Revista 12 horas

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Revista 12 horas | TIMIDEZ curitiba - novembro/2010

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    TIMIDEZ

    curitiba - novembro/2010

  • | Revista 12 horas

    expedienteCOORDENAOProf. Felipe Harmata Marinho

    REPORTAGEMAna Carolina SkrepecAna paula meloAnderson MarianoDiego da Cunha Francielle CostaJeferson SeccoJos PiresKelly LimaMari MartinsMichele Saide Milton MassaoNarley ResendeRicardo AlexandreRicardo Francio NetoSidnia Rosa GonalvesSuelen rocha

    COLUNISTASAnderson MarianoCamila SamapaioJos PiresKarilene StradiotoLarissa IladesLlian da CruzRicardo AlexandreRodrigo ArendSidnia Rosa GonalvesSuelen Rocha

    OMBUDSMANKelly Lima

    EDITORRicardo Francio Neto

    REVISO/TEXTOJeferson SeccoNarley Resende

    DIAGRAMAOEverton L. da Rocha Mossato

    CAPATIMIDEZ - Manda

    dizer que eu no t!pg. 46

    SADEPreveno sinnimo

    de bem estar e economiapg. 64

    FATOS VERDICOSO triste fim de um sonhopg. 76

    ENSAIOD um rol de Skate com a galera do gacho.pg. 28

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    OMBUDSMAN: KELLY LIMA

    A estufa do Jardim Botnico, um dos cenrios mais conhecidos de Curitiba, est cor-de-rosa para marcar o Outubro Rosa, um ms de atividades dirigidas preveno ao cncer de mama. O Outubro Rosa promovido pelo Instituto Humanista de Desenvolvimento Social (Humsol), com apoio da Prefeitura de Curitiba.

    Muito importante termos conhecimento sobre os cuidados com a sade da mulher, como retrata a matria Mal entre as mulheres, apesar da declarao pejorativa do nosso ex- Governador do Paran, Roberto Requio ao falar da doena.Hoje, cncer de mama uma doena masculina tambm. Deve ser consequncia dessas passeatas gay. E olha que ele nem ficou vermelho em falar nisso.

    Caro leitor voc se considera tmido ou no?D uma olhadinha na reportagem da capaManda dizer que eu no t! A timidez pode ser um trao charmoso da personalidade ou o primeiro pas-so para um distrbio psicolgico grave: a fobia social. E concordo que a melhor sada para uma pessoa tmida a conquista da auto-confiana, porm no exagerem muito na auto-confiana, seno podem sair falando bobagens por a..

    Continuava a ler a revista quando me deparei com a coluna O personagem histrico dos games. Pensei Putz que trash. Que nada, derrepente me deu aquela nostalgia, muito bom, principal-mente a piadinha do Mrio...que? Ah, essa velha hein?.

    No deixe de ler a reportagem Velhos Guris nos faz pensar que a nica certeza que temos essa que o tempo passa para todos. No existe um levantamento rigoroso destes casos sociais, mas parece-me que o problema est intimamente relacionado com o envelhecimento da popula-o e a falta de condies de assistncia populao idosa.

    Conforme o Estatuto do idoso, Art. 10, 2, O direito ao respeito consiste na inviolabilidade da integridade fsica, psquica e moral abrangendo a preservao da imagem, da identidade, da autonomia, de valores, ideias e crenas, dos espaos e dos objetivos pessoais.

    Devamos, isso sim, tentar pegar dos mais velhos a experincia e sabedoria de vida que anos de luta e observao os ajudaram a ter. Que tal nos deixarmos contagiar por essa bagagem de conhecimento, para virmos a ser, quem sabe, jovens e adultos mais interessantes e respeitveis? Respeitar e ouvir o idoso respeitar a ns mesmos.

    PINELADA

    ENSAIOD um rol de Skate com a galera do gacho.pg. 28

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    Vida simples, pensamento elevadoPara alguns eles podem parecer estranhos e at fanticos, seus dife-rentes hbitos, maneira de se vestir e agir, mas no passam de pessoas amveis e atenciosas, a diferena est na sua f e dedicao elevada. Estes so os devotos de Krishna.

    Reportagem e fotos Francielle Costa

    Nrsimha Bhagavan Dasa devoto de Krishna h 19 anos

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    O altar do templo com as Deidades Chaitania e Nite Ananda e imagens de Srila Prabhupada

    Luiz Carlos acorda s seis da manh, s vezes as cinco. A primeira coisa que faz seu programa espiritual. Canta seus mantras com seu Japamala sempre nas mos, uma espcie de rosrio do ocidente, usado nas oraes como marcador. So 16 voltas dirias no japa que pos-sui 108 contas. o que seu mestre espiritual permitiu. Na ndia so de 32 64 voltas dirias. Camisa azul e branca, anis nos dedos, alargador nas duas orelhas, cabea raspada com uma nica mecha de cabelo na parte de trs da cabea, braos ecabea tatuados, colar no pesco-o e uma veste branca nas pernas. Luiz tatuador h oito anos, e de-voto de Krishna h 19. Nrsimha Bhagavan Dasa esse o seu nome hoje, significa o protetor dos devotos. Bha-gavan tem 33 anos, nasceu na cidade de Caxias do Sul, no Rio Grande do Sul. Sempre foi muito desregrado, buscava pelos praze-res imediatos, bebidas, sexo, dro-gas. Coisas que depois de certo tempo no lhe traziam mais pra-zer algum. Quando foi morar no Rio de Janeiro, disposto a uma nova vida, Bhagavan encontrou um devoto de Krishna pela rua que lhe vendeu um livro. O livro chamava-se Bhagavad-Gita, trata-se da escritura sagrada da ndia. Interessou-se pela filosofia, morou dez anos no templo do Rio de Janeiro e hoje vive em Curitiba com sua esposa e duas filhas. A conscincia de Krishna me fez recobrar a conscincia que perdi com o mundo material, diz. Thaisa tem 27 anos, esposa de Baghavan. Era crist, adventista e h um ano e meio devota de Krishna. Comecei a ler o Baghavad-Gita, com a men-te aberta para descobrir e apren-

    der. Thaisa bastante vaidosa. Faz questo de sempre andar ma-quiada, com muitas jias e com seu sare colorido que irradia o olhar de quem chega.Trabalha na loja do Templo Hare Krishna de Curitiba h trs meses, mas s aos domingos. Eu e Baghavan tam-bm cuidamos da manuteno por aqui, comenta. Thasa e Bhagavan so ve-getarianos. De acordo com o co-nhecimento vdico que seguem, cultura associada ao povo que comps os textos religiosos co-nhecidos como Vedas, no sub-continente indiano, o sacrifcio de animais no necessrio. S devemos nos alimentar daquilo que no contm violncia. Um homem no precisa matar animal algum se ele tem suficientes ce-reais e vegetais para comer, diz Thasa. Eles costumam preparar o prprio alimento. Frutas, cereais, samosas, temperos dos mais dife-renciados sabores, e uma grande diversidade de verduras. Antes de experimentar o alimento prepara-do, oferecem-no Krishna.

    PODER DE LIBERTAR A MENTE

    Dez pessoas em uma s voz. Olhos voltados s Deidades (di-vindades) Chaitania e Nite Anan-da. O sentimento de admirao e respeito parece invadir-lhes o corao. Seus olhos dizem tanto, ou mais do que o que eles cantam. Cantar os santos nomes de Deus o melhor mtodo para servir a Krishna e satisfazer-lhes espiri-tualmente. Hare Krishna, Hare Krishna, Krishna Krishna, Hare Hare, Hare Rama, Hare Rama, Rama Rama, Hare Hare, o que todos cantam tentando livrar a populao da fome e de outras dificuldades. O mahamantra o grande mantra que tem o poder de libertar a mente diz Phaniraj Nitai. Depois dos cantos e dan-as comeam os ensinamen-tos. O devoto Phaniraj Nitai o palestrante. O tema hoje como conhecer a Deus, conta. A todo o momento Nitaj cita o nome Srila Prabhupada e to-dos se prostram diante de sua foto no altar. Srila Prabhupada o fundador do movimento Hare Krishna nos pases ocidentais.

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    Partiu da ndia em 1965, aos sessenta e nove anos de idade, para cumprir o pedido de seu mestre espiritual de que ele ensinasse a cincia da cons-cincia de Krishna em todos os pases de lngua inglesa. A primeira cobertura jornalstica acerca da Divina Graa como os devotos o chamam, apareceu num jornal de Nova York com a man-chete SALVE A TERRA J!. Uma foto que acompanhava o artigo mostrava Srila Prabhupa-da e os devotos cantando no Parque Tompkins Square, em NY. Os editores, seriamente ou por brincadeira, diziam que Prabhupada viera pregar uma mensagem para salvar o mundo.

    LIGADOS PELA F Existem dois tipos de devotos, os que vi-vem no templo e levam uma vida de monastrio, os Bramatchari e os que tm a sua vida pes-soal fora do templo, os Grirastra. Mahadeva um Bramatchari, vive no templo e devoto de Krishna h quase 30 anos, um dos mais antigos da cidade. Mahadeva muito tmido, no costu-ma ficar perto das outras pessoas, chega no meio dos cantos segue at o altar, espalha uma espcie de incenso nas deidades e quadros e volta de onde

    veio. Acorda s quatro da manh todos os dias e depois de fazer sua higiene pessoal, dedica todo o seu tempo com as Deidades Chaitania e Nite Ananda, as duas formas especficas de encarnao de Krishna h cerca de 520 anos. Camila Albuquerque uma Grirastra. Fre-quenta o templo h dois anos, tempo que est ca-sada com Gabriel, devoto h quase trs anos. Leva uma vida normal, estuda agronomia na Universi-dade Federal do Paran e tem uma filha ainda de colo com seu marido, chama-se Ananda. Ao contrrio dos Personalistas no Hindus-mo inseridos na tradio Vaishnava, derivao de Vishnu, aspecto imanente de Deus, Camila era Budista, os chamados Impersonalistas na cul-tura Indiana. Estes negam a existncia de Deus, acreditando que a fora maior est dentro de cada um, s estamos esquecidos da nossa divindade. Camila diz estar se acostumando e enten-dendo pouco a pouco filosofia da conscincia de Krishna. Eu no entendia nada muito bem, aque-le negcio de Krishna ser azulzinho...Hoje me sin-to em paz estando aqui, uma vida simples, mas com o pensamento elevado.

    O devoto Phaniraj Nitai palestra ensinamentos de Como conhecer a Deus

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    Camila e sua filha Ananda

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    Os Velhos Guris

    TTodos queremos viver bem, ter uma casa, uma famlia, alimentos, um bom trabalho e porque no conforto. Gabriel Bento Hamusiak 63, teve tudo isso e mais um pouco e infelizmente perdeu tudo. Precisou de ajuda de pessoas estranhas para se levantar e hoje trabalha no Lar dos Idosos Recanto do Tarum.

    Gabriel cresceu em uma familia unida, era bancrio e tinha uma vida boa, junto com a esposa e uma filha muito esperada por ele. Tinha status era bem visto pelos amigos, construiu uma boa casa, mas aos 40 anos a vida de Gabriel comeou a mudar.

    Em uma tarde em seu trabalho re-cebeu uma ligao avisando da morte da filha em um acidente de carro, e isso foi um golpe muito forte do destino para Gabriel. Depois de enterrar a filha sua vida aos poucos foi se desestruturando, separou-se da esposa mais nova que ele e lhe deixou com tudo que tinham cons-truido, foi morar em um pensionato. Seu bom emprego de 12 anos pediu para sair e com o grande acerto que fez com a empresa, tinha dinheiro sufuciente para tentar esquecer a morte da filha. Foi na bebida que ele encontrou a soluo para os problemas, bebado ele no se sentia s e como estava com dinheiro sempre tinha amigos por perto, era tmido e a be-bida mandava a timidez embora.

