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  • Revista frica e Africanidades Ano 2 - n. 7 - Novembro. 2009 - ISSN 1983-2354Especial - Afro-Brasileiros: Construindo e Reconstruindo os Rumos da Histria

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    RESENHA

    Histrias Lusfonas das Margens do ndico: AsMos dos Pretos - Antologia do Conto

    Moambicano1

    Por Anselmo Peres Als

    Doutor em Literatura Comparada (UFRGS)

    Professor-Leitor de Lngua Portuguesa, Literaturas Lusfonas e Cultura Brasileira no InstitutoSuperior de Cincia e Tecnologia de Moambique (ISCTEM)

    E-mail: [email protected]

    No campo dos estudos sobre a LiteraturaBrasileira, uma das linhas de pesquisa maisprofcuas atualmente aquela dedicada aorevisionismo e releitura dos cnones e dahistoriografia consagrados pela crtica. Umexemplo pungente destas atividades deinvestigao pode ser dado pela recentearqueologia literria realizada porpesquisadoras brasileiras ao questionarem ainvisibilidade da literatura de autoria femininaproduzida no Brasil ao longo dos sculos XIXe XX. Ao reavaliar criticamente os motivosque levara excluso das escritorasbrasileiras no sculo XIX, as pesquisasapontam para o fato que foi em funo deinteresses polticos, e no estticos, que asvozes das mulheres escritoras foramsilenciadas e excludas dos manuais, dosdicionrios bibliogrficos e das histrias

    1 SATE, Nelson (organizao e prefcio). As Mos dos Pretos: Antologia do ContoMoambicano. 2 ed. Lisboa: Publicaes Dom Quixote, 2002.

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    literrias no Brasil2.

    Todavia, h de se lembrar que outras naes de lngua portuguesa(como o Timor Leste, por exemplo) apenas recentemente obtiveram oreconhecimento de sua soberania nacional. O estabelecimento do cnoneliterrio de uma nao no apenas um projeto esttico, mas tambm umprojeto poltico, projeto este que est permeado de interesses relativos construo de uma imagem mais ou menos definida da identidade nacional.Fica evidente, assim, o fato de que as naes de recente independnciapoltica (tais como Angola, Moambique, So Tom e Prncipe, Guin-Bissau eCabo-Verde) ainda se encontram em processo de estabelecimento de seuscnones nacionais. Isto pode ser atestado pelo fato de que, fora desses pases,a reflexo sobre as literaturas africanas em lngua portuguesa se d embloco, pensando-se na maioria das vezes em um conjunto de naes africanascujas literaturas so majoritariamente escritas em portugus. Este gesto crticomuitas vezes termina por rasurar diferenas irredutveis entre diferentesliteraturas nacionais africanas3. Entre as obras que realizam esta reflexo embloco, cabe mencionar, a ttulo de exemplo, livros reiteradamente citados, taiscomo Literaturas Africanas de Expresso Portuguesa, de Pires Laranjeira4,Estudos sobre Literaturas Africanas das Naes de Lngua Portuguesa, deAlfredo Margarido5, e Literaturas Africanas de Expresso Portuguesa, deManuel Ferreira6. As reflexes sobre as particularidades nacionais de cadauma dessas tradies literrias vm sendo trabalhada em estudosmonogrficos, nos quais, na maioria das vezes, a ateno central dedicada auma obra ou a um escritor em especial, e no ao corpus de obras de cada umadessas naes em particular.

    Este gesto crtico carrega em si a ameaa de um novo colonialismo, apartir do qual substantivos como angolanidade e moambicanidade passama ser definidos a partir do olhar estrangeiro, em particular da crtica literriabrasileira e portuguesa. Laura Cavalcante Padilha7, ao investigar a ausncia denomes femininos no rol das antologias de literatura africana, apercebe-se destefato:

    Lembrando o fato de o acervo crtico dessas literaturas se ter forjado inicialmentefora da frica - na Europa e nas Amricas, com Portugal e Brasil frente -

