Resumo China_CADU

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RESUMO DE GEOGRAFIA

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China, um resumo histórico

Abaixo segue o verbete “China” editado pelo professor de Relações Internacionais da Universidade Federal

Fluminense, Bernardo Kocher.

Trata-se de um caso peculiar de projeto nacional e inserção soberana na crescente internacionalização da economia que se acelerou nos últimos dois decênios do século passado. Civilização com mais de 5.000 anos de existência e um Estado Nacional unificado alguns séculos antes de Cristo, desde a metade do século 19 a China foi gradualmente reduzida a uma semi-colônia de um condomínio de potências ocidentais liderados pela Inglaterra, que por sua vez ampliou seu domínio sobre o território chinês após as infames “Guerras do Ópio” ocorridas entre 1839 e 1842. Resistências de caráter camponesas passaram a sacudir o país no final do século 19 redundando na derrubada da dinastia manchú e conseqüente proclamação da República em 1911, por Sun Yatsen. Mudanças na dinâmica interna da política chinesa não foram suficientes a transformações em sua condição pré-estabelecida. Ventos novos vieram com a Revolução Russa de 1917 com repercussões na China, sendo as principais o Movimento Quatro de Maio (1919) e a fundação em 1921 do Partido Comunista da China (PCCh).

O “Príncipe Moderno” e a China pós-Mao

Desde então, O PCCh passou a assumir o papel de “Príncipe Moderno” (Gramsci) da China, seja

capitaneando um processo revolucionário tipicamente chinês, mesmo em aberta discordância do

Comintern, seja como o ator principal contra a ocupação japonesa (1937-1945) e até os nossos dias ao

capitanear processo vigoroso de desenvolvimento e soerguimento da nação chinesa. A luta interna

iniciada em 1945 contra o Kuomintang (e respectivamente contra os EUA) foi vencida pelo Exército de

Libertação Popular (ELP) e em 1º de outubro de 1949, Mao Tsétung, o mais importante líder chinês

moderno, anunciou solenemente a fundação da República Popular da China, pondo fim a todo um

período histórico de humilhações externas. Pode-se afirmar com segurança que a Revolução Nacional-

Popular chinesa foi a maior revolução social de todos os tempos.

O poder do PCCh, desde 1949 pode ser delimitado em quatro fases distintas: a primeira entre 1949 e

1956 é caracterizada pela consolidação do novo poder estabelecido, a unificação territorial, o

enfrentamento e vitória frente ao imperialismo norte-americano na Guerra da Coréia (1950-1953), de

aproximação com a URSS e demais aliados do campo socialista e países periféricos não-aliados

(Conferência de Bandung, 1954) e o estabelecimento dos chamados planos qüinqüenais a partir de 1952.

A segunda fase iniciada com a implementação do “Grande Salto Adiante”, 1956, e encerrada e 1971 é

marcada pelo subjetivismo em matéria de desenvolvimento econômico e respeito às leis econômicas,

pelo início de um isolamento internacional com o rompimento com a URSS, o início de uma disputa

interna pelos rumos em matéria de política econômica e o fortalecimento de uma linha capitaneada por

Liu Shaoqi de primazia ao desenvolvimento das forças produtivas em detrimento da centralidade da luta-

de-classes sob o socialismo. A disputa entre as duas facções e a dianteira assumida pelo grupo de Liu

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Shaoqi, levou Mao Tsétung a encampar uma extensa e violenta campanha de massas sob os auspícios

da “Grande Revolução Cultural do Proletariado” iniciada em 1966. Em 1964, com sucesso, o país faz seu

primeiro teste nuclear.

Retornando, voltada inicialmente contra os “seguidores do rumo capitalista”, a Revolução Cultural deixou

um grande rastro de destruição e anarquia que praticamente paralisou e país e quase colocou em xeque

o próprio PCCh. Encerrou-se com a morte de Mao Tsétung em setembro de 1976. A terceira fase,

intercalada com a segunda, inicia-se com uma grande jogada de Mao Tsétung no campo internacional

com a reaproximação com os EUA, então sob a presidência de Nixon em 1971. Esta reaproximação

encerrou com o isolamento internacional da China tendo como conseqüência, ainda em 1971, da

ocupação da cadeira – então ocupada por de Taiwan – tanto na Assembléia-Geral da Organização das

Nações Unidas, quanto no próprio Conselho de Segurança desta instituição. Esses tentos em matéria de

política internacional coincidem com o arrefecimento da Revolução Cultural e a reabilitação de Deng

Xiaoping aos seus antigos postos no PCCh e no Estado (quais são?), o que possibilitou a Deng acumular

forças, mesmo após seu segundo afastamento em 1976, ao combate a ser travado após a morte de Mao

contra o núcleo-duro da Revolução Cultural e o sucessor escolhido por Mao Tsétung, Hua Guofeng.

