Resistencia_a_Teoria.doc

19
(Resistindo à) “A Resistência à Teoria” de Paul de Man O presente texto surge como uma tentativa de “leitura” do ensaio “A Resistência à Teoria”, de Paul de Man, almejando uma compreensão dos princípios subjacentes ao texto damaniano, iniciaremos por uma reflexão acerca da sua concepção de linguagem (e literariedade) em articulação com a “radicalidade da leitura” (a necessária tensão interna entre os constituintes: “gramática” e “retórica”), passando para a análise do(s) sentido(s) da resistência à teoria, e, por último, a respectiva articulação da literatura com o conhecimento do mundo (“a arremetida epistemológica da dimensão retórica”). Porquê o título “ (Resistindo à) A Resistência à Teoria”? Como refere Goldzich “a resistência é uma propriedade do referente (...) que permite a este referente tornar-se o objecto de conhecimento do sujeito que somos” 1 . Tomamos assim a acepção técnica do termo (resistindo) como forma de enunciar o nosso propósito que é, fundamentalmente cognitivo (compreensivo). Assim, a resistência que o próprio ensaio nos oferece surge como elemento constitutivo da nossa “leitura” enquanto processo cognitivo que subjaz a qualquer tentativa de compreensão. Resistindo, numa primeira instância à resistência que advém do facto de falarmos da linguagem com linguagem 2 e, numa segunda instância, resistindo à própria resistência que nos oferece a linguagem damaniana, partiremos da sua concepção de linguagem literária em articulação com a sua proposta de uma “leitura retórica”. Seguidamente passaremos à análise do(s) sentido(s) da resistência à teoria, e por fim, veremos qual a relação da literatura com o conhecimento do mundo (e do homem), o que pressupõe, desde logo que, contrariamente a algumas críticas feitas à sua teoria, Paul de Man não nega a dimensão referencial da linguagem (conteúdo semântico). 1 Cf. “A Resistência à Teoria,” Introdução de Wlad Godzich, (1989:13) 2 Como refere de Man, é a resistência da linguagem à linguagem que fundamenta todas outras formas de resistência.

Transcript of Resistencia_a_Teoria.doc

INTRODUO

PAGE 3

(Resistindo )

A Resistncia Teoria de Paul de ManO presente texto surge como uma tentativa de leitura do ensaio A Resistncia Teoria, de Paul de Man, almejando uma compreenso dos princpios subjacentes ao texto damaniano, iniciaremos por uma reflexo acerca da sua concepo de linguagem (e literariedade) em articulao com a radicalidade da leitura (a necessria tenso interna entre os constituintes: gramtica e retrica), passando para a anlise do(s) sentido(s) da resistncia teoria, e, por ltimo, a respectiva articulao da literatura com o conhecimento do mundo (a arremetida epistemolgica da dimenso retrica).

Porqu o ttulo (Resistindo ) A Resistncia Teoria?

Como refere Goldzich a resistncia uma propriedade do referente (...) que permite a este referente tornar-se o objecto de conhecimento do sujeito que somos. Tomamos assim a acepo tcnica do termo (resistindo) como forma de enunciar o nosso propsito que , fundamentalmente cognitivo (compreensivo). Assim, a resistncia que o prprio ensaio nos oferece surge como elemento constitutivo da nossa leitura enquanto processo cognitivo que subjaz a qualquer tentativa de compreenso. Resistindo, numa primeira instncia resistncia que advm do facto de falarmos da linguagem com linguagem e, numa segunda instncia, resistindo prpria resistncia que nos oferece a linguagem damaniana, partiremos da sua concepo de linguagem literria em articulao com a sua proposta de uma leitura retrica. Seguidamente passaremos anlise do(s) sentido(s) da resistncia teoria, e por fim, veremos qual a relao da literatura com o conhecimento do mundo (e do homem), o que pressupe, desde logo que, contrariamente a algumas crticas feitas sua teoria, Paul de Man no nega a dimenso referencial da linguagem (contedo semntico).

De acordo com Paul de Man as metodologias lingusticas so aquelas que melhor se conseguem ajustar verdade do seu objecto sendo por isso mesmo que ambas compartilham algo que se define como literariedade (e que se tornou o objecto da teoria literria). o que acontece com o estruturalismo e a semiologia, cujas abordagens assumem um mrito reconhecido, considerando-as como teorias literrias genunas, na medida em que fundamentam as suas anlises, no em consideraes de carcter histrico ou esttico mas sim nos princpios da lingustica de raiz saussuriana com a respectiva introduo da terminologia lingustica nos estudos literrios, acontecimento que, nas suas palavras inaugura o advento da teoria (...) e que a aparta da histria literria e da crtica literria.

Por outro lado, a sua refutao das metodologias estruturalistas, advm da reduo que as mesmas efectuam dos textos literrios ao seu cdigo, estrutura, ou gramtica, procurando atingir uma explicao sistemtica e globalizante, passando (sem dificuldade aparente) das estruturas gramaticais para as estruturas retricas como se no existisse discrepncia entre elas. Por oposio, as metodologias de tipo ps-estruturalista, nomeadamente o tipo de anlise proposta por Paul de Man, partem da conscincia de que os mecanismos do prprio texto subvertem qualquer tentativa de se atingir um conhecimento sistemtico e totalitrio. Neste sentido todo o processo de leitura retrica tem em ateno as contradies internas do texto, a tenso entre os dois plos: a gramtica (sentido literal) e a retrica (sentido figural), gerando uma oscilao, uma indeterminao permanente em todo o processo de leitura. este ndice de disrupo interna que inviabiliza a percepo do texto como uma unidade orgnica.

