Resenha Do Texto de Adorno - A Industrial Cultural

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Instituto Federal do Paraná – Campus Paranaguá

Ciências Sociais – Licenciatura em Sociologia – 1º ano

Filosofia Política II – 05/12/2012

Aluna: Katia Monteiro Silva

Atividade: Resenha do texto: A Indústria Cultural: O esclarecimento Como Mistificação das Massas

Nesse capítulo do livro Adorno trata uma questão bastante profunda no que tange a ideologia que permeia os meios de comunicação e a publicidade.

Inicia o texto falando que os setores (rádio, cinema, televisão, revistas...) são coerentes em si e em conjunto, tanto nas manifestações estéticas como nas tendências políticas. Dizendo isso Adorno nos faz refletir a respeito dos padrões estabelecidos, daquilo que se costuma vulgar e contumazmente se apresentar nos meios de comunicação, que constitui para ele “o mesmo louvor do ritmo de aço”, ou seja, uma louvação ao progresso a “evolução”.

Menciona que até na arquitetura um projeto de individuação mentiroso reforça essa ideia de que todos tem seu espaço, sua individualidade, mas que na verdade são enclausurados em “pequenos apartamentos higiênicos” idênticos destinados a perpetuar essa falsa ideia.

Para ele o macro e microcosmo são continuidades imperceptíveis devido ao plano ideológico, que paradoxalmente, é gestado pelos meios de comunicação, com a intenção única de vender e perpetuar a cultura do lucro acima de qualquer coisa. Como fazer isso? Pela própria inserção de padrões, padrões que segundo o que querem fazer pensar são estabelecidos pela própria clientela a quem eles se destinam, “...o recurso aos desejos espontâneos do público torna-se uma desculpa esfarrapada.”, pois é dentro das perspectivas coletadas que busca a indústria cultural alternativas para que o público se assemelhe a ela. Esse é o instrumento da indústria cultural, conhecer o universo a quem ela se destina e usar desse conhecimento para manipulá-lo de acordo com os seus interesses.

Numa tentativa de nomear os mais poderosos níveis dessa indústria, o autor cita os setores do aço, petróleo, eletricidade e química. Segundo ele são esses segmentos as molas propulsoras da indústria cultural, que ditam as necessidades mais “prioritárias” da sociedade em favor da venda de seus serviços. A esses setores somam-se então outras unidades menores que constitui uma “...unidade implacável da indústria cultural...” unidade em formação política.

Essas ideias de diferentes padrões fazem com que “espontaneamente” o sujeito seja levado a escolher uma das categorias já implantadas, “As vantagens e desvantagens que os conhecedores discutem servem apenas para perpetuar a ilusão da concorrência e da possibilidade de escolha.” Na verdade a televisão, o rádio e o cinema também têm tendências uniformizantes, no sentido de inter-relacionar a palavra, a música e imagem

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fazendo com que facilmente o objetivo de venda seja contemplado por todos os sentidos e vendido “democraticamente”.

Até no lazer Adorno percebe essa unificação caracterizada pela indústria cultural, “ clichês prontos para serem empregados arbitrariamente aqui e ali e completamente definidos pela finalidade que lhes cabe no esquema. Confirmá-lo, compondo-o, eis aí sua razão de ser. Desde o começo do filme já se sabe como ele termina...”

Essa totalidade deu fim a particularidade da música isolada, da nuance da cor numa tela, da penetração psicológica do romance, enfim, não há necessidade de esforços para ver além do que está posto, ou simplesmente deixar-se levar pela imaginação. Essa indústria funciona como “facilitadora” voraz da criatividade, como forma de conduzi-la a seus caminhos, não mais os caminhos que potencialmente poderiam ser desenhados. Isso faz com que tudo que fuja a determinação dessa totalidade seja considerado sem relação a ela “a chamada ideia abrangente é um classificador que serve para estabelecer ordem, mas não conexão.” Funciona como filtro, estabelecendo o que é verdade do que não é.

A liberdade, portanto, consiste, na indústria cultural, em escolher entre as opções que ela dá “...do proibido e do tolerado estende-se a tal ponto que ele não apenas circunscreve a margem de liberdade, mas também domina-a completamente.” Quando as “necessidades” são satisfeitas minuciosamente esse passa a ser o padrão, então, de competência delas.

