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VI Fórum de Produção Discente – 11 a 15 de maio de 2015 Programa de PósGraduação em Letras/UFPR VI Fórum de Produção Discente – Resumos das apresentações Área de concentração: Estudos Literários Discursos nômades: Uma leitura de A Jangada de Pedra (José Saramago) Autora: Bruna Dancini Godk Orientador: Prof. Dr. Antonio Augusto Nery Debatedora: Prof. Dr. Isabel Jasinski José Saramago, pós-modernidade e nomadismo. Tais palavras já acarretam dezenas de reflexões e seu entrelaçamento é de tal complexidade que abarcá-lo em poucas palavras é ilusório. Nos propomos aqui a abordar o modo como a contemporaneidade é desenvolvida na obra A Jangada de Pedra (1986). Nesse romance, Saramago narra a separação da Península Ibérica do resto da Europa, transformando-se numa jangada de pedra. Cinco personagens iniciam uma trajetória fantástica, na qual ações que seriam cotidianas, como riscar o chão com um graveto, ação que acaba num desenho permanente num chão empoeirado. Após o encontro dessas personagens, guiadas pela coincidência de acontecimentos fantásticos e do rompimento da Península na altura dos Pirineus, há a instituição da viagem como objetivo, do deslocamento permanente como modo de vida, nomadismo retomado. Para analisar tal obra, estabelecemos um foco a partir da temática do nomadismo, não só físico como também filosófico. Essa escolha se dá pois acreditamos ser essa uma das chaves de leitura dessa obra, possibilitando a compreensão da construção das personagens, bem como do enredo em si, tendo sempre em vista o contexto de produção. Para tanto, refletiremos sobre as definições de pós-modernidade de Ranciere (2005), Agamben (2009), Lyotard (1979) e Hutcheon (1988). No entanto, tendo consciência do embate sobre a pertinência de uma nova nomenclatura, estabeleceremos diálogo também com as teorias de Bauman (2001) e Berman (1987). Após tal discussão, pretendemos estabelecer uma conexão com os conceitos de desterritorialização de Deleuze e Guatarri (1996), tal conexão se dá por ser essa temática recorrente nas reflexões da pós-modernidade. Esperamos, a partir disso, encontrar um meio de interpretar a obra que integra nosso corpus. Em busca do dialogismo desse estudo, pretendemos abordar também a crítica da obra já canônica de Saramago, principalmente dos estudos de Seixo (1987), Silva (1989) e Pires (2006). Como conclusão, temos em vista a abordagem da desconstrução do discurso de uma sociedade estática, com vistas a atingir o ideal da vivência do movimento, do nomadismo. Palavras-chave: José Saramago; Nomadismo; Pós-modernidade; Desterritorialização.

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VI Fórum de Produção Discente – Resumos das apresentações Área de concentração: Estudos Literários

Discursos nômades: Uma leitura de A Jangada de Pedra (José Saramago) Autora: Bruna Dancini Godk Orientador: Prof. Dr. Antonio Augusto Nery Debatedora: Prof. Dr. Isabel Jasinski José Saramago, pós-modernidade e nomadismo. Tais palavras já acarretam dezenas de reflexões e seu entrelaçamento é de tal complexidade que abarcá-lo em poucas palavras é ilusório. Nos propomos aqui a abordar o modo como a contemporaneidade é desenvolvida na obra A Jangada de Pedra (1986). Nesse romance, Saramago narra a separação da Península Ibérica do resto da Europa, transformando-se numa jangada de pedra. Cinco personagens iniciam uma trajetória fantástica, na qual ações que seriam cotidianas, como riscar o chão com um graveto, ação que acaba num desenho permanente num chão empoeirado. Após o encontro dessas personagens, guiadas pela coincidência de acontecimentos fantásticos e do rompimento da Península na altura dos Pirineus, há a instituição da viagem como objetivo, do deslocamento permanente como modo de vida, nomadismo retomado. Para analisar tal obra, estabelecemos um foco a partir da temática do nomadismo, não só físico como também filosófico. Essa escolha se dá pois acreditamos ser essa uma das chaves de leitura dessa obra, possibilitando a compreensão da construção das personagens, bem como do enredo em si, tendo sempre em vista o contexto de produção. Para tanto, refletiremos sobre as definições de pós-modernidade de Ranciere (2005), Agamben (2009), Lyotard (1979) e Hutcheon (1988). No entanto, tendo consciência do embate sobre a pertinência de uma nova nomenclatura, estabeleceremos diálogo também com as teorias de Bauman (2001) e Berman (1987). Após tal discussão, pretendemos estabelecer uma conexão com os conceitos de desterritorialização de Deleuze e Guatarri (1996), tal conexão se dá por ser essa temática recorrente nas reflexões da pós-modernidade. Esperamos, a partir disso, encontrar um meio de interpretar a obra que integra nosso corpus. Em busca do dialogismo desse estudo, pretendemos abordar também a crítica da obra já canônica de Saramago, principalmente dos estudos de Seixo (1987), Silva (1989) e Pires (2006). Como conclusão, temos em vista a abordagem da desconstrução do discurso de uma sociedade estática, com vistas a atingir o ideal da vivência do movimento, do nomadismo. Palavras-chave: José Saramago; Nomadismo; Pós-modernidade; Desterritorialização.

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Cristovão Tezza cronista: intersecções metaliterárias com sua obra ficcional e ensaística Autora: Annalice del Vecchio de Lima Orientadora: Prof.ª Dr.ª Raquel Illescas Bueno Debatedor: Prof. Dr. Fernando Gil Este trabalho tem como objetivo estudar as crônicas do escritor Cristovão Tezza publicadas no jornal Gazeta do Povo entre 2008 e 2014, analisando temáticas, conteúdo, formas estilísticas e relacionando estes textos com a produção ficcional e ensaística do autor, por aproximações ou distanciamentos. O corpus desta análise é formado por crônicas metaliterárias, ou seja, aquelas em que Tezza reflete sobre questões da literatura, estabelecendo assim um diálogo direto com o romance autobiográfico O filho eterno (2007), a obra ensaística O espírito da prosa – uma autobiografia literária (2012) e as conferências publicadas no livro digital Literatura à Margem (2014). Em todas estas obras, Tezza aprofunda-se sobre questões relacionadas ao próprio métier, refletindo sobre sua condição de romancista, fazendo uma defesa do realismo e de sua opção por uma literatura mais clássica, analisando o panorama da literatura brasileira a partir de sua própria trajetória como escritor ou discutindo questões relacionados ao mercado editorial. As crônicas metaliterárias, nesta interação com outras esferas da obra de Tezza, revelam o escritor acima do cronista, disposto a lidar com as questões que mais o incomodam em qualquer território, mas consciente de que é necessário levar em conta as características de cada discurso – sabendo, por exemplo, que os desafios de refletir sobre o próprio ofício no texto de jornal são diversos dos enfrentados em uma produção de fôlego como O espírito da prosa. Diante disso, deve-se estudar a crônica de Cristóvão Tezza tendo como embasamento teórico obras que discutem o gênero como um texto híbrido, levando em conta rupturas, avanços, recuos e desrespeitos a fronteiras de gênero. No artigo “Crônica como interdiscurso: formações de um gênero híbrido”, publicada no livro O jornal: da forma ao sentido, Rogério Pereira Borges toma as ideias de dois teóricos referenciais para este trabalho, Mikhail Bakhtin e Michel Foucault, para tratar a crônica como um gênero interdiscursivo. O primeiro, em Questões de literatura e estética atesta a impossibilidade de um discurso puro, imune a qualquer influência, que não seja polissêmico, ou seja, contaminado por outras enunciações, outras estratégias de fala e comunicação e variadas circunstâncias de construção narrativa; o outro, em Arqueologia do saber, fala que um texto é parte de um campo complexo de discursos, está preso em um sistema de remissões a outros textos. As ideias sobre o ensaio de Theodor Adorno, no artigo “O ensaio como forma”, e de Michel de Montaigne, em Os Ensaios, contribuem para traçar as relações possíveis entre o gênero e a crônica e a evidenciar as características do ensaio na crônica de Cristovão Tezza. Por fim, o conceito de “campo literário” de

