Reminicencias de Meishu-Sama

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volume 1 Reminiscências sobre Meishu-Sama Meishu-Sama

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Reminiscências sobre

Meishu-SamaMeishu-SamaMeishu-Sama

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Meishu-Sama

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Copyright by Sekai Kyussei Kyo – Atami

ReminisCênCiAs sobRe Meishu-saMa vol. 1

Publicação da igreja messiânica mundial de Angola

sede Central da África: Rua da escola 28 de Agosto – Futungo 2 KaweleleLuanda – Angola Cx. Postal: 1310 e-mail: [email protected]

1a edição – Junho de 2011Tiragem: 1 mil exemplaresexecução: Assessoria de Comunicação da immA, sector editorialimpressão: Gráfica Damer

www.johreiafrica.com

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Rio Sumida, em Hashiba, Tóquio – Japão, em meados da Era Meiji

(1860-1912)

aspecto do lugar (hashiba) e da época em que Meishu-sama nasceu.

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PrefácioA série original Keigyo – Reminiscências sobre meishu-sama – foi publicada no Japão em dezembro de 1965, em comemoração ao trigésimo aniversário da fundação da igreja messiânica mundial – imm. Resultado do trabalho da Comissão de Compilação de biografia, formada no Japão para coletar informações junto às pessoas que tiveram a oportunidade de conviver com meishu-sama, esta série foi traduzida no brasil e lançada a partir de 1975.

em outubro de 2006, saiu a segunda edição revista em território brasileiro, fruto do empenho da Divisão de Tradução e da Comissão editorial da immb. Com base nestas edições, foi desenvolvido este livro pela Comissão editorial da Assessoria de Comunicação da igreja messiânica mundial de África.

neste primeiro volume, foram impressos os relatos de nidai-sama, sua esposa e segunda Líder espiritual da imm, de sandai-sama, filha e terceira Líder da imm, reminiscências sobre o cotidiano de meishu-sama nos últimos anos de sua vida e sobre fatos que mostram a rigorosidade e a importância da pontualidade que ele imprimia na sua rotina com relação ao horário.

meishu-sama nasceu em 23 de dezembro de 1882, batizado com o nome de mokiti okada. Chamado pelos messiânicos por meishu-sama – senhor da Luz –, faleceu em 10 de fevereiro de 1955, aos 73 anos. Ao descrever o seu cotidiano, o objetivo deste livro é incentivar as pessoas a buscar inspiração para adotar um estilo de vida baseado na postura de meishu-sama, alcançando uma elevação espiritual cada vez maior, que as torne aptas a participar efetivamente da construção do Paraíso Terrestre como elementos úteis a Deus e à sua obra.

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Índicepor Nidai-saMao nAsCimenTo De meishu-sAmA 13os FAmiLiARes 14esPíRiTo FoRTe e inDePenDenTe 15honesTiDADe em PRimeiRo LuGAR 16semPRe à FRenTe Do seu TemPo 18A imPoRTÂnCiA Do LAzeR 19A soCieDADe humoRísTiCA De KAnKu 21o ALvoReCeR De umA novA eRA 23esTADo PARADisíACo ConsTAnTe 24um sonho que se ReALizou 27o CuLTivo DA AGRiCuLTuRA nATuRAL 28ConFiAnÇA em Deus e nos homens 29obJeTiviDADe e inovAÇão 30ensinAmenTos nA PRÁTiCA 31A ConsTAnTe busCA DAs CAusAs 32PRoFunDo AmoR ALTRuísTA 32A visiTA Ao TemPLo muRoo-Ji 33A imPoRTÂnCiA DA DeCisão imeDiATA 34um FATo misTeRioso e PRoFunDo 35A vonTADe De ALeGRAR As PessoAs 36os FeiTos ConTAm mAis que A iDADe 37

por saNdai-saMasem quALqueR DesPeRDíCio De TemPo 41DuAs TAReFAs Ao mesmo TemPo 42ConsCiênCiA PLenA DA vonTADe DivinA 43LembRAnÇAs De TAmAGAwA 44CuRiosiDADes Do FuJimi-Tei 48AÇão imeDiATA 51nADA ConvenCionAL 52nunCA JuLGAvA os ouTRos 53ResPeiTo e AmoR inConDiCionAis 53umA CoADJuvAnTe esPeCiAL 54exeRCíCio De PACiênCiA 55PeRsPiCÁCiA em PRimeiRo LuGAR 56LibeRDADe, LimiTes e ConsiDeRAÇão 57bom humoR e imPARCiALiDADe em quALqueR CiRCunsTÂnCiA 58A viRTuDe DA bonDADe 59eLeGÂnCiA no moDo De se vesTiR 60hobbys, sonhos e A ConvivênCiA FAmiLiAR 61

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o CotidiaNoA RoTinA no iníCio DA exPAnsão ReLiGiosA 67As ATiviDADes DiÁRiAs 69o DesPeRTAR 71o bAnho mATinAL 71A LeiTuRA De JoRnAis 73A PRimeiRA ReFeiÇão 73o CumPRimenTo mATinAL 74As visiTAs Do bARbeiRo 75os CuLTos ReALizADos nA FoRmA De enConTRos 76A ConsAGRAÇão De ohiKARi 78A ConsTRuÇão De JARDins, A APReCiAÇão De obRAs De ARTe e os PAsseios 79JohRei PARA os seRviDoRes 82A hoRA Do JAnTAR e A exibiÇão CinemAToGRÁFiCA 83As CALiGRAFiAs 84As mAssAGens nos ombRos 86A CeiA e os ReLATÓRios 86A LeiTuRA Dos JoRnAis 87ensinAmenTos e PoemAs 88o RePouso 90

rigorosidade No CuMpriMeNto do horÁrioexemPLo De PosTuRA 95seJA RiGoRoso ConsiGo mesmo 95“meu TemPo PeRTenCe A Deus” 96seR emPeCiLho à obRA DivinA 97APenAs CinCo minuTos De ATRAso 97quem não ResPeiTA o hoRÁRio não meReCe ConFiAnÇA 98Deve-se ResPeiTAR RiGoRosAmenTe o hoRÁRio 98“um minuTo É muiTo PReCioso PARA mim” 99“se o senTimenTo FoR sinCeRo...” 100A PonTuALiDADe É imPResCinDíveL 101os ComPRomissos Devem seR CumPRiDos Com A mÁximA PReCisão 102A obRA DivinA RequeR ComPRomeTimenTo 102ATRAso nA hoRA sAGRADA Do JohRei 103soRRinDo, DiziA: “esTÁ bem, ATÉ LoGo!” 104os TRAbALhos É que se AmoLDAvAm Aos hoRÁRios 104“se FoR PARA TeR um ReLÓGio que não FunCionA DiReiTo É PReFeRíveL não Tê-Lo” 105“JÁ esTÁ nA hoRA!” 106ConTRoLe sobRe A hoRA Do bAnho 107“A PARTiR De hoJe, voCês seRão DuAs RoDAs que GiRAm JunTAs” 108

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por Nidai-Sama

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O NASCIMENTO DE MEISHU-SAMA

Meishu-Sama nasceu em 23 de dezembro de 1882, no dia seguinte ao solstício de inverno no hemisfério norte, em que os dias tornam-se gradativamente mais longos e com mais luz. Assim, o fato de Meishu-Sama ter nascido nesta data significa que Ele nasceu para trazer Luz ao mundo.

Em 1928, aos 46 anos, conscientizando-se da Sua missão espiritual, Ele abdicou das atividades comerciais e iniciou uma nova vida. No entanto, eu diria que Sua missão não foi determinada nesse momento, mas antes mesmo do Seu nascimento.

Meishu-Sama nasceu próximo a um templo budista dedicado ao deus Kannon em Hashiba, Asakusa, situado na parte nordeste de Tóquio. Por não ter leite suficiente para amamentá-lo, Sua mãe, Toriko, pediu à esposa do Sacerdote do Templo Budista Renso-ji que a auxiliasse a alimentá-lo.

Após a Segunda Guerra Mundial, visitei Hashiba e arredores, juntamente com Meishu-Sama. O Templo Renso-ji, apesar de bastante danificado, ainda existia, mas do Seu antigo lar não havia vestígios, embora algumas pequenas casas permanecessem, como há alguns anos atrás.

A família de Meishu-Sama administrou, por várias gerações, uma loja de penhores chamada Musashiya, que alcançou uma grande prosperidade até o tempo de seu bisavô. Lembro-me frequentemente de Meishu-Sama dizendo: “o espírito de meu bisavô me guia”. Realmente, Sua fisionomia e caráter eram muito parecidos com os dele.

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OS fAMILIARES

Até o tempo de seu bisavô, a loja Musashiya tinha sido muito próspera e, apesar dele ter sido uma pessoa notável em vários sentidos, a fortuna da família diminuiu bastante. Quando Meishu-Sama nasceu, Seus pais atravessavam uma fase financeira difícil, sendo até necessário montar uma barraca noturna para negociar objetos usados no pátio do Templo Kannon de Asakusa.

Apesar das dificuldades financeiras, Seu pai era extremamente meticuloso em matéria de limpeza – chegou a construir um banheiro para seu uso exclusivo e não deixava nem os próprios membros da família o usarem.

Já Sua mãe era uma dona de casa muito econômica e zelava para que nada fosse desperdiçado. Com grande senso de responsabilidade, atenta a tudo que possuía, foi um exemplo na conduta do lar.

Nascido e criado por uma mãe sensata e um pai íntegro, Meishu-Sama era o reflexo destas qualidades. Somava a tudo isso, virtudes e ideias arrojadas. Seus objetos eram guardados em gavetas específicas da escrivaninha, de modo que, mesmo no escuro, Ele conseguia achar facilmente qualquer coisa que quisesse. Era tão econômico que não desperdiçava nem uma folha de papel para escrever. Por outro lado, não regateava ao pagar somas bem altas em dinheiro para a aquisição de obras de arte, pois valorizava a obtenção de trabalhos artísticos de nível superior.

Ele absorveu hábitos muito bons no lar durante a infância, alicerçando uma base de grande valor para Sua vida futura. Dessa forma, Ele nos orientava com bastante rigor sobre o manuseio das Imagens da Luz Divina, dos Ensinamentos e das obras de arte.

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ESPíRITO fORTE E INDEPENDENTE

Se por um lado, Meishu-Sama tinha uma constituição física frágil e delicada, por outro possuía um espírito forte e independente. Desde a infância, Ele manifestava uma sobrenatural espiritualidade. Também possuía orelhas que fugiam ao padrão comum. No Japão, acreditava-se que quem tivesse os lóbulos das orelhas grandes e cheios, nascia sob “boa estrela” e teria sorte na vida.

Por conhecer estas prerrogativas, o dono de um grande moinho em Asakusa, desejando preservar sua fortuna aos descendentes, pediu a Meishu-Sama que se casasse com a sua filha, tornando-se um yooshi (homem que, pelo casamento, passa adotar o sobrenome da esposa).

Ele rejeitou de forma irredutível as ofertas desse senhor, causando um grande desapontamento aos Seus parentes. A sua resposta foi categórica: “Eu nunca mudarei o meu sobrenome e, sozinho, estou determinado a ter meu próprio lar e construir algo valioso”. Esta recusa demonstrou Seu espírito forte e a concepção de objetivos elevados para a Sua vida.

Com o passar do tempo, apesar da saúde precária, Ele conseguiu descobrir o segredo de como alcançar o sucesso dignamente. Num aprimoramento constante, leu muito, estudou vários temas, aprofundou-se em estudos filosóficos, assistiu a conferências, etc.

Como lhe incomodava a situação infeliz para a qual a sociedade estava caminhando, contribuía mensal e significativamente para o Exército da Salvação, em apoio às atividades filantrópicas desenvolvidas pela entidade. Certa vez, foi questionado por um alto oficial do Exército da Salvação do Japão, Sr. Gunpei Yamamuro: “Por que o senhor contribui mensalmente com um valor tão substancial para o Exército da Salvação se nem mesmo

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é cristão?” Ao que Meishu-Sama respondeu: “Porque vocês trabalham pelo bem da humanidade”. Demonstrava, assim, com exemplos, Sua constante preocupação e amor ao próximo.

Ele empenhava-se constantemente em melhorar a sorte dos outros. Um exemplo disso aconteceu quando Ele estava se preparando para devotar Sua vida exclusivamente às atividades espirituais: dividiu generosamente entre Seus empregados, Sua loja de miudezas, que vinha desenvolvendo com sucesso e que era fruto de um árduo trabalho de muitos anos.

Desde a infância, pressentia-se que Meishu-Sama se tornaria um grande Líder Espiritual, o que se concretizou com a fundação da Igreja Messiânica Mundial em 1o de Janeiro de 1935.

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HONESTIDADE EM PRIMEIRO LUGAR

Aos 25 anos, com um capital de dois mil ienes, Meishu-Sama abriu uma loja de miudezas em Tóquio, na Rua Nishinaka, Nihonbashi, e deu o nome de Korin-do, em homenagem ao famoso Korin Ogata (1658-1716), o artista japonês mais admirado por Meishu-Sama.

Nesse tempo, Ele vivia com Sua mãe, pois Seu pai já havia falecido e decidiu que, sozinho, enfrentaria a responsabilidade do negócio: o armazenamento dos estoques, a venda das mercadorias, a parte administrativa, enfim, todas as atividades do empreendimento.

Ao me descrever o negócio, contou que se levantava muito cedo e limpava a rua em frente à loja, antes que as pessoas começassem a

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transitar. Depois varria e espanava a loja, preparando diariamente o ambiente de trabalho. Disse também que desempenhava as funções de três pessoas – proprietário, vendedor e aprendiz – e atendia a todos os fregueses com cortesia e consideração, indistintamente. Agradecia desde o fornecedor até uma criança que comprava uma simples presilha para cabelo.

Quando abriu a Korin-do, um parente, com uma muita experiência, aconselhou-o: “Ninguém pode ter sucesso no comércio com uma política de total integridade. Nos negócios, ser honesto não é suficiente para prosperar; você não pode se deixar levar por dívidas de gratidão, pela compaixão e pela amizade.” Meishu-Sama até tentou seguir o que essa pessoa Lhe disse, mas acabou achando que era impossível seguir tal conselho e prosseguiu de acordo com os Seus próprios princípios.

Uma vez, o chefe da divisão de compras de aviamentos da Mitsukoshi (uma das maiores e mais antigas lojas de departamento do Japão) chegou a Meishu-Sama e pediu: “Há pouco tempo, eu fui nomeado chefe de divisão e sei muito pouco sobre aviamentos. Apreciaria enormemente qualquer informação sobre este assunto, em lojas especializadas neste ramo e qualquer detalhe a mais que o senhor possa me ensinar.”

Meishu-Sama respondeu: “Eu mesmo não tenho muita experiência, mas terei imensa satisfação em contar-lhe o que sei”. Deu-lhe, assim, detalhadas informações sobre as particularidades e especialidades de várias lojas de miudezas, apontando algumas que eram excelentes em desenhos ou especializadas em certos artigos. Após as orientações recebidas, o chefe de divisão da Mitsukoshi agradeceu muito e foi embora.

Alguns dias mais tarde, voltou e disse a Meishu-Sama: “Hoje eu tenho um favor a lhe pedir. O senhor é um raro homem de negócios. A maioria das pessoas não teria falado comigo

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com a sinceridade que o senhor falou. Só de ouvir o nome “Mitsukoshi”, expressaria o desejo de negociar conosco. O senhor, no entanto, nem mencionou a sua loja. Ao conbtrário, ensinou-me gentilmente, elogiando e analisando os pontos positivos de outros estabelecimentos. Esta não é uma atitude comum de um comerciante, fiquei muito impressionado com sua extraordinária personalidade e gostaria que passasse a negociar conosco.”

Meishu-Sama declinou repetidas vezes desta oferta, explicando que a Sua loja era de varejo; mas diante de contínua insistência, acabou fechando um contrato com a Mitsukoshi. Esta transação obrigou-o a mudar o ramo de atividade de Sua loja, passando-a de varejo para atacado.

A originalidade de Suas inovações e Seu estilo comercial chamaram a atenção e cativaram a simpatia do público, rendendo-Lhe, assim, um enorme êxito.

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SEMPRE à fRENTE DO SEU TEMPO

Ao transformar a Korin-do em uma loja atacadista, Meishu-Sama mudou o seu nome para Okada Shoten (Loja Okada) e empregou o Seu primeiro funcionário com participação de lucros. Sua empresa foi crescendo gradativamente; as vendas alcançaram cifras enormes e o lucro dos empregados era tão grande que era difícil saber quem estava em melhor situação: se Meishu-Sama ou Seus vendedores, que ganhavam mais que os vendedores de outras lojas. Isso grangeou-Lhe um grande respeito e fidelidade por parte de Seus subordinados.

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Um de seus primeiros vendedores, o Senhor Nagashima, que trabalhou na loja de Meishu-Sama por um longo tempo, mais tarde, estabeleceu-se por conta própria com grande sucesso, mas nunca esqueceu os seus tempos de empregado, orgulhando-se por ter tido Meishu-Sama como seu empregador.

