REVISTA DA ARQUIDIOCESE DE VITÓRIA -...

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Ano XII | Nº 154 | Junho de 2018 REVISTA DA ARQUIDIOCESE DE VITÓRIA - ES

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Ano XII | Nº 154 | Junho de 2018

REVISTA DA ARQUIDIOCESE DE VITÓRIA - ES

BUSCANDO EQUILÍBRIO

EDITORIAL

Equilíbrio é o que buscamos a vida toda mesmo que a prática nos faça

pender para um ou outro lado. Queremos tempo para se dedicar à

profissão e tempo para se dedicar à família; para se empenhar nas

tarefas e para o lazer; para fazer muitas atividades e para ficar sem fazer

nada... enfim, desejamos e não conseguimos e assim vamos entre um

pender para um lado ou para o outro buscando o ponto de equilíbrio.

Esta edição traz algumas matérias sobre essas buscas: tecnologia que

nos vigia e conecta e atenção para não criar uma 'segunda vida'. Povos

com uma cultura a preservar procurando o uso correto das tecnologias.

Mulheres ainda divididas entre o papel de mãe, profissional e dona de

casa na relação com o marido e os filhos. Mas esta edição também traz

propostas simples para viver em equilíbrio: ousar viver genuinamente a

rotina na editoria Ideias e, essa tal felicidade na editoria Viver Bem. Não

deixe de ler.

Boa leitura!

Maria da Luz Fernandes

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REPORTAGEM

TODAS AS CONVERSAS

SERÃO VIGIADAS

22

24

27

ESPIRITUALIDADE

DIÁLOGOS

CATEQUESE

1305

10

21

16

18

FAZER BEM

ARQUIVO E MEMÓRIA

SUGESTÕES

IDEIAS

VIVER BEM 38

ATUALIDADE

29 ASPAS

30 CAMINHOS DA BÍBLIA

23 PENSAR

41 LIÇÕES DE FRANCISCO

44 PERGUNTE A QUEM SABE

46 ACONTECE

33 ENTREVISTA

37 MUNDO LITÚRGICO

Essa tal felicidade

A tecnologia nas aldeias

O desafio da mulher, com Michella Zortéa

Prefácios do tempo comum

Função profética dos sindicatos

Com Pe Ivo ferreira e Pe Teodósio Cesar

Fique por dentro do que anda acontecendo por aí

43 ECONOMIA POLÍTICA Importante e fundamental

vitória | 05

REPORTAGEM

Quando se fala em índio, vem naturalmente à

mente de brancos e negros urbanos, pessoas

nuas ou seminuas, vivendo na mata, moran-

do em ocas, felizes, inocentes e contentes, sem in-

fluências de fora das aldeias, sem problemas, como

se estivessem congeladas no tempo e no espaço,

tendo como atividade a caça e a pesca, adorando o

sol e a lua e falando uma língua incompreensível.

A Revista Vitória visitou algumas aldeias no

Espírito Santo na região de Aracruz e viu sim um

pequeno índio nu, moradias de pau a pique no meio

da mata, harmonia com a natureza, preocupação

pela falta de peixe, gente feliz. Mas, viu também

casas de alvenaria, intimidade profunda com o

Deus Criador com lugar próprio para rezar (a casa da

reza), caciques lutando por direitos e preservação

da cultura e, pessoas conectadas e informadas.

Então, os índios mudaram? Sim, e o cacique, Antô-

nio Carvalho, da Aldeia Boa Esperança foi logo

explicando: “as casas são de alvenaria porque não

dispomos mais dos materiais que eram usados nas

moradias e a alvenaria é melhor, porque não entra

água e não precisa trocar a cada 5 anos. Mas, nem o

próprio português, espanhol, inglês e outros não

estão no mesmo jeito daquela época”. Nossa ida foi

para entender se e como as aldeias são impactadas

pela tecnologia.

A tecnologia nas aldeias

Visitamos três aldeias Guaranis (Três Palmeiras,

Boa Esperança e Piraquê-Açu). Na Três Palmeiras

visitamos o lugar do artesanato e conversamos com

a índia Eliane Bilhalvo de Lima. Ela explicou que

vivem de artesanato, agricultura e pesca e disse que

estão preocupados porque o peixe diminuiu muito

na região e a agricultura não é suficiente, pois a terra

não produz tudo que precisam e que a região mudou

muito e para pior, porque antes tinha mais casas na

aldeia e mais peixe que garantia a subsistência.

Rodrigo da Silva, (vice cacique da da aldeia Piraquê-

Açu) informou que grande parte das terras da aldeia

serviram de lixão para empresas e a Prefeitura, e,

Antônio, cacique de Boa Esperança, explicou que as

terras recuperadas da Aracruz Celulose estão

A TECNOLOGIA NAROTINA DAS ALDEIASGUARANIS EM ARACRUZ

REPORTAGEM

06 | vitória

improdutivas. Por conta disso

eles precisam recorrer às compras

no comércio da região para se

manterem e de maquinário para

preparar a terra e voltar a produ-

zir.

Entramos no objetivo da visita:

como a tecnologia entra nessa

relação com o mundo fora das

aldeias? Como percebemos na

chegada, nossos entrevistados

confirmaram a existência de uma

convivência com o mundo urba-

no, relações com as empresas

Fíbria e Samarco responsáveis

pelos prejuízos na agricultura e na

pesca, contato com brancos e

negros urbanos para vender o

artesanato que fabricam e, diá-

logo com o governo em busca de

projetos de ajuda às aldeias para

que mantenham sua cultura, co-

mo disse Rodrigo “hoje fui na reu-

nião do Ministério da Cultura, eles

queriam ver se a gente tem inte-

resse em fazer alguma coisa no

site. Claro que a gente tem inte-

resse porque a gente preserva

muito bem nossa cultura”.

Para que tudo isso seja possível,

os índios possuem transporte (vi-

mos carros e motos), celulares,

computadores e televisão”. Mas,

por lá os instrumentos de comu-

nicação são utilizados do jeito

deles. Tanto na aldeia Boa Espe-

rança quanto na Piraquê-Açu

existem regras para uso da tecno-

logia: “mesmo tendo a globaliza-

ção na nossa aldeia, nós sabemos

escolher o que pode ajudar. A

locomoção por exemplo, eu dirijo

carro, mas eu sou Guarani, o meu

espírito nunca vai ser mudado só

porque tenho um carro. Tem que

ter tecnologia, mas tem que ter o

controle sobre isso. Aqui a gente

sabe até que horas pode usar, o

que pode ver assistir, se for

violência tem que conversar.

Graças a Deus aqui na aldeia você

pode ir lá na outra aldeia e sabe

que vai voltar, na cidade você não

sabe se vai voltar ou não. A dife-

rença é que a gente sempre está

falando sobre isso, desde quando

começa a aprender a falar a Lín-

gua Portuguesa, a gente já come-

ça a falar sobre isso. Nós sabemos

como passar oralmente porque a

gente sempre tem os conselhos

na casa de reza (Opy). Eu sempre

estou com os grandes líderes das

nossas aldeias passando quais

são os perigos, dizendo onde tem

‘‘Hoje em dia deixar a

tecnologia é difícil, já

está na aldeia, o índio já

está conectado a tudo,

principalmente o jovem.’’

(Rodrigo da Silva, vice caciqueda aldeia Piraquê-Açu)

REPORTAGEM

vitória | 07

que pisar. Esses são os ensinamentos para respei-

tar” contou Antônio. Já Rodrigo da Aldeia Piraquê-

Açu acrescentou “Eu não assisto tv por opção.

Deixei há 4 anos, depois eu vi que não era adequado

para mim nem para meus filhos. Eu vi que não é

coisa boa. Cada vez que a gente liga a tv é muita

morte, político roubando, criança morrendo, é

muita notícia ruim. Então, prefiro desligar a tv”. Mas

Rodrigo também acrescentou “Hoje em dia deixar a

tecnologia é difícil, já está na aldeia, o índio já está

conectado a tudo, principalmente o jovem. A gente

só tem que tomar cuidado, os caciques têm sempre

que ficar atentos de ver como a tecnologia vai ser

abordada dentro da aldeia, a gente precisa cuidar

para o jovem se conectar bem”. Sobre a influência

da TV, Eliane da aldeia Três Palmeiras disse: “eu

assisto a novela Carinha de anjo, mas não muda

nada, eu não tenho vontade de imitar”.

A relação com a sociedade branca e preservação

da cultura

Embora seja raro, alguns índios guaranis traba-

lham fora da aldeia e os jovens estudam fora da

aldeia a partir da oitava série. Perguntamos se esse

contato não introduz nas aldeias outros costumes

como uso de drogas e bebida, mas a resposta é de

que para essas situações, que são raras, seguem as

mesmas regras: dialogar e aconselhar. “A gente

sempre comunica aos jovens que não pode, sempre

dá esse conselho e por isso que os mais velhos

sempre dão palestra na escola sobre droga, doenças

sexualmente transmissíveis”, disse Rodrigo. “A

gente sempre fala que o objetivo principal da nossa

aldeia é a família, que não se deve usar isso porque

isso não faz parte da nossa cultura e não faz parte de

outras culturas também, a gente mostra que isso

não traz felicidade só traz infelicidade para a

pessoa”, afirmou Antônio.

Rodrigo da Silva - vice cacique da Aldeia Piraquê-Açu

08 | vitória

REPORTAGEM

desbotado ou uma goteira tinha

molhado ou podia ter queimado.

Então, se eu não tivesse gravado

na mente e no coração tudo que

ela falava do nosso criador, que o

equilíbrio da natureza traz mais

força para nós, porque a natureza

que faz a gente estar bem, eu já

tinha perdido tudo”.

Se houver problemas também

tem punição que pode chegar até

à expulsão, quem explicou foi

Rodrigo: “se fizer alguma coisa

grave pode ser expulso, já acon-

teceu vários (se bater na mulher,

se usar bebida alcoólica é expul-

so da aldeia). Mas isso é difícil

acontecer, porque o cacique está

sem-pre de plantão para “manter

a ordem e a harmonia da aldeia e

não deixar nada atrapalhar”,

explicou Rodrigo.

Perguntamos a Antônio se as

crianças e jovens escutam os en-

sinamentos e se existem regras.

Ele respondeu: “Escutam. Muitas

vezes os alunos que estudam lá

foram dizem assim: o ensinamen-

to da nossa aldeia sempre vai ser

melhor”, e acrescentou: “as reco-

mendações são gravadas no co-

ração e na mente. A gente sempre

coloca que não pode pegar ou

roubar coisas de outro, a briga é

completamente proibida. Mas

isso é tudo oralmente, não está

escrito no papel, é preciso gravar

no coração. Minha avó passou

para nós oralmente e a gente

gravou no coração e na mente. Se

eu tivesse anotado alguns valores

que minha avó falou, se eu ano-

tasse no papel eu creio que já

teria esquecido, o papel já tinha

Curiosidade: Todo o índio tem um nome “Nós temos um nome sagrado, o meu não é Antônio Carvalho, isso é para tirar identida-de, o meu nome sagrado é Relâmpago no pôr do sol. Minha avó dizia que não podia colocar um nome sagrado no papel que foi feito pela mão do homem. O nome é revela-do ao líder espiritual antes da criança nascer, n ã o s ã o o s p a i s q u e escolhem. O nome sagra-do vem para ser o alicerce da vida daquela pessoa. Por isso, não é qualquer um que pode colocar o nome na criança”.

vitória | 09

REPORTAGEM

Maria da Luz Fernandes

A Casa da Reza

Essa harmonia entre eles que compartilham a

vida, os recursos agrícolas e a pesca tem como base

de equilíbrio o encontro para rezar no final do dia.

Nas três aldeias existe a Casa da Reza, uma tradição

Guarani. “Todas as noites às 18h todo o mundo tem

que estar, não é só no sábado ou domingo, se chegar

atrasado não pode entrar e nem sequer bater na

porta, é um lugar sagrado, tem que respeitar. Esse

ensinamento de ir rezar às 18h foi Deus que ensinou

para a gente, não foi o padre, não foi o pastor. Dizem

que a gente adora o sol, a natureza... não, nós ado-

ramos porque Deus criou. Todo o ser tem que res-

peitar o que foi criado por Deus, explicou Antônio e

Rodrigo acrescentou “A gente reza toda a noite, a

gente reza para todo o mundo e principalmente

pelos mais velhos e as crianças. Ao anoitecer todo o

mundo vai para a casa da reza, a gente canta, conta

história, o curandeiro reza e não tem horário para

sair porque isso envolve a parte espiritual da

humanidade”.

Jornalista

10 | vitória

FAZER BEM

Um modelo de luxo da Lamborghini

Huracán doada ao Papa Francisco no valor

de mais de 1 milhão de reais, foi leiloado

por um valor três vezes maior e vai financiar

um projeto de reconstrução de casas,

lugares de culto e estruturas públicas na

planície de Nínive no Iraque. A doação vai

ajudar cristãos expulsos pela guerra a

“reencontrarem suas raízes e sua dignida-

de”, informou a Santa Sé. Além disso, parte

da quantia também permitirá ajudar uma

associação italiana que apoia vítimas de

redes de prostituição e duas organizações

italianas ativas na África.

Uma solução para as temidas picadas diá-

rias para a medição de glicose no sangue.

Cientistas da Universidade de Bath, no

Reino Unido, desenvolveram um emplastro

adesivo, parecido com um curativo, para

medir os níveis de glicose pela pele. O

objetivo é eliminar a necessidades de teste

com picadas de agulha. As próximas etapas

do trabalho incluem um aprimoramento

adicional do projeto para que o emplastro

cubra as medições durante 24 horas.

Papa leiloa Lamborghinipara ajudar o povo iraquiano

Um alívio paraos diabéticos

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O estudante de engenharia biomédica Derew Miles,

desenvolveu um dispositivo para ajudar uma

menina de 5 anos que não possui a mão esquerda, a

tocar violino. O professor de Neiriah Rhodes solici-

tou à Universidade LeTourneau, a impressão em 3D

do instrumento que Neiriah usava para facilitar o

manuseio. Derew desenvolveu um instrumento

novo, pintou de rosa, por ser a cor preferida de

Neiriah e doou à menina.

Para pessoas que querem ajudar outras

pessoas e não sabem por onde começar,

surgiu uma ótimo iniciativa nos Estados

Unidos, o ônibus do Bem. As pessoas

embarcam sem saber o itinerário e o tipo

de trabalho e só ficam sabendo quando

estão prontos para partir. Junto com a

revelação da missão, os organizadores

oferecem aos voluntários uma descrição

da missão e um rápido treinamento para

que estejam aptos a realizar as tarefas que

encontrarão pela frente. Empresas tam-

bém podem contar com o ônibus do bem

para organizar trabalhos voluntários com

seus funcionários.

Dispositivo permite menina quesó tem a mão direita tocar violino

Voluntariado surpresa paraquem tem vontade de ajudar

FAZER BEM

vitória | 13

Recentemente os escânda-

los envolvendo o Face-

book e a empresa de con-

sultoria britânica Cambridge

Analytica assustaram milhões de

usuários de redes sociais ao redor

do mundo por medo destes terem

seus dados utilizados para fins

políticos e comerciais.

Por meio de um aplicativo, a

Cambridge Analytica teve acesso

às informações de mais de 87

milhões de perfis do Facebook. A

grande maioria se encontra nos

Estados Unidos da América, cerca

de 70,6 milhões e logo em seguida

aparecem países como Filipinas,

Reino Unidos e até mesmo o

Brasil.

Com isso, muitas pessoas co-

meçaram a se questionar sobre

as informações que fornecemos

na internet e até onde vai a nossa

privacidade. Acontece que no

marketing digital, um dos princí-

pios é o seguinte: “Se você não

paga por um produto, você é o

produto”. Ou seja, você não paga

pela maioria dos serviços do

Google (Gmail, Buscador, Maps

etc...) mas a empresa armazena-

mos seus dados e utiliza como

segmentação de mercado e como

forma de direcionar os anúncios

que aparecem na internet.

Hoje em dia praticamente tudo

o que fazemos na internet é mo-

nitorado. O Google “lê” todos os

seus e-mails, guarda todas as

suas pesquisas e conhece o

caminho que você faz de casa

para o trabalho. Quando você

comenta sobre um determinado

item no Instagram, Facebook ou

Whatsapp, logo em seguida diver-

sos anúncios sobre aquele produ-

to aparecem na tela do seu com-

putador/smartphone.

Além disso, é praticamente im-

possível não ter um perfil numa

rede social. Temos redes sociais

ATUALIDADE

TODAS AS CONVERSAS SERÃO VIGIADAS

14 | vitória

para quase tudo: profissão

(LinkedIn), imagens (Flickr e

Instagram), relacionamento

(Tinder), amizade e interações

(Facebook) e assim por diante.

O escândalo recente envolven-

do o Facebook e a empresa de

consultoria Cambridge Analytica

deixou todo usuário de redes

sociais assustado com a possibili-

dade de ter os seus dados invadi-

dos ou, pior ainda, que esses

foram explorados para a criação e

entrega de alguma campanha

publicitária. O que muita gente

não sabe é que isso já acontece

com diferentes serviços utiliza-

dos na internet, até mesmo para

aqueles que não possuem um

perfil nas redes sociais.

Sabe aquele famoso ‘Termos e

Condições de Uso’, que somos

obrigados a aceitar toda as vezes

que nos inscrevemos ou utiliza-

mos algum serviço digital? O que

muita gente não sabe é que, para

além dele estabelecer as regras e

condições de usos do serviço,

muitos desses contratos possibi-

litam que as empresas utilizem os

seus dados de forma indiscrimi-

nada.

O documentário Terms and

Conditions May Apply (2013) já

fazia esse alerta. A obra analisa as

políticas de privacidade do

Google e do Facebook desde o iní-

cio do século passado, comparan-

do como foi se aprimorando a

maneira como essas empresas

coletam nossas informações e

utilizam em benefício próprio ou

de terceiros.

Imagine que você chegue numa

cidade e alugue um carro. No

contrato de prestação de servi-

ços, que você assina sem ler

completamente, está estipulado

que você vai fornecer informa-

ções sobre tudo o que tiver feito

naquele período: as pessoas que

entraram no carro, os lugares que

você visitou, onde abasteceu o

veículo, o que você comeu

durante esse tempo, as conversas

realizadas dentro do carro e assim

por diante.

Assustador, não? É exatamente

isso que acontece com todos os

serviços digitais. O Gmail lê todas

as suas mensagens, o Facebook

monitora todas as suas ativida-

des, o Google registra todas as

suas pesquisas, sites visitados e

até mesmo os lugares que você

visita por meio do GPS do seu

smartphone.

Mas como chegamos a esse

cenário?

Em 1999 era lançado o Cluetrain

Manifesto (Trêm das Evidências –

em português), que continha 95

teses para todas as empresas que

operavam dentro de um mercado

recém conectado. A proposta do

manifesto era a de superar o

pensamento ultrapassado do

século 20 sobre os negócios e as

ideias ali presentes que procura-

vam examinar o impacto das Tec-

ATUALIDADE

vitória | 15

ATUALIDADE

nologias de Informação e de

Comunicação (TIC) nos ambien-

tes corporativos e na comunica-

ção organizacional.

Sim, mas qual a conexão desses

dois eventos? Explico melhor. Um

dos pontos principais expostos

no Cluetrain Manifesto diz res-

peito aos mercados enquanto

conversas. Quando você vai a

uma feira o que mais se ouve são

pessoas gritando, conversando

ou pechinchando algum produto

e para os autores dessa obra, os

mercados sempre foram locais

onde as pessoas se reuniam e

conversavam entre si.

Os aplicativos recentes de-

monstram bastante essa lógica.

Os motoristas do UBER são avali-

ados de acordo com as corridas

que os usuários tiveram, você não

fala com outra pessoa, mas man-

da uma mensagem para o aplica-

tivo demonstrando sua satisfa-

ção ou insatisfação com o serviço.

Quando você vai alugar um

apartamento pelo AIRBNB você

busca os comentários das pes-

soas que utilizaram o serviço an-

tes de você, assim, teoricamente,

fica mais fácil de se tomar uma

decisão sobre onde ficar.

Uma poderosa conversação

global começou. Através da Inter-

net, pessoas estão descobrindo e

inventando novas ma-neiras de

compartilhar rapidamente co-

nhecimento relevante. Como um

resultado direto, mercados estão

ficando mais espertos — e mais

espertos que a maioria das em-

presas. The Cluetrain Manifesto

Dessa forma, lembre-se que

quando falamos da internet,

devemos partir de um princípio

que se trata de um ambiente

digital no qual deixamos várias

pegadas, vários registros das

nossas passagens. O que são

essas pegadas? As postagens que

publicamos (curtimos, comenta-

mos ou compartilhamos), as

buscas que fazemos, as compras,

os sites visitados, os e-mails

enviados e assim por diante.

Não se trata aqui de falar de

uma teoria da conspiração que

procura controlar e vigiar tudo

aquilo que fazemos. A ideia é que

a gente reflita sobre o poder

dessas empresas e quais são os

objetivos que elas buscam ao uti-

lizar as nossas informações. No

Felipe TessaroloPublicitário e professor no Centro

Universitário Faesa

caso da Cambridge Analytica já há

quase um consenso de que ela

influenciou nas eleições america-

nas que deram a vitória ao Donald

Trump e a saída da Ingla-terra da

zona do euro. Qual será o próximo

passo a partir daqui?

SUGESTÕES

onhecer a história de vida Cda artista Ercília Stanciany

que assina a exposição

“Maré da Vida” no Centro Cultural

Sesc Glória, no Centro de Vitória, já

vale a visita à mostra. A artista mi-

neira, que atualmente mora no mu-

nicípio da Serra, usou cabeceiras de

camas e pedaços de móveis encon-

trados no lixo para trabalhar a

técnica da xilogravura, talhando

com pregos e materiais perfurantes

os desenhos que contam os mo-

mentos e as pessoas que marcaram

sua trajetória.

MARÉ DA VIDA

16 | vitória

Andressa MianJornalista

Na técnica da xilogravura, as

peças funcionam como uma

matriz que podem ser usadas pa-

ra carimbar diversas superfícies,

e na exposição Maré da Vida, as

gravuras foram estampadas com

tinta preta em pedaços translúci-

dos de pano vermelho, dando um

aspecto de leveza e beleza para a

história contada.

Quem visitar a mostra vai en-

contrar também dois tapetes

feitos manualmente pela artista

nas quais ela, usando materiais

recicláveis, colocou tudo o que

tem grande importância em sua

vida. As duas peças estão no

contexto de seu novo projeto de

vida, uma pós-graduação em

Arteterapia. A artista chegou em

Vitória de trem há 14 anos com o

marido e com o filho em busca de

melhores chances na vida e en-

controu na coleta de lixo a sobre-

vivência da família. Também foi

no lixo que Ercília encontrou os li-

vros usados para estudar sozinha

e ingressar no Curso de Artes

Plásticas da Universidade Fede-

ral do Espírito Santo.

De uma família humilde, Ercília

foi proibida pelo pai de estudar

ainda criança, pois precisava aju-

dar em casa. No entanto, as difi-

culdades que surgiram em seu

caminho não a impediram de

alcançar o sonho de ser uma ar-

tista.

A exposição está aberta ao pú-

blico até o dia 15 de julho de ter-

ças às sextas-feiras. Das 11 às 20

horas (exceto fer iados) . A

entrada é franca e a classificação

é livre.

SUGESTÕES

vitória | 17

IDEIAS

Se a vida ligeira, apressada, cheia de coisas a

consumir e desprazeres a desfrutar vai sendo

vivida como se apartada de seus significados,

claro é que sonharemos com um tempo e lugar

especiais que nos colocarão em sintonia com aquilo

que intensificaria a vibração do nosso corpo e alma.

Claro que a dimensão espiritual da existência será

projetada num lugar e num momento especial para

além do que nos tangencia e atravessa. Claro que a

satisfação em se viver será arremessada para a

viagem dos sonhos, para cenários e países que

parecem destituídos dos insuportáveis que vivemos

e nos machucam.

18 | vitória

Padre, psicólogo e Mestre em

Psicologia Institucional

Dauri Batisti

A despeito da desvalorização da

rotina, do que é mais simples e

aberto, a vida comum, banal, não

poderia ser desperdiçada, por ser,

assim, a mais excelente via para

acessar estes outros horizontes

capazes de dar novos e consisten-

tes sentidos à vida. Ou seja, nos

permitir, tentar, ousar viver genu-

inamente a aparentemente “po-

bre” rotina pode ser um belo en-

frentamento aos modos contem-

porâneos de existir, modos que

nos enchem de expectativas por

grandes momentos, que colocam

a todos em busca de “sonhos”,

que a muitos movimenta para

que busquem ideais, lá longe, em

exaustivas lutas por “realização”

e que resultam quase sempre em

colheitas fartas de frustrações.

IDEIAS

Então sonhamos, sonhamos com

turnês maravilhosas, com santuá-

rios que nos alcancem milagres,

com experiências que a nossa

“vida pequena” não tem força para

nos fazer conhecer. Mas - bem já

sabemos - se há um mundo melhor

e bonito a ser alcançado ele não

está lá. Ele está aqui, permeando

as realidades, disponível e gratui-

to. É a que poderíamos chamar de

dimensão sagrada da vida.

A dimensão sagrada da vida não

está fora, nem distante, nem des-

colada dela. A dimensão sa-grada

da vida está nela como es-trutura,

esqueleto, sangue. Como pele,

epiderme e musculatura. E, pa-

rece, é pela cotidianidade da vida

que essa dimensão poderá ser

mais facilmente acessada.

vitória | 19

20 | vitória 20 | vitória

vitória | 21

ESPIRITUALIDADE

Pe. Jorge Campo Ramos Reitor do Seminário Nossa Senhora

da Penha e Vigário Geral

O tema “espiritualidade” sempre desperta o inte-

resse dos homens e mulheres de todas as épocas e

culturas. A atenção e a busca pela espiritualidade

não se restringem a determinada classe social. A

alma e o coração humano são dotados de uma força

transcendente que os leva a peregrinar na busca so-

bre o sentido último da existência. Vários são os ca-

minhos espirituais que levam homens e mulheres a

buscarem as respostas e os sentidos para suas vidas.

Grandes místicos percorreram caminhos espiritu-

ais que os levaram a encontrar – embora não apenas

ou tão somente – respostas para suas inquietações;

mas, pela via espiritual, encontraram um caminho

de paz interior. Puderam encontrar um caminho de

integração consigo mesmos, com o outro, com a

comunidade, com o mundo, com o cosmos, com o

despertar para o equilíbrio para com a natureza,

para com a ecologia. E, fundamentalmente como

ápice da experiência espiritual, os místicos puderam

fazer a experiência do encontro transfigurante com o

Totalmente Outro, com a Divindade, com Deus.

A jornada pela espiritualidade desperta interesse

porque a ciência não tem respostas para todas as

perguntas e inquietações humanas. Em sua consti-

tuição, o ser humano é um ser aberto à transcendên-

cia. O ser humano não se satisfaz levando uma vida

medíocre. Ao contrário, o homem tem sede de algo

mais. Tem sede de um sentido para tudo que faz,

experimenta, projeta e sonha. O ser humano tem se-

de de vida, de liberdade, de dignidade, de justiça e

de paz. Tem desejo de realização e de expansão de

suas capacidades mais intrínsecas.

Todo ser humano possui em si uma força que o

lança para frente, para o alto, para o transcendente.

Uma força que o projeta e o faz sonhar e colocar-se a

caminho. É essa força que o leva a superar grandes

desafios, que o arranca dos espaços de comodida-

de. Uma força tal que não lhe permite a permanên-

cia nos espaços mais sombrios e obscuros, quer

esses espaços estejam dentro ou fora de si mesmo.

A vida espiritual leva o ser humano à superação de

adversidades e de barreiras muitas vezes considera-

das instransponíveis. A espiritualidade é a força mo-

triz que faz do derrotado um vencedor; que transfor-

ma a fragilidade e o medo em força e coragem.

O homem e a mulher espirituais são arautos da es-

perança e do amor. São capazes de enxergar, para

além da aparente derrota da morte, a vitória da

Vida. O homem e a mulher espirituais têm a capaci-

dade de ver e de julgar para além das aparências;

sem, contudo, negar ou desconsiderar a objetivida-

de e a facticidade da vida.

A espiritualidade suscita no coração humano uma

excepcional capacidade de perceber o extraordiná-

rio no ordinário da vida. O homem e a mulher espi-

rituais são capazes de se maravilhar e de se encan-

tar com aquilo que é corriqueiro, trivial e simples.

Não é possível um desenvolvimento humano pleno,

integral, sem considerar a dimensão espiritual no

contexto da realidade humana. Ou seja, sem con-

siderar que a espiritualidade é uma realidade cons-

tituinte dos seres humanos.

VIDA ESPIRITUAL

ARQUIVO E MEMÓRIA

elebração do aniversário de falecimento do Cpadre José de Anchieta com a presença dos

Bispos da Província Eclesiástica do Espírito

Santo, padres, autoridades civis e militares. Os

índios, aqueles que o missionário Jesuíta cuidou,

defendeu e amou, estiveram representados por

alunos das escolas do município de Anchieta. Nesse

ano, o Dia Nacional de Anchieta foi instituído por

decreto federal.

Coordenação do Cedoc

Giovanna Valfré

09 DE JUNHO DE 1965

22 | vitória

Fo

to: M

aria d

a L

uz

Fern

andes

PENSAR

vitória | 23

24 | vitória

DIÁLOGOS

tribui-se a Cícero, orador e Apolítico da Grécia Antiga, a

conhecida frase “A His-

tória é a mestra da vida”. Gosto

dessa afirmação. De fato, para

vivermos bem o presente e abrir-

monos para o futuro, é necessário

termos em nossa mente e cora-

ção o rico passado vivido pela

humanidade com seus acertos e

falhas. Tratando-se da história da

Igreja no Estado do Espírito Santo,

duas Famílias Religiosas se des-

tacam de uma maneira proemi-

nente: a Família Franciscana que

esteve presente desde os primei-

ros esforços de colonização

dessas terras. Todos temos bem

presente a história dos missioná-

rios franciscanos que residiram

em Vila Velha e, logo em seguida,

na Ilha de Santo Antônio, hoje

Vitória, onde funciona atualmen-

te a Cúria Arquidiocesana de

Vitoria do Espírito Santo. Entre

esses missionários destacou-se,

sobremaneira, o frei Pedro Palá-

cios, que trouxe consigo a Estam-

pa de Nossa Senhora das Alegrias,

venerada pelo povo capixaba co-

mo Nossa Senhora da Penha. É a

devoção popular mais antiga do

Brasil, enquanto expressão de

grande massa popular. Todos sa-

bem como essa piedade popular

veio alcançando o coração de

nosso povo.

Contudo, nesse mês de junho,

especialmente, no dia 9 de junho,

nós nos voltamos para uma outra

Família Religiosa Missionária, a

Companhia de Jesus. Chegou

junto com os colonizadores.

Chamamos os membros desta

Família Missionária de “Jesuítas”.

Estes e os franciscanos foram os

primeiros e grandes apóstolos

evangelizadores do Brasil, espe-

cialmente do Estado do Espírito

Santo. Sabemos e louvamos o

árduo trabalho da Companhia de

A ELES NOSSA ADMIRAÇÃO E GRATIDÃO

Jesus, do Sul ao Norte do Estado,

tendo como destaque o apóstolo

dos ameríndios, São José de An-

chieta. A alegria do reconheci-

mento de sua santidade chegou-

nos em abril de 2014, quando

Papa Francisco decretou sua ca-

nonização. José de Anchieta foi o

evangelizador que se preocupou

em inculturar-se para poder

e vangel izar os povos destas

terras. Com-pôs um dicionário na

língua dos povos autóctones,

escreveu peças teatrais catequé-

ticas etc... Visitou o Estado de

norte a sul, deixando sinais do

anúncio do Evangelho: o r io

Cricaré passou a chamar de São

Mateus, em cuja margem surgiu a

dinâmica cidade que hoje conhe-

cemos e ali nasceu a sede da Dio-

cese de São Mateus. Em Vitória

construiu o Colégio São Tiago e le-

cionou nesta Escola. Em Guarapa-

ri celebrou na Igreja de Nossa

Senhora da Imaculada Concei-

ção. Em Reritiba, hoje Anchieta,

residiu por uns tempos e ali fale-

ceu. Hoje em Anchieta temos o

Santuário Nacional são José de

Anchieta. Do norte ao sul e no

centro do Estado percebemos os

sinais evangelizadores destes

beneméritos missionários da

‘‘hoje o Estado do

Espirito Santo não

só é conhecido

pelas sua beleza

natural e perspec-

tivas econômicas e

culturais, mas

como o Estado

onde o grande

Santo Missionário

Apóstolo do Brasil

viveu e morreu’’

vitória | 25

Arcebispo Metropolitano de Vitória

Dom Luiz Mancilha Vilela, ss.cc.

Companhia de Jesus: em São Pedro de Alcântara do

Itabapoana uma imagem barroca de São Pedro

Apóstolo, vinda de Portugal, deu nome à cidade; em

Presidente Kennedy, a Igreja Santuário Nossa

Senhora das Neves; em Itapemirim, a Igreja Nossa

Senhora do Amparo; na região de Vargem Alta

descendo para Castelo, o córrego do ouro, por onde

passaram os Jesuítas evangelizando os autóctones.

Hoje o Estado do Espirito Santo não só é conheci-

do pelas sua beleza natural e perspectivas econômi-

cas e culturais, mas como o Estado onde o grande

Santo Missionário Apóstolo do Brasil viveu e morreu

e cujo local se transformou no Santuário Nacional

de São José de Anchieta no Município de Anchieta

Estado do Espírito Santo.

Sim, a história da Igreja no Estado do Espírito

Santo não pode jamais ignorar estas duas grandes

famílias missionárias, além das outras mais recen-

tes, todas merecedoras de nossa homenagem. Neste

mês porém o destaque é para a Companhia de

Jesus na figura de São José de Anchieta. Aos jesu-

ítas nossa admiração e gratidão!

Tenho certeza de que tudo tem sido realizado

“Ad Maiorem Gloriam Dei’’.

DIÁLOGOS

vitória | 27

CATEQUESE

finalidade específica da Acate-quese, no entanto,

não deixa de continuar a

ser a de desenvolver, com a ajuda

de Deus, uma fé ainda inicial. A de

promover em plenitude e de ali-

mentar quotidianamente a vida

cristã dos fiéis de todas as idades.

Trata-se, com efeito, de fazer cres-

cer, no plano do conhecimento e

da vida, o gérmen de fé semeado

pelo Espírito Santo, com o pri-

meiro anúncio do Evangelho, e

transmitido eficazmente pelo

Baptismo.

A catequese, portanto, há de

tender a desenvolver a inteligên-

cia do mistério de Cristo à luz da

Palavra, a fim de que o homem

todo seja por ele impregnado.

Deste modo, transformado pela

ação da graça em nova criatura, o

cristão põe-se a seguir Cristo e, na

Igreja, aprende cada vez melhor a

pensar como Ele, a julgar como

Ele, a agir em conformidade com

os seus mandamentos e a espe-

rar como Ele nos exorta a esperar.

FINALIDADE ESPECÍFICA DA CATEQUESE

O que é catequese e como falar dela para pessoasque foram batizadas e iniciadas nos Sacramentos?

‘‘Trata-se, com efei-

to, de fazer crescer,

no plano do conheci-

mento e da vida, o

gérmen de fé semea-

do pelo Espírito

Santo, com o prime-

iro anúncio do

Evangelho, e trans-

mitido eficazmente

pelo Baptismo.’’

Mais precisamente, a finalida-

de da catequese, no conjunto da

evangelização, é a de construir a

fase de ensino e de ajuda à matu-

ração do cristão que, depois de

ter aceitado pela fé a Pessoa de

Jesus Cristo como único Senhor e

após ter-lhe dado uma adesão

global, por uma sincera conver-

são do coração, se esforça por

melhor conhecer o mesmo Jesus

Cristo, ao qual se entregou: co-

nhecer o seu ‘‘mistério’’, o Reino

de Deus que Ele anunciou, as exi-

gências e promessas contidas na

sua mensagem evangélica e os

caminhos que Ele traçou para to-

dos aqueles que O querem seguir.

Se é verdade, portanto, que ser

cristão significa dizer ‘‘sim’’ a

Jesus Cristo, convém recordar

que tal ‘‘sim’’ se situa a dois ní-

veis: consiste, antes de mais, em

abandonar-se à Palavra de Deus e

apoiar-se nela; mas comporta

também, num segundo momen-

to, o esforçar-se por conhecer ca-

da vez melhor o sentido profundo

dessa Palavra (CT 20).

A partir deste mês, esta página dedicada à catequese trará textos que ajudem a compreender e vivera fé com

os grandes nomes da história da Igreja Católica. Achamos por bem, a título introdutório, publicar um

pequeno texto da Exortação Apostólica Catechesi Tradentae do Papa João Paulo II, publicada em 1979.

vitória | 29

ASPAS

PUC Minas

Mozahir Salomão Bruck

Não se pode tirar do contexto, em que foi al-

gumas vezes dita, a afirmação de Zuenir

Ventura sobre o fato de que o excesso de

informação torna-se um tipo de censura. E ele o diz

em relação especialmente aos jovens que afirmam

que, de algum modo, vivem sob censura. Tem razão

o Zuenir. O que vivemos hoje está absolutamente

distante e diverso do que o Brasil viveu há cinquenta

anos. Atrofiada pelo poder de exceção, autoritário e

ditatorial, a informação não circulava. Era um pro-

blema de natureza ética, político-ideológica mas,

acima de tudo, de direitos humanos. A informação

era censurada, as pessoas enganadas e os que con-

seguiam enxergar que o País estava mergulhado

nas sombras e emudecimento eram banidos ou ex-

terminados.

Mudanças profundas têm sido experimentadas

pelas sociedades em termos de seus processos de

midiatização e de interação. Passamos, em poucas

décadas, do excessivo controle para a desregula-

mentação e total descontrole. No caso em tela, do

Brasil, o fenômeno não é menos complexo. Talvez,

de algum modo, até mais difícil de compreender. Se

passamos de uma pré-modernidade (com impren-

sa, mas com uma população majoritariamente de

analfabetos) para uma modernidade tardia (a

rápida chegada da mídia eletrônica massiva – rádio

e, em seguida, a tv), a pós-modernidade nos tomou

de assalto, encontrando-nos em precária situação

de educação formal e de ausência de efetivos pro-

gramas e políticas públicas de fomento da cultura,

da arte e da cidadania.

As comunidades mais carentes buscam suas pró-

prias soluções e caminhos. Isso também é cultura. E

é o que lhes dá ainda raízes. Mas sofrem, de modo

talvez ainda mais perverso, os efeitos da super

oferta de informação. Boatos, fake News, a metra-

lhadora giratória ideológica do neoconservado-

rismo, os conteúdos de apologia ao crime e a into-

lerância... a internet canaliza e faz vazar de seu leito

um tsunami de discursos de ódio e banalização da

vida que desestruturam os bons projetos e iniciati-

vas de construção de uma cultura de paz. Embora o

discurso cidadão e da solidariedade. Nessa perspec-

tiva, há muita censura. A internet nos salva da desin-

formação.Mas como nos salvar da internet?

“EXCESSO DE INFORMAÇÃO TAMBÉM É CENSURA” Zuenir Ventura

CAMINHOS DA BÍBLIA

medo é uma experiência própria da fra-Ogilidade da condição humana e nasce na

sensação de ser colocado em alguma

dificuldade, quando o homem se sente incapaz ou

impotente diante de algumas realidades que a ele

se apresentam. Na Sagrada Escritura, é de conheci-

mento geral que o mundo não acolhe e nem recebe

bem os profetas, já que a maioria deles foi persegui-

da e rejeitada. Sabendo disso, Jesus ao se dirigir aos

seus discípulos com as palavras: Não tenhais medo,

tem o intuito de fortalecê-los no momento em que

são enviados para a missão de anunciar o Reino dos

Céus. O desejo do Mestre é o de que os discípulos

não se deixem perturbar pelas dificuldades e sejam

tomados e paralisados pelo medo, mas se sintam

acompanhados e guiados por sua presença.

A primeira vez em que o Senhor se dirige aos seus,

convidando-lhes a não ter medo, está relacionada

com a força da Palavra por eles anunciada. O Senhor

lhes dá a garantia de que é o próprio Deus que os

sustentará na proclamação da Palavra e que a fará

conhecida por todos. A segunda ocorrência está

ligada ao medo da morte, isto é, do limite humano e

de sua fragilidade. Nesse caso, Jesus, mais uma vez,

coloca a vida dos seus discípulos nas mãos de Deus,

convidando-os a confiar na providência divina que

nunca falha para aquele que a Deus se dirige. Por

isso, o testemunho dos discípulos deve ser sem

nenhum medo que paralisa e rouba o vigor, mas,

corajoso e fiel, mesmo diante da violência que rouba

a vida e procura ceifar a esperança. Por fim, o último

convite de Jesus à confiança, que supera todo o

medo, está relacionado com a certeza, que os

discípulos devem ter a certeza de o olhar do Senhor

está sempre pousado sobre os seus. Nada ocorre na

vida daqueles que a Ele seguem e se entregam sem

que o seu olhar amoroso permita, isto é, a vida dos

discípulos está nas mãos do Senhor, muito mais

bem cuidada do que os lírios e os pássaros dos

campos.

NÃO TENHAIS MEDO! CONFIAI E O VOSSOCORAÇÃO REVIVERÁ

30 | vitória

vitória | 31

Com tais palavras, o Senhor

convida os seus discípulos a uma

liberdade de coração e a uma con-

fiança que nascem na experiência

de serem amados, acolhidos e,

por Ele enviados. Pois, ao enviá-

los em missão deseja que levem a

certeza de que o testemunho, a

defesa da vida, o serviço aos que

mais precisam fazem parte da Fé

que professaram aos pés do Mes-

tre. Desse modo, a superação do

medo e da incerteza ocorre quan-

do colocam no Senhor a sua confi-

ança e se recordam de serem sem-

pre por Ele acompanhados. Sen-

do assim, todos os que hoje ou-

vem as Palavras de Jesus e aco-

lhem o testemunho dos primeiros

discípulos, devem reconhecer,

e m s e u s co ra çõ e s , o m e s m o

chamado do Senhor e, a exemplo

dos discípulos devem desejar

abraçar, com coragem a mesma

missão.

Sendo assim, a superação do

medo e vivência da confiança são

um desafio constante na vida da-

queles que desejam tri lhar o

caminho do discipulado missio-

nário. De fato, no Salmo 68, o sal-

mista convida a todos a deposita-

rem no Senhor à sua confiança,

quando afirma: "humildes, vede

isto e alegrai-vos: o vosso coração

reviverá". O salmo em questão se

relaciona diretamente àquele que

reconhece, que percebe em sua

vida os cuidados de Deus. Algo

muito sentido pelos profetas, cha-

mados a denunciarem, com cora-

gem, as injustiças cometidas con-

tra o povo, sem medo da persegui-

ção por parte dos poderosos de

seu tempo. De fato, diante das in-

júrias e mentiras que viam cair

sobre si mesmos, os profetas se

voltavam para o Senhor e coloca-

vam Nele a sua total confiança. A

sua experiência de fé estava base-

ada na certeza de que o Senhor

que os chamou e os enviou estaria

sempre ao seu lado.

Assim deve ser o coração de

todo aquele que deseja seguir o

Senhor no caminho do discipula-

do missionário, já que, a exemplo

dos profetas e dos discípulos tam-

bém enfrentarão situações difí-

ceis e passarão por provações em

seu caminho. O que garantiu a

coragem e a superação do medo

no coração dos que decidiram

abraçar o Evangelho e anunciá-lo

com vigor e coragem, foi a certeza

e confiança que tinham de que as

promessas divinas são sempre

mantidas. O Senhor sustenta o

vigor do que chama para o cami-

nho do discipulado, sustentando

e dando vigor à sua vida, de modo

que possam manter vivo o anún-

cio do Evangelho e a denúncia das

injustiças, cometidas contra os

pequenos e pobres. A coragem de

ser testemunha de Cristo e defen-

sor da vida, nasce no coração dos

que ao Senhor seguem, pois Ele

jamais os deixará sozinhos no ca-

minho. A garantia de que a alegria

não seja roubada pelo medo e de

que a confiança não sucumba di-

ante das dificuldades encontra-

das é a união íntima com o Senhor,

que continua a dizer hoje, o que

disse aos seus discípulos: "não te-

nhais medo".

CAMINHOS DA BÍBLIA

‘‘A coragem de

ser testemunha

de Cristo e defen-

sor da vida nasce

no coração dos

que ao Senhor

seguem’’

Professor de Sagrada Escritura no

IFTAV e doutor em Sagrada Escritura

Pe. Andherson Franklin

vitória | 33

ENTREVISTA

Os diversos papéis desempenhados pelas mulheres

na sociedade atual fazem recair sobre elas uma

carga pesada, e é cada vez mais comum ouvi-las

reclamar dessas diversas atribuições. Ouvimos uma

mulher que representa esse universo e, ao mesmo

tempo, reflete sobre isso. A Mestre em Ciências

Sociais Aplicadas, Doutora em Ciências Jurídicas,

professora universitária, mãe de uma adolescente e

de três crianças, dona de casa e esposa, Michella

Zortéa Carneiro, falou um pouco sobre as multitare-

fas da mulher de hoje.

É difícil ser mulher atualmente?

Michella - Nossa... eu diria que sempre foi difícil.

Nos primórdios da humanidade a mulher concorria

com o homem na disputa pela sobrevivência

através da caça, coleta e fuga dos predadores. Mas,

a partir do momento que humanidade se assenta e

passa a desenvolver a agricultura, passando a

cultivar para prover seu alimento, o poder passa a

ser algo inerente aos homens e de alguma forma as

mulheres passam a desempenhar um papel de

submissão, de inferioridade com relação aos

homens. De lá para cá isso foi sendo repetindo em

todas as culturas na história da humanidade.

Hoje em dia com o feminismo, movimento que foi e

é muito importante, a situação não exatamente

melhorou. Digamos que melhorou em alguns

aspectos apenas, porque hoje temos a liberdade de

trabalhar, a liberdade para escolher com quem

vamos nos casar, ou se vamos nos casar, mas me

parece que os papéis sociais não estão muito bem

definidos nessas sociedades modernas e por isso

fica difícil para a mulher se encontrar. Quando se

tem os papéis bem definidos como, por exemplo,

nos países do Oriente Médio, nos quais a mulher é

do lar e pronto (não estou aqui defendendo esse

modelo, apenas tomando como exemplo). Então,

neste tipo de sociedade, de alguma maneira se tem

ali um objeto de felicidade preenchendo aqueles

papéis e está tudo certo. Aqui eu diria que estamos

O DESAFIODA MULHER

34 | vitória

perdidos. Não só as mulheres estão perdidas, os

homens também. Porque vivemos ainda um

momento de transição, de flexibilização dessas

funções e, ao mesmo tempo, a sociedade impõe

que os homens fiquem o tempo todo provando sua

masculinidade, e as mulheres sua feminilidade.

Encontrar-se é um desafio para as mulheres hoje?

Michella -Penso que é tentar encontrar um

equilíbrio entre a sua individualidade como mulher,

como esposa, como mãe e como profissional. É um

“quadripé” e isso é bem complexo. O equilíbrio não

é fácil.

Você diria que as mulheres estão cansadas?

Michella - Estão sim. Estão cansadas porque

embora os papéis sociais não estejam bem defini-

dos, existe uma predeterminação cultural sobre

isso. São valores culturais que vêm da nossa

formação como pessoa, das nossas mães, que

passaram para nossa geração e que se traduzem na

crença de que a mulher tem que dar conta de tudo,

que tem que estar sempre bem para cuidar dos

filhos, das questões administrativas da casa, do

marido e do trabalho, sendo o alicerce da família. A

questão é que não dá para ser perfeita. A gente

como mulher tinha que lançar um slogan que fosse

contra essa perfeição. Temos que ser todas contra

essa perfeição.

É uma cobrança das próprias mulheres então?

Michella - A mulher se cobra a perfeição, mas não

é uma cobrança simplesmente pessoal. Há uma

imposição cultural e social muito forte e que nós

nem sempre nos damos conta. Eu sempre falo que

para uma mulher se casar hoje, principalmente no

Brasil, e se tornar uma dona de casa é preciso muita

coragem. No Brasil quando a mulher não está no

mercado de trabalho, se diz que a ela é “só” uma

dona de casa, como se esse “só” fosse pouca coisa.

Ser dona de casa é cuidar de toda a administração

da casa, da alimentação da família, da educação,

orientação e cuidado dos filhos, é dar atenção ao

marido que representa a pessoa com quem ela

escolheu para dividir a vida, e também dar atenção

aos parentes, que com o tempo vão ficando idosos.

Isso não é só, isso é muita coisa. Na sociedade bra-

sileira isso é muito desvalorizado. Quando toma-

mos o exemplo de sociedades europeias desenvol-

vidas, a mulher pode se dar o direito de ser dona de

casa com orgulho, pois lá ser dona de casa e

desempenhar todas essas funções é algo louvável.

Os papéis que a sociedade impõe para homens e

mulheres mudaram ou continuam os mesmos se

comparados há décadas atrás?

Michella - Os papéis mudaram, só que as pessoas

não se deram conta disso de uma maneira muito

clara. Por aí se fala muito em novos papéis dos

homens e eles têm essa noção. Mas eles foram

criados de maneira diferente. Então, para os

homens, ter que se encaixar nas atividades domés-

ticas, é sofrido. A mulher hoje precisa de um

parceiro que divida as funções com ela e não de um

ajudante. Para eles, se encaixar nas atividades

domésticas, é como se estivessem perdendo a

masculinidade. E as mulheres se sentem como se

estivessem pedindo uma ajuda, e na verdade elas

apenas precisam que o companheiro cumpra sua

parte. Espero que nós possamos caminhar para

ENTREVISTA

vitória | 35

encontrar esse equilíbrio. Eu costumo ouvir de

amigas que elas pedem ajuda ao marido, mas eu

digo que isso não é pedir ajuda e sim que ele faça a

sua parte, “não é um favor”. Isso tem que ser traba-

lhado na cabeça das mulheres, tem que estar

embutido no consciente e inconsciente delas e

deles, que o fato de compartilhar as tarefas da casa e

o cuidado dos filhos não é um favor que os maridos

lhes fazem.

Então, pelo que vem acontecendo atualmente com

relação às mulheres, existe uma dificuldade nisto?

Michella - Me parece que há uma dificuldade de

comunicação, porque como a criação é diferente, a

gente já parte para um casamento pressupondo que

quem tem que cuidar de tudo é a mulher. Se ela vai

para o mercado de trabalho, mais justo ainda que as

tarefas sejam divididas. É necessário também que as

mulheres façam uma autoavaliação e conversem

com seus companheiros para que esta questão seja

discutida, mostrando que se os dois trabalham, a

divisão de tarefas se faz necessária. Mas não como

algo imposto, mas com troca de ideias para que o

diálogo não seja bloqueado.

Esse quadro pode mudar começando com a educa-

ção dos filhos?

Michella - Isso é muito importante, pois temos a

tendência de reproduzir nossas mães. Dessa forma a

gente impõe para as meninas as tarefas domésticas,

de ajudar nos cuidados da casa, e os meninos ficam

sendo esquecidos nessas funções. É importante que

não fiquemos apenas no discurso, mas que coloque-

mos isso em prática dentro de nossas casas, atribu-

indo também aos meninos parte destas tarefas.

Qual a mudança necessária hoje na sociedade e na

família para que a carga da mulher diminua?

Michella - Eu respondo esta pergunta com um

questionamento. Será que nós devemos continuar

tentando ser “supermulheres”? Porque é isso que

estamos fazendo conosco, tentando ser “super

mulheres”. Isso é mesmo necessário? Ao fazermos

isso nós perpetuamos a ideologia que temos que

dar conta de tudo.

É cada vez mais comum ver homens jovens passe-

ando com bebês nos parquinhos, ou fazendo

alguma atividade com os filhos, sem a companhia

das mães. É um sinal de transformação?

Michella - Com certeza. Me parece inclusive que

os homens estão muito dispostos a fazer isso. Vejo

meus primos mais novos, recém-casados, e eles já

têm um olhar diferente com relação à paternidade e

as tarefas domésticas. Se eles vêm assumindo esses

papéis com a clareza de que é uma função que

também é deles e que isso não fere a masculinidade

deles, é um grande avanço. A partir do momento em

que a sociedade aceita de uma maneira bem clara

estas posições, fica mais fácil para as mulheres que

elas também assumam e aceitem a necessidade de

dividir as tarefas.

ENTREVISTA

Andressa MianJornalista

MUNDO LITÚRGICO

Fr. José Moacyr CadenassiOFMCap

Os textos próprios da liturgia eucarística,

contidos no Missal Romano, dão o sentido

do dia celebrado, particularmente dos

domingos, solenidade e festas, além de sinalizar os

tempos litúrgicos.

Um dos elementos, dentre os referidos textos, são

os prefácios do Tempo Comum, que ajudam a

aprofundar aspectos importantes sobre o sentido

do mistério celebrado. Eles são utilizados exclusiva-

mente aos domingos.

O substantivo prefácio vem do latim prae-fatio (de

fari [dizer]); e também do grego, pró-logo (o que se

diz antes). Então, prefácio, na forma litúrgica, é o

que se proclama como introdução e ao mesmo

tempo resumo da oração eucarística, com o sentido

da ação de graças, em tom de proclamação, sendo

um elogio a Deus pela sua obra no mundo, com a

culminância da ressurreição do seu Filho.

São nove prefácios com os seus respectivos

títulos: I – O mistério pascal e o povo de Deus; II – O

mistério da salvação; III - A salvação dos homens,

pelo homem; IV – A história da salvação; V – A

criação ; VI – Cristo, penhor da Páscoa eterna; VII – A

salvação pela obediência de Cristo ; VIII – A Igreja

reunida pela unidade da Santíssima Trindade; IX – O

dia do Senhor.

Em linhas gerais, esses prefácios elucidam o

mistério pascal de Cristo e sua união com a história

da salvação e do povo de Deus, recordando os efei-

tos da Encarnação do Verbo e sua ação salvífica,

manifestada e atualizada, hoje, de forma culminan-

te, na celebração eucarística.

Uma proposta para as equipes de liturgia e

celebração é organizar um momento de estudo,

reflexão, aprofundamento e vivência a partir dos

referidos prefácios, desde a própria equipe até uma

possível formação em âmbito das comunidades,

resgatando o sentido do Tempo Comum e sua

espiritualidade.

O caminho da formação e aprofundamento

litúrgicos também se dá por meio da relação com os

textos da eucologia. Quanto mais os que celebram

aprofundarem o sentido ritual, com os seus ele-

mentos próprios, mais qualidade surgirá nas

celebrações, e com repercussão para a assembleia,

na inteireza da vivência ritual. Os efeitos também

repercutirão na vida pastoral da Igreja.

Que este Tempo Comum, retomado após a

solenidade de Pentecostes, seja uma etapa de

aprofundamento e frutificação do Mistério Pascal,

como contínua recordação da “...Ressurreição do

Senhor, na esperança de ver o dia sem ocaso...” (cf.

Prefácio dos Domingos do Tempo Comum, IX – “O

Dia do Senhor).

PREFÁCIOS DOTEMPO COMUM

vitória | 37

VIVER BEM

busca pela felicidade é uma constante na Avida das pessoas desde que elas se enten-

dem por gente. Na verdade talvez antes

mesmo disto, já que muitos bebês, ainda no útero

manifestam desconforto e outras sensações.

Mas se buscamos isto, será que somos capazes de

definir o que é essa tal de felicidade?

São tantos conceitos que envolvem esta resposta

que o que pode parecer simples para você começa a

complicar quando perguntamos para outras

pessoas, afinal a felicidade é algo bastante parti-

cular. Se observarmos bem, perceberemos em algu-

mas pessoas que parecem ter tudo uma constante

insatisfação e por outro lado também encontramos

pessoas de realidades bem humildes que parecem

realizadas.

Será a felicidade uma questão de expectativa e re-

alização? Se eu esperar pouco da vida terei mais

chances de ser feliz?

Ou só serei feliz quando alcançar o topo?

(sabe-se lá o que isto quer dizer)

Há pessoas que posssuem o hábito de con-

dicionar a felicidade a fatores como di-

nheiro, sucesso, amor e todos os tipos de

realizações. Pessoas que parecem sempre

correr atrás da felicidade sem nunca alcan-

çar.

Já pensou se a felicidade viesse de dentro?

Se estivesse em nossos pequenos atos do

dia a dia? Será que posso ser feliz aprecian-

do um dia bonito, o café fresquinho, uma

caminhada sem pressa, uma conversa sem

compromisso?

Existe esta felicidade sim e não pense que

pessoas assim são sem expectativas ou

ambições. Elas apenas encontraram a

felicidade no que vivenciam e não estão

sempre atrás de conceitos que muitas vezes

ESSA TAL FELICIDADE

38 | vitória

Vander SilvaProfessor e jornalista

não são delas. Afinal desde que

aprendemos a andar somos

direcionados a um conceito de

felicidade coletivo que nos diz

que para sermos felizes precisa-

mos de conquistas financeiras,

profissionais, de relações, de

posses e outras sem fim.

A exigência desta felicidade é

tão grande e aumenta tanto no

decorrer de nossa vida que

estamos sempre em busca dela,

algumas vezes chegamos a

pensar que estamos perto, mas

nunca de fato nos damos por

satisfeitos, apesar de algumas

vezes nos darmos o direito de

s e n t i r m o s u m a f e l i c i d a d e

momentânea, uma dose homeo-

pática deste sentimento para que

a nossa busca continue.

Não me atrevo a dizer onde

você de ve encontrar a sua

felicidade, afinal ela é sua. Mas,

reflita se esta felicidade que

busca é um conceito seu ou se foi

condicionada por padrões de

outras pessoas. E olhe em volta e

tente perceber o que você

realmente precisa para ser feliz.

Será que a felicidade já está

pertinho de você, mas como está

sempre procurando lá na frente

não consegue visualizá-la?

Talvez em vez de estar naquele

baú de madeira de lei todo orna-

mentado ela esteja enrolada em

um paninho simples.

“Não existe um caminho para a

felicidade. A felicidade é o cami-

nho”, Thich Nhat Hanh

vitória | 39

vitória | 41

LIÇÕES DE FRANCISCOLIÇÕES DE FRANCISCO

Edebrande CavalieriDoutor em Ciências da Religião

Na revista Vitória de maio de 2018, fizemos

um apanhado do pensamento do Papa

Francisco na relação entre “trabalho e

justiça social”. Agora queremos dar continuidade

com uma questão específica, mas também corre-

lacionada com o conteúdo do mês anterior. E vamos

buscar este tema no discurso do Pontífice com os

delegados da Confederação Italiana dos Sindicatos

dos Trabalhadores, ocorrido no ano passado. Seu

discurso versou sobre o tema “pela pessoa, pelo

trabalho”. De suas palavras, queremos refletir aqui a

questão da prática sindical.

São muito comuns, entre nós, as manifestações

de críticas às posturas de sindicalistas. E são cor-

retas as críticas, pois muitos sindicatos perderam

sua “vocação profética da sociedade” assemelhan-

do-se com a própria política, com os partidos polí-

ticos. Muitas vezes, os partidos tomam as organiza-

ções sindicais como braços para penetração na so-

ciedade. O sindicato torna-se instrumento dos

interesses corporativos e partidários.

Muitas vezes, os sindicatos perdem sua aderência

social na medida em que se afastam do lugar onde

sua luta deveria ser fundamental: as periferias

existenciais, os imigrantes, os pobres. A corrupção,

con-forme Francisco, penetrou também no coração

de muitos sindicalistas. Para o papa, é preciso

“habitar as periferias” a fim de se tornar uma estra-

tégia de ação.

E conclui seu discurso com palavras de grande

profundidade: “Não existe uma boa sociedade sem

um bom sindicato. E não há um bom sindicato que

não renasça todos os dias nas periferias, que não

transforme as pedras descartadas da economia em

pedras angulares. Sindicato é uma bela palavra que

provém do grego syn-dike, isto é, “justiça juntos”.

Não há justiça se não se está com os excluídos”.

O desafio da justiça social é essencial para a luta

por um mundo melhor e se insere no contexto do

Ensino Social da Igreja e nos coloca diretamente no

horizonte do Reino de Deus. Não é pauta dos

comunistas como muitos tentam desqualificar o

conteúdo da luta, mas da fé cristã. Isso precisa ficar

claro para todos os cristãos batizados. “Buscai

primeiro o Reino de Deus e a sua justiça, e todas as

coisas vos serão dadas por acréscimo” (Mt 6, 33).

Antes de orar a Deus pedindo milagres e curas torna-

se necessária a luta pelo Reino e sua justiça. Milagres

e curas virão depois.

Para os cristãos brasileiros que se dedicam à vida

sindical o desafio é ainda maior, pois o Brasil é um

dos países mais desiguais do mundo, ou seja, mais

injusto. Nossos sindicatos pouco a nada conseguem

ou querem fazer. O que domina seus trabalhos se

refere mais à ordem partidária e não a luta por jus-

tiça, que é a função profética dos sindicatos.

FUNÇÃO PROFÉTICA DOS SINDICATOS

vitória | 43

Professor de Economia

[email protected]

Arlindo Villaschi

ECONOMIA POLÍTICA

É por todos reconhecida a importância da

política econômica em buscar o controle da

inflação, das contas públicas e a liberação

da taxa de câmbio. Enquanto regra geral, o chama-

do tripé macroeconômico faz todo o sentido em

tempos de economia estável. Como essa estabili-

dade, tão preconizada pelos que endeusavam as

virtudes da livre movimentação de bens e serviços

em escala mundial, tornou-se uma permanente

volatilidade desde a crise financeira de 2007/08,

que essa regra geral precisa ser relativizada.

Ela precisa ser contextualizada para que outras

dimensões da crise sejam contempladas. Em mo-

mentos de baixo dinamismo da demanda em escala

mundial e de recessão interna como a vivida no

Brasil, é preciso que a política econômica seja anti-

cíclica e priorize medidas capazes de diminuir os

impactos da crise sobre o emprego e a renda.

Deixar o emprego ao sabor das forças de mercado

em momentos de crise pode trazer resultados eco-

nômicos nefastos. Buscar equilibrar as contas

públicas através de cortes em despesas sociais,

compromete a recuperação. Isso porque, a crise de

demanda só se aguça com essas medidas. Desem-

prego e cortes em despesas sociais acabam apro-

fundando a crise e penalizando mais aqueles que

menos têm.

Um bom exemplo disso é o que vem acontecendo na

maioria dos países da União Europeia. Os ajustes à

lá FMI e Banco Mundial que no passado foram tes-

tados em seus impactos econômicos e sociais nega-

tivos e em sua baixa efetividade na América Latina,

lá repetem resultados igualmente negativos e sem

efetividade. Mesmo diante dessas evidências, os

condutores da política econômica no Brasil fazem

vistas grossas para elas.

O Nobel em Economia Paul Krugman tem sido

uma voz – longe de ser a única – que busca alertar

para o quão fundamental são políticas anticíclicas

que privilegiem o emprego e a demanda. Essa pode

ser estimulada tanto no campo do consumo quanto

no do investimento. Entre ampliar o consumo e o

investimento é sempre mais efetivo a médio prazo,

priorizar investimentos. Melhor que eles sejam

voltados para atividades que gerem empregos já

que esses acabam por aumentar a renda. Aumento

de renda leva a incrementos da demanda que re-

sulta em novos investimentos, instalando-se assim

o chamado ciclo virtuoso do crescimento.

A simplicidade dessa virtuosidade esbarra na

economia política, já que alguns agentes econômi-

cos têm muito mais voz e poder de pressão do que os

demais. No mundo inteiro – e no Brasil de maneira

afrontosa - sabe-se que esse é o caso do mercado

financeiro. Por isso, quando ele está satisfeito, é

porque existem riscos de perdas para o setor

produtivo e para a maioria da população. Eis a sutil

diferença entre importante e fundamental.

IMPORTANTE EFUNDAMENTAL

PERGUNTE A QUEM SABE

UM CATÓLICO QUE VAI PARA OUTRA IGREJA E ÉBATIZADO DE NOVO, FICA COM DOIS BATISMO?

Desde o dia de Pentecostes a Igreja Católica vem administrando o Sacramento do

Batismo a quem crê em Cristo e quer a vida eterna. A Igreja acredita que o Batismo é

um sacramento que não se repete, pois é uma ação de Cristo na Igreja. Por este

sacramento a pessoa renasce para uma vida nova, fazendo de nós filhos e filhas

adotivos do Pai, membros de Cristo, templos do Espírito Santo, incorporando na

Igreja nos configurando com Cristo.

Quando uma pessoa abandona a fé católica e se une a uma outra igreja, é comum

muitas igrejas solicitarem ou exigirem um “novo batismo” como garantia e pertença

àquela instituição. Portanto, na compreensão da Igreja Católica não existem dois ou

É VERDADE QUE O BATISMO PODESER ANULADO?

Uma vez batizado a pessoa recebe uma marca para sempre que não é apagada por

nenhum pecado.

O que se espera de um cristão batizado é que se coloque a serviço das obras de

Deus, participando ativamente da Igreja, exercendo seu sacerdócio batismal pelo

testemunho de uma vida santa na caridade.

Pe Ivo Ferreira Amorim

Pe Ivo Ferreira Amorim

vitória | 45

POR QUE EM DETERMINADOS CASAMENTO SEDISTRIBUI EUCARISTIA PARA OS NOIVOS?

A Igreja ensina a união matrimonial do homem e da mulher, fundamentada na lei do

Criador, se ordena à comunhão e ao bem dos cônjuges e à geração e educação dos

filhos. Trata-se de uma união indissolúvel como Cristo afirmou: “Não separe o que Deus

uniu” (Mc 10,9). Portanto, uma união que supõe uma comunhão de vida a dois, uma

aliança de amor fiel e fecundo no ato humano, consciente e livre.

Para viverem plenamente esta união indissolúvel, a Igreja concede aos noivos que se

uniram em Matrimônio fora da missa, a Sagrada Comunhão expressando a unidade

desse sacramento à mesa da Eucaristia, sustento na vivência da nova missão.

POR QUE PARA RECEBER O SACRAMENTO DOMATRIMÔNIO É NECESSÁRIO CASAR NO CIVIL?

Por prezar muito o bem estar das pessoas, a Igreja Católica agia e age com enorme

cautela para que ninguém seja lesado em seus direitos (Verificar cânone 1071, § 1 e 3).

No Brasil, tanto os direitos de ambos os cônjuges como dos filhos menores dentro de

uma união estável é fortemente tutelado pelo Estado, contudo o Direito Canônico é

universal, não podemos ignorar um artigo de um cânone por não nos parecer necessá-

rio.

Tudo que a Igreja Católica deseja, com tal exigência, é salvaguardar o bem daqueles

que procuram realizar sua celebração matrimonial conforme as normas para um

casamento religioso católico. Está ela também atenta e respeitosa aos que, de alguma

forma estão envolvidos em uma união anterior que acarretou compromissos e respon-

Pe Teodósio Cesar De Aquino

Pe Ivo Ferreira Amorim

ACONTECE

ENCONTRO DAS PASTORAIS SOCIAISPROCISSÃO LUMINOSA

Com o tema “A importância do leigo na superação da violência”, o Encontro das Pastorais Sociais será realizado no dia 09 de junho e é uma oportunidade para celebrar a presença dos cristãos leigos e leigas na Igreja. O encontro, que acontece no Centro de Convenções de Vitória de 8 às 18 horas, é direcionado para os agentes das pastorais sociais e para os agentes dos projetos e ações sociais que atuam ou que já participaram desses projetos na Arquidiocese de Vitória.

Dando continuidade às comemorações do

Jubileu de 60 anos da Arquidiocese de Vitória,

acontece no dia 10 de junho a procissão

luminosa. A saída será às 17 horas da Catedral

Metropolitana de Vitória e seguirá para a

Basílica de Santo Antônio, em Santo Antônio.

A imagem do Padroeiro será levada durante o

trajeto.

MISSA FESTIVAJunho é o mês que a Igreja dedica ao Sagrado Coração de Jesus, e na Arquidiocese de Vitória, os membros do Apostolado da Oração reúnem-se para celebrar uma missa solene no dia 09 (sábado), às 15h, na Catedral Metropolitana de Vitória. Todos são convidados a levarem suas bandeiras e estandartes para este momento de fé e devoção.

CONGRESSO DE CATEQUESE“Como trabalhar com as famílias no

processo de Iniciação à Vida Cristã!” é o tema do Congresso de Catequese que acontece no dia 16 de junho, de 8h às 17 horas, no Auditório do Santuário de Vila Velha. Como assessor, o encontro contará com o Pe. Antonio Francisco Lelo, editor-assistente na área de Liturgia e Catequese na Paulinas Editora. As inscrições podem ser feitas através do e-mail [email protected] até o dia 11 de Junho. O investimento por participante é de R$ 65,00.

DOMUS ITÁLICANOVA ARTE