Responsabilidade Social Corporativa: Um estudo aplicado...

75
1 FACULDADE DE ECONOMIA E FINANÇAS IBMEC PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO E PESQUISA EM ADMINISTRAÇÃO E ECONOMIA DISSERTAÇÃO DE MESTRADO PROFISSIONALIZANTE EM ADMINISTRAÇÃO Responsabilidade Social Corporativa: Um estudo aplicado sobre a diferença de percepção entre os stakeholders de uma grande empresa brasileira” Raphael Adolpho Cavaliere Dutra ORIENTADOR: PROF. DR. RENATA PEREGRINO DE BRITO Rio de Janeiro, 29 de agosto de 2012.

Transcript of Responsabilidade Social Corporativa: Um estudo aplicado...

Page 1: Responsabilidade Social Corporativa: Um estudo aplicado ...s3.amazonaws.com/.../dis_2012_38_-_raphael_adolpho_cavaliere_dutra.pdf · percepção entre os stakeholders de uma ... fatores

1

FACULDADE DE ECONOMIA E FINANÇAS IBMEC PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO E PESQUISA EM

ADMINISTRAÇÃO E ECONOMIA

DDIISSSSEERRTTAAÇÇÃÃOO DDEE MMEESSTTRRAADDOO PPRROOFFIISSSSIIOONNAALLIIZZAANNTTEE EEMM AADDMMIINNIISSTTRRAAÇÇÃÃOO

“Responsabilidade Social Corporativa: Um estudo aplicado sobre a diferença de

percepção entre os stakeholders de uma grande empresa brasileira”

RRaapphhaaeell AAddoollpphhoo CCaavvaalliieerree DDuuttrraa ORIENTADOR: PROF. DR. RENATA PEREGRINO DE BRITO

Rio de Janeiro, 29 de agosto de 2012.

Page 2: Responsabilidade Social Corporativa: Um estudo aplicado ...s3.amazonaws.com/.../dis_2012_38_-_raphael_adolpho_cavaliere_dutra.pdf · percepção entre os stakeholders de uma ... fatores

2

“RESPONSABILIDADE SOCIAL CORPORATIVA: UMESTUDOAPLICADO SOBRE AS DIFERENÇAS DE PERCEPÇÃO ENTRE OS STAKEHOLDERS DE UMA

GRANDE EMPRESA BRASILEIRA”

RAPHAEL ADOLPHO CAVALIERE DUTRA

Dissertação apresentada ao curso de Mestrado Profissionalizante em Administração como requisito parcial para obtenção do Grau de Mestre em Administração. Área de Concentração:

ORIENTADOR: RENATA PEREGRINO DE BRITO

Rio de Janeiro, 29 de agosto de 2012.

Page 3: Responsabilidade Social Corporativa: Um estudo aplicado ...s3.amazonaws.com/.../dis_2012_38_-_raphael_adolpho_cavaliere_dutra.pdf · percepção entre os stakeholders de uma ... fatores

3

“RESPONSABILIDADE SOCIAL CORPORATIVA: UMESTUDOAPLICADO SOBRE AS DIFERENÇAS DE PERCEPÇÃO ENTRE OS STAKEHOLDERS DE UMA

GRANDE EMPRESA BRASILEIRA”

RAPHAEL ADOLPHO CAVALIERE DUTRA

Dissertação apresentada ao curso de Mestrado Profissionalizante em Administração como requisito parcial para obtenção do Grau de Mestre em Administração. Área de Concentração:

Avaliação:

BANCA EXAMINADORA:

_____________________________________________________

Professor RENATA PEREGRINO DE BRITO (Orientador) Instituição: IBMEC - RJ _____________________________________________________

Professor LUCIA BARBOSA DE OLIVEIRA Instituição: IBMEC - RJ _____________________________________________________

Professor CARLOS ALBERTO MESSEDER PEREIRA Instituição: ESPM - RJ

Rio de Janeiro, 29 de Agosto de 2012.

Page 4: Responsabilidade Social Corporativa: Um estudo aplicado ...s3.amazonaws.com/.../dis_2012_38_-_raphael_adolpho_cavaliere_dutra.pdf · percepção entre os stakeholders de uma ... fatores

4

DEDICATÓRIA (OPCIONAL)

Aos meus Avós, irmão, mãe, pai e todos os familiares, por todo apoio e amor incondicional que sempre me foi dado. Aos amigos e uma pessoa em especial, por toda ajuda, técnica ou não, sempre que se fizeram necessárias. Um agradecimento especial à Dra. Renata Brito por sua paciência, sabedoria e por ter, junto comigo, topado o desafio e me orientado durante esta pesquisa. Cada linha e cada palavra deste trabalho tem um pouquinho de vocês.

Page 5: Responsabilidade Social Corporativa: Um estudo aplicado ...s3.amazonaws.com/.../dis_2012_38_-_raphael_adolpho_cavaliere_dutra.pdf · percepção entre os stakeholders de uma ... fatores

5

RESUMO

Esta pesquisa analisa a percepção de grupos de stakeholders, internos e externos, acerca do

engajamento de uma grande empresa brasileira em Responsabilidade Social Corporativa. A

análise empírica é feita via pesquisa qualitativa exploratória, baseada em entrevistas

individuais e apoiada pela metodologia ZMET. Tendo como ponto de partida as pesquisas de

Dilling (2011) e Belal e Roberts (2010), sobre os fatores que determinam a percepção de

engajamento em Responsabilidade Social Corporativa, esta pesquisa busca validar os mesmos

fatores na realidade brasileira. Os principais achados foram a validação das três variáveis que,

para Dilling (2011), determinam a percepção de engajamento em Responsabilidade Social

Corporativa e a descoberta de outras variáveis e ainda a observação de algumas características

especificas sobre a percepção de stakeholders brasileiros, dentro do universo pesquisado.

Palavras Chave: Responsabilidade Social Corporativa, Stakeholder, Percepção.

Page 6: Responsabilidade Social Corporativa: Um estudo aplicado ...s3.amazonaws.com/.../dis_2012_38_-_raphael_adolpho_cavaliere_dutra.pdf · percepção entre os stakeholders de uma ... fatores

6

ABSTRACT

This research examines the perception of stakeholder’s groups, both internal and external,

about Corporate Social Responsibility within the reality of a large Brazilian company. The

empirical analysis was conducted by an exploratory qualitative research, based on interviews

and supported by ZMET methodology. The research is based on the investigation of Dilling’s

(2011) variables as well as Belal and Roberts (2010) factors, exploring what are the

determinants of CSR perception inside Brazilian reality. As the main findings Dilling’s (2011)

variables were validated, determining the perception of engagement in CSR and the discovery

of other variables of influence. Finally, we could observer some specific characteristics on the

Brazilian stakeholders’ perception inside the studied universe.

Keywords: Corporate Social Responsibility, Stakeholder, Perception.

Page 7: Responsabilidade Social Corporativa: Um estudo aplicado ...s3.amazonaws.com/.../dis_2012_38_-_raphael_adolpho_cavaliere_dutra.pdf · percepção entre os stakeholders de uma ... fatores

7

LISTA DE FIGURAS

Figura 1 – Nível de relacionamento com os stakeholders 23

Figura 02 – Percepção de Investimento na Comunidade 47

Figura 03 – Naturalidade dos Funcionários da Petrobras 49

Figura 04 – Região onde trabalham os funcionários da Petrobras 49

Figura 05 – Percepção de Diversidade Social 50

Figura 06 – Percepção de Práticas Sustentáveis 51

Figura 07 – Resumo da percepção das variáveis de Dilling (2011) 52

Figura 08 – Novas variáveis determinantes na Percepção de RSC 55

Page 8: Responsabilidade Social Corporativa: Um estudo aplicado ...s3.amazonaws.com/.../dis_2012_38_-_raphael_adolpho_cavaliere_dutra.pdf · percepção entre os stakeholders de uma ... fatores

8

LISTA DE ABREVIATURAS CMMAD Comissão Mundial Sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento

GRI Global Reporting Iniciative

ONG Organização Não Governamental

ONU Organização das Nações Unidas

RRS Relatório de Responsabilidade Social

RSC Responsabilidade Social Corporativa

RT Radical Transactiveness

WBCSD World Business Council for Sustainable Development

AMA American Marketing Association

ZMET Zaltman MethaPhor Elicitation Technique

Page 9: Responsabilidade Social Corporativa: Um estudo aplicado ...s3.amazonaws.com/.../dis_2012_38_-_raphael_adolpho_cavaliere_dutra.pdf · percepção entre os stakeholders de uma ... fatores

9

SUMÁRIO

DEDICATÓRIA (OPCIONAL) .............................................................................................. 4

RESUMO ................................................................................................................................... 5

ABSTRACT .............................................................................................................................. 6

LISTA DE FIGURAS ............................................................................................................... 7

LISTA DE ABREVIATURAS ................................................................................................. 8

SUMÁRIO ................................................................................................................................. 9

1 INTRODUÇÃO .............................................................................................................. 11

1.1 FORMULAÇÂO DO PROBLEMA ......................................................................................................... 12

1.2 DEFINIÇÂO DOS OBJETIVOS DE PESQUISA: ................................................................................. 15 1.2.1 Objetivo Geral: ................................................................................................................................... 15 1.2.2 Objetivos Específicos ......................................................................................................................... 15

2 QUADRO TEÓRICO DE REFERÊNCIA .................................................................. 17

2.1 RESPONSABILIDADE SOCIAL CORPORATIVA ............................................................................. 19

2.2 STAKEHOLDER ....................................................................................................................................... 21

2.3 PERCEPÇÃO............................................................................................................................................. 26

2.4 MARCA E IMAGEM DA MARCA ......................................................................................................... 28

2.5 AGREGANDO VALOR Á MARCA ATRAVÉS DA RSC .................................................................... 30

2.6 SITUAÇÂO NO CAMPO DE CONHECIMENTO DE PERCEPÇÂO DE ENGAJAMENTO EM RSC 32

3 METODOLOGIA ........................................................................................................... 38

3.1 PERGUNTAS DE PESQUISA ................................................................................................................. 38

Page 10: Responsabilidade Social Corporativa: Um estudo aplicado ...s3.amazonaws.com/.../dis_2012_38_-_raphael_adolpho_cavaliere_dutra.pdf · percepção entre os stakeholders de uma ... fatores

10

3.2 METODOLOGIA DE ANÁLISE ............................................................................................................. 39

3.3 DELIMITAÇÃO E “DESIGN” DA PESQUISA..................................................................................... 41 3.3.1 População e amostragem .................................................................................................................... 41 3.3.2 Delineamento da pesquisa .................................................................................................................. 42

4 RESULTADOS DA PESQUISA ................................................................................... 46

4.1 ANÁLISE DAS VARIÁVEIS DILLING (2011) ...................................................................................... 46

4.2 RELEVÂNCIA DAS VARIÁVEIS .......................................................................................................... 53

4.3 DEMAIS VARIÁVEIS .............................................................................................................................. 54

4.4 PROFUNDIDADE DO ENGAJAMENTO EM RSC ............................................................................. 56

4.5 RESPONSABILIDADE INDIVIDUAL ................................................................................................... 57

5 CONCLUSÃO ................................................................................................................. 60

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ................................................................................. 63

APÊNDICE A ......................................................................................................................... 70

APÊNDICE B .......................................................................................................................... 74

Page 11: Responsabilidade Social Corporativa: Um estudo aplicado ...s3.amazonaws.com/.../dis_2012_38_-_raphael_adolpho_cavaliere_dutra.pdf · percepção entre os stakeholders de uma ... fatores

11

1 INTRODUÇÃO

Com a crescente atenção que o assunto sustentabilidade vem recebendo da sociedade, dos

governos e das organizações não governamentais, aumenta a pressão e o foco sobre as

grandes empresas e a responsabilidade com que conduzem seus negócios. Assim, cada dia

mais, aumenta a cobrança para que as empresas diminuam seus impactos sobre o meio

ambiente, utilizem menos recursos naturais e envolvam as partes interessadas, impactadas,

direta ou indiretamente, pelos seus negócios (DONALDSON; PRESTON, 1995;

SCHWARTZ; CARROLL, 2003).

Como decorrência desse processo, aspectos de gestão socioambiental passam a fazer parte da

elaboração da estratégia empresarial. Dentre as principais estratégias adotadas está a busca de

diferenciação por meio de ações de cunho socioambiental, construindo assim uma reputação

que traga consigo todos os atributos positivos relacionados com uma postura socialmente

ativa, sustentável e responsável, trazendo benefícios para sociedade (PORTER; VAN DER

LINDE, 1995).

Para que a estratégia de diferenciação não seja facilmente copiável, é preciso que toda a

corporação esteja imbuída do mesmo propósito e que haja o envolvimento dos stakeholders

que se relaciona com a empresa (BRITO; BERARDI, 2010). Desta forma, o relacionamento e

a gestão dos stakeholders passam a ser fundamentais para o desenvolvimento dos negócios,

sendo um dos grandes focos da comunicação das empresas. É um grande desafio compreender

e alinhar todas as partes interessadas em torno de um mesmo objetivo, e, para isso, é preciso

identificar se todos estão falando e entendendo o mesmo, se estão, de fato, percebendo as

mensagens da empresa de forma adequada, pois cada um dos grupos é impactado de forma

diferente e, portanto, podem ter interesses distintos ou divergentes.

Page 12: Responsabilidade Social Corporativa: Um estudo aplicado ...s3.amazonaws.com/.../dis_2012_38_-_raphael_adolpho_cavaliere_dutra.pdf · percepção entre os stakeholders de uma ... fatores

12

Desta forma, os temas Responsabilidade Social Corporativa (RSC) e relacionamento com os

stakeholders têm recebido crescente atenção nos últimos anos (DE BAKKER;

GROENEWEGEN; DEN HOND, 2005). Contudo, são menos frequentes os estudos acerca da

percepção que os stakeholders têm sobre engajamento das empresas em RSC.

Nesse sentido, destacam se os recentes trabalhos de Belal e Roberts (2010) e Dilling (2011),

no estudo de fatores e variáveis que determinam a percepção dos stakeholders acerca de RSC

nas empresas. Os estudos são ambientados em Bangladesh e no mercado Norte Americano

respectivamente e serviram de base para esta proposta de estudo que foi aplicado a uma

empresa Brasileira.

O presente estudo apoia-se nas pesquisas acima, adotando uma nova abordagem

metodológica, qualitativa exploratória, buscando identificar se, dentro do mercado brasileiro,

um país em desenvolvimento e com seus traços culturais peculiares, as mesmas variáveis

identificadas nos estudos acima podem ser aplicadas. O estudo busca também captar a

diferença entre diferentes grupos de stakeholders de uma mesma empresa e explorar o

surgimento de novas variáveis.

1.1 FORMULAÇÂO DO PROBLEMA

Diante de um cenário de crescente competitividade, empresas investem grandes quantias de

dinheiro para tentar se comunicar com os seus diversos stakeholders, de forma a construir a

imagem desejada na mente desses. Contudo é muito difícil medir o impacto de tais estímulos

gerados pelo mix tradicional de comunicação (TV, rádio, Jornal e internet) das empresas e das

ações adotas por quem as comanda (KELLER; MACHADO, 2006).

Ao considerar que, principalmente as grandes empresas, possuem muitos públicos de

interesse, e geralmente, diferentes estratégias de comunicação e relacionamento, não seria

Page 13: Responsabilidade Social Corporativa: Um estudo aplicado ...s3.amazonaws.com/.../dis_2012_38_-_raphael_adolpho_cavaliere_dutra.pdf · percepção entre os stakeholders de uma ... fatores

13

ousadia imaginar que nem todos os públicos recebem a mensagem da mesma forma. Devemos

ainda considerar que uma mesma informação pode ter diferentes significados para públicos

distintos (KOTLER, 2000). Desta forma, empresas podem estar gastando grande parte de seus

recursos e não atingirem o objetivo proposto (KOTLER, 2000).

