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2 Revista de Iniciação Científica da ULBRA - n.3 - 2004

ReitorRuben Eugen BeckerVice-ReitorLeandro Eugênio BeckerPró-Reitor de AdministraçãoPedro MenegatPró-Reitor de Graduação da Unidade CanoasNestor Luiz João BeckPró-Reitor de Graduação das Unidades ExternasOsmar RufattoPró-Reitor de Pesquisa e Pós-GraduaçãoEdmundo Kanan Marques

DIRETORIA DE PESQUISANádia Schröder PfeiferAna Maria Pujol Vieira dos SantosMarilena França Sarmento BarataMárcia Viana das DoresJuliana da Silva Lemos

ORGANIZAÇÃOAna Maria Pujol Vieira dos SantosMarilena França Sarmento BarataNádia Schröder Pfeifer

EDITORA DA ULBRADiretorValter KuchenbeckerCoord. de periódicosRoger Kessler GomesCapaJuliano Dall’AgnolProjeto GráficoIsabel KubaskiEditoraçãoHumberto Gustavo Schwert

Av. Farroupilha, 8001 - Prédio 29 - Sala 202 - Bairro São JoséCEP: 92425-900 - Canoas/RSFone: (51) 3477.9118 - Fax: (51) 3477.9115www.editoradaulbra.com.brE-mail: [email protected]

Imagem da capa: grãos de pólenAutoria: Laboratório de Palinologia da Ulbra – Aumento 1000X.

Dados Internacionais de Catalogação na Publicação – CIP

Setor de Processamento Técnico da Biblioteca Martinho Lutero – ULBRA/Canoas

R454 Revista de Iniciação Científica /

Universidade Luterana do Brasil. -Vol. 1, n. 1 (2002)- . - Canoas:Ed. ULBRA, 2002.v. ; 23 cm.

Anual.ISSN 1806-8642

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Índice

APRESENTAÇÃO................................................................................................................. 7

CIÊNCIAS EXATAS E DA TERRAProjeto Ralnet: avanços e resultados ................................................................................................... 11Análise palinológica e evolução ambiental da região do Banhado da Cidreira, RS, Brasil ................... 21

CIÊNCIAS BIOLÓGICASDistribuição espacial e ocupação de tocas do caranguejo fantasma Ocypode quadrata(Fabricius, 1787) (Decapoda: Ocypodidae) na Praia do Siriú, SC ..................................................... 31Monitoramento da toxicidade genética associada aos dejetos industriais e urbanosem amostras de água do rio Caí através do Teste SMART ................................................................ 43Avaliação da atividade mutagênica e antimutagênica induzidas pelo extrato vegetal da Costus spicatus ........ 51Comparação de desenvolvimento inicial do rudimento seminal em Schinus terebinthifoliusRaddi e Schinus polygamus (Cav.) Cabr. (Anacardiaceae) ............................................................. 61Avaliação do efeito fotoprotetivo de Polytrichum juniperinum Hedw, Colobanthus quitensis (Kunth.)Bartl. e Deschampsia antarctica Desv. através de ensaio cometa em Helix aspersa (Müller, 1774) .......... 73O emprego dos genes RAG na elucidação das relações filogenéticas de mamíferos ............................. 79Avaliação de sensibilidade de três sistemas para a detecção de Mycoplasma gallisepticumpela Reação em Cadeia da Polimerase (PCR) ................................................................................... 85Caracterização da concha, rádula e mandíbula de Simpulopsis (Eudioptus) sp. ocorrente noestado do Rio Grande do Sul, Brasil ................................................................................................... 93

ENGENHARIASEstudo de aplicação de um resíduo líquido industrial à base de alumínio comoreagente coagulante .......................................................................................................................... 101

CIÊNCIAS DA SAÚDEAnálise dos níveis de desconforto a sons intensos em indivíduos com perda auditivaneurossensorial no laboratório de audição da ULBRA para um procedimento específico .................. 111

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Estudo sobre a prevalência de maus tratos físicos na cidade de Canoas (RS) ................................... 119Efeito da administração do extrato do Croton cajucara Benth em ratos normais ............................ 125Estudo do crescimento somático e da aptidão física relacionados à saúde em estudantes surdosdas escolas especiais da região metropolitana de Porto Alegre .......................................................... 135

CIÊNCIAS AGRÁRIASDesempenho da pastagem de capim tanzânia submetida a diferentes níveis de adubaçãonitrogenada e pastejo contínuo com novilhas .................................................................................... 147Avaliação de enzimas extracelulares em isolados de Trichoderma sp. .............................................. 159

CIÊNCIAS SOCIAIS APLICADASAs teorias da finalidade da pena e o respeito às garantias fundamentais ........................................... 167Geografia e educação ambiental nas encostas do Morro da Polícia .................................................. 177Características da população de Santa Maria .................................................................................. 187

CIÊNCIAS HUMANASHermenêutica aplicada ao estudo da escatologia bíblica: a contribuição de Santo Agostinho nodebate a respeito do milênio ............................................................................................................. 197A necessidade da atualização para o ensino de genética ................................................................... 207Harry Potter: magia, ciência, tecnologia articuladas na literatura para a produção de umainfância/adolescência ciborgue? ......................................................................................................... 217Psicopatologia na infância: relações entre sintomatologia da criança e vínculo com cuidadores ......... 227Rindo de professores(as): um estudo do humor sobre a docência ..................................................... 239Formas kantianas da sensibilidade em sua dupla perspectiva estética ................................................ 249

LINGÜISTICA, LETRAS E ARTESEstudos surdos: uma abordagem lingüística1 ................................................................................... 259

ÍNDICE DE AUTORES ..................................................................................................... 271

NORMAS EDITORIAIS .................................................................................................... 275

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Apresentação

A Revista de Iniciação Científica da ULBRA que apresentamos, revela o crescimento qualita-tivo dos trabalhos de iniciação científica selecionados no X Salão de Iniciação Científica da ULBRAde 2004, que se constitui num espaço de convergência e irradiação do saber.

A iniciação científica é um instrumento básico de formação de recursos humanos qualificadosque possibilita introduzir os alunos de graduação em contato direto com a atividade científica etecnológica e engajá-los na pesquisa. Nessa perspectiva, a iniciação científica caracteriza-se comoinstrumento de apoio teórico e metodológico à realização de um projeto de pesquisa. O Programa deIniciação Científica e Tecnológica (PROICT/ULBRA) foi proposto para efetivar esse processo con-sistente de capacitação de recursos humanos visando estabelecer mecanismos adequados de auxíliopara a formação de uma nova mentalidade no aluno, desenvolvendo nele a atitude científica, tor-nando-o um indivíduo preparado para ser o profissional diferenciado no mercado de trabalho.

O Salão de Iniciação Científica da ULBRA, mais do que a difusão de conhecimentos, é aampliação das relações da Universidade com a comunidade em que está inserida e aberta a outrasInstituições de Ensino Superior, constituindo-se numa oportunidade única para que o estudantepossa perceber o sentido do fazer científico dentro da Universidade.

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Ciências Exatas e da Terra

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Projeto Ralnet: avanços e resultados

SIDCLEY DA SILVA SOARES1

ALEX DA ROSA MEDEIROS2

ADRIANO PETRY3

ADRIANO ZANUZ4

RESUMO

Este trabalho apresenta os principais avanços e resultados obtidos no Projeto RALNET: Desenvolvi-mento e Aplicação de Tecnologias de Reconhecimento Automático de Locutor para Autenticação deUsuários em Redes de Computadores, desenvolvido junto ao laboratório de Redes e Hardware da Univer-sidade Luterana do Brasil, com apoio do CNPq.

Palavras-chave: reconhecimento de locutor, criptografia, redes de computadores, autenticação de usu-ários, processamento de voz.

ABSTRACT

This work presents the main results and advances obtained with RALNET Project: Development andApplication of Automatic Speaker Recognition Technologies for User Authentication in Computer Networks,developed in Networks and Hardware Laboratory of Universidade Luterana do Brasil, with sponsor of CNPq.

Key words: speaker recognition, cryptography, computer networks, user authentication, speech processing.

1 Acadêmico do Curso de Ciência da Computação/ULBRA– Bolsista do CNPq

2 Acadêmico do Curso de Ciência da Computação/ULBRA– Bolsista PROICT/ULBRA

3 Professor – Orientador do Curso de Ciência da Computa-ção/ULBRA ([email protected])

4 Professor do Curso de Ciência da Computação/ULBRA

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INTRODUÇÃO

Uma das técnicas mais utilizadas para garan-tir a segurança de transações em redes de com-putadores envolve a identificação e a autenti-cação de usuários. A identificação e a autenti-cação são os processos de reconhecimento e deverificação da identidade de usuários válidos.Uma nova forma de identificação e autentica-ção de pessoas pode ser realizada através daanálise de sua voz. Desse modo, técnicas deReconhecimento Automático de Locutor (RAL)podem ser utilizadas para validar a identidadede um usuário através de uma medida biométricavocal. Como o sinal de voz gerado por uma pes-soa nunca será igual a outro já gerado, o siste-ma de verificação vocal será capaz de identifi-car tentativas de fraude, caso a senha vocal apre-sentada para análise seja coincidente com ou-tra já utilizada. A utilização de senhas vocaisaumentará a confiabilidade do sistema como umtodo, possibilitando a implementação prática deuma autenticação robusta.

A Internet é uma rede de alcance mundialde computadores que utiliza o protocolo TCP/IP para suas comunicações. O uso dessa redefornece uma série de benefícios em termos deaumento ao acesso à informação para diversostipos de instituições (educacionais, governamen-tais, comerciais, etc.). Porém, o acesso a redesde computadores apresenta diversos problemassignificativos relacionados à segurança. Os pro-blemas inerentes do protocolo TCP/IP, a com-plexidade da configuração de servidores, asvulnerabilidades introduzidas no processo dedesenvolvimento de software e uma variedadede outros fatores tem contribuído para tornarcomputadores despreparados abertos à ataquesde intrusos.

O projeto RALNET: Desenvolvimento e Apli-cação de Tecnologias para Reconhecimento Au-tomático de Locutor em para Autenticação deUsuários em Redes de Computadores, vem sen-do desenvolvido junto ao Laboratório de Redes eHardware da Universidade Luterana do Brasil(ULBRA), com apoio do Conselho Nacional deDesenvolvimento Científico e Tecnológico(CNPq). Dentre os objetivos propostos nesse pro-jeto, salientam-se o estudo de tecnologias de RALaplicáveis em sistemas de segurança de redes decomputadores, o planejamento de um sistemacapaz de integrar as tecnologias de RAL e siste-mas para transações pela Internet, e a constru-ção e validação de um protótipo capaz de efeti-vamente utilizar tais tecnologias e efetuar a au-tenticação por voz de usuários localizados remo-tamente. Este trabalho apresenta os resultados jáalcançados no projeto, assim como o desenvolvi-mento técnico obtido.

MATERIAL E MÉTODOS

A autenticação de usuários em sistemas di-gitais quaisquer pode apresentar diferentes grausde confiabilidade. Inicialmente, podemos ima-ginar sistemas onde o usuário é autenticado uti-lizando uma informação secreta de seu conhe-cimento (senha). Esse tipo de sistema apresentavulnerabilidades relacionadas ao roubo da in-formação secreta. Isso muitas vezes aconteceatravés da utilização de programas que recebemtodas informações inseridas no sistema e as en-viam para seu criador. Outras vezes, as pessoasescolhem senhas que podem ser mais facilmen-te descobertas, como data de nascimento, seupróprio nome, etc. Nesses casos, tentativas sis-temáticas de acesso poderão resultar na desco-berta dessas senhas.

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Outra forma de tentar dificultar a ação defraudadores é a utilização de elementos físi-cos para permissão do acesso a sistemas. Mui-tas vezes, os elementos utilizados são cartõesmagnéticos que armazenam informações dousuário. Assim, para que um intruso consigaacesso ao sistema ele necessariamente deverároubar o cartão magnético da vítima. A fimde aumentar ainda mais a confiabilidade desistemas que utilizam dispositivos físicos deacesso, por vezes esse tipo de segurança écombinado com a necessidade de conheci-mento de uma senha secreta. Assim, um sis-tema que exige uma informação que apenas ousuário saiba associado a um dispositivo físicoque apenas o usuário possua, garante umamaior confiabilidade ao sistema. Esse tipo deproteção atualmente é adotado em muitos sis-temas que exigem um certo grau de seguran-ça, como o sistema bancário. Ainda assim, essessistemas podem ser fraudados pelo extravio dodispositivo de acesso e a descoberta da senhasecreta.

Em um terceiro nível de segurança, pode-mos imaginar um sistema que não requeira in-formação secreta do usuário (que pode serdescoberta), nem mesmo a posse de um car-tão magnético (que pode ser roubado), masforneça o acesso ao usuário apenas se ele pu-der provar que ele é realmente o usuário comdireito de acesso, através de uma mediçãobiométrica. A possibilidade de utilização detécnicas para RAL em sistemas reais é umadas grandes motivações dos trabalhos desen-volvidos na área. Outras técnicas tambémpoderiam ser utilizadas para a confirmaçãoautomática da identidade de uma pessoa atra-vés de medidas biométricas, sem intervençãohumana. Alguns exemplos são o reconheci-

mento da íris, reconhecimento de face, análi-se da impressão digital, verificação das carac-terísticas geométricas da mão, avaliação daforma do caminhar, análise da assinatura, etc.Por outro lado, a autenticação biométrica atra-vés da voz possui várias vantagens intrínse-cas, quando comparadas às outras técnicasbiométricas, como:

- Facilmente adquirida, sem a necessidadede hardware específico. Apenas um mi-crofone de custo reduzido é capaz de ad-quirir a voz do locutor com precisão.

- Não intrusiva, isto é, não existe a neces-sidade de contato físico do usuário com osistema de captação da voz.

- Natural e de fácil aceitação. As maioriadas pessoas se comunicam através da voz,que é um método extremamente difundi-do e utilizado, excetuando-se as pessoascom necessidades específicas.

- Não requer treinamento, ou seja, os usu-ários podem ser autenticados sem que ne-cessitem aprender a lidar com o sistema.

- Pode ser facilmente utilizada em redes te-lefônicas, permitindo a autenticação re-mota, sem a necessidade de qualquerequipamento extra, uma vez que o pró-prio aparelho telefônico já possui otransdutor para a captação do sinal de voz.

Pode-se identificar muitas aplicações prá-ticas para os sistemas de RAL. De uma formageral, os sistemas de autenticação de usuári-os através de senhas ou cartões poderiam sersubstituídos por (ou agregados a) sistemas deRAL, estabelecendo-se uma confiabilidadesuperior.

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SISTEMA PROPOSTO

O sistema construído funciona através deuma arquitetura cliente-servidor. O lado ser-vidor conta com o acesso a um banco de dadospara armazenamento e consulta de informaçõesde usuários e padrões vocais. Além disso, a ge-ração dos padrões de voz e a autenticação dasinformações extraídas a partir do sinal de vozdo usuário é realizada também no lado servi-dor. A comunicação se dá através da Internet,utilizando técnicas de criptografia para troca

de dados. No lado cliente, a interação com ousuário e captura do sinal de voz se dá pelamanipulação de uma placa de som comum, quedeverá estar presente no computador cliente.Parte do processamento digital do sinal de vozé realizado já no lado cliente, que envia ape-nas as informações extraídas a partir do sinalde voz, reduzindo assim o tráfego da rede e acarga de processamento no computador servi-dor. A figura 1 ilustra os principais blocos cons-tituintes do protótipo desenvolvido, que sãodetalhados a seguir.

Figura 1 - Ilustração da arquitetura utilizada na construção do protótipo de autenticação remota por voz.

A linguagem de programação Java foi adota-da para a construção do protótipo por oferecerrecursos poderosos de programação para comuni-cação entre computadores, além de suportar di-versas arquiteturas de hardware e sistemasoperacionais. O ambiente de desenvolvimentoutilizado foi o NetBeans IDE 3.5.1, com o kit dedesenvolvimento Java 2 SDK standard editionversão 1.4.1. Apenas a biblioteca deprocessamento de voz foi implementada utilizan-do uma linguagem de programação diferente, alinguagem C++, através da ferramenta VisualStudio 6.0. Essa escolha foi feita principalmentepela maior velocidade de processamento ofereci-da e possibilidade de reutilização de código já

construído ao longo de trabalhos anteriores(PETRY, 2002). O acesso à base de dados foi fei-to através de Java Database Connectivity (JDBC),utilizando um servidor de banco de dados MySQL(HORSTMANN & CORNELL, 2001).

TÉCNICAS PARA RAL EMUMA ARQUITETURACLIENTE-SERVIDOR

As técnicas empregadas para o RAL são obje-to de estudos e aperfeiçoamentos de pesquisado-res há vários anos. Atualmente os algoritmos dis-

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poníveis oferecem taxas de reconhecimento ele-vadas, permitindo a construção de sistemas bas-tante confiáveis. Um sistema para RAL é com-posto basicamente pelas etapas de treinamento ereconhecimento. A etapa de treinamento normal-mente é realizada antes de se tentar reconhecerqualquer amostra de voz. Essa etapa abrange aaquisição do sinal vocal dos locutores que serãocadastrados no sistema, extração de informaçõesúteis dessas amostras, geração dos padrões de vozque serão utilizados como referência na etapa de

reconhecimento e identificação dos limiares desimilaridade associados aos padrões gerados, parao caso de verificação de locutor. A etapa de re-conhecimento ou autenticação abrange a aqui-sição do sinal de voz que será avaliado, extraçãode informações úteis e comparação dessas infor-mações com os padrões gerados na etapa anteri-or. Nesse momento, o limiar de similaridade indi-cará se a identidade foi ou não aceita. A figura 2ilustra as etapas de treinamento e reconhecimen-to para um sistema genérico de RAL.

Figura 2 - Ilustração das etapas de treinamento e reconhecimento para um sistema genérico de RAL.

Neste trabalho, o processamento dos sinaisde voz foi feito de acordo com resultados obti-dos a partir de diversos experimentos práticos,que também são similares a vários outros traba-lhos dos autores na área (PETRY, ZANUZ &BARONE, 1999; PETRY, 2002; PETRY &BARONE, 2002; PETRY & BARONE, 2003).Os algoritmos foram implementados utilizandoa linguagem de programação C++, objetivandoprincipalmente a redução no tempo deprocessamento requerido. Eles foramdisponibilizados ao programa principal (escritoem linguagem Java) através de uma bibliotecade vínculo dinâmico.

No sistema proposto, as amostras de voz utili-zadas são gravadas a uma freqüência deamostragem de 8000 Hz, com resolução de 16 bitspor amostra em apenas um canal (mono). A se-guir, um filtro digital de pré-ênfase com respostaem freqüência de +6 dB/oitava é aplicado ao si-nal de forma a atenuar as componentes em baixafreqüência, nivelando o espectro do sinal. Poste-riormente o sinal é dividido em janelas de curtaduração, dentro das quais o sinal de voz pode serconsiderado estacionário. As janelas do tipohamming foram utilizadas com duração de 45 ms.Essas janelas são sobrepostas, sendo aplicadas acada 10 ms do sinal de voz, de forma a suavizar a

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extração das informações. As janelas de voz quecontiverem apenas silêncio são descartadas, ba-seado na análise da energia do sinal contido najanela. A partir de cada janela de voz são extra-ídos 16 coeficiente mel-cepstrais e 16 coeficien-tes delta mel-cepstrais, que serão utilizados paraa caracterização do locutor. Os procedimentos deaquisição da voz, pré-ênfase e extração de infor-mações úteis são detalhados em diversos traba-lhos, como em (DELLER, PROAKIS &HANSEN, 1987; RABINER & JUANG, 1993).O classificador utilizado é baseado em modelosde mistura de gaussianas (GMM), tendo sidoempregadas 80 gaussianas adaptadas a partir deum modelo universal (UBM) para representaçãode cada padrão de voz. Maiores detalhes relati-vamente à implementação das técnicas empre-gadas na classificação podem ser obtidos em(REYNOLDS, QUATIERI & DUNN, 2000;PETRY & BARONE, 2003).

Ao se trabalhar com uma arquitetura clien-te-servidor, é importante definir-se onde será re-alizado o processamento da voz adquirida no com-putador cliente. É possível transmitir-se todo osinal de voz adquirido para o computador servi-dor. Entretanto, essa alternativa imporia um altotráfego na rede, uma vez que os dados brutos devoz ocupam muitos bytes. Por exemplo, um siste-ma de cadastramento de um usuário que reque-rer 12 repetições de uma senha vocal compostade 5 dígitos, como sugerido em (CHIRILLO &BLAUL, 2003) em um produto comercialmentedisponível, pode facilmente obter um minuto defala. Se os dados brutos forem gravados a umataxa de amostragem de 8000 Hz, 16 bits por amos-tra em apenas um canal, o espaço ocupado pelosinal completo chegaria próximo a 1 MB. Alémdisso, o processamento de todo esse sinal (pré-ênfase, janelamento, extração de informações e

geração do padrão de voz) seria realizado no com-putador servidor, elevando a carga deprocessamento requerida. Por outro lado, se ageração completa do padrão de voz fosse feita nocomputador cliente, que então enviaria ao servi-dor apenas o padrão gerado, poderiam haver sé-rios problemas relativos à segurança, como o en-vio de um padrão não confiável. Isso porque ocomputador cliente disporia dos algoritmos utili-zados e dos padrões gerados, que poderiam serutilizados para testes de padrões de autentica-ção, visando a quebra da segurança imposta pelosistema. A situação seria pior se a fase de auten-ticação também fosse feita no computador clien-te. Uma autenticação negativa poderia ser facil-mente desprezada através de poucas mudançasno código do sistema. Assim, é importante que ocomputador servidor não sirva apenas como umrepositório de padrões de voz e receptor de umadecisão sobre autenticação tomada em outro lu-gar, mas que o padrão de voz em si seja geradoassim como a comparação de padrões na autenti-cação sejam feitos lá.

No sistema proposto, as etapas de aquisiçãoda voz, pré-ênfase, janelamento e extração deinformações são realizadas no computador cli-ente, tanto no treinamento quanto no reconhe-cimento. Apenas as informações úteis extraídassão enviadas ao computador servidor, que gerao padrão de voz na fase de treinamento ou au-tentica o usuário, liberando o acesso a algumserviço restrito, na fase de reconhecimento.

BASE DE DADOS

Visando uma ágil e robusta forma para oarmazenamento e consulta das informações utili-zadas no sistema proposto, foi construído um banco

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de dados para armazenar os padrões de voz e in-formações do usuário, assim como um conjuntode dados relativos à utilização do sistema, taiscomo: Internet Protocol (IP) do computador cli-ente, data de conexão, ações tomadas pelo cli-ente durante o decorrer da conexão. Foram utili-zadas as tecnologias de acesso à base de dadosJava Database Connectivity (JDBC) e servidorde banco de dados MySQL (HORSTMANN &CORNELL, 2001). Deve-se salientar que o sis-tema proposto não está atrelado a nenhum bancode dados específico, visto que é disponibilizadana aplicação servidora a opção de conexão comos servidores de banco de dados mais utilizadosatualmente no mercado.

Informações como nome de usuário, padrõesde voz, informações sobre aquisição da voz e ex-tração de informações úteis, e a data em que oúltimo padrão de voz foi atualizado são guardadosna tabela Users. A Tabela Historic armazena in-formações a respeito de conexões realizadas porcada um dos usuários da aplicação. São armaze-nadas as informações que identificam o usuário, oIP do computador cliente, a data de conexão e asinformações úteis extraídas a partir da voz do usu-ário. Esses dados podem ser usados para uma possí-vel avaliação futura de desempenho do sistema.

COMUNICAÇÃO

A possibilidade de dispor de uma comunica-ção segura é de importância fundamental paraqualquer sistema de autenticação. A partir doestabelecimento da comunicação segura, todoo tráfego de informações entre o computadorcliente e servidor deve ser realizado utilizandotécnicas criptográficas para garantir o sigilo e aintegridade dos dados.

Neste projeto, optou-se por utilizar umalgoritmo de chave única para cifrar e decifraros dados, o Data Encryption Standard (DES)(SCHNEIER, 1996; TANENBAUM, 1997;STALLINGS, 1999). Um dos fatores que con-tribuiu para a escolha desse algoritmo refere-seà disponibilidade do cifrador junto ao kit dedesenvolvimento utilizado (Java 2 SDK standardedition versão 1.4.1). Outro fator importante dizrespeito à rapidez de execução do DES nacifragem e decifragem, quando comparado comalgoritmos de chave assimétrica. O desafio paraa perfeita utilização de algoritmos de chave únicafoca na troca segura da chave criptográfica en-tre os computadores cliente e servidor. Uma vezque inicialmente a comunicação segura aindanão existe enquanto a chave não é conhecidapelo lado cliente e pelo lado servidor, deve-sebuscar meios para que ambos lados conheçam achave que será utilizada. O envio “em aberto”de uma chave pode ser interceptado, invalidan-do assim toda a segurança da comunicação. Pararesolver o problema de definição de uma mesmachave criptográfica no computador cliente eservidor, sem ter que envia-la de forma não se-gura, foi implementado o protocolo mostrado nafigura 3. Nesse protocolo, foram utilizadas clas-ses que tratam especificamente da parte decriptografia - classes CriptoClient e CriptoServer- e classes utilizadas no gerenciamento da apli-cação e comunicação via Transmission ControlProtocol (TCP) - classes Cliente e Servidor.

Inicialmente, o computador cliente solicitauma conexão ao computador servidor, que esta-belece a conexão. A partir de então, o compu-tador cliente gera um par de chaves assimétricas,utilizando o algoritmo Diffie-Hellman com ex-tensão de 1024 bits (SCHNEIER, 1996), envi-ando para o servidor apenas a chave pública.

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Da mesma forma, o computador servidor geraum par de chaves assimétricas e envia ao clien-te sua chave pública. Nesse momento, tanto olado cliente quanto o lado servidor possuem seupar de chaves assimétricas, e a chave públicado outro lado. O lado cliente gera então umainformação (segredo) utilizando sua própria cha-ve privada (de conhecimento exclusivo e nun-ca transmitida) e a chave pública do computa-dor servidor. A seguir o cliente envia ao servi-dor o tamanho do segredo gerado. O mesmo se-

gredo gerado no cliente pode ser agora geradono lado servidor. Isso é feito utilizando a chavepública do computador cliente, a chave privadado servidor (de conhecimento exclusivo e nun-ca transmitida) e sabendo-se o tamanho do se-gredo que deve ser gerado. Dessa forma, amboslados cliente e servidor compartilham o mesmosegredo (utilizado como chave de extensão de56 bits para o algoritmo DES), que foi geradoutilizando dados nunca transmitidos (chave pri-vada).

Figura 3 - Protocolo para estabelecimento de chave criptográfica.

APLICAÇÃO CLIENTE ESERVIDOR

As técnicas apresentadas devem ser utiliza-das de acordo com a evolução da interação en-tre o computador cliente e servidor. Assim, fo-ram desenvolvidas as chamadas aplicação cli-ente e aplicação servidora. Elas são responsá-veis basicamente por implementar um protocolode comunicação previamente definido para quese possa efetivamente realizar um cadastramento

ou autenticação por voz. Além disso, devem sercapazes de utilizar os outros módulos disponí-veis para acessar a base de dados, processar si-nais de voz, comunicar-se com o outro lado deforma segura e interagir com o usuário a fim deadquirir amostras de sua voz.

A aplicação cliente e a aplicação servidora tam-bém são responsáveis pela interação com o usuárioatravés de interface gráfica. Na janela construídapara o lado cliente é possível: configurar parâmetros

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como nome do usuário que utiliza o sistema, defi-nir se será realizado um cadastramento ou auten-ticação, inserir dados sobre o computador servidore ajustar controles de áudio.

DISCUSSÕES

Após a construção do protótipo foram conduzi-dos alguns testes iniciais para averiguação do per-feito funcionamento e possível correção de pro-blemas. Os experimentos realizados foram execu-tados inicialmente apenas entre os pesquisadoresenvolvidos na construção do sistema. Um dos fa-tores críticos que foi identificado refere-se a partede aquisição do sinal de voz no computador clien-te. Ficou clara a dificuldade que poderá surgir senão houver uma prévia calibração dos recursos deáudio no computador cliente. Coisas como ajusteautomático do volume de gravação do microfone,desabilitação de qualquer dispositivo de reprodu-ção durante a gravação da voz, e uma clara orien-tação ao usuário para o momento exato que deve-rá iniciar sua fala, poderão facilmente resultar namá utilização do sistema. Várias dessas caracterís-ticas já foram incorporadas ao protótipo desenvol-vido, mas acredita-se ser possível facilitar aindamais a utilização do sistema em estudos futuros.

Outra questão que deve ser levada em consi-deração refere-se às brechas de segurança que essetipo de sistema pode apresentar. Pode-se imaginarque a pré-gravação da voz de uma pessoa e suareprodução para o sistema de RAL possa acarretara aceitação incorreta de impostores. Isso é especi-almente verdade com a utilização de recursos degravação e reprodução sofisticados. Os sistemaspara RAL pouco podem fazer contra esse tipo deerro. Os métodos mais eficientes que se pode con-ceber seriam uma vigilância permanente do dis-

positivo de aquisição de voz, ou o sistema requereruma palavra pseudo-aleatória específica. Uma vi-gilância permanente, a fim de garantir que apare-lhos de reprodução sonora não sejam utilizados,normalmente não é algo desejado em um sistema.Para o aspecto de o sistema requerer uma palavrapseudo-aleatória, palavras diferentes da requeridaapresentariam um valor superior de distorção, im-pedindo uma falsa aceitação. O fato de a palavraser pseudo-aleatória dificulta o sucesso de uma pré-gravação (PETRY, 2002).

CONCLUSÕES

Este trabalho apresentou os avanços obtidos noprojeto RALNET, que resultaram em um protóti-po desenvolvido para autenticação de usuários porvoz em redes de computadores. O funcionamentogeral do sistema construído foi descrito, assim comoforam detalhados seus principais blocos constitu-intes. Diversos desafios foram encontrados ao lon-go do desenvolvimento deste protótipo, relaciona-dos a problemas específicos de construção de al-guma parte ou integração e teste do sistema com-pleto. O protótipo construído deve servir apenascomo intermediador para acesso a algum serviçoremoto, como por exemplo comércio eletrônico,internet banking ou acesso a e-mails. Assim, devehaver uma preocupação também sobre formas paradisponibilizar tal serviço com segurança.

AGRADECIMENTOS

Os autores agradecem ao Conselho Nacionalde Desenvolvimento Científico e Tecnológico(CNPq) pelo apoio financeiro disponibilizadodentro do programa CT-INFO.

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Análise palinológica e evoluçãoambiental da região do Banhado

da Cidreira, RS, Brasil

RENATO BACKES MACEDO1

RODRIGO RODRIGUES CANCELLI1

SORAIA GIRARDI BAUERMANN2

PAULO CÉSAR PEREIRA DAS NEVES3

SÉRGIO AUGUSTO DE LORETO BORDIGNON4

RESUMO

Com objetivo de implementar estudos em Palinologia de Quaternário para a Planície Costeira doEstado do Rio Grande do Sul, foram realizadas análises palinológicas qualitativas e quantitativas emum perfil sedimentar, evidenciando as principais mudanças ocorridas na vegetação em tempos pretéritosna região do Banhado da Cidreira, município de Osório, Estado do Rio Grande do Sul. Os dadospalinológicos foram tratados estatisticamente, resultando na produção de diagramas de porcentagemno qual constituem as bases das interpretações paleovegetacionais e paleoambientais. Estas análisespermitiram estabelecer três zonas palinológicas distintas atestando a comaltação do ambiente e a dimi-nuição da diversidade das espécies na região.

Palavras-chave: quaternário, palinologia, mudanças paleoambientais.

1 Acadêmico do Curso de Biologia/ULBRA - Bolsista PROICT/ULBRA

2 Professor - Orientador do Curso de Biologia/ULBRA([email protected])

3 Professor do Curso de Química/ULBRA4 Professor do Curso de Biologia/ULBRA

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ABSTRACT

In order to implement the Quartenary Palynology studies of Coastal Plain of Rio Grande do Sul State,southern Brazil, qualitative and quantitative palynological analysis were realized in a sedimentary profile,evidencing the major changes in the past time of the vegetation, Banhado da Cidreira region, Osóriocounty in the Rio Grande do Sul State. Palynological data were statisticaly treated, resulting in percentualdiagrams which consists the base of the palaeovegetational and palaeoenvironmental interpretations. Theseanalysis allowed to establishment three palinological distincts zones describing the vegetational colmatationand verifying the reduction of the species diversity of the region.

Key words: quaternary, palynology, palaeoenvironmental changes.

VES & LORSCHEITER 1995), Capão do Leão(NEVES 1998), Águas Claras e Barrocadas(BAUERMANN 2003).

O trabalho objetiva fornecer através das aná-lises palinológicas, qualitativas e quantitativas,evidências das principais mudançaspaleoambientais e paleoclimáticas ocorridas naregião, bem como, correlacionar os resultados comoutros estudos realizados na Planície Costeira.

ÁREA ESTUDADA

Localização

A área estudada situa-se na Planície Costei-ra Norte do Rio Grande do Sul, na localidadede Passinhos, (30° 02‘03“S ; 50º 23‘11“W), mu-nicípio de Osório, entre a Lagoa do Índio e oBanhado da Cidreira e dista aproximadamente112 km da capital do Estado (Figura 1).

INTRODUÇÃO

As pesquisas em Palinologia de Quaternáriosão possíveis uma vez que os grãos de pólen eesporos preservam características morfológicastípicas quando depositados em ambientessedimentares apropriados que lhes permitem afossilização. Conseqüentemente, tendem a re-fletir a vegetação ao redor do mesmo e atravésde comparações com a botânica atual permitemaveriguar as variações ocorridas nas comunida-des vegetacionais.

Os melhores sedimentos para realizar estaspesquisas são os lamosos, visto que, em condi-ções redutoras e acidificantes tornam-se exce-lentes ferramentas de trabalho permitindo a re-alização das análises dos palinomorfos em nívelde família, gênero ou em alguns casos espécie.

Estudos palinológicos foram anteriormenterealizados na Planície Costeira do Rio Grandedo Sul nas localidades de Terra de Areia (NE-

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Caracterização da Vegetação

O inventário florístico da vegetação é o re-sultado de cinco coletas realizadas em diferen-tes épocas do ano de 2003 (março, julho e outu-bro) e 2004 (junho e setembro).

As plantas foram identificas in loco ou, posterior-mente, no laboratório com auxílio de lupa e litera-tura especializada; as exsicatas encontram-se cata-logadas e depositadas no Herbário da UniversidadeLuterana do Brasil (HERULBRA). O levantamen-to resultou em um total de 139 espécies pertencen-tes a 57 diferentes famílias botânicas, destacando-se dentre elas Asteraceae (29), Poaceae (10),Cyperaceae (8) e Melastomataceae (7).

A vegetação de banhado e de mata de restingapaludosa que, antes provavelmente abrangiam umavasta área, encontra-se, atualmente, extremamen-te reduzida e alterada. Dentre os elementos carac-terísticos da mata de restinga paludosa ocorrem aindano local Alchornea triplinervia (Euphorbiaceae),Psidium clattleyanum (Myrtaceae), Ocotea pulchella

(Lauraceae), Ilex pseudobuxus (Aquifoliaceae),Myrsine lorentziana (Myrsinaceae) e Syagrusromanzoffiana (Arecaceae); espécies típicas de ba-nhado Tibouchina trichopoda (Melastomataceae),Eryngium pandanifolium (Apiaceae), Seneciobonariensis (Asteraceae), Sacciolepis campestris(Poaceae), Eriocaulon magnificum (Eriocaulaceae),Mayaca fluviatilis e M. sellowiana (Mayacaceae),Ludwigia cf. sericea (Onagraceae), Potamogeton cf.ferrugineus (Potamogetonaceae), Xyris sp.(Xyridaceae), Boehmeria cylindrica (Urticaceae) eSphagnum sp. (Sphagnaceae).

Nas partes onde houve maior drenagem eque, atualmente, servem como área de criaçãode animais domésticos sendo que provavelmen-te já tenham sido lavoura, encontram-se inú-meras espécies ruderais destacando-se entreelas: Urtica circularis (Urticaceae), Solanumamericanum, (Solanaceae), Hyptis brevipes(Lamiaceae), Sida rhombifolia (Malvaceae),Stellaria media (Caryophyllaceae), Galinsogaparviflora (Asteraceae).

Figura 1 - Localização da turfeira de Passinhos.

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Próximo ao ambiente paludial são encontra-das ainda várias espécies sob cultivo em horta epomar salientando-se Musa sp.(Musaceae),Citrus spp. (Rutaceae) e Persea americana(Lauraceae) e, como quebra-vento, Bambusatuldoides (Poaceae).

MATERIAL E MÉTODOS

Foram coletadas amostras de uma turfeira daregião do Banhado da Cidreira, tendo ponto decoleta as coordenadas (30°02‘03“ S ; 50°23‘11“ W).

O material sedimentar foi coletado com apare-lho “Hiller”, atingindo a profundidade de 2,30 m.

Foi utilizado 1cm3 de sedimento fresco paracada amostra, totalizando 46 amostras extraídasem intervalos de 5 cm cada e processadas físicae quimicamente seguindo a metodologia deFaegri & Iversen (1989). Para a confecção daslâminas palinológicas utilizou-se como meio demontagem gelatina glicerinada.

As análises palinológicas foram realizadas emmicroscopia óptica sob aumentos de 400 X e/ou1000 X em microscópio Leica DMLB e ospalinomorfos fotografados em máquina digital SonyCyber-Shot P-92. As imagens digitalizadas foramtratadas através do programa PHOTOSHOP 6.0.

Com os dados obtidos através de análisesqualitativas e quantitativas, foram elaboradosos diagramas palinológicos de porcentagem atra-vés dos programas “TILIA”, “TILIAGRAPHIC”e “TILIAVIEW” GRIMM (1987).

Aos níveis de base e topo da turfeira foi apli-cado teste t - Student para verificar as possíveisdiferenças estatísticas entre estas respectivasamostras.

A apresentação dos resultados nos gráficospolínicos segue a seguinte ordem: árvores, ervase arbusto, macrófitos aquáticos, pteridófitos,briófitos, fungos, algas, elementos marinhos,fitoclastos e zooclastos. Na montagem dos dia-gramas palinológicos foram considerados todosos palinomorfos identificados durante as análi-ses polínicas e distribuídos conforme seus hábi-tos e/ou hábitat.

RESULTADOS

Análise qualitativa

Através das análises palinológicas foram iden-tificados 94 palinomorfos distribuídos nos seguin-tes grupos: fitoclastos, dois zooclastos, oito al-gas, quatro fungos, dois briófitos, oitopteridófitos, duas gimnospermas e 67angiospermas todos já citados para a PlanícieCosteira do Rio Grande do Sul. (Quadro 1).

Descrição das zonaspalinológicas

As mudanças paleoflorísticas evidenciadas nosconjuntos polínicos, através das análises dospalinomorfos, ao longo do perfil sedimentar permiti-ram estabelecer três zonas palinológicas (Figura 2).

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Zona P - IProfundidade: 2,30 a 1,90 m

A zona P-I foi caracterizada pelo predomíniodas formações campestres, destacando-sepalinomorfos correspondentes a Poaceae,Cyperaceae, Asteraceae, Valeriana, Eryngium, se-guidos de Gomphrena e tipo Xyris, Plantago. Fo-ram ainda registrados palinomorfos de Apiaceae,Caryophyllaceae, Cuphea, Lamiaceae, Oxalis,Polygalaceae, Polygonum, tipo Amaranthus/Chenopodiaceae, tipo Borreria, tipo Pouteria, tipoRubiaceae e tipo Trixis.

Dentre os elementos arbóreos, todos combaixa representação, pode-se salientarMelastomataceae, Myrtaceae e Alchornea, se-guidos de Anacardiaceae. Foram ainda verifi-cados registros de Araucaria, Arecaceae, Celtis,Euphorbiaceae, Fabaceae, Ilex, Mimosaceae,Mimosa série Lepidotae, Podocarpus e tipoBromeliaceae.

Com relação aos demais conjuntos polínicos,destacam-se os macrófitos aquáticos (em especi-al Myryophyllum aquaticum) o que indica a pre-

sença de um corpo de águas lóticas. Os fungos,ao longo desta zona, tiveram expansão na suarepresentatividade à medida que os grãos de pó-len dos macrófitos aquáticos foram reduzindo.

Zona P - IIProfundidade: 1,90 a 0,65 m

A zona P-II apresentou predomínio dos ele-mentos herbáceos sobre os demais destacando-se Poaceae, Cyperaceae, Asteraceae, Valeriana,Eryngium, seguidos de Gomphrena e tipo Xyris,Plantago. Foram ainda registrados Apiaceae,Caryophyllaceae, Cuphea, Lamiaceae, Oxalis,Polygalaceae, Polygonum, tipo Amaranthus/Chenopodiaceae, tipo Borreria, tipo Pouteria, tipoRubiaceae e tipo Trixis. Nesta zona ocorre osurgimento de grãos de pólen dos elementos her-báceos relacionados a Acanthaceae, Fabaceae/Cajanus, Scrophulariaceae, tipo Baccharis, tipoCruciferae, tipo Iridaceae e tipo Senecio.

Os elementos arbóreos tiveram nesta zonauma expansão dentre os quais sobressaemMelastomataceae, Alchornea, Euphorbiaceae,

Figura 2. Diagrama palinológico de porcentagem.

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Myrtaceae e Myrsine. Houve, também, um au-mento de diversidade com o surgimento deBignoniaceae, Chrysophyllum, Meliaceae,Moraceae/Urticaceae, Papilionaceae, Sapium,tipo Convolvulaceae e Weimannia.

Foi verificada uma redução acentuada na taxade porcentagem e diversidade dos macrófitos aqu-áticos, e o aumento expressivo de pteridófitos,briófitos e de algas os quais no seu conjunto ates-tam a colmatação do paleoambiente.

Zona P - IIIProfundidade: 0,65 a 0,0 m

Na zona P-III, constatou- se a mesmafitofisionomia das zonas anteriores, ou seja,grandes formações campestres entremeadaspor manchas de mata. A diversidade dos cam-pos, ainda aumentou devido ao aparecimentode elementos herbáceos como Croton e tipoLiguliflorae.

Os elementos arbóreos continuam em ascen-são, favorecidos pelas novas condiçõespaleoambientais, aumentando sua taxa de por-centagem e de diversidade constatada atravésde novos registros fósseis como Ulmaceae.

As análises dos demais palinomorfos mostra-ram os macrófitos aquáticos gradativamente emdecréscimo, em contra partida, nesta zona evi-dencia-se o representativo aumento na taxa deporcentagem dos fungos os quais estão associa-dos com a expansão dos táxons arbóreos.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

As análises palinológicas dos dados obtidosrevelaram predomínio dos elementos herbáceossobre os arbóreos/arbustivos ao longo de todo otestemunho. Portanto, a paisagem vegetacionalda região esteve sempre constituída por exten-sas áreas de campo com manchas de mata.

A grande ocorrência de táxons compreenden-do os elementos aquáticos nos níveis de base re-fletem uma paisagem com volume de água maiorque os níveis intermediários e o topo da turfeira.A sucessão vegetacional ao longo do testemunhode sondagem mostrou o desenvolvimento de táxonsde elementos arbóreos, briófitos e pteridófitos en-quanto os elementos aquáticos e palustres decres-cem evidenciando a colmatação desse ambiente.

Análises estatísticas aplicadas com teste t -Student entre os níveis de base e topo da turfeira,mostraram diferenças significativas na composi-ção florística das formações campestres, onde adiversidade paleoflorística entre os táxons her-báceos (Asteraceae, Cyperaceae, Eryngium,Gomphrena, Plantago e Valeriana), era maior emtempos pretéritos do que na atualidade. As for-mações florestais não apresentaram diferençassignificativas entre seus elementos constituin-tes, embora a quantidade dos táxons arbóreostenham aumentado gradativamente.

O impacto da ação antrópica na região é evi-denciado através da homogeneização da vegetaçãoatual que, embora apresente a mesma fitofisionomiada zona P-I, possui menor diversidade florística.

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AGRADECIMENTOS

À acadêmica Millene Borges Coelho, do cur-so de Biologia, por sua colaboração nas análisespalinológicas preliminares.

REFERÊNCIASBIBLIOGRÁFICAS

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e evolução paleovegetacional epaleoambiental das turfeiras de Barrocadase Águas Claras, Planície Costeira do RioGrande do Sul, Brasil. 2003. 137f. Tese(Doutorado em Geociências) – Instituto deGeociências, Universidade Federal do RioGrande do Sul, Porto Alegre, 2003.

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GRIMM, E. C. CONISS: a fortran 77

Quadro 1 - Principais palinomorfos encontrados na turfeira de Passinhos. a-Poaceae; b-Asteraceae (vistaequatorial); c-Cyperaceae; d-Eryngium (vista equatorial); e-Gomphrena; f-Ilex (vista polar); g-Celtis;h-Myrtaceae (vista polar); i-Alchornea (vista equatorial).

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Ciências Biológicas

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Distribuição espacial e ocupação de tocasdo caranguejo fantasma Ocypode quadrata(Fabricius, 1787) (Decapoda: Ocypodidae)

na Praia do Siriú, SC

CLAIR XAVIER BERNARDES1

ELIANE FRAGA DA SILVEIRA2

EDUARDO PÉRICO3

ANAPAULA SOMMER-VINAGRE2

RESUMO

O caranguejo Ocypode quadrata (Fabricius, 1787) habita as praias arenosas ao longo detoda a costa brasileira e pouco se conhece sobre sua estrutura populacional. Este trabalho tem porobjetivo verificar o padrão de distribuição espacial da espécie, bem como o índice de ocupação dastocas. Nos meses de janeiro a abril de 2005, foram realizadas oito amostragens através dametodologia de ‘quadrats’ (2m X 2m), na Praia do Siriú, Santa Catarina, para analisar o padrãode distribuição da tocas. As tocas encontradas foram escavadas para verificar o grau de ocupaçãodas mesmas. Os resultados obtidos indicam um padrão de distribuição espacial agregado, commaior concentração próxima à linha das dunas. Das 153 tocas cavadas, 94 estavam ocupadas(61,4%) e 59 estavam vazias (38,6%).

Palavras-chaves: Ocypode quadrata, distribuição espacial, ocupação de tocas.

1 Acadêmica do Curso de Biologia/ULBRA – BolsistaPROICT/ULBRA

2 Professora do Curso de Biologia/ULBRA

3 Professor – Orientador do Curso de Biologia/ULBRA

([email protected])

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ABSTRACT

The crab Ocypode quadrata (Fabricius, 1787) inhabits sandy beaches along the Brazilian coast andthere are few studies describing its population structure. This work aims to verify the spatial patterndistribution of the species and burrow occupancy. From January to April/2005, 8 samples using the quadratmethodology (2 x 2m) were realized in the Siriú beach, Santa Catarina, to analyze the distribution patternof the burrows. The burrows were excavated to verify the degree of occupation of the same ones. Theresults indicate a aggregate pattern of spatial distribution, with higher concentration next the line to dunes.Of the 153 dug burrows, 94 were occupied (61,4%) and 59 were empty (38,6%).

Key words: Ocypode quadrata, spatial distribution, burrow occupancy.

velocidade e coloração críptica são importantesfatores de sobrevivência para esta espécie emum ambiente instável.

A importância da temperatura foi analisadapor MILNE & MILNE (1946). Segundo os au-tores, O. quatrata apresenta sensibilidade ao frio,mas têm certa resistência ao calor, dependendodo grau de umidade de seus canais branquiais.

Sua importância ecológica dá-se principal-mente por seu papel na troca de energia nosecossistemas costeiros (WOLCOTT, 1978). Empraias arenosas, como no litoral do Rio Grandedo Sul, devido a suas características, a biomassaencontra-se normalmente enterrada no substratoarenoso. Entre seus os principais componentesencontram-se as espécies Emerita brasiliensis(SCHMITT, 1935), Excirolana armata (Dana,1852), Donax hanleyanus Philippi, 1847,Mesodesma mactroides (Deshayes, 1854) e O.quadrata, que juntos respondem por mais de 90%da biomassa dessas praias.

O trabalho em questão foi realizado na praiado Siriú (S 28º 0’ 34,0’’; W 48º 37’ 46,9’’), muni-cípio de Garopaba, SC. A região encontra-se nolimite sul da Serra do Tabuleiro e é caracterizada

INTRODUÇÃO

O caranguejo-fantasma Ocypode quadrata(Fabricius, 1787) é um crustáceo pertencente àinfraordem Brachyura, na qual estão inclusossiris e caranguejos marinhos. A espécie ocupapraias arenosas, do nível do supralitoral até aárea das dunas. Os indivíduos mais jovens fa-zem galerias perto do nível de maré alta máxi-ma e entre a vegetação da praia. Os jovens sãoprincipalmente de hábitos diurnos enquanto osadultos são noturnos (MELO, 1999).

O hábito de cavar tocas, bem como os padrõesdas mesmas, foi estudado por diversos autores(COUES, 1871; COWLES, 1908; SAWAYA, 1939e PHILLIPS, 1940). WOLCOTT (1978) utilizoua contagens de tocas para analisar a densidadedas mesmas por metro linear de praia, em dife-rentes meses do ano. FISHER & TEVESZ (1979)estudaram o padrão de distribuição de tocas dejovens e adultos em praias dos Estados Unidos. Adistribuição e a estrutura etária desta espécie fo-ram estudadas no litoral sul do Rio Grande doSul por ALBERTO & FONTOURA (1998).

Segundo TAKAHASI (1935) o fato destesanimais se ocultarem em tocas, apresentarem alta

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por vegetação de restinga e cercada por dunas.Diferentemente de outras praias onde há fluxoconstante de pedestres, e por vezes de veículosautomotores revolvendo a areia da praia, a praiade Siriú permanece semi-deserta durante todo oano, principalmente nos meses de baixa tempo-rada, desta forma, é comum encontrar várias to-cas ao longo de sua extensão sem qualquer sinalque evidencie se estão ocupadas ou não. Assim,o objetivo deste trabalho além de verificar o pa-drão de distribuição espacial das tocas, é conhe-cer o índice de ocupação das mesmas.

MATERIAL E MÉTODOS

Durante os meses de janeiro a abril de 2005,foi realizado um total de oito amostragens. Paracada amostragem, foi traçado aleatoriamente umtransecto de 2m de largura deste a altura da marébaixa até o limite inferior das dunas. Cadatransecto foi dividido em ‘quadrats’ de 2m x 2m enumerado de acordo com a distância em relaçãoà linha d’água. Em cada ‘quadrat’ as tocas en-contradas foram numeradas, mapeadas segundosua localização e tiveram seus diâmetrosmensurados através de paquímetro de precisãode 0,01mm. Cada uma das tocas foi escavada como auxílio de uma pá de jardinagem até que seencontrasse seu limite final. Durante aamostragem, os caranguejos capturados nas to-cas ocupadas foram colocados em recipientes plás-ticos individuais. Para estas tocas foram coletadosdados referentes à profundidade e temperaturada areia na parte interna, onde o caranguejo seencontrava, antes de serem novamente cobertas.Fatores abióticos como a temperatura ambiente,umidade e temperatura da água também forammensurados para posterior correlação. Todos osindivíduos foram pesados, medidos na largura da

carapaça e comprimento. A identificação do sexofoi feita através do exame do formato e da parteinterna do abdome. Após avaliação, todos os in-divíduos foram liberados.

Para efeito de comparação, estipulou-se comomedida padrão a maior distância entre a duna eo mar registrada entre as oito amostragens (34mem jan/05), e para o cálculo de densidade, amaior área utilizada para construção de tocas(14m) em 27/04/05 (onde foi encontrada a 1ªtoca). A variação da maré para as diferentesdatas é apresentada na figura 2.

Para análise estatística do padrão de distri-buição espacial foi utilizado o Índice de Agre-gação e o teste do Qui-Quadrado, conformeKREBS (1998).

RESULTADOS EDISCUSSÃO

A Figura 1 apresenta os resultados obtidosnas oito amostragens realizadas de janeiro aabril de 2005 na Praia do Siriú, SC. Foiestabelecida a comparação direta entre omapeamento das tocas existentes em umtransecto aleatoriamente escolhido e perpen-dicular ao mar (A1), e o mapeamento do mes-mo transecto após a escavação de todas as to-cas (A2), com a definição do grau de ocupa-ção das mesmas. Pode ser observado que naamostragem de 22/01/05, o maior diâmetro es-tava a 28m da linha do mar, e a maior densida-de entre 30 e 32m para as tocas ocupadas (A2),contrastando em parte com os achados de A1,onde a maior densidade ocorre em 24m e 30m.Em 16/02/05, o maior diâmetro encontrado foia 30m da linha do mar, e a maior densidade de

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tocas ocupadas a 24m (A2), coincidindo como transecto A1 exceto pelo nível de ocupaçãona faixa dos 26m. Em 17/02/05, dois picos refe-rentes ao maior diâmetro foram encontrados emA2, um a 24m e outro a 30m da linha d’água,sendo que a maior densidade apresentada foia 26m com tocas de menor diâmetro em A2,diferindo dos achados encontrados entre 28 e30m em A1, onde haviam seis tocas, porém so-mente uma ocupada. Esta observação juntamen-te com a de 18/02/05 a 32m, onde todas as setetocas estavam vazias, demonstra avulnerabilidade do método de censo indiretoque eventualmente pode superestimar a popu-lação de O. quadrata, baseando-se na existên-cia de tocas sem conhecer o índice de ocupa-ção das mesmas. Na amostra de 18/02/05, omaior diâmetro estava a 26m da linha do mar,e a maior densidade a 30m (A2), contrastandonovamente com A1, que sugeria uma maiordensidade a 32m da linha do mar, já em 25/03/05, confirmou-se a maior densidade e o maiordiâmetro médio na faixa de 30m entre as tocasexistentes em A1 e as tocas efetivamente ocu-

padas de A2, ainda que nesta amostragem 50%das tocas estivessem vazias. Em 26/03/05, o le-vantamento mostrou novamente uma discre-pância entre o número de tocas encontradasem A1 e o número de tocas efetivamente ocu-padas em A2, com uma variação mais acentu-ada de diâmetro na faixa dos 30m, em 27/04/05, não houve diferença entre A1 e A2, e oíndice de ocupação das tocas foi de 95%, omesmo ocorrendo em 28/04/05 onde não houvevariação significativa entre A1 e A2, excetoquanto ao grau de ocupação das tocas.

O número total de tocas mensuradas nas oitoamostragens foi de 153 para A1, e 94 para A2,correspondendo a um percentual de ocupaçãode 61,4%, os maiores e menores diâmetros en-contrados foram (33,7;8,8), (34,1;6,3),(33,1;8,2), (31,1;14,5), (31,8;6,8), (30,5;7,4),(30,5;7,4), (29,3;10,0) e (33,1;10,5) para as da-tas de 22/01, 16/02, 17/02, 18/02, 25/03, 26/03,27/04 e 28/04, respectivamente. Estes dados cor-roboram a necessidade de estudos paraleloscomo este, a fim de evitar a superestimação dotamanho populacional da espécie.

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A1 A2

Figura 1 - Densidade e diâmetro médio das tocas em cada amostragem (A1) compara-dos à densidade ediâmetro médio das tocas efetivamente ocupadas (A2).

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A1 A2

Figura 1 (continuação) - Densidade e diâmetro médio das tocas em cada amostragem (A1) comparados àdensidade e diâmetro médio das tocas efetivamente ocupadas (A2).

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37Revista de Iniciação Científica da ULBRA - n.3 - 2004

A figura 2 apresenta o mapeamento total dastocas nas oito amostragens realizadas, com suasrespectivas localizações e diâmetros. Nos oito

períodos de amostragem foi analisado um total84 ‘quadrats’. Para cada uma das tocas escava-das e ocupadas foi identificado o sexo do indiví-

Figura 2 - Mapeamento das tocas de O. quadrata nas amostragens realizadas em Siriú, SC. Os números nos‘quadrats’ correspondem a distância (em metros) em relação ao mar, e a área sombreada corresponde

a linha da maré na data da amostragem ( Tocas vazias Machos Fêmes Juvenis).

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duo ou se era juvenil. O padrão de distribuiçãoencontrado foi de agregado, testado em relaçãoà distribuição de Poisson por dois métodos: oÍndice de Dispersão (I) e o Teste de Qui-qua-drado. O primeiro, definido como a relação en-tre a variância e a média observadas (I = 5,377/1,821) e testados através do c2 pela fórmula c2 =I (n – 1), para (n – 1) Graus de Liberdade, onde

“n” = número de ‘quadrats’ (84). O valor obti-do foi de I= 2, 952 com um c2 = 245,04 (83g.l.;P=0,000), portanto significativo. O segundométodo, comparando diretamente as freqüên-cias observadas e esperadas segundo a distribui-ção de Poisson, através da fórmula: c2 = å(o-e)2

/e, indicou um valor de c2 = 258,31 (9g.l.;P=0,000) também significativo.

Tabela 1 - Ocupação das tocas e distribuição dos indivíduos encontrados conforme o sexo ou estágio dedesenvolvimento durante os meses de amostragem.

MÊS

JAN FEV MAR ABR

Ocupação N % n % n % n %

Vazias 7 32,0 21 46,0 22 54,0 9 20,0

Machos 12 55,0 11 24,0 14 34,0 3 7,0

Fêmeas 1 5,0 4 9,0 0 0,0 4 9,0

Juvenis 2 0,0 10 22,0 5 12,0 28 64,0

Total 22 100,0 46 100,0 41 100,0 44 100,0

A tabela 1 apresenta os resultados obtidos emrelação à ocupação das tocas conforme o mês deamostragem. Pela análise desta tabela pode serobservado que o percentual de tocas vazias va-riou entre 20% (abril) e 54% (março). Nas tocasocupadas os machos sempre foram os mais fre-qüentes (55% em jan/05, 24% em fev/05, 34%em mar/05), exceto em abril, quando o percentualde juvenis sobe para 64%. Isto pode ser explicado

por um possível recrutamento ocorrido duranteos primeiros meses de verão. Este padrão foi ob-servado por ALBERTO & FONTOURA (1998)na praia de Pinhal, RS. A baixa freqüência defêmeas foi observada em todos os meses deamostragem, o que pode ser explicado pelo hábi-to de permanecerem ocultas em suas tocas du-rante o período de incubação dos ovos (NEGREI-ROS-FRANÇOZO et al, 2002).

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A figura 3 apresenta os diâmetros de todasas tocas amostradas durante os meses de janeiroa abril, posicionando-as em relação à distânciado mar. Pode ser observado um padrão homogê-neo de distribuição de juvenis, que ocupam todaa faixa de areia entre o mar e as dunas. Os ma-chos iniciam a ocupação a partir dos 24m, jun-tamente com as fêmeas, e se estendem por todaa faixa até as dunas. O diâmetro médio de tocasocupadas por fêmeas aumentou na medida emque se distanciaram do mar, já o diâmetro mé-dio das tocas ocupadas por machos foi decres-cente em relação ao distanciamento do mar.Padrão decrescente semelhante pode ser obser-vado para as tocas vazias, sugerindo uma possí-

vel ocupação anterior por parte de indivíduosmachos, o que só poderia ser confirmado medi-ante novos estudos.

A relação entre a densidade e tamanho mé-dio das tocas pode ser observada na figura 4. Nomês de fevereiro ocorreu um aumento no diâ-metro médio e uma baixa densidade, em con-traste com as amostras do mês de abril, onde adensidade de tocas por m2 aumenta e o diâme-tro médio diminui. Tocas vazias com grandesdiâmetros são observadas próximas à linha domar (22m) o que pode indicar que sirvam deabrigo temporário durante a alimentação, deso-va ou acasalamento.

Figura 3 - Diâmetro médio (mm) do total de tocas de Ocypode quadrata amostradas em relação a distânciado mar (m).

0,0

5,0

10,0

15,0

20,0

25,0

30,0

32 30 28 26 24 22 20

Distância do Mar (m)

Diâm

etro

Méd

ioda

sTo

cas

(mm

)

MachosFêmeasJuvenisVazias

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A complexidade dos ambientes costeiros, suageografia, a influência direta de fatoresabióticos como substrato, fotoperíodo, tempe-ratura, direção e intensidade dos ventos,pluviosidade e marés transformam cada praianum ambiente único, com características es-pecíficas. DUNCAN (1986) em seu trabalhosobre tocas de O. quadrata realizado na costada Georgia, USA, relata ter encontrado tocasverticalmente orientadas entre dunas, contras-tando com as conclusões de FREY & MAYOU(1971), Georgia, e CHAKRABATI (1981),Índia, de que as mesmas são restritas aosupralitoral. ZIMMER et al (2003), em traba-lho realizado na praia de Itapeva, RS, descre-vem como área de maior densidade no verão, afaixa de areia que vai de 50 à 60m de distânciada linha d’água, da mesma forma, ALBERTO& FONTOURA (1998) descrevem a maiordensidade na praia de Pinhal, RS para o mêsde fevereiro, a faixa de areia que vai de 55 à

60m. As duas praias são descritas como tendouma faixa de areia com baixa intensidade detocas devido ao tráfego de veículosautomotores. Já no presente trabalho, a limita-ção das tocas parece estar diretamente relaci-onada com a linha de alcance das marés, jáque são encontradas tocas a partir de 20m oumenos de distância da linha da maré. Tendoem vista os resultados e considerações aquiapresentados, bem como a dificuldade de seobter uma amostra significativa da populaçãoatravés da captura dos caranguejos, verifica-se que o censo indireto com base na correla-ção existente entre a largura da carapaça e odiâmetro da toca (WOLCOTT, 1978; FISHER& TEVESZ, 1979; ALBERTO & FONTOURA,1998) continua sendo uma ferramenta eficien-te nos estudos de distribuição espacial e dinâ-mica populacional, porém, deve ser somado aum estudo detalhado das condições abióticase a concentrados esforços de campo.

Figura 4 - Diâmetro médio (mm) e densidade por m2 das tocas de O. quadrata.

0,0

5,0

10,0

15,0

20,0

25,0

30,0

22/1/2005 16/2/2005 17/2/2005 18/2/2005 25/3/2005 26/3/2005 27/4/2005 28/4/2005

Data da amostragem

Diâ

met

rom

édio

das

toca

s(m

m)

0

0,2

0,4

0,6

0,8

1

1,2

Den

sida

de(m

2 )

Diâmetro médio(mm)Densidade (m2)

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CONCLUSÕES

A distribuição espacial encontrada para O.quadrata em Siriú, SC foi do tipo agregada. Oexperimento mostrou diferença entre o númerode tocas amostradas e o número de tocas efeti-vamente ocupadas, com um percentual de ocu-pação de 38% para janeiro, 54% para fevereiro,46% para março e 80% para abril/05. Machos efêmeas ocuparam a faixa de praia superior a 24mda linha do mar, enquanto juvenis foram encon-trados a partir de 20m. Tocas vazias foram en-contradas a partir dos 22m de distância do mar.

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Monitoramento da toxicidade genética associadaaos dejetos industriais e urbanos em amostras de

água do rio Caí através do Teste SMART

JANAÍNA DIAS GODINHO1

VIVIANE SOUZA DO AMARAL2

RENATA MEDINA DA SILVA2

MARIA LUÍZA REGULY3

HELOISA HELENA RODRIGUES DE ANDRADE3,4

RESUMO

O rio Caí é utilizado como corpo hídrico recipiente de efluentes industriais e urbanos. Em função disto,foi utilizado o teste SMART para traçar um diagnóstico da genotoxicidade associada a este rio. As coletasforam realizadas nos meses de março, junho e setembro de 1999 em pontos sob influência industrial(km18,6 e km13,6) e urbana (km52, km78 e km80). Os pontos km 18,6 e km 13,6 foram caracterizadoscomo destituídos de ação genotóxica. Por outro lado, as amostras urbanas referentes aos meses de março(km 52, 78 e 80) e setembro (km 52) foram diagnosticadas como indutoras de toxicidade genética.Considerando estes resultados, conclui-se que os prejuízos causados pelos dejetos urbanos podem ser tãoou mais nocivos que os impostos pelos de origem industrial.

Palavras-chaves: SMART, Genotoxicidade, Água, D. melanogaster.

1 Acadêmico do Curso de Biologia/ULBRA – Bolsista PROICT/ULBRA

2 Aluno de Pós-Graduação em Genética e Biologia Molecularda UFRGS

3 Professor do Curso de Biologia/ULBRA4Professor – Orientador do Curso de Biologia e do PPG deGenética e Toxicologia Aplicada/ULBRA ([email protected])

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ABSTRACT

The Caí river receives large amounts of industrial and urban discharges. In function this, we employedthe SMART to evaluate the genotoxicity from this river. The samples were collected in 2 industrial sites(km 18.6 and km 13.6) and in 3 urban sites (km 52, km78 and 80). The monitoring included threecollections: March, June and September 1999. The sites km 18.6 and km 13.6 were characterized asdestitute of genotoxic action. On the other hand, the points under influence of municipal discharges weregenotoxic: km52, 78 and 80 samples collected in march, and km 52 collected in September. Taking intoaccount the results observed, the SMART assay results lead to the conclusion that urban wastes may be aspolluting as or even more polluting than industrial ones.

Key words: SMART, Genotoxicity, Water, D. melanogaster.

Salmonella/microssoma, como método de triagem,foram obtidas respostas positivas na maioria dossítios de coleta, evidenciando a presença de subs-tâncias mutagênicas na área de influência doComplexo Petroquímico (VARGAS, MOTTA &HENRIQUES, 1988). Associadas a estas análi-ses foram empregadas técnicas citogenéticas invitro para a avaliação da indução de aberraçõescromossômicas, utilizando o método de bloqueioda citocinese (CBMN), em cultura de linfócitoshumanos. Esta metodologia foi empregada para aanálise dos mesmos pontos anteriormente anali-sados por VARGAS, MOTTA & HENRIQUES(1988), tendo sido incluído o ponto Km 14,1. Osresultados obtidos revelaram a presença de subs-tâncias com potencial clastogênico e/ouaneugênico em todos os sitios de amostragem(LEMOS & ERDTMANN, 2000).

Em função destas peculiaridades, a utilizaçãode bioensaios capazes de detectar simultaneamen-te uma ampla gama de lesões, em nível gênico ecromossômico, poderá traçar um diagnóstico maiscompleto da toxicidade genética associada aocurso inferior do rio Caí. Dentro deste contexto,destaca-se o Teste para Detecção de Mutação eRecombinação em Células Somáticas de

INTRODUÇÃO

O lançamento de efluentes industriais e urba-nos nos corpos hídricos impõe um significativo ris-co aos ecossistemas, não apenas pelo volume dedescarga dos dejetos, mas principalmente pela suacomposição química. O rio Caí é utilizado comoprincipal fonte de água e corpo hídrico recipientede efluentes industriais e municipais. Diversas ati-vidades urbanas e industriais vêm sendo intensa-mente praticadas nas suas margens. As cidades deMontenegro e de São Sebastião do Caí concen-tram atividades relacionadas, basicamente, compequenas indústrias. Adicionalmente, nestes doisúltimos municípios, os esgotos cloacais são ligadosà rede de esgotos pluviais, sendo lançados direta-mente nos cursos d’água a eles associados. Destaforma, este é o segmento do rio que mais recebelançamentos de efluentes de pequenas e grandesindústrias e onde há maior despejo de esgotos do-mésticos não tratados (FEPAM/GTZ, 1997).

O rio Caí vem sendo alvo de uma série deestudos que procuram identificar a presença desubstâncias genotóxicas, especialmente no seucurso final, em função da influência exercida peloPólo Petroquímico do Sul. Utilizando o teste

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Drosophila melanogaster (SMART), que tem semostrado uma ferramenta precisa para a detecçãodo impacto causado por diferentes poluentes aosecossistemas. Desta forma, o presente trabalho foidelineado no sentido de atingir os seguintes ob-jetivos: (i) avaliar, através do SMART, amostrasde água superficial de diferentes pontos do rioCaí, que estão sob influência de efluentes indus-triais e urbanos; (ii) estimar a sensibilidade e aadequação deste bioensaio como uma ferramen-ta para o controle da qualidade ambiental.

