Repercussão ArqViol

8
Você vive em uma prisão? Condomínios fechados, centros de lazer privativos, muros gigantes com arame farpado, câmeras de vigilância e até bunkers são os exemplos mais evidentes de um novo conceito urbanístico: a arquitetura do medo sentimento que molda a feição das nossas cidades. Mas até que ponto a paranóia da segurança tornouse maior que a própria violência? REVISTA TRIP, nº 168, 27/07/08, pgs 68 a 79. Por Marcelo Rezende Fotos de Marcos Vilas Boas É muito raro você ter a chance de caminhar em meio a uma idéia. Mas seus olhos a percebem enquanto você observa a altura dos muros, o material das grades ou nomes que aparecem sobre o concreto, impressos em chapas de alumínio com cores neutras ou em tons esmaecidos, quase desaparecendo: PABX Intelbras, 4utech, Detronix, Simtrack, Multitel, Acloman, Novacell, Osastec,

description

arquitetura da violencia

Transcript of Repercussão ArqViol

  • 31/03/2015 RepercussoArqViol

    http://www.uff.br/arqviol/textos_repercussoes/210708_Trip_Voce%20vive%20numa%20prisao.html 1/8

    Vocviveemumapriso?

    Condomniosfechados,centrosdelazerprivativos,murosgigantescomaramefarpado,cmerasdevigilnciaeatbunkerssoosexemplosmaisevidentesdeumnovoconceitourbanstico:aarquiteturadomedosentimentoquemoldaafeiodasnossascidades.Masatquepontoa

    paraniadaseguranatornousemaiorqueaprpriaviolncia?

    REVISTATRIP,n168,27/07/08,pgs68a79.PorMarceloRezendeFotosdeMarcosVilasBoas

    muitorarovocterachancedecaminharemmeioaumaidia.Masseusolhosapercebemenquantovocobservaaalturadosmuros,omaterialdasgradesounomesqueaparecemsobreoconcreto,impressosemchapasdealumniocomcoresneutrasouemtonsesmaecidos,quasedesaparecendo:PABXIntelbras,4utech,Detronix,Simtrack,Multitel,Acloman,Novacell,Osastec,

  • 31/03/2015 RepercussoArqViol

    http://www.uff.br/arqviol/textos_repercussoes/210708_Trip_Voce%20vive%20numa%20prisao.html 2/8

    Projemax. Nomes que soam como ttulos de videogames, mas so empresas no ramo dasegurana, integrantes de um negcio que envolve tecnologia, dados estatsticos, parania,oportunidade,homens(so600milvigilantesprivadosnoBrasil,entreoficiaiseclandestinos)emuito dinheiro: no ano passado, os lucros foram de R$ 15 bilhes. Mas essa no a maisinteressantepeadaidia.apenasosintoma,noadoena.Aidiaestinteressadaemoutraquesto. O que significa viver, morar e se proteger sob essas circunstncias de medopermanente?E,talvezaperguntamaisnecessria,medodequemoudoqu?

    AidiadoarquitetoetericoalemoNikolausHirsch:aarquiteturasetornouocontrol freakdo campo da arte, preocupandose de modo obsessivo apenas com controle, segurana ouautoridade. Um dos grandes pensadores do papel da arquitetura hoje, Hirsch acredita que osarquitetosdevemvoltaraterambiodeartistaseparardesededicarconstruosemfimdefronteiras. Quando se fala sobre fronteira, ela deve ser entendida como algo fsico. Cadaconstruo cria fronteiras especficas. Parede, cho e teto agem como limites materiaisseparandoosistema internodo teatrodoambiente.Soresponsveispelocontroleambientalisto,protegereguardar.Umacasaimpossveldeservistanarua,umedifciocercadodefiosde alta tenso, a altura de uma grade, a presena de uma cmera, essa a paisagem dosgrandescentrosbrasileiros,masnos.apersonificaodaidiadeHirsch.Ousuaperverso.Eocenriodequalquerlocaldomundoemqueascoisastiveramquepiorarmuitoatcomearamelhorarouqueaindaesperamumamelhoranotvel.