Paul de Man postula e adopta uma abordagem pragmtica, j que, no seu entender se a condio de existncia de uma entidade em si mesma crtica, ento a teoria desta entidade cai forosamente no pragmtico, em outros termos, se a prpria dimenso ontolgica do seu objecto (o que a literatura?) j por si problemtica, a teoria (que tem uma funo cognitiva da literatura) ir comportar necessariamente uma dimenso pragmtica que a pode enfraquecer como teoria, mas que acrescenta um elemento subversivo de imprevisibilidade e a torna um pouco como uma carta desemparelhada no srio jogo das disciplinas tericas. Este carcter subversivo de imprevisibilidade da teoria gerador de ansiedade e, como tal tende a ser evitado (ignorado) pela adopo de estratgias diversas, como por exemplo a reduo da dimenso figural gramtica (que no instaura qualquer ruptura entre a lgica e consequente articulao com o mundo fenomenal) ou ainda, e convocando Derrida, uma estratgia que passa pela reduo ou neutralizao da estruturalidade da estrutura que consiste na sua atribuio de um centro ou em referi-la a um ponto de presena, a uma origem fixa, (fechamento da estrutura) como forma de dominar essa ansiedade que resulta sempre de um certo modo de estar envolvido no jogo, de estar, por assim dizer, desde o princpio em jogo no prprio jogo. Entende-se nesta mesma linha, o apagamento do sujeito pelas metodologias estruturalistas, a favor de um ponto de vista enquanto estratgia que garanta ao mtodo a sua permanncia no mbito da racionalidade.

Assim sendo, o propsito de Paul de Man , no propriamente o de apresentar uma metodologia que venha colmatar as dificuldades e cegueira apontadas s metodologias anteriores (o que parece ser prtica corrente entre os tericos da literatura), mas sim em determinar o que no empreendimento terico em si, o cega para a radicalidade da leitura.

1. Linguagem e literariedade:

(A radicalidade da leitura)

A linguagem no pode falar das leis da linguagem seno em linguagem que se desqualifica como conhecimento no momento em que se postula como linguagem. (Hillis Miller, In A tica da Leitura, p.77)As abordagens lingusticas do texto literrio, particularmente a partir dos estudos de Saussure (e, posteriormente de Benveniste), como o caso da semiologia, destacam-se pela sua crtica da linguagem, entendida, desta feita como um sistema de signos e de significao em vez de um modelo estabelecido de sentidos, o que concorre para a superao das limitaes referenciais que caracterizavam as teorias mimticas (representativas) e expressivas da literatura (como expresso de uma interioridade), passando as anlises da literatura a fundamentar-se em aspectos lingusticos, o que releva de uma forte conscincia da discrepncia entre a linguagem e o mundo fenomenal. Destaca-se neste mbito, os estudos de Benveniste que, ao debruar-se sobre o funcionamento da dexis, enquanto mecanismo que permite a ancoragem do discurso, acabou por desmascarar o mito da referencialidade lingustica, isto , ps em relevo a mencionada discrepncia entre a linguagem e o mundo fenomenal. Tal no significa que se passe a negar a dimenso referencial da linguagem, o que importa compreender que, numa primeira instncia a linguagem referencia ela mesma, sendo este acto de referncia inaugural que abre um espao que permite todas as outras formas de referncia .

Contudo, como assinala Paul de Man, a dificuldade e problemtica inerentes tentativa de teorizao da linguagem (verdadeiro enigma) sempre se manifestou ao longo da histria das teorias da linguagem, podendo ser localizada, desde logo, no modelo lingustico do trivium clssico (cincias no-verbais). J aqui se manifesta um ndice de tenso e desequilbrio, onde as dificuldades, diz-nos de Man se estendem s articulaes internas entre as partes constituintes (lgica, gramtica e retrica), bem como articulao do campo da linguagem com o conhecimento do mundo em geral (cincias naturais). Ou seja, se o elo de ligao entre a lgica e as cincias naturais (quadrivium) pacfico, que dizer relativamente relao dos constituintes do trivium, isto , a relao entre gramtica, lgica e retrica? Quanto lgica e a gramtica mantm-se o equilbrio do modelo dado que a gramtica encontra-se ao servio da lgica, que, por sua vez, permite a passagem ao mundo do conhecimento.

A tenso e desequilbrio interior do modelo surge quando se quebra esta relao de supremacia da lgica, o que acontece sempre que estejamos face utilizao da linguagem que pe a funo retrica acima da gramatical e da lgica, isto , a literatura (e crtica), ou mais especificamente a literariedade.