Até hoje ele vem me visitar e, por várias vezes, afirmou: “Meishu-Sama causou-nos uma impressão profunda de um patrão incomum. Durante todo o tempo que trabalhamos para Ele, sentíamos sua intensa bondade e autêntica dignidade, que nos inspirava um grande respeito. Combinava firmeza e amor em Sua pessoa. Além de nossos salários regulares, Ele adicionava uma porcentagem proporcional à eficiência do trabalho de cada um. Seu método era bem diverso dos outros empregadores. A Sua profunda bondade e dignidade, aliadas ao senso de justiça, faziam dele um empregador adiantado no tempo e, por isso, era muito respeitado por todos nós.”

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A IMPORTâNCIA DO LAzER

Quando Meishu-Sama terminava o Seu dia de trabalho, por volta das 16 horas, frequentemente solicitava a minha presença na loja para acompanhá-lo ao Teigueki (Teatro Imperial) ou ao cinema em Guinza ou Asakusa. Gostava muito de cinema e sempre organizava as atividades para que tivesse tempo disponível para poder ver novos filmes.

Não era comum, naquela época, marido e mulher saírem juntos.Assim, chamávamos muito a atenção das pessoas, o que me inibia às vezes. Meishu-Sama não se importava com isso, pois sempre

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tinha seu pensamento à frente da maioria das pessoas.

Nós vimos uma quantidade enorme de filmes ocidentais. Eu sempre me esquecia do que via, mas Meishu-Sama lembrava-se de todos os detalhes: do enredo aos nomes do diretor e dos atores. Durante a sessão, às vezes, Ele cochilava. Apesar disso, podia contar tudo sobre os filmes. Acredito que alguma parte de Sua mente continuava desperta enquanto dormia. Quando os filmes eram interessantes, Ele os assistia atentamente, observando os figurinos de perto e anotando cuidadosamente qualquer coisa que lhe desse alguma ideia para o Seu negócio.

Além de assistir e gostar de filmes americanos e europeus, Ele também gostava de ver shows japoneses, puramente cômicos, como havia em Asakusa. frequentemente o vi rindo de cenas engraçadas, com lágrimas escorrendo pela face.

Ele também assistia a peças populares. Seu lazer era bastante diversificado, pois tinha interesse por tudo. No entanto, não via constantemente peças de teatro cabúqui, pois era necessário dispor de mais tempo para assisti-las e devido aos grandes atores não participarem mais delas. Mas ia com frequência ao teatro em Tsukiji. Afinal, gostava da interpretação de Sadao Maruyama.

Meishu-Sama ouvia com frequência música ocidental dos grandes clássicos, mas não apreciava as melodias tristes, nostálgicas e pesadas. Deliciava-se em ouvir o Messias (Haendel), Carmen (Bizet), Aída (Verdi), Guilherme Tell (Rossini), Orfeu no Inferno (Offenbach) e Danúbio Azul (Strauss), entre outras. Apreciava também célebres valsas, uma variedade de marchas e obras dos grandes compositores. fiquei surpresa a primeira vez em que O vi com um sobrinho, marcando alegremente com as mãos e os pés, o ritmo das músicas.

Quando havia algum concerto ou estreava uma peça de teatro

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ou companhia de balé estrangeira, Ele era um dos primeiros a comprar o ingresso. Não apreciava somente a música e os espetáculos artísticos, mas também a atmosfera que sentia num teatro.

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A SOCIEDADE HUMORíSTICA DE KANKU

Meishu-Sama tinha muitas inspirações artísticas e sempre estava planejando algo novo. Quando iniciava a composição de algum poema, por exemplo, dedicava-se inteiramente a esta realização, com zelo extraordinário. Quando começou a compor tanka (estilo de poesia japonesa, composta de cinco versos, sendo o primeiro e o terceiro com cinco sílabas e os demais com sete), por não estar ainda habituado, ficava trabalhando até às 2 ou 3 horas da madrugada.

Além dos poemas tradicionais japoneses, Meishu-Sama estimulava seus seguidores a experimentar os poemas kanku, mais fáceis de serem compostos. Posteriormente, o número de versos desse tipo de poema aumentou e sua temática passou a ser de humor. Com isso, acrescentou-se a palavra warai, ficando warai kanku (poemas humorísticos).

Meishu-Sama dedicava-se ainda à prosa humorística, incluindo aforismos e paródias. Com isso, mostrava a necessidade do ser humano rir. Ele mesmo tinha um talento especial para irradiar alegria a Sua volta. Se um indivíduo quer fazer os outros rirem precisa ter jeito, inteligência e uma habilidade natural inata.

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Indiscutivelmente, Meishu-Sama reunia estas características.

Mesmo quando vivíamos em Omori e as circunstâncias eram extremamente adversas, Ele se empenhou ainda mais para incentivar o riso entre as pessoas próximas, organizando uma sociedade humorística de kanku, a que deu o nome de Showa-kai (sociedade do riso feliz). Dessa forma, estimulava os Seus discípulos a superar as dificuldades e a seguir em frente.

Próximo à Sua residência, alugou uma casa para moradia dos missionários que faziam Seus trabalhos caseiros e se dedicavam diariamente à venda e expansão do nosso periódico na cidade de Tóquio e arredores. Essa casa funcionava com um posto de venda do nosso jornal Aizen. Naquele tempo, as pessoas ainda não compreendiam o real significado da missão de Meishu-Sama, ou de Seus ideais, repugnando nossas atividades.

No início, os membros tiveram inúmeras experiências difíceis, os jovens eram afastados, tratados como mendigos e expulsos de forma grosseira, muitas vezes, até afugentados por cães. Mas a verdadeira fé e o desejo sincero de trabalhar pelo bem toda a humanidade os incentivou com uma enorme determinação. Eles continuaram firmes em seus esforços e o periódico desenvolveu-se até se tornar o nosso jornal atual Eiko.

foi para encorajar e alegrar essas pessoas que Meishu-Sama criou a “Sociedade do Riso feliz”. Organizava festas em que eram lidas as composições, algumas extremamente engraçadas. Além disso, o orador as lia de tal forma que essas reuniões geralmente eram bem mais divertidas que muitas comédias. Além disso, criava-se um ambiente de muita alegria, o que fazia os membros explodirem em convulsivas gargalhadas, fazendo os seus órgãos doerem de tanto rir. Eu mesma cheguei a ficar com dor nos músculos da barriga durante quase um dia inteiro. Meishu-Sama chegava a derramar lágrimas de tanto rir, limpando o rosto com frequência. E assim,

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progressivamente, ria cada vez mais de forma contagiante.

Meishu-Sama criava uma atmosfera de intensa alegria, fazendo com que todos os presentes esquecessem seus problemas diários e renovassem a esperança e a disposição para suas tarefas de cada novo dia. Inspirava-os a trabalhar mais e melhor pela causa Divina.

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O ALVORECER DE UMA NOVA ERA

Certo dia em 1931, quando morávamos no distrito de Omori, em Tóquio, Meishu-Sama recebeu de Deus a ordem para ir ao templo budista Nihon-ji, na província de Tiba. Imediatamente após Ele nos relatar o ocorrido, organizamos a viagem e no dia 14 de Junho, tomamos o trem em Ryogoku com um grupo composto por 28 discípulos.

Naquela noite, chegamos ao templo Nihon-ji, no Monte Nokoguiri, localizado a mais ou menos um quarto do caminho até o pico. Todos nós da comitiva fomos muito bem recebidos e tivemos momentos bastante agradáveis. Meishu-Sama e o Reverendo Tanaka, o monge superior do templo, conversaram até tarde da noite.

Após descansarmos um pouco, levantamo-nos às 3 horas da manhã e nos preparamos para subir ao pico da montanha. Despedimo-nos do monge com um grande sentimento de gratidão pela calorosa hospitalidade que ele nos dispensou.

Como ainda estava escuro, levamos lanternas, mas na metade da

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subida, os primeiros raios do sol começaram a despontar ao leste.

Naquela hora, o tempo ainda estava tão nublado que nos impedia ver alguma coisa em nosso caminho. Alcançamos, finalmente, o cume e, com nossos corações ligados a Deus, esperamos em estado de oração, o raiar do sol. Levou algum tempo até que o sol se levantasse brilhante através de neblina, envolvendo-nos numa atmosfera de grande esplendor. Com maior luminosidade, tivemos uma vista das planícies de Kanto e, bem a nossa frente, o monte Seitho, a montanha que também fora escalada por Nitiren, o fundador da religião Nitiren-Shu, uma ramificação do budismo.

A profundidade daquela situação é inexprimível. As palavras não são suficientes para traduzir nossas emoções. Parecia que estávamos numa esfera celestial e todos nós externamos o deslumbrante encantamento que surgia das profundezas de nossos corações.

Seguindo a liderança de Meishu-Sama, entoamos a oração Amatsu-Norito. Nessa ocasião, Ele recebeu a revelação sobre a Transição da Noite para o Dia e sobre a Sua grandiosa missão, tendo nos contado o acontecido posteriormente.

A misteriosa atmosfera que nos envolveu e a imensidão do que sentimos permanecem indeléveis em minha mente.

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EM CONSTANTE ESTADO PARADISíACO

Ao mudarmos para Tamagawa, Meishu-Sama caiu no desagrado da polícia devido a um acontecimento infeliz, que nos causou

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diversos transtornos posteriores. Como a casa que fomos morar era grande e chamava a atenção, certa manhã bem cedo, o delegado de polícia local veio nos dar as boas-vindas. Exatamente nesse dia, Meishu-Sama acordou um pouco mais tarde do que o habitual e ainda estava em Seus aposentos quando ele chegou. A pessoa que o atendeu disse que Meishu-Sama ainda estava deitado e o dispensou displicentemente.

Esta atitude desagradou o delegado, que se sentiu ofendido com a receptividade fria, pois viera especialmente cumprimentar Meishu-Sama e achava não merecer ser tratado com tanta desconsideração. Este caso, junto a outros, nos trouxeram vários aborrecimentos durante o tempo em que moramos em Tamagawa.

Outro ponto: a nossa residência foi adquirida com o dinheiro de um empréstimo e, ao assinarmos o contrato de venda, descobrimos que o proprietário havia firmado um outro contrato de venda com o Sr. Keita Goto, o que gerou um longo processo judicial. Assim, tivemos que fazer um depósito em juízo e o processo prolongou-se até pouco antes da ascensão de Meishu-Sama.

Socialmente, havia um bom relacionamento entre as famílias do Sr. Goto e a nossa. As esposas se davam muito bem, mas, devido ao surgimento do problema jurídico, houve um pequeno estremecimento na amizade. A aquisição do Pote de Glicínias, de Ninsei Nonomura (renomado ceramista japonês que viveu no final do século 17) por Meishu-Sama foi fundamental na reconciliação das famílias e na resolução da pendência judicial.

Em 1937, a atividade religiosa foi proibida de ser exercida junto com a terapêutica e, sem opção, tivemos que desenvolver somente o trabalho de cura. Afinal, o método terapêutico de Meishu-Sama produzia resultados tão miraculosos que os pacientes chegavam a ser mais de cem diariamente.

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Por isso, embora tivesse assistentes e auxiliares, o programa pessoal era muito pesado e Meishu-Sama frequentemente ficava sem almoçar. Com o passar do tempo, foi-se evidenciando uma fadiga cada vez mais forte e, não somente eu, mas todos estavam preocupados com Ele.

Certa tarde, ao voltar do Fujimi-tei (o Seu local de trabalho de onde se avistava o Monte fuji), serviu-se de um cálice de saquê. Após tomar o primeiro gole, empalideceu e desmaiou.

Depois desse episódio, começamos a pensar que alguma coisa precisaria ser feita para aliviar o ritmo de Suas atividades. Enquanto isso, começaram a surgir comentários de que a prática terapêutica estaria prestes a ser proibida. Antecipando-se a essa ordem, Meishu-Sama decidiu parar com tudo e, através de uma carta, comunicou a Sua decisão à delegacia de Tamagawa. Os policiais não conseguiram disfarçar a surpresa ao recebê-la.

Tal decisão causou uma grande reviravolta nas atividades de Meishu-Sama, porém nós a consideramos providencial, não só pelo desenvolvimento de Sua missão, mas pela oportunidade de preservação de Sua saúde.

Depois da interrupção da prática terapêutica e do atendimento ao público, Meishu-Sama dedicou-se à formação de missionários que O auxiliariam na expansão de Sua missão e também à pintura de desenhos de Kannon, fundando a Associação Kannon Hyappuku Kai.

Geralmente, quando terminava o trabalho pela manhã, Ele almoçava e saíamos para um passeio pelas planícies de Musashino, ou até às margens do rio Tamagawa.

Enquanto andavávamos, Meishu-Sama falava a respeito das Suas ideias sobre a Sua missão e das construções que planejava realizar. Ele era bastante otimista com relação ao futuro: eu

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jamais consegui descobrir Nele qualquer ponto negativo. Apesar de estar passando por muitas dificuldades e sofrimentos, nunca proferia uma palavra desagradável. Sinto que Ele foi realmente um homem que vivia no Céu e com Seu pensamento ligado a Deus. Um ser que vivia em constante estado paradisíaco. Penso que nós todos deveríamos seguir o seu exemplo.

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UM SONHO QUE SE REALIzOU

Certo dia, enquanto passeávamos pelas margens do rio Tamagawa, Meishu-Sama confidenciou-me: “Em breve, construirei um museu de arte. Espere e verá!”

Esta afirmação permanece viva em minha memória. Eu sabia que nenhuma coleção individual seria suficiente para constituir o acervo de um museu. Mas concordei: “Isso é ótimo!” Contudo, eu realmente não acreditava que isso pudesse tornar-se realidade. Naquele tempo, um plano tão visionário parecia pouco mais que um absurdo para mim. Imaginem a minha surpresa: em menos de dez anos, o sonho tornou-se realidade!

Com a derrota na Segunda Guerra Mundial, a situação do Japão mudou completamente. Com a reconstrução comandada pelo general americano Douglas MacArthur, tiveram início a cobrança dos impostos sobre bens, o novo sistema monetário e outras medidas que deixaram a população desnorteada. Isso obrigou as classes nobres e ricas a colocar suas imensas e valiosas coleções de arte à venda. Objetos que eles tinham colecionado com carinho em seus lares foram vendidos para pagar os impostos

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sobre imóveis ou para se restabelecerem em seus negócios. Isso ofereceu a Meishu-Sama a oportunidade ideal para concretizar o Seu sonho de tornar esses objetos acessíveis ao público.

Dessa forma, Ele começou a sua coleção; cinco anos mais tarde, a construção do Museu de Arte nas terras do Solo Sagrado de Hakone e, um ano e sete meses depois, o Museu foi aberto ao público.

Meishu-Sama ficou extremamente feliz com a admiração da sociedade e a velocidade extraordinária com que o museu foi construído. Essa felicidade estava nitidamente estampada em Seu rosto no dia da inauguração do museu.

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O CULTIVO DA AGRICULTURA NATURAL

Enquanto Meishu-Sama viveu no Hozan-so em Tamagawa, plantou mudas de flores, chá e legumes no amplo terreno da propriedade. Utilizando um espaço em que havia água corrente, transformou-a num arrozal. Além disso, preparou uma pequena horta, em que plantava várias verduras, aproveitando para estudar a consistência e a natureza química do solo. Ele mesmo fazia parte do trabalho, estimulando, dessa forma, os jovens à prática agrícola.

No começo, não demos muita atenção a esse projeto. Mais tarde, percebemos que Meishu-Sama, que se dedicava a ele com muito empenho e carinho quando estava livre. Na verdade, estava trabalhando de acordo com um plano bastante profundo.

“Este é um produto cultivado pelo processo natural. Não é

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delicioso?” – perguntou-nos orgulhoso depois que a primeira safra chegou. Os produtos eram realmente bons e saborosos.

foi somente depois de muitos anos de estudo, realizando pesquisas, que Meishu-Sama chegou à conclusão de que o seu método natural de cultivo era o melhor. Por isso, começou a difundi-lo amplamente na sociedade, o que gerou a Associação para Expansão da Agricultura Natural. Suas ideias foram adotadas por muitos fazendeiros, membros e não membros em todo o país.

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CONfIANÇA EM DEUS E NOS HOMENS

Uma das maiores virtudes de Meishu-Sama era confiar nas pessoas incondicionalmente, sendo essa uma das razões porque era amado e respeitado por todos.

Ele repreendia com rigorosidade os erros cometidos pelos servidores, mas ninguém se queixava. Ao contrário, a pessoa que dizia “Meishu-Sama chamou minha atenção...” demonstrava alegria, pois sabia que Meishu-Sama confiava nela e lhe desejava verdadeiro crescimento.

Ele tinha uma atitude franca e sincera com os indivíduos, mesmo com aqueles que encontrava pela primeira vez, porque acreditava realmente que todos os homens são filhos de Deus e respeitava a personalidade de cada um.

Sua compreensão e natureza carinhosa eram expressas, desde a época em que era comerciante, pelo modo singular com que tratava os empregados.

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Sua fé em Deus ficou comprovada quando Ele decidiu deixar o mundo empresarial para devotar- Se inteiramente ao trabalho espiritual. Com esta mesma firme confiança em Deus, Ele persistiu até construir o Protótipo do Paraíso Terrestre e completar integralmente a missão que Lhe foi confiada por Deus.