MATERIAL E MÉTODOS

Pontos de Coleta

As amostras foram coletadas nos meses demarço, junho e setembro de 1999 em pontos dorio sob influência de dejetos industriais - km 18,6e km13,6 - e urbanos - km 52 (Município deMontenegro), km 78 e km 80 (Município de SãoSebastião do Caí).

Teste Para Detecção deMutação e RecombinaçãoSomática (SMART)

Dentre os bioensaios ainda pouco utilizadospara avaliação do potencial genotóxico de amos-tras ambientais, encontra-se o SMART - emcélulas somáticas de D. melanogaster. Este teste,além de utilizar um organismo experimentaleucarioto, com estreita similaridade genética ebioquímica quando comparado aos mamíferos,possibilita a detecção simultânea de mutaçãogênica, aberrações cromossômicas e/ourecombinação somática.

Esta metodologia baseia-se na indução depêlos mutantes nas asas das moscas, que repre-sentam a expressão fenotípica da ocorrência delesões em nível de DNA, que, por sua vez, le-vam à perda de heterozigosidade dos genes mwhe flr3 (GRAF et al., 1984).

Cruzamentos

Nesta abordagem experimental foi empregadoo cruzamento padrão – nas amostras de origemurbana - que origina larvas portadoras de nível basalde atividade metabólica dependente de citocromoP-450, e o cruzamento aprimorado – nas amostrasde origem industrial - que apresenta larvas comalto nível constitutivo de citocromo P450(HÄLLSTRON & BLANCK, 1985).

Tratamentos

Cada amostra de origem industrial e urbanafoi diluída em água destilada e testada em duasconcentrações (25% e 50%) assim como, na suaforma crua (100%). Como controle negativo foiutilizada a água destilada.

Larvas de terceiro estágio foram colocadasem tubos contendo 1,5g de meio sintético, ondeforam acrescentados 5ml das soluções de trata-mento. As larvas permaneceram nestas condi-ções por aproximadamente 48 horas - tratamen-to crônico - até atingirem o estágio de pupa.

Análise microscópica

Para cada ponto de tratamento foram anali-sadas as asas de pelo menos 40 indivíduos - emmicroscópio óptico, com aumento de 400x – vi-

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sando à identificação dos fenótipos dos pêlosexistentes nas superfícies dorsal e ventral dasasas dos adultos.

Análise estatística

Para a avaliação genotóxica dos cinco pon-tos de coleta no rio Caí, as diferentes diluiçõesforam comparadas com seus respectivos contro-les negativos. A análise estatística foi feita atra-vés do teste estatístico binominal condicionalKASTENBAUM & BOWMAN (1970).

RESULTADOS

Nas Tabelas 1 e 2 são apresentados os da-dos obtidos através do SMART, quando fo-ram consideradas as respostas obtidas nosadultos portadores do genótipo trans-heterozigoto, oriundos, respectivamente, dotratamento com amostras de origem urbana eindustrial. Na tabela 1, os resultados obtidosa partir da coleta de março caracterizaram oskm 52, 78 e 80 como genotóxicos, ambos ca-pazes de induzir aumentos significativos nototal de manchas. Já as amostras de junhomostraram-se todas destituídas de atividadegenotóxica, enquanto as provenientes do km52 coletadas em setembro apresentaram res-postas positivas. Entretanto, como se podeobservar na tabela 2 as duas amostras de ori-gem industrial, nos três meses de coleta, nãomostraram efeito genotóxico, uma vez que asfreqüências das diferentes categorias de man-chas não foram significantemente superioresàquelas observadas nos respectivos controlesnegativos (água destilada).

DISCUSSÃO

No presente estudo, o SMART foi empregadopara avaliar a genotoxicidade de amostras deágua do rio Caí, que sofrem influência industriale urbana, em três épocas distintas – março, ju-nho e setembro – ao longo do ano de 1999. Osdados obtidos no presente estudo apontam para aausência de genotoxicidade das amostras de águasuperficial, sob influência direta de dejetos oriun-dos do Pólo Petroquímico do Sul, e para a açãogenotóxica de amostras de água associadas aostrês diferentes pontos no mês de março – km 52,78 e 80 que estão sob influência de esgotos do-mésticos. Este comportamento não foi observadopara o mês de junho – já que não foram obtidosaumentos significativos, para todos os tipos demanchas, em relação ao controle negativo. Noentanto, as coletas de setembro evidenciaram atoxicidade genética associada ao km 52 – locali-zado próximo à cidade de Montenegro.

Ainda mais, considerando os resultados ob-servados, nas amostras de origem urbana, nosmeses de março e junho, sugere-se uma corre-lação entre o nível pluviométrico e o diagnósti-co positivo. De fato, no mês de março, foramregistrados índices de pluviosidade de 12,3 mm,enquanto que no mês de junho (112,6 mm) es-tes valores foram aproximadamente dez vezessuperiores. Entretanto, esta correlação não podeexplicar os resultados positivos obtidos para okm 52, coletado em setembro – já que apluviosidade (110,9 mm) foi tão elevada quan-to à registrada em junho. Ainda que a diluiçãodas águas do rio não tenha sido um fatordeterminante para a genotoxicidade deste pon-to, esta resposta pode estar relacionada com adescarga diferencial de dejetos de pequenasindústrias que não apresentam qualquer estra-

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tégia de tratamento e que juntamente com osesgotos cloacais e pluviais, são lançados direta-mente no rio Caí. Ainda que, para os dejetosurbanos coletados em março de 1999, tenha sidosugerida uma correlação entre genotoxicidadepositiva e índice pluviométrico este tipo de re-lação não foi identificada para as amostras in-dustriais – assim como para os demaisparâmetros físico-químicos analisados.

Finalmente, fica a sugestão de que, pelo me-nos em nossas condições experimentais, o impac-to causado por despejos de origem urbana podeser mais intenso do que o imposto por dejetos pro-venientes de indústrias de grande porte. De fato,apesar da extensa procura de informações biblio-gráficas, referentes à contribuição dos despejosurbanos para a genotoxicidade associada a águassuperficiais do curso inferior do rio Caí, não fo-ram encontrados registros - tanto centrados natoxicidade genética de despejos urbanos, quantona comparação entre amostras de origem indus-trial e urbana. Consideramos, também relevante,o conjunto de dados publicados por WHITE,RASMUSSEN & BLAISE (1996) e WHITE &RASMUSSEN (1998), que apontam para os pre-juízos causados por dejetos urbanos – que podemser tão ou mais nocivos que os impostos pelos deorigem industrial. Esta maior potência genotóxicapode ser atribuída ao seu maior volume de lança-mento, assim como à sua natureza mais complexa- já que são formados pelo somatório de resíduos

domésticos e de indústrias de pequeno porte, quena grande maioria das vezes não utilizam qual-quer tipo de tratamento.

Adicionalmente, a avaliação da toxicidadegenética centrou-se no emprego do SMART emDrosophila melanogaster, procurando contribuirnão apenas para o diagnóstico da qualidade daságuas do curso inferior do rio Caí, mas tambémpara a validação do seu emprego como uma fer-ramenta para o diagnóstico da genotoxicidadede amostras de origem ambiental.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Os resultados indicam ausência de ativida-de genotóxica para as amostras de origem in-dustrial, enquanto que as urbanas apresentaramtoxicidade genética - em todos os pontos no mêsde março, e somente no km 52 (referente à ci-dade de Montenegro) no mês de setembro. Es-tes resultados, evidenciam o potencial genotóxicodas águas superficiais sob influência dos despe-jos domésticos, e de pequenas indústrias princi-palmente em função da ausência de qualquerestratégia de tratamento dos esgotos pluviais.O contrário ocorre com os efluentes provenien-tes das indústrias de grande porte, que dispõemde complexos sistemas de tratamento e disposi-ção de rejeitos, em função do severo controleque recebem por parte dos órgãos ambientais.

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Manchas por indivíduo (no. de manchas)/diag. estatístico a

Genótipos Diluições ePontos de Coleta

N. deindiv. (N)

MSP

(1-2 cells)

(m = 2)

MSG (>2 cells)

(m = 5)

MG

(m = 5)

TM

(m = 2)

MarçoKm 52

mwh / flr3 Água Destilada 60 0.35 (21) 0.05 (3) 0.00 (0) 0.40 (24)25 60 0.72 (43) + 0.10 (6) i 0.03 (2) i 0.85 (51) +50 70 0.70 (49) + 0.03 (2) i 0.00 (0) i 0.73 (51) +100 60 0.75 (45) + 0.005 (3) i 0.00 (0) i 0.80 (48) +

KM 78mwh / flr3 Água Destilada 60 0.35 (21) 0.05 (3) 0.00 (0) 0.40 (24)

25 40 0.68 (27) + 0.05 (2) i 0.05 (2) i 0.78 (31) +50 40 0.80 (32) + 0.20 (8) + 0.03 (1) i 1.03 (41) +100 40 0.75 (30) + 0.05 (2) i 0.10 (4) + 0.90 (36) +

KM 80mwh / flr3 Água Destilada 60 0.35 (21) 0.05 (3) 0.00 (0) 0.40 (24)

25 40 0.73 (29) + 0.05 (2) i 0.10 (4) + 0.88 (35) +50 40 0.88 (35) + 0.20 (8) + 0.08 (3) i 1.15 (46) +100 40 0.80 (32) + 0.13 (5) i 0.03 (1) i 0.95 (38) +

JunhoKM 52

mwh / flr3 Água Destilada 50 0.54 (27) 0.12 (6) 0.00 (0) 0.66 (33)25 50 0.66 (33) - 0.10 (5) i 0.04 (2) i 0.80 (40) -50 50 0.50 (25) - 0.14 (7) i 0.04 (2) i 0.68 (34) -100 50 0.64 (32) - 0.08 (4) i 0.06 (3) i 0.78 (39) -

KM 78mwh / flr3 Água Destilada 50 0.54 (27) 0.12 (6) 0.00 (0) 0.66 (33)

25 40 0.80 (32) i 0.10 (4) i 0.03(1) i 0.93 (37) i50 50 0.42 (21) - 0.06 (3) - 0.00 (0) i 0.48 (24) -100 50 0.76 (38) i 0.08 (4) i 0.04 (2) i 0.88 (44) i

KM 80mwh / flr3 Água Destilada 60 0.47 (28) 0.12 (7) 0.00 (0) 0.58 (35)

25 40 0.55 (22) - 0.08 (3) i 0.08 (3) i 0.70 (28) -50 40 0.55 (22) - 0.13 (5) i 0.03 (1) i 0.70 (28) -100 40 0.83 (33) - 0.10 (4) i 0.00 (0) i 0.93 (37) -

SetembroKM 52

mwh / flr3 Água Destilada 40 0.48 (19) 0.10 (4) 0.05 (2) 0.63 (25)25 40 0.90 (36) + 0.10 (4) i 0.08 (3) i 1.08 (43) +50 50 0.90 (45) + 0.10 (5) i 0.02 (1) i 1.02 (51) +100 40 0.90 (36) + 0.10 (4) i 0.03 (1) i 1.03 (41) +

KM 78mwh / flr3 Água Destilada 40 0.48 (19) 0.10 (4) 0.05 (2) 0.63 (25)

25 79 0.57 (45) i 0.10 (8) i 0.01 (1) i 0.68(54) -50 78 0.47 (37) - 0.10 (8) i 0.03 (2) i 0.60 (47) -100 75 0.57 (43) i 0.08 (6) i 0.03 (2) i 0.68 (51) -

KM 80mwh / flr3 Água Destilada 40 0.48 (19) 0.10 (4) 0.05 (2) 0.63 (25)

25 60 0.53 (32) i 0.08 (5) i 0.00 (0) i 0.62(37) -50 70 0.66 (46) i 0.10 (7) i 0.01 (1) i 0.77 (54) -100 60 0.62 (37) i 0.08 (5) i 0.00 (0) i 0.70 (42) -

Tabela 1 - Diagnóstico estatístico das freqüências de indução de clones mutantes após tratamento das larvasprovenientes do cruzamento padrão com amostras de água do Caí sob influência de dejetos urbanoscoletadas em março, junho e setembro de 1999.

a Diagnóstico Estatístico de acordo com Frei % Würgler (1988): +: positivo; - negativo; i: inconclusivo; f+ fraco positivo; m:fator multiplicador, nível de significância: á = â = 0.05.

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a Diagnóstico Estatístico de acordo com Frei % Würgler (1988): +: positivo; - negativo; i: inconclusivo; f+ fraco positivo; m:fator multiplicador, nível de significância: á = â = 0.05.

Tabela 2 - Diagnóstico estatístico das freqüências de indução de clones mutantes após tratamento das larvasprovenientes do cruzamento aprimorado com amostras de água do Caí sob influência de dejetosindustriais coletadas em março, junho e setembro de 1999.

Manchas por indivíduo (no. de manchas)/diag. estatístico a

Genótipos Diluições ePontos de

ColetaN. de indiv.

(N)

MSP

(1-2 cells)

(m = 2)

MSG

(>2 cells)

(m = 5)

MG

(m = 5)

TM

(m = 2)

MarçoKm 18,6

mwh / flr3 Água Destilada 40 0.68 (27) 0.08 (3) 0.00 (0) 0.75 (30)25 40 0.63 (25) - 0.10 (4) i 0.00 (0) - 0.73 (29) -50 40 0.75 (30) - 0.08 (3) - 0.05 (2) i 0.88 (35) -

100 40 0.75 (30) - 0.08 (3) - 0.00 (0) - 0.83 (33) -

KM 13,6mwh / flr3 Água Destilada 40 0.68 (27) 0.08 (3) 0.00 (0) 0.75 (30)

25 40 0.93 (37) i 0.13 (5) i 0.03 (1) i 1.08 (43) -50 40 0.85 (34) - 0.18 (7) i 0.00 (0) - 1.03 (41) -

100 40 0.73 (29) - 0.13 (5) i 0.03 (1) i 0.88 (35) -

JunhoKM 18,6

mwh / flr3 Água Destilada 40 0.98 (39) 0.13 (5) 0.05 (2) 1.15 (46)25 40 1.00 (40) - 0.05 (2) - 0.03 (1) - 1.08 (43) -50 40 1.05 (42) - 0.23 (9) i 0.05 (2) - 1.33 (53) -

100 40 1.05 (42) - 0.20 (8) i 0.00 (0) - 1.25 (50) -

KM 13,6mwh / flr3 Água Destilada 40 0.98 (39) 0.13 (5) 0.05 (2) 1.15 (46)

25 40 1.00 (40) - 0.08 (3) - 0.00 (0) - 1.08 (43) -50 40 0.70 (28) - 0.10 (4) - 0.05 (2) - 0.85 (34) -

100 40 1.08 (43) - 0.15 (6) - 0.08 (3) i 1.30 (52) -

SetembroKM 18,6

mwh / flr3 Água Destilada 40 0.65 (26) 0.05 (2) 0.03 (1) 0.73 (29)25 40 0.53 (21) - 0.05 (2) - 0.03 (1) - 0.60 (24) -50 40 0.63 (25) - 0.00 (0) - 0.00 (0) - 0.63 (25) -

100 40 0.53 (21) - 0.08 (3) i 0.00 (0) - 0.60 (24) -

KM 13,6mwh / flr3 Água Destilada 40 0.65 (26) 0.05 (2) 0.03 (1) 0.73 (29)

25 40 0.63 (25) - 0.03 (1) - 0.00 (0) - 0.65 (26) -50 40 0.50 (20) - 0.05 (2) i 0.03 (1) - 0.58 (23) -

100 40 0.55 (22) - 0.08 (3) i 0.00 (0) - 0.63 (25) -

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Avaliação da atividade mutagênica eantimutagênica induzidas pelo extrato vegetal da

Costus spicatus

SAMUEL TAKASHI SAITO1

GIOVANNI CIGNACHI2

SUSANA GASPARRI3

JENIFER SAFFI4

RESUMO

A Costus spicatus Swartz, que popularmente é chamada de “Cana-do-Brejo”, é uma espécie nativada América Latina habitando em locais úmidos. É utilizada popularmente para patologias do sistemaurinário. Entretanto, o uso desta planta para fins terapêuticos ainda carece de estudos de toxicidade e desegurança. Em função disto, o objetivo desse trabalho foi verificar as atividades mutagênica e antimutagênicado extrato bruto hidroalcoólico, preparado das mesmas condições em que ele é consumido pela popula-ção, utilizando a levedura Saccharomyces cerevisiae como modelo experimental. Os experimentos suge-rem que este extrato não apresenta atividade mutagênica e possa ter atividade antimutagênica dependenteda dose utilizada e tratamento.

Palavras-chave: cana-do-brejo, Costus spicatus, mutagênese, antimutagênese, Saccharomycescerevisiae.

1 Acadêmico do Curso de Farmácia/ULBRA – Bolsista PIBIC/CNPq

2 Acadêmico do Curso de Farmácia/ULBRA – BolsistaPROICT/ULBRA

3 Aluna do PPG Diagnóstico Genético e Molecular/ULBRA4 Professora – Orientadora do Curso de Farmácia e do PPGDiagnóstico Genético e Molecular/ULBRA([email protected])

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ABSTRACT

The Costus spicatus Swartz, commonly called “Cana-do-Brejo” in Brazil, is a native specie found inwet coastal forests from Latin America. It is utilized in folk medicine to relieve in urinary affections.However there are no studies that confirm the efficacy and safety of this plant for therapeutics purposes.For this reason, the aim of this study was to verified the mutagenic and antimutagenic activities of thehidroalcoholic extract, prepared in the same conditions utilized by the population, using the yeastSaccharomyces cerevisiae as a model organism. This study suggests that this extract is not mutagenic forthe yeast and may be antimutagenic depending for the dose and treatment used.

Key words: cana-do-brejo, Costus spicatu, mutagenesis, antimutagenesis, S. cerevisiae.

urinárias e para expelir pedras renais. Esta plan-ta tem atraído a atenção de pesquisadores, poisse verificou nos rizomas da mesma uma nova fon-te de diosgenina, um precursor de hormôniosesteroidais (SILVA et al., 1999).

Informações etnofarmacológicas registram o usodas raízes e rizomas como diurético, tônico,emenagogo e diaforético, enquanto o suco da hastefresco diluído em água tem uso contra gonorréia,sífilis, nefrite, picadas de insetos, problemas da be-xiga e diabetes (ALBUQUERQUE, 1989; VANDEN BERG, 1993; CORRÊA et al.,1998; VIEIRA& ALBUQUERQUE,1998; MORS et al., 2000).

INTRODUÇÃO

A planta Costus spicatus Swartz (sin.: C.cylindricus Jacq. Família: Zinziberaceae/Costaceae), popularmente chamada no Brasil de“Cana-do-Brejo”, é uma espécie nativa encon-trada em locais úmidos do Sul do México,Yucatan, Costa Rica, norte da Colômbia e Bra-sil (SILVA et al., 1999) – Figura 1. Suas folhas,hastes e rizomas são empregados na medicinatradicional de longa data, principalmente naregião Amazônica (LORENZI & MATOS,2002). É utilizada popularmente pela sua açãodepurativa e diurética, para alívio de infecções

Figura 1 - Costus spicatus (http://toptropicals.com)

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Entretanto, não existem ainda estudos que com-provem a eficácia e a segurança do uso desta plantapara fins terapêuticos. Em função disso, o objetivodesse trabalho foi verificar as atividades mutagênicae antimutagênica do extrato hidroalcóolico da cana-do-brejo, utilizando a levedura Saccharomycescerevisiae como modelo de estudo.

MATERIAL E MÉTODOS

Amostra vegetal

Partes aéreas secas da planta Costus spicatusforam gentilmente cedidas pela empresa San-tos-Flora (São Paulo – SP, Brasil). O laudo bo-tânico foi também realizado e fornecido pelareferida empresa.

Preparação do extrato

Para preparação do extrato hidroalcoólico aspartes aéreas secas da planta foram colocadasem maceração com álcool 50% em proporção de1:5, ou seja, uma parte da planta para cada cin-co partes do solvente, durante 21 dias, à tempe-ratura ambiente, acondicionada em frasco âmbar.

Linhagens de Saccharomycescerevisiae

Para os estudos de mutagênese aantimutagênese, empregou-se a linhagemXV185-14c (MATa ade2-2 arg4-17 his1-7 lys1-1trp5-48 hom3-10), a qual detecta mutaçãoreversa, mutação do tipo forward e por desloca-mento do quadro de leitura (frameshift).

Meios de cultura e soluções

O crescimento das células foi feito em meiolíquido completo (YEL) contendo 1% de extratode levedura, 2% de bactopeptona e 2% de glicoseobtidos da marca Difco, Oxoid ou Vetec. Para de-terminação do número de células viáveis, ou seja,unidades formadoras de colônias, foram feitas se-meaduras em meio YEPD solidificado com 2% debacto-ágar, marca Vetec (AUSUBEL et al., 1989).

Para todos os tratamentos, as células foramressuspendidas e diluídas em solução salina(NaCl 0,9%).

Nos testes de mutagênese e antimutagênesefoi empregado o Meio Sintético (SC) suplementado(SC-histidina, SC-lisina e SC-homoserina), nosquais os aminoácidos foram omitidos, conformedescrito por AUSUBEL et al. (1989).

Condições de crescimento

Células em fase estacionária de crescimentoforam obtidas a partir de uma colônia isolada,retirada da placa e colocada para crescer emmeio líquido YEL, por 48 horas, a 30oC, até atin-gir a concentração de 2-4 x108 células/mL.

Detecção da atividademutagênica e antimutagênica

Para os ensaios de mutagenicidade eantimutagenicidade, utilizou-se a linhagemXV185-14c de S. cerevisiae. Em frasco deErlenmeyer contendo 30 mL de YEL foi inocu-lada uma colônia isolada dessa linhagem e co-locada para crescer em ‘shaker’ (incubadora comagitação orbital – LABLINE), a 180 rpm e 30oC,durante 48 horas, para atingir a fase estacioná-

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ria. As culturas assim mantidas atingiam umaconcentração de 2 a 4 x108 céls/mL. Posterior-mente, esta suspensão foi passada para um tuboFalcon de 50 mL e centrifugada por 5 minutos a5000 rpm. Após esta primeira centrifugação, des-prezou-se o sobrenadante e adicionou-se 20mLde solução salina, seguido de centrifugação paralavagem das células. Este procedimento foi re-petido duas vezes. As células foram então con-tadas em câmera de Neubauer no microscópioóptico e foram feitas as diluições necessárias parase obter à concentração celular desejada para otratamento. Uma suspensão celular de 2x108

células/mL em fase estacionária foi incubadadurante 20 horas a 30oC, sob agitação a 180 rpm,com doses crescentes (50-500µL/mL de suspen-são celular) do extrato hidroalcóolico da Costus.Determinou-se a sobrevivência através de se-meadura em meio rico YEPD, após 3-5 dias decrescimento em estufa a 30oC. Para a detecçãode mutação induzida (revertentes das marcasLIS, HIS ou HOM) as células foram incubadasem meio mínimo seletivo, durante 3-5 dias a

30oC. A mutação his1-7 é um alelo de sentidoincorreto ou missense, do tipo não supressivo, e,portanto, as reversões são a conseqüência demutações no próprio lócus.

Entretanto, o alelo lys1-1 corresponde a umamutação do tipo ocre sem sentido (nonsense), aqual pode ser revertida de forma lócus específi-co ou através de mutação para frente (mutaçãoforward) em um gene supressor. A diferença en-tre as reversões verdadeiras e mutaçõessupressoras (forward) no lócus lys1-1 está bemdescrita por SCHÜLLER & VON BORSTEL(1974), onde o conteúdo de adenina reduzidono meio SC-lys mostra reversão no lócus quan-do as colônias são vermelhas e mutaçõessupressoras quando as colônias ficam brancas.Acredita-se que hom3-10 contenha mutação dotipo deslocamento do quadro de leitura ouframeshift, devido a sua resposta a uma série deagentes sabidamente mutagênicos. A represen-tação esquemática deste ensaio pode ser obser-vado na Figura 2.

Figura 2 - Representação esquemática do teste de mutagênese e antimutagênse em S. cerevisiae.

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Para os experimentos de antimutagênese, doistipos de tratamento foram realizados:

1. Pré-tratamento: a linhagem foi incubadapor 16 horas (a 30oC com agitação a 180rpm), com diferentes doses do extratohidroalcoólico da planta, sendo posteri-ormente adicionado o H2O2 16mM pormais uma hora, sendo então semeada asobrevivência e a mutagênese em meiosespecíficos (SC-lys, SC-hom e SC-his);

2. Tratamento simultâneo: a mesma linhagemfoi incubada por 4 horas com diferentes do-ses do extrato hidroalcoólico e com H2O216mM concomitantemente (a 30oC com agi-tação), seguido por plaqueamento nos mes-mos meios descritos acima.

Nos dois casos, as placas foram incubadas noescuro a 30oC, em estufa, durante 3-5 dias e apósfez-se à contagem do número de colôniasrevertentes. Todos estes experimentos foram fei-tos em triplicata para cada dose testada.

Como controle positivo foi utilizado o com-posto nitroquinoleína-1-óxido, (4-NQO 5mM),

da marca Sigma, em todos os experimentos demutagênese e antimutagênese.

Análise estatística

Os resultados foram analisados estatisticamen-te utilizando o Teste ANOVA-Dunett, compa-rando-se os tratamentos dos extratos com o con-trole (dose zero de extrato). Foi considerado es-tatisticamente significativo P < 0,05 e P < 0,01.

RESULTADOS

Na Tabela 1 pode-se observar que o extratohidroalcoólico da Costus spicatus não é capaz deinduzir mutagenicidade na linhagem XV185-14cde S. cerevisiae em nenhuma das doses testadas. Éimportante ressaltar que na dose de 50 mL/mL sus-pensão celular o número de revertentes no lócusde histidina é ainda menor que no controle (dosezero de extrato), mostrando que o extrato deveconter substâncias capazes de diminuir a própriamutagênese espontânea da linhagem.

Tabela 1 - Indução de mutação pontual (his1-7 e lys1-1) e mutação por deslocamento do quadro de leitura ouframeshift (hom3-10) na linhagem haplóide XV 185-14c de S. cerevisiae, após o tratamento com oextrato hidroalcoólico da Costus spicatus em fase estacionária de crescimento.

Dose do Extrato(μL/mL de suspensão

celular)

Sobrevivência(%)

Revertentes His1/108

sobreviventesaRevertentes Lys1/108

sobreviventesbRevertentes Hom3/108

sobreviventesa

4-NQO (CP) 13 (19) 3066,67 (874) 350,88 (100) 10,53 (3)

0 100% (459)c 6,20 ± 1,55d (29)c 2,20 ± 0,63d (12)c 2,20 ± 0,28d (13)c

50 120% (552) 4,00 ± 1,55 (27)** 3,10 ± 0,63 (19) 2,60 ± 0,28 (12)

100 117% (540) 4,40 ± 1,27 (30) 2,10 ± 0,07 (15) 1,80 ± 0,28 (11)

250 104% (477) 4,20 ± 1,41 (37) 2,40 ± 0,14 (16) 2,20 ± 0,00 (12)

500 102% (468) 3,30 ± 2,05 (36) 2,50 ± 0,21 (17) 2,80 ± 0,42 (16)a Revertentes de lócus-específico; b Revertentes de lócus-não específico;c Número entre parênteses é o total de colônias contadas em três placas para cada dose;d Significância e desvio-padrão de três experimentos independentes;** Dados significativos em relação ao grupo controle negativo (salina) P<0.01 no teste ANOVA (‘Dunnett’s Multiple Comparison Test’).4-NQO= 4-nitroquinoléina-1-óxido (controle positivo).

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Na Tabela 2 estão apresentados os resulta-dos da antimutagênese, com o pré-tratamento,ou seja, onde a linhagem foi pré-incubada por16 horas com o extrato e posteriormente trata-

da com o H2O2. Neste caso, não foi observadadiferença estatisticamente significativa de pro-teção do extrato frente às mutações induzidaspelo H2O2.

Dose do Extrato(μL/mL de suspensão celular)

+ H2O2 (P)Sobrevivência (%) Revertentes His1/108

sobreviventesaRevertentes Lys1/108

sobreviventesbRevertentes Hom3/108

sobreviventesa

0P 100% (555)c 7,00 ± 2,82d (27)c 3,80 ± 0,00d (16)c 3,40 ± 0,14d (10)c

50P 83% (465) 11,0 ± 2,82 (47) 3,80 ± 0,00 (12) 3,20 ± 0,14 (14)

100P 109% (606) 11,3 ± 3,04 (49) 2,40 ± 0,98 (15) 2,70 ± 0,49 (16)

250P 59% (330) 14,4 ± 5,23 (54) 3,30 ± 0,35 (18) 2,50 ± 0,63 (13)

500P 81% (453) 15,6 ± 6,08 (56) 3,50 ± 0,21 (16) 3,10 ± 0,21 (14)

Tabela 2 - Indução de mutação pontual (his1-7 e lys1-1) e mutação por deslocamento do quadro de leitura ouframeshift (hom3-10) na linhagem haplóide XV 185-14c de S. cerevisiae, após incubação préviacom o extrato da Costus spicatus (pré-tratamento) e posterior tratamento por uma hora com H2O2

16mM em fase estacionária de crescimento.

a Revertentes de lócus-específico; b Revertentes de lócus-não específico;b Revertentes de Lócus não-específico.c Números entre parênteses é o total de colônias contadas em três placas para cada dose;d Significância e desvio-padrão de três experimentos independentes.

Tabela 3 - Indução de mutação pontual (his1-7 e lys1-1) e mutação por deslocamento do quadro de leitura ou frameshift(hom3-10) na linhagem haplóide XV 185-14c de S. cerevisiae, após o tratamento simultâneo durante 4 horascom o extrato hidroalcoólico de Costus spicatus e H2O2 16mM, em fase estacionária de crescimento.

a Revertentes de Lócus-específico.b Revertentes de Lócus não-específico (mutação forward).c Números entre parênteses é total de colônias contadas em três placas para cada dose.d Significância e desvio-padrão de três experimentos independentes.* Dados significativos em relação ao grupo controle negativo (solvente) P < 0.05 no teste ANOVA (‘Dunnett’s Multiple Comparison Test’).

Dose do Extrato(μL/mL de suspensão celular)

+ H2O2 (P) Sobrevivência (%) Revertentes His1/108

sobreviventesaRevertentes Lys1/108

sobreviventesbRevertentes Hom3/108

sobreviventesa

0P 100% (290)c 18,75± 4,73d (45)c 2,73± 1,00d (6)c 5,57± 2,77d (13)c

50P 87% (260) 19,55± 10,97 (37) 2,88± 2,43 (5) 6,30± 0,52 (16)

100P 125% (326) 12,05± 1,54* (39) 1,62± 0,57 (5) 7,42± 3,09 (22)

250P 173% (419) 9,80± 2,71* (45) 1,45± 0,80 (6) 4,15± 3,91 (13)

500P 115% (308) 13,49± 1,51* (37) 2,59± 1,21 (7) 6,03± 3,20 (15)

A Tabela 3 contém os resultados daantimutagênese com o tratamento simultâneode extrato e H2O2 durante 4 horas. Neste tipode ensaio, pôde-se perceber uma redução signi-

ficativa da mutagenicidade induzida pelo H2O2

no lócus da histidina para as doses de 100, 250 e500 mL/mL suspensão celular de extrato, indi-cando, portanto, atividade antimutagênica.

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DISCUSSÃO

A família Zingiberaceae é largamente distri-buída entre os trópicos, particularmente no su-deste da Ásia. Embora existam muitos relatosde que os constituintes das plantas dessa famí-lia encontradas na Malásia não apresentam ati-vidades biológicas, seja através de extratos bru-tos ou compostos isolados, sabe-se que muitasespécies das Zinziberaceae apresentam ativida-de antioxidante e antimicrobiana (IWU &ANYANWU, 1982; SIRAT, 1994).

A planta Costus spicatus tem atraído a aten-ção de pesquisadores desde a descoberta dediosgenina, um precursor de hormôniosesteroidais, em seus rizomas (SILVA et al., 1999).

Por meio de estudos fitoquímicos e da com-binação de espectroscopia e métodos químicosrealizados com as partes aéreas da Costus spp.,foi descrita a identificação e elucidação estru-tural de dois novos diglicosídeos flavônicos comatividade antiinflamatória - a tamarixetina 3-O-neohesperidósideo e o canferídeo 3-O-neohesperidosídeo - principalmente nas folhasda cana-do-brejo. Além destes, foram identifi-cados outros compostos bastante conhecidos taiscomo quercetina 3-O-neohesperidosídeo e seisoutros flavonóides (SILVA et al., 2000).

Embora o gênero Costus seja amplamente uti-lizado na medicina popular, ainda são poucos osestudos farmacológicos a respeito dos extratosdessas plantas. O extrato metanólico de Costusafer Ker mostrou-se citotóxico em ensaios commicrocrustáceos, apresentou atividade anestésicalocal em porco da índia, atividade estrogênica eprogestogênica em ratas e atividade anti-hiperglicemiante em ratos diabéticos induzidospor estreptozotocina (ANAGA et al., 2004).

Algumas das substâncias presentes nos ali-mentos e vegetais podem ter efeitos mutagênicose/ou carcinogênicos, isto é, podem induzir mu-tações do DNA e/ou podem favorecer o desen-volvimento de tumores enquanto outras podematenuar ou anular estes efeitos (ANTUNES &ARAÚJO, 2000).

Após a observação inicial de efeitosantimutagênicos de certos vegetais, vários com-postos têm sido isolados de plantas e testados quan-to à ação protetora sobre lesões induzidas no DNA(KADA et al., 1978). O termo “antimutagênico”foi usado originalmente por NOVICK & SZILARDem 1952 para descrever os agentes que reduzem afreqüência de mutação espontânea ou induzida,independente do mecanismo envolvido (VONBORSTEL et al., 1996).

Os mecanismos de ação dos agentesantimutagênicos foram classificados em dois pro-cessos maiores, denominados desmutagênese ebio-antimutagênese. Na desmutagênese, os agen-tes protetores, ou antimutagênicos, atuam dire-tamente sobre os compostos que induzem muta-ções no DNA, inativando-os química ouenzimaticamente, inibindo ativação metabólicade pró-mutagênicos ou seqüestrando moléculasreativas. Na bio-antimutagênese, osantimutagênicos atuam sobre o processo que levaa indução de mutações, ou reparo das lesões cau-sadas no DNA (KADA et al., 1978). Posterior-mente, uma outra classificação mais detalhadafoi sugerida, considerando o modo de ação dosantimutagênicos e/ou anticarcinogênicos, bemcomo o ambiente de ação, extra ou intracelular(DE FLORA & RAMEL, 1988).

O potencial antimutagênico de uma substân-cia pode ser avaliado em sistemas biológicos diver-sos, os mesmos empregados para o estudo e identi-

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ficação dos agentes mutagênicos (ANDERSONet al., 1995; WATERS et al., 1996). Em qualquerdesses sistemas-teste, o tratamento com os agen-tes mutagênicos, que induzem as mutações, e como antimutagênico, que poderá inibir o aparecimen-to de lesões no DNA, pode ocorrer simultanea-mente ou em momentos diferentes, por meio depré-ou pós-tratamento. Os agentesantimutagênicos usados em pré-tratamento ou tra-tamento simultâneo podem atuar como agentesdesmutagênicos. A efetividade do agenteantimutagênico no pós-tratamento sugere que eleesteja atuando pelo mecanismo de bio-antimutagênese e estaria relacionado ao processode reparo das mutações, como acontece com avanilina (SASAKI et al., 1987) e com o ácidotânico (SASAKI et al., 1988). Muitos compostosantimutagênicos encontrados nos alimentos sãoagentes antioxidantes e atuam seqüestrando os ra-dicais livres de oxigênio, quando administradoscomo pré-tratamento ou nos tratamentos simultâ-neos com o agente que induz as mutações no DNA.

Para os ensaios de mutagênese, o extratohidroalcoólico da Costus spicatus não induziuatividade mutagênica na linhagem XV185-14cde S. cerevisiae nas doses testadas. Para os tes-tes de antimutagenicidade, o extrato não pro-tegeu significantemente das lesões induzidaspor H2O2 quando pré-tratadas, mas quando tra-tadas simultaneamente, os testes sugeriramuma pequena atividade antimutagênica nasdoses de 100, 250 e 500 mL/ mL suspensão ce-lular, apenas no lócus da histidina. Conformecitado acima, este efeito poderia ser devido auma atividade desmutagênica da planta, ondeos agentes protetores atuariam diretamentesobre à ação do H2O2, inibindo a formação dos

compostos que induzem mutações no DNA ouseqüestrando as moléculas reativas, como oradical hidroxil.

O fato deste extrato vegetal não apresentaratividade mutagênica e sim, antimutagênica emS. cerevisiae torna-o bastante promissor para es-tudos futuros com outros modelos animais, bemcomo para a identificação dos compostos biolo-gicamente ativos presentes na planta.

CONCLUSÕES

Nas doses testadas, o extrato hidroalcóolicoda Costus spicatus não induziu atividademutagênica em levedura S. cerevisiae.

O extrato hidroalcoólico não apresentou ati-vidade antimutagênica para lesões induzidas porH2O2, quando a linhagem foi pré-tratada com oextrato; entretanto, no tratamento simultâneoda linhagem com o extrato vegetal da Costus ecom o H2O2, a atividade antimutagênica mos-trou-se lócus-específico.

AGRADECIMENTOS

Os autores agradecem ao Prof. Dr. João A. P.Henriques e sua equipe, do Laboratório deGenotoxicidade (GENOTOX) da UFRGS, pornos dispor os equipamentos necessários para re-alização deste trabalho, bem como pelas valio-sas sugestões. À Pró-Reitoria de Pesquisa daUniversidade Luterana do Brasil, pelas bolsasde Iniciação Científica concedidas e pelo finan-ciamento deste projeto.

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Comparação de desenvolvimento inicial dorudimento seminal em Schinus terebinthifolius

Raddi e Schinus polygamus (Cav.) Cabr.(Anacardiaceae)

DANIELE MUNARETO RODRIGUES1

JOÃO MARCELO SANTOS DE OLIVEIRA2

JORGE ERNESTO DE ARAUJO MARIATH3

RESUMO

O gênero Schinus é dividido em dois subgêneros, Duvaua e Euschinus, onde o tipo de folha einflorescência justificam tal organização infragenérica. Devido à sobreposição desses caracteres, os auto-res observaram padrões ontogenéticos diferentes entre duas espécies de subgêneros distintos. S.terebinthifolius apresenta folha composta e S. polygamus folha simples. A ontogenia do rudimentoseminal em S. terebinthifolius mostra o crescimento deste órgão em direção à base da cavidade locular,e o surgimento do tegumento interno é simétrico dorsoventralmente. Em S. polygamus o rudimento semi-nal cresce contra a parede da cavidade locular, e o surgimento do tegumento interno é assimétricodorsoventralmente. Com base na ontogenia dos rudimentos seminais, sugere-se a confirmação dossubgêneros para o gênero Schinus.

Palavras-chave: Anacardiaceae, embriologia, ontogenia, rudimento seminal, Schinus.

1 Acadêmica do Curso de Biologia/ULBRA – Bolsista CNPq2 Doutorando do PPG Botânica/UFRGS

3 Professor – Orientador do Curso de Biologia/UFRGS([email protected])

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ABSTRACT

The Schinus sort is divided in two subgenera, Duvaua and Euschinus, where the type of leaf andinflorescência justify such infrageneric organization. Due to overlapping of these characters, the authorshad observed different ontogenéticos standards between two species of distinct subgenera. S. terebinthifoliuspresents composed leaf and S. polygamus simple leaf. The ontogenia of the ovule in S. terebinthifoliusshows the growth of this agency in direction to the base of the socket to locule, and the sprouting of theinternal integument is symmetrical dorsiventrally. In S. polygamus the ovule grows against the wall of thesocket to locule, and the sprouting of the internal integument is anti-symmetrical dorsiventrally. On thebasis of the ontogenia of the ovule, suggests it confirmation of the subgenera for the Schinus.

Key words: Anacardiaceae, embryology, ontogeny, ovule, Schinus.

bos até então aceitas (WANNAN & QUINN1990, 1991). Os estudos apresentados porWANNAN & QUINN (l.c.), levaram em consi-deração a estrutura anatômica de frutos madu-ros e morfologia de flores em antese de um gran-de número de gêneros, incluindo o gêneroSchinus, objeto do presente estudo, onde váriosautores (VON TEICHMAN & ROBBERTSE1986, VON TEICHMAN 1989, entre outros)destacaram a importância do correto estabeleci-mento de homologias entre os táxons para que osobjetivos, nos seus respectivos trabalhos, fossematingidos. Porém, estudos ontogenéticos na famí-lia são raros para qualquer órgão (vegetativo,principalmente, ou reprodutivo), se destacandoo breve estudo apresentado por ROBBERTSE etal. (1986), para o rudimento seminal de Mangiferaindica e outro apresentado por GRUNDWAG(1976) para o carpelo e rudimento seminal emespécies de Pistacia, e estudos sobre o desenvolvi-mento do androceu e anteras em Anacardiumoccidentale (OLIVEIRA & MARIATH 2001,OLIVEIRA et al. 2001) e em Spondias mombin(OLIVEIRA 2001).

Assim, considerando a importância da evi-dência ontogenética para a compreensão de fe-

INTRODUÇÃO

A definição dos tecidos de um rudimento se-minal ocorre no início do seu processomorfogenético em relação a todo o processo dedesenvolvimento, ou seja, desde as primeiras di-visões no tecido placentário até a fecundação.Nesse contexto, o estudo dos eventosontogenéticos é fundamental para a compreen-são de quais são os tipos de tecidos e seu modode origem, onde tais resultados podem ser utili-zados em estudos taxonômicos, sistemáticos eevolutivos (PALSER 1975, BOUMAN 1984,JOHRI et al. 1992). Entre os diferentes modosde interpretar a biologia, a ontogenia permiteacesso indireto, porém, robusto para a compreen-são das diferentes relações dos diferentes grupose níveis taxonômicos, pois permite que sejam es-tabelecidos graus de similaridade entre os dife-rentes grupos em estudo, ou seja, homologias(FINK 1982, PINNA 1991, AMORIN 2002).

Na família Anacardiaceae foram produzidosestudos importantes onde consideraçõestaxonômicas, sistemáticas e tendências evolutivasforam discutidas, além da apresentação de pro-postas para reformulação da organização das tri-

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nômenos biológicos, os autores do presente es-tudo têm por meta analisar e descrever o pro-cesso ontogenético de formação dos rudimentosseminais de espécies do gênero Schinus, que ocor-rem no Estado do Rio Grande do Sul - Brasil, eavaliar sua importância taxonômica ao nívelinfragenérico.

MATERIAL E MÉTODOS

Botões florais de Schinus terebinthifolius Raddie S. polygamus (Cav.) Cabr. foram coletados emdiferentes regiões do Estado do Rio Grande doSul. O material recém coletado foi imediatamentearmazenado em câmara fria e, posteriormente,dissecado e medido com auxílio de microscópioestereoscópio Wild M7A. O material foi fixadoem uma solução de glutaraldeído 1% eformaldeído 4%, em tampão fosfato de sódio 0,1M,com pH 7,4 (MCDOWELL & TRUMP 1976). Omaterial fixado foi desidratado em série etílicaaté etanol absoluto e, a seguir, transferido parasoluções de etanol absoluto e clorofórmio, nas pro-porções de 3:1, 1:1, 1:3, 1:1 e 3:1, com a finalida-de de extrair ceras epicuticulares que dificultama adesão do material à resina acrílica utilizadacomo meio de inclusão (GERRITS & SMID1983). As secções foram realizadas na espessurade 2 a 4mm e coradas em azul de toluidina O naconcentração de 0,05%, em tampão benzoato, pH4, 4, (FEDER & O’BRIEN 1968).

A figura 1 apresenta uma linha tracejadaatravés do primórdio carpelar (a qual tambémdeve ser considerada para a figura 2). A linhatracejada serve de referência para o leitor e in-dica o plano de corte longitudinal mediano aolongo do eixo que separa o carpelo, e o rudi-mento seminal, bilateralmente. Cortes, também

longitudinais, perpendiculares à linha tracejadatambém foram realizados.

O material botânico coletado para MicroscopiaEletrônica de Varredura (MEV) foi desidratado emacetona e, posteriormente, transferido paradimetoximetano (GERSTERBERGER & LEINS,1978), por 12 horas. O material desidratado foi sub-metido à secagem através do método de ponto crí-tico, com auxílio de um aparelho Balzers CPD 030.O material foi aderido a suportes de alumínio, comauxílio de fita metálica adesiva, e, posteriormente,recoberto com ouro, na espessura de 15 nm, comauxílio de um aparelho metalizador tipo “sputtering”Balzers SCD 050. As eletromicrografias foram reali-zadas em Microscópio Eletrônico de Varredura(MEV) Jeol JMS 5800, sob 20 kV.

RESULTADOS

O gineceu em Schinus terebinthifolius e S.polygamus surge tricarpelar (Figuras 1 e 2), po-rém, dois carpelos sempre interrompem seu de-senvolvimento muito cedo e nem formam cavi-dade locular. Além disso, os carpelos abortivossurgem, aparentemente, posteriormente à inici-ação do carpelo funcional. No carpelo funcio-nal, em ambas as espécies estudadas, o rudimentoseminal surge através de divisões periclinais dasduas camadas subjacentes em relação aprotoderme da cavidade locular, em posição ven-tral nesta cavidade (Figuras 3 e 4). Nessa fasedo desenvolvimento o botão floral de S.terebinthifolius possui entre 0,58 e 0,65 mm decomprimento e o seu carpelo 190 a 210µm decomprimento, aproximadamente. Em S.polygamus o botão floral possui entre 0,45 e 0,53mm de comprimento, e o seu carpelo 170 a190µm de comprimento, aproximadamente.

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Em S. terebinthifolius a invasão da cavidadelocular pelo primórdio do rudimento seminaldifere do observado em S. polygamus. Na primeiraespécie, células da região dorsal do primórdio,próximas da sua região de inserção no carpelo,crescem por vacuolação mais do que suas equi-valentes de posição ventral, aparentemente,gerando a curvatura apresentada pelo primórdiodo rudimento antes da formação da célulaarquesporial (Figura 5). Logo a seguir, ocorre adivisão periclinal de uma célula subdérmica noápice do primórdio (Figura 6), resultando naformação de uma célula arquesporial e uma cé-lula parietal (Figura 6). A célula parietal, jun-tamente com as demais células adjacentes, noápice do primórdio, por divisões periclinais con-secutivas, origina o tecido crassinucelar. A se-guir é observada a ampliação da cavidade loculare formação do tegumento interno, o qual surgea partir de divisões periclinais de célulasepidérmicas em torno do ápice do primórdio, comuma largura de duas, raro três, células. Nessafase, portanto, é definida a região nucelar, sen-do possível identificar, também claramente ofunículo e o tecido provascular se diferencian-do em seu interior (Figura 7). Nessa fase dodesenvolvimento o botão floral de S.terebinthifolius possui entre 0,78 e 0,93 mm decomprimento e o seu carpelo entre 400 e 450µmde comprimento, aproximadamente.

Durante a invasão da cavidade locular peloprimórdio carpelar, em S. polygamus, não é obser-vada vacuolação de células dorsais próximas àregião de inserção deste primórdio e o mesmo nãose curva inicialmente em direção à base da cavi-dade locular. Assim, o primórdio acaba crescen-do em direção a parede locular oposta, onde par-te de sua porção apical e dorsal fica comprimidajunto à parede carpelar (Figura 8). Posteriormen-

te, é observada a formação da célula arquesporiale da célula parietal, seguido de divisões periclinaisem células epidérmicas, para a formação dotegumento interno, a semelhança do que ocorreem S. terebinthifolius. Porém, parte da porção dorsaldo tegumento interno, mesmo ocorrendo às divi-sões periclinais, não invade o espaço locular, apa-rentemente, devido à falta de espaço (Figura 9).Na porção ventral o tegumento interno se elevado primórdio, tornando-se evidente; além disso,a cavidade locular não apresenta uma ampliaçãoexpressiva, similar àquela observada em S.terebinthifolius (Figura 9). Nessa fase do desen-volvimento o botão floral de S. polygamus possuientre 0,62 e 0,78 mm de comprimento e o seucarpelo entre 280 a 340 µm de comprimento, apro-ximadamente.

Em ambas as espécies estudadas, a diferenci-ação da célula arquesporial e crescimento do te-cido crassinucelar são similares. O crescimentodo tegumento interno é mediado por divisõespericlinais e oblíquas de células derivadas daprotoderme do primórdio do rudimento seminal;o crescimento proliferativo do tecido crassinucelarocorre através de divisões periclinais, predomi-nantemente (Figuras 10 e 11).

Ainda durante essa fase de crescimento ini-cial, ocorre ampliação da cavidade locular emS. polygamus, associado ao aumento de curvatu-ra de seu primórdio, em direção a uma estrutu-ra anátropa. Aparentemente, essa combinaçãode fatores permite que a porção dorsal dotegumento interno, a seguir, se projete doprimórdio do rudimento seminal (Figura 12),ocupando espaço na cavidade locular. Duranteesse período de desenvolvimento, se observa oinício da formação do obturador funicular, onde,então, células da protoderme e duas a três ca-madas celulares subjacentes iniciam divisões

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periclinais. Esse processo se instala na porçãoventral do primórdio do rudimento seminal, en-tre a região de placentação e o tegumento in-terno (Figura 12). O mesmo processo ocorre emS. terebinthifolius.

O tegumento externo em ambas as espéciesde Schinus, estudadas, se desenvolve da mesmaforma. O processo inicia com divisões periclinaisnas células epidérmicas apenas da região dorsal,do primórdio, com uma distância de duas a trêscélulas em relação ao tegumento interno (Figu-ras 13 e 14). Nessa fase do desenvolvimento obotão floral de S. polygamus possui entre 0,78 e0,85 mm de comprimento e o seu carpelo entre430 a 500µm de comprimento, aproximadamen-te. O botão floral de S. terebinthifolius possui en-tre 0,9 e 1,0 mm de comprimento e o seu carpeloentre 620 e 680µm de comprimento, aproxima-damente. Algumas fases mais adiantadas dodesenvolvimento foram analisadas para a obten-ção de um quadro geral do desenvolvimento dostecidos que tiveram sua ontogenênese estuda-da. Assim, o desenvolvimento posterior revelarudimentos seminais anátropos em S.terebinthifolius e hemianátropos em S. polygamus,onde o nucelo, obturador funicular, tegumentointerno e externo são evidentes, além disso, ficaevidente o não desenvolvimento do tegumentoexterno na região ventral do rudimento seminal(Figuras 15 e 16).

DISCUSSÃO

A ontogenia do primórdio dos rudimentosseminais é muito similar entre S. terebinthifoliuse S. polygamus, embora, nessas espécies, algu-mas diferenças tenham sido observadas. A ori-gem do processo de formação do primórdio do

rudimento seminal revela a ação da protodermecarpelar e as duas camadas subjacentes, onde aprotoderme se divide anticlinalmente e as duascamadas subjacentes se dividempericlinalmente. O processo ontogenético pos-terior revela a invasão do lóculo, formação dacélula arquesporial e célula parietal, formaçãodo tegumento interno, formação do obturadorfunicular e, posteriormente, a formação dotegumento externo. Inicialmente serão discuti-das estas similaridades. Posteriormente, serãodiscutidas, então, as diferenças observadas nopresente trabalho entre o processo ontogenéticopara as duas espécies do gênero Schinus.

Com relação às divisões iniciais para a for-mação do primórdio do rudimento seminal, nãoexistem informações sobre o evento na famíliaAnacardiaceae, embora, existam descrições damorfologia do primórdio já incluso na cavidadelocular, como por exemplo, em S. molle(COPELAND 1959), onde o primórdio é com-parado a um domo vegetativo, em função de suamorfologia. Processo similar, na famíliaAnacardiaceae, foi descrito por OLIVEIRA(2001) para a iniciação de primórdios de estamesem Spondias mombin, onde, ocorrem divisõespericlinais das duas camadas subdérmicas e ape-nas divisões anticlinais da camada protodérmicado meristema floral. UMEDA et al. (1994) des-creveram para Magnolia grandiflora a participa-ção da epiderme e das duas camadas subjacentesna construção do primórdio do rudimento semi-nal, semelhante ao que foi descrito no presenteestudo. Embora, comparações com espécies con-sideradas primitivas incitem especulaçõesevolutivas, em função da não existência de ou-tras informações na família, não podemos inferirsobre a ancestralidade do caráter ou sua con-vergência neste grupo vegetal.

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A origem dos tegumentos descrita no presen-te estudo revelou a ação da camadaprotodérmica, através de divisões periclinais, prin-cipalmente, e oblíquas. Em ambas as espécies es-tudadas o tegumento interno surge logo após aformação das células arquesporial e parietal pri-mária, além disso, a formação do tegumento in-terno define a região nucelar. De maneira geral,nas angiospermas, o tegumento interno tem ori-gem dérmica, se desenvolve em torno do ápicedo primórdio e possui duas a três células de altu-ra (BOUMAN 1984). Assim, o tegumento inter-no se desenvolve em torno do nucelo, como tam-bém foi observado no presente estudo. EmToxicodendron diversiloba, COPELAND & DOYEL(1940) descreveram que a formação dostegumentos ocorre após a formação do saco em-brionário, embora as representações esquemáticasapresentadas mostrem que a formação dostegumentos ocorreu em fases mais iniciais. Umperíodo de formação de tegumentos, similar aoque observamos, foi descrito para S. molle(COPELAND 1959). Em Mangifera indicaROBBERTSE et al. (1986) descreveram que ostegumentos possuem origem dérmica, a semelhan-ça, então, de S. terebinthifolius e S. polygamus; naprimeira espécie, além disso, os tegumentos sur-gem simultaneamente e após a diferenciação dacélula arquesporial. ROBBERTSE et al. (1986)descreveram que o tegumento externo emMangifera indica mantém seu desenvolvimentoatravés de um processo definido por BOUMAN& CALIS (1977), para Eranthis hyemalis, como“integumentary shifting”. Cabe salientar que osautores (ROBBERTSE et al. 1986) não apresen-taram detalhamento ontogenético suficiente paratal conclusão.

Assim, pelo que foi exposto, o estudo compa-rado de duas espécies de Schinus, através da

ontogenia dos rudimentos seminais é inédito paraa família Anacardiaceae. Algumas informaçõessobre a estrutura geral dos rudimentos seminaisadultos são bem conhecidas e, de maneira ge-ral, é sabido que tais estruturas na família são,usualmente, anátropos, bitégmicos ecrassinucelares (JOHRI et al. 1992). De maneiraampla, cabe a generalização de que na famíliaAnacardiaceae os estudos morfológicos floraisrealizados limitaram suas observações aoscarpelos, entre outros órgãos florais, e os estu-dos embriológicos ao primórdio dos rudimentosseminais já iniciados e aos eventos deesporogênese e gametogênese. Nas poucas pu-blicações em que alguma descrição ontogenéticaé estabelecida o primórdio do rudimento semi-nal é descrito como um domo de células, e pou-co detalhamento é fornecido sobre ostegumentos, além de informações imprecisas eque necessitam de confirmação.

Embora existam similaridades entre S.terebinthifolius e S. polygamus com relação aomodo de iniciação do primórdio do rudimentoseminal, também existem diferenças constan-tes e interessantes entre as duas espécies. Taisdiferenças, como descrito no presente estudoestão relacionadas com o modo de entrada dorudimento seminal na cavidade locular, a ex-pressão morfológica inicial do tegumento in-terno e o desenvolvimento relativo da cavida-de locular e do próprio rudimento seminal. Taisdiferenças acreditam os autores do presenteestudo, possui valor taxonômico, em funçãoexclusivamente da não sobreposição de even-tos do processo entre as espécies e, também,por se tratar do processo ontogenético. Em re-lação ao desenvolvimento do tegumento inter-no IMAICHI et al. (1995) demonstraram queem espécies de Goniothalamus e Stelechocharpus

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burahol ocorre o retardo do desenvolvimentodo tegumento interno na região dorsal doprimórdio do rudimento seminal, porém a aná-lise, além de ser apenas morfológica a análisedo trabalho não se levou em consideração arelação do primórdio com a parede carpelar.

A discussão taxonômica que os autores pre-tendem estabelecer, com base nas diferençasontogenéticas entre as espécies do presente es-tudo, diz respeito a duas possibilidades de abor-dar o assunto em termos taxonômicos. A primeiraabordagem diz respeito à utilização direta dasdiferenças ontogenéticas para a caracterizaçãodas espécies. Acreditamos que a outra aborda-gem taxonômica no presente estudo necessitamais atenção, e diz respeito a subdivisão do gê-nero Schinus, proposta, inicialmente porMARCHAND (1869). MARCHAND (L.C.)utilizou tipo de folha e inflorescência para adelimitação das seções Euschinus e Duvaua.Posteriormente, ainda baseado nos mesmoscaracteres morfológicos ENGLER (1883) consi-derou Euschinus e Duvaua como subgêneros deSchinus, os quais foram reconhecidos porBARKLEY (1944, 1957). Usualmente, osubgênero Euschinus é definido como possuin-do folhas compostas e inflorescências compos-tas, tipo panículas, enquanto o subgêneroDuvaua possui folhas simples e inflorescênciassimples, tipo racemos (BARKLEY 1944, 1957).Porém, algumas espécies como Schinus pearceipossuem ramos com folhas simples e compostas,além de inflorescências tipo panículas, e S.sinuatus, que possui folhas simples, einflorescências tipo panículas (BARKLEY L.C.).Assim, de acordo com FLEIG (1979, 1987) fal-tam caracteres robustos para validar ou manteros subgêneros, sendo que a autora considerousupérflua a subdivisão do gênero. Contudo, caso

venha a ser confirmada a característicaontogenética de S. polygamus, descrita no pre-sente estudo, para outras espécies de folhas sim-ples, e de forma similar para as espécies de fo-lhas compostas em relação ao que foi descritopara S. terebinthifolius, os autores do presenteestudo acreditam que se estabelece uma basemorfogenética robusta para a delimitação dossubgêneros em Schinus.

Assim, os resultados obtidos no presente es-tudo, baseados no processo ontogenético, re-velam a importância do tema para discussõestaxonômicas e, também, sistemáticas para ogênero Schinus , entre outros da famíliaAnacardiaceae. Os autores do presente estu-do concordam com outros autores em relaçãoà importância do processo ontogenético parao estabelecimento de homologias entre estru-turas a serem comparadas, as quais são fun-damentais em considerações taxonômicas, sis-temáticas e evolutivas (FINK 1982, PINNA1991, AMORIN 2002). A famíliaAnacardiaceae, foi alvo de estudos consecu-tivos envolvendo flores em antese, frutos ma-duros e sementes (VON TEICHMAN, 1988;1991, 1992, 1998; VON TEICHMAN & VANWYK, 1994; WANNAN & QUINN 1990,1991), porém raros são os trabalhos que en-volvem estudos ontogenéticos, ou aqueles quesão realizados são pouco criteriosos, além dis-so, muitas informações são adaptadas de ou-tras espécies ou gêneros considerados próxi-mos, onde o processo ontogenético é conside-rado similar de forma arbitrária, portanto. As-sim, embora diversos trabalhos na famíliaAnacardiaceae tenham um objetivotaxonômico e/ou sistemático, algumas de suasconsiderações devem ser revisadas e amplia-das com base em estudos ontogenéticos.

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Figuras 1 a 7 - 1 e 2. Microscopia eletrônica de varredura. 1. Botão floral de Schinus terebinthifolius. Seta indicacarpelo funcional, cabeças de setas indicam primórdios carpelares abortivos. Círculos brancosindicam primórdios estaminais. Linha tracejada indica plano de corte que separa carpelo erudimento seminal bilateralmente. Barra = 300µm. 2. Botão floral de S. polygamus. Seta indicacarpelo funcional, cabeças de setas indicam primórdios carpelares abortivos. Círculos brancosindicam primórdios estaminais. Barra = 190µm. 3 a 7. Secções longitudinais orientadas pela linhatracejada indicada na figura 1. 3. Primórdio de rudimento seminal de S. terebinthifolius; cabeçasde setas indicam células da segunda e da terceira camada placentário em divisão; cavidadelocular = c. Barra = 20µm. 4. Primórdio de rudimento seminal de S. polygamus, cabeças de setasindicam células da segunda e da terceira camada placentário em divisão; cavidade locular = c.Barra = 20µm. 5. Primórdio de rudimento seminal de S. terebinthifolius preenchendo a cavidadelocular. Asterisco indica região placentária, cabeças de setas indicam células volumosas queprovocam curvatura do primórdio. Barra = 20µm. 6. Detalhe do ápice do primórdio após a formaçãoda célula arquesporial (seta branca) e da célula parietal (seta preta). Barra = 25µm. 7. Formaçãodo tegumento interno em S. terebinthifolius (cabeças de setas), a partir da protoderme; nucelo =n, asterisco indica tecido provascular. Barra = 20µm.

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Figuras 8 a 14 - 8. Primórdio de rudimento seminal de Schinus polygamus (círculo) preenchendo a cavidadelocular. Cabeça de seta indica região dorsal do primórdio comprimida contra a parede locular;asterisco indica região placentária. 9. Formação do tegumento interno em S. polygamus(cabeças de setas), a partir da protoderme; seta branca indica tegumento comprimido, nucelo= n, asterisco indica região placentária. 10. Secção longitudinal de S. terebinthifoliusperpendicular a linha tracejada mostrada na figura 1. Quadrado preto indica o tegumentointerno em desenvolvimento, seta indica célula arquesporial. 11. S. polygamus, orientação decorte e legenda idem figura 10. 12. S. polygamus, secção longitudinal orientada pela linhatracejada indicada na figura 1. Setas pretas indicam formação do obturador funicular, quadradoindica tegumento interno, seta branca indica célula arquesporial. 13. S. terebinthifolius.Formação do tegumento externo a partir da epiderme (setas), quadrados indicam tegumentointerno, círculo indica célula arquesporial, nucelo crassinucelar = cn. 14. S. polygamus.Orientação de corte e legenda idem figura 13. Barra de escala das figuras 8 a 11 = 20µm.Barra de escala das figuras 12 a 14 = 25µm.

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AGRADECIMENTOS

Ao Centro de Microscopia Eletrônica daUniversidade Federal do Rio Grande do Sul, emespecial às técnicas Miriam Souza Santos eFrancis Farret Darsie. Os autores agradecem aoCNPq pelo suporte financeiro.

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Figuras 15 e 16 - Gametogênese inicial. 15. Schinus terebinthifolius, secção longitudinal orientada pela linhatracejada indicada na figura 1. Quadrados pretos indicam tegumento interno, circulo brancoindica tegumento externo, obturador funicular = ob; seta branca indica ginófito, asterisco indicaregião calazal. 16. Schinus polygamus. Orientação de corte e legenda idem figura 15. Barra deescala das figuras 15 e 16 = 25µm.

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Avaliação do efeito fotoprotetivo dePolytrichum juniperinum Hedw, Colobanthus

quitensis (Kunth.) Bartl. e Deschampsiaantarctica Desv. através de ensaio cometa em

Helix aspersa (Müller, 1774)

BETINA KAPPEL PEREIRA1

ANTÔNIO BATISTA PEREIRA2

ALEXANDRE C. FERRAZ3

NÁDIA TERESINHA SCHRÖDER4

JULIANA DA SILVA5

RESUMO

O aumento da incidência de raios UV-B na Antártida tem sido observado nos últimos anos devido aredução da camada de ozônio da estratosfera. As plantas possuem diferentes mecanismos de proteçãocontra raios UV-B, onde se inclui o acúmulo de pigmentos nas folhas. Plantas coletadas na Antártida(Polytrichum juniperinum Hedw.; Colobanthus quitensis (Kunth.) Bartl.; e Deschampsia antarcticaDesv.) foram oferecidas ad libbitum para Helix aspersa durante uma semana. O dano do DNA e a açãode fotoproteção destas plantas foram determinados através do Ensaio Cometa em células de hemolinfa.Nossos resultados demonstraram que as três espécies da Antártida apresentam efeito protetor contra

1 Acadêmica do Curso de Química/ULBRA – Bolsista do CNPq2 Professor do Curso de Biologia e do PPG Ensino de Ciên-cias e Matemática/ULBRA

3 Professor do Curso de Farmácia/ULBRA

4 Professora do Curso de Biologia e do PPG Engenharia:Energia,Materiais e Ambiente

5 Professora – Orientadora do Curso de Biologia e do PPGEnsino de Ciências e Matemática/ULBRA ([email protected])

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exposição à UV em Helix aspersa.Tais análises encaminham para testes químicos, bioorientados mos-trando assim o possível poder fotoprotetor destas plantas.

Palavras-chave: Polytrichum, Colobanthus, Deschampsia, Genotoxicidade, Ensaio Cometa.

ABSTRACT

Ozone reductions in the stratosphere leads to selective increase in UV-B radiation at the Antarticsurface, which damages DNA. Plants have involved different strategies for UV-B radiation tolerance.Avoidance mechanisms include epidermal screening of UV radiation by accumulation of the pigments inthe leaves. Plants from Antartic (Polytrichum juniperinum Hedw.; Colobanthus quitensis (Kunth.)Bartl.; and Deschampsia antarctica Desv.) were offered ad libbitum for Helix aspersa during one week.DNA damage and photoprotective action of these plants were determined by Comet assay. The resultsdemonstrated that the three species from Antartic show a protective effect against UV exposition for theHelix aspersa. Chemical analysis are been doing to determinate what compounds, and the quantity in eachplant, can be related with the photoprotection observed in our study.

Key words: Polytrichum, Colobanthu, Deschampsia, Genotoxicity, Comet Assay.

As plantas nestes ambientes possuem dois princi-pais mecanismos de proteção: (1) o reparo, e (2) oacúmulo destes pigmentos no tecido mesofílico(SCHMITZ-HOERNER & WEISSENBÖCK,2003).

Buscando avaliar a ação fotoprotetiva dospigmentos encontrados nestas plantas, coletou-se três espécies na Antártida, durante o verão-austral 2003/2004: (a) Polytrichum juniperinumHedw.(Bryophyta); (b) Colobanthus quitensis(Kunth.) Bartl.(Caryophyllaceae); e (c)Deschampsia antarctica Desv. (Poaceae). O com-portamento fotoprotetivo foi avaliado através doEnsaio Cometa em células de hemolinfa de Helixaspersa, os quais receberam estes vegetais du-rante uma semana, sendo posteriormente expos-tos à UV. A técnica do Ensaio Cometa (“SingleCell gel electrophoresis”) é um teste degenotoxicidade que foi escolhido pôr sua capa-cidade de detectar danos no DNA induzidos por

INTRODUÇÃO

A Antártica é o ponto do planeta que mais re-cebe radiações solares do tipo UV-B, consequenciade problemas com a camada de ozônio. Radiaçõesdeste tipo são potencialmente nocivas a saúde,danos causado por alta intensidade excedem osníveis de defesa e reparo de qualquer organismo(SCHMITZ-HOERNER & WEISSENBÖCK,2003). A UV causa estresse foto-oxidadativo emtodos os compartimentos celulares, além de outrosefeitos que já foram observados em plantas(CHICARO et al, 2004). Respostas diretas aoestresse causado pela UV inclui peroxidaçãolipídica da membrana, devido a formação de radi-cais e dímeros no DNA (CHICARO et al, 2004).Estudos recentes com plantas têm demonstradoque estas apresentam em ambientes de estresse deradiação um aumento na produção de pigmentosde fotoproteção, como carotenóides e flavonóides.