Segundo de Man a literariedade no se identifica com a resposta esttica (a literariedade no uma qualidade esttica), nem com uma qualidade mimtica. Quanto confuso que se estabelece entre resposta esttica e literariedade decorre de leituras que tendem a confundir a materialidade do significante com a materialidade daquilo que ele significa o que releva de uma conscincia cratiliana da linguagem em que os signos so percepcionados como sinais motivados, particularmente na linguagem potica. Isto , confunde-se a fenomenalidade do signo (o som, ou a grafia) com a sua funo significante, quando este efeito de facto conseguido graas dimenso figural da linguagem, tratando-se de um mecanismo retrico, da mesma forma que a mimese no mais do que uma figura em que a linguagem imita uma entidade no-verbal.

Assim, as premissas fundamentais a partir das quais Paul de Man assenta a sua proposta de uma leitura retrica podem ser enunciadas nos seguintes termos: por um lado, no existe uma convergncia entre o mundo fenomenal e o campo da linguagem, existe um hiato entre o signo e o seu referente, dado que toda a linguagem refere primeiramente ela mesma, isto , toda a linguagem uma linguagem sobre a denominao, ou seja, uma metalinguagem conceptual, figurativa e metafrica por outro lado, a linguagem e, mais especificamente, a literatura (que pe a funo retrica acima da gramtica e da lgica), determinada por uma tenso interna entre gramtica (o sentido literal) e a retrica (o sentido figural), no existindo como tal, qualquer possibilidade de se estabelecer uma leitura unvoca, uma leitura abrangente e totalizadora, dado que no momento em que apreendemos um dado sentido (literal), este de imediato subvertido pela dimenso retrica (figural) do prprio texto.

Gramtica e retrica comparticipam em qualquer processo de leitura e saber ler, no sentido damaniano, pressupe o reconhecimento das tenses internas entre os dois plos. neste sentido que Paul de Man aponta a fuga leitura dos estruturalistas que, na sua nsia pela descodificao plena da estrutura, uma leitura globalizante, acabam por proceder gramaticalizao da retrica, entendendo as figuras do texto como um sentido figurado que deriva de denominao literal ou prpria ou ento, entendendo-as esteticamente como ornamentos lingusticos (hermenutica tradicional), sem considerar a possibilidade de tenses internas que frustram qualquer possibilidade de fuso entre as duas dimenses.

A leitura (genuna), implica o reconhecimento de que a literatura no uma mensagem transparente, bem como a conscincia de que toda a descodificao gramatical de um texto deixa um resduo que no pode ser resolvido por meios gramaticais. Se a gramtica estabelece uma relao pacfica com a lgica (que, por sua vez, viabiliza uma articulao com o mundo fenomenal sem qualquer ndice de disrupo), no texto literrio (em que a funo retrica se sobrepe gramatical e lgica) este equilbrio (gramtica/lgica/mundo fenomenal) completamente destrudo, visto que a retrica suspende radicalmente a lgica e abre vertiginosas possibilidades de aberrao o referencial. Assim se entende a assumpo de que a leitura desfaz a continuidade entre o retrico e o fenomenal, obrigando ao reconhecimento da incompatibilidade da linguagem e da intuio (domnio do fenomenal). Gramtica e figurao afirmam-se como elementos constitutivos da leitura atravs de uma relao dialctica de inscrio (momento de iluso referencial) e apagamento (momento em que a retrica desfaz a presuno de referncia) e, como tal, saber ler (no sentido damaniano), pressupe o reconhecimento da necessria indecibilidade o momento em que no mais possvel decidir entre sentido literal e figurativo, sendo este o lugar da aporia que nos confronta com a radicalidade da leitura: verdadeiro processo negativo no qual a cognio gramatical destruda pela sua deslocao retrica.

Os princpios enunciados, acabam por constituir-se como os pressupostos de base da proposta metodolgica de De Man, a leitura retrica ou, segundo a terminologia de Hillis Miller, a deconstructive reading, em que a interpretao surge no como um ponto atingido, mas permanece um movimento incessante que advm da oscilao entre gramtica (host) e retrica (parasite). Trata-se enfim, do reconhecimento do mecanismo retrico do texto que nos convida a uma leitura em que, nas palavras de Miller, se assume como princpio tcito a noo de que: () On the one hand, the obvious and univocal reading always contains the deconstructive reading as a parasite encrypted within itself as a part of itself. On the other hand, the deconstructive reading can by no means free itself from the metaphysical reading it means to context. Uma formulao que refora (e se articula com) a ideia avanada por Goldzich, isto , a conscincia de que toda a leitura implica o movimento entre um momento de inscrio ( the obvious and univocal reading) que de imediato subvertida por um momento de apagamento (ou seja, pela deconstrtuctive reading).