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OBJETIVIDADE E INOVAÇãO

Meishu-Sama era bastante direto em tudo, tinha aversão à falsidade e à ostentação. Também se aborrecia com a minha atitude de dizer aos convidados que se preparavam para ir embora: “Não vão ainda. fiquem mais um pouco”.

Outro hábito que O aborrecia era quando, numa refeição, a pessoa dizia estar satisfeita e eu lhe oferecia mais um pouco de comida. Nessas ocasiões, Meishu-Sama falava na frente do convidado: “Ele já não disse que está satisfeito? Então, pode tirar a mesa.”

Constantemente, penso que falar assim, décadas atrás, significava que Meishu-Sama era um inovador.

às vezes, eu Lhe falava: “Meishu-Sama, o senhor é uma pessoa avançada para a época”. Ao que Ele respondia: “Não sou não. As pessoas é que são retrógradas.” Eu prosseguia: “O nosso padrinho de casamento dizia que o senhor era meio esquisito...” Ele retrucava, encerrando o assunto: “Muito pelo contrário: eu sou normal, os outros é que são esquisitos.”

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ENSINAMENTOS NA PRáTICA

frequentemente, Meishu-Sama abordava sobre a dificuldade de colocar as palavras em ação, dizendo ser muito difícil, realmente, viver de acordo com os Seus Ensinamentos: “Aquele que consegue agir exatamente como oriento é realmente um herói”.

Ele próprio era um homem de ação e, quando nos dizia algo, é porque já estava praticando. Muitas pessoas que O conheciam bem expressavam sua admiração por essa qualidade. Uma delas, certa vez, revelou: “Eu já conheci muitos homens ilustres, mas nunca alguém que transformasse suas palavras em ação como Meishu-Sama. Muitos falam com frequência sobre seus planos, mas são poucos os que se empenham na sua realização sem perda de tempo. Eu penso que é por isso que Meishu-Sama realiza um trabalho tão grandioso como este.”

Sendo um “edoko” típico (como Edo é o antigo nome da capital do Japão, trata-se das pessoas nascidas e criadas em Tóquio), Meishu-Sama trabalhava rápido e energicamente. Estas qualidades eram características dos “edokos”. Assim, era habitual para Ele terminar num ano o que outras pessoas levariam dez para fazer.

Prova disso tudo era a Sua coleção de obras de arte. Ele reuniu inúmeras peças de alto valor artístico num espaço de tempo incrivelmente curto. Quando as pessoas tomavam conhecimento desse fato, ficavam abismadas e adquiriam ainda mais respeito por Ele. Afinal, não era difícil reunir inúmeros bons objetos de arte desde que se tivesse muito dinheiro e tempo para investir. Mas a quantidade e a qualidade das obras da Sua aquisição, reunidas de forma tão rápida, impressionavam qualquer colecionador e o faziam se destacar das pessoas comuns.

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A CONSTANTE BUSCA DAS CAUSAS

Todas as noites, Meishu-Sama recebia relatórios sobre os acontecimentos diários da Igreja. Quando percebia que não havia progresso por um bom tempo, uma diminuição no número de pessoas recebendo Johrei, frequentando os serviços ou aderindo à Igreja, ele mandava chamar o responsável pela unidade para se informar sobre as causas. Ele dizia: “Isso não é bom. Não deveria ser assim. Deve haver alguma razão”.

Pessoalmente averiguava a causa e, assim, orientava o responsável sobre como agir para corrigir a situação. Quando a orientação era cumprida, a unidade voltava a crescer. Situações como essa repetiam-se com frequência e, seguindo o mesmo método, nosso trabalho expandiu-se com solidez.

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PROfUNDO AMOR ALTRUíSTA

Meishu-Sama era bastante rigoroso com os familiares e servidores, combinando a firme atitude de um pai consciencioso com a atitude carinhosa de uma mãe dedicada. Isso gerava uma impressão agradável a todos que O conheciam.

Independentemente da situação ou de quem estivesse envolvido, Ele não admitia o favoritismo nem atitudes ambíguas. Jamais era parcial. Também não deixava passar algo despercebido. Se alguém cometesse alguma falha, Meishu-Sama repreendia com firmeza, demonstrando a profundidade do seu amor altruísta.

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Sua bondade, carinho e sinceridade de ajudar os outros a crescer era captado por quem fosse repreendido. Assim, ao invés de se abater por muito tempo ou ficar aborrecida, a pessoa sentia sincera gratidão por ter-lhe sido mostrado o caminho correto e logo readquiria o ânimo para se empenhar mais eficientemente.

Ainda hoje me recordo de suas palavras, do seu sotaque claro e preciso, típico das pessoas naturais de Tóquio, e de suas brincadeiras irônicas no estilo de Bernard Shaw (1856-1950 – dramaturgo e escritor irlandês, um dos maiores nomes da literatura inglesa, cotado como um dos melhores críticos teatrais de sua geração). As lembranças ressurgem vivamente, estando gravadas em minha memória como uma grande saudade.

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A VISITA AO TEMPLO MUROO-JI

Certo dia em 1954, um ano antes da Sua ascensão, Meishu-Sama visitou um templo antigo chamado Muroo-ji, perto das montanhas de Yoshino.

Assim que o programa de Sua visita foi anunciado, alguns dos ministros que trabalhavam naquele distrito visitaram o templo para inspecioná-lo antes de Sua chegada. falaram aos sacerdotes sobre a visita iminente de Meishu-Sama e solicitaram que Ele fosse recebido no salão nobre do templo.

Ao contrário da expectativa, a resposta do monge responsável foi: “Ele pode ser um chefe espiritual muito importante, mas nós só podemos deixá-lo entrar no salão nobre se o reconhecermos digno dessa honraria. Dessa forma, nossos ministros simplesmente

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pediram aos monges que preparassem tudo de modo que eles julgassem ser adequado para a ocasião.

No dia marcado, o monge responsável fez uma limpeza rigorosa no templo e recebeu Meishu-Sama e Sua comitiva com sua melhor indumentária. Com o maior respeito e cortesia, conduziu Meishu-Sama ao salão nobre, deixando-nos atônitos com o fato.

Ao lhe perguntarmos o que o tinha feito mudar de atitude, a resposta foi bem interessante: “Este templo tem como guardião o espírito de um dragão. Quando uma pessoa de alto nível espiritual o visita, algumas horas antes de sua chegada, chove muito. Todavia, na hora estipulada para a visita, a chuva cessa, e o templo, bem como seus arredores fica purificado para recebê-la.

Naquele dia, havia chovido muito até duas horas antes da chegada de Meishu-Sama. O céu clareou rapidamente e as águas do rio Murougawa, em frente ao templo, continuavam límpidas como sempre, não tendo ficado turvas ou lamacentas em virtude do temporal. Assim, perceberam que o visitante esperado naquele dia era realmente alguém de alta espiritualidade e se prepararam apressadamente para recebê-lo da melhor maneira possível.

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A IMPORTâNCIA DA DECISãO IMEDIATA

Logo que uma ideia lhe ocorria, imediatamente Meishu-Sama a colocava em prática. Penso que seguir esse Seu exemplo é muito bom para a saúde mental de qualquer pessoa. Se um indivíduo tem alguma ideia ou plano é melhor começar logo, ao invés de segurá-los na mente, imaginando quando deveria falar ou

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executá-los. Se não os liberamos, tornam-se uma carga mental. falando, agindo sobre uma ideia ou pedindo a alguém que faça alguma coisa sobre ela, libertamos a mente e podemos partir para o próximo projeto ou ideia.

Postergar uma decisão leva ao estresse. Além disso, corre-se o risco de esquecer o verdadeiro objetivo. O princípio da decisão imediata é o princípio da higiene mental, isto é, a ação da purificação mental natural. Se alguém permanecer nessa condição mental poderá empreender muitos trabalhos durante sua vida.

Meishu-Sama conservava sua mente sempre alerta durante um passeio, tomando chá ou conversando com outras pessoas. Nunca permitia que sua mente ficasse exausta ou distraída. Eis uma das razões de ter realizado tantas coisas na vida.

Além disso, Ele sempre estava pensando no que ia fazer, mesmo durante suas caminhadas. Agia igual ao lutador de kendo (arte milenar japonesa semelhante à esgrima), que nunca deve vacilar.

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UM fATO MISTERIOSO E PROfUNDO

Em 1961, por ocasião da minha visita missionária ao sudeste do Japão, enquanto proferia uma palestra sobre Meishu-Sama numa Igreja, uma vidente disse ter visto uma bola sair de dentro de mim e transformar-se na figura de Meishu-Sama, que andou em direção à Sua fotografia.

Segundo ela, Ele trajava belas vestimentas cinza claro com desenhos de nuvens, bordados em dourado. Sorria o tempo todo

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e ouvia minhas palavras com ar de aprovação. Isto significa que minha alegria se transforma imediatamente na alegria de Meishu-Sama.

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A VONTADE DE ALEGRAR AS PESSOAS

Meishu-Sama sempre aguardava ansiosamente a visita do mestre de cerimônia do chá, da escola Kankyu-An, de quem eu era aluna. Ele preparava pessoalmente os utensílios a serem utilizados durante a cerimônia, assim como as flores. Seu perfil se encaixava perfeitamente no de um praticante dessa arte, embora Ele não o fosse. Mas, no exato momento de saborear o chá, Ele sempre estava lá.

Assim que o mestre chegava para me ministrar a aula, Meishu-Sama mostrava-lhe os objetos de arte recém-adquiridos. Pedia explicações sobre quadros antigos de caligrafias e perguntava como se liam os ideogramas. Descontraidamente, meu professor fornecia informações, elogiava as peças e, algumas vezes, fazia restrições a certas obras. Ensinava-Lhe, portanto, sem nenhum rodeio.

Meishu-Sama ficava feliz quando conhecedores do assunto apreciavam as obras por Ele colecionadas. Sentia-se motivado quando pessoas, como o mestre do Kankyu-An ou o mestre de nagauta (espécie de poema longo cantado, bastante popular na Era Edo; canta-se acompanhado por um shamisen, instrumento de cordas), Kozaburo Yoshizumi, se deleitavam com as peças da sua coleção.

Ele não as exibia logo, gostava de criar um clima antes de apresentá-las. No início, como eu desconhecia essa estratégia, antecipava-me e as mostrava aos convidados. Visivelmente

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zangado, Ele dizia: “Há uma ordem a ser seguida. Você não pode agir por conta própria!” Era como se houvesse um roteiro pré-estabelecido: primeiramente, despertava a curiosidade do “espectador”; em seguida, explicava sobre o “espetáculo” e, no momento adequado, apresentava a “peça”.

Meishu-Sama também era sempre rigoroso ao nos ensinar o correto manuseio das obras. Éramos repreendidos, por exemplo, quando não tínhamos o devido cuidado com as peças de maki-e (artesanato em laca).

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OS fEITOS CONTAM MAIS QUE A IDADE

De nada adianta contar quantos anos vivemos. Na verdade, o ideal é esquecermos a própria idade. Em seus últimos dias de vida, Meishu-Sama não se comportava como um idoso, mas como uma criança feliz e cheia de vida. Portanto, deveríamos nos espelhar nesse exemplo.

Logo após Ele ter ascendido ao Mundo Espiritual, um homem veio até mim e disse com pesar: “Eu pensei que Meishu-Sama viveria muito mais tempo, até uma idade bem avançada, mas, para nossa surpresa, em vez disso, ele morreu cedo.”

Obviamente, Ele viveu menos tempo do que a maioria das pessoas esperava, mas, mesmo assim, deixou um número imenso de feitos relevantes. Eu acredito que tudo isso tenha valido por uma existência bastante longa.

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por Sandai-Sama

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SEM QUALQUER DESPERDíCIO DE TEMPO

Meishu-Sama devotou-se de forma extraordinária à expansão da Obra Divina. Por esse motivo, não desperdiçava um minuto sequer, dedicando-se de corpo e alma ao cumprimento de Sua missão.

Ele planejava pormenorizadamente as tarefas diárias. Talvez pensasse que, se agisse de modo contrário, não conseguiria realizar tudo o que precisava fazer. Quando encontrava alguém, por exemplo, mantinha diálogos proveitosos. Jamais permitia conversas inúteis e sempre ouvia a pessoa com disposição e seriedade.

Como Meishu-Sama acreditava que era imperativo acompanhar os acontecimentos do mundo, programava suas atividades de modo que pudesse ouvir os noticiários sem ser interrompido – enquanto tomava banho, cortava o cabelo, fazia a barba, as refeições, etc. Ele dava extrema importância a essas transmissões e aos comentários sobre a situação mundial, utilizando sempre os mais modernos meios de comunicação – na época: a televisão e o rádio.

Sempre que Meishu-Sama fazia um passeio era acompanhado por um assistente que carregava um rádio portátil. Por exemplo, enquanto estava supervisionando a construção da casa de chá no centro do jardim Hekiun-so, sua residência em Atami, Ele ouvia o rádio. Assim, os carpinteiros sabiam pelo som, quando Ele estava chegando e começavam a trabalhar mais vigorosamente. O Seu rádio funcionava com um sinal de alerta para os trabalhadores.

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DUAS TAREfAS AO MESMO TEMPO

Meishu-Sama sempre utilizava o tempo da melhor maneira possível, procurando empreender duas tarefas simultaneamente. Enquanto fazia caligrafias ou estudava Ate, alguém massageava-Lhe os ombros para aliviar o cansaço ou fazia a leitura dos jornais.

Pode parecer, à primeira vista, que Meishu-Sama só conseguiu alicerçar a Obra Divina porque tinha um poder extraordinário. Mas foi aliando a Sua atenção para os detalhes do cotidiano, a perspicácia para os negócios e uma grande vontade de trabalhar que produziram os resultados alcançados atualmente.

Com o passar dos anos, o fundador de uma religião é normalmente adorado como um ser divino pelos seus seguidores devotados, considerados por outros, uma autoridade, e frequentemente citado em livros e conferências. Embora Meishu-Sama seja um ser de caráter Divino, era uma pessoa calorosa e familiar que abraçamos em nossos corações com muita proximidade. É verdade que Ele tinha uma qualidade espiritual especial e não podemos considerá-Lo do mesmo nível da maioria das pessoas. Antes da Revelação Divina, entretanto, Ele era simplesmente um ser humano que tinha atravessado inúmeras dificuldades desde a infância, sofrendo com a pobreza, doenças, adversidades e fracassos.

foi depois de todas essas experiências com as quais Deus O estava preparando que Lhe foi revelada a Sua missão. Elas testaram Sua força e deram-Lhe uma profunda compreensão sobre os outros. Por isso, Ele nunca hesitou durante os primeiros anos de trabalho ou falhou com Seus seguidores. Muito pelo contrário, foi sempre um exemplo e uma inspiração para eles.

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CONSCIÊNCIA PLENA DA VONTADE DIVINA

Recordo-me de que, embora parecesse bastante simples e natural, Meishu-Sama tinha consciência da Sua posição como religioso e vivia com base na verdade, com disciplina e bom senso.

Por muito tempo, eu julgava a pontualidade de Meishu-Sama como um hábito natural, uma característica de Sua personalidade. Mais tarde, no entanto, percebi que Ele tinha se esforçado muito para se disciplinar.

Certa vez, Ele disse: “Como qualquer pessoa, às vezes, eu me sinto cansado e tenho vontade de descansar ao invés de trabalhar. Mas, se fizer isso, ao incentivar os membros a respeitar o horário, estarei mentindo!”Assim, aprendi que quando transmitia um Ensinamento aos outros era porque Ele sempre o seguia. Isso aumentou o meu respeito e gratidão por Ele.

Meishu-Sama também costumava falar: “Atrapalhar o meu tempo é atrapalhar o trabalho de Deus”. Isso significa que, devido ao seu estado de perfeita união com Deus, Ele seguia uma autodisciplina bastante rigorosa. Afinal, se qualquer pessoa interrompesse a Sua programação, o Plano de Deus se atrasaria.

Acredito que Ele orientou-se, seguiu e cumpriu a Vontade de Deus no Seu dia a dia. Para quem pratica a fé é muito importante viver sempre de acordo com a Vontade de Deus. Mas, na prática, é difícil saber qual é essa vontade. Meishu-Sama orientava: “Basta fazer como eu faço. As coisas que não me agradam também não agradam a Deus, de forma que ser aprovado por mim significa ser aprovado por Ele.” Assim, Meishu-Sama nos ensinava a Vontade Divina através das Suas práticas diárias.

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LEMBRANÇAS DE TAMAGAWA

Meu marido e eu moramos durante dez anos com Meishu-Sama no bairro de Kaminogue, distrito de Tamagawa, Tóquio. Recentemente, eu soube que, no Museu de Arte Goto, havia uma exposição de tyagama (panela de ferro para ferver e conservar quente a água utilizada na Cerimônia de Chá). Meu marido e eu fomos vê-la.

Esta seria minha primeira visita a este museu, embora ele não tivesse sido construído recentemente. Além disso, estava muito feliz com a perspectiva de apreciar objetos artísticos. Só que, na verdade, eu estava ainda mais ansiosa para rever o bairro. Pensava: “Como estará o local da nossa antiga casa? E os arredores da propriedade do senhor Goto, os antigos vizinhos?”

