Resenha livro juan manoel sánchez ron

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Capítulo X do livro de Juan Manoel Sánchez-Ron

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Resenha: EI Siglo de la Ciência, Capítulo 10: Ciencia y naturaleza: la importancia de la química

Jailson Alves dos Santos1

O livro do Sánchez-Ron aborda o século XX, referindo-o como o século da ciência. Para essa

resenha, limito-me a escrever sobre o capítulo 10, o qual discute a importância da química na solução

de problemas ambientais. A tese central do autor nesse capítulo, ademais, como em todo o livro, é de

que o conhecimento das ciências naturais nos auxilia a compreender a natureza dos problemas

científicos e tecnológicos e pode prover soluções para corrigir os impactos ambientais causados pelo

uso de produtos tóxicos, como é o caso do DDT.

Para o autor, no século XX foi um dos momentos mais impactantes negativamente na natureza

pela ação antropogênica, uma vez que o uso de produtos químicos em larga escala foi amplamente

difundido, como parte da solução de problemas agriculturais para produção de alimento. Alguns dos

problemas ambientais causados ou pelo uso de produtos químicos como adubos e pesticidas, ou

como pelo uso de energia com combustíveis fósseis levaram a um desequilíbrio ambiental muito

maior que os séculos anteriores. Dentre os impactos mais significativos estão: o efeito estufa, a

poluição atmosférica, a chuva ácida, o derramamento de petróleo, o buraco na camada de ozônio, o

desmatamento, a desertificação. E como conseqüência desses impactos, 1 espécie desaparece a cada

4 horas nas selvas tropicais, muitas delas sequer tendo sido conhecida pelo homem. No ano 2000

foram computados que cerca de 50 mil espécies tenham desaparecido. Mas o uso indiscriminado de

produtos químicos e seus impactos afetam também o homem, principalmente com o aparecimento

ou aumento da incidência de câncer, dentre outros graves problemas de saúde pública.

O autor cita parte do conhecimento acumulado sobre a geologia da Terra, como a teoria da

deriva continental, como parte do conhecimento das Ciências Naturais, admitindo que desse

conhecimento resultam ações que podem salvar muitas vidas, quando devidamente aplicado. Parte

significativa do capítulo é dedicada à exposição das teorias geológicas que explicam porque a terra

tem terremotos e outros fenômenos geofísicos. Na segunda parte do capítulo, o autor analisa o uso

do DDT busca expor a sua tese de que o conhecimento das Ciências Naturais pode resolver para dos

problemas criados pelo próprio homem, a partir da análise do livro “Primavera Silenciosa”, de Rachel

Carson, publicado em 1962. O conhecimento da química levou à produção do DDT. E esse mesmo

conhecimento, exposto a partir do livro citado no qual Rachel Carson denuncia o uso indiscriminado

do DDT, pode ser a saída aos problemas causados. Entre outras ações mobilizadas a partir da

publicação do livro de R. Carson, está a criação de um Comitê para o emprego de pesticidas, sendo

também responsável pela inspiração de um movimento mundial para a conservação da natureza. Para

1 Mestrando do Programa de Pós-graduação em Ensino, Filosofia e História das Ciências – IF/UFBA

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Sánches-Ron, sem o livro Primavera Silenciosa o movimento ambiental não haveria aparecido.

Para um esclarecimento aos não químicos, trago aqui um detalhamento do DDT, produto

denunciado por Raquel em seu livro, já que o próprio Sanches-Ron não o faz, para entendermos o seu

impacto na natureza e no homem. O diclorodifeniltricloroetano (DDT) é o mais conhecido dentre os

inseticidas do grupo dos organoclorados. Neste grupo estão incluídos os derivados clorados do difenil

etano (onde se inclui o DDT, seus metabólitos DDE e DDD, e o metoxicloro); o hexaclorobenzeno

(BHC). Todos estes organoclorados, como são conhecidos, tem uma grande estabilidade, podendo ser

encontrado ainda ativo mesmo 50 anos depois de aplicados. Causam câncer, sendo esse o seu

principal fator de risco aos humanos. O DDT, desde que foi obtido em 1874, e tendo seu uso se

iniciado em 1939, é considerado uma das substâncias sintéticas mais utilizadas e estudadas no século

XX.

