Resenha 'Meditações Cartesianas' - Pags 142-154

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Parágrafo 56. A constituição dos graus superiores da comunidade intermonádica. Husserl inicia comentando que o grau mais baixo e primeiro de comunidade que se faz entre eu e os outros, como mônadas, foi estabelecido. Em que os outros se constituem como mônadas para mim de modo puramente apresentativo. Ele diz que a única forma de compreender que essas mônadas possuem valor e sentido para mim é que elas se constituem em mim mesmo como outros. Além disso, só existem com esse sentido e valor através da verificação constante de sua constituição própria, sendo que “são mônadas que existem para elas mesmas da mesma maneira que existo para mim”. Essas mônadas formam uma comunidade, em ligação comigo, mas estão separadas de minha mônada na medida em que não podem vivenciar as minhas experiências e vice-versa. Essa separação é uma separação espacial, devido ao “caráter espacial dos organismos objetivos”. Porém, mesmo que cada mônada seja fechada em si mesma, a penetração do outro, através da intencionalidade, não é irreal. Segundo Husserl, “é o ser que está em comunhão intencional com o ser”. Esta é uma comunhão efetiva e é justamente a “condição transcendental da existência de um mundo”. Em seguida Husserl comenta que o que se pretende é traçar as linhas básicas de uma elucidação do grau superior de comunidade. Através de minha mônada, primitiva numa ordem constitutiva, chego às mônadas dos “outros” para mim. Não pela sua oposição e não em relação ao meu ser psicofísico. Comunidade remete ao homem como indivíduo, membro de uma comunidade, o que implica numa existência recíproca. Isso gera uma “assimilação objetivante”. Eu e os outros estamos no mesmo plano, somos “homens entre outros homens”. Se me coloco no lugar do “outro”, por pensamento, entendo que, da mesma forma que ele se encontra em meu campo perceptivo e que o apreendo como “outro”, ele faz o mesmo comigo. Isso ocorre com todos os “outros”, sendo assim, “os homens só podem ser apreendidos ao encontrarem outros homens”. ainda uma outra comunidade, que designamos intersubjetividade, formada no concreto transcendental. Essa intersubjetividade existe “puramente em mim mesmo”, pois existe para mim, através de minha intencionalidade. Pertence de maneira manifesta à essência do mundo que se constitui de maneira transcendental em mim, como quer que seja esse mundo. É minha experiência o que constitui o que é um “mundo objetivo na alma”,

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resumo dos parágrafos 56, 57, 59 e 60 do livro "Meditações Cartesianas' de Husserl

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Pargrafo 56. A constituio dos graus superiores da comunidade intermondica.Husserl inicia comentando que o grau mais baixo e primeiro de comunidade que se faz entre eu e os outros, como mnadas, foi estabelecido. Em que os outros se constituem como mnadas para mim de modo puramente apresentativo. Ele diz que a nica forma de compreender que essas mnadas possuem valor e sentido para mim que elas se constituem em mim mesmo como outros. Alm disso, s existem com esse sentido e valor atravs da verificao constante de sua constituio prpria, sendo que so mnadas que existem para elas mesmas da mesma maneira que existo para mim. Essas mnadas formam uma comunidade, em ligao comigo, mas esto separadas de minha mnada na medida em que no podem vivenciar as minhas experincias e vice-versa. Essa separao uma separao espacial, devido ao carter espacial dos organismos objetivos. Porm, mesmo que cada mnada seja fechada em si mesma, a penetrao do outro, atravs da intencionalidade, no irreal. Segundo Husserl, o ser que est em comunho intencional com o ser. Esta uma comunho efetiva e justamente a condio transcendental da existncia de um mundo. Em seguida Husserl comenta que o que se pretende traar as linhas bsicas de uma elucidao do grau superior de comunidade.Atravs de minha mnada, primitiva numa ordem constitutiva, chego s mnadas dos outros para mim. No pela sua oposio e no em