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Psicofisiologia Resumo da Matéria 1 MESTRADO INTEGRADO EM PSICOLOGIA Unidade Curricular: Psicofisiologia RESUMO DA MATÉRIA Docentes: Profª. Isabel Barahona da Fonseca Profª. Maria Luísa Figueira Ano Lectivo 2008/2009 FACULDADE DE PSICOLOGIA UNIVERSIDADE DE LISBOA

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PsicofisiologiaResumo da Matéria

1

MESTRADO INTEGRADO EM PSICOLOGIA

Unidade Curricular:

Psicofisiologia

RESUMO DA MATÉRIA

Docentes:Profª. Isabel Barahona da Fonseca

Profª. Maria Luísa Figueira

Ano Lectivo 2008/2009

Jessica Tacoen

Índice

FACULDADE DE PSICOLOGIA

UNIVERSIDADE DE LISBOA

PsicofisiologiaResumo da Matéria

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1. Neurónio como unidade estrutural e funcional do SN.............................................................2

2 . Atenção.................................................................................................................................10

3. Atenção visual........................................................................................................................17

4. Linguagem..............................................................................................................................22

5. Emoção e motivação..............................................................................................................25

6. Emoção: fases da reacção emocional (Halgren e Marinkovic)................................................28

7. Aplicações da Psicofisiologia – Distúrbios da ansiedade e do humor.....................................33

8. Comportamento desviante: Psicopatia..................................................................................37

9. Distúrbios esquizofrénicos.....................................................................................................43

10. Correlatos psicofisiológicos da consciência..........................................................................46

11. Distúrbios do Humor............................................................................................................49

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1. Neurónio como unidade estrutural e funcional do SN

O sistema nervoso é uma rede de comunicação que permite ao organismo interagir com o meio ambiente.

O SNC recebe, analisa e integra informações. É o local onde ocorre a tomada de decisões e o envio de ordens.

O SNP carrega informações dos órgãos sensoriais para o sistema nervoso central e do sistema nervoso central para os órgãos efectores (músculos e glândulas).

SNC - o encéfalo pode ser subdividido em 5 regiões: mielencéfalo, bulbometencéfalo, a ponte e o cerebelomesencéfalo telencéfalo, os vários lobos do córtex cerebral (hemisférios cerebrais)diencéfalo – tálamo e hipotálamo

SNPeriféricoSomático, voluntário – resulta da contracção voluntária dos músculos esqueléticos, reage a estímulos do ambiente externo.Autónomo, involuntário – resulta da contracção involuntária da msuculatura lisa e cardíaca. Função: regular o ambiente interno do corpo, controlando a actividade dos sistemas digestivos, cardiovascular, endócrino, excretor:

SNASimpático – responde a situações de stress SNAParassimpático – actividades relaxantes

Diferenças de estrutura e função: trabalham em oposição; enquanto um inibe o outro estimula – acção antagónica.

Os órgãos do SNC são protegidos por estruturas esqueléticas caixa craniana protegendo o encéfalo; coluna vertebral, protegendo a medula.

Fluído cerebrospinal entre o tecido nervoso e o osso.- SN consome 25% da energia do corpo

Potenciais da membrana e sinais neuronais:

• Potencial de repouso

• Potenciais possinapticos (subliminares, com amplitudes variáveis)

• Potencial Possinaptico excitador

• Potencial possinaptico inibidor

• Potencial de acção: comportamento tudo ou nada

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Medula espinhal tem duas funções:

Transmissão de sinais - responsável pela condução de informação para o encéfalo.Recebe os sinais dos órgãos dos sentidos e dos músculos transmitindo-os ao cérebro e o cérebro envia para a medula ordens referentes à movimentação de músculos.

Actividade reflexa - refere-se ao mecanismo que permite uma resposta motora (não consciente) a um estímulo.

NervoàEpinervo àPerinervo àEndonervo

Sensitivos – fibras aferentes Motores – fibras eferentes Mistos – fibras eferentes e aferentes

Nervos gânglios à fibra à neurónio

Tecido nervoso

O Neurónio é a unidade-base do sistema nervoso. São da ordem dos biliões no nosso cérebro.

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Diferentemente das outras células do corpo, os neurónios não se dividem nem se reproduzem, sendo portanto insubstituíveis. Diferem quanto à dimensão, à localização e às funções.

Cada neurónio possui morfologia adaptada para recepção, transmissão e processamento de sinais.

3 componentes: corpo celular (soma ou pericário) extensões protoplasmáticos - dendritos e axónio. O corpo celular rodeado por uma fina membrana, inclui o núcleo celular, que é a

central de energia da célula.

Axónio - (ou fibra nervosa) é cilíndrico e varia de comprimento e diâmetro, é único e longo tendo como função a condução dos impulsos nervosos para outros neurónios. Em seu interior há um complexo sistema de transporte formado por microtúbulos, microfilamentos e neurofilamentos. No órgão de destino, o axónio ramifica-se formando os telodendros ou botões sinápticos. Alguns axónios estão cobertos por uma camada de substância branca de matéria gorda, a bainha de mielina, que permite uma mais rápida transmissão da mensagem. Outros são apenas constituídos pela substância cinzenta. Para o neurónio manter a sua actividade e assegurar as suas funções tem de ser alimentado com oxigénio e glicose.

Dendrites – função: recepção de estímulos quer das células sensoriais, quer dos axónios, e a transformação desses estímulos em impulsos eléctricos que irão ser transmitidos ao longo do seu corpo celular. O número de dendrites pode atingir as centenas.

Tipos de neurónios – funções

Os neurónios organizam-se em fibras nervosas, que podem ser aferentes/sensitivas ou eferentes/motoras. Estas, por sua vez, agrupam-se em nervos que, consoante a sua estrutura e função, podem ser sensitivos, motores ou mistos.Os neurónios comunicam entre si formando uma rede que chamamos de circuito nervoso.

Neurónios aferentes ou sensoriais (unipolares)– recolhem a informação do meio exterior ou interior e conduzem-na ao SNC; transportam a mensagem da periferia à espinal medula e ao cérebro; detecta as informações do meio ambiente.

Neurónios eferentes ou motores (multipolar?)– transmitem a informação do SNC para os órgãos efectores (músculos ou glândulas):

Neurónios associativos ou inter-neurónios - processam os sinais nervosos que situam-se dentro do SNC. Interpretam a mensagem e elaboram respostas. Transmitem informação de um para o outro.

Quanto à forma, baseada na morfologia dos dendritos e dos axónios:• Multipolares • Bipolares• Unipolares

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• Pseudo unipolares

Os neurónios formam redes de comunicação - servem-se de sinais electroquímicos para transmitirem mensagens uns aos outros.

A descoberta do neurónio como unidade estrutural do SN – contributo de Ramón y Cajal: basic structural and functional units of the nervous system "mysterious butterflies of the soul".

Neuróglia (Responsáveis pela sustentação e pela protecção dos neurónios).

Não recebem nem propagam impulsos nervosos, são células isoladoras dos neurónios. Funções:

Remover destroços após a morte ou dano cerebral; Manter a concentração de K+ no meio extracelular; Direccionar o crescimento dos axónios; Permitir a criação de uma barreira que evita que substâncias tóxicas no sangue passem

para o cérebro; Suporte; Protecção; Nutrição; Mielinização; Desenvolvimento do sistema nervoso.

O cérebro humano posssui 10 vezes mais neuroglia que neurónios.

A mielina que permite a condução rápida dos impulsos nervosos, é formada por células de Schwan e pelas oligodendroglias.

Astrócitos – dois tipos:

Protoplasmáticos Fibroso :

-captam os neurotransmissores

- Funções metabólicas

- Função nutritiva.

Oligodendrócitos

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- Manutenção, suporte dos neurónios

- Síntese das bainhas de mielina dos axónios do SNC

Células Microgliais

- defesa imunológica do SNC (têm capacidades fagocíticas e antigénicas)

-ingerem e destroem bactérias e células;

Vasos Sanguíneos

Sinapse – Zona de interacção entre neurónios (iões K+, Cl-, Na+ e outros A-). A sinapse é conduzida através da despolarização e hiperpolarização de diferentes zonas da membrana.

Neurotransmissores – São substâncias químicas produzidas pelos neurónios de forma a poderem enviar informações a outras células.

Dopamina – movimento, atenção, emoção.

Serotonina – humor, fome, sono, ansiedade, agressão.

Norepinefrina – situações de alerta, induz a excitação física e mental e bom humor.

Acetilcolina – movimento muscular, aprendizagem

O impulso nervoso é um sinal eléctrico que conduz informação ao longo do neurónio. Uma série de eventos determina uma carga eléctrica no interior da célula que passa do seu estado de repouso (negativo, –) para um estado despolarizado (positivo, +). Processo de polarização, despolarização e repolarização.

A: O neurónio não estimulado, ou em repouso, tem carga negativa (–) no seu interior. Este é o estado de polarização. Os íons intracelulares mais importantes incluem a positividade da carga dos íons potássio (K+) e vários ânions (íons carregados negativamente). Como esses íons são captados para o interior da célula, em altas concentrações? Eles são bombeados por uma bomba de ATP na membrana celular. No estado de repouso, os íons K+ tendem a escoar para fora da célula, levando consigo a carga positiva. A carga positiva perdida para o exterior e o excesso de ânions presos no interior da célula a tornam negativa (–).

B B: Quando estimulado, o interior do neurónio torna-se positivo (+) por um curto período, ocorrendo a despolarização (Estado Estimulado).

Quando o neurónio é estimulado, a membrana do neurónio se altera de maneira a permitir aos íons sódio (Na+) atravessarem a membrana e penetrarem na célula. Com mais Na+ fora do que dentro da célula, o Na+ se difunde para o interior da célula,

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levando consigo a carga positiva. Esse processo torna o interior da célula positivo, o que determina a despolarização.

C C: A célula, muito rapidamente, retorna ao seu estado de repouso com uma carga interna negativa (–). O retorno ao estado de repouso é chamado de repolarização.

Essa mudança na membrana interrompe a difusão de Na+ para o interior da célula e permite sua difusão para o meio extracelular. A saída de K+ remove a carga positiva de dentro da célula, deixando para trás os ânions carregados negativamente (–). Desse modo, a saída de K+ causa a repolarização. A fase de repolarização do impulso NÃO se deve à remoção do sódio (Na+) pela bomba, e sim à difusão do potássio (K+) para fora da célula.

As células não podem ser estimuladas novamente, excepto as repolarizadas. A falta de capacidade da célula para receber outros estímulos até sua repolarização é denominada de período refratário, ou seja, um período sem reação.

A polarização caracteriza o estado de repouso do neurónio. Quando o neurónio é polarizado, o seu interior é mais negativo do que o seu exterior; nesse período, nenhum impulso nervoso está sendo transmitido.

Quando não existe estimulação das células nervosas. Não existe actividade nem transmissão de Sinais. A diferença de potencial eléctrico é negativa, ou seja:

Exterior do Neurónio

Positivo Excesso de Na+ e Cl-

Interior do Neurónio Negativo

Excesso de K+ Estão muito concentrados

os A- que não são difusíveis.

PEP – potencial exictador pós-sináptico

Potenciais Possinápticos

Inibição / Hiperpolarização

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Excitação / Despolarização

Permeabilidade iónica da membrana é alterada – Na+ entra -> DESPOLARIZAÇÃO

Nos 50 mv -> REPOLARIZAÇÃO: Na+ inactivados K+ sai

Repouso > despolarização > repolarização > repouso

Repolarização pode ser excessiva - bombas de sódio-potássio (mecanismos reguladores).

A célula consegue despolarizar várias vezes para o potencial de acção sem que a bomba sódio-potássio tenha tempo de a redistribuir.

“Condução saltatória” - Só há troca iónica nos nós de Ranvier: em cada nó o sinal regenera. Efeito kanguru saltador, não havendo troca iónica nas zonas mielinizadas.

