Revista 8

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SUMÁRIO06 | POR EXEMPLODesenvolvimento e Cidadania Petrobras | Taxade carne | Resenha do livro de Roberto Reich

20 | MUNDO DO TRABALHOTerceirização sem precarização é possível

34 | RESPONSABILIDADESOCIAL

ISO 26000: adiamento da consolidação dasdiretrizes para 2010

38 | ENSAIO FOTOGRÁFICOSímbolos do Natal: luzes e imagens

42 | INCLUIRFundação Banco do Brasil premia bonsexemplos de Tecnologias Sociais

52 | AMBIENTEMalwee carbono neutro | Documentário ‘AÚltima Hora’ | Fórum Amazônia Sustentável

58 | AGENDA GLOBALRelatório mostra avanço do Brasil nas Metas doMilênio

60| ENTREVISTAPresidente do Instituto Akatu fala do movimentoem prol do Consumo Consciente

64 | SOLUÇÕESEco Lápis | Obra pública ecológica | ‘Bio jóias’ |Lava carro sem água

66 | MEU MUNDOO ator e produtor orgânico Marcos Palmeira dáuma aula de cidadania e respeito pelo planeta

EXPEDIENTE

Os artigos e reportagens assinados não representam, necessariamente, o ponto de vista dasorganizações parceiras e da revista Primeiro Plano. A divulgação do material publicado épermitida (e incentivada), desde que citada a fonte.

CARTAS

Diretor:

Odilon Luís FaccioEdição:

Sara Caprario (MTe/Sc 625-JP)Redação:

Sara Caprario, Vanessa Pedro (MTe/Sc 831-JP),Alessandra Mathias

Edição de Arte:

Maria José H. Coelho (Mte/Pr930)Diagramação e arte:

Sandra Werle(MTe/Sc 515-JP),Assistentes de diagramação e arte:

Jaisse Barcellos Pichinin e Leo BrettasFotografia:

Luciene Bittencourt Kumm, Sérgio VignesColaboradores:

Cássio Trunklz, Clemente Ganz Lúcio, Clóvis Scherer, Larissa Barros,Michelle Lopes, Marco Piva, Paulo Itacarambi, Pieter Sijbrandij,Ronaldo Baltar, Victorio Mattarozzi.

Secretaria :

Lilian FranzDistribuição:

Mônica Funfgelt

Parceiros Institucionais

Banco do Estado de Santa Catarina (BESC) Departamento Intersindical de Estatísticas eEstudos Socioeconômicos (Dieese) s Fundação Vale do Rio Doce (FVRD) Instituto deManejo e Certificação Florestal e Agrícola (Imaflora) Instituto Observatório Social InstitutoEthos de Empresas e Responsabilidade Social Rede de Tecnologia Social (RTS)

Prezados,

Agradecemos o envio da publicação, enriquecendo e con-tribuindo assim para o crescimento intelectual de nossosleitores com informações valiosas e importantes. Aprovei-tamos o ensejo para parabenizá-lo, estendendo-se a suaequipe, pelo material apresentado.Cordialmente,Prof. Roque Antônio MatteiPresidente da AMPESC

Olá

Achei muito interessante a Revista e a reportagem falandosobre as empresas automobilísticas.Estou concluindo o curso de graduação em administraçãode empresas e este documento irá contribuir bastante emminha monografia.Fico muito grata em poder obter este exemplar em minharesidência desde já agradeço pela sua atenção.

Grata,Aparecida P. Gomes - São Paulo - SP

R João Pinto, 30, Ed. Joana de Gusmão, s 803 - Fpolis - SC - Brasil - 88010-420F: (48) 3025-3949 / Fax:3028-4615 [email protected]

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10ÍNDICE DE SUSTENTABILIDADE

PLANETA CONSUMO CONSCIENTE

A demanda por moradias está sendorepensada em prol da sustentabilidade

Mel e castanha de caju saem dainformalidade para atravessar o mundo

Série de reportagens: legislação,possibilidades e mercado

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V

apresentação

amos entrar no terceiro ano da Revista PrimeiroPlano e apesar de ainda estarmos aprendendo aandar com firmeza, estamos cheios de planos.Contamos com um site na internet que estará

permanentemente em evolução para garantir a difusão dasnossas reportagens e interagir rapidamente com o público.Além disso, a consolidação da Revista nesses dois anos deexistência permitiu inúmeras parcerias que nos dão possibi-lidades a médio e longo prazos.

Estamos otimistas com o desafio, afinal o terreno fértildas boas práticas está rendendo frutos em todos os cantosdo país, como no Piauí, onde a repórter Vanessa Pedro este-ve a convite da Fundação Banco do Brasil para conhecer aprodução de castanha de caju e mel. A matéria está na seçãoque inauguramos nessa edição, batizada de Desenvolvi-mento Local.

Outra novidade é a série de reportagens sobre energiasrenováveis. A jornalista Alessandra Mathias convive com oassunto há muito tempo e nos brinda com uma matéria ge-ral, com dados do Brasil e de outros países, e com informa-ções sobre a legislação a respeito do tema. Nas próximasedições iremos abordar especificamente as fontes de ener-gia limpa, como a solar, a eólica, de biomassa ou hidroeletri-cidade. Essa área não é apenas assunto de roda de cientis-tas ou de engajados, é negócio e movimenta a economia.Assim como a lista das empresas que fazem parte do Índicede Sustentabilidade Empresarial (ISE) da Bovespa, que aten-dem requisitos de sustentabilidade sem deixar de crescer egerar riquezas. O assunto está na matéria principal dessaedição.

Mas para encerrar o ano de 2007 escolhemos como capao tema Consumo Consciente, um apelo que ganha adeptosa cada minuto e que talvez seja a ponta mais visível de todoo movimento para minimizar os impactos da humanidadesobre o Planeta. Além da matéria, temos a entrevista com opresidente do Instituto Akatu, Hélio Mattar, que faz um ba-lanço das ações e prevê cidadãos mais atuantes no Brasil eno mundo.

Boa leitura!

TERCEIRO ANO

Cada um pode fazer sua parte. Movimentosensibiliza para mudança de atitude

Empresas atuam em todas as dimensõese estão na mira dos investidores

ENERGIAS LIMPAS

CIDADES

PIAUÍ TIPO EXPORTAÇÃO

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por exemplo O planeta em movimento

OInovação nos

Projetos SociaisPrograma Desen-volvimento & Cida-dania Petrobrasteve solenidade delançamento em

Brasília com a presença do presi-dente do Brasil, Luis Inácio Lula daSilva, da ministra interina do De-senvolvimento Social e Combate àFome, Márcia Lopes, do presiden-te do Instituto Ethos, Ricardo Younge Roberto Laureano da Rocha re-presentando o Movimento Nacio-nal dos Catadores. O programacontém diversas inovações quedizem respeito ao processo de di-vulgação, julgamento, escolha eavaliação dos resultados. Por setratar da maior empresa do país,irá influenciar novas tendência naprodução dos projetos sociais.Com a descoberta da reserva depetróleo denominada de Tupi, naBacia de Santos, a Petrobrás de-verá passar da 16ª para a 9ª posi-ção na lista das maiores empre-sas petrolíferas do mundo de acor-do com a suas reservas em bi-lhões de barris. Quanto maior opoder de uma empresa, maiordeve ser a sua responsabilidadesocioambiental.

“Agora vamos dar um passo amais. Nós estamos fazendo umplanejamento estratégico para aatividade social. Até agora era ope-racional, agora temos o horizonteestratégico até 2012, com defini-ção de estratégias e métodos paraatingir os objetivos”, resumiu o pre-sidente da empresa, José SérgioGabrielli.

Transparência

Com objetivo de democratizaro acesso aos recursos a assegu-rar a transparência, haverá a sele-ção pública dos projetos. Um dospontos fortes é a transparência na

1,2bilhão. É o valorque a Petrobas vaiinvestir em proje-tos sociais até2012, sendo 27milhões em 2008.Cada instituiçãopoderá solicitaraté R$ 680 milpara implantação edesenvolvimentodo projeto pelo pe-ríodo de um ano.

O programa social

da Petrobras,

lançado em

novembro,

reorienta o foco da

responsabilidade

para ações com

prazos maiores,

com planejamento

até 2012

divulgação do programa e seleção.Além da divulgação tradicional pelosite, durante o período de inscri-ção, haverá também caravanas emtodos os estados do país para di-vulgar o programa, garantindo oacesso mais equilibrado. Outrainovação é que os profissionaisda imprensa vão participar das eta-pas de julgamento.

“O programa vai contribuir parao desenvolvimento sustentável aovalorizar as potencialidades lo-cais, com ações a curto, médio elongo prazos”, disse o gerente deResponsabilidade Social da Pe-trobras, Luis Fernando Nery.

Negócios

Mas a inovação mais significa-tiva é aliar o projeto social da em-presa com o seu Plano Estratégi-co 2012. Significa aliar o seu cres-cimento ao desenvolvimento sus-tentável. Ao fazer isto, a empresaeleva a um novo patamar os te-mas sociais e ambientais. Essesassuntos deixam os espaços se-cundários para serem ligados di-retamente à direção da empresa.

Temas e Avaliação de Metas - A

Oxfam Internacional,Confederação Naci-onal dos Trabalhado-res na Agricultura(Contag) e Coalizãodo Café da Holandaproduziram uma pu-blicação que registraos principais fatosocorridos no setordo café no Brasil e nomundo nos últimoscinco anos. Os da-dos partem do augeda crise, em 2002,até o momento atu-al, considerando aevolução do merca-do e o que aconteceuno campo. Foram le-vantados números edados da cadeia, erealizadas entrevis-tas com os principaisatores. O documentopretende contribuirpara que os setoressociais importantesda cafeicultura se pre-parem mais e melhordiante de possíveiscrises futuras.A publicação foi im-pressa em portu-guês, para distribui-ção dirigida, e tam-bém nas versõesem inglês e espa-nhol.

CAFÉSUSTENTÁVEL &RESPONSÁVEL

www.contag.org.brwww.oxfam.orgwww.coffeecoalition.org

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escolha das linhas de atuação pri-oritárias dos projetos a serem fi-nanciados reflete o compromissoda empresa com a redução da po-breza e das desigualdades sociais,contribuindo com o fortalecimentodas políticas públicas. Os temasprioritários que serão objeto dosprojetos são a geração de renda eoportunidade de trabalho, educa-ção para a qualificação profissio-nal, garantia dos direitos da crian-ça de dos adolescentes.

“Ao reorientar o eixo, do FomeZero para esse em parceria comas instituições da sociedade orga-nizada, a Petrobras implantou umelemento novo e fundamental queé o investimento com indicadoressociais. Portanto, esse enorme es-forço na área cultural, tecnológica esocial, vai ser acompanhado por in-dicadores de progresso e acompa-nhamento por entidades da socie-dade civil. Isso é extraordinário.Mostra o compromisso da Petro-bras com a transformação do con-junto da sociedade e um avançodas questões sociais que são tãoimportantes no Brasil”, afirmou Ri-cardo Young, presidente do Institu-to Ethos.

Por exemplo, no caso da gera-ção de renda e oportunidades detrabalho, uma meta estabelecida éde 60% de elevação da renda percapita média dos participantes doprojeto. Outra importante meta éque 70% de projetos devem ter pla-nos de negócio estruturados, ouseja, significa concretamente dotaras entidades envolvidas de pers-pectiva de se sustentarem quandoo projeto terminar.

“Stop Fout Vlees” da ONG Amigos da Terradas Holanda, ou mais ou menos assim:

PARE COM A CARNE ERRADA

R$ 2,20 a mais porquilo de carne

A ONG Milieudefensie, Amigosda Terra da Holanda, lançou umainiciativa procurando alternativaspara a criação dos animais das in-dústrias de carne. Embora a Holan-da seja um país pequeno, é o mai-or exportador de carne suína e fran-go da União Européia e o maior im-portador de soja do Brasil no conti-nente europeu.

O que fazer se o consumidor,mesmo consciente, não mudao seu comportamento? O quefazer se sabemos quecomemos muita carne, que ascondições nas quais osanimais são criados deixammuito a desejar e que o setoré um dos maiores emissoresde gás carbônico?

estudo indica também que, emboraa taxa levaria a uma redução de ape-nas 2,5% no consumo interno, ter-minaria com a exportação e induzi-ria a uma burocracia considerável.E, mesmo se a Holanda desenvol-vesse uma pecuária sustentável eresponsável, os paises vizinhos as-sumirão o mercado perdido com umsistema de produção nos moldes

Amigos da Terra Holanda: www.milieudefensie.nl

tradicionais. Considerando esta aná-lise é pouco provável que a propostase torne realidade no curto prazo. Masisso não faz a Amigos da Terra desi-sitir da sua luta por uma agropecuá-ria mais responsável e sustentável.Diante este desafio, o que fazer se oconsumidor, mesmo consciente, nãomuda o seu comportamento?

Como a iniciativa ganhou apoioda população, a proposta entrou naagenda política e, conseqüente-mente, os deputados devem votar amatéria. Órgãos oficiais de plane-jamento analisaram a proposta enão rejeitaram a possibilidade dataxa. A ONG Amigos da Terra ficoucontente com os resultados, mas o

A ONG propõe basicamente o seguinte:* Reduzir pela metade o número de animais de corte* Colocar um limite no tamanho da propriedade- número de cabeças* Limitar a importação de soja, ou aceitar apenas soja cultivadade forma sustentável* Transformar o sistema de alojamento dos animaispara as normas de pecuária biológica* Taxa de imposto de R$ 2,20 por quilo de carne(ou 0,85 euros)* Apoio estrutural do governo na renda dos produtores

Este projeto da Petrobrasinvoluntariamente lança um

desafio à sociedade civilbrasileira: garantir que essa

conduta da empresa vire umapolítica permanente,

independente das alteraçõesde governo.

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RESENHA

Resenha do livro“Supercapitalism:

The Transformationof Business,

Democracy, andEveryday Life”de Robert Reich(Borzoi Books)

Ética, Democracia eResponsabilidade Social Empresarial

Com o título de, “Supercapitalism Su-percapitalism: The Transformation of Bu-siness, Democracy, and Everyday Life “(livro ainda não traduzido no Brasil), Ro-bert Reich lançou nos Estados Unidosseu mais novo livro onde faz diversosquestionamentos sobre a relação entreResponsabilidade Social Empresarial,democracia e capitalismo.

Robert Reich foi ministro do trabalhono governo Bill Clinton e atualmente éprofessor de economia na Universidadede Berkeley - Califórnia. Reich, durantemuitos anos, defendeu a tese de que res-ponsabilidade social e lucratividade ten-deriam a convergir no longo prazo.

Agora, no livro Supercapitalism, eledefende o contrário. Afirma que as em-presas não têm como ser socialmenteresponsáveis, exceto em ações isoladase de pouco alcance social. Para o econo-mista, o discurso em torno da responsa-bilidade social desviou a atenção sobreo que realmente deveria ter importânciapolítica: a exigência de que os governosresolvessem os problemas sociais.

Mas o que é o supercapitalismo? Olivro começa com um paradoxo. Para oautor, nas últimas décadas, os EstadosUnidos viram aumentar o consumo e aconcentração de riqueza. A era de ourodo capitalismo tem sido um período defartura e de empobrecimento.

Supercapitalismo significa uma formade capitalismo supercompetitivo, ondeconsumidores e investidores consegui-ram um poder extraordinário sobre osprodutores. A disponibilidade de informa-ção e de escolhas mudou as relaçõesde mercado. Quanto mais os conglome-rados empresariais crescem em capa-cidade produtiva e presença no merca-do, menos poder detém sobre os preçosdos produtos e serviços. A supercompe-tição leva à redução de preços e preçosreduzidos levam ao aumento do consu-mo. O resultado: mais poder para consu-midores.

Por outro lado, a competição exacer-bada reduz a força dos sindicatos e re-duz também os salários. Quem ganhamsão os consumidores e investidores,perdem os assalariados. A conseqüên-

Por Ronaldo Baltarcia é o aumento da diferença de rendaentre ricos e pobres.

Segundo Reich, a mágica que faz oconsumo crescer, mesmo com diminui-ção da renda dos assalariados, vem doendividamento. Os consumidores quetêm como fonte de renda o salário recor-rem aos bancos, cartões de créditos eoutros tipos de financiamentos para sus-tentar o padrão de consumo. Preçosbaixos, estimulados pela alta concorrên-cia e alta produtividade, somado ao fácilacesso à informação - que permite maiscomparação e escolha de produtos eserviços - mantém os preços em baixae a economia em movimento.

A ação social e ambiental das em-presas faz diferença. Não há no livro umanegação da importância de empresasproduzirem de forma mais limpa, commelhores condições de trabalho, valori-zando a comunidade onde está instala-da, ouvindo as partes interessadas emseu negócio e respeitando os direitos.

As conseqüências sociais do super-capitalimo são o aumento da concen-tração de renda, diminuição dos salári-os e aumento da devastação ambiental.Estas conseqüências sociais negativasdo supercapitalismo precisam de res-postas que não podem ser buscadasno posicionamento moral das empre-sas, como levam a crer as campanhaspela Responsabilidade Social.

Voltar o foco para o debate sobre aregulação das relações de produção ede mercado é defender a democracia eresgatar o papel do cidadão. Reich aler-ta que não somos apenas consumido-res e investidores, acima de tudo somoscidadãos.

Para ler o livro é importante se terem conta que se trata de uma reflexãoonde as opiniões se sobrepõe aos da-dos. É um texto fortemente contextuali-zado na economia dos Estados Unidos,escrito em um contexto político de dis-puta entre democratas e republicados.Mas apresenta proposições que certa-mente irão ajudar recolocar o papel doEstado, da democracia e da cidadaniano debate sobre Responsabilidade So-cial Empresarial.

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CRESCER COM

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A DIFERENÇA DAS EMPRESASQUE FAZEM PARTE DO ÍNDICE DE

SUSTENTABILIDADE EMPRESARIAL DABOVESPA ESTÁ NA FORMA DE UNIR

CRESCIMENTO COM RESPONSABILIDADE.QUEM ATUA DIALOGANDO COM TODA A CADEIA ECONSEGUE BONS DESEMPENHOS FINANCEIROS

ESTÁ NA MIRA DE INVESTIDORES.

VALOR

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ÍNDICE DESUSTENTABILIDADE

EMPRESARIALFAZ A DIFERENÇA

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O ambiente de negócios mudou. Asrelações vão além da cadeia produti-va, consumidores e investidores. Asorganizações não governamentais egrupos de compradores são algunsdos novos exemplos de atores consi-derados importantes para o mercado.Portanto, as empresas que conseguemmanter bons desempenhos em todasas dimensões da atuação empresarialestão na frente, sendo coincidente-mente aquelas que implantaram uma

política de responsabilidade social sériae efetiva no planejamento estratégico.

A própria sustentabilidade da em-presa e a preocupação da mesma como desenvolvimento sustentável do pla-neta não podem mais seguir caminhosparalelos e muitas grandes empresasestão conseguindo juntar crescimen-to com responsabilidade. “O primeiropasso é estar convencido de que é im-portante manter uma agenda de sus-tentabilidade”, diz Carlos Alberto.

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QUEM ESTÁ NO ISE

As empresas da nova carteirado ISE foram selecionadas entreas 62 empresas que responderamao questionário desenvolvido peloCentro de Estudos em Sustentabi-lidade (GVCes) e enviado às 137companhias emissoras das 150ações mais líquidas da Bovespa.Estas são as empresas que com-põem a nova carteira, que vigoraaté o dia 30 de novembro de 2008:

• AES TIETE

• ACESITA• ARACRUZ

• BRADESCO• BANCO DO BRASIL

• BRASKEM• CCR RODOVIAS

• CEMIG• CESP

• COELCE• COPEL

• CPFL ENERGIA• DASA

• ELETROBRAS• ELETROPAULO

• EMBRAER• ENERGIAS BR

• GERDAU• GERDAU MET

• IOCHP-MAXION• ITAU

• LIGHT S/A• NATURA

• PERDIGAO S/A• TRACTEBEL

• PETROBRAS• SADIA S/A

• SABESP• SUZANO PAPEL

• SUZANO PETR• VOTORANTIM

CELULOSE E PAPEL• WEG

Roxo, diretor de Sustentabilidadeda Aracruz, empresa florestal e indus-trial de celulose, que pela terceira vezestá na lista do Índice de Sustentabili-dade Empresarial (ISE), indicador com-posto de ações emitidas por empresasque apresentam alto grau de compro-metimento com sustentabilidade e res-ponsabilidade social, uma iniciativa daBOVESPA e consiste em um índice desustentabilidade empresarial nos mol-des dos índices como Dow Jones Sus-tainability Indexes (DJSI), FTSE4GoodSeries e Johannesburg Stock Exchan-ge SRI Index. A metodologia do índiceno Brasil foi desenvolvida pelo Centrode Estudos em Sustentabilidade da FGV– EAESP (GVces). Apesar de algumascontrovérsias na seleção das empre-sas, o que fez o Conselho do ISE reveros indicadores a cada final de ano, oISE pretende virar referência para in-vestidores que preferem aplicar em ati-vos de empresas que seguem os pre-ceitos de responsabilidade social eambiental. Na média, a carteira do ISEtem sido bastante rentável desde quefoi criada, em 2005 (veja quadro)

Na década de 90 é que iniciou-seuma tendência mundial dos investido-res procurarem empresas socialmenteresponsáveis, sustentáveis e rentáveispara aplicar seus recursos. Tais apli-

Antes da aprovação das empresas que farão parte do ISE, é feitauma consulta pública do questionário para avaliação da sustenta-bilidade das empresas candidatas. Os interessados em participarda consulta têm cerca de um mês para enviar comentários e su-gestões para a elaboração da versão final do documento. É reali-zada também uma audiência pública presencial de esclarecimen-to sobre o questionário. Ao fim da audiência, o GVces elabora, combase nas contribuições recebidas, o questionário final, que serásubmetido à aprovação do Conselho Deliberativo do ISE (CISE) e,posteriormente, encaminhado às empresas emissoras das 150ações mais líquidas da Bovespa. O objetivo da audiência pública éestimular a participação do mercado e da sociedade na discussãosobre o índice brasileiro que reúne as empresas comprometidascom sustentabilidade.

cações, denominadas “investimentossocialmente responsáveis” (“SRI”),consideram que empresas sustentá-veis geram valor para o acionista nolongo prazo, pois estão mais prepara-das para enfrentar riscos econômicos,sociais e ambientais.

