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Foi palco da minha infância e minha juventudeter por vizinhos dois jovens, órfãos de pai, quesofriam e sofrem de deficiência mental. Filhosúnicos de uma mãe estremosa, afectiva e protec-tora que prolongou a vida, em sofrimento, atéaos 90 anos sempre na angústia e no medo deos abandonar à sua sorte.

Jorge e Luís, mais velhos do que eu cerca de10 anos, são ainda hoje os meus melhores ami-gos, são eles os primeiros a procurar-me, quan-do estou em férias na minha aldeia transmon-tana incrustada na Serra do Alvão.

Sempre revelaram ser duas pessoasinteligentes e trabalhadores, um mais intelectuale outro mais braçal, sendo a sua mãe a deusa eo seu universo que lhes prestava todo o carinhoe afecto.

Segundo reza a história, ela contava a pessoasda sua confiança que ao casar apaixonada comuma figura do meio intelectual do Porto, o mari-do não lhe revelou que sofria de sífilis, assim her-daram tão estranha deficiência mental que opovo até hoje não pôs rótulo e nunca foram alvode qualquer Estigma ou Exclusão Social.

A mãe maravilhosa e culta que tão bem co-nheci, dela nunca ouvi queixume, amargura ourevolta, foi sempre uma lutadora e solidária comtodos os que de algum modo sofriam de desvan-tagens. Que Deus a tenha em paz e descanso,porque os seus meninos perderam uma mãe,mas a aldeia adoptou-os, ao ficarem sozinhos nomundo, sem nada e sem ninguém, contudonunca mais foram os mesmos sem a sua queri-da mãe.

Delfim Augusto OliveiraPresidente da Direcção Nacional da ADEB

[email protected]

Editorial

Índice

SÍNTESE DO ESTATUTO EDITORIAL

ÖÖ "Editoriais temáticos;ÖÖ Publicação de documentos técnicos e ciêntíficossobre as doenças mentais em geral, e em especialsobre a doença Unipolar;ÖÖ Informação pedagógica de modo a contribuir para aReabilitação, educação e Prevenção daqueles quesofrem da doença Unipolar e Bipolar;ÖÖ Entrevistas, artigos de opinião e documentários;ÖÖ Divulgação e testemunhos de pacientes e familiares;ÖÖ Relatório das actividades sociais desenvolvidas pelaADEB;ÖÖ Consultório jurídico abrangendo todos os ramos doDireito;ÖÖ Espaço para divulgação das potencialidades dosassociados no campo cultural, recreativo e social;

ESCREVA E DIVULGUE A REVISTA BIPOLAR

O Estigma em Saúde Mental 3Estigma no Local de Trabalho 7Reiventar a Fábula 8Um Olhar Fragmento de uma Emoção Inteira 10A Doença Bipolar 11Bem me quer ou mal me quer 14Apoio a crianças e adolescentescom distúrbios de humor 16A Relação Professor-Aluno e os Afectos 17Primeiro Encontro de Professorescom a doença Unipolar e Bipolar 18A Jorna Emocional 19Quem sou EU? 19Convocatória 20Mini-Fórum Sócio-Ocupacional 20Hospitalização Psiquiátrica eInternamento Compulsivo 20Actividades da Delegação Norte 23Actividades da Delegação Centro 24Documentação Psicopedagógica 24Dados Estatísticos 25Campanha - Doença Bipolar 26A Arte de António Azevedo 27Livros 27

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O ESTIGMA EMSAÚDE MENTAL

ResumoEste texto foi exposto num debate sobre estigma em Saúde Mental, presididopelo Sr. Ministro da República para os Açores, Juiz Conselheiro LaborinhoLúcio, inaugurando um Fórum de Cinema e Saúde Mental que aconteceu de 4 a8 de Fevereiro de 2004 no Teatro Angrense na cidade de Angra do Heroísmo.O combate ao estigma faz-se através de uma consciencialização da sociedade,sendo uma das bases a informação científica que derruba preconceitos.

Podem alguns de vós questionar-se sobre arazão de ser da iniciativa de realizar um debatecomo ponto de arranque para um Fórum deCinema e Saúde Mental a ter lugar num teatro nacomunidade, achando que as sociedades actuaisjá são desenvolvidas e esclareci-das, donde já não fará muito sen-tido falar de estigma em saúdemental.

Ainda há dias me confrontavacom uma pessoa inteligente esensível que tem uma perturbação do humor quese complica, a espaços, com alteração do com-portamento, que me dizia da sua mágoa de tersentido que amigos se afastaram e até a suafamília encontra pouco tempo para lhe dedicar,recordando de forma sentida uma discussãocom um irmão que lhe disse de forma agressiva"tu és uma maluca de S. Rafael".... Tambémrecentemente internei por transferência doCentro de Saúde de Velas, S. Jorge, uma senho-ra com Depressão grave, mas que logo depois deverbalizar a tristeza, anedonia e falta de energiaque sentia, referia também "eu vim porque quis,mas a gente fica sempre marcados porque veio aS. Rafael". Como faço sempre esclareci - é a Casade Saúde do Espírito Santo, no sector de doentesagudos funciona como um prolongamento doHospital de Santo Espírito de Angra doHeroísmo, nem é S. Rafael. "As pessoas nãosabem disso, põem-me o complexo. E passadoum pouco, de um jeito triste e conformado,dando à cabeça, acrescentava "eu pensava queera discreta e vim parar aqui..."

De facto, na clínica, é frequente os doentes

subli-nharem primeiro, "olhe que eu estou discre-to, (no sentido Terceirense do termo, que se re-fere a inteligência), e só depois nos dizerem osseus sofrimentos.

Ou procurarem-nos, depois de anos a sofrer(estudos Americanos falam em 8anos), ou a correr médicos numacegueira sobre a verdadeiradoença, sempre a evitar serdoente da mente, quantas vezes aiatrogenizar o quadro clínico e arealizarem exa-mes médicos

diversos e desnecessários, sobrecarregando osistema de saúde, até no aspecto financeiro.

Há estigma ainda, e nós bem sentimos isso naprática clínica.

A literatura também nos sublinha isso, e cito,por exemplo, um estudo epidemiológico feito naAustrália encontrou que, intervenções especifica-mente associadas à Psiquiatria, como ECT ouinternamentos em enfermarias de psiquiatria,eram vistos de modo muito negativo pelo públi-co, com uma maioria de pessoas achando quesão deletérios em vez de benéficos (Jorro et ai,1997). Remédios "na-turais", como vitaminas eervas são vistas muito mais positivamente pelopúblico, contrariamente aos psicotrópicos enca-rados com atributos negativos (Ficher et ai,1999, citado por Jorro).

Estigma enquadra-se em falta de respeito, emrótulos, mitos e falsas crenças, constitui-se umabarreira e desencoraja as pessoas e as suasfamílias a procurarem ajuda. E há doenças men-tais que, quanto mais cedo começarem a sertratadas, melhor poderá ser a evolução.Sobretudo hoje em dia com os novos fármacos

“Há estigma ainda, enós bem sentimos issona prática clínica. “

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ao nosso dispor.E é assim que surge a necessidade de se

realizarem campanhas para sensibilizar a popu-lação em geral e pugnar pela modificação dasideias preconcebidas dos doentes e sua famílias.Ou seus amigos. Que no fundo somos todos nós.

E estamos a falar de doenças muito comuns: aesquizofrenia afecta 1% da população, a doençaafectiva bipolar 1%, a Depressão Major 10-20%e a Doença de Alzheimer 15% das pessoas commais de 65 anos. E só para falar nas mais graves!

Jorm (2000) cita Kessier (1994) para justificaruma prevalência, "lifetime" até 50%, o que signifi-ca que qualquer pessoa pode ter uma doençamental ou ter um contacto estreito com quem atenha.

É assim que, embora fosse mais fácil circun-scre-ver-me ao trabalho clínico que, de facto, é aminha vocação, estou hoje aqui, porque pensoque os psiquiatras têm o dever de transmitir amensagem necessária à comunidade para ajudara mudar atitudes e, em última análise e senecessário for, a travar também algumas lutas nocampo social e político para melhorar as vidasdas pessoas com doenças da mente.

Não estamos só a falar de doenças frequentes,mas também onerosas em termos de custos .Recentes estimativas da Organização Mundial deSaúde e do Banco Mundial referem que cerca de10 de todos os anos perdidosdevido a incapacidade, são perdi-dos devido a doença mental (enão se inclui aqui a deficiênciamental, nem álcool e dependên-cia de drogas).

O Banco Mundial atribui àdepressão a principal fonte dedeficiência e incapacidade em2010. Por sua vez dados projec-tivos sugerem que os encargos financeiros com adepressão ocuparão o segundo lugar em 2020,apenas superados pêlos da doença cardíacaisquémica.

Nas sociedades industrializadas a depressão eas perturbações ansiosas constituem um proble-ma de saúde pública uma vez que têm umaprevalência elevada e estão em franco cresci-mento. Na América, de 50 milhões que sofremde doença mental só 1/4 vão tratar-se. No querespeita às depressões, só 10 chegam aopsiquiatra. Quanto aos restantes 90 o médico defamília vê em número significativo ansiedades edepressões e uma fracção nunca quantificadapoderá recorrer ás Medicinas NãoConvencionais, onde o componente espiritualestá sempre interligado com as maleitas docorpo e vice - versa, ou pior ainda, sofrer sem

qualquer ajuda, isolados e em segredo.A OMS admite que o suicídio seja, a partir de

2005, uma das primeiras causas de morte nosPaíses desenvolvidos.

Isto remete-nos para os custos pessoais, osofrimento psicológico, que Antero de Quentaldescreve como ninguém numa carta a um amigo"cada dia sinto mais o vazio da minha existência,a minha impotência, a minha inutilidade, desorte que a vida se me tem tornado em extremopesada. Olho para a morte como um abrigoseguro..."

Razões de sobra para o combate ao estigmaque passa por três níveis, a saber, a imagem dosserviços de Saúde Mental e dos psiquiatras, aeducação do doente e suas famílias e a infor-mação correcta da comunidade.

A imagem dos serviços de Saúdemental e do Psiquiatra

Os significativos progressos científicos dapsiquiatria, e a integração da especialidade nosHospitais Gerais, são factos recentes que nãoconseguiram mudar totalmente a imagem dosserviços de Psiquiatria ainda algo asilar e pater-nalista, com alguns psiquiatras afastados daMedicina Geral.

Em 1953, em artigo publicado "na União", aos70 anos de idade, o Dr. Joaquim Bartolomeu

Flores, pioneiro da Assistênciapsiquiátrica nos Açores, reflectiaassim - "Na Escola Médica ondefiz o meu curso saí sem que osmeus mestres me tivessem inicia-do nos mais rudimentares co-nhecimentos da parte das ciên-cias médicas a que se chamapsiquiatria... havia em mim umatendência inata (para tal tema),

talvez por ter havido na minha ascendênciamaterna uma doença mental de carácter grave,que foi causa de eu não ter conhecido o tão pre-cioso amparo de mãe..."