    O dinheiro um dia acabou, assim como os amigos tambm acabaram, no era mais possvel ficar no pensionato, ento Gabriel foi morar na rua, conse-guia o dinheiro para beber e estava bem,

    viveu por mais de 20 anos de um lado para outro.

    Atravs da Fundao de Ao So-cial de Curitiba (FAS), Gabriel conse-guiu abrigo para passar as noites, duran-

    te o dia voltava para rua, sem emprego, pois estava com a idade um pouco avan-ada, fazia bicos que lhe eram permiti-dos para sobreviver.

    Com a ajuda da FAS conheceu o Centro Dia, um projeto do grupo Socor-ro aos Necessitados, que funciona como uma creche para idosos, algumas pes-soas os filhos trazem pela manh e vem buscar a tarde, outros os carros da FAS leva e trs e foi assim que seu Gabriel foi incluido novamente na sociedade, conseguiu deixar a bebida e frequentava diariamente o Centro Dia.

    O grupo Socorro aos Necessitados existe desde 1.921, fundada por Hercula-no Carlos Franco Souza, n poca reco-lhida pessoas carentes de todas as idades, mulheres e homens. Hoje trabalha com o Asilo dos Idosos Recanto do Tarum, Creche meu Pequeno Reino e Centro Dia Recanto do Tarum, onde Gabriel fre-quentava e teve conhecimento da neces-sidade de um porteiro para trabalhar no

    asilo. Ele imediatamente se candidatou para vaga, passou pela entrevista e foi contratado, trabalha h cinco meses, no mora mais na rua, alugou uma casa, tem salrio fixo, no tem tanto luxo como an-

    tigamente, porm tem tudo o que precisa como ele diz: minha casa humilde, mas vivo bem sem vcios.

    ASILOO Asilo e o Centro

    so no mesmo endereo, e desenvolvem um trabalho de muita dedicao para os idosos. O asilo acomo-da apenas homens a partir de 60 anos, todos so en-caminhados pelo FAS, a casa tem 100 moradores.

    Trabalham no local 75 funcionrios, es-tgiarios e mais de 70 voluntrios men-salmente.

    Jaqueline Brigida Patrique 35, co-ordenadora do recanto h um ano, antes trabalhava em salo de beleza e diz ter se descoberto novamente quando teve oportunidade de trabalhar junto com os idosos. So mundos diferentes o salo onde trabalhava e o recanto, no sabia como ajudar algum pode ser to praze-roso.

    Jaqueline mostra realmente muito prazer no que faz e apresenta toda a casa. Comeamos pelo Cantinho do Artesa-nato, l conheci Ivanir Maria Ramalho, Neguinha como conhecida na casa, ela trabalha no recanto h 14 anos, 10 como voluntria e 4 como funcionria, junto com ela trabalha Miguel Vicente 69, vive no asilo surdo e mudo, desenvolveu com grande facilidade o trabalho e todos os dias junto com Neguinha ensina ar

    por Sidnia Rosa Gonalves

    Idosos na sala de comum acesso, uns dormem, outros assistem TV e ainda conversam

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    Todos queremos viver bem, ter uma casa, uma famlia, alimentos, um bom trabalho e porque no conforto. Gabriel Bento Hamusiak 63, teve tudo isso e mais um pouco e infelizmente perdeu tudo. Precisou de ajuda de pessoas estra-nhas para se levantar e hoje trabalha no Lar dos Idosos Recanto do Tarum.

    Gabriel cresceu em uma familia unida, era bancrio e tinha uma vida boa, junto com a esposa e uma filha muito esperada por ele. Tinha status era bem visto pelos amigos, construiu uma boa casa, mas aos 40 anos a vida de Gabriel comeou a mudar.

    Em uma tarde em seu trabalho re-cebeu uma ligao avisando da morte da filha em um acidente de carro, e isso foi um golpe muito forte do destino para Gabriel. Depois de enterrar a filha sua vida aos poucos foi se desestruturando, separou-se da esposa mais nova que ele e lhe deixou com tudo que tinham cons-truido, foi morar em um pensionato. Seu bom emprego de 12 anos pediu para sair e com o grande acerto que fez com a empresa, tinha dinheiro sufuciente para tentar esquecer a morte da filha. Foi na bebida que ele encontrou a soluo para os problemas, bebado ele no se sentia s e como estava com dinheiro sempre tinha amigos por perto, era tmido e a be-bida mandava a timidez embora.

    O dinheiro um dia acabou, assim como os amigos tambm acabaram, no era mais possvel ficar no pensionato, ento Gabriel foi morar na rua, conse-

    guia o dinheiro para beber e estava bem, viveu por mais de 20 anos de um lado para outro.

    Atravs da Fundao de Ao So-cial de Curitiba (FAS), Gabriel conse-guiu abrigo para passar as noites, duran-te o dia voltava para rua, sem emprego, pois estava com a idade um pouco avan-ada, fazia bicos que lhe eram permiti-dos para sobreviver.

    Com a ajuda da FAS conheceu o Centro Dia, um projeto do grupo Socor-ro aos Necessitados, que funciona como uma creche para idosos, algumas pes-soas os filhos trazem pela manh e vem buscar a tarde, outros os carros da FAS leva e trs e foi assim que seu Gabriel foi incluido novamente na sociedade, conseguiu deixar a bebida e frequentava diariamente o Centro Dia.

    O grupo Socorro aos Necessitados existe desde 1.921, fundada por Her-culano Carlos Franco Souza, n poca recolhida pessoas carentes de todas as idades, mulheres e homens. Hoje traba-lha com o Asilo dos Idosos Recanto do Tarum, Creche meu Pequeno Reino e Centro Dia Recanto do Tarum, onde Gabriel frequentava e teve conhecimen-to da necessidade de um porteiro para trabalhar no asilo. Ele imediatamente se candidatou para vaga, passou pela entre-vista e foi contratado, trabalha h cinco meses, no mora mais na rua, alugou uma casa, tem salrio fixo, no tem tanto luxo como antigamente, porm tem tudo o que precisa como ele diz: minha casa

    Gabriel Bento Hamusiak, na guarita do Asilo onde traquilo pode ouvir msica

    humilde, mas vivo bem sem vcios.

    ASILOO Asilo e o Centro so no mesmo

    endereo, e desenvolvem um trabalho de muita dedicao para os idosos. O asilo acomoda apenas homens a partir de 60 anos, todos so encaminhados pelo FAS, a casa tem 100 moradores. Trabalham no local 75 funcionrios, estgiarios e mais de 70 voluntrios mensalmente.

    Jaqueline Brigida Patrique 35, co-ordenadora do recanto h um ano, antes trabalhava em salo de beleza e diz ter se descoberto novamente quando teve oportunidade de trabalhar junto com os idosos. So mundos diferentes o salo onde trabalhava e o recanto, no sabia como ajudar algum pode ser to praze-roso.

    Jaqueline mostra realmente mui-to prazer no que faz e apresenta toda a casa. Comeamos pelo Cantinho do Artesanato, l conheci Ivanir Maria

    Ramalho, Neguinha como conhecida na casa, ela trabalha no recanto h 14 anos, 10 como voluntria e 4 como fun-cionria, junto com ela trabalha Miguel Vicente 69, vive no asilo surdo e mudo, desenvolveu com grande facilidade o trabalho e todos os dias junto com Ne-guinha ensina artesanato para pessoas de qualquer idade sem nenhum custo para o aluno, porm o que feito no cantinho do artesanato fica no asilo, vendido no bazar de novos junto com roupas que so ganhadas e no servem para os mora-dores do asilo. feito tambm o bazar de usados, todas a doao de roupa pas-sa por uma triagem, separado o que utilizado pelo asilo e pela creche, o que no serve para ningum vai para o bazar, o dinheiro arrecadado utilizado para compra de medicamentos, alimentos, produtos de higine. O bazar acontece no prprio recanto toda segunda, tera e quinta-feira das 13h s 16h.

    Praticamente todos os idosos usam remdios, muitos deles mais que um medicamento, o asilo possuiu uma far-mcia, onde os remdios so separados. Por dia distribuido mais de 600 com-primidos, muitos deles vem do posto de sade, outros medicamentos que o posto no fornece a casa precisa comprar.

    Alm do bazar os moradores e os funcionrios do asilo, desenvolvem ou-tras atividades que geram dinheiro, uma delas o carto flores simblicas, dois modelos de carto, um significa psa-mes e outro felicidades, vendido desde

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    1.949 e tem o custo de R$30.Outro lucro para o recanto um CD

    gravado pelos moradores com o ttulo de Os Velhos Guris tem o custo de R$10. Alm de camiseta e necessaire que custa R$25 com o tema Resgatando Sonhos Porque os sonhos no envelhecem, um trabalho que proporcina aos moradores, viver por um instante um sonho de vida, ter uma floricultura, ser piloto, danari-no, so vrias fotos expostas na entrada do Centro Dia.

    Com a parceria da prefeitura de Curitiba o asilo ganha descontos, na con-ta de energia. Ainda conta com o projeto Empresa Amiga, concedido empresa ou pessoa fsica, que contribui para a as-sistncia, melhoria na qualidade de vida dos idosos, um selo pelo perodo de um ano.

    Os moradores que so aposentados tambm contribuem com 30% da apo-sentadoria, isso no representa dos gastos de cada pessoa. Porm nem todos so aposentados, alguns moradores no sabem nem o nome quando chegam no lar.

    O local dividido em 3 alas. Na primeira ficam as pessoas com deficin-cia fsica e mental, que precisam de uma ateno especial. Os banheiros so equi-pados para atender a necessidade de cada um. A segunda ala so pessoas semi-dependentes, possui alguma deficincia, mas no mental nada que prejudique o convivio com outras pessoas. E na ter-ceira ala, ficam os dependentes, pessoas que conseguem se movimentar e at sair para passear do asilo, vo para o shop-ping, fazem compras, vo danar e s precisam cumprir dois regras, no beber e no chegar tarde.

    O Lar dos Idosos possui um espa-o para recreao com churrascaria e at mesa de sinuca para distrao, televiso nos quartos dos que querem e nas salas de convivio geral, os quartos so nor-malmente de dois a trs pessoas, as rou-pas so de uso individual, lavadas na la-vanderia do prprio asilo com o nome de cada morador. A casa ainda tem a dispo-sio um centro de academia para fisio-terapia dos que precisam, porm nenhum morador obrigado a fazer exerccio se no quiser, o trabalho que eles desen-volvem de livre e espontanea vontade. Pelo menos 95% dos moradores fumam, os que recebem aposentadoria compram o cigarro, os que no tem dinheiro o lar compra e fornece. No caso de envolvi-mento com drogas e bebidas, feito um

    Jaqueline B. Patrique (esq) coordenadora e Ivanir M. Ramalho (dir) responsvel pelo Artesa-nato.

    tratamento para deixar o vcio, quando no tem retorno pessoa enviada para abrigos especiais.

    At que ento voltamos portaria do Recanto, onde conheci Gabriel. Realiza seu trabalho com muita dedicao, conhece todos os funcionrios do asilo. Coordena a entrada e sada de veculos e de todos os moradores de visitantes. Durante o trabalho ainda sobra tempo para ouvir uma boa msica. Para Gabriel a vida agora outra.