Em dezembro passou a vigorar anova carteira e nesta segunda renova-ção de portfólio, ingressaram os ati-vos de sete companhias: AES Tietê,Cesp, Eletrobrás, Light S/A, Sabesp,Sadia S/A e Weg. Ao mesmo tempo,outras oito empresas tiveram seus ati-vos excluídos: ALL América Latina,Celesc, Gol, Itaúsa, Localiza, Tam S/A,Ultrapar e Unibanco. Os critérios deinclusão e exclusão seguem requisitosfinanceiros de participação na Bolsa eos de sustentabilidade (veja quadro).

Empresas como a Natura, que semantiveram na carteira desde o início,revelam que paradoxos entre lucro eprincípios de sustentabilidade são coi-sas do passado. Os dois assuntos po-dem conviver e estar na mesa dos exe-cutivos como primordiais para a sobre-vivência. Na Natura a receita bruta de2006 foi na ordem de R$ 3,9 bilhões,um crescimento de 19,9% em relaçãoao ano anterior. Somente nas opera-ções internacionais da empresa, a re-ceita bruta aumentou 44,3%. E os nú-

CONSULTA PÚBLICA FAZ PARTE

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meros que significam mais produção,mais empregos e, portanto, mais impac-to na sociedade e no meio ambientecomo um todo, são guiados pela cons-tante preocupação em manter e evo-luir os princípios da sustentabilidade.“O compromisso perene nos permitiu

assumir responsabi-lidades como a deneutralizar todas asemissões de gasescausadores de efeitoestufa a partir de2007”, afirmou Ales-sandro Carlucci, dire-tor-presidente da Na-tura.

Eduardo Luppi,vice-presidente de Inovação da Natu-ra, aponta que o amplo caminho per-corrido pela empresa desde sua fun-dação no cuidado e respeito com omeio-ambiente, matéria-prima dos seusprodutos finais, é um diferencial impor-tante para hoje conseguir superar de-safios como a neutralização das emis-sões de gás carbônico. “Acreditamosque a redução dessas emissões trazmuito mais benefícios do que as açõescompensatórias, portanto nossa estra-tégia é reduzir 33% das emissões emum prazo de cinco anos”, disse Luppi.O restante será compensado atravésde projetos de reflorestamento e de de-senvolvimento de fontes de energia re-novável. Para avaliar o real impactodas suas atividades, a Natura inicial-mente utilizou os padrões do Gree-nhouse Gas Protocol Initiative (GHGProtocol), que é a ferramenta mais uti-lizada internacionalmente para conta-bilizar as emissões dos gases. Esseprotocolo estabelece alguns critériosde mapeamento, envolvendo as emis-sões diretas e indiretas. No seu inven-tário, a Natura foi além desse critério,adotando a abordagem do ciclo de vidado produto, considerando as emissõesde todas as etapas da sua cadeia pro-dutiva. Esse levantamento apontou 270mil toneladas de C02 equivalentes emi-tidas pela empresa ao longo de 2006.

“Assim como o inventário das emis-sões, o sistema de compensação tam-bém será auditado por verificadoresexternos, contratados entre empresasque oferecem serviços no mercado in-ternacional”, lembrou o vice-presidente.

A decisão de contabilizar e neutra-lizar as emissões de gases causadoresde efeito estufa foi anunciada pela altaadministração da empresa, numa clarademonstração que os processos fazemparte do planejamento estratégico eservem como incremento na propostade valor da Natura. A empresa prevêganhos de produtividade e reforça ocompromisso com esse novo modelode negócios capaz de criar valor supe-rior nas dimensões econômica, sociale ambiental.

E esse criar valor deve estar mes-mo em toda a estrutura da empresa,afinal, os consumidores já conseguemdistinguir com mais facilidade o que éjogada de marketing e o que realmentefaz parte dos princípios da empresa.Uma pesquisa da Market Analisys re-

alizada para ve-rificar a relaçãode confiança en-tre a populaçãoem uma empresae o seu presi-dente, mostraque 87% dos bra-sileiros têm maiorrespeito por umaempresa quando

o presidente fala abertamente em fa-vor de ações de responsabilidade so-cial e ambiental. “O questionamento jánão é apenas o que a companhia fazpelo cliente, mas também o que o CEOpode fazer por uma sociedade melhor”,

NÚMEROS DACARTEIRA DO ISE

2007/2008- 40 ações emitidas por 32empresas de 13 setores

- Totalizam R$ 927 bilhõesem valor de mercado

- Esse montante corres-ponde a 39,6% da capita-lização total da Bovespa,que atualmente é de R$ 2,3trilhões.

2006/2007- A carteira anterior con-tava com 42 ações de 33companhias e 14 setores

- Eram R$ 996 bilhões emvalor de mercado (42,6% dototal da Bovespa).

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PRINCIPAIS CONJUNTOS DE CRITÉRIOS PARA ESTAR NA

CARTEIRA DO ISE:

•Políticas (indicadores de comprometimento);•Gestão (planos, programas, metas e monitoramento);•Desempenho (indicadores de performance);•Cumprimento Legal (cumprimento de normas nas áreas ambiental,trabalhista, de concorrência, junto ao consumidor entre outras).

INTEGRANTES DO CONSELHO DO ISE:

•Associação Brasileira das Entidades Fechadas de PrevidênciaComplementar (Abrapp);•Associação dos Analistas e Profissionais de Investimento do Mercadode Capitais (Apimec);•Associação Nacional dos Bancos de Investimento (Anbid), InstitutoBrasileiro de Governança Corporativa (IBGC);•Instituto Ethos de Empresas e Responsabilidade Social;•International Finance Corporation (IFC);•Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA);•Bovespa;•Ministério do Meio Ambiente

Como funciona

diz Fabián Echegaray, cientista políti-co e diretor da Market Analisys.

Numa outra pesquisa que o Insti-tuto Akatu deve divulgar em fevereiro,a tendência dos consumidores revela-se em optar por empresas que tenhamações de responsabilidade na práticae não apenas no discurso, ou seja, háum avanço significativo na percepçãodas ações que fazem a diferença emprol da sustentabilidade.

E essa consciência mais clara deque estruturar programas consisten-tes relacionados ao desenvolvimentosustentável leva tempo está se conso-lidando nas empresas. Na Aracruz oapoio veio com a contratação da Sus-tainability, uma consultoria norte ame-ricana reconhecida mundialmente pe-las pesquisas no setor. “Desde quemontamos um plano bem estruturado,em 2004, até hoje, estamos em cons-tante aperfeiçoamento mas já temosresultados surpreendentes. Somos aúnica empresa florestal no mundo den-tro da carteira de ações do Índice Dow

Jones, em 2006 e 2007”, conta CarlosAlberto Roxo.

A empresa tomou uma série de de-cisões que mudou aspectos importan-tes como o relacionamento com seusstakeholders, em especial as comuni-dades onde atua, além da maneira deatuar em momentos de crise. “A maiorrentabilidade vem com o menor risco epor isso levamos muito a sério a nossaagenda de sustentabilidade”, diz o di-retor. A Aracruz criou um Comitê deSustentabilidade dentro do Conselhode Administração, com dois membrosindependentes, e está em fase final deestruturação do Instituto Aracruz Bemde Raiz, para cuidar apenas dos proje-tos sociais. (leia mais no quadro)

Na Celesc, empresa de distribuiçãode energia de Santa Catarina que esta-va na carteira do ISE de 2006/2007, maisde 20% dos integrantes do Conselhode Administração são independentes.Segundo o diretor Econômico-Finan-ceiro Arnaldo Venício de Souza, a em-presa zela por atuar de forma rentável

no mercado e em contribuir para o de-senvolvimento sustentável da socie-dade. “Somos um exemplo de gestãopública no país e os investimentos daEmpresa são realizados a partir de es-tudos que consideram, prioritariamen-te, o crescimento socioeconômico dapopulação e estão focados, sempre, nomenor impacto ambiental”.

Como prestadora de um serviçopúblico indispensável, a Celesc temcomo foco a eficientização energética,mas com ações de cidadania e de polí-tica ambiental, através de mais de 50projetos em três linhas de atuação:Construção da Cidadania e InclusãoSocial, Educação e Meio Ambiente,Saúde e Qualidade de Vida. O Progra-ma Celesc de Responsabilidade Socialsegue as orientações do Instituto Bra-sileiro de Análises Sociais e Econômi-cas – IBASE e do Instituto Ethos deResponsabilidade Social.

“Esse Programa está na nossa mis-são e valores, e internalizou o concei-to de desenvolvimento sustentável

O ISE foi criado emdezembro de 2005 e

formulado com base noconceito internacional

Triple Botton Line (TBL)que avalia, de formaintegrada, elementosambientais, sociais e

econômico-financeiros. Aosprincípios do TBL, foramadicionados outros três

indicadores: governançacorporativa, características

gerais e natureza doproduto.

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PrimeiroPLANO . ano 2 . no8 . dezembro 2007PrimeiroPLANO . ano 2 . no8 . dezembro 2007

As ações integrantes do ISE são selecionadas entreas mais negociadas na Bovespa em termos de

liquidez e ponderadas na carteira pelo valor demercado dos ativos disponíveis à negociação. O

índice é revisado anualmente com base nosprocedimentos e critérios aqui apresentados.

ISE na Bovespa

RENTABILIDADE DO ISE

1/11/2005200520062007

ÍNDICE DEFECHAMENTO

NOMINAL

4,0137,8235,01

453,10444,35670,45

1.084,99

1.000,001.040,081.433,421.935,30

VARIAÇÃOANUAL

NOMINAL

ANOÍNDICE DE

FECHAMENTOEM US$

-1,9350,8861,83

VARIAÇÃOANUALEM US$

CRITÉRIOS DE INCLUSÃO

a) Ser uma das 150 ações commaior índice de negociabilidadeapurados nos doze mesesanteriores à reavaliação.b) Ter sido negociada em pelomenos 50% dos pregõesocorridos nos doze mesesanteriores à formação dacarteira;c) Atender aos critérios desustentabilidade apurados noquestionário preenchidoanualmente.

CRITÉRIOS DE EXCLUSÃO

a) Se a empresa emissora entrarem regime de recuperaçãojudicial ou falência.b) No caso de oferta pública queresultar em retirada decirculação parcela significativade ações da empresa domercado.c) Se algum fato alterarsignificativamente os níveis desustentabilidade eresponsabilidade social daempresa, caberá ao Conselho doISE avaliar sobre sua exclusão.d) Se na revisão anual aempresa não atender aoscritérios de sustentabilidadeapurados no questionário.

Arnaldo Venício de Souza, diretor da Celesc

nos negócios. Desde 2006 somos sig-natários do Global Compact/Pacto Glo-bal; do Pacto Nacional Contra o Tra-balho Escravo; do Pacto Empresarialpela Integridade e Contra a Corrupção,e do Pacto Nacional Contra a Explora-ção Sexual Infanto Juvenil nas Rodo-vias”, destaca Arnaldo.

O diretor diz que é possível cres-cer, ter resultados econômicos, e man-ter os índices de sustentabilidade comvisão de longo prazo. “A Celesc, pelacaracterística do seu negócio, só semantém perene se, ao longo do tempo,for responsável com a sociedade e omeio ambiente. O crescimento susten-

tado é resultado de um ciclo de cresci-mento econômico constante e dura-douro, assentado em bases conside-radas estáveis e seguras. E, quando sefala em energia elétrica, as bases con-sideradas estáveis e seguras são aspráticas responsáveis com o meio am-biente e com o social. Os valores daempresa devem estar alinhados aotema, este é um dos alicerces da em-presa”, resume o diretor.

As empresas que integram a car-teira do ISE devem possuir no diálogotransparente e ético o principal pilarpara desenvolver os aspectos econô-micos, sociais, ambientais e culturais

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na condução dos negóciosda empresa. No Brasil a ima-gem corporativa é associa-da à capacidade de resolverproblemas sociais. Uma pes-quisa da Market Analisyscom cerca de mil habitantesem oito países revela umgrande percentual da popu-lação atribui às empresas enão ao governo o papel desolucionar questões sociais.Enquanto nos Estados Uni-dos o índice é de 20%, naFrança 23% e na China 26%,no Brasil 65% dos pesquisa-dos acreditam que as empre-sas também devem colabo-rar em áreas como seguran-ça, saúde e educação. Na Ar-gentina esse percentual é de51%, na Rússia 47%, noMéxico 44% e na Alemanha28%.

Não se pode esperar queas corporações resolvam osproblemas do mundo, masao aliar parâmetros de lucra-tividade aos mecanismos deresponsabilidade social eambiental o ISE constrói umanova história na política deinvestimentos. Ao assegurarque tais empresas seguem al-guns requisitos e indicado-res, o ISE facilita a tomadade decisão por parte do in-vestidor engajado ou não emovimenta o mercado emprol de uma agenda positivade sustentabilidade.

DIÁLOGO

ABERTO

O mercado em que a Aracruz está inserida mu-dou muito nos últimos anos. Uma empresa flo-restal que precisou acompanhar rapidamentemuitas mudanças no setor e superar desafiosde relacionamento num ambiente de negócios

que vai além dos fornecedores, funcionários, clientes e gover-nos. “Nossas relações com ONGs, grupos de compradores,investidores e comunidade estão muito mais abertas. Temosum plano estruturado para lidar com todas as partes interes-sadas, provendo informações e principalmente ouvindo maiso que todos têm a nos dizer”, diz Carlos Alberto Roxo, diretor deSustentabilidade da Aracruz.

As questões de governança corporativa permitem transpa-rência nas ações e uma série de decisões tomadas com acom-panhamento da consultoria da Sustainability transformaram odia-a-dia da empresa no início deste século. “Fizemos treina-mento com 80 pessoas da diretoria para que o engajamentofosse efetivo e o diagnóstico realizado nos ajudou a transfor-mar em rotina vários procedimentos”, conta o diretor. As partesinteressadas ao negócio da empresa foram mapeadas parachecar o impacto de cada uma na realidade da Aracruz e vice-versa, como a empresa impacta em cada comunidade ondeatua. “Adaptamos as recomendações à nossa cultura internae percebemos que melhoramos até mesmo na maneira comolidar com situações de crise ou com assuntos consideradosdifíceis”, conta.

A empresa alcança resultados em cima dos principais fato-res do negócio: licenças para operar, que devem ser legais esocialmente favoráveis; acesso ao capital, já que conforme orisco da empresa torna-se mais difícil e aumentam osjuros;manutenção da fatia do mercado; redução de custos, afi-nal antecipa e previne alguns problemas de relacionamentocom os stakeholders; motivação dos empregados, que enten-dem melhor o processo e o que estão fazendo ali; e a imagemda própria empresa, um bem intangível mas que afeta sobre-maneira o valor da organização.

“Antes estávamos atuando bem mas inserida num contex-to apenas nosso, hoje estamos inserida no mundo com ambi-ente favorável para o crescimento responsável e de longo pra-zo”, resume o diretor.

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Opinião

VICTORIO MATTAROZZI ECÁSSIO TRUNKLZ

Bancos: criandovalor sustentável

Sócios-diretores daconsultoria Finanças

Sustentáveis

Nos últimos anos, principalmente a partir do lançamento dos Princípiosdo Equador, em 2003, tem aumentado o número de iniciativas visando a incorpo-ração da sustentabilidade nos negócios do setor financeiro privado mundial.Especificamente no Brasil, os quatro maiores bancos nacionais (Banco do Bra-sil, Bradesco, Itaú e Unibanco) aderiram a esses Princípios, comprometendo-sea seguir critérios socioambientais no financiamento de operações de projectfinance com custo total acima de US$ 10 milhões.

Do mesmo modo que no setor financeiro internacional, o processo deincorporação da sustentabilidade no mercado financeiro brasileiro tem se de-senvolvido por meio da criação de políticas e produtos específicos com focosocioambiental. O Bradesco, por exemplo, instituiu sua política de responsabili-dade socioambiental corporativa definindo as diretrizes socioambientais para odesenvolvimento das suas atividades, negócios e operações. Outro destaque éo Desenvolvimento Regional Sustentável, estratégia de negócio do Banco doBrasil que visa impulsionar o desenvolvimento sustentável por meio do apoio aatividades produtivas com a visão de cadeia de valor. Essas iniciativas não serestringem aos bancos comerciais, o Banco Nacional de Desenvolvimento Eco-nômico e Social – BNDES possui diversas linhas de financiamento voltadas apromover melhores práticas de gestão socioambiental nas empresas que apóia.Dentre elas destaca-se a linha de Apoio a Investimento em Meio Ambiente queoferece condições especiais para projetos de racionalização do uso de recursosnaturais e de recuperação de passivos ambientais, dentre outros.

O banco que notoriamente tem a sustentabilidade associada a sua estra-tégia de negócios, oferecendo uma crescente linha de produtos e serviços comfoco socioambiental, é o banco Abn Amro. No Brasil, os ativos totais do bancoAbn Amro Real aumentaram de R$ 61,6 bilhões para R$ 120,8 bilhões, respectiva-mente ao final de 2004 e 2006. Nesse mesmo período o retorno sobre o patrimô-nio líquido evoluiu de 17% para 23%, e o banco subiu do 4º. lugar para o 3º. noranking dos maiores bancos privados em ativos totais, demonstrando que éperfeitamente viável conciliar metas socioambientais com metas econômicas naestratégia de negócios do setor financeiro. Provavelmente esses expressivosresultados alcançados pelo banco no Brasil foi um dos fatores que motivou suarecém aquisição pelo banco Santander.

O resultado dessas iniciativas poderia ser avaliado, por exemplo, pela inclu-são das ações dos bancos em índices de sustentabilidade. Os quatro maioresbancos nacionais fazem parte do Índice de Sustentabilidade Empresarial (ISE) daBovespa, desde o seu lançamento em dezembro de 2005. Desses bancos, oBradesco e o Itaú integram a carteira do Dow Jones Sustainability Index (DJSI)da bolsa de Nova York, da qual também faz parte, dentre outros bancos interna-cionais, o Abn Amro.

O exemplo do banco Abn Amro Real não é um caso isolado. Outras insti-tuições financeiras, como aquelas aqui mencionadas, também já perceberam queconciliar ambas as metas não é um fator limitante de crescimento de suas ativida-des, pelo contrário, amplia mercados, minimiza riscos operacionais e gera valor.Incorporar metas de desempenho socioambiental é, entretanto, um processocontínuo que requer do setor financeiro criatividade e agilidade na busca desoluções que visam a sustentabilidade dos seus negócios.

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Qualidade na vidaMUNDO DO TRABALHO

86%das 2850 empre-sas entrevistadasem pesquisa reali-zada pelo CentroNacional de Moder-nização (Cenam)terceirizam servi-ços, sendo 61%por iniciativa pró-pria e os outros39% por meio deconsultoria. O seg-mento teve alta de4,8% no primeirotrimestre desseano em relação aomesmo período doano passado.

A Rede de Trabalha-dores na Basf Améri-ca do Sul obteve umimportante avanço no15º Diálogo Social,realizado em agosto,em Lima (Peru): a ter-ceirização agora éponto permanentede discussão nes-ses encontros. ARede informou àempresa que fará,através das Comis-sões de Fábricas eSindicatos, um Planode Ação contra a Ter-ceirização. O Planoestará dividido emestudos sobre aspráticas, representa-ção dos trabalhado-res terceirizados eproposição de com-promissos da em-presa, como porexemplo, a não ado-ção da terceirizaçãona atividade fim.

Terceirização:necessidade sem

precariedadeuando o tema é ter-ceirização das rela-

ções de trabalho, existe um pontocomum e um consenso. O ponto co-mum: a terceirização é uma necessi-dade complementar para garantir acompetitividade e a qualidade deprodutos e serviços. O consenso:terceirização não pode ser sinôni-mo de precarização do trabalho.

Diante desse quadro, tudo po-deria sugerir harmonia entre traba-lhadores, empresas e governo. Mas,não é bem assim. Para liderançassindicais dos trabalhadores, ao bus-car o menor custo, as empresas to-madoras de serviço abrem brechaspara a precarização. Para liderançasempresariais do setor de serviçosterceirizáveis, ao contratar presta-dores sem comprovar experiência ehistórico legal, muitas empresasdão um tiro no pé e arrastam seusnegócios junto. Com um agravante:as empresas tomadoras de serviçossão solidárias na contratação dasprestadoras. Este exemplo, inclusi-ve, não se limita ao setor privado.São várias as situações onde osgovernos, em seus diferentes níveis,acabam tendo prejuízos pela des-continuidade dos serviços em fun-ção da quebra dos prestadores. Umadas causas, nessa situação, é que ogoverno contrata pelo menor pre-ço, e aí o inferno é o limite para con-quistar o trabalho. Resultado: pre-carização.

A terceirização no Brasil é relati-vamente recente. Teve seu auge noinício da década de 90. Grandes em-presas praticamente fecharam divi-sões inteiras de sua linha de produ-

Por Marco Piva*

ção para entregá-las a terceiros, mo-vimento que provocou um desloca-mento das atividades-meio para ati-vidades-fim. E aí reside o grande pro-blema. Terceirizar alimentação, segu-rança, asseio e conservação é umacoisa. Terceirizar a própria mão deobra é outra, completamente diferen-te. José Augusto de Camargo, oGuto, preside em São Paulo uma dascategorias que foi, segundo ele, aprimeira e uma das maiores vítimasda terceirização: a dos jornalistasprofissionais. “O que veio depois emtermos de precarização, começoucom nossa categoria quando gran-des grupos de comunicação como aFolha (de São Paulo), o Estado (deSão Paulo), iniciaram um movimen-to para desregulamentação da pro-fissão e contra o diploma obrigató-rio”, afirma. Com mais de 80 turmasformadas todos os anos pelas facul-dades de Jornalismo, cerca de doismil profissionais, não fica difícil ava-

PARASUPERAR OSPOSSÍVEISCONFLITOS ARESPEITO DOTEMA, ÉPRECISODEBATE SEMPRECONCEITO

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TEMAPERMANENTE

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Procuro fazer a minha parte. Consumo produtos orgânicos e sou favorável aoconsumo consciente. Mas essa também é uma questão cultural, que envolveuma mudança de hábitos. A cultura poderia ter um papel fundamental naconstrução de políticas de conscientização em benefício do equilíbrio ecológico.São necessárias medidas urgentes para deter a deterioração do planeta e parareduzir o impacto no meio ambiente. É preciso atentar para a importância dosbiocombustíveis, para a necessidade de reaproveitamento da água, dereciclagem do lixo e de redução do consumo de energia

Sérgio Mamberti, Secretário da Identidadee da Diversidade Cultural do Ministério da Cultura

liar o impacto do personagem “PJ”(pessoa jurídica) nas redações, prin-cipalmente quando as empresas já nãose incomodam em contratar gente for-mada em outras áreas.