    2 SCHMIDT, Rita Terezinha. The Nation and its Other. Revista Conexo Letras. Porto Alegre(UFRGS). Volume 1, nmero 1, 2005 (p. 86-110).3 Pode-se mencionar aqui a importncia da insularidade para a poesia de Cabo Verde e de SoTom e Prncipe, um aspecto com relevncia relativamente menor para lrica das naescontinentais como Angola e Moambique.4 PIRES LARANJEIRA. Literaturas Africanas de Expresso Portuguesa. Lisboa. UniversidadeAberta, 1995.5 MARGARIDO, Alfredo. Estudos sobre Literaturas das Naes Africanas de LnguaPortuguesa. Lisboa: A Regra do Jogo, 1980.6 FERREIRA, Manuel. Literaturas Africanas de Expresso Portuguesa. Lisboa: ICALP, 1987.7 PADILHA, Laura Cavalcante. A Diferena Interroga o Cnone. In: SCHMIDT, Rita T. Mulhere Literatura: (Trans)Formando Identidades. Porto Alegre: Palloti, 1997. pp. 61-69.

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    comeamos por questionar at que ponto o cnone, consagrado por outrasvozes que no as africanas, submeteu-se aos mesmos mecanismos dedominao e poder que sempre tiveram como meta elidir as diferenas, sobretudose o objetivo recortado so questes como as de gnero e raa (PADILHA: 1997,p. 62).

    A preocupao de Padilha, no tocante repetio do colonialismo nogesto hermenutico de avaliao das literaturas africanas se dparticularmente em funo das diretrizes de sua investigao, que dedicaespecial ateno excluso e ao silenciamento das mulheres como produtorasde capital simblico nas naes africanas. A preocupao com o fato de que odiscurso crtico que se ocupa destas produes tem sido de origem exgenaaos contextos de produo aflige tanto os crticos comprometidos comquestes de gnero e raa quanto os prprios escritores africanos. O poetaangolano Jos Lus Mendona, em recente entrevista8, afirmou que Angola um pas onde ainda no existe uma crtica literria audaz e regular. Comrelao ao papel da crtica brasileira na consolidao e legitimao de umcorpus literrio relativo s literaturas africanas em lngua portuguesa,Mendona diz que os crticos brasileiros aplaudem tudo o que se produz aqui[na frica] e lhes chega s mos. Ora, o prprio poeta, o escritor em geral,tambm precisa que se diga em que aspectos pode melhorar sua obra (p. 20).

    neste contexto de discusso que se destaca o trabalho realizado pelasantologias literrias, cujo principal mrito o de organizar uma amostragemdiacrnica destas literaturas freqentemente descritas como emergentes. Nocaso especfico de Moambique, importa destacar o trabalho que vem sendorealizado por Nelson Sate. Em 1989, juntamente com Ftima Mendona,Sate organiza a Antologia da Nova Poesia Moambicana: 1975-19889, dada estampa em 1989. Em 1992, desta vez em parceria com Antnio Sopa,organiza A Ilha de Moambique pela Voz dos Poetas10, uma antologia depoesias versando sobre a mtica Ilha de Moambique, situada ao norte do pas,na Provncia de Nampula. Todavia, seu trabalho de maior flego comoantologizador As Mos dos Pretos, publicado em 2001. O sucesso de seutrabalho junto ao pblico interessado pela literatura moambicana foi tal que,apenas um ano depois de seu aparecimento, j estava a segunda edio vindo lume.

    H, em Moambique, a necessidade de se realizar uma arqueologialiterria que resgate a contstica moambicana, visto que um abundantenmero de narrativas que primeiramente apareceram em jornais e suplementos

    8 MENDONA, Jos Lus. Carlos Drummond continua a fascinar-me. Entrevista concedida revista Poesia Sempre. Nmero especial dedicado poesia de Angola e Moambique. Nmero23, ano 13. Braslia: Ministrio da Cultura, 2006. pp 17-20.9 SATE, Nelson e MENDONA, Ftima (organizao). Antologia da Nova PoesiaMoambicana: 1975-1988. Maputo: Associao dos Escritores Moambicanos, 1989.10 SATE, Nelson e SOPA, Antnio (organizao). A Ilha de Moambique pela Voz dos Poetas.Lisboa: Edies 70, 1992.

