Revista Agrotejo 2010
-
Upload
agrogestao -
Category
Documents
-
view
218 -
download
3
description
Transcript of Revista Agrotejo 2010
í n d i c e E D I T O R I A L
AGROTEJO | UNIÃO AGRICOLA DO NORTE DO VALE DO TEJO
Longe vão os tempos em que o mundo rural, a agricultura e os vários agentes económi-
cos desenvolviam estratégias de desenvolvimento nem sempre em sintonia, nem sempre
complementares.
Hoje o paradigma da sustentabilidade das zonas rurais (80% do território nacional), obriga a que
haja uma interligação forte de todos os que existem, planificam e gerem este espaço.
A agricultura tem que estar obrigatoriamente ligada ao mundo rural e as várias organizações
públicas e privadas tem que se complementar.
O apoio que os agentes do mundo rural necessitam está a mudar, as organizações que prestam
esse apoio terão também que se adaptar.
Têm que se adaptar aos novos serviços, aos novos “clientes”, a novas realidades, a novas estru-
turas funcionais.
O que vai ser necessário ao mundo rural, quem serão os novos agentes económicos, que tipo de
agricultura e agricultores teremos no futuro, que novas contrariedades e oportunidades aparecerão,
são as questões de fundo que temos que “adivinhar”, para de forma rápida nos adaptarmos e
podermos manter o nosso Norte do Vale do Tejo competitivo e sustentado.
A segurança em espaço rural, a reforma da PAC, as novas exigências ambientais, as crises
económicas, o financiamento das zonas rurais, são temáticas previsíveis, outras certamente
aparecerão.
A Agrotejo tem uma experiência de mais de 20 anos em planear e implementar e dinamizar
estratégias de desenvolvimento do Norte do Vale do Tejo. Saibamos utilizar essa experiência.
Estamos confiantes.
Já estamos a preparar o futuro
Direcção da Agrotejo
O munDO RuRAL, As AssOcIAçõEs E O nOvO pARADIgmA DE DEsEnvOLvImEnTO
O Mundo Rural
A Agromais do Futuro
PRODER: é ou foi?
A função do Estado
Agilizar o PRODER
Viabilidade Futura das Explorações Agrícolas
Emparcelamento Rural
Produção de cebola na Agromais
Vitacress
Secagem e armazenagem de cereais
A estrutura Produtiva e a Agricultura Portuguesa
Agricultura dinamiza Norte do Vale do Tejo
Prémio “Agricultor do Ano”
Campo de oportunidades
Segurança no Mundo Rural
Justiça e meio rural
A importancia da dinamização do espaço rural
A gestão da empresa agrícola
O financiamento do sector agrícola
Zona Vulnerável do Tejo - Rega e Fertilização
Licenciamentos no espaço rural
A rede temática CYTED - AQUIFERURAL
O agricultor pode tanto quanto sabe
Ex-ministros da Agricultura - Pós 25 de Abril!
A importância da Eficiência Energética
1258101622242728303842444952556064667074798082
NOV 10
�
AGROTEJO | UNIÃO AGRICOLA DO NORTE DO VALE DO TEJO
FIcHA TÉcnIcADirecção | AgrotejoEdição e Propriedade | AgrotejoDesign e Impressão | A persistente - chamuscaTiragem | 2 000 exemplaresDepósito Legal | 93520/95
Lg. da Imaculada Conceição - 2�50-�25 GolegãTel. 249.979.060 - Fax 249.979.069Lg. Custódio Marques Montargil - 2�40-076 ChamuscaTel. 249.760.004 - Tel. e Fax 249.760.448E-mail: [email protected] Page: http://www.agrotejo.pt
A AgROmAIs DO FuTuRO...Luís Vasconcellos e Souza
Esta constatação é muito real e por isso mesmo
tem que ser levada a sério. Mas só na sua justa me-
dida, pois não faz sentido nenhum deixarmos de ter
perspectivas e ambições.
As crises existem, mas o fim dessas mesmas cri-
ses também… A crise continuará a ser a situação de
excepção.
É nesta perspectiva construtiva e séria que a AGRO-
MAIS tem que evoluir, não se deixando diminuir ou
derrotar pelos tempos difíceis em que vamos continu-
ar a viver, mas antes reagindo e tentando aproveitar
todos os espaços viáveis deixados ao seu alcance.
Duma coisa podemos estar certos: os nossos
clientes e os nossos concorrentes do futuro serão
maiores e mais profissionais.
Para estarmos entre eles teremos, no mínimo, de
ser como eles!
“É DIFíCIL EM TEMPOS DE CRISE, COMO ESTES,
PENSAR DUMA FORMA LúCIDA NO FUTURO. O
PRESENTE ESTá… MUITO PRESENTE…”
AGROTEJO | UNIÃO AGRICOLA DO NORTE DO VALE DO TEJO
NOV 10
2
�
pRODER: É Ou FOI?Francisco Gomes da Silva
E a convicção que então me animava, sustentava-
se nas seguintes razões:
• o grau de execução do PRODER era então
(e ainda é) muito reduzido face à pro-
gramação existente, pelo que quase tudo
estava ainda para ser;
• era (e ainda é) notório o enorme empenho do
senhor Ministro da Agricultura e dos serviços
do MADRP na recuperação do tempo perdido,
traduzido na simplificação de alguns procedi-
mentos e no ace-lerar dos processos administra-
tivos de aprovação e contratação dos projectos;
• era (e ainda será?) evidente o ânimo reno-
vado com que o agricultores e as suas as-
sociações encararam as mudanças de atitude
e de vontade acima referidas, indiciando que
poderiam manter uma interessante predis-
posição para investir, executando os projectos
que viessem a ser aprovados.
Em conjunto, estas e outras razões sustentavam
a minha resposta à data que era, repito, o PRODER
ainda é! Ou seja, no período temporal então ainda
disponível no âmbito do actual QCA, ainda iríamos a
tempo de utilizar os instrumentos financeiros à dis-
posição do sector para os fins a que se destinavam.
Hoje, cerca de dois meses passados, tenho dúvi-
das de qual será a minha resposta. Não que as
razões atrás mencionadas se tenham alterado
significativamente: o PRODER continua por execu-
tar (ver Quadro abaixo), o Ministro e os serviços do
Ministério continuam empenhados e com uma ati-
tude claramente colaborante, e os agricultores con-
tinuam (?) dispostos a executar os seus projectos.
O que mudou então para que ponha em causa o
sentido da resposta à questão?
Simples. Mudou a forma como, desde o passado
dia 29 de Setembro (quando foram anunciadas ao
país um conjunto de severas medidas de restrição),
o poder político assumiu de forma explícita que
“não há dinheiro”! Não há dinheiro este ano (20�0),
e não haverá dinheiro nos próximos 2 ou � anos
(ou por alguns mais).
É, pois, legítima a inquietação quanto à capaci-
dade financeira nacional para co-financiar o PRODER.
O PRODER TEM QUE “IR à bRUxA”!
PASSO A ExPLICAR.
QUANDO A AGROTEJO AMAVELMENTE ME
CONVIDOU PARA ESCREVER ESTE PEQUENO
ARTIGO, NÃO Só ME SUGERIU O TEMA,
COMO TAMbÉM (E bEM!) O TíTULO.
NA ALTURA (FINAIS DE AGOSTO), SE TIVESSE
QUE RESPONDER à PERGUNTA QUE O TíTULO
ENCERRA, TERIA RESPONDIDO COM ALGUMA
CONVICçÃO: O PRODER É!
NOV 10
5
AGROTEJO | UNIÃO AGRICOLA DO NORTE DO VALE DO TEJO
É caso para dizer que enquanto houve dinheiro (ou
pelo menos dizia-se que havia) não houve vontade.
Agora que há vontade...não há dinheiro. É ou não é
caso para mandar o PRODER à bruxa?
Uma questão acima referida (nível de execução ac-
tual do PRODER) merece 2 minutos de atenção. Como
foi dito, apresenta-se no Quadro seguinte o ponto da
situação relativo à execução financeira do PRODER
actualizado a � de Outubro de 20�0 (fonte: Gabinete
do PRODER), bem como um conjunto de indicadores
dessa mesma execução.
Os valores apresentados no quadros referidos
merecem, neste pequeno espaço três observações
importantes:
• da programação global prevista, cerca de 42%
está comprometida (projectos aprovados), estan-
do apenas executada (dinheiro pago) cerca de
metade desse valor;
• no sub-programa � (promoção da competi-
tividade), onde se enquadram as medidas e
acções que canalizam a generalidade dos in-
vestimentos nas explorações agrícolas, apenas
está executada cerca de �5% do valor global
programado (embora cerca de 50% do valor
programado esteja já contratado);
• o sub-programa 2 (que engloba as acções ligadas
ao ambiente) apresenta níveis de compromisso
e contratação um pouco inferiores ao anterior,
mas um nível de pagamentos superior (25% do
montante programado).
Ficam três questões para o futuro:
• terá o Estado Português capacidade financeira
para, ao longo dos próximos anos, dotar o OE
dos meios necessários à execução de cerca de
75% da totalidade do montante programado no
âmbito do PRODER (uma vez que apenas foram
efectivamente pagos cerca de 25% da verba to-
tal prevista no PRODER)?
• terão os agricultores, as suas associações e
restantes promotores capacidade financeira
para, face às dificuldades financeiras que vão
atravessar nos próximos anos, poderem manter
as suas intenções de investimento (ou seja dis-
porem dos meios próprios necessários)?
• em caso de resposta afirmativa às duas questões
anteriores, terá o Governo Português o enge-
nho de efectuar a reprogramação financeira en-
tre os diversos sub-programas, medias e acções
do PRODER, disponibilizando os meios junto de
quem os poderá efectivamente utilizar dentro
de tantos condicionalismos?
Vamos todos esperar que sim.
Quadro 1 - ponto da situação da execução financeira do pRODER (01-10-2010) - milhões de euro
nºAcção
Designação da Acção
pRODER
sp1Promoção da
Competitividade
programação Financeira 2007-2013
compromissos (Aprovações) contratos pagamentos
Dp FEADER nº Dp FEADER nº Dp FEADER Dp FEADER4.565 3.574 513.960 1.909 1.489 512.121 1.717 1.349 1.717 1.349
sp2Gestão sustentável
do espaço rural
sp3Dinamização das
zonas rurais
sp4
Promoçao doconhecimento edesenvolvimentode competências
TRCompromissos
transitados
AT Assistência Técnica �27 95 �7 20 �5 �7 20 �5 �� 9
467 �77 n.d. n.d. n.d. n d. n.d. n.d. 280 258
��7 88 �82 �� 24 �72 �2 2� 0,25 0,�9
486 �9� �.495 �70 ��5 894 �2� 96 �6 ��
�.�94 �.��5 498.057 567 489 497.855 560 48� 49� 422
�.974 �.488 �4.009 �.��9 826 �2.98� 98� 7�2 289 2��
Quadro 2 - Indicadores de execução do pRODER (% dos valores programados)
Acção
pRODER
sp1
sp2
sp3
sp4
TR
AT �0%
64%
0%
�%
�6%
�5%
compromisso contrato pago
25%
�6%
n.d.
27%
25%
4�%
50%
�8%
�6%
n.d.
28%
�5%
42%
56%
42%
Font
e: G
abin
ete
do P
ROD
ER
AGROTEJO | UNIÃO AGRICOLA DO NORTE DO VALE DO TEJO
NOV 10
6
A FunçãO DO EsTADO E O pApEL DAs AssOcIAçõEs DE AgRIcuLTOREs
Nuno RussoDirector Regional de Agricultura e Pescas de Lisboa e Vale do Tejo
No respeitante ao Estado e à função desempe-
nhada, com o decurso do tempo também ele foi
sendo alterado, sendo substituído, em várias áreas
de competências e valências de serviços, pelas Or-
ganizações e Associações de Agricultores, no en-
tanto, cabe-lhe as funções privilegiadas no âmbito
da concepção e planeamento de políticas, da coorde-
nação e do enquadramento dos agentes económicos
e suas organizações representativas, do pagamento,
controlo e fiscalização das medidas implementadas,
e respectivas auditorias.
à excepção das funções mencionadas, é possível
a transferência progressiva de funções do Estado
para as Associações de Agricultores, desde que o
serviço possa ser prestado de uma forma continuada
e em benefício do interesse público, por entidades
credenciadas e reconhecidas, representativas a nível
nacional e com uma estrutura técnica e organizativa
necessária para assegurar os serviços prestados.
Desta forma, reconhece-se a importância da res-
ponsabilização directa das Associações representa-
tivas dos Agricultores, na execução de tarefas que
envolvem interesses relevantes dos seus associados,
bem como o estímulo e o contributo significativo para
o reforço do movimento associativo sócio-profissional,
na perspectiva da participação dos agricultores na
definição da política agrícola.
Ao longo dos últimos anos, as Associações de
Agricultores têm vindo assumir um papel prepon-
derante no sector agrícola, pelo desempenho de um
vasto conjunto de funções junto do Agricultor, que
constitui o suporte fundamental da modernização
da agricultura.
Perante os novos desafios da agricultura europeia
e portuguesa, as Associações devem preparar-se
cada vez mais, devem reorganizar-se, crescer em
competência e dar um salto qualitativo do papel a
desempenhar nas futuras novas políticas que de-
A AGRICULTURA, COMO TODOS OS OUTROS
SECTORES, SOFREU ALTERAçõES AO LONGO
DOS TEMPOS, UMAS MAIS SUPERFICIAIS,
OUTRAS MAIS PROFUNDAS, ESTEVE E ESTá EM
CONSTANTE TRANSFORMAçÃO, SENDO QUE DE
ALGUMA FORMA TEM SIDO APROVEITADO PARA
SE DEFINIR O ADEQUADO EQUILíbRIO ENTRE
A FUNçÃO DO ESTADO E O PAPEL
DAS ASSOCIAçõES DE AGRICULTORES.
AGROTEJO | UNIÃO AGRICOLA DO NORTE DO VALE DO TEJO
NOV 10
8
verão fornecer os instrumentos mais adequados
para valorizar os serviços produzidos pela agricultura
multifuncional.
O papel da agricultura não é só o de produzir
bens alimentares ao mínimo custo possível, o papel
desempenhado pela actividade agrícola na socie-
dade tem vindo a mudar nos últimos tempos, a mul-
tifuncionalidade da agricultura resulta num conjunto
de benefícios directos e indirectos para a sociedade,
benefícios adicionais que a actividade agrícola pro-
porciona, pelas funções ambientais, económicas, so-
ciais e de segurança alimentar.
As Associações de Agricultores podem fazer muito
pelo sector, para além do papel actual, no futuro es-
pera-se que possam ter um papel ainda mais pre-
ponderante no novo contexto da agricultura, pelo
novo desafio do reconhecimento, pela sociedade e
pelo mercado, que a actividade agrícola é multifun-
cional (preserva a biodiversidade, efectua a gestão
sustentável dos recursos naturais, salvaguarda o ter-
ritório e a paisagem rurais, contribui para a economia
e emprego agrícola, etc.), desempenhado um papel
bastante específico no processo de desenvolvimento
integrado do País.
Será pois, também necessário o reconhecimento
explícito das múltiplas funções da agricultura ao nível
da escolha e implementação das medidas de política
agrícola, que se encontram em debate público e
consulta alargada às Organizações e Associações de
Agricultores, no âmbito da discussão do futuro da Po-
litica Agrícola Comum (PAC) pós-20��, que resultará
em decisões políticas com melhor fundamento e com
o compromisso de todos os intervenientes.
A nível regional, o próprio modelo orgânico e
funcional das Direcções Regionais de Agricultura
e Pescas será também adequado, modernizado
e racionalizado de acordo com as novas funções
e objectivos que se perspectivem para o sector
agrícola e para o desenvolvimento rural, sempre
com a missão de apoiar os Agricultores e as suas
Associações no âmbito das atribuições que pros-
seguem, proporcionando os serviços que lhes per-
mitam cumprir com as orientações e obrigações
definidas pelo Ministério da Agricultura, do Desen-
volvimento Rural e das Pescas.
NOV 10
9
Depósitos a PrazoObrigações BPIContas Poupança
Para quem privilegia poupar com garantia de capitale de taxa, o BPI disponibiliza uma oferta alargadade aplicações financeiras.
Conheça as Soluções de Poupança BPI com retorno garantido e escolha as melhores opções para o seu caso.
Toda a informação nos Balcões e Centros deInvestimento BPI, www.bancobpi.pt e 800 243 243(linha grátis com atendimento personalizado,das 7h às 24h).
Depósitosa Prazo BPI
DepósitosEspeciais BPI
Depósitos BPINet Extra
Até367 dias
1, 2, 3, 5e 8 anos
90, 180 ou360 dias
€ 250
€ 250
€ 5.000
6 mesesa 1 ano
€ 250(exceptoABConta:€ 100)
Aplicação Produto Prazo Mínimo deinvestimento
Depósitosa Prazo
ABConta BPI
Poupança BPI
PoupançaRendimento BPI
PoupançaReformado BPI
PoupançaHabitação BPI
ContasPoupança
A partir de€ 1.000
2, 3ou 5 anos
Rendimento Fixo BPI
SuperRendimento BPI
Obrigações
Retorno garantido.Soluções de Poupança BPI
“AgILIZAR O pRODER E AcELERAR pAgAmEnTOs sãO pRIORIDADEs”
Andreia AmaralJornalista
EM ENTREVISTA à REVISTA AGROTEJO, O MINISTRO DA AGRICULTURA, DO DESENVOLVIMENTO RURAL
E DAS PESCAS, ANTóNIO SERRANO, ENALTECEU O TRAbALHO DESENVOLVIDO PELA AGROMAIS
AO ASSUMIR RISCOS E INVESTIR NA COMPETITIVIDADE A LONGO PRAZO. FAZENDO UM PONTO DE
SITUAçÃO DA ACTUAL LEGISLATURA, REVELOU QUE AGILIZAR O PRODER, SIMPLIFICAR PROCEDI-
MENTOS E ACELERAR PAGAMENTOS SÃO PRIORIDADES. NO ENTANTO, A NíVEL POLíTICO AS SUAS
bATALHAS VÃO NO SENTIDO DE REFORçAR AS AJUDAS EUROPEIAS A PORTUGAL, ATRAVÉS DE UMA
DISTRIbUIçÃO MAIS EQUITATIVA DOS FUNDOS, E DE ALTERAR ALGUNS DOS ELEMENTOS PARA A
MAJORAçÃO DOS PROJECTOS INTEGRADOS NO PROGRAMA PRODER.
EnTREvIsTA AO mInIsTRO DA AgRIcuLTuRA, DEsEnvOLvImEnTO
RuRAL E DAs pEscAs, pROF. DR. AnTÓnIO mAnuEL sERRAnO
AgROTEJO: Recentemente inaugurou a nova es-
tação de secagem de cereais da Agromais. Este
investimento foi realizado numa época em que
a forte quebra no investimento em portugal e
em particular no sector agrícola, é um facto.
no entanto a Agromais, uma cooperativa com
provas dadas de profissionalismo e de desem-
penho, decidiu fazê-lo. Que comentários lhe ofe-
rece dizer?
A.m.s.: É uma excelente aposta feita, porque trata-
se de uma região muito dinâmica e com bons em-
AGROTEJO | UNIÃO AGRICOLA DO NORTE DO VALE DO TEJO
NOV 10
�0
presários agrícolas, que não têm receio do risco.
Actualmente, a capacidade de armazenagem para
quem trabalha com cereais é fundamental. Por um
lado, para fazer face àquilo que é a volatilidade dos
preços, por outro, para os agentes terem capacidade
de vender o produto quando lhes interessa mais,
quando o preço lhes é mais favorável, e não vende-
lo, muitas vezes precipitadamente, porque não têm
onde armazenar ou secar cereais.
Essa região tem de facto uma grande capacidade
empresarial na área da agricultura e que tem vindo
a fazer um trabalho de excelência na região neste
domínio, cultivando muito milho. Este é um ano mui-
to bom, porque os preços do milho têm subido, o que
reforça a importância deste investimento.
AgROTEJO: O Estado, através do governo tem
um programa, o pRODER, que se assume como
o grande instrumento, de incentivo e apoio
ao mundo rural, mas também ao sector da
produção agrícola. Em que ponto está esse pro-
grama e que adaptações terá este de ser alvo
de modo a atingir maiores níveis de eficácia e
de execução?
A.m.s.: Este programa é fundamental para a mo-
dernização do sector agrícola. Iniciou-se de forma
muito hesitante e complexa e, quando chegámos
a estas funções, constatámos que o programa es-
tava bloqueado em muitas áreas, nomeadamente
na área do investimento agrícola. Desenvolveram-se
muitos trabalhos e muitas intervenções durante os
últimos meses que permitiram acelerar o programa,
não ainda para números que nos satisfaçam, mas
suficiente para notar-se uma mudança clara, visível
para os agricultores.
Há �� meses, tínhamos, na componente de inves-
timento, pouco mais de um por cento de execução,
enquanto, actualmente, estamos perto dos �4 por
cento. É uma mudança grande e creio que, até
ao final do ano e no próximo ano, conseguiremos
acelerar o programa ainda mais. Temos vindo a
simplificar um conjunto de matérias e tem havido
alterações a uma série de regras que visam a sim-
plificação do processo.
Neste momento, está ainda em curso um processo
de avaliação intercalar que permitirá que, no primei-
ro semestre de 20��, sejam apresentadas à União
Europeia algumas alterações ao programa. Não
serão mudanças estruturais profundas, mas serão
mudanças de algumas opções. Por exemplo, gostaria
que não viéssemos a ter privilégios em sectores ditos
estratégicos em detrimento de outros, como é o caso
dos cereais, que não estão considerados como sector
estratégico, o que não faz sentido. O que faz sentido
no sector da agricultura é valorizarmos todos os pro-
jectos que tenham mérito: mérito empresarial, mérito
do ponto de vista do investimento, da qualidade do
investimento, da inovação tecnológica, daquilo que é
o aumento da capacidade de produção, do impacto
nas nossas exportações ou na redução das nossas
importações, na criação ou manutenção de emprego.
Isso é torna um projecto bom ou não e, naturalmente,
que é com base nalguns desses aspectos técnicos
que o projecto tem de ser majorado ou não. É nessa
perspectiva que gostaria que a avaliação intercalar,
um trabalho independente que está em curso, nos
trouxesse luz. Mas gostaria muito que se eliminasse
esse conceito de, à partida, se considerar um sec-
tor como estratégico e reorientar essa opção para a
qualidade técnica e económica do projecto.
AgROTEJO: Este programa tem, como outros,
uma carga burocrática na qual o Estado tem
dificuldade em implementar uma dinâmica de
eficácia. como se consegue ultrapassar este
constrangimento e atingir a meta, que são os
100 por cento?
