Revista Capital 24

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Nº 24 . Ano 02 Publicação mensal da S.A. Media Holding . Dezembro de 2009 . 60 Mt . 350 Kwz . 25 Zar . 4 USD . 3,5 EUR NEGÓCIOS Brasil não exporta apenas novelas para o País MARCAS HCB no topo do Ranking das Melhores Marcas RANKING KPMG Hidrocarbonetos eleita melhor empresa Ilegais “roem” milhões da Águas de Moçambique Illegal consumers are “chewing” millions from Águas de Moçambique

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24

. Ano

02

Publicação mensal da S.A. Media Holding . Dezembro de 2009 . 60 Mt . 350 Kwz . 25 Zar . 4 USD . 3,5 EUR

NEGÓCIOSBrasil não exporta apenas novelas para o País

MARCASHCB no topo do Rankingdas Melhores Marcas

RANKING KPMGHidrocarbonetos eleita melhor empresa

Ilegais “roem” milhõesda Águas de Moçambique

Illegal consumers are “chewing” millions from Águas de Moçambique

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OPINÃO

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Editorial

Ficha Técnica

Ricardo [email protected]

Propriedade e Edição: Southern Africa Media Holding, Lda., Capital Magazine, Rua da Sé, 114 – 3.º andar, 311 / 312 – Telefone/Fax +258 21 329337 – Tel. +258 21 329 338 – [email protected] – Director Geral: Ricardo Botas – [email protected] – Directora Editorial: Helga Neida Nunes – [email protected] – Redacção: Arsénia Sitoe; Sérgio Mabombo – [email protected] Secretariado Administrativo: Márcia Cruz – [email protected] ; Cooperação: CTA; Ernst & Young; Ferreira Rocha e Associados; PriceWaterHouseCoopers, ISCIM – Colaboradores: Ednilson Jorge; Fátima Mimbire; Leonardo Júnior; Luis Muianga, Sara L. Grosso – Colunistas: António Batel Anjo, Benjamin Bene, E. Vasques; Edgar Baloi; Federico Vignati; Fernando Ferreira; Gonçalo Marques (Ferreira Rocha & Associados); Hermes Sueia; José V. Claro; Levi Muthemba; Manuel Relvas (Ernst & Young); Maria Uamba; Mário Henriques; Nadim Cassamo (ISCIM/IPCI); Nelson Saúte; Ragendra de Sousa, Rolando Wane; Rui Batista; Samuel Zita – Fotografia: Joca Faria (Capa), Luis Muianga; Sara Diva – Ilustrações: SA Media Holding; Marta Batista; Pinto Zulu; Raimundo Macaringue; Rui Batista; Vasco B. – Design e Grafismo: SA Media Holding – Departamento Comercial: Neusa Simbine – [email protected]; Márcia Naene – [email protected] – Impressão: Magic Print Pty, Jhb – Distribuição: Ana Cláudia Machava - [email protected]; Nito Machaiana – [email protected] ; SA Media Holding; Mabuko, Lda. – Registo: n.º 046/GABINFO-DEC/2007 - Tiragem: 7.500 exemplares. Os artigos assinados reflectem a opinião dos autores e não necessariamente da revista. Toda a transcrição ou reprodução, parcial ou total, é autorizada desde que citada a fonte.

2009: Um ano “transparente”

O ser humano tem uma preocupação constante com o tempo. De tal maneira que fomos mesmo ao ponto de criar um ditado onde se alia o tempo ao vil metal, outra das preo-cupações da humanidade. Tempo é dinheiro quer significar exactamente que o tempo comanda a vida, corre inexorável rumo à foz da existência e o que se perde pelo caminho, jamais lograremos recuperá-lo. Em termos económicos o tempo é também utilizado como padrão e os bons negócios, normalmente, são aqueles que se concretizam em tempo útil, enquanto há outros que não passam de uma pura perda de tempo.

2009 foi um ano difícil a nível internacional e as repercussões em Moçambique também se fizeram sentir. Se recuarmos um ano, a finais de 2008, constataremos que alguns dos factos que se perspectivavam para 2009 começavam nessa altura. A crise económica de 2009 iniciou-se, por exemplo, em 2008 com os escândalos financeiros americanos e, tam-bém a eleição de Barack Obama como presidente dos Estados Unidos da América do Norte ocorreu em 2008, embora aquele só tomasse posse no ano seguinte. Mas a prestação do primeiro presidente de origem negra na grande nação americana não foi ainda suficiente-mente avaliada em 2009, terá de esperar-se por 2010 para que as opiniões se definam. Há anos assim, vivem do que se passou no anterior e perspectivam o que irá ocorrer no próxi-mo. São anos transparentes, vislumbra-se o passado e o futuro através deles, não deixam grandes marcas na história do universo, mas contam como qualquer outro.

Em Moçambique o ano em causa deixou alguns sinais. O país viveu um período eleitoral que, sem ser tumultuoso, foi agitado, e o início do ano parecia indiciar nítida melhoria nos índices de sustentabilidade da nação e a respectiva consolidação da imagem internacional.

À medida que o tempo passava, porém, e mau grado todos os passos positivos que se verifi-caram, as expectativas não foram totalmente cumpridas e os avanços pecaram por tímidos. A última machadada veio do relatório anual da Transparência Internacional que situa o nosso país na 130ª posição, em 180 possíveis no ranking sobre corrupção.

Há mais trabalho de casa para fazer e o combate a este verdadeiro flagelo da sociedade e, consequentemente, da economia não passa apenas pela prisão de duas ou três figuras de primeira linha. A educação começa na escola e quando aí se sabe que, nalguns casos, os alunos têm de pagar uma vaga para estudar, algo necessita correcção.

E por cá ficam os nossos votos para que 2010 seja um ano menos transparente em aconte-cimentos de envergadura mas mais transparente em métodos de luta pela dignificação da pessoa humana e pelo reforço da economia moçambicana.

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Sumário

15REPORtagEm

9 EmPRESaS

22NEgóCIOS

Ilegais “roem” milhões dos cofres da Águas de Moçambique

13 milhões de m3 de água “escorrem” todos os meses para fora dos depósitos das AdM, sem que a contrapartida financeira entre nos cofres da empresa. Sérgio Mabombo foi à procura da água desaparecida e Luís Muianga fotografou.

HCB no topo das MMM

Arsénia Shitoye e Luís Muianga foram à cerimónia de divulgação das Melhores Marcas de Moçambique e confirmaram que os três primeiros lugares foram para Hidroeléctrica de Cahora Bassa, Nokia e OKI, respectivamente.

20 EmPRESaSA alimentar o crescimento de Moçambique

Emprega 2.200 pessoas, investiu 35 milhões de dólares e está no Chokwé desde 2005. A Moçfer Indústrias Alimen-tares e a Companhia do Vandúzi reivindicam um papel revitalizador do tecido agrícola moçambicano

Moçambique e Angola fortalecem cooperação

Uma missão empresarial organizada pela CTA deslocou-se a Angola em finais de Novembro para reforço e ampliação dos laços de coopera-ção com o Conselho das Associações Económicas de Angola. Os cerca de 50 empresários moçambicanos mantiveram contactos com os seus homólogos de Angola e apresentaram-lhes as diversas perspectivas de investimento em Moçambique.

24maRCaS

Brasil não exporta apenas novelas para Moçambique O maior investimento brasileiro em África é o projecto de Moa-tize em Moçambique, cujo orçamento se situa num bilião e meio de dólares. Entretanto, o projecto de instalação duma unidade de produção de antiretrovirais arrancará ainda este ano de 2009.

É a presença brasileira em África a afirmar-se.

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32fISCalIdadE

26RECuRSOS humaNOS

A organização na Era do Conhecimento

Sabia que o processo de identificação de talentos afigura-se funda-mental para que a organização possa realinhar as suas estruturas de pessoal?

Não! Então a psicóloga Maria Uamba explica do que se trata e como se passa.

A isenção do IVA nas operações de Leasing

O Leasing, como operação financeira, está isento de IVA. Pelo me-nos é o que se encontra previsto no artigo 9º do Código do IVA e Leila Madeira, consultora da PricewaterhouseCoopers, desenvolve o tema e apresenta sugestões para aperfeiçoar o sistema.

42 EStIlOS dE vIdaCinema, uma exposição de fotografia, as diferenças entre Roter-dão e Maputo, a vida do grande baterista Max Roach e um cartaz, grande como um prédio de 10 andares e que dá pontapés ainda maiores na gramática portuguesa, eis os Estilos, em grande estilo, onde ainda se fala de moda e da casa do Leão.

36ERNSt & yOuNg

O sistema de contabilidade para o sector empresarial em Moçambique

Após um período de interegno em matérias de contabilidade, a Ernst & Young volta, através do Audit Partner Manuel Relvas, às matérias relacionadas com as Normas Internacionais do relato Financeiro.

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BOlSa dE valORES

Capitoon

Coisas que se dizem

EM ALTA

MOÇAMBIQUE. A economia moçambicana conseguiu resistir de forma positiva aos efeitos da crise financeira internacional. Os índices apontam para um crescimento real anual do PIB na ordem dos 6.5 % até ao final de 2009. Contribuiu para este facto o crescimento dos sectores da Agricul-tura (9.6%), Hotéis e Restaurantes (8.6%), Cons-trução (8%), Administração Pública (13.2%) e os Serviços Financeiros (18%).

RESERVAS. Apesar de ter registado muitas bai-xas, a economia moçambicana acumulou através do Banco de Moçambique, Reservas Internacionais Líquidas, ao longo dos primeiros nove meses de 2009, no valor de 211.2 milhões de dólares, tendo o seu saldo totalizado 1.854,4 milhões em Setembro, o correspondente a cerca de sete meses de cobertura de importações totais de bens e serviços não facto-riais, excluindo os dos grandes projectos.

JOAQUIM CHISSANO. O ex-chefe de Estado moçambicano foi nomeado conselheiro da Funda-ção para o Desenvolvimento Global Bill & Melinda Gates, do multibilionário norte-americano, Bill Ga-tes. A escolha de Chissano baseou-se sobretudo no reconhecimento da sua liderança política e ganhos que conferiu ao seu povo e à comunidade internacio-nal, o que lhe valeu diversos prémios, destacando-se o que lhe foi outorgado pela Fundação Mo Ibrahim.

SOMA E SEGUE

BANCO TERRA. O Banco Terra, em colaboração com o Ministério dos Transportes e Comunicações lançou um projecto que incentiva o uso de meios de transporte alternativos tais como bicicletas e moto-cicletas em Moçambique. A medida visa resolver os problemas de infraestruturas, melhorar a circulação dos cidadãos e minimizar as despesas de transporte em Moçambique. A duração do projecto é de qua-tro anos e o Banco Terra é o mediador financeiro, facilitando a compra de bicicletas e motocicletas eléctricas ou normais para empregados públicos. EM BAIXA

ESTRADAS. Um dos factores da má qualidade das estradas em Moçambique é a falta de fiscali-zação por parte do Ministério das Obras Públicas e Habitação (MOPH). Esta entidade reconhece a culpa e reitera que não adianta apontar o dedo aos empreiteiros se a fiscalização do MOPH não ava-lia a qualidade das obras. Apenas 20% do total de cerca 30 mil quilómetros de estradas nacionais se encontram asfaltadas.

EUROPA E ÁSIA CENTRAL. O número de po-bres na Europa e Ásia Central poderá aumentar em mais de dez milhões de pessoas entre este ano e o próximo devido à crise mundial. No total, Europa e Ásia Central deverão ter 153,6 milhões de pobres ou pessoas que estão a poucos passos de cair na po-breza, contra os 119,3 milhões que estavam previs-tos antes do início da crise, em 2008.

Ecologia não rima com economia?

“O grande problema é que as alternativas propostas – energia solar e eóli-ca, biocombustíveis, hidrogéneo, mais centrais nucleares – são mais caras do que os combustíveis fósseis”,Steven Hayward e Robert Stavins, in The Wall Street Journal

De armas em riste!

“Se o homem é capaz de caminhar na Lua, somos capazes de nos unirmos para derrotar o nosso inimigo comum, o dióxido de carbono”,Mohamed Masheed, presidente das Maldivas, na primeira reunião suba-quática de um Conselho de Ministros, convocada para salvar o arquipé-lago da submersão

Em desespero de causa

“Se os cientistas não conseguirem salvar as Maldivas, também não serão capazes de salvar o mundo.”,Idem

‘Grandes vacas’...

“Umas boas costoletas de vitela podem ser uma armadilha ambiental. A produção de carne é o segundo maior emissor mundial de gases com efeito de estufa, logo atrás da produção de energia. Provêm desse sector 18 por cento daqueles gases, ou seja, mais do que todos os transportes planetários reunidos (14 por cento)!”,Weronica Zarachovicz, in Télerama

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A necessidade de aprofundar as relações de negócios já existentes entre os empre-sários moçambicanos e angolanos, foi o principal objectivo da realização de uma missão empresarial a Luanda, organizada pela CTA entre os dias 16 e 20 de Novem-bro último e que contou com a participação de perto de 50 empresários.

A referida missão tinha ainda por objec-tivos o reforço e a ampliação dos laços de cooperação entre a CTA e o Conselho das Associações Económicas de Angola nas vertentes que contribuem para o desenvol-vimento do ambiente de negócios, além de se procurar estimular a cooperação em-presarial, atraindo investimentos angola-nos para Moçambique e vice-versa.

É assim que, durante a missão, a dele-gação moçambicana sensibilizou os em-presários angolanos a privilegiarem a co-operação nas áreas de Construção Civil, energia, tecnologia de informação, banca, turismo, consultoria, estimulando as em-presas angolanas a estabelecerem parce-rias com os empresários moçambicanos.

Paralelamente, manifestaram o interesse

do sector privado moçambicano em parti-lhar a experiência do empresariado local nas áreas acima referenciadas, bem como na transferência de serviços.

Como habitualmente acontece em todas as missões, o Presidente da CTA teve um encontro de cortesia com todos os empre-sários que compunham a delegação em-presarial para saúda-los pessoalmente e desejar-lhes boa sorte na busca de parce-rias de negócios.

No concernente ao programa de visita, é de destacar o primeiro painel, que proce-deu a abertura oficial do programa empre-sarial que teve no painel principal Salimo Abdula, Presidente do Conselho Directivo da CTA, que procedeu às notas de abertu-ra da sessão, António dos Santos, Presi-dente do Conselho das Associações Eco-nómicas de Angola, que fez referência ao ambiente de negócios em Angola, António Prata, representante da Agência Nacional de Investimento Privado, que apresentou as oportunidades de negócio em Angola, e Luís Parreirão representante da Mota-Engil, que se referiu à experiência de in-

vestimento em Moçambique e Angola.Já o segundo painel, que contou, além

dos empresários, com a presença dos representantes da Associação Industrial de Angola, Direcção Nacional das Alfân-degas de Angola e do Embaixador de Mo-çambique em Angola, no pódio, destacou as oportunidades de negócio no sector in-dustrial de Angola e aspectos ligados ao serviço alfandegário local.