Belal e Roberts (2010) identificaram que, em Bangladesh, um país Asiático em

desenvolvimento e marcado pela corrupção, a comunicação desempenha um papel muito

importante na construção da percepção dos stakeholders. Os autores destacam que tanto a

conjuntura do país como a cultura influenciam a percepção dos diferentes públicos.

Dilling, em sua pesquisa de 2011, feita na grande potência mundial que é os Estados Unidos

da América, identificou três variáveis que, levando em conta o contexto socioeconômico norte

americano, condensam a percepção da responsabilidade social para o seu público:

investimento na comunidade, diversidade cultural e práticas sustentáveis.

Ainda, na mesma pesquisa, Dilling (2011) concluiu que grande parte do público acredita que

as empresas investem em ações de cunho sócio ambiental, apenas para obter um retorno de

imagem ou por exigências regulatórias, não sendo esse comportamento o reflexo da cultura da

empresa. Segundo o autor, em algumas situações, tal modelo de adaptação pode até

influenciar negativamente na percepção do público e colocar a empesa em uma posição de

aproveitadora.

Do ponto de vista da estratégia empresarial, há ainda um questionamento sobre a eficiência

dos meios atuais de comunicação em atingir os públicos, principalmente sobre as estratégias

de comunicação das empresas com os stakeoholders centrais em detrimento dos periféricos,

causando uma diferenciação na percepção destes dois grupos distintos (HART; SHARMA,

2004).

Page 14: Responsabilidade Social Corporativa: Um estudo aplicado ...s3.amazonaws.com/.../dis_2012_38_-_raphael_adolpho_cavaliere_dutra.pdf · percepção entre os stakeholders de uma ... fatores

14

O Brasil, como país em desenvolvimento, também é conhecido por problemas de corrupção

(BBC, 2012) e que, principalmente hoje, vive um momento especial para a sua economia,

numa época que se tem discutido muito a sustentabilidade e a corresponsabilidade das

empresas na manutenção do meio ambiente e do bem-estar social. Tanto pela competitividade

como pela conjuntura socioambiental o tema é cada vez mais relevante na realidade brasileira.

Page 15: Responsabilidade Social Corporativa: Um estudo aplicado ...s3.amazonaws.com/.../dis_2012_38_-_raphael_adolpho_cavaliere_dutra.pdf · percepção entre os stakeholders de uma ... fatores

15

1.2 DEFINIÇÂO DOS OBJETIVOS DE PESQUISA:

1.2.1 Objetivo Geral:

O presente estudo tem como objetivo estudar a percepção dos stakeholders acerca do

engajamento das empresas em RSC, levantando informações que ajudem a compreender a

gestão dos stakeholders e buscando entender o papel da responsabilidade social corporativa

na construção da imagem da empresa. Ao aplicar o estudo na realidade brasileira, este estudo

foca-se nos stakeholders de uma empresa, buscando entender se há diferença de percepção

entre os diversos públicos, considerando sua realidade e cenário atual.

Serão exploradas as variáveis levantadas por Dilling (2011), transportadas para a realidade do

Brasil. O estudo busca compreender como alguns fatores locais influenciam na percepção das

ações socioambientais praticadas pelas empresas. Dentre os fatores pesquisados estão a

diferença de percepção por grupos de stakeholders distintos, aspectos conjunturais e

ambientais e a possível desconfiança do brasileiro sobre as ações socioambientais praticadas

pelas empresas além de outras variáveis..

Nesta pesquisa, adotaremos a Petrobras como objeto do estudo, a décima quarta maior

empresa de Petróle do mundo (FORBES, 2012), analisando o relacionamento desta empresa

com os seus stakeholders.

1.2.2 Objetivos Específicos

Os objetivos específicos são:

· Identificar se as variáveis encontradas por Dilling (2011) podem ser aplicadas para

o público da empresa foco e entender se há outras variáveis que influenciam a

percepção de responsabilidade dos grupos de stakeholders estudados.

Page 16: Responsabilidade Social Corporativa: Um estudo aplicado ...s3.amazonaws.com/.../dis_2012_38_-_raphael_adolpho_cavaliere_dutra.pdf · percepção entre os stakeholders de uma ... fatores

16

· Entender como se dá a percepção dos stakeholders com relação ao engajamento da

Petrobras em ações de reponsabilidade social corporativa.

· Entender como os diferentes públicos percebem a empresa, de acordo com as suas

necessidades e expectativas.

O estudo irá contribuir no entendimento da percepção dos stakeholders brasileiros sobre um

tema de crescente importância no mercado nacional e global, a Responsabilidade Social

Corporativa. Identificando alguns componentes da percepção dos públicos estudados na

Petrobras e ajudando a compreender as expectativas que eles depositam na empresa.

Por utilizar uma empresa que é reconhecida pelo grande público, ativa em projetos de

investimento social e em cultura, e que claramente procura atrelar a sua marca a RSC, a

pesquisa com seus stakeholders se torna relevante.

Page 17: Responsabilidade Social Corporativa: Um estudo aplicado ...s3.amazonaws.com/.../dis_2012_38_-_raphael_adolpho_cavaliere_dutra.pdf · percepção entre os stakeholders de uma ... fatores

17

2 QUADRO TEÓRICO DE REFERÊNCIA

Neste capítulo, iremos explorar alguns aspectos relacionados com o tema pesquisado,

utilizando como base, estudos anteriores e autores de expressão dentro dos temas abordados.

Começa-se por discutir Responsabilidade Social Corporativa (RSC) nas empresas, e a gestão

de stakeholders como temas centrais deste trabalho. Em seguinda, passa-se para os temas de

percepção e marca e imagem da marca. Por fim, são abordados os temas de responsabilidade

social corporativa e sua relação com a percepção de valor da marca. O capítulo se encerra na

revisão dos trabalhos mais relevantes para este estudo.

Após décadas de aumento de consumo, principalmente em países desenvolvidos, tem sido

cada vez mais evidente os limites do planeta em termos de recursos naturais (VEIGA, 2010).

Como possíveis reflexos desse processo, têm sido apontados desastres naturais, o

aquecimento global, a poluição do ar, das águas e do solo e a exaustão de recursos

(OTTMAN, 1994; POLONSKY, 1994). As consequências atingem não somente países

subdesenvolvidos, mas também países em desenvolvimento e grandes potências mundiais,

fazendo com que, principalmente a partir da década de 1960, o assunto passe a ser seriamente

discutido e estando presente em grande parte dos encontros de líderes mundiais (OTTMAN,

1994; POLONSKY, 1994).

Foi principalmente a partir do ano de 1972, quando ocorreu a conferência de Estocolmo, que

tal preocupação começa a ser discutida e, paulatinamente, passa a ser inserida no horizonte de

Page 18: Responsabilidade Social Corporativa: Um estudo aplicado ...s3.amazonaws.com/.../dis_2012_38_-_raphael_adolpho_cavaliere_dutra.pdf · percepção entre os stakeholders de uma ... fatores

18

planejamento dos governos e de muitas empresas. Ainda que produzissem poucas ações

concretas, as preocupações socioambientais passam a ser incorporadas ao debate econômico.

Como continuidade desse novo ideário que começava a ser difundido na sociedade, foi criada

em 1983, pela Organização das Nações Unidas (ONU), a Comissão Mundial Sobre Meio

Ambiente e Desenvolvimento (CMMAD), onde se começou a discutir amplamente os

assuntos relacionados ao desenvolvimento sustentável e que gerou reflexos mais concretos

nas posturas governamentais e, mais em longo prazo, no setor privado. Em 1987 a CMMAD

elaborou o Relatório Brundtland definindo o desenvolvimento sustentável como aquele que

“... satisfaz as necessidades presentes, sem comprometer a capacidade das gerações futuras de

suprir suas próprias necessidades” (UN DOCUMENTS, 1987). A partir de então, além de

estar em foco, o assunto adquiriu o respaldo da entidade e de seus países membros.

Desta época para os dias de hoje, muito se passou e o assunto adquiriu maior relevância,

tornando hoje, a sustentabilidade, uma preocupação global e assim fazendo com que o setor

público e a sociedade passassem a cobrar das empresas o desenvolvimento de ações sociais e

ambientais, preventivas ou reparadoras, como forma de ressarcir parte do prejuízo causado

pelas atividades das mesmas. Assim, passa-se a cobrar a participação ativa do setor privado.

As empresas se tornaram corresponsáveis pela manutenção do bem estar social, que também

engloba a sustentabilidade ambiental e econômica (DALMORO et al., 2009; PEATTIE,

1995). Criando um novo tripé, que segundo a World Business Council for Sustainable

Development (WBCSD), passa a nortear a gestão das empresas: Crescimento econômico,

equilíbrio ecológico e progresso social. Considerando este novo tripé proposto, o desafio que

o mercado e a sociedade impõem às empresas é ser economicamente adequada, socialmente

aceitável e ambientalmente sustentável (DALMORO et al., 2009).

Assim, vêm à tona termos como Responsabilidade Social Corporativa (RSC), definida como a

responsabilidade de uma empresa, integrando preocupações sociais e ambientais em suas

Page 19: Responsabilidade Social Corporativa: Um estudo aplicado ...s3.amazonaws.com/.../dis_2012_38_-_raphael_adolpho_cavaliere_dutra.pdf · percepção entre os stakeholders de uma ... fatores

19

atividades e no relacionamento com os seus stakeholders (EUROPEAN COMMISSION,

2002) e consumo sustentável, que seria um novo padrão de consumo e produção de bens que

atenda às necessidades básicas sociedade e, ao mesmo tempo, minimize os impactos

ambientais no processo de produção, consumo e descarte (DIAS, 2008).

Nesse contexto, é aberto um imenso campo para debate, onde estudiosos defendem a

necessidade e a eficiência e outros questionam a rentabilidade de investimentos de cunho

sócio-ambiental, Friedman (1976), por exemplo, questiona os investimentos em ações de

cunho social e ambiental, que naturalmente gerariam custos incrementais, por alegar que elas

são contrárias ao principal motivo de existência das empresas, ou seja, a maximização dos

lucros. Já a corrente dos que são favoráveis aos investimentos socioambientais afirma que,

além dos acionistas, que visam à maximização dos lucros, há outros agentes que devem ser

considerados e que os lucros não podem vir à custa do bem estar social e do meio ambiente

(FREEMAN, 1984). Outros ainda, como Porter e Van Der Linde (1995), advogam que essas

ações podem trazer vantagens competitivas para as empresas que as promovem, agregando

valor à sua imagem e marca, ainda que as razões para este engajamento nem sempre estejam

muito claras para todos os públicos. Portanto, o tema tem provocado intenso debate e é cada

vez mais relevante para o mundo de negócios.

2.1 RESPONSABILIDADE SOCIAL CORPORATIVA

Para Hidayati (2011), o desenvolvimento de um país não é responsabilidade apenas do

governo, todo cidadão deve assumir a responsabilidade de atingir o bem estar social e

melhorar a qualidade de vida da comunidade e da sociedade como um todo. Hart (1995),

afirmou que todas as empresas devem avaliar o impacto dos seus negócios na sociedade e no

Page 20: Responsabilidade Social Corporativa: Um estudo aplicado ...s3.amazonaws.com/.../dis_2012_38_-_raphael_adolpho_cavaliere_dutra.pdf · percepção entre os stakeholders de uma ... fatores

20

meio ambiente e, de alguma forma, compensar e garantir o equilíbrio nos aspectos

econômicos, ambientais e sociais.

Em um primeiro momento, a preocupação com as questões sociais, ambientais e de

desenvolvimento da comunidade era chamada de contrato social, ou dívida social, que é

quando uma empresa deve devolver para a sociedade parte dos frutos que ela obtém através

da sua atividade fim ou parte do impacto que ela causa, geralmente ambiental, em suas

atividades. A evolução desse pensamento e das práticas atreladas a ele passou a ser

denominada Responsabilidade Social Corporativa (SHAHIN; ZAIRI, 2007).

Para o World Business Council For Sustainable Development (2000), a Responsabilidade

Social Corporativa é descrita como o comprometimento do negócio em contribuir para um

desenvolvimento econômico sustentável, atenção aos colaboradores, à comunidade local e à

sociedade.

Seguindo a mesma linha, a Comissão das Comunidades Europeias define responsabilidade

social corporativa como responsabilidade de uma empresa com a sociedade, integrando a

preocupação ambiental em suas atividades, assim como o relacionamento com os

stakeholders (EUROPEAN COMISSION, 2002).

De fato, RSC está intrinsecamente relacionado à gestão de stakeholders. A busca por

legitimidade faz com que empresas procurem por aceitação das suas atividades, considerando

que os recursos por ela utilizados poderiam ser destinados para outros fins de maior retorno

social e menor impacto, fazendo com que, mesmo de forma indireta, a empresa também seja

dependente da sociedade onde ela está instalada. Portanto a prática da responsabilidade social

é uma busca constante por reconhecimento da sociedade e pelo reforço da legitimidade na

utilização dos recursos (TSANG; WELFORD; BROWN, 2009).

Page 21: Responsabilidade Social Corporativa: Um estudo aplicado ...s3.amazonaws.com/.../dis_2012_38_-_raphael_adolpho_cavaliere_dutra.pdf · percepção entre os stakeholders de uma ... fatores

21

Com uma visão mais integrada de negócios, alguns autores afirmam que ignorar os problemas

sociais e ambientais de uma comunidade ou país seria autodestrutivo para o negócio no longo

prazo, portanto empresas privadas se comprometem a cumprir obrigações legais, éticas ou

morais e que deem retorno para a sociedade, como uma forma de sobrevivência

(PAPASOLOMOU; KRAMBIA; KATSIOLOUDES, 2005). Porter (1995) afirma que a

correta administração dos recursos naturais e a correta utilização dos insumos, sem

desperdício e diminuindo as perdas, além de ser uma prática reconhecida de reponsabilidade

ambiental, representa uma real diminuição nos custos de produção, consequentemente um

aumento na rentabilidade do negócio.

Mesmo com o grande número de estudos, ainda não há um claro consenso sobre a relação

direta entre responsabilidade social corporativa e o incremento no desempenho financeiro de

uma empresa (DILLING, 2011). Contudo, quando o assunto é o impacto na imagem das

empresas, há um entendimento de que a RSC contribui positivamente para a percepção dos

clientes e outros stakeholders (LINDGREEN et al. , 2009).

2.2 STAKEHOLDER

Para Freeman (1984), stakeholder, ou partes interessadas, são os grupos sociais que podem

afetar, ou são afetados, direta ou indiretamente, pelas ações de uma empresa. Esse

envolvimento pode ser transitório ou de longo prazo e pode determinar o sucesso ou o

fracasso de uma empresa, de um produto ou de um empreendimento. Em uma visão mais

limitada e descritiva, que ainda serve de modelo para algumas empresas, os stakeholders são

aqueles grupos críticos para o sucesso das empresas (DONALDSON; PRESTON, 1995).

Investidores, empregados, clientes, fornecedores, empresas concorrentes e o governo,

podendo estes variar caso a caso, são os atores que controlam recursos vitais para o dia a dia

Page 22: Responsabilidade Social Corporativa: Um estudo aplicado ...s3.amazonaws.com/.../dis_2012_38_-_raphael_adolpho_cavaliere_dutra.pdf · percepção entre os stakeholders de uma ... fatores

22

da empresa, como a força de trabalho, no caso dos trabalhadores, ou o capital da empresa, no

caso dos acionistas.

