Representações Da Francofonia Na Aula de Francês Língua Estrangeira

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 545 “Linguagem e Cultura: Múltiplos Olhares” REPRESENTAÇÕES DA FRANCOFONIA NA AULA DE FRANCÊS LÍNGUA ESTRANGEIRA. Greyce Cândido de ARAÚJO  A aprend izagem de uma língua estrangeira permite ao indivíduo inserir- se em uma nova cultura e ampliar seu conhecimento de mundo. Ela é, além de um instrumento de expressão e comunicação, a via que conduz o falante a uma experiên- cia de “trocas culturais”.  A língua france sa é a nona língua mais falada no mundo, e assim como a língua inglesa, é falada nos cinco continentes e é uma língua ocial e de trabalho das grandes instituições internacionais, tais como a Organização das Nações Unidas (ONU), a União Européia (UE) e o Comitê Olímpico Internacional. O termo francofonia,  que surgiu por volta de 1880 em um pronuncia- mento do geógrafo francês Onésime Reclus e que Léopold Sédar Senghor 1  retomou em 1962, se aplica a essa realidade geográca, lingüística e cultural que reúne todos aqueles que fazem o uso da língua francesa enquanto língua materna, segunda lín- gua, língua de comunicação ou de cultura. La francophonie, cest cet humanisme intégral qui se tisse au tour de la terre, cette La francophonie, c’est cet humanisme intégral qui se tisse autour de la terre, cette symbiose des énergies dormantes de tous les continents, de toutes les races qui se réveillent à leur chaleur complémentaire. 2 Segundo Rolland (2006) quando grafado com letra inicial maiúscula o termo Francofonia designa as instituições que a concernem e quando falamos de francofonia, com inicial minúscula, evoca-se a situação lingüística.  A Francofonia, como organização internacional, tem por principal objetivo a defesa da diversidade cultural e seu respeito, garantindo o plurilingüismo e o diálogo entre culturas. A m de efetivar a construção de um espaço político, de cooperação e solidariedade, a Francofonia se debruça sobre o tema da educação, da democracia, da paz, dos direitos humanos e da comunicação, sempre visando à valorização da diversidade cultural. Visto que a aprendizagem de uma língua estrangeira ultrapassa os co- nhecimentos lingüísticos e traz consigo conhecimentos socioculturais que possibilitam a ampliação do conhecimento de mundo dos alunos, verica-se a necessidade de uma abordagem da perspectiva cultural no ensino de língua estrangeira. 1 Primeiro presidente da República de Senegal. Escritor e idealizador da Francofonia como comunida- de lingüística. Considerado o “pai da Francofonia”. 2 A francofonia é um humanismo integral, que se tece ao redor da terra: uma simbiose das energias dormentes de todos os continentes, de todas as raças que se despertam para seu calor complementar. (tradução minha) Léopold Sédar Senghor apud POISSONIER, Ariane et SOURNIA, Gérard. p.08, 2006

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Social Representations and Langauge Education

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    REPRESENTAES DA FRANCOFONIA NA AULA DE FRANCS LNGUA ESTRANGEIRA.

    Greyce Cndido de ARAJO

    A aprendizagem de uma lngua estrangeira permite ao indivduo inserir-se em uma nova cultura e ampliar seu conhecimento de mundo. Ela , alm de um instrumento de expresso e comunicao, a via que conduz o falante a uma experin-cia de trocas culturais.

    A lngua francesa a nona lngua mais falada no mundo, e assim como a lngua inglesa, falada nos cinco continentes e uma lngua oficial e de trabalho das grandes instituies internacionais, tais como a Organizao das Naes Unidas (ONU), a Unio Europia (UE) e o Comit Olmpico Internacional.

    O termo francofonia, que surgiu por volta de 1880 em um pronuncia-mento do gegrafo francs Onsime Reclus e que Lopold Sdar Senghor1 retomou em 1962, se aplica a essa realidade geogrfica, lingstica e cultural que rene todos aqueles que fazem o uso da lngua francesa enquanto lngua materna, segunda ln-gua, lngua de comunicao ou de cultura.