Essa submissão ao estilo da indústria cultural remete um valor ideológico de obediência que transcende as vias culturais, reflete os modos de produção as relações sociais, emocionais, etc. E só se sobrevive nesse contexto quando “... não se seja demasiado inflexível e se mostre que é uma pessoa com quem se pode conversar. Quem resiste só pode sobreviver integrando-se. Uma vez registrado em sua diferença pela indústria cultural, ele passa a pertencer a ela assim como participante da reforma agrária ao capitalismo.” A paga para quem destoa é sentir-se estrangeiro no lugar de origem.

Essa ratificação de demandas acaba também por proporcionar harmonia, pois dá a sensação de que quem destoa é arrogante, pois “democraticamente” a cultura é oferecida a todos. Essas demandas sendo estabelecidas como negócio acabam por tornar a diversão como um prolongamento do trabalho, com a intenção de adaptar os sujeitos através da imensa quantidade de diversão organizada. A diversão ao invés de se tornar fonte de prazer revela-se na utilidade para o sujeito de estar informado, mas não para se tornar um conhecedor, mas para conquistar prestígio.

Nessa diversão se vê cenas de injustiças, perdas, sofrimentos que introjetadas acabam por acostumar quem assiste ao fato de também passar por isso com certa resignação e corriqueiralidade. “O prazer com a violência infligida ao personagem transforma-se em violência contra o espectador, a diversão um esforço.”

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Mas não é só isso, é indústria cultural é uma espécie de refúgio onde se passa algumas horas observando a vida que “nunca” se terá. “A obscuridade do cinema oferece a dona-de-casa, apesar dos filmes destinados a integrá-la, um refúgio onde ela pode passar algumas horas sem controle, assim como outrora, quando ainda havia lares e folgas vespertinas, ela podia se pôr a janela para ficar olhando a rua.”

A paga por essas horas de “prazer” disfarçado de tortura é a total alienação e transferência de humanidade “O riso torna-se nela meio fraudulento de ludibriar a felicidade.” Segue-se pensando como a indústria cultural deseja (em função exclusiva do lucro), perpetuando a condição de opressão, pois a hegemonia do pensamento do negócio e a corroboração da reificação, feita por quem recebe a ideologia prontamente sem questionar, acabam por perpetuar a condição hegemônica da indústria cultural ad infinitum.

Alimentando uma situação de impotência e improbabilidade, diante das situações colocadas pelos meios de comunicação o indivíduo acomoda-se a sua situação de passividade em relação à construção de sua história, atribuindo ao acaso uma possível ascensão social, cultural, econômica, etc.. Observa-se muito isso hoje quando é perguntado as crianças e adolescentes o que eles querem ser quando crescer, a resposta em sua grande maioria reside, num contexto brasileiro, no desejo de serem jogadores de futebol, atores, atrizes ou então um fenômeno muito mais desprovido de identidade, de sentido, a tal celebridade, isso quando não desejam ser cópias fieis de seus ídolos. Os referenciais baseiam-se em sua esmagadora maioria naqueles proporcionados “democraticamente” pela indústria cultural. Ela tira, arranca sem nenhum escrúpulo as infinitas possibilidades do indivíduo ser aquilo que potencialmente pode ser. Todo o esforço em ser original, é levado, então, a se pensar, ser inútil diante da “grandiosidade” do universo “superior” que a indústria cultural promove.

O “acolhimento” proporcionado por essa sociedade também é exaltado. Nela “Ninguém é esquecido, todos estão cercados de vizinhos, assistentes sociais... que intervêm bondosamente junto a cada pessoa para transformar a miséria perpetuada socialmente em casos individuais curáveis, na medida em que a depravação da pessoa em questão não constitua um obstáculo.” Ela (indústria cultural) pândega incentiva: naveguem na piscina!

Um aspecto também nocivo detectado pelo autor, numa tentativa da indústria cultural em absorver as individualidades, são as produções em série, segundo ele elas produzem um recalcamento. O recalcamento oprime, perpetua os padrões e a esse fenômeno refere-se dessa forma: “ Toda a voz de tenor acaba por soar como um disco de Caruso...”.

Durante todo o texto o autor estabelece uma analogia com as improvisações jazzísticas que apesar de terem esse nome, pois dão a impressão de espontaneidade, no fundo, seguem a sincopagem para poder denotar harmonia. Esse, segundo todo o texto, é o sentido da indústria cultural, ligar os diferentes setores de influência, meios de comunicação, com a intenção de estabelecer padrões, nos quais os indivíduos veem suas liberdades contempladas pelo simples fato de serem oferecidas para eles opções. Mas opções que se refletem num espaço bem delimitado de ação

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conduzindo de maneira vil todos a um uníssono ultrajante de individualidade padronizada. Um paradoxo aceito em função de certa democracia.