RESUMO DAS LEITURAS OBRIGATÓRIAS DO PRISE/PROSEL/PSS’S - 1ª e 2ª fase UFPA

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RESUMO DAS LEITURAS OBRIGATÓRIAS DO PRISE/PROSEL/PSS’SLiteratura Luso – Brasileira – Leituras Obrigatórias do vestibular – PSS’S 2010 Professor: Jonildo Lima Eixo: Literatura Iniciação à Teoria Literária – Teoria Literária – A Arte Literária Texto Literário: é todo texto subjetivo, conotativo, intuitivo, criativo, relevância do plano da expressão e plurissignificativo. Texto Não-Literário: é todo texto objetivo, denotativo, racional, relevância do plano do conteúdo e que admite uma única interp

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RESUMO DAS LEITURAS OBRIGATRIAS DO PRISE/PROSEL/PSSSLiteratura Luso Brasileira Leituras Obrigatrias do vestibular PSSS 2010 Professor: Jonildo Lima Eixo: Literatura Iniciao Teoria Literria Teoria Literria A Arte Literria Texto Literrio: todo texto subjetivo, conotativo, intuitivo, criativo, relevncia do plano da expresso e plurissignificativo. Texto No-Literrio: todo texto objetivo, denotativo, racional, relevncia do plano do contedo e que admite uma nica interpretao. Conceito de Literatura: - a arte da palavra - A Literatura, como toda arte, uma transfigurao do real, a realidade recriada atravs do esprito do artista e retransmitida atravs da lngua para as formas, que so os gneros, e com as quais ele toma corpo e nova realidade. Elementos do poema: Rima: repetio ou semelhana de sons (vogais ou consoantes), geralmente a partir da ltima tnica das palavras. Pode ocorrer no final ou no interior ( rima interna ) do verso. Mtrica: conjunto de normas que regula a construo do verso medido. Nas lnguas romnicas e, portanto, em portugus, a metrificao se faz pela contagem das slabas. Estrofe: cada conjunto de versos, com unidade de sentido e/ou de ritmo, em que se divide o poema. Verso: cada linha de um poema, apresentando um certo padro rtmico e meldico. Elementos da narrativa: As categorias bsicas da narrativa: Assunto: a caracterizao do tema. a situao escolhida para desenvolver a narrativa. Tema: a idia em torno da qual ir se desenvolver a histria. Corresponde a um substantivo abstrato. Enredo: o conjunto encadeados de fatos, organizado de acordo com a vontade do escritor. Todo enredo supe um conflito. importante lembrar que fatos sempre ocorrem numa seqncia: comeo, meio, fim. No entanto, o escritor pode alterar essa ordem, comeando a contar pelo meio ou pelo fim, dependendo do efeito que pretende alcanar. Tempo: o momento em que ocorrem os fatos narrados. O tempo pode ser cronolgico ou psicolgico. Foco narrativo: o narrador pode optar pela primeira pessoa (nesse caso uma personagem que participa da narrativa ou a personagem central, que conta sua prpria histria) ou pela terceira pessoa (algum que observa os fatos e est fora da histria). Espao: o lugar onde acontecem os fatos narrados. Em algumas narrativas o espao no mencionado, pois no tem importncia fundamental. Em outros casos, o espao muito importante e o escritor dedica a ele extensos trechos da obra. Personagens: so seres ficcionais que vivem os. Lembre-se: qualquer tipo de ser... gente, bicho, criaturas inanimadas... pode ser personagem de uma narrativa. Gneros Literrios: Abordagem tripartida dos gneros literrios tradicionais: Lrico: (emoes, estados do eu) poesia pico e Narrativo (um narrador relata) poema pico, romance, conto, novela. Dramtico: (atores apresentam vivem uma ao) teatro A Poesia Trovadoresca: Trovadorismo (1189/1198? 1434 ) Cantigas Trovadorescas Cantiga de Amor: Caractersticas - Voz lrica masculina Portugus

- Origem Provenal - Expresso da vida aristocrtica - Tratamento dado mulher: mia senhor - Convenes do amor corts: a) A idealizao da mulher b) A vassalagem amorosa c) A coita amorosa Cantigas de Amigo: Caractersticas - Voz lrica feminina. - Tratamento dado ao namorado: amigo - Expresso da vida campesina e urbana - Retrata os fatos comuns da vida cotidiana. - Amor realizado ou possvel sofrimento amoroso - Simplicidade pequenos quadros sentimentais - Paralelismo e refro - Origem popular e autctone (isto , na prpria Pennsula Ibrica) Humanismo Portugus (1434 1527): Sculos XV e XVI Farsa do Velho da Horta Gil Vicente: O pai do teatro Gil Vicente (1465 1537) um dos maiores representantes da literatura renascentista de Portugal. Alm de dramaturgo tambm um dos melhores poetas populares da pennsula ibrica, pelo lirismo de seus cantares. De feio primitivista, sua obra, embora ainda ligada Idade Mdia, tem uma fora dramtica em que o trao maior de eficincia se verifica na caracterizao dos personagens. Gil Vicente um crtico da igreja impregnado do ideal postulado por Erasmo de Rotterdam, de restaurar o cristianismo original. O Velho da Horta ( 1512 ) uma farsa novelesca na qual o leitor poder saborear o fino humor e a astcia de mundo do imortal dramaturgo portugus. O VELHO DA HORTA Gil Vicente ( Resumo ) Anlise da Obra Em O velho da Horta, de 1512, Gil Vicente revela perfeito domnio do dilogo e grande poder de lidar com personagens e aes que se aproximam da comicidade. Utiliza pouco aparato cnico, colocando toda a ao em um mesmo cenrio ( a horta ) e os acontecimentos que se realizam fora da horta so referidos como fatos que vm de fora. Todos os episdios tm uma nica direo: o desfecho, e isso garante a unidade da pea. O Velho da Horta uma pea de enredo, na qual se desenvolve uma ao contnua e encadeada, em torno de um episdio extrado da vida real, ou em torno de uma srie de episdios envolvendo uma personagem central, ou articulando uma ao dramtica homognea e completamente desenvolvida, com um travejamento mais complexo, com comeo, meio e fim. Gil Vicente um criador de tipos. A linguagem do Velho um arremedo da poesia palaciana. A linguagem da Moa zombeteira e se contrape do velho. A obra uma pea de teatro escrita em versos. O argumento gira em torno das desventuras de um homem j entrado nos anos e seu frustrado amor por uma jovem que vem sua horta comprar verduras. Por meio do dilogo entre o velho e a jovem, Gil Vicente capta a crueza de uma situao que oscila entre o ridculo e o ilusrio. O Velho apaixonado deixa-se levar por um amor imprudente e obcecado; a Moa, motivo dos sonhos do Velho, irnica, sarcstica e retribui as declaraes de amor com zombarias. A cena inicial marcada pela tentativa de conquista e o dilogo se d entre o lirismo enamorado do Velho e os ditos zombeteiros da Moa. Em seguida, entra em cena uma alcoviteira que oferece seus prstimos profissionais para garantir ao Velho a posse da amada. Mediante promessas de que o xito est prximo, a mulher extorque toda a riqueza do Velho. Finalmente, entra em cena a Justia que prende a alcoviteira, mas retira do Velho a esperana de ver realizado to louco amor. No final, vem a notcia de que a jovem que motivou to tresloucada paixo casou-se.78

Estrutura da obra Quatro versos em redondilhas maiores e um quinto verso com trs slabas mtricas. Os conceitos formulados pelo Velho acerca da natureza do amor so do formulrio lrico dos poetas quinhentistas ( Petrarca ). A interlocuo do Velho apaixonado, contagiado pelo gosto das antteses e pelo conceito do conflito entre a razo e o sentimento amoroso: O tema central o amor tardio, extemporneo, as conseqncias desastrosas desse amor e o pattico e ridculo do assdio de um velho, que se julga irresistvel, a uma jovem esperta e prudente. O Velho da Horta Farsa Personagens: Um VELHO idoso, proprietrio de uma horta, apaixona-se subitamente por uma jovem compradora. Uma MOA rapariga com certa experincia, j balzaquiana, com resposta ao p da letra, confiante em si mesmo, disposta a zombar de um velho inofensivo, sem quebra da sua dignidade pessoal. Um PARVO, criado do VELHO com pouca cultura, limitando-se a chamar-lhe s realidades primrias da vida ( o comer ) incapaz de compreender grandes dramas: representa o povo portugus, rude e ignorante, porm bom de corao e temente a Deus. MULHER, do VELHO espera do Velho. Branca Gil , ALCOVITEIRA ( cafetina )figura pitoresca da baixa sociedade peninsular astuciosa e mistificadora, cuja moral independe de todas as leis da sensibilidade, simboliza a degradao moral e a feitiaria popular. Uma MOCINHA personagem que vai at a horta comprar. Um ALCAIDE antigo oficial de Justia. Beleguins agentes de polcia.; Observamos no enredo a seqncia magistral de estados de esprito com que a moa acata ou reage aos galanteios do velho. Esta seguinte farsa o seu argumento que um homem honrado e muito rico, j velho, tinha uma horta; e, andando uma manh por ela espairecendo, sendo o seu hortelo fora, veio uma moa de muito bom parecer buscar hortalia, e o velho em tanta maneira se namorou dela, que, por via de uma alcoviteira gastou toda sua fazenda. A alcoviteira foi aoitada, e a moa casou honradamente. Entra logo o velho rezando pela horta. Foi representada ao mui serenssimo rei Dom Manuel o primeiro deste nome, era do senhor de 1512. O Velho da Horta velho ridculo apaixona-se repentinamente por uma jovem. Leia o fragmento da Farsa O Velho da horta Gil Vicente. In Obras Completas de Gil Vicente. Entra a moa na horta e diz o Velho: Senhora, benza-vos Deus. Moa: Deus vos mantenha, Senhor. Velho: Onde se criou tal flor? Eu diria que nos cus. Moa: Mas no cho. Velho: Pois damas se acharo, Que no so vosso sapato. Moa: Ai! Como isso to vo, E como as lisonjas so De barato. [ ... ] Velho: Gro fogo damor matia, minha alma verdadeira! Moa: E essa tosse? Amores de sobreposse Sero os da vossa idade: O tempo vos tirou a posse. Velho: Mais amo, que se moo fosse Com a metade.

