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Ano II - N.° 5 - 23 Set./21 Dez. 2002 – Revista trimestral E 2.50 IVA incluído Cogumelos: fungos em fruto Infestantes: quem pára as danadinhas? Pântanos cheios de vida

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Ano II - N.° 5 - 23 Set./21 Dez. 2002 – Revista trimestral E 2.50 IVA incluído

Cogumelos: fungos em frutoInfestantes: quem pára as danadinhas?

Pântanos cheios de vida

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Sum

ário

16 Fungos à vista

No Outono o Parque Biológico de Gaia orgulha-se deapresentar uma diversidade considerável de cogume-los espontâneos. Rita Serra, bióloga especialista notema, explica de forma acessível até que ponto ocomplexo universo dos fungos é interessante.

28 Museu Rural

Um velho moinho de água convertido em eco-museu,cheio de memórias que os mais antigos ainda recor-

dam com saudade. Hoje, são peças de valor museológico indiscutível eestão ao seu dispor no Parque Biológico de Gaia.

24 Pântanos cheios de vida

Terras encharcadas, os pauis, aolongo da história a maioria foi dre-nada. Hoje reconhece-se a suaimportância para a vida silvestre, enão só!

Revista“Parque Biológico”

DirectorNuno Gomes Oliveira

EditorJorge Gomes

FotografiasArquivo Fotográfico do Parque Biológicode Gaia, E. M.

RevisãoFernando Pereira

MaquetagemORGALimpressores

PropriedadeParque Biológico de Gaia, E. M.

Pessoa colectiva504888773

Tiragem5000 exemplares

ISSN1645-2607

N.º Registo no I.C.S.123937

Dep. Legal170787/01

Execução GráficaORGALimpressoresRua do Godim, 2724300-236 Porto

Administração e RedacçãoParque Biológico de Gaia, E. M.Estrada Nacional 2224430-757 AVINTES – PortugalTelefone: 22 7878120E-mail: [email protected]ágina na internet:http://www.parquebiologico.pt

Conselho de AdministraçãoJorge QueirozFirmino PereiraNuno Gomes Oliveira

Ano II - N.° 5 - 23 Set./21 Dez. 2002 – Revista trimestral E 2.50 IVA incluído

Cogumelos: fungos em frutoInfestantes: quem pára as danadinhas?

Pântanos cheios de vida

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a Té

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a

SecçõesBreves 4Ver e Falar: Saber, fazer, ser 7Colectivismo: Associação dos Amigos do Parque Biológico 9Conservação: Quem pára as dan(ad)inhas? 10Quinteiro: Flora apetecida 12Tradição: Arte de cetraria 20Educação: Educação Ambiental no Litoral 22Flora: Com o pé na água 25Fauna: Um cágado no charco 26Notícia: Animais em perigo 31Registo: Herança colectiva 32Certame: Encontro Nacional de Educação Ambiental 35Colectivismo: Sociedade Portuguesa de Arboricultura 36Espigueiro: Acontece no Parque 37Internacional: Reserva Nacional da Camarga – França 42Ecoturismo: Próximo destino - Inglaterra 43Jardim: Mediterrânicas e aromáticas 44Parágrafo: Ler ajuda a saber 45Infância: O que é cativar 46Foto da Estação 48

Visite o site da revista “Parque Biológico”:http://www.revistaparquebiologico.comE-mail: [email protected]

FOTO DA CAPA

Cogumelo Boletus edulis fotografado porNicolina M. Dias.

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Se o último trimestre do ano não for particularmente

adverso do ponto de vista meteorológico, o Parque

Biológico de Gaia vai ultrapassar em 2002 a meta dos

150 mil visitantes, tornando-se, assim, num dos equi-

pamentos culturais mais procurados de Portugal.

No entanto, quantidade nem sempre – ou quase nunca

– é sinónimo de qualidade. Consequentemente, no

Parque, em lugar de se pretender o aumento de visi-

tantes a qualquer custo, temos procurado que esse

aumento acompanhe a nossa capacidade de acolhi-

mento, em especial no tocante a grupos escolares

organizados.

Por isso se tem procurado nunca ultrapassar os mil

visitantes por dia (excepto nos fins-de-semana) e

induzir as Escolas a uma adequada preparação prévia

das visitas de estudo.

Como as visitas se continuam a concentrar nos meses

de Março a Junho, o Parque lança este ano um PRO-

GRAMA ESPECIAL DE OUTONO-INVERNO (pág. 30), no

âmbito do qual serão oferecidas condições privilegia-

das de visita, nomeadamente com visitas guiadas por

técnicos do Parque, o que é impossível assegurar nou-

tras alturas do ano, devido à grande afluência.

No nosso clima, poucos são os dias, mesmo no pino do

Inverno, em que não é possível efectuar actividades de

ar livre; no entanto, nesse Programa de Outono-

-Inverno foram previstas alternativas para dias parti-

cularmente chuvosos.

Assim, o nosso desafio às Escolas é a organização de

visitas nos meses de Outubro a Fevereiro, contrariando

a tendência para só sair da Escola na Primavera, o que

cria o caos em muitos equipamentos culturais, e pro-

voca uma menor disponibilidade dos técnicos das ins-

tituições para um adequado acompanhamento e apoio

aos visitantes.

Com esta iniciativa, o calendário anual de actividades

do Parque Biológico fica dividido em três grandes uni-

dades:

Outubro a Fevereiro – Programa Especial de Visitas

Outono-Inverno

Março a Julho – Programa Normal de Visitas

Primavera-Verão

Agosto e Setembro – Campos de Férias e Universidade

de Verão.

No próximo número desta revista divulgaremos o pro-

grama “Universidade de Verão” que será, também, um

novo modelo de férias para quem gosta da Natureza.

Nuno Gomes OliveiraDirector da Revista «Parque Biológico»

Administrador do Parque Biológico

e d i t o r i a l

Outono 2002 Parque Biológico 3

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A Estação Litoral da Aguda (ELA) organiza o seu workshop deeducação ambiental no próximo dia 18 de Outubro.

«Educar as populações para a preservação do ambiente, retera ligação dos humanos à terra, contrariar uma independên-cia afectiva entre a pessoa urbana e as suas origens naturaisdeve ser, nos dias de hoje, a linha de força da EducaçãoAmbiental. A lentidão com que se obtém uma efectivamudança nas mentalidades não pode ser obstáculo nem fac-tor de desânimo para quem a promove. Prevalece a certezade que o trabalho agora desenvolvido garantirá no futuro umplaneta habitável e equilibrado».

A data-limite das inscrições é 12 de Outubro e custa, comalmoço incluído, 30e.

Visa sobretudo «promover uma troca de experiências entre osrepresentantes das instituições convidadas e o público».

O programa inclui uma visita ao Centro de EducaçãoAmbiental das Ribeiras de Gaia, em Miramar, a apresentaçãodo Programa de Educação Ambiental no Litoral e visita ao

Museu das Pescas e ao Aquário da Estação Litoral da Aguda.Da parte da tarde, os representantes das instituições convi-dadas farão uma breve apresentação das actividades desen-volvidas.

b r e v e s

4 Parque Biológico Outono 2002

A Estação Litoral da Aguda (ELA) lançou o 2.º livro deuma série dedicada à educação ambiental intitulado«Descobrir a Praia», no passado dia 8 de Julho, na suasala de conferências, que encheu.

Pronunciou-se Poças Martins, presidente do Conselhode Administração da ELA, dizendo, entre outras coisas,que há obras que não estão ligadas a pessoas, mas háoutras que sim. O caso da ELA liga-se a Mike Weber.Gaia dispõe de várias instituições de educaçãoambiental: a 1.ª foi o Parque Biológico, em Avintes; a2.ª foi a ELA; este ano inaugurou-se mais uma, oCentro de Educação Ambiental das Ribeiras de Gaia,em Miramar. Para o ano disse que irá abrir uma outrasob a temática dos estuários.

Falaram também os três autores do livro: Mike Weber,Ana Ferreira e Assunção Santos. Weber anunciou quehá outras obras a aguardarem publicação. Seguiu-seuma sessão de autógrafos.

Estação Litoral da Agudalança novo livro

Há cerca de um ano, na Aguda,decorreu o I Workshop de

Educação Ambiental

II Workshop de

Educação Ambiental

Foto

: JG

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PBG

Os autores na escadaria que dá acessoà sala de conferências

Foto

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ELA

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Outono 2002 Parque Biológico 5

Liga para aProtecção da Natureza

Sociedade Portuguesa para o Estudo das AvesA SPEA informa sobre as actividades que desenvolve até aofim do corrente ano.

Curso de Aves Nocturnas: nos estuários do Tejo e do Sado,em 12/13 de Outubro, com o formador Ricardo Tomé. Cursode Ornitologia: em 26/27 de Outubro, com Paulo Travassos,provavelmente em Viseu. Curso de Identificação dePasseriformes no Inverno: em 28/29 de Dezembro, comGonçalo Elias, em local a determinar. Admitem inscrições até

5 dias antes do início dos cursos, sendo o custo de 33e parasócio e 43e para quem não seja sócio.

A SPEA anuncia também numerosas saídas de campo. Porexemplo, dia 22 de Setembro, Paulo Travassos coordenaráuma em Chaves e dia 20 de Outubro Miguel Cardoso orien-tará a ida à área de Paisagem Protegida de Bertiandos e S.Pedro de Arcos, perto de Ponte de Lima. Todas as informaçõesem www.spea.pt, onde pode obter a ficha de inscrição.

«A LPN é a organização não governamental de ambientemais antiga de Portugal. Fundada em 1948, tem como objec-tivos a conservação do património natural, da diversidadedas espécies e dos ecossistemas».

Para quem aprecia passeios guiados a pé ou em viatura todo--o-terreno, a LPN proporciona em Castro Verde, no Alentejo,visitas de descoberta da natureza, desde que marcadas com48 horas de antecedência (telef.: 217780097). No localfacultar-lhe-ão binóculos ou telescópios, guias de aves e até

bicicletas todo-o-terreno. «De acordo com a época do ano,poderá observar abetardas, peneireiros-das-torres, grous,sisões, cortiçóis, rolieiros, pegas-azuis», entre muitos outrosanimais.

A LPN iniciou este projecto em Castro Verde em 1993, com oapoio do programa comunitário LIFE. Adquiriu terrenos numaárea de 1700 hectares, que gere, e onde executa váriasacções de educação ambiental.

A Ecoteca de Macedo de Cavaleiros abriu ao público eescolas, de 11 a 21 de Junho, no átrio das PiscinasMunicipais, uma exposição denominada «Imagens deAves» da Sociedade Portuguesa para o Estudo dasAves, acompanhada de uma mostra nacional de pro-jectos de Educação e Recuperação Ambiental.

Tratou-se de um conjunto de 30 fotos de espéciesexistentes em Portugal, acompanhado de uma mostrade projectos de educação ambiental para as avesdesenvolvida pelo Parque Biológico de Gaia,Associação PATO (Associação de Defesa do Paul deTornada – Caldas da Rainha), FAPAS (Fundo para aProtecção de Animais Selvagens), Escola EB 2,3 deMacedo de Cavaleiros e Rede Escolas de Olhão, e dosprojectos de Recuperação e Estudo de Aves desenvol-vidos pelo NEPA (Núcleo de Estudo e Protecção dasAves, Universidade de Vila Real e Liga de Protecção daNatureza (Alentejo).

Pretendeu-se com esta exposição sensibilizar para aimportância da conservação das aves e divulgar o tra-balho que tem sido feito nesta área em diferenteszonas do país através de imagens (fotografias e

vídeo), interactivos (CD-ROM, jogos, puzzles), publica-ções (livros e revistas), equipamentos (ninhos e come-douros).

Foi visitada por 23 grupos provenientes de escolas doensino básico de 1.º, 2.º, 3.º ciclos e pré-escolar doconcelho num total de 465 visitantes. De acordo como que ficou registado em documento próprio foi con-sensual ser uma exposição interessante tanto pelainformação transmitida como pela vertente estética.

Ecoteca de Macedo de Cavaleiros

A exposição incluiuobjectos cedidos pelo

Parque Biológico de Gaia

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b r e v e s

6 Parque Biológico Outono 2002

Focando a actual situação da Rede Natura 2000 nospaíses mediterrânicos, especialistas nesta matériaorganizam um congresso internacional no FórumLisboa, de 5 a 8 de Dezembro.

Aludindo à contagem da primeira década de existênciada Directiva Habitats, a Liga para a Protecção daNatureza, com a colaboração do Consejo Ibérico parala Defensa de la Naturaleza, organiza este evento, pre-vendo-se no seu programa quatro temas dominantes:os aspectos jurídicos e políticas de implementação daRede Natura 2000; investigação, gestão e monitoriza-ção dos Sítios da Rede Natura 2000; integração compolíticas sectoriais; e cidadania ambiental e impactessociais.

«A Rede Natura 2000 é uma rede ecológica europeiaconstituída por Zonas de Protecção Especial, criadaspara a conservação das aves e dos seus habitats, aoabrigo da Directiva Aves (79/409/CEE, de 2 de Abril de1979) e por Zonas Especiais de Conservação, criadas

para a conservação dos habitats naturais, fauna e floralistados na Directiva Habitats (92/43/CEE, de 21 deMaio de 1992).

«A Região Mediterrânica da União Europeia incluicinco Estados-membros: Portugal, Espanha, França,Itália e Grécia. Pela sua posição biogeográfica privile-giada e pela sua história, esta região destaca-se poruma notável diversidade de habitats e espécies, apre-sentando relevantes desafios à implementação daRede Natura 2000.

Os objectivos deste certame são «analisar o actualestado de aplicação das Directivas Aves e Habitats nospaíses mediterrânicos da União Europeia, promover olevantamento das dificuldades encontradas na conser-vação dos valores naturais nos sítios já classificados,apresentar casos exemplares de sucesso na conserva-ção de sítios classificados, cooperação e intercâmbiode ideias e conhecimentos». Mais informações:217780097.