Potencial de Acção

Mudança rápida no potencial da membrana, o que gera cargas eléctricas. A onda de descarga eléctrica percorre a membrana de uma célula (propagação) ocorrendo a sinapse.

Sinapse Química: neurotransmissor libertado da membrana pré-sináptica por exocitose, com a entrada de Cálcio, liga-se a um receptor (proteína), na membrana pós-sináptica; o impulso é

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transmitido em uma única direcção, é muito mais lento. Quase todas as sinapses do SNC são químicas.

PPSE (potencial pós-sináptico excitatório), se ligado ao Na; PPSI (inibitório), se ligado ao Cl.

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2 . Atenção

Dificuldades de definição, Imprecisão.

A essência da atenção é constituída pela focalização, concentração, consciência e selectividade do processamento. Implica a negligência de alguns com vista a lidar eficazmente com outros (Wiliam James, 1890).É impossível reduzir a uma única região do cérebro. Indispensável para a actividade sensorial, linguagem, aprendizagem e memória. Atenção como mecanismo: - Que selecciona a informação; - Com capacidade limitada; - De alerta; - Ligada à consciência e processos de decisão.

Atenção Voluntária/Endógena: vs Atenção Automática /Exógena:

– Top-down - endógena (atenção activa) – escolha deliberada de um estímulo Atenção “deliberada”, “focalizada” (processos seriais, recursos de capacidade limitada)

– Bottom – up - exógena (atenção passiva) – desencadeada, estádio intermédio

de processamento de informação. Atenção “automática” (processos paralelos,

não interferem com outras actividades de processamento; muitas tarefas ao mesmo tempo)

Funções: Orientação – alinhamento para estímulos relevantes Alerta - manutenção de um estado de sensibilidade aos estímulos. Executiva – monitorização dos conflitos entre estímulo e resposta

Características do processo atencional: Mecanismo que selecciona a informação Capacidade limitada Mecanismo de alerta (preparação para o processamento dos estímulos, vigília).

A atenção envolve mecanismos de memória que vão avaliando os processos atencionais.

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Teorias da atenção:

• Modelos de afunilamento

Paradigmas da atenção selectiva (focagem num dos estímulos implica a exclusão de estímulos irrelevantes). Processo atencional através de vários estádios, conjunto de processos separados.

– Teoria do filtro de Broadbent

Filtramos a informação sensorial antes desta atingir a memória de curto prazo, sendo essa filtragem baseada nas caracteristicas físicas (voz, sexo,

localização) dos estímulos e não do seu conteúdo semântico. A mensagem não-captada é rejeitada num estádio inicial do processamento.

Crítica: info pode ser processada sem consciência ex do efeito cocktail-party ou info pode ser processada pelo seu significado e não características físicas.

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– Teoria da atenuação - Modelo de Treisman da atenção selectiva (atenuação da mensagem no canal não seleccionado)

• Quando há dois tipos de mensagens não há uma ”expulsão” completa da mensagem não detectada mas há uma atenuação de certas mensagens dos canais não seleccionados. A informação não é rejeitada logo ao princípio, havendo um aproveitamento de parte da mesma. A análise do estímulo progride por meio de uma hierarquia.

– Teoria da selecção tardia / do filtro tardio de Deutsch & Deutsch (1963)

Responderam aos múltiplos problemas e críticas do modelo de Broadbent argumentando que há uma análise do significado de todos os estímulos pelo sistema perceptivo. A selecção ou filtro só acontece depois da análise semântica. Todos os estímulos são processados, analisados e com significados atribuídos. A selecção tem lugar na memória de trabalho. Esta teoria pressupõe um processamento pouco económico.

• Modelos de capacidade - Khaneman (1973)

Paradigmas de atenção dividida (Factores que influenciam o desempenho numa tarefa dupla: similaridade, dificuldade e prática) – categorização e reconhecimento dos estímulos, avaliação das exigências e capacidades.

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É menos importante a localização do afunilamento para a atenção selectiva do que a compreensão das exigências colocadas ao sujeito pela tarefa; os recursos são limitados (dependem da complexidade do estímulo). O conjunto dos recursos disponíveis depende do nível de alerta, dos recursos cognitivos e da natureza da tarefa.

Depende de vários factores: esforço e motivação; tarefas pouco exigentes podem ser efectuadas simultaneamente; prática nas tarefas implica menor interferência (ex: condução).

O contributo dos estudos psicofisiológicos com ERPs. A onda de diferença negativa (Nd) e o P300 - interpretados como indicadores de uma hierarquia de selecção de estímulos - Electroencefalograma (EEG):

Técnicas de Imagiologia Cerebral: Ressonância magnética funcional (fMRI) e tomografia por emissão de positrões (PET) (métodos que permitem localizar a área e sua extensão das modificações de fluxo sanguíneo relacionadas com a apresentação de certos estímulos);Medição de potenciais evocados (ERPs) através do EEG (medição da actividade eléctrica no escalpe em função da apresentação de determinados estímulos).

Os processos de atenção evocam respostas centrais e respostas periféricas, que ocorrem em sincronia com o processamento da info no cérebro.. Ambos os indicadores fornecem uma forma de classificar e de diferenciar os diferentes processos da atenção. Os indicadores dos processos de atenção podem ser:- Periféricos (reacção de orientação de Sokolov: resposta electrotérmica; suspensão temporária da respiração e da frequência cardíaca; rotação dos olhos e da cabeça; dilatação da pupila; aumento do tónus muscular; diminuição da pressão sanguínea nos membros mas aumento da cabeça): lentas e de longa latência.

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- Centrais (ERPs): são mais directos; ocorrem em sincronia com o processamento da informação no cérebro.

Potenciais Evocados (componente exógena - latência curta, via anatómica) Potenciais relacionados com eventos psíquicos – ERP

Num electroencefalograma (EEG) podemos estudar os potenciais evocados relacionados com eventos psíquicos (ERPs), que ocorrem num espaço temporal próximo do processamento da informação actual no cérebro (estudar em tempo real a activação de diferentes áreas anatómicas do cérebro) mas não são apropriados para o estudo de formas mais complexas de cognição (resolução de problemas e raciocínio) e não indicam com precisão quais as regiões do cérebro envolvidas.

Como os ERP’s podem ser usados nos estudos da atenção? Estudos em que são comparados ERP’s em resposta a estímulos atendidos comparativamente aos que não são atendidos.Os ERP’s devem ser analisados como resposta a duas ou mais classes de estímulos (atendidos e não-atendidos) apresentados numa ordem imprevisível, o que impede a antecipação dos estímulos (desenvolvimento de um estado preparatório ou de alerta) por parte dos sujeitos.Registado no EEG associados a eventos sensoriais, cognitivos, motores.

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É particularmente útil para estudar as interacções de estímulos em sequências temporais rápidas e alocações de atenção momento-a-momento, porque as mudanças no ERP podem ser registadas independentemente da actividade motor.

Os ERPs sugerem que a informação acerca dos atributos dos estímulos fica disponível aos mecanismos da atenção em tps diferentes, dependendo das características, das modalidades do estímulo e das exigências da tarefa. Dão um registo temporal preciso da actividade neuronal subjacente e concedem uma ideia de como a actividade neuronal muda com o tempo conforme a informação está sendo processada no cérebro humano.Indexando o tempo da selecção dos estímulos, os ERPs podem delinear os diversos passos no processamento e fornecer indicações acerca da estrutura paralela, serial ou hierárquica das análises.

Permitem discutir e estudar:- Níveis de selecção tardios vs. precoces- Análise serial vs. Paralela- Processamento automático vs. Controlado

Os componentes endógenos a tracejado são desencadeados por sons que são:- selectivamente atendidos (Nd)- ou que são relevantes para a tarefa e improváveis (P300)

Categorização e identificação do estímulo (anterior à tomada de decisão da resposta em tarefas de atenção selectiva):

Nd – onda negativa largamente endógena. Indexa selecção precoce (inicial), porque possui

latência curta, uma vez que há uma actividade tónica que processa o material atendido e não atendido de uma forma distinta prévia ao reconhecimento e análise completa. Nd reflecte o processamento preferencial dos estímulos relevantes a seguir a uma selecção baseada em atributos físicos. Reflecte um processamento que extrai informação adicional do estímulo do canal atendido.

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Interpretação do significado funcional do componente de ERP – P300. Condições de desencadeamento do P300 no paradigma clássico oddball Efeito de o estímulo ser inesperado, ou relevante para a tarefa, ou da probabilidade de ocorrência, ou do valor motivacional/emocional do estímulo. P300 e a categorização e identificação do estímulo (anterior à tomada de decisão da resposta em tarefas de atenção selectiva).

P300 - desencadeada após a onda Nd, apenas por estímulos inesperados no canal atendido. É gerado por eventos novos e ou surpreendentes, probabilidade de estímulos baixa, sensível a relevância da tarefa, estímulos que necessitam de uma resposta cognitiva ou motora. Reflecte o “encerramento” do processo de decisão do sujeito, ocorrendo apenas após a análise completa da avaliação do estímulo.É considerado um potencial endógeno, visto que a sua ocorrência não está ligada ao atributos físicos de um estímulo, mas a reacção de uma pessoa ao estímulo.

Mas estímulos desviantes do canal não atendido também desencadeiam P300, o que sugere que os estímulos do canal não atendido não são completamente rejeitados. O P300 também pode ser indicador do processamento de material irrelevante (em que não há registo de resposta comportamental).

Está dependente de processos de identificação e clarificação de estímulos, e não de selecção e execução de respostas.

As ondas Nd e P300 reflectem 2 níveis de selecção ordenados hierarquicamente:Nd → reflecte a selecção entre-canais (conjunto de estímulos) baseado em pistas rapidamente discrimináveis (atributos físicos simples).P3 → reflecte processos subsequentes à identificação do alvo e depende de uma análise mais detalhada das características do estímulo no canal atendido, que necessitam de uma resposta cognitiva ou motora.

Défices na atenção selectiva - variedade de sindromas clínicos: Esquizofrenia (P3 atenuado), Hiperactividade (Nd e P3 atenuado), Dificuldades de Aprendizagem, Demência Senil e Envelhecimento Natural (P3 aumenta a latência – lenta avaliação e tomada de decisão).

Contributo do ERN (error related negativity - acções involuntárias) como indicador da monitorização do comportamento para o entendimento da dinâmica dos processos de auto-regulação do comportamento. É observado após erros cometidos durante várias tarefas de escolha, mesmo quando o participante não está explicitamente consciente do erro cometido.

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2A. Atenção visual

Evolução dos estudos dos processos da atenção – contributos da escola psicofisiológica.→ A rede de orientação visual trata de mecanismos selectivos que agem sobre o input recebido. → Esta rede utiliza pistas, tais como mudanças de luz ou movimento, para mudar o foco de atenção, permitindo assim uma percepção do meio adaptada.→ No entanto, na ausência de pistas mais efectivas, ocorre a chamada “cegueira à mudança”.

Paradigma de Posner (anos 80):Posner estudou os efeitos de um indicador (pista) no campo visual no movimento da atenção, monitorizando os movimentos oculares por eléctrodos. Para isto, criou uma tarefa experimental que permitia separar (dissociar) a atenção de outras funções. Colocou-se uma pista destinada a direccionar a atenção. A pista iria indicar o local, no monitor, onde o sujeito deveria esperar ver o aparecimento de um alvo.A procura visual de alvos em tarefas experimentais, permite estudar o impacto de diferentes tipos de pistas através da medição de tempos de reacção. Os sujeitos orientando-se pela pista respondem mais rapidamente ao alvo.Resultados: Evidências da existência de Modelos de Atenção de selecção prévia.

