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REVISTA DO INSTITUTO HISTÓRICO E GEOGRÁFICO BRASILEIRO Hoc facit, ut longos durent bene gesta per annos. Et possint sera posteritate frui. R. IHGB, Rio de Janeiro, a. 173, n. 457, pp. 13-556, out./dez. 2012.

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REVISTADO

INSTITUTO HISTÓRICOE

GEOGRÁFICO BRASILEIRO

Hoc facit, ut longos durent bene gesta per annos.Et possint sera posteritate frui.

R. IHGB, Rio de Janeiro, a. 173, n. 457, pp. 13-556, out./dez. 2012.

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o conde de BaGnuoLi, saLVador da Bahia e Vencedor de Maurício de nassau

o CondE dE BAGnUolI, SAlVAdoR dA BAHIA E VENCEDOR DE MAURICIO DE NASSAU

Vasco Mariz 1

Neste período em que festejamos os 150 anos da unificação da Itália, é justo demonstrar o nosso reconhecimento ao ilustre militar napolitano conde de Bagnuoli e a seus soldados italianos por seus feitos militares na Bahia, que fizeram recuar os holandeses de Maurício de Nassau na Bahia e impediram a extensão do domínio holandês no Nordeste brasileiro em momento crucial de nossa história.

Quando fui Cônsul do Brasil em Nápoles (1956-58) interessei-me pelas relações entre o Brasil e o reino de Nápoles e das Duas Sicílias e me espantei com as conexões diretas entre a língua portuguesa e o dialeto napolitano. Esse reino, hoje esquecido, foi fundado no século XII e durou até 1860, por ocasião da unificação e da independência da Itália. Nápoles nos deu, em es-pecial, a imperatriz Teresa Cristina, a boa esposa de D. Pedro II.

Logo ao chegar àquela belíssima cidade italiana em 1956, surpreendi-me com o cartaz de um teatro bem defronte ao meu hotel.: “A Camarera Nova”, com esta exata grafia. Acontece que até hoje permanecem no dialeto napoli-tano numerosas palavras de origem portuguesa, um pouco deturpadas, mas facilmente reconhecíveis. Os espanhóis, na época, governavam Flandres, Nápoles e o Brasil, além de outras possessões em lugares remotos, onde o sol nunca se punha. Muitos desses soldados luso-brasileiros, levados para Nápoles para guarnecer a cidade e o reino, lá se radicaram, casaram-se com jovens napolitanas e formaram famílias que, bem ou mal, conservam até hoje um pouco do idioma português através dos séculos.

A Itália esteve presente no Brasil desde o descobrimento, e o famoso mapa do italiano Cantino muito contribuiu para a exploração de nossa costa. O famoso Amerigo Vespucci, que daria o nome às Américas, aqui esteve duas vezes, em 1502 e 1504, e da ilha do Governador escreveu sua conhecida Lettera ao príncipe florentino Per Luigi Medici, descrevendo as maravilhas de nossa terra. Ele pode até ser considerado o fundador da primeira insta-lação europeia na baía da Guanabara, na ilha do Governador. Nessa época distante não faltam italianos a recordar, como Sebastiano Caboto, Pigafetta, o armador Marchioni, representante dos Médici em Lisboa, os irmãos Ver-razzano, etc. Os irmãos Adorno aqui chegaram em companhia de Martim Afonso de Souza e se encantaram com as possibilidades da terra: começaram

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logo a construir engenhos para explorar o cobiçado açúcar, que, na época, era valiosíssimo na Europa.

Os banqueiros florentinos sempre se sentiram atraídos pelo Brasil e par-ticiparam de diversos empreendimentos navais na América do Sul no século XVI, prevendo um grande futuro financeiro para a região recém-descoberta. No século seguinte, os batalhões napolitanos, que vieram a serviço do rei da Espanha para ajudar a expulsar os holandeses do Nordeste, desempenharam um papel importante em nossa história e é o que vamos comentar a seguir. Mais tarde, dois padres matemáticos italianos auxiliaram Alexandre de Gus-mão na ampliação do território brasileiro pelo Tratado de Madri, em 1750.

Assim como os espanhóis levavam soldados brasileiros e portugueses para guarnecer o reino de Nápoles, os espanhóis também escolhiam ilus-tres militares e competentes nobres napolitanos para missões importantes em outras colônias de seu imenso império. Um bom exemplo foi o do príncipe Carácciolo, de ilustre família napolitana, que serviu como Vice-rei do Peru no século XVIII. Por outro lado, lembro que a governadora de Portugal, re-presentante do rei da Espanha em Lisboa, no período da guerra contra os holandeses no Brasil, era uma italiana, a duquesa de Mântua.

