Revista 8 - 48 pags

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Ano II - N.° 8 - 21 Junho/22 Setembro – Revista trimestral E 2.50 IVA incluído Quinteiro: Deixe a água cantar Habitat: Lagoas costeiras Educar: Encontro Nacional

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Ano II - N.° 8 - 21 Junho/22 Setembro – Revista trimestral E 2.50 IVA incluído

Quinteiro: Deixe a água cantarHabitat: Lagoas costeiras

Educar: Encontro Nacional

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Sum

ário

10 Quinteiro: Deixe a água cantar

Todos os seres vivos dependem da água. Sequiser convidá-los a passear no seu jardim,tem de ter isso em conta.

15 Habitat: Lagoas costeiras

Em tempo de praia, há que ter em conta umbem que não abunda em Portugal, mas que porisso mesmo merece grande cuidado. Habitatclassificado pela União Europeia, estas lagunassão património natural a conservar.

25 Educar: Encontro Nacional

Ocorrendo um em cada ano, nestafase, os Encontros Nacionais deEducação Ambiental já vão na 14.ªedição!

Revista“Parque Biológico”

DirectorNuno Gomes Oliveira

EditorJorge Gomes

TextosRedacção

FotografiasArquivo Fotográfico do Parque Biológicode Gaia, E. M.

RevisãoFernando Pereira

MaquetagemORGALimpressores

PropriedadeParque Biológico de Gaia, E. M.

Pessoa colectiva504888773

Tiragem5000 exemplares

ISSN1645-2607

N.º Registo no I.C.S.123937

Dep. Legal170787/01

Execução GráficaORGALimpressoresRua do Godim, 2724300-236 Porto

Administração e RedacçãoParque Biológico de Gaia, E. M.Estrada Nacional 2224430-757 AVINTES – PortugalTelefone: 22 7878120E-mail: [email protected]ágina na internet:http://www.revistaparquebiologico.com

Conselho de AdministraçãoFirmino PereiraNélson CardosoNuno Gomes Oliveira

Ano II - N.° 8 - 21 Junho/22 Setembro – Revista trimestral E 2.50 IVA incluído

Quinteiro: Deixe a água cantarHabitat: Lagoas costeiras

Educar: Encontro Nacional

Inclui CD do

Relatório e

Contas 2002

Fich

a Té

cnic

a

SecçõesVer e Falar 5Breves 6Colectivismo: Associação dos Amigos do Parque Biológico 9Utilidade: Um mergulho natural 13Flora: Caniços 16Fauna: Rouxinol-pequeno-dos-caniços 17Viagem: Serra da Freita 18Mitos: Nossas cobras 22Espigueiro: Acontece no Parque 28Evento: Energia – um bem que importa conservar 39Arboricultura: Evolução e tendências 40Geologia: O Homem muito depois da terra 41Notícia: Rio Febros com Estação de Tratamento 42Janela: Energia solar em sua casa 44Parágrafo: À sombra de uma árvore com cheirinho 45Infância: A Nossa Árvore dos Sonhos 46Foto da Estação 48

Visite o site da revista “Parque Biológico”:http://www.revistaparquebiologico.comE-mail: [email protected]

FOTO DA CAPA - As andorinhas-das-cha-minés são uma das várias espécies deandorinhas que procuram Portugal paranidificar. No Estio, é vê-las nos ninhos queceleiros e armazéns acolhem com muitafrequência.

Foto cedida por Fototeca (direitos reser-vados)

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O Relatório e Contas da Empresa Municipal Parque

Biológico de Gaia, relativo ao exercício de 2002, foi

alvo de algumas críticas, algumas divulgadas por

órgãos de comunicação social.

Independentemente do direito à crítica que não se dis-

cute, não podemos deixar de estranhar algumas das

afirmações vindas a público, nomeadamente:

PESSOAL

Ao contrário do que foi publicamente afirmado, não

houve qualquer aumento de pessoal no Parque

Biológico, durante 2002, como claramente se demons-

tra no quadro da página 17 do Relatório. Em 1 de

Janeiro de 2002 havia 50 funcionários e, em 31 de

Dezembro do mesmo ano, continuava a haver 50 fun-

cionários.

Mesmo mantendo o número de funcionários, verifi-

cou-se um fatal aumento de 19% na massa salarial,

resultante do aumento de 2,75% determinado pela

Portaria n.º 88/2002 para todos os funcionários e, os

restantes 16,25%, consequência de normais e legais

progressões na carreira, umas previstas na Estatuto

dos Funcionários Públicos, outras no Estatuto de

Pessoal da Empresa, aprovado pela Câmara.

Este aumento de massa salarial apenas colocou a

Empresa no seu patamar certo de volume de salários;

assim, no ano em curso haverá, apenas, um aumento

resultante das mesmas causas.

Note-se que, antes da criação da Empresa Municipal, o

Parque Biológico tinha ao seu serviço 42 funcionários

tendo em três anos aumentado esse número em 8 uni-

dades, correspondentes à criação de novas valências.

AUMENTO DA DÍVIDA

De facto a dívida aumentou 19%, ou seja €109.930,00,

do final de 2001, para o final de 2002; mas

€109.930,00 são, apenas, 22 mil contos.

Mas, o importante, é que se em 31 de Dezembro de

2002 a Empresa devia €675.430,08, ou seja cerca de

135 mil contos, hoje, a Empresa deve, €431,611.00, ou

seja 87 mil contos, e tem créditos no valor de

€504.934.55, ou seja cerca de 101 mil contos.

Nas dívidas consideradas acima, está incluído um

empréstimo de curto prazo (vulgo, conta corrente cau-

cionada), no valor de €49 879,79 (10 mil contos),

empréstimo esse que era, em 31 de Dezembro de 2001,

de €55,620.22; assim o endividamento bancário dimi-

nuiu cerca de 11%.

AUTONOMIA FINANCEIRA EM RELAÇÃO À CÂMARA

MUNICIPAL

A autonomia financeira da Empresa Municipal previs-

ta no Plano para 2002 era de 27,3% e a realizada foi

de 32,6%, o que é excelente para uma empresa públi-

ca, em qualquer parte do mundo.

DIMINUIÇÃO DE CAPITAL

Efectivamente, como se afirma no Relatório, aos

€51.286.05 de capital da Empresa (cerca de 10 mil

contos, atente-se), tiveram de ser retirados os

€35,411.01 de resultados negativos (ou seja 7 mil con-

tos), ficando a empresa com um capital próprio de

€15,875.05 (cerca de 3 mil contos).

Ora isto resulta de acertos do valor do IVA pro rata (no

final do ano passou de 53% para 14%), tendo sido

considerado custo extraordinário do exercício

(€47,204.84, ou seja, cerca de 10 mil contos) e das

amortizações do exercício (€115.693,00).

Na prática, o resultado só é negativo em termos con-

tabilísticos, ou de valor da empresa, o que seria preo-

cupante se fosse uma sociedade comercial típica;

sendo uma empresa municipal, com um único accio-

nista - a Câmara - e estando a Empresa a apresentar o

relatório do seu 2.º ano de vida, julgamos que este

resultado não é preocupante, até pela evolução positi-

va de outros indicadores.

Seguramente que, em 2003, esta situação será recupe-

rada.

Verão 2003 Parque Biológico 3

Apresentação doRelatório e Contas de 2002

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4 Parque Biológico Verão 2003

Numa Empresa Municipal, onde a palavra "lucro" não

se aplica, sendo substituída pela palavra "eficiência", o

importante é a resposta às seguintes perguntas:

- O Parque Biológico, após a passagem a Empresa

Municipal:

a) continuou, ou não, a cumprir a sua missão?

b) melhorou, ou não, o seu desempenho?

c) custou menos, ou mais, dinheiro ao orçamento

municipal?

Julgamos que a todas estas perguntas se pode respon-

der pela positiva e este, sim, é o real balanço desta

Empresa Municipal e da opção do Executivo Municipal.

Importa ter presente que, dadas as voltas que forem

dadas às contas, de certo e seguro sabe-se que o

Município de Gaia gastou, no ano 2002, 248 mil con-

tos com o Parque Biológico, para proporcionar a 148

mil pessoas um local de educação e de lazer.

Pessoas essas que pagaram, em média, €1,16 para

aceder ao Parque, tendo a Câmara suportado por cada

visitante €1,67.

Por isto, e pelo muito mais que é dito nas outras pági-

nas desta revista, que nos avaliem.

RECEITAS DESPESAS

Vendas €123,516.00 Artigos para venda €60,950.00

Entradas €171,083.00 Fornecimentos €667,772.00

Prestação de serviços €151,733.00 Pessoal €939,326.00

Subsídios CMG €1,188,740.00 Amortizações €114,541.00

Diversos €172,457.00 Outros custos €64,762.00

Resumo das contas do Parque Biológico, em 2002

O Conselho de Administração da

Empresa Municipal Parque Biológico de Gaia, EM

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v e r e f a l a r

Verão 2003 Parque Biológico 5

Ana Cunha, em e-mail de 21 de Maio, escreve: «Boatarde! É sempre com muito gosto que leio a vossaRevista. Na edição que me chegou hoje (n.º 7) chamou--me a atenção o artigo "Salamandra com sorte!": notexto refere-se uma salamandra, mas nos desenhosaparece um anfíbio de cor verde, aproximado aoTriturus marmoratus. Afinal é uma salamandra ou umtritão? E de que espécie? Parece-me que era importan-te que os leitores da Revista não fossem "confundidos",já que os anfíbios e répteis, infelizmente, constituemuma fauna ainda mal divulgada, junto do grande públi-co, e envolta em algum misticismo.

Espero que estes alunos e professores tenham sido aler-tados para o facto de não poder ter em cativeiro estasespécies e que nestes casos (já me têm relatado outroscasos de "animais verdes" junto à piscina), então maisvale transferir o indivíduo para um local húmido nasimediações. Tinha curiosidade em saber o que os moti-vou, após 3 anos, a devolver o animal à Natureza.Conhecem as razões?Agradeço a V. atenção. Cumprimentos, Ana Jervis Cunha, Estação Litoral da Aguda».

Agradecendo as linhas de Ana Cunha, com observaçõestão oportunas, concordamos, é claro, que uma sala-mandra não é um tritão, mas são parecidos à vista doleigo. À vista das crianças, mais ainda. Salamandra foio nome próprio que os miúdos lhe deram, como se lêno texto.

Sobre a determinação da espécie, o tempo escasseou eo especialista não estava no local. Por isso, atendendoao bem-estar do urodelo (leia-se salamandra ou tritão)depois de longa viagem e pressão de cativeiro, nãofazia sentido delongar a alegria sentida pelas criançasde a libertar.

Os desenhos publicados não são ilustrações científicas,mas resultado da visão livre das crianças quandoregressaram à Figueira da Foz, contentes porque, norespeito da lei ou na ignorância dela, assimilaram ple-namente esta verdade universal: sempre que possível,os animais selvagens vivem melhor nos seus habitatsnaturais do que em cativeiro, por mais dourado queeste possa parecer.�

Salamandra ou Tritão?Fo

tos:

JG

/Arq

uivo

PBG

Escreveu-nos Bruna, do Brasil, em 18 de Fevereiro pas-sado, via internet: «Gostava de saber mais sobre areprodução e os órgãos reprodutores do javali. Tenho

um trabalho para entregar e encontro pouco sobre esteassunto».

Passamos a responder. A época de reprodução destaespécie vai de Setembro a Março, com nascimentosentre Fevereiro e Junho.

Tanto na fêmea como no macho, a maturidade sexualocorre pelos 12 meses de idade. No entanto, no esta-do selvagem os machos mais novos são excluídos,pelos dominantes, da actividade reprodutiva.