Pistas centrais (setas) induzem pré-atenção endógena (voluntária). Pistas periféricas induzem pré-atenção exógena – automática, breve

Registava-se um maior tempo de reacção automática quando a pista era falsa, mesmo se o sujeito soubesse que a pista podia ser falsa.Orientação reflexa - induzida por eventos sensoriais; ocorre 50 ms após o evento - mais resistente à interferência e cessa (inibição de retorno) mais depressa do que a orientação voluntária.Registou-se, também, a inibição de retorno - resposta menos eficiente em relação a um local a que anteriormente se tenha prestado atenção.

Propriedades das mudanças de atenção: Atenção covert - ocorre uma mudança no foco de atenção, mas não é expresso

nenhum comportamento (~50ms). Atenção overt - mudança de foco de atenção associado a um comportamento

observável/manifesto (~200ms).

Os estudos com ERPs da atenção visual (paradigma de Posner) – cruzamento destes dados com o registos imagiológicos em tarefas comparáveis (Mangun)

Estádio do processo onde actuam as pistas : Em que estádio se observam feitos facilitadores da pista? Mais precoce ou mais posterior (pós-perceptivo e da decisão)?Ambos: maior amplitude do P100 precoce e do N1 (180 ms) e do P300.

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P1 e N1 indexam mecanismos de filtragem sensorial que precedem a selecção de alvos e não-alvos. Surgem nestas tarefas onde a atenção foi manipulada por pré-sugestões espaciais.Quando o tempo decorrido entre a apresentação da pista (de localização do alvo) e o aparecimento do estímulo-alvo é pequeno, ocorre um aumento da amplitude da componente P1. Porém, quando o tempo decorrido é maior, isso não acontece.Isto é uma prova convergente com a hipótese de que a facilitação induzida pela expectativa nos tempos de reacção resultava da melhoria do processamento sensorial e visual inicial. → A demonstração de que a amplitude dos componentes de latência intermédia dos ERPs (entre os 80-100 ms pós-estímulo) era modulada pela expectativa, sugere uma ligação entre os efeitos sensoriais perceptivos e os tempos de reacção.

Nd atenuada em pacientes com lesões frontais - papel do córtex frontal na selecção inicial de estímulos.

Paradigma experimental “oddball”: Os sujeitos são expostos a uma sucessão contínua de dois tipos de estímulos, em que um deles é apresentado regularmente e o outro apenas esporadicamente.

N1 e P2 - potenciais aparentam reflectir a análise das características físicas do estímulo (e. g., intensidade, frequência, tom e timbre) e estádios iniciais de codificação.

P200 – pós estímulo, processamento do item-alvo e não é influenciado pelas primeiras orientações da atenção.

Evocada por atenção consciente ou por ignorar um estimulo desviante. Indexa uma atenção selectiva

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Evocado por tarefas de classificação, e também por buscas visuais com lateralidade específica quando relevantes para a tarefa.

P300 Surge como resposta a estímulos que, mesmo quando conhecidos, têm baixa

probabilidade de ocorrer, necessitando de categorização. Surge em resposta a novidades inesperadas.

Estudo do efeito de lesões cerebrais (lesões parietal direita e síndrome de negligência) e mais recente dados da imagiologia cerebral com PET.

Hipótese da sequência de operações mentais: A orientação da atenção visual que inclui o desligar do foco da atenção, deslocar a atenção para a localização indicada na pista e amplificar o alvo. De que forma estas operações são perturbadas pela lesão parietal?

Córtex parietal posterior está envolvido no planeamento do movimento e no estado de atenção. Os exames de PET revelam que as mudanças de atenção dentro de um campo visual activam o lobo parietal direito, independentemente de qual das duas metades constitui objecto da atenção. O lobo parietal esquerdo é activado apenas quando o campo visual direito é objecto de atenção.

Síndrome de Negligência – lesão parietal direita: défice na exploração espacial da metade contralesional, principalmente com o hemisfério direito lesionado.A atenção visual selectiva resulta num aumento regional da circulação sanguínea nas áreas

visuais extra-estriatais no hemisfério contralateral ao estímulo atendido. Então, toda a informação e até a parte do próprio corpo do lado contra lateral à lesão é ignorada, suprimida e até negada.

Foi pedido a pessoas com lesões nos lobos parietais que realizassem a tarefa-modelo com pistas periféricas. Os resultados revelaram:- Reacções mais rápidas em relação a estímulos apresentados do lado ipsilateral à lesão- Redução da diferença nos tempos de reacção para alvos ipsi ou contralaterais se a atenção tiver sido direccionada por uma pista.

- No caso das pistas enganadoras: a atenção é direccionada para um lado e o alvo é apresentado no outro – elevação da latência (dobro ou triplo do tempo normal), mais acentuada para estímulos apresentados no lado contralateral à lesão.- Até ao acender de um ponto central que nada indica sobre a localização do alvo, produz-se um aumento semelhante nos tempos de resposta aos alvos opostos à lesão.

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Pessoas com lesões no lobo parietal conseguem deslocar a atenção igualmente para os dois lados. Mas depois de a atenção ser focada num ponto de fixação ou no lado ipsilateral, o tempo de reacção a alvos contralaterais aumenta. Tempo de reacção ainda maior se a lesão for no hemisfério direito (controla ambos os campos).

Hipótese: o córtex parietal está envolvido na atenção a objectos em diferentes posições no espaço. Pode ser uma ruptura na capacidade de deslocar a atenção. O principal défice em pacientes com lesões parietais parece estar na operação DESLIGAR.

Os lobos usam diferentes escalas na detecção de estímulos: Esquerda – analítico – local - detalhe Direita – global

→ Contributos de outras regiões cerebrais Estado de semi-vigília

ESTIMULAÇÃO/ALERTA: sistema reticular - selecciona os estímulos e permite uma interacção com o meio, manutenção da alerta e a escolha das respostas comportamentais: control our

internal states: ability to self-

regulate our behavior, mind and emotions.

ORIENTAÇÃO: Papel do mesencéfalo na atenção (Colículo superior): fazem girar os olhos até ao novo estímulo (mudanças encobertas da

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atenção). Desempenha função nas mudanças “covert” da atenção, na regulação dos movimentos oculares voluntários.Lesão (paralisia supranuclear): Reacções mais lentas do que os normais em relação à pista e

ao alvo; atraso no movimento; prejudica a capacidade de realizar movimentos oculares, os

olhos não conseguem fixar-se em nenhum objecto, daí resultando uma cegueira funcional.

Dificultam as mudanças covert da atenção e perca da “inibição de retorno”.

ENFOQUE/EXECUÇÃO: Papel do tálamo na atenção (pulvinar lateral) - Controlar um tipo de atenção que, durante a procura visual, seleccionaria certas informações para um processamento mais aprofundado.O núcleo pulvinar inclui células que aumentam a frequência de disparo durante as mudanças “covert” da atenção visual.Estudos PET revelam, ainda, que o processamento do estímulo complexo se associa a aumentos da actividade no núcleo pulvinar.Em lesões de um dos lados do Tálamo observaram-se aumentos do TR a alvos do lado oposto à lesão - mesmo após pista correcta (o que é diferente do que foi observado em pacientes com lesões parietais, que conseguem responder normalmente quando a atenção é dirigida para o local).A área pulvinar do tálamo parece estar especificamente envolvida na filtragem de localizações relevantes no campo visual, isto é, selecciona o conteúdo da área ao qual se presta atenção e realça esse conteúdo de modo a ter prioridade no processamento. Coloca-se assim a hipótese de que o défice interfere com a operação que amplifica o local do alvo.

→ Síntese dos circuitos neuronais da orientação visual Hipótese: o lobo parietal actua de modo a libertar a atenção do seu foco presente e envia um sinal para que desloque o foco da atenção para a área da pista. O tálamo selecciona o conteúdo da área ao qual se presta atenção e realça esse conteúdo de modo a ter prioridade no processamento.

Atenção executiva

Tarefa: Detecção - Trazer um objecto até à consciência. Execução consciente de uma instrução. Compreender a sua finalidade e reconhecer a sua identidade. Funções supervisoras: planeamento, correcção de erros, execução de acções novas, inibição de rotinas do comportamento, alerta. Efeito de stroop:

Dá-se a activação do sistema cingulado (detecção de alvo) e áreas pré-frontais nas tarefas em que existe um conflito.

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4. Linguagem

Características e sensibilidades a distintos processos envolvidos na compreensão da língua.

Reconhecer o sinal como fala, segmentar nas suas partes constituintes, aceder ao léxico mental e seleccionar a palavra no léxico.

A linguagem é um processo complexo, no qual participam diversas áreas organizadas em redes neuronais que correspondem a funções constituintes (percepção de palavras, produção da fala, acesso semântico).

Processamento da Linguagem: • Audição e repetição: Córtex auditivo primário (processamento auditivo inicial) Área de

Wernicke; feixe arqueado: Área de Broca • Leitura: Córtex Visual -» AA Visual -» Giro Angular (interacção visuo-auditiva) -» Área

Wernicke (se for em voz alta passa pelo fascículo arqueado e área de Broca).• Produção: Pensamento; área de Wernicke; área de Broca (programas motores para

pronunciar palavras); área facial do córtex motor; nervos cranianos; fala.Segundo alguns estudos há vias mais rápidas, passando por menos centros conceptuais devido à prática (e. g., leitura).

Método anatomo-clínico clássico: os efeitos de lesões são locais (componentes da arquitectura funcional são isolados) e os componentes do SN não lesionados continuam a funcionar normalmente tal como ocorria antes da lesão.≠ Há uma reorganização do SN; componentes que não foram destruídos funcionam de forma diferente.

Modelos Neurológicos clássicos:Afasia de Broca: lesão frontal esquerda - Compreensão da fala mas dificuldade em repetir; anomia – dificuldade em encontrar palavra. Fala telegráfica, sem partículas de articulação, erros parafásicos (estrata em vez de estrada); Dificuldade na memória de trabalho. Lado motor perturbado; dispersão, discurso vazio de conteúdo e sequências lógicas.Afasia de Wernicke: lesão na região posterior do córtex auditivo de associação esquerda, Córtex temporal posterior, superior e médio - Discurso fluente, abundante, articulado, melódico e sem esforço, mas ininteligível, Parafrasias, Dificuldades de compreensão e repetição, armazenar memórias, Jargonofasia (fala em que a sintaxe parece normal, mas o seu conteúdo não faz sentido) Fala sem sentido; outros sinais: ausência de sinais motores; ansiedade ou agitação.Afasia de Condução: Temporal superior esq e circunvolução supramarginal – Lesão no feixe/fascículo arqueado - desconexão entre a área de Broca e Wernicke: Compreensão intacta em frases simples, fala fluente com alguns defeitos de articulação (inteligível), não conseguem repetir, parafrasias e dificuldades em nomear objectos; outros sinais: ausência ou perdas sensoriais corticais e fraqueza no braço direito.

Modelos neurológicos modernos:Encontraram-se diferenças entre os dados da neurologia clássica baseada no estudo de pacientes cerebro-lesionados e os dados modernos da imagiologia numa tarefa de leitura.Nas perspectivas actuais a área de Wernicke não é considerada como o centro conceptual, ou da compreensão auditiva. A área de Wernicke faz parte de um processador que associa os sons da fala aos conceitos.

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Tarefa experimental (pc): Visualizar palavras passivamente (ponto de fixação) – processamento sensorial

passivo; codificação ao nível da palavra Ouvir palavras – codificação articulatória; programação motora e resposta - martelo Dizer palavras – associação semântica, selecção para acção - martelo Gerar um verbo em resposta a um nome – martelar.

A geração de significados deve-se a quatro áreas do cérebro inter-relacionadas: - córtex frontal esquerdo, - córtex do cíngulo porção anterior, - lobo temporal posterior- cerebelo direito

Características e sensibilidades a distintos processos envolvidos na compreensão da língua. A geração e entendimento de mensagens escritas ou orais da linguagem, produzidas no contexto comunicativo, envolve a integração de múltiplos conhecimentos, que ocorrem em simultâneo e de um modo distribuído no tempo:Conhecimentos linguísticos:

• Semântico - Entendimento do significado de cada palavra.• Sintáctico - segmentação da frase nos seus constituintes e identificação das

dependências entre eles. Estruturas ou padrões formais do modo como a semântica é expressa: especifica a sua estrutura interna e funcionamento (sujeito, predicado, complemento, etc.).