[...] Moa: J perto sois de morrer: Donde nasce esta sandice, que, quanto mais na velhice, amais os velhos viver? Gil Vicente. O velho da horta. In Obras completas de Gil Vicente. Comentrio: Ele utiliza o verso de sete slabas, chamado verso redondilho maior. As personagens nem chegam a ter nomes que as individualizem. So uma moa bonita, em idade de casamento, e um velho, que vive uma paixo tempor. Com finalidade moralizante, Gil Vicente exagera as caractersticas e o comportamento do velho, tornando-os ridculos e caricaturais. Os fragmentos exprimem a viso idealizada que o velho tem do objeto de seu amor. Para ele, a moa uma flor, cuja beleza no pode ter origem terrena. A expresso no cho traduz a atitude realista da moa, que no tem os mesmos sentimentos. como se ela convidasse o velho apaixonado a pr os ps no cho, a cair na realidade. A rplica tem um tom zombeteiro, sarcstico, pois a moa considera ridcula a linguagem apaixonada do hortelo. A expresso no cu exprime a viso idealizada que o velho tem do objeto de seu amor. Enredo A ao se inicia quando a Moa vai horta do Velho buscar hortalias, e este se apaixona perdidamente por ela. No dilogo entre ambos estabelecem-se dois planos de linguagem: a linguagem galanteadora do Velho, esteriotipada, repleta de lugares-comuns da poesia palaciana do Cancioneiro Geral, cujo artificialismo Gil Vicente parodia ironicamente, e a linguagem zombeteira e s vezes mordaz da Moa que no se deixa enganar pelas palavras encantadoras do pretendente e no se sente atrada nem por ele, nem por sua fortuna, nem por sua lbia cortes. So duas vises postas da realidade: a viso idealizadora do Velho apaixonado e a viso realista da Moa. Uma alcoviteira, Branca Gil, promete ao Velho a posse da jovem amada e, com isso, vai extorquindo todo o seu dinheiro. Na cena final, o Velho, desenganado, s, reduzido pobreza, pois gastara tudo o que tinha, deixando ao desamparo suas quatro filhas, reconhece o seu engano e se arrepende. A Alcoviteira aoitada, e a Moa casa-se honestamente com um belo rapaz. A introduo ao texto da pea esclarece que a farsa foi encenada em 1512, na presena de D. Manuel I, rei de Portugal. CLASSICISMO ( 1527 1580 ) : SCULO XVI - Leitura do episdio de Ins de Castro (Canto III - Terceiro, estrofes 118 a 135) de Os Lusadas, de Lus Vaz de Cames. Resumo dOs Lusadas Episdio de Ins de Castro: a amante do prncipe D. Pedro assassinada a mando do rei, na ausncia do filho. De volta, D. Pedro manda exumar o cadver de Ins, a que depois de morta foi rainha. Canto III: Vasco da Gama conta-lhe a histria desde a formao de Portugal at o reinado de D. Fernando. Pertence a este canto o primeiro episdio lrico da obra: o assassinato de Ins de Castro. Dentre os vrios episdios narrados por Vasco da Gama ao rei de Melinde, destacam-se: Origens portuguesas; a luta do Pastor Viriato contra a ocupao de Roma; A fundao do reino de D. Afonso Henrique; Histria da Universidade de Coimbra por D. Dinis; a histria de D. Pedro e Ins de Castro. Vasco da Gama invoca a musa Calope e conta a histria de Portugal at a primeira dinastia ( D. Fernando ) A castelhana Ins de Castro era dama de companhia de D. Constana, casada com D. Pedro, filho do rei D. Afonso IV. D. Pedro apaixonou-se por Ins de Castro e quis casar-se com ela aps a morte de Constana, para regularizar a situao de seus filhos bastardos. O rei e a nobreza no queriam o casamento, pois tinham medo de que Castela pudesse interferir na poltica do reino. Assim, D. Afonso ordenou, em 1355, que degolassem Ins. Diz a lenda que D. Pedro mandou vestir de79

noiva o cadver, sentou-o no trono e fez os nobres lhe beijarem a mo. Por isso se diz que Ins foi rainha depois de morta. No entanto, a verdade que, em 1361, quando j era rei, D. Pedro mandou transladar os restos mortais de Ins de Castro, com pompas de rainha. Esse episdio, desde o sculo XV, tem inspirado poetas ao longo de toda a literatura portuguesa. No Mosteiro de Santa Maria, em Alcobaa, est o tmulo de D. Pedro e Ins de Castro. BARROCO (1601- 1768 ) : Sculo XVII Perodo artstico correspondente ao sculo XVII. Como idia geral, o movimento barroco se caracteriza pela tentativa da fuso esttica do ideal medieval com os valores da Renascena. Da o dualismo que define o Barroco: religiosidade/paganismo, esprito/matria, morte/vida, etc. So caractersticas da literatura barroca: - idias contrastantes; - tensionamento; - fusionismo; - linguagem figurada; No Brasil, O Barroco sofre influncia dos padres estticos portugueses. Como figura original, restringe-se a Gregrio de Matos Guerra cuja obra apresenta alm de um sentido, num plano a busca de Deus e a elevao do esprito, noutro, a vulgaridade e as solicitaes terrenas. Gregrio de Matos ficar conhecido pelo sentido satrico de parte de sua obra. Momento histrico: Ciclo da cana-de-acar: Pernambuco. Momento Histrico: Contra reforma BARROCO : caractersticas gerais: - Volta a Idade Mdia. - Formas rebuscadas. - Fesmo. - Ludismo. - Ambigidade, trocadilhos. - Dualismo, culto do contraste, antteses. - Teocentrismo x Antro pocentrismo. - Carne x esprito. - Temtica do arrependimento. - Transitoriedade, fugacidade. - Paradoxos. - Cultismo. - Conceptismo. - Compara sempre a mulher ao ocaso, a flor ( Rosa ). - Religiosidade. - Fusionismo. Principal autor: Gregrio de Matos Guerra: O Boca do Inferno Momento histrico: Ciclo da cana-de-acar: Bahia e Pernambuco. Poesia lrica religiosa: nsia de salvao e o culto do arrependimento. Poesia lrica amorosa: conflito entre o amor espiritual e o desejo carnal. Poesia satrica: criticou todos os segmentos da sociedade baiana do sculo XVII. Utilizou palavras indgenas e africanas em seus poemas. Considerado nosso primeiro jornalista, pois retratou o cotidiano da cidade da Bahia. Tanto na lrica religiosa quanto na lrica amorosa, o tema da brevidade da vida, da efemeridade, da transitoriedade das coisas materiais, da fugacidade foi constante em sua obra. Bahia e

ARCADISMO ( 1768 1836 ): Durante o sculo XVIII, Na Europa, houve grande desenvolvimento da cincia, da tcnica e da filosofia. A se desenvolveu o movimento rcade. O sculo XVIII racionalista ( razo). No Brasil, o Arcadismo se fixou na capitania de Minas Gerais, ento o ncleo geogrfico brasileiro mais rico. Vila Rica o centro das inquietaes intelectuais da poca, l vo surgir os poetas mais importantes: Cludio Manuel da Costa, Toms Antnio Gonzaga, Silva Alvarenga e Alvarenga Peixoto. a escola mineira, caracterizando os novos ideais estticos. O sentido nativista do movimento ser dado pelos picos Baslio da Gama ( O URAGUAI ) e Frei Jos de Santa Rita Duro ( CARAMURU ). Europa Momento Histrico: Iluminismo Enciclopdias Primeira Revoluo Industrial ( 1750 ). Busca do equilbrio. Pastoralismo ( ovelha, rebanho, pasto, vaca, gado... ). Bucolismo ( campestre, rural ). Contrrio ao Barroco: repdio aos excessos do Barroco. Carter didtico. Busca da simplicidade. A natureza refgio: valorizao da natureza. Artificialismo. Linguagem simples. Valorizao dos ideais greco-romanos. Aspectos mitolgicos. Conceitos Latinos Fugere urbem ( fugir da cidade). Locus amoenus ( local ameno, tranqilo, buclico ). Inutilia Truncat ( cortar o intil ). Carpe Diem ( aproveite o dia, aproveite a vida). urea Mediocrita ( equilbrio, meio-termo, harmonia... ) Racionalismo. Imitao da natureza. Presena da mitologia greco-romana. Nativismo: o amor ou apego terra natal Principal autor: Bocage O Neoclssico: Bocage foi o melhor e mais original poeta do Arcadismo em lngua portuguesa. No primeiro momento elaborou poemas dentro do convencionalismo neoclssico. Bucolismo, pastoralismo, gosto pela claridade, idia de equilbrio, paz, harmonia. PR ROMANTISMO ( 1808 1836 ): foi um perodo ou fase de transio que antecedeu o Roamantismo. De Colnia a pas independente Pode-se afirmar que a turbulncia dos acontecimentos polticos dominou a cena a ponto de no se encontrar, nesse perodo, uma nica obra literria significativa. O fato cultural mais importante das primeiras dcadas do sculo XIX foi a chegada, em 1816, da Misso Artstica Francesa, contratada por iniciativa do princpe-regente D. Joo. Entre outros artistas, fixaram-se na cidade do Rio de Janeiro ( ento centro das decises polticas ) os pintores Jean-Baptiste Debret e Nicolas Antoine Taunay ( av do Visconde de Taunay ). Contexto Histrico: A vinda da Misso Artstica Francesa liderada por Jean Baptiste Debret A vinda da Famlia Real Portuguesa para o Brasil ( 1808 ) * 1808 2008: 200 anos da vinda da Famlia Real para o Brasil Fugindo da impessoalidade rcade, nesse perodo de transio foram elaborados poemas subjetivos, emotivos, sentimentais. Nessa fase valorizou o gosto pelo noturno, pela idia da morte, o que denominamos de Locus Horrendus.80

Principal autor: Manoel Maria Barbosa du Bocage O Rei da anedotas - Utilizou como pseudnimo Elmano Sadino ( Elmano um anagrama de Manoel e Sadino derivou do Rio Sado, que banha sua cidade). A genialidade de Bocage o fez romper com o excesso de regras do arcadismo e em nome da originalidade elaborou poemas de carter confecional. Bocage religioso e pr-romntico: No final da vida converteu-se ao catolicismo e passou a elaborar poemas que negavam os benefcios da vida desregrada que tinha tido. Sua poesia religiosa foi marcada pelo arrependimento e pela nsia de salvao. LITERATURA BRASILEIRA E PORTUGUESA PROSEL/PRISE/PSS Eixo: Literatura 1 srie - etapa - Iniciao Teoria Literria Arte Literria a) Conceito de literatura b) Texto literrio e no literrio. c) Elementos do poema: rima, mtrica, estrofe e verso. d) Elementos da narrativa: As categorias bsicas da narrativa: assunto, tema, enredo, tempo, foco, espao e personagens. e) Abordagem tripartida dos gneros literrios: lrico, pico, dramtico. Conceito de Literatura: O que Literatura? - arte da palavra - A Literatura, como toda arte, uma transformao do real, a realidade recriada atravs do esprito do artista e retransmitida atravs da lngua para as formas, que so os gneros, e com as quais ele toma corpo e nova realidade. - Literatura uma manifestao artstica. - O artista literrio trabalha com a palavra. - O artista coloca em sua obra, sua postura diante da realidade. Texto Literrio: todo texto subjetivo, conotativo, intuitivo, criativo, relevncia do plano da expresso e plurissignificativo. Texto No Literrio: todo texto objetivo, denotativo, racional, relevncia do plano do contedo e que admite uma nica interpretao. Elementos do poema: Rima: repetio ou semelhana de sons ( vogais ou consoantes ), geralmente a partir da ltima tnica das palavras. Pode ocorrer no final ou no interior ( rima interna ) do verso. Mtrica: conjunto de normas que regula a construo do verso medido. Nas lnguas romnicas e, portanto, em portugus, a metrificao se faz pela contagem das slabas. Estrofe: cada conjunto de versos, com unidade de sentido e/ou de ritmo, em que se divide o poema. Verso: cada linha de um poema, apresentando um certo padro rtmico e meldico. Elementos da narrativa: As categorias bsicas da narrativa: Assunto: a caracterizao do tema. a situao escolhida para desenvolver a narrativa. Tema: a idia em torno da qual ir se desenvolver a histria. Corresponde a um substantivo abstrato. Enredo: o conjunto encadeados de fatos, organizado de acordo com a vontade do escritor. Todo enredo supe um conflito. importante lembrar que fatos sempre ocorrem numa seqncia: comeo, meio, fim. No entanto, o escritor pode alterar essa ordem, comeando a contar pelo meio ou pelo fim, dependendo do efeito que pretende alcanar. Tempo: o momento em que ocorrem os fatos narrados. O tempo pode ser cronolgico ou psicolgico. Foco narrativo ( ponto de vista ): o narrador pode optar pela primeira pessoa ( nesse caso uma personagem que participa da narrativa ou a personagem central, que conta sua prpria histria ) ou pela terceira pessoa ( algum que observa os fatos e esta fora da histria ).