    La francophonie, cest cet humanisme intgral qui se tisse autour de la terre, cetteLa francophonie, cest cet humanisme intgral qui se tisse autour de la terre, cette symbiose des nergies dormantes de tous les continents, de toutes les races qui se rveillent leur chaleur complmentaire.

    Segundo Rolland (2006) quando grafado com letra inicial maiscula o termo Francofonia designa as instituies que a concernem e quando falamos de francofonia, com inicial minscula, evoca-se a situao lingstica.

    A Francofonia, como organizao internacional, tem por principal objetivo a defesa da diversidade cultural e seu respeito, garantindo o plurilingismo e o dilogo entre culturas. A fim de efetivar a construo de um espao poltico, de cooperao e solidariedade, a Francofonia se debrua sobre o tema da educao, da democracia, da paz, dos direitos humanos e da comunicao, sempre visando valorizao da diversidade cultural.

    Visto que a aprendizagem de uma lngua estrangeira ultrapassa os co-nhecimentos lingsticos e traz consigo conhecimentos socioculturais que possibilitam a ampliao do conhecimento de mundo dos alunos, verifica-se a necessidade de uma abordagem da perspectiva cultural no ensino de lngua estrangeira.

    1 Primeiro presidente da Repblica de Senegal. Escritor e idealizador da Francofonia como comunida-de lingstica. Considerado o pai da Francofonia.2 A francofonia um humanismo integral, que se tece ao redor da terra: uma simbiose das energias dormentes de todos os continentes, de todas as raas que se despertam para seu calor complementar. (traduo minha)Lopold Sdar Senghor apud Poissonier, Ariane et sournia, Grard. p.08, 006

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    Os mtodos de ensino de Francs Lngua Estrangeira (FLE) trazem uma parte restrita acerca da cultura francesa, visando estabelecer um elo entre o conhe-cimento lingstico e o conhecimento cultural, e a contribuir para a compreenso das relaes entre os indivduos como portadores de especificidades culturais.

    Alm de ser uma parte restrita nos mtodos, as informaes nela for-necidas tratam em geral do cotidiano, do comportamento e dos hbitos e costumes franceses, do savoir-vivre na Frana.

    Uma vez que a lngua francesa falada em diversos pases e, portanto, partilhada por diversos povos e civilizaes, impe-se a questo a respeito da maneira como esse mosaico cultural deve ser abordado na aula de FLE (francs lngua estran-geira), objetivando colocar em evidncia o que as diferentes culturas francfonas tm em comum entre si, e entre a cultura na qual os alunos de francs esto inseridos.

    Abordar o tema da francofonia em sala de aula , alm de um momento de trocas culturais, combater os clichs e preconceitos com relao ao outro e veri-ficar a concepo e recepo dos alunos com relao s culturas que envolvem a lngua a ser aprendida, neste caso, a lngua francesa.

    Visto que a lngua francesa constitui o vnculo entre os 6 pases que fazem parte da Organizao Internacional da Francofonia e que os mtodos de ensino de FLE se atm a abordar um panorama sobre a cultura unicamente francs, este es-tudo tem por objetivo a anlise da representao e da recepo da cultura francfona por parte dos alunos.

    Para tanto, inicialmente, apresentamos um panorama geral da lngua francesa no mundo e algumas das principais associaes francfonas. Em um se-gundo momento, analisamos o mtodo de ensino de francs lngua estrangeira (FLE) utilizado neste curso no que se refere abordagem sobre cultura francesa e francfo-na e aplicamos um questionrio aos alunos de trs turmas do Curso de Extenso de Lngua Francesa da Universidade Federal de Viosa a fim de analisar suas represen-taes e recepes com relao ao FLE e cultura francfona.

    Este trabalho no tem a pretenso de construir o modelo de uma abor-dagem da francofonia nos mtodos de FLE. Trata-se de questionamentos e observa-es suscitadas a partir de estudos tericos sobre o ensino de FLE, do plurilingismo e do intercultural, e tambm de prticas em sala de aula acerca das exposies de temas culturais e das representaes que os alunos apresentam no que diz respeito ao outro.