Não linguísticos: pragmáticos

→ Existem três componentes da linguagem:- Forma: compreende os sons e sintaxe que permite usá-los- Conteúdo: significado ou semântica; refere-se às ideias veiculadas pela forma- Uso: pragmática; conjunto das circunstâncias sociais e o contexto geral da comunicação linguística.

Léxico: conjunto de palavras que as pessoas de uma determinada língua têm à sua disposição para expressar-se, oralmente ou por escrito.

A compreensão da linguagem envolve:- Reconhecer o sinal como fala- Segmentar o sinal nas suas partes constituintes- Aceder ao léxico mental- Selecção do léxico da palavra apropriada- Construir uma estrutura gramatical e incluir a palavra processada- Atribuir as relações e as dependências entre as palavras na frase

Aplicações ao estudo de questões da psicologia da linguagem – arquitectura cognitiva dos processos de compreensão, exemplo do teste dos modelos sequenciais e interactivos entre processamentos sintácticos e semânticos na compreensão da língua.

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A arquitectura cognitiva do sistema de processamento da linguagem é um assunto controverso. Existem diferentes perspectivas sobre a sequência temporal – quando é que as informações sintácticas e semânticas interagem. Os estudos com ERPs podem contribuir para esclarecer a dinâmica temporal da compreensão (processos póslexicais sintácticos e semânticos que se sucedem ao reconhecimento de palavras).Ao nível sintáctico, a frase deve ser segmentada nos seus constituintes e identificadas as dependências sintácticas entre eles (sujeito, ligações).Ao nível semântico, o significado de cada palavra é integrado com uma representação do significado de toda a frase que está a ser construído de modo a que possam ser atribuídos papeis temáticos (agente, tema, recipiente).

Coloca-se, então, a questão de como é que são integrados os conhecimentos semânticos, sintácticos e pragmáticos durante o entendimento de frases e discursos – a arquitectura cognitiva do sistema de processamento da linguagem é um assunto controverso:- Será que se pode separar a sintaxe da semântica?- Será que o processo é sequencial ou interactivo?

- Modelo Sequencial ou Serial•Acesso lexical -> análise sintáctica -> processos semânticos•Os componentes são modulares e sequenciais no tempo•A semântica não influencia os “módulos” iniciais–Modelo Interactivo•A informação semântica é usada para guiar o acesso lexical e a análise sintáctica•Perspectiva interactiva sobre os conhecimentos sintácticos, semântico e lexical

O uso de dados da imagiologia (PET e MRIf) para extrair conclusões acerca das arquitecturas cognitivas pressupõe que os processos distintos do processamento verbal funcional dependem de sistemas cerebrais distintos. Fica, no entanto, por saber, se todo o padrão de activação é específico para determinada tarefa e mesmo se toda a rede neuronal. Partes da rede podem estar activas em outras tarefas, participando em redes neuronais diferentes (ex: área de Broca, que está activa em tarefas sintácticas, está também activa no processamento da informação não linguística sequencial – embora integrada numa rede que inclui áreas distintas das da informação linguística).

Indicadores ERPs - Estudos de efeitos de lesões cerebrais, da activação de regiões cerebrais (imagiologia cerebral). Os indicadores electrofisiológicos do processamento da linguagem (ERPs): LAN ou ELAN, N400 e P600:

Estudos com ERPs podem contribuir para esclarecer a dinâmica temporal da compreensão. Este conhecimento é importante para investigar modelos de processamento interactivos vs sequenciais.

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ELAN (Early Left Anterior negativities) – erro na interpretação de palavras – violação da estrutura da frase.LAN (Left Anterior negativities) onda de grande intensidade – erros morfosintáticosSão indicadores da construção inicial da estrutura da frase baseada na informação da categoria sintáctica da palavra. Desencadeados por violações da estrutura local da frase, da concordância sujeito – verbo, da estrutura do argumento do verbo ou quando a categoria da palavra não está de acordo com as expectativas baseadas nas regras da gramática.Ex.: “The president was in the greeted”.

N 400 - (processos semânticos) Desencadeado pela incongruência semântica (expectativa das palavras criado pelo contexto da frase). Tem uma distribuição posterior. A negatividade reduz-se com o priming associativo, semântico, repetição e frequência do estímulo . Quando uma palavra é muito frequente ou apareceu recentemente no contexto, facilita o processamento semântico indexado pelo N400, reduzindo a sua amplitude. A amplitude do N400 tem uma relação quase linear inversa com a probabilidade do aparecimento de uma palavra.Ex: “Barrei o pão com hipóteses.”

P 600 – (processos sintácticos) Desencadeado por violações da estrutura sintáctica e frases com estruturas ambíguas, ortografia e fonologia. Ex: “O xerife viu o cowboy e os índios fizeram uma fogueira.”

Sugere que o processamento sintáctico e semântico envolve distintos sistemas e processos neurológicos e que há uma integração precoce entre a análise semântica e a análise sintáctica. Esta resposta é oferecida pelos ERPs, que permitem sequenciar os processos.

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5. Emoção e motivação

SNC e emoção – conceito moderno de sistema límbico. Respostas periféricas mediadas pelo SNA e suas divisões (simpática e a parassimpática).

Emoção: sentimentos com maior intensidade, limitados no tempo, podemos ver o seu início e fim, forma como é expressa no comportamento que exibimos perante os outros e respostas corporais. As emoções são reacções integradas e orientadoras da totalidade do comportamento do organismo.Motivação: Força que leva à execução de um comportamento visando a satisfação de uma necessidade. Envolve (SNA, circuito de Papez e sistema límbico): emoções, pensamentos, capacidades de avaliação de estímulos, cognições (memória) e comportamentos profundos. É raramente usada perante estímulos aversivos. BASE DA MOTIVAÇÃO: RUPTURA NO EQUILÍBRIO HOMEOSTÁTICO.Ciclo motivacional: Estímulo -» estado de necessidade interna/tensão (alteração de variáveis psicofisiológicas + memória) -» impulso (desejo) -» resposta instrumental -» satisfação da necessidade (meta/objectivo final).

Primárias: biológicas, repertório de motivação fisiológica de sobrevivência da espécie: fome, sono/vigília, sede, temperatura.

Secundárias: sociais, adquiridas por condicionamento através de uma motivação primária: curiosidade, exploração - sexual, social (estimula a nossa capacidade de atenção e aprendizagem).

Factores fisiológicos no comportamento motivado: motivação da fome. A comida pode ser substituta de afectos ou problemas internos que ultrapassam factores fisiológicos.Sinais de fome (Parassimpático): Diminuição dos níveis de leptina – estimula o comportamento alimentar; diminuição da insulina, baixa do ACTH e TSH (resposta humoral). Redução da taxa metabólica. Regulação hormonal e Hipotalâmica da gordura corporal e ingestão: Neurónios do hipotálamo lateral responsáveis pela estimulação do comportamento alimentar, actuam quando detectam a variação da hormona leptina no sangue:

Fase cefálica: Cheiro (aroma), visão - activação do Parassimpático, antecipação da comida - aumento da salivação e suco gástrico, prepara para uma melhor digestão dos alimentos, libertação pancreática da insulina (células beta).

Fase gástrica: mastigação, deglutição, encher o estômago.

Fase de absorção: entrada no intestino, digestão parcial, nutrientes chegam à corrente sanguínea.

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Sinais de saciedade - Balanço Energético: Nutrientes no sangue – logo após a refeição, energia armazenada nos músculos esqueléticos, fígado e tecido adiposo; inibe o comportamento alimentar. Leptina - proteina responsável por informar o cérebro sobre as reservas de gordura; - Resposta Somático-Motora: péptidos anorécticos >> diminuição do comportamento alimentar; Resposta Viscero-Motora: aumento da actividade do SN simpático >> aumento de temperatura >> aumento da taxa metabólica: aumento dos níveis de leptina, secreção das hormonas da hipófise (ACTH e TSH) – suspensão do comp. alimentar. Quando os alimentos estão em excesso os ácidos gordos são armazenados.A dopamina e a serotonina intervêm no processo, uma vez que a dopamina é reguladora do prazer e impulsionadora da acção e a serotonina influencia o humor e a alimentação (baixa serotonina leva a transtornos alimentares).Estruturas do SNC relacionadas com a motivação – funções do hipotálamo (papel essencial na regulação da temperatura, balanço de fluídos e balanço energético – detecta quando as reservas energéticas não são suficientes).Respostas integradas desencadeadas pelo aumento dos níveis de leptina:- Humoral: estimula ou inibe a libertação de hormonas hipofisárias na corrente sanguínea (comanda a resposta hormonal).- Víscero-motora: ajusta o balanço de actividade simpática e parassimpática do SNA. - Somático-motora: inibe/estimula o comportamento alimentar.

Uma pequena lesão no hipotálamo pode produzir distúrbios graves e frequentemente fatais de funções corporais bastante dispersas.Lesões:

Hipotálamo ventromedial – obesidade Hipotálamo lateral – anorexia

Explicação: variações nos níveis de leptina.

Transtornos alimentares:- Anorexia Nervosa: manutenção voluntária do peso corporal a um nível anormalmente baixo, imagem corporal distrocida. (Desenvolvem a capacidade de ignorar e bloquear a sensação de fome.) Provoca amenorreia, ansiedade, baixa auto-estima e depressão.- Bulimia: Episódios sucessivos de voracidade alimentar seguido de vómito forçado – compensatório. Baixa serotonina no cérebro, depressão.

SNA simpático – relacionado com situações de stress – protector e atenuador (saciedade).

SNA parassimpático – situações de relaxamento (fome).

Regulação da sede – rim retêm ou elimina o líquido automaticamente. Auando o organismo quer água, fica hipertónico - o sangue torna-se hipertónico quando perde água. Os neurónios do órgão vascular dos terminais de lamina (OVLT) tornam-se sensíveis a este facto. O OVLT activa as células de neurosecreção magnocelular no hipotálamo lateral. As células neurosecretórias segregam vasopressina no sangue e os neurónios do hipotálamo lateral disparam sede osmométrica.

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6. Emoção: fases da reacção emocional (Halgren e Marinkovic)

Reacções fundamentais básicas de prazer ou não, com alguma intensidade. Nem todas as emoções são activadoras de confronto com o objecto.

Diferenciação dos processos: Na psicologia da emoção (eventos transientes de curta duração); Na psicopatologia (processos recorrentes de longa duração).

Emoção heterogénea, engloba: Reacções imediatas, automáticas (sub-cortical, biológico) ex: medo de cobra. Actos voluntários (cortical) ponderados, dirigidos para objectivos ex: paixão.

Sujeita a várias abordagens/teorias: 8 emoções básicas, teorias da personalidade (traços), mecanismos de defesa freudianos, estilos de coping.

Existem duas teorias tradicionais:

Teoria de James-Lange – Experimentamos a emoção em resposta a alterações fisiológicas (vegetativa e somática) no nosso organismo. As mudanças corporais decorrem directamente da percepção do estímulo e a sensação destas mudanças provoca a emoção (e. g., ficamos tristes porque choramos).

Teoria de Cannon-Bard – Argumentaram contra, dizendo que emoções podem ser experimentadas mesmo quando mudanças fisiológicas não são sentidas. A experiência emocional do estímulo gera a reacção física, a resposta somática/visceral.

Teoria de Magda Arnold - emoção resulta da avaliação implícita inconsciente da situação como sendo potencialmente benéfica ou prejudicial, seguida da activação de tendências.

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A expressão emocional é governada pelo hipotálamo.

