Reportagem_como os jovens vêem a politica nacional 1

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SOCIEDADE. O QUE OS ESTUDANTES UNIVERSITÁRIOS PENSAM DA SITUAÇÃO ACTUAL DO PAÍS AFIRMAM QUE VOTAM SEMPRE, MAS ESTÃO DESILUDIDOS COM O ESTADO DO PAÍS E ACREDITAM QUE SÓ UMA REFORMA COMPLETA DO SISTEMA RESOLVERIA OS PROBLEMAS QUE OS P A CULTURA E O DESEMPREGO, OS UNIVERSITÁRIOS NÃO TÊM ESPERANÇA QUANTO AO FUTURO, MAS IDEIAS NÃO LHES FALTAM PARA TIRAR PORTUGAL DA FOSSA EM QUE SE ENCONTRA. NO R DOS ESTUDANTES SOBRE A SITUAÇÃO ECONÓMICA E POLÍTICA DO MOMENTO E AS SUAS EXPECTATIVAS PARA O QUE AÍ VEM. «Eliminava esta classe polít Foi à saída do metro da Cidade Universitária que encontrámos o Igor Furão. Ficámos a saber que o Igor tem 27 anos e que vota sem- pre que há eleições, mas não está satisfeito com o que se passa à sua volta. «Está tudo simplesmente a desmoronar-se. Não estou nada confiante que as coisas possam mudar. Neste mo- mento a solução da demo- cracia parlamentar não está a resultar e teria que haver ou uma reforma ou a im- plementação de um sistema completamente diferente», diz o estudante de mestrado em Estudos Comparativos da Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa. As questões que mais o preo- cupam são a educação e a cultura, e acha que é nessas áreas que é preciso investir mais. CRIAR UM NOVO SISTEMA POLÍTICO Um pouco mais à frente, jun- to à Faculdade de Letras, co- nhecemos o Diogo Cardoso, estudante de Estudos Artís- ticos e Artes do Espectáculo. Estava a conversar hiperac- tivamente com duas cole- gas sobre o alinhamento do festival Optimus Alive!, por isso, com certeza também seria capaz de nos dar a sua opinião sobre a situação do País. «Quem sai da faculdade não tem perspectivas de fu- turo favoráveis ao curso que tira», diz Diogo, preocupado com o que o espera quando terminar a licenciatura. Além daquilo que o toca pes- soalmente, Diogo considera que outro dos problemas graves é a questão da divída pública. «Não cumprindo o défice não saímos da reces- são. O FMI já cá esteve e ficá- mos melhor. Mas sem dúvida que também traz contrapar- tidas. Tudo depende de como as coisas forem geridas e da aplicação dessas medidas. Claro que a longo prazo isso nos vai custar o pagamento desses empréstimos», diz freneticamente, à medida que gesticula com o resto do corpo. Tal como o Igor, as expecta- tivas do Diogo para o novo Governo são duvidosas. Está desiludido e não sabe o que esperar. Na sua opinião, há questões, como por exem- plo as políticas para a saúde, que não ficaram bem escla- recidas em nenhum dos de- bates. Mas se o Diogo fosse primeiro-ministro começa- va do zero. «Eliminava esta classe política, toda! Pega- va nos partidos, escolhia as pessoas mais eficientes e o melhor de cada um e forma- va um governo de coligação. E acabava com esta questão dos ‘presidencialismos’. Não há rotatividade, as pessoas não se revêem nos ideais de- les, os discursos estão gastos, são sempre as mesmas caras e isso desacredita os partidos e as medidas. Por isso é que eu não acredito em partidos, acredito em pessoas». SOLUÇÕES AO FUNDO DO TÚNEL? Na escadaria da Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa, a Ana Pedro e a Ana Louro esperam pelo amigo Texto: Andreia Arenga Fotos: Graziela Costa que as vem buscar para irem almoçar. Quando lhes dize- mos ao que vimos, torcem o nariz. Parece que falar de política antes do almoço não é propriamente bom para abrir o apetite, mas mesmo assim as bolseiras na área de geografia partiham connosco a sua opinião. «Não estamos nada confiantes. Devemos ser muito pessimistas porque não vemos nenhuma solução», afirmam. Dizem estar sobretudo preocu- padas com a situação dos bol- seiros como elas e que o facto de estarem sempre dependen- tes dos apoios na sua área de estudos é bastante complica- do. «Estamos sempre no meio da confusão em relação aos ordenados.» Quanto a soluções, as duas co- legas nunca pensaram no as- sunto. Concordam que o País precisa do dinheiro do FMI, mas acreditam que os juros são altíssimos e que vai ser difícil recuperar a economia. «Tirando o facto de que o que vamos pagar a mais ser uma enormidade completamente absurda, nós precisávamos do dinheiro. A comparar com os empréstimos dos outros países acho que estamos a ser roubados. Por outro lado o FMI vem trazer algumas regras que poderão ser favoráveis». LAURENT DUARTE 25 ANOS Estudante de Geologia, Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa «Para mim, um dos maiores problemas é a corrupção. Quem tem mais consegue sempre mais e quem tem me- nos nunca tem nada. E cada vez mais existe essa discre- pância. Isso acontece porque as pessoas que mandam no País e que têm cargos bastante elevados, em empresas e não só, controlam isto tudo. Faz parte da mentalidade portuguesa. As coisas mudariam se houvesse um partido ou alguma entidade governamental que fosse diferente e que não se regesse pelos mesmos ideais políticos que existem. Tinha que ser uma coisa feita de raiz porque quando uma pessoa entra para a política já está contami- nada. Não é por mais PEC ou menos PEC que a economia vai recuperar.» Ana Louro e Ana Pedro Diogo Cardoso Igor Furão ’’ ‘‘ Diogo Cardoso, estudante na Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa As pessoas não se revêem nos ideais deles, os discursos estão gastos, são sempre as mesmas caras e isso desacre- dita os partidos e as medidas.