Após haver recordado esses interessantes pormenores, passo a comentar de perto esse personagem tão esquecido, o general Giovanni Vincenzo di Sanfelice, conde de Bagnuoli e, depois de morto, príncipe de Monteverde. Ele era muito estimado pelo monarca espanhol e teve papel importante, em-bora controvertido, na defesa da Bahia e do Nordeste em geral. Em 1933, foi inaugurado um obelisco com três faces na sede da embaixada do Brasil em Roma, que homenageia três personagens italianos ligados ao Brasil: a imperatriz Teresa Cristina, o conde de Bagnuoli e Garibaldi. Compareceram à cerimônia o rei Vittorio Emmanuelle III e uma descendente do general, a duquesa de Bagnuoli.

A bibliografia sobre Bagnuoli é pequena, embora as publicações sobre o domínio holandês sejam numerosíssimas e se refiram a ele com frequência, embora sem muitos pormenores. No livro de Evaldo Cabral de Mello, Olinda Restaurada, lemos numerosas citações ao militar napolitano que enriquece-ram este nosso estudo. Também o belo livro de Vittorio di Pace, Napoletani nella guerra degli olandesi in Brasil, publicado na Itália nos dois idiomas, nos elucidou diversos aspectos de sua personalidade e comenta com porme-nores seu comportamento nas suas três importantes presenças no Brasil du-rante as campanhas holandesas. Bagnuolo, tal como é conhecido em nossos livros de história, salvou a Bahia mais de uma vez e isso muito contribuiu para a sua fama. Há uma publicação de João Nogueira Jaguaribe sobre nosso

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personagem, editada em São Paulo em 1918, que nos aportou algumas no-vidades. Outras publicações abordam suas atividades no Brasil e.entre elas destaco o livro Italianos no Brasil, de Ricardo Fontana, e Cenni Storici sugli italiani benemeriti del Brasile, editado pela embaixada do Brasil em Roma, que nos trouxeram alguns pormenores interessantes. Existe ainda um artigo sobre suas atividades na revista do IHGB do ano de 1859.

Giovanni Vincenzo di Sanfelice nasceu em Nápoles em 1575 de uma família de pequena nobreza, tanto que o rapaz entrou para o exército do reino como simples soldado. Se a família fosse importante, certamente ingressaria em academia militar para de lá sair oficial. Não foi o caso. Giovanni era um rapaz inteligente, forte e de estatura média. Consta que era um bom matemá-tico, o que o habilitou a ser um bom oficial de artilharia. Lutou na Calábria, que ajudou a pacificar, e na região de Milão. Pertenceu ao batalhão de guerra do exército real napolitano e em poucos anos galgou vários degraus em sua carreira e chegou a sargento-mor, então uma autoridade militar regional. Em Milão foi indicado a passar ao serviço diretamente da Coroa espanhola no exterior. Sua experiência militar o credenciava a participar nas guerras de Flandres, onde conseguiu ganhar ainda mais experiência e o respeito de seus superiores espanhóis. Participou da batalha de Praga e lá recebeu uma me-dalha militar por bravura. Lutou depois em Cádiz, ao sul da Espanha, contra os ingleses.

Jaguaribe o descreve como “um belo homem, de cabeça grande, cabelos separados repartidos à esquerda, olhos vivos, nariz adunco, barba aparada e estatura mediana” O livro de Vittorio di Pace tem na capa uma gravura da época com seu retrato. Em Flandres casou-se com uma senhora flamenga, Catarina van Reuss, da casa dos Vandreas, parentes dos príncipes de Orange, que governavam os Paises Baixos. O casal teve três filhos, Marco Antonio e Fabio, que depois combateram no Brasil ao lado do pai, e um terceiro fi-lho que se fez dominicano com o nome de frei Miguel. Toda a família hoje repousa na igreja de Santa Chiara, em Nápoles, e continuam a merecer o respeito da sociedade napolitana. Nossos historiadores habitualmente se re-ferem a ele como conde de Bagnuolo com o final , mas o título nobiliárquico que recebeu de Felipe IV se grafa com i final, tal como se denomina hoje o bairro de Nápoles que leva o seu nome. A esse respeito, lembro que, no início da atual rodovia que vai de Nápoles para Roma, está localizada uma grande área industrial denominada Bagnuoli.