Concepção moderna do Sistema Límbico, Mc Lean (1952): Interconexão do circuito de Papez com a amigdala, o hipotálamo, núcleos da base (núcleo accumbens), área pré-frontal, cerebelo e área septal.Esta modificação foi crucial para a manutenção do conceito de sistema límbico como importante para a emoção.Embora actualmente ainda se utilize a denominação “sistema límbico” para designar os componentes envolvidos nos circuitos cerebrais das emoções, a verdade é que esta caracterização tem vindo a sofrer diversas críticas, não havendo entre todos os neurocientistas um perfeito acordo em relação aos seus componentes. Por exemplo, a maioria dos investigadores inclui no sistema límbico (SL) o giro cingulado, o giro para-hipocâmpico, a amígdala, o hipotálamo e a área do septo, mas outras estruturas como o cerebelo, o tálamo, a área pré-frontal e o hipocampo nem sempre são consideradas como pertencentes ao SL (ainda que se relacionem com os processos emocionais e as respostas autónomas).Isto significa que ainda não existem critérios fixos para se decidir sobre a constituição do SL. Além disso, a própria ideia de um único sistema das emoções tem vindo a ser cada vez mais posta em causa, uma vez que têm vindo a ser identificados diferentes circuitos e diversas áreas do Sistema Nervoso Central como estando relacionadas com as igualmente diferentes emoções.

Le Doux (anos 90) – estudos das emoções em ratos -> importância da amígdala e do tálamo.

O caso de Phineas Gage, com uma lesão extensa nos lobos frontais de ambos os hemisférios, tornaram óbvios os contributos das áreas pré-frontais para a emoção. Phineas Gage – 25 anos – trajecto da barra e lesão extensa dos lobos frontais de ambos os hemisférios.

Podemos encontrar três tipos de síndromas:Sindrome “des – executivo” (dorsolateral)

Diminuição do julgamento, planeamento, insight e organização temporal redução da persistência cognitiva Défices de planeamento motor incluindo afasias e apraxias

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Desleixo consigo próprio.Síndrome desinibido (orbitofrontal)

Comportamento dependente dos estímulos Insight social diminuído Distractibilidade Labilidade emocional

Síndrome amotivacional (apático), mediofrontal. Diminuição: Espontaneídade Output verbal (incluindo mutismo) Prosódia espontânea Latência das respostas Motórica (acinésias) Incontinência urinária Fraqueza das extremidades inferiores e perdas sensoriais

As emoções são reacções integradas e orientadoras da totalidade do comportamento do organismo. Envolvem diversos níveis do SN: todas as estruturas do tronco cerebral, sistema límbico e neocórtex, cada um com:

organização intrínseca diferente; acesso a informação (input) distinta; controla aspectos diferentes do comportamento (output).

Indicadores psicofisiológicos - ERPs e respostas periféricas, estudos localizacionistas e efeitos de lesões cerebrais e da estimulação eléctrica cerebral durante intervenções cirúrgicas. O processamento emocional com base nos registos electrofisiológicos (ERPs e electrocortigrama) e nos efeitos das lesões: estádios (fases sucessivas, paralelas mas interdependentes) da reacção emocional num contexto emocional estável:

(1) Complexo de Orientação(2) Integração emocional dos eventos(3) Selecção da resposta(4) Contexto emocional estável

1) Orientação (Sokolov)

Orientação da atenção para determinado estímulo, mobilização de recursos (cerebrais e somáticos) para lidar com este (e. g., reacção de sobressalto). Reposta complexa e integrada que inclui activação simpática; aumento do tónus muscular esquelético; respostas hormonais.

Função: Responder a estímulos Preparar o processamento: Activação, Direcção da atenção, Distribuir a informação Preparar para reagir (acção física): activação autonómica É alcançada uma representação inicial primária, automática, rápida, grosseira mas

inespecífica do estímulo. É pré-consciente no sentido temporal e hierárquico.

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Estruturas: Depende de estruturas do mesencéfalo, onde as respostas são integradas

envolvendo a amígdala e o hipotálamo. Estimulação do tronco cerebral: Activação generalizada. Circuito atencional: Neocortical (parietofrontal): Orientar a atenção e distribuir a

informação Estimulação eléctrica da porção límbica (activação específica): evoca activação

simpática.

Lesões: Tronco cerebral: morte Límbicas: perturbações da atenção/emoção Neocorticais: negligência

ERPs:

Circuito parieto-cíngulo-prefrontal dorsolateral que gera o N2/P3a/SW - tendencialmente provocada por estímulos raros e por estímulos auditivos ou visuais distractores. P300 - efeitos da probabilidade do estímulo e da manipulação da atenção (estímulos raros). Correlação do

P3 com a resposta electrodérmica de orientação.

2. Integração emocional dos eventos

Função: Integração dos sistemas cognitivo (consciente) e visceral (reflexivo);Codificação de eventos com o contexto emocional e cognitivo presente:

Cognitivo (associações semânticas, identificação – da memória a longo prazo). Emocional (associações emocionais, contexto psicossocial).

Estruturas: Neocorticais (Frontal, prefrontal orbitária, temporal associativa, parietal). Límbicas: Amígdala (percepção de expressões faciais de medo), Hipocampo, lateral

orbital.

Lesões: Neocorticais: afasias e agnosias Límbica: amígdala – redução da emocionalidade / Hipocampo - amnésia / Lateral

orbitofrontal: perturbação da avaliação do contexto.

Estimulação: a estimulação destas regiões não só desencadeia os sentimentos subjectivos, mas, também, sensações viscerais e imagens simbólicas:→ A estimulação eléctrica da amígdala, formação do hipocampo ou lobo temporal superior evoca memórias com um carácter alucinatório→ lobo temporal médio: sensações epigástricas alucinatórias e a sua lesão elimina os sentimentos de fome e de saciedade.→ amígdala: fenómenos respiratórios e cardiovasculares.

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• Amígdala: medo, ansiedade;• Cíngulo anterior : emoções positivas e negativas;• Área septal: associada ao prazer.

ERPs:N4/P3 pós-estímulo se for requerido processamento do significado (ex: faces com expressões emocionais numa tarefa de avaliação)

N400 - processos de integração do estímulo com o contexto P3b – resposta de avaliação

P3b tende a ser modulado pelas mesmas condições que o N400; é possível que represente outra fase da integração contextual.

3. Selecção da respostaFunção:

• Integração do evento processado com os esquemas de acção.• Selecção e organização do movimento voluntário, influenciado pela motivação.

Estruturas: Neocorticais: área prémotora (planeamento superior de sequências de

movimento), Précentral (comando do movimento); Límbicas: C. Do Cíngulo: integração da emoção com o movimento; Suplementar motora: início do movimento; Núcleos cinzentos da Base.

Estimulação: sequência de movimentos.

Lesões:• Premotor: descoordenação; apraxias - incapacidade para programar, planear o sistema

motor• Precentral: paralisias

ERPs: Potenciais de preparação (readiness), entre os 3000 e os 300ms anteriores ao movimento.

4. Contexto emocional estável

Influenciado pelo contexto interno – um fundo neurofisiológico estável (como o humor). Este contexto só se torna manifesto no comportamento directamente observável (pela sua influência na orientação e na integração emocional dos eventos).

Funcão: Manter informação na memória activa: contextual e do estímulo Modelação do comportamento observável: influência na orientação e na integração

emocional dos eventos.

Estruturas: Tronco cerebral

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Neocorticais: préfrontal dorsolateral – contexto cognitivo; ventrolateral – contexto emocional; Premotoras - Conjunto de respostas.

Um contexto socioemocional deficiente pode explicar o facto das lesões orbitofrontais produzirem impulsividade, irresponsabilidade e comportamentos socialmente inadequados:

• ausência do input socioemocional no sistema N2/P3a/SW: orientação da atenção para itens irrelevantes/inapropriados;

• ausência do input socioemocional no sistema N4/P3b: dimensão emocional pode ser desconsiderada;

• ausência do input socioemocional durante o potencial de preparação da acção: respostas escolhidas podem ser impulsivas e pouco ou nada relacionadas com a situação (socialmente).

Lesões:• Prefrontal ventrolateral – inadequação do comportamento ao contexto; • Pré motora: comportamento impulsivo.

Estimulação: Confusão; pensamentos forçados. ERPs: Componentes da variação contingente negativa.

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7. Aplicações da Psicofisiologia – Distúrbios da ansiedade e do humor

Introdução ao estudo da Psicofisiologia dos Distúrbios da Ansiedade e do humor.

SNA (Sistema Nervoso Autonónomo/Vegetativo/Visceral) - componente do Sistema Nervoso Periférico (a par com o Sistema Nervoso Somático) - Desempenha funções altamente coordenadas mas que são executadas de uma forma autónoma e sem controlo voluntário. Regula o ambiente interno do corpo através de actividades reflexas. Controla as funções viscerais: Pressão arterial, secreção gastrointestinal / hormonal, Produção de urina, Sudorese, contracções musculares involuntárias, Temperatura do corpo, etc.

Hipotálamo – controla o SNA, com múltiplas conexões ao SN: Peso corporal (apetite), quantidade de líquidos no organismo, várias glândulas endócrinas (tiróide, ovários, testículos), comportamento sexual, expressão emocional, etc. Sistema de controlo de modo a manter a homeostase do organismo. O hipotálamo anterior correlaciona-se com o sistema nervoso parassimpático; O hipotálamo posterior correlaciona-se como sistema nervoso simpático.

Simpático e Parassimpático: acções antagónicas e complementares:

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Simpático: (nervos agrupados, actuam em conjunto) prepara o corpo para uma emergência; estimula acções que mobilizam energia, o que permite ao organismo responder a situações de stress: Aceleração dos batimentos cardíacos (taquicardia), Aumento da pressão arterial, Aumento da concentração de açúcar no sangue, Sudorese fria, Salivação espessa (boca seca), Inibição da digestão, Dilatação das pupilas e activação do metabolismo geral do corpo. Neurónios pré-ganglionares utilizam a acetilcolina; neurónios pós-ganglionares utilizam a norepinefrina.

Parassimpático: (acção mais individual e localizada; está mais perto do órgão alvo) promove uma resposta do tipo descansar, relaxar e digerir, quando o organismo não se encontra numa situação de ameaça; reorganiza as actividades desencadeadas pelo Simpático, visando a restauração do equilíbrio: Dilatação dos vasos sanguíneos, Constrição das pupilas, Estimula a secreção das glândulas salivares, Aumenta a actividade glandular, Envolvido na erecção dos genitais. Neurónios pré-ganglionares e pós-ganglionares segregam acetilcolina.

Humor ≠ Emoção

Conceito e classificações de distúrbios da ansiedade.

As perturbações de ansiedade envolvem a disrupção de múltiplos sistemas de neurotransmissores (estudos bioquímicos) e a implicação de múltiplas estruturas cerebrais (estudos de imagiologia cerebral) e modelos que integram dados bioquímicos, neurofisiológicos e neuroanatómicos.

Ansiedade normal: Reacção do organismo (excessiva excitação do SNC) face ao perigo ou ameaça ou situações difíceis; funcional na interacção como meio ambiente.

Transtornos da ansiedade: respostas inadequadas – ex: pânico, agorafobia, fobias, transtorno obsessivo–compulsivo.

• Fobia: antecipatória, taquicardia, boca seca• Pânico: Sintomas vegetativos intensos; medo avassalador (terror)• Ansiedade: Crónica, nervosismo e Inquietação, Tensão, Défice cognitivo

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Tratamentos: • Psicoterapia - o terapeuta expõe o paciente ao estímulo reforçando a ideia de que

este não é perigoso • Medicações ansiolíticas – alteram as transmissões sinápticas no encéfalo

Fases do desenvolvimento da resposta ansiosa1. Estímulo ameaçador2. Estado de alerta: activação neurofisiológica (s. reticular e límbico)3. Humor ansioso ou activação periférica (activação vegetativa, aumento ACTH,

cortisol, sintomas físicos: vegetativos ou somáticos).