Dez anos de Directiva Habitats

Entre 17 e 19 de Outubro, decorre no auditório daFundação de Serralves uma conferência internacionalque reúne simultaneamente um grupo de especialistas,investigadores e profissionais portugueses e estrangei-ros para reflectir «sobre a dimensão filosófica, ontoló-gica e universal do Jardim como uma construção idios-sincrática de referência cultural (...), e das diferentes

metodologias e filosofias aplicadas à sua conserva-ção». Do programa participam autores franceses, espa-nhóis, italianos, ingleses, norte-americanos, alemães eaté polacos, além dos portugueses. «Paisagem: Tempoe Memória» levanta o Jardim como um «arquétipo depaisagem e espaço finito inscrito sobre um território»na dimensão de «uma construção cultural urbana».

Paisagem: tempo e memória

A Directiva Habitats obriga à defesados habitats classificados e propicia aconservação das espécies de flora efauna. Na foto, obtida no ParqueBiológico, um ostraceiro

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v e r e f a l a r

Outono 2002 Parque Biológico 7

«Horta Biológica é o nome de uma prática de ensinoexperimental, no âmbito do ensino especial, desenvol-vida pela Escola EB 2,3 de Grijó em colaboração com oParque Biológico de Gaia.

Ao assumir o compromisso de dinamizar esta expe-riência, todos os que nela se envolveram demonstra-ram a vontade de partir, mais uma vez, em busca denovas formas de concretização de uma prática peda-gógica baseada no saber, saber fazer e saber ser.

De uma forma simples mas rigorosa foi posta em prá-tica uma das vertentes do ensino manual, a agricultu-ra, na sua componente biológica (sem adubos e semquímicos), através da cultura, entre outros, de fava,ervilha, cebola, alho, tomate e batata.

Ao conhecimento foi aliado o desenvolvimento dehábitos de perfeição, que juntamente com o efeitorevigorante e relaxante do exercício, luz solar e arpuro, poderão criar pelo trabalho agrícola uma ape-tência que determinará em muitos jovens a sua esco-lha de ocupação.

Esta nova experiência, entusiasmante quer para osprofessores (directa e indirectamente implicados) querpara os alunos que nela participaram, só foi possívelgraças à total disponibilidade do Parque Biológico de

Gaia na pessoa do seu director Dr. Nuno GomesOliveira, à colaboração da Eng.ª Telma Cruz, de FilipeVieira, assim como outros técnicos. De salientar a ami-zade e disponibilidade manifestada por todos, incluin-do funcionários de manutenção do Parque, nomeada-mente Germano. Também todas as ferramentas eutensílios necessários à execução técnica foram cedi-dos pelo Parque, encontrando-se à nossa disposição naCasa da Eira.

Podemos interrogar-nos: se esta prática resultou, porque não generalizar a experiência?

De entre as possíveis respostas, há uma que nos pare-ce evidente: o ensino manual merece muito mais aten-ção do que tem recebido. Não nos podemos compade-cer com jovens cada vez mais ansiosos por ocuparalguma posição que não exija o trabalho físico. Trata--se afinal de aprender que nenhum homem ou mulherse degrada pelo trabalho honesto. O que degrada é aociosidade, que favorece a condescendência própria,uma vida vazia e estéril».

Ana Paula Granjo (Apoios Educativos)José Carlos Silva (Professor Implementador)Escola EB 2,3 de Grijó

O professor José Carlos Silva envia-nos algumas linhas sobre a horta trabalhada noParque Biológico pelos seus alunos

Saber, fazer, ser

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8 Parque Biológico Outono 2002

«Ouve-se o mar e as aves alvorecem. Gaivotas tolhidasdo frio da noite, garças-boieiras no seu voo titubean-te, estorninhos a fugirem das falésias em pequenos elestos bandos, a dança das gralhas assim que o Sol seergue sobre o mar imenso que se esgota no olhar.

As gaivotas são pontos brancos colados no bastião desaibro lacobrigense, coluna triangular altaneira queainda resiste às forças invernais. Porém, estamos noEstio e, agora, até que as colunas de ar quente se for-mem, as gaivotas poupam forças e deixam que o Solvenha derramar calor.

Garças-boieiras lutam contra o vento e deixam uma auma o dormitório marítimo. Passam perto, asas debatimento frequente, pescoço garceiro curvo, primeirosilhuetas, depois brancas, procuram os campos.

Bandos de estorninhos, ligeiros, procuram a terra, saí-dos das fragas como se tivessem nascido ali, na super-fície prateada do oceano.

Mas as gralhas, essas parecem mágicas: danças a decí-metros da falésia, reclamam domínio. Nasceram donada. Negras, tão negras como a noite que cria o alvo-recer. Dançam, voejam, mergulham sobre o abismo esobem, como se o vento frio ou um toque fatal na águafossem vistos como uma gargalhada.

Os corvídeos aproximam-se. Receosos, sem afectação,devem ter entendido que não somos uma ameaça. Mastodo o cuidado é pouco. Voo curto, estabelecem esta-tuto, em grupo, no grupo, cobrem discretas as encos-tas, e ouço-os falarem entre si – vocábulos ricos,advertências, chamamentos, alarme, voam todas parao baluarte de onde saíram.

Depois, já o Sol se expõe e lança um caminho de luzsobre o mundo prateado do mar, aos grupos as gralhasespalham-se, espalham-se, sem alguma vez desapare-cerem».

Ouve-se o mar, ali na superfície prateada do oceano

Quando o Sol nasceuO leitor Geraldo Brito partilha connosco uma observação estival, ainda com todo osabor das férias

Foto

: JG

v e r e f a l a r

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c o l e c t i v i s m o

Outono 2002 Parque Biológico 9

A Associação dos Amigos do Parque Biológico deGaia foi fundada por escritura pública de 23 deNovembro de 1990. Desde então tem por finalidadeapoiar e divulgar o Parque Biológico de Gaia.

Nos termos do Protocolo celebrado entre a Associaçãoe o Parque Biológico de Gaia, E.M., os “Amigos doParque” têm acesso gratuito ao Parque Biológico,desde que apresentem na Recepção o cartão de sócioválido para o ano em curso. Poderá assim visitar sem-pre que lhe aprouver a maior zona verde de Gaia e umadas maiores da região.

No próximo dia 23 de Novembro haverá um jantar deconfraternização dos sócios da AAPBG, comemorativodo 12.º ano de vida da Associação. Para participar,basta inscrever-se.

Associação dos Amigos do Parque

PROPOSTA DE SÓCIOPROPOSTA DE SÓCIO

Nome:

Morada:

Telefone: Bilhete de Identidade: Arquivo: Data: / /

N.º contribuinte:

Junto envio 15 euros para pagamento da quota do ano em curso e fico a aguardar recibo, cartão de sócio e outra documentação. Enviar para: Amigos do Parque Biológico – 4430-757 Avintes – Vila Nova de Gaia(Inclui entrada gratuita no Parque Biológico)

ASSINATURA

Associação dos Amigos do Parque Biológico de Gaia

Reunião dos Amigos do ParqueSábado, 23 de Novembro de 2002

18h00 - Visita ao Parque

19h30 - Jantar comemorativo do 12.º aniversário da Associação

Jantar (10 euros) com inscrições pelo telefone 227878123

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Mas o que é uma erva daninha? Osagricultores costumam aplicar onome às plantas que rapidamentesurgem para competir e prejudicaras suas culturas de «ervas boas»,leia-se lucrativas. Arbustos tão inte-ressantes como as giestas e as urzes,a carqueja e até o tojo, entre muitas

outras, são plantas próprias doshabitats lusos.

Mas há vegetais que, danadinhos deverdade, foram cultivados pelo serhumano e depois escaparam da suaalçada. Agora percebe-se que émuito difícil controlá-los e, o fogo,se destrói a flora autóctone, é talvez

um dos maiores reforços destas exó-ticas…

À tradescância chamam tambémerva-da-fortuna. Na verdade, sorte,se é que existe, é o que ela menostraz! Proveniente da América do Sul,de aparência inofensiva, hoje ocupainúmeros terraços fluviais do terri-tório português. Nem o nomeTradescantia fluminensis com que osbotânicos a classificaram ajuda natentativa de diminuir os danos quecausa.

Outro caso sério é o da erva-das--pampas. Vinda das planícies sul--americanas, encantou os homenspelas profusas plumas com que flo-resce e se multiplica. Um pouco portodo o lado, é frequente vê-la acolonizar até a margem de estradas,rotundas de terreno inculto, onde,de permeio com outras, ocupamespaços. O rizoma desta planta é umcolosso: na terra, desenterrá-lo sóde tractor.

E quem não conhece o eucalipto?Até eu, em miúdo, trouxe um para oquintal lá de casa, e encantava-mever a velocidade com que crescia aolhos vistos. Pior que isso, hoje écultivado, por vezes com bênçãoadministrativa, em terrenos pobres.Autênticas bombas a sugarem a(pouca) água existente, atacam oslençóis freáticos, e o solo caminhapara uma erosão mais acentuada.

Se este último veio da Austrália, delá vieram também as mimosas e asacácias. Arbustos fofos, a princípio,logo árvores ramificadas sob o solo,potentes, abafam a flora autóctone,

c o n s e r v a ç ã o

10 Parque Biológico Outono 2002

Ervas daninhas do piorio são as que se agrupam na flora exótica. Vindas como plantasornamentais, reveja algumas, sem lhes dar corda…

A beleza das plumas da erva-das-pampas pode vir a ser paga muito caro

Quem pára as dan(ad)inhas?Te

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omes

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de que dependem ecossistemasvários a enlearem fungos, flora efauna, na interdependência própriados sistemas vivos.

Hoje, os estudiosos ponderam: esta-vam tão bem nos seus países de ori-gem... agora é tarde, e os estragossomam pontos.

Os nossos velhos carvalhos e o azevi-nho, por exemplo, perante o fogo,não resistem e facilmente sucum-

bem. Qualquer uma destas exóticasinfestantes recupera rapidamente dofogo e, lesta, preenche áreas da nossaflora, transformando a sua diversida-de numa triste monocultura.

O ser humano tem destas coisas: háagricultores que arrancam as ervasdaninhas, e há outros que as culti-vam. Afinal, para que servem tantosestudos e a própria lei que devedefender o bem comum?�

Outono 2002 Parque Biológico 11

As coloridas sementes do nossojarro-silvestre afogadas pelaerva-da-fortuna (tradescância)

Uma linda mimosa florida.Nas serras, é praga!

O jacinto-de-água veio da América do Sul para os lagos da Europa. O Paul do Boquilobo nem com a ajuda da tropa sevê livre dele…

O poder de regeneração do eucalipto é admirável. Quanto custa issoà nossa flora autóctone?

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q u i n t e i r o

Flora apetecida

«Em Outubro pega tudo», dizia a avó. Camponesa quemigrou jovem para a cidade, transportou com ela ossaberes campestres. Por isso, e na sequência desseritmo de vitalidade, agora que a vestimenta das árvo-res de folha caduca amarelece e cai ao chão, adianta-mos umas dicas para que os leitores dêem a volta porcima no que toca ao leque de espécies do seu quintal:sem que os jardins percam a beleza que devem ter,pode incluir plantas, arbustos e árvores mais à feiçãoda passarada.

O que é nosso é bom!

A flora, ao longo de milhões de anos, evoluiu no esfor-ço de se adaptar o mais possível ao tipo de solo e climada região em que se implantou. Várias espécies, a dadaaltura, começaram a tirar partido do meio e dos ani-mais que interagiam com elas, nomeadamente os quese alimentam dos seus frutos, usando-os, por exemplo,como dispersores de sementes. Em suma, uma teiacomplicada de interdependências relaciona solo, florae fauna, em ecossistemas de evolução contínua, englo-bando os próprios fungos que vivem na terra!

O ser humano é um fenómeno recente na longa histó-ria da evolução que tem quebrado esse equilíbrio, cau-sando alterações demasiado repentinas.

Por isso, se quiser atrair mais as aves ao seu jardim, oideal será refazer a presença das espécies vegetais pró-prias da região, se dispõe ainda de poucas.

Um projecto de jardim autóctone enquadraria bem asaves que queremos apoiar. Neste caso, a árvore eleitapoderia ser o carvalho-roble; bons arbustos: azevinho(fêmea, por causa das bagas que os tordos apreciam),

giesta, urze, carqueja, hera que dá fruto; no caso dasplantas: tomilho, manjerona, alfazema, e até cardos eurtigas.

Daninhas ou danadinhas?

O problema é que algumas destas plantas silvestressão consideradas ervas daninhas, pela sua rapidez decrescimento e propagação. E aí, então como misturá--las com as «domesticadas»?

Uma forma de as controlar seria limitá-las a canteirosperiféricos.

A diversidade é o melhor trunfo. Face ao terreno dis-ponível, o maior número possível de flora amiga dasaves vai ajudar a chamá-las para perto de sua casa.

Depois, tomando sempre em conta o tipo de terra e aárea do jardim, pode optar por soluções mistas, ouseja, preferir espécies autóctones do agrado das aves eescolher algumas plantas e arbustos que, sendo tam-bém ornamentais e porventura até exóticos, lhes sãosimpáticos.

O pequeno relvado aparado, se incluir gerânios, rai-núnculos-amarelos e trevos, é excelente para melros elavandiscas, tordos e estorninhos, que extraem daliinsectos e vermes.

Saltando das raízes para as flores, certo é que o néctardestas atrai insectos, a ementa das aves insectívoras.Das flores surgem os frutos, leia-se sementes, do agra-do das aves granívoras. Se já tem destas plantas nosseus canteiros, mantenha-as; se não, é altura de pen-sar em introduzi-las.

A pervinca agrega insectos e costuma abrigar peque-nos ratos do campo. Os miosótis e os antirrinos ofere-

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12 Parque Biológico Outono 2002

Outubro é uma boa altura para melhorar o seu jardim, na perspectiva de atrairmais aves ao seu quintal

ÁRVORES Tentilhões Verdilhões Pintarroxos Dom-fafes Pintassilgos Estrelinhas Melros Gaios e pombos Trepadeiras Pica-pause lugres e chapins e tordos

Amieiro X X

Carvalho-roble X

Cerejeira-brava X

Faia X X X X X

Freixo X

Macieira-brava X

Pinheiro-silvestre X X

Tramazeira X

Nota: Há aves insectívoras que não foram contempladas neste quadro, mas podem ser atraídas um pouco por todas estas árvores: desde que estas atraiam insectos,atrairão por arrastamento as aves que se alimentam deles.