Em 1621 acabara a trégua hispano-holandesa e foi fundada a importante Companhia das Índias Ocidentais (WIC), sociedade por ações com matriz em Amsterdã. Três anos depois a Companhia atacou e conquistou a cidade de Salvador. Madrid alarmou-se e organizou a reação contando com o apoio

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de forças de suas diversas colônias, entre as quais Nápoles. Nesse ano de 1624, Sanfelice já era homem maduro, aos 49 anos de idade e com a patente de general de cavalaria. Foi convocado a integrar a importante expedição espanhola que iria combater os holandeses no Brasil, que haviam ocupado fa-cilmente Salvador e causado enormes prejuízos à Coroa espanhola. Lembro que estávamos no período da União Ibérica quando Portugal e o Brasil eram governados desde Madri. Sanfelice estava trabalhando em Milão quando foi encarregado de organizar “companhias de guerra”. Eram todos voluntários muito jovens, que de lá foram levados a Nápoles e, depois de rápido treina-mento, enviados a Cádiz, no sul da Espanha. Lá foram embarcados na frota de D. Fradique de Toledo, que iria combater os holandeses na Bahia. Nessa grande esquadra espanhola de 64 navios e 12.500 homens, que viajou para o Brasil, havia quatro navios napolitanos que traziam 850 soldados e 50 ofi-ciais. O comandante do contingente napolitano era Carlo Andréa Carácciolo, marquês de Torrecuso, e Sanfelice comandava uma das naus.

Os holandeses não haviam encontrado dificuldades em subjugar os arre-dores de Salvador e depois a própria cidade, ocupados quase sem resistência. O governador se retirara para os arredores de maneira pouco honrosa. Como comentou o historiador inglês Charles Boxer, “Havia em funcionamento na região cerca de 350 engenhos, isto é, plantações com maquinárias necessá-rias à moagem da cana, enquanto que em toda a Holanda só havia 30 refina-rias de açúcar.2 “ O saque foi imenso e os holandeses levaram 3.900 caixas de açúcar e enorme quantidade de pau-brasil. Pedro Calmon nos conta que “os soldados holandeses enchiam os chapéus de ouro e prata”.

Ao chegar à Bahia o contingente italiano entrou logo em combate e tiveram a sorte de derrotar os holandeses comandados por Hans Ernst Kiff. O assédio de Salvador demorou cerca de um mês e os problemas da defesa da cidade ocupada preocupavam os holandeses. Curiosamente, os holande-ses continuavam a contar com o apoio dos silvícolas, que não gostavam dos portugueses, que sempre desejaram escravizá-los. Por tudo isso e a ambição pelas riquezas que lá se encontravam, os holandeses haviam decidido tentar conquistar a Bahia, o que não foi uma sábia decisão, já que suas forças eram insuficientes.

Logo ao chegar, o conde de Bagnuoli reorganizou as forças hispa- no-luso-brasileiras na Bahia e passou a fazer sortidas nas vizinhanças da ca-pital contra as tropas holandesas. Os comandantes eram o general Von Schko-ppe e o almirante Lichthardt e eles haviam aplicado a estratégia da guerra dos 30 anos, fazendo terra rasa no Sergipe. Bagnuoli e o governador-geral tinham

2 – BOXER, Charles R. Os holandeses no Brasil. Editora Nacional, São Paulo, 1961, página 24.

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suas diferenças, mas acabaram se entendendo e suas tropas infligiram pesa-das perdas aos holandeses. O jovem Salvador Corrêa de Sá e Benevides, que depois ficaria famoso, conseguiu incendiar várias naus holandesas com seus índios da Guanabara.

Os batavos haviam desembarcado perto de Salvador, na chamada Água de Meninos, e atacaram o Recôncavo. Os estragos que os holandeses lá fize-ram foram grandes e tardariam a ser recuperados. O impasse porém demorou e o almirante Piet Heyn chegou a decidir dar um assalto final, mas o con-selheiro Gysselingh conseguiu dissuadi-lo. Afinal decidiram retirar as suas tropas, contentando-se com o importante produto dos saques que fizeram nos engenhos do Recôncavo e nas naus portuguesas e espanholas que haviam apresado, mas que compensou amplamente as despesas da expedição.

Os italianos estavam conduzidos pelo marquês de Crópani, que, embora idoso, se bateu galhardamente. Depois da vitória, Sanfelice foi nomeado go-vernador provisório da cidade. A vitória sobre os holandeses deu muito pres-tígio a Bagnuoli, o que lhe foi útil, pois a sua autoridade era frequentemente contestada pelos capitães da terra. No entanto, o jovem padre Antônio Vieira louvou a sua estratégia e também a sua maneira de negociar com os holan-deses a sua retirada da Bahia, aonde nunca mais ousaram voltar. Quando afinal a grande esquadra espanhola chegou à Bahia, os holandeses já haviam regressado a Pernambuco.