Mas nem sempre os stakeholders são vistos como igualmente importantes. A Teoria do

Acionista, que é particularmente difundida no campo da economia, propaga que o propósito

de todos os gestores nas grandes empresas modernas é maximizar os lucros dos acionistas. Já

a abordagem dos stakeholders vem para rejeitar a chamada Tese da Separação, que afirma que

ética e economia podem ser separadas no mundo empresarial, assumindo assim que a ética

empresarial, por definição, seria um oximoro (FREEMAN, 1984). A separação entre ética e

economia é paradoxal, uma vez que a economia está inserida na sociedade, e a gestão de

stakeholder configura a razão de ser das empresas (FREEMAN, 1984).

Dar voz a esses diversos atores sociais, assumindo uma postura proativa são passos

necessários para a um modelo de gestão estratégia de stakeholders. Tal processo inclui o

monitoramento constantemente de cada um deles, pois as suas ações podem ser imprevisíveis

e os resultados comprometedores. É muito importante que as demandas que surgirem sejam

gerenciadas, com ajuda da empresa e o engajamento dos próprios stakeholders envolvidos,

para que se conquiste a confiança dos grupos. A palavra chave é gerenciamento e não

manipulação, pois é preciso existir uma relação de mão dupla, de troca (PARMAR;

FREEMAN; HARRISON; WICKS; PURNELL; COLLE, 2010).

Para Hart e Sharma (2004), em seu modelo mais completo e mais moderno de mapeamento,

sugerem que os stakeholders sejam divididos em dois grupos: Os stakeholders nucleares (ou

centrais) e os stakeholders periféricos.

Page 23: Responsabilidade Social Corporativa: Um estudo aplicado ...s3.amazonaws.com/.../dis_2012_38_-_raphael_adolpho_cavaliere_dutra.pdf · percepção entre os stakeholders de uma ... fatores

23

Figura 1 – Nível de relacionamento com os stakeholders (Adaptado de Hart e Sharma, 2004)

Segundo Hart e Sharma (2004), perigosamente, a maioria das empresas ainda mantém o seu

foco apenas nos stakeholders nucleares, os mais latentes ou mais influentes nos seus modelos

de negócio. Como consequência, alguns atores que anteriormente eram considerados de

menor relevância, podem causar grandes transtornos, o que poderia ter sido evitado com o

monitoramento adequado das demandas e das necessidades dos envolvidos indiretos. Um

grande exemplo destes indiretamente envolvidos são as ONGs e grupos da sociedade civil,

que antes eram pouco considerados pelas empresas, e que, com o enfraquecimento do poder

governamental e a maior relevância conquistada, ganharam grande força e relevância nas

decisões empresariais. Esses grupos, muitas vezes assumem um papel de fiscalização e de

cobrança, que antes era do Estado. Os avanços da internet e a evolução das redes sociais

tiveram grande influência nesse novo modelo, servindo como catalisadores para a

Page 24: Responsabilidade Social Corporativa: Um estudo aplicado ...s3.amazonaws.com/.../dis_2012_38_-_raphael_adolpho_cavaliere_dutra.pdf · percepção entre os stakeholders de uma ... fatores

24

mobilização e engajamento popular, dando voz a todos e tornando impossível conter o

envolvimento e a comoção social em torno de uma causa. Por isso, neste modelo, grupos

como as ONGs, entidades conservacionistas, como Greenpeace e World Wildlife Fund for

Nature (que são ONGs focadas na preservação do meio ambiente) e a comunidade foram

colocados como stakeholders centrais, e tem como alvo de suas ações, principalmente, as

grandes corporações. Os stakeholders periféricos geralmente estão desconectados ou

invisíveis para as empresas, pois pouco ou em nada afetam os negócios das empresas, contudo

podem ser diretamente afetados pela sua cadeia produtiva ou pelo processo de descarte dos

resíduos frutos da produção ou da utilização dos produtos. Neste grupo, por exemplo, está a

população e baixa renda, as comunidades isoladas, os animais, entre outros, como mostrado

na Figura 1.

A estratégia proposta pelo modelo é dar voz a estes que antes eram negligenciados, ainda que

não detenham recursos vitais para os negócios, dando oportunidade de exporem o seu ponto

de vista e necessidades, para que se evitem surpresas ao longo das empreitadas empresariais.

Escutar a todos os possíveis stakeholders, centrais ou periféricos, além de evitar os problemas

decorrentes dos conflitos de interesse, como falado anteriormente, pode ser uma grande fonte

de oportunidades com novos negócios. Com o diálogo e a troca de informação são

identificados novos nichos, produtos ou serviços que antes eram invisíveis para as empresas,

mais comumente denominadas de demandas reprimidas (HART; SHARMA, 2004.

FREEMAN; WICKS; PARMAR, 2004).

Como fruto deste modelo de gerenciamento dos stakeholders, Hart e Sharma (2004)

desenvolveram a teoria da Radical Transactiveness (RT), ou pobremente traduzindo,

Transitividade Radical, que é baseada em dois pilares: O primeiro é a habilidade de estender

Page 25: Responsabilidade Social Corporativa: Um estudo aplicado ...s3.amazonaws.com/.../dis_2012_38_-_raphael_adolpho_cavaliere_dutra.pdf · percepção entre os stakeholders de uma ... fatores

25

os escopo dos negócios da empresa (Fan out) e o segundo é a habilidade de integrar e

convergir o chamado de conhecimento divergente ou difuso (Fan in).

Estender o escopo do negócio é ir além do modelo de negócios atual da empresa, olhando

para futuras fontes de vantagens competitivas, que requer um pensamento divergente por

parte dos gestores, para identificar necessidades não atendidas dos consumidores atuais e de

potenciais futuros clientes. De maneira mais concisa, é saber olhar para fora da empresa e do

seu próprio mercado e ter a capacidade de entender os novos cenários e identificar novas

oportunidades.

Finalizando, dentro do processo de identificação de oportunidades e riscos externos e latentes,

é preciso que as empresas sejam capazes de fazer o que os autores chamaram de convergência

do conhecimento difuso, que é a capacidade de transformar esse conhecimento adquirido no

campo, através do diálogo e da troca com stakeholders nucleares e periféricos, em ações

práticas, realistas e adequadas para cada empresa.

Dentro do contexto da responsabilidade social corporativa, a comunicação possui um

importante papel na relação com stakeholders. A ferramenta mais utilizada pelas empresas

para comunicar e disseminar as suas ações de responsabilidade social aos seus grupos de

interesse é o Corporate Social Report, que neste texto será traduzido como Relatório de

Responsabilidade Social (RRS), e nele, segundo a literatura corrente, há uma maior

preocupação com os stakeholders de maior impacto no negócio, enquanto os stakeholders

menos influentes são negligenciados (BELAL, 2002). Segundo a Global Reporting Iniciative

(GRI), uma entidade sem fins lucrativos que promove uma metodologia de relatório

amplamente difundida no mundo. Os relatórios são definidos como um instrumento

organizacional que fornece informações sobre o desempenho econômico ambiental, social e

Page 26: Responsabilidade Social Corporativa: Um estudo aplicado ...s3.amazonaws.com/.../dis_2012_38_-_raphael_adolpho_cavaliere_dutra.pdf · percepção entre os stakeholders de uma ... fatores

26

de governança da empresa. A adoção sistemática desta prática dá aos stakeholders métricas e

bases comparativas entre as empresas e da evolução do desempenho de uma única corporação

(GRI, 2012).

Finalmente, o interesse na sustentabilidade e na responsabilidade social como prática

corporativa e, principalmente, o interesse dos grupos de stakeholders nesse assunto, gerou

uma necessidade da elaboração de um critério para comparação entre as empresas presentes

no mercado de capitais, como uma forma de diferenciação. Alguns destes indicadores são

Dow Jones Sustainability Index, o FTSE4Good e o Domini Social Index, sendo as mais

reconhecidas e prestigiadas chancelas do mercado de ações global, dando credibilidade e

noção de investimento para as empresas quando analisadas pelos investidores, na questão

responsabilidade social corporativa (HART, 2003; LOPÉZ; GARCIA, RODRIGUEZ, 2007).

2.3 PERCEPÇÃO

Para melhor entender da percepção humana, antes de tudo, é preciso compreender a sua

natureza e os muitos fatores que a influenciam.

Segundo Hawkings, Mothersbaugh e Best (2007) a percepção é dividida em três etapas. A

primeira, a exposição, ocorre quando um determinado estímulo entra em contato com os

sentidos do receptor (visão, audição, tato, olfato ou paladar), acionando assim a segunda

etapa, que é a retenção da sua atenção e, finalmente, é atribuído um significado a este

estímulo, completando assim o terceiro estágio, a interpretação. Devido à natureza seletiva da

atenção, os consumidores não são receptores passivos da informação, pois o ser humano não

seria capaz de processar todos os estímulos do ambiente, caso não os selecionasse, ainda que

em um nível subconsciente. Aí reside um grande desafio para os profissionais de

Page 27: Responsabilidade Social Corporativa: Um estudo aplicado ...s3.amazonaws.com/.../dis_2012_38_-_raphael_adolpho_cavaliere_dutra.pdf · percepção entre os stakeholders de uma ... fatores

27

comunicação, atrair e capturar a atenção do interlocutor, e para isso é muito importante

compreendê-lo e entender profundamente os seus interesses.

O entendimento e o conhecimento do público-alvo são fundamentais para uma estratégia de

comunicação bem sucedida, considerando que, principalmente nos dias de hoje, são diversos

os estímulos recebidos, poluindo e congestionando os sentidos. É preciso diferenciar-se para

destacar-se em meio à arena que se tornou o ambiente de marketing, onde o prêmio é a

atenção do interlocutor. Como os indivíduos tendem a ser atraídos por estímulos que para ele

são agradáveis e repelido pelos estímulos que não os agradam, a chave da comunicação é

identificar os estímulos corretos para os determinados públicos (PIETERS; WEDEL, 2004)

Uma pessoa tende a ser muito mais receptiva a estímulos que estejam relacionados com suas

áreas de interesse. Por exemplo: Uma mãe de recém-nascidos tende a ser mais receptiva a

estímulos de comunicação que contenham fotos de crianças do que um adolescente, pois essa

imagem faz mais parte do seu universo e interesse, ainda que momentaneamente

(HAWKINGS; MOTHERSBAUGH; BEST, 2007).

A atenção é determinada por três fatores: o estímulo, o indivíduo e a situação. Existem

diversas características físicas que podem interferir na efetividade do estímulo, podendo atrair

ou não a atenção do receptor. Características como cor, intensidade ou repetição, formato,

movimento, contraste, quantidade de informação, entre outras, podem ser trabalhados em todo

o planejamento de comunicação, de acordo com a mensagem que se pretende passar e com o

perfil do público que se pretende atingir. Os fatores relacionados ao indivíduo são os que

distinguem um indivíduo do outro. Os dois principais fatores individuais são: a motivação

pessoal, que é basicamente o interesse ou a necessidade que a pessoa tem por determinado

assunto, e a habilidade, que é a capacidade de prestar atenção ou de absorver determinado

Page 28: Responsabilidade Social Corporativa: Um estudo aplicado ...s3.amazonaws.com/.../dis_2012_38_-_raphael_adolpho_cavaliere_dutra.pdf · percepção entre os stakeholders de uma ... fatores

28

assunto e está diretamente relacionada com a familiaridade com o mesmo e com o meio que

emitiu o estímulo. Finalizando os três fatores que determinam a atenção, a situação é todo o

estímulo cruzado que divide o mesmo ambiente e pode tirar a atenção do estímulo principal

(HAWKINGS; MOTHERSBAUGH; BEST, 2007).

Ainda segundo Hawkings, Mothersbaugh e Best (2007), a interpretação é a atribuição de

significado a sensações. Esta interpretação está relacionada a como compreendemos e damos

sentido às informações que recebemos.

Ao interpretarmos um estímulo, atribuímos um significado baseado nas nossas expectativas,

no contexto onde ele ocorre, pois a cada estímulo pode ser atribuído um significado diferente

de acordo com os contextos, nos traços psicológicos, que são os pulsos hereditários que

impulsionam as necessidades e desejos, e, finalmente, no aprendizado e no conhecimento

adquirido, que leva em consideração a influência da cultura na qual se está inserido

(PIETERS; WEDEL, 2004).

Todos esses aspectos aplicam-se à interação com produtos, empresas ajudando a construir a

imagem da marca como vemos a seguir.

2.4 MARCA E IMAGEM DA MARCA

Uma marca é a junção dos estímulos enviados por uma empresa aos consumidores acerca dos

seus produtos e da própria empresa. A marca, na sua essência, é a junção destes estímulos,

constituindo a percepção do consumidor. Para criar uma marca de sucesso requer misturar

todos os elementos que a constroem de uma maneira exclusiva, o produto ou serviço tem que

ser de alta qualidade e adequado às necessidades do seu consumidor-alvo, o nome da marca

Page 29: Responsabilidade Social Corporativa: Um estudo aplicado ...s3.amazonaws.com/.../dis_2012_38_-_raphael_adolpho_cavaliere_dutra.pdf · percepção entre os stakeholders de uma ... fatores

29

deve ser atraente e estar afinado com a percepção do consumidor relativa a produto,

embalagem, promoção, preço e todos os outros elementos devem, da mesma forma, passar

nos testes de adequação, apelo e diferenciação (KELLER; MACHADO, 2006).

Marca, para a American Marketing Association (AMA) (2012) “é um nome, termo, símbolo,

desenho, ou uma combinação desses elementos que deve identificar os bens ou serviços de

um fornecedor ou grupo de fornecedores e diferenciá-los dos da concorrência”.

Keller e Machado (2006) define a construção de uma marca como o conjunto de atividades

que visa aperfeiçoar a gestão de uma organização como um diferencial competitivo,

envolvendo atividades como design, nome, proteção legal, pesquisa de mercado, avaliação

financeira, posicionamento e comunicação. Assim sendo, a marca é capaz de simplificar o

processo de decisão de compra do consumidor, reduzindo seus riscos e atendendo as suas

expectativas.

Para o interlocutor, a imagem é a junção de todos os estímulos que foram recebidos por esse,

independente de haver consonância entre a comunicação pretendida pela empresa e a

comunicação de fato percebida. A marca está na cabeça do consumidor (HAWKINGS;

MOTHERSBAUGH; BEST, 2007).

Segundo Patterson (1999), a imagem da marca é uma percepção subjetiva, uma representação

mental de informações a respeito de uma marca ou um serviço. E ainda, para Keller (1993), a

imagem da marca é construída na cabeça do consumidor e é definida pelas percepções e

associações que estão gravadas em sua memória.

Page 30: Responsabilidade Social Corporativa: Um estudo aplicado ...s3.amazonaws.com/.../dis_2012_38_-_raphael_adolpho_cavaliere_dutra.pdf · percepção entre os stakeholders de uma ... fatores

30

A identidade da marca é uma função do posicionamento, que é como a empresa gostaria de

ser percebida, e da imagem que ela possui, ou seja, a forma como os consumidores a veem. O

posicionamento da marca e a imagem que ela possui muitas vezes não são idênticos, pois a

construção da imagem que o consumidor faz é baseada em todos os contatos que ele teve

anteriormente, não somente no que é veiculado nos meios de comunicação. Manter uma

identidade consistente requer um constante alinhamento entre o posicionamento comunicado

e a percepção que o consumidor tem da marca (PARKER; SEGEV; PINTO, 2010).