Conforme o nosso carro ia se aproximando do seu destino, eu sentia meu coração bater mais forte pela possibilidade de vislumbrar locais familiares: ruas, construções, alamedas... Eu estava com saudades daquele tempo querido.

Na realidade, aquela região estava sendo transformada em uma área residencial: ruas grandes e largas sendo abertas para todas as direções. Havia escavadeiras e betoneiras por todo lado, e quase mais nada que me fizesse lembrar o passado: sentia-me uma forasteira desorientada.

De repente, avistamos a Escola Primária de Tamagawa, que havíamos frequentado. Meu irmão exclamou, enquanto dirigia o carro: “Olha, é a Escola Primária de Tamagawa!” Subitamente, veio à minha mente a nossa velha escola. Percebi que ela conservava a mesma estrutura de antigamente, embora seu aspecto descuidado tenha me decepcionado um pouco. No entanto, fui envolvida por uma profunda nostalgia.

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Depois passamos por locais conhecidos, como a antiga livraria, a tabacaria e a ponte perto da qual brincávamos. Pegamos uma avenida, antigamente deserta, que agora encontrava-se com um intenso tráfego. Através dela, chegamos ao lugar onde ficava o Hozan-so. No entanto, a casa não estava mais lá. O terreno havia sido loteado e se transformou numa área residencial de luxo, em que residiam algumas pessoas famosas.

Continuamos pela estrada por aproximadamente cem metros, percorrendo um lugar onde antes, ao longo de uma cerca viva, existiam enormes cerejeiras, castanheiras e cedros. Essas árvores proporcionavam um ambiente de profunda tranquilidade, devido à sombra que formavam. Hoje, elas desapareceram sem deixar vestígio: foram cortadas para dar lugar a uma rua comum, em cujo final, ergue-se o Museu de Arte Goto.

Após estacionar e subir as escadas, entramos no prédio construído no estilo do Período Fujiwara (900 – 1185 D.C.), chegando a um local em formato de “U”. à frente, havia um gramado; do lado direito, uma sala de exposições e, à esquerda, uma sala de conferências. Observando o jardim por uma larga porta de vidro, notei que ele havia sido construído em um suave declive.

No passado, a topografia de toda a vizinhança era assim e o antigo Hozan-so não era exceção. Por isso, eu sabia que se seguissêmos em direção ao sul chegaríamos ao lugar do Fujimi-tei, residência de Meishu-Sama. Ele havia construído no final do declive um lago sobre o qual passava uma ponte de madeira em ziquezaque, inspirada num dos trabalhos mais conhecidos do famoso artista japonês Korin Ogata (1658–1716), o Yatsuhashi.

Antigamente, havia grandes árvores japonesas em volta do lago e elas tinham tornado esse local seguro e úmido, ouvindo-se o coaxar dos sapos escondidos nas suas margens. Tinha sido um lar para aranhas de água e larvas de mosquitos, tanto quanto um

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paraíso para as crianças. Hoje, parece-me estranho que Meishu-Sama, que apreciava ambientes claros, tivesse deixado esse lugar completamente da forma como era. Talvez tenha sido pelo fato de Nidai-Sama querer que tudo permanecesse em seu estado natural, e Ele, sem opção, o tenha deixado assim, cedendo à firme vontade da esposa – o que é apenas uma suposição minha, mas me faz rir só de pensar.

Desse lago, se subíssemos pelo caminho da esquerda, sairíamos em frente ao Fujimi-tei. Lá em cima, observando o lado oeste num dia claro, era possível ver o céu, amplo e infinito; olhando para baixo, víamos as plantações verdejantes, os canais de irrigação, as construções rústicas do campo e estradas de terra. Um pouco mais adiante, corria o luminoso rio Tamagawa e depois avistava-se a cidade de Kawasaki. Nos dias ensolarados, era possível enxergar até a Cordilheira de Tanzawa, os Alpes Japoneses e o Monte fuji.

Meishu-Sama adorava esse cenário e, desejando apreciá-lo o tempo todo, construiu uma casa anexa, o Fujimi-tei, voltada para o oeste. Ele gostava tanto dessa casa que suportava do calor forte e incessante do sol no verão ao vento gelado do inverno, que se infiltrava por todas as frestas da casa, fazendo-O tremer de frio. Por isso, preferia morar ali do que na casa principal.

No pôr do sol de tardes lindas e ensolaradas, uma languidez envolvia lentamente as cidades; as aldeias e as montanhas distantes apresentavam-se nítidas e bem delineadas. O céu, que até então estava meio esbranquiçado, ia, de repente, ficando com uma cor rosada, espalhando-se sobre o firmamento. As nuvens iluminavam-se, destacando suas orlas de ouro com um brilho deslumbrante, dominando todo o céu. Nesse momento, parecia que a Terra prendia a respiração e sua única opção era observar o grandioso espetáculo.

Hoje, compreendo a surpresa e a alegria que Meishu-Sama

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sentiu ao vir esse local pela primeira vez e como deve ter sido irresistivelmente forte o seu desejo de adquirir esse terreno de qualquer jeito, apesar de possuir apenas a décima parte da quantia necessária para a sua compra. Acredito que, mesmo nos dias atuais, por mais que procuremos por toda a cidade de Tóquio, jamais conseguiremos encontrar um local tão paradisíaco como esse. Meu coração ainda dói ao lembrar-me do sentimento de pesar de Meishu-Sama quando teve que abrir mão do Hozan-so para adquirir o Pote de Glicínias (que Ele tanto sonhava).

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CURIOSIDADES DO FUJIMI-TEI

Atrás do Fujimi-tei, havia uma porta que dava acesso tanto à entrada da frente como aos fundos da casa principal. Quando éramos crianças, nos dias chuvosos ou à noite, com medo das sombras formadas pelas árvores, utilizávamos aquela porta para voltar correndo para casa.

No período em que Meishu-Sama desenvolvia o tratamento terapêutico, a entrada da frente da casa principal ficava sempre repleta de sapatos dos pacientes (os japoneses têm o hábito de deixar o calçado na entrada). Meishu-Sama ficava tão atarefado o dia todo com a terapia que, às vezes, não tinha tempo nem para almoçar. Certa vez, chegou até a desmaiar no final da tarde, ao retornar para o Fujimi-tei.

Ao começar a anoitecer, a quantidade de sapatos ia diminuindo e, quando o último par ia embora, nós sentíamos um certo alívio e íamos correndo ver Meishu-Sama. Ao chegar a Sua sala, O

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encontrávamos ainda ocupado, ministrando Johrei nos servidores que o ajudaram durante o dia.

Ao concluir esta atividade, no verão, quando ainda havia sol, Ele saía para o jardim, fumando um cigarro. Enquanto caminhava rapidamente, podava as flores nos canteiros, inspecionava a horta e o galinheiro, enquanto ouvia o relatório de seus auxiliares. Depois, dirigia-se ao outro lado da propriedade, onde havia projetado e construído um pequeno jardim de pedras. Em seguida, ia para o fundo do quintal, sentava-se sob um caramanchão de glicínias e apreciava a paisagem em torno do rio Tamagawa, enquanto o sol ia se pondo. finalmente descia em direção ao lago e verificava o crescimento dos pés de arroz. Depois retornava ao Fujimi-tei.

Normalmente, durante este passeio, que durava uma hora, meus irmãos e eu O seguíamos, pulando e rolando no chão alegremente, às vezes, correndo atrás de libélulas de asas transparentes que surgiam nos finais de tarde. Ainda me lembro da felicidade que sentia nesses passeios com Meishu-Sama.

Mas não me recordo bem de quando a sala de tratamento terapêutico – que vivia lotada de pacientes – começou a esvaziar-se. Na entrada, ficaram apenas uns poucos pares de sapatos, até que um dia, Nidai-Sama nos disse: “Vocês não terão mais doces e guloseimas como antes. Tenham um pouco de paciência.” foi assim que soubemos que o tratamento terapêutico que Meishu-Sama desenvolvia havia sido proibido.

Depois disso, Meishu-Sama passou a ficar a maior parte dos dias desenhando quadros de Kannon no Seu quarto particular, exposto continuamente ao sol. Por essa razão, frequentemente, transpirava muito. De vez em quando, Ele pegava o trem para fazer algum tratamento domiciliar.

às vezes, Meishu-Sama caminhava após o almoço, sendo

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frequentes as idas até o rio Tamagawa. fico imaginando no que será que Ele pensava durante esses passeios agora que O tinham privado do Seu trabalho, sendo pressionado pelas dívidas da compra da casa, com a responsabilidade de sustentar a família e os servidores.

Nidai-Sama escreveu: “Meishu-Sama frequentemente caminhava pelas margens do rio Tamagawa, levando-me junto. falava de Seus grandes projetos e planos para a sua realização, um depois do outro. Nunca se queixava das dificuldades.” Creio ser esta a resposta ao meu questionamento.

Na ocasião, ainda criança, eu nada sabia sobre as dificuldades enfrentadas por Meishu-Sama. Só me lembro que algumas pessoas nos visitavam e se reuniam alegremente ao Seu redor. Conversavam, riam e, depois, cada um seguia seu rumo. Hoje consigo compreender que Ele aguardava pacientemente o tempo certo, rodeado pelos discípulos que vinham encorajá-Lo e eram encorajados por Ele.

Quando a guerra se intensificou, repentinamente, vários militares começaram a visitar-nos com frequência, o que me fez pensar que os dias de intensa dedicação haviam voltado. Pouco depois, Meishu-Sama refugiou-se em Hakone.

Tenho muitas memórias agradáveis da minha infância. Recordo-me da noite em que a neve cobriu todo o jardim. As plantações, os caminhos e as montanhas ao longe ficaram todos cobertos de um branco intenso. Somente o rio corria opaco, por entre a névoa. Lembro-me de como contive o fôlego por um instante naquela manhã, mas logo saí correndo, dando gritos de alegria.

Lembro-me da beleza do jardim na primavera, com as antigas cerejeiras plantadas em abundância, totalmente floridas. Suas pétalas, caindo como flocos de neve, cobriam todo o jardim.

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Na época das frutas, havia caquis, pêssegos, uvas, figos, romãs e nêsperas. O perfume dos jasmins, gardênias e magnólias, sempre viçosos, envolvia-nos enquanto brincávamos de esconde-esconde.

Durante dez anos, usufruimos desse ambiente paradisíaco que desapareceu sem deixar vestígio, vivo apenas em nossas memórias. Agora as pessoas que estão aqui vivem alegres e despreocupadas. Um dia também terão suas próprias lembranças, pois este lugar, sem dúvida, irá mudar completamente. Afinal, há muito tempo, a vida segue essa trajetória.

Nesse momento, surgiu-me uma indagação: por que será que senti tamanha melancolia nesse dia, apesar de ter admirado a beleza superior de tantos tyagama raros? Será porque eu ainda sinto as lembranças dos dias de luta, sofrimento e perseverança de Meishu-Sama impregnadas no local – apesar de não haver qualquer vestígio material do passado? Será por saber que estas lembranças também sobrevivem no coração das pessoas que conheceram essa parte da história? Ou será um sentimento resultante da solidão do museu num dia triste e chuvoso, em que nós fomos os únicos a visitá-lo?

Infelizmente por chover forte e não termos muito tempo, hesitei em propor sairmos ao jardim. Assim, voltamos imediatamente para o carro. No caminho de volta ainda reconheci um local: as mesmas árvores estavam lá e não parecia haver nenhuma nova construção. Talvez, naquele ponto, tudo permanecesse igual a antigamente.

Espero voltar algum dia para descobrir se o riacho, em cujas margens, na primavera, Meishu-Sama frequentemente colhia agrião, ainda está correndo... Se o pequeno atalho gramado, coberto de mimosas, ainda pode ser encontrado.

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AÇãO IMEDIATA

Nos últimos anos de vida, Meishu-Sama realizava com frequência viagens missionárias para visitar igrejas filiais em diversas regiões do país. às vezes, eu o acompanhava. Certa vez, numa de Suas idas a Kyoto, Ele resolveu visitar um museu. Sabendo disso, vários membros que moravam nas redondezas reuniram-se diante da entrada para esperar por Ele.

Meishu-Sama chegou, entrou no museu e a multidão alegremente O seguiu. foi direto ao objeto que tinha ido apreciar, não prestando atenção aos outros. Olhou-o por um breve espaço de tempo, virou-se e se dirigiu à saída.

Os fiéis que se preparavam para examinar a mesma obra, ao perceberem que Meishu-Sama já estava deixando o local, seguiram-O apressadamente. Lembro-me de como foi divertido presenciar a surpresa do porteiro ao ver o enorme grupo sair logo após ter entrado: “Como eles são rápidos: já estão saindo!”

Ocasionalmente, quando saía para fazer compras nas grandes lojas, Meishu-Sama também era sempre muito rápido nas Suas escolhas, fazendo somente o que tinha planejado fazer. Olhando para os quimonos, por exemplo, Ele me falava: “Acho que este fica bem em você, o que acha?”

Pensando que Ele iria comprá-lo para mim, tentava ganhar tempo para examinar os outros um pouco melhor. Assim, respondia indecisa: “Bem...” Isso era o suficiente para Ele dizer: “Se não gosta deste, não vou comprá-lo para você”. Decidido isso, Ele saía andando.

Aprendi dessa forma que, se quisesse alguma coisa, tinha que escolher rapidamente e deixar que Meishu-Sama o comprasse

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para mim. Tinha a impressão de que assim estava sendo treinada para tomar decisões de forma rápida.

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NADA CONVENCIONAL

Na fase final de sua vida, Meishu-Sama costumava enfatizar: “Não se deve ter apego”. Por isso, quando algum trabalho não corria bem, Ele mudava imediatamente de atividade. Isso não significava, de modo algum, que recuasse. Pelo contrário: Ele passava a se dedicar a algum projeto maior, concretizando-o passo a passo. Eu sempre tive uma grande admiração por Sua facilidade de adaptação.

Os tempos eram difíceis quando morávamos em Omori, Tóquio. Na época, Meishu-Sama lançou um jornal parecido com o Eiko atual, que era vendido por seus seguidores e o pequeno lucro obtido era usado para despesas de manutenção. Novamente, como nos dias de Tamagawa, Ele fora proibido de tratar de pacientes e passou uma situação complicada. Durante esse período, controlava tudo rigorosamente. Lembro-me de que nos olhava com tristeza quando nós, crianças, íamos para Lhe pedir a mesada.

Ele sempre agia de acordo com a situação do momento: se havia boas condições financeiras, ótimo, caso contrário, tinha paciência. Vivia sem se influenciar pelos comentários de outras pessoas ou se importar com as aparências. Também não se apegava a hábitos estabelecidos: vivia de acordo com as circunstâncias da ocasião.

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NUNCA JULGAVA OS OUTROS

Em hipótese alguma, Meishu-Sama julgava as outras pessoas. Mesmo quando era perceptível que estava sendo enganado, Ele nunca protestava ou fazia qualquer comentário negativo a respeito de quem O estivesse ludibriando.

Mesmo quando percebia que havia errado ao confiar em determinada pessoa, sempre procurava algum ponto positivo nela e afirmava: “Conseguimos tal coisa graças a ela”. Assim, além de não sofrer pelo ocorrido, ainda conservava o otimismo constantemente.

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RESPEITO E AMOR INCONDICIONAIS

Não importava o local: onde quer que fossem, Meishu-Sama e Nidai-Sama estavam sempre juntos. Além disso, Ele consultava a esposa em tudo o que fazia, nunca deixando de considerar a opinião dela sobre qualquer assunto.

Nos dias atuais isso é muito natural, mas, naquela época, era muito difícil ver um casal agindo dessa forma. Antigamente, o marido posicionava-se num nível acima da esposa e dos filhos. Mas Meishu-Sama agia de forma contrária, mantendo uma relação de igualdade com a esposa e fazendo os filhos terem o mesmo grau de referência pelos dois. Assim, tinha-se a impressão que o casal formava um só corpo e alma.

Nós, crianças, percebíamos que a nossa estrutura familiar era

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diferente das outras famílias e houve momentos em que nos sentíamos confusos. No entanto, hoje percebo que Meishu-Sama e Nidai-Sama, na verdade, formavam um casal moderno e, por que não dizer: ideal. Até na maneira de chamar a esposa, Meishu-Sama era gentil, o que confirma que Ele a colocava numa posição de igualdade.

Outra habilidade de Meishu-Sama era a facilidade de conseguir assentos livres num trem, por exemplo. ficávamos envergonhados diante da rapidez com que Ele os encontrava e sempre os oferecia a Nidai-Sama – na época, ela estava com a saúde fraca e tinha muita dificuldade para ficar em pé.

Geralmente, os maridos costumavam ser gentis com suas esposas em casa, mas em público mantinham uma postura de indiferença com relação a elas. Meishu-Sama, porém, agia completamente diferente, não escondendo o carinho e o respeito que dispensava a Nidai-Sama. Isso demonstra a grandeza e a sublimidade do amor que existia entre o casal, materializado pelo alto grau de dedicação de um pelo outro.

