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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PRÓ-REITORIA DE PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO DIRETORIA DE PROJETOS ESPECIAIS PROJETO “A VEZ DO MESTRE” REPENSANDO MEDIDAS E AVALIAÇÃO EM EDUCAÇÃO Por: CELY FERREIRA DE SOUZA Orientador: Prof. Marco Antônio Chaves Rio de Janeiro, RJ, março /2001

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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PRÓ-REITORIA DE PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO

DIRETORIA DE PROJETOS ESPECIAIS PROJETO “A VEZ DO MESTRE”

REPENSANDO MEDIDAS E AVALIAÇÃO EM EDUCAÇÃO

Por: CELY FERREIRA DE SOUZA

Orientador: Prof. Marco Antônio Chaves

Rio de Janeiro, RJ, março /2001

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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PRÓ-REITORIA DE PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO

DIRETORIA DE PROJETOS ESPECIAIS PROJETO “A VEZ DO MESTRE”

REPENSANDO MEDIDAS E AVALIAÇÃO EM EDUCAÇÃO

Por: CELY FERREIRA DE SOUZA

Trabalho Monográfico apresentado como requisito parcial para obtenção do Grau de Especialista em Supervisão Escolar

Rio de Janeiro, RJ, março/2001

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Agradeço ao Prof. Marco Antônio Chaves pela sua orientação competente, carinho e grandeza humana.

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Dedico à minha mãe, meu filho e esposo, por compreenderem a minha ausência e o grande incentivo que me deram.

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Mensagem

Um profeta, tendo convivido

algum tempo com os seus

discípulos, deveria despedir-se de

todos e, no último dia, dar a

palavra final.

Naquele dia, então, todos

esperaram a manhã inteira pela

palavra final dele, mas veio o seu

assistente e disse.

“O Mestre não vem”.

Foi um “oh” de tristeza. O Mestre

não chegara para dar a palavra

final, e ele prometera que viria

dizer as últimas palavras.

Mas o Mestre mandou dizer pelo

assistente o seguinte:

... Diga a eles que não vou, mas

que eles sabem o que têm que

fazer. Sigam praticando, porque

avaliação se aprende fazendo, e é

permitido errar.

(Penna Firme, 1993), a partir de

uma imagem de Patton,

especialista na criatividade da

avaliação.

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SUMÁRIO

Resumo ......................................................................................................... ..7

Introdução ..................................................................................................... .10

1. Breve histórico do conceito de avaliação ....................................................12 2. A Avaliação na Concepção dos Pensadores ............................................. 16

2.1. A avaliação na concepção de Tyler .................................................... 18

2.2. A avaliação na concepção de Luckesi ................................................ 21

2.3. A avaliação na concepção de Hoffmann ............................................ 23

2.4. As perspectivas de Penna Firme ........................................................ 25

2.5. Luckesi, Hoffmann e Penna Firme ..................................................... 27

3. Os resultados da avaliação ....................................................................... 29

4. Avaliação como medida ............................................................................ 31

Conclusão ..................................................................................................... 35

Bibliografia ..................................................................................................... 43

Anexos: ...........................................................................................................45

- Comprovante de Estágio

- Comprovante de Participação em Eventos Culturais

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Resumo

A proposta inicial desse estudo é verificar-se sobre

os diferentes matizes da avaliação, constituindo-se em uma investigação de

caráter qualitativo dentro das instituições educacionais. Ele tem por finalidades:

a análise do processo de avaliação; a identificação de perspectivas teóricas na

visão de vários autores; o reconhecimento da prática avaliativa como ação

grupal ou individual, além do poder da escola no contexto da avaliação. O

processo sistemático de ensino-aprendizagem está desenvolvido em três

momentos fundamentais que se intercomplementam e que são de grande

importância no trabalho do docente: planejamento, orientação da

aprendizagem e avaliação. Não se trata, apenas, de verificar o sucesso ou o

fracasso do discente em tal atividade, mas de examinar se as ações planejadas

no processo ensino-aprendizagem foram adequadas para permitir ao aluno,

passar para novos níveis de dificuldades. Na prática da avaliação estão, pois,

inseridos quatro elementos: uma realidade a ser avaliada; um padrão

comparativo (o padrão ideal), um juízo de valor e uma decisão que se toma a

partir dessa avaliação. O trabalho, em síntese, é uma reflexão sobre medidas e

avaliação em educação, pois muito se tem discutido neste campo. Entretanto,

nem sempre, essas discussões têm levado a uma prática avaliativa eficiente, e

não podemos deixar de repensar sobre o assunto, pois milhares de cidadãos

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encontram-se inseridos no processo. A resposta a estes questionamentos é

que irá determinar o direcionamento dos objetivos da avaliação.