Refira-se que outro momento bastante marcante nesta viagem foi a realização das bolsas de contacto entre os empre-sários moçambicanos e angolanos, acto que precedeu a realização de visitas ao Porto de Luanda e à empresa Mota-Engil, no dia seguinte.

No fim, foi notória a existência de um sentimento comum de que as relações bilaterais devem conhecer um salto qua-litativo na vertente empresarial. A visita constituiu igualmente uma oportunidade para transmitir ao empresariado angola-no as grandes potencialidades que Mo-çambique oferece em termos de inves-timento.

Numa missão empresarial organizada pela CTA

Moçambique e Angola fortalecem cooperação

Cta

No fim, foi notória a existência de um sentimento comum de que as relações bilaterais devem conhecer um salto qualitativo na vertente empresarial. A visita constituiu igualmente uma oportunidade para transmitir ao empresariado angolano as grandes potencialidades que Moçambique oferece em termos de investimento.

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CaRtaS dOS lEItORES

Nassalete Miranda Editora da revista «As Artes entre as Letras» e docen-te da disciplina de Ética e Responsabilidade Social dos

Media, na Universidade Lusófona do Porto

A Revista Capital está de parabéns, não apenas pelo seu segundo aniversário mas sobretudo pelo percurso evolutivo destes dois anos.

E assim, justo que esta data se assinale.Celebrar um aniversário não é só olhar

para trás e falar do que foi feito. Não! Um aniversário deve, antes de mais, ser uma oportunidade para se perspectivar o futuro.

Tenho tido o grato prazer de acompanhar o crescimento de A Capital nestes últimos meses, através do contacto com Helga Nu-nes – incansável na divulgação da revista e empenhada na diversidade do seu conteúdo!

Conhecemo-nos aqui, nesta geografia que terá de continuar as derrubar as barreiras para que se construa um espaço lusófono inigualável – e se aqui invoco a sua pessoa, é porque todo o trabalho tem gente dentro, e esta publicação mostra que tem gente de qua-lidade e a qualidade não se deve esconder.

A Capital nasceu da aposta de um peque-no grupo que acredita que o papel dos Mé-dia continua a ser fundamental no desen-volvimento económico, social e cultural de Moçambique – ontem como amanhã! Em

Moçambique como em todos os países do mundo, do continente negro ao pseudo de-senvolvido continente europeu – os Media são a parte umbilical de um todo que é um povo. Não é possível virar as costas ao co-nhecimento, logo não é pensável a vida sem jornais, revistas, rádio, televisão e as novas tecnologias do mundo global da web.

“O caminho faz-se caminhando”, pelo que faço votos para que estes dois anos da Capi-tal sejam apenas o início de um caminho de muitos e bons anos em defesa dessa linha editorial que preza uma informação gene-ralista de qualidade. Mensalmente acom-panho a evolução, o crescimento desse Mo-çambique de que não esqueço o sorriso e o afecto.

Muitos dos melhores e mais destacados e conceituados escritores e poetas passaram pelos Media.

Foi nos jornais e nas revistas que José Craveirinha começou! Foi aí que aprendeu o valor da palavra escrita, em prosa, e em poesia.

E faço esta referência para reforçar, mais uma vez, a importância dos Media como contributo ao progresso económico e cultu-ral do povo que serve.

Não resisto a citar Craveirinha: “A partir de cada nascimento eu tinha a felicidade de ver um problema a menos e um dilema

a mais”!O que desejo é que os dilemas futuros da

Capital sejam apenas os inerentes ao seu crescimento como revista de referência, não apenas em Moçambique, como internacio-nalmente.

Entretanto aguardo sempre com curio-sidade e expectativa o número seguinte da Capital, que leio à noite, iluminada pelo candeeiro que não dá a sombra do embon-deiro.

Bem hajam! O terceiro aniversário já ca-minha…!

Média - a parte umbilical de um povo

Francisco J. Ferrão

Gestor Financeiro, [email protected]

Quando comecei a dar os primeiros pas-sos na minha formação escolar, aprendi com a sapiência eterna da D.ª Aura, as di-visões de poder, não só naqueles primeiros anos da democracia, como a sua evolução histórica, não adivinhando as mudanças a que fui assistindo.

Ao inventar os caracteres móveis, Gu-temberg estava muito longe de perspecti-var as mudanças que a sua criação iria tra-zer à Humanidade. Desde o século passado que a comunicação social se assumiu como forma de poder e deixou definitivamente a sua função de informar, para assumir fun-ções muito mais abrangentes nas nossas vidas. Marcando esta evolução, realiza-ram-se diversas megafusões nos sectores do entretenimento, da comunicação e das telecomunicações, que não visavam mais do que a concentração de meios em gran-

des aglomerados. Aproveitando as revolu-ções tecnológicas mais recentes, tornou-se possível a um único operador oferecer ao seu consumidor/cliente num único pacote, não só a informação que desejam, como também o entretenimento, a comunicação de dados e de voz, a publicidade… Todo o mundo na palma da mão, acessível através de um teclado ou de um comando remoto!

Este é o admirável mundo novo em que vivemos, antevisto por Aldous Huxley. Con-vém não nos esquecermos das suas adver-tências em relação ao falso progresso num mundo administrado por uma espécie de polícia do pensamento. Naturalmente que estes grandes grupos tentam subtilmente condicionar a mentalidade e o pensamento à escala planetária. Contudo, apesar des-ta nuvem negra que paira sobre todos nós, ainda temos uma palavra a dizer. Graças aos adventos da comunicação de alta velocidade, das auto-estradas de informação, e das redes sociais, todos nós estamos interligados.

Quando o Rei da Pop, Michael Jackson, fa-

leceu, meio mundo ligado ao Facebook e ao Twitter discutia o assunto, muito antes dos meios de comunicação social convencionais o oficializarem. A nova tendência é o forne-cimento da informação e dos conteúdos ser descentralizado, passando a ser o indivíduo na sua casa, o responsável pela divulgação da mesma. Indivíduos como eu ou o leitor. Afinal, o Mundo está mesmo na ponta dos nossos dedos.

O jornalismo sério responsável e especiali-zado é uma espécie em vias de extinção, mas felizmente publicações como esta, assumem um papel “capital” como bastiões de defe-sa dos valores éticos e deontológicos. Neste contexto, onde a credibilidade é muitas vezes esquecida em nome do consumo imediato, e do populismo, não posso deixar de destacar o papel assumido por publicações responsá-veis, como a Capital Magazine, que em ape-nas dois anos de existência, alcançou um pa-pel destacado na sociedade, não renegando a sua função de informar, nem de formar.

Um papel ‘capital’

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FNB

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BREvES

DOAÇÃO

Banco Mundial apoia OGE em 110 milhões de dólares

O Banco Mundial concedeu um apoio de 110 milhões de dólares norteamericanos ao Orçamento Geral do Estado (OGE). A concessão do valor, que visa apoiar a im-plementação do Segundo Plano de Acção para a Redução da Pobreza (PARPA II), foi feito mediante a assinatura de um acordo pelo ministro moçambicano de Planifica-ção e Desenvolvimento, Aiuba Cuereneia, e o representante do Banco Mundial em Moçambique, Luiz Tavares.O ministro Aiuba Cuereneia explicou que o financiamento vai permitir ao Governo de Moçambique continuar a consolidar e aprofundar as reformas institucionais nas áreas orçamentais, gestão das finanças pú-blicas, sistema de contratações, aquisições do Estado, auditoria e promover o desen-volvimento económico, “através da remo-ção dos constrangimentos ao crescimen-to económico, sobretudo os que afectam o desenvolvimento e expansão do sector privado”.A ajuda, enquadra-se na resposta à crise financeira global.

GOVERNAÇÃO

IGEPE lança Guião de Boas Práticas de Governação

O Instituto de Gestão das Participações do Estado (IGEPE) lançou durante a realiza-ção da II Feira Anual de Responsabilidade Social, organizada pela Prodígio, o Guião de Boas Práticas de Governação corporati-va nas empresas participadas pelo Estado.Este instrumento normativo permitirá que as empresas nacionais estejam cota-das nas bolsas de valor internacionais, pois o mesmo confere uma gestão transparente às organizações e a aplicação nas empresas será de carácter voluntário.

Segundo Gabriel Tembe, alto dirigente do IGEPE, a elaboração do guião teve os seus fundamentos num processo de reflexão estratégica iniciado em 2005 e que incluiu visitas a diversos países da África, Europa, Ásia e América Latina, de modo a colher-se experiências na gestão de participações do Estado.No evento houve espaço para que as em-presas moçambicanas trocassem ferra-mentas sobre a gestão das suas acções no que concerne à responsabilidade social.

FORMAÇÃOPNG capacita trabalhadores em Gestão Ambiental Empresarial

O sector de Avaliação de Impacto Ambien-tal e Saúde do Departamento de Conser-vação do Parque Nacional de Gorongosa (PNG) organizou uma acção de formação em matéria de Gestão Ambiental Empre-sarial para os trabalhadores do Parque em Chitengo. O curso visava dotar os participantes de noções para uma maior consciência e res-ponsabilidade ambiental no ramo produti-vo e na adopção do modelo de exploração de recursos naturais que atende às neces-sidades do presente sem comprometer as gerações futuras.Temas como o histórico da questão am-biental, o consumidor “verde” e o desen-volvimento sustentável, a gestão ambiental empresarial e seus elementos, as dicas para um consumo sustentável, entre outros, fo-ram abordados durante a formação.Edgar Faduco, moderador do curso e ges-tor de Avaliação de Impacto Ambiental e Saúde, avalia positivamente os resultados da formação. “Os objectivos para os quais a actividade formativa foi organizada “lo-graram-se satisfatoriamente”, referiu.

MINASEmpresa Kenmare Resources regista melhorias

A ‘Kenmare Resources’, empresa de ca-pitais irlandeses que explora as minas de areias pesadas de Moma, afirmou que a sua mina continua a registar melhorias de produção.A empresa indica que tanto a mina como a unidade de separação de minerais tem vindo a registar “progressos significativos” no período de 1 de Julho a 18 de Novembro deste ano.Segundo o comunicado de imprensa, “a produção do mineral pesado concentrado no terceiro trimestre na mina foi de 230 mil toneladas, 30 % acima da produção do segundo trimestre. A mina está agora a operar na totalidade dos seus níveis de produção, com 97 mil toneladas de mineral pesado concentrado, produzido em Outu-bro passado”.A produção de ilmenite foi de 130 mil to-neladas, o que representa um aumento de 23% em relação ao trimestre anterior e a produção de zircão manteve-se nas seis mil toneladas. Prevê-se que a produção de il-menite esteja perto da capacidade total até ao fim do ano e a de zircão estará a 80% da meta, devendo alcançar a plena capacida-de no primeiro trimestre de 2010, após a conclusão dos trabalhos de optimização da unidade.

RECURSOS MINERAISZambézia baixa volume de produção de minerais

O volume de produção de minerais na pro-víncia da Zambézia reduziu em 48%, no primeiro semestre deste ano, em compara-ção com o de igual período do ano passado devido à crise financeira global.Esta redução deveu-se ao facto de várias empresas que exploram as potencialidades de minerais das províncias terem baixado o seu desempenho em consequência da cri-se financeira que abalou o mundo.Berta Guambe, directora provincial dos Recursos Minerais e Energia da Zambézia revelou que a produção de diversos mine-rais baixou de 396.400 quilogramas, no primeiro semestre de 2008, para 204.400 quilogramas em igual período deste ano.Segundo Guambe, a produção global do sector mineiro no ano passado foi de 572.300 quilogramas. Este ano, a produ-ção baixou consideravelmente devido à paralisação temporária das nove empresas industriais que operam no sector mineiro da província devido à queda da procura dos minerais no mercado. Entretanto, os investidores deste sector prometem relan-çar a produção a partir de 2010.

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dEStaQuE

Teve início em Dezembro a edificação das obras da paragem única entre Moçambique e África do sul que será localizada em Res-sano Garcia e cujo orçamento se cifra em 130 milhões de dólares. O montante foi de-sembolsado pelos governos dos dois países, onde 100 milhões de dólares constituem o contributo sul-africano e 30 milhões pro-vêm dos cofres moçambicanos.A Paragem Única irá permitir o desconges-tionamento do movimento transfronteiriço, a rentabilização do corredor de Maputo na vertente rodoviária, a capitalização do tu-rismo e a obtenção de maiores vantagens da dinâmica que será criada com a realização da Copa do Mundo (2010), na África do Sul. Segundo Domingos Tivane, Director Geral das Alfândegas de Moçambique, o projecto foi redesenhado de modo a adaptar-se ao contexto da actual crise financeira mundial que limitou a continuidade do mesmo nos moldes inicialmente.O projecto “Paragem Única” enquadra-se no contexto da Integração Regional e teve o ponto de partida em 2007, aquando da

assinatura do memorando de entendimen-to entre os presidentes Armando Guebuza e Thabo Mbeki, presidente da África do Sul na altura. O nosso interlocutor assegurou que, até Março de 2010, o projecto terá uma estrada alternativa concluída, estando já em curso os preparativos para o lançamento do con-curso para a identificação do empreiteiro responsável pelas obras.A fronteira de Ressano Garcia enfrenta o desafio de melhorar os seus serviços de modo a responder ao aumento do núme-ro de utentes daquela travessia durante a quadra festiva, estimado em 30 por cento por ano.Para a presente quadra festiva, aquele orga-nismo irá colocar na fronteira de Ressano Garcia 60 agentes alfandegários por turno, passando a somar 120 no total.Durante a quadra festiva de 2008 entraram em Moçambique através daquela frontei-ra 2.968 pessoas, ao passo que o número de saídas durante o mesmo período foi de 2.81942.

Paragem Única a caminho da Integração

Desde o primeiro número que a Revis-ta CAPITAL atribuiu uma importân-cia fundamental ao estabelecimento de parcerias como forma de enri-quecer a sua componente editorial e reforçar os laços que a unem ao mun-do dos negócios, ao sector empresa-rial. A Confederação das Associações Económicas (CTA) tem, também ao longo destes dois anos, assumido um papel decisivo na disponibilização de informação, no acompanhamento do nosso percurso e, naturalmente, os objectivos comuns acabaram por criar condições para o estabeleci-mento oficial de relações institucio-nais entre o órgão de comunicação e a associação de classe.Foi naturalmente que, ainda no pri-meiro terço do mês de Dezembro, Salimo Abdula, Presidente da CTA e Hélio Simbine, Presidente do Conse-

lho de Administração da S.A. Media Holding, empresa detentora do título da Revista CAPITAL, assinaram um protocolo de parceria que regulará futuramente as relações entre as duas instituições, na presença de membros das direcções respectivas.A partir de 2010 a CTA disporá de um espaço específico nas páginas da CAPITAL, destinado essencialmente à análise da conjuntura económica moçambicana e internacional, assim como servirá de suporte mediático à actividade da Confederação e contri-buirá para uma ainda mais estreita ligação com o mundo empresarial moçambicano. Em contrapartida a revista CAPITAL reforça-se com um parceiro de renome internacional e beneficia dos profundos conhecimen-tos de uma vasta equipa cujos méritos são sobejamente conhecidos.