As “Quatro Modernizações”

O ano de 1978 marca a vitória da linha de Deng Xiaoping com a implementação massiva das chamadas

Quatro Modernizações (agricultura, indústria, ciência e tecnologia e da defesa nacional) anunciadas ainda

em 1974 por Zhou Enlai. A normalização das relações diplomáticas com os EUA em 1979 abriu outra

condição objetiva ao sucesso da política de Deng: a garantia de mercados externos aos produtos

chineses. A primeira etapa da modernização do país foi o desmantelamento das comunas populares

favor de “contratos de responsabilidade” entre o Estado e a família camponesa, onde ficou permitida a

comercialização do excedente em cereais no mercado. Os primeiros resultados podem ser auferidos na

medida em que se solucionou a questão central do abastecimento alimentar, criou-se o embrião de um

potencial mercado interna para produtos manufaturados e se reconstituiu o pacto de poder que levou o

PCCh ao poder em 1949 como ficou demonstrado no irrestrito apoio camponês ao governo central

durante o levante contra-revolucionário de junho de 1989 em Pequim.

Além disso, ao estimular a milenar capacidade de acúmulo e comércio do camponês médio chinês (e

implantando uma réplica tamanho gigante do modelo desenvolvimentista japonês) o governo central

promoveu a constituição de indústrias rurais com capacidade de absorver mão-de-obra sobrante no

campo e promover, ainda na década de 1980, a invasão de produtos Made in China pelo mundo afora,

sendo que atualmente um grande esforço de planejamento tem redundado no surgimento de dezenas

empresas multinacionais com grande capacidade de competição externa. Por outro lado, amiúde a pouca

disponibilidade de terras e conseqüentemente sendo importadora de alimentos, o país é grande

processador de produtos alimentícios, inclusive exportando carnes de variados tipos (carnes de porco, p.

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ex.). A internalização de métodos de administração, capital e tecnologia estrangeiros vitais ao projeto de

modernização, ganhou escopo com a instalação gradual pelo território chinês de Zonas Econômicas

Especiais (ZEE`s), a partir de 1980. Inicialmente, em apenas quatro cidades litorâneas, estrategicamente

voltadas para Hong-Kong, Taiwan e das comunidades chinesas do sudeste asiático, as ZEE`s cumpriram

relevante tarefa no que cerne, também, a reincorporação de territórios como Hong-Kong, Macau e

atualmente Taiwan ao abrirem uma zona de convergência econômica entre o continente e tais territórios.

Visão mais realista acerca do socialismo

Sob ponto de vista político, Em Deng Xiaoping, implantou-se um sistema de gerações dirigentes com dez

anos de duração, sendo que a atual geração nucleada pelo engenheiro Hu Jintao é tida como a quarta

geração dirigente. Além disso, a constituição de uma economia de mercado sob orientação socialista foi

posta em marcha em 1987, partindo de um principio clássico da transição capitalismo-socialismo pautado

pela convivência por todo um tempo histórico de diferentes formas de mediação econômica e de

propriedade, com hegemonia das formas estatal e coletiva sobre os meios estratégicos de produção,

dado o fato de um país, a China no caso e com toda sua complexidade, encontrar-se ainda na fase

primária do socialismo.

Sua emergência econômica tem sido acompanhada de um aumento de seu papel na política internacional

com alianças estratégicas com grandes países periféricos como o Brasil, a Rússia, Índia e África do Sul.

Seu crescente poderio financeiro e utilização do comércio como arma política de monta têm servido ao

soerguimento econômico de regiões inteiras como, por exemplo, a África, criando assim um campo

estratégico de atuação com vistas de isolar no longo prazo o imperialismo norte-americano e suas

intenções de “poder infinito” sobre o planeta.

Se na antiguidade obras como o “Grande Canal” e a “Grande Muralha” eram expressões e ícones de um

grande e duradouro projeto nacional a ser seguido por gerações de chineses, atualmente expressões

semelhantes podem ser vistas nas instalações dos Jogos Olímpicos de Pequim, na usina das Três

Gargantas do Rio Yangtsé e na ferrovia Qinghai-Tibet. Antes de ser um caso de restauração capitalista

em curso e independente das grandes interrogações que o modelo encerra, o caso chinês com sua

milenar história e peculiar estrada de desenvolvimento e edificação de um novo tipo de poder é um

grande e histórico caso de uma concepção teórica, política e prática mais realista acerca do próprio

socialismo.