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    literrios nunca chegou a ser publicado em livro. Tal como afirma Sate, aspginas literrias, que desapareceram praticamente do nosso panoramameditico nos sombrios anos 90, tiveram uma importante funo no surgimentoe na publicao de poetas e contistas desde sempre. Algumas dasexperincias mais curiosas neste campo advm das publicaes e dossuplemetos culturais dos peridicos (p. 14). O prprio Sate, no prefcio antologia, assinala que foi necessrio remonar s esquecidas pginas doItinerrio, um importante peridico cultural moambicano das dcadas de 40 e50, com vistas a resgatar textos de Rui Knopfli, Ruy Guerra e Virglio deLemos. Cada um destes contistas teve, em As Mos dos Pretos, pelo menosum conto resgatado das pginas do Itinerrio. Pela primeira vez, depois dequase meio sculo, contos como Zampungana, de Virglio de Lemos (1954),A Negra Rosa, de Ruy Guerra (1949) e Lumina, de Rui Knopfli (1949) sopublicados em livo e colocados novamente disposio do leitor.

    A leitura dos contos que compem As Mos dos Pretos evidencia amarca da violncia, da contestao e da denncia como elementosconstitutivos da imaginao literria moambicana. Talvez, nesta vocao parao libelo acusatrio (expresso utilizada por Sate para caracterizar a literaturamoambicana ps-independncia) resida uma das grandes foras da narrativamoambicana. Herdeiro das cicatrizes do colonialismo recente, impossvelpara o escritor moambicano da segunda metade do sculo XX (ou mesmo dosprimeiros anos do sculo XXI) no fazer referncia a presena constante daviolncia na imaginao coletiva dos seus compatriotas. A morte, o assassinatoe o suicdio so temas recorrentes a receber tratamento literrio por parte doscontistas moambicanos, particularmente nas dcadas de 80 e 90, quando aluta pela independncia deu lugar conflitos internos que findam apenas nofinal da dcada de 90. Veja-se por exemplo, contos como Lukutku, deAscncio de Freitas, no qual o personagem-ttulo, aps ver seu filho Zecamorto pela PIDE11, comete suicdio arrancando os prprios testculos com sualmina de barbear, jogando-os aos ps dos milicianos colonialistas e gritando:Toma pra vocs, toma... vocs pricisa, pra matar todo Zeca Lukutku (p. 92).Merece destaque tambm o conto Caringana wa Caringana, de RaulHonwana, no qual a cumplicidade dos chefes tribais moambicanos com otrfico de escravos portugus denunciado de maneira pungente e dolorosa,atravs do ponto de vista de um pai que tem sua filha arrancada da famlia eentregue aos mercadores de escravos.

    Ao longo de suas mais de quinhentas pginas, a antologia realiza uma

    11 A PIDE (Polcia Internacional e de Defesa do Estado) cumpria o papel de polcia poltica emPortugal, realizando violenta represso contra qualquer oposio ao regime salazarista. A PIDEteve uma participao violenta na represso dos movimentos independentistas nas ex-colniasportuguesas. Ainda que no se tenha evidncias oficiais, a PIDE considerada responsvelpelo atentado que resultou na morte de Eduardo Mondlane (ento dirigente da FRELIMO), em3 de fevereiro de 1969, e pela manipulao de alguns membros descontentes do PAIGC, osquais levaram a cabo o assassinato de Amlcar Cabral, em 20 de janeiro de 1973.