Espao: o lugar onde acontecem os fatos narrados. Em algumas narrativas o espao no mencionado, pois no tem importncia fundamental. Em outros casos, o espao muito importante e o escritor dedica a ele extensos trechos da obra. Personagens: so seres ficcionais que vivem os fatos. Lembre-se: qualquer tipo de ser .... gente, bicho, criaturas inanimadas ... pode ser personagem de uma narrativa. Gneros Literrios: Abordagem tripartida dos gneros literrios tradicionais: Lrico: quando um EU nos passa uma emoo. ( emoes, estados do eu ) poesia pico e Narrativo ( um narrador relata ): quando h um narrador, esse gnero inclui todas as manifestaes narrativas desde o poema pico at o romance, a novela , o conto poema pico, romance, conto, novela. Dramtico: quando atores apresentam um acontecimento. (atores apresentam vivem uma ao) teatro. Periodizao : Eras e escolas Literrias Brasileiras Era Colonial Perodo Colonial ( de 1500 1808 ) - Quinhentismo ( de 1500 1601 ) sculo XVI - Seiscentismo / Barroco ( de 1601 1768 ) sculo XVII - Seticentismo / Arcadismo ( de 1768 1808 ) sculo XVIII Perodo de Transio ( 1808 1836 ): Pr Romantismo Era nacional Perodo Nacional ou Autnomo ( de 1836 at os nossos dias ) - Romantismo ( de 1836 1881 ) 1 metade do sculo XIX - Realismo - Naturalismo Parnasianismo( de 1881 1893 ): 2 metade do sc. XIX - Simbolismo ( de 1893 1922 ): final/fim do sculo XIX - Modernismo ( de 1922 at hoje ): sculo XX Essas datas so apenas marcos. Toda poca apresenta um perodo de ascenso, um ponto mximo e um perodo de decadncia, que coincide com o perodo de ascenso da prxima poca. OBSERVAES: 1. No decorrer da evoluo de nossas letras, encontramos dois perodos literrios e oito estilo de poca. 2. No primeiro sculo de nossa formao ( XVI ), no tivemos propriamente um estilo de poca, pois a falta de condies scio-culturais no permitiu. Por essa razo, denominamos QUINHENTISMO s produes informativas e catequticas dos cronistas e jesutas do sculo XVI. 3. Foi somente no sculo XVII que conhecemos de forma mais ou menos orgnica o nosso primeiro estilo de poca, O BARROCO, para o Brasil transplantado com os mesmos traos do barroquismo luso-espanhol. MARCOS DOS ESTILOS DE POCA NO BRASIL 1500 QUINHENTISMO : A Carta do Descobrimento, de Pero Vaz de Caminha. 1601 BARROCO: Prosopopia, de Bento Teixeira. 1768 ARCADISMO : Obras Poticas, de Cludio Manoel da Costa. 1836 ROMANTISMO: Suspiros Poticos e Saudades, de Gonalves de Magalhes. 1880 PARNASIANISMO : Soneto e Rimas, de Lus Guimares Jnior. 1881 REALISMO: Memrias Pstumas de Brs Cubas, de Machado de Assis. 1881 NATURALISMO: O Mulato, de Alusio Azevedo. 1893 SIMBOLISMO: Broquis ( Poesia ) e Missal ( prosa ), de Cruz e Souza. 1922 MODERNISMO: A Semana de Arte Moderna. OBSERVAES: Marcos das Fases de Transio. 1808 PR ROMANTISMO: Vinda da Famlia Real Portuguesa. 1902 PR MODERNISMO: Os Sertes, de Euclides da Cunha e Cana, de Graa Aranha.81

ESTILO INDIVIDUAL E ESTILO DE POCA Em toda obra literria existe a marca da personalidade do autor, das influncias recebidas por ele em sua experincia de vida. Essa marca, essa caracterstica pessoal o que chamamos de estilo individual. Por outro lado, podemos agrupar vrios escritores de uma mesma poca, visto poderem formar, pelas caractersticas comuns de seus estilos individuais, aquilo que chamamos de estilo de poca. Estilo de poca, tambm chamado de Escola Literria, o agrupamento de vrios autores de um determinado perodo, os quais, pelas circunstncias sociais, polticas, morais e religiosas, histricas e psicolgicas que os envolvem, possuem aspectos em comum em seus estilos individuais. ESCOLAS LITERRIAS Vejamos, esquematicamente, a seqncia das escolas literrias, a respectiva poca em que se desenvolveram e a caracterstica bsica de cada uma sob o aspecto subjetivo ou objetivo. Idade Mdia Medievalismo Teocentrismo ( Deus - centro das atenes ) Subj. Sc. XV e XVI Classicismo Antropocentrismo ( Humanismo culto ao fsico ) Obj. Sc. XVI e XVII Barroco Oposio entre o Material e o Espiritual Subjetividade Sc. XVIII Arcadismo Retorno aos ideais do Classicismo Objetividade Sc. XIX Romantismo Culto ao prprio EU Egocentrismo Subjetividade Sc. XIX Realismo Viso da realidade tal qual ela se apresenta aos sentidos Obj. Sc. XIX ( Fim ) Simbolismo Sublimao e Espiritualidade Subjetividade Sc. XX Modernismo Liberdade e Criatividade Objetividade e Subjetividade. Nota-se, por este quadro, que cada perodo literrio uma reao contra os princpios da escola anterior. Estilo individual: o estilo a maneira individual de expresso de cada escritor. Estilo de poca: o estilo de poca , portanto, o conjunto de caractersticas comuns que marcam as obras de um determinado perodo literrio. TROVADORISMO A arte medieval; espiritualidade e religiosidade Cantigas Lricas De amor: reflete a estrutura da sociedade feudal: a submisso do vassalo ao senhor transferida para o mundo das relaes amorosas. - Eu-lrico maculino que lamenta a coita de amor. - Esse tipo de poesia saiu dos palcios, produzida principalmente por nobres. - Referem-se musa sempre com mesuras ( cortesias ) - Mulher inatingvel e sempre tratada em um plano elevado, superior. - Cantiga de amor de refro e cantigas de amor de mestria ( sem refro ). De amigo: Trovador assume o ponto de vista da mulher, ou seja, apresenta o eu lrico feminino. - A relao amorosa ocorre num plano de igualdade entre os pares, pois os amantes pertencem `mesma classe social. - Aspectos Formais apresentam a linguagem e estrutura mais simples que as cantigas de amor. Muitas apresentam dilogos, tendo Deus e os elementos da natureza como receptores. - comum a estrutura paralelsticas, a mesma idia se repete.

LIVRO 1 LEITURAS OBRIGATRIAS VESTIBULAR 2010 UEPA - UFPA Leituras Obrigatrias do Vestibular - Autores Portugueses Humanismo Portugus ( 1434 1527 ) Humanismo: Gil Vicente O Velho da Horta No sabemos a data certa do nascimento de Gil Vicente, todavia, se em 1502 apresenta sua primeira pea nobreza da Corte, porque nasceu no sculo XV, provavelmente em 1466. No h documentos confiveis que se refiram a ele, como vivo, depois de 1536. Deve ter morrido aos setenta anos de idade, aproximadamente. Metade de sua vida foi dedicada a escrever peas teatrais para os freqentadores do palcio real portugus, prova disso so as diversas cartas em que faz referncias ao atraso no pagamento do seu trabalho. Em uma delas, dirigida ao rei D. Joo III, fala de si mesmo como ...um Gil que no tem ceitil (moeda de pouco valor da poca).... Essa relao do dramaturgo com a corte permite fazer um primeiro reparo nos exageros que se comete quando se fala no nvel de criticidade de sua obra. Sem dvida, esse nvel alto, mas ele o nvel que a corte suporta, se bem que, justia seja feita, ao criticar as crendices divulgadas por cartomantes, ou as explicaes anticientficas de fenmenos naturais, ele acabe por endossar as noes dos humanistas mais avanadas de seu tempo. Devemos entender com isso que Gil Vicente pde as crticas ao clero e nobreza que no punham em risco pelo menos as autoridades do tempo devem ter assim percebido o exerccio de poder desses grupos. Claro que as camadas dirigentes do final da Id. Mdia e incio da Moderna podem ter se enganado quando ao alcance das crticas do dramaturgo, que possivelmente contriburam para a construo de uma sociedade mais sensata, todavia esse um assunto que no aprofundaremos aqui, para nossa anlise aceitaremos a tese, de resto correta quando se trata da farsa o Velho da Horta, de que a comdia (farsa) castiga os costumes pelo riso, segundo afirma Horcio em sua famosa potica. Estamos considerando farsa a pea O Velho da Horta. A farsa um texto teatral cmico, mas s vezes difcil separ-la do auto. Os prprios contemporneos acentuam essa confuso quando afirmam - como o faz o filho de Gil Vicente, responsvel por uma das edies da obra de seu pai que o Auto da ndia e o Auto das fadas, por exemplo, so farsas. O que ele quis dizer ? Que as denominaes estavam equivocadas, ou seja, algum classificou incorretamente as peas, ou que auto e farsa so termos que podem ser usados um pelo outro ? Para efeito do nosso estudo, vamos aceitar a denominao tradicional de farsa para classificar O Velho da Horta, como base no argumento de que se trata de um texto que no apresenta, afora a marca cmica, nenhum outro componente quer de forma, quer de contedo, que nos permita classific-lo como outro tipo de pea teatral mais facilmente definvel, como as soties, os sermes jocosos, os mistrios, as moralidades, para citar apenas alguns daqueles que Gil Vicente utilizou, por vezes, em sua produo dramtica, e que eram e muito comuns na dramaturgia medieval. No geral as obras de Gil Vicente tendem para o cmico de riso direto e no o cmico produzido pelas aluses sutis, prprio da ironia, quem sabe por ser o tipo de texto teatral mais de acordo com o nvel de percepo, do gosto, dos espectadores representados pela corte portuguesa de seu tempo. Sua insistncia no cmico pode tambm ser devida ao seu modo de encarar o mundo associada ao objetivo de traar um painel das sandices de seu tempo. De qualquer jeito, fato que Gil Vicente sente-se mais vontade no terreno do riso direto, do esprito carnavalesco, do que no terreno do sublime, do esprito srio e contemplativo. A farsa O Velho da Horta, que se enquadra perfeitamente no tipo de pea cmica at aqui descrito, tem por assunto um velho que se apaixona loucamente por uma mulher muito mais jovem do que ele e tudo faz para conquist-la, sem atingir seu objetivo.82

O centro da ao o velho. Todos os outros personagens gravitam ao seu redor, pois em um fluxo constante e direto, depois de sua entrada, surgem em cena, revezando-se, para dialogar quase exclusivamente com ele: a moa, o parvo (seu empregado), sua mulher, Branca Gil (a alcoviteira) - que sair e retornar algumas vezes - o alcaide e quatro beleguins (soldados), Branca Gil novamente e a mocinha (sobrinha da moa). Esse modo de estruturar a ao faz com que o leitor, ou espectador, sinta o fluir do tempo diferentemente daquele que anunciado pelos personagens, ou seja, a presena permanente do velho no espao da horta, do incio ao fim do nico ato da pea, sugere que tudo entre a manh e o final da tarde de um nico dia, porm a fala da mocinha , ao final, deixa bastante claro que ao decorre em vrios dias. A fala do parvo, quando vem chamar o dono (velho) para comer indica que ele est desde cedo na horta: Parvo Dono, dizia minha dona Que fazeis vs c t noute? (...) Parvo Diz que fsses comer E que no moreis aqui. ( p.152) Entretanto, quando a mocinha diz que a tia esteve na horta em um outro dia, no sabemos quantos , fica claro para o leitor/espectador que o velho foi por vrios dias horta, durante os quais viveu os fatos situados entre essa fala final e a primeira apario da moa, isto , da tia da mocinha, pois no verossmil, isto , biologicamente possvel , que ele ficasse vrios dias na horta , apenas cantando , como o faz durante a trama toda. Mocinha Vedes aqui o dinheiro Manda-me c minha tia. Que assim como noutro dia, Lhe mandeis a couve e o cheiro. ( p.175) Esse modo de organizar confusamente o tempo: a ao estruturada a partir de um ncleo fixo, representado por um personagem base caso de O velho da Horta (ou vrios personagens). caso dos autos da Trilogia das Barcas -, com quem todos os outros contracenam , por revezamento, num entra e sai que inviabiliza a construo de um conflito cerrado em que os interesses do heri ao se chocarem , numa espcie de tenso crescente , com os do vilo , ou viles, desemboca em um clmax, quando o conflito resolvido e a tenso desfeita. Como dizamos, esse modo de fazer teatro, oposto ao do teatro clssico, de tradio grega, pode sugerir descuido de construo, insuficincia de recursos do escritor. Antnio Jos Saraiva, em seu ensaio Gil Vicente e Bertold Brecht, revendo uma sua posio anterior, em que considerava definitivamente morto o modelo do teatro medieval praticado por Gil Vicente, fornece argumentos suficientes para contestar, nos limites aqui discutidos, qualquer avaliao negativa da obra do dramaturgo portugus. Entende Saraiva que essas avaliaes negativas so herdeiras de um preconceito oriundo do julgamento que na Renascena se fez do teatro medieval , e que o teatro moderno nos fez superar. Por outras palavras, segunda uma viso mais moderna, a estruturao dramtica vicentina no inferior s outras , diferente. Diz o crtico e historiador portugus: As experincias modernas trouxeram-nos uma libertao, um alargamento de nossa viso. E compreendemos agora que na arte medieval existiram formas que nem por terem sido desprezadas aps o Renascimento deixaram de ser formas vlidas, que a Idade mdia de modo algum sepultou ( pp.314315 ) Deve ser ainda em parte por influncia desse preconceito que Jean-Jacques Roubine, em sua Introduo s grandes teorias do teatro, ignore as contribuies tericas do teatro medieval.