Hidrocarbonetos ganha prémiode Melhor Empresa

O Ranking das 100 maiores empresas da KPMG deste ano é liderado pela Mozal, seguida pela Mo-çambique Celular SARL, Petromoc, Hidroeléctrica de Cahora Bassa, BP Moçambique, Electricidade de Moçambique, Cervejas de Moçambique, Motraco, Banco Internacional de Moçambique, e Sasol Pe-tróleos Temane Lda.Na 11.a Edição do Estudo da KPMG sobre as 100 maiores empresas de Moçambique foi atribuída à empresa Companhia Moçambicana de Hidro-carbonetos o prémio de Melhor Empresa do ano. Entre outros itens esta classificação teve em conta a melhor performance financeira apresentada pela empresa tendo como base indicadores de cresci-mento do volume de negócios gerais, crescimento do volume de negócios por trabalhador, rentabili-dade do volume de negócios, entre outros.Em termos sectoriais, a Mozambique Leaff Tobaco foi premiada no sector da Agricultura, enquanto a Cervejas de Moçambique lidera a área de bebidas e alimentação, o BIM na Banca e Leasing, a Toyota de Moçambique na área do Comércio, a Mcel nas Telecomunicações, a CMC – África Austral no sec-tor de Construção, a Petromoc na área de Energia, o Polana Serena Hotel na Hotelaria, a Mozal na In-dústria, a Pescamar nas Pescas, a SIM nos Seguros, a Televisa nos Serviços e a LAM nos Transportes.

Parceria CTA e CAPITAL

Alfândegas a 1.4%de alcançar a meta As Alfândegas de Moçambique já colec-taram receitas no valor de 15.1 biliões de meticais e estão a 1.2 biliões para alcançar a meta prevista para o ano 2009, que foi fixa-da em 16.3 biliões de meticais.A dinâmica do movimento transfronteiriço que se espera durante a quadra festiva con-fere a certeza de que, até o final do presente ano, a Instituição terá elevado o actual nível de colecta (fixado em 92.4 por cento) para a meta exigida.No que concerne à nacionalização de viatu-ras (mudança de matrículas) a instituição irá retomar o projecto desenvolvido em 2008, que consiste na dispensa de alguns processos burocráticos durante um período de dois meses a contar apartir de Dezem-bro. Em 2008, as Alfândegas regularizaram 2.396 viaturas, o que permitiu encaixar 46 milhões de meticais nos seus cofres.

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Revista Capital 15

REPORtagEm

Os consumidores ilegais de água re-presentam perdas estimadas em cerca de 9 milhões de meticais por

mês nos cofres da empresa Águas de Mo-çambique. As actuais perdas da empresa, motivadas por diversas razões, cifram-se actualmente nos 50 por cento, o que sig-nifica que de um total de 5 milhões de me-tros cúbicos de água que a empresa produz mensalmente, 2 milhões e 500 mil metros cúbicos constituem água não facturada, segundo o Administrador-delegado da Águas de Moçambique, Manuel Fernan-des Thomaz.

As estimativas de Fernandes Thomaz apontam que há cerca de 1.3 milhões de metros cúbicos ilegalmente consumidos por mês. Quantidade que multiplicada pela taxa actual cobrada pela empresa (de 7 meticais por metro cúbico) corresponde a cerca de 9 milhões de meticais que deve-riam entrar nos cofres da empresa.

Por outro lado, a nível infraestrutural urge substituir a actual rede de distribui-ção de água que se encontra num estado obsoleto. A rede já soma mais de meio sé-culo de vida, facto que por si só se reflecte nas maiores perdas do precioso líquido assim como na redução das receitas da empresa.

No presente ano, pela primeira vez a em-presa irá reduzir as perdas para um nível abaixo dos 50 por cento, o que segundo Fernandes Thomaz constitui um ganho, considerando que nos quatro anos ante-riores os prejuízos somados alcançaram um nível acima dos 62 por cento.

O investimento em infraestruturas no sector das águas em Moçambique cifra-se acima dos 800 mil dólares americanos en-tre 2000 e 2008. As cidades de Maputo e da Matola é que beneficiam do maior orça-mento no sector, com 31.720 dólares, facto que permitiu ascender a uma capacidade de tratamento de 1.000 metros cúbicos por hora. Por sua vez, as cidades da Beira e do Dondo quedaram-se com um investi-mento de 12.191 dólares, duplicando a sua capacidade de produção de 30 para 60 mil metros cúbicos. As cidades de Inhambane e Chókwè beneficiaram de menores inves-timentos comparativamente às restantes devido à menor procura. O menor inves-timento nestas urbes cifrou-se em 3.500 e 2.124 dólares, respectivamente, contudo o mesmo esforço permitiu que se aumentas-se a disponibilidade de água servida.

Ao mesmo tempo, encontram-se em curso acções de expansão e reabilitação do sistema de abastecimento de água nos bairros periféricos das cidades de Maputo e da Matola, num orçamento avaliado em 140 milhões de dólares.

O Fundo de Investimento e Património

do Abastecimento de Água (FIPAG) - en-tidade responsável pela expansão da rede de abastecimento - projecta a construção de uma nova sub-estação de tratamento de água, cuja conclusão permitirá o au-mento da capacidade de fornecimento de água para 24 horas, sendo que a capacida-de actual é de 12 horas.

Águas de Moçambique irá abastecer 70% do país até 2015Moçambique irá alcançar os objectivos

de desenvolvimento do milénio até 2015 no que se refere ao fornecimento de água,

altura em que se espera vir a ter uma co-bertura de 70 por cento a nível nacional. Actualmente, a empresa já possui uma co-bertura que supera os 50 por cento, o que constitui um bom indicador para o alcance da meta exigida.

A Águas de Moçambique abastece, actu-almente, cerca de 116 mil clientes na rede convencional, o que somado com os con-sumidores da rede dos fontanários totaliza 800 mil clientes.

A empresa regista anualmente 10 mil novos clientes, um número que não sa-tisfaz a demanda, atendendo que mais

Ilegais “roem” milhões nos cofresda Águas de Moçambique

Sérgio Mabombo (texto) . Luís Muianga (fotos)

15Revista Capital

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REPORtagEm

16 Revista Capital

potenciais clientes almejam pagar a taxa de 7 meticais por metro cúbico para ter acesso à água, embora a falta de rede de fornecimento nas suas zonas tenha vindo a limitar os seus intentos. No entanto, o FIPAG “vem fazendo investimentos avul-tadíssimos para a expansão e melhora-mento do sistema de abastecimento de água”, de acordo com Fernandes Thomaz, Administrador-delegado da Águas de Mo-çambique.

Apesar das dificuldades vividas, a dispo-nibilidade dos habituais parceiros de coo-peração - o Banco Mundial (BM), o Fundo Monetário Internacional (FMI), o Banco Africano de Desenvolvimento (BAD), en-tre outros - em continuar a dar apoio ao sector das águas no País oferece garantias de sucesso.

Quanto aos reais montantes envolvidos nas acções de expansão da rede de água, aquele responsável limitou-se apenas a avançar que já foram investidos “valores avultadíssimos... centenas de milhões de dólares.” Parte do investimento compre-ende os 150 milhões de dólares aplicados na construção da rede que abastecerá os bairros de Malhampsene, Sikuama e Mussumbuluko (no município da Mato-la) que, até 2011, já irão dispor de rede de água.

Segundo dados disponíveis no Relatório do Sector das Águas, os residentes dos bairros periféricos das cidades de Ma-puto e da Matola, devido à falta de rede de abastecimento de água, recorrem aos operadores informais que fazem furos e montam as respectivas redes de distribui-ção de água apartir dos seus quintais, um negócio cuja legalização ainda é alvo de debate junto do Conselho de Regulação de Água (CRA). Aliás, o referido debate contempla ainda a situação dos grupos de baixa renda, cujo poder aquisitivo dos mesmos só pode cobrir uma factura men-sal de 250 meticais. Entretanto, o valor é considerado mais do que suficiente, pois a actual factura mensal de água compre-ende um consumo mínimo de 10 metros cúbicos por mês.

Evolução de investimentos em infraestruturas no sector das águas (2000-2008)

Cidade Total (em dólares) Impacto (apartir de 2006)

Aumento da capacidade de tratamento em 1000 m³/hora;Disponibilidade da água para cerca de 200 mil pessoas;

Duplicação da capacidade de produção de 30.000 para 600.000 m³; Extensão do serviço de abastecimento para mais 200 mil pessoas;

Extensão dos serviços para mais 150 mil pessoas;

Duplicação da capacidade de tratamento de água de 10 mil para 20.000 m³/dia;Extensão do serviço para mais 160 mil pessoas;

Aumento da capacidade de produção de 6.600 para 9.000 m³;Disponibilidade de água para mais 24 mil pessoas;Aumento da capacidade de reserva de 500 para 1.000 m³;

Aumento da capacidade de produção de 5.550 para 8.430 m³/dia;A capacidade de reserva passa de 1.540 para 1.900 m³

A capacidade de reserva passa de 1.936 para 6.700 m³/dia;Aumento da capacidade de reserva de 750 para 1.550 m³.

Maputo/Matola

Beira/Dondo

Quelimane

Nampula

Chókwè

Inhambane

Maxixe

31.720,00

12.191,40

11.232,70

4.858,60

2.124,00

3.500,00

5.036,00

Sistema pré-pago de água apartir de 2010

A Águas de Moçambique vai introduzir, no próximo ano, o sistema pré-pago para o consumo de água num dos seus servi-ços - o segmento dos fontanários. O Ban-co Mundial irá cobrir 80 por cento do orçamento total (cujo valor ainda não foi revelado) para a implementação do pro-jecto, segundo avançou José Maria, um dos responsáveis da empresa.

A medida visa reduzir a margem de desvio de receitas por parte dos comités de água e dos gestores de fontanários da empresa que operam nos novos bairros. As dificuldades que a empresa vem en-contrando na cobrança da taxa de água nos 400 fontanários distribuídos na pro-víncia de Maputo, sob gestão dos opera-dores privados ou micro-empresários comunitários, prende-se com o facto de estes cobrarem as referidas taxas sem no entanto efectuarem o pagamento das facturas correspondentes junto à com-panhia Águas de Moçambique. “Vamos matar este mal pela raiz, ao introduzir o sistema pré-pago de água”, assegurou Manuel Fernandes Thomaz, Administra-dor Delegado da companhia Águas de Moçambique, que ocupa actualmente a 43.ª posição no Ranking KPMG das 100 Maiores Empresas Nacionais, com um volume de negócios acima dos 20.000 dólares.

“As estimativas de Fernandes Thomaz apontam que há cerca de 1.3 milhões de metros cúbicos ilegalmente con-sumidos por mês. Quan-tidade que multiplicada pela taxa actual cobra-da pela empresa (de 7 meticais por metro cúbi-co) corresponde a cerca de 9 milhões de meticais que deveriam entrar nos cofres da empresa”

Fonte: CRA

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REPORt

Revista Capital 17

Sérgio Mabombo (texto) . Luís Muianga (fotos)

Illegal water consumers represent loss-es valued at around 9 million meticais per month from the Águas de Moçam-

bique’s safes . The company’s present loss-es, caused by several reasons , sum up to 50 per cent presently, meaning that, from a total of 5 million cubic meters of water produced by the company monthly, 2 mil-lion and 500 thousand cubic meters are made up of non-invoiced water, according to Águas de Moçambique’s Deputy-Direc-tor , Manuel Fernandes Thomaz.Fernandes Thomaz’s estimates indicate that there are approximately 1.3 million cu-bic meters illegally consumed every month. This quantity multiplied by the present rate charged by the company (that of 7 meticais per cubic meter) corresponds to approxi-mately 9 million meticais which should be going into the company’s safe.On the other hand, at an infrastructural level it is impelled to replace the present water distribution system which is totally obsolete . This system is around 50 years old , causing not only great losses of this precious liquid but also a cut-back in the company’s revenue .In the present year, and for the first time the company will be reducing its losses to a level below 50 percent, which, according to Fernandes Thomaz constitutes a profit, considering that in the past four years the total losses went above 62 percent. The investment in infrastructures in the water sector in Mozambique summed up to more than 800 thousand American dollars between 2000 and 2008. The cities of Ma-puto and Matola benefit from the greatest budget in the sector, with 31.720 dollars, which allowed the capacity of treatment to rise to 1.000 cubic meters per hour. On the other hand, the cities of Beira and Dondo remained with an investment of 12.191 dol-lars, doubling its production capacity from 30 to 60 thousand square meters. The cities of Inhambane and Chókwè benefited from smaller investments in comparison to the others due to the low demand . The smaller investment in these cities summed up to 3.500 e 2.124 dollars respectively, however the same effort allowed the increase of the availability of water supplied. At the same time, the expansion and re-habilitation of the water supply system in the outskirts of Maputo and Matola is in progress , with a budget estimated in 140 million dollars.

The Fundo de Investimento e Património do Abastecimento de Água (FIPAG) - the entity responsible for the expansion of the supply system – is planning the construc-tion of a new water treatment sub-station,

which will allow the increase water supply for 24 hours, the present capacity being of 12 hours.

Águas de Moçambique will supply 70% of the country until 2015Mozambique will reach the development investments of the millenium until 2015 in what refers to water supply, at which stage it is hoped that 70 percent are covered at national level. Presently the company al-ready has a coverage above 50 percent, which constitutes a good indicator towards the achievement of the demanded goal.The company Águas de Moçambique pres-ently supplies around 116 thousand clients in the conventional system, which added to the public drinking fountain systems’ con-sumers amounts to 800 thousand clients.The company registers 10 thousand new clients annually , an amount which does not meet the demand, due to the fact that more potential clients wish to pay the rate of 7 meticais per cubic meter in order to have access to water, although the lack of supply system in their areas have been limiting their purposes. However, FIPAG “has been making huge investments for the

Illegal consumers are “chewing” millions from safes of the Aguas de Moçambique company

“Fernandes Thomaz’s esti-mates indicate that there are approximately 1.3 mil-lion cubic meters illegally consumed every month. This quantity multiplied by the present rate charged by the company (that of 7 meticais per cubic meter) corresponds to approxi-mately 9 million meticais which should be going into the company’s safe”

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REPORt

18 Revista Capital

City Total (in dolares) Impact (as from 2006)

Maputo/Matola

Beira/Dondo

Quelimane

Nampula

Chókwè

Inhambane

Maxixe

31.720,00

12.191,40

11.232,70

4.858,60

2.124,00

3.500,00

5.036,00

expansion and development of the water supply system”, according with Fernandes Thomaz, Deputy-Director of Águas de Moçambique company. Despite the difficulties encountered, the availability of the usual cooperation part-ners - World Bank (WB), International Monetary Fund (IMF) , the African De-velopment Bank (ADB), amongst others – in continuing to give their support to the water sector in the Country gives us some guarantees for success.As for the actual amounts involved in the expansion of the water system, the person responsible stated only that “huge values .....hundreds of thousands of dollars “ have been invested. Part of the investment in-cludes the 150 million dollars used in the construction of the system which will sup-ply the areas of Malhampsene, Sikuama

and Mussumbuluko (in Matola Munici-pality ) which, until 2011, will have a water system running.According to data available from the Wa-ter Sector Report, the residents of the outskirts of Maputo and Matola, due to the lack of a water supply system, resort to informal operations, drilling and fitting the respective water distribution systems in their gardens, a deal which is still be-ing debated and could be legalized by the Water Regulation Board (WRB). Fur-thermore, the said debate also considers the situation of the low income groups, whose purchasing power can only cover a monthly invoice of 250 meticais. In the meantime, the value is considered more than sufficient, as the present monthly wa-ter invoice includes a minimum monthly consumption of 10 cubic meters.