A.m.s.: No sector global do programa Proder também
demos um salto: tínhamos uma execução de �0,5 por
cento e hoje estamos com 24 por cento. Já pagá-
mos mais nestes onze meses do que tinha sido pago
nos três anos anteriores. Isto tem sido um esforço
enorme. É claro que gostaria que tivéssemos mais
adiantados, porque estamos a meio do programa e
deveríamos de estar próximos dos 50 por cento. Mas
tem sido assim em todos os quadros comunitários: to-
dos eles arrancaram tarde, com dificuldades e depois
a recuperação é sempre realizada na ponta final…
Ao longo dos vários quadros comunitários o Estado
tem feito mudanças muito grandes nos programas,
o que leva praticamente a começar de novo e quase
romper com a aprendizagem anterior. Temos de
conseguir alcançar um compromisso entre a simplifi-
cação, o nosso objectivo de garantir que os dinheiros
sejam rapidamente aplicados e o cumprimento de
normas. Muitas vezes, acabam por ser vistas como
demasiado burocráticas, mas são estas normas de
segurança que impedem que a seguir se vá pedir
dinheiro às pessoas porque não foi bem utilizado ou
porque as pessoas não cumpriram determinadas re-
gras, o que acontece em todos os programas. Há pes-
soas que estão a ser confrontadas com a devolução
do dinheiro, porque não tinham um justificativo ou
um comprovativo de um pagamento… Há uma série
de matérias complicadas e tem de haver este com-
promisso de razoabilidade entre o que é necessário
de pontos de controlo e garantias de segurança dos
dinheiros e aquilo que é o objectivo de eficiência do
programa. Estou convencido de que estamos perante
a capacitação técnica do programa para acelerar.
Nestes onze meses recuperámos a credibilidade do
programa e as pessoas começaram a sentir que as
coisas estavam a andar a um ritmo totalmente dife-
rente do que andava. Agora, o objectivo é manter e,
num quadro económico e financeiro difícil para 20��,
com restrições orçamentais brutais, temos de ter ca-
pacidade técnica e criativa para encontrar soluções
que nos permitam manter este ritmo durante o ano
20��, porque o sector necessita deste apoio. Gostaria
que, no final de 20��, tivéssemos uma execução do
programa acima dos 40 por cento, o que, tendo em
conta que o programa se vai estender até 20�5, per-
mitir-nos-ia cumpri-lo sem grande aflição.
AgROTEJO: Os projectos de emparcelamento no
norte do vale do Tejo, tem sofrido algumas vicis-
situdes e já duram há alguns anos. O sr. ministro
mostrou recentemente abertura e sensibilidade
quanto a estes projectos, até porque o Estado
já investiu neles largos recursos. sabendo do
potencial da região, em termos de produção
agrícola e da grande vontade dos agricultores
nestes projectos pergunto: Qual o passo se-
guinte? De que forma, o ministério, irá desen-
volver e promover a continuação destes projec-
tos. Que calendários e apoios prevê?
A.m.s.: O Estado tem ajudado, nesse projecto em
concreto e noutros, através da DGADR, nomeada-
NOV 10
��
AGROTEJO | UNIÃO AGRICOLA DO NORTE DO VALE DO TEJO
mente através da isenção de todas as operações,
como escrituras, que decorreram nessa área quer
por dinâmica própria do território, quer pelas pes-
soas, que voluntariamente têm vindo a fazer troca
de parcelas e aumento da dimensão de propriedade.
No entanto, é necessário garantir um maior esforço
financeiro, até porque já se despendeu muito dinhei-
ro público, os proprietários estão interessados e têm
disponibilidade para continuar a avançar com este
tipo de operações. Para alavancarmos esse projecto
precisamos de ter meios suficientes no contexto do
Proder, que, neste momento, não temos. A minha in-
tenção é criar condições para que nesta avaliação in-
tercalar do Proder consigamos encontrar meios para
permitir uma opção política clara de apoio a três ou
quatro bons projectos de emparcelamento que estão
em curso. No fundo, tratar-se-iam de projectos ân-
cora que servissem de exemplo no país e este é um
dos projectos. Não tendo recursos financeiros para
tudo, gostaria de garantir nesta legislatura condições
para encontrarmos nesta recomposição de fundos e
verbas que vai ter de haver na avaliação intercalar
do Proder para alocar alguns fundos no sentido de
acelerar este projecto em concreto e mais dois ou três
do país que estão a ser trabalhados. Entretanto, dei
instruções à Direcção Geral para continuar a apoiar
e a fazer a preparação técnica com os agricultores
e com as associações para podermos, logo que haja
condições no âmbito do programa Proder, apoiar de
forma mais significativa esse projecto.
AgROTEJO: Diria que no fim da legislatura
este poderia ser uma bandeira de um projecto
finalizado?
A.m.s.: Gostava muito e vou empenhar-me para que
isso aconteça.
AgROTEJO: A protecção ambiental é um tema
transversal à sociedade e o sector agrícola e
em particular os agricultores são os principais
e primeiros defensores do ambiente. no entanto
a legislação europeia e nacional, nem sempre se
adequa à realidade e muitas vezes cria verda-
deiros constrangimentos ao desenvolvimento da
actividade agrícola, criando assim tensões en-
tre a actividade agrícola, sua tutela e a área do
ambiente. Que instrumentos, medidas e acções
estão previstas na harmonização de ambos os
interesses?
A.m.s.: O Estado, em muitas matérias, regulamenta
em excesso e cria dificuldades de contexto junto dos
empresários. O Governo tem vindo a reduzir esse
peso, eliminando um conjunto de taxas e facilitando
as operações junto do sector. Na agricultura e no
ambiente criámos, desde o início desta legislatura,
um grupo de trabalho permanente entre os dois mi-
nistérios onde são tratadas as questões de interesse
dos dois sectores, mas em particular da agricultura,
procurando esgrimir argumentos técnicos e procuran-
do encontrar soluções que facilitem a actividade em-
presarial no domínio da agricultura.
Temos ainda um núcleo político, ao nível de mi-
nistro e secretário de estado, que intervém quando
esse grupo de trabalho não encontra consenso para
a resolução de um problema. Temos feito reuniões
para discutir questões muito concretas de interesse
para a agricultura e devo dizer que tem sido a forma
de ultrapassarmos alguns constrangimentos. Nem
tudo está resolvido, até porque há muitas matérias
complexas que é preciso trabalhar muito tecnica-
mente, mas estou satisfeito com a organização,
colaboração e articulação que temos tido com o mi-
nistério do ambiente.
AgROTEJO: sabendo que as questões da so-
berania nacional estão hoje na ordem do dia
e sabendo que estas questões também estão
ligadas com o sector agrícola e em particular
com a produção de cereais, qual a estratégia
do governo para desenvolver o aumento da sua
produção e assegurar de forma mais musculada
e sustentada essa soberania?
A.m.s.: Quem conhece bem os nossos solos sabe
exactamente qual é a nossa capacidade técnica
efectiva de produzir produtos agrícolas e onde temos
dificuldade num contexto de globalização de merca-
dos. A partir do momento em que se liberalizaram
os mercados, e deixou de haver preços protegidos,
cada agricultor, investidor, empresário, passou a fazer
aquilo que considera ter rentabilidade. Esse compor-
tamento acelerou-se em 200�, quando a União Euro-
peia optou por fazer um desligamento das ajudas da
produção. Com essa regra, o empresário faz quotas
e, naturalmente, não pode perder dinheiro. Tendo
direito a um conjunto de apoios de base da política
agrícola comum, só vai investir e só vai produzir se
achar que o pode fazer e se for rentável e essa é
a grande questão. Os nossos solos não têm capaci-
dade para competir com outros países, porque na
dimensão e na produtividade média, naquilo que
os solos permitem obter com custos mais baratos,
não nos comparamos a uma França ou Alemanha.
Para atingirmos produtividades elevadas nalgumas
áreas, gastamos mais terra, mais energia, mais água
e o produto final acaba por ser mais caro. Quando
se trata de competir com produtos que entram de
outros países, o nosso produtor tem sempre mais di-
ficuldade. Os factores de produção penalizam muito
a nossa rentabilidade de uma determinada cultura
e essas contas têm de ser feitas pelos empresários.
Naturalmente, não compete ao Estado intervir na es-
fera privada e dizer que tem de se passar a fazer
determinada coisa.
Depois temos a pequena agricultura, que tam-
bém é importante no território e que tem de ser
apoiada, e funciona numa lógica de produção para
venda local ou para subsistência das comunidades
mais próximas.
Agora, do ponto de vista daquilo que é com-
petitivo, é um desafio sério. A região do Ribatejo
é uma zona onde as pessoas estão habituadas a
fazer opções e têm um know-how muito forte, pelo
que controlam bem e acompanham a evolução dos
preços de mercado. Hoje em dia, os cereais são uma
“commodity” internacional, sujeita a especulação. É
necessário manter um equilíbrio e ter produto para
vender numa época, mas poder também acomodar
o produto em eventuais descidas de preço que ocor-
rem nesta volatilidade internacional, o que torna esta
matéria complexa.
Actualmente, o trabalho e incentivo à produção
que temos vindo a desenvolver é numa lógica de
orientação e não de impor condições ou regras, in-
tervindo na esfera do empresário. Agora, apoiamos,
muito fortemente, todos aqueles que tenham con-
AGROTEJO | UNIÃO AGRICOLA DO NORTE DO VALE DO TEJO
NOV 10
�2
dições e interesse em ter capacidade de produção
na área dos cereais e de armazenagem. Por esse
motivo, estamos a ultimar com as finanças um pro-
jecto que pretende garantir que os silos que ainda
estão na posse do Estado possam ser usados pelas
cooperativas e pelas associações.
AgROTEJO: Isso tem a ver com a criação de in-
fra-estruturas para poder esperar as melhores
alturas para a comercialização...
A.m.s.: Exactamente. Temos, por exemplo, produ-
tores de arroz que têm de entregar muitas vezes
o seu produto sem preço definido porque não têm
onde o guardar. Isso é uma fragilidade do sistema
e de quem produz. O produtor tem de ter capaci-
dade e ter meios para, de forma organizada, ter
capacidade de armazenagem do seu produto para
vender no momento certo. Em todos os cereais isso
é fundamental.
AgROTEJO: Até porque são infra-estruturas que
o país tem e estão subaproveitadas e por vezes
até abandonadas…
A.m.s.: Temos de revitalizar essa área e o acordo
está praticamente concluído. No fundo, destina-se a
quem já utiliza hoje esses espaços, mas que, assim,
tem uma maior segurança e garantia na sua estraté-
gia de comercialização a longo prazo.
AgROTEJO: A região do Alqueva também está
nessa situação, com uma imensa área plena de
potencial, onde existem, como noutros pontos
do país, milhares de hectares que poderão ser
irrigados desde já. O que vai acontecer a este
território?
A.m.s.: Neste momento, estão concluídos cerca de
60 mil hectares de regadio, já com possibilidade de
rega. Há uma utilização de cerca de 40 por cento
da área disponível para rega em culturas diversas. É
claro que o olival foi a área que mais cresceu, quer
com empresários nacionais, quer com a dinâmica da
região ou através de empresários estrangeiros, no-
meadamente espanhóis. Julgo que os agricultores
estão a fazer um trabalho de articulação muito inten-
so, através da realização de estudos e da avaliação
técnica daquilo que podem efectivamente produzir
na região no futuro.
Provavelmente, não teremos capacidade para
realizar esta mudança apenas com os empresários
locais. No entanto, quem não tiver condições para
o fazer poderá sempre vender, arrendar terra, fazer
acordos e parcerias com outras entidades nacionais
ou estrangeiras para utilizar essa terra, porque o
objectivo é ela ser utilizada. Não podemos correr o
risco, com um investimento de 2,5 mil milhões de
euros, de depois o terreno não ser utilizado. A média
de utilização de sistemas de regadios públicos tem
andado, no final dos projectos, pouco acima dos 40
por cento. Não podemos consentir que no Alqueva
isso aconteça, porque é o maior perímetro de rega
nacional alguma vez feito. Todos os investidores que
tenham capacidade e know-how para o fazer, sejam
de que região forem, têm ali uma porta aberta e
uma oportunidade.
Neste momento, os agricultores estão a fazer uma
análise, a fazer visitas noutros pontos do país e até
ao estrangeiro para perceberem como podem fazer a
transformação. Temos de dar algum tempo e temos
de perceber que as pessoas viveram durante anos
na zona sem água, com actividades de sequeiro. A
transformação não se faz de um dia para o outro. O
processo está em curso e tenho muita confiança e
esperança na região, no Alentejo, nos empresários e
nas associações que estão a liderar este processo. O
país não pode desaproveitar este projecto.
AgROTEJO: Em tempos falou-se de uma verda-
deira “descentralização” de funções, que ac-
tualmente ainda estão nos diversos organismos
do ministério, para as Associações representati-
vas. se é verdade que algumas dessas funções
as associações têm sabido cumprir com eficácia,
outras há que poderiam fazer parte da sua ac-
tividade. Está planeado e calendarizado algumas
transferências dessas funções? Em que áreas?
A.m.s.: Nestes onze meses tenho privilegiado, desde
o primeiro momento, uma relação muito próxima e
directa com as confederações. Acho que todas elas
são indispensáveis para o Governo poder estabe-
lecer acordos e para encontrar soluções para proble-
mas do sector. Tem sido através dessa parceria que
se tem estabelecido que temos vindo a melhorar
algumas matérias, nomeadamente, no programa
PRODER, nas ajudas directas, nos seguros, na in-
ternacionalização das empresas do sector, naquilo
que é o desequilíbrio da formação de preço e da
repartição do lucro ao longo da cadeia de abasteci-
mento alimentar, desde a produção à distribuição.
Neste momento, por exemplo, estamos a ultimar um
acordo com as confederações que permite reforçar
o seu papel no processo das candidaturas anuais
dos agricultores às ajudas directas, mas também na
componente de investimento, do apoio das confe-
derações aos seus associados na execução dos pro-
jectos que têm contratados.
Obviamente que nem tudo pode ser delegado,
mas tudo o que tiver condições para delegar para
as confederações, assim será. Dentro daquela que é
a nossa capacidade técnica, vejo com muito agrado
a colaboração e a cooperação com as confederações
e, através delas, com os agricultores, porque, no
fundo, estamos todos interessados no aumento da
eficiência do sistema. Há onze meses, tínhamos dois
anos de atraso nos controles, nas ajudas directas.
No primeiro semestre de 20�0, regularizámos 2008
e 2009, e 20�0 é uma campanha que está a correr
bem. A nossa meta é que os controles sejam todos
concluídos este ano e que os pagamentos sejam
efectuados no prazo máximo de 60 dias a partir do
período regulamentar, antecipando o que pudermos.
Temos condições, pela primeira vez, de este ano pa-
gar no período regulamentar em vez de 70 por cento
�00 por cento a todos os agricultores.
AgROTEJO: É frequente ouvir, por parte dos agri-
cultores e outros agentes, queixas do atraso dos
pagamentos por parte do IFAp, o que, como pode
supor e sabe, cria fortes constrangimentos no
normal desempenho da actividade. De que for-
ma e que medidas pode o ministério tomar por
forma a minorar esses constrangimentos que
muitas vezes atingem verdadeiras dimensões
de castástrofe para os agricultores?
A.m.s.: A prova de que isso é possível é que o esta-
mos a fazer. Acho que, em onze meses, as pessoas
percebem exactamente a transformação que se fez
NOV 10
��
AGROTEJO | UNIÃO AGRICOLA DO NORTE DO VALE DO TEJO
na capacidade de resposta em relação à obrigação do
Estado de pagar a tempo e horas. Esse é o nosso ob-
jectivo. Em 2008, nas ajudas directas, entre o primeiro
pagamento e o último decorriam mais de 400 dias.
Em 2009, e só interviemos no ultimo trimestre, passá-
mos para 240 dias e, em 20�0, o objectivo é pas-
sar para 60 dias. Isto é de facto uma transformação
enorme. Se o conseguirmos fazer, e estou plenamente
convencido que sim, acho que é uma boa notícia para
os agricultores e a prova de que é possível o Estado
ser mais eficaz e eficiente quando todos trabalhamos
de forma organizada para um fim.
AgROTEJO: A segurança de bens e pessoas no
mundo rural tem estado na ordem do dia e é um
tema de crescente preocupação. Recentemente
foi assinado um protocolo com Associações
de Agricultores, EDp Distribuição e cT/gnR de
santarém que visa promover e conferir mais se-
gurança no mundo rural. no entanto as recentes
alterações nas molduras penais aplicáveis, têm-
-se revelado insuficientes e nada eficazes.
Que outras medidas, programas e diligencias
poderá e deverá fazer o ministério de modo a
conferir mais segurança nestes territórios e às
actividades neles instaladas?
A.m.s.: Esse protocolo que foi assinado na Golegã vai
de encontro a essa preocupação. É ter a consciência
de que, para além da intervenção que está regula-
mentada e prevista no nosso sistema jurídico e no
nosso código penal, é necessário apostar na vigilân-
cia de todo o sistema de produção e das infra-estru-
turas. Este protocolo entre a EDP, as instituições de
agricultores, as forças de segurança e promovido pelo
Governo Civil de Santarém, recorre a tecnologias de
geo-referenciação. Vamos monitorizar e medir quais
são os resultados efectivos desta tecnologia. Se der
resultado, temos condições para generalizar o siste-
ma a outros pontos do país onde há este problema.
AgROTEJO: Tudo tem a ver com mercados, sua
regulação e estabilização.
Que instrumentos tem ou deverá ter a união
Europeia para uma efectiva e eficaz regulação
e estabilidade destes mercados, falo essencial-
mente do sector cerealífero?
A.m.s.: Tenho vindo a defender nas reuniões
de Conselho de Ministros que a Europa devia tra-
balhar a agricultura em conjunto com a área da
concorrência, no sentido de garantir uma efectiva
regulação da cadeia de abastecimento alimentar,
entre a produção e a distribuição. Necessitamos de
um conjunto de regras transparentes, códigos de
conduta, cláusulas comuns a toda a Europa e de
carácter obrigatório para proteger quem produz e,
naturalmente, não penalizando ninguém ao longo
da cadeia. O que não queremos é que o agricultor
e quem produz seja sempre a componente mais
frágil da cadeia. Irei continuar, até no âmbito da
política pós 20��, a lutar para que essa matéria
venha a ser uma realidade. Sei que é difícil, porque
não é apenas da esfera da agricultura na Comissão
Europeia, mas vou reforçar essa ideia em todos os
Conselhos onde esta matéria se colocar, porque tem
a ver com regras nos contratos, na verificação e na
observação dos preços e das práticas da concorrên-
cia, na questão de vendas com prejuízo, na especu-
lação… Temos de criar uma arquitectura organiza-
cional dentro da Europa mais orientada para esta
preocupação, que é a defesa da nossa produção
e do nosso agricultor no mercado. Se cada estado
membro fizer regras os agentes desviam-se para
outros mercados. É preciso uma força conjunta.
AgROTEJO: A união Europeia em 2013 irá pro-
ceder à reforma da pAc. Em termos prospec-
tivos que espera dessa reforma e que impactos
poderá ter no sector em portugal e em especial
na região do norte do vale do Tejo?
A.m.s.: Para Portugal há um objectivo muito claro,
que é a distribuição equitativa de recursos na Uni-
ão Europeia. Actualmente, Portugal é muito penali-
zado no primeiro pilar e está com uma média por
hectare muito inferior à média comunitária. Por ne-
gociações históricas, temos muitos países a receber
mais do que nós.
O desenvolvimento rural é muito importante,
porque é através dele que podemos modernizar as
nossas empresas, mas acho que temos de reequili-
brar, antes de mais, as ajudas directas e conseguir um
reforço do nosso envelope financeiro. Contraria aquilo
que é a posição da Alemanha e da França, que fize-
ram um documento onde defendem a manutenção
da actual chave da repartição. Não vou aceitar isso e
acho que os agricultores me vão acompanhar nesse
objectivo. Não é fácil, naturalmente. São 27 países a
discutir, mas acho que, quando a Europa faz um dis-
curso de equidade, temos condições para isso.
AGROTEJO | UNIÃO AGRICOLA DO NORTE DO VALE DO TEJO
NOV 10
�4
�
vIAbILIDADE FuTuRA DAs ExpLORAçõEs AgRícOLAs pORTuguEsAs nO cOnTExTO DA pAc pÓs-2013
Francisco AvillezProf. Emérito e Coordenador Científico da AGRO.GES
No que se refere à composição futura da PAC,
parece ser consensual a manutenção dos dois Pi-
lares actualmente em vigor, existindo, no entanto,
opiniões divergentes quanto à composição futura de
cada um destes Pilares e, consequentemente, do res-
pectivo peso orçamental.
No que diz respeito às políticas de estabilização de
preços e mercados, é consensual a sua importância
decisiva no combate à volatilidade dos preços agrí-
colas mundiais, mas as opiniões divergem, quer no
que se refere ao tipo de medidas a adoptar (ser as
tradicionalmente utilizadas pela PAC ou mais próxi-
mas daquelas que utilizam os EUA), quer no nível de
suporte a assegurar no futuro aos respectivos preços
no produtor.
Relativamente às ajudas directas em vigor (paga-
mentos directos aos produtores ligados à produção
e regime de pagamento único) parece existir um
consenso de que o seu valor global irá ser reduzido
e a sua repartição entre EM e dentro de cada EM
tenderá a ser mais equitativa do que actualmente.
No entanto, está em aberto tudo o que diz respeito
à chave de repartição a utilizar entre EM em relação
a este tipo de apoios, assim como o tipo de critérios
a utilizar na sua aplicação aos diferentes tipos de
produtores agrícolas.
Em relação aos apoios directos aos produtores
agrícolas relacionados com o fornecimento de bens
públicos ambientais e sociais, parece ser consensual
a maior relevância a atribuir-lhes no futuro, mas pou-
co se sabe sobre o peso a assumir pelo respectivo
financiamento, sobre o tipo de medidas a adoptar e
SÃO, AINDA, POUCAS AS CERTEZAS E
NUMEROSAS AS INCERTEZAS QUANTO àS
PRINCIPAIS ORIENTAçõES QUE IRÃO
INTEGRAR A PAC APóS 20��.
NO QUE DIZ RESPEITO AO FUTURO DO
ORçAMENTO AGRíCOLA DA UE-27, CONTINUA,
AINDA, EM DúVIDA SE ELE SE MANTERá
IDêNTICO, A PREçOS CORRENTES, AO PREVISTO
PARA 20��, OU SE IRá SOFRER UMA MAIOR OU
MENOR REDUçÃO. POR OUTRO LADO, ESTá
TAMbÉM, AINDA, EM AbERTO SE A CHAVE DE
REPARTIçÃO ORçAMENTAL ENTRE OS
DIFERENTES E.M. SE MANTERá OU SE SERá
ALTERADA E, NESTE úLTIMO CASO,
DE QUE FORMA.
AGROTEJO | UNIÃO AGRICOLA DO NORTE DO VALE DO TEJO
NOV 10
�6
sobre a sua integração nos �0 e 20 Pilares.
No que se refere à importância futura das políticas
de promoção da inovação e da competitividade agrí-
cola e florestal, subsistem bastantes dúvidas sobre o
seu futuro peso nos apoios do 20 Pilar, sobre o tipo
de medidas a apoiar prioritariamente e a importância
a atribuir no contexto da PAC às políticas de investi-
gação e experimentação agrícolas.
Finalmente, toda a gente reconhece a importância
a atribuir à consolidação e diversificação do tecido
económico e social das zonas rurais, em geral, e das
mais vulneráveis em particular, mas as opiniões di-
vergem sobre o papel da PAC no seu financiamento
face aos outros fundos comunitários.
Neste contexto de incertezas, é, ainda, muito alar-
gado o leque de cenários de evolução futura da PAC
que poderão vir a ser considerados e, consequente-
mente, são muito diversas as possíveis tendências de
evolução da viabilidade futura das explorações agrí-
colas portuguesas no contexto da PAC pós-20��.