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agentes alquilantes, intercalantes e oxidantes.A versão alcalina deste teste é capaz de detec-tar quebras de fita única e dupla, sítios alcali-lábeis, e crosslinks. Este teste apresenta algumasvantagens sobre os testes bioquímicos ecitogenéticos, entre estas a necessidade de so-mente um pequeno número de células e de nãoser necessário células em divisão (COTELLE &FÉRARD, 1999). Conhecendo a sensibilidadedo teste em diferentes condições, e a capacida-de de bioindicação do Helix aspersa, surgem ascondições para desenvolvimento desse trabalho.

MATERIAL E MÉTODOS

Indivíduos de Helix aspersa foram divididosem 4 grupos de aproximadamente 6 moluscos.Os grupos foram submetidos a alimentação com:(a) Lactuca sativa L.–alface (controle); e com asespécies antárticas: (b) Polytrichum; (c)Colobanthus; (d) Deschampsia. Alimentação eágua foram oferecidas ad libbitum. Os indivídu-os foram observados durante o tempo de trata-mento (1 semana).

Células de hemolinfa foram utilizadas parao teste, preparando-se 4 lâminas/ indivíduo/grupo de alimentação, sendo que parte foi ex-posta por 10 segundos a UV-germicida (30W)e parte não foi exposta (controle), avaliadaspelo Ensaio Cometa. Este teste foi realizadoconforme descrito por SILVA et al (2000), comalgumas modificações. O teste consiste basi-camente na mistura de células em agarose so-bre lâminas para microscópio, submetendo es-tas após lise celular a uma corrente elétrica.Esta corrente, havendo danos no DNA, faz comque os fragmentos do mesmo migrem, fazendocom que tenhamos uma imagem de célula “co-meta” (célula com cauda) (Fig. 1). O DNA écorado por uma solução com prata, e analisa-se 100 células/indivíduo/tratamento (50/lâmi-na). Os núcleos contendo o DNA intacto sãoredondos (sem danos – classe 0), conquantoas células lesadas são classificadas de acordocom a cauda (de pouco dano-1 até danos má-ximos– classe 4 ). Assim, o Índice de Danos decada grupo pode ir do zero (100X0; 100 célulasobservadas sem danos) a 400 (100X4; 100 cé-lulas observadas com dano máximo).

Figura 1 - Células “cometa” em Helix aspersa.

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Para a identificação dos flavonóides foi utili-zada cromatografia em camada delgada (CCD).Foram analisados, em sistemas eluentes distin-tos, os extratos metanólicos das três espéciesquanto a presença de agliconas (CHCl3: MeOH– 9:1) e heterosídeos flavônicos (acetato de etila:ácido fórmico: ácido acético: água -100:11:11:26).

RESULTADOS ECONCLUSÕES

Os resultados referentes ao índice de danose respectivo desvio padrão para cada grupo ava-liado está apresentado na Figura 2. Os quatrogrupos foram comparados entre si, onde entreaqueles sem exposição a UV, H. aspersa alimen-tado com alface e com as três espécies de plan-tas da Antártida, não observou-se diferença sig-nificativa. As células de hemolinfa expostas àraios UV do grupo que recebeu alface, demons-trou aumento significativo(P<0,05) de danos aoDNA em relação ao controle. Quando compa-rados os três grupos de espécies antárticas, estemesmo aumento significativo não foi demons-trado após exposição à raios UV. Observou-seainda entre os grupos alimentados comPolytrichum e Deschempsia que suas células apósexposição não apresentavam o mesmo valor dedano ao DNA, sendo inclusive inferior de for-ma significativa ao grupo alface.

A partir dos resultados encontrados, tornou-se importante conhecer e diferenciar a consti-

tuição química destes vegetais.

Os flavonóides são produtos amplamente re-conhecidos por serem produzidos pelas plantaspara se protrgerem dos raios UV. A partir destaatividade, as análises fitoquímicas, das plantasDeschampsia antártica e Colobanthus quitensis e omusgo Polytrichium juniperinum, foramdirecionadas para a fração mais polar, onde en-contra-se estes produtos.

Comparando o perfil cromatográfico destasespécies com a espécie utilizada como referên-cia Lactuca sativum [alface], verifica-se que estaespécie possui poucas agliconas e os flavonóidesdetectados são distintos dos encontrados paraos vegetais da Antártica.

A maior proteção aos raios UV encontradapara a espécie Deschampsia antartica, pode serexplicada, pelo menos em parte, pela maior pro-dução de flavonóides detectada neta planta.Por outro lado, é interessante comentar que aespécie Lactuca sativum, a qual apresentoumenor proteção aos raios UV possui maisflavonóides do que as espécies Colobanthusquitensis e Polytricium juniperinum. A partir des-ta constatação, pode-se concluir que osflavonóides produzidos pelas espécies nativasda Antártica [Colobanthus quitensis e Polytriciumjuniperinum] possuem uma maior propriedadeprotetora dos raios UV. Desta maneira verifi-ca-se a necessidade em aprofundar os estudosfitoquímicos com estes vegetais, visando isolar,identificar e avaliar a capacidade protetoradestes flavonóides.

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Figura 2 - Média e desvio padrão do índice de danos observados em Helix aspersa alimentados com alface (L.sativum), sem exposição e com exposição à UV, e com as espécies antárticas Polytrichum, Colobanthuse Deschampsia, expostos à UV. * P<0,05

Figura 4 - “CCD em eluente para heterosídeos”. A – extrato metanólico de Colobanthus quitensis;B - extratometanólico de Deschampsia antártica ; C -extrato metanólico Polytrichium juniperinum; D - Lactucasativum; E – Rutina; F- Hiperosídeo.

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Apoio financeiro: CNPq / MMA / CIRM /ULBRA / CITOCEL

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Figura 5 - “CCD em Eluente para Agliconas”. Legenda: A – extrato metanólico de Colobanthus quitensis;B -extrato metanólico de Deschampsia antártica ; C -extrato metanólico Polytrichium juniperinum; D -Lactuca sativum; E – Quercetina; F- 3-methileterquercetina; G- 3,7 dimethileterquercetina.

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O emprego dos genes RAG na elucidação dasrelações filogenéticas de mamíferos

ANA LETÍCIA DA SILVA PEREIRA1

CRISTINA CLAUMANN FREYGANG2

MARGARETE SUÑÉ MATTEVI3

RESUMO

O Sistema imune dos animais vertebrados é uma ferramenta importante que reconhece osantígenos alvo por meio de um complexo sistema de proteínas. Duas proteínas, codificadas pelosgenes RAG1 e RAG2 são essenciais para esta reação. Recentemente estes genes estão sendo usadosem estudos de sistemática e de análise filogenética dos vertebrados. Relata-se a análise de 26amostras pertencentes às espécies A. lituratus e A. fimbriatus de quirópteros provenientes de 10localidades de Santa Catarina, coletadas em um transecto Norte–Sul. Destas amostras está sendoseqüenciado o gene RAG2 com o objetivo de verificar se as mesmas se diferenciam à medida queaumentam as distâncias geográficas.

Palavras-chave: RAG, sistema imune, quirópteros, relações filogenéticas, recombinação V(D)J.

ABSTRACT

The immune system of vertebrate animals is an important tool in recognizing the target antigens byantigen-binding proteins. Two proteins encoded by the recombination-activating genes, RAG1 and RAG2,are essential in this reaction. Recently, these genes are being used in the systematic and in the phylogenetic

1 Acadêmica do Curso de Biologia/ULBRA - Bolsista PIBIC/CNPq2 Doutoranda do PPG Genética e Biologia Molecular/ UFRGS

3 Professora-Orientadora do Curso de Biologia e PPG Diag-nóstico Genético-Molecular/ULBRA ([email protected])

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analysis of the vertebrates. Here it is related the analysis performing in 26 individuals of the A. lituratusand A. fimbriatus Quiroptera species from 10 localities of Santa Catarina, obtained in North-Southtransect. The RAG2 gene of these sampled are being sequenced with the purpose to verify if they differentiateaccording to the increase of the geographic distances.

Key words: RAG, immune system, Quiroptera, phylogenetic relationships, V(D)J Recombination.

Especificamente, as proteínas RAG1 e RAG2podem ser vistas como transposases modificadas(enzimas intimamente associadas com o movi-mento dos transposons), as quais se ligam às se-qüências sinal, deste modo iniciando uma rea-ção que corta a seqüência entre os dois segmen-tos escolhidos sem, contudo, integrá-los em ou-tra parte do genoma. De fato, testes in vitro têmdemonstrado que as proteínas RAG são tambémcapazes de cumprir esta função de integração(AGRAWAL et al.,1998; KLEIN,2004). Estasobservações têm conduzido a hipóteses que osgenes RAG e as seqüências sinal que flanqueiamos segmentos V,J, e D foram introduzidos nogenoma de um ancestral vertebradomandibulado por um transposon originado deuma bactéria ou vírus (BAKER et al., 2000;KLEIN, 2004). De acordo com estas hipóteses, otransposon original consistiria dos dois genesRAG nas suas formas ativas in-vivo. Após aintegração no genoma do vertebrado ancestral,ele tornou-se ativo e produziu uma variantedeficiente dos genes RAG, a qual então foitransposta uma ou duas vezes dentro do exon Vdo gene receptor primordial, cortando V e J emsegmentos flanqueados pelas seqüências sinal.Uma segunda transposição pode ter gerado osegmento D que, ao contrário dos segmentos Ve J, é flanqueado por seqüências sinal em ambasas extremidades. O transposon original integra-do então perdeu suas seqüências sinalflanqueadoras, assim como a habilidade de trans-

O sistema imune dos animais vertebrados éuma ferramenta importante que reconhece osantígenos alvo por meio de um complexo siste-ma de proteínas. Essas proteínas pertencem aduas famílias: as TCRs (T cell receptors), ex-pressas e retidas na superfície das células T e asimunoglobulinas (Igs), expressas tanto em re-ceptores na superfície da célula quantosecretadas como proteínas circulantes denomi-nadas de anticorpos (SADOFSKY, 2001).

Para o reconhecimento dos diversosantígenos, o sistema imune cria uma ampla po-pulação de moléculas receptoras que diferem nasseqüências primárias de suas regiões de ligaçãocom o antígeno. Esse vasto “Repertórioimunológico” é formado por um mecanismo dediversificação e seleção próprio gerado por trêsprocessos diferentes, dentre eles a recombinaçãoV(D)J (SADOFSKY, 2001).

Este mecanismo requer um corte preciso doDNA em segmentos seguido por um rearranjodos mesmos (QIU et al., 2001). Duas proteínas,RAG1 e RAG2 (Recombination ActivatingGenes) formam as nucleases responsáveis pelaclivagem do DNA (SADOFSKY, 2001). É inte-ressante notar que as RAG atuam comotransposases in vitro e que o processo deRecombinação V-J é parecido com o mecanis-mo pelo qual transposons movem-se de um lu-gar para outro no genoma e entre genomas(KLEIN,2004).

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por a si mesmo in vivo. O dois genes RAG torna-ram-se, então, envolvidos exclusivamente narecombinação V(D)J dos genes TCR e BCR (Bcell receptors) (AGRAWAL et al.,1998;KLEIN,2004).

Somada à evidência citada acima, a obser-vação de que dois genes RAG, embora poucorelacionados um com o outro, são justapostos emtodas as espécies estudadas e transcritosconcomitantemente, reforça a hipótese dotransposon (KLEIN, 2004).

As proteínas RAG são codificadas por dois pa-res de genes (RAG1 e RAG2) que, nos tetrápodes,não são interrompidos por íntrons e situados 8Kbum em relação ao outro no genoma nuclear. RAG1

humano e proteínas RAG2 são de 1,043 e 527aminoácidos, respectivamente (BAKER et al.,2000). Estes genes são expressos somente noslinfócitos B e T, onde os níveis do transcrito vari-am nos diferentes estágios de desenvolvimento.

O mecanismo de corte e união é feito pelas pro-teínas RAG de modo similar ao mecanismo peloqual os íntrons são retirados do transcrito primáriode RNA. No entanto, o processo está atuando so-bre o DNA e segmentos diferentes estão envolvidos(V, D e J), não se podendo admitir que um V sejaligado a um J diretamente, sem o D, por exemplo.

A clivagem é direcionada a um local precisopela presença das RSSs (recombination signalsequences). A RSS é composta por heptâmerosconservados e nonâmeros separados por umespaçador de tamanho fixado. Há duas classesde RSS, que são distinguidas pelo tamanho desuas regiões espaçadoras. O tamanho destas re-giões tem sempre 12 ou 23 nucleotídeos (o com-primento aproximado de uma ou duas voltas deDNA) e as mesmas são referidas como 12-RSS

ou 23-RSS (SADOFSKY, 2001; QIU et al., 2001).

Este conjunto cria, assim, na extremidade decada segmento, um indicador de corte e união,semelhante ao que os íntrons têm no seu inícioe no seu fim. A existência dessas duas classesajuda a evitar uma possível falha no sistema derecombinação (SADOFSKY, 2001).

A função de RAG1 neste processo já é bem co-nhecida, porém, a única função específica do RAG2

que já foi identificada é o aumento da estabilida-de e da especificidade das interações entre RAG1

e a RSS (AKAMATSU & OETTINGER, 1998;SWANSON & DESIDERIO, 1999). A função decatalisador, se houver, de RAG2 permanece des-conhecido. Contudo, apesar de pouco se conhe-cer sobre a função de RAG2, mutantes para estegene têm sido utilizados em estudos que visammelhor entender o funcionamento do sistema imu-ne, como os trabalhos desenvolvidos por CHEN etal., 1993 e por QIU et al., 2000.

A descoberta do RAG1 e RAG2 foi o avançomais importante no estudo da recombinaçãoV(D)J desde a descoberta original do rearranjodos genes por Tonegawa (1983) tornou possívelanálises detalhadas da reação de clivagem daV(D)J. A descoberta dos genes RAG tambémfoi de grande importância no estudo da ligaçãoentre o reparo de DBSs (Double Strand Breaks)induzidas por RAG e outros reparos de DBSs,principalmente porque acredita-se que estesprocessos possam levar a translocaçõescromossômicas entre RSS verdadeiras e seqüên-cias crípticas localizadas dentro do genoma, ge-rando oncogenes (JUNG & ALT, 2004).

Em relação ao papel destes genes em estudosevolutivos, estes têm sido usados para resolverquestões de ordem filogenética, entre pássaros

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e vertebrados, e pequenas porções da regiãoconservada têm sido empregadas para questõesde níveis sistemáticos mais altos em mamíferos,morcegos e tubarões (STEPPAN et al. 2004).

Especificamente em relação ao RAG2, recen-temente este gene vem sendo utilizado em tra-balhos relacionados à filogenia e filogeografiade diversos taxa de mamíferos quando se tratade níveis taxonômicos superiores, tais como gê-neros e famílias, nos quais a saturação de al-guns tipos de mutações prejudica a resoluçãodas relações entre os grupos, como pode acon-tecer com outros marcadores moleculares comocitocromo b, por exemplo (BAKER et al., 2003).

O potencial de RAG2 na análise filogenéticafica bem claro nos trabalhos realizados com a or-dem Quiroptera por BAKER et al. (2000),Carstens et al., (2002) e BAKER et al. (2003},principalmente dentro da família Phyllostomidae,

grupo altamente controverso onde a magnitudeda adaptação morfológica para estratégias maiseficientes de alimentação pode resultar emfenótipos tão modificados que mascaram as rela-ções filogenéticas basais (BAKER et al., 2000).

RAG2 pode, particularmente, ser de grandeutilidade para estudos da evolução dosfilostomídeos pois, além de evoluir mais lenta-mente que o citocromo b, sua função na respos-ta imunológica provavelmente não está ligadaàs características morfológicas utilizadasfreqüentemente como critérios diagnósticos nataxonomia do grupo. Estas propriedades nos le-varam a escolhê-lo para análises do gêneroArtibeus.

Foram coletadas 26 amostras pertencentes àsespécies A. lituratus e A. fimbriatus, provenientesde 10 localidades distintas do estado de SantaCatarina em um transecto Norte - Sul (Figura 1).

Figura 1 - Mapa da distribuição das espécies estudadas e mapa do estado de Santa Catarina com os respectivoslocais de coleta: 1 – Santa Rosa do Sul, 2 – Jacinto Machado , 3- Nova Veneza, 5- Treze de Maio, 6-Santo Amaro da Imperatriz, 7 e 8 - Florianópolis 9 – Governador Celso Ramos, 10 – Porto Belo, 11 –Blumenau, 12 – Gaspar. A localidade 4 não foi amostrada para estas espécies. Em cinza escuro,distribuição de A. lituratus e em cinza claro, distribuição de A. fimbriatus.

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A extração é feita utilizando-se o método deextração de DNA com sal pela técnica deMedrano et al. (1990) e a amplificação por PCRmediante a combinação dos “primers” RAG2-F1e RAG2-R1 (Figura 2) segundo condições des-critas na literatura, com modificações. Para o

seqüenciamento estão sendo utilizados os mes-mos “primers” da amplificação. Os resultadosestão sendo comparados com os que já obtive-mos com o gene mitocondrial citocromo b paranas mesmas amostras, sendo, no entanto, aindapreliminares.

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Figura 2 - Diagrama representando os genes RAG, mostrando os sítios de anelamento, com destaque para osprimers utilizados. Figura retirada de BAKER et al. (2000).

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Avaliação de sensibilidade de três sistemas para adetecção de Mycoplasma gallisepticum pela

Reação em Cadeia da Polimerase (PCR)

DIEGO HEPP1

KELI CRISTINA DOS SANTOS SIMÕES1

THAÍS DA ROCHA BOEIRA2

ANDRÉ SALVADOR KAZANTZI FONSECA2

VAGNER RICARDO LUNGE3

EDMUNDO KANAN MARQUES4

NILO IKUTA5

RESUMO

Foram analisados neste trabalho três sistemas para detecção molecular de Mycoplasma gallisepticum(MG) pela Reação em Cadeia da Polimerase (PCR). Dois sistemas são baseados em amplificações únicas(genes de proteínas de superfície GapA e mgc2) e um sistema no formato nested-PCR (gene GapA). Asensibilidade analítica foi avaliada pela detecção de diluições seriadas de cepa vacinal e pela análise de 44amostras clínicas provenientes de swabs de galinhas e perus. A nested-PCR apresentou maior sensibilidadeaos sistemas de amplificação única tanto na diluição de vacina quanto nas amostras clínicas.

Palavras-chave: Mycoplasma gallisepticum, sensibilidade, PCR.

1 Acadêmico do Curso de Biologia/ ULBRA - Bolsista PROICT/ULBRA

2 Simbios Biotecnologia3 Professor do Curso de Medicina Veterinária e do PPG em

Diagnóstico Genético Molecular/ ULBRA4 Professor do PPG em Diagnóstico Genético Molecular/ ULBRA5 Professor – Orientador do Curso de Biologia e PPG emDiagnóstico Genético e Molecular/ULBRA ([email protected])

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ABSTRACT

Three Mycoplasma gallisepticum (MG) polymerase chain reactions (PCRs) that target surface proteingenes gapA and mgc2, and a nested PCR (GapA) were compared in this work. Analytical sensitivity wasevaluated by detection of dilutions of vaccine strain and analysis of 44 clinical samples (swabs from turkeysand chickens). The nested-PCR showed to be more sensitive than single amplification PCRs in the vaccinedilution and clinical samples evaluations.

Key words: Mycoplasma gallisepticum, sensibility, PCR.

confirmatórios (KLEVEN et al., 2004). Entre-tanto, há pouca informação disponível compa-rando a sensibilidade dos mesmos em amostrasclínicas (GARCIA et al., 2005), sendo que asensibilidade destes testes é um fator importan-te para a sua escolha e utilização no controle doMG nos lotes de aves.

Este estudo foi realizado com o objetivo decomparar a sensibilidade de três procedimen-tos para detecção molecular de MG, os quaisamplificam regiões de genes codificadores deproteínas de superfície deste patógeno (genesmgc2 e GapA).

MATERIAL E MÉTODOS

Amostras

Foram utilizadas as seguintes amostras naanálise de sensibilidade dos sistemas de amplifi-cação: cepa vacinal ts-11 (utilizada para a pre-paração de diluições seriadas de base 5, emágua) e 44 swabs provenientes de galinhas eperus de diferentes lotes comerciais (previamen-te diagnosticadas como MG positivas).

INTRODUÇÃO

O Mycoplasma gallisepticum (MG) é um im-portante patógeno de galinhas e perus, sendoresponsável por grandes perdas econômicas naavicultura industrial. A infecção por MG apre-senta uma grande variedade de manifestaçõescomo Doença Respiratória Crônica (DRC) eaerossaculite. As aves infectadas apresentambaixa conversão alimentar, queda na produçãode ovos e altas taxas de mortalidade(BOGUSLAVSKY et al., 2000).

O controle da doença em lotes comerciais ébaseado na erradicação e manutenção do statuslivre deste patógeno por meio de medidas debiossegurança. O monitoramento dos lotes é re-alizado utilizando-se testes sorológicos como asoroaglutinação rápida (SAR), inibição dahemoaglutinação (HI) e testes de ELISA. Oteste confirmatório preconizado é o isolamentobacteriano, sendo um procedimento dispendioso,demorado e tecnicamente de difícil execução(RAZIN, YOGEV & NAOT, 1998).

Com os progressos na biologia molecular, di-versos genes de proteínas de superfície têm sidodescritos e testes moleculares baseados nestesalvos foram apresentados como testes

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Extração de ácidos nucléicos

A purificação de ácidos nucléicos foi reali-zada através da técnica de extração em sílica(adaptada do método descrito por Boom et al.,1990). Cada swab foi transferido para um tuboeppendorf de 1,5mL contendo 1mL de mix delise, e incubado a 60°C por 10 minutos. Após aincubação, 500mL deste mix de lise foi transfe-rido para outro tubo. Para a extração das vaci-nas, 100mL de amostra foi transferida para umtubo contendo 400mL de mix de lise e submeti-da à incubação. 20mL de suspensão de sílicaforam adicionados aos tubos, com posterior in-cubação a temperatura ambiente por 10 minu-tos (agitando por inversão a cada 2 minutos).Após a incubação os tubos foram lavados 2 ve-zes com solução de lavagem, 2 vezes com etanol75% e uma vez com etanol absoluto (150µL decada um). Os tubos secaram em termobloco a60°C por 10 minutos e as amostras foram separa-das da sílica com 50mL de solução eluidora.

Amplificação

A seqüência e o tamanho do produto deamplificação dos primers utilizados nos diferen-tes métodos para detecção de DNA de MG ava-liados, estão demonstrados na tabela 1. Os sis-temas de amplificação única consistem em umpar de primers baseados nos genes mgc2 (siste-ma 1) e Gap A (sistema 2), e são utilizados emamplificações nas seguintes condições: 94°C por3 min seguidos de 50 ciclos de 94°C por 20s;60°C por 40s; 72°C por 60s; e extensão final de72°C por 5 min. O sistema de amplificação noformato nested-PCR (sistema 3) utiliza dois pa-res de primers baseados no gene GapA: os ex-ternos são utilizados em uma reação de amplifi-

cação de 20 ciclos, e os internos em uma reaçãode amplificação de 35 ciclos. As condições daprimeira e segunda amplificação são as mesmasutilizadas no sistema de amplificação única.Todos estes procedimentos da PCR utilizarameletroforese em gel de poliacrilamida paradetecção de seus produtos de amplificação.

Avaliação da sensibilidade

A sensibilidade analítica dos três sistemas deamplificação foi determinada a partir do DNAgenômico extraído de uma diluição seriada debase 5 da cepa vacinal ts-11 (preparada em água)até o ponto 1/3.125.000. Foram utilizados os pon-tos a partir da diluição 1/1.000, em avaliaçõesparalelas nos três sistemas de amplificação. Olimite de detecção da PCR foi considerado adiluição mais elevada da vacina na qual um pro-duto detectável de PCR foi observado.

Por outro lado, a sensibilidade diagnósticados sistemas foi determinada a partir da compa-ração entre os resultados da análise paralela de44 amostras clínicas provenientes de swabs detraquéia de galinhas e perus.

RESULTADOS EDISCUSSÃO

O resultado da sensibilidade analítica ou li-mite de detecção obtidos a partir de diluiçõesda vacina ts-11, estão demonstrados na figura1. O sistema 1 apresentou sensibilidade para adetecção de vacinas diluídas até 1.000 vezes;enquanto o sistema 2 até 25.000 vezes e o siste-ma 3 até 125.000 (tabela 2).

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A tabela 3 expressa o resultado da sensibili-dade, obtido através da avaliação de amostrasclínicas, onde o sistema 1 detectou 41 amostrasclínicas, o sistema 2 positivou 38 e o sistema 3detectou todas as 44 amostras, tendo portanto100% de sensibilidade.

A avaliação dos diferentes sistemas de am-plificação demonstrou que estes apresentam di-ferenças na sensibilidade, tanto na avaliação apartir de diluições de vacina, quanto na análisede amostras clínicas. Estas diferenças podem terorigem na escolha da região utilizada como alvoou no formato escolhido para cada sistema deamplificação.

Muitos métodos de amplificação de ácidosnucléicos têm sido desenvolvidos para detecçãode MG e são utilizados como parte de testes derotina em vários laboratórios. Com o aumentodo uso da PCR como ferramenta para identifi-cação de lotes infectados com MG, considera-

mos importante comparar métodos disponíveisque foram desenvolvidos para este fim.

A comparação entre as sensibilidades destestrês métodos demonstrou que o sistema 3 (nested-PCR) é o mais sensível para a detecção de MG,tanto na avaliação a partir de diluições de cepavacinal como na avaliação de amostras clínicas.Apesar disso, os sistemas 1 e 2 apresentam comovantagem sobre o sistema 3 o fato de serem maisrápidos e envolveram menor manipulação, já quese trata de amplificações únicas.

A sensibilidade analítica mostrou que a PCRbaseada no gene GapA (sistema 3) foi 5x maissensível que o sistema 2 e 125x mais sensívelque o sistema 1. A sensibilidade diagnósticademonstrou que o sistema 3 apresenta 100% desensibilidade e os sistemas 1 e 2, 93,2% e 86,4%respectivamente.

Projeto financiado: Finep e Fapergs

Tabela 2 - Sensibilidade dos sistemas de amplificação em diluição de cepa vacinal.

Sistema Sensibilidade

Tabela 1 - Seqüência dos primers e tamanho do amplicon.

Primers Seqüência GeneTamanho produto PCR

(bp)mgc2 2F 5' CGCAATTTGGTCCTAATCCCCAACA 3'mgc2 2R 3' TAAACCCACCTCCAGCTTTATTTCC 5'myc 3FA 5' TCARCGTTTCTAAGATTCCTTTTG 3'myc 4R

A 3' GCATCAAAACCAGTAAATTCTTGG 5'myc 5FB 5' TTCTAGCGCTTTARCCCTAAACCC 3'myc 6RB 3' CTTGTGGAACAGCAACGTATTCGC 5'

A Nested-PCR - primers externosB Nested-PCR - primers internos

mgc2

gapA

300

332

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Tabela 3 - Sensibilidade dos sistemas de amplificação em amostras clínicas.

Sistema 1 Sistema 2 Sistema 3Positivos 41 38 44Negativos 3 6 0

Total 44 44 44

Figura 1 - Avaliação da sensibilidade dos três sistemas de amplificação em diluições de cepa vacinal.

TS-1

1- 1

.000

XTS

-11

- 5.0

00X

TS-1

1- 2

5.00

0XTS

-11

- 125

.000

XTS

-11

- 625

.000

XTS

-11

- 3.1

25.0

00X

C- C+ PM TS-1

1- 1

.000

XTS

-11

- 5. 0

00X

TS-1

1- 2

5.00

0XTS

-11

- 125

.000

XTS

-11

- 625

.000

XTS

-11

- 3.1

25.0

00X

C- C+ PM TS-1

1- 1

. 000

XTS

-11

- 5.0

00X

TS-1

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5.00

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-11

- 125

.000

XTS

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- 625

.000

XTS

-11

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00X

C- C+ PM

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Caracterização da concha, rádula e mandíbula deSimpulopsis (Eudioptus) sp. ocorrente no estado

do Rio Grande do Sul, Brasil

CÍNTIA SIMEÃO VILANOVA1

LETÍCIA FONSECA DA SILVA2

JOSÉ WILLIBALDO THOMÉ3

RESUMO

Para o Rio Grande do Sul existem poucos registros do gênero Simpulopsis Beck, 1837 os quais serestringem ao subgênero nominal. O presente trabalho apresenta a caracterização da concha, da rádula e damandíbula de Simpulopsis (Eudioptus) sp. ocorrente no Estado a partir de imagens obtidas com Microscó-pio Eletrônico de Varredura (MEV). A concha destaca-se pela esculturação com aspecto de rede cujagraduação diminui conforme se aproxima da sutura subseqüente; a rádula possui três tipos de dentes: central,lateral e marginal sendo estes respectivamente uni, bi e tricúspides; a mandíbula contém de 32 a 38 ripassendo a região central mais estreita. Tais dados auxiliarão na determinação da espécie em questão.

Palavras-chaves: caracterização, concha, rádula, mandíbula, Simpulopsis (Eudioptus) sp.

ABSTRACT

To the Rio Grande do Sul just have a few registers of the genus Simpulopsis Beck, 1837 and all of thatis to the nominal subgenus. This present work shows the shell, radula and jaw’s characterization ofSimpulopsis (Eudioptus) sp. occurring in the State, and was realized with images made in the Scanning

1 Acadêmica do curso de Ciências Biológicas/PUCRS2 Mestre em Zoologia - PUCRS

3 Professor - Orientador do PPG em Zoologia/PUCRS([email protected])

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Electron Microscope (SEM). The shell has a sculturation in a net shape which graduation increase as itapproach to the next suture; the radula has three kinds of teeth: central, lateral and marginal being thoseuni, bi and tricuspid respectively; the jaw contains 32 to 38 laths and the central region is narrower. Theseinformations will help to describe the specie in question.

Key words: characterization, shell, radula, jaw, Simpulopsis (Eudioptus) sp.

díbulas foram extraídas do bulbo bucal sobestereomicroscópio, limpas com hipoclorito desódio e água destilada, desidratadas em umasérie crescente de álcool (70º GL, 80º GL e 96ºGL) e então colocadas em “stubs” sobre fita duplaface de carbono, conforme PLOEGER &BREURE (1977). Todas as amostras sofrerammetalização com carbono e ouro. As imagensforam obtidas a partir do Microscópio Eletrôni-co de Varredura (MEV) no CEMM-PUCRS(Centro de Microscopia e Microanálises daPontifícia Universidade Católica do Rio Gran-de do Sul).

RESULTADOS ECONCLUSÕES

Caracterização da Concha

A protoconcha possui estrias espiraisretilíneas contínuas, que se aproximam len-tamente entre si, a medida em que chegam àsutura da volta seguinte (Figura 1). Tambémocorre uma rugosidade axial, de aspecto on-dulado e uniformemente espaçado. Estasesculturações configuram um aspecto de redecuja graduação diminui conforme se aproxi-ma da sutura subseqüente. A teleoconchapossui superfície l isa; destaca- se o calocolumelar (Figura 2).

INTRODUÇÃO

Para o Estado do Rio Grande do Sul, foramregistradas até o momento duas espécies do gê-nero Simpulopsis Beck, 1837: S. sulculosa(SOWERBY, 1822) (MARTENS, 1868;MORRETES, 1949) e S. ovata (FÉRRUSAC,1821) conforme GOMES et al. (2004). Osubgênero Eudioptus Albers, 1860, caracteriza-se por sua concha oval-alongada, coloraçãoamarelada a acastanhada, superfície lisa ou comdelicadas estrias espirais (BREURE, 1979). Atri-bui-se ao subgênero dez espécies distribuídas noBrasil, Paraguai, Argentina, Peru, Equador eColômbia (BREURE op cit.). Descreve-se a con-cha, rádula e mandíbula de Simpulopsis(Eudioptus) sp. a partir de imagens obtidas emMicroscópio Eletrônico de Varredura. Tais da-dos fazem parte da Dissertação de ME da se-gunda autora.

MATERIAL E MÉTODOS

Foram utilizados 26 exemplares coletados noRio Grande do Sul, os quais estão depositadosno Museu de Ciências e Tecnologia da PUCRS(MCP) [Lotes MCP: 8712, 8713, 8714, 8715].As conchas foram limpas com o auxílio de pin-cel, água destilada, álcool 70º GL e nitrogêniogasoso, fixadas em “stubs” sobre fita dupla facede carbono e cola de prata. As rádulas e man-

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CARACTERIZAÇÃO DARÁDULA

A rádula apresenta dentes centrais (DC), la-terais (DL) e marginais (DM). Quanto à disposi-ção dos dentes, os centrais e os laterais dispõem-se em forma de “V”; já os marginais, linearmente(Figura 3). Os dentes centrais são unicúspides,apresentam mesocono lanceolado e duas proje-ções laterais na placa basal (Fig. 4). Os denteslaterais são bicúspides, possuem mesocono alon-gado com extremidade arredondada, ectoconocom formato triangular, tendo a base arredonda-da, podendo ser bífido; apresentam uma projeção

na porção mais externa da placa basal (Figura5). Há uma série de transição entre os denteslaterais e os marginais, marcada pela modifica-ção progressiva do mesocono que passa a bifur-car-se ou, raramente, a trifurcar-se, iniciando aformação do endocono dos dentes marginais; emconjunto, nota-se um afilamento das extremida-des dos cones (Figura 6). Os dentes marginaissão tricúspides; possuem mesocono ovado-alon-gado, levemente mais largo do que o endocono;o ectocono tem a metade do comprimento domesocono e apresenta-se bífido ou, raramente,trífido (Figura 7). A fórmula fileira de dentes darádula se expressa: C/1+L7-8/2+M22-25/2.

Figura 1- Imagem da protoconcha de Simpulopsis (Eudioptus) sp. obtida em MEV, evidenciando sua esculturação.

Figura 2 - Imagem obtida em MEV do calo columelar de Simpulopsis (Eudioptus) sp.

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Figura 3 - Disposição dos dentes radulares de Simpulopsis (Eudioptus) sp.

Figura 4 - Dentes centrais ladeados pelos dentes laterais de Simpulopsis (Eudioptus) sp.

Figura 5 - Dentes laterais de Simpulopsis (Eudioptus) sp.

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CARACTERIZAÇÃO DAMANDÍBULA

A mandíbula possui forma arqueada e cons-titui-se de 32 a 38 ripas retangulares. Sua re-

gião central apresenta ripas estreitas. Estas, àmedida que se afastam da porção central, ga-nham altura e largura até chegarem perto dasextremidades, aonde diminuem levemente quan-to à altura e mantêm-se as larguras (Figura 8).

Figura 8 - Mandíbula de Simpulopsis (Eudioptus) sp.

Figura 7- Dentes marginais de Simpulopsis (Eudioptus) sp.

Figura 6 - Série de transição entre os dentes laterais e marginais de Simpulopsis (Eudioptus) sp.

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CONSIDERAÇÕES FINAIS

A determinação de Simpulopsis (Eudioptus)sp. torna-se de extrema importância para o en-riquecimento do conhecimento sobre amalacofauna do Rio Grande do Sul. Os resulta-dos obtidos com o presente trabalho, em con-junto com o estudo sobre a anatomia desta es-pécie subsidiarão a determinação da mesma.

AGRADECIMENTOS

Agradecemos a Pontifícia Universidade Cató-lica do Rio Grande do Sul (PUCRS), ao CNPqpelo auxílio financeiro através da Bolsa de ME dasegunda autora, e também à equipe organizadorado Salão de Iniciação Científica da ULBRA.

REFERÊNCIASBIBLIOGRÁFICAS

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Engenharias

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Estudo de aplicação de um resíduolíquido industrial à base de alumínio

como reagente coagulante

RODRIGO RIBEIRO SILVA1

FERNANDO FREITAS CZUBINSKI2

LUCIANO CROCHEMORE3

ERWIN FRANCISCO TOCHTROP JUNIOR4

LILIANA AMARAL FÉRIS5

RESUMO

O presente projeto tem o objetivo de estudar a viabilidade de utilização de um resíduo proveniente deprocesso petroquímico como reagente coagulante em processos de tratamento de efluentes líquidos indus-triais contendo íons dissolvidos. Como metodologia experimental, foram realizados ensaios em Teste deJarros, com o objetivo de verificar as condições ótimas (concentração, pH, remoção de íons) de aplicaçãodo subproduto (resíduo a base de alumínio e sódio) no processo de coagulação em comparação a reagentesutilizados convencionalmente. Para os ensaios experimentais foram utilizadas amostras de efluentes de umcurtume de Estância Velha (Rio Grande do Sul), provenientes das etapas de recurtimento e piquelagem.Foram avaliados o volume de lodo formado e a eficiência na remoção de cromo e alumínio do produtoclarificado. A utilização do subproduto mostrou ser eficiente, atingindo índice de remoção superior a 90%de cromo (concentração residul de 0,2 mg/L). Os experimentos realizados indicam que o reaproveitamento

1 Acadêmico do Curso de Engenharia Ambiental/ULBRA –Bolsista PROICT/ULBRA

2 Acadêmico do Curso de Engenharia Ambiental/ULBRA –Bolsista PROICTV/ULBRA

3 Químico, Mestre em Engenharia/ULBRA

4 Professor do Curso de Engenharia Ambiental e PPG En-genharia: Energia, Ambiente e Materiais/ ULBRA

5 Professor - Orientador do Curso de Engenharia Ambientale PPG Engenharia: Energia, Ambiente e Materiais/ ULBRA([email protected])

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deste resíduo apresenta potencial tecnológico aplicado ao tratamento de efluentes líquidos industriais,considerando igualmente os aspectos ambientais e econômicos.

Palavras-chave: remoção, coagulação, cromo, subproduto industrial.

ABSTRACT

The aim of this project is to study the viability of application of a solid waste produced by a petrochemicalplant as chemical reagent in coagulation process to treat wastewater containing heavy metals. Jar testswere conduced to achieve the optimum conditions (pH, reagent concentration, ion removal) of the coagulationexperiments using the by-product (solid waste containing Al and Na). The objective of this study was tocompare the by-product efficiency as chemical reagent compared to conventional coagulants. Samples ofwastewater from the tannery industry were collected from an industry of Estância Velha (Rio Grade doSul, Brazil). The efficiency of the coagulation process in the removal of chromium achieved levels of 90%,when the chromium residual concentration in the treated water was 0.2 mg/L. Comparative studies usingaluminum sulfate and ferric chloride, reagents conventionally applied in the physiochemical treatment,showed efficiency value for chromium removal around 99%. This result indicates the high potential ofapplication of the experimental reagent as coagulant in the treatment of wastewater containing dissolvedtrivalent chromium.

Key words: removal, coagulation, chromium, industrial by-product.

blica e qualidade ambiental causados pela mádisposição dos mesmos. A minimização da gera-ção de resíduos consiste em desafio contínuo(SUTANTO & BAI, 2002). Em virtude de nãohaver uma limitação explícita sobre a quanti-dade de resíduos que pode ser gerada nas diver-sas atividades econômicas, monitorar o proces-so de gerenciamento torna-se muito difícil.Enquanto resíduos industriais podem ser maisfacilmente controlados, em termos de modifica-ção de processos e implementação de técnicasde tratamento e recuperação, a minimização dageração de resíduos domiciliares consiste emtarefa de maior complexidade, pois a taxa deresíduos produzida varia significativamente comfatores culturais, sociais e econômicos de cadalocalidade (FÉRIS et al., 2004).

INTRODUÇÃO

A proteção do meio ambiente e, em particu-lar, a luta contra a poluição exige uma adapta-ção e/ou uma transformação das técnicas e pro-cessos industriais. A chamada hierarquia dogerenciamento de resíduos (minimização, recu-peração, transformação e disposiçãoambientalmente correta) tem sido adotada pelamaioria dos países industrializados como formade desenvolvimento de novas estratégias para agestão de resíduos sólidos (FÉRIS et al., 2004).

O destino dos resíduos gerados na indústriae nos municípios consiste em preocupação cres-cente para os diferentes setores da sociedade,em função dos problemas relativos à saúde pú-

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Torna-se importante considerar que o con-ceito de prevenção da poluição não diz respeitosomente ao tratamento de um resíduo geradoindustrialmente, mas sim à vida inteira de umproduto, deste a extração da matéria-prima atéo produto final. Isso pode significar utilizar ma-teriais menos tóxicos ou menos escassos na Ter-ra, na procura de processos mais eficientes ouque demandem menos energia, elaborando pro-dutos com viabilidade para reciclagem (ALLEN& ROSSELOT, 2000).

Normalmente pensa-se em resíduo como umproduto sólido resultante de um processo indus-trial. Entretanto o conceito de resíduo é muitomais abrangente, incluindo perda de desperdí-cio de energia, consumo de água excessivo ou opróprio uso do produto (ALLEN & ROSSELOT,2000). Na verdade também, o resíduo pode setransformar em um subproduto, quando ela apre-sentar condições para ser utilizado como maté-ria-prima em outro processo (FERIS, 1998).

Nesse contexto, utilizar técnicas de produçãomais Limpa significa a aplicação contínua de umaestratégia econômica, ambiental e tecnológicaintegrada aos processos e produtos, a fim de au-mentar a eficiência no uso de matérias-primas,água e energia, através da não-geração,minimização ou reciclagem de resíduos geradosem um processo produtivo. Esta abordagem in-duz inovação nas empresas, dando um passo emdireção ao desenvolvimento econômico susten-tado e competitivo, não apenas para elas, mas paratoda a região que abrangem (CNTL, 2005).

Dentro desta perspectiva, o presente estudoobjetivou tratar um efluente originário do ba-nho de curtimento ao cromo sem mistura préviaou equalização de uma indústria do Rio Gran-de do Sul, utilizando um subproduto como

reagente coagulante. O coagulante alternativoconsiste em solução aquosa, ácida contendocloreto de alumínio a 7% v/v, o qual consisteem produto de significativo potencial para o tra-tamento de águas residuárias.

O objetivo geral desta pesquisa consistiu emavaliar a viabilidade de aplicação de umsubproduto de uma planta petroquímica a basede alumínio, como coagulante não convencio-nal para o tratamento de efluentes líquidos in-dustriais contendo cromo trivalente.

Os objetivos específicos foram estudar de for-ma comparativa a eficiência de coagulação obtidacom o uso do subproduto industrial em relação aosulfato de alumínio, reagente utilizado convenci-onalmente e a verificação da eficiência de remo-ção de cromo trivalente no efluente estudado.

MATERIAL E MÉTODOS

Amostras de efluente: Foram coletadas amos-tras significativas de efluentes de curtimentogerados em um curtume da região sul do Brasil.Os resíduos líquidos são provenientes dos fulõesde curtimento ao cromo e foram dispostos emgalões de 20 litros para a etapa de análise noLaboratório de Resíduos da ULBRA – Canoas.

Vidraria: copo béquer, provetas graduadas,pipetas graduadas, pipetas volumétricas, coneimhoff, bastão de vidro, balão volumétrico.

Reagentes: As soluções dos reagentescoagulantes empregados foram preparadas naconcentração a 1000 mg/L em sulfato de Alu-mínio AL2(SO4)3 .18 H2O e cloreto férricoFeCL3. O coagulante W7 foi diluído a 1000 mg/L em AlCl3. O ácido nítrico p.a. (Merck) foi

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utilizado para acidificar as amostras de clarifi-cado obtido, para ser enviadas a análise deespectrometria de absorção atômica. Já Ohidróxido de sódio NaOH, utilizado comoalcalinizante, apresentou, pureza analítica(reagentes Merck).

MÉTODOS

Ensaios de Coagulação em teste de jarros: Es-tes ensaios foram realizados em teste de jarros(Digimed) utilizando frascos de 800 mL, 4bateladas de amostras por coagulante com 200

mL de efluente de curtimento ao cromo, (videFigura 2). As amostras foram colocadas nos fras-cos e a agitação foi ajustada para perfeitahomogeneização a 50 rotações por minuto. O pHdas amostras foi ajustado em 8,0 com hidróxidode sódio, com tempo de residência de cinco mi-nutos. Para a coagulação, foram adicionadas asdosagens estabelecidas dos coagulantes para cadaensaio e a agitação passou a 200 rotações por mi-nuto. Após a rápida agitação a mesma foi reduzi-da a 50 rotações por minuto, por 10 minutos paraa formação dos coágulos.

Posteriormente ao ensaio em teste de jarros ondeocorreu, as amostras foram submetidas ao ensaio

Figura 2 - Equipamento teste de jarros (jar test). Fonte: Laboratório de Resíduos ULBRA-CANOAS

de sedimentação em proveta (vide figura 3), como objetivo de avaliar os volumes de clarificado ede lodo formados, em função da dosagem aplicada

do coagulante. O líquido clarificado foi submeti-do à análise de espectroscopia de absorção atômi-ca para determinar o teor de cromo residual.

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RESULTADOS

As principais características do efluente de

O presente estudo objetivou avaliar o compor-tamento do subproduto na concentração em queé produzido, para viabilizar o seu emprego dire-to como matéria-prima em processos de trata-mento de efluentes.

A Figura 2 apresenta a concentração residualde Al quando aplicado sulfato de alumínio nosexperimentos de coagulação. A Figura 3 apre-senta a concentração de Al quando o subproduto

Figura 3 - Ensaio de sedimentação em provetas.

Tabela 1 - Caracterização média do efluente de curtimento ao cromo.

Características da amostra Valor determinadopH 3,6

Temperatura ºC 20Densidade (g/mL) 1,025Sólidos totais (g/L) 81,11

Sólidos decantáveis (mL/L) 90DBO5 (mg/L) 190DQO (mg/L) 792

Teor de Cromo (mg/L) 2918Turbidez (NTU) 1,28

curtimento contendo sais de cromo e suas pro-priedades físicas encontram-se relacionadas naTabela 1.

A Tabela 1 apresenta a variação da concen-tração residual de cromo trivalente no efluentetratado em relação à concentração desubproduto utilizado como reagente coagulanteno processo. É possível observar os altos índicesde remoção do íon metálico e eficiência do pro-cesso superior a 90%. A figura mostra que foramaplicadas concentrações bastante elevadas dereagente alternativo coagulante. Tal fato é de-corrente da utilização do reagente não diluído.

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foi aplicado. Observa-se que as concentraçõesresiduais de alumínio ao aplicar o sulfato de alu-mínio são superiores às concentrações de Al resi-duais quando foi utilizado o subproduto. Essesresultados apresentam vantagens para ocoagulante alternativo, visto que o mesmo, ape-sar de ser aplicado em concentrações superioresao reagente convencional, possibilita índices re-siduais de Al inferiores. Ainda, é possível aplicarconcentrações do subproduto inferiores a 1500 mg/

L com a provável obtenção de índices semelhan-tes de remoção de cromo trivalente. Quanto aovolume gerado de lodo, foi observado que o sóli-do formado na coagulação utilizando-se osubproduto foi superior ao volume de sólido en-contrado ao aplicar sulfato de alumínio. A dife-rença decorre provavelmente da concentraçãode alumínio no reagente alternativo, que é mui-to superior à concentração de sulfato de alumí-nio empregada.

Figura 4 - Efeito da concentração de subproduto aplicada como coagulante na concentração residual decromo trivalente. Condições: pH=8, tempo de separação= 40 min.

14,8

0,53 0,48 0,43 0,4 0,36 0,33

0

2

4

6

8

10

12

14

16

Con

cent

raçã

o de

Cro

mo

(mg/

L)

EfuenteBruto

1505 3010 4515 6020 7525 9030

Concentração de subproduto (mg/L)

2,18

0,18 0,28 0,240,36 0,28 0,5

0

0,5

1

1,5

2

2,5

Con

cent

raçã

o de

Al

umin

io (m

g/L)

EfuenteBruto

1505 3010 4515 6020 7525 9030

Concentração de subproduto (mg/L)

Figura 5 - Concentração residual de alumínio no efluente tratado em relação à concentração de subprodutoaplicada. Condições: pH=8, tempo de separação= 40 min.

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CONCLUSÕES

O estudo realizado permite concluir que:

· Os experimentos realizados indicam queo reaproveitamento do subproduto indus-trial como reagente coagulante apresen-ta potencial tecnológico aplicado ao tra-tamento de efluentes líquidos industriais.

· A concentração de subproduto aplicada nosexperimentos foi bastante elevada, em vir-tude da não diluição do reagente bruto.

· Mesmo utilizando-se concentrações ele-vadas, a concentração residual do íon Alencontrada no efluente tratado com osubproduto é inferior à concentração re-sidual de Al encontrada no efluente tra-tado com sulfato de alumínio.

· O teor de cromo total encontrado noefluente tratado com o subproduto foi in-ferior a 0,6 mg/L.

· O volume de lodo formado no produtocoagulado com o subproduto foi superiorao produto coagulado com sulfato de alu-

2,18

0,980,72

1,14 1,06 1,03 1,09

0

0,5

1

1,5

2

2,5

Con

cent

raçã

o de

Alu

min

io(m

g/L)

EfuenteBruto

20 40 60 80 100 120

Concentração de Sulfato de Aluminio (mg/L)

Figura 6 - Concentração residual de alumínio no efluente tratado em relação à concentração de sulfato dealumínio utilizado como coagulante. Condições: pH=8, tempo de separação= 40 min.

mínio, devido ao alto teor de Al nosubproduto convertido a hidróxido.

AGRADECIMENTOS

Os autores agradecem à empresa que forneceuo subproduto industrial para utilização na pesqui-sa, à empresa que forneceu as amostras de efluente,à FAPERGS e à Universidade Luterana do Brasilpelo apoio à pesquisa e estrutura oferecida.

REFERÊNCIASBIBLIOGRÁFICAS

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Ciências da Saúde

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Análise dos níveis de desconforto a sons intensosem indivíduos com perda auditiva neurossensorial

no laboratório de audição da ULBRA para umprocedimento específico

ANDRÉIA RODRIGUES FRANÇA PARNOFF1

ISABELA HOFFMEISTER MENEGOTTO2

RESUMO

A sensação de intensidade sonora (SIS) é de extrema importância na Clínica fonoaudiológica. Emfunção da variabilidade descrita na literatura, os indivíduos do RS poderiam apresentar níveis diferentes deSIS dos já conhecidos e, se esses fossem diferentes, vários parâmetros deveriam ser revistos e adaptados. Opresente trabalho tem como objetivo a análise dos níveis de desconforto a sons intensos apresentados porindivíduos com perda auditiva neurossensorial que freqüentam a Clínica Escola da ULBRA para umprocedimento específico. Os resultados obtidos (n=17), indicam NDS variando entre 70 e 120 dBNA em500 Hz (média de 95,6 dBNA); entre 75 e 120 dBNA para 1000 Hz (média de 98,23 dBNA); e 75 e120 dBNA em 2000 Hz (média de 100,6 dBNA) na amostra estudada.

Palavras-chaves: percepção sonora, perda auditiva neurossensorial, detecção de recrutamento.

ABSTRACT

The knowledge of sound loudness is a very important tool in Audiology. Various factors can affect themeasured loudness, as it is described in literature, so the Rio Grande do Sul population could have different

1 Acadêmica do Curso de Fonoaudiologia/ULBRA – BolsistaPROICT/ULBRA

2 Professora – Orientadora do Curso de Fonoaudiologia/ULBRA ([email protected])

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loudness levels from those already described for other populations. If this has true, various procedures andparameters should be adapted. The aim of present study is to analyze the loudness disconfort levels (LDL)from hearing impained people with sensorineural hearing loss that cames to ULBRA School Clinic for aspecific procedure. The results obtained in this group (n=17) show LDL ranging from 70 to 120 dBHL for500 Hz (average = 95,6 dBHL); from 75 to 120 dBHLfor 1000 Hz (average = 98,23 dBHL); and from75 to 120 dBHL for 2000 Hz (average = 100,6 dBHL)

Key words: loudness perception, hearing loss (sensorineural), recruitment detection.

portador ou não de perda auditiva (IORIO eMENEGOTTO, 1996).

Os indivíduos com perdas auditivas com com-ponente neurossensorial, especialmente de ori-gem coclear possuem uma característica de sen-sação de intensidade diferenciada, onde os sonsfracos não são ouvidos e os sons fortes são per-cebidos de forma praticamente normal(STEINBERG e GARDNER, 1937). Este efeitoé denominado “recrutamento” e é definido porBrunt (1999) como um crescimento anormal dasensação psicoacústica de intensidade para es-tímulos em intensidades supraliminares. A re-dução da área dinâmica causada pelo recruta-mento pode se tornar um grande problema naseleção e adaptação de próteses auditivas(CLOCK et al., 1999).

Assim, as medidas da SIS são extrema-mente úteis na Clínica fonoaudiológica, especi-almente a pesquisa do NDS, tanto durante oprocesso de seleção e adaptação de prótesesauditivas (ALMEIDA, 2003) como no diagnós-tico de determinadas condições, como ahiperacusia (SANCHEZ et al., 2003).

Porém, como é um evento subjetivo, nãose pode medir a SIS diretamente, sendo neces-sário o uso de técnicas psicofísicas. Além disso,as medidas da SIS são extremamente influenci-adas pela metodologia de avaliação empregada,

INTRODUÇÃO

A audição humana é uma função bastantecomplexa que faz parte do sistema que possibili-ta a comunicação como expressão do pensamen-to (FRAZZA et al., 2000).

Por outro lado, a sensação de intensidadesonora (SIS), ou loudness, Ela não é apenas equi-valente à intensidade física de um som. Ela éum atributo psicológico gerado pela exposiçãode um ser humano a um som, permitindo aomesmo classificar este som como “alto”, “con-fortável” ou “baixo” (ou “forte”, “médio” ou “fra-co”), influenciada pela duração, freqüência ecomplexidade da onda sonora (MENEGOTTOe COUTO, 2000).

A área de audição útil de um indivíduo échamada de “área dinâmica da audição”, e écompreendida na faixa de intensidades que vaidesde os sons de menor intensidade que o indi-víduo consegue ouvir, representada pelo limiarde audibilidade, até os sons de maior intensida-de que o mesmo escuta, sem referir desconfor-to, representada pelo nível de desconforto a sons(MENEGOTTO et al., 1996).

O chamado nível de desconforto a sons(NDS) consiste no limite a partir do qual qual-quer som de intensidade elevada passa a causardesconforto ao indivíduo ouvinte, sendo este

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experiência auditiva, população avaliada e inú-meros outros fatores (WOODS et al., 1973;DIRKS e KAMM, 1976; BEATTIE et al., 1979;BEATTIE e SCHEFFER, 1981; COX, 1989;BORNSTEIN e MUSIEK, 1993; ROBINSON eGATEHOUSE, 1995).

Diversas propostas de metodologia podem serencontradas na literatura para pesquisa do NDS,inclusive no Brasil (DIRKS e KAMM, 1976;BEATTIE e SCHEFFER, 1981; BEATTIE e BOYD,1986; HAWKINS et al., 1987; ALMEIDA, 1996;JENSTAD et al., 1997; FUCCI et al.,1997;RICKETTS, 1997; MENEGOTTO, 1999). Noentanto, em função da influência das inúmerasvariáveis citadas, indivíduos do RS poderiam apre-sentar NDS diferentes daqueles referidos na lite-ratura, e se os níveis efetivamente fossem diferen-tes, diversos parâmetros de diagnóstico e avalia-ção precisariam ser revistos e adaptados.

LISBOA (2000) propôs, com base na literatu-ra, um procedimento padrão para medidas dos ní-veis de desconforto auditivo em indivíduos normo-ouvintes para tons puros no ambiente da Clínica-Escola de Fonoaudiologia da Ulbra. Para continu-ação da análise deste procedimento, verificou-sea necessidade de observar se os NDS obtidos emindivíduos com perdas auditivas neurossensoriaisque apresentam recrutamento, para ver se estes,com o procedimento citado, também estão com-patíveis com o descrito na literatura.

Assim, o objetivo do presente estudo é obterparâmetros de nível de desconforto a sons in-tensos em indivíduos com perda auditivaneurossensorial no ambiente da Clínica-Escolade Fonoaudiologia da Ulbra segundo ametodologia especificada, e verificar se estes seencontram em concordância com os citados naliteratura.

MATERIAL E MÉTODOS

O presente trabalho é do tipo observacional,descritivo e transversal (GOLDIM, 2000). Elefaz parte do projeto “Níveis Normais e Altera-dos de Sensação de Intensidade” aprovado peloCEP-ULBRA sob o n° 083/2002.

A população estudada foi de indivíduos comperda auditiva neurossensorial que freqüentama Clínica-Escola de Fonoaudiologia da Ulbra.Desta população, foi selecionada uma amostrade 17 indivíduos, sendo 10 indivíduos do sexomasculino e 7 do sexo feminino, com idade en-tre 32 e 77 anos (média de 63 anos), todos (100%)com perda auditiva do tipo referido.

A amostra foi colhida dentre os indivíduosque freqüentam o Laboratório de Audição daUlbra encaminhados para avaliação audiológica.Destes, aqueles que apresentavam perda audi-tiva neurossensorial foram convidados a fazerparte da pesquisa. Aos que concordaram, foiapresentado o Consentimento Livre e Esclare-cido, e estes foram então encaminhados paraverificação do NDS.

A pesquisa seguiu a proposta de procedimen-to de LISBOA (2000) de coleta dos dados. Nes-te procedimento, o indivíduo é apresentado aum cartaz, no qual constam os descritores desensação de intensidade: “Dói”; “Alto demaisincomoda!”; “Muito Alto”; “Alto”; “Tudo Bem”,sendo o descritor referente à sensaçãopesquisada (“Alto demais! Incomoda!”) desta-cado. A instrução (padronizada) passada ao in-divíduo é a seguinte: -”O propósito deste teste édescobrir o som mais alto que você consegue ouvirsem desconforto. Os sons vão ficar cada vez maisaltos. Aponte o ‘Alto demais! Incomoda!’ quandovocê não gostaria de escutar nada mais alto do que

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isso. Não é necessário sinalizar ou apontar as ou-tras sensações de intensidade. Nós vamos repetir oteste várias vezes”. O procedimento usa uma téc-nica de apresentação ascendente de estímulos,onde tons puros contínuos, em pulsos de aproxi-madamente um segundo, são então apresenta-dos em dois pulsos, com intervalos de aproxima-damente meio segundo, em cada intensidadetestada. A primeira varredura de intensidadesinicia com uma intensidade 10 dB acima do ní-vel de audição do indivíduo, na freqüência tes-tada e são dados acréscimos de 10 dB até quan-do o nível do tom puro esteja em torno da meta-de da área dinâmica estimada; neste momentoos acréscimos passam a ser de 5 dB até que oindivíduo sinalize o “Alto demais! Incomoda!”,cuja intensidade de ocorrência é anotada. Maisduas varreduras ascendentes são então realiza-das em cada freqüência testada, a segunda co-meçando na metade da primeira e a terceira,

na metade da segunda. É considerado o nívelde desconforto de cada indivíduo, em cada fre-qüência testada, a mediana das respostas obti-das nas três varreduras.

Os indivíduos foram testados em uma orelhae esta foi escolhida por apresentar perda auditivaneurossensorial. Os dados coletados foram anali-sados e determinados os valores mínimos, médiose máximos para o NDS na amostra, sendo estes,comparados com os achados da literatura.

RESULTADOS

Conforme descrito na Metodologia, todos osindivíduos da amostra possuíam perdas auditi-vas neurossensoriais. Na Tabela 1 são apresen-tados os limiares de audibilidade destes indiví-duos na orelha testada.

Tabela 1 – Orelha avaliada, e limiares de audibilidade em dBNA nesta orelha, dos componentes da amostra.

Limiares de audibilidade em dBNAn = Orelha 250 Hz 500 Hz 1000 Hz 2000 Hz 3000 Hz 4000 Hz 6000 Hz 8000 Hz1 esquerda 75 65 55 65 65 65 80 802 direita 30 30 40 55 70 75 110 1003 esquerda 35 30 40 55 65 70 70 704 esq 50 25 25 65 80 95 955 direita 50 50 40 40 45 45 60 606 esquerda 45 45 65 80 60 65 75 757 direita 35 35 50 65 70 80 85 908 direita 45 45 35 35 45 55 65 759 direita 40 45 35 45 45 50 50 5510 direita 25 20 15 10 25 35 40 4011 esquerda 30 45 75 85 95 85 90 8012 direita 20 20 35 40 45 55 85 9013 direita 25 35 40 40 35 45 45 3514 esquerda 35 35 35 40 50 65 80 7515 direita 45 50 50 75 95 95 95 9016 esquerda 50 40 50 70 65 70 85 8017 direita 40 40 50 50 55 60 60 65

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Os componentes da amostra, segundo o des-crito na Tabela 1, apresentavam, em sua maioria(n=7), perdas auditivas de grau moderado, se-gundo a classificação de DAVIS e SILVERMANN(1970); em número inferior, ocorreram perdas au-ditivas de grau leve (n=5), de grau severo (n=4),

e perda exclusiva em freqüências altas (n=1).

Na verificação do NDS, de acordo com oprocedimento descrito, foram obtidos na amos-tra os níveis descritos na Tabela 2, para as trêsfreqüências estudadas.

Tabela 3 – Níveis de desconforto máximo, mínimo e médio encontrados na amostra para as três freqüênciasestudadas.

NDS em dBNA

500 Hz 1000 Hz 2000 Hz

Valor Mínimo 70 75 75

Valor Máximo 120 120 120

Média Valores 95,6 98,23 100,6

De uma forma resumida, na Tabela 3 sãomostrados os valores máximos, mínimos e mé-

dios para os NDS encontrados na amostra es-tudada.

Tabela 2 - Níveis de desconforto a sons intensos (NDS) em dBNA obtidos nos componentes da amostra

NDS em dBNAn = 500 Hz 1000 Hz 2000 Hz1 90 90 952 75 75 753 75 80 804 110 100 1105 100 105 1106 95 105 1107 90 95 958 70 85 909 115 120 11010 105 100 10011 85 95 9512 95 90 11013 105 105 9514 120 115 12015 120 120 12016 70 90 9017 105 100 105

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Os valores descritos nas Tabelas 2 e 3 sãoinferiores em 500, iguais em 1000 Hz, e superio-res em 2000 Hz aos encontrados por BECK (2003)utilizando a mesma metodologia em indivíduosnormais da mesma região geográfica. O resulta-do inferior em 500 Hz possivelmente aponte paramaior sensibilidade a sons intensos que ocorreem indivíduos com perdas auditivasneurossensoriais, em relação aos normais, reco-nhecido na literatura (PHILIBERT et al., 2002).O maior valor provavelmente ocorre pelo au-mento no limiar de audibilidade nesta freqüên-cia demonstrado na amostra (PASCOE, 1988).

Em relação aos resultados de NDS descritos naliteratura para tons puros em indivíduos com per-das de audição neurossensoriais, os resultados dapresente pesquisa apontam para NDS ligeiramen-te inferiores (diferença de 5,3 dB) em 500 Hz emrelação aos encontrados por Bentler e Nelson(2001). Para 1000 e 2000 Hz, os resultados da pre-sente pesquisa são virtualmente iguais (diferençasmenores que 2 dB) aos de BENTLER & NELSON(2001) e de BENTLER & PAVLOVIC (1989).

CONCLUSÕES

Foram obtidos nos componentes da amostrano Laboratório de Audição da ULBRA, paraindivíduos com perdas auditivas neurossensoriaisdo estado do Rio Grande do Sul, para ametodologia estudada, NDS variando entre 70e 120 dBNA (média de 95,6 dBNA) para 500Hz; entre 75 e 120 dBNA (média de 98,23dBNA) para 2000 Hz; e entre 75 e 120 dBNA(média de 100,6 dBNA) para 4000 Hz.

Os valores no nível de desconforto verifica-dos encontram-se muito próximos aos referidos

na literatura para o mesmo tipo de estímulo acús-tico na mesma população, demonstrando que amudança de metodologia em relação aos estu-dos da literatura não influenciou de forma sig-nificativa os padrões de NDS obtidos.

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Estudo sobre a prevalência de maus tratos físicosna cidade de Canoas (RS)

CAMILA BANDEIRA PEREIRA1

LÍLIAN DOS SANTOS PALAZZO2

JORGE UMBERTO BÉRIA3

ANDRÉIA CRISTINA LEAL FIGUEIREDO3

LUCIANA PETRUCCI GIGANTE3

BEATRIZ CARMEM WARTH RAYMANN4

RESUMO

Trata-se de um estudo de base populacional na cidade de Canoas (RS) com o intuito de conhecer aprevalência de maltrato físico e sua relação com variáveis demográficas. Os resultados revelaram umaprevalência de 9,7% de maus-tratos físicos, sendo que 24,1% ocorreu com idade entre 0-9 anos, 33,3%entre 10-19 anos, 34,6% entre 20-39 anos. Há um predomínio de pessoas do sexo feminino (67,4%), quevive com companheiro (63,0%), sendo que a maior parte apresenta uma renda familiar de 7 ou maissalários mínimos (49,0%) e primeiro grau de escolaridade (70,0%). Verificou-se uma associação (p<0,05)com sexo, numa proporção ao redor de 2:1, com menor escolaridade e com história de separação matri-monial (3:1). Os dados apontam para uma alta freqüência de maltrato na população e a necessidade deintervenções preventivas.

Palavras-chave: maus tratos, prevalência, violência.

1 Acadêmica do Curso de Psicologia/ULBRA – BolsistaPROICT/ULBRA

2 Professora – Orientadora do Curso Psicologia e PPG Saú-de Coletiva/ULBRA ([email protected])

3 Professor do Curso de Medicina e PPG Saúde Coletiva/ULBRA

4 Professora do Curso de Fonoaudiologia e PPG em SaúdeColetiva/ULBRA

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ABSTRACT

This is a population-based study in the city of Canoas (RS) to know the prevalence of physical maltreatmentand its relation with demographic variables. The results revealed a prevalence of 9.7% of physical maltreatment,in which 24.1% occurred in an age period between 0-9 , 33.3% between 10-19, 34.6% though the age periodbetween 20-39. There is a women predominance (67.4%), living with a partner (63.0%), and most of them hasa familiar income of 7 or more minimum wages (49.0%) and studied till the last elementary school (70.0%). Anassociation with sex (p<0.05) was verified, in a ratio at around 2:1, with less graduation and marriage separation(3:1). The data point out a high frequency of maltreatment and the necessity of preventive interventions.

Key words: maltreatment, prevalence, violence.

urbanas das grandes metrópoles. Segundo o “Re-latório Azul” elaborado pela Assembléia Legislativado Estado do Rio Grande do Sul (1999), 37,4%das denúncias feitas a Delegacia da Mulher noano de 2000 foram por lesão corporal.

Por outro lado, estudos têm encontrado forteassociação entre a violência física e variáveissociodemográficas, como sexo, idade e status socio-econômico em que o sexo feminino, crianças, ado-lescentes e os que pertencem ao subproletariadoestariam entre os grupos populacionais que maisrisco correm de sofrer maus tratos físicos(GIANINI, LITVOC, ELUF NETO, 1999; OMS,2002; WHO, 2004). Entretanto, alguma eviden-cia mostra que esta associação pode ser contexto-específico e que também dependeria dametodologia utilizada no levantamento dos dados.

Sendo assim, esta pesquisa teve como objeti-vo estudar a prevalência de maus-tratos físicosna população de Canoas (RS) e sua relação comdados sócio-demográficos, conhecendo estascaracterísticas dentro da população que sofremaus-tratos físicos, tendo uma importância porser uma pesquisa de base populacional, não ten-do sido encontrado no MEDLINE e LILACSinvestigação semelhante no Brasil.

INTRODUÇÃO

A violência é, antes de tudo, uma questãosocial, porém torna-se um tema importante dosetor saúde pelo impacto que provoca na quali-dade de vida das pessoas, devido às leões físi-cas, psíquicas e morais que carreta, além dasdemandas de atenção dos serviços de saúde.Assim, violências e acidentes fazem parte deproblemas que devem merecer tanta atençãocomo a AIDS, o câncer e as enfermidadescárdio-vasculares (MINAYO, 2004).