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“Para mim, o perfil do bom educador ou

educadora é o que tem no seu trabalho uma

espécie de hino à liberdade, de ode à

liberdade, de hino à diferença e de uma

absoluta paixão pela criatividade, pelo exercício

de criar. O perfil do educador, portanto, para

mim, é o da pessoa que se arrisca, sem o que,

não cria. É o da pessoa que não tem medo da

liberdade”.

Paulo Freire

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INTRODUÇÃO

Ao escrever sobre avaliação, verifica-se até que

ponto os docentes estão cientes da mudança ocorrida no processo avaliativo, e

certifica-se, se existe coerência entre o pensar e o agir desses profissionais.

Partir de uma visão ampla e ao mesmo tempo sintética, para poder refletir e

selecionar alternativas que melhor se adeqüem às necessidades do grupo.

Avaliar é um procedimento extremamente

necessário, porém, muito complexo. O desenvolvimento pessoal só se

concretizará se houver parâmetros que motivem o processo de crescimento.

É necessário que o docente tenha certeza da

aprendizagem do aluno, que ele tenha conhecimento de todo o processo

avaliativo, desde sua definição até as modalidades de avaliação existentes,

colocando-as em prática, a fim de reformular seu planejamento caso a

aprendizagem não aconteça dentro dos parâmetros desejados.

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A auto-avaliação é importantíssima, tanto para o

docente como para o discente, pois é através dela, que o aluno irá saber o que

realmente aprendeu e o professor o que ensinou.

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1. BREVE CONCEITO DE AVALIAÇÃO

Ao longo de sua trajetória histórica, a avaliação foi

pensada de diferentes formas. Nesse sentido, compreender e analisar a

evolução histórica desse conceito é fundamental para percebermos como os

processos avaliativos foram desenvolvidos e aplicados na área educacional

como um todo. Guba e Lincoln (1989) destacaram quatro gerações que

nortearam o conceito de avaliação e que, por conseqüência, influenciaram a

avaliação da aprendizagem do aluno: mensuração; descrição; julgamento de

valor e negociação.

A primeira geração é a da mensuração. Essa

perspectiva enfatiza as medidas e testes. Aqui, é importante estabelecer a

diferença entre medir e avaliar, pois o processo de avaliação inclui a medida,

mas nela não se esgota.

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Ao medir um fenômeno por meio de uma escala de

testes ou outro instrumento, apenas estão sendo levantados dados sobre a sua

grandeza. Sabe-se o sentido destas grandezas quando comparadas com

algum critério: grande, pequeno, muito pouco, etc. Mas, para se ter uma

avaliação a partir dessas medidas é preciso construir o significado dessas

grandezas em relação ao objeto analisado em seu todo, em suas partes e em

relação a outros fenômenos. Portanto,

...”avaliar não é apenas medir, mas sobretudo

sustentar o desempenho positivo dos alunos.

Quer dizer. Não se avalia para estigmatizar,

castigar, discriminar, mas para garantir o direito

à oportunidade. As dificuldades devem ser

transformadas em desafios, os percalços em

retomadas e revisões, as insuficiências em

alerta”.(Demo, 1996).

Ultimamente, a avaliação global e a avaliação como

parte integrante do processo ensino-aprendizagem tem sido alvo de sucessivas

e incansáveis discussões, não somente por meio de livros ou publicações

variadas, mas também, através de muitos congressos e debates. Em

decorrência do grande e crescente interesse despertado pela avaliação

educacional, pela abrangência e complexidade do assunto e da urgência de

melhoria do processo avaliativo, um grande grupo de educadores vêm se

voltando para o estudo e aprofundamento desse processo, no sentido de torná-

lo mais produtivo e compreensível a todos que almejam uma resposta e um

posicionamento mais diretivo.

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CONCEITUAÇÃO

O vocábulo avaliar, segundo o dicionário Brasileiro

da Língua Portuguesa (1993) – significa “calcular, determinar o valor ou a valia

de; reconhecer a força de; apreciar o merecimento de”.

Fermín (in Mediano, p. 31) define avaliação como:

“um processo sistemático, contínuo e integral, destinado a determinar até que

ponto os objetivos educacionais foram alcançados”.

O uso que o aluno é capaz de fazer da informação

aprendida, o que ele é capaz de criar. Sua capacidade de questionar são

aspectos mais valorizados

Em sentido amplo, avaliação faz parte da nossa vida

diária. Independentemente de quaisquer procedimentos formais, qualquer

pessoa está emitindo continuamente juízos de valor sobre a realidade que o

cerca – sobre lugares, fatos, situações, pessoas – isto advém a partir de

informações e observações checadas direta ou indiretamente dessa situação.

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Emitir juízo de valor nada mais é do que engajar-se

num processo de avaliação.

