua for-ma de ser e agir”, recorda.

Bento XVI encontrará em Portugal umaIgreja em mudança, que se insere numnovo panorama social, cultural e mes-mo religioso. A frieza dos números aju-da, desde logo, a perceber estas altera-ções: os últimos dados relativos à Igre-ja Católica de Portugal mostram umaquebra progressiva do número de Bap-tismos e de ordenações sacerdotais,entre outros.De 2000 a Dezembro de 2007, o númerode sacerdotes diocesanos baixou de3159 para 2834, enquanto que o cleroreligioso manteve praticamente o mes-mo número (de 1078 para 943). Em 2007,foram ordenados 31 padres, mas houve68 óbitos e 5 defecções.O número de Baptismo mostra uma re-dução significativa, mas esse dado deveser lido à luz da variação do número denascimentos em cada ano. Em 2000 fo-ram baptizadas mais de 92 mil criançascom menos de 7 anos, e em 2006 essenúmero ficou-se pelos 77.272. Compa-rativamente a 2001 (100.256) a quebra é

NúmerosNúmerosNúmerosNúmerosNúmeros de mais de 20%.Em Portugal, a percentagem de católi-cos é agora de aproximadamente 90%- 9,26 milhões de católicos para umapopulação de 10,3 milhões de pessoas.O Recenseamento da Prática Domini-cal, datado de 2001, mostrava que onúmero total de praticantes não che-gava, contudo, aos 2 milhões de fiéis.No quadro temporal em análise ga-nham ainda relevo a assinatura daConcordata entre Portugal e a Santa Sé,no ano de 2004. O documento consa-grava o princípio da “cooperação”, mastem gerado algumas dificuldades porcausa dos atrasos na regulamentação,apesar dos avanços já registados.Também deste período data a Lei daLiberdade Religiosa e a criação da Co-missão da Liberdade Religiosa, onde aConferência Episcopal Portuguesa sefaz representar por dois elementos.O quadro legal criado não impede, con-tudo, o crescimento de uma ondasecularizante e laicista na sociedade,que tende a remeter a presença da reli-gião para a esfera privada.

A IGREJA CATÓLICA EM PORTUGAL

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Igreja Católicaem Portugal

Dados falam em 88,3% de católicos, me-nos padres e várias obras na área socialO Vaticano divulgou esta Quinta-feira osnúmeros oficiais da Igreja Católica emPortugal, os quais falam numa percenta-gem de católicos de 88,3% da popula-ção, confirmando ainda a quebra no nú-mero de padres.Os dados disponibilizados pela sala deimprensa da Santa Sé referem-se à situa-ção no dia 31 de Dezembro de 2008.De 2000 a 2008, o número de sacerdotesdiocesanos baixou de 3159 para 2825(menos 11%), enquanto que o clero reli-gioso desceu de 1078 para 972 (uma que-bra de quase 10%).Os seminaristas de filosofia e teologiatambém são menos, segundo os últimosdados disponíveis: de 547, entrediocesanos e religiosos, em 2000 passou-se para 444 em 2008 (menos 19%).Segundo o Vaticano, a percentagem decatólicos em Portugal é de 88,3% doshabitantes - 9,36 milhões de católicospara uma população de 10,6 milhões depessoas.O Recenseamento da Prática Dominical,datado de 2001, mostrava que o númerototal de praticantes não chegava, contu-do, aos 2 milhões de fiéis.A Igreja Católica em Portugal conta com52 Bispos, 3797 padres, 212 diáconospermanentes, 312 religiosos e 5965 reli-giosas, para além de 594 membros deInstitutos seculares.O número de catequistas é de 63 906 numtotal de 4380 paróquias e 2878 outroscentros pastorais, espalhados por 21Dioceses.Um dado curioso diz respeito aos titula-res das Dioceses: desde o ano 2000, fo-ram 13 as Dioceses que passaram a serlideradas por um novo Bispo.O Vaticano elenca também os centrosescolares que são propriedade da Igrejaou são dirigidos pelos seus membros: há793 estabelecimentos até à primária, 80secundários e 26 institutos superiores ea UCP, servindo um total de quase 130mil alunos.Quanto a “centros caritativos e sociais”são contabilizados 43 hospitais, 155 am-bulatórios, 799 casas para idosos, 663orfanatos ou asilos, 55 consultórios fa-miliares e centros para a protecção davida, 462 centros educativos especiais e168 outras instituições.

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D. Jorge Ortiga, presidente da Conferên-cia Episcopal Portuguesa (CEP), admiteque a Igreja Católica já não é uma "forçamaioritária". Para o arcebispo de Braga,ela tem de situar-se num contexto deadversidades e contratempos, porquenem tudo facilita o encontro com a pró-pria fé.Em declarações à Agência ECCLESIA, D.Jorge Ortiga defende que o confronto comuma mentalidade nova deve levar a Igre-ja a repensar-se, sem abdicar dos seusprincípios fundamentais.

Agência Ecclesia - Na primeira década do3.º milénio, descobre mudanças signifi-cativas na sociedade portuguesa, nome-adamente relacionadas com a presençada Igreja Católica?D. Jorge Ortiga - Sem dúvida! Fruto daglobalização, o secularismo invadiu oscircuitos da sociedade. Com ele orelativismo impôs-se. E a Igreja Católicajá não é uma força maioritária. Ela tem desituar-se também num contexto de ad-versidades e contratempos porque nemtudo facilita o encontro com a própria fé.Por outro lado, fruto dessa globalizaçãoe da integração na União Europeia, a si-tuação económica transformou muitoshábitos e comportamentos: gerou umconsumismo desenfreado por parte dealguns e uma desigualdade crescente.Quer a sociedade quer a Igreja estão si-tuadas num contexto totalmente diferen-te.

AE - Cresceu uma pressão social sobrequestões fracturantes que motivou umdesfecho diferente do esperado pela Igre-ja Católica?JO - Por temperamento sou optimista eolho para a História com os olhos da fé.Creio que estamos a viver a Graça do Con-cílio Vaticano II [1962-1965], que integroua Igreja na sociedade, alertando-a paraa necessária inculturação. A Igreja con-fronta-se como nunca com uma mentali-dade nova.

AE - Nesta década?JO - Sim, essencialmente. O que obriga aIgreja a repensar. Não a sua moral e osseus princípios fundamentais. Antes areinterpretá-los, mantendo a sua identi-dade e a sua especificidade e encontran-do novas respostas através do diálogo econhecimento multidisciplinar. O que é

desafiante para a Igreja!A fé faz-nos compreender que esses pro-blemas fracturantes (nos) interpelam-nose (nos) questionam-nos, não para procu-rar uma nova moral, mas para fazer comque a moral católica de sempre, nos seusvalores essenciais, possa ser defendidae praticada sem cedências.

AE - Mas qualquer mudança no campoda moral poderá soar sempre a umacedência…JO - Como disse, a Igreja sente-se cadavez mais interpelada, sobretudo desde oConcílio Vaticano II, por tudo o que acon-tece na sociedade actual.

AE - Mas isso quer dizer que a Igreja temde mudar?JO - Não se trata de cedências (quero su-blinhar isto porque a Igreja tem de serfiel à doutrina de sempre, tem de subli-nhar a sua diferença). Mas por causa doConcílio Vaticano II e de uma mudançacultural que aconteceu tão rapidamente,e ao contrário de um dogmatismo quehavia antes, a Igreja, sendo fiel à doutri-na, terá de alterar o modo de a comuni-car e anunciar.

AE - De a viver também?JO - Consequentemente!Por exemplo, no que respeita à sexuali-dade, a Igreja tem de reformular a sualinguagem. Não tenho dúvida absoluta-mente nenhuma. A Igreja terá de partirde um conceito mais positivo, de uma te-ologia do próprio corpo.Há um caminho a percorrer, que não ca-racterizo de cedência mas de adaptaçãoda linguagem, em consonância com da-dos da ciência que hoje nos são ofereci-dos.

AE - Há questões concretas que se po-dem colocar neste âmbito, como a inclu-são nos sacramentos dos casais"recasados"…JO - Eles podem frequentar a vida religio-sa, nos actos de culto, como qualqueroutra pessoa. O que lhes é vedado é po-der aceder à comunhão, significando quenão estão em plena comunhão com aIgreja.Penso que, porventura, para os casosonde não se chegue à nulidade do casa-mento - o caminho que a Igreja aconse-lha - pode chegar-se a uma outra medida

para um acolhimento mais concreto dasua situação. É um campo onde teremosde reflectir, deixando-nos conduzir peloEspírito, sem cedências àquilo que é adoutrina.

AE - Uma questão, de debate recente, éo casamento entre pessoas do mesmosexo. Que desafios coloca?JO - A Igreja dirá sempre que o casamen-to é uma união entre um homem e umamulher, alicerçada no amor (ao contráriodo passado, a Igreja sublinha hoje o amorcomo a dimensão essencial do casamen-to) e orientada para a procriação respon-sável.Sem nunca ceder a novas tendências, aIgreja é desafiada a compreender, aacompanhar, a ajudar, a saber estar comessas uniões que possam vir a aconte-cer.

AE - Que comentário lhe merece o factodo processo legislativo em curso sobre ocasamento de pessoas do mesmo sexopoder concluir-se no contexto da visitado Papa a Portugal?JO - É um dado adquirido que isso vai acon-tecer. O que não faz com que a Igrejamude a sua maneira de pensar. Pastoral-mente, a Igreja tem de ver como vai rela-cionar-se com essas pessoas.É uma coincidência como tantas outras,que não afecta o comportamento da Igre-ja.

AE - Mas não é uma manifestação de for-ça por entidades ou ideologias contrári-as à da Igreja?JO - Se sim, é de lamentar! Chegar a estaconclusão antes ou depois da visita doPapa é a mesma coisa: é um dado com oqual teremos de saber conviver.

Pensamento NovoAE - Na abertura da última AssembleiaPlenária da Conferência Episcopal Portu-guesa [12 de Abril], falava na necessida-de de promover um pensamento novo,seguindo o Papa Bento XVI. O que estáem causa?JO - Aquilo em que este Papa mais enri-quece a Igreja é o facto de ser portadorde um pensamento original.Nós, na Igreja, tínhamos um pensamentoque chamamos escolástico. Este Papa,nesta nova época, propõe um outro tipode pensar, a partir da evolução histórica

Uma década com muitas mudanças

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e dos desafios da modernidade. Apresen-ta um novo modo de pensar que deveráser fonte de um novo modo de agir.O Papa também refere que este pensa-mento global, onde tudo é tido em consi-deração (as diferentes formas de inter-pretar a vida na área da filosofia, da eco-nomia, da educação), nunca poderádesconsiderar a fé, que dá uma compre-ensão mais profunda a esse pensamen-to e abre horizontes para uma compreen-são total da realidade. Daqui surgemcomportamentos que são totalmente no-vos. Não há a coragem de aceitar estenovo pensamento do Papa e por isso nãose olha para alguns problemas referidospor Bento XVI com insistência (bastaolhar para a última Encíclica, Caritas inVeritate).

AE - Que consequências pode trazer essepensamento à organização da própriaIgreja? Por exemplo no exercício do mi-nistério do Papa?JO - Já o Papa João Paulo II pedia, tam-bém a outras confissões cristãs, que oajudassem na reflexão sobre o podercentral que é Roma…Na linha do que o Concílio Vaticano II re-feriu e tendo em conta o pensamento daIgreja presente nas encíclicas papais,estou convencido de que nos deparamoscom uma Igreja que é comunhão orgâni-ca e hierárquica.Há aqui uma novidade muito grande, quefaz com que a realidade do ministérioPetrino, a realidade de Roma, seja essen-cialmente um serviço e não um centro dedecisões.

Repensar a Acção Pastoral da IgrejaAE - Que linhas de rumo se vão apontan-do ao repensar a acção pastoral da Igre-ja em Portugal?JO - A história deste "repensar a acçãopastoral da Igreja em Portugal" é um as-sunto que já tem alguns anos. Desde queassumi a presidência da CEP propus-meeste objectivo como primeiro, para quena diversidade das Igrejas, que se acei-ta, haja um programa comum que cadauma assimile e aplique ao concreto dasua situação. Temos vindo a reflectir so-bre o tema em várias ocasiões e a fazercaminho.Em particular, na última visita ao Papa(2007) fizemos uma pequena assembleiaextraordinária da CEP no Colégio Portu-guês para reflectir sobre a urgência deuma pastoral nova para tempos novos.