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As pessoas não se revêem nos ideais deles, os discursos estão gastos, são sempre as mesmas caras e isso desacre- dita os partidos e as medidas. CrIAr um nOvO SIStEmA pOlítICO SOCIEDADE. O quE OS EStuDAntES unIvErSItárIOS pEnSAm DA SItuAçãO ACtuAl DO pAíS Estudante de Geologia, Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa na escadaria da faculdade de letras da universidade de lisboa, a Ana pedro e a Ana louro esperam pelo amigo Texto: Andreia Arenga Fotos: Graziela Costa

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SOCIEDADE. O quE OS EStuDAntES unIvErSItárIOS pEnSAm DA SItuAçãO ACtuAl DO pAíS

AfirmAm que votAm sempre, mAs estão desiludidos com o estAdo do pAís e AcreditAm que só umA reformA completA do sistemA resolveriA os problemAs que os portugueses AtrAvessAm. preocupAdos com A educAção, A culturA e o desemprego, os universitários não têm esperAnçA quAnto Ao futuro, mAs ideiAs não lhes fAltAm pArA tirAr portugAl dA fossA em que se encontrA. no rescAldo dAs eleições legislAtivAs fomos sAber A opinião dos estudAntes sobre A situAção económicA e políticA do momento e As suAs expectAtivAs pArA o que Aí vem.

«Eliminava esta classe política, toda!»

foi à saída do metro da cidade universitária que encontrámos o igor furão. ficámos a saber que o igor tem 27 anos e que vota sem-pre que há eleições, mas não está satisfeito com o que se passa à sua volta. «está tudo simplesmente a desmoronar-se. não estou nada confiante que as coisas possam mudar. neste mo-mento a solução da demo-cracia parlamentar não está a resultar e teria que haver ou uma reforma ou a im-plementação de um sistema completamente diferente», diz o estudante de mestrado em estudos comparativos da faculdade de letras da universidade de lisboa. As questões que mais o preo-cupam são a educação e a cultura, e acha que é nessas áreas que é preciso investir mais.