A avaliação é, com certeza, uma etapa obrigatória

do ciclo docente. É um processo que se faz presente em todos os aspectos da

vida escolar: docentes avaliam discentes, discentes avaliam docentes, diretor

avalia seus docentes e estes o diretor, pais avaliam docentes e instituição.

Entretanto, somente a avaliação do discente pelo

docente parece ser um aspecto formalmente reconhecido na vida escolar.

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2. A AVALIAÇÃO NA PERSPECTIVA DOS

PENSADORES

2.1. FUNDAMENTOS TEÓRICOS

Sabe-se que a avaliação com certeza, fundamenta-

se num empecilho. Com certeza, a pesquisa desse tema torna-se um desafio

constante, sob os mais variados ângulos que se deseje encará-la:

“Não é tarefa simplória. A avaliação, na

perspectiva de construção do conhecimento,

parte de duas premissas básicas: confiança na

possibilidade dos educandos construírem suas

próprias verdades e valorização de suas

manifestações e interesses”. (Hoffmann, 1995,

p. 20).

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Quando o docente entende a aprendizagem como

um fator externo ao aluno, ação que o meio exerce sobre o sujeito,

independente de sua atividade, tornar-se-á função do próprio professor

organizar os estímulos com os quais o aluno interage para aprender. Esta é a

concepção behaviorista de aprendizagem, isto é, um sujeito que ensina e outro

que aprende.

Vários pesquisadores defrontam-se com inúmeros

conceitos de avaliação, que ajudam a compreensão dos docentes às voltas

com este contínuo desafio, mostrando a prática e o dia-a-dia escolar.

Neste estudo, pesquisei alguns autores que a meu

ver são importantíssimos para o levantamento da pesquisa, tais como: Tyler

(1976), como especialista estrangeiro, enquanto Luckesi (1996), Hoffmann

(1995) e Penna Firme (1994).

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2.2. A CONCEPÇÃO DE TYLER

No início da década de 60, ele exerceu imensa

influência no Brasil. Sua prioridade era a harmonia de resultados com objetivos

ao invés do julgamento de valor. Auxiliou também, a consagrar conceitos de

natureza técnica nas áreas educacionais.

“A avaliação é o processo destinado a verificar

o grau em que mudanças comportamentais

estão ocorrendo (...) A avaliação deve julgar o

comportamento dos alunos, pois o que se

pretende em educação é justamente modificar

tais comportamentos” (1976, pp. 98-99).

Esta é uma visão comportamentalista, preocupada

em distingüir as mudanças ocorridas e traçar, através de estratégias

normatizadas pelo docente. Tyler sustenta sua prática, por meio de uma

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classificação de objetivos apresentada pelo docente e, em seguida, a

verificação dela através de testes.

Desta maneira, a visão de Tyler foi decisiva e

dominante nos estudos curriculares. Segundo este teórico, o currículo se

compõe de experiências de aprendizagem planejadas e dirigidas pela

escola para atingir os objetivos educacionais:

“O desenvolvimento do currículo é uma tarefa

prática, não um problema teórico, cuja

pretensão é desenvolver um sistema para se

conseguir uma finalidade educativa e não

dirigida a lograr a explicação de um fenômeno

existencial (...)” (Tyler, op. cit. 1976).

O autor do denominado “modelo de avaliação por

objetivos” foi Tyler (Rosales, 1990, p.22), segundo o qual a avaliação se

constituiria em uma constante comparação dos resultados da aprendizagem

dos alunos com os objetivos previamente determinados na programação do

ensino. De acordo com esta visão, a avaliação se estenderia ao processo de

aprendizagem (não só aos resultados), e também ao currículo. No dia-a-dia, o

modelo de Tyler compara os resultados com os objetivos. Estes, limitam-se às

aprendizagens facilmente constatáveis dos alunos. Como conseqüência, sua

concepção de avaliação alimentou o processo tecnicista da educação.

As críticas feitas a este modelo de avaliação tem

como referencial aprendizagens das condutas dos alunos, o que marca uma

significativa redução. Ao centrar-se nos resultados, apenas, despreza o

conhecimento dos processos condutores de tais fatos. Desta modo, uma

mesma resposta do discente a uma questão, pode ser conseqüência de

processos intelectuais diferentes: uma atividade de memorização superficial ou

de compreensão profunda do conteúdo.

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O que fazer com acontecimentos repentinos para os

quais não se tinha normas para medir ou comparar?

O que fazer com fatos previstos mas não inclusos

nas normas de avaliação?

O que fazer quando se mostram erros ou dúvidas

nas metas de um programa?

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2.3. A AVALIAÇÃO NA CONCEPÇÃO DE

LUCKESI

Segundo Luckesi, a avaliação não é um fim em si

mesma. Ela é, contudo, auxiliar da aprendizagem e do desenvolvimento do

aluno, desde que, haja um projeto pedagógico definido. Para ele avaliação é:

“Um juízo de valor sobre dados relevantes,

objetivando uma tomada de decisão. Ou seja, a

avaliação implica um juízo valorativo que

expressa a qualidade do objeto, obrigando,

conseqüentemente, a um posicionamento

efetivo sobre o mesmo” (1978, p. 5).