relao ao meu ser psicofsico. Comunidade remete ao homem como indivduo, membro de uma comunidade, o que implica numa existncia recproca. Isso gera uma assimilao objetivante. Eu e os outros estamos no mesmo plano, somos homens entre outros homens. Se me coloco no lugar do outro, por pensamento, entendo que, da mesma forma que ele se encontra em meu campo perceptivo e que o apreendo como outro, ele faz o mesmo comigo. Isso ocorre com todos os outros, sendo assim, os homens s podem ser apreendidos ao encontrarem outros homens.H ainda uma outra comunidade, que designamos intersubjetividade, formada no concreto transcendental. Essa intersubjetividade existe puramente em mim mesmo, pois existe para mim, atravs de minha intencionalidade. Pertence de maneira manifesta essncia do mundo que se constitui de maneira transcendental em mim, como quer que seja esse mundo. minha experincia o que constitui o que um mundo objetivo na alma, sendo um eu que apreende a si mesmo como homem [aqui caberia indivduo]. Experincia com seus horizontes prprios, em que cada homem um ser psicofsico, uma mnada que se pode chegar, mas no qual geralmente no se penetra.Pargrafo 57. Esclarecimento sobre o paralelismo entre a explicitao da vida psquica interna e a explicitao egolgica e transcendental.Husserl coloca esse paralelismo como o fato de que a alma pura a mnada objetivada por ela nela mesma. Ele pontua que, a partir desse paralelismo, toda teoria fenomenolgica transcendental pode se desenvolver num mbito natural, abandonando-se a atitude transcendental. Isso nos leva a uma teoria psicolgica, uma psicologia pura, que estuda a essncia intencional da alma humana. E esta corresponde a uma fenomenologia transcendental, e vice-versa (?).Pargrafo 58. Anlise intencional das comunidades intersubjetivas superiores: encadeamento dos problemas. O eu e seu meio.

Pargrafo 59. A explicitao ontolgica e seu lugar no conjunto da fenomenologia constitutiva transcendental.Husserl inicia o pargrafo comentando sobre as anlises efetuadas (meditaes) que levaram a intuies filosficas fundamentais. Atravs das investigaes de nossas experincias efetuamos a reduo transcendental, para encontrar o ego transcendental, com todas as suas constituies; depois disso, e atravs de uma modificao eidtica, podemos ento encontrar o ego transcendental em geral (?).Esse ego possui uma experincia do mundo que se justifica em sua progresso concordante, como diz Husserl. Atravs das anlises da constituio dessas experincias, pode-se distinguir uma constituio do ego em si mesmo e para si mesmo (que seria sua mnada primordial), de uma constituio de tudo o que lhe estranho, mas estranho a partir das fontes do seu ser prprio. Do conjunto dessas constituies se deriva uma unidade universal, que se efetua em meu ego pelas suas formas essenciais. Existe tambm um correlato, um mundo objetivo que existe para mim e qualquer outro ego; um mundo j presente, formado a cada momento em diferentes conjuntos de atos significantes pelo seu sentido imanente (ou seja, se eu interpretei direito, a partir da inteno que lhe d sentido). Sendo que toda essa estrutura apriorstica. Essa explicitao, consequente da intencionalidade do ego e de suas modificaes eidticas, demonstra que o mundo emprico e objetivo uma necessidade essencial. Husserl nos diz ento que, segundo essas anlises, o problema de uma ontologia apriorstica do mundo real um problema unilateral, e, a fundo, no filosfico. Diz isso pois o a priori ontolgico desse gnero atribui uma inteligibilidade relativa ao fato ntico do mundo, de uma conformidade necessria em suas contingncias, mas no atribui uma inteligibilidade filosfica (que seria a transcendental; exige explicitao sobre necessidades essenciais ltimas). As leis essenciais do mundo objetivo so o que permitem a prpria subjetividade transcendental, elas tornam compreensvel o mundo como sentido constitudo. A partir disso que se podem fazer as perguntas mais elevadas e finais.Husserl argumenta ento que a fenomenologia conduz a uma nova ontologia (atravs de um mtodo de intuies puras), diferente da do sculo