Resumo de Conteúdo de Disciplina - Introdução à Teoria Da Literatuta

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Resumo de Conteúdo de Disciplina Introdução à Teoria da Literatura I - Ontologia da Obra Literária 1. Conceitos sobre texto literário e obra literária a) Aristóteles: trabalha com a oposição texto literário VS. texto histórico. - O texto literário trata de acontecimentos possíveis ou impossíveis, mas ficcionais (imbuídos de elementos imaginários). - O texto histórico trata de fatos reais. Portanto, para Aristóteles, o texto lírico não é texto literário, mas histórico, pois trata de sentimentos verdadeiros sentidos pelo autor. b) Roman Jakobson: é texto em que predomina a função poética (há ênfase, dentre os fatores da comunicação verbal, na mensagem). Certos gêneros literários também apresentam destaque a outras funções, como é o caso da poesia lírica, em que, além da função poética, nota-se a função emotiva (destaque para o fator remetente, além do fator mensagem).

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Resumo de Contedo de DisciplinaIntroduo Teoria da Literatura

I - Ontologia da Obra Literria1. Conceitos sobre texto literrio e obra literriaa) Aristteles: trabalha com a oposio texto literrio VS. texto histrico. - O texto literrio trata de acontecimentos possveis ou impossveis, mas ficcionais (imbudos de elementos imaginrios). - O texto histrico trata de fatos reais. Portanto, para Aristteles, o texto lrico no texto literrio, mas histrico, pois trata de sentimentos verdadeiros sentidos pelo autor.

b) Roman Jakobson: texto em que predomina a funo potica (h nfase, dentre os fatores da comunicao verbal, na mensagem). Certos gneros literrios tambm apresentam destaque a outras funes, como o caso da poesia lrica, em que, alm da funo potica, nota-se a funo emotiva (destaque para o fator remetente, alm do fator mensagem).

c) A Obra Literria para Antnio Soares Amora[footnoteRef:1]: a literatura se distingue da no-literatura por um contedo intuitivo e individual (forma de conhecimento sobre a realidade) e por uma forma que produto do esforo criativo do artista. Forma e contedo so as caractersticas essenciais da obra literria. [1: AMORA, Antnio Soares. Introduo Teoria da Literatura. 13 ed. So Paulo: Cultrix, 2006.]

Em resumo: o texto literrio texto de fico em que a funo potica predominante.

2. Funo da Obra Literriaa) Funo esttica: funo predominante de toda obra artstica e se caracteriza pela troca de sensibilidades e pela carga emotiva.- Troca de sensibilidades: autor apresenta elemento emocional ao receptor a fim de compartilh-lo com este.- Carga emotiva: contedo emocional presente nos diferentes gneros literrios.

b) Funo gnosiolgica: a arte transmite uma forma de conhecimento individual e intuitivo sobre a realidade. Nela h registro e transmisso de um sistema de crenas ou conhecimentos.

Obs.: houve quem defendesse, em uma perspectiva mais antiquada, que a funo esttica da obra literria serviria para disfarar a transmisso de conhecimentos ou facilit-la.

Obs. 2: na Antiguidade, a Literatura vista como revelao dos deuses, inspirao das musas.

II - O que Teoria da Literatura?[footnoteRef:2] [2: Com base na Parte I de Introduo Teoria da Literatura, de Antnio Soares Amora (2006).]

a) Que a Teoria da Literatura? Objeto e postura diante de seu objeto.Admite-se que existe, no bojo da vida social e dos construtos culturais que lhe so prprios, uma vida literria. Compe essa vida literria, como fato, a obra literria. Ao lado da obra literria e com ela intimamente relacionados, h outros fatos literrios que compem o complexo da vida literria: so o autor, o leitor (ou, no limite, o pblico), o ambiente cultural e o fluxo da histria literria. Diante da obra literria, podem-se assumir cinco posturas: a de leitor, analista, crtico, historiador ou terico. Vez que a Teoria, a Anlise, a Crtica e a Historiografia Literria compartilham os fatos literrios como objeto de interesse, so comumente confundidas, o que hoje no mais admissvel, pois cada uma dessas reas desenvolveu metodologias prprias a fim de realizar seus interesses especficos em relao aos fatos literrios, seu objeto comum. Assim, a Teoria Literria, utilizando-se de mtodos prprios, investiga todos os fatos literrios com vistas a formular sobre eles um conhecimento sistemtico e tendente universalidade.