    MEDIEVALIZAODASCIDADES

    Osconceitosprotegereguardarestonabasedaidiademorar,deseabrigarsobumteto.Essaspalavrassetornaramumaespciede lema,ummandamentoquasemilitarsobredequemodoocupareseorganizaremumagrandecidadenastrsltimasdcadas.Paraarquitetoseurbanistas,aarquiteturadomedoumcampodeestudo:tratasedepesquisardequemaneirauma comunidade se comporta, que solues encontra diante de situaes extremadas deviolncia,taiscomoocupaesmilitareseguerrascivis.Masaexpressoarquiteturadomedotem tambm sido usada para explicar certos movimentos nas cidades de alta densidadepopulacional.SoPauloeRiodeJaneiro,paraosbrasileiros,soosgrandesexemplos.

    Aarquiteturadomedoaparecetantonaszonasmaisricasquantonasmaispobres,estpresenteem moradias ou em imveis comerciais. Vigilncia constante e separao da rua so osmandamentos.Hmuitodetecnologiaeorganizao(asgradesnasjanelascomumfloreio,umenfeite,separecemcomobjetosdedecorao),mastambmamais assumida gambiarra. Voc pode comprar uma cmera de segurana vazia, sem nadadentro,apenasacasca,einstalaremsuacasa.maisbarato,eosladresjamaissaberoquese trata de umamaquete. Ou, se tudo isso estiver mesmo preocupando voc e a inteno investir, possvel construir um bunker em seu lar. Ele pode ser feito embaixo de casas e equipadocomcomidaeremdios,mantmumafamliadequatropessoaspor30dias,deixandoas independentes do contato externo. No Brasil, 110 famlias j construram bunkers em seuslares.SoPauloconcentraamaioriadoscasos.OpreovaideR$100milaR$2milhes.

    Estamos em um contexto social deformado, diz Snia Ferraz, arquiteta e professora naUniversidade Federal Fluminense, noRio de Janeiro. Mas no se trata de um acontecimentonacional, e sim internacional. interessante. No interior brasileiro, os muros altos, cmeras earames farpados so smbolos de uma cidade grande, so smbolos de crescimento, diz ela.Sniatemfeitodaarquiteturadaviolnciaumtemadepesquisadesdeoano2000.Elaesuaequipe fotografaram cerca demil residncias e edifcios em Ipanema, Lagoa, JardimBotnico,LebloneBarradaTijuca,noRiodeJaneiro,eemMoema,Jardins,MorumbieAltodaBoaVista,em So Paulo. Encontrou nessas imagens uma srie de casos e um intenso processo demedievalizao. A palavra se refere ao retorno de sistemas de proteo originados na IdadeMdia.Umperodo da histria no qual o combate fsico era uma experincia cotidiana. Sniadescobriu,disfaradasouevidentes,muralhas,torresdevigia,fossos,portesduplos,trincheiraseguaritas.

    Quandocomeaaseexpandiressaarquiteturadomedo?Elatemumahistria?

    Ela comea a ser percebida a partir da dcada de 90. Estudamos folhetos de propaganda delanamentosimobilirios,eantesdissoossistemasdesegurananoestavamincorporadosaos

  • 31/03/2015 RepercussoArqViol

    http://www.uff.br/arqviol/textos_repercussoes/210708_Trip_Voce%20vive%20numa%20prisao.html 3/8

    projetos. Depois, tudo mudou. Assim surgem vrias arquiteturas. Arquitetura de proteo,arquiteturadaviolnciaearquiteturademendigoquevocplanejarosobstculosparaqueosmendigosnoencontremlugaresparaficarnasestruturasdasmoradiasoupertodelas.

    Arquiteturadomedonosignificaapenasessesmecanismosevidentesdeproteocitados porSnia. Faz parte dele tambm o aumento de espaos fechados, centros comerciais isolados,climatizados e afastados do som, do aroma, do teatro do ambiente. O mexicano RicardoLegorreta, um nome histrico para a arquitetura, ao visitar So Paulo e Rio no ano passado,vendotantosshoppingcenters,perguntouseosbrasileirostinhammedodocontatodosoledachuva,docaloredovento,doselementosdanatureza.Legorretaacertoupelomenos50%daquesto.Osbrasileirostmmedo,issoinegvel.

