Résvista n.º 3 |

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Surge a ambição de materializar um espaço comum de leitura, aprendizagem, enriquecimento e saber. Um sítio físico que espelhe em palavras e ideias o panorama atual e as preocupações que o acompanham, apontando possíveis caminhos e alternativas. Surge a sua Rés VISTA...porque o saber é a melhor forma de prevenção, de combate e de ajuda ao próximo. Desfrute, boas leituras! Neurologia na comunicação Refluxo gastroesofágico Doença crónica pediátrica Barómetro de emoções Converse consigo mesmo Acidente Vascular Cerebral Caminhar Meios de comunicação q.b. Info Flashes (des)Olhar sobre... Problema de consciência direitos reservados Ferraz de abreu Pág’s 24/33 “Portugal será sempre o meu destino de férias, e o País para onde irei voltar, um dia” pág’s 50/52 Um perfil empreendedor Dicas para Poupar Declarações de IRS Cristiana em Inglaterra Outros mundos... pág’s 6/7 pág’s 8/9 pág’s 10/11 pág’s 12/13 pág’s 14/15 pág’s 16/17 pág’s 18/19 Revista bimestral | nº 3 | ABRIL 2014 quem é quem? pág’s 48 pág’s 34 pág’s 37 pág’s 39 pág’s 42/43 Outros mundos... Viagens ao património severense pág’s 46/47 pág’s 44/45 pág’s 54/55 Comunicação, educação pág’s 22/23 Seleção Musical “O gosto proibido do gengibre” “A rapariga que roubava livros” Pedro Chagas Freitas pág’s 58 pág’s 59 pág’s 59 pág’s 62/63

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Résvista n.º 3 | abril-maio 2014

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Surge a ambição de materializar um espaço comum de leitura, aprendizagem, enriquecimento e saber. Um sítio físico que espelhe em palavras e ideias o panorama atual e as preocupações que o acompanham, apontando possíveis caminhos e alternativas. Surge a sua Rés VISTA...porque o saber é a melhor forma de prevenção, de combate e de ajuda ao próximo. Desfrute, boas leituras!

Neurologia na comunicação

Refluxo gastroesofágico

Doença crónica pediátrica

Barómetro de emoções

Converse consigo mesmo

Acidente Vascular Cerebral

Caminhar

Meios de comunicação q.b.

Info Flashes

(des)Olhar sobre...

Problema de consciência

dire

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rese

rvad

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Ferraz de abreu“Ensinaram-me a sonhar com a perfeição”

Pág’s 24/33

“Portugal será sempre o meu destino de férias, e o País para onde irei voltar, um dia”

pág’s 50/52

Um perfil empreendedorDicas para PouparDeclarações de IRS

Cristiana em InglaterraOutros mundos...

pág’s 6/7

pág’s 8/9

pág’s 10/11

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pág’s 14/15

pág’s 16/17

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Revista bimestral | nº 3 | ABRIL 2014

quem é quem?

pág’s 48

pág’s 34

pág’s 37

pág’s 39

pág’s 42/43

Outros mundos...Viagens ao património severense

pág’s 46/47

pág’s 44/45

pág’s 54/55

Comunicação, educação pág’s 22/23

Seleção Musical

“O gosto proibido do gengibre”

“A rapariga que roubavalivros”

Pedro Chagas Freitas

pág’s 58

pág’s 59

pág’s 59

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Ajude-nos a colorirNa sua declaração de IRS digite 501 719 881

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Saúde e Bem-EstarNeurologia na comunicaçãoDoença de refluxo gastroesofágicoDoença crónica pediátricaBarómetro de emoçõesConverse consigo mesmoAcidente Vascular CerebralCaminhar

EducaçãoComunicação, educação....

Quem é Quem?Ferraz de Abreu

Atualidade e SociedadeMeios de comunicação q.b.Info Flashes(des)Olhar sobre...... um problema de consciência

Gestão FinanceiraUm perfil empreendedorDicas para pouparDeclarações de IRS

Outros Mundos...Cristiana em InglaterraViagens ao património severense

AculturarSeleção MusicalLivroFilmePedro Chagas Freitas

FotogaleriaA natureza em comunicação

pág. 6

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pág. 59

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Índi

ceDiretor executivo

Diretora científica | Coordenadora

Conceção gráfica e design

Paginação e finalização para online

Revisão

Licínio Cardoso

Bárbara da Silva Costa

Rui Pires da Silva

Ana Filipa Soares

Mª Madalena T. da Silva

Propriedade:

Colaboradores:Alexandra BastosAna TavaresÂngela AmaralDavid NóbregaDina Marli NóbregaDiogo VeigaElsa NóbregaFeliciano AngélicoLuís Manuel SilvaLuís Silva Margarida CardosoMário SilvaPedro Chagas FreitasRicardo FonsecaSamuel CostaTatiana Couto

Nota de redação: relativamente ao acordo ortográfico, a Rés Vista respeita a opção dos seus colaboradores

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04 | abr./mai. 2014 revista | Rés Vista

“Vemos, ouvimos e lemos, não podemos ignorar”, escreveu Sophia de Mello Breyner Andresen.

A comunicação é uma necessidade subjacente ao simples facto de exis-tirmos. Comunicamos porque existimos, toda a existência é comunicação.

Neste século XXI, “vemos, ouvimos e lemos” para além de toda e qual-quer distância: tudo na hora. Os meios, atualmente, superam a própria mensagem, a tal ponto que mensagem e meios se confundem, não sendo estranho que a mensagem seja mais valorizada consoante o meio utiliza-do, independentemente do que se diz.

São muitas as mudanças operadas nestes últimos 50 anos em termos de tecnologia e comunicação, mas não é líquido que hoje comuniquemos melhor. As tecnologias da comunicação têm aberto novas estradas, cria-do mais oportunidades, facilitado a aproximação, atenuando as distâncias mas… não é inequívoco afirmar que hoje estejamos mais próximos uns dos outros.

Se aceitarmos que o ser humano, enquanto pessoa, o é enquanto se re-laciona com outra pessoa, seria de supor que hoje se é mais pessoa pelo facto de se comunicar mais e melhor. Porém, as novas tecnologia da co-municação, involuntariamente ou não, estão a cavar um fosso cada vez maior entre as pessoas. As tecnologias da comunicação vieram diminuir a distância do ato de comunicar, mas não aproximaram mais as pessoas. Nada substitui a presença das pessoas, face a face, mão na mão, olhos nos olhos.

O melhor meio de comunicação é e será sempre a própria pessoa.A diversidade e a velocidade com que hoje se comunica trouxe ainda um

outro desafio: a possibilidade de existir para além do instante; o que agora se comunica é imediatamente ultrapassado e substituído, nada permanece para além de uns instantes.

E assim se questiona cada vez mais: será verdade o que “vemos, ouvimos e lemos”?

Pe. Licínio CardosoPres. direção do CSP Maria da GlóriaProfessor bibliotecárioDiretor do jornal Terras do VougaDiretor Executivo da Rés Vista

Editorial

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Drª. Bárbara CostaPsicóloga clínica do CSP Maria da GlóriaDiretora Científica da Rés Vista

A acompanhar os avanços dados pela investigação a nível comporta-mental e no traçar de perfis, surge a pretensão de melhor interpretar e comunicar cada dinâmica relacional que se tece nas esferas pessoal, pro-fissional e social.

Dominar esta área, diga-o quem nela tem formação, é uma sensação agridoce de grandiosidade e maldição, porque cada aprendizagem hu-mana cruza os planos pessoal e profissional, desaguando na mesma pes-soa, em cada momento, a cada segundo.

Diferentes gesticulares, trejeitos faciais, movimentos oculares, dilatação pupilar, torna-se quase que mágico e viciante a sua constante contempla-ção, como se de um scâner humano se tratasse. Pode ser útil, interessante até, mas também é revelador quando pequenas incoerências se materia-lizam e se caçam no ar, quando a dúvida entre o verbal e não-verbal se instala.

Percebê-lo de forma mecânica e automática, gera em nós a sensação de quebra-cabeças e caça ao tesouro, partindo à junção de retalhos compor-tamentais. E, às vezes, chegamos a conclusões que podíamos suspeitar, mas para as quais não estávamos preparados, dado o grande fosso entre o campo da imaginação e do real, e o factor esperança que os medeia.

Emocionalmente teorizando, é menos disruptivo lidar com ligeiras in-quietações do que com certezas que implicam ações que, na maioria das vezes, não estamos dispostos a concretizar.

É poderoso o saber comunicar de forma clara, equilibrada e racional. Esta versatilidade fundamenta relações saudáveis e cordiais, reduzindo ruídos e conflitos. No entanto, o saber interpretar é um patamar mais pe-rigoso, uma dormência constante que desgasta, que martiriza e que gera a deceção. Em jeito de desabafo, fiquemos pela primeira e sejamos mais felizes. Não vislumbremos como arma de ataque, o que é, na sua essência, uma arma de autodestruição que não permite que nos camuflem miude-zas e impurezas, tornando-nos mais realistas, menos idealistas.

“Quem olha para fora sonha, quem olha para dentro desperta”(Carl Jung)

Editorial

Se não estamos preparados para a verdade, porque a procuramos?

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06 | abr./mai. 2014 revista | Rés Vista

David NóbregaLicenciado em ciências da saúdeFaculdade de medicina, U. Coimbra

No calor da emoção e entusiasmo do tema comunicação podemos, neste contexto, ser levados a dizer exclamativamente que a capacidade de comunicar é aquilo que nos distingue de todos os outros seres vi-vos! De facto, a capacidade do nosso cérebro no campo da comunicação (e mais especificamente da lingua-gem) é um grande feito a nível da evolução da nossa espécie, é em parte algo por onde nos diferenciamos dos “animais”.

É admirável não só a complexidade de sons/fonemas que emitimos, como a capacidade de controlar a respiração o tempo suficiente para o fazer, mas e atrever-me-ia a dizer acima de tudo a capacidade da nos-sa “massa cinzenta” processar informação, de forma a criar aquilo que se designa o pensamento abstrato, raciocínio lógico, interligação com memórias prévias, seriação de conceitos, regras gramaticais, e envio de estímulos nervosos a estruturas das cordas vocais, respiratórias, buco-faciais de modo a produzir sons, palavras, frases, discurso.

Vamos de seguida, e à luz dos conhecimentos atuais da neurologia, tentar compreender como se pro-cessa em termos funcionais a linguagem, cerne da comunicação humana através de um formato pergunta resposta:

Todo o cérebro é responsável pelas atividades da comunicação/linguagem?O cérebro funciona como um todo. Contudo, existem zonas deste especializadas em determinadas ta-

refas: por exemplo, no contexto da comunicação existe uma área especializada no processamento da com-preensão verbal – área de Wernicke, e outra no processamento da produção verbal - área de Broca. Ainda neste contexto convém referir que existem áreas também especializadas na perceção auditiva, visual, e ain-da áreas responsáveis pelo envio das “ordens” ao órgão vocal. Todas estas estão em constante comunicação de modo a permitir: a emissão e compreensão do discurso.

Mas um cérebro tem 2 hemisférios! Em qual deles estão estas zonas da comunicação?Tal como em muitas outras áreas e teorias, existem sempre 2 opostos, que se ora atraiem ora afastam,

mas que enfim, se complementam. O cérebro tem também assim 2 “opostos”; 2 hemisférios: direito e es-querdo. Diferentes e complementares. O direito mais emocional, intuitivo, artístico, responsável pela capa-cidade de perceção do espaço. O hemisfério esquerdo é mais racional, matemático, e está mais envolvido

Neurologia Na comuNicação

Saúde e Bem-Estar

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no processamento da linguagem. É neste que se encontram as áreas da linguagem referidas ante-riormente, salvo raras exceções.

O meu avô desde que teve um AVC deixou de conseguir falar. Como se explica isso tendo em conta estas áreas?

O cérebro é um órgão nobre, e portanto exigen-te! Necessita de ter nutrientes disponíveis a todo o momento. Estes são fornecidos pelo sangue que supre através dos vasos sanguíneos. Quando ocor-re um AVC, por hemorragia ou oclusão (trombo)

Saúde e Bem-Estar

há um corte de nutrientes. Quanto mais tempo este corte durar mais provável é que os neurónios morram e as funções normais se percam definiti-vamente. Se isto ocorrer num território vascular que envolva estas zonas de linguagem – Broca – a pessoa que sofreu o AVC vai ter dificuldades ou mesmo ser incapaz de falar. Outra situação possí-vel é a área afetada ser a área de Wernicke. Neste caso o doente será incapaz de compreender o dis-curso.

direitos reservados

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Samuel CostaLicenciado em medicinaMédico interno de gastroentrologia (hospital de Braga)

doeNça de reFluXo gaSTroeSoFÁgico

O refluxo gastro-esofágico acontece praticamente em todas as pessoas, sobretudo após as refeições, e de modo assintomático. Diz respeito à passagem do conteúdo gástrico para o esófago, na ausência de vómito.

Quando este se torna patológico, e capaz de produzir sinais, sintomas e lesões no esófago, passamos a falar de doença de refluxo gastro esofágico (DRGE).

Cerca de 40% da população adulta, no mundo ocidental, apresenta sintomas sugestivos de DRGE todos os meses e 18% apresenta esses sintomas todas as semanas.

É uma condição crónica, que implica um tratamento de manutenção prolongado para evitar recaídas sinto-máticas e/ou lesões do esófago.