CrIAr um nOvO SIStEmA pOlítICO um pouco mais à frente, jun-to à faculdade de letras, co-nhecemos o diogo cardoso, estudante de estudos Artís-ticos e Artes do espectáculo. estava a conversar hiperac-tivamente com duas cole-gas sobre o alinhamento do festival optimus Alive!, por isso, com certeza também seria capaz de nos dar a sua opinião sobre a situação do país. «quem sai da faculdade não tem perspectivas de fu-turo favoráveis ao curso que tira», diz diogo, preocupado com o que o espera quando terminar a licenciatura.Além daquilo que o toca pes-soalmente, diogo considera que outro dos problemas graves é a questão da divída pública. «não cumprindo o défice não saímos da reces-são. O FMI já cá esteve e ficá-mos melhor. mas sem dúvida que também traz contrapar-tidas. tudo depende de como as coisas forem geridas e da aplicação dessas medidas.

claro que a longo prazo isso nos vai custar o pagamento desses empréstimos», diz freneticamente, à medida que gesticula com o resto do corpo.tal como o igor, as expecta-tivas do diogo para o novo governo são duvidosas. está desiludido e não sabe o que esperar. na sua opinião, há questões, como por exem-plo as políticas para a saúde, que não ficaram bem escla-recidas em nenhum dos de-bates. mas se o diogo fosse primeiro-ministro começa-va do zero. «eliminava esta classe política, toda! pega-va nos partidos, escolhia as

pessoas mais eficientes e o melhor de cada um e forma-va um governo de coligação. e acabava com esta questão dos ‘presidencialismos’. não há rotatividade, as pessoas não se revêem nos ideais de-les, os discursos estão gastos, são sempre as mesmas caras e isso desacredita os partidos e as medidas. por isso é que eu não acredito em partidos, acredito em pessoas».

SOluçõES AO funDO DO túnEl?na escadaria da faculdade de letras da universidade de lisboa, a Ana pedro e a Ana louro esperam pelo amigo

Texto: Andreia Arenga Fotos: Graziela Costa

que as vem buscar para irem almoçar. quando lhes dize-mos ao que vimos, torcem o nariz. parece que falar de política antes do almoço não é propriamente bom para abrir o apetite, mas mesmo assim as bolseiras na área de geografia partiham connosco a sua opinião. «não estamos nada confiantes. Devemos ser muito pessimistas porque não vemos nenhuma solução», afirmam.dizem estar sobretudo preocu-padas com a situação dos bol-seiros como elas e que o facto de estarem sempre dependen-tes dos apoios na sua área de estudos é bastante complica-

do. «estamos sempre no meio da confusão em relação aos ordenados.»quanto a soluções, as duas co-legas nunca pensaram no as-sunto. concordam que o país precisa do dinheiro do fmi, mas acreditam que os juros são altíssimos e que vai ser difícil recuperar a economia. «tirando o facto de que o que vamos pagar a mais ser uma enormidade completamente absurda, nós precisávamos do dinheiro. A comparar com os empréstimos dos outros países acho que estamos a ser roubados. por outro lado o fmi vem trazer algumas regras que poderão ser favoráveis».

lAurEnt DuArtE25 AnOSEstudante de Geologia, Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa

«para mim, um dos maiores problemas é a corrupção. quem tem mais consegue sempre mais e quem tem me-nos nunca tem nada. e cada vez mais existe essa discre-pância. isso acontece porque as pessoas que mandam no país e que têm cargos bastante elevados, em empresas e não só, controlam isto tudo. faz parte da mentalidade portuguesa. As coisas mudariam se houvesse um partido ou alguma entidade governamental que fosse diferente e que não se regesse pelos mesmos ideais políticos que existem. tinha que ser uma coisa feita de raiz porque quando uma pessoa entra para a política já está contami-nada. não é por mais pec ou menos pec que a economia vai recuperar.»

Ana louro e Ana pedro diogo cardoso igor furão

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diogo cardoso, estudante na faculdade de letras

da universidade de lisboa

As pessoas não se revêem nos ideais deles, os discursos

estão gastos, são sempre as mesmas caras e isso desacre-dita os partidos e as medidas.