Há aqui uma mudança cultural à qual teráde corresponder uma maneira diferentede agir, por parte da Igreja. O próprio Papaestimulou-nos, com as palavras que nosdirigiu.

AE - Nessa ocasião, Bento XVI disse queera necessário "mudar o estilo de orga-nização da comunidade eclesial portu-guesa e a mentalidade dos seus mem-bros"…JO - Fazendo referência a essa frase, pen-so que a estamos a concretizar porquetemos vindo a caminhar, emvariadíssimas reuniões. Aquilo que ago-ra está determinado e acolhido por todosos Bispos é que vamos, particularmentea partir deste ano, fazer um "itineráriosinodal". Vamos caminhar, mas caminharjuntos, as 21 Dioceses, procurando ouviraquilo que o Espírito quer dizer hoje acada uma das Dioceses e a Portugal.É um trabalho conjunto que está a envol-ver os Bispos e que queremos que che-gue aos conselhos presbiterais, conse-lhos pastorais, movimentos, institutosreligiosos, num processo dediscernimento pastoral, e não só de es-tudos feitos.Queremos envolver o povo para poderapresentar um projecto, um plano pasto-ral, não apenas para uma Diocese maspara todas.

AE - E será possível que todas as dioceses

cumpram o mesmo plano?JO - Sim, na medida em que ele encerrauma ideia chave, mestra, com algumascoordenadas. Mas depois cada Dioceseterá a sua autonomia para fazer o seuplano. Uma coisa é certa: gostaríamosque ao falar de determinadas realidades,a mesma palavra fosse utilizada no Nor-te e no Sul do país.Esperamos que o Papa, na sua próximavisita, nos traga algumas ideias e tam-bém a força e a coragem para ultrapas-sar as dúvidas que possam subsistir quan-do à aplicação de um projecto comum.

AE - Esse projecto poderá ter implicaçõesna autonomia de cada Diocese…JO - Não, não queremos isso porque umadas grandes novidades do ConcílioVaticano II está precisamente no factode a Igreja estar toda na Igreja particu-lar. Não vamos destruir certas caracteri-zações e manifestações de ordem socio-lógica. Cada uma terá de ter o trabalhode aplicar à sua realidade aquilo que forassumido por todos.

AE - Os responsáveis pela Igreja Católi-ca em Portugal estarão a aprender a tra-balhar em conjunto, efectivamente?JO - Penso que não se trata de aprender,trata-se de o fazer porque tudo isto levajá alguns anos e os que estão mais direc-tamente implicados na coordenação pas-toral das Dioceses é que deram origem a

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este corpo de ideias, de pensamento.

AE - É novo o facto de o debate envolverdados da sociologia ou da psicologia enão só da teologia?JO - Temos tido isso em consideração eas próximas Jornadas Pastorais do Epis-copado [14 a 16 de Junho] procuram sa-ber o que é que as diversas áreas do pen-sar sugerem como interpelações para onosso agir pastoral. Ao recorrer a peritos,homens da sociedade, mesmo que nãoplenamente identificados com a IgrejaCatólica, queremos ouvir as questões queas diversas áreas do saber nos lançamporque nos faz falta ouvir gente de fora.

AE - A experiência da fé, nos dias de hoje,tem de ser fundamentada de formainterdisciplinar?JO -Já o referi e continuarei a sublinharessa mesma ideia, a que temos de estaratentos. É por isso que hoje, na Igreja, éimportante o reconhecimento não só doscarismas mas também da competênciaem cada área, em cada sector.

AE - Da visita Ad Limina [a Bento XVI] saiuainda um desafio em ordem a um "rectoordenamento da Igreja". Na sua opinião,o que é que está em causa neste alertade Bento XVI?JO - É um aspecto que cada Bispo terá deestudar. Alguns pensavam que seria umareferência à criação de novas Dioceses.Pessoalmente estou convencido que oSanto Padre estava a dizer-nos que serianecessário encontrar formas novas deassistência às pessoas que vivem nasparóquias pequenas, algumas situadasem zonas totalmente desertificadas. Nasvárias Dioceses há um esforço para nãodestruir a autonomia dessas paróquias -porque iríamos criar problemas - subli-nhando a importância daquilo que cha-mamos as unidades pastorais, isto é, umsacerdote com cinco ou seis paróquias,cada uma com a sua autonomia, onde searticulam os serviços e o trabalho é feitonuma reorganização diferente.

AE - Isso inclui também uma repartiçãode responsabilidades por pessoas dife-rentes?JO - Nessa reorganização é preciso acre-ditar que um padre é muito mas não étudo. Um leigo tem também o seu lugar,o seu espaço, as suas responsabilidadese terá de assumi-las. Não é apenas um

aproveitar-se dos leigos, mas reconhe-cer a sua vocação insubstituível.

AE - Também com responsabilidades efec-tivas na comunidade?JO - Sim, com certeza. Por exemplo, nacelebração da fé do Domingo, na cele-bração da Eucaristia, como responsabili-dade própria confiada a alguns. Com cer-teza que isso não deixará de acontecer.

AE - E quanto a mulheres no sacerdócio,pensa que é um assunto encerrado?JO - Eu sei que o Santo Padre, Bento XVI,o considera encerrado e, neste momen-to, nós também devemos fazer o mesmo,na certeza de que a mulher desempenhana Igreja um papel impressionante. Queamanhã, por isto ou por aquilo, venha asentir-se essa necessidade, não sei…

AE - Ficaria surpreendido se isso aconte-cesse?JO - Não seria necessário. Às vezes algu-mas pessoas falam na promoção da mu-lher, mas não vejo isso assim. Hoje sãotantas as mulheres que trabalham navida da Igreja, com papéis insubstituíveis.Há uma presença feminina muito grande.

Alargar as fronteiras do diálogoAE - Nos últimos anos têm surgido inicia-tivas de diálogo inter-religioso, como pro-gramas na comunicação social, nascapelanias hospitalares… É uma oportu-nidade ou um obstáculo à acção da Igre-ja?JO - Para nós é uma convicção, ainda queporventura há 50 anos não fosse. É oconsciencializarmo-nos do mundo emque estamos naturalmente inseridos.

Não esqueçamos que, mesmo na regula-mentação da Concordata, fomos nós,Igreja Católica, a trabalhar para que sepudesse servir adequadamente os por-tugueses no âmbito religioso. Aquilo quea Igreja procurou para si, procurou tam-bém para os outros.O Concílio Vaticano II é eloquente sobreo diálogo ecuménico, o diálogo inter-re-ligioso e com os diferentes. São áreas emque a Igreja terá de viver permanente-mente.Talvez outrora, em Portugal, se pensas-se que a Igreja tinha de ser quase queexclusiva. O que importa é que cada umsiga o seu caminho para Deus, no encon-tro com a Palavra, com tantas outras rea-lidades, e que a Igreja Católica possa dis-

por da liberdade e dos meios adequadospara exercer o seu serviço.

AE - Nesse âmbito, as relações com asentidades públicas são boas?JO - Sim. A regulamentação daConcordata demonstra-o.

AE - Apesar de não estar concluída?JO - Faltam alguns aspectos que preci-sam de ser equacionados, como o patri-mónio e as aulas de Moral. Mas já háregulamentação na parte hospitalar enos estabelecimentos militares eprisionais.A própria Concordata estabelece umacomissão paritária que já está a traba-lhar no sentido de interpretar os textos.Infelizmente, a comissão bilateral liga-da ao património não tem funcionado, eeu não sei porquê! Da nossa parte aspessoas estão determinadas. Estamos àespera… Têm surgido algumas questõesrelativas ao património que talvez se pu-dessem ter evitado.

Visita de esperançaAE - Que oportunidade constitui para asociedade portuguesa e para a Igreja nonosso país a visita de Bento XVI?JO - Creio que é um momento de grandealegria e estou plenamente convencidode que será uma ocasião de festa. Numaaltura que, queiramos ou não, reconhe-cemos como de crise, de uma certa per-plexidade e, para algumas pessoas, atéde um certo medo perante o amanhã eperante o futuro, a presença do SantoPadre será também um momento de es-perança. Estou convencido que a mensa-gem que o Santo Padre vai trazer ao país,particularmente aos católicos, dará umpouco mais de tranquilidade ao momen-to que estamos a viver. Mas por que nãopedir também aos portugueses em geralque se abram a essa mensagem, se nãopara a aceitar, pelo menos para a aco-lher e reflectir?Queremos caminhar com o Papa e sabe-mos que ele quer caminhar connosco,particularmente na área da missão daIgreja, que tem de ser desempenhadacom autenticidade, com verdade, comresponsabilidade.Creio que o povo português irácorresponder a esta vinda do Santo Pa-dre, acolhendo a sua mensagem e mani-festando a grande alegria de o termosentre nós.

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Mesmo se a sociabilidade paroquial jánão condensa a diversidade das identi-dades na eclesiosfera católica, ela per-manece como um laboratório privilegia-do para a observação das mutações docatolicismo na sociedade portuguesa. Napassagem de regimes de sociabilidade«comunitária» para regimes de sociabili-dade «societária», as formas práticas dearticulação do crer e do pertencer conhe-ceram significativas mutações. Se a pa-róquia é comunidade, teologicamentedefinida como resposta a um chamamen-to que a precede, tal condição não deveconduzir ao esquecimento da complexi-dade da sua textura humana. Do centropara as periferias do campo católico, deum catolicismo confessante até às fran-jas de um catolicismo cultural, diversifi-caram-se os modos de exprimir a identi-dade crente, diferenças bem patentesnas práticas paroquiais.Podemos falar de um primeiro tipo desociabilidade católica, marcada pelaocasionalidade e pela sazonalidade – asduas características não são redutíveis.Incluem os praticantes dos rituais paro-quiais, concernentes ao próprio, aos seusfamiliares, aos seus amigos, ou motiva-dos por razões de civilidade ourepresentatividade social. Mas outraspráticas podem estar em causa, numaaltura em que a instituição paroquial ca-tólica diversifica os modos de inscriçãosocial. Trata-se de uma sociabilidade deintercepção: os diferentes dispositivosparoquiais cruzam-se com itinerários di-versificados de praticantes marcados pormotivações muito individualizadas ou poruma religiosidade familiar (que pode sub-sistir com vincada autonomia).Devemos falar também de uma sociabili-dade paroquial regular enraizada numdos contextos de interacção maisidentificadores da geografia confessionalcristã: as assembleias dominicais. Estecontexto, onde se tecem os laços carac-terísticos deste tipo de sociabilidade,pode conduzir a solidariedades regula-res, umas dizendo respeito à preparaçãoda acção litúrgica, outras decorrendo daprópria acção litúrgica (como os espaçosde convivialidade prévios ou consecuti-vos). Outras podem ser eminentemente«seculares». Este tipo de sociabilidadeparoquial aproxima-se da figura clássicados católicos observantes, mas num qua-dro social novo. Estes praticantes estão

Sociabilidades crentes na eclesiosfera católicapresentes com regularidade nasassembleias dominicais, no quadro deuma iniciativa individual ou familiar, por-que aí se sentem bem, porque desco-brem nessa prática algo de importantepara a sua realização pessoal, porqueessa prática é representada como resul-tado da coerência com que se represen-tam a si próprios. A sua prática é auto-representada preponderantemente a par-tir de uma lógica electiva e menos se-gundo o império do dever. Este carácterelectivo parece acompanhar as marcasde uma «identidade de resistência», nosentido proposto por Manuel Castells, namedida em que estes praticantes tendema valorizar daquilo que os distingue (ouaté os discrimina) na cultura dominante –neste contexto, desenvolve-se uma novaconsciência católica marcada por algunsdos traços da experiência social das mi-norias.Num terceiro registo, podemos falar deuma sociabilidade de tipo associativo.Encontramos aqui um conjunto diverso degrupos, equipas, organismos com objec-tivos específicos, com lógicas de acçãoespecíficas (catequese, evangelizaçãode adultos, preparação dos rituaisidentificadores, animação litúrgica, visi-ta aos doentes, acções nas escolas doensino básico, etc.). Há um segundo cír-culo associativo constituído por «movi-mentos eclesiais». Mesmo se possam darorigem a sociabilidades específicas, têmuma relação simbiótica com o habitatparoquial. Pode, ainda, falar-se de umterceiro círculo constituído por aquelescuja actividade se desenvolve em con-textos de cooperação com o meio socialenvolvente. Situam-se na interface queorganiza a comunicação da instituiçãoparoquial com o seu território, como é ocaso dos dispositivos paroquiais de ac-ção social. Estes são os crentes que, deforma mais acentuada, vivem a paróquiacomo centro de actividades, como supor-te simbólico para aquilo que identificamcomo sendo a espiritualidade que sus-tenta a sua acção e como experiência decomunitarização de valores.É necessário falar de um quarto tipo desociabilidade, patente nos quadros deacção dos órgãos institucionais paroqui-ais. Refira-se, a título de exemplo, o Con-selho Pastoral Paroquial, órgão consulti-vo e de concertação, e o Conselho Eco-nómico, órgão de gestão, ou as equipas