Water prepaid system as from 2010The Águas de Moçambique company will be introducing in its services, next year, the prepaid sytem for the consumption of water - the segment of the public drink-ing water fountains. The World Bank will be covering 80 percent of the total budget ( value not as yet disclosed) towards the implementation of the project, according to José Maria, one of the company’s rep-resentative.This measure aims to reduce the margin of embezzlement of revenue by the wa-ter committees and the company’s pub-lic drinking water fountains’ managers who operate in the new areas. The dif-ficulties encountered by the company to collect the water rates from the 400 public drinking fountains distributed in the Province of Maputo, under the man-agement of private operators or com-mune micro-businessmen, is that they are collecting the respective rates with-out making the respective payments of the invoices to the the Águas de Moçam-bique company. “By introducing the pre-paid water system we will stop this once and for all”, ensured Manuel Fernandes Thomaz, Deputy Director of the Águas de Moçambique company, which pres-ently ranks 43.ª in KPMG raking of the 100 Biggest National Companies, with a business volume above 20.000 dollars.

Development of investments in infrastructures in the water sector (2000-2008)

Increase in treatment capacity in 1000 m³/per hour;Availability of water for approximately 200 thousand people;

Doubling of the capacity of production from 30.000 to 600.000 m³; Expansion of the supply service for a further 200 thousand people;

Expansion of services for a further 150 thousand people;

Doubling the capacity of water treatment from 10 thousand to 20.000 m³/per day;Extensão do serviço para mais 160 mil pessoas;

Increase in production capacity from 6.600 to 9.000 m³;Water availability for a further 24 thousand people;Increase in the stock capacity from 500 para 1.000 m³;

Increase in the production capacity from 5.550 para 8.430 m³/per day;The stock capacity will go from 1.540 to 1.900 m³

The stock capacity goes from 1.936 to 6.700 m³/per day;Increase in the stock capacity from 750 to 1.550 m³.

Fonte: CRA

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OPINÃO

Revista Capital 19

TIGA

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Revista Capital20

EmPRESaS

Qual é a missão do Grupo Moçfer em Moçambique?A nossa missão é contribuir para o desenvolvimento económico e social

de Moçambique através da criação de indústrias alimentares comercial-mente sustentáveis, focadas no consumidor, que estimulam o crescimento da agricultura moçambicana.

De forma a promover a produção, o consumo e a exportação de produtos nacionais, o Grupo Moçfer S.A., através das duas empresas que detém, aderiu ao Selo Made in Mozambique.

Qual a dimensão do Grupo Moçfer?O Grupo é constituído por duas empresas. A Moçfer Indústrias Alimenta-

res S.A. que produz essencialmente, arroz, cereais e sementes e a Com-panhia do Vandúzi S.A. que se centra na produção de produtos hortícolas frescos.

O Grupo Moçfer actualmente emprega um total de 2.200 pessoas e já investiu um total de 35 Milhões USD na construção de infra-estruturas e aquisição de equipamentos.

Qual a importância da Moçfer Indústrias Alimentares S.A. no Chókwè?

A Moçfer Indústrias Alimentares S.A. (MIA) está no Chókwè desde 2005, onde temos investido parte dos nossos esforços no relançamento da cultura do arroz no regadio do Chókwè. Investimos na reabilitação e modernização de uma unidade de melhoramento de sementes, na criação de uma rede de enquadramento e de serviços de apoio aos agricultores e na reabilitação/modernização de uma antiga fábrica de descasque de arroz (ORLI).

Através da MIA temos dado um importante contributo para o aumento da produção de arroz nesta região, e durante a presente campanha 2009/2010, pretendemos chegar aos 4,100ha-1 dos quais 3,500ha-1 serão de arroz para descasque com base em parcerias com produtores associados.

A restante área serve para a produção de semente certificada de arroz. Investimos ainda em 500ha-1 de regadio com pivot central que são usados para a produção de sementes de milho, trigo, soja, feijão e outras culturas.

A MIA quer ser vista com uma empresa inovadora na produção de semen-tes para o país e para a África Austral.

Em que consiste essa parceria com produtores associados?O programa dos Produtores Associados consiste na contratação de pro-

dutores seleccionados através de critérios rigorosos que garantam uma produção de arroz de elevada qualidade. Os Produtores Associados da MIA beneficiam de inúmeros apoios entre os quais, insumos agrícolas, serviços

agrícolas, crédito, fornecimento de sementes certificadas, fertilizantes, adu-bos, serviços de preparação de terra, colheita, transporte e secagem.

Todo o ciclo de produção é acompanhado por uma equipa técnica espe-cializada da MIA. O produtor Associado tem a garantia que toda a produ-ção será comprada pela MIA a um preço base permitindo-lhe um negócio economicamente viável. Através do Programa de Produtores Associados, a MIA estimula o crescimento da produção de arroz no Chókwè.

Qual é a capacidade de processamento de arroz da MIA? A nossa linha de descasque tem capacidade para trabalhar 3 toneladas

de arroz por hora, o que significa que tem capacidade para processar 20.000 toneladas de arroz em casca por ano.

Adquirimos 5 Silos com uma capacidade individual de 2,000t e espera-mos erguer ainda este ano mais cinco com igual capacidade. Estamos tam-bém a instalar, neste momento, um secador com capacidade de processar 350t por dia de arroz.

Para garantir o controlo de qualidade da matéria-prima e do produto final, estamos também em fase final de instalação de um moderno laboratório com capacidade para efectuar todas as análises necessárias.

Qual é o destino do arroz processado na MIA?Actualmente estamos focados no mercado moçambicano. Moçambique, apesar de ter excelentes condições para a produção de

arroz, é um país que ainda tem necessidade de importar arroz para dar resposta ao consumo interno. Perante este facto, queremos contribuir para a inversão desta situação.

A MIA Sementes é um projecto recente?No ano passado, a MIA investiu na aquisição e reabilitação de uma fá-

brica de sementes, que é uma das áreas de grande expansão e inovação da empresa.

A aposta feita na investigação faz com que a MIA seja actualmente a úni-ca empresa em Moçambique que está a executar um projecto de investiga-ção e de produção de semente de arroz certificada, com capacidade para alargar a gama de sementes certificadas a outras culturas.

O nosso contributo fez com que o país voltasse a produzir semente cer-tificada de arroz.

A outra empresa do grupo é a Companhia do Vandúzi S.A. Que pro-dutos Frescos produzem?

A Companhia do Vandúzi S.A. foi criada em 2004. Tem como objectivo explorar as potencialidades hortícolas da província de Manica.

A alimentar o crescimento de Moçambique

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Revista Capital 21

EmPRESaS

A alimentar o crescimento de Moçambique

Grupo Moçfer S.A. | Tel: +258 21360760 | Fax: 258 21300431 | e-mail: [email protected] |www.mocfer.com

Actualmente, a Companhia do Vandúzi conta com uma área de produ-ção de 410ha-1 na qual cultiva durante todo o ano mini-milho, piri-piri, entre outros produtos frescos e neste momento está mais vocacionada para a exportação para os mais exigentes mercados, principalmente o inglês e o sul-africano.

É nosso objectivo começar a produzir e distribuir para Moçambique e es-tamos actualmente à procura de parceiros logísticos.

A nossa fábrica tem uma capacidade de embalamento de 70t de vegetais perecíveis por semana e está a entrar num processo de mecanização de forma a ganhar maior eficiência.

A Companhia do Vandúzi S.A, por exportar os seus produtos tem todos os seus processos certificados pelos mais elevados standards internacionais. Refiro-me ao GlobalGap, que certifica todos os processos de produção BRC que certifica os processos dentro da unidade de embalamento e o LEAF; Linking environment and Farming; que nos certifica enquanto em-presa que trabalha com total respeito pelo meio ambiente onde se integra.

Quem consome estes produtos frescos da Companhia do Vandúzi?Os produtos Vandúzi são consumidos para além fronteiras. O grupo atra-

vés das suas exportações, dá visibilidade a Moçambique no estrangeiro. Actualmente, 98% da nossa produção destina-se à exportação para o Rei-no Unido e a África do Sul.

No presente ano, a Companhia do Vandúzi S.A. foi galardoada com o pré-mio IPEX, por ter sido a empresa que maior crescimento obteve em termos de exportações durante o ano 2007/2008.

Já no ano anterior tinha recebido o prémio Ipex por ter sido a empresa

exportadora mais inovadora. Estamos neste momento a dar os primeiros passos na comercialização dos nossos produtos, em Moçambique.

Qual é a política de responsabilidade social do Grupo Moçfer em Moçambique?

Para o Grupo Moçfer SA, o conceito de responsabilidade social assenta na criação de valor e consequente lucro como forma de criação de riqueza na economia em que se insere, como também nas pessoas que directa ou indirectamente interagem com as empresas do Grupo.

O nosso sucesso como empresa passa pela satisfação dos nossos clien-tes, dos nossos investidores, dos nossos parceiros institucionais, e do nos-so activo mais precioso que são os nossos colaboradores.

Estamos a desenvolver projectos sociais no âmbito da melhoria de condi-ções sociais dos nossos empregados, e a apostar em programas de sensi-bilização sobre a alimentação saudável e bem-estar.

Hoje em dia, quem está na área alimentar, tem obrigação de informar o consumidor acerca dos cuidados alimentares que deve ter e recomendar algumas práticas para se ter uma vida saudável.

Na protecção do meio ambiente, é nossa premissa gerir de forma susten-tada e responsável os recursos naturais que são um activo de todos nós.

Arnaldo Ribeiro Vice-Chairman Grupo Moçfer

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Revista Capital22

NEgóCIOS

Sérgio Mabombo (texto)

A cooperação entre o Brasil e Moçam-bique vive uma nova fase, caracte-rizada por um crescente fluxo de

investimento em sectores-chave de desen-volvimento económico para os dois países. Actualmente, as exportações brasileiras para Moçambique somam 100,4 milhões de dólares, mais 253.3 por cento sobre os 28,4 milhões de dólares de 2008. Entre-tanto, mesmo com o rápido crescimento de capitais brasileiros em Moçambique, al-guns analistas são de opinião de que o Bra-sil encontra-se longe de ser um dos grandes investidores no país tomando como base o facto deste país não constar do ranking do Centro de Promoção de Investimentos (CPI) onde se destacam países como a Áfri-ca do Sul, Inglaterra, Maurícias e Portugal.

O maior investimento brasileiro em África é o projecto de Moatize em Moçambique, pertencente à VALE, cujo orçamento se ci-fra em 1,5 biliões de dólares. O projecto Mo-atize fará de Moçambique o segundo maior produtor africano de carvão, depois da Áfri-ca do Sul, pois passará a exportar 11 milhões de toneladas por ano a partir de 2011 de acordo com o ministro de Desenvolvimento do Brasil, Miguel Jorge, aquando da sua vi-

sita a Moçambique, liderando uma delega-ção de 100 empresários brasileiros interes-sados em investir no mercado nacional.

Mas, se do lado brasileiro se verifica um rápido crescimento do volume das expor-tações para Moçambique (no valor de 32,4 milhões de dólares), do lado inverso, as ex-portações quedam-se nos 2.132 de dólares. Sobre este facto, Miguel Jorge concorda que as exportações moçambicanas para o Brasil sejam muito reduzidas, mas assegura que o alumínio, o algodão, o óleo vegetal, o couro e as peles são produtos moçambicanos com grande potencial de importação pelo mer-cado brasileiro. Numa altura em que já se tinha perdido esperanças sobre a instalação da fábrica de produção de antiretrovirais em Moçambique, Miguel Jorge veio assegu-rar que a mesma arranca ainda no final do

presente ano. O projecto compreende tam-bém a transferência do “know-how” brasi-leiro para futuros trabalhadores moçambi-canos da fábrica e repasse da tecnologia e equipamento.

O ministro brasileiro não deixou de real-çar que o projecto de internacionalização do aeroporto de Nacala (actualmente de uso exclusivo militar) conta com o finan-ciamento daquele país, através do Banco Nacional de Desenvolvimento Económico e Social (BNDES) que financiará 80 mi-lhões de um total de 110 milhões de dóla-res. O Brasil disponibilizou-se a financiar ainda a exportação de máquinas e equipa-mentos para o projecto de biocombustíveis no país. Durante a sua estadia no país, Mi-guel Jorge explicou que os equipamentos poderão ser usados na fase de produção agrícola (compreendendo tractores e co-lheitadeiras) e para a fase industrial que compreende uzinas completas e equipa-mentos para a co-geração de energia.

O facto de África beneficiar de tarifas espe-ciais concedidas pela União Europeia (UE) para a colocação de seus produtos neste mercado motiva o Brasil a investir nos bio-combustíveis em Moçambique como forma de explorar um mercado que se considera já garantido.

Brasil não exporta apenas novelas para Moçambique

Os moçambicanos devem ser turistas para que o sector seja auto-sustentável, inde-pendentemente da frequência de turistas estrangeiros. O posicionamento é de Fede-rico Vignate, consultor turístico da organi-zação holandesa de desenvolvimento SNV, e o mesmo refere também a necessidade dos cidadãos nacionais adquirirem a cultu-ra de viajar como forma de levar o rendi-mento das grandes cidades às de pequena e média dimensão.Actualmente, o contingente de brasileiros que fazem turismo no seu próprio territó-rio atinge os 150 milhões de cidadãos, ao passo que os estrangeiros representam 5 milhões.No caso de Moçambique, o facto de exis-tirem muitos feriados é, segundo Vignate, um forte dinamizador do turismo domés-tico. Dentro da mesma perspectiva, o consultor assegura ainda que, no dia em que olharmos atentamente para a cultura moçambicana como um tesouro, seremos capazes de cobrar caro pela gastronomia local.

“O que precisamos fazer é conjugar o de-senvolvimento económico com o desenvol-vimento sustentável, num ponto de vista social e ambiental,” assegurou.Em Maio deste ano, a Federação Internacio-nal de Futebol (FIFA) solicitou a Moçambi-que 400 camas para alojamento dos acom-panhantes das equipas que irão participar no Mundial de 2010, na África do Sul. Fontes do Ministério do Turismo (MITUR) asseguram

que o País espera disponibilizar 21 mil camas para os turistas durante aquele mega-evento desportivo. Actualmente, o país conta com 17 mil, sendo que os restantes quatro mil ainda se encontram em preparação. Não obstante, para Vignate, o importante neste cenário não é o investimento que visa uma demanda es-porádica (caso específico da Copa do Mundo) mas sim a que é permanente e desenvolvida pelo turista nacional.