Quais as causas do refluxo gastroesofágico?O refluxo gastroesofágico resulta de um desequilíbrio entre os factores de defesa e os factores de agressão

da mucosa esofágica.Os factores que agridem a mucosa são alguns alimentos (produtos derivados do tomate, sumos de citrinos,

chocolate, bebidas com cafeína), o tabaco, o álcool, alguns medicamentos (nitratos, estrogénios, contraceti-vos orais, bloqueadores dos canais de cálcio, alendronato), o conteúdo ácido do estômago e a bílis (quando ocorre refluxo biliar).

Se existir uma hérnia do hiato, condição em que uma porção do estômago passa através do diafragma para a cavidade torácica, poderá ocorrer uma alteração da barreira anti-refluxo (que inclui o esfíncter esofágico inferior), aumentando o refluxo.

O aumento da pressão intra-abdominal (roupa apertada, gravidez, tosse, obesidade, exercício físico súbito que aumente a pressão intra-abdominal, obstipação) é outra causa comum de refluxo.

Como se manifesta o refluxo gastroesofágico?A azia é a manifestação mais frequente e corresponde a uma sensação de queimadura no meio do peito,

que pode irradiar em direcção ao pescoço, surge após as refeições e que pode agravar na posição deitada ou inclinada para a frente.

A regurgitação corresponde à sensação de que os alimentos voltam à boca, sem esforço de vómito.Pode ocorrer dor ou dificuldade em engolir os alimentos, dor torácica, por trás do esterno e que se pode

confundir com uma dor de origem cardíaca.Outros sintomas possíveis são tosse, falta de ar, rouquidão, dor de ouvidos ou gengivite.Nalguns casos poderão surgir complicações, como as úlceras, as estenoses, a transformação da mucosa eso-

fágica em revestimento de tipo intestinal (esófago de Barrett) e cancro.

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Como se diagnostica o refluxo gastroesofágico?O diagnóstico do refluxo gastroesofágico baseia-se na avaliação dos sintomas (história clínica).Poderão ser solicitados exames como uma endoscopia digestiva alta (EDA) e/ou a medição do pH esofágico

durante 24 horas.Os doentes com sintomas/sinais de alarme (dificuldade em engolir os alimentos; perda de peso; vómitos de

sangue ou fezes pretas; DRGE com mais de 10 anos) devem fazer EDA.

Como se trata o refluxo gastroesofágico?No tratamento do refluxo são úteis medidas de carácter geral, tais como fazer refeições pequenas, evitar

alguns alimentos, como as gorduras, o chocolate, os citrinos, refogados à base de tomate e todos os alimentos que causem os sintomas.

Devem-se também evitar bebidas gaseificadas, bebidas com cafeína, evitar comer nas 3 horas que precedem o deitar, não fumar, perder peso, não usar roupa apertada e evitar actividades que aumentem a pressão intra--abdominal logo após as refeições.

Vale ainda a pena elevar a cabeceira da cama cerca de 15 centímetros durante o sono. Utilizam-se medicamentos que permitem controlar a secreção ácida do estômago - os inibidores da bomba

de protões (omeprazole, pantoprazole, lansoprazole, rabeprazole e esomeprazole) - que têm demonstrado elevada eficácia no alívio dos sintomas e na cicatrização das lesões da mucosa.

Em alguns casos pode estar indicada a cirurgia anti-refluxo, realizada por via laparoscópica.

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Ricardo FonsecaLicenciado em enfermagemMestre em cuidados paliativos

doeNça cróNica pediÁTrica“iNFormar para coNhecer”

Saúde e Bem-Estar

O desenvolvimento e aper-feiçoamento dos meios de comunicação fez com que os mesmos alargassem as suas áreas de interesse, intervenção, através de campanhas publici-tárias, programas informati-vos, entrevistas, publicação de artigos entre outras formas de partilhar informação.

Uma das áreas que tem acompanhado o desenvolvi-mento dos meios de comuni-cação é a área da saúde pedi-átrica que tem sido objeto de estudo e abordada de diferen-tes maneiras, no que diz res-peito aos conteúdos, ao dar voz às associações de diversas tipologias de doentes, ao pro-mover campanhas de sensi-bilização e de angariação de fundos com o objetivo de sen-sibilizar e informar.

As doenças pediátricas co-meçaram a ter algum relevo

na comunicação social com a participação de médicos e especialistas nesta área em diversos programas informa-tivos. Porém há um grupo de doenças na área da pediatria que necessita ser partilhado com a sociedade, de modo a conhecerem todos os fato-res intrínsecos, a aprenderem a lidar e conviver com estas crianças, criando um clima de aceitação da comunidade em vez do preconceito com o qual vivem, motivado pelo desco-nhecimento.

Refiro-me ao grupo das doenças crónicas, neste caso pediátricas, que podem ser definidas como “… qualquer condição médica com uma expectativa razoável de mais ou menos 12 meses, excepto em caso de morte, e que en-volve de forma severa diferen-tes sistemas orgânicos ou um

sistema orgânico de forma a precisar de cuidados pediátri-cos específicos com prováveis períodos de hospitalização num centro de cuidados terci-ários” (Feudtner, Christakis e Connel).

A doença crónica, em pe-diatria, causa um grande im-pacto na criança, nas famílias e nos profissionais de saúde e na sociedade /comunida-de onde estão inseridos, com consequências a níveis físicos, psicológicos, emocionais, so-ciais e espirituais. No sentido de minimizar estes efeitos é necessário informar, falar mais sobre esta tipologia de doen-ças que se torna cada vez mais frequente, derivado aos avan-ços tecnológicos e da medici-na, que aumentam os anos de vida destas crianças, que anti-gamente tinham uma diminu-ta esperança média de vida.

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Urge que os profissionais de saúde que exercem funções na área da pediatria ganhem voz na comunicação social, para que possam partilhar os seus conhecimentos, ofe-recendo, assim, ferramentas e estratégias vitais para que cada pessoa possa conhecer melhor as doenças cróni-

cas pediátricas, de modo a assumir o seu papel, a sua responsabilidade na trans-missão de conhecimento e manutenção da qualidade de vida destas crianças.

Só com uma comunicação mais eficaz, mais eficiente, adequadamente direcionada, podemos contribuir para um

aumento da informação quer em conteúdos e quer em qua-lidade, de modo a podermos também desmistificar alguns conceitos, mitos, crenças e valores erróneos. É função de cada pessoa que está en-volvido com esta tipologia de doenças, informar para dar a conhecer.

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barómeTro de emoçõeSa arTe de comuNicar em Família

O Barómetro das emoções possibilita que o Ser Humano enquadre os estados emocionais e a intensidade referente a cada sentimento.

O mundo emocional encontra-se imbuído por uma panóplia de sentimentos e afetos e a comunicação humana é uma forma de partilha de estados emocionais, sob a forma de compor-tamentos sejam estes verbais ou denotados pela linguagem não verbal.

Uma boa comunicação familiar permite que os pais conheçam melhor os seus filhos dando--lhes condições para os ajudar.

A comunicação, com limites e regras mas sem tabus, permite que pais e filhos compreendam e expliquem causas e problemas, desenvolvendo recursos/estratégias de coping funcionais para resolverem situações problemáticas, tomando decisões, potenciando, desta forma, a maturida-de desenvolvimental.

Há mundos familiares que se encontram por entre o complexo olhar da alma. Há passos que ganham sentido e contorno quando seguem a bússola mágica do coração e quando se apren-de a regular e a gerir o barómetro de emoções, intrínseco e idiossincrático a cada Ser Humano.

Numa linhagem reflexiva poder-se-á, nem

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Ângela AmaralMestre em psicologia clínica

que mais não seja metaforicamente, compa-rar a vida humana a um relógio composto por tempos! Tempos infinitos, tempos de saudade, momentos em que se partilham pensamentos, experiências, afetos e comportamentos, ou seja, momentos em que se comunica.

O tempo para comunicar e saber comunicar permite que a dinâmica familiar ganhe funcio-nalidade e flexibilidade não sendo uma família rígida nem permissiva mas antes um equilíbrio assertivo em que os protagonistas se assumem com coerência, exercem os seus papéis, parti-lhando e consolidando inter-aprendizagens.

Na sociedade atual, o tempo disponível pode ser escasso mas a importância de comunicar em família é fulcral para o adequado desenvolvi-mento dos seus membros, em geral e de cada um em particular.

No enredo familiar a comunicação assume diversas formas e tipos, comunicar com pala-vras é dos modos mais explícitos de partilhar-mos informação emotiva, cognitiva ou com-portamental, contudo a complexidade inerente à condição humana assume outras formas co-municacionais, comunicamos quando ativamos o nosso barómetro de emoções, partilhamos

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sentimentos e princípios quando nos compor-tamentos de uma dada forma e comunicamos com expressões corporais. Comunicar é uma arte complexa de partilhar, de interpretar e de assimilar compreensivamente cognições, emo-ções e comportamentos.

A família funciona como uma equipa multi-disciplinar que terá sucesso se cada um dos seus membros ceder um contributo para um sistema

holístico funcional e coeso. O todo familiar é mais do que a soma das partes, o melhor retrato familiar é aquele que se baseia no exemplo, no respeito sem receio, na liberdade com limites e na educação parental sustentada pela prestação de cuidados e pela sensitividade. A arte de cui-dar e de comunicar é reciproca e só será estrutu-rante se estabelecida por cada um dos membros que constituem o agregado familiar.

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Saúde e Bem-Estar

Bárbara CostaMestre em psicologia clínica

coNverSe coNSigo meSmo

1.O nosso cérebro, numa base mais primitiva e inconsciente, procura de uma forma constante e com base nas nossas experiências prévias razões para acontecimentos atuais, daí muitas vezes a nossa interpre-tação ser enviesada e parcial, desfasada nas variáveis tempo, contexto e pessoa.

2.Quando não conhecemos a nossa forma de pensar e associar informação, cometemos erros de forma continuada a nível de julgamento e interpretação de situações, contribuindo para desfechos idênticos a nível interpessoal e profissional devido a precipitações no pensar sem reflexão racional, generalizando um acontecimento com uma pessoa para todas as outras.

3.O solilóquio que, senso comum, é designado de monólogo é uma ferramenta que se revela eficaz. O conversar sozinho, num tom de voz moderadamente audível, permite uma maior compreensão, articula-ção e sequenciação de acontecimentos e pensamentos, ativando diferentes tipos de memória e de campos de estimulação cerebral, promovendo maior coerência e lógica. Este tipo de comunicação permite uma maior compreensão dos próprios sentimentos e pensamentos, apurando a sua coerência ou não aplica-bilidade, sendo útil verbalizar listas de hipóteses, argumentos contra e a favor, revendo episódios com o mesmo interveniente e apreciando a sua conduta, evitando leviandade no julgar.

4.A comunicação é a forma mais próxima de expressão e verbalização do que ocorre a um nível interno, no entanto esta não é perfeita, sendo que antes da verbalização a terceiros, devemos recorrer ao monólogo, percebendo o impacto e o sentido das palavras que usamos.

Quando nos dirigem expressões que nos deixam desconfortáveis devemos devolvê-las no imediato, a quem as pronunciou, “estás a dizer-me que…”, dando-lhe a hipótese de racionalizar e de corrigir ou reco-nhecer uma falha na forma como comunicou. Evite conflitos desnecessários. Nem sempre conseguimos associar o conteúdo interno ao verbal, em harmonia.

5.O monólogo também se revela útil a nível motivacional. É facto que cerca de 95% da população comu-nica de forma negativa, condicionando o cérebro e por consequência o padrão comportamental e emocio-nal. Por norma são utilizadas expressões em que colocámos a tónica no polo negativo, “não quero falhar” ao invés de “quero ter sucesso”, desta forma o subconsciente regista a ideia chave – falhar.

NÃO PENSE NA COR VERMELHA DA MAÇÃ! Estou certa que, apesar da ênfase no não, já terá pensado na cor e na fruta referidas. O mesmo acontece a nível cerebral, daí a pertinência de usar a (auto)comunicação como aliada e não como se de um inimigo se tratasse.

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abr./mai. 2014 revista | Rés Vista 15

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16 | abr./mai. 2014 revista | Rés Vista

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acideNTe vaScular cerebral (avc)

Tatiana CoutoLicenciada em fisioterapiaMestre em gerontologiaPós graduada em fisioterapia em unidade de cuidados intensivos

ACIDENTE VASCULAR CEREBRAL (AVC)

Para esta edição de Abril/ Maio - meses da Saúde e do Coração - preparamos este artigo com o objetivo de alertar o leitor acerca de uma doença que, segundo a Direcção Geral de Saúde (2001), é uma causa comum de morbilidade e mortalidade na Europa, sendo a primeira causa de morte em Portugal e a principal causa de incapacidade nas pessoas idosas, o AVC.

A sigla AVC significa Acidente Vascular Cerebral, uma doença popularmente conhecida como “derrame” e ocorre devido ao rompimento ou entupimento dos vasos sanguíneos do sistema nervoso central, determi-nando dois tipos de AVC: o AVC Hemorrágico - quando o sangramento ocorre dentro ou ao redor do cérebro -, e o AVC isquémico - quando um coágulo bloqueia o fluxo sanguíneo para uma área do cérebro.

É também de referir as tromboflebites que podem acontecer em veias superficiais (tromboflebites super-ficiais), assim como em veias de grande calibre e profundas (tromboflebites profundas ou trombose venosa profunda, TVP). A TVP é uma patologia muito comum que muitos confundem com o AVC, mas que também pode levar à morte, caso o coágulo (trombo), que antes obstruía uma veia profunda como a safena, passe para a corrente sanguínea, dando origem a um êmbolo que pode seguir pela veia cava inferior até aos pulmões, interrompendo o fluxo sanguíneo e provocando um enfarte pulmonar designado embolia pulmonar ou trom-boembolismo pulmonar (TEP).