Em suma, uma leitura retrica (verdadeira leitura) pressupe a capacidade de se aceitar sentidos plurais e incompatveis, uma vez que o sentido referencial de um texto altamente instvel, todas as nossa expectativas referenciais so, em determinado momento goradas pelo prprio mecanismo retrico do texto. Parece-nos oportuna, neste mbito, a reflexo de Jonathan Culler relativamente a esta problemtica, atravs da introduo do par dicotmico leitura e desleitura, entendimento e desentendimento enquanto mecanismos constitutivos da leitura: Leitura e entendimento preservam ou reproduzem um contedo ou sentido, mantm sua identidade, enquanto desentendimento e desleitura o distorcem; eles produzem ou introduzem uma diferena. Mas pode-se argumentar que, de facto, a transformao ou modificao do sentido, que caracteriza o desentendimento age tambm no que chamamos de entendimento. Est em causa a complexidade do texto, a respectiva reversibilidade dos tropos que torna as operaes interpretativas (i.e. a leitura) uma espcie de pndulo em permanente oscilao entre: inscrio/apagamento, leitura/desleitura, gramtica/retrica: verdadeira vertigem que desconcerta e inviabiliza o fechamento da estrutura, fazendo-nos sentir, de certo modo, em jogo no prprio jogo (Derrida).

Sentido(s) da resistncia teoria:

A resistncia teoria uma resistncia utilizao da linguagem sobre a linguagem. (R.T., p.33)

Nada pode vencer a resistncia teoria visto que a teoria em si a resistncia. (R.T. p. 41)

Propomos como incio deste tpico, duas citaes do ensaio em anlise (R.T), em que a primeira se reporta a uma das primeiras definies do autor relativamente s diferentes acepes (e sentidos) de resistncia teoria. Assim, atentemos no segmento sublinhado: (a resistncia) uma resistncia , isto , est patente uma relao antittica, uma espcie de contra-fora entre dois plos, (resistncia teoria), que, nas ltimas linhas do ensaio (segunda citao) se transmuda para teoria resistncia (fuso dos plos apresentados como antitticos na parte inicial do argumento). esta a mestria discursiva utilizada por Paul de Man que, atravs de uma argumentao solidamente construda nos vai guiando atravs das vrias formas de resistncia teoria, desmascarando padres recorrentes na forma de se conceber a teoria literria at constatao final de que teoria e resistncia so concomitantes. Tentemos pois acompanhar o movimento argumentativo que subjaz estruturao do ensaio, de forma a verificarmos quais os sentidos (e formas) da resistncia teoria.

Em que medida que a resistncia teoria uma resistncia utilizao da linguagem sobre a linguagem? Retomamos a acepo tcnica do termo resistncia a que recorremos como forma de fundamentar o ttulo do nosso texto: a resistncia uma propriedade do referente (...) que permite a este referente tornar-se o objecto de conhecimento do sujeito que somos. Logo, tendo a teoria um propsito cognitivo em relao linguagem (a literatura), apenas pela resistncia que esta exerce face ao sujeito do conhecimento, que a mesma se pode instaurar como objecto de conhecimento. Por outro lado, aceitar o facto de a linguagem referenciar o lugar da linguagem, antes de estabelecer qualquer outro tipo de relao referencial, significa pr em causa o princpio subjacente de todos os modelos cognitivos e estticos, dado que a constatao da necessria divergncia entre o mundo fenomenal e a linguagem mina por completo as pretenses da linguagem (trivium) a estabelecer uma construo epistemologicamente estvel, uma vez que no mais possvel ignorar o carcter convencional, metafrico e figurativo da linguagem, a conscincia de que toda a linguagem se apresenta como um simulacro, uma representao (convencional) e nunca a prpria coisa. Segundo Paul de Man, a partir desta forma seminal de resistncia ( utilizao da linguagem sobre a linguagem) a partir da qual se iro instaurar todas as outras formas de resistncia.

Paul de Man avana e eis que nos apresenta uma outra formulao (definio): A resistncia teoria uma resistncia leitura. Entenda-se leitura no sentido damaniano de leitura retrica (a genuna leitura). Esta fuga, diz-nos de Man pode assumir diferentes verses entre os tericos da leitura, seja pela adopo de modelos gramaticais da leitura, seja pelos modelos hermenuticos tradicionais (teorias de orientao esttica no sentido damaniano), ou ainda (de forma mais astuta), pelas teorias da leitura do acto de fala.

Como tivemos oportunidade de documentar, a fuga leitura praticada pelos tericos que adoptam um modelo gramatical da leitura consiste, essencialmente, numa leitura que tende gramaticalizao de elementos figurativos (i.e. da retrica), tendo em vista viabilizar uma descrio (tendencialmente) totalizadora dos mecanismos do texto. Inscreve-se, neste mbito algumas prticas da semiologia literria (como por exemplo, Barhtes, Todorov, Genette e Greimas) cujas anlises integram, sem qualquer tipo de descontinuidade, estruturas gramaticais e estruturas retricas. De facto, diz-nos de Man, medida que o estudo das estruturas gramaticais se aperfeioa nas teorias contemporneas da gramtica gerativa, transformacional e distributiva, o estudo dos tropos e das figuras (que como o termo retrica utilizado aqui, e no o sentido derivado de comentrio, ou da eloquncia ou da persuaso) se transforma numa mera extenso de modelos gramaticais, um subconjunto especial de relaes sintcticas.