Tomando como base de análise um cenário PAC
pós-20�� intermédio do ponto de vista das alte-
rações previstas nos preços e ajudas agrícolas, será
a seguinte, de acordo com as nossas previsões, a
representatividade futura em Portugal Continental,
das explorações agrícolas viáveis e competitivas eco-
nomicamente: 6,5 do número total de explorações;
��% da SAU; �2,2% das UTA; �4% do valor da produção
agrícola (Quadro �).
Trata-se de um grupo de explorações que sofrerá
uma redução no valor por hectare de SAU das res-
pectivas ajudas directas e, consequentemente, do
respectivo rendimento empresarial líquido, a qual
poderá, no entanto, vir a ser contrariada através
de ganhos de competitividade potencialmente al-
cançáveis com base em melhorias tecnológicas e es-
truturais. Importa sublinhar que, apesar da redução
nas AD/ha de SAU atingirem, em média, os �0%, este
grupo de explorações será aquele cujo respectivo va-
lor continuará a ser o mais elevado no contexto das
diferentes categorias de explorações em causa.
As explorações agrícolas não competitivas mas
Quadro 1 - Representatividade das explorações portuguesas de acordo com a respectiva viabilidade e competitividade pós 2013 (%)
competitivas
nºExplorações
sAu
viáveis economicamente
6,5
não competitivas
nº uTAs
pbA
AD/sAu(€/ha)
��,0
�2,2
�4,0
�79,0
�6,9
54,4
�9,�
22,2
�47,8
viáveis financeiramente
7�,4
�2,7
65,6
42,4
�7,8
nãoviáveis
5,�
�,8
2,9
�,�
8�,0
Total
�00
�00
�00
�00
�00
economicamente viáveis irão ter a seguinte repre-
sentatividade no contexto do cenário PAC pós-20��
em causa: �6,9% do número total das explorações
agrícolas; 54.4% da SAU; �9,�% das UTA; 22,2% do
valor da produção agrícola.
O valor das AD/ha de SAU apresenta, também,
tendência para reduzir-se, mas com um decréscimo
médio de, apenas, �% em relação à situação actual.
Ganhos de competitividade e eventuais aumentos
nos apoios pelo fornecimento de bens públicos ambi-
entais e sociais permitirão, facilmente, a recuperação
das perdas de rendimento em causa por parte deste
grupo de explorações agrícolas.
Para o cenário PAC pós-20�� analisado, as ex-
plorações agrícolas de Portugal Continental clas-
sificadas como viáveis financeiramente terão a se-
guinte representatividade: 7�,4% do número total das
explorações agrícolas de Portugal Continental: �2,7
da SAU; 65,6 das UTA; 42,4 do valor da produção
agrícola.
Trata-se portanto, do grupo de explorações com a
dimensão social, territorial e económica mais signifi-
cativa, que, apesar de poderem vir a beneficiar de
um aumento médio de 26% nas respectivas AD/ha
de SAU, irão gerar rendimentos claramente insufi-
cientes para remunerar de forma adequada a respec-
tiva mão-de-obra, que é maioritariamente familiar.
O futuro deste grupo de explorações vai passar,
em parte, pelos apoios que possam vir a beneficiar
no contexto da promoção de bens públicos ambien-
tais e dos incentivos à ocupação do território nacional,
mas sobretudo, dos rendimentos não agrícolas que
possam vir a obter dentro e fora das respectivas ex-
plorações agrícolas, as quais irão depender do futuro
desenvolvimento sócio-economico das zonas rurais.
A representatividade futura das explorações agrí-
NOV 10
�7
AGROTEJO | UNIÃO AGRICOLA DO NORTE DO VALE DO TEJO
�
colas classificadas como não viáveis no contexto do
cenário PAC pós-20�� em causa, difere muito pouco
do verificado actualmente, o que nos leva a consi-
derar este grupo de explorações como muito pouco
significativo e cujo futuro poucas implicações terá na
agricultura e mundo rural nacionais.
Do anteriormente exposto parece-nos ser possível
tirar os seguintes principais conclusões.
Primeiro, que apesar das alterações previstas para
o futuro da PAC, não se deverá alterar de forma signi-
ficativa a viabilidade das principais orientações produ-
tivas que caracterizam, actualmente, as explorações
agrícolas portuguesas, com excepção para o reforço
da tendência de extensificação a que os sistemas de
agricultura de sequeiro têm estado sujeitos nestes
últimos anos.
Segundo, que se irá continuar a assistir à redução
do número de pequenas explorações agrícolas, quase
sempre associadas a um quase abandono das res-
pectivas áreas.
Terceiro, que a viabilidade económica futura
das explorações agrícolas portuguesas vai exigir a
obtenção de ganhos de competitividade que dadas
as limitações edafo-climáticas da maior parte do ter-
ritório nacional vão exigir, por um lado, alterações tec-
nológicas orientadas para a redução dos respectivos
custos de produção baseados num decréscimo na
utilização por unidade de superfície ou de produto
dos diferentes factores intermédios e de capital e, por
outro, uma viabilização dos sistemas de ocupação e
uso dos solos agrícolas e agro-florestais orientados
para o fornecimento de bens públicos ambientais.
Quarto, que a crescente preocupação com as alte-
rações climáticas vai levar os agricultores portugueses
a adoptar equipamentos, bens intermédios e práti-
cas agrícolas capazes de contribuir para a redução
das emissões de GEE e para o sequestro de carbono,
opções de mitigação estas que irão, no essencial,
corresponder ao tipo de medidas que irão ser exi-
gidas para uma adaptação dos respectivos sistemas
de produção aos efeitos esperados com as alterações
climáticas.
Quinto, que o tipo de soluções técnicas que a
redução dos custos de produção e a resposta às alte-
rações climáticas irão exigir se inserem, no essencial,
naquilo que hoje em dia se designa por sistemas
de produção agrícolas sustentáveis que se baseiam,
no essencial, na adopção de: técnicas agrícolas de
precisão; fontes de energia renováveis; sistemas de
tratamento de efluentes das explorações; formas de
valorização dos sub-produtos das actividades agríco-
las praticadas.
NOV 10
�9
AGROTEJO | UNIÃO AGRICOLA DO NORTE DO VALE DO TEJO
�
EmpARcELAmEnTO RuRALSofia Marques
Ora, nós, Agricultores do Norte do Vale do Tejo, não
somos assim, nunca o fomos e por isso marcámos
a diferença: somos uma das regiões agrícolas mais
importantes do país, (dizem, e nós concordamos).
Já demonstrámos a todos que sabemos trabalhar,
que sabemos investir, que sabemos inovar, e sabe-
mos fazer tudo isto, pasmem, ao mesmo tempo que
PRODUZIMOS!
Produzimos milho, trigo, cevada, batata, brócolo,
pimento, ervilha, tomate e cebola. Tudo coisas que,
se não as houver por cá, temos de as comprar fora.
A mensagem parece simples:
Ajudem-nos a criar condições que nós crescemos.
Podemos ser mais competitivos, podemos enfrentar
o desafio da liberalização do mercado, podemos e
queremos contribuir para a criação de emprego e
soberania alimentar. Queremos até “ser do contra”
e aumentar as nossas exportações. Mas não, a men-
sagem ainda não produziu efeitos.
Tudo o que precisamos são soluções mais consis-
tentes e definitivas que nos permitam planear o que
iremos produzir, produzir mais e melhor, em varie-
dade, quantidade e qualidade.
Não descobrimos a solução agora, o inicio dos tra-
balhos do emparcelamento remonta aos anos 90 e
já executámos, com sucesso, várias etapas. Só falta
PORTUGAL NÃO ESTá NOS SEUS MELHORES
DIAS. ANDA AbATIDO, DESMOTIVADO,
ALGO DESCREDIbILIZADO, PARCO EM IDEIAS
E PROJECTOS GANHADORES. MUITOS
CONTENTAM-SE EM RESOLVER O
PRObLEMAZINHO DO DIA-A-DIA, A REMENDAR
CADA bURACO QUE SE AbRE,
CHUTANDO PARA A FRENTE,
à bOA MANEIRA DE SER “PORTUGUêS”.
AGROTEJO | UNIÃO AGRICOLA DO NORTE DO VALE DO TEJO
NOV 10
22
tirar do papel e levar a obra para o campo.
Sim, é um projecto grandioso e estruturante,
daqueles que não estamos habituados a fazer (nem
a deixar que os outros façam). Talvez por isso, até
à data todas as portas do financiamento se têm
mantido fechadas, apesar da nossa insistência, da
nossa persistência, do nosso esforço para explicar o
que está em jogo.
Até à data, sim, porque agora algo mudou:
Sua Excelência, o Ministro da Agricultura, do Desen-
volvimento Rural e das Pescas, Prof. Doutor António
Serrano, disse que acredita em nós. Disse-o sem
qualquer reserva. Disse que está empenhado em dar
corpo a esta obra, porque acredita nela e nos seus
resultados.
E nós?
Nós respondemos: Sim, Senhor Ministro, a Agrotejo
e os Agricultores estão preparados para levar a cabo
esta obra fundamental para o sucesso da agricultura
da região, mostrando mais uma vez ao país, que sim,
que somos capazes.
NOV 10
2�
ASSEGUREO MELHORARRANQUEDO MILHO
FORNEÇAOS NUTRIENTES QUE A SEARA
EXIGE
MAXIMIZEA PRODUÇÃO
PORHECTARE
PRODUÇÃO INTENSIVA DE MILHOGARANTA TODAS AS CONDIÇÕES PARA O MÁXIMO RENDIMENTO DA SUA SEARA
pRODuçãO DE cEbOLA nA AgROmAIsOs pAssOs cERTOs pARA O sucEssO
Jorge Durão Neves Director Geral da Agromais
A importância da definição estratégica na
AgROmAIs
Como forma de garantir esse alargamento a
Agromais tem recorrido à utilização de diferentes
variedades do mesmo produto, de acordo com a sua
maior ou menor precocidade, que possibilite o alar-
gamento do período de colheita e, particularmente,
nos produtos cujas condições de conservação o per-
mitem, à construção e ampliação de instalações de
armazenagem de longa duração. Assim aconteceu,
inicialmente, com a comercialização de milho, es-
tendendo-se o conceito, posteriormente, à comerciali-
zação de batata (indústria e consumo) e de cebola.
O posicionamento do negócio da cebola
A cebola é o produto hortícola comercializado em
fresco no qual a AGROMAIS mais tem concentrado
os seus esforços de investimento, a diferentes níveis,
nos últimos anos.
A sua introdução como cultura estratégica obede-
ceu a sete etapas que a AGROMAIS considera essen-
ciais na consolidação do produto:
Em primeiro lugar e desde logo, a avaliação do
potencial do mercado. Existe ou não mercado para
este produto.
Segundo, a avaliação das condições edafo-climáti-
cas para o desenvolvimento da cultura.
Terceiro, a colaboração imprescindível dos agricul-
tores cujo perfil e cujas explorações mais se adeqúem
à fase de arranque da cultura.
Quarto, a selecção das variedades mais adaptadas
às condições de clima e solo e, também, às tendên-
PARA A GENERALIDADE DA PRODUçÃO
AGRíCOLA COMERCIALIZADA, E TENDO
EM ATENçÃO OS CONSTRANGIMENTOS
PRóPRIOS DO NEGóCIO DOS PRODUTOS
AGRíCOLAS (COLHEITA ExTREMAMENTE
CONCENTRADA NO TEMPO), A ESTRATÉGIA
COMERCIAL DA AGROMAIS TEM-SE bASEADO
NO MAIOR ALARGAMENTO POSSíVEL
DA JANELA DE OFERTA.
AGROTEJO | UNIÃO AGRICOLA DO NORTE DO VALE DO TEJO
NOV 10
24
cias de consumo dos mercados alvo.
Quinto, um longo período de aprendizagem e
experimentação, até atingirmos um patamar de se-
gurança que nos permita entrar no mercado.
Sexto, a construção de infra-estruturas de con-
servação e armazenagem e a aquisição de equipa-
mento de preparação e embalamento, por forma a
adaptar a oferta às exigências da procura.
Por último, a sistematização e a certificação de
todo o processo, passo fundamental para a criação
de uma relação de confiança e transparência com os
nossos clientes.
Portugal é um país altamente deficitário na
produção de cebola, importando anualmente largos
milhares de toneladas, de mercados com origem, es-
sencialmente, em Espanha, França e Holanda. Logo,
para uma organização que, como a AGROMAIS,
apesar de ser o maior produtor de cebola em Por-
tugal, mais não representa do que uma pequena
quantidade colocada no mercado e, inicialmente,
por um período de tempo bastante curto, havia que
salvaguardar essa circunstância particular junto das
grandes empresas importadoras.
Nesse sentido, posicionámos, numa primeira fase,
a comercialização da cebola junto das maiores em-
presas grossistas importadoras / embaladoras, já que
são elas detêm um papel determinante no negócio,
ao ofertar produto, nacional ou importado, durante
doze meses por ano.
Importa, aqui, efectuar um pequeno parêntesis
relativo à caracterização do produto cebola. Trata-se
de um produto claramente indiferenciado aos olhos
do cliente, seja ele embalador, cadeia de distribuição,
ou consumidor final. Para parâmetros de qualidade
idênticos, o factor preço é determinante, pouco im-
portando a origem do produto. Por outro lado, a va-
lorização da qualidade superior tem sido desprezível
em termos de mercado.
Existem, no entanto, dois factores relevantes de di-
ferenciação da cebola comercializada pela AGROMAIS:
o primeiro é as características intrínsecas do produto,
claramente diferenciado em aspecto, textura e sabor
relativamente ao produto importado; o segundo é o
controlo da rastreabilidade que implementámos para
este produto. Sabemos, em qualquer fase das ope-
rações internas e externas e, no limite, na prateleira
do supermercado, quem foi o produtor daquele lote,
em que parcela foi produzido, quais os fito-fármacos
utilizados, as condições do cultivo e a tipologia dos
defeitos de qualidade eventualmente detectados
durante a preparação e a expedição. De referir que,
neste âmbito e para além da certificação GLObALG.
A.P em todas as parcelas de produção, todo o proces-
so da AGROMAIS se encontra certificado, desde 2008,
pela norma NP EN ISO 900�:2008.
Consolidada a fase de entrada no mercado, ad-
quirindo alguma notoriedade junto dos operadores,
não só pela crescente dimensão do negócio como,
também, pelas características diferenciadoras do
produto apresentado, demos início a um processo
gradual de comercialização da produção junto da
grande distribuição. Para tal, muito contribuiu a confi-
ança na qualidade do produto, adquirida durante os
primeiros anos de produção, o alargamento da jane-
la de oferta decorrente dos sucessivos investimentos
realizados na armazenagem de longa duração e o
sucesso do programa de exportação para o Reino
Unido, um dos mercados mais exigentes do mundo,
e que representa, hoje em dia, cerca de 20% desta
área de negócios da AGROMAIS.
A opção pela progressiva integração do negócio
com a grande distribuição decorre, essencialmente
de três factores: primeiro, a evidência de que a re-
lação comercial com a grande distribuição é, hoje,
uma inevitabilidade no mercado dos produtos hortí-
colas e constitui, para a AGROMAIS, a oportunidade
de subir um degrau qualitativo na estratégia comer-
cial para esta área de negócio; segundo, o baixo grau
de dependência existente entre a AGROMAIS e cada
um dos seus clientes: não existe nenhuma posição
dominante de qualquer um deles no conjunto dos cli-
entes deste produto, o que nos permite negociar de
uma forma mais descomprometida e, tanto quanto
possível, mais justa; terceiro, a consciência progres-
sivamente adquirida pela grande distribuição de que
pressionar um fornecedor até à exaustão e substituí-
-lo consecutivamente por outro não será a melhor
política para quem pretende estabilidade nos forneci-
mentos, garantia de segurança alimentar para o con-
sumidor e qualidade do produto comercializado.
A importância de um plano estratégico e de
marketing para o negócio da cebola
A evolução verificada na negociação com a grande
distribuição, na qual a aquisição de um novo equi-
pamento de embalamento de cebola constituiu um
assinalável ponto de viragem, desencadeou a neces-
sidade de evoluir para o desenvolvimento de um
plano estratégico e de marketing que defina, com
clareza, os próximos passos que passarão, inevitavel-
mente, pela criação de uma marca AGROMAIS.
Estamos conscientes de que, ao fim de mais de 20
anos de existência, este será o momento e o passo
certo na estratégia comercial da AGROMAIS, permitin-
do não só crescer de uma forma mais sustentada no
negócio da cebola, como também criar sinergias que
poderão beneficiar outras áreas de actividade.
NOV 10
25
AGROTEJO | UNIÃO AGRICOLA DO NORTE DO VALE DO TEJO
Luís mEsQuITA DIAs “...pROcuRAmOs pARcEIROs E áREAs DE cuLTIvO QuE vãO DEsDE O mInHO AO ALgARvE...”
Luís Mesquita DiasVITACRESS
Agrotejo: A Vitacress faz parte, hoje em dia, de um
grupo económico cujo centro de decisão é nacional.
Que implicação é que este facto trouxe ao posiciona-
mento estratégico da empresa?
Luís mesquita Dias (LmD): - Até ao momento da
aquisição a Vitacress em Portugal era uma mera
subsidiária da empresa Mãe em Inglaterra, tendo
como principal missão a produção de produtos a
granel para serem comercializados nas grandes ca-
deias inglesas.
Sendo certo que ainda no tempo dos anteriores
proprietários, já se tinha começado a comercialização
em Portugal e em Espanha, foi depois da aquisição
pelo grupo Português que o desenvolvimento da Vi-
tacress em Portugal teve o maior impulso.
Em particular, a partir de Janeiro deste ano, a
unidade Portuguesa constituiu-se como unidade de
negócio autónoma e o resultado está à vista.
Agrotejo: O que entende por isso?
(LmD): - Quero dizer que os 20 % de crescimento que
a companhia teve em Portugal este ano, não são
obra do acaso. A aposta do Grupo Português e da
equipa que lidera a companhia são de crescimento
acelerado e investimento na marca.
Agrotejo: Como vê a Vitacress o contributo das dife-
rentes regiões de produção agrícola nacional, para a
sua estratégia de expansão de negócios?
(LmD): - A nova estratégia que estamos a seguir
pressupõe um alargamento da gama para produtos
que até aqui não comercializávamos.
Isso só será possível se para além das áreas pró-
prias cultivadas, recorrermos a parcerias de produção
em várias regiões do país.
A sazonalidade distinta dos vários produtos assim
o obriga.
Nesse sentido procuramos parceiros e áreas de
cultivo que vão desde o Minho ao Algarve, passando
naturalmente pelo Ribatejo e Alentejo.
Agrotejo: E no Ribatejo em que áreas estão a pensar?
(LmD): - A zona da Golegã é certamente uma delas.
A Agromais tem todo o potencial para colaborar con-
nosco o que não significa que a nossa colaboração
com agricultores desta área se limite a esta parceria.
É uma zona com condições climatéricas, de terreno
e de “know how” que se destaca no conjunto do país.
Agrotejo: Quais as áreas de negócio que querem
desenvolver?
(LmD): - As folhas “baby” continuarão a ser a nossa
bandeira com a experiência que acumulámos ao
longo dos anos.
No entanto a experiência de extensão de
gama deste ano para mini vegetais encoraja-nos
a continuar.
Parte importante da nossa estratégia passa no en-
tanto, para além de vender produtos, construir marca
e acrescentar valor.
Essa tem sido ao longo dos anos uma das maiores
lacunas do país, não apenas na agricultura mas em
muitos outros sectores.
Durante demasiado tempo fomos produtores de
matéria-prima ou processadores de produtos sem
marca, perdendo a oportunidade de criar valor até à
comercialização.
NOV 10
27
AGROTEJO | UNIÃO AGRICOLA DO NORTE DO VALE DO TEJO
sEcAgEm E ARmAZEnAgEm DE cEREAIsnOvAs InsTALAçõEs AumEnTAm cOmpETIvIDADE
Andreia AmaralJornalista
A Agromais inaugurou, no passado dia �0 de Se-
tembro, as suas novas instalações de secagem e
armazenagem de milho. Localizadas na Azinhaga,
concelho da Golegã, representam um investimento
de cerca de um milhão de euros, comparticipado
no âmbito da Ajuda à Diversificação do Programa
Nacional de Reestruturação do Sector do Açúcar.
O investimento da Agromais vem reforçar si-
gnificativamente a capacidade de concentração,
recepção, secagem e armazenagem de milho dos
produtores da região associados à Agromais. O
primeiro projecto para a reconversão deste centro
de secagem de cereais remonta a �997, tendo
sido adiado pela imposição de novas prioridades.
A actual necessidade de remodelação da infra-es-
trutura em causa, o facto de não se conseguir dar
A AGROMAIS INAUGUROU, EM SETEMbRO,
A AMPLIAçÃO DO SEU CENTRO DE
SECAGEM E ARMAZENAGEM DE CEREAIS
NA AZINHAGA, GOLEGÃ.
NUM MOMENTO DE RISCO, O
INVESTIMENTO, DE CERCA DE UM MILHÃO
DE EUROS, VEM AUMENTAR A COMPETITIVIDADE
DAS ExPLORAçõES AGRíCOLAS DA REGIÃO.
AGROTEJO | UNIÃO AGRICOLA DO NORTE DO VALE DO TEJO
NOV 10
28
resposta em termos de armazenamento à capaci-
dade de produção e a possibilidade de compartici-
pação através de um fundo de apoio foram alguns
dos factores que impulsionaram a concretização
do projecto. Após um período de cerca de três me-
ses de idealização e concepção, onde se estudou
o equipamento a ser instalado e a forma de movi-
mentação do produto no interior das instalações,
a obra foi executada em apenas �20 dias, naquele
que é um verdadeiro tempo record. Apesar de o
equipamento adjudicado ser de origem francesa,
a Agromais fez questão em promover a economia
portuguesa e recorreu a mão-de-obra nacional
para a execução da construção civil e montagem
de todo o equipamento..
As novas instalações entraram em funciona-
mento no início actual campanha 20�0/20��, têm
uma capacidade de recepção e secagem de cerca
de �50 toneladas por dia e de armazenagem de
7.�00 toneladas. Recorrendo às mais avançadas
tecnologias de secagem e conservação disponíveis
no mercado, nomeadamente no que diz respeito
à poupança de energia, vêm aumentar a capaci-
dade operacional total da Agromais para �.850
toneladas por dia e a capacidade total de arma-
zenagem para �� mil toneladas.
O investimento é considerado fundamental
para a competitividade das explorações agrícolas
da região, permite equilibrar a oferta em relação
à procura e abre a porta a melhores condições
de negociação de preços, representando um claro
benefício para os agricultores.
Apesar do forte risco inerente a este investi-
mento, uma vez que o sector dos cereais não é
de rentabilidade elevada e tem um retorno lento,
a Agromais decidiu avançar por acreditar que esta
continuará a ser uma zona de forte produção de
milho. Recorde-se que, actualmente, a Agromais
representa um quarto da produção nacional de
milho grão, tendo comercializado, na campanha
2009/20�0, mais de 80 mil toneladas da produção
dos agricultores seus associados.
NOV 10
29
A EsTRuTuRA pRODuTIvA E A AgRIcuLTuRA pORTuguEsA
Eduardo CatrogaEconomista
Por outro lado, em matéria de financiamento da
economia, as trajectórias do endividamento público e
privado e da dívida externa tornaram-se explosivas.