    O Curso de Extenso em Lngua Francesa (CELIF) da Universidade Federal de Viosa (UFV) foi criado em maro, no ano de 005. Vinculado ao De-partamento de Letras e Artes (DLA), o curso objetiva promover o ensino do francs, possibilitar uma ampliao do conhecimento de mundo de seus alunos defendendo a

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    diversidade lingstica e cultural, alm de oferecer aos alunos de Letras licenciatura em portugus/francs a oportunidade de planejar e ministrar aulas e, conseqente-mente, uma melhor formao.

    O CELIF destinado aos alunos de graduao, ps-graduao e funcio-nrios da UFV. Verifica-se que houve um aumento considervel no nmero de alunos matriculados neste curso desde seu incio at o presente momento: de maro/005 a fevereiro/2007 o nmero de alunos matriculados passou de 60 para 171, ou seja, houve um aumento de 185% em 4 semestres.

    O grfico abaixo ilustra o aumento na demanda do ensino de FLE no CE-LIF.

    No primeiro semestre de 005 foram efetuadas 60 matrculas, no segundo semestre do mesmo ano, 98.

    Em 2006, houve um aumento significativo: 150 matrculas no primeiro se-mestre e 171 no segundo.

    Matrculas Efetuadas no CELIF de maro/2005 Janeiro/ 2006

    0

    50

    100

    150

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    2005/1 2005/2 2006/1 2006/2

    Semestres

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    O ensino de FLE no CELIF, assim como na maioria das escolas e centros de lnguas estrangeiras do Brasil, realizado atravs do uso de um mtodo difundido por uma editora francesa.

    O mtodo de ensino de FLE adotado pelo CELIF o Reflets 1 (Hachette, 1999). Composto por um livro didtico, um livro de exerccios, trs fitas de vdeo, seis fitas cassetes e um cd de audio, este mtodo foi elaborado em forma de novela: os dilogos a partir dos quais so desenvolvidos os contedos gramaticais, lingsticos e culturais so apresentados atravs de vinte e quatro episdios agrupados em doze dossiers, sendo que cada dossier comporta dois episdios. As situaes de cada um desses episdios so vivenciadas por trs personagens principais (Julie, Benot e Pas-cal) apresentados desde o incio do livro.

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    Cada episdio do Reflets apresenta as seguintes etapas:

    Dcouvrez les situations: atividades de reflexo acerca do tema e trans-crio do episdio;

    Organisez votre comprhension: atividades de compreenso, anlise dos comportamentos verbais e no verbais dos personagens do episdio;

    Dcouvrez la Grammaire: contedos gramaticais e exerccios.

    Sons et lettres: fontica e ortografia;

    Communiquez: compreenso e produo oral.

    A cada dossier h uma parte comum aos dois episdios que o com-pem:

    crit: atividades de compreenso e comunicao escritas;

    Des mots pour le dire: apresenta um vocabulrio temtico como com-plemento;

    Civilisation: aborda aspectos culturais.

    Segundo seus autores, Gidon e Capelle, o Reflets um mtodo destina-do a adultos e adolescentes. A proposta deste mtodo que o ensino/aprendizagem de FLE seja realizado a partir da construo de sentido das situaes comunicativas apresentadas e que as formas lingsticas sejam estudadas e analisadas atravs de seu uso e no apenas atravs de regras a serem decoradas. Alm disso, o mtodo objetiva estimular a ateno e a criatividade dos alunos, manter os interesses destes propondo atividades de interao e reflexo.

    Gidon e Capelle acreditam que para ensinar a comunicao oral, a pri-meira exigncia mettre en scne uma comunicao autntica, apresentando o no-verbal assim como o verbal atravs de aes e no por meio de descries abs-tratas, o que justifica a necessidade do uso de vdeo para este mtodo de ensino.

    Para o presente estudo, nos interessa analisar,no mtodo Reflets, a par-te designada Civilisation e as atividades que estimulam o confronto entre culturas, como meio de transmitir aos alunos conhecimentos sobre a francofonia.

    De acordo com Gidon e Capelle, este mtodo pretende tratar do tema cultura e civilizao sob o ngulo da compreenso das relaes entre os persona-

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    gens dos dilogos/ novela e da pragmtica (comportamentos habituais verbais e no-verbais) e a parte Civilisation pretende tratar de aspectos especficos e estimular a comparao entre culturas.

    A partir desta explicao percebe-se que o intercultural um dos temas que compem o mtodo.