(por vezes, secretariados) de «animaçãopastoral». Encontramos aqui os crentesmais implicados na organização paroqui-al. Estes crentes mantêm fortes relaçõesentre si, podendo apresentar um eleva-do nível de conhecimento interpessoal.Mas não constituem um conjunto homo-géneo. Podem identificar-se, neste gru-po, muitas clivagens quanto às lógicas eobjectivos da acção que orientam a vidaparoquial: entre os que defendem formasde comunidade paroquial maisexclusivistas ou mais inclusivistas; osque põem à cabeça as questões sociaise a relação com o meio e os que vêm nacomunidade paroquial um abrigo espiri-tual; os que apostam na organização daparóquia cultual e os que dão prioridadeaos dinamismos de recristianização. Esteé o terreno em que os fiéis leigos se en-contram frequentemente em situaçõesdiversas de cooperação com os clérigos.O protagonismo destes leigos tende apronunciar-se nas situações em que sediversificam as dinâmicas paroquiais, seafirmam responsabilidades especifica-mente laicais ou ainda – em razão dimi-nuição do clero disponível – se exigemnovas missões num contexto de recom-posição do sistema paroquial.Traduções dessa identidade socialmen-te descompactada, estes regimes de so-ciabilidade católica não se transcrevemem posições religiosas imutáveis. Podemdescrever polaridades que organizamtrajectórias e itinerários determinadosbiograficamente – uma micro-história daidentidade crente.

Alfredo Teixeirateólogo e antropólogo (UCP)

Diversificaram-se os modos deexprimir a identidade crente,diferenças bem patentes naspráticas paroquiais

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1, Não é fácil, nem normal, avaliar o graude evolução de uma acção concreta combase num período de tempo tão breve eexíguo. A reflexão enunciada no títulodesta opinião publicitada, pode, porém,apontar para indicativos de ontem e dehoje, que ajudem a ver caminhos abertosou para abrir.O encontro quinquenal regular dos bis-pos com o Papa é precedido de informa-ções sobre a Igreja no país, que permi-tem orientar a comunicação do SumoPontífice para os problemas pastorais emcausa que mais preocupam os bispos. SeJoão Paulo II falou da atenção a dar à fépouco esclarecida dos nossos cristãos eBento XVI na necessidade de uma inicia-ção cristã cuidada e alargada, foi porqueessas eram e são as preocupações dosbispos portugueses que lhes chegaram.O apoio das palavras do Papa comportasempre um apelo às comunidades cris-tãs, na sua maioria desconhecedoras daspreocupações do seus pastores, para queestejam informadas e participem.

2. O desafio pastoral da evangelização,tarefa essencial e permanente da Igreja,ganhou contornos mais acentuados como crescimento da indiferença religiosa, aemergência da modernidade, a dificulda-de de os cristãos se situarem activos numcontexto de pluralismo, a organização davida influenciada pelo laicismo infiltradonos dinamismos sociais mais activos, ainstabilidade de instituições sociais an-tes indiscutíveis, como a família…Mas odesafio é ainda mais forte, quando severifica que, mesmo em pessoas e ambi-entes, visivelmente marcados pela indi-ferença e abandono da prática dominicale sacramental, subsiste um tradiciona-lismo religioso arreigado, que, para mui-tos que o vivem, dispensa uma formaçãoséria e que, emergindo em momentos de-terminados, cria problemas e dificulta arenovação pastoral que se impõe.O esforço de formação, para quem pensanão precisar dela, e que se impõe logo apartir de primeira iniciação para a vidacristã e depois de uma catequese contí-nua, não necessariamente orientada paraos sacramentos, mas para uma vivênciasegundo Cristo, encontra, num contextode cristandade, muitas dificuldades.3. Há décadas atrás, a nível geral da Igreja

Acção Evangelizadora da Igreja em PortugalDe Bento XVI (Roma 2007) a Bento XVI (Fátima 2010)

em Portugal, pouco se falava decatecumenato, iniciação cristã,catequese de adultos, formação alargadaa todos e ao longo da vida. Havia, portodo o país, algumas experiências e ten-tativas, mas sempre reduzidas, muito lo-calizadas e pouco enraizadas.O clima pacífico de cristandade, a primei-ra transmissão da fé na família, a procuraainda generalizada dos sacramentos tra-dicionais, as missas dominicais a enche-rem os templos, a censura pública locala comportamentos religiosos e familia-res estranhos ao meio, o pouco confron-to com outros ambientes e culturas, opovo, normalmente submisso nas coisasreligiosas, sempre que não lhe tocassemem tradições locais arreigadas, eram si-tuações generalizadas que não davampreocupações à maioria dos pastores lo-cais. Porém, com a implementaçãoparticipativa do regime democrático, aemigração alargada, a liberalização dasrelações pessoais e sociais, o ensino es-colar generalizado, os meios de comuni-cação acessíveis a todos, o confronto di-ário com outras culturas e expressõesreligiosas, foram-se sedimentando novoscritérios de julgar, novos valores e mode-los de vida, novos princípios de acção enovas fontes de inspiração e influênciaque passaram a determinar os comporta-mentos habituais de toda a gente e, tam-bém, dos cristãos desarmados de convic-ções enraizadas, por falta de féesclarecida.Paulo VI alertara a Igreja (EN 19) paraeste fenómeno. O Concilio fez abrir osolhos a um mundo novo que não podiaser indiferente à acção evangelizadora.Os sínodos dos bispos pediram uma for-mação cristã de sentido catecumenal.Porém, em Portugal, não foram muitos osque se aperceberam destes avisos e ape-los, por parecer não nos diziam respeito.Ficou, no entanto, bem claro, que quan-do se acordou para a realidade, não ha-via mais lugar para atitudes de condena-ção, nem de rotina instalada na defesade uma pastoral de manutenção. Entrou-se em perda progressiva e não era esse ocaminho de uma acção renovadora. Esteteria de passar, doravante e necessaria-mente, por uma criatividade sensata, apoi-ada na sensibilidade à realidade e seuconhecimento objectivo, na leitura inteli-

gente dos “sinais dos tempos”, na refle-xão teológica alargada e num trabalhoem comum, dito de cariz sinodal.

4. Ora, é isto que os bispos portuguesesestão agora procurando, como um deverpastoral e uma exigência de acção, ino-vadora por força das urgências já antessentidas e depois sublinhadas por BentoXVI, e pela verificação, iniludível e cres-cente, da perda de significado e de influ-ência que a Igreja parece ter hoje paramuitos cristãos e, até, para diversos secto-res influentes da sociedade portuguesa.Fora, talvez, muito individual e parcela-da a caminhada antes já feita. Afigura-seagora que os problemas se generaliza-ram e, por isso, se impõe uma caminhadaprogramada e em comunhão. Esta já sevinha operando, a nível nacional, em al-guns sectores, geralmente aceites, comoo Catecismo Nacional, os dez anos decatequese, os Programas de EducaçãoMoral e Religiosa Católica, a qualifica-ção dos catequistas e dos professores, oapoio às Escolas Católicas, a realizaçãodas Semanas Nacionais e outros.

5. No momento presente a ConferênciaEpiscopal Portuguesa empenha-se, sem-pre em vista da sua acção evangeliza-dora, em “Repensar a pastoral da Igrejaem Portugal”; na procura, após sonda-gem a todas as dioceses, de um planonacional da catequese dos adultos e docatecumenato, a sério, em ordem aossacramentos de iniciação cristã; na pas-toral juvenil e no maior acompanhamen-

Quando se acordou para a reali-dade, não havia mais lugar paraatitudes de condenação, nem derotina instalada na defesa de umapastoral de manutenção

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to dos movimentos laicais; na integraçãodas forças existentes, rumo a uma acçãopastoral de conjunto.Isto, como é óbvio, para além do esforço,iniciativas e trabalhos de cada diocese, dosdiversos movimentos laicais, antigos emodernos, e da acção dos institutos de vidaconsagrada, de religiosos e de leigos.

O que se pode esperar de toda esta mo-vimentação?Embora não se veja muito, não se podedizer, com verdade, que está tudo namesma.Certamente vão continuar iniciativas emcurso, não como acções ocasionais, masdevidamente marcadas pelo objectivoevangelizador. Serão, porém, mais demo-rados os resultados a médio e longo pra-zo, por exigirem adequação das estrutu-ras, renovação das mentalidades, a co-meçar pelos mais responsáveis, cresci-mento da capacidade de trabalho emconjunto, reflectido, programado, execu-tado e avaliado, melhor aproveitamentodos recursos existentes, pessoais einstitucionais, independentemente da

idade e da condição canónica das pesso-as e das instituições, conversão a um pro-jecto comum, com prioridades definidase capacidade de adaptação local, usocriterioso de novos meios e instrumentosde análise e de comunicação…Algumas acções, nesta ordem, me mere-cem maior atenção e destaque: a reali-zação de sínodos diocesanos, bem pre-parados e assumidos pelo conjunto daIgreja Diocesana; a formação cuidada dosnovos padres para que sejam, hoje e aqui,pastores à maneira de Cristo e dos Após-tolos, padres a sério num mundo diferen-te, que assumiu a sua legítima autono-mia, padres sem lampejos, claros ou dis-farçados, de clericalismo e autoritarismo;a atenção aos leigos, vocacionados paraserem cristãos no mundo, fermento acti-vo de vida e testemunhas de um novorosto de Igreja; apoio lúcido às institui-ções mais influentes na vida das pesso-as e na consistência da sociedade, comoa família, a escola, o mundo do trabalho,o mundo da cultura e os jovens.

6. É por demais claro que a Igreja, em

A IGREJA CATÓLICA EM PORTUGAL

Portugal, ao repensar a sua vida e acção,se deve dispor, de uma vez por todas, noseu conjunto e de modo consequente, aseguir as orientações conciliares e a ser“escola de comunhão”, sem nostalgiasdo passado, nem complexos do presen-te, sem toques de apologia interna e deapologética fácil.Por mais pressões que existam no terre-no o caminho da Igreja, tal como o deCristo, são as pessoas. Por isso será sem-pre uma Igreja fiel a Cristo e aos homense mulheres de hoje, atenta e solidária comas suas alegrias e preocupações. UmaIgreja iluminada pela fé e visivelmenteincarnada na vida concreta. Uma Igrejacorajosa a anunciar o que lhe é próprio,Jesus Cristo e a sua mensagem de verda-de e de amor. Uma Igreja aberta ao legí-timo pluralismo, capaz de escuta e deapreço de todos. Uma Igreja, enfim, ago-ra disposta a não tirar partido efémerodas grandes manifestações ao Papa, masa recolher dele o testemunho corajosodo seu compromisso com a Missão.