Cabe aqui uma reflexão sobre a formaçãomédica que ainda hoje é modesta no que respei-ta às doenças da mente e no espontâneo com-bate ao estigma que tão insigne médicoTerceirense fazia, por exemplo, ao integrar aPsiquiatria na Medicina e ao assumir as suas li-gações familiares à doença mental. Mais adianteno referido artigo diz ainda "...sentir dó, mágoa,pela forma cruel e desumana como então seassistia a tais doentes, na nossa terra, ondecomecei por vê-los, na minha infância, ali nosbaixos do Hospital de Santo Espírito, encurrala-dos à maneira de cães enraivecidos, aonde sefaziam excursões aos Domingos para gáudio de

“A OMS admite que osuicídio seja, a partir de2005, uma das primeirascausas de morte nosPaíses desenvolvidos.”

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curiosos... ". Mais adiante escreve que, quandoiniciou a carreira de clínico geral, por altura de1920, já funcionava o pavilhão de alienadosanexo ao Hospital de Santo Espírito, mas reco-nhece que a esses doentes faltava "a assistênciaque tinham os doentes da clínica médica e cirúr-gica do seu vizinho Hospital".

A 8 de Março de 1928 consolida-se a transfe-rência de todos os doentes para a Casa de Saúdede S. Rafael, pertença dos Irmãos de S. João deDeus, conhecida como Casa Amarela, que consti-tuiu, na época, um progresso em termos dehumanização de cuidados, mas que foi alvo decrenças e mitos que persistem até aos dias dehoje.

Só em 1952 surgem os primeiros fármacospara tratar a doença mental e é a partir daquique a imagem dos hospitais psiquiátricos sehumaniza e a psiquiatria se aproxima da comu-nidade.

É por esta data que começa a trabalhar naTerceira o outro nome grande da nossa Históriada Psiquiatria, o Sr. Dr. Hélio Flores Brasil, quevem demonstrar como um clínico bem ape-trechado de conhecimentos de Medicina ePsiquiatria, consegue combater o estigma,tratando a PESSOA com a doença, quer estafosse diabetes, hipertensão ou depressão.

Penso que combater o estigma em doençamental começa nos psiquiatras,pois se pretendemos enquadrarcada vez mais as perturbaçõesda mente no cérebro, e cada vezsurgem mais evidências científi-cas nesse sentido, então tam-bém quem trata é, antes demais, um médico que vê a pes-soa como um todo, diferenciadoem doenças mentais, comooutro se especializa emdoenças do coração ou do rim.

Em conclusão, queremos psiquiatras de orien-tação biológica e bons conhecimentos em psico-farmacologia, porque foram eles que, de facto,ajudaram a mudar a ideia de que a psiquiatria"era só conversa"e pouco rigor científico (N.Sartorius, 2002).

A psiquiatria como uma disciplina da Medicinadeve basear-se nos métodos científicos daevidência e experimentação adaptados àsdoenças mentais, preocupando-se também coma sua identificação precoce e o seu tratamento eprevenção.

Nos Países ditos desenvolvidos há o problemados sem abrigo e de muitos doentes que nãorecebem a ajuda que deveriam ter. E há ainda aquestão dos cuidados após à crise aguda, a

questão fundamental da reabilitação. Estescuidados de reabilitação psico-social das pes-soas que têm doença mental (da mente ou docérebro, por exemplo por traumatismo crani-ano), são escassos em quase todo o mundo. Eaqui o estigma da doença mental, e a conse-quente discriminação negativa das pessoas quea têm, representa um obstáculo forte para osucesso de qualquer intervenção nesta área. E seantigamente com menos tratamentosdisponíveis não fazia tanto mal que a saúde men-tal tivesse o orçamento mais baixo da saúde,agora já faz toda a diferença.

Educação dos doentes e suasfamílias

Associações de doentes e psico-educação porparte dos técnicos ajudam muito, no sentido dodoente aderir à medicação e ter uma noção omais correcta possível da sua doença, assimcontribuindo para diminuir o estigma (Goodwin eJamison 1990). Mostraram-se particularmenteeficazes grupos de auto-ajuda, isto é pessoascom patologias que se reúnem para conseguiremapoio e informação (E. Vieta e col, 1996).

Os grupos de auto-ajuda para familiares oumistos (para familiares ou doentes) são tambémde grande utilidade, fornecendo informação,apoio emocional e desculpabilizando a família

em relação à etiologia dadoença. Eliminar o estigmaatravés da troca de experiênciasé também um objectivo, atravésda percepção de que não se estásó no mundo, há outras pessoascom a mesma patologia.A psicoterapia é importantecomo factor que pode desen-volver o apoio social e imple-mentar aptidões para melhor

lidar com o stress, para além da já referida per-spectiva de psico-educação do doente e suasfamílias que também pode contribuir para com-bater o estigma ao estabelecer o paralelismocom doenças desprovidas de conotações sociaisnegativas.

A atitude do público em geralInformação adequada que retire as conotações

sociais negativas da doença mental e combataos falsos mitos - como por exemplo o de que opsiquiatra vê muitos malucos e também ficamaluco, que se fica dependente das drogas dapsiquiatria, de que as doenças mentais não sãodoenças e é uma questão de força de vontade -e ainda os mitos da cronicidade e da perigosi-dade.

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“Só em 1952 surgem osprimeiros fármacos paratratar a doença mental e éapartir daqui que a imagemdos hospitais piquiatricosse humaniza...”

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A Associação Americana de Psiquiatria, cons-ciente de que a discriminação é um obstáculo amelhores cuidados, iniciou um programa decombate ao estigma em 2002 que envolve dife-rentes sectores sociais, por exemplo ministérios,da saúde, do trabalho, serviços sociais, organiza-ções não go-vernamentais e os media. AAssociação de Psiquiatria Mundial, também játinha desde 1996 o seu plano de combate à dis-criminação na esquizofrenia, conscientes de queo preconceito e ignorância muito prejudicam otratamento e a reabi-litação.

Quando 4 psiquiatras ingleses publicaram em1998, no boletim do Royal College of Psychiatry,um estudo em que mostravam que 6 em 23doentes esquizofrénicos eram portadores dearmas durante episódios psicóticos, viram no diaseguinte o traba-lho distorcido ao serem publi-cadas em grandes manchetes no jornal "Sundayexpresss" -

"Armados e perigosos - público em risco sedoentes mentais escapam à rede de saúde".Distorções deste tipo não são surpresa para aspessoas a trabalhar em psiquiatria.

Uma Associação Inglesa que se assume comolobby para a Saúde Mental, "Focus on MentalHealth" diz que os doentes mentais são maltratados pela imprensa, com palavras comomaníaco, esquizo, psico, usadas em sentido quecontribui para o estigma. Outra organização tam-bém inglesa, "The Mental Health Charity Mind",também luta contra notícias distorcidas naimprensa e realizou um estudo, em que inquiriu500 pessoas que vêem regularmente programassobre assuntos de saúde mental na Televisão,para descobrir qual o impacto que a coberturados media sobre aqueles temas tinha nas suasvidas. Quase 3/4 dos que responderam acharamque a cobertura dos media era injusta, parcial enegativa. Mais, metade disse que a coberturados media tinha tido um impacto negativo na suasaúde mental, 1/3 sentindo-se mais ansioso oudepressivo e 22% sentindo-se mais isoladoscomo resultado das notícias (A. Ferriman, BMJ,2000).

É um mito muito enraizado o da perigosidadedo doente mental, sendo de salientar que 95%dos homicídios são cometidos por pessoas semdoença mental, e os doentes, de facto, são muitomais propícios a magoar-se a eles próprios doque a outros. Jim Crowe, presidente daAssociação Mundial para DoençasEsquizofrénicas e Doenças do Espectro, sublinhaque as pessoas com doença mental a receber oscuidados devidos, não estão sujeitas a maiorprobabilidade de comportamentos de violênciado que qualquer outra pessoa na comunidade.Outro mito, o da cronicidade, é um fenómeno daMedicina, não é específico da psiquiatria. Asinfecções tratam--se, mas elevado número dedoenças, reumatismais, neurológicas, imunoló-gicas, são doenças crónicas em que se busca umcontrolo, não a cura. O mesmo se passa emPsiquiatria - muitas vezes cura-se, outras vezesmelhoramos e ajudamos o doente a viver com adoença, mas há sempre alguma coisa a fazer.

Na modificação das crenças das pessoas e naaceitação da patologia em geral, ajuda o conhe-cimento de pessoas famosas que, em vida, oupostumamente foram consideradas doentes.

Já no séc. IV A.C. Aristóteles afirmava "todos osque se tomaram eminentes na filosofia, na políti-ca, na poesia e nas artes tiveram tendência paraa melancolia".

Leão Tolstoi, V. Wolf, J. Keats, E. Hemingway, E.Munch, Vincent Van Gogh, Eric Clapton, .... E osPortugueses Antero de Quental, FlorbelaEspanca... Pessoas que fizeram História e quesão conhecidas pela sua arte.

Também o cidadão comum deve ser encaradocomo a pessoa que é e não pela doença que tem.

BibliografiaCrisp. A. Et ai: Stíguuatisation of people with Mental Illnesses. British Journal ofPsychiatry 2000; 177, 4-7.Crowe J.; Estigma e discriminação das pessoas com doença mental e suasfamílias. Revista do Hospital Júlio de Matos, 15:158-161 (2002).Jara J. M.; A consciência de doença em Antero de Quental. Revista do HospitalJúlio de Matos, 4:39-46 (1998).Jorro A. F; Mental Health Literacy. British Journal of Psychiatry 2000; 177, 396-401.Lehmann C.; Psychiatrists not imune to effects of stigma.Psychiatric News July 20, 2001, volume 36, número14,11-13.Sartorius N.; Stigma: what can psychiatrists do about it?The Lancei 1998; 352-1058-9.Sartorius N.; Fighting for mental Health, a personal view, Calnbridge UniversityPress 2002.Sartorius N.; latrogeníc stigma of mental illness. BMJ 2002:324-1470-1.Vieta E. et al Interesse da psico-educação na abordagem das perturbações bipo-lares. Revista do Hospital Júlio de Matos, 4:71-83 (1998).Hospital Júlio de Matos

Margarida Moniz*

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Sabe-se que a prática discriminatória encontrano local de trabalho um campo propício ao seudesenvolvimento. A entidade empregadora dis-crimina o empregado nos mais variados aspec-tos: ou em razão da cor ou em razão do sexo ouporque tem a saúde mais delibitada que o outro.No que diz respeito à saúde mental, nomeada-mente as depressões ou ao distúrbio bipolar,existe a agravante do desconhecimento eignorância dos sintomas que estas patologiasprovocam, assim como o preconceito que leva osdoentes a optar em não comunicarem a suadoença. Parece-me este ser umfactor de stress no trabalho quepoderá ser um factor desen-cadeante de crise depressiva oude euforia.

É comum ouvir o testemunho deassociados que referem o facto dena sua empresa os superiores nãose interessarem verdadeiramentepor eles mas apenas pelo seuestatuto de colaboradores, assimcomo o ambiente instável no qualtrabalham.

Quando a entidade toma conhecimento dasaúde do indivíduo poucos são os casos de com-preensão e solidariedade. Em regra surgem com-portamentos discriminatórios, chegando emalguns casos a violência psicológica, sob a formade comportamentos e práticas abusivas, quevisam atentar contra a dignidade e integridadefísica e psíquica dos traba-lhadores. Esta violên-cia degrada as condições do ambiente de traba-lho e força--os a pôr termo à relação de trabalho.A violência psicológica é cada vez mais utilizadapelos empregadores como uma verdadeiraestratégia empresarial, visando a reorganização,a redução de pessoal ou a eliminação dos traba-lhadores incómodos ou indesejados.