    No que se refere aos pases francfonos, das doze partes intituladas Civilisation apenas uma, a primeira, apresenta algumas informaes sobre o assun-to em questo: h uma reportagem no vdeo que mostra imagens de Hani, capital do Vietnam, Costa do Marfim, Maghreb, Polinsia e Canad; o livro expe o mapa da francofonia e traz a informao de que o francs um idioma falado nos cinco conti-nentes.

    As outras onze partes tratam dos costumes e tradies franceses, assim como da Histria da Frana. Em todas elas h um exerccio com o ttulo e em seu pas? que pretende pr em discusso as diferenas culturais percebidas pelos alunos. Concordamos plenamente com esta atividade, pois ela desperta a conscincia crtica do aluno sobre sua prpria cultura e as particularidades de sua identidade. Porm, se defende tanto a preservao da diversidade cultural e disserta-se tanto a respeito das diversas culturas, porque no abordarmos ento a francofonia em sala de aula?

    APRENDER UmA LNGUA EStRANGEIRA, ENtRAR Em CONtAtO COm UmA NOVA CULtURA

    O ensino/aprendizagem de uma lngua estrangeira supe entre outros fatores, estar aberto a conhecer o outro, uma vez que ele se opera em um contexto de contato entre diversas culturas (no mnimo duas).

    Na concepo de Porcher (1995) toda lngua veicula uma cultura que ao mesmo tempo sua produtora e seu produto. Nesse sentido, o ensino de lngua ultrapassa o ensino de formas lingsticas: o ensino de uma cultura, de hbitos e de respeito diversidade. Conhecer uma nova lngua , portanto, ampliar o conhecimen-to de mundo.

    Ao abordarmos o ensino de cultura na aula de lngua estrangeira (LE), dois conceitos so fundamentais e esto inter-relacionados: intercultural e represen-tao.

    O intercultural, em um sentido amplo, o contato entre culturas e o en-riquecimento que uma fornece a outra de forma recproca. Assim, de extrema im-portncia estabelecer, entre as culturas, conexes, relaes, articulaes e trocas no momento do ensino/aprendizagem de uma LE a fim de promover a diversidade cultu-ral e, consequentemente, a aceitao do outro.

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    Segundo Porcher (1995), a capacidade intercultural fundamental a da descentralizao, da orientao em direo alteridade, da aptido de se colocar no lugar do outro e de pensar como ele, de acordo com seus reflexos e seus a priori. Isto no significa que, ao aprender uma LE, o indivduo deva abandonar suas prprias re-ferncias culturais, pois no se trata de uma fuso ou esquecimento da prpria cultura, mas sim de trocas e enriquecimento, uma vez que a relao com o outro implica o conhecimento de si mesmo.

    A representao , segundo Puren (00), um conceito central da pers-pectiva intercultural. trata-se principalmente da percepo estereotipada, a imagem a priori que se faz da cultura estrangeira (em se tratando do ensino de LE) antes de entrar em contato direto com ele.

    Essas representaes no so elaboradas de maneira objetiva, elas so herdadas, traduzem uma espcie de inconsciente coletivo que participa de uma iden-tidade nacional ou regional, pode-se dizer que so formas cristalizadas de representar o outro.

    O esteretipo uma representao parcial, que empobrece a realidade que ele traduz e conserva apenas um de seus elementos. Nesse sentido, todo estere-otipo ao mesmo tempo simplificador e redutor.

    Ele elimina a complexidade de um fenmeno, tem a tendncia de fazer uma caricatura do outro, que exclui os detalhes (por vezes significativos). O esteretipo fixo, muda lentamente e se transmite frequentemente de gerao em gerao sem modificaes. Apesar disso, o esteretipo faz parte da realidade, sua existncia tem fundamento: uma viso parcial e, portanto, relativamente falsa da realidade, mas que sempre tem alguma coisa relacionada com a realidade que ela caricatura. Este o motivo pelo qual no conveniente tentar erradicar os esteretipos: convm, peda-gogicamente, partir deles, apoiar-se neles para ultrapass-los e mostrar seu carter parcial e caricatural (Porcher, 1995).

    Os esteretipos so, portanto, representaes necessrias e insuficien-tes para compreender uma cultura.