Est assim salvaguardado o equilbrio do modelo do trivium e respectiva articulao com o mundo fenomenal, atravs de uma estratgia que passa pela reduo do mecanismo retrico do texto a uma estrutura gramatical. Assim, Paul de Man ir concluir que, desde que se fundamente na gramtica, nenhuma teoria literria ter algo de ameaador, neste sentido, estes tericos da leitura evitam, resistem leitura que preconizam, o que equivalente a afirmar que esta resistncia leitura acaba por corresponder, efectivamente a uma forma de resistncia dimenso retrica ou tropolgica da linguagem.

Quanto s teorias da leitura do acto de fala, diz-nos de Man, repetem, de maneira muito mais eficiente, a gramaticalizao do trivium custa da retrica, acabando por levar a efeito uma reduo dos operantes a um mero cdigo gramatical.

Assim, no caso da metodologia de Richard Ohmann, o elo de ligao entre perfomance, gramtica, lgica e sentido referencial estvel estabelecido pela adopo de uma distino terminolgica entre efeito ilocutrio (objecto de estudo da teoria dos actos de fala) e efeito perlocutrio (excludo do mbito de estudo). O efeito ilocutrio ser considerado como convencional (de acordo com os pressupostos de uma dada comunidade), enquanto que o efeito perlocutrio ser contingente (no havendo forma de ser previsto por pertencer ao domnio afectivo). Por outro lado, a sua metodologia assegurar uma articulao (continuidade) pacfica entre os actos de fala e a gramtica ao propor uma classificao dos actos de fala de acordo com os princpios (regras) da gramtica: As regras dos actos ilocucionrios determinam se o desempenho de um dado acto bem executado, exactamente da mesma maneira como as regras gramaticais determinam se o produto de um acto ilocucionrio uma frase bem formado... Estamos, mais uma vez face a uma estratgia de evaso leitura, isto , uma resistncia ao mecanismo retrico do texto.

O que podemos concluir relativamente a este padro, este evitar sistemtico da leitura por parte de quem, supostamente preconiza a necessidade da leitura (literatura)?

Toda a argumentao do ensaio nos conduz constatao final de que toda a manifestao de resistncia teoria ( leitura, retrica) constitui, no uma mera contingncia histrica (a ser superada, corrigida por teorias futuras), mas constitui s por si um constituinte incorporado no discurso da teoria literria (i.e. a teoria em si a resistncia). Alis, j em O Ponto de Vista da Cegueira Paul de Man avanava que o evitar sistemtico do problema da leitura, do momento interpretativo ou hermenutico, um sintoma geral partilhado por todos os mtodos de anlise literria, quer sejam estruturais, temticos formalistas ou referenciais. Mas, como se explica este fenmeno no seio da crtica (teoria) literria? Qual a sua origem?

Como Paul de Man refere a resistncia radica no prprio discurso da teoria literria. Por outro lado, sabemos que na perspectiva damaniana linguagem crtica e linguagem potica partilham de algo que as aproxima, i.e. a literariedade, sendo como tal, qualquer distino entre ambas puramente ilusria. Dever ainda ser considerado que, tal como de Man propusera: toda a linguagem uma linguagem sobre a denominao, ou seja, uma metalinguagem conceptual, figurativa e metafrica. Como tal ela partilha da cegueira da metfora, quando esta literaliza sua indeterminao referencial numa unidade especfica de significado. Ou seja, estamos precisamente face ao fundamento de todas as formas de resistncia, de evaso leitura (retrica), atravs de estratgias que passam pela gramaticalizao da retrica do texto.

Contrariamente, a leitura retrica, ou recorrendo terminologia de Hillis Miller, a deconstructive reading prope uma abordagem dos textos em que finds in the text it interprets the double antithetical patterns it identifies (...). It does not claim them as universal explanatory structures (). Deconstruction attempts to resist the totalising and totalitarian tendencies of criticism.

Assim, uma leitura retrica (que necessariamente, tem de continuar a resistir a essa tendncia totalitria da crtica, dado que no est completamente imune em relao cegueira que detecta nos outros mtodos de leitura), acabaria por se instituir como a destruio metdica da construo gramatical e, na sua desarticulao sistemtica do trivium (...), acabaria por se permitir a construo de um modelo universal da impossibilidade da linguagem ser uma linguagem modelo. Em suma, compreender a radicalidade da leitura, aceitar que a resistncia , afinal de contas um constituinte do discurso da teoria (a teoria em si a resistncia): impe-se como condio sine qua non ao empreendimento terico em si, um projecto que floresce quanto mais se lhe resiste, o que se explica porque, afinal de contas a linguagem que (a teoria) fala a linguagem da auto-resistncia.