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Pierre Bourdieu é utilizado como justaposição teórica às reflexões que o próprio autor brasileiro realiza em seus textos sobre a produção literária e a condição de escritor no país. Palavras-chave: Crônica; Cristovão Tezza; metaliteratura, interdiscursividade. A poética de Herberto Hélder: fundamentos do sentido Autor: William Crosué de Oliveira Teca. Orientador: Prof. Dr. Marcelo Mendonça Cardozo Debatedor: Prof. Dr. Marcelo Sandmann O objetivo do presente trabalho é discutir a poesia de Herberto Hélder a partir da concepção de arte de Martin Heidegger (sobretudo, em seu texto: A origem da obra de arte, que a considera como uma das possibilidades essenciais da “abertura de mundo”), e, desse confronto, demonstrar como se dá a fundação da poética helderiana; para tal, procurar-se-á partir dos conceitos do filósofo de verdade (a diferenciação entre “adequatio” e “aletéia”), tempo e espaço; todos concomitantes na criação do sentido, para, iluminar aspectos cruciais da poesia de Herberto Hélder e desse modo atingir os elementos que constituem a sua poética. Partindo da concepção de originário (arque): “aquilo a partir de onde e através do que algo é o que ele é e como ele é”. Palavras-chave: Herberto Hélder; Martin Heidegger; Fenomenologia; Filosofia da arte; Teoria Literária (poesia). Loucura e crítica social em A bruxa de Monte Córdova e A doida do Candal, de Camilo Castelo Branco Autora: Caroline Aparecida de Vargas Orientador: Prof. Dr. Antonio Augusto Nery Debatedor: Prof. Dr. Marcelo Corrêa Sandmann O objetivo de nosso trabalho é compreender de que forma a loucura se caracteriza em dois romances do ficcionista português Camilo Castelo Branco (1825-1890), intituladas A bruxa de Monte Cordova (1867) e A doida do candal (1867). Para tanto buscaremos entender como Camilo representa o processo de enlouquecimento, que, em nossa hipótese inicial, é resultado de inadequações a padrões sociais. Ou seja, as loucas (porque em sua maioria são personagens femininas) tornam-se loucas lentamente e a sua loucura é resultado de pressões sociais a que são submetidas. Precisamos também entender a situação da mulher na sociedade portuguesa da segunda metade do século XIX e ainda o papel que a estrutura da sociedade burguesa tem nessas formas de comportamento que são

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impostas às mulheres. Supomos que ao figurar o processo de enlouquecimento e ao ligá-lo diretamente à organização social da época, Camilo denuncia os contrassensos que sua época apresenta. Ao escolhermos esses romances também atentamos para o fato de nenhum deles pertencer às duas principais categorias da obra camiliana: o romance romântico e o satírico. Ao menos não podemos afirmar que o romantismo contido nessas obras seja fruto de relações amorosas, mas sim da busca um tanto idealista de uma sociedade mais justa e menos opressora. Além disso precisamos lembrar que o enlouquecimento das personagens também é causado pelo ascetismo a que elas são levadas a praticar. Portanto o papel da religião na vida e no comportamento da mulher dessa época deve ser objeto de nossa atenção. É importante também ressaltar o fato de que nossa pesquisa será pautada em uma análise mais formal e sociológica que biografista. O biografismo, por vezes muito adotado na crítica camiliana, pode ofuscar a atenção que Camilo destinou a sociedade portuguesa. Desejamos por fim colaborar com a extensão da crítica relacionada às obras de Camilo principalmente nos dedicando à narrativas que não são muito estudadas. Palavras-chave: loucura; feminino; crítica social. Uma análise de marcas de oralidade e marcas dialetais nas traduções brasileiras de Stephen King Autora: Isadora Bortoluzzi Massa Orientador: Prof. Dr. Marcelo Paiva de Souza Debatedor: Prof. Dr. Caetano W. Galindo O presente projeto de pesquisa propõe uma análise das traduções brasileiras da obra de Stephen King, com foco em dois recursos utilizados por escritores e tradutores a fim de caracterizar a voz dos personagens: as marcas de oralidade e as marcas dialetais, conforme definidos por Paulo Henriques Britto em sua obra A tradução literária (2012). Para tanto, tenciona-se selecionar trechos da obra original do autor que apresentem questões relevantes no âmbito dessa análise, e em seguida compará-las com sua contraparte na obra traduzida – ou contrapartes, no caso de haver mais de uma tradução publicada e acessível da obra em questão. A dissertação buscará explicar o porquê da escolha do material de King para análise, recorrendo a trechos de suas obras de não-ficção, onde ele discorre sobre o poder dos diálogos na caracterização de personagens. A dissertação também pretende discutir o próprio conceito de análise de tradução, discorrendo sobre sua validade: afinal, uma vez que o próprio conceito de “texto de prosa ficcional” não tem um sentido estático, e cada leitor tem, forçadamente, uma interpretação diversa de sua mensagem, como é possível julgar o produto de uma tradução, necessariamente submetido ao ponto de vista de um tradutor? É

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possível julgar a efetividade dos tradutores, conforme uma meta geral de tradução atribuída a eles? Também se falará do conceito de “fidelidade”: mesmo impreciso como é, poderia ele ser considerado uma chave para uma análise objetiva da tradução de prosa? Como ele afeta o processo tradutório dentro do campo da tradução profissional? O trabalho também procurará discorrer sobre questões gerais sobre a literatura de massa – por exemplo, possíveis maneiras de compreender o fenômeno, seu valor como possível objeto de estudo tanto da crítica literária quanto da crítica de tradução, e como o status de literatura de massa afeta a concepção das editoras, tradutores e leitores sobre a obra a que é atribuído. Palavras-chave: Stephen King, marcas de oralidade, marcas dialetais, tradução de literatura de massa Tempo e identidade na poética de Sophia de Mello Breyner Andresen: tensões e paradoxos Autor: Luiz Rogério Camargo Orientadora: Prof.ª Dr.ª Patrícia da Silva Cardoso Debatedor: Prof. Dr. Marcelo Correa Sandmann Nascida na cidade do Porto, em 1919, e morta em 2004, a poeta portuguesa Sophia de Mello Breyner Andresen pertence a uma geração que surgiu à sombra incomensurável de Fernando Pessoa. Contemporânea de nomes importantes das letras portuguesas, como Jorge de Sena, Eugénio de Andrade e Mario Cesariny, a poeta deu continuidade e vigor a uma poesia cuja marca principal está na indagação metafísica sobre a problemática condição do homem moderno. Mas, ao contrário de muitos autores do seu tempo, que associavam a experiência de choque da modernidade ao prosaísmo, sarcasmo e novidade, Sophia imprimiu em sua poesia um tom de solenidade. Nesse sentido, em sua obra, o ofício da escrita equivale à busca do absoluto, mas sem se separar do mundo concreto, buscando, ao contrário, nas coisas elementares um tipo de sacralidade ou aliança primitiva onde o real adquire sentido de verdade. Dessa postura advém uma atitude de retorno à essência das coisas, sem deixar de lado o peso de uma aguda consciência do seu próprio tempo, mas resistindo à parcela das estéticas de total recusa, ruptura e contestação que marcam a modernidade. Sua obra poética, em conjunto, apresenta um constante diálogo com a tradição, ao mesmo tempo em que se faz moderna pelo tratamento dado aos temas que perpassam seus versos de uma ponta a outra. Do primeiro de seus títulos, Poesia (1944), ao último, O Búzio de Cós e outros poemas (1997), é possível perceber a insistência em certos temas, como o jardim, a casa, o mar, os deuses, o diálogo com a tradição, a busca pela justiça e certa tendência à despersonalização, temas amplamente apontados

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pela crítica como leitmotiven de sua obra. No entanto, além das tônicas já apontadas, parece haver ao longo de sua obra uma constante busca da identidade, à qual Sophia ressignifica a partir de uma ótica bastante particular. Desde o primeiro livro, longe da harmonia desejada, o que se percebe é uma série de paradoxos no trato dos principais temas abordados e que se estendem até aos últimos poemas. Tal perspectiva é o ponto de partida da tese deste trabalho, cujo objetivo central está em investigar a obra de Sophia de Mello Breyner Andresen, procurando demonstrar as tensões presentes na busca de uma identidade perdida a partir de uma tríplice dimensão temporal, a saber, passado, presente e futuro, bem como a integração desses três tempos no espaço do poema. Palavras-chave: Sophia; Tempo; Identidade; Tensão; Eu. A dicção literária: mobilidades e construções sociais Autora: Fernanda Boarin Boechat Orientador: Prof. Dr. Paulo Astor Soethe Debatedor: Prof. Dr. Pedro Ramos Dolabela Chagas No presente projeto, tratamos o discurso literário como produto de uma comunidade discursiva. O discursivo aqui, que caracteriza essa comunidade, é visto como interlocução que se estabelece entre os sujeitos, como ação partilhada que os conduz a questionamentos. Assim, entendemos que o discurso literário integra essa comunidade discursiva enquanto voz que se manifesta sobre ela e seus temas; como voz ativa de um sujeito integrante de uma comunidade, que fala da mesma e para a mesma. Dessa forma, o discurso literário não se encerra em si mesmo, ele é a chave para o elo com outros universos discursivos; ele é visto aqui como uma ponte que proporciona àquele que lê a possibilidade de uma visão de mundo mais ampla. A partir desse entendimento, propomos uma reflexão que procura investigar a participação da produção literária existente no grande discurso que se estabelece em uma comunidade que não mais se limita às fronteiras nacionais, mas sim que pode ser compreendida como uma comunidade discursiva mundial. Nesse sentido, compreendemos que a literatura, ademais, deve ser posta na grande discussão entre diversas áreas de conhecimento e não mais ser vista como um adorno cultural, inserindo-a num debate maior, no espaço público e no ambiente acadêmico em especial. Procuraremos demonstrar, então, como o discurso literário pode ser visto como um medium que, ao fazer uso da linguagem natural e dar-se nas dinâmicas desta linguagem, é capaz de incorporar e incentivar transformações na realidade extraliterária, desde quando se trata do indivíduo leitor e a ampliação de sua visão de mundo até a possível transformação de espaços sociais. Para tanto, dentre outros autores, destacamos aqui o diálogo com parte da obra do romanista Ottmar Ette, – especialmente em torno dos