Alis, por no t-las abordado, o ttulo de seu livro parece sugerir que sejam contribuies dispensveis. Mesmo que essa teoria no tenha sido redigida, ela pode ser inferida, deduzida e, se bem entendemos as palavras de saraiva, o teatro moderno as validou. Entretanto, no deixam de ser corretas as palavras de Roubine quando afirma que: O modelo aristotlico no ter nenhuma incidncia sobre o teatro latino ou medieval. Os grandes filsofos, que so praticamente os nicos leitores de Aristteles, no mostraram na poca nenhum interesse por seu pensamento esttico. ( p. 21 ) O que se disse sobre a falta de clareza na elaborao do fluxo do tempo e sobre a ao sem conflito cuja tenso desfeita em um clmax, deve-se dizer do fato de Gil Vicente no se interessar pelo aprofundamento da vida interior, da vida psicolgica de seus personagens, pois os tipos que cria so moldados de forma psicolgica insuficiente ou precria quando comparados aos personagens do teatro clssico antigo ou posterior Idade Mdia. Todavia, a favor desse modo de estrutur-los deve-se dizer que mais adequado confeco do painel social que sua obra largamente desenha. Queremos dizer com isso que se ele houvesse aprofundado a psicologia dos personagens no teria sintetizado tantos tipos sociais como o fez nem tratado de tantos aspectos particulares da vida social de seu tempo. Se bem que, no que diz respeito especificamente a O Velho da Hora, Antnio Jos saraiva, no mesmo ensaio anteriormente referido, diz estarmos diante de um possvel exceo a essa regra. certo que, exceptuado talvez O Velho da Horta, histria cmico-trgica de um ancio apaixonado, enganado por uma alcoviteira, no se encontram verdadeiros caracteres e verdadeiros dramas psicolgicos em Gil Vicente. Ele no nos d seno tipos sociais, bem caracterizados, mas automatizados e fixos. ( p. 312 ) Contudo sempre necessrio ter cautela e considerar tambm, nesse caso, a influncia do pblico na confeco das obras artsticas, especialmente no caso de Gil Vicente, sempre to prximo de seu pequeno e influente pblico de espectadores, e assim concluir que certas marcas de seu teatro, como as que estamos agora analisando, podem ter como causa a necessidade de operar simplificaes para atender o nvel de entendimento desse tipo de pblico. No obstante, nada impede que as duas causas funcionem aqui conjuntamente. Atente-se, entretanto, para o fato de no estarmos querendo dizer com isso que as obras dos autores do teatro clssico, - Eurpedes, Sfocles, squilo do sculo V a.C e de Shakespeare, por exemplo, bem mais complexas em sua estrutura e abordagem do que as de Gil Vicente sejam esteticamente superiores s suas. Estamos apenas constando o fato objetivo de que realmente so mais complexas. Os temas mais evidentes da pea O Velho da Horta so o descontrole produzido pela paixo e o oportunismo. O primeiro deduzvel das aes do velho e se assenta nos fatos da trama de que ele tudo perde ao tentar concretizar sua paixo amorosa. Velho ( ... ) Quero-m ir buscar a morte, Pois que tanto mal busquei. Quatro filhas que criei, Eu as pus em pobre sorte. Vou morrer, Elas ho de padecer, Porque no lhes deixo nada De quanta riqueza e haver Fui sem razo dispender Mal gastada. ( p. 176 ) O segundo depreendido das aes da alcoviteira, que, aos poucos, faz o velho passar para as suas mos todo o dinheiro que possui, em parte alegando necessidades da moa, e, em parte, as suas prprias.83

Branca Eu j, senhor meu, no posso Vencer uma moa tal Sem gastardes bem do vosso. ( p. 169 ) Branca- Dei ora uma topada; Trago as sapatas rompidas, Destas vindas, destas idas, E enfim no ganho nada. Velho- Eis aqui Dez cruzados pera ti. ( p. 172 ) As reflexes realizadas e propostas pelo teatro vicentino como neste caso de O velho da Horta costumam ter um alcance universal e permanecem atuais, pois, em qualquer lugar do mundo e a qualquer tempo, os seres humanos podem ser vtimas da insanidade de suas paixes amorosas e, em sua fragilidade, tornarem se alvos fceis do oportunismo de pessoas inescrupulosas. Velhos e Brancas existiram e existem aos milhares e, no entender da pea, pelo que se pode dela deduzir, seus erros devem ser punidos. CLASSICISMO PORTUGUS ( 1527 1580 ) Classsicismo: Lus Vaz de Cames episdio de Ins de Castro ( Canto Terceiro: estrofes 118 a 135 ) Ins de Castro Luz Vaz de Cames A vida de Cames pode ser reconstituda apenas em parte, pois so poucos os documentos, chegados at ns, que a ela se referem. Todavia possvel, com base neles, ter-se uma noo bastante aproximada do tipo de pessoa que foi o poeta. Cames nasceu em 1524/25, oriundo, provavelmente, de uma famlia galega. Na juventude, esteve prximo de pessoas que transitavam pela Corte e entregou-se ativamente vida bomia de Lisboa. Sua correspondncia indica que esteve vrias vezes envolvido em arruaas tpicas de impulsivos fregueses de tavernas. Talvez por isso no freqentasse o crculo de letrados que gravitava em torno de S de Miranda. Por ter ferido espada um funcionrio do Pao, foi preso, obtendo sua soltura sob promessa de embarcar para a ndia, o que efetivamente fez em 1552. No ultramar, levou vida aventurosa e errante. Esteve em Goa, em Macau, na Cochinchina, nas costas da qual naufragou, tendo salvo, a nado, na oportunidade, segundo ele mesmo afirma, o manuscrito de Os Lusadas. Voltou a ser preso em Goa, at que, ajudado por amigos, retornou de Moambique para Lisboa em 1569. A fez publicar seu poema pico e conseguiu uma pequena penso real que lhe foi paga com bastante irregularidade at o fim da vida. Faleceu pobre, em Lisboa, em 1579/1580. Os Lusadas, sua obra mais famosa, so um poema pico porque segundo o conceito de Hnio Tavares em Teoria da Literatura - narram um assunto de carter histrico, herico e nacional. O assunto principal do poema, a viagem de Vasco da Gama ndia, em 1498 preenche todos esses requisitos. Eles foram escritos no sculo XVI, quando estava em moda valer-se da tradio greco-romana, tambm chamada clssica, para produzir obras de arte, motivo pelo qual os modelos em que Cames se inspirou para escrev-los foram os versos picos da Ilada e da Odissia, cujo autor o poeta grego Homero e os da Eneida, cujo autor o poeta romano Virglio. A obra est dividida em 10 cantos, ou captulos e seus versos, todos decasslabos esto agrupados em estrofes de oito versos, que denominamos oitavas. No caso especfico de Os Lusadas, o esquema de rimas das oitavas ( abababcc ) permite que as denominemos de oitavas rimas, ou reais. Alm da narrativa central, Os Lusadas contm vrias pequenas narrativas, cada qual com seu assunto prprio, que, de vrios modos, relacionam-se narrativa central. A morte de Ins de Castro, cuja anlise ser o objeto especfico do presente texto, uma dessas pequenas narrativas que pode ser retirada do corpo geral da obra e lida

separadamente porque, por si s, faz sentido. A crtica literria denomina esse tipo de narrativa autnoma de episdio. O episdio da morte de Ins de Castro um fato verdico da Histria de Portugal. Ele contado, em Os Lusadas, por Vasco da Gama ao rei de Melinde. Melinde um reino localizado no lado oriental da frica onde os portugueses aportaram para organizar a ltima etapa de sua viagem, que consistiria em atravessar o Oceano ndico e chegar ndia. Neste reino, ele foi bem recebido e l contratou um guia que o auxiliou a atingir seu objetivo. Atendendo a um pedido do prprio rei, Vasco da Gama contou-lhe a histria de Portugal, o que o levou, em um dado momento, a referir-se aos acontecimentos da morte de Ins de Castro. Esses acontecimentos histricos podem ser sintetizados: D. Afonso IV, ao regressar vitorioso de Castela, aonde fora auxiliar o rei castelhano em sua luta contra os mouros, pensava em transferir o poder real para seu filho D. Pedro. Era comum, naquela poca, prncipes e princesas portugueses e castelhanos casarem entre si para consolidar uma aliana de mtua ajuda contra perigos externos. Ocorre que D. Pedro havia casado secretamente como uma dama da corte que, mesmo nobre, no pertencia famlia real de Castela, com a qual tinha filhos e, sendo assim, no poderia mais casar-se com uma princesa da famlia real castelhana. Orientado por seus conselheiros. D. Afonso IV optou por autorizar o assassinato de D. Ins, o que permitiria a D. Pedro, vivo, desposar, em segundas npcias, uma princesa de linhagem real. Aps a morte de D. Ins, D. Pedro abriu hostilidades contra o pai que, cansado dos embates, resolveu passar-lhe o comando do reino. No poder, D. Pedro conseguiu mandar prender dois dos assassinos de sua mulher e mandou, sob tortura, mat-los. A seguir ordenou a exumao do cadver de D. Ins, e mesmo morta, a fez coroar rainha de Portugal. O assunto do episdio de Ins de Castro, tomando por base apenas o que se l nos versos de Os Lusadas, pode ser assim sintetizado: uma jovem morta porque os conselheiros do rei e o povo no a querem casada com o prncipe, filho do rei. Se considerarmos, ainda com base exclusivamente nos versos, as causas apontadas pelo narrador para explicar o assassinato, deveremos culpar o destino e o amor ( a fora incontrolada da paixo ) e, com base nisso tudo, concluir que o episdio tematiza, ou problematiza, a intolerncia, a inevitabilidade do fado ( destino ), para usar uma palavra to estimada pelos portugueses e a fora da paixo ( amor ), cuja essncia trgica e violenta comentada pelo poeta nos versos em que diz: Se dizem fero amor, que a sede tua Nem com lgrimas tristes e mitiga, porque queres, spero e tirano Tuas aras banhar em sangue humano. Se associarmos o assassinato Histria de Portugal, ele perde muito do encanto que contm, que deriva do fato de ter sido recriado em uma esquema fundamentalmente emotivo. Estamos querendo dizer tambm com isso que a narrativa produzida por Cames recria, no reproduz, os fatos histricos. As razes de Estado que levaram D. Afonso IV a tomar a deciso do assassinato so substitudas por uma mais adequada, devido fora emotiva que o poeta pretendia imprimir aos versos, motivo pelo qual culpa o amor e o destino pelas conseqncias trgicas do envolvimento entre D. Pedro e D. Ins e no a necessidade de preservar a aliana poltica entre Portugal e Castela. Tu, s tu, puro amor, com fora crua Que os coraes humanos tanto obriga, Deste causa molesta sorte sua, Como se fora prfida inimiga. Vendo os fatos pela perspectiva da Histria de Portugal, o tema se altera, passando a ser a superposio das razes polticas s razes amorosas. Neste caso, deixa de ser um problema de dimenses simplesmente afetivas convertendo-se em um problema de dimenses ticas, se bem que no seja totalmente incorreto associar, mesmo historicamente, o amor e84