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cem sementes para os tentilhões. Girassóis e cardos,ásteres e ónagras, escabiosas e centáureas tambémfavorecem as aves.

Não esquecer as margaridas e as petúnias, os cravos eos goivos, as valerianas e as clárquias, as erucas-docese os iberes, as hebes e as budleias.

Arbustos das aves

Começando pelas raízes e percorrendo o arbusto até àponta das folhas, cada espécime funciona como umpuzzle de microbiótopos.

E, se virmos a diferença entre os estéreis muros decimento ou as cercas de arame e uma sebe viva, entãonada melhor do que adoptar a tradicional sebe silves-tre autóctone, com as suas roseiras-bravas, giestas eafins. Esses grupos de flora são o que oferece mais ali-mento para as aves na forma de insectos e frutos. Nãoindo por aí, considere as sebes de teixo, azevinho oualfeneiro, sem esquecer as madressilvas, bérberis e oscardos, já que todos eles são atractivos.

As heras da espécie Hedera helix (já que há outras quenão dão bagas) contam como boas fontes de abrigo –melros, tordos, piscos, papa-moscas, carriças fazem aíninho – e frutificam oferecendo bagas de Janeiro aMarço, para além da cobertura que oferecem a muitosinsectos.

Boas árvores

O carvalho-roble centraliza grande contingente deinsectos e as bolotas são boas para gaios e pombos. Afaia, cujo fruto é outonal, serve os tentilhões, atrai cha-pins e trepadeiras, pica-paus e verdilhões. Anotaram-se225 espécies de insectos que a apreciam. O amieiro,próximo de ribeiros ou lagos, dá sementes para os pin-tarroxos e os lugres. Ao abrigar muitos insectos atrai asaves que fazem desses pequenos animais a sua paparo-

ca, como felosas e piscos. No salgueiro surgem semen-tes outonais e já se contaram 250 espécies de insectosneles. O choupo acolhe mais de 100 espécies de insec-tos. A tramazeira dá bagas e os tordos agradecem. Ofreixo é amigo dos dom-fafes. As cerejeiras e as maciei-ras-bravas vestem-se com os seus frutos, apreciadospor diversas aves. O pinheiro-silvestre contribui compinhões para chapins e estrelinhas-de-poupa, pica-paus e cruza-bicos. O teixo, além de servir como sebepara ninhos, oferece as bagas de que se nutrem algu-mas aves, embora sejam venenosas para animaisdomésticos. A aveleira abriga e gera avelãs.

A lista é grande! Agora, já verificou se a flora do seujardim é das mais apetecidas da passarada? �

Outono 2002 Parque Biológico 13

Uma hera que dê bagas apoia a passarada

Vários estudos destacam: as antigas sebes silvestres sãoas que mais favorecem um maior número de animais

O gaio gosta docarvalho-roble

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É barata, é fácil e poupa em milhões o ambiente. Em vez de adubos químicos, optepelo fertilizante natural

14 Parque Biológico Outono 2002

Aposte na compostagem

A prática da compostagem apresenta-se hoje comouma forma dos cidadãos participarem activamente nosprincípios orientadores do Plano Nacional da Políticade Ambiente, na conservação da natureza e valoriza-ção de resíduos para a estratégia dos 3 r´s (reduzir,reutilizar, reciclar).

A compostagem é uma técnica há muito utilizada nosmeios rurais que permite aos agricultores produzirem oseu próprio adubo para os campos; quem não se lembrade ver pilhas de materiais provenientes de vários locaisda quinta e zona dos animais, (pequenas quantidades dedejectos), para posterior inclusão na terra? Esta técnicaantiga, desenvolvida através dos tempos é actualmenteutilizada por sectores empresariais, por exemplo, em-presas de jardinagem, viveiristas e horticultores paranutrir o solo ou simplesmente corrigir desequilíbrios deuma forma mais ecológica.

A compostagem doméstica, que é uma prática emcrescimento no nosso país (existem já no nosso mer-cado empresas que fabricam e importam compostores,recipientes próprios), serve essencialmente para que,com alguma comodidade, os cidadãos participem maisactivamente na limpeza do meio: já o fazem quandoseparam e levam os resíduos ao ecoponto, mas é pos-sível fazer mais. Ajudar o ambiente e obter um fertili-zante rico e natural. Plantas bonitas e frutos saborosossão a recompensa final.

Há aspectos práticos a considerar, bem como técnicasde compostagem: os detritos orgânicos sofrem umadecomposição aeróbia (fermentação na presença deoxigénio) pela actividade de microrganismos (comlibertação de calor, dióxido de carbono e água), peloque é necessário atender a aspectos como o controloda humidade, temperatura e arejamento para que oresultado final seja um êxito. Eis as principais fases doprocesso de compostagem:

1 – Escolha do recipiente e local.2 – Recolha e selecção dos materiais.3 – Vigilância do processo.4 – O produto final e sua aplicação.

A escolha do recipiente é hoje facilitada, uma vez queexistem no mercado empresas que comercializam estetipo de equipamento. No entanto, a construção do seupróprio recipiente, com um pouco de rede e madeira, étambém viável. O local deve ser arejado (não esqueçaque o oxigénio é fundamental ao processo) e preferen-cialmente protegido do sol.

A recolha e selecção dos materiais deve ser diária comum pequeno balde que deverá ser colocado na cozinhae onde deveremos colocar só determinados resíduos(nunca devemos colocar os restos de comida cozinha-da - consultar a tabela).

Durante a compostagem devemos controlar os seguin-tes aspectos: controlo da temperatura (não deve ultra-passar os 65º, se acontecer deve-se regar moderada-mente o composto); controlo do pH (deve-se situarentre os 5,5 e os 8,5); controlo da humidade (o com-posto deve, principalmente durante a fase inicial doprocesso, ter sempre alguma humidade para que nãosejam comprometidas as fermentações); a avaliaçãoda maturação do composto é feita quando se tomauma amostra com a mão e se verifica os seguintesrequisitos: cheiro a terra (fresco e agradável), cor cas-tanha e granulometria homogénea.

Isto é o suficiente para começar! Caso deseje maisinformações, para tanto basta contactar os serviços doParque Biológico de Gaia.�

q u i n t e i r oTe

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COLOCAR NÃO COLOCAR COLOCAR MODERADAMENTE

cascas de fruta, legumes e hortaliça (cruas) carne e peixe pão

cascas de ovo ossos ou espinhas serradura

borras de café e chá restos de cigarro cinzas

ervas e folhas secas excrementos de animais domésticos caruma

cascas de batata

Compostor de rede

Buraco na terra

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Outono 2002 Parque Biológico 15

Cada vez se torna mais fácil aderir a este «hobby»:olhar as aves silvestres que pululam no jardim. Sãoatraídas com comedouros, bebedouros, plantas e árvo-res apropriadas, ninhos artificiais, etc.

À partida, qualquer pessoa pensa nestes objectos comoalgo caro, que vai trazer despesas desnecessárias. Masé como tudo — há o mais caro e o mais barato.

Por exemplo, o Parque Biológico de Gaia recentemen-te disponibilizou um kit de montagem muito fácil paraum ninho artificial a colocar no seu jardim e umcomedouro de rede. Já vem com as sementes, a redecortada, as tábuas e até pregos apontados! Custa ape-nas 20 euros na Loja do Campo.

Uma óptima forma de passar um bocadito de um dosseus fins-de-semana, com os seus filhos, a montar eaplicar no quintal estas formas curiosas de atrair maisaves para perto de si. �

Não é de navegação que falamos, mas sim do passatempo que se descobre mais acada dia, em Portugal: apreciar as aves silvestres no jardim

De vento em popa

Kit que inclui todos os materiais e instruções para montarcomedouro e ninho para o seu jardim

Os bons projectos estão no meio: antes e depois ficam as boas ideias.Uma delas consiste em criar o Clube dos Amigos das Aves de Jardim.O que é isso?

É simples: quem tem — ou pretende vir a ter — este passatempo (apoiaras aves no seu próprio jardim) contacta a revista Parque Biológico, sec-

ção Quinteiro, que passa a unir os Amigos dasAves. E isso ao ponto de fornecer dados a res-peito deste saudável passatempo.

É facultativo, para cada membro inscrito, asso-ciar-se à Associação dos Amigos do ParqueBiológico.

Que tal? Gostou? Ficamos à espera das suasnovidades, venham elas por carta (ParqueBiológico de Gaia - Revista "Parque Biológico" -4430-757 AVINTES) ou por correio electrónico

[email protected]

Clube dos Amigos das Aves

Chapins num doscomedouros do

Parque Biológico deGaia

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As pessoas reagem de modo diferente a estes intrigan-tes seres: uns têm-lhes medo e não lhes tocam, sequer,outros colhem-nos indiscriminadamente. Mas, nestaestação das delícias, com tanto a descobrir, haverásempre alguém a perguntar: afinal, o que são os cogu-melos?

Na verdade, os cogumelosnão surgem só no Outono.Há mais nos cogumelos doque nós vemos à superfície,e temos muito a aprendercom eles. Tal como paramuitas outras coisas, urgeconhecer para respeitar.

Os cogumelos não são plan-tas. Como plantas, definem--se seres vivos capazes defabricar o seu próprio ali-mento, a partir dos nutrien-tes, da água e da luz solar.Os cogumelos não são capa-zes de o fazer. Pertencem aoreino dos Fungos.

Os fungos, tal como os ani-mais, não são capazes deproduzir o seu próprio ali-mento, por isso, têm de o irbuscar a qualquer lado. Paratal, adoptam diferentesestratégias: alguns estabe-lecem ligações com as árvo-res, chamadas micorrizas(mykes - cogumelo; rhiza -raiz), e as árvores fornecem--lhes o alimento que preci-sam; outros decompõemmatéria morta e chamam-sesapróbios (sapros - decom-posição; bios - vida), comopor exemplo o "cogumelo deParis" que consumimos;outros conseguem alimentoparasitando seres vivos.

Revelam-se capazes de ter todas estas estratégias devida porque são extraordinariamente plásticos: oscogumelos são compostos por filamentos de células,chamados hifas, que se ramificam e espalham, poden-do ter vários quilómetros. No seu conjunto, as hifaschamam-se micélio. Os cogumelos reproduzem-se por

p a t r i m ó n i o

16 Parque Biológico Outono 2002

Fungos à vistaO Outono, a estação por excelência dos cogumelos, é uma estação mágica, demudança. Surgem novas cores nas árvores, as colheitas dão novos sabores, ebrotam novas formas: os cogumelos

Boletus edulis: excelentecomestível. Mas não se

engane!

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partes de micélio que se separam, ou por esporos,células resistentes a condições difíceis, que podem via-jar para muito longe e viver muito tempo, até encon-trarem as condições ideais para crescer.

Tirar a limpo

Então, afinal, o que são os cogumelos? São a partereprodutiva do fungo, onde se produzem os esporos. Setivermos de comparar com as plantas, para se poderimaginar melhor, é como se uma enorme macieira esti-vesse enterrada debaixo da terra, com inúmeros ramosmuito finos, espalhados pelo solo, e nós, cá fora, sóvemos as maçãs, quando chega a sua época. Mas a"macieira", o micélio, está lá todo o ano.

É até possível já ter ouvido dizer que os cogumelos têmmais de dois sexos! O que acontece é o seguinte: os

fungos, para se reproduzirem sexualmente, têm decombinar dois micélios compatíveis. Em muitos fun-gos, existem vários tipos de micélios compatíveis.Nesse sentido, podemos dizer que os fungos têm váriossexos. Quando surge um cogumelo, é porque já houveencontro e fusão de dois micélios compatíveis.

Na floresta

O papel dos fungos no bosque é importante até queponto? Há espécies de cogumelos, como já dissemos,que estabelecem micorrizas, associações com as árvo-res. As árvores fornecem ao fungo alimento, e o fungoestende-se por áreas enormes, funcionando como umaamplificação das raízes, recolhendo água e nutrientespara a planta. São por isso muito importantes, espe-cialmente em solos pobres, para o estabelecimento dasárvores e florestas. Além disso, diferentes árvorespodem estar ligadas pelo mesmo fungo, e trocar ali-mento entre si, numa espécie duma enorme "internetflorestal". As árvores, além de receberem mais nutrien-tes, são mais resistentes a doenças. Ultimamente, tem-se recomendado que não se lavrem ou danifiquem oscogumelos nos soutos, pois os castanheiros resistemmelhor à doença da tinta micorrizados.

Comilões: cuidado!

Estará agora a pensar: que riscos correm os cogumelose quem os come quando se trata da colheita dos mes-mos? Todos os anos se faz a colheita dos cogumelos

Outono 2002 Parque Biológico 17

Pisolithus tinctorius: espécie micorrizal muito usada no estabelecimento de florestas

se o cogumelo for

brutalmente arrancado, e

o micélio ficar exposto,

pode secar, adoecer e

mesmo morrer

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18 Parque Biológico Outono 2002

nas nossas florestas. A forma como se colhem os cogu-melos é importante. Já foi explicado que, na terra, ficaa grande parte do fungo. Mas se o cogumelo for bru-talmente arrancado, e o micélio ficar exposto, podesecar, adoecer e mesmo morrer. Por isso, várias pessoasdefendem que os cogumelos devem ser colhidos comuma faca, para cortar o pé do cogumelo, de modo anão perturbar o micélio. No entanto, o resto do pé quelá fica vai apodrecer, e o colector perde a informaçãodo que estava na base do pé do cogumelo, que podeser crucial para a correcta identificação!

Pessoalmente, penso que o melhor é retirar o cogume-lo cuidadosamente, desprendendo-o do solo e não dei-xar o micélio exposto, cobrindo-o levemente com terraou folhas. De qualquer forma, nunca se devem colhertodos os exemplares dumaespécie num dado local:devem sempre deixar-se osespecímenes mais velhos e osmais jovens. Desta forma,permite-se a propagação epersistência das espécies nolocal, não perturbando dema-siado o ecossistema.

Quem quer comer cogumelos,para além de saber o quecolher, tem de saber como eonde colhê-los, além de sabercozinhá-los. A colheita deveser feita em cestos ou caixasarejadas, que permitam otransporte dos cogumelossem os amachucar demasia-do. Sacos plásticos não sãorecomendados. O tradicionalcesto de vime é um bommétodo. Não se devem mis-turar espécies diferentes nomesmo cesto. Se forem colhi-das espécies venenosas,podem contaminar as comes-tíveis. As espécies venenosastambém têm o seu papel, ealguns compostos medicinaissão extraídos delas, por isso,devem ser igualmente respei-tadas.