Quem é mais atingido? Existem vários factores que aumentam o risco para ter um AVC, ou até mesmo para ter uma TVP. O perfil

mais comum e com maiores probabilidades de contrair a doença é aquele que reúne as seguintes caracterís-ticas: portadores de hipertensão arterial (≥140x90mmHg), obesos, sedentários, tabagistas, etilistas, dia-béticos (≥140 mg/dl), portadores de alguma doença cardíaca (arterosclerose, enfarte agudo do miocárdio, trombose venosa profunda), dislipidémicos (níveis elevados ou anormais de lipídios no sangue) ou com hi-percolesterolemia (colesterol alto ≥ 200-240mg). De acordo com um estudo realizado (2006), 68,5% dos por-tugueses apresenta valores de colesterol iguais ou superiores a 190 mg/dl. Aproximadamente um quarto dos portugueses apresenta colesterol de risco elevado (>240 mg/dl) e 45,1% apresentam risco moderado (190-239 mg/dl). O próprio envelhecimento, por si só, também é considerado um factor desencadeador, visto provo-car um endurecimento e espessamento progressivo da parede das artérias, com diminuição da elasticidade arterial. Também não escapam os fatores emocionais (o stress e a depressão) muitas das vezes associados ao aumento da tensão arterial. É pertinente acrescentar que esses fatores de risco estão presentes em 90% dos casos de AVC.

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E quais são os sintomas?A Sociedade Portuguesa de AVC define os sintomas de um derrame cerebral pela nomeação dos “3 F”:

desvio da face; falta de força num braço; dificuldade em falar. Mas, estes estendem-se a outros sintomas asso-ciados como ter uma dificuldade súbita em mexer um braço, uma perna ou ambos de um lado do corpo, uma falha repentina na visão, a diminuição da sensibilidade ou “formigueiro” num dos membros, a dificuldade em caminhar ou entender as pessoas à sua volta, bem como dores de cabeça fortes.

Como podemos prevenir?O melhor tratamento para o AVC é a sua prevenção! A melhor maneira de prevenir o AVC é controlar

os fatores de risco. Controlar o fator mais responsável pelos AVC´s, a hipertensão (equivale a um terço das ocorrências), evitar o cigarro, combater o sedentarismo, perder peso, manter uma alimentação saudável, nor-malizar as taxas de gorduras no sangue, controlar a diabetes, evitar o consumo excessivo de álcool, equilibrar--se mentalmente (sem exaltações) e tomar as medicações prescritas pelo médico caso já tenha sofrido alguma doença cardíaca.

Quando se sofre um AVC é necessário um acompanhamento multidisciplinar e o fisioterapeuta faz parte desta equipa de saúde. O fisioterapeuta vai atuar tendo em vista a reabilitação global do indivíduo, assim como orientar e esclarecer a família sobre a necessidade de suporte e apoio familiar, seja quanto à disposição do quarto, quanto ao posicionamento e movimentação no leito, entre outros. Sempre com o princípio básico de estimular o padrão anti-espástico (rotação externa de ombro com extensão do membro superior e rotação interna e flexão do membro inferior) visando estimular a neuroplasticidade, daí uma das técnicas utilizadas ser o Constraint-Induced Movement Therapy (CI-therapy) ou uso-forçado, onde o lado não afetado é obriga-do ao desuso, favorecendo assim o uso forçado do membro afetado na realização das atividades de vida diária, como o simples escrever numa folha, simular o comer numa malga de sopa ou beber um copo de água. É incentivado ao convívio social e a realizar todos os procedimentos e técnicas para prevenir as complicações e deformidades. São também incentivados a auto-mobilização do membro superior, membro inferior, exercício de ponte, dissociação de cinturas escapular e pélvica, estabilização do tronco e cinesioterapia também na boca, na face e nas mãos, desfazendo assim o pensamento de ser bom para o utente exercitar o fechamento da mão ou apertar uma bolinha. Este movimento não é anti-padrão, mas favorece o padrão flexor do cotovelo, pelo que não se aconselha, de todo, na recuperação e reabilitação do utente.

Uma vez conseguido um maior controle do tronco e equilíbrio, com maior estabilidade física, será tam-bém introduzido o treino das transferências de mudanças de decúbito, como sentar-se na cadeira, erguer-se e iniciar o treino da marcha. Lembrar também que poderá ser necessário, para prevenção de deformidades ou úlceras de pressão, muito comuns nestes utentes, a prescrição de órteses ou meios auxiliares de marcha.

Quando alguém sofre um AVC, todos nós - utente, família, amigos e equipa de saúde - devemos estar uni-dos e motivados para um processo de reabilitação eficaz.

Se nunca sofreu um AVC continue a PREVENIR! Se suspeitar que está a ter um AVC: PENSE RÁPIDO. AJA RÁPIDO. O AVC é uma emergência médica!

A partir do início dos sinais/sintomas, o tempo para tratar o AVC é limitado.

Tempo perdido é cérebro perdido! Seja mais rápido que um AVC. Quanto mais precoce o tratamento for administrado, melhor será o seu efeito.

Saúde e Bem-Estar

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Diogo VeigaProfessor de Educação Física

camiNhar Sim maS “com péS e cabeça”

As caminhadas tornaram-se muito usuais, mas nem sempre são feitas da melhor forma, pelo menos para o fim a que se destinam, perder peso, baixar colesterol, etc.

De uma forma geral uma sessão de treino, divide-se em três fases. O organismo leva cerca de 15-20 minutos a estar preparado para

o exercício físico, o ritmo cardíaco e respiratório aumentam, assim como a temperatura corporal, estes são os indicadores mais fáceis de detectar.

Vamos chamar a esta fase o período de aquecimento. Estes 15-20 minutos é que vão preparar o seu corpo para a fase seguinte. Após este intervalo de tempo, existe uma estabilização dos sinais, a frequência cardíaca e respiratória estabilizam e entramos na fase fundamental do nosso treino. A partir daqui a duração do treino vai depender de cada individuo, da sua forma física, do seu peso, do percurso, etc. Na parte final, os últimos 5-10 minutos, a intensidade do treino deve diminuir gradualmente, o chamado retorno à calma. Portanto qualquer caminhada com duração inferior a 20-25 minu-tos vai ter poucos resultados nas nossas pretensões.

Duração: Para que consiga ter alguns resultados deve durar pelo menos 45 minutos, 15 minutos até o seu corpo estar adaptado, 25 minutos de parte fundamental, 5 minutos de retorno à calma. Basta ver que este é o tempo mínimo de uma aula de aeróbica, hidroginás-tica ou de natação, por exemplo.

Percurso: Primeiro tente perceber qual é o seu nível físico. Está a iniciar as suas caminhadas? Escolha um percurso com bom piso, e com poucas subidas. Já tem alguma experiencia? Escolha percursos mais acidentados, subidas, descidas, zonas planas, basicamente um pouco de tudo.

Intensidade: Há varias formas de avaliar se a sua caminhada está dentro de um patamar aceitável de intensidade, uma delas é a suda-ção, a presença de suor no rosto pode ser um bom indicador, não está a suar, então deve aumentar o seu ritmo de passada. Outra forma de avaliar é através da fala, se for acompanhado, e conseguir manter

uma conversa fluente com a sua companhia, então o ritmo é de-masiado baixo, se para falar ne-cessita de parar a meio de uma frase para recuperar o fôlego, então a intensidade da sua cami-nhada está num bom nível.

Quando parar: Há também alguns sinais que indicam que o corpo pode já estar a entrar em fadiga. Estava a suar e de repen-te a sua cara secou, quando pas-sa as mãos no rosto sente a pele áspera, isto é um sinal evidente que o corpo já está em perda, há falta de água no organismo e a pele áspera deve-se à presen-ça de sal, precisa de se hidratar. Sente dores nos músculos, então está na hora de diminuir o ritmo e parar. A acumulação de ácido láctico nos músculos provoca es-sas dores, e pode estar iminente uma famosa cãibra muscular. Se já não consegue controlar a sua respiração e sente que o seu bati-mento cardíaco está demasiado alto então o ritmo pode estar de-masiado elevado ou então já esta em sobre-esforço, deve abrandar e iniciar o seu processo de retor-nar à calma.

Saúde e Bem-Estar

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Saúde e Bem-Estar

Quantas vezes por semana: O ideal era caminhar todos os dias, mas na impossibilidade, tente caminhar pelo menos 3 vezes por semana. Um dia de intervalo entre cada caminhada é o suficiente para o seu corpo recuperar e para se ir adaptando aos estímulos provocados pelo exercício físico.

Dicas:

Quando já tiver algumas se-manas de treino, comece a ex-perimentar percursos mais difí-ceis, escolha um dia por semana para fazer um percurso maior e com algumas subidas pelo meio. Caso não consiga um percurso deste género, e só consegue ca-minhar em zonas planas, então simule essas subidas, por exem-plo, durante 3 minutos acelere a sua passada, os 2 minutos se-guintes diminua para um ritmo confortável, repita este processo 3 ou 4 vezes. O treino com inter-valos de intensidade é o que traz mais resultados a nível de perda de peso.

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Escolha bem o calçado, nas lojas de desporto os funcioná-rios podem aconselhar-lhe o melhor calçado. Explique-lhe o que pretende, o tipo de percurso que faz.

Leve sempre água consigo, é necessário manter o corpo bem hidratado, e como o seu meta-bolismo está acelerado a água vai circular no seu corpo rapi-damente, fazendo os seus rins trabalharem de forma mais sau-dável.

Faça alguns alongamentos no final da sua caminhada, os alon-gamentos ajudam a eliminar o ácido láctico nos seus músculos,

acelerando o processo de recu-peração.

Visite o seu médico, veja como está a sua saúde. O ideal é fazer essa visita antes de come-çar com as suas caminhadas.

Peça sempre conselhos a pro-fissionais de educação física. Estes profissionais, juntamente com o seu médico podem aju-dá-lo a melhorar a sua condição física, evitando a toma de medi-camentos, prevenindo a osteo-porose, dando qualidade ao seu sono, regulando a sua tensão ar-terial, baixando o seu colesterol, entre outras melhorias no seu dia-a-dia.

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Elsa NóbregaProfessora primáriaMestre em psicologia da educação

comuNicação, educação e apreNdizagem

A comunicação é um dos processos fundamentais da educação, fortalece a construção do saber e do ser. A comunicação é fundamental no desenvolvimento da formação do indivíduo, progredindo-se da comunica-ção não-verbal para a verbal, seguindo-se a comunicação escrita. Através da educação que tivemos, desen-volvemos uma maior ou menor capacidade de comunicação que vai de encontro às necessidades individuais, promovendo assim uma boa interação com os outros. O Homem é um ser social, como tal, a comunicação é uma necessidade inerente ao indivíduo.

Etimologicamente, a comunicação é a ação de pôr em comum, de transmitir uma mensagem e eventual-mente receber outra mensagem como resposta, é entender os outros e fazer com que nos entendam, transmi-tir uma mensagem de modo a ser compreendida. Comunicar é muito mais do que falar, é saber transmitir o ponto de vista ao recetor, é entender a mensagem, comunicar não unicamente com palavras, mas com gestos, com o olhar, expressões e atitudes.

Aprendizagem é um processo que, de forma consciente ou inconsciente, leva à assimilação e interiori-zação de algo (novo) desconhecido, à aquisição de saberes, valores e experiências e ao desenvolvimento de capacidades. A aprendizagem pode ser potenciada pela motivação e enriquecida pela aplicação de saberes adquiridos. Ela pode ser definida como um processo de integração e adaptação do indivíduo ao ambiente em que vive, implicando pois, uma mudança de comportamento. A aprendizagem é um processo que dura a vida inteira.

Aprender envolve um processo de comunicação e sem o treino desta ação educativa a aprendizagem po-derá estar votada ao insucesso. O processo de aprendizagem é pessoal mas acontece em grupo. Para que a aprendizagem aconteça de forma significativa, ou seja, promova os quatro pilares da Educação propostos pela UNESCO, como base para a formação do indivíduo que são: Aprender a conhecer, Aprender a fazer, Aprender a conviver com o outro e Aprender a ser, só será possível se a capacidade de comunicar dos mem-bros, que compõe a rede da Educação (família, escola, os meios de comunicação e sociedade), estiver desen-volvida e preparada para cumprir o seu papel.

Segundo a jornalista Laurinda Alves, Portugal precisa de um Plano Nacional de Comunicação a exemplo do que se fez para a leitura. O Plano Nacional de Leitura tem sido extremamente importante, tem conquis-tado os portugueses para a leitura e tem estimulado os autores a escrever mais e melhor literatura. Um Pla-no Nacional de Comunicação levará as pessoas a aprender a comunicar melhor, a treinar as competências

Educação

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da comunicação. Só assim será possível dar um grande salto e não ficarmos em desvantagem relativamente aos outros países da Europa. Pois, atualmente, em comparação aos outros países da Europa como a Inglaterra, o nosso país está em desigualda-de, os nossos profissionais não foram preparados para comuni-car em público. Quando falamos de provas orais de exames traz--nos à memória momentos de aflição e de angústia. No Reino Unido, desde pequenas, as crian-ças são ensinadas a comunicar, aos cinco anos já apresentam os seus pequenos trabalhos peran-te o grupo, perante a turma: “ o meu nome é… e hoje vou vos falar sobre…” Aprender a comu-nicar é fundamental para siste-matizar ideias e conhecimentos. Precisamos de pessoas dotadas para a comunicação. Há pessoas que já têm o dom de comunicar outras não. Há diferença en-tre dons, talentos, e competên-cias adquiridas. Teoricamente pode-se treinar e aprender tudo (competências), os dons são ina-tos. Os “gurus” modernos dizem que quando nos sentimos bem, estamos no recreio, é como se estivéssemos a funcionar com os nossos talentos e não apenas com as competências.