A crise financeira internacional, iniciada em 2008,
apenas fez deflagrar uma “bomba ao retardador”
que fomos alimentando inconscientemente e que
acabaria sempre por rebentar, mais ano menos ano.
Acabou a época de endividamento externo fácil e
barato e chegou o tempo de reposição de condições
de estabilidade financeira necessária a um cresci-
mento económico sustentado.
Temos de mudar de vida, trabalhando com mais
qualidade, criando mais valor, poupando mais, e
adaptando os gastos do Estado, das fam lias e das
empresas à nossa real capacidade económica. E dan-
do prioridade ao sector produtivo, onde naturalmente
se insere a agricultura, silvicultura e pecuária.
O potencial de crescimento económico do país a
médio e longo prazo tem vindo a definhar. Tal si-
gnifica que as políticas públicas e as políticas empre-
sariais não têm tido a qualidade exigida pelo novo
contexto concorrencial: com a entrada no euro, com
o alargamento de União Europeia, e com a globaliza-
ção crescente dos mercados.
Temos que interiorizar esta situação negativa para
mudarmos drasticamente. Precisamos de implemen-
tar, progressivamente, um novo mo-delo de cresci-
mento económico que reforce a
estrutura produtiva através do aumento da produção
de bens e serviços transaccionáveis, ou seja, que
permita o aumento das exportações, diminua as im-
portações, e que reduza gradualmente os níveis de
NA úLTIMA DÉCADA A ECONOMIA PORTUGUESA
TEVE UM CRESCIMENTO MÉDIO ANUAL APENAS
DA ORDEM DOS 0,5 POR CENTO, O QUE A FEZ
ESTAGNAR FACE AO NíVEL DE VIDA MÉDIO DA
UNIÃO EUROPEIA (UE-�5) E REGREDIR
FACE AOS NOVOS PAíSES ADERENTES.
FOI UMA DÉCADA PERDIDA EM TERMOS DE
CONVERGêNCIA REAL E DO DESíGNIO HISTóRICO
PORTUGUêS DE SE APROxIMAR, DE FORMA
SUSTENTADA, DOS PADRõES DE bEM-ESTAR
DOS PAíSES MAIS DESENVOLVIDOS.
AGROTEJO | UNIÃO AGRICOLA DO NORTE DO VALE DO TEJO
NOV 10
�0
��
Folhas baby é o nome que damos às folhas que são apanhadas ainda jovens e tenras. Folhas naturalmente nutritivas porque apanham mais sol e, como permanecem inteiras, mantêm toda a frescura e nutrientes.
Espinafres, agriões, acelgas, rúculas, alfaces - connosco, só baby.
endividamento externo.
Importa notar que tal não se conseguirá com mi-
lagres de curto prazo, mas só com uma acção per-
sistente e coerente, num horizonte temporal largo,
sobre o complexo sistema de factores estruturais
determinantes dos níveis de produtividade e de com-
petitividade da economia portuguesa. Estes radicam
na qualidade das políticas públicas, para a melho-
ria contínua da envolvente externa da actividade
empresarial, e na eficiência da gestão estratégica e
operacional das empresas, no sentido do aumento
sustentado do valor acrescentado nacional.
Neste desiderato aparece, na minha perspectiva, a
necessidade urgente de reorientar prioritariamente
para o sector produtivo a aplicação dos recursos fi-
nanceiros mobilizáveis (fundos internos e externos)
e bem assim os incentivos fiscais e financeiros pos-
síveis dentro das restrições. Para tanto, e como não
há meios para tudo, os sectores públicos administra-
tivo e empresarial e as parcerias público-privadas não
podem continuar a absorver uma quota-parte exces-
siva de recursos, como tem acontecido na última
década, por forma a libertar meios para os sectores
dos bens e serviços transaccionáveis, onde se joga a
nossa competitividade externa.
A estrutura produtiva do país tem vindo a sofrer,
ao longo de décadas, transformações na linha com o
padrão dos países mais desenvolvidos: a diminuição
do peso relativo da agricultura e demais actividades
do sector primário e bem assim da indústria transfor-
madora, e o aumento do sector dos serviços.
Simplesmente, em Portugal este movimento tem
vindo a verificar-se nas últimas duas décadas a uma
velocidade excessiva e hoje a economia portuguesa
tem uma estrutura produtiva desajustada. Precisamos
de mais agricultura, mais pecuária, mais silvicultura,
mais actividades económicas ligadas ao mar, mais
indústria transformadora e mais serviços de maior
valor acrescentado. Para tanto, precisamos de novas
políticas públicas (a nível nacional e da União Euro-
peia) e de maior capacidade de empreendedorismo e
de inovação em todos os sectores da economia.
De notar que o bom funcionamento de uma
economia de mercado pressupõe, entre uma multi-
plicidade de factores críticos, um sistema de incen-
tivos adequado que premeie a produção, o trabalho,
a poupança, a produtividade, a iniciativa e o risco.
É neste quadro de referência que temos de
definir e de implementar um novo ciclo de políticas
económicas globais e sectoriais visando a melhoria
da produtividade e dos níveis de produção nacional
no âmbito de uma política de alocação de recursos
na economia orientada prioritariamente para o sec-
tor produtivo, onde se insere naturalmente o sector
agrícola.
O sector primário (sem actividades a jusante a
ele ligadas), segundo as estatísticas do INE (dados
de 2007), representa apenas 2,8% do total do valor
acrescentado nacional (em que a agricultura, caça e
floresta 2,5%), contra 24,7% do sector secundário e
72,4% do sector terciário.
Mas é evidente que o interesse estratégico da
agricultura e demais actividades do chamado mundo
rural não se esgota na sua contribuição directa para
o produto interno bruto (PIb) mas tem que ser me-
dido conjuntamente com o impacto no valor acres-
centado nacional das actividades transformadoras a
jusante das quais é fornecedora de matérias-primas
e, também, da sua contribuição para o desenvolvi-
mento sustentável e equilibrado do conjunto da
economia e do território. É neste quadro que se jus-
tificam apoios (da União Europeia e a nível nacional)
ao sector agrícola.
Devo frisar que não sou especialista no domínio
da economia agrária. Mas como economista, e em
função também da minha experiência na gestão
de empresas ligadas ao fornecimento de alguns
factores de produção à agricultura e ao desenvolvi-
mento do novo olival alentejano, permito-me emitir
algumas opiniões.
A política agrícola tem que ser segmentada, pois o
sector integra naturalmente vários sub-conjuntos de
actividades com características estruturais diferencia-
das. A segmentação é crítica em função de critérios
estratégicos chave. Por exemplo: dimensão da pro-
priedade; características das regiões agrícolas; zonas
de regadio ou sequeiro; culturas actuais e potenciais.
Tendo como enqua-dramento de referência a neces-
sidade estratégica de melhoria da produtividade, o
que implica o desenvolvimento do empreendedoris-
mo, tecnologia e a inovação.
A estratégia agrícola deve, pois, contemplar vários
tipos de agricultura que necessitam de políticas espe-
cíficas a curto e a médio e longo prazo. Por exemplo:
(I) a agricultura de auto-consumo; (II) a agricultura bio-
lógica; (III) a agricultura orientada para os mercados
de proximidade; (IV) a agricultura de regadio e de
sequeiro enquadráveis na política agrícola comum
(PAC); (v) outros relevantes.
Importa salientar que temos já hoje alguns seg-
mentos da actividade agrícola com produtividades de
nível superior que comparam bem com os dos países
mais desenvolvidos: são os casos, por exemplo, do
milho, do tomate, da fruta e produtos hortícolas em
certos nichos, da vinha ou do olival moderno. Os pro-
jectos empresariais de sucesso distinguem-se pela
qualidade da gestão, da tecnologia e da inovação,
mas infelizmente ainda representam uma pequena
parcela no universo da agricultura portuguesa.
O grande desafio é conseguirmos multiplicá-los
em todas as regiões agrícolas. Com a consciência
que as transformações estruturais são naturalmente
lentas mas que podem ser aceleradas com políticas
adequadas.
AGROTEJO | UNIÃO AGRICOLA DO NORTE DO VALE DO TEJO
NOV 10
�2
��
www.ma-portugal.pt
Naturalmente mais perto de si.
Existem potencialidades de desenvolvimento agrí-
cola em todo o país. Também a extensão das áreas
de regadio revela-se possível, mesmo a sul (incluindo
Algarve). E a água é um factor crítico em quanti-
dade e preço como o Alqueva (tardiamente) está a
demonstrá-lo.
O desenvolvimento da gestão e do empreende-
dorismo é chave. Os bons exemplos de empresas
agrícolas nacionais e estrangeiras têm um efeito de
demonstração positivo que deve ser alargado.
De salientar o papel pioneiro de alguns estrangei-
ros que investiram no país nas últimas décadas. Por
exemplo, os maiores exportadores de verduras e hor-
taliças da UE, após a Holanda, são empresários agrí-
colas norte europeus que em boa hora se instalaram
no Alentejo. Também a gestão e a tecnologia espa-
nhola no domínio do olival intensivo e super intensivo
constitui o motor para a revolução em curso no novo
olival português e para o aproveitamento de cerca
de 50 por cento da área irrigada com a barragem
do Alqueva, permitindo em breve ao país passar de
importador líquido de azeite (consumo anual à volta
de 60.000 toneladas para uma produção normal do
olival tradicional de 40.000 tons) para exportador
líquido com impacto positivo significativo na balança
comercial e no nosso endividamento externo.
Temos também, felizmente, neste e noutros
domínios, bons empresários agrícolas nacionais (e
o Ribatejo alberga alguns deles) que são igual-
mente motores da nova dinâmica de que a agri-
cultura precisa.
Mas, tal como o exemplo do novo olival alentejano
o demonstra, andámos adormecidos na modernização
da olivicultura portuguesa durante duas ou três déca-
das. Ao contrário da agricultura espanhola – que não
teve as perturbações derivadas da ruptura política de
�974 – que soube inovar com o apoio de investigação
das Universidades.
Os bons exemplos de gestão agrícola em mui-
tos segmentos estão a ter um efeito de demons-
tração positivo, o qual necessita de ser estendido nas
regiões onde se inserem e fora delas.
Ainda a propósito do projecto de irrigação ligado à
barragem do Alqueva e admitindo que cerca de 40-50
por cento da capacidade será utilizada no desenvolvi-
mento do novo olival intensivo e extensivo e também
pela vinha moderna (segmentos do que denomino ag-
ricultura “high-tech”), resta a restante capacidade para
outras culturas de regadio. Existem, pois, novas opor-
tunidades de exploração agrícola que os empresários
agrícolas do Ribatejo (mas não só), com experiência de
gestão do regadio, não devem ignorar.
Precisamos de mais empresas agrícolas com di-
mensão, mas a tradicional agricultura rural (que incor-
pora muitas características da agricultura bio-lógica),
pode também ser incentivada. Não é por acaso que
muitos países estão a reconhecer o seu contributo
para o aumento da suficiência alimentar. Precisamos
igualmente de políticas governamentais que incen-
tivem o desenvolvimento em rede das empresas
agrícolas (com a adesão espontânea de pequenos/
médios agricultores) com um estatuto jurídico e fis-
cal flexível, e não rígido como acontece com as tradi-
cionais regras legais das cooperativas. Os tradicionais
incentivos ao emparcelamento (com várias experiên-
cias históricas) não têm sido eficientes e têm que ser
repensados à luz do novo contexto.
Considero que o desenvolvimento empresarial
em rede, com flexibilidade jurídica, e com os in-
centivos fiscais e financeiros adequados, será uma
via de futuro para a melhoria da produtividade das
explorações de menor dimensão na compra de fac-
tores produtivos, na logística, nas vendas e na as-
sistência técnica. Como complemento importante a
cooperativas que sejam eficientes (como algumas
que já temos).
Os apoios da Política Agrícola Comum (PAC) nem
sempre têm sido usados de forma eficiente (como,
aliás, os aplicados noutros sectores da economia).
Por exemplo, foi em muitas situações uma caça
ao subsídio, e não um verdadeiro instrumento de
desenvolvimento.
Não há desenvolvimento agrícola, em terras de
qualidade adequada, sem água. As áreas de se-
queiro, onde não há alternativa eficiente de acesso a
água, têm que ter o reforço das políticas específicas
no desenvolvimento da floresta e da pecuária exten-
siva, em articulação com as actividades transforma-
doras a jusante.
A PAC precisa de ser revista e não ser tão pe-
nalizadora, como tem sido, dos países de agricultura
essencialmente de tipo mediterrânico a benefício
relativo das economias agrícolas do centro e norte
da Europa.
A agricultura portuguesa, no seio das agriculturas
da UE, tem de contribuir para a produção de bens ali-
mentares, para a protecção e valorização dos recursos
naturais e endógenos, das paisagens rurais, da bio-
diversidade, da redução das emissões de carbono, e
para a diversificação da estrutura produtiva do país.
A UE e os governos nacionais têm que ter presente
este quadro de referência absolutamente crítico na
AGROTEJO | UNIÃO AGRICOLA DO NORTE DO VALE DO TEJO
NOV 10
�4
definição do sistema de incentivos como contribuição
para um desenvolvimento económico sustentável.
A diversificação da estrutura produtiva para o au-
mento do valor acrescentado é necessária a nível na-
cional e a nível regional. Os riscos de uma geração de
riqueza local ou regional assente numa só actividade
ou quase são enormes em termos do crescimento
económico sustentado e do emprego. O Algarve, por
exemplo, não pode contar para o seu desenvolvimen-
to futuro com o crescimento do turismo, construção
e imobiliário ao ritmo das últimas quatro décadas.
Precisa de encontrar novas actividades de valor
acrescentado. E de reconverter mesmo actividades
tradicionais do passado que foram abandonadas ou
quase, como a vinha, os citrinos ou a alfarroba.
Temos que passar da agricultura em moldes tradi-
cionais para uma visão em que o foco será cada vez
mais a agro-indústria e a chamada “agro-tech”.
Mas não nos iludamos. Uma grande área da
superfície agrícola do país tem a floresta como
vocação. Importa desenvolver mais esta fileira no
âmbito dos “clusters” da floresta e actividades trans-
formadoras ligadas: indústria da pasta e do papel,
mobiliário, cortiça e aproveitamento de biomassa
(seja para a produção de energia seja para a ex-
portação de “pellets” de madeira). Solucionando es-
trangulamentos burocráticos, de financiamento e
de incentivos fiscais e financeiros.
Na estrutura agrícola em todos os países coexistem
e coexistirão estes três segmentos. Mas sempre que
se consegue concretizar este movimento estratégico
em certos segmentos ou nichos, com sucesso com-
petitivo, aumenta-se o valor acrescentado gerado.
Temos fraquezas que importa ir eliminando. Por
exemplo, o atraso no desenvolvimento da olivicultura
portuguesa evidencia bem os nossos desafios. A ní-
vel do empreendedorismo e da capacidade de inves-
tigação das faculdades e politécnicos de agronomia e
da Estação de Olivicultura do Estado. Ainda há poucos
dias, visitando um novo olival na zona de Ferreira
do Alentejo, deparei com a experimentação de novas
espécies varietais desenvolvidas na Universidade de
Córdova… e pensei nos fracos frutos do trabalho das
nossas instituições que têm essa missão!
Infelizmente esta inacção (com honrosas ex-
cepções) existe igualmente ao nível dos esforços de
investigação e desenvolvimento de muitas outras
culturas, até naqueles onde já chegámos mesmo a
fazer no passado trabalho válido (ex. a fruticultura).
Mas não culpemos apenas o Ministério da Agricultura
(que precisa de profunda reestruturação emagre-
cendo a estrutura burocrática e reorientando recursos
para o desenvolvimento e apoio técnico efectivo aos
agricultores) ou as Universidades. Também a capaci-
dade de empreendorismo e gestão no sector precisa
de ser revigorada. O sector precisa de novos actores.
A nível mundial posso dizê-lo – fruto da minha
experiência decorrida da ligação a empresas que for-
necem “inputs” a alguns segmentos da agricultura
“high-tech” em várias regiões do globo – existe um
forte movimento geral de modernização da agricul-
tura para que venha a suprir as necessidades cres-
centes de alimentação da população mundial.
A Europa e Portugal agrícolas não podem deixar-
se ficar para trás. É por isso que a política agrícola
comum (PAC) precisa de ser reinventada. E Portugal e
os países europeus do sul têm que lutar por medidas
de política agrícola mais equilibradas que atendam
às suas características edofo-climáticas específicas e
ao seu estádio de desenvolvimento.
A agricultura portuguesa, no seio das agricultu-
ras da U.E., tem de contribuir para a produção de
bens alimentares, para a protecção e valorização
dos recursos naturais endógenos, das paisagens
rurais, da biodiversidade, da redução das emissões
de carbono e para a melhoria do perfil da estrutura
produtiva do país.
A U.E. e os governos nacionais têm que ter pre-
sentes este quadro de referência absolutamente
crítico como contribuição para um crescimento
económico sustentado e sustentável.
NOV 10
�5
AGROTEJO | UNIÃO AGRICOLA DO NORTE DO VALE DO TEJO
Na revisão da PAC afiguram-se-me fundamentais
medidas que promovam no sector: (I) o empreen-
dedorismo, a inovação e a competitividade; (II) o
desenvolvimento rural integrado, nas suas várias
dimensões; (III) a consideração específica de zonas
rurais mais vulneráveis e as características especiais
de zonas de sequeiro ou as características pecu-
liares dos vários segmentos de agricultura; (IV) a
regulação dinâmica dos mercados, a contribuição
para uma certa estabilização dos preços de produ-
tos agrícolas estratégicos e para o desenvolvimento
dos seguros agrícolas.
Os processos de revisão da PAC são sempre difí-
ceis e serão cada vez mais difíceis. E os agricultores e
decisores da política agrícola nacional devem ter pre-
sente que a tendência estrutural, a nível europeu e
nacional, será para a redução dos apoios à produção
ou rendimentos agrícolas.
Tal significa que temos de acelerar o caminho para
a melhoria da produtividade, da competitividade e da
inovação do sector.
Necessitamos de mais empresas agrícolas com
dimensão, mas a tradicional agricultura rural (em
boa parte com características de agricultura biológica)
pode ser incentivada. Não é por acaso que muitos
países estão a reconhecer o seu contributo para o
aumento da suficiência alimentar.
Mas também precisamos de políticas que incen-
tivem o aumento da dimensão, o desenvolvimento
das empresas agrícolas em rede (com a adesão
espontânea de pequenos/médios agricultores) com
estatuto jurídico flexível, e não rígido como acontece
com as tradicionais regras legais das cooperativas. Os
históricos incentivos ao emparcelamento (com várias
experiências) não têm sido eficientes e têm que ser
repensados. Assim como todo o sistema fiscal aplicá-
vel ao sector, conside-rando adequadamente as suas
especificidades.
O aumento da dimensão e da actuação em rede
são factores críticos para a diversificação da oferta
no sentido do aumento do rendimento do sector, ex-
plorando, por exemplo, as potencialidades do turismo
rural e de natureza, as energias renováveis, a caça,
o património cultural do cavalo e do touro (em certas
regiões) e outros, em articulação com outras activi-
dades de lazer e turismo cultural.
Em todas as regiões do país a agricultura (incluindo
demais actividades do mundo rural) tem potencial de
expansão no sentido do aumento do valor acrescen-
tado e de contribuição para a diversificação da es-
trutura produtiva. O movimento estratégico de certos
segmentos ou nichos da nossa agricultura tradicional
para a agro-indústria e para a nova agricultura “high-
-tech” (em regime intensivo ou semi-intensivo), e para
a diversificação de fontes de rendimento, tem de ser
estimulado. Já temos hoje alguns bons exemplos
que importa multiplicar.
Mas, nalguns casos, teremos mesmo que recupe-
rar tempo perdido em culturas tradicionais. É o caso,
por exemplo, do Algarve onde a vinha (em novos
moldes), os citrinos e a alfarroba parecem querer vir a
ressuscitar. Assim se desenvolva o plano de irrigação
de vastas zonas do interior algarvio que não estão a
contribuir para a riqueza regional e nacional.
Para terminar esta minha reflexão reforçaria que
é vital a revitalização da estrutura produtiva do país.
Nesta linha estratégica o ressurgimento do interesse
pelo sector primário em geral, e da agricultura e
mundo rural em particular, são ele-mentos críticos
de um novo modelo de desenvolvimento económico
que temos de reinventar e exe-cutar para que con-
sigamos vir a responder, com sucesso, aos desafios
que defrontamos. Acredito que podemos fazê-lo com
trabalho de qualidade.
NOV 10
�6
StreamlineMáxima Tecnologia ao Seu Alcance
Experiência de mais de 20 anos em Portugal.Maior resistência ao entupimento. • Grande área de filtragem do gotejador • Labirinto exclusivo Turbonet®
• Janela tipo “Flap” • Gotejador resistente às variações de temperatura
Todas estas diferenças representam...
MAIOR PRODUTIVIDADERegaber Portugal, LdaTel. 243 329 097 - Fax 243 329 [email protected]
�
PROJECTAMOS . CONSTRUIMOS . GERIMOS . . .
INSTALAÇÕES ELÉCTRICAS
SISTEMAS DE BOMBAGEM
AUTOMATISMOS. . .
MANUTENÇÃO
ASSISTÊNCIA TÉCNICA
REPARAÇÕES
| Telf. 249 761 313 — Fax 249 761 361 || Telems. 917 218 382 — 917 502 055 |
| Z.A.E. — Lote 14 — Apartado 12 || 2140 ChAMUSCA |
| e-mail . [email protected] |
Quinta da Alorna 2080 - 187 AlmeirimTel: +351 243 570 700 Fax: +351 243 570 709 E-mail: [email protected]
COR PÚRPURA
AROMA INTENSO A VIOLETAS E
GROSELHA MADURA DA TOURIGA
COMPLEXIDADE DADA PELO
ESTÁGIO EM MADEIRA
CARÁCTER FORTE
MEDALHA DE OURO NO CONCURSO
INTERNACIONAL MUNDUSVINI
AgRIcuLTuRA DInAmIZA nORTE DO vALE DO TEJOAndreia Amaral
Jornalista
Se muitos esquecem o mundo rural e a agricul-
tura, para outros esta é estruturante e a garantia
da existência de um tecido social e económico
numa zona marcada pela desertificação e que,
pela sua localização não conseguem agregar
serviços e indústrias. Francisco Moita Flores, presi-
dente da Câmara Municipal de Santarém, conhece
bem esta realidade: «santarém tem 28 fregue-
sias e, destas, vinte vivem essencialmente da
agricultura. É a única actividade que retarda
a desertificação e mantém redes sociais vi-
vas. Aliás, o grande drama de santarém é a
prolongada crise agrícola que tem provocado
o envelhecimento, a migração dos pequenos
aglomerados, tornando o concelho muito
desequilibrado no que respeita á distribuição
de riqueza», explica.
Para o responsável, não há dúvidas de que «o
sector agrícola tem que ser forçosamente a
bandeira da região», sublinhando o papel que
este, em conjunto com a área pecuária, desem-
NÃO SENDO DE FORMA ALGUMA O RETRATO
DO PAíS, ZONAS Há ONDE A AGRICULTURA
ASSUME O PAPEL DA PRINCIPAL ACTIVIDADE
ECONóMICA. CENTRANDO-SE NELA A DINâMICA
DE TODO UM CONCELHO, É A MAIOR
EMPREGADORA, DESENHA OS CONTORNOS
DA PAISAGEM E MOLDA OS PADRõES
E A CARACTERIZAçÃO SOCIAL.