    Dada a importncia da abordagem cultural na aula de FLE, tanto no que diz respeito adequao do uso lingstico nas situaes comunicativas quanto em seu papel de meio de ampliar o conhecimento de mundo, bem como o fato de que a ln-gua francesa falada em diversos pases e, portanto o ponto central de um mosaico cultural, cabe discutir a importncia de se tratar deste tema a fim de proporcionar o que as instituies francfonas (expostas na primeira parte deste trabalho) tanto almejam: a promoo da lngua francesa e o respeito diversidade lingstica e cultural.

    Nessa perspectiva, ns nos perguntamos em que medida os mtodos de FLE colocam em prtica meios de incitar as trocas culturais, se eles tentam promover essas trocas respeitando a diversidade e se eles proporcionam conhecimentos sobre os pases francfonos.

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    De acordo com os estudos de Puren (2003), para combater clichs e ima-gens estereotipadas deve-se partir das representaes que os alunos tm com relao ao estrangeiro/ outro. Por esse motivo, foi aplicado um questionrio4 de seis questes aos alunos de francs de trs turmas de nvel inicial do CELIF no segundo dia de aula com o objetivo de identificarmos suas representaes acerca da cultura francfona; o motivo que os levou a optarem pela aprendizagem da lngua francesa e se h o conhecimento prvio do panorama deste idioma no mundo. Destes alunos, 6 responderam ao questionrio.

    O Centro de Cincias Humanas (CCH) compreende 55,5% no total dos alunos entrevistados. Em seguida vem o Centro de Cincias Exatas (CCE) com ,%. O Centro de Cincias Agrrias (CCA) compreende 1,8% , o Centro de Cincias Biolgicas (CCB) soma 5,5%e os mestrandos e doutorandos, ,7%.

    No que concerne s representaes sobre os conhecimentos que a apren-dizagem de uma lngua estrangeira nos permite adquirir, 5 (97,%) alunos responderam que aprender uma lngua estrangeira permite um enriquecimento cultural e 8 (,%) dis-seram que ela nos possibilita a capacidade de comunicao com pessoas estrangeiras. Poucos dentre eles citaram a capacidade de leitura e escrita visando melhoria profissio-nal, alm da ampliao do conhecimento de mundo e o melhor entendimento da lngua materna.

    A maioria dos alunos justificou a opo pelo estudo do francs por ser uma lngua profissionalmente importante, apontando-a como um diferencial no currculo, por considerarem esta lngua bonita e interessante e pela possibilidade de participar de um programa de intercmbio.

    Este ltimo motivo figura principalmente nas respostas dos alunos de En-genharia de Alimentos devido a existncia de um acordo de cooperao da UFV com a cole Nationale Suprieure dAgronomie et Industries Agrolimentaire de lInstitut National Polytechnique de Lorraine, financiado pelo programa BRAFIC, da CAPES. O coordenador deste projeto o Professor Doutor Paulo Henrique Alves da Silva. O Convnio iniciou-se em setembro de 2003 e visa o intercmbio de estudantes de graduao dos dois pases.

    Alm desses fatores, alguns alunos disseram que fizeram esta opo ape-nas por gostarem de aprender novas lnguas , por curiosidade, para aprender uma segun-da lngua e para enriquecimento cultural.

    Dentre estas respostas, uma referiu-se a um assunto que uma das preten-ses da Francofonia associativa: pelo combate ao monolingismo.

    Com relao ao panorama da lngua francesa no mundo, isto , sobre o co-nhecimento de pases que tm o francs como lngua oficial, co-oficial ou lngua segunda, percebemos que ele se restringe na sua maioria Frana, Canad e Guiana Francesa. muitos alunos disseram que o francs falado em alguns pases africanos, mas que no sabiam quais, apenas um citou Senegal e outros dois, Arglia.

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    Outras respostas obtidas foram: Amrica Central (5), sia (1), Holanda (1), Sua (8), Luxemburgo (6), Blgica (6). Dois entrevistados no souberam respon-der.

    No intuito de conhecer as representaes dos alunos acerca da franco-fonia, foi pedido no questionrio que eles escrevessem o que as seguintes palavras lhes sugeriam: franceses, lngua e cultura francesas, Europa, frica, sia, Amrica e Oceania.