3. Dimenso cognitiva da retrica:

(literatura e o conhecimento do mundo)

A literatura fico no porque recuse de algum modo reconhecer a realidade, mas porque no a priori certo que a linguagem funcione de acordo com princpios que so os, ou que so como os, do mundo fenomenal. No pois, certo a priori que a literatura seja uma fonte fidedigna de informao acerca seja do que for seno da sua prpria linguagem. (1989:31)

Eis que nos confrontamos com a inevitvel questo que pressupe, mas no se detm na interrogao que dit lnonc mtaphorique sur la ralit?, podendo ser expandida (fragmentada) para: qual a relao da literatura (enquanto linguagem que pe a funo retrica acima da gramatical e da lgica) com o conhecimento do mundo? Porqu a necessidade da literatura? O que que a literatura nos diz? Sem ter qualquer pretenso de dar resposta (um projecto messinico) a estas questes, interessa debruarmo-nos sobre a verso e o alcance desta indagao na base da leitura retrica damaniana. Assim, em jeito de concluso, retomaremos alguns dos pontos cruciais do nosso texto, procurando discernir em que medida possvel percepcionar (atribuir) uma dimenso cognitiva na retrica ou se esta apenas nos confronta com um nihilismo absoluto, a necessria constatao acerca da impossibilidade da linguagem ser uma linguagem modelo.Sabemos desde j que, na ptica damaniana, o critrio fundamental de uma teoria literria genuna assenta em pressupostos de natureza lingustica, o que significa que o contedo semntico dos textos no o seu objecto de questionao. Contudo, isto no equivalente a negar qualquer relao da literatura com o mundo, ou, em ltima instncia com o prprio homem. Como pudemos verificar, Paul de Man no contesta a funo referencial da linguagem, pe em causa a sua autoridade para se estabelecer como modelo do nosso conhecimento do mundo, dado que, como ele refere, no podemos assegurar que o mundo fenomenal e a linguagem funcionem segundo os mesmos princpios, sendo neste aspecto que radica a grande liberdade referencial da literatura, ou seja, a fora semitica da literatura (Barthes).

Retomamos (segmentando) a questo crucial: que dit lnonc mtaphorique?, isto , o que nos diz a literatura? Convocando toda a reflexo efectuada ao longo do nosso texto, diramos (em unssono com Benveniste, de Man, e muitos outros) que a literatura diz-nos ela prpria, ou, tomando desta feita as palavras de Greimas, la litrature soccupe se denoncer elle-mme. Como revelam os estudos de Benveniste sobre a dexis (e j tivemos oportunidade de referir), toda a linguagem referencia ela mesma antes de estabelecer qualquer outra forma de referncia. Da a consequente concluso (tautolgica): o que a literatura nos diz : eu sou linguagem. Mas estar assim justificada a necessidade da literatura para o homem? De Man responde-nos: O Eu humano experimenta o vazio dentro dele prprio e da fico inventada e, em vez de preencher o vazio, afirma-se a si prprio como puro nada, o nosso nada afirmado e reafirmado por um sujeito que o agente da sua prpria instabilidade. Assim, segundo de Man, a necessidade da literatura nasce a partir da experimentao do vazio pelo homem, mas essa vivncia do vazio prolonga-se na literatura (na fico inventada).

Contudo existe uma afirmao o nosso nada afirmado e reafirmado por um sujeito que o agente da sua prpria instabilidade. Estamos em definitivo no domnio da retrica, o mecanismo por excelncia que (nos) desmascara as (nossas) pretenses da linguagem atingir uma verdade metafsica, um sentido (do texto e, por extenso o nosso prprio sentido enquanto leitores) determinado. A literatura/leitura, assim entendida, no nos devolve ou permite reconstituir uma suposta identidade do texto, ou a nossa prpria identidade (seja ela qual for), mas confronta-nos com a instabilidade (a da linguagem e, como tal a nossa prpria), a contingncia e finitude que se assumem, no como mera contingncia (passe a redundncia), mas como elementos constitutivos do ser humano. com efeito neste ponto que radica a necessidade da literatura sentida pelo homem, uma necessidade que, j Aristteles afirmava ser congnita ao homem. A literatura (retrica) refere - refere ela prpria (linguagem), confrontando-nos com a impossibilidade da linguagem ser uma linguagem modelo e por isso mesmo, em ltima instncia, refere aquilo que de mais essencial existe no homem: a contingncia, a finitude, e, em simultneo, a diversidade (no h sentidos/leituras unvocas), a pluralidade, a divergncia (entre textos, entre homens), em suma, a alteridade irredutvel (do texto e do homem). Assim, aquilo que a literatura nos diz a sua prpria linguagem mas/e tambm o grande emaranhado de linguagem que (os homens) manipulam e que os manipula , uma verdadeira experincia de linguagem que, como tal acaba, inevitavelmente por conduzir a uma experincia da realidade enquanto espao de interrogao dessa mesma realidade.

Sendo a literatura o lugar onde se d o conhecimento negativo acerca da segurana da elocuo lingustica e, se o mecanismo retrico por excelncia, o catalisador deste conhecimento negativo, compreende-se que a retrica acabe por assumir uma dimenso cognitiva que desconcerta. por um lado, este conhecimento negativo e por outro, este nomear do vazio que o ser humano experimenta dentro de si (e na fico inventada) que constitui a matria-matriz da literatura, ou, nas palavras de de Man a linguagem potica nomeia este vazio com uma compreenso sempre renovada, (...) nunca se cansa de o nomear de novo, (sendo) este persistente nomear aquilo a que chamamos literatura.