A palavra discriminar, do ponto de vista eti-mológico, significa o carácter infundado de umadistinção. Ou seja, discriminar pressupõe umtratamento infundado de uma distinção, pres-supõe igualmente um tratamento diferenciadocomparativamente desfavorável. Num conceitogeral discriminar é estabelecer a diferença, dis-

tinguir, separar.A situação de maior heterogeneidade no mer-

cado de trabalho, aliado à precarização dos vín-culos la-borais e à intensificação da competiçãoeconómica, potencia os riscos de agravamentodas desigualdades e das discriminações exis-tentes.

Como resposta a esta situação desenvolveu-seo conceito de marketing social, que se pretendeconstituir num veículo promotor de empregabili-dade, êxito da inserção profissional de pessoas

com a patologia Bipolar eUnipolar, e esclarecimento dasreais capacidades laboraisdestas pessoas - “o indivíduodeve ser encarado como pessoaque é e não pela doença quetêm” (Moniz, M. 2004). Nestecontexto, a ADEB está a finalizaruma campanha a nível nacionalque decorreu ao longo de 2004intitulada "É preciso informar,aprender e empregar…", com

vista à sensibilização e informação da comu-nidade em geral, nomeadamente das entidadesempregadoras das capacidades profissionais dodoente com patologia Bipolar e Unipolar.

A mensagem que se pretende passar é a deque esta população possuí as competências ecapacidades que devem e podem seraproveitadas

Ana Isabel BastosPsicóloga Clínica da ADEB

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ESTIGMA NO LOCAL DETRABALHO

“É comum ouvir o teste-munho de associadosque referem o facto dena sua empresa ossuperiores não se inter-essarem verdareira-mente por eles...”

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Recentemente tive ocasião de reler a históriade Hans Christian Andersen - "O patinho feio" - eassaltou-me a mesma sensação de desconfortoque já tinha sentido na infância ao primeiro con-tacto com o conto.

Desta vez consegui identificar a raiz dessaangústia, dessa insatisfação após a leitura, tãoestranha, já que tudo parece terminar em bem.

É, porém, uma harmonia enganadora. O pati-nho feio, acinzentado, de penugem escassa, tãodife-rente de todas as crias douradas atravessauma infância penosa.

Por ser diferente, apenas por ser diferente damaioria, é excluído, menosprezado, subestima-do. O seu futuro parece, irreversivelmente, mar-cado por esse estigma. Não só pela marca dafealdade mas, sobretudo, pelo ferrete da diversi-dade, já que o pequeno universo do lago ondenasceu, não admitia desvios à normalidade.

O volte face da história reflecte-se na reabili-tação do marginalizado que ocorre aodespontarem as suas longas penas encobertas.

Quando ultrapassada a camuflagem infantildesabrocha um belo exemplar de cisne branco.Assim, o mais infeliz, o mais disforme, reflectena água o longo pescoço e abre as asas, ofuscan-do todos os pequenos patos vulgares até entãoconvencidos de uma ilusória superioridade.

Mas não devia ser este o desfecho.O lago não é mais do que a metáfora do mundo

onde, apesar da proliferação de documentos,

legislação, convenções e encontros interna-cionais, a diferença continua a ser olhada comdesconfiança e com medo.

O patinho feio representa, deste modo, todosos indivíduos que, em razão de doença ou defi-ciência, apresentam dificuldades em aderir aospreceitos que regem a vida da maioria, emajustarem o seu comportamento às regras soci-ais, em cumprirem, sem desvios, um programamassificador que nos é imposto do berço aotúmulo.

A atitude dos outros animais é a nossa,restringindo a participação das pessoas com difi-culdades, afastando-as dos centros de decisão,recusando-lhes a voz e dificultando-lhes a parti-lha de responsabilidades.

No entanto, a sua dificuldade ou incapacidadede enquadramento na norma genérica não podepôr em causa a sua cidadania, o seu direito depertença ao grupo social, a sua possibilidade,ainda que, por vezes residual de decidir emmatérias que lhe dizem respeito.

Por isso, a reconciliação dos outros patos coma personagem central do conto de Andersen nãode-veria depender da sua afirmação como o maisforte e como o mais dotado, mas pela descober-ta do seu valor como ser vivo, independente-mente do que for capaz de fazer, da imagempública que tem e do lugar influente que ocupa.

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REINVENTAR A FÁBULA

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De acordo com a Recomendação nº R (99) 4sobre os princípios relativos à ProtecçãoJurídica dos Maiores Incapazes, são asseguintes as novas tendências que importaincorporar na legislação de cada país:

ÖÖ Máxima preservação da capacidade;ÖÖ Reforço dos direitos do incapaz;ÖÖ Maior proporcionalidade entre as medidas

aplicadas e o grau de incapacidade;ÖÖ Flexibilidade dos mecanismos processuais;ÖÖ A companhamento e avaliação das medidas;ÖÖ Formação e qualificação dos representantes

legais;ÖÖ Formação dos prestadores de cuidados for-

mais e informais

O desafio que temos é o de promover a pessoacom limitações ao nível da capacidade de exercí-cio, disponibilizando-lhe o auxílio que necessitapara a tomada de decisões conscientes.Apoiar o mais incapaz e a sua família, fornecen-do-lhe não só o apoio na área da saúde mas tam-bém o apoio técnico e jurídico, é indispensável.

Direitos das pessoas em situação dedependência e ou incapacidade

1. Direito à nomeação célere de um represen-

tante legal;

2. Direito à imagem;

3. Direito ao respeito pela sua pessoa e pelos

seus bens;

4. Direito ao respeito pela sua vontade real e

presumível;

5. Direito à salvaguarda da sua integridade físi-

ca;

6. Direito ao acesso aos cuidados de saúde em

situação de igualdade;

7. Direito ao apoio da família e do Estado;

8. Direito a não ser submetido a meios de

restrição da liberdade de movimentos;

9. Direito a uma avaliação regular da sua situ-

ação de incapacidade;

10. Direito à protecção jurídica em todas as

matérias relacionadas com bioética.

11. Direito à fiscalização da actividade do seu

representante legal.

Contribuir para a salvaguarda dos seus direitose garantir um lugar inalienável na estruturacomunitária é mais um dos objectivos a cumprir.Trata-se de uma tarefa do Estado

Mas, igualmente, uma acção a desenvolverpelas famílias e pelas organizações da sociedadecivil.

É fundamental fornecer informação eaconselhamento gratuito e exercer uma contínuafiscalização sobre o funcionamento dos serviçosresponsáveis pela intervenção com estes indiví-duos.

Dessa cruzada sem tréguas, depende a afir-mação individual de cada pessoa com problemase a sua aceitação e dignificação, como é, com oslimites e com as potencialidades que tem.

É por isso preciso reiventar a fábula deAndersen.

Paula Guimarães

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É para os olhos que olhamos primeiro e maistempo. Desde logo porque assim observamos ooutro e certificamo-nos da sua posição emrelação a nós. Eternamente inseguros, tentamosprender o olhar do outro no nosso para sentir-mos que o nosso conteúdo, e não tanto a forma,é valorizada prioritariamente. Queremos conti-nuar a acreditar que somos, acima de tudo, in-telecto. De facto, as crianças ainda pouco conta-minadas com conceitos e crenças que o homemimpõe a si mesmo olham-nos de forma maisigual e detêm-se tanto a observar a nossa mãocomo o nosso nariz. Também não têm medo deserem olhadas e mostram-nos as palmas dasmãos como que surpreendidas por insistirmostanto em olharmos para os olhos uns dos outros.

Quando estamos perante alguém realmentedeprimido podemos admirar-nos porque nãochoram os olhos. Realmente no doente deprimi-do é todo o corpo que se entristece de igualmodo. Neste estado o indivíduo já desistiu decomunicar pelo olhar. Mais do que procurar osolhos do outro, olha o seu corpo e estranha-o. Adiferença que nota agora em si não é tanto nosolhos mas em toda a sua corporalidade e ener-gia. Outra estética se anuncia onde a beleza e afealdade deixam de ser as referências. Toda aexpressão artística está agora inibida. O depri-mido apenas encontra fragmentos dos seresamados. Sente o caos, a destruição e muitasvezes a morte. O seu desespero parece serirremediável.

Provavelmente é nas situações limite de tris-teza e de euforia que o homem se aproxima maisda sua raiz antropológica e é, como as crianças,menos sociável e mais desconcertante. O doentebipolar revive as suas emoções mais precoces

mas já não encontra o seio reconfortante. Emdesespero sente o vazio apoderar-se de si e otempo a tornar-se imenso. Como a criança, nãose sente nem jovem nem velho, mas eterno nasua debilidade ou na sua força. Apercebe-se,como não conseguem os ou-tros, quão pequena,quão simples é a forma que o homem dá àsemoções. Admira-se o doente com o que faztransformar um olhar noutro, com o que faz rirou chorar. Mas ao mesmo tempo o doente temsaudades dessa simplicidade de sentimentosque norteiam as pessoas ditas normais.

Ao sair do estado mórbido o indivíduo vai recri-ar o seu mundo interno, reunir as peças e incutirvida aos fragmentos mortos. Irá contudo, ver omundo como alguém que regressa de uma outradimensão que não esquecerá. Por vezes sentenecessidade de exorcizar o mundo fantasmagóri-co onde esteve. A mensagem captada pelo públi-co é a de que apesar de tal mundo estar muito,demasiado, perto o "lado de cá" sobrevive.

Mais do que tudo, a pessoa que esteve doentesente a necessidade de fixar o mundo reencon-trado e das mais diversas maneiras, tentaregistá-lo. A arte surge também como uma tenta-tiva de prevenir novos estados em que o mundoperde o sentido e a harmonia. Mais do que asoutras, as pessoas que para lá do mundo estive-ram conseguem representá-lo de forma total,completa e unificada.

Por vezes voltam a fixar o olhar do outro masapreciam-no e recordam-no, para além de oprocurarem entender.

Dr. António SampaioMédico Psiquiatra

Vice-Presidente da Assembleia Geral da ADEB

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UM OLHAR FRAGMENTODE UMA EMOÇÃO INTEIRA

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Quando começa a doença Bipolar?Ocorre em média, no início da idade adulta por

volta dos 30 anos, podendo no entanto variarentre um limite inferior na adolescência, dos 12aos 13 anos e um limite superior em idade maisavançada nos 60 anos.

Porque é que é importante diagnosticare tratar a perturbação Bipolar, tão cedoquanto possível?

Estima-se que em média, as pessoas com estadoença consultam entre três a quatro médicos epassam mais de oito anos à procura de trata-mento, antes de receber um correcto diagnósti-co.