Luckesi (1978) reconheceu quatro elementos

constitutivos da avaliação : a realidade a ser avaliada, o juízo de valor, o

padrão ideal e a tomada de decisão. Quando o docente avalia, deve levar em

consideração o que é realmente importante na realidade histórica.

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A avaliação é um ato dinâmico do qual o discente

não deve ser expelido porque ele é um dos sujeitos do processo. Para este

esatudioso (1978), a avaliação deve ter função diagnóstica e não meramente

classificatória. Deve estar comprometida com uma concepção pedagógica

dialética, histórica e que anule a alienação.

Luckesi faz crítica ao autoritarismo da avaliação e o

reprodutivismo, não aceitando que ela seja apenas um instrumento de

aprovação ou reprovação.

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2.4. A CONCEPÇÃO DE HOFFMANN

“Avaliação é movimento, é ação e reflexão (...).

A avaliação deve significar justamente a

relação entre dois sujeitos cognoscentes que

percebem o mundo através de suas próprias

individualidades, portanto, subjetivamente”

(1995, pp. 61-62).

Hoffmann, (1995) tem se baseado em Freire e

Piaget. Na perspectiva de construção do conhecimento, a avaliação parte de

duas proposições: confiança na possibilidade de os educandos construírem

suas verdades e valorização de suas manifestações e interesses. A avaliação

perde seu caráter terminal do processo educativo para se transformar em

busca de compreensão das dificuldades do educando e na dinamização de

novas oportunidades de conhecimento.

Ao trabalhar suas lições, o discente faz seu

caminhar e reflete sobre possibilidades, trava diálogo com os pais e amigos

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sobre outras diferentes alternativas. Neste momento, ele transpõe os limites de

suas lições. Na escola, contudo, a ação de testar e medir desconsidera a

reciprocidade intelectual que é possível se desenvolver por um método de

investigação sobre as manifestações do educando, a discussão das idéias, a

argumentação e contra-argumentação aluno/professor, em uma proposta de

reflexão recíproca.

Neste aspecto, o trabalho seria marcado pela análise

de experiências vividas, com respeito à sensibilidade do professor e

aprofundamento teórico, como assinala Hoffmann (1995). No dia-a-dia a

avaliação pede um tempo para que cada um se expresse, para relatar

situações, contar histórias sem os limites de objetivos ou temas determinados a

priori. O respeito à sensibilidade do professor significa dar-lhe oportunidade de

trocar idéias e discutir o seu cotidiano com seus colegas. O aprofundamento

teórico em avaliação, por sua vez, é necessário, entretanto não é o bastante.

“... o educador já não é o que apenas educa,

mas o que, enquanto educa, é educado, em

diálogo como educando que, ao ser educado,

também educa. Ambos, assim, se tornam

sujeitos do processo em que crescem juntos e

em que os argumentos de autoridade já não

valem. Em que, para ser-se, funcionalmente,

autoridade, necessita-se de estar sendo com

as liberdades e não contra elas” (Freire, 1993,

p. 64).

Ninguém educa ninguém, bem como ninguém se

educa a si mesmo: os homens se educam em comunhão, em contato

permanente com o mundo.

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2.5. A AVALIAÇÃO NA CONCEPÇÃO DE

PENNA FIRME

Esta maravilhosa autora encoraja a todos nós, ao

trabalho de observação e avaliação constante da vida escolar, estando inserido

neste universo o planejamento e procedimentos metodológicos naturalistas, só

envolvendo a realidade como um todo em movimento, como se faz o discurso

do dia-a-dia. O estudo contínuo dita à ação e oferece apoio para a decisão do

que fazer e como fazer.

“É hora de pegar o lápis que não esteja

quebrado por dentro. De avaliar suas

condições internas e externas. De verificar se a

ponta está firme. Se há suficiente papel... E

então deixar fluir a imaginação e criar uma

escola que cresça em múltiplas dimensões,

sem tropeços e sem bloqueios, na trajetória

digna do aperfeiçoamento de cada criança e

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cada jovem, de cada professor e da educação

brasileira... “(1994, p. 61).

Segundo Penna Firme (1994), esta é a hora para

introduzir novidades em avaliação e não para copiar tradicionais moldes que

foram valiosos em suas épocas respectivas. Atualmente, a sociedade delineou

uma educação que precisa objetar assuntos cada vez mais complicados. Por

outro lado, ao avaliar, o docente deve pôr neste ato toda a sua sensibilidade e

inteligência para transpor desafios. Caso não o faça, poderá criar sérias

dificuldades na vida de seus discentes. Há sempre muito otimismo no sentido

de que todos sejam capazes de dar uma nova dimensão a avaliação, e o papel

da educação nos dias atuais. A avaliação requer nova fórmula para juízos de

valor que orientem o rumo das ações. Ela precisa ser rápida para abrilhantar os

conceitos para não se defasarem.