2.5 AGREGANDO VALOR Á MARCA ATRAVÉS DA RSC

Os mercados locais e globais se encontram extremamente competitivos, onde as empresas

enfrentam enormes dificuldades para se diferenciar e se sobressair em relação aos seus

concorrentes. O grande desafio é criar atributos que diferenciem as marcas e seus produtos e

que agreguem um valor que seja percebido e valorizado pelos seus consumidores (LAI;

CHIU; YANG, 2010).

A diferenciação das marcas por atributos tangíveis, como qualidade, atributos dos produtos e

preço, cria um valor efêmero para as marcas, pois é facilmente replicável pelos concorrentes

(BARNEY; HESTERLY, 2008). Para se criar uma diferenciação duradoura e concreta, é

preciso trabalhar os atributos intangíveis, como confiança, imagem, reputação e associações

positivas (CRETU; BRODIE, 2007; MUDAMBI; DOYLE; WONG, 1997). Marcas baseadas

em atributos intangíveis e características emocionais são vistas como mais duráveis e estão

menos propensas a serem erodidos para pelos concorrentes (CHERNATONY, 1991).

Reflexo disso, é que a Responsabilidade Social e Corporativa está cada dia mais visível nas

estratégias das empresas, como uma forma de agregar os atributos intangíveis citados

Page 31: Responsabilidade Social Corporativa: Um estudo aplicado ...s3.amazonaws.com/.../dis_2012_38_-_raphael_adolpho_cavaliere_dutra.pdf · percepção entre os stakeholders de uma ... fatores

31

anteriormente. Peattie e Charter, em (2003) definiram este tema como a gestão holística dos

processos responsáveis por identificar, antecipar e satisfazer as necessidades dos clientes e

sociedade, de forma lucrativa e sustentável.

A preocupação com a sustentabilidade e com a imagem corporativa, que antes era focada no

consumidor final, agora deve ser estendida a outras partes interessadas, ou stakeholders, como

o governo, os sindicatos, os fornecedores, as entidades civis, os concorrentes, os acionistas, os

colaboradores e funcionários, os parceiros e quaisquer outros setores da sociedade que

estejam envolvidos com a empresa. Essa mudança é muito importante, pois muitas empresas

globais se tornaram muito poderosas e dominantes, até mesmo, mais dominantes que

pequenos governos e países, muitas delas apresentando um lucro anual maior do que o

Produto Interno Bruto de pequenas nações (ANDERSON; CAVANAGH, 2000).

Especificamente falando sobre a responsabilidade ambiental, dentro do contexto de RSC, as

evidencias apontam que os stakeholders reagem de forma positiva a empresas que protegem o

meio ambiente Da mesma forma, empresas que falham em cumprir normas e regulamentos de

respeito ao meio ambiente terão uma percepção de valor negativa por parte dos stakeholders

(BIRD; HALL; MOMENTÈ; REGGIANI, 2007).

Ficou claro que o Desenvolvimento Sustentável e a Responsabilidade Social Corporativa

devem fazer parte do cotidiano das grandes empresas e estar alinhados com suas ações e com

todo o planejamento estratégico e de comunicação desenvolvido por elas. Ainda, a empresa

deve cuidar para que todas as outras empresas com quem ela se relaciona, fornecedores e mão

de obra terceirizada, por exemplo, assim como os seus colaboradores, estejam imbuídos do

mesmo sentimento, para que ela seja verdadeiramente percebida por todos como uma empresa

social e ambientalmente responsável.

Page 32: Responsabilidade Social Corporativa: Um estudo aplicado ...s3.amazonaws.com/.../dis_2012_38_-_raphael_adolpho_cavaliere_dutra.pdf · percepção entre os stakeholders de uma ... fatores

32

Contudo, será que as empresas estão preparadas para isso? Será que elas, de fato, conhecem o

que os stakeholders valorizam em termos de responsabilidade social empresarial? Será que as

empresas sabem o que os diversos grupos com os quais ela se relaciona, direta ou

indiretamente, esperam delas ou como eles percebem e avaliam as suas ações relacionadas ao

tema discutido?

Para o presente estudo, assumiremos como parâmetro de RSC a definição do World Business

Concil for Sustainable Development (2000), que foi descrita como o comprometimento do

negócio em contribuir para um desenvolvimento econômico sustentável, atenção aos

colaboradores, à comunidade local e à sociedade, pois, de certa forma ela condensa o ponto de

vista e as conclusões expostas pelos outros autores. Contudo, é preciso salientar que, esta

definição será apenas um balizador, pois o objetivo é entender o que os stakeholders

estudados entendem como Responsabilidade Social Corporativa e se eles percebem que uma

relação direta do que eles têm como esse conceito e a atuação da empresa estudada. São

considerados como stakeholders, os grupos que podem afetar, ou são afetados, direta ou

indiretamente, pelas ações de uma empresa, segundo a definição de Freeman (1984). Desta

forma poderemos tentar determinar se existe uma conformidade entre o que a empresa

pretende comunicar para a sua marca e o que é percebido pelos grupos de stakeholders

estudados, no que diz respeito à RSC.

2.6 SITUAÇÂO NO CAMPO DE CONHECIMENTO DE PERCEPÇÂO DE

ENGAJAMENTO EM RSC

“Enquanto a Responsabilidade Social Corporativa recebe crescente atenção dos stakeholders,

as pesquisas vêm crescentemente explorando o tema, suas causas e implicações. Contudo,

Page 33: Responsabilidade Social Corporativa: Um estudo aplicado ...s3.amazonaws.com/.../dis_2012_38_-_raphael_adolpho_cavaliere_dutra.pdf · percepção entre os stakeholders de uma ... fatores

33

muito pouco se sabe, ou se estudou, sobre a percepção acerca da Responsabilidade Social

Corporativa” (DILLING, 2011, p.23, tradução nossa).

Dentro do campo da responsabilidade social corporativa, a comunicação é recorrentemente

abordada, sendo parte fundamental para a construção da percepção dos stakeholders. Os

relatórios de responsabilidade social, elaborados pelas empresas, são uma das principais

ferramentas de comunicação com as partes interessadas, enfatizando a importância de dar voz

aos grupos não gerenciados intervenientes nos processos empresarias e, consequentemente, no

balanço social (BELAL, 2002). Contudo, o fator motivador para o engajamento é sempre um

ponto nebuloso nestes documentos, não ficando clara a verdadeira motivação das empresas

para o engajamento e a divulgação das ações sociais (SNIDER; HILL; MARTIN, 2003). Em

2010, Belal e Roberts conduziram uma pesquisa qualitativa com 87 empresas de Bangladesh e

concluiu que os relatórios de responsabilidade social corporativa refletem apenas os interesses

dos stakeholders mais poderosos economicamente, negligenciando os stakeholders menos

economicamente influentes, como a comunidade.

Além da comunicação, fatores culturais são determinantes na percepção de Responsabilidade

Social Corporativa, podendo variar bastante entre países desenvolvidos e em

desenvolvimento, de acordo com o cenário local (JAMALI; MIRSHAK, 2007).

Ainda dentro da realidade dos países em desenvolvimento, três princípios que devem servir

como norte para o relacionamento empresa-stakeholder: Conhecer a história e a dinâmica das

comunidades locais, utilizar uma abordagem não coercitiva no relacionamento e na

comunicação com os constituintes locais e ter vontade real de proteger e desenvolver as

comunidades locais, nos aspectos econômicos e sociais (BUCHHOLZ; ROSENTAL, 2005).

Finalmente, Belal e Roberts (2010) concluíram que a maioria dos entrevistados era favorável

aos relatórios de responsabilidade social corporativa e que, em países em desenvolvimento, há

Page 34: Responsabilidade Social Corporativa: Um estudo aplicado ...s3.amazonaws.com/.../dis_2012_38_-_raphael_adolpho_cavaliere_dutra.pdf · percepção entre os stakeholders de uma ... fatores

34

uma grande preocupação com a corrupção e os impactos desta nestes relatórios e na sua

fiscalização e por isso, os entrevistados acreditam que órgãos internacionais independentes

teriam mais isonomia para regular assuntos relacionados ao tema, não sendo influenciados por

interesses escusos ou por propina, algo muito comum em países em desenvolvimento. Foi

descoberto também que diferentes stakeholders têm diferentes percepções da importância dos

relatórios de responsabilidade social, assim como na sua veracidade e motivação.

Dilling (2011), através de uma abordagem exploratória quantitativa, pesquisou a percepção

dos stakeholders sobre a Responsabilidade Social Corporativa, sendo a pesquisa que mais se

aproximou do tema proposto neste estudo. Para resumir o seu estudo, serão apresentados os

principais aspectos testados em sua pesquisa:

· A Publicação de relatórios de RSC resultará em maior percepção de engajamento

em RSC

· Empresas com mais tempo de mercado terão uma maior percepção de engajamento

na Responsabilidade Social Corporativa.

· Empresas engajadas no desenvolvimento da comunidade terão uma melhor

percepção de Responsabilidade Social Corporativa

· Há uma possível relação positiva entre o investimento em diversidade cultural e

percepção de Responsabilidade Social por parte dos stakeholders.

· Stakeholders terão uma melhor percepção de engajamento em Responsabilidade

Social corporativa de empresas que tenham práticas sustentáveis na utilização de

recursos naturais.

Ainda no mesmo estudo, Dilling (2011), condensou a análise dos dados em três variáveis

independentes, que, para ele, são as que melhor explicam a percepção dos stakeholders acerca

da responsabilidade social corporativa:

Page 35: Responsabilidade Social Corporativa: Um estudo aplicado ...s3.amazonaws.com/.../dis_2012_38_-_raphael_adolpho_cavaliere_dutra.pdf · percepção entre os stakeholders de uma ... fatores

35

(i) Investimento na comunidade, condensando termos como programas de

vizinhança e resposta a desastres;

(ii) Diversidade cultural, representando termos como políticas não discriminatórias

e programas pela diversidade da força de trabalho; e por último;

(iii) Práticas sustentáveis, representando respeito aos recursos naturais, conservação

da água e programas para evitar o desperdício.

Um ponto muito importante que surgiu durante o estudo, foi que, como premissa inicial, o

autor assumia que diversidade cultural e investimento na comunidade agregariam

positivamente na percepção dos stakeholders. Entretanto algumas opiniões foram divergentes

neste ponto. Para Dilling (2011), este fato pode ser creditado à percepção de que algumas

empresas fazem isso apenas como marketing e não por que realmente acreditam na sua

importância. Em adição, segundo a conclusão do texto, esse foi o primeiro estudo a identificar

estatisticamente variáveis que influenciam a percepção dos stakeholders sobre a RSC, que, se

devidamente trabalhadas, podem ajudar as empresas a obter melhores resultados nos esforços

relacionados a este assunto.

Dilling (2011) levantou mais um questionamento durante os seu processo de pesquisa: será

que as empresas estão se engajando na causa da responsabilidade social corporativa apenas na

expectativa de melhorar a sua reputação, para ganhar participação de mercado, ou por

realmente fazer parte da cultura e da visão corporativa? Neste caso, a autora defendeu que

alguns autores afirmam que, enquanto as empresas vão aumentando seus esforços sobre a

responsabilidade social corporativa, a percepção dos consumidores também vai

amadurecendo. Desta forma, gera-se um ciclo de investimento e elevação das expectativas

que tem como fruto mais investimento e, novamente, uma nova elevação das expectativas.

Portanto, muitas vezes o aumento no investimento dessa é reflexo de uma necessidade de

adequação ao mercado e ao que os consumidores esperam. Como essa expectativa é crescente,

Page 36: Responsabilidade Social Corporativa: Um estudo aplicado ...s3.amazonaws.com/.../dis_2012_38_-_raphael_adolpho_cavaliere_dutra.pdf · percepção entre os stakeholders de uma ... fatores

36

nem sempre os aumentos nos investimentos representam um aumento da percepção, pois os

mesmos podem estar crescendo em proporções diferentes.

A comunicação também foi foco na pesquisa de Dilling (2011). Em consonância com o que

foi publicado por Singh, Salmones e Del Bosque (2010), ela percebeu que, para os

consumidores que participaram de sua pesquisa, as empresas não estão fornecendo

informações suficientes para o mercado, a respeito das suas atividades relacionadas com a

responsabilidade social corporativa. Empresas comprometidas com esta causa devem

comunicar seu posicionamento de maneira adequada, com os stakeholders internos e externos.

O resultado do estudo indicou que os canais tradicionais de comunicação não vêm surtindo o

efeito esperado, mostrando que estes podem não ser os mais adequados para comunicar as

atividades e programas de Responsabilidade Social Corporativa das empresas.

Um relatório diferenciado e focado na linguagem e nos interesses de cada um dos

stakeholders seria uma ótima saída para que a comunicação das ações de responsabilidade

social corporativa tivesse mais sucesso, segundo a conclusão de Dilling (2011) em seu

trabalho.

Hoje, os executivos das empresas, assim como os especialistas em comunicação, não sabem

ao certo qual a maneira e os canais mais adequados para comunicar suas atividades de

Responsabilidade Social Corporativa. Também é claro que as empresas que comunicarem um

posicionamento diferente das suas atitudes e cultura real não obterão êxito no longo prazo

(TENCH; BOWD; JONES, 2007).

Como conclusão final, Dilling (2011) defende que a Responsabilidade Social Corporativa é

uma ferramenta para aumentar a o valor para os acionistas, assim como para aumentar o

engajamento e a moral dos colaboradores, desde que a empresa entenda como os stakeholders

Page 37: Responsabilidade Social Corporativa: Um estudo aplicado ...s3.amazonaws.com/.../dis_2012_38_-_raphael_adolpho_cavaliere_dutra.pdf · percepção entre os stakeholders de uma ... fatores

37

percebem o seu negócio, para isso eles devem ser consultados de forma contínua, para isso o

diálogo e a eficiência na comunicação são a chave para o sucesso.

Page 38: Responsabilidade Social Corporativa: Um estudo aplicado ...s3.amazonaws.com/.../dis_2012_38_-_raphael_adolpho_cavaliere_dutra.pdf · percepção entre os stakeholders de uma ... fatores

38

3 METODOLOGIA

3.1 PERGUNTAS DE PESQUISA

Com base nos estudos de Dilling (2011) e Belal e Roberts (2010) foram elaboradas as

seguintes perguntas de pesquisa para aplicação em uma empresa brasileira, a Petrobras.

1. As variáveis encontradas por Dilling (2011) podem ser aplicadas para a os

stakeholders da Petrobras, ou a percepção de Responsabilidade Social é determinada

por outras variáveis na empresa estudada?

2. Variáveis de Dilling (2011): Investimento na Comunidade, Diversidade Cultural e

Práticas Sustentáveis.

3. Qual das variáveis de Dilling (2011), citadas acima, é mais percebida pelos

stakeholders da Petrobras?

4. Como cada um dos públicos percebe o engajamento da Petrobras em Responsabilidade

Social Corporativa?

5. Qual dos públicos percebe um maior engajamento sócio ambiental da empresa?

Page 39: Responsabilidade Social Corporativa: Um estudo aplicado ...s3.amazonaws.com/.../dis_2012_38_-_raphael_adolpho_cavaliere_dutra.pdf · percepção entre os stakeholders de uma ... fatores

39

3.2 METODOLOGIA DE ANÁLISE

Para endereçar os objetivos acima definidos e considerando a natureza das informações que o

presente estudo se propõe obter, foi escolhida uma abordagem metodológica qualitativa, como

forma de obter as respostas para as perguntas de pesquisa.