XVIII, essencialmente lgica. A fenomenologia conduziu assim construo de cincias apriorsticas e a uma ontologia geral que as envolve.Husserl faz ento uma defesa da reduo fenomenolgica, em que se parte da atitude natural para uma pesquisa puramente intuitiva do mundo a priori, para se explicitar as estruturas essenciais do ser humano e do modo como o mundo se manifesta para ele. Assim, o mundo entendido como a priori s pode ser filosoficamente inteligvel se investigarmos os problemas constitutivos de maneira transcendental, suspendendo ou inibindo a atitude natural. Assim, o que procede da atitude natural deve ser reconstrudo com uma originalidade nova, sendo que tal procedimento, baseado numa intuio eidtica, s pode se justificar porque toda intuio verdadeira tem seu lugar num conjunto coerente da constituio (no sei se aqui ele estaria se referindo s leis essenciais do mundo objetivo). Ele ento defende a fenomenologia como uma filosofia primeira, dizendo que todo estudo ontolgico que trate dos fundamentos primeiros tem um papel de trabalho preparatrio, pois fornece o fio condutor transcendental para o esclarecimento da sua constituio, que seria ento notico-noemtica. Dessa forma, o resultado dessas investigaes podem nos mostrar em que se constitui nossa conscincia do mundo (pela esfera do ser; horizontes notico-noemticos), sendo que sem isso as constataes apriorsticas, nossas percepes na atitude natural, possuiriam um valor limitado e seriam incertas.Pargrafo 60. Resultados metafsicos de nossa explicitao da experincia do outro.Husserl inicia o pargrafo j afirmando que seus estudos fenomenolgicos s podem ser chamados de metafsicos se por metafsica entendermos uma filosofia primeira. Isso porque o mtodo fenomenolgico, com sua apodicticidade e intuio concreta, no permite excessos especulativos. Em seguida, apresenta rapidamente os resultados sobre a experincia do outro. Que seriam: a experincia do mundo do ego s pode se realizar se ele fizer parte de uma comunidade com outros egos, sendo tambm membro de uma sociedade de mnadas. Ele diz ento que a justificao consequente do mundo da experincia objetiva implica uma justificao consequente da existncia de outras mnadas. Assim, no se pode imaginar um mundo em que vrias mnadas, que se comunicam, estejam fechadas em si mesmas. E a simultaneidade das mnadas necessariamente uma coexistncia temporal.Disso pode-se derivar resultados metafsicos posteriores e, ento, Husserl questiona se possvel que existam uma pluralidade de mnadas coexistindo de maneira separada, constituindo um mundo prprio; havendo assim dois mundos infinitamente separadas contendo cada qual seu espao-tempo. Husserl diz que isso inconcebvel. Deixa claro que, embora possam haver ambientes distintos em suas intersubjetividades, as mnadas fazem parte de um mundo objetivo comum. Uma vez imaginada por mim, a outra mnada est em relao comigo, e eu com ela como mnada constituinte. Dessa forma, todas as mnadas fazem parte de uma comunidade intermondica nica, de um universo nico, com um espao-tempo nico; e, sendo verdade que carrego em mim estruturas que suscitam a existncia de outras mnadas, essa natureza unvoca existe de fato. Husserl nos diz ento que os mundos e grupos de mnadas existem reciprocamente em relao anloga a que existe entre ns outras mnadas cujo os horizontes no se podem abrir para ns.Depois disso, Husserl defende a ideia de Leibniz de que, embora seja concebvel uma infinidade de mnadas com seus respectivos mundos, estas no so todas compossveis, no podendo existir todas ao mesmo tempo. Husserl defende essa incompossibilidade argumentando que o fato de eu me constituir como um eu sou j determina a concepo do outro, de outra mnada, como diferente de mim. Alm disso, cada mnada que encontro, com seu valor de possibilidade, determina um universo compossvel (Husserl diz um mundo de mnadas fechado), sendo que dois mundos desses no podem existir ao mesmo tempo.Husserl conclui dizendo que os resultados apresentados, e as pesquisas que os conduzem, podem dar um sentido e valor para o pensamento no tocante s questes metafsicas.