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2.6. LUCKESI, HOFFMANN E PENNA

FIRME

Para se conhecer a realidade e suas acepções de

acordo com estes autores, é necessário mergulhar no curso real dos fatos e

conhecer as várias idéias daqueles que vivem a realidade. Isto quer dizer, que

tanto as fontes de dados como os destinatários das informações são

participantes do processo educativo, dos envolvidos devem expressar-se,

contrastar-se e refletir-se na avaliação. Somente um processo de negociação

que respeite e garanta o direito de discentes e docentes é válido. Conhecer os

dados da investigação, expressar sua opinião e controlar o uso de suas

confidências, provocará o acesso ao conhecimento da vida que condiciona os

processos de ensino e aprendizagem na escola.

Os três docentes citados acima, oferecem-me uma

rica visão de várias escolhas possíveis para o tema avaliação. Luckesi (1996,

p. 180), por exemplo, diz: “que a avaliação se destina ao diagnóstico e, por isso

mesmo, à inclusão; destina-se à melhoria do ciclo de vida. Trata-se de um ato

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de amor, pois a avaliação é um ato acolhedor, integrativo e inclusivo”.

Hoffmann (1994, p. 41) afirma que: “a avaliação mediadora significa ação

provocativa do professor, desafiando a criança a refletir, a formular e reformular

os seus próprios conceitos, a se encaminhar para o saber e para novas

descobertas”. Já Penna Firme (1994, p.9) acena: “com a avaliação responsiva

centrada nos interessados, buscando trabalhar as preocupações até a solução

plena de todas”.

Comparando o diferente pensamento do autor

estrangeiro Tyler com os autores brasileiros, efetua-se a modificação do

conceito, a amplitude da abrangência da avaliação e, sobretudo, o resgate do

discente como sujeito do processo ensino aprendizagem. A avaliação deixa de

ser olhada apenas sob a ótica da psicologia ou da medida, para ser desvelada

pelas falas da Antropologia, Psicologia, História, Sociologia, Economia, entre

outras.

A avaliação perdeu o seu perfil indiferente e de

cunho científico e humanizou-se.

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3. OS RESULTADOS DA AVALIAÇÃO

O professor deve sempre trabalhar incansavelmente

de algum modo, todos os resultados obtidos na avaliação. Se essas respostas

dizem respeito à avaliação diagnóstica, elas contribuem para a elaboração dos

objetivos e planos de ensino. Se os resultados se originaram da avaliação

formativa, servirão para verificar se os objetivos estabelecidos estão

adequados aos alunos ou se estão sendo alcançados. Se por acaso os

resultados não corresponderem às expectativas, o docente deve repensar suas

atividades. Muitas das vezes bastará reajustar procedimentos. Muitas vezes,

vezes há a necessidade de modificar os próprios objetivos.

Tanto no processo ensino-aprendizagem quanto na

cotidiana, o desempenho da avaliação é ajudar para o desenvolvimento do

processo, pois ela deve fornecer informações confiáveis, adequadas e

oportunas.

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Uma das funções que não se deveria dar muito valor

é a avaliação feita através de notas, pois é por intermédio dela que o professor

faz seus julgamentos. Infelizmente, a nota ajuda nas decisões de caráter muito

significativo tanto na sua vida profissional como na escolar.

Graus, notas, conceitos e menções se integraram às

tradições escolares e acabaram assumindo forte conotação afetiva. Por

deturpações da escola de valores, assumiram um plano ímpar e, de mero sinal

de resultados, transformaram-se fins. A nota tornou-se marca de êxito.

No modelo de sociedade em que vivemos, a nota é

símbolo de sucesso, exprime merecimento pessoal prezado pelo grupo.

Reflete-se na auto-estima do aluno, pois a nota é tida como julgamento da

própria pessoa. Ao repercutir na autoconfiança do aluno mal sucedido nos

exames, indica que não vale a pena buscar o seu próprio destino.

A nota toma um vulto descabido. Examinadores e

examinandos passam a encará-la como julgamento infalível.

Se a avaliação tem por finalidade informar aquele

que deve decidir, os símbolos que lhe condensam os resultados devem manter

relação com os objetivos.

O docente não deve deixar que a nota se transforme

em alvo. Ela deve restringir-se a um simples meio de tradução do que foi

atingido.