O período de gestação dura 115 dias, tendo geralmen-te uma ninhada por ano (uma segunda se a primeiranão sobrevive).

Por ninhada nascem três a dez crias, sendo maiores asninhadas das fêmeas mais velhas.�

Reprodução dos Javalis

Javalisno ParqueBiológico

Salamandra-comum

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b r e v e s

6 Parque Biológico Verão 2003

CUSTÓIAS APURA OLFACTO

Na Escola Básica 2,3 de Santiago, entre 9 e 11 de Abril,os alunos do 6.º C levaram a cabo uma exposição rela-cionada com o olfacto.

Esta actividade enquadrou-se no âmbito do ProjectoCurricular de Turma, cujo título é "Os meus sentidosdão sabor ao meu saber". A exposição "Vai um cheiri-nho?" esteve patente no Parque Biológico de Gaia, emNovembro de 2002.

Dado o interesse desta iniciativa, a escola entrou emcontacto com o Parque Biológico que prestou toda acolaboração logística, através de indicações para amontagem da exposição e na reprodução de cartazes eoutros materiais. A actividade constou de uma provade aromas e "O seu a seu dono..." (identificação do ani-mal através do seu "nariz"). Esta exposição realizou-se

simultaneamente com outra dinamizada por umaturma do 8.º ano, com o título "Chá, café e chocolate".Convidada toda a comunidade escolar e as escolasbásicas do 1.º ciclo, o sucesso foi garantido!

JOVENS REPÓRTERES

Trata-se de um projecto europeu de educação ambien-tal promovido pela Associação Bandeira Azul daEuropa. Este programa destina-se fundamentalmenteaos estudantes do Ensino Secundário e pretende pre-parar os jovens para exercerem uma cidadania activana defesa do ambiente, através da sua participaçãonos processos de decisão. Os estudantes investigam einterpretam questões ambientais como se fossem jor-nalistas, reforçando os seus conhecimentos no domí-nio do ambiente, das línguas estrangeiras e das novastecnologias e técnicas de comunicação.

Para aderir ao projecto JOVENS REPÓRTERES PARA OAMBIENTE a escola terá de disponibilizar à equipa par-ticipante (alunos e professores) acesso fácil à internet,estabelecer uma parceria com um órgão de comunica-ção social (local, regional ou nacional) e propor umprojecto de investigação jornalística, no âmbito dosseguintes temas: Agricultura; Ambiente Urbano; Água;Energia; Resíduos; Zonas Costeiras.

Anualmente são organizados: 1) Um seminário nacio-nal com o objectivo reunir os professores coordenado-

res do projecto, debater as estratégias e metodologiasdo programa por forma a incentivar a comunicação,possibilitar uma partilha de objectivos comuns e atroca de experiências. 2) "Missões" com a duração de4 a 5 dias, durante os quais os estudantes selecciona-dos de entre as escolas envolvidas participam como"enviados especiais" numa pesquisa jornalística produ-zindo diariamente despachos noticiosos sobre o localde exemplo ambiental que visitam. Os despachos sãodifundidos via internet, permitindo às escolas da redenacional e europeia participar de forma virtual naMissão, acompanhando e questionando os enviadosespeciais. As Missões proporcionam aos estudantes apercepção da dimensão global dos problemas ambien-tais investigados ao nível local. 3) Um Concurso quepretende premiar o melhor artigo realizado no âmbitodo projecto. A data-limite para a publicação de todosos artigos foi 30 de Junho e o Prémio deste concursoserá atribuído em Novembro próximo. Porém, emOutubro prevê-se a abertura de novas inscrições parao biénio 2003/2004. Mais informações -http://www.abae.pt/jra.php

Foto

: EB2

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Verão 2003 Parque Biológico 7

Os pirilampos são bio-indicadores. Quer dizer: aevolução das suas populações indica a evolução doestado do ambiente na área.

O Parque Biológico de Gaia toma medidas de con-servação dos pirilampos e, graças a isso, tem actual-mente uma população composta por muitas cente-nas.

Quer agora contribuir para o conhecimento da situa-ção da espécie em Portugal e para isso pede a suacolaboração: até fins de Agosto de 2003, aproveiteas suas férias ou fins-de-semana em Portugal e, ànoite, percorra matas, pradarias, margens de rios eribeiros, orlas de campos agrícolas, cidades, vilas ejardins e assinale as suas observações na fichaimpressa no verso desta página.

Devolva a ficha preenchida para o Parque Biológicode Gaia, até final de Agosto de 2003.

Os resultados deste levantamento serão publicadosno número de Outono da revista «Parque Biológico»e na internet em http://www.revistaparquebiologi-co.com

Mesmo que, tentando, não tenha visto nenhum piri-lampo, envie o impresso preenchido, pois as infor-mações negativas são tão importantes como asoutras.

Para mais informações, contacte a revista «ParqueBiológico» pelo telefone 227 878 120 ou peloe-mail: [email protected]

Pirilampos ao luarA situação dos pirilampos em Portugal é desconhecida;

julga-se que estão em diminuição e são uma espécie

em perigo!

c a m p a n h a

Ao lusco-fusco os vaga-lumes preparam--se para a farra.

Badaladas as 22h00, ao longo dos quatrodias de visita nocturna no Parque

Biológico de Gaia (25 a 28 de Junho),estes insectos, às centenas, brilharam no

percurso de descoberta do Parque. Após a explicação inicial dada por Nuno

Gomes Oliveira, director do Parque, osvários guias conduziram uma pequena

multidão de visitantes encantados com oespectáculo surpreendente destes coleóp-

teros cintilantes.Observação astronómica

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Nom

e do lugarLugar do

Concelho de0

nenhum

Envie o impresso preenchido, m

esmo

que, tendo tentado, não tenha vistonenhum

Pirilampo!

|___|___|___|___| - |___|___|___|

Essa informação tam

bém é

importante!

NOTAS (acrescente outras inform

ações que julgue úteis, como o estado do tem

po, a presença ou ausência de iluminação pública no LO

CAL, ETC.)

1 a10

10 a20

20 a30

Outra

Cidadeou Vila

Jardimurbano

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de rioFlorestaou M

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poAgrícola

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BSERVAÇÃOQ

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CARACTERÍSTICAS DO LO

CAL

Levantamento da situação dos Pirilam

pos em Portugal/2003

O seu nom

e

A sua morada

O seu telefone

POR FAVO

R ENVIE ESTE IM

PRESSO ATÉ FIN

AL DE AGO

STO

Parque Biológico de Gaia

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Verão 2003 Parque Biológico 9

PROPOSTA DE SÓCIOPROPOSTA DE SÓCIO

Nome:

Morada:

Telefone: Bilhete de Identidade: Arquivo: Data: / /

N.º contribuinte:

Junto envio 15 euros para pagamento da quota do ano em curso e fico a aguardar recibo, cartão de sócio e outra documentação. Enviar para: Amigos do Parque Biológico – 4430-757 Avintes – Vila Nova de Gaia(Inclui entrada gratuita no Parque Biológico)

ASSINATURA

Associação dos Amigos do Parque Biológico de Gaia

Se por um lado usufruem do percur-so de descoberta do ParqueBiológico sempre que lhes apetece— dentro do horário de funciona-mento, claro, bastando para issomostrar à entrada o cartão de asso-ciado em dia — por outro vêem fran-queadas as portas para actividadesdiversas que, ao longo do ano, oParque Biológico vai organizando.

Foi assim com as visitas guiadas deJunho passado aos vaga-lumes, bemcomo a multiplicação de oportuni-dades de captura de imagens noconcurso fotográfico que o Parqueorganiza.

Aliás, sobre isso é oportuno fazer umparênteses. Na década de 70 meta-de dos miúdos usava como passa-tempo o abate da passarada comespingarda de chumbos.

Por isso não era, diferentemente doque ocorre hoje, tão fácil depararcom melros, e falando de pintassil-

gos, então tornava-se impossível vê--los a nidificar em ambiente urbano.Hoje, com equipamento fotográficopouco mais caro que uma espingar-da, é possível passar umas boashoras à caça... mas de imagens!Substituir uma arma por uma câma-ra fotográfica ou de vídeo é muitomais compensador e, «predadores»desses, haja muitos e bons.

Ah, mas isso é só para profissionais!,

dirá. Afirmou há uns anos umgrande fotógrafo que a diferençaentre um profissional e um amadorreside em, o primeiro, vender assuas fotografias, o segundo não.Não tinha nada a ver com qualida-de. Concorda?

Assim, não se acanhe, dê os primei-ros passos. Leia e experimente, falecom quem sabe e progrida. Torne-seum predador de imagens!

Associação dos Amigos do ParqueOs sócios da Associação dos Amigos do Parque Biológico de Gaia gozam daquilo aque se pode chamar privilégio

A banhoca de um ostraceiro

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10 Parque Biológico Verão 2003

Na arte de atrair animais ao seu jar-dim, um lago, tão silvestre quantopossível, faz muito jeito.

Este elemento, além de apoiar abicharada, transforma-se em maisum dado decorativo que favorece oseu quintal oferecendo-lhe outratextura, outra luz. Mais: caso instaleum dispositivo de circulação de águaou queira, nas noites estivais, escutaro coaxar de batráquios, ao criar con-

dições para a presença de rãs e afins,adiciona à estética visual a sonora.

A vida acelera e diversifica-se ondeo precioso líquido canta. Não só asaves sedentas das redondezas assi-nalam o jardim no seu mapa mentalcomo ainda se vêm banhar no lago,recuperando o bom estado daspenas, fundamental para os voos dasobrevivência. Isto é possível se dis-ponibilizar uma área pouco profun-da na borda do lago.

Este «charco vaidoso», como lhe cha-mava um amigo, é também um ele-mento versátil: tanto se adapta aos jar-dins maiores como aos menores.Quanto a estes, por vezes um barrilcortado ao meio, enterrado no solo ou,se quiser, enquadrado em canteirossobrelevados, já marca a diferença.Rampas externas que viabilizem aces-so, por exemplo, a salamandras e sapos,bem como rampas internas que permi-tam a saída da água, são importantes.

E qual o melhor local do jardim parainstalar o seu lago? Não é com cer-teza debaixo de árvores frondosas,nem o sítio onde o astro-rei atacadurante todo o dia. Também o pontodo quintal mais fustigado pelo ventonão é bom para situar o seu lago.

Em qualquer dos casos, o sistemalacustre pressupõe plantas aquáti-cas. Prefira as autóctones, mas nãoesqueça que há espécies que a leiimpede que sejam retiradas do meionatural. Assim, só há duas soluçõesseguras: comprá-las ou semeá-las.Depois é uma questão de tempo —eclodem caracóis-aquáticos dosovos colados às plantas, surgeminsectos como os percevejos-de--água e as libelinhas. Aves atentastentam bicá-los e vão ao lago bebere banhar-se. Lançar ali peixes não éboa ideia, se quer ter ovos e girinosde rãs, sapos e salamandras.

Melhor do que deitar no lago espé-

Deixe a água cantar

q u i n t e i r o

A sombra de árvores verdejantes e acesso a água límpida são as imposições doEstio para a passarada

O sistema lacustre pressupõe plantas aquáticas

Um lago é peça importante num puzzlemaior. A seguir ao pato-real, uma gali-nha-de-água e uma das suas crias

Texto e fotos: Jorge Gomes

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Verão 2003 Parque Biológico 11

cies animais é deixar que elas sur-jam. Quem chega de livre vontadetem mais condições de ficar. Osinsectos e algumas plantas são osprimeiros colonizadores. Depois vãochegando as outras peças do puzzleecológico, à medida que o própriolago se vai integrando no sistemapreexistente.