O diagnóstico precoce, o tratamento apro-priado com a medicação adequada podeajudar estes doentes a evitar o seguinte:

ÖÖ Suicídio - o risco é maior nos anos iniciais

da doença.ÖÖ Álcool ou abuso de substâncias - mais de

50% destes doentes abusam de álcool ou drogas

durante as suas vidas.ÖÖ Problemas conjugais e/ou laborais - um

tratamento atempado, melhora as perspectivas

de um casamento estável e de um trabalho pro-

dutivo.ÖÖ Dificuldade de tratamento - há evidencia de

que quanto mais períodos de alteração do

humor uma pessoa tiver, mais difícil se torna o

tratamento dos episódios subsequentes, e mais

frequentes estes se tornam.ÖÖ Tratamento incorrecto, inapropriado ou par-

cial - um doente sub-diagnosticado como tendo

apenas depressão isolada, em vez da doença

Bipolar, pode incorrectamente receber apenas

anti-depressivos, sem o adequado estabilizador

do humor. Isto pode despertar episódios manía-

cos e fazer com que o curso total da doença

piore.

Porque se chama doença Bipolar?Toda a gente tem altos e baixos do humor,

momentos de alegria, tristeza, raiva, etc. Sãomanifestações emocionais normais da vida donosso quotidiano.

Em contraste, nesta perturbação existe umadoença médica (com alteração dos neuromedi-adores cerebrais) na qual as pessoas experimen-tam mudanças do humor fora das proporçõesnormais, que interfere no curso regular das suasvidas.

Estas mudanças afectam pensamentos, senti-mentos, saúde física, comportamentos e o fun-cionamento geral destes indivíduos.

A doença Bipolar não deve ser assim, conside-rada como algo de que se culpabilize o doente,nem tão pouco o resultado de uma fraqueza oude uma personalidade desequilibrada.

È uma perturbação médica tratável, para aqual existe medicação específica que ajuda amaior parte das pessoas.

Quais são os sintomas da doençaBipolar?

Durante o decurso da doença Bipolar, quatrodiferentes tipos de humor podem ocorrer.

1. Mania (episódio maníaco).Este frequentemente se inicia como um senti-mento de satisfação, de energia elevada, criativi-dade, sociabilidade, desinibição, que facilmentepode subir em escalada com perda total do con-trolo. Tipicamente estas pessoas perdem acapacidade crítica, negam que tenham qualquerproblema e acusam facilmente os outros deserem os causadores das situações.

A DOENÇA BIPOLARA doença Bipolar é também conhecida por doença Maníaco-depressiva devido à alternância dehumor eufórico com humor deprimido. Afecta hoje cerca de 1,6% da população adulta.A doença Unipolar define-se como o nome indica, por apresentar apenas um dos pólos, o depres-sivo. Tem os seus valores de prevalência mais elevados, variando entre 3 a5 %.Devido ao avanço dos conhecimentos na área da Psiquiatria, cada vez se diagnostica e trata maisprecocemente estas doenças, permitindo uma actuação mais eficaz que ajuda os doentes a rea-dequirir uma vida produtiva e satisfatória.

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Nestes episódios, os seguintes sintomasestão presentes, durante pelo menos umasemana, dificultando o normal funciona-mento do individuo:

ÖÖ Sentimentos de grandeza, euforia, ou irri-

tabilidade.

Estão ainda presentes, pelo menos quatrodos seguintes sintomas:

ÖÖ redução da necessidade de sono, com

grande sensação de energiaÖÖ Discurso muito rápido, o que torna difícil

seguir a velocidade do pensamentoÖÖ Distractibilidade e dispersão da atenção,

mudando com rapidez de assuntoÖÖ Grande impulsividade sem preocupação com

as consequências (tal como gastar muito di-

nheiro, ter desinibição e actividade sexual ina-

dequadas, investimentos em negócios

despropositados…)ÖÖ Hiperactividade, excitabilidade, discussões

fáceis e agressão física.

Em casos mais graves, podem mesmo surgirsintomas psicóticos, como alucinações (em quepodem ouvir vozes ou terem visões) ou delírios(em que acreditam convictamente em coisas nãoreais).

2. Hipomania (episódio hipomaníaco).Esta é uma forma mais leve de mania, com sin-

tomas semelhantes, mas menos graves e commenos consequências. Nesta situação o doentetem o humor mais elevado do que o habitual,sentindo-se por isso melhor e tornando-se maisprodutivo.

É justamente porque se sente bem duranteeste episódio, que frequentemente abandona asmedicações em curso. Claro que isso vai ter umpreço elevado, que paga com a subida em esca-lada para a mania ou com a descida para adepressão.

3. Depressão (episódio depressivo major).

Nesta situação estão presentes osseguintes sintomas, durante pelo menosduas semanas, tornando muito difícil o nor-mal funcionamento do paciente:

ÖÖ Sentimento de tristeza, pessimismo, choro

fácil, cansaço, perda de interesse.

Existem ainda, pelo menos quatro dosseguintes sintomas:

ÖÖ dificuldade em dormir ou dormir em excessoÖÖ perda do apetite ou comer em demasiaÖÖ dificuldade de concentração ou de tomada

de decisõesÖÖ lentificação ou fadigaÖÖ perda da auto-estima e sentimentos de cul-

pabilidadeÖÖ pensamentos de morte ou de suicídio

As depressões muito graves, também podem dardelírio ou alucinações.

4. Misto (episódio misto).Provavelmente este será o episódio mais de-

sorganizador, uma vez que envolve sintomasquer da mania quer da depressão, a ocorreremem simultâneo, ou alternando com frequência nomesmo dia. Estão assim, em agitação ou exci-tação (como na mania) e também se sentemirritáveis ou deprimidos (como na depressão).

Quais os diferentes tipos de doençabipolar?

As pessoas que padecem desta doença, variamnos diferentes tipos de episódios e na frequênciacom a qual adoecem dos mesmos.Alguns têm igual número de episódios maníacose depressivos. Outros têm mais um tipo do que ooutro.

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Em média os doentes bipolares, têm quatroepisódios durante os primeiros dez anos dedoença.

Os homens são mais propensos a iniciarem adoença com um episódio maníaco, enquanto asmulheres com um episódio depressivo.

Enquanto pode decorrer um intervalo livre deanos, entre os primeiros dois a três episódios demania ou de depressão, sem tratamento, ascrises tornam-se muito mais frequentes.

Esta doença por vezes segue um padrão sazo-nal, com tendência para criseshipomaníacas/maníacas na Primavera e crisesdepressivas no Outono.

Há ainda um pequeno grupo, com ciclos maisfrequentes ou até mesmo contínuos ao longo deum ano.

Os episódios podem durar dias, meses, ou porvezes mesmo anos. Em média, se um episódiohipomaníaco ou maníaco não fôr tratado, podedurar alguns meses. No caso de uma depressãosem tratamento, a sua duração é superior a seismeses.

Alguns destes doentes recuperam completa-mente entre os episódios, e podem manter-semuitos anos sem sintomas. Outros continuam ater, embora com menor intensidade, umadepressão de fundo ou mudanças leves dehumor para cima e para baixo.

São usados para os diferentes tipos dedoença Bipolar, expressões especiais:

ÖÖ Perturbação Bipolar do tipo IO indivíduo tem episódios maníacos ou mis-

tos e na maior parte das vezes, tambémdepressão.

ÖÖ Perturbação Bipolar do tipo IIO indivíduo tem apenas episódios hipomanía-

cos e episódios depressivos.Por vezes, os episódios hipomaníacos são

consi-derados "normais" pelo indivíduo, que sesente satisfeito e alegre. Deste modo só se trataquando em fase depressiva (com os fármacosinerentes), o que pode disparar a elevação dohumor ou pior, a ciclagem rápida.

ÖÖ Perturbação Bipolar de ciclos rápidosO indivíduo tem pelo menos quatro episódios

por ano, em qualquer combinação de hipoma-nia, mania, episódios mistos ou depressivos.Este curso acontece em pelo menos 5 a 15%dos doentes.

ÖÖ Perturbação EsquizoafectivaEste termo é utilizado para descrever situ-

ações que de alguma maneira ultrapassam asdefinições mais simples de doença Bipolar. Emadição à mania ou depressão, há persistentessintomas psicóticos (alucinações e delírio),mesmo quando os sintomas do humor estãosob controlo. Isto contrasta com a perturbaçãoBipolar, em que qualquer sintoma psicótico queocorra durante o episódio depressivo ou manía-co, cessa com a interrupção deste.

Como é tratada a doença Bipolar?Tal como qualquer outra doença médica, o

tratamento desta deve decorrer da correctaadministração de fármacos e da elaboração demudanças no estilo de vida, que reduzam o riscode episódios de alteração do humor.

Fases do tratamento:

ÖÖ Tratamento de fase aguda - tem como objec-

tivo, terminar o actual episódio maníaco, hipo-

maníaco, depressivo ou misto (medicação neu-

roléptica e/ou anti-depressiva).

ÖÖ Tratamento preventivo - tem como objectivo,

a continuidade da medicação a longo termo para

prevenir futuros episódios (medicação estabi-

lizadora do humor).

Componentes do tratamento:

ÖÖ Medicação - trata-se dos fármacos prescritos

nas fases agudas e de prevenção.

ÖÖ Educação - trata-se de uma componente cru-

cial para ajudar os doentes e as famílias a apren-

der qual a melhor maneira de lidar com a

doença, e a prevenir as suas complicações.

ÖÖ Psicoterapia - torna-se útil para muitos

doentes e familiares, para treino de competências

que permitam lidar com os problemas e o stress

gerados por esta doença. Deve ser feito sempre,

em estreita coordenação com a medicação insti-

tuída.

Porto, 6 de Setembro de 2004

Dra. Lia Fernandes*Médica Psiquiatra do HSJ do Porto

Assistente da FMPSecretária da Direcção da ADEB

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Uns dias bem, outros dias mal, às vezes emcima, outras em baixo, assim vivem os doentesbipolares. Com fases alternadas de humor quelevam ao extremo as variâncias de comporta-mento.

Até há pouco tempo conhecido por psicosemaníaco-depressiva, o transtorno afectivo bipo-lar, como é actualmente designado, não apresen-ta obrigatoriamente sintomas de psicose, daí onome desadequado que possuía.

"Existem três tipos de doentes bipolares. O tipoI, em que a pessoa sofre crises de mania oucrises mistas (sintomas de depressão e maniamisturados) e, quase sempre, também tem fasesdepressivas. As crises repetem-se excepto se

fizer o tratamento preventivo, o tipo II em que apessoa tem crises depressivas graves e fasesleves de elevação do humor (hipomania). Ascrises de elevação do humor podem não seridentificadas ou referidas porque o deonte sesente "acima do normal" com muita energia e ale-gria, sem perturbações obvias. Se o tratamentofor só para a depressão, com uma medicaçãoexclusivamente com antidepressivos não se veri-fica uma estabilização, podendo surgir crises fre-quentes e uma viragem do humor", explica ao"Saúde" Delfim Oliveira, presidente daAssociação de Apoio aos Doentes Depressivos eBipolares.

Ora eufóricos, ora deprimidos, os doentes nãose cansam de procurar o equilíbrio entre estasduas fases tão distintas. "Na fase maníaca odoente sente-se com muita energia, cometealguns excessos e julga-se a pessoa mais capaze brilhante do mundo. A auto-estima está emalta", descreve António Sampaio, psiquiatra doHospital Júlio de Matos. No período depressivo ocomportamento é exactamente o oposto. O espe-cialista explica que "há uma perda de humor, depeso e de sono. Tendência para pensamentossuicidas e desva-lorização física e psíquica doindividuo".