António MarcelinoBispo de Aveiro, emérito

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Bento XVI em Portugal

OpiniãoBento XVI em Portugal

Opinião

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Bento XVI vai escutar Manoel de OliveiraBento XVI vai escutar Manoel de OliveiraBento XVI vai escutar Manoel de OliveiraBento XVI vai escutar Manoel de OliveiraBento XVI vai escutar Manoel de OliveiraNo encontro que Bento XVI tem previstorealizar com protagonistas da culturaportuguesa, no Grande Auditório do Cen-tro Cultural de Belém, caberá ao cineas-ta Manoel de Oliveira saudar o Papa.Raras vezes a história nos associa aosseus momentos culminantes, normal-mente diferidos para uma ponderadareconstituição posterior. A história tempoucos directos. O seu fluir, as suas alte-rações, os seus movimentos sãoobserváveis por escassos radares emcada tempo. Também por isso o eventoanunciado vem em contra-corrente.Bento XVI é um Pontífice singular. Che-gou a Roma vindo da condução pastoralde uma Diocese, mas a sua áurea era,sobretudo, a de mestre incontestadonuma das academias europeias de maiorexigência. Na Cúria dirigia um dos maisamplos e identitários sectores do gover-no da Igreja, mas assentindo sempre emdebater o estado da Fé e do Mundo paralá das fronteiras do próprio catolicismo

(recordem-se os diálogos com JürgenHabermas ou com Paolo Flores d'Arcais).É um peso-pesado da teologia, capaz deombrear, em intuição e produção de pen-samento, com clássicos contemporâne-os como Romano Guardini, Karl Rahnerou Hans Urs von Balthasar, mas ao mes-mo tempo é responsável pelo veementeelogio da beleza na construção do itine-rário crente: "ser atingido e dominadopela beleza de Cristo constitui um conhe-cimento mais real, mais profundo, do quea mera dedução racional. É claro que nãodevemos subestimar a importância dareflexão teológica, do pensamento teo-lógico exacto e preciso; ele continua ab-solutamente necessário. Mas daí a des-denhar ou rejeitar o impacto produzidopela resposta do coração no encontrocom a beleza, considerada como umaautêntica forma de conhecimento, seriaempobrecer-nos".Ao escutar as palavras de Oliveira, BentoXVI sabe certamente que quem lhe fala

TTTTTrrrrransição que fica paransição que fica paransição que fica paransição que fica paransição que fica para a históriaa a históriaa a históriaa a históriaa a históriaA idade do Cardeal Ratzinger aquandoda eleição pontifícia ditou, por esse úni-co indicador, sentenças que se foram ge-neralizando: será um pontificado de tran-sição.Aos seus 78 anos, assinalados em perío-do de sede vacante, juntava-se o factode Joseph Ratzinger ser número dois deJoão Paulo II e a referência doutrináriade todo um pontificado marcado pelo jus-to protagonismo do Papa polaco.Passados cinco anos, impõe-se uma cer-teza: o pontificado de Bento XVI respon-de aos desafios que emergem do juízoda história lançado sobre os que decidi-ram seguir os passos de Cristo, corres-ponde ao exercício de uma liderança re-ligiosa de acordo com as exigências so-ciais dos tempos em que vivemos e estáem sintonia com as questões e a buscade sentido da vida pela pessoa humana,incontornável em qualquer indivíduo, emqualquer tempo.Na mediatização de todas as mensagens,indivíduos e grupos absorvem imagens,

as primeiras imagens que se oferecemsobre pessoas ou acontecimentos. Tam-bém as do Papa.Nos dias que correm, na espera de BentoXVI, são essas as imagens, as que pri-meiro foram mediatizadas, que percorremopiniões ditas. Nem sempre as pensadas.Mas as proclamadas, embaladas nofacilitismo aparente de querer estar emsintonia com maiorias.No virar de muitas páginas, cresce o nú-mero dos que analisam o pontificado deBento XVI e apontam como qualidades oque antes pareciam ser fragilidades. Se-riedade intelectual, busca da verdade,operacionalização das decisões, coerên-cia, assunção de culpas, determinaçãona configuração de tudo e de todos como exemplo de Jesus Cristo. É nessa estei-ra que tem de se compreender o pontifi-cado de Bento XVI. Também na capaci-dade demonstrada em perscrutar valo-res e projectos que ficam para a história,mesmo quando não motivam popularida-de imediata.

OPINIÃO

é um dos grandes criadores dessa extra-ordinária arte que é o cinema, mas dir-se-ia, por todas as razões, que sabe mais:sabe que os grandes artistas se tornammestres de humanidade e luzeiros queiluminam a procura de Deus.

José Tolentino Mendonça

A partilha destas opiniões de imediatoesbarram com questões clássicas, quepintam o estandarte de muitos debates, eque não se podem excluir da recriação daexperiência cristã em cada tempo. É, noentanto, do actual Papa, pelos contri-butos que ofereceu à Igreja Católica comoprofessor e como Cardeal, que se colheuma certeza: não é por questões demoda, a favor ou contra, que todos os de-bates são assumidos; antes por se impo-rem a quem procura, sem rodeios e livrede condicionalismos, descobrir a Pessoade Jesus Cristo e viver de acordo com aSua Mensagem.Os dias em que Bento XVI está entre nóspodem ser uma oportunidade para des-cobrir essa ousadia do actual Papa.

Paulo Rocha

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Preparar é uma festaPreparar é uma festaPreparar é uma festaPreparar é uma festaPreparar é uma festaHá um encanto particular na preparaçãode grandes festas. A vinda de um Papaao nosso país não foge à regra e é porisso compreensível que se multipliquem,por estes dias, notícias, comentários e ex-plicações sobre tudo o que está a ser fei-to para acolher Bento XVI.Como é natural, todos estes momentossão vividos à flor da pele, as forças sãopoucas para uma tarefa que parece tãogrande, tudo é feito com a intenção deimpressionar positivamente um visitantetão importante para quem faz da fé cató-lica o seu modo de vida. Afinal, estamosna presença de um líder espiritual, quetem um papel especial na vida de milhõesde pessoas, entre nós, por maisdiscordâncias que o seu estilo própriopossa gerar.A forma como tudo está a ser preparadodeixa adivinhar já um clima de festa, decelebração, à margem do confronto. Mes-mo as habituais manobras publicitáriasde quem procurar atenção à custa de uma

figura maior – prática que vai alastrando,com a conivência de quem faz a informa-ção que chega até cada um de nós – nãopassam de notas de rodapé numa histó-ria que se escreve para o hoje e tambémpara o futuro. Um futuro em que o essen-cial resistirá à poeira dos que só saco-dem os pés no chão, sem preocupaçãoem olhar para o que nos ultrapassa, láno alto.Admite-se que neste clima de festa, atépela cultura mediática em que hoje vive-mos, haja uma predominância do senti-mento e do que é epidérmico, a respeitoda viagem do Papa. Percebe-se, também,que se haja alturas em que se esquece ofacto de estarmos na presença de umpensador - comparado pelo Patriarca deLisboa a um corredor de fundo - que nãose preocupa tanto com a velocidade domomentâneo, mas com o plano que defi-niu para chegar à meta.A presença de Bento XVI, como festa ecomo desafio à reflexão, é uma interpe-

A visita de PedroA visita de PedroA visita de PedroA visita de PedroA visita de PedroMergulhada num vale embebido de ver-de, a aldeia das Furnas, nos Açores, é cer-tamente uma das mais belas do mundo.Com o vulcão acordado dia e noite, anosa fio, águas quentes, frias e mornas, fon-tes abundantes e humildes, um lagosereníssimo a espelhar os cambiantes docéu, a embriaguês das flores na sua vari-edade estonteante, tudo num singularenquadramento de montanhas, outrostantos miradouros geradores de silênciorespeitoso e prolongado com olharespasmados. O vale das Furnas tantas ve-zes descrito por tantos escritores portu-gueses e estrangeiros.Todos os anos, a seguir à Páscoa, acon-tece uma procissão peculiar. A procissãodos enfermos. O Santís-simo percorre asruas e visita as casas dos doentes que Onão puderam receber. Mas nessa viagemhá uma particularidade: um longo tapetedas melhores flores e ramagens dasFurnas, artisticamente colocadas em “for-mas” numa harmonia esplendorosa decores. As pessoas dizem apenas: “É O

Senhor que vai passar aqui. Ele merece omelhor”. De todas as festas da terra é aque tem menos ruído e dispersão. E o quese percebe é que aquele monumento debeleza não é um gesto de vaidade masde amor pelo Senhor que passa.Pedro, na pessoa do Papa, vem visitar-nos. A notícia anda por aí entre polémi-cas e afirmações de fé: há quem penseque há flores a mais, excesso de tempo,perda de rentabilidade, gastos excessi-vos em decorações, peregrinações e en-contros que podem ser mais exibição quedevoção.Será para muitos, um alemão, um antigoprefeito, um líder, um chefe de Estado.Mas sabemos quem nos visita.Habituámo-nos, ao longo de milénios, aolhá-lo para além da humanidade, parao que ele significa, transporta e projectanas nossas comunidades: continuidadeapostólica, unidade da fé, elementocongregador da ecclesia, comunidadecristã. E assim como o povo das Furnasdiz que por mais ninguém era capaz de

OPINIÃO

lação para todos, crentes ou não, desdeque se assuma um clima sério de discus-são, de debate, abandonando estereóti-pos e preconceitos. Muito do que ele dis-se e escreveu está ainda por descobrir edescodificar: numa sociedade em mudan-ça, como a nossa, vale a pena perceber oque tem a dizer a figura mais importanteda Igreja Católica.Por tudo isto, é fundamental que se pre-pare a vinda do Papa em festa, serena ealegre, com lugar para os que quiserementrar. E quanto mais honesto for o en-contro, mais sentido terá receber entrenós Bento XVI.

Octávio Carmo

estender um tapete de flores, também oscatólicos em Portugal de 2010 sabem quepor mais ninguém fariam uma festa tãosolene. É Pedro que nos visita.

António Rego

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Bento XVI foi eleito numa época derelativismo que afecta visivelmente ospressupostos da identidade ocidental,quando o globalismo procura dar voz in-dependente e livre a todos os povos, e odialogo entre as culturas dá relevo àquestão de saber se a questão do univer-sal, à qual Paulo deu expressão ao afir-mar “não há judeu nem grego, não háescravo nem livre, não há homem nemmulher, pois todos vós sois um em CristoJesus”, também é estrutural nas outrasculturas. O encontro procurado por JoãoPaulo II, para encontrar, em Assis, os va-lores comuns das várias confissões, foipromissor, mas tal indagação e experi-ência não afecta o sentido universal damensagem cristã, a sua expressão na De-claração Universal dos Direitos Humanos,a sua presença no património imaterial

O carisma de ensinar

Para quem espera a visita do Papa BentoXVI, no próximo mês de Maio, é tempo devigília. Oportunidade para preparar cora-ções, focar olhares e perceber o essenci-al. Hora de ir ao fundo das coisas e pro-curar sentido, passando para além daenorme nuvem de poeira que paira nosnossos dias. Num tempo turbulento echeio de ventos contraditórios, é sábiofazer silêncio e começar pelo princípio."Contigo caminhamos na esperança"pode ser esse ponto de abertura.

1. Contigo Contigo Contigo Contigo Contigo - A visita do Papa trar-nos-áseguramente a consciência viva que so-mos comunidade. Ninguém é cristão so-zinho. Existimos para amar e para servirum "outro", que, sendo irmão, é a ima-gem viva do nosso Deus. Mas "contigo"será também nesta visita uma expressãoserena de solidariedade da Igreja portu-guesa com Bento XVI quando os dias sãoduros. Quase sem palavras, é tempo dedizer "presente". O Papa precisa de sa-ber que conta com a sua Igreja. Finalmen-te, este "contigo" será - sobretudo - acerteza de que cada um de nós é profun-damente amado por Deus, nunca por Eleabandonado. Acreditar é, por isso, saber-se eternamente cuidado por um Pai demisericórdia, sempre presente. Vale apena ter isto presente nas vésperas dachegada do sucessor de Pedro, aquele

Tempo de vigíliadiscípulo que tendo negado três vezes oSenhor, ouviu "tu és Pedro e sobre estapedra edificarei a Minha Igreja".

2. Caminhamos Caminhamos Caminhamos Caminhamos Caminhamos - A presença do SantoPadre entre nós será uma metáfora dequem está a caminho da terra prometida.Com ele, com a Igreja e com toda a Hu-manidade, somos chamados a percorrerum trilho difícil, incerto e - tantas vezes -doloroso. Com dias de sombra, mas tam-bém com momentos de grande consola-ção. Mas se de alguma coisa estamosproibidos é de ficar sentados, de desistirou, pior ainda, de voltar para trás. O ape-lo que pode ecoar em nós é que saiba-mos caminhar na presença do EspíritoSanto, ansiando pela Cidade eterna, àqual verdadeiramente pertencemos, mascumprindo já - hoje e aqui - a nossa mis-são. E esta interpela-nos a não caminharsozinhos e, em particular, a não deixarpara trás aqueles que não encontramsentido neste caminho. "Cuida do teu ir-mão nesse caminho" será, provavelmen-te, uma palavra que podemos esperar deBento XVI nesta visita.