    Com relao Frana, os termos relacionados a pontos tursticos foram os mais citados, entre eles a Tour Eiffel e o Muse du Louvre, que so os mais divulga-dos pela mdia e que se cristalizaram como esteretipos. Alm deles, figuraram entres as respostas a gastronomia, os perfumes, a beleza e o desenvolvimento econmico5.

    Dentre a lista de adjetivos atribudos aos franceses, os mais citados fo-ram elegantes e bonitos, outros que apareceram em nmero significativo foram: individualistas, srios, formais, cultos e bem-educados.

    A lngua francesa percebida como uma lngua bonita e charmosa, porm complexa e difcil pela maioria dos alunos. Vale ressaltar que alguns alunos disseram identificar semelhanas entre o portugus e o francs e que consideram este idioma uma ferramenta importante para a insero no mercado de trabalho.

    Com relao cultura francesa, a maioria respondeu simplesmente ri-queza cultural e que ela diferente da cultura brasileira. Muitos disseram que no tm conhecimento sobre o assunto.

    Ao questionarmos sobre os continentes, objetivava-se verificar se have-ria alguma resposta relativa francofonia, se os alunos tm algum conhecimento sobre os lugares em que o francs falado e quais so as imagens e esteretipos que eles produzem, pois uma vez que o francs falado nos cinco continentes, pretende-se que seu ensino seja uma via de acesso ao contato com todos eles.

    Percebemos, atravs das respostas obtidas, que estes estudantes com-partilham percepes muito parecidas. Veja abaixo quais foram as palavras que eles relacionaram a cada um dos continentes:

    Europa: continente rico, desenvolvido e smbolo de cultura;

    frica: continente castigado pela pobreza, fome e doenas;

    Amrica: diversidade cultural, subdesenvolvimento;

    sia: desenvolvimento e cultura extica,

    Oceania: belas paisagens.

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    Verificou-se o total desconhecimento do termo francofonia. tal fato no surpreendente, uma vez que grande parte dos estudantes e da populao em geral desconhece o status desta lngua no mundo, bem como seu status nas grandes orga-nizaes internacionais. Segundo Pagel (006) a Francofonia , ainda, desconhecida pelo grande pblico, at mesmo os estudantes de francs a desconhecem totalmente.

    No trmino de cada semestre, a coordenao do CELIF aplica um ques-tionrio6 aos alunos a fim de avaliar o andamento do curso, a motivao dos alunos e o trabalho de seus estagirios, visando melhoria do ensino de FLE.

    Neste questionrio figuram duas perguntas sobre o contedo ministrado. A primeira diz respeito base gramatical oferecida pelo curso e, a segunda, s contri-buies do curso para o conhecimento cultural dos alunos.

    Os mesmos 6 alunos que responderam o questionrio no incio do pe-rodo, o qual foi analisado anteriormente, responderam tambm a este ltimo apsum semestre, ou seja, 45 horas-aula.

    Analisaremos as respostas obtidas nestas duas questes, atribuindo maior relevncia segunda por ela estar diretamente relacionada ao tema central deste tra-balho.Vale ressaltar que essas respostas so idias e opinies expressas pelo mesmo grupo de alunos ao qual foi aplicado o primeiro questionrio, que objetivava identifica-o das representaes acerca da cultura francfona e do conhecimento prvio sobre o panorama da lngua francesa no mundo. Assim, podemos identificar pistas sobre a aquisio de conhecimento cultural no decorrer do semestre.

    No que concerne s contribuies do curso para o conhecimento cultural, obteve-se respostas variadas.

    De acordo com grande parte dos alunos, os assuntos abordados em sala de aula so interessantes e promovem discusses enriquecedoras. Eles salien-taram que atravs do vdeo que compe o mtodo Reflets 1 e das informaes trans-mitidas pelos professores/estagirios est sendo possvel conhecer o estilo de vida dos franceses, seus costumes e produes artsticas dos pases francfonos tais como filmes e msicas. Revelaram tambm que durante as primeiras aulas passaram a saber que o francs a lngua oficial de diversos pases, fato at ento por eles desconhecido.