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conceitos ÜberLebenswissen (saber sobre a vida ou saber sobreviver) e Literatur ohne festen Wohnsitz (Literatura sem moradia fixa) –, do filósofo Jürgen Habermas – quanto à ideia de Diskurs (discurso) – e do teórico da literatura Wolfgang Iser quanto à tríplice relação ficção, realidade e imaginário, própria do objeto literário. O presente projeto de pesquisa, por fim, visa observar não somente em que medida é possível investigar o objeto literário e sua relação com uma comunidade discursiva, mas também observar os desdobramentos desta abordagem quanto à tarefa de diferentes áreas no âmbito dos Estudos Literários, como a da Historiografia da Literatura. Além da investigação de cunho teórico que se volta aos interesses mencionados, procura-se também observar como é possível apontar para a revalorização do papel do escritor no amplo debate que se estabelece em uma comunidade de comunicação não somente através de sua produção literária. Para tanto, considera-se escritores – como Thomas Mann, Érico Veríssimo, Guimarães Rosa, Murilo Mendes, João Cabral de Melo Neto e tantos outros – que, para além de suas produções literárias, são importantes representantes ou vozes em contextos históricos e geográficos específicos, assim como quando na comunicação entre diferentes nações e, inclusive, em diferentes contextos históricos. Palavras-chave: Teoria da Literatura. Discurso literário. Construções sociais. Configuração erótica e infernal das cidades no romance noir latino-americano: o caso da Colômbia, México e do Brasil. Autora: Jennifer Paola Umaña Serrato Orientadora: Prof.ª Dr.ª Isabel Jasinski Debatedor: Prof. Dr. Alexandre Nodari A cidade “moderna” criou múltiplas da exacerbação, do terror e da exclusão na literatura latino-americana. Instaurou-se como protagonista em inúmeras obras, definindo espaços de relação e construção de sentido, através da configuração da periferia, da prostituição, do travestismo, da disseminação de territórios em ilhas urbanas (LUDMER, 2010). Uma característica intensificada pela mudança de paradigmas característica do romance latino-americano no século XXI, em que não predominam modelos estéticos nem a busca pela identidade, mas delineiam-se singularidades e trivialidades no tratamento dessa realidade (FORNET, 2006). Os narradores e personagens não se apresentam como bardos de denúncias sociais, mas como experimentadores do turbilhão urbano em conflito, impreciso, imprevisível. A cidade dos romances noir atuais possibilita a criação de linhas de fuga do sistema através da infernalidade e o erotismo, na medida em que a degradação, o horror e a violência aumentam e definem relações humanas na contemporaneidade. Ao profanar o sagrado (AGAMBEN, 2005), representado pelo

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corpo do outro e pelo seu espaço de existência, destituem-se hierarquias, o delírio promove a possibilidade de violação e dá vazão ao desejo insaciável, à destruição e à morte. O espaço citadino dos romances noirs latino-americanos é um lugar opaco, labiríntico e caótico, que ganha acentos grotescos na pós-modernidade. Um espaço complexo que reflete o lado macabro das relações, advertindo para os perigos que se repetem, cuja sucessão é inesgotável. Neste modelo de “cidade apestada” (FOUCAULT, 1976), representado pelas cidades-protagonistas de alguns desses romances, expressam-se os mecanismos que sujeitam a conduta e as ações das personagens. Elas transitam pelos diferentes espaços destituídos de poder, os habitam, os sentem e os interiorizam. As figuras humanas são marcadas pela decadência, pelo desamparo e pelo intercâmbio de fluídos, palavras e desolações; misturam-se com formas animais, naturais e ancestrais. Sua condição permite a experiência do devir num espaço dinâmico, essa perspectiva no romance negro se abre como fuga e abandono (DELEUZE E GUATTARI, 1995). Estes espaços, com seus devires e suas personagens, delimitam a arquitetura dos romances a serem estudados: El húesped de Guadalupe Nettel, Inferno de Patrícia Melo e Perder es cuestión de método de Santiago Gamboa. Esta pesquisa se interessa pelas cidades latino-americanas na produção do género noir, com o fim de configurar e estabelecer a figura da cidade como um corpo que exerce uma grande influência nas ações da trama e na configuração simbólica das obras literárias. Suas ações nos espaços urbanos, mapas que apresentam rotas de fuga para os indivíduos fora do sistema, se constituem pelo erotismo ou a violência que escapam aos dispositivos de controle. Por isso, eles se definem como singularidades, em que o outro se converte em vetor da relação e da sedução, do domínio, da submissão, da invasão. Palavras-chave: Romance noir latino-americano; cidade; erotismo; infernalidade. Íon, de Eurípedes: uma tradução performativa Autor: Marcelo Bourscheid Orientador: Prof. Dr. Roosevelt Araújo da Rocha Jr. Co-orientador: Prof. Dr. Rodrigo Tadeu Gonçalves Debatedor: Prof. Dr. Guilherme Gontijo Flores Ao analisar as razões da ausência, nos palcos contemporâneos, de representações teatrais dos textos provenientes da comédia latina, Florence Dupont (2007) encontra a chave para essa exclusão no textocentrismo derivado das concepções aristotélicas, em que o teatro como evento é substituído por um teatro como textualidade. Tal concepção dissocia a comédia e a tragédia antiga de seus contextos enunciativos, centrando no mythos (fábula) a abordagem de um fênomeno que, em sua origem, estava ligado à mousiké, termo grego que designa

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a união entre palavra, música e dança. Essa mesma constatação pode ser encontrada na maioria das traduções de tragédia grega realizadas no Brasil, resultando em textualidades dissociadas do seu contexto de performance. Explorando principalmente os conceitos de tradução dramatúrgica de Patrice Pavis (2008) e de tradução perfomativa de Douglas Robinson (2003), além de estudos sobre o ritmo de Henri Meschonnic (1932-2009), este trabalho discute as possibilidades das relações entre tradução, performance e dramaturgia na prática tradutória dos textos teatrais da antiguidade clássica. O objetivo desta tese é realizar uma tradução rítmica em versos, acompanhada de estudo introdutório e notas explicativas, da obra Íon, de Eurípides, a partir da edição de J. Diggle (1981). Por tratar-se da tradução de uma obra cuja escritura estava situada no contexto performativo das representações teatrais atenienses no século V a.C., a abordagem tradutória e crítica deste trabalho buscará enfatizar as relações entre performance e textualidade como pressupostos para a criação de uma tradução vinculada a uma proposta de reescrita dramatúgica e cênica, levando-se em conta especialmente a dimensão ritmíca do texto euripideano e as possibilidades de exploração dos seus recursos métricos em uma tradução teatral a ser lida/performada para uma recepção contemporânea. Palavras-chave: dramaturgia, tradução rítmica, tragédia grega, métrica, performance. O cinema inquieto de Lúcio Cardoso Autora: Érica Ignácio da Costa Orientadora: Prof.ª Dr.ª Patrícia da Silva Cardoso Debatedor: Prof. Dr. Luís Gonçales Bueno de Camargo Lúcio Cardoso (1912-1968) foi capaz de estender a vida para múltiplas artes – romances, novelas, poesias, diários, contos, peças teatrais, traduções, roteiros, cinema, e por último, a pintura. Em muitos momentos de seus “Diários” é possível perceber sua busca pelo silêncio, pelo mundo morto, um cenário de vertigem, presente em sua literatura de forma singular. Em sua tentativa de incursão cinematográfica, Lúcio Cardoso deixou inacabado como diretor o longa-metragem iniciado em 1949 “A mulher de longe”. O autor também incursionou pelo cinema como roteirista e escritor de argumentos, trabalhando com figuras como Ruy Santos, Igino Bonfioli, Leo Marten e Paulo César Saraceni. Em seus “Diários” Lúcio Cardoso escreve em grande medida sobre cinema, e expressa sua relação de aflição e inquietude por relação à expressão artística e aos empecilhos da produção cinematográfica, assim como a necessidade pessoal de sua intensa criação artística. O mistério que envolve os personagens literários do autor persiste nos tons das passagens sobre cinema em seus “Diários”; a crença em