o destino verdadeira causa da morte de D. Ins, s o sendo, se atribuirmos a eles a responsabilidade integral pelo sucedido. Essas observaes ajudam-nos a entender que a literatura no uma cpia dos fatos histricos, no podendo, portanto, ser avaliada pelos padres exclusivos da verossimilhana, que leva muitas pessoas a crerem que os melhores textos so aqueles que registram fielmente a verdade histrica. No fim das contas, mesmo com as alteraes de realidade introduzidas pelo poeta nos versos, o episdio mantm sua verdade universal a nica que vale para julgar uma obra -, pois alm de preservar uma lgica interna, que, alis, nem artisticamente necessria, possui um forte teor humanstico, quando defende os interesses amorosos de Ins e de Pedro. Se isso no ocorresse, nosso reconhecimento do potencial esttico do texto ainda seria possvel, apesar de desconfortvel. Haveria ainda muito a dizer sobre as estrofes, mas para o objetivo de uma apresentao ligeira algumas vezes aqui desrespeitado convm ainda abordar dois aspectos. O primeiro diz respeito s referncias comumente feitas ao carter lrico do episdio. Realmente esse carter existe, mas ele s pode ser considerado dentro de certos limites. Em sua essncia o episdio de A Morte de Ins de Castro um texto do gnero pico, para usarmos a linguagem de Aristteles na Potica, ou do ramo da pica, para usarmos a denominao de Emil Steiger em seus Conceitos Fundamentais da Potica, no sendo, pois, propriamente lrico. Isso ocorre porque ele apresenta fatos, fundamentalmente, e no emoes, atravs de um narrador que utiliza como recursos de linguagem: a hipotaxe ( oraes subordinadas, que so mais apropriadas exposies lgicas, do que as oraes coordenadas ): a discursividade apresentativa (a linguagem nos comunica muito mais diretamente do que simbolicamente aquilo que diz), a gramaticalidade ( no se subvertem de forma profunda as regras internas da lngua, nem sinttica, nem morfologicamente) e a construo de efeitos de espao e tempo precisos, etc... Enfim, no episdio de A Morte de Ins de Castro expe-se o mundo exterior, de forma narrada, com recursos de linguagem que acentuam a objetividade, a lgica dos fatos. H nele, certo, um tom emotivo porque fala da fora da paixo, mas a desarticulao do texto, tpica da exposio de emoes,- que se revelaria, em traos estilsticos prprios da obra lrica, como a parataxe (o oposto da hipotaxe), o desrespeito normas gramaticais (o oposto da gramaticalidade) , a discursividade simblica (o oposto da discursividade apresentataiva ), e a impreciso do espao e do tempo no existe no episdio, da ser correto falar-se em seu carter lrico apenas no sentido de que h nos versos uma certa sugesto lrica produzida pelo assunto amoroso. O segundo concerne ao uso da mitologia. Esse recurso uma das marcas do Estilo Clssico renascentista (XVI), economicamente usado na trama do episdio e nela desempenha a funo de intensificar certas caractersticas, ou dos fatos, ou das personagens. Vejamos um exemplo: Qual contra a linda moa Policena, consolao extrema da me velha, Porque a sombra de Aquiles a condena, Coo ferro o duro Pirro se aparelha; Mas ela, com os olhos que o ar serena ( Bem como paciente e mansa ovelha ) Na msera me postos, que endoudece, Ao duro sacrifcio se oferec: Nele, ao usar uma passagem da lada como referncia de comparao, o poeta pretende amplificar a crueldade do ato da morte de Ins, tanto na sua execuo, quanto nas suas conseqncias psicolgicas. Como a jovem Policena, Ins se oferece ao sacrifcio e ser despedaada por fortes guerreiros, sofrendo, pelos filhos, como a me pela filha que ser assassinada. Para concluir, retomemos aquele comentrio sobre a relao entre literatura e realidade. Mesmo que a literatura no deva ser julgada pela sua relao de proximidade ou afastamento do real, vlido formular conjeturas sobre essa

relao, para ampliar nossa percepo da obra, indo alm de seus limites estticos. A esse propsito vale pena chamar a ateno do leitor para o cuidado com que Cames tenta preservar a figura do rei em todo o processo do assassinato de D. Ins, atribuindo-lhe desejos de evitar a tragdia, acusando os conselheiros e at mesmo o povo de incit-lo. Essa transferncia da culpa do evento trgico, provavelmente obedece a uma razo semelhante quela em que cria outra causa, que no a historicamente verdadeira, para explic-lo, isto , ele faz isso para dotar o episdio de elementos eticamente positivos, ou apaixonantemente emotivos, acentuando, assim, o carter sublime da estria que conta, evitando que ela se torne o relato de um acontecimento srdido qualquer. Queria perdoar-lhe o rei benigno, Movido das palavras que o magoam, Mas o pertinaz povo e seu destino ( Que desta sorte o quis ) no lhe perdoam. Sua relao de mecenato com a casa real, que lembra a de Gil Vicente, mesmo sendo menos forte, e ainda seu apego noo de que a unidade do Estado depende da integridade do rei podem tambm explicar sua tentativa de preservao. Mas seramos injustos com Cames se no reconhecssemos que essa tentativa sempre ambgua, pois de modo constante, mesmo que indiretamente, ele questiona o ato real, quando, por exemplo, pe em dvida, na estrofe 137, a humanidade do rei, ( razes humansticas ) ou tenta entender, na estrofe 123, o motivo que leva um guerreiro to forte a aniquilar fisicamente uma frgil donzela ( razo cavalheiresca, oriunda do cdigo da cavalaria andante ). Resumos e comentrios Professor Jonildo - Literatura e Leituras Obrigatrias LITERATURA Apresentao Um dos desafios da educao atual concretizar propostas para que o jovem desenvolva habilidades de estabelecer relaes entre as mais diversas reas do conhecimento e a realidade em que vive. O jovem, como ningum, vive intensamente o presente, o imediatismos das informaes muitas vezes fragmentadas, a intensificao das transformaes responsveis pelo sentimento de que o instante vivido torna-se rapidamente pretrito. Incentivar o jovem a ler um dos objetivos da coletnea de resumos e comentrio, alm de subsidiar a leitura integral dos contos e romances indicados para o PRISE e o PSS como leituras obrigatrias. Esperamos contribuir para estimular o jovem, pelas mos hbeis dos professores, uma leitura proficiente, tornando-se brasileiro mais consciente, crtico, criativo e solidrio. Arcadismo e Neoclassicismo O Arcadismo em Portugal Manuel Maria du Bocage O sculo XVIII representou para Portugal o incio de um processo de modernizao, que se deu nos setores: econmico, poltico, administrativo, educacional e cultural. A produo literria foi ampla e variada, incentivada principalmente pelas academias literrias rcades. Manuel Maria du Bocage, um dos maiores poetas portugueses de todos os tempos, a principal expresso literria desse perodo. Considerado o melhor escritor portugus do sculo XVIII e, ao lado de Cames e de Antero de Quental um dos trs maiores sonetistas de toda a literatura portuguesa. Contudo, esse ttulo de o melhor escritor da poca no significa que Bocage tenha sido o mais perfeito poeta rcade, papel que talvez caiba a Filinto Elso. A importncia conferida obra de Bocage advm principalmente de nela se encontrar a traduo do momento transitrio em que o escritor viveu (1765-1805) um perodo marcado por mudanas profundas, como a Revoluo Francesa (1789) e o florescimento do Romantismo. Assim, a obra de Bocage, em sua totalidade, no rcade nem85

romntica uma obra de transio, que apresenta simultaneamente aspectos dos dois movimentos literrios, A fase inicial da poesia de Bocage marcada por formas e temas prprios do Arcadismo, ambiente buclico, o (fugere urbem), o ideal de vida simples e alegre (urea mediocritas ), a simplicidade e a clareza das idias e da linguagem. Etc. Contudo, outro conjunto de poemas do autor, classificados como pr- romnticos, contraria os postulados rcades e prenuncia o movimento posterior, o Romantismo. o caso deste soneto: Oh! retrato da morte, oh noite amiga, Por cuja escurido suspiro h tanto! Calada testemunha do meu pranto, De meus desgostos secretria antiga! Pois manda o Amor que a ti somente os diga, D-lhes pio agasalho no teu manto; Ouve-os, como costumas, ouve, enquanto Dorme a cruel, que a delirar me obriga. E vs cortesos da escuridade, Fantasmas vagos, mochos piadores, Inimigos, como eu, da claridade! Em bandos acudi aos meus clamores; Quero a vossa medonha sociedade. Quero fartar meu corao de horrores. Alm de ter ficado conhecido como poeta lrico, Bocage tambm se destacou em Portugal e no Brasil como poeta satrico e ertico; sem, contudo no ter nada a ver com certas revistas de bancas de jornal intituladas piadas de Bocage.

Tem-me cativo e no me faz ditoso. Texto 3 Nascemos para amar; a Humanidade Vai, tarde ou cedo, aos laos da ternura. Tu s doce atractivo, oh formosura, Que encanta, que seduz, que persuade. [...] Amor ou desfalece, ou pra ou corre; E, segundo as diversas naturezas, Um porfia, este esquece, aquele morre. Observe como Bocage aborda o tema da inevitabilidade do amor e os diferentes efeitos que esse sentimento provoca: para alguns, a mais profunda tristeza, para outros a alegria. Texto 4 Meu ser evaporei na lida insana Do tropel das paixes que me arrastava; Ah! Cego eu cria, ah! msero eu sonhava Em mim quase imortal a essncia humana. De que inmeros sis a mente ufana Existncia falaz me no dourava? Mas eis sucumbe a natureza, escrava Do mal que a vida em soa origem dana. Prazeres, scios meus e meus tiranos! Esta alma que sedenta em si no coube. No abismo vos sumiu dos desenganos. Deus, oh deus!... Quando a morte luz me roube, Ganhe um momento o que perderam anos, Saiba morrer o que viver no soube. No soneto, fugindo dos temas e da viso de mundo dos poemas rcades em geral, Bocage faz um balano de sua vida, uma espcie de mea culpa em que se arrepende da vida de prazeres que tivera. Em, suas stiras, Bocage critica o poder e ironiza o clero e a nobreza decadente. Sua linguagem obscena e ertica: " Ah! faze-me ditoso, e s ditosa. Amar um dever, alm de um gosto, Uma necessidade, no um crime, Qual a impostura bonssima apregoa. Cus no existem, no existe inferno, O prmio da virtude a virtude, castigo do vcio o prprio vcio." Nesse poema, Bocage renega aos "cus", associados viso sensual do amor, que a priso do poeta. Toms Antnio Gonzaga Poemas lricos O mais popular dos poetes rcades mineiros Toms Antnio Gonzaga (1744 1810). A poesia de Toms Antnio Gonzaga, se comparada dos demais poetas rcades brasileiros, apresenta algumas inovaes que apontam para uma transio entre o Arcadismo e o Romantismo. Incorporando muito de sua experincia pessoal poesia, escrita ames e durante a priso, Gonzaga conseguiu quebrar em grande parte a rigidez dos princpios rcades. Por exemplo, em contraposio conteno dos sentimentos, sua poesia mais emotiva e espontnea. (Traos pr-romnticos). Sua Marlia, em vez de se apresentar como uma mulher irreal, como a Nice de Cludio Manuel da Costa, mostra-se mais humana, prxima e real. Observe esta descrio do rosto de Marilia. Na sua face mimosa, Marlia, esto misturadas purpreas folhas de rosa, brancas folhas de jasmim. Dos rubins mais preciosos86