O autor refere-se ao capítulo 3 do livro de Carson, no qual ela denuncia que pela primeira vez

na história do mundo, todo ser humano está em contato como produtos químicos perigosos, e esse

contato vai desde a sua concepção até a morte. Em geral, conforme a autora, a contaminação se dá

pela grande difusão que sofre esses produtos químicos, uma vez que são utilizados no solo, onde

acabam contaminando rios e lagos; ou difundidos pelo ar, nesse caso, alcançando grandes áreas. Para

Sánches-Ron, esse processo de produção e uso de produtos químicos sintéticos, quer dizer,

produzidos pelo homem, que em sua maioria não são encontrados na natureza, é filho da II Guerra

Mundial. Vou aqui discordar do autor, uma vez que podemos recuar um pouco mais no tempo e dizer

que esses processos são filhos da I Guerra Mundial, referida por muitos autores, como a Guerra dos

Químicos, onde se utilizou amplamente a pólvora (dinamite) para ataques às tropas inimigas. Acredito

que aqui o autor faz referência especificamente ao uso do DDT, uma vez que apesar da sua

descoberta no século XIX (1874), só foi “redescoberto” em 1939. Em 1948, Möller recebeu o Prêmio

Nobel de medicina pela descoberta da alta eficiência do DDT em matar diversos artrópodes. Foram

produzidos 30 milhões de toneladas do DDT nos anos 30 do século XX. Sánches-Ron utiliza o caso do

DDT e outros desenvolvimentos científicos e tecnológicos para assinalar o caráter ambivalente das

ciências, contrariando a suposta neutralidade do saber e fazer científicos, para ele “los cañones no

matan a La gente, no hace la gente”. Ele pergunta: chega a ser uma surpresa que uma sociedade que

fabrica um canhão o acabe utilizando? E argumenta que uma verdade abstrata pode esconder uma

mentira concreta. No entanto, é precisamente dentro do argumento da ambivalência da ciência que o

autor analisa o uso do DDT, uma vez que em razão do seu uso com fins medicinais para combater um

surto de tifo na cidade de Nápoles e em outros locais, poupou milhares de vidas; e continuaram a

utilizá-lo para combater o seu vetor, o piolho. A descoberta da toxicidade do DDT, denunciada por

Rachel Carson no seu livro Primavera Silenciosa é uma face de como o conhecimento científico pode

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combater as mazelas geradas por uso indevido desse mesmo conhecimento.

Outro problema levantado pelo autor é o buraco na camada de ozônio. Essa camada é uma

proteção natural contra os raios ultra violeta (UV) oriundos do Sol. Reações de decomposição e

síntese do ozônio acontecem desde a formação da atmosfera da Terra. No entanto, o uso de

compostos produzidos pelo homem, afetam esse equilíbrio (decomposição/síntese), deslocando-o

para o lado da decomposição, onde grandes quantidades de ozônio são destruídas pela molécula CFC.

O Clorofluorcarbono (CFC, como é mais conhecido) é muito estável, podendo destruir

aproximadamente 100 mil moléculas de ozônio. O resultado é que forma-se um buraco na camada

protetora da Terra, que passa a receber muito mais calor (em forma de raios UV). Esse calor causa

desequilíbrio em muitos outros sistemas, como correntes marinhas, geleiras polares, etc, afetando

por fim o homem. Mais uma vez a solução para isso está no conhecimento científico, que pode prover

soluções adequadas ao problema, como a criação de propelentes que não sejam à base de CFC.

O autor finaliza o capítulo alertando para a importância da química, tratada aqui. Ele considera

que vivemos rodeados de química, com produtos como PVC, PET e outros polímeros (moléculas

químicas de cadeia longa) da família dos plásticos que fazem parte da vida moderna, portando,

devemos conhecer mais, para que a utilização de produtos químicos nos tragam mais benefícios que

prejuízos, ainda que esta não tenha sido agraciada com revoluções epistemológicas como a biologia

molecular ou a mecânica quântica, ela não é menos importante, e justificaria conhecê-la dada a sua

presença no nosso cotidiano e o impacto que causa o seu uso.