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UMA COADJUVANTE ESPECIAL

Nidai-Sama era uma ótima interlocutora nas conversas com Meishu-Sama. Possuía uma excelente memória, era bastante intuitiva e tinha ideias criativas. Assim, os diálogos com Meishu-Sama sobre artes, construções e projetos fluíam muito bem. Por isso, quando ela se ausentava, Meishu-Sama sentia-se sozinho e, caso ela demorasse um pouco além do previsto, Ele se dirigia à

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porta várias vezes, falando preocupado: “Quanta demora! Será que aconteceu alguma coisa?”

Como se sabe, Meishu-Sama recebia muitas visitas, além dos membros, e sempre contava com a companhia da esposa. Ele não era, de forma alguma, alguém de difícil acesso ou trato, mas pelo fato de ser o fundador de uma religião, as pessoas normalmente se sentiam pouco à vontade, o que gerava um clima um pouco tenso.

Nessas ocasiões, Nidai Sama, com sua simpatia, participava da conversa e, às vezes, até fazia alguma brincadeira. Estava sempre atenta às pessoas e descontraía o ambiente, desempenhando, com grande competência, o papel de coadjuvante.

No entanto, como ela dispensava uma grande atenção aos convidados, algumas vezes, eles acabavam lhe voltando a atenção de forma exagerada, o que aborrecia demasiadamente Meishu-Sama. Nessas ocasiões, Ele se expressava mais ou menos assim: “Não quero mais me encontrar com aquela pessoa”. Imagino que Nidai-Sama possa ter tido problemas nessas situações.

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ExERCíCIO DE PACIÊNCIA

Apesar do cotidiano bastante atribulado, Meishu-Sama tinha o hábito de caminhar diariamente e, como se sabe, era muito rápido. Quando dizia que ia sair, já estava na porta.

Nidai-Sama, ao contrário, como estava acima do peso normal, fazia tudo muito devagar. Por isso, quando finalmente chegava

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ao portão para acompanhar Meishu-Sama, lembrava-se: “Ah, esqueci tal coisa” – e voltava lentamente para dentro de casa.

Esta situação se repetia constantemente. O mesmo acontecia quando saíamos de carro. No meio do caminho, em muitas ocasiões, ela falava: “Esqueci-me da encomenda para tal pessoa.” Assim, tínhamos que retornar para casa para apanhá-la.

Cada vez que essa situação se repetia, Meishu-Sama aguardava a esposa com resignação e uma expressão que queria dizer mais ou menos isso: “Puxa vida, de novo...”

Quem sabe este não era o exercício de Meishu-Sama para aprimorar a paciência e controlar a ira. Independente de qualquer coisa, a verdade é que Meishu-Sama deixava Nidai-Sama agir bem à vontade.

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PERSPICáCIA EM PRIMEIRO LUGAR

Na época em que Meishu-Sama estava adquirindo as obras para o Museu de Arte de Hakone, Ele se encontrava com vendedores desse segmento quase que diariamente, o que Lhe exigia demasiada perspicácia.

Nessas ocasiões, bastava Nidai-Sama adiantar-se falando “Essa peça vale a pena, não é?” para Ele ficar ofendido. Mas por não gostar de dar a impressão de ser um comprador influenciável pela opinião da esposa, mostrava-se indiferente. “Se gosta tanto, então compre! Eu não gostei!” – respondia.

Na verdade, Nidai-Sama não podia manifestar-se antes de Meihu-

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Sama, mas, ao mesmo tempo, tinha que estar presente para dar sua opinião. Sem dúvida, era o ponto de equilíbrio, o que não devia ser fácil.

Por isso, por mais que fosse repreendida por Meishu-Sama, ela desculpava-se sem ficar chateada. Além disso, embora a situação tenha se repetido várias vezes, ela nunca perdeu o bom humor.

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LIBERDADE, LIMITES E CONSIDERAÇãO

Meishu-Sama sempre nos deixou completamente à vontade. Mesmo quando o assunto era a fé, Ele nunca nos pressionou a aceitar as Suas convicções, deixando-nos livres para fazer o que quiséssemos, mas sempre nos aconselhava: “O melhor seria cada um fazer o que mais gosta; mas roubar ou fazer coisas erradas é que não pode...”

Após o fim da Segunda Guerra Mundial, com as pessoas ainda sofrendo bastante e passando por inúmeras privações, Ele nos ensinava a não desejar demais e a viver sem luxo. Por esse motivo, por exemplo, apesar de já termos um carro, se o utilizássemos sem necessidade, Ele nos repreendia: “Vocês são jovens demais para ficarem andando de carro!” Havia uma distinção bem clara entre aquilo que era fruto da sincera dedicação dos membros e o que se referia à nossa vida particular. Quando Lhe pedíamos algum dinheiro, sempre ganhávamos menos do que as outras crianças.

Meishu-Sama também era bastante rigoroso com relação aos cumprimentos. Mesmo quando eu dormia demais e perdia a hora, era meu dever ir cumprimentá-Lo. Ele dizia: “Não me

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importo que você passe da hora de se levantar, mas venha me cumprimentar sem falta”. Eu ficava envergonhada de fazer isso quando acordava tarde, ainda mais porque, nessas ocasiões, Ele costumava comentar brincando: “Acordou cedo hoje, não?” Dessa forma, eu me sentia ainda mais embaraçada e prometia a mim mesma levantar-me mais cedo a partir da manhã seguinte.

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BOM HUMOR E IMPARCIALIDADE EM QUALQUER CIRCUNSTâNCIA

Meishu-Sama repreendia as pessoas com bom humor, sempre fazendo-as rir. Mesmo assim, Suas palavras ficavam gravadas no fundo de seus corações e jamais eram esquecidas.

à mesa, Ele fazia frequentemente observações espirituosas, provocando o nosso riso, o que tornava nossas refeições muito alegres. Normalmente, Ele mantinha conversas muito instrutivas conosco enquanto comíamos, dava-nos exemplos e contava muitas das Suas experiências na juventude, histórias que desconhecíamos. Isso acontecia mesmo quando havia alguma visita, que costumava escutá-Lo com muito interesse.

Ele também era bastante imparcial, tratando os filhos e os servidores com igualdade. Ao ministrar Johrei, dava preferência àqueles que estavam mais necessitados e depois às pessoas mais saudáveis. Talvez por esse motivo eu sempre era relegada para o fim e recebia, geralmente, apenas dois ou três minutos. Certa vez, após Ele terminar o Johrei, eu me queixei de ainda estar com dor de cabeça, ao que Ele respondeu: “Isso vai melhorar logo”.

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Encerrou o Johrei e, de fato, passou mesmo.

Quando eu era criança e discutia com algum servidor, ia sempre reclamar com Meishu-Sama, procurando Seu apoio. Ele dizia: “Muito bem, Eu vou conversar com tal pessoa mais tarde”. Quando a chamava, apenas dizia: “Para todos os efeitos, eu repreendi você, está bem?” E ficava só nisso.

Há um provérbio japonês que fala: “Numa briga, ambas as partes devem ser advertidas”. Mas o jeito de Meishu-Sama agir, sem se deixar influenciar pelo seu papel de pai, era consolar ambas as partes e não culpar ninguém. Sua postura era pacífica e, nessas situações, era possível perceber seu imenso amor e bondade, não sentindo raiva de ninguém. Também costumava ser justo, imparcial, mantendo constantemente a calma e nutrindo uma enorme consideração pelas pessoas.

Embora não parecesse um pai muito devotado, eu podia sentir o Seu grande amor pelo Seu modo de agir. Esta lembrança permanece viva dentro de minha memória e me deixa bastante emocionada.

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A VIRTUDE DA BONDADE

Meishu-Sama era realmente uma pessoa muito boa. Um exemplo disso é o Seu relacionamento com uma tia de Nidai-Sama, já em idade bem avançada que, ocasionalmente, fazia algumas confusões. Como Ele também confundia-se de vez em quando, ficavam os dois na mesma situação. Nessas ocasiões, Meishu-Sama pedia: “Tia, saia daqui, por favor!” Ao que ela respondia afirmativamente, sem muita opção, retirando-se do local.

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Passados alguns minutos, Ele pedia para chamá-la.

Ela retornava, então, à sala de Meishu-Sama e perguntava o que havia acontecido. Ele explicava, confortando-a: “Tia, ainda há pouco pedi que saísse de minha sala, não porque estivesse aborrecido. A senhora é uma ótima pessoa e a quero sempre conosco. Mas é que a senhora tira conclusões precipitadas ou tenta adivinhar o que vou dizer... Mas, na verdade, gosto muito da senhora!” Nossa tia sempre comentava: “Meishu-Sama é muito bondoso...”

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ELEGâNCIA NO MODO DE SE VESTIR

Meishu-Sama preocupava-se particularmente com o modo de se vestir e, até mesmo depois de certa idade, procurava trajar-se com elegância.

Em 1951, na ocasião em que Meishu-Sama fez uma palestra no Hibiya Public Hall, usou um terno azul marinho com uma gravata vermelha. Lembro-me bem desse fato porque Ele normalmente não se deixava levar pela opinião alheia na hora de escolher suas roupas, mas, nesse dia, cedeu à nossa insistência e vestiu finalmente aquilo que estávamos Lhe sugerindo.

O traje, que combinava muito bem com Seus cabelos brancos e o rosto rosado, o rejuvenesceu, o que Lhe deixou bastante satisfeito. Ao deixar o Hekiun-so estava esfuziante e, com isso, todos nós nos sentimos muito felizes.

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HObbYS, SONHOS E A CONVIVÊNCIA fAMILIAR

Meishu-Sama começou a ficar com os cabelos grisalhos ainda jovem. Ele explicava que a causa da precocidade com que seus cabelos ficaram brancos devia-se ao uso dos fortes medicamentos tomados para dor de dente.

Até ouvi dizer que Nidai-Sama levou tintura quando se casou com Meishu-Sama na esperança de tingir os Seus cabelos. Chegou até a consultar um médico que, ao contrário do que imaginara, fez seus sonhos desmoronarem, dizendo: “Não é preciso, pois Ele fica bem com os cabelos brancos!”

No verão, Meishu-Sama costumava nos levar para nadar em vários lugares. Yokohama e a praia de Omori eram dois deles. Além disso, escalávamos montanhas com frequência. Junto com Nidai-Sama, estivemos em locais como Tsubakurodake e Yarigadake, entre outros.

No tempo em que moramos em Tamagawa, Meishu-Sama cultivava arroz e flores. Refletindo sobre isso atualmente, acredito que este cultivo, na verdade, fazia parte das pesquisas sobre o método da Agricultura Natural. Dessa época, ainda me lembro do como os cosmos floresciam no outono, formando um “tapete” de flores. Ele também plantava íris, vários tipos de rosas e, além do extremo cuidado com o jardim, construiu um lago. foi nessa residência também que Ele apostava corrida conosco e nos ensinava a andar de bicicleta.

Outro hobby de Meishu-Sama era a fotografia. Ele comprou uma câmera de fácil manuseio que, a princípio, seria para nós, crianças, brincarmos. Mas quem acabou ficando mais empolgado com o novo “brinquedo” foi Ele, que tirou inúmeras fotografias.

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Após se mudar para Atami, Meishu-Sama passou a caminhar regularmente e ia a tantos lugares diferentes que, não raro, acabava entrando em outras propriedades sem querer, o que nos deixava apreensivos.

Ele caminhava por cerca de duas horas diariamente e mais rápido que os filhos, vangloriando-se disso. Como gostava de observar as construções e jardins, acelerava o passo para poder ver o maior número possível deles. Conclusão: nós nos cansávamos mais do que Ele e voltávamos ofegantes para casa.

Outro coisa que Meishu-Sama fazia com regularidade era opinar sobre as vestimentas de Nidai-Sama. Nenhum detalhe Lhe escapava, como a gola postiça do quimono, por exemplo. Ele chamava-lhe a atenção: “Isso não está combinando.”

Naquela época, as golas eram bordadas. Assim, se alguma ficasse um pouco gasta, Meishu-Sama imediatamente comprava uma nova para Nidai-Sama. Como possuía um senso estético bastante apurado, Ele tinha uma percepção muito maior que as pessoas em geral.

Como Meishu-Sama não gostava de comprar roupas prontas para Nidai-Sama, Ele mesmo desenhava os seus quimonos e os mandava confeccionar numa loja especializada, chamada Miho, em Nihonbashi. Mas isso, naturalmente, foi antes do início da Sua vida religiosa. Depois não havia mais condições de perpetuar caprichos como esse.

Meishu-Sama também tecia comentários espirituosos sobre as nossas roupas. Se vestíssemos algo preto, por exemplo, para parecermos mais elegantes, Ele nos dizia algo do gênero: “Vestidas assim vocês espantam até os maus partidos...” Para quem queria ficar chique, este era um comentário bem irônico. Portanto, quando encomendávamos um quimono ou uma roupa de estilo

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ocidental, ficávamos preocupadas com a opinião de Meishu-Sama e só nos sentíamos aliviadas com a Sua aprovação.

Meishu-Sama era bastante divertido. Antes do nascimento dos filhos, costumava brincar com Nidai-Sama, falando: “Criança deve cheirar a xixi. Quando nascerem as nossas, leve-as para longe de mim!”

Nidai-Sama acreditava e ficava bastante preocupada. Mas quando nasceram os filhos, a situação foi totalmente outra: Ele mostrou-se um pai muito carinhoso e nunca reclamou sequer das fraldas serem trocadas na Sua frente, o que retrata nitidamente o Seu modo de ser.

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O cotidiano

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A ROTINA NO INíCIO DA ExPANSãO RELIGIOSA

Por volta de 1930, no início das atividades de difusão, a rotina diária de Meishu-Sama não tinha horários rígidos. Mesmo assim, Ele executava as Suas atividades com minúcia e o máximo de perfeição, cuidando sempre dos mínimos detalhes.

Um servidor daquela época recorda: “Como eu considerava Meishu-Sama um ser divino, pensava que Ele só se ocupava com as grandes realizações. No entanto, surpreendi-me com a minúcia com que executava as tarefas ligadas à Obra Divina e com a Sua vida cotidiana que, embora simples, era levada com uma dignidade talvez jamais vista em outra religião.”

Apesar de nesse período Meishu-Sama dar bastante liberdade aos servidores, Ele não admitia o menor descuido por parte deles. Uma vez atribuída determinada tarefa, Ele sempre as conferia meticulosamente. Ainda mais porque nunca delegava algo que os servidores não eram capazes de cumprir, só exigindo aquilo que tivessem condições de realizar com prazer e alegria.

Meishu-Sama sempre se preocupava em fazer com que os Seus servidores vivessem em constante estado paradisíaco. Por isso, na maioria das vezes, desempenhava Ele próprio as pequenas tarefas, não lhes solicitando auxílio. Quando pintava um quadro, por exemplo, não pedia aos servidores que Lhe apontassem os lápis, nem que lavassem os pincéis ou guardassem os objetos.

Além disso, era Ele quem anotava os nomes das visitas e dos doentes que o procuravam em Seu diário. Ele ditava os avisos dos cultos e das reuniões, corrigia pessoalmente o que o servidor passara a limpo e, mesmo depois do texto ser mimeografado, Ele o conferia. Só depois é que o liberava para a distribuição.

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Outro servidor da época contou: “Sempre pensei que não era digno deixar Meishu-Sama realizar tarefas tão banais e, sem conseguir ficar indiferente ao fato, desejava que Ele nos deixasse ao menos lavar os pincéis ou organizar tudo no final. Vivi durante cerca de três anos pensando dessa maneira, mas nunca tivemos a permissão de fazê-lo.”

Apenas em 1934, ao se mudar para o bairro de Koji-mati, em Tóquio, é que Meishu-Sama reformulou completamente o Seu sistema de trabalho, distribuindo as tarefas entre os servidores. A partir daí, por exemplo, quando ia pintar um quadro, o encarregado fazia os preparativos, havia sempre uma pessoa para direcionar a luz para o pincel, mudar a posição do papel, apontar o lápis, preparar a tinta, lavar os pincéis e arrumar o local após o término da atividade. Os avisos dos cultos também passaram a ser preparados sem a supervisão de Meishu-Sama.

Logo após a cerimônia solene de fundação da Igreja Messiânica Mundial, no dia 1o de janeiro de 1935, Meishu-Sama e Nidai-Sama mudaram-se para uma nova residência – o Jikan-so – também em Koji-mati, onde recebiam esporadicamente as visitas de alguns diretores da Igreja.

A partir dessa época, Meishu-Sama passou a levantar-se às oito horas, dirigindo-se à Sede após a refeição matinal. Como havia inúmeras pessoas gravemente enfermas e desenganadas pelos médicos que iam receber Johrei, era bastante comum Ele ir dormir somente às três horas da manhã.

Assim como as demais religiões, a Igreja Messiânica Mundial enfrentou muitas dificuldades no início, mas era possível perceber um futuro promissor. Isso veio a se confirmar um ano após a sua fundação, em que já se notava uma vigorosa expansão.

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AS ATIVIDADES DIáRIAS

O cotidiano de Meishu-Sama retratado aqui data dos Seus dois últimos anos de vida (por volta de 1953 a 1955), vividos no Hekiun-so, em Atami.

Por ter sido fundador de uma religião e liderado milhares de fiéis, é natural imaginar Meishu-Sama vivendo enclausurado, sem nenhum contato com o mundo exterior, dedicando-se exclusivamente à Obra Divina. Entretanto, a Sua vida era aparentemente comum, Ele não adotava nenhum tipo de prática ascética ou ritual de purificação. Assim, dentro de uma rotina simples, a sagrada e grandiosa obra de salvação da humanidade foi sendo empreendida sem qualquer interrupção, numa incrível velocidade.

