Revista Food Service News #41

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foodservicenews / 2009 8 GIGANTE DO SETOR ALIMENTÍCIO MERCADO Com a fusão, a Brasil Foods será a terceira maior exportadora do Brasil Por Joyce Carla Moreira A pós diversas tentativas, as duas maiores empresas de alimentos do Brasil che- garam a um acordo para a fusão. Em uma coletiva de imprensa, os dois co-presidentes do conselho de administração da nova empre- sa, Nildemar Secches (Perdigão) e Luiz Fernando Furlan (Sadia) con- firmaram a união e a consequente criação da Brasil Foods. A empresa será a terceira maior exportadora do país, depois de Vale e Petrobras, com presença em mais de 110 paí- ses, e almeja se tornar a maior ex- portadora de carne processada no mundo nos próximos anos. “Estamos criando um campeão, que provavelmente se tornará o maior processador de carne do mun- do”, afirmou Furlan. “A missão da nova empresa é levar produtos e as marcas brasileiras para todo o mun- do em um setor no qual o Brasil é o mais competitivo do mundo”, afir- mou Secches. No entanto, a operação não en- volve dinheiro. Os acionistas da Perdigão vão ficar com 68% da Bra- sil Foods, e os da Sadia deterão os 32% restantes. O maior acionista individual será a Previ (Caixa de Pre- vidência dos Funcionários do Banco do Brasil), com pouco mais de 12% das ações. Com valor próximo, tam- bém na casa dos 12%, estará a famí- lia controladora da Sadia. De acordo com Furlan, o sistema de controle da Brasil Foods será de “governança compartilhada para que as empresas possam utilizar as melhores práticas de mercado”. Dessa união, surgiu uma empresa gigante de porte global, que, por con- sequência, dominaria mais de 50% de diversos segmentos do mercado bra- sileiro de alimentos. A Brasil Foods teria 88% do mercado de massas in- dustrializadas, 70% das carnes con- geladas, 67% das pizzas semiprontas e 53% dos produtos alimentícios in- dustrializados em geral. “Não vamos ter nenhuma alteração de portfólio. Continuaremos com todas as marcas e produtos. Os consumidores não vão sentir nenhum efeito. Nossas marcas e produtos continuam abso- lutamente iguais e por tempo inde- terminado”, reiterou Secches. O anúncio do negócio, que já era amplamente aguardado pelo merca- do, foi recebido com otimismo por diversos empresários, com foi o caso de Abílio Diniz, do Grupo Pão de Açúcar. “A união entre as empresas será muito boa, tanto para a compa- nhia quanto para o país”, afirmou Diniz, na abertura do 25º Congresso de Gestão e Feira Internacional de Negócios em Supermercados (Apas 2009), em São Paulo. Estamos criando um campeão, que provavelmente se tornará o maior processador de carne do mundo, afirmou Furlan PERDIGÃO E SADIA CRIAM

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gigantedo setor alimentício

MERCADO

Com a fusão, a Brasil Foods será a terceira maior exportadora do Brasil

Por Joyce Carla Moreira

Após diversas tentativas, as duas maiores empresas de alimentos do Brasil che-

garam a um acordo para a fusão. Em uma coletiva de imprensa, os dois co-presidentes do conselho de administração da nova empre-sa, Nildemar Secches (Perdigão) e Luiz Fernando Furlan (Sadia) con-firmaram a união e a consequente criação da Brasil Foods. A empresa será a terceira maior exportadora do país, depois de Vale e Petrobras, com presença em mais de 110 paí-ses, e almeja se tornar a maior ex-portadora de carne processada no mundo nos próximos anos.

“Estamos criando um campeão, que provavelmente se tornará o maior processador de carne do mun-do”, afirmou Furlan. “A missão da

nova empresa é levar produtos e as marcas brasileiras para todo o mun-do em um setor no qual o Brasil é o mais competitivo do mundo”, afir-mou Secches.

No entanto, a operação não en-volve dinheiro. Os acionistas da Perdigão vão ficar com 68% da Bra-sil Foods, e os da Sadia deterão os 32% restantes. O maior acionista individual será a Previ (Caixa de Pre-vidência dos Funcionários do Banco do Brasil), com pouco mais de 12% das ações. Com valor próximo, tam-bém na casa dos 12%, estará a famí-lia controladora da Sadia. De acordo com Furlan, o sistema de controle da Brasil Foods será de “governança compartilhada para que as empresas possam utilizar as melhores práticas de mercado”.

Dessa união, surgiu uma empresa gigante de porte global, que, por con-sequência, dominaria mais de 50% de diversos segmentos do mercado bra-sileiro de alimentos. A Brasil Foods teria 88% do mercado de massas in-dustrializadas, 70% das carnes con-geladas, 67% das pizzas semiprontas e 53% dos produtos alimentícios in-dustrializados em geral. “Não vamos ter nenhuma alteração de portfólio. Continuaremos com todas as marcas e produtos. Os consumidores não vão sentir nenhum efeito. Nossas marcas e produtos continuam abso-lutamente iguais e por tempo inde-terminado”, reiterou Secches.