Aves que estejam de passagem, queresidam na vizinhança ou que adop-tem o abrigo do seu jardim vão ado-çar-lhe a vista, se dedicar algumtempo livre a olhá-los, nem que sejasó pela janela.�

Muitas foram as soluções encontradas, ao longo do tempo, para aproximara água das habitações. Canais desviaram-na até moinhos, construíram-setanques usados para lavar roupa e para dar de beber ao gado.

Atrás da água veio a oferta de mais oportunidades para a flora e fauna quevive com o pé nela: plantas aquáticas, insectos variados, rãs, sapos, sala-mandras, cobras-de-água e aves.

Ainda hoje é assim, basta reactivar, por exemplo, o tanque de uma casa ruralabandonada, optimizando-o para os fins em vista. Paredes lisas podem serenriquecidas de nichos, calcetando-a de pedras geradoras de orifícios eranhuras do agrado de uma infinidade de bicharada, atraindo cada um odegrau seguinte da cadeia alimentar. Se as paredes são muralhas que deixamo chão lá em baixo, convém, pelo menos de um dos lados, colocar umarampa de pedras e terra, para que funcione como caminho, por exemplo,para os sapos e salamandras que queiram nas noites de Primavera copular(na água) e deixar ali os ovos da sua descendência...

Mas, mesmo que o jardim não possibilite tal adaptação, há soluções moder-nas. Uma delas é o conhecido buraco revestido de tela impermeável.�

Caminhos da água

No Verão, emvez do dito

«perriupiupiupardais ao

ninho» condizmelhor

«perriupiupiupardais à água»!

Uma das paredes, com frequência, terminavaà altura do chão e a vegetação espontâneaaparecia, vigorosa: os velhos tanques dealdeia regurgitavam de vida

Cobra-de-água

Rã-ibérica

Vestígiode larva

de libélula

Cópula delibelinhas

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q u i n t e i r o

Não há como resistir!

Pura rotina. Àquela hora da manhã, todos os dias,antes de ir ao pão, vejo pela janela o meu vizinho lan-çar ao terraço pão dormido aos bocados. Habituada, apardalada não se faz rogada. Acorre, e os menos tími-dos levam o bocado de leão.

Nas praças de todas as cidades, beneméritos deitammilho aos pombos, e é um bater de asas que só visto!

Mas há até outras aves, diferentes destas, que entramna jogada, até porque só têm a ganhar. Fui à Praia daAguda, de manhã, e uma senhora de idade já sulcadano rosto leva um pesado balde de vísceras. Aflui rápi-do um bando de gaivotas, que se agiganta à medidaque a mulher lança os bocados. Recua pouco a pouco,

tal a afluência. E tudo vai no bico num instante...

O mesmo quadro repete-se, na Afurada, com idênticopersonagem e ementa diferente: o recurso ao pão eoutros restos de comida.

Que grande arrasto este de partilhar a mesa com osanimais silvestres, cuja vida difícil não regateia o apro-veitamento dessa benesse. E que prazer é vê-los maisde perto, sem os aprisionar!

Mas uma coisa é o instinto de fazer e outra é a arte desaber fazer. Isso pode-se aprender. As pequenas aves —como chapins, piscos, verdelhões e outros — são aindamaior regalo para a vista, no seu jardim. Vá por aí!�

12 Parque Biológico Verão 2003

O impulso de partilhar com aves as migalhas do prato é universal e inevitável…

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Os bons projectos estão no meio: antes e depoisficam as boas ideias. Uma delas consiste em criar oClube dos Amigos das Aves de jardim. O que é isso?

É simples: quem tem — ou pretende vir a ter — estepassatempo (apoiar as aves no seu próprio jardim)contacta a revista “Parque Biológico”, secçãoQuinteiro, que une os Amigos das Aves. E isso aoponto de fornecer dados a respeito deste saudávelpassatempo.

É facultativo, para cada membro inscrito, associar-seà Associação dos Amigos do Parque Biológico.

Que tal? Gostou? Ficamos à espera das suas novida-des, venham elas por carta (Parque Biológico de Gaia- Revista "Parque Biológico" - 4430-757 AVINTES)ou por correio electrónico:

[email protected]

Clube dos Amigos das Aves

Ao fim da manhã,esta benemérita foi à

borda de água noCais da Afurada e

alegrou as gaivotas

Na praia da Aguda, uma senhora desceu à areia e, mais uma vez, ofereceuvísceras de peixe às gaivotas, que lhe criaram o hábito

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ú t i l

Verão 2003 Parque Biológico 13

Um mergulho natural

Há algumas gerações era assim: norio ou no tanque da aldeia, em Julho,a rapaziada saltava em pelota naágua cristalina conduzida das nas-centes para rega de campos e outraserventia. Mais recentemente, com ocrescimento das cidades, nos jardinsmais afortunados surgiram as pisci-nas típicas de azulejo azul, com con-trolo químico apertado, para quenada permita a presença de bichezaou de plantas – depois é ver os olhosvermelhos da miudagem mais entu-siasmada nas artes da natação.

Num ângulo de regresso à natureza,sobretudo na Suíça e na Áustria apa-receram as piscinas naturais, semcontrolo químico artificial. Passadosanos, em 1995 o conceito chega aPortugal pela mão de um casal ale-mão, ela arquitecta-paisagista,Claudia, ele biólogo, Udo Schwarzer.

Mas como é possível ter uma águalimpa sem químicos?

Eis a fórmula: usar a eficácia da pró-pria natureza para limpar a água. Aspiscinas biológicas têm uma partepara mergulhar e outra para depu-rar, que se baseia na acção de plan-tas oxigenadoras. A abundânciadeste gás na água é um dado essen-cial: o zooplâncton desenvolve-sesob condições óptimas e, como asvacas no prado, estes microrganis-mos reduzem o crescimento do fito-plâncton ou, mais vulgar, das algas.

Soma-se a esta acção o facto de asplantas aquáticas e as das margensacumularem os nutrientes e oxige-narem a água, reduzindo o teor defosfatos e nitratos, limitando porisso a alimentação das algas. A dadaaltura a produção de oxigénio é tãoelevada que este gás borbulha das

folhas das plantas. A microfaunaque se alimenta de microalgassente-se como peixe na água, o queajuda a controlar a qualidade damesma. Sim, qualidade: a lei exigedas piscinas uma água dentro decertos parâmetros (decreto-lei236/98 de 1 de Agosto). Hoje sabe--se que os circuitos naturais garan-tem uma água transparente e deboa qualidade.

As rãs, tritões, cágados e outroscompletam esses circuitos. Todosestes animais devem aparecer por sipróprios e não devem ser introduzi-dos. A diversidade biológica é obri-gatória para que se mantenha umequilíbrio ecológico estável, com avantagem acrescida de, fora daépoca balnear, a piscina ser um lagodecorativo de grande beleza.�

Se esporadicamente não lhe repugna nadar com rãs eis a solução para se refrescarincentivando a própria natureza

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Tufos rasteiros verdes atapetam, den-sos, a margem. Céu azul, a brisa cáli-da leva o olhar adiante no espaçoamplo. Aqui e ali erguem-se caniçose juncos, cortinas que abrigam muitavida. Perdem-se de vista os aglome-rados vegetais que quebram o espe-lho-de-água. Alguns passos e, dis-tante, uma pernalta alça voo, pousamais além. Perto, uma galinha-de--água, furtiva, oculta-se. Os binócu-los mostram maçaricos e alfaiates,galeirões e garças, de onde em onde.

Face às migrações, estas lagoas ofe-recem alimento e descanso às avesmigradoras, que nelas constroemninhos ou apenas se refazem de lon-gas viagens.

Do ar para a água, estas lagoas sãomaternidade de muitos peixes, quenelas nascem, facultando-lhes cres-

cimento até à aventura de adentra-rem o mar e os seus perigos. Estefacto basta para suportar a impor-tância económica destes habitat, jáque são insubstituíveis na defesados recursos piscícolas.

Estima-se que as lagunas represen-tam 13% das áreas costeiras. Bemescasso e vulnerável, em país demarinheiros, este habitat exige cui-dado e protecção. As ameaças estãoà vista: poluição, pressão urbanísti-ca exagerada, destruição do cordãodunar, entre outros.

As lagunas costeiras — contempla-das na Directiva Habitats daComunidade Europeia como HabitatPrioritário — apontam a consciênciaambiental da região em que se inse-rem. São espelhos: de água e de res-peito pelo futuro…�

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Lagoas costeiras: espelhos ambientaisCom a praia ao lado, as lagunas retêm água salobra de elevada produtividade, ondeflora e fauna reúnem boas condições de sobrevivência

Inventário lusoÀ vista grossa, contam-se no mínimo dez lagoas costeiras em Portugal: Esmoriz, Quiaios, Vela, Braças, Ferreirinha,Albufeira, Melides, Óbidos, Sancha e Santo André. O desaparecimento das zonas húmidas é preocupante. Estas estãohoje, como as florestas tropicais, no topo da lista dos habitat mais ameaçados.

Uma das maiores lagunas portugue-sas, a Lagoa de Óbidos, apesar doselevados níveis de poluição que aatingem, continua a ser berço, infan-tário e apoio de inúmeras espécies

Vista aérea da Barrinha de Esmoriz

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Se falassem, cada uma destas herbáceas diria:«Juntinhas é que estamos bem!». Mais do que umcapricho da sorte, o caniço previne assim a evapora-ção. Pé após pé, ou rizoma atrás de rizoma, estende-seesta planta em todas as direcções, sob o sol inclemen-te que irradia na laguna.

Nem no tempo mais seco se desgasta a ponto de per-der a verdura das suas folhas. O rizoma, que pode estaraté um metro enterrado no solo, a tudo provê. Éconhecida como uma planta que lida bem com incên-dios e geadas.

O caniço, de nome científico Phragmites australis, fun-ciona como estabilizador do solo e propaga-se comrapidez. Além de suportar sem problemas inundaçõesprolongadas, tem sido usado como espécie para reabi-litação de áreas húmidas degradadas por acção huma-na. Por esse motivo ou por outros, na América do Norte

é uma infestante que diminui a diversidade biológicados sítios onde o plantaram. O mesmo não acontece naEuropa. Sendo aqui planta nativa, harmoniza-se comos ecossistemas de que faz parte.

Alto, entre 2 a 3 metros, o caniço floresce entre Julhoe Outubro e ostenta cores púrpura. Afinal, pura vaida-de: dizem especialistas que se propaga sobretudovegetativamente.

Na medicina popular utilizou-se o caniço como subs-tância curativa para carcinomas mamários, leucemia,sem excluir bronquite, diabetes, reumatismo ou artitre.

Matéria-prima de artigos diversos outrora manufactu-rados, a sua maior importância reside em ser elemen-to básico nos habitat em que se enquadra, tanto porabrigar aves e ninhos como por despoluir a água e osolo, absorvendo-lhe os nutrientes.�

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CaniçosQuando o caniçal ondula sob o vento, o olhar desliza mas não adivinha a importân-cia destes matagais nos ecossistemas que integram

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Escutá-lo é mais fácil do que vê-lo. Oculto, esvoaça,abriga-se na vegetação lagunar. Avistar este rouxinoltorna-se menos difícil quando sobe ao topo dos cani-ços para aí reclamar território. Canto potente, harmó-nico, inconfundível apenas para ouvidos treinados.

Quem trata por tu as diferentes felosas — a palustre, adas moitas e a unicolor — sabe distingui-lo, arredandoconfusões.