3. Na esperançaNa esperançaNa esperançaNa esperançaNa esperança - Foi este nosso Papaque, em 2007, dizia com grande clarivi-dência que "se sente em Roma, como emtodo o lado, este défice de esperança ede confiança na vida que constitui o mal

OPINIÃO

"obscuro" da sociedade moderna ociden-tal". Bento XVI percebeu muito bem aerosão deste nosso mundo, que todos osdias destrói confiança e mata a esperan-ça. Talvez seja esse é o grande pecadosocial contemporâneo. Por isso, a sua vin-da será também uma oportunidade de tor-nar presente, para todos nós, essa men-sagem em contra-ciclo. Foi também eleque nos quis iluminar esse tempo comuma encíclica que nos lembra a verda-deira esperança que salva. Com o Papa,nesta caminhada, somos chamados acolocar a nossa esperança no Cristo res-suscitado que nos diz, em dias de tem-pestade, "não temais". É deste SenhorJesus que, no olhar de S. Mateus, ouvi-mos como última palavra a certeza queestará connosco até ao fim dos tempos.

Este pode ser um tempo muito fecundo,se soubermos fazer a vigília de quem es-pera, de quem caminha, de quem acredi-ta.

Rui MarquesPresidente do MEP

da Humanidade, a marca na identidadedo Ocidente em crise de autoridade polí-tica e de relativismo cultural. Por isso, aintervenção do Pontífice, que decide exer-cer o carisma de ensinar nos centros deespiritualidade cristã, vai certamenteapelar à exempla-ridade de todos os res-ponsáveis, em todos os domínios de in-tervenção, para que os valores sejamcomo o eixo da roda: acompanha a rodamas não anda.

Adriano Moreira, Presidente da Acade-mia das Ciências de Lisboa.

Presidente do Conselho Geral daUniversidade Técnica de Lisboa

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Não sei – mas gostava de saber – comoorganiza o Vaticano o roteiro das visitaspapais. Como se escolheu por exemplo odestino das 104 viagens de João PauloII? Há viagens papais com um indiscutí-vel peso político como a de Paulo VI em1969 ao Uganda ou a de João Paulo II àPolónia em 1979. O que se falou antes deas marcar? Com quem? O que se procura-va em cada uma delas?Este entendimento da viagem como for-ma de afirmação da fé e reforço de poderé indissociável das grandes religiões: doEgipto para Israel, de Meca paraMedina... estamos perante gente que nodestino se encontrou mais forte. Na fé ena política. Política foi também a escolhade Roma para centro da mundo do cris-tão: a fé nascera na Palestina mas a Igrejaedificava-se em Roma, a terra doscésares.No século XX antes de muitos dirigentespolíticos terem tomado tal iniciativa ospapas enfiaram-se em aviões que os le-varam aos cinco continentes. Os Papasenquanto chefes de Estado e líderes reli-giosos tiveram uma percepção muito cla-ra da importância da viagem. Seria semdúvida interessantíssimo perceber o quepessoalmente concluiram em cada umadessas viagens. Aliás viajando tanto so-bretudo com João Paulo II qual é a per-cepção que têm dos países que visitam,do que está para lá das estradas onde aspessoas agitam os braços à sua passa-gem? O que se vê realmente além da-quele círculo de segurança e protocolo?Infelizmente não o sabemos e provavel-mente nunca saberemos porque os pa-pas não escrevem impressões de viagem.Fazem bulas, epístolas, encíclicas, cons-tituições dogmáticas e disciplinares, bre-ves mas nada que relate, por exemplo, oque foi a experiência pessoal para umintelectual como era Paulo VI de confron-tar-se com um santuário de Fátima ondeas marcas da religiosidade popular eramevidentes em 1967 tal como o são hoje.As viagens papais revelam ainda a capa-

A viagem

cidade do Vaticano em colocar as novastecnologias ao serviço de ritos milenares.Tal como nos anos 60 do século XX oVaticano apoiou os transplantes – recor-do que um dos primeiros transplantadosao coração foi um sacerdote francês –também vai revelar uma aguda percep-ção da importância da rádio e da televi-são não apenas como veículos de propa-gação de doutrina mas também de afir-mação da figura dos papas. Creio nãoexagerar se escrever que os Papas foramos líderes que mais partido souberam ti-rar das novas tecnologias aplicadas aosmeios de comunicação. Tal como passa-do tinham percebido a importância dasartes, da pintura à música, no século XXos papas perceberam a importância datecnologia.Do ponto de vista comunicacional há algode fascinante na forma de comunicar dospapas, esses homens em cujo discursohá um quase vazio da primeira pessoa dosingular: falam em nome de Deus, numamensagem que os fiéis vêem como se-quências de um discurso que remonta aPedro. Simultaneamente conseguiramnão cair no dilema do dogma da palavrarevelada que, noutros credos, como o

OPINIÃO

muçulmano, torna difícil quando não im-possível a adequação entre o discursodivino e as circunstâncias humanas. E porfim fazem-no com os meios mais moder-nos ao seu dispor sejam eles os frescosda capela Sistina ou celebrando missanum estádio de futebol.Na forma de comunicar dos papas perce-be-se que a frase “a César o que é deCésar, a Deus o que é de Deus” implicaisso mesmo: quem como os papas se con-fronta com a necessidade de propagar apalavra que entendem divina precisa decomunicar o melhor possível com os mei-os existentes no mundo dos descenden-tes dos césares e para as circunstânciasque os césares de cada tempo colocamaos homens. Assim as viagens papais,para lá da experiência de fé que têm paraos crentes, do que representam comoexperiência humana no sentido terrenoda viagem enquanto transformação, sãotambém uma das mais eficazes formasde comunicação de um Estado que fezda palavra a sua força e a sua razão deser.

Helena MatosJornalista

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Do meu ponto de vista, quando o Papa sedesloca a um País onde haja cidadãosque professam a religião católica é paraesses cidadãos que se orienta toda acomponente pastoral da presença papal.Por isso desejo que haja muitas oportuni-dades de o Papa nos dizer, a nós, os ca-tólicos, como vê o futuro do catolicismo -e do cristianismo em geral - nesta Euro-pa que parece ter esquecido as suasraízes que, durante séculos, beberam aseiva dos valores cristãos.Tempo, também, para o Papa nos dizer oque devemos fazer para que a morte dohomem pelo homem desapareça da cul-tura europeia, designadamente em Por-tugal onde, todos os dias, pelo menosuma pessoa é morta por outra pessoa.Como combater o ódio que continua agerminar no coração de homens e mu-lheres, que se dizem crentes mas matampara satisfazer paixões doentiasBento XVI vai falar para nós e connoscodas suas preocupações pastorais com afidelidade aos diferentes ministérios, dosque se consagram à transmissão da Pa-lavra e dos que têm como missão educarpara a Fé os jovens que se preparam paraa vida profissionalA sua presença é, por isto, uma ocasiãosoberana para confrontar ideias e propos-tas, para nos recordarmos que o catoli-cismo tem de ser, para nós, reflexão eacção e para nos ajudar a reconhecer,com humildade intelectual, os nossoserros, a nossa enfatuada omnisciência ea nossa propensão para tratar as ques-tões da convivência social no plano abs-tracto das teorias e dos conceitos.Na sua primeira Encíclica como na maisrecente, Bento XVI enfatiza o significadoda relação entre as pessoas concretascomo via real para a descoberta de Deus.Se é certo que nunca ninguém viu a Deusem si próprio, Ele está a revelar-se nointerior do amor que uma pessoa mani-festa a outra pessoa.Este amor há-de manifestar-se de muitasmaneiras, mas todas hão-de conduzir ao

melhor bem do outro que é meu irmão.Bento XVI vai recordar-nos este seuensinamento luminoso e, por isso, a suavisita é momento bem apropriado para queestes dois documentos sejam lidos e co-mentados; e, depois, reflectidos na nossavida de todos os dias. Para além da erudi-ção filosófica e teológica há neles umalinha directa que nos conduz à acção.Bento XVI estará entre nós para uma pas-toral de dinamização da moderna cultu-ra católica. A sua presença e a sua pala-vra terão um efeito poderoso nas acçõesdos católicos em todos os campos de in-tervenção como os cuidados de saúde, aeducação para a felicidade e o optimis-mo, e o apoio a todos os vulneráveis, doembrião humano ao idoso dependente.Por isto, é nosso dever, como católicos,ouvir a sua palavra e transformá-la emacção.Se os portugueses que não se conside-ram católicos se dispuserem a ouvi-lo,reconhecerem, nas suas palavras e ges-tos simbólicos algo de bom e decidiremlevar à prática as suas propostas - al-guém poderá dizer que se trata de mani-pulação das consciências ou intromissãona política?Certamente que ninguém.Portanto será bom que o Papa dialoguecom a cultura laica e apresente a sua lei-

Bento XVI estará entre nós comoa pessoa simples que é. Como ointelectual e o estudioso dacultura cristã, que também é , ecomo o farol que ilumina muitosmilhões de pessoas em todos osContinentes

Bento XVI visita os católicos de Portugal

OPINIÃO

tura pessoal dos grandes temas sociaiscomo contribuição qualificada para a suacompreensão. Sem nenhuma arrogânciaintelectual mas com o empenho de tornarclaro um pensamento que tantas vezestem aparecido deformado por quantos lheprestam uma atenção distraída.Para além das celebrações litúrgicasdirigidas aos católicos que nelas reme-moram os mistérios da Fé, Bento XVI es-tará entre nós como a pessoa simples queé. Como o intelectual e o estudioso dacultura cristã, que também é , e como ofarol que ilumina muitos milhões de pes-soas em todos os Continentes.Que seja bem-vindo, é o meu voto de ca-tólico e a minha disposição como cida-dão.

Daniel Serrão

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Bento XVI vem a Portugal numa alturaem que a nossa sociedade se encontradescrente de si própria, desanimada, frus-trada. Mas seria errado esperar do Papaum mero estímulo psicológico para ani-mar um país algo deprimido.É certo que não faltam por aí grupos di-tos religiosos a afirmarem-se e a ganha-rem prosélitos com base nas suas virtua-lidades para levantar o ânimo às pesso-as em crise. Mas não é de verdadeira re-ligião que se trata. Lê-se na Caritas inVeritate: “O mundo actual regista a pre-sença de algumas culturas de matiz reli-gioso que não empenham o homem nacomunhão, mas isolam-no na busca dobem-estar individual, limitando-se a sa-tisfazer os seus anseios psicológicos”(n.º 55).O imperativo da solidariedade, frequen-temente lembrado por Bento XVI, apelaao contrário desse individualismo egoís-ta e auto-centrado. E sendo consoladoresos gestos de solidariedade que numero-sos portugueses tiveram face a várias tra-gédias recentes – como a da Madeira –não podemos esquecer que Portugal éum dos países europeus onde as desi-gualdades de rendimentos são maiores.Pior do que isso: tendem a acentuar-secom a crise. Não podemos fingir que talnão nos diz respeito.

Expectativas frustradasExpectativas frustradasExpectativas frustradasExpectativas frustradasExpectativas frustradasO desânimo na sociedade portuguesamerece ser analisado, porque o Papa nãoo irá ignorar, embora reagindo de modobem diferente daquelas “culturas dematiz religioso” que pretendem actuarcomo anti-depressivos. Uma parte daamargura actual de muitos portuguesestem a ver com expectativas frustradas,depois de durante anos terem sido esti-muladas por um optimismo irresponsá-vel dos governantes. Tantos esperavammelhorar de nível de vida e afinal…Melhorar a condição económica de cadaum é um desejo legítimo, sobretudo quan-do se parte de um nível de autêntica po-

O Papa num país deprimido

breza. E a subida do desemprego colocahoje muitas famílias portuguesas em si-tuação dramática.Mas é difícil não ver na actual frustraçãode muitos uma excessiva, e por vezesquase exclusiva, importância dada aobem-estar material e, porventura aindamais, aos símbolos de ascensão socialque a posse de alguns bens significa paramuita gente. Ora o Papa contribuirá paradar aos vários valores em jogo na nossavida o peso correcto, combatendo umafixação doentia no que se tem designadopor “individualismo possessivo” e cha-mando a atenção para aquilo que verda-deiramente importa: a doação de si mes-mo ao serviço dos outros.