So da fase lrica os poemas; Texto 1 J se afastou de ns o Inverno agreste, Envolto nos seus midos vapores; A frtil primavera, a me das florestas O prado ameno de boninas veste. Varrendo os ares, o sutil Nordeste Os torna azuis; as aves de mil cores Adejam entre zfiros e Amores, E torna o Tejo a cor celeste. Vem,. Oh Marlia vem lograr comigo Destes alegres campos a beleza, Destas copadas rvores o abrigo. Deixa louvar da corte a v grandeza; Quanto me agrada mais estar contigo, Notando as perfeies da natureza! Texto 2 A frouxido no amor uma ofensa, Ofensa que se deva a grau supremo; Paixo requer paixo; fervor e extremo Com extremo e fervor se recompensa. V qual sou, v que diferena? Eu descoro, eu praguejo, eu ardo, eu gemo; Eu choro, eu desespero, eu clamo, eu tremo; Em sombras a razo se me condensa. Tu s tens gratido, s tens brandura, E antes que um corao pouco amoroso, Quisera ver-te uma alma ingrata e dura. Talvez me enfadaria aspecto iroso, Mas de teu peito a lnguida ternura

os seus beios so formados; os seus dentes delicados so pedaos de marfim. Os temas rcades do distanciamento da mulher amada e do sofrimento dele decorrente no so, no caso de Gonzaga, meros temas clssicos convencionais, mas assumem feio de pura verdade, uma vez que muitos dos seus poemas o poeta escreveu quando se encontrava preso. Veja os versos a seguir. Estou no inferno, estou, Marilia bela e numa coisa s mais humana a minha dura estrela; uns no podem mover do inferno os passos eu pretendo voar e voar cedo glria dos teus braos A poesia lrica a parte mais conhecida da produo literria de Toms Antnio Gonzaga. So popularmente conhecidos, principalmente na regio de Minas Gerais, os amores entre Dirceu e Marlia (Toms Antnio Gonzaga e Maria Dorotia Joaquina da Seixas) Texto 1 Alexandre, Marlia, qual o rio, Que engrossando no inverno tudo arrasa. Na frente das coortes Cerca, vence, abrasa As cidades mais fortes, Foi na glria das armas o primeiro: Morreu na flor dos anos, e j tinha Vencido o mundo inteiro. Mas este bom soldado, cujo nome No h poder algum, que no abata. Foi, Marlia, somente Um ditoso pirata, Um salteador valente. Se no tem uma fama baixa, e escura, Foi por se pr ao lado da injustia A insolente ventura [...] eu vivo, minha bela, sim eu vivo Nos braos do descanso, e mais do gosto: Quando estou acordado Contemplo teu rosto De graas adornado: Se durmo, logo sonho, e ali vejo. Ah! Nem desperto, nem dormindo sobe A mais o meu desejo. Texto 2 Eu, Marlia, no fui nenhum vaqueiro. Fui honrado pastor da tua aldeia; Vestia finas ls, e tinha sempre A minha choa do preciso O cheia. Tiraram-me o casal, e o manso gado, Nem tenho, a que me encoste, um s cajado [...] Ah! minha bela, se a fortuna volta. Se o bem, que j perdi, alcano e provo Por essas brancas mos, por essas faces te juro renascer um homem novo, romper a nuvem que os meus olhas cerra, amar no cu a Jove e a ti na terra! Texto 3 Tu no vers. Marlia, cem cativos Tirarem o cascalho, e a rica terra, Ou dos cercos dos rios caudalosos, Ou da minada serra

[...] No vers enrolar negros pacotes Das secas folhas do cheiroso fumo; Nem espremer entre as dentadas rodas Da doce cana o sumo. [...] Vers em cima da espaosa mesa Altos volumes de enredados jeitos; Verme-s folhear os grandes livros, E decidir os pleitos. [...] Se encontrares louvada uma beleza, Marilia, no lhe invejes a ventura, Que tens quem leve mais remota idade A tua formosura. Nota: Toms Antnio Gonzaga aproxima e usa sua experincia amorosa pessoal - o amor de um quarento com fortuna relativamente modesta por uma jovem rica - como base das suas composies poticas sobre o amor de Dirceu por Marlia. Essa aproximao az com que elementos da vida cotidiana, do mundo das necessidades e do espao local da vida do poeta, Vila Rica e suas circunvizinhanas, se misturem com os elementos da poesia buclica e arcdica acentuando muito o senso de realidade dos poemas, dando ao autor elementos para concretizar e detalhar mais sua inveno, tornando-a menos abstrata e convenciona (traos pr - romnticos) levando o leitor uma apreciao esttica do poema a qual une a impresso de sinceridade como se o poeta filiasse de si mesmo, o que enriquece e valoriza o poema. A poesia romntica Brasileira: Gonalves Dias, lvares de Azevedo e Castro Alves. Gonalves Dias Antnio Gonalves Dias, filho de um comerciante portugus e de uma cafuza (mestia de negro e ndio), nasceu em Caxias (MA). Estudou Direito em Coimbra, mas no concluiu o curso, regressando ao Brasil em 1854. Foi professor de latim e Histria do Brasil no Colgio Pedro II e participou de vrias misses de estudo no Brasil e na Europa. Regressou Europa para tratamento de sade. Ao voltar para o Brasil, morreu num naufrgio, nas costas do Maranho. A obra de Gonalves Dias, pioneira em termos de realizao potica de boa qualidade em nosso Romantismo, abrange os dois aspectos mais marcantes do nosso nacionalismo literrio - o indianismo e a exaltao da Ptria Gonalves Dias escreveu tambm poemas lrico-amorosos, em que revela quase sempre a impossibilidade de realizao dos anseios afetivos diante de uma mulher idealizada. Seus versos, tais como os de sua "Cano do exlio", so melanclicos e exploram mtricas, e ritmos variados. Cultivou tambm poemas religiosos, de fundo pantesta, que talam da manifestao de Deus na natureza. Sua obra potica inclui os gneros pico e lrico. Na pica, canta os feitos hericos de ndios valorosos, substitutos da figura do heri medieval europeu. Na lrica, tem como temas mais comuns a ptria e a natureza. Deus, o ndio e o amor no correspondido. Na produo pica de Gonalves Dias destacam-se dois poemas: " I-Juca-Pirama e "Os timbiras", este inacabado. "I-Juca- Pirama", poema composto por 10 cantos, considerado o mais perfeito poema pico-indianista de nossa literatura, narra a histria vivida por um ndio tupi que cai prisioneiro de uma nao inimiga: os timbiras. O drama do prisioneiro reside nos sentimentos contraditrios provocados por sua priso: de um lado, deseja morrer lutando, como guerreiro que sempre fora; de outro, deseja viver para cuidar do pai, doente e cego. O prisioneiro libertado e afirma que voltar a se entregar quando o pai vier a falecer. Os timbiras no acreditam em seu argumento e acusam-no de covarde. Posteriormente, o ndio reencontra o pai, leva-lhe alimento, mas o velho,87

percebendo o cheiro das tintas e os ornamentos do ritual, descobre-lhe o segredo. Renega ento o filho, leva-o de volta tribo timbira e pede que ele seja sacrificado. No canto VIII, um momento de rara beleza, o pai amaldioa o filho. Em seguida, o ndio luta bravamente, provando que no era covarde. No ltimo canto so afirmadas as qualidades hericas do guerreiro, que se transforma em nulo nas tradies da cultura timbira. O ttulo do poema, extrado da lngua tupi, j sugere a sina de seu protagonista: "o que h de ser morto. Seguindo a tradio dos rcades Baslio da Gama e Santa Rita Duro, Gonalves Dias soube atualizar e dar nova dimenso ao tema indianista, a dimenso de que necessitavam a nao recm - independente e a cultura brasileira, em fase de definio e consolidao. O heri do poema no apenas um ndio tupi: representa todos os ndios brasileiros ou, ainda, todos os brasileiros, uma vez que o ndio foi, durante o Romantismo, o representante da nossa nacionalidade. Alm disso, ao enfocar e pr em discusso valores e sentimentos humanos profundos, como a bondade filial e a honra, o poema supera os limites da abordagem puramente indianistas e ganha universalidade. IJuca-Pirama representa em nossa cultura o passo decisivo para a transformao das manifestaes nativistas da literatura colonial em manifestaes conscientemente nacionalistas. O canto do ndio tupi - misto de amor, honra e luta, assemelha-se ao do prprio poeta, tambm descendente de ndios: um canto de amor ptria e raa ancestral; um canto de luta pela construo de uma poesia genuinamente brasileira. Os mais importantes poemas indianistas de Gonalves Dias so: "O Canto do Piaga., I Juca Pirama, Marab, Leito de folhas verdes e Cano do Tamoio. Conforme as tradies indgenas, o prisioneiro preparado para um cerimonial antropofgico em que sero vingados os mortos timbiras Ao lhe pedirem, como prprio do ritual, que cante seus feitos de guerra e que se defenda da morte, o prisioneiro responde aos inimigos narrando a trajetria sua vida e de sua tribo. O texto a seguir constitui o IV canto do poema I-Juca Pirama, Em que o Guerreiro cativo narra sua histria e canta seus feitos de guerra, bravura e honra. Meu canto de morte, Guerreiros, ouvi: Sou filho das selvas Nas selvas cresci; Guerreiros, descendo Da tribo tupi. Da tribo pujante. Que agora anda errante Por fado inconstante. Guerreiros, nasci; Sou bravo, sou forte. Sou filho do norte; Meu canto de morte Guerreiro, ouvi. J vi cruas brigas, De tribos imigas, E as duras fadigas Da guerra provei; Nas ondas medaces Senti pelas faces Os silvos fugaces Dos ventos que amei Andei longes terras, Lidei cruas guerras, Vaguei pelas serras Dos vis aimors; Vi lutas de bravos, Vi fortes - escravos! De estranhos ignavos Calados aos ps.

E os campos talados E os arcos quebrados E os piagas coitados J sem maracs; E os meigos cantores Servindo a senhores. Que vinham traidores. Com mostras de paz. Ao velho coitado De penas ralado, J cego e quebrado, Que resta? - Morrer. Enquanto descreve O giro to breve Da vida que teve, Deixai-me viver! Aos golpes do imigo Meu nico amigo, Sem lar, sem abrigo Caiu junto a mi! Com plcido rosto, Sereno e composto, O acerbo desgosto Comigo sofri. Meu pai ao meu lado J cego e quebrado. De penas ralado, Firmava-se em mi: Ns ambos, mesquinhos. Por nvios caminhos, Cobertos d espinhos Chegamos aqui! O velho no entanto Sofrendo j tanto De fome e quebranto S qu ria morrer! No mais me contenho. Nas matas me embrenho. Das frechas que tenho Me quero valer Ento, forasteiro, Ca prisioneiro De um troo guerreiro Com que me encontrei: O cru dessossego Do pai fraco e cego Enquanto no chego, Qual seja, - dizei! Eu era o seu guia Na noite sombria, A s alegria Que Deus lhe deixou. Em num se firmava. Em num se apoiava. Em mim descansava, Que filho lhe sou. No vil, no ignavo. Mas forte mas bravo. Serei vosso escravo: Aqui virei ter. Guerreiros, no como Do pranto que choro; Se a vida deploro, Tambm sei morrer. Cano do Exlio (Gonalves Dias) Minha terra tem palmeiras,88

Onde canta o sabi; As aves que aqui gorjeiam, No gorjeiam como l. Nosso cu tem mais estrelas, Nossas vrzeas tm mais flores. Nossos bosques tm mais vida. Nossa vida mais amores. Em cismar, sozinho, noite. Mais prazer encontro eu l; Minha terra tem palmeiras. Onde canta o Sabi. Minha terra tem primores Que tais no encontro eu c; Em cismar - sozinho, noiteMais prazer encontro eu l: Minha terra tem palmeiras, Onde canta o Sabi. No, permita Deus que eu morra. Sem que volte para l; Sem que desfrute os primores Que no encontro por c; Sem qu inda aviste as palmeiras. Onde canta o Sabi. Segundo Manuel Bandeira, a "Cano do exlio foi o primeiro grande momento de inspirao do poeta Gonalves Dias." "Ainda que no tivesse escrito mais nada, ficaria por ela, o seu nome gravado para sempre no corao e na memria da sua gente ". (Manuel Bandeira). De fato, um dos poemas mais conhecidos popularmente no Brasil. Ampliando o estudo do texto. Em Cano do exlio, a natureza se confunde com primitivismo com americanismo, em contraste com Coimbra, metrpole civilizada, centro da cultura portuguesa nos sculos XVIII e XIX. No fundo, uma postura que evoca as idias de Rousseau: a civilizao, corruptora do homem em oposio selva, genitora do "bom selvagem". O emprego de palavras como palmeira e Sabi refora seu carter primitivista no explcito no poema. Por meio de uma relao metonmica, o autor sugere pela parte - palmeiras e sabi - o todo, o Brasil. O sabi, personificado pela letra inicial maiscula, aparece quatro vezes no poema e, ao rimar com os monosslabos c e l, cria uma sonoridade muito brasileira, nunca vista em nossa poesia colonial ou na poesia portuguesa. A reiterao sonora da palavra sabi forma uma espcie de gorjeio no interior do prprio poema: o canto do pssaro se confundindo com o canto do homem. Assim como o canto do pssaro montono e triste, igualmente o canto do homem uma nostlgica cano de saudade da ptria. A seleo vocabular, a utilizao de ritmos e sonoridades ao gosto dos romnticos faz da "Cano do exlio nosso primeiro canto autenticamente brasileiro, o melhor exemplo do projeto romntico de construo de uma identidade nacional. Como eu te amo Como se ama o silncio, a luz o aroma, O orvalho numa flor, nos cus a estrela, No largo mar a sombra de uma vela, Que l na extrema do horizonte assoma: Como se ama o claro da branca lua, Da noite na mudez os sons da flauta, As canes saudosssimas do nauta, Quando em mole vaivm a nau flutua;