De acordo com o novo pro-grama de Português para o En-sino Básico, homologado em março de 2009, a aprendizagem da Língua Materna determina ir-

Educação

revogavelmente a formação das crianças e jovens, condicionan-do a sua relação com o mundo e com os outros, é fundamental na formação escolar e está direta-mente relacionada com o sucesso escolar. A nossa língua é um ins-trumento fundamental de acesso a todos os saberes e sem o seu apurado domínio no plano oral e no da escrita, esses saberes não são adequadamente represen-tados. Para além disso a apren-dizagem da língua condiciona e favorece a relação da criança e do jovem com o mundo, bem como a progressiva afirmação de procedimentos cognitivos de competências comunicativas e de atitudes afetivas e valorativas. Este programa está a ser aplica-do desde o ano letivo 2009/2010 e já se vislumbram melhorias na expressão oral, na comunicação dos discentes, mas estamos cien-tes de que ainda há um longo ca-minho a percorrer.

A questão da liderança tam-bém é muito importante, lide-rança no sentido de envolver, os outros, nos nossos projetos, ca-pacidade de argumentar de per-sistir. A comunicação professor aluno é fundamental para uma boa aprendizagem. Segundo um investigador da Universidade da Califórnia, Albert Mehrabian, 55% das informações que os su-jeitos percecionam são obtidas da linguagem corporal, 33% do tom de voz e apenas 7% das pa-lavras que ouve. Durante uma

aula, as informações visuais e ci-nestésicas sobrepõem-se às ver-bais. Os alunos absorvem muito mais informação da postura e dos gestos do professor do que propriamente do conteúdo das palavras.

O professor deve ser um bom comunicador! Conhecer e dar-se a conhecer; ouvir ativamente, de-volver a pergunta; chamar as pes-soas pelo nome; saber quem está à sua frente; falar de forma clara e audível; clarificar as intenções; usar palavras simples; dizer o es-sencial e não aquilo que achamos que já sabe; certificar-se que os termos utilizados são compreen-didos; acompanhar as palavras de gestos; mostrar um olhar interes-sado; falar olhando para o inter-locutor; falar de forma positiva; criar empatia; evitar expressões depreciativas; utilizar elogios e palavras encorajadoras; admitir os erros; dizer a verdade; agrade-cer sempre; ser longânimo.

Este é o século da Educação e da Comunicação, não basta saber fazer, temos de saber co-municar! Mas, os alunos do sé-culo XXI não lidam bem com o autoritarismo, há que partilhar e desenvolver o espírito democrá-tico no grupo. Há que promover uma comunicação eficaz através da apresentação de ideias cons-trutivas e da edificação da cons-ciência e direção assertiva. Tudo está relacionado com o poder de persuasão que cada um conse-gue desenvolver.

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Quem é Quem?quem é quem?

João Ferraz de Abreu

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Num final de tarde, num recorte que com-põem a paisagem da pitoresca vila severen-se, uma casa, um lar que se impõe pela vida, pelos passos de dife-rentes gerações que se entrecruzam.

Ao som do estalar das achas na lareira e do badalar do relógio de parede, escutaram--se histórias, recor-dações, saudosismos,

Quem é Quem?

memórias evocadas numa voz que denota as rugas de experiên-cia de toda uma vida.

Aos 96 anos, é ainda um nome incontorná-vel no panorama na-cional pelo percurso político exímio e por uma carreira médica notável.

Filho, pai, médico, político e avô. Um ho-mem com raízes em Sever do Vouga, ter-

ra pincelada a tons de castanho, verde e azul, íntima de vegetação densa, rios frescos e serras que se elevam no horizonte.

Falamos de João Eduardo Coelho Fer-raz de Abreu, nascido em Sever do Vouga, em 1917.

porque hÁ graNdeS hiSTóriaS que Não devem Ficar Na Sombra

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Quem é Quem?

As origens, o nascimento foi em terras severenses, que recordações dessa era?Eu nasci de facto em Sever do Vouga, embora os meus pais vivessem em Estar-reja. Nasci na mes-ma casa em que ha-via nascido a minha mãe, que era natural de cá, na atual casa do artesão. Tenho um retrato da reali-dade severense bem distinto, recordo-me principalmente dos ícones que marcavam a vida na época. Habitávamos em Estarreja e, com frequên-cia, vínhamos cá ver as irmãs da minha mãe. Eu sempre tive uma enorme paixão por esta terra. O meio de transporte era um carro puxado por ca-

valos. Não havia luz elétrica, nem tão pouco água canali-zada. Por norma, as mulheres dirigiam-se à fonte com cân-taros que traziam para casa

com água, poupando-a.As pessoas dedicavam-se predominantemente à agri-cultura, era o meio de sub-sistência principal. Mas era também o assistir ao deses-pero de famílias quando as condições climatéricas eram extremadas, chuva excessiva ou seca, ou quando as pragas estragavam os cultivos.

Uma outra fonte de rendi-mentos, embora fosse relati-vo, atendendo à luz da épo-ca, eram as minas do Braçal, onde trabalhava um número

elevado da população.As brincadeiras da garotada eram criati-vas, à base da explo-ração dos montes e terras, à base da aven-tura. Foi nestas brin-

cadeiras que iniciei muitas relações severenses na infân-cia com uma série de miúdos e miúdas e recorda-me algu-mas muito bonitas.O acesso à escola era muito condicionado, não era fácil. Era mais uma privação do que um bem comum.

“Eu sempre tive uma enorme paixão por esta Terra (Sever do Vouga).”

“Tenho um retrato da realidade severense bem distinto, recordo-me principalmente dos ícones que marcavam a vida na época.”

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Quem é Quem?

Quais os grandes motes e princípios familiares, aque-les em que bebeu para cons-truir a sua identidade e per-sonalidade enquanto jovem com ambições e aspirações?A minha mãe era uma mu-lher extraordinária, com uma sapiência e inteligência prática notável. Era extremamente severa connosco, até mesmo nas simples práticas diárias. Por exemplo, os primeiros a diri-girem-se à mesa na hora das refeições eram as crianças que esperavam religiosamen-te até que chegassem os pais, o que implicava que à hora estipulada para as refeições estivéssemos pontualmente em casa. Quando, durante o dia, me distraia com as ho-ras, fazia imensas promessas enquanto corria, porque me tinha atrasado e sabia que as penalizações eram duras. (ri-sos)Eu devo muito da minha con-duta essencialmente à minha mãe. Era ela que ficava em casa e que se encarregava de nós, enquanto o meu pai saía para trabalhar. Nela inspirei--me para a força da autono-mia. Tinha apenas a escola primária que frequentou em Sever do Vouga, mas gostava

de se cultivar, de ler, geria o dinheiro de uma forma prá-tica e poupada.O meu pai era uma figura rígida e ausente. Era funcio-nário dos tribunais, desem-penhava aquilo que naquele tempo se designava de escri-vão direito.Vivíamos modestamente porque o único rendimento que tínhamos era exclusiva-mente o do meu pai. Tínha-mos apenas uma casa que era do meu avô que teve onze fi-lhos. Destes só conheci três, uma vez que o resto tinha falecido, sendo elevadíssi-ma, naquela tempo, a taxa de mortalidade infantil.Havia portanto uma ligação pais-filhos acompanhada de disciplina e de regras inviolá-veis o que, à luz do presente, percebo e defendo que de-vem fazer parte da educação cívica de todas as crianças, nada se perde, só se ganha.A educação que tive ensinou--me a lutar, a esforçar-me e a cumprir. No meu seio fami-liar aprendi a noção de po-breza, sacrifício e modéstia, aprendi também e sobretudo o respeito pelas hierarquias.Uma outra prática a que a educação que tive me levou foi o respeito pelos mais ve-

lhos, hoje não se assiste a

este exercício. Julgo que é na infância que se po-dem e devem incutir os valores e princípios de respeito, amiza-de, lealdade, retidão e consideração pelas pessoas. Enfim, aque-la base de civismo que é desejável e até indis-pensável.Os meus irmãos ficaram to-dos pelo 5º ano do liceu, mas eu quis mais, quis, insisti e persisti e para isso os meus pais fizeram sacrifícios terrí-veis. Na altura, eu sabia que eles os estavam a fazer, mas nem me apercebia do que re-presentavam.Eu contribuía como podia, estudei medicina no Porto e não vivia de forma luxuo-sa. Dava explicações para ajudar e em seis anos que lá estive, andava sempre a pé, nunca andei de elétrico.O mais importante, ensina-ram-se a sonhar com a per-feição. A sociedade perfeita é uma coisa utópica, mas utopias são necessárias para chegarmos a elas.

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Enquanto médico-cirur-gião, trabalhou em diver-sos estabelecimentos hos-pitalares no antes e pós 25 de abril, que experiência humana? Com orgulho, não com pre-tensão, fui o melhor classifi-cado do meu curso. Foi um ensino e uma aprendizagem espantosas, aos mais varia-dos níveis. Ainda hoje tenho nomes de professores na ca-beça que me marcaram, que me deram lições para além do ensino, para além do li-vro. Também tive outros de que me esqueci ou preferi esquecer.Quando terminamos um curso desta envergadura, não pelo suposto elitismo a que está associado, mas pela dimensão vida que passa-mos a assumir, temos mui-ta informação na cabeça e a necessidade de mais e mais experiência. Na altura recusei um convite endereçado pela faculdade e voltei a casa dos meus pais, montando um consultório em Estarreja com um com-panheiro e colega.Entretanto, começaram a acontecer coisas na minha relação com os doentes que me levaram à conclusão de que havia mais a saber, que não poderia ficar por ali, no-

meadamente situações que para nós eram complicadas e tínhamos que encaminhar para os grandes hospitais centrais.Abandonei Estarreja e fui para Lisboa. Conhecia o nome afamado de um pro-fessor cirurgião e fui bater à porta do consultório dele, di-zendo-lhe, com todo o atre-vimento, que era colega dele e que gostava de trabalhar no seu serviço, no Hospital de Santa Marta. Ele começou a tratar-me por tu e disse-me “no meu serviço começa-se a trabalhar às 8 horas da ma-nhã, espero encontrar-te lá”. E este foi o início da minha carreira em Lisboa.Algum tempo depois, co-mecei a refletir que o local ideal de aprendizagem eram as urgências, no banco do Hospital de São José, sendo necessário candidatar-me ao internato para o efeito, no qual fui aceite. Hoje o inter-nato é obrigatório, naquele tempo era para os motivados e os que possuíam a ambição do saber.As urgências são uma es-cola notável, num só dia observam-se, avaliam-se, diagnosticam-se e tratam--se uma panóplia de quadros clínicos diferentes. Foi nes-te hospital que conheci um

grande amigo e mestre, que me orientou no internato e com o qual trabalhei no hos-pital e nas clínicas privadas.Também me candidatei a um concurso para cirurgião da marinha, sendo marinhei-ro à força durante 8 anos. O exercício enquanto oficial de marinha não satisfazia as mi-nhas ambições, tinha pouco movimento ao nível médico e materializava-se pouco de-safiante, mas foi um trabalho necessário financeiramente falando. Exerci em praticamente to-dos os hospitais e clínicas de Lisboa. O resultado era sair de casa às 8 horas da manhã e regressar às onze horas da noite. Apanhei o processo de evo-lução técnica e de equipa-mento a nível hospitalar, uma verdadeira revolução de práticas e até do desempe-nho médico, estando ambas em ligação. Assisti a vitórias sobre a doença espantosas, assisti à novidade do Raio X, ao pneumotórax, à passa-gem das mezinhas e tisanas que prescrevíamos, daí ter-mos o domínio da botânica, para fármacos.Aprendi a ser humano tam-bém no relacionar e no cui-dar.Uma das conjunturas sociais

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e culturais da época que se perdeu foi a gratuidade dos serviços, os hospitais para servir a comunidade, tão simples quanto isto. No fundo, exercer uma vocação, um dom.Depois da democracia e da liberdade, o melhor presente do 25 de abril para o povo português foi o sistema nacional de saúde que atestava o igual acesso da comunidade aos cuidados médicos.

É um nome fortemente associado ao ser e fazer política com base no rigor, na retidão e pela habilidade fina de aguçar e incentivar o agir. Quais são os ingredientes para se ser não um político mas o político?A primeira qualidade é ser honesto, ser capaz de resistir a tentações e interesses privados com o intuito de respeitar a lei. A esta segue-se a inteligência, o ser culto, sobretudo na área e matéria que se propõe defender e debater. As qualidades de oratória associadas a boas ideias poderão contribuir para prender as pessoas, para amarrá-las com emotividade e convicção.A criatividade é indispensável, a audácia, o marcar a diferença de forma sólida e fundamentada, empreendendo.A lealdade afigura-se importantíssima, não só para os nossos companheiros partidários, mas também para com os adversários. Somos todos portugueses, todos queremos o bem de um país que é nosso, portanto, não há razão para que não haja entendimento.Nós temos que olhar para o que se passa à nossa volta, reconhecer as situações e factos e tentar corrigi-los ou, pelo menos, dar um contributo.