Mesmo com a palavra pequeno no nome e um compri-mento de cerca de 12 centímetros, este pássaro nãobrinca em serviço. Apesar do tamanho, é uma das avesque pode ser «parasitada» pela fêmea do cuco que,como se sabe, aprecia deitar o ovo no ninho de outrem,bem como todos os restantes cuidados parentais. E acria do cuco cresce umas tantas vezes mais antes de

voar sem agradecer o cuidado!

Este rouxinol lida com o clima demonstrando um com-portamento migratório. Deixa África, onde passa oInverno, e visita Portugal na época Primavera/Verão,quando os insectos de que se alimenta abundam. Maioe Junho são a sua preferência para se reproduzirem.Entre os caniços que lhe marcam também o nome, teceum ninho em forma de taça profunda. Nesse aconche-go, põe em média quatro ovos verde-claros com man-chas cor-de-azeitona.

Acrocephalus scirpaceus — nome científico destaespécie capaz de causar estranheza ao leitor — des-monta-se assim: Akros (pontiagudo) - kephalos (cabe-ça) - scirpus (cana) - aceus (parecido).�

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Rouxinol-pequeno-dos-caniçosÀ distância, pequenito, salta aqui, canta acolá. A cor acastanhada oferece-lhe odisfarce ideal e dilui-o na tonalidade dourada dos caniçais

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Em termos gerais, podemos definir este maciçocomo uma área de relevo muito vigoroso, ras-gada por vales profundamente encaixados.Situa-se a norte do Caramulo (1074 m) e a suldo Montemuro (1380 m), a pouco mais de 30km da orla marítima, constituindo uma barrei-ra orográfica.

O clima caracteriza-se pela elevada precipita-ção média (2000 m) e pelas baixas temperatu-ras que se fazem sentir no Outono-Inverno.Nestas estações, por vezes, a neve surge noscumes serranos, mas a proximidade do marcontribui para a sua rápida fusão.

O maciço da Gralheira e, mais propriamente, aserra da Freita, é um centro de dispersão hidro-gráfica de onde irradiam vários cursos de águaque aí têm a bacia de recepção.

A importância de alguns desfiladeiros avulta noaspecto compacto e altaneiro que a serra nosoferece. Por vezes, as ribeiras precipitam-se emassombrosas cascatas, nas quais se destaca aFrecha da Mozarela, com uma queda de 75metros.

Os rios caracterizam-se pela limpidez das suaságuas, facto já pouco comum no nosso país. Aausência de fontes poluidoras contribui paraque possamos encontrar cursos de água abun-dantes em espécies piscícolas.

No sítio da Castanheira existe um pequenoafloramento granítico onde aparecem nódulosenvolvidos por uma capa de biotite em formade disco convexo. São conhecidas na região por«pedras parideiras», fenómeno único emPortugal e muito raro em toda a Terra.

Para além da riqueza do património geológico,toda a área serrana assume uma importânciaassinalável pela abundância e raridade das suasespécies animais e vegetais.

O revestimento actual é de Pinus pinaster,pinheiro introduzido mas que se naturalizou,

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Serra da Freita:património a preservarA serra da Freita (1100 m) faz parte do maciço da Gralheira, conjunto montanhosobem individualizado, onde se destacam também as serras de Arada (1057 m) e doArestal (823 m)

Frecha da Misarela

Texto: Filomeno Silva. Fotos: Jorge Gomes

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não só aqui como em todo o território português.Apesar da degradação do coberto vegetal, é possívelencontrar pequenas manchas de carvalho-roble, car-valho-negral, sobreiro, medronheiro, lódão-bastardo(Celtis australis) e castanheiro. Já bastante raro, o aze-vinho. Junto às linhas de água registamos a presençaconstante do amieiro, freixo, choupo, salgueiro e lou-reiro. Nas encostas da serra, sobretudo nas que seencontram voltadas a norte, encontramos algumasrelíquias da nossa flora que merecem referência: o raropinheiro-de-casquinho (Pinus silvestris), os cravos(Dianthus hyssopifolius), Eringium duriae Gay e Boiss, eMurbekiella Sousal Rothm, planta apenas existente emPortugal, restrita às serras do Marão, Lousã e Freita.Outras espécies são também muito raras como aMelica uniflora e o Anarrchinum longipedicellatum,outro endemismo lusitano, e o belo Narcisus cyclami-neus, extremamente raro.

Sob o ponto de vista faunístico, as espécies inventa-riadas, entre aves, mamíferos, répteis e anfíbios, levam

a concluir que estamos na presença de um dos últimosredutos da vida selvagem no nosso país.

Entre as aves ocorrem algumas já bastante raras emPortugal como o açor, tartaranhão-caçador, falcão--peregrino, águia-cobreira e ainda o mocho-galego,peneireiro, andorinhão-preto, gaio e muitas outrasespécies.

A fauna mamológica é uma das mais ricas e variadasque podemos encontrar no nosso território. Nas zonasde maior isolamento, regista-se a presença do lobo,estimando-se que o seu número seja muito reduzido. Aperseguição a que esta espécie — uma das maisnobres e evoluídas surgidas à superfície da Terra — temsido sujeita pelas populações serranas reduziu aomínimo a sua presença no maciço da Gralheira. Noscursos de água límpida encontramos a lontra em habi-tats muito específicos. Ocorrem também javalis, emacentuada expansão, geneta, raposa, gato-bravo, toi-rão, texugo, coelho-bravo, rato-do-campo e a fuinha.

Para além da riqueza do património geológico, toda a área serrana assume uma importânciaassinalável pela abundância e raridade das suas espécies animais e vegetais

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A serra abriga uma fauna herpetológica variada. Nodomínio dos répteis merecem referência a cobra ratei-ra (Malpolon monspessulanus), a cobra-de-escada, avíbora-cornuda, o lagarto-de-água, o licranço, o sar-dão-ocelado, a cobra-de-água-viperina e a cobra-de--água-de-colar.

Os anfíbios estão representados pela salamandra-lusi-tânica, salamandra-comum, tritão-de-ventre-laranja,tritão-marmoreado, sapo-comum, rã-ibérica e rã--verde.

Para além da diversidade da fauna e flora há, em todaa serra, aspectos que importa salientar: beleza e des-lumbrância das paisagens, património construído emmoldes tradicionais (casas, moinhos, espigueiros econstruções rurais como resultado de experiênciasacumuladas durante séculos), antiquíssima actividadeagro-pastoril assente em usanças e vivências comuni-tárias, reserva de valores culturais (etnografia, folclo-re, artesanato, gastronomia), vestígios arqueológicosde várias épocas.

A situação actual que se vive na serra da Freita é dejustificada apreensão face aos atentados que ali secometem, os quais têm vindo a provocar a degradaçãodos ecossistemas naturais. Apesar de, há muitos anos,se reclamar a sua classificação como área protegida,pouco ou nada se tem feito, pelo que a serra continuanum acelerado processo de destruição do seu patri-mónio.

A proximidade dos grandes centros urbanos do litoralatrai anualmente um elevado número de visitantes,entre os quais se contam muitos que não cumprem asmínimas regras de civismo que se devem observar emáreas sensíveis de montanha.

Os mais variados meios de transporte usados pelosforasteiros concorrem também para a ocorrência deengarrafamentos de trânsito nos dias de maior afluên-cia, em estradas marginadas de vendedores ambulan-tes. Por vezes, até as visitas de estudo realizadas pelasescolas decorrem à margem de comportamentos ade-quados aos objectivos das actividades programadas.

Mas as ameaças que a serra enfrenta não provêm ape-nas dos visitantes. São preocupantes outras realidadescom que deparamos a cada passo, e que de ano paraano se agravam. A florestação com eucaliptos cobreextensas áreas, daí resultando sérias consequênciasecológicas que já estão à vista mas que num futuropróximo serão mais evidentes. Os fogos têm sido umflagelo incontrolável, muito especialmente depois de1985, ano a partir do qual a serra foi martirizada porincêndios de tais proporções que presentemente aencosta se encontra despida de qualquer tipo de vege-

tação. A ocorrência de fogos devastadores, para alémde consumir importantes manchas de coberto vegetalautóctone, expõe os solos à erosão e põe em risco ascomunidades animais.

Assinalamos ainda a intensa actividade cinegética, oabate de espécies protegidas, o uso indiscriminado depesticidas, as práticas agrícolas incompatíveis com aconservação da natureza e as provas automobilísticas(ralis e todo-o-terreno) com a participação de elevadonúmero de concorrentes e público.

Na serra da Gralheira é possível encontrar aldeias bemconservadas no aspecto arquitectónico, avultando napaisagem casas de xisto onde é evidente a rusticidadee o enquadramento no meio físico. Sobressaem aspovoações de Condo, Tebilhão, Cabreiros, Covelo dePaivô e Regoufe, onde poderemos descobrir quadrosvivos da natureza.

O povo dedica-se basicamente à agricultura e à pasto-rícia, embora os mais novos optem actualmente porprofissões mais atraentes nos centros urbanos. O enve-lhecimento da população é uma realidade e a deserti-ficação humana faz-se sentir um pouco por todo olado. O isolamento a que a região esteve votada até hápoucos anos foi quebrado pela abertura de estradasque servem todos os núcleos populacionais.

Há muito reclamada, a constituição de uma área pro-tegida tarda em se concretizar. Será que vamos assis-tir, ano a ano, à destruição das paisagens naturais e deuma cultura riquíssima fortemente enraizada no terri-tório que lhe serve de suporte?

Só um desenvolvimento integrado e sustentável, combase no uso racional e correcto dos espaços biofísicos,na conservação da natureza, no ordenamento do ter-ritório e na promoção das populações poderá ser asolução.

A criação de uma área protegida poderia contribuirdecisivamente para a salvaguarda dos valores ecológi-cos e da biodiversidade do território, bem como parapreservação da herança cultural que constitui a iden-tidade antropológica de um povo.

Porém, fruto do desinteresse a nível local pela atribui-ção do estatuto de área protegida, os inúmeros aten-tados de que é alvo são cada vez mais frequentes, e omomento que se vive não é de modo algum propício acriar grandes expectativas face à instalação de aero-geradores nos cimos da serra e à entrega de todo oespaço a uma associação de caça.

Será que ainda é possível preservar a Freita?

Todos estamos dependentes da natureza e se não aconservarmos comprometeremos o nosso futurocomum.�

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22 Parque Biológico Verão 2003

COBRAS-DE-ÁGUA

Cobra-de-água-viperina (Natrixmaura) – De víbora só tem o nome.Quando se excita triangula a cabe-ça, e apenas confunde maus obser-vadores. É inofensiva e alimenta-sede rãs, sapos, salamandras, peixe,etc. Abundante. Mede pouco maisde um metro e a cor mais vulgar écastanha.

Cobra-de-água-de-colar (Natrixnatrix) – Igualmente inofensiva. Comoa anterior o maior mal que faz a quemlhe deita a mão é lançar pela cloaca umfluido malcheiroso difícil de sair mesmodepois de n lavagens. Alimentação etamanho idênticos à anterior. Abun-dante. Cor-padrão: cinza.

COBRAS RATEIRAS NÃO VENENOSAS

Cobra-de-escada (Elaphe scalaris) –O nome deriva da fase juvenil, aliásaltura em que são bem bonitas: nodorso mostram o desenho de umaescada, cujos degraus se vão esba-tendo à medida que crescem. Estaespécie adapta-se bem às cidades,embora seja difícil vê-la. Abundante,em geral castanha, pode medir 1,5 m.

Cobra-de-ferradura (Coluber hip-pocrepis) - Pode crescer até 1,8metros e encontra-se por quasetodo o país. O prato forte consisteem ratos e lagartos.

Cobra-lisa-bordalesa (Coronellagirondica) - Está em todo o país enão vai além dos 80 cm. A ementaengloba outras pequenas cobras,lagartos e ratos.

