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Faculdade Santo Agostinho – FSA
Curso: Bacharelado em Psicologia
Turma: 01N8A – 8º Período
Disciplina: Teorias e Técnicas Psicoterápicas na Abordagem Humanista - Fenomenológica
Professora: Ilana Área Leão
Resenha Crítica
Teresina – PI
2014
Contribuições à compreensão diagnóstica em Gestalt-terapia: o uso do ciclo de
contato como base para uma tipologia gestáltica em diálogo com o DSM-IV-TR, eixo II
O artigo de pós-doutoramento promove a discussão teórica e a ampliação do
trabalho de Perls, em algumas de suas obras, no qual ele utiliza o ciclo de contato, sendo
adaptado no artigo, ao modelo proposto por Ribeiro (2007), como um dos elementos de base
da compreensão diagnóstica. No artigo, o autor levanta a possibilidade do uso do ciclo de
contato como um fundamento para a construção de um referencial tipológico, como parte da
compreensão diagnóstica, defende a importância dessa compreensão diagnóstica como
norteadora do trabalho psicoterapêutico e também discute como uma tipologia gestáltica pode
dialogar com o eixo II do DSM-IV-TR, uma referência universal.
A relação psicoterapêutica tem como um de seus fundamentos a necessidade de que o
psicoterapeuta faça uma compreensão diagnóstica de seu cliente, o que inclui, além de
considerações acerca do que é ou está saudável ou patológico no cliente, as peculiaridades da
pessoa em questão, da sua situação existencial e da maneira como compõe o sentido do que
vive. Ao menos parte desse diagnóstico pode ser fundamentada na concepção gestáltica do
ciclo de contato. O autor defende que no trabalho psicoterapêutico deve haver uma
compreensão diagnóstica baseada em quatro pontos fundamentais: a) o fundo, ou seja, o estilo
de personalidade; b) a figura trazida pelo cliente, sua dor, sua queixa, seu sintoma
identificado; c) a situação terapêutica a cada sessão; d) o campo existencial do cliente. Essa
compreensão diagnóstica, aliada a outras questões, favorece delimitar a possibilidade e, em
caso positivo, a estratégia básica da psicoterapia a ser desenvolvida.
Quanto à compreensão diagnóstica e a personalidade, o autor entende estilo de
personalidade, como uma estrutura que é desenvolvida ao longo da vida através de
ajustamentos criativos que permitem lidar melhor com os estímulos internos e externos
vividos pela pessoa. O estilo de personalidade, que se desenha a partir da herança genética e,
especialmente, das múltiplas relações ao longo do desenvolvimento pessoal, especialmente
nos primeiros anos da vida, tem como função facilitar a lida com a realidade, através de uma
certa forma padronizada de ser e agir. Somente sob circunstâncias muito ameaçadoras esse
estilo pode cristalizar-se, gerando vivências psicopatológicas.
Num processo diagnóstico a compreensão do fundo, quer dizer, do estilo de
personalidade que fundamenta os estilos de relação e que dá sustentação ao sintoma, auxilia
sobremaneira o terapeuta. Uma tipologia eficaz ajuda a compreender as pessoas com a
utilização de certos padrões universais, a partir dos quais se organiza a singularidade de cada
pessoa. Uma tipologia, ao auxiliar um diagnóstico, é uma referência, pois nunca
encontraremos um estilo de personalidade puro e, além disso, duas pessoas com o mesmo
estilo de personalidade podem ser muito diferentes em amplos aspectos da vida. Assim, a
tipologia é uma redução, mas não pode ser um reducionismo.
Uma tipologia bastante utilizada em Gestalt-terapia é o eneagrama (cf Naranjo, 1997 e
2004 e Luca, 2006), uma abordagem que descreve nove tipos de personalidade; outros Gestalt
terapeutas, utilizam-se de uma outra tipologia, baseada no uso do DSM-IV-TR, eixo II (cf
Delisle, 1988, 1999 e 2005; Greenberg, 1998; e Vinacour 1999). O DSM é um manual de
diagnóstico desenvolvido pela APA, a Associação de Psiquiatria Norte-Americana. O DSM,
criado sob uma perspectiva da psicopatologia fenomenológica (Andreasen, 2007), propõe um
roteiro multiaxial, fundado em cinco eixos. O eixo II, o qual trata dos transtornos e dos traços
de personalidade, pode ser utilizado como uma tipologia da personalidade.