Como Meishu-Sama trabalhava em estado de perfeita união com Deus, em nenhum cômodo de sua residência havia a Imagem da Luz Divina ou outros objetos de cunho religioso. A Sua sala de trabalho, por exemplo, era muito simples. No tokonoma – local considerado nobre nas casas japonesas, com uma reentrância ocupando, geralmente, a extensão de uma parede na sala e numa altura mais elevada do que o piso, onde se recebem as visitas –havia apenas uma vivificação floral, uma pintura em rolo de uma paisagem, uma mesa no centro, um rádio e uma estante num canto.

Meishu-Sama sempre dizia: “Não desviem os olhos de mim. Observem-me e dediquem de corpo e alma.” Por isso, os servidores estavam sempre alertas, agindo com seriedade, aprimorando sua fé, atentos a todas as situações e sintonizados no Mestre.

Quando Meishu-Sama delegava alguma tarefa a um servidor, analisava primeiramente a sua capacidade e aptidão. Por isso, após determiná-la, dizia: “Execute-a da melhor forma possível, utilizando toda a sua capacidade.” Se alguém, por exemplo, era incumbido

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de preparar a tinta-carvão para a caligrafia, Meishu-Sama exigia que se tornasse insuperável na execução desse trabalho. Costumava dizer: “Mesmo que você não se torne alguém importante, torne-se capaz de cumprir exatamente o que lhe determinei. Se conseguir agir conforme orientei, será um herói.”

Certa vez, um servidor se atrasou nos preparativos para Meishu-Sama caligrafar os ideogramas da Imagem da Luz Divina. Quando chegou, Ele lhe disse: “Eu o incumbi de fazer apenas isso; portanto, colocando de lado qualquer outra coisa, faça-o de qualquer maneira. Após a sua conclusão, você estará livre e nada direi, mesmo que vá dormir ou passear.”

Sempre que Meishu-Sama repreendia alguém era porque o pensamento e as atitudes da pessoa estavam em desacordo com os Ensinamentos e fora da lógica. Em síntese: não estavam em sintonia com Ele. “Observem-me e dediquem de corpo e alma”: estas palavras ensinam o espírito com que se deve realizar qualquer tarefa, estando o indivíduo sempre atento e prestativo.

Caso o pensamento se desviasse o mínimo que fosse, a pessoa já não conseguiria mais alcançar a plenitude dessa orientação. Por isso Meishu-Sama censurava severamente tais desvios. Devia-se trabalhar centralizado em Meishu-Sama porque Ele próprio mantinha-se centralizado em Deus, vivendo com harmonia e com um total controle sobre o Seu dia a dia.

Meishu-Sama também era muito rigoroso com o horário. Não só por ter inúmeras ocupações, mas também porque ensinava os fiéis a cumpri-lo rigorosamente, como uma regra de conduta a ser respeitada. A Sua rotina era organizada com “a precisão dos ponteiros de um relógio”.

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O DESPERTAR

Meishu-Sama acordava por volta das sete e meia, quando um servidor O chamava, informando-Lhe o horário e ligando o rádio. Ainda deitado, Meishu-Sama ouvia os programas matinais da NHK. Levantava-se às oito horas.Quando Meishu-Sama custava acordar, o servidor chamava-O inúmeras vezes, falando “bom dia”. Mesmo assim, havia ocasiões em que Ele não acordava. O servidor aguardava ao Seu lado até às oito horas e voltava a chamá-Lo, dizendo: “Já está na hora do noticiário”. No entanto, nem assim Meishu-Sama despertava. Nessas ocasiões, quando finalmente acordava, dizia: “O noticiário já terminou? Da próxima vez, acorde-me sem receio, com a voz mais alta.” Diante da explicação do servidor –“É que o senhor estava dormindo tão profundamente...” – Meishu-Sama retrucava: “Não importa quão profundamente eu esteja dormindo. Pode até sacudir-me para eu acordar. Não precisa ter pena de mim.”

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O BANHO MATINAL

Após levantar-se às oito horas, Meishu-Sama dirigia-se à sala de banho. Lavava o rosto, cuidando especialmente dos dentes, pois, quando jovem, sofrera durante muito tempo de dores terríveis, que até o fizeram pensar em suicídio.

O banho durava cerca de dez minutos, durante o qual Ele ouvia

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os noticiários através de um rádio portátil. A temperatura da água era regulada por um servidor com um termômetro para 38oC, o que, para muitas pessoas, era considerada baixa, principalmente no rigoroso inverno japonês. A temperatura deveria marcar 38oC impreterivelmente, pois caso estivesse um pouco mais baixa ou mais alta do que o determinado, o servidor era imediatamente repreendido: Meishu-Sama logo percebia devido a sua aguçada sensibilidade.

É curioso o fato de Meishu-Sama ouvir rádio até durante o banho, mas Ele o fazia mesmo que estivesse extremamente atarefado. Ele não perdia os noticiários, o que mostra o Seu grau de interesse, como fundador de uma religião, em estar sempre atualizado sobre as tendências mundiais. Quando tomava conhecimento de algum fato, analisava-o com exatidão antes de adotar um posicionamento ou as soluções adequadas. É possível citar ainda um programa sobre saúde que Meishu-Sama ouvia quase que diariamente. O Seu interessse era tão grande que anotava os tópicos mais importantes.

Normalmente, após sair do banho, Meishu-Sama ia para o Seu quarto, onde os Seus servidores diretos O esperavam para Lhe fazer a saudação matinal (os demais servidores O saudavam na hora da primeira refeição). Certo dia, um dos servidores chegou um ou dois minutos atrasado, por estar terminando um serviço solicitado por Nidai-Sama. Meishu-Sama repreendeu-o severamente durante trinta minutos, querendo saber como ele interpretava a saudação matinal. Depois advertiu-o: “Sabe por que não há Imagem da Luz Divina nesta casa? Se sabe, deve compreender o verdadeiro significado da saudação de todas as manhãs.”

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A LEITURA DE JORNAIS

Mesmo em pleno inverno, Meishu-Sama lia os jornais matutinos após o banho, semidespido ou de yukata (espécie de quimono leve, feito de algodão), por cerca de trinta minutos. Sobre isso, Ele explicava: “Sinto muito calor, mesmo tomando banho com água morna”.

Meishu-Sama lia mais de dez jornais diariamente e não só os de maior circulação, mas também os locais, marcando com um lápis vermelho os títulos das matérias que desejava que fossem lidas posteriormente com mais detalhes. à noite, no horário destinado à leitura dos jornais, Ele solicitava ao encarregado que as lesse em voz alta.

Apesar do seu cotidiano bastante atarefado, esta atividade era realizada infalivelmente todos os dias, igual ao que acontecia com as notícias do rádio. Disso é possível perceber a origem do Seu vasto e profundo conhecimento sobre política, economia, religião, educação, cultura e arte.

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A PRIMEIRA REfEIÇãO

Após examinar rapidamente mais de dez jornais matutinos, Meishu-Sama fazia a Sua refeição matinal, dispensando o máximo de atenção aos mínimos detalhes. Constantemente, Ele enfatizava a importância de adquirir hábitos alimentares equilibrados. Explicava que, se pela manhã fosse ingerido 70% de vegetais e

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30% de carne, à noite, deveria acontecer o inverso, seguindo um método lógico de alimentação.

Para isso, o cozinheiro consultava Meishu-Sama previamente sobre o cardápio, informando: “Dispomos de tais e tais ingredientes...” Assim, Ele determinava: “Então, prepare tal e tal prato”. Meishu-Sama adorava batata doce cozida no vapor que, por esse motivo, eram servidas todas as manhãs.

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O CUMPRIMENTO MATINAL

Quase ao término da refeição matinal, todos os servidores do Hekiun-so (residência de Meishu-Sama em Atami) se dirigiam à sala onde Ele estava para cumprimentá-Lo.

Nessa hora, Meishu-Sama observava-os por um instante. Se percebesse alguém com o olhar distraído, dava-lhe alguma tarefa, como:“Traga-me o fósforo” ou “Deixei um livro ali: vá buscá-lo”. Como o olhar distraído significava desvio de pensamento do servidor, ao ser incumbido de alguma tarefa, geralmente cometia uma falha. Assim, percebendo-a, Meishu-Sama advertia-o com severidade, ao que o servidor despertava e imediatamente corrigia o seu pensamento.

Meishu-Sama usava com frequência esse modo de advertência, forçando os servidores a estarem sempre atentos e prestativos. Outra coisa: Ele exigia que a saudação fosse feita não somente pelos servidores, mas também por Seus familiares.

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AS VISITAS DO BARBEIRO

Após a refeição matinal, quando sabia que iria receber visitas, Meishu-Sama cuidava pessoalmente dos preparativos, trocando Ele mesmo a pintura em rolo do tokonoma e confeccionando as vivificações florais. Procedia dessa maneira até com os professores de cerimônia do chá e de nagauta (tipo de música cantada) de Nidai-Sama, dispensando minuciosa atenção aos detalhes.

A cada dois dias, o barbeiro ia à casa de Meishu-Sama, sendo uma vez para cortar-Lhe o cabelo e a outra para fazer-Lhe a barba. No início, o barbeiro vinha de Tóquio, mas, devido a problemas de horário, foi dispensado. Assim, um barbeiro local, que era uma pessoa muito responsável, passou a servi-Lo até à Sua ascensão. Nos dias que ia à casa de Meishu-Sama, levanta-se às cinco horas e, após purificar-se, chegava ao Hekiun-so quinze minutos antes do horário marcado.

Este barbeiro recorda-se: “Eu tinha o hábito de usar os melhores instrumentos que possuía quando ia à casa de Meishu-Sama. Assim, ao adquirir novos, de melhor qualidade, substituia os antigos. Um dia, Meishu-Sama me perguntou: ‘A navalha de hoje é diferente, e a tesoura é nova, não é? Mas estas são melhores.’ Ele disse isso sem ter visto ainda os novos instrumentos, observação que só os profissionais, após um exame cuidadoso, poderiam fazer. fiquei bastante impressionado com a Sua perspicácia ao fazer aquela observação.”

Enquanto o barbeiro cortava-Lhe o cabelo, Meishu-Sama chamava um servidor para fazer-Lhe a leitura de livros ou revistas. Preferia os temas relacionados às Belas Artes, como Yamato bunka, Tosetsu ou Hakubutsukan News, ou ainda publicações mensais sobre a arquitetura, caso da Kokusai Kentiku. Caso o

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servidor cometesse alguma falha durante a leitura, Ele o corrigia de imediato. Ocasionalmente, ouvia os programas do rádio.

Nas manhãs em que não havia visitas, Meishu-Sama geralmente ditava Ensinamentos ou corrigia os que ditara na noite anterior.

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OS CULTOS REALIzADOS NA fORMA DE ENCONTROS

Na época em que a repressão sobre as novas religiões estava muito rigorosa e elas não podiam ser praticadas livremente, os Cultos Mensais eram realizados na forma de encontros dos membros com Meishu-Sama. Assim, eram reservados dez dias do mês para esta atividade. No dia 1o, Meishu-Sama concedia entrevistas aos ministros; os dias 5, 6, 7, 15, 16, 17, 25, 26 e 27 eram destinados aos fiéis em geral. Eles ocorriam na Sede Provisória, situada no bairro de Sakimi, em Atami. Nessas oportunidades, Meishu-Sama dava amplos esclarecimentos sobre religião, política, cultura, entre outros assuntos de Sua escolha.

Aproximadamente até 1952, Ele respondia às perguntas que os fiéis formulavam por escrito. No entanto, nos Seus últimos anos de vida, Ele respondia de imediato às perguntas, que eram formuladas pelos membros, mas verbalizadas pelos ministros.

Um jornalista descreveu um desses encontros: “Assustei-me com o número de pessoas que haviam no local quando cheguei ao segundo andar da Sede Provisória em Sakimi. Era um salão imenso, mas como nem todas as pessoas cabiam nele, haviam muitos na varanda. Eram mais de mil participantes de todas as

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idades: homens e mulheres que conversavam e riam alegremente. Parecia um salão de festas, aonde as pessoas iam para se divertirem, em nada lembrando uma atividade religiosa. Como eu não era membro da Igreja, mas um mero espectador, fiquei retraído num canto.

De repente, uma voz anunciou pelo alto-falante: ‘Iniciaremos agora o Culto Matinal’. E todas as pessoas, que estavam completamente à vontade, sentaram-se corretamente.

O Culto era bastante simples. Todos entoaram, em uníssono, uma oração chamada ‘Amatsu-Norito’ e , em seguida, um salmo em forma de poema escrito pelo fundador.

‘O fundador deve aparecer a qualquer momento’ – pensei. Assim, prendi o fôlego e fixei o olhar na entrada à direita do tokonoma, onde havia uma imagem de Kannon pintada por Ele. Poucos instantes depois, a porta corrediça se abriu e o fundador entrou. Todos fizeram uma reverência simultaneamente. Ele passou em frente ao público e foi até o púlpito, que se encontrava diante do tokonoma. Tratava-se, na verdade, de um tablado com aproximadamente trinta centímetros de altura, sobre o qual havia uma mesa redonda com um microfone.

O fundador sentou-se numa cadeira atrás da mesa. Aí, o Presidente da Igreja, que estava sentado na primeira fila, fez nova reverência e muito respeitosamente pediu: ‘Meishu-Sama, por favor, conceda-nos a Sua orientação”. O fundador bebeu um gole de chá e falou: ‘Escrevi um artigo intitulado Desejo a consideração dos jornalistas. Gostaria de que o ouvissem.’

Um jovem, posicionado ao lado de Meishu-Sama, recebeu o manuscrito de Suas mãos e começou a lê-lo com outro microfone.”

Os encontros começavam às onzes horas e duravam cerca de sessenta minutos. Os artigos lidos pelos servidores versavam

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sobre temas religiosos, críticas de arte, problemas da atualidade, etc., havendo também comentários de Meishu-Sama sobre o tema abordado. às vezes, eram lidos textos humorísticos, de teor satírico, que faziam com que o fundador se divertisse junto com os membros.

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A CONSAGRAÇãO DE OHIKARI

Ao meio dia, Meishu-Sama consagrava os Ohikari – medalha em cujo interior encontra-se um papel com a reprodução impressa da palavra “Luz” escrita por Meishu-Sama. Ele os aproximava cerca de cinco centímetros da testa, introduzindo, dessa forma o espírito. Explicava: “Bastaria eu escrever simplesmente a letra, mas como o Johrei é a purificação do espírito, realizo ainda a introdução do espírito no Ohikari.” Dessa forma, a energia transmitida no ato do Johrei intensifica-se ainda mais. Ele fazia isso ouvindo notícias pelo rádio.

Exceto quando redigia um texto ou conversava com alguma visita, Meishu-Sama sempre ouvia os noticiários pelo rádio. Afinal, dizia: “Estou com a cabeça e os ouvidos livres”. fazia questão de ouvir os noticiários para estar sempre a par do que se passava não só no Japão, mas no mundo inteiro e, assim, poder desenvolver melhor a Obra Divina de construção do Paraíso Terrestre.

Certo dia, enquanto ouvia o noticiário, Meishu-Sama conversava com um ministro e desenvolvia uma tarefa. Num canto da sala, o acompanhante desse ministro ouvia atentamente a conversa.

Durante o diálogo, Meishu-Sama falou ao interlocutor: “No rádio,

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acabam de dizer tal coisa!” O ministro respondeu: “Verdade? Eu estava distraído...”

O acompanhante, que assistia à cena, ficou muito impressionado, pensando: “Como Meishu-Sama é realmente extraordinário: consegue dedicar-se ao trabalho com perfeição, ouvir o noticiário e, ao mesmo tempo, manter uma conversa. Não pode realmente ser um homem comum.”

Meishu-Sama sempre dizia aos servidores: “Trabalho dez vezes mais que qualquer pessoa”. Nesse aspecto, era como o príncipe Shotoku, que ouvia dez pessoas ao mesmo tempo, algo impossível para um indivíduo comum.

Certa noite, Meishu-Sama ditava um suntetsu (texto curto e humorístico, de teor satírico) enquanto alguém lia um artigo sobre Arte. Em determinado momento, um servidor que havia se sentido mal, veio pedir-Lhe Johrei. Ele ministrou-o sem interromper o que estava fazendo, o que remete à seguinte reflexão: atitudes como essas seriam características de um homem comum?

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A CONSTRUÇãO DE JARDINS, A APRECIAÇãO DE OBRAS DE ARTE E OS PASSEIOS

Meishu-Sama almoçava por volta das 12h30 e, após a refeição, quando não saía, encontrava-se com os diretores da Igreja ou com pessoas ligadas à Arte. às vezes, ministrava Johrei nos diretores ou ouvia os textos que havia ditado, os relatos de experiências de fé ou textos enviados por outras pessoas.

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Mesmo nos dias em que havia muito visitantes, Meishu-Sama encerrava as entrevistas impreterivelmente às quinze horas. Em seguida, independente do clima, ia inspecionar as obras do Solo Sagrado de Atami – na época, em pleno andamento. Não só nessas ocasiões, mas em todas as vezes que saía, Ele sempre era acompanhado por Nidai-Sama.