O anúncio do negócio, que já era amplamente aguardado pelo merca-do, foi recebido com otimismo por diversos empresários, com foi o caso de Abílio Diniz, do Grupo Pão de Açúcar. “A união entre as empresas será muito boa, tanto para a compa-nhia quanto para o país”, afirmou Diniz, na abertura do 25º Congresso de Gestão e Feira Internacional de Negócios em Supermercados (Apas 2009), em São Paulo.

Estamos criando um campeão, que provavelmente se tornará o maior processador de carne do mundo, afirmou Furlan

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Secches e Furlan anunciam a BRF como patrocinadora do Corinthians, do qual a Perdigão já era patrocinadora

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A certeza da criação da Brasil Foo-ds, como a união de Perdigão e Sadia, ainda não pode ser dada totalmente, pois a fusão precisa ser aprovada pelo Cade (Conselho Administrativo de Defesa Econômica). A legislação brasileira exige que operações em que qualquer uma das partes envol-vidas tenha faturamento bruto anual acima de R$ 400 milhões ou em que a aquisição envolva concorrentes com mais de 20% do mercado sejam aprovadas pelo Sistema Brasileiro de Defesa da Concorrência. Segundo a assessoria de imprensa da Perdigão, enquanto o Cade avalia o processo de fusão, as operações da Perdigão e da Sadia continuam independentes. A Perdigão só vai incorporar a Sadia após um posicionamento do Cade sobre o assunto.

As duas empresas já notificaram o Cade, e agora aguardam a avalia-ção do Conselho. Não há prazo para o julgamento. Os processos chegam ao Cade instruídos por pareceres da Seae (Secretaria de Acompanhamen-to Econômico), ligada ao Ministério

da Fazenda, e da SDE (Secretaria de Direito Econômico), vinculada ao Ministério da Justiça. O presidente do Cade, Arthur Badin, disse não ser possível prever quando exatamente o julgamento do caso se encerrará, mas afirmou que, como em todos os exames de operações de fusões, este caso envolverá uma investigação so-bre o poder econômico que a nova empresa virá a ter no mercado.

O presidente do Cade evitou classificar o processo da Brasil Foo-ds como especialmente complexo e disse esperar que o julgamento da fusão ocorra até o final de 2009. “Não vejo nenhuma especificidade nesse caso que o torne especial-

A missão da nova empresa é levar produtos e as marcas brasileiras

para todo o mundo em um setor no qual o Brasil é o mais competitivo

internacionalmente, afirmou Secchesmente desafiador”, afirmou Badin, em entrevista à imprensa na abertu-ra de um seminário que discutiu as políticas de defesa da concorrência do Brasil e da União Europeia.

Com isso, há riscos de a operação não ser aprovada da forma prevista pelas empresas. Ao longo do proces-so de análise, autoridades antitrustes podem ainda adotar medidas caute-lares contra as empresas. Um exem-plo foi a união das cervejarias Brah-ma e Antarctica, que levou à criação da AmBev. A concentração chegava a 60% do mercado de cervejas, assim o Cade aceitou a fusão desde que fossem vendidos alguns ativos como cinco fábricas e a marca Bavária.

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Mesmo com a alta concentração de mercado e o ganho em poder de negociação da Brasil Foods, é possí-vel que não haja variação de preço direto ao consumidor, já que a fusão pode inclusive trazer maiores ganhos de sinergia, ou seja, economia nos custos das empresas. Entre os seto-res que mais devem economizar com a união estão transporte e logística, com otimização de entregas ao vare-jo e de centros de distribuição.

A união é também uma oportu-nidade para a Sadia fortalecer seu caixa após ter sofrido significativas perdas com derivativos em setem-bro de 2008. Somente no ano pas-sado, os prejuízos com a alta do dó-lar superaram R$ 2,5 bilhões. Em maio de 2008 – portanto, antes das perdas cambiais e do agravamento

A Brasil Foods será a terceira maior exportadora do país, atrás apenas de Petrobras e Vale

da crise econômica – a companhia valia R$ 8,3 bilhões. Um ano de-pois, esse valor passou para menos da metade, R$ 3,4 bilhões. A Brasil Foods deverá realizar uma oferta pública de ações para levantar valor estimado de R$ 4 bilhões, segundo comunicado ao mercado.

Mercado externo

De acordo com os co-presiden-tes, a união de Sadia e Perdigão trará ganhos principalmente no exterior. As exportações das duas representam entre 40% e 50% de seu faturamento e ambas possuem representantes comerciais em de-zenas de países. Produtos da Per-digão, que a Sadia não produz, como os lácteos, poderão ser ofe-

recidos a mercados em que a Sa-dia está bem posicionada no exte-rior, como no Chile, onde já vende margarina. Assim, as duas empre-sas passam a vender os produtos uma da outra, sem a necessidade de construção de novas fábricas.