Cobra-lisa-austríaca (Coronellaaustriaca) - Está na parte Norte dopaís e vai à casa dos 70 cm. Apreciamontanhas e o cardápio é o mesmoda espécie anterior.

Cobras nossasSão mais que muitas as perguntas que se fazem sobre serpentes. Memórias fugazesdesde a infância mostram-nas como seres misteriosos. Afinal quem são e para queservem?

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A dificuldade de à partida distinguir as espécies, esaber se são venenosas ou não, é um dos dados queleva a recear esses répteis. A herança cultural é outroproblema: vistas as serpentes no Ocidente como sinó-nimo da traição e do mal, está meio caminho andadopara que aquilo que se ignora se transforme numbicho-papão capaz de assustar muitos adultos.

É verdade adquirida — as cobras são elos importantesdos ecossistemas em que se inserem. Se fossem ani-quiladas, haveria perdas enormes.

Por exemplo, veja as que se alimentam de ratos. Faceà rapidez de propagação destes roedores, tantas vezesportadores de doenças e fonte de outros danos, ascobras são anónimas controladoras, mesmo nas cida-des, já que vão buscá-los onde os gatos e as corujasnem em sonhos entram.

Ao todo em Portugal há só uma dezena de espécies.Víboras há apenas duas estando uma confinada aoGerês e pouco mais. Veja-as no álbum de família quepreparamos para si.

Cobra-de-água-viperina

Cobra-de-água-de-colar

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COBRAS VENENOSAS

Estas deviam ser divididas entreperigosas e quase inofensivas. Aseventualmente perigosas são asduas víboras. Quanto às outras, aquivão:

Cobra-de-montpelier (Malpolonmonspessulanus) - Eis um «fóssilvivo». Consideram os estudiosos queespécies como esta estão evolutiva-mente entre as cobras não veneno-sas e as víboras. Este ofídeo, tam-bém canibal, além de comer peque-nas aves, lagartos e pequenosmamíferos, é a maior cobra daPenínsula Ibérica. A Universidade deCoimbra anotou no passado séculoum espécime de 2,5 metros.

Cobra-de-capuz (Macroprotodoncucullatus) - Centro interior e Sul daPenínsula Ibérica. Como a anterior,possui glândulas de veneno mas,sendo opistóglifa (ver desenho) eatingindo apenas meio metro (cabe-ça pequena), não representa perigo.

VÍBORAS

Víbora-cornuda (Vipera latastei) eVíbora do Gerês (Vipera seoanei).Distinguem-se sobretudo porque aprimeira apresenta um «nariz» fran-camente arrebitado. A segunda não,e só se encontra na região do Gerês.Ambas são cobras de cerca de meiometro, geralmente de tonalidadesacastanhadas.

A víbora do Gerês é o único ofídio,entre estas espécies, que apenas exis-

te na Península Ibérica. Deixe-as empaz e elas farão o mesmo consigo.�

Aglifa (ex: Cobra-de-escadaou cobra-de-ferradura, etc.)

Opistóglifa(ex: Malpolon sp.)

Solenóglifa (víboras)

Glândula labial superior

Glândula de veneno

Glândula deveneno

Glândula labial superior

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FICHA DE ASSINANTEFICHA DE ASSINANTE

Pode receber em sua casa a revista «Parque Biológico» através de dois processos:

1) enviando o seu pedido de admissão de sócio à Associação dos Amigos do Parque Biológico ou então:

2) fazendo-se assinante desta Revista pela quantia de 7.5 euros por ano, preenchendo e enviando esta ficha:

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Junto envio 7.5 euros para pagamento de uma assinatura anual da revista «Parque Biológico». Enviar para: Parque Biológico – 4430-757 Avintes

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A Loja do Campo, agora junto à Recepção do Parque Biológico,aguarda pela sua visita.O Parque possui também um horto, onde os visitantes podemadquirir plantas e árvores. Telefone: 227878120

Assine a revista “Parque Biológico”

Loja do Campo

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Organizado pelo Instituto do Ambiente e pelo ParqueBiológico de Gaia, o XIV Encontro Nacional deEducação Ambiental inicia dia 2 de Outubro, quarta--feira, com a recepção dos participantes e montagemdos posters apresentados. Depois do almoço há a pos-sibilidade de participar em oficinas de educaçãoambiental ou em visitas, nomeadamente à Estação deTratamento de Águas Residuais (ETAR) do rio Febros,ao Centro de Educação Ambiental das Ribeiras de Gaiae ao Pavilhão da Água.

Ao fim da tarde, duas conferências: «O ciclo da água»e «O ecossistema de água doce».

No dia seguinte, organizados os participantes em gru-pos, vão integrar oficinas de educação ambiental ouvisitar os sítios ainda não conhecidos. Ao fim da tarde,as conferências «A água doce e a educação ambiental»e «Água doce no mundo: perspectivas para o futuro».

Um dia depois Ponte de Lima é de passagem obrigató-ria. Os participantes do ENEA vão visitar a Área de

Paisagem Protegida das Lagoas de Bertiandos e S.Pedro de Arcos. No último dia, além da apresentaçãodas conclusões e do encerramento, haverá lugar àmarcação do XV ENEA.

Decorre neste momento o processo de acreditação doXIV ENEA, em colaboração com o Centro de Formaçãode Professores Gaia-Nascente.

As inscrições são admitidas até 10 de Setembro e cus-tam 75,00 €. O folheto de inscrição pode ser obtidoatravés de download no site www.parquebiologico.ptou pedido ao Parque Biológico de Gaia.

Como curiosidade, seguem as datas e locais dos ENEA,desde o primeiro: 1990 - Parque Biológico de Gaia;1991 - Luso; 1992 - Oeiras; 1993 - Parque Biológicode Gaia; 1994 - Olhão 300; 1995 - Conímbriga; 1996- Funchal/Madeira; 1997 - Alcanena; 1998 - ParqueBiológico de Gaia; 1999 - Horta/Açores; 2000 - Porto;2001 - Lisboa; 2002 - Maia; 2003 - Parque Biológicode Gaia.

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Encontro Nacional de Educação Ambiental

Contados 13, eis mais um. Desta vez, no Parque Biológico de Gaia, de 2 a 5 deOutubro, no Ano Internacional da Água Doce

O Parque Biológico deGaia vai receber o XIVEncontro Nacional deEducação Ambiental

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26 Parque Biológico Verão 2003

Como é comum, em cada ENEA há detalhes a recordar.Uns ficam escritos, outros não. Por exemplo, no quetoca ao XIX ENEA, ficaram as quadras de um partici-pante entusiasta, Honorato Ricardo, que as introduziuassim: «Todo o Encontro teve motivos de interesse para

quem quer formar os seus alunos no tema Ambienteque toca a todos nós. Foi altamente proveitoso. Comoprofessor cumpre-me dizer-lhes, sinceramente, obri-gado».�

Educação foi o lema De ambiente preservar.O nono encontro foi temaPra tanta gente juntar!

Gaia o palco escolhido,Com seu Parque Biológico,Nada deixou esquecidoTudo ali foi pedagógico!

O calor da recepçãoDe quem soube receberDeu a todos a razãoDe a nunca mais esquecer!

Essa sessão de aberturaCom o Estado presenteÉ lembrança que perduraA morar dentro da gente!

E tudo a modos de verPosters e mais materialPôde sim nos convencerDe um ensino ambiental.

As saídas de autocarroPara as dunas visitarFoi outro modo bizarroDe o tema nos conquistar!

Zonas húmidas famosasDe tanta gente afastadasFauna e plantas mimosasForam assim encontradas.

Grandeza do CabedeloNa foz do Douro giganteFoi uma forma de apeloDo cuidado, ao visitante!

Os filmes visionadosE trabalhos produzidosDeixaram-nos fascinadosMais despertos nos sentidos!

Em toda a sua belezaA Barrinha se mostrou

Mas dela veio a certezaDo muito que ela mudou!

PARABÉNS ao DirectorTudo correu a preceito;Neste Encontro, de valor, Sentimos do mesmo jeito!

Para os outros promotoresDeste Encontro no PaísAqui ficam os louvoresDe alguém que o Encontro quis.

Em tudo, sempre certinha,Cinco estrelas pra brilhar,Trabalhou, como convinha,Quem a soube organizar!

Venha outro encontro a rigorE muitos mais pra valer...O mundo só é melhorSe se puder aprender!

Vila Nova de Gaia (Avintes), 5 de Outubro de 1998Honorato Pisco Ricardo, participante n.º 210

O XIV ENEA inclui visita à Área de PaisagemProtegida de Bertiandos e S. Pedro de Arcos

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Verão 2003 Parque Biológico 27

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28 Parque Biológico Verão 2003

A Organização Mundial de Saúdenão deixa dúvidas: 40% das crian-ças até aos cinco anos de idadepadecem de problemas originadospelo meio em que vivem.

Água imprópria e a poluição, escassahigiene e as carências de saneamen-to, bem como outros perigosambientais são fonte de moléstiasgraves capazes de aniquilar 5milhões de pequenitos ano após ano.

Quando não ocorre a morte a curtoprazo, a situação de doença podearrastar-se ao longo do tempo.

Para além do direito das crianças aum ambiente saudável, mesmo quenuma óptica meramente financeira,justificar-se-ia investir mais nestetipo de qualidade de vida, já que asdespesas com a saúde são conside-ráveis. A Cidade do México, o cálcu-

lo já foi feito, se reduzisse a polui-ção do ar em 10% iria poupar emcuidados de saúde 2 mil milhões deeuros por ano.

A linha-mestra das soluções passapor se criar condições para a ofertade um acesso, na casa e na escola, aágua potável; aumento da rede desaneamento básico; combate às fon-tes de poluição; manter substânciasquímicas longe do alcance das crian-ças; aumentar a ventilação das casas;afastar as crianças dos fumadores.

As crianças também pagam

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O dinheiro fácil com frequênciaacaba por sair muito caro

Os metais pesadosvisitam muitos

estômagos

As crianças têm direitoa um bom ambiente

Caminhar na natureza é umamais-valia: alunos em mais umavisita ao Parque Biológico

Um bom ambiente apresenta importantes valores de saúdefísica e mental — corço no Parque Biológico de Gaia

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Dia 1 de Junho o Parque Biológicode Gaia encheu-se de actividades ede crianças, mais do que noutrosdomingos. Ao contrário dos restan-tes dias da semana, em que as crian-ças afluem sob coordenação dosseus professores, ao fim-de-semanaquem os leva ao Parque são emregra os pais.

E no Dia dos Baixinhos foi um farto-te de brincadeiras: ouviram históriascontadas por actores e espreitaramo realejo, participaram em oficinasde reutilização, de espantalhos e devira-ventos, conheceram váriosjogos tradicionais...

Estas actividades decorreram emparceria com a Associação IlhaMágica, entre outras colectividades.

Verão 2003 Parque Biológico 29

DiaMundialda Criança

A 2, 5 e 6 de Abril a Associação IlhaMágica promoveu no ParqueBiológico diversas actividades, alusi-vas ao Dia Internacional do LivroInfantil e Juvenil. Música de realejo,feira do livro, oficinas de brinque-dos, teatro de sombras, palhaços econtadores de histórias.

Ilha MágicaNo passado dia 12 de Abril oParque Biológico de Gaiaorganizou uma visita temáti-ca à Serra da Nogueira, pertode Bragança. O programaincluiu um percurso pedes-tre, onde se destacou a zonade rochas ultrabásicas(resultantes de fundo oceâ-nico) onde se centra umaflora única. Toda a área éocupada por uma mancha decarvalhal importante: consi-dera-se uma das maiores daEuropa. Esta visita decorreuao abrigo do programaPortugal Natural - Percursosde Descoberta da Naturezacom o Parque Biológico.