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suas verdades básicas – “Deus, o sofrimento e a morte” (CARDOSO 1970: 64) –, aparecem como temas recorrentes também em sua incursão pelo cinema. Assim, também é bastante importante para esta pesquisa o que Lúcio Cardoso deixou escrito sobre cinema nos “Diários”. Neste trabalho serão analisados os textos cinematográficos de Lúcio Cardoso citados abaixo (textos ainda não publicados, pesquisados na Fundação Casa de Rui Barbosa - FCRB) e um filme, resultado final de um argumento do escritor:Argumentos cinematográficos: Porto das Caixas, Almas Adversas e O baile da morte vermelha;Roteiro: A mulher de longe;Conto (deixado para posterior adaptação cinematográfica): Introdução à música do sangue;Filme: Porto das Caixas (1961, direção de Paulo César Saraceni).Os textos e o filme serão analisados levando-se em conta principalmente a perspectiva dos narradores. Parte-se então da instância narrativa para efetuar a análise de como tais pontos de vista se articulam com a possibilidade da imagem em cada meio pesquisado (argumentos, roteiro, conto e filme). Palavras-chave: Lúcio Cardoso, cinema, Diários. José (Rubem Fonseca): as memórias históricas de um outro eu Autora: Cristiane Sucheski Contin Orientadora: Prof.ª Dr.ª Marilene Weinhardt Debatedor: Prof.ª Dr.ª Sandra Mara Stroparo No presente trabalho procederemos a uma análise da novela José, de Rubem Fonseca. Trata-se das memórias do personagem, que relata desde sua infância em Minas Gerais, passando pelas dificuldades econômicas da adolescência, e fase adulta vividas no Rio de Janeiro. Em meio às reflexões sobre o passado, o narrador teoriza sobre o papel que a memória exerce na vida e principalmente sobre o fazer literário. Durante a leitura do texto é possível depreender-se que se trata da biografia de seu autor: José Rubem Fonseca. Para a presente análise, pretendemos realizar o estudo da obra primordialmente sobre três pilares:O primeiro deles seria a leitura de José enquanto um texto que identifica o autor com o protagonista da obra. Para isso, embasaremos nossas pesquisas sobre autobiografia e romance autobiográfico nos estudos do teórico Philippe Lejeune. A forma como se apresenta o narrador será um elemento de extrema importância para nosso trabalho. Procuraremos abordar as hipóteses para a novela ter sido escrita em terceira pessoa, com falso distanciamento. Somando-se a isso, os elementos paratextuais do livro (capa e apêndice) vêm contribuir para os desdobramentos de José enquanto autobiografia. Tendo em vista o segundo pilar, analisaremos a forma como é construído o discurso de memórias em José. Para abordar esta modalidade de recurso narrativo nos utilizaremos basicamente das

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leituras de Jacques Le Goff e Paul Ricoeur sobre o que é memória e suas características. Por último, trabalharemos com a leitura de José enquanto ficção histórica, para tanto usaremos teorias contemporâneas sobre esse subgênero. Dentro da novela podemos perceber toda uma reconstrução do Rio de Janeiro da metade do século XX, as mudanças pelas quais foi passando em paralelo com o que ocorre na vida do personagem. Observa-se pela ótica de José, através do que foi vivido por ele, mas também pelo que o narrador nos indica que a história lhe ensinou. Para a análise do livro estabeleceremos também relações entre a obra pregressa de Rubem Fonseca e a presença maciça de elementos dela em José, contribuindo para a construção da intertextualidade e da metalinguagem no texto. As memórias do personagem vão sendo recheadas por comentários de passagens que teriam sido abordadas em outros escritos. Além disso, a intertextualidade também se faz presente na novela, através de citações de autores de várias áreas do conhecimento, em demonstração clara da erudição de seu autor. Palavras-chave: memórias, autobiografia, ficção histórica, José. “A dama do mar”: uma provocação Autora: Helena Cecilia Carnieri Staehler Orientadora: Prof.ª Dr.ª Célia Arns de Miranda Debatedora: Prof.ª Dr.ª Anna Stegh Camati A montagem realizada por Robert Wilson em 1998 a partir do texto-fonte “A dama do mar” (1888), de Henrik Ibsen, retira a supremacia do enredo do texto escrito e coloca em foco outros elementos, como a voz, a luz, o cenário, ou seja, dá ênfase aos elementos visuais e sonoros. A transformação proposta pelo mestre norte-americano passa pela reescritura do texto, com autoria de Susan Sontag. Pelas mãos da pensadora feminista, surge uma nova obra literária, datada de 1997, inclusive com um final diferente. O presente estudo irá pesquisar os mecanismos utilizados na transposição da obra original para a obra final, passando pela adaptação textual por Sontag. Além disso, busca-se identificar indícios de ironia no trato com a matéria-prima ibseniana, a partir das palavras do diretor no programa da peça apresentada no Brasil: “O naturalismo de Ibsen não me agrada”. Cabe analisar a forma como a peça original, calcada no realismo, com prioridade no uso da palavra e dos diálogos, desembocou na estética pós-dramática de Wilson, cujo simbolismo visual torna o cenário, figurino e iluminação mais relevantes do que o próprio texto. Por outro lado, a simbologia usada por Ibsen nesta peça ganha potência ao ser transportada para a estética de Wilson, caracterizada por atuações que simulam o movimento de marionetes, com gestual preciso, diálogos frios e desconexos, em que os atores não se dirigem uns aos

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outros, mas à plateia. A influência do teatro oriental é perceptível na obra desse cenógrafo, com destaque para a lentidão de movimentos. Essa montagem, especificamente, destaca-se pelo uso de sinalizadores sonoros (duas madeiras que se chocam), com um efeito que remete à sonoplastia dos gêneros Nô e Kabuki. Um terceiro viés a ser analisado é a questão feminina, muito presente na obra original e exacerbada por Sontag, mas com um rumo diferente. Dentre os diversos recursos a serem utilizados para a análise, destaca-se a utilização da gravação em DVD do espetáculo que foi apresentado em São Paulo em 2012, do livro publicado pela editora n-1 com o texto de Susan Sontag e de uma entrevista com o ator Hélio Cícero, que interpreta um dos protagonistas na montagem; a sua interpretação foi considerada por Robert Wilson a que mais se aproximou de sua proposta nos cinco países em que “A dama do mar” foi produzida por ele. O fundamento teórico que embasa a análise da transposição da peça original para a nova peça de Sontag, e desta para a encenação de Wilson é proporcionado pelos estudos de Patrice Pavis, Linda Hutcheon, Hans-Thies Lehmann e Marvin Carlson, entre outros. Palavras-chave: Teatro contemporâneo. Henrik Ibsen. Robert Wilson. Susan Sontag. “A dama do mar”. Literatura e fotografia: diálogos possíveis Autora: Priscila Lira (UFPR/FAPEAM) Orientador: Prof. Dr. Rodrigo de Vasconcelos Machado Debatedor: Prof.ª Dr.ª Célia Arns de Miranda Tem-se visto, no mercado editorial brasileiro, um número cada vez maior de publicações que mesclam o trabalho fotográfico com o literário e esse diálogo é rico em possibilidades: vemos que as propostas das obras conversam com pontos e questões diferentes da fotografia, questões mesmo que só emergem por meio desse encontro. Por outro lado, percebemos que a crítica ainda não voltou, com a devida importância, seus olhares para esse tipo de obra, ao passo que se tornam necessárias reflexões em torno dessa, nem tão nova assim, forma de debate entre dois campos diferentes da arte. Esse trabalho tomará como ponto de partida teóricos da literatura que também fizeram reflexões acerca da fotografia, como Roland Barthes e Walter Benjamin. Percebemos que já nos trabalhos desses intelectuais estavam presentes questionamentos em torno da imagem como texto, ou como discurso e sabemos que desde o surgimento da arte moderna, discurso e imagem, imagem e texto são elementos que se mesclam ao ponto de ser difícil sua dissossiação. Também usaremos alguns textos de pesquisadores da história da arte, como Tom Wolfe e Rosalind Krauss, para servirem de suporte das reflexões em torno do texto e da imagem. A necessidade dessa revisão teórica se