AGROTEJO | UNIÃO AGRICOLA DO NORTE DO VALE DO TEJO
NOV 10
�8
penha nas diversas frentes, «quer pela dinâmica económica, no que respeita à produção para os mercados interno e externo, quer no que respeita
à dinamização social e à circulação de riqueza na região e, finalmente, no que respeita ao grande capital simbólico acumulado ao longo de
séculos».
O mesmo é verdade para os concelhos de Alpiarça, Chamusca, Golegã e Torres Novas, onde a capacidade de produção existente, a existência de fortes or-
ganizações de produtores e boa produtividade dos terrenos afectos garantem que a actividade agrícola é a grande sustentadora da economia local e regional.
Por ser o principal recurso destes concelhos, as Câmaras Municipais empenham-se no apoio à actividade, associando, muitas vezes, a identidade do concelho
a elementos construídos através desse pilar. É esse o caso de Santarém, cidade sobejamente conhecida pela realização da feira nacional da agricultura, onde
acorrem não apenas profissionais, mas todo o tipo de visitantes à procura de produtos tradicionais e de uma ligação a uma cultura que se está a perder.
Também a Câmara de Alpiarça começou, recentemente, a fomentar este tipo de iniciativa como forma de potenciar o desenvolvimento económico da
região. Em entrevista à revista Agrotejo, o responsável desta autarquia, Mário Fernando Pereira, revelou que é sua intenção «prosseguir uma linha de apoio à organização dos agricultores e ao Associativismo, colaborando em parceria na promoção dos nossos produtos nos mercados, através da certificação, por exemplo, ou na definição de estratégias conjuntas que contribuam para o escoamento e comercialização desses produtos a preços justos», sendo que, neste contexto, um dos «objectivos essenciais é recolocar as feiras ao serviço de uma efectiva promoção dos produtos agrícolas de Alpiarça e da região (melão, vinho, Doçaria, gastronomia...)».
NOV 10
�9
AGROTEJO | UNIÃO AGRICOLA DO NORTE DO VALE DO TEJO
Por seu lado, o presidente da Câmara Municipal de Torres No-
vas, António Rodrigues, revelou que, no sector dos frutos secos e
passados, «emblema histórico concelhio e que poderá tam-bém vir a ser uma “âncora da região”», e face «ao desânimo dos produtores por diversas medidas governamentais que ao longo dos anos vieram debilitar o sector», a autarquia de-
cidiu assumir a presidência da Associação Nacional dos Produtores
de Frutos Secos e Passados. De acordo com António Rodrigues,
através da realização da Feira Nacional anual, de programas de
formação profissional e de iniciativas de promoção de vendas ao
nível nacional e internacional, conseguiu-se recriar entusiasmos
e sedimentar interessantes nichos de mercado, recuperando-se
algum do dinamismo do sector.
Para José Veiga Maltês, Presidente da Câmara Municipal da Golegã, a prioridade da autarquia «é a per-
manente abertura e disponibilidade para os agricultores e instituições que os representam, para
os ouvir, “tomar o pulso” aos seus anseios, partilhando-os, e posteriormente encarnar o cargo
de “provedor” das suas pretensões, junto da tutela respectiva. criar condições ao progresso e
desenvolvimento do sector agrícola é vital!».
AGROTEJO | UNIÃO AGRICOLA DO NORTE DO VALE DO TEJO
NOV 10
40
No seguimento desta filosofia, os autarcas apostam na estreita colaboração com as associações do
sector, por serem elas quem melhor conhecem os desígnios e necessidades da agricultura: «a Autar-
quia acompanha com elevado empenhamento todo o esforço organizativo das associações
de produtores existentes, bem como os seus
projectos e mantém total disponibilidade
para em conjunto com os mesmos analisar
procedimentos que possam ser introduzidos
que levem ao fortalecimento do sector», expli-
ca Sérgio Morais Carrinho, presidente da Câmara
Municipal da Chamusca. Nestes cinco concelhos,
dá-se ainda prioridade à construção de infra-estru-
ras que viabilizem os acessos às áreas agrícolas e
privilegiem as comunicações, fazendo-se «um ele-
vado esforço económico na conservação e
manutenção da rede viária da zona de aluvião,
que representa cerca de 7.000 hectares, nas
freguesias da carregueira, pinheiro grande,
chamusca e vale de cavalos», refere Sérgio Mo-
rais Carrinho, referindo-se ao exemplo específico
do seu município.
Não sendo directamente da sua competência, mas tratando-se de uma questão do interesse de todos, as autarquias zelam ainda pela segurança de bens e
pessoas no mundo rural e em especial das explorações agrícolas, colaborando com as autoridades, GNR e PSP, e tentando dissuadir «a ocorrência de actos
que lesem os cidadãos», afirma António Rodrigues, esclarecendo que, «contudo, a segurança não depende apenas do número de efectivos policiais
afectos a este território, que é limitado. Tem também aqui de haver uma maior proximidade dos cidadãos, procurando actuar preferencialmente
de forma preventiva». O município da Golegã assume-se como um dos mais activos nesta frente, tendo sido, no passado mês de Setembro, palco para a
apresentação do Programa de Combate à Criminalidade em Espaço Rural.
Adicionalmente, «há um forte empenho em valorizar o património rural, de mãos dadas com a preservação ambiental, como forma de firmar
a identidade do concelho. são as tradições, os modos de viver e de ser de todos nós, por esse concelho fora, que definem a história e a cultura
de Torres novas», explica António Rodrigues, sublinhando a aposta na sustentabilidade ambiental efectivada numa candidatura comunitária que trará �0
milhões de euros para investimento nesta área. Também a Câmara Municipal de Alpiarça está activa na protecção ambiental. Pretende recuperar e qualificar,
em termos ambientais, o Paul da Gouxa, a Vala de Alpiarça, a praia fluvial e aldeia do Patacão, integrando as suas excepcionais condições num percurso
turístico do concelho. De acordo com o presidente, pretende-se «implementar uma estratégia de desenvolvimento do concelho, assente na consciência
das exigências de sustentabilidade e de solidariedade inter-geracional, numa gestão racional e integrada dos recursos naturais, com vista a
assegurar a sua disponibilidade a longo prazo».
Para Moita Flores, esta questão é da maior relevância, uma vez que trata-se de «casar os direitos do Homem com os direitos da Terra, o que implica
a revitalização de patrimónios e uma preocupação acrescida com o ambiente». Na sua opinião, «quem explora recursos naturais, nomeada-
mente a fertilidade da terra, tem por esta matriz o caminho seguro para o futuro, para o desenvolvimento sustentado e para a acumulação e
reprodução de riqueza», pelo que esta dimensão nunca poderá ser descurada. Afinal, cuidar da terra, que nos alimenta e nos dá ar, é garantir o presente
e proteger o futuro.
NOV 10
4�
pRÉmIO “AgRIcuLTOR DO AnO” A DIsTInguIR Os mELHOREsAndreia Amaral
Jornalista
A Agromais vai, pela primeira vez, eleger o “Agri-
cultor do Ano”. Depois de ter anunciado, ainda na
campanha de 2009, a entrega de um prémio de
mérito que distinguiu três percursos profissionais,
a associação vai agora premiar o profissional que
mais se destaque na campanha de 20�0. A Agro-
mais pretende, com esta iniciativa, valorizar e dar
visibilidade ao contributo dos agricultores para a
sociedade, promovendo a importância do seu pa-
pel perante esta e levando-a a reconhecer o valor
COM O ObJECTIVO DE PROMOVER AS MELHORES
PRáTICAS, A AGROMAIS VAI ENTREGAR O
PRÉMIO “AGRICULTOR DO ANO” E DISTINGUIR O
MELHOR PROFISSIONAL DA CAMPANHA DE 20�0.
A INICIATIVA TEM, NUMA DAS SUAS FUNDAçõES,
O INTUITO DE DAR VISIbILIDADE AO PAPEL DOS
AGRICULTORES PERANTE A SOCIEDADE.
intrínseco destes profissionais. Tendo como valor
assente que os agricultores são a alma da organi-
zação, a Agromais distingue, assim, os seus me-
lhores membros, ao mesmo tempo que estimula
a concorrência positiva entre pares naquele que é
o objectivo comum de fazer crescer o sector e au-
mentar a sua dinâmica, performance e eficiência.
O prémio Agricultor do ano relativo à campanha
de 20�0 será entregue no encontro Agromais Plus,
a realizar-se no primeiro trimestre de 20��. Os agri-
cultores serão avaliados, entre outros critérios e de
uma forma geral, pela organização da exploração
agrícola, pelas produções, apreciação das culturas
implementadas e performance. Serão os elemen-
tos técnicos da Agromais, por serem os que co-
nhecem melhor a realidade de cada profissional,
a fazer uma primeira triagem, nomeando, nas
suas áreas, os agricultores que mais se destacam.
Posteriormente, estes candidatos serão avaliados
por um júri nomeado para o efeito, que elegerá
o profissional que mais se distinguiu e que repre-
senta uma referência a nível de procedimentos
aplicados e resultados alcançados.
Do mesmo modo, a Agromais continuará a en-
tregar o prémio agricultor na sua outra vertente,
distinguindo e homenageando alguns profissio-
nais pelo seu percurso, trabalho empreendido, re-
sultados alcançados, afirmação e reconhecimento
junto dos outros agricultores e pela sua ligação e
contributo para as organizações e para o sector. No
ano passado, este prémio de mérito foi entregue
a três agricultores. No entanto, o prémio poderá
também ser entregue a outros profissionais ou a
personalidades que tenham dado um contributo
inequívoco para as organizações e para o desen-
volvimento da actividade e do sector em geral.
Em qualquer uma das vertentes o intuito é
sempre destacar os bons exemplos e estimular a
adopção contínua das melhores práticas por parte
de cada agricultor e para o desenvolvimento e
aumento da competitividade de todo o sector
agrícola.
AGROTEJO | UNIÃO AGRICOLA DO NORTE DO VALE DO TEJO
NOV 10
42
�
cAmpO DE OpORTunIDADEsAndreia Amaral
Jornalista
O MUNDO RURAL OFERECE MAIS DO QUE
TERRAS PARA CULTIVAR. NUM ESPAçO
SUbAPROVEITADO E ONDE ExISTEM DIVERSAS
CARêNCIAS, MUITAS SÃO AS OPORTUNIDADES
DE NEGóCIO E AS POSSIbILIDADES DE
DIVERSIFICAçÃO DE SERVIçOS QUE PODEM
MARCAR A DIFERENçA.
O espaço rural não está circunscrito à agricul-
tura. No meio de terras cultivadas, de uma socie-
dade que se move a um ritmo diferente e que
tem necessidades próprias, surgem oportunidades
de negócio que, para além de contribuirem para
a economia regional, potenciam, muitas vezes, o
próprio sector agrícola. Empreguem muitas pes-
soas, ou sustentados numa base familiar, con-
tribuem sempre para a manutenção do tecido
demográfico em áreas cada vez mais afectadas
pela desertificação, ao mesmo tempo que minimi-
zam, em maior ou menor escala, o desemprego e
conferem capacidade financeira a muitas famílias
que se mantêm nestas áreas.
O PRODER disponibiliza recursos especifica-
mente para projectos que permitam dinamizar
e requalificar zonas rurais, tornando-as em pólos
atractivos e desenvolvendo as suas mais valias e
identidade. Nesse sentido, e na sua zona de ac-
tuação, a Agrotejo tem-se empenhado na ajuda a
todos aqueles que, com o seu empreendorismo e
trabalho, pretendem dinamizar as áreas rurais.
Foi esse o caso de António Sequeira. Dedicando-
se há �5 anos à agricultura resolveu alargar a sua
actividade e dedicar-se também ao turismo rural.
Tendo já as infra-estruturas básicas, contou com o
apoio da Agrotejo para conceber um projecto que,
posteriormente, recebeu aprovação para fundos
do PRODER. Com �4 alojamentos, e capacidade
para albergar 28 pessoas, a Quinta Arneiro de
cima está em plena comunhão com a sua envol-
vente. Actualmente, a taxa de ocupação ronda os
45 por cento, «embora a nível turístico ainda não
tenhamos encontrado o nosso nicho de mercado».
Por esse motivo, António Sequeira está agora a
tentar desenvolver «um programa turístico que
AGROTEJO | UNIÃO AGRICOLA DO NORTE DO VALE DO TEJO
NOV 10
44
atraia mais pessoas», para além daquelas que ali
se hospedam fruto da casualidade ou dos muitos
protocolos que conseguiu estabelecer com outras
empresas da região, até porque esta é uma área
em que quer continuar a investir.
O apoio da Agrotejo foi também fundamental
para a fundação da Kaza, arquitectos e enge-
nheiros, Lda., uma empresa com sociedade por
quotas sediada na Golegã. José Augusto Nunes,
um dos quatro sócios, explica que na génese da
empresa «esteve uma carência desta zona que
sentimos necessidade de colmatar». A Kaza foi
criada em 2008 e, apesar da actual conjuntura
económica, tem visto o seu trabalho aumentar,
muito graças ao facto de os sócios, por estarem
numa zona rural, terem alargado a sua acção e
especializado-se em algumas áreas. Não é por
isso de admirar que façam trabalhos para diver-
sos pontos do país. Para além da gratidão «pela
ajuda e informação prestadas pela Agrotejo», José
Augusto Nunes sublinha ainda «a estreita colabo-
ração» daí resultante, uma vez que, actualmente,
prestam auxiliam em termos de projecção de in-
fra-estuturas para os projectos concorrentes a fun-
dos do Proder. «Procuramos dinamizar a área e
fomentar a entreajuda entre as várias empresas
e as várias actividades para o benefício de todos»,
finaliza José Augusto Nunes.
E se a Kaza centra a sua actividade na prestação
de um serviço ainda recente, outros há que já
são praticamente seculares. Exemplo disso é a
correaria silvério, uma casa que data de �9�2,
quando o avô do actual artesão, Carlos Gonçalves
Silvério, começou a produzir selas e arreios. A
sabedoria e conhecimento passaram de geração
em geração, naquele que continua a ser «um tra-
balho artesanal, de habilidade e paciência». Uma
arte quase perdida que faz desta uma casa inter-
nacionalmente reconhecida e que põe a Golegã
na linha da frente desta actividade. A empresa já
abarca toda a estrutura familiar fechada e, para
além de Carlos e da sua esposa, também já os
dois filhos, de 27 e 2� anos, fazem desta a sua
actividade principal. Foi a Agrotejo que informou
Carlos Silvério sobre as oportunidades do Proder
e que tratou do projecto para a remodelação das
infra-estruturas e aquisição de máquinas de corte,
embora este tenha sido apenas «a primeira nota
de um trabalho que foi muito além do previsto»,
explica o artesão que, até hoje, não considera
fazer outra coisa.
Igualmente bem sucedido é o restaurante
“O barrigas”, passagem obrigatória para todos
os que estão nas proximidades da Golegã e já um
marco no roteiro gastronómico nacional. O espaço
brilha pela presença da identidade rural, patente
na decoração rústica e nos elementos alusivos ao
trabalho do campo. Com a simplicidade e simpatia
que caracterizam a população rural, e recorrendo
sempre que possível a produtos regionais, “O
barrigas” oferece não só comida tradicional, mas
também um conjunto de atracções que evoca a
vida rural. «Há vinte e oito anos que exerço esta
actividade. Nos finais dos anos 80 do século pas-
sado, as pessoas começaram a valorizar o tradi-
cional, a gastronomia era o elo de ligação às suas
origens. O barrigas surge para interpretar essa
necessidade e em �99� abre no Entroncamento»,
recorda o proprietário Jorge Pereira. «A mudança,
em Janeiro de 2009, para a Golegã foi uma opção
importante e desejada há alguns anos», refere o
responsável, explicando que coube à Agrotejo a
execução do projecto para a candidatura ao Proder
e que este «vai permitir que o barrigas consiga,
além do seu serviço, ser o elo de ligação dos seus
clientes ao mundo rural, aos seus sabores e às sua
tradições». A empregar seis pessoas, Jorge Pereira
confessa que, apesar da crise, é díficil encontrar
colaboradores. De qualquer forma, não esmorece
e avança, com entusiasmo, que «haverá novidades
para breve!!!»..
NOV 10
AGROTEJO | UNIÃO AGRICOLA DO NORTE DO VALE DO TEJO
Juntos somos mais?
Kaza 8 arquitectos & engenheiros
Lg. da Imaculada Conceição – Centro Comercial “ O Mercado “ – Lj. 8
Tel./ Fax: 249977677
GOLEGÃ
- Arquitectura 3D - Engenharia
- Medições e Orçamentos - Cadernos de Encargos
- Topografia - Consultadoria
- Certificação Energética - Fiscalização de Obras
- Direcção Técnica de Obras
R I G O R E P R O F I S S I O N A L I S M O
sEguRAnçA nO munDO RuRALumA QuEsTãO DE sObREvIvêncIA
Sónia SanfonaGovernadora Civil de Santarém
VIVEMOS HOJE NUM MUNDO GLObAL,
PERMANENTEMENTE EM SObRESSALTO,
MUITO MAIS CENTRADOS NA EVOLUçÃO DOS
MERCADOS, NOS DIRECTóRIOS ECONóMICOS
E FINANCEIROS INTERNACIONAIS, DOS QUAIS,
APARENTEMENTE, ESTAMOS IRREMEDIAVELMENTE
DEPENDENTES, DO QUE NAS PESSOAS, NOS
TERRITóRIOS E NA SUA SUSTENTAbILIDADE,
CONDIçÃO DA NOSSA SObREVIVêNCIA.
É por isso crucial que, nestes tempos mais
difíceis, sejamos capazes de inverter esta lógica,
unindo esforços, adoptando medidas e criando
condições que permitam dotar a nossa região dos
meios que potenciem a sua afirmação nacional
e internacional, num quadro de crescimento sus-
tentável, desenvolvimento económico e espaço
de qualidade de vida, preservando a nossa identi-
dade.
A afirmação da nossa ruralidade, como carac-
terística intrínseca da nossa identidade enquanto
povo, e como factor determinante para o nosso
desenvolvimento económico e social avulta as-
sim como um imperativo, quer para as nossas
populações, empresários e todas as forças vivas
da sociedade, quer para aqueles que, em cada
momento, assumem a responsabilidade de decidir
politicamente os nossos destinos.
O Mundo Rural é, no quadro da nossa região, um
referencial de qualidade de vida, desenvolvimento
económico e sustentabilidade ambiental que não
podemos perder. Do conjunto de valências e carac-
terísticas do Mundo Rural, consubstanciadas numa
grande diversidade de actividades económicas in-
terligadas e interdependentes que corporizam um
vasto mercado, sobressai a agricultura como o seu
núcleo central e a base de qualquer política ou
estratégia para a sua viabilização.
mas se é verdade que não há agricultura
sem mundo Rural, não é menos verdade que
NOV 10
49
AGROTEJO | UNIÃO AGRICOLA DO NORTE DO VALE DO TEJO
não há mundo Rural sem segurança.
Um dos fenómenos emergentes na sociedade
actual tem subjacentes os crimes de furto e a vio-
lência no espaço rural. Não por serem novas reali-
dades, mas porque apresentam contornos novos,
resultantes também da maior consciencialização
da sua existência e do seu impacto, são
crescentemente preocupantes.
Muito embora este tipo de criminalidade não
seja típico de uma zona específica do país, a
verdade é que há certas faixas populacionais
que estão mais expostas a estes crimes, como é
o caso dos idosos e dos agricultores, em especial
os que vivem isolados. Efectivamente, o impacto
económico e financeiro que os furtos de cobre e de
equipamentos e maquinaria agrícolas têm na ac-
tividade agrícola é de tal modo, que compromete
perigosamente todo o esforço de investimento e
modernização realizado neste sector ao longo dos
últimos tempos. Este fenómeno criminal não deixa
igualmente de estar intrinsecamente ligado a um
outro que se agiganta no Mundo Rural – a deserti-
ficação dos territórios - tendo aqui um impacto de
tal modo grande que põe em causa a sua própria
existência.
Ciente da importância da preservação e valoriza-
ção do Mundo Rural enquanto espaço identitário
e factor de progresso e, consequentemente, da
actividade económica que corporiza o centro da
sua vitalidade – a agricultura - o Governo Civil de
Santarém promoveu, em parceria com as forças
de segurança e os agricultores, a implementação
de um conjunto de medidas de segurança passiva,
materializadas no projecto denominado “Ribatejo
Seguro” no qual se colocam as novas tecnologias
ao serviço da segurança. Este projecto, de âmbito
mais alargado, propõe-se criar uma rede, agregan-
do todos os agentes de segurança e a sociedade
civil, com o objectivo comum de criar condições de
facilitação para as forças de segurança identifi-
carem os actos criminosos e perseguirem os seus
perpetradores de forma mais eficaz.
Acredito que este pode ser um passo decisivo no
combate à criminalidade no mundo rural, especial-
mente a que está associada aos furtos de cobre
e de equipamentos e maquinaria agrícola, con-
tribuindo fortemente para a viabilização económica
deste sector e, simultaneamente, para a imagem
e atractividade do Mundo Rural, como lugar para
viver, para trabalhar, para usufruir e como factor de
desenvolvimento e progresso do nosso país.
se é verdade que não há mundo Rural sem
segurança, não é menos verdade que não há
um portugal desenvolvido, economicamente
competitivo e turisticamente atractivo, sem
mundo Rural..
NOV 10
50
CB-Grá
fic
CB-Gráficos
Golegã
reservas:249 717 631
www.obarrigas.com
�
A AGRICULTURA, COMO TODOS OS OUTROS
SECTORES, SOFREU ALTERAçõES AO LONGO
DOS TEMPOS, UMAS MAIS SUPERFICIAIS,
OUTRAS MAIS PROFUNDAS, ESTEVE E ESTá EM
CONSTANTE TRANSFORMAçÃO, SENDO QUE DE
ALGUMA FORMA TEM SIDO APROVEITADO PARA
SE DEFINIR O ADEQUADO EQUILíbRIO ENTRE A
FUNçÃO DO ESTADO E O PAPEL DAS
ASSOCIAçõES DE AGRICULTORES.
A ruralidade tem sido definida utilizando indi-
cadores diversos, em países diferentes tais como
número de habitantes por aglomerado populacio-
nal, densidade populacional, distância aos grandes
centros, tipo de actividades económicas, etc.. Em
Portugal não se tem utilizado este conceito para
agregar os indicadores estatísticos, pelo que é
difícil caracterizar com precisão o conceito de rural.
No entanto o INE (Instituto Nacional de Estatís-
tica) definindo freguesias rurais como aquelas
que têm menos de 2000 habitantes, conclui que
em Portugal �7% da população vive em áreas ru-
rais, 27% em áreas suburbanas e 56% em áreas
urbanas.
Na Europa, a Eurostat e a DGVI (Direcção Geral
da Agricultura), definem como áreas rurais as que
têm uma densidade populacional menor que �00
habitantes por quilómetro quadrado. De acordo
com um estudo financiado pelo biomed 2, a pro-
porção de áreas rurais nos países europeus, usan-
do esta definição, varia entre 8.7 no Reino Unido e
50.6 na Finlândia, sendo de 2�.2 em Portugal.