Falta de éticaFalta de éticaFalta de éticaFalta de éticaFalta de éticaA frustração portuguesa tem igualmentea ver com a situação política nacional.Alastra a descrença não apenas quantoaos políticos como noutras instituiçõespúblicas fundamentais, caso da justiçaprincipalmente.O que poderá fazer o Papa contra isso?Pois poderá recordar aos católicos as suasobrigações cívicas e políticas. É cómododizer mal dos políticos e ficar de fora, aassistir ao espectáculo. Mas essa não éuma atitude cristã. Todos nós somos res-ponsáveis pelo bem comum. Não quer

Bento XVI não é um populistanem um superficial:vai ao fundo das coisas,aos valores essenciais

OPINIÃO

isto dizer, claro, que todos os católicosdevam militar em partidos políticos ouaceitar cargos públicos. Quer dizer, sim,que não podemos alhear-nos da res pu-blica – desde logo na oração.E se nos incomoda, como deve incomo-dar, o baixo nível ético que hoje predomi-na na esfera pública, importa ter presen-te que a moralidade dos políticos egestores públicos não é uma ilha: é basi-camente a moralidade da sociedade deque fazem parte. Veja-se o caso da cor-rupção, que tanto gostamos de apontarcomo um cancro da nossa vida colectiva(e é-o, de facto). Os portugueses são per-missivos quanto à corrupção, como veioconfirmar um estudo recente. E como jásabíamos ao ver autarcas acusados esuspeitos em processo de corrupção se-rem alegremente eleitos.Bento XVI não é um populista nem um su-perficial: vai ao fundo das coisas, aos va-lores essenciais. Se o soubermos escutar,algo mudará na sociedade portuguesa.

Francisco Sarsfield CabralJornalista

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A visita de um Papa é sempre um momen-to de encontro das comunidades e daspessoas que partilham com ele a crença,a fé e modos de ver a pessoa e o mundoem que se vive. Esta será uma dessasocasiões, a que acresce a circunstânciade vivermos um tempo a que este Papadedicou especial reflexão, enquanto te-ólogo, há muitos anos, com uma capaci-dade invulgar de antecipar futuros da fée da Igreja católica, que hoje estamosvivendo. Por isso, será, também, uma opor-tunidade para visitarmos o seu pensamen-to e reflexão sobre este tempo e sobre ostempos que estão para vir. Esse pensa-mento e reflexão vêm de há muito e deu-nos iluminadas e bem fundadas ideias,em amplas esferas da condição humana,da Fé Cristã e dos modos de se ser cris-tão.O Papa tem reflexão e pensamento deenorme relevância para crentes e nãocrentes, para bispos, sacerdotes e leigos,enfim para todos a quem o empenho pelajustiça e o amor tem significado e pre-sença na vida. As dificuldades que o de-semprego, a pobreza e as guerras hojecriam a tantos seres humanos apelam asolidariedades que Bento XVI tem esti-mulado e trará consigo.Admito, também, que muitos cidadãos li-vres, não crentes ou indiferentes em re-lação às religiões, se interessem por co-nhecer melhor o pensamento do Papasobre a humanidade, a condição huma-na, as pessoas, onde quer que estejam.Assim, poderá ser uma ocasião de parti-lha de preocupações sobre questões queinteressam a muitos e ganham em serolhadas e pensadas de múltiplos modose perspectivas. Portugal e os Portugue-ses fizeram caminhos impensados, nasúltimas décadas, e integraram-se em pro-cessos que estão a acontecer por todo olado, geradores de perturbações, angús-tias e nunca vistas mudanças, rápidas eprofundas. Pode ser, pois, uma oportuni-dade que nos ajude e estimule a pararpara reflectir, a meditar sobre o que so-

mos e para onde queremos ir, cada pes-soa e cada comunidade.É significativo, para mim, que este Papatenha dedicado a sua primeira encíclicaao tema “Deus é Amor” e a tenha escritode modo tão cuidado e profundo, para aterminar a convidar-nos a “viver o Amor”.De facto, estas são ocasiões para dedi-carmos tempo e atenção aos contributosque um Papa dá para que a Humanidadese pense. Espero, pois, que se multipli-quem as vias de acesso ao que BentoXVI escreveu, antes e depois de ser Papa.Na verdade, o teólogo e filósofo JosephRatzinger tem um trabalho notável sobrea situação do Homem nas sociedadesmodernas, que não interessa apenas aquem se dedica àqueles misteres. Sãointerpelações sobre questões candentesdo nosso tempo, que esta visita estimulaa revisitar conhecer e analisar.Finalmente, a visita do Papa Bento XVIacontece num tempo que está cheio deperplexidades e interrogações sem res-posta, de exemplos de ameaças e aten-tados à dignidade humana. Abundam asdemonstrações de carências de modosjustos de servir, de cuidar do bem comum,dentro e fora da Igreja. Alimento, por isso,a expectativa de que com a vinda de Ben-to XVI encontremos estímulo para pen-

A Visita do Papa Bento XVI a Portugal

As dificuldadesque o desemprego, a pobrezae as guerras hoje criama tantos seres humanos apelama solidariedades que Bento XVItem estimulado e trará consigo

OPINIÃO

sar e agir aceitando que “o contacto vivocom Cristo é ajuda decisiva para prosse-guir pela estrada justa: nem cair numasoberba que despreza o ser humano, ena realidade nada constrói, antes des-trói; nem abandonar-se à resignação queimpediria de deixar-se guiar pelo amor e,deste modo, servir o ser humano”.

Júlio Pedrosa de Jesus

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Conhecer o pensamento do Papa"A história é conhecida. Passeando àbeira-mar, ao mesmo tempo que medita-va no mistério trinitário de Deus, Agosti-nho divisa uma criança que, com umaconcha, vai buscar água ao mar e a deitanuma pequena cova na areia. Agostinhopergunta-lhe o que está a fazer, ao que acriança responde que quer meter todo omar naquela cova. O Bispo explica-lheque isso é totalmente impossível. Ao quea criança responde ser precisamente issoque Agostinho tenta fazer, quando querabarcar com a sua limitada inteligência oincomensurável mistério do Deustrinitário" (Cf. Henrique Noronha Galvão,"Bento XVI - Um Pensamento para o nos-so tempo", Pedra Angular, 2009). O livrosobre o pensamento do Papa que acabode citar é um documento importante, pelaclareza expositiva, pela riquezaformativa, num campo infelizmente tãodescurado por muitos leigos católicos,com é o da teologia, e pela abertura deespírito que incentiva. E se é certo que aobra nos introduz na compreensão de umpensamento, a verdade é que o faz tam-bém através de uma excelente introdu-ção geral ao moderno pensamento teo-lógico. Trata, assim, sucessivamente darenovação teológica contemporânea, dopensamento de Joseph Ratzinger e do seupercurso teológico (desde o Bispo deHipona à eclesiologia, bem como a teo-logia da História em São Boaventura e notempo presente) e da actualidade de San-to Agostinho (na tocante última lição naFaculdade de Teologia da autoria do Prof.Noronha Galvão).Estamos perante o desafio de revisitar oacontecimento fundamental do catolicis-mo do século XX que foi o ConcílioEcuménico Vaticano II, a fim de enten-dermos a exigência de uma renovaçãomobilizadora da Igreja moderna. Grandesteólogos merecem ser recordados, lidose seguidos. Henri de Lubac SJ, Yves CongarOP, Marie-Dominique Chenu OP, KarlRahner SJ, Hans Urs von Balthasar,Johann Baptist Metz têm de voltar à or-

dem do dia e as suas luminosas refle-xões merecem a nossa especial atenção.E os dois pólos entre os quais se proces-sa grande parte da discussão teológicaactual devem ser compreendidos eaprofundados: enquanto Karl Rahnercontempla o "mistério da revelação e co-municação de Deus ao homem numa pers-pectiva transcendental, em que as reali-dades da história da salvação são vistascomo concre-tizações categoriais de umdesígnio divino que é o seu horizonte jus-tificativo"; Hans Urs von Balthasar "su-blinha o peso da história na sua singula-ridade como lugar em que se dá a epifaniada glória de Deus, a qual acontece nafigura concreta (…) em que se torna pre-sente ao mundo a sua revelação". Ao lon-go da obra, encontramos o pensamentode Bento XVI inserido no pensamentocontemporâneo, ressaltando que fé e ra-zão permanentemente se completam,num desafio que procura aproximar aantiga vocação europeia do"Aufklärung" das raízes cristãs - deven-do a história humana tornar-se "respos-ta necessária e livre à livre necessidadee à necessária liberdade de ser do ho-mem". E deste modo, como afirma o dis-cípulo português de Ratzinger, "a fé, paraalém do que tem de específico, possuiainda a capacidade de abrir o espíritohumano àquela visão da verdade a que anossa razão, por si mesma, pode ter aces-so".Para nós portugueses, é especialmenteinteressante ver, a propósito do pensa-mento de São Boaventura, a recordaçãodo franciscanis-mo universalista, que tãogrande presença tem na nossa cultura,na linha do monge calabrês Joaquim deFiore e de S. Francisco de Assis, tempera-do pelo poderoso contribu-to teológicode Santo António de Lisboa, formado naescola dos Agostinhos de Santa Cruz deCoimbra, o qual, por sua vez, se repercu-tirá no pensamento seiscentista do Pa-dre António Vieira, e na concepção de"Quinto Império". Afinal, o agostinismo

OPINIÃO

franciscano faz parte do código genéticoda nossa cultura e do humanismouniversalista de que falava Jaime Corte-são, e que levámos mundo afora. E aquise conciliam a visão da história circularda antiguidade e a figura linear bíblico-cristã em que tudo se ordena para a ple-nitude final - propondo Ratzinger a figurada espiral, num permanente movimentoascendente, no qual "tudo o que sobeconverge". Não sendo possível em pou-cas linhas abarcar a riqueza da obra, dei-xo apenas, a terminar, duas ou três no-tas, a começar na pequena história que oPapa costumava contar no seu magisté-rio teológico sobre "Joãozinho à procurade felicidade" (Hans im Glück): "Tendo-se visto na posse de uma pepita de ouro,Hans acha que é demasiado incómodotransportá-la, decidindo trocá-la primei-ro por um cavalo, e sucedendo-se, de-pois, a troca deste por uma vaca, destapor um ganso, e, finalmente, do gansopor uma pedra de afiar, a qual Hans aca-ba por lançar à água, sem a noção de,com isso, ter perdido grande coisa. Pelocontrário, pensa ter ganhado assim o ines-timável dom de uma total liberdade. Aestória deixa à fantasia do leitor imagi-nar por quanto tempo durou esse eston-teamento de Hans e como foi para elesombrio o momento em que acordou dasua ilusão de uma suposta liberdade"…

Guilherme d'Oliveira MartinsPresidente do CNC

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Quando penso na Igreja, penso em gen-te, um povo de Deus que caminha e reza.Penso numa multidão que se une à voltada Fé que estrutura o corpo e a alma dequem vive a relação filial com o Deus emque acredita. Quando penso na Igreja enas suas pessoas da hierarquia, pensoem fidelidade, entrega, missão e humil-dade. Mas esta minha visão não é parti-lhada por quem não acredita e até podeter um lugar na peregrinação da nossavida. Quando penso nas pessoas que nãoacreditam nesta Igreja, penso no quepensarão sobre a vinda de Sua Santida-de. Como apresentador de televisão tenhoo papel de perguntar, como tal tenho in-dagado quem não acredita, sobre o quepensa desta visita papal. As respostastêm sido unânimes, todos gostavam queda visita viesse mais confiança para umpaís desacreditado.Tenho uma leitura exigente, crítica e porvezes céptica de alguns testemunhos defé que me aparecem no quotidiano. Tes-temunhos vindos de pessoas, sejam elasleigos, sacerdotes, ou os em voga católi-cos não praticantes. Sinto falta de con-vicção, de uma humilde convicção namensagem redentora do Cristo Salvadorque foi devir da morte em vida. Sinto faltade transpor para a vida dos empregos edesempregos a mensagem da Igreja parao seu povo. Eu explico melhor. Gostavade perceber mais o sentido da mensa-gem de Cristo na vida que nos rodeia, enem sempre consigo. Certamente é tam-bém falha minha, mas esta necessidadetem sido partilhada com testemunhosque tenho encontrado nos meus dias. Aspessoas deste século precisam de sentira Igreja mais enraizada nas suas vidas, etambém sei que este é um desafio pre-sente no coração da mesma Igreja.Bento XVI não trará a fórmula infalívelda transposição da mensagem de Cristopara a realidade, mas gostava que trou-xesse para a vida do Portugal vergado aconfiança, o optimismo e a esperança que

Como falará Bento XVI a quem não acredita?