    PAVORDOSNMEROS

    Seexisteoladotovisveldaarquiteturadomedo,noextremoopostohumoutroeigualmentedeterminante elemento, mas sua particularidade est no fato de ser invisvel, incontrolvel eextremamenteresistente,topotentequantoaviolncia:omedodaviolncia.SegundodadosdoMinistrio da Justia, os homicdios por arma de fogo tm diminudo no Brasil desde 2004.Naqueleano,foram48.374vtimas.Em2006,46.660.Essareduoparecemnima,osnmerossoaltosainda.Mas,seolhadosdentrodocontexto,ganhamumsignificadomaior.De1996a2003,osassassinatosforamde38.888para51.043.AdatadoinciodesseprocessoamesmadadapelaprofessoraSniaFerraz,quandocomeaaserpercebidooaparecimentodesistemasdeseguranacomoparteobrigatriadoscondomniosemconstruo.Osfossoseasgradesemformadegarfos gigantes no demorarammuito a chegar. Foram sete anos (como uma pragabblica)emquebrasileirosseacostumaramaver todososdiassituaesdedescontrole, a TVsendoajaneladessaatmosfera.SoPauloeRioganharamotomeoritmodecidadessadasdegraphicnovels,massempodercontarcomumhericapazderestabeleceraordem.Agora,comosnmerosrecuando,possvelesperarporumdesmontedasfortalezasparaqueomurobaixoe o porto demadeira pintado de verde ou azul possam ocupar o centro da vida urbana,certo?Completamenteerrado.Esseumsculotodonovo,afinal,echeiodesurpresas.

  • 31/03/2015 RepercussoArqViol

    http://www.uff.br/arqviol/textos_repercussoes/210708_Trip_Voce%20vive%20numa%20prisao.html 4/8

    Hoteto,ecomeleexisteaseparao,olimite,afronteira.E,seacoisafuncionaassimemumamoradia sobre um terreno, pode operar domesmomodo na paisagemmental do proprietriodessamesma casa. Os dados podem indicar que o Brasil caminha para uma vida urbana nomnimo menos apocalptica, mas a percepo dessa situao se mostra lenta, em algunsmomentos parece ser mesmo uma inveno incapaz de convencer o pblico. Seria possvelafirmarsermaisseguroandarnasruashojedoquehquatroanos?Tecnicamente,sim,masoproblemaqueissonofazalgumsesentirmaisprotegido.Nessecaso,apercepomuitomaiordoqueofato.Voc no reduz omedo da violncia apenas com retrao dos nmeros, o quadro no tosimplesassimdeserlido,dizTheoDias.AdvogadocriminalistaeprofessordaEscoladeDireitodaFundaoGetlioVargas,emSoPaulo,Diasestudaquestesligadasseguranapblica.Tivemos uma degradao do espao pblico, e esse medo da violncia termina sendo ocatalisador de outros medos. O medo do crime pode ser o indicativo de outras situaes deinsegurana,comootemordemudanassociaiseeconmicas.Porissoomedodocrimedevesertocombatidoquantooprpriocrime.Umcasoexemplardesseprocessodecatalisaodosmedos a situao dos pases europeus, emque a sociedade reage contra a imigrao e osimigrantes,poucoimportaseoscensosdemonstremnoseremelesresponsveispeloaumentododesemprego.Paraosbrasileiros,ofantasmaoutro.Naarquiteturadaviolncia,aequaosetornaaindamaiscomplicadaporqueelanobaseadaemumafantasia,masemnmerosqueevidenciamnoserasociedadebrasileiraumadasmaiscalmas sobre a Terra. Seus problemas sociais cobram um preo, todos os elos da cadeiaterminam pagando um. E isso gera um sentimento difuso, um pnico capaz de produzir umarespostadesproporcionalaoataque.TheoDiasacreditaquesedebruarsobreosefeitos toimportantequantosevoltarparaascausas.

    Dequemaneirapossvelcombateromedodocrimetantoquantooprpriocrime?

    precisoreconstruiroimaginriodacidade,procurardescobriroqueessesentimentopodeestarquerendodizer,oqueestrepresentando.Sevocsairnasruaseperguntarparaaspessoasseelas se sentem mais inseguras agora, elas diro que sim, mesmo que os nmeros dacriminalidadetenhamdiminudo.Omedodocrimenomenosgravedoqueocrime.