O diagnóstico nem sempre é fácil até porquedificilmente o doente assume que algo de erradose está a passar. Delfim Oliveira sentiu osprimeiros sintomas de hipomania entre os 20 eos 22 anos, mas estava longe de imaginar quena ternura dos 40 lhe fosse diagnosticada apatologia Bipolar.

"Na altura estava em África do Sul, na Marinhade Guerra e fiquei de quarentena porque pen-savam que tinha paludismo", conta. "Em 1986passei uma fase em que andava nas nuvens,estive cerca de dois meses e meio sem dormir.

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BEM ME QUER OUMergulhados na mais profunda depressão ou elevados nas mais

o equi

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Em 1989 fui acometido pelos mesmos sintomas,tendo sido internado em estado eufórico e"maníaco" no Hospital Júlio de Matos onde me foidiagnosticada a doença Bipolar", acrescenta opresidente da Associação da Apoio aos DoentesDepressivos e Bipolares.

Viver bem é possívelApós um ano de tratamentos intensivos com

anti-psicóticos e estabilizadores de humor,Delfim Oliveira conseguiu finalmente acalmar ossintomas da doença. "Há 13 anos que não tenhocrises", diz. A terapia foi lenta e dolorosa, mas opior já lá vai.

"Se houver um diagnóstico e medicação ade-quada e a pessoa reconhecer a doença é possí-vel estabilizar e levar uma vida normal. Manter oemprego e as relações afectivas é perfeitamentepossível para as pessoas com o diagnóstico deDoença Bipolar. A medicação à base de anticon-vulcionantes, anti-psicóticos, caso haja sinais depsicose, estabilizadores de humor e antidepres-sivos, com muita cautela, permite a não recaídae o regresso a uma vida equilibrada.

"São pessoas muito criativas e produtivas,qualidades que devem ser aproveitadas profis-sionalmente, se o empregador estiver educado einformado sobre o problema do seu funcionário",avança António Sampaio.

Não há causas conhecidas para a origem dadoença, mas os especialistas acreditam natendência genética e hereditária do transtorno.Os primeiros sintomas surgem, geralmente,entre os 20 e os 30 anos, embora haja casos emque se revelam mais cedo ou até muito maistarde, por volta dos 60.

Uma mão amigaViver em silêncio com a doença é o pior erroque o doente pode cometer. Tapar o sol coma peneira e ignorar os sintomas são meiocaminho para a frustração pessoal, profis-sional e para a solidão. Arrastar o diagnósti-co é retardar os efeitos da terapêutica, porisso a Associação de Apoio aos DoentesDepressivos e Bipolares foi fundada em 5 deJunho de 1991, com o objectivo de informara comunidade, promover a psicoeducação ereabilitação psicossocial junto das pessoascom a doença Unipolar e Bipolar das pes-soas e familiares.Acabar com os preconceitos e o estigma"devolver a auto-estima, estabilidade emo-cional, ganhos de saúde e qualidade de vida"foi desde sempre o objectivo da ADEB"."A Associação nasceu em Portugal pela ini-ciativa de grupo de doentes, familiares e téc-nicos de saúde mental, tal como já existianos Estados Unidos - Depression and Bipolarsupport Alliance, www.dbsalliance.org.Até essa altura a doença quase não era co-nhecida. Os próprios especialistas tinhamdificuldade em esclarecer os seus pacientes.Hoje já temos 2500 associados a nívelnacional.O SOS telefónico, o apoio em ReabilitaçãoPsicossocial, os grupos de ajuda-mútua, assessões psicioeducativas, a informação psi-copedagógica dirigida aos associados, técni-cos de saúde e comunicação social" são algu-mas das iniciativas organizadas pelaAssociação apontadas pelo presidenteDelfim Oliveira.

Cátia [email protected]

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U MAL ME QUERs altas manias, os doentes bipolares procuram algo muito simples:

ilíbrio.

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A Perturbação Bipolar e Unipolar podem afec-tar o desenvolvimento infantil normal, uma vezque as relações das crianças e adolescentes quesofrem destes distúrbios com os membros dafamília são muitas vezes complicadas, à semelhança das suas relações com os pares. Éinevitável que o seu desenvolvimento educa-cional também sofra.

É vital atender às necessidades psicológicas eexigências educacionais especiais destas cri-anças se quisermos minimizar os efeitos dadoença no seu desenvolvimento psicológico.Assim, (e até talvez mais do que nos adultos) oaconselhamento e a te-rapia devem ser alta-mente prioritários na elaboração de planos paraas crianças com Perturbação Bipolar e Unipolar.

Posto isto, surge a necessidade da criação deum gabinete de apoio a crianças e adolescentes,com as seguintes áreas de intervenção:

1. Apoio Psicológico - este apoio pode ser umaimportante parte do tratamento da depressão ouperturbação bipolar. Um bom terapeuta podeajudar na percepção dos sintomas e mudarpadrões de comportamento que agravam adoença.

O apoio psicológico não é apenas um espaçopara falar acerca dos problemas; é também paraencontrar soluções. A terapia poderá envolvertrabalhos de casa, como o registo do humor, ano-tar os pensamentos, ou participar em activi-dades sociais que causaram ansiedade no passa-do. A criança ou adolescente pode ser encoraja-do a reflectir sobre as coisas de diferente formae/ou aprender novas formas de reagir a determi-nadas situações ou pessoas.

Em suma o apoio psicológico pode ajudar:

ÖÖ Na compreensão da doença;ÖÖ Definir e atingir objectivos;ÖÖ Ultrapassar determinados medos e insegu-

ranças;ÖÖ Fazer a distinção entre a personalidade e os

sintomas da doença;

ÖÖ Melhorar a relação com a família e amigos;ÖÖ Planear o futuro;ÖÖ Compreender a importância do tratamento

farmacológico;

2. Apoio às familias - estas têm um papel cru-cial para que o tratamento ocorra da melhorforma devido à sua proximidade com o doente eao seu envolvimento emocional. Quando falamosde crianças e adolescentes este papel tomaainda uma proporção maior devido à dependên-cia dos doentes e porque estes ainda estão acrescer e a constituir a sua personalidade.

Relativamente à família pensamos serimportante intervir no sentido de:

ÖÖ Dar o máximo de informação sobre como

lidar com alguém que possui estas patologias;ÖÖ Explicar a importância dos grupos de auto-

ajuda e de que forma os podem ajudar;ÖÖ Estabelecer sessões de terapia familiar com

vista à resolução de conflitos interpessoais entre

os membros da família.

Alguns dados relativos à doençaBipolar nas crianças e adoles-centesÖÖ A perturbação Bipolar pode ocorrer durantea infância e adolescência.ÖÖ A perturbação Bipolar é parecida, masdifere da hiperactividade ou de outras pertur-bações neuro-psicológicas.ÖÖ Os sintomas da perturbação Bipolar nainfância e adolescência podem ser reduzidoscom o tratamento apropriado.ÖÖ Um diagnóstico precoce pode prevenir oagravamento da doença, faltas escolares, abusode substâncias e actos impulsivos e agressivoscontra os que lhe são mais próximos.

Ana Isabel BastosPsicóloga Clínica da ADEB

APOIO A CRIANÇAS E ADOLESCENTESCOM DISTÚRBIO DE HUMOR

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É com a sensibilidade de Hannah Arendt, quetão bem compreendeu o lugar do professor noprocesso educativo, que início esta breve reflexãosobre um tema tão vasto e complexo.

O ser humano estabelece no seu desenvolvi-mento inúmeras relações de afecto. A afectivi-dade é o estado da consciência que dá à vidapsíquica uma tonalidade de agrado ou desagra-do , de alegria ou tristeza, de prazer ou angústia.Os afectos podem manifestar-se sob a forma deemoções, sentimentos ou estados de ânimo.

Para abordar este tema decidi aplicar umpequeno inquérito a uma amostra de 30 adoles-centes entre os 16 e os 19 anos e os resultadosforam os seguintes:

As respostas dos alunos mostram que narelação professor - aluno há uma dinâmica rela-cional na qual o professor ocupa um lugar quenão é, o daquele que ensina. Estes alunos reco-nhecem a escola como um espaço em que asrelações pessoais são humanizantes e em que orespeito pela sua dignidade enquanto pessoas ébastante elevado. É um indicador de que a esco-la tem uma dinâmica que promove, não apenasum bom local de trabalho, mas um local onde seestabelecem relações de afecto significativasonde se prepara o desenvolvimento integral dos

alunos.É de salientar a receptividade e a aceitação dos

alunos perante o inquérito, pois como elespróprios disseram "nunca tinham pensado muitonaquelas coisas".

O ar circunspecto e sério dos alunos foi ale-gremente interrompido por uma aluna que afir-mou: "Ó professora, se me tivesse perguntadoisto no básico havia de ver o que eu lhe respon-dia, mas agora já temos outra idade, já nãosomos os mesmos ... "

Os outros concordaram e eu sorri pensando:"que lucidez e conhecimento de si próprios..."

Aproveitei para lançar-lhes uma questão quesabia não ser de resposta fácil: "caracterizem oprofessor em quem confiam" .

Coçaram a cabeça, pestanejaram, algunsolharam-me desconfiados, mas relembrei-os queo inquérito era anónimo e ficaram novamenteintrospectivos, mais silenciosos e entregaram-seá escrita.

As respostas que obtive foram muito vari-adas e citam-se as mais frequentes:

ÖÖ "alguém disposto a ouvir e contar histórias

de vida";

ÖÖ "alguém que gosta daquilo que faz e que

consegue motivar o aluno";

ÖÖ "alguém que com o tempo vamos conhecen-

do e com quem podemos contar se precisar-

mos de ajuda";

ÖÖ "alguém que nos trata sem superioridade e se

interessa por aquilo que pensamos e sentimos";

ÖÖ "alguém que sabe brincar, desempenhando o

seu papel de professor e dando-se ao respeito";

ÖÖ "alguém bem disposto que saiba manter um

clima aberto na aula" ,

ÖÖ "alguém que, pela sua maneira de estar,

consegue cativar os alunos e por quem estes

sentem confiança e até carinho...".

A RELAÇÃO PROFESSOR-ALUNOE OS AFECTOS

" A educação é o lugar em que se decide se se amam suficientemente as nossascrianças para não as expulsar do nosso mundo deixando-as entregues a sipróprias."

Hannah Arendt

Eu (emrelação aosprofes-sores)

Acho queme com-preendem

Acho queme tratamcomo pes-soa

Acho queconfiam emmim

Nunca

0%

0%

0%

Às vezes

72%

12%

44%

Bastante

28%

44%

48%

Sempre

0%

44%

8%

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Destas afirmações predominam as caracterís-ticas pessoais e relacionais, sendo os aspectossócio - afectivos aqueles que sobressaem. Para anossa amostra, um professor é, fundamental-mente, uma pessoa que sabe relacionar-se comos outros.

A questão dos afectos tende a ser entendidacomo algo que decorre da partilha, do apoio e dacapacidade de escuta que na escola se deveestimular. Não penso que decorra desta atitudenenhum tipo de demissão educativa. Pelo con-trário, as aprendizagens devem ser geridas emcondições que propiciem aos alunos atribuir umvalor, um sentido ás suas aprendizagens paraque não se sintam estranhos nem incapazes faceaos desafios que o contexto educativo lhes colo-ca.