Depois desse sucesso Sanfelice retornou à Europa, onde foi recebido pelo rei da Espanha, que soube recompensar a sua eficiência, fazendo-o con-de de Bagnuoli, uma região vizinha a Nápoles. Giovanni foi depois nova-mente designado para Flandres, onde voltou a participar das guerras locais, já agora como um importante chefe militar espanhol.

Em 1628 os holandeses tiveram a sorte de capturar a frota espanhola da prata, em Matanzas, Cuba, o que permitiu à WIC distribuir polpudos di-videndos aos acionistas e financiar novo ataque ao Brasil. Dois anos depois os holandeses conquistaram Olinda e o Recife e ergueram ao sul da ilha de Itamaracá o forte Orange. A conquista da Paraíba foi o próximo passo. Estava consolidada a cabeça de ponte neerlandesa.

Bagnuoli voltaria ao Brasil seis anos depois, em 1631, no comando de tropas que iriam reforçar Matias de Albuquerque em Pernambuco, onde os brasileiros tinham dificuldades a resistir aos batavos. Ele veio na grande fro-ta do D. Antonio de Oquendo e já tinha então 56 anos, o que na época era o começo da velhice. Duarte de Albuquerque, ao narrar o desembarque dos 300 napolitanos, comentou que “Bagnuoli não se descuidou um ápice e que

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sua presença entusiasmou seus vassalos que acudiram com carros, pretos e cavalos”.

Bagnuoli estava ao lado de Matias de Albuquerque por ocasião do assal-to holandês à ilha de Itamaracá, regressando depois ao Arraial do Bom Jesus, em Pernambuco. Defendeu a fortaleza de Nazareth do Cabo e, a partir de 19 de janeiro de 1636, foi investido no comando supremo das tropas de Pernam-buco. No ano seguinte sofreu a primeira derrota na batalha de Comendaituba contra forças holandesas duas vezes superiores. Ronaldo Vainfas recorda epi-sódios da campanha na Paraíba:

“No comando da resistência paraibana estava o governador Antônio de Al-buquerque, que recebeu o apoio em pessoa do general italiano, conde de Bagnuoli, adjunto de Matias de Albuquerque, que doente não pôde atuar na batalha. (...) A campanha na Paraíba não caminhou bem. Rendidos os fortes aos holandeses, a resistência portuguesa ficou irremediavelmente comprome-tida. O conde de Bagnuoli mandou atear fogo às casas de Filipeia (atual João Pessoa), onde havia pau-brasil, açúcar e tabaco, convencido de que a cidade era indefensável e tratou de fugir para o Arraial do Bom Jesus. Os holandeses entraram em Filipeia encontrando-a abandonada. O governador ainda tentou organizar defesa nos engenhos, mas sem sucesso.”3

Bagnuoli desembarcou suas forças em Alagoas e se apressou a defender a região do cabo de Santo Agostinho, onde havia um porto importante ainda em mãos brasileiras para exportar o precioso açúcar para Portugal e Espanha. Bagnuoli participara da batalha de Mata Redonda que foi uma vitória dos ho-landeses, mas com a morte do comandante-geral espanhol, D. Luís de Rojas y Borja, marquês de Granja, o napolitano assumiu a direção geral das forças espanholas na guerra. Entretanto, suas tropas não eram suficientemente nu-merosas para enfrentar os batavos e por isso prudentemente Bagnuoli decidiu retirar-se em direção sul, para a região de Porto Calvo, em Alagoas, onde seu sargento-mor Paolo Barnola teve a sorte de apresar e fazer executar o famoso Domingos Fernandes Calabar, notícia que causaria forte efeito psicológico negativo para os holandeses.

Bagnuoli demonstrou ainda possuir vigor excepcional, podendo resis-tir a fadigas e privações. Ele promulgou leis modificando os costumes da guerra, em vigor na época, que considerava bárbaros e selvagens. Em 1633 Bagnuoli firmou convênio com os holandeses para um armistício para troca de prisioneiros, respeito às igrejas e proibição no uso de balas de canhão ex-plosivas, tal como já se havia conseguido em Flandres. Apelou aos batavos, que concordaram, para que libertassem prisioneiros especiais e lhes dessem

3 – VAINFAS, Ronaldo. Traição. Companhia das Letras, São Paulo, 2008, pp. 61/63.

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salvo-condutos. Vittorio di Pace, em seu livro sobre os militares italianos no Brasil, afirmou que “os napolitanos trouxeram para o Brasil daquela época uma nova e cavalheiresca concepção de batalha, adotando meios humanitá-rios e iniciativas diretas a reduzir sofrimentos inúteis”.

Já Evaldo Cabral de Mello afirma que era tal o ressentimento naciona-lista entre os oficiais portugueses, a que vinha se juntar a impopularidade de Bagnuoli, que um grupo de oficiais conspirou para prendê-lo. A conju-ra falhou e Madri se irritou bastante com as reclamações luso-brasileiras, o que viria a contribuir para o reforço da autoridade de Bagnuoli. Aliás, o descontentamento na terra era grande por causa dos impostos espanhóis e os sarcasmos dos fazendeiros não faltavam: “Matias escrevia, Duarte dormia e Bagnuoli bebia o dia inteiro”...Na realidade, o exército de resistência era crescentemente impopular junto à comunidade luso-brasileira que havia op-tado por permanecer no Brasil holandês.4

Com essas correrias os habitantes da região sofriam muito. Os donos dos engenhos que aceitavam o domínio holandês eram atacados pelas forças luso-espanholas e pagavam alto preço em vidas, bens e sofrimentos. Roga-vam pragas ao conde de Bagnuoli, dizendo que com ele “tudo ficou de mal a pior”.

Varnhagen não deu muito destaque a Bagnuoli em seu famoso livro sobre os holandeses no Brasil, hoje um pouco ultrapassado porque novos documentos foram descobertos desde a sua publicação em 1871. Comen-tando o sítio de Salvador e a campanha de Porto Calvo, o grande historia-dor e diplomata escreveu que Bagnuoli “em vez de apresentar resistência, resolveu empreender uma vergonhosa fuga”5. Um evidente exagero, pois o que ocorreu foi um ato de prudência. Retirou-se porque não dispunha de for-ças suficientes. Em outro momento, Varnhagen censurou-o por não fortificar corretamente o porto do rio São Francisco. No entanto, outros autores mais recentes elogiaram Bagnuoli, limitando-se a sublinhar que a sua prudência era considerada por vezes como excessiva. Nassau perseguiu-o até o rio São Francisco, mas depois julgou mais prudente regressar a Pernambuco, o que foi considerado uma vitória moral dos italianos sobre o líder holandês. A vi-tória em Porto Calvo fora completa e Bagnuoli voltou a residir em Salvador e lá, em nome do povo baiano, mandou distribuir 16.000 cruzados de gratifi-cação às tropas pernambucanas pelo seu bom desempenho.

4 – CABRAL DE MELLO, Evaldo. O Brasil Holandês, Companhia das Letras, São Paulo, 2010, p. 156.5 – VARNHAGEN, Francisco Adolpho de. História das lutas com os holandeses no Brasil. BI-BLIEX, Rio de Janeiro, 2002, p. 142. Apresentação de Arno Wehling.

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Em verdade, no Nordeste o abastecimento era precário e o soldado eu-ropeu custava dez vezes mais caro do que o soldado da terra, mas Evaldo Cabral de Melo lembra que o provedor do exército era acusado de roubar “a torto e a direito.” Bagnuoli se queixava enfaticamente ao rei, em carta de 7 de fevereiro de 1637: “Desde que aqui estou há seis anos nunca se deu aos sol-dados um real.” Lembro que os soldados recebiam parte do soldo em tecidos e só em situações de aperto se pagavam os soldos completos. Curiosamente, o militar italiano escreveu ao monarca espanhol, em carta de 3 de junho de 1633, que “os soldados da terra eram mais afeitos às delícias do que às armas e (...) se serviam mais dos pés do que das mãos”. Essas cartas de Bagnuoli ao rei de Espanha chegavam ao conhecimento dos líderes militares da terra e os deixavam furiosos.

A surpreendente prisão de Calabar foi um grande feito da gente de Bag-nuoli e uma grande derrota para os batavos. Ele estava marcado para morrer e dificilmente poderia escapar algum dia, não muito distante. Em março de 1635, os holandeses atacaram Porto Calvo, importante povoação hoje em Alagoas, e cidade natal de Calabar. O general italiano se retirara para o sul com suas tropas e o conde polonês Arciszewski não tardou a apossar-se da fortaleza lusa, com auxílio tático de Calabar. Os habitantes da região, acon-selhados por Frei Manuel Calado, aceitaram o domínio holandês e os padres católicos foram autorizados a levar suas imagens de santos.