    Alguns deles declararam que o curso despertou o interesse por outras culturas e a comparao entre elas.

    trs alunos (8,%) consideram que a prpria aprendizagem do FLE uma grande contribuio para o conhecimento cultural.

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    CONCLUSO

    O aprendizado de uma lngua estrangeira a principal via de acesso ao con-tato com a cultura estrangeira, visto que uma lngua viva, ou seja, uma lngua atualmente utilizada tanto na comunicao oral como na comunicao escrita (Dubois s.d, p.378) no redutvel ao seu sistema abstrato: ela est em uso por indivduos que so atores sociais, que lhe atribuem um conjunto de especificidades sociolingsticas e caracterizam seu uso.

    A lngua francesa, como relatado no decorrer deste trabalho, constitui um elo entre diversos pases e, portanto, recobre a existncia de diversas culturas.

    Atravs da anlise do mtodo de ensino de FLE Reflets 1, adotado pelo CE-LIF, verificou-se que o tema do intercultural trabalhado atravs da relao entre a lngua materna e o FLE, mas que as informaes a respeito dos pases que tm o francs como lngua oficial ou co-oficial so escassas, limitam-se a apresentao do mapa da francofo-nia.

    As respostas obtidas nos questionrios aplicados aos alunos do CELIF reve-laram o desconhecimento da propagao da lngua francesa no mundo.

    Demonstraram, tambm, que os alunos tm a concepo de que aprender uma nova lngua significa despertar-se para o contato com o outro e ampliar o conhecimen-to do mundo.

    E comparando-se o primeiro questionrio, aplicado no segundo dia de aula a alunos de nvel 1 de FLE, ao segundo, aplicado ao mesmo grupo de alunos aps 45 ho-ras de curso, verifica-se algumas pistas acerca da aquisio de conhecimentos culturais. Ao invs de imagens estereotipadas, as respostas deste segundo questionrio versaram sobre o tema da francofonia, do estilo de vida dos franceses, o conhecimento de produes artsticas francesas e francfonas.

    Vale ressaltar que no existe um antagonismo entre a defesa do uso, do en-sino e da propagao do francs e a defesa do plurilingismo. O que est em jogo a von-tade e a luta pelo respeito diversidade lingstica e cultural. A Francofonia, ao organizar sua comunidade lingstica, inspirou outros pases que tambm compartilham uma lngua em comum a se agruparem a fim de criarem um espao de solidariedade e ajuda mtua, sempre visando ao respeito alteridade. Este o caso, por exemplo, da lngua portuguesa, espanhola e rabe.

    Atribumos uma grande importncia abordagem deste tema na aula de FLE, no sentido de que a aquisio da competncia intercultural permite o contato com diversas culturas.

    Assim, podemos dizer que a aula de FLE , segundo Denis (000), um mo-mento privilegiado que permite ao aluno a descoberta de outras percepes e classifica-es da realidade, outros valores e outros modos de vida. Ao falarmos sobre uma didtica de lngua estrangeira permeada de abordagens sobre a cultura, no se trata de ensinar

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    contedos culturais, mas sim de propor aos alunos a descoberta da cultura dentro de con-dies as mais prximas possveis da realidade e de permitir que eles se prepararem para o encontro e a comunicao com o Outro (Abdallah-Pretceille et Porcher, 1996).

    A aula de lngua estrangeira a ocasio em que o aluno constri a compe-tncia intercultural, competncia que demanda uma implicao pessoal e que ultrapassa o ensino de tipo unicamente funcional uma vez que, orientado para um trabalho sobre a alteridade, ela implica dimenses ticas, afetivas e sociais e aumenta sua capacidade de compreenso, interao e reflexo.

    O ensino de FLE pode ser visto, neste mbito, um instrumento de acesso ao contato com outras culturas e conduzir conseqente aceitao do outro.

    H a pretenso de dar continuidade a este trabalho a fim de obter novos re-sultados e informaes sobre o desenvolvimento da competncia intercultural no que con-cerne francofonia, trabalhando o tema deste estudo com o mesmo grupo de alunos que responderam aos questionrios supracitados, atravs de uma nova investigao aps 180 horas-aula, isto , no fim do quarto semestre, que corresponde ao trmino do livro Reflets 1 e concluso do nvel bsico do curso de lngua francesa.

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