Fazendo agora uma menção ao Ciclo de contato, este é um dos conceitos mais
importantes na Gestalt-terapia. O ciclo de contato é uma noção básica em Gestalt,
desenvolvida por Goodman, em sua teoria do self, aonde são distinguidas quatro fases
principais em qualquer ação: o pré-contato, o contato, o contato pleno e o pós-contato.
Apoiado na adaptação do ciclo de contato proposto por Ribeiro (2007), o autor considera oito
etapas para o contato (Ribeiro considera em seu modelo de ciclo de contato nove etapas), a
partir do momento em que a pessoa está aberta, fluida para novos contatos: a sensação, ou
percepção corporal de alguma necessidade; a conscientização dessa necessidade; a
mobilização para atender essa necessidade; a ação proveniente dessa mobilização; a interação
que essa ação provoca; o contato final movido pela necessidade; o fechamento proveniente
desse contato final; e, fechando o ciclo, a retirada, para que novo ciclo se inicie, num processo
sem fim por toda a vida.
Em termos de compreensão diagnóstica, além de se compreender, a partir desse
modelo de ciclo de contato, como se dá o contato, pode-se compreender também como se dão
as descontinuações desse contato, também chamados de bloqueios de contato ou de
resistências. Assim, a descontinuação para a sensação é a dessensibilização; a descontinuação
para a conscientização é a deflexão; a descontinuação para a mobilização é a introjeção; a
descontinuação para a ação proveniente da mobilização é a projeção; a descontinuação para a
interação é a proflexão; a descontinuação para o contato final é a retroflexão; a
descontinuação para o fechamento proveniente desse contato final é o egotismo e finalmente,
a descontinuação para a retirada é a confluência.
A qualidade da descontinuação sempre será avaliada levando-se em conta a situação e
a história da pessoa, pois o desejável é que, em cada situação em que uma defesa seja
necessária, a pessoa se utilize da descontinuação mais adequada para a situação, não
necessariamente daquela na qual ela tem mais habilidade. A descontinuação pode ser um ato,
um estado ou um estilo de personalidade. Nas três formas ela pode ser saudável ou não, a
depender das circunstâncias.
Para o autor cada um de nós tem um jeito de ser que se repete, com maior ou menor
plasticidade, desde a mais tenra existência até a morte. É o que ele caracteriza como estilo de
personalidade, uma parte da estrutura da personalidade humana. Essa estrutura não é
necessariamente patológica, antes pelo contrário, embora possa, eventualmente, estar
adoecida, quer dizer, rígida, cristalizada, de maneira que, em vez de servir de suporte para
mudanças, serve de barreira e estagnação.
Exemplos de alguns estilos de personalidade: o estilo de personalidade defletor que
descreve pessoas que têm uma tendência, de certa forma, a serem sensibilizadas fortemente
com relação ao ambiente. Assemelham-se, nos critérios do DSM-IV-TR, eixo II, à
personalidade histriônica, na qual é flagrante a base de intensa socialização e horizontalidade.
O estilo de personalidade introjetor é o das pessoas que manifestam descontinuações mais
comumente na etapa da mobilização, imediatamente antes da ação. Assemelha-se, nos
critérios do DSM-IV-TR, eixo II, à personalidade esquiva, nas quais é flagrante a base da
introjeção e da ansiedade (e eventual paralisação) inerente à introjeção. O estilo de
personalidade projetor é o das pessoas que manifestam descontinuações mais comumente na
etapa da ação. Assemelha-se, nos critérios do DSM-IV-TR, eixo II, à personalidade
paranoide, nas quais é flagrante a base da projeção e da desconfiança. Etc.
Para o autor, uma tipologia não busca o patológico, mas a compreensão do jeito de ser,
da maneira como cada pessoa se relaciona consigo mesma e com o mundo, levando na mais
cuidadosa conta que não se pode jamais reduzir a pessoa a seu estilo de personalidade. Uma
compreensão diagnóstica em Gestalt-terapia não busca identificar doenças, mas compreender
como o cliente é, como está vivendo sua vida, como se dá a demanda por terapia, além de
apontar possíveis prognósticos e norte para o trabalho terapêutico.