Tanto na construção do Solo Sagrado de Atami como no de Hakone, tudo era disposto de acordo com a vontade de Meishu-Sama. Não havia uma única árvore, um gramado ou uma pedra que tivesse sido colocado sem obedecer às Suas orientações sobre pontos extremamente vitais.

Todavia, Suas instruções eram ocasionais, mas extremamente específicas. Ele falava: “Quando estou em determinado local, boas ideias surgem naturalmente na minha cabeça e vou construindo de acordo com elas.” Isso não acontecia somente com relação aos jardins: Meishu-Sama executava tudo segundo os desígnios de Deus. É possível descrevê-Lo como uma “fonte de Sabedoria Divina”.

Ao retornar da inspeção às obras do Solo Sagrado de Atami, se o tempo estivesse bom, Meishu-Sama descia do carro e voltava à pé ao Hekiun-so, passeando pela cidade de Atami.

Quando não ia ao Solo Sagrado, passeava pelo jardim de sua residência com uma tesoura em punho. Apesar de sua rotina atarefadíssima, reservava um bom tempo para este passeio, algo incomum na vida de qualquer ser humano.

Esta era uma atividade diária importante para descansar a mente, tão requisitada em diversos afazeres que escapam à imaginação.

Meishu-Sama ensinava: “Não devemos deixar que o trabalho nos pressione! Nós é que temos que pressioná-lo. Não se deve trabalhar com sofrimento. Se não trabalharmos com prazer, não

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conseguiremos obter bons resultados.”

Por isso, embora organizasse suas atividades diárias com muito rigor, Ele nunca se deixava levar pela pressão, executando-as alegremente, com flexibilidade e largo espaço de tempo.

Durante o verão, quando ficava em sua residência de Hakone, Meishu-Sama tinha o hábito de passear pelos jardins num breve intervalo após as refeições, acompanhado de Nidai-Sama e da tia dela. Durante esses passeios, Ele observava atentamente os lírios, as azáleas, os trevos, os bordos, os musgos, etc.

Quando se encontrava com o jardineiro que cuidava dessas plantas, sempre expressava Sua gratidão e lhe dirigia palavras impregnadas de amor: “Muito obrigado pelo seu trabalho. Por menor que seja a árvore, se a cuidarmos com amor, um dia se tornará uma bela e frondosa árvore.” Ou conversava com Nidai-Sama: “Como estará este jardim quando os membros vierem ao culto? Será que estará totalmente florido? Gostaria muito que os membros pudessem admirá-lo quando estivesse bem bonito!”

Mudando de assunto, é possível compreeender claramente a enorme admiração que Meishu-Sama nutria por obras de arte ao verificar a qualidade dos objetos expostos no Museu de Arte de Hakone. Mesmo com a Sua atribulada rotina, Ele vivificava-as, estando em contato permanente com elas.

A Sua vida estava intimamente ligada à Arte. Durante à tarde, por exemplo, a cada dois ou três dias, arranjava tempo para mudar e apreciar as pinturas em rolo, as peças de cerâmica, as estátuas búdicas e outros objetos, classificando-os e estudando-os detalhadamente. Visitava também museus de belas artes e históricos de Tóquio, além de ser um assíduo frequentador de exposições.

Meishu-Sama viajava duas vezes por ano, na primavera e no

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outono, à região Kansai, que compreende as cidades de Kyoto e Osaka. Um dos Seus objetivos era captar as belezas locais.

Durante os encontros com os membros também era comum surgirem assuntos relacionados à Arte, o que Lhe proporcionava uma grande alegria.

Após o término das obras do Museu de Arte de Hakone, sempre atento aos mínimos detalhes, Meishu-Sama visitava-o diariamente para instruir os funcionários.

às vésperas de substituir as obras expostas por outras, por exemplo, Ele fazia um minucioso estudo sobre cada uma, conferindo cuidadosamente a sua ordem, posição, harmonia com as demais, etc.

Nos dias em que não saía, Meishu-Sama ditava ou corrigia textos aproximadamente até às dezessete horas.

Durante à tarde, tomava chá com doces às quinze horas, ouvindo notícias pelo rádio. Costumava dizer: “Uma pessoa saudável sente necessidade de comer doces” e chegava a consumi-los duas ou três vezes ao dia.

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JOHREI PARA OS SERVIDORES

às cinco da tarde, hora do noticiário, Meishu-Sama ligava o rádio e ministrava Johrei com muito amor aos servidores que estavam purificando. Estes, com apenas alguns minutos de Johrei, se reestabeleciam e voltavam a servir com gratidão e empenho.

Geralmente, as solicitações de Johrei eram feitas durante a refeição

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matinal. Muitas vezes, o simples fato de fazer a solicitação já era suficiente para que a dor e o sofrimento da pessoa desaparecessem. O mesmo acontecia com as pessoas gravemente enfermas que, apenas através do telegrama de pedido de graça, ressuscitavam milagrosamente.

Por mais atarefado ou cansado que estivesse, Meishu-Sama dizia: “Aquele que estiver purificando, diga-me sem fazer cerimônia” e ministrava Johrei indistintamente nos familiares ou nos servidores.

Quando um servidor que estivesse purificando demonstrasse timidez em Lhe pedir Johrei devido às Suas inúmeras atribuições, Meishu-Sama repreendia-o: “Pecamos toda vez que somos cerimoniosos em excesso. Por que não me pede Johrei ao invés de ficar sofrendo?”

Assim, quando algum servidor purificava e o fato era comunicado a Meishu-Sama, Ele pedia: “Traga-o imediatamente!” E, com toda sinceridade, ministrava-lhe Johrei.

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A HORA DO JANTAR E A ExIBIÇãO CINEMATOGRáfICA

às 17h30, Meishu-Sama tomava outro banho e depois folheava os jornais vespertinos. Similar ao que fazia pela manhã, Ele circulava os títulos com um lápis vermelho. às 23 horas, reunia os jornais matutinos e vespertinos e ouvia a sua leitura pelo servidor encarregado dessa atividade.

O jantar era servido às dezoito horas. Nessa ocasião, toda a

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família se reunia. Ao observar esta cena, era possível perceber a atmosfera harmoniosa e agradável que se formava envolvendo a todos. Quando havia algum convidado mais íntimo, as conversas tornavam-se ainda mais animadas e o ambiente, mais acolhedor, dando a impressão de um jantar característico do Paraíso Terrestre.

Nos dias ímpares, após o jantar, exibiam-se filmes para a recreação dos servidores, na Sede Provisória em Sakimi. Acompanhado de Nidai-Sama, Meishu-Sama também comparecia. Ele gostava muito de cinema e era enfático ao dizer: “Quando assistimos a filmes, ficamos mais inteligentes”.

Por esse motivo, se algum servidor não comparecesse à sessão cinematográfica devido aos seus afazeres, Meishu-Sama chegava até mesmo a repreendê-lo: “Teria sido melhor se tivesse deixado a arrumação da cozinha para depois e ido assistir ao filme. Não devia ter perdido um filme tão bom como aquele!”

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AS CALIGRAfIAS

Nos dias pares, a partir das dezenove horas, quando não havia exibição de filmes, Meishu-Sama dedicava-se a caligrafar Imagens da Luz Divina, Ohikari e outros. Durante essa atividade, Ele também ouvia rádio e, quando fazia calor, de vez em quando, descobria um dos ombros.

Meishu-Sama realizava essa atividade por aproximadamente uma hora e meia e a rapidez com que a desenvolvia era sobre-humana, pois escrevia de cem a duzentas Imagens da Luz Divina ou de seiscentos a setecentos Ohikari em uma hora. Por isso, os

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três servidores que O auxiliavam também precisavam ser ágeis, ajustando o ritmo e executando a tarefa em perfeita sintonia com Ele, que costumava afirmar: “Esta é uma verdadeira linha de montagem.”

Se for considerado que eram cem letras escritas com uma incrível rapidez, é possível comparar a Sua performance à velocidade de um raio. Meishu-Sama explicava sorrindo: “Sou pela eficiência. Para chegarem ao meu nível, vocês precisam de três anos!”

Era possível perceber muito mais que vigor nas pinceladas das Imagens feitas por Meishu-Sama. Nelas ficavam impregnadas uma energia extraordinária e um amor infinito, que exerciam uma enorme atração. Certo calígrafo elogiou-as enfaticamente: “Ninguém conseguirá superá-las, mesmo exercitando-se a vida inteira.”

O Museu de Arte de Hakone acabara de ser construído nessa época e, após encerrar a realizaçãos das caligrafias, Meishu-Sama ficava lendo e desenvolvendo pesquisas sobre arte até às 21 horas. Os principais alvos desta atividade diária eram a coletânea The Eumorfopoulus Collection, de George Eumorfopoulus (1869 – 1939), Hakutsuru e Seizanso-Seisho, publicações dos Museus de Belas Artes de Hakutsuru e de Nezu, respectivamente.

Meishu-Sama lia também frequentemente enciclopédias sobre arte universal, o Taisho Meikikan (coleção de livros sobre os utensílios utilizados na Cerimônia do Chá), etc.

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AS MASSAGENS NOS OMBROS

às 21 horas, Meishu-Sama descansava brevemente, escutando os noticiários pelo rádio. Enquanto isso, os servidores Lhe massageavam os ombros, bem como os de Nidai-Sama e de sua tia. Todos eram unânimes em afirmar que os ombros de Meishu-Sama eram extremamente macios, quase sem nenhum enrijecimento.

Nessa época, eram frequentes os casos de servidores que, apenas com esta dedicação viam as suas purificações serem amenizadas. Bastante agradecidos, contavam: “Massagear os ombros de Meishu-Sama era uma das minhas alegrias. Recebi inúmeras graças com esta prática.”

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A CEIA E OS RELATÓRIOS

às 22h30, Meishu-Sama tinha o hábito de fazer uma ceia leve (comia um sanduíche, uma fruta ou macarrão) sempre ouvindo rádio. Após o término do noticiário, todos os servidores iam agradecer-Lhe a proteção recebida durante o dia e Lhe dar “boa noite”.

Terminava, assim, a rotina diária de trabalho dos servidores, exceto daqueles que tinham tarefas especiais. Depois desse horário, dificilmente Meishu-Sama chamava algum deles, executando Ele próprio o que, porventura, surgisse.

Certo dia, por volta da meia noite, Meishu-Sama quis tomar

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um refresco. O servidor ao Seu lado, exclamou: “Chamarei uma servidora!” Imediatamente, Meishu-Sama falou: “Não é necessário! Elas já devem estar dormindo, eu mesmo vou buscar. Está lá na geladeira, não?” E foi apanhá-lo.

Meishu-Sama era ao mesmo tempo muito amável e muito severo. Se, por acaso, encontrasse a geladeira com a porta aberta ou seu interior desorganizado, já no dia seguinte, chamava o responsável e o repreendia.

Após o cumprimento noturno, Meishu-Sama ouvia do secretário os relatórios referentes às diversas atividades da Igreja, dando as instruções necessárias a cada uma delas. Era igualmente informado sobre a expansão da Igreja, tanto no Japão como no exterior, sempre atento às purificações ocorridas no mundo e aos resultados do Johrei ministrado pelos fiéis. Além disso, era comunicado sobre o número de visitantes do Museu de Arte de Hakone, classificados em membros e não-membros da Igreja. Através desse relatório, pelo qual tinha um grande interesse, orientava adequadamente.

Meishu-Sama também pesquisou intensivamente a Agricultura Natural, observando o trabalho das associações que divulgavam esse método agrícola. Também nutria um grande interesse pelas influências do clima – chuva, vento, temperatura – sobre o cultivo das diversas culturas.

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A LEITURA DOS JORNAIS

Após os relatórios, por volta das 23 horas, Meishu-Sama ouvia a

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leitura dos artigos que marcara com lápis vermelho nos jornais matutinos e vespertinos. Durante a leitura, Ele apreciava objetos de arte e aproveitava para reiterar: “Minha boca e mãos estão desocupadas”.

Certa ocasião, enquanto o servidor lia os jornais, Meishu-Sama estendeu a mão para pegar algo. Ao tentar ajudá-Lo, o servidor foi repreendido: “Continue lendo. Se você pudesse pegar sem interromper a leitura, eu não me importaria, mas, se parar de ler, não adianta. Como minhas mãos estão desocupadas, eu mesmo pego”. Isso demonstra a grande importância que Meishu-Sama dava a cada minuto do Seu tempo.

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ENSINAMENTOS E POEMAS

Na sequência à leitura dos jornais, por volta da meia-noite, Meishu-Sama começava a ditar os Seus Ensinamentos e poemas.

O servidor responsável pela anotação dos textos nos últimos anos de vida de Meishu-Sama conta que, ao ser incumbido de tal dedicação, o fundador lhe disse: “A partir de agora, sempre que eu chamá-lo, será para anotar o que digo. Por isso, venha imediatamente trazendo caneta e papel.”

Assim, onde quer que estivesse, essa pessoa atendia imediatamente quando era chamada, mesmo que Meishu-Sama estivesse no banheiro ou tomando banho. Houve ocasiões de ser chamado no jardim. Não importando onde, este servidor sempre corria, com caneta e papel na mão.

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Se algum título Lhe viesse à mente, Meishu-Sama chamava o servidor e pedia-lhe para anotá-lo. Normalmente, eram listados de trinta a quarenta títulos.

à noite, o servidor os lia e Meishu-Sama escolhia um para desenvolver, dizendo: “Vamos escrever sobre isso”. Assim, ditava o texto com fluidez. Havia títulos anotados há mais de um mês e, mesmo assim, Ele ditava ininterruptamente, sem nenhuma dificuldade ou hesitação, esperando o servidor terminar cada parágrafo para dar continuidade.

A maioria dos textos tinham, em média, quatro páginas, e Meishu-Sama ditava uns quatro por noite.

Se as anotações terminavam antes da hora prevista, Meishu-Sama ouvia a leitura de experiências de fé dos fiéis ou de artigos enviados por outras pessoas. Muitas vezes, enquanto ouvia, levantava-se e começava a se exercitar.

Um servidor, ao presenciar esta cena pela primeira vez, assustou-se, imaginando o que Meishu-Sama estaria fazendo. Ele simplesmente respondeu sorrindo: “Eu dou importância à minha alimentação, mas sinto que faço pouco exercício.” Ele fazia ginástica todas as noites em que sobrava tempo, pois procurava cuidar bem do Seu físico.

As experiências de fé proporcionavam uma grande alegria a Meishu-Sama. Ao ouvir o relato detalhado sobre a salvação de alguém através do Johrei, após uma terrível intoxicação causada por remédios, muitas vezes, Ele se emocionava tanto que chegava a ficar com os olhos marejados de lágrimas. Há servidores que contam: “Era um momento de muita emoção. Sentia-me pequeno diante do Seu grande amor e tinha que conter o choro para continuar a leitura.”

Além disso, Meishu-Sama recebia cartas de não-membros,

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havendo dias em que chegavam a cerca de oito. Ele lia toda a correspondência e, quando necessário, respondia pessoalmente.

Por ocasião dos Cultos, o salmo era pedido a Meishu-Sama com aproximadamente uma semana de antecedência. Ele atendia à solicitação de imediato, refletindo por um ou dois minutos e ministrando Johrei na cabeça antes de ordenar: “Pegue a caneta”. Aí começava a ditar com uma rapidez extraordinária, levando apenas vinte minutos para compor uns trinta salmos.

Uma pessoa que serviu junto a Meishu-Sama anotando o que Ele ditava, escreveu: “As palavras fluíam naturalmente de forma harmônica num texto elegante, simples e conciso, que podia ser facilmente assimilado por qualquer pessoa em qualquer lugar do mundo. Além disso, proporcionava a completa absorção da Verdade nele contida, revelando ainda um grande amor e uma força capazes de transformar o mundo e de despertar o homem para o altruísmo, eliminando os seus pecados e a infelicidade.”

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O REPOUSO

às duas horas da madrugada, Meishu-Sama começava a se preparar para dormir, exprimindo: “Por hoje é só.”

No inverno, Ele próprio apagava as brasas dos aquecedores. Muitas vezes, a tia de Nidai-Sama, ainda acordada, tentava ajudá-lo, mas Meishu-Sama dizia: “Pode deixar, eu mesmo faço.” Assim, apagava as pequenas fagulhas.

Essa era a rotina diária de Meishu-Sama e, a não ser que houvesse

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alguma viagem missionária, Ele repousava até que o sol voltasse a brilhar na manhã seguinte, dando início a um novo dia.

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Rigorosidade no cumprimento do horário

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ExEMPLO DE POSTURA

Certo dia, a filha de Meishu-Sama Lhe disse: “Pai, acho que, às vezes, o senhor também queira dormir mais. Entretanto, sempre levanta-se pontualmente. Isso é impressionante!” Meishu-Sama respondeu: “É natural que, às vezes, eu sinta sono e queira ficar deitado um pouco mais. Mas se eu não for pontual não poderei orientar os membros sobre esse assunto. Para poder lhes falar, primeiro, eu preciso praticar.”

Ao ouvir essas palavras, senti o enorme esforço que Meishu-Sama empreendia para nos fornecer os Ensinamentos, já que Ele próprio praticava cada um deles.