Entretanto, os italianos tiveram superioridade momentânea e cercaram um grupo de holandeses, entre os quais estava Calabar, os quais foram obriga-dos a render-se perto de Porto Calvo. Nos termos da rendição, Calabar ficou “à mercê de El-Rei”, mas mesmo assim foi submetido a um rápido tribunal militar e condenado a ser enforcado e esquartejado, o que aconteceu no dia 22 de julho de 1635. Foi uma grande notícia para o lado luso-ítalo-espanhol e os capitães da terra se rejubilaram com a morte do hábil mameluco.

Os luso-italianos se retiraram logo depois, temerosos da próxima che-gada de reforços holandeses. Em verdade, Calabar sabia demais e foi morto apressadamente, sem se permitir que dirigisse a palavra ao povo que assistiu ao enforcamento. Como se diria hoje em dia, ocorreu uma verdadeira “quei-ma de arquivo”. Os holandeses protestaram formalmente contra a violação dos termos de rendição, pois havia ficado acordado que ele deveria ficar à disposição de El-Rei. Matias de Albuquerque alegou que, sem a ratificação do acordo por Madri (e não tinha havido tempo para isso), o acordo não tinha validade.

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Bagnuoli trouxera ordem secreta de Felipe IV para que Matias de Al-buquerque o consultasse em todas as deliberações importantes.6 Seu irmão, o donatário Duarte, deixou escrito que Matias tinha de acatar as opiniões de Bagnuoli, mesmo quando suas ideias divergissem. Com sua patente de mestre de campo (general), Bagnuoli não aceitava de bom grado sua subordi-nação ao irmão do donatário. Aliás, Duarte de Albuquerque não queria aban-donar Pernambuco, mas Bagnuoli se recusou a dar-lhe atenção, pois “ele só tratava do seu negócio, do seu patrimônio perdido”, segundo informou a Madri. Lembro, porém, que o general napolitano comandava no Brasil um exército espanhol bastante heterogêneo, por vezes com tropas esfarrapadas e famintas.

Bagnuoli era apegado às regras de guerra europeias e “isso levava a gen-te da terra a pensar em pouca diligência ou em simples traição”. As restrições que lhe faziam se referiam “à sua cobiça e escassa probidade”. Foi acusado até de conluio com o inimigo e troca de presentes com o comando holan-dês, embora isso fizesse parte do protocolo militar da época. No Maranhão, La Ravardière visitou cordialmente os inimigos portugueses e até ofereceu seu médico particular para cuidar de seus feridos. Maurício de Nassau se correspondia particularmente com seu inimigo, o governador português mar-quês de Montalvão, e chegou até a enviar-lhe o famoso pintor Eckhout para fazer-lhe o retrato.

Por isso, talvez, quando a italiana duquesa de Mântua, governadora de Portugal, encaminhou as queixas dos capitães da terra contra Bagnuoli, Fe-lipe IV não deu atenção às intrigas. O rei tinha grande apreço pelo italiano, assim como os dirigentes holandeses, e Felipe IV o considerava “conselheiro prudente e soldado experiente”. O monarca teria dito: “Se tudo o que há contra o conde de Bagnuoli é o que se diz, seria grande leviandade mandá-lo voltar”.7

No entanto, os brasileiros sempre tiveram má vontade contra ele e o acusavam de peculato e extorsão, embora não de traição. Em 1638 um alto funcionário da Coroa veio à Bahia para investigar as queixas, mas segundo Evaldo Cabral de Mello, “é provável que, em vista de seu procedimento ina-tacável quando do sítio de Salvador, tenha-se posto uma pá de cal no assun-

6 – Pedro Calmon em sua História do Brasil, 2º volume, escreveu que “Banholo era homem de confiança de el-rei e seu observador nessa guerra, tanto que, constando a desavença, mandou carta de 17/3/1632 dizendo: “Sabia Matias de Albuquerque, por caminho de confidente e em direito, que convém a meu serviço a conformidade”. Em outra carta real a Matias lê-se: “...comunicando tudo com o conde de Bagnuolo”. (Página 542)7 – CABRAL DE MELLO, Evaldo. Olinda Restaurada. Editora Topbooks, Rio de Janeiro, 1995, p. 365.

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to”. Curiosamente, a correspondência de Bagnuoli é sempre pessimista, tal-vez devido à sua formação profissional europeia. Ele escreveu a El-Rei que

“havia sido enviado a uma guerra obscura e distante. Sei que vou a uma jor-nada que de nenhuma maneira me estava bem em ir, porque vou a um lugar onde se pode ganhar pouca reputação, a um clima tão destemperado e numa ocasião em que é mister gastar o que eu não tenho, com incerteza de quando será a volta”.