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Os compromissos e os car-gos que desempenhou im-plicam um grande investi-mento ao nível de tempo e entrega. Ainda assim houve espaço para o amor, para um grande amor? Enquanto oficial de marinha, durante a guerra, tínhamos um navio permanente nos Açores, foi lá que conheci a minha querida esposa, de onde é natural.Casei com ela e “raptei-a” para cá. Quando jovem que-ria muito estudar, mas eram duas filhas e, naquele tempo, os pais apavoravam-se com a ideia de mandar duas meni-nas para Lisboa, pelo que tinha apenas o 7º ano de es-colaridade. E afinal, em fina ironia, vieram as duas para o continente casadas.A nossa vida enquanto casal foi exigente. A minha dinâmica de trabalho, fazia com que o tempo disponível fosse escasso. A minha mul-her encarrega-se da edu-cação dos quatro filhos e da gestão da casa. Tudo isto demonstra que ela facilitou o desenvolver e progredir da minha carreira e que, lamentavelmente, na azáfama dos dias esqueci-me um pouco dela. É o tal machismo pelo qual ainda

hoje me penitencio.Apesar de tardio, a minha esposa teve uma carreira muito especial. Após os nos-sos filhos estarem encamin-hados ela disse-me que tinha chegado a vez dela de ir es-tudar. É o remorso que car-rego comigo, não ter perce-bido esta vontade mais cedo. Foi fazer um exame à univer-sidade designado “ad hoc”, indicado para pessoas com aquele grau escolar. Entrou na universidade, concluiu um curso de cinco anos com tal sucesso que nunca mais de lá saiu. Ficou como assistente, tirou mestrado e doutoramento e acabou como professora universi-tária. Obviamente o facto de ter iniciado carreira tarde, fez com que os anos que ex-erceu fossem menores, mas são, cada um deles, motivo de orgulho.

Sinto-me abençoado com a minha família, a da minha origem e a que originei em conjunto com o amor de uma vida.

Que retrato de Portugal, enquanto português faria no dia de hoje? Olha para os rostos da atualidade com satisfação ou sente a ausên-cia do essencial?Aquilo que sinto é que o país nunca esteve com tan-tos problemas graves, com repercussões diretas no quo-tidiano dos cidadãos. A meu ver, infelizmente não te-mos líderes políticos com a criatividade e a elasticidade

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mental necessárias, com ca-pacidade de resolução de problemas.A classe média, que se asso-cia mais diretamente ao pro-duzir, está a ser destruída, não tendo possibilidade de manter o seu estilo de vida. Repara-se inclusive no el-evado número de jovens que não prosseguem estudos ou prosseguindo abandonam por razões financeiras.No campo educativo, a es-cola seria a dimensão re-sponsável pela honestidade

intelectual e de valores, em estreita ligação com a famíl-ia. Os professores eram, no meu tempo, figura de destaque e relevo, eram os portadores do conhecimen-to, daí a minha condenação frontal da política praticada e que afeta diretamente esta classe profissional. O ob-jetivo da escola é preparar cidadãos, porque todo o ser humano que vive numa so-ciedade tem o direito de par-ticipar na mesma, sendo até uma obrigação. No entanto, esta participação tem que ser adquirida, tem que ser ensinada e trabalhada desde cedo. Na minha opinião pes-soal, a arte da democracia devia fazer parte dos pro-

gramas escolares, promover o conhecimento dos diretos e deveres, há muita crítica divulgada pela imprensa que não é correta e a maioria das pessoas que a leem não têm preparação e capacidade para filtrar a informação.Vivi tempos de grandiosi-dade e luta, do ver fazer, vejo agora a atualidade com algum desânimo. Os valores tam-bém se perderam, alteraram-se e foram deturpados.Dou por mim a pensar que o poder intelectual das cama-das mais jovens de hoje está a dar frutos lá fora, porque não há alternativas nacion-ais de empregabilidade. Isto deixa-me a refletir, a refletir sobre que futuro.

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Quem é Quem?

Um livro: para mim, o livro mais espantoso que se pro-duziu em Portugal foi os Lu-síadas, ainda hoje o gosto de ler e citar

Um filme: “E tudo o vento levou”

Uma música: Chopin

Um desporto: não sou fanático, mas gosto de ver futebol

O sorriso mais bonito: o da minha querida esposa

O maior medo: em cada ato médico. Após operar, em situações mais delicadas, sentia medo, autenticamente medo por aquela vida e pelas teias relacionais a que estava ligada. Quando atuamos es-tamos a ter interferência na dialética morte e vida, in-

dependentemente do fator culpa. Cada família que per-de um ente carrega essa dor, um médico carrega todas as perdas, todos os nomes na memória e na vida. Eu não me sentia Deus, eu pedia a Deus para estar comigo.

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Perfil PolíticoJoão Eduardo Coelho Ferraz de Abreu -Presidente do Partido So-cialista (1987 – 1991)-Coordenador do Setor de Saúde no Gabinete de Estu-dos do PS (1980 – 1988)

-Membro do Secretariado Nacional e Porta-Voz para a Saúde do “Gabinete Sombra” do PS (1985 – 1987)-Vice-Presidente do Grupo Parlamentar do PS (1983 – 1986)-Presidente do Grupo Parla-mentar do PS (1986 – 1987)

-Vice-Presidente da Comis-são Parlamentar de Saúde (1983 – 1986)-Membro da Assembleia Municipal de Sever do Vouga, membro da Comis-são Nacional do PS (1983) e Deputado eleito pelo PS da III a VI legislatura

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Dina Marli NóbregaEstudante de comunicação, cultura e organizaçõesU. Madeira

deSTaqueMeios de comunicação q.b.

Comunicação “capacidade de entendimento entre pessoas através do diálogo”, “troca de informação entre indivíduos”. Hoje em dia temos ao nosso dispor diversas ferramentas de comunicação. Estas permitem-nos estar informados acerca de acontecimentos recentes, longínquos ou não, e também falar com pessoas a qui-lómetros de distância, quer com familiares e amigos que estão fora do país ou simplesmente pessoas que co-nhecemos online, com as quais provavelmente nunca teríamos contacto sem os meios que temos atualmente. Para além disso, a recolha de informação tornou-se mais fácil e abriram-se horizontes para novas perspetivas do mundo, graças às culturas em contacto.

São diversas as teorias acerca dos benefícios e malefícios dos meios de comunicação. Para muitos, a socie-dade atual pode ser definida por uma frase da música dos Metallica “So close, no matter how far”, equivalente à célebre citação “aproxima quem está longe e afasta quem está perto”. Os instrumentos comunicacionais permitem o acesso a uma grande quantidade de informação, facilitando-nos as pesquisas, e também falar ou até ver os entes queridos distantes através de programas como o Skype, superando as cartas e telegramas em que a distância era sinónimo de perda e saudade. No nosso quotidiano, é rara a vez, ao passar numa rua ou mesmo visitar alguém, em que não estejam pessoas a enviar mensagens ou a tirar selfies, deixando de lado a comunicação com aqueles que estão a pouquíssimos metros de distância. A comunicação face-a-face é muito importante para o ser humano, que é um ser social. Os bebés demonstram-nos a importância dessa interação. Para que se desenvolvam, necessitam criar laços e interagir através dos sentidos, algo que um tablet ou um smartphone não são capazes de fazer (pelo menos ainda).

A comunicação à distância remonta à descoberta de Alexander Graham Bell do telefone em 1876, o propul-sor do que seria a grande era da tecnologia. Em 1969 teve início nos Estados Unidos um projeto “Communica-tions Network of the Advanced Research Projects” para criar uma rede entre quatro locais, e, em 1973, Vicent Cerf e Robert Kahn criam um conjunto de transmissão de dados que podiam ser usados em várias redes, ao qual intitularam de Internet.

Desde então, a evolução tecnológica cresce a níveis exponenciais, nomeadamente na área informática, a internet é cada vez mais veloz, a fibra, que nos era apresentada “magicamente” nos anúncios da MEO, alastrou--se pelas outras companhias e os computadores e seus sistemas operativos são também cada vez mais rápidos. Recentemente, a velocidade do crescimento tecnológico veio ao de cima quando se descontinuou, no dia 8 deste mês o Windows XP. Um dos mais inovadores sistemas operativos da altura do seu lançamento vê agora o seu fim, não conseguindo acompanhar os progressos atuais.

As ferramentas tecnológicas atuais não substituem a interação “primitiva”, feita pessoalmente. Sim, os meios de comunicação trouxeram-nos muitas vantagens quer para a vida pessoal, quer para a profissional. Mas, apesar de serem muito úteis, há que usá-las como usamos o sal, q.b. Não há que esquecer que estes utensílios são um complemento à comunicação e não nos devemos cingir a eles, não devendo substituir aquilo que tínhamos a ní-vel comunicativo antes da sua existência, mas sim usá-los com moderação para completar aquilo que nos faltava.

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iNFo FlaSheS por Dina Marli Nóbrega

Sony Vaio Fit 11AA empresa Sony emitiu, nesta sexta-feira, um comunicado acerca de uma série de produtos defeituosos, de forma a que fossem desligados “imediatamente” pelos seus utilizadores. Tratam-se dos computadores “Sony Vaio Fit 11A”, que contêm baterias com sobreaquecimento, podendo danificar irremediavelmente os aparelhos. Segundo o grupo japonês, foram já vendidos mundialmente 25.905 destes “multi-flip” (ou seja que são não só um compu-tador mas também se transformam em tablet). Quem adquiriu o portátil com defeito terá direito a serviços de reparação e monitorização gratuitos.

Morte em parapenteUm homem a rondar os quarenta anos de idade, perdeu a vida no passado dia 12 de abril na costa norte de Sines. O parapente em que voava caiu ao mar, ao sobrevoar os arredores da cidade. O alerta foi dado pelas 16h45, mas, segundo o comandante da Polícia Marítima e capitão do Porto de Sines, José Gouveia, o indivíduo já se encon-traria morto.

Rapto em MoçambiqueUm cidadão português com cerca de 50 anos foi raptado na noite de quinta-feira passada a sul de Moçambique, na cidade Matola. O empresário de construção civil, que continua desaparecido, ia ter com a filha quando foi levado por um grupo de homens armados. As autoridades moçambicanas já estão a investigar o rapto e a in-terrogar as testemunhas do acontecimento, havendo suspeitas de existir uma relação entre este caso e o de uma menina de 9 anos, que foi sequestrada recentemente nas imediações.

Abalo Ilhas SalomãoNo dia 13 as ilhas Salomão, situadas no Oceano Pacífico, foram atingidas por um terramoto de magnitude 7.7 na escala de Richter, segundo o Serviço de Geologia dos Estados Unidos (USGS). Algumas horas antes, na sua capital Honiara, outro sismo de magnitude 7.6 já se tinha feito sentir, seguindo-se de réplicas, estas já de 5.9 na escala de Richter. Aquando destes abalos foi emitido um alerta de tsunami para estas ilhas, e também para Va-nuatu e Papua Nova-Guiné.

Grafitti de AbrilCelebram-se em 2014 os 40 anos de comemorações do 25 de Abril, e, no âmbito das mesmas, foi proposto, no ciclo de conferências “A Revolução de Abril – Portugal 1974-1975”, organizado pela Universidade Nova, que no muro da Faculdade de Ciências Sociais e Humanas (FCSH) da Universidade Nova de Lisboa se fizessem grafittis alusivos à data. Contactaram-se para isso quatro artistas da galeria Underdogs para o realizar, Frederico Draw, Miguel Januário, Gonçalo Ribeiro e Diogo Machado. O objetivo desta pintura, terminada na semana passada, foi passar a visão da geração atual sobre esta revolução e sua importância, assim como passar um testemunho às gerações futuras. O capitão Salgueiro de Maia é o retrato principal no mural da FCSH.

Este país não é para velhosCerca de dez mil idosos saíram à rua no sábado dia 12 de abril em Lisboa. Em simultâneo o mesmo acontecia noutras localidades como Porto, Guimarães, Covilhã, Coimbra e Faro. Foram manifestar-se contra as pensões e reformas, que são sua “autonomia financeira” e também para um melhor acesso aos cuidados de saúde. O protes-to, organizado pela Confederação Nacional de Reformados, Pensionistas e Idosos (MURPI), a que se deu o nome “Por Abril, Contra os Roubos nas Pensões”, superou as expectativas do presidente da MURPI, Casimiro Menzes, estimando-se um total de 15 mil manifestantes por todo o país.

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Abril, o dito mês da liberdadeO 25 de abril afigura-se uma data incontornável para uma nação que, no ano de 1974, assiste a um impor-

tante passo rumo a um dos pilares base da sociedade atual: o romper de um regime ditatorial em detrimento de um regime democrático. Esta conjuntura já foi alvo de debate, de reflexão, do ocorrer de muita tinta e muita teorização.

Algumas visões políticas mais extremadas questionam a inquestionável conquista que, embora não tenha dado origem a um regime com extensões de funcionamento perfeito, poderemos de um ponto de vista mais sereno e ponderado admitir expressamente melhor do que o anterior.

Hoje associamos a um momento específico, o tónus da mística de uma revolução floral, de um espírito de união de uma nação. Para alguns um detalhe, para mim uma marca que é necessário avivar: a coragem da-queles homens comandados por Brigadeiro Pais que, numa situação limite, volátil, pressionados por poderes militares e bélicos, com armas em punho, contrariando as ordens do Oficial, decidem não disparar. E não disparam sob um dos símbolos e uma força impulsionadora da revolução: Salgueiro Maia.

