Resumo Proj Alice Rubini Liedke

1
UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO SUL INSTITUTO DE FILOSOFIA E CIÊNCIAS HUMANAS PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM HISTÓRIA Alice Rubini Liedke Doutoranda em História A transformação do modelo de assistência ao nascimento e parto das mãos de parteiras para a prática médico-hospitalar nas últimas décadas do século XIX e início do século XX no Brasil tem sido um tema bem trabalhado em pesquisas nas últimas décadas na historiografia brasileira. Porém a experiência de ofício das parteiras que atendiam partos naquela época pouco ou quase nada foi abordada pelos historiadores, cujo foco tem sido maior no desenvolvimento de uma História da Medicina no Brasil. Tendo como foco de pesquisa o ofício de parteira em Porto Alegre em fins do século XIX e começo do século XX, a pesquisa buscará discorrer acerca da experiência de ser parteira em um contexto de ampliação e consolidação da medicina científica como paradigma de saúde em meio às transformações sócio-políticas e culturais no início da 1ª Republica no Brasil. Através da experiência de vida de parteiras que viveram no período em Porto Alegre, resgatada através de diferentes fontes tais como periódicos, processos crimes, documentação de polícia e de documentos administrativos da Inspetoria de Higiene, buscaremos compreender o processo de transformação do ofício e o surgimento de um confronto de subjetividades e paradigmas entre sujeitos sociais diversos acerca do ofício de parteira. O objetivo geral é compreender a figura da parteira através da experiência vivida frente aos estereótipos hostis a elas associados em notícias e processos crimes em que foram acusadas por infanticídio, aborto, assassinatos e abandono de bebês em um contexto de mudança social no fim do Império e início da República nesse município. Temos como objetivos específicos analisar casos empíricos que envolveram parteiras que viveram em Porto Alegre naquele período e que estiveram envolvidas tanto no debate acerca do ofício e institucionalização da prática de parturição, quanto em processos crimes e cíveis. Partindo de notícias publicadas em periódicos da época (A Federação e Correio do Povo) pudemos perceber que durante aqueles anos as parteiras eram assunto recorrente em suas matérias, que registravam notícias de nascimentos, prisões, acusações e notas governamentais a fim de regulamentar a prática da parturição no município. Através de um olhar microscópico de suas experiências buscaremos compreender o universo sociocultural que a parturição encontrava-se nesse município no período enfocado. Sugerimos como hipótese que é possível trazer à luz inúmeros aspectos sobre a vida sociocultural daquela sociedade ao mudarmos o foco de análise do avanço de uma obstetrícia científica institucionalizada em detrimento de uma cultura “empírica” do partejar, para analisar os porquês da vigilância social, policial, judicial, da marginalização e dos estereótipos sobre a prática das parteiras. Buscaremos assim compreender o processo de transformação do ofício, mas também de transformação social através da análise e confronto de subjetividades e paradigmas entre sujeitos sociais diversos acerca do ofício de parteira

description

Resumo Proj Alice Rubini Liedke

Transcript of Resumo Proj Alice Rubini Liedke

Page 1: Resumo Proj Alice Rubini Liedke

UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO SULINSTITUTO DE FILOSOFIA E CIÊNCIAS HUMANAS PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM HISTÓRIA

Alice Rubini LiedkeDoutoranda em História

A transformação do modelo de assistência ao nascimento e parto das mãos de parteiraspara a prática médico-hospitalar nas últimas décadas do século XIX e início do século XX noBrasil tem sido um tema bem trabalhado em pesquisas nas últimas décadas na historiografiabrasileira. Porém a experiência de ofício das parteiras que atendiam partos naquela época poucoou quase nada foi abordada pelos historiadores, cujo foco tem sido maior no desenvolvimentode uma História da Medicina no Brasil.

Tendo como foco de pesquisa o ofício de parteira em Porto Alegre em fins do séculoXIX e começo do século XX, a pesquisa buscará discorrer acerca da experiência de ser parteiraem um contexto de ampliação e consolidação da medicina científica como paradigma de saúdeem meio às transformações sócio-políticas e culturais no início da 1ª Republica no Brasil.Através da experiência de vida de parteiras que viveram no período em Porto Alegre, resgatadaatravés de diferentes fontes tais como periódicos, processos crimes, documentação de polícia ede documentos administrativos da Inspetoria de Higiene, buscaremos compreender o processode transformação do ofício e o surgimento de um confronto de subjetividades e paradigmasentre sujeitos sociais diversos acerca do ofício de parteira.

O objetivo geral é compreender a figura da parteira através da experiência vivida frenteaos estereótipos hostis a elas associados em notícias e processos crimes em que foram acusadaspor infanticídio, aborto, assassinatos e abandono de bebês em um contexto de mudança socialno fim do Império e início da República nesse município.

Temos como objetivos específicos analisar casos empíricos que envolveram parteirasque viveram em Porto Alegre naquele período e que estiveram envolvidas tanto no debateacerca do ofício e institucionalização da prática de parturição, quanto em processos crimes ecíveis. Partindo de notícias publicadas em periódicos da época (A Federação e Correio do Povo)pudemos perceber que durante aqueles anos as parteiras eram assunto recorrente em suasmatérias, que registravam notícias de nascimentos, prisões, acusações e notas governamentais afim de regulamentar a prática da parturição no município. Através de um olhar microscópico desuas experiências buscaremos compreender o universo sociocultural que a parturiçãoencontrava-se nesse município no período enfocado.

Sugerimos como hipótese que é possível trazer à luz inúmeros aspectos sobre a vidasociocultural daquela sociedade ao mudarmos o foco de análise do avanço de uma obstetríciacientífica institucionalizada em detrimento de uma cultura “empírica” do partejar, para analisaros porquês da vigilância social, policial, judicial, da marginalização e dos estereótipos sobre aprática das parteiras. Buscaremos assim compreender o processo de transformação do ofício,mas também de transformação social através da análise e confronto de subjetividades eparadigmas entre sujeitos sociais diversos acerca do ofício de parteira