No temos pois como negar uma dimenso cognitiva da retrica (literatura). Refutamos assim uma atribuio de um nihilismo radical teoria damaniana, partilhando da posio de autores como Wlad Godzich que defende que a investigao retrica de Paul de Man, ao pressupor o reconhecimento da finitude do texto e revelar o seu mecanismo retrico, acaba por no abandonar questes mais elevadas da verdade e da falsidade, do eu e da experincia, do sentido e do significado pelas quais os textos so ostensivamente lidos. Como adianta Godzich, tal acontece porque o mecanismo figurativo que de Man investiga no constitui um simulacro de um simulacro, mas sim a inscrio da simulacridade de um simulacro. Em outros termos, a linguagem assume-se como um simulacro (vale por), uma representao de algo ausente numa relao em que o objecto engendra o signo por representao. Todavia, a literatura (i.e. o mecanismo figurativo que de Man investiga), no corresponde a um simulacro/imitao (teorias mimticas) desse simulacro primrio, mas sim inscrio dos processos pelos quais o homem engendra a linguagem (ou o modo como a linguagem engendra o homem), ou, convocando Peirce, diramos que estamos face a uma inscrio dos mecanismos pelos quais um signo d luz um outro.Como refere de Man, apenas pela rejeio das funes figurativas tropolgicas (como forma de preservar o elo dos elementos do trivium retrica, gramtica e lgica - assegurando uma articulao pacfica com o domnio do fenomenal) que se torna possvel ignorar o impacte epistemolgico da retrica.

Em sntese, Paul de Man ter, em nosso entender, lanado as sementes de um projecto que ficou em aberto, numa fase larvar, um convite que se vai insidiosamente anunciando, particularmente em passagens como a seguinte: distinguir a epistemologia da gramtica da epistemologia da retrica uma tarefa formidvel. Em um nvel inteiramente ingnuo, concebemos habitualmente os sistemas gramaticais como tendendo para a universalidade e como meramente gerativos, ou seja, como capazes de derivar uma infinidade de verses de um nico modelo (...) sem a interveno de um outro modelo que perturbaria o primeiro. Talvez de Man j o tivesse delineado, quem sabe no seria o rumo da sua investigao, um projecto cujos alicerces metodolgicos passaria, necessariamente por uma lingustica da literariedade. Resta-nos a especulao se haver nos crculos intelectuais a audcia, vontade e engenho suficiente para dar corpo a um projecto cujo alcance e potencialidades tericas se adivinham deveras produtivos no seio da teoria literria e das cincias humanas em geral.

BIBLIOGRAFIA

BARHTES, Roland, 1977, Lio, Coleco Signos, Traduo de Ana Mafalda Leite, Edies 70, Lisboa, 1988

CULLER, Jonathan, 1975, Structuralist Poetics, Structuralism, Linguistics and the Study of Literature, Edit. By Rouledge & Kegan Paul, London and Henley

CULLER, Jonathan, 1983, On Deconstruction, Theory, and Criticism after Structuralism, Edit. By Rouledge & Kegan Paul, London and Henley

DERRIDA, Jacques, 1970, Estrutura, Signo e Jogo no Discurso das Cincias Humanas, In A Controvrsia Estrturalista, org. Richard Macksey e Eugenio Donato, Traduo de Carlos Aberto Vogt e Clarice Sabia Madureira, Edies Cultrix, S. Paulo,

MAN, Paul de, 1979, Alegorias da Leitura, Traduo de Lenita R. Esteves, Imago Editora Lda., Rio de Janeiro, 1996

MAN, Paul de, 1983, O Ponto de Vista da Cegueira, Traduo de Miguel Tamen, Edies Cotovia, Lda., Lisboa, 1999

MAN, Paul de, 1989, A Resistncia Teoria, Traduo de Teresa Louro Prez, Edies 70, Lisboa,1989

MILLER, Hillis J., The Critic as Host, In Deconstruction & Criticism, Bloom et al. , The Seabury Press, New York, 1979

RICOEUR, Paul, 1975, La Mtaphore Vive, ditions du Seuil, Paris

ROSA, Antnio Ramos,1991, A Parede Azul, Estudos sobre poesia e artes plsticas, Caminho, Coleco Universitria, Lisboa

SIDNEY, Sir Philip, 1970, Apology for Poetry, Edited by Forrest G. Robinson, Indianapolis, New York

Cf. A Resistncia Teoria, Introduo de Wlad Godzich, (1989:13)

Como refere de Man, a resistncia da linguagem linguagem que fundamenta todas outras formas de resistncia.

Da que Paul de Man, nas suas investigaes no estabelea uma diferenciao entre a linguagem crtica (terica) e literatura.

Cf. A Resistncia Teoria, Por terminologia lingustica entende-se uma terminologia que designa a referncia antes de designar o referente (...) considera a referncia como uma funo da linguagem e no necessariamente como uma intuio., (1979:28/29)

Ibidem, (1979:28)

Cf. Alegorias da Leitura (1979:17/35)

Cf. Resistncia Teoria (1989:25)

Ibidem, (1989:28)

Cf. Estrutura, Signo e Jogo no Discurso das Cincias Sociais, In A Controvrsia Estruturalista (1970: 260/284)

Estratgia que segundo de Man se revela falaciosa na medida em que impossvel falar de um texto como funcionando estrategicamente sem projectar nele a metfora de um sujeito ou de uma conscincia intencional. (1971:309)

Cf. Resistncia Teoria, introduo (1989:11)

Refira-se a este propsito que Paul de Man postula que apenas uma lingustica no-fenomenal poder libertar o discurso sobre a literatura de oposies ingnuas entre fico e realidade (1989:16/17)

Cf. a este propsito Resistncia Teoria, introduo, (1989:16/17)

A gramtica um istopo da lgica, ou seja funcionam segundo os mesmos princpios, assim as metodologias de base gramatical partilham as pretenses de universalidade que a lgica possui em comum com a cincia. Ibidem, (1989:35)

Ibidem, (1989:35)

O que se articula com o facto de toda a sua proposta metodolgica (leitura retrica) se insurgir contra as abordagens de orientao esttica ou mimtica da literatura.