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4. A AVALIAÇÃO COMO MEDIDA

“A avaliação – quando corretamente feita –

pode ser tida como “uma ciência”, num sentido

mais livre, como pode, por exemplo, ser visto o

magistério; mas também pode, com igual

justiça, dizer-se que é uma arte, uma

habilidade interpessoal como a arbitragem e a

lógica implícita no arrazoado dos juízes e

jurados, e críticas literárias e avaliadores de

bens imóveis e avaliadores de jóias – e, desse

modo, não “uma das ciências” (Scriven, 1991,

p. 142).

Em toda ação diretiva do docente calcada em um

objetivo, ele deve sempre estar atento às observações dos resultados. A

avaliação perseverante faz parte do seu cotidiano.

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Se for planejado e desenvolvido com método o

controle da ação rende frutos. A mensuração é quem fornece os alicerces.

Falar a respeito de alguém ou algo sem lhe medir as características é dar

opinião sobre o que não se conhece, é julgar o oculto.

“Medição (concebida como mais abrangente do

que o simples testar) é a descrição quantitativa

de comportamento, coisas ou fatos

(principalmente quanto de uma qualidade, ou

característica, uma coisa individual ou que o

fato possui)” (Northen e Sanders 1987, p. 25).

Todo avaliador deve ter muita atenção na hora que

for fazer uma medida. Ela desfruta de prestígio na educação e ocupa lugar de

muita significação na civilização ocidental.

O educador deve ter consciência do papel da

medida em seu trabalho. Sem as informações que ela fornece, ou seja, sem as

descrições quantificadas, qualquer apreciação fica sujeita ao emocional e

desprovida de confiança. Tudo fica no terreno pessoal e movediço do achismo,

no qual se confunde avaliação (processo racional e sistemático) com opinião

(reação afetiva).

Os professores não costumam distingüir bem entre

medir e avaliar.

“A medição é um componente comum, às

vezes amplo, das avaliações padronizadas,

mas uma parte muito pequena da sua lógica,

isto é, a justificação das conclusões avaliativas”

(Scriven, 1991, p. 126).

Os dois processos estão ligados e têm a conotação

de semelhantes. A mensuração é um relato neutro e fiel que traduz, através de

números, a intensidade das características examinadas, enquanto a avaliação

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indica por meio de qualitativos a estima que cada grau do atributo observado

merece de quem o julga, em função dos fins então buscados.

O docente deve ter no seu repertório acepções bem

definidas e claras tanto de medir quanto de avaliar.

“Medição é simplesmente um processo para

coleta dos dados sobre os quais as

generalizações de pesquisa ou julgamentos

avaliativos serão feitos. É uma ferramenta-

chave em avaliação e pesquisa; o engajamento

na medição não é, por si só e em si, pesquisa

ou avaliação” (Northen e Sanders, 1987, p. 25).

Portanto, medir quer dizer descrever a grandeza de

uma qualidade em estudo, lhe conferindo números de acordo com regras

predeterminadas. Avaliar, por outro lado, é julgar o valor de algo para

determinado fim, é tomar posição diante de um objetivo, examinado em face de

certa prioridade de valores. Se o primeiro processo espelha-se em regras

impessoais, no segundo os critérios dependem de quem julga o valor. Pode-se

medir sem se avaliar.

Os docentes que optam pela medida crêem que ela

seja neutra e restrita aos fatos.

“Avaliação é a determinação do valor de uma

coisa. Em educação é a determinação formal

da qualidade, eficácia ou valor de um

programa, produto, projeto, objetivo ou

currículo” (Ibidem, 1987, p.22).

O envolvimento do ato de avaliar é muito mais do

que dar notas ou calcular taxas de aprovação e evasão. É uma visão muito

maior, onde uma das funções será dar com rapidez as informações

necessárias e adequadas a quem deve decidir sobre determinadas situações.

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Alguns estudiosos solicitam que a avaliação seja um

processo planejado, erguendo-o sobre alicerces seguros, com o apoio de

técnica e de execução e acompanhamento dos resultados, por isso avaliação

nunca termina. Renova-se de acordo com o foco de interesse.

Dessa maneira, mesmo antes dar início as nossas

ações, a avaliação já deve integrar-se ao planejamento, como facilitador da

seleção de objetivos e dos meios por parte do avaliador, ou seja, o diagnóstico

da situação.

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CONCLUSÃO

Na escola, a avaliação tem um fator de muita

significância. Uma péssima avaliação pode ser motivo de um mau ensino. Não

colabora com o docente e desorienta o discente.

Comumente, o que vemos como uma característica

no ambiente escolar, é uma enfatização exagerada nos resultados de provas,

em prejuízo de outras manifestações de aprendizagem. Isto retira o estímulo do

discente, levando-o a dar valor, apenas o conteúdo que cai na prova, indicado

pelo docente.