A realidade rural em portugal
As áreas rurais têm como características comuns,
o de serem pouco populosas, com uma população
envelhecida, terem problemas de acessibilidade
aos grandes centros, estando por isso relativa-
mente isolados, com problemas de economia de
escala que as tornam mais vulneráveis à perda
de serviços importantes para a população, com
economias instáveis, com emigração frequente,
dependentes da agricultura, turismo, extracção de
minerais e actividades piscatórias.
A existência de condições de crise resultantes
da falta de emprego, da escassez de mão-de-obra,
JusTIçA E mEIO RuRAL bREvEs nOTAs DO mEIO RuRALAntónio Gaspar
Juiz de Direito
AGROTEJO | UNIÃO AGRICOLA DO NORTE DO VALE DO TEJO
NOV 10
52
da quebra da rentabilidade do trabalho, da dificul-
dade de venda dos produtos, entre outros, tem
originado forte quebra da população em meio ru-
ral, o que modernamente se traduz numa visível
substituição do elemento humano pela máquina
industrial, pelo equipamento mecânico e suas es-
truturas de apoio. Esta crescente transformação
faz aumentar em número e valor os bens patri-
moniais, ficando os bens pessoais como a liber-
dade, a vida, a integridade física e a liberdade e
autodeterminação sexual entregues ao seu valor
supremo, mas expostos a perigosidade de elevado
nível que provoca nas populações, em especial
nas rurais, forte perturbação da ordem e da tran-
quilidade públicas.
Apesar desta cruel e persistente realidade, o
espaço rural está a chamar a si novos desafios
como a protecção ambiental, da paisagem e dos
modos de vida; a valorização da especificidade
dos produtos tradicionais; o desejo de fixação e
atracção de pessoas; o esforço de revitalização da
economia local.
Neste sentido o poder rural aposta firmemente
nos seus potenciais e indispensáveis factores – o
humano e o técnico. É através da formação profis-
sional e dos apoios financeiros que procura cativar
jovens empreendedores para o mundo rural, no
sentido da sua fixação territorial e o desenvolvi-
mento das suas capacidades técnico – científicas.
É pelos avultados investimentos em equipamen-
tos técnicos e científicos que os poucos homens
do espaço rural procuram potenciar e desenvolver
culturas e produtos agrícolas e aumentar a sua
introdução em mercados nacionais e internacio-
nais, cada vez mais competitivos e exigentes pela
qualidade e diversidade.
Justiça e meio rural
É nesta dinâmica global que, entre outras ins-
tituições públicas e privadas, entra a chamada
“Justiça” que, no âmbito deste nosso breve apon-
tamento se traduz apenas em duas vertentes: – a
legal ou normativa [como conjunto de normas e
procedimentos legais conformes à Constituição da
República Portuguesa, concebidas, aprovadas e
publicadas por órgãos próprios do poder político,
aplicáveis de forma igual e universal, não poden-
do estar qualquer cidadão acima da lei] e os Tribu-
nais [como órgãos de soberania com competên-
cia para administrar a justiça em nome do povo,
incumbindo-lhes assegurar a defesa dos direitos
e interesses legalmente protegidos dos cidadãos,
reprimir a violação da legalidade democrática e di-
rimir os conflitos de interesses públicos e privados,
sendo que no exercício destas funções os tribunais
têm direito à coadjuvação dos outras autoridades,
designadamente administrativas e policiais].
criminalidade em meio rural
Actualmente as gentes rurais têm sentido um
significativo aumento da criminalidade no seu
vasto e despovoado território, a qual, num pas-
sado recente, se manifestou e aumentou, entre
muitos outros, em crimes contra o património, tais
como furto (art.0s 202.0 a 209.0), roubo (art.0 2�0.0)
e dano (art.0 2�2.0 a 2�4.0), crime contra direitos
patrimoniais como crime de receptação (art.0 2��.0)
e crime de auxílio material (art.0 2�2.0), todos pre-
vistos e puníveis pelo Código Penal, os quais têm
vindo a provocar elevados prejuízos de variadís-
sima ordem.
Na actualidade, para além do aumento percen-
tual e significativo destes tipos de crime contra o
património, a população rural vem sendo alvo de
crimes graves contra as pessoas, designadamente,
crimes de homicídio (art.0s ���.0 a ��9.0), contra a
integridade física como crime de ofensa à integri-
dade física (art.0s �4�.0 a �48.0), crime de violência
doméstica (art.0 �52.0), crimes contra a liberdade
pessoa como crime de ameaça (art.0 �5�.0) e crime
de coacção (art.0 �54.0), crime de sequestro (art.0
�58.0) e crime de escravidão (art.0 �59.0), crimes con-
tra a liberdade e autodeterminação sexual, como
crime de coacção sexual (art.0 �6�.0), crime de vio-
lação (art.0 �64.0), crime de abuso sexual de pessoa
incapaz de resistência (art.0 �65.0).
Não menos significativos são os danos emer-
gentes dos chamados crimes de perigo co-
mum como sendo o crime de incêndio florestal
(art.0274.0), crime de dano em instalações e per-
turbação de serviços (art.0 277.0), crime de danos
contra a natureza (art.0 278.0), crime de poluição
(art.0 279.0), crime de perigo relativo a animais
ou vegetais (art.0 28�.0) e crime de corrupção de
substâncias alimentares ou medicinais (art.0
282.0), todos do Código Penal, cujos avultados
prejuízos são de natureza patrimonial e não
patrimonial ou moral.
Das medidas de coacção e de garantia pa-
trimonial
Quanto aos crimes contra as pessoas muito
pouco se tem reflectido e reclamado, quer ao nível
da perturbação e danosidade social, quer por me-
didas cautelares mais breves e eficazes, o que não
deixa de merecer vincada crítica, dado o supremo
valor dos bens jurídicos em causa.
Mas ao nível dos crimes contra o património
muitas são as vozes reclamantes, com sonoridade
audível junto do pode político, que vem introdu-
zindo sucessivas alterações legislativas com vista
a reforçar a brevidade e eficácia das medidas de
coacção, designadamente a de prisão preventiva.
Contudo entendemos que esta medida, observa-
dos que sejam os princípios da sua aplicabilidade
– princípios da legalidade, da adequação e da pro-
porcionalidade – se reveste de grande importância
nos casos em que se verifique perigo concreto, em
razão da natureza e das circunstâncias do crime
ou da personalidade do arguido, de que este con-
tinue a actividade criminosa ou perturbe grave-
mente a ordem e a tranquilidade públicas.
Actualmente apenas um reduzido número de
crimes contra o património admitem a aplicação
da medida de coacção de prisão preventiva, dado
que a reforma de 2007 do Código de Processo
Penal impôs a sua aplicação apenas quando
houver fortes indícios de prática de crime doloso
punível com pena de prisão de máximo superior
a 5 anos.
Da a lei a vigorar a partir de 29 de Outubro
de 2010
Em �0 de Agosto de 20�0 foi publicada a Lei
n.0 26/20�0 - décima nona alteração ao Código do
NOV 10
5�
AGROTEJO | UNIÃO AGRICOLA DO NORTE DO VALE DO TEJO
Processo Penal - que vai entrar em vigor a 29 de
Outubro de 20�0, e que, mantendo o limite regra
da aplicação da medida de coacção de prisão pre-
ventiva para crimes puníveis com pena de prisão
de limite superior a 5 anos e mantendo o catálogo
de crimes em que é aplicável, este é agora alarga-
do a crimes com alguma gravidade e cometimento
frequente que porém, na sua maioria, é punível
com pena de prisão igual ou inferior a 5 anos.
Assim a pequena e média criminalidade, em
grande expansão no meio rural, passará a poder
ser reprimida com a aplicação de medidas de
coacção mais gravosas, como sejam a prisão pre-
ventiva e a obrigação de permanência na habita-
ção sujeita a vigilância electrónica.
A partir de 29 de Outubro de 20�0 a alínea d)
do art.0 2020 do Código do Processo Penal vigorará
com a seguinte redacção – se considerar ina-
dequadas ou insuficientes, no caso, as outras
medidas de coacção previstas, o juiz pode
impor ao arguido a prisão preventiva quando
[…] d) Houver fortes indícios de prática de
crime doloso de ofensa à integridade física
qualificada, furto qualificado, dano qualifi-
cado, burla informática e nas comunicações,
receptação, falsificação ou contrafacção de
documento, atentado à segurança de trans-
porte rodoviário, puníveis com pena de prisão
de máximo superior a 3 anos […].
Neste sentido foram considerados pelo legis-
lador tipos de crimes de prática muito frequente
no meio rural como o crime de ofensas à integri-
dade física qualificada [art.0 �45.0 n.0 � al. a) puní-
vel com prisão até 4 anos], furto qualificado [art.0
204.0 n.0 �, punível com prisão até 5 anos], dado
qualificado [art.0 2��.°, punível com prisão até 5
anos] e receptação [art.0 2��.° n.0 �, punível com
prisão até 5 anos].
Regras a observar na sua aplicação concreta
Contudo, a liberdade das pessoas só pode ser
limitada, total ou parcialmente, em função de exi-
gências processuais de natureza cautelar, pelas
medidas de coacção e de garantia patrimonial
previstas na lei. As medidas de coacção e de ga-
rantia patrimonial a aplicar em concreto devem ser
necessárias e adequadas às exigências cautelares
que o caso requerer e proporcionais à gravidade
do crime e às sanções que previsivelmente ve-
nham a ser aplicadas.
No entanto, a prisão preventiva e a obrigação
de permanência na habitação só podem ser apli-
cadas quando se revelarem inadequadas ou insu-
ficientes as outras medidas de coacção. Quando
couber ao caso medida de coacção privativa da
liberdade, deve ser dada preferência à obrigação
de permanência na habitação sempre que ela
se revele suficiente para satisfazer as exigências
cautelares.
A execução das medidas de coacção e de ga-
rantia patrimonial não deve prejudicar o exercício
de direitos fundamentais que não forem incom-
patíveis com as exigências cautelares que o caso
requerer.
Dúvidas não restam que as medidas preven-
tivas em meio rural como programas de vídeovi-
gilância, de georreferenciação e ainda de progra-
mas específicos de patrulhamento através das
forças de segurança, ajudam a aumentar os níveis
de segurança e a diminuir o número de crimes
praticados.
Contudo as recentes alterações legislativas,
quer ao nível do Código Penal, quer, sobretudo,
no âmbito do Código do Processo Penal, vem per-
mitir um reforço da complementaridade entre as
medidas de prevenção e as medidas de coacção e
garantia patrimonial, sendo que aquelas procuram
maior eficácia na fase de investigação e estas na
repressão à continuação da actividade criminosa.
No seu conjunto visam combater a criminalidade
em meio rural.
NOV 10
54
Santarém
Gasóleos - Rodoviário | Agrícola | Aquecimento
808 508 608
A ImpORTâncIA DA DInAmIZAçãO DO EspAçO RuRAL
Miguel Teles brancoAgricultor
EM RESPOSTA AO CONVITE DA AGROTEJO
PARA ESCREVER UM ARTIGO SUbORDINADO
AO TEMA DO TíTULO, COMEçO POR FAZER UMA
DECLARAçÃO DE INTERESSES: SOU AGRICULTOR,
VIVO NUMA TERRA (CORUCHE) A QUE CHAMAM
RURAL E TENHO FILHOS A ESTUDAR EM MEIO
RURAL. A MINHA PERSPECTIVA SObRE O
ASSUNTO, POR MUITO IMPARCIAL QUE
PRETENDA SER É, NATURALMENTE ENVIESADA.
Entrando no tema, parece ser uma “lei” indiscutível,
que o processo de desenvolvimento económico deter-
mine a urbanização da população. No entanto, ainda
não há muito tempo, a população portuguesa era
predominantemente rural ou, pelo menos, continua-
va a viver maioritariamente em aldeias ou pequenas
vilas. Neste tempo, o termo rural confundia-se com o
agrícola e a dinâmica da agricultura estava ligada ao
rural no seu conjunto.
Contudo, o avanço tecnológico e o consequente
aumento da produtividade agrícola, permitiu uma
libertação de mão-de-obra do sector de tal forma
significativa que, hoje em dia, a agricultura pode rea-
lizar-se desligada da comunidade local. Diz-se que o
rural deixou de ser agrícola e o critério de ruralidade
perdeu muito da sua natureza, passando a ser me-
dido pelo número de habitantes de um determinado
território. É rural, uma localidade que tenha uma
população inferior a um determinado número de
habitantes por exemplo.
Entretanto, a mão-de-obra excedentária “cumpriu
a lei” do desenvolvimento económico e urbanizou-se,
essencialmente porque a cidade oferece melhores
perspectivas de emprego do que o campo. E mal fi-
caremos todos se a situação se inverter …
O problema está na rapidez dessa urbanização e
na incapacidade que os territórios ditos rurais têm
tido em criar emprego que permita “fixar” a popu-
lação sem trabalho, chegando-se assim ao facto de,
grosso modo, 80% do território ser ocupado por �5%
NOV 10
55
AGROTEJO | UNIÃO AGRICOLA DO NORTE DO VALE DO TEJO
da população. Este aspecto tem sido considerado
negativo por “engrossar” as periferias das cidades,
com consequências na qualidade de vida quer dos
novos, quer dos antigos urbanos e pelos inegáveis
custos sociais que o êxodo rural acarreta.
Os custos suportados para reduzir a urbanização
ou, pelo menos, abrandar a sua taxa, têm sido, na
sua quase totalidade, públicos. Hoje em dia, em mui-
tas localidades são os serviços públicos que ainda
vão fixando as pessoas. As câmaras municipais são
normalmente os maiores empregadores dos conce-
lhos respectivos e, se considerarmos ainda os serviços
de educação, saúde, justiça e segurança, chega-se
à conclusão que o problema seria mais grave na
ausência destes serviços públicos.
Uma outra via tem consistido no apoio público (na
forma de subsídio ao investimento) a projectos que
promovam a diversificação das actividades não agrí-
colas em territórios rurais: a abordagem LEADER.
No território que abrange os concelhos de Almei-
rim, Alpiarça, benavente, Chamusca, Coruche, Golegã
e Salvaterra de Magos e a que se chamou Charneca
Ribatejana, o programa LEADER apoia projectos que:
Diversifiquem as actividades na exploração agrí-
cola; quer sejam na área do turismo, da caça e
pesca, na produção de energias renováveis e alter-
nativas ou na produção de outros serviços presta-
dos a terceiros;
Criem e desenvolvam micro-empresas, em prati-
camente todas as áreas de actividade, procurando
diversificar o tecido económico do território;
Desenvolvam actividades turísticas e de lazer
procurando valorizar os produtos e o património lo-
cais;
Este programa, de indiscutível valor e elevado po-
tencial tem, contudo, vindo a perder alguma eficácia
resultante não só, das dificuldades financeiras vividas
actualmente, mas também pelas acrescidas exigên-
cias burocráticas e complexidade de procedimentos
que faz aumentar de forma significativa o custo do
investimento.
Acresce que o actual enquadramento do programa
LEADER não é facilitador de projectos inovadores,
antes apostando em velhas receitas, que estão longe
de provar e de que o melhor exemplo é o turismo
rural. Na década de trinta do século xx, já se pedia
para o interior do país o que ainda hoje se pede:
melhoria das vias de comunicação, propaganda e
turismo. Entretanto, muita gente se foi embora! E
continuará a ir…
O turismo rural e a multifuncionalidade das ex-
plorações agrícolas não têm demonstrado ser a
solução para o despovoamento. As novas funções
do agricultor que, para além de produtor é, agora,
também “jardineiro” da natureza e “estalajadeiro” de
uma população urbana nostálgica de uma natureza
domesticada, normalmente de fim-de-semana, não
têm sido capazes de gerar riqueza suficiente para
criar mais emprego e fixar população.
Colocam-se assim, duas questões diferentes em-
bora com muitos aspectos comuns: o mundo rural e
o despovoamento do interior.
Quanto à primeira, parto do pressuposto que não
existe mundo rural sem agricultura. E, a agricultura,
modificou-se radicalmente, modernizou-se, quase
que diria, “urbanizou-se” e perdeu a sua importân-
cia económica e social. Assim sendo, o mundo rural
definhou e, sem dúvida, desaparecerá. Não o mundo
rural medido pelo número de habitantes de um ter-
ritório (para esse continuar, basta mudar o número),
mas aquele que imediatamente intuímos quando
NOV 10
56
NOVONOVO
®R
oun
dup
é u
ma
mar
ca r
egst
ada
da
Mo
nsan
to.
Sup
ra é
um
a m
arca
da
Mo
nsan
to.
RS
-06
Distribuído por
Efic cia imbatível devido revoluc onár a T
Máxima flexibilidade para aplicar condições l máti as adversas (com chuva imine te, comba xas temperaturas, seca e or
Maior eficiência
Excelente classificação toxicológica
Eficácia imbatível frente a outros herbicidas,devido à revolucionária Tecnologia Transorb
Máxima flexibilidade para aplicar emcondições climáticas adversas (com chuva iminente, combaixas temperaturas, seca e orvalho).
Maior eficiência, 25 % mais concentrado do queos herbicidas convencionais
Excelente classificação toxicológica
falamos de mundo rural. Uma perspectiva muito
própria de olhar para as coisas: com tempo, baseada
nos ciclos agrícolas, regular, vivido em comunidades
fechadas, conservadoras, em que toda a gente se
conhece. Esse acabou e não vem daí nenhum mal, a
não ser uma certa nostalgia.
Mas a economia e a sociedade vivem de com-
portamentos e não de intenções ou desejos não
realizados. E o facto é que os montes e os casais
estão cada vez mais desertos e as freguesias mais
pequenas vão ficando apenas com aqueles que já
não conseguem sair.
Quanto à segunda questão, essa sim, é de facto
um problema cuja solução passa pelo balanço que
a sociedade fizer entre as vantagens e as desvan-
tagens da aglomeração em torno de um núcleo ur-
bano. Estas traduzem-se essencialmente no conges-
tionamento urbano, nas dificuldades de mobilidade
e no aumento da poluição.
Se o balanço for no sentido de “desaglomerar”,
então haverá que promover políticas mais activas e
agressivas para proporcionar vantagens comparati-
vas aos territórios do interior. Essas políticas poderiam
passar por uma discriminação positiva e significativa
na tributação quer da actividade das empresas, quer
nos rendimentos das pessoas (superior à diferença
actual) e por uma redução das contribuições sociais,
para empresas que, de facto, se localizem nos ter-
ritórios que se pretendem beneficiar (e que não te-
nham lá apenas a sede social).
Até à decisão (se a houver), aquilo que nos com-
pete fazer enquanto habitantes do meio rural, é
aproveitar os recursos disponibilizados para procurar
manter o nível populacional e melhorar o stock de
capital da nossa região que é, essencialmente, o
nível de conhecimento da nossa população.
Sabe-se que o investimento em capital humano
é sempre rentável, uma vez que é o factor determi-
nante na capacidade do território se reconverter e
renovar constantemente as suas estruturas económi-
cas. Uma eventual dificuldade está no facto de se
tratar de um investimento a longo prazo. Mas isso,
para os rurais, até nem é um problema. basta pensar
em sobreiros!
NOV 10
58
Informações e encomendas
através dos números: Tel: 249819020 ou TM: 933937047
A1 – Transportes, S.A.Apartado 3 - 2350 - 368 Riachos
Não deixe o frio entrar em sua casa…Abasteça já a sua caldeira com
BP Mazoote Plus… a energia de aquecimento privilegiada!
GASÓLEO DE AQUECIMENTOBP MAZOOTE Plus
... marca a diferença!
Contacte o seu representante local do Distrito de Santarém:
Comercializamos, também:
GASÓLEO AGRÍCOLA
SAD.82.01
UM POUCO DA NOSSA hISTÓRIA
A Serralharia A. Domingos foi fundada em 1974, inicialmente sediada no Entroncamento, situando-se as suas novas instalações no Centro de Negócios de Vila Nova da Barquinha.
Contando actualmente com 40 trabalhadores, a Serralharia A. Domingos aposta na qualidade dos seus produtos e serviços, tendo vindo desde sempre a fidelizar clientes com a sua dedicação. Cont. nº 500 245 967
Alvará nº 21650
CONTACTOS Morada: Centro de Negócios, Lote 38/39 2260-067 Atalaia, Vila Nova da Barquinha Telefone: +351 720 690
Fax: +351 249 699
e-mail: [email protected]
Site: www.adomingos.com
Ferro Estruturas metálicas porticuladas. Coberturas metálicas e instalação de painéis Fachadas com revestimento a painéis Gradeamentos Escadas Telheiros Portões Outros
FOTOS: ALGUMAS OBRAS REALIZADAS
d ac ã
O fabrico dos nossos produtos é realizado por colaboradores especializados e com vastos anos de experiência, entre os quais contamos com soldadores certificados. Através da dedicação e qualidade de execução, pretendemos entregar ao cliente, um produto de excelência. Os nossos produtos Alumínio
Caixilhos fixos Janelas oscilobatentes Portas e janelas de abrir Janelas basculantes Portões Portadas Fachadas do tipo VEC, VEB Divisórias Clarabóias Outros
ç
Portugal Continental e Ilhas; Continente Africano.
r is
SAPA, S.A; BH, Lda; Hydro Building Systems’s; Hempel, Lda; Transgrua; Ferro Entroncamento; Erfi – Revestimentos e Perfilados, Lda; A. Da Costa Cabral, Fatimex; Cin.
VOCê DEIxARIA QUE bRUxELAS,
OU QUE O SR. MINISTRO DA AGRICULTURA,
FIZESSE AS ESCOLHAS RELACIONADAS
COM A VIDA DA SUA FAMíLIA?
Afinal de contas para que serve a gestão
numa exploração agrícola?
As políticas agrícolas são desenhadas para in-
fluenciar os agentes do sector. É importante que
os agricultores integrem essas condicionantes nas
suas decisões, mas é fundamental que não en-
carem essas linhas orientadores como objectivos
obrigatórios para as suas organizações.
se você está à frente de uma exploração
agrícola, como é que responderia à seguinte
pergunta: qual a sua profissão?
Posso dizer que conheço bastante bem o
mundo rural, não só porque já os meus dois
avôs trabalhavam na agricultura, o meu pai, tios
e primos também a ela estão ligados, e apesar
de não viver no numa zona rural, fiz a minha
formação em agronomia, e tenho feito toda a
minha vida profissional na área dos serviços às
empresas agrícolas.
Como dizia, penso que conheço bastante bem
as pessoas que estão à frente das explorações
agrícolas, e apesar de ser sempre perigoso fazer
generalizações, penso que poucos se imaginam
a responder à pergunta de qual a sua profissão
dizendo Empresários Agrícola, ou gestor Agrí-
cola. Nas suas cabeças esse termo tem uma
conotação negativa, por ser pomposo e preten-
sioso. Penso que, na generalidade, respondem:
sou agricultor. Noutros tempos todos o fariam
com orgulho na voz, actualmente é difícil manter
esta atitude perante as campanhas de informação
negativa que normalmente são vinculadas na
comunicação social.
É verdade que também para mim a ideia de ser
Agricultor têm um certo glamour, mas gostaria de
A gEsTãO DA EmpREsA AgRícOLAFrederico Avillez
FZ AGROGESTÃO
AGROTEJO | UNIÃO AGRICOLA DO NORTE DO VALE DO TEJO
NOV 10
60
�
Novo
provas dadas
com
© C
opyr
ight
Syn
gent
a Cr
op P
rote
ctio
n,Ld
a,Li
sboa
,200
8
aprofundar um pouco mais esta questão, trazendo
outro ponto de vista.