todos sentimos falta. Contudo, sinto serimportante que esta mensagem não che-gue só a quem tem a bênção de Acredi-tar, e sente que a fé lhe assiste. Gostavaque a mensagem de Bento XVI chegasseaos desacreditados do princípio destemeu texto. É fácil falarmos para quem nosouve, difícil é falar para quem não nosquer ouvir.“Contigo caminhamos na esperança”,leio na página online da visita papal. Umlema forte para esta peregrinação doSanto Padre! Palavras importantes, umcaminhocaminhocaminhocaminhocaminho que não se faz sozinhonão se faz sozinhonão se faz sozinhonão se faz sozinhonão se faz sozinho, e quese envolve de esperançaesperançaesperançaesperançaesperança. A esperança, àsemelhança da nossa saudade, não éinvocada só por quem acredita, e vive nafé que Sua Santidade vem anunciar. Temesperança quem vive, quem produz,quem cria, quem ama, quem peca e sereconverte, quem caminha, quem tem fi-lhos e cadilhos, quem perde o norte,quem adoece, quem vive estigmas soci-ais. A esperança é de todos. Ora aqui po-derá estar uma luz para que quem nãoacredita possa ter esperança. Sinto quefalta encher esta esperança de experi-ências, de realidades, de factos, de emo-ções, de testemunhos convictos. Falta darcaminho atingível a esta fé. É esta falta

OPINIÃO

que quem não é crente diz esperar queBento XVI revele, proclame, e sobretudoconvença. Convencer os desacreditadosque a vida tem um lugar para a fé, e quecom fé a luminosidade das coisas podeser revelada.A quem perguntei sobre a visita papal,disse que sim… era bom ter o Papa emtrês lugares de Portugal, é uma visitadescentralizadora, era bom que a men-sagem também nos focasse para um cen-tro que temos dificuldade em perceber….dizem-me com seriedade no olhar. Por tersentido a Igreja longe de mim, decidi co-locar-me longe da Igreja, afirma umamulher de 30 anos, gostava que a visitapapal me envolvesse, me orientasse….continua a mulher. São estes testemu-nhos, partilhados por mais gente, que mefazem pensar sobre o sentido da vindado Santo Padre para quem está longe docaminho da esperança!Bento XVI chama, carinhosamente, aMaria “Estrela do Mar”. Que esta Estre-la, que move um povo lusitano ao Seualtar do mundo, possa revelar-se a quemcaminha na sua devota fé, ou a quem pro-cura um caminho e ainda não se conven-ceu e comoveu pela bússola da Igreja deCristo.

Hélder Reis

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A visita do Papa Bento XVI a Portugal, emMaio próximo, reveste-se de importânciapara todos os portugueses e em especialpara os católicos.As visitas pontifícias simbolizam que osPapas querem ser peregrinos e se põema caminho para comunicar a mensagemde salvação. O Papa João Paulo II fez dassuas peregrinações, um pouco por todo omundo, uma pregação constante e, aosair do Vaticano como peregrino, indo aoencontro de vários povos, de várias cul-turas, colocou-se ao serviço do Homem.Saiu de si para se dar ao Outro.E o mundo inteiro percebeu essa mensa-gem: o Chefe da Igreja Católica saiu deRoma, do Vaticano, e foi a todos os conti-nentes para anunciar a paz, defender adignidade humana e apregoar o Amorcomo a via para a resolução dos proble-mas que afligem a sociedade actual.Quando morreu, vieram também dos qua-tro pontos do mundo peregrinos que qui-seram retribuir essas visitas, essas men-sagens de amor.Na senda do seu antecessor, tambémBento XVI tem visitado povos e paísesdiferentes, com uma mensagem única: oAmor.De forma mais ou menos explicita, naRepública Checa, onde pretendeureavivar as raízes cristãs da Europa 20anos depois da queda do comunismo; nosCamarões, com uma mensagem de espe-rança, ou em Angola, onde pretendeususcitar uma reflexão sobre a necessida-de de se zelar pela dignidade humana eo respeito ao próximo; em França, ondeapelou ao papel da Igreja na sociedadenão como um corpo estranho compostopor escritores e teólogos mas para aspessoas e com as pessoas; na Turquia,cujo papel no mundo realçou, como umaponte entre culturas, entre continentes,vital para que a paz e o bem-estar vivamem harmonia; ou no Brasil, onde defen-deu a vida, o Papa Bento XVI tem prega-do o Amor. Mas o Amor verdadeiro, quevem de Deus para servir, indo ao encon-

À espera do peregrino

Na senda do seu antecessor,também Bento XVI tem visitadopovos e países diferentes, comuma mensagem única: o Amor

tro.Aproveitou sempre para realizar encon-tros com líderes de outras confissões cris-tãs e de outras religiões numa atitude quedemonstra a necessidade de fomentarum diálogo universal que, com respeitode parte a parte, leve ao entendimento.Em Portugal, para além de prestar home-nagem a Nossa Senhora em Fátima, san-tuário de eleição, o Papa reunirá com pes-soas ligadas à cultura, aos sacerdotes -neste ano dedicado precisamente aopresbitério - e às organizações de auxilioaos mais necessitados e doentes.Será uma oportunidade para recordar asencíclicas deste Papa, nomeadamente“Caridade na Verdade” cujo conteúdoapesar de tão actual não foi talvez sufici-entemente divulgado.Espero sinceramente que todos os portu-gueses acolham a visita do Papa comcoração aberto e puro e que, neste mo-mento particularmente difícil para tantasfamílias e para a sociedade como um todo,aproveitem para reflectir na mensagemde Amor de que tem sido mensageiro.

Isabel JonetPresidente da Federação

dos Bancos Alimentares Contra a Fome

OPINIÃO

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O Papa Bento XVI vem a Portugal, emMaio. Vem, peregrino, rezar nesse gran-de local de peregrinação do cristianismoque é Fátima, e vem, tanto quanto sesabe, reunir-se com representantes devários sectores da sociedade portugue-sa.A visita de um Chefe de Estado é sempreum factor assinalável na vida dos países,mas na visita do Papa, acresce o facto deser o chefe da Igreja Católica (que aindaé constituída em Portugal por umalarguíssima parte da população), de serum inquestionável e incontornável filó-sofo do nosso tempo, cujas ideias sãoreferenciais no pensamento contempo-râneo.O anúncio da sua vinda é sem dúvida umfactor de grande alegria, e a sua realiza-ção é aguardada com grande expectati-va. Sabe-se que o Papa, nas suasdeslocações tem sempre uma particularatenção à situação da sociedade que vi-sita, às problemáticas que a marcam, àscaracterísticas que a definem.A nossa vida nacional recente tem sido eé marcada por uma agitação institucional(prenúncio de instabilidade?), por umagravamento das condições de vida daspopulações (aumento do desemprego, in-tensificação da pobreza), por índices decrescimento praticamente inexistentes,por um confronto de valores, alguns dosquais, matriciais (de que é exemplo odebate feito em torno do casamento edos conceitos de família que lhe estãosubjacentes).Por outro lado, constata-se também umafraca mobilização da sociedade para pen-sar, enquadrar, contribuir para ser parteactiva na construção comum.A vinda do Papa pode ser uma oportuni-dade para todos, católicos e não católi-cos, no contexto actual recuperarem,aprofundarem, destacarem, o apelo quevem a ser feito nas mais recentes mensa-gens, desde a carta encíclica Caritas inVeritate até à mensagem de ano novo,nomeadamente no que tem a ver com o

A oportunidade da visita do Papa

combate sustentado à pobreza, com arecuperação da solidariedade assenteem princípios fundamentais de justiça,com a alteração de paradigmas de com-portamento face ao consumo e à fruiçãodos bens comuns, com a defesa dos va-lores fundamentais da vida e da família.De facto esta alteração de paradigmarepresenta um enorme desafio quer aoscomportamentos individuais, querinstitucionais, no que se refere à recupe-ração de uma necessária sobriedade econtenção em tempos de crise.Será também uma oportunidade para pro-vocar a (re)dinamização das estruturasda Igreja, nomeadamente no que se re-fere à necessária aproximação às circuns-tâncias concretas dos tempos em que vi-vemos, para que seja referência perma-nente e segura da mensagem de Cristo.Mas para que as oportunidades se efec-tivem é preciso que nos preparemos, queestejamos alerta, e que o queiramos. Mastambém é preciso que sejamos incluídos,que sejam construídas as condições paraque as oportunidades se realizem. A visi-ta tem pois que ser uma visita a todosnós.

Maria do Rosário Carneiro

Sabe-se que o Papa,nas suas deslocaçõestem sempre uma particularatenção à situaçãoda sociedade que visita,às problemáticas que a marcam,às características que a definem

OPINIÃO

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O ministro da presidência, Pedro SilvaPereira, considera que a visita de BentoXVI ao nosso país será “um grande acon-tecimento de mobilização e de festa nasociedade portuguesa”.

Em entrevista à ECCLESIA, o membro doGoverno precisa que a presença do Papa,de 11 a 14 de Maio, é encarada pelo exe-cutivo como a de “visita um Chefe de Es-tado”, com a consciência de que “ele sig-nifica muito para muitos portugueses ca-tólicos e também outros que, não sendocatólicos, têm no Papa e a Igreja uma re-ferência”.

Ecclesia – O que significa a visita do PapaBento XVI a Portugal?

Pedro Silva Pereira - Para o Governo, avisita do Papa Bento XVI é a visita de umChefe de Estado. Temos também a cons-ciência de que ele significa muito paramuitos portugueses católicos e tambémoutros que, não sendo católicos, têm noPapa e a Igreja uma referência.

Creio que este vai ser um grande aconte-cimento de mobilização e de festa nasociedade portuguesa.

E – É proposta uma temática de esperan-ça, para esta visita. O governo vê nelauma oportunidade, no contexto actual?

PSP – A mensagem da esperança é umamensagem corrente na Doutrina da Igre-ja, que tem, nessa Doutrina, um sentidomais profundo do que significa a palavra,na sua utilização corrente.

A mobilização da esperança é muito im-portante, neste momento em que não sóa sociedade portuguesa mas a generali-zação dos países enfrentam dificuldadespara sair de uma crise que foi muito dolo-rosa, que tem ainda consequências mui-to visíveis no plano social e económico.

OPINIÃO

Governo atento à visita de Bento XVIO reforço da confiança, o perceber quesomos capazes de vencer as dificulda-des é também muito importante.

O Papa Bento XVI escreveu, não há mui-to tempo, uma Encíclica muito importan-te sobre questões sociais e creio que issoserá uma marca da sua visita. E há aí umapelo à mobilização das energias de to-dos, da sociedade civil, das instituiçõesparticulares de solidariedade social paradarem a respostas que o momento exige,em atenção sobretudo aos maisdesfavorecidos.

E – Quando recebe um líder como o Papaé difícil fazer a gestão do tema dalaicidade?

PSP – É claro que a visita do Papa não éuma visita de um Chefe de Estado qual-quer. Traz consigo mais do que uma sim-ples visita institucional. No entanto, o queé preciso é ter as ideias claras: qual é opapel do Estado, de que modo é que oEstado se relaciona com a sociedade,com as suas instituições e também comas confissões religiosas. E esse é um pro-blema resolvido na sociedade portugue-sa: a separação entre o Estado e as con-fissões religiosas é um dado adquirido.

Trata-se de assegurar o relacionamentocom a Igreja Católica, que o Estado fazquestão de honrar no seguimento daConcordata, e depois, na cooperação quetem permanentemente com a Igreja, visí-vel também nesta ocasião da visita doPapa Bento XVI, tendo a atenção e a cons-ciência do que significa para muitos ca-tólicos esta visita.

Por isso, o Estado adoptou todas as pro-vidências de apoio logístico na organiza-ção desta visita. Também com a medidada tolerância de ponto, que significa ba-sicamente isto: o Estado, enquanto em-pregador, não coloca nenhum obstáculo

e compreende que muitos dos seus fun-cionários e colaboradores desejarão es-tar próximos do Papa nesta visita.

E – Muitos criticaram por isso o Governo...

PSP – Há sempre gente disponível paracriticar qualquer Governo. E tenho a cer-teza de que, se tivéssemos tomado a de-cisão contrária, não haveria menos gen-te a criticar o Governo.

A decisão da tolerância de ponto segue,em primeiro lugar, os precedentes deanteriores visitas papais e, por outro lado,é uma solução de bom senso e razoável,que tem em conta o facto de haver mui-tos portugueses que, neste momentoraro, desejam ter a oportunidade de es-tar perto do Papa, que constitui uma refe-rência para a fé que professam.