b) Brevirio de histria da Teoria da LiteraturaJ na Antiguidade grega surgem elucubraes sobre os fatos literrios, especialmente entre os scs. V e IV A.C., quando se desenvolve de forma bastante pungente a Filosofia helnica clssica: vide, por exemplo, Aristteles e obras suas como Arte Potica e Arte Retrica. As especulaes dos gregos antigos se voltaram especialmente para (a) a caracterizao da obra literria (distino entre literatura e no-literatura) e (b) a formulao de preceitos a serem seguidos pelos autores para produo de obras literrias de alto valor artstico (forma de expresso elevada e respeito s regras dos gneros literrios em moda, como o poema pico, a lrica, a tragdia, a comdia, a oratria etc.).A literatura latina apresenta indubitvel valor artstico, conquanto no se possa ignorar a influncia sobre ela da literatura grega (imitao de modelos); os tericos latinos tambm continuaram a desenvolver as elucubraes de Aristteles e outros, como foi o caso de Horrio em sua Arte Potica.Durante a Renascena, houve grande desenvolvimento da Teoria da Literatura por dois motivos: (a) o interesse crescente pela literatura grega e latina; (b) necessidade de defender o classicismo renascentista ante e op-lo aos modelos literrios medievais (como a novela de cavalaria, o teatro popular e as diversas espcies de cantiga). Prosseguindo, h de dizer que a Teoria Literria dos scs. XVI a XVIII pouco acrescentou s clssicas reflexes de Aristteles e Horcio (vide Arte Potica de Boileau, produzida no sc. XVII).No sc. XIX, com a ascenso do Romantismo e o desenrolar de uma revoluo literria anticlssica, a Teoria da Literatura foi posta diante de novos fatos literrios (gneros novos, como drama histrico, romance histrico, novela sentimental, poemas de forma livre etc.) e problemticas mais ou menos inditas (relao entre literatura e sociedade, entre literatura e meio fsico etc.). Advieram, assim, novos objetos e novos objetivos para a Teoria da Literatura, bem como um processo de concentrao de suas preocupaes na produo de conhecimento to-somente dos fatos literrios (vide Sobre a Literatura, de Stal, e Evoluo dos Gneros, de Bruneitire).Assim, em suma, pode-se dizer que a Teoria Literria clssica e neoclssica se preocupou em indicar aos escritores um caminho para a consecuo da perfeio literria, enquanto a Teoria da Literatura desenvolvida a partir do sc. XIX e de carter anticlssico procurou demonstrar que cada civilizao produz um tipo de literatura.

c) Estado atual da Teoria da Literatura.A Teoria da Literatura se dividiu no sc. XX em duas correntes de trabalho: uma de carter cientfico, outra de carter filosfico.C.1. Corrente filosfica (Filosofia da Literatura): compreende que, para alm de sua realidade material, a obra literria possui uma essncia abstrata no passvel de anlise objetiva. Assim, so abstratos o contedo da obra literria, seus valores artsticos e o ato criador da obra (embora o escritor seja uma pessoa concreta, o processo criativo abstrato e se d em meio sua complexidade psicolgica, cabendo cogitar dele em termos filosficos). Tambm seriam abstratos o leitor (no qual se processa a recriao da obra), o ambiente cultural (constitudo de sentimentos e ideias) e a prpria histria literria (um fluxo de evoluo ou desenvolvimento desses sentimentos e ideias).C.2. Corrente cientfica (Teoria da Literatura): considera que no haja nada nos fatos literrios que no possa ser analisado objetivamente, pois a obra literria uma realidade concreta (registrada em escrita ou fala) que apresenta uma estrutura especfica. Assim, a criao literria emprenho expressivo do autor que apresenta estilo caracterstico em composies definveis quanto a seus propsitos e resultados. O comportamento do pblico empenho de compreenso tambm definvel em termos de procedimentos e resultados. O ambiente das obras e a histria literria so fatos histricos concretos e objetivamente caracterizados.