Serra da Nogueira

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30 Parque Biológico Verão 2003

e s p i g u e i r o

De 14 a 24 de Abril decorreram no Parque Biológico deGaia as Oficinas da Páscoa, sob coordenação de RitaValente. Aderindo às actividades calendarizadas —caça ao ovo, volta da alimentação, construção de vira--ventos e de máscaras, montagem de ninhos para aves,reciclagem, jogos tradicionais, fornada de broa, etc. —as crianças inscritas ocuparam os seus tempos livresde férias de forma muito construtiva.

Oficinasda Páscoa

Ao longo de Julho, Agosto e Setembro decorrem noParque Biológico de Gaia os Campos de Verão, atem-padamente abertos a todas as crianças e jovens entreos 7 e os 15 anos de idade.

Mas nem só de trabalho se fazem estes Campos: hápasseio em Sever do Vouga, o percurso «Dunas: conhe-cer e conservar», peddy-paper, cientistas «loucos»,caça ao tesouro, etc.

Ao todo são seis campos, sendo este último de 31 deAgosto a 6 de Setembro.

Campos de Verão

Mãos cheiasde massa, háque lavá-las

Fila para amassar

Confecção de broano forno a lenha: oacto de amassar

No primeiro dia dos Campos de Verão, um dosgrupos descobriu o prazer de trabalhar um jardimde plantas aromáticas: «Agricultores de 1/2 dia»

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Verão 2003 Parque Biológico 31

O Parque mostraHá várias mostras abertas ao públicona área do Parque. A exposição«Encantos & Desencantos» é a primeirae a maior, próxima da Recepção

Com as exposições o Parque Biológico foca aspectos deeducação ambiental que, de outra forma, passariamprovavelmente ao lado dos seus inúmeros visitantes.Há as permanentes (do próprio Parque) e outras tem-porárias. Vejamos uma por uma.

Temporária, a mostra «Objectos Naturais: metamorfo-ses da raiz, caule e folhas», do Instituto Botânico deLisboa, é como que um preâmbulo.

Contornando a recepção do Parque, à direita, escadasdescidas, depara-se com um puzzle elucidativo sob otítulo «Encantos & Desencantos». Aqui, a cada passoque dá agrega mais conhecimento. De forma leve,explica a história da vida na Terra, do seu aparecimen-to aos principais problemas da actualidade.

Pé posto no exterior, no início do percurso de desco-berta do Parque, surge a mostra «Da floresta tropicalao deserto». Neste pavilhão, os biomas mais típicos daTerra estão representados.

O Museu Rural, a meio do percurso, tem como pratoforte a ruralidade: mós, alfaias, gadanhos, foices, car-dadores de lã, arados, entre muitos outros utensíliosagrícolas artesanais, são relíquias de um passado nãomuito distante, em que a terra nos falava mais deperto ao coração.

Adiante, depara com a exposição «Exóticas: pela mãodo homem». Se se informar sobre o Programa Regulardo Parque Biológico, pode beneficiar de uma visitaguiada às exposições do Parque Biológico de Gaia.

«Objectos Naturais: raiz,caule e folhas», do InstitutoBotânico de Lisboa

«Encantos & Desencantos», exposição inaugurada pelopresidente da Câmara de Gaia

Pormenor: «Da Floresta Tropical ao Deserto»

Parte do Museu Rural:moinho de água

«Exóticas: pela mão do homem»

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32 Parque Biológico Verão 2003

Trim... trim...

Paulo Costa agarra o telefone e ouve:«Acolhem porcos da Índia?». Não hádúvida: «Sim. Já agora, sabe dizer-mese são muitos ou poucos?». Resposta:«São uma dúzia. Têm aí espaço?».«Sim, o galinheiro é muito grande».«Então eu meto-os num camião degado e levo-lhos». «Não é preciso,

basta pô-los numa caixa aoseu lado. Traga-os!».

Passados 15 dias, um camiãoaborda o Parque Biológico deGaia: «Lembra-se de lhe terfalado nuns porcos pretos?».Paulo não percebe. Olha pela janela:um camião de suínos. Só aí se fezluz: como a língua portuguesa é

traiçoeira! Não eram porquinhos--da-índia mas porcos asiáticos,estes bem maiores do que os outros!

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Quer porquinhos-da-índia?

Nascimentos Entre os novos habitantes do Parque há destaques a fazer. Um é o dos javalis,datado de Março, e outro é o de cinco gamos, mais tarde, em início de Junho.Soma-se também um burrico.

Se ver os dois javalis nos seus primeiros dias foi fácil, o mesmo não se pode dizerdos pequenos gamos. Mas quem persiste, consegue…

Estes porcos foramcoqueluche na décadade 70 nos EUA comoanimais de estimação

Nasceram duas crias de javali, aqui já àprocura de novidades alimentares!

Porcos-da-índia

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Asas feridas

Verão 2003 Parque Biológico 33

Duas gaivotas-de-asa-escura, nopassado Inverno, surgiram feridas,uma em Canidelo, outra em Espinho.Ambas anilhadas, contactou-se oBritish Trust of Ornithology(Migration Watch).

Esta espécie nidifica mais a Norte,mas no tempo frio busca países declima mais brando.

Uma destas aves, anilhada emBristol (Inglaterra) em 6 de Julho doano passado, apareceu em Espinhoem 21 de Fevereiro. A outra, anilha-da na Escócia em 19 de Julho de1999, fez o seu advento emCanidelo em 6 de Fevereiro do cor-rente ano.

Estas gaivotas, entretanto, recebe-ram o tratamento respectivo eseguiram a sua vida.

Site do BTO na internet

Situado perto do Carvalhal, no per-curso de descoberta, o Centro deRecuperação do Parque Biológico deGaia tem como ex-líbris os gaiolõesespecialmente preparados para psita-cídeos, palavrão que agrupa papa-gaios, araras, catatuas e semelhantes.

No âmbito do protocolo celebradocom o Instituto de Conservação daNatureza, o Parque Biológico asse-gura a recolha e reabilitação deespécies protegidas apreendidas porentrada ilegal no país.

O Parque construiu uma infra-estru-tura com vista a favorecer a vida e areprodução de psitacídeos e outrosanimais.

Estas instalações destinam-se àrecuperação e reprodução, e nãotêm por fim exibir esses animais,pelo que os visitantes apenas aspoderão ver à distância.

Contudo, esta acção só atingirá empleno os seus objectivos conserva-cionistas quando for possível devol-

ver às regiões de origem os animaiscapturados ilegalmente.

Centro de recuperação

Centro de reprodução de psitacídeos

Cinco crias de gamo, discretas como só elas sabem ser, nasceram no espaço deuma semana, e tudo fizeram para se diluírem nas cores de terra do carvalhal.Uma delas, em baixo, agachada, não fosse este predador vê-la!

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Numa destas alegres manhãs, aoacordar abra a janela, sinta abrisa estival. Não resista ao con-vite: ao ir ao Parque Biológicocom uma câmara fotográficaganha tempo. Um novo dia, umnovo olhar. Quem sabe vai atéalcançar um dos prémios?

Na revista anterior publicámos oregulamento e a ficha de inscri-

ção* do Concurso Fotográfico «Aluz do Parque», que também seencontra à disposição em impres-so próprio na Recepção do Parque.

Aberto a todas as pessoas, sejamamadoras ou profissionais, é obri-gatório neste concurso que asfotografias candidatas sejam cap-tadas na área do Parque Biológicode Gaia e entregues até 15 deOutubro de 2003. O formato des-sas fotografias é 20 cm x 30 cm.

O júri — Gaspar de Jesus, JoãoMeneres e Nuno Oliveira — vai ava-liar estes trabalhos e os prémiosseguirão a ordem: 1.º classificado -Câmara digital; 2.º - Medalha doParque; 3.º - Menção Honrosa.Agora, resta-lhe, a si, aproveitar osdias, fazendo da sua câmara acompanhia indispensável.

Concurso fotográfico: A luz do Parque

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* - Pode copiá-la em http://www.revista-parquebiologico.com ou pedi-lo através [email protected]

34 Parque Biológico Verão 2003

Rio Febros

Jogos na relva

Abra as janelas do seu olhar e candidate as suas fotografias aos prémios

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Verão 2003 Parque Biológico 35

Goraz

Cabras-bravas

Trabalho agrícola

Milhafre

Museu rural

Bioma

Exposiçãosobreexóticas

Porco BísaroNa região de Trás-os-Montes ainda hojese pratica a exploração de suínos deforma tradicional. A utilização de suínosbísaros foi recentemente promovida pelaAssociação Nacional de Criadores deSuínos da raça Bísara, que em 1994constatou que o efectivo destes animaisse encontrava praticamente extinto.

De acordo com o recenseamento geral degados no continente do reino de Portugal(1870), a definição de bísaro é o nomeque se dá ao porco esgalgado pernalto ede orelhas pendentes para distinguir doporco roliço e pernicurto do Alentejo.

De uma forma geral, os bísaros caracte-rizam-se como sendo animais grandes,chegando a atingir um metro de altura e1,8 metros da nuca à raiz da cauda, deperfil dorso-lombar convexo e orelhasgrandes e pendentes. Trata-se de umaraça pouco rústica, mas bem adaptadaao sistema tradicional. São animais detemperamento bastante dócil, vagarosose com movimentos pouco graciosos. Têmelevada prolificidade, no entanto são de

crescimento lento, apresentando carnemagra pouco atoucinhada.

Distinguem-se 3 variedades de acordocom o tipo de pelagem: galega, beiroa emolarinhos. Os animais da variedadegalega são de cor branca ou branca commalhas pretas; os de variedade beirôasão de cor preta ou preta com malhasbrancas — as duas variedades têm ocorpo coberto com cerdas longas e rijas.A variedade molarinhos, da qual já nãoexiste nenhum exemplar, reunia animaisde pele fina e sem cerdas.

Texto: Ana Mafalda; Foto: ANCSUB

Ovos no Parque Litoral da Aguda

Vários ninhos de borrelho surgiram no Parque Litoral da Aguda. Este facto confirma aimportância das dunas como locais importantes para algumas espécies de aves faze-rem criação. Não há lista de observações sobre as espécies que ali param para se refa-zerem das suas migrações, mas é difícil deixar de crer que isso ocorre com frequência.

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36 Parque Biológico Verão 2003

Ciência VivaDe 1 de Agosto a 30 de Setembro «universidades, cen-tros de investigação, escolas e associações científicasconvidam o público a escolher entre mais de 1200acções de acesso livre e gratuito promovidas pelaCiência Viva em todo o país», informa o site oficial

Com o fito de «aproximar os cidadãos da ciência, sob aforma de uma experiência directa e vivida, as acçõesCiência Viva no Verão convidam à observação activa eao diálogo com os especialistas em visitas guiadas,palestras e observações astronómicas, que permitemconhecer melhor o mundo que nos rodeia».

O Parque Biológico de Gaia participa no programaCiência Viva 2003 com as seguintes actividades:

– 2 de Agosto, «Os minerais e a vida». Tendo por palcoo laboratório e o auditório do Parque Biológico, estaacção visa revelar a ponte entre o mundo inorgânicoe o mundo orgânico.

– De 4 a 17 de Agosto e de 7 a 12 de Setembro,«Adaptações à vida no litoral: a água aqui tão perto- as adaptações das plantas à falta de água». Estaacção decorre no Parque de Dunas da Aguda.

– 23 de Agosto, «Ovos: sementes de vida». Sabia que jáfoi um ovo? Contempla uma caça ao ovo no percur-so do Parque e a observação de diferentes tipos deovos de uma colecção diversificada.

