Revista Hitchens - Primeira Edição

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JUNHO 2015 - ANO I - N° 01 QUEM FOI JESUS? APÓS MAIS DE DOIS MIL ANOS, POUCO SABEMOS SOBRE A FIGURA CENTRAL DO CRISTIANISMO A INFLUÊNCIA DA RELIGIÃO EM NOSSO PAÍS A GUERRA SANTA DO ORIENTE MÉDIO ESTADO LAICO JIHAD ISLÂMICA

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JUNHO 2015 - ANO I - N° 01

QUEM FOI JESUS?

APÓS MAIS DE DOISMIL ANOS, POUCOSABEMOS SOBRE

A FIGURA CENTRALDO CRISTIANISMO

A INFLUÊNCIA DARELIGIÃO EMNOSSO PAÍS

A GUERRA SANTADO ORIENTE

MÉDIO

ESTADO LAICO

JIHAD ISLÂMICA

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VOCê CONHECE OS ARTISTAS ACIMA?

( ) sIM, É CLARO. sÃO MEUS FAVORITOS.( ) nÃO. NUNCA OUVIR FALAR.

AGORA VOCê NÃO TEM MAIS DESCULPAPOR NÃO CONHECER. LEIA A LISTEN.

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2015. N9 PRESS. DIVISÃO EDITORIAL DO JORNALISMO N9. TODOS OS DIREITOS RESERVADOS.O LOGO E SLOGAN “DESCUBRA MÚSICA” SÃO PROPRIEDADES DO JORNALISMO N9.

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Jornalismo com uma nova visão

Novas ideias_uma nova visão...

Jornalismo_N9

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“... A mecânica universal não precisa de Deus! As pessoas podem precisar de Deus! São duas coisas completamente diferentes!”

Nas melhores livrarias!

CRIAÇÃO IMPERFEITAMarcelo Gleiser

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Vivemos dias onde somos obriga-dos a conviver em um mundo cada vez mais religioso e fanático. Re-flexo de anos de cultura e tradição sendo passados de pais para filhos sem o menor conhecimento apro-fundado daquilo que se acredita ou venera. As pessoas simplesmente aceitam sem conhecerem pelo menos a origem daquilo que é imposto como verdade absoluta. No mundo existem mais de dez mil religiões com os mais variados deuses, todas conten-do as respostas acerca das questões da vida, da nossa existência e até mesmo sobre a morte. É assusta-dor o número de pessoas que vivem presas a dogmas e doutrinas religio-sas e que em nome da sua fé, cometem as maiores atrocidades e loucuras possíveis. E que atribuem às suas crenças seus princípios de moralidade, e que as vezes se des-virtuam de uma conduta de caráter aceitável, dizendo que você só é bom e uma pessoa com valores, se acreditar em algo. É com muito or-gulho que apresentamos a primei-ra edição da revista HITCHENS. Foi criada a partir da ideia de que so-mos livres pensadores e que temos o direito de expressar nossas opiniões e questionamentos ligados ao mundo religioso que vivemos. Tendo como maior objetivo informar, perguntar, debater, questionar, dar luz a razão e a ciência. Ótima leitura a todos!

JUNHO 2015 - ANO I - N° 01

EDITOR-CHEFERAPHAEL DE ARAÚJO

EDITORESLUCIANA MELO

MARCOS LENMAHRAPHAEL DE ARAÚJO

DIAGRAMAÇÃOMARCOS LENMAH

RAPHAEL DE ARAÚJO

DIREÇÃO DE ARTEMARCOS LENMAH

REVISÃOLUCIANA MELO

RAPHAEL DE ARAÚJO

PESQUISA DE TEXTOLUCIANA MELO

MARCOS LENMAHRAPHAEL DE ARAÚJO

PESQUISA DE IMAGENSMARCOS LENMAH

RAPHAEL DE ARAÚJO

DIRETOR DE REDAÇÃOMARCOS LENMAH

CIRCULAÇÃOLUCIANA MELO

MARKETING E PUBLICIDADEMARCOS LENMAH

SUPERVISÃO GERALRAPHAEL DE ARAÚJO

COLABORA NESTA EDIÇÃOLEONARDO FARIAS

JORNALISTAS RESPONSÁVEISLUCIANA MELO

MARCOS LENMAHRAPHAEL DE ARAÚJO

HITCHENS pense por si mesmo

UMA PUBLICAÇÃO DO N9 PRESS,DIVISÃO EDITORIAL DO

JORNALISMO N9

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EDITOR-CHEFE

Raphael de Araújo

EDITORIAL

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ABRE ASPAS

JIHAD ISLÂMICA

UM POUCO DE HISTÓRIA...