Que seria de um país se naquela situação os valores superiores, a consciência, o poder de análise e a leitura das consequências para o próprio e para a nação, a humanidade, a coragem, ou até a loucura não os tives-sem conduzido pelo caminho correto? Seremos nós capazes, no agora, nas nossas vidas diárias defender os grandes valores intrínsecos que falam ou deveriam falar mais alto: o valor da liberdade, o valor da vida, a dignidade e o patriotismo? Ter uma arma em punho e não ceder à via mais fácil e ao impulso de sobrevivên-cia de disparar em direção ao outro, com a motivação de salvar a nossa própria pele. Afinal é isto o cerne, a grandeza e a beleza de uma política de ideias e patriotismo! Seguir o nosso instinto norteado pelos valores, não olhando a um potencial bem menor em detrimento do bem maior de uma sociedade inteira!

Serão os representantes atuais deste sonho português da democracia exemplos deste espírito? Deixem-me que vos diga, da experiência política que tenho o privilégio de abarcar, existem para mim alguns exemplos, do que há de melhor e de pior, mas acredito, que o grande ganho assenta na democracia e no sonho da liberdade social, não podendo deixar esta decisão por mãos alheias. É necessário envolver a sociedade a participar cada vez mais ativamente na construção da democracia e da liberdade, reconhecendo-a, vivendo-a e praticando-a.

Seremos nós jovens capazes de sentir a liberdade quando sempre vivemos nela? Esta pergunta muitas ve-zes é feita por aqueles que viveram num regime sobre aqueles que, com sorte ou sem ela, nasceram após os atos heroicos dos capitães de abril.

Apraz-me questionar aquilo que um dia alguém disse: não perguntes o que é o teu país pode fazer por ti, mas aquilo que TU podes fazer pelo teu país.

Será que respeitar abril e tudo o que lhe está inerente é o reflexo de um sentir ou meramente de uma apren-dizagem bem decorada ou porque sim, porque, em fina harmonia social, fica bem dizer Viva abril, Viva a democracia. Mas, esta última, saberemos o que é?

Nota: desabafo de um jovem nascido em 1984, orgulhosamente cidadão português e ex-militar.

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Luís Manuel SilvaProfessor de EMRCMestre em bioética

... um problema de coNSciêNcia!

A força da ética é, simultaneamente, a sua maior debilidade. É clássico situar a distinção entre a ética e o direito na capacidade de coer-ção que este tem e aquela parece não possuir. O direito pode socorrer-se da força para fazer va-ler as suas decisões, o que, no caso da ética, fica confinado ao âmbito da consciência. Mas é exata-mente aí que reside a sua força. Nada há de mais poderoso do que uma consciência bem formada. O que releva a importância da educação como condição para a existência de uma sociedade hu-manizada. Não bastará, simplesmente, dotar-se a sociedade de cidadãos que intervêm, a propósito e a despropósito, mas de cidadãos que, como pes-soas, cuidam da sua consciência e a mantêm des-perta perante as insensibilidades que são o início de todas as atrocidades. Não apenas consciência de si, mas a consciência moral que dota o indiví-duo da capacidade de discernir entre o bem e o mal, que não se lhe afiguram em estado puro, mas na dificuldade das circunstâncias da vida.Para a conservação desta sensibilidade ética des-

perta considero particularmente relevante a capa-cidade de antecipação do que pode decorrer das minhas decisões e atos. Capacidade que, nestes tempos designados como hipermodernos, mar-

cados pela deceção, como cunhou Lipovetsky, é difícil não deixar sucumbir à vertigem do pre-sente. O futuro parece um porto distante. Mas é o futuro que evidenciará a bondade ou maldade das nossas ações. Um futuro imanente, mas par-ticularmente, o transcendente.Esta relevância do futuro para o discernimento da

qualidade moral das nossas ações é notoriamente sublinhada numa história genialmente narrada por William Golding, no seu romance «the lord of the flies», entretanto já transposto para o cinema.Nesta narrativa, conta-se a história de um con-

junto de miúdos de uma academia militar que naufragam ao largo de uma ilha, onde se socor-rem. Num primeiro tempo, é comum a todos a consciência de que tudo devem fazer para tornar visível a sua presença ali, criando, para tal, uma fogueira, que, no cimo da mais alta montanha, se mantém acesa, evidenciando que ali, há hu-manos. O tempo vai passando, e o grupo, ini-cialmente unido, vai-se dividindo em dois: uns, liderados por Ralph, conservam a consciência de que tudo devem fazer para que outros saibam que estão vivos; outros, sob a liderança progres-sivamente ditatorial de Jack, vão deixando cair a convicção de que um dia sairão da ilha, e passam

Atualidade e Sociedade

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Atualidade e Sociedade

a viver do dia-a-dia, satisfazendo-se com caçar ja-valis e provocar rixas com os que continuam a ter esperança. Os conflitos vão ganhando corpo, com o grupo do Jack a tornar-se cada vez mais violento e desrespeitando os do outro grupo, ao ponto de o reduzir a um só membro, o próprio Ralph. Con-vencidos de que, eliminando-o, passarão a estar em paz pois deixarão de ter de suportar a ideia de que poderão ser salvos, decidem incendiar a ilha, a fim de o poderem capturar. O filme termi-na quando, após uma perseguição vertiginosa, o Ralph cai, sem forças, na areia da praia, certo de que não sobreviverá. Nesse momento, verifi-

ca que a praia está repleta de barcos e aviões que vieram em seu socorro. A pergunta que fecha a narrativa é: o que andámos a fazer? Ralph chora e soluça…Num tempo em que se legitima a eutanásia de

crianças, em que se colocam tantos obstáculos a rever a imoral lei do aborto, em que a violência so-bre os mais frágeis ganha contornos de barbaris-mo inaudito, importa trazer o futuro ao presente e perguntar o que estamos a fazer. Dizer-se que os problemas em causa são matérias de consciência não poderá ser pretexto para os tornar sinal de in-consciência.

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A palavra empreendedo-rismo tem sido muito ba-dalada. Ouvimos falar nesta tendência nas notícias, na televisão e em todo o tipo de discursos. O empreendedo-rismo está, sem dúvida, na moda! E, de facto, é um dos promotores do avanço econó-mico dos países.

Mas o que é isto do empre-endedorismo? Talvez a me-lhor forma de compreender este modo de vida seja definir as pessoas que a ele se têm de-dicado: os empreendedores.

Ser empreendedor é um modo de vida, uma maneira de estar e ser. Segundo Dola-bela, o empreendedor é, tão simplesmente, alguém que sonha com algo e faz tudo para o tornar realidade! Por outro lado, Drucker (1993) define o empreendedor como alguém com a capacidade de criar e implementar algo novo; alguém com motivação

Gestão Financeira

Margarida Magalhães CardosoMestre em psicologia clínicaCoordenadora de projetos educativos e formadora

um perFil empreeNdedor

para fazer as coisas de forma diferente e melhor.

Para vislumbrarmos quem são os empreendedores (e como podemos tornarmo--nos num), seguem-se algu-mas características que defi-nem estas pessoas. Assim, o empreendedor é:

- Pró-ativo: é ativo, toma a iniciativa;

- Sociável: gosta de pes-soas e tem as competências necessárias para manter rela-ções saudáveis e positivas;

- Organizado: planeia e ordena as várias áreas da sua vida; mantem uma boa gestão do tempo e das suas priorida-des

- Comunicativo: tem faci-lidade em expressar-se e ar-gumentar de modo assertivo

- Decidido: toma decisões rapidamente, tendo em conta vários fatores;

- Atento: gosta de apren-der e perceber como as coisas

funcionam; está atento às ne-cessidades das pessoas e dos mercados;

- Criativo: tem muita ima-ginação e ideias; gosta de in-ventar novas formas de solu-cionar os problemas; como se costuma dizer nesta área: pensa fora da caixa;

- Líder: tem competências de gestão de pessoas e equi-pas, motivando, inspirando e aproveitando os talentos dos que o rodeiam;

- Otimista e confiante: crê em si próprio, nas capacida-des da sua equipa e confia, de modo sustentado, que o futu-ro vai correr bem

- Desembaraçado e prá-tico: resolve os problemas de forma simples, não compli-cando ou demorando dema-siado tempo

- Ousado e corajoso: gos-ta de correr riscos, de apostar numa ideia.

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Naturalmente, nem todos os empreendedores têm todas estas características, mas ficamos assim com uma representação global do perfil dos empreendedores.

Assim, existem vários tipos de empreendedor, também porque existem quatro tipos de empreendedoris-mo, nos quais são necessárias diferentes competências:

(1) empreendedorismo corporativo: visão restrita do empreendedorismo, que consiste na criação e ma-nutenção de empresas, muito versada para a competitividade, lucro e concorrência;

(2) intra-empreendedorismo: como colaborador de uma empresa já existente, promover a renovação e a inovação;

(3) empreendedorismo social: empreendimentos que, em vez de produzirem bens/serviços para vender/prestar, estão versados para o combate de problemas sociais, usualmente relacionados com a saúde, educa-ção, pobreza, fome, energia e ecologia;

(4) empreendedorismo cultural: desenvolvimento de iniciativas ligadas à cultura e indústria criativa.

“Alguns homens veem as coisas como são e perguntam: Porquê?Eu sonho com coisas que nunca existiram e pergunto: Porque não?” George Shaw

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Gestão Financeira

Ana MendonçaGestora de conteúdos web

aproveiTar promoçõeS

Aproveitar promoções de forma consciente, é por ve-zes uma tarefa que obriga a alguma pré-organização e es-tudo.

Comecemos pelo mais simples, fazer uma lista de compras de tudo o que está a fazer falta em casa. Aqui uma situação a ter em conta é o facto de não estar à espe-ra que acabe o arroz para o ir comprar, pois, neste caso terá de o comprar indepen-dentemente de haver pro-moções ou não (deixar de o comer não é opção). O ideal é quando tiver imagine-se 3 quilos na despensa, começar a pensar em comprar mais,

Vamos colocar aqui duas situações.

• Imagine-se que, chegando ao híper, temos o litro de leite a menos de 0.50€, este será então um produto para adquirir em quantidade para por exemplo 6 meses. No meu caso e dado que consumo 1 litro por dia, 180 litros é perfeito para comprar. Todos sabemos que dificilmente irá aparecer outra vez leite a este preço, pois estas campanhas em leite são cada vez mais raras;

• Outra situação que vamos imaginar é a das pastilhas para a máquina da loiça. O valor da pastilha que quase sempre consigo é de 0.11€ e faço apenas stock para 2 ou 3 meses, ou seja 3 caixas, dado que, promoções neste artigo são bastante frequentes.

isso dá uma margem de tem-po para poder comprar o ar-tigo em promoção num certo espaço de tempo. Ou se está a pensar trocar de escovas de dentes aponte-as na sua lista e quando houver uma promoção compre. Comprar com margem de tempo é uma grande mais-valia.

Depois, e uma vez que es-tamos no supermercado, o ideal é ir sem pressa e sem fome (esta questão aumenta a vontade de consumo). Aqui já fizemos o trabalho de casa e já estudámos as promo-ções/folhetos e já sabemos quais os produtos da lista que vamos adquirir. Existem

também aquelas campanhas das quais só temos conheci-mento quando lá chegamos e, para estas, devemos olhar com calma para não sermos enganados. Comprar por impulso faz com que com-premos coisas que não pre-cisamos ou que mesmo em promoção não têm na reali-dade um bom preço, lembre--se: “nem tudo o que reluz é ouro”.

Dica importante – Veja sempre nas etiquetas (em letras pequeninas) o valor por litro ou por unidade. Isto ajuda a ver as campa-nhas com mais clareza.

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Gestão Financeira

Dica importante – Sensatez na hora de com-prar.

Ainda antes de chegar à caixa é importante olhar para a lista, para o que comprou e para os vales de desconto que tem. As acumulações são uma excelente forma de poupança.

Agora que já temos as nossas compras feitas o ideal é que estes descontos sejam diretos, é que custa bem menos na hora de pagar! Mas se for em cartão, também nada se perde, uma vez que para uma casa estão sempre a ser precisos bens alimentares, de higiene, de vestuário…Assim, podemos aproveitar este saldo como fundo de maneio para adquirir stock de promoções futu-ras e assim o que custa mais é a primeira vez que pensamos em começar a rechear a despensa.

É importante, claro, ver qual o valor que po-demos gastar e se não for possível fazer stock

DICA 1 – Fazer lista de compras e calcular quantidades necessárias;

DICA 2 – Comprar com margem de tempo;

DICA 3 – Verificar validades no ato da compra;

DICA 4 - Verificar folhetos e es-tar atento às promoções;

para 6 meses podemos fazer contas e “stockar” apenas para 3. A forma de pagamento também é muito importante. Só deve usar o cartão de cré-dito caso não vá pagar juros sobre as compras, caso contrário, e conforme o ditado: “arreda lá ganho que me dás perca”.

Ainda, antes de sair do supermercado, algo que deve tornar-se um hábito é conferir o talão. Já me aconteceu imensas vezes ver a promoção assinalada em cartazes gigantes nos corredores e quando chego à caixa a promoção não se refletiu no talão. Toca a ir ao balcão e devolver o produ-to, em certos casos o melhor mesmo é até fazer reclamação. Pois, esta é uma excelente forma de roubo aos mais incautos!