A reacção de alerta, nomeadamente o complexo de orientação, é a primeira fase da resposta ansiosa - Reacção de alerta: Dilatação da pupila; Suspensão temporária da respiração; Diminuição ligeira e temporária do ritmo cardíaco; diminuição da pressão sanguínea nos membros e aumento na cabeça; Aumento do tónus muscular; Alteração no EEG – padrão de alerta rápido e de baixa voltagem.

Alterações psicofisiologicas estruturais e funcionais neuroquímicas (sistemas noradrenérgicos, serotoninérgicos e gabaergicos) dos distúrbios da ansiedade e do humor

Neurotransmissores que controlam o humor e emoção: serotonina, noreadrenalina e dopamina.

O stress pode afectar o equilíbrio dos neurotransmissores e levar à depressão.

Dopamina: responsável pela actividade física (o ânimo), a inteligência e memória; envolvido na regulação dos movimentos e da postura; modula o humor e desempenha um

papel no reforço, motivação e emoções / baixa: desânimo, a falta de desejo, dificuldade para estudar, ler, concentrar, memorizar.

Serotonina: responsável pela alegria, pensamento positivo e estado de tranquilidade; função na regulação do estado comportamental, contribuindo a regulação da temperatura corporal, o humor, a fome, o sono e a dor / baixa: tristeza, o pensamento negativo e a ansiedade ou inquietude.

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• Aumento da actividade de 5-HT érgicos: ansiedade generalizada.• Défice 5-HT érgicos: Provoca ansiedade e pânico.

Noradrenalina: responsável pelo aviso de luta ou fuga; activado em estado de alerta e ansiedade. Sintetiza a adrenalina cujos efeitos nos tecidos alvos são semelhantes aos causados pela activação simpática – aumentada em doentes de pânico.

Serotonina 5-HT - duplo papel na regulação da ansiedade: Amígdala: Papel Ansiogénico; MCPD: Papel Ansiolítico (pânico, fuga/luta).

O GABA é o principal neurotransmissor inibitório do SNC. Quase todos os ansiolíticos facilitam a acção do sistema GABA porque provoca directamente alterações no Sistema Límbico.GABA: neurotransmissor inibidor que, quando aumentado, provoca tranquilização da excitabilidade, sonolência. Contribui para o controle motor, visão, etc. e está relacionado com a ansiedade e epilepsia.

Doenças do humor = Transtornos afectivos (e. g., depressão): Mais prolongado e muito grave, caracterizado por sentimentos de que não se tem controlo sobre o próprio estado emocional ≠ Sentimento de depressão leve e ocasional

Áreas cerebrais envolvidas na regulação da planificação da acção, emoções e motivação

Córtex anterior pré-cingulado (ACC)

Córtex pré-frontal - área do córtex mais importante na emoção, envolvendo o julgamento, planeamento, antecipação da acção, etc.

Modula a dor, a agressividade e os comportamentos sexuais e alimentares

A sua actividade aumenta com a depressão, a perturbação obsessiva-compulsiva (POC), a perturbação de stress pós-traumático e a perturbação de pânico.

Corrige e inibe as respostas desajustadas, recorrentes e emocionais

Controlo cognitivo, resolução de tarefas complexas e manipulação da informação na memória de trabalho

Sistema Límbico - Áreas sub-corticais: Amígdala – regula a excitação cortical e a resposta neuroendócrina a estímulos

inesperados e ambíguos. Está envolvida na aprendizagem emocional (medo, raiva) e na memória de sensações desagradáveis. É responsável pelas nossas sensações de ansiedade e medo e é onde os sinais de perigo ganham conotação afectiva e representação de ameaça para o indivíduo; controla as reacções emocionais e condutas agressivas.

A activação excessiva da amígdala está correlacionada com o grau de depressão

Pode estar implicada na tendência para ruminar as memórias negativas Envolvida na aprendizagem emocional e na memória (envolvida nos processos de

atribuição de conteúdo emocional aos acontecimentos).

Hipocampo - envolvido na aprendizagem emocional e na memória; regula o carácter agradável vs. desagradável dos estímulos.

A disfunção do hipocampo pode ser responsável pela ocorrência de respostas emocionais desadequadas podendo iniciar um processo de atrofia na depressão.

PsicofisiologiaResumo da Matéria

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Indicadores da atrofia do hipocampo são aparentes na diminuição da sua área nos scans de doentes depressivos. A disfunção do hipocampo pode contribuir para a insuficiência cognitiva e para a desregulação emocional e neuroendócrina observada na depressão major.Verificou-se que cerca de metade das pessoas com depressão grave tem níveis elevados da hormona do stress, cortisol, que se pensa ser tóxico para os neurónios. Correlação entre o volume do hipocampo e a duração da depressão não tratada.: Relação inversa significativa entre o volume total do hipocampo e o período de tempo em que a depressão não foi tratada.

Depressão: aumento do fluxo sanguíneo na amígdala e área pré-frontal ventrolateral, níveis elevados da hormona do stress, cortisol, tóxico para os neurónios, e diminuição do factor neurotrófico BDNF.

→ Estudos de Imagiologia Cerebral: Estruturas Corticais- Aumento da actividade de repouso no córtex pré-frontal durante o ataque de pânico e em doentes com perturbações de pânico - Aumento da activação no córtex occipital em doentes com perturbação de pânico e fobia social→ Estudos de Imagiologia Cerebral: Estruturas Sub-Corticais- Activação anormal na área do hipocampo em doentes com perturbações de Pânico.- Activação talâmica anormal durante o ataque de pânico e exposição fóbica.- Aumento da actividade dos gânglios da base associada com estados de ansiedade

Sintomas comportamentais na ansiedade• Evitação fóbica - output do sistema de inibição comportamental (septo-hipocâmpico)• Reacções de Fuga/Luta - activação das projecções corticais (pré-frontais)

Sintomas cognitivos na ansiedade• Preocupação • Procura dos estímulos –aferentes hipocâmpicos para:

•Córtex•Sistemas sensoriais neo-corticais•Núcleo accumbens -sistemas exploratórios•Região locomotora mesoencefálica e colículo superiorSintomas autonómicos ou vegetativos•Inespecíficos•Dependentes do aumento do estado de alerta•Resultantes da estimulação das estruturas límbicas sub-corticais•núcleos do septo•hipocampo•amigdala

Ansiedade e medo – amígdala• Lesões na amígdala - redução da emocionalidade• Remoção da amígdala - reduz expressão e reconhecimento do medo • Estimulação da amígdala - estado de vigília ou atenção atenuada

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8. Comportamento desviante: Psicopatia

Esquizofrénicos, psicóticos ou maníacos cometem TANTOS crimes como as pessoas mentalmente sãs. Excepções, sensacionalismo referente aos crimes efectuados por psicopatas levam à crença: todos os doentes mentais são perigosos.

Heterogeneidade do conceito de psicopatia. Dificuldades de classificação e de diagnóstico. Escala de avaliação e estudos factoriais

PSICOPATIA: Estado mental patológico com desvios caracteriológicos, que carregam comportamentos anti-sociais - não assimilação afectiva das normas morais de convivência social, resultando na incapacidade de o indivíduo sentir-se culpado por sua conduta anti-social. Falta lhe a apreensão do significado afectivo e emocional das transgressões que comete. Atrai-lhe a realização de fantasias perversas. Mantém-lhe em acção a impunidade e a sensação de poder que lhe confere a convicção de estar acima dos outros homens, da lei e da moral.

É uma combinação de distúrbios de personalidade dentro de uma escala. Sintomas da psicopatia muito similares/associados e comorbilidade com outros distúrbios da personalidade: Anti-social, Narcísica, Histriónica, Paranóide, Esquizotípica; mas correlação negativa com distúrbios da personalidade de evitamento (Warren et al., 2003).

Muitas variantes do distúrbio da personalidade psicopática - heterogeneidade. Perspectivas actuais admitem múltiplas influências - abordagem bio-psico-social (influências genéticas, psicofisiológicas e de desenvolvimento). Várias caracterizações:

• Insanidade moral;• Delinquente nato;

Schneider (1923) - dois tipos:• Psicopata arrogante, capaz de provocar sofrimento aos outros;• Psicopata “apelativo” em que a perturbação psíquica causa sofrimento interno.

Cleckley(1941) Propôs o 1º termo de Personalidade Psicopática e define 16 características: pobreza de afectos; ausência de comportamentos vinculativos; ausência de nervosismo; falta de remorsos e vergonha; egocentrismo; incapacidade de amar; superficialidade; sem relações próximas; desonestidade; egoísmo; desleal; explora as pessoas para o seu próprio benefício; falta de juízo e consciência moral/ética.Hipótese de Cleckley: essas características psicopatas desenvolveram-se de um profundo défice semântico que envolve uma falha para processar o emocional sentido da linguagem . Os psicopatas sabem as “palavras” das emoções mas não a “música”.

Duping delight - conseguem reagir de maneira normal em vista a um suposto castigo; conseguem fingir-se normais, revelando respostas de medo num teste de detecção da mentira que envolve castigo. Mas essa reacção não provém do estímulo aversivo (castigo) mas sim do desafio. Esse fingimento proporciona-lhe diversão, como se estivessem num jogo. Estímulos ordinariamente stressantes e agressivos tornam-se situações deleitosas - estimulantemente agradáveis. Predominância de activação nervosa em casos agradáveis, batimento cardíaco normal/acelerado e défice de resposta afectiva perante o castigo.-> Manifestação do carácter manipulativo, superficial e cruel perante si próprio.

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Distinção primária vs secundária

Primária

Etiologia: influência genética predomina Fraca consciência e défice afectivo Menor impulsividade Défices no processamento de estímulos desencadeadores emocionais Menor ansiedade Narcisismo “overt” nítido: Arrogância, auto-confiança, pose de superioridade/grandeza

Correlaciona-se com impaciência e intolerância face a frustrações externas

Secundária

Etiologia: Influência de factores ambientais (pressão/exclusão social, traumas, pais ausentes durante a infância, má aprendizagem)

Factores ambientais levam à manutenção do comportamento anti-social Consciência perturbada (experiencia ocasionalmente empatia, amor e culpa,

emoções sociais) Maior impulsividade e irresponsabilidade (característica predominante), redução

gradual da capacidade de estabelecer laços afectivos Maior activação autonómica em resposta a desencadeadores emocionais Maior ansiedade (reagem mais facilmente com alteração da frequência cardíaca) Narcisismo “covert” encoberto: Sentimentos inconscientes de grandeza com expressão manifesta de falta de

autoconfiança e de iniciativa Sentimento de tédio e dificuldade em se manter estimulado.

Teoria de Gray

Influência de dois sistemas motivacionais no comportamento:o Sistema de Inibição comportamental (BIS) (Behavioural inhibition system) regula a

responsividade estímulos aversivos e associa-se à ansiedade. Na psicopatia primária – défice do sistema BIS – consequência: inibição da ansiedade e do medo perante estímulos aversivos, que leva a inibição da actividade que leva à punição ou suspensão da recompensa.

o Sistema de activação comportamental (BAS) (Behavioural activation system) regula a motivação apetitiva e associa-se a impulsividade. Nos psicopatas secundários haveria uma activação excessiva do BAS e de impulsividade.