VOCÊ CONHECE?

A FÉ QUE EU NÃO PRECISO

BRASIL: UM ESTADO LAICO?

ATUALIZE

O INCÔMODO NOSSODE CADA DIA

ATÉ ONDE QUEROENXERGAR?

20MATÉRIA DE CAPA

QUEMFOI JESUS?

RICHARD DAWKINS

RAPHAEL DE ARAÚJO

MARCOS LENMAH

SUMÁRIO

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CHRISTHOPHER HITCHENS (1949-2011)Nasceu na Inglaterra e morreu nos Estados Unidos. Jornalista, foi colunista, crítico literário e editor contribuinte de revistas como Vanity Fair, New Statesman e Slate. Pai de três filhos, escreveu mais de vinte livros e livretos, incluindo coletâneas de ensaios, críticas e reportagens. Entre seus best-sellers destacam-se Deus não é grande: como a religião envenena tudo. É considerado um dos intelectuais mais influentes das últimas décadas.

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ção “deus não criou

o homem à sua imagem. Evidentemente foi o contrário, e essa é a explicação indolor para a profusão de deuses e religiões e o fratricídio entre religiões e no interior delas que vemos ao nosso redor e que tanto tem adiado o desenvolvimento da civilização.”

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“As pessoas cobram queVocê acredite em alguma coisa. Eu acredito em mim,tenho fé em mim. Eu sou meu próprio deus.”

“O fato de a gente não entender alguma coisa não significa que ela precise ser explicada de uma forma sobrenatural. A ciência vive da dúvida. E a gente não precisa entender tudo para se ter uma vida feliz e completa. Eu prefiro viver com a dúvida do que ser enganado por uma ilusão.”

(Alline Moraes, atriz)

“Não sou um ateu total,todos os dias tento encontrar um

sinal de Deus. Mas infelizmente não encontro.”

(José Saramago, escritor)

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(Marcelo Gleiser, físico)

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“Não sou religioso. Respeito todas as crenças, mas os religiosos não têm

nenhum respeito pelas pessoas sem fé. Quando digo que não tenho religião,

acham que sou imoral.”

“Eles dizem que Deus estava no alto e ele controlava o mundo e portanto

devemos rezar contra o Satã. Bem, se Deus controla o mundo, ele controla o Satã. Para mim, a religião estava tão cheia de afirmações erradas e coisas sem lógica que eu simplesmente não

podia concordar com ela.”

(Dráuzio Varella, médico)

(Gene Roddenberry, criador da série Jornada nas Estrelas)

“A ignorância suplica confiança mais freqüentemente do que o conhecimento: são aqueles que sabem pouco, e não os que sabem muito, que afirmam tão positivamente que esse ou aquele problema nunca serão resolvidos pela ciência.”

(Charles Darwin, naturalista)

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A fé que eu nãoprecisoPor: Raphael de Araújo

“Por vezes as pessoas não querem ouvir a verdade porque

não desejam que as suas ilusões sejam destruídas.”

(Friedrich Nietzsche)

Será que eu preciso de fé? Duran-te muitos anos acreditei que sim, que a fé me sustentaria e me levaria a um estado de paz comigo mesmo. Acredita-va que a fé seria meu porto seguro em momentos de angústia, desespero, tris-teza e solidão. Ter alguém observando do alto, cuidando de cada passo que você dá. Quem não compraria uma ideia tão “confortante” como essa? De acreditar

que algo vai dar certo ou que você de alguma forma sempre será beneficia-do, mesmo que todas as circunstâncias pareçam contrárias? Ou de acreditar que você será ajudado em alguma situação, mesmo que não te apresentem nenhu-ma evidência? Proposta realmente ten-tadora. Ter convicção de fatos que não podem ver. Ou como defino: Acreditar cegamente em algo que não pode ser

ARTIGO

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provado. A ironia de acreditar num deus onisciente, é que ele sabe quando você tropeçará e não fará nada para evitar isso. Num deus onipresente, é que ele estará te assistindo na hora que cair. E em um deus onipotente, é que mes-mo sendo bondoso e podendo evitar, ele não se compadecerá de sua dor. Vide o Paradoxo de Epicuro. E adivinha quem será o alvo de suas orações a noite? Me des-culpem, mas isso é algo muito irracional.