– De 27 de Agosto a 11 de Setembro, «Observação doSol e da Lua». Observações diurnas (15h30/17h30)do Sol e de elementos da sua superfície; observa-ções nocturnas (22h30/01h30) da Lua e da suatopografia.

– 30 de Agosto, «Património geológico e geomorfoló-gico de Gaia - conhecer para conservar». Uma visitaguiada por locais de interesse geomorfológico deGaia.

– 6 de Setembro, «Microminerais de Portugal. Permitever o fascinante micromundo dos minerais, contri-buindo para o levantamento de um patrimóniopouco falado. Inclui uma palestra seguida de obser-vação à lupa e recolha de microminerais numaescombreira em Arouca (antiga mina).

– 13 de Setembro, «Rio Febros, da nascente à foz».

A participação é grátis mas pode estar sujeita a mar-cação. Na dúvida, telefone e informe-se: 227878120.

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Rio Febros, da nascente à foz, com passagem pela ETAR

Cardo-marítimo, um bom exemplo da adaptação dasplantas dunares à escassez de água doce

Gruta de Lavadores, uma forma de erosão do litoral

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PercursoornitológicoNo Inverno o frio é como gelo, às8h00 da manhã, altura do início dopercurso ornitológico no ParqueBiológico de Gaia. Na Primavera,nada menos do que aprazível. NoVerão, o horário passa para o fimda tarde. As aves madrugam com oavançar do calor, e passear aos pri-meiros toques do alvorecer não éuma medida popular!

Seja como seja, até ao início doVerão decorreram meia-dúzia depercursos oficiais, sempre aossábados. Ao longo de cada um háespécies sempre presentes: gali-nha-de-água, pato-real, pombo--torcaz, peto-real e pica-pau-

-malhado-grande, gaio, pega, gra-lha, carriça, pisco-de-peito-ruivo,melro, lavandisca-cinzenta, cha-pim-carvoeiro, chapim-real, cha-pim-rabilongo, trepadeira-casta-nha, pardais doméstico e montês,verdelhão.

Como curiosidades, se no Invernose viam com frequência várias gar-ças-reais a abrigar-se no arvoredodo Parque e o rouxinol, naPrimavera um casal de tordeiastornou-se ostensivo e esporadica-mente viam-se búteos e gaviões.

Entre os pequenitates, abundam ascarriças e os piscos-de-peito-ruivo.

Mas, para além de tudo o que ficapor dizer, o melhor é vir testar con-nosco o novo horário de Verão dopercurso ornitológico, sempre aosquartos sábados de cada mês. Secomparecer, quem sabe se não trazconsigo a surpresa de deparar comuma espécie invulgar?!

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Verão 2003 Parque Biológico 37

Após o nascerdo Sol as aves

têm outravisibilidade

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Nuno GomesOliveira orientao percursoornitológico

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As plantas inventaram a guerra quí-mica, criaram simbioses, e acima detudo converteram-se em preciosas«máquinas» oxigenadoras.

As características notáveis queadquiriram são um compêndio demaravilhas ainda, na maior parte,por descobrir. Recorde-se que sãodas mais importantes matérias-pri-mas para medicamentos usados emlarga escala.

No Parque Biológico, o botânicoHenrique N. Alves, no 2.º sábado decada mês, está ao seu dispor para

lhe explicar as lições vivas da natu-reza no seu próprio campo: ao longodo percurso de descoberta do ParqueBiológico de Gaia – 3,5 km – perce-ba com este especialista por quemotivo as plantas dão néctar aosinsectos incitando-os a visitá-las oupor que razão muitas árvores pres-cindem de todas as suas folhasquando o tempo esfria.

É um sem-fim de curiosidades que oParque Biológico disponibiliza e quenão fazem dar por perdido o tempogasto neste percurso.�

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38 Parque Biológico Verão 2003

Facto inusitado: um jovemeucalipto, tão exóticocomo qualquer outro, foi aescolha deste casal depica-pau-malhado-granderesidente no arvoredo doparque Biológico paraconstruir o seu novo ninho.

Com abertura orientadapara sudoeste, a uns 7metros do chão, em Junhopassado, ali criaram prole,pai e mãe, num vaivémconstante de insectos,conforme exigia em fartoalarido o filhote granda-lhão que espreita no bura-co. Estas aves trepadoras,como os papagaios, pare-cem dizer: as regras, àsvezes, são mesmo paraquebrar!

Percurso botânicoHenrique N. Alves orienta o percurso botânico

Insectos e plantas aprenderam na evolução acompensar-se reciprocamente e ensinam que,

na natureza, tudo se interliga...

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O auditório do Parque Biológico de Gaia, dia 29 deMaio, recebeu as comemorações do Dia Mundial daEnergia, sob a batuta da Energaia e do ParqueBiológico de Gaia, duas empresas municipais gaienses,a primeira votada à energia e a segunda à educaçãoambiental.

O vereador Nuno Sousa, da Câmara Municipal de Gaia,abriu, de tarde, a sessão, seguindo-se uma palestra doeng.º Vasco Ferreira intitulada «Educar para a conser-vação da energia».

Nuno Oliveira, do Parque Biológico, falou aos presen-tes, sobretudo alunos, das formas tradicionais de apro-veitamento de energia, nomeadamente dos moinhosde água.

Participaram também elementos do Visionarium, comvárias experiências práticas de funcionamento deenergia, seguindo-se ainda a apresentação, por partede várias escolas, de estudos sobre o homem e a ener-gia, concretamente sobre as iniciativas de conservaçãode energia desenvolvidas nesses estabelecimentos deensino.�

Verão 2003 Parque Biológico 39

Energia: um bem que importa conservar

Imperioso participar

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Outra experiência

Elementos do Visionarium proporcionaramvárias demonstrações

Palestra «Educar para a conservaçãoda energia»

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40 Parque Biológico Verão 2003

a r b o r i c u l t u r a

O I Congresso da SociedadePortuguesa de Arboricultura, reali-zado no Fórum Lisboa nos dias 6 e 7de Março e subordinado ao tema«Arboricultura em Portugal: evolu-ção e tendências», acolheu umaforte receptividade junto dos inte-ressados do sector. Tendo contadocom a participação de cerca de 150profissionais, nas suas diversas ini-ciativas, o sucesso do Congressoveio demonstrar que a SociedadePortuguesa de Arboricultura consti-tui-se como o pivot privilegiado deinteracção dos vários actores inter-venientes do sector, assumindo umpapel fundamental na divulgação dainformação relevante, sobre o que seestá a desenvolver nesta área.

O Congresso contou ao longo dosdois dias com diversas comunica-ções nacionais, com uma comunica-ção francesa, com uma comunica-ção espanhola e com uma comuni-cação alemã, que retrataram expe-riências várias nos diferentes países.No sábado, dia 8, promoveu a reali-zação do Workshop assegurado peloconceituado Dr. Claus Mattheck doKarlsrhue Research Center, bemcomo o I Campeonato de Escaladacom 8 participantes. Dinamizouainda a exposição de alguns standse de painéis de divulgação de traba-lhos científicos.

Na sessão de encerramento, presidi-da pelo Professor António Mexia emrepresentação do Sr. Ministro daAgricultura, ressaltaram as seguin-tes principais conclusões:

1. Nos últimos anos, em Portugal,

têm-se efectuado em número signi-ficativo de trabalhos práticos e cien-tíficos na área da Arboricultura

Urbana.

2. A falta de canais de comunicaçãoentre os diferentes interlocutores eagentes do sector não tem permitidoa divulgação destes trabalhos nadimensão necessária, de forma a con-tribuírem de facto para a melhoriadas condições do arvoredo urbano.

3. Constata-se a necessidade depromover uma maior sensibilizaçãojunto das autarquias para as ques-tões particulares que envolvem afloresta urbana, fomentando desig-nadamente uma maior participaçãode técnicos municipais em eventosde divulgação técnica. A sua partici-pação no Congresso ficou aliásaquém do esperado – apenas estive-ram representadas cerca de 5% dasautarquias.

4. Finalmente concluiu-se da urgên-

cia de promover maior investimento,em investigação na área da arbori-cultura, de modo a se poderem ava-liar e quantificar os diversos facto-res que afectam as árvores no espa-ço urbano.

Em paralelo com o Workshop, reali-zou-se no dia 8 de Março o ICampeonato SPA de Escalada aÁrvores, no Parque do Monteiro-Mor(Museu do Traje, em Lisboa), inicia-tiva destinada a promover a troca deexperiências entre os podadores queutilizam a escalada para o desempe-nho da sua profissão.

Concorreram entusiasticamente 8profissionais, de 4 nacionalidades -5 portugueses, 1 espanhol, 1 molda-vo e 1 romeno - tendo sido realiza-das provas em 4 modalidades dife-rentes.

O 1.º prémio foi Vítor Dias, jovemescalador-podador de Mortágua -Viseu.

A realização deste Campeonato foipossível graças à colaboração dasempresas Arbóreo e Árvores ePessoas, bem como ao patrocínio daStihl e da SDA, empresas que contri-buíram igualmente para a divulga-ção de novas técnicas e equipamen-tos. De salientar ainda a preciosacolaboração prestada por técnicosde escalada espanhóis que com asua experiência em eventos destegénero, o primeiro em Portugal,deram grande contributo para a ani-mação do Campeonato.�

Por: Sociedade Portuguesa deArboricultura. Fotos gentilmente cedidas

Arboricultura: evolução e tendências

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Na verdade, o Homem é o mais recente produto bioló-gico de um processo lento e complexo de diversificaçãocrescente da vida na Terra, que se iniciou há mais de4500 milhões de anos. A evolução biológica decorreuem interacção constante com a evolução do planeta,condicionando-se mutuamente até aos nossos dias,onde qualquer abalo telúrico abre os jornais televisivosde todo o mundo.

Da história remota da Terra e dos seres que a habita-ram, poucos testemunhos chegaram até hoje às nossasmãos. Essas relíquias, por vezes únicas, incorporadasem objectos geológicos sujeitos a todo o tipo de utili-zação e consequente destruição, são tudo o que nosresta para interpretar os fenómenos que modelaram oplaneta ao longo de milhões de anos, e que permitiramo aparecimento dos únicos seres capazes de alcança-rem esse conhecimento: o Homem.

Geoconservação: um apelo à memória do planeta

O Património Geológico de um país corresponde aoconjunto de locais que, pela sua singularidade e repre-sentatividade, constituem testemunhos incontornáveisna interpretação e reconstituição dos fenómenos quemodelaram a Terra e que permitiram a ocorrência dediferentes formas de vida no planeta, hoje conservadassob a forma de fósseis.

Em Portugal afloram alguns locais com esta relevânciapara a reconstituição da memória da Terra, cuja con-servação e utilização didáctica se encontram bastantecomprometidas. A carência de instrumentos legais, ainoperância das instituições responsáveis pela conser-vação da Natureza e a falta de consciência do cidadão

em geral para a geoconservação colocam-nos na caudada Europa, no que toca à salvaguarda do PatrimónioGeológico Português. A comercialização indiscriminadade fósseis portugueses é disso um mero exemplo. Osextraordinários afloramentos de calcário do CaboMondego, apenas para referir um caso concreto, queconstituem uma referência mundial para um determi-nado intervalo de tempo geológico, apesar de estaremclassificados pela União Internacional das CiênciasGeológicas com base no seu elevado valor científico,estão há mais de 20 anos a aguardar a necessária clas-sificação nacional, correndo o risco de serem integral-mente consumidos no fabrico de cimento.