O que é que me deixa mais orgulhoso na minha
experiência como sócio-gerente de uma empresa
(neste caso de serviços)? Se pensar um pouco
antes de responder, acho que a resposta que en-
contro está ligada ao facto de ter tido sucesso nes-
ta iniciativa de criar uma empresa que vai prosse-
guindo os seus objectivos e evoluindo no sentido
de fazer cada vez melhor a sua actividade. E estes
aspectos estão directamente ligados aos atributos
principais dos conceitos de Empresário e de Gestor
em geral. Penso que uma vez que a motivação é
um aspecto central da mecânica comportamental
humana, era muito importante que os agricultores
nacionais começassem a ter orgulho em se
poderem intitular de Empresários Agrícolas e
gestores Agrícolas. É importante que deixem de
se ver exclusivamente como Técnicos de Produção
e que assumam que o seu principal conhecimento
deveria ser o da gestão e não o da produção. Digo
isto apesar de ser difícil de imaginar a maioria dos
agricultores que conheço como gestores e não
com as mãos sempre atarefadas directamente na
terra. Penso estar certo quando digo que os agri-
cultores portugueses são, em geral, apaixonados
pela área técnica da produção sendo a sua maior
preocupação como produzir mais e melhor.
Não é raro, nos seminários e congressos que
reúnem agricultores, ouvir alguém dirigir à mesa
o repto: “O que devo produzir?”. Esta pergunta
demonstra quanto os agricultores estão divor-
ciados das suas responsabilidades no campo da
gestão sendo raros os que reconhecem que esse
tipo de decisões não só são da sua inteira respon-
sabilidade como são a sua oportunidade indivi-
dual de sucesso. É certo que na área técnica há
ainda um caminho a percorrer mas será mais im-
portante que os empresários agrícolas assumam
de uma vez por todas a sua principal função - o
de serem gestores.
Todas as empresas precisam de uma visão.
Traçar um rumo que possa servir de linha
imaginária onde procuramos ir pisando con-
forme vamos avançando, decisão a decisão.
O método da gestão assenta na definição de
objectivos e no acompanhamento da sua imple-
mentação (para seu controlo e eventual ajuste).
Estes objectivos podem ser de natureza estraté-
gica ou operacional. Os primeiros definem uma
direcção a seguir no longo prazo devendo ser
equacionados com um profundo conhecimento da
empresa e da realidade que a envolve - mercados,
aspectos sociais, culturais, etc. Os objectivos opera-
cionais permitem estabelecer um plano prático,
com um horizonte temporal mais curto, propondo
uma organização de factores de produção da
empresa para cumprimento dos seus objectivos
estratégicos.
No ciclo da gestão distinguem-se três fases, to-
das ligadas entre si e sem princípio ou fim - o
planeamento, a Implementação e o controlo.
Concebem-se dois tipos de planeamento em
função da eventual mudança da estrutura produ-
tiva da exploração em causa. Quando se procura
melhorar os resultados a partir da estrutura exis-
tente estamos perante o planeamento no sentido
estrito, de curto prazo. Ao estudar-se uma alteração
do aparelho de produção entramos no campo da
análise de investimentos, entrando no horizonte
NOV 10
62
Novos produtos concebidos, fabricados, vendidos e assistidos por uma equipa altamente motivada e qualificada que trabalha para si e que seencontra à sua inteira disposição em todo o mundo. Novas tecnologias que oferecem, de forma imediata, vantagens reais e os melhores resultados para a sua actividade agrícola. Novas ideias que respondem a todas as suas necessidades, tanto actuais como futuras. Novas oportunidadesque transmitem segurança aos que querem crescer. Em todos estes campos e em todos os seus campos, a inovação New Holland é o caminhoque conduz ao sucesso.
MAIS INOVAÇÃO.MAIOR POSSIBILIDADE DE ESCOLHA.
NEW HOLLAND TOP SERVICE 00800 64 111 111 www.newholland.comApoio e informação 24/7 A chamada é gratuita se for efectuada a partir de um telefone fixo.Se a chamada for feita de um telemóvel, consulte as taxas com o seu operador.
Sede: Zona Industrial, Lote 4 - Apartado 302154-909 GOLEGÂ
Telf.: 249 979 919 • Fax: 249 979 011E-mail: [email protected]
de longo prazo. Uma correcta implementação do
plano permitirá controlar custos e garantir níveis
de produção, produtividade e de eficiência. Final-
mente, o controlo de gestão visa despoletar medi-
das correctivas durante a implementação - Contro-
lo operacional - e corrigir os planos do(s) próximo(s)
exercício(s) - Controlo estratégico - em prol dos dois
tipos de objectivos estabelecidos.
Ao ter acesso à correcta informação relativa à
exploração, e aos mercados, etc., o gestor pode
traçar um plano mais adequado, utilizando de
forma mais eficiente os recursos disponíveis. Esta
eficiente utilização dos recursos é um dos objec-
tivos centrais das ciências económicas.
Se os objectivos estratégicos deixarem de ser
os mais ajustados à realidade em causa é muito
importante que o processo de controlo o detecte
rapidamente, voltando-se a definir estes objectivos
de forma a que esses instrumentos possam ser
uma força motriz da empresa e não uma fonte de
desmotivação e confusão.
Cada vez mais a qualidade da gestão das em-
presas agrícolas (isto é, o contributo que a gestão
dá para se atingirem objectivos da empresa) está
dependente da capacidade instalada para gerir
informação que, entre outras coisas, permite veri-
ficar até que ponto os objectivos propostos foram
ou não atingidos e, eventualmente, proporcionar
explicações para os desvios que tenham ocorrido.
Quando se procuram as razões para o atraso
estrutural da agricultura Portuguesa, referimos
invariavelmente a longa história de intervenções
políticas proteccionistas (de maior ou menor grau
de imperfeição aos olhos dos economistas).
Desde à quase um século que os agentes do
sector têm vindo a decidir em função dos con-
textos criados pelas políticas nacionais ou comu-
nitárias. Isto explica a procura generalizada da
solução para os problemas do sector nas políticas
do estado (leia-se subsídios). A passividade reve-
lada até podia ter um lado positivo ao potenciar
intervenções políticas ou associativas de interesse
público se as preocupações não fossem tão cen-
tradas no curto prazo.
É habitual ouvir expressões de desilusão em
relação à classe política. Mas, se as preocupações
dos agricultores e dos restantes agentes do sec-
tor forem as imediatas, é normal que as decisões
dos seus representantes valorizem o curto prazo,
espelhando a sociedade que os elege e condu-
zindo-nos para um cenário de desajustamento
das condições estruturais.
Invariavelmente ouvimos expressões de sucesso
dos nossos representantes perante os seus objec-
tivos no regresso das negociações em bruxelas.
Mas, questiono-me se os objectivos traçados para
estas negociações defendem os interesses es-
tratégicos dos agricultores portugueses. Para mim,
o facto de os agricultores em geral não lutarem
por objectivos estratégicos, em que a prospecção
de novos mercados ou o crescimento de outros
deveriam ocupar um lugar de destaque, induz a
que, tanto os representantes associativos como os
políticos, definam objectivos que apesar de em
geral contentarem a “opinião pública do sector”,
não defendem os seus verdadeiros interesses.
NOV 10
6�
PRESTES A CELEbRAR O CENTENáRIO,
O CRÉDITO AGRíCOLA SEMPRE ACREDITOU E
APOIOU OS AGRICULTORES PORTUGUESES.
E CONTINUARá A FAZê-LO.
Num contexto de desaceleração da actividade
e de uma res-trição generalizada ao crédito, moti-
vada pela falta de liquidez das instituições, o ADN
do Crédito Agrícola, que desde sempre apoiou os
agricultores portugueses, a par de uma política de
rigor, tem possibilitado a manutenção dos fluxos
de financiamento. Uma prioridade reforçada com a
celebração do protocolo com o Instituto de Financia-
mento da Agricultura e Pescas (IFAP), em Abril de
2009, no sentido de diminuir os custos financeiros
através da linha especial de apoio às PME do sector
agrícola e florestal, criada inicialmente pelo Decreto-
Lei n0 74/2009, de � de Março, posteriormente ren-
ovada pelo Decreto-Lei n0 �-A/20�0, de 4 de Janeiro.
O FInAncIAmEnTO DO sEcTOR AgRícOLACrédito Agrícola
Esta linha de apoio especial “PME 20�0” estabelecia
inicialmente um plafond de 75 milhões de euros,
aumentado em mais 50 milhões de euros, aquan-
do da sua renovação e que através da Portaria
n0 889/20�0 de �� de Setembro, foi reforçado em
25 milhões de euros, elevando para �50 milhões
de euros o montante global de crédito bonificado
destinado às empresas, colectivas e singulares, do
sector agrícola e pecuário, com um valor máximo
por operação de 200 mil euros.
Este crédito, cujas candidaturas decorreram
até meados de Outubro, permitiu financiar in-
vestimentos em activos fixos corpóreos e incor-
póreos, fundo de maneio para o desenvolvimen-
to da actividade, liquidação de dívidas junto de
instituições de crédito e liquidação de dívidas a
fornecedores de factores de produção e de bens
de investimento.
Em paralelo à linha de apoio especial “PME
20�0”, o Crédito Agrícola oferece aos agricultores
portugueses a possibilidade de adesão à Linha de
Crédito de Curto Prazo / IFAP, com o objectivo de
financiar as necessidades de exploração das uni-
dades produtivas dos sectores da agricultura, silvi-
cultura e pecuária, através da criação de condições
mais atractivas para a concretização de operações
de crédito de curto prazo, através da bonificação
de juros, permitindo, assim, o desenvolvimento e
melhoria da competitividade das empresas desses
sectores de actividade.
O profundo conhecimento do sector e, acima de
tudo, das necessidades específicas dos empresá-
rios e profissionais associados à agricultura é uma
mais-valia decisiva para superar o enorme desafio
de eficiência que este período de contenção ge-
neralizado impõe. Esse sentido de parceria e con-
jugação de esforços é a pedra basilar do sentido
de missão do Crédito Agrícola, no contributo para
mitigar os efeitos de uma crise de liquidez num
sector com enorme potencial de crescimento e
desenvolvimento, via inovação, para as comuni-
dades locais.
AGROTEJO | UNIÃO AGRICOLA DO NORTE DO VALE DO TEJO
NOV 10
64
COM A TRANSPOSIçÃO DA DIRECTIVA
COMUNITáRIA 9�/676/CE, QUE VISA REDUZIR A
POLUIçÃO DA áGUA CAUSADA POR NITRATOS
E A PUbLICAçÃO EM DIáRIO DA REPúbLICA DO
PLANO DE ACçÃO DA ZONA VULNERáVEL DO
TEJO, OS AGRICULTORES ESTÃO ObRIGADOS
A CUMPRIR UM CONJUNTO DE NOVAS
REGRAS NO QUE DIZ RESPEITO á REGA E
FERTILIZAçÃO DAS CULTURAS.
ZOnA vuLnERávEL DO TEJOREgA E FERTILIZAçãO - AgRIcuLTOREs ObRIgADOs A cumpRIREm nOvAs REgRAs
Mário AntunesAgrotejo
20�0 é o primeiro ano desta nova realidade.
Este facto resulta da Região Norte do Vale do Tejo
ser considerada como vulnerável quanto à polui-
ção dos aquíferos por nitratos e do sector agrícola
ser apontado como um dos causadores.
Todos nós sabemos que não só o sector agrí-
cola contribui e utiliza os recursos hídricos, sendo
muitas vezes constatado que outros agentes po-
luem e contribuem para a vulnerabilidade detecta-
da. As Etares, a indústria e os esgotos domésticos
directos, são disso exemplo.
No entanto, relativamente às obrigações a que
os agricultores estão agora sujeitos, é importante
que sejam cumpridas. Daí resultará certamente
uma maior sustentabilidade dos recursos naturais
e por outro lado ficam salvaguardados os paga-
mentos do regime de pagamento único e apoios
ao investimento.
AGROTEJO | UNIÃO AGRICOLA DO NORTE DO VALE DO TEJO
NOV 10
66
Resumidamente apresentamos as principais regras
incluídas no plano de acção da zona vulnerável do Tejo:
Análises de solo
Acção
Análises de água
parcelas em pousio
Registar em caderno de campo todas as fertilizações e regas
Realizar, quanto ao teor em nutrientes, a análises de solo, anualmente nas culturas hortícolas e de quatro em quatro anos nas restantes culturas
Realizar análises de água de quatro em quatro anos
Registos
Regra
protecção de captações de água
Armazenamento de efluentes pecuários
Proibida a aplicação de fertilizantes
solos inundados Proibida a aplicação em situações de excesso de agua no solo
Proibida a aplicação de fertilizantes a menos de 5 metros de furos de agua de rega ou 20 metros de furos de captação de agua para outros tipos de consumo
Deposição temporária de estrumes
Obrigatória a impermeabilização dos espaços e dimensionamento de acordo com a exploração pecuária. Estes locais têm que ser localizados a mais de 25 metros das captações de água
Efluentes pecuários
Distribuição e incorporação obrigatória em 48 horas
Não exceder mais de �70 kg de N em efluentes pecuários
Zona vulnerável - vale do Tejo
proibição de aplicação de adubos químicos na adubação de fundo:
Arvenses
Outono-Inverno
culturas
Horto-Industriais
de Outono-Inverno
culturas arbóreas
Após a colheitamilho e Hortícolas
de primavera-verão
Estrumes e lamas
chorumes Adubos Químicos
Após a colheita Após a colheita
� de Novembro
a � de Fevereiro
� de Novembro
a � de Fevereiro
Até ao afilhamento,
admitindo-se no
máximo �0 Kg
de azoto
� de Novembro
a � de Fevereiro
� de Novembro
a � de Fevereiro
Até 2 dias
da sementeira,
admitindo-se no
máximo �0 Kg
de azoto
� de Novembro
a � de Fevereiro
� de Novembro
a � de Fevereiro
� de Novembro
a � de Março
NOV 10
67
AGROTEJO | UNIÃO AGRICOLA DO NORTE DO VALE DO TEJO
Quantidades máximas de Azoto por hanas quantidades máximas de azoto a aplicar nas culturas deve ser considerada a produção estimada, o azoto existente na água de rega e os máximos admitidos para cada cultura, de que é exemplo:
Trigo
cultura
milho
Kg/Azoto/ha Observações
Agua de rega:A água de rega a aplicar nas culturas deve
ser a necessária ao momento do ciclo vegetativo,
de acordo com um sistema de avisos tendo em
conta a eficiência do sistema de rega e a evapo-
transpiração.
A AGROTEJO, AGROMAIS e PLUS já estão pre-
paradas para todo o apoio necessário ao nível do
acompanhamento técnico e burocrático, aconselha-
mento de rega e recomendação da fertilização.
Continuamos a fazer parte de um conjunto de
grupos de trabalho tendo em vista a adaptação da
região a estas novas regras e estamos disponíveis
para esclarecer todos os agricultores.
Informações adicionais:
www.agrotejo.pt
200 kg Para produções de �0 ton/ha Com acréscimos de 40 kg de N por cada 2 Ton
130 kg Para produções de 4 ton/ha Com acréscimos de 20 kg de N por cada � Ton
batata
Tomate 140 kg Para produções de 70 ton/ha Com acréscimos de 20 kg de N por cada �0 Ton
135 kg Para produções de 40 ton/ha Com acréscimos de 25 kg de N por cada �0 Ton
batata
Tomate 130 kg Para produções de 40 ton/ha Com acréscimos de 20 kg de N por cada �0 Ton
140 kg Para produções de 40 ton/ha Com acréscimos de 25 kg de N por cada �0 Ton
a) Para informação de outras culturas, contacte a AGROTEJO.
AGROTEJO | UNIÃO AGRICOLA DO NORTE DO VALE DO TEJO
NOV 10
68
PERMITINDO-ME FAZER DO TEMA,
GENTILMENTE PROPOSTO PELA AGROTEJO, UMA
PERGUNTA, A MINHA RESPOSTA É CLARA
E TRADUZO–A NA SEGUINTE AFIRMAçÃO:
GESTÃO DO ESPAçO RURAL-âNCORA DE
DESENVOLVIMENTO SUSTENTáVEL.
LIcEncIAmEnTOs nO EspAçO RuRALREguLAçãO Ou EnTRAvE AO DEsEnvOLvImEnTO?
Vanda NunesCCDR-LVT
Começo por partilhar convosco os princípios, ou
seja a coluna vertebral , da Lei de bases do Orde-
namento do Território, que passo a expor:
1. Sustentabilidade e solidariedade intergera-
cional, assegurando a transmissão às ge-
rações futuras de um território e de espaços
edificados correctamente ordenados;
2. Economia, assegurando a utilização pon-
derada e parcimoniosa dos recursos naturais
e culturais;
3. Coordenação, articulando e compatibilizando
o ordenamento com as políticas de desen-
volvimento económico e social, bem como as
políticas sectoriais com incidência na organi-
zação do território, no respeito por uma ade-
quada ponderação dos interesses públicos e
privados em causa;
4. Subsidiariedade, coordenando os procedi-
mentos dos diversos níveis da Administração
Pública, por forma a privilegiar o nível de-
cisório mais próximo do cidadão;
5. Equidade, assegurando a justa repartição dos
encargos e benefícios decorrentes da apli-
cação dos instrumentos de gestão territorial;
6. Participação, reforçando a consciência cívica
dos cidadãos através do acesso à informação
e à intervenção nos procedimentos de elabo-
ração, execução, avaliação e revisão dos ins-
trumentos de gestão territorial;
7. Responsabilidade, garantindo a prévia
ponderação das intervenções com impacte
relevante no território e estabelecendo o
AGROTEJO | UNIÃO AGRICOLA DO NORTE DO VALE DO TEJO
NOV 10
70
dever de reposição ou compensação dos
danos que ponham em causa a qualidade
ambiental;
8. Contratualização, incentivando modelos de
actuação baseados na concertação entre
a iniciativa pública e a iniciativa privada na
concretização dos instrumentos de gestão
territorial;
9. Segurança jurídica, garantindo a estabilidade
dos regimes legais e o respeito pelas situa-
ções jurídicas validamente constituídas.
Concordamos de certo, todos, com a necessi-
dade imperiosa de ver respeitados estes princípios
fundamentais na política de gestão do território.
A defesa de tais princípios, complementares entre
si, visa garantir o quê? Garantir a concretização de
objectivos, quais sejam: A melhoria das condições
de vida e de trabalho das populações, no respeito
pelos valores culturais, ambientais e paisagísticos;
A distribuição equilibrada das funções de habi-
tação, trabalho, cultura e lazer; A criação de opor-
tunidades diversificadas de emprego como meio
para a fixação de populações, particularmente nas
áreas menos desenvolvidas; A preservação e defe-
sa dos solos com aptidão natural ou aproveitados
para actividades agrícolas, pecuárias ou florestais,
restringindo-se a sua afectação a outras utiliza-
ções aos casos em que tal for comprovadamente
necessário; A adequação dos níveis de densificação
urbana, impedindo a degradação da qualidade de
vida, bem como o desequilíbrio da organização
económica e social; A rentabilização das infra-es-
truturas, evitando a extensão desnecessária das
redes e dos perímetros urbanos e racionalizando o
aproveitamento das áreas intersticiais; A aplicação
de uma política de habitação que permita resolver
as carências existentes; A reabilitação e a revitali-
zação dos centros históricos e dos elementos de
património cultural classificados; A recuperação ou
reconversão de áreas degradadas; A reconversão
de áreas urbanas de génese ilegal.
Ora, para servir e tornar possível a prossecução
NOV 10
�
AGROTEJO | UNIÃO AGRICOLA DO NORTE DO VALE DO TEJO
de tais fins criaram – se instrumentos de gestão
territorial, nos seus três níveis de actuação: Na-
cional: A nível nacional foi aprovado em Setembro
de 2007 o Programa Nacional da Política de Or-
denamento do Território, instrumento de desen-
volvimento territorial de natureza estratégica que
estabelece as grandes opções com relevância para
a organização do território nacional, e estabelece
o quadro de referência a considerar na elaboração
dos demais instrumentos de gestão territorial,
Regional e Local: Os planos regionais de ordena-
mento do território, desenvolvidos pelas CCDR, de-
finem a estratégia regional de desenvolvimento
territorial, integrando as opções estabelecidas a
nível nacional e considerando as estratégias mu-
nicipais de desenvolvimento local, constituindo o
quadro de referência para a elaboração dos res-
pectivos planos municipais, desenvolvidos pelas
Câmaras Municipais, onde se inclui o Plano Direc-
tor Municipal, o Plano de Urbanização e o Plano
de Pormenor.
Em Agosto de 2009 foi publicado o Plano Re-
gional de Ordenamento do Território do Oeste
e Vale do Tejo (PROT-OVT), através da RCM 64-
A/2009, de 6 de Agosto, que reflecte a estratégia
da Comissão de Coordenação e Desenvolvimento
Regional – Lisboa e Vale do Tejo para as NUT III
Oeste, Lezíria do Tejo e Médio Tejo. O PROT-OVT
apresenta quatro grandes opções estratégicas,
das quais, neste contexto, saliento: Potenciar as
vocações territoriais num quadro de sustentabili-
dade ambiental através da protecção e valorização
dos recursos naturais, patrimoniais e culturais, do
desenvolvimento sustentável das actividades de
turismo e lazer, da potenciação das actividades
agrícolas e florestais, da produção e gestão da
energia, e bem assim descobrir as novas rurali-
dades através do reforço da competitividade das
fileiras da produção agrícola, florestal e agro-flo-
restal, da consolidação da agricultura de regadio e
da biodiversidade dos recursos naturais.
Devo ainda mencionar o Decreto - Regulamen-
tar ��/2009, de 29 de Maio, que estabelece os
critérios de classificação e reclassificação do solo,
bem como os critérios e as categorias de quali-
ficação do solo rural e urbano. Relativamente ao
solo rural o que se pretende então alcançar com
os critérios definidos? - “proteger o solo como recur-
so natural escasso e não renovável, salvaguardar
as áreas afectas a usos agrícolas e florestais, à ex-
ploração de recursos geológicos ou à conservação
da natureza e da biodiversidade e enquadrar
adequadamente outras ocupações e usos incom-
patíveis com a integração em espaço urbano ou
que não confiram o estatuto de solo urbano”.
A CCDR-LVT tem ainda dentro das suas com-
petências, para além da elaboração dos PROT e
do acompanhamento dos PMOT, a delimitação e
gestão da Reserva Ecológica Nacional.
O Regime Jurídico da Reserva Ecológica Nacio-
nal (REN) tem conhecido várias redacções, sendo
a última conferida pelo Decreto-Lei �66/2008, de
22 de Agosto. As alterações introduzidas visaram,
designadamente, reforçar a importância estraté-
gica da Reserva Ecológica Nacional, tendo presente
a sua função de protecção dos recursos considera-
dos essenciais para a manutenção e preservação
de uma estrutura biofísica indispensável ao uso
sustentável do território; articulação explícita com
outros instrumentos de política de ambiente e
de ordenamento do território; simplificação, racio-
nalização e transparência de procedimentos de
delimitação e gestão e identificação de usos e
acções compatíveis com cada uma das categorias
de áreas integradas na REN, ultrapassando uma
visão estritamente proibicionista sem fundamento
técnico ou científico.