A fé poderia ser um sinônimo de pen-samento positivo? Penso que sim. Pos-so mentalizar que algo de bom vai ocor-rer ou que serei selecionado naquela tão sonhada entrevista de emprego, e tudo pode acontecer. E perceba, isso é perfeitamente saudável. Acreditar em si mesmo, nas suas capacidades, habi-lidades, no seu potencial e gabar-se de estar certo. Se cada um atribuísse a si mesmo suas conquistas, veria no seu es-forço não somente a sua recompensa, mas também um novo fôlego para continuar. Muito difícil desassociar a palavra fé de qualquer conotação religiosa, está agre-gada, não tem como fugir disso. E mes-mo que você não coloque nenhum sen-tido místico ou sobrenatural, ainda sim, quem ouvir, entenderá como uma crença.

Mas quero me atentar para a fé no sentido religioso. Essa que permeia a humanidade influenciada pelas religiões, dentre as quais destaco o Cristianismo. Uma fé que não te ajuda a pensar, ques-tionar, estudar, pesquisar, conhecer, etc. Se eu sugerir que fadas existem, você prontamente duvida. Mas se um padre, bispo, pastor ou qualquer autoridade re-ligiosa te pede para acreditar, isso se tor-na a sua crença. E quando não se sabe algo ou alguma coisa pareça absurda de-mais? A velha resposta aparece: “É pela fé”. É por essa fé que muitos acreditam num deus sem evidência alguma, é por essa fé que muitas crianças são violen-tadas pelos escolhidos desse deus, é por essa fé que se acredita num livro total-mente contraditório como sendo a “rev-

elação” divina ao homens, é por essa fé que muitos acreditam serem donos da verdade absoluta, é por essa fé que pes-soas são extorquidas sem ao menos te-rem o que comer em casa, é por essa fé que os ditos “santos” condenam ao martírio eterno todos que se dão o direito de pensar diferente, é por essa fé que muitos já mataram e matam até hoje.

Não, eu não preciso dessa fé. Nem de qualquer uma outra que queiram me oferecer. Eu prefiro acreditar em mim e viver cada dia tentando ser uma pes-soa melhor, querendo aprender com a vida todos os dias. Acertando, muitas vezes errando, mas livre de qualquer prisão e dogmas ou doutrinas impostas por uma instituição. Quero ter minhas próprias conclusões e definições sobre tudo. Sem preconceitos, desrespeitos, violência ou qualquer outra forma de pré-julgamento. Quero ser livre! Há al-guns anos eu me achava livre. Ledo en-gano, é impossível ser livre vinculado a qualquer religião, que te faz acreditar cegamente em algo que nunca se viu. Eu acredito no que vejo. Acredito nas pessoas, acredito na natureza, acredi-to nos animais, acredito no universo e acredito em mim. E antes que alguém me indague: “Então você não acredita no amor? Pois não se pode ver”. Eu re-spondo: Não, eu não acredito no amor. Eu sinto! O amor é um sentimento, e sen-do assim devemos senti-lo dentro de nós.

Por fim, queria deixar uma frase do filósofo Friedrich Nietzsche que retrata muito bem o que penso: Por vezes as pessoas não querem ou-vir a verdade porque não desejam que as suas ilusões sejam destruídas. .

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Richard DawkinsClinton Richard Dawkins é um etólogo, biólogo evolutivo e escritor britânico. É fellow emérito

do New College, da Universidade de Oxford, e foi Professor para a Compreensão Pública da Ciência em

Oxford, entre 1995 e 2008

VOCÊ CONHECE?

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Nasceu em Nairóbi, Quênia, em 1941, e cresceu na Inglaterra. For-mou-se pela Universidade de Oxford e deu aulas de zoologia na Universidade da Califórnia em Berkeley, nos Estados Unidos. Em Oxford, foi o primeiro titular da cátedra de Compreensão Pública da Ciência, criada em 1995 por iniciativa Charles Simonyi para dar a um pesqui-sador de primeira linha a oportunidade de se dedicar à divulgação de ciência além da pesquisa. Modelo para sua ide-alização, Dawkins ocupou a cátedra até setembro de 2008. Recebeu inúmeras

Imagine, junto com John Lennon, um mundo sem religião.