Chegando a casa devem ter em mente a ar-rumação dos produtos. Conservá-los em locais apropriados e os de validade próxima sempre à frente dos outros.

DICA 5 - Verificar talões de des-conto e acumular, se possível, com outras promoções;

DICA 6 – Conferir sempre o talão, ainda dentro do híper e devolver os produtos que por al-gum motivo não foram abrangi-dos pelos descontos que estáva-mos à espera;

DICA 7 – Fazer stock de for-ma consciente e ter em atenção prazos de validade e formas de conservação, aquando da arru-mação da dispensa;

DICA 8 – Ter atenção à forma de pagamento porque o cartão de crédito pode não ser uma boa opção.R

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Fazer tudo isto dá algum trabalho, mas poupar sabe tão bem.

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Gestão Financeira

Luís SilvaLicenciado em economia

declaraçõeS de irS

A entrega das declarações de IRS, à semelhança dos anos anteriores, começa no mês de Março e, com a aprovação do Orçamento de Estado, foram introduzidas algumas alterações.

A categoria da saúde é a que apresenta mais cortes para a maioria dos contribuintes. Nos anos anteriores, podiam ser deduzidas 30% das despesas sem limite máximo. Atualmente, os contribuintes podem deduzir apenas 10% das despesas isentas de IVA ou sujeitas à taxa reduzida, com o limite de 838,44€. No entanto, para os agregados familiares com 3 ou mais dependentes, o limite é elevado em 125,77€ por dependente, caso existam, relativamente a todos eles, essas despesas.

Para as despesas sujeitas à taxa normal de IVA, justificadas com prescrição médica, o limite é reduzido para 65€ ou 2,5% do total das despesas de saúde, se superior.

Nos seguros de saúde, os contribuintes podem deduzir apenas 10% dos gastos que cubram exclusivamente riscos de saúde até um máximo de 50€ e a esse valor pode ser majorado em 25€ por dependente.

Embora nas despesas de educação a percentagem dedutível se mantenha nos 30%, o limite máximo é fi-xado em 760€.Nos agregados familiares com 3 ou mais dependentes acresce 142,50 € por dependente e que todos apresentem essas despesas.

No que se refere às despesas de habitação própria e permanente, os contribuintes, com contratos celebra-dos até 31 de Dezembro de 2011, podem deduzir 15% de juros da dívida contraída, com o limite de 296€. Já os contribuintes sem habitação própria podem deduzir 15% das rendas de habitação, para contratos celebra-dos ao abrigo do RAU ou do NRAU, com o limite de 502€.

Face aos anos anteriores, os contribuintes podiam deduzir 30% dos juros e amortizações, até um máximo de 591 euros e podiam ainda, de acordo com a classificação energética do seu imóvel e os seus rendimentos, majorar até aos 945 euros

Quanto a encargos com lares, relativos aos sujeitos passivos, ascendentes e colaterais até ao 3.º grau, po-dem ser deduzidas 25% do montante suportado e com o limite de 403,75€.

Nas pensões de alimentos que, anteriormente, eram dedutíveis em 20% e com o limite fixado nos 1.048,05€, agora o valor máximo é 419,22€ mensais.

Na declaração deste ano, os contribuintes podem, pela primeira vez, reaver 15% do IVA suportado nas fa-turas que titulem as prestações de serviços de manutenção e reparação de veículos automóveis e motociclos, alojamento, restauração, salões de cabeleireiro e institutos de beleza, com o limite máximo 250€.

Embora não esteja ligado, diretamente, às deduções vale a pena relembrar que os pensionistas com rendi-mentos mensais superiores a 293€ têm que, obrigatoriamente, entregar a declaração de IRS.

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Primeiro partiu o ente mais novo da família, a Sara que se licenciou em enfermagem, de seguida tu. O que significa esta separação geográfica para uma família unida?Ver a minha irmã partir foi, definitivamente um momento difícil. Apesar de saber que seria uma boa oportu-nidade e acima de tudo uma experiência de vida bastante enriquecedora, todo o processo de despedida, que não se restringe ao dia da partida, foi bastante complicado. Após quatro meses, foi a minha vez, já com perspetiva de trabalho, ainda que não estivesse diretamente re-lacionada com a minha formação profissional. A tomada de decisão não foi fácil. O que levava eram apenas incertezas e a convicção de que tinha tentado tudo em Portugal para me sentir realizada profissionalmente. Era uma oportunidade que tinha que agarrar com todas as minhas forças.Acredito que os nossos pais foram os que mais sentiram com todas as mudanças, dado que passaram de uma casa cheia, a uma casa vazia, tendo por base a certeza de que as coisas não voltariam a ser as mesmas. Isto porque iríamos voltar a casa apenas de visita, por um curto espaço de tempo, e connosco viriam os compa-nheiros, que apesar de não serem desconhecidos, não faziam parte do núcleo familiar.

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Quais as motivações para partir? Quais os medos? E em que medida ajuda ter um rosto conhecido à es-pera?Quando decidi abraçar esta oportunidade tinha um misto de sentimentos. Por um lado sentia que não era devidamente valorizada pelo trabalho que desempenhava na altura, onde me dedicava ao máximo e me es-forçava por atingir os melhores resultados. Por outro, existia a revolta de não conseguir uma oportunidade de trabalho na minha área de formação, após várias tentativas, sendo que, a última exigiu um grande inves-timento financeiro e emocional, e após ter sido selecionada para ficar na empresa, esta mesma abriu falência. Após esta experiência de contentamento por finalmente trabalhar como Psicóloga, seguida de uma tremenda desilusão, revolta e frustração decidi que tinha chegado a hora de tentar noutro país, apesar da barreira da língua ser uma preocupação constante.Confesso que não vim com muitos medos. Sabia que, no caso de algo correr mal, teria sempre o suporte dos meus pais que como sempre foram e são incansáveis. No fundo, achava que se os outros conseguiam superar as dificuldades, eu também iria conseguir. Foi sempre a esta postura positiva que me agarrei para enfrentar os momentos de maior ansiedade, saudade e nostalgia.Sem dúvida que, ter alguém que nos é tão próximo à nossa espera, é tranquilizante. Sabia que todas as dúvi-das que tivesse seriam esclarecidas e teria sempre um ombro para me amparar nos momentos de desânimo. Não poderia ter melhor do que a minha irmã, que sempre foi uma das pessoas que me apoiou e incentivou a nunca desistir dos meus objetivos. Associado a isso estava o facto de ela estar a trabalhar como Enfermei-ra, que me dava mais força para acreditar que o mesmo poderia acontecer comigo, e então, trabalhar como Psicóloga.

O que é e como é trabalhar no país que te recebeu? Trabalhar em Inglaterra, tal como em qualquer outro país do qual não se é nativo, é essencialmente uma aprendizagem e adaptação constantes. Se por um lado temos o entrave da língua inglesa, que por mais que se estude na escola, o contacto direto faz-nos sentir que nada sabemos para ter uma conversa fluente e interes-sante, por outro, temos as diferentes culturas dos colegas de trabalho, que tal como nós, emigraram em busca de um sonho ou de melhores oportunidades.

Outros mundos...Cristiana em Inglaterra

Nome: Cristiana BarbosaIdade: 26Localidade de origem: GuimarãesHabilitação: Psicologia ClínicaPaís atual: InglaterraExercício Profissional: Auxiliar de ação médica (Care Assistant)

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Qual foi a situação mais caricata que te aconteceu? E aquela em que tiveste maior receio?A situação que até hoje me fica na memória aconteceu logo nos primeiros dias que cheguei a Inglaterra, em que numa agência, a colaboradora britânica nos pergunta a nossa nacionalidade e se despede com “Obriga-da”. Toda sorridente agradeci e saí do estabelecimento com a sensação de que tinha ganho o dia (“As pessoas são uma simpatia”). No entanto, mais tarde percebi que nem todas as pessoas são uma simpatia, e que algu-mas nos fazem sentir como uns completos tontos, perdidos, sem saber o que fazer. Mais uma vez a língua é um entrave que dificulta a comunicação, mas nada que um sorriso e alguns gesto não consigam resolver.Até ao momento não vivenciei nenhuma situação em que, por algum motivo, sentisse receio. Felizmente, não tenho experienciado situações de racismo que me façam temer ou desanimar.

Como combates a saudade e a sensação de vazio?O Skype ajudou bastante a colmatar as saudades, uma vez que nos permitia ver em tempo real, a outra pes-soa. No entanto, continuava a faltar o essencial, que era o toque, o poder abraçar, o poder ver o estado da pessoa num momento não programado, onde não existisse qualquer tipo de filtro de emoções.A sensação de vazio só diminui com uma visita a Portugal, e com o abraço dos que mais gostamos.

Quais as tuas ambições? E nelas, Portugal é protagonista?Trabalhar como psicóloga é o meu sonho, e como tal a minha maior ambição!Obviamente Portugal, como meu país, onde cresci e vivi toda a minha vida, seria um protagonista na condi-ção de me oferecer estabilidade. Até que tal se proporcione, Portugal será sempre o meu destino de férias, e o país para onde irei voltar, um dia!

Outros Mundos

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Do Catálogo das Igrejas, mandado elaborar por D. Dinis em 1320-1321, não consta a igreja de Rocas; nem tão pouco das relações do bispado de Viseu, mandadas coligir no século XVI, respetivamente pelos bispos D. Miguel da Silva (1526-1542) e D. Gonçalo Pinheiro (1553-1567). Assim, a primeira referência a este templo surgirá apenas em 1675, numa outra relação mandada organizar pelo bispo D. João de Melo, emergindo como filial ou curato anexo da igreja de Sever, situação que se manteria até à segunda metade do século XIX, altura em que se tornou definitivamente independente.Contudo a igreja mostrava ser demasiado exígua para as necessidades de uma população em permanente crescimento, pelo que, em 1733, se procedeu à ampliação do corpo da mesma, e, em 1748, à construção da capela-mor.Poucos anos depois, na sequência do terramoto de 1 de novembro de 1755, sofre danos consideráveis: “(…) cahiram-lhe as piramides e as da torre dos sinos, e a grimpa sendo de fero cahio e quebrou, decom-pose todo o telhado, e com o grande movimento cahio a mayor parte da cal das paredes, e a capela mor abrio uma bicha na parede (…)”.Depois de restaurada, viria a beneficiar de novas intervenções nos séculos seguintes, nomeadamente em 1776 (data gravada na porta da sacristia que dá acesso à igreja), em 1783 (data da pintura do teto), em 1873 e na primeira metade da década de 1970, altura em que se verificou a última grande reforma.De traça barroca e planta longitudinal, hoje, a igreja é constituída por uma nave, arco-cruzeiro, capela--mor (mais baixa e mais estreita), coro-alto, antigo batistério, torre sineira, sacristia, cartório e “casa da fábrica”, estes últimos três espaços adossados, num corpo único, à fachada sul, de volumes articulados e escalonados com coberturas diferenciadas em telhados de uma (sacristia e espaços contíguos) e duas águas, em telha lusa.Todo o edifício é rebocado e pintado de branco, com a exceção dos cunhais, pilastras, soco (nas fachadas principal e norte, até à porta travessa), cornija e molduras dos vãos que são em cantaria granítica.A anteceder a frontaria, emergem, de cada um dos lados da escadaria granítica (5 degraus largos) que dá acesso ao adro, duas pias de água benta, também em granito, coroadas por lanternas em ferro forjado, de cor verde e anteparo secionado de oito vidros martelados.A frontaria propriamente dita apresenta um portal retangular, a que se acede por dois degraus pétreos, com porta (duas folhas e 12 almofadas) e bandeira (4 almofadas) de madeira. O portal constitui com a ja-nela do coro, protegida por gradeamento em ferro, um conjunto simples mas bastante harmonioso, sepa-rados por pequeno dintel e cornija saliente, onde poisam, ladeando a referida janela, dois altos pináculos

VIAGENS AO PATRIMÓNIO ARQUITETÓNICO SEVERENSE Rocas do Vouga - Igreja Paroquial de São João Batista

Mário SilvaLicenciado em históriaMestre em história moderna Prof. Agr. Escolas de Sever do Vouga

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VIAGENS AO PATRIMÓNIO ARQUITETÓNICO SEVERENSE Rocas do Vouga - Igreja Paroquial de São João Batista

em relevo; a janela é rematada por pequeno frontão interrompido, donde irrompe uma cruz latina alonga-da; esta exibe cimalha bem acentuada, suportada à esquerda e à direita por cunhais apilastrados toscanos, o da direita encostada à torre; a empena-cimalha é rematada por cruz latina sobre plinto paralelepipédico, no vértice central, e elegantes pináculos alongados, de feição piramidal, o da direita relevado e incrustado na pilastra da torre sineira, também assentes sobre plintos paralelepipédicos.