Mas, se se comerem cogume-los venenosos, o resultadopode ser fatal. No entanto,também se deve ter cuidadosbásicos, mesmo com os cogu-

melos comestíveis: os cogumelos têm de estar em bomestado, serem colhidos em locais não poluídos e serembem cozinhados (alguns são tóxicos crus mas as toxi-nas são destruídas quando são cozinhados). Em algunscasos, o próprio acompanhamento do prato de cogu-melos é importante: Coprinus atramentarius, porexemplo, é uma espécie que só é tóxica quando inge-rida com álcool, como um bom vinho, por exemplo...

Então, como distinguir os comestíveis dos perigosos?Um micologista uma vez disse: "Todos os cogumelossão comestíveis, mas alguns, só uma vez...". Outrosatribuem à apanha de cogumelos o estatuto dum des-porto radical. Isto não é verdade se se souber o que seestá a fazer. Não há nenhuma característica única quesirva para diferenciar os cogumelos comestíveis dos

p a t r i m ó n i o

Amanita muscaria:cogumelo venenoso

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não comestíveis ou venenosos. Algumas pessoas dizemque cozinham os cogumelos com uma colher de pratae, se a prata não escurecer, é porque o cogumelo sepode comer; outras dizem que só se devem comer oscogumelos já dentados por animais; outros só comemcogumelos sem anel, outros com anel... Tudo isto éfalso. Tal como as plantas, tem de se conhecer as espé-cies. Para isso, é preciso saber observar. Depois de sesaber observar correctamente, existem vários guias nomercado que ajudam a fazer a identificação correcta.Se não souber identificá-las, procure alguém quesaiba. Se não conhece ninguém e não tem a certeza,não coma. Não vale a pena arriscar a vida por um pratode cogumelos!

Para identificar cogumelos, é importante a cor, forma,textura do chapéu, por baixo do chapéu, se têm lâmi-nas (como o "cogumelo de Paris") ou se parece umaesponja, com poros; a forma, cor, textura do pé; se temou não anel; e a base do pé, se têm ou não volva, umaespécie de saco em que está inserido o pé.

Alguns dos cogumelos mais consumidos em Portugalsão os tortulhos, frades ou rocas (Macrolepiota proce-ra), as sanchas (Lactarius deliciosus), e os míscaros(Tricholoma equestre). Muitos boletos (os cogumelosque têm poros em vez de lâminas) são também exce-lentes comestíveis, entre os quais se destaca o Boletusedulis.

Informações mais detalhadas sobre as espécies devemser procuradas em guias da especialidade. Há poucosem português, mas existem bastantes em espanhol,francês e inglês. Antes de fazer a colheita em campo,

aconselho vivamente a fazerem uma colheita naslivrarias...

Para identificar cogumelos, usa-se quase todos os sen-tidos: as cores, a forma, o toque, o cheiro dos cogu-melos é importante. O local onde surgem tambémajuda na identificação. Se está num bosque de bétulas,carvalhal ou pinhal vai encontrar espécies diferentes.

Na história

Há dados curiosos sobre a história do ser humano e dasua relação com os cogumelos. Os cogumelos influen-ciaram o rumo da história de diferentes formas. A his-tória mais caricata é a de um César, um imperador deRoma, que adorava cogumelos, um em particular, quese chama Amanita cesarea. Conhecedores desta fra-queza, serviram-lhe um prato com este cogumelo...juntamente com outros potencialmente mortais...Como é costume dizer-se, pela boca morre o peixe!

Muitas civilizações antigas faziam culto a cogumeloscom propriedades alucinogénicas, os chamados "cogu-melos mágicos". Eram usados pelos feiticeiros em fes-tas rituais. Mas os cogumelos não eram só usados emsituações especiais, eram também usados no quotidia-no. Alguns cogumelos têm propriedades medicinais,conhecidas desde a Antiguidade, e outros servem paraos mais diversos fins, como para fabrico de tintas.

Neste Outono, se visitar o Parque Biológico de Gaia vaipoder encontrar uma grande diversidade de espécies,com toda a riqueza e beleza de formas, tamanhos ecores a que nos habituaram. Mas... neste caso, nãopoderá colhê-los!�

Outono 2002 Parque Biológico 19

Piptoporus betulinus

Texto: Rita Serra, bióloga – Fotos: Nicolina M. Dias

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As aves de presa utilizadasem cetraria em Portugal sãocriadas em cativeiro, sendo asua posse e tutela adminis-trada pela Direcção-geral dasFlorestas e Instituto daConservação da Natureza,que superintende o processode detenção.

Hoje em dia a arte de falcoa-ria só é efectuada em couta-das privadas. Assim não con-tribui para o desaparecimen-to da fauna cinegética emestado selvagem, visto que aspresas das coutadas são ani-mais criados em cativeiro.

Falcoaria é a técnica ou aarte de adestrar aves de rapi-na a caçar animais de peque-no porte no seu habitat natu-ral.

Embora haja controvérsia,defende-se que os primeirospassos da falcoaria aparece-ram há milhares de anos —quando o homem deu formaaos primeiros animaisdomésticos, o cão e o cavalo—, na Ásia Central, naMongólia.

A falcoaria ainda hoje é utili-zada por povos nómadas, denome kirghizes, que habitama oeste das montanhas Altai,entre os rios Ural e Irtich, ecaçam com aves de presacomo, por exemplo, a águia--real na imensidão da estepe.

Com o decorrer do tempo,

t r a d i ç ã o

20 Parque Biológico Outono 2002

Arte de cetrariaAs aves de presa são espécies protegidas. O papel que desempenham na natureza éfundamental para a saúde dos ecossistemas e, se algumas estão extintas ou quaseextintas, como a águia-pesqueira ou a águia-real, é tudo resultante da acção pre-judicial do homem no seu habitat natural

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Falcão Peregrino

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esta arte ancestral apareceu na Península Ibérica, tor-nando-se uma arte muito apreciada durante séculospela nobreza. Eco disso é o culto ainda hoje comemo-rado na Beira Alta. Diz a tradição que um rei visigodo ea sua rainha, que carregava ao colo um filho doente, sedirigiram até um altar numa capela onde se venerava aVirgem Maria, a fim de pedir à Virgem as melhoras dacriança. Enquanto a rainha orava, esperavam no terrei-ro o rei e a sua comitiva. Nessa altura, um pajem quetrazia sobre o punho um belíssimo açor de sua senho-ria, por obra do acaso, deixa o animal levantar voo. Orei, zangado, manda que lhe cortem a mão caso a avenão seja recuperada. O rapaz ajoelha-se e pede cle-mência à Virgem. É então que, para espanto de todos,o irrequieto açor volta ao punho do pajem. A partir daí,os romeiros dirigem-se à capela da Senhora do Açor apedir ajuda...

Mas a falcoaria teve altos e baixos. O seu declíniocomeça com o desenvolvimento das armas de fogo e,mais tarde, com as modificações sociais provocadaspela Revolução Francesa, não chegando nunca a cairem desuso, pois falcoeiros da Holanda e do Reino Unidomantiveram acesa a chama dessa arte tão antiga. Porvolta dos anos 60, com o lançamento do programa dereabilitação e reintrodução de exemplares feridos oufisicamente diminuídos, no seu habitat natural, nosE.U.A., voltou a ter maior expressão.

Em Portugal, onde desde o início da primeira dinastia sepraticava esta requintada forma de caçar, a cetrariasofreu igualmente um declínio rápido graças a crisescomo a originada pela batalha de Alcácer Quibir.Quando, por volta do século XVIII, se quis recuperar afalcoaria de Salvaterra foi preciso contratar mestres defora. Um português — o grande matemático, astróno-mo, pintor e columbófilo —, Constantino Fernandes,falecido em 1920, foi um notável desta arte.

Na actualidade, os precursores da falcoaria portuguesasão Nuno de Sepúlveda Veloso, Alfredo BaptistaCoellho e José Albano Veloso Coelho.

Em falcoaria existem duas modalidades de caça: o altovoo e o baixo voo. Em cada uma caça-se presas dife-rentes com rapinas diferentes. Para o alto voo são uti-lizados falcões; açores e gaviões são os preferidos parao baixo voo.

No alto voo, ou altanaria, o falcoeiro empunha avescomo o falcão-peregrino. Este príncipe das aves decaça pode atingir em voo picado cerca de 300 km/hora;o tagarote, conhecido como falcão-da-barbária, umasubespécie de falcão-peregrino mais pequena e ágil. Foinomeado assim por antigos falcoeiros norte-africanosque afirmavam capturá-los nos rochedos da ribeira de

Tagaros (daí o seu nome tagarote). Estas aves eramideais para senhoras devido ao seu tamanho. Existemainda o Falco cherrug, falcão dos desertos e estepesasiáticas da Europa Oriental e, por exemplo, o falcão--do-árctico (Falco rusticolus), ave considerada uma jóiana Idade Média, pois consegue voar em altitude quaseem linha recta e, ainda, conhecidos na antiga cetrariaportuguesa por "letrados", devido a terem a plumagemtoda branca apenas com pontos negros que parecemformar desenhos de letras, entre outros.

Quando o falcoeiro chega a um espaço aberto, empu-nha a ave e incentiva-a a voar. Já criado em cativeiro,alimentado desde jovem por mão humana, com dietasbastante equilibradas a fim de não haver distúrbios ali-mentares, a ave afasta-se do seu mestre em voos cir-cundantes, deixando sempre o falcoeiro no centro.Assim que descobre a caça começa a pairar sobre ela.Normalmente procura perdizes, patos, lebres e codorni-zes. O falcoeiro, cá em baixo, dá ordem aos cães parabaterem a zona com o intuito de fazer com que a presadê sinal de si. A rapina, assim que vê a presa em movi-mento, desce em voo picado e faz uma caçada fulmi-nante. As fêmeas são as mais desejadas: por terem umporte maior caçam presas maiores. Por fim, a rapinadevolve a peça ao falcoeiro, como lhe ensinaram, eaguarda a sua recompensa.

No baixo voo, ou punho, há o açor (Accipiter gentilis) eo gavião (Accipiter nisus). Neste tipo de voo a ave per-manece no punho enluvado, até que a caça — faisões,coelhos ou pombos — seja descoberta pelos cães. Oaçor ou gavião lança-se num voo veloz até chegar àpresa. Como esta modalidade é efectuada em espaçosmais fechados e densos com árvores, justifica-se a pre-ferência por açores e gaviões, já que são aves bastanterápidas e ágeis.

Estas rapinas são denominadas aves "nobres", distin-guem-se pela rapidez, ao contrário de outras rapinasmais pesadas com um voo mais lento, como, por exem-plo, a águia-real, que são denominadas como aves"ignubeis" e, por vezes, também são utilizadas em baixovoo...

Escreveu em 1616 o célebre falcoeiro Diogo FernandesFerreira que "... as feras se caçam e perseguem comcães mas matam-se a ferro e fogo incitando a fereza ecrueldade. A nossa, das aves e de príncipes, e se fazmuito pelo contrário com amor, prudência e sofrimen-to. Além de ser uma arte de caça espectacular, com bai-xos índices de captura, a cetraria relaciona-se com aprotecção da natureza, a ornitologia e contribui para asalvaguarda de recursos naturais de forma notável eeficiente...".�

Outono 2002 Parque Biológico 21

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e d u c a ç ã o

22 Parque Biológico Outono 2002

Uma boa convivência do homem com a natureza, pro-movida por cidadãos com uma consciência ecológicabem formada, será, mais do que as leis, o garante deque no futuro a espécie humana fará, ao contrário doque hoje sucede, uma gestão adequada do nosso pla-neta com base em padrões de sustentabilidade.

Educar as populações para a preservação do ambien-

te, reatar a ligação dos humanos à terra, contrariaruma independência afectiva entre o Homem urbano eas suas origens naturais deve ser, nos dias de hoje, alinha de força da educação ambiental. A lentidão comque se obtém uma efectiva mudança das mentalida-des não pode ser obstáculo nem factor de desânimopara quem a promove. Prevalece a certeza de que o

trabalho agora desenvolvidogarantirá, no futuro, um planetahabitável e equilibrado.

Estaremos no bom caminho quandoos cidadãos começarem a medir odesenvolvimento das suas localida-des pelos níveis de conservaçãoconseguidos, pela biodiversidademantida e recuperada e não pelosquilómetros de estradas e númerode andares dos prédios lá construí-dos.

Embora a educação ambientaltenha já um longo historial emPortugal e sejam várias as institui-ções que a praticam falta aindafazer com que esse trabalho cheguea toda a gente e, nas escolas, setorne transversal a todos os currí-culos tornando-se uma preocupa-ção de todos os educadores.

A educação ambiental tem, nosdias de hoje, uma importância fun-damental pois se durante séculos oHomem viu na natureza uma fontede recursos, que julgou ser inesgo-tável e tinha pelo ambiente apenassentimentos economicistas no sen-tido de que o planeta era para serexplorado até à exaustão, pretendeagora adquirir uma sensibilidadeque lhe permita conservar a natu-reza.

A mentalidade de uso, e muitas

Educação ambiental no LitoralA educação ambiental assume um papel relevante na formação de uma geraçãomais responsável e consciente das consequências que os seus actos individuais ecolectivos têm para o futuro da Terra

Alguns pescadores participam activamente nas acções

Durante uma actividade de limpeza de praia

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vezes de abuso, da natureza em benefício do Homem,que ainda hoje permanece em largas camadas dapopulação, tem de ser alterada. Para atingir esseobjectivo nada melhor do que proporcionar aos jovensuma educação pela natureza e para o ambiente, quefaça surgir neles uma maneira diferente de olhar o queos rodeia, dando-lhes razões para proteger e conservaro mundo em que vivem.

Muitos dos atropelos que se cometem sobre o meioambiente são provocados por ignorância, mesquinheze ganância, a que não estão imunes os técnicos comresponsabilidades e poder de decisão na gestão donosso território, muitas vezes devido à inexistência nasua formação de noções sólidas de gestão ambiental ede ecologia.