Como se ama das aves o gemido, Da noite as sombras e do dia as cores, Um cu com luzes, um jardim com flores. Um canto quase em lgrimas sumido; Como se ama o crepsculo da aurora, A mansa virao que o bosque ondeia, O sussurro da fonte que serpenteia. Uma imagem risonha e sedutora; Como se ama o calor e a luz querida, A Harmonia, o frescor, os sons, os cus, Silncio, e cores e perfume, e vida, Os pais e a ptria e a virtude e a Deus. (Gonalves Dias) lvares de Azevedo Gerao byroniana / a poesia ultra-romntica A caracterstica intrigante da obra de lvares de Azevedo, principal expresso da gerao ultra-romntica de nossa poesia. Paulista, fez os estudos bsicos no Rio de Janeiro e cursava o quinto ano de Direito em So Paulo quando sofreu um acidente (queda de cavalo), cujas complicaes o levaram morte, aos 20 anos de idade. O escritor cultivou a poesia, o teatro e o teatro. Toda a sua produo - sete livros, discursos e cartas foi escrita em apenas quatro anos, perodo em que era estudante universitrio. Por isso, deixou uma obra de qualidade irregular, se considerada no conjunto, mas de um grande significado na evoluo da poesia nacional. A caracterstica intrigante de sua obra reside na articulao consciente de um projeto literrio baseado na contradio, talvez a contradio que ele prprio sentisse como adolescente. Perfeitamente enquadrada nos dualismos que caracterizam a linguagem romntica, essa contradio visvel nas partes que formam sua principal obra potica, Lira dos vinte anos. A primeira e a terceira partes mostram um lvares de Azevedo adolescente, casto, sentimental ingnuo. Ele mesmo chama a essas partes de a face de Ariel, isto , a face do bem, do qual o poema a seguir um exemplo. Soneto Plida, luz da lmpada sombria. Sobre o leito de flores reclinada, Como a lua por noite embalsamada, Entre as nuvens do amor ela dormia! Era a virgem do mar! Na escuma fria Pela mar das guas embalada! Era um anjo entre nuvens d alvorada Que em sonhos se banhava e se [esquecia! Era mais bela! O seio palpitando... Negros olhos as plpebras abrindo... Formas nuas no leito resvalando... No te rias de mim meu anjo lindo? Por ti- as noites eu velei chorando. Por ti - nos sonhos morrerei sorrindo (lvares de Azevedo) A ironia um trao constante na obra literria de lvares de Azevedo. uma forma no passiva de ver a realidade, um modo de quebrar a noo de ordem e abalar as convenes do mundo burgus. Enquanto o lado Caliban do poeta situa-se em uma das linhas que integram o Romantismo - a linha orgaca e satnica a ironia levada s ltimas conseqncias abre ao poeta um veio novo: o veio anti-romntico. Constituindo outro paradoxo, o mais romntico dos nossos romnticos lana o germe da prpria superao do Romantismo, ao ironizar algumas das atitudes mais caras sua gerao: a pieguice amorosa e a idealizao do amor e da mulher, como se observa nos versos do poema seguinte.89

Ela! Ela! Ela! Ela! ela! ela -, murmurou tremendo. E o eco ao longe murmurou - ela! Eu a vi minha fada area e pura A minha lavadeira na janela! Dessas guas -furtadas onde eu moro Eu a vejo estendendo no telhado Os vestidos de chita, as saias brancas; Eu a vejo e suspiro enamorado! Esta noite eu ousei mais atrevido Nas telhas que estalavam nos meus passos Ir espiar seu venturoso sono, V-la mais bela de Morfeu nos braos! Como dormia! que profundo sono!... Tinha na mo o ferro do engomado... Como roncava maviosa e pura?.. Quase ca na rua desmaiado!... Castro Alves A linguagem da paixo O poeta dos escravos, Castro Alves, considerado a principal expresso condoreira da poesia brasileira. Nasceu na Bahia e fez estudos do Direito em Recife e em So Paulo. Sua obra representa, na evoluo da poesia romntica brasileira, um momento de maturidade e de transio. Maturidade, em relao a certas atitudes ingnuas das geraes anteriores, como a idealizao. Castro Alves dar um novo tratamento, mais crtico e realista. Transio, porque sua perspectiva mais objetiva e critica diante da realidade aponta para o movimento literrio subseqente. O Realismo, que, alis, j havia muito predominava na Europa. Trazendo inovaes de forma e de contedo, a linguagem potica de Castro Alves, prenuncia a perspectiva crtica e a objetividade do Realismo, movimento literrio da dcada seguinte. Castro Alves cultivou a poesia lrica e social, de que so exemplos as obras esquemas flutuantes e A cachoeira de Paulo Afonso; a poesia pica, em Os escravo e o teatro, em Gonzaga e a Revoluo de Minas. Talvez seja Castro Alves o primeiro grande poeta social brasileiro. Como poucos, soube conciliar as idias de reforma social com os procedimentos especficos da poesia, sem permitir que sua obra casse no mero panfleto poltico - alis, o grande risco para quem pretende fazer arte engajada. Isto , com o compromisso de interferir politicamente no processo social. Se compararmos lvares de Azevedo - principal autor da segunda gerao - a Castro Alves. perceberemos que Azevedo ao tratar do desequilbrio entre o eu e o mundo, revela um desejo latente de transformao da realidade, com a qual no consegue integrar-se. J em Castro Alves h uma tomada de posio: tanto em sua poesia lrica quanto na social, h a conscincia dos problemas humanos e a busca de frmulas para solucion-los. Desse modo, em vez de uma viso ufanista e idealizada da ptria, Castro Alves retraia o lado feio e esquecido pelos primeiros romnticos: a escravido dos negros, a opresso e a ignorncia do povo brasileiro.A linguagem usada por Castro Alves para defender seus ideais liberais, bastante carregada emocionalmente. beirando os limites da paixo. "O navio negreiro" um poema pico-dramtico que integra a obra Os escravos e, ao lado de ""VOZES d'frica", da mesma obra, vem a ser uma das principais realizaes picas de Castro Alves. O tema de O navio negreiros a denncia da escravido e do transporte de negros para o Brasil. Quando o poema foi escrito, em 1868, j fazia dezoito anos que a Lei Euzbio de Queirs proibira o trfico de escravos, embora ainda no tivesse sido eliminada a escravido em nosso pas.

Portanto, sem o interesse de escrever sobre sua realidade imediata, Castro Alves faz uma recriao potica das cenas dramticas do transporte de escravos no poro dos navios negreiros, valendo-se em grande parte dos relatos de escravos com quem conviveu, na Bahia, quando menino. O texto que segue, a parte IV de "O navio negreiro", a descrio do que se v no interior de um navio negreiro. Perceba a capacidade de Castro Alves em nos fazer ver" a cena. como se estivssemos num teatro. .............................................................................. "Era um sonho dantesco!..o tombadilho, Que das luzernas avermelha o brilho, Em sangue a se banhar. Tinir de ferros...estalar de aoite... Legies de homens negros como a noite. Horrendos a danar... Negras mulheres, suspendendo as tetas Magras crianas, cujas bocas pretas Rega o sangue das mes; Outras, moas, mas nuas e espantadas, No turbilho de espectros arrastadas. Em nsia e mgoas vs l E ri-se a orquestra, irnica estridente... E da ronda fantstica a serpente Faz doudas espirais... Se o velho arqueja, se no cho resvala. Ouvem-se gritos... o chicote estala, E voam mais e mais... Presa nos elos de uma s cadeia, A multido faminta cambaleia, E chora e dana ali! Um de raiva delira, outro enlouquece. Outro, que de martrios embrutece, Cantando, geme e ri! Mo entanto o capito manda a manobra. E aps fitando o cu que se desdobra To puro sobre o mar. Diz do fuma entre os densos nevoeiros: "'Vibrai rijo o chicote, marinheiros! Fazei-os mais danar!... E ri-se a orquestra irnica, estridente... E da ronda fantstica a serpente Faz doudas espirais... Qual um sonho dantesco as sobras voam!. Gritos, ais.maldies, preces ressoam 1 E ri-se Satans!... [...] A poesia lrica Embora a lrica amorosa de Castro Alves ainda contenha um ou outro vestgio do amor platnico e da idealizao da mulher, de modo geral ela representa um avano decisivo na tradio potica brasileira, por ter abandonado tanto o amor convencional e abstrato dos clssicos quanto o amor cheio de medo e culpa dos primeiros romnticos. Em vez de "virgem plida', a mulher de boa parte dos poemas de Castro Alves um ser corporificado e, mais que isso, participa amamente do envolvimento amoroso. E o amor uma experincia vivel, concreta. Capaz de trazer tanto a felicidade e o prazer quanto a dor. Portanto o contedo de sua lrica uma espcie de superao da fase adolescente do amor e o incio de uma fase adulta, mais natural, que aponta para uma objetividade maior, pronunciando o maior Realismo. Boa noite Boa noite, Maria! Eu vou-me embora. A lua nas janelas bate em cheio. Boa noite, Maria! tarde... tarde... No me apertes assim contra teu seio. Boa noite!...E tu dizes- Boa noite, Mas no mo digas assim por entre beijos... Mas no mo digas descobrindo o peito,90

-Mar de amor onde vagam meus desejos. Julieta do cu! Ouve... a calhandra J rumoreja o canto da matina. Tu dizes que eu menti?...Pois foi mentira.... ...Quem cantou foi teu hlito, divina! (Castro Alves) Almeida Garrett Sntese Biogrfica Joo Batista da Silva Leito (1799-1854), que mais tarde mudaria o nome para Joo Batista da Silva Leito para de Almeida Garrett, estudou Direito em Coimbra, onde participou do movimento universitrio. Casou-se em 1822. No ano seguinte foi obrigado a exilar-se na Inglaterra, devido s suas idias liberais. Voltou a Portugal, foi preso e exilou-se novamente na Inglaterra. Retornando ao pas com a vitria do liberalismo, foi nomeado inspetor - geral dos teatros, responsvel pela organizao do teatro portugus. Teve algumas grandes paixes, entre as quais Rosa de Montfar, viscondessa da Luz, que lhe inspirou Folhas cadas. Em 1851 foi nomeado visconde e Par do Reino. Obras Poesia: Cames; Dona Branca; Lrica de Joo Mnimo; Folias cadas; Flores sem fruto. Prosa: Viagens na minha terra; O arco de Santana. Teatro: Frei Lus de Sousa; Cato; Mrope; D. Filipa de Vilhena; O alfageme de Santarm. Comentrio crtico Consciente de seu papel pioneiro, ao introduzir a esttica romntica em Portugal, Almeida Garrett buscou diversificar sua produo: foi poeta, prosador e autor teatral. Como poeta, alm do j citado Cames, em versos decasslabos brancos. Isto , compostos em dez slabas poticas mas sem rimas, Garrett escreveu, Dona Branca, publicado pouco depois. Apesar do desejo de escrever conforme a nova esttica, Garrett atida era neoclssico na forma. Em sua maturidade intelectual, voltaria a escrever poemas, nesse momento mais distantes do racionalismo e caracterizados pela subjetividade romntica. Flores sem fruto e Folhas cadas so os livros de poemas dessa fase, em que ele expunha seus sentimentos de modo mais confessional. Atento s razes que o Romantismo buscava na cultura popular, Garrett inclui neste ltimo volume algumas modinhas populares. Garrett publicou tambm crnicas para jorras e discursos parlamentares. Para incentivar o teatro em Portugal, escreveu vrias peas, dentre as quais se destaca Frei Lus de Sousa, como veremos mais adiante. Viagens na minha terra Obra bastante original e de difcil classificao, Viagens na minha terra um conjunto de impresses do narrador, uma coletnea de crnicas de viagem. De acordo com o impulso evasionista dos romnticos, Garrett se props a viajar. Porm no foi procurar pases distantes ou exticos: dirigiu-se ao interior de seu prprio pas, para descobrir as aldeias e os vilarejos interioranos, que lhe proporcionam inmeras surpresas. Ao juntar essas crnicas, o autor criou algumas personagens, entre as quais o jovem Carlos e Joaninha, a menina dos rouxinis. Garrett tambm tentou adotar uma linguagem simples e popular, utilizando um grande nmero de palavras e expresses do interior de Portugal. Folhas cadas e Flores sem fruto Os melhores poemas de Garrett esto em Folhas cadas e Flores sem fruto. So os que ele escreveu j na maturidade, quando havia incorporado de fato a viso romntica de mundo, cheia de lirismo e subjetividade. Mesmo assim, ainda surgem algumas construes e imagens que lembram poemas clssicos.