Segundo a Organização Mundial da Saúde(WHO, 2002), mais de 2 milhões de pessoas nomundo, por ano, morrem devido aos danos causa-dos por esse problema. Entretanto, uma gama signi-ficativa de situações de violência não chega ao co-nhecimento oficial, constituindo uma cifra “negra”,sobre a qual não há quaisquer informações, como éo caso de certas expressões contra crianças, adoles-centes e mulheres, que permanecem invisíveis.

No Brasil, as fontes oficiais de informação so-bre a violência, dentre as quais encontram-se asSecretarias de Segurança e as Secretarias Muni-cipais e Estaduais de saúde, indicam que este fe-nômeno tem crescido, especialmente nas áreas

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MATERIAL E MÉTODOS

Trata-se de um estudo epidemiológico des-critivo transversal de base populacional, reali-zado com habitantes da cidade de Canoas (RS)com idade igual ou superior a 14 anos. Após aaprovação pelo Conselho de Ética da ULBRA,foi iniciado o trabalho de campo. Para a seleçãodos sujeitos foi utilizada a técnica de amostragemprobabilística do tipo conglomerado ou“Clusters”, em dois estágios. Primeiramente, foifeita uma escolha aleatória simples dos setorescensitários e depois, sistematicamente, foramescolhidos os domicílios. Assim, foram sortea-dos 40 dos 391 setores censitários do município,em cada um foi sorteado um quarteirão e desteuma esquina. A partir desta esquina, andandopara a esquerda de quem está de frente para acasa um, foi visitada a quarta casa, a oitava casa,a casa 12 e assim sistematicamente, completan-do 26 domicílios amostrados. Nestes, foram en-trevistados todos os moradores, totalizando 1954participantes que responderam a um questioná-rio auto-administrado, anônimo, construído pararesponder aos objetivos do estudo. Cada parti-cipante assinou um termo de Consentimento

Livre e Esclarecido e, após o preenchimento doinstrumento, o mesmo foi colocado pelo entre-vistado em um envelope, por ele mesmo lacradoe aberto apenas pela coordenação do trabalhode campo. As variáveis estudadas foram histó-ria de maus-tratos, idade em que ocorreram osmaus-tratos, situação marital, escolaridade, ren-da familiar, separação no último ano e sexo. Osquestionários foram codificados pelosentrevistadores e revisados pela coordenadorado estudo. Para a análise dos dados utilizou-se oprograma estatístico SPSS (versão 10.0) e foramrealizadas medidas de freqüência e associação(Qui-quadrado).

RESULTADOS

No estudo realizado foi encontrado 9,7%(184) de prevalência de história de maus-tratosfísicos, ocorrendo principalmente no sexo femi-nino (67,4%), sendo a faixa etária (figura 1) maisfreqüente a compreendida entre os 20 a 39 anos(34,6%) e entre 10 a 19 anos (33,3%). Chama aatenção a ocorrência desse tipo de problema nafaixa etária entre 0 e 9 anos (24,1%).

Figura 1 - Distribuição do relato de maus tratos físicos segundo a faixa etária. (n= 184). Canoas (RS), 2002.

0

5

10

15

20

25

30

35

40

%

faixas etárias

0 a 9 anos10 a 19 anos20 1 39 anos40 a 59 anos60 ou mais anos

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122 Revista de Iniciação Científica da ULBRA - n.3 - 2004

Quanto as demais características das vítimas,observa-se que 60,3% tem o primeiro grau deescolaridade, renda familiar de 7 ou mais salári-

os mínimos (48,9%) e 63,0% vive com compa-nheiro (Tabela 1.).

Tabela 1 - Características dos sujeitos que relataram ter sofrido maus-tratos físicos (n=184). Canoas (RS), 2002.

MAUS-TRATOS FÍSICOS

n %

Escolaridade aprendeu fora de casa 1 grau 2 grau 3 grau pós-graduação

1811131186

9,860,316,89,83,3

Renda Familiar 0 – 3 SM 3,1 – 7 SM 7,1 ou + SM

553889

30,220,948,9

Vive com companheiro Sim Não

11467

63,037,0

Tabela 2 - Associação entre história maus-tratos físicos, sexo e história de separação no último ano (n=1954).Canoas (RS), 2002.

MAUS-TRATOS FÍSICOS

Sim Não

SexoFemininoMasculino

124 (67,4%)* 60 (32,6%)

971 (56,7%) 742 (43,3%)

Separação no último anoSimNão

19 (12,1%)* 138 (87,9%)

62 (4,3%) 1396 (95,7%)

*p<0,005

Em relação à associação entre a presençade história de maus-tratos físicos, sexo e histó-ria de separação no último ano, encontrou-seuma associação estatisticamente significativa(p<0,005), onde o sexo feminino tem índices

mais elevados que o masculino numa propor-ção de 2:1 e há história de separação entre osque sofreram violência numa proporção de 4:1em relação aos que não passaram por essa situ-ação na vida (Tabela 2).

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DISCUSSÃO

A prevalência de maus-tratos encontrada nes-se estudo e as conseqüências individuais e sociaisdecorrentes dessa situação relatadas na literaturamundial colocam a violência física como uma ques-tão social, pois, de acordo com MINAYO (2004) aviolência se torna um tema do campo da saúdepelo impacto que provoca na qualidade de vida,devido aos danos físicos, psíquicos e morais queacarreta e pelas exigências de atenção e cuidadosque demanda dos serviços de saúde.

A preponderância do problema no sexo fe-minino vem ao encontro do verificado em ou-tros estudos, sendo que a violência sofrida pelamulher no âmbito familiar, nas diferentes fasesde seu ciclo evolutivo, têm colocando esse comoum problema de saúde coletiva de nível mundi-al. Segundo o Relatório da Organização Mun-dial de Saúde, nos países da América Latina astaxas de maus-tratos sofridos por mulheres porparte de seus companheiros, em algum momen-to de suas vidas, variam de 19 a 52%, enquantoque nos países mais desenvolvidos como Cana-dá, Nova Zelândia e Suíça, essas taxas oscilamentre 20 e 29%. A diferença entre os índicespode estar vinculada a fatores culturais impli-cados na gênese do problema, pois no modeloecológico explicativo da violência aqueles pa-drões sociais que colocam esse tipo de compor-tamento como algo aceitável, normas quepriorizam o direito dos pais sobre o bem-estardos filhos, normas que dão suporte ao uso daforça excessiva dos policiais sobre os cidadãos eaquelas que permitem ao domínio dos homenssobre as mulheres, entre outras, favorecem aeclosão desse tipo de situação (OMS, 2002).

A violência física mais freqüente entre aque-las pessoas com baixa escolaridade, mas que

pertencem a famílias com renda superior, con-tradiz alguns achados da literatura que colocaa população mais pobre como a mais vulnerávela esse tipo de situação (GIANINI,LITVOC,ELUF NETO, 1999; OMS, 2002). Entretanto,pode ser explicado pelo fato de que os maus tra-tos físicos abrangem não só a violência domésti-ca, mas também se encontra presente em mui-tos atos resultantes da violência urbana, ondemuitas vezes são vítimas os jovens pertencentesa famílias com melhores condições econômicas.

Em relação à idade em que ocorreram osmaus-tratos, chama a atenção o problema nainfância e adolescência. ASSIS (1994) afirmaque a agressão física perpetrada sobre criançase adolescentes é uma das práticas violentas maiscomuns em nossa sociedade. O lar aparece comolocal privilegiado para tal prática, embora estatambém ocorra constantemente em crianças eadolescentes sob risco, como aquelas que estãoou trabalham nas ruas e as institucionalizadas.Para CARIOLA (1995) existência de criançasmaltratadas se associa à idéia da violência comoproduto de desajustes familiares, psíquicos e doalcoolismo. Em pesquisa realizada com escola-res de Porto Alegre por MENEGHEL,GIUGLIANI & FALCETO (1998), a violênciacontra os adolescentes foi expressa no indica-dor punição física grave. A punição física gra-ve, episódio único ou freqüente, relatada porpelo menos um dos membros da família, ocorreuem 41 relatos, representando 53,9% do total decasos. A maior parte das famílias, portanto, uti-lizava algum tipo de punição física em relaçãoaos filhos, e o mais dramático é que na metadedelas os castigos empregados eram graves. A si-tuação mais séria foi a de famílias em que a pu-nição era intensa e freqüente: 16 casos (18,4%).Aconteceram 14 relatos de punição grave entre

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os alunos da escola particular (37,8%) e 27 en-tre os da escola pública (69,2%), evidenciandoque a punição física das crianças é um padrãode conduta mais disseminado entre as famíliasde baixa renda. O adulto mais punitivo foi o pai(44,0%), enquanto as mães perfizeram 21,9% daamostra.

A maior prevalência de história de separaçãono último ano entre aquelas pessoas que relata-ram haver sofrido maus-tratos corrobora a idéia deque essa vivência se associa a transtornos psiquiá-tricos e a problemas de relacionamento formandoum ciclo vicioso, que para rompê-lo, necessitamedidas preventivas eficazes tanto no âmbito in-dividual como familiar e coletivo (LOPES,FAERSTEIN & CHOR, 2003; OMS, 2002).

Considerando o exposto, concluímos a violên-cia física é um problema prevalente em nosso meio,atingindo principalmente as mulheres e a popu-lação infanto-juvenil. Devido ao seu caráterpolifacético, necessita de medidas eficazes noâmbito da saúde coletiva, em vários níveis e emsintonia com múltiplos setores da sociedade.

REFERÊNCIASBIBLIOGRÁFICAS

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ASSIS, S. G. Crianças e adolescentes vio-lentados: passado, presente e perspectivaspara o futuro. Cadernos de Saúde Pública,v.10, (supl.1), p. 126-134, 1994.

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method for cluster-sample surveys of healthin developing countries. World HealthStatistical Quarterly, v.44, p. 98-106, 1991.

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GIANINI, R. J.; LITVOC. J.; ELUF NETO,J. Revista de Saúde Pública, v.33, n.2, p.180-186, 1999.

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MINAYO, M. C. S. A difícil e lenta entradada violência na agenda do setor saúde. Ca-dernos de Saúde Pública, v.20, n.3, p.646-647, 2004.

MENEGHEL, S. N.; GIUGLIANI, E. J.;FALCETO, O. Relações entre violência do-méstica e agressividade na adolescência. Ca-dernos de Saúde Pública, v.14 , n.2 , abr./jun.1998.

NJAINE, K.; SOUZA, E. R.; MINAYO, M.C. S.; ASSIS, S. G. A produção da(des)informação sobre a violência: análise deuma prática descriminatória. Cadernos deSaúde Pública, v.13, n.3, p. 405-414, 1997.

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Efeito da administração do extrato do Crotoncajucara Benth em ratos normais

GRAZIELLA RAMOS RODRIGUES1

SOLANGE MARIA DOVAL FONSECA2

SILVIA BONA3

MARILENE PORAWSKI4

NORMA ANAIR POSSA MARRONI5

RESUMO

Avaliamos o efeito da administração do extrato aquoso (EA) do Croton cajucara Benth (CcB) sobreos níveis plasmáticos de glicose, triglicerídios (TG) e colesterol, assim como as enzimas séricas marcadorasde função hepática, a lipoperoxidação e a atividade das enzimas antioxidantes catalase (CAT) e superóxidodismutase (SOD). Foram utilizados ratos machos Wistar (300g) divididos em 4 grupos (n=5): CO 7D-controle, 1,5 mL de água (i.g) por 7 dias; CcB- 1,5 mL (i.g) de extrato aquoso (EA) por 7 dias; CO14D- controle 1,5 mL i.g de água por 14 dias e CcB 14D- 1,5 mL i.g. do EA por 14 dias. Os animaisforam anestesiados e foi coletado sangue do plexo retro-orbital para dosagem de glicemia, triglicerídeos ecolesterol e análises das enzimas séricas (AST, ALT, FA, A e dGT). Após, os animais foram sacrificados,os fígados foram retirados e homogeneizados para avaliação da LPO e da atividade das enzimas antioxidantesCAT e SOD. A análise estatística foi realizada através do teste “t” de Student sendo significativo p<0,05.Os dados obtidos sugerem que o uso de EA de CcB em animais normais, durante os períodos estudados,nãoaltera a glicemia, triglicerídeos, colesterol, enzimas séricas e não apresenta atividade pró-oxidante.

1 Acadêmica do Curso de Biologia/ULBRA – Bolsista PIBIC/CNPQ2 Bióloga3 Acadêmica do Curso de Biologia/ULBRA – Bolsista PROICT/ULBRA

4 Professora do Curso de Fisioterapia e do PPG DiagnósticoGenético e Molecular /ULBRA

5 Professora - Orientadora do Curso Medicina e do PPG Diag-nóstico Genético e Molecular/ULBRA ([email protected])

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Palavras-chave: Croton cajucara Benth, estresse oxidativo, enzimas antioxidantes.

ABSTRACT

We evaluated the effect of the administration of the aqueous extract (EA) of the Croton cajucaraBenth (CcB) on the plasmatic levels of glucose, triglycerides (TG) and cholesterol, as well as the seric, thelipid peroxidation (LPO) and activities of the antioxidant enzymes catalase (CAT) and superoxide dismutase(SOD) catalase in normal rats. As male rats Wistar (300g) were used and divided into 4 groups (n=5):CO 7D - control, received 1,5 mL of water distilled intragastriccally (i.g) during 7 days; CcB - received1,5 mL (i.g) of the aqueous extract (EA - extract of the leaves 1g/20mL) during 7 days; CO 14D -control, received 1,5 mL i.g of water distilled by 14 days and CcB 14D - received 1,5 mL i.g. do EA during14 days. The animals were anesthetized and blood was collected from the retro-orbital plexus for glycemiadosage. triglycerides and cholesterol and analyses of the seric enzymes (AST, ALT, FA, A and äGT).Afterwards, the animals were sacrificed, the liver isoleted and homogenized for LPO evaluatin and activitiesof the antioxidant enzymes. Statistical analysis was done using the Student “t” test with a significance p <0,05. Our date suggest that the uses of EA of CcB in normal animals, during the studied periods, does notalter glycemia, triglycerides, cholesterol, seric enzymes s and does not show present pro oxidant activity.

Key words: Croton cajucara Benth, oxidative stress, antioxidant enzymes.

TA et al., 1999; MACIEL, PINTO, VIEGA, 2001;HIRUMA-LIMA et al., 2000).

Estudos mostram que várias doenças têm sidofreqüentemente associadas com danosoxidativos, o que está diretamente envolvido naformação de espécies ativas de oxigênio (EAO)e outros radicais livres que podem ser produzi-dos por fontes exógenas ou endógenas. Uma for-ma adequada de combater esta situação é o usode substancias antioxidantes.

Em organismos aeróbios, a produção normalde EAO é balanceada pela atividade das defe-sas antioxidantes endógenas. Quando esse ba-lanço é rompido em favor dos agentes oxidantes,diz-se que a célula ou organismo encontra-sesob estresse oxidativo. Essa condição pode levaro organismo a desenvolver respostas adaptativas

INTRODUÇÃO

A espécie Croton cajucara Benth, pertence afamília Euphorbiaceae, é uma planta arbustivade casca purulenta com folhas alterna,lanceoladas e olentes. É encontradafreqüentemente na região Norte do Brasil. NaAmazônia é popularmente conhecida comoSacaca e representa um recurso medicinal degrande importância no tratamento de váriasdoenças. (VAN DEN BERG, 1982; DI STASIet al., 1989).

No estado do Pará as folhas e as cascas docaule dessa planta são utilizadas pela populaçãona forma de chá, para o tratamento da diabetes,diarréia, malaria, febre, distúrbiosgastrointestinais, renais e hepáticos e no contro-le de níveis elevados de colesterol (LUNA COS-

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ou provocar danos como lipoperoxidação dasmembranas celulares, degradação de proteínase lesão ao DNA (SALO et al., 1991).

Os antioxidantes podem ser definidos como subs-tâncias que, presentes em concentrações relativa-mente baixas, inibem significativamente a taxa deoxidação sobre locais alvos. Como antioxidantes nãoenzimáticos existem as vitaminas A e E, o ácidoascórbico, o ácido úrico, a glutationa, a melatonina,certos flavonóides, entre outros. Dentre osantioxidante enzimáticos responsáveis peladetoxificação das EAO podemos citar a catalase, asuperóxido dismutase e a glutationa peroxidase(HALLIIWEL, GUTTERIDGE, 1989).

Os extratos de plantas, praticamente todasas que contêm bioflavonóides apresentam umasignificativa ação antioxidante, capaz de dimi-nuir os efeitos nocivos gerados pelos radicais li-vres e, conseqüentemente, o surgimento dasdoenças associadas a eles.

A Sacaca também é comercializada em far-mácias de manipulação e neste caso o pó dascascas do caule é vendido em cápsulas. Já asfolhas são comercializadas livremente, para dis-túrbios do fígado e auxilio na digestão de ali-mentos gordurosos. O pó das folhas é vendidotambém em farmácias de manipulação, com in-dicação hepatoprotetora e, para dietas de ema-grecimento, em alguns casos o pó é misturadocom pó do boldo do Chile.

O uso freqüente dessa planta pela popula-ção do Norte do país foi um importante incenti-vo para os estudos da Sacaca, visando compro-var se os efeitos do uso prolongado da mesmaestão relacionados com os casos de hepatite tó-xica ocorridos em Belém. (MACIEL, 1997;MACIEL et al., 1998).

Inúmeros casos de hepatite tóxica foram no-tificados em hospitais públicos da região Ama-zônica devido ao uso prolongado dessa planta(MACIEL, PINTO, VIEGA, 2001). A dissemi-nação de uso tem chegado a lugares distantesdo país, como em nosso estado, na cidade deCaxias do Sul.

O presente trabalho tem como objetivo avaliaro efeito da administração do extrato aquoso (EA)do Croton cajucara em ratos normais sobre os ní-veis plasmáticos de glicose, triglicerídios ecolesterol, determinar os níveis séricos das enzimas:ALT, AST, A, FA e dGT e avaliar o estresseoxidativo através das medidas de LPO e a ativida-de das enzimas antioxidantes: CAT e SOD.

MATERIAL E MÉTODOS

Procedimento experimental

Os animais eram provenientes do Biotério doInstituto de Ciências Básicas da Saúde da UFRGS.Durante o experimento os animais foram mantidosno Biotério de Farmacologia, em caixas plásticas de47x34x18cm forradas com maravalha, em ciclo de12 horas claro/escuro e temperatura entre 20 e 25oC.Água e a ração foram administradas ad libitum.

Foram utilizados ratos machos Wistar (300g).Esses animais foram divididos em 4 grupos, cadagrupo contendo 5 animais:

- CO 7D - controle, receberam 1,5mL de águadestilada intragástrica (i.g.) durante 7 dias;

- CcB 7D- receberam 1,5 mL i.g. do EA (ex-trato aquoso das folhas1g/20mL H2O)durante 7 dias;

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- CO 14D - controle receberam 1,5 mL i.g.água destilada durante 14 dias;

- CcB 14D - receberam 1,5mL i.g. do EAdurante 14 dias.

A concentração do extrato aquoso de Crotoncajucara: 1grama de folhas secas (provenientes deSantarém, Pará) em 20 mL de água destilada.

Processamento dos tecidos

Após cada período (7 e 14 dias), os animaisforam anestesiados através da administração dasdrogas de Cloridrato de Xilazina 2% 50mg/Kgde peso corporal e Cloridrato de Cetamina100mg/Kg de peso corporal intraperitonialmente.

Foi coletado sangue do plexo retro orbital paradeterminação dos níveis plasmáticos de glicose,triglicerideos e colesterol e das enzimas séricas(ALT, AST, A, FA e dGT. Após foi realizada umalaparotomia e retirado o fígado, separado em por-ções e congelado em nitrogênio liquido. Os teci-dos foram mantidos à -70oC para posterior análi-se. Para análise das provas de lipoperoxidação(TBARS e QL) e atividade da enzimas (CAT eSOD), os tecidos foram pesados e colocados emsolução de tampão fosfato 20mM (KCl 140mM)na proporção de 9mL por grama de tecido. Ostecidos foram homogeneizados em ULTRA-TURRAX (IKA-WERK) durante 80 segundos, àtemperatura de 0-2ºC. Os homogeneizados fo-ram centrifugados em centrifuga refrigerada(SORVALL ® RC-5B Refrigerated SuperspeedCentrifuge), durante 10 minutos a 4000 rpm(LLESUY et. al., 1985). Retirou-se o sobrenadanteque foi utilizado para dosagem de proteína, de-terminação da lipoperoxidação e atividade dasenzimas CAT e SOD.

Quantificação de proteínas

A proteína dos tecidos homogeneizados foiquantificada, segundo o método de Lowry et.al., (1951). Este método utiliza como padrãouma solução de albumina bovina (SIGMA) 1mg/ml (no caso, utilizam-se volumes de 50, 100 e150 microlitros). Coloca-se uma alíquota dohomogeneizado (20 microlitros) em 0,8 ml deágua destilada e 2,0 ml do reativo C. Este últi-mo preparado no momento e consistia na mistu-ra de 50,0 ml do reativo A (NaHCO3 2% emNaOH 0,10N), 0,5 ml do reativo B1 (CuSO4. 5H2O 1%) e 0,5 ml do reativo B2 (tartarato desódio e potássio 2%). Após a adição do reativoC, aguarda-se 10 minutos e, após este período,coloca-se 0,2 ml de Reativo de Folin-Ciocalteau2N (Laborclin), na concentração de 1:3 em águadestilada. Após 30 min, desenvolvia cor azul. Aleitura foi realizada a 625nm emespectrofotômetro (UV Vis SpectrophotometerMETROLAB 1700).

Quantificação da glicemia

Para determinação da glicemia em plasma foiutilizado o teste enzimático colorimétrico des-crito no Kit LABTEST. A leitura da absorbânciada amostra foi realizada em espectrofotômetro a505nm. Os valores foram expressos em miligra-mas por decilitro (mg/dL).

Quantificação dos triglicerídeos

Para a determinação de triglicerideos emplasma foi utilizado o método enzimático-colorimétrico (GPO/POD), descrito no KitCELM. Como padrão utilizou-se a solução esta-bilizada glicerol. A leitura da absorbância da

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amostra foi realizada em espectrofotômetro a505nm. Os valores foram expressos em miligra-mas por decilitro (mg/dL).

Quantificação do colesterol

Para a determinação de colesterol em plas-ma foi utilizado o método enzimático-colorimétrico (COE/COD/POD), descrito no KitCELM. Como padrão utilizou-se a solução tam-pão Tris e Fenol. A leitura da absorbância daamostra foi realizada em espectrofotômetro a505nm. Os valores foram expressos em miligra-mas por decilitro (mg/dL).

Avaliação da lipoperoxidação(LPO):

a) Método de substâncias que reagem aoácido tiobarbitúrico (TBARS)

A técnica de TBARS foi realizada conformeo método de BUEGE & AUST, (1978). Utili-zou-se solução de ácido tricloroácetico 10%, ohomogeneizado obtido de cada tecido de rato,ácido tiobarbitúrico 0,67% e água destilada. Essamistura foi aquecida a 100°C, em banho-maria,durante 15 minutos e resfriada em gelo por apro-ximadamente 10 minutos. Após, acrescentou-se álcool n-butilico, agitando por 40 segundosem VORTEX, e centrifugado por 10 minutos a3000 rpm. Assim obteve-se um sobrenadantecorado, resultante da reação de malondialdeídoe outros subprodutos liberados na LPO. Osobrenadante foi retirado e colocado em cubetade vidro para leitura a 535 nm emespectrofotômetro. Os resultados foram expres-sos em nanomoles por miligrama de proteína(nmoles/mg prot.).

b) Determinação da quimiluminescênciapor hidróxido de tert-butila (QL)

O método consiste em adicionar umhidroperóxido orgânico de origem sintética(hidroperóxido de tert-butila) ao homogeneizadodos tecidos em estudo. Avalia-se a capacidadede resposta mediante a determinação dequimiluminescência (QL) produzida por amos-tra. Em tecidos submetidos a estresse oxidativo,o valor da QL iniciada por hidroperóxido de tert-butila (t-BOOH) é maior que o valor corres-pondente a esse tecido em condições fisiológi-cas (pré-estresse). A QL foi medida em um con-tador com o circuito de coincidênciadesconectado e utilizando o canal de tritio(Liquid Scintilation Corenter, 1209RACKBETA, LKB Wallar). Os homogeneizadosde tecido serão colocados em viais de vidro. Paraevitar a fosforescência dos viais ativada pela luzfluorescente, estes serão protegidos da luz até omomento do uso e as determinações feitas emsala escura. O ensaio será realizado num meiode reação consistindo numa solução reguladorade tampão fosfato e utilizando-se o t-BOOH3mM. Para cálculo de QL iniciada por t-BOOH,foi considerada a emissão máxima, descontadaa emissão basal (a QL do vial mais o tampão).Os resultados serão expressos em contas por se-gundo (cps) por mg de proteína (GONZÁLEZ-FLECHA, LLESUY, BOVERIS, 1991).

Atividade das enzimasantioxidantes:

Catalase (CAT)

A atividade da enzima catalase foi avaliada,conforme descrito por Boveris & Chance (1973),através da determinação em espectrofotômetro

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da velocidade de decomposição do peróxido dehidrogênio (0,3 M), adicionado a amostra. Sen-do a decomposição do peróxido de hidrogêniodiretamente proporcional à atividade da CAT.São colocados em cubeta de quartzo o tampãofosfato 50mM com pH 7, o homogeneizado e operóxido de hidrogênio. A leitura foi realizadaem espectrofotômetro a 240nm e os dados ex-pressos em pico moles por miligrama de proteína(pmoles/mg prot.).

Superóxido dismutase (SOD)

A atividade da enzima antioxidante SOD,foi avaliada segundo a técnica descrita porMIRSA & FRIDOVICH (1983) para determi-nação em espectrofotômetro da capacidade daSOD em inibir a reação do radical superóxidocom adrenalina. Na cubeta de quartzo, coloca-se tampão glicina 50mM com pH 11, umaalíquota de homogeneizado e adrenalina. Após

agitação é realizada leitura a 480 nm emespectrofotômetro. Os dados são expressos emUnidades de SOD por miligrama de proteína(USOD/ mg prot.).

ANÁLISE ESTATÍSTICA

Os resultados foram expressos com média+ EP de n valores. A comparação entre os gru-pos foi realizada através do teste “t” de Student(In Stat Program) com p<0,05 considerado sig-nificativo.

RESULTADOS

A glicemia, triglicerídeos e colesterol dos ani-mais medida após 7 e 14 dias de tratamento como extrato de Croton Cajucara não apresentou di-ferença significativa entre os grupos (Figura 1).

Figura 1 - Determinação dos níveis plasmáticos de glicemia (A), triglicerideos (B) e colesterol (C).

0

20

4060

80

100120

140160

180200

CO 7D CcB 7D CO 14D CcB 14D

GLICEMIA

mg/

dL

0

10

20

30

40

50

60

70

80

90

CO 7D CcB 7D CO 14D CcB14D

TRIGLICERÍDEOS

mg/

dL

0

10

20

30

40

50

60

70

80

90

CO 7D CcB 7D CO 14D CcB 14D

COLESTEROL

mg/

dL

A B

C

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Os valores plasmáticos das enzimas séricasALT, AST, A, FA e dGT não apresentaram al-

terações com o uso do Croton cajucara Benthnos períodos estudados (Figura 2).

A avaliação de dano oxidativo medido pelastécnicas de TBARS e QL indicaram que o tra-tamento com Croton cajucara não provocou al-

teração na lipoperoxidação no fígado dos ratosnos períodos estudados (Figura 3).

A medida da atividade da CAT e SOD nãoapresentaram alterações significativas entre os

grupos (Figura 4)

Figura 2 - Valores plasmáticos ALT, AST e FA (A), valores plasmáticos äGT e A (B).

A B

0

50

100

150

200

250

300

350

AST ALT FA

U/L

CO 7D

CcB 7D

CO 14D

CcB 14D

0

0,5

1

1,5

2

2,5

3

3,5

4

A δGT

U/L

CO 7D

CcB 7D

CO 14D

CcB 14D

0

0,05

0,1

0,15

0,2

0,25

CO 7D CcB 7D CO 14D CcB 14D

TBARS

nmol

es/m

gpr

ot

0

500

1000

1500

2000

2500

3000

3500

CO 7D CcB 7D CO 14D CcB 14D

QL

cpm

/mgp

rot

A BFigura 3 - Determinação dos níveis de lipoperoxidação, pelo método de TBARS (A) e QL (B).

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DISCUSSÃO

Alguns trabalhos experimentais têm sido re-alizados a fim de investigar a ação farmacológicado Croton cajucara Benth, pois ela vem sendoutilizada de forma aleatória, principalmente noNorte do Brasil, muitas vezes levando ao óbitopor efeitos hepatotóxicos.

Inúmeros casos de hepatite tóxica foram no-tificados em hospitais públicos devido ao usoprolongado dessa planta (MACIEL, PINTO,VIEGA, 2001).

O Croton cajucara Benth, tem importânciana medicina popular, sendo utilizada no trata-mento do diabetes, redução do colesterol, ema-grecimento, distúrbios hepáticos e doenças re-nais (LUNA COSTA et al., 1999; MACIEL,PINTO, VIEGA, 2001; HIRUMA-LIMA et al.,2000) e é administrada através de chá ou cáp-sulas feitos com as folhas ou com a casca(MACIEL, PINTO, VIEGA, 2001).

No presente trabalho a administração crôni-ca do extrato aquoso de C. cajucara em ratos

normais não mostrou alterações nos níveis deglicemia, triglicerídeos e colesterol total, suge-rindo que em animais normais esse extrato nãointerfere de forma significativa, modificando ometabolismo de carboidratos e gorduras.

Em relação à avaliação da integridade hepá-tica, todos os animais tiveram os níveis séricosde AST, ALT, FA, A e äGT sem alteração signi-ficativa. Esses resultados indicam que o trata-mento por 7 ou 14 dias com o extrato aquoso defolhas do C. cajucara não altera a função hepá-tica nesse modelo estudado.

A avaliação da lipoperoxidação pode ser re-alizada através da medida de substânciasreativas ao ácido tiobarbitúrico (TBARS) oqual verifica a formação de malondialdeído,que é um subproduto do processo de oxidaçãodas membranas lipídicas celulares (BUEGE,AUST, 1978).

Outro método de verificação da lipoperoxidaçãode maior sensibilidade e especificidade é aquimiluminescência (QL) iniciada porhidroperóxido de tert-butil.

Figura 4 - Medida e desvio padrão da atividade da enzima CAT (A) e da SOD (B).

0

1

2

3

4

5

6

CO 7D CcB 7D CO 14D CcB 14D

CAT

nmol

es/m

gpro

t

0

1

2

3

4

5

6

CO 7D CcB7D CO 14D CcB 14D

SOD

USO

D/m

gpr

ot

A B

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133Revista de Iniciação Científica da ULBRA - n.3 - 2004

A avaliação da lipoperoxidação através dastécnicas de TBARS e QL, em homogeneizadode fígado de ratos Co e CcB (7 e 14 dia) nãomostrou alteração significativa na peroxidaçãolipídica pelas técnicas estudadas.

As medidas de atividades enzimáticas daSOD e CAT também não apresentaram altera-ções significativas entre os grupos estudados.

As enzimas antioxidantes estão distribuídaspor todo o organismo e dependem do consumode oxigênio, da taxa metabólica, da concentra-ção de íons metálicos e da quantidade de áci-dos graxos presentes, sendo a primeira linha dedefesa contra ações oxidantes do organismo. Emnosso trabalho o uso do Croton cajucara Benth,nas doses utilizadas não interferiu no equilíbrioredox celular.

Dessa maneira, pelos resultados obtidos nes-te trabalho, a sacaca administrada nos períodode 7 e 14 dias não ocasionou diferença signifi-cativa os parâmetros estudados.

CONCLUSÕES

Pelos dados obtidos neste trabalho podemosconcluir que a administração do extrato aquosoda folha do Croton cajucara Benth em ratos nor-mais por 7 e 14 dias:

- não apresentou diferença os níveisplasmático da glicemia, triglicerídeos ecolesterol.

- não apresentou diferença significativa naavaliação das enzimas séricas hepáticas.

- não apresentou dano oxidativo nas mem-

branas lipídicas avaliadas por TBARS eQL.

- não apresentou alteração na atividade dasenzimas antioxidantes CAT e SOD.

Com base nesses dados, podemos sugerir queo uso do extrato aquoso da Sacaca não apresentaatividade pró-oxidante nos períodos estudados.

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135Revista de Iniciação Científica da ULBRA - n.3 - 2004

Estudo do crescimento somático e da aptidãofísica relacionados à saúde em estudantes

surdos das escolas especiais da regiãometropolitana de Porto Alegre

EDUARDO TRZUSKOVSKI DE VARGAS1

ROSILENE MORAES DIEHL2

ADROALDO CÉZAR ARAÚJO GAYA3

DANIEL C. GARLIPP4

ALEXANDRE C. MARQUES5

RESUMO

O objetivo deste estudo foi analisar os níveis de aptidão física relacionados à saúde em alunos surdos de seteescolas especiais da região metropolitana de Porto Alegre - RS. Foram analisados 149 meninos e 139 meninas comidades entre 07 e 15 anos. Os instrumentos possibilitaram avaliar índice massa corporal (IMC), flexibilidade, força/resistência muscular localizada e resistência cárdio-respiratória. Os resultados se relacionam de um lado ao cresci-mento somático, no qual foi utilizado como referência as curvas da National Center for Health and Statistic(NCHS) recomendado pela Organização Mundial da Saúde (OMS); e por outro ao estudo da aptidão física(ZSApF), a partir dos dados recomendados pelo Projeto Esporte Brasil (Proesp-BR).

Palavras-chave: surdos, aptidão física, saúde.

1 Acadêmico do Curso de Educação Física/ULBRA – Bolsis-ta PROICT/ULBRA

2 Professora – Orientadora do Curso de Educação Física/ULBRA – [email protected]

3 Colaborador – professor de curso de Educação Física - UFRGS4 Colaborador – professor de Educação Física - UFRGS5 Colaborador – professor de Educação Física - UFRGS

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ABSTRACT

This study pretends to analyse the grades of physical adaptation in relation to the health of deaf studentsin seven “special schools in the metroplitan area of Porto Alegre/RS Brazil.149 boys and 139 girls between7 and 15 years were analyzed. The instruments enabled us to value the Body Mass Index (BMI), flexibility,endurance and cardiorespiratory endurance.On one side the results are related to somatic growth, forwhich were used the graphics of the National Center for Health and Statistics recommended by the WorldHealth Organization (WHO) and on the other hand with the studies of physical adaptation based on thedata recommended by the Project Sport Brazil.

Key words: deaf, physical adaptation, health.

saúde de crianças, jovens e adultos são funda-mentais para uma sociedade mais saudável econseqüentemente uma velhice mais digna.

Um dos fatores importantes para a manutençãodas boas condições físicas e mentais do ser humanoé manter o corpo ativo. (NAHAS, 2001; GAYA2002) Uma vida ativa é um fator importante na pre-venção e no controle de alguns problemas de saú-de, quando analisada a partir da perspectivapopulacional (KON E CARVALHO, 2001).

Na infância e na adolescência a educaçãofísica tem um papel fundamental na promoçãode um estilo de vida ativo. O profissional deveassociar a ludicidade do jogo à aptidão físicavoltada para a saúde à performance. Na medidaem que promovemos crianças e jovens ativosteremos, no futuro, adultos menos ociosos e commais qualidade de vida.

A intenção deste estudo foi identificar o perfilda aptidão física voltada à saúde de crianças ejovens surdos que freqüentam as escolas especi-ais da região metropolitana de Porto Alegre.

Ao fazer referência às pessoas que estão im-possibilitadas de modo permanente de ouvir, diz-se, muitas vezes, que esta pessoa possui defici-

INTRODUÇÃO

Estudos recentes apontam uma preocupaçãocrescente com a manutenção da saúde atravésde uma vida ativa. Nos últimos censosdemográficos nota-se uma tendência no enve-lhecimento da população brasileira. Segundo oIBGE em 1980 a idade média era a de 20,2 anos.Para 2050 a idade mediana projetada é de exa-tos 40 anos. Outras projeções são feitas:

...em 2000 30% dos brasileiros tinha de zeroa 14 anos, e os maiores de 65 representa-vam 5% da população. Em 2050, esses doisgrupos etários se igualarão: cada um delesrepresentará 18% da população brasileira ...Também tornam-se cada vez mais importan-tes as políticas de Saúde voltadas para a Ter-ceira Idade: se em 2000 o Brasil tinha 1,8milhão de pessoas com 80 anos ou mais, em2050 esse contingente poderá ser de 13,7milhões. (IBGE, 2004)

Dessa forma, métodos de prevenção a doen-ças degenerativas da velhice e da promoção da

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ência auditiva. Muitos são os nomes utilizadosao se referir àqueles que têm o sentido da audi-ção comprometido ou inexistente. Neste texto,ao abordar pessoas com déficit da audição, seráusado o termo surdo por ser esta a expressãoadotada pela Comunidade Surda. Essa Comu-nidade possui uma identidade própria, caracte-rizada principalmente pela existência de umaforma específica de comunicação.

Nessa perspectiva, reconhecemos o termosurdo não apenas como uma definiçãoconceitual, mas uma forma do Ser.

Pelo fato de, muitas vezes, as crianças ejovens surdos serem denominados “deficien-tes”, ou pessoas não eficientes, inclusive pe-los profissionais da área da educação física, éque resolvemos identificar o perfil motor dosalunos que freqüentam as escolas especiais daregião metropolitana de Porto Alegre, RS.

Queríamos identificar o perfil de crianças ejovens que freqüentavam as escolas especiaisda região metropolitana de Porto Alegre, RS,visto que as escolas dessa região são repre-sentativas do estado.

MATERIAL E MÉTODOS

Amostra

Este estudo descritivo foi realizado a partir deuma amostra de 288 escolares, sendo 149 meni-nos e 139 meninas na faixa etária entre 7 e 15anos. Os escolares são provenientes de 7 escolasespeciais para alunos surdos da região metropoli-tana de Porto Alegre. A amostra é do tipo inten-cional e dividida conforme a tabela abaixo:

Masculino FemininoIdade v.a. v.p. (%) v.a. v.p. (%)789

101112131415

Total

122211101228141624

149

8,114,87,46,78,118,89,410,716,1100

9131410232291227

139

6,59,410,17,216,515,86,58,619,4100

v.a.= valores absolutos; v.p.= valores percentuais

Tabela 1 – Estratificação da amostra por idade nos dois sexos.

Instrumentos e procedimentosde coleta das informações

As medidas somáticas avaliadas foram: (a)massa corporal: medida em kg com resoluçãode 0,1kg; (b) estatura: medida em cm entre o

vértex e o plano de referência do solo, com re-solução de 0,1cm.

O estudo da aptidão física foi feito a partir dostestes recomendados pelo Projeto Esporte Brasil(PROESP-BR) descritos no quadro abaixo:

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As curvas de crescimento somático foramcomparadas com as curvas de referências inter-nacionais (NCHS6 ) recomendadas pela Orga-nização Mundial da Saúde (OMS).

Os critérios de referência adotados para asavaliações da Aptidão Física Relacionada àSaúde correspondem aos utilizados peloPROESP-BR. Para o índice de massa corporal(IMC) utilizou-se o conceito de zona saudávelde massa corporal (ZSMC), assumindo os va-lores de corte sugeridos por Sichiere e Allam(1996), adaptando-os para a realidade brasi-leira. Para os testes de aptidão física utilizou-se o conceito de Zona Saudável de AptidãoFísica (ZSApF) assumindo os seguintes valo-res de corte: para os testes de sentar-e-alcan-çar e abdominal, os critérios FITNESSGRAM(COOPER, 1991); para o teste de 9 minutos oscritérios FITNESSGRAM (1980) adaptados.

Tratamento das Informações

Para o tratamento dos dados, inicialmen-te procedeu-se um estudo exploratório cujoobjetivo foi avaliar os pressupostos essenci-ais da anál ise paramétrica. A anál iseexploratória constou da inspeção dos gráfi-

cos boxplot para identificar a eventual pre-sença de outliers, os quais foram retirados daamostra. A normalidade das distribuições foiverificada pelo teste de Kolmogorov-Smirnov,e a homogeneidade das variâncias foi testa-da com o teste de Levene.

Para a análise descritiva utilizou-se a médiae o desvio padrão.

No caso da aptidão física relacionada à saú-de, foram desenvolvidos gráficos de ocorrênciasem valores percentuais de escolares situadosabaixo, no interior e acima da ZSMC para o IMCe ZSApF para os demais testes.

No caso da aptidão física relacionada ao de-sempenho motor, foi utilizado a ANOVA para iden-tificação de possíveis diferenças significativas nodesempenho em cada idade entre os sexos.

O nível de significância estabelecido foi de5%, sendo utilizado nas análises estatísticas oprograma SPSS for Windows 10.0.

RESULTADOS EDISCUSSÃO

Crescimento somático

Verificado os pressupostos para as análisespropostas, inicia-se a apresentação e discussão

Quadro 1 – Bateria de testes do Projeto Esporte Brasil.

6 NCHS – National Center for Health and Statistics – O CentroNacional de Estatística da Saúde é uma instituição norte-ameri-cana que sugere curvas de crescimento utilizadas como refe-rência pela Organização Mundial da Saúde (Hamill et al., 1979).

TESTES COMPONENTES DA APTIDÃO ÁREA DE INTERVENÇÃOÍndice de massa corporal (IMC – kg/ m2) Relação da massa corporal pela estatura Relacionada à saúdeSentar-e-alcançar (cm) Flexibilidade Relacionada à saúdeAbdominal (número de repetições em 1minuto) Força-resistência dos músculos abdominais Relacionada à saúde

Corrida/caminhada de 9 minutos (metros) Resistência geral Relacionada à saúde

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dos resultados com a comparação das curvas deestatura corporal (Figura 1) e massa corporal

(Figura 2), com os percentis 3, 10, 50, 90 e 97do padrão de referência NCHS.

Figura 1 – Comparação das médias de estatura corporal com o padrão de referência NCHS.

Observa-se que as curvas de estatura (figu-ra 1) se sobrepõem à curva média (percentil 50)do padrão de referência até os 11 anos no sexomasculino, e até os 10 anos no sexo feminino,havendo uma superioridade até os 14 anos nos

meninos e 13 anos nas meninas. No sexo mascu-lino parece haver então uma estabilização dacurva, enquanto no sexo feminino a curva apre-senta uma queda para próximo do percentil 10do padrão NCHS.

Figura 2 – Comparação das médias de massa corporal com o padrão de referência NCHS.

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140 Revista de Iniciação Científica da ULBRA - n.3 - 2004

Observa-se que as curvas de massa corporal(figura 2) se comportam de forma diferente entreos sexos, desta forma a análise será feita de formaseparada. No sexo masculino, a curva da popula-ção investigada inicia perto do percentil 90 dacurva de referência. Aos 8 e 9 anos, existe umasobreposição da curva estudada com o percentil50 do NCHS. Desta faixa até os 14 anos os meni-nos apresentam massa corporal superior à curvamédia da curva de referência, caindo logo apóspara valores inferiores ao percentil 50.

No sexo feminino, existe uma sobreposiçãoda curva da população investigada com opercentil 50 do NCHS até os 10 anos de idade,onde existe um aumento importante da massacorporal das meninas até próximo ao percentil

90, havendo então uma queda para junto dacurva média do padrão de referência.

Aptidão física relacionada àsaúde

a) Índice de massa corporal (IMC)

No gráfico 1, podemos observar um númeroelevado de alunos surdos das escolas especiaisda região metropolitana de Porto Alegre, comíndices médios referente ao (IMC). 80% das alu-nas e 75% dos alunos apresentam um quadrosaudável do IMC. Os índices abaixo da zonasaudável indicam desnutrição; quando acima dazona saudável apontam para um aluno comsobrepeso ou obeso.

b) Flexibilidade

A flexibilidade é uma aptidão importanteno dia a dia do ser humano. Índices abaixodos indicados podem referir-se a pessoas comencurtamento muscular que impossibilitam

movimentos fundamentais nas tarefas de vidaprática.

No gráfico 2 estão os dados referentes aosalunos surdos das escolas especiais, no teste sen-tar-e-alcançar.

IMC

Zonas de Massa CorporalAcima da ZSMCZSMCAbaixo da ZSMC

Freq

üênc

ia(%

)

8580757065605550454035302520151050

Masculino

Feminino

14

80

6

15

75

9

Gráfico 1 - Freqüência de escolares nas ZSMC

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Podemos observar que 25% das meninas e24% dos meninos estão na zona considerada boapara a saúde e que 44% dos meninos e 35% dasmeninas apresentaram uma excelente flexibili-dade. Porém observamos um grupo que apontaum baixo nível de flexibilidade, onde 40% dasmeninas e 32% dos meninos estão necessitandomaior atenção nessa aptidão.

c) Força/resistência abdominal

A força concentrada na musculatura abdo-minal é importante na estabilização do corpo emdiversas situações espaciais. A manutenção doequilíbrio nos possibilita uma postura adequadae evita atitudes posturais que podem acarretardores musculares e mau funcionamento de ór-gãos internos do nosso corpo.

O gráfico 3 apresenta os resultados do testeabdominal, realizado em um minuto.

Flexibilidade

Zonas de Aptidão Física

Acima da ZSApFZSApFAbaixo da ZSApF

Freq

üênc

ia(%

)

50

45

40

35

30

25

20

15

10

5

0

Masculino

Feminino

35

25

40

44

24

32

Gráfico 2 - Freqüência de escolares nas ZSApF

Força/resistência abdominal

Zonas de Aptidão FísicaAcima da ZSApFZSApFAbaixo da ZSApF

Freq

üênc

ia(%

)

80757065605550454035302520151050

Masculino

Feminino10

18

72

1420

66

Gráfico 3 - Freqüência de escolares nas ZSApF

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Podemos observar um despreparo desses alunospara a realização deste teste de força e resistênciaabdominal. Os resultados estão, em sua maioria,abaixo da zona saudável em relação a essa aptidão.

Tanto os alunos do sexo masculino quanto dosexo feminino apresentam índices abaixo da zonasaudável de aptidão física. Os dados causam pre-ocupação no âmbito da saúde desses escolares.

Todavia, esses resultados não parecem serexclusivos da amostra desse estudo. Pesquisarealizada por GAYA et. al. (2002), apresenta

resultados similares. Embora crianças e jovenssurdos apresentem números mais preocupantes.

d) Resistência geral

A resistência cardiorrespiratória é a aptidãofísica que possibilita um bom funcionamentoenergético. Essa valência quando dentro da zonasaudável pode prevenir doenças como hiperten-são arterial, obesidade, diabetes, entre outras.

O teste utilizado para esse estudo foi o 9 mi-nutos, indicado pelo PROESP-BR.

Conforme os dados registrados no gráfico4, pode-se observar que a maioria da amos-tra parece estar fora da zona indicada comosaudável. Os meninos com 69% e as meninascom 73% abaixo da zona saudável da apti-dão física.

Apenas 22% dos meninos e 26% das meninasse encontram com índices considerados saudá-veis. Somente 9% dos meninos está com um ex-celente índice da aptidão cardiorrespiratória.

Gráfico 4 - Freqüência de escolares nas ZSApF

Resistência Geral

Zonas de Aptidão Física

Acima da ZSApFZSApFAbaixo da ZSApF

Freq

üênc

ia(%

)

80757065605550454035302520151050

Masculino

Feminino

26

73

9

22

69

Os dados referentes a essa aptidão são alarman-tes. Deve-se propor ações efetivas para mudar essepanorama ou teremos em breve, adultos sedentá-rios e com propensão à doenças oportunistas.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

A discussão que será feita é referente aosdados acima citados de acordo com os sujei-

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tos dessa pesquisa. Refere-se apenas aos su-jeitos surdos da região metropolitana de Por-to Alegre, RS.

Os 288 alunos surdos das diversas escolasespeciais da região metropolitana de Porto Ale-gre que realizaram os testes motores, bem comoos demais alunos que integram essas escolas eos de outras escolas do Brasil, merecem espaçosesportivos, recreativos e de dança onde sejamvalorizadas suas potencialidades.

Crianças e jovens surdos não são diferentesem suas necessidades em relação às demais cri-anças e jovens na nossa sociedade. Possuem re-levantes diferenças no aspecto da comunicação,porém fisicamente necessitam de um bom con-dicionamento físico para desempenhar suas ta-refas diárias de uma forma saudável.

As crianças e jovens vão desenvolver o “gos-to” pelo brincar, jogar, desempenhar atividadesvigorosas, nas aulas de educação física. Nesseespaço é onde inicia o desenvolvimento da cul-tura esportiva para ter uma vida ativa.

Hábitos adquiridos na infância e na adoles-cência são referência para uma vida adulta vol-tada à prática dos mais diversos exercícios e,conseqüentemente, uma vida mais saudável.Além possibilitar uma velhice digna e com maisqualidade. Pode-se constatar nesse estudo queessa é a realidade de poucas crianças e jovenssurdos das escolas avaliadas.

Referente aos dados da massa corporal daamostra, uma boa parte dos escores estão den-tro do perfil saudável. Poucos alunos dessas es-colas são desnutridos ou obesos. Porém quan-do se refere ao desempenho voltado à saúde

desses alunos, os números variaram considera-velmente.

A flexibilidade da amostra foi bem hetero-gênea, embora, a maioria tenha uma boa ouótima flexibilidade. Todavia, um número gran-de está abaixo da zona saudável de aptidãofísica.

Ao se tratar das aptidões força/resistência mus-cular localizada e resistência cardiorrespiratória,os dados nos remetem a uma preocupação sobre asaúde física desse grupo. Foram observados baixosíndices de crianças e jovens com um bom condici-onamento, em ambos os sexos.

Vistos por outra perspectiva, sabe-se que es-ses dados não são exclusivos dos alunos surdos.Outros estudos realizados no Brasil, em escolasregulares, também apontam níveis de desempe-nho bem variados.

Existem muitas variáveis que podem estarinfluenciando esses dados. Por exemplo, o tem-po de aula de educação física semanalmente,o número de alunos em cada aula, escassosrecursos materiais, falta de alternativa de es-paços para prática da atividade física. Essesitens influenciam diretamente nas aulas deeducação física.

Os professores devem ser motivados atravésde cursos anuais de aperfeiçoamento, tendocomo tema atividade física voltada à saúde.

Deve-se desenvolver mais pesquisas nessaárea com a finalidade de reunir dados suficien-tes que permitam subsidiar propostas de políti-cas na área da educação física, esporte e lazerde crianças, jovens e adultos surdos.

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Ciências Agrárias

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Desempenho da pastagem de capim tanzâniasubmetida a diferentes níveis de adubação

nitrogenada e pastejo contínuo com novilhas

DANIEL MARTINS BRAMBILLA1

CAIO MARQUES PIMENTA1

JAMIR LUÍS SILVA DA SILVA 2

ROBERLAINE RIBEIRO JORGE3

MOISÉS AGUIAR GUEDES4

ALEX DE OLIVEIRA CHAGAS 5

RESUMO

O trabalho foi conduzido num argissolo vermelho-amarelo distrófico no Litoral do RS, visando avaliar oefeito de adubação nitrogenada sobre o desempenho de Panicum maximum Jacq. Cultivar Tanzânia e denovilhas de sobreano em pastejo contínuo com cargas animal ajustadas para manter 12 a 15% de oferta deforragem. As doses de nitrogênio foram 50, 100, 150 e 200 kg/ha e o pasto foi avaliado durante 103 dias. Asnovilhas eram pesadas a cada 28 dias após avaliação da massa de forragem (MF). Foram avaliadas asrelações folha/caule e verde/seco da MF. A MF oscilou ficou com médias entre 6151 e 7764 kg/ha de matériaseca total. O melhor ganho animal foi 0,939 kg/dia, obtido no tratamento de 200 kg/ha de N e o menor foi0,622 no de 150 kg/ha (P<0,05). A carga animal variou de 715,92 a 2.886,34 kg/ha de peso vivo (PV),conforme a equação: Y= 524,11 + 569,22x. O ganho animal por área foi 430, 523, 700 e 1.006 kg/ha PV,nas respectivas doses de N, confirmando o excelente desempenho destas espécies forrageiras.

1 Acadêmico do Curso de Engenharia Agrícola/ULBRA –Bolsista PROICT/ULBRA

2 Professor - Orientador do Curso de Engenharia Agrícola/ULBRA [email protected]

3 Professor do Curso de Engenharia Agrícola/ULBRA.4 Técnico Agrícola especialidade em pecuária/EETA-Viamão.5 Engenheiro Agrícola/ULBRA.

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Palavras-chaves: adubação nitrogenada, Panicum maximum, pastejo contínuo e produção animal.

ABSTRACT

This work was conducted on argissol in the Coast RS’s North, to evaluate the effect of levels of nitrogenon animal production and performance of the pasture of Tanzania grass (Panicum maximum Jacq.)grazed by heifers. The levels of nitrogen were 50, 100, 150 and 200 kg/ha. This experiment was conductedwith grazing continuous and Put and Take method during 103 days, with herbage allowance between 12and 15% of the live weight. The heifers were weighed each 28 days after forage mass evaluation (FM).Then were collected six clump samples of the paddocks to relation leaf/stem. The FM changed between6151 and 7764 kg/ha of DM. The best animal performance was obtained in the treatment of 200 kg/ha ofN, with a gain of 0,939 live weight dairy and the minor was obtained in the treatment of 150 kg/ha, witha gain of 0,622 live weight dairy (P<.05). Animal carry capacity had a variation of 715,92 into 2.886,34kg/ha of live weight, like the regression: Y= 524,11 + 569,22x. The gain per area of each treatment wasrespectively of 429,83, 522,66, 700,46 and 1.005,76 kg/ha of live weight. This results showed the excellentperformance of this forages species.

Key words: animal production, Nitrogen fertilization, Panicum maximum, continuous grazing.

vendo com estas a atenção necessária (SAIBRO& SILVA, 1999).

No entanto, há a necessidade de haver umamaior intensificação da pecuária, visto que estapode dar resultados positivos no sistema de pro-dução dentro da propriedade, e assim termos umsistema muito mais eficiente tecnicamente eeconomicamente que o sistema que há atual-mente na maioria das propriedades.

Neste contexto, as pastagens de Panicummaximum apresentam-se como promissoras, tendoem vista sua alta capacidade de produção de for-ragem e bom valor nutritivo (CORSI, 1995;EUCLIDES, 1995; HERLING et al., 2000 e 2001).Para o caso da região do Litoral Norte do RS, ascultivares Tanzânia e Mombaça são indicadas, ten-do em vista que esta se caracteriza por um climasubtropical ameno, com geadas praticamenteinexistentes, a temperatura média é de aproxima-

INTRODUÇÃO

A região Litorânea é fortemente caracteri-zada pela integração entre a cultura de arroz(Oryza sativa) e a pecuária de corte, devido àmaioria dos campos serem formados sobreplanossolos de várzea. As áreas de pecuária, emsua maioria, são de pastagens nativas, que nascondições de manejo de solo utilizada tem gran-de dificuldade na sua regeneração, principal-mente quando as rotações com a cultura são delonga duração, ou seja, plantio de arroz em vá-rios anos consecutivos. Estas áreas possuem ummodelo de pecuária ineficiente, onde a produ-ção animal está em torno de 50 a 90 kg/ha/anode peso vivo, e em função da maior preocupa-ção dos produtores com a cultura de arroz, de-vido esta atividade apresentar hoje maior retor-no econômico para a propriedade, ficando asáreas de pastagem em segundo plano, e não ha-

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damente 17,5°C, e a precipitação é de 1450 mm/ano. Os solos são originários de sedimentos recen-tes, do lado marítimo são arenosos, quartzosos, pro-fundos e de fertilidade natural muito baixa. Nolado continental, os solos são argilosos, siltosos comhorizonte B textural um pouco desenvolvido, comargilas de atividade alta (hidromórficos) (STRECKet al., 2002). No entanto, são poucos os estudosrelativos a esses cultivares, principalmente em sis-temas de forrageamento com avaliação da produ-ção animal.

Para uma busca de melhores resultados nes-te tipo de sistema, a solução deveria passar peloaumento da quantidade e qualidade da forra-gem oferecida aos animais durante o crítico pe-ríodo outono-inverno de carência alimentar, masvárias dificuldades mais básicas se colocam an-tes que elevados rendimentos de forragem pos-sam ser obtidos nas várzeas arrozeiras, entre eles,fatores limitantes ligados às condições químicase físicas dos solos e ao desempenho produtivodas espécies e cultivares das forrageiras utiliza-das (SAIBRO & SILVA, 1999).

Com estas pastagens se consegue maioresprodutividades por área devido à taxa de cres-cimento ser elevada, desde que estas estejambem manejadas e com o solo corrigido. Estasaltas taxas de crescimento geram alta capaci-dade de suporte destas pastagens, podendo-seassim alojar um grande número de animais emuma mesma área, facilitando no manejo dosanimais dentro da propriedade nesta época,que como já foi comentado, há uma grandeocupação das áreas de pastagem por parte dacultura do arroz.

Para MONTEIRO (1995), o suprimento denitrogênio passa a ser o fator de maior impactona produtividade das plantas forrageiras bem

estabelecidas e dos animais que as utilizam,quando as condições edafoclimáticas são consi-deradas não limitantes.

A recomendação de nitrogênio, para pasta-gens de Panicum maximum Jacq., varia de 50 a300 kg/ha/ano. A dose mais baixa tem sido con-siderada mínima para evitar a degradação dapastagem, enquanto as mais elevadas são acon-selhadas para incrementos na produtividade dapastagem e do animal, evidenciando que a me-dida que se eleva a dose de fertilizantenitrogenado, haverá a necessidade deparcelamento dessa adubação (MONTEIRO,1995), aplicada após cortes ou pastejo (CORSI& NUSSIO, 1992).

É importante destacar, também, que estaspastagens de verão poderão servir para que osprodutores consigam fazer a terminação de ani-mais jovens, se os mesmos não forem termina-dos nas pastagens de inverno. Além disso, podeser uma alternativa para produtores que temem suas propriedades além de áreas de pecuá-ria, áreas de agricultura. Nesta região as áreasagrícolas são cultivadas no período de verão,ficando assim as áreas destinadas à pecuáriareduzidas devido a estes cultivos. Esta pasta-gem em estudo tem a oportunidade de acomo-dar um número grande de animais em boascondições justamente neste período, onde osanimais precisam ser retirados das áreas agrí-colas, e como já foi comentado, se bem mane-jada traz grandes ganhos neste período, comoserá mostrado neste trabalho.

Este trabalho foi conduzido para avaliar oefeito de doses de nitrogênio sobre o desempe-nho dos animais e da pastagem de CapimTanzânia já estabelecida na região litorânea doestado do Rio Grande do Sul.

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MATERIAL E MÉTODOS

O trabalho foi conduzido na Fazenda doCapivary, localizada nas Margens da Estrada daBarrocada, que tem acesso pela parada 146Ada estrada RS 040, que liga Porto Alegre ao Li-toral Norte do RS. A área do experimento estalocalizada na latitude Sul 30º 07’ 35’’ e longitu-de -50º 33’ 21’’ (GPS marca Garmin, modeloEtrex). Na propriedade onde foi conduzido estetrabalho, em Capivari do Sul, o solo é umargissolo vermelho-amarelo distrófico, constitu-ído de uma fração importante de areia, além deter um lençol freático perto da superfície do solo.São solos com baixos teores de nutrientes (P <3 ppm, K entre 20 e 40 ppm), baixa matéria or-gânica (entre 0,9 e 1,5 %) e teores de argilaentre 9 e 12 %.

A pastagem era constituída de Panicummaximum cv Tanzânia, estabelecida em dezem-bro de 2002 por meio de preparo convencionaldo solo e adubação conforme recomendação daanálise e utilizada por pastejo contínuo durante103 dias, dividido em dois subperíodos (14 dejaneiro a 16 de março e de 23 de abril a 03 dejunho de 2004). Houve correção do solo com2,7 t/ha de calcário dolomítico com PRNT aci-ma de 90%. A adubação de base foi de 26.9 kg/ha de Nitrogênio, 107.6 de fósforo e 107.6 depotássio. Em 2004 a adubação de fósforo e po-tássio foi de 100 kg/ha destes elementos, sendoo fósforo colocado na forma superfosfato simplese o potássio combinado com o nitrogênio na fór-mula 20-00-20 de NPK, com a devida correçãoda quantidade.

A área total do experimento continha 2,25ha, subdividida por meio de cerca eletrificadaem 4 potreiros. Os tratamentos utilizados foram50, 100, 150 e 200 kg/ha de Nitrogênio, distri-

buídos aleatoriamente em potreiros com áreasde 1.0321, 0.5756, 0.3581 e 0.2847 ha respecti-vamente, com uma repetição de campo. O ta-manho das áreas diferenciados é função das ta-xas de crescimento do pasto, que foram estima-das em 25, 50, 75 e 100 kg/ha de matéria secanos respectivos tratamentos e de um nível deoferta de forragem entre 12 e 15% do peso vivo,o que permitirá trabalhar com uma lotação deno mínimo três animais testes por potreiro.

A ordem e a disposição de cada tratamentonas unidades experimentais foi definida por meiode sorteio ao acaso, sendo estas medidas comum GPS e utilizado o programa GPS Track MakerPRO para elaboração da área total e posterior-mente a divisão dos tratamentos, admitindo-secom isto a possibilidade de um pequeno erronestes cálculos.

A adubação das áreas foi feita manualmente,onde os potreiros com nível de 50 e 100 kg/ha deN levaram a aplicação do adubo de uma só vez,no dia 04/dez/03, enquanto que os potreiros de150 kg/ha e 200 kg/ha de nitrogênio tiveram assuas aplicações divididas em duas etapas, a pri-meira aplicação no mesmo dia com 100 kg/ha e asegunda no dia 18/fev/04 com o restante.

A massa de forragem que é utilizada paradefinir a carga animal suportada pela pastagem(MF) foi determinada, a cada 28 dias, por meiodo método da dupla amostragem. Este métodoconsiste na avaliação visual da massa de forra-gem em diferentes pontos dos potreiros e cortede 20% das amostras para determinação de umaequação de regressão (Y= 1,1589x – 323,5 comR2 de 0,7646, onde Y é a MF determinada pelaequação e x é a MF estimada visualmente). Ocorte das amostras do pasto foi realizado medi-ante uma tesoura de tosquia a 10 cm do solo,

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em um quadro com 0,25 m2 de lado, sendo queos locais foram escolhidos aleatoriamente, masde forma representativa. Após os cortes a cam-po, as amostras foram levadas a laboratório, co-locadas em estufa de ar forçado a 60 ºC e pesa-das após atingirem pesos constantes.

As amostragens para relação folha-caule, nabase da massa seca, foram feitas em seistouceiras diferentes, cortando-se, com auxíliode uma tesoura de tosquia, punhados de plan-tas 10cm acima do nível do solo em diferentesestágios das plantas. Estas amostras eramconduzidas a laboratório onde era realizadaseparação entre material morto e material ver-de. Após, as amostras verdes eram separadasem lâminas foliares e caules mais bainhas, ondea relação F/C, de fato representa a relação lâ-mina foliar e caule mais bainha foliar. Após aseparação morfológica, o material era seco emestufa de ar forçado a 60 ºC.

Os animais utilizados foram novilhas purasde origem da raça Red Angus de quatorze adezoito meses de idade. Estas novilhas foramselecionadas do rebanho da propriedade, bus-cando-se uma homogeneidade no lote quantoa condição corporal, peso, pelagem e histórico.

O método de pastejo utilizado foi o conti-nuo, com carga animal variável, conforme a téc-nica “put and take” (MOTT e LUCAS, 1952).Foram utilizados três animais testes ou perma-nentes por pastagem, e um número variável deanimais reguladores, que são colocados ou re-tirados da pastagem, com a finalidade de man-ter-se ajustado o nível de oferta de forragemde 12% do peso vivo (PV), conforme taxa deacúmulo da pastagem estimada. Na entrada dosanimais nos potreiros, foi utilizado um ajustede oferta de forragem de 15% do PV, devido à

existência de um resíduo de forragem excessi-vo, buscando se com isto, uma diminuição noresíduo da forragem.

Os animais foram avaliados mediante pesa-gens com intervalos de 28 dias. Quando se usao manejo da pastagem com regulagem da car-ga animal por oferta de forragem, é necessário,que haja coincidência entre as datas das ava-liações da pastagem e dos animais, para queocorram os ajustes de carga projetados. O ma-nejo sanitário dos animais segue o mesmo pro-tocolo utilizado na propriedade, assim como ouso de sal mineral.

Na análise estatística foi utilizado o F-teste eo teste de Duncan a 5% de probabilidade, paraa variável GMD. Nas demais foi feita uma aná-lise de regressão, usando as doses de nitrogêniocom fator dependente. Neste trabalho foi usadasomente uma repetição de campo, em funçãodo mesmo ter sido conduzido em propriedaderural, onde as condições de manejo dependemdas atividades rotineiras.

RESULTADOS EDISCUSSÃO

Os resultados deste trabalho serão apresen-tados em dois períodos, devido ao pastejo queocorreu em dois momentos. Este fato foi devidoa uma forte estiagem que atingiu a região, con-forme pode ser visto na Figura 1. Observa-se queentre o segundo decêndio de fevereiro e o se-gundo decêndio de abril ocorreram poucas pre-cipitações, pouco mais de 50 mm, sendo que em40 dias, ocorreram somente 10,5 mm de chuva,o que é um volume bem inferior ao que normal-mente ocorre.

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A massa de forragem, que representa o volu-me de matéria seca presente na pastagem instan-taneamente, está representada na Figura 2. Ocomportamento da pastagem foi semelhante nasdoses de nitrogênio, com uma pequena alteraçãono tratamento com 200 kg/ha. Este tratamentoestava com um alto acúmulo de forragem no iní-cio do pastejo, o que permitiu o uso de uma car-ga animal instantânea maior o que afetou a mas-sa de forragem com maior intensidade. No dia 18de fevereiro ocorreu aplicação da segunda dosede nitrogênio, nos tratamentos de 150 e 200 kg/ha de N, no entanto, a partir deste momento hou-ve estiagem e a resposta das pastagens ficou com-prometida, conforme pode ser visto pela massa

de forragem instantânea. O tratamento com 200kg/ha de N apresentou um maior acúmulo, noperíodo após a cobertura, no entanto, este fatoestá ligado ao reajuste da carga animal. Este tra-tamento é mais sensível ao ajuste carga devidoao tamanho da área, mesmo que se mantenha amesma oferta de forragem.

É importante observar que após a estiagem,os tratamentos com doses de N acima de 100kg/ha tiveram uma recuperação melhor, indi-cando maior acúmulo de forragem. O tratamen-to com pouco nitrogênio apresentou uma lentarecuperação. Esta resposta é importante em es-pécies tropicais de alto crescimento, pois per-

Figura 1 - Soma das precipitações diárias, apresentadas por decêndio, do ano de 2003 e de janeiro a abril de2004, da região de Palmares do Sul, RS.6 Fonte: Cooperativa de Palmares do Sul.

00,0

10,0

20,0

30,0

40,0

50,0

60,0

70,0

80,0

90,0

100,0

110,0

120,0

130,0

140,0

150,0

160,0

170,0

Precipitações por decendios - mm

mm

2002 19,0 33,0 14,0 49,0 30,0 00,0 24,0 14,0 44,0 00,0 27,0 51,0 08,0 102, 19,0 145, 25,0 18,0 53,0 00,0 132, 112, 46,0 30,0 45,0 74,0 22,0 81,0 22,0 55,0 16,0 30,0 17,0 90,0 10,0 12,0

2003 25,0 10,0 43,0 107, 52,0 61,0 35,0 54,0 03,0 17,0 00,0 78,0 32,0 17,0 26,0 76,0 105, 00,0 91,0 10,0 60,0 00,0 00,0 58,0 34,0 09,0 18,0 85,0 04,0 60,0 08,0 52,0 13,0 71,0 112, 20,5

2004 00,0 42,0 00,0 55,0 36,0 02,0 03,0 05,5 00,0 18,0 22,0 38,0 159, 17,5 40,5 50,0 00,5 16,5

Jan Fev Mar Abr Mai Jun Jul Ago Set Out Nov Dez

6 Nota: estes dados foram tomados como referência, por serem coletados de um local próximo ao experimento, em tornode 10 km.