É nesse sentido, e com consciência de que os jovens dehoje serão os técnicos responsáveis de amanhã, que aeducação ambiental é de extrema importância, poisfornece as ferramentas essenciais e a consciência eco-lógica indispensável para que as gerações futuras nãocometam os erros do passado e que ainda hoje infeliz-mente se repetem.

O Programa de Educação Ambiental no Litoral teveinício decorria ainda o ano de 1996, apoiado pelaCâmara Municipal de Vila Nova de Gaia e pelo PRO-NORTE. Depois de uma fase experimental, iniciaram-seoficialmente, em 1997, as acções de educaçãoambiental e o trabalho com as escolas, que se temmantido desde então ininterruptamente.

Em 1999 o Programa de Educação Ambiental noLitoral passou a integrar as actividades do Departa-

mento de Educação eInvestigação da EstaçãoLitoral da Aguda.

Nestes quase seis anosde actividade, realiza-ram-se 223 acções peda-gógicas em que partici-param cerca de 5000pessoas, principalmentealunos de escolas do 2.ºciclo do ensino básico esecundário, mas tambémuniversitários, alunos demestrado e outros gruposde cidadãos. Foram járealizadas mais de 900horas de formação comvárias temáticas, massempre com o mesmo fiocondutor, despertar naspessoas o interesse e o

respeito pelo ambiente e pelas formas de vida no sen-tido de tentar melhorar o relacionamento entre aespécie humana e as demais, que a primeira, comoespécie dita superior, tem a obrigação de defender eproteger.

O Programa de Educação Ambiental no Litoraldesenvolve-se em três áreas distintas embora comple-mentares: Biologia e Ecologia da zona entre-marés,Pesca Artesanal e Dunas. Os percursos são orientadospor monitores/formadores especializados.

Aproveitando as horas da baixa-mar, os participantescontactam directamente com a zona entre-marés, afauna e flora desta zona de interface entre meio mari-nho e terrestre, suas adaptações físicas e fisiológicas.Ouvem, também, explicações acerca de temas como asmarés, a subida do nível médio das águas do mar, oimpacto da pesca e das construções no litoral. Comocomponente mais prática podem ver e manipular noseu habitat natural animais e algas marinhos, medircom equipamento adequado a variação de factoresfísico-químicos da água nas poças-de-maré e inferiracerca das causas dessas alterações.

Seguidamente os participantes têm oportunidade deconhecer a realidade e o dia-a-dia da comunidade pis-catória da Praia da Aguda e de observar as artes eutensílios usados na faina desta aldeia piscatória, umadas últimas a sobreviver na região.

Segue-se uma visita guiada ao Parque de Dunas daAguda. Aí os participantes são informados dos proble-mas que enfrentam as Dunas que ainda subsistemnesta região, da sua importância ecológica e de defe-sa dos bens humanos junto da costa. São tambémesclarecidos dos processos físicos e biológicos subja-centes à formação e consolidação das Dunas e dasparticularidades da sua flora típica.

O Programa termina com uma visita ao Museu dasPescas e ao Aquário da Estação Litoral da Aguda –ELA, onde os participantes podem consolidar osconhecimentos adquiridos durante a manhã. Com efei-to, no museu é possível observar uma colecção deartes de pesca da região e de várias partes do mundo,colecções de anzóis, de conchas e de artefactos dacaça à baleia e outros mamíferos marinhos, bem comominiaturas de barcos de pesca de várias regiões. NoAquário encontram-se inúmeros exemplares de espé-cies da fauna marinha local e reconstituições de ecos-sistemas típicos da nossa costa.�

Texto: Jaime Prata - Fotos: Mike Weber (Estação Litoral da Aguda) -Rua Alfredo Dias, Praia da Aguda, Pt-4405-001 Arcozelo / VNG,Portugal - Tel.: 227536360 ou 227535156, Fax: 227535155,[email protected] - http://www.fundacao-ela.pt

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Acção de Educação Ambiental em plenazona entre-marés

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Nas bordas do paul, entre os passosque damos quase não se vê a terra.Apenas um magro trilho castanhotímido e sinuoso por entre ervasdensas que lutam entre si na sofre-guidão de conquistarem o seu lugarao sol. Depois, uma inclinação e unscaniços são o prelúdio da água, queaparenta uma quietude eterna e seestende em planura perfurada pormaciços de juncos e outras plantastípicas.

Mas são os sons que surpreendem.

Escuta-se uma multiplicidade depiares únicos, alguns bem perto,mas não se vislumbra ser que osproduza. Uns parecem de alarme,outros levam mensagens diferentes,mas todos revelam a presença defauna protegida pela flora dulcia-quícola. Distantes, num esconde--esconde controlado, pequenos ban-dos de patos e galeirões entrevêem--se em descuido permissivo.

É o paul, um habitat dos mais ricos,e esta cena é o denominador comum

da dúzia de pauis que há emPortugal. O nome dos mais conheci-dos fica no ouvido: Paul de Arzila,Taipal, Madriz, Boquilobo, Tornada,Pateira de Fermentelos, Pateira deFrossos.

Com frequência, a maior parte des-tes terrenos alagados foram sujeitosa drenagem, num passado que osentendia imprestáveis, desde quenão servissem o plantio de arroz oua caça.

Hoje, são reconhecidos como áreasde grande importância ecológica,com vantagens tão genéricas comoa de amenizar o clima.

Na presença da água, a biodiversi-dade acelera. E tudo começa nascondições de solos embebidos, deonde arrancam ao ritmo das esta-ções do ano inúmeras espécies deflora sustentadoras de uma faunarica e variada.

Pauis não são sapais. Estes têm rit-mos diferentes e água salobra.Habitates semelhantes, porém dis-tintos.�

h a b i t a t

24 Parque Biológico Outono 2002

Pântanos cheios de vidaNo Outono, os pauis começam a acolher muitas espécies de patos que ali se refu-giam do frio que toma o Norte

Enfrentam diversos problemas os pauis: aqui, plantasde superfície impedem que a luz chegue às demais

plantas, provocando perda de biodiversidadeNestes pântanos é costume abrir-secanais que ajudam a geri-los

Os pauis abrigam e alimentam muitafauna, mas também ajudam a amenizar

o clima da região em que se enquadram

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f l o r a

Outono 2002 Parque Biológico 25

No Outono, assim que a sua espigase desfaz ao vento e solta ínfimas enumerosas sementes, a tabua pare-ce uma planta fracassada que acabade sucumbir irreversivelmente àforça dos elementos. Mas, invisível,o seu rizoma, enfossado na terra,armazenou recursos para rebentarna altura própria. É assim que sedefende do rigor das estações maisfrias, para poder ressurgir, a grandevelocidade, no início da Primavera.

Estas estratégias de evolução reflec-tem o êxito de uma planta vigorosa,verde, que carrega consigo a virtudede ajudar a despoluir água, a exem-plo de outras espécies dulciaquíco-las próprias destes habitates.

É comum vê-la num açude, numribeiro, num lago, num pântano...

Os exemplares maiores podem medirdois metros de altura e é uma espé-cie que aparece até altitudes de milmetros.

Floresce de Junho a Agosto, esfare-lando depois a sua espiga, que soltagrande quantidade de sementes.

Não é costume, mas o ser humano, aexemplo de alguns animais, já a uti-lizou como alimento. Um site fran-cês, por exemplo, afirma que as raí-zes jovens podem ser comidas cruase as demais devem ser cozinhadas,sendo o Outono a melhor alturapara as recolher, momento em quesão mais nutritivas. Mas é evidenteque há outras alternativas mais prá-ticas e úteis, o que possibilita deixaresses maciços de tabua intocados,pois são fundamentais nos ecossis-

temas em que se enquadram, e nãono nosso prato!

A distribuição geográfica destaplanta — Typha latifolia — hoje atin-ge quase todos os continentes: vê--se no Norte de África, na Europa,na Ásia, na América e até na NovaZelândia e na Austrália.�

Com o pé na águaPlanta de crescimento rápido, entre outras qualidades, a tabua é uma espécieimportante no abrigo que proporciona aos ninhos das aves lacustres

A tabua seca e quase desaparece à face da terra no Outono/Inverno, mas na Primavera ressurge cheia de vitalidade

As espigas castanhas são o frutoda tabua

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Já não é nada fácil ver estes cágados. Em Portugal, noCentro e Sul, existem populações escassas e localiza-das. A poluição e a destruição do seu habitat empur-ram a espécie para o vazio. As redes fluviais de pescatambém são um problema, quando os cágados se enre-dam nelas, afogando-se. E há ainda a captura ilegalpara o mercado dos animal de estimação.

Réptil de pântanos, lagos e rios de caudal sereno, ocágado Emys orbicularis foi durante milénios alimentodo homem. Há registo de que o próprio papa autoriza-va, em séculos passados, os crentes a comerem cága-dos durante os dias da vigília (Páscoa), enquantooutras carnes eram proibidas.

Com a chegada do Outono, o metabolismo destes ani-mais abranda. Deixam de se alimentar durante algumtempo e esvaziam os intestinos, caso contrário, asfezes poderiam fermentar neles durante a hibernação.

Estes cágados enterram-se nas margens no sono letár-gico das estações mais frias. Mas se nessa época surge

um dia mais quente, com sol, não deixam de o apro-veitar. Nas regiões em que o Inverno não é rigoroso,podem manter-se activos durante todo o ano. Pareceque apreciam o clima do Sul da Europa, do Norte deÁfrica e do Noroeste asiático.

Este cágado come peixes quando os consegue apanhar,insectos, crias de rato, vermes, larvas de anfíbios, cara-cóis, restos de animais mortos e, em menor escala, fru-tos e ervas.

A postura ocorre de Maio a Julho. As fêmeas deposi-tam entre 3 a 18 ovos, brancos e ovalados, que medemcerca de 4 por 2 cm. Os ovos podem ser predados pormustelídeos, lúcios, ratos e afins.

Hoje, já há quem duvide se a protecção garantida aesta espécie pela lei é suficiente. E, ao que parece, semsalvaguarda rigorosa dos habitats, sem mais investiga-ção, sem um maior acompanhamento das populações,dificilmente se conseguirá conservar este cágado. Seisso acontecer, o património natural empobrecerá.�

f a u n a

26 Parque Biológico Outono 2002

Um cágado no charcoO cágado-de-carapaça-estriada reconhece-se à primeira vista pelos pontos ama-relos que ostenta na pele e pelas riscas radiais da carapaça. É um dos quelóniosmais belos da Europa

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Réptil de pântanos, lagos e rios de caudal sereno, o cágado Emys orbicularis foi durante milénios alimento do homem

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FICHA DE ASSINANTE

Loja do Campo

FICHA DE ASSINANTE

Pode receber em sua casa a revista «Parque Biológico» através de dois processos:

1) enviando o seu pedido de admissão de sócio à Associação dos Amigos do Parque Biológico (neste caso deve preencher a ficha da pág.9 desta revista); ou então:

2) fazendo-se assinante desta Revista pela quantia de 7.5 euros por ano, preenchendo e enviando esta ficha:

Nome:

Morada:

Telefone: N.º contribuinte:

Junto envio 7.5 euros para pagamento de uma assinatura anual da revista «Parque Biológico». Enviar para: Parque Biológico – 4430-757 Avintes

ASSINATURA:

A Loja do Campo quis ficar mais perto dos seus clientes: agora está mesmo ao lado da recep-ção do Parque Biológico e, no Verão, funciona todos os dias das 10h00 às 20h00. O Parquepossui um horto, onde os visitantes podem adquirir plantas e árvores. Telefone: 227878120

Assine a revista “Parque Biológico”

Page 28: Revista 5 - 48 pags

28 Parque Biológico Outono 2002

O rio Febros transformou-se no fiocondutor. As populações, ao longoda história, abeiraram-se da suaágua límpida, das cheias que fertili-zavam os campos, dos muitos peixese outros animais que viviam destecurso de água, afluente do Douro.Regurgitava vida.

Depois, o engenho humano aflorou edeu-se uma miscigenação de técni-cas vindas um pouco de toda a parte,

e cujos vestígios ainda hoje estão àvista ao longo do percurso de desco-berta do Parque! A agricultura criougrão e os moinhos de água, as aze-nhas, instalaram-se para o moer edar farinha. O mercado atraente dacidade do Porto, do outro lado do rioDouro, escoava a produção. A broade Avintes ficou famosa.

Hoje, na área actual do ParqueBiológico de Gaia — 35 hectares —,

contam-se três moinhos: o doBelmiro, o da Cunha de Baixo e o doChasco.

Museu ruralSão exemplos de equilíbrio, de aproveitamento energético, de respeito pela nature-za e pela dimensão do ser humano. Os moinhos de rodízio do Parque Biológico sãoo complemento perfeito do seu próprio eco-museu

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André Morais, conservador do Museu Moinho do Belmiro: mós

O tradicional forno a lenha, comfumeiro e lareira

No Museu Rural, à esquerda o «burro» com cardas e, à direita, uma roca de fiar

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No moinho do Belmiro, o mais espaço-so, funciona hoje o Eco-museu doParque Biológico de Gaia. Ferramentasagrícolas caídas em desuso, charruas,arados, cangas, mós, malhos e um gran-de número de objectos recheiam assalas, facultando lições ricas de como seviveu na região no passado.

André Morais é o conservador do museue apela: «Às vezes há pessoas que dei-tam ao lixo peças agrícolas antigas.Aproveito para pedir aqui que contac-tem o Parque Biológico antes de o faze-rem, porque podem ter interessemuseológico e nós poderemos valorizá--las. Para os alunos das muitas escolasque nos visitam ao longo do ano essesmateriais têm interesse didáctico».

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Alguns dos objectos expostos: em 1.º plano um semeador

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O Parque Biológico de Gaia dispõe de um auditório com a capaci-dade de 220 lugares sentados. Equipado com os mais modernosrecursos audiovisuais, está disponível para eventos que outras ins-tituições queiram organizar nele.Peça mais informações pelo telefone 227878120!

Este programa destina-se a duas turmas (grupo máximo de 50 elementos).

CUSTO POR GRUPO: e 500,00 — Às escolas de Gaia o Parque oferece autocarro para vinda e ida

Caso as escolas gaienses queiram vir em transporte próprio, o custo é de e 375,00 por grupo.