III - Tipos de Teoria Literria e crticas correspondentesPodem-se agrupar as diversas escolas ou perspectivas da Teoria Literria (marxismo, hermenutica literria, estruturalismo, formalismo francs etc.) em tipos.

a) Teoria expressiva: estabelecido, sobretudo, no contexto do romantismo novecentista, este tipo de Teoria Literria centra-se na relao entre autor e obra. A obra literria, assim, vista como expresso do autor, de seu gnio criativo. Logo, d-se importncia originalidade do autor (ideia de genialidade).- Defende que o artista cria a realidade da obra. A realidade do artista e a da obra seriam correspondentes.- Assim, a sensibilidade e a emoo transmitida so considerados, nesta perspectiva, os elementos mais importantes da obra literria.Obs.: tal perspectiva veementemente contestada pelas formas posteriores de Teoria da Literatura, pois no haveria relao necessria entre a obra e a biografia do autor.Ex.: lvaro de Azevedo (obra cheia de vivncias e extravagncias e biografia sem tais episdios).Ex. contrrio (relao intensa entre obra e biografia do autor): Castro Alves, Lorde Byron e Marqus de Sade.a.1. Crtica expressiva: biogrfica, psicolgica ou psicanaltica centrada na figura do autor.

b) Teoria mimtica: a obra reflete a sociedade ou um grupo social. Assim, este tipo de Teoria Literria centra-se na relao entre obra e sociedade. Perspectiva reforada no perodo literrio do realismo.- Assim, na obra literria esto representados valores e ideias de grupos sociais ou de uma sociedade como um todo.- O autor est inserido na sociedade, logo as realidades do autor, da obra e da sociedade so a mesma.- Desse modo, o autor compreendido como uma antena que capta os valores e ideias da sociedade, ideias e valores que se confundem com os seus prprios.- Isso por que, enquanto indivduo social pertencente a uma classe e a um grupo social, exercendo certa funo na sociedade etc. , o autor produto da relao indivduo/sociedade, assim como tambm os so os valores e ideias que o autor registra na obra literria.- Portanto, mais do que expresso da individualidade do autor, a obra literria expresso da sociedade em que tal obra produzida. A obra literria mimetiza a sociedade.- Enquadram-se neste tipo terico as elucubraes de tericos marxistas da literatura, tais como Adorno, Lukcs e Goldmann.b.1. Crtica mimtica: sociolgica, antropolgica, econmica, filosfica.

c) Teoria retrica: considera que a obra literria cria uma realidade. Assim, estuda a obra em si mesma, tem sua estrutura interna e composicional como o objeto da Teoria Literria.- Formalistas russos (dcada de 1920), estruturalistas franceses (dcada de 1960) e hermeneutas se enquadram neste tipo terico.- Pode-se dizer que o perodo literrio parnasiano reforou esta perspectiva.- A obra literria cria sua verdade; a obra literria produto da linguagem; a obra literria busca a arte pela arte; a obra literria produto de si mesma.- Como consequncia, em meio profuso dessa perspectiva a partir da primeira metade do sc. XIX, chegou-se a falar em morte do autor.- A obra literria vista como um sistema fechado, de modo que sua abertura compreenso demanda conhecimentos e regras especficos. Assim, como consequncia, esta perspectiva no aceita o leitor como coprodutor do sentido da obra.c.1. Crtica retrica: filolgica, estruturalista, funcionalista, fenomenolgica, psicanaltica (das personagens).

d) Teoria pragmtica (ou da recepo): considera que o autor influencia a sociedade e que o pblico determinante na interpretao (produo de significado) da obra. Assim, concentra-se especialmente na relao entre obra e pblico.- A obra no nada sem a recepo preocupa-se com questes relacionadas edio, censura (religiosa, poltica) etc.- Preocupa-se com o modo como uma obra literria lida e recebida em diferentes pocas, assumindo em cada novo contexto em que lida e apreciada um significado ampliado, mais ou menos daquele do contexto de sua elaborao.- A obra encarada a partir de diversas perspectivas: como arma poltica (Bertold Brecht e o teatro politicamente engajado, Augusto Boal e o teatro do oprimido etc.), crtica social (vide obra como Os Maias e Crimes do Padre Amaro de Ea de Queirs), objeto de prazer, objeto de consumo etc.- Preocupa-se com a funo do artista na sociedade, o controle (poltico, moral etc.) sobre tal autor, sua influncia na sociedade etc.d.1. Crtica pragmtica (ou crtica da recepo): aceita a teoria pragmtica (em determinadas pocas) e da concretizao literria (leva em conta filtros como editores, jornalistas, o gosto do pblico e os elementos determinantes de tal gosto).

IV Gneros Literrios1. Conceito de gnero literrio: categorias abrangentes que indicam o modo como se manifesta um determinado conjunto de formas poticas ou literrias. Assim, no se confunde o conceito de gnero literrio com o de formas poticas ou de recurso estilstico (prosa, verso etc.).