Numa outra ponta, a da produçãoindustrial, a terceirização veio comforça, mas depois passou por um pro-cesso de reacomodação. Na região doABC, os metalúrgicos, conhecidospelo seu alto grau de organização emobilização, trouxeram para suas lu-tas os próprios trabalhadores tercei-rizados, mesmo que estes não façamparte de sua categoria. “Como esta-mos dentro da fábrica mesmo e mui-

Que competitividade é essa?”, inda-ga.

Paulo Sabóia, presidente da Cen-tral Geral dos Trabalhadores do Bra-sil (CGTB) em São Paulo, aponta obaixo crescimento econômico dos úl-timos 30 anos como fator de desca-racterização da terceirização. Sem cres-cimento, a luta pela sobrevivência seimpõe, o que leva os empresários atentar baixar o custo de qualquer ma-neira. Dessa forma, segundo ele, aterceirização, que é instrumento im-portante de apoio à produção de qua-lidade, acaba se transformando numaarma contra o próprio trabalhador.

Lofreta, insiste na mesma linha por-que cabe aos tomadores de serviçouma responsabilidade fundamental:verificar se a empresa prestadora temou não condições de operar. “Nãobuscamos referência quando contra-tamos uma empregada domésticapara colocar dentro de casa? Por quenão fazer o mesmo com empresas quecuidarão de partes importantes danossa atividade? Isto vai facilitartudo: acordos, fiscalização, satisfaçãode todas as partes”. Opinião seme-lhante tem Jan Wiegerinck, presiden-te do Sindicato das Empresas de Pres-tação de Serviços a Terceiros, Colo-

Marco Pivaé jornalista e apresentador do

programa “Mobilização Brasil” (TVE).

tas vezes os sindicatos desses traba-lhadores são fracos, nós assumimoso papel de liderança e estendemos asconquistas para os terceirizados”, dizTarcisio Secoli, diretor do Sindicatodos Metalúrgicos do ABC. Ele contaque as montadoras já repensam a ter-ceirização de fornecedores e têm re-assumido pontas da linha de produ-ção criando divisão de componentesque antes estavam fora da fábrica. ETarcisio vê uma razão para isso: a ter-ceirização também pode levar ao mo-nopólio. “Na área de telefonia exis-tem as bandeiras, mas os fornecedo-res de celular são praticamente osmesmos, ou seja, as operadoras aca-bam ficando nas mãos de poucos.

Mas, o atual cenário da economia dei-xa Sabóia mais otimista. “Estamoscrescendo, gerando novos empregose distribuindo renda. Isto vai dar con-dições de bons acordos e de um novopatamar nas relações de terceiriza-ção”.

E é nesse quadro de retomada docrescimento que setores empresari-ais e consultores apostam para en-xergar na terceirização uma opção, enão somente um problema. OswaldoBraglia, do Portal Gestão Sindical,acredita que é uma questão de éticadas empresas contratar prestadoresidôneos. O presidente da recém-cria-da Central Brasileira das Empresas doSetor de Serviços (Cebrasse), Paulo

cação e Administração de Mão-de-Obra e de Trabalho Temporário noEstado de São Paulo, o Sindeprestem.Para Wiegerinck, a chave da soluçãoestá no livre acordo entre empresas etrabalhadores. “Basta colocar umacláusula na convenção coletiva: a to-madora de serviço se compromete acontratar terceiros apenas com a chan-cela do sindicato das empresas pres-tadoras de serviço, a quem cabe a res-ponsabilidade de saber quem atuabem ou não no mercado. Com isso,nem vamos mais precisar do gover-no.”

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No Brasil, em 2006, 49,4% da população se declarou negra, de acordo com pes-quisa do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Ao mesmo tempo, odebate sobre discriminação racial foi intensificado no país. Os dois fatos evidenciamum movimento de valorização da população negra no Brasil e o amadurecimento notratamento social deste problema. Entretanto, os indicadores socioeconômicos ain-da mostram as dificuldades vivenciadas por este segmento da população.

No mercado de trabalho, é histórica a dificuldade enfrentada pelos negros, ex-pressas pelo maior desemprego, maior vulnerabilidade na contratação, dificuldadede ascensão profissional e por rendimentos menores do que a população não-negra.A escolaridade é sabidamente essencial para a melhora na inserção no mercado detrabalho, na qualidade da ocupação e, principalmente, para a elevação dos rendi-mentos para a população como um todo. Ao longo de 10 anos, houve o esforço deescolarização da população e o conseqüente aumento da qualidade da mão-de-obradisponível no mercado de trabalho, mas continua baixa a representatividade denegros nas escolas e universidades brasileiras, resultado da dificuldade de acesso ede permanência deste segmento nos bancos escolares. A situação da populaçãoeconomicamente ativa (PEA) negra, representada pela parcela ocupada e desempre-gada, é bastante desfavorável quando são analisados os dados sobre a educação. Égrande a concentração de negros nas faixas da população de menor escolaridade –do analfabeto até o ensino médio incompleto -, realidade que se inverte nos níveismais elevados de instrução, com maior presença de não-negros.

O rendimento médio é um dos principais indicadores da qualidade da ocupação.Ainda que se eleve a escolaridade, persistem as diferenças nos indicadores, explica-das pela qualidade da educação acessível a negros e não-negros ou pela permanên-cia de condutas preconceituosas diante da população negra.

Levando-se em consideração que a educação, principalmente em mercados detrabalho heterogêneos como o brasileiro, é forte indutora da progressão social dostrabalhadores, a realidade exposta pelos dados evidencia o tamanho do desafio queestá colocado para o país, se for perseguido com tenacidade o objetivo de inclusãosocial e de combate à discriminação racial.

Nesse contexto é que devem ser avaliadas as iniciativas de ações afirmativas quetenham como alvo a população negra brasileira. A introdução de cotas para alunosnegros em universidades brasileiras se mostra oportuna, apesar da polêmica geradaem torno da questão. Essa política faz parte de um conjunto de ações afirmativasadotadas com intuito de eliminar desigualdades historicamente acumuladas entre ne-gros e não-negros e criar a igualdade de oportunidades e de tratamento. A aprovação deleis e das ações afirmativas como as cotas são marcos importantes dentro da sociedadebrasileira, pois colocam por terra a imagem da “democracia racial brasileira”.

Em paralelo é preciso chamar a atenção de todos os atores sociais acerca dadiscriminação existente. O que explica salários maiores para não-negros com a mes-ma escolaridade que os negros que não a expressão do preconceito social? É impor-tante que as ações sindicais levem em conta essa discriminação e que esse tema setorne presente em todas as reivindicações. Do lado das empresas, a responsabilidadesocial abre espaço para promoção de ações para igualdade de oportunidades. Sobretu-do, cabe a cada individuo olhar sua ação cotidiana, examinar seus preconceitos e trans-formar suas ações, para que seja possível a transformação da sociedade como um todo.

Oportunidades paraa população negra

Diretor técnicodo DIEESE

CLEMENTE GANZ LÚCIO

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NAPRÁTICA

TODOMUNDOPODE

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O movimento pelo consumo cons-ciente ganha força a cada nova divul-gação de escassez de recursos na-turais em alguma parte do mundo, acada apagão ou relatório de mudan-ças climáticas. Os padrões de con-sumo no mundo estão incompatíveiscom os patamares de produção. Se-gundo especialistas, seriam necessá-rios dois planetas Terra para atenderas necessidades de água, energia ealimentos se o consumo continuar nomesmo nível nos próximos 50 anos.

Todo consumo causa impacto,seja positivo ou negativo. Portanto,ao ter consciência desses impactosna hora de escolher o que comprar,

CC M

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de qual fabricante comprar e a decomo descartar, o consumidor podemaximizar os impactos positivos eminimizar os negativos. O consumoconsciente é uma contribuição volun-tária, cotidiana e solidária para ga-rantir a sustentabilidade da vida noplaneta. Todo mundo pode. Todo con-sumidor pode (e deve!) usar seu po-der de consumo de maneira a equili-brar entre a própria satisfação pes-soal e a sustentabilidade. Isso é Con-sumo Consciente.

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A interde-pendên-cia dasações in-dividuaisé uma re-a l i d a d eque deve

ser encarada como fator motivadorpara mudança de atitude imediatados consumidores. Raquel Diniz, co-ordenadora de capacitação do Insti-tuto Akatu, diz que atualmente o gran-de desafio do movimento pelo con-sumo consciente é mostrar essa in-terdependência dos atos, ou seja,que todo uso de um recurso, comprade um produto ou mesmo prestaçãode um serviço influi negativamenteou positivamente na vida do planeta.“Usamos quatro tipos de pedagogi-as para a sensibiização das pesso-as”, explica Raquel. Uma é fornecero máximo de informações sobre asrelações de causa e efeito de cadaato de consumo e outra é mostrar os

SELOS DEQUALIDADE Estima-se que no Brasil, 46%

da população leia com atenção osrótulos de produtos antes de

decidir a compra. Pela legislaçãoem vigor, os rótulos devem trazertodas as informações referentes

ao produto e quando esse égarantido por um selo dequalidade, a imagem da

logomarca do selo é exibida norótulo.

Esses selos de qualidadepodem revelar diferentes

aspectos dos negócios. Os selossociais vão além da qualidade ecomprovam o contexto em que o

produto foi fabricado, isto é,avaliam o impacto no meioambiente e também a não

utilização de mão-de-obra infantilou escrava. Os selos sociais

também difundem os princípioséticos da empresa.

Apesar do produto com selonão ter que ser necessariamente

mais caro, o consumidorconsciente geralmente se dispõea pagar um preço mais elevado

por ele, pelo simples fato de estarcontribuindo para uma causa

social. Pesquisa feita peloInstituto Akatu mostra que cerca

de 70% dos consumidoresbrasileiros estão dispostos a

pagar a mais por um produto ouserviço de empresa que realiza

projetos em favor do meioambiente, ou que destina partedos lucros a obras sociais, oucombate o trabalho infantil ou

produz alimento que não contémagrotóxico.

CC K

AR

LL

IENTEAs pessoas estão cada vez maissensibilizadas com o tema. Nomundo inteiro os valores em re-lação à urgência de se pensarno desenvolvimento sustentávelforam assimilados. Mas a mu-dança de comportamento aindaé lenta. Segundo Raquel Diniz,coordenadora de Capacitação doInstituto Akatu, a terceira fase domovimento pelo consumo cons-ciente é justamente essa, isto é,transformar os valores em atitu-des.“Nas últimas pesquisas verifica-mos que há um aumento signifi-cativo da absorção dos valores,mas o reflexo no comportamen-to é tímido. Das 80 questões queserviram como indicadores, 31das 38 relacionadas a valores fo-

VALOR X COMPORTAMENTOram positivas e apenas 7 das 42questões ligadas ao comporta-mento foram respondidas posi-tivamente”, conta a coordenado-ra.Portanto as ações do movimen-to pelo consumo conscienteagora concentram-se na conso-lidação da conduta, difundindocada vez mais a idéia de que asescolhas fazem a diferença. “Fa-zemos isso através de iniciativaspróprias do Instituto Akatu, comcursos em escolas, empresas ecomunidades. Formamos aindamultiplicadores que possamdisseminar as boas práticas erelacionar os atos de consumocom temas como aquecimentoglobal, escassez de recursos eoutros problemas”, relata.

pequenos atos ao longo da vida, nocotidiano, e os impactos que cada umdesses detalhes geram. Outra formade sensibilizar é ressaltar os aspec-tos da cidadania, do convívio em so-ciedade e como deve ser essa rela-ção uns com os outros. Por último, oefeito dos exemplos. “Mostramos queexistem outras pessoas já conscien-tes e chamamos para a reflexão. Acapacitação parte dessa idéia de quese inspirar no exemplo real dos ou-tros é instigante e motivador”, diz acoordenadora.

CAMPANHA“Seu consumo transforma o mun-

do”, é o slogan da nova campanhado Instituto Akatu pelo ConsumoConsciente. As peças da campanhamostram, com mensagens objetivase imagens criativas e instigantes,que todo consumo tem impacto –seja ele positivo ou negativo – e quecada gesto de consumo tem podertransformador.

O INDIVIDUALMOVE

MONTANHAS

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Veja as dicas da equipe do Instituo Akatu e pense em outraspara complementar a lista.

- Significado do Natal: Pense nisso e não imagine que Natal é saircorrendo para as lojas em busca de presentes- Presentes: Podem ser feitos por você. Inove, crie e surpreenda.- Planejamento: Limite seus gastos ao orçamento doméstico- Acertar: O ideal é acertar o presente, se não tem certeza pergunte.- Comida: Evite o desperdício. Estima-se que 20% do quecompramos de comida vai para o lixo. Nessa época não exagereapenas para enfeitar a mesa.- Pirataria: Não compre produtos piratas ou contrabandeados- Escolha: Certifique-se de quem você está comprando o produto,qual é a fábrica?- Contas: Lembrar que no início do ano acumulam-se gastos extras- Embalagens: Evite o desperdício de papéis, sacolas, laços ecaixas- Decoração: Recicle, reutilize e reinvente- Doação: Aproveite o momento para doar o que tem a mais, envolvaa família nisso e perceba como acumulamos algumas coisasdesnecessárias- Dissemine: Conte pra todos essas dicas, dissemine o consumoconsciente!

Para quem conseguir vi-sualizar, a cena é assom-brosa. A quantidade delixo domiciliar produzidano Brasil atualmente é de115 mil toneladas por dia,isto é, se esse lixo fossecolocado de uma só vezem caminhões, haveriauma fila de 16,4 mil de-les ocupando 150 quilô-

metros de estrada. Cercade um terço de todo esselixo é composto de mate-riais recicláveis como pa-pel, vidro, plástico e latas.Por isso é que tirar do lixoesses materiais, ou dimi-nuir seu uso, vale a pena.E a destinação do lixo vaienfim ganhar uma legis-lação própria. Depois dequase 20 anos de discus-

são, chegou à Câmarados Deputados no últimomês de outubro o projetode lei que busca estabe-lecer uma Política Nacio-nal de Gestão de Resídu-os Sólidos. São 33 artigosque tratam de resíduossólidos urbanos, industri-ais, rurais, de saúde e oschamados especiais,como entulhos da cons-trução civil. O texto abor-da questões polêmicascomo a logística reversa,que exige das empresaso compromisso com odestino final de seus pro-dutos pós-consumo. A

proposta define respon-sabilidades ao longo dacadeia produtiva e deconsumo, e tem como ob-jetivo estimular a redu-ção, reutilização, recicla-gem, tratamento e desti-nação correta dos resídu-os, ao estabelecer que ofabricante ou importadorseja responsável pela re-tirada de seus produtosdo meio ambiente, ao fi-nal de seu ciclo de vida.Essa é uma mudança ra-dical na forma de geren-ciar o lixo no país, ondeaté hoje o poder público éo maior responsável peladestinação do lixo.O presidente Luiz InácioLula da Silva, ao enviar oprojeto ao Congresso,convocou o sociedadebrasileira a participar dasdiscussões e conhecer asnovidades contidas na lei.A expectativa do Ministé-rio do Meio Ambiente é queo texto final da nova lei sejaaprovado até o final doano, mas depois precisaser regulamentada.

TIREDO

LIXO

saiba mais: www2.camara.gov.br/proposicoes

DIMINUA O TRABALHO DO PAPAI NOEL

As festas de final de ano são sinônimos de mesafarta, troca de presentes, compras e mais compras.Mas o desafio de manter padrões de consumoexige criatividade e cuidados. Estamos diante deuma nova situação onde a produção poderá nãoalcançar mais as necessidades dos seres humanose isso afetará as relações, o bem estar e os padrõesde qualidade de vida. Portanto, o recomendável écomeçar o quanto antes e o Natal, o Reveillon e asférias de verão são datas especiais para testarnossa conscientização em relação ao consumo.

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Pratique o consumo consciente e estimule sua família eamigos a fazer o mesmo. Para saber quem já é um consumidor

que realmente mudou o comportamento perante às necessidadesdo planeta, Faça o teste desenvolvido pelo Instituto Akatu:

FAÇA O TESTE

Costumo ler atentamente osrótulos antes de decidir umacompra.

Sempre Às vezesRaramente ou Nunca

Costumo pedir nota fiscal quandovou às compras, mesmo que ofornecedor não a ofereçaespontaneamente.

Sempre Às vezesRaramente ou Nunca

Em minha casa, separo o lixopara reciclagem (ou, mesmo nãohavendo coleta seletiva, procuroencaminhar para reciclagem tudoque for possível).

Sempre Às vezesRaramente ou Nunca

Quando possível, utilizo também overso das folhas de papel.

Sempre Às vezesRaramente ou Nunca

Costumo fechar a torneiraenquanto escovo os dentes

Sempre Às vezesRaramente ou Nunca

Espero os alimentos esfriaremantes de guardar na geladeira

Sempre Às vezesRaramente ou Nunca

Evito deixar lâmpadas acesas emambientes desocupados

- Cada lata de alumínio recicladaeconomiza energia elétricasuficiente para manter umalâmpada de 60 watts acesa porquatro horas.

- A reciclagem de 100 toneladasde plástico evita o uso de 1tonelada de petróleo.

- Se você recusar todas asembalagens supérfluas que lheforem oferecidas ao longo deum mês, vai evitar o gasto de500 gramas de petróleo, o quepode mover um automóvel porquase 10 quilômetros.

- As 800 milhões de baterias epilhas vendidas todo ano noBrasil contêm metais pesadosaltamente tóxicos. Se um milhãode consumidores conscientesusarem postos de coletaespeciais, 30 milhões de pilhasserão desviadas dos lixões eaterros.

PEQUENAS DECISÕES,GRANDES ATITUDES

Saiba mais:www.recicloteca.org.brwww.loucosporlixo.com.brwww.akatu.org.brwww.reciclarepreciso.hpg.com.brrecycle.hpg.com.brwww.ecomural.biologia.net

Sempre Às vezesRaramente ou Nunca

Desligo aparelhos eletrônicosquando não estou usando

Sempre Às vezesRaramente ou Nunca

Procuro passar ao maior númeropossível de pessoas asinformações que aprendo sobreempresas e produtos.

Sempre Às vezesRaramente ou Nunca

Comprei produtos feitos commaterial reciclado nos últimos 6meses

Sim NãoNão Sei/Não Lembro

Comprei produtos orgânicos nosúltimos 6 meses (por exemplo:alimentos sem agrotóxicos, carnesem hormônios ou antibióticos)

Sim NãoNão Sei / Não lembro

Costumo planejar as compras dealimentos

Sempre Às vezesRaramente ou Nunca

Costumo planejar compra deroupas

Sempre Às vezesRaramente ou Nunca

RESULTADO:Se você assinalou até 7 vezes a opção “sempre”, está na hora de mudar de atitude.Se você assinalou “sempre” em pelo menos 8 questões, você está no caminho para se tornar um consumidor consciente.Se a alternativa “sempre” apareceu em 9, 10 ou 11 questões, parabéns! Você já é um consumidor consciente!Com 12 ou 13 alternativas “sempre” assinaladas, nossa! Você está realmente engajado! Parabéns!

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PrimeiroPLANO . ano 2 . no8 . dezembro 2007

A paisagem está se modificando emvários pontos do litoral brasileiro. Re-mete-nos às histórias de Miguel deCervantes e a luta de Dom Quixote con-tra os gigantescos moinhos de ventona virada dos séculos XVI para XVII.No entanto, na modernidade do sécu-lo XXI, os gigantescos moinhos devento que vêm sendo instalados noBrasil não podem mais ser compara-dos aos seus ancestrais, que basica-mente serviam para mover os engenhosde água e farinha. Agora, mais impo-nentes ainda, os moinhos de ventochamados de torres eólicas estão con-tribuindo para o incremento de ener-gia limpa e permanente no país quevive a ameaça de desabastecimento emfunção do clima e pela escassez de gásnatural. Paralelo a isso, o país despon-ta internacionalmente com outras fon-tes renováveis, como a biomassa, so-bretudo pela produção de etanol ebiodiesel e pelo uso nas usinas térmi-cas e pela tecnologia das pequenascentrais hidrelétricas, com capacidadesuficiente de abastecimento para loca-lidades pouco densas.

Iniciamos nessa ediçãouma série de reportagenssobre as possibilidades einvestimentos em energiasrenováveis, chamadas de

alternativas ou limpas.Nessa primeira

reportagem, sãoabordados aspectos de

todos os tipos degeração, passando pelalegislação e comparandoa realidade brasileira com

outros países. Naspróximas edições vamos

abordar cada tipo deenergia, aprofundando o

olhar sobre cada umaatravés de exemplos bem

sucedidos, estudos epotencialidades no Brasil.

RENOVÁVEISENERGIAS

Alessandra Mathyas

Mas para diversos pesquisadores,como os coordenadores do Laborató-rio Solar da UFSC (Universidade Fe-deral de Santa Catarina), integrantesda ISES (International Society EnergySolar), é a energia solar um dos gran-des potenciais do Brasil, pela sua di-mensão geográfica e insolação prati-camente perene anual. No entanto, estapossibilidade não foi incluída nos pro-jetos a serem financiados pelo Proinfa(Programa de Incentivo às Fontes Al-ternativas de Energia Elétrica), regula-mentado em 2004, e nem no estudo deplanejamento integrado dos recursosenergéticos realizado pela Empresa dePesquisa Energética (EPE), do Minis-tério de Minas e Energia, intitulado Pla-no Nacional de Energia – 2030 , apre-sentado no primeiro semestre de 2007.

Ao observarmos o Atlas Brasileirode Energia Solar , desenvolvido desde2001, percebe-se o imenso potencialpara este tipo de energia. Para se teruma idéia, na Alemanha, onde a inso-lação é bastante reduzida e irregular,há uma política de investimentos e in-centivos pelo uso da energia solar que

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vêm possibilitando um crescimento de10% ao ano na indústria de equipa-mentos para energias renováveis, comênfase nos painéis fotovoltaicos e tér-micos. De acordo com o relatório dogoverno alemão, em 2006 o país expor-tou seis bilhões de euros em equipa-mentos neste setor, enquanto no ano2000 a cifra não passou dos 500 mi-lhões de euros. Do total de painéis jáinstalados na Alemanha, um terço éproduzido no próprio país, o que tempermitido o barateamento deste tipo deenergia, ainda considerada a mais caraentre as fontes renováveis.