A ProGEO em Portugal

Em 1993 foi criada a Associação Europeia para aConservação do Património Geológico - ProGEO, umaONG sedeada na Suécia, cujos objectivos são, entreoutros:

– a promoção de uma política europeia integrada deGeoconservação;

– o reconhecimento, categorização e documentaçãode locais com interesse geológico segundo uma baseunificada, definindo a conservação desses locaisnuma perspectiva europeia;

– a disponibilização de informação e aconselhamentoem todas as matérias relacionadas com aGeoconservação;

– a organização e a condução de projectos de investi-gação com os objectivos acima indicados;

– a promoção da consciência pública para aGeoconservação e suas aplicações;

– o incremento das trocas de ideias e informaçãosobre Geoconservação através da promoção deencontros e conferências, edição de publicaçõesperiódicas e outras, bem como de todas as formascapazes de permitirem alcançar os objectivos daAssociação.

Desde 2000 que Portugal está representado naProGEO, através de um grupo nacional que procurapromover os valores proclamados pela Associação(mais informações em http://www.geopor.pt/progeo).

Os representantes nacionais da ProGEO são José Brilha(Universidade do Minho), Maria Helena Henriques(Universidade de Coimbra), Mário Cachão (Universidadede Lisboa), Miguel Ramalho (Universidade de Lisboa).�

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Verão 2003 Parque Biológico 41

O Homem muito depois da TerraA história do Homem não pode ser dissociada da história do planeta que habita, aTerra

As arribas do Douro, um exemplo de património geomor-fológico do Parque Natural do Douro Internacional

(Miranda do Douro)

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42 Parque Biológico Verão 2003

O vereador do Ambiente de Vila Nova de Gaia, Poças Martins, abriu a ceri-mónia palestrando sobre a ETAR a ser inaugurada na altura, assim que sedeu por concluída uma breve visita às instalações deste equipamento queserve cerca de 80 mil pessoas.

A esta Estação juntam-se outras três — a de Gaia Litoral, de Crestuma e doAreinho — com que a autarquia pretende consolidar o Sistema deSaneamento gaiense.

Após a cerimónia, as individualidades deslocaram-se ao Parque Biológico deGaia, onde almoçaram.

Rio Febroscom Estação de Tratamento

O Presidente da Câmara Municipal de Gaia inauguroua Estação de Tratamento de Águas Residuais (ETAR)do rio Febros no passado dia 30 de Julho, de manhã,na companhia do ministro das Cidades, Ordenamentodo Território e Ambiente, Amílcar Theias

Visita à Estação de Tratamento de Águas Residuais(ETAR) no decurso da sua inauguração

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Verão 2003 Parque Biológico 43

A popularidade tem destas coisas. Onde se deslocaum craque desta envergadura, o tumulto cresce.Mas é bom, sobretudo tratando-se de alguém quecausa admiração no melhor de todos os sentidos.

Dia 28 de Julho, segunda-feira ao fim da tarde, pre-cisamente no dia seguinte à apresentação da equi-pa de futebol do Futebol Clube do Porto para2003/2004, o famoso guarda-redes Vítor Baía esti-cou as pernas na companhia dos filhos, fazendouma visita ao Parque Biológico de Gaia. No final dopercurso, uma foto para os leitores desta revista!

Vitor Baíano Parque Biológico

Luís Filipe Menezes, presidente da Câmara de Vila Nova de Gaia, pronuncia-se na inauguração da ETAR

Poças Martins sintetiza o modelo de funcionamento da ETAR

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44 Parque Biológico Verão 2003

Com vista a cumprir as metas esta-belecidas no protocolo de Kioto* emrelação às emissões de poluentespara a atmosfera foi recentementelançada a campanha «Água quentesolar» para Portugal. Esta campanhadestina-se a incentivar o uso de pai-néis solares activos, que são umadas formas mais económicas deaproveitamento da energia solar.Esta tecnologia é já bastante conhe-cida em Portugal: quase todos ospainéis solares que vemos instaladosem habitações são deste tipo. Foiuma tecnologia bastante aplicada,mas tem sido esquecida porquemuitas vezes as instalações erammal concebidas e o sistema não fun-cionava correctamente. Actual-mente, e no seguimento desta cam-panha, tenta-se mudar este cenárioatravés da formação especializadados instaladores, certificação domaterial e das empresas.

Este processo de credibilização datecnologia solar é acompanhado poruma obrigatoriedade de garantia doequipamento de pelo menos seisanos, permitindo a amortização doscustos da instalação. O elevadoinvestimento inicial é o principalobstáculo para a implantação nomercado desta tecnologia.

Nesse sentido estão a ser promovi-dos benefícios fiscais para quemimplemente este tipo de soluções,que podem chegar, aos 30 %, até aomáximo de 700 €, permitindo umprazo de amortização inferior.

Este programa reveste-se da maiorimportância para o nosso país, emprimeiro lugar porque permite aredução da nossa alta taxa dedependência externa de energia(80%); por outro lado promove aqualidade de vida, permitindo umaredução de muitas toneladas de CO2na nossa atmosfera. Sob o ponto devista económico é também vantajo-so porque permite reduzir os custosassociados ao aquecimento deáguas sanitárias, que corresponde auma fatia considerável nos custosenergéticos de um edifício. Portugalé um país privilegiado em relação àdisponibilidade de radiação solar e,no entanto, a taxa de penetraçãodeste tipo de energias renováveis ébastante baixa quando comparadacom outros países com disponibili-dades solares muito inferiores.

Por exemplo, em Portugal, de 1975até 1999 instalaram-se cerca de219.000 m2 de painéis; no mesmotempo, na Alemanha, instalaram2.290.000 m2.

Existem vários tipos de sistemassolares activos, cada um com carac-terísticas próprias que o torna maisadequado a cada situação particular,uma vez que tem rendimentos epreços diferentes.

Os painéis mais comuns para habi-tação são planos com ou sem cober-tura. Recentemente foi tambémapresentado o sistema CPC –

Concentrador Parabólico – que con-centra a energia nos tubos ondepassa o líquido, aumentando o ren-dimento do painel que, para um sis-tema bem dimensionado, emPortugal fornecerá cerca de 60 a70% das necessidades energéticasanuais de aquecimento de água. Osistema deverá contar com umdepósito de forma a manter a tem-peratura da água, devido ao desfa-samento da hora do aquecimento ede consumo. Deverá também estarmunido de um sistema de apoioenergético pois, em determinadasalturas do ano, a radiação disponívelnão é suficiente para suprir asnecessidades energéticas de aqueci-mento.

Poderá ser um termoacumuladoreléctrico ou um esquentador, desdeque compatível com o sistema solar.

Com este tipo de equipamentosaproveitamos muitos kWh de ener-gia disponibilizada gratuitamentetodos os dias.

Contactos

www.aguaquentesolar.com

www.spes.pt

www.energiasrenovaveis.com

* O protocolo de Kioto foi assinado pelonosso país e é um instrumento legal queestabelece os limites de poluentes liber-tados por cada país para a atmosfera.Texto: Francisco Saraiva (Arquitecto)

j a n e l a

Energia solar em sua casa

Com o lançamento da campanha «Água quente solar» torna-se mais uma vez notória aimportância das energias renováveis no dia-a-dia

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Verão 2003 Parque Biológico 45

À sombra da árvore com cheirinho a mar

"Floresta de Provérbios: árvores e frutos na LínguaPortuguesa", de Manuela Ramos

Agrupa o livro textos relacionados com as árvores e osseus frutos: provérbios, expressões idiomáticas, qua-dras populares, adivinhas, etc.. Explicações sobre a ori-gem e o significado de expressões figuradas, tradiçõese costumes ligados às árvores, entre outras curiosida-des, enquadram a intenção da autora: «Neste livroreuni três temas que me são especialmente caros: asárvores, a língua portuguesa e a cultura tradicional»,diz.

A recolha de material que começou no Inverno de1999 culminou no surgimento deste livro. A autoraprocurou sites portugueses sobre árvores e, não tendoencontrado nada na altura, apeteceu-lhe celebrar aPrimavera do ano 2000, mais concretamente o DiaMundial da Floresta, organizando uma recolha de pro-vérbios sobre árvores.

Como explica a origem de expressões como "o pomoda discórdia", "santo de pau carunchoso", "não pôr opé em ramo verde"? Isto e muito mais é tratado nestaobra.

p a r á g r a f o

"Fauna e Flora do Litoral de Portugal e Europa", deAndrew Campbell, edição FAPAS

Agora que a praia lhe diz para pôr nela o seu pezinho,cuidado com as poças de maré! Com este guia pouco apouco vê-se e compreende-se a quantidade de seresque vivem nestas poças, autênticos aquários naturaisde que desfrutamos à beira-mar.

Mas nem só de algas e de anémonas, de caranguejos ede camarões, de bivalves e de lesmas-marinhas nosfala nas suas páginas: também os peixes mais habi-tuais são referidos, tais como as raias e as patas-roxas,as moreias e as sardinhas, o rascasso e outros.

Trata-se de um guia em processo de reedição que dá aconhecer as espécies mais comuns dos ecossistemaslitorais. Se tem filhos, leve-o e use-o entre mergulhos.

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Temos, aqui no Parque, um

sítio encantado.

Temos uma enorme árvore

e sob ela há um lindo banco

de madeira e em frente um

gigante livro de histórias,

daquelas que gostamos de

ouvir à noitinha para

adormecermos melhor!

Foi plantada, já há alguns

anos por alguns adultos e

muitas crianças, mas tudo

foi feito com tanto carinho

que essa força e amizade

ficou impregnada desde a

raiz até às folhas. E, ainda

hoje conseguimos sentir

esse "cheiro" tão especial

que têm todas as coisas

que são feitas com muita

união!

Essa árvore está rodeada

de um enorme manto verde

com vários tons,

tingido por uns cheiros

de hortelã, alfazema,

lúcia-lima...

Quase sempre lá está

alguém a refugiar-se

dos barulhos

estridentes. É um sítio

especial, aliás muito

especial!

Conta a lenda que se ao

lado dela nos colocarmos e

num desejo pensarmos ela

procurará ler o nosso

pensamento e realizá-lo.

Claro que a ajuda dos

gnomos é fundamental: são

uns seres muito pequeninos,

A nossa Árvore dos Sonhos

46 Parque Biológico Verão 2003

i n f â n c i a

Page 47: Revista 8 - 48 pags

mas com fortes poderes.

De noite quando quase

todos estão a dormir eles

saem das suas folhas

encantadas e numa alegria

constante rodeiam a

árvore, a sua protectora, e

segredam-lhe tudo a

quanto assistiram nesse dia,

os desejos que

ouviram, as lágrimas e

os risos que sentiram.

E, quase numa

algazarra, tentam

distribuir as várias

tarefas para que, nessa

mesma noite, com

todas as suas forças e

os seus pozinhos

mágicos, realizem os tão

sonhados desejos.

Depois de tudo decidido é

tempo de festa e música e

com folhas, paus,

sementes, cordas, fios de

cabelo, e alguns gestos de

magia, a melodia começa

a soar e a ser levada a

galope do vento.

Todo o Parque fica

envolvido num

encantamento total, numa

tranquilidade deliciosa,

quase mágica!

É um verdadeiro mundo,

este da árvore dos sonhos,

onde todos podem entrar e

procurar o seu cantinho e é

extraordinário como quase

passa despercebido.

Por Rita Valente

Pinturas de Rita e Joana, ambas de 13 anos deidade

Verão 2003 Parque Biológico 47

Page 48: Revista 8 - 48 pags

Foto

da

Esta

ção Verão

O sol acende o marno caule da manhã.

o relógio da velha estaçãoencalhou no tempo

na aba dourada das horasa chama de uma tulipa

emerge no abandono da casa.

e o vento penteia as crinas incendiadas dos barcos.

josé efe

Foto: Gaspar de Jesus