    A situao dos idosos quando chegam no asilo normalmente de abandono como fala Jaqueline. 50% dos idosos so abandonados e no aceitam essa situao, mesmo se quando era novo no teve uma vida exemplar, bateu na mulher, bebia, abandonou os filhos, esses vivem deprimidos e se sentem injustiados, os outros 50% conseguem entender o motivo pelo qual est sozinho, esse vivem bem, fazem piadas e do muitas rizadas. Ela resalta o trabalho voluntrio como a principal necessidade do lar, a doao no em dinheiro, mas sim em carinho, conforto e ateno aos mais velos.

    Miguel Vicente, morador surdo e mudo que ajuda no Cantinho do Artesanato.

    O Lar dos Idosos Recanto do Tarum fica na Rua Konrad Adenauer, 576 Curitiba PR.

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    No dia 4 de setembro de 2010, uma manifestao contra a poltica de ex-pulso de ciganos do territrio francs reuniu um grande nme-ro de pessoas. De acordo com os organizadores do movimento, fo-ram mais de 100 mil. No entan-to, rgos oficiais do governo da Frana confirmaram apenas 77 mil presentes no movimento. No

    entanto, independente de qual dos dois nmeros se aproxima mais da realidade, trata-se de um Maraca-n cheio, uma quantidade enorme de seres humanos.

    Cada um com sua histria, seus anseios e suas necessidades. Agora, imagine que toda essa hor-da de gente fosse habitar um mes-mo local em um curto espao de tempo. Este local, sem grandes

    condies para comportar tantas pessoas, tenderia ao colapso. E no por conta de revoltosas mani-festaes a favor de ciganos, mas sim por falta de estrutura. o que aconteceu na regio metropolitana de Curitiba.

    Informaes do Instituto Para-naense de Desenvolvimento Eco-nmico e Social (Ipardes) apon-tam que, no ano 2000, o municpio de Colombo tinha cerca de 173 mil habitantes. Em 2009, menos de uma dcada depois, esse nme-ro subiu para quase 250 mil um enorme salto de 44% na quantida-de de pessoas.

    Nem de longe o nmero lem-bra o que era o local onde a ci-dade quando foi emancipada, em janeiro de 1890. A rea era um grande lote cedido pelo Imperador Dom Pedro II, onde se prolifera-vam diversas colnias de euro-peus principalmente italianos. A influncia foi tanta que, um cacho de uvas, tpica fruta usada na pro-duo de vinhos, est presente na bandeira e no braso de Colombo. O nome da cidade, alias, uma homenagem ao famoso navegador que esbarrou seu navio na Amri-ca, em 1492. No por acaso, o ex-plorador era nascido no pas com formato de bota mais famoso do mundo.

    O aumento da populao co-lombense at poderiam apontar para um crescimento tambm nos setores econmicos e sociais do municpio. No entanto, de acordo

    O tempo passouA populao de Colombo cresceu quase 50%.A estrutura, no. por Ricardo Alexandre

    Apesar de ser o maior da regio metropolitana, o terminal do Alto Maracan insuficiente para comportar a demanda

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    com os relatos de quem mora na cidade, o inchao da regio trouxe um grande problema. Os servios pblicos no andaram ao lado do crescimento populacional. Assim, boa parte da populao fica sem amparo, carente de um atendimen-to de qualidade em aspectos consi-derados mnimos, essenciais.

    Essa a viso que muitos mo-radores tm, assim como o estu-dante Vinicius Souza. H 27 anos ele nasceu na cidade, e onde vive at hoje. Lembro que quando eu era criana, Colombo era um lugar pequeno, com pouca gente. Era muito mais tranquilo. Entendo que o progresso chegou at aqui tam-bm, mas o governo ficou parado no tempo, diz Souza. Entre as principais reclamaes dos mora-dores, esto a falta de estrutura e capacidade de atendimento no se-tor de segurana, sade, e, princi-palmente educao.

    A educao a arma mais poderosa que voc pode usar para mudar o mundo. A frase, do lder sul-africano Nelson Mandela, atin-ge a grande ferida do municpio, que luta contra as grandes dificul-dades nesta rea. comum encon-trar antigas lojas e barraces que fabricavam loua, grandes gerado-ras de riqueza no municpio h al-guns anos, sendo utilizadas como escolas. Ainda assim, mesmo to alternativamente preocupantes, os locais de ensino so poucos.

    Mes de alunos reclamam que as escolas que existem no atendem a demanda real, alm do fato de muitas funcionam onde antigamente existiam comrcios ou indstrias. H trs quadras da minha casa, funciona uma espcie de colgio, onde era uma empre-sa metalrgica. Reformaram o lu-gar para transformar numa escola, mas ainda assim est longe do ide-al, diz Roslia Pacheco, me do

    pequeno Jonathan, de 9 anos. E a escola importante para ter aonde deixar as crianas. Se elas ficarem nas ruas, esto sujeitas violn-cia, relata.

    Em algumas regies da cida-de, como no bairro do Alto Mara-can, algo corriqueiro observar a populao tentando se prote-ger deste problema. Na frente da maioria das lojas do comrcio por ali, como em padarias, lojas de presentes e aougues, h algo em comum: as grades. Mesmo inertes, as barras de metal so uma espcie de talism dos cidados. So elas que passam efetivamente, uma maior sensao de segurana, j

    que esta no costuma vir da pol-cia.

    Mesmo sendo um local de re-correntes assaltos, quase nunca se vem viaturas circularem por ali. isso que afirma a moradora Mar-clia Lishotski, que diz conviver com um estado de apreenso cau-sado pela violncia. Assassinatos so rotina. Parece at que temos que ter isso como algo normal, j que parece que nada feito para acabar com tantas mortes, conta. O que se v muito so os vende-dores de drogas agirem. E nas drogas que o problema da violn-cia se potencializa. Agora, a ao da polcia em cima disso, algo que no vejo, finaliza.

    Nmero de habitantes cresceu, mas as ruas permanecem inapropriadas

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    Esto nos fundilhos dos senhores vereadores...

    Na rea de sade, moradores afirmam que o maior problema a falta de profissionais. O apontamento reforado por uma funcionria que trabalha no pronto atendimento do bairro Alto Maracan, que o maior do municpio. Ela no quis se identificar. Ns temos equipamentos, ns temos o servio pronto para ser feito. Falta apenas profissionais, o que essencial.

    De acorda com ela, o governo recebe a verba, mas no liga para a sade dos moradores. Se importam apenas com deles e seus familiares. Isso porque, quando precisam de qualquer tratamento, podem ir at timos hospitais particulares, diz.

    Colombo fica a menos de 20 km de Curitiba. Por ser um dos plos econmicos da regio metropolitana com destaque para a agricultura -, a cidade est envolvida em muitos interesses tambm polticos.

    Neste perodo de eleies, os moradores recebem muitas visitas de candidatos, que prometem solues para todos os problemas. Resta torcer para que as promessas se cumpram, e os colombenses no tenham que procurar outro lugar para viver, como ciganos. O risco de que em 10 anos a populao praticamente duplique, mas as estrutura permanea estagnada, claro.

    Terrenos abandonados da prefeitura so parte do cenrio do municpio

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    Rio Atuba, que corta a cidade, aparenta estar esquecido pelo po-der pblico

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    12H - Como surgiu o tema que resultou no Dinamite: uma tragdia em Curitiba?A.C. - Eu soube por acaso, um dia minha me e minha av conversando eu ali a es-preita escutando. E da elas comentaram de uma exploso, o dia do cogumelo, e aquilo me instigo. E na poca eu tava a procura de um tema para o meu TCC, a elas falaram que tinha sido super importante. Mas uma coisa sua me que foi super importante, outra coisa voc verificar que aquilo de fato tinha uma importncia para a cidade, para a poca. Ento eu comecei a buscar, comecei a perguntar, a conversar com as pessoas da poca, e a partir desse contato, a partir da minha pesquisa, eu vi que a tra-gdia, a exploso, tinha sido de fato impor-tante para a histria da cidade, e que no existia nenhum relato sobre ela, por mais importante que fosse no tinha nenhum re-

    lato. Ento eu vi ai uma fala de comunica-o, e decidi escrever esse livro.

    12H - O livro trabalha de uma maneira bem ampla no que diz respeito contex-tualizao. Voc pode falar um pouco so-bre isso para a gente? A.C. - A histria passa em 1976. Eu quis escrever um pouco sobre o contexto de 76, para que aqueles que vivenciaram, lem-brassem daquilo que tava acontecendo no Brasil, e aqueles que nasceram depois de 76, como o meu caso, tivessem uma no-o do contexto brasileiro, ento eu con-textualizo o que tava acontecendo no Bra-sil, o que tava acontecendo em Curitiba. E depois entra a histria, o percurso do ca-minho, tudo mais. E o mais importante, que decidi contar sobre a vida das pessoas. Meu livro privilegia a histria das pessoas,

    por Mari Martins e Michele Saide e participao da querida amiga Ivonete Franciele

    TCCendoQue todas as etapas de um trabalho de concluso de curso demanda muita dedicao, definitivamente, nem eu, ou qualquer outro de meus colegas de classe duvidam nessa altura do campeonato. Mas a idia inicial, a escolha do tema, um problema enfrentado pela grande maioria dos estudantes. A escolha de temas locais, feita por alunos de comunicao tem sido uma constante nos ltimos tempos, e esses trabalhos tem resultado em materiais de extrema importncia, alm de jornalstica, documental, histrica e social para a cidade.

    Entre outros ttulos que me vem agora na lembrana esto os livros reportagens: Nos pores da resis-tncia, escrito por Adriano Gomes e Matheus Amorim em 2009, que relata como a ditadura militar atingiu o Paran e a capital, dando destaque a personagens incrveis que desde ento povoam meu imaginrio antes habitado apenas por personagens de outras partes do pas no que diz respeito ao assunto, O Autismo outra histria, vencedor da 13 edio do prmio Sangue, escrito por Nelci Guimares, responsvel, entre outros, por me proporcionar uma viso e uma reflexo totalmente diferenciada da que tinha at ento do assunto, e o livro Dinamite: uma tragdia em Curitiba, escrito pela carinhosa e inteligente figura de Anna Carolina Azevedo, da qual transcrevo abaixo trechos de uma deliciosa entrevista, que resultou em muito aprendizado.

    Dinamite: uma tragdia em Curitiba relata uma exploso que ocorreu na cidade em 1976, mas que com a descrio muitssimo rica, digna de comparao com grandes nomes como Capote e Gay Talese, o livro informa, emociona e faz pensar sobre as formas de se fazer jornalismo.

    Espero que voc tire dessa entrevista, que se apresenta algum erro certamente no por falha da entre-vistada, tanto proveito quanto eu. Boa leitura.

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    as pessoas e no dados tcnicos. Para mim o mais importante era contar como a vida dessas pessoas foram afetadas pela explo-so.

    12H - Como foi o processo de busca pelas informaes?A.C. - Bom eu sistematizei minha busca em trs frentes, o Juvev, Ah e, Cabral. Ali so bairros densamente povoados por idosos, ento eu tinha certeza que bus-cando esses idosos eu teria boas fontes, ou pelo menos que eles me indicaria, a eu conheo fulano, conheo ciclanos. Ento em primeiro lugar eu fui andar pelo bairro, sem destino, batia na casa de cada pessoa, depois eu fui buscar os jornais da poca, e a partir da leitura que eu fiz desses jor-nais, eu anotava o nome das pessoas e ia procurar na lista telefnica, se eu achasse tudo bem, se fosse um sobre nome mais peculiar, era fcil de achar. E a terceira, eu sai conversar com todo mundo mesmo: _Olha, eu to escrevendo um livro, tal..., e

    da a pessoa j chegava comigo e falava: _Olha eu tenho uma vizinha que perdeu a casa. E assim eu achei muitas fontes.

    12H - Quais foram suas principais difi-culdades?A.C. - Em primeiro lugar, a busca pelas fontes. Eu comecei essa pesquisa do zero, no existia nenhum registro sobre a explo-so de dinamite, sequer em internet, no havia material algum mesmo, a no ser os jornais da poca, que esto em difcil aces-so, no qualquer um que pode chegar l buscar um jornal da poca, a partir disso, eu comecei lendo jornal, conversando com as pessoas, ento essa foi uma dificulda-de muito grande, tirando isso, a partir do momento que voc comea a ouvir as his-trias eu acho que as histria falam por si mesmo, meu nico trabalho foi encaixar isso, eu fui apenas, digamos, um meio para que a histria chegassem as pessoas.

    por Mari Martins e Michele Saide e participao da querida amiga Ivonete Franciele

    TCCendo

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    12H - Seu livro um hibrido de jorna-lismo e literatura, e essa juno, por vezes, criticada. Para voc O Jorna-lismo e a Literatura so irmos que se rejeitam ou amantes?A.C. - So amantes, com certeza. O meu livro explora essa vertente literria, apesar de eu acreditar que o jornalismo de certa forma uma expresso da lite-ratura. O problema que hoje em dia, as pessoas correndo, derrepente no a tempo de ouvir as histrias das pessoas, ento os textos ficam meio enxutos, mas a partir do momento que voc vai atrs das histrias, voc tem muita coisa para contar, voc tem personagens, voc tem cenrio, e esses so elementos do texto literrio, voc falar sobre personagens, falar sobre o cenrio, e outros elemen-tos que compe a histria, ento voc buscando voc tem elementos para es-crever um texto que acaba se tornando com esse formato literrio. Eu acho que so duas reas que podem perfeitamen-te andar juntos, veja a revista Piau por exemplo.

    12H - E nessa mistura do jornalismo com a literatura, como definir o que realidade e o que e fico?A.C. - Bom, uma pergunta que as pes-soas me fazem achando que a histria fictcia: da onde voc inventou uma ex-ploso? No, na verdade uma histria real eu no inventei nenhum detalhe, to-mei o mximo de cuidado para no co-locar impresso minha para derrepente no fora alguma histria porque assim pareceria mais interessante, na verdade a vida real muito interessante. As coin-cidncias da vida real, s vezes so mais fascinantes que a prpria fico. Bom, para diferenciar, pelo formato em si, voc poderia pensar que derrepente ficcional ou no, mas no meu livro, por exemplo, tem bastante recorte de jornal,

    ento por mais que as pessoas apaream desavisadas, achando que de mentira, por meio dos jornais ela vai ver que de verdade a histria.

    12H - Como foi a definio de que meio utilizar para contar a histria?A.C. - Quando eu encontrei o tema, uma das minhas grandes dvidas era mesmo que veculo utilizar para contar essa his-tria, e os dois que eclodiram foi, do-cumentrio o e livro. O problema para fazer um documentrio obviamente tem o apelo da imagem, e conseguir imagem de 76 era impossvel seria muito legal fazer um documentrio mesclando o depoimento das pessoas, cortando, uma edio fantstica, o problema que no tinha imagem e sem imagem o docu-mentrio ficaria muito capenga, diga-mos assim, e o meu livro tem o formato meio documentrio. Tem gente que j falou que seria um timo roteiro, sabe, para derrepente fazer um filme mesmo, teve at um diretor que se interessou por isso. Mas o motivo por eu no ter optado pelo documentrio foi falta de imagem mesmo.

    12H - Que dica voc daria para os alu-nos que esto pretendendo, como tra-balho de concluso de curso, se jo-gar num livro-reportagem?A.C. - Bom, primeiro voc tem que acreditar no seu produto, voc no pode desenvolver seu TCC apenas com o in-tuito de passar e ser aprovado. Se voc acredita naquele tema, no projeto, tem que fazer da melhor forma possvel, com muita dedicao, o que vai culmi-nar inevitavelmente em muito trabalho, mas que mais tarde voc~e vai perceber que valeu apena.

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    A cinza Curitiba colorindo o mundoNascida em 1982,a gibiteca Curitibana conquista o mundo

    reportagem: ana paula melo

    tradio de Curitiba no mundo dos quadrinhos conhecida em todo o Brasil, Foi em Curitiba a inaugurao da primeira gibiteca do pas. Surgiu como local de lei-tura, com acervo bsico de boas publicaes, montado inicialmen-te com doaes de editoras e cole-cionadores. Al se estabeleceu um mecanismo de trocas com os inte-ressados, de modo que , alm de montar seu prprio acervo passou a colaborar para colees partu-culares de gibis.Foram de Curiti-ba que saram muitos dos artistas das histrias em quadrinhos, entre eles Jos Aguiar, Nilson Muller,

    Gian Danton, Antonio Eder ,e tan-tos outros que contriburam para fazer da cidade um referencial. A gibiteca no apenas um local freqentado por pessoas prestes a devorar gibis de seus personagens prediletos, O local tambm ofe-rece oficinas de criao e cursos diversos. J passaram por l gran-des nomes como Laerte, Glauco, Luiz Ge, todos referncias na rea. Ofereceu a populao even-tos como o festival de gibi e a Bienal de QH.

    A gibiteca completa 28 anos, e tem um acervo de cerca 30 mil exemplares,segundo a coordena-dora do local Maristela. Alguns muito antigos como a revista ca-reta de 1919. As revistas mais antigas ficam guardadas chave, e s podem ser vistas com a auto-rizao de Maristela.,que est no local faz 10 anos, uma verdadei-ra apaixonada por HQ. Maristela garante que o local freqentado por todos os tipos de pessoas, de crianas idosos que procuram pelos mais diversos tipos de ani-mao, entre eles, Delvane que um eterno apaixonado por qua-drinhos e desde sua infncia fre-qenta o lugar, hoje tem como companhia seus cinco filhos.

    Fulvio Pacheco que atual-mente d aulas de mang (qua-drinhos japoneses) na gibiteca diz que sua paixo comeou muito cedo pelas histrias em quadrinhos,e que tudo se iniciou com a Disney,paixo essa que o acompanha at os dias de hoje. Curitiba tem uma cultura muito

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    forte de Histria em Quadrinhos, a principal editora brasileira fi-cava aqui nos anos 70, Tambm temos um histrico dentro da pu-blicao Indie (independente) que deixa at So Paulo com inveja.

    Assim como Flvio, temos tambm Antonio Eder que tra-balha com quadrinhos h mais de 20 anos, e tem cerca de 3.000 exemplares, fora os livros te-ricos. Eder sempre freqentou a gibiteca de Curitiba, foi l que conheceu muita gente da rea e inclusive fez cursos no local. Para o quadrinista, atualmente Curitiba est fraca na produo de quadri-nhos, tem bons cursos, mas no tem mercado, e ainda conclui. Tem gente fazendo HQ aqui em Curitiba? Sim. Mas no passa de um punhado de loucos, sonhado-res e profissionais.

    tem gente ganhando dinheiro com HQ aqui em Curitiba? so-mente 10% desse punhado que citei.Curitiba tambm desta-que na criao de revistas,entre elas Fantasias urbanas de Fulvio Pacheco e Gralha que conta com a colaborao de dez desenhistas,entre eles Jos Aguiar,tambm dele so as revis-tas Quadrinhoflia e Folhetim.

    Histrias em quadrinhos se tornam ferramenta pedaggica

    Com textos leve, geis e com o apoio das coloridas imagens, as histrias em quadrinho seduzem as crianas, por esse motivo que os gibis esto servindo cada vez mais como apoio pedaggico e educativo. O profes-sor Jan Tracz do ensino fundamental e mdio, garante que atravs dos quadrinhos que grande parte das crianas inicia sua paixo pela leitura. A bibliotecria Aparecida diz que 90% das crianas que freqentam o local esto interessadas nos gibis. J que os gibis no podem ser em-prestados, muitas vezes as crianas passam tardes entretidas com os gi-bis, esse interesse muito importante para o desenvolvimento de uma criana.

    Para a pedagoga Aline Manfron, a criana que l HQ vai melhorar na escola. Se comunicar melhor, escreve melhor. As HQ so uma impor-tante aliada na formao e desenvolvimento das crianas. Atualmente As revistas em quadrinhos foram includas entre os bens que podem ser comprados pelo vale-cultura, j aprovado pelo Congresso Nacional.

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    Histrias em quadrinhos se tornam ferramenta pedaggica

    Voc conhece o Mrio? Aquele que... calma, no aquela velha piada, e sim o game mais amado do mundo. So 25 anos de histria nos jogos de vdeo-game completos neste ano e com muito sucesso durante todos estes anos. Quem gosta de ga-mes, j jogou, viu, ou ao menos ouviu falar do Mario. Quem nunca se entusiasmou com as fases completadas e pontos ga-nhos cada jogo? Nunca ficou nervoso, ou at raivoso quando no conseguia completar os obstculos e fases do game? Ou ento se sentia muito fera ao completar todas as fases e ze-rar a fita (cartucho com o chip do jogo) ?

    Pois , por tudo isso e muito mais, o grande Mario e sua turma fazem parte da histria de muitas pessoas pelo mundo todo.Iniciado em 1985 para o Nintendo Entertainment System (NES), o jogo trouxe uma nova tendncia e quebrou uma barreira que existia na indstria de games, fazendo com que suas vendas chegassem a 40 milhes de cpias em todo o mundo. Esta re-ceita de jogo foi copiada posteriormente por muitos outros jo-gos como o caso de Sonic, da Sega.

    E isto no tudo, Mario e sua turma, fizeram a felicidade de muitas geraes, chegando ao ponto de o personagem Mario ser mais lembrado do que Mickey Mouse nos Estados Unidos segundo pesquisa feita com estudantes em 1990.

    Sempre atualizando nas verses, o game segue as tendncias do mercado e ainda se mantm vivo na memria dos mais ve-lhos e na atualidade de quem ainda o joga, sendo na verso antiga ou nova como no Wii sempre bom dar uma animada com Super Mario.

    E a Nintendo sabe explorar seu produto, inovando e criando expectativas ao consumidor a cada produto lanado, deixa a fora da marca sempre por conta dos seus mascotes Mario, Luigi, Princesa Peach e o cogumelo Toad, e trar ainda mais novidades futuramente, pois esta fora do encanador baixinho com seus fs, ainda dar muitos lucros para o grupo Nintendo.

    Larissa IladesGAMES com

    Anderson Mariano

    O personagem histrico dos games.

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    A msica erudita tem f-cil acesso e algumas pessoas vivem dela. O grupo Madrigal em Cena criado em 2002 na Rua da Cidadania do Boqueiro em Curitiba tem o intuito de levar ao pblico muita alegria com suas canes eruditas encenadas, trazendo descontrao s pessoas que gostam de ouvir uma boa m-sica.

    E uma das pessoas funda-mentais que realmente enten-dem e vivem de msica em Curitiba Eli Siliprandi, 53 anos, que comeou sua carreira artstica h 25 anos como pro-fessor, cantor e maestro. Es-tudou canto em Maring e em meados de 1983 se mudou para Curitiba onde estudou na Esco-

    la de Msica e Belas Artes do Paran e se formou em canto superior.

    No mesmo ano em que se formou em canto na EMBAP Eli passou a integrar o Grupo da Camerata Antiqua de Curitiba onde permaneceu at o ano de 2006. Com uma vida totalmen-te dedicada a msica erudita, o idealizador de vrios projetos de canto de Curitiba, sendo um deles o prprio Madrigal em Cena, que tem repertrio erudi-to com msica barroca e renas-centista e msica brasileira do perodo colonial.

    Atualmente lidera grupos da periferia de Curitiba e tam-bm rege o coral do Santurio de Nossa Senhora do Carmo. Tem seu dia bastante agitado,

    escolhe as msicas que seus grupos vo apresentar e a cada dia da semana Eli ensaia o Ma-drigal em Cena por naipes, sen-do assim: soprano, contralto, tenor e baixo.

    No primeiro e no terceiro sbado do ms, todo o grupo do Madrigal em Cena se rene para fazer o ensaio geral, onde se renem todos os naipes para discutir agenda, concertos e fa-zer os ltimos ajustes para as apresentaes. Sinto-me reali-zado em aproximar as pessoas da msica erudita, define Eli.

    H um ditado popular que diz: Atrs de um grande ho-mem est uma grande mulher, e essa a relao que Eli Sili-prandi tem com sua esposa Da-niela Skrepec, 31 anos. Dani, como prefere ser chamada, tambm vive de msica eru-dita, alm de trabalhar ao lado do marido, tem suas particula-ridades como dona de casa. me de Francisco Siliprandi, de cinco anos que mesmo pequeno atua em algumas apresentaes.

    Alm de ser cantora sopra-no e atriz do Madrigal em Cena, Dani faz apresentaes de um concerto cnico cujo nome As estripulias de Tersica, tex-to criado em 1985, baseado nas letras do Cancioneiro de Upp-sala - conjunto de manuscritos de canes espanholas renas-centistas, de autores annimos, encontrado na Universidade de Uppsala na Sucia, uma apre-

    Viver de arte simplesmente um dom

    Um amor chamado msica

    por Ana Carolina Skrepec

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    sentao muito divertida que traz a mistura de cenas engraa-das e inusitadas com canto, que o pblico adora. Juntamente com Ronaldo Cordeiro msico e tenor do Madrigal em Cena, criaram o musical infantil As Cantigas de madame Esmeral-da e senhor Nikimba, baseado no Cancioneiro infantil e Heitor Villa Lobos.

    A apresentao resgata as cantigas de roda e brincadeiras j esquecidas nas escolas e des-conhecida pelo pblico infantil atual. So feitas duas apresen-taes extras por ms em esco-las especiais junto a Rede Sol Rede Solidria, onde vrios artistas fazem apresentaes para crianas portadoras de de-ficincia em Curitiba. So rea-lizadas tambm apresentaes em escolas municipais, estadu-ais e da rede privada. As crian-as adoram as apresentaes, prestam ateno em tudo, con-ta Christiane, professora da Es-cola Municipal So Mateus do Sul.

    A maquiagem das apresen-taes Dani mesmo quem faz, usa muito lpis, blush, pankake e batom. O figurino do grupo feito por eles mesmos, e fabri-car as roupas no fcil no, com isso eles precisam pesqui-sar e estudar bastante, pois so figurinos de poca que exigem muitos detalhes. O que me deixa muito feliz, que duran-te esses oito anos que o grupo tem, a amizade cresce mais, no somente um grupo de traba-lho, mais sim um grupo de ami-gos declara Dani.

    A rua da cidadania no Boqueiro oferece uma diversidade de cur-sos pessoas com baixa renda.

    So cursos com preos bem acessveis e que tem professores com nvel muito bom. As aulas de canto coral so abertas a todos, os alunos aprendem a dividir vo-zes descobrir seu naipe e afinar a voz, acontecem s segundas-feiras e s quartas-feiras, onde o custo de R$ 15,00 por ms e o telefone para contato (41)3313-5515.

    A nica exigncia que fazem ter aptido musical e gosto pela arte.

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  • | Revista 12 horas

    Quando o primeiro beb riu pela primeira vez, o riso se despe-daou em milhares de partes, que se espalharam, foram saltando. Assim nasceram as fadas. Esta passagem, extrada do clssico infantil Peter Pan, serve perfei-tamente para ilustrar a atmosfera ldica que toma conta do Teatro Lala Schneider nesta tarde fria de domingo, capaz de despertar os sorrisos nos rostos das pessoas presentes. Sejam elas crianas ou adultos.

    Primeiro, porm; o caos. Sem inspirao para o incio da matria, deixo que o barulho da crianada me distraia. Mas s at perceber o garoto Yuri Santana, 11 anos. Sentado na fileira mi-nha frente, duas poltronas mi-nha esquerda, reconheo no me-nino as caractersticas de um mal que me perseguiu at bem pouco tempo atrs. Seu comportamento irrequieto e dispersivo a ltima imagem que capturo antes do co-meo da pea. Logo a seu lado, uma garotinha imediatamente enfeitiada quando os persona-gens do espetculo infantil en-tram em cena.

    Em Isabela Ruani, 7 anos, o deslumbramento transparece. Os braos da me, Karine, 29,

    Terra do Nunca PR

    Teatro Lala Schneider: produes infantis, mas tratadas de forma profissional

    por Jeferson Secco e Milton Massao

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    nossas metas: formar o pblico e tambm os fu-turos profissionais para o teatro curitibano. Levar a paixo pelo teatro s crianas atravs de nossos cursos , conclui Santini. A tarefa de transformar as crianas curitibanas em jovens atores, porm, no exclusiva da Cia das Mscaras.

    Letcia Cristofolli estuda teatro h um ano e seu sonho, aos 15, ser atriz. Contudo, nesta tar-de, ela atriz, roteirista, pblico, diretora, aluna. E tambm professora para os colegas mais novos. Ela teatro em suas vrias facetas, graas orien-tao competente dos arte-educadores Janana e Diego Satri, do Espao Cultural P no Palco. Eles baseiam-se numa postura de ensino que pretende estimular a imaginao, a criatividade e a fantasia que j esto presentes nas crianas, uma metodo-logia desenvolvida pela mentora do grupo, Ftima Ortiz. um longo e personalizado processo, que visa a socializao da criana, no o resultado co-mercial. esclarece Janana.

    Mas para Rainy Tonin Lopes, 11 anos, re-velada no P no Palco, a profisso de atriz j presente. Com atuaes de destaque em trs pro-dues da srie Casos e Causos, da Revista RPC, apontada como um talento real da nova safra de atores-mirins paranaenses. Ela uma das jias preciosas do teatro infantil curitibano, que com responsabilidade e mtodo vem conseguindo re-sultados cada vez mais expressivos nos ltimos anos, gerando otimismo num setor que no passado foi muito marginalizado.

    Para rebater as crticas dos que atribuem um amadorismo excessivo no tratamento das peas, a cidade conta com companhias teatrais consolida-das no ramo, que trabalham suas montagens com seriedade e profissionalismo. A falta de qualidade dos textos, a precariedade das encenaes, o pre-conceito dos atores famosos (que evitam as peas infantis por sua menor visibilidade), e alguns ou-tros problemas crnicos do segmento, amplamen-te verificados nas outras regies do pas, so bem mais raros na capital paranaense. claro que a fal-ta de um pblico mais constante e fiel, e a escassez de recursos financeiros ainda afligem alguns rea-

    mal podem cont-la na poltrona, enquanto os lbios da pequenina sopram os ventos que predizem a primavera, pedido da Cigarra.

    Cinco minutos. Esse o tempo que a pea A Ci-garra e a Formiga, da Companhia Mscaras de Teatro, precisa para transformar uma turba incontrolvel numa platia das mais atentas. Mas nossa preferida ainda Branca de Neve e os Sete Anes, que assistimos no ano passado entrega a jovem me de Isabela, contagiada pela alegria com que a filha reage ao espetculo. Retor-no Yuri, que neste momento, parece outra criana. O brilho vtreo em seus olhos denuncia seu estado de hip-nose. Talvez haja esperana no combate seu dficit de ateno. Afinal, ele encontrou o teatro.

    Essa minha deixa, toda a inspirao de que preciso. Em minha cabea, comeo imediatamente a matria, como um sorriso nos lbios quase to intenso quanto o brilho nos olhos do pequenino. Um sorriso que no vejo, s sinto. A cura para o meu dficit de ateno veio a dois anos e meio. Eu encontrei o Jornalismo.

    natural o fascnio que a narrativa das produ-es infantis exerce sobre as crianas. L esto, projeta-dos para alm da falsa tridimensionalidade oferecida pe-los videogames, os personagens de suas fantasias. Mas como explicar a entrega imaginao e fantasia vindas da poltrona ao lado, onde os pais parecem se divertir ain-da mais que elas? Durante o espetculo, Karine e Ricar-do Ruani pais de Isabela mantm expresses infantis.

    Nossas peas so escritas e encenadas com o obje-tivo de prender a ateno tanto das crianas quanto dos pais, informa Maicon Santini, produtor da Cia Msca-ras, uma das mais conceituadas companhias ligadas ao teatro infantil na cidade de Curitiba. Talvez no exista uma frmula secreta para atingir esse efeito, mas o grupo investe na literatura como ingrediente principal em suas peas. Acreditamos que o teatro precisa mais do que entreter, precisa educar, afirma.

    Essa escolha parece vir de encontro aos anseios do pblico e da crtica especializada. Sucesso comer-cial, Branca de Neve e os Sete Anes a pea preferi-da de Isabela rendeu Mscaras o trofu Gralha Azul de melhor espetculo infantil de 2009. bom ganhar prmios, mas melhor ainda a visibilidade que eles pro-porcionam junto mdia, o que nos aproxima mais de

    Terra do Nunca PR

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    lizadores, mas o carinho, a dedi-cao e o talento dos profissionais pe por terra essas dificuldades.

    De seriedade e de sonhos, de dificuldades e superao; de choro, sorrisos e aplausos vive o teatro infantil em nossas ter-ras. De crianas que representam como adultos (e s vezes parecem mais velhas do que realmente so) e de adultos que fantasiam como crianas (e parecem mesmo se re-belar contra o tempo). A frmula de que se servem os principais au-tores nas melhores estrias.

    Diante deste exemplo, preciso desmentir o pequeno Pe-ter Llewelyn Davies, personagem do excelente filme Em Busca da Terra do Nunca (Finding Never-land, 2004). Definitivamente, no J. M. Barrie, seu criador, o verdadeiro Peter Pan. Na capital paranaense, diante da magia e fas-cnio que nos so despertados ao assistir a uma boa pea infantil, todos ns o somos.

    Letcia: sonho de ser atriz comea na escola de teatro

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    Mural do P no Palco: histria de sucesso do grupo e de sua mentora

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    FOTOS: FRANCIELLE COSTA

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    por Mari Martinsmenino que aparenta ter menos de dez anos

    As siglas estampadas nas costas dos macaces, ITEP, revela que eles fazem par-te de uma das nicas Guarda Mirim do pas no-governamentais. Criada a trs anos, pelo Major Jonathan, ela hoje abrange nove cidades, sendo a nica delas fora do estado de Santa Catarina, Campo do Tenen-te, no Paran. Atendendo crianas de nove a dezessete anos a ITEP conta hoje com 925 alunos espalhados pelos nove batalhes.

    Os alunos de cada cidade formam um ba-talho, e no apenas os termos utiliza-dos que so os mesmos do Exrcito. O trei-namento que recebem so todos semelhantes ao do Exrcito. Todos fazem treinamen-tos de sobrevivncia na selva, aprendem primeiros socorros, a utilizar bssola e participam de treinamentos areos.

    A bAtAlhA Aqui

    O nibus se encontra parado h al-guns minutos , quando a porta se abre , e de l comeam a emer-gir dezenas de caras pintadas. So disciplinados e embora nota-se um certo burburinho de excitao, rapidamente sem que seja necessrio uma palavra o grupo se organiza em filas curtas, em ordem de-crescente.

    - Marche!A palavra pronunciada pela voz forte

    do Major faz com que o grupo em sintonia perfeita se movimente pelo ptio. Seria um cena que nada foge da rotina de qual-quer batalho do Exrcito, se a tinta verde e preta espalhada pelo rosto do ul-timo da fila, no deixasse revelar um sor-riso, misto de satisfao e timidez, que deixa a mostra os pequenos dentes de um

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    E o tratamento que recebem tambm em nada muda. Aqui todos so iguais. Tem crian-a que matou a me, tem filho de juiz, filho de em-presrio, so todos iguais. E todos tem que cumprir com as suas obrigaes. Seja de freqncia as aulas, tirar notas boas ou cuidar, cada um dos seus pertences pesso-ais e um do outro , declara o Tenente Gilney Silva, frente dos olhos atentos de quem sabe que no hora de falar.

    A rigorosa disciplina que exigida, que pode-ria muito bem botar medo em muito adulto por a, aqui vista pelas crianas como um ponto positivo. Diego de Jesus, o ltimo da fila que aparentava ter menos de dez anos, na verdade tem treze, informao concedida pelo prprio garoto, com voz im-porta e forte, responsvel por levar ao cho qualquer imagem de criana frgil. Aqui a gente aprende a ser mais educado, tem a hora certa para tudo, e isso bom. Gosto muito.

    Para a me de Diego, a dona de casa Lia da Silva de Jesus, a chegada de grupo na cidade vai alm da nova atividade do filho. Quando o Major chegou na Cohab I, a cidade inteira era feia, tinha muito lixo em todo o lugar. Ele mudou nossa fam-lia, nosso bairro, ele mudou tudo.

    ITEPA sigla ITEP, Instituto

    Tecnolgico de Ensino Profis-sionalizante, faz referncia atividade desenvolvida com maior empenho por par-te da direo da Guarda mi-rim. Nosso intuito, que eles saiam daqui com bagagem para ingressar no mercado de trabalho, conta o Sargen-to Maicon Luiz Ploncoski, de 23 anos, que ingressou na instituio logo aps dei-xar o Exrcito, referindo-se aos onze cursos oferecidos pela Guarda e aos workshops realizados para os alunos. Aqui nos temos a determi-nao e coragem de soldados, mas a nossa arma no uma bomba ou um canho, o co-nhecimento.

    Quando o Major v a pos-sibilidade que um novo bata-lho seja formado, vai at as escolas e faz o convite. Quem quer ir vai, mais ciente que apesar de parecer brin-cadeira, ser soldado da ITEP coisa sria. realizado um acompanhamento escolar com cada uma das crianas, notas baixas excluem o aluno do programa. Mas no antes de um integrante da direo do grupo se dirigir at a escola e ver com quem o problema, se o que acontece de fato motivo para deixar o grupo. Tem muita criana carente, e muitas com fam-lias desestruturadas, ento a gente tem que ver se no isso que esta causando as notas baixas. Porque da a

    gente se prontifica a ouvir esse aluno, porque ele tem que saber que estamos aqui para ajudar, relata o sar-gento Ploncoski.

    ATIVIDADESEntre as diversas ati-

    vidades do curso, os alunos da ITEP so frequentemente chamados para ajudar na se-gurana de eventos pblicos das cidades que cedia algum batalho ou das vizinhanas. A limpeza das ruas, rios, crregos ou qualquer outro lugar da cidade que este-ja poludo, os alunos en-caram como uma misso digna de cumprimento imediato. Se o territrio a ser limpo grande, acionado o bata-lho mais prximo para dar reforo.

    Mas o que faz mesmo a cabea da garotada so os treinamentos feitos dentro da mata. Para falar do as-sunto os trs amigos se al-voroam. muito legal, a gente passa a noite l, tem que fazer trilha, tomar ba-nho de lama, tem que se vi-rar, diz rapidamente Die-go de Jesus, de treze anos. Todo mundo quer falar.

    Querem falar da mata, desconhecida minha, e da ci-dade desconhecida deles.

    Diversos dos meninos dei-xam de observar o desfile de sete de setembro, que passa pela rua Cndido de Abreu, no centro de Curitiba (foram convocados pela prefeitura da cidade para desfilarem, e sendo um dos grupos de fren-te, terminaram sua apresen-tao antes do fim do desfi-le), para esticarem bem os pescoos e observar os pr-dios que cercam a Avenida. Muitos deles nunca haviam visto prdios, de nenhum ta-manho, e as perguntas no param de chegar:

    _Como so feito? _D para morar l em cima? _Qualquer um pode subir?

    A fama desses pequenos soldados vem se expandindo, e diversos outros municpios recorrem ao Major, para ve-rem se a possibilidade de que um batalho seja insta-lado ali.

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    Acreditar Sempre!Um ambiente escolar comum, mas com peculiaridades tamanhas. Assim se define a especialidade da Escola Mercedes Stresser que aguarda mudanas e se prepara para a comemorao de meio sculo de vida.

    Chegam bagunceiros e en-tram pelo porto que ao abrir, por pouco no en-costa nas razes do grande ip amarelo no meio do ptio, em frente a recepo. Uns entram

    quietos, outros nem tanto. Pia-zada teimosa!, fala Oswaldo Reinaldi Sobrinho, 51, o porteiro que h mais de trinta anos deixa a piazada entrar por volta das sete e quinze da manh. Vez ou outra ele

    esmaga algum aluno no porto de controle remoto. A uma risadei-ra s. Tirao de sarro com o pi que ficou preso. E Oswaldo se fe-cha, calado, brabo. Ele especial, assim como todo o ambiente. Es-pecial, tambm pode ser entendido como excepcional, por definio de dicionrio: relativo exceo; muito bom; excelente; portador de incapacidade fsica ou mental.

    Esta entidade tem certifica-do de fins filantrpicos concedido pelo Conselho Nacional de Assis-tncia Social para prestar atendi-mento a pessoas carentes. a es-crita grifada na placa de alumnio, fincada na parede que h tempo v crescer o grande ip amarelo. Pelo ar sereno no ptio cheio de pas-sarinhos, pelos mveis antigos de madeira, pelo cho de tacos e pela arquitetura, no se poderia pensar que a Escola Mercedes Stresser, fica no centro de Curitiba, capital do Paran. L pelas tantas da rua Augusto Stellfeld, precisamente nos nmeros 1.208, 1.212, 1.216, 1.190 e 1.174, se encontra a atual sede.

    Em pouco tempo, cerca de meia hora aps a entrada da pia-zada, o ptio, recheado de folhas cadas do ip j est limpo. Come-a o dia num dos centros mais anti-gos do pas, inteiramente dedicado a pessoas especiais. Pelo estado paranaense, existem escolas espe-

    Reportagem: Larissa Ilades e Anderson MarianoFotos: Anderson Mariano

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    Acreditar Sempre!ciais pblicas e particulares. Dentre as privadas no pertencentes ao governo, poucas admitem somente pesso-as carentes. Raras so as municipais empenhadas em oferecer algo a mais, como a oportunidade de trabalho. As privadas, geralmente possuem um foco centralizado no ensino infantil. No o caso da Mercedes Stresser, referncia nacional em ensino especial. Esta, recebe adolescentes e adultos carentes, acima dos quatorze anos.

    No a toa que a escola possui ttulos de utilidade pblica municipal, estadual e federal. Mais de 80% dos alunos so extremamente carentes e muitas vezes levam comidas do refeitrio para suas casas. Em abril do ano que vem, a Mercedes com-pleta cinqenta anos de existncia. D Dalila de Castro Lacerda se orgulharia. Uma placa chumbada na parede da recepo exibe sua foto.

    Uma homenagem feita em 1968, pela Associao de Assistn-cia ao Psicopata do Paran, idealizadora do projeto.

    Impossvel no notar o empenho dos mantene-dores do agradvel coti-diano da Mercedes.

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    Os funcionrios chegam com risonhos bons-dias ao marcar a chegada numa destas mquinas Henry Plus. A cada dia se renova a dedicao. Tons escuros e sofs muito velhos decoram o interior da sala dos professores, logo atrs da recepo. Um papel sulfite j amarelado, mas protegido por um plstico diz: Esforce-se no por tornar-se uma pessoa de sucesso, mas uma pessoa de valor. (Albert Einstein).

    A escola tem um marco nada convencional. A maioria dos do-centes esta l h mais de duas d-cadas. Tem alunos meus que j casaram e agora eu ensino os filhos deles., conta o alegre Professor Valfrido, lecionador de especiais na Mercedes, h 35 anos. Dentre o grupo, tem figuras como a coorde-nadora de trabalho supervisionado Elo, que ali est h 37 anos. H de se apontar os professores que sequer lembram quando entraram. A psicloga Ligia, modificadora dos processos de avaliao psico-lgica da instituio, trabalha no ambiente desde 1971.

    Para quem no convive com adultos e adolescentes especiais, difcil imaginar como o modo de vida deles. O fato, que vi-vem de maneira absolutamente normal. Assim como as pessoas descritas perfeitas em meio so-ciedade, muitos trabalham, obtm renda, casam, tem filhos. Isto , reproduzem e morrem da mesma forma que aqueles em dia com a sade mental. Eles sabem de suas especialidades e no tm medo, nem vergonha de serem felizes como so. E de tocar a vida pra frente apesar dos pesares. Visvel a felicidade e disposio do casal Maria, 30, e Nelson, 43. O casa-mento para o ano que vem e eles mostram contentes o par de alian-as que puderam comprar. O di-nheiro, assim como o amor, surgiu

    por serem colegas e fazerem parte da unidade de trabalho da escola. este o marco da Mercedes Stres-ser, que com mais de 420 alunos promove a ascenso dos especiais na sociedade. H muito crdito no potencial intelectual do deficien-te. Acreditar, constante, sem-pre., enfatiza Ligia. Hoje, h mais de 250 especiais egressos que es-to no mercado e com carteira de trabalho assinada.

    Toda segunda-feira os alunos das oficinas pedaggicas se re-nem e cantam o hino nacional. A voz de Jos Renato se destaca. Um timbre forte, bem pontuado. Canto bonito. Aps o hino, o pessoal pede para ele demonstrar seu dom. Com os olhos fechados e o dedo indica-dor para cima, mostrando concen-trao ele comea: Voc fala por a que no me ama, voc jura que j no sente mais nada.... Adora a msica Agenda Rabiscada, da dupla Cleiton e Camargo. O can-to causa emoo nos professores e palmas dos colegas. Figura da escola, Z Renato muito esperto, tem 23 anos e diz gostar de tirar p de estante cantando, sempre.

    A incluso no mercado de tra-balho um grande desafio para pessoas deficientes, ainda mais se a deficincia se caracterizar men-tal. Uma das vitrias nesta cami-nhada a Lei Federal n 8213/91, artigo 93, a qual determina desti-no de cotas de at 5% do total de vagas de uma empresa de grande porte portadores de necessidades especiais. Assim, ficou bem mais fcil para a Mercedes encaminhar sua piazada para o trabalho.

    Funciona da seguinte maneira: adolescentes, com mais de quator-ze anos tm aulas de ensino funda-mental dividido em quatro fases. Para tanto, so encaminhados con-forme seu nvel de capacitao, identificado pelas psiclogas no processo de matrcula. Alguns tem

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  • Revista 12 horas |

    aulas nas oficinas pedaggicas. Tem sala de encadernao, pada-ria, tecelagem, pintura e informti-ca joguinhos de ateno. Por trs de cada atividade de uma oficina, h uma aula que oferece noes de cincia e aprendizado. Na pa-daria, por exemplo, eles aprendem as medidas de quilogramas e tem-peraturas. A maior dificuldade do deficiente intelectual a fixao abstrata, por isso, sempre temos que inovar os mtodos., explica Ligia, psicloga.

    Os alunos que se destacam, vo para uma sala especfica de orientao para o mercado. A co-meam as noes de disciplina e da relao empregador-emprega-do. Ao chegar e sair da sala, eles tem que bater o ponto na Henry Plus. J para os adultos acima de vinte e um anos, que no tiveram a oportunidade de preparao, a Mercedes mantm um galpo e mais cinco salas. Nelas, so con-feccionadas alas de balde, caixas de papelo, interruptores, e fios-terra. A parceria se d com algu-mas empresas como a Volvo do Brasil, a Rede Angeloni, o Mister Sheik Arabian e os Supermercados Dip. Ali, o pessoal ganha somente se produzir, como numa fbrica de produo otimizada.

    Dbora uma das adolescentes que j trabalha. Est empregada numa fbrica de bolsas e admite que adora danar, aps ser pega no flagra. Enquanto espera o incio da aula, escuta um hip-hop no celu-lar. Ela conta que toda sexta-feira a tarde, o Professor Valfrido coloca as caixas do computador na janela pra todos danarem e darem risa-das uns dos outros. Precisa ver na festa de aniversrio, a gente faz o fervo., ela comenta. A cada se-mestre, no pequeno e humilde gi-nsio da Mercedes, rola uma festi-nha para os aniversariantes da vez. Dbora tambm conta que quando

    as frias chegam, todo mundo fica triste por no visitar a Mercedes.

    Vem muita mudana por a. Adaptao ento, nem se fala. A escola acaba de ganhar um nome novo, pois at pouco tempo se chamava Centro Especializado de Habilitao Profissional Mercedes Stresser. A placa de frente para a rua, ainda tem o nome antigo. Agora, a nomeao intensifica o modelo de atuao: Escola Mer-cedes Stresser: Ensino Fundamen-tal , Anos iniciais, Educao Pro-fissional, Modalidade Especial. De acordo com a nova regulamen-tao e nomenclatura, as unidades de trabalho supervisionado, peda-ggica e scio-ocupacional, agora sero reconhecidas e resumidas em Educao Profissional.

    Ventos frescos sopram para o pessoal da Mercedes. O ip ama-relo vai ficar sozinho, sem presen-ciar o hino nacional nas manhs de segunda. No s o nome que mu-dou. O espao fsico vai ser outro. A transformao ser drstica e a

    ansiosidade j toma conta de Quin-tiliano Machado, 78, h quase trs dcadas, presidente da Associao de Assistncia ao Excepcional do Paran - organizao mantenedora da escola. Seu Machado, como chamado adorado pelos alunos. Alis, seu filho Beto, tambm es-pecial.

    A sede do ip, no centro, acaba de ser vendida pois numa tentativa de fuga da falncia, Seu Machado buscou apoio e a venda foi concre-tizada. Agora, outra etapa. En-quanto no construir a outra, no samos daqui., relata Seu Macha-do ao contar que desde 2005, no havia verba suficiente para uma nova sede e a Mercedes andava em maus lenis por causa das dvidas e falta de doaes. Por isso, deci-diu vender o terreno e o imvel. Agora as coisas vo sair do papel e o projeto to sonhado vai aconte-cer. O novo ponto ser localizado no bairro Jardim Botnico e tem o propsito da modernidade e. Tudo est encabeado pela Fundao

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    Educacional do Paran (Funde-par), que ressalta o H de se pensar no fato de que muitos deficientes mentais so tambm fsicos. Por-tanto a ateno acessibilidade. A Mercedes nunca foi to chique. At hoje, desde a fundao, ocor-rida em 1961, e da passagem por vrios locais diferentes, a escola nunca teve este privilgio. A cons-truo vai demorar cerca de dezoi-to meses. No vai ser to fcil tro-car de ambiente, pois h 38 anos, professores, alunos, colaboradores e trabalhadores especiais batem o ponto no local.

    Muitos foram os obstculos enfrentados e por isso, a cinquen-tona Mercedes Stresser se orgulha em ser coroa. Certa vez, trafican-tes da regio usaram alguns alunos como entregadores de drogas no ponto de nibus mais prximo. E fizeram isso, por saber que pesso-as especiais no podem ser puni-das. Assim como os obstculos, tiveram muitas conquistas. Na sala

    dos professores, se nota um gran-de balco com 97 trofis de vrios jogos disputados pela escola em artes, atletismo, futsal, natao, gi-nstica, netre outros. O mais antigo data de 1974, quando a Mercedes foi vice-campe da 1 Olmpiada dos Excepcionais. No seu curr-culo, a escola tem vrias viagens e visitas importantes. A ltima foi da Daiane dos Santos. Uma recor-dao importante e reconhecida, com foto na parede. Por falar em retratos, eles esto grudados com fita durex em praticamente todas as salas. H uma eterna alegria e adorao por registros.

    Colaboradores como Felipe Braga Crtes, dizem no medir esforos para que a vida da escola seja eterna. Felipe ajuda ao propor-cionar viagens, como a ltima para Lapa, cidade histrica do Paran. Uma empresa forneceu nibus, outra os lanches, e Felipe interme-diou e organizou a baguna. Uma festa! Foram quase quatrocentos

    alunos., conta Felipe com alegria.Para quem quiser ajudar, pode

    fazer at um trato com a Copel. Na escola, tem formulrios que s preencher e entregar l mes-mo. A doao somada na conta de luz do doador. Muitos ajudam com cinco, dez reais. A Mercedes agradece. Mas no aceita mais do que cinqenta parcelas. Tudo para zelar a credibilidade que carrega.

    Mercedes est ansiosa. Vai fa-zer cinqenta anos e no mximo com cinqenta e dois vai estar de casa nova. O ip vai ficar ali, nem se sabe se continuar vivo. Mas ela deixa seu recado muito bem dado para pais, irmos, e pessoas envolvidas com especiais. Sua his-tria demonstra que discriminao no atender e negar o direito de aprendizagem especializada. A in-cluso social possvel, mas com muito acompanhamento e atendi-mento individualizado. Na biogar-fia da Mercedes, tem uma grande lio de casa para o Brasil.

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    Escola Mercedes Stresser. Fundada em 10 de abril. (Mercedes Stresser - Homenagem a Sr Mercedes Stresser, que se dedicava a obras assitenciais.)Associao de Assistncia ao Psicopata do PR. Fundada em 27 de junho pela Sr Dalila de Castro.Primeira sede da escola: Prdio cedido pela prefeitura Municipal, no bairro Tarum. Sua primeira diretora foi a Prof Prcia Guimares Alves.

    Transferncia da escola para o bairro gua Verde, em um prdio cedido pela Reitoria da Universidade Federal do Paran.Novos profissionais contratados, ampliando o atendimento e quantidade de alunos para um nmero superior a 30.

    Organizada a Oficina Pedaggica para o adolescente excepcional.

    A escola passa a funcionar em dois perodos: Pela manh, atendimento aos adolescentes. No perodo da tarde, atendimento s crianas de 05 a 18 anos com frequncia superior a 50 alunos.

    No dia 10 de Outubro, a escola se transfere para sede prpria, no bairro Bigorri-lho com aumento da capacidade, para atender 100 alunos.

    Com a compra do imvel e ampliao das instalaes, a capacidade de atendimento

    No ms de Agosto, a Escola se transformou em Centro de Habilidao Profissional, para atender adolescentes e adultos, treinveis e educveis, a partir dos 15 anos, habilitando-os para o ingressarem no mercado de trabalho.

    Setembro: organizada a Oficina Protegida, para o atendimento ao adulto excepcional, com atividades de subcontrato com empresas da comunidade.

    Abril: Implantada a Residncia So Jos. Proporcionando condies de hospedagem enquanto alunos permanecem em atendimento nos programas do Centro de Habilitao Profissional.

    Em Novembro, uma nova ampliao do Centro Mercedes Stresser, implantando um novo espao para a Oficina com capacidade de 120 alunos.

    A Oficina Pedaggica e a Oficina Protegida, passam no ms de maro a denominar-se Unidade Pedaggica e Unidade de Trabalho Supervisionado.

    Implantada a Unidade Sociocupacional, com o objetivo de integrar o aluno socialmente por meio de atividades que so desenvilvidas com cotedos especficos conforme a programao.

    Desde Junho de 1987 o Centro de Habilitao Mercedes Stresser passou a denominar-se Centro Especializado de Habilitao Profissional Mercedes Stresser, mas a nova nomencla-tura foi aprovada apenas em Dezembro de 1998

    Inaugurada a Casa de Acantonamento, cujo espao proporciona vivncias em situaes de vida diria, com atividades voltadas para o desenvolvimento da autonomia, responsabili-

    1963

    19661972

    1973

    1964

    1961

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    2003

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    Manda dizer

    Quantas vezes voc j se sentiu o corpo tremer, o corao bater mais forte, as pernas ficarem trmulas ou simplesmentesentiu o rosto corar por ter de enfrentar um colega, um professor, seu patro ou simplesmente algum que estava afim?

    em de longe este seria o melhor e mais duradouro relacionamento do mundo. Seu tipo fsico chama a ateno, 1,83m de altura, moreno claro, cabea raspa-da, corpo nem to atltico, voz macia e risada engraada. Mas se encaixa per-feitamente no estilo surfista largado, jeans, camiseta, bon e tnis. Com seus 27 anos, vive uma vida solta, regada a bebidas, churrascos, festas e um jogo de futebol e outro, quando convidado.

    Apesar de poucos amigos seu curri-culum de rapaz livre o contrarie. Seus nicos comprometimentos so com o trabalho e a famlia. Ah! Nisso sim um homem dedicado.

    Tcnico de impressoras, falta ra-ramente no servio, ao menos que, um motivo de doena no o permita seguir aquela rotina diria. Nunca se atrasa e tem um comportamento invejvel na empresa, considerado como uma das nicas pessoas que tem um bom relacio-namento com todos no geral.

    Algo que o desabone? No, no. No tm quem no goste daquele me-nino. Em casa o caula, logo se pode

    imaginar como foi sua criao. A me nos dias mais frios chega a levantar mais cedo para passar com o ferro quente o jeans do filho para que no sinta o frio do brim. Quem no deseja uma me as-sim que atire a primeira pedra.

    J.P. no estuda, no tem sonhos ou qualquer ambio profissional. um cara extremamente simples. Desistiu dos estudos na metade do ensino mdio e no tem interesse em continuar. Parou de ir escola por um motivo muito sim-ples. J.P. tmido! Nas aulas em que era preciso apresentar trabalhos, ele no ia. Falar l na frente com todo mundo te olhando: No!, afirma rindo num tom como se fosse absurdo. Um cara tran-qilo que vive passivamente e que por vezes se minimiza diante de algumas si-tuaes. Sua sada? O silncio!