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justifica na carência de textos que discorram sobre essas questões voltadas para o diálogo aqui proposto, logo, é preciso que se crie um alicerce para a discussão central da pesquisa. Ela se justifica também no fato de se conseguir mostrar historicamente que essa interação nunca esteve muito distante dos estudos literários. Daremos certo protagonismo, em determinado momento da pesquisa, aos textos de estudiosos da fotografia, como Boris Kossoy, Susan Sontag, Philippe Dubois, Brassai, Rancière e Vilem Flusser para que possamos compreender, posteriormente, como suas visões semelhantes e dissonantes sobre temas da fotografia, ora técnicos, ora filosóficos, encontram brechas na literatura para adentrarem, seja por meio da própria escrita, ou pela inserção de fotos nas obras literárias. Palavras-chave: Fotografia, Imagem, Roland Barthes, Walter Benjamin As representações da morte em Ulysses Autora: Natasha Suelen Ramos de Saboredo Orientador: Prof. Dr. Caetano Waldrigues Galindo Debatedor: Prof. Dr. Luís Gonçales Bueno de Camargo A seguinte pesquisa visa explorar as representações da morte na obra Ulysses (2013), de James Joyce, tendo em vista os seguintes objetivos para a análise do tema: a morte como ciclo e etapa de transformação; a morte a partir da perspectiva dos personagens Stephen Dedalus e Leopold Bloom e de como cada um lida com a perda/o luto; a simbologia da morte referente a alguns subtemas, como o da religião. A escolha do tema se deu, principalmente, devido à força, ao impacto e à recorrência do tema dentro da obra, que aparece em diferentes níveis, que vão desde a forma como Bloom e Dedalus lidam com a noção de perda até a ideia da morte como ciclo. Um dos principais aspectos para análise será a morte a partir da perspectiva metafísica de Schopenhauer (2013), que naturaliza o evento e o concebe como o fim de um organismo e como parte de um ciclo. Visto que a história ocorre ao longo de um dia, 16 de junho de 1904, essa noção de ciclo será explorada a partir da ideia de Schopenhauer (2013) de que o dia é uma representação, em menor proporção, da vida, em que o despertar simboliza o nascimento e o adormecer, a morte, tal como o ciclo fechado na obra. Essa ideia de morte e vida como ciclo, recorrente em diversas religiões, como ressalta Campbell (2009), também coloca a morte como uma etapa de transformação, algo representado na obra pelo motivo que impulsiona Bloom a evitar o lar até o fim do dia: o adultério da esposa que, possivelmente, trará mudanças para o cotidiano conjugal. Nesse sentido, a morte também se vincula aos sentimentos de medo, negação e melancolia, representados tanto pelo desconforto que Bloom apresenta perante seu problema (ao tentar evitá-lo) quanto pela melancolia e culpabilidade

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de Dedalus por não ter cedido ao último pedido da mãe. Para analisar essas questões psíquicas, optou-se por usar a psicanálise, visto que, além de Freud ter sido influenciado pela metafísica de Schopenhauer, essa perspectiva torna possível compreender determinados comportamentos dos dois personagens vinculados ao tema, principalmente em relação a pensamentos e comportamentos que tendem para a autodestruição. Palavras-chave: Morte. James Joyce. Ulysses. A melancolia em Paulo Henriques Britto Autora: Gabrielle Cristine Mendes Orientadora: Profª Drª Sandra Mara Stroparo Debatedor: Prof. Dr. Caetano Galindo Neste trabalho, pretende-se analisar a produção poética de Paulo Henriques Britto e verificar se nela há elementos que induzam à ideia de melancolia ou angústia. O poeta carioca, nascido em 1951, premiado tradutor, é autor de cinco livros de poesia — Formas do nada, 2012; Tarde, 2007; Macau, 2003; Trovar claro, 1997; Mínima lírica, 1989; Liturgia da matéria, 1982 — e um de contos — Paraísos artificiais, 2004, que não será objeto de estudo. Nota-se em sua trajetória artística a existência de um fio condutor que perpassa todas as suas obras: certo sentimento de pessimismo, resignação e angústia. Essas sensações são aqui consideradas fundamentais para a compreensão de sua obra, já que é por meio delas que esse trabalho será conduzido. Apesar disso, a composição dessa análise se dará de forma mais prudente do que sistemática, ou seja, não se pretende encarcerar ou subsumir a poética de Britto em um limite temático e colocar uma lupa nos poemas para enxergar apenas o sofrimento e a angústia. A proposição aqui é a de ouvir atentamente o que os poemas têm a mostrar sobre melancolia, resignação e angústia. Para tanto, esse trabalho se fará, em alguns momentos, de forma a relacionar a poesia à filosofia, unindo autores como Hugo Friedrich e Ludwig Wittgenstein – a linguagem como problema filosófico — e Jean Paul Sartre – a contingência existencial — , sem deixar de considerar os outros poetas que também possuem uma melodia melancólica semelhante e que parecem ser a influência artística de Britto, como Charles Baudelaire, Fernando Pessoa, Wallace Stevens, João Cabral de Melo Neto e diversos outros autores e poetas. Eles, teóricos e literatos, nos auxiliarão a compreender que sentimento de vazio e de angústia é esse e que perpassa todas as épocas e faculdades humanas, em especial a arte e a poesia, e de que maneira ela chega até Britto. Palavras-chave: Poesia contemporânea; Melancolia; Filosofia da linguagem.

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A representação do pobre-diabo na literatura de Chico Lopes: estranhos na sombra, na noite, no vento. Autora: Lohanna Machado. Orientadora: Prof.ª Dr.ª Patrícia da Silva Cardoso. Debatedor: Prof. Dr. Luís Gonçales Bueno de Camargo. A figura do pobre-diabo foi matéria da predileção de escritores como Aluísio Azevedo, Lima Barreto, Dyonélio Machado, Graciliano Ramos, Lúcio Cardoso e João Gilberto Noll. Conquanto seja recorrente na literatura brasileira, impressiona carecer ainda de uma elaboração mais minuciosa por parte da crítica. Uma figura similar que tem estado no centro dos holofotes, ao menos nas últimas duas décadas, é a do marginal entendido como morador de bairros pobres, ou menos que isso, situados à margem de algum grande centro urbano. No entanto, em pouco a crítica sobre esta vertente pode contribuir para o entendimento da representação do pobre-diabo, pois, ainda que possamos argumentar, com acerto, que as personagens típicas do que ficou conhecido como “literatura marginal” sejam também pobres-diabos, os quais em vários aspectos são também seres “marginais”, não podemos perder de vista que isto é uma especificidade, bastante marcada, por sinal, e que ilumina apenas uma pequena parcela das diferentes formas com que o pobre-diabo vem ocupando seu lugar na sociedade brasileira. Embora mais recorrente na prosa brasileira da primeira metade do século XX (o que, sem dúvidas, tem uma razão a ser descoberta) os pobres-diabos na literatura de Chico Lopes, escritor contemporâneo da periférica Novo Horizonte/SP, comprovam a vivacidade e potencialidade desta figura relegada à sombra, liberta na noite, levada pelo vento. Visto que a produção crítica sobre o tema é falha e esparsa, com o propósito de alcançar uma descrição e análise mais apurada da representação do pobre-diabo por Chico Lopes, nesta dissertação os textos literários, como os dos autores citados acima, serão chamados a auxílio tanto quanto os de crítica, sociologia, filosofia e áreas afins. Este último conjunto é formado pelo que se produziu até o momento sobre o tema (e que se consiga ter acesso), mas também por teorias recentes (ou nem tanto) a respeito do estigma, identidade, conflitos em relação às exigências e significados do “ser homem”, sexualidade, o lugar do pobre-diabo na sociedade contemporânea, e, sem dúvidas, o lugar desta literatura e deste tema na produção literária hoje. Digo “desta literatura”, pois não só o tema, mas o trato com a linguagem e a forma literária como um todo, dão a impressão de uma voz própria um tanto distante no tmpo em relação a seus contemporâneos, porém sem ser antiquada, e vinda, sem dúvidas, para trazer bom fôlego e nova oportunidade para se reavivar o tema a partir da obra de um escritor de excelência. Palavras-chaves: pobre-diabo; estigma; identidade; literatura contemporânea brasileira; Chico Lopes.

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Três recortes da cultura popular em dois autores: Mário de Andrade e Graciliano Ramos Autora: Rosalia Pirolli Orientador: Prof. Dr. Luís Bueno de Camargo Debatedora: Profª Drª Raquel Illescas Bueno O presente trabalho abordará algumas relações entre a cultura popular, o folclore e a obra de dois importantes autores brasileiros, Mário de Andrade e Graciliano Ramos. Essas relações serão compreendidas e problematizadas a partir de três pontos principais, discutidos desde o princípio na constituição e consolidação do campo dos estudos folclóricos no Brasil, quais sejam: i) o desenvolvimento do conceito de folclore, ligado a uma noção de primitivismo e frequentemente associado a um iminente risco de desaparecimento diante da modernização e do crescimento urbano, ii) a ideia recorrente de buscar no folclore um elemento representante da identidade nacional e iii) a hierarquização entre cultura popular e cultura erudita. Em um primeiro momento de nossa pesquisa, iremos recuperar, por meio do aporte teórico fornecido por pesquisadores e folcloristas dos séculos XIX e XX, tais como Sílvio Romero e Luís da Câmara Cascudo, quanto por críticos, como José Veríssimo, as distintas variantes na definição de cultura popular, de folclore. Além disso, iremos verificar sob qual viés é analisada a sua entrada no meio literário e com qual repercussão. Em um segundo momento, passaremos para a discussão, a partir de um enfoque comparatista, dos livros Histórias de Alexandre (1944) e Viventes das Alagoas (1961), de Graciliano Ramos; e Macunaíma (1928) e O Turista Aprendiz (1976), de Mário de Andrade. Nosso objetivo consistirá não apenas em apontar individualmente as diferentes concepções existentes, nessas obras, a respeito da cultura popular e do folclore, tomando como referência os três pontos de interesse já mencionados anteriormente – a nacionalidade, a ameça moderna e a sua posição subalterna, mas também comparar as semelhanças e as diferenças dessas concepções relativamente aos dois autores. De nossas análises preliminares, podemos afirmar que, tanto Mário, quanto Graciliano, discutiram e tematizaram a cultura popular e o folclore nas obras aqui analisadas, porém com realizações bastante distintas. Caberá, portanto, a esse trabalho, apontar essas direções, sem perder de vista nossos três elementos de interesse. Palavras-chave: Cultura popular, folclore, Graciliano Ramos, Mário de Andrade Memórias da infância em Menino de engenho e O meu pé de laranja lima Autora: Paula Carolina Ledesma