2. Diviso tradicional dos gneros:a) Gneros narrativos: epopeia, poema pico, poema heroico cmico (pardico), romance, novela, conto, fbula etc.b) Gneros dramticos: tragdia, comdia, farsa, tragicomdia, drama, auto, mimo, mistrio etc.c) Gneros lricos: soneto, rond, rondel, vilancete, cantiga de amor, cantiga de escrnio ou maldizer, cantiga de amigo, elegia, epigrama, sextina etc.

3. Classificao dos gneros literriosa) Mtodos de classificao:Induo: anlise do que existe (parte do particular ao universal, do especfico ao geral, do concreto ao abstrato). Constatao da existncia de gneros a partir da observao de determinados textos produzidos em perodos especficos da histria literria.Deduo: uso de elemento tpico ou tese (parte do universal ao particular, do geral ao especfico, do abstrato ao concreto). Postulao da existncia do gnero a partir de uma teoria do discurso literrio (como, por exemplo, para Aristteles, em que o elemento ficcional imprescindvel para a definio do que literatura literatura fico).Concepes atuais sobre classificao dos gneros: os gneros no so fixos e podem se misturar, apresentando-se em uma mesma obra; a classificao em gneros se d a partir da descrio da obra literria; forma e contedo so interdependentes na obra literria, de modo que a separao de ambos apenas pode se dar em nvel analtico a fim de enfocar cada uma dessas caractersticas essenciais da obra literria, cuja existncia depende dessa articulao entre plano da expresso e plano do contedo.b) Categorias de classificao:Plano do contedo:- Tema e subtemas (a critrio do autor);- Ao (trama, encadeamento de eventos);- Espao ( imaginrio mesmo em relao s menes de espao fsico, feitas para criar no leitor a sensao de realidade e verossimilhana, simulando ou mimetizando a realidade mesma, apesar do carter essencialmente fictcio da obra literria);- Personagens (caracterizao);- Tempo da histria (para obras narrativas, em que h a sucesso de estados).Plano da expresso:- Ordem narrativa (ordenamento temporal);- Fluxo de conscincia: enquanto tcnica narrativa, faz parte das categorias do plano da expresso, pois apresenta encadeamentos de ideias e sentimentos (raciocnio) interligados ao desenvolvimento da narrativa; - Modos discursivos: modos de veiculao do contedo da obra;- Focalizao e tipos de narrador (onisciente, parcial, includo etc.);- Durao do discurso;- Recursos estilsticos (figuras de linguagem etc.), mrficos (neologismo, derivao imprpria etc.), sintticos, mtricos, cnicos etc.

4. Tipologia dos gneros literriosa) Plato (A Repblica, Livro III).- Critrio: quanto aos planos do contedo e da expresso.- Logos (contedo):- O poeta no deve representar defeitos ou vcios (a obra de arte deve visar elevao moral), sobretudo com relao a deuses e heris (pois so exemplos).- Lxis (forma):- Narrativo puro (ditirambo): antes era um hino que narrava a morte de Dionsio (sua morte e ressurreio), mas Plato apenas conheceu o ditirambo literrio, que depois se modifica e d origem tragdia.- Mimtica (dramtica): aquilo que encenado, dilogos entre personagens (teatro).- Modo misto: autor-narrador fala com o personagem.* Obs.: Segundo o argumento de Widsht Stridger, Plato no admite que a lrica componha a literatura, pois a lrica seria a traduo de sentimentos reais e, portanto, no seria ficcional.

b) Aristteles

V Noes de sintaxe narrativa1. Conceito: a sintaxe narrativa o estudo do modo de organizao da narrativa e seus elementos (trama). A sintaxe narrativa descreve a narrativa ao captar nela a presena de categorias e funes.

2. Narrema: o menor elemento distintivo da sintaxe narrativa. H basicamente trs:a. Proposio: ao possvel proposta pela personagem ou pelo acaso ou destino.b. Atualizao: a ao em processo (pode ser duplicada: A1, A2, A3, A4...).c. Resultado: ao conclusa ou inconclusa.

3. Sequencia narrativa: a sequencia de pelo menos trs narremas.a. Sequencia Elementar (SE): sequencia em que se encadeiam somente os trs narremas acima caracterizados.b. Sequencia Complexa (SC):- Por emparelhamento: