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1 Revista Científica Multidisciplinar do CTESOP

ISSN 2317-6598

REVISTA CIENTÍFICA MULTIDISCIPLINAR DO CTESOP

PUBLICAÇÃO CIENTÍFICA DO

CENTRO TÉCNICO-EDUCACIONAL SUPERIOR DO OESTE PARANAENSE

CTESOP

ASSIS CHATEAUBRIAND- PR

2014

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CENTRO TÉCNICO-EDUCACIONAL SUPERIOR DO OESTE PARANAENSE CTESOP

Mantenedora

União Educacional Superior do Médio Oeste Paranaense Ltda. – UNIMEO

Presidente

Profª. Anita Politi Begosso

Diretor Pedagógico Prof. Fabrício Jacob Begosso

Revisão das Normas – ABNT

Profª. Ms. Sandra Mara Ricci Pocai

Revisão Ortográfica Profª. Ms. Paula Fabiane Souza Queiroz

Profª. Ms. Sandro Bochenek

Revisão da Língua Inglesa

Profª. Evelyne Madeira Daltoé

Capa Agência Prop

Informática

Profª. Ms. Fabiany Politi Begosso Alves Filósofo Esp. Romério Gomes Mariano

Organização Geral

Profª. Ms. Sandra Mara Ricci Pocai

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CONSULTORES AD HOC

Profª Ms. Cinara Kottwits Manzano Brenzan Profª Esp. Maria Silvana Alves cesar

Profª Ms. Marli Secchi de Lima Profª Ms.Tânia Regina Casado Vaz Carvalho

UNIMEO – União Educacional do Médio Oeste Paranaense Ltda. Av. Brasil, 1441 – Jardim Paraná

Assis Chateaubriand - Pr - CEP 85.935-000 www.ctesop.com.br

R454 Revista Científica Multidisciplinar do CTESOP. n 4, Assis Chateaubriand, PR : UNIMEO/CTESOP,2014, p. 67 Publicação Científica do Centro Técnico Educacional Superior do Oeste Paranaense – CTESOP. Anual ISSN 2317-6598 1. Legislação Ambiental - Jesuítas - Paraná -Brasil. 2. Linguagem publicitária .3. Psicologia – afetividade cognitiva.4. Administração - metodologia Kaizen .5.Enfermagem - câncer de mama. 6. Agricultura

familiar - feirantes de Assis Chateaubriand – Paraná – Brasil. 7.Periódicos. I. Ctesop. ( 21.ed) CDD: 341.34798162 659.1014 155.413 658.562 610.73 338.98162

Bibliotecária: Cecília Inês Bruxel - CRB 9/1098

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SUMÁRIO

AFETIVIDADE E COGNIÇÃO: A UNIÃO QUE DÁ CERTO .......................................... 5

A IMPORTÂNCIA DE FAZER USO DE UMA METODOLOGIA DE APLICAÇÃO PARA INSERÇÃO DO KAIZEN DENTRO DE UMA ORGANIZAÇÃO .......................... 9

FATORES ASSOCIADOS AO CÂNCER DE MAMA ................................................... 23

IDENTIFICAÇÃO DAS CONFORMIDADES E DESCONFORMIDADES QUANTO A LEGISLAÇÃO AMBIENTAL E FLORESTAL PRESENTES NA PROPRIEDADE ARCA DA ALIANÇA EM JESUÍTAS PARANÁ ...................................................................... 31

LINGUAGEM PUBLICITÁRIA, RECURSOS LINGUÍSTICOS E ARGUMENTAÇÃO . 43

PERFIL SOCIOECONÔMICO E TECNOLÓGICO DOS AGRICULTORES FEIRANTES DE ASSIS CHATEAUBRIAND, PR. ............................................................................. 55

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Editora UNIMEO - Revista nº 4 / 2014, ISSN 2317-6598 Assis Chateaubriand - Pr

AFETIVIDADE E COGNIÇÃO: A UNIÃO QUE DÁ CERTO

LOPES, Maria de Fátima Pegoraro

Pedagoga/CTESOP. Especialista em Sociedade Inclusiva e Educação Especial/CTESOP. Psicopeddagogia/CTESOP. Alfabetização e Matemática. Professora dos Municípios de Toledo e Assis Chateaubriand - PR.

MANTOVANELLI, Maurício

Psicólogo. Clínico Especialista em Tratamento Clínico pela Universidade Estadual de Maringá (UEM) Especialista em Filosofia e Psicanálise pela Universidade Estadual do Oeste do Paraná (UNIOESTE), docente do curso de Psicologia da PUCPR/Toledo no período entre 2009 e 2011.

Resumo: O objetivo deste trabalho é mostrar a necessidade e a importância da relação afetiva entre professor e aluno, pois a aprendizagem não ocorre de forma satisfatória se houver ausência do afeto. A cognição e a afetividade não são elementos separados e opostos. O ser humano é um todo, desta forma não tem como descartar a afetividade nas relações escolares. Ela é importante para o aluno tanto para sua vida pessoal quanto social. Tendo em vista que o ser humano é um ser biopsicosocial. Para a elaboração deste artigo, foi empregada a pesquisa bibliográfica por meio de estudos de diversos autores contemporâneos e históricos que defendem a afetividade como importante recurso para uma aprendizagem significativa.

Palavras- chave: Afeto. Inteligência. Aluno. Aprendizagem.

ABSTRACT: The aim of this work is to show the need and the importance of having an emotional relationship between the teacher and the student, because learning does not occur in a satisfactory manner without the presence of warmth. Cognition and affection are not separate and opposites elements. The human beings is a whole and works as a whole, so it cannot get out of the affective side at school. It is important for the student throughout life, both personal and social. Considering that human beings is a biopsychosocial being. To prepare this article we used the literature search through studies from different historical and contemporary authors that consider the affection as an important resource for meaningful learning.

Keywords: Affection. Intelligence. Student. Learning.

___________________________________________________________________

Introdução

Ser professor na atualidade é exercer uma influência significativa na formação

do ser humano. É ser agente de transformação, e ser regente de ações construtivas

para o desenvolvimento, é ser personagem ativo no processo de educar, é fazer

com que os alunos tomem consciência do saber e da cidadania.

Para que isso aconteça é necessário pensar na importância da afetividade,

pois ela exerce uma generosa influência nesse processo e, muitas vezes, acaba se

perdendo no dia a dia da educação. Por isso, é importante que o professor observe

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e interaja com os alunos de forma direta, pois quando ele não compreende que

existe esse universo emocional, a educação começa a se perder.

As emoções atribuem um colorido novo ao aprender quando se manifesta sob

a forma de afetividade do professor com o aluno, quando ele sente que é bem-vindo

e estimado e também quando os conteúdos pedagógicos são atrativos. Deste modo,

a afinidade entre professor e aluno passa a ocorrer em um contexto de empatia, o

que ajuda muito a criança a despertar o aprendizado em si.

Assim sendo, neste artigo propõe-se colocar o foco na educação afetiva,

partindo do princípio de que aliar educação ao afeto pode ser a fórmula para a

abertura de novos horizontes nas salas de aula, recriando o significado do conceito

de educar.

Educação com afeto

[...] como professor preciso estar aberto ao gosto de querer bem aos educandos e à própria prática educativa de que participo. Esta abertura ao querer bem não significa, na verdade, que, porque sou professor me obrigo querer bem a todos os alunos de maneira igual. Significa, de fato, que a afetividade não me assusta, que tenho de autenticamente selar o meu compromisso com os educandos, numa prática específica do ser humano. Na verdade, preciso descartar como falsa a separação radical entre “seriedade docente” e “afetividade”. Não é certo, sobretudo do ponto de vista democrático, que serei tão melhor professor quanto mais severo, mais frio, mais distante e “cinzento” me ponha nas minhas relações com os alunos, no trato dos objetos cognoscíveis que devo ensinar. (FREIRE, 1996, p.159).

O afeto é essencial para a formação da personalidade e do caráter do aluno e

é parte importante para ajudar a criança a compreender melhor suas próprias

emoções. A separação razão/emoção permaneceu por séculos na história da

Filosofia e da Ciência, e mesmo a Psicologia, durante décadas, estudou

separadamente os processos cognitivos e afetivos, até perceber que estes

fenômenos são realidades inseparáveis.

Moreno, et al. (1999, p. 15) insistem, afirmando que: [...] “os aspectos

cognitivos e afetivos da personalidade não constituem dois universos opostos. Não

há nada que justifique voltar-se a educação para somente um deles, excluindo o

outro”. Assim sendo, é essencial trazer para a educação a afetividade, infelizmente

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recusada por alguns professores no cotidiano escolar e excluída das atividades de

compreensão e construção do conhecimento.

A afetividade deve ser prática diária na vida do educador, pois a aceitação do

aluno e o apoio dado a ele facilitam o caminho na direção do sucesso, a alcançar os

objetivos educativos, tornando a arte de aprender mais envolvente e causando um

efeito bastante positivo, neste processo de aprendizagem.

A escola além de preparar o aluno para o aprendizado, também tem o papel

de trabalhar a afetividade do aluno de modo inteligente, cultivando as boas relações

e permitindo um desenvolvimento de forma integral.

O professor que valoriza a afetividade no contexto escolar cumpre seu

trabalho com nitidez de objetivos, com equilíbrio e discernimento e o faz com a

finalidade de cooperar para que a escola seja uma instituição motivadora, pronta a

educar pessoas conscientes e afáveis, combinando informações que os auxiliará

tanto na escola quanto fora dela.

O grande pilar da educação é sem dúvida a habilidade emocional, pois não é

possível desenvolver habilidade cognitiva e social, sem que a emoção seja

trabalhada. Para Chalita (2001), as pessoas necessitam cada vez mais de afeto,

pois a vida corrida e repleta de dificuldades faz com que sejam esquecidos os

valores mais simples como afeto e partilha, valorizando apenas os bens materiais.

Portanto, o afeto é essencial para o desenvolvimento da personalidade e do

caráter, ele ajuda o ser humano a compreender melhor suas próprias emoções. A

afetividade deve ser prática cotidiana na vida do educador, pois a aceitação e o

apoio ao aluno facilitam o caminho na direção aos objetivos educativos, fazendo

com que o conhecimento chegue a ele de forma mais envolvente e positivo.

Através do afeto, buscando uma escola diferente

Partindo do entendimento de que ensinar é fazer a pessoa sair de dentro de si

e integrar-se com a sociedade na qual está inserido, participando com cidadão

consciente de seus direitos e deveres, vê-se que não é somente mudar as escolas

ou os professores em si, é necessário também haver uma reeducação no sistema

escolar.

É preciso pensar num sistema educativo que não separe razão e emoção,

cognição e afetividade, e que desfaça a concepção que somente o desenvolvimento

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cognitivo e racional tem lugar de destaque na educação, deixando os aspectos

emocionais e afetivos a um segundo plano.

Infelizmente, hoje em dia, os curriculos escolares trabalham puramente o

cognitivo, ou as disciplinas isoladas uma das outras, acabam assim priorizando

somente o aspecto cognitivo, esquecendo o afetivo. É importante que as disciplinas

sejam trabalhadas de maneira transversal e interdisciplinar, incorporando os

conteúdos tradicionais e também os relacionados à dimensão afetiva.

A afetividade na educação leva as pessoas a se conhecerem e a

compreenderem melhor suas próprias emoções e as emoções das pessoas com

quem interagem no dia a dia.

Considerações finais

Percebeu-se no trabalho que para falar em uma sociedade escolar mais justa

e solidária é fundamental refletir sobre o valor que o afeto tem nas relações

escolares e no dia a dia. “A boa educação é aquela que promove gostosamente a

diferença humana, preparando para a vida”. (MENEZES, 2000, p.13).

Nesta perspectiva, constata-se que a afetividade e a educação não podem

ser separadas para que a aprendizagem ocorra de maneira significativa. A

afetividade influência a forma que os indivíduos resolvem seus conflitos. Assim se os

alunos tiverem um bom apoio psíquico, será mais fácil assumir o papel de organizar

as ações e reações.

O professor que sabe a importância e o valor da afetividade exerce seu

trabalho com clareza, com equilíbrio e discernimento e o faz com a finalidade de

colaborar para que a escola seja uma instituição motivadora, pronta a educar

pessoas conscientes e afetuosas.

REFERÊNCIAS

CHALITA, Gabriel. Educação: a solução está no afeto. São Paulo: Gente, 2001.

FREIRE, P. Pedagogia da autonomia: saberes necessários à prática educativa. São Paulo: Paz e Terra, 1996.

MENEZES, Luís Carlos. Os novos rumos da educação. Revista Impressão Pedagógica. Campinas.São Paulo: Gráfica Expoente. v.9.n.21. mar/abr., 2000.

MORENO, Monserrat et al. Falemos de sentimentos: a afetividade como um tema transversal. São Paulo: Moderna, 1999.

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A IMPORTÂNCIA DE FAZER USO DE UMA METODOLOGIA DE APLICAÇÃO PARA INSERÇÃO DO KAIZEN DENTRO DE UMA ORGANIZAÇÃO

MAFFEI, Alexandro Mestrando do Programa de Pós Graduação em Engenharia Mecânica (UPF).

ESPANHOL, Darlex Bacharel em Administração (FAI)

TRINDADE, Sergio Carvalho Bacharel em Ciências Contábeis, Bacharel em Direito e Mestre em Direito.

Resumo: Este estudo veio demonstrar a suma importância do uso pelas organizações da ferramenta japonesa KAIZEN, e a necessidade de se criar uma metodologia que dê continuidade e suporte à ferramenta, tendo em vista que essa metodologia é única de cada empresa, já que toda organização tem sua própria identidade organizacional. Metodologia essa que irá ajudar na condução das mudanças de hábitos, costumes, pensamentos e atitude de todas as pessoas envolvidas em função dos objetivos gerais da organização, tais como redução de desperdícios e geração de uma maior lucratividade, entre outros benefícios. Ganhos esses que vêm sendo comprovados na empresa em análise, confirmando a real e promissora importância do uso dessa metodologia aliada a ferramenta KAIZEN, sendo comprovadas por meio dos retornos positivos frente ao faturamento e resultados lucrativos. Palavras-chave: Lean manufacturing. Kaizen. Métodologia. Processos. Pessoas. Abstract: This study has demonstrated the main importance of the using by the tool organization, named the

KAIZEN, and the need to create a methodology that gives continuity and tool support, since this methodology is

unique to each company and every organization has its own organizational identity. This methodology will assist

in leading the changes in habits, customs, thoughts and attitude of all the people involved in function of the

general objectives of the organization, such as reducing waste and generating greater profits and other benefits.

These gains that have been proven in company analysis proving the real and promising importance of using this

methodology combined with Kaizen tool, which have been proven through positive returns against the billing

and profitable results.

Keywords: Lean Manufacturing, Kaizen, Methodology, Process, People.

INTRODUÇÃO

O mercado está cada vez mais competitivo e com isso os clientes visam

cada vez mais obter preços baixos. Estes estão mais exigentes quanto à qualidade

para adquirir diversos produtos. A tendência é que as empresas preocupadas com

essa demanda mais seletiva e com maior competividade, busquem métodos e

ferramentas que possibilitem essa melhora nos valores e na qualidade de seus

serviços e produtos. Estes meios, por sua vez, quando aplicados, tendem a reduzir

ou eliminar os desperdícios no processo fabril, desde as atividades da alta gerência

aos procedimentos de produção, como operação de máquinas, entre outros.

Existe uma grande variedade de ferramentas disponíveis que visam

melhorar processos e reduzir gastos desnecessários. A melhora contínua pode ser

considerada, sendo tangível: como uma melhora de layout, um melhor

aproveitamento de espaços, aprimoramento em produtos e qualidade; ou intangível:

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como, por exemplo, uma melhor ergonomia dos colaboradores nos processos de

produção.

Entre os diversos instrumentos para melhora de processos, se destaca a

ferramenta do Lean Manufcturig, o KAIZEN. A principal teoria dessa ferramenta é

“hoje melhor do que ontem e amanhã melhor do que hoje”.

Segundo Martins e Laugeni (2005), o termo Kaizen é formado a partir de

KAI, que significa modificar, e Zen, que significa para melhor. O método Kaizen foi

inserido na administração a partir de 1986, por Massaki Imai, e associa-se ao

sentido de uma melhora contínua tanto nas organizações como na vida social.

No entanto, a metodologia de aplicação de qualquer ferramenta deve ser

clara, e levar a um resultado final eficaz para a organização, caso contrário

acarretará em perdas e prejuízos. Muitas organizações se beneficiam de meios de

melhorias e reduções de desperdícios, dando início à inserção dessas ferramentas

no ambiente empresarial. No entanto, como o início da aplicação de um método, a

constante manutenção do mesmo se faz necessário, para que o resultado seja

contínuo. Diversas empresas após aplicarem uma ferramenta não sabem como lidar

com as técnicas, recursos e métodos para os próximos dias após adotarem a

inclusão da mesma em sua cultura.

Nesse ponto que o trabalho tem seu aprofundamento, na falta que muitas

empresas se deparam de uma metodologia contínua, que suporte a implementação

após a aplicação de uma ferramenta como o kaizen, e os demais métodos

existentes atualmente, todos com objetivo de aperfeiçoamento de diversos

processos de uma organização.

A importância da utilização de uma metodologia para implantação do kaizen no âmbito organizacional

Atualmente, nos deparamos com uma enorme gama de ferramentas

disponíveis para auxiliar no sucesso de uma organização. Ferramentas essas que

podem ser aplicadas para redução de custos, melhoria do clima organizacional,

melhor qualidade de trabalho, enfim, nas mais diversas áreas. Podem ser citadas

como exemplo, algumas ferramentas que constituem o Lean Manufacturing, (mais

conhecido no Brasil como Manufatura Enxuta), sendo elas o 5S, Kaizen, Poka Yoke

entre outros.

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Segundo Ceryno e Possamai (2008), Lean Manufacturing ou Produção

Enxuta são meios e processos que têm como foco atuar nas atividades eliminando

desperdícios. Sendo considerado desperdício ações que não agregam valor, e valor

feito à definição com base na perspectiva do cliente.

Complementando os autores acima, Womack e Jones (1998) expõem que a

produção enxuta visa diagnosticar e eliminar desperdícios nos processos produtivos,

definindo desperdício como uma atividade que consome recursos e não gera valor e

lucro. Entre os diversos desperdícios, os principais podem ser destacados como:

superprodução, tempos de espera (de pessoas e/ou equipamentos), transporte

excessivo de materiais, processos inadequados, erros que exijam retificação,

inventário desnecessário, movimentação de pessoas, etc.

Essas ferramentas são chaves para o sucesso de uma organização e são

consagradas pelas empresas que a utilizam. No entanto, a grande maioria das

organizações não alcançam as metas desejadas após uso dessas ferramentas. Isso

se deve, porque após a inserção das mesmas no âmbito organizacional, os

resultados dessas inserções acabam por permanecer estagnados.

A ferramenta para resultar em lucratividade necessita de motivação, precisa

de envolvimento, de metodologia coerente e contínua para estar explorando assim

todo o poder que a mesma pode exercer na organização. Sem uma metodologia de

aplicação, os resultados serão pífios, ou não irão atingir as metas almejadas. As

empresas, então, devem buscar uma boa estruturação para, assim, usufruir de toda

a força de uma ferramenta.

Um exemplo de uma metodologia de aplicação é a que a empresa Caso

Ltda, (organização em estudo) faz uso. Para a inserção do kaizen no âmbito

organizacional, a Caso Ltda. utiliza uma gama de métodos para dar continuidade

aos bons resultados, provenientes da ferramenta de melhoramento contínuo.

O kaizen é uma ferramenta conhecida no mudo inteiro pela sua eficácia em

aperfeiçoar processos com baixo ou nenhum investimento. No entanto, muitas

empresas não têm consciência do poder dessa ferramenta, ou, se sabem, o

conhecimento geralmente é centralizado nos cargos gerenciais.

Para Imai (1986), kaizen significa melhoria contínua. Mais do que isto,

significa continuar melhorando na vida pessoal, da vida no lar, na vida social, na vida

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profissional. Quando aplicado ao local de trabalho, kaizen significa melhoria contínua

envolvendo a todos, desde gerentes até funcionários por igual.

A ferramenta de melhora contínua não exige necessariamente um grande

investimento financeiro, e nem aplicação de tecnologias avançadas e técnicas

sofisticadas. Procura sim técnicas e meios simples e convencionais que atuam no

melhoramento de diversos processos. Como por exemplo, uma melhora em uma

maquina ou layout de trabalho, com o objetivo de reduzir desperdícios de tempo e

movimentação.

Conforme Briales (2005), a filosofia kaizen é uma ferramenta focada na

eliminação de desperdícios, com uso de soluções econômicas que têm como base a

motivação e criatividade dos colaboradores para o aperfeiçoamento das diversas

atividades.

A Caso Ltda. foi fundada em 2007 e busca, como qualquer organização,

lucratividade. Seus processos e métodos são focados para que os desperdícios e

custos sejam reduzidos. O kaizen compreendido como ferramenta já era conhecido

desde a criação da empresa pelos cargos alto administrativos (diretores e gerentes),

no entanto, sua disseminação entre todos os colaboradores da organização não era

feita antes da implementação de uma metodologia.

Não havia um incentivo ou metas estabelecidas para estar quantificando

melhorias. Os colaboradores, então, não tinham conhecimento da ferramenta e nem

pensavam em melhoramento contínuo. O que era melhorado era resultante de um

conhecimento isolado e não era motivado aos demais colaboradores a atuarem

buscando a melhoria frente às suas atividades.

Na organização, quando havia a necessidade de aprimorar um processo

resultando em uma redução de custos ou maior lucratividade, ganho de espaço,

redução de movimentação entre outras, a ação para essa melhora era tomada. No

entanto, não existia uma comunicação e motivação para que os colaboradores

fizessem das melhoras um hábito rotineiro.

Os gestores da empresa em estudo tinham consciência da necessidade de

fazer com que os funcionários colaborassem com ideias para o melhoramento da

organização. E que essas ideias poderiam estar melhorando em muito o processo

fabril, ou ambiente de trabalho. No entanto, devido à falta de aplicação da

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ferramenta e de uma metodologia, os resultados eram pífios e o kaizen se tornava

uma ferramenta praticamente obsoleta.

Frente a esse cenário, os diretores da empresa, visando aprimorar os

processos das fábricas, começaram a participar, em meados de 2010, de eventos

que promoviam a importância do pensamento enxuto. Esses eventos tinham como

foco a utilização da ferramenta kaizen no âmbito organizacional.

Com exemplos de empresas tendo a implementação da ferramenta já sendo

consagrados como um sucesso, a diretoria da empresa Caso Ltda. e filiais buscou

fazer uso da ferramenta e da base da metodologia já utilizada por uma dessas

empresas. E a partir de 2011, a empresa Caso Ltda. começou a fazer uso de uma

metodologia estruturada para dar suporte à inserção da ferramenta na organização.

Este método buscou ter como principal meta mudar a cultura da organização,

utilizando meios motivacionais, meios de comunicações, entre outros.

Os colaboradores da organização não tinham conhecimento de que se

tratava essa ferramenta de melhora contínua. Com isso, a empresa percebeu a

necessidade de fazer com que o kaizen e seu pensamento de aprimoramento

contínuo se tornasse uma ferramenta de uso diário de seus funcionários. Buscando,

assim, uma gama de métodos para fazer com que o kaizen viesse a se tornar um

modo de pensar, agir, e fosse parte da cultura da organização.

Entre os diversos métodos utilizados, o treinamento foi um primeiro passo

para apresentação do kaizen a todos os colaboradores da organização. Estre

treinamento foi aplicado de forma clara e objetiva, demonstrando a importância de

estar buscando a melhora do ambiente de trabalho, com foco no melhoramento

contínuo. O treinamento foi aplicado a toda a organização, tendo uma periodicidade

anual, renovando sua importância e entendimento.

O Gerente da organização quando entrevistado salientou que os

funcionários precisam, antes de tudo, entender o que é kaizen, o que se espera da

ferramenta, e quais os resultados podem ser alcançados com o uso da mesma.

Demonstrando a todos que a melhoria resultará em métodos mais seguros e em

uma melhor e maior produtividade.

Contudo, o treinamento visa, antes de tudo, dar um fundamento teórico e

exemplos práticos de kaizen, importância e necessidade que os mesmos sejam

feitos. A empresa Caso, em parceria com suas filiais, buscou transcender as

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informações no treinamento de forma clara e objetiva, visando ao melhor

entendimento dos seus colaboradores. Para isso, focou nos principais objetivos do

kaizen para a organização, que são: O entendimento do que é kaizen; A utilização

do kaizen como uma forma de mentalidade, e filosofia de vida; Reduzir e eliminar os

sete principais desperdícios.

O treinamento foi essencial para que o Desafio Kaizen fosse criado e os

colaboradores se sentissem motivados a atuarem nas atividades com foco nas

melhorias contínuas.

A empresa, tendo como exemplo organizações que já utilizavam o kaizen e

obtinham sucesso com o uso de uma metodologia, elaborou um método para dar

suporte à implementação da ferramenta.

Essa metodologia é chamada pela Caso Ltda. de “Desafio Kaizen”. Ela une

diversos meios, como motivação, comunicação, metas e premiações. Tem como

objetivo fazer com que o pensamento de melhoria contínua seja aplicado por todos

dentro da empresa e se torne parte da cultura organizacional.

Segundo Tamayo e Paschoal (2003), uma estrutura motivacional busca

adequar as ações de uma organização ao perfil motivacional dos colaboradores.

O Desafio kaizen foi elaborado para ser um programa motivacional de apoio

ao kaizen. Se tornando um incentivo para todos os colaboradores na participação

com ideias, sugestões, estudos e melhoras em todo o processo da empresa. Este

programa consiste na criação de competições internas, em que equipes pré-

estabelecidas busquem juntas aa implementação de ideias e estudos, melhoras em

processos, maior produtividade, qualidade, segurança, entre outros.

Para entendimento, o Desafio Kaizen é estruturado por:

Critérios: Utilizado para definir quantidade de participantes por equipes,

divisão dos grupos, entre outros;

Processo: Definindo como deve proceder todo o desafio, registro de

melhorias realizadas, líderes e etc...;

Responsabilidades: Buscando distribuir a todos responsabilidades, para

que toda a empresa esteja comprometida e motivada em alcançar

maiores metas;

Comissão julgadora: Cabendo a essa a elaboração dos critérios de

julgamento e forma de alcance das metas estabelecidas;

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Premiação: A premiação referente ao desafio kaizen comporta duas

etapas. Uma etapa sendo feita dentro da Caso Ltda. com prêmios

mensais como vales, e anuais como viagens culturais, e outra etapa

sendo a premiação anual entre todas as empresas do grupo no Brasil.

O programa Desafio kaizen se tornou uma espécie de gincana, em que os

colaboradores competem entre si para alcançar as metas estabelecidas e receber as

premiações propostas. Para que o programa se torne eficaz, trabalhar

continuadamente com a motivação dos colaboradores se torna essencial.

Conforme Bergamini (1997), a motivação age como uma força que

encaminha o indivíduo a realizar suas vontades e necessidades. A motivação nas

atividades desempenhadas e trabalho levam os recursos humanos, além de

procurar a realização pessoal, também o cumprimento dos objetivos da empresa.

Com o suprimento das necessidades do colaborador, o foco e atenção se

direcionam para outras finalidades e objetivos.

Esta definição de Bergamini descreve a importância de estar motivando as

pessoas, para que assim as mesmas quando motivadas participem ativamente das

atividades desenvolvidas pelo programa.

APRESENTAÇÃO DOS RESULTADOS

Segundo o gerente da empresa, em entrevista feita para o estudo em

questão, relata que quando o funcionário faz uma melhoria na empresa e é

reconhecido por isso, se torna uma pessoa motivada. Assim, o funcionário entende

que faz parte da empresa e sua atividade e trabalho serão melhores, com maior

segurança, e de forma mais produtiva.

Além do reconhecimento do colaborador frente a um kaizen feito pelo

mesmo, as premiações mensais e anuais, são exemplos de motivações que levam

os colaboradores a atingirem as metas definidas pela organização.

Outro fator que é importante para o sucesso dessa metodologia, é a

disponibilidade de um tempo determinado para a realização das atividades do

programa. Atividades como reuniões com os grupos, a busca pelo estudo de uma

possível melhoria entre outras. Pois, quando o funcionário tem um espaço para

opinar e discutir com seus colegas de grupo sobre possíveis melhorias, o número de

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kaizens aumenta ligeiramente. Com essa disponibilidade de tempo as ideias não

apenas surgem como são colocadas em prática.

A motivação, unida com metas pré-estabelecidas, faz com que os

funcionários da empresa Caso Ltda. busquem atingir os objetivos almejados pela

organização. Conforme Puri (2000), o alcance das metas pré- estabelecidas é um

dos principais pré-requisitos para a felicidade de um grupo ou pessoa em particular,

induzindo a motivação.

Para a criação e definição das metas do desafio kaizen, segundo entrevista

com o gerente da organização, foi compreendido que cada funcionário tem

possibilidade de contribuir com a melhora do seu ambiente de trabalho. E querem

ajudar a empresa a ser mais próspera e crescer com a mesma. Foi entendido

também que todo colaborador tem algum conhecimento que pode ser trabalhado

para uma melhora de alguma atividade ou processo dentro da organização.

Com a criação do Desafio Kaizen e implantação deste no ano de 2011,

foram definidas que as metas iniciais do programa seriam de 1,5 kaizen por pessoa.

Assim, a meta total da empresa que é composta por um quadro de noventa e cinco

colaboradores seria de aproximadamente cento e quarenta e dois kaizens por

pessoa.

No encerramento do desafio kaizen do ano de 2011, verificou-se que as

metas estabelecidas foram superadas, e que os funcionários poderiam alcançar

metas ainda maiores. Com isso, nos anos de 2012 e 2013 foi definido que cada

colaborador teria que alcançar a meta de três kaizens, totalizando duzentos e oitenta

e cinco melhorias implantadas na organização, já que a empresa em estudo possui

95 funcionários.

Destes três kaizens por pessoa, um tem que ser copiado. Este deve ser

copiado de outra empresa do grupo a qual a empresa Caso Ltda. faz parte. Para que

isso ocorra, é disponibilizado no site interno de lançamento dos kaizens todas as

melhorias criadas e implantadas por todas as empresas do grupo. Facilitando o

compartilhamento das melhoras contínuas entre todas as empresas que participam

do Desafio Kaizen e disseminando, assim, em todas as empresas do grupo as

melhorias contínuas realizadas.

Para que as metas pré-estabelecidas fossem atingidas e os colaboradores

buscassem esses objetivos junto da empresa, o kaizen se tornou um dos

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indicadores do quadro de metas do PPR – Programa de Participação dos

Resultados.

O PPR tem diversos indicadores que visam fazer com que os funcionários

busquem cada vez mais atingir e superar as metas estabelecidas pela empresa,

ganhando uma maior recompensa frente aos resultados alcançados.

A cultura de uma empresa pode ser definida como a identidade da mesma e

como esta se adéqua ao ambiente em que se encontra. Segundo Chiavenato

(1999), a cultura é o que estabelece a missão e provoca o surgimento e a definição

dos objetivos da empresa.

A Caso Ltda., atenta à importância que o kaizen obtém e com o

entendimento que o sucesso da implantação dessa ferramenta estaria atrelada a

uma mudança na cultura da organização e das pessoas, buscou trabalhar

fortemente para que o conceito de melhoria contínua fosse entendido e aplicado a

todos no âmbito organizacional.

Após compreendida a principal finalidade do kaizen pelos colaboradores,

que é melhorar continuadamente, o programa alavancou diversas ideias e

oportunidades de melhoria no âmbito organizacional. Desde pequenas ideias que

por implantação tinham pouco impacto nos processos, a outras ideias que depois de

implantadas reduziam enormes desperdícios, gerando assim maiores lucros para a

organização.

O registro de um kaizen implantado na empresa Caso Ltda., somente

começou a ser realizado junto à implantação do programa Desafio Kaizen. No ano

de 2010 as melhorias eram realizadas, no entanto, não havia meta preestabelecida,

nem padronização de realização de kaizen.

O gráfico 1 abaixo demonstra com dados obtidos pelos relatórios da

empresa em estudo, a evolução no alcance das metas como quantidades de kaizens

realizados na empresa. Compreendendo os anos 2010, 2011 e 2012.

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Gráfico 1: Evolução das Metas

Fonte: Empresa em estudo.

Complementando o gráfico 1, abaixo será apresentado o gráfico 2, contendo

a quantidade de kaizens realizados e registrados na empresa nos anos de 2011 e

2012.

Gráfico 2: Quantidade de Kaizen

Fonte: Empresa em estudo

O gráfico 2 demonstra em números a quantidade de kaizen totalizados pela

empresa Caso Ltda, entre os anos de 2011 e 2012. No ano de 2012, foi definida a

meta de um kaizen copiado por pessoa. Essa meta que era de noventa e cinco

kaizens foi ultrapassada, sendo atingida em 146% de melhorias implantadas

copiadas.

Esse levantamento de melhoras comprova que o uso da metodologia

Desafio Kaizen foi primordial para que as metas fossem superadas, vindo ao

encontro da definição de Imai (1986) que direciona o Kaizen não somente como

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19 Revista Científica Multidisciplinar do CTESOP

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uma ferramenta de melhoria contínua dos processos das empresas, mas sim como

uma filosofia de vida para todos aqueles que têm a compreensão da sua

importância.

Dessa forma, o Kaizen ou melhoria contínua, deve ser uma proposta de

vida, já que as pessoas trabalham, estudam e buscam constantemente por melhores

condições de vida, sejam melhores empregos ou salários, melhorar seu

conhecimento e o seu próprio crescimento.

O ambiente profissional, tal como o social, está em constante mudança,

assim a filosofia de vida kaizen pode ser usada para que todos se tornem mais

adaptáveis a estas mudanças e busquem estar melhorando continuadamente o

ambiente ao qual vivem.

ANÁLISE DOS RESULTADOS

A pesquisa na Caso Ltda. demonstra que é de extrema importância que as

organizações estejam munidas de metodologias, para dar continuidade ao sucesso

frente a implementação de uma ferramenta no âmbito organizacional. Pois, com

isso, os resultados podem ocorrer de forma contínua e satisfatória.

O estudo proposto por este trabalho ressaltou a real necessidade das

empresas buscarem conhecer, e fazer uso das ferramentas disponíveis no mercado,

visando à redução dos desperdícios causados pelos processos produtivos e melhora

dos mesmos. Com a utilização dessas ferramentas, as organizações podem

conquistar um ambiente organizacional mais seguro e motivador a todos os seus.

Nos dias atuais, com um mercado altamente competitivo, fazer uso de ferramentas e

meios que tem como foco a melhoria dos processos da organização e redução de

desperdícios, significaram importantes diferenciais competitivos para a empresa

frente as suas concorrentes e que são vitais para o posicionamento no mercados.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Este estudo demonstra-se de grande importância para os administradores e

estudiosos da área, pois detalha o exemplo de uma metodologia de aplicação que

resultou para a organização um ambiente mais seguro, com reduções nos

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20 Revista Científica Multidisciplinar do CTESOP

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desperdícios e tornou os seus funcionários mais motivados. Contribuindo, assim,

com o melhoramento contínuo da empresa e com a maior retenção da mão de obra.

O trabalho em questão diagnosticou que a empresa em estudo, após a

implantação de uma metodologia para dar suporte ao kaizen, obteve maior

lucratividade, maior produtividade e qualidade. Conforme afirmação do gerente da

empresa em estudo, a organização reduziu seu quadro de funcionários após a

implantação do “Desafio kaizen”. No entanto, sua qualidade e produtividade não

diminuiu. Isso se deve às melhorias implantadas nos processos produtivos.

O entendimento dos colaboradores da organização sobre a importância do

kaizen foi resultante da implantação da metodologia do programa. Essa

compreensão proporcionou que a empresa mudasse a sua cultura e se tornasse um

exemplo em segurança nas suas atividades.

Como a empresa Caso Ltda., as organizações devem ser inovadoras, e

elaborar planos e estratégias para que as pessoas, em modo geral, façam uso da

criatividade. E, com isso, alcancem os objetivos propostos por uma ferramenta

aplicada. Devem também desvincular a imagem que somente a alta gerência é

capaz de promover uma mudança. E fazer com que cada colaborador olhe para a

sua função e para a empresa, buscando impulsionar a melhoria contínua dos

diversos processos existentes no âmbito organizacional.

Além de todos os resultados positivos do uso da metodologia para

implantação do kaizen na empresa Caso Ltda. destacados nos parágrafos

anteriores, foi diagnosticado o entendimento do kaizen pelos seus funcionários de

não ser somente para o uso fabril, mas sim, uma ferramenta que pode ser utilizada

em suas vidas pessoais e na sociedade. Desse modo, buscando a melhoria

contínua no meio em que vivem e tornando a ferramenta uma filosofia de vida.

REFERÊNCIAS

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FATORES ASSOCIADOS AO CÂNCER DE MAMA

SILVA, Andressa Michelle da Graduação em Enfermagem pela UNIPAR - Universidade Paranaense. E-mail:

[email protected]. CPF: 016.832.611-60.

ORTIGARA, Elisangela Panosso de Freitas Docente do CTESOP – Centro Técnico-Educacional Superior do Oeste Paranaense. E-mail:

[email protected]. CPF: 005.493.490-73.

Resumo: O câncer de mama é a maior causa de morte da mulher brasileira. A doença vem acometendo progressivamente um número maior de mulheres, em faixas etárias cada vez mais novas e com taxa de mortalidade também crescente no País. Este projeto trata-se de uma pesquisa exploratória bibliográfica sobre os fatores associados ao câncer de mama. Apesar dessa gama variável de fatores de risco, o câncer de mama, se quando detectado precocemente, é curável em sua grande maioria e sem grandes sequelas físicas e emocionais para a mulher. O conhecimento dos fatores de risco envolvidos no câncer de mama, em conjunto com o objetivo fatores prognósticos e preditivos, são importantes para a prevenção e diagnóstico precoce, conclusão permitindo tratamento adequado. As variáveis mais detectadas como a falta de atividade física, o tabagismo e a história familiar de câncer merecem a atenção dos profissionais quando da elaboração e implantação de programas educativos, de promoção à saúde e prevenção à doença. Palavras-chave: Câncer de mama. Enfermagem. Saúde da Mulher.

FACTORS ASSOCIATED TO BREAST CANCER Abstract: Breast cancer is the leading cause of death of Brazilian women. The disease has been committing a progressively larger number of women in age groups increasingly new and mortality also increased in the country. This project is an exploratory research literature on the factors associated with breast cancer. Despite this remarkable range of risk factors, breast cancer, when detected early, is curable and mostly without major physical and emotional aftereffects for women. Knowledge of the risk factors involved in breast cancer, together with the prognostic and predictive factors are important for prevention and early diagnosis, allowing appropriate treatment. The most detected variables identified as lack of physical activity, smoking and family history of cancer deserve the attention of professionals when developing and implementing educational programs, health promotion and the disease prevention. Keywords: Breast cancer. Nursing. Women's Health. Docente do CTESOP – Centro Técnico-Educacional Superior do Oeste Paranaense. E-mail: [email protected]. CPF: 005.493.490-73.

INTRODUÇÃO

O câncer de mama é a detecção da neoplasia maligna que acontece no

sexo feminino no Brasil, demonstrando uma incidência estimada para 2003, de

46,35 casos por 100 mil mulheres e 40,41 no Estado do Paraná (SCLOWITZ et al.,

2005).

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A doença vem acometendo progressivamente um número maior de

mulheres, em faixas etárias cada vez mais novas e com taxa de mortalidade também

crescente no País. Entre 1979 e 1999, teve aumento de 69% na taxa bruta de

mortalidade por câncer de mama no Brasil (5,77 para 9,75 óbitos por 100

mulheres/ano). Dessa forma, foi considerada a maior neoplasia maligna feminina,

com mortalidade estimada, para 2003 de 10,40 óbitos por 100 mulheres (SCLOWITZ

et al., 2005).

As neoplasias se manifestam atualmente como a segunda causa de morte

em mulheres brasileiras, colocando o câncer de mama em primeiro lugar (NOVAES

et al., 2006). A neoplasia de importante detecção na saúde pública, principalmente

em países desenvolvidos, sendo responsável por mais de 6 milhões de óbitos a

cada ano, apresentando cerca de 12% de todas as causas de óbitos no mundo

(GUERRA et al., 2005).

A elevação da incidência da neoplasia vem sendo constatada em vários

países industrializados ou em fase de industrialização tendo como objeto de

preocupação dada a incapacidade tecnológica atual na prevenção da doença. Dessa

maneira, as medidas de sua detecção precoce persistem nos instrumentos atuais

disponíveis de modificação da história natural do câncer de mama, e assim, de

controle de sua letalidade, ampliação da sobrevida e da qualidade de vida das

mulheres afetadas (KOIFMAN; KOIFMAN, 1999).

Uma vez detectada a necessidade de prosseguir a investigação ou em

casos diagnosticados de câncer de mama a mulher é encaminhada às unidades

terciárias (centro de alta complexidade em oncologia), para que o tratamento

adequado seja instituído. À medida que tumores de menor tamanho são detectadas,

melhores são as taxas de sobrevida e menos mutilante é a abordagem cirúrgica

(BRASIL, 2001).

Medidas fisioterápicas são indicadas e quase sempre conseguem reduzir os

linfedemas a níveis aceitáveis pela paciente. Há que se garantir que uma vez

tratadas as mulheres com câncer de mama, haja um seguimento regular a fim de se

acompanhar a evolução de cada caso e adotar as medidas, terapêuticas ou de

suporte, são necessárias em casos de recidiva da doença (BRASIL, 2001).

Entre os fatores associados às condutas preventivas do câncer de mama,

então o melhor nível socioeconômico, a história da família de câncer de mama e a

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história pessoal de biópsia mamaria com o resultado benigno. Esses fatores estão

relacionados com maiores prevalências de práticas preventivas, consequentemente

neoplasias mamárias que foram diagnosticadas mais precocemente (SCLOWITZ et

al., 2005).

Sendo assim, se faz necessário apresentar o problema de pesquisa que

norteou este estudo: Quais são os fatores associados ao câncer de mama

apresentados em publicações sobre a temática?

O presente artigo teve como objetivo discutir sobre os fatores associados ao

câncer de mama a partir de publicações sobre a temática.

MATERIAIS E MÉTODOS

Este estudo trata-se de uma pesquisa exploratória bibliográfica sobre os

fatores associados ao câncer de mama. Segundo Gil (2002), a pesquisa exploratória

tem como princípio “estabelecer mais familiaridade com o problema, de pesquisa a

ser estudado mais explícito suas hipóteses”, sendo o seu planejamento bastante

flexível o intuito de tornar casos, envolve levantamento bibliográfico, aplicação de

questionários e entrevistas com pessoas envolvidas com o problema pesquisado e

análise de exemplos que estimulem a compreensão. Esta pesquisa exploratória visa

a forma de pesquisa bibliográfica.

A pesquisa foi realizada em sites de pesquisa como: Lilacs, Bireme e Scielo.

Para a seleção dos artigos foram utilizadas palavras-chave e descritores de

saúde de acordo com o temático Câncer de Mama.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Análise e discussão dos resultados para divulgação das pesquisas

produzidas.

De acordo com a coleta de dados da Lilacs, Bireme e Scielo foram

encontradas tais publicação.

Quadro 1 – Publicações selecionadas para a análise

Número Nome do Artigo Periódico Site Ano

1. Fatores associados ao linfedema em pacientes com câncer de mama Revista Brasileira ginecologia obstetrícia

Revista Brasileira Ginecologia Obstetrícia

Lilacs e Scielo 2011

2. Fatores associados a não realização Caderno de Saúde Lilacs 2008

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da mamografia e do exame clínico das mamas: um estudo de base populacional em Campinas, São Paulo, Brasil

Pública vol. 24

3. Câncer de mama e fatores associados Ciência, Cuidado e Saúde

Bireme 2008

4. Condutas na prevenção secundária do câncer de mama e fatores associados

Revista Saúde Pública

Scielo 2005

5. Fatores associados à realização da prevenção secundária do câncer de mama no Município de Maringá, Paraná, Brasil

Caderno de Saúde Pública vol. 27

Scielo 2011

6. Fatores associados à realização de exames preventivos para câncer nas mulheres brasileiras, Pesquisas Nacional de Amostras Domiciliares (PNDA)

Ciência Saúde Coletiva

Scielo 2006

Os fatores de riscos são variáveis que interferem diretamente no

desenvolvimento de doenças como o câncer. As variáveis mais consideradas em

pesquisas de câncer de mama são: idade, hábitos como ser ou não fumantes,

prática de exercício físico, obesidade, nível de escolaridade, vida reprodutiva e

antecedente familiar.

Segundo Borghesan et al. (2008), uma das variáveis mais importantes

associadas ao câncer de mama é o fator idade. Algumas pesquisas mostram que a

idade elevada, principalmente após os 50 anos é um fator importante, porém

existem outros fatores. A idade é um fator importante, pois além das mudanças

hormonais que colaboram para o ganho de gordura principalmente abdominal que

interferem na presença da doença.

Em um estudo realizado com 80 mulheres, a idade encontrada de mulheres

com diagnóstico de câncer foi entre 41 a 60 anos, representando 65 do total de

mulheres. Além de que as mulheres com idade acima da idade fértil têm menores

habito de realizar exames periódicos (BORGHESAN, et al., 2008).

Um dos fatores que devem ser levados em consideração se a mulher pratica

atividade física ou não, se fumante ou não são fatores que interferem diretamente na

doença, a pratica atividade ela serve como proteção do câncer e de outras doenças,

já o fumo e um agente carcinogênico químico o qual deve ser orientado as

pacientes a parar com uso tabaco ou diminuir .Comportamentos relacionados à

saúde: prática de atividade física em contexto de lazer pelo menos uma vez por

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semana e situação tabágica: e não-fumante incluindo quem nunca fumou e os ex-

fumantes (AMORIM et al., 2008).

Os autores acima citados discutem a relação de fatores associados à

qualidade de vida como fator de risco para o câncer de mama, dentre eles, a

obesidade e ela está associada outros fatores como idade acima de 45 anos,

menopausa. A obesidade é fator de risco para várias outras doenças crônicas

degenerativas, além do câncer de mama. A associação entre peso corporal,

constituição corporal e risco de câncer de mama, entre mulheres na pós-

menopausa, tem sido sugerida, sendo a obesidade considerada fator de risco para o

desenvolvimento do câncer de mama em mulheres na pós-menopausa, porém, na

pré-menopausa, seria um efeito protetor (BORGHESAN et al., 2008).

O baixo nível de escolaridade causa dificuldades no entendimento pra

prevenção e a cerca dos exames preventivas. Verificou-se, ainda, em outra

pesquisa, que mulheres que possuíam até quatro anos de estudo sabiam menos

sobre a periodicidade do auto exame das mamas do que as mulheres que

estudaram nove anos ou mais (MATOS et al., 2011).

Mulheres que tiverem gestação após a idade de 30 anos têm uma maior

possibilidade para desenvolver o câncer de mama por causa dos fatores hormonais.

Os fatores de risco associados à vida reprodutiva das mulheres, que podem

estar positivamente relacionados ao aumento da incidência de câncer de mama,

englobam a primeira gestação após os 30 anos, menarca anterior aos 11 anos,

menopausa após os 55 anos, a nuliparidade e a existência de ciclos menstruais de

curta duração.

As mudanças ocorridas durante a puberdade, com o aumento dos níveis

séricos de estrogênio e prolactina, provocam grandes efeitos sobre o epitélio

mamário. Provavelmente o período mais crítico de risco para o aparecimento de

transformações malignas pode estar entre a menarca e a primeira gestação

(BORGHESAN et al., 2008).

A predisposição genética e fator com mais possibilidades de aparecimento

de todos os tipos de câncer, pessoas que tem antecedentes familiares devem iniciar

os cuidados preventivos desde jovem mesmo não tendo nenhum fator associado.

Em relação às variáveis de risco mais fortemente associadas ao câncer de mama,

ou seja, o fator antecedente familiar, na pesquisa realizada em Teresópolis, apenas

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duas mulheres apresentavam este fator com uma prevalência de 3,7%

(BORGHESAN et al., 2008).

Apesar dessa gama variável de fatores de risco, o câncer de mama, se

quando detectado precocemente, é curável em sua grande maioria e sem grandes

sequelas físicas e emocionais para a mulher. O conhecimento dos fatores de risco

envolvidos no câncer de mama, em conjunto com os fatores prognósticos e

preditivos, são importantes para a prevenção e diagnóstico precoce, permitindo

tratamento adequado.

A enfermagem tem a obrigação de orientar o auto exame de mama e a

qualquer mudança a realizar exames mais específicos, em mulheres com mais de

35 orientar a realizar mamografia periodicamente.

Segundo Paiva et al. (2011), foram entrevistadas 14 mulheres com

linfedema (12,5%) que se declararam tabagistas e 27 (24,1%) fumavam quando

foram submetidas à cirurgia, não sendo encontrada diferença significativa entre esse

grupo e o de mulheres sem a morbidade.

As mulheres abaixo dos 50 anos procura a fazer a mamografia e sempre

procura a um ginecologista ou um oncologista para uma consulta, mas as mulheres

de 50 anos acima não procuram fazer os exames e nem procura médicos para

consultas um dos motivos que elas tem é a vergonha ou falta de orientação do que é

doença, tem mulheres que nem sabe que a doença pode levar até a morte.

Mulheres que procuram uma consulta de enfermagem são orientadas de

como fazem o auto exame das mamas em casa e geralmente essas mulheres são

de classe baixa só assim elas tem uma prevenção mais acessível pelo de que se ela

encontra nódulos na mama assim ela já procura uma consulta com médico, e o

médico examina essa paciente como um todo.

A inexistência de estudos de base populacional sobre prevalência e fatores

associados à realização de mamografia, no país, somada às discussões sobre os

benefícios do rastreamento monográfico em massa, sobretudo abaixo dos 50 anos.

A dificuldade de acesso à consulta e aos exames diagnósticos, como a

mamografia, são fatores que, de certa forma, podem estar estimulando as mulheres

de classe social mais baixa a praticar o auto exame de mamas, já que passa a ser a

única forma de prevenção acessível. Quanto ao exame clínico de mamas, apesar da

tendência de aumento em relação ao escore de risco, é provável que essa conduta

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dependa, em grande parte, do acesso à consulta médica, ou seja, uma vez que a

paciente chegue ao médico, deverá ter suas mamas examinadas. Para a realização

de mamografia e, de forma semelhante para a frequência à consulta ginecológica no

último ano, é bastante clara a associação entre a combinação de fatores de risco e o

aumento das prevalências dessas condutas. Dentre os fatores determinantes da

realização de mamografia e da frequência à consulta ginecológica, a classe social é,

provavelmente, o que exerce maior influência nesta associação (SCLOWITZ et al.,

2005).

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Nos dias de hoje, o câncer de mama continua sendo uma doença de grande

interesse para todos os níveis de abordagem médica, assistência, pesquisa e

ensino, por se constituir em uma patologia com alta frequência de diagnostico que

apresenta inúmeros desafios para a sua prevenção câncer de mama possui

apresentação, progressão e prognósticos variáveis. As variáveis mais detectadas

como a falta de atividade física, o tabagismo e a história familiar de câncer merecem

a atenção dos profissionais quando da elaboração e implantação de programas

educativos, de promoção à saúde e prevenção à doença. Considera-se a

necessidade de articulação de políticas públicas que incentivem e promovam o

diagnóstico precoce do câncer de mama. A solicitação da mamografia, a orientação

do auto exame regular das mamas e o exame clínico das mamas durante a consulta

ginecológica são medidas essenciais para a detecção precoce de patologias

mamárias.

Todavia, o presente trabalho poderá contribuir para o entendimento da

doença entre os profissionais enfermeiros e outro da área da saúde, promovendo

uma maior acessibilidade ao tema, auxiliando para um diagnóstico precoce e

consequentemente, contribuirá com para literatura científica acerca do assunto.

REFERÊNCIAS

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IDENTIFICAÇÃO DAS CONFORMIDADES E DESCONFORMIDADES QUANTO A LEGISLAÇÃO AMBIENTAL E FLORESTAL PRESENTES NA PROPRIEDADE

ARCA DA ALIANÇA EM JESUÍTAS PARANÁ

TODESCATT, Claudemir Luis

SILVA, Jéssica Dias da

WINKELMANN, Lenir

Graduados em Licenciatura em Geografia pelo CTESOP.

DOUHI, Nelson Professor Orientador- Doutor em Geografia pela UEM. Docente do Curso de Geografia do CTESOP. E-mail: [email protected]

RESUMO: O objetivo deste artigo é analisar as conformidades e desconformidades legais da propriedade Arca da Aliança, em Jesuítas Paraná, com base nas leis Federais e Estaduais em vigência. A metodologia adotada consistiu numa revisão bibliográfica sobre a temática e estudo de campo para levantamento de informações da propriedade. Como critério de escolha optou-se em avaliar a propriedade quanto às conformidades legais, ambientais e sanitárias. Constatou-se que na propriedade desenvolvem-se diversas atividades econômicas, dentre elas um pesque pague e lanchonete. Alerta-se que é necessário que sejam estimulados a legalização e a educação ambiental nas propriedades rurais, além disso, é preciso que haja a implementação de ações que propiciem a melhoria do uso dos recursos naturais, especialmente o uso racional da água reduzindo o desperdício, e a recuperação de áreas degradadas e ou em desconformidade legal.

Palavras-chave: Propriedade rural; Legislação; Condição ambiental.

IDENTIFICATION OF CONFORMITIES AND DISCONFORMITIES RESPECTING THE ENVIRONMENTAL LEGISLATION PRESENTS IN THE ARK OF THE ALLIANCE PROPERTY IN JESUÍTAS PARANÁ

The objective of this paper is to analyze the legal conformities and disconformities in the Ark of the Alliance property, in Jesuítas, Paraná, based on Federal and State laws in effect. The chosen methodology consisted in one literature review about the subject and one field study to survey property information. As a criterion of choice was decided to evaluate the property regarding legal, environmental and sanitary conformities. It was found that the property develop various economic activities, among them a “fish and pay” and snack bar. Warning that they need to be encouraged to legalization and environmental education in rural property, in addition, it is necessary to be implemented actions that propitiate a better use of natural resources, especially water conservation by reducing wastage and the recovery of degraded areas and/or in legal disconformity. Keywords: Rural property; Legislation; Environmental condition.

1 INTRODUÇÃO E CARACTERIZAÇÃO DA ÁREA

As legislações no Brasil são pouco discutidas, especialmente em âmbito

municipal, assim torna-se difícil aplicar as leis de forma adequada, sejam ambientais,

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florestais ou sanitárias, pois na maioria das vezes a comunidade não tem

conhecimento das mesmas e não expressa interesse em conhecê-las. Nesse

aspecto é necessária uma melhor aplicabilidade das legislações em âmbito

municipal, fato que iria estimular os agropecuaristas em desenvolver suas atividades

econômicas em conformidade com as mesmas.

Partindo desse pressuposto, este trabalho tem como objetivo trazer à tona

as conformidades e desconformidades das atividades desenvolvidas na propriedade

estudada e conscientizar a população envolvida com as atividades agrícolas e

pecuárias para que possam trabalhar em conformidade com a lei e órgãos

legisladores, para obter melhores resultados no decorrer das diferentes atividades

desenvolvidas no campo. O trabalho também visa apresentar informações que

tratem sobre as atividades rurais desenvolvidas em pequenas propriedades e os

aspectos legais e ilegais que implicam nas condições de preservação dos recursos

naturais.

Os órgãos responsáveis pela legislação ambiental, geralmente localizam-se

nas capitais e cidades pólos-regionais, estas distam dos pequenos municípios,

dificultando os moradores a discutirem seus teores, ainda mais os pequenos

agricultores, geralmente com pouca escolaridade, e residentes na área rural, como é

caso do proprietário da área de estudo, residente no município de Jesuítas, que se

limita ao norte e nordeste com o município de Formosa do Oeste, a oeste com Assis

Chateaubriand, ao sul com Cafelândia, a sudeste com Nova Aurora e a leste com

Iracema do Oeste. O município encontra-se a 489 metros acima do nível do mar e

está localizado a 578 km de distância da Capital do Estado (Curitiba).

Segundo KÖPPEN (1948), citado por MAACK (2002), as condições

climáticas de Jesuítas classificam-se como Cfa – Clima Mesotérmico subtropical

úmido, nos meses mais quentes, com temperaturas diárias superiores a 22ºC e no

mês mais frio com médias inferiores a 18ºC, sem estação seca definida, verão

quente e geadas menos frequentes. Segundo dados fornecidos pelo Departamento

de Agricultura do Município, os tipos de solos predominantes são: latossolo

distroférrico e eutroférrico, com relevo, suave e suave ondulado e predominância da

vegetação estacional semidecidual.

A área de estudo (figura 1) está localizada na região noroeste do município

de Jesuítas no km 4 da PR 317. O acesso à propriedade é feito por estrada

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cascalhada por uma distância de 1.100 metros até a sede, na gleba Bairro Rio

Verde-2 que possui área total de 24,2 hectares, equivalente á 1,34 módulos fiscais.

De acordo com os padrões da propriedade, a mesma se enquadra dentro

critérios de agricultura familiar, sendo aquela que pratica atividades no meio rural,

atendendo aos seguintes requisitos estabelecidos no artigo 3º da Lei Federal nº

11.326, de 24 de julho de 2006:

I - não detenha, a qualquer título, área maior do que 4 (quatro) módulos fiscais;

II - utilize predominantemente mão-de-obra da própria família nas atividades econômicas do seu estabelecimento ou empreendimento;

III - tenha percentual mínimo da renda familiar originada de atividades econômicas do seu estabelecimento ou empreendimento, na forma definida pelo Poder Executivo.

Figura 1: Roteiro de acesso de Jesuítas, até a propriedade. Fonte: Google Earth/adaptação: Os autores.

A terra como recurso natural básico é fundamental, forma-se em um

processo lento, levando milhões de anos para se formar, deve cumprir além da

função econômica á função social.

Neste contexto, Sodero (1968) destaca que:

O princípio da função social da terra ressalta o sentido que a terra está a serviço do homem e, não, o homem a serviço da terra, mas, que a terra não é mercadoria e, sim, um meio de produção ou de utilidade social (SODERO, 1968, p. 89).

A ocupação da propriedade ocorreu em 1970, período do início do processo

de mecanização da agricultura. Segundo o proprietário “era uma área abandonada,

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coberta por capoeira, com um rancho de coqueiro lascado e coberto com tabuinhas

de madeira”. Residem atualmente na propriedade estudada o casal de proprietários,

seus filhos, filhas, genro, nora, netas e bisneto, totalizando 13 moradores, os quais

se revezam nas atividades econômicas praticadas como agricultura, pecuária,

avicultura, piscicultura, pesque pague e lanchonete. Hoje a sede é constituída de

uma casa de alvenaria e anexa a mesma uma lanchonete. A persistência e a

dedicação do proprietário evidenciam-se nas transformações da área, bem como na

permanência da família envolvida nas atividades, sendo este um modelo a ser

seguido pelos agricultores familiares.

2 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS

A metodologia utilizada para o desenvolvimento deste trabalho consistiu em

pesquisas bibliográficas para embasamento teórico, observações in loco, onde

foram feitos registros fotográficos de pontos da propriedade com maior relevância ao

estudo e entrevistas.

Foi aplicado um questionário investigativo com o proprietário da área

estudada sobre o processo de ocupação, formas de atividades e grau de

entendimento das questões legais.

O mapeamento da propriedade denominada Arca da Aliança, foi elaborado

através da demarcação das coordenadas geográficas para as áreas com atividades

econômicas. As áreas foram referenciadas por etapas demarcando todas as

atividades desenvolvidas na propriedade. Para esse procedimento foi utilizado

aparelho GPS de navegação, modelo Garmin Etrex Vista HCx. A elaboração do

material cartográfico utilizou como base as informações disponíveis no Google Earth

e os Softwares Spring e Corel Draw.

3 RESULTADO E DISCUSSÕES

3.1 PRINCIPAIS ATIVIDADES ECONÔMICAS DESENVOLVIDAS NA

PROPRIEDADE

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A diversificação das atividades econômicas nas pequenas propriedades é de

fundamental importância para fixação do homem no campo, bem como proporcionar

geração de renda e bem estar social. Neste contexto, a propriedade citada, pode ser

considerada como referência municipal, é diversificada e contribui para o

desenvolvimento do meio rural jesuitense, característica identificada no Município.

De acordo com os dados divulgados pelo IPARDES, (2010) o setor da economia

com maior ocupação da mão de obra é a atividade rural, que corresponde por

aproximadamente 47% dos empregos gerados, há que se ter este setor como

primordial na elaboração de políticas públicas municipais voltadas ao estímulo de

geração de emprego e renda.

3.2 LAVOURAS TEMPORÁRIAS

A utilização dos solos paranaenses para exploração de atividades agro-silvo-

pastoril, é regulamentada pela lei estadual 8014/1984, que trata sobre o uso e

ocupação correta da terra, norteia sobre o correto planejamento para sua utilização

e orienta sobre as práticas e procedimentos conservacionistas que visam minimizar

os impactos erosivos decorrentes das atividades.

Para exploração de lavouras temporárias o produtor utiliza áreas com

declividade menor que 12 %, (figura 2) cultiva soja na safra de verão e milho na

safra de inverno, conforme evidenciado nos estudos de campo realizados no dia 18

de março e 01 de setembro de 2012. A atividade é conduzida de acordo com o

zoneamento agrícola de risco climático revisado anualmente e publicado através

de portarias pelo MAPA (Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento), que

é um instrumento de política agrícola e gestão de riscos na agricultura, que está sob

a responsabilidade da coordenação geral de zoneamento Agropecuário,

subordinada ao Departamento de gestão de Risco Rural, da secretaria de Política do

MAPA.

O produtor adota técnicas que minimizam os riscos ao ambiente como a

conservação de solos através da construção de curvas de base larga em nível,

adoção da prática de plantio direto, técnica que evita a remoção do solo e a

destruição da camada de palha que serve para amortecer o impacto das gotas da

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chuva, evitando a degradação do solo, favorecendo a infiltração da água e o

desenvolvimento da vida microbiana. Em conversa com produtor, constatou-se que

falta ao mesmo a adoção de rotação de culturas, prática essencial á sobrevivência

do sistema de plantio direto, que de acordo com EMBRAPA, (2003) “A rotação de

culturas consiste em alternar, anualmente, espécies vegetais numa mesma área

agrícola”.

Figura 02: Mapa de declividade do solo do município de Jesuítas. Fonte: José Renato Augusto.

3.3 CULTURAS PERMANENTES

Entende-se por lavoura permanente a área plantada ou em preparo para o

plantio de culturas de longa duração, que após a colheita não necessitam de novo

plantio, como é o caso da laranja, o limão, a tangerina, o pêssego, a uva e o café,

que podem ser explorados por vários anos, para isso aplicam-se técnicas de

manejo, principalmente as podas, melhorando o potencial produtivo das culturas.

O sistema de cultivo adotado na propriedade é o café adensado, este sistema de

cultivo demanda tecnificação da lavoura, principalmente na questão de adubação,

onde o agricultor utiliza esterco de aves proveniente de dois aviários conduzidos no

sistema de integração com a cooperativa. Para os aviários a Legislação Estadual

determina restrições para utilização do esterco de aves, de acordo com a resolução

Nº 024 da SEMA/IAP, de 14 de julho de 2008, artigo 12, incisos I e II.

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Dos resíduos provenientes da atividade da avicultura, que representam

cerca de 200 toneladas de esterco de aves, a cada 14 lotes de frango (troca da

cama do aviário), uma parte é comercializada com empresas prestadoras de serviço

de limpeza, pois possui status de subproduto (adubo e compostagem), tendo

remuneração adequada, o que gera mais uma alternativa de renda da propriedade

rural. Outra parte é aplicada nas áreas de lavoura, imediatamente após a limpeza do

aviário, desta forma não cumprindo a legislação ambiental.

3.4 AVICULTURA DE CORTE

A legislação ambiental não se apresenta como de grande restrição ao

desenvolvimento da cadeia de frango de corte. A atividade de avicultura, no Paraná

ganha destaque no cenário nacional e mundial.

Na propriedade Arca da Aliança, a atividade de avicultura de corte se dá no

sistema de integração, entre a Cooperativa e o associado, cabendo ao integrado

“executar parte das atividades desta cadeia, sob supervisão e orientação do

responsável técnico do integrador”, atividade é composta por dois aviários, com área

de 2500m2, alojando cerca de 180.000 aves por ano.

Conforme a Resolução SEMA/IAP Nº 024, de 14 de julho de 2008, que trata

no seu artigo Art. 3º. Parágrafo Único, da tipologia do empreendimento, a

propriedade enquadra-se como mínimo demonstrado na tabela abaixo:

Porte do Empreendimento Área construída de

confinamento

(total em m2)

Micro Até 1500

Mínimo 1501 – 2.500

Pequeno 2.501 – 5.000

Médio 5.000 – 10.000

Grande 10.000 – 40.000

Excepcional Maior que 40.000

Tabela 01 - Porte de empreendimentos de avicultura, para fins de licenciamento ambiental. Fonte: SEMA/IAP 2008.

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Assim sendo, tal área é passível de licença especifica, conforme o Art. 5º, da

mesma resolução fica passível de Licença Ambiental Simplificada – LAS, os

empreendimentos de avicultura classificados como de porte mínimo. Diante do

exposto, podemos evidenciar que a atividade de avicultura, está amparada nas

questões legais, dispondo das devidas licenças, sendo primordial para o

funcionamento da atividade, que proporciona ao produtor segurança e tranqüilidade

para exercer esta atividade, bem como ao consumidor a confiança na aquisição de

alimentos saudáveis.

A preocupação sanitária com a cadeia produtiva de frango envolve todas as

etapas do processo, sendo condicionado a cada ator realizar suas obrigações para o

êxito da atividade, principalmente em função do mercado consumidor, que

atualmente exige cada vez mais o cumprimento da legalidade ambiental, social e

sanitária. Diante desse contexto, é fundamental a presença da fiscalização efetiva

do Estado para dar segurança no processo.

3.5 PISCICULTURA

Segundo Vegas (2010), “o Paraná está em quinto lugar no ranking nacional

na produção de peixes, perdendo para Ceará, Santa Catarina, São Paulo e Rio

Grande do Sul, que é o maior produtor de peixes do Brasil”.

De acordo com o IPARDES (2010), o município de Jesuítas possui sete

estabelecimentos que praticam a atividade de aqüicultura totalizando 98 hectares de

lâmina d’água.

Dentro da distribuição espacial das atividades na área estudada, a

piscicultura é desenvolvida no sistema de tanques escavados, localizados na parte

baixa do imóvel. O produtor relata que a atividade foi iniciada em 1987 e perdura até

hoje com aproximadamente 2,0 (dois) hectares de lâmina d’água, criando diversas

espécies de peixes, das quais a tilápia é a espécie criada em maior quantidade, pois

seu crescimento é rápido e sua característica permite utilização para fileteamento.

Neste contexto Vegas (2010), destaca que 80% da produção paranaense de

peixes são de tilápias, 10% pacus e outras espécies representam 10%. Isto pode ser

evidenciado por diversos autores que retratam a criação de tilápia em cativeiro:

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A tilápia (Oreochromis niloticus) é uma espécie proveniente da África, e que foi introduzida em diversos países do mundo, e em quase todo o território brasileiro, por ser de fácil adaptabilidade em diversas condições de criação e com uma excelente textura e sabor, tendo boa aceitação pelo mercado consumidor, (IGARASHI, 2005).

Como esta atividade é praticada em diversas regiões do Estado, precisa ter regras

claras quanto às incumbências de quem a pratica. No Estado do Paraná o órgão que disciplina,

rege e define a atividade de criação de peixes em cativeiro é o Instituto Ambiental do Paraná

IAP (2008), definindo que:

Piscicultura é a denominação que se dá para a atividade de produção de

alevinos ou peixes em locais conhecidos como viveiro, açude reservatório,

alagado ou tanque, caracterizado por uma área composta por uma lâmina

d’água represada e que possui controle de entrada e saída da mesma.

De acordo com o Art. 3º, da resolução conjunta n° 002/08 - IBAMA/SEMA/IAP,

para prática de piscicultura em áreas com menos de 5,0 hectares de lamina d’água e produção

inferior a 10.000kg/ano, o IAP estabelece a obtenção da Licença Ambiental Simplificada

(LAS). De acordo com as dimensões da atividade de piscicultura desenvolvida na

propriedade, para sua legalidade, torna-se necessário a obtenção da LAS.

3.6 FILETEAMENTO E LANCHONETE

De acordo com a entrevista realizada com chefe da vigilância sanitária de Jesuítas, o

médico veterinário Gabriel Daltoe de Almeida, relata que: “O município de Jesuítas não

dispõe de uma lei específica para a atividade de abate, fileteamento e comercialização de

peixes em lanchonetes, para isso utiliza-se da Lei Municipal N.° 912/2009, que trata sobre a

inspeção sanitária e industrial dos produtos de origem animal no município de Jesuítas. Em

seu Art.1° estabelece a obrigatoriedade da prévia inspeção e fiscalização de produtos de

origem animal produzidos e destinados à comercialização nos limites de sua área geográfica.”

Ainda a referida lei oportuniza aos estabelecimentos rurais o processamento artesanal

de produtos de origem animal, atividade esta desenvolvida na propriedade objeto deste

estudo.

Contudo, conforme a pesquisa de campo verificou-se que as instalações onde se

realiza o abate e fileteamento de tilápias, apresentam condições que necessitam de melhorias e

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adequações conforme as exigências sanitárias, o que pode minimizar o risco de contaminação

aos consumidores e melhorar a qualidade de seus produtos.

.

4 ÁREAS DE PRESERVAÇÃO PERMANENTE (APPs)

Segundo o proprietário, no período da ocupação da propriedade havia

estímulo para a retirada da floresta e isso partia do marco cravado às margens do

rio. Essa prática se deu por desconhecimento do código florestal de 1965, que

resguarda à preservação das áreas de APPs, mata ciliar em nascentes, córregos e

rios. A lei estimula práticas que contribuam para a manutenção da qualidade da

água, minimizem o risco de erosão pelo escoamento da água das chuvas que

carregam materiais orgânicos e inorgânicos aos mananciais aumentando a carga de

poluentes. As matas ciliares cumprem a importante função de corredores para a

fauna bem como para o desenvolvimento da flora, sendo fundamental a existência

da área de preservação permanente, Franco (2006) define como:

Área de preservação permanente: área protegida nos termos dos Arts. 2° e 3° desta Lei, coberta ou não por vegetação nativa, com a função ambiental de preservar os recursos hídricos, a paisagem, a estabilidade geológica, a biodiversidade, o fluxo gênico de fauna e flora, proteger o solo e assegurar o bem-estar das populações humanas, (FRANCO, 2006, p. 52,53).

Outra ação que a Legislação Ambiental coíbe com relação à APPs é a

exploração econômica da madeira e sobre isso, o proprietário relatou que como

precisava suprir a demanda por energia utilizada nos fornos na atividade de

avicultura, plantou nesta área eucaliptos, espécie exótica originária da Austrália, de

extrema agressividade que quando cultivada em forma de maciço florestal, dificulta o

desenvolvimento de espécies de menor porte, principalmente as nativas. Observa-

se que a cerca que protege a área da APPs, está em péssimas condições de

conservação facilitando a entrada do gado, favorecendo a compactação do solo e

formação de caminhos preferenciais. Essa condição facilita a erosão e

contaminação da água contribuindo para agravamento das questões ambientais.

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5 CONSIDERAÇÕES FINAIS

O presente trabalho não tem cunho fiscalizador, nem procurou criar uma

receita para os proprietários, buscou-se através do estudo de campo, referenciado

pela ciência, traçar um paralelo entre as conformidades e desconformidades legais

na propriedade Arca da Aliança,

De acordo com os resultados obtidos, considera-se que a maioria das

atividades está de acordo com as leis que a regem, bem como a adoção de algumas

medidas mitigadoras, que tem por objetivo preservar os recursos naturais,

contribuindo para que a terra cumpra sua função social.

Com relação às atividades que estão em desconformidades com a

legislação vigente, torna-se fundamental que o agricultor busque adequar-se as

normas estabelecidas, evitando sofrer as sanções nelas previstas.

A preservação dos recursos naturais renováveis, como vegetação e a água

são fundamentais para a vida humana, por isso, torna-se indispensável à adequação

ambiental da propriedade, com a elaboração de um plano de manejo que contemple

as atividades econômicas, aliadas com a preservação do meio ambiente.

Diante do exposto, cabe ressaltar que existem profissionais qualificados, que

podem assessorar o agricultor na tomada de decisão, transformando sua realidade

dentro da adequação legal, valorizando o aspecto visual da propriedade e ampliando

as condições de aproveitamento econômico, contribuído para o cumprimento da

função social da terra.

REFERÊNCIAS:

BRASIL. Lei Federal Nº 11.326. Disponível em: <www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2004-2006/2006/lei/l11326.htm>. Acesso em: 01 de jun. de 2013.

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LINGUAGEM PUBLICITÁRIA, RECURSOS LINGUÍSTICOS E ARGUMENTAÇÃO

GAIOTTO, Paulo Alexandre Doutorando em Estudos da Linguagem pela UEL – Universidade Estadual de Londrina

RESUMO: O objetivo deste artigo é demonstrar como a linguagem publicitária está organizada numa propaganda da Nestlé, veiculada pelo Guia Você S/A da revista Exame, na edição que aborda as 150 melhores empresas para se trabalhar. Identificaremos os recursos linguísticos que nos permitem entender a argumentação inscrita na língua a partir do uso de discurso direto e de elementos dêiticos. Em seguida, demonstraremos como a polifonia de locutores é relevante para comprovarmos características argumentativas na publicidade. A justificativa desta proposta está no fato de que, muitas vezes, nos deparamos com a linguagem publicitária, seja na mídia impressa ou não, utilizando-se de determinadas construções textuais para apresentar uma variedade de efeitos de sentido que se produzem com a escolha de uns termos em detrimento de outros. O embasamento teórico está ancorado em Ducrot (1987), Benveniste (1988), Fávero (1991), Koch (1999), Koch e Travaglia (2000). Para a análise, aplicaremos a teoria para demonstrar a função do discurso direto, a subjetividade dêitica e a polifonia na constituição da peça publicitária selecionada. Palavras-Chave: Publicidade. Recursos Linguísticos. Argumentação.

ABSTRACT: The aim of this paper is to show how advertising language is organized in an advertisement of Nestle, conveyed by Guia Você S / A Exame magazine, in the edition that deals with the 150 best companies to work for. We will identify the linguistic resources that allow us to understand the reasoning given in the language from the use of direct speech and deictic elements. Then we will demonstrate how the polyphony of speakers is relevant to prove features argumentative in advertising. The rationale behind this proposal is the fact that, often, we are faced with the advertising language, whether in print media or not , using certain textual constructions to present a variety of meaning effects that occur with the choice of a terms over others. The theoretical foundation is founded in Ducrot (1987), Benveniste (1988), Fávero (1991), Koch (1999), Koch e Travaglia (2000). For the analysis, we will apply the theory to demonstrate the function of direct speech, subjectivity deictic and polyphony in the constitution of the advertisement selected. Keywords: Advertising. Language Resources. Argumentation.

1 INTRODUÇÃO

1.1 MÍDIA IMPRESSA, LINGUAGEM PUBLICITÁRIA E SUBJETIVIDADE DÊITICA

A imprensa, desde seus primórdios, se impôs como uma força política. Da

monarquia à república, chegando à atualidade, os governos e empresários

poderosos sempre utilizaram a imprensa para seus interesses, mas nunca perderam

de vista o temor que se deve ter, ao tratar com um veículo de comunicação com

poderes não só de elevar sua imagem, como também de puni-los, expondo

severamente atos e fatos em forma de noticiário ao público. É importante ressaltar

que as revistas e os jornais não vendem “só” notícias, eles também veiculam

opiniões, fazem com que seus leitores posicionem-se dessa ou daquela maneira

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diante de determinados fatos. Nesse sentido, para Capelato (1988), a mídia

impressa pode ser entendida como uma arma. A questão está em saber como usá-

la, pensando principalmente nas construções linguísticas que se deseja veicular.

Vivemos numa sociedade bombardeada por informações comerciais com objetivo

bem traçado: o de conquistar a atenção de pessoas para este ou aquele anúncio

colocado à mostra. Sobre essa questão, Reinato (1997), menciona que a divulgação

de produtos e/ou serviços a partir do apelo à persuasão é algo histórico e muito

antes de ser uma característica exclusiva da sociedade contemporânea, o fazer

publicitário, embora rudimentar, já constituía uma prática entre os povos das

civilizações primitivas. Naquela época, alguns produtos necessários à sobrevivência

humana eram divulgados, por exemplo, na entrada das cavernas. As peles de

animais eram expostas, e isso significava a intenção de trocá-las por outras coisas

que fossem úteis no cotidiano daquele grupo. Nesse sentido, anunciar para ser

notado é uma prática que sempre fez parte da vida do homem e se pensarmos num

mundo competitivo, capitalista, em que se produzem bens e serviços com qualidade

mais ou menos igual, com preços parecidos, estaremos diante de uma sociedade

que evoluiu, mas que ainda precisa convencer e ser convencida. Por isso, a

responsabilidade do anúncio publicitário é a de ultrapassar o nível da informação; é

preciso provocar uma espécie de estranhamento em quem o recebe, sob pena de

passar despercebido e tornar-se uma rotina, tanto para o anunciante quanto para o

seu leitor.

Com relação à objetividade no uso da linguagem, isso não é impossível, uma vez

que o publicitário carrega consigo concepções envolvendo formação política e

cultural que, de uma forma ou de outra, acaba influenciando o seu olhar sobre aquilo

que pretende veicular. Além do relato dos episódios ocorridos em um determinado

dia, a imprensa também vive da discussão, do debate e da análise de

acontecimentos ou situações atemporais. O contato com novas ideias e diferentes

opiniões permite ao jornalista e ao publicitário a incorporação de novos saberes,

renovando seus conhecimentos e pontos de vista sobre algo. Frente à imagem de

isenção e imparcialidade, difundida como um dos principais parâmetros na linha

editorial dos veículos de comunicação, Benites (2001), entende que a subjetividade

e a ideologia estão implícitas no texto, tendo em vista a organização do material

verbal e o conjunto de opções estilísticas utilizado pelo locutor. Portanto, essa

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ocorrência, mesmo que implícita, é característica da linguagem jornalística e

publicitária.

A subjetividade é explicada por Émile Benveniste em seus estudos sobre a noção

de indicadores de subjetividade, que mais tarde encorpou sua teoria sobre a dêixis

linguística. Nesse artigo, iremos nos deter à subjetividade dêitica, que pode ser

entendida como mecanismo em que se têm os elementos da enunciação, mostrar,

indicar e assinalar. O EU e o TU são os personagens da enunciação (dêixis

pessoal), o AQUI representa o lugar da enunciação (dêixis temporal) e o AGORA

que situa a enunciação (dêixis espacial).

Benveniste (1988) afirma que a dêixis pertencente à instância do discurso. Para o

autor, há dois tipos de signos em relação à referência: os que têm relação com a

enunciação (parte subjetiva da língua), e os que não se atualizam na enunciação

(parte objetiva da língua). Nessa divisão estão incluídos os pronomes: aqueles que

pertencem à instância do discurso e aqueles que pertencem à sintaxe da língua.

Na reflexão feita por Benveniste, os pronomes pessoais são muito importantes,

em relação à referência, pois a partir deles é considerada a questão dos indicadores

de subjetividade. Foi sobre a categoria de pessoa dos pronomes pessoais o primeiro

questionamento realizado por Benveniste. Para o autor, essa categoria de

pessoalidade é própria apenas da primeira e da segunda pessoa, faltando a terceira.

Essa diferença é percebida na organização referencial dos signos linguísticos, se

entendermos que a primeira e a segunda pessoa são atualizadas na enunciação,

enquanto a terceira pessoa refere-se a uma noção constante e objetiva. Eu / tu só se

referem à instância do discurso, pois eles próprios só têm existência no discurso.

Assim, essa referência à enunciação não é um traço que pertence só aos pronomes

pessoais de primeira e segunda pessoa, mas também a uma série de indicadores:

os demonstrativos, alguns advérbios, alguns tempos verbais. Esses signos que

fazem referência ao sujeito que fala, e funcionam como o instrumento de conversão

da língua em discurso.

Benveniste (1988), no capítulo A natureza dos pronomes, considera que o

pronome ele escapa a essa atualização na enunciação, remetendo à situação mais

objetiva. A terceira pessoa tem como característica: o fato de se combinar a

qualquer referência de objeto; não estar relacionada à instância do discurso; e não

ser compatível ao paradigma aqui, agora. Sendo assim, para o autor, ele não é um

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indicador de subjetividade, portanto não é contemporâneo à instância do discurso, e

consequentemente não é um dêitico linguístico. Logo, essa independência da

enunciação, não é privilégio apenas da não pessoa.

Benveniste (1989), em O aparelho formal da enunciação, concebe a enunciação

como um ato de apropriação do aparelho formal da língua por meio de índices

específicos (de subjetividade), de um lado, e por meio de procedimento acessório

(paradigma da não pessoa), de outro. Para o autor, não apenas os índices de

subjetividade, mas de maneira geral, a língua é apropriada pelo sujeito falante no ato

da enunciação.

Segundo esse teórico dos estudos linguísticos, é preciso estudar a língua a partir

da sua função de produtora de mensagem e não de sua perspectiva semiótica. Na

primeira perspectiva, constatamos que a semantização da língua acontece na

enunciação; antes desse processo a língua é constituída por signos linguísticos. É a

enunciação que promove, também, o mecanismo de referência da língua, tendo

como centro o sujeito falante.

Sendo assim, quando os locutores produzem seus enunciados, tornam-se

responsáveis por determinados discursos. E a maneira como o enunciado é

produzido, desde a sua intenção comunicativa, passando pela seleção de palavras

até chegar a sua elaboração final, cria um resultado capaz de veicular um texto com

caráter argumentativo, seja ele dotado de alto ou baixo teor de convencimento.

1.2 O DIALOGISMO DA LINGUAGEM E O FENÔMENO DA POLIFONIA

Na obra Marxismo e filosofia da linguagem (1992), Bakhtin ressalta que “toda

palavra comporta duas faces. Ela é determinada tanto pelo fato de que procede de

alguém, como pelo fato de que se dirige para alguém” (BAKHTIN, 1992, p. 113). Na

perspectiva da interação verbal, de um lado o locutor enuncia em função da

existência de um interlocutor e, do outro lado, a recepção/compreensão do que foi

enunciado nos sugere uma réplica: trata-se da possibilidade de uma apreciação,

concordância, discordância, crítica e/ou uma ação.

A atitude de reagirmos diante das palavras enunciadas, seja porque elas nos

incomodam, seja porque nos remetem a questões ideológicas com as quais

concordamos ou não, denota que realmente compreendemos o enunciado proposto.

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A compreensão, portanto, está além do reconhecimento do sinal, da forma

linguística. Segundo Bakhtin (1992, p. 112), a enunciação pode ser definida como “o

produto da interação de dois indivíduos socialmente organizados”. Assim, na visão

bakhtiniana, a proposta da interação verbal tem a finalidade de demonstrar que:

a verdadeira substância da língua não é constituída por um sistema abstrato de formas lingüísticas, nem pela enunciação monológica isolada, nem pelo ato psicofisiológico de sua produção, mas pelo fenômeno social da interação verbal, realizada através da enunciação ou das enunciações. A interação verbal constitui assim, a realidade fundamental da língua (BAKHTIN, 1992, p. 123).

No entendimento de Bakhtin o dialogismo, princípio constitutivo da linguagem,

decorre da interação verbal e desdobra-se em duas noções: a do diálogo entre

interlocutores no espaço do texto e a do diálogo entre muitos discursos que se

instala no interior de cada texto. Cabe ressaltar que o dialogismo, como afirma

Castro (1993), é o princípio filosófico orientador dos conceitos do autor russo, entre

eles o de polifonia.

A concepção de polifonia, formulada por Bakhtin no domínio da literatura, foi

trazida para a Pragmática Linguística por Ducrot e seguida por outros estudiosos.

Segundo Silva (1991, p. 57), “uma diferença entre a Teoria da Polifonia, de Ducrot e

Bakhtin, é que Ducrot trata das representações de várias vozes no interior do

enunciado e Bakhtin trata da Polifonia no texto como um todo”. Com relação a esse

distanciamento teórico na utilização do termo polifonia, Romualdo (2002, p. 32)

corrobora as considerações de Silva (1991) e acrescenta que a proposta de Ducrot

“é, entretanto, diferente da de Bakhtin, pois não aplica a teoria a textos ou

sequências de enunciados, como fez o autor russo, mas apenas a enunciados,

numa visão enunciativa do sentido”.

Na produção de discursos publicitários, encontramos estratégias discursivas para

inserir outras vozes no texto que nos levam a considerar a distinção proposta por

Authier-Revuz (1982 e 1990) entre heterogeneidade mostrada e constitutiva. Em seu

texto Heterogeneidade(s) enunciativa(s) (1990), a autora define a heterogeneidade

mostrada como um conjunto de formas que inscrevem o outro na sequência do

discurso, englobando o discurso direto, indireto, as aspas, as formas de retoque ou

de glosa, o discurso indireto livre e a ironia.

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A heterogeneidade mostrada, ainda segundo a autora, divide-se em duas

modalidades: a marcada, da ordem da enunciação e visível na materialidade

linguística; e a não-marcada, da ordem do discurso e não provida de visibilidade. A

forma de heterogeneidade mostrada (marcada) evidencia o discurso com certas

formas, como as aspas, os parênteses, o itálico, que criam o mecanismo de

distância entre o sujeito e aquilo que ele diz. Quanto à heterogeneidade constitutiva,

é considerada como aquela forma que não se mostra no fio do discurso, pois

embora o outro esteja sempre inscrito no discurso, sua presença não é

explicitamente demarcada.

Interessa-nos para este artigo a forma de heterogeneidade mostrada, pois é a

que ocorre em nosso corpus por meio de citação em discurso direto. Veremos, a

seguir, a análise do corpus. Trata-se de demonstrar como a linguagem publicitária

está organizada em uma propaganda da Nestlé, veiculada pelo Guia Você S/A da

revista Exame, na edição especial de setembro de 2009, em que aborda as 150

melhores empresas para se trabalhar.

2 DESENVOLVIMENTO 2.1 ANÁLISE DO CORPUS

Esta imagem foi extraída do Guia Você S/A da revista Exame, na edição que

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aborda as 150 melhores empresas para se trabalhar. A seguir, a análise versará

sobre a existência de alguns termos linguísticos presentes no discurso direto da

merendeira Rita de Cássia, da cidade de Natal, Rio Grande do Norte, que aparece

junto a sua imagem no espaço dedicado a uma propaganda da Nestlé sobre o

programa Nutrir. Apoiado em teóricos que estudaram a linguagem e sua produção

de sentidos, objetiva-se demonstrar como a linguagem vem sendo utilizada pela

mídia impressa na produção de opiniões.

Antes de entrarmos na análise, torna-se necessário situar o que é o Programa

Nestlé Faz Bem Nutrir. De acordo com informações obtidas no site da Nestlé,

www.nestle.com.br/nutrir observamos que os conceitos de nutrição, saúde e bem-

estar sempre estiveram presentes na condução dos negócios da Nestlé. Como

forma de contribuir para a melhoria da qualidade de vida das pessoas, a empresa

procura disseminar esses conceitos não só para os seus consumidores, mas

também para a população em geral.

Esse trabalho é desenvolvido pelo Programa Nestlé Faz Bem Nutrir, lançado em

1999, que trabalha a educação alimentar com o objetivo de contribuir para combater

a desnutrição e a obesidade em crianças e adolescentes de todo o país que vivem

em condições socioeconômicas desfavoráveis.

A propaganda ocupa uma página inteira no Guia Você S/A da revista Exame, e

conforme explica Capelato (1988), a diagramação passou a ser considerada um

aspecto relevante por envolver a qualidade estrutural e visual do veículo de

comunicação, pois, para aumentar a venda de um produto, o conteúdo e a

embalagem devem ser atraentes. Para quebrar a monotonia e imprimir movimento

ao todo, sempre sem perder de vista a venda de um produto, os profissionais que

atuam na indústria da mídia impressa, organizam entre outras tarefas, as imagens, o

título principal e o secundário, a subdivisão dos textos, manipula o contraste entre o

preto e o branco, considerados principais elementos do trabalho gráfico.

Na imagem em questão, percebemos uma diagramação que atrai o leitor pelo

seu colorido, pelo plano de fundo com frutas variadas e pela disposição entre os

textos verbais e não-verbais que compõem a propaganda da Nestlé. O que nos

importa aqui é o texto verbal e sua composição, como já foi mencionado

anteriormente. A seleção temática a ser utilizada na notícia ou na propaganda, o

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direcionamento dado pelo jornalista/redator/publicitário e a organização textual

adotada nos conduzem ao entendimento de que está nas mãos do profissional da

imprensa estabelecer afinidades com o público leitor, a partir daquilo que escolhe

veicular e da maneira como o faz linguisticamente. Nessa propaganda, a escolha se

dá pelo discurso direto de uma merendeira, uma espécie de depoimento que irá

funcionar como um discurso por autoridade, já que ela faz parte do programa Nutrir

da Nestlé, se demonstra sorridente na imagem, transmitindo a aparência verídica de

alguém que está convencida sobre a seriedade desse programa.

O texto a seguir foi extraído da imagem que compõe nosso corpus, e foi

transcrito para nos auxiliar durante o processo de análise.

“Desde pequena eu gosto de cozinhar. Só não imaginava que um

dia eu estaria no programa Nutrir fazendo a merenda de 430 alunos. Quando vejo o entusiasmo das crianças em experimentar coisas novas e saber mais sobre alimentação, é como um presente para mim. O Nutrir é contagiante. Ele une o setor pedagógico da escola com a merendeira, nos dá conhecimento e valoriza cada uma de nós. Para mim, é a escola de crescer como gente”.

Rita de Cássia, Natal, RN – Merendeira

No discurso direto da merendeira Rita de Cássia, transcrito acima, há algumas

palavras sublinhadas e que nessa análise serão chamadas de elementos dêiticos.

Tais elementos funcionam como recursos que desencadeiam a subjetividade dêitica

já abordada na fundamentação teórica. É possível perceber a existência da dêixis

pessoal, temporal e espacial:

a) dêixis pessoal: reservada para as personagens EU, TU e VÓS da enunciação, os

verbos na primeira pessoa, gosto e vejo são exemplos de que o momento da fala da

merendeira está sendo enfatizado. Há marcas também dos pronomes eu e mim, que

se caracterizam como dêixis pessoal. Já os verbos no passado, imaginava e estaria,

embora estejam em primeira pessoa e presentes no texto, não enfatizam o momento

da fala, pois conforme Benveniste (1988;1989) , o recurso da dêixis quer mostrar o

momento da conversa;

b) dêixis temporal: caracterizada normalmente por advérbios ou expressões com

valor de advérbio de tempo, a dêixis temporal ocorre na fala de Rita de Cássia com a

expressão desde pequena e como o advérbio quando;

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c) dêixis espacial: reconhecida por meio de advérbios de lugar e por pronomes

demonstrativos, na fala da merendeira encontramos as expressões adverbiais

programa Nutrir, o Nutrir, setor pedagógico da escola e escola de crescer, sendo que

esta última recupera a expressão adverbial “o Nutrir”.

O texto verbal que compõe a propaganda se dá por meio de relato em discurso

direto e isso pode ser entendido como uma estratégia adotada pelo publicitário

produtor dessa propaganda. Embora não esteja explícito na propaganda o nome de

um locutor responsável pela organização textual da propaganda como um todo,

destaca-se aí o texto verbal e não-verbal; vemos que o idealizador dessa

composição textual mista é um locutor que põe em cena outro locutor, no momento

em que ele insere na propaganda, a fala da merendeira Rita de Cássia como sendo

um segundo locutor. Aí se instala a polifonia de locutores.

Esse procedimento demonstra, segundo Ducrot (1987), que o locutor é um ser

que, no próprio sentido do enunciado, é apresentado como seu responsável. Em

outras palavras, é alguém a quem se deve atribuir a responsabilidade do enunciado.

Assim, o locutor é considerado como ser do discurso, diferente do sujeito falante,

empírico, real. O locutor fala, relata e, por isso, é entendido como fonte do discurso.

Desta forma, em uma enunciação que envolva o discurso relatado, por exemplo, na

qual o locutor utiliza-se do discurso direto para citar a fala de alguém, podemos

identificar a polifonia de locutores se imaginarmos que: a) enquanto locutor, este não

se coloca como responsável por essa fala; b) embora não se apresente como

responsável pela fala relatada, não deixa de ser responsável pela enunciação 1 que

afirma ter ocorrido uma enunciação 2.

A partir da análise, fica nítido a existência de um locutor responsável por todo

aquele conteúdo propagandístico (quem criou a propaganda para a Nestlé, no

entanto, para se distanciar da responsabilidade do que está dito, o discurso do outro

foi selecionado em modalidade direta). Reconhecemos isso pelas aspas, a fim de

isentar-se da daquela informação, como se estivesse dizendo: não sou eu quem

afirma isso, mas sim a merendeira Rita de Cássia.

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3 CONCLUSÃO

Tendo em vista que todo texto é considerado dialógico, segundo Bakhtin(1992) e

entendendo que o jornalista/publicitário é um locutor pertencente a um horizonte

ideológico que pode ser equivalente ou não ao do seu interlocutor, percebemos na

propaganda analisada que há seleção de procedimentos discursivos, como palavras

que transmitem certa subjetividade discursiva, definidas como elementos dêiticos e o

próprio discurso relatado em modalidade direta, permitindo que outra voz (outro

locutor) além da voz do locutor que idealizou a propaganda da Nestlé, pudesse se

mostrar no espaço daquela composição textual mista, verbal e não-verbal. Assim, a

palavra acaba sempre perpassada pela palavra do outro, confirmando-nos a noção

de que o dialogismo é o permanente diálogo entre os diversos discursos que

configuram uma sociedade ou uma comunidade e que a linguagem é, portanto,

essencialmente dialógica.

A partir do que já foi afirmado na fundamentação teórica, concordamos que

Benveniste (1988) pensou a dêixis pertencente à instância do discurso, conforme

demonstramos com os verbos em primeira pessoa, pronomes eu e mim, advérbios e

expressões com valor de advérbio de tempo e lugar. Para o autor, esses signos têm

relação com a enunciação (parte subjetiva da língua), termos que pertencem à

instância do discurso: o EU e o TU são os personagens da enunciação (dêixis

pessoal), o AQUI representa o lugar da enunciação (dêixis temporal) e o AGORA

que situa a enunciação (dêixis espacial).

Sobre a presença da polifonia no texto, Ducrot (1987) aproveita para contestar o

pressuposto da unicidade do sujeito falante, ideia segundo a qual em cada

enunciado encontramos somente um autor. Assim, no processo argumentativo,

retomar o discurso do outro revestido de competência para fazer tal afirmação

implica duas situações: se o locutor recorreu ao discurso do outro para reafirmar o

seu é porque ele pretende aproximar-se daquele ponto de vista; dentro do processo

persuasivo, recorrer ao discurso de alguém respeitado como autoridade no assunto

é uma estratégia persuasiva para conduzir o interlocutor a concordar com o seu

discurso, já que se identifica com um arrazoado por autoridade. De acordo com

Breton (1999, p. 84), o argumento de autoridade funciona raramente isolado,

geralmente ele se “insere em uma argumentação de conjunto e serve para

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preencher certos vazios, para construir ‘pontes’ entre elementos do real. Atrás do

argumento de autoridade se escondem, às vezes, verdadeiros pontos de vista”.

Evidenciamos na propaganda da Nestlé que há intenção na divulgação do nome

da empresa e do programa Faz bem Nutrir e que, para convencer as pessoas sobre

a idoneidade da Nestlé e a de seus produtos, a fim de buscar consumidores adeptos

a essa marca do gênero alimentício, ninguém melhor do que aquele que já fez uso,

para poder dar um testemunho. Justifica-se, assim, o fato de a propaganda já iniciar

com o discurso da merendeira Rita de Cássia em modalidade direta. Essa forma de

argumentar por autoridade significa: trazer para o discurso do publicitário idealizador

da propaganda, a voz de outro como sendo um ser competente e/ou autoridade

naquilo que profere.

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PERFIL SOCIOECONÔMICO E TECNOLÓGICO DOS AGRICULTORES FEIRANTES DE ASSIS CHATEAUBRIAND, PR.

LIMA, Ronaldo Guedes de

Professor do Instituto Federal do Paraná, Curso Técnico em Agroecologia, Campus Campo Largo, e-mail [email protected], CPF: 377.741.230-91.

VASATA, Darlon Professor do Instituto Federal do Paraná, Curso Técnico em Informática, Campus Cascavel, e-mail

[email protected], CPF: 050.263.969-50.

Resumo: A indisponibilidade de informações que caracterizem o perfil dos agricultores membros da Associação de Feirantes de Assis Chateaubriand (AFAC) motivou a realização deste estudo, cuja finalidade consiste em levantar informações socioeconômicas e tecnológicas desta categoria de associados. O estudo contou com revisão bibliográfica, consultas de fontes documentais e aplicação de questionário estruturado. O exame dos resultados permitiu concluir que os agricultores feirantes encontram-se economicamente satisfeitos com o trabalho na feira livre, mesmo os que auferem os menores ativos. Tecnicamente, o modelo misto de produção se apresenta predominante entre os pesquisados. Os poucos feirantes que praticam a lavoura orgânica estão plenamente satisfeitos com os resultados. A falta de conscientização ecológica entre os consumidores permitiu inferir que há um mercado de produtos orgânicos potencialmente aberto e factível de realização no município, desde que se realize, com brevidade, um projeto interinstitucional favorável à promoção de estilos de agricultura sustentável. Palavras-chave: Agricultor feirante. Mercado local. Produtos frescos. Assis Chateaubriand.

SOCIOECONOMIC AND TECHNOLOGICAL PROFILE OF FAIRGROUND

FARMER OF ASSIS CHATEAUBRIAND, PR.

Abstract: The unavailability of information characterizing the profile of the farmer members of the Fairground Association of Assis Chateaubriand (AFAC) motivated this study, in order to obtain socioeconomic and technological information from the farmer members of that association. The study is based in a literature review, documentary sources research and the application of a structured questionnaire. The analysis of the result leads to the conclusion that the fairground farmers are economically satisfied with the work at the open market, even those who earn less. Technically, the mixed model is predominant among those surveyed. The few farmers who develop organic production are fully satisfied with the results. The lack of ecological awareness among consumers allowed concluding that there is a room for the organic market, potentially available and able to be realized in the city, since it carries out, briefly, an interinstitutional project that it is in favor of the promotion of sustainable farming styles.

Keywords: Fairground farmer. Local market. Fresh produce. Assis Chateaubriand.

1 INTRODUÇÃO

Como em outros municípios do meio oeste paranaense, Assis Chateaubriand

acompanhou o processo de modernização do campo na década de 70, implantando

as lavouras de grãos como a soja, o milho e o trigo. Esse processo, segundo fontes

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locais, desencadeou uma intensa migração da população local para outros

municípios do Paraná e mesmo para outros estados, como Mato Grosso, São Paulo,

Rondônia e Goiás (SOUTO MAIOR, 1996).

A partir daquela década, a vocação agrícola baseada no padrão técnico da

modernização da agricultura motivou o surgimento de outros ramos produtivos inter-

relacionados com a agricultura local, especificamente quanto ao comércio de

matérias-primas e as vendas de insumos. Nesse particular, as cooperativas que

surgem se fortalecem economicamente diante das políticas de apoio governamental

à produção agrícola.

Atualmente, essas cooperativas cumprem papel econômico importante,

entretanto, se por um lado, elas acumulam passivos socioambientais, por outro,

provocam questionamentos entre os estudiosos regionais (oeste paranaense) em

relação ao desenvolvimento que se guia pela cadeia do agronegócio (PERIS, 2003).

Os reflexos da modernização, em áreas férteis e adequadas à mecanização

agrícola, percebidos em Assis Chateaubriand, tornaram precária a vida da

população, predominantemente rural, à época, em que se encontrava engajada na

colheita do café, do algodão e da hortelã (SOUTO MAIOR, 1996).

Com o intuito de diminuir os problemas sociais advindos da modernização do

campo, setores públicos municipais e estaduais promoveram, no princípio dos anos

90, projetos de fomento à diversificação da agricultura, incluindo novas economias

como as criações de peixes, aves, suínos e gado leiteiro, e o cultivo da mandioca

para a extração de fécula (SOUTO MAIOR, 1996). A piscicultura, em especial,

ganharia destaque regional e nacional, mantendo-se no presente (provavelmente,

produzindo quantias menores) a tradição dessa atividade local entre alguns

piscicultores que detêm espaços adequados à exploração.

As boas características físico-geográficas do município colaboraram e ainda

colaboram no incremento da produção agrícola, diferindo, substancialmente, das

estatísticas nacionais que apontam uma tendência geral de diminuição do peso

agropecuário na composição intersetorial do Produto Interno Bruto. Nesse terreno

fértil (no meio oeste paranaense), onde a agricultura se apresenta dominantemente

assentada no modelo agroindustrial de produção, surgem iniciativas produtivas

diferentes à integração com o agronegócio típico.

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A predominância das formações familiares no município de Assis

Chateaubriand, com 2.353 estabelecimentos (84,16%)1, indica a sintonia da

produção com a integração agroindustrial. Ainda assim, nesse segmento social local

há indivíduos interessados por outras dinâmicas produtivas, e se apropriam de

circuitos curtos de venda associados à regularidade nos ingressos financeiros.

Trata-se, por exemplo, das iniciativas construídas pela Associação de Feirantes de

Assis Chateaubriand (AFAC, 2004)2, desde o ano 2000, época em que iniciou as

suas atividades.

O interesse em estudar a referida Associação partiu, inicialmente, da

observação e da constatação de haver um comércio livre na área central da cidade,

onde se reúnem, semanalmente, diversos grupos de consumidores para adquirirem

diferentes produtos da economia familiar. Que tipo de produto o agricultor vende?

De quanto é o montante financeiro gerado? Qual é a base tecnológica de produção?

A que grau de instrução o feirante pertence? Essas e outras indagações suscitadas

foram arquitetadas no início da escolha do objeto de estudo e tiveram como objetivo

fundamental levantar informações socioeconômicas e tecnológicas (emprego de

técnicas) de grupos distintos de agricultores feirantes residentes no município de

Assis Chateaubriand.

2 ALTERNATIVAS COMERCIAIS: A DISSEMINAÇÃO DAS FEIRAS LIVRES

Tendo em vista que o comércio e a distribuição alimentar foram dominados por

grandes corporações multinacionais e que ainda permanece nas áreas urbanas

regionais a dominância do comércio alimentar dirigido por grandes supermercados,

mesmo diante de obstáculos de diferentes ordens, na sociedade atual existe um tipo

de comércio diferente, que se orienta não só por haver uma troca direta entre

mercadoria e dinheiro, mas, por se estabelecer, temporalmente, certos vínculos

afetivos, como a confiança e a amizade, vistas sobremaneira nas alternativas

comerciais das feiras livres espalhadas em centenas de municípios.

No passado, as feiras livres eram locais de efetivas trocas comerciais entre os

mercadores, até mesmo sem a intermediação de moeda. Pouco a pouco, essa

1 Conforme IBGE - Censo Agropecuário 2006. 2 Conforme o Estatuto Social da AFAC, antes havia um grupo que se denominava de Associação da Feira do Produtor Rural e Artesanal de Assis Chateaubriand.

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modalidade dá lugar ao comércio de troca, realizado essencialmente por intermédio

de dinheiro, porém, verifica-se, conforme estudo empírico desenvolvido por Anjos,

Godoy e Caldas (2005), a manutenção da antiga relação socioafetiva, de

proximidade entre feirante e consumidor.

Mesmo situadas nas áreas urbanas dos grandes centros, as feiras livres

promovem formas sociais e econômicas peculiares, a fim de garantir sua

continuidade, além de viabilizarem, no tempo, um canal de comércio local, com

maior controle da origem dos produtos, bem como promovendo a geração de

empregos e renda para os que se envolvem nessa alternativa, em particular, os

grupos sociais da agricultura familiar.

São inúmeras as feiras livres no Estado do Paraná. As que se caracterizam

como pontos de venda de produtos qualitativamente superiores aos produtos de

base agroquímica ou convencional totalizaram, em 2006, 41 pontos espalhados no

Estado (IAPARDES/IAPAR, 2007). Hoje, em Curitiba, existem 14 feiras classificadas

como orgânicas, agroecológicas e mistas3, situadas em diferentes localidades da

capital paranaense (IDEC, 2012).

Os produtos da base orgânica ou agroecológica são poucos ainda,

comparado ao volume de produtos gerados sob a base técnica agroquímica ou base

mista (agroquímica mais orgânica). Os cômputos dessas bases – convencionais e

mistos –, por certo, elevam o número de pontos de feiras livres no Paraná e em

outros Estados, repercutindo, paradoxalmente, de duas formas: efetivamente,

trazem alternativas de renda às famílias produtoras, porém, crescem os perigos dos

resíduos tóxicos aos consumidores.

Segmentos da sociedade, em escala geral, procuram amenizar os perigos

das contaminações, elaborando e/ou consumindo os produtos livres de produtos

tóxicos. Particularmente, em Assis Chateaubriand, detectou-se um local de comércio

livre bastante diversificado, gerenciado por agricultores e não agricultores, e onde os

produtos da base orgânica se configuram como singulares em termos de benefícios

sanitários e sociais, por proteger tanto os agricultores quanto os consumidores.

Conhecer a realidade deste grupo num ambiente predominantemente,

vinculado à produção de grãos baseada na agricultura moderna, é fundamental para

incentivar futuros programas integrados, que vão além do comércio direto e

3 Corresponde ao emprego de técnicas agroquímicas, juntamente com as denominadas orgânicas.

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contemplem, assim, a proposta transversal da Segurança Alimentar e Nutricional

(SAN), em construção nos municípios, onde se aplica esse novo conceito.

3 VISÃO INTERSETORIAL DA SAN

O que se tem discutido e proposto no escopo da SAN, não consiste somente

na produção estável dos alimentos e no aspecto nutricional das dietas das pessoas.

Desde os anos 80, as nações da América Latina e Caribe, historicamente

empobrecidas e marcadas por modelos político-econômicos geradores de

desigualdades, discutem a noção de “política alimentar democrática”, que pretende

“[...] re-conectar a produção e consumo locais, valorizando a proximidade e a

sazonalidade na produção e consumo dos alimentos [...]”, e divergir do modelo

criado pelas grandes corporações capitalistas que difundem, internacionalmente,

valores alimentares homogeneizantes (FRIEDMAN, 1993, apud MALUF, 2007, p.

48).

Nos últimos tempos (pós-fordismo), tem crescido a procura por produtos

naturais, com maior valorização de produtos que incorporam serviços à produção

consumida dentro e fora da residência, das vitaminas contidas nas frutas e

hortaliças, e dos produtos frescos ao invés dos industrializados (WILKINSON, 1996,

apud MALUF, 2007). É essencial acrescentar a esses fatores a preocupação

ambiental e social de grupos de consumidores, considerados mais informados e com

melhor poder aquisitivo, quanto à correta alimentação de produtos oriundos da base

ecológica de produção e por criar, no tempo, uma perspectiva de alternativas

sustentáveis nas áreas rurais dos territórios, onde a agricultura familiar se faz

presente, emprega e gera renda (ANJOS; GODOY; CALDAS, 2005).

A tendência de produção e consumo não é mais um processo unívoco e

homogeneizante, como se orquestrou e se difundiu durante a era do projeto

produtivista4. Apesar da constatação de que, por toda parte, há dominância de

modelos tecnicamente intensivos de produção, alguns especialistas têm constatado 4 A ideia de modernização foi a de padronizar os hábitos alimentares das pessoas, por toda a parte, e promover modelos intensivos de produção, assentados no consumo de insumos industriais, como fertilizantes sintéticos, agrotóxicos, sementes melhoradas, rações, máquinas e equipamentos para agricultura. Esse modelo, apesar de incrementar os volumes de produtos, trouxe sérios problemas sociais e ambientais, visto com mais intensidade em regiões da chamada periferia e semiperiferia. Não se sucumbiu à fome como fora prometido e seguiu agravando os recursos naturais com as degradações ambientais.

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a resistência no interior dos países ao projeto produtivista, à padronização de formas

de cultivo e de hábitos alimentares (MALUF, 2007).

Haveria, segundo esse autor, sempre diversidade ou certo grau de

heterogeneidade, por conta de fatores culturais e naturais, que se pode verificar no

universo bastante heterogêneo de tipos de produtores de alimentos, quer no

segmento de agricultores familiares, quer nas áreas urbanas, quer entre os

consumidores.

Em síntese, as questões alimentares e nutricionais não são próprias ou

particulares da agricultura, nem tampouco de um único padrão técnico de produção

posto em prática pelo produtivismo (no período Pós-Guerra) e sob as orientações

teóricas da vertente funcionalista norte-americana. Trata-se de questões que

demonstram requerer projetos e políticas intersetoriais, pois apresentam conexões

com a produção, o acesso equitativo das pessoas aos mercados, o fortalecimento

dos mercados locais, o uso de técnicas e insumos baseados na agricultura

sustentável, a geração de emprego e renda, a valorização das tradições, o zelo

preventivo com a saúde pessoal, enfim, com o planejamento e ações convergentes

na perspectiva de um desenvolvimento rural sustentável e amplo.

4 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS DO ESTUDO

O conjunto de associados da AFAC, fundada em outubro de 2000, perfaz,

atualmente, 34 membros. Aproximadamente a metade deste conjunto é composta

por agricultores. A outra metade não tem qualquer vida produtiva provida pela

agricultura. Ao se apurar, previamente, os integrantes e as respectivas atividades

desenvolvidas na feira, foram convidados, especificamente, os agricultores para

participarem do presente estudo. Nem todos aceitaram o convite, todavia, 14

agricultores membros da Associação optaram por participar, sendo este o universo

empírico de base para a discussão e análise.

Os instrumentos utilizados para o levantamento de informações empíricas

foram constituídos das seguintes estratégias: aplicação de um questionário

estruturado (executado em ago. e set. de 2012) e consultas às fontes documentais

(regimentos, estatutos, consultados em abr. e maio de 2012).

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As informações recolhidas nos questionários foram processadas, tabuladas e,

em seguida analisadas por meio de um programa online que utiliza a tecnologia

“Google Docs”. Convém observar que algumas dessas informações podem não

refletir a realidade concreta dos agricultores no que se refere, por exemplo, aos

ativos financeiros gerados no comércio da feira. Percebeu-se, durante o período de

coleta de informações, que a questão econômica não carece de maiores

informações ou detalhamento para alguns agricultores, possivelmente, para

preservarem, publicamente, as reais quantias obtidas.

5 RESULTADOS E DISCUSSÃO

A maioria dos respondentes (12 agricultores, 86%) possui idade superior a 41

anos. O nível instrucional, comparativamente aos dados oficiais da população rural

brasileira5, não é preocupante; uma vez que apenas 5 agricultores (36%)

respondentes possuem o ensino fundamental incompleto; e os outros 64%

respondentes (9 agricultores), ou possuem o ensino fundamental completo (3 casos,

21%), ou o médio completo (5 casos, 36%), ou ainda o superior (1 caso, 7%).

A condição de proprietário do imóvel é uma característica quase plena entre os

pesquisados (12 casos, 86%). Os outros 2 agricultores (14%) assumiram a condição

de arrendatários de áreas de terceiros. A área média das unidades dos

entrevistados correspondeu a 4,6 hectares, o que os caracteriza como

minifundiários, tomando-se por base o módulo fiscal do município.

Ocupam-se com o mercado da feira, há mais de 10 anos, 10 agricultores

pesquisados (71%). Os demais são relativamente iniciantes na atividade de feirante.

Porém, entre os 10 pesquisados encontra-se um grupo (4 casos, 28%) com bastante

experiência na condição de feirante, o qual, muito antes da fundação da AFAC,

promovia a venda direta de produtos no município.

Essa posição antiga de permanência na condição de feirante pode estar

relacionada ao desempenho econômico favorável e ao grau elevado de satisfação

com a atividade, entre quase todos os pesquisados (13 casos, 92%). Ao lado disso,

5 Informações do Ministério de Educação (MEC) apontam que 23,18% da população rural com mais de 15 anos é analfabeta e 50,95% não concluiu o ensino fundamental (Agência Brasil, 2013).

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conforme os relatos de membros da Associação, não é comum entre os atuais

agricultores feirantes ocorrerem desistências do negócio. Entre os que ocupam a

posição antiga na feira (por mais de 10 anos), 5 casos (36%) apresentam grau de

instrução correspondente ao fundamental incompleto.

As lides com a produção e as vendas têm um caráter tipicamente familiar,

envolvendo, em média, 3 membros da família. Há também registros de contratação

de serviços feito por 6 agricultores (42%), especialmente, para a realização de

atividades de mandantes de serviços, desde a produção de hortifrutícolas e criação

de peixes, até a produção de produtos elaborados prontos para o consumo. Pode-se

afirmar, segundo os dados recolhidos, que há nesse grupo um maior recolhimento

de ativos financeiros, devido, naturalmente, à inserção no mercado da feira com

maiores volumes e diversidade de produtos disponíveis.

Como era de se esperar, os produtos vendidos na feira são originários das

unidades dos pesquisados. Observa-se, também, a venda de produtos de origem

externa às unidades dos pesquisados, adquiridos de outro agricultor local, de

agentes intermediários e da Ceasa. Essa constatação indica que há falta de

produtos na origem, podendo ser equacionada por meio da elevação ou implantação

de novas atividades, bem como, arregimentando novos associados para se

ocuparem das atividades deficitárias6.

Pode-se inferir, sem hesitação, que existe falta de produtos nas feiras, na

medida em que a totalidade dos agricultores pesquisados constatou, entre os

consumidores, um comportamento por demanda de frutas e legumes, para além do

mercado da feira, preferencialmente nos supermercados locais e arredores.

O controle das vendas é rotineiro entre a maioria dos pesquisados (11 casos,

78%). 5 casos recolheram, individualmente, até R$ 150,00 por semana. As análises

permitem inferir que, dentro desse grupo que aufere as menores quantias,

encontram-se os agricultores mais experientes com o mercado direto, por estes

terem realizado transações muito antes da constituição da AFAC. Em 2 casos, as

vendas totalizaram entre R$ 450,00 e 650,00 individualmente. Outros 4 casos

6 De acordo com a interlocução entre o coordenador do presente projeto e a diretoria da AFAC, em 2012, a incorporação de novos associados é muito pequena. Quando há intenções formais em participar da Associação, o agricultor pretendente deve encaminhar à diretoria um pedido de inclusão e a permissão para a comercialização de tipo(s) de produto(s). Em conjunto, a diretoria e os associados definem, deferindo ou indeferindo, o pedido.

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somaram mais de R$ 650,00 para cada agricultor pesquisado, semanalmente. Neste

quesito, 3 agricultores (21%) não informaram os valores recolhidos.

O conjunto de agricultores pesquisados, na sua maioria (12 casos, 85%), conta

com outras fontes de ingressos monetários. Assim, 4 casos (28%) informaram que

recebem valores da aposentadoria. Os demais pesquisados (8 casos, 57%)

disseram que exercem comércio agropecuário para além da feira. Destes últimos,

um caso, isolado, atende o programa da merenda escolar.

Cabe ressaltar que há um grupo que não atinge valores brutos iguais ou

superiores ao salário mínimo mensal. Mas nem por isso os pesquisados

manifestaram insatisfação com o mercado da feira; ao contrário, a feira é uma

alternativa que compensa para 13 casos pesquisados (93%), apesar de haver, nos

últimos 7 anos, a diminuição do comércio, conforme apontaram três agricultores e o

agravamento das condições econômicas mencionado por outros dois agricultores7.

Opções de mercados, políticas sociais de governo e a produção para o

autoconsumo, aparentemente, compensa, até para os agricultores com os menores

ativos financeiros obtidos na feira. Observa-se, genericamente, que a política

agrícola favorável aos agricultores, juntamente com essas três questões recém

assinaladas, promovem a continuidade (permanência) da reprodução social e

material das famílias agricultoras, independentemente do espaço onde vivem.

Do ponto de vista técnico, a condução dos processos produtivos se baseia no

modelo misto, registrado em 9 casos (64%). A utilização eminentemente

agroquímica acontece em 3 unidades de produção (21%). Apenas 2 agricultores

pesquisados (14%) recorrem ao modelo de produção orgânica. Estes, em especial,

se dizem satisfeitos com essa opção. Apesar de haver uma constante vigilância

(cuidados) com os cultivos (basicamente, com as hortícolas), da necessária e

permanente busca de novos conhecimentos, a produção orgânica, segundo esses

agricultores, compensa economicamente.

Diferentemente, os demais pesquisados anunciaram dificuldades técnicas com

o manejo de doenças e insetos (pragas). Esses agentes, conforme a época do ano, 7 Como se constata, essa é uma situação contraditória e compreensível (analisando sociologicamente) no segmento da agricultura familiar. Os demais pesquisados referiram que a situação econômica melhorou (9 casos, 64%) ou permaneceu inalterada (3 casos, 21%) nos últimos 7 anos de atividade na feira. Em razão do grau de satisfação, a maioria nem pensa em abandonar a condição de feirante. Paralelamente, há um otimismo entre os associados. A atual feira tem um futuro promissor de vendas dos produtos agropecuários, tanto para os in natura quanto para os elaborados, concluem os pesquisados.

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são obstáculos para a transição agroecológica nas unidades. De fato, eles podem

prejudicar as colheitas, mas não o suficiente para desencorajar os agricultores que

se autodenominam orgânicos. A insistência com as técnicas de manejo orgânico, ao

longo do tempo, acaba beneficiando as áreas de cultivo, química, física e

biologicamente. Os benefícios, conforme atestam os especialistas, resultam no

melhoramento das condições gerais do solo. Por esta razão, uma boa parte dos

pesquisados (9 casos) recorre a esse tipo de manejo, mesclando com as técnicas

agroquímicas, não enveredando, imediatamente, para o sistema orgânico, por causa

dos referidos agentes-problema e da falta de domínio técnico, por consequência.

Ressalte-se, ainda, que apesar das dificuldades anunciadas, uma boa parte

dos pesquisados (8 casos, 57%) acredita na possibilidade de aumentar a produção

orgânica nas propriedades, mesmo que não a pratiquem, integralmente. As razões

que inibem a mudança de sistema (do misto para o orgânico) não são

eminentemente técnicas, como se apresentou antes.

Há uma ideia bastante interessante, que defende uma mobilização social dos

consumidores com vistas à aquisição de produtos livres de agroquímicos no

comércio em geral. Portanto, uma das razões de enfrentamento, visando à meta da

transição, consiste em construir ideias conscientes, bem mais esclarecidas junto à

população acerca dos malefícios sanitários provocados pelos agroquímicos e das

alternativas técnicas, sociais e ambientais possíveis de realização, de redução ou

mesmo de eliminação daqueles males.

No caso dos feirantes pesquisados, 11 deles (79%) observaram que há um

comportamento indiferente entre os consumidores de Assis Chateaubriand quanto à

preferência, ou por produtos da base ecológica de produção, ou por produtos da

base agroquímica. Essa aparente inobservância entre os consumidores se

materializa ao não darem a devida importância sanitária para os alimentos cultivados

à base de venenos, no município.

Diante desta constatação, é possível constatar a total falta de consciência do

público consumidor (provavelmente, por carência de informações) sobre os

benefícios gerais da alimentação de qualidade, isenta de tóxicos.

Uma segunda razão, que não é própria dos pesquisados, mas, assinalada por

eles, consiste no consumo de mão de obra superior no sistema de base ecológica

de produção, pois a supressão das plantas invasoras exige trabalho adequado,

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maior dispêndio de força humana combinada, ou com a utilização de animais de

trabalho, ou com os instrumentos mecanizados disponíveis nas unidades.

A terceira razão destacada entre os pesquisados (4 casos, 28%), considerados

pessimistas, por não depositarem credibilidade no sistema orgânico de produção, é

de ordem sociopolítica. Os agricultores apontam a ausência de incentivos locais

tanto dos setores governamentais quanto das entidades privadas, destacando-se as

cooperativas de produção, favoráveis à agricultura de base ecológica no município.

Os vínculos que se estabelecem entre feirante e consumidor, neste estudo,

podem ser de confiança e proximidade tal como se constatou no sul do Rio Grande

do Sul por Anjos, Godoy e Caldas (2005). A metade dos pesquisados (7 casos,

50%) confirmaram, assinalando que durante a rotina de comércio semanal

transacionam mercadorias com um mesmo cliente ou consumidor nem que haja,

esporadicamente, a falta de itens pretendidos. Ao lado disso, a maioria dos feirantes

pesquisados entende que a feira promove a convivência com os amigos e serve de

local para consumir alimentos prontos.

De fato, objetivando o incremento de renda, certos agricultores procuram

comercializar seus produtos elaborando-os ou tornando-os prontos para o consumo.

Tornou-se rotineira a opção de venda de panifícios, compotas, geleias, schmiers,

açúcar mascavo, melado, mel, sucos, conservas, água ardente, pastéis, bolinhos de

peixe, defumados e culinária típica japonesa.

As opções de consumo na feira, como se vê, mobilizam os frequentadores,

ultrapassando a simples aquisição de produtos hortifrutigranjeiros. Espaços como

esse e outros tantos existentes nos inúmeros municípios brasileiros, onde se

preservam as características específicas de mercado direto, cada vez mais devem

ser apoiados pelos agentes locais, em destaque, pelos governantes nos municípios,

fornecendo a infraestrutura básica (incluindo o acesso às unidades rurais) e os

serviços técnicos especializados de incentivo à transição, para que haja o

desenvolvimento de estilos de agriculturas sustentáveis.

6 CONSIDERAÇÕES FINAIS

A opção em praticar o sistema orgânico no município estudado é considerada

fraca. Porém, os poucos agricultores que estão praticando o referido sistema

encontram-se satisfeitos com os resultados financeiros proporcionados por esta

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atividade. Da mesma forma, a opção da feira, sem dúvida, é uma alternativa de

venda para os agricultores familiares, repercutindo positivamente entre a maioria dos

entrevistados, quanto ao grau de satisfação. Percebe-se que os agricultores

feirantes têm gosto pelo que fazem, independente do sistema de cultivo adotado.

A utilização do sistema misto – embora não atenda ecologicamente os

princípios técnicos de produção livre dos agroquímicos –, por um lado, potencializa

quimicamente a utilização de fertilizantes industriais; e, por outro, induz a diminuição

das doses desse insumo. O grupo que emprega esse sistema reúne as melhores

condições para adotar as práticas de manejo orgânicas. Evidentemente, os órgãos

governamentais do município, que mantêm vínculos com a agricultura, juntamente

com o Instituto Federal do Paraná (IFPR) de Assis Chateaubriand, por meio do curso

Técnico em Agroecologia, devem apoiar a AFAC com vistas à efetivação do sistema

orgânico.

Paralelamente, há que se promover uma mobilização, inicialmente, junto aos

consumidores, alertando-os sobre os benefícios gerais da Segurança Alimentar e

Nutricional, isto é, sobre as vantagens do “consumo consciente” de produtos livres

de agrotóxicos.

Por fim, recomenda-se que os membros da AFAC permitam o ingresso de

novos agricultores familiares na Associação, com o intuito de garantir a oferta de

produtos, considerados faltantes ou ausentes no local.

AGRADECIMENTOS

Ao IFPR, pela concessão de bolsas, modalidades Programa Institucional de

Bolsa de Iniciação Científica Júnior (PIBIC-Jr) e Programa Institucional de Bolsa de

Inclusão Social (PIBIS), a dois estudantes do curso Técnico em Agroecologia,

campus de Assis Chateaubriand. Ao professor do IFPR, Leo Mathias Miloca, pela

coordenação, em momento extraordinário, dos estudantes bolsistas na fase de

coleta de dados empíricos.

REFERÊNCIAS

AFAC - Associação de Feirantes de Assis Chateaubriand. Estatuto social. Assis Chateaubriand: AFAC, 2004.

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MALUF, R. S. J. Segurança alimentar e nutricional. Petrópolis: Vozes, 2007.

PERIS, A. F. (Org.) Estratégias de desenvolvimento regional: região Oeste do Paraná. Cascavel: EDUNIOESTE, 2003, p. 516 - 528.

SOUTO MAIOR, L. História do município de Assis Chateaubriand: o encontro das correntes migratórias na última fronteira agrícola do Estado do Paraná. Assis Chateaubriand: Clichetec, 1996.