Imagine o mundo sem ataques suicidas, sem o 11/09, sem o 7/7 londrino,

sem as Cruzadas, sem caça às bruxas, sem a Conspiração da Pólvora,

sem a partição da Índia, sem as guerras entre israelenses e palestinos,

sem massacres sérvios/croatas/mulçumanos, sem a perseguição de judeus como “assassinos de Cristo”,

sem os “problemas” da Irlanda do Norte, sem “assassinatos em nome da honra”,

sem evangélicos televisivos de terno brilhante e cabelo bufante tirando dinheiro

dos ingênuos(“Deus quer que você doe até doer”). Imagine o mundo sem o Talibã para explodir estátuas antigas,

sem decapitações públicas de blasfemos, sem o açoite da pele feminina pelo crime de ter se

mostrado um centímetro.

(Trecho do livro Deus, um delírio)

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homenagens e honrarias, incluindo o prêmio da Royal Society of Literature em 1987, o prêmio Michael Faraday em 1990 e o prêmio Shakespeare em 2005. Ficou famoso com o livro O Gene Egoísta, de 1976, falando da visão de evolução baseada em Genes. Tem outros suces-sos como O Relojoeiro Cego (1986), A Escalada do Monte Improvável (1997), O Capelão do Diabo (2003), A Grande História da Evolução (2004) Deus, um delírio (2007) e O Maior Espetáculo da Terra (2009). Seu último livro publica-do esse ano é o Fome de Saber. .

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Brasil, um Estado laico?

CF - 19, I “É vedado à União, aos Estados, ao Distrito Federal e aos Municípios: I – estabelecer cultos

religiosos ou igrejas, subvencioná-los, embaraçar-lhes o funcionamento ou manter com eles ou seus

representantes relações de dependência ou aliança, ressalvada, na forma da lei, a colaboração de

interesse público.”

Por: Luciana Melo

Aspectos que mostram a interferência da religião em nosso país

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O Brasil por legitimidade e como a constituição nos faz crer, é um Esta-do laico, mas na prática não é o que acontece. Sendo bem didático, Estado laico é um país ou nação com posição neutra no campo religioso. Como pode isso, se justamente no local que re-presenta o Estado, como o Plenário da Câmara dos Deputados Federal, há uma cruz (símbolo do catolicismo e por tabela do cristianismo), que está a guiar ou proteger nossos parlamenta-res. Ora, o raciocínio é muito simples, se somos um Estado Laico, por que há uma cruz no plenário da Câmara dos Deputados Federal? Não, não so-mos um Estado verdadeiramente la-ico e essa é a verdade. Em nossas leis nos colocamos como se fôsse-mos ou quiséssemos, mas na práti-ca não é por aí que o país caminha. As sociedades religiosas não pa-gam impostos (renda, IPTU, ISS, etc.) e recebem subsídios financeiros para suas instituições de ensino e assistên-cia social. O ensino religioso faz parte do currículo das escolas públicas, que privilegia o Cristianismo e discrimina outras religiões, assim como discrimi-na todos os não crentes. Em alguns es-tados, os professores de ensino religio-so são funcionários públicos e recebem salários, configurando apoio finan-ceiro do Estado a sociedades religio-sas, que, aliás, são as credenciadoras do magistério dessa disciplina. Certas sociedades religiosas exercem pressão sobre o Congresso Nacional, dificultan-do a promulgação de leis no que res-peita à pesquisa científica, aos direitos sexuais e reprodutivos. A chantagem religiosa não é incomum nessa área, como a ameaça de excomunhão. Há símbolos religiosos nas repartições públicas, inclusive nos tribunais.

Atualmente, o termo Estado laico vem sendo utilizado no Brasil como fundamento para a insurgência con-

tra a instituição de feriados nacio-nais para comemorações de datas re-ligiosas, a instituição de monumentos com conotação religiosa em logradou-ros públicos e contra o uso de símbo-los religiosos em repartições públicas. Até mesmo a expressão “sob a proteção de Deus”, constante no preâmbu-lo da Constituição da República vem sendo alvo de questionamentos.