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Psychopathy Checklist revised (Hare, 1991) características interpessoais, afectivas e comportamentais. Estrutura factorial (2 factores correlacionados). Operacionalização das características dadas por Cleckley (1941):

Factor 1 Interpessoal/afectivo

Traços de personalidade consistentes com a descrição de Cleckley (1941) - psicopata

• Superficialidade• Manipulação (encanto, sedução) com mentira compulsiva/patológica (ferramenta

de trabalho)• Insensibilidade e crueldade• Ausência de afecto e laços, culpa ou remorso• Egoísmo, frieza emocional• Pouca ansiedade• Dominância interpessoal, egoísmo, narcisismo, grande auto-estima• Falta de remorso ou culpa, de afecto e empatia, de compreensão da

responsabilidade;

Factor 2 Desvio social e criminalidade (critérios de diagnóstico de APD – anti-social personality disorder)

• Instabilidade crónica e estilo de vida anti-social • Propensão para o tédio;• Estilo de vida parasita;• Falta de controlo comportamental;• Falta de objectivos, metas;• Impulsividade; • Irresponsabilidade;• Delinquência juvenil/frequentes desvios criminais e toxicodependência.

(Cooke e Michie 2001) – rejeita os dois factores para três:

Factor 1 Estilo interpessoal arrogante e simulador-doloso:

Grandiosidade pessoal + mentira patológica e manipulação.

Factor 2 Experiência afectiva deficiente:

Afecto superficial e ausência de empatia/crueldade + ausência de remorso e não-aceitação de responsabilidade.

Factor 3 Impulsividade e estilo comportamental irresponsável:

Procura de estimulação/facilidade em se entediar, impulsividade e irresponsabilidade + estilo de vida parasita e ausência de objectivos a longo prazo.

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Aplicações dos estudos com ERPs ao processamento da informação nos distúrbios de personalidade anti-social, exemplo do P300.

Interpretação das componentes endógenas do ERP como indicadoras do processamento da informação, exemplos dos paradigmas experimentais:

o N200/P3a/P3b e os processos de orientação/atenção, probabilidade dos estímulos, activação, “actualização do contexto”.

o P3b e a categorização.o N400 e integração do significado do contexto.

Como os psicopatas processam a informação? Há alterações/défices na amplitude e latência do P300 na presença do estímulo alvo, ausência de modelação.

Correlatos psicofisiológicos do processamento da informação em psicopatas – exemplo do paradigma oddball visual do P300.

Não psicopatas: amplitude do P300 mais ampla para estímulos alvo do que para estímulos não alvo ≠ Efeito não observado nos psicopatas - não conseguem modular a resposta em função das instruções.

Estudos da emoção na psicopatia: o paradigma da potenciação da resposta de sobressalto.

Apresentação de imagens agradáveis, desagradáveis e neutras. Registo: Piscar de olho, Condução electrodérmica (EDA), Frequência cardíaca (HR).

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Em sujeitos normais as respostas de sobressalto/surpresa/choque/alarme são potencializadas durante estados defensivos em estímulos agressivos e inibida em estados alegres, suscitados por estímulos agradáveis. É uma estratégia emocional, reflexo de protecção e de cuidado perante estímulos que produzem dor e castigo. Esta situação não se manifesta em psicopatas: défice na capacidade para a mobilização de respostas defensivas - a essência do medo, menor choque e estimulação emocional. Mesmo efeito nos indivíduos sob o efeito de diazepam (ansiolítico que corta o medo/ansiedade).

Amígdala - estrutura sub-cortical com importante papel em comportamentos emocionais (medo, agressão); elemento chave para uma maior activação defensiva motivacional.

Condução electrodérmica não é uma medida fiável. As glândulas sudoríferas (condutância palmar) controladas pelo SNAsimpático seria um bom indicador da actividade fisiológica, no

entanto, nos psicopatas não se manifestam essas alterações. Condutância palmar resultante

da exposição a estímulos aversivos é menor nos psicopatas primário.

Testes forenses:

Guilty Knowledge Test - Medidas psicofisiológicas para saber se o indivíduo está a dizer a verdade com registo de respostas electrodérmicas, cardiovasculares e pulmonares.

O reforço nas opções críticas indica a culpabilidade do sujeito. Existem diferenças de frequência entre o item alvo e o item irrelevante. Para os inocentes os estímulos são todos de igual irrelevância, indistinguíveis, a princípio. Problema: existência de alguns falsos positivos (10-15%). Reagem a um estímulo relevante para o crime como sendo relevante em outro aspecto pessoal da vida do sujeito. O teste também é importante para descobrir o nível de

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responsabilidade do sujeito perante o crime efectuado. O psicopata de tipo 1 não reage, procura-se então a expressão nas respostas cognitivas (memória):

“Poligrafia interrogativa” – teste da mentira (Donchin e Rosenfeld) com ERPs (potenciais relacionados com eventos - são posicionados no escalpo para detectar manifestações da actividade dos subsistemas que executam informações específicas processando tarefas) para detectar informação escondida:

Para os sujeitos culpados, as frases relevantes produzem um P300, revelando que possuem um conhecimento (respostas cognitivas - memória), diferenciando o relevante do irrelevante para o crime, descobrindo-se o culpado. O P300 é inversamente proporcional à maior probabilidade de suscitar um facto e directamente proporcional à relevância do evento para o sujeito.

Dois grupos aleatórios (culpados e inocentes), os dois sabem da tarefa, só o grupo de culpados sabe do crime. Apresentação de 3 estímulos:

• Estímulo alvo/relevante (para a tarefa) – P300;• Estímulo irrelevante – não P300;• Estímulo prova (para o crime) –P300 nos culpados, não nos inocentes.

Sujeito inocente: correlação da prova com o irrelevante maior que a prova com o estímulo alvo.

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9. Distúrbios esquizofrénicos

Introdução a alguns aspectos da psicofisiologia dos distúrbio esquizofrénicos. Conceito de distúrbios esquizofrénico – heterogeneidade.

Conceito: Síndrome clínica com manifestações muito diversas mas com uma perturbação psicopatológica muito grave. Torna-se aparente durante a adolescência ou no início da vida adulta mas persiste por toda vida. Diversidade da expressão dos sintomas entre doentes e ao longo do tempo (evolução contínua, episódica, estável, etc), difs. idades de início, curso com remissão em alguns pacientes.

Ausência de um conhecimento acerca da etiologia e patogénese da esquizofrenia (certamente multifactorial).

Perturbações do pensamento, percepção, humor e movimento:

Perturbação/transtorno do pensamento e da percepção, não há limites no real Afecto discordante inapropriado/défice de vinculação afectiva (padrões de

comunicação dif.) Desintegração cognitiva/intelectual (não controlados pela vontade) Fragmentação/perturbação/difusão do pensamento Percepção delirante, ideias delirantes de controlo, de influência ou de passividade

(vozes alucinatórias, que comentam ou discutem com o paciente na terceira pessoa – Big Brother ou força demoníaca), delírios e paranóias (pensar que alguém transporta uma bomba) – mesmo efeito das anfetaminas, medicamentos p/ Parkinson e outras drogas.

Associações bizarras Recusa das normas e convenções sociais Comportamento e pensamento autista Ambivalência (comportamentos antagónicos) Deterioração progressiva das capacidades, personalidade - sem tratamento já não

conseguem produzir nada de coerente - queda na hierarquia social.

Cerca de 33% dos esquizofrénicos evoluem com deterioração. Atinge 1% da população e aparece em todas as culturas. Cerca de 30 % dos excluídos socialmente nos EUA sofrem de esquizofrenia.

Consanguinidade parental (45% de concordância em gémeos homozigóticos – 55% devido ao ambiente). Herdamos uma vulnerabilidade/predisposição. Notam-se diferenças no cérebro do afectado comparando gémeos (redução do córtex pré-frontal, aumento dos ventrículos laterais).

Início da doença – sinais prodrómicos (período de tempo entre os primeiros sintomas da doença e o início dos sinais ou sintomas com base nos quais o diagnóstico pode ser estabelecido):

Descuido dos cuidados pessoais e de higiene.

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Desorganiza a vida na escola ou no trabalho, nas relações sociais e familiares; mudança nos hábitos de vida (ex: começam a funcionar só a noite)

Normalmente as alucinações auditivas são as primeiras a aparecer e as mais frequentes (que comentam e discutem o comportamento do paciente)

Perplexidade - Sentimento de estranheza sobre a experiência, alguma confusão sobre de onde vêem os sintomas (normalmente alucinações).

Isolamento - Sensação intensa de ser diferente. Ansiedade e Terror - com períodos de terror intenso, causado por um mundo dentro

do qual tudo parece perigoso, ameaçador e incontrolável, normalmente atribuído a origens externas; sensação geral de mal-estar.

Sintomas positivos e negativos:

Positivos: presença de pensamentos ou comportamentos anormais

Alucinações, delírios Perturbações da forma e do curso do pensamento (e. g., incoerência, prolixidade,

desagregação) Alterações do comportamento - desorganizado, bizarro, agitação psicomotora e

mesmo negligência dos cuidados pessoais Alterações dos afectos com rigidez, discordância e ambivalência afectiva

Negativos: défice de pensamentos ou comportamentos

Pobreza do conteúdo do pensamento e da fala Prejuízo do pragmatismo Incapacidade de sentir emoções e prazer Isolamento social Diminuição de iniciativa e vontade; apatia

Tipos de esquizofrenias:

Esquizofrenia paranóide

Ideias delirantes Perseguição Alucinações As perturbações do afecto, da vontade, da linguagem e os sintomas catatónicos,

estão ausentes, ou são relativamente discretos.

Esquizofrenia hebefrénica

presença proeminente de uma perturbação dos afectos comportamento é irresponsável e imprevisível ideias delirantes e as alucinações são fugazes pensamento é desorganizado e o discurso incoerente tendência ao isolamento social

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Esquizofrenia catatónica (vive nos seus pensamentos, como se criasse um mundo só pra ela)

distúrbios psicomotores extremos (hipercinesia ou obediência automática); episódios de excitação violenta

Esquizofrenia indiferenciada/atípica - sem uma clara predominância de um conjunto particular de características diagnósticas.

Depressão pós-esquizofrénica (no fim de um surto esquizofrénico)• Risco de suicídio.

Esquizofrenia residual (evolução de um estádio precoce para um estádio tardio) Presença persistente de sintomas "negativos".

Os doentes trabalham de forma desinstitucionalizada, vivem com apoio. A família costuma reagir muito mal, criticando-o.

Os estudos clássicos dos factores estruturais do SN, factores bioquímicos e ainda os estudos com ERPs, P300, N400.

HIPÓTESE: perturbação da integração do contexto no esquizofrénico (uso de ERPs). A perturbação do pensamento na esquizofrenia (associações bizarras) estaria associada a um aumento da facilitação da difusão da excitação nas redes semânticas. Pode ser testada através de provas de facilitação, priming semântico ou tarefa de decisão lexical.

Estudo: grupos: crónicos com perturbação do pensamento, sem distúrbio do pensamento e participantes saudáveis - todos os grupos apresentaram um priming semântico significativo. A facilitação foi semelhante no grupo de participantes saudáveis e no de pacientes sem distúrbio do pensamento (37 mseg - 36 mseg). No grupo de pacientes com perturbação do pensamento foi 83 mseg.

N 400 - reforçado pela escrita de frases que terminam com palavras semanticamente incongruentes em relação a frases com terminações congruentes

Pico de latência significativamente atrasado nos esquizofrénicos Redução na amplitude do N400 mas maior modulação em estímulos congruentes que

incongruentes. Não modulam e processam as suas respostas com o mesmo contexto semântico. Perturbação semântica: disfunção na rede lexical; relacionam conceitos que não têm nada a ver.

Aumento significativo da latência do início do N400 nos pacientes (306 ms), seguida pelo grupo dos familiares (256 ms) e o grupo dos participantes saudáveis (233 ms).

Alterações na forma de onda N400 como possíveis marcadores do endofenótipo para a esquizofrenia: não foram encontradas diferenças estatísticas no N400 entre pacientes e familiares.

Os processos da linguagem são menos regulados pelo contexto semântico do que os dos participantes saudáveis.