A indústria da energia solar na Ale-manha não tem se mostrado apenasecologicamente viável, mas criou umanecessidade de profissionais qualifi-cados que interferiu inclusive nos cur-sos tecnológicos. Até o momento estesetor conta com cerca de 170 mil pes-soas trabalhando, mas com o cresci-mento previsto, estima-se a necessi-dade de 510 mil pessoas em poucosanos. Na União Européia quase todosos países estabeleceram uma lei parafomentar as energias renováveis. Até

agora, 18 dos 27 países têm leis que garan-tem preços fixos para cada KW/h geradoatravés de fontes renováveis duranteum período de operação de, em geral,20 anos. “Estas leis criam um ambientefavorável para a inovação tecnológicae o uso em massa das energias reno-váveis e a geração de emprego”, co-menta Johannes Kissel, da Eurosolar(The European Association for Re-newable Energy), que trabalha o temaem sua tese de doutorado. Segundoele, na Alemanha a participação dasfontes renováveis cresceu nos últimosdois anos fomentadas pela Lei dasEnergias Renováveis (EEG) de 12 a 16%sendo que o maior crescimento é daenergia eólica.

Ao verificar a situação do Conti-nente Europeu, fica a pergunta: se hátanto sol no Brasil, por que não usa-mos energia solar em massa? A respos-ta parece simples, mas é bastante com-plexa. O Brasil tem uma tradição deenergia hidráulica e é considerado umdos países com maior índice de ener-gia limpa do mundo. Segundo o Mi-nistério de Minas e Energia, a energia

RUMA O BRASILPARA ONDE

SOLAR

EÓLICA

GÁS

HIDRELÉTRICA

BIOCOMBUSTÍVEIS

BIOMASSA

ONDAS

Fontesrenováveis enão causamefeito estufa

Combustívelrenovável ebiodegradável

Não produzefeitopoluente

Bom sistemade distribuição,fácil de obter,ideal paraclimatização

São as fontesmais limpasde energia

Não polui.Abundante,permanente erenováveldiariamente.

Energia elétricaa partir domovimento dasondas do mar

CC LOLLIE

CC DAVID TREBOSC

CC ITA

CC FRED THOMPSON

CC RODRIGO ARMIJO

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primária brasileira empregada na pro-dução de eletricidade é de 43,6% defontes renováveis, com destaque paraa hidroeletricidade, biomassa e cana-de-açúcar. No entanto, a queima de

climáticas, é reconhecidamente um dosmais eficientes do mundo. Portanto,qualquer mudança nesta operação,como a venda do excedente de energiaproduzida em residências pelo uso depainéis e aerogeradores, não é algo ain-da aceito na legislação nacional. E paraesse Sistema, a energia mais barata ain-da é a hidráulica, pois, segundo dadosdo próprio Ministério de Minas e Ener-gia, somando-se todas as bacias hidro-gráficas brasileiras, o país tem um po-tencial hidráulico de mais de 260 GW eaté o momento, teria aproveitado ape-nas 24% deste total. Já os ventos pro-piciariam um potencial de 143 GWnuma velocidade média de 7m/s .

No caso da energia solar não é pos-sível quantificar esse potencial nacio-nal, mas há como fazer comparaçõescom outras fontes localizadas, como aUsina de Itaipu, por exemplo. Esta obracontribui com cerca de 25% da energiaconsumida no país, tendo uma potên-cia instalada de 12,6 GW, conforme o

Balanço Energético 2002 disponibili-zado pela Eletrobrás. Segundo o pro-fessor da UFSC, Ricardo Rüther, PHDem energia solar, se uma área equiva-lente em tamanho ao Lago de Itaipu(1350 km2) fosse coberta com sistemasolar fotovoltaico, a potência instala-da seria de 94,5 GW, cerca de 60% dopotencial total no país de geração eó-lica. O entrave ainda são os custos.Enquanto os últimos leilões de ener-gia têm registrado um valor médio deR$ 130,00 por MW/h nas chamadasfontes convencionais – hidro e térmi-cas – para as energias renováveis essevalor é bem mais alto.

A energia eólica tem um custo con-siderado competitivo, no entanto, vá-rios fatores, como o preço dos equipa-mentos - ainda na mão de poucos fa-bricantes - e a incerteza do mercado,levam a um valor médio de R$ 200,00por MW/h para a execução de um par-que como o que já está em operaçãoem Osório/RS com capacidade de 150

REDUZIR ESTÁNA MODA

combustíveis fósseis responde porgrande parte da demanda de energiado setor de transporte e cerca de 40%da energia na agropecuária, sendo, por-tanto, os principais responsáveis peloaumento gradativo na emissão de ga-ses causadores de efeito estufa no país.Além disso, o Sistema Interligado Na-cional (SIN), que permite garantir a ener-gia mesmo numa região onde há poucaprodução por conta das adversidades

Na União Européiaquase todos os países

estabeleceram uma lei

para fomentar asenergias renováveis.

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MW – o que faz dele o maior da Amé-rica Latina e o segundo maior do mun-do em operação atualmente. Na ener-gia solar, este custo é ainda maior, ul-trapassando os R$ 900,00 por MW/h.No entanto, lembra o professor Ricar-do Rüther, este é o valor final do em-preendimento. “Os leilões de energia,como agora nas usinas do Rio Madei-ra, têm o preço inicial da obra de gera-ção, sem contar os custos e a perda deenergia na transmissão e na distribui-

cialista argumenta ainda que, enquantono Brasil a energia elétrica de fontes con-vencionais tem tido um reajuste médioao ano de 14%, a indústria da energiasolar vem registrando uma queda nosvalores da produção em 5% ao ano. “Nos-sa estimativa é que em 2017 esses valo-res estejam equiparados”, afirma.

Não há dúvida de que o Proinfaestá desempenhando importante papelna diversificação da matriz energéticanacional. Ao contratar 3.300 MW deenergia de fontes renováveis que se-rão incluídos no sistema interligado egarantir aos empreendedores financi-amento do BNDES de até 80% dos em-preendimentos em contratos cuja con-cessão têm duração de 20 anos, o go-verno brasileiro despertou o interessede grandes grupos internacionais dosetor, sobretudo os europeus. Uma dasexigências da Lei nº 10.762 é a obriga-toriedade de um índice mínimo de na-cionalização de 60% do custo total deconstrução dos projetos, o que gerou

os consórcios mistos entre empresasinternacionais e nacionais. Os empre-endimentos já em operação, sobretu-do as Pequenas Centrais Hidrelétricas(PCHs) e os Parques Eólicos têm opera-do praticamente com toda a capacidadee revertido em bons lucros aos seus ges-tores, já que também está asseguradoao empreendedor uma receita mínima de70% da energia contratada durante operíodo de financiamento e proteção in-tegral quanto aos riscos de exposiçãodo mercado de curto prazo.

No entanto, a crítica que tanto em-preendedores como estudiosos destaárea fazem é que o Proinfa tem prazopara acabar – 2008 – e dificilmente essaincerteza quanto ao futuro atrairá in-vestidores estrangeiros, como fabri-cantes de painéis solares ou novosprodutores de aerogeradores, por exem-plo. A fase 2 do Programa, onde estádefinido que, em 20 anos, 10% do con-sumo total consumido no Brasil deveser energia de fonte alternativa, não

conomizar energia virou ten-dência. Em tempos de aque-cimento global, os investi-mentos e estudos não vão sóna direção da produção de

novas fontes de energia, mas da ne-cessidade de se reduzir o consumo.O Brasil tem um programa de reco-nhecimento internacional neste sen-tido: o PROCEL, que desenvolveações educativas e criou o selo paraos equipamentos eficientes. No en-tanto, mudar alguns hábitos no país,como o uso do chuveiro elétrico, nãoé tarefa fácil. Dados da CompanhiaEnergética de Minas Gerais (CEMIG)apontam que o consumo médio deuma residência de baixa renda é deR$ 40. Destes, R$ 12 a R$ 16 sãopagos para garantir o banho quente,ou seja, até 40% do consumo total.Os números gerais impressionam:somando-se a energia consumidanos setores industrial e residencial,15% de toda a energia gasta no Bra-sil é destinada ao aquecimento deágua. De acordo com a AssociaçãoBrasileira de Refrigeração, Ar-condi-

cionado, Ventilação e Aquecimento(Abrava) existem 30 milhões de chu-veiros elétricos instalados nas casasbrasileiras. Na Europa a solução vemsendo popularizada, com incentivolegal: o uso de aquecedores solares.Por aqui, ainda não há previsão paraeste incentivo.

Além dos chuveiros, é preciso queos consumidores tenham em casaequipamentos elétricos eficientes.Mas a maioria da população de mé-dia e baixa renda não tem condiçõespara tal. Um bom exemplo de que aeconomia de energia dá lucro vemda Bahia. A COELBA, distribuidora deenergia local, num convênio com oMinistério do Meio Ambiente, fez ummapeamento das comunidades ca-rentes através do cadastro do Pro-grama Bolsa Família e vem substitu-indo, gratuitamente, os refrigerado-res antigos das residências de baixarenda de Salvador. Os recursos paraa aquisição das novas geladeiras vi-eram do montante que a empresatem que investir obrigatoriamente emeficiência energética. No total, serão

trocados 13 mil refrigeradores, o quealém da economia de energia, resul-tará também no recolhimento e ven-da de quase uma tonelada de CFC(gás usado nas geladeiras e preju-dicial à camada de ozônio). Somen-te a troca das geladeiras, segundocálculos da COELBA, resultará numaeconomia média de 42,9% no con-sumo de energia, ou, 516 MW/h. Aempresa já sente também nos lucroso resultado desta ação: um aumentode 50% na adimplência. As geladei-ras e os chuveiros são os itens quemais consomem energia nas resi-dências de baixa renda. No Sul eSudeste a geladeira representa até30% do consumo, mas no Norte eNordeste, onde os chuveiros quen-tes não são tão requisitados, a gela-deira responde por 70% do consu-mo de uma família. Segundo o Mi-nistério do Meio Ambiente, a iniciati-va e seus bons resultados atraíramoutras distribuidoras. As companhi-as do Pará, Minas Gerais e EspíritoSanto já desenharam programas se-melhantes de trocas de geladeira.

E

ção até chegar na tomada do consumi-dor. A energia solar é a tomada, sem cus-tos extras e sem perdas”, afirma. O espe-

A energia elétrica de

fontes convencionaistem tido um reajuste

médio ao ano de 14%,

enquanto a solar temqueda nos valores da

produção em 5% ao ano.

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PrimeiroPLANO . ano 2 . no8 . dezembro 2007

tem data para começar. Mas o tema vemsendo discutido há tempo no Congres-so Nacional. Há sete projetos em trami-tação, alguns desde a década de 1990,que em agosto desse ano foram reuni-dos para análise única de uma ComissãoEspecial. Tal comissão tem o poder dedar uma redação final e, se a proposta foraprovada por unanimidade, não precisade votação em plenário da Câmara dosDeputados, seguindo direto para sançãopresidencial.

Mas esse caminho, que parece cur-to, não é simples. Atualmente, o proje-to que vem sendo discutido – e quepretende englobar todos os itens dosdemais – é o PL 1563/07, apresentadopelo deputado federal Paulo Teixeira(PT/SP). A proposta prevê a criação deprogramas para incentivar o uso defontes alternativas e renováveis no su-primento das áreas isoladas e para ageração distribuída. O Projeto de Leiorienta a substituição do uso da ener-gia elétrica por energia solar no aque-cimento da água utilizada por residên-cias e estabelecimentos comerciais. Oparlamentar vem tratando o assuntocom entidades do setor, acadêmicos eempresários. Em outubro, a propostateve o apoio público da ConfederaçãoNacional da Indústria (CNI), mas preci-sa ser aprimorada. A CNI defende quea busca de soluções para reduzir os im-pactos na indústria passa pela diversi-ficação da matriz energética e defendea introdução de instrumentos econô-micos para ampliar o uso de fontes al-ternativas e renováveis. Já as entida-des organizadas do setor, como a Re-nove – maior rede nacional de ONGs de-dicadas à promoção e inclusão das ener-gias renováveis no Brasil – entendem queo consumidor não deve ser obrigado ausar energia renovável, mas ter oportu-nidade de escolha e, nesse caso, incenti-vos para os investimentos, como já acon-tece em vários países europeus.

Para Mauro Passos, presidente doInstituto para o Desenvolvimento deEnergias Alternativas na América Lati-na (Ideal), que faz parte da Renove, omaior desafio para a ampliação das ener-

gias renováveis, não só no Brasil, masno continente, é a legislação. “Duran-te os últimos 50 anos, o Brasil e boaparte da América Latina, planejaram edesenvolveram o setor elétrico paraatender a demanda de energia atravésde grandes obras de geração e um ex-

tenso sistema de transmissão. Agora,em função da degradação ambiental,das variações climáticas, do anúnciodo esgotamento das reservas de car-vão, gás e petróleo, fatores que moti-vam a pressão da opinião pública, cres-ce o interesse dos governantes por umamaior produção da energia limpa. Asiniciativas ainda isoladas de produçãode energia de fontes renováveis só irãoprosperar se houver uma política pere-ne e protegida por legislação. Sem isso,não há um horizonte promissor”, argu-menta Passos, que também é o únicorepresentante da América Latina noConselho Mundial de Energias Reno-váveis (WCRE, sigla em inglês). Eledestaca que na Europa a determinaçãode reduzir os gases de efeito estufa em20% até 2012 motivou praticamentetodos os países da União Européia ainvestir pesadamente em energias re-nováveis e modificar suas legislaçõespara garantir os empreendimentos e ointeresse das pessoas em também fa-zer sua parte.

Um exemplo é o Decreto Lei 363/2007, de 2 de novembro, publicado pelogoverno de Portugal. A decisão prevêque a eletricidade produzida se desti-ne predominantemente a consumo pró-prio sendo o excedente para comercia-lização, mas limitando esta, ou seja,uma residência não poderá vender mais

do que consome, o que assegura o mer-cado de energia para as empresas es-tabelecidas. “Hoje temos em Santa Ca-tarina, por exemplo, casos de frigorífi-cos que investiram vultosas quantiasem biodigestores, são auto-sufientesem energia, mas o excedente não é acei-to nem pelas cooperativas de eletrifi-cação rural nem pela empresa distribui-dora local”, explica.

Neste caso da compra de energiaoriunda da micro-geração, há diversosentraves a serem superados, como aqualidade da energia produzida. Se-gundo técnicos da área, é preciso umpadrão na energia para que a empresacompradora não tenha que investir emtecnologia no equipamento do vende-dor, pois o produto final oferecido aoconsumidor, independente da origem,tem que ser uma energia elétrica de boaqualidade. Além de legislação federale estadual, isso passa por acordos em-presariais, já que há situações onde asdistribuidoras estão comprando o ex-cedente de co-geração, sobretudo deempresas.

As usinas de cana-de-açúcar, porexemplo, que já vêm reaproveitando obagaço para a queima nas térmicas pró-prias, vendem a energia excedente paraa concessionária local. Este é o casoda Cia. Energética Santa Elisa, de Ser-tãozinho (SP), cujo excedente da ener-gia produzida é comprado pela CPFL.As usinas de cana também já estãousando, mas ainda em caráter experi-mental, a palha para a produção deenergia.

Madeireiras também têm aderido àco-geração, como a Masisa de Rio Ne-grinho (SC), cuja matriz é no Chile, e aMadecal de Caçador (SC). Ambas uti-lizam geradores para a produção deenergia com restos de madeira. No casoda Masisa, a co-geração representa emmédia 50% do consumo total da uni-dade. Os geradores usados para estetipo de atividade também são nacio-nais, o que barateia o custo final.

A indústria da energia renovávelpossibilitou a ampliação dos negóciosde inúmeras empresas, como a Weg,

A fase 2 do Proinfa

prevê que, em 20 anos,10% do consumo total

consumido no Brasil

deve ser energia defonte alternativa, não

tem data para

começar.

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PrimeiroPLANO . ano 2 . no8 . dezembro 2007

O Brasil, conforme os estudos publicados e desenvolvidos nas uni-versidades nacionais, tem potencial para tornar-se um dos líderes mun-diais na produção de energias de fontes renováveis. O extinto Pró-álco-ol, agora revigorado pela possibilidade de exportação de etanol e bio-diesel, é só uma prova disso. Se o mercado nacional por si não consegueimpulsionar o segmento da energia limpa, talvez o caminho seja outro.Afinal, investir na produção de energia renovável tem sido um dos prin-cipais fatores para o fortalecimento da imagem das empresas nacional einternacionalmente, num momento em que se discute a necessidade glo-bal da redução dos gases causadores de efeito estufa. Não é à toa que umPrêmio Nobel desse ano foi concedido ao IPCC (Painel Intergoverna-mental de Mudanças Climáticas). E também não é por acaso que asgrandes empresas petrolíferas do mundo, como a Shell e a Petrobrasestão investindo pesadamente nestas outras formas de energia, além doscombustíveis fósseis.

O recente anúncio da descoberta da maior área petrolífera no Brasilé muito importante para a economia nacional e para o abastecimentoenergético, mas não irá interferir, conforme assegurou o Presidente LuisInácio Lula da Silva, nas pesquisas e produção de biodiesel, etanol eHbio (diesel desenvolvido pela Petrobras a partir de óleo vegetal). Aárea de biocombustíveis e energias renováveis é destaque no Planeja-mento Estratégico 2020 e no Plano de Negócios 2008-2012 da Petro-bras, onde estão previstos investimentos de US$ 1,3 bilhão. No entanto,muito além dos combustíveis limpos, as potenciais energias renováveisoriundas do sol, do vento, das ondas do mar, do hidrogênio tambémrequerem atenção, legislação, investimentos e divulgação. Por isso, naspróximas edições, a Primeiro Plano irá dedicar-se a cada uma destasfontes de energia.

de Jaraguá do Sul (SC), que fornecenão só os motores para a co-geraçãode biomassa, mas também para asPCHs. Diante do crescimento da de-manda em pequenas centrais hidrelé-tricas, a empresa mantém atualmentedez fábricas no Brasil. Segundo o re-cente relatório empresarial, a expan-são dos negócios em equipamentospara geração, transmissão e distribui-ção de energia elétrica (GTD) no se-gundo trimestre deste ano represen-tou para a Weg 22,7% da receita brutada empresa, ficando atrás somente dosequipamentos eletro-eletrônicos in-dustriais, com 59,1%, sendo o segmen-to que mais cresce.

Muitos destes investimentos vêmsendo feitos há anos pelas empresasque acompanham o mercado interna-cional de energia. Mas percebe-se tam-bém que o Proinfa possibilitou um cres-cimento em cascata no mercado deenergias renováveis no país e na qua-lificação profissional. Desde a regula-mentação em 2004, estima-se a gera-ção de 150 mil empregos diretos e indi-retos na construção e a operação dosempreendimentos. O Brasil detém astecnologias de produção de maquiná-rio para uso em PCHs e usinas de bio-massa e já exporta tais equipamentos.Dispõe ainda de grandes – mas pou-cos – fabricantes de aerogeradores, tan-

do Proinfa, sem data para começar.Ainda assim, com o incremento de

3,3 mil MW de fontes renováveis, ogoverno brasileiro estima dobrar a par-ticipação das fontes eólica, biomassae PCH na matriz de energia elétrica na-cional, que, sem as grandes hidrelétri-cas, respondem atualmente por poucomais de 3% do total produzido. Pouco,se comparado ao potencial descritoacima. Até o momento, 144 empreendi-

mentos foram contratados pelo Proin-fa. Muitos, como as eólicas, estão comas obras em atraso porque os fabrican-tes nacionais de aerogeradores nãoconseguiram atender a demanda emtempo. A Agência Nacional de EnergiaElétrica (ANEEL ) outorgou 92 novasusinas eólicas, a grande maioria no Nor-deste, o que totalizará uma capacidade aser instalada de 6.243 MW – duas vezesa primeira etapa do Proinfa.

to os usados para os parques eólicosquanto os domésticos (Wobben, Ener-sud e outras). Mas não tem organizadauma indústria de energia solar. O aumen-to nesta oferta de investimentos, que aprincípio são em sua maioria estrangei-ros, depende do início da segunda fase

Em função da

degradação ambiental edas variações

climáticas, cresce o

interesse dosgovernantes por uma

maior produção da

energia limpa.

MAISVEM

POR AÍ

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34

PrimeiroPLANO . ano 2 . no8 . dezembro 2007

responsabilidade social O novo jeito de fazer negócios

400É o número de es-pecialistas partici-pantes do grupo detrabalho que discu-te a ISO 26000. Otema avançou mui-to de 2005 até ago-ra. Naquela épocaeram 225 especia-listas de 43 países.Hoje são mais de70 países.

A Plenária de Vienaacrescentou algunstijolos a mais numaconstrução difícil, feitapor mais de 70 paísese muitos pontos devista distintos. O ca-minho a frente paraconsolidação da ISO26000 ainda é longoe terá que superardiferenças que sub-jazem ao debate,pondo a prova estearranjo de múltiplossegmentos sociais,de regiões e países.

FUTURO

uem está aguar-dando a publica-ção da norma ISO26000, certifica-

ção em Responsabilidade Social,deve se preparar para um ano amais de espera. A 5ª Plenária doWorking Group (sigla WG e emportuguês Grupo de Trabalho) queelabora o documento, realizada emViena entre 5 e 9 de novembro, to-mou uma decisão que acarretará oadiamento do prazo para conclusãodos trabalhos, de novembro de 2009para setembro de 2010. Por outrolado, várias partes do documentoque estavam em discussão foram re-vistos, solucionando divergências,bem como complementados.

Não houve consenso entre osquase 400 participantes na Plená-ria sobre o texto, que após algu-mas mudanças, poderia ser reme-tido aos organismos nacionais denormalização, como por exemplo aABNT (Associação Brasileira deNormas Técnicas), para comentá-rios, ou ser alterado com maior pro-fundidade pelos próprios partici-pantes. Mas, todos entraram emacordo sobre a necessidade deque o texto deve ter alta qualida-de, que reflita a melhor abordagempossível de Responsabilidade So-cial, mesmo que isso demore umpouco mais.

Esta norma deve ser concebi-da integrando conceitos, princípi-os, temas relevantes e implemen-tação de ações. Em Viena decidiu-se rever a redação para assegurarque haja integração e consistên-cia entre tais elementos. Até aqui,

ISO 26000:por Clóvis Scherer*

as várias seções da norma, até omomento foram redigidas por gru-pos separados, resultando em umbom conteúdo, mas que precisa serharmonizado.