É preciso estimular o turismo doméstico

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OPINÃO

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SAFARITEL

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Arsénia Sithoye (texto) . Luís Muianga (foto)

Depois de um longo estudo de avaliação das marcas realizado em todo o território nacional, a Intercampus finalmente divul-gou as Melhores Marcas de Moçambique (MMM) numa cerimónia em que esteve presente o ministro da Indústria e Comér-cio, António Fernando.

No total, foram avaliadas 101 marcas de 8 sectores, nomeadamente: Desporto, Even-tos, Telecomunicações, Banca & Seguros, Bebidas, Energia & Combustíveis, Bens de Consumo Imediato (produtos de limpeza, produtos de higiene e produtos alimenta-res) e Electrodomésticos.

A Hidroeléctrica de Cahora Bassa (HCB) foi distinguida como a melhor do ano 2009, com um indicador de atractividade de 82,9, sendo que aspectos como a qualidade, a intenção de compra, a lealdade, a identifi-cação e a singularidade contribuíram para reforçar esta atractividade.

Luís Couto, director executivo da Inter-campus, do grupo GFK, empresa promoto-ra do projecto MMM, referiu durante a ce-rimónia de divulgação das melhores marcas que “as promoções especiais e as activida-des realizadas pela HCB contribuíram bas-tante para a actractividade da marca, vis-to a marca não possuir produtos e serviços para o consumidor final, para além da boa relação preço-qualidade”. Reiterou ainda que a qualidade, a confiança e a boa relação

preço-qualidade são aspectos cruciais a ter em conta pois são consciente e inconscien-temente importantes para a atractividade das marcas.

Resultados da avaliação Na avaliação global das 101 marcas, foram

destacadas no topo das 10+ as seguintes: HCB, Nokia, OKI, Sony e Ngoma, enquanto na avaliação por sector foram identificadas 8 melhores marcas como ilustra a tabela.

A Mcel foi a melhor marca em termos de notoriedade total com 98.9%, seguida do BCI – 98.2%, Emose – 96.3%, Millenium – 95.3%, EDM – 93.9%, Vodacom – 92.9% e Colgate – 92,3%.

Tendo em conta as diversas marcas ana-lisadas em cada sector obteve-se o seguin-te ranking dos sectores: Bens de consumo imediato - 72.8, Electrodomésticos - 72.6, Eventos - 71.2, Energia & Combustíveis - 69.8, Telecomunicações - 68.3, Desporto -

66.4, Banca & Seguros 62.7, Bebidas - 61.4.Para se chegar aos resultados aqui apre-

sentados foram analisadas as componentes Brand Potencial Index (BPI) que traduz o valor da marca em números (o seu grau de actractividade), a notoriedade e a qualidade da notoriedade para cada uma das marcas avaliadas.

Luís Couto, explicou que a intenção do pro-jecto MMM não é promover a concorrência, mais sim mostrar os pontos positivos e ne-gativos das marcas para que as mesmas pos-sam desenvolver.

Por seu turno, o ministro da Indústria e Comércio, António Fernando, felicitou a In-tercampus - GFK pela iniciativa do projecto MMM, que encoraja as empresas a investir mais nas marcas. «Conhecendo os seus pon-tos fortes e fracos, as marcas podem evoluir. O desafio é desenvolver as marcas moçam-bicanas. Queremos ver as nossas marcas a atingirem patamares internacionais”, afir-mou António Fernando a propósito.

HCB no topo das MMM

maRCaS

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OPINÃO

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GESSER

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RECuRSOS humaNOS

As aceleradas transformações sociais, demográficas, culturais e tecnológi-cas em curso, com destaque a partir

da década de 1990 que marcou o início da Era da informação e do conhecimento, têm um impacto profundo nos am-bientes de trabalho, impondo a ne-cessidade de novas arquitecturas organizacionais e gerando novas expectativas, demandas e atitudes da força do trabalho.

Tais alterações, configuram ambientes altamente instáveis que exigem contínuo ajusta-mento das organizações e maior capacidade de se antecipar a tais mudanças para garantir o cumpri-mento de suas missões, sobrevivên-cia e/ou crescimento.

Inseridas na busca de produtividade e qualidade emergem para as empresas no-vas perspectivas de lidar com o seu patri-mónio humano.

É consentâneo entre os estudiosos e cientistas sociais e de administração que a riqueza nesta Era é o capital intelectual. Por isso, no actual ambiente de crescente competitividade, a empresa precisa atrair e manter profissionais mais competentes e criativos caso deseje prosperar.

A questão que se coloca, principalmente aos gestores é como conseguir perceber qual é o potencial do talento que a empresa tem e como avaliar.

O processo de identificação de talentos afigura-se fundamental para que a orga-nização possa realinhar suas estruturas de pessoal e para as pessoas, a vantagem é a possibilidade de planear o auto-desenvol-vimento por meio do conhecimento das suas potencialidades e dificuldades.

Embora não existam receitas mágicas, é de vital importância que a organização mi-nimize a ênfase na gestão do cargo e das tarefas e ampliar o foco nas competências (conhecimento, habilidade e atitude, co-mummente abreviadas CHA) permitindo que o indivíduo tome consciência daquilo que sabe fazer e que agrega valor ao seu negócio. A unidade de gestão passa a ser o indivíduo e as suas competências.

Além de executar as tarefas, cada pessoa deve consciencializar-se de que ela deve ser o elemento de diagnóstico e de solução

de problemas para uma melhoria contí-nua do seu trabalho dentro da organização, a que os japoneses chamam kaizem.

Podemos também visualizar a gestão de competências e a gestão do desempenho como novos instrumentos que fazem par-te de um mesmo movimento, voltado para oferecer alternativas eficientes de gestão às organizações.

Cabe aos gestores de recursos humanos o papel de municiar os diversos líderes a saber lidar com as pessoas e promover o desenvolvimento da aprendizagem con-tínua, porque as organizações só crescem quando as pessoas sentem que são reco-

nhecidas, que têm oportunidade de cres-cimento e que as regras são claras.

As inovações tecnológicas, por exemplo, se frustram ou perdem a sua força caso a organização não disponha de um capital humano efectivamente com-petente e comprometido com o trabalho e que nele encon-tre condições de auto-reali-zacão e crescimento.

Ressalte-se que a apren-dizagem compartilhada gera retornos crescentes, constituindo-se como van-tagem sustentável e, por isso, é necessário sim que a organização tenha pessoas competentes, mas fazê-las comunicar entre si e parti-lhar o seu conhecimento é ainda mais importante.

As organizações na Erado Conhecimento

Maria UambaPsicóloga Organizacional e Chefe de Divisão de Gestão Estratégica de RH e Formação na Autoridade

Tributária de Moçambique

“Embora não existam receitas mágicas, é de vital importância que a organização minimize a ênfase na gestão do cargo e das tarefas e ampliar o foco nas com-petências (conhecimen-to, habilidade e atitude, comummente abrevia-das CHA) permitindo que o indivíduo tome consciência daquilo que sabe fazer e que agrega valor ao seu negócio. A unidade de gestão pas-sa a ser o indivíduo e suas competências”

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INatuR

O Instituto Nacional do Turismo (Inatur), em parceria com outras organizações nacionais e internacionais que trabalham no sector do turismo entregou, na ma-nhã de ontem, na cidade de Maputo, certificados de formação a um total de 19 trabalhadores que exercem a sua actividade profissional em várias unidades turís-ticas e de restauração.

A acção inscrita no âmbito de acções visando con-solidar as acções que já vem sendo desenvolvidas através da campanha denominada Bem Servir tem como objectivos criar condições para o cumprimen-to do mandato do Instituto Nacional do Turismo como instituição que tem por missão operacionalizar o pro-cesso de formação de quadros ligados ao sector de hotelaria e turismo.

“Estamos a falar do campo médio e de execução da actividade turística nas estâncias. Por outro lado é dar oportunidade aos profissionais do sector em reciclar os seus conhecimentos porque já tiveram formação e dar formação de raiz aos que ainda não tiveram for-mação”, disse o director do Inatur, Bernardo Dramos.

A acção segundo disse é, sobretudo, direccionada a indivíduos que tem experiência e que podem passar

esta experiência para outros. É por isso que a forma-ção é mais virada para formadores. As pessoas terão a responsabilidade de passar e massificar esses co-nhecimentos para os demais que estão nos seus lo-cais de trabalho, nas suas áreas de jurisdição ao nível dos distritos, por exemplo” – explicou Dramos depois de, juntamente com os representantes da Internatio-nal Trade Center (ITC), Proserv e SENAC ter feito a entrega dos certificados aos capacitados.

Tendo a formação, abrangido, nesta primeira fase, as especialidades de andares, restaurantes e bares, a ideia é que as próximas acções incorporem outras especialidades do sector turístico e restauração no sentido de garantir que o país tenha uma marca con-solidada no que, ao bem servir, diz respeito.

Pelo facto de o país ainda ser novo na componen-te de formação de quadros principalmente do sector turístico, o Director do INATUR acredita que o país precisa ainda de fazer um grande esforço para garan-tir que o país esteja dotado de capacidade humana, altamente profissional e preparada para defender e corresponder às expectativas cada vez mais crescen-te do sector.

INATUR e parceiros formam formadores em Recepção e Andares

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Na indústria hoteleira

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EmPRESaS

Em tempos difíceis, normalmente está mais justificada a contenção orçamen-tal no treino e formação das pessoas.

Se é verdade que tem de existir coerência no corte dos custos, sinto também que é em mo-mentos como este que se torna vital cuidar do moral das equipas e das empresas. Princi-palmente, porque é mais complicado atingir objectivos ou entregar resultados, e porque aqueles que ficam após os despedimen-tos temem pela sua vida futura enquanto o fantasma do lay off continua a andar pelos corredores da empresa ou cantos da fábrica.

Trabalho com equipas há mais de 12 anos e não posso deixar de dizer que este é um mo-mento perigoso para as empresas deixarem de investir na coesão, motivação e energia das suas equipas. Posso-vos confessar que, desde finais de Dezembro do ano passado, a minha própria equipa já está a preparar o seu terceiro team building. É a única forma de aumentar a orientação das pessoas para os resultados face aos imensos motivos de distracção que surgem diariamente, ao mes-mo tempo que aprofundamos a consciência dos desafios que temos, enfrentando-os com um moral elevado e um alinhamento acima da média. Na General Electric, os gestores e as equipas de desenvolvimento de produto, em momentos cruciais, iniciavam os dias de trabalho com pequenos momentos de team building. Sabiam que quando a realidade apertava as equipas tinham de estar bem preparadas para responderem com eficácia.

Por tudo isso, acho muito estranho que a realização deste tipo de programas seja muito frequente - quase sempre na Prima-vera e no Verão ainda não muito quente - quando tudo vai bem, quando o negócio cresce e os lucros aumentam. E, em situa-ções de crise, em que todos têm de dar a mão, perceber que os tempos mudaram e o que é exigido de cada um num cenário em que se tem de atingir mais com menos re-cursos, acabamos por eliminá-los. Arrisco, inclusivamente, em dizer que muitas em-presas e gestores pensam que fazer um team building durante uma crise económica é um sinal de desperdício de dinheiro.

Há que mudar o discurso e a acção. Em vez de confrontar constantemente as pes-soas com as más notícias e ameaças, há que assumi-las com uma mentalidade em que todos sentem que estão mais fortes como

equipa do que em qualquer outro momento. Com um sentido de pertença elevado, capaz de acelerar os níveis de responsabilização individual que são determinantes quando os ‘ventos não sopram a favor’.

Os níveis de stress ao longo deste período sobem tanto que transformam todas as prioridades, e aquilo que não é prioritário numa emergência. As agendas ficam confu-sas e a energia investida, ou trabalho árduo, mistura-se com conceitos como estratégia e iniciativa. Acredito que o rendimento das empresas, equipas e pessoas surge de um equilíbrio entre o ‘fazer’ e o ‘parar’ para pen-sar naquilo que se está a fazer. Da mesma forma que acredito que nestes dias as pes-soas dedicam-se muito ao ‘fazer’, sem inter-calarem com os necessários momentos de reflexão.

Para sobreviver e alcançar o sucesso de forma sustentada não basta cortar custos, reestruturar e despedir pessoas. As empre-sas têm de construir uma atitude ganhadora e ambiciosa, que conduza as pessoas a per-correrem um caminho claro num horizonte que, aparentemente, não tem passagem. É por isso que fazer um team building não é um luxo! É um exercício de reflexão de eq-uipa muito sério - desde que não se limite a um conjunto de jogos aplicados sem um propósito claro, a um paint ball ou descidas de rios sem qualquer relação com a reali-dade. Tendo objectivos concretos a atingir, constitui sempre um momento de treino e aprendizagem, que suporta uma atitude mais positiva, competitiva e inovadora, es-sencial para o sucesso a longo prazo da or-ganização.

Team Building. Um luxo desnecessário?

Mário Henriques,Partner da High Play Consultores

[email protected]

“Há que mudar o discurso e a acção. Em vez de con-frontar constantemente as pessoas com as más notí-cias e ameaças, há que as-sumi-las com uma mentali-dade em que todos sentem que estão mais fortes como equipa do que em qualquer outro momento. Com um sentido de pertença el-evado, capaz de acelerar os níveis de responsabilização individual que são determi-nantes quando os ‘ventos não sopram a favor’”

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OPINÃO

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GALILEU

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EmPRESaS

Alguns alunos do IPCI (Instituto Profissional de Comunicação e Imagem) entram em contacto co-

migo para relatarem as suas experiências durante o seu estágio. Geralmente, apre-sentam as seguintes situações: “Faço tudo certo mas não sou reconhecido”; “O colega que exercia as mesmas actividades ou res-ponsabilidades foi contratado e eu não”; “O meu chefe não me reconhece”; “Sou desvalorizado”, “Nem dão conta da minha existência”…

Excepções à parte, mas o que provavel-mente se passa nestes casos é manifesta falta de marketing pessoal. E o que é isso?

Quando falamos de um produto, sabe-mos que existem esforços para que o mes-mo seja notado, apreciado e adquirido. São os esforços de marketing em acção. Ferramenta de gestão que visa aumentar as vendas dos produtos, utilizando a seu favor a divulgação através da promoção, publicidade, embalagem, etc..

O marketing pessoal também pode fun-cionar da mesma forma em benefício da sua própria carreira. Trata-se de uma ferramenta que lhe permite fazer-se no-tado pelas suas qualidades, habilidades e competências. Ser distinguido por “apari-ções” tolas é péssimo para a sua imagem, uma vez que será sempre recordado não como um bom profissional. Neste caso, aquele ditado que diz: “falem mal, mas falem de mim” não o beneficia. Então, o que devemos fazer para termos um bom marketing pessoal e sermos reconhecidos e valorizados, obtendo assim o sucesso e a realização profissional durante o estágio ou emprego?