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Orientador: Prof. Dr. Fernando Cerisara Gil Debatedora: Prof.ª Dr.ª Raquel Illescas Bueno A princípio, O meu pé de laranja lima e Menino de engenho não seriam aproximados. Há uma insistência editorial e acadêmica em fixar O meu pé de laranja lima como uma obra da literatura infantojuvenil e os estudos relacionados a ele dialogam com as áreas de formação de leitores e estética da recepção. Já Menino de engenho parece ter um lugar ao sol no universo do cânone literário brasileiro. No entanto é possível propor uma relação entre os autores ao colocar a efabulação da memória como foco do processo narrativo dos romances supracitados. José Lins do Rego e José Mauro de Vasconcelos são escritores memorialistas, ou seja, suas obras são marcadas pela ficcionalização a partir de uma lembrança. Essa tradição da rememoração está ligada aos espaços em que se concretizam as ações da narrativa. Em José Lins do Rego, o signo do regionalismo; em José Mauro Vasconcelos, o signo de uma urbanidade crescente. Em ambos, o signo da memória. Os dois trabalham com a escrita de memórias arraigadas no fracasso da sociedade patriarcal rural, no caso do primeiro; e na dificuldade de uma família com a urbanização pós-república, no caso do segundo. O latifúndio que dava sinais de cansaço e o mundo urbano em formação. Os dois espaços assinalando a exclusão e a miséria. Para a representação discursiva do social, a narração em primeira pessoa expõe o ponto de vista do narrador acerca dos acontecimentos. Não é possível dissociar a memória de uma experiência estética quando se torna a literatura um objeto de pesquisa e, por isso, serão abordados como pontos de ancoragem da análise: o memorialismo em uma ficção, a memória coletiva, o uso da ficção para falar do eu, a formação da identidade a partir do ponto de vista narrativo, as particularidades do narrar a infância, a linearidade da lembrança no discurso e a memória enraizada na experiência. Palavras-chave: infância, memória, narrativa brasileira. A concepção da humanidade no Evangelho segundo Jesus Cristo Autora: Diana Almeida Lourenço Orientador: Prof. Dr. Antonio Augusto Nery Debatedor: Profª. Drª. Patrícia da Silva Cardoso N’O Evangelho segundo Jesus Cristo, José Saramago se propõe a recontar a história mais arquiconhecida da sociedade ocidental: a vida de Cristo. É criada uma paródia dos Evangelhos canônicos e constrói-se uma crítica não só a Igreja, mas a toda tradição cristã. Apesar de a paródia religiosa ser um dos pontos crucias da narrativa, nossa pesquisa volta-se para o que muitos críticos acreditam ser a grande mensagem da obra prima de José Saramago: a valorização da

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humanidade. A crítica literária que se dedicou ao autor acredita que a narrativa saramaguiana tende a ser subversora, questionando conceitos e manifestando pontos de vista explicitamente ateus, além de uma valorização exacerbada do ser humano. Uma literatura In nomine hominis. O objetivo da pesquisa é problematizar a ideia de um “humanismo radical” no Evangelho, e levantar a hipótese de uma concepção de humanidade, ou uma humanidade ao gosto do eu saramaguiano. Nosso referencial teórico irá abranger questões como autor, autor-implícito, narrador e leitor. Nossa base teórica será Antoine Compagnon, em seu Demônio da Teoria (1998). Discutiremos a importância do autor e do leitor para a interpretação literária, através das visões de Roland Barthes, Wolfgang Iser, Wayne Booth, e Umberto Eco. Promovendo uma discussão entre elas e optando por adotar o conceito de autor-implícito para analisar OESJC. Faremos um diálogo com a crítica que se debruçou sobre as obras saramaguianas, como Maria Lúcia Lepecki, Maria Alzira Seixo e Salma Ferraz. No qual discutiremos questões como os limites entre o narrador e o autor e sobre humanismo. Teremos sempre como nosso norte a concepção de humanidade singular que acreditamos estar presente em toda obra, desde a construção do narrador até dos personagens. Palavras-chave: Saramago, humanidade, Evangelho. Uma parede se ergueu entre nós: uma análise de Fronteira Autor: Gregg Bertolotti Stella Orientador: Prof. Dr. Luís Bueno Debatedora: Prof.ª Dr.ª Patrícia Cardoso Fronteira, o romance de estreia de Cornélio Pena (1896 - 1958), publicado em 1935, é um romance de eterna menção. O enredo é relativamente simples, mas isso não impede que ele seja difícil de agarrar. No universo de Fronteira estamos sempre, de fato, numa fronteira, não na fronteira entre loucura e sanidade, como quer o narrador, mas nesse lugar onde não se pode estar, esse lugar que é lugar nenhum, onde sobrevive apenas o desejo e o mistério. E essas são, justamente, as duas forças incontornáveis do romance e, portanto, as forças que alimentam o motor narrativo do narrador, uma vez que o que temos diante de nós, não nos esqueçamos (como esquece boa parte da crítica), é um diário. Temos acesso apenas a uma espécie de “imagem” dos personagens, do ambiente e dos fatos, que chegam a nós, todos, tingidos com as cores que o narrador projeta sobre eles. Os mistérios presentes no romance são muitas vezes mistérios apenas para nós, leitores, para quem a narrativa certamente não é endereçada. Os mistérios que nos interessam são os que povoam a visão e os pensamentos do narrador, profundos e pouco práticos, mistérios que rondam os personagens e suas atitudes, espreitam pelos cantos dos ambientes por onde perambulam como

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sonâmbulos, mistérios que nunca os deixam em paz, porque os mantêm presos a um passado para nós desconhecido e aparentemente obscuro para eles próprios. O encontro de desejos individuais e conflitante faz deles “criaturas miseráveis” – como diz Maria Santa –, que vivem a ânsia de encontrar uma fenda pela qual escapar e, ao mesmo tempo, com o mesmo ímpeto, o terror de realmente encontrá-la. O projeto propõe breve revisão crítica e “mapeamento” das diferentes abordagens destinadas à leitura de Fronteira; articular os embates entre leituras mais recentes e leituras feitas no calor da hora, com intuito de discutir, em diálogo com os textos críticos consultados, a posição ocupada por Cornélio Pena em nossa tradição literária. A partir daí, construir uma leitura do romance que priorize três elementos centrais (e seus pontos de contato, uma vez que são indissociáveis): religiosidade, sexo e violência. Palavras-chave: Cornélio Pena, Fronteira, Literatura Brasileira A poética dos quintanares: um recorte da teoria da poesia presente em A rua dos cataventos, Sapato florido, Espelho Mágico, Caderno H, Da preguiça como método de trabalho, Porta giratória e A vaca e o hipogrifo de Mário Quintana Autora: Adriana Paula Rodrigues Silva Orientador: Prof. Dr. Fernando Cerisara Gil Debatedora: Prof.ª Dr.ª Sandra Mara Stroparo O estudo examina a obra poética de Mario Quintana (1906-1994), particularmente A rua dos cataventos (1940), Sapato Florido (1948), Espelho Mágico (1951), Caderno H (1973), A vaca e o hipogrifo (1977), Da preguiça como método de trabalho (1987) e Porta giratória (1988), no intuito de verificar a presença de uma teoria da poesia presente nos textos quintanianos. Para tanto, buscamos delinear o horizonte crítico da produção literária do poeta gaúcho fora do cenário rio-grandense, bem como, descrever os aspectos metalinguísticos e metapoéticos, diferenciando-os, constantes em seus versos e nos poemas em prosa, e por fim, analisar os textos das obras selecionadas para reunir a teoria poética presente em Quintana no que tange, especialmente, à imagem, ao ritmo e ao fazer poético. Conforme Gilberto Mendonça Teles (2006), nas primeiras obras do poeta de Alegrete, particularmente aquelas em versos, há uma tímida reflexão em torno da linguagem e do fazer literário, que avança nas obras posteriores, a partir de Espelho mágico (1951), em direção de uma metapoesia. A reflexão explícita acerca do poeta, do poema, da comunicação com o leitor, que coaduna boa parte dos seus versos, aparece, segundo Teles (2006), pelo viés da metalinguagem, processo intencional e crítico na poesia moderna. Ao questionar os recursos linguísticos que utiliza em seus poemas, Quintana adere ao experimentalismo na