E – No contexto das relações entre a Igre-ja e o Estado, permanece por resolver aquestão da Comissão Bilateral previstana Concordata, que tem merecido recor-rentes críticas por parte dos líderes cató-licos. Isso afecta as relações entre a Igre-ja e o estado?

PSP – Esta visita do Papa Bento XVI acon-tece num bom momento para as relaçõesentre o Estado e a Igreja Católica na soci-edade Portuguesa. Em primeiro lugar por-que fomos capazes de dialogar e concre-tizar uma reforma na assistência religio-sa nos hospitais, nas prisões e nas forçasarmadas, que constitui o essencial daregulamentação da Concordata. Há as-pectos que estão a ser objecto de traba-lho conjunto da Igreja Católica e do Esta-do, na Comissão Paritária, que está a fun-cionar, designadamente em matérias fis-cais.

É também muito importante sublinhar queesta visita acontece num momento emque as relações entre o estado e a Igreja

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são muito fortes na acção social. Há umaenorme convergência entre o estado eas Instituições Particulares de Solidarie-dade Social ligadas à Igreja. Um recenteestudo da Universidade Católica Portu-guesa indicava que aproximadamente60% das receitas da IPSS ligadas à Igre-ja vêm do Estado.

Há naturalmente sempre coisas que po-demos melhorar e aprofundar. É o caso,por exemplo, do dossier relativo aos as-suntos culturais, porque está previstauma Comissão Bilateral para o acompa-nhamento dos assuntos culturais. EssaComissão já reuniu e teve um funciona-mento descontinuado. Há a pretensão daIgreja e também a vontade do Governoque ela seja mais activa. Não se trata, oentanto, da regulamentação daConcordata, antes da cooperação quoti-diana numa área de interesse comum, apreservação do património cultural, mui-to dele com ligação à Igreja e à suaimplementação na sociedade portugue-sa.

E – Distanciam-se posições por causa deiniciativas legislativas mais recentes re-lacionadas com o divórcio ou o casamen-to...

PSP – O facto de termos um bom relacio-namento com a Igreja e uma convergên-cia em áreas tão decisivas como a acçãosocial não significa que tenhamos de es-tar de acordo em tudo. Há, no entanto,uma agenda muito forte do Governo noque diz respeito ao apoio á família, queeu penso que é muito convergente comas preocupações da Igreja. O Governolançou o abono pré-natal, como forma deestimular a natalidade, reforçou as pres-tações sociais de apoio á família e fezum investimento sem precedentes nascreches e na acção social escolar.

Não nego que, num ou noutro ponto, pos-sa haver uma divergência nalgumas po-sições. Também ouvi vozes da parte daIgreja expressando essas divergências,

embora também tenha ouvido concordân-cias a propósito de iniciativas legislativasdo Governo ou da Assembleia da Repú-blica nessas matérias.

Eu creio que nada disso prejudica o es-sencial: temos um bom quadro de relaci-onamento com a Igreja Católica, e tam-bém com outras confissões religiosas.

E – João Paulo II visitou Portugal 3 vezes.Que expectativa tem, agora, para a visitade Bento XVI?

PSP – Certamente não há dois papasiguais!

Eu creio que esta visita tem condiçõespara surpreender. O que pressinto é quehaverá uma movimentação popular sig-nificativa a propósito desta visita do PapaBento XVI e, do ponto de vista da mensa-gem, julgo perceber no programa um si-nal de que há temas que dizem muito aosportugueses, nomeadamente os temassociais.

E – Como analisa este pontificado?

PSP – O governo não tem uma avaliaçãodo pontificado do Papa Bento XVI. Possoapenas dar-lhe um sentimento pessoal,a esse propósito.

Com certeza que é um pontificado dife-rente do anterior, a vários títulos. Mas nãoé inteiramente justo fazer uma avaliaçãode um Papa por contraposição ao anteri-or. Apensar da idade do Papa Bento XVI,os tempos que aí vêm vão ser decisivosainda para marcar o pontificado. É claroque as controvérsias mediáticas que an-dam por aí serão muito significativas e aforma como a Igreja Católica e o próprioPapa Bento XVI responde à situação queestá criada vai ser decisiva para uma lei-tura futura do seu pontificado. Por ventu-ra, esta controvérsia mediática corre o ris-co de muito injustamente apagar algunscontributos do Papa no período recente.E refiro-me particularmente àquelaEncíclica social sobre a questão da cari-

OPINIÃO

dade e da verdade. Ela merece ser lida!Constitui um grande apelo à reflexão so-bre as consequências da crise económi-ca internacional, à forma de lhe dar res-posta para que esta crise não se repita. Etambém tem uma reflexão sobre o papeldo Estado no sentido de assegurar a pro-tecção social e combater as desigualda-des.

E – O governo tem procurado inspiraçãonessa Encíclica do Papa?

PSP – Eu não posso dizer assim... O queacho e que os temas que o Papa tratou aísão um contributo para a reflexão dosnossos dias. E seria lamentável que nomeio da agitação mediática sobre outrasquestões, que são importantes, que co-locam desafios à Igreja Católica e ao pon-tificado de Bento XVI, existem outras li-nhas de reflexão doutrinária, neste casorelacionadas com a Doutrina Social daIgreja, que têm a maior importância. E nãodeviam ser esquecidas...

Eu recordo que o Papa João XXIII convo-cou o Concílio Vaticano II já no final doseu pontificado. Portanto, vamos esperarpara ver para depois podermos fazer obalanço final do pontificado de Bento XVI.

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Desde que Jesus Cristo confiou a Pedro amissão de animar e confirmar os irmãos,manter a comunhão, garantir a autentici-dade e unidade da fé, o bispo de Roma,como sucessor do apóstolo, prossegueesta tarefa de ser o princípio durável daunidade da Igreja e dos bispos. Cada bis-po é responsável pela sua Igreja local ecom os outros bispos, colegialmente étambém responsável pela Igreja univer-sal, unido ao Papa. Cada bispo em comu-nhão de fé com ele, exerce a sua plenaresponsabilidade local ou universal.Como sabem, o papa assume uma triplafunção: Bispo de Roma, Pastor da IgrejaUniversal e Chefe de Estado da Cidade doVaticano. Como bispo de Roma exerce ple-na responsabilidade pela sua diocese. Temum cardeal vigário e bispos auxiliares paracolaborar neste serviço pastoral.Como Chefe de Estado da Cidade doVaticano, minúsculo estado autónomo (omais pequeno do mundo, 44 hectares)destinado a assegurar a independênciade qualquer força temporal, o Papa exer-ce a totalidade dos poderes legislativo,executivo e judiciário, com a ajuda deuma administração diversa da do gover-no da Igreja. As visitas ao estrangeiro res-peitam e atendem também esta perspec-tiva de Chefe de Estado.No caso de uma visita pastoral o que maisse sublinha é a missão de Pastor da Igre-ja universal. Chefe do Colégio episcopal,exerce com os bispos a condução do povocristão. A ordem dos bispos dispõe deautoridade suprema e plena sobre todaa Igreja, enquanto unida ao Bispo deRoma; este, enquanto sucessor de Pedroe depositário do Primado no seio do colé-gio episcopal, dispõe ele mesmo da au-toridade suprema e plenária sobre todaa Igreja. Para exercer esta responsabili-dade é assistido pela Cúria Romana.Como para cada bispo, também para oSumo Pontífice a missão de ensinar é aprimeira. Uma das muitas formas de exer-cício deste magistério ordinário é consti-tuída pelas visitas a diversas partes domundo. Os discursos e homilias e as me-nos frequentes cartas encíclicas,dirigidas à Igreja universal ou a uma par-te determinada do mundo, ou as exorta-ções apostólicas, dedicadas a orientar porcaminhos pastorais, formam os meios detransmissão do ensinamento.Dentro de dias será lido o texto da pai-xão, que este ano adquire especial senti-

OPINIÃO

Para que serve uma visita do Papa? O que é que ele tem para nos dizer?do, no qual Cristo, após a Ceia, diz a Pedrode modo solene, perante todos: “Simão,Simão, olha que Satanás pediu para vosjoeirar como trigo. Mas Eu roguei por ti,para que a tua fé não desapareça. E tu,uma vez convertido, fortalece os teus ir-mãos” ( Lc 22, 31).Jesus manifesta confiança singular emPedro sabendo que ele vai fraquejar, con-vencido da sua própria superioridade evigor, ao declarara a Jesus: “Mesmo quetodos fiquem perturbados por tua causa,eu nunca me perturbarei!” (Mt 26,33).Jesus promete rezar e especialmente porPedro. Na hora dramática é Pedro quedeve ser a rocha da Igreja. Ele tem umaprioridade incontestável no grupo dosDoze. Consideravam-no porta-voz eguardião da unidade. A autoridade dePedro consiste neste serviço, não emqualquer dominação. Pedro não é a úni-ca pedra da fundação que tem Cristo comopedra angular. Os apóstolos e os profe-tas fazem parte da fundação, porque aIgreja de Cristo não é monárquica, mascolegial. Não é uma qualquer organiza-ção internacional.Por este episódio narrado no evangelhose vê que sem a conversão de Pedro amissão falhará infalivelmente. Pedrodeve transformar o seu carácter. Menospresunção e mais confiança nos irmãos,menos orgulho e mais escuta. Converter-se não é coisa rápida.Os outros apóstolos ajudarão Pedro aevoluir. Paulo será o mais contestatário.E conta a Carta aos Gálatas: “QuandoCefas veio para Antioquia, opus-me fron-talmente a ele, porque estava a compor-tar-se de modo condenável. Com efeito,antes de terem chegado umas pessoasda parte de Tiago, ele comia juntamentecom os gentios. Mas quando elas chega-ram, Pedro retirava-se e separava-se, commedo dos partidários da circuncisão. Ecom ele também os outros judeus agiramhipocritamente … Mas quando vi que nãoprocediam correctamente, de acordo coma verdade do evangelho, disse a Cefasdiante de todos: “Se tu sendo judeu, vi-ves segundo os costumes gentios e nãojudaicos, como te atreves a forçar os gen-tios a viver como judeus?”.O afastamento do espírito de Cristo e doEvangelho é contra-testemunho e escân-dalo. O novo milénio impulsiona a umagrande purificação das incoerências, infi-delidades e lentidões. Requer-se uma con-

versão de cada cristão e das comunidadescristãs, na fidelidade ao único Senhor.Alguns podem perguntar, como um jor-nalista outro dia, se, nas suas viagens, oPapa se mostra mais como sucessor dePedro ou como sucessor de Paulo!Uma visita pastoral é um sinal sensívelda comunhão. O Papa cumpre o mandatode ensinar todas as nações. Não se es-pera de uma visita nem ensinamentosnovos, nem resolução dos nossos proble-mas pastorais.As visitas são ocasião para juntar gran-des multidões que reforçam a confiançae o fervor e convidam à alegria de parti-lhar e celebrar publicamente a fé. As trêseucaristias presididas pelo vigário de Cris-to geram uma união espantosa e mexempor dentro no caminho do bem, da verda-de e da beleza. Constituem uma experi-ência espiritual única, uma vibração inte-rior que aproxima do essencial que é acomunhão.O papa não quer exercer a sua missão doalto do Vaticano, mas encontrar-se comas igrejas concretas e com o episcopadoreal. A comunhão efectiva com as igrejaslocais, na sua diversidade, encontra umaforma de exercício para o seu ministériode serviço, livre de pressões e de interes-ses, mais itinerante e menos sedentário.A hora é de profecia e de invenção, defidelidade e de esperança. Os vários en-contros com Bento XVI semearão no mun-do da cultura, das organizações sociais enos agentes pastorais mais empenhadosno povo sacerdotal um dinamismo deconversão capaz de suscitar espírito mis-sionário. A proposta de sabedoria evan-gélica será para todos desafio a pensarPortugal, 100 anos após a República arepensar a acção da Igreja, quase a 50anos do início do II Concílio do Vaticano,já em 2012.Estou certo de que a vinda do Santo Pa-dre a Portugal será uma lufada de ar re-novador que implique a todos e suscitemaior responsabilidade e coesão. A vos-sa presença aqui, de modo tão significati-vo, revela a vontade de entender, narrar ecomentar com competência, verdade, sen-tido crítico e honestidade o que estes qua-tro dias de visita papal nos oferecerão deexperiência única. Muito obrigado.Fátima, 26 de Março de 2010

D. Carlos AzevedoBispo Auxiliar de Lisboa, Coordenador-

Geral da Visita do Papa a Portugal

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