Resumos das comunicações dos oradores

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Media , cidadania e desenvolvimento” - Resumo das exposições Alfonso Armada A responsabilidade de contar. Países na sombra A minha intervenção, que tentarei fazer no meu português "agalegado", será sobre a obrigação de nós jornalistas não nos submetermos ao ditame dos grandes meios que cada vez misturam de forma cada vez mais propositada a informação e a diversão (os conglomerados do entretenimento, enquanto não chega a hora de morrer), difundem a ideia de que não há nem espaço, nem forma de contar a historia toda, de tal forma que escamoteiam o seu sentido. Da necessidade de continuar a trabalhar contra a sociedade do espectáculo, que tudo transforma em espectacular impedindo a compreensão da causa das coisas, como denuncia Guy Debord, fazendo bom jornalismo, relatando o que acontece, com todas as ramificações que a rede permite, de que é exemplo a “fronterad” . E fazer emergir da sombra da inexistência países inteiros, afastados do curso das notícias porque não são influentes, e de como a relação entre jornalistas e ONG tem uma faceta perversa, de tal forma que muitas vezes os media não mandam enviados especiais se é uma ONG que assume os custos.

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Resumos das comunicações dos oradores do debate "Media, Cidadania e Desenvolvimento", dia 21 de Abril em Os Dias do Desenvolvimento'10

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“Media, cidadania e desenvolvimento” - Resumo das exposições

Alfonso Armada

A responsabilidade de contar. Países na sombra

A minha intervenção, que tentarei fazer no meu português "agalegado", será sobre a

obrigação de nós jornalistas não nos submetermos ao ditame dos grandes meios que

cada vez misturam de forma cada vez mais propositada a informação e a diversão (os

conglomerados do entretenimento, enquanto não chega a hora de morrer), difundem

a ideia de que não há nem espaço, nem forma de contar a historia toda, de tal forma

que escamoteiam o seu sentido. Da necessidade de continuar a trabalhar contra a

sociedade do espectáculo, que tudo transforma em espectacular impedindo a

compreensão da causa das coisas, como denuncia Guy Debord, fazendo

bom jornalismo, relatando o que acontece, com todas as ramificações que a rede

permite, de que é exemplo a “fronterad” . E fazer emergir da sombra da inexistência

países inteiros, afastados do curso das notícias porque não são influentes, e de como

a relação entre jornalistas e ONG tem uma faceta perversa, de tal forma que muitas

vezes os media não mandam enviados especiais se é uma ONG que assume os custos.

“Media, cidadania e desenvolvimento” - Resumo das exposições

Natalie Fenton

Clonar Notícias: ONG, Novos Media e as Notícias num Contexto Crítico

A Prof. Natalie Fenton irá apresentar uma investigação empírica sobre a relação entre

as ONG, as notícias e a democracia na era digital. Esta investigação sugere que, com o

aumento substancial do espaço de publicação de notícias e a extrema velocidade

actual das comunicações, as ONG vêem-se forçadas a “clonar notícias” para responder

aos pedidos de uma indústria de comunicação que nunca foi tão rápida e ávida por

notícias. Se as ONG optam por “clonar notícias”, dando aos jornalistas o que estes

querem, então o que os jornalistas “querem” torna-se crucialmente importante. Se as

ONG fazem simplesmente o trabalho do jornalista – juntando histórias bem

documentadas, legalmente rigorosas, imparciais e objectivas, então que importa

serem elas e não os profissionais das organizações noticiosas a produzirem as

notícias? Faz qualquer diferença? Como podemos garantir que as ONG tenham acesso

aos meios de comunicação dentro dos seus próprios termos?

“Media, cidadania e desenvolvimento” - Resumo das exposições

José Kagabo

Quando os media se libertam sem deontologia num país pobre

Por todo o mundo, quando os media funcionam sem as regras que devem regular a

profissão e as empresas de comunicação social, os jornalistas abusam da opinião

pública e depois são os cidadãos quem mais sofre as consequências nefastas.

Quando isso acontece em países pobres, onde à pobreza se alia a ignorância, o risco

de instrumentalização é bem real, até alimentar conflitos inextricáveis. O exemplo do

Ruanda está aí para demonstrar como, em menos de quatro anos, os media nacionais,

públicos e privados, conduziram grande parte da sociedade a um genocídio, em

1994.

A lição que a sociedade ruandesa pós-genocídio tirou desta experiência trágica é que

não se pode deixar desenvolver empresas de media fora de qualquer controlo – um

controlo exercido pela própria profissão e num quadro definido por lei. De outra

forma, sem fé nem lei, como é que os media poderiam ter um papel chave na luta

contra a ignorância e como estímulo para a população no acesso à informação e a um

conhecimento propício ao seu desenvolvimento (cultural, económico e social)?

A minha intervenção, a partir de uma breve história dos media no Ruanda e de uma

análise do período de crescimento anárquico da actividade dos media nos anos 1990-

1994, demonstrará como os jornalistas, longe de contribuírem para a clarificação do

debate político e da situação de guerra que predominava então, incendiaram a

sociedade. A intervenção terminará com uma análise dos mecanismos de regulação

dos media instalados nos últimos anos.