Entre os vários pontos discuti-dos na Plenária, um dos mais aca-lorados foi o conceito de stakehol-der. Uma das visões definiastakeholder como sendo qualquerindivíduo ou grupo afetado ou quepode afetar a organização. Outradefinição utilizava por base a exis-tência de interesse identificávelnas atividades da organização. Portrás desta aparente diferença se-mântica está o grau de liberdadeque uma organização terá para “se-lecionar” os stakeholders com osquais deve se engajar para imple-mentar uma política de Responsa-bilidade Social. E, para tanto, qualo critério a ser levado em conta.

Q

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PrimeiroPLANO . ano 2 . no8 . dezembro 2007

Sou bastante preocupado com a economia de energia e,principalmente,com a água. Chega a ser quase uma obsessão antiga,antes do modismo da preservação. Não tenho carro, portanto contribuoao andar bastante a pé, usar transporte coletivo e algumas vezes táxi.Acredito que minha maior contribuição seja indireta ao lutar por umanova e democrática mídia, pautada não exclusivamente pelosinteresses privados e comerciais

Sérgio Murilo Andrade, presidente da Fenaj- Federação Nacional dos Jornalistas Profissionais

Outro conceito que foi aprimora-do é o de norma ou expectativa inter-nacional de comportamento. É umconsenso que a ISO 26000 deve ori-entar as organizações a respeitarem econtribuírem com estas normas ou ex-pectativas, além, claro, da observân-cia da legislação nacional e das ex-pectativas dos seus stakeholders.Assim, é necessário chegar a umadefinição para tais normas/expectati-vas internacionais. Basicamente se-rão convenções, declarações, diretri-zes aprovadas por organismos inter-

governamentais, tais como a ONU,segundo critérios formulados duran-te a Plenária e a ser concluídos naspróximas semanas. Iniciativas de or-ganizações privadas ficam fora des-se conceito, embora possam ser men-cionadas em anexo para orientar osleitores.

Um consenso em torno destesdois conceitos permitirá avançar naredação final para o conceito de res-ponsabilidade social, que é centralpara a norma ISO 26000.

Além disso, na Plenária houve de-

bates sobre todos os sete temas da:direitos humanos, práticas trabalhis-tas, meio ambiente, governança orga-nizacional, práticas operacionais jus-tas, questões dos consumidores e de-senvolvimento da comunidade e dasociedade. Inúmeras divergências fo-ram sanadas e novas formulaçõesadotadas. Neste capítulo, uma ques-tão a ser tratada é orientar as organi-zações para que todas as questõesrelevantes (materiais, no jargão danorma) sejam incluídas em suas polí-ticas e ações. A idéia é que apenastemas convenientes para a organiza-ção sejam considerados.

Na seção da qual eu participeimais diretamente, os redatores enfa-tizaram que as organizações devemcontribuir com a comunidade e a so-ciedade em geral visando ao seu de-senvolvimento. Esta é a palavra cha-ve, que ressalta instrumentos inter-nacionais tais como a Declaração doMilênio e a Declaração da Cúpula deCopenhagem. Estes documentos co-locam o desenvolvimento como umdireito de todos e convidam a socie-dade para contribuir neste sentido.

conclusão em 2010

* Clóvis Scherer érepresentantes do Dieese no

Grupo de TrabalhoResponsabilidade Social da ISO

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PAULO ITACARAMBI

No final dos anos 1980 e início anos 1990, ouvia-se um bordão onipresente nomercado de produtos e serviços: não basta ter preço, é preciso ter qualidade! Hoje jáse pode ouvir novos ecos desse bordão, agora com um importante acréscimo: nãobasta ter preço e qualidade, é preciso ser sustentável!

A expressão acima reflete uma reação positiva do mercado ao movimento que asociedade vem fazendo de responsabilização social das organizações privadas epúblicas, em decorrência dos crescentes desequilíbrios ambientais, econômicos esociais produzidos pelas atividades humanas, principalmente aquelas de naturezaeconômica, cujos efeitos já são claramente perceptíveis nas mudanças climáticas, nadesagregação e destruição de importantes ecossistemas naturais, na perda dos valo-res de coesão social que se observa em nossa sociedade e no aumento da miséria e daviolência que se manifestam nas ruas de nossas pequenas e grandes cidades.

Desenvolve-se entre as lideranças sociais, culturais, econômicas, científicas epolíticas um crescente consenso de que o nosso atual modo de vida é insustentável.Mantidos os padrões atuais de consumo e produção, além do colapso da base mate-rial propiciada pelos recursos fornecidos pela natureza, enfrentaremos custos cadavez maiores para adaptar os ambientes naturais e construídos para o convívio huma-no.

Por outro lado, não será possível incluir, com dignidade, no convívio social, polí-tico e cultural, milhões de pessoas que atualmente não têm acesso nem aos serviçosbásicos necessários à sobrevivência, nem ao mercado de bens e serviços privados.Os recursos fornecidos pela natureza não suportarão o aumento de consumo queserá necessário se forem mantidos os níveis de desigualdade na apropriação dasriquezas e os atuais níveis de super exploração dos recursos e de desperdício.

Diante desse quadro, a primeira responsabilidade social de uma organizaçãoempresarial é conhecer e administrar os impactos de suas atividades e produtos.Além de fazer a tarefa de casa, implantando a gestão sustentável de seu negócio,cabe também à empresa socialmente responsável tomar a atitude pró ativa de promo-ver a mudança de comportamento das demais organizações afetadas pelo seu negó-cio, ampliando o movimento de responsabilização social.

Além do imperativo ético de não fazer aquilo que sabidamente prejudica o outro,a produção sustentável abre um amplo mercado de novos bens e serviços que desa-fia a criatividade e a competitividade entre as empresas. É o que se pode ver no setorda construção. A construção civil é uma das atividades humanas de maior impactosocioambiental, pois transforma o ambiente natural em espaços adaptados às neces-sidades das demais atividades sociais e produtivas. É, portanto, um setor que poderádar grande contribuição para a construção (desculpe pelo trocadilho) da nova culturade comportamento sustentável.

Este é o desafio que motivou a criação do Conselho Brasileiro da ConstruçãoSustentável (CBCS). Reunindo pessoas físicas e jurídicas dos diferentes elos dacadeia produtiva da construção civil, o CBCS se propõe a promover o comportamen-to responsável e sustentável em todo o setor, criando referências técnicas para aprodução de materiais de construção, desenvolvimento de projetos, métodos cons-trutivos, critérios para investimento, financiamento e incorporação, uso das edifica-ções e planejamento e utilização da infra-estrutura, serviços e espaços urbanos. Oobjetivo é promover a produção e disseminação da informação e de conhecimentosque permitam ao leitor responder corretamente à pergunta: sua casa é sustentável?

Diretor-executivo doInstituto Ethos de

Empresas eResponsabilidade Social

Sua casa é sustentável?

PAULO ITACARAMBI

DIV

ULG

ÃO

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ENSAIO

NATAL

POR MOTIVOS RELIGIOSOS OU NÃO, O NATAL É COMEMORADO COMO UM MOMENTO DEREUNIÃO, CONFRATERNIZAÇÃO. NESSE ENSAIO LUCIENE BITTENCOURT KUMM, FOTÓGRAFAPOR HOBBY HÁ MAIS DE 30 ANOS, ACEITOU NOSSA IDÉIA DE REVELARMOS ALGUNS DOSSÍMBOLOS QUE FAZEM PARTE DAS CELEBRAÇÕES. APAIXONADA POR IMAGENS, ELAATUALMENTE FAZ PÓS-GRADUAÇÃO NA UNIVALI. APENAS UMA FOTO (ACIMA) É DE AUTORIADE ODILON FACCIO E MOSTRA UMA TRADIÇÃO DE NATAL NA HOLANDA, ONDE HÁ DESFILESPELAS RUAS COM BRINCADEIRAS. NAS OUTRAS FOTOS ESTÃO ALGUNS DOS SÍMBOLOS,COMO A GUIRLANDA, QUE LEMBRA AS PLANTAS QUE OFERECEM PROTEÇÃO NO INVERNO,O PRESÉPIO QUE ENCENA O NASCIMENTO DE CRISTO, AS ESTRELAS QUE REFEREM-SE ÀESTRELA DE BELÉM QUE GUIOU OS REIS MAGOS ATÉ A MANJEDOURA E AS LUZES QUESIMBOLIZAM NO CRISTIANISMO O FOGO DA VIDA ETERNA E A VINDA DE UMA NOVA ERA.

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ENSAIO

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INCLUIR Novas Tecnologias Sociais

é o número de cis-ternas que já foramconstruídas peloPrograma Um Mi-lhão de CisternasRurais (P1MC), co-ordenado pela Arti-culação no Semi-Árido Brasileiro(ASA). As obrasforam realizadasem 1.031 municípi-os do país. Issosignifica a amplia-ção da capacidadede armazenamentode água na regiãoem 3 bilhões e meiode litros. A meta daASA é construir ummilhão desses re-servatórios, possi-bilitando a garantiado acesso à águapotável a cinco mi-lhões de pessoas.

Fonte:www.asabrasil.org.br

As Tecnologias Soci-ais certificadas peloPrêmio passaram aintegrar o Banco deTecnologias Sociais(BTS), disponível emwww.fbb.org.br.A base de dados on-line organiza, siste-matiza e consolidaas informações dastecnologias, bemcomo das institui-ções que as desen-volveram. O BTS foicriado em 2001, jun-to com o Prêmio. É oprincipal instrumentoutilizado pela Funda-ção para disseminar,promover e fomentara reaplicação de Tec-nologias Sociais. Ocadastro digital per-mite a gestores pú-blicos, empreende-dores sociais e lide-ranças comunitáriascompartilhar Tecno-logias Sociais apli-cáveis às suas reali-dades.

Larissa Barros eMichelle Lopes

Inclusão comoferramenta

Tecnologias Sociais cada vezmais difundidas e o Prêmio daFundação Banco do Brasil sãovitrines do movimento

O conceito deTecnologias So-ciais está ga-nhando espaçona sociedadebrasileira e refle-te transforma-ções de pesso-as, instituiçõese comunidades,em busca deemprego e ren-da, saúde, edu-cação, cultura.“Tecnologia Social é toda a possi-bilidade que a gente pode vir a terde utilizar métodos, processos,técnicas para promover a inclu-são”, explica José Roberto Fon-seca, diretor-presidente do Insti-tuto Eco-Engenho.

A fim de localizar e dar visibili-dade a essas iniciativas, a Fun-dação Banco do Brasil realizou aquarta edição do Prêmio Funda-ção BB de Tecnologia Social, compremiação em novembro.

Do total de 782 inscrições, 120práticas foram certificadas e 24concorreram à final. A inovação, aexemplaridade, a transformaçãosocial e o potencial de reaplicabi-lidade foram os critérios utilizadosno julgamento.

Todas as 24 Tecnologias So-ciais finalistas receberam o troféude “Finalista do Prêmio FundaçãoBanco do Brasil de TecnologiaSocial – Edição 2007” destas 24finalistas, 8 foram vencedoras ecada instituiçã ganhou R$ 50 mil.Os recursos deverão ser destina-dos a atividades de expansão,aperfeiçoamento ou reaplicação

da Tecnologia Social.A premiação é concedida a

cada dois anos. A quarta ediçãodo Prêmio foi realizada em parce-ria com a Petrobras, com apoioda Organização das Nações Uni-das para a Educação, a Ciência ea Cultura (Unes-co) e da KPMG Au-ditores Indepen-dentes. Para o ge-rente de parceri-as, articulações eTecnologia Socialda Fundação BB,Luis Fumio Iwata,“além de reconhe-cida fonte de identificação e difu-são de tecnologias aplicadas aodesenvolvimento social, o Prêmio,criado em 2001, tem sido decisi-vo para pautar o tema nas discus-sões e nos trabalhos daquelesque se dedicam a construir umasociedade melhor, mais justa ecom igualdade de oportunidades,principalmente aos segmentospopulacionais que se situam nabase da pirâmide social brasilei-ra”.

221.327

BANCO DETECNOLOGIAS

SOCIAIS

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A diretora de ma-rketing e comunica-ção do Banco doBrasil, JussaraGuedes, destacaque o prêmio alinhao trabalho da Funda-ção Banco do Brasilà atuação da Agen-

da 21 do BB , que estabelece, entreoutras ações, a implementação deatividades de apoio ao desenvolvi-mento sustentável e o financiamen-to de atividades de geração de tra-balho e renda, com inclusão social.

Oito vencedores receberam apremiação, representando as se-guintes categorias:

Região Geográfica - N/NE/CO/SE/S;Aproveitamento/tratamento derejeitos/resíduos/efluentes de proces-sos produtivos; Direitos da Criança edo Adolescente; e Gestão de Recur-sos Hídricos.

VENCEDORES O vencedor da categoria Região

Sudeste foi o projeto Bairro-Escola,desenvolvido pela Prefeitura de NovaIguaçu. Permite a oferta, em horáriointegral, de atividades no contra-tur-no escolar. “A gente está formandouma geração que vai se posicionarde outra forma em relação às opor-tunidades que a vida apresenta.Além de poder acessar as ofertasde trabalho, eles também serão ca-pazes de ter uma inclusão subjeti-va”, reflete Maria Antônia Goulart, co-ordenadora geral do Bairro-Escola.

A juventude também é peça-cha-ve no projeto Policultura no Semi-Árido, realizado pelo Instituto de Per-macultura da Bahia. A agente comu-nitária Ilma Benício Gama destacaa importância dos jovens no proces-so: “Eles aprendem a valorizar a suaregião e co-nhecem umaoportunidadeprof issional.Não precisamsair daquipara buscarum empregoem outro lu-gar”. Ganha-dora da Re-gião Nordes-

te, a Tecnologia Social criada peloInstituto funciona com a implanta-ção de policultivos em pequenaspropriedades agrícolas, onde sãomanejados grãos, hortaliças, legu-minosas, árvores frutíferas e lenho-sas junto à criação de abelhas nati-vas e animais para consumo e ven-da.

Na Região Sul, a Silagem de Co-lostro, desenvolvida pela Associa-ção Riograndense de Empreendi-mentos de Assistência Técnica eExtensão Rural (Ascar/Emater-RS),armazena o excedente do colostroem garrafas PET, que serve paraalimentar bezerras. “É uma tecnolo-gia que não custa nada. Um produ-tor que tem uma vaca pode utilizare, também, aquele que possui cemvacas. Posso levá-la para qualquerlugar e, sobretudo, a iniciativa temuma importância social na famíliarural”, afirma Mara Helena Saalfeld,médica veterinária da Emater.

Na Região Centro-Oeste o pro-jeto Agroextrativismo Sustentável daFavela, realizado pelo Centro de De-senvolvimento Agroecológico doCerrado (Cedac), de Goiânia/GO,promove a implementação do ma-nejo sustentável e o domínio sobrea cadeia da comercialização do fru-to denominado favela, também co-nhecida como faveira, barbatimãoou fava d’anta. Ao refletir sobre aTecnologia Social, o engenheiroagrônomo do Cedac, Marcelo doEgito, faz um alerta: “A gente falamuito de ecologia, mas não podeser apenas das plantas e dos ani-mais. Então, esse trabalho mexecom a questão humana, a valoriza-ção da mulher, o combate ao traba-lho infantil. Tudo isso é fundamen-tal. Não adianta você vender um pro-duto sustentável se as famílias não

têm sustentabilidade social e am-biental”.

Na Região Norte, é a técnica in-dígena de fabricação da borrachaque recebe uma atenção especial,por meio da Tecnologia Social En-cauchados de Vegetais da Amazô-nia, implantada pelo Pólo de Prote-ção da Biodiversidade e Uso Sus-tentável dos Recursos Naturais (Po-loprobio). O material básico é umpano emborrachado pelo leite daseringa. Francisco Samonek, coor-denador do projeto pela Universida-de Federal do Acre, explica comotudo começou: “Nós focamos nanecessidade de se achar uma linhade produto diferenciada, que saís-se diretamente da mão do seringuei-ro e fosse para o mercado. Utiliza-mos várias técnicas, inclusive recu-perando o conhecimento indígena”.

Nas categorias “Aproveitamen-to/tratamento de rejeitos/resíduos/efluentes de processos produtivos”,“Direitos da Criança e do Adolescen-te” e “Gestão de Recursos Hídricos”,os vencedores do Prêmio FundaçãoBB de Tecnologia Social foram, res-pectivamente: Óleo Vegetal Usadocomo Biocombustível, do InstitutoMorro da Cutia de Agroecologia(Imca), Monitoramento do Orçamen-to Criança, do Centro de Defesa da

Criança e do Adoles-cente do Ceará (Ce-deca/CE); e ProjetoCórrego da Serra, de-senvolvido pelo Colé-gio Estadual Raimun-do Santana Amaral.

www.fbb.org.brwww.petrobras.com.brwww.rts.org.br

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INCLUIR

odo de formação, outros temascomo questões de gênero e sexua-lidade foram discutidos.

Quais foram os avanços alcança-dos até o momento?Talita - O principal foi a formação daRede de Orçamento e ParticipaçãoAtiva (Rede OPA) que agrega cercade 70 adolescentes. Tem como ob-jetivo monitorar as políticas públi-cas para a área da infância e ado-lescência, garantindo mais recur-sos e ampliação da democracia. Aformação da Rede impulsionou osadolescentes à capacidade de olhare analisar criticamente as contradi-ções da cidade sob a ótica da viola-ção de direitos, assim como propi-ciou uma discussão sobre a impor-tância da participação de adoles-centes na direção da cidade. O pro-jeto ganhou destaque em váriosespaços, sendo inclusive referênciapara definição de metodologias departicipação nos programas públi-cos. Outro avanço concreto foi a apro-vação das emendas ao orçamentoem 2003 e 2004.

Quais foram os principais desafi-os, nesse processo?Talita - Em muitos espaços, os ado-lescentes eram taxados de manipu-lados ou “aqueles que não sabemo que estão dizendo”. Mas os en-frentamentos e a postura crítica as-sumida pelo grupo demonstraramque os adolescentes devem ter es-paço na sociedade, pois dão impor-tantes contribuições. Infelizmente, acultura do país nem reconhece ple-namente crianças e adolescentesenquanto sujeitos de direitos, nempermite o exercício do controle soci-al dos orçamentos públicos, bemcomo a participação efetiva e plenana vida social e política do país.Outros dois desafios que ainda per-manecem como tal é o não cumpri-mento da legislação que trata da pri-oridade absoluta nos orçamentospúblicos para as políticas que be-neficiem diretamente as crianças eadolescentes e a não participaçãode crianças e adolescentes no mo-

Contato: Centro de Defesa da Criançae do Adolescente do Ceará (Cedeca/CE)Fone: (85) 3252-4202E-mail: [email protected]: www.cedecaceara.org.br

Vez e voz para criançase adolescentes

PARA A REDUÇÃO DASDESIGUALDADES SOCIAIS, É

PRECISO UM CONTROLE EFETIVODOS ORÇAMENTOS PÚBLICOS.

PARTINDO DESSA CONSTATAÇÃO,O CENTRO DE DEFESA DA

CRIANÇA E DO ADOLESCENTE DOCEARÁ (CEDECA/CE)

DESENVOLVEU O PROJETOMONITORAMENTO DO

ORÇAMENTO CRIANÇA. OOBJETIVO É CAPACITAR

ADOLESCENTES DOS BAIRROSPOBRES DE FORTALEZA EM

ORÇAMENTO E POLÍTICASPÚBLICAS. A INICIATIVA VENCEU O

PRÊMIO FUNDAÇÃO BB DETECNOLOGIA SOCIAL. TALITA

MACIEL, ASSESSORACOMUNITÁRIA DO CEDECA/CE, FAZREFLEXÕES SOBRE O TRABALHO.

nitoramento dos orçamentos, comum método adequado e que respei-te a fase peculiar de desenvolvimen-to desse público.

O que muda na vida de um jovemque participa do Monitoramento doOrçamento Criança?Talita - O projeto proporciona umespaço de discussão e ampliaçãodos conhecimentos em uma pers-pectiva crítica, facilitando no reco-nhecimento da comunidade, da es-cola e da família sobre a importân-cia da sua participação como sujei-to de direitos. Esse processo deeducação informal é também umcomplemento à educação formal daescola que é bastante criticada peloconjunto dos adolescentes, princi-palmente no que concerne à quali-dade da educação, do método pe-dagógico e dos conteúdos aborda-dos. Por fim, o acesso ao conheci-mento e às informações, além doprocesso de mobilização e reivindi-cação de direitos favorece a auto-estima de cada adolescente.

Que conselho você daria a uma co-munidade que queira reaplicaressa Tecnologia Social?Talita - Um elemento importante dareaplicação da tecnologia é a reali-zação de parcerias com entidadeslocais que já desenvolvem um tra-balho com crianças e adolescentesorganizados, para que possam aju-dar na mobilização e no suporte me-todológico. Também é importanteagregar diversos conhecimentos eexperiências a essa iniciativa. Ado-lescentes se identificam com tea-tro, música, arte educação, e se uti-lizam dessas formas de expressãoe comunicação para reivindicar seusdireitos. Assim, é fundamental so-mar diferentes olhares ao projeto. Areaplicação desta tecnologia, pro-vavelmente esbarrará em inúmerosobstáculos.

No que consiste o Monitoramentodo Orçamento Criança?Talita – Fazemos a análise e inter-venção no orçamento público no quediz respeito aos recursos destinadoàs crianças e adolescentes. O obje-tivo é efetivar os direitos de criançase adolescentes, através da organi-zação e participação popular.A preparação do projeto teve inícioem 2002. Começamos com a análi-se do problema e com a capacita-ção da equipe do Cedeca/CE. Em2003, o projeto realizou visitas a ou-tras ONGs que desenvolvem traba-lhos com adolescentes na cidade.Reunimos esses grupos de trêsbairros de Fortaleza e iniciamos aformação com adolescentes. A for-mação consistia em uma capacita-ção sobre orçamento público e oconhecimento sobre o funciona-mento do Estado e de como se or-ganiza a sociedade. Durante o perí-

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“A habitação é a questão centralpara o desenvolvimento urbano, emespecial nas grandes e médias ci-dades brasileiras, ocupando cercade 70% do território urbano do país”,afirma a urbanista Raquel Rolnik,professora da PUC de Campinas(SP). “A maior parte da ocupação doterritório é precária, tem sido feitade forma desordenada, mas foi ahabitação que expandiu a cidade eessa expansão é permanente”. Otema é central no debate das ques-tões da cidade e também na buscade soluções.