A Brasil Foods também chega-ria a quase 25% das exportações mundiais de aves in natura, tor-nando-se, disparada, a líder nesse segmento. “Temos cinco fábricas espalhadas pela Europa. Certa-mente, nossa intenção foi criar uma grande multinacional brasi-leira. O Brasil é o país que tem as melhores condições do mundo neste setor e as melhores tecnolo-gias”, afirmou Secches.

Outro dado global, é que a Brasil Foods pode ser a maior processa-dora de carne de frango do mun-do em faturamento. Somando os resultados das duas empresas em 12 meses até setembro de 2008, a receita líquida de ambas ficaria próxima a 9,5 bilhões de dólares,

Receita líquida R$ 10,7 bilhões R$ 11,4 bilhões

Números Sadia Perdigão

Lucro/prejuízo - R$ 2,5 bilhões R$ 54 milhões

% do Mercado Interno 54% 58%

Exportação R$ 5,6 bilhões R$ 5,1 bilhões

Funcionários 60,7 mil 59 mil

Frangos, suínos, embutidos, massas, pão de queijo, margarinas, carnes, sucos, iogurte, leites, farelo de soja e ração animal.

Sadia, Miss Daisy, Qualy, Deline, Perdigão, Elegê, Batavo, Cotochés, Excelsior e Rezende Doriana, Becel, Plusfood e Perdix

Unidades industriais 18 42

Centros de distribuição 8 27

Quantidade de produtos 700 2.500

Principais produtos

Principais marcas

Frangos, suínos, embutidos, massas,pão de queijo, margarinas e sobremesas.

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MERCADO

Sadia www.sadia.com.br

Perdigão www.perdigao.com.br

Conselho Administrativo de Defesa Econonômicawww.cade.gov.br

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ParticiPação de mercado no Brasil %

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Carnes refrig-eradas

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Carnes Congeladas

Carnes refrig-eradas

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Carnes Congeladas

Carnes refrig-eradas

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Massas

Pizzas Semiprontas

Carnes Refrigeradas Margarina

Massas

PerdigãoSadiaBrasil Foods

Fonte: Corretora Santander

quantia acima dos 8,52 bilhões de dólares contabilizados pela líder mundial no segmento de aves, a Pilgrim’s Pride.

Fábricas e empregos

Somente a Perdigão possui 42 unidades industriais no Brasil. Já a Sadia conta com 17, sendo que a maior parte das fábricas das duas companhias está localizada nos es-tados da região sul do país. No en-tanto, até o momento não se sabe como seria o processo de integra-ção entre elas. Tanto Nildemar Sec-ches como Luiz Fernando Furlan descartaram demissões.

Furlan explicou que será contra-tada uma consultoria externa para identificar os melhores funcionários. “São empresas que nasceram na mes-ma época, por volta dos anos 40 e 50, na mesma região, sul de Santa Cata-rina. Por isso têm muitos quadros em comum”, declarou o co-presidente do conselho de administração da Sadia. De acordo com Furlan, a decisão de contratar a consultoria servirá para que nenhuma empresa prevaleça so-bre a outra.

As empresas em números

A empresa que chega ao merca-do com receita líquida de R$ 22 bilhões e mais de 63 mil acionistas será a maior empregadora do Bra-sil, com mais de 119 mil funcioná-rios. A Brasil Foods será a terceira maior exportadora do país, atrás apenas de Petrobras e Vale, e des-tinando 42% da sua produção para o mercado externo. É o 10º maior grupo de alimentos das Américas, com capacidade para abate de aves de 1,7 bilhão de cabeças por ano, já de suínos é de 10 milhões de ca-

beças por ano. Em 2008, Perdigão e Sadia abateram cerca de 400 mil cabeças de bovinos.

As empresas vão unir marcas de sucesso em todo o país. Da Perdigão: Perdigão, Batavo, Elegê, Delícia e Chester. Da Sadia: Sadia, Qualy, Miss Daisy e Fiesta. Segundo o co-presiden-te Luiz Fernando Furlan, as marcas se-rão mantidas indefinidamente e a BRF

A empresa chega ao mercado com receita líquida de R$ 22 bilhões, mais de 63 mil acionistas e será a maior empregadora do Brasil

será a marca institucional da empresa. “Continuaremos com os mesmos pro-dutos que oferecemos ao público”, afir-mou. A Brasil Foods tem uma carteira de 150 mil clientes ativos no mercado interno e mais de mil no mercado ex-terno. O objetivo da empresa é ampliar esse número significativamente. Perdi-gão e Sadia investiram mais de R$ 8,5 bilhões nos últimos cinco anos e gera-ram aproximadamente R$ 2,2 bilhões em impostos.•