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No 14/ 2012www.bmfbovespa.com.br/revista No 14/ 2012www.bmfbovespa.com.br/revista

INVESTIDORES

POR QUE OS BRASILEIROS NO POUPAM MAIS

ENTREVISTASMIGUEL ANGEL BRODA, CONSULTOR E ECONOMISTA

LUIS FERNANDO PORTO, DIRETOR PRESIDENTE DA LOCAMERICA

ENSAIOINVESTIR, CONSUMIR E SER FELIZ!

CARTA AO LEITOR

Num perodo de forte turbulncia, derivada da crise do euro, destaca-se a entre-vista do presidente da Locamerica, Luis Fernando Porto, mostrando que empresrios de todos os portes voltam a abrir o capital na Bolsa, atraem investidores e acreditam que o Brasil sair fortalecido, conquistando espao num mundo em dificuldades. Ou-tras empresas, como o banco BTG Pactual e a Unicasa tambm fizeram IPOs neste ano e tm a mesma viso positiva das perspectivas brasileiras. Na entrevista internacional, o economista e consultor Miguel Angel Broda trata do contraste entre as economias brasileira e portenha, mostrando no apenas os aspectos controvertidos da estatiza-o da YPF, mas a importncia de adotar uma poltica econmica convencional, com regras claras e respeito aos contratos, para atrair os investidores internacionais e evitar que o pas se isole do mundo.

A matria de capa desta edio sobre a felicidade, item no qual o Brasil ocupa posio de destaque no ranking mundial. A mobilidade social que propiciou a criao de uma nova classe mdia, assim tratada pelo professor Marcelo Neri, da FGV, tem tudo a ver com isso. E o ensaio do professor Fabio Gallo Garcia, que estuda o tema na FGV/SP, d uma ideia precisa da importncia da satisfao pessoal e dos valores ticos para o bem-estar social.

Entre os temas desta edio tambm esto as dificuldades para formar poupana financeira; o papel crescente dos fundos imobilirios; e a comemorao dos dez anos de duas iniciativas notveis: o programa de popularizao, que atraiu mais de meio mi-lho de investidores individuais para o mercado de capitais, e a Bolsa de Valores Socio-ambientais (BVSA). O livro Sobre a China, do ex-secretrio de Estado norte-americano Henry Kissinger, desvenda os mistrios da diplomacia chinesa, na busca de separar ascenso econmica e poltica das prticas medievais relativas aos direitos humanos.

No Contraponto, Humberto Werneck fala do Mercado Municipal, uma verdadeira instituio da metrpole paulistana.

Boa leitura!

2012 N14

Diretor Presidente: Edemir PintoDiretoria Executiva: Ccero Vieira Neto, Eduardo R. Guardia, Luis Furtado e Marcelo Maziero

Conselho de Administrao: Arminio Fraga Neto Presidente, Pedro Pullen Parente Vice-presidente, Candido Botelho Bracher, Charles P. Carey, Claudio Luiz da Silva Haddad, Jos Roberto Mendona de Barros; Julio de Siqueira Carvalho de Araujo; Luis Stuhlberger, Marcelo

Fernandez Trindade, Renato Diniz Junqueira e Ren Marc Kern

Jornalista responsvel: Alcides FerreiraCoordenao editorial: Fbio Pahim Jr.Editores: Jos Roberto Nassar, Jorge Wahl, Patrcia Brighentie Theo CarnierEdio final: Rose JordoColaboraram nesta edio: Fabio Gallo Garcia, Humberto Werneck e Silvia PenteadoReviso: Rosangela KirstCriao: Rogerio Guerra e Ronald Capristo Trapino

Edio de arte e diagramao: GB8 Design e Editorao Ltda.

Foto da capa: AGNCIA FOTOLIA

A Revista da Nova Bolsa uma publicao trimestral da BM&FBOVESPA.O contedo desta publicao no representa a opinio da Bolsa, nem deve ser interpretado como recomendao de compra ou venda de ativos. Os artigos assinados expressam a opinio de seus autores. proibida a reproduo parcial ou integral de textos contidos nesta publicao.

ISSN 1983-8182

As correspondncias Revista da Nova Bolsa devem ser enviadas para:Rua XV de Novembro, 275 5 andar, So Paulo/SP CEP 01013-001

www.bmfbovespa.com.br/revista e-mail: [email protected]

R E V I S T A D A

U M A P U B L I C A O D A B M & F B O V E S P A

ENTREVISTAS

6 MIGUEL ANGEL BRODA, consultor e economistaA Argentina corre o risco do isolamentoEnquanto os governos de Brasil, Colmbia, Peru e Chile adotam polticas econmicas que abrem as portas para o crescimento, a Argentina estatiza a YPF e mascara os ndices.Paulo Trevisani

12 LUIS FERNANDO PORTO, diretor presidente da LocamericaO IPO ajuda a crescer na criseMesmo empresas de porte mdio podem lanar aese levantar recursos para investir e fortalecer aestrutura de capitais.Silvia Penteado e Theo Carnier

CAPA

18 INVESTIDORESPor que os brasileiros no poupam maisAs empresas e as famlias poupam,enquanto o governo despoupa, ao contrriode pases como a China.Jorge Wahl

22 FELICIDADEO Brasil no topo da satisfao pessoalEstudos da FGV e do Instituto Gallup mostramque o Pas um dos lderes do ranking mundialde felicidade.Jos Roberto Nassar

26 ENSAIOInvestir, consumir e ser feliz!A relao entre renda e felicidade antiga e controversaporque sempre vem mente a pergunta: afinal, o que felicidade?Fabio Gallo Garcia

MERCADO DE CAPITAIS

30 POPULARIZAOOs 10 anos do programaBM&FBOVESPA Vai at VocO programa aproximou o mercado de capitais dos brasileiros, chegando a empresas, universidades, clubes, praias, parques, estaes do metr, feiras e exposies, shoppings e municpios por todo o Brasil.Silvia Penteado

NDICE

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34 IPOSEmpresas retomam a abertura de capitalBTG, Unicasa, Locamerica e CCX fazem ofertasiniciais de aes na Bolsa e reabrem o mercado, em 2012.Theo Carnier

38 FUNDOS IMOBILIRIOSAplicao desperta interesse crescenteOs fundos imobilirios se tornaram a nova febre dos investidores, com a negociao das cotas de 70 fundos, contra 49, h um ano.Theo Carnier

42 RESPONSABILIDADE SOCIALO apoio da BM&FBOVESPA a iniciativas sociais em todo o PasCom a presena da cantora Daniela Mercury, foi lanado o novo portal da Bolsa de Valores Socioambientais da BM&FBOVESPA (BVSA).Silvia Penteado

46 PRMIO WORLD FINANCENa Amrica Latina, a BM&FBOVESPA eleita como a bolsa mais sustentvelA Bolsa foi escolhida em eleio direta de que participaram os leitores da revista financeira britnica World Finance.Theo Carnier

48 AGRONEGCIOPas tem cenrio promissorA dcima primeira edio do seminrio reuniu nomes que so referncia para o agronegcio brasileiro

52 EM REVISTA

56 ON-LINE

62 LIVROS

66 CONTRAPONTOO templo das especiariasO Mercado Municipal Paulistano no apenas uma atrao turstica, mas tem uma riqussima histria e atrai nomes famosos da culinria brasileira.Humberto Werneck

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ENTREVISTAS

MIGUEL ANGEL BRODAEconomista

ARGENTINA CORRE RISCO DE ISOLAMENTO

POR PAULO TREVISANI*

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A voz rouca e os cabelos brancos em torno da calva se encaixam bem no perfil portenho mas o arrazoado econmico e poltico, em tom profes-soral, faz Miguel Angel Broda parecer mais como uma britadeira sobre a Casa Rosada. O economista de 59 anos, nascido e criado na capital argentina, no s estudou como viveu vrias crises e uma sucesso de polticas econmicas em seu pas, e enxerga paralelos preocupantes na situao atual. Mais do que isso, duvida de que o esprito naciona-lista que, na sua viso, est arruinando a economia, possa mudar em breve. Ele v seu pas se isolando do mundo e s enxerga as consequncias nefastas dessa tendncia. Um bom exemplo desse distan-ciamento foi a expropriao da YPF, em abril.

Broda acredita que a Argentina est longe de viver a hiperinflao dos anos Ral Alfonsin, mas v com desgosto as polticas que inibem o investimen-to e aumentam a demanda de dlares, induzindo assim inflao e, pela sua previso, a uma possvel recesso, neste ano. Economista formado pela Uni-versidad Catlica Argentina, em 1966, com Ph.D na Chicago University, em 1972, Broda foi docente da USP de 1972 at 1981. Vive em Buenos Aires, onde atua como consultor, e gosta de citar o Brasil e ou-tros pases sul-americanos para ressaltar o contraste entre a situao atual deles e a da Argentina.

Ideologias parte, enquanto os governos de Brasil, Colmbia, Peru e Chile tm adotado polti-cas econmicas que abrem as portas para o cres-cimento, a Argentina est na contramo, segundo o economista. A seguir, os principais trechos da en-trevista concedida Revista da Nova Bolsa.

Revista da Nova Bolsa A diferena entre o cmbio oficial e o paralelo tem subido na Argentina. Isso o preocupa?

Miguel Angel Broda Sem dvida. Quando a Argen-tina introduziu os controles de cmbio e as limitaes para importar, e mudou algumas das regulamentaes para liquidao das exportaes, gerou um mercado informal, que tem duas partes: um mercado de notas e transferncias, negro; e um mercado a vista com liqui-dao, de operaes brancas. Esse mercado depende crucialmente das taxas esperadas de inflao, de va-lorizao e da diferena entre os mercados chamados paralelos um que formal e outro que informal. Depende tambm, crucialmente, dos controles do go-verno, porque quanto mais limita o acesso ao mercado oficial de cmbio, que est a 4,45 (pesos por dlar), aumenta a demanda por cambiais, nos dois mercados. O problema bsico, na Argentina, a moeda local. Se as empresas no podem transferir dividendos ao Exte-rior pelo mercado oficial, tratam de converter seu ex-cesso de pesos em cambiais atravs do mercado a vista com liquidao; se os indivduos no podem financiar seus gastos de turismo pelo mercado oficial, aumenta a demanda deles no mercado informal. Por isso, temos uma diferena de 33% entre os mercados paralelos os dois e o oficial.

R.N.B. E qual o impacto sobre a inflao?M.A.B. Sem dvida, a diferena afeta a taxa esperada de inflao e afeta claramente a demanda e a oferta agre-gada. Se pensar sobre os efeitos diretos sobre a inflao, h um conjunto de bens negociveis que, sem restries para exportao ou importao, so pagos e cobrados no mercado oficial. Mas tambm h um conjunto de bens que tm restries, e o valor do dlar nos merca-

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O esporte nacional da Argentina substituir moeda local por moeda estrangeira, tanto no estoque de riqueza quanto no fluxo de poupana

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Odos paralelos afeta o preo domstico deles. Tambm

h um conjunto de bens no negociveis cuja expecta-tiva de inflao leva muito em conta o valor dos dla-res paralelos. A verdade que a soma das expectativas de inflao e as expectativas de desvalorizaes, apesar de o mercado paralelo ser bem menor que o oficial, o mercado paralelo, que influencia a tomada de decises. Ou seja, quanto mais alto o paralelo, mais alta a taxa es-perada de inflao e, portanto, o impacto que pode ter sobre a demanda e a oferta agregada.

R.N.B E a tradio da Argentina...M.A.B. A tradio da Argentina um elemento cru-cial, pois sabe-se que o esporte nacional da Argentina substituir moeda local por moeda estrangeira, tanto no estoque de riqueza quanto no fluxo de poupana. Assim, uma preocupao quando aumenta o spread (do cmbio), que afeta tambm a poltica oficial. Nas ltimas semanas, o governo est acelerando a taxa de desvalorizao, em parte por causa da desvalorizao do real e em parte pelo aumento da diferena entre os mercados paralelos e o oficial. Isso tem efeitos nominais e reais muito grandes, porque a ampliao da distncia aumenta o estmulo a subfaturar exportaes ou super-faturar importaes, e isso se nota na balana comercial do mercado oficial. Essa mais uma distoro que pesa no s sobre a taxa de inflao, como tambm sobre o nvel de atividade e de demanda agregada: quanto mais alta a diferena, mais temor as pessoas tm e mais aumenta a poupana privada ou a queda de consumo, apesar da poltica monetria e fiscal muito expansionis-ta do governo. Tambm cai o investimento, porque um mesmo lucro em pesos cada vez menor em dlares no paralelo, conforme cresce o spread. Tambm afeta o movimento do mercado imobilirio e o valor das em-presas na Argentina, porque o comprador quer pagar ao cmbio oficial e o vendedor quer vender ao cmbio negro. E h queda no volume de transaes algo que criamos com os controles, que deixam todo mundo com medo de no ter dlares ou no poder compr-los.

R.N.B. O senhor j viu isso acontecer na Argenti-na no passado, no?M.A.B. A Argentina um pas que comeou com controle de cmbios em 1933, que manteve at 1989, com a hiperinflao de Ral Alfonsn e em 56 anos, desde 1933, tivemos mercados paralelos. Tivemos spreads de todos os nveis. Nesses 56 anos h cinco etapas. Em cada uma delas, tivemos spreads mdios de

20%, 40%, 60%, com o spread mximo acima de 300%. A histria da Argentina demonstra trs coisas: os spreads no so transitrios, duram muito; tm pouco a ver com o cmbio real, porque tivemos overshootings muito grandes em relao a qualquer cmbio de equilbrio que se pudesse conseguir; e poucas vezes caem devido a uma baixa do dlar paralelo caem quando se ajusta o piso, ou seja, o dlar oficial. E a outra coisa que a histria mostra que qualquer mudana no dlar oficial s altera o spread se for parte de um programa mais amplo que afete as ex-pectativas das pessoas. Ou seja: no se pode afetar seria-mente o spread apenas acelerando a desvalorizao do cmbio oficial. crucial para (combater) a diferena a velocidade pela qual se emite pesos; a maneira como se comporta a demanda de pesos que depende das taxas

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ENTREVISTAS

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A Argentina necessita de um programa

confivel para reduzir a taxa de inflao e

precisa acelerar a taxa de desvalorizao

porque o peso est valorizado demais

esperadas de inflao e de desvalorizao e da taxa de juros nominal com a qual se remuneram os pesos; e tambm depende dos contro-les do governo. Quando o governo, h uma semana (14 a18/5), se assustou quando o spread passou de 10% para 25%, em vez de dimi-nuir a expanso monetria ou subir os juros, ou anunciar um progra-ma para reduzir a taxa esperada de inflao, o que fez foi fechar quase totalmente o acesso compra de dlares no cmbio oficial, com o que o spread passou de 25% para 33%. Obviamente, os efeitos cola-terais dos controles so estimulantes para que o spread suba.

R.N.B. As medidas contra a hiperinflao no governo de Ral Alfonsn acabaram levando dolarizao da economia que, por sua vez, levou crise da moratria. O que deve ser feito para evi-tar erros do passado?M.A.B. O problema bsico que a Argentina teve um crescimen-to muito bom; durante oito anos cresceu a 7%. Foi resultado das condies iniciais, de extraordinrios termos de intercmbio, e, tambm, produto de uma poltica monetria e fiscal expansiva que, dadas as condies iniciais, foi adequada para o nvel de atividade e de emprego. Mas a verdade que o modelo populista nacional s tem acelerador. Em qualquer parte do ciclo, as polticas fiscal e mo-netria tm sido fortemente expansivas. Alm disso, o governo cr que o tamanho do Estado tem de crescer, pelo menos, em propor-o ao PIB, 2% ao ano. H que se dar conta de que, quando Nstor Kirchner chegou ao poder, o gasto pblico era de 29% do PIB, hoje de 45% e continua crescendo. E temos uma estratgia de crescente interveno do Estado na economia substituindo os resultados de mercado que no lhe agradam. As polticas expansivas da histria argentina sempre terminam com trs restries: a inflao se acele-ra; temos problemas no setor externo, ou seja, excesso de demanda de dlares; e dificuldades para financiar o dficit fiscal. A Argen-tina teve sorte por esse ciclo ter durado oito anos, em parte pelas condies iniciais, pela recesso de 2009 e pela alta extraordinria do preo da soja. J as polticas exageradamente expansivas do ano eleitoral de 2011 produziram excesso de demanda de dlares. Isso causou a perda de reservas quando todos os pases da Amrica Lati-na enfrentavam o problema oposto, que era o tsunami das entradas de capital. Alm disso, 90% da necessidade de financiamento do governo era suprida pelo Banco Central, que tinha um estatuto que impunha alguns limites leves ao financiamento do Tesouro por isso, foi mudado o estatuto e agora no h nenhum limite para o BC financiar o Tesouro. Enfrentamos o que habitualmente acontece na histria, os ciclos de stop-and-go. No resto do mundo, quando faltam divisas, voc desvaloriza, pede emprestado ou atrai investi-mentos. A Argentina decidiu controlar, perder a conversibilidade do peso, reduzir as importaes com travas fortssimas. Tornou-se lder mundial em protecionismo. Alm disso, resolveu mudar total-mente as regras do jogo e aumentar as expectativas de inflao com a reforma do Banco Central.

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A Argentina teve sorte por esse ciclo (de crescimento) ter durado oito anos, em parte pelas condies iniciais, pela recesso de 2009 e pela alta extraordinria do preo da soja

R.N.B. A Argentina est na contramo da economia mundial?M.A.B. Sim, claro. A desacelerao atual da Argentina no tem nada a ver com o mundo. resultado das decises tomadas por um governo extraordinariamente controlador e intervencionista. Para se ter uma ideia, o pas estava crescendo 10% no primeiro semestre de 2011. Pelos dados oficiais, que servem de indicadores para o cres-cimento do PIB, o primeiro trimestre deste ano teve crescimento de 0,5%. A Argentina est tendo um hard landing. A verdade que nas seis ltimas semanas, para as quais no h dados, muito provvel que a economia esteja ao redor de velocidade zero.

R.N.B. Isso um risco para os vizinhos da Amrica do Sul?M.A.B. Influi negativamente sobre Uruguai e Paraguai, mas o ris-co da Amrica Latina muito mais ligado a como resolver o proble-ma da Grcia e do sistema bancrio espanhol do que Argentina. Mas, claramente, a Argentina est tendo um primeiro semestre em que devemos crescer menos do que 1%, taxa anualizada. Isso im-plica que os nmeros reais que podem no ser os oficiaisporque a Argentina mente tambm sobre o PIB, no s sobre os ndices de preo , podemos crescer entre 2% e 3% neste ano. Na comparao do quarto trimestre deste ano com o do ano passado, vamos estar muito prximos de zero. Essa desacelerao resulta de muitas deci-ses de poltica econmica dos ltimos oito anos e tambm do no-tvel aumento da incerteza, do custo de capital e do risco argentino, causado pela bateria de decises tomadas no segundo governo de Cristina, inclusive o confisco da YPF. A deteriorao dos ndices de confiana do consumidor e de expectativa dos empresrios muito mais violenta do que a desacelerao do nvel de atividade o que tem muito a ver com as decises de poltica econmica. A hiper-presidenta trata de explicar que isso se deve crise mundial. Mas a Argentina est diferente do resto da Amrica Latina. Provavelmente, estamos pagando pelos erros de poltica econmica, agravados nos ltimos cinco ou seis meses.

R.N.B. O senhor mencionou a falta de confiabilidade nos n-meros oficiais do governo argentino. Como o setor privado lida com essa falta de informao ao embasar seus planos?M.A.B. Em relao aos nmeros de inflao, para ter uma ideia, no h ningum que ligue para os nmeros do Indec (Institu-to Nacional de Estatsticas). O ndice oficial de abril a abril foi de 9,8%. No informe mensal do custo de vida na Argentina nem inclumos a srie do Indec. Inclumos clculos da inflao verda-deira, que est dando 22%, abril contra abril, com leve tendncia ascendente nos ltimos dois meses. Faz 14 meses que a Argenti-na tem 22% de inflao. Agora, ningum usa o indicador oficial, h diversos indicadores, cada economista faz seu prprio ndice. Ns usamos os ndices pro-vinciais, os ndices publicados por algumas instituies que, se as nomear aqui, provavelmente vo ter problemas legais. Em relao

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A Argentina est diferente do resto

da Amrica Latina. Estamos pagando

pelos erros de poltica econmica, agravados

nos ltimos cinco ou seis meses

ao nvel de atividade, crescente o nmero de empresas que, para fazer seus oramentos anuais, j no usam os nmeros oficiais do Indec. Mas isso no to generalizado quanto no caso da inflao. Por exemplo, ns e algumas outras instituies fizemos um trabalho de reconstruir as contas nacionais desde 1993 e o nvel do PIB da Argentina 7% a 8% menor do que o que o governo divulga. Por exemplo, em 2009, o governo divulgou alta de 0,9% do PIB, enquan-to o nmero verdadeiro foi negativo em 2,5%. No ano passado, o governo deu 8,9% de crescimento, e o nmero verdadeiro foi 7,1%. Neste ano, provvel que o nmero verdadeiro fique entre 2% e 3%, se o pas no entrar em recesso; e o nmero oficial ser provavel-mente acima de 4%. A diferena geralmente de 1,5% a 2% ao ano entre o nmero verdadeiro e o oficial. Mas crescente a utilizao de ndices do setor privado e no os oficiais.

R.N.B. Se a economia entrar em recesso com inflao acima de 20% e poltica j expansionista, como o senhor disse, que mecanismos o governo teria para reanimar a economia?M.A.B. O governo sempre optou por acelerar a expansividade da poltica fiscal e de sua escrava, a poltica monetria. O governo acredita muito que a desacelerao do crdito ao setor privado que estamos vendo nos ltimos meses possa mudar no segundo semes-tre, sobretudo com linhas de redesconto do Banco Central para setores especficos; e a verdade que ns estamos prevendo ace-lerao do crescimento do gasto pblico, que hoje est em torno de 32%, 33% em termos nominais. O que no acreditamos que isso ter algum efeito importante no nvel de atividade e emprego. Acreditamos que, provavelmente, as polticas expansivas tenham multiplicadores prximos de zero, porque a desconfiana do se-tor privado tem crescido tanto que polticas do setor pblico so neutralizadas pela apreenso, pelo aumento da poupana e pela queda do investimento do setor privado. Assim, no acreditamos que polticas expansivas consigam acelerar a taxa de crescimento da Argentina, ainda que no segundo semestre, provavelmente, te-nhamos taxa de crescimento ano a ano levemente melhores que as prximas de zero que temos no momento.

R.N.B. Quais seriam as sadas possveis?M.A.B. A Argentina j teve muitos excessos de polticas expan-sionistas. Em 1952, por exemplo, tivemos o general Juan Domin-gos Pern e seu programa antiinflacionrio e de atrao do inves-timento estrangeiro. Atualmente, isso muito pouco provvel. A Argentina no sabe para onde vai. H alguns elementos ideo-lgicos de aumento do papel do Estado e do tamanho do Estado como elemento bsico do nacional-populismo, mas estamos numa situao em que estamos desesperados para aumentar a produo de petrleo e gs. Faz mais de trs meses que est suspenso o pro-grama Petrleo Plus (que incentiva a nova produo de petrleo e gs), pelo qual os exportadores, em vez de conseguir US$42 (por

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barril exportado) como agora, poderiam obter US$65 ou US$70. Na semana passada, eliminaram os crditos fiscais para explorao de petrleo na Terra do Fogo. Estamos desesperados por divisas e cortamos o prazo de liquidao das exportaes, da liquidao de divisas, com o que se debilita a posio competitiva dos exporta-dores argentinos. Mas, em vez de ir sia com 300 conselheiros econmicos vender qualquer coisa, vamos a Angola. A Argentina necessita um programa confivel para reduzir a taxa de inflao e precisa acelerar a taxa de desvalorizao porque o peso est valo-rizado demais, num contexto de gerarmos incentivo para aumento do investimento e de um Estado que ataque a m distribuio de riqueza e a pobreza. Isso o que pensaria qualquer ministro da Fazenda e presidente do Banco Central em qualquer dos pases latino-americanos integrados ao mundo, mas no numa adminis-trao que no entende os sistemas de incentivos que o sistema capitalista tem para crescer.

R.N.B. Se as barreiras s polticas econmicas que o senhor recomenda so ideolgicas, quais so as possibilidades de que sejam removidas no curto prazo? H alguma corrente poltica forte o bastante para tal mudana?M.A.B. No. Creio que as probabilidades sejam mnimas, dado o contedo ideolgico da presidenta e da centralizao das deci-ses no poder no Executivo. No vejo seno um aprofundamento do modelo intervencionista no algo parecido com o que fariam as administraes de ( Jun Manuel) Santos (presidente da Colm-bia), de (Ollanta) Humala (Peru), de Dilma (Rousseff), de ( Jos) Piera (Chile), seja qual for sua orientao ideolgica. Eu vejo certo desprezo pelo que se deve fazer macroeconomicamente.

R.N.B. O senhor teme tambm pelas relaes externas da Ar-gentina com os pases vizinhos? A Petrobras, por exemplo, j informou s autoridades do mercado que v mais riscos no pas, o que pode inibir os investimentos da estatal brasileira na Ar-gentina.M.A.B. A Argentina est se isolando do mundo. Sem dvida que, para todas as empresas petrolferas, o risco de perder reas cresceu. A Argentina est debilitando as relaes com os vizinhos, por isso no conseguiu, na reunio de Cartagena, uma deciso unnime em favor das Malvinas, o que para a Argentina muito importante. Esta-mos travando as importaes do Uruguai e do Paraguai com o Bra-sil, diferente. Mas essas medidas protecionistas tm efeito negativo sobre os vizinhos. A Argentina tambm sofreu retaliaes de alguns pases da Europa pela forma como desapropriou a YPF.

*PAULO TREVISANI JORNALISTA BRASILEIRO RADICADO EM NOVA YORK.

A Argentina est se isolando do mundo. As medidas protecionistas tm efeito negativo sobre os vizinhos. Tambm est sofrendo retaliaes de alguns pases da Europa

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ENTREVISTAS

LUIS FERNANDO PORTOPresidente da Locamerica

O IPO AJUDA A CRESCER NA CRISEPOR SILVIA PENTEADO E THEO CARNIER*

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Como diretor presidente da Locamerica, Luis Fernando Porto comandou, em abril, a abertura do capital da empresa a que mais cresceu no setor de terceirizao de frotas nos ltimos anos e a segunda maior do setor no Pas em nmero de veculos e lanou as aes no Novo Mercado, o segmento de mais alta governana corporativa da BM&FBOVESPA e captou R$156 milhes. Os recur-sos sero empregados no fortalecimento da estru-tura de capital e na expanso da frota. Meu DNA e do meu scio, Srgio Resende, sempre foi a de acelerar, nunca recolher. Presumindo que os recur-sos sero empregados com cautela, a agncia de classificao de riscos Fitch elevou a nota da com-panhia de BBB+ para A-.

Abrir o capital amplia os horizontes de uma empresa como a Locamerica. Mas, em geral, um passo difcil para o pequeno e o mdio empresrio, afirma Porto. Abrir mo do controle total da em-presa e compartilhar as decises estratgicas so aspectos que assustam. Alm disso, h o custo. A implantao de uma governana corporativa um processo duro e dispendioso. Tambm necessrio profissionalizar a gesto, os processos e auditar os nmeros, o que pode desanimar o empresrio.

A Locamerica atua no mercado de terceiriza-o de frotas para empresas um segmento que cresceu 12% ao ano nos ltimos trs anos desde customizao at planejamento e gesto. Tem 27 filiais no Pas e uma frota de 29 mil veculos: mo-tos, carros populares, carros executivos, blindados, utilitrios e caminhes. So mais de 200 clientes de diversos setores e de todos os portes. Mais im-portante do que ter 29 mil carros ter 29 mil carros andando bem, ressalta.

Mineiro de Patos de Minas, Porto formou-se em Administrao em Belo Horizonte e, em 1993, fun-dou com Srgio Resende e com apenas 16 carros a Locarvel, j no setor de terceirizao de frotas. De l para c, eles no pararam de crescer, investin-do e adquirindo empresas de menor porte.

Em agosto de 2008, num golpe de sorte, Fer-nando e Srgio se associaram BV Empreendimen-tos, que injetou R$110 milhes na empresa. Um ms depois, eclodiu a crise financeira internacional, que alterou drasticamente o cenrio econmico e afetou fortemente o negcio da empresa. O pro-cesso de private equity com o Banco Votorantim nos deu uma slida posio financeira e, com isso, conseguimos crescer e investir numa poca em que muitas empresas se afundaram em dvidas e algumas quebraram. Ao contrrio, diz ele, ns es-tvamos preparados, conseguimos honrar nossos compromissos e continuar investindo no negcio, o que garantiu o crescimento da companhia. De 2009 para 2010, mesmo com a crise, a frota da em-presa cresceu 25%, chegando aos 20.550 veculos. A abertura de capital j estava, ento, sendo co-gitada. O aporte, enfatiza, foi fundamental para o projeto de abertura da empresa. Com o mesmo objetivo foram feitas cinco emisses de debntures entre 2009 e 2012. Os resultados apareceram nas demonstraes financeiras de 2011.

A empresa alongou os prazos de novas cap-taes e aumentou em 23% o caixa, reduzindo a dvida de curto prazo em 37%, relativamente a 2010. Entre 2010 e 2011, o Ebitda aumentou 42%, de R$109 milhes para R$155 milhes. A frota cres-ceu 24,4% e o faturamento, 26%, na comparao com 2010. Os investimentos em expanso e reno-

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Comeamos a pensar na Bolsa em 2005, quando o lder do nosso segmento abriu o capital; e comeamos a auditar os nossos nmeros e a fazer um diagnstico do que precisvamos para chegar ao mercado de capitais

Revista da Nova Bolsa Quando vocs comearam a pensar na abertura de capital como opo? Por que lanar aes na Bolsa?Luis Fernando Porto Comeamos a pensar na Bol-sa em 2005, quando a lder do nosso setor abriu seu capital. Naquele ano, j comeamos a auditar os nos-sos nmeros e a fazer um diagnstico do que preci-svamos para chegar ao mercado de capitais. Estava comeando, no Brasil, o boom de IPOs. Em 2007, em-presas com crescimento da ordem de 40%, 50%, inde-pendentemente do tamanho e do segmento, j estavam pr-qualificadas a ir ao mercado de capitais e esse era o nosso cenrio. Crescamos 56% ao ano, em mdia, e comeamos a ser assediados por bancos de investimen-to. No final de 2007, houve uma crise que paralisou o mercado.Naquele momento tnhamos dois caminhos: recuar ou buscar um fundo de investimento. Escolhe-mos a segunda opo. Em nenhum momento na nossa histria pensamos em frear nossa expanso. Fechamos com o Banco Votorantim em agosto de 2008. Isso aconteceu em um momento importante, pois no ms seguinte a crise financeira internacional alterou dras-ticamente o cenrio econmico e afetou fortemente nosso negcio. Com nossa alavancagem mais bem es-truturada, conseguimos continuar crescendo e, dessa forma, promover uma reestruturao na companhia que culminou com o IPO em abril deste ano.

R.N.B. Como a Locamerica foi preparada para o lanamento de aes? L.F.P. Foram quatro anos de preparao, iniciados em 2008, quando recebemos o aporte de capital do brao de private equity do Banco Votorantim. A partir da, comeamos a primeira etapa de um grande proje-to para nos tornarmos uma das maiores empresas do

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NIvao da frota somaram R$313 milhes; o lucro

lquido atingiu R$22,5 milhes, quase o dobro do registrado em 2010; e a receita lquida subiu 26,4%, para R$390,7 milhes. Aumento resultante, princi-palmente, da alta de 39,2%, ou R$85 milhes, na receita com locao de veculos.

Porto afirma que trabalha por prazer, no s por dinheiro. Dessa vida a gente s leva a vida que a gente leva, filosofa. Sou um empresrio feliz, sou um homem feliz, amo o que fao. A seguir, ele con-ta um pouco da trajetria de sucesso de sua em-presa e dos planos daqui para frente.

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ENTREVISTAS

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Investimos fortemente em

gesto e governana e concentramos

nossa preocupao em trs pilares:

rentabilidade, gente e clientes

mercado de terceirizao de frotas do Brasil. Entre 2009 e 2012, fizemos cinco emisses de debntures dentro de uma estratgia fi-nanceira que buscava o alongamento da dvida, a manuteno de liquidez alta e a reduo de garantias. Iniciamos, ento, um proces-so de profissionalizao buscando extrair o mximo da combinao entre o conhecimento dos scios-fundadores, com 19 anos de atua-o exclusiva no setor, e uma nova viso de gesto e finanas trazida pelos novos scios e executivos contratados.

R.N.B. Desde o incio desse processo a ideia era entrar no Novo Mercado?L.F.P. Sim. A estratgia que adotamos levava naturalmente im-plantao das melhores prticas de governana corporativa. Passa-mos a exercer algumas atividades fundamentais para a manuteno da transparncia, como reunies mensais do Conselho de Adminis-trao, com a participao de um conselheiro independente, demons-traes financeiras trimestrais auditadas, formao dos comits de precificao de locao, venda de seminovos e comit de gente, com a participao de acionistas, conselheiros e dos principais executivos das reas envolvidas. Nesse perodo, tambm desenvolvemos forte disciplina financeira e operacional, fruto de um modelo de gesto mo-derno. Fomos buscar as melhores ferramentas disponveis no mer-cado. Nossos balanos so auditados por empresa de primeira linha, temos planejamento estratgico com desdobramento das diretrizes e acompanhamento de metas, gerenciamento da rotina, padronizao dos processos com painis de controle, escritrio de projetos com metodologia PMO, oramento base zero em funcionamento h trs anos, alm do programa de excelncia que acaba de ser implantado. Com tudo isso, demos um salto de eficincia, com reduo de custo e tempo de execuo dos processos e nos tornamos uma empresa trans-parente e preparada para a segunda fase do projeto que se iniciou com nossa chegada ao mercado de capitais.

R.N.B. Vocs decidiram manter o IPO mesmo aps a ao ter sido precificada 18,2% abaixo do piso inicial? L.F.P. Decidimos manter porque, em momento algum, pensamos em projetos pessoais. Entendemos que era um bom momento e que a companhia estava preparada para dar esse importante passo. Acredito ser natural esse pequeno desconto j que a Bolsa ficou um bom tempo sem IPOs. Alm disso, os benefcios com a abertura de capital sero muito maiores do que a reduo que tivemos na precificao. R.N.B. Quais as principais dificuldades para que pequenas e mdias empresas abram capital?L.F.P. A deciso de abrir mo do controle total da empresa e com-partilhar as decises estratgicas pode assustar o pequeno e o mdio empresrio. No entanto, acredito que um dos principais entraves chegada dessas empresas na Bolsa o custo para abrir capital. A implantao de uma governana corporativa um processo duro e

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Pretendemos utilizar uma parcela dos recursos do IPO para fortalecer a estrutura de capital, reduzindo o custo financeiro pela contratao de um volume menor de financiamentos com taxas de juro e prazos de vencimento mais atrativos

dispendioso. Tambm necessrio profissionalizar a gesto, os pro-cessos e auditar os nmeros, o que pode desanimar o empresrio.

R.N.B. De 2009 para 2010, a frota da Locamerica cresceu 25% e chegou aos 20.550 veculos. Como crescer mesmo em meio s incertezas provocadas pela crise financeira internacional?L.F.P. O processo de private equity com o Banco Votorantim nos deu uma slida posio financeira e, com isso, conseguimos crescer e investir numa poca em que muitas empresas se afundaram em dvidas e algumas quebraram. Ns, ao contrrio, estvamos prepa-rados e conseguimos honrar nossos compromissos e continuar in-vestindo no negcio, o que garantiu o crescimento da companhia.

R.N.B. Qual o segredo para crescer mantendo a boa sade financeira? Nos ltimos trs anos, a Locamerica dobrou de ta-manho: passou de 350 para 660 funcionrios e de 15 mil carros para 29 mil. L.F.P. Investimos fortemente em gesto e governana e concen-tramos nossa preocupao em trs pilares: rentabilidade crescer com rentabilidade muito mais importante e o que faz a compa-nhia continuar investindo; gente est difcil atrair e reter talentos, por isso ns procuramos oferecer os melhores benefcios, excelente clima organizacional, salrios alinhados com o mercado e quere-mos, nos prximos dois anos, estar entre as melhores empresas para se trabalhar; e nossos clientes monitoramos o ndice de satisfao, com pesquisas de institutos independentes. Nosso objetivo man-ter uma posio de liderana no atendimento do cliente ao longo dos prximos anos.

R.N.B. Quando traaram a estratgia do lanamento de aes imaginavam que obteriam to rapidamente elevao do rating? Pois o rating nacional de longo prazo da companhia subiu para A-, o que enquadrou a Locamerica no novo patamar de investment grade de empresas de alta qualidade de crdito pela Fitch Ratings.L.F.P. Sim, espervamos. A melhoria na classificao resultado de constantes investimentos e de forte disciplina financeira que bus-ca a reduo da alavancagem, o alongamento do perfil da dvida, di-minuio de garantias e aumento da liquidez. O IPO foi uma etapa importante desse processo e coroou esse momento. Ficamos muito felizes em poder compartilhar com o mercado essa boa notcia.

R.N.B. Em 2013, a Locamerica completa 20 anos. Quando vocs fundaram a empresa imaginavam que chegaria aonde chegou? L.F.P. No, jamais imaginaramos. Comeamos em 1993 com 16 carros e foi um longo caminho percorrido para chegar aos atuais 29 mil. Em 2000, nosso negcio comeou a se expandir fortemente, mas eu e meu scio ainda no tnhamos ideia da proporo que po-deria tomar. Naquele ano, comeamos a expanso nacional da Lo-camerica, abrindo a filial no Rio de Janeiro. Tnhamos 400 carros.

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Com uma estrutura de capital slida,

aliada cultura de baixo custo, ser

possvel viabilizar a estratgia de forte

crescimento e riscos controlados

Dois meses depois, compramos uma segunda locadora e, com isso, o negcio cresceu 50%. Foi uma grande experincia porque, quando abrirmos a filial no Rio, ainda no tnhamos ideia de como adminis-trar a distncia. Ao longo dos anos, isso foi se tornando natural e continuamos a expanso. Em 2002, abrimos a filial em So Paulo e foi uma grande escola, pois no mercado paulista existe uma compe-tio de preo brutal. Somente em 2005, quando a lder do mercado abriu capital, tivemos acesso s informaes de um concorrente e do mercado. Isso no existia antes. Foi quando vislumbramos que, para crescer, precisaramos de mais capital e samos em busca de parceiros para chegarmos onde estamos hoje.

R.N.B. Houve mudanas de rumo durante esses anos?L.F.P. Houve alguns ajustes, mas no mudamos de rumo. O nos-so negcio era terceirizao de frotas desde o incio e ns sempre nos preocupamos em qualificar nossos processos para garantir o seu fortalecimento.

R.N.B. Quais as perspectivas para o setor de locao no Brasil?L.F.P. Nos ltimos anos, o mercado de locao de frotas cresceu, em mdia, 12%, e deve continuar crescendo acima dos dois dgitos nos prximos anos. Estamos falando de um mercado que existe no Pas h apenas 40 anos e bastante pulverizado, com baixa pene-trao. Desta forma, h boa perspectiva para as empresas que esto bem posicionadas nesse mercado e que possuem boa gesto e disci-plina financeira.

R.N.B. Quais as principais dificuldades desse setor?L.F.P. O setor de terceirizao de frotas ainda muito novo no Brasil e parte das empresas que atuam na rea no tem expertise nes-se mercado, fato que, s vezes, nos faz competir com concorrentes irracionais. Falta mo de obra qualificada. Alm disso, mudanas inesperadas nas regras estabelecidas pelo governo, muitas vezes, im-pactam negativamente no setor.

R.N.B. O setor de administrao de frota mais atraente do que a locao pura e simples? Por que o escolheram? L.F.P. A nossa atuao no setor de terceirizao de frota no est baseada na questo de atratividade. Escolhemos a terceirizao de frotas porque entendemos que um negcio mais previsvel e com maior potencial de crescimento.

R.N.B. Qual a sua expectativa? H espao para crescimento nesse setor? L.F.P. As empresas brasileiras esto comeando a enxergar as vantagens da terceirizao de frotas. O grande atrativo que quem escolhe esse servio no precisa se preocupar com manu-teno de veculos, pagamento de IPVA, administrao de sinis-tros, licenciamentos, sem contar a reduo das tarefas adminis-

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trativas. Desta forma, ela pode focar em pontos mais estratgicos de sua empresa. Essa nova viso j est se refletindo no mercado. Basta ver o avano dos ltimos anos. E o potencial de crescimen-to e consolidao das grandes empresas de terceirizao de frotas enorme, se considerarmos que nos Estados Unidos, por exemplo, 90% da frota terceirizada est concentrada nas mos de quatro gran-des empresas. No Brasil, apenas 32% esto nas mos de grandes em-presas, os 68% restantes esto pulverizados em empresas menores.

R.N.B. Em que sero investidos os recursos obtidos com o lanamento das aes? Quais os seus planos para a empresa? Crescer mais? Diversificar? Internacionalizar?L.F.P. Pretendemos utilizar uma parcela dos recursos de nossa oferta pblica inicial de aes para fortalecer a nossa estrutura de capital, reduzindo nosso custo financeiro pela contratao de um volume menor de financiamentos com taxas de juro e prazos de ven-cimento mais atrativos. A outra parte ser utilizada para expandir a frota. No momento, no pensamos em internacionalizar, pois o Brasil vive um perodo de crescimento surpreendente, tem boa po-sio em relao ao mundo e um mercado que cresce 12%. Olhar para o mercado internacional pode ser uma demanda de energia desnecessria. Oportunidades e desafios sero estudados e enfren-tados, caso apaream, mas no temos essa opo como estratgia neste momento. Acreditamos que uma estrutura de capital slida, aliada a nossa cultura de baixo custo, nos deixar mais fortes e viabi-lizar a manuteno da nossa estratgia de forte crescimento e riscos controlados. Estamos preparados para aumentar nosso volume de negcios e melhorar nossa lucratividade.

R.N.B. Em entrevista recente, o senhor disse que no trabalha mais por dinheiro, s por prazer. possvel ser um empresrio bem-sucedido trabalhando por prazer?L.F.P. Dediquei muito da minha vida aos meus negcios porque, no tenho dvida nenhuma, encontrei o que eu amo fazer. Em uma primeira etapa da empresa, trabalhava buscando apenas o dinhei-ro. A partir do momento que comecei a vislumbrar o futuro de um grande projeto e, ao olhar para trs, vi quanto a empresa havia cres-cido em 19 anos, senti muito orgulho. Isso muito gratificante por-que voc transcende um pouco o simples ganhar dinheiro e comea a pensar seu negcio visando uma srie de fatores e no s o finan-ceiro. O dinheiro vem muito mais fcil quando se pensa assim. Sa-crifiquei algumas coisas na minha vida pessoal, mas por algo que eu amo fazer e que eu fao com muito carinho, com muita dedicao. Foram muitos finais de semana de trabalho, muitas noites saindo da Locamerica de madrugada e voltando s 7h, mas valeu e continua valendo a pena. No faria nada diferente. Vendo aonde chegamos tenho vontade de fazer mais e melhor.

*SILVIA PENTEADO E THEO CARNIER SO JORNALISTAS.

Pretendemos utilizar uma parcela dos recursos de nossa oferta pblica inicial de aes para fortalecer nossa estrutura de capital, reduzindo nosso custo financeiro pela contratao de um volume menor de financiamentos com taxas de juro e prazos de vencimento mais atrativos

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MERCADO DE CAPITAISMERCADO DE CAPITAIS

POR QUE OS BRASILEIROS NO POUPAM MAIS

Mais renda, aumento da massa salarial, desemprego baixssimo e oferta de crdito produziram, at h pouco, recordes no consumo, de eletrnicos e carros a imveis um movimento que, de resto, indispensvel ao avano dos negcios e da prpria economia

POR JORGE WAHL* FOTO AGNCIA FOTOLIA

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Quem olha com ligeireza a euforia dos shop-pings centers tentado a afirmar que o bra-sileiro tpico um prdigo irresponsvel e a repetir que, como sempre, estamos nos endividando alm da conta. A preocupao pode ser exagerada, mas tem sua razo de ser: o Brasil ainda poupa pouco, so-bretudo, nas chamadas aplicaes de risco. Se as famlias comeam a se educar para gerir melhor seu oramento, com mais equilbrio entre o que reservam para poupar e o que destinam ao consumo, ainda falta muito para que se atinja um patamar satisfatrio de poupana.

No , naturalmente, o caso de comparar com os asiticos, em geral, herdeiros de uma tradio milenar de temperana, muito menos com a China, que, com baixos salrios, sem previdncia oficial e seguro-sade (sem proteo na velhice, portanto), eleva a poupana quase a metade do PIB. preciso distinguir a trs situa-es: a poupana das pessoas e das famlias; a poupana das empresas; e a despoupana do setor pblico.

Quando se considera o conjunto do setor privado, a situao melhor. Mas, entre as pessoas e famlias, come-a a despertar a conscincia da importncia de incentivar e fazer crescer a poupana.

Na virada de 2011 para 2012, pesquisa do Institu-to Data Popular mostrou que os brasileiros pretendiam poupar apenas 18,2% da segunda parcela do 13 salrio. Ou guardar R$21,5 bilhes na caderneta de poupana ou em outros produtos do mercado financeiro e de captais. Quase a metade dessa poupana ou R$10,7 bilhes viria da chamada nova classe mdia. Esses recursos po-dem ser teis para minimizar eventuais impactos da crise internacional na vida dos brasileiros, resumiu Renato Meirelles, scio-diretor do Data Popular.

Outra pesquisa, realizada pelo Ibope Inteligncia, em 2011, mostrou que, num mundo em transformao, as respostas, com frequncia, j no so as mesmas de anos atrs. A relao do brasileiro com o ato de poupar est mudando, sugerem alguns nmeros. O levantamen-to, produzido a pedido da Associao Brasileira das Enti-dades dos Mercados Financeiro e de Capitais (Anbima), mostrou que, entre 1995 e 2011, por exemplo, caiu de 65% para 51% o contingente de brasileiros que no realiza qualquer tipo de investimento. uma mudana significa-tiva, em seis anos, revelando que h terreno para explorar.

POUPANA E FUTURO

vista de sua evoluo nos ltimos anos, o dina-mismo dos mercados brasileiros fala por si. Confirma o interesse das pessoas e instituies por aplicaes, em

contraste com a crise na Europa e nos Estados Unidos. E isso se explica pelas melhores perspectivas no Brasil. Em 2011, segundo a Anbima, os gestores de fundos de investimento contabilizaram carteiras administradas de R$1,925 trilho, 16,07% mais do que em 2010.

A indstria brasileira de fundos ocupa o sexto lugar no mercado global, com 4,3% de market share (parti-cipao nos fundos de todo o mundo). A posio rela-tiva do Pas mudou: nos ltimos quatro anos, o Brasil cresceu 82,7% em participao nos negcios em escala mundial, e est mais perto do terceiro colocado, a Fran-a no ser surpresa se esta for alcanada at 2016.

Em 2011, o volume financeiro no segmento Boves-pa, ou seja, relativo a operaes com aes, alcanou a marca de R$1,61 trilho,resultado superior ao de 2010 e novo recorde histrico. As aes foram, na ltima d-cada, um dos ativos que mais cresceram entre os instru-mentos de captao de poupana o market capitaliza-tion, ou indicador da capitalizao medido pelo valor das aes negociadas, passou de 31,6% do PIB, em 2000, para 59,1%, em 2011, segundo o Centro de Estudos do Mercado de Capitais (Cemec), instituio dirigida pelo economista e estudioso do setor, Carlos Antonio Rocca, da USP. Em abril ltimo, o market capitalization das 373 aes negociadas na Bolsa era de R$2,47 trilhes.

QUEM APLICA EM AES

Um balano dos aplicadores em aes d ideia da importncia dos investidores em mercados de risco ou seja, entre os que visam mais ao longo prazo e querem participar dos lucros das empresas. No final de 2011, chegou a 583,2 mil o nmero de brasileiros que inves-tem diretamente na Bolsa. Indiretamente, muitos mais aplicam em aes, mas o maior volume ainda dos an-tigos cotistas dos fundos 157, que deixaram valores n-fimos aplicados em aes e nem vo atrs do dinheiro.

No campo da previdncia, o quadro mais expressi-vo. Entre 1999 e 2011, aumentou de 3,4 milhes para 12 milhes o nmero de beneficirios de planos de previ-dncia aberta, cujas carteiras, em geral, so parcialmente formadas por aes. Os dados acompanham o volume gerido pela previdncia privada, cujo crescimento, nos ltimos 12 anos, atingiu taxa mdia anual de 25% e as projees para os prximos anos continuam favorveis. O setor tem espao para dobrar de tamanho em nme-ro de planos, pelo menos, nos prximos cinco anos, acredita Renato Russo, vice-presidente da Fenaprevi.

Do lado da previdncia privada complementar ofe-recida por empresas, sindicatos e associaes aos seus

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empregados e profissionais liberais isto , pelos fundos de penso o crescimento tambm forte. Os fundos de penso fecharam 2011 com patrimnio da ordem de R$600 bilhes, 6% mais do que os R$565 bilhes de 2010. Esses fundos tm cerca de 2,5 milhes de partici-pantes ativos e 6,5 milhes de beneficirios.

Cotejada com os nmeros dos pases desenvolvidos j estabilizados e agora sacudidos pela crise, a evoluo e o potencial brasileiros so favorveis. E as perspectivas do setor so confirmadas por anlises de maior profun-didade produzidas no campo acadmico.

ESTADO VERSUS SETOR PRIVADOEm termos macroeconmicos, a poupana do-

mstica brasileira declinou de 22% do Produto Interno Bruto (PIB), entre 1985 a 1994, para 16,5%, nos lti-mos dez anos. um porcentual muito inferior aos 40% da China, aos 30% dos pases do sul da sia, aos 29% do leste asitico (compreendendo o Japo). Perdemos para os modestos 25% da Amrica Latina e do Caribe, os 22% da problemtica Europa, at para os 20% da frica. Mas tabelas e grficos contam uma histria di-ferente, pois enquanto os agentes privados poupam, o Estado brasileiro figura como vilo das estatsticas. O problema est localizado no setor pblico, que absorveu 15,9% da poupana do setor privado para financiar as suas despesas, resume Yoshiaki Nakano, diretor da Es-cola de Economia de So Paulo (FGV).

As estatsticas do Cemec mostram que, pagos os im-postos, o setor privado poupa o equivalente a 27,8% do Produto Interno Bruto (PIB) um resultado que no faz feio diante das taxas de poupana de outros pases, como o Japo. O problema que o Estado brasileiro des-poupa 5,7% do PIB.

Rocca acredita que a poupana do setor privado bra-sileiro no s compatvel com a exibida pelos demais pases, como tambm vem se mostrando estvel ao longo do tempo. Em nenhuma dcada desde os anos 1980, esse porcentual caiu abaixo de 26,1% do PIB, embora nesse perodo os brasileiros tenham enfrentado os horrores da hiperinflao e da recesso, em meio a perodos de cresci-mento e at de estabilidade.

Quanto ao governo, acrescenta o professor Lauro Modesto, pesquisador do Cemec, prevalecem obst-culos poderosos como a enorme inflexibilidade nas despesas, expanso dos gastos com pessoal e dficit pre-videncirio crescente. (Mas, neste caso, a situao tende a melhorar com a criao do Funprev, para os novos ser-vidores federais).

O Estado no apenas empurra para baixo o porcen-tual do PIB que o Pas consegue poupar, como cria obs-tculos poupana do setor privado. Para o economista e consultor Paulo Rabello de Castro, h uma combina-o perversa de fatores elevada carga tributria, juros altos, alta contribuio previdenciria e cmbio valori-zado. Assim se exaure a capacidade de poupar dos agen-tes privados.

Para elevar a poupana privada preciso, mexer em nosso modelo tributrio disfuncional, nota Castro. O objetivo seria elevar o lucro retido das empresas, que as-sim teriam o caminho aberto para poupar e, na sequncia, investir. O Estado, autoritariamente, tambm interfere obrigando as pessoas fsicas a poupar no FGTS, que re-munera mal e toma o lugar de outros ativos mais da prefe-rncia do trabalhador.

Na opinio de Nakano, da FGV, tudo est muito claro: A baixa taxa de investimento a causa da baixa taxa de crescimento da economia brasileira e ela baixa porque a taxa de juros e a carga tributria so elevadas.

INEFICINCIA CONSOME ENERGIASA ineficincia do setor pblico sem dvida conso-

me as energias e reduz a poupana dos agentes priva-dos, resume o professor Iran Siqueira Lima, da Funda-o Instituto de Pesquisa Contbil, Atuarial e Financeira (Fipecafi), ligada Universidade de So Paulo. Mas, se o intuito for fazer as pessoas participarem mais da for-mao da poupana, a seu ver os entes privados, e no apenas o governo, poderiam fazer mais. Os instrumen-tos oferecidos populao para poupar ainda padecem do mal de uma excessiva complexidade (acrescente-se, at a caderneta de poupana perdeu um pouco da sim-plicidade, nas contas abertas a partir de 4 de maio).

Os produtos deveriam ser mais simples e as opes explicadas nos primeiros anos da escola, diz Iran, elo-giando os esforos do Comit de Regulao e Fiscaliza-o dos Mercados Financeiro, de Capitais, de Seguros, de Previdncia e Capitalizao (Coremec) para passar do papel s salas de aula as aes educacionais dese-nhadas na Estratgia Nacional de Educao Financeira (Enef), iniciativa que rene governo e mercados.

Por mais que se saiba que os resultados s viro no longo prazo, algo deve ser feito para abreviar o processo acrescenta e tornar as escolhas disponveis mais aces-sveis ao entendimento do brasileiro comum. Acessibi-lidade e participao existem, por exemplo, nos clubes de investimento fomentados pela BM&FBOVESPA, assinala Iran Lima. Em abril, havia 2.742 clubes, nme-

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ro quase cinco vezes maior do que uma dcada atrs e o maior mrito a a possibilidade de o pequeno investidor (no final do primeiro quadrimestre de 2012, eram 108 mil investidores) poder acompanhar e at mesmo influenciar as decises de alocao dos recursos. As pessoas podem se reunir e discutir, afirma Iran, que v nisso um dos pon-tos mais positivos do modelo. uma vitrine e tanto para atrair os iniciantes e engordar o contingente total de 575 mil investidores pessoas fsicas cadastrados na Bolsa.

FUNDOS DE PENSOEntre 2005 e 2011, segundo a pesquisa do Ibope

Inteligncia, a fatia da populao que investe em fun-dos de investimento cresceu de 4% para 7%. E o n-mero dos que poupam em planos de previdncia pri-vada de bancos e seguradoras foi, no mesmo perodo, de 2% para 7%. A maturidade, claro, induz a novos comportamentos associados a atitudes responsveis. Ao penetrar mais fundo no perfil dos investidores, a pesquisa constata outros dados importantes: em seis anos, a participao do grupo dos casados saltou de 57% para 70% do contingente de investidores. Entre aqueles com idades de 30 a 49 anos, o porcentual dos que investem passou de 45% para 57%.

As estatsticas tambm lanam luz sobre o compor-tamento de quem poupa via previdncia. Entre janeiro e setembro de 2011, segundo estudo da Brasilprev Se-guros e Previdncia, o tquete mdio de contribuio dos planos de previdncia privada no Nordeste cresceu 18%, quatro pontos porcentuais acima da mdia do Pas (14%). O valor desembolsado mensalmente para a previdncia de R$235, na regio nordestina, pou-co inferior aos R$255 da mdia Brasil. De acordo com a Brasilprev, a regio Sudeste registra a maior mdia de aportes mensais (R$272), seguida pela regio Sul (R$254) e Centro-Oeste (R$242). Mais prudentes que os homens, as mulheres so as que mais aplicam em planos de previdncia.

Do lado dos fundos de penso, isto , da previdncia privada oferecida pelas empresas a seus funcionrios, pe-los sindicatos, associaes e conselhos de profissionais liberais, tambm possvel ter uma ideia do perfil desse brasileiro que poupa visando o longo prazo. Segundo a Associao Brasileira das Entidades Fechadas de Previ-dncia Complementar (Abrapp), o nmero de partici-pantes dos fundos de penso da ordem de 2,9 milhes, mais homens (66,1%), do que mulheres (33,9%). Desse total, cerca de 700 mil j recebem os benefcios. A apo-sentadoria complementar mais recebida por homens

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(74,3%) do que por mulheres (25,7%), ao contrrio do que ocorre com as penses, em que o pblico recebedor majoritariamente feminino (82,7%), restando 17,3% para o masculino.

Os fundos de penso (235 dos existentes so patro-cinados por empresas privadas e estatais, 45 por rgos estaduais, 37 por organismos federais e 19 foram insti-tudos por sindicatos e associaes) pagam regularmen-te todos os meses mais de R$2 bilhes em benefcios. Em mdia, isso representa acrscimo de trs a quatro salrios ao benefcio previdencirio. Os titulares que j recebem benefcios desses fundos ganham, em mdia, R$3.142 e os pensionistas, R$1.633 por ms.

TESOURO DIRETO

Uma das aplicaes que mais vem conquistando o interesse dos aplicadores o Tesouro Direto. Uma d-cada depois do seu lanamento, o Tesouro Direto atrai os investidores devido ao retorno competitivo em renda fixa e ao baixo custo. Em 2011, a venda de ttulos nesse segmento atingiu R$3,6 bilhes, 58% mais do que em 2010. Mais de 280 mil investidores esto cadastrados. Os juros nominais variaram, em 2011, entre 9,26% a 16,35% anuais.

O Tesouro Direto uma tentativa bem-sucedida, at agora de democratizar o acesso aos ttulos pbli-cos, atraindo o interesse dos pequenos investidores e incentivando a formao de poupana de longo prazo. Para 2012, o Tesouro Nacional e a BM&FBOVESPA, parceiros nesse produto, anunciaram inovaes como valores de aplicao a partir de R$30, compra agenda-da de ttulos por um perodo de tempo definido pelo investidor, reaplicao agendada dos juros pagos aos aplicadores e vendas pr-agendadas para os aplicado-res que buscam compor um fluxo com caractersticas de renda mensal.

Educao previdenciria e ativos atraentes tero sempre importncia no esforo para fazer o brasileiro poupar mais. Consumir bom, desde que com equil-brio e certamente nunca reproduziremos integralmen-te por aqui a alma asitica. Segundo os dados do IBGE, 88,4% da poupana bruta total do Brasil ainda gerada pelas empresas so lucros retidos e dividendos. Aos poucos, a conscincia pr-poupana que pessoas e fa-mlias comeam a demonstrar captada pelas pesquisas. Ainda pouco, mas o comboio j se movimenta.

* JORGE WAHL JORNALISTA.

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CAPA

Recordista mundial em felicidade futura, bem acima dos demais pases BRICS (Rssia, ndia, China e frica do Sul), o Brasil mostra que renda e patrimnio podem aju-dar, mas no determinam o grau de satisfao do povo, como evidenciam os estudos do Centro de Pesquisa Sociais da FGV e da pesquisa do Instituto Gallup

POR JOS ROBERTO NASSAR * FOTO AGNCIA FOTOLIA

O BRASIL, NO TOPO DA SATISFAO PESSOAL

Recordista mundial em felicidade futura, bem acima dos demais pases BRICS (Rssia ndia China e frica do

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No s em carnaval, mulatas e futebol neste j faz algum tempo que o Brasil campeo mundial. Outro smbolo, to importante quanto, vem ganhando terreno nos ltimos tempos e j se pode dizer que o brasileiro, mais do que o Brasil, recordista mundial em felicidade futura, um tetracam-peo. No so os ricos os mais felizes. Surpreendente? mesmo. Mas o que revelam estudos do Centro de Pesquisas Sociais (CPS) da Fundao Getulio Vargas (FGV), com base em pesquisa global do Gallup. Con-siderando, em 2011, a expectativa de satisfao com sua prpria vida em 2015, o brasileiro cravou a nota de 8,6, numa escala de zero a dez. Assim, pelo quarto ano consecutivo, galgamos o topo do ranking: a mdia mundial, num universo de 132 pases pesquisados, 6,7. Os BRICS ficaram longe: frica do Sul, com 7,7 (27 lugar); Rssia, 6,4 (105); China, 6,2 (111); ndia (119). Mais ainda os pases em convulso: em 2011, a Sria estava no ltimo posto.

Outra surpresa do trabalho do CPS/FGV, que co-meou com o estudo De volta para o futuro, recente-mente incorporado no livro A nova classe mdia O lado brilhante da base da pirmide: quando pensa no futuro prximo, e responde pergunta subjetiva da pesquisa, o brasileiro d a si mesmo uma cotao maior do que re-serva ao Pas. No caso do Brasil como uma nao, a nota desse indicador batizado de ndice de Felicidade Futura cai dois pontos, no mesmo perodo e na mesma escala. A felicidade geral da nao menor do que a soma das felicidades de cada um, afirma Marcelo Neri, coorde-nador do CPS e dos trabalhos. O problema mais do Brasil do que de cada brasileiro.

SAMBA, FADO OU TANGO

Difcil explicar essa dicotomia individual versus co-letivo e essa aparente contradio, mas Neri d algumas pistas. No aspecto egosta, deve-se dizer que os ltimos anos tm registrado efetiva melhora de vida, aumento da renda, acesso a bens materiais, ascenso de milhes ao patamar da classe mdia todos os ingredientes ne-cessrios, embora no suficientes, para compor o que se chama de bem-estar, ou satisfao, ou, enfim, felicidade. Essa dissonncia entre percepes uma marca tupi-niquim, a nossa jabuticabeira, diz Neri. O brasileiro otimista de verdade, acha que as coisas vo continuar a melhorar para ele, sua profisso a esperana (como na famosa pea teatral), e at Deus pode ser brasileiro. Mais ainda, jovem. Por isso, poupa pouco, investe pou-co em previdncia e no se importa com a ainda elevada

taxa de juro ela ser digerida no futuro. (Acrescente-se aqui uma tese do economista Prsio Arida, segundo a qual preferimos investir na educao dos filhos a pou-par, na expectativa de que eles cuidem de ns na velhi-ce). Nossa msica o samba, enquanto a de Portugal o fado [tristeza] e a da Argentina, o tango [drama ou melodrama]. Quer dizer, no arquivamos um fulgor pas-sado cuja memria insiste em nos dominar.

Ao mesmo tempo, no aspecto solidrio, segue Neri, o brasileiro individualista, carrega ainda muito daquela malandragem do carioca, provavelmente ain-da quer tirar vantagem em tudo, como na famosa lei de Grson, e deve achar que os grandes problemas so de natureza coletiva, no individual (a responsabilidade dos outros?). Somos mais cigarras do que formigas. Os avanos so notrios no conjunto, mas ainda restam problemas coletivos concretos, como desigualdade, informalidade, inflao, violncia/criminalidade, falta de democracia/cidadania, atraso escolar, entre outros. Acrescenta Neri: O Brasil no um pas pobre, mas te-mos muitos pobres, pois somos desiguais.

CIGARRA E FORMIGA improvvel que se possa adivinhar quando as duas

percepes divergentes, individual versus coletivo, pos-sam se aproximar. Ainda estamos no meio do caminho. Nas contas de Neri, o Brasil est exatamente na mdia mundial quando se fala em distribuio de renda e at de acesso internet, objeto de outro estudo do CPS, recm-lanado, sobre incluso digital. Ainda falta muito, mas talvez cheguemos l, a persistirem os avanos con-quistados nos ltimos anos, que j comeam a nos dar a forma de meia cigarra e meia formiga.

Pois a evidente melhora nos indicadores materiais tem sido registrada nos quatro cantos do Pas, a comear pelas pesquisas do prprio CPS/FGV. Trs anos atrs o Brasil tornou-se um pas de classe mdia, segundo o CPS. No ano passado, a classe C (socilogos relaxem, adverte Marcelo Neri, estamos falando de estratos eco-nmicos e no de classes sociais, como proletariado e burguesia) j representava 55% da populao. Chegar a 60% em 2014, enquanto as classes D e E cairo de 33% para 25% no mesmo perodo e as classes A e B, os ricos daqui, subiro de 12% para 15%. Considerando o pero-do 2003-2014, estamos falando da ascenso social de 42 milhes de pessoas. Ao mesmo tempo, diminuir a po-breza: em doze meses terminados em janeiro de 2012, de acordo com o CPS, a pobreza caiu 7,9%, ritmo trs vezes mais rpido que o da meta do milnio da ONU.

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ENSAIO

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TOP DO POP OU POP DO TOPEm contrapartida, cresce a renda per capita em

maior ou menor ritmo, independentemente das crises externas, pelo menos at agora. E abrem-se novas pers-pectivas para as faixas do centro para o topo da pirmide: quem est na fronteira entre as faixas, tende a subir da C para a B e, desta, para a A. Estudo do Ibope revela que, em 2015, a classe B ter maior potencial de consumo, em volume de dinheiro, do que a C, embora seja menor em nmeros absolutos. J se fala at numa revoluo do B. Em recente entrevista ao Estado, o arquiteto Jlio Taka-no, especializado em arquitetura de varejo, registrou a grande demanda das lojas em criar ambientes atraentes a esse novo consumidor, que pesquisa preos, mas tambm busca grifes: o novo B quer o top do pop ou o pop do top. Deseja, portanto, coisa melhor: como revela outro estudo, desta vez do Data Popular, j tem geladeira, tev, fogo e busca agora por novos servios, como TV a cabo.

Paralelamente, observa-se reduo na informalidade: bastaria ver a expanso dos empregos com carteira assina-da, que quebrou alguns mitos a respeito da inflexibilidade da legislao brasileira, mas a FGV, por meio de outro de seus institutos, o IBRE, fez estudo especfico revelando que a informalidade, em sete anos, caiu de 33% para 22% (sobre o total dos empregados, menos os por conta pr-pria). O mesmo ocorre quanto desigualdade: segundo o CPS, o ndice de Gini em que zero representa igualdade total caiu de 0,596, em 2001, para 0,519, em janeiro de 2012, ficando 3,3% abaixo de seu piso histrico de 1960. Pesquisa do departamento de estudos econmico do Bra-desco mostra outro dado relevante: em 2009, a renda dos 10% mais ricos era 16,7 vezes maior que a dos 40 mais pobres; em 1989, essa diferena tinha chegado a 30% e vem caindo. Qual a tendncia de agora em diante? Tal-vez a marcha se reduza um pouco, em parte porque a base j bem grande, em parte por conta da desacelerao da economia. Mas tem tudo para seguir em frente, luz das atuais condies de temperatura e presso.

INFUSO DE ESPERANAA evoluo da renda que se viu at aqui d face

concreta sensao de bem-estar ou de felicidade ou de contentamento ou algo que se encaixe nesses con-ceitos. E amplia horizontes at (ou principalmente) nas camadas situadas na base profunda da pirmide. o que ocorre com os programas de transferncia de renda, como o Bolsa Famlia: eles proporcionam algo notvel, uma infuso de esperana. Estudo da pesquisadora Es-ther Duflo, economista do Massachusetts Institute of

FIB EM VEZ DE PIBA constatao de que o crescimento econmico, por si s,

no traz felicidade, vem ganhando terreno no Brasil e l fora. Embora no se possa exigir do PIB o que ele no pode dar ambientalistas dizem, por exemplo, que o clculo do PIB no considera os desastres ambientais, mas apenas os gastos para enfrent-los , multiplicam-se as iniciativas que procuram de-senhar uma mensurao mais ampla do bem-estar das pessoas.

A Organizao das Naes Unidas (ONU) sancionou, em re-soluo de 2011, antiga proposta que, considerando o PIB insu-ficiente, incentiva os pases a criar seus prprios ndices de Feli-cidade Interna Bruta (FIB). A ideia, j implantada no Buto, pas asitico que, paradoxalmente, um dos mais pobres do mundo, envolve uma cesta de ingredientes mltiplos, de cidadania e soli-dariedade social aos indicadores de liberdade poltica, passando por rubricas como riqueza, segurana no trabalho, relacionamen-to entre colegas de empresa, relaes familiares, meio ambiente, avano das redes sociais, padres ticos de produo, sade, de-semprego (que pode provocar tanta infelicidade quanto a priva-o de alimentos ou o divrcio). Foi tema para a Rio+20.

Aqui entre ns, um brao da FGV, que tem mostrado di-namismo em vrios campos de atividade, resolveu criar o seu prprio FIB: o ncleo na Escola de Administrao de Empresas de So Paulo (EAESP). Ser, naturalmente, adaptado s condi-es brasileiras, mas a matria-prima a mesma: educao, sade, renda, violncia, diferena salarial entre homens e mu-lheres, por exemplo.

NDICE QUANTITATIVOTambm certo de que no h evidncia clara de uma rela-

o entre crescimento do produto per capita e felicidade, o Ban-co Ita associou-se a essa discusso. Lanou, em abril, seu pr-prio ndice Ita de Bem-Estar Social, sob a coordenao do eco-nomista Caio Megale. Diferente de alguns estudos, optou por limitar o voo e buscar um indicador objetivo, fugindo das per-guntas subjetivas tipo voc estava feliz ou muito feliz ontem?. Seguiu o padro do ndice de Desenvolvimento Humano (IDH), criado, em 1990, por Amartya Sen, economista indiano e pr-mio Nobel, que abrange trs pontos: longevidade, educao e renda. Mas vai alm dele. Trata-se, portanto, de um ndice quan-titativo, que tem trs ncoras: condies econmicas (consumo, emprego, renda); condies humanas (sade, mortalidade in-fantil, saneamento, taxa de homicdios, educao, expectativa de vida, at banheiro em casa); desigualdade social (recorrendo a ndices tradicionais, como o de Gini). Faltou meio ambiente no d para generalizar a poluio de So Paulo mas sua incluso poder ocorrer nas prximas edies. Na comparao das curvas PIB versus ndice, nota-se que o PIB avanou mais nos ltimos anos. Mais uma razo para criar, como diz o trabalho de Megale, um indicador que fornea informaes adicionais para ajudar a entender melhor a evoluo da sociedade brasileira.

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Technology (MIT), mostra que esse tipo de programa vai alm do impacto direto dos recursos: possibilita aos muito pobres esperar por algo mais que a mera sobrevi-vncia (The Economist, 12/05).

No entanto, acima de determinado patamar, domi-nados os bens materiais disponveis, os ganhos de ren-da j no seduzem tanto, j no esgotam a sensao de bem-estar. Isso explica porque os ricos no lideram os rankings de felicidade. O primeiro pas rico a aparecer na mais recente pesquisa global do Ipsos a Austrlia, ainda assim em quinto lugar. A pesquisa pede respostas subjeti-vas (sempre sujeitas a autoenganos, claro, como qualquer levantamento desse tipo) a respeito de felicidade presen-te (diferente, portanto, da CPS/Gallup) e situa Indon-sia, ndia, Mxico e Brasil entre os quatro primeiros, pela ordem. Mensuraes desse tipo levaram os estudiosos a indagar-se qual a nota de corte acima da qual outros valo-res, alm do dinheiro, se levantariam para prover felicida-de. mais ou menos comum encontrar o divisor de guas numa renda nacional per capita de US$25 mil anuais. No Brasil, ainda patinamos em torno de US$10 mil.

ILUMINISMO E TICANo Brasil, o economista Eduardo Giannetti da Fon-

seca, estudioso de filosofia, um dos que mais se dedica ao tema. Escreveu Felicidade (Companhia das Letras, 2002) para discutir porque as promessas de progres-so tcnico e cientfico propiciadas pelo Iluminismo s vingaram em parte. As promessas trouxeram riqueza, bem-estar material, produtividade, renda, consumo (de forma desigual, em se tratando da populao global), mas no se traduziram em aprimoramento tico e po-ltico em tantos outros valores, alegria, prazer, sentido de realizao, coragem, reflexo e leitura, coisas do es-prito. Na poca em que escreveu, virada do milnio, a nota de corte mencionada pelo autor era de US$10 mil mas certamente isso j ganhou atualizao diante das mudanas de preos relativos porque passou o mundo, nesses poucos anos.

Nos Estados Unidos, os acadmicos Daniel Kah-neman (prmio Nobel) e Angus Deaton (com quem Marcelo Neri estudou na Universidade de Princeton) vm aprofundando seus estudos sobre as relaes entre dinheiro e bem-estar. Em 2010, escreveram um paper no qual distinguem bem-estar emocional (caracterizado por fatores da experincia pessoal cotidiana, como ale-gria, fascnio, ansiedade, tristeza, raiva, afeio) e avalia-o da vida (quando a pessoa responde o que pensa da prpria vida). Seria timo se as duas linhas pudessem ca-

minhar juntas, mas obviamente isso nem sempre acon-tece. O dinheiro pesa at certo ponto. Acima da renda de US$75 mil dlares anuais (padres americanos, claro), segundo os autores, o dinheiro j no mais importante para o bem-estar emocional, quer dizer, quando se trata de felicidade, satisfao, tristeza ou estresse. A dor dos infortnios da vida, incluindo circunstncias como di-vrcio, doena e solido, produzem efeitos tanto para pobres como para ricos, escrevem Kahneman e Deaton, embora ela seja exacerbada pela pobreza.

COINCIDNCIAS DO FINAL 4Estamos muito distantes dessas referncias ameri-

canas e sempre haver quem diga que os pobres so felizes por natureza. Mas estamos caminhando. O not-vel russo Fidor Dostoievski, s para relembrar meno feita por Eduardo Giannetti, em seu O livro das citaes (Companhia das Letras, 2008), escreveu: O ponto principal no para onde vai uma estrada, mas que v a algum lugar (...). Talvez o nico propsito do homem neste mundo consista no processo contnuo de perse-guir um objetivo viver e no propriamente no obje-tivo em si, que uma frmula, algo que no a vida, mas o princpio da morte.

Nossa estrada passa muitas vezes pelo final 4, coin-cidncia que Marcelo Neri destaca: 1964, incio do governo militar; 1974, comeo da distenso poltica depois do primeiro choque do petrleo; 1984, Diretas j; 1994, Plano Real; 2004, retomada do crescimento e marco da reduo da desigualdade. Isto sem falar na ruptura decorrente do suicdio de Getulio Vargas, em 1954, que nos particularmente cara na FGV, escre-veu, para acrescentar: Seguindo nesta tradio, o que 2014 nos reservaria para alm da Copa do Mundo e das eleies? Coroaria dois perodos de crescimento inclu-sivo, iniciados em 2004 (depois da recesso interna de 2003 e mesmo com a crise global de 2009)? Como os dados sugerem, se o perodo 2010-14 constituir de fato uma nova pequena dcada, ento os onze anos de 2003 a 2014 tero sido uma grande dcada.

Somos ainda jovens e pobres, e levaremos muitos e muitos anos para alcanar os US$75 mil de renda anual per capita o que nos abre espao para continuar a sonhar com o futuro, juntando riqueza, igualdade e bem-estar. Quando chegarmos l, talvez ganhemos o trofu de feli-cidade presente, no s o de felicidade futura. E, quem sabe, no mais enquanto indivduos, mas como Pas.

*JOS ROBERTO NASSAR JORNALISTA ECONMICO.

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Os versos da msica Pecado Capital, de Paulinho da Viola, contm um dito popular e retomam a discusso da relao entre felicidade e riqueza

POR FABIO GALLO GARCIA* FOTO AGNCIA FOTOLIA

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ENSAIO

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Arelao entre renda e felicidade antiga e con-troversa porque sempre vem mente a per-gunta: Afinal, o que felicidade? No inteno fazer aqui um tratado sobre a felici-

dade, mas estabelecer a sua relao com o consumo e o investimento.

O progresso mdico, cientfico, econmico-finan-ceiro e o conforto material permitiram que vivssemos mais e melhor.

Isso nos tornou mais felizes? A busca da resposta pode ocorrer por vrios caminhos. Cincias como filo-sofia, teologia, sociologia, antropologia, medicina, entre outras, sempre buscaram respostas e apresentam a feli-cidade de acordo com sua prpria viso.

Alguns autores e estudiosos admitem que a felicida-de depende de:

50%: causas genticas;10% a 20%: circunstncias da vida como idade, sa-de, renda, ocupao, origem tnica, religio etc.;30% a 40%: como a pessoa pensa e age e isso de-pende de ns.O professor Eduardo Giannetti da Fonseca percorre

o pensar filosfico e diz: Discutir a felicidade significa refletir sobre o que importante na vida. Significa pon-derar os mritos relativos de diferentes caminhos e pr em relevo a extenso de hiato que nos separa, individual e coletivamente, da melhor vida ao nosso alcance.

Ele segue longa tradio de discusso sobre a feli-cidade que comea com os filsofos gregos. Particular-mente, em Aristteles (384 aC), na tica de Nicmaco que trata da eudemonia. O que para alguns filsofos era o supremo bem, para Aristteles significava a essncia do homem e a atividade que, por sua essncia, lhe ade-quada. Como homem um ser racional, o pensamento a expresso de sua essncia, o meio para a realizao de seu fim, de seu bem supremo.

O pensar filosfico sobre a felicidade encontrado, tambm, em Epicuro (307 aC), fundador do epicuris-mo, que em sua carta a Meneceu, conhecida como A Carta sobre a Felicidade, escreveu, em seu incio: ne-cessrio, portanto, cuidar das coisas que trazem a felici-dade, j que, estando esta presente, tudo teremos, e, sem ela, tudo faremos para alcan-la. Pratica e cultiva ento aqueles ensinamentos que sempre te transmiti, na cer-teza de que eles constituem os elementos fundamentais para uma vida feliz.

O pensar sobre a felicidade continua com o utili-tarismo de Bentham, Stuart Mill, Locke, Hobbes, que, na tradio do pensamento aristotlico, traz que o fim

da conduta do homem a felicidade. Hobbes, em par-ticular, trata como axioma tico fundamental a condu-ta correta: a que promove o nosso prprio bem-estar e os cdigos morais dominantes em uma sociedade s podem ser justificados se servem ao bem-estar daqueles que os observam.

Neste pensar, podemos chegar a Alasdair MacIn-tyre, que cita o homem virtuoso no como aquele que faz o bem por medo de ser punido por fazer o mal, mas sim, aquele que faz o bem, pelo bem em si.

No caminho desses pensamentos podemos admitir que o comportamento financeiro das pessoas seja uma possvel janela para essa reflexo.

Da outra importante pergunta deve ser feita:

TER MAIOR RENDA, INVESTIR E CONSUMIR TRAZEM FELICIDADE?

A resposta para esta questo muito difcil e depen-de de cada pessoa. Mas, alguns estudos e pesquisas nos do respostas que levam a pontos comuns.

Uma pesquisa que pode ser citada a publicada pela revista Consumer Reports que, em 2011, procurou des-cobrir, com mais de 24 mil pessoas acima de 55 anos, qual era o grau de satisfao com suas finanas e suas vidas. O ponto comum encontrado foi que a paz mental tinha muito pouco a ver com altos salrios e padro de vida. As respostas referiam-se a aproveitar o bom esta-do de sade, ter hobbies, poupar, ter amigos e estar em algum emprego que trouxesse algum tipo de plano de benefcios para a aposentadoria. A mesma pesquisa in-dicou que mesmo aqueles com menor grau de poupana estavam altamente satisfeitos com a sua aposentadoria. O importante foi terem se programado para viver com a renda que possuem.

Outro texto em que encontramos muitas pistas so-bre a relao entre renda e felicidade o artigo Sobre o consumo e a felicidade, de Luigino Bruni. O autor cita algumas fortes pistas sobre a relao entre renda e (in)felicidade. Uma das respostas que o aumento de renda pode ser acompanhado de uma diminuio da felicida-de e isso est ligado queda do consumo de bens rela-cionais: Muitos, talvez a maioria, dos prazeres da vida no tm preo, no esto venda e, assim, no fazem parte do mercado Outra resposta encontrada que a diminuio da felicidade vem da reduo da capacidade de dar, do altrusmo.

Bruni conclui, ainda, no artigo em referncia: Alm disso, consumir mais no significa necessariamente con-sumir mais mercadorias. Devemos alargar a categoria

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de bem econmico para incluir a relaes, encontros pessoais. Podemos consumir mais consumindo melhor, consumindo diversamente (pensemos no desafio do consumo crtico), dedicando mais tempo aos outros, no para vender e comprar tambm a amizade ou um sorriso, mas, pelo menos, para reconhec-los como bens e no destru-los; e talvez para criar as condies, cul-turais e institucionais, necessrias reproduo de bens que esto se tornando cada vez mais escassos.

AFINAL, O QUE SIGNIFICA INVESTIR? Investimos para manter a nossa riqueza. Aplica-

mos recursos como reserva de valor. E isso somente nos far felizes se estiver de acordo com o nosso pr-prio fim, que , em suma, a nossa prpria finalidade tica e assim promova o nosso bem-estar. Com base neste pensamento podemos admitir que no inves-tindo em qualquer coisa, obter lucro a qualquer preo que nos far felizes.

Quantos de ns investimos em aes, por exemplo, observando somente a relao risco e retorno e ficamos satisfeitos com os resultados positivos e rentabilidades obtidas sem, no entanto, perguntar como os lucros das empresas que estamos investindo so obtidos?

Tomemos o exemplo de algum que invista em aes de uma empresa que obtenha lucros por meio de trabalho escravo, mo de obra infantil, gere muita po-luio, use de atos ilegais ou de corrupo. Essa pessoa seria feliz em seus investimentos? Ela estaria cumprindo o seu fim tico?

Acredito que a resposta a estas perguntas seja no. Investir em algo que traga danos s pessoas, ao meio am-biente, sociedade contraria a nossa conduta moral e nos traz infelicidade. Por isso, hoje temos tanto movimentos em prol da transparncia, da governana corporativa e da sustentabilidade. Tanto que a BM&FBOVESPA mantm dois ndices relacionados sustentabilidade e trs governana corporativa, alm de seus ndices am-plos e setoriais.

Individualmente, se faz necessrio questionarmos como as empresas em que investimos obtm lucro. Quais so as atividades por elas desenvolvidas. Qual o grau de poluio gerado?

Coletivamente, temos outros questionamentos im-portantes. O PIB global da ordem de US$55 trilhes. Mas o volume anual de negcios com ativos financeiros com elevado grau de risco supera US$690 trilhes, doze vezes mais. Embora esses riscos, grosso modo, sejam uma frao do total de negcios, eles so elevados e nem

sempre so decorrncia de operaes de hedge, sua fina-lidade ltima.

Vivemos em um mundo de muitas contradies. Pois somos mais capazes de lidar com tecnologias so-fisticas que sermos mais bem preparados em relao a nossa maturidade poltica e sensibilidade humana para lidar com questes como a fome no mundo.

Ainda hoje, sentimos os efeitos da crise econmica mundial, que no foi simplesmente uma nova crise, mas sim, faz parte de uma crise estrutural que tem a nefas-ta consequncia de negar a bilhes de pessoas acesso adequado a comida, sade e educao. Segundo dados da FAO, desde o incio da dcada de 1970, a fome no mundo vinha diminuindo, mas, nos ltimos anos, esse declnio sofreu reverso. Em 2009, a fome atingiu mais de um bilho pessoas, recorde histrico.

Em bom tempo a humanidade d-se conta de que o desenvolvimento de uma nao no significa somen-te acumulao de riqueza. Mas depende do bem-estar das pessoas e da busca da felicidade. O indivduo no se realiza por ter alta renda ou acumulao de bens, mas sua realizao ocorre como um todo, em todas as facetas de sua vida.

Refletindo sobre o Brasil, vemos um pas que sur-preendente a muitos, tornando-se a sexta nao do mundo em termos de PIB. Mas, estamos na 84 posio no IDH e ainda h mais de 16 milhes de brasileiros que vivem abaixo da linha da pobreza, ou 8,5% da popula-o. Da surge a pergunta: ns somos felizes?

No temos ainda claramente a resposta, mas a certeza de que devemos busc-la. Medir a felicidade dispor de um ndice de progresso e desenvolvimento de nosso povo.

Questionarmo-nos individual e coletivamente so-bre se o nosso comportamento financeiro essencial se quisermos entender o que somos e se somos felizes. Em A tica a Nicmaco, Aristteles nos d algumas pistas marcantes sobre a felicidade:

A felicidade tem que ser um bem perfeito e bastan-te por si. O conceito da felicidade tem que ser tirado do conceito da atividade humana em sua perfeio.Por isso, antes se pe como condio de felicidade uma vida perfeita e realizada sob todos os aspectos.

*FABIO GALLO GARCIA PROFESSOR DE FINANAS DA PUC-SP E FGV--EAESP, E COORDENADOR DO NCLEO DE ESTUDOS SOBRE A FELICIDA-DE E O COMPORTAMENTO FINANCEIRO DA FGV-EAESP.

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MERCADO DE CAPITAIS

Se, atualmente, mais de 600 mil pessoas fsicas veem a Bolsa no s como atraente alternativa de investimento, mas tambm como ponto de encontro amigvel, alm de instrumento fundamental para financiar a economia, grande parte disso deve-se s campanhas de popularizao, que agora completam dez anos. Por isso mesmo, valeu a pena comemorar o ani-versrio, em abril, com uma festa em que no faltaram o toque simblico da campainha e o Bolsamvel estacio-nado em frente ao edifcio da Rua 15 de Novembro. Ini-ciativa de enorme alcance, idealizada e implantada, em 2002, por Raymundo Magliano Filho, ento presidente da Bovespa, o programa BM&FBOVESPA Vai at Voc leva conhecimentos sobre o investimento em aes aos mais diferentes pblicos e tem uma rica histria vol-tada para o fortalecimento do mercado de capitais nos quatro cantos do Brasil.

Numa dcada, o programa chegou a mais de 270 empresas, 100 universidades, 25 clubes, 90 praias, nove parques, nove estaes do metr, 359 feiras e exposi-es, dois shoppings e em municpios por todo o Brasil. E atendeu diretamente demanda por informaes de mais de 667 mil pessoas. Com isso, foi decisivo para a incorporao de centenas de milhares de pessoas fsicas ao mercado de capitais. De 85 mil, em 2002, o nmero

de indivduos que ingressaram no segmento acionrio superou 560 mil, cadastrados em abril de 2012, cresci-mento de mais de 500%. Ao lado de outras iniciativas da Bolsa Novo Mercado em destaque e do prprio crescimento da economia, ajudou a entidade a galgar um salto de vrios patamares: entre 2002 e 2011, o volu-me mensal de negcios passou de R$138,9 bilhes para R$1,6 trilho, o nmero de transaes evoluiu vinte ve-zes e o valor de mercado das empresas listadas saltou de R$438,3 bilhes para R$2,29 trilhes.

Alm desses reflexos diretos, o BM&FBOVESPA Vai at Voc inspirou uma srie de aes da Bolsa cujo obje-tivo tornar os investimentos acessveis para a maioria da populao a partir da informao e do conhecimen-to. Entre elas, os programas Mulheres em Ao; Desafio BM&FBOVESPA; Dinheiro no Bolso, em parceria com a Fundao Roberto Marinho; Educao Financeira, com a TV Cultura; a campanha Quer ser Scio?; alm de cursos presenciais e on-line, que atenderam mais de 900 mil pessoas desde sua criao, e dos simuladores de investimentos, que receberam mais de um milho de vi-sitas. Na prdio da Rua 15 de Novembro, o Espao Ray-mundo Magliano Filho recebe, ao longo do ano, cerca de 100 mil visitantes de vrias regies do Brasil e do Exte-rior, principalmente estudantes.

DEZ ANOS DO PROGRAMA BM&BOVESPA VAI AT VOCO programa, inspirado nos ensinamentos do filsofo italiano Norberto Bobbio, tem vrios mdulos e j chegou a 667 mil pessoas, 270 empresas, 359 feiras e exposies e a diversos municpios de todo o Pas

POR SLVIA PENTEADO* FOTOS AGNCIA LUZ

REVISTA DA NOVA BOLSA 31REVISTA DA NOVA BOLSA 31

PREGANDO NO DESERTODurante o evento comemorativo dos dez anos,

Edemir Pinto, diretor presidente da BM&FBOVESPA, agradeceu a Raymundo Magliano por ter pregado no deserto e no ter se deixado intimidar pelas dificuldades iniciais. E afirmou: Hoje, os funcionrios e as corretoras que formam a BM&FBOVESPA agradecem por voc ter aberto portas, por ter posto o p na estrada, trilhando ca-minhos por todo o Brasil, divulgando o conhecimento sobre o mercado de capitais e seus benefcios ao Pas.

Magliano, naturalmente satisfeito ao constatar o su-cesso do projeto que teve o privilgio de ajudar a im-plantar, lembrou que a inspirao veio das ideias do fi-lsofo e jurista italiano Norberto Bobbio. Para democra-tizar uma instituio, escreveu Bobbio, ela deve ancorar--se em trs pilares: visibilidade, transparncia e acesso. A discusso comeou pelo fato de a Bolsa ser ento uma instituio elitista. Queramos que ela se popularizasse, queramos desmistific-la, mostrar que no era um gran-de cassino, como a maioria da populao pensava, mas que tinha um papel importante para a sociedade e para o desenvolvimento do Brasil.

Em busca de mais transparncia, foi criada a figura do ombudsman. Para propiciar mais visibilidade, o ponto principal era reduzir a distncia entre a Bolsa e a popula-

o. A soluo mais simples era chegar at as pessoas de forma direta e assim foi criado o Bovmvel, que comeou indo praia. Depois, fomos buscar os trabalhadores por meio dos sindicatos, das empresas, depois as mulheres, os universitrios e no paramos mais. O acesso de que falava Bobbio foi uma consequncia disso tudo.

VISO PREMONITRIA No entender de Yoshiaki Nakano, diretor da Escola

de Economia da FGV-SP, que representou no evento as instituies de ensino parceiras da Bolsa no programa, todas as pessoas que mudaram o mundo comearam pregando no deserto, como Magliano.

Com seu entusiasmo contagiante, ele foi um visio-nrio, antecipando o que est acontecendo hoje com 40 milhes de pessoas das classes D e E migrando para a C. O resultad