O Brasil passou por um intensoprocesso de urbanização nos últi-mos 60 anos, o que fez a proporçãoda população que vive nas cidadessaltar de 31,4%, em 1940, para81,3%, em 2000. O quadro brasilei-ro atual é a existência de grandescidades e concentração da popula-ção pobre em favelas e outros as-sentamentos informais, onde pre-valecem condições de moradia pre-cárias. Raquel Rolnik afirma que aexpansão das cidades foi realizadapelas pessoas informalmente, semplanejamento público, dependendodas condições individuais paraconstruções de casas, ampliaçõese reformas. “O modelo de urbaniza-ção é excludente. Os projetos sãosempre realizados nas periferias”,critica a professora, que fez parte doMinistério das Cidades nos primei-ros quatro anos da sua constituição.

ENTRE ESPECIALISTAS,GOVERNOS,INSTITUTOS EAGÊNCIAS DEFINANCIAMENTO ÉUNÂNIME A IDÉIA DEQUE A HABITAÇÃO ÉFUNDAMENTAL PARARESOLVER ASQUESTÕES DESUSTENTABILIDADE DACIDADE, DO MESMOMODO QUE FOCAR NACIDADE, NOMUNICÍPIO, NASPOLÍTICAS E LEISLOCAIS É ESSENCIALPARA RESOLVER OSPROBLEMASHABITACIONAIS.

“A terra é barata onde não tem cida-de”, conclui a urbanista. Em 2005, odéficit habitacional brasileiro era de7,9 milhões de domicílios e se con-centrava no Sudeste (36,7%) e noNordeste (34,7%). A necessidade demoradias se destinava principal-mente a atender os problemas decoabitação familiar (56,8%). A segun-da maior causa do déficit era o ônusexcessivo com aluguel (23,5%), se-guida pelas habitações precárias(19,7%).

Incrivelmente, o déficit de mora-dias, guardadas as diferenças re-gionais, é quase igual ao númerode domicílios vazios. A cidade deSão Paulo tem um déficit de 250 milmoradias, segundo Rolnik, e cercade 400 mil casas e apartamentosvazios. Mas por que isso ocorre, tan-ta gente sem casa e tanta casa “so-brando”? A urbanista responde quemais uma vez é resultado de umprojeto urbano que exclui os pobrese oferece as melhores oportunida-des às classes média e alta. Acon-tece que a classe média brasileira

CIDADES

Moradia,diversão

e arte

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condomínios fechados onde encon-tram produtos e serviços que preci-sam. A urbanista explica que, se fo-rem observados os modelos de es-paço público e de cidade do século19, havia tentativas de criar espaçospúblicos para o encontro de classes.“O Hyde Park de Londres ou o Cen-tral Park de Nova Yorksão espaços de des-compressão. Hojenão há espaços deconvivência, apenasprojetos de isolamen-to que levam à com-pressão e ao conflito”,analisa Rolnik.

O investimento e oplanejamento urbanoe também rural das habitações estáno centro de outros temas como sa-neamento, transporte, acesso àágua, meio ambiente, emprego, edu-cação, enfim, qualidade de vida. OPrograma das Nações Unidas paraos Assentamentos Humanos (UN-Habitat) destaca no documento “TheState of the World’s Cities 2006/2007”que há uma relação direta entre ascondições de moradia e indicadoresde desenvolvimento humano. Deacordo com o estudo, a existência deuma ou mais inadequações habita-cionais ameaça a saúde, a educa-ção e as oportunidades de empregodos moradores de assentamentosprecários. “Eles passam mais fome,têm poucas chances de conseguirum emprego bem remunerado no se-tor formal, têm menor nível educacio-nal, são mais vulneráveis a doençase morrem mais cedo do que o restoda população urbana”, destaca o re-latório do governo brasileiro sobre osObjetivos de Desenvolvimento do Mi-

DADOS DO GOVERNO BRASILEIROAPONTAM UM AVANÇO DAS CIDADES

• A proporção de domicílios urbanos com condições de moradia ade-quadas passou de 49,4%, em 1992, para 61,5%, em 2005.

• Apesar do progresso obtido no país como um todo, segundo osnúmeros, o acesso à habitação permanece ainda desigual. Enquan-to 68,2% dos domicílios do Sul e 73,3% dos do Sudeste têm condi-ções de moradia apropriadas, o percentual de residências adequa-das é bem inferior no Norte (29,9%), no Centro-Oeste (40,3%) e noNordeste (46,5%).

• Cerca 17 milhões de domicílios urbanos brasileiros apresentavaminadequações habitacionais em 2005 como ausência de abasteci-mento de água por rede geral, ausência de esgoto por rede geral oufossa séptica, ausência de banheiro em casa, teto e paredes frágeise gente demais sob o mesmo teto (mais de três pessoas por cômo-do utilizado como dormitório).

• Entre os principais problemas das moradias brasileiras, além dodéficit de residências, estão a falta de esgoto sanitário e de acessoao abastecimento de água.

• Segundo o relatório brasileiro, a maior parte dos domicílios urbanosprecários está concentrada nas regiões Sudeste e Nordeste, queabrigam, respectivamente 5,9 milhões (34,0%) e 5,2 milhões (30,2%)deles.

O AVANÇO DAS CIDADES

até hoje não cresceu o suficientepara as ofertas do mercado imobili-ário.

O resultado dessas escolhas é oisolamento das classes sociais e oesvaziamento dos centros urbanos.Os bairros centrais de São Pauloperderam cerca de 10 mil habitantesnos últimos 10 anos. As classes po-

pulares, quando receberam oportu-nidades de habitação, sempre ga-nharam terrenos e casas na perife-ria, isoladas, onde não havia estru-tura de transporte e comércio. As clas-ses média e alta, segundo Rolnik,também acompanha a tendência deisolamento, só que construindo es-truturas auto-suficientes como os

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lênio (ODM) ao comentar o estudoda ONU. Dessa forma, o relatório en-fatiza que “o lugar de moradia im-porta”. “A habitação é o começo detudo. Não é apenas um teto. É umlugar dentro da cidade”, reforça Ra-quel Rolnik. O relatório brasileiro in-clusive atribui o cumprimento dameta referente à habitação funda-mental para alcançar os demaisODM. O UN-Habitat define domicíli-os em assentamentos precáriosquando necessita ainda de um oumais desses elementos: seguran-ça da posse, qualidade estrutural edurabilidade da construção, acessoà água potável, acesso a esgota-mento sanitário e área suficiente

para morar.O tema da habitação está intima-

mente ligado com sustentabilidade emeio ambiente. Mais do que isso, aprecarização das habitações afetadiretamente o meio ambiente. “Ospobres não têm lugar nas cidades eacabam indo para as periferias, paralocais perigosos e para onde atin-gem o meio ambiente como a beirade córregos e encostas”, diz a urba-nista da PUC de Campinas. O esgo-tamento sanitário adequado – porrede geral ou fossa séptica – é inclu-sive um dos indicadores para acom-panhar as metas do milênio. No meiourbano brasileiro, a cobertura subiude 65,9%, em 1992, para 77,3%, em

2005. Isso significa que, nesse perí-odo, 3,5 milhões de domicílios urba-nos foram conectados à rede geralde esgotamento sanitário. Na zona ru-ral, também se verificou uma amplia-ção do acesso ao serviço, que che-gava a 18,2% da população em 2005.

Apesar da ampliação dos servi-ços, a falta de uma solução adequa-da para o esgotamento sanitário é umproblema que em 2005 atingia 34,6milhões de brasileiros que viviam emcidades. Na zona rural, a soluçãomais adotada para o esgoto ainda éa fossa rudimentar (45,3%). Mesmoassim, mais de um quarto (27,1%)da população rural não possui ne-nhum tipo de esgotamento sanitário.O problema da poluição provocadapelo déficit nos serviços de coleta deesgoto fica ainda mais grave quandose observa que menos de um terçodo esgoto coletado passa por algumtratamento.

A conclusão mais importante,apesar das divergências, é que osproblemas tanto de déficit habitacio-nal quanto de precarização da mora-dia podem ser resolvidos no âmbitodo município. As leis federais comoas previstas na Constituição de 1998ou o Estatuto das Cidades, aprovado

O governo federal lançou o 13º leilão do Programa deSubsídio à Habitação de Interesse Social (PSH). Bancos,companhias habitacionais e cooperativas de crédito queoferecerem melhores condições de atendimento e meno-res taxas vão administrar os R$ 300 milhões do PSH paraa construção de casas. Serão beneficiadas cerca de 45,8mil famílias com renda mensal de até três salários mínimos.

A distribuição das unidades habitacionais será feitade acordo com a localidade dos beneficiários. Serão fir-mados 24,5 mil contratos em municípios da área rural, seismil em cidades de regiões metropolitanas, 2,5 mil nas regi-ões metropolitanas de São Paulo e do Rio de Janeiro e12,8 mil nos demais municípios. Além desse critério, o re-passe de recursos vai considerar o déficit habitacionalem cada estado.

As famílias atendidas são selecionadas pelos gover-nos municipais ou estaduais, que atuam como parceiros

SUBSÍDIOS PARA MORADIA POPULARdo PSH. “Em geral, os governos locais entram com oterreno onde as casas são construídas ou destinam maisrecursos para complementar o subsídio federal”, explicaa Secretária Nacional de Habitação, Inês Magalhães. Des-de 2003, O PSH destinou R$ 1 bilhão para a construçãode 171,5 mil moradias.

O custo máximo de construção de cada unidade ha-bitacional varia de acordo com o local onde é construída.Nas regiões metropolitanas de São Paulo e do Rio deJaneiro, o valor máximo é de R$ 30 mil. Nos municípiosdas demais regiões metropolitanas, o valor é de R$ 28mil. Nos demais municípios, o teto é de R$ 20 mil.

As instituições vencedoras do leilão terão até dia 28de abril para assinar os contratos com beneficiários eprefeituras escolhidos. Cada família beneficiada pode re-ceber entre R$ 6 mil e R$ 10 mil em subsídio do programapara financiar a construção de sua casa.

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em 2001, apontam a esfera munici-pal para a solução dos problemasda cidade, incluindo os de habitação.Neste espaço também que a urba-nista Raquel Rolnik percebe as prin-cipais dificuldades, mas tambémonde identifica potencial para as so-luções. “O problema é organizar asadministrações municipais e fazercom que os municípios pensemmodelos diferentes de cidade, deurbanização e de habitação. Hojeexistem instrumentos e existe crédi-to, que são elementos novos e im-portantes”, avalia Rolnik. Questiona-

da se é possível reverter esse proje-to excludente de cidade, a urbanistaafirma que “é uma luta” e que as ci-dades são também os lugares ondehá resistências que buscam outrosprojetos de cidade. “Modelos de ci-dade dependem da organização dacidadania”, conclui se referindo tam-bém a movimentos que têm se des-tacado como São Paulo: Nossa Ci-dade ou Bogotá Como Vamos.

Para o governo federal, outro de-safio importante é melhorar a quan-tidade e a qualidade das avaliaçõesde políticas e programas e das infor-

mações existentes sobre as condi-ções de habitação e saneamento noBrasil, pois as fontes disponíveis,como o Censo Demográfico e a Pes-quisa Nacional por Amostra de Do-micílios (Pnad), trazem um númerolimitado de informações sobre es-ses quesitos, em especial no quese refere aos assentamentos precá-rios.

No âmbito dos municípios, asmoradias populares e o aumento docrédito individual têm sido parte im-portante da política nacional de ha-bitação, que engloba as diretrizes

PRECARIEDADE

Quantas pessoas moram emassentamentos precários no Bra-sil? O governo brasileiro admiteque um dos principais entravespara o alcance da Meta 11 dos Ob-jetivos do Milênio sobre habitaçãoé a ausência de uma estimativaadequada do número de pesso-as residentes em assentamentosprecários. A estimativa mais acei-ta para quantificar o número demoradores em assentamentosprecários, conforme o relatório bra-sileiro deste ano, refere-se à po-pulação residente em áreas clas-

sificadas pelo IBGE como seto-res especiais de aglomeradossubnormais. Esses setores sãocaracterizados pela informalida-de na posse da terra, irregulari-dade urbanística, carência de ser-viços públicos essenciais e dis-postos, em sua maioria, de for-ma densa e desordenada.

Os domicílios nessas carac-terísticas estão concentrados, se-gundo dados do governo federal,principalmente no Sudeste (63%).Isso porque, no Brasil, as favelassão um fenômeno tipicamente

metropolitano. As regiões metro-politanas de São Paulo e do Riode Janeiro abrigam, juntas,44,6% dos domicílios em aglo-merados subnormais. São Pau-lo é o Estado com maior núme-ro, abrigando mais de 30% dototal. O governo admite que, em-bora seja bastante utilizado naprática, o conceito de aglomera-dos subnormais subestima a di-mensão da informalidade urba-na, o que dificultaria o planeja-mento das ações governamen-tais em assentamentos precários.

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das agências de fomento como aCaixa Econômica Federal. Projetose recursos tanto no meio urbanoquanto no meio rural, distribuídosnos municípios e regulados com ins-trumentos como o Estatuto da Cida-de, têm impulsionado a construçãocivil e o crescimento no número dehabitações nos municípios brasilei-ros. O orçamento da Caixa já foi am-pliado dentro dos recursos do Pro-grama de Aceleração do Crescimen-to para Habitação (PAC) para R$ 14bilhões em 2007 com previsão deampliação para R$ 17 bilhões nopróximo ano. Segundo Marcelo LuizMoser, Gerente Regional de Negóci-os da Caixa para a Construção Civilem Santa Catarina, como projeto dedesenvolvimento da habitação, umadas diretrizes da CEF é dispensarrecursos para todas as faixas de ren-da. “Nós temos produtos que con-templam desde um salário mínimoaté sem limite de renda. A grande di-ferença é você poder atuar na diver-

parceria com um ente público local,como prefeituras ou governos esta-duais. Nesta área, Moser destaca oCrédito Solidário e o Programa deSubsídio à Habitação de InteressePopular (PSH). O Programa de Arren-damento Residencial (PAR) é outrodestaque para classes populares,com prestações de até R$ 150,00,para famílias com renda de até cincosalários mínimos. Mas o PAR hojeestá parado por falta de projetos.Pensando especificamente em comoutilizar recursos para a habitação deforma a contribuir para um projeto deurbanização das cidades, a Caixa tra-balha com uma área de Desenvolvi-mento Urbano que busca promovero desenvolvimento regional susten-tável através do investimento nosmunicípios e nas administraçõesmunicipais. Isso envolve questões deinfra-estrutura urbana, apoio aos mu-nicípios, saneamento básico e habi-tação. Um dos investimentos maisrecentes é o reforço na capacidade

chamados a participar desse proces-so como sindicatos, associações demoradores e cooperativas. “Onde ainiciativa privada não tem tanto inte-resse por conta de baixo lucro, nósencontramos soluções através des-sas parcerias, fortalecendo o proces-so de participação social e levandomoradia ao interior”, afirma. Essasparcerias com atores sociais, garan-te Averbeck, promovem participaçãopopular e garante a efetivação do in-vestimentos porque os envolvidosacompanham o uso dos recursos, arealização da obra e a conclusão dosprojetos. A participação social e a or-ganização da gestão municipal sãofundamentais para se atingir as me-tas nacionais para a habitação, paraaplicar de forma devida os recursosdo setor e para se resolver de formaassociada os problemas que envol-vem o setor como acesso à água, es-gotamento sanitário e meio ambiente.

O governo federal está destinan-do recursos para o Fundo Nacional

sidade”, avalia Moser. “Quando vocêdesenvolve um produto só, você temum tipo só de habitação e não aten-de a todas as necessidades da po-pulação, você não gera emprego nemmovimenta a atividade econômica”,completa. O objetivo, além da promo-ção da própria moradia, é promoverum círculo virtuoso de crescimento jáque construções de padrões diferen-tes geram necessidades de mão-de-obra e serviços diferentes.

Nos investimentos em habitaçãopopular, o Gerente da CEF ressaltaque os projetos sempre precisam ter

técnica de gestão dos municípios.“Precisamos fortalecer esses parcei-ros para que as políticas públicasefetivamente aconteçam para a po-pulação”, avalia Carlos Averbeck, Ge-rente de Desenvolvimento Urbano daCEF em Santa Catarina. Os investi-mentos têm sido realizados com es-pecial atenção, conforme afirma Aver-beck, nas cidades pequenas, paradesestimular a migração por falta deoportunidades do local onde a pes-soa reside.

Outros atores além das adminis-trações municipais também têm sido

de Habitação de Interesse Social queserão liberados diretamente para osmunicípios, mas apenas para os quetiverem Planos, Fundos e ConselhosMunicipais de Habitação. Depende-rá ainda de termo de adesão da ad-ministração municipal no Ministériodas Cidades, que já está disponívelpara os municípios. “A lógica é que omunicípio pense nas próprias solu-ções para os problemas de habita-ção de baixa renda das suas comu-nidades”, avalia Averbeck. “Historica-mente os planos diretores dos muni-cípios deixaram de lado as popula-

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Associado à habitação, umavoz corrente entre as agências dedesenvolvimento é a necessida-de de se apoiar e fomentar proje-tos e ações que tratem de outrosaspectos ligados ao desenvolvi-mento local como forma de garan-tir qualidade de vida e reduzir amigração. O Projeto Caixa Objeti-vo de Desenvolvimento do Milênioé um exemplo da tentativa de agên-cias governamentais em focar osseus recursos e a sua política, nasua área de atuação e tambémnos projetos de desenvolvimentodas comunidades. Para trabalharno desenvolvimento das Metas doMilênio e desenvolver outros as-pectos da habitação, a CEF des-taca sua atuação em 85 projetosregionais distribuídos pelo paíscom foco em quatro categorias: co-munidades de baixa renda; cata-dores de papel reciclável; artesãoe quilombolas.

Dois exemplos de atuação es-tão em Santa Catarina nas comu-nidades da Reserva Indígena Kon-

MAIS DO QUE HABITAÇÃO, DESENVOLVIMENTOprodutos orgânicos na comunida-de. São 400 m2 de área, com umaestufa de 100 m2, sistema debombeamento de água, acompa-nhamento técnico e 50 pessoasparticipando da capacitação. En-tre os objetivos do projeto, que érealizado em parceria entre váriasinstituições, estão a melhoria daqualidade de vida, o enriqueci-mento da condição nutricional, ofortalecimento da organização co-munitária e a capacitação na pro-dução de alimentos orgânicos.

O projeto de Hortas Comunitá-rias também é exemplo realizadoentre os índios da Reserva Kon-dá. A comunidade tem 85 famílias,totalizando 330 habitantes. Umapopulação que vive do artesanatoe da agricultura. Entre os objeti-vos básicos das hortas, tambémestão a produção de mudas e demerenda escolar. A comunidadetem 97 alunos no ensino funda-mental e 42 na educação infantil. Acapacitação de jovens e adultostambém é parte do projeto.

dá, no Oeste do Estado, e de re-manescentes do quilombo Inver-nada dos Negros, em CamposNovos. Álvaro Hall, Consultor daPresidência da CEF, afirma que hácomunidades em que se leva luzelétrica, saneamento, habitação edocumentação. “Não é apenas acasa isolada. É saneamento eoutros benefícios. Nas duas comu-nidades mencionadas antes nãohavia banheiro em casa”, afirma.Entre os quilombolas, o bancoatua desde 2006 com 80 famílias,num total de 300 pessoas. Noprojeto ODM Caixa foram constru-ídas 66 habitações com recursosdo FGTS, totalizando um investi-mento de cerca de R$ 500 mil.Além disso, 43 famílias estão in-cluídas no programa Bolsa Fa-mília e jovens da comunidade fo-ram contratados dentro do progra-ma Jovem Aprendiz.

As hortas comunitárias tam-bém são outro exemplo na Inver-nada dos Negros, onde são desti-nados recursos para o plantio de

ções mais pobres. O que se buscaagora é levar ao município a respon-sabilidade de pensar as suas solu-ções já que lá encontram-se os pro-blemas”, conclui. Para o uso dos re-cursos federais, os municípios pre-cisam ter um plano fazendo um di-

agnóstico da situação tanto na áreaurbana quanto rural, identificando ascarências, os caminhos para a solu-ção, metas e de onde virão os recur-sos complementares. A participaçãopopular é incentivada através da exi-gência dos Conselhos e o aporte de

recursos do estado e do municípiotambém através do Fundo de Habi-tação. “A lógica é que se estabeleçacaminhos para as soluções, cons-truídos com a população, que sejamsustentáveis financeiramente”, resu-me Averbeck.

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AMBIENTE Cuidando da vida

Na palestra quefez no Brasil no finalde novembro, MohanMunasinghe, vice-presidente do IPCCe também consultordo Governo do SriLanka e professorda Universidade dasNações Unidas, deTóquio, afirmou que:“se não houvessegás carbônico noplaneta a tempera-tura chegaria a -30ºC. A questão éque o nível normaldesse gás na at-mosfera deve ser de275 partes por mi-lhão para que a tem-peratura média daterra fosse de 14ºC.Mas desde o inícioda Revolução Indus-trial o nível de CO2saltou de 275 para385 partes por mi-lhão. O nível de gáscarbônico não deveultrapassar 450 ehoje já estamosbem próximos dis-so”, disse Mohan.

4ºC é a estimati-va de aumento dastemperaturas noplaneta até 2100apontada na Cartade Valencia (Espa-nha), relatório apre-sentado pelo IPCC(Painel Intergover-namental de Mu-danças Climáti-cas|) em novem-bro.

AQUECIMENTO

1,8

Com foco nas perigosas conseqüências dasmudanças climáticas, o ator Leonardo di Ca-prio, produziu e apresentou o documentário "AÚltima Hora". No filme, estudiosos alertam so-bre a contaminação ambiental e convocam ahumanidade a reagir enquanto há tempo. Atra-vés de clippings de imagens do planeta e decatástrofes naturais, cerca de 50 cientistas, re-ligiosos, ativistas, pacifistas, líderes políticos,arquitetos e outros profissionais contam comoeles enxergam o momento que atravessamos.Eles avaliam o que foi e o que está sendo feito eo que ainda se pode fazer. O título original "The11th hour" (A décima-primeira hora) faz uma alu-são curto tempo que resta à humanidade parareagir e tentar reparar os erros cometidos atéagora. O filme retrata ainda a relação entre con-sumo e felicidade, e o desfecho problemáticoque essa relação pode acarretar ao nossomeio-ambiente.