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mite melhor ajuste do sistema após períodos deintempéries climáticas e isto é relevante aosprodutores, pois flexibiliza seu manejo com a

carga animal, tendo em vista que o pecuaristapode aumentar a lotação até os limitesprojetados desta oferta.

Figura 2 - Massa de forragem (kg/ha) de capim Tanzânia submetida a doses de nitrogênio e pastejo continuo,com 12 a 15% de oferta de forragem. Fazenda do Capivary, Capivari do Sul, RS. 2004.

3.000

4.000

5.000

6.000

7.000

8.000

9.000

10.000

Datas das amostragens

50 N 5.923,29 7.860,12 5.583,38 5.471,00 6.629,90 7.499,08

100 N 6.692,30 8.382,74 7.104,00 9.295,37 7.209,35 7.904,69

150 N 6.531,57 7.721,94 3.659,25 9.527,15 7.788,80 8.078,53

200 N 8.591,75 4.122,46 5.987,24 8.136,47 4.312,10 5.760,73

08/01/2004 16/02/2004 16/03/2004 22/04/2004 21/05/2004 09/06/2004

Outros aspectos importantes na avaliaçãodesta massa de forragem são a composição damatéria seca total e a estrutura morfológica dasplantas. A composição foi avaliada com a rela-ção material verde / material morto. A estrutu-ra morfológica foi avaliada pela relação entreLâmina foliar, aqui chamada folha (F) e bainhafoliar mais caule, aqui chamada caule (C), ouseja, tratada como relação F/C, assim como adensidade de pastagem estratificada.

Os resultados da composição da matéria secapodem ser visualizados na Figura 3. Deve serchamada a atenção, que estas pastagens esta-vam com crescimento acumulado desde a pri-mavera, e que a adubação nitrogenada ocor-reu no início de dezembro. Verifica-se que ostratamentos com maiores doses de N evidenci-

am maior crescimento, tendo em vista queapresentam maior volume de material verde,ou seja, material mais novo. Não ocorreramdiferenças relevantes entre as doses de N, comexceção do tratamento com 200 kg/ha queapresentou uma maior relação. Este fato estáligado, provavelmente, as condições da pasta-gem definidas por manchas de solo mais are-nosas ou outros aspectos não dependentes dosfatores avaliados neste trabalho.

A partir da entrada dos animais houve maioruniformização da relação material verde e ma-terial morto, fato este explicado pelo ato dopastejo, onde os animais retiram o substrato su-perior da pastagem, permitindo maior entradade luz na base das plantas e com isto, estimulamo afilhamento, maior velocidade de surgimento

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de folhas novas e diminuição da senescência porsombreamento. Outro ponto relevante é o estí-mulo que o nitrogênio apresenta sobre o aumentoda duração de vida das folhas. Este aspecto nãofoi avaliado, diretamente, neste trabalho, noentanto, a maior quantidade de material verdeé devido a folhas, o que pode ser explicado poresta questão fisiológica.

No potreiro com o tratamento de 150 kg/ha

de N, ocorreu a predominância de plantas estru-turalmente maiores em altura e que culminavamcom uma massa de forragem residual superior nafase intermediária e final das avaliações com ani-mais, no entanto, não apresentava uma boa con-dição de forragem, avaliada pela massa de folhase pela composição da matéria seca, pois apresen-tava alta composição de material morto. Estas sãosituações particulares de pastagens, reguladas poroutros fatores que afetam o desenvolvimento.

Figura 3 - Relação material verde / material morto em diferentes datas de amostragem, de capim Tanzâniasubmetidas a doses de nitrogênio, e sobre pastejo contínuo com 12 a 15% de oferta de forragem.Fazenda do Capivary, Capivari do Sul, RS. 2004.

1,751,31

1,692,22

2,57 2,50

4,11

2,20 2,13

9,54

3,13

2,23

0,00

1,00

2,00

3,00

4,00

5,00

6,00

7,00

8,00

9,00

10,00

08-jan-04 10-mar-04 14-mai-04

Data de avaliações

Rel

ação

M.V

erde

/M.M

orto

50N 100N 150N 200N

Na Figura 4, estão apresentados os dados darelação F/C da pastagem. Nota-se a grande ca-pacidade de rebrote desta forrageira, após asprecipitações de abril. Os tratamentos de 150 e200 kg N/ha, tiveram as melhores relação F/Capós o período de estiagem, verificadas na datade 14 de maio. Estes dados reforçam a idéia damaior capacidade que estas pastagens apresen-tam de crescimento quando não ocorre limita-

ção de água e de nutrientes. Este fato deve serdestacado, tendo em vista que permite maiorflexibilização de manejo ao produtor.

Após a entrada dos animais verifica-se queocorreu uma redução na relação F/C. Esta res-posta é esperada, uma vez que os ruminantesselecionam dietas de boa qualidade, o que setraduz por apreensão de uma proporção maior

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de folhas na ingesta. No manejo de pastagenseste aspecto é altamente relevante tendo emvista que as folhas são mais qualitativas, por istomelhor consumidas, entretanto estas mesmasfolhas são fundamentais para o crescimento daplanta, pois são responsáveis pela fotossíntese.Além de que as folhas mais novas são mais efici-entes na absorção de luz e CO2, também apre-sentam maior valor nutritivo, sendo maisapetecidas pelos animais. No manejo deve ha-ver contemplação a este dois aspectos, e isto éconsiderado quando se faz ajustes de carga ani-mal em função de oferta de forragem.

Para finalizar, é importante mencionar que ocor-rem interações na interface planta – animal, quenão é possível interpretá-las analisando somenteas variáveis respostas da planta ou somente do com-ponente animal. A análise exige uma visãosistêmica do ecossistema pastoril, a qual se procu-rará abordar nas demais variáveis em conjunto.

O pastejo foi conduzido em dois momentosdistintos devido à estiagem ocorrida entre o finalde verão e início do outono. A saída dos animaisfoi função de que estas pastagens não tinhamsuporte para três animais testes, o que poderiagerar problemas de alta variabilidade nas médiasdos tratamentos. O desempenho dos animais, acarga animal e a produtividade das pastagens emtermos de ganho por área, nos dois períodos depastejo são apresentados nas Figuras 5 e 6. Ob-serva-se que o desempenho das novilhas oscilouentre 620 e 950 g/dia, evidenciando o bom de-sempenho produtivo deste Cultivar forrageiro,inclusive com valores superiores aos encontradosem algumas referências sobre a mesma. Neste tra-balho o desempenho dos animais é fator privile-giado, uma vez que no manejo do ajuste da cargaanimal, sempre se buscou ofertar uma quantida-de de forragem aos animais que não limitassemseu consumo individual.

Figura 4 - Relação lamina foliar (folha) / bainha + caule (caule) em diferentes datas de amostragem, de capimTanzânia submetidas a doses de nitrogênio, e sobre pastejo contínuo com 12 a 15% de oferta deforragem. Fazenda do Capivary, Capivari do Sul, RS. 2004.

2,21

0,81

1,74

2,49

0,74

1,48

2,53

0,40

2,592,88

0,34

3,24

0,00

0,50

1,00

1,50

2,00

2,50

3,00

3,50

08-jan-04 10-mar-04 14-mai-04Datas de avaliação

Rel

ação

F/C

50N 100N 150N 200N

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156 Revista de Iniciação Científica da ULBRA - n.3 - 2004

A análise estatística não revelou diferençasignificativa entre as doses de nitrogênio. En-tretanto, no primeiro período de pastejo o testede Duncan para médias evidenciou que o GMDda dose de 50 kg/ha de N foi superior a dose100, não apresentando diferença em relação aosdemais a 5% de probabilidade.

Na figura 5 se verifica um GMD em torno de900 g/animal/dia. A possível razão para este maiorganho é devido a uma interação do manejo dosanimais, o tamanho das pastagens e as cargasanimais, tendo pouca influência das doses denitrogênio. Neste momento o aspecto mais im-portante é o tamanho dos potreiros, pois na dosede 50 era o maior potreiro, então, existe umamaior quantidade de plantas por área, mesmoque tenham menor crescimento, então, a possi-bilidade dos animais selecionarem folhas é mai-

or. A adubação nitrogenada em pastagens temevidenciado respostas mais eficientes na cargaanimal e conseqüentemente na produtividadeanimal por área do que resposta ao desempenoindividual dos animais.

Quanto as cargas animais, verifica-se queocorrem diferenças expressivas entre as doses,expressas por equações de regressões indicadasnas Figuras 5 e 6. As cargas animais na dose de200 kg/ha de N chegaram a mais de 2800 kg/ha.Chama-se a atenção para a diferença nas car-gas animais utilizadas no segundo período depastejo, evidenciando que os tratamentos commenores doses de nitrogênio, apresentaram me-nor intensidade de crescimento das pastagens,ou seja, os tratamentos com maiores doses de Napresentaram uma intensidade de recuperaçãomuito maior após o período de pastejo.

Figura 5 - Relação entre doses de nitrogênio com o ganho médio diário (GMD), a carga animal (CA) e o Ganho porárea (GA), em pastagem de capim Tanzânia submetida a pastejo continuo com oferta de 12 a 15% de ofertade forragem, no período de 14 de janeiro e 16 de março. Fazenda do Capivary, Capivari do Sul, RS. 2004.

y = 0,0612x2 - 0,341x + 1,1888R2 = 0,7038

y = 482,85x + 920,25R2 = 0,9951 y = 102,96x + 213,44

R2 = 0,9685

-

500

1.000

1.500

2.000

2.500

3.000

3.500

50 N 100 N 150 N 200 N

Doses de nitrogênio - kg/ha

CA

eG

A-k

g/ha

0,000

0,100

0,200

0,300

0,400

0,500

0,600

0,700

0,800

0,900

1,000

GM

D-k

g/an

/dia

CA GA GMD

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157Revista de Iniciação Científica da ULBRA - n.3 - 2004

Estas respostas das pastagens se refletem di-retamente na produtividade animal por área,onde se verifica que os ganhos chegaram a maisde uma tonelada de peso vivo por hectare em93 dias de pastejo na dose de nitrogênio de 200kg/ha, enquanto que na dose de 50 kg/ha a pro-

dutividade foi de 430 kg/ha, evidenciando umaresposta altamente significativa destas pastagens.Em pequenas áreas os produtores podem traba-lhar com altas cargas animais ou altas lotações(Tabela 1) desde que o solo seja adequadamen-te manejado.

Figura 6 - Relação entre doses de nitrogênio com o ganho médio diário (GMD), a carga animal (CA) e o Ganhopor área (GA), em pastagem de capim Tanzânia submetida a pastejo continuo com 12 a 15% de ofertade forragem, no período de 23 de abril a 3 de junho. Fazenda do Capivary, Capivari do Sul, RS. 2004.

y = 0,122x 2 - 0,5902x + 1,3354R2 = 0,9446

y = 699,82x - 74,925R2 = 0,9888

y = 87,603x - 25,169R2 = 0,8893

-

500

1.000

1.500

2.000

2.500

3.000

50 N 100 N 150 N 200 N

Doses de nitrogênio - kg/ha

CA

eG

A-k

g/ha

0,000

0,100

0,2000,300

0,400

0,500

0,600

0,7000,800

0,900

1,000

GM

D-k

g/an

/dia

CA GA GMD

Tabela 1 - Lotação animal por período de pastejo e produtividade animal total em pastagem de capim Tanzânia,submetida à adubação nitrogenada e pastejo continuo com 12 a 15% de oferta de forragem. Fazendado Capivary, Capivari do Sul, RS. 2004.

Doses Lotação animal Ganho Animal

an/ha /dia Total

kg/ha 14/jan – 16/mar 23/abr – 03/jun kg/ha

50 N 5,9 2,60 429,83

100 N 9,2 4,66 522,66

150 N 10,5 7,49 700,46

200 N 13,3 9,42 1.005,76

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CONCLUSÕES

A cultivar Tanzânia apresenta boa resposta àaplicação de nitrogênio, na região Litorânea doEstado, não atingindo potencial de produção comas doses aplicadas, conforme visto no ganho porárea, o qual ainda permanece ascendente. Quan-do ocorre aumento de doses de nitrogênio nostratamentos, possibilita o uso de maior carga ani-mal. O ganho médio diário não tem grandes os-cilações em função do nitrogênio, o que permiteafirmar que o ganho por área é aumentado emfunção do aumento da carga animal.

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Avaliação de enzimas extracelulares emisolados de Trichoderma sp.

JULIANA DALMAGRO PANDOLFO1

AIDA TERESINHA SANTOS MATSUMURA2

PAULO TADEU CAMPOS LOPES3

ANA MARIA PUJOL VIEIRA DOS SANTOS4

RESUMO

O antagonista Trichoderma sp. tem sido cada vez mais utilizado na agricultura, conseqüentementesendo submetido a uma grande diversidade de substratos. Para que esse agente de biocontrole seja eficienteé necessário que consiga degradar o substrato no qual está crescendo. Assim, é importante a avaliação dopotencial de degradação de substratos por diferentes isolados deste biocontrolador. O objetivo do presentetrabalho foi avaliar, em isolados obtidos de lavoura de fumo, a atividade enzimática extracelular de amilase,lipase e protease. Foram utilizados 5 isolados de Trichoderma sp. repicados a partir de culturas axênicasem meios de cultura específicos para cada atividade enzimática avaliada. A incubação foi em temperaturade 22 ± 2ºC e fotoperíodo de 12 hs. O delineamento experimental foi totalmente casualizado com 4repetições. Para as avaliações foi medido o diâmetro da colônia e dividiu-se este pelo diâmetro do halo no2º, 3º e 9º dias após a incubação, para atividade amilolítica, proteolítica e lipolítica, respectivamente. Osresultados mostraram que, quanto à atividade lipolítica, não houve diferença significativa, entre os isoladostestados (Tukey 5%). No caso das atividades amilolítica e proteolítica, não houve formação de halo.

Palavras-chave: amilase, protease, lipase.

1 Acadêmica do Curso de Biologia/ULBRA – Bolsista PROICT/ULBRA

2 Professora Colaboradora do PPG – Fitotecnia/UFRGS

3 Professor do Curso de Educação Física/ULBRA4 Professora – Orientadora do Curso de Educação Física/ULBRA ([email protected])

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ABSTRACT

The antagonist Trichoderma sp. has been used more in agriculture, consequently being submitted to agreat substratum diversity. To be an efficient biocontrol agent it is necessary to degradate the substratum inwhich is growing. Thus, the evaluation of the potential of different substratum degradation is important tocharacterize this antagonist. This work aimed to investigate the extracellular enzymatic activity of amylase,lipase and protease, in specific solid substrates. Five isolates of Trichoderma sp were selected from tabaccoculture. The incubation was at 22 ± 2ºC and 12 hours of fotoperiod. The bioassay was done inquadruplicate. Enzyme activity was expressed as the halo-diameter/colony-diameter ratio after two, threeand nine days after incubation, for amilolytic, proteolytic and lipolytic activity, respectively. The resultsshowed lipolytic activity, but did not vary between the isolates (Tukey 5%). In the case of the amilolytic andproteolytic activities, the halo was not formed.

Key words: amylase, protease, lipase.

cíficos para detecção da atividade enzimáticapermite a caracterização de populações de fun-gos e da variabilidade genética, de forma sim-ples e relativamente rápida, podendo sercomplementado e comparado com outros méto-dos de importância de estudo taxonômico, paramaior segurança e exatidão intra einterespecífica de fungos (COUTO et al, 2002).

O antagonista Trichoderma sp. tem sido cadavez mais utilizado na agricultura, conseqüente-mente sendo submetido a uma grande diversi-dade de substratos. Entre as vantagens para ouso de Trichoderma, como possível indutor, ca-racteriza-se este microrganismo como ummicoparasita de fitopatógenos, produzindoenzimas, tais como celulase e hemicelulase, ca-pazes de degradar materiais lignolíticos e lisarparedes de células de fungos fitopatogênicos(MELO, 1996), e glucanases e quitinases(LORITO et al., 1998).

Para que esse agente de biocontrole seja efi-ciente, é necessário que consiga degradar osubstrato no qual está crescendo. Assim, é im-

INTRODUÇÃO

As enzimas são catalisadores orgânicos queparticipam das reações químicas nos processosvitais, por isso são capazes de atuar, especifica-mente, em todos os processos e reações biológi-cas que envolvem proteínas, carboidratos,lipídeos e ácidos nucléicos, como também emmoléculas menores, como os aminoácidos, açú-cares e vitaminas. As enzimas microbianas apre-sentam um custo de produção relativamentebaixo, quando comparado às enzimas de origemanimal ou vegetal (LOWE, 1992; TUCKER &WOODS, 1995).

A habilidade de um fungo em produzirenzimas varia entre espécies, como também en-tre isolados de uma mesma espécie, e dependegrandemente de seu potencial genético, podendoser induzida pelo seu ambiente de cultivo. Por-tanto, a capacidade de produzir ou não deter-minada enzima, em condições padronizadas, ser-ve como base para diferenciar ou agrupar os iso-lados de uma espécie fúngica em níveissubespecíficos. Em adição, o uso de meios espe-

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portante a avaliação do potencial de degrada-ção de substratos por diferentes isolados destebiocontrolador. Portanto, o objetivo do presentetrabalho foi avaliar, em isolados obtidos da la-voura de fumo, a atividade enzimáticaextracelular de amilase, lipase e protease.

MATERIAL E MÉTODOS

Obtenção dos isolados deTrichoderma sp.

A obtenção dos isolados de Trichoderma sp.foi realizada a partir de solos da cultura do fumo.O material foi processado em laboratório atra-vés da seguinte metodologia: a partir da amos-tra de solo devidamente identificada, fora reti-radas 10 g, e esta quantidade diluída em 90 mlde água destilada estéril. Retirou-se 1 ml destasuspensão e diluiu-se novamente em 9 ml deágua destilada estéril, contida em tubo de en-saio, obtendo-se assim uma solução 102. Destasuspensão foi transferido 0,2 ml para placas dePetry contendo meio de cultura Batata –Dextrose –Agar (BDA) e espalhados com auxi-lio da Alça de Drigalsky. As placas foram incu-badas por 4 dias a uma temperatura de 25 ±2ºC e fotoperíodo de 12 hs. Foram selecionadossomente os isolados de Trichoderma sp. após aidentificação através da observação morfológica,coloração da colônia, análise microscópica everificação por comparação com chavestaxonômicas de fungos. Posteriormente, os iso-lados de Trichoderma foram repicados em placasde Petry contendo BDA, obtendo-se então cul-turas axênicas dos isolados.

Análise da atividade enzimática

Para a analise da atividade enzimáticaextracelular, foram utilizados 5 isolados deTrichoderma sp. (T1, T2, T3, T4 e TJ). Estes fo-ram repicados, a partir de culturas axênicas, emmeios de cultura específicos para as atividadesamilolítica, lipolítica e proteolítica (HANKIN &ANAGNOSTAKIS, 1975). Para todos ossubstratos, discos de micélios de 6 mm de diâme-tro, retirados de colônias jovens dos isolados doantagonista, foram individualmente transferidospara o centro da placa de Petri, contendo o meioespecífico. A incubação foi feita com temperatu-ra de 22 ± 2ºC e fotoperíodo de 12 hs. As avali-ações foram realizadas medindo-se o diâmetro dohalo formado em torno da colônia, dividindo-seeste pelo diâmetro da colônia.

As placas contendo meio específico para aná-lise da atividade amilolítica foram mantidas emBOD por dois dias. Para ocorrer a formação dohalo amarelo foram adicionados 10 ml de solu-ção alcoólica de iodo em cada placa.

As placas contendo meio para analise da ati-vidade proteolítica foram mantidas em BODdurante 3 dias. Para a formação do halo trans-parente foram acrescentados 10 ml de soluçãosaturada de sulfato de amônia em cada placa.

As placas contendo meio de cultura paraanálise da atividade lipolítica foram mantidasem BOD por dois dias e logo após permanece-ram em geladeira por 7 dias, para que ocorressea formação do halo de cristais.

O delineamento experimental foi totalmen-te casualizado, com 5 repetições. Os dados fo-ram analisados pela ANOVA e as médias com-paradas utilizando o teste de Tukey (p < 0,05).

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162 Revista de Iniciação Científica da ULBRA - n.3 - 2004

Meios de cultura utilizados paraatividade enzimática

Atividade amilolítica

Meio amilase pH 6,0

Nutriente agar ......................................23 g

Amido solúvel ......................................2,0 g

Completar com água destilada para 1000 ml

- Solução alcoólica de iodo 1%

Iodo ressublimado ................................1,0 g

Álcool absoluto .................................100 ml

Atividade lipolítica

Meio lipase

Peptona ..................................................10 g

Cloreto de sódio ...................................5,0 g

Cloreto de cálcio ..................................0,1 g

Agar ....................................................... 20 g

Tween 20 ............................................ 10 ml

* adicionado no momento do uso

Completar com água destilada para 1000 ml

Atividade proteolítica

Meio mínimo pH 6,0

Nitrato de sódio ...................................6,0 g

Fosfato de potássio dibásico .................1,5 g

Cloreto de potássio ...............................0,5 g

Sulfato de magnésio ...........................0,01 g

Sulfato de ferro .................................. 0,01 g

Sulfato de zinco.................................. 0,01 g

Agar ....................................................... 15 g

Completar com água destilada para 1000ml

Gelatina 4% no momento do uso.

- Solução saturada de sulfato de amônia

Sulfato de amônia ................................. 50 g

Água destilada ..................................100 ml

RESULTADOS EDISCUSSÃO

Não foi encontrada atividade para as enzimasamilolíticas e proteolíticas nos diferentes isoladostestados, pois o halo não ultrapassou o limite dacolônia, apresentando o índice 1. BARBOSA etal. (2001) também não encontraram atividade paraa protease para diferentes espécies de Trichoderma,mas encontraram para amilase. O mesmo trabalhoinvestigou isolados de Cladosporium herbarium,ocorrendo apenas a produção da protease. Para iso-lados de Trichoderma, provenientes do mangue, foiobservada a produção de amilase nas primeiras 24horas em apenas 3 amostras de 5 e em 48 hs as 5amostras apresentaram a formação do halo carac-terístico (BATISTA et al., 2003).

As diferenças encontradas na detecção daenzima amilase poderiam ser devido à forma deinoculação nos meios. Nos isolados deste expe-rimento, nas 24 hs após a inoculação não havia

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crescimento da colônia e em 48 hs a mesma pra-ticamente já tomava conta de toda a placa, oque dificultou a avaliação. Já BATISTA et al.(2003) adicionaram uma suspensão de esporosno meio de cultura, o que pode ter favorecido ocrescimento nas primeiras 24hs, quando com-parado com os discos de micélio.

Para isolados de Aspergillus, provenientes domangue, diferentes resultados foram obtidosconforme o mês de coleta das amostras. Isoladosdo mês de janeiro não apresentaram atividadepara enzima amilase nas primeiras 24hs. Em 48hs,apenas 4 de 16 amostras apresentaram a forma-ção do halo. Nos isolados de fevereiro, apenas 5amostras de 27 apresentaram atividade nas pri-meiras 24hs (BATISTA et al., 2003).

Para atividade lipolítica, os 5 isolados deTrichoderma sp. apresentaram a formação do halode cristais, porém, não foi encontrada diferençasignificativa entre eles (TUKEY 5%). Para a for-mação do halo foi necessária a permanência dasplacas na geladeira durante sete dias e com o au-mento deste período o diâmetro do halo tambémaumentou. Segundo ASSIS et al. (2001) e LIMAet al. (2002) o período de incubação é tambémconsiderado de importância na atividadeenzimática, proporcionando aumento significati-vo no diâmetro do halo formado após 10 dias deobservação. SOSA-GÓMEZ et al. (1994), avali-ando isolados do fungo entomopatogênicoBeauveria, encontraram atividade lipolítica emapenas um isolado.

PERSPECTIVAS FUTURAS

Embora os meios avaliados não evidenciaramatividade para as enzimas amilolíticas e

proteolíticas, novos meios poderão ser testados paraverificação das atividades extracelulares, como porexemplo, substituindo amido solúvel por farinhade milho e gelatina por leite para testar a ativida-de amilolítica e proteolítica, respectivamente.

REFERÊNCIASBIBLIOGRÁFICAS

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Ciências Sociais Aplicadas

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As teorias da finalidade da pena e o respeitoàs garantias fundamentais

VINICUS BORGES DE MORAES1

ANDRÉ LUIS CALLEGARI2

RESUMO

Esta pesquisa apresenta um estudo acerca das teorias da finalidade das penas e sua relação com osdireitos fundamentais. Foram analisadas as teorias mais relevantes e discutidas até hoje, na espectativa deverificar se suas aplicações afrontam os direitos básicos do ser humano.

Palavras-chave: Direito Penal, Teorias da Finalidade das Penas.

ABSTRACT

This research presents a study about the theories of the punishment goals and its relation with funda-mental rights. There were analysed the most relevant and discussed theorys till now, willing to verify if itsapplications affront basic rights of human being.

Key words: Criminal Law, Theories of Punishment.

1 Acadêmico do Curso de Direito/ULBRA – Bolsista PROICT/ULBRA

2 Professor do Curso de Direito e do PPG em Direito/ULBRA([email protected])

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INTRODUÇÃO

Ainda que nossa atual conformidade socialseja mais justa que o antigo estado de desorga-nização, a intrínseca necessidade de uma liber-dade individual continua presente e regendo asatitudes humanas, fazendo com que a idéia debem comum não seja argumento suficiente paramanter os homens socialmente organizados(BECCARIA, 1983).

Assim, objetivando a minoração dos confli-tos para garantir a preservação das sociedades,as sanções penais passaram a assumir papel es-sencial à sobrevivência das organizações huma-nas, fator que tem legitimado, inclusive, o afas-tamento das mínimas garantias individuais da-queles que as compõem.

Numa análise conjuntural dos fatos, o quese percebe é uma tendência de convergênciaentre os castigos infligidos pelo Estado e osanseios comunitários que, por sua vez, via deregra, representam a vontade política das clas-ses mais favorecidas (PESTANA, 2003).

Diante dessa problemática, o presente es-tudo trouxe como proposta verificar a finalida-de e a função da pena dentro da sociedade bra-sileira e qual o objeto de sua proteção, tendocomo norte o respeito às garantias fundamen-tais do cidadão.

MATERIAL E MÉTODOS

O trabalho analisou cada uma das teorias queprocuram explicar a finalidade das penas. Bus-cou-se demonstrar qual a verdadeira missão doDireito Penal; proteger os bens jurídicos ou a

vigência das normas? Foram estudados os con-flitos entre a aplicação da pena e o respeito àsgarantias fundamentais do cidadão brasileiro.Para tanto, utilizou-se uma metodologia eminen-temente bibliográfica, com base em doutrinasnacionais e internacionais, revistas jurídicas,legislação e jurisprudência.

DISCUSSÃO DASTEORIAS

Teorias Absolutistas

As Teorias Absolutistas possuem suas raízesno antigo Estado Absolutista donde,logicamente, adveio seu nome (BITENCOURT,1993, p.100). A estreita relação desta teoria como pensamento filosófico desse regime, em que ossúditos deviam ao rei obediência como a Deus,irá caracterizar a imposição de uma pena poruma exigência ética ou jurídica (Cf. KANT eHEGEL). É um pensamento próprio da IdadeMedieval, que apresentará uma justificação nãosocial à pena, mas sim uma espécie de retribui-ção do mal causado pelo infrator.

Pune-se o agente criminoso unicamente pelofato deste ter delinqüido, não sendo importanteos reflexos sociais advindos da punição imposta.

Teorias Absolutista daRetribuição

A imposição penal retributiva deve ser enten-dida como a compensação do mal causado peloinfrator, uma vez que restam ausentes quaisquermotivações acerca das utilidades sociais da pena-

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lidade. Por tratar-se de uma prática que dispensaum proveito social, esta teoria aproxima-se muitode uma verdadeira vingança pública, que nadamais é que a exteriorização do poder do Estado.

Precioso exemplo pode ser encontrado naschamadas Penas de Talião, em que o fundamentocausal da retribuição era tido como o própriocritério limitador da imposição penal, v.g., mor-te por morte, lesão por lesão (MESQUITA BA-TISTA, 2004). Nesse modelo, constata-se queo agente ativo do crime praticado deveria arcarcom um sofrimento que correspondesse à inten-sidade do mal dirigido e suportado pela vítima.O sistema de retribuição está fundamentado nostermos “equivalência e proporcionalidade”, osquais marcam presença constante na aplicaçãoda sanção penal (BOSCHI, 2003).

Teorias Absolutista da Expiação

Esta Teoria traduz a idéia de que, assim comona religião, o delinqüente (pecador) deve so-frer uma sanção penal (penitência), a fim deobter o perdão do Estado (divindade) “irado”pelo delito contra ele cometido. Trata-se da re-abilitação (redenção) por intermédio do arre-pendimento do infrator, arrependimento este quesomente seria possível com a imposição de ummerecido castigo (BITENCOURT, 1993, p. 111).

Para os teóricos deste grupo, a pena deve sera imposição de um mal proporcional ao delitocometido.

Críticas às Teorias Absolutistas

Entendemos que as principais críticasdirecionadas ao modelo do Estado Absolutista

podem ser estendidas à esfera jurídico-penaldeste mesmo regime. Constata-se um exagera-do despotismo monárquico, com base num di-reito divino marcado pela intolerância e exclu-são dos indivíduos, fato que compromete a fun-damental tarefa de intervenção da norma naadministração e perseguição da justiça, bemcomo a garantia ao desenvolvimento social.

Nesse sentido, o tão apregoado efeitoretributivo da sanção penal aproxima-se sim deum conceito pobre de vingança. Desprovida decritérios científicos ou de qualquer resultadoprático, não há qualquer efeito produtivo nasanção penal (BITENCOURT, 1993, p. 114). Poroutro lado, a sustentação de que a pena impos-ta funcionaria como instrumento de redençãodivina é insustentável. Enfim, na medida em queessas teorias não conseguem identificar alegitimação externa da sanção penal, não expli-cam o “porque castigar?”, mas apenas o “quandocastigar?” (FERRAJOLI, 2000, p. 256).

Teorias Utilitaristas

Essas Teorias possibilitaram uma transposiçãodas barreiras do pensamento Religioso e podemser facilmente identificadas por apresentaremuma justificação socialmente útil às penas.

Farrioli destaca que, quatro são as justifica-ções argüidas pelas correntes que compõem asteorias justificacionistas (2000, p. 262): 1 - Teori-as da Prevenção Geral Positiva (reafirmação dodireito violado), 2 - Teorias da Prevenção GeralNegativa (intimidação social), 3 - Teorias da Pre-venção Especial Positiva (ressocialização do cri-minoso) e 4 - Teorias da Prevenção Especial Ne-gativa (inocuização do criminoso).

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Teoria Utilitarista da PrevençãoGeral

Com a transição do antigo regime absolutis-ta para um Estado Capitalista, ocorre uma novaadequação do sistema criminal, a fim de prosse-guir o rápido desenvolvimento social. Nessemomento, desvincula-se da pena a utopiametafísica inaugurada e defendida pelas esco-las absolutistas (BITENCOURT, 1993, p. 117).Antônio Carlos Santoro Filho lembra que essenovo Estado Liberal precisa de um sistema pe-nal não meramente repressivo, mas sim utilitá-rio e preventivo (2000, p. 50).

Assim, as Doutrinas Utilitaristas da Preven-ção Geral passaram a utilizar a coação psicoló-gica com a finalidade de trazer conformidadeao grupo social. Nas palavras de Beccaria, bus-ca-se conservar o vínculo necessário para man-ter unidos os interesses particulares, que, “docontrário, se dissolveriam no antigo estado deinsociabilidade” (1983, p. 43).

Teoria Utilitarista da PrevençãoGeral Positiva

A modalidade Positiva da Teoria da Preven-ção Geral concebe uma sanção penal voltada àratificação da vigência da norma penal. Ou seja,a imputação da pena seria utilizada a fim de re-forçar a convicção coletiva em torno da vigên-cia da norma, afirmando a confiança institucionalno sistema jurídico (KREBS, 2002, p. 112).

Jakobs traz à lume os mesmos ensinamentosdesta doutrina, sustentando, porém, que, naperspectiva prevencionista, três serão os assun-tos a serem analisados. Salienta que, num pri-meiro momento, a sanção penal serviria para

confirmar a vigência nas normas penais, mesmociente das eventuais infrações (PEÑARANDA,et al., 2003, p. 08). O segundo aspecto elencadopelo jurista é o fato de a pena ser orientada aoexercício na finalidade para o Direito. Por fim,aduz que a pena é a conseqüência jurídica acei-ta pelo infrator no momento da conduta delitiva.

Teoria Utilitarista da PrevençãoGeral Negativa

A prevenção geral negativa parte do princípioda necessidade de uma resposta estatal que atueespecificamente como uma mensagem intimidatóriadirigida à coletividade, desencorajando os delin-qüentes insertos na sociedade e que, por um moti-vo ou outro, ainda não delinqüiram. Trata-se deuma proposta elaborada pelo doutrinador LudwigFeuerbach (1804-1872) no século XVIII e tinhacomo objetivo a coação psicológica dos indivíduos,fazendo com que os criminosos, sopesando os bene-fícios e malefícios (no caso a pena) advindos da con-duta delitiva, ficassem desmotivados para atuar con-tra o ordenamento jurídico (SILVA JÚNIOR, 2004).

Aqui se tem na pena uma finalidadeintimidatória e direcionada à sociedade em ge-ral. Pretende fazer com que os infratores empotencial concluam, antes mesmo de delinqüir,que o efêmero prazer obtido com a prática cri-minosa não compensará a pena a ser imposta(FILHO, 2000, p. 50).

Crítica às Teorias da PrevençãoGeral

A primeira das críticas, talvez a mais antiga, re-mete à Immanuel Kant. Em suas fundamentações,o renomado filósofo manifestava um posicionamento

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contrário ao que dizia ser uma instrumentalizaçãodo homem. Não admitia, assim como posteriormen-te faria o doutrinado alemão Claus Roxin, a utiliza-ção do sofrimento de um indivíduo, mesmo que deleresultasse o benefício de toda uma comunidade(BITENCOURT, 1993, p. 118).

Outro grande problema observado resume-se na seguinte indagação: qual o rigor da penapara a efetiva intimidação? Essas teorias nãoapresentam um critério sólido para a determi-nação da intensidade da pena a ser imputada,chegam, inclusive, a superar a medida da cul-pabilidade do autor do delito (BITENCOURT,1993, p. 119).

Teorias Utilitaristas daPrevenção Especial

Em face da sucumbência das doutrinas quese valiam de conceitos retributivos, a partir daterceira parte do século XIX, formam-se as cor-rentes reformadoras positivistas. Tais doutrinasconcentraram seus estudos na intenção de re-mover da sociedade as causas diretas do crimee da criminalidade (FILHO, 2000, p. 450), ouseja, o próprio delinqüente.

Com o crescimento demográfico, a migraçãodo campo, o estabelecimento de uma produçãocapitalista, desenvolvimento industrial, volta-seo pensamento jurídico-penal para a necessida-de de preservação e defesa desta nova socieda-de. “Trata-se da passagem de um Estado guardiãoa um Estado intervencionista, [...], pelas novasmargens de liberdade, igualdade e disciplinaestabelecidas” (BITENCOURT, 1993, p. 123).

Assim, podemos afirmar que as teorias daprevenção especial direcionam seus argumen-

tos à pessoa do delinqüente no objetivo de evi-tar a prática do crime, ora justificando a neces-sidade de sua reclusão, ora objetivando aressocialização do indivíduo. Conceituando ateoria em foco, Günter Jakobs define que“Cuando se considera misión de la pena desalentaral autor con respecto a la comisión de hechos futu-ros, se habla de prevención especial” (1997, p. 29).

Teoria Utilitarista da PrevençãoEspecial Positiva

A Teoria da Prevenção Especial Positiva écaracterizada pela proposta de ressocialização doindivíduo. Persegue-se, mediante aplicação dapena, apenas um tratamento proporcional àpericulosidade do infrator (BITENCOURT,1993, p. 124/125), medida jurídica queintencionaria corrigir um comportamento des-virtuado, a fim de se obter uma ressocialização.

Essa idéia de ressocialização possui suas raízesna concepção platônica da “poena medicinalis”,ou seja, um tratamento adequado segundo o qualos homens poderiam ser não apenas castigados,mas também “curados” e constrangidos a prati-carem o bem (FERRAJOLI, 2000, p. 264). Jakobsdiz que a pretensão da teoria da prevenção espe-cial positiva é realizar uma influência física, demodo que o próprio delinqüente, por sua própriavontade, deixe de cometer novos delitos (1997,p. 29). Jakobs também afirma que a pena não deveinvadir a esfera individual do criminoso. Toda-via, admite que o direito pode fornecer os meiosadequados para sua recuperação.

El Estado no está legitimado paraoptimizar la disposición moral de losciudadanos, sino que se ha de conformarcon la obediencia externa del Derecho

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(relegalización). Sobre todo no es metade la prevención especial el crear unmiembro útil de la sociedad, sino facilitaral autor el comportarse a la ley. Laprevención especial deberá limitarse pri-mordialmente a la <<liberación frente acondicionantes externos e internos>>, esdecir, a liberar de las taras especiales dela persona, lo que rara vez podrá realizarsesin la colaboración del autor. Con laeliminación de las taras se modificantambién las actitudes frente a normasinformales que constituyen la estructurade una persona; pero ello sólo con mediosque también sean legítimos frente acualquier otro ciudadano que no hayaincurrido en conducta punible(JAKOBS,1997, p. 33/34).

Assim, a teoria da prevenção especial positi-va atribui à pena a finalidade de ressocializar,reeducar o agente criminoso. Há uma tentativade se estabelecer uma proporcionalidade entrea pena, a correção do delinqüente e o delito.

Teoria Utilitarista da PrevençãoEspecial Negativa

Essa teoria consiste na admissão de que a san-ção penal tem por finalidade atuar de formainocuizadora sobre o agente do delito. Para atingiro objetivo que apregoa, essa escola sustenta ser ne-cessária a extirpação do convívio social do indiví-duo criminoso insensível a um processo deressocialização. É uma forma imediata de neutrali-zar a possibilidade de novos delitos por este agente.

Nessa concepção, o criminoso é visto comouma verdadeira ameaça à ordem social, é o ini-migo da sociedade. Juan Bustos Ramírez aduz

que, para essa teoria, a retribuição não é ade-quada. A premissa de que o ato criminoso foipraticado por “un ser libre e igual por naturaleza”é falsa, pois o delinqüente é visto como um seranormal e socialmente perigoso. (1986, p. 28).

Críticas às Teorias Utilitaristasda Prevenção Especial

A primeira das críticas comumente levanta-das pela doutrina é a polêmica“instrumentalização do homem” pelo direito pe-nal. Ramirez sustenta que “Común a la prevencióngeneral y especial es la objeción ya analizada, estoes, que implica una instrumentalización del hombrepara los fines del Estado, con lo cual se le cosifica yse pierde el respeto por su dignidad, que es uno delos pilares del Estado de derecho.” (1986, p. 28)

Na seqüência de suas fundamentações,Ramírez aduz que seria inviável a aplicação doscritérios concebidos pelas teorias da prevençãoespecial, já que existem delinqüentes que nãocarecem de tratamento para sua ressocialização,pois já se encontram plenamente inseridos nasociedade (ex. crimes econômicos), enquantooutros não são passíveis de tratamento (delin-qüentes incorrigíveis) (1986, p. 29).

Ademais, é contraditório sustentar que seriapossível a ressocialização do indivíduo crimino-so, afastando-o do convívio social (RAMIREZ,1986, p. 29). Por outro lado, o Estado sequer te-ria legitimidade para violar a liberdade indivi-dual de cada cidadão. E mesmo que tivesse tallegitimidade, é altamente questionável umaressocialização no plano moral. Se levada a efeito,tal artifício acarretaria numa absurda e perigo-sa manipulação da consciência individual(BITENCOURT, 1993, p. 128/129).

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Teoria Mista (Brasil)

Esta doutrina teve por intenção buscar umequilíbrio entre as demais teorias, agregandotodos os aspectos positivos e descartando os ne-gativos. Obviamente, o que se obteve foi umapluralidade de funções da pena, inexistindoentre estas uma finalidade preponderante. É umaproposta caracterizada por sustentar que a fina-lidade da pena pode ser diferente em cada umdos momentos da aplicação da lei penal. En-quanto previsão geral e abstrata, a pena serviriacomo prevenção; quando da sua aplicação, bus-caria a retribuição e ratificação da vigência danorma. Na execução, o objetivo principal seriaa ressocialização do infrator. Para Roxin, as teo-rias mistas ou unificadoras consideram a retri-buição e as prevenções geral e especial comofins simultaneamente perseguidos (1997, p. 93).

Pela análise dos dispositivos legais presentes emnosso ordenamento jurídico, foi esta a teoria elei-ta pelo legislador brasileiro. Esse fato pode ser fa-cilmente constatado mediante leitura de algunsdispositivos legais. Entre eles, destacam-se os arti-gos 59, do Código Penal, e 1º, da Lei n.º 7.210/84:

Art. 59 (CP). O juiz, atendendo à culpabili-dade, aos antecedentes, à conduta social, àpersonalidade do agente, aos motivos, às cir-cunstâncias e conseqüências do crime, bemcomo ao comportamento da vítima, estabe-lecerá, conforme seja necessário e suficientepara reprovação e prevenção do crime:

Art. 1º (Lei n.º 7.210/84). A execuçãopenal tem por objetivo efetivar as disposi-ções de sentença ou decisão criminal eproporcionar condições para a harmônicaintegração social do condenado e do in-ternado. [grifos do autor]

Como podemos ver, o legislador atribuiu à penaa finalidade de prevenção a novos delitos eressocialização do condenado. A finalidaderetributiva também pode ser constatada, princi-palmente nas penas de prestação de serviços àcomunidade, v.g., art. 46 do Código Penal. Atu-almente, tem-se entendido que nenhuma das fi-nalidades encontra-se proibida por lei. Logo, se-gundo as necessidades de cada caso, poderia omagistrado eleger tanto uma quanto outra finali-dade preponderante (ROXIN, 1997, p. 94), semque isso gere qualquer ilegalidade ou arbítrio.

Crítica à Teoria Mista (Brasil)

Apesar de a teoria em foco parecer a maissensata entre todas todas, numa análise maisaprofundada, percebe-se que ela peca por agre-gar também todas as deficiências já abordadas.Zaffaroni afirma que a Teoria Mista parte dasidéias das Teorias Absolutas e, à medida quetenta encobrir suas falhas, utiliza-se das funda-mentações prevencionistas das Teorias Relati-vas (1997, p. 121). Para Antônio Garcia-Pablos,a maior dificuldade encontrada nas Teorias Mis-tas reside justamente no âmbito metodológico,pois a mera reunião dos elementos destrói a es-trutura, a lógica e a coerência de cada uma dasteorias que, em vão, tentam harmonizar-se(GARCIA-PABLOS, 2000, p. 170).

Na prática brasileira, o que se percebe é umaconfusão no momento de eleger qual das finali-dades deverá prevalecer sobre a outra, já quepossuem características muitas vezes antagôni-cas. Tal fato acarreta não somente a falta deuma orientação da pena para determinado ob-jetivo, mas em um absoluto atropelo valorativo(JUNQUEIRA, 2004, p. 126).

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Teoria Abolicionista

Ante a ausência de resultados práticos dos ins-trumentos coercitivos/coativos utilizados pelas te-orias que tinham por objetivo justificar a finalida-de das sanções penais, que além de não prevenirou ressoscializar, acabam resultando em excessivoscustos sociais (GARCIA-PABLOS, 2001), surgemas escolas abolicionistas da pena, caracterizada,ainda, pela maioria dos autores penalistas, comosendo uma sugestão utópica e inaplicável (Cf.KREBS; BOSCHI; BITENCOURT).

Os teóricos abolicionistas sugerem o desen-volvimento de um direito penal que atue de for-ma profilática nos conflitos sociais, mediantecriação de mecanismos sociais adequados evi-tando a ocorrência dos delitos. Nesse ponto, opapel do Estado como mantenedor de uma igual-dade real entre os cidadãos assume extraordi-nária importância (CHRISTHIE, 1997, p. 251).Observado este critério, seríamos capazes deobter decisões satisfatórias e igualitárias sob aóptica social. Situação que, hodiernamente, nãopodemos visualizar, uma vez que existe uma si-tuação de total disparidade sócio-econômicaentre os agentes do sistema penal e os apenados,não estando aqueles, portanto, moralmente ap-tos para tal atividade.

Numa perspectiva abolicionista, não há va-lor social num direito penal que atue radical-mente somente após resultado criminoso, nãotratando de observar o verdadeiro problema,aquele que motivou a prática do delito.

Críticas à Teoria Abolicionista

Embora estas propostas pareçam ser mais ade-quadas que a própria manutenção do atual sis-

tema penal, a aplicação instantânea desta dou-trina apresenta-se inviável. Isso porque a supres-são da pena ou do sistema penal não dependemeramente de decisões legislativas e governa-mentais, mas sim de uma verdadeira revoluçãosocial. Portanto não possui, realmente, umaaplicabilidade imediata.

Destaca-se uma evidente relação entre asdoutrinas abolicionista e a socialista (mais es-pecificamente anarquista), valendo lembrar oentendimento de Zaffaroni. Segundo ele, a fédos anarquistas na condição moral do homem,“é tão grande que nem suspeitam que o controlemútuo, na sociedade que imaginam, pode dar lugara uma ditadura ética mais autoritária que qualquerestado” (1997).

Destarte, a proposta abolicionista carece deelementos que proporcionem uma imediata apli-cação na sociedade, haja vista se tratar de umamudança não somente do sistema penal, mas,acima de tudo, da conformidade social. Por ou-tro lado, igualmente inexistem provas capazesde conferir um mínimo de certeza acerca dosbenefícios trazidos pela abolição do atual siste-ma penal, posto que, como dito alhures, taismedidas não prosperaram nem mesmo nas soci-edades que optaram por uma forma de governosocialista, quanto mais anarquista.

CONCLUSÃO

Após a análise de todas as teorias, podemosconstatar que estas possuem suas fundamenta-ções arraigadas nos conceitos morais e filosófi-cos dominantes da época em que surgiram. Comodecorrência, a valoração acerca da finalidadepreponderante à pena sofrerá variações, refle-

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tindo, muitas vezes, um contexto histórico-so-cial e político de uma sociedade. A pena nãopoderá ser tida, portanto, como um conceito fe-chado e imutável.

Ao longo dos séculos, as penas têm sido adap-tadas para possibilitar aos Estados o desenvolvi-mento esperado pelo grupo social. À medida emque esta mesma sociedade se desenvolve, algunsinstitutos jurídicos penais (em especial as pe-nas) tornam-se inadequados a esta nova reali-dade e também devem ser revistos, sob pena debrecar a evolução dessa comunidade. É umarelação de complementação.

Diante desse fato, ao efetivarmos a análiseda finalidade das penas, devemos fazê-la à luzda atual realidade político-social e moral, sobpena de impedir ou prejudicar o desenvolvimen-to do Estado com mecanismos ineficazes. NoBrasil, o norte a ser adotado deverá ser sempreo incondicional respeito às garantias fundamen-tais da pessoa humana, possibilitando a cons-trução de um estado democrático, justo, frater-no e solidário com seus cidadãos.

Observando essa orientação, poderemos en-contrar conflitos em todas os discursos formula-dos pelas teorias que tratam das finalidades daspenas, excetuando-se apenas a TeoriaAbolicionista. Desde seu surgimento, em todasas demais teorias poderemos constatar a agres-são à pelo menos uma das garantias fundamen-tais do indivíduo frente ao Estado. Constata-sefacilmente ora a instrumentalização eanimalização do criminoso, ora o sofrimento des-proporcional e injustificável de uma verdadeiravingança pública. O que nos leva a crer que, naatual realidade vivenciada, bem como diantedos objetivos pretendidos pelo governo, as teo-rias da finalidade da pena, em especial a teoria

mista, não se mostram social ou juridicamenteadequadas.

Diante disso, ainda que inaplicável de modoimediato, a Teoria Abolicionista da pena insur-ge como uma proposta de eficaz preservação dasgarantias fundamentais instituídas pelo EstadoDemocrático de Direito, possibilitando a evolu-ção social pretendida pelo legislador constitu-inte de 1988. Os reflexos dessa nova postura fren-te à criminalidade já podem ser reconhecidos,não sendo descabida a afirmação de que o di-reito penal se encaminha para a completa aboli-ção das penas. Ou, como diria Garcia-Pablos,“La historia del Derecho Penal -se ha dicho- es lahistoria de su desaparición, y esta es cosa de tiempo”(GARCIA-PABLOS, 2001).

Exemplo disso é a celebrada criação dos juizadosespeciais criminais, onde se é possível resolver osdelitos de menor potencial ofensivo de uma formamenos traumática. A descriminalização de certascondutas que em tempos mais antigos eram puni-das com severidade, hoje encontra maior compre-ensão do Poder Público que, muitas vezes, ampara eajuda essas pessoas, disponibilizando meios para suarecuperação, v.g., dependentes químicos.

Com os sistemas atuais, parte-se do pressupostoque todo o cidadão é um criminoso em potencial,por isso devemos criar mecanismos de controle cadavez mais coercitivos. Na abordagem Abolicionista,partimos do princípio que todo o criminoso é umtrabalhador e um cidadão em potencial. Não preci-samos de mais penalidades, precisamos apenas queo Estado cumpra o seu papel social, Democráticode Direito. Não basta que este mesmo Estado impo-nha de forma autoritária um discurso de respeitoaos direitos fundamentais, ele precisa igualmente(e primeiramente) respeitar essas mesmas garantias(em especial a inclusão social e a educação). Quan-

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do isso ocorrer, nossos cidadãos não vão apenas de-clarar que estão vivendo em uma sociedade, massim que fazem parte dela, trabalharão para ela elutarão para preservá-la.

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Geografia e educação ambiental nasencostas do Morro da Polícia

DENISE JORGE CARVALHO1

HELOISA GAUDIE LEY LINDAU2

RESUMO

Este trabalho tem como finalidade apresentar uma proposta de ensino de Geografia através domonitoramento e da educação ambiental nas encostas do Morro da Polícia, local que concentra os maio-res percentuais de ocupações em áreas de risco geológico-geomorfológico no Município de Porto Alegre/RS, objetivando promover o encontro entre a Geografia do lugar e uma educação ambiental ativa capazde ressignificar a realidade vivenciada pelos moradores, propiciando a compreensão do espaço vividocomo uma realidade modificável, buscando assim, a melhoria da qualidade de vida. Oportuniza-se aorganização e a participação da comunidade para a solução dos problemas locais a fim de resgatar ocidadão, sujeito do processo, exercitando assim, sua plena cidadania.

Palavras-chave: geografia, educação ambiental, monitoramento ambiental, áreas de risco.

ABSTRACT

This work has, as finality, to show a proposal of geography teaching through the environmentalmonitorament and education in the hillsides of the “Morro da Polícia” hill, place that concentrates thehighest percentage of geomorphologic risk area occupation in the municipal district of Porto Alegre/RS,

1 Acadêmica do Curso de Geografia – Bolsista FAPERGS2 Professora – Orientadora do Curso de Geografia/ULBRA([email protected])

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with the objective to promote the meeting between the geography of the place and an active environmentaleducation able to change the reality experienced in life by the dwellers, propitiating the comprehension ofthe lived area like a modifiable reality, and so looking for, a better quality of life. The organization and theparticipation of the community are an opportunity to the solution of the local problems in order to ransomthe citizen, the process subject, and so exercising, his absolute citizenship.

Key words: geography, environmental education, Environment Monitoring monitorament, risk areas

Geografia do lugar e uma educação ambientalativa que alerta para a realidade vivenciada pelosmoradores, propiciando a compreensão do espa-ço vivido como uma realidade modificável, bus-cando assim, a melhoria da qualidade de vida.Nessas novas propostas metodológicas em edu-cação ambiental, oportuniza-se a organização ea participação da comunidade para a soluçãodos problemas locais a fim de resgatar o cida-dão, sujeito do processo, exercitando assim, suaplena cidadania. Essa, por sua vez, ajuda a res-gatar a ética, a visão dialética e a consciênciacrítica reflexiva, caminhos que apontam para asuperação da degradação ambiental.

MATERIAL E MÉTODOS

A proposta metodológica do presente traba-lho considera a visão integrada dos elementosque definem o lugar Morro da Polícia. A opçãometodológica que possibilita uma açãotransformadora da realidade vivenciada pelosmoradores das encostas do Morro da Polícia é apesquisa-ação. Para THIOLLENT (2000), a pes-quisa-ação é um processo da pesquisa, pelo qualseus atores e atrizes investigam conjunta e sis-tematicamente uma situação com o objetivo deresolver um determinado problema, ou para atomada de consciência, ou ainda, para a produ-ção de conhecimentos, sob um conjunto de éti-

INTRODUÇÃO

A questão ambiental diz respeito a todos nós,perpassando por todas as áreas do conhecimen-to, por diferentes classes sociais, nações, cren-ças, etnias, sexo, idade, não reconhecendo li-mites e fronteiras. A dimensão interdisciplinarda Geografia, na abordagem do espaço, reco-nhece essa complexa realidade, evidenciando aimportância do seu papel na análise de propos-tas metodológicas de educação ambiental e in-clusão social. Sabendo-se que o desafio funda-mental para a superação dos problemasambientais é a educação ambiental, percebe-se, no entanto, que as propostas de educaçãoambiental apresentadas e praticadas são, mui-tas vezes, reducionistas e superficiais, não res-peitando as especificidades dos lugares, acaban-do por distanciar-se dos objetivos. É nesse senti-do que este trabalho tem como finalidade apre-sentar uma proposta de monitoramento e edu-cação ambiental nas encostas do Morro da Polí-cia, como uma proposta de ensino de Geografia.Trata-se de uma área que concentra os maiorespercentuais de ocupações em áreas de risco ge-ológico-geomorfológico em encosta.

Esse trabalho apresenta uma nova abordagemde educação ambiental que contempla novosprocedimentos metodológicos, a partir da expe-rimentação junto com a comunidade envolvi-da. Objetiva-se promover o encontro entre a

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ca aceito mutuamente. Para se propor mudan-ças, transformações e melhoria da realidade so-cial dos habitantes, considera-se os quatro ele-mentos básicos da pesquisa-ação apresentadospor HART (1996): tarefa conjunta; baseia-se napráxis; implica desenvolvimento profissional ecriar condições para estruturar o projeto.

A primeira etapa do trabalho objetivou diag-nosticar os problemas enfrentados pelos morado-res das encostas do Morro da Polícia. Para isso,

foram coletados, inicialmente, dados bibliográfi-cos e censitários da área de estudo, que revela-ram o agravamento dos processos erosivos decor-rentes da falta de medidas infra-estruturais. Onúmero de domicílios sem abastecimento de água,esgotos e coleta de lixo foi quantificado e identi-ficado a partir da orientação solar de cada en-costa do Morro da Polícia, a fim de melhor avali-ar os processos morfogenéticos e conseqüentesriscos enfrentados pela população que ali habita.O quadro abaixo apresenta os resultados.

Falta de infra-estruturaEncosta Abastecimento de água – rede

geralEsgoto sanitário – rede

geralDestino de lixo -

coletadoTotal de

domicíliosNorte 2011 2965 1924 4118

Sul 164 1012 61 2302Leste 234 977 54 1236Oeste 69 1185 90 2618

Dados levantados no IBGE e organizados pelo Bolsista Dane de Freitas Martins, sob orientação da Profa. Heloisa Lindau.

A partir do levantamento da falta de medi-das infra-estruturais, bem como, das observaçõesde campo constatou-se: o comprometimento daqualidade de vida e do bem estar da populaçãolocal; poluição dos cursos d’água e dos solos porcontaminação de coliformes fecais, expondo emrisco a saúde da comunidade; assoreamento doscanais de drenagem; instabilidademorfodinâmica com riscos de escorregamentosnas altas encostas; entupimento das redes plu-viais nos níveis mais baixos do Morro da Polícia,causando inundações nas áreas do entorno domorro, em dias de chuvas; proliferação de pra-gas como roedores e insetos que encontram abri-go e alimento em depósitos de resíduos (lixo),colocando em perigo a estabilidade das encos-tas, a integridade física da população, expon-do-os ao risco de doenças; a falta de infra-es-trutura na encosta sul é agravada pela menorinsolação, que confere maior instabilidade.

De posse desses dados, foram feitos conta-tos com escolas e centros comunitários do Mor-ro da Polícia a fim de organizar um grupo devoluntários (alunos, familiares dos alunos e co-munidade) para colocar em ação o projeto. Se-lecionaram-se duas escolas, a primeira deno-minada Escola Municipal de Ensino Fundamen-tal Marcírio Goulart Loureiro, localizada na en-costa Norte do morro e a segunda Escola Esta-dual de Ensino Fundamental e Médio Prof.Oscar Pereira, localizada na encosta Sul doMorro da Polícia.

Promoveram-se contatos duradouros com asreferidas escolas para apresentar a proposta detrabalho e de estabelecer interações entre ospesquisadores e pessoas implicadas na situaçãoinvestigada. Ainda nessa etapa, foram promovi-das as seguintes oficinas de educação ambientalcom os seguintes objetivos:

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Atividade 1: Conhecendo ahistória do meu bairro

Objetivo: Analisar a história do seu lugar,avaliando as transformações ocorridas a partirda observação dos elementos contidos nas foto-grafias aéreas.

Procedimentos: Utilizando fotografias aéreasdas décadas de 1970, 1980 e 1990, nas escalasde 1: 20 000, 1: 5000 e 1: 8 000, respectivamen-te; as crianças e adolescentes verificaram aevolução da ocupação, bem como as transfor-mações ocorridas na encosta norte e sul do Mor-ro da Polícia. Foi confeccionado um quadrocomparativo das mudanças, trazendo a tona al-gumas informações observadas, tais como: onome da rua da escola Marcírio Goulart Lou-reiro, denominado de Rua da Saibreira, se deuem função da existência de uma saibreira nolocal onde hoje está a escola; as matas ao re-dor do Arroio Moinho eram muito maiores doque resta hoje; grande parte das ruas ondehabitam as crianças não existia na década de1980; não havia casas em cima do morro, sómato; não havia escola na década de 1980; nadécada de 1990, entretanto, aumentou o nú-mero de casas e ruas. Os participantesinteragiram com as fotografias, reconhecendomuitos elementos, nela contidos.

Essa atividade permitiu a aproximação dosparticipantes com a história do bairro - seuslugares – a partir da identificação dos alvosdas fotografias aéreas. Esse processo dedecodificação de fotografias aéreas não se tor-nou um empecilho, pelo contrário, aguçou ain-da mais a percepção, tendo em vista que asescalas grandes das fotos, favorecem avisualização dos alvos. Após as constataçõessugeriu-se aos participantes que realizassem

uma entrevista na comunidade a fim de traze-rem os relatos das recordações dos moradoresmais antigos. A memória do lugar foi resgata-da e correlacionada com o processo de urbani-zação intenso da década de 80.

Verificou-se que a utilização de sensoresremotos, como fotografias aéreas, são instru-mentos de ensino fundamentais para areconstituição dos lugares. Cabe, mais uma vezressaltar, que a técnica de sensoriamento re-moto deve ser valorizada no processo de edu-cação ambiental.

Atividade 2: Caminhadas deconscientização ambiental

Objetivos: Percorrer as encostas do Morro daPolícia a fim de observar as transformações ocor-ridas desde a década de 1990.

Procedimentos: Os grupos de professores ecrianças subiram o morro na encosta Norte ena encosta Sul e f izeram as seguintesconstatações: existência de lixo jogado nas al-tas encostas do Morro da Polícia, junto às mo-radias; erosão nas áreas sem vegetação, comonos becos e vias de acesso e identificação debecos e ruas que não constam nas fotografiasda década de 90.

Nessa at ividade veri f icou- se que oacúmulo de lixo se deve, também, pela faltade coleta nas altas encostas. Trata-se de áreasde difícil acesso. Constatou-se, também, afalta de infra-estrutura das moradias dasmédias a altas encostas, se comparado comas das baixas encostas. Após, levantadas es-sas observações, foi realizado um relatório dareferida atividade.

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Atividade 3: Seleção de umaárea para montar uma estaçãoexperimental

Objetivo: Identificar uma área propícia à ins-talação de uma rede de pinos de erosão.

Procedimentos: Foi feita uma caminhada deobservação de campo para a identificação doslocais onde havia a remoção da vegetação. Osparticipantes da pesquisa aprenderam a montaruma estação experimental para acompanhar aperda de solo por escoamento superficial noMorro da Polícia nos dias de chuvas.

Atividade 4: Preparo da rede depinos de erosão

Objetivo: Preparar os instrumentos necessári-os para a montagem de uma estação experimen-tal de perda de solo por escoamento superficial.

Procedimentos: Utilizando-se de pregos de 10cm de comprimento, pincéis e tinta, as crianças pin-taram e numeraram os pinos de erosão. O métododa rede de pinos de erosão é uma adaptação dométodo de DEPLOEY & GABRIELS, exposto porGUERRA & CUNHA (1996). Foi também confec-cionada uma planilha de controle das condiçõesmeteorológicas para o acompanhamento do tempoe sua posterior correlação com a rede de pinos.

Atividade 5: Construindo umaestação experimental paraacompanhar a perda de solo doMorro da Polícia nos dias dechuvas

Objetivo: Construir uma estação experimen-tal de perda de solo.

Procedimentos: Em pequenos grupos, as cri-anças foram até os locais selecionados para amontagem da estação experimental. Esses locaisestão próximos as suas casas. São cortes de ater-ros e lugares onde não há circulação de pessoas.As crianças colocaram os pinos, bem como, fize-ram um mapa destes para acompanhar a perdade solo. Mediu-se, quinzenalmente, a altura dospinos acima do solo, com o auxílio de uma régua.

Atividade 6: Medindo ainfiltração da água no morro

Objetivo: Verificar junto à estação experi-mental de perda de solo, como se dá a infiltra-ção da água nos dias de chuvas.

Procedimentos: Os alunos dirigiram-se até olocal dos pinos para realizar um teste com uminfiltrômetro, adaptação ao método de HILLS(1970), citado por CUNHA & GUERRA(1996). Adotaram-se os seguintes procedimen-tos metodológicos:

- construção de um infiltrômetro, utilizan-do-se de um cano de PVC com as seguin-tes dimensões: 15 cm de altura e 10 cmde diâmetro interno;

- penetração de 5 cm do infiltrômetro nosolo a ser experienciado;

- colocação de uma régua graduada (de 10cm) dentro do infiltrômetro;

- inserção de água no infiltrômetro e mar-cação do tempo da profundidade destaágua, utilizando um cronômetro. A dura-ção do experimento é de 30 minutos e ostempos devem ser marcados na caderne-ta de campo;

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No retorno à escola, foram relatados os re-sultados dos testes com os infiltrômetros para finsde comparação.

Ainda na atividade 6: Medindo a infiltraçãodas águas das chuvas nas altas encostas do Morroda Polícia.

Objetivo: Comparar os resultados da infiltra-ção da água, medidos nas estações experimen-tais, com a infiltração nas altas encostas doMorro da Polícia.

Procedimentos: As crianças, subiram o mor-ro e realizaram testes com o infiltrômetro. Fo-ram realizados três testes, constatando a baixainfiltração da água nesse local e, conseqüente-mente, o alto escoamento superficial. Constata-ram-se locais de erosões decorrentes da baixainfiltração, como ravinamentos.

Atividade 7: Caminhadas deconscientização ambiental

Objetivo: Analisar os aspectos positivos enegativos da ocupação nas encostas do Morroda Polícia.

Procedimentos: Em grupos, as crianças, ca-minharam por locais que não tinham sido visi-tados e listaram pontos positivos e negativos daocupação. Os pontos positivos foram: luz, águaencanada e comércio. Os pontos negativoslistados foram: muito acúmulo de lixo, arroiopoluído e muita terra acumulada nas ruas. Após,foi feita uma análise das observações levanta-das, a fim de confrontar as opiniões e de promo-ver um debate em torno do uso do solo em áreasde altas declividades.

Atividade 8: Medindo os cortesde aterro realizados naocupação do Morro da Polícia

Objetivos: Identificar as áreas sujeitas a des-moronamentos.

Procedimentos: Nas caminhadas deconscientização ambiental, grupos de criançasmediram os cortes para aterro para assentar asmoradias, com o auxílio de uma trena. Os alunosconstataram que os cortes eram maiores e maisinclinados nas áreas mais baixas do morro, eviden-ciando assim, o risco de desmoronamento.

Atividade 9: Identificando osresíduos (tipos de lixo) jogadosno bairro

Objetivo: Identificar quais os tipos de resí-duos da produção mais jogados no bairro.

Procedimentos: Os alunos saíram a campo paraverificar todos os tipos de resíduos lançados nasencostas do morro. Foram identificados: garrafaspet, cigarros, sacos plásticos, poltronas velhas ecolchões. De posse dessa observação foi realizadauma pesquisa a fim de avaliar o tempo de decom-posição de cada resíduo identificado.

Atividade 10: Avaliação dostrabalhos desenvolvidos naprimeira etapa da pesquisa

Objetivos: Avaliar as atividades desenvolvi-das, destacando o que mais chamou atenção.

Procedimentos: As crianças foram filmadas,relatando o que aprenderam no desenvolvimentodesta experiência de educação ambiental. Os

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relatos demonstraram as relações estabelecidaspelos participantes, como se pode observar nasseguintes falas: as pedras aparecem porque a ter-ra vai embora; se não fosse tirado o capim, nãoteria esse buraco comprido; as pessoas de cima têmmenos pontos positivos do que as de baixo; O ar-roio Cascatinha é um pouco mais limpo em cimado morro e muito sujo logo ali em baixo; A minhavizinha ferve a água do arroio Moinho para beber.

Os depoimentos evidenciaram o grau de con-fiança e interação entre os participantes.

ATIVIDADES REALIZADASNA SEGUNDA ETAPA DAPESQUISA

Atividade 1: Analisando aqualidade das águas do ArroioCascatinha

Objetivo: Avaliar a qualidade das águas doArroio Cascatinha, na encosta Sul, desde a nas-cente até o curso médio do referido arroio noMorro da Polícia.

Procedimentos: As crianças aprenderam a cole-tar águas em diferentes pontos do Arroio Cascatinha,identificando os frascos e verificando o odor e aturbidez das águas. Após, os frascos foram encami-nhados ao laboratório de análises da ULBRA e osresultados apresentados à comunidade.

Atividade 2: Intercâmbios entreas escolas do Morro da Polícia

Objetivos: Promover intercâmbios entre asescolas do Morro da Polícia, integrando crian-

ças, pais, professores e líderes comunitários.

Procedimentos: As crianças e adolescentesdas Escolas Marcírio Goulart Loureiro (encos-ta norte) e Oscar Pereira (encosta sul), juntocom líderes comunitários, bolsista e professoraorientadora, realizam contatos e caminhadasecológicas a fim de observar e comparar as es-tações experimentais, visando compreender osprocessos morfogenéticos característicos decada encosta. Foram promovidas palestras comos professores das referidas escolas, bem como,com os pais, a fim de propiciar a compreensãodo espaço vivido como uma realidademodificável.

Atividade 3: Cartografando asencostas do Morro da Polícia

Objetivos: Compreender a dinâmica das en-costas do Morro da Polícia a fim de conter ospossíveis riscos decorrentes dos processosmorfogenéticos.