E, porque as questões fundamentais da edu-cação permanecem intemporais, acabo estabreve reflexão com as palavras de BertrandRussell em 1950 num texto As funções de umprofessor:

"Ninguém pode ser bom professor sem o senti-mento de uma calorosa afeição pelos seusalunos e sem o desejo genuíno de partilhar comeles aquilo, que para si próprio, é um valor."

Helena MarquesProfessora de Filosofia da Escola Secundária Padre António Macedo

Referências Bibliográficas: Hannah Arendt, Bertrand Russell, Quatro TextosExcêntricos, Relógio de Água.

Primeiro encontro de professorescom a doença Unipolar e BipolarA Associação de Apoio aos Doentes Depressivos eBipolares (ADEB) realizou, no dia 3 de Julho às 10horas, na sua sede, o seu primeiro Encontro deProfessores.

De acordo com Delfim Oliveira, presidente daADEB, a realização desta iniciativa deve-se ao factode a docência ser "o maior núcleo profissional como diagnóstico da doença unipolar e bipolar dentroda associação" - cerca de 10 por cento dos sócios-, e tem por objectivo "alertar e ajudar a superarum problema que constitui um dos grandes focosde mal-estar na profissão de docente".

Os temas abordados neste primeiro encontropassaram pelo debate da "Ansiedade na profissãode docente", "Estabilização da doença unipolar ebipolar", e "A escola de hoje…", e tiveram comoprelectores Leonor Queiroz, psiquiatra no HospitalJúlio de Matos e António Avelãs, professor e mem-bro do secretariado da FENPROF.

Em 1981 a Organização Internacional deTrabalho (OIT) considerou a docência como "umaprofissão de risco" físico e mental, apresentandomesmo uma maior percentagem de casospsiquiátricos do que outros profissionais.

Neste sentido, investigações realizadas num cen-tro de saúde mental em Paris apontaram para umamaior percentagem de estados depressivos, ansio-sos, neuróticos e psicóticos nos professores do queem outros sujeitos de condição sócio-culturalequivalente.

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Sabem aqueles silêncios, trespassados porolhares suspeitos, que todos já sentimos?Imaginem passar a vida a senti-los! Quem tomaa iniciativa de assumir que sofre de uma doençacrónica é muitas vezes encarado pelos que o cer-cam no seu dia-a-dia como "coitadinho", porquesofre. Com maior ou menor sensibilidade, emgeral, facilita-se-lhe um pouco a vida e tenta-seminimizar o impacto que o trabalho tem emquem vê as suas capacidades diminuídas.

Porém "outro galo canta na herdade" de quempadece de doenças do foro psiquiátrico!

É um pouco como a diferença entre as criançase os "velhos" - ambos os grupos necessitam deatenção e dão o seu trabalho - mas os primeirossão muito mais facilmente acarinhados e protegi-dos por alguém, enquanto que os idosos tomamlugar no pódio dos "fardos", na maioria das vezes.

No entanto, quanto conhecimento da vida e danossa historia nos podem proporcionar, se lhespermitirmos fazer parte da nossa vida!

Os doentes do foro emocional (já nem vamosfalar de patologias mais graves) são, no seuambiente laboral, diariamente, salvo raras maslouváveis excepções, alvo de ignorância ou mal-dade de co-legas e chefes, sentindo-se muitasvezes num beco sem saída - se ficam em casapõem em risco o seu emprego, se vão trabalhar,por exemplo, em crise de depressão, são "os fra-cos, os que prejudicam: o ritmo da equipa (queàs vezes perde horas a cortar na casaca dealguém ou a navegar na NET por diversão), osque são lentos ou que não se interessam pornada. etc.".

Depois, também há os casos de uma simplesreacção normal de um ser humano a uma incom-patibilidade de opiniões, que todos podemos ter,mas como é conhecida a sua doença "ele/ela sóarranja problemas".

Afinal, quando interessa, toda a gente seesquece de pormenores importantes como: quenão há ninguém que não tenha um dia melhor eoutro pior pelas razões naturais da vida. não háninguém que não "se passe" uma vez ou outra.Como todos os restantes colegas, os doentesdepressivos ou bipolares têm altos e baixos(independentemente da frequência), qualidadese defeitos e "sortes e azares". Têm coisas que osaborrecem e outras que os desmotivam, simples-mente estão emocionalmente mais expostos doque os "normais".

É tão simples de entender se quisermos - paraalém das nossas doenças, somos todoshumanos e falíveis, uns mais do que outros, querno primeiro caso, quer no segundo...

Um mundo umas vezes vazio por dentro, out-ras vezes preenchido por uma falsa felicidade oupor uma agonia que me vai matando devagar.

Procuro de todas as maneiras preencher essevazio, encontrar o meu "eu" porque eu acho quetenho lugar no mundo, mas qual? Onde?

Já me perdi neste misto de vida e tentativa desobreviver.

Há dez anos que vivo no fundo do poço, vim aocimo algumas vezes, achei eu, e voltei sempre aver-lhe o fundo vezes sem conta, até atingir o li-mite.

Procurava na vida uma luz que me guiasse,procurei sempre na morte a paz e a tranquili-dade. Se o céu existe eu estive lá e trouxeram-mede lá para ter que continuar a viver, para viver,crescer e aprender que eu tenho cá o meu lugare qual é ele.

Agora a luz da morte ensinou-me que há luz navida e que eu quero vivê-la, só preciso que meensinem como uma criança.

Rute Bastos

Sócia n.º 1729

QUEM SOUEU

Testemunhos

A JORNA EMOCIONAL ?

CONVOCATÓRIAASSEMBLEIA GERAL ORDINÁRIA

18 de DEZEMBRO de 2004

Convocam-se todos os associados daAssociação de Apoio aos DoentesDepressivos e Bipolares, ADEB, a compare-cer no dia 18 de Dezembro de 2004, às10:00 horas, na Assembleia Geral Ordináriaa realizar no Hospital Júlio de Matos,Parque de Saúde de Lisboa, Avenida doBrasil, nº 53, telefone nº 217 917 000, coma seguinte ordem de traba-lhos:

1. Análise e aprovação do Programa de Acçãopara o Ano 2005;2. Seminário subordinado ao tema: “ESTIGMAE EXCLUSÃO SOCIAL”;3. Almoço Convívio de Natal;4. Exposição de Artes Criativas.

Nos termos so nº 1 do artigo 29º dosEstatutos, a Assembleia Geral Ordináriareunirá à hora marcada na Convocatória seestiverem mais de metade dos associadoscom direito a voto, ou uma hora depois comqualquer número de presentes.

COMPAREÇA e PARTICIPE!

Presidente da Assembleia Geral da ADEBEduardo Moura Valente

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É euforiaMomentos eternos e efémerosÉ liberdade e pura alegriaEmbriaguez de gritos sincerosNa noite de todas as estrelasSem a menor nostalgia

É euforiaImaginar alegria e brilharBrilhar como uma verdadeira estrela

É euforiaAlegria desmedidaNa espera ansiosa d`outra diaSem saudade de nada maisCom vontade de tudo mais

É euforiaPaixão e louca correriaÉ amar intensamente apaixonadoDesenhando sorrisos como maniaOnde o universo é o limite.

Tenho alma ferida e doridaO corpo atrapalha-meSinto-me como uma árvoreapanhada pela fúria das chamasnuma floresta sangrando de sofrimentorepleta de cinzas entranhadas de dorQuem me dera ser uma árvoresem alma nem corPossivelmente uma árvore no Outonosem verde de esperançasem frutos nem floresno intuito de não amargurar ninguém.

SérgioSócio nº 939

MINI-FÓRUM SÓCIO-OCUPACIONAL"RUMO SOLIDÁRIO"

A Direcção da ADEB, indo de encontro àsnecessidades dos associados com diagnósticoUnipolar e Bipolar e, tendo em conta os espaçosdisponíveis e adequados na Sede Nacional,deliberou em reunião de direcção do passado dia9 de Outubro a implantação e desenvolvimentodo Mini Fórum "Rumo Solidário".

A ADEB pretende através deste projecto, darcontinuidade ao trabalho eficaz e de qualidadena área de Reabilitação Psicossocial da pessoaadulta com doença mental, sendo esta área seri-amente carente em Portugal a nível de equipa-mentos e serviços.

O Fórum parece-nos ser essencial comoresposta às necessidades de pessoas com diag-nóstico de doença Unipolar e Bipolar. Pretende-se que todas as acções tenham um efeito te-rapêutico, quer na promoção da reinserçãosócio-profissional, quer num aumento de equi-líbrio psicológico e de auto-estima.

Este projecto destina-se a indivíduos jovens eadultos com o diagnóstico de doença Unipolar eBipolar, que estejam em situação de pós-interna-mento ou pós-crise. O fórum funcionará de 2ª a6ª feira das 14h30m às 18h. Os utentes dofórum poderão participar nas seguintes activi-dades:

a) Treino de Competências Sociais;

b) Teatro Bipolar;

c) Sessões de Movimento e de Dança;

d) Grupo Musical;

e) Actividade Cultural no Exterior;

f) Oficina de Artes e Letras.

Estas actividades procuram promover na pes-soa com doença mental duas áreas do "self" pro-fundamente afectadas pela doença: auto-estimae auto-confiança. O objectivo é o de facilitar aoutente a realização de um projecto de vida emque a futura integração profissional seja umobjectivo realista de alcançar.

A ajuda no período pós-internamento parece-nos ser crucial para o processo de reabilitaçãoque em algumas situações pode ser longo epenoso.

REVISTA BIPOLAR

ALMOÇO / CONVÍVIO

18 de DEZEMBRO de 2004

FICHA DE INSCRIÇÃO

Caro Associado e Amigo,

Na sequência da Assembleia Geral Ordináriae Seminário, realiza-se um Almoço/Convíviode NATAL no “BAR OPÇÃO”.

1. Inscrições até ao dia 16 de Dezembro;2. Esta ficha deve ser preenchida, destacada edevolvida, conjuntamente com um Cheque ouVale Postal, para a Sede da ADEB.

Prato: Carne5 Euros

Peixe

Aos Sócios com as Quotas em dia o almoço é oferecido.

Nº de Sócio(a): ______________________

Nome:__________________________________________________________________________

Tel: _________________________________

Nº de acompanhantes: ___________________

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As doenças psiquiátricas colocam, como sesabe, problemas assistenciais distintos das ou-tras doenças. Tal fica a dever-se não a umanatureza qualitativamente diferente das doençasmentais em relação às outras doenças, mas aofacto de nas doenças psiquiátricas ficar afectadoo modo de pensar e agir da pessoa, de modomuito acentuado nos doentes mais graves.Acresce a esse facto que, em certos casos, o/adoente apesar de estar gravemente perturbadonão se apercebe da sua situação, não toma con-sciência de que está doente e recusa o tratamen-to psiquiátrico. Uma perturbação mental grave,que pode ocorrer numa agudização daesquizofrenia ou deoutra psicose, sem oconveniente tratamen-to psiquiátrico, podeter consequênciasdramáticas para opróprio e para os ou-tros.

O que poderá aconte-cer se o/a doente,gravemente afectado,em ruptura com a rea-lidade no pensar e noagir, não for tratado?Poderá ocorrer umaconduta de perigo parao próprio e para os ou-tros. Poderá agravar-semais e mais umadoença que o trata-mento a tempo e horaspoderia suster, evitan-do uma deterioraçãoda personalidade.