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linguagem que caracteriza grande parte da poesia contemporânea, conforme Haroldo de Campos (1992). Por outro lado, a elaboração metapoética surge de modo progressivo, pautado no exercício da metalinguagem, a partir da consciência da matéria prima do seu artefato, num percurso, que não é tão simples, entre a palavra e o poema. As imagens construídas a partir das reflexões poéticas possibilitam-nos perceber um recurso que ultrapassa o puro exercício metalinguístico. A elaboração de reflexões poéticas menos deflagradas definem elementos como o ritmo, a imagem, o fazer poético num processo que Teles (2006) define como quintanares ou metapoesia. Tido por muito tempo como retardatário pelos traços simbolistas presentes em suas primeiras produções, por isso, talvez, esquecido, até certo ponto, pela elite de historiadores da nossa literatura, muitos nem se quer o citam em seus manuais, Quintana passou a ser alvo de estudos sérios dentro das universidades, objeto de pesquisa de dissertações e teses, dentro e fora do Rio Grande do Sul, que lançaram sobre seus poemas um olhar mais agudo. A recepção crítica de sua obra é fato consumado em terras gaúchas e, embora muitas vezes essa recepção tenha sido considerada barrista, fora delas há, como veremos, uma vasta compreensão da colaboração desse poeta para o cenário modernista brasileiro. Trabalhos acadêmicos desenvolvidos em programas de Mestrado e Doutorado em todo o Brasil tem a obra de Quintana como objeto de estudo. Desde o Piauí, passando pela Paraíba, Goiás, Brasília, São Paulo, Rio de Janeiro e Curitiba, a poesia de Quintana tem se tornado alvo de investigações sérias. Por esta razão, torna-se necessário realizar um levantamento da recepção crítica da produção literária do autor fora do cenário gaúcho, a fim de constatarmos a relevância da sua participação no modernismo brasileiro, especialmente no âmbito da poesia. A busca do desvelamento de uma teoria poética presente em seus poemas, como marca da literatura modernista, vem colaborar para a compreensão do lugar de Quintana no cenário literário brasileiro, embora essa preocupação jamais o tenha abalado. E para nós, torna-se relevante, particularmente buscar, através da análise dos poemas, as reflexões poéticas, que avançam da metalinguagem em direção à metapoesia. Palavras-chave: Poesia. Mario Quintana. Teoria da poesia. Metapoesia. Transgressão poético-visual na escrita literária performática de Mrs. Dalloway e Kew Gardens, de Virginia Woolf Autor: Mauro Scaramuzza Filho Orientadora: Prof.ª Dr.ª Célia Maria Arns de Miranda Debatedor: Prof. Dr. Paulo César Venturelli

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O estudo discute a escrita literária performática de Virginia Woolf (1882-1941) em Mrs. Dalloway (1925) e Kew Gardens (1919). Focaliza a presença da transgressão como vocalização e fragmentação verbo-visual na narrativa woolfiana. A prosa lírica de Woolf proporciona identificar a disposição de letras e vocábulos arranjados como peças de um jogo poético-visual que desarticula a linguagem convencional. Esses segmentos instigam o olhar do leitor-espectador, desafiando-o a uma performance no ato de sua decodificação, ou da tentativa de efetuá-la. A provocação de nosso olhar, na produção literária da escritora instiga à intelecção proposta pelas artes poéticas. Desse modo, promove um momento estudado por Paul Zumthor como escrita literária performática, no qual está em jogo a vocalidade do texto poético. Tal fenômeno de recepção ocorre no momento em que o texto verbal é corporificado pelas sensações e intelecção do receptor do texto. Por conseguinte, a linguagem é articulada no rito da vivência de leitura. A experiência de leitura como ato de fala do autor-emissor do texto – ou escritor-pintor – dirigida ao leitor-receptor instaura uma dinâmica interpretativa singular a cada momento e, portanto, performativa. Ao esfacelamento das estruturas linguísticas, presentes na ficção da escritora, podemos argumentar em favor de sua associação com os conceitos da arte pictórica de vanguarda – a partir do Impressionismo, com a sobreposição de planos, ou faixas de cor e atingindo seu apogeu com a concepção da colagem cubista que contempla a desarticulação da linguagem verbal como reflexão a respeito do cotidiano. Woolf pondera sobre o emprego quase imperceptível de estruturas pré-verbais, a partir de nossos processos de consciência – como o fluxo de consciência. A paisagem urbana cosmopolita de atmosfera fugaz e fragmentada, representa um reforço estilístico da escritora para uma literatura performática. De caracterização múltipla e seccionada, o texto verbal woolfiano convoca imagens visuais da pintura moderna, configurando um iconotexto. As relações intertextuais e intratextuais presentes na prosa de Virginia Woolf incorporam um complexo sistema de referências. Em diversos segmentos da ficção woolfiana, o aspecto de fragmentos verbais oferece uma proposta lúdica de tentativa de ressignificação e releitura, no sentido amplo dos termos. A matriz literária que recorre aos elementos verbais e pré-verbais dialoga com a ação de emular componentes do substrato vocal das ruas, do modo de falar do cidadão inglês, da linguagem de propaganda e de jogos de palavras. Dentro desta concepção, propomos uma leitura das relações entre as artes literárias e a pintura, num momento em que ambas sugerem uma provocação ao leitor-espectador, a partir de um influxo de transgressão dos seus valores estéticos convencionais. As narrativas woolfianas remetem à vocalidade e à arte abstrata. O estudo assenta-se sobre as teorias de: Paul Zumthor (2007) sobre a performance verbal; Julia Kristeva (1974) e Gérard Genette (2005), quanto a intertextualidade, e Liliane Louvel (2006, 2012) na apreciação dos liames entre literatura e pintura.

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Palavras-chave: Virginia Woolf. Performance. Intermidialidade. Intertextualidade. Iconotexto. “Se derem forma à inconstância, esse é o homem”: uma análise dos “contos” de Álvaro do Carvalhal Autor: Fernando Vidal Variani Orientador: Prof. Dr. Antonio Augusto Nery Debatedor: Prof.ª Dr.ª Patrícia da Silva Cardoso Álvaro do Carvalhal (1844-1868) nunca foi tido como um dos grandes nomes da literatura portuguesa oitocentista. Ainda assim, seu nome tem aparecido cada vez mais quando se fala de literatura fantástica nesse período em Portugal. A morte prematura, a pequena extensão e o teor da obra que deixou contribuem para a permanência de um imaginário em que figura como um autor “obscuro”, tanto no sentido de não frequentar as grandes listas e receber pouco destaque nos compêndios de literatura portuguesa, quanto no de ser frequentemente caracterizado envolto numa aura de “escritor maldito”, típica de certas caricaturas associadas ao Romantismo. O afastamento dos panoramas historiográficos é recorrente não apenas com Álvaro do Carvalhal, mas também com obras menos conhecidas (geralmente narrativas breves ou ligadas às temáticas do fantástico) de diversos autores tidos como grandes nomes da literatura Realista em língua portuguesa. Isso se deve, principalmente, a valores cristalizados que têm o “grande romance realista” como exemplo máximo da “boa literatura”. Essa perspectiva, geralmente baseada em classificações que se pretendem simultaneamente cronológicas, temáticas, sociais e estilísticas, tende a inserir Carvalhal na chamada Segunda Geração Romântica, ou Ultra-romantismo, em Portugal. Tende, ainda, a encarar o desenvolvimento de “uma literatura” (pois ela pressupõe também a identidade de uma literatura nacional) como uma sucessão de rupturas, a partir das quais um paradigma estético suplanta o outro, delineando “a história da literatura” nacional. Se sob essa perspectiva o romance realista representa geralmente uma espécie de ápice, estudos mais recentes, principalmente a partir da reflexão em torno dos temas ligados ao fantástico, encontrarão seus objetos em “regiões” pouco contempladas por esses panoramas historiográficos. O estudo de Maria Leonor Machado de Sousa intitulado O “horror” na literatura portuguesa (1979), por exemplo, partindo do mesmo princípio de fornecer uma visão panoramica e histórica da literatura portuguesa, mas desta vez delineando-a a partir das temáticas do “horror”, concede à pequena obra de Carvalhal um destaque raras vezes recebido pela crítica. Outro efeito dessa nova perspectiva é o de destacar, em vez das notáveis rupturas, algum tipo de continunidade, possíveis eixos temáticos capazes de “ligar” pontos muitas vezes