É importante ressaltar que esse conceito não deve se confundido com Estado ateu, tendo em vista que o ateísmo e seus assemelhados também se incluem no direito à liberdade re-ligiosa. O direito de não ter uma re-ligião segundo Pontes de Miranda: “liberdade de crença compreende a liberdade de ter uma crença e a de não ter uma crença” (Comentários à Constituição de 1967). Assim sen-do, confundir Estado laico com Estado ateu é privilegiar esta crença (ou não crença) em detrimento das demais, o que afronta a Carta Magna. Mais efetivo e adequado seria ao invés de chamar a República Federativa do Bra-sil de Estado laico, seria chamá-la de Estado plurireligioso, que aceita todas as crenças religiosas, sem qualquer dis-criminação, inclusive a não crença. . H

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Supremo Tribunal Federal (STF)

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www.dreamtheater.net

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HITCHENS pense por si mesmo

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Quem foi Jesus?Por: Raphael de Araújo

Colaboração: Marcos Lenmah

Considerado a figura de maior influência na história da humanidade, Jesus de Nazaré é a base da maior religião de todos os tempos, o cristianis-mo, que atualmente conta com mais de 2,2 bilhões de adeptos pelo mundo. Mas quem foi Jesus? Essa pergunta é tema de debate para vários pesquisadores, his-toriadores e religiosos. E chegar a uma resposta definitiva sobre a vida e a ori-gem de Jesus é uma tarefa complexa, que ao longo dos séculos vem sendo dis-cutida. O que é consenso entre os estu-diosos mais conceituados, é que houve um judeu chamado Jesus, que viveu no primeiro século de nossa era, angariou pessoas para segui-lo, anunciou o fim do mundo e morreu crucificado pelos romanos. E após a sua morte, histórias sobre ele começaram a circular de for-ma oral e posteriormente de forma escri-ta. Isso se difundiu em Jerusalém e por todo Império Romano, até Constantino decretar o cristianismo como a religião oficial de Roma e Jesus ser alçado ao sta-tus de Deus dos cristãos. Mas ao fazer-mos uma análise precisa sobre a história dele, logo percebemos que os relatos bíblicos nos apresentam poucas e con-troversas informações sobre a sua vida.

O início do cristianismo

O cristianismo esteve longe de ser uma unanimidade entres seus seguidores nos primeiros séculos. Haviam muitas di-visões e entendimentos diferentes acerca de quem era Jesus. Hoje, como sabemos, uma forma de cristianismo prevaleceu, a que vê Jesus como o próprio Deus

e esses outros grupos foram sendo extintos e perderam espaço, juntam-ente com seus livros que corroboravam seus pensamentos. Para alguns cristãos, Jesus era tanto divino quanto humano, já para outros ele era divino e nada huma-no. Outros acreditavam que Jesus era um ser humano de carne e osso e que foi ad-otado por Deus como filho, mas que não era divino. Alguns insistiam de que Jesus Cristo era as duas coisas, um ser humano completo, Jesus, e um ser completamente divino, Cristo. Nos séculos II e III, haviam cristãos que acreditavam que sua morte trouxera a salvação ao mundo e outros que sua morte não tinha nada a ver com isso. Existiam também aqueles que diziam que Jesus nunca morreu. Perceba que as infor-mações sobre o homem Jesus são bastan-tes divergentes, e não houve um consenso para determinar sua verdadeira história. Não existem escritos antigos que narrem a vida de Jesus e, portanto, para conhecermos seus feitos devemos procurar informações na bíblia, mais pre-cisamente nos evangelhos de Mateus, Marcos, Lucas e João. O que nos leva a um outro problema, pois nos dois pri-meiros séculos, as cópias que circulavam desses livros eram anônimas e não sabe-mos quem são os autores. Fato é que não foram nem Mateus, Marcos, Lucas e João que escreveram os respectivos livros. Seus nomes foram associados posterior-mente pelos pais da igreja, que para darem credibilidade e confiabilidade, atribuíram esses textos a dois dos discípulos, Mateus e João, e a dois companheiros dos apóstolos, Marcos (companheiro de

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Pedro), e Lucas (companheiro de Paulo).

Algumas diferenças entre os evangelhos

Ao analisarmos os três evangelhos sinóti-cos, ou seja, que contém histórias em comum, e o evangelho de João, percebe-mos diferenças entre os relatos, algumas mudanças pequenas, outras nem tanto.