A hospitalizaçãopsiquiátrica é um meio para instituir um trata-mento adequado quando é inviável a assistênciahabitual em regime de consultas, no ambulatórioe na comunidade. Pode ser indispensável, pararepor o equilíbrio psíquico através do tratamentoem regime de internamento por um período de

dias ou semanas (raras vezes meses) na ClínicaHospitalar, permitindo um apoio reforçado deequipas de médicos psiquiatras, enfermeiros eoutros técnicos de saúde mental.

1 - Hospitalização VoluntáriaPara a psiquiatria como para as outras espe-

cialidades médicas e cirúrgicas o ideal será sem-pre proceder a um tratamento com a anuência econcordância do paciente e da família. O doenteapercebe-se que está numa crise grave que não épossível tratar sem ser hospitalizado. Procuraajuda, solicita a hospitalização; ou concorda como internamento hospitalar proposto pelo médico,

na consulta ou naurgência. Será esta asolução melhor, a quese deve proceder sem-pre que possível. Umahesitação em aceitar aproposta de interna-mento, um não inicial,uma recusa até,poderão ser ultrapas-sadas, em muitoscasos, com uma expli-cação paciente e umcontacto positivo daequipe de urgência, demodo a vencer a bar-reira e a teimosia. Odoente pode acabarpor compreender queo internamento ser-lhe-á benéfico, comoem vezes anteriores,permitindo o repouso,o sono, a acalmia, aprotecção, a vigilância

médica e de enfermagem, enfim, a avaliação e ocontrole da doença num prazo relativamentecurto.

Mas numa percentagem significativa, anecessária hospitalização psiquiátrica não é pos-sível com o consentimento do/a doente. A recusa

Lei de Saúde Mental

HOSPITALIZAÇÃO PSIQUIÁTRICAE INTERNAMENTO COMPULSIVO

Guia sobre o uso da Lei 36/98, de Saúde Mental

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ao tratamento é absoluta e sem solução, numasituação de gravidade e riscos. Terá de se pro-ceder, então, ao internamento compulsivo, paraassegurar o tratamento de que o doente tantocarece, sob pena de se criarem situações de peri-go.

2 - Internamento Compulsivo(ou Hospitalização Involuntária)

Diz a lei 36/98, de 24 de Junho, que se odoente mental grave, por força da doença criaruma "situação de perigo para bens jurídicos, derelevante valor, próprios ou alheios, de naturezapessoal ou patrimonial e recuse submeter-se aonecessário tratamento médico pode ser interna-do em estabele-cimento adequado"; e, ainda,caso "não possua o discernimento para avaliar osentido e alcance do consentimento, quando aausência do tratamento deteriore de forma acen-tuada o seu estado" (artº 12).

Dado haver uma limitação à liberdade dopróprio de decidir sobre os actos médicos ehavendo uma limitação da sua liberdade dedeslocação, por força da hospitalização compul-siva ou involuntária, no nosso sistema jurídico sócom a autorização do Tribunal esse procedimen-to pode ser legitimado. Mas, é bom que se diga,não deixa de ser um acto médico, precedido deuma avaliação clínica, para tratamento de umdoente, não uma medida de segurança, menosainda algo que se pareça com uma acto derepressão ou de polícia.

A intervenção judicial não torna a hospitaliza-ção compulsiva uma medida com finalidadesdiferentes da hospitalização voluntária. A inter-venção judicial tem uma função de garantia elegitimação das restrições acima referidas,visando o seu enquadramento legal, o seu con-trole e adequação. Sublinhe-se: o doente nãopassa a ser arguido num processo, antes, porqueprivado temporariamente do seu querer e poder,para ser tratado da doença que não reconhece,tem de ficar tutelado e protegido pela lei.

2.1 Procedimento de UrgênciaQuando há fortes razões para um internamen-

to compulsivo, coloca-se a necessidade de umaassistência médico-hospitalar rápida, para quesejam sustidos riscos iminentes, para os bensreferidos na primeira parte do artº 12. A lei per-mite o procedimento de urgência (Secção IV)que, na prática, é utilizado para a grande maio-ria dos internamentos compulsivos.

Quem determina a condução do doente? Se severificarem os pressupostos acima referidos, asautoridades de polícia ou de saúde pública, ofi-ciosamente ou a requerimento, podem determi-

nar, através de mandado, que o doente seja con-duzido ao serviço de urgência psiquiátrica maispróximo do local onde se encontra a pessoa (artº23).

Segundo os termos da lei o mandado écumprido pelas forças policiais, com o acompan-hamento sempre que possível dos serviços doestabelecimento referido no artigo seguinte.Infelizmente os serviços de psiquiatria e saúdemental, por carência de meios humanos e porprática inexistente, têm estado ausentes desteprocedimento, deixando às autoridades de polí-cia, em exclusivo, esta tarefa, que fica assimmais facilmente conotada como medida de segu-rança.

O doente é avaliado no serviço de urgênciapsiquiátrica, podendo ser confirmada pelo médi-co especialista a necessidade ou não do interna-mento compulsivo (artº 25). Caso o doente sejainternado, sem o seu consentimento, por decisãodo médico de urgência, o tribunal judicial seráimediatamente informado, devendo pronunciar--se no prazo máximo de 48 horas para decidir damanutenção ou não do internamento (artº 26).Depois seguir-se-ão os procedimentos legaispara a manutenção e controle do internamento,com avaliações clínico-psiquiátricas de doismédicos ao 5º dia, para decisão final, aos 2meses, e na alta, dada pelo director clínico dohospital, sendo sempre informado o tribunal.

Em qualquer momento o doente poderáaceitar a hospitalização voluntária, dispondo-sea um consentimento do internamento e trata-mento que lhe é proposto, o que faz cessar o"internamento compulsivo" (artº 8- 1).

2.2 Procedimento gerais do interna-mento compulsivo

É da maior conveniência que as pessoas inter-essadas em requerer o internamento compulsi-vo, em particular os familiares do doente, sedebrucem sobre a lei, nomeadamente sobre osartigos 12º (já acima referido), 13º e 14º.

No artigo 13º estabelece-se que tem legitimi-dade para requerer o internamento compulsivo orepresentante legal do doente, qualquer pessoacom legitimidade para requerer a sua interdição,as autoridades de saúde pública (delegado desaúde) e o Ministério Público.

Caberá também a um médico que constateuma situação clínica que se enquadre dentro danecessidade de um eventual procedimento deinternamento compulsivo, que o comunique àautoridade de saúde pública.

No artigo 14º estabelece-se que o requerimen-to escrito deve ser dirigido ao tribunal compe-tente, devendo conter a descrição dos factos e a

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pretensão do requerente, levando em anexo,sempre que possível, relatórios clínico-psiquiátri-cos e psicossociais de interesse para o juiz.

A decisão final para o internamento compulsi-vo, sem o procedimento de urgência explanadoacima, leva algumas semanas, sendo precedidopor uma avaliação por dois psiquiatras (artº15º),seguindo-se uma "sessão conjunta" (artº 19º) queprepara a decisão final de internamento compul-sivo ordinário, não urgente (artº 20).

Não sendo uma situação da máxima urgênciacompreende-se que a tónica seja posta na cuida-dosa avaliação com partilha de informação dodoente, dos familiares, dos médicos e dos ma-gistrados, antes da hospitalização compulsiva. Oideal seria que o doente fosse persuadido aaceitar o tratamento e internamento voluntáriosou, então, o tratamento compulsivo ambulatório(artº33), ficando a hospitalização para caso hajaincumprimento do tratamento ambulatório.

3 - ConclusãoA hospitalização ou internamento psiquiátrico

é um meio para tratamento de doentes em esta-do de maior gravidade e que dificilmente sepoderiam compensar sem o internamento. Masse houver um bom acompanhamento pelaequipa de saúde mental, se o diagnóstico for pre-coce e a intervenção terapêutica atempada, se sefizer um bom seguimento após a alta, se afamília apoiar e o doente compreender a neces-sidade do tratamento psiquiátrico, poderá orecurso à hospitalização ser diminuído ou evita-do.

Se houver lugar para uma hospitalização nãode-verá ser retardada. Será preferível que amesma seja proposta numa consulta normal enão numa urgência, indiciadora de uma maiorgravidade, com sofrimentos, perdas e riscos. Nasituação extrema fica o internamento compulsi-vo, sinal de um maior descontrole, de uma rup-tura com o tratamento, de sérios riscos para opróprio e os outros.

A melhoria na assistência médica, apoio, trata-mento e reabilitação psicossocial dos doentescom psicoses graves, são factores para que ointernamento compulsivo seja uma medidaexcepcional, a recorrer com menor frequência,dado o melindre e complexidade a todos osníveis que envolve.

Dr. José Manuel Jara

Médico Psiquiatra

Presidente do Conselho Cientifico e Pedagógico da ADEB

Actividades efectuadasna Delegação daRegião Norte da ADEB

A Delegação da Região Norte da Associação deDoentes Depressivos e Bipolares procura pro-mover vários eventos para a promoção dessasmesmas doenças.

No dia 3 de Julho, foi-nos possível visitar oParque Biológico de Vila Nova de Gaia onde foiorganizada uma reunião que incidiu no tema“Causas e consequências das perturbações deHumor”, em seguida foi realizado um almoçoconvívio nas instalações do restaurante doParque Biológico.

Posteriormente, no dia 13 de Novembro, nasinstalações da Glaxo SmithKlein foi realizado umColóquio, tendo por tema a “Importância dotratamento psicoeducacional nas doençasUnipolares e Bipolares”, que se iniciou com oespectáculo “Fique são - Histórias para ficarbem” apresentado pelo grupo de teatro“Palavraicto”.

Em média participaram nestes eventos 75 pes-soas. Desde Janeiro de 2004 que a associaçãotem tido grande afluxo de doentes, aos quais temsido prestado um grande apoio tendo em vistaem vista informar, educar e consciencializar aspessoas com essas patologias

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Ninguém vê o que vês em mim

Só tu sentes o sentido do que sinto

Da minh`alma deserta fizeste jardim

Se disser que foste passagem, minto

Foste o rio onde renasci ao naufragar

Foste o meu horizonte renovado

Foste o timbre do fado

Que, ainda hoje, canto a chorar

E se imaginar que sou feliz

Se ousar pensar em sorrir

Dou comigo, baixinho, a repetir

- Diz que me amas! Diz! Diz!

Espalhas por mim, beijos

Como quem sopra flores d`algodão

Mimas-me, transformas em desejos

Esta fome de carinho, esta solidão

E se meus sonhos beijas

(Lábios escaldantes!)

Depois, ficar só é como se estejas

E, num abraço cheio de luar,

Vibro contigo, mais do que antes,

Sinto ainda o teu beijar…

Cristina Dinis

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No passado dia 13 de Fevereiro realizou-se aapresentação subordinada ao tema "O Papel dopsicólogo na Associação de Apoio aos DoentesDepressivos e Bipolares no workshop"Informação e Percepção de Resultados".

Este workshop esteve integrado no 7ºSimposium do Serviço de Enfermagem dosHospitais da Universidade de Coimbra.

No passado dia 19 de Maio realizou-se umaSessão de Esclarecimento na Escola BásicaIntegrada da Torreira, subordinada ao tema"Escala de Humor - Como detectar os sintomasnas crianças e adolescentes".