Parque Biológico de Gaia — 4430-757 AVINTES

Telefone 22 78 78 120 — Fax 22 78 33 583

Programa EspecialOUTONO/INVERNO

Nada melhor do que uma visita de estudo logo no início do ano lectivo! E porquê? É um óptimo primeiro passo para professores e alunos se conhecerem bem. Além disso, é umexcelente despertar para os conteúdos curriculares do ano. E como se não bastasse, há sempre o prazerrenovado de marcar encontro com o Parque Biológico de Gaia numa época menos vista... mas com muitopara olhar.

Manhã9:30H – Chegada ao Parque Biológico9:45H – Apresentação do Parque Biológico e exploração do CD-ROM «ÀDescoberta do Parque Biológico»10:30H – Intervalo10:45H – Visita guiada ao Parque Biológico (divididos em 2 grupos de 25elementos cada)12:30H – Almoço no Self-service do Parque Biológico

Tarde13:30H – 1º grupo – Broa (25 elementos)14:00H – 2º grupo – Atelier de construção de ninhos e comedouros (13elementos)14:00H – 3º grupo – Reutilização (12 elementos)16:30H – Prova de broa e convívio17:00H – Regresso à escola

Uma vez que se trata de um programa de Outono/Inverno (Outubro 2002 a Fevereiro 2003),e porque a chuva pode surpreender, damos alternativas para que a visita de estudo não venha a sofrer percalços. Caso chova, a visita guiada ao Parque será substituída com uma visita também guiada à Exposição «Encantos & Desencantos».

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Sob o mote da conservação da natureza, o auditórioquase encheu, na noite de 6 de Setembro, dia em quea edição diária do «Jornal de Notícias» brindou os lei-tores com a caderneta onde os coleccionadores pode-rão lançar as fotografias que forem saindo.

Durante um par de horas, várias personalidades ligadasà conservação da natureza pronunciaram-se sobre ainiciativa editorial deste periódico. Com tal alerta, dealguma forma divulga-se junto do público a necessi-dade de defender a diversidade biológica, o que, comosublinhou na altura Nuno Gomes Oliveira, passa pornão se proteger apenas os animais mas também a florae, em suma, os próprios habitats.

Um dos outros pontos falados foi a vantagem de sereproduzir espécies ameaçadas em cativeiro. Houvequem defendesse que havia que empregar meiosfinanceiros e técnicos nessa meta, mas ficou levanta-

da a ideia de que mais importante do que isso serápreservar as espécies nos seus habitats, onde elas sepossam reproduzir e recuperar de forma natural.

Curioso foi ouvir Paulo Célio do Centro de Investigaçãoem Biodiversidade e Recursos Genéticos (CIBIO), refe-rir que «o coelho-bravo é uma espécie ameaçada emvárias zonas».

A educação ambiental, nas suas inúmeras vertentes,acaba por ser o caminho inevitável. De uma forma oude outra, todos opinaram que esta edição é uma formade contribuir no sentido de que a lista das espéciesmais ameaçadas não se converta na enumeração demais umas dezenas de extinções.

A caderneta «S. O. S. Animais em Perigo» dedica a duasdúzias de espécies uma medalha de prata e uma foto-grafia que vai saindo todos os sábados, entre 7 deSetembro e 15 de Fevereiro.

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n o t í c i a

Animais em perigoO Parque Biológico de Gaia participou no lançamento dacolecção «Animais em Perigo» distribuída em 6 de Setembropelo “Jornal de Notícias”, com o apoio da Quercus –Associação Nacional de Conservação da Natureza

Na mesa: J. Teixeira(CIBIO), João Loureiro(QUERCUS), FredericoMendes (JN), NunoOliveira (Parque Biológicode Gaia), Paulo Santos(FAPAS) e Paulo Célio(CIBIO)

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r e g i s t o

32 Parque Biológico Outono 2002

«Ao longo da minha vida visitei mui-tos países. Em nenhum deles, daAlbânia à Inglaterra, encontrei algocomparável ao Parque Biológico deGaia». Se Almeida Fernandes — ex--director de várias instituições esta-tais de conservação da natureza —,primeiro elemento da mesa a elogiaro trabalho de Nuno Gomes Oliveiraassim o disse, José Manuel Alho, quese lhe seguiu — presidente da Ligapara a Protecção da Natureza —,não esteve com papas na língua eclassificou o Parque como a «cate-dral portuguesa da EducaçãoAmbiental», e destacou: «A inquieta-ção de Nuno Gomes Oliveira não seesgotou no PBG — estendeu-se aosEncontros Nacionais de EducaçãoAmbiental, e à Rede Nacional deEducação Ambiental». Atendendo àpresença de Luís Filipe Menezes,presidente da Câmara Municipal deGaia, Alho comentou que esta edili-dade «se revela uma excepção norespeito pelas obras de educaçãoambiental».

José Paulo Martins, presidentenacional da Quercus, por sua vezafirmou que o «PBG é um exemplode educação ambiental único nopaís, pelo contacto com a naturezaque oferece aos jovens e à popula-ção que o visita».

Apesar do tempo de férias, o auditó-rio encheu. No público, era fácil verpersonalidades conhecidas, como opresidente da Câmara Municipal dePonte de Lima, Daniel Campelo, ouAdelaide Espiga, do Instituto doAmbiente. Mas foram os muitos

Herança colectivaAmbientalista e administrador do Parque Biológico de Gaia, Nuno Gomes Oliveirafoi homenageado no passado dia 27 de Julho. Contando 30 anos de profícuos servi-ços a favor do Ambiente, auditório repleto, na sua palestra o homenageado revelouum projecto inovador: a Fundação Património Natural

A homenagem a Nuno G. Oliveira juntou uma mão-cheia de individualidadestais como Daniel Campelo, presidente da Câmara Municipal de Ponte de Lima

Mesa, da esquerda para a direita: José Manuel Alho (LPN), José Paulo Martins (Quercus),Almeida Fernandes, Manuel Moreira, Luís Filipe Menezes, Nuno Sousa e Nuno Gomes Oliveira

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Outono 2002 Parque Biológico 33

cidadãos anónimos que, de formauníssona, se levantaram para aplau-dir vibrantemente as «Saudades doFuturo», tema apresentado por NunoGomes Oliveira, uma retrospectivados muitos erros ambientais cometi-dos pela maior parte dos gestores doAmbiente acompanhada de solu-ções, de todo urgentes.

Assim que o presidente da Junta deFreguesia de Santa Marinha home-nageou Nuno Oliveira, Luís FilipeMenezes usou da palavra e declaroua confiança que demonstra, «deforma permanente, em Nuno Olivei-ra para liderar o Parque Biológico deGaia, e como representante credíveldo município». Adiantou ainda estarde «consciência tranquila: nestes 4anos consolidou-se o carinho daCâmara de Gaia pelo PBG e pelaEstação Litoral da Aguda, a que sejuntou recentemente o Centro deEducação Ambiental das Ribeiras deGaia, em Miramar. Estamos no bomcaminho. Não quer dizer que nãotenhamos cometido erros, mas se oscometemos podemos aprender comeles».

O último elemento da mesa a pro-nunciar-se foi o governador civil doPorto, Manuel Moreira: «Aprovei-tando a sua catedral (o ParqueBiológico), junto-me à homenagema Nuno Gomes Oliveira», que apon-tou como «um dos melhoresambientalistas do país».

Estiveram presentes diversos órgãosde comunicação social, com desta-que para a NTV que passou nos seustelejornais reportagem sobre oevento, promovido por Maria EmíliaAraújo (FAPAS), José Paulo Martins(Quercus) e José Manuel Alho (LPN).Ocorrendo na véspera do Dia Nacio-nal de Conservação da Natureza,Nuno Gomes Oliveira vê, assim, esti-mado este reconhecimento públicopor 30 anos ao serviço da conserva-ção da natureza, 20 dos quais noParque Biológico de Gaia.

Almeida Fernandes entregaa Nuno Gomes Oliveira umalembrança relativa a estedia de homenagem

Luís Filipe Menezes, presidente da Câmara Municipalde Gaia, junta-se à homenagem

Caminho feito e a fazer:Fundação Património NaturalNuno Gomes Oliveira é Mestre em Ecologia Humana e está ligado à con-servação da natureza desde 1971 (Sociedade Portuguesa de Ornitologia).Fundou o Clube dos Amigos da Natureza em 1973 e, um ano depois, oNúcleo Português de Estudo e Protecção da Vida Selvagem, a segundaassociação de conservação criada em Portugal.

Primeiro vice-presidente do FAPAS é hoje vice-presidente do NúcleoDistrital do Porto da Quercus, presidente da Associação dos Amigos doParque Biológico de Gaia e director da revista «Parque Biológico».Promotor da Reserva Natural das Dunas de S. Jacinto (1979), autor doprojecto Parque Biológico de Gaia que dirige desde 1982, inicia em 1991os Encontros Nacionais de Educação Ambiental.

Em 2002 lança um projecto muito interessante: a Fundação PatrimónioNatural. A FPN já arrancou da estaca zero e vai adquirir e gerir terrenoscom interesse para a conservação da natureza. Morada: Apartado 3070- 4431-801 AVINTES. O site já está em construção:

http://www.fundacaopatrimonio.com

Page 34: Revista 5 - 48 pags

«Roman Gary, em «As Raízes do Céu»*, parecia adivi-nhar um pouco o que eu sinto ao fim de tantos anosde canseiras:

Quantas lutas, quantos esforços, e tudo ficava eterna-mente por fazer, por defender, todas essas raízes vivas,essas ramificações de prodigiosa tenacidade e varieda-de, que deviam ser defendidas sem tréguas... As raízeseram inúmeras e infinitas na variedade e na beleza ealgumas estavam profundamente fixadas na almahumana — uma aspiração incessante para o alto e paraa frente — uma necessidade de infinito, uma sede, umpressentimento, aliás, uma expectativa ilimitada —tudo isso reduzido à dimensão das mãos humanastransformava-se numa necessidade de dignidade.Liberdade, igualdade, fraternidade, dignidade... Nãohavia raízes mais profundas, e, contudo, mais ameaça-das. Nunca transigira com o seu dever de naturalista etodos os que tentavam arrancar essas raízes tinham--no igualmente encontrado no seu caminho. E tudocontinuava por fazer e ele já estava velho... Enfim,

parece que a maldade conserva, pensou ele. Sentiuuma mão no ombro.

— Que é que estás a fazer?

— Estou a explicar a este jovem o que fazemos aqui.Ele não acredita na história da Conservação daNatureza. Não acredita que a Natureza nos interes-sa realmente, que até é tudo o que nos interessa.

Como ao imaginário naturalista do livro «As Raízes doCéu», também a mim a Natureza é tudo o que me inte-ressa, pois a Natureza integra o Homem, e o Homemestará sempre no centro das minhas preocupações».

Abriu assim um tema de uma dúzia de páginas ondefundamenta a necessidade, para a conservação danatureza, da criação da Fundação Património Natural.O texto estará disponível em breve no site destaFundação: http://www.fundacaopatrimonio.com

* Este texto foi ligeiramente alterado: no original, o autor fala na conservaçãodos elefantes africanos e não na conservação na natureza em geral.

34 Parque Biológico Outono 2002

r e g i s t o

Saudades do futuroNuno Gomes Oliveira expôs a sua visão do porvir, sem esquecer o passado: «O futu-ro da conservação da natureza passará pela Fundação Património Natural», disseconvicto

Nuno Gomes Oliveira, alvo de homenagem na véspera do Dia Nacional deConservação da Natureza, pronuncia-se no auditório do Parque Biológico. Dadireita para a esquerda, o homenageado, Nuno Sousa (vereador da CMG), LuísFilipe Menezes (presidente da CMG) e o governador civil do Porto, ManuelMoreira

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Outono 2002 Parque Biológico 35

c e r t a m e

Organizado pelo Instituto do Ambiente, pelo ParqueBiológico de Gaia e pela Câmara Municipal da Maia, oXIII ENEA repete uma tradição anual que proporcionao (re)encontro e troca de ideias entre congressistas.

Sob o mote «Educação Ambiental: o Ambiente e aQualidade», espera-se a participação de cerca de trêscentenas de inscritos.

A decorrer no Fórum da Maia e noutros locais, do pro-grama destaca-se o fórum «Ambiente e Qualidade»,pelas 15h30 do primeiro dia do encontro, bem comovários workshops e percur-sos, nos dias que seseguem. Se os workshopstocam temas como«Música, instrumento paraa educação ambiental» e«Construir projectos deeducação ambiental», já ospercursos elegem, entreoutros, as «Hortas pedagó-gicas e compostagem» ou«Aprender ambiente: reci-clagem multimaterial».

Para sábado, dia 26 deOutubro, quando as activi-dades ocupam o dia intei-ro, aponta-se, sob orienta-ção do Parque Nacional daPeneda-Gerês, uma visita àPaisagem Protegida doCorno do Bico. Alinham deseguida outras hipóteses:

Paisagem Protegida do Litoral de Esposende, ParqueNatural do Alvão, Serras de Pias e Santa Justa (soborientação de técnicos do Parque Biológico de Gaia),Rio Leça – da nascente à foz (Amileça), Da foz doDouro à Ria de Aveiro, e ainda Serra da Freita (PBG).

A leitura das conclusões do encontro está marcadapara as dez da manhã no Fórum da Maia.

Mais informações: XIII Encontro Nacional de EducaçãoAmbiental - Parque Biológico de Gaia - 4430-757AVINTES - telefone 227878120.

Verso da Capa (1 página). . . . . . . . . . 1000 eurosVerso da Contracapa (1 página) . . . . 1000 euros1 página. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 800 euros

1/2 página . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 400 euros1/4 página . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 200 euros1 rodapé. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 200 euros

Somar 19% de IVA aos preços da tabela.Inclui publicação de anúncios a todas as cores. Mais informações através do telefone 227878123 (Sandra Brito) ou através de uma visita pessoal ao Parque Biológico de Gaia.