No nascimento de Jesus, em Lucas, diz que José e Maria regressaram a Nazaré um mês depois de terem ido a Belém, em Mateus, indica que eles fugiram para o Egito. Na tentação de Jesus, em Mateus, diz que a segunda tentação foi pular do pináculo do templo, já em Lucas, foi curvar-se em adoração. Em Marcos, Jesus montou em um jumento até a en-trada triunfal em Jerusalém, no relato em Mateus, diz que ele montou em dois. No livro de João, Jesus teve uma conver-sa extensa em seu interrogatório, já em Marcos, ele ficou em silêncio e apenas concordou com as palavras de Pilatos. Pouco antes de sua morte, em Marcos, diz que Jesus estava angustiado dizendo aos seus discípulos que sua alma estava triste e suplicou a Deus que afastasse dele o cálice do sofrimento. Durante todo o percurso até o calvário permanece em silêncio, mesmo após alguns zom-barem dele, incluindo os dois ladrões na cruz. Assim fica até o fim, quando diz: “Meu Deus, meu Deus, porque me aban-donastes?”, e morre. Em Lucas, Jesus não está em silêncio pelo caminho. Ele vê algumas mulheres chorando por ele e diz para não fazerem isso, para que cho-rassem por elas e na cruz também fala: “Pai, perdoa-os porque não sabem o que fazem”. Ainda nesse evangelho, apenas um dos ladrões zombam dele e Jesus diz ao outro que estaria com ele no paraí-so. Nos últimos minutos não há nenhum questionamento de abandono e suas últi-mas palavras foram: “Pai, em suas mãos entrego meu espírito”, e morre. Há uma grande diferença nesses dois relatos so-bre seus momentos finais, Jesus estava angustiado e silencioso como retrata em Marcos ou mais conformado e preocupa-do com as pessoas como em Lucas? Não

se tem uma resposta. Ainda sobre a cru-cificação, em Marcos, Jesus foi crucifica-do um dia depois da ceia pascal, em João, diz que ele morreu um dia antes da ceia. São detalhes que passam despercebi-dos pela maioria das pessoas que leem a história fazendo um apanhado dos quatro evangelhos, surgindo assim um grande re-lato sobre a vida de Jesus. Mas se consi-derarmos separadamente, as diferenças são notórias. Esses foram apenas alguns exem-plos, existem muitas outras discrepâncias.

Jesus e sua divindade

O que sabemos é que Jesus era um judeu que adorava o Deus judeu, tinha costumes judeus, interpretava a lei ju-daica e angariava discípulos judeus que o aceitavam como o messias judeu. Os cristãos tinham certa dificuldade em con-vencer as outras pessoas de que Jesus era o messias, visto que ele era con-hecido como um pregador apocalíptico que anunciava o fim dos tempos, que o reino de Deus estava próximo, ficou do lado errado da lei e foi crucificado como um criminoso. Mesmo assim, seus se-guidores continuaram insistindo que sua morte foi um erro e que ele era o profeta anunciado. Mas e Jesus, o que pensava? Essa é uma outra pergunta difícil de obter resposta, e isso pela falta de documentos históricos fidedignos para chegarmos a uma conclusão. Apenas no evangelho de João, o mais “espiritual” dos quatro, e o último a ser escrito, é que temos frases de Jesus se declarando um ser sobrenatural, os outros não mencionam, ao contrário, ele constantemente ora a Deus e não há menções dele sobre sua suposta divin-dade. Se fizermos uma apuração acura-da, logo notaremos que Jesus não passou sua vida se declarando divino. Segundo estudiosos, Jesus morreu por volta do ano 30 d.C. O primeiro evangelho a ser escrito foi o de Marcos, em 65-70 d.C.; Mateus e Lucas aproximadamente 80-85 d.C.; e João o último em 90-95 d.C. É um período muito longo, consideran-do que os autores desses livros, como mencionei antes, anônimos, não foram