    Soosfenmenosdecatalisaoemplenofuncionamento,certo?

    Sim,porissoomedodocrimedeveserassumido,eessaumatendnciaquevemcrescendoentre aqueles que estudam o problema. Se as pessoas sentem essemedo, porque algumaagressoestacontecendo,sejaelapoltica,econmica,urbansticaeassimessasensaodeameaapermanece.

    Andar pelas ruas pode representar um extenso passeio por idias, dados, teorias, prticasselvagensemao.Masaindaachancedeencontraralgunssinaisdeotimismo,mostrandoserpossvelmanteracabeaparaforadeummardeprevisescatastrficasparaavidabrasileira.Issopodenofazerasociedademaissegura(ouminimamentemaisjusta),masdeixaperceber

  • 31/03/2015 RepercussoArqViol

    http://www.uff.br/arqviol/textos_repercussoes/210708_Trip_Voce%20vive%20numa%20prisao.html 5/8

    uma pequena fresta, fazendo passar o ar e a luz onde antes havia um muro fechado, semnenhumaabertura,ecomvigilncia24horas.

    *MarceloRezendeautordoromanceArnoSchmidt(Planeta,2005)edoensaioCinciadosonhoAimaginaosemfimdodiretorMichelGondry(Alameda,2005).CuradordaexposioEstadodeexceo(PaodasArtes,2008)ecocuradordoprojeto Comunismo da forma (Galeria Vermelho, So Paulo, 2007) e da mostra la Chinoise(MicrowaveInternationalNewMediaArtsFestival,HongKong,2007).

    Orelacionamentoentrearquiteturaeartecontemporneatemseintensificadonaltimadcada.Diferentesartistas vm fazendodahistria e dopensamentoarquitetnicouma ferramentaemseustrabalhos,enquantoarquitetosdevolvemagentilezaexibindoobrasemmuseusoubienais.Nessa atmosfera, alguns criadores se voltaram exatamente para o medo que um ambiente capaz de provocar naquele que o visita, enquanto outros fazem pesquisas sobre de quemodoaimaginaosecomportadiantedanecessidadedeseguranaevigilncia.NoprimeirocasoestoalemoGregorSchneider,queconstriquartos,salasoucorredoresquenoparecemternadadeabsolutamenteanormal.Massocapazesdeprovocarumasensaode que algo muito errado aconteceu ou acontecer l. Um de seus conhecidos trabalhos foiemBondiBeach,naAustrlia,noanopassado.Elecolocousobreaareiadeumapraia21celas,medindo 4 x 4m, construdas como uma tpica cerca australiana e contendo todos os objetosobrigatrios da cultura das praias. Outro caso o do espanhol Santiago Sierra. Uma de suasaesfoioprojetoOsadultos,umainstalaobaseadanosserviosdaempresadeseguranainglesaCompoundSecurity,que instalouemshoppingsequipamentosparagerarum incmodorudoquepodeserouvidoapenasporpessoasabaixodos25anos.umamaneiradeafastargangues de jovens dos locais de consumo. Sierra usou equipamentos semelhantes em umaexposionoChile,em2007,querendoprovocaropblicocomotalbarulho.NoBrasil,opaulistanoRodrigoMatheuscriouumaempresadeseguranafictcia,aCenturium.Para ela, desenvolveu uma linguagem visual (propagandas nas fotos acima) e realizou umainstalaonaqualoespaodomuseu (nocaso,oMuseudaPampulha,emMinasGerais,em2004)seconvertiaemumlugardeplenocontrole,comcmeraseoutrosobjetosdemanutenodaordem.Comoemumacasapertodevoc.Ouseuprpriolar.(MR)

  • 31/03/2015 RepercussoArqViol

    http://www.uff.br/arqviol/textos_repercussoes/210708_Trip_Voce%20vive%20numa%20prisao.html 6/8

    TripvisitouosextremosgeogrficosdeSoPauloparaverseaarquiteturadomedochegouaumaregioquejteveardeinterior