Este fórum foi criado através deuma parceria dos membros da socie-dade civil, do setor privado e dosmovimentos sociais para a constru-ção de um modelo de desenvolvi-mento da Amazônia que não seja ba-seado no desmatamento e na degra-dação socioambiental. O objetivo éuma agenda pactuada entre os diver-sos setores para uma Amazônia maisjusta e sustentável. A nova iniciativaprocura combinar o poderio econô-mico empresarial com a garantia dosdireitos dos povos tradicionais pormeio da mobilização da sociedade ci-vil e de políticas públicas voltadaspara a sustentabilidade. As linhas deação apresentadas na Carta de Com-promisso do Fórum dão ênfase ao for-talecimento do mercado de produtose serviços sustentáveis e à valoriza-ção do conhecimento dos povos da

floresta. A ministra do Meio Ambi-ente, Marina Silva, participou daabertura do evento. Para Marina,o lançamento do Fórum pode ex-pressar uma nova fase de esfor-ços no segmento ambiental. Osnúmeros da região são desafiado-res, a Amazônia brasileira corres-ponde a 59% de todo o territórionacional, abriga 12,2% da popula-ção do país, com mais de 180 etni-as distintas, mas responde porapenas 8% do PIB. Mais de 10 mi-lhões de pessoas, 45% de sua po-pulação, vivem abaixo da linha dapobreza e menos de 1% do PIBamazônico advém da biodiversida-de regional. Mas a iniciativa pro-mete resultados positivos porquemobiliza setores que atuam naAmazônia e têm como atuar em es-cala.

A ÚLTIMA HORA

Fórum da AmazôniaSustentável

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Malwee Malhas é uma empresa quemantém áreas de preservação ecológicadesde sua fundação e que já no ano 2000,trocava o óleo BPF por gás natural. Agora, deforma pioneira no segmento têxtil e, maisuma vez espontânea, a Malwee neutralizasua emissão de gases do efeito estufa, tor-nando-se Carbono Zero.

A empresa contratou uma consultoria ex-terna para realizar seu inventário de emis-são de gases do efeito estufa. Emissões di-retas feitas pela fábrica e emissões indire-tas, que levam em conta do consumo de ener-gia elétrica ao transporte de cargas, viagensde funcionários – quer seja por carro ou avião– até os carros dos representantes comerci-ais espalhados em todo país foram calcula-dos no período de janeiro a junho de 2007.

O resultado desse inventário foi compa-rado com o do inventário florestal da empre-sa, e apontou que o volume de árvores exis-tentes hoje plantadas e preservadas pelaMalwee Malhas dá à empresa um superávitem neutralização de carbono. O estudo foibaseado nos parâmetros de avaliação doIPCC (Painel Intergovernamental de Mudan-ças Climáticas).

Superávit de árvores

Não queremos viver em guetos, queremos apenas igualdade. Nomeu trabalho no governo federal visitei várias comunidades, entrequilombolas, de baixa renda, discriminadas. Isso refletediretamente no meu dia-a-dia como cidadã consciente dosdireitos e deveres

Matilde Ribeiro, ministra da Secretaria Especialde Promoção de Políticas de Igualdade Racial

DIV

ULG

ÃO

- Manutenção e conservação de mais de 5 milhões de m2de áreas verdes, compostas, principalmente, por espéciesnativas.

- O SIAF - Sistema de Absorção de Fumaça – novo sistemaque permite às chaminés industriais emitir apenas gasestotalmente neutralizados foi encomendado pela Malwee Ma-lhas e desenvolvido pelo Departamento de Engenharia Quí-mica e Engenharia de Alimentos da UFSC – UniversidadeFederal de Santa Catarina.

- Para o transporte de mercadorias e locomoção de pesso-as dentro da empresa são utilizados veículos elétricos mo-torizados.

- Recuperação do calor gerado nos efluentes, aquecendo aágua limpa na entrada dos processos. Dessa forma, dimi-nui a necessidade de aquecê-la com vapor gerado nas cal-deiras e, conseqüentemente, reduz também o consumo degás natural.

- Até 45% de toda a água usada na empresa é reutilizada, oque permite à Malwee deixar de retirar mais de 200 milhõesde litros de água por ano do Rio Jaraguá.

- Todos os caminhões da frota da empresa foram adquiri-dos com selo verde, com controle de emissões atmosféri-cas que diminuem os gases do efeito estufa.

COMPENSAÇÃO E REDUÇÃO - A Malwee Malhasrealiza um conjunto de ações com tecnologias lim-pas e processos que reduzam o impacto ambiental.

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DESENVOLVIMeNTO LOCAL O papel de cada um

Projetos no

Nordeste

permitem a

união de

esforços

para garantir

ganhos mais

justos na

produção de

castanha de

caju e mel

PIAUÍNo município de Ipiranga do Piauí,

localizado a 259 km de Teresina (PI)e com 10 mil habitantes, produtoresde castanha de caju estão passan-do pela experiência de vender seusprodutos direto para o varejista sempassar pelos atravessadores. Essamudança está ocorrendo a partir daorganização dos produtores em co-operativa e do investimento do go-verno federal. Juntos, os produtoresmontaram uma fábrica de processa-mento de caju, ligada à Central deCooperativas de Cajucultores doEstado do Piauí (Cocajupi), que be-neficia o principal produto da colhei-ta, que é a castanha, antes vendidabruta e barata para ser processadaem grandes fábricas no Ceará e naBahia e vendida a preços altos nosul do país. Esses estados estãojunto com Piauí e Rio Grande do Nor-te como os quatro maiores produto-res brasileiros. Com a fábrica, o pro-dutor terá um valor mais alto pelo seuproduto, que já sai da cooperativacom mais valor agregado, e o con-sumidor receberá nas prateleirasdos supermercados um produto compreço mais baixo. Os desafios agorasão encontrar mercados que esco-em cada vez mais a produção e nofuturo processar também o pedun-co, que é a polpa do caju, atualmen-te desperdiçada pelos produtores,

que usam apenas o fruto, isto é, acastanha.

Mas o trabalho da unidade de be-neficiamento da Cocajupi está dan-do resultados e fazendo escoar a pro-dução da região. A safra de caju vaide agosto a novembro e das 500 to-neladas de castanha produzidas emIpiranga, 100 já foram compradaspela cooperativa para processamen-to e venda. “Hoje o produtor tem ga-rantia da sua safra, um preço maisjusto e o consumidor também vai co-meçar a sentir os benefícios”, afirmaVicente Rufino Cortez, administradorda fábrica. A prioridade da compra éda produção dos cooperados, quehoje são 65, pagando até um preçomelhor pelo produto, mas a fábricatambém negocia com produtores quenão fazem parte do projeto.

De cada cinco quilos de castanhaverde produz-se um quilo de amên-doa processada, podendo chegar aR$ 20,00 o quilo. O preço do produtofinal depende da qualidade da casta-nha, que varia de acordo com o ta-manho e se chega ao final do pro-cesso inteira ou quebrada. O princi-pal mercado da castanha brasileirahoje é o exterior, em especial os Es-tados Unidos e vários países da Eu-ropa. O maior produtor é a Índia, maso Vietnã também está à frente do Bra-sil. Dados do governo federal afirmam

Textos e fotos:Vanessa Pedro

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TIPO EXPORTAÇÃO

que o país fechará o ano com umaprodução de 265,8 mil toneladas decastanha de caju.

A castanha é dividida em quatrotipos. A número 1 é a melhor e maior.O produto passa por processos debeneficiamento que incluem o uso demaquinário e trabalho manual. O clas-sificador separa automaticamentepor tamanho, facilitando a armazena-gem separada em sacos de 50 qui-los. As castanhas vão depois para oautoclave, onde são cozidas de 13 a16 minutos. Essa fase também aju-da a soltar um pouco a casca do pro-duto para aparentemente facilitar avida dos que assumem nas fases se-guintes. Depois do autoclave, o pro-duto precisa resfriar de 24 a 72 ho-ras. A fase seguinte é quebra da cas-ca, toda manual e a que depende dahabilidade do trabalhador, mas tam-bém a que eles consideram a maisprecária. A castanha ainda passa pelaestufa por seis horas, pelo desumi-dificador por sete minutos e volta àestufa para receber um choque detemperatura. Um aparelho específi-co ainda tira 60% da pele.

Por último, uma equipe, na maio-ria composta por mulheres, ainda ficacom a tarefa de tirar o restante dapele e separar as inteiras das que-bradas. Quanto mais inteira, melhor.Por este trabalho, elas só recebiampor castanha inteira, mas agora pas-saram a receber pela produção toda,ainda que com valores diferenciados.O objetivo é chegar a 60% da produ-ção com castanhas inteiras. A fábricajá chegou a 64%. Tanto o corte dacastanha quanto a raspagem paga1,30 o quilo. A Cocajupi reúne 478 fa-mílias de produtores e outras 285pessoas atuam diretamente nas mi-nifábricas e na central. A Cocajupi temdez cooperativas filiadas, nos muni-cípios de Altos, Vila Nova do Piauí,Francisco dos Santos, Ipiranga doPiauí, Itainópolis, Jaicós, CampoGrande do Piauí, Monsenhor Hipóli-to, Pio IX e Santo Antônio de Lisboa.O Programa inclui a construção de dezminifábricas de castanha de caju, setedas quais já estão em funcionamentonas cooperativas de produtores.

DA POLPAÀ CASTANHA

Quando se compra um caju no supermercado, aparte consumida pelo comprador é polpa, assimcomo quando toma o suco ou se bebe a cajuína,bebida produzida artesanalmente nos estados

produtores de caju do Nordeste. Mas quando seprocessa o caju, a parte que interessa aos

produtores, aos atravessadores, aoscooperados, aos exportadores e aos

supermercados brasileiros é o fruto do caju: acastanha. É a parte processada do caju, mais

consumida, mais cara, mais rentável e mais fácilde armazenar porque não estraga. Enquanto

que a polpa, ou o pedunco, é pouco consumidaou desperdiçada porque necessita de maiorinfra-estrutura e investimento para que seja

melhor aproveitada para o consumo.Para começar, é preciso estrutura paraarmazenamento ou para produzir seus

subprodutos com rapidez antes que ela seestrague, dada a fragilidade do caju. Além da

cajuína, bastante consumida no Piauí, e que nãoé nem um refrigerante nem um suco, o pedunco

do caju pode virar carne, geléia, conserva,pizza, pastel, hamburguer e muitos outros

derivados. Rico em vitamina C, ferro e cálcio, ocaju também é anti-oxidante. A produção dapolpa da fruta é superior a 2,39 milhões de

toneladas por ano. Desse total, cerca de 1,9milhão de toneladas são jogadas fora.

O Serviço Social da Indústria (Sesi) lançou oProjeto Caju, também visando reduzir o

desperdício no uso da fruta. O projeto vaicapacitar trabalhadores nos cinco maioresestados produtores da fruta para fazerem

comidas salgadas de alto valor nutritivo e baixocusto. A cooperativa do Piauí afirma que 85% dopotencial do caju está no pedunco. Mas que osprodutores desperdiçam hoje cerca de 80% dapolpa, que é usada na alimentação de pequenos

animais ou vai para o lixo. Essa é mais umaquestão que está em andamento entre os

produtores agora organizados em cooperativas.

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FÁBRICA DE MELNa cidade vizinha a Ipiranga, Pi-

cos, o mel era mais um produto quepassava pelos mesmos problemasda castanha de caju, com falta de or-ganização, falta de incentivo e a ne-cessidade de passar por atravessa-dores. A construção da central de be-neficiamento, ligada à Central de Co-operativas Apícolas do Semi-Árido(Casa Ápis), reuniu produtores daregião, deu destino ao mel produzi-do, garantiu melhores preços, permi-tiu a criação de uma marca dos pro-dutores e vai gerar redução do preçodo mel para os consumidores. A fá-brica recém inaugurada já começa abeneficiar o mel, que chega em to-néis e vai sair embalado, pronto paraa venda. A previsão é vender duas miltoneladas por ano. “O mel produzidoaqui é diferenciado e tipificado, pro-duzido em matas nativas, sem defen-sivos agrícolas e tóxicos. A Casa Ápisjá conquistou certificado de orgânicoe de controle de qualidade”, afirma odiretor-geral Antônio “Sitônio” Leopol-dino Dantas. O Piauí disputa a lide-rança brasileira da produção de melcom o sul do país. O estado geral-mente fica com o segundo lugar. Naliderança mundial estão China e Ar-gentina, mas na Ásia existem proble-mas de doenças nas abelhas, quesão tratadas com antibióticos, segun-do Edmilson Nunes da Costa, diretorde Produção da Casa Ápis e coorde-nador da fábrica. Ele prevê que aCasa Ápis, que une diversas coope-rativas, deve se tornar o maior em-preendimento desse tipo na AméricaLatina. “O nosso objetivo é agregarvalor ao produtor e vender ao melhorpreço possível para estimular o con-sumo”, conclui.

A Casa Ápis reúne dez entidades,localizadas em Picos, Pio IX, Itainó-polis, Simplício Mendes, Piripiri, Es-perantina e São Raimundo Nonato,no Piauí, além de Horizonte e Barba-lha, no Ceará. O complexo cooperati-vo inclui ainda 20 casas de proces-samento de mel para receber, centri-fugar e filtrar o mel diretamente dosapicultores. No total, 1,6 mil famíliasde 32 municípios piauienses e cea-renses estão ligadas à Casa Ápis e

Habilidade com as mãosCom as mãos completamente engraxadas de óleo

produzido pela castanha, José Francisco de Assis,de 30 anos, habilmente tira uma a uma a casca dacastanha com uma espécie de torno enquanto contaum pouco do trabalho na fábrica e da vida de pro-dutor. Seu pai é produtor de caju e afirma que todosem casa tirando da mesma fonte não era possível.Mas com a fábrica, explica, passou a ser possívellidar com o negócio da família e ainda ganhar uma

renda separada e garantida. O salário depende da produção, que variade acordo com a quantidade de castanhas inteiras que eles conseguemtirar da casca. Marciano Pereira da Silva, que tem a esposa trabalhandoem outra etapa da produção, diz que recebe em média R$ 300,00.

Maria da Cruz Pereira da Silva, de 30 anos, esposa de Francisco,antes trabalhava no corte da castanha com o marido. Agora selecionacastanhas no final do processo. Mãe de três filhos, Tatiana (12), Miche-li (08) e Dailan (07), Maria avalia que sua vida melhorou porque antesnão tinha trabalho e agora tem uma renda. A sua remuneração média éde R$ 145,00. A insegurança fica por conta do atraso do salário. “Essemês só pagaram a metade. Ainda falta pagar o resto e a gente tem famí-lia”, afirma. Sua colega de trabalho, Jacineide Ferreira Gonçalvez, de21 anos, diz que o seu salário tem variado entre R$ 85,00 e R$ 170,00.A fábrica recém-inaugurada da cooperativa, além de beneficiar a casta-nha dos produtores da região, ainda se transformou numa fonte derenda, empregando diretamente 35 pessoas.

outras oito mil famílias participamindiretamente do projeto. A unidadede Picos foi inaugurada com a pre-sença de autoridades do Estado, definanciadores, de produtores da re-gião e de produtores de outros esta-dos que querem levar o exemplo paracasa e montar suas próprias centraisde cooperativas e fábricas de benefi-ciamento de mel.

Os projetos do caju e do mel sãoresultado de uma parceria de entida-des, com recursos da Fundação Ban-co do Brasil. Os investimentos che-gam a R$ 4,9 milhões. O presidenteda Fundação, Jacques Pena, afirmaque o investimento foi realizado numaregião que já tem muito potencial. “Jáexiste uma grande produção de mel.Picus é um grande produtor do Piauíe o Piauí é um grande produtor demel do Nordeste e tem condições deexpansão para ser o maior produtorbrasileiro”, afirmou durante entrevis-ta em Picos. “O desafio agora é a co-mercialização”, completou.

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Sem medo de picadasAntonio Carlos dos Santos, 43 anos, produtor de mel e dono de várias outras

especialidades que acumulou durante cursos técnicos, possui 800 colméias, que esti-veram paradas para que ele pudesse ajudar na instalação elétrica da Casa Ápis. “Quandoapareceu esse projeto eu pensei, eu sei trabalhar na área elétrica. Vou dar uma mãozi-nha porque eu quero ver esse negócio montado e depois que a Casa Ápis estiverfuncionando eu volto para o meu negócio de mel porque eu já tenho 20 anos deapicultura”, afirma o produtor. “Abelha já está no meu sangue. Eu não vendo, nãoparo e não dou”, conclui. Depois de 72 picadas de abelha ao longo da carreira deprodutor, Carlinhos, que é natural do Piauí, acredita que o futuro com a Casa Ápis serápromissor. Uma lata de mel de 25 litros que antes o produtor vendia por R$ 40,00 agoraestá sendo comprada pela Casa Ápis por R$ 57,00. Pelos seus cálculos, depois que aunidade começar a vender o mel com mais beneficiamento, em bisnaga, sachê e outrasembalagens prontas para o consumo e com rotulagem, a lata de mel deve chegar a R$80,00 pagos ao produtor. Carlinhos é associado à Cooperativa Apícola da GrandePicos (Coapi), que faz parte da Casa Ápis.

Conduzindo um grupo de repórteres pelo semi-árido até suas caixas de abelha,debaixo de um sol de mais de 40 graus, Carlinhos falou da produção, fez demonstra-ções com as abelhas, avaliou as experiências e dificuldades que já passou. Diz quegostaria de ter tido mais oportunidade de estudar, mas conta que fez todos os cursostécnicos que pudessem lhe dar uma profissão já que a vida de filho de sapateiro eradifícil. Hoje pensa num futuro melhor para seus cinco filhos, que serão sustentadosdo mel com uma renda melhor. E garante que o investimento neles será nos estudos.“Minha amiga, o que eu não estudei eu estou investindo nos camaradas”, brinca ele.

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Por um mundo melhorAGENDA GLOBAL

Mais vida e menos

desigualdadesO Brasil lançou nestesemestre o terceiro

Relatório Nacional dos

Objetivos deDesenvolvimento do

Milênio

riqueza gerada. O relatório deste anodestaca a redução da pobreza e da mi-séria, mas, sobretudo a redução da de-sigualdade entre ricos e pobres reco-nhecendo que ainda é elevada. Segun-do os dados do relatório, o Brasil con-seguiu reduzir à metade o número depessoas em extrema pobreza, ou seja,pessoas que vivem com menos de umdólar PPC por dia. Seria reduzir de 8,8%em 1990 para 4,2%, o que significariaultrapassar a meta da ONU para o perí-odo. Os dados também indicam que opaís está prestes a universalizar o aces-so ao ensino fundamental e que a desi-gualdade de renda no país vem diminu-

O relatório do governo brasileiroaponta “significativa melhora nas con-dições de vida da população” e faz umaanálise detalhada, a partir de seus da-dos de acompanhamento das políticaspúblicas, da situação de vida dos bra-sileiros em cada uma das oito áreas. AONU regularmente faz relatórios glo-bais avaliando a situação em cada paísa partir de dados dos governos e depesquisas de diversas fontes, inclusi-ve de projetos financiados pela entida-de. Segundo a Oficial de Avaliação eMonitoramento do PNUD, Ana RosaSoares, a atenção agora será para rela-tórios regionais, para observar a dife-rença entre os índices e a eficiênciasdas políticas em diferentes regiões dopaís. O Programa das Nações Unidaspara o Desenvolvimento (PNUD) é oórgão da ONU responsável pelo acom-panhamento dos ODM.

O relatório brasileiro, coordenadopelo Instituto de Pesquisa EconômicaAplicada e Secretaria de Planejamentoe Investimentos (IPEA), atualiza as in-formações que passaram a serem cole-tadas sistematicamente a partir de se-tembro de 2004, quando foi lançado oprimeiro levantamento. Em 2005 foi apre-sentado o segundo relatório, com a in-corporação de novos indicadores, comdestaque para a proteção aos DireitosHumanos. O destaque do relatório de2005 foi o crescimento do país, mas ain-da com pouca capacidade de repartir a

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TRÊS PERGUNTAS

Wagner Caetano,SecretárioNacional deEstudos ePesquisas Político-Institucionais daSecretaria Geral

da Presidência da República, quetambém é responsável peloPrêmio ODMs e envolvimento dasociedade.

Qual a expectativa e importânciado Prêmio para o governo?Teremos mais quantidade e qualidade.O Prêmio é um reconhecimento ao es-forço e trabalho realizado pelos partici-pantes e ajuda a disseminar os Objeti-vos do Desenvolvimento do Milênio.Nesta edição, uma novidade é que rea-lizamos a divulgação do Prêmio em 26estados. Nossa estratégia é manter es-ses grupos informados e pensamos emestruturar um banco de dados dessasexperiências.

O Brasil vai atingir as Metas?O Brasil está muito próximo de atingir amaioria delas. Temos avanços em rela-ção à Aids, ensino, combate à fome,combate à violência, meio ambiente,mesmo assim é preocupante em algunscasos. No caso da Aids, o Brasil temuma das melhores políticas do mundo evamos atingir as metas, porém em algu-mas camadas da juventude o risco éalto porque parece que perderam omedo. Queremos a erradicação dafome. As queimadas e desmatamentosestão sendo reduzidos, mas agora aredução é mais lenta. O Brasil deveráatingir as Metas até 2015, só falta umalinhamento maior entre o que é feito nomunicípio com o relatório nacional.

A média brasileira é positiva,porém esconde muitas diferençasregionais. O que está sendo feitoenfrentar estes desequilíbriosregionais?Rompemos com uma tradição onde asdiferenças regionais não eram de fatoconsideradas. Por exemplo, a refinariaAbreu e Lima – parceria entre a Petro-brás e a PDVSA (Venezuela), que estásendo construída em Recife (PE), noNordeste, é uma iniciativa voltada a en-frentar o desequilibro no desenvolvi-mento do Brasil.

2%É a diferença atual da taxade freqüência no ensinofundamental entrebrancos e negros, quesegundo o RelatórioNacional deAcompanhamento, caiude 12,2% para menos de2% entre 1992 e 2005.

indo desde 1995, atingindo seu nívelmais baixo em 25 anos. Ainda que bas-tante positivo, o relatório também apon-ta as deficiências brasileiras e onde asações precisam ser mais atuantes. “Osexo, a cor, a etnia e o local de nasci-mento de uma criança brasileira aindadeterminam em grande parte suas opor-tunidades futuras”, afirma o texto do re-latório.

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PrimeiroPLANO . ano 2 . no8 . dezembro 2007

As principais características doprojeto dos Objetivos do Desen-volvimento do Milênio (ODM) sãoobjetividade, acompanhamento eprazo que as políticas necessá-rias para amenizar ou erradicardeterminados problemas domundo. Em 2000 fez-se o pactoentre 191 países para acabarcom a pobreza no mundo e umalista de problemas e áreas ondeé necessário atuar, que são osoito objetivos:

1 - Erradicar a extrema pobrezae a fome;

2 - Educação básica dequalidade para todos;

3 - Promover a igualdade entreos sexos e a autonomia dasmulheres;

4 - Reduzir a mortalidadeinfantil;

5 - Melhorar a saúde dasgestantes;

6 - Combater o HIV/ AIDS, amalária e outras doenças;

7 - Garantir a sustentabilidadeambiental;

8 - estabelecer parcerias para odesenvolvimento.