Algumas sugestões

Deve transmitir confiança aos seus supe-riores e companheiros de trabalho. Deve ser a pessoa que todos sabem que se algo precisa ser bem feito, terá de ser feito por si. Precisa saber o que está a fazer e por-que o está a fazer. Evite executar algo que o mandem fazer, sem saber exactamente do que se trata. Diferencie-se, torne-se um especialista nas suas actividades.

Saiba trabalhar em equipa e administrar

conflitos. Mesmo que tenha mais habilida-des em determinadas actividades, colabore para o desenvolvimento dos seus colegas de trabalho. Afinal, uma equipa coesa produz mais, melhor e com muito mais satisfação.

Saiba valorizar o seu trabalho e apresente

bons resultados. Tenha uma boa visibilida-de. Sempre que tiver oportunidade, além dos resultados apresente os seus projectos e ideias, mesmo que informalmente.

Ser lembrado como um profissional par-ticipativo, seguro, responsável, líder, ético, bem-humorado e organizado não preju-dica ninguém e confirma à empresa que ela fez a escolha certa ao integrá-lo na sua equipa.

E lembre-se: se estiver a participar de um processo selectivo ou do seu primeiro em-prego através de um estágio, saiba o que pode oferecer à empresa. Não vá apenas para aprender ou para cumprir apenas com uma obrigação curricular, mas para contri-buir. As empresas querem resultados e não são escolas. Concerteza aprenderá muito na organização e obterá excelentes expe-riências, mas isso deverá ser consequência do seu trabalho e não apenas um processo de aprendizagem.

Marketing Pessoal, o que é?

Nadim Cassamo

Director Pedagógico do IPCI e docente de Marketing

«Deve transmitir con-fiança aos seus superiores e companheiros de traba-lho. Deve ser a pessoa que todos sabem que se algo precisa ser bem feito, terá de ser feito por si. Precisa saber o que está a fazer e porque o está a fazer. Evite executar algo que o mandem fazer, sem saber exactamente do que se trata. Diferencie-se, tor-ne-se um especialista nas suas actividades»

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OPINÃO

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PWC

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fISCalIdadE

A Locação Financeira, também co-nhecida por leasing, constitui uma alternativa de financiamento para a

aquisição de bens (sobretudo equipamen-to e instalações) por parte de empresários com dificuldades de acesso ao crédito tra-dicional ou que optem por um instrumento flexível. Facilita, igualmente, a renovação tecnológica dos equipamentos.

No presente artigo abordaremos a proble-mática da isenção do Imposto sobre o Va-lor Acrescentado (IVA) na locação finan-ceira que, paradoxalmente, limita o acesso das empresas a este instrumento.

Conceito e estrutura do leasing

A locação financeira é um contrato pelo qual uma das partes (Locador) se obri-ga, mediante retribuição, a ceder à outra (Locatário) o gozo temporário de coisa, móvel ou imóvel, adquirida ou construída por indicação do Locatário, a qual pode-rá, ou não, ser afecta a um investimento produtivo ou a serviços de manifesto in-teresse económico ou social, e que o Loca-tário poderá comprar, decorrido o período acordado, por um preço determinado ou determinável nos termos do contrato, de acordo com a alínea p) do artigo 2 da Lei n.º 15/99, de 01 de Novembro, conforme alteração introduzida pela Lei n.º 9/2004, de 21 de Julho.

Na prática, a locação financeira é uma ope-ração que se traduz numa relação trilateral entre: (a) o Locatário e o Fornecedor de bens; (b) o Locador – entidade autorizada a realizar operações de locação financeira - e o Fornecedor de bens; e, por último, (c) o Locador e o Locatário.

Tratamento fiscal em sede de IVA

O Leasing, como operação financeira, está isento de IVA, nos termos do disposto no n.º 4 do artigo 9.º do Código do IVA (CIVA), aprovado pela Lei n.º 32/2007, de 31 de De-

zembro, conjugado com a Lei n.º 15/99

Acontece, porém, que a operação de lea-sing não se resume na relação entre o loca-dor e locatário, como referido acima.

Assim, torna-se importante esquematizar as relações jurídicas que compreendem a operação, descrevendo o seu impacto fiscal em sede de IVA:

a) Relações Locatário versus

Fornecedor de bens

Em regra, não se constituem quaisquer ti-pos de relações contratuais entre o Loca-tário e o Fornecedor de bens. As relações traduzem-se no mero acerto das caracte-rísticas técnicas e preço do bem e condi-ções de pagamento, consubstanciados, em regra, numa factura pró-forma.

No que se refere ao IVA, esta relação é irre-levante, pois não consubstancia qualquer facto gerador deste imposto.

b) Relações Locador versus

Fornecedor de bens

Estas relações consubstanciam-se quase sempre na celebração de um contrato de compra e venda, mediante o qual o Loca-dor adquire determinados bens de interes-se exclusivo do Locatário para efeitos de celebração do contrato de leasing, o qual, posteriormente, servirá para acautelar o seu crédito em caso de incumprimento do locatário.

Em termos do IVA, esta relação é relevan-te, considerando que, sempre que a opera-ção em causa está sujeita e não é isenta do referido imposto (e.g. aquisição de viatu-ras, equipamentos, etc.), o Fornecedor dos bens é obrigado a liquidar o IVA e o Loca-dor a suportá-lo.

Maior relevância e impacto negativo assu-me esta operação se considerarmos o fac-to de o Locador não poder deduzir o IVA então suportado aquando da aquisição do bem.

Nos termos da alínea a) do nº 1 do artigo 19 do Código do IVA, só pode deduzir-se

A isenção do IVA nas operações de Leasing

Leila Madeira

ConsultoraPricewaterhouseCoopers

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Revista Capital 33

fISCalIdadE

A isenção do IVA nas operações de Leasingo imposto que tenha incidido sobre bens adquiridos, importados ou utilizados para a realização de operações de transmissão de bens e prestação de serviços sujeitos a imposto e dele não isento.

c) Relações Locador versus Locatário

A operação de locação financeira define-se, particularmente, nesta relação, pois nela se fixam os seus elementos essenciais, con-forme foi destacado acima.

No tocante ao IVA, esta relação está isenta do imposto por se considerar uma opera-ção financeira.

Por conseguinte, o Locador não deverá, por um lado, liquidar o IVA nas facturas emi-tidas ao Locatário e nem, por outro, dedu-zir o IVA suportado aquando da aquisição do bem, visto as operações bancárias e fi-nanceiras consubstanciarem uma isenção simples – sem direito a dedução.

Considerando o acima exposto, importa reter, resumidamente, que o Locador, em primeiro lugar, adquire o bem ao Forne-cedor suportando, sempre que aplicável, o IVA e, posteriormente, cede-o em regi-me de locação financeira ao Locatário (i) sem liquidar o IVA e (ii) sem deduzir o IVA suportado aquando da aquisição do bem.

O facto de não ser possível ao Locador deduzir o IVA suportado aquando da aquisição dos bens, cujo gozo é poste-riormente concedido ao Locatário por força do contrato de locação financeira, acarreta consequências nefastas para a operação, conforme se apresenta de se-guida –

l O Locador, impedido de exercer o di-reito à dedução do IVA suportado, é compelido a repercutir adiante a car-ga fiscal ora suportada e adicionar ao preço a ser pago pelo Locatário;

l Assim, às rendas de locação financei-ra, embora isentas do IVA, serão sem-pre adicionadas pelo valor do IVA não dedutível pelo Locador;

l Na óptica do consumidor (sem o qual as operações de locação financeira não fazem qualquer sentido), o custo de aquisição de bens em regime de locação financeira poderá tornar-se bastante oneroso quando comparado com outras operações de concessão de créditos (e.g. mútuos bancários).

Portanto, a situação acima referida con-tribui eventualmente para que as ope-rações de locação financeira se tornem pouco atractivas para os consumidores quando comparadas com as operações tradicionais de financiamento, facto que poderá conduzir ao desuso deste tipo de operação no mercado financeiro em Mo-çambique, reduzindo-se, por conseguin-te, as alternativas de acesso e de conces-são de crédito.

Nestes termos, é urgente rever ou alterar o regime fiscal do IVA nas operações de locação financeira, por forma a torná-las mais atractivas e competitivas, sobretudo considerando o seu papel no contínuo de-senvolvimento do sistema financeiro em Moçambique e na promoção das peque-nas e médias empresas. Mais importante se torna, ainda, numa altura em que se reputa necessária a expansão de serviços financeiros para as zonas rurais.

Em jeito de conclusão sugerir-se-ia a “quem de direito” que:

l Fosse retirada a isenção do IVA nas operações de locação financeira pas-sando as transacções em causa a se-rem operações sujeitas a imposto, permitindo a respectiva liquidação e dedução; ou alternativamente,

l Fosse conferido o direito à dedução do IVA suportado pelas entidades autori-zadas a realizar operações de Locação Financeira nas aquisições de bens a serem, posteriormente, disponibiliza-dos aos respectivos clientes em regime de locação financeira.

“Em regra, não se constituem quaisquer tipos de relações con-tratuais entre o Loca-tário e o Fornecedor de bens. As relações traduzem-se no mero acerto das caracterís-ticas técnicas e preço do bem e condições de pagamento, consubs-tanciados, em regra, numa factura pró-forma.No que se refere ao IVA, esta relação é irrelevante, pois não consubstancia qual-quer facto gerador deste imposto”

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Revista Capital34

EmPRESaS

BCI oferece cabazes solidários e brinquedos a crianças hospitalizadas

O BCI ofereceu cente-nas de cabazes solidári-os e muitos brinquedos

a mais de 500 crian-ças internadas em 11

Hospitais Centrais e Provinciais de Maputo,

Xai-Xai, Maxixe, Inham-bane, Chimoio, Beira,

Tete, Quelimane, Nam-pula, Pemba e Lichinga.

Foram 11 acções de responsabilidade social realizadas em simultâ-neo, em todo o país no dia 12 de Dezembro, e

contavam com a partici-pação activa dos Admin-

istradores Executivos, Directores Comerciais,

Gerentes e muitas deze-nas de outros Colabora-

dores do BCI.

O BCI ofereceu um importante apoio social no sábado, dia 12 de Dezembro, através da distribuição de cabazes solidários (com produ-tos básicos) e muitos brinquedos a mais de 500 crianças internadas nos Serviços de Pediatria de 11 Hospitais Centrais ou Provinciais, em todo o país: Maputo, Xai-Xai, Maxixe, Inhambane, Chimoio, Beira, Tete, Quelimane, Nampula, Pemba e Lichinga.

A entrega destes Cabazes solidários e brinquedos às crianças interna-das aconteceu à mesma hora (10h00) em todas as Capitais Provinci-ais, em acções inseridas no programa de responsabilidade social do BCI, com a participação activa dos Administradores Executivos, Direc-tores Comerciais, Gerentes de Agência e de muitos outros Quadros e Colaboradores do Banco.

Com estas acções, o BCI pretende oferecer um pouco de alegria a todas as crianças que, por infortúnio, permanecem internadas nos serviços de Pediatria dos principais Hospitais nacionais. Trata-se de um gesto simbólico, numa quadra em que a solidariedade e a partilha são valores a praticar, na certeza de que um pouco de conforto e o sorriso destas crianças será a maior recompensa.

No total, foram mais de 500 crianças aquelas que em todo o país abraçámos com este gesto, por isso simbólico, a todas as crianças moçambicanas e, em especial, às que se encontram doentes.

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Revista Capital 35

EmPRESaS

BCI

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ERNSt & yOuNg

Após um período de interregno em matérias de contabilidade, onde se abordaram temas como Corporate

Governance, e na sequência da apresen-tação pública do Sistema de Contabilidade para o Sector Empresarial em Moçambi-que, regressamos às matérias relacionadas com as Normas Internacionais de Relato Financeiro, passando a reflectir sobre as características essenciais do documento recentemente aprovado pelo Conselho de Ministros.

O contexto internacional

A contabilidade internacional, em es-pecial quando analisamos os normativos contabilísticos adoptados por cada país, é o resultado de diferentes factores – sociais, económicos e políticos – que estiveram na base das diversas e significativas diferen-ças no relato financeiro das empresas dos vários países.

A internacionalização da economia, das empresas e dos investidores potenciaram a mudança no sentido do desenvolvimen-to duma linguagem contabilística comum, onde as Normas Internacionais de Relato Financeiro (NIRF) assumem o papel prin-cipal no palco financeiro internacional.

Actualmente, mais de 100 países já se as-sociaram à nova linguagem contabilística internacional, através da adopção directa das NIRF, do alinhamento dos seus nor-mativos nacionais às NIRF ou do compro-metimento em proceder à sua implemen-tação num futuro próximo.

O contexto nacional

Face às evoluções internacionais, Mo-çambique não poderia ficar alheio a todas estas tendências uma vez que a sua integra-ção no processo de harmonização contabi-lística internacional assume-se como mais um passo significativo na sua trajectória de desenvolvimento representando um marco importante no sentido da contínua integração na comunidade internacional

dos negócios através do acompanhamento das tendências económicas internacionais e regionais.

A implementação das NIRF em Moçam-bique iniciou-se com a entrada do sector fi-nanceiro em 2007 e 2008 (integralmente), estando a adopção no Sector Segurador em curso. Contudo, a adopção plena das NIRF no país não poderia ficar completa sem a entrada do sector empresarial aprovada para os exercícios de 2010 e 2011.

O Sector Empresarial

Para que o sector Empresarial Moçambi-cano se possa assumir como um “player” nos negócios e mercados de capitais in-

ternacionais, a adopção de um normativo contabilístico assente em padrões interna-cionais revela-se de extrema importância.

Torna-se então necessário definir quais as regras de aplicação para o tecido em-presarial, distinguindo, claramente, quais as empresas que deverão adoptar o novo normativo e em que momento, informa-ção considerada fundamental para que as entidades se possam preparar em termos de recursos e conhecimentos para fazer face aos desafios que o novo normativo impõe.

Tendo consciência do desafio que seria colocado às empresas, Moçambique optou por implementar as NIRF, através de um novo normativo contabilístico baseado nas NIRF, de uma forma faseada, sendo inicialmente abrangidas as empresas de grande dimensão, já em 2010, e apenas no ano seguinte (2011) as empresas de média dimensão. De fora do âmbito de aplicação obrigatória ficam as pequenas e demais empresas que continuarão a aplicar um normativo mais simples, sem grandes alterações face ao enquadramento conta-bilístico que actualmente se encontra em vigor.

De seguida discutem-se os principais aspectos do Decreto de aprovação do Sistema de Contabilidade para o Sector Empresarial em Moçambique (SCE) e, posteriormente, do próprio SCE, apresen-tados publicamente no passado dia 20 de Novembro de 2009.

O Sistema de Contabilidade para o Sector Empresarial em Moçambique – o Decreto

Um dos aspectos fundamentais previstos no Decreto de aprovação do SCE está re-lacionado com a aplicação do Sistema em todo o tecido empresarial. Desta forma, iremo-nos debruçar sobre quais as em-presas que deverão aplicar o SCE, em que moldes, e em que momento.