A metodologia adotada será um misto entre a metodologia de Pesquisa Qualitativa

Exploratória e a metodologia Zaltman MethaPhor Elicitation Technique (ZMET), visando,

desta forma, compreender o fenômeno da percepção de engajamento em RSC dentro do grupo

estudado. A pesquisa baseia-se em entrevistas semiestruturadas, com o suporte de algumas

das etapas da ZMET, como forma de iniciar a entrevista, deixando o entrevistado mais à

vontade, e buscando extrair informações mais assertivas e consistentes dos respondentes. A

técnica, que se baseia em identificações visuais, também serve como uma forma de da

triangulação para validação dos resultados. Destaca-se o caráter pictórico da metodologia

ZMET, pois as imagens podem contribuir positivamente para o resultado do estudo, visto que

um dos objetivos é compreender a imagem da Petrobras e a percepção dos stakeholders

dentro do assunto estudado.

A escolha da metodologia exploratória qualitativa foi determinada pela característica dos

objetivos de pesquisa propostos, pois a metodologia visa explorar e compreender o

significado que indivíduos ou determinados grupos atribuem a problemas sociais ou humanos

(CRESWELL, 2010).

O arcabouço teórico sobre o tema RSC serviu como base para a pesquisa, contudo, também

foi preciso compreender como os públicos entendem esse conceito e como eles percebem a

relação da Petrobras com ele. Assim, o resultado, em alguns momentos, pode divergir das

definições formais do conceito de RSC. Desta forma, a pesquisa qualitativa é fundamental

Page 40: Responsabilidade Social Corporativa: Um estudo aplicado ...s3.amazonaws.com/.../dis_2012_38_-_raphael_adolpho_cavaliere_dutra.pdf · percepção entre os stakeholders de uma ... fatores

40

para a compreensão e a observação do fenômeno RSC pelo ponto de vista dos stakeholders

escolhidos, dentro de seus contextos sociais específicos.

No processo de pesquisa qualitativa, o pesquisador mantém um foco na aprendizagem do

significado que o pesquisado atribui ao fenômeno observado ou ao problema em questão,

independente do significado que o pesquisador trouxe para a pesquisa ou do significado

atribuído pelos autores na literatura específica do tema (CRESWELL, 2010). A metodologia

qualitativa permite o uso de mais de uma prática metodológica, na qual o pesquisador, como

um bricoleur, deve estar apto a desempenhar várias atividades na construção de significado

(DENZIN; LINCOLN, 2000, p. 6).

A Metodologia Zaltman Methaphor Elicitation Technique (ZMET), uma abordagem

qualitativa que visa identificar através de metáforas e relações diretas e indiretas existentes

entre elementos visuais coletados antes da entrevista e a percepção que o entrevistado tem

acerca da marca que é objeto da pesquisa (COULTER; ZALTMAN, 1994).

Nessa metodologia, a metáfora desempenha um papel fundamental na construção da

informação e na transmissão da mesma por parte do interlocutor, pois é por meio de imagens,

que para o entrevistado possuem um significado diretamente associado ao tema abordado, que

se conduz a entrevista (COULTER; ZALTMAN, 1994). Essa metodologia foi escolhida,

principalmente, devido a sua particularidade de associação entre imagens e a percepção de

marca, pela qual buscamos fazer com que o entrevistado traga o máximo de informações

possíveis e fique mais à vontade para falar do tema. Ainda, verificamos se há relação direta

entre a imagem de determinada marca/ empresa, construída em suas mentes, e a

Responsabilidade Social Corporativa.

Considerando as particularidades ZMET e suas limitações, utilizaremos apenas parte dos

processos propostos por alguns processos propostos por Coulter e Zaltman (1994), como

Page 41: Responsabilidade Social Corporativa: Um estudo aplicado ...s3.amazonaws.com/.../dis_2012_38_-_raphael_adolpho_cavaliere_dutra.pdf · percepção entre os stakeholders de uma ... fatores

41

forma de enriquecer as informações obtidas através da pesquisa de caráter qualitativo

exploratório. Apenas os passos 1 (Contando a história), 2 (Imagens perdidas), 3 (Ordenação

das imagens) e 5 (Imagens mais representativas) serão adotados durante as entrevistas (Anexo

1), no momento inicial, para que o entrevistado pense previamente no tema e, através das

imagens escolhidas traga o máximo de informação possível para o momento da entrevista.

3.3 DELIMITAÇÃO E “DESIGN” DA PESQUISA

3.3.1 População e amostragem

Por ser uma empresa de capital misto, praticamente todo Brasileiro ser considerado

stakeholder da Petrobras, mesmo que de forma indireta. Contudo, para delimitar um melhor

panorama do relacionamento da Petrobras com os seus stakeholders, iremos utilizar três

grupos de interesse que possuem uma grande relevância no negócio dessa empresa.

Os públicos escolhidos compõem duas classes de stakeholders, internos e externos.

Funcionários concursados (ou como tratados internamente os “petroleiros”), funcionários

terceirizados (ou “contratados”, como chamados internamente) e representantes de ONGs

com relacionamento e ou atividades relacionadas à empresa e seus impactos socioambientais.

Um dos critérios adotados para a escolha destes públicos foi a pluralidade de interesses na

relação com a empresa. Considera-se que os stakeholders internos tenham interesse

claramente convergente. Já o grupo de stakeholders externos, representantes das ONGs, traz

visões distintas na relação com a Petrobras, em muitos casos, servindo como fiscalizadores da

empresa ou até mesmo defendendo causas completamente destoantes dos interesses das

empresas de petróleo. Desta forma, espera-se que cada grupo olhe para a Petrobras pelo

prisma de seus interesses e acúmulo de conhecimento e experiências relacionadas com os

grupos de interesse dos quais pertencem. Ainda, os grupos internos, por estar na empresa no

Page 42: Responsabilidade Social Corporativa: Um estudo aplicado ...s3.amazonaws.com/.../dis_2012_38_-_raphael_adolpho_cavaliere_dutra.pdf · percepção entre os stakeholders de uma ... fatores

42

dia a dia, são muito mais impactados pela comunicação da Petrobras e têm muito mais acesso

a determinados tipos de informações do que os stakeholders externos.

Para minimizar o viés dos grupos de stakeholders internos, foram selecionados entrevistados

de diferentes divisões e setores da Petrobras, como Tecnologia da Informação, Pesquisa e

Exploração, Meio Ambiente e Segurança e Engenharia, configurando assim um perfil de

público mais amplo e heterogêneo para pesquisa.

Foram feitas nove entrevistas individuais semiestruturadas, suportada pela metodologia

ZMET, conforme descrito acima, sendo três com cada um dos públicos selecionados. As

entrevistas foram estimadas para, em média, uma hora de duração cada.

3.3.2 Delineamento da pesquisa

3.3.2.1 Instrumento de Coleta de Dados:

Para a coleta de dados, foi utilizado um roteiro semiestruturado (Apêndice 1) para servir de

apoio e guia para a condução das entrevistas, somado a isso foi solicitado que os entrevistados

pensassem em imagens relativas ao tema abordado, conforme metodologia ZMET, e também

consultassem um banco de imagens proposto pelo pesquisador, como forma de trazer

conteúdo adicional para as entrevistas.

Todas as entrevistas foram gravadas em arquivos de áudio, para facilitar a análise e a

interação entre entrevistado e pesquisador, e algumas anotações também foram feitas, para

registrar as impressões no momento da entrevista.

Page 43: Responsabilidade Social Corporativa: Um estudo aplicado ...s3.amazonaws.com/.../dis_2012_38_-_raphael_adolpho_cavaliere_dutra.pdf · percepção entre os stakeholders de uma ... fatores

43

3.3.2.2 Forma de Análise

Adotando o modelo proposto por Creswell (2010), foram seguidos os passos descritos abaixo

no processo de análise.

Passo 1 – Organização e transcrição das entrevistas e separação e ordenação das imagens

selecionadas no processo de entrevista.

Passo 2 – Leitura e análise do material consolidado para captar um panorama geral das

informações obtidas no processo de entrevista. Nesta etapa começou a surgir um determinado

padrão de informações dentro de cada um dos três grupos de stakeholders selecionados.

Passo 3 – Os dados foram separados por grupos de informações desejadas, de acordo com os

objetivos de pesquisa e por stakeholders, sendo esses internos, contratados e concursados, e

stakeholders externos, representantes de ONGs.

A etapa seguinte consistiu em buscar conceitos existentes dentro da massa de informação

obtida nas entrevistas. Estes conceitos foram identificados através de termos que se

assemelhassem ou ideias, que de forma mais ampla, também fossem semelhantes.

Após a etapa de identificação dos conceitos, foram procuradas semelhanças e discrepâncias

relevantes, dentro dos grupos de stakeholders, e também semelhanças e discrepâncias entre os

grupos de stakeholders.

Foram separados os códigos, que segundo a bibliografia e a perguntas de pesquisa, eram

esperados que surgissem na pesquisa e foram separados e identificados novos códigos que

representassem achados relevantes na pesquisa, não previsto na bibliografia.

Page 44: Responsabilidade Social Corporativa: Um estudo aplicado ...s3.amazonaws.com/.../dis_2012_38_-_raphael_adolpho_cavaliere_dutra.pdf · percepção entre os stakeholders de uma ... fatores

44

As imagens também foram analisadas individualmente, dentro do contexto de cada uma das

entrevistas, e foram separadas por grupos de stakeholders, tentando buscar informações

relevantes, convergentes e divergentes entre grupos e dentro dos grupos de stakeholders.

Passo 4 – Separação dos principais achados e categorização dos mesmos, sendo escolhido

aproximadamente cinco códigos principais para que passaram a nortear os resultados finais da

pesquisa qualitativa.

Passo 5 – A forma escolhida para a exposição dos dados no resultado final foi uma passagem

narrativa com as informações qualitativas obtidas, ainda suportadas por algumas das imagens

apontadas pelos entrevistados.

Passo 6 – Considerando sempre a revisão bibliográfica, foi realizada a interpretação de toda a

massa de informação obtida e já organizada conforme exposta nos passos um ao cinco. Nessa

etapa foram dadas as impressões pessoais do entrevistador e do pesquisador acerca das

informações obtidas.

3.3.2.3 Confiabilidade, generalização e validação

Devido ao caráter interpretativo da pesquisa qualitativa, sendo a impressão do pesquisador

determinante para o resultado final, é importante a validação das informações obtidas através

de determinadas ferramentas (FLICK, 2009).

Segundo sugerido por Creswell (2009), foi adotada a triangulação de diversas fontes para a

validação dos dados obtidos, sendo elas as informações obtidas nas entrevistas, a apresentação

e discussão das imagens e a relação com literatura pertinente ao tema abordado.

Page 45: Responsabilidade Social Corporativa: Um estudo aplicado ...s3.amazonaws.com/.../dis_2012_38_-_raphael_adolpho_cavaliere_dutra.pdf · percepção entre os stakeholders de uma ... fatores

45

Além disso, a todo o resultado foi revisto e discutido com a orientadora do estudo, Dra.

Renata Brito, o que configura um segundo olhar e uma segunda impressão sobre os resultados

obtidos, reduzindo ao máximo os vieses.

É importante destacar que a generalização do resultado desse estudo, de certa forma, é restrita,

considerando, primeiramente, que não é objetivo do estudo criar um modelo generalizável da

percepção de RSC dos stakeholders, considerando também que o estudo foi aplicado em

apenas uma empresa, a Petrobras e que os grupos de stakeholders também é restrito. A

intenção é compreender a percepção dos stakeholders dentro do universo testado, tendo

consciência da limitação dos resultados a esse mesmo universo. Para a generalização dos

resultados, é preciso que o estudo seja estendido para outros grupos de stakeholders e outras

empresas.

Page 46: Responsabilidade Social Corporativa: Um estudo aplicado ...s3.amazonaws.com/.../dis_2012_38_-_raphael_adolpho_cavaliere_dutra.pdf · percepção entre os stakeholders de uma ... fatores

46

4 RESULTADOS DA PESQUISA

Através de abordagem metodológica qualitativa exploratória, suportada por algumas etapas da

ZMET, e das ferramentas descritas no tópico Metodologia, foi possível chegar as diversas

conclusões descritas abaixo.

Além das entrevistas, as discussões baseadas nas imagens trazidas ou escolhidas pelos

entrevistados foram uma rica fonte de informações para o resultado e as conclusões do

presente estudo. Desta forma, além dos insights gerados, foram selecionadas algumas imagens

e trechos da entrevista que possam ilustrar melhor os achados da pesquisa.

4.1 ANÁLISE DAS VARIÁVEIS DILLING (2011)

Dilling (2011) identificou, através de pesquisa com dados secundários, três variáveis que

seriam determinantes na percepção dos stakeholders com relação ao engajamento em RSC

por parte das empresas. Investimento na comunidade, Diversidade cultural e Práticas

sustentáveis. Para Dilling (2011), a percepção positiva destas três variáveis é o que

determina, para um stakeholder, se a empresa é engajada em RSC ou não. Partindo dessa

informação, o presente estudo procurou validar essa informação dentro do grupo estudado. A

figura 07 ilustra os achados do presente estudo, com relação a aderência das três variáveis de

Dilling ao universo pesquisado.

Page 47: Responsabilidade Social Corporativa: Um estudo aplicado ...s3.amazonaws.com/.../dis_2012_38_-_raphael_adolpho_cavaliere_dutra.pdf · percepção entre os stakeholders de uma ... fatores

47

Primeiramente, a percepção de investimento na comunidade foi unanime entre grupos,

contudo, a motivação para esse investimento é vista de forma distinta entre os stakeholders

internos e externos. Para todos os entrevistados essa é uma forma de compensação aos

prejuízos causados às comunidades do entorno dos empreendimentos da Petrobras. Contudo,

os grupos de stakeholders internos, tanto os funcionários concursados como os contratados,

veem tal movimento de forma positiva, enquanto os representantes das ONGs percebem de

maneira negativa. Para os stakeholders internos as ações de caráter de cumprimento legal

relacionadas à intervenção em locais ocupados, como o acompanhamento de pessoas

desalojadas, processo de indenização, planos para emergência, contratação de membros da

comunidade, são vistas como um investimento na comunidade local (Figura 2). Ou seja, para

os stakeholders internos, as ações contingenciais e obrigatórias por lei são apontadas como

investimento na comunidade.

Título – “Desenvolvimento das Cidades” “Todas as vezes que a Petrobras chega vai implementar um projeto em uma cidade ela busca sempre ver as necessidades. A Petrobras não atua diretamente, mas ela atua através de repasse de ISS de impostos, desenvolvendo o local.(...) Cada comunidade tem a sua característica, então a Petrobras tenta ver qual é a necessidade da comunidade para desenvolver um projeto que tenta minimizar ou então desenvolver mais a parte social. É uma responsabilidade social da empresa, ela presa essa parte.” (Concursado)

Título – “Queda de braço desigual” “Qualquer ação local da Petrobras, devido à sua força, ela é desproporcional diante de um prefeitura ou de um órgão local de licenciamento ou da justiça. (...) Simbolicamente é uma queda de braços desigual, entre Davi e Golias, como um Elefante na loja de cristais.” (Representante de ONG)

Figura 02 – Percepção de Investimento na Comunidade

Page 48: Responsabilidade Social Corporativa: Um estudo aplicado ...s3.amazonaws.com/.../dis_2012_38_-_raphael_adolpho_cavaliere_dutra.pdf · percepção entre os stakeholders de uma ... fatores

48

Já para os representantes das ONGs, esses mesmos esforços não se qualificam como

investimento em comunidade, mas como o cumprimento de obrigações legais relacionadas à

atividade da empresa. Em geral, os representantes de ONGs entrevistados, enxergam as

atividades socioambientais da empresa como uma forma de manutenção da sua imagem e de

sua marca. Eles ainda afirmam que, em alguns casos, a atuação da Petrobras é

desproporcional “uma queda de braço desigual” ou “um elefante na loja de cristais”,

analogicamente comparado por eles mesmo, pois, quando a empresa quer defender seus

interesses na comunidade, ela não mede forças, entra e esmaga. As comunidades não tem o

mesmo poder político e econômico para lutar contra a atuação da empresa, por isso a

desigualdade das forças (Figura 2).