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testemunhas oculares da vida de Jesus. As histórias sobre ele começaram a circu-lar de forma oral e quase quarenta anos após a sua morte o primeiro evangelho foi escrito, por pessoas que não eram da palestina e muito menos falavam a mesma língua de Jesus, o Aramaico, pelo contrário, eram letradas e com boa fluên-cia no grego. E de alguma forma, seus seguidores passaram a crer que ele havia ressuscitado, que era o messias de Deus enviado a terra para salvar a humani-dade e que acreditando nisso as pessoas teriam a vida eterna. Eles começaram a contar e criar histórias sobre sua vida, os milagres, a crucificação, o túmulo vazio, a ressurreição, suas aparições após a morte, etc. Esses relatos foram se espa-lhando, ganhando novas proporções, até que alguém resolveu escrever, e claro, com outros acréscimos, incluindo ele-mentos de outras culturas e aumentando assim as primeiras histórias contadas. As narrativas sobre a ressurreição nos evangelhos também são cheias de con-tradições. Os relatos se divergem desde sobre quem foi a primeira pessoa a ir ao túmulo, se a pedra já estava removida ou não, quem tinha sido visto no local (um homem, um anjo ou dois homens), se as mulheres saíram ou não depressa para contarem aos discípulos o que tinha acontecido, se os discípulos viram Jesus apenas na Galileia ou somente em Je-rusalém, etc. As diferenças são muitas e existem outras, basta comparar os rela-tos de cada livro. A crença na ressurreição de Jesus talvez tenha sido o pontapé para o início do cristianismo. Se ninguém tivesse pensando isso, que ele ressusci-tou, provavelmente sua história se per-deria em meio a tantas outras de vários messias judaicos que surgiram naquele tempo, e Jesus se tornaria mais um pro-feta judeu que fracassou na sua missão. Não se falava isso dos outros pregadores apocalípticos daquela época e o fato de se dizer essas coisas sobre ele o colo-caram em uma posição de destaque. Por fim, a crença na ressurreição, levou seus seguidores a acharem que ele era Deus.

O Concílio de Niceia

Imperador Constantino

Durante mais de duzentos anos o cristianismo foi perseguido pelas auto-ridades romanas. Eles viam esse cresci-mento como perigoso e ameaçador ao bem-estar do império, que possuía sua própria religião. Porém, em 306 d.C. quando Constantino se tornou imperador de Roma, eles continuaram sendo perse-guidos,mas a situação dos seguidores de Jesus mudaria alguns anos mais tar-de, quando Constantino teria tido uma visão da cruz e mudado sua opinião so-bre o cristianismo. Ele supostamente se converteu em 312 d.C.,acabando com a perseguição aos cristãos e tornando o cristianismo a religião oficial do império. Alguns estudos da época apontam que a “conversão” de Constantino teve um viés mais social e político do que pro-priamente pela mensagem cristã, pois ele não deixou sua devoção aos deuses romanos. O cristianismo estava crescen-do em Roma e ter esse grupo ao seu lado facilitaria suas decisões como imperador.

Ário de Alexandria

Um dos motivos para o concílio se reunir, foi confrontar as ideias de Ário, um presbítero cristão que tinha uma visão diferente sobre Jesus. Ele dizia que tudo teve um começo, exceto Deus, e que Jesus veio a existir depois, sendo inferior e cria-do depois, mas que não possuía a mesma grandeza. Essas afirmações de Ário foram consideradas heréticas e ele foi excomun-gado pelo bispo de Alexandria junto com outros vinte líderes da igreja que o apoia-vam. Foram então para palestina onde encontraram outros líderes e teólogos que partilhavam das mesmas convicções.

O Concílio

Grandes debates aconteceram naque-la época liderados por Ário e Alexandre, o bispo de Alexandria. Os cristãos estavam divididos por várias doutrinas como vimos no início desse texto e Constantino sabia

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que para o cristianismo crescer unificado junto com o império, precisaria haver uma unidade de pensamentos sobre as questões teológicas que envolviam Jesus. Foi as-sim que ele anunciou o Concílio de Niceia, que aconteceu em 325 d.C. com 318 bis-pos, sendo sua maioria do Egito, Palesti-na, Síria, Ásia Menor e Mesopotâmia. O assunto principal a ser resolvido era sobre os ensinamentos de Ário acerca de Jesus e um de seus defensores, Eusébio, bis-po de Cesareia, argumentou sobre o que deveria ser confessado como verdadeiro, sem muito sucesso. E após longos debates calorosos, os bispos concordaram em um credo, sobre Deus, o Pai, Jesus, o Filho e o Espírito Santo, que possuíam a mesma natureza divina. O credo terminava com uma série de anátemas, ou maldições, às pessoas que faziam declarações heréticas e que não concordavam com o resultado. A intenção do credo era unir os cristãos a um só entendimento, basicamente o da

