REUNIÃO DE ATUALIZAÇÃO EM TEMAS RELEVANTES NA … · Escores de pneumonia em infecção ......
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REUNIÃO DE ATUALIZAÇÃO EM TEMAS
RELEVANTES NA PRÁTICA CLÍNICAInfecção por H1N1 na Emergência
Renato Altikes
Residente do Programa de Clínica Médica
Rodrigo Antonio Brandão Neto
Médico Supervisor do Pronto Socorro do ICHC
Caso Clínico
• ID: MSPSC, sexo feminino, 64 anos, natural de
Montes Claros e procedente de São Paulo há
46 anos, aposentada (ex-empregada
doméstica), casada, 3 filhos.
• Dá entrada no Pronto Socorro dia 18/04 com
dispnéia há 2 dias.
Caso Clínico
• HMA: Paciente com quadro de 4 dias de febre
não aferida, mialgia, artralgia, cefaléia, coriza
e tosse seca, evoluindo há 2 dias com dispnéia
progressiva. Nega chiado, ortopnéia, dispnéia
paroxística noturna ou hemoptise. Nega
edema de MMII ou tontura. Refere diarréia
aquosa, sem produtos patológicos, há 2 dias.
Caso Clínico
• AP:
– HAS / DM / DLP
– Hepatopatia crônica por Esquistossomose
• EH crônica grau I
• HDA prévia
• Em uso de: Lactulose 30ml de 8/8h ; Propranolol
20mg de 12/12h ; Ezetimibe 10mg/d ; Insulina
NPH 4-0-0-10; Praziquantel 1200mg de 8/8h
Caso Clínico
• Ao exame físico:
T 37°C / PA 110x80mmHg / FC 60 / FR 30 / SatO2 86% (AA)
EFG: Regular estado geral, sobrepeso (IMC 29), consciente e
orientada, ictérica+/4, acianótica, corada e hidratada.
ACV: Bulhas rítmicas normofonéticas em 2T, sem sopros, EJ(-)
AR: MV+, simétrico, com crepitações difusas, uso de musculatura
acessória, sem batimento de asa de nariz.
ABD: globoso, RHA+, doloroso a palpação difusa, sem sinais de
irritação peritoneal, sem massas palpáveis.
EXT: Boa perfusão periférica, pulsos simétricos, sem sinais de TVP.
Caso Clínico
• Exames de Entrada:
• Hb 14,4 / Lt 5820 (73% neutr ; 1113 linf) / Plaq 55 mil
• PCR 74,8 / DHL 529 / CPK 163 / NTpBNP 226
• ALT 87 / AST 202 / FA 431 / GGT 319
• BT 4,08 / BD 3,68 / Albu 2,1 / Globulina 3,9
• INR 1,22 / TTPa R 1,67
• Ureia 50 / Creat 1,52 / Na 139 / K 4,6
• Gaso A: pH 7,43 / pO2 53 / pCO2 31 / Bic 20 / BE -2,3 / SatO2 87% / Lactato 22
Cas
o C
línic
o
Cas
o C
línic
o
Caso Clínico
• Laudo TC:
– Ausência de derrame pleural significativo.
Consolidações bilaterais e difusas, com
distribuição peribroncovascular e periféricas,
destacando-se algumas áreas com aspecto em
Halo Invertido, achados que mais
provavelmente representam processo
inflamatório / infeccioso em atividade.
Caso Clínico
• Impressão Diagnóstica:
– Sd. Respiratória Aguda Grave.
– Cirrose CHILD C.
– Insuficiência renal.
Caso Clínico
• Conduta inicial:
– Encaminhada à Sala de Emergência.
– Máscara de O2 5L/min.
– Isolamento respiratório.
– Solicitado Exames laboratoriais e Raio X de Tórax.
– Solicitado Swab orofaríngeo para Influenza.
– Iniciado Oseltamivir, Ceftriaxone e Azitromicina.
Caso Clínico
• Evolução:
– Paciente evoluiu no dia seguinte (19/04) com
piora do padrão respiratório, taquidispnéia, com
uso de musculatura acessória e dessaturação
apesar de Venturi 50%, sendo realizado intubação
orotraqueal e transferida para UTI.
– Resultado de Swab positivo para H1N1.
Caso Clínico
• Evolução:
20/04:
– Paciente evoluiu com instabilidade hemodinâmica,
sendo realizado passagem de CVC em Jugular
Interna Direita sem intercorrências e iniciado
Noradrenalina 5ml/h.
Caso Clínico
• Evolução:
21/04:
– Paciente evoluiu com piora progressiva da função
renal e rebaixamento do nível de consciência.
22/04:
– Início de desmame de droga vasoativa, porém
com manutenção de piora da função renal.
Caso Clínico
• Evolução:
25/05:
– Manutenção da necessidade de FiO2 elevada.
– Nova instabilidade hemodinâmica com necessidade de início de DVA.
– Piora progressiva de função renal, necessitando início de hemodiálise contínua.
26/05:
– Piora hemodinâmica com necessidade de doses crescentes de DVA, sendo associado Adrenalina sem resposta.
– Evolução à óbito por Choque refratário.
Discussão
• As características clínicas sugeriam infecção
por H1N1?
• A paciente apresentava fatores de risco?
• Os exames laboratoriais eram compatíveis?
• Os exames radiológicos eram compatíveis?
• O tratamento foi apropriado?
Infecção pelo vírus H1N1
Rodrigo Antonio Brandão Neto
Disciplina de Emergências Clínicas
Vírus Influenza
• Primeira descrição data do século V a.c
• Vírus RNA de hélice única
• Subdivididos em tipos A, B e C
• Divididos em subtipos de acordo com as
diferenças de suas glicoproteínas de
superfície, denominadas hemaglutininas (H) e
neuraminidases (N).