Do lado holandês e tampouco do lado luso-brasileiro não havia consenso sobre a utilidade militar dos índios, que se revelavam inferiores na disciplina quanto na produção açucareira. Bagnuoli sustentava em carta à italiana du-quesa de Mântua, a governadora de Portugal, de 6 de novembro de 1639, que “eles não são para outra coisa senão para que não desertem para o inimigo, e se algumas vezes lutam, muitas não querem”. Os holandeses concordavam e se queixavam de que “não era possível mantê-los na mesma disciplina e desertam das fileiras como velhacos” (relatório Van der Dussen). Aliás Felipe Camarão, que tanto se distinguiu na etapa final da guerra holandesa, reco-nhecia a deficiência das tropas indígenas. No entanto, havia consenso de que sem o apoio de Calabar e dos indígenas de Manuel de Moraes os holandeses dificilmente teriam conseguido se firmar no Nordeste brasileiro.

A decisão de abandonar a ilha de Itamaracá e os fortes da Paraíba foi censurada, mas a verdade é que não havia gente suficiente para defendê-los. Bagnuoli não confiava nos soldados da terra porque os considerava “gente inconstante” e em verdade poucos tinham habilidade e experiência. O de-pois notável Henrique Dias, um dos vencedores da guerra dos holandeses, o admirava e se considerava seu discípulo. Bagnuoli escreveu que “a gente de Itamaracá, Pernambuco e Paraíba só se alistava com o tento no pagamento antecipado do soldo e, uma vez em ação, desapareciam pelos matos”.8

Em 1635 chegara a Alagoas uma frota com portugueses, espanhóis e mais italianos, entre os quais estava o filho mais velho de Bagnuoli, Marco Antônio, já então sargento-mor. D. Luís de Rojas y Borja durante a batalha de Mata Redonda veio a falecer, o que ensejou a oportunidade para Bagnuoli ascender ao cargo de mestre de campo general. Quando estava em Porto Calvo, Bagnuoli teve notícia de que seu filho faltara com seus deveres disci-plinares, mas não hesitou em privar-lhe do comando e enviou-o de volta para a Espanha. Marco Antônio dez anos depois herdou o título de príncipe de Monteverde, concedido a seu pai post mortem pelo rei.

Em abril/maio de 1638 ocorreu talvez a ação mais brilhante de Bagnuoli no Brasil. Nassau atacava novamente a Bahia com 3 mil europeus, 10 mil

8 – Carta de Bagnuoli ao conde da Torre, de 19 de janeiro de 1639.

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índios e 30 navios. Em Salvador Bagnuoli continuava às turras com o gover-nador Pedro da Silva sobre qual a melhor maneira de defender a capital. O napolitano estava a 14 km, na torre de Garcia d´Ávila. Nassau desembarcou tropas ao norte da cidade, enquanto Bagnuoli fazia cavar trincheiras profun-das no caminho. Durante cerca de um mês Nassau sitiou Salvador, ao mesmo tempo em que punha a ferro e fogo o Recôncavo baiano.

O impasse era considerável até quando o líder holandês decidiu atacar as defesas de Santo Antônio. Bagnuoli respondeu atacando os holandeses por trás e Nassau não conseguiu progredir. Afinal pediu trégua para retirar os nu-merosos mortos e feridos, com o que Bagnuoli concordou. Para sua surpresa, enquanto durava a trégua, Nassau decidiu retirar-se aproveitando uma noite de chuva. Cabral de Mello reproduziu no seu citado livro o texto completo do relatório de Nassau à WIC se justificando da derrota. O historiador comentou o episódio:

“Reforçada pelo exército de resistência expulso do Nordeste, a cidade su-portou indomitavelmente o ataque, levando Nassau à desistência depois de realizar sem êxito uma derradeira tentativa na noite de 17 para 18 de maio. Do fracasso do sítio de Salvador data o primeiro desentendimento entre Nassau e a Companhia das Índias Ocidentais.”9

Felipe IV felicitou Bagnuoli vivamente dizendo que “ele era o maior soldado que houvera em seu reino”. Essa vitória de Santo Antônio teve a maior repercussão e deve ter pesado na memória real para a promoção pós-tuma de Bagnuoli a príncipe de Monteverde, nas terras de Otranto. No inter-valo entre a sua segunda e a terceira permanência no Brasil, Bagnuoli atuou no Caribe à frente de forças espanholas, conseguindo reconquistar as ilhas de Saint Kitts e Nevis.