    PORCAIOFERRETTI|FOTOSJOOWAINER

    Logo nos primeirosminutos circulando pelas ruas do Graja, na periferia da zona sul de SoPaulo,ficouclaroqueumconceitoantigoestavasealterando.Espremidosladoalado,portesejanelas gradeados, aliados a lanas e arames farpados, redesenhavam o espao urbano daregio, colocando em xeque a teoria de que na periferia ainda existem pessoas vivendo comhbitosinterioranos, desprotegidas de fortificaes.As impresses de reprter e fotgrafo eramumas:asgradesdominaramtodasasconstrues.MasapaisagemmetlicadoGraja,bairrocommaior concentrao de pessoas vivendo em favelas na capital paulista, segundo o censoIBGE de 2000, simplesmente o exemplo da nova organizao da periferia deSoPaulo. Asportasestofechadas.Achoquevirouumaquestodehbito,umcostume,palpitaa ldercomunitriaMaria InsdeOliveiraSantiago(fotonapg.aolado),45,moradoradoGrajadesdeoinciodadcadade80.Sevocforaumalojadematerialdeconstruo,vaiverqueasjanelasjsofabricadascomgrade.Jpercebeuisso?UmaculturaquenoagradaemnadaMariaIns.Apesardeviverdealuguelemumacasaintensamentefechada,pordiversasvezeseladizquesonhamoraremumacasaigualsdoCanad,semportesdeferro,assimcomoasquevnoslivros.Masachaqueisso no mais possvel na periferia. No tem mais isso de tranqilidade interiorana, diz.Antigamente,entreumvizinhoeoutro,osmuroserambaixos.Agentetinhaacessoumaooutroparabaterumpapo.Hoje,issonoexiste,opessoalsefechou.H quem lucre com essa situao e no so apenas as serralherias. H 18 anos o caseiroAntnio Pinheiro de Souza faz bicos como pintor de casas na regio do Graja. Mas o querealmentetemconsumidoseutempoumanovamodalidadedebico:ademanutenoepinturadas grades de ferro que fechamas casas. umbico criado pela violncia, porque antes notinha tanta grade. Aumentou o servio e aumentou tambm o meu ganho, diz ele enquantoterminadelixarumenormeporto,apressadoparairfazeromesmoservioemoutraresidncia.H uns 15 anos dava a impresso de que a gente vivia no interior. Mas a criminalidadeaumentou demais, e o povo se fechou em grades, como d para o senhor notar, completaAntnio,apontandoparaasoutrascasasdarua,entreelasadeMaria Ins.Umasituaoquefazocaseiropensarnaaberturadeumafirmaenacontrataodeajudantesparadarcontadonmerodepedidos.

    SEGURANAINTERNA

    A verdade que apenas os barracos erguidos com tbuas de madeira, cada vez maissubstitudospelascasasdealvenaria,parecemescapardomodelogradeadodasconstruesnaperiferia.Aindaassim,nodifcilencontrarbarracosfechadoscomcorrentesecadeados.Uma

  • 31/03/2015 RepercussoArqViol

    http://www.uff.br/arqviol/textos_repercussoes/210708_Trip_Voce%20vive%20numa%20prisao.html 7/8

    imagem que nos faz questionar a tese de que o trfico garante a segurana dentro dacomunidade.Masissoaindapodeocorreremcantosmaisisoladosdacidade,comdifcilacessoparacarros,ondeosbraosdopoderpblicomalconseguemalcanar.Acomunidadeprocuraviverdebemcomtodos.Noacontecemmaisassaltosporaqui,dizZaildeSantos,moradoradoJardimMonteVerde, tambmnoGraja. Seacontecer, jsabequedepoisvai terqueprestarcontas, vai ter que devolver, sentencia. Nas ruas sem asfalto do bairro, que fica beira darepresa Billings e mal aparece no guia da cidade, Zailde (foto na pg. ao lado) acredita serpossvelviversemsefecharemgrades.Quantosegurana,deentraremnasuacasa,notemproblema.Amenosquevoctenhaalgumproblemacomeles,conclui.QuandoquestionadossemaissegurovivernaperiferiaounosbairrosnobresdeSoPaulo,osmoradores escondidos entre grades ou no so unnimes em escolher suas casas. Fazsentido. No ano passado foram contabilizados pela Secretaria de Segurana Pblica de SoPaulocercade4,3milroubosefurtosnoGraja.NosJardins,bairronobre,foramcercade14,4mil. No tem por que roubar aqui. No tem carro de marca, no tem jia, no tem nada,dizZailde.Umamatemticaquefazsentido,masquenascontasdaldercomunitriaMariaInsnemsempre temum resultadoexato. Algumaspessoasno se fechamporqueno tmnadaparaserroubado.Sopessoasquemaltmumfogo.Emesmoassimalgunssetrancamcommedodequelevemobotijodegs.Elestmumanicacoisadevalor.Masjosuficiente.