Ibidem, (1989:31)

Ibidem, (1989:30)

Ideia que se articula com a rejeio damaniana de uma subordinao da teoria literria filosofia, mais especificamente esttica.

So estes os momentos perversos e aporticos do texto a serem considerados numa leitura retrica.

Cf. Alegorias da Leitura (1979:127)

Propsito que se revela pelo recurso de conceitos como paradoxo ou ambiguidade como uma unidade conceptual que permite a fuso (ilusria) do sentido literal e figural de um texto.

Refira-se que de Man postula a necessidade de uma lingustica no fenomenal (lingustica da literariedade) como a melhor ferramenta para desmascarar as ideologias dado que estas no passam de uma confuso da lingustica com a realidade natural.

Cf. Alegorias da Leitura (1979:25)

Cf. Resistncia Teoria (1989:38)

Cf. Miller, Hillis, In Deconstruction and Criticism (1979:224/25). A este propsito ainda, veja-se a segunite observao: The poem (The Trimph of Life), lihe all texts, is unreadable, if by readable one means a single, definite interpretation. In fact, neither the ovious reading nor the desconstrctionist reading is univocal. Each contains, necessarily, its eneny within itself,is itself both host and parasite. (1979:226)

Tanto a leitura quanto a desleitura, o entendimento e o desentendimento so casos de incorporao e penetrao. (traduzido por mim) Cf. Culler, Jonathan (1983:176)

Tendencialmente oscila entre dois padres recorrentes na histria da teoria: por um lado, atitudes que revelam um optimismo metodolgico (como o caso de Greimas) exacerbado, caractersticos das metodologias com pretenses universalistas, ou ento, pela simples rejeio da teoria, entendendo-se a literariedade como uma forma de verbalismo puro.

Como evidente referimo-nos a uma forma de linguagem particular, parafraseando de Man, a literariedade, isto , uma utilizao da linguagem em que a funo retrica predomina sobre a gramtica e a lgica.

A este propsito Paul de Man conclui que se toda a linguagem sobre a linguagem, ento o modelo lingustico paradigmtico aquele de uma entidade que se confronta consigo mesmo. (1979:177)

Toda a formulao damaniana acerca da linguagem segue a esteira do pensamento nietzschiano, figura paradigmtica das teorias literrias ps-estruturalistas.

Cf. Alegorias da Leitura 1979:20)

Cf. Resistncia Teoria (1989:38)

Cf. Resistncia Teoria (1989:40)

Cf. How to Do Things With Austin and Searle, In. Is There a Text in This Class, de Fish, Stanley (1980: 197/245))

Que, segundo estes tericos pertence ao domnio da retrica entendida exclusivamente como persuaso e no como figura intralingustica ou tropo. Cf. Alegorisa da Leitura (1979:22)

Richard Ohman citado por Paul de Man, Ibidem, p. 23

Como refere de Man O evitar sistemtico da leitura no um fenmeno temporal ou espacialmente determinado (...). O duplo movimento da revelao e recuo ser sempre inerente natureza de um discurso crtico genuno. Cf. O Ponto de Vista da Cegueira (1971:311)

Ibidem, (1971:304)

Cf. "Alegorias da Leitura" sublinhado nosso (1979:177)

Cf. Ob. Cit. , ((1979:252)

Cf. Resistncia Teoria" (1989:41)

Ibidem

Cf. Ricoeur, Paul (1975:274)

E do homem para o prprio homem, isto porque cada homem diverso em si prprio. Tal como nunca lemos o mesmo texto duas vezes da mesma forma, assim a alteridade que nos define enquanto seres humanos.

Cf. Barthes, Roland (1977:20)

Ainda a propsito da relao que se estabelece entre a literatura (linguagem potica) e a realidade Paul Ricur postula que: La stratgie de langage propre la posie cest--dire la production du pome, parat bien consister dans la constitution dun sens qui intercepte la rfrence, et la limite, abolit la ralit. (1975:280)

Cf. O Ponto de Vista da Cegueira, (1971: )

Cf. O Ponto de Vista da Cegueira, Introduo (1971:32)

Cf. Alegorias da Leitura (1979:23)

Tomamos aqui o termo primrio por analogia com a teoria de Iuri Lotman, relativamente sua distino entre sistema modelizante primrio (lnguas naturais) e sistema modelizante secundrio (literatura).

Peirce, citado por de Paul de Man, In Alegorias da Leitura (1979:23)

Cf. Alegorias da Leitura (1979:22)

PAGE