Da terceira vez que veio ao Brasil, em janeiro de 1639, Bagnuoli chegou à Bahia no comando do galeão “San Filippo”. A esquadra do conde da Torre fora derrotada pelos holandeses, o que de certo modo parecia anular todas as vitórias conseguidas anos antes. Mas Bagnuoli não regressaria à sua pátria. Acabou morrendo em Salvador no ano seguinte, aos 65 anos de idade, e to-dos recordavam a sua glória de haver feito fugir o grande Maurício de Nassau em Santo Antônio.

Por ocasião da independência de Portugal do jugo da Espanha em 1640, as tropas italianas e espanholas no Brasil foram desarmadas e embarcadas para a Europa. Bagnuoli foi convidado a permanecer, em atenção ao mérito de sua defesa da Bahia, mas preferiu continuar a serviço do rei da Espanha. Por isso, foi obrigado a deixar por escrito que não reconhecia o novo domínio

9 – CABRAL DE MELLO, Evaldo. Op. cit. p. 189.

Vasco Mariz

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português. Não chegou a embarcar de volta à Europa, pois a sua saúde já bas-tante abalada se deteriorou de vez. Bagnuoli veio a falecer na capital baiana a 26 de agosto de 1640. Tinha 65 anos.

Depois de sua morte, recebeu do rei da Felipe IV o título de príncipe de Monteverde e em 17 de agosto de 1648, esse título de príncipe e o seu feudo foram transferidos pelo rei da Espanha ao seu filho mais velho Marco Antônio Sanfelice. Era mais uma prova do apreço que os espanhóis lhe de-votavam. Durante o terceiro período de sua permanência na Bahia, Bagnuoli adiantara de seu bolso o soldo de tropas espanholas no valor de 18.878 escu-dos e o rei, depois de seu falecimento, reembolsou seus herdeiros.

Seu filho Fábio, capitão de cavalaria e depois coronel, foi preso pelos portugueses na época da Restauração e teve seus bens seqüestrados, entre os quais os diários de seu pai, que teriam sido muito úteis para estudar os seus comentários sobre as suas campanhas no Brasil. Fábio regressou depois à Itália e faleceu em 1646 na batalha de Porto Ércole. Alguns autores antigos chegaram a escrever que o conde de Bagnuoli falecera em uma batalha na Europa, mas está mesmo comprovado que morreu na Bahia e foi sepultado no convento do Carmo, em Salvador. Seus restos mortais foram mais tarde transferidos para Nápoles, onde descansam na igreja de Santa Chiara.

Referências BibliográficasALBUQUERQUE COELHO, Duarte. Memórias diárias da guerra do Bra-sil, 3ª. edição, Recife, 1981. BOXER, C.R. Os holandeses no Brasil. Editora Nacional, São Paulo, 1961.Notável livro do historiador inglês.CABRAL DE MELLO, Evaldo. Olinda restaurada. Editora Topbooks, Rio de Janeiro, 1998. Excelente fonte de informações sobre o período._____. O Brasil Holandês. Edição Penguin & Companhia das Letras, São Paulo, 2010. Contém textos importantes.CALMON, Pedro. História do Brasil, volume II. Editora José Olympio, Rio de Janeiro, 1975.Cenni Storici sugli italiani benemeriti in Brasile. Opúsculo da embaixada do Brasil junto ao Quirinal, Roma, 1933. Contém notícias interessantes e foto do citado obelisco.DI PACE, Vittorio. I napoletani nella guerra dei olandesi in Brasile. Editor Fiorentino, Nápoles, 1991.

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o conde de BaGnuoLi, saLVador da Bahia e Vencedor de Maurício de nassau

FILAMONDO, R.M. Il gênio belicoso di Napoli. Editado em Nápoles em 1691, em dois volumes.JAGUARIBE, João Nogueira. O conde de Bagnuoli. Editora O Pensamento, São Paulo, 1918. Boa biografia. O autor comenta com pormenores as três campanhas de Sanfelice no Brasil.MORAIS, D. Manuel de. A recuperação da cidade de Salvador”, na revista do IHGB de 1859, nº 22, anotado por Varnhagen. Várias citações como go-vernador da cidade. VAINFAS, Ronaldo. Traição. Companhia das Letras, São Paulo, 2008.VARNHAGEN, Francisco Adolpho de. História das lutas com os holande-ses no Brasil. Editora da Biblioteca do Exército (BIBLIEX), Rio de Janeiro, 2002.