Procedimentos: As crianças e adolescentesdas Escolas, bem como seus familiares percorre-ram, junto com bolsista e voluntários as encos-tas do Morro da Polícia. De posse do GPS e defotografias aéreas da década de 90, levantaramas seguintes informações: limite da ocupação nasencostas; mata nativa com modeladostecnogênicos, ou seja, áreas alteradas pelo serhumano; afloramentos rochosos e área de cam-po com modelados tecnogênicos. As fotografiasaéreas permitiram visualizar as transformaçõesdo morro, avaliando os problemas ambientais.Os dados foram levados para o Laboratório deCartografia da ULBRA para a confecção da car-ta da dinâmica do Morro da Polícia.

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Atividade 4: Recuperando áreasdegradadas

Objetivos: Compreender a importância deconter os processos erosivos de ravinamento.

Procedimentos: A partir das caminhadas demapeamento e de reconhecimento das transfor-mações ocorridas no morro, identificaram-se asáreas mais susceptíveis a erosão, comravinamentos. Depois de realizados os levanta-mentos dos diferentes tipos de vegetação encon-trada no morro, bem como do estudo das carac-terísticas das raízes de cada espécie encontra-da, propôs-se o preenchimento com gramíneas,de uma ravina previamente selecionada. Esseprocedimento de recuperação foi acompanhadopela comunidade escolar.

Atividade 5: Divulgando osresultados da pesquisa para acomunidade

Objetivo: Divulgar nas comunidades escola-res, centros comunitários e rádio comunitáriaos resultados da pesquisa.

Procedimentos: A partir dos contatos dura-douros com as escolas, pais, professores e líde-res comunitários, foram divulgados na rádio co-munitária, escolas e centros comunitários, to-dos os dados e resultados levantados na pes-

quisa - carta da dinâmica das encostas do Morroda Polícia, levantamento da contaminação doscursos d’água, levantamento das áreasmonitoradas com pinos de erosão, as espéciesvegetais mais propícias para a contenção dosprocessos erosivos, bem como as falas dos parti-cipantes da pesquisa.

A promoção de oficinas junto às escolasalertou a comunidade sobre os problemas acimacitados, mostrando a importância de não remo-ver a vegetação dos terrenos de suas casas paraevitar a perda de solo por escoamento superfici-al e propiciar maior infiltração das águas daschuvas; e a importância de remover o lixo paraas áreas de coleta. Essas medidas preventivasestão ao alcance da população local, possibili-tando enfrentar problemas locais. Entretanto, acomunidade está ciente da falta de medidasinfra-estruturais que deveriam ser adotadas pelopoder público municipal, porém como se tratamde áreas de ocupações irregulares, reconheceque a organização para reivindicação no orça-mento participativo se faz necessária.

RESULTADOS

Os resultados dos dados coletados, junto coma comunidade local, foram organizados e divul-gados, conforme apresenta a seguir, o Quadro 1e o Mapa 1.

Quadro 1 - Resultados da análise das águas do arroio Cascatinha.

Amostra Coliformes totais Coliformes Fecais

1 – curso médio 8,6 x 102 / ml 0.4 x 10 / ml

2 - nascente Ausentes ausentes

3 - nascente Ausentes ausentes

4 – curso médio 4.8 x 103 / ml 9.2 x 102 / mlFonte: Dados de 2003.

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O quadro dos resultados das análises da car-ga microbiológica mostra ausência de coliformesfecais nas nascentes do Arroio Cascatinha, mos-trando assim, para a comunidade, a possibilida-de de recuperação deste recurso hídrico.

Para a confecção da carta da dinâmica ambientaldo Morro da Polícia foram analisados documentoscartográficos da década de 70 e com o auxílio de

técnicas de geoprocessamento, através dos diversossistemas de informações geográficas – SIGS (INPE,SURFER, IDRISI), realizou-se o cruzamento e ogeoreferenciamento das informações.

Essa atividade, envolveu a comunidade es-colar e do bairro no primeiro semestre de 2004,onde foram coletados os seguintes planos de in-formações, conforme o Quadro 2.

Quadro 2 - Área total e percentual de cada plano de informação levantados no Morro da Polícia.

os de Informações Área Percentualmentos Rochosos 93 m² 2,86%

ência de Mata Nativa com Modelados Tecnogênicos 753 m² 23,21%

de Campo com Modelados Tecnogênicos 918 m² 28,30%

ação Urbana Atual 1146 m² 35,37%

ação Urbana na Década de 70 333 m² 10,26%

da Área 3243 m² 100%

Mapa 1 - Carta da dinâmica ambiental do Morro da Polícia.

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CONSIDERAÇÕES FINAIS

A proposta metodológica de educaçãoambiental, aqui apresentada, voltada às comu-nidades que habitam as áreas de riscos geológi-co-geomorfológico em encosta e áreas ribeiri-nhas, a partir de oficinas de monitoramentoambiental, atividades práticas de campo,mapeamento, análise das águas, entre outras,promove o encontro entre a geografia do lugar euma educação ambiental ativa que propicia acompreensão do espaço vivido como uma reali-dade modificável, buscando assim, a melhoriada qualidade de vida.

O monitoramento dos processos erosivos nasáreas de riscos e o acompanhamento por partedas comunidades envolvidas, mostraram que osproblemas de cunho ambiental estão diretamen-te relacionados aos sociais, evidenciando assim,a dimensão totalizante de natureza e a importân-cia de se adotar uma educação ambiental dentrodesta perspectiva. Para promover a compreensãoda comunidade para com as questões sociais esua inserção no processo histórico de escala glo-bal, o acompanhamento da dinâmica do lugar,de forma dialógica e participativa, aproxima arealidade, apontando os possíveis problemas eorganizando a comunidade para evita-los.

A integração de conhecimentos técnico-ci-entíficos à educação ambiental favorece, de for-ma concreta, o entendimento da dinâmica dorelevo, da poluição dos cursos d’água, do avan-ço da ocupação, das conseqüências decorren-tes, despertando uma visão crítica e reflexiva,que valoriza decisões, priorizando necessidades,afastando futuros problemas. Quer-se construiruma leitura da natureza local – Morro da Polí-

cia e seus habitantes – que rompa com a lingua-gem predatória que separa o ser humano da na-tureza, transmitida, muitas vezes, pela mídia.

Cabe ressaltar que a presente proposta, não foicompletamente concluída, pois os resultados es-tão sendo levados para os habitantes das encostasdo Morro da Polícia, pela articulação de redes entreas escolas, rádio e centros comunitários.

As atividades práticas de educação ambientaloportunizaram a análise comparativa dos resulta-dos levantados nas áreas selecionadas, proporci-onando o engajamento dos demais professores deoutras áreas das referidas escolas no projeto. Pre-tende-se, cada vez mais, despertar a curiosidadedas comunidades envolvidas, levando até elas,os conhecimentos científicos produzidos nas Uni-versidades, para que surja um novo olhar sobre olugar, promovendo indagações, bem como, a or-ganização para a resolução dos problemas.

REFERÊNCIASBIBLIOGRÁFICAS

GUERRA, A. T.; CUNHA, S. B.Geomorfologia: exercícios, técnicas e apli-cações. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 1996.

HART, P. Perspectivas alternativas para lainvestigación en educación ambiental:paradigma de una interrogante críticamentereflexiva. In: MRAZEZ, R. (Ed). Paradigmasalternatives de investigación ambiental.Guadalajara: NAAEE, SEMARNAP, 1996.

THIOLLENT, Michel. Metodologia da pes-quisa-ação. São Paulo: Cortez, 2000.

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Características da populaçãode Santa Maria

RAFAEL ILHA1

JORGE DE ÁVILA2

RENATO RODRIGUES DIAS3

RESUMO

Este artigo objetivou conhecer as características da população urbana de Santa Maria, servindo debase para estudos na área das ciências sociais aplicadas, fornecendo ao mesmo tempo informações rele-vantes às empresas locais para o ajuste de suas propostas a esse mercado. O estudo realizado em 2003 eos principais resultados evidenciaram a predominância do sexo feminino e da classe “C”, respectivamentecom 52% e 37%. O grau de instrução que se destacou foi o ensino fundamental com 27,75%. Destaque-se ainda que a média de pessoas por domicílio é de 3,47% e que a religião católica tem 77,75% de adeptos.

Palavras-chave: características, população, urbanas.

ABSTRACT

This framework had as objective to know the characteristics of urban population of Santa Maria,serving of base for studies in Applied Social Sciences, subsiding at the same time relevant information to thelocal companies to their adjustment to this market. The study realized in 2003 and the main resultsevidenced the predominance of the female and the “C” class, respectively with 52% and 37%. The schooling

1 Acadêmico do Curso de Administração/Ulbra-Santa Ma-ria – Bolsista PROICT/ULBRA

2 Professor do Departamento de Ciências Administrativas/UFSM

3 Professor – Orientador do Curso de Administração/Ulbra-Santa Maria ([email protected])

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degree which pointed out was the fundamental one with 27, 75%. It is also pointed out that the averageperson per domicile is of 3,47% and the catholic religion has 77,75% of followers.

Key words: characteristics, population, urban.

tativos e quantitativos do mercado, isto é, ascaracterísticas étnicas, sociais, religiosas etc.

Como o futuro é quase sempre incerto, ain-da que nem sempre a pesquisa consiga buscartodas as informações que as organizações ne-cessitam, é um fato inegável que ela contribuisignificativamente para minimizar a incerteza nastomadas de decisão, principalmente aquelas li-gadas ao seu público-alvo

A pesquisa considerou as seguintes hipóteses:

Com base na pesquisa anterior, realizada em2001, o presente estudo admitiu como hipótesesbásicas as seguintes:

a) Santa Maria possui uma população compredominância do sexo feminino.

b) A classe socioeconômica predominante naCidade é a “C”.

c) O grau de instrução com maior percentualentre os habitantes é o segundo grau com-pleto.

d) A média de habitantes por domicílio emSanta Maria é de quatro pessoas.

e) A religião predominante em Santa Mariaé a Católica.

Embora este trabalho seja um estudo de ca-ráter descritivo, diversas hipóteses ainda pode-riam ser acrescentadas com relação ao perfil dosentrevistados e aos dados específicos, que aquinão foram incluídas pela sua grande amplitude.

INTRODUÇÃO

O presente estudo relata a caracterização dapopulação da cidade de Santa Maria e é resultan-te de pesquisa de marketing realizado durante oano de 2003. Segundo MALHOTRA (2001, p.45)pesquisa de mercado é a identificação, coleta,análise e disseminação de informações de formasistemática e objetiva seu uso visando a melhorara tomada de decisões relacionadas à identificaçãoe solução de problemas e oportunidades demarketing. Os objetivos buscados foram:

a) Conhecer o perfil socioeconômico da po-pulação urbana da Cidade de Santa Ma-ria, servindo de base para estudos na áreadas ciências sociais aplicadas.

b) Fornecer às empresas ou organizações lo-cais que tiverem interesse, informaçõesrelevantes sobre o mercado em que atu-am, facilitando, assim, o ajuste de seusprodutos ou serviços a esse mercado.

Os dados foram coletados diretamente nodomicílio das pessoas sorteadas na amostra, noperíodo compreendido entre os dias 16 de junhoe 11 de julho de 2003, conforme discriminado naseção referente à metodologia empregada.

Os resultados com certeza serão úteis às or-ganizações que souberem aproveitar tais infor-mações, que se referem ao público consumidorlocal. Segundo AFFONSO (1975 – pág. 399), écondição de sucesso para o administrador reco-nhecer a importância do conhecimento quali-

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O próprio resultado da pesquisa as evidencia.

As pesquisas de mercado desempenham afunção de elo entre a empresa e os consumido-res, na medida em que expressam as expectati-vas e os pontos de vista dos mesmos, o que per-mite a tomada de decisões adequadas.

Foi sob esta ótica que se realizou um levan-tamento de informações junto à população daCidade de Santa Maria, de modo a traçar umperfil socioeconômico de seus habitantes. Par-tindo do pressuposto de que não existe nenhu-ma organização humana que consiga sobreviversem clientes, tais informações serão extremamen-te importantes para todas elas. As organizaçõesou empresas já estabelecidas poderão melhorajustar seus produtos ou serviços à realidade domercado e os novos empreendimentos poderãotambém se adequar a essa realidade, concen-trando melhor seus investimentos ou evitandodespesas desnecessárias.

MATERIAL E MÉTODOS

O universo da presente pesquisa foi consti-tuído por toda a população urbana do Municí-pio de Santa Maria, que totaliza 230.468 habi-tantes e 79.496 domicílios, segundo informaçõesdo censo de 2000 do IBGE. Desta população dedomicílios, tomou-se uma amostra probabilísticado tipo casual simples, considerando-se um ní-vel de confiança de 95%, ou seja, admite-se umerro de até 5% para mais ou para menos nos re-sultados. O cálculo resultou numa amostra de

400 domicílios, distribuída proporcionalmente nomapa da Cidade de Santa Maria.

O instrumento de coleta de dados utilizadona pesquisa foi um questionário estruturado ajus-tado após a realização de um pré-teste. Tal ques-tionário foi preenchido por entrevistadores de-vidamente treinados, todos eles acadêmicos doCurso de Administração da ULBRA e da UFSM.

Os questionários, em número de 400 (qua-trocentos), foram aplicados diretamente nosdomicílios sorteados, à razão de 5 (cinco) ques-tionários por quarteirão, dentre 80 (oitenta)quarteirões também sorteados aleatoriamente nomapa da Cidade de Santa Maria.

Os dados foram tabulados em microcomputador,com o auxílio de programa específico (“Le SphinxPlus”), visando abreviar o tempo nesta tarefa e ain-da viabilizar o cruzamento das informações maisrelevantes.

Após concluída a tabulação dos dados, estesforam revisados e transformados em tabelas e/ou gráficos, que são apresentados a seguir, como propósito de facilitar a sua análise e conse-qüente interpretação.

RESULTADOS

Os dados a seguir, embora sejam, na sua mai-oria, auto-explicativos, são apresentados em ta-belas com um comentário sobre as informaçõesmais relevantes e também com gráficosilustrativos referentes às mais significativas.

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Observando-se a Tabela 1 pode-se consta-tar que a maioria dos entrevistados correspondeuao sexo feminino (52%), o que vem a compro-

var que ainda se mantém a tradição, na maioriados lares da Cidade, de o marido trabalhar forae a mulher cuidar dos afazeres domésticos.

Tabela 2 - Composição Familiar da População de Santa Maria.

COMPOSIÇÃO FAMILIAR FREQÜÊNCIA MÉDIA PORDOMICÍLIO

Cônjuge masculino 300 0,75Cônjuge feminino 313 0,78Filhos menores de 12 anos 192 0,48Filhos entre 12 e 18 anos 140 0,35Filhos maiores de 18 anos 253 0,63Outras pessoas que residem no domicílio 191 0,48T o t a l 400 3,47

Tabela 3 – Grau de instrução do chefe da família – Santa Maria.

GRAU DE INSTRUÇÃO FREQÜÊNCIA %Não alfabetizado 17 4,251º grau incompleto 109 27,251º grau completo 83 20,752º grau incompleto 27 6,752º grau completo 83 20,75Superior incompleto 17 4,25Superior completo 54 13,50Não informaram 10 2,50T o t a l 400 100,00

Tabela 1 – Sexo dos respondentes – Santa Maria-RS, Junho/julho de 2003.

SEXO FREQÜÊNCIA %

Masculino 192 48,00Feminino 208 52,00T o t a l 400 100,00

A Tabela 2 permite verificar a composição fami-liar da Cidade de Santa Maria. A média de pessoaspor domicílio resultou em 3,47 como mostra o totalda tabela. Este resultado ficou bastante próximo aoobtido pelo IBGE no Censo de 2000, que acusouuma média de 3,32 habitantes por domicílio na zonaurbana de Santa Maria e 3,28 na zona rural. Há,ainda, a considerar, o fato de que a população daCidade deve ter crescido nestes últimos três anos, o

que comprova a precisão do resultado.

Quanto ao grau de instrução do chefe da famí-lia, a Tabela 3, abaixo, evidencia que há uma pre-dominância do 1º grau incompleto, com 27,25%do total, ficando em segundo lugar e empatados, o1º grau completo e o 2º grau completo, com 20,75%.A formação com curso superior completo ficou emterceiro lugar, correspondendo a 13,50% do totalde entrevistados.

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Neste gráfico observamos que a classesocioeconômica predominante em Santa Ma-ria é a “C”, correspondendo a 37%. Em segun-do lugar, está a classe “B”, com 30,25%. Emterceiro lugar vem a classe “D”, com 22,50% ea seguir a classe “A”, com apenas 9% e, em úl-timo lugar, a classe “E”, com 1,25%. Pode-sededuzir, destes dados, que mais da metade dapopulação da Cidade pertence às classes maisinferiores, ou seja, “C”, “D” e “E” que, soma-das, correspondem a 60,75%.

Estes dados se aproximaram bastante dos

apresentados em pesquisas realizadas em anosanteriores. O Censo realizado pelo IBGE não con-templa essas informações, o que impede umacomparação com dados daquele órgão.

As informações relativas à classificaçãosocioeconômica são extremamente relevantespara praticamente todos os setores da econo-mia, pois se reflete diretamente nodimensionamento do mercado em segmentosespecíficos. Santa Maria apresenta o maior seg-mento de mercado concentrado na classe “C”,representando 37%, como já comentado.

Tabela 4 – Classes sócio-econômicas de Santa Maria.

CLASSE SÓCIO-ECONÔMICA FREQÜÊNCIA %A 36 9,00B 121 30,25C 148 37,00D 90 22,50E 5 1,25T o t a l 400 100,00

020406080

100120140160 A

B

C

D

E

Gráfico 1 – Classificação sócio-econômica da população de Santa Maria – RS.

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Na Tabela 5 pode-se observar que a gran-de maioria da população de Santa Maria temo Catolicismo como religião da família, re-presentando 77,75% do total. A religião Evan-gélica aparece em segundo lugar, com 7,25%e a Espírita figura em terceiro, com 6,50%.Em quarto lugar, aparecem empatadas aUmbanda e a Evangélica Luterana, com1,00%. As demais religiões tiveram poucaporcentagem de participação, não ultrapas-sando a 0,75% do total. É oportuno destacarque, obviamente, existem muito mais religi-ões na Cidade do que as relacionadas, po-rém, todas elas com pouco significativopercentual.

Este resultado foi, também, semelhante aoobtido na pesquisa realizada em 2000, sendo quea variação mais significativa ficou em 1,25% amais na religião Católica.

CONCLUSÃO

Os dados apresentados vêm a comprovar amaioria das hipóteses enunciadas.

A primeira delas, afirmava que Santa Mariatem uma população com predominância do sexofeminino, teve 52% nesta alternativa.

A segunda hipótese se referia à classesocioeconômica “C” como a predominante, o quefoi confirmado, com 37,50%, ficando em segun-do lugar a classe “B”, com 30,50%, em terceiroa classe “D”, com 23,50% e em quarto lugar aclasse “A”, com 7%.

A terceira hipótese afirmava que o grau deinstrução com maior percentual entre os chefesdas famílias de Santa Maria era o segundo graucompleto não foi comprovada, pois esta alterna-tiva ficou em terceiro lugar, com 20,75%. Emprimeiro lugar ficou a alternativa “1º grau in-

Tabela 5 – Religião das famílias da população de Santa Maria.

RELIGIÃO DA FAMÍLIA FREQÜÊNCIA %Católica 311 77,75Evangélica 29 7,25Espírita 26 6,50Umbanda 4 1,00Luterana 4 1,00Assembléia de Deus 3 0,75Testemunha de Jeová 3 0,75Metodista 2 0,50Mórmon 2 0,50Adventista 1 0,25Anglicana 1 0,25Ateu 1 0,25Budismo 1 0,25Crente 1 0,25Igreja Quadrangular 1 0,25Não informaram 10 2,50T O T A L 400 100,00

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completo”, que hoje corresponde ao ensino fun-damental, com 27,25%.

A quarta hipótese formulada no projeto re-feria-se à média de habitantes por domicílio emSanta Maria, afirmando que era de quatro pes-soas. O resultado acusou uma média de 3,47,um pouco abaixo da suposição, o que é explica-do pela constante mudança que ocorre na po-pulação, embora lenta.

A quinta e última hipótese também foicomprovada. Referia-se à religião Católicacomo a predominante em Santa Maria. Oresultado acusou um total de 77,75% de pes-soas desta religião, a grande maioria, portan-to, contra 7,25% da Evangélica, que ficouem segundo lugar.

REFERÊNCIASBIBLIOGRÁFICAS

ARANTES, Affonso. Administraçãomercadológica 2.ed. Rio de Janeiro: Ed. Fun-dação Getulio Vargas, 1975. p. 399.

INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRA-FIA E ESTATÍSTICA. Censo demográfico.Rio de Janeiro, 2000.

MALHOTRA, Naresh. Pesquisa demarketing. 3. ed. Porto Alegre: Bookman,2001. p.45.

MATTAR, Fauze. Pesquisa de Marketing.Edição Compacta. São Paulo: Atlas, 1996.Ci-ências Humanas

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Hermenêutica aplicada ao estudo da escatologiabíblica: a contribuição de Santo Agostinho no

debate a respeito do milênio

GILSON SOUZA VALENTIM1

GERSON LUIS LINDEN2

RESUMO

Agostinho (354-430), em seu escrito A Cidade de Deus, propõe uma visão de história que reconhecea ação de Deus na manutenção da Sua cidade, edificada ao lado da cidade do mundo. Agostinho tratados textos bíblicos referentes ao fim do mundo e à inauguração do reino de Deus. Texto chave é o vigésimocapítulo do livro de Apocalipse, que anuncia um tempo de mil anos em que Satanás é aprisionado.Agostinho interpreta o “milênio” de forma não literal, no que se refere à duração, como sendo o tempo emque Satanás, dominado por Cristo, somente tem domínio sobre os que rejeitam a governo de Deus. Nestetempo os cristãos continuam a viver na sociedade, estando no mundo, mas não pertencendo a ele, pois sualigação é com a cidade de Deus.

Palavras-chave: Escatologia, Agostinho, milênio, Cidade de Deus.

ABSTRACT

Augustine of Hippo (354-430), in his City of God, proposes a vision of History that recognizes God’saction maintaining His city, which is built side by side with world’s city. Augustine considers biblical passagesthat deal with the end of the world and the inauguration of the God’s kingdom. A key text is the 20th

1 Acadêmico do Curso de Teologia/ULBRA – Aluno voluntá-rio no PROICT/ULBRA

2 Professor – Orientador do Curso de Teologia/ULBRA([email protected])

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chapter of Revelation, that announces thousand years when Satan is imprisoned. Augustine interprets the“millennium” in a non literal way, in its duration, as being the time when Satan, dominated by Christ, hasonly dominium upon those who reject God’s rule. During this time, Christian continue to live in society,being in the world, not belonging to the world, since their connection is with God’s city.

Key words: Eschatology, Augustine, millennium, City of God.

AGOSTINHO: FILÓSOFO ETEÓLOGO

Durante toda a Idade Média nenhum teólo-go foi mais citado do que Agostinho. Seu nomecompleto era Aurélio Agostinho. Nasceu no dia13 de Novembro de 354 d.C., no povoado deTagaste, no norte da África. Era filho de Patrício,um funcionário do governo romano e que erapagão, e de Mônica, uma cristã fervorosa. Naverdade, desde cedo, Agostinho recebeu edu-cação cristã de sua mãe. Porém sua conversão,conforme ele próprio se refere a ela, e seu batis-mo só aconteceriam anos depois.

Agostinho era dotado de uma inteligênciasingular. Conforme GONZÁLEZ (1995, p. 165):

Seja como for, os pais de Agostinho sabiamque seu filho tinha uma inteligência pou-co comum, e por isso se esmeraram em ofe-recer-lhe a melhor educação disponível.

Assim, os pais de Agostinho enviaram-nopara a cidade de Madaura e depois, em 371 d.C.,para Cartago, no anseio de oferecer ao filho amelhor educação possível. Em Cartago, mesmonão se descuidando dos estudos da retórica,conviveu com uma mulher, com quem teve seuúnico filho, Adeodato.

No século anterior, a África teve outros im-portantes pais da Igreja: Tertuliano e Cipriano.

INTRODUÇÃO

O estudo a seguir procura dar uma contri-buição ao campo da Hermenêutica teológica,especificamente no que se refere ao ensino arespeito da vinda do reino de Deus. O assun-to é significativo, dada a importância dahermenêutica para a Teologia, bem como pe-las implicações trazidas pela Escatologia paraa Teologia e para a vida da Igreja cristã. AEscatologia trata da reflexão teológica a res-peito das coisas do fim, ou melhor, dos fatosde importância última para a humanidade. Oestudo focaliza a obra de Agostinho (354-430),bispo de Hipona, norte da África. De manei-ra especial é verificada a contribuição do seuescrito, De Civitate Dei (A Cidade de Deus),em que o autor propõe uma visão de históriaque reconhece a ação de Deus na manuten-ção da Sua cidade, edificada ao lado da cida-de do mundo.

Um tema específico para estudo é a nature-za do assim chamado “milênio”, anunciado peloapóstolo João no livro de Apocalipse. Sobre estetema, a história da Igreja cristã tem mostradoposicionamentos bastante divergentes, mani-festos ainda hoje. Com o presente estudo, pre-tendemos conhecer as mais significativas pro-postas de compreensão do tema, trazendo en-tão a análise proporcionada por Santo Agosti-nho à questão.

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“Do primeiro Agostinho possui a magia da pala-vra e a formação jurídica; do segundo, a almapastoral.” (HAMMAN, p. 227)

Agostinho ansiava pela busca da verdade.Isso o levou primeiramente ao maniqueísmo, sei-ta fundada na Pérsia por Mani, na primeira meta-de do século III, e que ensinava um dualismomuito mais radical que o gnosticismo. Desiludi-do com esta seita, Agostinho continuou sua bus-ca pela verdade, através de outros caminhos.

Em 383 d.C, Agostinho viajou para Milão.Nesta cidade da Itália, entrou em contato como neoplatonismo, doutrina muito popular na épo-ca. O objetivo principal dessa doutrina era vir aconhecer o “Um Inefável”, através do qual pro-vinham todas as coisas. Também em Milão, Agos-tinho acabou conhecendo o famoso teólogoAmbrósio, que exerceu influência decisiva so-bre ele. Através de Ambrósio, famoso tambémpelas suas pregações, Agostinho viu a riquezadas Escrituras. Em suas pregações, Ambrósioenfatizava a doutrina paulina da Justificaçãoatravés do perdão dos pecados, o que foi de gran-de importância para Agostinho.

A pregação de Ambrósio ajudou Agostinho,entre outras coisas, por oferecer um método ale-górico de interpretação da Bíblia, que lhe per-mitia por de lado certas passagens que conside-rava inaceitáveis.

Nesta época Agostinho ficou sabendo deoutras pessoas, de elevada formação filosófica,que estavam abraçando a fé. Mário Vitorino,tradutor de obras neoplatônicas que Agostinholera, se apresentou na Igreja em Roma para serrecebido por profissão de fé. Assim tambémValentino, escritor neoplatônico, que havia in-fluenciado Agostinho, também abraçara a fé(Confissões VIII 2).

Agostinho, porém, demorou algum tempoantes que sua conversão fosse efetuada, poisdentro dele travava-se uma batalha entre o que-rer e o não querer. Foi uma passagem da Escri-tura Sagrada que fez Agostinho abandonar suavida mundana. Nas Confissões relata sua con-versão. Em Milão, no jardim de sua casa, angus-tiado, ouve as palavras de um brinquedo entrecrianças: “Tolle, lege” – Toma e lê! Então Agos-tinho lê Rm 13.13,14: “Andemos dignamente,como em pleno dia, não em orgias e bebedices,não em impudicícias e dissoluções, não em con-tendas e ciúmes; mas revesti-vos do Senhor Je-sus Cristo, e nada disponhais para a carne, notocante às suas concupiscências”. Agostinho ti-nha 32 anos. Segundo WALKER (p. 233) a con-versão aconteceu no fim do verão de 386.

Depois da sua conversão, Agostinho foi bati-zado em 387 d.C. por Ambrósio. Além disso, re-nunciou o cargo de professor de Retórica e, juntocom um grupo de amigos e sua mãe Mônica,decidiu regressar para o norte da África. Du-rante a viagem, porém, sua mãe, Mônica, fale-ceu, o que o afetou por longo tempo. Chegandoem Tagaste, Agostinho vendeu a maior parte dassuas propriedades, deu o dinheiro aos pobres ese dedicou a uma vida disciplinada ao estudo,devoção e meditação.

Em 391 d.C, Agostinho visitou a cidade deHipona, também localizada no norte da África.Ali, foi eleito presbítero pela congregação e,contra sua vontade, foi ordenado. Em 395 d.C,Agostinho se torna o bispo da mesma cidade,atuando junto com o bispo Valério. Permaneceunesta função até sua morte, em 430 d.C, duran-te o cerco de Hipona pelos vândalos.

Como teólogo, muitas das primeiras obras deAgostinho eram dirigidas contra os maniqueus,

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onde falava da autoridade das Escrituras, daorigem do mal e do livre-arbítrio. Parte de suatarefa teológica também foi refutar as heresiasdo donatismo, onde insistiu na validade dos sa-cramentos, independentemente da virtude mo-ral de quem os administra. Mas foi contra ospelagianos que Agostinho escreveu suas obrasteológicas mais importantes, enfatizando a dou-trina do pecado e da graça divina.

Das suas obras, dois títulos são especiais: AsConfissões, uma autobiografia, e A Cidade deDeus, que nos interessa especialmente para ospropósitos deste estudo.

A Cidade de Deus

A Cidade de Deus é uma das mais importan-tes obras escritas por Santo Agostinho de Hipona.Demorou muitos anos para ser escrita totalmen-te, sendo 412 d.C o ano inicial e 426 d.C o anoem que Agostinho finalmente concluiu-a. Comolembra Lacerda (2004, p. 47), A Cidade de Deusnão foi um livro escrito por alguém no começode sua carreira. Agostinho escreveu o livro numdos períodos mais produtivos de sua vida. O pró-prio Agostinho a chama, no Prefácio (AGOS-TINHO, 2001, p. 27), de “magnum opus etarduum” (um trabalho imenso e árduo).

A Cidade de Deus está dividida em 22 livros.LACERDA (2004, pp 47,48) sugere a seguintedivisão a obra: na Primeira Parte temos a refuta-ção ao paganismo (Livros I-X); e na SegundaParte, de caráter dogmático, Agostinho dá umavisão cristã acerca da História (Livros XI-XXII).

Resta indagar por que Agostinho escreveuesta tão importante obra. Para responder estapergunta, precisamos saber qual era o contexto

histórico em que Agostinho e sua obra estavaminseridos. Em 24 de Agosto de 410 d.C., osvisigodos, liderados por Alarico, invadiram esaquearam a capital do já enfraquecido ImpérioRomano. É bem verdade que, apesar desta que-da, Roma ainda permaceceu em pé durante al-gumas décadas. Mas, quando a capital fora in-vadida em 410 d.C., as pessoas da cidade, natu-ralmente pagãos, começaram a colocar a culpanos cristãos, acusando a religião cristã de ser aresponsável pela queda da cidade. Segundo ospagãos, a partir do momento que o império dei-xou de adorar aos antigos deuses e adotou a re-ligião cristã, as derrotas e as desgraças recaíramsobre o império. Diante disso, os cristãos preci-savam responder às acusações e dúvidas levanta-das pelo saque.

Um bom número de romanos ricos fugiu dacidade, indo para a região da Sicília e para onorte da África. Um bom número deles chegoua Hipona, a ponto de Agostinho exortar seu re-banho a receber os refugiados com caridade. Nãomuito depois destes refugiados estarem estabe-lecidos em Cartago, alguns deles, dentre os maisintelectuais, começaram a refletir sobre se suanova religião não deveria ser acusada pelo de-sastre sofrido por Roma e por eles. Afinal, se-guia assim o argumento, Roma fora imune adomínio exterior por cerca de 800 anos; e agora,apenas duas décadas após o fim formal do cultopúblico aos deuses pagãos (ordenado pelo im-perador Teodósio em 391), a cidade caía sob osbárbaros. Talvez a acusação feita pelos pagãos,de que o Deus cristão, com idéias sobre voltar aoutra face e dar pouco valor a impérios nestemundo, não fosse um guardião eficiente para omelhor interesse da classe dominante. A maiorparte das pessoas que se dedicavam a estes pen-samentos eram cristãos. O “paganismo” destas

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pessoas não era o reviver da antiga religião, masapenas a persistência daquela idéia antiga dereligião como uma barganha que a pessoa temcom os deuses, a fim de preservar sua saúde ebens. Agostinho foi convidado a responder a estasacusações por um amigo, Marcelino, que estavana África para verificar a questão dos donatistas,para o imperador. Ele sabia que a questão ia alémdo porquê de Roma ter caído. Aqui estavamcristãos que ainda não estavam bem seguros doque o cristianismo realmente era, como ele di-feria das religiões romanas que ele substituiu.

Conforme LACERDA (2004, p. 49), existeuma corrente de pensamento que afirma que ACidade de Deus é uma obra de teologia da histó-ria incidentalmente relacionada com a queda deRoma. A despeito desta teoria, preferimos acre-ditar que o saque de Roma em 410 d.C., teve simo seu impacto direto e não apenas incidental so-bre a compilação do livro. Aliás, segundoLACERDA (2004, p. 49), a discussão sobre a pos-sibilidade de Agostinho escrever A Cidade de Deussem a queda de Roma não tem o menor funda-mento, pois a obra foi escrita nesse contexto.

A Cidade de Deus foi escrita para combateras acusações dos pagãos, que colocavam a cul-pa no cristianismo pela queda de Roma. Contraestes, Agostinho refuta uma série de caracterís-ticas do paganismo, apresentando os defeitos doImpério Romano e arrasando a crença na supe-rioridade do paganismo em providenciar felici-dade neste mundo. Os primeiros livros, que ser-viam para consolar aqueles a quem os visigodoshaviam amedrontado, foram publicados rapida-mente e parece que fizeram bem o seu papel.Mas a obra como um todo veio em partes, mos-trando uma visão ampla da história e do cristia-nismo. Conforme HAMMAN (1980, p.233),Agostinho “propõe, na Cidade de Deus, o pro-

blema dos dois poderes e da caducidade das ci-vilizações, e desenvolve, pela primeira vez, umafilosofia cristã da história.”

Além disso, A Cidade de Deus representa umconsolo para os cristãos, que sofrem por estaremnum mundo que não é deles. Com essa finalida-de, Agostinho deixa claro que existe um propó-sito divino no sofrimento. Os cristãos são aper-feiçoados pelos sofrimentos, pois os cristãos nãosão deste mundo. A Sua cidade não é a dos ho-mens, deste mundo, mas os cristãos são cida-dãos dos céus, da Cidade de Deus.

O Problema do Milênio

“A Cidade de Deus” mostra o contraste entreduas cidades: a Cidade Terrena e a Cidade deDeus. Os cristãos, na verdade, estão no mundo,mas não são dele. Eles são como peregrinos, queestão aqui, vivem aqui, mas na verdade a suapátria está nos céus. Às vezes passam por sofri-mentos e privações que os levam a questionar asituação. Agostinho, porém, mostra que Deussempre tem um propósito quando deixa os cris-tãos passarem por dificuldades. Na sua pátria,os cristãos passarão então pela perfeição e ossofrimentos e dificuldades acabarão. E isso ocor-rerá somente quando Cristo, o Senhor da Igre-ja, enfim retornar. O assunto está diretamenteligado ao estabelecimento do reino de Deus nomundo e tem gerado, ao longo da história daIgreja cristã, diferentes posicionamentos.

Considerando-se a realidade atual, dentrodo cristianismo, podem ser identificados trêsposicionamentos teológicos diferentes. A chavepara cada um destes posicionamentos é a natu-reza do reino de Deus. Cada um deles conside-ra de uma maneira bem específica a relação

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entre a vinda de Cristo e o estabelecimento doreino de Deus no mundo. Um dos focos é o “mi-lênio”, ao qual se refere João, no Apocalipse,capítulo 20, versículos 1 e 2: “E vi um anjo des-cendo do céu, tendo a chave do abismo e umagrande corrente na sua mão. E prendeu o dra-gão, a antiga serpente, a qual é o diabo e satanás,e o amarrou por mil anos.” Uma questão com aqual a Igreja se debateu (e continua se deba-tendo) é: Viria Jesus antes ou depois do estabe-lecimento de um reino “milenar” no mundo? Emais: estes “mil anos” são um tempo literal emque, dada a prisão de Satanás, nosso mundodesfrutaria de paz? Ou dever-se-ia entenderaqueles mil anos como figurativos? O assuntonão se resume unicamente à interpretação domilênio, mas gera todo um sistema teológico. Otermo milênio é derivado das palavras latinasMille = mil e annus = anos. Conforme FLOR(1998, pp. 41, 42), a questão mais ampla envol-vida neste debate relaciona-se à visão de mun-do não apenas no cristianismo:

A doutrina do milênio procura concreti-zar não apenas as esperanças de muitoscristãos, mas também adeptos de outrasreligiões no mundo. (...) No entanto, maisdo que uma suposta doutrina bíblica, estaheresia encontra suas bases no desejohumano por um futuro melhor(...).

Três teorias atualmente procuram interpre-tar este milênio: o pré-milenarismo, pós-milenarismo e o amilenarismo.3

O pré-milenarismo ensina que Cristo voltaráantes do milênio e irá instaurar nesta terra um

reinado de mil anos, após ressuscitar primeira-mente todos os que creram em Cristo (primeiraressurreição). Cristo reinará com os crentes so-bre toda a humanidade e o centro do seu reinadoserá a Palestina, com a capital em Jerusalém. Apóseste período, o restante dos mortos ressuscitará eacontecerá o Juízo Final. Os adeptos da tese pré-milenarista normalmente interpretam de formaliteral os mil anos de Ap. 20. Além disso, estacorrente tende a apresentar uma visão pessimistada História. De uma forma geral, pode-se perce-ber que a sociedade é vista sob uma ótica negati-va. Exemplo de uma postura assim pode ser vistade forma mais acentuada em alguns movimentosreligiosos radicais no período da Reforma.

O pós-milenarismo traz uma visão diferenteda anterior não apenas pela relação cronológicaem relação à vinda de Cristo, que seria posteri-or ao estabelecimento do milênio. Ao invés deuma mudança radical, trata-se de um gradativoprogresso nas condições de vida neste mundo,através de uma maior influência da palavra deDeus. Haveria, de acordo com esta posição, umaconversão de um número significativo de pesso-as e um melhoramento das condições gerais devida na sociedade. Diferentemente do pré-milenarismo radical, o pós-milenarismo abre es-paço para uma participação muito efetiva docristão e da Igreja na sociedade. Deve-se istoao fato de ter uma postura otimista em relaçãoàs possibilidades de mudança das condições devida na sociedade. Este posicionamento teoló-gico não chega a ser característico de uma de-nominação religiosa específica. No entanto, éuma tendência que pode ser observada em ma-nifestações de cristãos de diversas origensdenominacionais. Para exemplificar, a “teologiada libertação” poderia sugerir uma postura pós-milenarista como visão de mundo.

3 Para uma abordagem completa das diferentes posiçõesteológicas a respeito da natureza do milênio, ver:ERICKSON, Opções Contemporâneas na Escatologia.

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A explicação amilenarista oferece uma al-ternativa às anteriores. O amilenarismo inter-preta de forma figurada os mil anos de Apocalipse20. Ensina que não haverá um reino visível demil anos na terra. Na verdade, os mil anos jáiniciaram com a Primeira Vinda de Cristo. Clouse(1985, pp. 8,9) nos traz uma boa descrição doque significa os mil anos para os amilenaristas:

Os amilenistas (sic) mantêm que a Bíblianão prevê um período de paz e justiça uni-versais antes do fim do mundo. Eles crê-em que haverá um crescimento contínuode bem e mal no mundo, que culminarána Segunda Vinda de Cristo (...) Osamilenistas (sic) crêem que o reino deDeus está presente agora no mundo, en-quanto o Cristo vitorioso governa seu povoatravés de sua Palavra e Espírito, emboraeles também vejam adiante um reino fu-turo, glorioso e perfeito, na nova terra navida do porvir.

Agostinho é considerado como aquele quesistematizou a abordagem amilenarista, dandoao milênio um sentido figurativo e não temporalou cronológico (ERICKSON, p. 64). Trataremoscom mais detalhe da contribuição de Agosti-nho a seguir.

A Contribuição de Agostinho

Examinando-se a Cidade de Deus, pode-seobservar que Agostinho não tinha uma visãonem pessimista, nem otimista da História. Se-gundo ele, a História não acontece sozinha,como se nenhuma outra força estivesse por de-trás dela. Agostinho acreditava que Deus guiaa História e a utiliza para cumprir os seus desíg-nios. Por outro lado, Agostinho sabe e conhece

a fraqueza do Ser Humano e, em virtude destafraqueza, o ser humano comete as mais diversasmaldades. Por isso, a visão de Agostinho acercada História é uma visão realista, em que o cida-dão da Cidade de Deus não se esconde da vidano mundo, mas dela participa ativamente. Agos-tinho (2001, pp. 392,393) mesmo o diz, no déci-mo-nono livro de sua obra:

Nossa mais ampla acolhida à opinião deque a vida do sábio é vida de sociedade.Porque donde se originaria, como se de-senvolveria e como alcançaria seu fim aCidade de Deus... se não fosse vida sociala vida dos santos?

Agostinho dedica uma espaço significativopara a discussão das questões referentes à se-gunda vinda de Cristo e os eventos a ela liga-dos. No vigésimo livro de sua monumental obra,o bispo de Hipona expõe sua interpretação dotexto de João, em Apocalipse 20, propondo queos “mil anos” não devem ser interpretados deforma literal, mas num sentido figurado.

O bispo de Hipona se detém na questão dojuízo final que, conforme enfatiza logo de início,é “final”, pois Deus julga desde o início (AGOS-TINHO, p. 425). São diversos os textos bíblicosexpostos com a finalidade de mostrar como será oúltimo e definitivo juízo. Agostinho, porém, se-gue uma ordem bem própria de abordagem dosdiferentes livros do cânone. Ele mesmo explica:

Respigarei, primeiro no Novo Testamento edepois no Antigo, os testemunhos, tomadosdas Sagradas Escrituras, que me propusaduzir, do juízo final. Embora o Antigo pre-ceda o Novo em tempo, o Novo precede-oem autoridade, porque aquele não passa deprelúdio deste. (AGOSTINHO, p. 429)

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Agostinho inicia pelo texto dos Evangelhos,mostrando as palavras do próprio Cristo a res-peito das coisas do fim. Depois disto, passa a tra-tar, com mais detalhe, do texto de Apocalipse,discorrendo, após, sobre os textos dos apóstolosPedro e Paulo, indo então para o Antigo Testa-mento, com os profetas Isaías, Daniel, Malaquiase o livro dos Salmos.

Imediatamente antes de entrar no texto deApocalipse, Agostinho elucida o sentido das pa-lavras de Jesus no Evangelho de João, ao falar deduas ressurreições. São elas, a primeira “segundoa fé, que agora se opera pelo batismo”, e a segun-do aquela que ocorre “no juízo final” (Id., p. 434).Vem então a questão envolvendo a visão de Joãono Apocalipse. Citamos as palavras do apóstolo,objeto da exposição de Agostinho:

Então vi descer do céu um anjo; tinha namão a chave do abismo e uma grande cor-rente. Ele segurou o dragão, a antiga ser-pente, que é o diabo, Satanás, e o pren-deu por mil anos; lançou-o no abismo, fe-chou-o e pos selo sobre ele, para que nãomais enganasse as nações até se comple-tarem os mil anos. Depois disto é neces-sário que ele seja solto pouco tempo. Vitambém tronos e nestes sentaram-se aque-les aos quais foi dada autoridade de jul-gar. Vi ainda as almas dos decapitados porcausa do testemunho de Jesus, bem comopor causa da palavra de Deus, tantosquantos não adoraram a besta, nem tãopouco a sua imagem e não receberam amarca na fronte e na mão ; e viveram ereinaram com Cristo durante mil anos. Osrestantes dos mortos não reviveram atéque se completassem os mil anos. Esta é aprimeira ressurreição. Bem-aventurado e

santo é aquele que tem parte na primeiraressurreição; sobre esses a segunda mortenão tem autoridade; pelo contrário, serãosacerdotes de Deus e de Cristo e reinarãocom ele os mil anos. (Apocalipse 20.1-6)

O interesse de Agostinho no texto deApocalipse 20 inicia por indagar o que significari-am as duas ressurreições mencionadas pelo após-tolo João. Na explicação, Agostinho se refere a umainterpretação corrente em seu tempo, de que setrataria, a primeira ressurreição, da ressurreiçãocorporal, ao se completarem seis mil anos desde acriação do mundo. Viria então o “Sábado” de milanos, onde haveria toda sorte de banquetes, co-mida e bebida, que Agostinho considera uma ma-neira carnal de entender o assunto. Aos que pen-sam daquela maneira, Agostinho chama de“khiliastas, palavra grega que literalmente pode-mos traduzir por milenaristas.” (Id., p. 435)

Para explicar o sentido do amarrar de Sata-nás, Agostinho alude à palavra de Jesus no Evan-gelho (Mateus 12.29), com a figura de alguémentrando na casa de um poderoso e amarrando-o, a fim de poder roubar-lhe os bens. Satanás é oforte, que enreda o ser humano com sua malí-cia. Ele teve de ser amarrado, isto é, “acorrentou-lhe o poder de seduzir e dominar os redimidos”(Id., p. 435). Assim sendo, a prisão de Satanás,relatada em Apocalipse 20, não é vista por Agos-tinho como um evento futuro ainda por ocorrer,mas um fato passado. Jesus Cristo, através deseu ministério terreno e a obra da redenção dahumanidade, limitou o poder de Satanás, tiran-do-lhe o domínio sobre os povos.

A interpretação dos mil anos está diretamenteligada à posição a respeito da prisão de Satanás.Agostinho sugere duas possibilidades:

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Ou porque isso há de passar-se nos milúltimos anos, quer dizer, no sexto milhar,como no sexto dia, cujos últimos agoratranscorrem, para serem seguidos pelo sá-bado que não tem tarde, ou seja, pelo re-pouso dos santos, que não terá fim (e emtal sentido aqui chamaria mil anos à últi-ma parte deste tempo, como dia que duraaté o fim do mundo, tomando a parte pelotodo) ou se serve dos mil anos para desig-nar a duração do mundo, empregandonúmero perfeito para denotar a plenitudedo tempo... (Ibid.)

Em qualquer das alternativas sugeridas,Agostinho recusa-se a tratar os mil anos e o re-torno de Cristo de maneira cronológica. Comomostra Daley (1994, p. 196), Agostinho mante-ve uma posição agnóstica “sobre o tempo do fimdo mundo e cético até mesmo quanto às maisrespeitáveis tentativas cristãs de calculá-lo apartir das Escrituras e dos eventos contemporâ-neos.” Já no livro décimo-oitavo de sua obra,Agostinho manifestara-se contrário a qualquertentativa de estabelecer a data do fim. Ao citarum texto do apóstolo Paulo, em que este fala dadestruição do anticristo, por ocasião do retornode Cristo, ele observa:

Aqui é costume perguntar-se: Quando su-cederá isto? Na verdade, trata-se de per-gunta importuna. Porque se fosse útil sabê-lo, quem melhor do que o divino Mestrepoderia dar a resposta aos discípulos... Emvão nos afanamos, pois, em determinar osanos restantes até o fim do mundo, poisouvimos da boca da Verdade que não nostoca sabê-lo. (Id., p. 373)

Agostinho, pelo que se pode observar na ex-posição de Apocalipse 20, vê os dias presentes

como parte dos últimos dias. Em outras palavras,na sua visão, os mil anos estão já ocorrendo, fa-zendo parte do tempo em que a obra redentorade Cristo se faz manifestar, pelo fato do poder deSatanás estar limitado.

Uma das conseqüências do amarrar de Sata-nás por mil anos, segundo Agostinho, pode serpercebida na vida da Igreja cristã em todo otempo entre a primeira vinda de Cristo e seuretorno para o juízo: “Todo dia vemos pessoasque, abandonando a infidelidade, se convertemà fé” (AGOSTINHO, p. 439).

CONCLUSÃO

A irrupção do reino de Deus no mundo foiinterpretada de formas diferentes já por partedos pais da Igreja, nos primeiros séculos da eracristã. Diversos destes empregaram uma leitura“milenarista” do texto bíblico, sugerindo a vin-da imediata do reino, com a plena transforma-ção da sociedade, ainda antes do juízo final.Santo Agostinho, em seu escrito “A Cidade deDeus”, sugere uma visão de História em queDeus realiza seu reinar ativo no mundo mesmoantes do juízo final. Sua interpretação do “milê-nio” é figurativa. O milênio, na verdade, é umafigura do assim chamado “tempo da graça”, ouseja, o período em que a graça de Deus é anun-ciada ao mundo, neste período entre a primeirae a segunda vindas de Cristo.

Para o nosso tempo, em que o debatehermenêutico continua de uma maneira acen-tuada nos textos escatológicos, Santo Agostinhocontinua sendo uma referência importante. Seuposicionamento, caracterizado como amilenarista,proporciona um significa dinâmico ao reino de

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Deus, ou seja, este reino está ativo na História,através do anúncio do Evangelho de Jesus Cris-to. Os cidadãos da Cidade de Deus, vivendo aindaneste mundo, não têm motivo de se esconder. Suavocação é a atuação firme na vida da sociedade,como testemunhas do amor de Deus, reveladoem Cristo e manifestado de maneira especial noaprisionamento de Satanás. Isto faz do tempo pre-sente um tempo de oportunidade para todos aque-les que, a exemplo de Agostinho, aguardam comexpectativa a revelação plena do Reino de Deusno retorno de Cristo, mas já vivem, pela fé, nestereino de graça e amor.

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A necessidade da atualização parao ensino de genética

ROBERTA LIPP COIMBRA1

AGOSTINHO SERRANO DE ANDRADE NETO2

SIMONE SOARES ECHEVESTE3

JULIANA DA SILVA4

RESUMO

Neste estudo buscou-se obter embasamento para discutir a possibilidade de intervenções pedagógicassignificativas dentro de alguns temas da genética. Foi utilizado um grupo de estudantes do PPG de Ensinode Ciências e Matemática que já atuam no ensino médio. Aulas expositivas, de laboratório e discussões deartigos foram realizadas. Na atividade laboratorial desenvolveu-se a técnica Ensaio Cometa. Foi realizadaavaliação conceitual sobre DNA através de pré- e pós-testes. As respostas foram categorizadas. Osresultados indicaram uma clara evolução conceitual, principalmente sobre lesão e reparo/DNA. Destaforma, acreditamos poder contribuir no estabelecimento de algumas estratégias de ensino a serem utiliza-dos junto a diferentes níveis escolares.

Palavras-chave: Genética, Ensino de Pós-Graduação, Experimentos didáticos.

ABSTRACT

Our aim was to investigate means to discuss the possibility of meaningful pedagogical interventions insome themes on genetics, manly through didactic experiments that would allow discussion about genetics

1 Acadêmica do Curso de Biologia – Bolsista PROICT/ULBRA2 Professor do Curso de Física e do PPG Ensino de Ciênci-as e Matemática/ULBRA

3 Professora do Curso de Matemática/ULBRA4 Professora - Orientadora do Curso de Biologia do PPG Ensi-no de Ciências e Matemática/ULBRA ([email protected])

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and the environment. Therefore, we have chosen to use the Comet Assay technique. The didactic activitywas applied in a group of graduate students in science and mathematics teaching to assess the student’sconcepts about DNA. Results may indicate a clear conceptual evolution, manly in the concepts regardingDNA lesion and repair, especially in students from non-biology under graduation courses.

Key words: Genetics, Graduation teaching, didactic experiments.

própria à Biologia, pois os processos pelo qual sepassam a nível celular, são na maioria das vezesimpossíveis de serem manipulados pelos estudan-tes, pois a atividade experimental depende domicroscópio e quando não, só pode ser feito atra-vés de fotografias, modelos e esquemas.

Partindo deste pressuposto, são necessáriasmudanças curriculares e metodológicas utiliza-das pela maioria dos professores de Biologia parao ensino de célula e consequentemente para oensino de genética.

Algumas pesquisas demonstram que “o la-boratório tradicional favorece o estabelecimen-to de uma linguagem comum entre os alunos eo conhecimento científico escolar, que vai sen-do adquirido pelos alunos na medida em queeles argumentam para adequar os significadosatribuídos aos conceitos, leis, teorias e princípi-os científicos ao contexto do laboratório didáti-co” (VILLANI 2004; MOREIRA 1999).

A interação entre pesquisadores de diferen-tes áreas já é bastante comum, observam-se tra-balhos onde interagem geneticistas, químicos,bioquímicos, físicos, profissionais da informática,ética, entre outros, na compreensão de fenôme-nos ambientais, por exemplo.

NETO (1999) destaca que a pesquisa na áreado ensino de ciências em diferentes programasde pós-graduação do Brasil vêm se desenvolven-do desde a década de 70, o que tem levado a

INTRODUÇÃO

A dificuldade de compreensão da constru-ção de conhecimentos decorre da complexida-de inerente à Genética Molecular. O conheci-mento sobre os genes e seu funcionamento dei-xou os laboratórios e passou a envolver interes-ses econômicos e éticos. Além de motivador, otema permite trabalhar o que muitos estudiososde Pedagogia consideram conteúdos sempre pre-sentes no processo de educação escolar: fatos,conceitos, princípios, procedimentos, atitudes,normas e valores.

Ao abordar os conhecimentos relacionadosà natureza do material hereditário, à codificaçãogenética, ao modo como as proteínas determi-nam as características dos seres vivos e, final-mente, como todo este conhecimento tem sidoutilizado na tentativa de resolver problemas desobrevivência da humanidade, estamos contri-buindo para que a escola cumpra seu papel detransmitir o conhecimento socialmente produ-zido, correto e esclarecedor; deixando para trása forma de ensinamento tradicional que abor-dava teorias evolutivas até síndromescromossômicas.

O ensino da célula como uma unidade noensino de biologia tem suas raízes na própria his-tória de construção e evolução de seu conheci-mento. Comparado aos estudos de ensino deQuímica e Física, compreende-se a dificuldade

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uma melhoria deste campo no país. Das cente-nas de trabalhos que foram analisados pelo au-tor observa-se um grande “gap” no que diz res-peito a estudos voltados para graduandos e pós-graduandos como objetos de estudo. O mesmoautor destaca a necessidade de se ampliar ostrabalhos voltados a estes grupos.

Lembramos também que a interdisciplinaridadepromove a interação dos diferentes conhecimen-tos propiciando condições ideais para uma novaaprendizagem, mais motivadora, que diminua odistanciamento entre os conteúdos programáticose a experiência dos alunos.

A reorganização curricular trabalhada numaperspectiva interdisciplinar e contextualizadapressupõe que a aprendizagem significativa im-plica uma relação sujeito - objeto e que, paraque se concretize, é necessário oferecer as con-dições para que os dois pólos do processointerajam (MOREIRA, 1999).

MATERIAL E MÉTODOS

Grupo estudado

A pesquisa foi desenvolvida com os alunos docurso de Mestrado do Programa de Pós-Gradua-ção em Ciências e Matemática / PPGECIM –ULBRA, 2 turmas foram avaliadas. O número deestudantes utilizados no pré-teste foi de quinze,o que corresponde a 100% dos alunos matricula-dos na disciplina de “Química, Física e Biologiapara o Estudo do Ambiente”. Esta disciplina visadiscutir aspectos básicos das ciências de formainterdisciplinar para o estudo do meio ambiente.Sendo assim, a escolha da genética como

temática possibilitou utilizar ensaio cometa comoatividade experimental. Para o pós-teste, os mes-mos 100% de alunos foram analisados (n=15).

Os alunos são em sua maioria graduados emBiologia (50%). Os demais são provenientes dediferentes cursos: Química, Farmácia, Pedago-gia, Administração Rural, Engenharia Civil eEngenharia Elétrica.

O grupo é heterogêneo, além das suas for-mações diversas, alguns alunos buscam omestrado na perspectiva de continuarem seusestudos na Universidade (doutorado), outrosbuscam aprimoramento nesta área, com interesseespecífico no mercado de trabalho.

Atividades desenvolvidas

Foram realizadas entrevistas individuais comos estudantes, onde o conhecimento prévio aoinício do processo de ensino foi identificado atra-vés de questionário - pré-teste com roteiro es-pecífico de perguntas, bem como após aulasexpositivas e de laboratório através de pós-tes-te; a turma 2 não participou da atividadelaboratorial. A atividade foi realizada no primeirosemestre de 2003 e 2004, sendo o pré-teste an-tes das atividades da disciplina e o pós-teste apósatividades. Foi proposto aos alunos uma situa-ção problema e exercícios escritos e de repre-sentações esquemáticas (Anexo 1 – Instrumen-to da pesquisa).

A seguir, as aulas procederam-se discutindotemas mais amplos de genética e ambiente, con-ceitos sobre os temas não fazia parte dos objeti-vos deste curso. Por ser um grupo que não eraformado 100% por biólogos, fez-se necessáriodiscutir um pouco sobre cromossomos, divisão

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celular, estrutura do DNA, síntese de proteínas.Após certo embasamento entrou-se em discus-sões sobre os agentes ambientais, naturais ou sin-téticos, sua forma de ação, dano ao DNA e re-paro, suscetibilidade genética, acompanhadospor um livro texto (DA SILVA et al., 2003).

Também foi realizada atividade em laborató-rio para uma das turmas (Turma 1); os alunosrealizaram caminhada de 30 minutos, para indu-zir dano oxidativo no DNA, e para a prática foicoletada uma amostra de sangue de cada indiví-duo (uma ou duas gotas) antes e outra amostradepois do exercício. Com as amostras de sanguerealizaram um teste de detecção de danos aoDNA (Ensaio Cometa - COTELLE & FÉRARD,1999; DA SILVA et al., 2000). O Ensaio Cometa(“Single Cell Gel electrophoresis”) é uma técni-ca rápida, sensível e barata - portanto factível deser utilizada no ensino - para a quantificação delesões e detecção de efeitos de reparo no DNAem células individuais de mamíferos. Este testeapresenta algumas vantagens sobre os testesbioquímicos e citogenéticos, entre estas a neces-sidade de somente um pequeno número de célu-las e de não ser necessário células em divisão,

sem falar dos custos. As células englobadas emgel sobre uma lâmina são submetidas a uma cor-rente elétrica, que faz migrar para fora do núcleoos segmentos de DNA livres, resultantes de que-bras. Após a eletroforese, as células que apresen-tam um núcleo redondo são identificadas comonormais, sem dano reconhecível no DNA. Poroutro lado, as células lesadas são identificadasvisualmente por uma espécie de cauda, como deum cometa, formada pelos fragmentos de DNA.Estes fragmentos podem se apresentar em dife-rentes tamanhos, e ainda estarem associados aonúcleo por uma cadeia simples. Para alguns au-tores o tamanho da cauda é proporcional ao danoque foi causado, mas somente é de consenso quea visualização do “cometa”, significa dano ao ní-vel do DNA, podendo ser quebra simples, du-plas, crosslinks, sítios de reparo por excisão e/oulesões álcali-lábeis. A identificação do dano noDNA pode ser feita por diferentes maneiras, umaforma é medir o comprimento do DNA migrantecom a ajuda de uma ocular de medidas, outraforma é classificar visualmente em diferentes clas-ses as células com dano (Figura 1), podendo seobter um valor arbitrário que expresse o dano geralque uma população de células sofreu.

Figura 1 - Classes dos COMETAS, desde sem dano até máximo de lesão: A= classe zero / sem dano; B= classe I;C= classe II; D= classe III; E= classe IV; F= apoptose / morte celular (adaptado de DA SILVA et al., 2000).

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RESULTADOS EDISCUSSÃO

Avaliação dos questionários

A comparação dos questionários dos estudan-tes foi realizada a partir da proposição de catego-rias de análise que refletissem sobre a compreen-são a respeito do assunto. As respostas foram ana-lisadas procurando-se pontos em comum, quepossibilitasse o agrupamento. Primeiramente ava-liaram-se os questionários em duas etapas:

(A) avaliação sobre modelo do DNA e con-ceitos (Questões 1-2);

(B) avaliação sobre conceitos de como oDNA pode ser lesado e reparado (enfoqueambiental) (Questões 3-8).

Com relação às respostas, foram propostascategorias baseadas nos trabalhos de FALCÃO& BARROS (1999) e GRIFFIN et al. (2003).Assim, dentro de cada etapa, A e B, as respos-tas dos estudantes foram agrupadas em:

(0) Sem resposta - Respostas do tipo não seiou em branco;

(1) Resposta Pobre / Sem informação – Res-postas que não indicavam compreensão doaluno sobre o tema;

(2) Resposta Fraca / Racionalidade Científicanão Compatível com Modelo Científico - Res-postas que manifestam uma certa compreensãodos conceitos, mas sem fundamentação teórica;

(3) Resposta Satisfatória / RacionalidadeCientífica com Certa Compatibilidade como Científico - Respostas que demonstramcompreensão dos elementos científicos maisimportantes;

(4) Resposta Excelente / ExpressaRacionalidade Científica com ou sem Refi-namento de Modelo Compatível - Percebe-se compreensão total sobre a resposta, poden-do apresentar refinamento nas respostas (dis-cussões além do questionado).

Na Tabela 1 e 2, é possível observar todas asrespostas dos estudantes já separadas em categori-as para cada questão, bem como na Figura 2 e 3.Com base nas Tabelas 1 e 2 e Figura 2 e 3, observa-se que os estudantes apresentaram um certo co-nhecimento sobre o que é o DNA e a sua função(questões 1 e 2), mas que a respeito dos agentesambientais e naturais e seus efeitos sobre o materi-al genético este conhecimento era bastante falho.

Observe nas mesmas tabelas e figuras queao final da disciplina (pós-teste) o número derespostas classificadas como 4 (Excelente) au-menta nitidamente, para ambas as turmas.

Alguns dos teóricos citados por VILLANI(1999), como Ausubel e Novak, consideramestratégias e recursos didáticos como instrumen-tos que permitem a manipulação de variáveisdo processo ensino-aprendizagem e são eles os“organizadores prévios” e os “mapas conceituais”.A mesma autora comenta a respeito destes “dis-positivos” como já utilizados como recurso pordiversos autores.

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Tabela 1 - Categorização das respostas da Turma 1 quanto a sua compreensão sobre o tema DNA, antes do início dasdiscussões (Pré-Teste) e após atividades de laboratório, aulas expositivas e discussões (Pós-Teste).

QUESTÕES PRÉ-TESTE NÚMERO TOTAL DE ALUNOS/ CLASSE DE RESPOSTA

(A) DNA X CONCEITOS (4) (3) (2) (1) (0)1. O que é o DNA e qual a sua função? 2 3 1 0 02. Desenhe o modelo do DNA que você utiliza. 1 0 3 1 1(B) DNA X AMBIENTE - LESÃO / REPARO (4) (3) (2) (1) (0)3. Quais fatores você acha que podem levar a modificações no DNA? 1 2 3 0 04. O que você pensa que acontece com uma célula após seu DNA ser lesionado? 1 0 5 0 05. “O homem na era pré-industrial tinha seu DNA intacto pela maior parte de sua vida”.Você concorda ou discorda desta afirmação? Explique 1 2 0 3 0

6. E quanto a suas próprias células? Quando você supõe que o DNA das suas célulassofre alteração? Quantas vezes por ano? 0 1 1 3 1

7. As modificações que podem ocorrer no seu DNA sempre são maléficas? Explique. 1 3 1 1 08. O que aconteceu com o DNA dos roedores do texto do início da folha? Comente eexplique a descoberta dos cientistas: a variabilidade genética da espécie permaneceu amesma.

0 1 1 4 0

(A) DNA X CONCEITOS (4) (3) (2) (1) (0)1. O que é o DNA e qual a sua função? 2 4 0 0 02. Desenhe o modelo do DNA que você utiliza. 1 1 4 0 0(B) DNA X AMBIENTE - LESÃO / REPARO (4) (3) (2) (1) (0)3. Quais fatores você acha que podem levar a modificações no DNA? 4 1 1 0 04. O que você pensa que acontece com uma célula após seu DNA ser lesionado? 3 1 1 0 15. “O homem na era pré-industrial tinha seu DNA intacto pela maior parte de sua vida”.Você concorda ou discorda desta afirmação? Explique 4 0 2 0 0

6. E quanto a suas próprias células? Quando você supõe que o DNA das suas célulassofre alteração? Quantas vezes por ano? 5 0 1 0 0

7. As modificações que podem ocorrer no seu DNA sempre são maléficas? Explique. 3 2 1 0 08. O que aconteceu com o DNA dos roedores do texto do início da folha? Comente eexplique a descoberta dos cientistas: a variabilidade genética da espécie permaneceu amesma.

2 1 0 3 0

Tabela 2 - Categorização das respostas da Turma 2 quanto a sua compreensão sobre o tema DNA, antes do iníciodas discussões (Pré-Teste) e após atividades de laboratório, aulas expositivas e discussões (Pós-Teste).

QUESTÕES PRÉ-TESTE NÚMERO TOTAL DE ALUNOS /CLASSE DE RESPOSTA

(A) DNA X CONCEITOS (4) (3) (2) (1) (0)1. O que é o DNA e qual a sua função? 3 6 0 0 02. Desenhe o modelo do DNA que você utiliza. 1 4 2 0 0(B) DNA X AMBIENTE - LESÃO / REPARO (4) (3) (2) (1) (0)3. Quais fatores você acha que podem levar a modificações no DNA? 0 2 6 0 14. O que você pensa que acontece com uma célula após seu DNA ser lesionado? 0 0 6 1 25. “O homem na era pré-industrial tinha seu DNA intacto pela maior parte de sua vida”.Você concorda ou discorda desta afirmação? Explique 0 2 3 3 1

6. E quanto a suas próprias células? Quando você supõe que o DNA das suas célulassofre alteração? Quantas vezes por ano? 0 3 2 0 4

7. As modificações que podem ocorrer no seu DNA sempre são maléficas? Explique. 0 3 2 2 28. O que aconteceu com o DNA dos roedores do texto do início da folha? Comente eexplique a descoberta dos cientistas: a variabilidade genética da espécie permaneceu amesma.

0 0 5 2 2

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QUESTÕES PÓS-TESTE NÚMERO TOTAL DE ALUNOS /CLASSE DE RESPOSTA

(A) DNA X CONCEITOS (4) (3) (2) (1) (0)1. O que é o DNA e qual a sua função? 7 2 0 0 02. Desenhe o modelo do DNA que você utiliza. 2 4 1 0 2(B) DNA X AMBIENTE - LESÃO / REPARO (4) (3) (2) (1) (0)3. Quais fatores você acha que podem levar a modificações no DNA? 6 3 0 0 04. O que você pensa que acontece com uma célula após seu DNA ser lesionado? 6 2 1 0 05. “O homem na era pré-industrial tinha seu DNA intacto pela maior parte de sua vida”.Você concorda ou discorda desta afirmação? Explique 1 6 0 0 2

6. E quanto a suas próprias células? Quando você supõe que o DNA das suas célulassofre alteração? Quantas vezes por ano? 4 5 0 0 0

7. As modificações que podem ocorrer no seu DNA sempre são maléficas? Explique. 4 5 0 0 08. O que aconteceu com o DNA dos roedores do texto do início da folha? Comente eexplique a descoberta dos cientistas: a variabilidade genética da espécie permaneceu amesma.

2 7 0 0 0

Figura 2. Médias das respostas (classes) obtidas para a turma 1 em relação a cada questão.

Médias Pré e Pós-Teste Turma 1

0

1

2

3

4

1 2 3 4 5 6 7 8

Questões

Cla

sses

(0-4

)

Pré-testePós-teste

Figura 3 - Médias das respostas (classes) obtidas para a turma 2 em relação a cada questão.

Médias Pré e Pós-Teste Turma 2

0

1

2

3

4

1 2 3 4 5 6 7 8

Questões

Cla

sses

(0-4

)

Pré-testePós-teste

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A comparação dos dados resultantes das duasavaliações, pré- e pós-teste, revela mais uma vezque para cada etapa (Bloco de Questões) as por-centagens de acertos mostraram-se maiores apósa implementação da disciplina. Percebe-se que amelhora das respostas, passando de fracas e po-bres (Classes 0-2) para satisfatórias e excelentes(Classes 3-4), se deu principalmente a respeitode efeitos ambientais e naturais sobre o DNA, ea capacidade deste de se reparar (Etapa B).

Através dos resultados do teste não-paramétrico de Wilcoxon verifica-se que ape-nas a Questão 5 para a Turma 2 não apresentoudiferença significativa (P>0,05) nas pontuaçõesrecebidas entre os períodos pré e pós. Para asoutras questões observou-se uma pontuaçãomaior no período pós.

Os 100% dos estudantes testados na segundafase (pós-teste) apresentaram melhora no desem-penho, mesmo falando em relação aos alunos quenão eram de áreas biológicas. Mas o mais interes-sante é observar que em relação a questão 5, onderequer uma compreensão de que o natural, o pró-prio oxigênio, leva a lesão no DNA, somente àsaulas teóricas não foram suficientes para demons-trar uma melhora nas respostas. Quando se ob-serva a Turma 1 que realizou atividadelaboratorial, onde os mesmos tinham uma situa-ção problema e através da análise de seus dadosobservaram que o dano no material genético podeser levado pelo próprio ar que respiramos; a me-lhora é estatisticamente significante.

CONCLUSÕES

Os conhecimentos são dificilmente transmiti-dos, tanto no plano individual como social, sua

transferência, de um nível ao outro deensinamento, parece ser igualmente difícil. Segun-do GIORDAN & DE VECCHI (1988), professo-res do ensino superior culpam os do nível secun-dário, e estes os do primário. Os mesmos autoresainda ressaltam que não existe um ensinamentointegrador, e que é por isto que ocorre uma lacunaem muitos dos temas estudados.

O DNA é um dos grandes descobrimentosda ciência contemporânea, sendo que seu co-nhecimento foi rapidamente popularizado. Osmeios de comunicação graças à estrutura doDNA, imagens fantásticas, e explicações sobreo código genético, influenciaram na introdu-ção deste tema nos programas de ensino. ABiologia Molecular mesmo fazendo parte dosprogramas de ensino ainda hoje apresentammuitas carências, o que pode ser observadoneste estudo.

O uso de experimentos didáticos no ensinointerdisciplinar de ciências é desejável, pois for-nece subsídios à discussão de temas quepermeiam diversas ciências. Em particular, oEnsaio Cometa é uma técnica barata e que per-mite abordar a temática de lesão e reparo doDNA, provocada tanto por efeitos simples comoestresse oxidativo como de outros fatoresgenotóxicos. Aspectos qualitativos da lesão doDNA podem ser abordados, e também aspectosquantitativos, como a freqüência das lesões queocorre naturalmente. Consideramos que, hojeem dia, várias universidades do país que possu-em laboratório de genética podem utilizar estatécnica para integrar este tema no ensino, tan-to na graduação, como na pós-graduação. Alémdisto, utilizar experimentos didáticos que envol-vam a atuação de fatores ambientais na genéti-ca de seres vivos permite discutir conceitos bá-sicos das diversas ciências – transversalidade.

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Um dos resultados observados é que estudan-tes de diferentes áreas, apresentam um apren-dizado significativo da temática da genética, emespecial, sobre lesão e reparo. Já o aprendizadoda estrutura e função do DNA não apresentou,na nossa investigação, uma melhora substanci-al, talvez por não ter sido abordada representa-ções microscópicas do funcionamento da gené-tica em nível molecular. Entretanto, conheci-mento básico sobre a função e estrutura do DNAfoi satisfatoriamente apresentado pelos estudan-tes após a atividade.

As representações utilizadas pelos estudantesde área ou não da biologia refletem a necessidadede descrever a estrutura do DNA e sua composi-ção química (entre as fitas), e suas funções (códi-go genético). Assim, as representações dos estu-dantes refletem modelos científicos com nenhu-ma ou algumas concepções alternativas, à medidaque incluem ou não os elementos supracitados.Estas representações podem servir para categorizaros estudantes, pois podem refletir o grau de co-nhecimento científico apresentado por eles.

Desta forma, faz-se necessário investigar ain-da mais o processo de aprendizagem no que serefere ao tema tratado, quanto aos conceitos,desde antes de concluído os cursos específicosde graduação, e até mesmo os livros didáticosdisponíveis sobre o assunto, juntamente aos mé-todos de ensino utilizados. É importante salien-tar também a necessidade de se utilizar e avaliardiferentes estratégias, e métodos mais novos, comoo Ensaio Cometa, principalmente quando trata-dos de temas mais complexos como dano e reparodo DNA. Este método se mostrou eficaz entre ospós-graduandos avaliados neste estudo, permitin-do inclusive discussões entre diferentes discipli-nas como química, física e biologia.

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VILLANI, V.G. Um contexto de ensino e aaprendizagem da fisiologia humana. In: EN-CONTRO NACIONAL DE PESQUISA EMEDUCAÇÃO E CIÊNCIAS, 2., 1999.

ANEXO 1

No leste europeu ocorreu um acidente noreator nuclear de Chernobyl, em que o núcleodo reator, devido a falhas mecânicas e humanasteve uma súbita mudança de temperatura, queprovocou a sua explosão, jogando grande quan-tidade de fumaça com elementos radioativos naatmosfera. Esta fumaça radioativa contaminouuma grande área nos arredores da região, quesofreu e ainda sofre os efeitos. Logo após o aci-

dente, uma análise de roedores da região mos-trou que a variabilidade genética destes roedo-res era idêntica a de roedores da mesma espécieem outros lugares do mundo.

Após a leitura deste texto, responda às ques-tões:

1. O que é o DNA e qual a sua função?

2. Desenhe o modelo do DNA que você uti-liza.

3. Quais fatores você acha que podem levara modificações no DNA?

4. O que você pensa que acontece com umacélula após seu DNA ser lesionado?

5. “O homem na era pré-industrial tinha seuDNA intacto pela maior parte de suavida”. Você concorda ou discorda destaafirmação? Explique.

6. E quanto a suas próprias células? Quandovocê supõe que o DNA das suas célulassofre alteração? Quantas vezes por ano?

7. As modificações que podem ocorrer no seuDNA sempre são maléficas? Explique.

8. O que aconteceu com o DNA dos roedo-res do texto do início da folha? Comentee explique a descoberta dos cientistas: avariabilidade genética da espécie perma-neceu a mesma.

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Harry Potter: magia, ciência, tecnologiaarticuladas na literatura para a produçãode uma infância/adolescência ciborgue?

ISABEL CHRISTINA ZOPPAS1

CAROLINE ROBERTA TODESCHINI2

MARIA LÚCIA CASTAGNA WORTMANN3

RESUMO

Este texto focaliza as aventuras de “Harry Potter” narradas por J. K. Rowling, discutindo-as apartir dos campos da Educação, dos Estudos Culturais e dos Estudos Culturais de Ciência. Valendo-nos de análises discursivas, examinamos representações de magia, tecnologia e ciência, em umaabordagem construcionista cultural (HALL, 1997), entendendo que tais textos atuam tanto comodivertimento para seus leitores/as, quanto como Pedagogias Culturais: neles se ensina a ser estudantee feiticeiro, além de saberes tecnológicos, científicos e magia. Tais saberes estão neles articulados eatuando na produção de identidades juvenis e de representações de escola e família, que não diferemmuito nas sociedades dos “bruxos” ou “trouxas”, categorias em que estão polarizados os/as persona-gens dessas histórias.

Palavras-chave: estudos culturais, representações culturais, pedagogias culturais.

1 Acadêmica do Curso de Biologia/ULBRA – Bolsista PROBIC/FAPERGS

2 Acadêmica do Curso de Biologia/ULBRA – Bolsista PROICT/ULBRA

3Professora – Orientadora do Curso de Pedagogia e doPPG Educação/ULBRA ([email protected])

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ABSTRACT

This text speaks of a study centring on young and children literature, particularly Harry Potter’s adventuresnarrated by J. K. Rowling, by articulating fields of Education, Cultural Studies, and Cultural Studies onScience. Using discursive analysis, we have considered representations of magic, technology and science, incultural constructionist approach (HALL, 1997). We have assumed that texts narrating this young wizard’sadventures act on its readers not only as entertainment, but also as cultural teaching, which teaches themto be young, students, and wizards, and position them towards different knowledges – technological,scientifical, and magical ones. These texts even highlight the established social order – particularly schooland family – and these are not very different in shape either in wizard society or in fool one, the categoriesin which characters of these stories are. Furthermore, these texts articulate magic and technology as possibilitiesacting on young identity shaping.

Key words: cultural representations, cultural studies, cultural pedagogy.

e intrigantes considerações postas em evidêncianos livros da escritora britânica Joanne KathleenRowling, que têm sido objeto de nossas análises.

Discutir de que modo tais temas podem servistos como entrelaçados nos livros de Rowlingganha, ainda, maior destaque em função do es-trondoso sucesso que tais livros têm alcançadoem todo o mundo1 . Em uma série de sete livros,traduzidos para cinqüenta idiomas, cinco dosquais já foram editados no Brasil, tendo sido trêsdeles transformados em filmes, a autora narra asaventuras do jovem Harry Potter – um meninobruxo, de passado confuso, cujos pais morreramnas mãos de um malvado feiticeiro.

Como é possível ver, a partir do excerto que trans-crevemos acima, tais histórias têm mobilizado seusleitores para além da simples aquisição e leitura doslivros para entretenimento. Elas os têm instigado de

INTRODUÇÃO

Parece que a escola de magia de Hogwartsabriu uma sucursal por aqui, porque temque ser meio mágico para vestir capa pretade bruxo inglês debaixo de um calorão de30o C – e ainda jogar quadribol sem vas-soura voadora! Mas foi isso que aconteceusábado, no primeiro encontro promovidopelos sites Pottervillage e Potterish, na Re-denção. Os fãs de Harry Potter se dividi-ram nas casas da Grifinória, Corvinal,Sonserina e Lufa-Lufa (igualzinho aos li-vros). A próxima reunião da turma não temdata, mas o lugar foi escolhido: rola emFloripa – a ilha da Magia! Sacou o troca-dilho? (Texto escrito por Ricardo Duarte epublicado no jornal Zero-Hora, editado emPorto Alegre, RS, em 16/02/2005).

O estudo que desenvolvemos, e no qual estetexto se apóia, coloca em destaque temas comomagia, tecnologia e ciência, sobre os quais têmsido desenvolvidas importantes discussões nacontemporaneidade, valendo-se das peculiares

1 Segundo a Revista digital Pikflash.com (acesso 17/03/2005)já foram vendidos mais de 200 milhões de exemplares dosprimeiros cinco livros da autora. Nesta mesma fonte estáindicado que Rowling é, atualmente, a mulher mais rica daInglaterra.

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diferentes maneiras, uma das quais corresponde asua organização em grupos e confrarias que cultuame refazem as práticas de Hogwarts (escola de magiae bruxaria neles apresentada), não mais apenas nainternet. Ou seja, queremos destacar que tal litera-tura tem efeitos produtivos de diferentes ordens so-bre seus leitores e leitoras e a sociedade, posto queesses envolvem, tanto a produção e reafirmação deidentidades e de formas culturais juvenis, formasessas que, tantas vezes, tal como indicou Hinkson(apud GREEN & BIGUM, 1995), têm assustado edesafiado os professores na condução de seu traba-lho em sala de aula, quanto a criação de necessida-des ligadas ao que KELLNER (2001) denomina “cul-tura da mídia. Tal cultura, como destaca o mesmoautor (op.cit), é um setor vibrante e lucrativo daeconomia (que tem na propaganda um dos seusmaiores suportes), que explora as tecnologias maisavançadas, que atinge dimensões globais e que fun-ciona como uma importante pedagogia cultural2 .

No que se refere aos efeitos produtivos doslivros de Jeanne Rowling, que tomamos, tam-bém, como pedagogias culturais, pode-se dizerque seus personagens transformaram-se, nãoapenas em atores e atrizes dos filmes que acimareferimos; esses são alguns dos/as heróis e hero-ínas de nosso tempo, reproduzidos como bone-cos/as e figuras que passaram a estampar cader-nos, mochilas, roupas3 e a serem comercializadosintensa e lucrativamente. Mas, além disso, como

indicamos acima, eles são o elo que tem reuni-do jovens de diferentes bairros, cidades, e atépaíses, em chats ou presencialmente, para dis-cutir práticas, aspirações, procedimentos, queatuam na definição dos modos desses jovensposicionarem-se no mundo e o entenderem.

OBJETIVOS DO ESTUDO,MATERIAL ANALISADO EPROCEDIMENTOS DEPESQUISA

Neste texto, estamos mais uma vez nos deten-do no exame de uma produção cultural usual-mente “não legitimada” para falar da ciência, datecnologia e mesmo da magia – a literaturainfanto-juvenil–, mas que, como já indicamos emtextos anteriores (WORTMANN, 2004,ZOPPAS, TODESCHINI e WORTMANN,2004), atua na produção de significados. Nossointeresse tem sido, então, ver como são veicula-das, e produzidas discursivamente4 , representa-

2 A expressão pedagogia cultural foi enunciada por autores/as como Henry Giroux (1995), Susan Steinberg (1997),Peter McLaren (1998) e Douglas Kellner (1995 e 2001),para salientar a idéia de que a educação ocorre em umavariedade de locais sociais, incluindo a escola, mas não selimitando a ela. Como vimos reiteradamente afirmando emmuitos estudos, o conceito de pedagogia cultural amplia anoção de pedagogia, permitindo que se possa entendermelhor como o trabalho que ocorre nas escolas (e em ou-tros locais convencionalmente pensados como educacio-nais) está articulado a outras formas de trabalho cultural.

3 Na fotografia estampada no jornal Zero-Hora/RS, do qualtranscrevemos o excerto que dá inicio a este projeto, to-dos/as os/as jovens estão vestidos como os personagensdos filmes de Harry Potter.

4 Estamos compreendo discurso, na acepção indicada porLarrosa (1994), como “forças históricas que têm poderconstrutivo” e que não apenas nomeiam objetos, seres,fenômenos, mas interferem na sua criação. Como desta-cou Barry Smart (In: Michael Payne, 2002) os discursossão “práticas que sistematicamente formam os objetos dosquais falam”. Esses agrupam idéias, imagens, e tambémpráticas, que propiciam formas de se falar, de se conhecere de se produzir condutas associadas a tópicos particula-res, a atividades sociais, bem como a modos de se localizaros sujeitos nas sociedades tal como destacou Hall(1997).Nas formações discursivas define-se, então, o que ée o que não é adequado, bem como os conhecimentosque devem ser considerados úteis, pertinentes e verdadei-ros, além das pessoas que incorporam atributos associa-dos a tais características.

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ções5 sobre tais temas nessa literatura, indicandocomo muitas delas ao serem enunciadas, repeti-das e retomadas na literatura, nos filmes, nas crí-ticas de jornais e revistas, nos sites, nos grupos dediscussão na Internet, e até em textos de revistasde divulgação cientifica, ganham estatuto deverdades, ao deixarem de ser questionadas, pro-movendo-se, dessa forma, o esquecimento de queessas são produzidas culturalmente.

Interessou-nos, também, ver como nessa pro-dução discursiva, que vimos enredar ciência,tecnologia e magia, instituem-se e são colocadosem circulação discursos e representações que pas-sam a marcar (e a produzir), especialmente, osjovens de nosso tempo e as suas visões de mundo.Como destacou Donna Haraway (apudKUNZRU, 2000), os sujeitos nacontemporaneidade inserem-se em uma “cole-ção de redes” (p. 30), nas quais se está constan-temente fornecendo e recebendo informações aolongo da linha que constitui os milhões de redesque formam o nosso mundo (ibid). Nos valemos,ainda, neste estudo, da imagem do ciborgue, tam-bém utilizada por HARAWAY (2000), para con-siderarmos algumas características atribuídas àinfância e à adolescência representadas em taistextos. Como ressalta HARAWAY (2000), “ociborgue é um organismo cibernético, um híbri-do de máquina e organismo, uma criatura da re-alidade social e também uma criatura de ficção”(p.40). O ciborgue é matéria de ficção, mas tam-bém de experiência vivida - ele configura a fron-teira entre ficção científica e realidade social comoilusão de ótica. Ele é, também, nossa ontologia -

uma imagem condensada tanto da imaginaçãoquanto da realidade material - que nos leva, ne-cessariamente, a lidar com a confusão de frontei-ras e, ao mesmo tempo, com a responsabilidadeque a construção de tal confusão nos imputa.

Como a mesma autora (op.cit) ressalta, aofinal do século XX, um tempo que ela consideramítico, “somos todos quimeras, híbridos - teóri-cos e fabricados - de maquina e organismo; so-mos, em suma, ciborgues” (p.41). Então, por isso,nos parece ser preciso considerar, tal comoGREEN & BIGUM (1995), que os escolares/cri-anças desse tempo, que vivem em uma “paisa-gem da informação” (Wark, apud GREEN &BIGUM, 1995), são sujeitos muito peculiares. Edisso decorre a importância de, à semelhançado que fazem Susan Steinberg (1997) e ValerieWalkerdine (1998), teorizar-se a infância e ajuventude contemporânea “como fenômenos deimpressionante complexidade e contradição”(GREEN & BIGUM, 1995) na presente confi-guração social. É nessa configuração que emer-ge a figura de um “sujeito-estudante pós-mo-derno” (ibid, p. 209) – os estudantes que acor-rem cotidianamente às nossas salas de aula–,tantas vezes configurada como “alienígena”,como indicam os mesmos autores, por não seenquadrar no “modelo” de jovem/aluno defini-do a partir dos padrões da modernidade.

Perguntamos, então: em que instâncias e pro-cessos tais sujeitos/ crianças/adolescentes/esco-lares se instituem como ciborgues, tal comoHARAWAY (op.cit) indicou? Uma das respos-tas possíveis nos leva a indicar que as muitas his-tórias que contamos sobre eles em muitas e dife-renciadas instâncias sociais os produzem ou fa-bricam discursivamente, sendo importante con-siderar, mais uma vez, ainda, que tais efeitos pro-dutivos não se restringem apenas, a uma figura

5 O termo representação é empregado neste texto com osignificado de representação cultural, que lhe atribui StuartHall (1997) ao assumir a perspectiva construcionista darepresentação.

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de retórica e que, neste texto, estaremos nos ocu-pando, apenas, de uma dessas instâncias.

As análises conduzidas nos Estudos Cultu-rais acerca das formas de compreenderem-se ossaberes/conhecimentos colocam em destaquecomo esses são produções da cultura. Como des-tacou HALL (1997), os significados se instau-ram nos diferentes momentos e práticas que com-põem o que ele denomina “circuito da cultura”no qual se dá: a construção das identidades, adelimitação das diferenças e a sua produção, oconsumo, bem como a regulação das condutassociais. A literatura infanto-juvenil integra essecircuito nele atuando como uma importantepedagogia cultural, ao lado da televisão, dosvideogames, dos filmes, dos jornais, das revis-tas, todos eles vistos como locais pedagógicosnos quais o poder se organiza e exercita. Nossasanálises voltaram-se, então, à indicação dos sig-nificados instituídos para as identidades juve-nis nos textos nessa literatura vendo-as comoarticuladas e imbricadas na configuração da tra-ma na qual nela também se articulam ciência,tecnologia e magia.

Nosso estudo envolveu a análise dos cincolivros de Rowling sobre as aventuras de HarryPotter traduzidos para o português: Harry Pottere a Pedra Filosofal (2000); Harry Potter e a Câ-mara Secreta (2000); Harry Potter e o Prisioneirode Azkaban (2000); Harry Potter e o Cálice deFogo (2001); e Harry Potter e a Ordem da Fênix(2003). Cabe destacar que em um primeiro mo-mento, procedemos a uma leitura seqüencialdesses livros, buscando alcançar uma compre-ensão geral das histórias, bem como dos perso-nagens e das situações nelas envolvidas para logocomeçarmos a destacar idéias, atributos, ima-gens, formas de falar, posições e condutas atri-

buídas aos personagens e às situações narradasnas histórias. Enfim, fomos colocando em desta-que alguns discursos e representações de temase sujeitos que nos mobilizaram para a conduçãodo estudo. Buscamos destacar, ao mesmo tem-po, como foram sendo marcadas nessas históriasposições e comportamentos para os sujeitos quedelas participam ora como adequados, ou não,ora como úteis, ou não etc.

Cabe destacar, ainda, que tais livros falamde muitos temas, além de magia, que é certa-mente o foco mais destacado dessas histórias,estando entre esses, ciência, tecnologia, racis-mo, diferenças sociais, morte, amor, segregaçãodos diferentes, emancipação de trabalhadoresescravizados, retomando, ampliando ereconfigurando o modo como tais temas são des-tacados em outras histórias infanto-juvenis e emoutras produções culturais.

AS ANÁLISES – ALGUMASCONSIDERAÇÕES SOBREOS TEXTOS EPERSONAGENS

O primeiro livro, editado em 1997 na Grã-Bretanha, foi Harry Potter e a Pedra Filosofal. Nelea autora narra como Harry descobriu suas ori-gens ao completar onze anos e como ele, logoapós descobrir sua condição de bruxo, foi estu-dar na escola de Hogwarts, uma escola de ma-gia e bruxaria. É também neste primeiro livro,que Harry se defronta pela primeira vez com seuinimigo Lord Voldemort. O segundo livro, HarryPotter e a Câmara Secreta (1a ed. 1998), trata daorigem da escola Hogwarts e de seus fundadorese, também, das diferenças existentes entre os

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estudantes admitidos em Hogwarts – alguns sãobruxos “puros”, outros são “híbridos” e outros são“trouxas” – para aprenderem a ser bruxos . Noterceiro livro, Harry Potter e o Prisioneiro deAzkaban (1a ed, 1999), o foco é a violência docotidiano e as possíveis formas de sua conten-ção. O quarto livro, Harry Potter e o Cálice deFogo (1a ed. 2000), dá ênfase ao esporte comomeio de desenvolver disciplina, concentração,estratégia e criatividade, ensinando os jovens acompetirem e a lidarem com perdas, ao pratica-rem um dos esportes favoritos desses “bruxos”- oquadribol. O quinto livro, Harry Potter e a Or-dem da Fênix (1a ed. 2003), narra o 5o ano depermanência de Harry em Hogwarts, focalizan-do, especialmente, a lealdade e algumas formasautoritárias de poder.

Ainda é importante destacar algumas carac-terísticas dos personagens principais destas his-tórias. Harry Potter é um mestiço de “bruxo” e“trouxa”6 (pai “sangue-puro”, mãe “trouxa”),cujas características físicas diferem das que usu-almente representam um “super herói” – ele éum menino franzino que usa óculos e não temamigos e que, além disso, é desajeitado e nãopossui uma inteligência acima da média. É ummenino bruxo que herdou alguns poderes gene-ticamente e “outros através do amor de suamãe”. Assumir a sua condição de “bruxo” é ogrande desafio que as aventuras contadas notexto lhe destinam. Hermione é “trouxa” (filhade pais “trouxas”), mas, apesar disso, ela é re-presentada nas histórias como “gênio”. É umaamiga fiel de Harry, atuando como estrategistanos momentos de dificuldade vividos pelos ami-gos. Rony é um bruxo “sangue-puro” (filho depais “sangue-puro”) e o melhor amigo de Harry.

Conhece bastante bem o mundo dos bruxos com-partilhando com Harry todos os seus conheci-mentos. Dumbledore é o diretor da escolaHogwarts, considerado o maior bruxo daquelemomento, sendo amado e respeitado por todos.Minerva MacGonagall é uma das professoras daescola. Apesar de sua aparência rígida e fria éextremamente justa e também afetuosa. SeveroSnape é o professor de poções mágicas; ele écarismático e misterioso. Lord Voldemort é ogrande inimigo de Harry. Ele já sucumbiu umavez na sociedade dos “bruxos” por sua ganânciade poder e, nos episódios narrados nos livrosanalisados, ele volta para destruir Harry Potter,tendo em vista que ambos não podem coexistirno mesmo mundo.

É interessante apontar como estes livros lidamcom a estruturação da sociedade. Tanto a socie-dade dos bruxos, quanto a dos trouxas podem servistas como equivalentes. Assim, por exemplo, asociedade dos “bruxos” compreende escolas nasquais os sujeitos aprendem magia, estando essassubordinadas a um Ministério da Magia o qualtambém legisla sobre o comportamento dos “bru-xos” ; além disso, os ritos, as práticas, bem como ahierarquização procedida na Escola da Magia,repetem “modelos” assumidos em nossas escolascontemporaneamente. Há, por exemplo, listas delivros que devem ser adquiridos em livrarias au-torizadas com títulos como Transfiguração para oCurso Médio e O livro padrão de feitiços, 3a sériepara o acompanhamento das aulas. Pode-se pen-sar que esses modelos, ao serem colocados emdestaque para caracterizar modos de viver desujeitos “diferentes”, misteriosos e usualmenteconfigurados como dotados de poderes inusita-dos, são, dessa forma, mais uma vez legitimados.Como indicamos, inicialmente, opera-se, nessadireção, a naturalização de tais procedimentos e6 Esta é a forma como o texto refere todos os não-bruxos.

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práticas – a sociedade dos “bruxos” repete a so-ciedade dos “trouxas”, não apresentando peculi-aridades estruturais, mas, apenas, focos específi-cos de ação diferenciados7 .

De certo modo, poderia-se dizer que, a ma-gia está para os “bruxos” dessas histórias como aciência e a tecnologia estão para os “trouxas”:ambas lhes permitirem acessar e aprimorar con-dições, bem como criar possibilidades, que lhespermitem, de muitas formas, transcender às suascondições de “bruxos” ou de “trouxas”.

Um outro aspecto a destacar é que HarryPotter está configurado nessas histórias como um“outro”, como diferente, como uma alienígena,ou, ainda como um ciborgue (neste caso ummisto de homem e mago) e que, por conta disso,ele sente um profundo desconforto ao relacio-nar-se com seus tios e primo “trouxas”, que igual-mente o configuram assim. Esta “diferença”, oser “bruxo”, no entanto, não lhe é apenasconferida por sua herança genética; ela tambémestá configurada no texto das histórias comodecorrente das interações e das aprendizagensculturais que se dão, especialmente, na escolaque freqüenta. Enfim, como as histórias marcam,mesmo que ele possua “aptidões” para se tornarum “bruxo” é necessário que ele aprenda a ser“bruxo” e, para tanto, ele precisa freqüentar aescola, que ganha, nesse sentido, a conotaçãode instituição necessária ao fornecimento, tan-to de aprendizagens que habilitam e fornecemcertificações para “trouxas” quanto para “bru-xos”. Aprender magia, tal como aprender ciên-cia e outros saberes é o que a escola (e institui-

ções semelhantes a ela) oferece. Caso Harry nãoaprenda a ser “bruxo”, ele ficará “condenado”ao desconforto e à inquietude de nunca chegara ser aquilo que poderia ter-se tornado, tal comose afirma suceder àqueles que abandonam ounão freqüentam a escola. E essa é uma das “li-ções” morais que essas histórias contêm. E é porconter marcações como essa, que consideramostais histórias como implicadas na produção e nareprodução de identidades e de formas cultu-rais estudantis.

Um outro aspecto que nos interessou desta-car refere-se a situações em que artefatos domundo criado como sendo magia, nos textos deRowling, aproximam-se de artefatos tecnológicos,sendo que, além disso, os textos os apresentamvalendo-se de jargões bem próprios à publicida-de. Entre esses artefatos estão, por exemplo, ofirebolt e os onióculos. A firebolt é descrita comouma espécie de vassoura sofisticada, muito apro-priada à prática do quadribol fabricada comtecnologia de ponta. Ela possui um cabo de frei-xo, superfino e aerodinâmico, acabamento comresistência de diamante e número de registroentalhado na madeira. As cerdas da cauda, emlascas de bétula selecionadas à mão, foramafiladas até atingirem a perfeição aerodinâmica,dotando-a de equilíbrio insuperável e precisãoabsoluta. A Firebolt atinge 240 km/h em dez se-gundos e possui um freio encantado de irrefreávelação. Cotação a pedido (Harry Potter e o prisio-neiro de Azkaban, p.47 e 48). No texto a firebolté descrita como um dos sonhos de consumo deHarry. Já os onióculos são poderosos binóculos delatão cheios de botões estranhos que permitem“acompanhar o lance {nas partidas de quadribol}...passar ele em câmara lenta...e ver uma retros-pectiva lance a lance, se precisar...(Harry Pottere o cálice de fogo. p.78).

7 A sociedade dos “bruxos” também foi “invadida” peloconsumo. Os bruxos gostam de praticar quadribol e esteesporte é disputado em uma copa Mundial tal como suce-de com o futebol.

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Enfim, também os “bruxos” se deliciam e sedeixam encantar por “novidades” bem própriase assemelhadas aos artefatos tecnológicos – te-levisões digitais, celulares que permitem foto-grafar – que vem mobilizando e encantando oscidadãos nas chamadas sociedades de consumo.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Como salientaram CARY NELSON et al.(1995), discutir as produções e os efeitos da cul-tura é central para o campo dos Estudos Cultu-rais, campo no qual nos inspiramos para a orga-nização deste texto que está centrado na análi-se de histórias infanto-juvenis de Jeanne K.Rowling. Destacamos que as considerações queaqui fazemos são de natureza introdutória, pornão darem conta da riqueza de situações relaci-onadas aos temas que buscamos focalizar a par-tir das análises que realizamos sobre tais históri-as. Cumpre, no entanto, que seja indicada alegitimação que essas conferem ao modo de fun-cionamento das sociedades contemporâneas,bem como às suas práticas, códigos e institui-ções– a escola, os certames esportivos, os Minis-térios, por exemplo, são algumas dessas institui-ções. Ou seja, o mundo da magia, não é tão di-ferente, assim, do mundo dos “trouxas”! Inte-ressantes são também as representações de jo-vens nelas contidas e os modos como esses sãohierarquizados a partir de suas origens genéti-cas, aspecto que não está nelas configurado, noentanto, como uma barreira intransponível noque tange às suas aprendizagens: Harry, apesarde “híbrido” pode se tornar um “bruxo”; bastapara tanto, que ele domine as habilidades quepassarão a lhe permitir exercer seus “poderes”!E isso é matéria a ser ensinada nas diferentes

escolas as quais os “bruxos” podem ter acesso.Os jovens bruxos podem ser vistos como osalienígenas referidos por GREEN & BIGUM(1995), ou como os ciborgues dos quais nos falaHARAWAY (2000), sujeitos esses que repre-sentam os jovens (e sob o ponto de vista deHaraway, 2000, a todos os humanos – “os trou-xas” dessas histórias). Seus poderes não usuaislhes são conferidos pelos aparatos (varinhas, cre-mes, poções etc) dos quais se valem para reali-zar suas magias. Mas, a partir do que conside-rou HARAWAY (2000), nós, humanos, somostodos ciborgues ao vivermos em um “mundo deredes entrelaçadas, redes que são em parte hu-manas, em parte máquinas; complexos híbridosde carne e metal que jogam conceitos comonatural e artificial para a lata do lixo. Enfim,como também destaca essa autora (op.cit), osciborgues não se limitam a estar a nossa volta,eles nos incorporam.

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LIVROS ANALISADOS

ROWLING, J. K. Harry Potter e a pedrafilosofal. Presença, 2002. 252p. (HPPF)

ROWLING, J. K. Harry Potter e a câmarasecreta. Presença, 2000. 328p. (HPCS).

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Psicopatologia na infância: relaçõesentre sintomatologia da criança e

vínculo com cuidadores

ROSELAINE LONDERO MOSSATTI1MARTHA MARLENE WANKLER HOPPE1

RESUMO

Este estudo tem como objetivo analisar a psicopatologia na infância e as relações familiares tendocomo objetivo avaliar a relação entre a sintomatologia da criança e a estrutura dos vínculos familiares. Foiutilizada uma metodologia de estudo de casos múltiplos com entrevistas clínicas e observação naturalísticano ambiente familiar. O estudo analisou oito casos de crianças entre quatro e dez anos com sitomaspsicopatológicos. A análise dos resultados revelou que os sintomas das crianças refletiam conflitos de seuspais ou cuidadores, numa repetição da experiência cuidador-cuidado, da história de vida dos pais. Conclu-ímos que as funções parentais operam diretamente nas manifestações psicopatológicas das crianças, po-dendo incluir gerações anteriores.

Palavras-chave: psicopatologia da infância, vínculos familiares, funções parentais.

ABSTRACT

This study’s objective is to analyze the childhood psychopatology and the family relationships, looking forconnections between the symptomathology of the child and the structure of their familiar links. It was used the

1 Acadêmica do Curso de Psicologia/ULBRA-GUAÍBA -Bolsista PROICT/ULBRA

1 Professora – Orientadora do Curso de Psicologia ULBRA/GUAÍBA ([email protected])

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multiple-case design with clinical interview and naturalistic observation. The study analized the cases of eigthchildreen between four and ten years old with psycholopatological symptoms. Analyzing the results showed thatthe symptoms of the children reflected the conflicts of their parents and responsibles, with the repetition ofexperiences of taking care of and beeing taken care of, of their parents life. We concluded that the parentalfunctions operate directly on the psychological expressions of the children and can include earlier generations.

Key words: childhood psychopatology, family relationships, parenthood.

COWAN & COWAN (2002) apresentamum levantamento sobre os principais aspectosque relacionam a psicopatologia na infânciae adolescência com as relações familiares.Apontam o resultado de correlações consis-tentes encontradas entre aspectos do compor-tamento dos pais e níveis de desenvolvimentodos filhos pequenos – estágios cognitivos-, oude adaptação – depressão, agressão em filhosmaiores e adolescentes. Quando os pais sãocalorosos, responsivos, estruturados, oferecemlimites ambientais e garantem aos seus filhosuma autonomia apropriada à faixa etária (paiscom autoridade), suas crianças ou adolescen-tes apresentam maior eficiência no desenvol-vimento acadêmico e social, com menores in-dicadores de problemas de comportamento,em comparação com pais que apresentam-sepermissivos (desligados) ou autoritários e pu-nitivos (que oferecem limites sem um acolhi-da calorosa). Um segundo conjunto de aspec-tos associados a respostas desadaptadas dosfilhos foi associado a conflitos conjugais nãoresolvidos, independente do casal ser separa-do ou manter uma relação marital estável. Umterceiro conjunto de condições apontam parauma conjunção dos primeiros dois, registran-do que pais maritalmente angustiados, um ouambos, apresentam maior probabilidade de li-darem com seus f i lhos com descaso ouautoritarismo.

INTRODUÇÃO

A relação família e psicopatologia vem sen-do analisada através duas formas: de um lado apsicopatologia sendo associada aos vínculos pri-mários estabelecidos com a criança desde seunascimento; de outro, como resultado de um pro-cesso contínuo de interação e vinculação com amãe, pai e irmãos.

A teoria psicanalítica nos indica que aestruturação da personalidade ocorre atrevés daintrojeção de modelos de identificação primári-os e de vinculação afetiva desenvolvidos nos trêsprimeiros anos de vida da criança(BERENSTEIN, 1988; 1989). Por outro lado, apsicopatologia do desenvolvimento preconizaque a existência de vínculos primários negati-vos não é, por si só, determinante no surgimentode sintomas psicopatológicos na criança. A re-lação estabelecida em família, na forma comose constiutem os vínculos pais-filhos e entre ir-mãos, na atualidade, podem vir a favorecer si-tuações de risco e de proteção para o surgimentode sintomas e trantornos psicopatológicos.

Assim, a psicopatologia vem sendo investigadaparalalelamente ao desenvolvimento normal decrianças, adolescentes e adultos com o objetivode melhor compreender os diversos aspectos –correlações e causalidades - que contribuem parao desenvolvimento das diversas psicopatologias.

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Em relação às intervenções em famílias debaixa renda, COWAN & COWAN (2002)apontam estudos com mães de alto-risco, queparticiparam de programas envolvendo visistasregulares de técnicos da área da saúde duranteos dois primeiros anos de vida dos bebês. Os re-sultados foram satisfatórios em relação ao grupode controle (mães que não participaram do pro-grama). A avaliação de seguimento (follow up)realizadas até quinze anos após registrou menoríndice de comportamento criminal, de faltas àescola e de abuso de substâncias em criançasfilhas das mães que participaram do programa.Constatou-se em outros programas semelhantesresultados menos satisfatóiros quando realizadospor pára- profissionais, isto é, melhores resulta-dos quando conduzidos por profissionais da áreae estudantes de graduação.

Os autores apontam que a separação conjugaleleva os riscos de externalização de problemas aca-dêmicos e de conduta em crianças por um períodode dois anos. Estudos de intervenção com crian-ças, filhos de pais separados, apresentaram melho-res resultados quando incluíam sessões com o paique não permaneceu com a guarda do filho, alémdaquele com quem a criança vivia.

Da mesma forma, intervenções com adolescen-tes que apresentavam conduta agressiva obtive-ram melhores resultados quando incluíam orien-tação aos pais. Em contrapartida, pais deprimidossão mais suscetíveis de terem filhos com depressãopor apresentarem cuidados paternais e maternaiscomprometidos. Assim, programas e intervençãopara crianças deprimidas e agressivas devem in-cluir atendimento aos pais, que, em geral tambémapresentam algum tipo de psicopatologia.

Com a constatação deste estudo acerca dosrecentes achados sobre resultados de progra-

mas de intervenção com crianças e famílias naprevenção de transtornos psicopatológicos nainfância e adolescência, buscamos situar estapesquisa para proporcionar subsídios de inter-venção às famílias cujos filhos apresentam pro-blemas.

A partir dos conceitos acima descritos, este es-tudo propôs-se à identificação de padrões estrutu-rais e vínculos das famílias atendidas na Clínica-escola da ULBRA Campus Guaíba – CESAP.

Especificamente, foram analisados os as-pectos estruturantes do grupo familiar que in-cluem a forma de comunicação entre os mem-bros da família dos saberes, acontecimentospassados e presentes, atitudes frente a fatosnovos e o exercício das funções maternas epaternas. A análise do discurso familiar par-tiu de seu valor sincrônico, como fenômenodeterminado no momento, para a compreen-são da transmissão de sua história, de seu va-lor diacrônico, considerado pela sua evoluçãono tempo.

MATERIAL E MÉTODOS

A metodologia de escolha foi a qualitati-va, na forma de estudo de casos múltiplos(YIN, 1993). Cada caso foi tomado comoreplicação, ou seja, como um experimento aser reconsiderado, e não como múltiplas res-postas de uma mesma pesquisa. O caso de cadacriança foi analisado através de procedimen-tos qualitativos de observação e registro deintervenções clínicas de avaliação epsicoterapia.

Participaram deste estudo oito crianças entre4 e 10 anos: quatro meninos e quatro meninas.

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Receberam atendimento na forma de avaliaçãoou tratamento psicoterápico na Clínica escola daULBRA Campus de Guaíba. Os caso foram sele-cionados a partir de seu ingresso no serviço depsicologia, dentro da faixa etária prevista.

Os dados foram coletados através de doisintrumentos: entrevistas clínicas com o conjun-to familiar na clínica escola e observação dafamilia no lar (DESSEN & MURTA,1997;ROBSON, 1993).

As famílias foram contatadas através da Clíni-ca-escola da ULBRA Campus Guaíba e convida-das a participar do estudo através de uma comu-nicação verbal e, posteriormente, de um Termo deConsentimento Livre e Esclarecido. As observa-ções foram realizadas dentro do procedimento deavaliação, através de uma visita à residência dafamília. As observações foram registradas pelo pes-quisador no momento da visita. As entrevistas fo-ram transcritas integralmente. As informações fo-ram utilizadas para a análise da sintomatologia dacriança e da relação com seus pais. A devoluçãodos dados ocorreu nas entrevistas de devoluçãoaos pais, durante o atendimento.

Os dados foram analisados através de umprocesso indutivo, isto é, após uma definição dasituação ou do fenômeno de interesse e de umaexplanação das expectativas iniciais procede aintegração com a situação que ilustra a expec-tativa. As evidências ou provas foram apresen-tadas em premissas que fundamentaram os ar-gumentos e suas justificativas. Os argumentosforam analisados por causalidade e por analogias.Neste procedimento de análise, os enunciadosresultantes abrem a possibilidade de construçãode novos argumentos, quando diante da ausên-cia de relações justificáveis.

RESULTADOS EDISCUSSÃO

Os dados foram agrupados pela identificaçãodo caso, motivo do atendimento, sintomas sontomasobservados, configuração familiar, situação atual epassada. Do registro das observações foramselecionadas categorias: quem eram os membrosdo grupo familiar - identificados pelo tipo de rela-ção ou proximidade; como era espaço familiar deconvivência entre estas pessoas; como se estabele-cia a cotidianidade dos contatos; como se carac-terizava a relação de cuidado com outro, inerentea esta relação de convivência familiar; de que for-ma se apresentavam as expressões de comunica-ção verbal e não-verbal, agressividade, sexualida-de, ordem e limpeza, além das manifestações lúdicasda criança.

Considerou-se as condutas observadas quan-to a sua antecipação, ordenação e manifestação.A antecipação foi identificada através das preo-cupações dos pais ou cuidadores com as respostasdas crianças ao oferecer a alimentação, realizarcuidados de limpeza, manifestar agressividade esexualidade, desenvolver o brinquedo e estabe-lecer relações de cuidados e trocas verbais. Estaantecipação foi observada na forma como os paisdirecionam as ações dos filhos para vivências queacabam sendo estimuladas.

A ordenação compreendeu a forma como ospais ou cuidadores conduziam as respostas dacriança e reforçavam suas manifestações. Amanifestação foi considerada o conjunto deinterações pais-cuidador-criança que se repeti-am e reforçavam a antecipação.

Os sintomas identificados nas crianças no mo-mento do atendimento foram: agressividade, atra-

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so no desenvolvimento da linguagem, dificulda-des de interação, reações de passividade alterna-das com reações agressivas, conduta agitada eagressividade, desatenção, pouca interação, apa-tia e depressão. As alterações na conduta e difi-culdades de interação foram mais referidas pelospais, sendo considerados sintomas menos tolera-dos. O caso apresentado a seguir refere-se à meni-na Ana (nome fictício), de 4 anos que foi encami-nhada para ser acompanhada devido às frequen-tes crises de birra que apresentava.

CASO 4: Ana, 4 anos

Motivo do encaminhamento para atendi-mento: Crises de birra, brigas entre o casal após aseparação e discordância na educação da filha.

Sintomas observados na criança: Crises deagressividade, intolerância à frustração. Dificul-dade de interação por ansiedade e agressividade.

Configuração familiar: Avós paternos e paiem uma residência; Mãe, padrasto e uma irmãde um ano (do segundo casamento da mãe) emoutra residência.

Situação atual da criança: Mãe solicita a guar-da pois não consegue adequar-se à guarda com-partilhada, proposta inicialmente. Mora uma se-mana com o pai, que reside na família de origem

(avós paternos de Ana) e uma semana com a mãe(que casou e tem uma filha de um ano e meio).Avós paternos tratam como bebê, alcançam tudoo que pede e nada exigem dela. Mãe é ansiosa eexigente, brigando e mostrando-se irritada com afilha. A interação é pobre, limitando-se ao aten-dimento de exigências (de Ana quando está nacasa dos avós paternos, e da mãe, quando Anaestá em sua casa).

Dados significativos da história:

Mãe engravidou durante o namoro, quandoresidiam na casa da família paterna. Pai não ma-nifestou desejo de sair do lar e mãe decide morarcom seus pais.Desentendimentos durante a gra-videz e separação. Ao nascer a menina começa-ram as brigas pela educação da mesma. Pai é con-trolado e cuidadoso, mãe é mais displicente. Fa-mílias de origem influenciando fortemente a du-pla. Não conseguem decidir sobre a educação damenina. Surgem as primeiras discussões, que leva-os a procurar a justiça para tratar da questão. Amenina passa a viver duas semanas com o pai e osavós paternos e duas semanas com a mãe e osavós maternos. A mãe casa-se novamente eengravida. Tia materna com dependente quími-ca em abstinência (cocaína).

OBSERVAÇÃO NATURALÍSTICA NA CASA MATERNAGrupo Padrasto, mãe biológica, filha do casal de 1 ano e meio e Ana, filha materna.Espaço Casa de alvenaria pequena: 2 quartos, sala e cozinha acopladas, 1 banheiro.Cotidianidade A cada semana alternada, Ana convive com sua mãe, o padrasto e sua meia-irmã. Permanece todo o

dia em casa com a mãe e irmã.Cuidado como outro

A mãe ansiosa, fala bastante e preocupa-se em fazer tudo corretamente. Está mais voltada para aspráticas de cuidado, não direcionando atenção individual para as filhas.

Comunicaçãoverbal

Poucas trocas verbais mãe-filha. Mãe usa atitude impositiva para afirmar-se diante da filha. Meninapermanece calada e acata as ordens maternas.

Alimentação Ana recebe alimentos a toda a hora. Consome guloseimas, com preferência para brincar sobre a suacama.

Limpeza Há preocupação com a limpeza e asseio corporal.Agressividade Não há limitação às manifestações da menina. Mãe critica e desqualifica o pai biológico dizendo que

ele não desejava a filha.Sexualidade Mãe manifesta preocupação com a individualidade do quarto das filhas. Demonstra saber o que é

adequado em relação à intimidade.Brinquedo Não foi observada atividade lúdica. A menina apenas manipulou objetos da casa e alimentos.

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CASO 5

Luiz, 8 anos.

Motivo do encaminhamento para atendi-mento: Desatenção em sala de aula, falta deânimo, apatia.

Sintomas observados na criança: psoríase,enurese noturna, crises de agressividade comreações de fúria, idéia de suicídio.

Configuração familiar: Pai e mãe (ele com36 e ela com 29 anos), filha de 1 ano e 8 meses,e Luiz de 8 anos. Avó paterna.

Situação atual da criança: Frequenta a escola

pela manhã e permanece em casa durante a tarde.

Dados significativos da história: Ao nascer,mãe refere: “ele gritava quando eu me distanci-ava”... “fumei toda a minha gravidez”. Em casa,é descrito pela mãe da seguinte forma: “Ele ficamuito bravo com tudo. Chuta as paredes, osmóveis. Tudo, tudo dentro de casa está estraga-do e com marcas devido às brabezas dele”. “...émalvado com os primos.” A psoríase aparecequando ele está brabo. Nascimento da irmã: mãeficou depressiva antes do nascimento da filha edurante o puerpério: “Eu fiquei esgotada.” Naescola, as professoras comentam que ele é mui-to quieto, sem ânimo, não faz as tarefas e nãotem energia.

OBSERVAÇÃO NATURALÍSTICA NA CASA PATERNAGrupo Avó e avô paternos, pai e Ana.Espaço Casa alvenaria pequena: 2 quartos, sala e cozinha acoplados, 1 banheiroCotidianidade Permanece a maior parte dentro de casa com a avó paterna. Avô é segurança de trabalha tarde e

noite. Pai trabalha durante todo o dia e sai à noite.Cuidado como outro

Os cuidados e atenções giram em torno de Ana, que recebe atenção constante da avó e é atendidaem todos os seus pedidos.

Comunicaçãoverbal

Expressa-se mais verbalmente que na casa materna e a avó paterna a atende sem exigênciaalguma. Ana interagia com uma menina da vizinhança e reproduziu a comunciação unilateral deimpor seus desejos, comandar a situação e deixar a companheira numa condição passiva.

Alimentação Consome bolachas e mamadeira com freqüência, preferindo brincar e comer sobre a cama dos avós.Limpeza Preocupação com a limpeza: avó ensina a tomar mamadeira e limpar os utensílios.

Observou-se que a menina vai ao banheiro e a avó puxa a descarga e não é orientada pela avó alavar a as mãos.

Agressividade Não há limitações às imposições e exigências da menina. Avó paterna passa maior parte do tempocom ela, atendendo suas solicitações.

Sexualidade Ana dorme no quarto dos avós,Brinquedo Foi observada interagindo com ua amiga da vizinhança. Manifestou pouca interação com amiga.

Exibia seus brinquedos e deixava a amiga apenas olhando. Brincou sozinha com suas bonecasdeixando a amiga de fora da brincadeira. Reproduzindo no brinquedo a forma unilateral decomunciação. Não escuta ordens, apenas determina.

OBSERVAÇÃO NATURALÍSTICAGrupo Mãe, pai, filho Luiz de 8 anos, filha de 1 ano 8 meses. Avó paterna reside em terreno conjugado.Espaço Casa de alvenaria pequena de 4 peças: sala, cozinha, quarto e banheiro.Cotidianidade Pai trabalha durante o dia. Mãe passa o dia em casa com os filhos. Avó paterna é vizinha de fundos.Cuidado como outro

Luiz cuida da irmã. Avó paterna cuida de Luiz e da irmã. Mãe fica envolvida com a casa.

Comunicaçãoverbal

Nenhuma troca verbal observada entre mãe e filho. Avó paterna estimula aproximação e trocasverbais.

Alimentação Avó agrada com doces e prepara refeições. Mãe não demonstra preocupação com alimentação dosfilhos.

Limpeza Não há manifestações diretas à limpeza.Agressividade Preocupação da mãe com a agressividade do filho e com sua própria. Mãe espanca o filho.

Menino falou no desejo de matar-se. Psoríase surgiu com o nascimento da irmã e após crises defúria.

Sexualidade Pais e filhos dormem no mesmo quarto. Mãe preocupa-se com as brincadeiras entre meninos.Brinquedo Corre com a bicicleta: o prazer está na velocidade. Preocupação em manter distância do observador.

Pais não participam de brincadeiras.

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Relação de casos pesquisados:

Ricardo, de 4 anos, com conduta agressiva efamília enfrentando separação conjugal;

Carina de 5 anos, vítima de maus-tratos pelamãe e desenvolvimento deficitário;

Maria de 4 anos, com ansiedade e condutaagitada, vivendo com uma guardiã após acusa-ção de negligência por parte da mãe biológica;

Pedro, de 10 anos, fuga de casa, conduta instá-vel, apatia, depressão e dificuldades de interaçãoe concentração, vivendo com a mãe após uma se-paração conjugal tumultua por brigas;

João, de 7 anos, vítima de uma tentativa defilicídio e vivendo com a família da tia materna.

A partir da sintomatologia da criança foramrealizadas relações entre a estruturapsicopatológica da criança e a estrutura dos vín-culos familiares e funções parentais. A relaçãosintoma da criança – função parental exige aformulação de argumentos que evidenciem acausalidade e permitam novas formulações apartir destas constatações:

PROBLEMAS DECONDUTA EAGRESSIVIDADE

Os casos analisados com sintomas de fuga decasa, tendência à transgressão e baixa tolerân-cia à frustração com crises de birra, foram obser-vados em cuidadores pouco comunicativos, dis-tantes ou com excessiva proteção sobre a crian-ça. Casais em constante conflito revelavam aban-dono da função parental e queixas constantes

dos filhos. Estes casais não conseguiam estabe-lecer um padrão de conduta acolhedor, toleran-te e caloroso em relação ao filho ou filha. O paiou mãe mostrava-se exigente em relação ao de-sempenho da criança: acadêmico e em relaçãoà permanência junto a ele. Esta demanda pater-na e materna revelava ser uma sobrecarga paraas crianças que vinculavam-se a pessoas da redede apoio: avós, babás ou irmãos mais velhos paracompensar o distanciamento dos pais ou seucontrole excessivo.

Observou-se que estes pais mantinham osresquícios de relação fortemente narcísicaestabelecida durante a união conjugal, que nãopermitia o investimento amoroso num terceiro,no caso, um filho. O filho desta união permane-cia como um outro sem lugar próprio na relaçãofamiliar. Ao mesmo tempo o uso de mecanismosprojetivos pelos pais, conforme apontaMARCELLI(1998), favorece uma modalidadede comportamento no filho denominada reaçãoprojetiva. Este comportamento é marcado porinstabilidade, exteriorização do sofrimento acu-sando os outros, agressividade externa, além doestabelecimento de relações fundadas na chan-tagem e na manipulação. Observamos estas re-ações em quatro dos oito casos analisados, in-cluindo o caso de Ana, acima descrito.

PROBLEMAS AFETIVOS EANSIEDADE

A depressão na criança foi observada no casode Luiz, como um sintoma paralelo ao estadodepressivo materno. Neste caso foi associado àsseguintes condições: pobreza de contato com amãe, reação à situação de indiferença da mãeou como resultado do processo identificatório,

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diante do transtorno depressivo materno.MARCELLI (1998) aponta estes fatores encon-trados neste caso: identificação com o genitor,sentimento de uma mãe inacessível, contatogenitor-filho medíocre, pouca ou nenhumaestimulação afetiva. A ansiedade foi observadacomo uma forma de reação à condição depressivamaterna, no caso de Luiz. A ansiedade associa-se a uma irritabilidade e agitação motora e acom-panha as reações maternas de irritabilidade notrato com o filho, através de gritos ou espanca-mento. Neste caso, observou-se depressão e idéi-as de suicídio no menino associadas a explosõesde agressividade no lar. A mãe refere episódiosdepressivos e crises de agressividade, como oespancamento dos filhos. A convivência com amãe depressiva levou o menino a manter consi-go o estado emocional que compartilhava comesta, apresentando apatia e desânimo na esco-la, além de reproduzir na relação com a mãe asagressões sofridas.

Constatamos que Ana reproduz a estruturavincular estabelecida com a mãe de dominaçãoe obediência. Diante dos gritos e exigências damãe, cala-se e obedece; diante da excessiva pro-teção da avó paterna exige e fala de dormaimpositiva. A ansiedade foi observada em Ana,diante das crises de birra descritas pela mãe econsideradas pouco importantes pela avó pater-na. Durante o processo de separação dos pais,as crises se intensificaram, revelando a falta deum consenso na determinação de limites à me-nina. Posteriormente, passou a manifestar maiorcontrole, porém, foram observadas expressões defranca intolerância nas relações com iguais,como observou-se no brinquedo.

Nos casos analisados, a figura paterna exer-cia uma função de equilíbrio que mostrava-se

pouco evidente e até desqualificada. Pais queresidiam na família de origem delegavam o cui-dado de seus filhos para a mãe (avó paterna).Observou-se que o afeto direcionado por diver-sos cuidadores gerava confusão em crianças pe-quenas e era tolerado com sofrimento pelas cri-anças mais velhas.

HIPERMATURIDADE

No caso de Carolina, de 5 anos, atendida apóster sido afastada de sua mãe por sofrer maus-tratos físicos e psicológicos: era espancada e obri-gada a mendigar. Observamos reações de extre-ma adaptação. A menina referia-se à mãe pelonome, afirma que apanhava muito dela, masrecusava-se a seguir falando de seus sentimen-tos sobre o período em que esteve sob seus cui-dados. Na observação, Carolina mostrou-se ale-gre, comunicativa com a família cuidadora (avópaterna) que estavam presentes e com o primo,com quem brincava. Chamou a atenção sua for-ma de brincar: manipulava as bonecas com ex-tremo cuidado, reproduzindo no faz-de-contauma relação mãe-filha de proteção (cuidadosde saúde), carinho (aconchego das bonecas) econselhos de não brigar com as irmãs (as duasbonecas com a qual brincavam). Estas reaçõesrefletem um esforço para controlar a experiên-cia traumática “encarregando-se de si”(MARCELLI, 1998) e reinvestindo de modo ma-ciço seu próprio Eu. Constatou-se que Carolinaera cuidada pela irmã de sete anos que preocu-pava-se em protegê-la. O fato de receber aten-dimento psicoterápico logo após o afastamentoda casa materna pode ter funcionado como ummecanismo de proteção e afrouxamento da rea-ção de sobre-adaptação.

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PROBLEMASATENCIONAIS

As crianças que apresentavam dificuldades deatenção e concentração tinham associadas, alte-rações afetivas e de conduta, em famílias comdepressão materna e conflitos entre os pais. Nocaso de Luiz, de 8 anos, foi associado, neste estu-do à depressão e agressividade da mãe. Em outrocaso, de Pedro, de 10 anos, a situação conflitivados pais durante e após a separação exacerbou aansiedade e consequente distraibilidade. Em ne-nhum dos casos foi confirmado diagnóstico detranstorno por déficit de atenção.

ATRASOS NA LINGUAGEM

As crianças com atraso na linguagem, queparticiparam deste estudo, tinham passado porseparação e abandono de seus cuidadores naprimeira infância. No caso de Carina, de 4 anos,a inconstância do vínculo materno em conse-qüência dos diversas vezes abandonos nos doisprimeiros anos de sua vida da menina, associa-va-se ao contato paralelo, neste dois primeirosanos de vida, com uma mãe substituta que per-mitia os maus-tratos da mãe biológica e quemostrava-se ambivalente para assumi-la comofilha. Esta alternância de cuidadores tambémfoi observada no caso de Ana que residia umasemana na casa paterna e uma semana na casamaterna. Mesmo tendo a presença constante doscuidadores este se alternavam com freqüência.Crianças pequenas são mais vulneráveis a mu-danças de cuidadores, o que justifica a maiordificuldade para estabelecer vínculos significa-tivos que geram manifestações simbólicas ver-bais. Acrescenta-se que os adultos cuidadores

estabeleciam poucas trocas verbais com estascrianças.

SINTOMASPSICOPATOLÓGICOS DACRIANÇA: DIFERENÇASNA ESCOLA E NA FAMÍLIA

Os sintomas registrados pela escola e identi-ficados pela professora, em nosso estudo, nemsempre corresponderam a percepção que a mãetinha da criança no convívio no lar. O caso deLuiz, de 8 anos, revela que o motivo pelo qual amãe levou-o para consulta – brabeza e explo-sões de fúria - não coincidiu com a queixa daescola – apatia, falta de ânimo, idéia de suicí-dio. No caso de Pedro, de 10 anos, a conduta defuga de casa foi mais relevante e preocupantepara a mãe que as dificuldades acadêmicas dedesatenção e falta de concentração no estudo.Observa-se que os conflitos entre pais e filhosrepercutem diretamente na adaptação social eeducacional da criança. No caso de Pedro, arelação com a mãe era marcada por pobreza nastrocas afetivas e uma orientação voltada para odesempenho de tarefas.

DISPUTA JUDICIAL PORFILHOS: UMA FORMA DEABANDONO

As crianças cuja guarda era disputada najustiça, como o caso de Ricardo, de 6 anos,Carina de 5 anos e Ana, de 4 anos, apresenta-vam manifestações regressivas, tais como, atra-so na linguagem, dificuldade de interação no

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jogo, reações de isolamento oscilando com ma-nifestações de imposição e agressão no trato comterceiros. Estes sintomas também são associadosa crianças negligenciadas e vítimas de abando-no por seus cuidadores (MARCELLI, 1998). Ocaso de Carina mostra com mais evidência quea disputa pela filha é uma forma de vinculaçãoambivalente que marca um cuidado, enquantoabandono (HOPPE, 2002).

Ricardo recebeu a acolhida do pai que pre-cisou superar suas dificuldades de envolvimentoe assumi-lo durante a avaliação no serviço depsicologia. O menino, apesar de seus 4 anos, podesolicitar a interação com o pai e manifestar arecusa de contato com a mãe (de quem era víti-ma de espancamento) de forma espontânea esem coerção.

CONCLUSÕES E NOVASCONSIDERAÇÕES

Não é possível estabelecer relações causaisdefinitivas por simples associações, consideran-do a complexidade de fatores que intervém naconstituição da personalidade do indivíduo,entretanto, as relações estabelecidas entre asintervenções no meio familiar e a redução dossintomas das crianças apontam para a necessi-dade de melhores avaliações do ambiente fami-liar e sua relação a condição psicopatológica nainfância. O trabalho de COWAN & COWAN(2002) enfatiza a modificação e manutenção damelhora dos sintomas de crianças cujas famíliasforam acompanhadas em suas residências portécnicos especializados. As hipóteses resultan-tes deste estudo são importantes para direcionarintervenções que permitam o controle e supera-ção de sintomas psicopatológicos da infância e

que incluam a mobilização e participação ativada família.

Concluímos que os cuidados terapêuticos nãodevem ficar restritos à criança e devem incluirintervenções no ambiente familiar ou naquelesambiente que oferecem algum tipo de cuidadoà criança, como a casa de tios, avós, vizinhos,amigos, além de instituições educativas.

O atendimento psicológico a crianças deve in-cluir uma avaliação do meio familiar em que estavive, compartilha seu cotidiano e recebedirecionamentos por parte de adultos oucuidadores. Sem esta percepectiva, a atenção àcriança fica dimensionada às manifestações daque-les que a conduzem ao atendimento, extendendoo tempo de avaliação e limitando a compreensãoda situação psicopatológica que apresenta. A in-tervenção na família por profissionais ou estudan-tes da graduação, através de observação partici-pante ou não participante, favorece o diagnósticoe indicação terapêutica, e, consequentemente,permite uma resposta terapêutica mais eficaz.

REFERÊNCIASBIBLIOGRÁFICAS

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MARCELLI, D. Manual de Psicopatologiade Ajuriaguerra. 5. ed. Porto Alegre:Artmed, 1998.

ROBSON, Colin. Observational Methods. In:Real World Research. Oxford: Blackwell, 1993.

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Rindo de professores(as):um estudo do humor sobre a docência

MICHELE CAROSSI1

ROSA MARIA HESSEL SILVEIRA2

RESUMO

Considerando a escassez de estudos sobre a relação entre humor e escola, este trabalho apresenta ediscute, a partir de teorização sobre as fontes do humor e do cômico, as principais tendências das represen-tações de professores e professoras como objeto de riso. Para tanto, foram investigadas cerca de trezentaspiadas retiradas de coletâneas impressas, sites, revista de atualidades e jornal. A partir de análises inspira-das nos estudos de Sírio Possenti (1998) e Regislene Almeida (2003), podem-se identificar as seguintestendências predominantes de situações humorísticas: a) professores/as guardiões do conhecimento e dasregras escolares, sujeitos a zombaria por parte dos alunos, que são apresentados como mais espertos; b)professores/as como incessantes perguntadores-avaliadores; c) professores/as como “expert” em sua áreade conhecimento, diferenciado do cidadão comum; d) professores/as como interlocutores para piadas defundo sexual.

Palavras-chave: humor, representação docente, escola.

ABSTRACT

Considering the few studies of the relation between humour and school, from theorising humour andcomic sources, this work provides a discussion of the main tendencies of representing teachers and female

1 Acadêmica do Curso de Pedagogia Empresarial – Bolsis-ta PROICT/ULBRA

2 Professora do Curso de Pedagogia e do Programa de Pós-graduação em Educação da ULBRA ([email protected])

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teachers as object of ridicule. To do that we have investigated around three hundred jokes from printedcollections, sites, magazines and newspapers. From analyses whose inspiration was drawn from SírioPossenti (1998) and Regislene Almeida (2003), one may identify the following common tendencies forhumorous situations: a) teachers who are gatekeepers of knowledge and school rules, subject to mockeryby students who are featured as smarter than the former; b) teachers as obstinate assessing-inquirers; c)teachers as experts in their particular area of knowledge, different from common people; d) teachers assubjects for sexual jokes.

Key words: humour, teaching representation, school.

e, de forma relacionada, o humor e o cômico –tem sido pensado desde Platão e Aristóteles,passando pelo pensamento de Hobbes e chegan-do aos mais conhecidos pensadores que otematizaram nos séculos XVIII e XIX.

Contrariamente ao que se poderia pensar emum primeiro momento, o humor está intimamen-te ligado ao contexto em que é produzido, a as-pectos culturais e históricos. Em outras palavras,o humor muda em diferentes culturas, em dife-rentes épocas e grupos; não se ri sempre das mes-mas coisas, em todos os lugares, grupos e épocas.A obra Uma história cultural do humor, organizadapor Jan Bremmer e Herman Roodenburg,DRIESSEN (2000, p. 257), ao expor pontos im-portantes da relação entre humor, riso e estudosantropológicos, sintetiza uma concepção que movenosso interesse pelo humor relativo à docência:

(...) os temas do humor revelam questõesimportantes das sociedades envolvidas: des-de os interesses dominantes, as atitudes evalores relativos à identidade (por exem-plo, gênero e etnia) até seus contrapontos,contradições e ambivalências.

Dentro da ótica dos Estudos Culturais e doPós-Estruturalismo, a realidade e a verdade sãodiscursivamente construídas e esse entendimen-to enriquece a freqüente leitura de algumas

INTRODUÇÃO

De maneira geral, as pesquisas acadêmicasda área pedagógica não têm se interessado porquestões do humor e é possível que esse fato,aparente ou efetivo, se origine da seriedade egravidade com que se entende que deva ser ana-lisada a instituição escolar. O fato de que atemática não seja quase abordada nas pesquisaspedagógicas está em desacordo com a expressi-va ocorrência de material humorístico (piadas,charges, cartuns, quadros humorísticos da TV,filmes) que toma a instituição escolar comotemática, como cenário e como inspiração.Qualquer cidadão dos séculos XX e XXI nãoterá dificuldade para se lembrar de alguma ane-dota sobre professor, de algum personagem cô-mico professor na TV (o professor Raimundotalvez seja o mais lembrado) e de filmes em quese ri escancaradamente da escola (O professoraloprado e A escola da desordem, por exemplo).Por outro lado, a questão do humor e do riso,vista de forma geral, chama a atenção das pes-soas já há séculos, desde os gregos; ela está pre-sente em diversos momentos históricos, como,por exemplo, está exposto no trabalho denomi-nado O riso e o risível na história do pensamento,onde a pesquisadora Verena Alberti, que fez doassunto tema de sua tese de doutorado, recupe-ra e discute as diversas formas com que o riso –

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situações provocadoras de riso como situaçõesde “subversão da verdade”. Nesse sentido,LARROSA (1998, p. 223) observa no capítuloElogio do Riso, em Pedagogia Profana, que: “Oriso mostra a realidade a partir de outro pontode vista”. Pode-se dizer que o autor se insere natendência verificada por Alberti no pensamen-to moderno sobre o risível, qual seria o de “con-ferir ao riso um lugar-chave no esforço filosóficode alcançar o impensável” (2000, p. 16).

Assim como o humor, também são poucos osestudos relacionados aos docentes como “indi-víduos cômicos”. Atores ou atrizes centrais doscenários educativos, professores e professoras têmsido personagens relevantes nas vivências doseducandos no mundo contemporâneo, onde aescolarização se universalizou. O sujeito “docen-te” povoa histórias infantis (ex.: “A professoramaluquinha”, de Ziraldo), anúncios publicitári-os, filmes dos mais diversos gêneros (ex.: “Soci-edade dos poetas mortos”), programas e novelasda televisão (ex.: “Malhação”, da Rede Globo),histórias em quadrinhos, charges, anedotas, pi-adas... e tantas piadas! Encontramos nesse uni-verso a professora maternal, a mal-humorada, aexigente, a boazinha, a dedicada, a mal-amada,a “gostosona”; encontramos também o professormaluco, o esquecido, o sedutor, o gênio, o atra-palhado, entre outras atribuições para ambos ospersonagens.

Todos sabemos que um expressivo número depiadas trabalha com preconceitos de toda ordem,envolvendo, freqüentemente, estereótipos rela-tivos a diversos grupos sociais (homossexuais,portugueses, nordestinos, mulheres, anões, fei-as, pouco dotados intelectualmente, etc.).Estamos acostumados a rir dessas piadas e, àsvezes, até a contá-las, mesmo se nos sentimosconstrangidos/as pela sua “incorreção política”.