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    mostra representativa de trinta e quatro contistas moambicanos. Sate tenta,simultaneamente, conciliar a presena de constistas consagrados, tais comoMia Couto, Paulina Chiziane e Ungulani Ba Ka Khosa, com a de contistas cujaobra foi publicada unicamente em jornais e suplementos literrios, tais comoHeliodoro Baptista. Tal como afirma no prefcio antologia, tambm quisresgatar aqueles que teriam deixado o seu testemunho ficcional nos jornais. a antologia possvel, que reflete, de certo modo, a fico que surge emMoambique (p. 21). Todavia, h que fazer uma ressalva: ao contrrio do quese possa imaginar, os contos reunidos na antologia no possuem uniformidadeno que diz respeito ao requinte do trabalho realizado sobre a linguagem, oumesmo na escolha dos temas a serem narrativizados. Isto pode ser notadoparticularmente em alguns dos escritores contemporneos antologizados, osquais, ao tentar fugir dos scripts narrativos tradicionais, em nome de uma ficosupostamente urbana, no conseguem seno construir relatos prosaicos esuperficiais, por vezes manchados com alguns respingos de crtica social. Taiscontos podem, por vezes, parecer retratos realistas e socialmentecomprometidos do cotidiano maputense, em especial aos olhos do leitorbrasileiro ou portugus; mas para o conhecedor da dinmica social na capitalmoambicana, tais escritos no passam de um inventrio de levianidades, jdiscutidas exausto dentro e fora das instituies literrias e mais graveainda descritas em uma linguagem que carece de status literrio.

    Mia Couto, talvez em funo do reconhecimento internacional que vemrecebendo, acabou por tornar-se um modelo literrio exaustivamente repetidopor alguns escritores que, infelizmente, no conseguem alcanar o mesmorefinamento lingstico do autor de contos memorveis como Rosalinda, aNenhuma, As Flores de Novidade e Oflia e a Eternidade, todos includosem As Mos dos Pretos. Alguns dos recursos estilsticos utilizados por MiaCouto, tais como a transcrio de provrbios tradicionais em sua prosa, areinveno da lngua atravs da subverso da sintaxe-padro do portugusculto, ou o hbil manejo na inovao lexical atravs de inusitadas combinaeslxico-fonticas (como, por exemplo, o verbo nenufarfalhar, em HistriasAbensonhadas12) no so manejadas com tanta habilidade por algunsescritores que comeam a publicar seus escritos depois a partir da segundametade dos anos 90, cujos nomes e escritos esto includos na antologia deSate.

    o prprio organizador da antologia o primeiro a salientar a existnciade alguns desnveis entre os contos, no que diz respeito sua expressoinventiva. Ainda no prefcio, Sate afirma:

    Ao reler alguns dos autores aqui reunidos, ao confrontar-me com tantos outrosque distraidamente no lera, fiquei dividido entre o espanto da descoberta de umaliteratura pujante e a necessidade de valorizao de alguns outros autores queno tm, provavelmente, a mesma expresso inventiva. Mas, sabe-se, uma

    12 COUTO, Mia. Estrias Abensonhadas. Lisboa: Caminho, 1994.

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    literatura no feita s de grandes obras. Pelo que os outros tambm cabem nobojo desta viagem (SATE: 2002, p. 22).

    Entretanto, isso no demrito da antologia, mas sim uma de suasprprias condies de possibilidade. Em seus esforos por realizar o quechamou de antologia possvel, cumpre destacar o trabalho de investigao eseleo realizado por Sate, que obteve, como resultado, uma das maisrepresentativas antologias da prosa moambicana at ento publicadas.Nelson Sate no apenas escava os arquivos literrios das bibliotecasmaputenses, permitindo que contos de autores por vezes esquecidos voltem acircular entre os leitores. Seu permanente dilogo com escritorescontemporneos ligados Associao de Escritores Moambicanos (AEMO)permitiu, inclusive, a incorporao de alguns texto inditos para a antologia,tais como os contos Oflia e a Eternidade e A Confisso de Tobela, ambosde Mia Couto, O Contador dos Dias, de Jlio Bic, ou O Regresso do VovSiquice, de Toms Vieira Mrio.

    Infelizmente, mesmo em tempos de economias e culturas globalizadas,dificilmente o leitor brasileiro ou portugus conseguir encontrar os livros deautores moambicanos que no tenham sido legitimados pelo gosto daseditoras brasileiras e portuguesas. possvel afirmar, sem pusilanimidadealguma, que esta antologia cumprir um importante papel no estabelecimentode parmetros avaliativos para a histria do conto moambicano, da mesmamaneira que possibilitar aos leitores estrangeiros travar conhecimento comautores cujos escritos dificilmente ultrapassam a barreira geogrfica dosoceanos ndico e Atlntico.