Desde Outubro de 2003 que a DelegaçãoCentro lançou o desafio para a criação de umnúcleo em Castelo Branco.

Dia 26 de Junho foi-nos cedida uma sala dereuniões pela Santa Casa da Misericórdia deCastelo Branco. O núcleo será orientado pelasassociadas n.º 1956 D. Maria MargaridaCaetano Soares e a n.º 334 Sra. Dª. MariaManuela Carriço. O acompanhamento será dadopela Dra. Teresa Barbosa.

CIC 2004Realizou-se, mais uma vez, de 3 a 11 de Julho,

a Feira Comercial e Industrial de Coimbra - CIC2004. Fomos convidados a estar presentes portermos sido considerados uma Associação deprestígio.

No passado dia 19 de Junho teve lugar naDelegação Centro mais uma SessãoPsicopedagógica subordinada ao tema "ADepressão” que contou com a intervenção daDra. Maria do Carmo Cruz - Directora doHospital de Dia.

Actividades efectuadas naDelegação daRegião Centro da ADEB

LIVROS PARA VENDA

Existe na Sede e Delegações ADEB, para venda,uma selecção de livros, sobre Saúde Mental,direccionados para as doenças Unipolar eBipolar.

"Depressões", de Peter Treppner;"Uma Mente Inquieta", de Kay Redfield Jamison;"A Psicologia da Depressão", de Lewis Wolpert;"As Lógicas da Depressão", de Daniel Widlöcher;"101 Respostas sobre a Depressão", de Drª ClaudeNovikoff e Dr. Jean Pierre Olié;"Razão Reencontrada", De Dr. José Manuel Jara;"Ajuda-te pela Psiquiatria", de Frank S. Caprio;"A Manta", de António Sampaio e Nazaré Tojal;"Pétalas Caídas", vários autores;"Era uma vez o Stress e a Depressão", de vários autores;"Perturbação Bipolar", de Francis Mark Mondimore;"Esquizofrenia", de Pedro Afonso;"Mais Amor Menos Doença", de António Coimbra deMatos;"A Depressão: Como Lidar Com Uma Doença Do NossoTempo", de Juan Antonio Vallejo-Nágera.

INFORMAÇÃO PSICOPEDAGÓGICA

A ADEB divulga e distribui guias e desdobráveisciêntíficos e pedagógicos. Esta valência tem comoobjectivo informar a comunidade sobre os váriosaspectos que envolvem a doença Unipolar e Bipolar.

DOCUMENTAÇÃOPSICOPEDAGÓGICA

GUIASG1 ESTATUTOSG2 0 que é a ADEB?G3 LítioG4 ValproatoG5 CarbamazepinaG6 FamíliaG7 EstigmaG8 Doença Obssessivo-CompulsivaG9 Manual da DepressãoG10 A depressão é uma doença que se trataG11 Depressão MascaradaG12 PsicooncologiaG13 Manual de Auto-AjudaG14 ElectroconvulsivoterapiaG15 Doença Bipolar- 0 quê? Quando? Como?

DESDOBRÁVEISD1 DepressãoD2 Medicamentos AntidepressivosD3 Doença BipolarD4 Tratamento pelo LítioD5 Lidar com uma crise de elevação do humorD6 Estabilização da doença BipolarD7 Gravidez e doença afectivaD8 SÓS EsquizofreniaD9 Perturbação Obssessivo-CompulsivaD10 Pânico e Comportamentos fóbicosD11 Prevenir o SuicídioD12 Electroconvulsivoterapia

Mini prospecto LítioVÍDEOS SOBRE A DEPRESSÃOCASSETES DE RELAXAMENTOREVISTA BIPOLAR

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Dados AssociativosDe Janeiro de 2004 a Setembro de2004

A ADEB dá a conhecer, aos associados, osdados associativos de Janeiro a Setembro de2004, registando-se 224 novas filiações.Reunimos assim 2102 sócios, em 30 deSetembro de 2004.

Chamamos a atenção que, tanto na Sede comonas Delegações, entre Abril e Maio de 2004, ocor-reu um acréscimo de novas inscrições. É curiosoobservar que este aumento coincide com amudança de estação, período em que as pessoasque sofrem de distúrbios do humor apresentammaiores oscilações no seu estado de ânimo.

Evolução da adesão de novossócios na ADEBSede Nacional

Delegação da Região Norte

Delegação da Região Centro

Apoio PsicossocialDe Janeiro de 2004 a Setembro de 2004Sede Nacional321 Atendimentos em Apoio Psicossocial

Foram acolhidas e acompanhadas na Sede da ADEB119 pessoas com a doença Unipolar. Com a doençaBipolar procuraram-nos 168 utentes. Com outraspatologias cerca de 30 e 4 pessoas sem diagnóstico.Salientamos que, no ano em curso, registou-se ummaior afluxo de pessoas com a doença Bipolar compa-rativamente com a doença Unipolar. Este crescimentopode ser explicado pela campanha feita pela ADEBcom o apoio do Laboratório Lilly Farma.

Delegação da Região Norte da ADEB81 Atendimentos em Apoio Psicossocial

Foram acolhidas e acompanhadas na Delegação daRegião Norte da ADEB 18 pessoas com a doençaUnipolar. Com a doença Bipolar procuraram-nos 29utentes e com outra doença cerca de 34.

Confirma-se a tendência na Delegação da RegiãoNorte para a existência de mais pessoas com a doençaBipolar a procurar-nos ultrapassando o número deutentes com a doença Unipolar.

Delegação da Região Centro da ADEB132 Atendimentos em Apoio Psicossocial

Foram acolhidas e acompanhadas na Delegação daRegião Centro da ADEB 40 pessoas com a doençaUnipolar. Com a doença Bipolar procuraram-nos 70utentes e com outra doença cerca de 22.

144 novossócios

40 novossócios

45 novossócios

DADOS ESTATÍSTICOS

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... a doença bipolar é muitas vezes

confundida com outra perturbação

do humor, a depressão.

Informe-se sobre as diferenças.

RITA FERRO RODRIGUES

Jornalista

... CONHECER A DOENÇA BIPOLAR

É O PRIMEIRO PASSO PARA DOENTES E

FAMIL IARES ACEITAREM A DOENÇA.

HOJE, COM A AJUDA DOS MÉDICOS, UM

TRATAMENTO CORRECTO, MAIS INFORMAÇÃO

E APOIO DE FAMIL IARES E AMIGOS, É

POSSÍVEL MELHORAR E MUITO A QUALIDADE

DE VIDA DO DOENTE BIPOLAR.

SAIBA MAIS SOBRE ES TA DOENÇA.

NÃO SEJA INDIFERENTE.

MARCELO REBELO DE SOUSA

Professor Universitário

...ALGUMAS DAS PESSOAS MAIS INTELIGENTES

E TALENTOSAS QUE CONHEÇO SOFREM DE

DOENÇA BIPOLAR.

SEM ELAS O MUNDO TERIA MENOS COR.

DAVID FERREIRA

Editor Discográfico

... indivíduos com doença bipolar. Grandes nomes

da cultura, da ciência e da política sofreram

e sofrem de doença bipolar.

não volte as costas a estes indivíduos.

ajude-os a realizar todo o seu potêncial.

FILIPE LA FÉRIA

Encenador e Empresário

... A DOENÇA BIPOLAR É UMA REALIDADE QUE

DEVEMOS

CONHECER PARA MELHOR

ASSEGURAR UM ACOMPANHAMENTO EFICAZ

DOS QUE

DELA PADECEM. INFORME-SE.

saiba mais sobre a doença bipolar.

JÚLIO MAGALHÃES

Jornalista

...POR ATINGIR HOMENS E MULHERES DE

TODAS AS IDADES - CERCA DE 1% DA

POPULAÇÃO

- É PRECISO APRENDER MAIS SOBRE A DOENÇA

BIPOLAR. SÓ ASSIM SE PODERÁ EVITAR A

DESCRIMINAÇÃO E AJUDAR OS DOENTES.

A DOENÇA BIPOLAR CARACTERIZA-SE POR

ALTERAÇÕES NO HUMOR, COM IMPACTOS

VARIADOS NO PENSAMENTO, COMPORTAMENTO

E EMOÇÕES DAS PESSOAS QUE DELA SOFREM.

MAS, UMA VEZ DIAGNOSTICADA, PODEM PRE-

VENIR-SE AS CRISES, ATRAVÉS DE ACOMPA-

NHAMENTO

ESPECIALIZADO E TRATAMENTO ADEQUADO.

NÃO PODEMOS IGNORAR A DOENÇA BIPOLAR.

AJUDAR ESTAS PESSOAS É UM DEVER DE

CIDADÃO.

FRANCISCO LOUÇÃ

Economista

CAMPANHA DOENÇA BIPOLAR

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A ARTE DEANTÓNIO AZEVEDO

BIOGRAFIA BREVEA arte de fotografar despertou em AntónioAzevedo aos vinte e sete anos. Começou por fre-quentar cursos da especialidade, a consultarlivros de fotógrafos consagrados, assim comoconceituadas revistas fotográficas de diversasprocedências. Levou todo este conhecimentoadquirido à prática, no santuário obscuro do seuimprovisado laboratório.

António Azevedo vem expondo com regulari-dade sendo esta a sua 12a mostra em locaisprestigiados. É a segunda vez que expõe nesteespaço, a primeira decorreu em 1991 quando dainauguração do Fórum. Em "no cais do olhar"subordina todos os trabalhos a um único tema,os olhos vistos na perspectiva de janelas da vida.Numa empatia policromática e sem usar qual-quer sistema computadorizado para tratamentode imagem, criou e manipulou setenta e duasmaquetes, utilizando recortes, colagens e mon-tagens, como de um puzzie se tratasse. Depoisreproduziu-as em negativos de grande formato,que deram vida a um" no cais do olhar" ao qualnos sentimos impelidos a "atracar".

Paulo Furtado

Elenco Directivo

A.D.E.B.

Triénio 2004 / 2006

Assembleia-Geral

Presidente

Eduardo Moura Valente

Vice - Presidente

António Sampaio Correia

Secretários:

Ana Cristina Neves Dinis

Paula Cristina Costa

Margarida Maria Feliciano

Direcção

Presidente

Delfim Augusto de Oliveira

Vice-Presidentes:

Elizabete Teresa Saldanha

Maria Leonor Queiroz

Tesoureiro

Pedro Manuel Ortiz de Montelhano

Secretários:

Maria Luisa Pregueiro

Maria da Conceição Pina Teixeira

Lia Paula Fernandes

António José Vieira

Rui Jorge R. Gomes

Conselho Fiscal

Presidente

Carlos Alberto Malheiro

Vice - Presidente

Maria Amália Pinto

Vogais

Ana Maria Conceição Martins

Sérgio Branco Paixão

Manuela Ermelinda Cipriano

Cristina Maia Caetano nasceuem Luanda (Angola) em 1968 eviveu até finais de 1975 emMoçambique na actual Maputo. Jáem Portugal, em 1994 licencio-seem Planeamento Regional e

Urbano pela Universidade de Aveiro -Departamento de Ambiente e Ordenamento doTerritório.

LivroCONHECER O TEATRO EM MOÇAMBIQUE

BIOGRAFIA BREVE

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PATROCÍNIO