Com relação ao investimento em diversidade cultural, os stakeholders internos percebem

como um movimento natural na empresa, devido às características demográficas dos

funcionários (Figuras 03 e 04), portanto esse seria um comportamento já internalizado pelos

funcionários da empresa. Os funcionários concursados destacam que há um forte investimento

em campanhas internas buscando estimular a tolerância de orientação sexual, sexo, entre

outros (Figura 05). Para ambos stakeholders internos, há a percepção de cuidado com a

questão de diversidade dentro da Petrobras. Para os representantes de ONGs, os esforços de

investimento são uma forma de cumprir exigências do balanço social e indicar a devida

diversidade dentro do corpo de funcionários da empresa.

Page 49: Responsabilidade Social Corporativa: Um estudo aplicado ...s3.amazonaws.com/.../dis_2012_38_-_raphael_adolpho_cavaliere_dutra.pdf · percepção entre os stakeholders de uma ... fatores

49

Figura 03 – Naturalidade dos Funcionários da Petrobras

Fonte: http://www.petrobras.com.br/pt/quem-somos/carreiras/downloads/pdf/censo-

para-diversidade.pdf

Figura 04 – Região onde trabalham os funcionários da Petrobras

Fonte: http://www.petrobras.com.br/pt/quem-somos/carreiras/downloads/pdf/censo-

para-diversidade.pdf

Page 50: Responsabilidade Social Corporativa: Um estudo aplicado ...s3.amazonaws.com/.../dis_2012_38_-_raphael_adolpho_cavaliere_dutra.pdf · percepção entre os stakeholders de uma ... fatores

50

“Falar de diversidade cultural, para mim, não é uma questão interna. Por que ela já é assim por ela própria. (...) Lá tem um cara que fica tomando chimarrão o dia inteiro, tem um nordestino que quando vai em casa, volta e trás fita do Senhor do Bonfim, então isso aí já é dia a dia. A equipe já é muito misturada. (...) É um ambiente de muito respeito (...) O que agente vê como empresa, é que ela está sempre patrocinando e promovendo (...) Isso já está tão entranhado.” (Concursado) “Ela fomenta a diversidade social, ela faz campanhas promovendo isso. Fala justamente de você ter uma companhia sem segregação, onde todos fazem parte da empresa, onde todos são iguais. Isso é até um pouco recente na empresa.” (Contratado)

Figura 05 – Percepção de Diversidade Social

Com relação às práticas sustentáveis todos os entrevistados reconhecem que a natureza da

atividade desenvolvida pela empresa gera impactos para o meio ambiente, independente dos

cuidados adotados pela empresa (Figura 06). Porém, para os stakeholders internos, a empresa

minimiza e até compensa os seus impactos com investimentos ambientais. Para eles, a

empresa investe além do que seria sua obrigação. Pra os stakeholders internos a empresa toma

todas as atitudes e precauções para minimizar e mitigar os impactos naturais da sua atividade

(Figura 06). Mais uma vez, concursados e contratados percebem o cumprimento de

obrigações legais, no que tange o meio ambiente, como um investimento incremental feito

pela empresa.

Já para os representantes das ONGs, a percepção de práticas sustentáveis da empresa é

negativa. Esses afirmam que a empresa é negligente com os recursos naturais e com os seus

impactos no meio ambiente (Figura 06). Os stakeholders externos enxergam os investimentos

feitos pela Petrobras como simples cumprimento de obrigações, que, contudo, mantém fortes

os impactos negativos em suas intervenções no ambiente.

Page 51: Responsabilidade Social Corporativa: Um estudo aplicado ...s3.amazonaws.com/.../dis_2012_38_-_raphael_adolpho_cavaliere_dutra.pdf · percepção entre os stakeholders de uma ... fatores

51

Título – “Impacto do Negócio”

“Ah, isso é uma preocupação. É uma empresa de petróleo, né? Não existe como não poluir. Não é uma energia 100% limpa, mas todos os cuidados são tomados. (...) Polui, mas alguém tem que fazer, por que é um mal necessário. A Petrobras faz, mas faz da melhor forma possível.” (Concursado) “Por uma questão do meio ambiente, da sustentabilidade. Pois é uma atividade, que no final das contas, agride o meio ambiente, apesar da empresa ter um investimento em pesquisas de energias renováveis, é uma atividade que polui. Ela tem que trabalhar para atender a sua finalidade, mas ao mesmo tempo manter o ambiente do jeito que está. Não agredir o meio ambiente ou até mesmo melhorar. Uma forma não só de minimizar o impacto dela ou até equalizar, mais uma forma de melhorar o meio ambiente.”(Concursado)

Título – “Impacto” “Eu acho que a Petrobras tem uma politica bem definida com relação ao meio ambiente. (...) Assim ela trabalha dentro das normas que são certificadas, a ISO 14001, são as normas de gestão de meio ambiente. (...) Ela tem uma boa percepção, uma boa gestão em relação ao meio ambiente, pelo porte da empresa e pelo tipo de atividade que ela exerce.” (Contratado)

Título – “Desigualdade de Forças” “A imagem é meio dúbia, por um lado é essa ideia de uma empresa que cumpre todas as exigências do ponto de vista ambiental, só que por outro lado, é a imagem de uma empresa que não cumpre nenhuma. Eu fico com as duas, porque as duas são verdadeiras. Ela de fato é percebida assim por determinado público, que torna essa imagem uma verdade”. (Representantes de ONGs) “O problema é o tipo de negócio. O petróleo tem essa dimensão agressiva com o meio ambiente.(...) Tem aquela questão da força que ela exerce, da diferença de poder e das consequências que isso pode causa, devido à negligência na fiscalização, fruto da diferença de forças entre a empresa e os órgãos fiscalizadores.” (Representantes de ONGs)

Figura 06 – Percepção de Práticas Sustentáveis

Page 52: Responsabilidade Social Corporativa: Um estudo aplicado ...s3.amazonaws.com/.../dis_2012_38_-_raphael_adolpho_cavaliere_dutra.pdf · percepção entre os stakeholders de uma ... fatores

52

Assim, passando pelas três variáveis apontadas por Dilling (2011), percebemos que, de fato,

essas são práticas reconhecidas pelos stakeholders da Petrobras. Para os stakeholders internos,

tais variáveis compõem o quadro de engajamento da empresa em RSC. Isto é, tanto

funcionários contratados como concursados perceberam o investimento na comunidade, a

diversidade cultural e as práticas sustentáveis relacionados à postura de responsabilidade

social da Petrobras.

Para os representantes de ONGs também reconhecem as variáveis de Dilling (2011) como

importantes aspectos de RSC. Porém, ao avaliar o posicionamento da empresa com relação às

variáveis, afirmaram que a empresa é negligente nos três aspectos alegando que seus

investimentos relacionados com comunidade, diversidade e práticas sustentáveis são

claramente um esforço cínico de marketing da empresa e, como consequência disso,

afirmaram que não percebem a empresa engajada em responsabilidade social. Contudo,

afirmam que, de certa forma, ela tem algum sucesso ao comunicar esses esforços, pois

públicos menos informados, na maioria das vezes chegam a acreditar no engajamento da

empresa.

Comunidade

Diversidade Cultural

Sustentabilidade Percepção de

Engajamento em RSC

Concursado

Compensação dos Prejuízos; Obrigações legais percebidos como investimento.

Característica natural da empresa; Consequência da Característica; Investimento em campanhas internas.

Reconhecimento do risco da atividade; Compensação como investimento; Cuidado.

Sim

Contratado

Compensação dos Prejuízos; Obrigações legais percebidos como investimento.

Característica natural da empresa; Consequência da característica; Não há percepção de investimento.

Reconhecimento do risco da atividade; Compensação como investimento; Cuidado.

Sim

ONG

Compensação dos Prejuízos; Minimizar impactos na imagem.

Marketing; Exigência do Balanço Social; Greenwashing.

Reconhecimento do risco da atividade; Compensação como obrigação; Negligência.

Não

Figura 07 – Resumo da percepção das variáveis de Dilling (2011)

Page 53: Responsabilidade Social Corporativa: Um estudo aplicado ...s3.amazonaws.com/.../dis_2012_38_-_raphael_adolpho_cavaliere_dutra.pdf · percepção entre os stakeholders de uma ... fatores

53

4.2 RELEVÂNCIA DAS VARIÁVEIS

Após a análise das variáveis de Dilling (2011), buscamos entender como cada grupo pondera

a relevância das mesmas dentro da empresa.

O grupo de funcionários concursados percebeu um maior foco nos investimentos da em

práticas sustentáveis quando comparado com investimento na comunidade e diversidade

social.

Foi recorrente a citação de acidentes ambientais, como a tombamento da plataforma P-36 e o

derramamento de óleo na Baia de Guanabara, ocorridos no passado e o impacto destes na

imagem da empresa. Para eles, hoje a Petrobras vive uma nova fase, tratando a questão do

meio ambiente como uma obsessão, fazendo muitos investimentos em prevenção e

minimização dos impactos no meio ambiente, assim como na economia de recursos naturais.

Esse público percebeu e citou diversas campanhas e ações internas relacionadas ao meio

ambiente. Os treinamentos recebidos durante o período de admissão da empresa, também

tiveram um foco muito grande no aspecto ambiental, como descrito pelo grupo dos

funcionários concursados.

Para o grupo dos funcionários contratados, o investimento na comunidade foi apontado como

a maior preocupação e foco de investimentos por parte da Petrobras, apesar de também

perceberem um esforço grande em práticas sustentáveis relacionadas a meio-ambiente.

Os representantes de ONGs não percebem um esforço real da empresa em contribuir para a

sociedade em nenhum dos três aspectos apontados por Dilling (2011). Para eles, quando a

Petrobras fala de economia de recursos naturais, ela está tratando de um ativo da empresa e de

economia de custos que não retrata uma preocupação genuína com o meio ambiente. Para os

stakeholders externos todo o trabalho com a comunidade não passa de uma obrigação legal da

Page 54: Responsabilidade Social Corporativa: Um estudo aplicado ...s3.amazonaws.com/.../dis_2012_38_-_raphael_adolpho_cavaliere_dutra.pdf · percepção entre os stakeholders de uma ... fatores

54

empresa, considerando os impactos dos empreendimentos da Petrobras e suas intervenções

locais. Já a questão da diversidade cultural é percebida apenas como uma forma de cumprir o

balanço social. Desta forma o investimento em RSC, para este grupo, é uma estratégia de

retorno de imagem e minimização dos impactos causados pela empresa.

Todavia, os representantes de ONGs reconhecem certo êxito da empresa em construir essa

imagem de engajada em RSC, afirmando que com os seus esforços de comunicação e o

respaldo do governo, a Petrobras é vista por grande parte da população brasileira como uma

empresa preocupada com o desenvolvimento da sociedade, quando na verdade não é.

Segundo eles, essa foi uma imagem que vem sendo construída e suportada ao longo do tempo

pela empresa e pelo próprio governo brasileiro, muitas vezes como forma de blindar a

empresa de críticas externas e mascarar os seus impactos e a forma desigual que ela trata as

comunidades do entorno.

4.3 DEMAIS VARIÁVEIS

Além das variáveis destacadas por Dilling (2011), este trabalho buscou identificar outros

aspectos que interferem na percepção de engajamento da Petrobras em RSC. Desta forma,

durante as entrevistas, procuramos identificar demais variáveis latentes relacionadas ao à

percepção de compromisso com RSC por parte da empresa. É importante destacar que os

resultados são baseados na percepção dos entrevistados e que as variáveis aqui apontadas

independem das definições formais de RSC. Trata-se, portanto, da percepção de RSC

daqueles stakeholders.

Além das variáveis de Dilling (2011), aspectos de saúde e segurança ocupacional foram

destacados por parte dos entrevistados. Para os stakeholders internos a preocupação da

empresa com a segurança dos seus funcionários, e a garantia da sua integridade física desde o

Page 55: Responsabilidade Social Corporativa: Um estudo aplicado ...s3.amazonaws.com/.../dis_2012_38_-_raphael_adolpho_cavaliere_dutra.pdf · percepção entre os stakeholders de uma ... fatores

55

momento em chegam ao trabalho até o momento em que deixam este ambiente, é apontada

como um fator determinante na percepção de engajamento em RSC da empresa. Ainda para

esse grupo, a preocupação com a formação e o desenvolvimento profissional dos

funcionários, além da geração e garantia de emprego são fatores que compõem o quadro de

RSC da Petrobras (Figura 08).

Título – “Preocupação Total” “A parte de comunidade e a parte de segurança (...) A segurança é tudo, porque se acontece um acidente com agente, ficamos impedidos de trabalhar. A empresa visa evitar os acidentes. O acidente é sempre ruim, por menor que seja. Gera prejuízo e insegurança.” (Contratado)

“Essa representa a geração de emprego no Brasil, tanto diretos como indiretos (...)” “Primeiro, a Petrobras tem profissionais em quase todas as áreas profissionais. Então ela cria um leque de opções de empregos em várias áreas, sendo uma empresa multidisciplinar. Onde você tem vários tipos de conhecimento, muita troca e essa imagem representa os jovens que tem vontade de trabalhar lá.” (Contratado)

Figura 08 – Novas variáveis determinantes na Percepção de RSC

A preocupação com saúde e segurança é novamente um aspecto de cumprimento legal que é

percebido como incremental pelos funcionários e contratados. Já os investimentos em

treinamento são de fato incrementais e constituem uma conhecida prática da empresa, focada,

no entanto, para o público interno somente. Portanto, tal prática nunca seria reconhecida como

sendo parte de RSC por um público mais amplo.

Page 56: Responsabilidade Social Corporativa: Um estudo aplicado ...s3.amazonaws.com/.../dis_2012_38_-_raphael_adolpho_cavaliere_dutra.pdf · percepção entre os stakeholders de uma ... fatores

56

Devido às características do trabalho e do próprio engajamento com a as causas

socioambientais, quando perguntados dos fatores que influenciam a percepção de RSC para

uma empresa, os representantes de ONG sempre se mantiveram muito próximos das

definições convencionais do tema e das três variáveis apontadas por Dilling (2011),

investimento na comunidade, diversidade social e práticas sustentáveis. Diferentemente dos

grupos de stakeholders internos, a sua visão e expectativas de investimento foram sempre

mais focadas no bem estar individual.

4.4 PROFUNDIDADE DO ENGAJAMENTO EM RSC

Seguindo a análise buscamos entender o nível de engajamento da Petrobras em RSC na

percepção de cada grupo. A análise das repostas também revela diferenças entre os grupos

entrevistados. Para os funcionários concursados, há uma nítida compreensão do engajamento

da empresa em RSC, como sendo “parte do DNA” da empresa. Para evidenciar tal

comprometimento são ainda citados aspectos da visão e da missão da empresa como provas

da incorporação de RSC. Tais conceitos apareceram espontaneamente, apontando que, para

esse grupo, esse é um comportamento absorvido pela empresa.