O SCE agrega todo o normativo conta-bilístico a ser adoptado pelo tecido em-

Passo decisivo no processo de adopção das Normas

Internacionais de Relato Financeiro em Moçambique

O Sistema de Contabilidade para o Sector Empresarial em Moçambique

Manuel Relvas Audit PartnerErnst & Young

“Tendo consciência do desafio que seria colocado às empresas, Moçambique optou por implementar as NIRF, através de um novo nor-mativo contabilístico ba-seado nas NIRF, de uma forma faseada, sendo inicialmente abrangidas as empresas de grande dimensão, já em 2010, e apenas no ano seguinte (2011) as empresas de média dimensão”

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ERNSt & yOuNg

presarial Moçambicano estando dividido em dois Planos Gerais de Contabilidade, a serem aplicados consoante a dimensão das empresas: o Plano Geral de Contabilidade com base nas NIRF (PGC-NIRF), constan-te do Título I e aplicável às empresas de grande e média dimensão, e o Plano Geral de Contabilidade para as pequenas e de-mais empresas (PGC-PE), constante do Tí-tulo II e aplicável a todas as entidades que não se qualifiquem de grande ou de média dimensão.

Importa, então, perceber quais as carac-terísticas que determinam se uma empresa se deve considerar de grande ou de média dimensão, onde se destacam critérios de natureza jurídica e/ou de mercado assim como critérios económicos.

No que se refere ao âmbito de aplicação do PGC-NIRF importa ainda salientar uma faculdade que se encontra prevista no De-creto e que vem permitir às empresas que não se enquadrem em qualquer dos limites acima identificados a aplicação do PGC-NIRF devendo, para o efeito, efectuar uma comunicação escrita à Direcção de Área Fiscal competente.

Tendo Moçambique optado por uma aplicação faseada no Sector Empresarial, o Decreto vem definir como datas de entrada em vigor as seguintes:

l PGC-NIRF. Empresas de grande dimensão – apli-

cação obrigatória no exercício económico que se inicia em 1 de Janeiro de 2010;

. Empresas de média dimensão – apli-cação obrigatória no exercício económico que se inicia em 1 de Janeiro de 2011;

l PGC-PE. Aplicação obrigatória no exercício eco-

nómico que se inicia em 1 de Janeiro de 2011.

O Sistema de Contabilidade para o Sector Empresarialem Moçambique – os Planos

Conforme já referimos no presente arti-go, o SCE agrega dois Planos que, a partir de 1 de Janeiro de 2010, com plena imple-mentação em 1 de Janeiro de 2011, vêm determinar o normativo contabilístico a aplicar pelo Sector Empresarial em Mo-çambique. Iremos, de seguida, fazer uma breve abordagem de cada um deles sa-lientando quais as maiores alterações, ao nível estrutural, face ao enquadramento contabilístico actual.

O PGC-NIRF foi o mecanismo escolhi-do por Moçambique para fazer introduzir as NIRF no seu tecido empresarial, mos-

trando-se como uma evolução qualitativa significativa na contabilidade do país já que permite o alinhamento com as me-lhores práticas internacionais. Para além das Normas de Contabilidade e de Relato Financeiro (NCRF) previstas no capítulo 1.4, que vêm determinar todas as políti-cas contabilísticas previstas no Plano, foram incluídos também capítulos adicio-nais com o Quadro Conceptual, em linha com os normativos contabilísticos mais avançados, e com as regras para a primei-ra aplicação, apoiando os utilizadores a identificar a forma de alterar as políticas contabilísticas actuais para as previstas no novo normativo. Ainda no PGC-NIRF destaca-se a existência de três outros ca-pítulos que visam essencialmente criar uma base de apoio aos profissionais já que estabelecem um código de contas e modelos de demonstrações financeiras (não previstos nas NIRF originais) bem como uma tabela de correspondência com as NIRF que permite a identificação clara das Normas que lhe serviram de base.

No que se refere ao PGC-PE, destacam-se as alterações efectuadas de forma a uniformizar conceitos e terminologias. Não se assumindo como uma alteração significativa face ao actual PGC, uma vez que o modelo de adopção em Moçambi-que deixa de fora da obrigatoriedade as pequenas e demais empresas, verifica-se uma evolução no sentido de harmoniza-ção de terminologias face ao PGC-NIRF. Salienta-se ainda a readaptação dos có-digos de contas, facto que garante a con-sistência do SCE, e o não afastamento dos princípios contabilísticos previstos no PGC que vem substituir.

Em futuras edições iremos abordar ma-térias concretas previstas no SCE, pre-tendendo-se com o presente artigo efec-tuar um breve enquadramento no novo normativo que será em breve aplicado no Sector Empresarial em Moçambique, identificando as maiores características do documento que fará parte do dia a dia das empresas moçambicanas.

Passo decisivo no processo de adopção das Normas

Internacionais de Relato Financeiro em Moçambique

O Sistema de Contabilidade para o Sector Empresarial em Moçambique

EMPRESAS DE GRANDE DIMENSÃO

EMPRESAS DE MÉDIA DIMENSÃO

Entidades de interesse públicoCritério jurídico e/ou de mercado

Empresas públicas ou maioritariamente públicas

Sociedades com títulos cotados em Bolsas de Valores

Outras entidadesCritério económico

Outras sociedades que ultrapassem 1 dos critérios de dimensão com base nas suas demonstrações financeiras anuais individuais

• Proveitos totais (M Meticais)• Activo líquido (M Meticais)• Média anual de trabalhadores

≥ 1.275≥ 1.275≥ 500

≥ 500 e < 1.275≥ 500 e < 1.275≥ 250 e < 500

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OPINÃO

Revista Capital38

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Revista Capital 39

Num Mundo onde a crise afecta to-dos os mercados, principalmente os mais influentes, onde as empresas

se encontram em dificuldades e os Estados procuram soluções que tardam em apa-recer, Moçambique afigura-se como um País onde as empresas podem encontrar facilidades em se estabelecer. Detentor de um mercado com graves carências, existe espaço e abertura para novos projectos de investimento nas mais variadas áreas de actuação.

Com vista a promover esses investimen-tos, a legislação moçambicana contém uma série de normas que contemplam al-guns incentivos e facilidades para aqueles que, estando nas condições exigidas, pre-tendem implantar projectos em território moçambicano. A par da legislação, o CPI (Centro de Promoção de Investimentos) é uma grande mais-valia ao serviço dos in-vestidores.

Para que se possa encontrar ao abrigo da Lei do Investimento, do seu Regulamento e dos incentivos que daí advêm, o projec-to a realizar deverá respeitar o “Princípio básico e orientador dos Investimentos”, ou seja, o projecto de investimento deverá contribuir para o sustentável desenvolvi-mento sócio-económico do país.

Aos projectos que se enquadram nestes requisitos, são concedidos, como já foi re-ferido, alguns incentivos e garantias. Desde a protecção jurídica da Propriedade sobre Bens e sobre Direitos, onde se incluem os Direitos de Propriedade Industrial, pas-sando pela possibilidade de transferências de fundos para o exterior, até um conjunto de incentivos fiscais e aduaneiros.

As transferências de fundos para o exte-rior, embora sujeitas a limitações e requi-sitos, apresentam-se como um dos factores de maior relevo para o investidor estran-geiro. Entre outras, é concedida ao inves-tidor estrangeiro a possibilidade de, após o cumprimento de obrigações fiscais e obrigações perante o Estado e terceiros, de exportar parte ou totalidade dos lucros que lhe cabem em cada exercício económico. É o que a legislação denomina de Lucro Ex-portável. As transferências de fundos para

o exterior, podem também visar Royalties, Amortizações e Juros de empréstimos, in-demnizações (relativas a incidentes com Direitos de Propriedade Industrial) e o ca-pital estrangeiro investido e reexportável.

Os Incentivos Fiscais e Aduaneiros são também factores com grande peso na ba-lança decisória do investidor. A carga fis-cal inerente a qualquer negócio, dificulta

muitas vezes a criação, instalação e ma-nutenção de empresas em todo o mundo, constituindo uma vantagem, um regime fiscal que concede benefícios à instalação de empresas e à realização de investimen-tos. O Código dos Benefícios Fiscais atri-bui facilidades aos investidores, quer seja na modalidade de isenção ou na modali-dade de redução da carga fiscal a aplicar, permitindo que estes destinem os fundos que estariam destinados aos impostos, na prossecução do seu negócio. Veja-se, por exemplo, a isenção do pagamento do IVA e direitos aduaneiros nas importações de maquinarias e equipamentos (classe “K” da pauta Aduaneira) e o peso que a mesma tem no projecto de um investidor estran-geiro que importa bens e recursos do seu país de origem para os aplicar no seu negó-cio em Moçambique.

Embora não se enumerem todas as facili-dades que a legislação moçambicana conce-de aos investidores, os referidos incentivos e benefícios, apresentam-se como fortes factores de captação de investimento, tão necessário e indispensável aos objectivos sócio-económicos de Moçambique.

RESENha juRídICa

Investimento Estrangeiro em Moçambique (Breve Explanação)

Gonçalo Morgado Marques,

Consultor – Ferreira Rocha & Associados- Sociedade de Advogados, Limitada

[email protected]

“O Código dos Benefícios Fiscais atribui facilidades aos investidores, quer seja na modalidade de isen-ção ou na modalidade de redução da carga fiscal a aplicar, permitindo que es-tes destinem os fundos que estariam destinados aos impostos, na prossecução do seu negócio”

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Revista Capital40

BRASILParceria na área de biocombustíveis

Empresários moçambicanos, brasileiros e da África Austral estiveram reunidos em Maputo para analisar as oportunidades de investimento na área dos biocombustíveis, particularmente na produção de álcool a partir da cana-de-açúcar em Moçambique.

Organizado pelo Centro de Promoção de Investimentos de Moçambique (CPI), em parceria com o Governo moçambicano e empresas brasileiras integrantes do Arran-jo Produtivo Local do Álcool (APLA), esta iniciativa surge pelo facto do Brasil ser o líder mundial na conversão de açúcar em álcool.

Falando durante o evento, o embaixa-dor brasileiro em Moçambique, António de Souza e Silva, disse que ambos os paí-ses estão a viver um momento virtuoso e citou como exemplos os vários programas de cooperação existentes entre os dois pa-íses, destacando a construção de um Cen-tro Florestal na Manhiça, uma unidade da Universidade Eduardo Mondlane (UEM), com o apoio da Agência Brasileira de Co-operação, os empreendimentos de carvão em Moatize, na província central de Tete, e a construção de uma fábrica de medica-mentos anti-retrovirais (ARVs) em Mapu-to.

Segundo o diplomata, a alternativa do etanol faz sentido para a segurança do abastecimento do combustível em Moçam-

bique, para a segurança do produtor da cana-de-açúcar, que passa a dispor de um mercado para parte da sua produção e para a preservação do meio ambiente.

Por seu turno, Roberto Albino director do Centro de Promoção de Agricultura de Moçambique (CEPAGRI), fez um breve historial do sector do açúcar no país e ex-plicou que o mesmo conheceu uma nova fase após a assinatura do Acordo Geral de Paz com o lançamento de um programa do Governo virado a reabilitação e reestrutu-ração do sector.

“Conseguimos atrair investidores in-ternacionais que durante a década de 90 investiram cerca de 16 milhões de dólares norte-americanos, recuperando os cam-pos agrícolas e unidades industriais de Marromeu, Mafambisse, Maragra e Xi-navane, e passamos de uma produção de cerca de 30.000 toneladas de açúcar em 1998 e hoje já estamos a produzir um pou-co mais de 250.000 toneladas”, adiantou Albino.

De recordar que o Brasil é reconhecido como um grande centro de empresas e instituições públicas e privadas ligadas ao sector da conversão de açúcar em álcool, cobrindo a cadeia agro-industrial da cana-de-açúcar desde o desenvolvimento de tec-nologias industriais e agrícolas, fabricação de máquinas e equipamentos, desenvolvi-mento de variedades de cana e prestação de serviços diversos até à participação efectiva no desenvolvimento e estrutura-ção do mercado.

ZIMBABWEPoderá adoptar o rand como moeda oficial

O Zimbabwe poderá adoptar o rand sul-africano como sua moeda oficial, aderin-do assim à União Monetária do Rand, de acordo com o ministro zimbabweano de indústria e comércio Welshman Ncube.

Segundo Welshman Ncube, a sua insti-tuição já está a fazer “lobbies” junto do Ministério das Finanças para submeter um relatório sobre o assunto ao Conse-lho de Ministros antes da apresentação do Orçamento do Estado para o ano de 2010.

“A comunidade empresarial é unânime sobre a adesão do país à União Monetá-ria do Rand”, revelou o ministro, acres-centando que é uma boa decisão para o interesse da comunidade empresarial. “Esperamos que o ministro das finan-ças (Tendai Biti) venha a considerar a apresentação do relatório ao Conselho de Ministros para se deliberar sobre a adesão do país antes da apresentação do Orçamento do Estado para o próxi-mo ano”, disse.

Na ocasião, o ministro declarou ser pro-vável a aprovação da referida proposta se a mesma for apresentada ao Conselho de Ministros.

Assim, Ncube dissipou todas as espe-culações sobre o regresso Dólar Zimba-bweano ao mercado, que foi retirado da circulação em Fevereiro do corrente ano, e afastou a possibilidade do Zimbabwe vir a usar o dólar americano como sua moeda oficial devido ao relacionamento hostil entre o Zimbabwe e os EUA.

De acordo com Welshman Ncube, os “lobbies” da comunidade empresarial para a adopção do Rand como a moeda oficial no Zimbabwe, surge numa altura em que os países-membros da Comuni-dade de Desenvolvimento da África Aus-tral (SADC) estão a debater a introdução de uma moeda única na região para faci-litar as trocas comerciais.

Actualmente, a União Monetária do Rand integra apenas quatro dos 15 paí-ses membros da SADC, nomeadamente a África do Sul, Lesotho, Swazilândia, Namíbia. Se a proposta da comunidade empresarial for aceite pelo governo zim-babweano, o Zimbabwe poderá tornar-se no quinto país membro desta União.

muNdO

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OPINÃO

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ACADEMICA

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EStIlOS dE vIda

A vida na cidade de Maputo foi contada através da imagem, durante a primeira ex-posição dos fotógrafos Solange dos Santos e Dominique Andereggen, cuja inaugura-ção teve lugar na estação de comboios dos Caminhos-de-Ferro de Moçambique.

Inspirados em grande parte pelo mar e

pelo quotidiano maputense, Solange e Do-minique (talvez por receio de interpreta-ções velozes) recusam-se vivamente a que a sua intenção seja a de trazer algo mais do que momentos, através das imagens.

Entretanto, o poeta Calane da Silva asse-gura-nos que “há uma mensagem em cada

fotografia relativa a aspectos sociológicos e arquitectónicos que Maputo encerra”.

O facto de se ter realizado a exposição na estação dos Caminhos-de-Ferro (um patri-mónio que figura entre os dez mais belos a nível mundial) confirma o cuidado que So-lange dos Santos teve em escolher um es-paço que está exactamente de acordo com a mensagem que quis-nos transmitir: “Ela quer não só nos trazer o título da exposi-ção Maputo a Cores mas também colorir os nossos olhos com imagens de uma es-tética muito especial”, insistiu o poeta na mensagem.