Anuncie na revista «PARQUE BIOLÓGICO»!TABELA DE PUBLICIDADE PARA 2002

Encontro Nacional deEducação AmbientalDe 24 a 27 de Outubro, a cidade da Maia recebe o XIII Encontro Nacional deEducação Ambiental

Rio Ferreira, na Serra deValongo, onde decorreuma das visitas guiadas

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A Sociedade Portuguesa de Arboricultura, fundada em1994, e desde sempre vocacionada para a problemáti-ca da arboricultura urbana, adquiriu, desde Março de2000, uma presença mais efectiva, impulsionada apartir da constituição de uma equipa de trabalho, aqual viria a dar origem à actual direcção, entretantoeleita em Abril último. A nova direcção propõe-seassumir e continuar os objectivos então delineados,bem como dar seguimento a algumas das sugestõesentretanto veiculadas por vários sócios e intervenien-tes no sector. Temas como: a certificação da profissãode podador de árvores ornamentais e de podador esca-lador, a elaboração da nomenclatura de termos depoda em árvores ornamentais, bem como a divulgaçãode novas formas de abordagem da arboricultura faceaos crescentes problemas de manutenção das árvoresem zonas urbanas, são algumas das preocupações comque a SPA se defronta e relativamente às quais acredi-ta poder contribuir de forma positiva.

A concretização dos objectivos da SPA passa necessa-riamente pela dotação de meios que lhe permitammelhorar a sua capacidade de resposta às necessidadese solicitações dos seus associados, situação que aco-lheu a maior receptividade por parte do ParqueBiológico de Gaia. Com efeito, disponibilizou-se o PBGa prestar um conjunto importante de apoios logísticos,formalizados no protocolo entretanto celebrado entreas duas instituições, em Abril do corrente ano, os quais

contribuirão de forma determinante para a projecçãodo trabalho desenvolvido pela SPA.

Salienta-se com particular destaque a disponibilizaçãode uma página na revista do PBG, de que o presenteartigo é já exemplo, permitindo à SPA comunicar nãosó com os seus associados, como chegar a um públicomais alargado.

I CONGRESSO DA SPA

De entre as iniciativas planeadas para o próximo ano,destaca-se a organização do I Congresso da SPA sob otítulo "Arboricultura Urbana- Evolução e Tendências".Com este evento a SPA espera reunir em debate técni-cos das várias áreas intervenientes na arboriculturaurbana.

O Congresso decorrerá em Lisboa nos dias 6, 7 e 8 deMarço de 2003; integra-se também nos eventos doCongresso a realização do I Campeonato de Trepa,aberto a todos os profissionais de poda, o qual se prevêvenha a ter periodicidade anual.

CURSO DE PODA DE ÁRVORES ORNAMENTAIS

A SPA irá promover nas instalações do PBG, nos dias 4e 5 de Novembro uma acção de formação sobre o títu-lo "Poda de Árvores Ornamentais". Os destinatáriosdesta acção são técnicos responsáveis pela gestão depatrimónio arbóreo ou encarregados de equipas depodadores, ao serviço de entidades como Câmaras

Municipais ou de empresas deEspaços Verdes.

Esta formação visa a divulgaçãodas boas práticas de poda utili-zando os conhecimentos funda-mentais da fisiologia vegetal naperspectiva da poda adquirindo--se as bases teórico-práticas dosmétodos de corte, da poda deformação, manutenção, conver-são e reestruturação de árvoresornamentais em formas naturaise artificiais melhorando assim oplaneamento e gestão dasintervenções no arvoredo, evi-tando assim as podas radicaisdanosas para o património arbó-reo urbano.

36 Parque Biológico Outono 2002

c o l e c t i v i s m o

Sociedade Portuguesade Arboricultura

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Outono 2002 Parque Biológico 37

e s p i g u e i r o

Passeio no Parque Natural do AlvãoO Parque Biológico de Gaia organiza visitas de estudo a espaços naturais. Numsábado soalheiro, mas não muito quente, em 13 de Julho, aconteceu o primeiro

Saídas de Avintes às 9h00, no auto-carro do Parque, cerca de 40 pessoasrumaram a Vila Real. Nesta cidade,Cláudia Teixeira, finalista do cursode Turismo, orientou o percursocitadino. Paragem nas Muas, almoço

tipo piqueniqueum pouco maisadiante, à som-bra dos vidoei-ros. A geologiaesteve a cargo deTelma Cruz, téc-nica do PBG. Abiologia envol-veu o botânicoHenrique Alves.Em Lamas deOlo, aldeia ex--líbris do Alvão,revelou umapequena turfeira,com preciosida-des como aso r v a l h i n h a s(plantas insectí-voras) e orquí-deas silvestresem flor. Seguiu-

-se uma caminhada... Apeados naaldeia de Varzigueto, atravessou-sea vertente até atingir a margem dorio Olo. Cuidado, para não pisar oslicranços que fugiam para dentrodas urzes! Há que atravessar o rio de

águas límpidas e subir a encosta,seguindo caminho para as fisgas doErmelo.

Após este percurso, o ParqueBiológico organizou já no fim-de--semana de 21/22 de Setembro, umoutro passeio, ao Minho, centradonas várias serras do Parque NacionalPeneda-Gerês. Com a presente edi-ção na tipografia em tal data, dare-mos conta dessa visita de estudo nopróximo número desta revista.

Vila Real

Travessiado rio OloMuas

Muas

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Entre 6 de Julho e 24 de Agosto, crianças dos 7 aos 15anos integraram os campos de Verão do Parque, numtotal de 95 inscritos. Muitos destes jovens já tinhamparticipado no último ano em actividades semelhantesorganizadas pelo Parque.

Com duração de 7 dias, cada Campo foi orientado portrês técnicos — André, Patrícia e Daniel —, sob coorde-nação de Rita Valente.

As actividades desenvolvidas ao longo desse programaforam inúmeras: a Volta da Alimentação — com os tra-tadores, alimentaram alguns dos animais; Noite àDescoberta — sob o luar, tudo parece diferente, umjogo de atenção e sensações; Passeios no Gerês e umDia de Praia e Jogos. De uma quinzena de actividades,retiramos as fotos do malabarismo, do jardim dos chei-ros e de um dos passeios a Vilarinho das Furnas.

Resta dizer que, para as férias do Natal, o Parque orga-nizará Oficinas de Inverno, a exemplo que já ocorreuhá um ano.

e s p i g u e i r o

38 Parque Biológico Outono 2002

Verão em cheioDurante as férias grandes, o ParqueBiológico de Gaia organizou quatroCampos

Oficina preparatória dos malabaristas

Malabaristas em acção

Depois do plantio, a regaConstrução de um jardim dearomáticas sob orientaçãodo técnico Luís Ramos

Enquanto a vez de montar a cavalonão chega, tiro ao alvo com uma

zarabatana

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Outono 2002 Parque Biológico 39

No passado dia 16 de Junho, domingo, uma das éguasdo Parque deu à luz uma linda cria, a que se chamouValéria. Entretanto, já muitos dos visitantes a viramcomo uma sombra da mãe, naquele trote singular emque quase parece os cascos nem tocarem no chão. Dia4 de Agosto, nasceu outro potro: o Vladimir!

Potros novinhos

Um bando de meia centena de gaivotas aterrou decamião no Parque Biológico de Gaia no passado dia 19de Julho. O acidente foi resultado de poluição causadapor óleo de peixe. A clínica do Parque, após examinarestas gaivotas, colocou-as num espaçoso cercado comágua à farta, pois todas elas precisavam, como se podever, de uma valente limpeza.

Bando de gaivotasacidentadas

A partir de Outubro será possível a criançada andar depónei ou de burro em parte do percurso do ParqueBiológico de Gaia. Esta actividade está sujeita a mar-cação, pelo telefone 227878120.

Passeios de Pónei

Em 16 de Outubro passado, foram libertados nos 35 hectares do Parque Biológico de Gaia 30 esquilos-vermelhos.

Chegaram ao Parque também 20 ostraceiros, 5 alfaiates e 20 abibes, oriundos de criação em cativeiro.

Esquilos, Alfaiates e Abibes

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e s p i g u e i r o

40 Parque Biológico Outono 2002

O Parque Biológico de Gaia participou em «La SemanaVerde de Galicia – Feria Internacional de Silleda», nospassados dias 19/23 de Junho. A eng.ª Maria Domingase a técnica Sandra Brito estabeleceram os contactosinstitucionais. Na foto, imagem do stand do Parque.

Semana verde da Galícia

A propósito do Dia Mundial do Ambiente, em 5 deJunho passado, o Parque Biológico de Gaia mantevedurante alguns dias um stand no Carrefour. ManuelCosta, funcionário do Parque, na altura disponível paraprestar esclarecimentos.

A propósito do Dia Mundial do Ambiente

No início do percurso de descoberta do ParqueBiológico de Gaia os visitantes encontram um pavilhãoa que se chama Floresta Tropical. É o único sítio doPBG que expõe animais exóticos. No caso, encontra aliespécimes que, em regra, foram apreendidos naAlfândega por tráfico ilegal.

Recentemente ocorreram melhorias: um estabilizadorde temperatura e algumas raízes de árvores secasforam instalados e o «décor» elevou-se a olhos vistos.

Floresta Tropical

Pormenordo pavilhãoFlorestaTropical

O Parque Biológico de Gaia recebe esta exposição, deSetembro a Dezembro. Fernando Catarino, director doJardim Botânico de Lisboa, no passado dia 7 deSetembro, às 17h00, apresentou-a.

«O mundo das plantas aparece perante o olhar huma-no como a vida em nascimento perpétuo. Este mundo,onde a emergência de vida parece anular a morte,sempre teve uma grande profundidade simbólica parao Homem. Flor, Fruto, Semente, Resina, Árvore,Madeira são símbolos muito antigos que participamainda na vida contemporânea.

«A exposição parte do princípio de que os "objectos natu-rais" têm uma competência especial para expressaremideias de grande utilidade ao Homem contemporâneo.

«Os 123 objectos naturais presentes nesta exposiçãoevocam uma ordem, um equilíbrio, uma diversidadeque nos parece cada vez mais distante. Esta mostratenta ser por isso uma proposta de reflexão, de encan-tamento. Um convite a ser viajante».

Mais informações: www.jb.ul.pt/expo/expomain.html

Objectos Naturais: Metamor-foses da Raiz, Caule e Folhas

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Outono 2002 Parque Biológico 41

No próximo dia 19 de Outubro, sábado de tarde, oParque Biológico de Gaia vai organizar a sua desfolha-da. O milho que cresce nos campos do Parque, depoisde colhido, vai ter as suas espigas descascadas pelascrianças que se deslocarem ao Parque nesse dia.Segue-se a participação de um rancho folclórico, quevirá animar a malta.

Desfolhada

Dia 12 de Outubro, sábado, decorre no ParqueBiológico de Gaia um atelier de construção de come-douros e ninhos. Com esta actividade sensibiliza-se osparticipantes para a protecção das aves silvestres que,nas épocas mais frias do ano, têm maior dificuldadeem sobreviver, em grande parte porque os habitats deque dependem vão desaparecendo.

Atelier de Construção deComedouros e Ninhos

Em 9 de Novembro,sábado, as castanhasestalam ao calor domagusto do ParqueBiológico.

Magusto

Dia 16 de Novembro, sábado de tarde, o Parque ensinaa fazer um herbário. Não é nesta época por acaso. NoOutono, a flora encontra-se em repouso vegetativo e éuma altura em que, se se tem de cortar partes, oimpacto é sempre menor.

Herbário

O Parque Biológico de Gaia comemora mais um ani-versário no próximo dia 3 de Novembro, domingo. Daparte da tarde, decorrerá um programa alusivo à data,que será atempadamente pormenorizado.

Aniversário

O Parque Biológico de Gaia vai organizar, para o perío-do de férias de Natal, Oficinas de Inverno. Poderão ins-crever-se pessoas desde os 7 aos 15 anos de idade, for-mando dois grupos: 7/10 e 11/15. As inscrições pode-rão ser feitas até ao dia 6 de Dezembro através dotelefone 227878120 ou pelo fax 227833583.

Oficinas de Inverno

O site da revista «Parque Biológico» teve destaque comuma imagem nas páginas da revista «Guia», n.º 657, nasecção dedicada ao ambiente/multimédia.

http://www.revistaparquebiologico.com

Site da Revista

Durante o mês deAgosto, o PBG colocouuma banca no Parque deDunas da Aguda, avan-çando com mais umposto onde disponibili-zou as suas edições eoutros materiais.

Dunas da Aguda

Decorre de 1 de Agosto a 29 de Setembro o programa«Ciência Viva», da responsabilidade da AgênciaNacional para a Cultura Científica e Tecnológica. OParque Biológico de Gaia (PBG) participa nele nos dias20 de Setembro — «Origem da Vida: conferência e visi-ta ao Parque», das 14h00 às 18h00, inscrições pelotelefone 227878125 — e «Orientação na Terra», per-curso pedestre e actividades no PBG, 10h00, dias 20/21de Setembro e 23/29 do mesmo mês. Inscrições pelomesmo telefone.

Ciência viva 2002

Na semana anterior a 24 de Novembro prevê-se a par-ticipação do Parque Biológico na Semana da Ciência eTecnologia, organizada pela Ciência Viva.

Semana da Ciência eTecnologia

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i n t e r n a c i o n a l

42 Parque Biológico Outono 2002

Dividido em dois braços principais, formou então umgrande delta de perto de 100 mil hectares, com depó-sitos de sedimentos de várias dezenas de metros deespessura.

Divagando nesta vasta planície, os braços do Ródanosucessivamente formam grandes bancos arenosos —hoje cobertos de florestas — delimitando a nortedepressões lagunares de água doce ou levemente salo-bra, enquanto, a sul, uma série de cordões dunares ori-ginam lagunas de água muito salgada.

Os 13.117 hectares da Reserva Nacional da Camarga,instituída em 1927 pela Sociedade Nacional Francesade Protecção da Natureza, vão mudando, ao longo decada ano, de uma imensa zona húmida, com as chuvasde Outono e Inverno, a um deserto seco e salgado sobefeito da evaporação intensa de Março a Setembro, sósubsistindo nesta época alguns lagos permanentescomo o famoso Vaccarès.

A Camarga oferece uma sucessão de habitats, ao longo

do ciclo anual, favo-ráveis a uma faunanumerosa, que conta356 espécies de aves.

A Reserva Nacionalintegra-se no ParqueRegional da Camarga,criado em 1972, comuma superfície de 85 mil hectares.