Pandemias pelo vírus influenza
• Descritas desde o século XVI
• Pelo menos 32 epidemias documentadas
• Gripe espanhola 1918: 50 a 100 milhões de
mortes
• Aparecimento esporádico do vírus influenza
H1N1 desde então
p-H1N1 2009
• Março 2009: detectado surto de infecção
respiratória por novo vírus influenza H1N1
• 17 abril 2009: relatados dois casos em
crianças nos EUA
• Junho 2009: OMS eleva nível de alerta para 6
• Estimativa de 59 milhões de casos com
265.000 internações e 12.000 óbitos nos EUA
até fevereiro de 2010
Epidemiologia Mundial e no Brasil
• Estimativa de 2 bilhões de casos no mundo
• 44.544 casos confirmados de H1N1 no país
• 2051 óbitos no país
Fatores de risco
• Menores de 2 anos
• Adultos com idade maior ou igual a 60 anos
• Gestantes
• Obesos com IMC> 30
• Imunossuprimidos
• Co-morbidades
• Profissionais de saúde
Período de transmissão
• Até 7 dias após início dos sintomas
• Período de incubação: 1-3 dias
Letalidade
• Calculada em cerca de 0,5%
• Varia entre 0,0004 a 1,47%
Definição de caso suspeito
• Febre associada a tosse ou dor de garganta
• Doença leve
• Doença progressiva
• Doença severa
Características Clínicas
• Febre em 95% dos pacientes em NY
• México: 33% dos pacientes sem febre
• Outros sintomas comuns: tosse, dor de
garganta, mialgia, mal-estar
NEJM 2009; 361: 680-690
• 18 pacientes de 98 internados por quadro respiratório agudo grave com H1N1 +
• 7 mortes
• 8 com co-morbidades associadas
• DHL aumentado em todos os pacientes
• Aumento de CPK em 62% dos casos
• Linfopenia em 61% dos casos
• Todos pacientes com pneumonia intersticial bilateral
Dados do Center of Diseases Control
EUA (CDC)• Febre: 93%• Tosse: 83%• Dispneia: 54%• Calafrios: 37%• Rinorreia: 36%• Mialgias: 36%• Dor de garganta: 31%• Vômitos: 29%• Sibilância: 24%• Diarreia: 24%
Dados laboratoriais: NEJM 2009;
361(20)
• Aumento ALT: 45%
• Aumento AST: 44%
• Anemia: 37%
• Leucopenia: 20%
• Leucocitose: 18%
Diagnóstico
• RT-PCR de amostra do trato respiratório
• Teste de Imunofluorescência indireta usado
para triagem, atualmente não é recomendado
• Sensibilidade de 99% e especificidade de 92%
do RT-PCR
• Testes de antígenos rápidos
• Sorologia
Infecção pelo p-H1N1 2009 no Brasil e
no HC
• Primeiro caso notificado em maio de 2009
• 472 casos confirmados no HC em 2009
• 16 óbitos
Situação epidemiológica 2016
• 5871 casos confirmados ( 32% das amostras
testadas)
• 1121 óbitos
• H1N1 novamente o vírus mais frequente em
pacientes com quadro de influenza
Pneumonia em infecção pelo p-H1N1
• Primária na maioria dos casos
• Infecção secundária em 4 a 29% dos casos
• Causa de internação em pacientes com
infecção pelo p-H1N1 2009 em pelo menos
2/3 dos casos
• Diferença na apresentação clínica?
• Qual o papel dos escores de gravidade
Escores de pneumonia em infecção
pelo p-H1N1
• Bewick e colaboradores desenvolveram à partir de uma
coorte prospectiva um escore para predizer pneumonia
associada ao p-H1N1
• Mulrennan e cols: 82% dos pacientes que necessitaram de
internação em UTI com escore CURB-65 de 0 ou 1
• Estudo com 265 pacientes internados em UTI: Mortalidade
em pacientes com PSI I-III de 13,5% e no grupo CURB 0-1 de
19,4%
• STSS preditor de internação em UTI em um estudo
Estimativas de risco ( razão de chances) de
paciente apresentar pneumonia associada ao p-
H1N1 comparada a PAC na análise multivariada (
Dados do HC)
Distribuição dos pacientes com
pneumonia associada ao p-H1N1
conforme o escore de Bewick (
Dados do HC)
Escore de Bewick modificado ( Dados
do HC)
Comparação em curva ROC entre os
escores de Bewick e Bewick
modificado ( Dados do HC)
Indicações de internação
a) instabilidade hemodinâmica
b) sinais e sintomas de insuficiência respiratória
c) comprometimento pulmonar ao exame radiológico
d) hipoxemia, com necessidade de suplementação de oxigênio
acima de 3 l/min para manter saturação arterial de oxigênio acima
de 90%
e) relação PO2/FiO2 abaixo de 300, caracterizando a lesão pulmonar
aguda
f) necessidade de atendimento fisioterápico contínuo
g) alterações laboratoriais como elevação significativa de
desidrogenase láctica (DHL) e creatinofosfoquinase (CPK),
alteração da função renal, e alteração do nível de consciência
Tratamento
• Uso de anti-virais: Oseltamivir 75 mg VO
12/12 horas por 5 dias
• Anti-viral EV controverso
• Associação de antibióticos para tratar
pneumonia bacteriana
• Medidas para SARA
Outras medidas
• Estatinas
• Circulação extra-corpórea
• Ventilação prona