A forte actividade no dia-a-dia da cidade das acácias é o pano de fundo que se reve-la ena mostra “fotografias koloridas”, que não deixou de focar a contemporaneidade desta metrópole e as suas novas tendên-cias presas à história, aos usos e costumes, motivos mais do que suficientes para que a preparação merecesse dois anos.

Solange dos Santos e Dominique Ande-reggen são fotógrafos da Magmaphotogra-phy, sendo Solange a primeira graduada em fotografia em Nova Iorque (em 2007) e o segundo, natural da Suíça, é autodidacta por natureza e trabalha na área de fotojor-nalismo desde 2000.

Sérgio Mabombo

No espírito da problemática do aqueci-mento global, encontrei um artigo, de Mi-chael Hirst e Kate McGeown, no website da BBC onde se comparam as abordagens ao problema de duas cidades completamente diferentes: Roterdão e Maputo.

Em Roterdão encontra-se um dos mais movimentados portos do mundo, que fun-ciona alguns metros abaixo do nível do mar, com acesso aos mais diversos tipos de tecnologia e capital para lidar com o pro-blema da subida do nível do mar. Maputo é a capital de um dos mais pobres países do mundo, que vê todos os dias o mar a “co-mer a terra” sem saber muito bem o que fazer sobre o assunto.

Enquanto em Roterdão se discutem no-vas formas de lidar com o aumento do nível da água, como por exemplo, a viabi-lidade de “casas flutuantes”, em Maputo a manutenção da estrada costeira a funcio-nar é um problema de difícil resolução por

se revelar muito dispendiosa.A Cimeira de Copenhaga ganha impor-

tância não tanto na procura de soluções, mas na aplicação das que já existem. A coo-peração entre os países não terá de ser ape-nas de ajudas e compensações financeiras mas também na partilha de conhecimento e tecnologia, pois o problema é de todos.

A resolução deste problema é fundamen-tal para que mais pessoas possam usufruir da magnífica costa moçambicana e parti-lhar essas experiências como fez Ken Gol-dman no site do jornal “The Washington Post”. Ken ficou entusiasmado com um artigo sobre o Parque da Gorongosa e quis conhecer o país… e adorou ficar na ilha do Ibo.

Eis como a natureza estreita laços num momento em que todas as atenções se vol-tam para a preservação do mundo e das espécies…

Rui Batista

GALERIA

NA BOCA DO MUNDO

10.000 km de semelhanças

Um “olhar kolorido” sobre Maputo

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Revista Capital 43

EStIlOS dE vIda

Não. Não consigo adiar mais. Hoje tenho de falar do… melhor baterista do mundo! Pelo menos para mim. Acredito que para mui-tos (algum) de vocês também. Falo de Max Roach, o primeiro a uti-lizar a bateria como um instrumento… “melódico”.

Roach pertence, juntamente com Kenny Clarke e Art Blakey, à chamada “santíssima trindade” dos bateristas bop. Be-bop neste caso porque Roach também participou na outra fase bop, i.e., a fase hard, hard-bop, tendo mesmo ficado para a História como um dos membros responsáveis por institucionalizar o hard-bop.

Quanto ao outro bop, os melhores discos be-bop contam com a participação do grande Max Roach, ou seja, todas aquelas grava-ções de Charlie Parker, Miles Davis e Bud Powell naquela década de 40. Depois Roach andou em tournée pela Europa e em 1952 re-encontra o amigo trompetista Clifford Brown. Esta parceira deu os seus frutos e mais daria, certamente, não fosse a morte precoce de acidente de automóvel de Brown. Falaremos dele noutro dia por-que merece.

Em termos técnicos Max Roach é o topo. Chegou a tocar tercinas com os pés! Aliás, com ele não há limites físicos dos pés e das mãos.

De referir que foi o primeiro músico a tocar swing em tempo de valsa e mesmo assim conseguiu fazer disso jazz!

Os discos com Parker, Davis e Powell já foram referenciados mas seria imperdoável omitir o histórico e mítico “We Insist: Freedom Now Suite”, uma homenagem aos estudantes de África. Quando se arriscou a falar aqui de Duke Ellington referiu-se o álbum “Money Jungle” e volto a relembrar que este disco de Duke Ellington tem a participação de Charles Mingus e de Roach. “What is This Thing Called Love” e “Love is a Many Splendored Thing”, gravadas em Fevereiro de 1956 são versões excelentes para se ouvir o hard-bop de Roach-Brown com a participação do mestre Sonny Rollins. Mas para se ouvir algo totalmente diferente: bateria com orquestra clás-sica ouça-se “Max Roach With The New Orchestra and The So What Brass Quintet”.

Arquitecto de sons e de ritmos, Roach sobrepõe figuras com uma precisão única e imprime uma unidade estrutural ao grupo. Seja ele qual for, o impacto ritmo-melódico é simplesmente fora de série.

Fernando Ferreira

CINESCóPIO FOTOLEGENDA

BEM vINDO AOS SEUS OUvIDOS

Pequeno texto para grande baterista

Atropelosà língua…Sabemos que o exercício da redacção publicitária nem sempre é fácil sobretudo de-vido à exigência imposta em termos de criatividade pela sã concorrência. Agora, o que não estávamos à espera era que o mesmo exercício pudesse penalizar as famo-sas regras de concordância da língua portuguesa, muito menos numa campanha pu-blicitária da Nokia (recente-mente considerada uma das Melhores Marcas de Mo-çambique). Meus senhores, “as imagens põem-nos a falar” e não “as imagens põe-nos a falar”! Que falemos, sim! Mas de preferência correctamente.

Uma sensação de déjá vu percorre-nos ao estudar as listas de filmes prontos a estrear em 2010. Hollywood parece ter encontrado uma fórmula para o sucesso e, ao que tudo indica, perdeu a vergonha de a usar. Passo a explicar… Surgem no rol de novidades inúmeros re-makes de filmes e séries dos maravilhosos e frutuosos anos 80. Como tal, há adaptações de videojogos ao cinema e mais um ou outro herói da Marvel que salta dos quadradinhos para os grandes ecrãs. As maiores surpresas vêm de realizadores que decidiram pegar em clássicos infantis e transformá-los em clássicos de cinema. E porque na infância ainda não existe lugar para a nostalgia, películas como «Alice no País das Maravilhas», de Tim Burton (o tal que idealizou «A Noiva Cadáver» e «O Estranho Mundo de Jack»), ou «Sítio das Coisas Selvagens», de Spike Jonze, podem ser as propostas mais criativas do ano que vem, um seguro delírio para adultos inconfor-mados.Por outro lado, a tónica da fantasia prevalece e poder-se-á igualmen-te encontrar os filmes «Robin dos Bosques», do incontornável Ridley Scott (Quem não se lembra do seu clássico «Blade Runner»?) e «Tron Legacy», de Joseph Kosinski, que é uma sequela do file «Tron», que estreou em 1982, e pisca o olho aos saudosistas do Zx Spectrum.

Remakes e fantasia à mistura em 2010

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Revista Capital44

EStIlOS dE vIda

Para os verdadeiros amantes do futebol e sobretudo do Sporting Clube do Portugal, existe em Maputo um local de reunião e la-zer indicado, que permite assistir aos jogos com toda a pompa e cirscunstância. Falo do Núcleo do Sporting de Moçambique, sito na Avenida Tomás Nduda (bem perto das ime-diações do Hospital Central). A moradia em causa, cuja traça é de arrega-lar os olhos pela sua beleza arquitectónica, encontra-se apetrechada por duas salas de visionamento de futebol. Numa, o associado (ou apenas frequentador ou visitante) pos-sui um ecrã gigante e na outra sala, mesmo junto ao bar, é possível assistir aos derbies, aos jogos da Chapions League, ao Europeu, Mundial e quiçá o CAN, através de dois mo-nitores de TV de menor dimensão, mas ao som de uma amena cavaqueira. A decoração foi feita a preceito (sendo ver-de de alto a baixo) e exibe bandeiras, fotos diversas e galhardetes comemorativos. O ambiente é extremamente familiar e o ser-viço de bar é simpático. Além da equipa de apoio servir snacks e aperitivos (bem apa-ladados), há dias em que a ementa é mais alargada e são permitidas encomendas de festas e convívios no local.

Maputo acolheu, de 7 a 12 de Dezembro, a 5.ª edição do Mozambique Fashion Week - MFW. Foi uma semana inteira de moda africana a desfilar nas passarelas da cidade das acácias, exalando talentos e diferentes pontos de vista de estilistas nacionais e in-ternacionais.Fizeram parte do evento 25 novos estilistas designados por young designers nomeada-mente Alberto Penga, Alberto Tinga, Alda Domingos, Wacelia Zacarias, Taússe Da-

niel, Nivaldo Nhassengo, Mário Maluana, Alexandre Alexandre, Alexandrina da Silva, Aura Monbassa, Manuela & Josefa Faiche, Mbire, Miguel Moiane, Berta Niquisse, Dul-ce zivo, Ester Tique, Lídia Mate, Madalena Cumbane, Mamma Africa, Feliciano da Ca-mara e Dama do Bling, Felicidade Moiane, Henriqueta Macuacua, Jabulane (Anabela & Mabel), Jorge Girabeira e Kamana Felex.Dos estilistas já estabelecidos participaram Adélia e Sheila Tique, Angela Afuale, Carla

Pinto, Cigarra Perrin, Lúcia Pinto, Lucin-da Mucumbi, Marinele Rodrigues, Shaazia Adam e Taibo Bacar.Os estilistas pan-africanos foram repre-sentados por Ade Bakare (Nigéria), Anna Getaneh (Etiópia), Carla Silva (Angola), Da-vid Tlale (África do Sul), Jackeline Kakesse (Congo), Jamilla Swai (Tanzânia), John Ka-veke (Quénia), Lizette Pote (Angola), Loin Cloth & Ashes (Tanzânia), Machere (África do Sul), Sonwabile Ndamase (África do Sul), Soucha Haute Couture (Egipto) e Zandile Meyiwa (África do Sul) e os internacionais por Cristiano Burani (Itália), Leitmotiv (Itá-lia) e Nuno Gama (Portugal).Os estilistas apresentaram uma mistura perfeita entre a cultura africana e as ten-dências mundiais, em roupas de diverentes cores que convergiam num alto estilo e gla-mour. Desfilaram a sua classe no palco mo-delos profissionais vindos do Quénia, Ango-la, África do Sul e Moçambique, mostrando elegância, simplicidade e originalidade nas roupas e acessórios e as propostas levaram-nos a uma viagem pelo continente conhecido como o berço da humanidade.O MFW foi criado há cinco anos com o objec-tivo de mostrar ao mundo a força cultural de um povo tão criativo como original. E esses valores são explorados na música, na arte, na gastronomia e, principalmente, na moda.

Arsénia Sythoe

Ahhhhhh, Leão!

LUGARES PARA ESTAR

O QUE HÁ DE NOvO

Estilo e moda na cidade das acácias

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vamos imaginar a cena. A tarde é amena, a água do riacho murmureja suavemente, o perfume das flores embota os sentidos, o doce cantar dos pássaros rivaliza com o zumbido

das libélulas, ébrias de sol no bailado de chispas reluzentes entre as sombras do arvoredo.

No capim verdejante um jovem casal abandona-se, languidamen-te às carícias do vento e das mãos respectivas. Ela olha o parceiro com ternura enquanto os seus olhos, húmidos e sorri-dentes, reflectem o rosto do apaixonado que se inclina até aflorar, com doçura, os lábios da bem amada, que retribui. Ele, com o coração repleto de tanto carinho, sorve o momento a grandes golfadas de ar puro que lhe assegura a sobrevivência, mas lhe aferventa o sangue.

As suas mãos acariciam o corpo frágil que se lhe entre-ga. O momento é sublime, digno da paleta de Renoir, do cinzel de Rodin ou duma ária de Fausto ou das Quatro Estações, de Vivaldi. O tem-po parece ter parado e ape-nas o bater dos dois corações rivaliza com os ruídos desta natureza africana.

Esquecidos dos trabalhos da machamba, os dois apai-xonados vivem o momento inolvidável que todos os po-etas cantam, a altura em que os prazeres do espírito se ir-manam com o sentir corpó-reo e se deixam guiar pelos cinco sentidos, todos eles concentrados na volúpia que os cerca.

Os dedos do improvisado Romeu seguram delicadamente a nuca brilhante da sua Julieta, apanham-lhe a primeira mecha de cabe-lo, sobem-lhe junto às orelhas, tocam-lhe a pele túrgida … ema-ranham-se-lhes nas mechas, enredam-se nas “tissagens”, ele solta um grunhido de desagrado, ela não consegue refrear um esgar de dor ao sentir o cabelo arrepelado, há um gesto de repulsa, dois cor-pos que se erguem e a magia de todo um momento que se perde.

As aves calaram-se, o riacho abafou o seu murmurejar e as libe-linhas procuraram outras paragens. Tudo acabou porque alguém

teve a ideia de substituir os doces cabelos encrespados da mulher africana por um emaranhado de fios sintéticos, desagradáveis ao tacto, brilhantes ou baços, mas sem a elasticidade dos cabelos na-turais, sem o seu brilho, sem aquela macieza que faz cócegas nas pontas dos dedos e se deixa moldar em figuras fofas que dá gosto contemplar.

Sim, eu sei que as mechas e as “tissagens” constituem um negó-cio que dá de comer a muitas famílias e até posso estar de acordo que alguns pentea-dos assim concebidos, vistos de longe, até podem parecer agradáveis. Vou mesmo ao ponto de aceitar que poderá ser mais prático para a mu-lher pois evita pentear-se to-das as manhãs, basta agitar a cabeça e aí estão as mechas e as extensões em todo o seu es-plendor. Mas existe qualquer coisa que não está bem.

Onde fica o romantismo, o doce toque dos dedos mascu-linos nos cabelos da sua elei-ta, o suave contacto do rosto másculo contra os “caracóis” naturais que emolduram as belas feições femininas?

Sacrificou-se o romântico ao prático e fez-se a felicida-de dos fabricantes de cabelo artificial contra a tristeza dos amantes naturais. As nossas apaixonadas mais aparentam carregar pedaços de alcatifa à volta da cabeça. Parece al-catifa, cheira a alcatifa, é um derivado da alcatifa.

Não! Daqui elevo o meu protesto contra as mechas, extensões, “tissagens” e outras que tais que impedem as carícias suaves dos dedos de todos os homens nos cabelos das suas amadas. A conti-nuar o actual estado de coisas qualquer dia será mais romântico acariciar os tapetes de entrada das casas, os capachos onde se esfregam os pés, até os tapetes protectores nos automóveis.

Um destes dias os salões de cabeleireiro serão reciclados em oficinas de fabrico e instalação de alcatifas, tapetes e correla-tivos.

Abaixo as alcatifas capilares, vivam os cabelos naturais.

O romantismo e os negóciosJosé v. Claro

PENa CaPItal

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