Almeida Garret, como bom romntico, usou e abusou de algumas metforas: os olhos, as flores (em especial a rosa), o anjo. Frei Lus de Sousa Embora desejasse escrever um drama, isto , um texto mais leve do que as tragdias dos autores clssicos, Garrett acabou dando um tom trgico a essa histria que se inspirava em personagens verdicas. D. Joo era um nobre portugus que acompanhara D. Sebastio frica. Passados sete anos sem que retornasse, sua esposa, D. Madalena, casa-se com D. Manuel Coutinho e tem uma filha, Maria. Quando a menina completa 13 anos, D. Joo volta. Sentindo-se terrivelmente abalada, e em pecado, D. Madalena decide ir para o convento; Maria, desesperada, morre durante a cerimnia de iniciao da me. D. Manuel tambm ingressa na vida religiosa, adotando o nome de Frei Lus de Sousa. LEITURA INTERTEXTUALIDADE TEXTO1 Este inferno de amar Este inferno de amar - como eu amo Quem mo ps aqui n' alma...quem foi? Esta chama que alenta e consome, Que vida - e que a vida destri Como que se veio a atear. Quando - ai, quando se h de apagar? Eu no sei, no me lembra o passado, A outra vida que dantes vivi Era um sonho talvez... [...] S me lembro que um dia formoso Eu passei... dava o sol tanta luz! E os meus olhos, que vagos giravam, Em meus olhos ardentes os pus. Que fez ela? Eu que fiz? - No no sei; Mas nessa hora a viver comecei... (Almeida Garret) TEXTO 2 Preciso aprender a ser s Ah! Se eu pudesse fazer entender Sem teu amor, eu no posso viver Que sem ns dois, o que resta sou eu Eu assim to s E eu preciso aprender a ser s Poder dormir sem sentir teu calor E ver que foi s um sonho e passou. Ah! O amor Quando demais ao findar leva a paz Me entreguei, sem pensar Que a saudade existe e se vem E to triste, v... Meus olhos choram a falta dos teus Esses olhos que foram to meus Por Deus entenda que assim eu no vivo Eu morro pensando No nosso amor ( Marcos e Paulo Srgio Valle ) Barca Bela Almeida Garrett Pescador da barca bela, Onde vais pescar com ela, Que to bela. pescador? No vs que a ltima estrela No cu nublado se vela? Colhe a vela pescador! Deita op lano com cautela,91

Que a sereia canta bela... Mas cautela, pescador! No se enrede a rede nela. Que perdido remo e vela S de v-la, pescador! Pescador da barca bela, Inda tempo, foge dela. Foge dela, pescador! No te amo Almeida Garrett No te amo, quero-te: o amor vem d' alma. E eu n' alma - tenho a calma, A calma - do jazigo. Ai1 no te amo, no. No te amo, quero-te: o amor vida. E a vida - nem sentida A trago eu j comigo. Ai, no te amo, no! Ai1 no te amo, no; e s te quero De um querer bruto e fero Que o sangue me devora. No chega ao corao. [ ...] E infame sou, porque te quero; e tanto Que de mim tenho espanto. De ti medo e terror... Mas amar!... no te amo, no. O individualismo expresso no discurso em primeira pessoa do singular. O sentimentalismo, o poeta procura explicar o sentimento amoroso. Disseca-o analisa-o, tentando estabelecer diferenas entre amar e querer. Embora se trate de sentimentos, a razo do poeta poderosa, pois busca diferenciar entre querer/ no querer/ amar, estabelecendo um jogo de oposies em que querer tem conotao ertica e amar conotao idealista. Exemplo: terceira estrofe. No poema Barca bela, o pescador e a sereia so metforas da figura feminina e do sofrimento de quem ama. ( cantigas trovadorescas, medievalismo) A disposio e o tipo de rimas utilizados, as aliteraes, a presena do refro, a simplicidade do vocabulrio conferem ao poema uma musicalidade tpica das cantigas trovadorescas. O poema est constitudo em redondilha maior ( sete slabas poticas). Tanto a mtrica como o ritmo conferem ao poema sonoridade, o que faz o texto aproximar-se de letras de msica. No poema Este inferno de amar existe um paradoxo, "esta chama que alenta e consome,/ Que a vida - e que a vida destri." A penltima estrofe apresenta um certo escapismo. O eu lrico foge para o passado, no deseja acordar de suas recordaes. H uma viso pessimista do amor; o sentimento confunde-se com o sofrer. Romantismo / Prosa Amor de Perdio (Camilo Castelo Branco) Enredo Espcie de Romeu e Julieta lusitana, Amor de perdio narra a histria do amor impossvel entre Simo Botelho e Teresa de Albuquerque, jovens pertencentes a famlia nobres e inimigas As duas famlias, h muito tempo esto brigadas e fazem de tudo para separa-los., j que no aceitam o namoro entre os jovens amantes. Simo mandado para Coimbra. Teresa, para no aceitar a alternativa de casar-se com o primo Baltazar Cominho, ingressa num convento Simo. protegido pelo ferreiro

Joo da Cruz e por .Mariana, filha deste, permanece em Viseu. Ma partida de Teresa, enfurece-se com a insolncia de Baltazar e o mata a tiro, entregando-se em seguida justia. Condenado forca, tem depois sua sentena transformada em exlio. Nesse nterim, Teresa, enfraquecida pela tristeza, adoece. Condenado ao exlio, Simo parte. Quando o navio comea a largar, Simo ainda avista a amada no mosteiro em que foi recolhida, Teresa lhe acena de longe com um lencinho.. do convento de Monchique, Simo pressente a morte da amada Acometido por uma febre, morre durante a viagem. Mariana, que o acompanha e que era a testemunha mais prxima do amor de Teresa e Simo. inclusive era quem servia de intermediria na troca de correspondncia entre os dois, ao ver o corpo do heri ser lanado ao mar, atira-se atrs e agarra-se ao cadver, optando por morrer junto ao amado. Simo Botelho representa o heri romntico de extremismos emocionais ( tentativa de rapto da donzela, que gera mortes e, conseqentemente o fim trgico do heri ); Teresa, a herona romntica; Mariana, a amante silenciosa ( ideal romntico); Joo da Cruz; o campons rstico, trabalhador, protetor de Simo; Baltazar Courinho. o burgus interesseiro, sem morai; Tadeu de Albuquerque, o pai autoritrio que, por uma rivalidade particular, impede a felicidade da filha. Observa-se no transcorrer da trama do romance, uma ironia que se desenvolve em trs aspectos; o autor ironiza sua prpria obra,( autoironia); a ironia com o mundo, a ironia com os prprios personagens. No incio do romance percebe-se o autor ironizando os nomes das personagens, to extensos que podiam constituir uma frase: Domingos Jos Correia Botelho de Mesquita e Meneses, e D. Rita Teresa Margarida preciosa da Veiga Caldeiro Castelo Branco. Outra ironia a figura do heri: Simo Botelho pobre, passa necessidades financeiras diferente do tpico heri romntico. (burgus) Percebe-se tambm ironia no tratamento dado s freiras do convento para onde Teresa enviada. Descritas como especuladoras da vida alheia e que se embriagam de vinho e at possuem namorados. [ .. .] Esta escriv no m rapariga. S tem o defeito de se tomar da pingoleta; depois, no h quem a ature. Tem uma boa tena, mas gasta tudo em vinho, e tem ocasies de entrar no coro a fazes ss, que uma desgraa. No tem outro defeito; uma alma lavada, e amiga da sua amiga. verdade que, s vezes quando anda azarotada, d por paus e por pedras, e descobre os defeitos das suas amigas. [...] forte pouca vergonha! L que outra falasse, v, mas ela, que tem sempre uns namorados pandilhas que bebem com ela na grade, isso l me custa; mas, enfim, no h ningum perfeito!... Boa rapariga ela..., se no fosse aquele maldito vicio... ( observe o tom irnico, at sarcstico com que o autor se refere s senhoras recolhidas no convento, como freiras especuladoras da vida alheia ) [...] Teresa viu-o.., adivinhou-o, a primeira de todas e exclamou; -Simo! O filho do corregedor no se moveu. Baltazar, espavorido do encontro, fitando os olhos nele, duvidava ainda. - crvel que este infame aqui viesse! exclamou o de Castro Daire. -Simo deu alguns passos, e disse placidamente; -Infame... eu! E por qu? -Infame, e infame assassino! - replicou Baltasar. - J fora da minha presena! parvo este homem! disse o acadmico Eu no discuto com sua senhoria,.. Minha senhora - disse ele a Teresa com a voz comovida e o semblante alterado unicamente pelos afetos do corao. - Sofra com resignao, da qual eu lhe estou dando um exemplo. Leve a sua cruz, sem92

amaldioar a violncia, e bem pode ser que a meio caminho do seu calvrio a misericrdia divina lhe redobre as foras. [...] Baltasar Coutinho lanou-se de mpeto a Simo. Chegou a apertar-lhe a garganta nas mos; mas depressa perdeu o vigor dos dedos. Quando as damas chegaram a interpor-se entre os dois, Baltasar tinha o alto do crnio aberto por uma bala, que lhe entrara na fronte. Vacilou um segundo, e caiu desamparado aos ps de Teresa. [...] Tadeu de Albuquerque, quando se recobrou do espanto, fez transportar a filha a uma das liteiras, e ordenou que dois criados a acompanhassem ao Porto. As irms de Baltasar seguiram o cadver de seu irmo para a casa do tio. (Teresa estava sendo transportada, por seu pai, do convento de Viseu para o de Monchique, no Porto, quando se deu o encontro entre Simo e Baltasar. Observe como as personagens Camilianas ultra-romnticas so movidas exclusivamente pelos sentimentos.) [...] Dois homens ergueram o morto ao alto sobre a amurada. Deram-lhe o balano para o arremessarem longe...E, antes que o baque do cadver se fizesse ouvir na gua, todos viram, e ningum j pode segurar Mariana que se atirara ao mar. [...] O comandante olhou para o stio donde Mariana se atirara, e viu, enleado no cordame, o avental, e flor da gua, um rolo de papis, que os marujos recolheram na lancha Eram, como sabem, a correspondncia de Teresa e Simo. Pode-se observar pela leitura dos fragmentos que a sociedade foi na verdade a causadora da prpria perdio. No fossem inimigas as famlias, nada haveria acontecido. Trs so as famlias destrudas. Simo arrasta para a morte; dois empregados de Baltasar Coutinho, do prprio Coutinho, do ferrador Joo da Cruz que morto por vingana,