É incontestável, portanto, que o humor temum componente cultural de importância, e talconstatação está na raiz de nossa dificuldadeem rir ou, mesmo, aceitar algumas piadas deoutras culturas. Daí também emergem as adap-tações das traduções de anedotas, que procu-ram ressignificar, dentro de um novo contexto,as situações de humor. Para entendermos e rir-mos das piadas, precisamos entender as situa-ções e os cenários nelas apresentados, pois, umavez que o humor trabalha com a quebra de ex-pectativas, é necessário que as partilhemos. Nopresente trabalho, analisamos piadas, conside-rando que a piada constitui apenas um dos pos-síveis gêneros textuais voltados para a produçãodo humor. Ela é definida por HOUAISS (2001,p.2205) como “história curta de final surpreen-dente, às vezes picante ou obscena, contada paraprovocar risos”. Qualquer pessoa que se dispu-ser a estudar piadas, como refere POSSENTI(1998), em breve tempo observará o quanto elasse repetem, constituindo, na maioria das vezes,variantes de mesmos esquemas básicos. Dessaforma, ao selecionarmos nosso material empírico,desde o início da coleta de piadas nos primeiroslivros consultados e sites humorísticos, sentimosa dificuldade de encontrarmos piadas “novas”,tal a sua repetição.

Tomando como base tais considerações, re-alizamos uma investigação do humor sobre adocência, procurando trazer um outro olhar so-bre os professores, que fugisse ao que a litera-tura pedagógica vem entendendo como maisdigno de ser pesquisado. Sobre o professor e aprofessora, já foram realizados estudos especi-ficamente tomando como material livros de li-teratura infantil (SILVEIRA, 1997 e 2002;RIPOLL, 2002; WORTMANN, 2002; DALLAZEN, 2002; AMARO, 2002; PILOTTO, 2002),

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em que algumas pistas para a análise da rela-ção professor-humor podem ser encontradas.Esses trabalhos trazem imagens de professorese professoras cômicos, ora por seu descontrole(professoras em geral), ora pela sua esquisiticeou pela sua ignorância (imagens associadas, res-pectivamente, a professores de Ciências e deEducação Física). A dissertação de mestradode SILVEIRA (2002), que realizou uma análi-se de quadrinhos e charges sobre o ensino deMatemática, nos traz personagens professorasrotuladas como bruxas ou seres maléficos, queprovocam o nosso riso. Em análise efetuada darevista Nova Escola, COSTA & SILVEIRA(1998) fazem referência à professora dos cartunsde Negreiros, que, por breve tempo, aparece-ram nas páginas da revista. Já se consultarmosos variados estudos que trazem memórias e his-tórias de vida de professores/as, veremos queos episódios cômicos não são freqüentes,enfatizando-se, especialmente, as cenas queexpressam seriedade, dedicação, amor, voca-ção, sacrifício do/da professor/a, por exemplo.Nesse sentido, pode-se dizer que as recorda-ções da própria docência não privilegiam, nes-te olhar sobre o passado, o humor e acomicidade.

Tais estudos, brevemente citados, nos servemde contraste para a análise que realizamos napesquisa, da qual alguns resultados compõem opresente artigo. O objetivo da investigação, emseu âmbito mais geral, foi o de, a partir deteorização sobre as fontes do humor e do cômi-co, buscar as recorrências das representações deprofessores e de professoras como objeto e motordo riso, conectando-as com representações deescola, trabalho e identidade docente. É nelaque se situa o presente estudo.

MATERIAL E MÉTODOS –COMO E O QUE ANALISAMOS

Foram analisadas para o presente trabalhocerca de 300 piadas retiradas de coletâneasimpressas e sites da Internet, selecionadas combase no critério de apresentarem o professorou a professora como um dos seus personagens.A progressiva leitura das mesmas foi sugerin-do às pesquisadoras a construção de categori-as que correspondessem às principais tendên-cias encontradas. O desenho metodológicodeste trabalho inspirou-se na vertente dasanálises textuais dos Estudos Culturais e Es-tudos da Docência, buscando-se, através detais análises, a sustentação para a apresenta-ção dos resultados.

RESULTADOS EDISCUSSÃO – COMOPERSONAGENSPROFESSORES EPROFESSORAS SÃOREPRESENTADOS/AS NASPIADAS?

No estudo realizado, construímos agrupamen-tos de representações a partir da identificaçãode algumas tendências predominantes nas situa-ções humorísticas. Essas tendências não são mu-tuamente excludentes e, por vezes, se superpõem,como é fácil perceber pela sua explanação.

a) Professores e professoras podem ser apre-sentados como guardas zelosos do conhe-cimento e das regras escolares, e, nestepapel, estão sujeitos a zombaria por partedos alunos, que são apresentados como

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mais espertos; freqüentemente os docen-tes, como interessados na transmissão e“cobrança” do conhecimentoinstitucionalizado, questionam seus alunossobre isso e esta situação abre a ocasiãopara o humor. É nesse caso que se contra-põem a professora (ou professor) e o sujei-to-criança, personagem freqüentementeapresentado como rebelde, irreverente e,por vezes, “engraçadinho”. Tais piadas po-dem ser enquadradas no que Possenti clas-sifica como “humor de criança”, em quefreqüentemente os adultos estão sujeitos azombarias por parte dos alunos – estes apre-sentados como mais espertos.

– Juquinha, me dê um exemplo de fenô-meno.

– O Brasil, professora: todos os habitan-tes falam a mesma língua.

– E daí? Qual é o fenômeno?

– Ora, professora, mesmo assim ninguémse entende.

Nesta, como em muitas outras piadas, o alu-no leva a melhor em relação ao professor. Comoisso acontece? O mestre questiona o aluno ten-do como referência um contexto do conheci-mento escolarizado, enquanto Juquinha, o“espertinho”, a interpreta como se fosse umapergunta corriqueira, coloquial, e responde fa-zendo referência a um tema freqüente em pia-das: os defeitos e falhas do próprio país e do seupovo, numa espécie de auto-ironia. É importan-te observar que muitas piadas reproduzem a fór-mula pergunta(professor) – resposta(aluno) –avaliação(professor), e, às vezes, incorporam umanova resposta do estudante, que traz o fechojocoso da piada. Nesse sentido, elas estão de

acordo com esquemas tradicionais do discursode sala de aula, em que tal seqüência é pronta-mente reconhecida como pertencente ao dis-curso pedagógico.

Além de agentes cuidadosos da transferênciade conhecimentos escolarizados, os mestres tam-bém são retratados como aplicando e zelando pelocumprimento de todos as normas, obrigações eprocedimentos que fazem parte dos ritos e do“disciplinamento” do qual o aparato pedagógicose incumbe: presença, comportamento adequa-do, resposta à chamada, realização de temas, cum-primento de requisitos de atenção e pontualida-de, uso de uniforme, etc. É assim que...

Joãozinho chega no meio da aula.

– Atrasado outra vez, Joãozinho – reclamaa professora. É a terceira vez esta semana.

– Desculpe, professora!

– O que você pretende ser no futuro, comeste tipo de comportamento?

– Político, professora!

Nessas poucas linhas, muito se pode ler so-bre representação de escola e de professora. Amestra é disciplinadora e exigente – a pontuali-dade é tradicionalmente vista como um requi-sito do disciplinamento escolar - e a escola évista como o espaço que prepara os cidadãos paraum desempenho social adequado no futuro. Ocaráter humorístico da piada, no caso, advémdo inesperado da resposta, em que Joãozinhorefere uma opinião generalizada sobre os políti-cos: eles não são gente cumpridora de suas obri-gações (embora bem remunerados).

Os alunos, geralmente crianças, constituem,como vimos, importantes antagonistas nas pia-

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das escolares. Nesse sentido, ao abordar o papelque as crianças desempenham nas piadas,POSSENTI (2002,s/p) observa que uma “das ca-racterísticas das ‘piadas de crianças’ – em queelas são personagens, como os animais nas fábu-las, embora até possa haver de fato respostas in-teligentíssimas de crianças – é que elas sabemmuito mais do que se supõe”. Encontram-se comfreqüência crianças muito inteligentes nas pia-das, sempre prontas a desconcertarem, com suasrespostas, os adultos, que podem ser os mestres,os pais, os porteiros, os padres, os guardas detrânsito, etc.

b) Os professores e professoras são tambémtratados, nas piadas, como profissionaisque só sabem desempenhar suas tarefasatravés de uma incessante atividade deperguntar e avaliar sucessivamente. Ve-jamos as duas piadas abaixo.

A professora pergunta: – Quantos cora-ções nós temos?

O aluno: – Dois, temos dois, professora!

– Dois? Está maluco?

– Não professora... um é o meu e o outroé o seu ... dois corações.

Joãozinho chega na escola e a professorapergunta:

– Numa árvore tinha três passarinhos...deram um tiro na árvore e ele acertou umpassarinho. Quantos ficaram?

– Ficou apenas um passarinho.

– Por que um, Joãozinho? – a professorapergunta.

– Só o que morreu... os outros fugiram, né!

No primeiro caso, repete-se o esquema acimaexplicitado em que, à pergunta da professora, aqual usa um pronome “nós” genérico (nós – ahumanidade, as pessoas), o aluno espertinho res-ponde de maneira “graciosa”, inesperada, atribu-indo ao mesmo “nós” o significado de falante (ele)e interlocutora (a professora). Na segunda pia-da, Joãozinho, já ao chegar na escola, é inquirido– nas piadas, como dissemos, os professores estãosempre perguntando... - com um problema mate-mático. Observe-se que os problemas matemáti-cos propostos na cultura escolar devem ser sem-pre entendidos como narrativas que simplificamuma situação pretensamente extra-escolar parapropor uma pergunta que necessariamente deveser respondida considerando-se apenas os dadosnuméricos do problema. Frente a essa expectati-va dos leitores ou ouvintes da piada, o protago-nista Joãozinho provoca uma reversão: ao fugirao simples cálculo matemático (3 – 1 = 2) e ofe-recer um desfecho fatual à narrativa, provoca oriso pela justaposição de dois esquemas diferen-tes e, também, por, de certa forma, desnudar oartificialismo de alguns (muitos?) problemas es-colares matemáticos.

c) Os professores/as, em algumas piadas, sãoapresentados como especialistas em sua áreade conhecimento, diferenciando-se, nessesentido, do cidadão comum. Isto é: em ou-tras anedotas, a imagem do/da mestre/a éou de alguém que “domina” um conteúdoescolar, ou é especialmente inteligente, ounão se desliga jamais do contexto do co-nhecimento acadêmico. É interessante ob-servar que, neste caso, são mais

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encontradiços professores masculinos, o quenão chega a surpreender, uma vez que, nomundo das piadas e do senso comum, são oshomens os sujeitos mais intelectualmentedesenvolvidos. Vejamos duas piadas queexemplificam essa representação.

A professora pergunta para a Mariazinha:

– Mariazinha, me dê um exemplo de verbo:

– Bicicreta! – respondeu a menina.

– Não se diz “bicicreta” e sim bicicleta.Além disso, bicicleta não é verbo.

– Pedro, me diga você um verbo.

– Prástico! – disse o garoto.

– É “plástico”, não “prástico”. E também nãoé verbo. Laura, é a sua vez: me dê um exem-plo de verbo correto – pediu a professora.

– Hospedar! – respondeu Laura.

– Muito bem! – disse a professora. Agora,forme uma frase com este verbo.

– Os pedar da bicicreta é de prástico, pro-fessora.

E o professor de matemática dá queixa nadelegacia sobre o atropelamento que so-freu.

– Anotou a placa?

– Anotar não anotei, mas eu sei o núme-ro; se for duplicado e depois multiplicadopor ele mesmo, a raiz quadrada do produ-to será a mesma do número original, sóque invertida.

Na primeira piada, em que mais uma vez seobserva o permanente caráter inquiridor da pro-fessora, a mestra está preocupada com um con-teúdo tipicamente escolar – a identificação depalavras que se classifiquem como “verbos” - eparece não atentar para a distância entre talnomenclatura e as evidentes marcas fonéticasde um linguajar popular de seus alunos. Já nasegunda, é o professor de matemática – e obser-ve-se, com SILVEIRA (2002), que a matemáti-ca parece estar sempre circunscrita ao gêneromasculino - que parece aprisionado em sua ma-neira matemática de ver, pensar e narrar o mun-do, utilizando-a de forma excêntrica, em situa-ções do cotidiano.

d) Por vezes, os professores/as são apresenta-dos como interlocutores para piadas de fun-do sexual. Efetivamente, nas coletâneas esites de piadas, são encontradas numero-sas piadas em que ora se fazem alusões àsensualidade da professora, que perturbaos alunos masculinos, ora são apresenta-das alunas que representam a mulher se-dutora em relação aos professores homens.POSSENTI (2002, s/p) nos fala no “este-reótipo da garota sedutora e pouco estudi-osa (bonita e burra?)”, e é preciso registrarque, com alguma freqüência, tais piadasusam um vocabulário de baixo calão – ouo sugerem, pela solicitação de rimas - e nemum pouco sutil.

CONCLUSÕES ECONSIDERAÇÕES FINAIS

Mesmo dentro dos limites desse estudo, emque apresentamos brevemente alguns comentá-rios sobre tendências das imagens de professo-

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res e professoras em piadas escolares e dos per-sonagens que nele se movem, algumas tendên-cias de sua análise já podem ser esboçadas. Asformas de representação que nelas estão pre-sentes não chegam a subverter – via de regra -os clichês sobre escola, sobre ritos, práticas enormas escolares, sobre professor e professora,sobre gênero, etc. Ao contrário: as piadas esco-lares parecem se encaixar nos enquadres do gê-nero textual quando toma como temática o con-texto escolar - as crianças-alunas são esboçadasfreqüentemente como sujeitos espontâneos, des-respeitosos, espertinhos, sempre prontos parazombar dos professores; os alunos são represen-tados dentro dos diferentes estereótipos de es-tudantes – os pouco estudiosos, sempre prontosa usar métodos pouco elogiosos para obter su-cesso na escola; os que elogiam professores comfalsidade na expectativa de obter favores; os quesó se interessam pela sensualidade da professo-ra. Também os mestres são apresentados comoperguntadores incessantes e preocupados essen-cialmente com o cumprimento dos ritos e tare-fas tipicamente escolares, às vezes ingênuos, sem-pre enganados pelos alunos; às vezes mais esper-tos do que estes; às vezes encerrados em suamaneira “científica” de ver a realidade. Por fim,o conhecimento escolar é freqüentemente apre-sentado como distante do cotidiano de alunos,o que possibilita a estes respostas inesperadas edesconcertantes para o professor. POSSENTI(2002, s/p) assim sintetiza suas observações so-bre piadas escolares:

Nas piadas, a escola é um lugar para me-ninas, pois Juquinha representa o univer-so masculino, desinteressado dos estudose interessado em sexo e na violação dasregras básicas de educação. Observe-seque essas piadas estão de acordo com uma

idéia geral segundo a qual (...) a escola éum lugar chato, no qual se fazem tarefasdesinteressantes, às vezes sob o comandode professores pouco preparados.

Certamente, o mundo escolar que aparece naspiadas correntes não é o mundo “oficial” da peda-gogia, o que não significa que não seja um mundoque todos nós conhecemos. É, apenas, um mundoque não encontra espaço em textos mais sérios;como relembra ainda POSSENTI (1998, p. 26),“as piadas são interessantes porque são quase sem-pre veículo de um discurso proibido, subterrâneo,não oficial, que não se manifestaria, talvez, atra-vés de outras formas de coletas de dados (...)”.

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Formas kantianas da sensibilidade emsua dupla perspectiva estética

FABIO HILÁRIO BRAMBILLA1

VALERIO ROHDEN2

Nós nunca temos, nem um único dia,

O puro espaço ante nós, para o qual as flores

Se abrem infinitamente.

(RILKE, 8ª Elegia de Duíno)

RESUMO

Aqui são inicialmente comparadas duas formas de sensibilidade estética: primeiro em sua forma cognitiva,como teoria da sensibilidade da ‘Crítica da razão pura` (1781 = ed. A, 2ª. ed. 1787, = ed. B abrev.KrV), e, segundo, como forma estética reflexiva ou forma do gosto, da ‘Crítica da faculdade do juízo`(1790, abrev. KdU). A primeira é dita forma objetiva e a segunda, subjetiva ou, melhor, intersubjetiva. Aprimeira tem diretamente em vista o conhecimento e a segunda o prazer estético, também chamado desentimento de vida. Analogamente à indeterminação fenomênica ao nível da sensibilidade “objetiva”, hátambém uma indeterminação estética do gosto. Enquanto a primeira se completa na determinaçãoconceitual, a segunda jamais se completa, mantém-se sempre aberta, em processo. Por isso a terceiracrítica é considerada mais crítica que as demais. O artigo conclui com algumas considerações complemen-tares e introdutórias à primeira forma de sensibilidade.

Palavras-chave: sensibilidade, conhecimento, gosto, objeto, reflexão.

1 Acadêmico do Curso de Filosofia – Bolsista da FAPERGS 2 Professor do Curso de Filosofia / ULBRA. ([email protected])

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ABSTRACT

The paper compares two forms of aesthetic sensibility: the cognitive form, as a theory of sensibility accordingto the ‘Critique of Pure Reason` (1781= ed. A. 2a. ed. 1787= ed. B, abbrev. KrV), and the aestheticreflexive form or form of the taste, according to the ‘Critique of Judgment` (1790, abbrev. KdU). The first issaid to be objective and the second subjective, or better, inter-subjective. The first relates directly to knowledge,and the second relates to aesthetic pleasure, also called feeling of life. Analogously to the phenomenicindetermination of the “objective” sensibility, there is also a aesthetic indetermination of the taste. Inasmuch asthe firs completes itself in the conceptual determination, the second never completes itself, it keeps itself alwaysopen, in process. For this reason, the Third Critique is more critical than the other two. The article concludeswith some complementary and introductory considerations on the first form of sensibility.

Key words: sensibility, knowledge, taste, object, reflexion.

ou do feio. Esta é uma perspectiva que se elaboraa partir de sua teoria do juízo reflexivo, voltado,não propriamente para uma mera subjetividade,em contraposição à objetividade, mas antes parauma intersubjetividade. Pois o gosto é um prazervirtual que reivindica sua concretização pelauniversal comunicabilidade estética.

Até a 2ª ed. da Crítica da razão pura (1787),Kant elevara-se a uma perspectiva apriorísticaapenas em relação à forma objetiva da sensibilida-de, ou seja, do espaço e do tempo como formas depercepção fenomênica. A posterior descoberta deum a priori estético em relação ao gosto, tematizadona Crítica da faculdade do juízo (1790), foi uma des-coberta de Kant do fim dos anos 1787, documen-tada numa carta a Reinhold.3 Esta forma concernea uma percepção de que, apreciando um objetoestético, como a natureza ou arte bela, eu reco-nheço a sua forma como universalmente comuni-cável entre todos os sujeitos capazes de ter gosto.

OS DOIS SENTIDOS DOESTÉTICO

A teoria da sensibilidade em Kant envolve duasperspectivas diversas. Uma, que é a perspectivachamada objetiva ou do conhecimento, estuda asensibilidade em sua matéria, mas principalmenteem sua forma. As formas da sensibilidade são oespaço e o tempo. Como formas, elas são condi-ções ou modos gerais de ver, ouvir, perceber e sen-tir. Ou seja, espaço e tempo não se encontram forade nós, como coisas ou momentos delas, mas seencontram em nós como a forma de nosso relacio-namento com todos os objetos capazes de afetar osnossos sentidos. Esta perspectiva tomou o estéticoem seu sentido literal grego, como ligado à sensa-ção, o que não deixou de ser curioso, já que naépoca de Kant prevalecia, pelas mãos do seu mes-tre Baumgarten, um novo sentido de estético comoligado a uma teoria do belo e do gosto.

Esta outra perspectiva desde a qual Kant de-termina a sensibilidade, mas sem o uso do termoem causa, é a que estamos acostumados a enten-der como sensibilidade estética, ou seja como umaforma de gosto, um modo de percepção do belo

3. Cf. KANT, I. Briefwechsel. Hamburg: Felix Meiner, 1986,p.335 (carta de 28 e 31 dez. 1787). Na 2ª. ed. da Críficada razão pura, de poucos meses antes (abril de 1787),Kant ainda mantinha a concepção empirista do juízo esté-tico. Cf. KrV, A 22 B 36, trad. p.72.

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A filosofia de Kant é marcada pelo estudo do apriori, tanto em relação ao conhecimento, quantoem relação à ação e em relação ao gosto. A pers-pectiva de consideração do a priori como fonte doque se pode conhecer, fazer ou sentir, é chamadade perspectiva transcendental. O transcendentalé o estudo do a priori como condição de possibili-dade de atuação humana nessas três esferas. Ouseja, as faculdades através das quais se opera essaperspectiva transcendental são a do conhecimen-to (razão, entendimento, imaginação, sensibilida-de), a da ação (faculdade de apetição ou de dese-jar) e a do sentimento estético (sentimento de pra-zer e desprazer). Há uma faculdade que englobatodas essas faculdades e as articula entre si; elachama-se de ânimo. Tanto no domínio do conhe-cimento há uma articulação de faculdades entresi, principalmente entre entendimento e sensibili-dade, quanto há essa articulação nos demais do-mínios. Ou seja, o ânimo é o todo das faculdadeshumanas, dinamicamente articuladas entre si poruma faculdade chamada juízo. O juízo é um ta-lento de articulação do geral (conceito) e do par-ticular (intuição) entre si. Se ele como talento temalgum lugar, é antes na faculdade estética, do sen-timento de prazer e desprazer. Kant desenvolve naterceira Crítica, principalmente em suas duas In-troduções, toda uma teoria da função articuladorado juízo entre teoria e prática ou entre as faculda-des. O juízo é, do ponto de vista estético e a nívelreflexivo, a identificação a priori da possibilidadede uma determinada harmonia ou acordo entre asfaculdades. A percepção desta possibilidade deacordo gera prazer. Por isso a Estética no sentidode teoria do gosto assume um lugar privilegiadona concepção filosófica kantiana, expressa eminen-temente nas três Críticas. E sentir prazer, a um ní-vel reflexivo da sensibilidade, é experimentar oprenúncio de um possível acordo qualquer entreos homens.

Na experiência primordial do originamentode um conhecimento, ainda se tem consciênciada vinculação entre conhecimento e prazer. Como desenvolvimento do conhecimento, essa ex-periência vital se perde. Mas a um alto preço: aatividade cognitiva torna-se mecânica e deixade reconhecer-se como criativa.

Não devia, pois, causar estranheza aos ma-temáticos e geômetras, nem deveria significarque se tira sua ciência do sério o fato derelacioná-la com a arte e, talvez, até com a maiscriativa das artes, que é a poesia. Porque, se-gundo Kant, a poesia é que envolve a máximaarticulação entre s faculdades.4

Voltemo-nos para a nossa epígrafe, os versosde Rilke: “Nós nunca temos, nem um único dia,o puro espaço ante nós, para o qual as flores seabrem infinitamente.”5 Esta frase permite-nos otratamento específico do nosso tema: a sensibi-lidade, em sua dupla forma: sensorial-cognitivae sensível-estética (ou apreciativa).

ESPAÇO E TEMPO COMOFORMAS COGNITIVAS DASENSIBILIDADE

Nós jamais podemos ter o puro espaço, etampouco o puro tempo, diante de nós. Porque,se assim fosse, nós diríamos que vemos o ver,ouvimos o ouvir, sentimos o sentir. Nós não ve-mos o espaço e o tempo, porque são eles que

4 Cf. KANT, I. Crítica da faculdade do juízo. Rio de Janeiro:Forense, 1993, p.171, B 215.

5 RILKE, Rainer Maria. Poemas. As elegias de Duíno. Prefá-cio, seleção e tradução de Paulo Quintela, nova ed. Porto:O Oiro do Dia, 1983, p.216-7.

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vêem, é a partir deles que nós vemos as florescomo matéria. Espaço e tempo, como formas dever ou sentir, são forma e não matéria de nossasensibilidade. Podemos dizer popular eempiricamente que sentimos o tempo passar, quepercebemos a distância de nosso caminho a per-correr-se de um ponto a outro. Isto é tão realcomo o sol levantar-se diante de nós e percorrerem um dia a abóbada celeste. A ciência estárepleta de desmentidos das verdades do sensocomum. Do mesmo modo, se a forma da nossasensibilidade não fosse nem tempo nem espaço,não teríamos condições para ver aqueles men-cionados fenômenos empíricos. Quem detectaas ilusões ao nível da sensibilidade? É uma fa-culdade mais alta: é o julgar ao nível do enten-dimento. Mas não é a sensibilidade que se en-gana, e sim o entendimento ao assumir a pers-pectiva das aparências.

Portanto, Kant entende a sensibilidade comodotada de formas a priori, mediante as quaispodemos perceber os fenômenos (aquilo que semostra). Tudo se vê, se percebe, a partir das for-mas espaço-temporais da sensibilidade. Sem es-tes elementos apriorísticos nela, isto é, sem es-tas formas que não provêm da experiência, ne-nhuma matéria se mostraria e nenhuma flor apa-receria no espaço, e com uma duração determi-nada ou determinável. O espaço é a forma dapercepção de todos os fenômenos externos, e otempo é a forma da percepção de todos os fenô-menos internos, ou seja dos estados da consci-ência, como consciência de sua duração. Mascomo a representação espacial é também umarepresentação, portanto um fenômeno interno,o tempo, segundo Kant, funda a representaçãoespacial. Todas as representações espaciais sãoem última análise temporais. Mas tampouco otempo se contenta com representações engano-

sas, ou seja, com estados subjetivosdesvinculados do mundo exterior. Como formada sensibilidade, ele une-se intimamente aoespaço. E é, portanto, dentro de um mundo ob-jetivo – em que objetos se dão aindaindeterminadamente – que tempo e espaço sãoformas fenomênicas. Nós não conhecemos ape-nas mediante as formas da sensibilidade. Sem aunião de sensibilidade e entendimento, ou deintuição e conceito, a nossa percepção é cega eo nosso conceito é vazio. O que conhecemosatravés das formas da sensibilidade. são, noentanto, apenas fenômenos (modos de dar-se dascoisas), mas jamais as coisas em si, independen-tes desse modo de dar-se. Que seriam as coisasfora de uma relação de conhecimento? A per-gunta é absurda: não se pode perguntar ou sa-ber o que é algo fora da pergunta ou do saber.

AS FORMAS DASENSIBILIDADEESTÉTICA

Os objetos estéticos resumem-se eminente-mente ao belo, ao feio, ao agradável e desagra-dável, ao sublime. Mas como se dão? Dão-se auma sensibilidade reflexiva chamada gosto. Tra-ta-se de uma sensibilidade reflexiva, que é umir em direção ao entendimento, mas sem deter-minação de seu término. A reflexão sobre as for-mas é um processo de pôr-se a caminho do co-nhecimento, sem chegar lá. Porque o estéticodistingue-se da determinação cognitiva por serele uma forma de sentir, com certo grau de ela-boração. O grau de elaboração é o gosto, querequer uma certa cultura do ânimo.6

6 Cf. KANT, I. KdU B262, trad. bras. p.199.

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Mas vejamos: a relação entre sujeito e obje-to é, no caso estético, o contrário da relaçãocognitiva. Quando vejo um objeto, por exem-plo, uma rosa e digo que é bela, significa quesinto prazer em contemplá-la. Sentir prazer di-ante de um objeto significa relacioná-lo com oestado do sujeito. Este estado do sujeito é o sen-timento de vida. A experiência estética de umobjeto como belo significa uma promoção do sen-timento de vida. Por isso, interessantemente emKant, o prazer estético é o sentimento de pro-moção da vida. Logo, a experiência estética éuma experiência primordial, sem a qual perde-mos o gosto de viver. E, sem ela, também deixa-mos de contemplar as estrelas e investigá-las.

Houve um tempo em que conhecimento eprazer estavam unidos, observei antes. Se quiser-mos manter a criatividade do conhecimento, te-mos de recuperar essa experiência de união. Semprazer não vivemos, sem beleza não nos achamosem casa no mundo, sem admiração não investi-gamos. A admiração reflexiva põe em movimen-to o conhecimento, mas quem o conclui é essaoutra esfera objetiva, denominada matemática ougeometria, em relação ao tempo e espaço.

Não vemos o espaço e o tempo diante de nós.Mas nós os sentimos em nós. E sentindo-os, ve-mos as flores que crescem neles. Sem o prazerestético, só vemos neles plantas mortas, logo fal-sificamos os objetos que queremos conhecer.

Enfim, assim como não conhecemos apenascom as formas da sensibilidade, mas só median-te a sua união com as formas do entendimento(as categorias), assim também não percebemosa beleza mediante o simplesmente agradável,que em seu sentido sensorial mais elementar,como o prazer de comer uma fruta ou de beberum vinho. O belo vem um pouco depois, no re-

finamento do comer e beber, portanto, pela aber-tura da sensibilidade estética à reflexão.

COMPLEMENTOS

Detenhamo-nos em mais alguns aspectos dadimensão cognitiva da teoria kantiana da sen-sibilidade. A Estética em seu sentido cognitivoobjetivo é estudada do ponto de vista de umateoria transcendental da sensibilidade. O ter-mo transcendental tem um sentido novo emKant Ele significa aqui o estudo das condiçõesa priori do conhecimento. Condições a priori sãocondições de possibilidade. As condições a prioriformais são relações dentro das quais a matériaaparece e se dá a conhecer sensivelmente. Aforma constitui-se de relações. Kant escreve: “Aforma pura de intuições sensíveis em geral naqual todo o múltiplo dos fenômenos é intuídoem certas relações, será encontrada a priori namente” (KrV B 34).

Comentemos essa frase. Intuições são as re-presentações da sensibilidade. São o ver, o ou-vir, o tato etc. Estas são representações empíricas.Existem também intuições não empíricas, intui-ções puras, que se identificam com as formas doespaço e do tempo. A forma pura dessas açõesintuitivas são aquelas condições da sensibilida-de que as possibilitam. São condições formais,como formas da sensibilidade, portanto não ex-ternas a ela, não dadas como conteúdo, mas comoformas nas quais o conteúdo do conhecimentosensível é dado. Essa forma é pura, porque não édada na experiência, empiricamente. Uma for-ma é pura porque não contém sensação. Sensa-ção é o modo como somos afetados por objetos.Estes objetos, chamados fenômenos, são dadosem certas relações. A frase citada diz que o

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múltiplo dos fenômenos é dado em certas rela-ções. Quer dizer, os fenômenos contêm umapluralidade de aspectos, que são ordenados for-malmente. Estas relações ordenadoras são cha-madas espaço e tempo. Logo, espaço e temposão formas da sensibilidade, dentro das quais osfenômenos em sua matéria são ordenados.

Mas os fenômenos se dão ao nível da sensibili-dade, são ordenados espacial e temporalmente, oque contudo não basta para serem conhecidos. Aordenação sensível é apenas uma parte do conhe-cimento, insuficiente para a identificação do ob-jeto, a qual é operada por uma determinaçãoconceitual. O fenômeno, enquanto ordenado sen-sivelmente, define-se como “objeto indeterminadode uma intuição empírica” (KrV B 34). A suaindeterminação significa que ao nível sensível nãosabemos o que um objeto seja. O conceito é o pen-samento do objeto, dado na intuição sensível. Sóquando unimos intuição e conceito sabemos o queum objeto é. “Sem sensibilidade nenhum objetonos seria dado, e sem entendimento nenhum seriapensado. Pensamentos sem conteúdo são vazios.Intuições sem conceitos são cegas” (KrV B 75).

Essa famosa frase diz que um ver ou ouvir nãobastam para a identificação de um objeto. A teo-ria do espaço e do tempo como formas gerais dasensibilidade é apenas uma primeira parte de umateoria do conhecimento. Esta teoria envolve ou-tros a priori, como as categorias ou formas puras,equivalentes e complementares, ao nível do en-tendimento, às formas puras do espaço e do tem-po, da sensibilidade. A essas determinaçõestranscendentais das condições do conhecimentosegue-se uma dedução, como demonstração danecessidade dessas formas puras para o conheci-mento. E segue-se um estudo dos princípios su-premos do conhecimento, como uma teoria do juízoem que o conhecimento do objeto se completa.

CONCLUSÕES

A aventura da primeira Crítica, como se sabe,vai mais longe. Por enquanto bastam estas con-siderações introdutórias.

Quem quiser saber mais sobre isso, convém quese invista de coragem, e ouse ler as três Críticas deKant. O que queríamos dizer, com estas conside-rações introdutórias, é que se a sensibilidade re-cuperar sua unidade objetiva e intersubjetiva, se apartir daí formos capazes de vislumbrar uma possí-vel harmonia de faculdades, então a vida e o co-nhecimento se salvam, como flores que crescemnum espaço e tempo que as comportam, sem queos vejamos, mas que conhecemos ou em suaobjetivação, ou transcendentalmente, como ascondições primeiras do conhecimento e do gosto.

REFERÊNCIASBIBLIOGRÁFICAS

DOMINGUES, Fabian S. O guia empírico e amatematização da percepção. Uma análise dadoutrina das sensações na Crítica da razão pura.2005. Dissertação (Mestrado) – UniversidadeFederal de Porto Alegre, Porto Alegre, 2005.

HÖFFE, Ottfried. Immanuel Kant. Tradu-ção de Christian Hamm e Valerio Rohden.São Paulo: Martins Fontes, 2005.

KANT, Immanuel. Briefwechsel. Hamburg:Felix Meiner, 1986.

KANT, Immanuel. Crítica da razão pura (abrev.KrV). Tradução de Valerio Rohden e Udo B.Moosburger. São Paulo: Nova Cultural, 1996.

KANT, Immanuel. Crítica da razão prática(abrev. KpV). Edição bilíngüe com repro-

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dução do texto da 1ª. ed. original alemã, comtradução, introdução e notas de ValerioRohden. São Paulo: Martins Fontes, 2003.

KANT, Immanuel. Crítica da faculdade dojuízo (abrev. KdU). Tradução e notas de

Valerio Rohden e António Marques. Rio deJaneiro: Forense, 1993.

RILKE, Rainer Maria. Poemas: As Elegiasde Duíno. Prefácio, seleção e tradução dePaulo Quintela. Porto: O Oiro do Dia, 1986.

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Lingüistica, Letras e Artes

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Estudos surdos: uma abordagem lingüística1

FABIANO SOUTO ROSA2

ALEXANDRE MORAND GOES3

LODENIR BECKER KARNOPP4

RESUMO

Linguagem e sociedade estão ligadas entre si e formam a base da constituição do ser humano. Por isso,ao estudarmos o fenômeno lingüístico e as línguas de sinais, estamos tratando também das relações entrelinguagem e sociedade. A lingüística, ao estudar qualquer comunidade que usa uma língua, constata, deimediato, a existência de diversidade ou de variação, ou seja, toda comunidade - no caso aqui investigado,a comunidade de surdos - se caracteriza pelo emprego de diferentes modos de usar a língua de sinais. Aessas diferentes maneiras de fazer sinais, a sociolingüística utiliza a denominação de “variedades lingüísti-cas”. O presente trabalho objetiva discutir a relação entre língua de sinais e variedades lingüísticas e paraisso analisa essas variedades na língua de sinais brasileira (LIBRAS) e as diferenças observadas na reali-zação dos sinais em algumas regiões do Brasil ou mesmo em diferentes sinalizadores. A análise incluitextos produzidos em sinais e posteriormente traduzidos para o português de diálogos entre surdos dediferentes regiões brasileiras, em que os interlocutores referem mudanças observadas nos sinais realizadospor eles ou por seus interlocutores surdos.

Palavras-chave: surdos, Língua de Sinais Brasileira, lingüística.

1 Pesquisa realizada com o apoio da Fundação de Amparoà Pesquisa do Estado do Rio Grande do Sul (FAPERGS -Processo 03/0052.3)

2 Acadêmico do Curso de Pedagogia/ULBRA – BolsistaPROICT/ULBRA

3 Acadêmico do Curso de Letras/ULBRA4 Professora – Orientadora do Curso de Letras e PPG Edu-cação/ULBRA ([email protected])

5 Trechos traduzidos da LIBRAS para a Língua Portuguesa.

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ABSTRACT

Language and society are linked to each other and form the basis of the constitution of the human being.Because of this, when studying the linguistic phenomena and sign languages, we are also dealing with therelationships between language and society. Linguistics, when studying any community which makes use of alanguage, immediately reports the existence of diversity or variation, that is, every community, in this case thedeaf community, characterizes itself by the use of different ways of using the sign language. For these differentways of making signs sociolinguistics uses the denomination “linguistic varieties”. The present work aims atdiscussing the relationship between sign language and linguistic varieties. Therefore, in order to do so itanalyses these varieties in the Brazilian Sign Language (LIBRAS) and the differences observed in the makingof signs in some regions of Brazil as well as the different signers.The analysis was composed of texts producedin signs and later translated to Portuguese of dialogues between deaf people from different regions of thecountry in which the signers refer to changes observed in the signs made by them or by their deaf partners.

Key words: deaf, Brazilian Sign Language, linguistcs.

nal. O fato de sermos capazes de identificarpessoas conhecidas pela forma como falam (naslínguas orais) ou pela forma como fazem si-nais (nas línguas de sinais) mostra que cadapessoa tem uma maneira característica de usara língua, diferente das outras. Denominam-se idioletos as maneiras únicas do modo defalar ou sinalizar de cada indivíduo. Para ilus-trar a definição de idioleto transcrevo um di-álogo entre surdos5 :

Eva (E) (31:44) Eu percebo no teu jeito defazer o sinal ‘vermelho’, uma forma peculi-ar. A tua orientação de mão é diferente,o pulso está mais para o lado. Esse é umjeito só teu ou é um jeito dos surdos dePernambuco?

As línguas de sinais existem de forma natu-ral em comunidades lingüísticas de pessoas sur-das. No entanto, não há uma única língua desinais para todos os surdos, pois eles se organi-zam em grupos e formam comunidades lingüís-ticas diferentes. Além disso, não estão geografi-camente em uma mesma localidade, mas espa-lhados em várias partes do mundo.

Os usuários da língua de sinais brasileira(LIBRAS) conseguem se comunicar uns comos outros e entendem-se bastante bem, ape-sar de não haver sequer dois que façam sinaisda mesma maneira. Algumas diferenças de-vem-se à idade, escolaridade, maior ou me-nor contato com a comunidade surda, sexo,classe social, personalidade, estado emocio-

5 Trechos traduzidos da LIBRAS para a Língua Portuguesa.

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Pedro (P) (32:01) É verdade! É um jeito sómeu, mas não faz diferença, o sinal conti-nua sendo o mesmo, apesar de a forma serum pouco diferente.

E (32:05) Outro detalhe interessante é que

ele não precisa ter esse contato, ele vai sedesprendendo...!

E (32:44) O sinal “branco” deve ser sinaliza-do de forma natural, assim como as pala-vras no português têm um ritmo, os sinaistambém têm um ritmo...

(KARNOPP, 2004)

VERMELHO

BRANCO

algumas pessoas quando fazem o sinal“branco”, fazem questão de encostar odedo nos dentes [risos]...

P (32:09) Verdade! Verdade! E ainda abrembem a boca para mostrar os dentes!

E (32:13) Isso não é necessário. Veja só: parao sinal “branco” não é necessário nemabrir a boca, nem encostar o dedo no den-te! Imagine se eu estou comendo e sinali-zando, ficaria um horror abrir a boca! Vejoque aí é culpa de alguns professores [aoensinar sinais]!

P (32:38) Sim, embora o sinal “branco” te-nha tido a motivação da cor do dente,

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Além dessas diferenças individuais (idioletos),a língua utilizada por diferentes grupos de pesso-as pode apresentar variações regulares, variaçõesem determinados grupos, conforme a proximida-de entre as pessoas. Quando a língua de sinaisusada por surdos de regiões geográficas ou gru-pos sociais diferentes apresenta diferenças siste-máticas, diz-se que esses grupos usam sinais dife-rentes, ou seja, dialetos da mesma língua. Osdialetos nas línguas de sinais podem ser defini-dos como formas mutuamente compreensíveisdessa língua e com diferenças sistemáticas.

No entanto, nem sempre é fácil decidir se essasdiferenças sistemáticas entre duas comunidadeslingüísticas representam dois dialetos ou duas lín-guas distintas. A definição mais simples, que temsido utilizada é: “Quando dois dialetos se tornammutuamente ininteligíveis, ou seja, quando os usu-ários de um dialeto já não conseguem compreen-der os usuários de outro, esses dialetos tornam-selínguas diferentes”. Claro que a dificuldade estáem definir o que é “inteligibilidade mútua”, poisconsiderar o uso lingüístico de duas comunidadescomo dialetos ou como línguas diferentes trans-cende questões lingüísticas, já que há questõespolíticas e de identidade cultural. Dado que a lin-güística por si só não consegue estabelecer umadistinção clara entre língua e dialetos, considera-remos dialetos da mesma língua as versões mutua-mente compreensíveis da mesma gramática básicaque se distinguem de forma regular. Todas as co-munidades lingüísticas apresentam, de fato, vari-ações sistemáticas no uso da língua de sinais. Es-sas variações podem se apresentar no vocabulário,na gramática, enfim, na forma como o surdo usa ossinais.

A diversidade de dialetos tende a aumentarconforme o isolamento comunicativo (ou geo-

gráfico) entre os grupos. Esse isolamento comu-nicativo existe em grupos de pessoas surdas eaumenta, portanto, as diferenças entre um dia-leto e outro. As mudanças que ocorrem em umadeterminada região não se estendem necessari-amente a outras regiões. Se alguma barreira decomunicação separa grupos de surdos – quer setrate de uma barreira física, geográfica, social,política, racial, social ou religiosa – as altera-ções lingüísticas não se divulgam facilmente eas diferenças dialetais aumentam.

As alterações dialetais não se dão todas aomesmo tempo; dão-se gradualmente, tendomuitas vezes origem numa região e espalhando-se lentamente a outras, por vezes ao longo devárias gerações de usuários da língua. Umamudança que ocorra numa região, mas que nãose estenda a outras regiões, dá-se o nome dedialeto regional (FROMKIN & RODMAN,1993, p. 269). No diálogo entre os surdos, um doNordeste e o outro do Sul, eles descrevem algu-mas diferenças visíveis na língua, os dialetosregionais.

E (39:15) Minha pergunta agora é sobre asdiferenças entre os sinais produzidos emPernambuco e no Nordeste comparadoscom os sinais do Sul, de Porto Alegre.Percebes algumas diferenças?

P (39:22) Sim, percebo que há muitas dife-renças! Talvez em torno de 15% do totaldos sinais sejam diferentes! Em Porto Ale-gre há um jeito diferente de fazer sinais!

E (39:21) Eu observo que aqui no sul [PortoAlegre] se utiliza muito o alfabeto manu-al e toda a palavra é digitada manualmen-te. Em São Paulo percebo que um grupode surdos oralizados utiliza somente a pri-

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meira letra, por exemplo, “F” na mão,enquanto oraliza toda a palavra “Fabia-no”, necessitando que o surdo faça leitu-ra labial para entender toda a palavra.

P (39:49) Eu percebo que em Porto Alegrehá muitos sinais diferentes, por exemplo,PESSOA, TIO/ TIA, SHOPPING... en-fim, todos esses sinais utilizam como con-figuração de mão a primeira letra da pa-lavra do português, “p” para pessoa, “t”para tio/tia, etc...

(KARNOPP, 2004)

Apesar de todas as línguas serem conjuntosde dialetos, muita gente pensa e se refere auma língua considerando unicamente a formapadrão. Assim, surge uma pergunta: O que éum dialeto padrão? Em primeiro lugar, é preci-so estabelecer um princípio lingüístico: todosos dialetos são iguais. Não existe um dialetomelhor do que o outro, mais correto ou certo.Os gramáticos normativos consideram geral-mente que as formas corretas da língua são osdialetos usados na literatura, em documentosimpressos, dialetos ensinados nas escolas e di-fundidos pelos órgãos de comunicação sociale/ou os dialetos usados pelos dirigentes políti-cos, pelos empresários... Um dialeto padrão nãoé nem mais expressivo, nem mais lógico, nemmais complexo, nem mais regular do que qual-quer outro dialeto. Assim, todo e qualquer juízosobre a superioridade ou inferioridade de cer-to dialeto será um juízo de ordem social des-provido de caráter lingüístico ou científico.

O que queremos dizer quando afirmamos quealguém usa a forma padrão é que o dialeto queessa pessoa usa em situações formais é mais oumenos idêntico, em gramática e vocabulário, ao

padrão utilizado por líderes surdos na comuni-dade de surdos, geralmente aqueles maisescolarizados, ou pelos instrutores de LIBRAS.

Como é que um dialeto torna-se o dialetopadrão?

Assim que um dialeto começa a impor-se,ganha, na maior parte dos casos, uma certa di-nâmica. Quanto mais “importante” se torna,mais usado é; e quanto mais usado é, mais im-portante se torna. Pode ser o dialeto usado noscentros culturais (ou educacionais) de um paíse pode estender-se a outras regiões. (FROMKIN& RODMAN, 1993, p. 273)

Variação lingüística: estilo,calão e gíria

BAGNO (1999), ao discutir a questão davariação lingüística, afirma que uma das com-parações que os estudiosos gostam de utilizar éa da língua como vestimenta. As roupas, comosabemos, são variadas, indo da mais formal (ves-tidos longos, terno e gravata) à mais informal(biquíni, pijamas). A idéia dos que fazem essacomparação é que não existem, em geral, for-mas lingüísticas erradas, existem formas lingüís-ticas inadequadas. A língua assim pode ser com-parada com as roupas: assim como ninguém vaià praia de terno e gravata, também ninguém vaia um casamento de biquíni ou de pijama (aomenos, convencionalmente!). De igual modo,ninguém diz “me dá esse troço aí” num jantarformal nem “faça-me o obséquio de passar-me osal” numa situação de convívio familiar.

Na nossa própria língua podemos usar doisou mais dialetos. Quando estamos com os ami-gos nos expressamos de uma maneira; quando

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vamos a uma entrevista para um emprego, a ten-dência é sermos mais formais. Esses dialetos desituação denominam-se estilos. Conforme a si-tuação, as pessoas utilizam um estilo informal(interlocutor familiar) ou um estilo formal(interlocutor cerimonioso). Nas línguas de si-nais, observamos que o estilo varia conforme ointerlocutor: quando um surdo se comunica comum ouvinte, em geral, tende a fazer sinais deforma mais lenta, utilizando alguma vocalização;quando se comunica com outro surdo, tende asinalizar de forma natural, sem vocalização.

Uma característica do estilo informal é a ocor-rência freqüente de calão. O calão, ou lingua-gem coloquial, introduz muitas palavras novasna língua combinando palavras antigas com no-vos significados. Exemplos de termos deprecia-tivos na língua portuguesa: pé de porco (polí-cia), perua (mulher enfeitada).

Quase todas as profissões, comércios e ocu-pações têm um conjunto de vocábulos; alguns

são considerados “calão”, outros “termos técni-cos”, consoante o status social da pessoa queusa esses termos ‘da moda’. Esses vocábulos sãomuitas vezes chamados de gíria.

Muitos termos de gíria passam para a línguapadrão. A gíria, tal como o calão, começa porum grupo reduzido até ser compreendido e usa-do por uma grande parte da população. Por fim,pode até perder o status especial de gíria ou calãoe entrar no círculo respeitável do uso formal.Na língua de sinais temos muitas gírias, confor-me o relato a seguir.

E (43:10) Lembrei do sinal de ‘droga’, que éeste aqui e um outro que não tem o mes-mo sentido do primeiro, pois é uma formade cumprimento, é uma gíria... mas per-cebo que há confusão no entendimentodo sentido de cada um, aplicados aos con-textos de uso.

(KARNOPP, 2004)

DROGA DROGA (Tchau!)

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Além da gíria, em todas as sociedades exis-tem palavras consideradas tabu - palavras quenão devem ser usadas ou, pelo menos, que nãodevem ser usadas num “meio educado”. A pala-vra tabu teve a sua origem em tonga, uma lín-gua polinésia, e nessa sociedade refere atos quesão proibidos ou devem ser evitados. Quandoum ato é tabu, a referência a esse ato pode tam-bém se tornar tabu. Isto é, alguns atos devemser evitados e definitivamente silenciados. Porexemplo: palavras com conotações religiosas,palavras que dizem respeito ao sexo, órgãos se-xuais e funções naturais do corpo, palavras rela-cionadas a algumas doenças... (FROMKIN &RODMAN, 1993)

Na língua de sinais há uma configuração demão que não aparece no alfabeto manual, nemna formação dos sinais, por ser considerada umaforma tabu. A configuração de mão em que odedo médio está levantado contém um signifi-cado depreciativo, sendo também um gesto in-decente utilizado pelos ouvintes.

A existência de palavras ou idéias tabu esti-mula a formação de eufemismos. Um eufemis-mo é uma palavra ou expressão que substitui umapalavra tabu ou que é usada numa tentativa deevitar assuntos delicados ou desagradáveis. Te-mos, por exemplo, vários eufemismos para fazerreferência à morte (falecimento, descanso eter-no, entrada nos céus...).

Comunidades de surdos evariação lingüística: um estudode caso

Na década de 80, um amplo estudo realiza-do por KYLE & ALLSOP (1982) elencou as ca-racterísticas da população surda. O objetivo

desse estudo foi elaborar uma descrição dessapopulação, a partir da visão de surdos sobre osaspectos centrais da comunidade surda. Na pes-quisa, todos os entrevistados eram surdos, usa-vam a língua de sinais e muitos deles conviviamcom pessoas ouvintes em casa ou no trabalho.

Entre as conclusões apresentadas por KYLE& ALLSOP (op. cit.) está o fato de que pessoassurdas convivem com ouvintes, em seu ambien-te de trabalho ou com a família, e que se apro-priam de meios visuais para entender o mundoouvinte. Essa experiência visual para acessar ainformação implica criar negociações para o es-tabelecimento de trocas lingüísticas entre lín-guas de sinais e línguas orais e esse contato comouvintes torna-se uma experiência cotidiana navida de pessoas surdas. Freqüentemente traba-lham e vivem em locais em que a forma de co-municação com pessoas ouvintes é rudimentare o acesso aos meios de comunicação é (quase)inexistente. Em alguns centros urbanos, elesencontram seus pares surdos somente duas outrês vezes por semana. Apesar disso, são extre-mamente próximos uns dos outros, havendo atendência entre os membros da comunidadesurda de casarem entre si ou de residirem próxi-mos uns dos outros. Essa característica social fazcom que pessoas surdas mantenham suas vidasna comunidade surda: participando da associa-ção de surdos, realizando atividades conjuntas,estudando em uma mesma escola, empreenden-do lutas e reivindicações conjuntas.

A participação em associações, federações,clubes de surdos e a interação com pares sur-dos, mesmo que seja eventual - duas ou três vezespor semana – evidencia, nos termos de BAKER& COKELY (1980) uma atitude e expressão deescolha por uma comunidade, ou necessidade

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de compartilhar informação e comunicação. Nãosignifica “Eu quero ser surdo”, mas antes “Eusou uma pessoa surda e desejo estar em contatocom outras pessoas que compartilham minha lín-gua” (KYLE & WOLL, 1985, p. 21). Essas ca-racterísticas são importantes para entendermosalgumas singularidades da comunidade surda.

No estudo realizado por KYLE & ALLSOP(1982), os autores concluíram que não é somenteo domínio da língua de sinais ou a surdez quesão os elementos essenciais na definição dosmembros da comunidade surda; mas tambémuma atitude surda, ou seja, a participação, o estarjunto compartilhando informação e idéias. Nes-te sentido, há dois planos que interagem quan-to à identificação dos membros da comunidadesurda: a descrição mais típica (ser surdo e usara língua de sinais) e outra mais relacionada a‘atitude surda’.

Obviamente há uma cultura surda em dife-rentes partes do mundo, embora isso não sejatão visível para as pessoas ouvintes. Nos termosde KYLE & WOLL (1985), pessoas surdas tra-balham com pessoas ouvintes, mas relaxam compessoas surdas. Eles não rejeitam a sociedadeouvinte, mas se consideram diferentes. O dese-jo de estar juntos é a força da vida em comuni-dade e a força de sua língua, de sua diferença.

Um estudo semelhante ao de KYLE &ALLSOP (op.cit.) foi realizado por AlexandreGoes durante o ano de 2004, pesquisador surdo

integrado ao projeto “Estudos Culturais Surdos:uma abordagem lingüística”. Com o objetivo deinvestigar a relação entre língua de sinais, cul-tura e identidade surda, o pesquisador traz evi-dências da importância dos sinais, mesmo emcontextos de uso de sinais por surdos que nãoconvivem com outros surdos. GOES (2004) en-controu exemplos de um alfabeto manual, emque a datilologia foi criada para alfabetizar umacriança surda, filha de pais ouvintes que mora-vam no interior do estado do Rio Grande doSul. O alfabeto manual utilizado por essa crian-ça apresenta diferenças em relação ao alfabetomanual de surdos brasileiros que utilizam a LI-BRAS, conforme as ilustrações a seguir. Adatilologia evidencia a presença de idioletos, desinais caseiros, criados em situações de não con-tato de surdos com a comunidade surda. Umfato interessante registrado pelo pesquisador, éque essa criança surda entrou em contato comsurdos que utilizavam a LIBRAS no momentoem que a família passou a residir em outra loca-lidade. Ao estabelecer contato com surdos, usu-ários da LIBRAS, essa criança adquiriu a LI-BRAS e passou também a utilizar o alfabetomanual convencional, ficando restrita a utiliza-ção daqueles sinais caseiros e daquela datilologiasomente com a família. Segundo depoimentosda família, o objetivo era facilitar e desenvolvera comunicação com a filha surda e, por outrolado, essa família não tinha informações sobre aexistência da LIBRAS e de sua importância nodesenvolvimento lingüístico de surdos.

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Quadro 1 - As 46 CMs da LIBRAS (FERREIRA BRITO, 1995).

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Figura 1 - Alfabeto manual produzido por uma surda.

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CONCLUSÕES

Neste capítulo vimos alguns aspectos da lín-gua em sociedade, apresentando alguns exem-plos de idioletos e dialetos nas línguas de si-nais. Com base em FROMKIN & RODMAN(1993) vimos que cada um tem a sua própriamaneira de usar a língua, de fazer sinais. Afir-mamos que usar uma determinada língua im-plica um conhecimento que vai além dolingüístico. Quando duas pessoas usuárias deuma mesma língua se encontram e começam afazer sinais, certamente se dá uma interaçãoampla em que cada uma das pessoas usa a lín-gua com características particulares, denotan-do se é usuário nativo da língua e de que co-munidade lingüística provem. Usuários de qual-quer língua prestigiam ou marginalizam certasvariantes regionais, a partir da maneira pelaqual os sinais são articulados (expressões faciaise corporais, sinais caseiros, entre outros.). Te-mos então as variantes padrão e variantes não-padrão: os princípios que regulam as proprie-dades das variantes padrão e não-padrão ge-ralmente extrapolam critérios puramentelingüísticos. Na maioria dos casos, o que sedetermina como sendo uma variante padrãorelaciona-se à classe social de prestígio e a umgrau relativamente alto de educação formal dossurdos. Variantes não-padrão geralmente des-viam-se destes parâmetros.

REFERÊNCIASBIBLIOGRÁFICAS

BAGNO, Marcos. Preconceito lingüístico:o que é, como se faz. São Paulo: Loyola, 1999.

BAKER, C. ; COKELY, D. American SignLanguage: a teacher’s resource text ongrammar and culture. [s.l.,s.n.], 1980.

FERREIRA-BRITO, L. Por uma gramáticadas línguas de sinais. Rio de Janeiro: TempoBrasileiro, 1995.

FROMKIN, V.; RODMAN, R. An Introductionto Language. 5ª ed. Forth Worth: Harcourt BraceJovanovich College, 1993.

KARNOPP, Lodenir. Diálogos Traduzidos.Tradução de Lodenir Karnopp do diálogoentre surdos universitários. Canoas: ULBRA,2004. 1 videocassete (50 min), VHS, color.

KYLE, J. G. ; ALLSOP, L. Communicatingwith young deaf people. Teacher of the Deaf,v.6, p. 89-95, 1982.

KYLE, J. G.; WOLL, B. Sign Language: Thestudy of deaf people and their language.Cambridge: Cambridge University Press, 1985.

VALLI, C. ; LUCAS, C. Linguistics ofAmerican Sign Language: An Introduction.Washington: Gallaudet University Press, 1992.

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ÍNDICE DE AUTORES

AMARAL, Viviane Souza do ..................................................................................................... 43ANDRADE NETO, Agostinho Serrano .................................................................................. 207ANDRADE, Heloisa Helena Rodrigues de .............................................................................. 43ÁVILA, Jorge de ....................................................................................................................... 187

BAUERMANN, Soraia Girardi .................................................................................................. 21BÉRIA, Jorge Umberto ............................................................................................................. 119BERNARDES, Clair Xavier ....................................................................................................... 31BOEIRA, Thaís da Rocha ......................................................................................................... 85BONA, Silvia ............................................................................................................................ 125BORDIGNON, Sérgio Augusto de Loreto ............................................................................... 21BRAMBILLA, Daniel Martins ................................................................................................. 147BRAMBILLA, Fábio Hilário .................................................................................................... 249

CALLEGARI, André Luiz ........................................................................................................ 167CANCELLI, Rodrigo Rodrigues ................................................................................................. 21CAROSSI, Michele .................................................................................................................. 239CARVALHO, Denise Jorge ..................................................................................................... 177CHAGAS, Alex de Oliveira .................................................................................................... 147CIGNACHI, Giovanni ............................................................................................................... 51COIMBRA, Roberta Lipp ........................................................................................................ 207CROCHEMORE, Luciano José .....................................................................................................CZUBINSKI, Fernando Freitas ......................................................................................................

DIAS, Renato Rodrigues .......................................................................................................... 187DIEHL, Rosilene Moraes .......................................................................................................... 135

ECHEVESTE, Simone Soares .................................................................................................. 207

FÉRIS, Liliana Amaral ............................................................................................................. 101

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FERRAZ, Alexandre C. ............................................................................................................. 73FIGUEIREDO, Andréia Cristina Leal ..................................................................................... 119FONSECA, André Salvador Kazantzi ....................................................................................... 85FONSECA, Solange Maria Doval ........................................................................................... 125FREYGANG, Cristina Claumann .............................................................................................. 79

GARLIPP, Daniel C .................................................................................................................. 135GASPARRI, Susana ................................................................................................................... 51GAYA, Adroaldo Cézar Araújo ............................................................................................... 135GIGANTE, Luciana Petrucci .................................................................................................. 119GODINHO, Janaína Dias .......................................................................................................... 43GOES, Alexandre Morand....................................................................................................... 259GUEDES, Moisés Aguiar .......................................................................................................... 147

HEPP, Diego ................................................................................................................................ 85HOPPE, Martha Marlene Wankler ......................................................................................... 227

IKUTA, Nilo ............................................................................................................................... 85ILHA, Rafael ............................................................................................................................ 187

JORGE, Roberlaine Ribeiro ..................................................................................................... 147

KARNOPP, Lodenir Becker ..................................................................................................... 259

LINDAU, Heloísa Gaudie Ley ................................................................................................. 177LINDEN, Gerson Luís ............................................................................................................... 197LOPES, Paulo Tadeu Campos .................................................................................................. 159LUNGE, Vagner Ricardo............................................................................................................ 85

MACEDO, Renato Backes ......................................................................................................... 21MARIATH, Jorge Ernesto de Araujo ........................................................................................ 61MARQUES, Alexandre C........................................................................................................ 135MARQUES, Edmundo Kanan ................................................................................................... 85MARRONI, Norma Anair Possa .............................................................................................. 125MATSUMURA, Aída Teresinha Santos ................................................................................. 159MATTEVI, Margarete Suñé ...................................................................................................... 79MEDEIROS, Alex da Rosa ........................................................................................................ 11MENEGOTTO, Isabela Hoffmeister ....................................................................................... 111MORAES, Vinicius Borges de ................................................................................................. 167MOSSATTI, Roselaine Londero ............................................................................................. 227

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NEVES, Paulo César Pereira das ................................................................................................ 21

OLIVEIRA, João Marcelo Santos de ......................................................................................... 61

PALAZZO, Lilian dos Santos ................................................................................................... 119PANDOLFO, Juliana Dalmagro .............................................................................................. 159PARNOFF, Andréia Rodrigues França ................................................................................... 111PEREIRA, Ana Letícia da Silva ............................................................................................... 79PEREIRA, Antônio Batista ........................................................................................................ 73PEREIRA, Betina Kappel ........................................................................................................... 73PEREIRA, Camila Bandeira ..................................................................................................... 119PÉRICO, Eduardo ....................................................................................................................... 31PETRY, Adriano .......................................................................................................................... 11PIMENTA, Caio Marques ........................................................................................................ 147PORAWSKI, Marilene............................................................................................................. 125

RAYMANN, Beatriz Carmem Warth ....................................................................................... 119REGULY, Maria Luiza ................................................................................................................ 43RODRIGUES, Daniele Munareto ............................................................................................. 61RODRIGUES, Graziella Ramos ............................................................................................... 125ROHDEN, Valério .................................................................................................................... 249ROSA, Fabiano Souto .............................................................................................................. 259

SAFFI, Jenifer ............................................................................................................................. 51SAITO, Samuel Takashi ............................................................................................................ 51SANTOS, Ana Maria Pujol Vieira dos ................................................................................... 159SCHRÖDER, Nádia Teresinha ................................................................................................. 73SILVA, Jamir Luís Silva da....................................................................................................... 147SILVA, Juliana da ............................................................................................................... 73, 207SILVA, Letícia Fonseca da ......................................................................................................... 93SILVA, Renata Medina da.............................................................................................................SILVA, Rodrigo Ribeiro ........................................................................................................... 101SILVEIRA, Eliane Fraga da ....................................................................................................... 31SILVEIRA, Rosa Maria Hessel ................................................................................................ 239SIMÕES, Keli Cristina dos Santos ............................................................................................. 85SOARES, Sidcley da Silva ......................................................................................................... 11SOMMER-VINAGRE, Anapaula .............................................................................................. 31

THOMÉ, José Willibaldo ........................................................................................................... 93TOCHTROP JÚNIOR, Erwin Francisco ................................................................................ 101TODESCHINI, Caroline Roberta ........................................................................................... 217

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VALENTIM, Gilson Souza ....................................................................................................... 197VARGAS, Eduardo Trzuskovski de ......................................................................................... 135VILANOVA, Cíntia Simeão ...................................................................................................... 93

WORTMANN, Maria Lúcia Castagna ................................................................................... 217

ZANUZ, Adriano ........................................................................................................................ 11ZOPPAS, Isabel Christina ........................................................................................................ 217

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NORMAS PARA PUBLICAÇÃO DE TRABALHOS

A Revista de Iniciação Científica editada pelaUniversidade Luterana do Brasil publica arti-gos de Iniciação Científica selecionados duran-te o Salão de Iniciação Científica da ULBRAque ocorre anualmente e simultaneamente como Fórum de Pesquisa Científica e Tecnológica eque neste ano de 2004 efetivou sua 10ª edição.

Estes eventos são abertos à comunidade aca-dêmica e às outras Universidades e têm por obje-tivos promover integração entre pesquisa e ensi-no, corpo docente e discente, envolvidos em pes-quisa e a avaliação efetiva da participação dosbolsistas do programa próprio da universidade:Programa de Iniciação Científica e Tecnológica(PROICT/ULBRA) e os programas institucionaispromovidos pelas agências de fomento estadual(PROBIC/FAPERGS) e federal (PIBIC/CNPq)no desenvolvimento da pesquisa além da difusãodo saber em todas as áreas do conhecimento.

1) O artigo de iniciação científica deveser encaminhado à Diretoria de Pesqui-sa via e-mail ([email protected] [email protected]) ou em disquete3 ½” em Word for Windows e em uma viaimpressa.

2) O trabalho completo deverá ser digitadoem espaço 1,5, fonte Arial 12, em um nú-mero máximo de 15 laudas A4 incluindotabelas, quadros e figuras.

3) O artigo deverá conter os seguintes tópi-cos: Título (em caixa alta, itálico e ali-nhado à direita); Nomes dos Autores(iniciando pelos alunos de iniciação ci-entífica); Resumo (no máximo 10 linhas);Palavras-chave (no máximo cinco);Abstract; Key words; Introdução (comrevisão bibliográfica e objetivos); Mate-rial e Métodos (descrição da metodologiautilizada para a execução da pesquisa);Resultados e/ou Discussão; Conclusõese/ou Considerações Finais; Agradeci-mentos (quando houver) e ReferênciasBibliográficas.

4) Para artigos de revisão bibliográfica, nãosão necessárias as subdivisões citadas noitem anterior, mas no artigo, obrigatoria-mente, deverá conter: Título, Nomes dosAutores, Resumo, Palavras-chave,Abstract e Key words.

5) Os nomes dos autores deverão ser coloca-dos por extenso, alinhados à direita, umembaixo do outro, iniciando-se pelo(s)aluno(s) de iniciação científica, seguidosde índice numérico, que será reperido norodapé, onde deve constar:

5.1) se o autor for aluno (Ex: 1Acadêmicodo curso de Biologia/ULBRA – BolsistaPROICT/ULBRA);

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5.2) se o autor for professor participanteda pesquisa (Ex: 2Professor do curso deBiologia/ULBRA);

5.3) se o autor for de outra instituição, de-verá constar a profissão e a Instituição (3Alu-no de Pós-Graduação e Anestesiologista daIrmandade Santa Casa de Misericórdia dePorto Alegre);

5.4) se o autor for professor–orientador (Ex:3Professor–Orientador do Curso de Enge-nharia Ambiental/ULBRA (inserir o e-maildo orientador para correspondência).

6) O significado das siglas e abreviações de-verão estar explícitas na primeira vez queaparecerem no texto.

7) Todas as referências bibliográficas devem sermencionadas no texto segundo a NBR 10.520.Quando a citação for de um autor (SANTOS,2001); dois autores (KEEP & CORRIGAN,2000); três autores (SANCHES, PULL &REEVE, 2003); mais de três autores (RENAMEet al., 1997). Quando os nomes dos autoresfizerem parte da frase, somente o ano da pu-blicação deve vir entre parênteses. Quandohouver, no mesmo ano, mais de um artigo demesa autoria, acrescentar letras minúsculas,após o ano (BACK et al., 1996a, 1996b). Quan-do, dentro de um mesmo parêntese, houvermais de uma citação, estas devem ser coloca-das em ordem cronológica de publicação(KLEIN, 1983; CARVALHO, 1994;MARTINELLO et al., 1999).

8) A NBR 6023 deve ser seguida no momen-to de citar as referências bibliográficas nofinal do artigo, iniciando por ordem alfa-bética de autores e seqüência cronológi-ca crescente.

9) Os gráficos, fotos e desenhos, com enunci-ado na porção inferior, devem ser citadoscomo figuras numeradas com algarismosarábicos em ordem crescente e corrida,conforme indicadas no texto. As tabelas equadros, com enunciados na parte superi-or, devem ter seqüência numérica corridaindicada com algarismos arábicos e de acor-do com a sua indicação no texto.

10) O trabalho será analisado pelos consul-tores da Comissão Editoral da Revista.

11) Quando os referis sugerirem alterações noartigo, o(s) autor(es) deve(m), apósfazer(em) as correções, encaminhar a versãodefinitiva em disquete 3 ½ ou CD, em Wordfor Windows, além de uma cópia impressa.

12) Os textos apresentados são de inteiraresponsabilidade de seu(s) autor(es), in-clusive de digitação.

13) A Diretoria de Pesquisa guardará por trêsmeses os artigos não aceitos para publica-ção, ficando os mesmos à disposição do(s)autor(s) neste período. Após os artigosserão inutilizados.

14) Cada autor receberá uma revista, gra-tuitamente, independentemente do nú-mero de artigos nela publicados.

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