O docente administra ótimas aulas, é dedicado,

perfeccionista, mas trabalha pouco os resultados da avaliação, seja para si ou

para orientar seus discentes. Então, acaba ajeitando novos canais para, a meu

ver, improvisar meios para uma das mais significativas tarefas profissionais. Ele

procura sempre estar atualizado-se em novos conteúdos, materiais e

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processos de ensino, mas ainda, continua a estudar os frutos de toda a sua

dedicação com o mesmo maquinário de gerações passadas.

Portanto, a avaliação extrapola o simples julgamento

de provas e trabalhos escolares. Trata-se de um mecanismo que insere toda a

ação educativa. Uma de suas preocupações é verificar as provas, apontando

quando há falhas e, por certo, corrigindo-as.

Assim, quem proferir que avaliar é tarefa fácil, com

certeza não está prestando atenção às ricas contradições de todo um

mecanismo que exige do docente, a cada instante, muita paciência,

concentração, amor e profissionalismo. Geralmente, os profissionais da área de

educação, têm variadas concepções de educação, ensino e avaliação. Isto

culmina em problemas na escolha dos caminhos relativos à avaliação. Muitos

valorizam o desenvolvimento e a produção de seus discentes através do

volume de trabalhos orais e escritos. Outros, ainda, se utilizam de estratégias

que contemplem a área afetiva, cognitiva e intuitiva. Um grande percentual,

ainda usa a prova, para fazer a verificação de conceitos que julga

imprescindíveis para as disciplinas. Alguns profissionais já suprimiram prova

como instrumento de medida, porque dão mais valor ao trabalho de

conhecimentos em situações-problema produzidas para a ocasião.

Para milhares de profissionais da área de educação,

o uso de critérios bem explícitos, pode amenizar o tamanho das dificuldades do

ato de avaliar.

Por diversas vezes, nos Cursos de Licenciatura, não

há a aplicação de uma cultura avaliativa, e isto pode nos impedir de colhermos

bons frutos na área do ensino-aprendizagem. De qualquer maneira, o

profissional pode preencher esse espaço de sua formação, por meio de rica e

variada literatura sobre o tema.

Por sua vez, os estabelecimentos de ensino deve

favorecer às discussões, atualizar-se, dar aos seus profissionais inúmeras

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oportunidades de crescimento profissional, sob pena de, se não acompanhar,

ficar de fora no compasso da História.

Por meio da ousadia e do trabalho diário, o docente

faz à adequação entre a prática e a teoria. Ele tornar-se-á capaz de caminhar

pelas diversas etapas da avaliação, inclusive, através da estimulante e

maravilhosa avaliação mediadora. Uma dos trunfos mais expressivo do

docente é estimular a alegria da criação e do conhecimento.

“A pesquisa qualitativa busca a compreensão

desse mundo-vida que é possível através da

linguagem. O pesquisador só poderá

compreender esse mundo-vida se habitar o

mesmo espaço intencional do sujeito” (De

Souza, 1991, p. 121).

A avaliação escolar é um processo humano

construído na “totalidade histórica”. Ela pode sofrer por parte do avaliador,

interferências ou outras manipulações, (paixões e sentimentos), pois ele não

está isento disto.

O avaliador ao conhecer a realidade da escola, sua

história e dinamicidade social, deve mostrar-se imparcial ao não

comprometimento, quando emitir juízos de valores. Esta conduta provoca

exigências enfatizadas por André e Mediano (1998).

“Conhecer a escola mais de perto, (...) tentar

entender sua história, (...) a sua dinâmica

social, (...) avanços e recuos, compreendendo

(...) o “clima” da instituição, a relação

pedagógica da sala de aula e suas interações

com a história da vida de cada sujeito que

constrói o dia-a-dia da prática escolar” (p. 170).

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É exercício maravilhoso, mas não deixa de

ser trabalhoso e árduo.

Ao estudar a avaliação como um método de

trabalho, é óbvio que a maioria dos docentes emite juízos de valor sobre os

objetos de suas preocupações, partindo de alguma maneira, de um fator

preestabelecido.

Luckesi nos chama a atenção, que tudo isso é

abolido, face a uma pedagogia marcada pela cultura do exame no processo

ensino-aprendizagem:

“O sistema de ensino está interessado nos

percentuais de aprovação/reprovação do total

dos educando; os pais estão desejosos de que

seus filhos avancem nas séries de

escolaridade; os professores se utilizam

permanentemente dos procedimentos de

avaliação como elementos motivadores dos

estudantes, por meio da ameaça; os

estudantes estão sempre na expectativa de

virem a ser aprovados ou reprovados...”

(Luckesi, 1996, p. 18).

Então, a função da avaliação passa a ser somente

classificatória. É anulado todo o julgamento de valor e se põe em ação a

função mecânica de classificar um ser humano em determinado modelo. Por

conseguinte, o prejuízo se refletirá na avaliação diagnóstica e na perda da

dinamicidade do ensinar e do aprender em sala de aula.