Sublinho pois a pertinência e a necessidade de
equil brio na aplicação de todos os instrumentos
de Gestão que referi, e a REN é um exemplo. Com
efeito, é fundamental conhecer e ter a capacidade
de conciliar as realidades: o desenvolvimento de
dinâmicas sócio - económicas e territoriais e a
garantia de protecção dos ecossistemas que cons-
tituem a Reserva Ecológica Nacional.
A Gestão do Território está ao serviço da quali-
dade de vida das Pessoas. Os instrumentos que
consagram a politica de ordenamento do ter-
ritório têm sido criados e aperfeiçoados com essa
finalidade, no entanto há ainda um caminho a
percorrer na desburocratização de atitudes e de
procedimentos. Cabe pois a cada um de nós, em
parceria, fazer o que lhe compete. Proximidade,
Conhecimento e Eficácia são os pressupostos que
se exigem em prol do desenvolvimento sustentá-
vel da nossa Região e do País.
AGROTEJO | UNIÃO AGRICOLA DO NORTE DO VALE DO TEJO
NOV 10
72
�
DESDE SEMPRE O DESENVOLVIMENTO DAS
COMUNIDADES RURAIS ESTEVE LIGADO
à GESTÃO E UTILIZAçÃO DA áGUA.
A AGRICULTURA É O SECTOR ONDE Há MAIS
OPORTUNIDADES PARA MELHORAR A SUA
PRODUTIVIDADE. POR OUTRO LADO,
É IMPORTANTE ALCANçAR A SEGURANçA
ALIMENTAR EM áREAS ONDE A áGUA É ESCASSA.
A REDE TEmáTIcA cYTED – AQuIFERuRAL mETODOLOgIAs DE AnáLIsE E ApLIcAçãO DE TEcnOLOgIAs pARA A gEsTãO susTEnTávEL DE águAs subTERRânEAs Em ZOnAs RuRAIs.
Luís RibeiroProf. Associado do IST, Coordenador da rede AQUIFERURAL
A disponibilidade de água em quantidade
e qualidade suficientes para a manutenção e
desenvolvimento das actividades humanas, em
condições que não ponham em causa a reno-
vação natural dos recursos tornou-se uma preo-
cupação para as autoridades de diferentes países
nos últimos tempos.
Diversos estudos realizados, apontam para que
a maior parcela do consumo de água (até cerca de
80%) seja dedicada a fins agrícolas e que a prin-
cipal causa de poluição das águas subterrâneas
seja a actividade agrícola, decorrente do uso ex-
cessivo de fertilizantes, herbicidas e/ou fungicidas.
É assim fundamental desenvolver e implementar
estratégias orientadas para a gestão responsável
dos aquíferos com enfoque em tecnologias e me-
todologias multi-disciplinares, essenciais para a
promoção da competitividade do sector produtivo.
Os aquíferos em áreas rurais são particular-
mente sensíveis às pressões resultantes de ac-
tividades agrícolas quer a nível quantitativo (so-
bre-exploração das águas subterrâneas) quer do
ponto de vista qualitativo (aumento dos níveis de
nitratos em águas subterrâneas).
Nesse sentido foi constituída, no início de
20�0, a rede temática “AQUIFERURAL: Metodolo-
gias de análise e aplicação de tecnologias para
a gestão sustentável de águas subterrâneas em
zonas rurais”, financiada pelo CYTED, Programa
Ibero-Americano da Ciência e Tecnologia para o
AGROTEJO | UNIÃO AGRICOLA DO NORTE DO VALE DO TEJO
NOV 10
74
Desenvolvimento (www.cyted.org), no âmbito do
sub-programa “Desenvolvimento Sustentável, Mu-
dança Global e Ecossistemas”.
A rede AQUIFERURAL pretende contribuir para
esta dinâmica ao promover um intercâmbio de
conhecimentos científicos e técnicos em várias
áreas de intervenção, incorporando várias uni-
versidades, empresas do sector agrícola, ONG’s,
associações de regantes, entre outros, de países
ibero-americanos.
O objectivo geral do AQUIFERURAL é contribuir
para uma reavaliação e renovação das práticas de
análise, planeamento e gestão das águas subter-
râneas em zonas rurais, tendo em conta três li-
nhas estratégias principais:
O aumento da competitividade do sector agrícola;
A valorização dos espaços rurais e dos recursos
naturais de forma sustentável;
A revitalização da componente económica e so-
cial em zonas rurais.
A metodologia a seguir pretende englobar
quer as abordagens técnicas do tema (modelos
de simulação de processos físicos, modelos es-
tocásticos, SIG, sistemas de informação, etc), quer
a análise das mudanças mais directamente re-
lacionadas com o meio ambiente (impacte das
alterações climáticas nos sistemas aquíferos, im-
plicações nas culturas e práticas agrícolas, análise
de sustentabilidade, etc.), quer ainda nos aspectos
económicos, sociais e culturais (custo dos alimen-
tos, competitividade, grupos de interesse, práticas
tradicionais de regadio, etc.).
A troca de conhecimentos científicos e técni-
cos será baseada na análise de estudos de caso.
Cada país seleccionará um estudo de caso para
ser discutido de uma forma holística e sistémica.
Os resultados desta análise serão compartilhadas
e discutidas por todos os participantes em semi-
nários dedicados a temas específicos.
O caso de estudo português seleccionado é o
Aquífero aluvionar da bacia do Rio Tejo. Em vir-
tude das suas características hidrogeológicas e da
ocupação agrícola intensiva, o sector norte desta
zona está integrado na zona vulnerável à poluição
difusa de nitratos de origem agrícola (ZVT). Aquela
região abrange os concelhos da Golegã, Alpiarça,
Santarém, Chamusca, Vila Nova da barquinha,
Constância e Torres Novas e tem uma área aproxi-
mada de �9.�24 ha, não estando todavia integrada
a área protegida do Paúl de boquilobo.
Uma das primeira iniciativas da rede foi a imple-
mentação de um portal WEb (www.aquiferural.ist.
utl.pt) para a divulgação dos objectivos e iniciativas
da rede e para permitir o intercâmbio de infor-
mação, relatórios, artigos, notícias e diversa docu-
mentação técnico- científica sobre esta temática e
sobre os estudos de caso associados à rede.
Durante o ano de 20�0, a rede AQUIFERURAL irá
igualmente organizar dois seminários, o primeiro
em Novembro na Cidade do México, subordinado
ao tema” Métodos de avaliação da recarga em
aquíferos” e um segundo seminário em Dezem-
bro, em Medellín na Colômbia, sob o tema “Mé-
todos de avaliação da vulnerabilidade e do risco
de contaminação da água subterrânea” abertos
à participação de todas as pessoas e instituições
interessadas nestes temas.
LISTA DE ASSOCIADOS
Argentina• UNIVERSIDAD NACIONAL DEL LITORAL (UNL),
chile• CENTRO DEL AGUA PARA ZONAS áRIDAS Y SEMIáRIDAS DE AMERICA
LATINA Y EL CARIbE (CA
• JUNTA DE VIGILANCIA DEL RíO GRANDE Y LIMARí Y SUS AFLUENTES
(JVRGL),
• DEPARTAMENTO INGENIERíA DE MINAS, UNIVERSIDAD DE LA SERENA Y
CEAZA - CENTRO DE ESTUDIOS AVANZADOS EN ZONAS ARIDAS
(ULS-CEAZA),
colombia• GRUPO GIGA – UNIVERSIDAD DE ANTIOQUIA (GIGA-UDEA)
• CORPORACIóN AUTóNOMA REGIONAL DEL CENTRO DE ANTIOQUIA
(CORANTIOQUIA),
• UNIVERSIDAD NACIONAL AUTóNOMA DE MÉ-xICO (UNAM),
• CENTRO DE INVESTIGACIONES GEOCIENTíFICAS - UNIVERSIDAD NACIONAL
AUTóNOMA DE NICARAGUA (MANAGUA) (CIGEO-UNAN-MANAGUA),
peru• INSTITUTO REGIONAL DE CIENCIAS AMbIENTALES DE LA UNIVERSIDAD
NACIONAL SAN AGUSTíN DE AREQUIPA (IRECA-UNSA),
• ASOCIACIóN CIVIL LAbOR (LAbOR),
• MC & M, S.A.,
portugal• CENTRO DE ESTUDOS DE ENGENHARIA RURAL - INSTITUTO SUPERIOR
DE AGRONOMIA
• AgROTEJO – unIãO AgRícOLA DO nORTE DO vALE DO TEJO,
http://www.agrotejo.pt
• HIDROSOPH, LDA,
• CVRM - IST, CENTRO DE GEOSISTEMAS,
• IN+, CENTRO DE ESTUDOS EM INOVAçÃO, TECNOLOGIA E POLíTICAS DE
DESENVOLVIMENTO,
AGROTEJO | UNIÃO AGRICOLA DO NORTE DO VALE DO TEJO
NOV 10
76
78
Campanhas deSensibilização
Recolha selectiva deResíduos
Ater ro Sanitár io
Estação de Triagem
E c o c e n t r o s
Encontre-nos em www.resitejo.pt
Onde Estamos!
Áreas de Intervenção da Resitejo
Em breveValorização Orgânica
O AgRIcuLTOR pODE TAnTO QuAnTO sAbEAndreia Amaral
Jornalista
EM �9�2, A “COMPANHIA UNIÃO FAbRIL E
IMPERIAL CHEMICAL INDUSTRIES, LTD.”
REALIZOU UMA DAS PRIMEIRAS ACçõES DE
FORMAçÃO DE AGRICULTORES EM PORTUGAL DE
QUE Há REGISTO. APOSTANDO NA
TRANSMISSÃO DO CONHECIMENTO CIENTíFICO
PARA A CONQUISTA DO SUCESSO, LANçOU UM
MANUAL DEDICADO à CULTURA DO MILHO.
Já no início do séc. xVI, o grande filósofo Fran-
cis bacon, considerado por muitos como o pai do
método cientifico, defendia que “conhecimento
é poder” e que “o homem pode tanto quanto
sabe”. As ideias deste mestre, revolucionárias
e polémicas numa altura em que se acreditava
que tudo estava nas mãos de Deus, demorariam
séculos até serem encaradas como uma verdade,
quase que empírica... E se para alguns homens,
que dedicaram a vida ao empreendorismo, ao
pensamento e à ciência “saber” e “aprender” tor-
naram-se necessidades, para a maioria, e até há
bem pouco tempo, o seu conhecimento resultava
apenas da experiência. Tal realidade foi bastante
comum na população agrícola, sempre conotada
com o “saber” que passa de geração em geração e
com a experiência, mas com pouco conhecimento
científico.
Se hoje é inultrapassável que a formação e o
conhecimento são ferramentas imprescindíveis
para o sucesso, há muitos anos, não era bem
assim. No entanto, também em Portugal existi-
ram entidades empreendedoras que apostaram
nesta ideia, partilhando com os outros, os homens
comuns, conhecimentos que os ajudariam a al-
cançar os seus objectivos e contribuiriam para o
sucesso de todos. Foi esse o caso da “Companhia
União Fabril e Imperial Chemical Industries, Ltd.”,
que, em Junho de �9�2 editou um pequeno livro
dedicado à cultura do milho, onde transmitia con-
selhos aos agricultores.
O conceito inovador da fábrica de adubos quími-
cos, funcionava não só já como uma estratégia de
marketing e publicidade, ao incentivar a aplicação
dos seus produtos nas lavouras, como também
como um manual científico. Mostrando experiên-
cias realizadas em diversas lavouras, confrontava
os agricultores com comparações tendo em conta
a utilização ou não de químicos e como isso po-
deria ter influência na sua produção. Além disso,
dava todas as informações de relevo para a cultura
do milho, desde os cuidados a adoptar, à escolha
das terras e das sementes, à forma de fazer a
lavoura, passando pelos ataques dos insectos, apli-
cação de adubos de curral, forma de fazer a se-
menteira, quando realizar a sacha, irrigação, corte
da bandeira do milho e ceifa. Verdadeiro manual
de agricultura do milho, esta bíblia transmitia co-
nhecimentos aos agricultores para que obtivessem
os melhores resultados produtivos, concretizando
a filosofia de bacon, de que “conhecimento é
poder”. Da mesma forma, foi um dos primeiros
exemplos daquilo que é a aposta na formação.
Em �9�2, a “Companhia União Fabril e Impe-
rial Chemical Industries, Ltd.”, apostou numa fer-
ramenta que, ainda hoje em dia, é muitas vezes
descurada.
HIsTÓRIAs DE OuTROs TEmpOs
NOV 10
79
AGROTEJO | UNIÃO AGRICOLA DO NORTE DO VALE DO TEJO
O RETRATO nº 18 DA gALERIA DOs Ex-mInIsTROs DA AgRIcuLTuRA DE pORTugAL, DO pÓs-25 DE AbRIL
Luís Vasconcellos e Souza
Todos nós previmos com bastante antecedên-
cia que o consulado do dr. Jaime Silva á frente dos
destinos do MAPDR ia acabar mal, e óbviamente,
com o regresso do próprio á vida de burocrata de
bruxelas, donde de resto, e desculpem-me a fran-
queza, nunca deveria ter saído.
No entanto, dois acontecimentos há, relaciona-
dos com o fim da sua prestação, que não corre-
ram como seria de prever, uma vez que estando
ele sem aliados políticos e com “um inimigo em
cada agricultor português” (e em quase todos os
funcionários do seu ministério), tudo levava a crer
que iríamos assistir a um retorno, discreto, sereno
e inteligente dum funcionário público europeu á
sua “alma mater”.
Mas não! Enganámo-nos. O seu ego, por certo
demasiado grande, (mas ao mesmo tempo mui-
to pouco lúcido) sonhava ainda mais alto, agora
que tinha experimentado o prazer do exercício
do poder. Poder esse que não tinha conquistado,
mas que lhe havia sido pura e simplesmente
dado, duma forma cega, ao longo de quatro in-
termináveis anos.
É então em finais de 2009 que se dá o primeiro
“acontecimento” não previsível: a sua candidatura
a chefe de gabinete do Comissário Agrícola Eu-
ropeu. Como seria de esperar essa candidatura foi
rápidamente votada ao fracasso, dado o curricu-
lum recente do candidato português.
É então que, reduzido á sua estatura de fun-
cionário público europeu, resolve enviar para o
MAPDR a fotografia da sua pessoa para que ela
figure nos corredores do ministério, na galeria dos
ex - Ministros da Agricultura de Portugal.
mas veja-se só o que ele enviou……
Esta fotografia passou então a ser o segundo “acon-
tecimento” não previsível da parte do ex-ministro!
Quanto a este tema da fotografia enviada,
e dada a sua diversidade interpretativa, penso
que terá que ser cada um de nós a fazer a sua
própria apreciação sobre a pose do dr. Jaime
Silva nesta fotografia, que, uma vez mais repito,
foi ele pró-prio que a escolheu para sua imagem
oficial na casa que esteve a chefiar durante qua-
tro longos anos….
Não quero terminar sem colocar a cada um
uma pequena questão: Será que esta fotografia
oficial, da sua escolha, seria a mesma se o candi-
dato Jaime Silva fosse, como pretendia ser, chefe
de gabinete dum Comissário Europeu?
AGROTEJO | UNIÃO AGRICOLA DO NORTE DO VALE DO TEJO
NOV 10
80
�
EMHS - Estações de Monitorização de Humidade no Solo
MUITO MAIS DO QUE UMA SIMPLES SONDA DE HUMIDADE NO SOLO
Reduzidos custos de aquisição e operaçãoRecolha automática de dados via rádio e GPRSDisponibilização dos dados via InternetUma das maiores redes Adcon na Europa
Aumentos de produção até 10%Aumento de qualidade do seu produto finalMaior eficiência do uso da água, fertilizantes e energiaMedição do perfil completo a cada 10cm com sondas de 30cm, 60cm e 90cmMedição de temperatura no solo e dotações de rega (mais parâmetros em opção)
Tudo isto vem de encontro com as cada vez maiores exigências que são hoje em dia colocadas aos produtores para que efectuem uma...
“…Agricultura Amiga do Ambiente”
Av. João de Belas, N.º 53-B, 2605-203 BELAS Tel 214 325 296 Fax 214 325 290
[email protected] WWW.ORM.PT WWW.METEOAGRI.COM
“�5 ANOS A DEFENDER OS AGRICULTORES PORTUGUESES”
O CONSUMO DE ENERGIA NA AGRICULTURA
PODE ALCANçAR VALORES DA ORDEM
DOS 4,5% DOS CONSUMOS ENERGÉTICOS
TOTAIS A NíVEL GERAL, PODENDO,
EM TERMOS DE MAQUINARIA AGRíCOLA E
SISTEMAS DE bOMbAGEM LIGADOS AO
REGADIO, ATINGIR CERCA DE 70 % DOS
CONSUMOS ENERGÉTICOS TOTAIS
EM AGRICULTURA.
A ImpORTâncIA DA EFIcIêncIA EnERgÉTIcA nAs ExpLORAçõEs AgRícOLAs
Isaurindo Oliveira
A agricultura de regadio é essencial, para mi-
norar a dependência alimentar portuguesa do
exterior. A este facto, acontece que, por força das
características dos solos, da escassez de mão de
obra, da evolução tecnológica, da “agressividade”
dos fornecedores de equipamentos, e de muitos
outros factores, os sistemas de rega por gravidade
foram sendo convertidos em sistemas de rega
sob pressão, equipando, na metade sul do país,
com pequenas excepções, a quase totalidade das
áreas regadas.
Esta situação implica, como é evidente, que a
generalidade dos regadios portugueses, principal-
mente do sul, necessitem de energia para fazer
funcionar os sistemas de bombagem ligados aos
sistemas de rega em pressão – rega por aspersão
(fixa, pivot/lateral móvel e enrolador) e rega locali-
zada (gota-a-gota e microaspersão).
Esta mudança radical que se verificou nos últi-
mos 20-�0 anos na agricultura portuguesa, criou
um novo factor de produção – energia – com um
peso forte, e por vezes (muitas vezes) muito forte
nos custos de produção por hectare, e como tal, na
redução dos proveitos dessa mesma agricultura.
O uso da energia na agricultura de regadio, e
neste caso concreto, ligada ao funcionamento dos
sistemas de rega, tem merecido, da parte dos res-
ponsáveis pela energia, em geral, e pela agricul-
tura, em particular, pouca atenção, quando com-
parada com outros sectores. Na maioria dos casos,
AGROTEJO | UNIÃO AGRICOLA DO NORTE DO VALE DO TEJO
NOV 10
82
os problemas parecem centrar-se unicamente no
preço da energia, seja de uma forma directa, seja
no custo do m� de água, como acontece nos re-
gadios colectivos de origem estatal (Alqueva, So-
tavento algarvio, etc.), seja ainda no uso da electri-
cidade verde, que acaba por ser igualmente uma
questão relacionada com o custo.
De um ponto de vista geral, esta questão é im-
portante, mas a racionalização do uso da energia
na agricultura de regadio, não pode unicamente
passar por esta questão, mas terá que passar pelo
aumento da eficiência energética dos sistemas já
instalados, ou a instalar, o qual é, em muitas si-
tuações, muito baixo, sem que a generalidade dos
intervenientes dela se apercebam, considerando-
-se o pagamento da factura de energia como uma
fatalidade.
Sob este ponto de vista, e na generalidade dos
casos, quase que a única atenção que se presta
está relacionado com o investimento, e mesmo
neste caso, o investimento é, muitas vezes, ana-
lisado sob o ponto de vista de um custo, e como
tal é escolhido o mais barato, sem serem analisa-
das as implicações no custo de exploração desse
mesmo custo.
Os custos de investimento dos sistemas de
bombagem estão relacionados com o dimensio-
namento, o qual, deveria ser a primeira fase de
um programa de eficiência energética na ex-
ploração agrícola, tanto mais que o investimento
não representa mais do que cerca de �0-20% no
custo do ciclo de vida de uma bomba no espaço
de tempo definido como horizonte do projecto,
podendo, em muitos casos, a fracção relativa aos
custos energéticos, durante a fase exploração, che-
gar a 80% dos custos totais associados ao ciclo
de vida.
Os custos energéticos são, assim, normalmente,
um dos elementos com maior importância, tanto
mais que, na generalidade dos casos, o investi-
mento pode recorrer a judas, enquanto a factura
de energia não.
Os custos energéticos são normalmente analisa-
dos em duas fases. A primeira, tem essencialmente
a ver com as questões de projecto, razão pela qual
é tido essencialmente em conta a energia poten-
cialmente usada, enquanto numa se-gunda, que
se processará ao nível da exploração, terão que ser
tidos em conta a generalidade dos factores que en-
tram na elaboração da factura de energia efectiva-
mente paga pelo uso do grupo de bombagem, de
acordo com a estratégia de rega adoptada.
A energia consumida no trabalho de um grupo
de bombagem é determinada pelo produto da
potência do grupo pelo número de horas de fun-
cionamento do mesmo. A potência, por sua vez,
é função do caudal, da altura manométrica e da
eficiência do grupo de bombagem, e o caudal do
volume de água a fornecer às plantas, do núme-
ro de horas em que tal volume é aplicado e da
eficiência dos sistemas de rega.
Como se pode depreender, a primeira fase de
um programa de eficiência energética passa pela
fase de dimensionamento, que pode condicio-
nar irremediavelmente o futuro, e pela correcta
manipulação dos factores que dependem da se-
gunda fase, que é a exploração, nomeadamente
os volumes de água a fornecer de acordo com as
efectivas necessidades de água das culturas, e o
desempenho dos sistemas de bombagem e de
NOV 10
8�
AGROTEJO | UNIÃO AGRICOLA DO NORTE DO VALE DO TEJO
rega, de forma a assegurar que este desempenho
atinja níveis de eficiência elevados.
O objectivo será fazer com que a optimização
destes factores possa conduzir a uma optimização
dos consumos energéticos, contudo, há que ter
em atenção que o custo associado à energia – Fac-
tura de Energia -, engloba um conjunto de outros
factores para além da energia propriamente dita,
nomeadamente factores fixos e variáveis, que as-
sociados ao tipo de contrato estabelecido com o
fornecedor de energia, podem conduzir a custos
energéticos proibitivos.
Deste conjunto de ideias parece poder concluir-
se da necessidade urgente de criar consciência em
todos os agentes ligados a esta área pela necessi-
dade de aumentar a eficiência do uso da energia
nos sistemas de rega que, como se viu, não passa
pela actuação aqui ou ali, mas é algo mais com-
plexo, uma vez que implica uma análise integrada
de todo o sistema com actuações, não só, ao nível
dos equipamentos, mas também das estratégias
de rega seguidas.
È um trabalho que se pensa poderá criar
poupanças energéticas globais e ganhos de rendi-
mento ao nível da exploração agrícola importantes.
Como nota final vala pena dizer que este traba-
lho implica a necessidade de serem criados Serviços
de Assistência Técnica ao Regante – SATR - que
possam ajudar o regante a identificar os pontos
de actuação e a criar estratégias que possam con-
duzir a uma redução da dependência energética
portuguesa e a um aumento da rendibilidade da
agricultura de regadio.
AGROTEJO | UNIÃO AGRICOLA DO NORTE DO VALE DO TEJO
NOV 10
84