Para atingir esses Objetivos, aONU apresentou um conjunto de18 metas, a serem monitoradaspor 48 indicadores, que incorpo-ram o que é possível implemen-tar, mensurar e comparar em es-cala mundial. Associado a issodeu o prazo de 2015 para que asmetas de cada país sejam atin-gidas. Para se chegar aos resul-tados prometidos e esperados epara que 2015 seja uma data derealizações, o acompanhamen-to dos índices relacionados ametas dos ODM é fator chavepara o sucesso dos Objetivos doMilênio.

A análise dos representantes daONU no Brasil é que, de forma geral,muitos avanços foram feitos, vários nú-meros foram revertidos e direitos pas-saram a chegar às pessoas de forma uni-versal. O desafio agora é sair dos nú-meros gerais e garantir qualidade devida para todos. “Não há dúvidas queo maior desafio do país nos próximosanos será transformar os ODM em umarealidade para todas e todos. Como oRelatório Nacional menciona, 7,5 mi-lhões de pessoas continuam vivendoem situação de extrema pobreza”, afir-ma Kim Bolduc, do Sistema das NaçõesUnidas no Brasil que assina a introdu-ção do relatório. “Além disso, ainda énecessário incluir muitas crianças, a mai-or parte negras e indígenas, no ensinofundamental, e seguir lutando para iralém das médias no cumprimento dosODM, transformando-os em um instru-mento de luta contra as desigualdadesde toda sorte”, conclui. Ana Rosa, doPNUD, avalia que tem sido feito grandeesforço entre sociedade e governo, ex-presso inclusive pela existência de umacompanhamento anual como o relató-rio. Também avalia que, embora se tra-tando de uma versão, pode-se obser-var melhora expressiva nos númeroscom a queda do desmatamento em 26%e com a redução da pobreza e da desi-gualdade. Mas chama a atenção para anecessidade de monitoramento para sa-ber se os dados positivos vão se man-

ter com ações estruturais, que não de-pendam da existência de um ou outroprograma governamental. Além disso,também para Ana Rosa, dados na mé-dia não bastam. É preciso que sejam co-lhidos dados desagregados, por regiãoe por cidade, e ações locais. Esta é aorientação inclusive para o próprioPNUD, que vai apoiar projetos locais.“Existe um esforço de trabalhar no lo-cal, nos municípios, para levar as me-lhorias para todo mundo”, conclui a ofi-cial do PNUD. Ana Rosa também afirmaque agora é preciso parabenizar tambémas iniciativas da sociedade e não ape-nas do governo. O prêmio dos Objeti-vos do Milênio, que está na segundaedição este ano, é uma iniciativa quebusca destacar as iniciativas realizadaspor prefeituras, empresas e organiza-ções civil. O prêmio brasileiro vai cons-tituir um banco de práticas que visamalcançar os objetivos do milênio.

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O relatório encontra-se em versãoimpressa, à disposição

em meio eletrônicono site www.odmbrasil.org.br

e também acompanha um CD comos resultados das principais

iniciativas do governo federal quebuscam melhoria das condições de

vida da população.

LEIA MAIS

O QUE É

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ENTREVISTA

PrimeiroPLANO . ano 2 . no8 . dezembro 2007

O movimento pelo consumoconsciente está avançando noBrasil?Posso dizer que nunca houve mo-mento melhor do que esse que es-tamos vivendo agora. Os relatóriosincisivos do IPCC (Painel Intergover-namental de Mudanças Climáticas),

Não aodiscurso,

sim à práticaHélio Mattar, formado em

Engenharia da Produção pela

Escola Politécnica da USP,

mestre e PhD em Engenharia

Industrial pela Universidade de

Stanford, foi executivo em

empresas nacionais e

multinacionais, assim como em

seus próprios negócios.

Assumiu funções como a

presidência da Fundação Abrinq

pelos Direitos da Criança e do

Adolescente e a Secretaria de

Desenvolvimento da Produção

do Ministério do

Desenvolvimento, Indústria e

Comércio Exterior. Ajudou a

criar o Instituto Ethos de

Empresas e Responsabilidade

Social, onde em 15 de março de

2001 (Dia Mundial do

Consumidor) surgiu o Instituto

Akatu pelo Consumo

Consciente, uma organização

não governamental sem fins

lucrativos. A palavra “Akatu”

vem do tupi e significa, ao

mesmo tempo, “semente boa” e

“mundo melhor”, traduzindo a

idéia de que o mundo melhor

está contido nas ações de cada

indivíduo. Nessa entrevista

exclusiva à Revista Primeiro

Plano, Hélio Mattar aborda mais

sobre os objetivos do Akatu.

o documentário de Al Gore e todo re-conhecimento do trabalho com o rece-bimento do Prêmio Nobel da Paz torna-ram público o problema do aquecimen-to global. Na pesquisa que fizemos, 84%dos consumidores dizem ter a percep-ção que a atividade produtiva influi noaquecimento.

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ENTREVISTA

PrimeiroPLANO . ano 2 . no8 . dezembro 2007

Essa percepção transforma-seem atitude?Na verdade todo o movimento emtorno das questões ambientais ga-nhou força esse ano. Não tivemosnenhum período igual a 2007 e oconsumo consciente também pas-sou a ser mais conhecido. Um dosfatores primordiais têm sido o pa-pel da mídia, que decodifica os re-latórios técnicos, revela dados e osrelaciona com o dia-a-dia, e assimtem tornado claro o que os cidadãospodem fazer.

E os cidadão estão fazendo maisem prol da sustentabilidade?Nas nossas pesquisas dividimosem quatro tipos o comportamentodo consumidor. A grande maioria,em média 75% da população, mudamais rapidamente os hábitos quemexem no bolso. Isto é, fecham astorneiras, não colocam alimentosquentes na geladeira, trocam aslâmpadas por fluorescentes, tudopara ajudar mas também garantireconomia no orçamento doméstico.O outro tipo de comportamento é doconsumidor que planeja. Cerca de45% dos entrevistados dizem queplanejam as compras de roupas ealimentos para evitar desperdícios,pedem a nota fiscal e não gastamalém da conta.

Quais os outros dois tipos decomportamento?Temos os consumidores que real-mente optam pela compra susten-tável. Esses somam 31% e sãoaqueles que compram produtos or-gânicos e preferem sempre utilizar

material reciclável. E por fim temoso comportamento da reciclagem,onde encaixam-se 29% da popula-ção. Esses consumidores reciclamo lixo doméstico, reutilizam as folhasescrevendo no verso e se preocu-pam com reaproveitamento de al-guns recursos.

O que esses números revelam?Vemos que a opção pelo consumoconsciente é maior conforme os re-sultados imediatos, ou seja, quan-to mais visível o benefício mais usuala prática. Mas claro que a mudançade hábitos também depende de umaconscientização do papel de cadaum e dos impactos que todos gera-mos. E isso podemos ver nos nú-meros que mostram uma involuçãodos chamados consumidores maisconscientes no Brasil de 2003 para2006.

Como assim?Em 2003 tínhamos 43% dos con-sumidores dentro da faixa chama-da de ‘mais conscientes’, isto é, quefazem oito dos 13 passos pelo con-sumo consciente definidos pelo Aka-

tu. (Entre 9 e 11 são os conscientes,e os que fazem entre 12 e 13 pas-sos são os engajados) Em 2006esse número diminuiu para 33% ea explicação para isso está na eco-nomia brasileira. Em 2003 esses10% não consumiam muito porquenão podiam, não tinham acesso.Hoje, com juros mais baixos, maisempregos, essa faixa da populaçãoconsegue consumir mais. E como ofenômeno do consumo consciente éalgo recente, as pessoas estão apren-dendo a incorporar os conceitos e aliaràs necessidades do dia-a-dia.

Nesse aprendizado, osconsumidores estão avaliandomais as empresas de onde vêmos produtos?Nas duas pesquisas (2003 e 2006)vemos que está estável o númerode consumidores que punem asempresas por não seguirem algunspadrões sociais e ambientais. São15% dos entrevistados. E outros17% falam bem das empresas quesão responsáveis e repassam aosamigos a dica. Nos países maisdesenvolvidos esses índices deavaliação das empresas são maio-res, como por exemplo Austrália(60%), Estados Unidos (50%) e Ale-manha (45%).

Mas o Brasil está avançandonesse sentido?Temos um razoável grau de consci-ência, mas os consumidores menosricos não possuem tanto acesso àsinformações quanto os de paísesmais desenvolvidos. Uma das fer-ramentas mais usadas pelos con-

“Um dos fatoresprimordiais têm

sido o papelda mídia”

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ENTREVISTA

PrimeiroPLANO . ano 2 . no8 . dezembro 2007

O maior desperdício doméstico sãofrutas, legumes e verduras, ou seja, osprodutos típicos das compras semanais.Pensar no cardápio da semana antes deir ao supermercado permite comprarapenas o necessário e suficiente.

Aprenda a reciclar as sobras dealimentos: do feijão, faça sopa. Comarroz, cenouras cozidas, carne assadaou o que restou da bacalhoada preparedeliciosos bolinhos.

Ao lavar louça durante 15 minutos com atorneira aberta você gasta 240 litros deágua. Se usar uma bacia cheia d’água,ou a própria pia, para ensaboar a louça eabrir a torneira no enxágüe, o tempo vaipara 5 minutos e economiza 160 litros.

Evite fazer compras por impulso e nãoconsuma além de suas possibilidades,para não desperdiçar (e não seendividar).

DICAS DO DIA-A-DIA

sumidores para saber mais sobreas empresas, como a internet, porexemplo, só é utilizada por 20% dapopulação brasileira, enquanto nospaíses desenvolvidos esse índicechega a 90%.

Como o consumidor pode avaliaruma empresa?Além da internet, qualquer consu-midor pode buscar mais informa-ções sobre determinada empresanos órgãos públicos, ou na impren-sa ou mesmo utilizando os serviços

de atendimento ao consumidor daprópria empresa em questão, quecom o tempo terão muito mais in-formações a repassar, atualmentesão poucos que estão bem prepa-rados.

E os consumidores fazem isso?Os brasileiros estãoselecionando mais antes decomprar?Estamos na fase final de uma novapesquisa que só será divulgada emfevereiro de 2008, mas já possoantecipar que a percepção dos con-sumidores em relação às empre-sas é bem aprofundada. Não sequer mais discurso, as pessoasquerem saber como é a prática dasempresas que dizem agir com res-ponsabilidade.

Qual o recado para asempresas?As empresas precisam se dar con-ta que o mundo é muito mais trans-parente do que se imagina. As infor-mações rapidamente são difundi-das. A prática vai apenas demons-trar o que de fato as empresas pos-suem como princípios e valores. Omercado já sabe o que realmentesignifica RSE.

Os consumidores sabemreconhecer as ações de RSE?Cada vez mais. Vemos que 78% dosconsumidores demonstram inte-resse em conhecer as ações deRSE das empresas. Entre os queleram Balanço Social (7%), 75%passaram a falar aos amigos e fa-

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ENTREVISTA

PrimeiroPLANO . ano 2 . no8 . dezembro 2007

“Em média 75% dapopulação muda

mais rapidamente oshábitos que mexem

no bolso”

“É preciso enfatizara necessidade

imediata de reduçãoda quantidade

de lixo”

miliares e mudaram a opinião paramelhor. E isso é muito importantepara quem está no mercado. Hojeem dia, na era da visibilidade, da

transparência, vai valer muito maiso que os outros dizem da organiza-ção do que o que a própria organi-zação diz de si mesma.

Os selos de qualidade ecertificações contribuem naescolha do consumidor?Ainda é na prateleira que a maioriados consumidores definem suaopção de compra e as certificaçõespodem facilitar. Mas há selos quesão auto-declaratórios e a varieda-de de tipos acaba confundindo aspessoas, por isso talvez ainda pre-cise um trabalho público mais in-tenso para mostrar o que é válido.Nas nossas pesquisas houve umaevolução do conhecimento nessaárea. Em 2003, 13% diziam conhe-cer os selos e certificações, e em2006 o índice passou para 32%.Portanto, é um processo que estáevoluindo e a mídia tem um papelde educação nessa área.Os opositores desses movimentos

de redução dos impactos dizem quehá um alarmismo em relação aoaquecimento global etc, qual suaopinião?Acredito que toda a polêmica é sau-dável para que haja luz em buscada verdade. O que sabemos é queexistem muitos interesses em tor-no de setores como o petróleo, in-dústria automotiva, entre outros, eas informações acabam deixandoem dúvida os consumidores. Mastemos convicção de que os quatrorelatórios do IPCC (Painel Intergo-vernamental de Mudanças Climáti-cas) só fazem entender a dimensãodos efeitos da ação da humanida-de no planeta. É difícil se confrontartantos cientistas, mas nos nossostrabalhos vemos que os consumi-dores absorveram que é precisoatuar contra os impactos negativos.

Na sua opinião, a questão dareciclagem no Brasil foi a quemais cresceu dentro daspropostas de economizar osrecursos e minimizar osimpactos negativos dos sereshumanos?As pessoas foram sensibilizadaspara a reciclagem e temos 29% dapopulação que faz isso. As coope-rativas de catadores se multiplica-ram pelo país e todo esse movimen-to impulsionado pelos ganhos aju-dam muito, mas é preciso enfatizara necessidade imediata de reduçãoda quantidade de lixo. Uma das for-mas de se fazer isso é comprarmenos. No Akatu difundimos oschamados ‘4Rs’: repensar, reduzir,

reutilizar e reciclar. Isto é, as pesso-as precisam repensar que estilo devida devem ter e assim reduzir o queé supérfluo, desnecessário e apren-der a reutilizar e reciclar.

As políticas públicas poderiamajudar? Como?Se o governo se dispusesse, deve-ria mostrar através de campanhaso impacto que o lixo tem na vida daspessoas. As prefeituras gastamcom lixo de 15 a 20% dos orçamen-tos. Isto significa dizer que quantomais lixo produzimos menos recur-sos serão destinados à saúde e à

educação. Esse tipo de informaçãoa população deve assimilar. Só paraexemplificar, uma pessoa que temuma expectativa de vida em tornodos 72 anos vai produzir ao longoda sua vida lixo suficiente para en-cher um apartamento de 50 metrosquadrados até o teto. Uma pessoaapenas. Por isso o Akatu trabalhacom cada um, cada indivíduo devesaber que ele sozinho tem impactono planeta e começar a mudar ago-ra sua atitude diante do consumo.

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PrimeiroPLANO . ano 2 . no8 . dezembro 2007

SOLUÇÕES Bons produtos do bem

Por volta da década de 1980 sur-giu nos Estados Unidos a tecnolo-gia de lavagem a seco voltada à in-dustria automotiva. A técnica foi sen-do difundida em empresas de aten-dimento ao consumidor final. NoBrasil o bom exemplo virou franquia.A Dry Wash, empresa criada por LitoRodrigues, utiliza um sistema de la-vagem sem água, o que propiciou aimplantação rápida do negóciocomo conveniência. Hoje são cercade 200 unidades no país. Com a uti-

LAVA CARRO SEM ÁGUA

www.drywash.com.br

lização de pequenos panos, a la-vagem DryWash é realizada com oauxílio de um processo de cristali-zação e fragmentação das partícu-las de sujeira, o que evita riscos eo atrito com a superfície da pintura.Os produtos utilizados deixam umafina película protetora impermea-bilizante, que dá brilho e protege apintura contra os efeitos do tempo.Evita também a oxidação e o des-gaste prematuro da pintura, mantémo aspecto brilhante por mais tempo.

O prédio do Centro Turístico Munici-pal de São Leopoldo (RS) foi cons-truído totalmente com madeira cer-tificada pelo FSC. Inaugurado emsetembro, o prédio é fruto de umcompromisso assumido pela pre-feitura com a União Protetora do Am-biente Natural (Upan) e o Greenpe-ace, que criou em 2003 o programa

Cidade Amiga da Amazônia, destinado a ajudar mu-nicípios e estados de todo o país a eliminarem oconsumo de madeira extraída de forma ilegal ou pre-datória na Amazônia. O prédio abriga o Centro deInformações Turísticas da Rota Romântica da SerraGaúcha, que tem seu marco zero em São Leopoldoe abrange outros 11 municípios. Captação da águada chuva, aproveitamento da iluminação natural, ven-tilação e aquecimento espacialmente planejadostambém contribuíram para baratear os custos. A em-presa responsável pela obra foi a Sawaya Constru-ções e Incorporações.

Lascas, troncos e sementes, penas e fio de algodão e lin-das sementes brasileiras. Esses são alguns dos materi-ais utilizados na fabricação de acessórios BioArt Kelly, bati-zados de biojóias pelas criadoras Kelly e Maria do CarmoAmbrósio Pereira, mãe de Kelly, no interior de Minas Gerais.Capim dourado, o chamado ouro vegetal, é um dos ingredien-tes das peças, que ainda misturam bolas e flores de crochê.Maria do Carmo diz que faz teste com todas as peças e quenão basta ser bonita, cada peça precisa ser funcional, durávele prática. O pai Ivânio e o outro filho, Ivan, se uniram na confec-ção. A família tem um sítio e nele são plantadas diversas espé-cies de vegetais, árvores, hortaliças e flores. Os produtos sãovendidos em feiras e eventos.

www.saoleopoldo.rs.gov.br

Acessórios com sementes e criatividade

Ecolápis é o nome dado pela Faber-Castell aoproduto fabricado a partir de

recursos naturais renováveis. Oprincipal diferencial estána procedência de suamatéria-prima. Cerca de

95% dos lápis da Faber-Castell são fabricados a partirde madeira proveniente dereflorestamento e certificada

pelo FSC (Forest Stewardship Council, ouConselho de Manejo Florestal), selointernacional que garante a procedênciaambientalmente correta da madeira. Paraviabilizar o novo produto, a empresa mantémuma área exclusiva para reflorestamento com10.000 hectares, na cidade de Prata (MG). Asuperfície é equivalente a quase quatro vezeso tamanho do arquipélago de Fernando deNoronha. Segundo a empresa, cadahectare de plantação de árvores produz,a cada 18 anos, 3,5 milhões lápis.

Lápis correto

www.faber-castell.com.br

Obra pública

Contatos: (33) 3345-1352 (32) 8846-1352 / [email protected]

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MEU MUNDO

M M M M MarcosPPPPPalmeira

CUIDAR DAS PESSOASMarcos Palmeira cuida especial-mente das pessoas. Ele diz que “to-dos os agricultores que trabalhamna propriedade tem os direitos so-ciais e trabalhistas garantidos, es-cola e transporte. Afinal, o futuro vaidepender das parcerias que esta-belecemos”.“No começo os agricultores falavampouco e não comiam e nem se ves-tiam adequadamente”, diz ele. Masao invés de dar fez um trabalho debase. Com um amigo dentista aten-deu os agricultores, dando-lhes dig-nidade e consciência. “Trabalhamosa auto-estima e isso mudou a vidadas pessoas”. Os funcionários es-tão satisfeitos porque têm seus di-reitos assegurados. Ele diz que nãoé mais uma fazenda é um conceitode vida e tem uma dupla satisfação:assegura aos direitos sociais, pre-servando a tradição da militância po-lítica da sua família, e uma pesso-al, que é a de ajudar a transformare disseminar para a vizinhança, paraos amigos e na sociedade a impor-tância dos produtos orgânicos.

CRÉDITO DE CARBONOEmbora não tenha muita convicçãosobre o Crédito de Carbono (ou Car-bon Free), o ator plantou mais de3500 árvores na Fazenda. Mas achaque só plantar árvores parece um“pedágio para poluir”. Ou seja, umapessoa ou empresa continuam con-sumindo sem qualquer critério ou pro-duzindo do modo tradicional e depoisplantam algumas árvores para fica-rem com a consciência tranqüila.

INVESTIMENTOSDESDE O INÍCIOEle conta que investiu muito dinheiro

Filho do reconhecido diretor decinema, Zelito Viana, e da produtora

Vera Borges Palmeira, o atorMarcos Palmeira criou sua própria

história no cenário nacional einternacional. Um dos últimos

trabalhos é sua participação nasegunda temporada da série

Mandrake, veiculada em canalpago. Mas talvez pouca gente saibaque, além de excelente ator, ele é

comprometido com um mundosustentável. Não apenas com o

meio ambiente, mas comprometidoprincipalmente com as condições

sociais de quem trabalha e produz.Na Fazenda Vale das

Palmeiras, propriedade agrícola de200 hectares em Teresópolis, na

região serrana do Estado do Rio deJaneiro, Marcos Palmeira produz

frutas orgânicas (laranja, banana),verduras (agrião, cenoura, alfaceentre outros), além de mel e leiteque são vendidos exclusivamente

nos supermercados da Zona Sul noRio de Janeiro. Em entrevista

exclusiva para a Primeiro Plano, oator conta um pouco mais sobre

suas preocupações com o planeta.

na Fazenda porque sabia onde que-ria chegar. Na propriedade traba-lham com o PAIS (Produção Agro-ecológica Integrada e Sustentável).Hoje a fazenda se paga e tenhouma renda extra dela.

COERÊNCIANO DIA-A-DIAA alimentação do ator é 100% or-gânica. Na rua, nas viagens a tra-balho, acaba sendo mais flexível por-que nem sempre é possível conse-guir alimentação orgânica e tam-bém porque afirma que não é radi-cal. Em relação às compras, pro-cura ficar atento à origem dos pro-dutos. Por exemplo, em relação àsroupas, procura saber se o algodãoutilizado é orgânico ou não.

EQUILÍBRIOMarcos Palmeira diz ter uma preo-cupação especial com o equilíbriodo planeta. Para ele “não existe pra-ga e doenças, existe o desequilí-brio. Quando vemos excesso deformigas ou pragas é porque os pre-dadores naturais desapareceram.Isto vale para a vida também”.

ATOR OU PRODUTOR?As duas funções conseguem con-viver, mas ele diz que o lado de atorajuda apesar de ser um paradoxoporque ainda há muito preconceito.“Nas feiras onde vendemos nossosprodutos, procuramos conscientizaros consumidores sobre as vanta-gens dos produtos orgânicos”, con-ta ele. No final da entrevista, con-cluímos que um produto identifica-do como de origem da FazendaVale das Palmeiras é, com certe-za, um certificado de qualidade so-cial e ambiental do produto.

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