O docente termina uma unidade de ensino,

inspeciona o que foi aprendido, atribuindo a isto, notas que simbolizam o valor

do aprendizado do aluno, e é aí, que se encerra o ato de avaliar.

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O assunto avaliação, que desperta o interesse de

inúmeras pessoas, é inquerido dos mais diversos parâmetros. Isto lhe confere

uma enorme retumbância num cenário de grandes indagações e desafios para

o homem da atualidade, que jaz estarrecido diante de inúmeras mudanças e

aceleradas inovações, e de uma tecnologia que o decompõe, quando não é

possível viabilizar sua identidade enquanto sujeito.

Não resta dúvida, que todos nós acreditamos que a

educação é um dos principais caminhos para a realização do homem como

pessoa, pois é através dela, que nos tornamos cidadãos críticos, conscientes e

participativos, assumindo com muita responsabilidade nosso papel como

agente na história, contribuindo para a transformação da sociedade em que

vivemos.

A avaliação, não se concretiza num espaço vazio,

porque ela é contextualizada, e depende de um pensar, de perceber, e de

seguir a direção certa para a prática pedagógica:

“Se defendem dezenas de enfoques da

avaliação. Não obstante, a maioria deles se

pode agrupar em alguns tipos básicos. Há

aqueles que chamam “modelos” a estes tipos

básicos, para enfatizar que se trata de

desenhos ou tipos estruturais, defendidos por

importantes teóricos como enfoques dignos de

imitação. São paradigmas” (House, 1994, p.

23).

O vocábulo avaliação tem muitas significações, com

diversas visões, sendo que algumas chegam a prestigiar medida como modelo

avaliativo:

“A avaliação representa um dos pontos vitais

para o alcance de uma prática pedagógica

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competente, e muito pouco conhecemos

acerca desse processo que acontece na

escola. A avaliação tem sido enfocada

principalmente na sua dimensão técnica,

sobretudo no que se refere ``a construção de

instrumentos válidos e fidedignos, deixando à

margem outras dimensões importantes” (Lüdke

e Mediano, 1992, p. 13).

Nenhum docente deve esquecer-se que a avaliação

é um sistema de investigação, de pesquisa e não mera medida ou julgamento,

que tem como mero fim a classificação. Ela só é justa se permitir aos

envolvidos o poder de decisão sobre o processo educativo, definido e

comprometido com a aprendizagem do aluno.

O conceito de avaliação envolve o amadurecimento

por parte do indivíduo, e ocorre de dentro para fora de cada um, em ritmo que

não se pode impor, e sim respeitar. Ela sempre esteve e estará inserida em

qualquer atividade humana, principalmente no ambiente escolar, pois só se

pensa nela em termos de aprendizagem dos alunos.

A maneira como o docente vivencia a avaliação,

permite o reconhecimento de dois aspectos: o ideal e o real. Sob a ótica do

ideal, o professor vê a avaliação como um caminho contínuo de progresso do

discente, para olhar com atenção, a maneira como ele se desenvolve, os

méritos, as possíveis falhas e fracassos, orientando e estimulando o seu

desenvolvimento de modo contínuo.

É uma avaliação que tem como foco o processo de

ensino, que se alimenta por meio de dados da observância, da troca de

conversa, e do estudo das tarefas. É uma avaliação formativa que assume uma

visão cognitiva do processo de aprendizagem.

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O ideal acaba se impondo pelo dia-a-dia do

professor.

Como prosseguirá a avaliação? Estará ela

preocupada com os valores ocidentais, ou com o cidadão do mundo? E terá

esperanças inovadoras? Haverá lugar para o ato amoroso na hora de avaliar?

Como ficará o olhar do educador mediante novos desafios?

“Haverá na face de todos um profundo assombro

E na face de alguns risos sutis cheios de reserva

Muitos se reunirão em lugares desertos

E falarão em voz baixa em novos possíveis

milagres

Como se o milagre tivesse realmente se realizado

Muitos sentirão alegria

Porque deles é o primeiro milagre

E darão o óbolo do fariseu com ares humildes

Muitos não compreenderão

Porque suas inteligências vão somente até os

processos

E já existem nos processos tantas dificuldades...

Alguns verão e julgarão com a alma

Outros verão e julgarão com a alma que eles não

têm

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Ouviram apenas dizer...

Será belo e será ridículo...

Haverá quem mude como os ventos

E haverá quem permaneça na pureza dos

rochedos

No meio de todos eu ouvirei calado e atento,

comovido e risonho

Escutando verdades e mentiras

Mas não dizendo nada

Só a alegria de alguns compreenderem bastará

Porque tudo aconteceu para que eles

compreendessem

Que as águas mais turvas contêm às vezes as

pérolas mais belas”.

VINÍCIUS DE MORAIS

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ANEXOS