Na área do Parque, o Conservatório Francês do Litoral(organismo do Estado - Lei de 10 de Julho de 1975 -que assegura a protecção definitiva dos espaços natu-rais no litoral e margens dos lagos) comprou váriaspropriedades na Camarga para completar a protecçãodo território da Reserva Nacional. As maiores são aLingagnéa e a Palissade, com cerca de 3 mil hectares.

O Parque Ornitológico do Pont de Gau, integrado noParque Natural, permite aos visitantes descobrirem afauna e a flora da Camarga.

Reserva Nacional da Camarga – França

Há alguns milhares de anos, o Rio Ródano (Rhône, em francês), que desaguava nosconfins do Languedoc, mudou a sua foz para sul da actual cidade de Arles

Colhereiros

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O Parque Biológico de Gaia está a organizar uma via-gem colectiva à Fundação para as Aves Aquáticas(Wildfowl Trust), nessa localidade, onde se marcaencontro com um elevado número e diversidade deaves limícolas, que ali se concentram com abundância,em pleno gozo da sua liberdade.

O programa inclui ainda uma visita ao Jardim Botânico

de Londres, ao Museu Nacional de História Natural eesta deslocação aponta-se já para o próximo mês deMaio.

Faça já a sua pré-inscrição, nos serviços do ParqueBiológico de Gaia!

Telefone: 227878120 ou na recepção do ParqueBiológico.

e c o t u r i s m o

Próximo destino: InglaterraEm Slimbridge, na Inglaterra, a avifauna europeia faz o gosto aos olhos de quemaprecia a natureza

O preço da visita inclui voo Porto-Londres-Porto em classe económica, assistência nos aeroportos, autocarro dispo-nível todos os dias em Inglaterra, alojamento em regime de dormida/pequeno-almoço continental nos hotéis indica-dos. O preço exclui as entradas em Slimbridge, Museu e Jardim Botânico. Estamos em contacto com agências de via-gem para negociar um preço muito atraente que será anunciado no próximo número.

A viagem só se realiza com um mínimo de 30 pessoas. Inscrições até 15 de Março de 2003.

Programa

1 de Maio: Porto - Londres/dormida emSlimbridge

2 de Maio: visita ao Parque de Slimbridge/dor-mida em Londres

3 de Maio: visita ao Museu Nacional deHistória Natural/dormida em Londres

4 de Maio: visita ao Jardim Botânico deLondres (Kew Garden)/partida para o Porto

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Continuamos neste número da revistaa apresentar plantas muito úteis paraquem gosta de fazer deliciosos pratos(temperando ou ornamentando), masque devido às suas características sãotambém excelentes para embelezar oseu jardim ou os vasos do seu terraço.São plantas adaptadas ao nosso climaque apresentam um desenvolvimentoóptimo no exterior, são um poucomais exigentes que plantas já apre-sentadas noutras edições desta revistae não se desenvolvem muito bem nointerior. São elas o alecrim, o estragãoe a salva.

O alecrim (Rosmarinus officinalis) -Pertencente à família das Labiadas, oalecrim é um arbusto rústico de folhapersistente e que pode medir 1 a 2 mde altura; o período de floração é deMarço a Outubro. O alecrim foi trazi-do para a Europa, através dos Alpespelos primeiros monges cristãos. Eramuito cultivado nos jardins dos con-ventos por possuir qualidades medici-nais. A cultura do alecrim deve serfeita em terrenos leves e arenosos, depreferência calcários, pois precisa deóxido de calcário para exalar um per-fume intenso. A colheita dos ramos dealecrim pode ser feita durante todo oano, mas a altura ideal é um poucoantes da floração. O alecrim auxilia adigestão e, misturado com o tomilho,o seu aroma fresco, subtil, é um com-plemento ideal para carnes assadas. Oseu óleo essencial emprega-se no

fabrico de perfumes e o mel das abe-lhas que recolhem pólen desta plantaé de excelente qualidade e muito aro-mático. As flores podem ser usadas emsaladas e doçaria e as folhas em sopas.Na água do banho as folhas estimu-lam a circulação e tonificam a pele;são também reconhecidos bons efei-tos no tratamento de flatulência,enjoos e tensões baixas. O chá destaplanta é um tónico, tradicionalmentereceitado a pessoas em convalescençadurante os meses frios de Inverno.

O estragão (Artemisia dracunculus) -Pertencente à família das Compostas,o estragão, originário da Ásia, podemedir 60 cm a 1 m. Muito resistente ageadas, pois cresce em zonas muitofrias, necessita de terras com poucaargila para se desenvolver. Para terestragão terá de obter rebentos e,durante a Primavera, colocá-los emsolo bem drenado com espaços de 30cm entre cada planta. Se for deixadono terreno o estragão, que é umaplanta vivaz, perde toda a sua parteaérea durante o Inverno, recomeçandoa vegetação na Primavera. De Abril--Maio em diante colhem-se os reben-tos mais jovens que voltam a crescerrapidamente. As folhas de estragão,ligeiramente apimentadas, devem serconsumidas frescas mas podem tam-bém ser congeladas ou cuidadosa-mente secas. Combinam muito bemcom molhos (maioneses, molho tárta-ro e outros); para se produzir um vina-gre aromático de boa qualidade,escaldam-se raminhos de estragão emágua a ferver e colocam-se de seguidadentro das garrafas, que deverão ficarao Sol 3 a 4 semanas. Rico em iodo,sais minerais e vitaminas A e C, oestragão tem propriedades estomá-quicas, tónicas e febrífugas.

A salva (Salvia officinalis) - Arbustoperene, pertencente à família dasLabiadas, não ultrapassa geralmenteos 60 cm. É uma planta rústica origi-nária das regiões mediterrânicasmuito bem adaptada às encostas, ter-renos baldios e na borda de caminhos.

A cultura da salva, também muito uti-lizada em jardinagem dado o seu valorornamental, é relativamente fácil, umavez que ela não é muito exigente emtermos nutricionais. A salva dá-se bemem solos leves com boa exposiçãosolar se possível abrigados, pois nãogosta de Invernos muito rigorosos. Assementeiras devem ser feitas em Abrile há que protegê-las das geadas.Também se reproduz bem por estacasde plantas mais velhas — quem sabeserá até uma razão para trocar umapalavrinha com o vizinho que temaquele pé de salva que sempre admi-rou. As colheitas devem ser feitas só apartir do segundo ano, dizem conheci-mentos antigos que na madrugada dodia de S. João. A secagem deve serlenta, na sombra e em local seco. Éconveniente fertilizar um pouco, prin-cipalmente à base de substâncias azo-tadas, depois de uma colheita.

A salva utiliza-se muito para os tempe-ros de carnes; as suas folhas são ricasnum óleo essencial que tem uma acçãorelaxante e antiespasmódica nos mús-culos do estômago e dos intestinos.

Passados 4 a 5 anos a salva perdemuita da sua força, sendo convenien-te renovar as plantas, mudando-as delocal e utilizando estacas previamentecortadas.

Espero que passe momentos agradá-veis no seu jardim e, claro, também nasua mesa!

j a r d i m

44 Parque Biológico Outono 2002

Mediterrânicas e aromáticasNovas culturas para fazer no seu jardim ou, a uma escala mais pequena, nos seus vasos

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Nada como um livro para tirar dúvidas. Nesta edição seguimos a ordem natural daevolução: começamos pelas borboletas, seguimos com os répteis e terminamos comas aves

Ler ajuda a saber

"Anfíbios e Répteis de Portugal", deNuno Ferrand de Almeida, PauloFerrand de Almeida, HelenaGonçalves, Fernando Sequeira, JoséTeixeira e Francisco Ferrand deAlmeida, editado pelo FAPAS.

Parentes menores de um mundogrande, os répteis e anfíbios, este éum livro que vem preencher umalacuna considerável, com a mais--valia de ter sido inteiramente conce-bido por herpetólogos portugueses.

Teme-se mais o que menos se conhe-ce. Com a leitura deste guia, poderácompreender melhor a nossa fauna,no que toca às rãs e sapos, salaman-dras e lagartos, cágados e cobras.

"Guia de Campo das BorboletasDiurnas do Parque Ecológico doFunchal e do Arquipélago daMadeira", de Andrew Wakeham-Dawson, Michael Salmon e AntónioM. Franquinho Aguiar, com ilustra-ções de Elisabete Henriques. Edição:Câmara Municipal do Funchal.

Uma obra bilingue, com texto inglês,à direita, denuncia a sua vocaçãointernacional. Fartamente ilustradoe com textos sintéticos e claros, esteguia de campo descreve uma listadas borboletas diurnas madeirenses,a maior parte delas iguais ou seme-lhantes às espécies continentais.

Agora, no Outono, quando elas vãodesaparecendo, este livro revela-lheciclos de vida de algumas das espé-cies que vemos a esvoaçar, sobretu-do nos caminhos do quotidiano pri-maveril e estival.

p a r á g r a f o

Outono 2002 Parque Biológico 45

"Aves do Parque Natural do Valedo Guadiana", de Ana CristinaCardoso, com fotografias de CarlosCarrapato. Edição: Instituto deConservação da Natureza.

Com 160 páginas, um livro leve, comóptimas fotografias, concebido apensar no leitor interessado pelaavifauna. Uma apresentação de fácilentendimento descreve os cenáriosde várias espécies da região, inclusi-ve as urbanizadas: «O habitat é con-siderado a base de trabalho daConservação da Natureza, razãopela qual se optou por agrupar asespécies de aves presentes no livropelos principais habitats existentesdentro do Parque Natural».

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46 Parque Biológico Outono 2002

i n f â n c i a

Mais uma vez o nosso menino, com

cabelos de ouro e olhos coloridos

como o arco-íris, surgiu nos meus

sonhos!

O nosso pequeno viajante de

tanto passear, explorar e

descobrir acabou por "cair" no

nosso planeta.

A princípio nada parecia

surpreendê-lo. Tudo era seco,

agressivo, a terra era muito

grande, tinha mares imensos,

desertos sem fim, imensos homens

e todos lhe pareciam crescidos.

A certa altura, quando passeava

por um jardim, descobriu um

canteiro gigante com flores iguais

à do seu planeta. E ele que

pensava que a sua flor era única

no universo!

Perante tal visão perguntou-lhes

qual era o seu nome. Ao que lhe

responderam:

— Somos rosas – responderam as

flores.

Ele nem queria acreditar que

aquela flor que dizia ser única era

afinal uma dos milhares e milhares

de rosas que existiam naquele

jardim.

Tristonho e desiludido foi

deambulando na floresta que

havia ali perto.

Até que uma raposa toda

despachada veio ter com ele e lhe

perguntou

quem era e de onde vinha.

O nosso menino, com cabelos de

ouro e olhos coloridos, lá lhe foi

respondendo às perguntas que a

desinibida raposa lhe ia fazendo.

Até que no meio da conversa a

raposa lhe pede para a cativar.

O nosso menino nunca tinha ouvido

falar na palavra cativar, nem

sequer sonhava qual era o seu

significado!

A raposa calmamente lá lhe foi

explicando que cativar era atrair o

outro de uma forma positiva e que

normalmente as pessoas já não se

preocupavam com isso, uma vez

que não tinham tempo para olhar

para o outro, para falar com ele,

para o conhecer.

Ela própria ainda não se sentia

cativada pelo nosso menino. Até

porque ele lhe fazia lembrar os

homens e todos os homens que ela

conhece têm uma espingarda e só

se preocupam em caçar. Por isso,

o próximo trabalho do nosso

viajante seria cativar a raposa.

O problema é que ele nem sabia

como se fazia isso. Por onde

O que é cativar?

por Ana (8 anos)

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Outono 2002 Parque Biológico 47

deveria começar?

— É muito fácil! – dizia a raposa –

Aos pouquinhos vais-te

aproximando de mim até sentirmos

confiança um no outro,

depois lentamente vais

falando das tuas

viagens, das tuas

aventuras e do teu

planeta, e eu vou

contando as minhas

histórias.

Os dias iam passando e

tanto a raposa como o

nosso menino se

divertiam e ansiavam as

horas do encontro.

Mas, como quase sempre

acontece, o momento da

despedida chega e o nosso

menino de cabelos de ouro e olhos

coloridos como o arco-íris tem de

se lançar em mais uma das suas

viagens.

A raposa entristece-se ao saber

da sua partida e o menino, com os

olhos a bailar em água,

diz--lhe que foi ela que

pediu para a cativar e,

agora, tudo se torna mais

difícil.

— Bem sei, tens razão –

responde-lhe a raposa –

mas agora sei que me irei

lembrar de ti sempre que

vir o nascer do sol ou

olhar para uma seara de

trigo porque os seus

brilhos se assemelham à cor do teu

cabelo e, dessa forma, o meu

coração baterá mais forte e com

certeza tu sentirás a minha

presença lá no teu planeta junto

da tua flor e dos teus vulcões.

História inspirada e retirada do livro "O Principezinho" de Antoine de Saint-Exupéry

Trabalho realizado por Rita Valente

Ç Õ E U L P F G U X

B N S E A R A F M A

H E C I E B U L E M

O A V N A L P I N E

M J I R D I M V I N

E C A T I V A R N I

M Z J R E R F L O R

A S A U D R A L O S

U L R J P I D O L I

P E R G U M M X P N

P L A N E T A Z E A

C S E Õ C L U V C R

D G T R A S O P A R

Procura na sopa de letras algumas

das palavras que foste encontrando

no texto "O que é cativar?".

1. Cativar2. Flor3. Homem4. Jardim5. Menino6. Planeta

7. Raposa8. Seara9. Sol

10. Viajar11. Vulcões

por Sérgio (10 anos)

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48 Parque Biológico Outono 2002

Foto da Estação

NA ORLA DO VENTO

Na orla do vento movemSeus corpos mortos as folhas.

E ora das árvores chovem,Ora onde inertes não movem

A chuva do Outono molha-as.

Não há no meu pensamentoVontade com que o pensar,Não tenho neste momentoNada no meu pensamento:Sou como as folhas ao ar.

Mas elas certo não sentemEsta mágoa inteira e funda

Que meus sentidos consentem.Nada são e nada sentem

Da minha mágoa profunda.

Fernando Pessoa 19 Janeiro 1931