Já para os funcionários contratados, há uma percepção positiva acerca da absorção desse

conceito por parte da empresa, que, contudo, tem se alterado no tempo. Para esse grupo, no

inicio as práticas eram apenas uma forma de atender as exigências dos diversos públicos. A

ideia de evolução do conceito fica clara em afirmativas como: “eu acho que hoje ela faz

coisas que não era nem responsabilidade dela”, apontam para um entendimento de

investimento incremental e superação daquilo que os entrevistados entendem como o raio de

responsabilidade da empresa. A manutenção do preço dos combustíveis no mercado

Page 57: Responsabilidade Social Corporativa: Um estudo aplicado ...s3.amazonaws.com/.../dis_2012_38_-_raphael_adolpho_cavaliere_dutra.pdf · percepção entre os stakeholders de uma ... fatores

57

brasileiro, em detrimento dos acionistas, surgiu algumas vezes como exemplo de investimento

em RSC que extrapola a responsabilidade da Petrobras.

Com uma visão completamente oposta, os representantes das ONGs veem os investimentos da

empresa em RSC como uma forma de agregar este valor à marca e à imagem da empresa.

Mesmo reconhecendo que algumas práticas tenham sortido impactos positivos na sociedade,

os entrevistados não reconhecem o comprometimento da empresa. O conceito de

“Greenwash” 1 surgiu como uma forma de descrever a política de investimento da empresa,

afirmando que, essa é uma forma da empresa limpar a sua imagem através de algumas ações

ligadas ao meio ambiente. Os representantes das ONGs não reconhecem um significado maior

para as práticas da empresa, do que a busca de retorno de imagem e de marca da Petrobras.

4.5 RESPONSABILIDADE INDIVIDUAL

Por fim, buscamos entender como cada indivíduo percebe a sua responsabilidade dentro da

empresa. Conforme mencionado, os stakeholders internos reconhecem que o modelo de

negócio da empresa gera um impacto nas comunidades e no meio ambiente. Decorrente dessa

percepção ficou claro que os colaboradores da Petrobras também se sentem parte do processo

de impacto e de remediação. Assim, além de internalizar aspectos negativos da atividade da

empresa “o nosso modelo de negócio impacta no meio ambiente” os stakeholders também se

utilizam das mesmas respostas institucionais “nós fazemos de tudo para minimizar esses

impactos”.

1 Greenwash - Algumas empresas estão verdadeiramente empenhadas em fazer do mundo um lugar melhor, mais verde. Mas para outros

muitas, o ambientalismo é pouco mais do que um slogan conveniente. Empresas usam cinicamente temas ambientais para limpar ou mascara o seu comportamento não coerente ou leniente com o meio ambiente, este tipo de ação de marketing é definido como greenwash ou ecobranqueamento, em português. http://stopgreenwash.org/ (Greenpeace)

Page 58: Responsabilidade Social Corporativa: Um estudo aplicado ...s3.amazonaws.com/.../dis_2012_38_-_raphael_adolpho_cavaliere_dutra.pdf · percepção entre os stakeholders de uma ... fatores

58

Imbuído desse sentimento, muitos funcionários procuram se engajar em ações e projetos

promovidos pela empresa, como o projeto TAMAR2 e o Adolescent.i3 (projeto de capacitação

profissional em comunidades), como uma forma de contrapartida para a comunidade o do

meio ambiente.

Quando perguntados se orgulhavam de trabalhar na empresa, todos os stakeholders internos

foram enfáticos em responder que sim. Para tanto vários aspectos da representatividade

econômica da empresa no cenário brasileiro foram citados, como a capacidade de geração de

empregos, o investimento no funcionário, a capacidade tecnológica da empresa. Em geral os

argumentos estavam mais voltados para os benefícios diretos e individuais dos entrevistados

do que para os impactos positivos e para o bem estar e o desenvolvimento da sociedade. Ou

seja, na maioria das vezes o orgulho é pelo que a empresa faz pelo indivíduo, pelo que ela

representa nas suas vidas e não na sociedade. Nesse aspecto, os funcionários concursados

destacam se orgulhosos de e trabalhar no lugar onde “muitos gostariam de estar”, como eles

mesmos falaram, “em uma das maiores empresas do mundo”.

Quando uma pergunta semelhante foi feita aos representantes das ONGs, se, como brasileiro,

ele se orgulhava da Petrobras, a resposta foi negativa e incisiva, demonstrando,

principalmente, o descontentamento com a forma que a empresa lida com as comunidades

locais. Ficando claro neste no depoimento “Eu não nutro orgulho nem pelo meu filho que foi

eu que criei, vergonha exprime mais o meu sentimento Petrobras”. O principal argumento do

entrevistado foi a ação e a força desproporcional na implementação do Comperj, em Itaboraí.

2 Projeto Tamar - O Projeto Tamar-ICMBio foi criado em 1980, pelo antigo Instituto Brasileiro de Desenvolvimento Florestal-IBDF, que

mais tarde se transformou no Ibama-Instituto Brasileiro de Meio Ambiente. Hoje, é reconhecido internacionalmente como uma das mais bem sucedidas experiências de conservação marinha e serve de modelo para outros países, sobretudo porque envolve as comunidades costeiras diretamente no seu trabalho sócio-ambiental. O Tamar conta com patrocínio nacional da Petrobras, apoios e patrocínios regionais de governos estaduais e prefeituras, empresas e instituições nacionais e internacionais, além de organizações não-governamentais. Mas é fundamental, sobretudo, o papel das comunidades onde mantém suas bases e da sociedade civil em geral, que participa e ajuda o Projeto, individual ou coletivamente. http://www.tamar.org.br/interna.php?cod=63 3 Adolescent.i. – Programa de voluntariado promovido pela Petrobras, onde os funcionários da área de informática e tecnologia da

informação dão aulas de capacitação e introdução a informática para adolescentes de comunidades carentes. A Petrobras arca com todos os custos do curso e do funcionário, além de disponibilizá-lo dentro de seu horário de trabalho.

Page 59: Responsabilidade Social Corporativa: Um estudo aplicado ...s3.amazonaws.com/.../dis_2012_38_-_raphael_adolpho_cavaliere_dutra.pdf · percepção entre os stakeholders de uma ... fatores

59

“Pergunte ao Alexandre Campbell, representante da comunidade local que hoje é mantido no

programa federal de proteção a testemunha, se ele se orgulha da Petrobras. Não da pra me

orgulhar de uma empresa assim”.

Page 60: Responsabilidade Social Corporativa: Um estudo aplicado ...s3.amazonaws.com/.../dis_2012_38_-_raphael_adolpho_cavaliere_dutra.pdf · percepção entre os stakeholders de uma ... fatores

60

5 CONCLUSÃO

Esta pesquisa buscou explorar a percepção de engajamento socioambiental da Petrobras e

identificando validando variáveis que são reconhecidas pelos stakeholders selecionados.

Conforme esperado, o estudo encontrou divergências entre os grupos de stakeholders, guiada

pelo interesse e as particularidades do relacionamento de cada um dos grupos com a empresa.

Também, conforme esperado, o público interno, apresentou interesse convergente, e em geral

uma percepção mais positiva do engajamento da empresa do que os representantes das ONGs.

Contudo, Responsabilidade Social Corporativa não tem o mesmo significado para todos os

públicos entrevistados. Um achado interessante é que foi o fato de haver uma clara diferença

entre a percepção dos públicos acerca do que, para eles, é a Responsabilidade Social

Corporativa.

Os representantes de ONGs sempre mantiveram suas definições nos limites propostos pelos

diversos autores na revisão bibliográfica, ficando claro o seu conhecimento Responsabilidade

Social Corporativa e o papel que uma empresa deve desempenhar para a manutenção do bem

estar social.

A definição do World Business Council for Sustainable Development (2000), por exemplo,

descrevendo a Responsabilidade Social Corporativa como o comprometimento do negócio em

contribuir para um desenvolvimento econômico sustentável, atenção aos colaboradores, à

Page 61: Responsabilidade Social Corporativa: Um estudo aplicado ...s3.amazonaws.com/.../dis_2012_38_-_raphael_adolpho_cavaliere_dutra.pdf · percepção entre os stakeholders de uma ... fatores

61

comunidade local e à sociedade, se encaixaria muito bem nas definições dos representantes de

ONGs.

Com uma visão mais estreita, os stakeholders internos percebem aspectos como geração de

emprego e manutenção da segurança dos funcionários, como aspectos fundamentais no

desempenho da RSC por parte da Petrobras. Ainda, investimento na capacitação dos

funcionários, que certamente tem como consequência uma maior produtividade e não impacta

diretamente na sociedade, também foi apontado como um investimento social da empresa.

Enquanto a visão dos representantes de ONGs é muito mais focada no coletivo e no bem estar

da sociedade, para os colaboradores internos da Petrobras, essa visão é muito mais

individualista e focada no seu próprio bem estar. Isso fica muito claro quando eles afirmam

que ações como investimento no funcionário, na sua carreira, a geração e a manutenção do

seu emprego, a sua segurança no trabalho, são investimentos da Petrobras em

Responsabilidade Social Corporativa.

Como decorrência desse processo, além das variáveis de Dilling (2011), os stakeholders

internos identificaram alguns fatores de gestão de pessoas e carreira como variáveis

adicionais. Tal entendimento não foi endossado pelos stakeholders externos.

Portanto, por um lado esta pesquisa endossa o entendimento de que há uma percepção

compartilhada sobre o que é o engajamento em Responsabilidade Social Corporativa. Tendo

as variáveis extraídas de uma pesquisa nos Estados Unidos, sido reconhecidas pelos

stakeholders brasileiros. Por outro lado, a visão estreita dos stakeholders internos leva ao

questionamento sobre a profundidade desse entendimento e principalmente sobre a

capacidade de incorporação da responsabilidade pelos atores internos.

Page 62: Responsabilidade Social Corporativa: Um estudo aplicado ...s3.amazonaws.com/.../dis_2012_38_-_raphael_adolpho_cavaliere_dutra.pdf · percepção entre os stakeholders de uma ... fatores

62

Esse tópico chama a atenção para um aspecto ainda mais importante do desenvolvimento de

Responsabilidade Social Corporativa por parte das empresas, a conscientização da

responsabilidade do público interno.

Como um estudo exploratório, este trabalho não tem como objetivo esgotar o tema aqui

proposto, mas levantar aspectos e variáveis a serem explorados em pesquisas futuras. Dentre

as sugestões de pesquisa, ficam a expansão dos stakeholders para um grupo maior e mais

heterogêneo e a replicação da análise em uma empresa brasileira privada.

Page 63: Responsabilidade Social Corporativa: Um estudo aplicado ...s3.amazonaws.com/.../dis_2012_38_-_raphael_adolpho_cavaliere_dutra.pdf · percepção entre os stakeholders de uma ... fatores

63

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

AMA. Dictionary, 2012. Disponível em:

<http://www.marketingpower.com/_layouts/Dictionary.aspx?dLetter=T>

ANDERSON, S.; CAVANAGH, J. The Top 200: The Rise of Global Corporate Power,

Washington, D.C.: Institute for Policy Studies, 2000.

BARNEY, J. B.; HESTERLY, W. S., Administração Estratégia E Vantagem Competitiva.

São Paulo, Pearson, 2008.

BBC, Q&A: Brazil’s ‘Big Monthly’ Corruption Trial, 2012. Disponível em:

<http://www.bbc.co.uk/news/world-latin-america-19081519>

BELAL, A. R. Stakeholder Accountability or Stakeholder Management: A Review of UK

Firms. Corporate Social Responsibility and Environmental management. Vol. 9(1), p. 8-25,

2002.

BELAL, A. R.; ROBERTS, W. R. Stakeholders Perceptions of Social Reporting in

Bangladesh. Journal of Business Ethics. Vol. 97, p.311-324, 2010.

BELAL, A.; ROBERTS, R. Stakeholders’ Perceptions of Corporate Social Reporting in

Bangladesh. Journal of Business Ethics, Vol. 97, p.311–324, 2010.

Page 64: Responsabilidade Social Corporativa: Um estudo aplicado ...s3.amazonaws.com/.../dis_2012_38_-_raphael_adolpho_cavaliere_dutra.pdf · percepção entre os stakeholders de uma ... fatores

64

BIRD, R.; HALL, A; MOMENTÈ, F.; REGGIANI, F. What Corporate Social

Responsibility Activities are Valued by the Market? Journal of Business Ethics,Vol. 76(2),

p.189-206, 2007.

BRITO, R. P. D.; BERARDI, P. C., Vantagem Competitiva Na Gestão Sustentável Da

Cadeia De Suprimentos: Um Metaestudo. Revista de Administração de Empresas, v. 50, n.

2, p. 155-169, 2010.

BUCHHOLZ, R; ROSENTHAL, Toward a Contemporary Conceptual Framework for

Stakeholder Theory, Journal of Business Ethics, Vol.58(1), p.137–148, 2005.

CHERNATONY, L. Evaluating the underlying dimensions of brands in product and

services markets. Londres City University, (Working Papers Series, 132), 1991.

COULTER, R.; ZALTMAN, G. Using The Zaltman Technique to Understand Brand

Images. Advanced Consume Researchs, v.21, 1994.

CRESWELL, J. W.; Projeto de pesquisa: Métodos qualitativo, quantitativo e misto. 3ª ed.

São Paulo: Editora Bookman, 2010.

CRETU, A. E.; BRODIE, R. J. The Influence of Brand Image and Company Reputation

Where Manufacturers Market to Small Firms: A Customer Value Perspective .Industrial

Marketing Management. v.36(2), p.230–240, 2007.

DALMORO, M; VENTURINI, J; PEREIRA, B. Marketing Verde: Responsabilidade

social e ambiental integradas e envolvente de marketing. Revista Brasileira de gestão de

negócios, FECAP, Vol.11, n.30, p.38-5, 2009.

Page 65: Responsabilidade Social Corporativa: Um estudo aplicado ...s3.amazonaws.com/.../dis_2012_38_-_raphael_adolpho_cavaliere_dutra.pdf · percepção entre os stakeholders de uma ... fatores

65

DE BAKKER, F. G. A.; GROENEWEGEN, P.; DEN HOND, F., A Bibliometric Analysis of

30 Years of Research and Theory on Corporate Social Responsibility and Corporate

Social Performance. Business & Society, v. 44, n. 3, p. 283-317, 2005.

DENZIN, N. K.; LINCOLN, Y. S., Handbook of Qualitative Research. In: N. K. Denzin e Y.

S. Lincoln (Org.), Handbook of Qualitative Research, California, Sage Publications, Inc.,

2000.

DIAS, R. Marketing ambiental. São Paulo: Atlas, 2008.

DILLING, P. Stakeholder Perception of Corporate Social Responsibility. International

Journal of Management and Marketig Researsh. Vol.4(2). p.23-34, 2011.

DONALDSON, T.; PRESTON, L. E., The Stakeholder Theory of the Corporation: Concepts,

Evidence, and Implications. Academy of Management Review, v. 20, n. 1, p. 65-91, 1995.

FLICK, U. Introdução à Pesquisa Qualitativa. Porto Alegre: Artmed/ Bookman, 2009

FORBES: The word’s 25 biggests oil companies, 2012. Disponível em:

<http://www.forbes.com/pictures/mef45glfe/14-petrobras-2-6-million-barrels-per-day-

3/#gallerycontent>

FREEMAN, R. E., Strategic Management : A Stakeholder Approach. Boston, Pitman,

1984.

FREEMAN, R.; WICKS, A.; PARMAR, B. Stakeholder Theory and “The corporate

objective revisited”. The Darden School, University of Virginia, Vol. 15, Nº3, p.364-369,

2004.

Page 66: Responsabilidade Social Corporativa: Um estudo aplicado ...s3.amazonaws.com/.../dis_2012_38_-_raphael_adolpho_cavaliere_dutra.pdf · percepção entre os stakeholders de uma ... fatores

66

FRIEDMAN, M. The social responsibility of business is to increase its profits. New York

Times. New York, p. 32, 13.09.1976.