    Jsabemosdecor as liesbsicasparapassarmosdeumacidadedo temorparaumadoprazer.OunsascolocamosemprticaoucontinuaremosviajandoparaverabelacidadequeosoutrosfizeramPORCIROPIRONDI*

    Setudohumano,entotudoperigosoE.Viveiros

    Naarquiteturaoselementosdepassagemsofundamentais.Ajanelaapassagemdoolhareda imaginao. A porta a passagem fsica, corporal. Uma contempla as possibilidades daimaginao,dohorizonte,aoutraseletivapelasuanatureza.Vivemosemespaodepassagem:umavia,umacaladasocaminhoshorizontais,umelevadore uma escada verticalizam nosso caminhar, espaos dinmicos que nos incitam o percurso, aidiadetempoeliberdade.Quandoaarquiteturaperdeessessentidos,ficacarentedeseumaioratributo.Ascidadescontemporneas, instaladassobosignodomedo,so imensasmassasconstrudascom quase nenhuma arquitetura. Gradeamos praas, nos isolamos em muros altssimos emnossascasasetrancamosnossoolharemjanelasquenoseabremparaovento.Qualquer possibilidadede espaos vazios prontamentenegada, quandodeveria ser omaisdesejado.Amputamosassimqualquerpossibilidadedeencontroeconvivncialivre.Nossos espaos so vigiados eletrnica e fisicamente. Pblico e privado confundemse, e acidade,noentanto,considerasemoderna.A cidade um artefato das civilizaes. Foi construda pela vontade humana de vivercoletivamente.Suaorigemremontaoinstintoprimriodeunio,convvioetroca.Isolla emaeroportos vigiados, carrosblindados, condomnios fechadosasfixiar seumito de

  • 31/03/2015 RepercussoArqViol

    http://www.uff.br/arqviol/textos_repercussoes/210708_Trip_Voce%20vive%20numa%20prisao.html 8/8

    origem.SeuDNAcompostodosgenesdaliberdadedoencontro.

    MUROSINTEIS

    A violncia urbana tem sua origem namisria. No seromuros, represso ou grades que asolucionaro. Isso apenas acirrar a excluso. necessria uma ao educativa transversal,capazdeolharcomgenerosidadenossascaladaseruaseperceberoqueestacontecendo.Iniciase a construo de um pensamento ecolgicoambiental sobre as cidades. Percebemosque estamos em uma rota de coliso, uma certa guerrilha urbana capaz de inviabilizar suaexistncia.Novos desgnios so necessrios. Governantes no so gerentes das cidades, governantesdevemgovernardemocraticamente,estaumadimensomuitomaiorqueasimplesgerncia.Precisamsercadavezmaisincitadosatomarcontadesuasaesedeseusprojetos.No h motivo para desacreditarmos das cidades e, idilicamente, pensarmos numa volta aocampo.possveledesejadorecuperaroserroscometidos,deixarosrioslimposelivresparaoseucursonatural,usloscomoviasde transportee lazer.Construirmaisreasverdesparaoencontroeacontemplao.Ampliarotransportecoletivo.Aliobsicanecessriaparapassarmosdeumacidadedomedoparaumacidadedeprazerebelezanssabemosdecor:bastafazlaoucontinuaremosviajandoparaverabelacidadequeosoutrosfizeram.

    *CiroPirondi,arquiteto,diretordaEscoladaCidadeFaculdadedeArquiteturaeUrbanismo,emSoPaulo