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considerados enquanto blocos isolados, como Romantismo e Naturalismo. Embora não seja nossa intenção refletir ou argumentar especificamente a partir desse tipo de classificação, ter em mente essas duas perspectivas pode ser crucial ao trabalhar com a obra de Álvaro do Carvalhal, pois acreditamos que ela é permeada por elementos geralmente relacionados a diferentes “pacotes” de visão-de-mundo ligados a certas tradições. Elegemos a “inconstância” como um ponto de partida para uma leitura de seus contos, pois embora o termo pareca fugidio e possa dificultar sua compreensão enquanto “tema”, acreditamos tratar-se de um eixo que nos permitirá percorrer as narrativas do autor, estabelecendo, quando necessário, possíveis diálogos com as constelações imaginárias que gravitam em torno de diferentes classificações e reflexões temáticas acerca da literatura oitocentista. Palavras-chave: Literatura Portuguesa, Álvaro do Carvalhal, Contos Um estudo da obra poética de Eucanaã Ferraz Autor: João Felipe Gremski Orientadora: Prof.ª Dr.ª Sandra M. Stroparo Debatedor: Prof. Dr. Prof. Alexandre André Nodari Para a dissertação de mestrado, planeja-­‐se realizar um estudo da obra do poeta carioca Eucanaã Ferraz, indo desde Livro Primeiro, publicado em 1990, quando Eucanaã tinha 29 anos, até o seu livro mais recente, Escuta, lançado recentemente, em 2015. Como parte central do trabalho, será feita uma análise da “caminhada” do sujeito poético por meio de uma descrição detalhada de cada um dos seus livros; aspectos temáticos, formais, de estilo, etc., terão sua ênfase de acordo com a pertinência deles dentro de cada obra: Martelo, por exemplo, foca--­‐se na questão da meta-poesia, Cinemateca trabalha bastante com imagens e Sentimental tem a presença de uma poesia mais lírica; enfim, cada análise irá valorizar aquilo que mais se sobressai, tanto dentro dos poemas de um livro específico quanto na obra como um todo. Entre as questões que particularizam a sua poesia, temos a tensão entre uma poesia mais luminosa, que preza pelo trabalho com a linguagem – assemelhando-se à poética de João Cabral – e de um lado mais lírico e sentimental, com traços poéticos que remetem à poesia de Manuel Bandeira e Drummond. Com relação a esse lado mais lírico da sua poesia, ao longo desse caminhar do eu poético, parece haver uma maior necessidade de “dizer mais” através dos versos, contrariando aquilo que o sujeito poético defendia no seu segundo livro, Martelo: “escrever curto/---­‐no corte”; em outras palavras, esse “eu” parece menos preocupado em filtrar para a linguagem poética os sentimentos que ele vivencia. Diversas conexões e correlações entre os livros,

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sejam contrastes no estilo, temáticos, formais, etc., bem como a manutenção dessas características ao longo das obras, serão apontadas com o intuito de, através desse estudo específico de cada livro, estabelecer um cenário geral da obra poética de Eucanaã Ferraz. Outro aspecto que será trabalhado – e que terá um capítulo à parte na dissertação – se refere mais especificamente à tensão autobiografia-ficção que se estabelece ao longo de todos os livros. Há momentos em que detalhes pessoais do próprio Eucanaã sobressaem, misturando-se à voz poética, momentos em que não sabemos o quanto essa voz é "ficcional" e separada da voz do autor e também situações em que essa voz é impessoal e “despersonalizada”. Palavras Chave: Eucanaã Ferraz; sujeito poético; pessoalidade; claro-escuro. O passado fragmentado: uma leitura da peça Rasto Atrás de Jorge Andrade Autora: Julia Raiz do Nascimento Orientador: Prof. Dr. Walter Lima Torres Neto Debatedor: Prof. Márcio Luiz Mattana O presente projeto tem o objetivo de analisar como a percepção fragmentada do tempo se materializa em forma estética épica no texto dramático Rasto Atrás (1967) do dramaturgo paulista Jorge Andrade. As reminiscências do personagem Vicente e sua volta à cidade natal desencadeiam um confronto doloroso com o passado, porém necessário para pensar o presente. Assim, a discussão parte da ideia de rasto/rastro como marca involuntária da memória produzida a partir de contextos de violência. Registrada pela linguagem, a memória não-intencional passa a ser pista para investigação de um processo complexo de formação da história individual e coletiva. A escrita memoralística de Jorge Andrade, no que tange o texto Rasto Atrás, faz parte de um projeto de escrita o qual abarca - a partir do ciclo de dez peças Marta, a árvore e o relógio - a história do Brasil desde fins do século XVIII (As Confrarias) até a década de 60 do século XX (O Sumidouro). Esta pesquisa pretende investigar como o ciclo, ao pensar a brasilidade por meio da arte teatral, contribui para a formação de uma consciência autocrítica coletiva. A discussão metalinguística construída no texto insiste na possibilidade da linguagem artística, ao manipular o tempo, propor outras formas de percepção da realidade. Ademais, pretende-se realizar uma leitura do texto que não se sustente em referências biográficas - como se tem observado em estudos anteriores sobre o autor - mas que invista na relação de Rasto Atrás com as demais obras do ciclo no que concerne o tempo como tema. É de nosso interesse, ainda, apontar as inovações formais de Andrade incluindo sua obra numa tradição narrativa que tem como expoente Anton Tchekhov. Além de pensar como o trabalho estético do dramaturgo amplia a tradição teatral a partir, por exemplo, da

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interlocução com a linguagem cinematográfica. Nosso maior objetivo, portanto, é realizar o estudo pormenorizado dos elementos formais de Rasto Atrás ao atentar para o tratamento fragmentado do passado. Palavras-chave: teatro brasileiro; Jorge Andrade; memória; tempo. A poesia de Marcelo Ariel Autora: Diamila Medeiros dos Santos Orientadora: Prof.ª Dr.ª Sandra Mara Stroparo Debatedor: Prof. Dr. Guilherme Gontijo Flores O projeto de mestrado que será apresentado no Fórum de Produção Discente surgiu de uma pesquisa inicial sobre as configurações do espaço da cidade na poesia de Marcelo Ariel – poeta brasileiro contemporâneo, nascido em Santos-SP, em 1968 –, levando-se em conta a sessão inicial do “Tratado dos Anjos Afogados”, publicado em 2007. No entanto, em razão do caráter do trabalho, na Pós-Graduação as pesquisas se expandiram para as demais obras do poeta, publicadas entre 2007 e 2014, através de selos “cartoneros” e convencionais.

A poesia de Marcelo Ariel versa sobre o mangue de Cubatão, as grandes obras da produção artística ocidental, o narcotráfico, e se estende até os questionamentos metafísicos mais filosóficos do homem, sobre a morte, o nada, o ”real”. E interessa-nos entender que olhar poético é esse capaz de transitar por “espaços” tão distintos e de que forma (pensando em “forma” como o substrato essencial), se dá isso em sua poesia. Na qual vemos a cidade industrial, deteriorada pela exploração desenfreada do capital que resultou em catástrofes ambientais e marginalização da população, ganhar outras nuances quando se associa a um intenso processo de referenciação a um panteão de artistas (escritores, músicos, pintores, etc). E as questões existenciais se destacarem numa poética que reclama para si o direito de pensar também sobre isso em meio ao caos social.

Em Ariel, a paisagem brutal reconstruída através da poesia ganha outras possibilidades através da linguagem: o desastre deixa de fazer parte de uma situação localizável espacial e temporalmente até chegar ao intangível da representação da barbárie de forma manifesta em alguns poemas específicos e de forma estrutural na poética de Ariel, o que pretendemos abordar na dissertação. Para tanto, recorremos a um aporte teórico que prioriza as noções de visualidade e imagética, como os do francês Michel Collot e seus estudos sobre paisagem poética e as da professora Ida Alves, em continuidade com os estudos de Collot. Fizemos essa opção por acreditarmos que essa perspectiva possa render leituras mais profícuas, tendo em vista o tipo de trânsito estabelecido pela voz poética de Ariel. Além disso, entendemos essa voz como muito representativa da noção de

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“crise” na poesia como proposta por Marcos Siscar, não no sentido do fim do verso, mas no sentido de se entender a poesia como a formalização da crise (existencial, moral, social religiosa) do homem moderno e contemporâneo. Palavras-chave: poesia contemporânea, crise, paisagem Caminhos da selva escura: análise da obra de Walmir Ayala Autora: Cristiana Sant’Anna Monteiro Orientador: Prof. Dr. Fernando Cerisara Gil Debatedor: Prof. Dr. Luis Bueno O trabalho vai girar em torno da obra “A selva escura”, publicada em 1990, do escritor gaúcho Walmir Ayala. O objetivo principal será, pela análise da obra, destacar características retomadas do regionalismo, principalmente a importância da grande propriedade rural e a decadência econômica que assolou os grandes produtores de café após o crack da bolsa de Nova York em 1929. A melancolia, a loucura, o abandono e o suicídio, decorrentes dessa decadência, estão presentes na obra e também serão objeto de análise. Destaca-se o binômio cidade/campo, analisado na perspectiva proposta pelo romance de urbanização, categoria desenvolvida no trabalho do professor Fernando Gil, publicada com o título “O romance da urbanização”. E ainda, na questão do espaço do romance, a importância da casa como núcleo aglutinador dos personagens Palavras-chave: Ayala; decadência; loucura; suicídio, melancolia.