Um servidor

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SEJA RIGOROSO CONSIGO MESMO

Por volta de 1954, nos dias destinados à projeção de filmes, Meishu-Sama deixava o Hekiun-So às dezenove horas, dirigindo-se à Sede Provisória de Sakimi. Certa vez, devido a um jantar, acabou ficando tarde e Ele saiu sem fazer a higiene bucal.

Recebi o comunicado de que Meishu-Sama a faria em Sakimi e que eu deveria deixar tudo preparado. Como eu nunca imaginaria que ele fosse escovar os dentes no banheiro, deixei o copo, a escova de dentes e demais objetos necessários sobre a mesa da sala.

No entanto, ao chegar à Sede, imediatamente, Meishu-Sama dirigiu-se ao banheiro, de onde gritou: “Minha higiene bucal!”

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A seguir, repreendeu-me: “O que aconteceu? Por que não trouxe o que eu pedi?” E continuou: “Como não se deve fazer os outros esperar, irei escovar os dentes aqui mesmo! Não vê que todos estão esperando?”

A severidade de Meishu-Sama quanto ao cumprimento dos horários não era somente para os outros. Ele também os cumpria rigorosamente.

Um servidor

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“MEU TEMPO PERTENCE A DEUS”

Antes de ir para o Havaí, em fevereiro de 1953, para fazer difusão, tive a permissão de receber Johrei de Meishu-Sama por onze vezes.

Na terceira oportunidade, cheguei ao Hekiun-So cinco minutos antes da hora estabelecida e fiquei esperando-O. Na sala de Johrei, havia duas almofadas: a de Meishu-Sama estava no local mais distante da porta. Ele entrou e sentou-se. fiz-Lhe uma reverência em silêncio e permaneci onde estava. Neste momento, Meishu-Sama falou-me em tom de ordem: “Venha até aqui. Meu tempo pertence a Deus. Eu já me sentei e você continua no mesmo lugar. Quando eu me sento, você deve vir imediatamente e colocar-se à minha frente para que eu possa ministrar-lhe Johrei.”

Um chefe de Igreja

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SER EMPECILHO à OBRA DIVINA

Num dos encontros com Meishu-Sama, depois de conceder-me várias orientações, Ele disse: “Estou muito ocupado, vamos encerrar por aqui”. Supliquei-lhe: “Gostaria de fazer mais uma pergunta...” Meishu-Sama explicou: “Estou desenvolvendo uma atividade de grande importância. Não posso sacrificar todo o meu tempo só por sua causa. Pensava que hoje seria um diálogo de dois ou três minutos, mas prolonguei o tempo. Se você for impertinente e insistir em tomar mais meu tempo, estará sendo um empecilho para a Obra Divina.”

Isso fez com que eu me sentisse imensamente envergonhado.

Um chefe de Igreja

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APENAS CINCO MINUTOS DE ATRASO

Certa vez, fui convidado para jantar com Meishu-Sama e acabei chegando cinco minutos atrasado.

Meishu-Sama repreendeu-me com severidade: “Para o homem, são apenas cinco minutos, mas, para Deus, é um atraso enorme.” Seu tom de voz me fez estremecer.

Um chefe de Igreja

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QUEM NãO RESPEITA O HORáRIO NãO MERECE CONfIANÇA

Nos Seus últimos anos de vida, Meishu-Sama dava a impressão que havia ficado mais intransigente com relação ao horário. No entanto, desde jovem Ele sempre fora assim.

Quando marcava um compromisso com alguém e o horário não era respeitado, Meishu-Sama dizia: “Essa pessoa não serve. Quem assume um compromisso e não o cumpre é a escória da humanidade. É melhor não se envolver muito com esse tipo de gente.”

Um familiar

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DEVE-SE RESPEITAR RIGOROSAMENTE O HORáRIO

Este episódio aconteceu na época em que Meishu-Sama ainda morava no distrito de Tamagawa, em Tóquio. Uma vez por mês, Ele me levava junto com meu marido e as crianças para jantar no Hotel Imperial. Geralmente, isso acontecia nos dias 21 ou 22 e, às vezes, ficava combinado de nos encontrarmos lá. Meishu-Sama ia sempre acompanhado por Nidai-Sama. O horário combinado era às 17h30 e Ele nunca se atrasou um minuto sequer.

Certa vez, atrasei-me cinco minutos. Meishu-Sama e Nidai-Sama já haviam chegado ao hotel. Disse-Lhe envergonhada: “Perdoe-nos pelo atraso. Estávamos com visita...”. Ele falou sorrindo:

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“Tudo bem... mas a questão do horário é muito importante, sabe?” Essas palavras permanecem gravadas nitidamente em meu coração até hoje.

Uma ministra

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“UM MINUTO É MUITO PRECIOSO PARA MIM”

Meishu-Sama era extremamente rigoroso quanto ao horário das entrevistas realizadas em sua casa. Um minuto de atraso era motivo de repreensão.

Certa vez, não percebi que meu relógio estava um pouco atrasado e, quando cheguei, uma servidora me perguntou a que horas era a minha entrevista. Respondi-lhe: “Ainda faltam cinco minutos!” fui conduzido à presença de Meishu-Sama pontualmente. Mais tarde, soube que a servidora fora repreendida, e não eu. Na época, não compreendi a razão.

Hoje, refletindo sobre o ocorrido, creio que Meishu-Sama deve ter dito à servidora. “Você deve confiar no relógio daqui de casa. Quando o entrevistado disse que ainda faltavam cinco minutos, você deveria ter respondido que não, que a hora correta mostrava que faltavam três ou dois minutos. Por que não disse nada?”

Tempos depois, marquei uma entrevista para um membro e, no dia marcado, voltei a me atrasar. Dessa vez, Meishu-Sama repreendeu-me: “ Como é que uma pessoa como você, que orienta outras pessoas, se atrasa para um compromisso? Não acha que

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é falta de consideração para com aquele que chegou no horário combinado? Eu também tive que ficar esperando para iniciar a conversa. Uma pessoa de sua posição sempre deve chegar antes da hora marcada, seja qual for a circunstância.”

Em outra oportunidade, Ele ainda me ensinou: “As minhas atividades diárias estão distribuídas de acordo a um horário pré-estabelecido. Por isso, quando alguém se atrasa, todo o meu trabalho se desorganiza. Um minuto, que seja, é muito precioso para mim.”

Um chefe de Igreja

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“SE O SENTIMENTO fOR SINCERO...”

Esse fato aconteceu por volta de 1954. O proprietário de uma loja de antiguidades chegou cinco minutos atrasado para um compromisso com Meishu-Sama, devido à demora do trem. Ele havia saído de casa mais cedo para chegar a tempo; como o trem retardara, ele veio correndo, chegando quase sem fôlego, mas após o horário determinado.

Meishu-Sama sempre adiantava cinco minutos seu relógio e ainda começava a se preparar cinco minutos antes do horário mostrado pelos ponteiros. Dessa forma, como a pessoa havia se atrasado, não quis recebê-la de forma alguma, mesmo depois de Lhe informarmos o motivo do atraso. Por mais que tentássemos convencê-lo, foi inútil.

Ele explicou: “Se uma pessoa, ciente do quanto sou atarefado,

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vier ao meu encontro com o sentimento sincero, mesmo que se atrase cinco ou dez minutos, não digo nada. Mas quem é verdadeiramente sincero, sai de casa prevendo um atraso maior. Vamos marcar um novo encontro”.

Nesse dia, aquele senhor fez três tentativas para ser recebido: nada conseguindo, acabou indo embora.

Um servidor

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A PONTUALIDADE É IMPRESCINDíVEL

Meishu-Sama cumpria rigorosamente os Seus horários, não se atrasando um minuto sequer. Se marcava uma visita para as treze horas, por exemplo, comparecia ao compromisso pontualmente nesse horário. Caso o entrevistado se atrasasse por algum motivo, ainda que fossem cinco ou dez minutos, jamais o recebia naquele dia, adiando o encontro.

Nessas ocasiões, advertia: “O descaso dos japoneses no que se refere ao horário causa um grande transtorno. Como sou uma pessoa extremamente ocupada, um minuto que seja, é muito importante para mim. O fato de um número tão expressivo de japoneses mentir deve-se a pequeninos detalhes como este.”

Um servidor

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OS COMPROMISSOS DEVEM SER CUMPRIDOS COM A MáxIMA PRECISãO

Diversas coisas me impressionaram nas oportunidades em que tive contato com Meishu-Sama, mas a Sua pontualidade foi a principal. Pode-se até dizer que Ele agia como um relógio e não desperdiçava um minuto sequer.

Além do mais, seus compromissos eram cumpridos com a máxima precisão em qualquer situação e não mentia em hipótese alguma também.

à primeira vista, isso pode parecer fácil de ser praticado e de pouca importância. No entanto, na realidade, é algo dificílimo e requer um esforço sobre-humano.

Um barbeiro

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A OBRA DIVINA REQUER COMPROMETIMENTO

Meishu-Sama dava importância a cada segundo do Seu tempo. Certa noite, enquanto eu lia em voz alta as experiências de fé, Meishu-Sama consagrava os Ohikari. Eu fazia a leitura sentado a uma grande mesa, à Sua frente. Logo atrás de mim, havia uma estante sobre a qual os Ohikari eram colocados.

à medida que consagrava uma certa quantidade de Ohikari, Meishu-Sama contornava a mesa e os guardava um a um no

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armário. Como a estante ficava logo atrás de mim, tentei ajudá-Lo, ao que Ele disse: “O que está fazendo? Você está lendo as experiências de fé; portanto, basta que continue a fazer isso. Eu ouço com os ouvidos, o resto do meu corpo está livre. Se você me ajudar, atrasará a leitura.” Desse modo, não permitiu de forma alguma que eu O auxiliasse.

Um servidor

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ATRASO NA HORA SAGRADA DO JOHREI

Meishu-Sama era extremamente rigoroso no que se refere ao horário e orientava constantemente: “Se for o caso, pode adiantar-se cinco minutos; mas nem um minuto de atraso é permitido.” Ele era pontual em todas as ocasiões, inclusive na hora das refeições. E mesmo que estivesse atarefadíssimo, ministrava Johrei em qualquer servidor que Lhe pedisse. Com exceção dos que passavam mal repentinamente, os demais tinham hora marcada e deviam comparecer pontualmente ao local previamente estabelecido.

Certa ocasião, eu me distraí justamente nessa hora: fui ao banheiro e me atrasei. Aflito, fui correndo receber Johrei com Meishu-Sama, mas, como eu imaginara, fui severamente repreendido e Ele imediatamente cancelou a ministração do Johrei. Ainda mais porque o meu atraso fora motivado por minha ida ao banheiro. Pedi perdão prostrado, sem saber como me desculpar diante de todos que haviam ido pedir Johrei. Senti como se tivesse cometido um pecado terrível.

Meishu-Sama era muito rigoroso. Por outro lado, quando

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pressentíamos um possível atraso e Lhe comunicávamos com antecedência, pedindo-Lhe mais tempo, Ele nos atendia prontamente, sendo extremamente generoso.

Um servidor

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SORRINDO, DIzIA: “ESTá BEM, ATÉ LOGO!”

Meishu-Sama tinha uma rotina diária bastante ocupada e éramos conscientes de quão valioso era o Seu tempo. Por isso, tínhamos bastante cuidado para não desperdiçá-lo. No entanto, apesar de sabermos que não deveríamos prolongar nossas conversas, às vezes, acabávamos fazendo exatamente isso.

Assim, caso já houvéssemos dito o necessário e tentássemos nos estender, Meishu-Sama dizia: “Está bem, até logo!” A seguir, desviava o olhar e, sorrindo, começava a fazer outra coisa.

Um servidor

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OS TRABALHOS É QUE SE AMOLDAVAM AOS HORáRIOS

Observando as atividades realizadas por Meishu-Sama, tínhamos a impressão de que elas iam se amoldando naturalmente aos

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horários. Meishu-Sama não era dominado por eles em hipótese alguma. Ao contrário, Ele é quem os controlava.

“Já está na hora, preciso escrever aquilo!” – este tipo de situação nunca lhe acontecia. O fato de Suas atividades irem se encaixando harmoniosamente dentro das horas era para mim o aspecto mais extraordinário de Meishu-Sama. Jamais alguém precisou fazer-Lhe pedidos desta natureza: “Gostaria que o Senhor se apressasse para finalizar aquele trabalho...”

Como Meishu-Sama era muito rigoroso com relação ao horário, no início da minha dedicação junto a Ele, eu sentia tanto medo que chegava a ficar intranquilo e angustiado. Mais tarde, minha angústia transformou-se em gratidão.

Assim, cheguei à conclusão que não há nada mais cômodo depois que a pessoa se habitua a cumprir o horário. Na verdade, bastava ter um relógio que funcionasse com precisão...

Um servidor

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“SE fOR PARA TER UM RELÓGIO QUE NãO fUNCIONA DIREITO

É PREfERíVEL NãO TÊ-LO”

Meishu-Sama lanchava normalmente às quinze horas, mas solicitava que, ao invés de eu Lhe trazer o lanche nesse horário, o trouxesse cinco minutos antes. Ele sempre dizia: “Não podemos nos atrasar. Se for para adiantar, podemos nos adiantar cinco minutos.”

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Por isso, no início, eu sempre fazia tudo com cinco minutos de antecedência. No entanto, quando se faz disso um hábito, acaba-se cometendo outra falha. Por exemplo: se um programa humorístico começasse às sete e meia, eu ligava o rádio um pouco antes. Porém, cinco minutos antes ainda eram transmitidas narrações de lutas de sumô (luta corporal japonesa) ou propagandas de remédios, e não o programa que Meishu-Sama gostava de escutar. Ele, então, me repreendia: “ O que você está me fazendo ouvir?! Basta um ou dois segundos para ajustar a sintonia do rádio. Se não consegue fazer isso, não pode ser considerado um homem moderno.”

Certa vez, fui advertido severamente porque meu relógio estava atrasado: “Se você não se dá conta desse atraso é porque sua noção de horário é muito vaga. Um homem moderno não pode desperdiçar tempo. Se for para ter um relógio que não funciona direito é preferível não tê-lo! Troque-o”. Corri ao relojoeiro o mais depressa possível.

Um servidor

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“Já ESTá NA HORA!”

Havia pessoas que solicitavam uma entrevista com Meishu-Sama dizendo sempre que “bastavam alguns minutos”, acreditando erroneamente que, uma vez marcado o encontro, poderiam demorar mais tempo.

Isso acontecia com frequência e, nessas ocasiões, Meishu-Sama frisava: “Você me disse que era apenas por alguns minutos; pois bem, já está na hora!” Com isso, algumas pessoas ficavam

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atordoadas, sem compreender o que se passava; outros nem conseguiam se lembrar por que tinham ido e acabavam indo embora sem alcançar seu objetivo. Havia ainda aqueles que saíam com um ar desapontado.

Um servidor

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CONTROLE SOBRE A HORA DO BANHO

A rotina de Meishu-Sama era programada com bastante rigor, sem desperdício de um minuto sequer. Por isso, nós, que servíamos ao Seu lado, tínhamos uma especial atenção quanto ao horário.

Acredito que Meishu-Sama observava igualmente os mínimos movimentos dos servidores. Por exemplo: quando eu aproveitava um momento livre para tomar banho, creio que Ele calculava o tempo que eu gastava.

Se um dia, por exemplo, eu levasse exatamente sete minutos, a partir daí, se eu demorasse mais tempo, Ele pedia para alguém me chamar, dizendo: “Ele leva sete minutos para tomar banho, por isso, acho que já acabou. Chame-o.”

Dessa forma, é possível notar que Meishu-Sama dava uma extraordinária importância ao tempo.

Um servidor

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“A PARTIR DE HOJE, VOCÊS SERãO DUAS RODAS QUE GIRAM JUNTAS”

O meu casamento estava marcado para o dia 17 de julho de 1949 e eu estava muito feliz, pois, neste mesmo dia, por intermédio do meu superior, tive a permissão de comunicar pessoalmente o fato a Meishu-Sama.

O encontro estava marcado para às treze horas, mas acabei demorando-me demais nos preparativos. Além disso, o barbeiro atendeu-me com tanto esmero que cheguei, junto com o meu superior, um minuto atrasado à residência de Meishu-Sama.

A recepcionista entrou na sala de Meishu-Sama e tudo o que eu podia ouvir era Seu aborrecimento por termos chegado atrasados. Estremeci ao ouvi-Lo dizer: “Não vou recebê-los”.

Alguns instantes depois, entretanto, fomos comunicados que Ele nos receberia, o que nos deixou aliviados. ficamos à Sua espera na sala de estar. Como eu tinha a certeza de que seríamos repreendidos, estava bem tenso.

Pouco depois, Meishu-Sama entrou, acompanhado por Nidai-Sama, e disse amavelmente: “Parabéns! De hoje em diante, vocês serão duas rodas que giram juntas.” Senti uma alegria tão grande invadir o meu peito que fiquei com os olhos cheios de lágrimas. Apesar de estar preparado para ser advertido, Meishu-Sama não mencionou uma só palavra sobre atraso – falou apenas que, a partir de então, seríamos “duas rodas”.

Um chefe de Igreja

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