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Hipótese sobre o défice de monitorização na esquizofrenia - ausência de redução da amplitude do N100 auditivo evocado pela pela própria (hipótese de redução da descarga corolária na Sc) Hipótese da origem da perturbação do pensamento esquizofrénico - Teoria do modelo interno do controlo do movimento :

A descarga corolária é uma cópia eferente de uma acção planejada, enviada através de um mecanismo de feed-forward, com o objectivo de suprimir a percepção quando resulta de uma acção auto-gerada. Sempre que é produzido um programa motor, em paralelo, é também produzida uma cópia eferente (vonHolst e Mittestaedt, 1950). A predição das consequências da acção futura baseia-se na cópia dos comandos eferentes.A cópia eferente é usada para distinguir as acções próprias das acções que têm origem externa, em que a cópia eferente simula as consequências das acções futuras do programa motor activado e é usada para atenuar os sinais reaferentes.

Falha da cópia eferente sempre que é produzido um programa motor para gerar as predições das consequências sensoriais. Se a cópia eferente coincide com a referência auditiva, a experiência sensorial e excitação motora é reduzida no seu impacto; menor amplitude (ex: quando eu próprio falo) e sensações físicas menores. Permite o reconhecimento da produção interna. No esquizofrénico, existe uma possível ligação entre a possível disfunção da descarga corolária e o aparecimento de alucinações auditivas, devido ao facto de haver uma “quebra” no circuito frontotemporal, estando associado à psicofisiologia das alucinações auditivas.Todos os estímulos são tratados como equivalentes; ausência de distinção: as sensações do próprio esquizofrénico são percebidas como sendo exteriores, levando a alucinações auditivas e delírios.Défice de monitorização e ausência de redução da amplitude do N100 auditivo evocado pela pela própria voz.

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10. Aplicações da psicofisiologia dos Distúrbios do Humor

Introdução a alguns aspectos da psicofisiologia dos distúrbios do humor. Distúrbio do humor designa um síndrome/estado contínuo (período de semanas a meses) que constituem um modo de funcionamento qualitativamente. A compreensão requer a escuta empática de outrem; apoio psicológico no percurso interior do sujeito.

Depressão

Características:

Não respondem a estímulos securizantes Duração prolongada, sem oscilações, reactividade; duram semanas, meses e por

vezes anos. Efeito geral sobre toda a conduta do indivíduo, humor, actividade psicomotora,

cognitiva e vegetativa (percepção, memória, julgamento, tomada de decisão, etc.). São fiáveis e devotados trabalhadores, capazes de servir e dar suporte Desistência depressiva.

¾ são crónicas ou recorrentes (recaídas), predominam nas mulheres, principalmente na geração dos anos 60.

Rugas triangulares no canto nasal superior da pálpebra relacionadas com as modificações do tónus muscular do músculo são demonstradas nos estudos electromiográficos em depressões.

Os estudos europeus subdividem os distúrbios do humor com base na polaridade:

• Unipolar (apenas episódios depressivos)

• Bipolar (episódios depressivos e ou maníacos, ou hipomaníacos ou mistos)

Conceitos básicos, Classificação Segundo o DSM – IV (Diagnostic and Statistical Manual of Mental Disorders - Fourth Edition)

Depressão major: Humor depressivo, Perda ou aumento de peso, Diminuição do interesse, Insónia ou Hiperosónia, fadiga ou inibição psicomotora, perda de energia, sentimento de desvalorização ou culpa excessiva, inutilidade, diminuição da capacidade de pensamento ou concentração e indecisão, pensamentos recorrentes acerca da morte ou planos de suicídio, desistência (diferente de preguiça). Diagnóstico: sintomas presentes todos os dias por um período de pelo menos duas semanas, desde que sem qualquer relação com a situação de luto ou abuso de substâncias.

Maníaco/Hipomaníaco: humor anormal ou persistentemente elevado, expansivo ou irritável; auto-estima aumentada ou grandiosidade, diminuição da necessidade de dormir, fuga de

PsicofisiologiaResumo da Matéria

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ideias, mais falador, distractibilidade; agitação psicomotora; envolvimento excessivo em actividades agradáveis que podem ter consequências desagradáveis.

A diferença entre os Maníacos e Hipomaníacos: a hipomania (estado difuso de bem estar e sensação de energia mais elevada que a média) não é suficiente para provocar uma deficiência marcada no funcionamento social ou ocupacional, ou necessitar de hospitalização e não existem características psicóticas.

Distimia - estado depressivo leve e prolongado. Presença de dois ou mais dos seguintes sintomas: apetite diminuído ou aumentado, insónia ou hipersónia, fadiga ou pouca energia, baixa auto-estima, dificuldades de concentração, falta de esperança.

Perturbação bipolar

Ciclomania (numerosos períodos de hipomania de menos de 4 dias de duração alternados com períodos de leve depressão)

Explosivo-irritável

Num mês a medicação pode provocar melhoras - necessidade de psicólogo a seguir o processo (efeitos secundários).

É notável a transformação pós-depressão (postura, memória, expressão facial).

Alterações estruturais funcionais, neuroendócrinas e ainda das funções circadiárias.

DepressãoAlterações estruturais no SN: Perda de tecido cortical – maior actividade da amígdala esquerda e área pré-frontal límbica; libertação excessiva de ACTH pela Hipófise, provocando excessiva produção de cortisol. Desregulação circadiária: Todas as funções estão alteradadas (regulação da temperatura, secreção de cortisol; pode haver alterações dos ritmos do sono: REM mais intenso na 1ª metade da noite (oposto ao normal); Redução da latência do REM; Sazonabilidade com agravamento dos sintomas no Outono/Inverno (queixas de fadiga, alimentação e sono excessivos).

Exemplo de um estudo com o N400 (contexto) na depressão: Amplitude menor mas latência mais prolongada. Não reagem aos aspectos positivos.

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11. Correlatos psicofisiológicos da consciência

O behaviorismo baniu a consciência da psicologia; mais tarde admitiram-se representações internas - Difícil de objectivar cientificamente.

Os estudos da actividade metabólica cerebral sugerem uma distribuição da activação por diversas áreas cerebrais ligadas a diferentes exigências das tarefas. Todavia não parece existir uma área de convergência comum. A base neuronal da consciência emerge e um sistema cortical com o processamento organizado em paralelo que inclui a participação de estruturas subcorticais.

Teia complexa de relações ligadas a um conjunto de atributos do objecto, suas relações com outros objectos e que inclui também a experiência passada do sujeito e o seu estado interno actual.

A experiência consciente constitui a parte substancial da experiência da identidade e sobre a suposição da existência.

Definição operacional de consciência – critérios:

EEG de vigília Capacidade para responder a questões Relatar eventos – discurso coerente Demonstrar activação e orientação/atenção em resposta a eventos súbitos e novos no

ambiente Exercer controlo voluntário normal sobre o discurso e sobre a acção Usar a memória Manter orientação no tempo, lugar e em relação ao eu.

É a aptidão para apreender todos os fenómenos existenciais, interiores ou exteriores e integrá-los numa unidade vital perfeitamente sabedora das circunstâncias presentes, passadas e futuras.

Níveis de consciência: Estado de vigília, Sono REM, Sono não REM, Perturbações da consciência.

Consciência auto reflexiva: Acesso privilegiado aos seus próprios estados mentais Consciência meta-cognitiva de si mesmo Experiência consciente pessoal e intransmissível Perspectiva do eu

Características: Transparência Presença - foco da atenção

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Posse do próprio – primeira pessoa - (auto atribuição das experiências) - As experiências são sempre e apenas experiências de um eu - propriedade intrínseca das experiências primárias, apenas acessível ao conhecimento do próprio.

Modelos psicofisiológicos da consciência:

Modelos localizacionistas

DICE (dissociated interactions and conscious experience) de Schacter - Sistemas neuronais para o conhecimento consciente distintos dos sistemas da percepção, cognição e acção.

HE de Gazzaniga - as diferenças entre o comportamento consciente e não consciente dependem do envolvimento do HE.

A consciência como dependendo de estados dinâmicos do cérebro

Kinsbourne - teoria do campo integrado - interacções (com percepções, evocações, acções presentes, planos de acção) levam a um estado integrado permanentemente actualizado. O atributo que determina se uma informação é admitida no consciente é contextual, depende das relações que estabelece com outros conteúdos que também sejam conscientes.

Crick e Koch - representação consciente relaciona-se com representações de nível elevado (apoiam-se em dados experimentais dos correlatos neuronais da consciência). Limitam a sua teoria à percepção visual. Mecanismo de “binding” de propriedades visuais distintas processadas por sistemas separados num percepto unitário integrado.

Consciência explicada pelas propriedades das representações graduadas – num contínuo de propriedades a qualidade, duração, intensidade.

A consciência dependeria do extremo de elevada qualidade contínua de representações. Experiências de estimulação subliminar que usam estímulos encobridores ou outras manipulações que degradam a qualidade da percepção – têm como consequência dissociação entre percepção e a consciência. Existe uma correlação entre a qualidade da representação perceptiva e a probabilidade de ser consciente.

Proposta de abordagem experimental ao estudo dos correlatos neuronais da consciência – perceptos biestáveis e rivalidade binocular.

Crick e Koch:

Identificar a diferença entre os processos neuronais que se correlacionam com a consciência e os que não têm relação.

Estudos do conhecimento visual consciente - experiências em que o estímulo visual é constante mas o percepto toma duas formas.

Exemplo de paradigmas:

PERCEPTOS BI-ESTÁVEIS (exemplo: cubo de Necker)

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RIVALIDADE BINOCULAR

Identificar a diferença entre a actividade neuronal que segue o estímulo e a que segue o percepto.

Quando duas fontes de luz com cores isoluminantes (um comprimento de onda) são alternadas com frequência superiores a 10 Hz –percepção de apenas uma cor com uma sensação mínima de oscilação (piscar). A actividade de V1 representa uma estimulação retiniana que não é percebida! O conhecimento visual deve ocorrer a um nível mais elevado da hierarquia visual do que V1 - Casos de visão cega.

Conceitos ambíguos: definição operacional da consciência e método de identificação da consciência.

Tem sido proposto que as representações mais elementares (como as características fonológicas) e as representações do nível mais abstracto (a representação 3 - D, a semântica, a sintaxe) não são admitidas enquanto tal numa representação consciente (representações intermédias). Por exemplo, na visão de uma cena não estamos conscientes dos elementos ainda não organizados que o cérebro extrai do input visual. Nem tão pouco a fala é inicialmente um algaraviada de características auditivas. As representações da consciência não são nem as representações de nível mais baixo, nem as do nível de abstracção mais elevado, mas sim representações intermédias.

Para Kinsbourne, não se pode afirmar que as representações de nível mais baixo sejam excluídas da consciência. O que se passa é que não é possível determinar se estas representações são efectivamente pré-conscientes ou se são conscientes mas esquecidas no momento do relato, tal como ocorre quando dois eventos se sucedem em intervalos curtos. Assim que a actividade neuronal estabiliza, as suas instanciações anteriores são esquecidas. Porém, se a sequência de processamento normal for interrompida por uma lesão cerebral localizada podem ocorrer representações que em condições normais não estariam acessíveis a um conhecimento (ex: membro fantasma).

E também não se pode afirmar que as representações de nível mais elevado sejam excluídas da consciência (ex: final do processamento do input - representação 3D): pode ser completamente representado, não de uma forma directa, mas de um modo implícito como um conhecimento acerca de objectos e das relações representadas na cena. Mas o conhecimento a priori acerca dos elementos constituintes contribuiu para a organização da cena num processo interactivo. O input não é representado de um modo separado mas sim está inerente numa rede de relações múltiplas que se constituem entre a representação do input e outras representações que coexistam.Ex: A semântica e a sintaxe são as representações abstractas que possivelmente precedem a linguagem, suplantados pela elocução que se sucede e portanto fica por saber se foram transitoriamente conscientes.

Recuperação na memória episódica - ligação vivencial no conhecimento consciente permite que a informação adquirida possa potencialmente vir a ser relacionada com tudo o que estava associado ao observador.