Moldura: trabalho gráfico. Pintura original do prof. Feliciano Angélico, técnica mista - aguarela e desenho à pena e tinta da china

Feliciano AngélicoLicenciado em educação visual e tecnológicaProf. Agr. Escolas de Sever do Vouga

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VIAGENS AO PATRIMÓNIO ARQUITETÓNICO SEVERENSE

Rocas do Vouga - Igreja Paroquial de São João Batista

A fachada posterior (nascente) da nave é cega, com empena rematada por cruz latina e pináculos iguais aos da fachada principal. Adossada à nave, pelo arco-cruzeiro, a capela-mor apresenta, nas fachadas laterais, duas janelas retangulares, com grades, e na fachada nascente, fresta de capialço e cimalha, su-portada à esquerda e à direita por cunhais simples, rematada por cruz trilobada e pináculos de feição piramidal sobre plintos paralelepipédicos almofadados.Nas fachadas laterais da nave, a porta travessa, em verga reta, com lintel e cornija, surge enquadrada por duas janelas retangulares de capialço, com grades. Para aceder a estas portas de madeira (duas folhas e 12 almofadas) foi colocado um degrau de pedra granítica na do lado esquerdo e dois na do lado direito.Do lado direito da fachada principal, ergue-se, à sua face, a torre sineira, de seção quadrangular e um só corpo. Estruturada por cunhais apilastrados toscanos, apresenta: paramentos rebocados e pintados de branco; duas frestas de capialço, uma na face sul, ao nível do antigo batistério, e outra, na face nascente, a meio da escada helicoidal (20 degraus de granito e 6 de cimento) que, pelo interior da torre, dá acesso aos sinos; adossados à fachada sul da nave, dois lanços de escadas (22 degraus de cimento) dão acesso à torre através de uma porta de madeira (uma folha e 6 almofadas) rasgada na face nascente; abaixo da cimalha, vão sineiro de quatro ventanas de arco de volta perfeita, a pleno centro em cada face, com guardas de ferro forjado nas ventanas nascente e norte (neste caso sob a forma de portão de duas folhas), enquanto na ventana sul assoma um sino de campanil, datado de 1743, e na ventana poente, outro, do mesmo mate-rial, mas maior, datado de 1818, ambos com cabeçalho de madeira; patamar interior com porta de acesso, em madeira, ao coro-alto do templo; cimalha com quatro ornamentais gárgulas de canhão e outros tantos pináculos, iguais aos da nave, em cada ângulo da cornija; cobertura em forma de coruchéu piramidal octogonal, ostentando, nas faces poente e sul, mostradores de relógio oferecidos à paróquia por José Ta-vares Lobo e adquiridos à casa “Miguel Marques Henriques” (fundada em 1905, em Albergaria-a-Velha, dedicava-se à atividade de ourivesaria e relojoaria, sendo a responsável pela instalação dos relógios de diversas igrejas portuguesas), no ano de 1946, pelo valor de 49.500$00; e, no topo, remata o coruchéu uma cruz latina fluorescente e, adossado a esta, um belo exemplar regional de catavento, constituído por uma longa haste de ferro, com esfera gomeada e vazada, onde se crava uma bandeirola, completa à direita e vazada à esquerda, com duas pontas de seta, uma na horizontal e outra na vertical.Unido à fachada sul da igreja, o corpo constituído pela sacristia, cartório e “casa da fábrica”, mostra: no rés-do-chão – portas de madeira (2 folhas e 6 almofadas), em verga reta, para acesso, por degrau pétreo, ao cartório (poente) e sacristia (nascente); duas janelas retangulares de capialço, com vidro martelado e grades, que fornecem luz natural ao cartório e à sacristia, na face sul; e pequena janela, com vidro mar-telado e grades, para iluminar o quarto de banho que foi construído no vão da escadaria (12 degraus de cimento e duas guardas de ferro forjado) que dá acesso ao primeiro andar (nascente); no primeiro andar – porta de madeira (duas folhas, duas almofadas e 8 vidros), em verga reta, com elegante guarda em ferro forjado (poente), e duas janelas retangulares, com vidro martelado e grades (sul), que fornecem luz na-tural à antiga “casa da fábrica”; porta de madeira (duas folhas e 6 almofadas) que dá acesso à dita “casa” (nascente), e, por cima, meia lanterna, de cor preta e anteparo secionado de três vidros.O acesso à igreja faz-se por um adro envolvente, de pedra na zona da frontaria e cimento nos restantes es-paços, delimitado, a norte, por um murete rebocado, pintado de branco e rematado por canteiro pintado de verde, a sul, por um muro de suporte rebocado, pintado de branco e rematado por espaço ajardinado, e a nascente, por casas particulares. Para além da escadaria da fachada principal e do corredor nascente que estabelece a ligação com a estrada que liga Rocas a Sanfins, o acesso a este espaço pode ainda ser feito por outras duas escadarias: uma de 7 degraus pétreos (sul) e outra de 4 degraus de cimento (norte).

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No comando das músicas no nosso país temos, esta semana, Changes. Faul & Wad Ad, seus autores, são uma dupla de DJ’s e produtores franceses, mais especificamente de Paris, que se conheceram nos tempos de escola. Maxime, que tem como alcunhas Faul ou “Lazy”, significando estas preguiçoso em alemão e inglês respetivamente, e seu companheiro Camil Meyer, mais conhecido por Wad Ad, produzem maioritariamente músicas Deep House, incluindo a que se encontra no topo em Portugal.

Enquanto estavam no YouTube, descobriram uma canção de 2009: Baby de Pnau. Nessa música, existe um grupo de crianças a cantar, e os DJ’s decidiram usar essas partes para criar uma nova trilha sonora, de género Deep House, marcada pelo som de um saxofone a que chamaram Changes. Mandaram-na à banda que criou a original, Pnau, grupo formado por Nick Littlemore, dos Empire of the Sun, e Peter Mayes, que gostaram das alterações que a dupla tinha feito à sua música e decidiram deixar que a usassem e a tornassem pública, sendo que a mesma se revelou ser um grande sucesso, como podemos constatar ao olharmos para o primeiro lugar do Top iTunes Portugal.

O número um dos Estados Unidos não é novidade para os ouvintes assíduos e atentos às músicas que lideram as tabelas. Da trilha sonora de “Gru - O Maldisposto 2”, vem-nos Happy de Pharrell Williams, que continua a fazer furor na população americana e não só, mesmo já tendo passado nove meses desde a sua primeira apresentação ao mundo, quatro se nos referirmos ao lançamento do vídeo.

Para abrir os horizontes musicais, e ouvir géneros além do que se escuta nos dias de hoje, aqui fica a pro-posta de música deste número da RésVista: Carry on My Wayward Son, da banda Kansas.

A seleção musical por marli Nóbrega

Portugal1. Faul & Wad Ad – Changes (vs. Pnau)2. Coldplay - Magic3. Pharrell Williams - Happy4. Klingande - Jubel5. Clean Bandit – Rather Be (feat. Jess Glynne)

Estados Unidos1. Pharrell Williams - Happy2. John Legend - All Of Me3. Idina Menzel - Let It Go4. Katy Perry - Dark Horse (feat. Juicy J)5. Jason Derulo – Talk Dirty (feat. 2 Chainz)

Diretamente do iTunes, aqui ficam as 5 canções mais ouvidas do momento, vindas do nosso país e daquele que mais influencia as tendências musicais da atualidade:

Consultado a 13/04/2014

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O Gosto Proibido do Gengibre é o primeiro romance de Jamie Ford, uma história baseada em factos verídi-cos, comovente, sobre a amizade e o verdadeiro amor, entre um rapaz chinês (Henry Lee) e uma menina japonesa (Keiko), que nasceram e foram criados nos Estados Uni-dos, vítimas de xenofobia, bullying e separados devido à 2ª Guerra Mundial. O pai de Henry, um chinês demasiado conservador, obriga o filho a usar um crachá que diz “Eu Sou Chinês”, não aceita por isso a relação do filho com Keiko, pois a China e o Japão encontravam-se em lados opostos da guerra. Por outro lado, os pais de Keiko aceita-vam a relação, pois consideravam-se mais americanos que japoneses.

A história desenrola-se entre 1942-1986, quando os Estados Unidos decidem en-viar os japoneses para os campos de concentração, Keiko e Henry vêem-se assim separados. Passados quarenta anos, quando Henry já viúvo, se junta à multidão em frente do Hotel Panama (antigo local de encontro do povo japonês), onde recente-

mente foram descobertos vários pertences de várias famílias de japonesas, e com alguma esperança vai em busca de notícias sobre a sua grande paixão de adolescência.

É uma narrativa supostamente simples mas com uma riqueza extraordinária, escrita de forma doce e gen-til, que nos leva a refletir sobre a guerra e as suas inflexibilidades, sobre separações e reencontros, amizades e amor entre os dois povos.

Um livro a ler!

O livro “o goSTo proibido do geNgibre”

Alexandra Bastos

Aculturar

O filme “a rapariga que roubava livroS” A rapariga que roubava livros (The book thief), escrito por Markus Zusak em 2005,

rapidamente se tornou num best-seller. Sendo mais tarde adaptado no cinema por Brian Percival.

Um filme inquietante e cativante, que só viu nomeações para a categoria de Melhor Banda Sonora Original, seja nos Globos de Ouro, nos prémios britânicos BAFTA e foi ainda um forte candidato a vencedor nos Óscares de Academia.

A história decorre durante a Segunda Guerra Mundial, retratando a vida dos ale-mães nesse período, onde se vê a captura de judeus e os cenários de guerra. O filme gira em torno de Liesel Meminger quando esta se vê obrigada a mudar de casa e famí-lia para tentar assegurar o seu futuro, devido aos pais serem comunistas. No caminho

para a família adotiva, o irmão mais novo acaba por morrer e é a partir desse momento que o narrador do filme – a morte, conhece Liesel. E é nesse momento que Liesel rouba o seu primeiro livro, que irá mudar a sua vida.

A sua família adotiva é Hans e Rosa Hubermann. Hans é um homem dedicado e carinhoso para a filha e é quem a vai ensinar a ler, um dos grandes sonhos de Liesel. Já Rosa é uma mulher rígida que bem lá no fundo tem bom coração, mas raras as vezes o demonstra.

Este filme leva o público a estados emocionais diversos, revolta, felicidade, tristeza, esperança e ansiedade, que vai prender até ao último momento.

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O mais curioso nos amores impossíveis é que por vezes acontecem.

Escolheu, depois de muito ponderar, a saia azul, bem justa, para levar ao momen-to mais importante da sua vida. Maquilhou-se com o cuidado de quem prepara uma bomba atómica, cada fio no seu lugar, escolheu as botas de cano alto para se sentir mais protegida, como se a pele tapada a protegesse do mundo, olhou-se a medo ao espelho no final, e esbo-çou o sorriso possível, os lá-bios trémulos e um aperto nos olhos, a ansiedade intei-ra a governar o corpo. “Per-doa-me”, em frente ao espe-lho ele ensaiava o que tinha para dizer, “perdoa-me por algum dia ter acreditado que havia vida sem que houves-

ses tu”, com ar confiante, seguro de si, “quero-te para sempre e tenho a certeza de que vai saber a pouco”, e saiu para a rua, o fato impecá-vel, os sapatos impecáveis, o amor impecável, a realidade, só ela, manchada de um erro que queria agora corrigir.

Encontraram-se no café de outrora, a mesa vazia como se os esperasse. Ele chegou primeiro, as palavras en-saiadas bem decoradas na sua cabeça, os gestos, até os gestos, pensados até ao mais último pormenor. Até que ela chegou, os passos como se pisassem pessoas, a saia azul justa e os homens to-dos a olhar. Ele disse o que tinha para dizer, ela ouviu o que tinha para ouvir. Quise-ram os dois abraçar-se logo ali, antes que o mundo aca-

basse. Mas nenhum assumiu o risco. Ele esperou que ela dissesse “sim, perdoo-te”, ela esperou que ele dissesse “desculpa mas vou abraçar--te toda mesmo que contra a tua vontade”. E o tempo certo para o momento certo perdeu-se.

Em casa, ela despiu a saia azul, descalçou as botas de cano alto e cedeu, o corpo pousado na cama como se de repente sem sangue. Ele ainda ficou no café alguns minutos, apenas a despedir--se do que não fora capaz de fazer, antes de lentamente voltar para o quarto vazio, o cheiro dela e as roupas dela, se fosse um homem corajoso teria tido a cobardia de de-sistir da vida.

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Casaram-se e foram quase felizes para sem-pre. Não um com o outro, claro. Ela encontrou um homem perfeito e ele encontrou uma mu-lher perfeita. Foram andando e, com o tempo, foram desaprendendo a maneira como um dia correram, o que um dia os fazia correr e saltar – mas nunca andar. Vieram os filhos, novos de-safios, as rugas, os netos, a pele a ceder e o tem-po todo a fazer-se de episódios cada vez mais raros de paixão. Haveriam de morrer distantes, tão distantes quanto a geografia o permitia, até

o tamanho insuportável de um mar a separá--los. Certo é que, estranhamente, as lápides de ambos continham o mesmo erro, “uma gralha imperdoável”, segundo os respectivos marido e mulher: a data do falecimento apontava para há mais de trinta anos, nunca ninguém conseguiu entender porquê. A inscrição, essa, imediata-mente abaixo da data, é que não tinha qualquer falha.

“Não é parar que é morrer; é ir andando.”

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ToNalidadeSA natureza em comunicação

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Ana Filipa SoaresLicenciada em comunicação social

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Explosão de cores e vida. O muito que recebemos...

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A natureza em comunicação

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Nas margens do

Rio Vouga, próximo dolugar da Ermida,apareceu um grandesino, no qual estavagravado a seguintemensagem: - “Sótocarei na torre de Sta.Maria de Sever “.Uma vez que o mesmonão era necessário, opovo optou por vendê-lo a outra freguesia.Porém, o sino nuncachegou a tocar.

Entretanto, o povodessa freguesia, trouxeo sino para Sever doVouga. Dizem que osino ficou tão contente,ao ver a sua torre, quenão parou de badalarenquanto não foicolocado no devidolugar. E lá ficou ele,pronto para tocar,sempre que lhepuxassem a corda.

Ana Tavares

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Igreja Matriz deSever do Vouga