Resenha - A igreja e os bárbaros.pdf

download Resenha - A igreja e os bárbaros.pdf

of 5

Transcript of Resenha - A igreja e os bárbaros.pdf

  • 7/25/2019 Resenha - A igreja e os brbaros.pdf

    1/5

    UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE

    INSTITUTO DE CINCIAS DA SOCIEDADE E DESENVOLVIMENTO REGIONAL

    CURSO: HISTRIA MEDIEVAL I

    PROFESSOR: CAROLINA FORTESNOME: THAIZ BARBOSA FREITAS

    RESENHA CRTICA

    A igreja e os brbaros

    RICHE, Pierre. A Igreja e os Brbaros. As Invases Brbaras. Lisboa: Europa-Amrica, 1992.

    A Igreja e os Brbaros compe o captulo IV da obra do historiador francs

    Pierre Rich, As Invases Brbaras. O captulo tem como objetivo geral analisar o

    contexto histrico no qual teriam se formado as bases que dariam origem a um

    mundo, mais especificamente o mundo ocidental, completamente novo, a transio

    da Antiguidade para a Idade Mdia e, nesse sentido, o nascimento da prpria cultura

    medieval.

    Para tornar inteligveis os traos que teriam caracterizado esse processo de

    nascimento do medievo, o autor utiliza como base interpretativa o que ele vai

    chamar de invases brbaras, a forma como esses povos se estabeleceram nos

    territrios romanos e as transformaes que iro integrar a Igreja Catlica, enquanto

    principal herdeira do Imprio, e essa nova sociedade que vai se constituindo.

    No texto, esse processo pode ser analisado atravs de uma conjuntura

    composta por diferentes momentos que culminariam no incio da Idade Mdia. Entre

    eles, a dominao dos brbaros pela Igreja, atravs das reaes diante das

    invases e a converso desses povos, os aspectos que iriam integrar Igreja esociedade brbara e o fim das invases como um processo que marcaria o incio

    da Idade Mdia, assim como o perodo de gnese de um Ocidente totalmente

    novo.

    Rich faz, inicialmente, uma sntese de algumas caractersticas da Igreja (e

    suas instituies) no Imprio Romano e a relao que se estabelece entre a mesma

    e Estado ao longo do sculo IV. A fim de exaltar o papel da Igreja como herdeira das

    instituies que compunham o Imprio, o autor chama ateno para a autonomia

    adquirida pela Igreja com sistema de governo e regras prprias, fatores que,

  • 7/25/2019 Resenha - A igreja e os brbaros.pdf

    2/5

    segundo essa ideia, justificariam sua sobrevivncia em um perodo assolado pela

    violncia e caos das invases brbaras.

    As reaes da Igreja que, sob essa perspectiva, se colocava cada vez mais

    importante no mundo romano, perante as invases brbaras teriam se concretizado

    a partir de trs momentos.

    O primeiro momento teria se caracterizado por uma forte onda de

    pessimismo. As invases brbaras provocariam o desmoronamento e a destruio

    do mundo romano e consequentemente, para os catlicos, o desaparecimento da

    cultura e valores cristos, anunciando que o fim do mundo estaria prximo.

    O segundo momento, aps a tomada de Roma pelos soldados de Alarico,

    seria marcado pela restaurao das runas e adaptao dos romanos ao contato

    com a sociedade brbara. O pessimismo anterior se converte, nesse momento na

    ideia de que os brbaros poderiam ser futuros cristos, fazendo com que a Igreja

    assuma como funo a misso de levar a verdade crist a esses povos.

    O terceiro momento se estabeleceria, fundamentalmente, atravs da

    reorganizao e reestruturao das instituies eclesisticas. Nas cidades,

    invadidas ou conquistadas pelos povos brbaros, os membros da Igreja

    continuam a ser muitas vezes a nica autoridade poltica no Imprio que teria sidoento destrudo.

    Atravs dessa conjuntura inicial descrita no texto, possvel perceber, como o

    autor apresenta um quadro caracteriza as invases brbaras como um grande

    espetculo. Uma anlise que no considera a chegada e insero dos germanos

    como um longo processo que acontece, tambm, de forma pacfica e gradual, em

    paralelo com a prpria histria romana, e que limita o conceito de sociedade

    brbara, na verdade povos extremamente diferentes entre si.A segunda etapa, que englobaria esse processo de dominao dos povos

    brbaros pela Igreja, teria sido a converso, que vai se constituindo e se

    consolidando sem um projeto geral, pr-estabelecido, por meio de mtodos

    elementos e personagens diversos, dentre eles: bispos, prncipes, monges, e papas.

    Utilizando como fonte os de textos dos conclios, que ocorrem entre os anos

    de 511 e 614 na Glia, o autor evidencia o papel importante dos bispos. Alm da

    determinao de questes referentes organizao eclesistica, nesses conclios,

    discutia-se a condenao de prticas pags, como o trabalho aos domingos,

    banquetes e danas em honra aos deuses, culto feito s rvores e fontes, etc.