GRI. About Sustainability Reporting, 2012. Disponível em:

<https://www.globalreporting.org/information/sustainability-reporting/Pages/default.aspx>

HART, S. L. A Natural-Resource-Based View of the Firm. The Academy of Management

Review, Vol. 20, No. 4.p. 986-1014, 1995.

HART, S; MILSTEIN, M.Creating Sustainable Value. Academy of Management Executive

Vol. 17(2), p. 56–69, 2003.

HAWKINGS, D.; MOTHERSBAUGH, D.; BEST, R.Comportamento do Consumidor:

Construindo a Estratégia de Marketing, Ed Campus, p.113-143, 2007.

HIDAYATI, N. Pattern of corporate social responsibility programs: a case study. Social

Responsibility Journal, Vol. 7(1), p.104-117, 2011.

JAMALI, D.; MIRSHAK, R, Corporate Social Responsibility (CSREP): Theory and

Practice in a Developing Country Context. Journal of Business Ethics, 2007.

KELLER, K. L Memory Retrieval Factors and Advertising Effectiveness" in Advertising

Exposure, Memory, and Choice, Ed. Andrew A. Mitchell, Hillsdale, Nova Jersey: Lawrence

Erlbaum Associates, p.11-48, 1993.

KELLER, K. L.; MACHADO, M. Gestão Estratégica de Marcas. 1ª reimpressão. São

Paulo: Prentice-Hall, 2006.

KOTLER, P. Administração de Marketing. 10ª ed. São Paulo: Prentice-Hall, 2000.

Page 67: Responsabilidade Social Corporativa: Um estudo aplicado ...s3.amazonaws.com/.../dis_2012_38_-_raphael_adolpho_cavaliere_dutra.pdf · percepção entre os stakeholders de uma ... fatores

67

LAI, C; CHIU, C; YANG, C; PAI, D. The effects of corporate Social responsibility on

brand performance: The Mediating Effect of Industrial brand equity and corporate

reputation. Journal of Business Ethics, Vol. 95, p.457-469, 2010 .

LINDGREEN, A.; SWAEN, V.; JOHSTON, W. Corporate Social Responsibility: An

Empirical Investigation of U.S. Organizations. Journal of Business Ethics: Supplement, 85,

303-323, 2009.

LOPÉZ, M.V.; GARCIA, A.; RODRIGUEZ, L. Sustainable Development and Corporate

Performance: A Study Based on the Dow Jones Sustainability Index. Journal of Business

Ethics, Vol. 75(3), p.285-300, 2007.

OTTMAN, J. A. Marketing verde. São Paulo: Makron Books, 1994.

MUDAMBI, S. M.; DOYLE, P.; WONG, V. An Exploration of Branding in Industrial

Markets. Marketing Management, v.26(5), p.433–446, 1997.

PAPASOLOMOU-DOUKAKIS, I.; KRAMBIA-KAPARDIS, M.; KATSIOLOUDES, M.

Corporate social responsibility:the way forward? May be not! A preliminary study in

Cyprus. European Business Review, Vol. 17(3), p. 263-279, 2005.

PARKER, B; SEGEV, S; PINTO, J. What it means to go Green: Consumer Perceptions of

Green Brands and Dimensions of “Greenness”. American Academy of Advertising

Conference Proceedings. p.99-111, 13p, 2 Charts, 2010.

PARMAR, B.; FREEMAN, R.; HARRISON, J.; WICKS, A.; PURNELL, L.; COLLE, S.

Stakeholder Theory: The State of the Art, The Academy of Management Annals, v. 4:1,

p.403-445, 2010.

Page 68: Responsabilidade Social Corporativa: Um estudo aplicado ...s3.amazonaws.com/.../dis_2012_38_-_raphael_adolpho_cavaliere_dutra.pdf · percepção entre os stakeholders de uma ... fatores

68

PATTERSON, M. Re-appraising the concept of brand image’. Journal of Brand

Management, v.6 , n.6 , p.409-426, 1999.

PEATTIE, K. Enviromental marketing management: Meeting the green challenge.

London: Pitman, 1995.

PEATTIE, K.; CHARTER, M. Green marketing. The marketing book. Inglaterra: Ed. Butter

Wealth, 2003.

PIETERS, R; WEDEL, M. Attention Capture and Transfer in Advertising. Journal of

Marketing, p. 36-50, 2004.

POLONSKY, M. J. An introduction to green marketing. Eletronic Green Journal, Los

Angeles, v.1, n.2, 1994.

PORTER, M. E.; VAN DER LINDE, C., Green and Competitive: Ending the Stalemate.

Harvard Business Review, v. 73, n. 5, p. 120-134, 1995.

REYNOLDS, T.; GUTMAN, J. Ladderin Theory, Method, Analysis and Interpretation.

Journal of Advertising Research, 1988.

SCHWARTZ, M. S.; CARROLL, A. B., Corporate Social Responsibility: A Three-

Domain Approach. Business Ethics Quarterly, v. 13, n. 4, p. 503-530, 2003.

SHAHIN, A.; ZAIRI, M. Corporate governance as a critical element for driving

excellence in corporate social responsibility. International Journal of Quality and Reliability

Management, Vol.24(7), p.753-770, 2007.

Page 69: Responsabilidade Social Corporativa: Um estudo aplicado ...s3.amazonaws.com/.../dis_2012_38_-_raphael_adolpho_cavaliere_dutra.pdf · percepção entre os stakeholders de uma ... fatores

69

SIGHT, J.; DE LOS SALMONES, M.; DEL BOSQUE, I; Understanding Corporate Social

Responsibility and Product Perceptions in Consumer Markets: A Cross-cultural

Evaluation. Journal of Business Ethics, Vol. 80(3), p. 597-611, 2010.

SNIDER, J.; HILL, P.; MARTIN, D. Corporate Social Responsibility in the 21st Century:

A View from the World’s Most Successful Firms, Journal of Business Ethics. Vol. 48,

p.175–187, 2007.

TENCH, R.; BOWD, R.; JONES, B. Perceptions and perspectives: corporate social

responsibility and the media. Journal of Communication Management, Vol. 11(4), 348-370.

2007.

TSANG, S.; WELFORD, R.; BROWN, M. Reporting on community investment.

Corporate Social - Responsibility and Environmental Management, Vol. 16(3), p. 123,

2009.

UN DOCUMENTS. Gathering a body of global agreements, 1987. Disponível em:

<http://www.un-documents.net/ocf-a2.htm#II>

VEIGA, J. E., Sustentabilidade – a Legitimação De Um Novo Valor. São Paulo, Editora

Senac, 2010.

Page 70: Responsabilidade Social Corporativa: Um estudo aplicado ...s3.amazonaws.com/.../dis_2012_38_-_raphael_adolpho_cavaliere_dutra.pdf · percepção entre os stakeholders de uma ... fatores

70

APÊNDICE A

Roteiro semiestruturado da entrevista:

Contato com o entrevistado:

Primeiramente, será feito um contato telefônico com uma breve apresentação do entrevistado

e da proposta da pesquisa, que será a seguinte:

Estudar a percepção dos stakeholders acerca da empresa Petrobras.

Será solicitado que, caso o entrevistado consiga, leve uma coletânea de aproximadamente 10

imagens que traduzam a percepção que ele tem acerca da Petrobras.

Após o primeiro contato telefônico, será enviado um e-mail de confirmação da data, horário e

local da entrevista.

Apresentação:

Olá, como conversado anteriormente, me chamo Raphael Dutra e estou elaborando uma

pesquisa para o meu curso de mestrado em administração de empresas, que tem como objeto a

Petrobras, empresa onde você trabalha.

Esta entrevista levará, aproximadamente, 50 minutos e será gravada, apenas para facilitar o

processo de análise das informações. Algum problema quanto a isso?

Informo desde já que a sua confidencialidade será respeitada, não colocando nomes ou

quaisquer outras informações que possam comprometê-lo (a) perante a empresa.

Ainda, após a conclusão, defesa e revisão, caso seja do seu interesse, poderei disponibilizar

uma cópia virtual do documento final gerado com base nesta pesquisa.

Page 71: Responsabilidade Social Corporativa: Um estudo aplicado ...s3.amazonaws.com/.../dis_2012_38_-_raphael_adolpho_cavaliere_dutra.pdf · percepção entre os stakeholders de uma ... fatores

71

Posso contar com a sua ajuda?

Apresentação da Coletânea do entrevistador:

Para compor a coletânea que norteará a pesquisa, além das imagens previamente selecionadas,

caso o entrevistado as tenha levado, será apresentada uma coleção de aproximadamente 100

imagens levadas pelo entrevistador.

-Gostaria que, por favor, dentre estas imagens apresentadas no computador, me apontasse as

que mais representam a sua percepção sobre a Petrobras?

Passo 1: Contando a História (repetido para cada uma das imagens):

-Se você tivesse que dar um título para esta imagem, qual seria?

-Poderia, por favor, descrever cada uma das imagens?

-Qual é o significado destas imagens para você?

-Qual a conexão existente entre elas e a Petrobras?

Passo 2: Imagens perdidas:

-Existe alguma imagem que você gostaria de ter trazido e não conseguiu encontrar em casa ou

nas imagens que eu te apresentei? Qual?

- Poderia descrevê-la?

- Qual a importância desta imagem para a construção da percepção que você tem acerca da

Petrobras?

Passo 3: Imagens opostas:

-Alguma destas figuras representa a uma imagem oposta da que você tem sobre a Petrobras?

Qual? Porque?

Passo 4: Imagem mais representativa:

- Qual destas imagens representa mais o tema para você? Por quê?

Problemas de Pesquisa:

Page 72: Responsabilidade Social Corporativa: Um estudo aplicado ...s3.amazonaws.com/.../dis_2012_38_-_raphael_adolpho_cavaliere_dutra.pdf · percepção entre os stakeholders de uma ... fatores

72

1. As variáveis encontradas por Dilling (2011) podem ser aplicadas para a os

funcionários da Petrobras, ou a percepção de Responsabilidade Social é determinada

por outras variáveis na empresa estudada?

1.1 Investimento na Comunidade:

- Como se dá o trabalho da Petrobras com a comunidade? Poderia dar algum exemplo?

-Como a Petrobras costuma lidar com as comunidades do entorno de seus empreendimentos?

1.2 Diversidade Cultural:

- Na sua opinião, qual a relação da Petrobras com a cultura do povo brasileiro?

- Dentro do contexto do País, qual o papel desempenhado pela Petrobras com relação a

cultura e diversidade social?

1.3 Práticas Sustentáveis, representando o respeito aos recursos naturais, conservação da água

e programas para evitar o desperdício.

- Como a Petrobras lida com os recursos naturais nos locais onde ela está instalada?

- Como a Petrobras trabalha internamente a questão da sustentabilidade? Há alguma

orientação interna neste sentido? Qual?

-Caso hajam, você acredita que essas campanhas internas são de fato percebidas? O público

alvo destas campanhas também está alinhado com a atitude sustentável? Como?

1.4 Compreender qual das variáveis de Dilling (2011), citadas acima, é mais percebida pelos

stakeholders da Petrobras.

- Entre comunidade, cultura e praticas sustentáveis, aonde você acredita que a Petrobras

investe mais? Por quê?

2. Entender como cada um dos públicos percebe o engajamento em RSC da Petrobras

-Você percebe a relação da empresa com a responsabilidade social corporativa? Que é o

comprometimento do negócio em contribuir para um desenvolvimento econômico

sustentável, atenção aos colaboradores, à comunidade local e a sociedade.

Page 73: Responsabilidade Social Corporativa: Um estudo aplicado ...s3.amazonaws.com/.../dis_2012_38_-_raphael_adolpho_cavaliere_dutra.pdf · percepção entre os stakeholders de uma ... fatores

73

- Cite algumas ações implementadas pela Petrobras e descreva, sobre a sua ótica, os impactos

delas para o meio ambiente ou para a sociedade.

3. Os stakeholders percebem a empresa Petrobras, de fato, como socialmente responsável

ou eles identificam que o seu posicionamento é apenas uma estratégia de marketing e

para atender as exigências governamentais?

- Como você avaliaria a estratégia da Petrobras de investimento em responsabilidade social

corporativa?

- Você acredita que esta estratégia é efetiva? Por quê?

- Você acredita que essa preocupação faz parte do dia a dia dos funcionários da empresa?

-Você acredita que parte desta estratégia é para atender exigências governamentais e outros

públicos, ou esta preocupação está presente no DNA da empresa?

- Qual dos públicos percebe um maior engajamento sócio ambiental da empresa?

Se você tivesse que imaginar uma imagem que sintetize tudo o que você falou sobre a

Petrobras, como ela seria? Por quê?

Passo 5: Fechamento:

Gostaria de saber se, caso necessário, poderia entrar em contato com você para esclarecer

alguns pontos que eventualmente fiquem em aberto no processo de análise dos dados?

Muito obrigado pela sua colaboração.

Page 74: Responsabilidade Social Corporativa: Um estudo aplicado ...s3.amazonaws.com/.../dis_2012_38_-_raphael_adolpho_cavaliere_dutra.pdf · percepção entre os stakeholders de uma ... fatores

74

APÊNDICE B

Descrição dos passo a passo da metodologia ZMET.

Na metodologia ZMET, não há questionário nem tão pouco um roteiro semiestruturado, há

um processo de 10 passos que devem ser seguidos, conforme levantado no texto de Zaltman e

Coulter, 1994. Estes estão descritos abaixo:

Passo 1: Contando a história – O entrevistado descreve o significado pessoal de cada uma

das imagens coletadas por ele em uma etapa anterior a entrevista.

Passo 2: Imagens perdidas ou não encontradas – O entrevistado descreve as imagens das

imagens que ele gostaria de ter levado e não encontrou, falando sobre a sua relevância para a

construção do significado.

Passo 3: Ordenação das imagens – O entrevistado organiza as suas imagens em conjuntos

agrupados por significados.

Passo 4: Construindo elicitações - Uma versão modificada da Técnica Kelly Repertory

Grid e de Laddering (REINOLDS; GUTTMAN, 1988), são utilizados para provocar relações

e gerar constructos acerca das imagens coletadas e das suas relações com o entrevistado.

Passo 5: Imagens mais representativas – O entrevistado aponta qual é a imagem mais

representativa da sua coleção, apontando os motivos.

Passo 6: Imagem Oposta – O entrevistado aponta qual (ou quais) imagens são contrárias ou

possuem o significado oposto ao do objeto da pesquisa. Por exemplo: Essa imagem representa

exatamente o oposto do significado que tenho construído para a Petrobras.

Page 75: Responsabilidade Social Corporativa: Um estudo aplicado ...s3.amazonaws.com/.../dis_2012_38_-_raphael_adolpho_cavaliere_dutra.pdf · percepção entre os stakeholders de uma ... fatores

75

Passo 7: Imagens Sensoriais – Levantamento de quais imagens descrevem ou não sensações

como toque, sabor, odor, paladar, som, cor e as emoções a elas conectadas.

Passo 8: O mapa Mental – O entrevistado constrói o mapa mental, ou um modelo casual,

utilizando os constructos que foram levantados nas etapas anteriores.

Passo 9: Imagem referencia – Utilizando algumas de suas imagens, e podendo utilizar

outras, com ajuda de um técnico em programação visual, o entrevistado construirá uma

imagem que resuma a sua percepção acerca do assunto.

Passo 10: Mapa Consensual – O pesquisador irá construir um mapa mental ou um modelo

casual que contemple os constructos mais relevantes levantados durante o processo de

pesquisa.