    Embora seu porte fsico no facili-te com que J.P. passe despercebido, seu olhar cabisbaixo. J.P. no tem namora-da, no fala de sua vida pessoal e pouco puxa conversa. Sua maior dificuldade se relacionar com as pessoas. Vive num mundo s seu. No se apega a coisas

    que eu no t!Reportagem: Michele Saide

    Fotos: Francielle Costa

    N

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    materiais e busca descontrao e alegria na cachaa. A bebida cada vez mais presente em sua vida deixa claro que para ele o limite o cho. Por algumas vezes sua me insistiu para intern-lo. Pois, o lcool j se tornara um vcio.

    A me tem medo de perder seu filho num acidente de trnsi-to, j que quando sai, J.P. nem se lembra como chegou em casa, to pouco recorda que caminho tenha feito. Bateu o carro no se sabe quantas vezes por estar alcooliza-do. Mas sempre conta rindo, com um ar indignado. Para ele a bebi-da o transforma, liberta, d co-ragem, como se fosse outra pes-soa depois de alguns goles, alvo daquilo que gostaria de ser. E por isso, a no ser no expediente de trabalho ou num momento relax em casa com seus pais, ele est bebendo por a com os amigos.

    A falta de interao prejudi-ca o desenvolvimento, provoca o distanciamento e at mesmo cria uma espcie de antipatia, pelo simples fato daquele indivduo no fazer parte das rodas sociais. H quem pense que a falta de in-terao seja at mesmo um sinal de arrogncia. Mas, seja qual for o nome, timidez, vergonha ou ini-bio, o saldo negativo e o re-sultado uma fobia social.

    Consequncia esta que, se pode medir numa entrevista de emprego por exemplo. A dificul-dade de se comunicar elimina um candidato com um forte potencial, mesmo diante de um bom curri-culum, ou seja, o indivduo corre o risco de no conseguir uma boa colocao no mercado de trabalho devido sua postura insegura no momento da seleo. De acor

    Mas, uma coisa J.P. tem de sobra: bondade! E isso ningum pode negar. Corpo de homem, cara de menino e um corao puro. Sua vida segue uma esp-cie de sina em que no permite quebrar regras, ao menos que ele mesmo faa! Mudar? Para ele tal-vez no seja preciso. Vive a vida calmamente e no observa em sua volta o quo admirado. J.P. vive um problema: ele extremamente tmido o que torna as coisas mais difceis, como por exemplo: en-xergar que ele despertou o olhar de algum.

    Ela sim apaixonada por ele. Se encantou com este jeito tranqilo de viver e levar a vida. Aproximou-se bruscamente com a inteno de conquist-lo. Sua misso? Desvendar o seu mis-trio. Talvez a nica coisa que ambos tenham em comum seja a

    condio civil, ambos so livres e desimpedidos. Mas, J.P. est to acostumado a uma determinada freqncia, que qualquer mu-dana de sintonia possa tirar dele o controle da situao. E assim se-gue sozinho...

    Histrias como a de J.P. no so difceis de encontrar. A timi-dez no uma virtude, nem to pouco uma doena. Trata-se de um comportamento involuntrio ou um estado emocional que ini-be o ser humano perante a algu-ma situao ou algum. A timidez conhecida tambm por causar desconforto em situaes de in-terao social que interfere na realizao de objetivos pessoais e profissionais de quem a sofre. Principal caracterstica de uma pessoa tmida: dificuldade de se expressar.

    At que ponto a timidez pode influenciar na vida social de uma pessoa?A timidez pode paralisar pessoas de qualquer idade. Gabriel Costa tem 5 anos e j apresenta sinais de bloqueio.

    A cada visita que chega a sua casa ele corre para o quarto e fecha a porta. Fica l quietinho, sozinho por horas at se for preciso. S sai de l quando no houve mais conversas e geralmente com um olhar atento, num tom desconfiado sai de mansinho e pergunta:

    Ela j foi embora?

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    do com a gerente, Andria Pasian Bazan possvel identifi-car se uma pessoa tmida j no primeiro contato. Mos geladas, voz baixa e fala pra dentro bas-tante comum, diz.

    Israel Parobocz no auge de seus 27 anos sofre com a timi-dez. No primeiro semestre de aula da faculdade de Administrao chegou a ficar em final em uma matria por deixar de apresentar um trabalho. Em frente sala de aula, Israel se colocou diante da classe, olhou atentamente para todos e no conseguiu falar um A. Respirou, olhou para baixo, para cima, encarou novamente a turma, comeou a gaguejar e en-vergonhado disse que no conse-guiria. Pedi desculpas aos meus colegas, voltei para o meu lugar e sentei. claro que ningum en-tendeu nada.

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    A timidez pode refletir alm da vida profissional, bem como, um crculo de amizades pequeno, baixa-estima, dificuldade de expor seus sentimentos, falta de um par-ceiro e consequentemente: solido.

    Viver um amor platnico ca-racterstico de uma pessoa tmida. A falta de coragem em se aproxi-mar e se declarar faz com que um indivduo passe dias, semanas, me-ses pensando em uma pessoa e ima-ginando como seria se estivessem juntos? Sonhar, desejar e at mes-mo fazer planos...

    E, por fim decepciona-se por no ter sido correspondido.

    Quantas pessoas no serviram de inspirao para a msica Timi-dez do Biquini Cavado, em que o refro j dizia: Eu carrego comi-go a grande agonia, de pensar em voc, toda hora do dia, eu carrego comigo, a grande agonia, na verda-de nada esconde essa minha timi-dez.

    Geralmente os relacionamen-tos mais longos e duradouros para estas pessoas acontecem com al-gum prximo ao seu dia-a-dia, pessoas que no incio eram apenas amigos e que pela convivncia se tornaram alvo de admirao e ca-rinho.

    A timidez tambm pode causar um sentido de superioridade (Ah, pois !) que leva a pessoa se apri-sionar dentro de si, como se fosse total e absoluto. como se minimi-zasse diante de qualquer pessoa ou situao realando seus complexos de inferioridade. O que incomoda nos indivduos justamente pelo fato da timidez afetar o seu relacio-namento com as outras pessoas.

    De acordo com a psicloga Jo-siane Schmidt, a timidez surge logo na infncia. As crianas podem nascer com a predisposio timi-dez. Porm, os pais so os grandes responsveis pelo desenvolvimen-to. Pais introspectivos e super-protetores reforam este comporta-mento de resguardo nos filhos, pais agressivos expe seus filhos a uma situao humilhante e constran-gedora, contribuindo para a baixa auto estima e at mesmo pais que no demonstram sentimento ou in-teresse, no estimulando assim as habilidades sociais logo na infn-cia, o que causa uma determinada insegurana em relao ao ser ama-da ou respeitada justamente pelas pessoas a qual ela tem tamanha ad-mirao.

    Estas situaes contribuem in-diretamente para o desenvolvimen-to da timidez, assim como o refle-xo do comportamento das atitudes dos pais tambm. Porm, a nica certeza de que se sabe que uma ansiedade exagerada ou um grau de inibio demasiadamente acentua-do pode causar isolamento e levar a srias conseqncias para o indiv-duo como depresso.

    O BLOCODO EU

    SOZINHO

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    Identifique o seu inimigoInsnia, ansiedade, agitao podem ser sinais de ti-midez crnica. A timidez pode ser tratada. So sin-tomas de timidez: inibio, passividade, baixa auto-estima, insegurana, preocupao excessiva com a opinio dos outros, dificuldade de se relacionar, gagueira, voz baixa, enfim... Situaes que causem vergonha e um certo bloqueio social.

    Valorize-se! A principal qualidade a ser conquistada por uma pes-soa tmida a auto-confiana, alm da facilidade de expresso. Pode parecer ridculo, mas um exerccio muito simples, porm muito utilizado em cursos e laboratrios teatrais falar diante de um espelho. O exerccio ajuda no s na observao como tambm desenvolve o reconhecimento da prpria imagem.

    E lembre-se: toda timidez formada pelo desejo de agradar e pelo medo de no o conseguir. Saber iden-tificar a origem daquilo que te aprisiona facilita no processo de melhora para uma vida independente e livre de censuras.

    TIMIDEZ> Dificuldade de expresso> Falta de coragem> Insegurana> Inibio

    Timidez especfica

    Ocorre quando o tmido se inibe em determinadas situaes ou em proximida-de de determinadas pessoas.

    Timidez crnica

    Ocorre quando o tmido j no se aproxima de ningum, no faz amigos e nem fala com estranhos.

    Fobia social

    Ocorre quando o tmido j nem consegue exercer suas atividades rotineiras por simples medo de se expor.

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  • | Revista 12 horas

    Mal entreas mulheres

    Cncer de mama, doena que mais mata mulheres no mundo.

    por Suelen rocha

    Em junho de 2009 a gerente comercial Eliane Rodri-gues Chaves, 31 anos, sen-tiu que em seu seio direito havia um caroo. Foi ao ginecologista fazer exames de rotina e o mdi-co constatou que era uma displa-sia mamria (doena benigna da mama, pequeno cisto) e pela sua idade no era nada demais. Mas a famlia no contente com a tal res-posta do mdico pediu que fosse a um outro especialista. Mas Preta, apelido carinhoso dado pelos fa-miliares, s marcou outra consul-ta em dezembro. O novo mdico informou que a aquele ndulo no era normal e pediu uma bipsia, mas o material recolhido no foi o suficiente para tal exame. Em janeiro de 2010, Preta procurou

    um oncologista que lhe pediu uma mamografia e nela veio a confirmao fatal, era um ndu-lo maligno. No final de fevereiro, uma nova biopsia s confirmou o diagnstico, de l pra c comeou o processo de tratamento para o cncer de mama.

    O cncer de mama o segun-do tipo de cncer mais frequente no mundo e o primeiro entre as mulheres, ficando atrs do cncer de pulmo. No Brasil estimasse que haver 49.240 casos em 2010, segundo o INCA (Instituto Nacio-nal de Cncer). O risco estimado de 49 casos para 100 mil habi-tantes. Antigamente o cncer era diagnosticado em mulheres acima de 40 anos. Hoje em dia, h diag-nsticos em mulheres de 25 anos.

    Os fatores de risco da doena esto relacionados a vida reprodu-tiva da mulher (menstruao pre-coce, menopausa tardia, ausncia de gestao e amamentao, ges-tao tardia, uso de anticoncep-cionais e reposio hormonal) e fatores hereditrios. Outros fato-res que colaboram para o cncer so fumo, lcool, obesidade, se-dentarismo e dieta pobre em ali-mentos de origem vegetal.

    O corpo humano produz mi-lhares de clulas todos os dias e algumas delas so defeituosas. Num organismo sadio, elas so destrudas por protenas que com-batem o cncer. Quando h um erro na estrutura do DNA, gera um impedimento na sntese des-sas protenas protetoras e as clu-

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    Em 29 de abril de 2008 foi aprovada a lei 11.664 para que toda a mulher acima de 40 anos tenha direito a mamografia gratuita pelo

    Sistema nico de Sade (SUS) sem prescrio mdica.

    Fator IdadeFator IdadePROBABILIDADE DE UMA MULHER TER CNCER (POR IDADE)

    IDADE

    aos 30 anos

    aos 40 anos

    aos 50 anos

    aos 60 anos

    aos 70 anos

    aos 80 anos

    acima dos 80 anos

    PROBABILIDADE

    1 em 2212

    1 em 235

    1 em 54

    1 em 23

    1 em 14

    1 em 10

    1 em 8

    Fonte: Instituto Nacional de Cncer dos EUA