  • 7/25/2019 Resenha - A igreja e os brbaros.pdf

    3/5

    Para colocar em prtica essas proibies a Igreja teria recorrido ao poder

    secular, atravs da converso dos prncipes. A converso do chefe, para aqueles

    que seguiam risca os cnones dos concilirios, podia, muitas vezes, resultar na

    converso de seus povos.

    Paralelo a isso, os monges aparecem desempenhando grande papel

    evangelizador na converso dos brbaros. Apesar de no terem por objetivo

    evangelizar uma regio, em consequncia de sua influncia espiritual, importncia

    econmica e proximidade com a vida dos camponeses, os mosteiros vo se

    constituir como pontos de cristianizao dos locais onde se instalam. No sculo III,

    esses monges vo se tornar missionrios em regies pags como a Germnia.

    No que se refere a atuao dos papas, o texto destaca o papel de Gregrio

    Magno (590-604). Entre os mtodos de evangelizao e as instrues dadas aos

    missionrios, estavam a destruio de dolos, construes de altares, instituio de

    festas catlicas em detrimento das festas pags, etc. O prprio papa, porm,

    reconhecia a impossibilidade de suprimir todos os hbitos pagos, tratando-o como

    um processo lento, gradual.

    As fontes utilizadas pelo autor, colocam em questo a impossibilidade de se

    avaliar de forma precisa os resultados das converses, optando por analisar de queforma territrios como a Inglaterra, a Glia e as regies germnicas foram

    influenciados pela evangelizao. Um contexto de frequente eminncia de prticas

    pags e constantes conflitos polticos dos estados e diferentes reinos, que

    dificultavam o trabalho das misses em algumas regies.

    Essa atmosfera de instabilidade seria o cenrio de anlise que vai integrar os

    aspectos transformadores sobre os quais se estabelecem as relaes Igreja e

    sociedade brbara.Em um perodo de brutalidade e anarquia moral, a Igreja teria se tornado o

    nico refgio da santidade, da cultura e dos valores cristos. A formao dos

    Estados brbaros teria se colocado como um obstculo ao papel importante que a

    Igreja vinha assumindo no Imprio, a partir de uma organizao da Igreja de

    centralizada.

    As estruturas administrativas das Igrejas, que passam a se constituir dentro

    dos reinos, deslocam o centro da vida eclesistica, tornando-as frgeis e

    destruindo as instituies eclesisticas anteriores.

  • 7/25/2019 Resenha - A igreja e os brbaros.pdf

    4/5

    Com o contato e aproximao cada vez maior com a sociedades brbaras, o

    clero teria perdido sua dignidade e cultura e encontrava-se ameaado moralmente,

    pelo clima pago que teria se espalhado por toda parte.

    A Igreja que passava a ser a nica a manter a educao nas escolas, o fazia,

    nesse novo contexto, em nvel muito baixo. Os erros gramaticais, da falta de cultura

    ou de conhecimentos teolgicos seriam evidncia de como os eclesisticos haviam

    sido contaminados pelos costumes e pela cultura pag, compartilhando de sua

    ignorncia.

    Os mosteiros passam a ocupar lugar de destaque na transmisso e

    conservao de muitas obras da cultura antiga, colocando-as a servio da cultura

    religiosa e constituindo-se como grandes centros de estudo. Em lugares como a

    Irlanda e a Inglaterra, a cultura intelectual ir se refugiar exclusivamente nesses

    mosteiros, limitada a gramtica, para a explicao dos textos sagrados e o clculo

    para o estabelecimento do calendrio litrgico.

    O autor compreende, nessas condies o empobrecimento e desvalorizao

    do sentimento religioso e da cultura, de forma pura. As prticas antigas teriam sido

    associadas s prticas pags, como a crena em frmulas mgicas e no poder

    sagrado dos objetos, e as supersties, em um processo de fuso que teriadeturpado os valores e prticas do cristianismo.

    Rich, nesse sentido, caracteriza o perodo em que ocorrem as invases

    brbaras como tempos obscuros,tempos de travas,em que a Igreja seria a maior

    sobrevivente, constituindo-se como o nico porto seguro, quase que como uma

    protetora naturaldessas populaes.

    Em suma, o fim da transio entre Antiguidade e Idade Mdia, marcado pelas

    invases brbaras aparece na obra de Rich, como um processo de ruptura. Umprocesso que teria marcado, o nascimento da cultura medieval, a partir de um

    perodo obscuro, de terror, um conceito que, mesmo de forma mais ampla e indireta,

    aparece ligado a origem do que seria, tambm, a Idade das trevas.

    Referncias Bibliogrficas

    AMALVI, C. Idade Mdia. In: LE GOFF,J ., SCHIMITT,J-C. (coord.). Dicionrio

    temtico do Ocidente Medieval. Bauru: Edusc, So Paulo: Imprensa Oficial do

    Estado, 2002. p. 537-551.

  • 7/25/2019 Resenha - A igreja e os brbaros.pdf

    5/5

    RICHE, Pierre. A Igreja e os Brbaros. As Invases Brbaras. Lisboa: Europa-

    Amrica, 1992.

    Disponvel em: http://pierreriche.free.fr/