Santíssima Trindade e apresentar a visão da Igreja Católica e Apostólica, e Ário jun-to com alguns bispos que não assinaram, foram banidos. O que Constantino não imaginava, era que mesmo assim, longos debates aconteceriam sobre a natureza divina de Cristo, o credo não resolveria to-dos os problemas e o arianismo continuaria a crescer. Algumas outras questões inter-nas e a data da Páscoa também foi decidida no concílio, que seria no primeiro domingo depois da primeira lua cheia na primave-ra, seguindo o costume da Igreja de Roma. O Cristo dos debates em Niceia esteve longe de ser o Jesus de Nazaré histórico, que era um pregador apocalíptico, que viveu na Galileia, foi condenado por crimes contra o estado e morreu crucificado. E após o concílio, Jesus, quem quer que tenha sido, sem unanimidade se tornara Deus. . H

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Concílio de Niceia

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“A vida é apenas uma visão momentânea das maravilhas deste assombroso universo, e é triste que tantos se desgastem sonhando com fantasias espirituais.”

Carl Sagan

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pense por si mesmoHITCHENS

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Jihad IslâmicaO extremismo em nome da fé

Por: Luciana Melo

INTERNACIONAL

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Alcorão (2:191-193) - “Matai-os onde quer se os encontreis e expulsai-os de onde vos expulsaram, porque a perseguição é mais grave do que o homicídio. Não os combateis nas cercanias da Mesquita Sagrada, a menos que vos ataquem. Mas, se ali vos combaterem, matai-os. Tal será o castigo dos incrédulos. Porém, se desistirem, sabei que Deus é Indul-gente, Misericordiosíssimo. E com-batei-os até terminar a perseguição e prevalecer à religião de Deus. Porém, se desistirem, não haverá mais hos-tilidades, senão contra os iníquos”.

Lutar até que “a religião seja apenas para Allah”. O Islã tem como princípio do-minar todas as outras pessoas e credos.

Conceito

Jihad - um conceito essencial da religião islâmica e frequentemente confundido com “guerra santa”. O sig-nificado básico é empenho ou esforço, algo mais ou menos como seguir o caminho de Deus com determinação. O fundamentalismo islâmico é um termo ocidental utilizado para definir a ideo-logia política e que supostamente sus-tenta o Islã. De origem midiática, este termo define o Islã como, não apenas uma religião, mas um sistema que também governa os imperativos políti-cos, econômicos, culturais e sociais do estado. Quebrando assim, o paradigma de estados laicos, comum nesta par-te do planeta. Um de seus objetivos cruciais, definido pelo ocidente, é a tomada de controle do Estado de for-ma a implementar o sistema islamista, ou seja, que abriga e coordena todos os aspectos sociais de uma sociedade através da sharia islâmica, nome que se dá ao Direito Islâmico. Em várias sociedades islâmicas, ao contrário da maioria das sociedades ociden-tais, não há separação entre a religião e o direito, todas as leis são religio-

sas, baseadas nas escrituras sagradas ou nas opiniões de líderes religiosos.

Alcorão

O Alcorão, livro sagrado dos muçul-manos, é a maior fonte da jurisprudên-cia islâmica e contém pelo menos 109 versículos que chamam os muçul-manos à guerra contra os não crentes para que o domínio islâmico seja es-tabelecido. Alguns são bem chocantes, como ordens para cortar cabeças e dedos e matar infiéis onde quer que eles possam estar escondidos. Muçul-manos que não participam desta luta são chamados de “hipócritas” e “covar-des”, diz o Alcorão que Allah irá en-viá-los para o inferno se não se junta-rem a estes assassinatos. Ao contrário dos versículos do Antigo Testamento, os versos a favor da guerra no Alcorão são em sua maioria válidos para os dias atuais, o que significa que eles não es-tão inseridos num contexto histórico de um período exclusivo. A Suna (obra que narra a vida e os caminhos do pro-feta), é a segunda fonte mais impor-tante e não é possível praticar o Islã sem consultar ambos esses textos. A maioria dos muçulmanos de hoje exercem uma certa liberdade na in-terpretação dos textos alcorânicos referente à violência, a partir de suas prerrogativas pessoais de justiça. Apologistas manipulam passagens conforme as suas necessidades e por isso encobrem os fatos históri-cos para satisfazerem suas alegações. Vale ressaltar, que o problema não são os muçulmanos com corações in-clinados para o lado mal, mas os valores ruins contidos neste livro.

Ensinamentos de guerra e ódio

Infelizmente, há poucos versos de tolerância e paz para revogar ou mes-mo equilibrar os versos de guerra. Há na verdade, uma chamada para guer-

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ra contra os não crentes com a finali-dade de serem combatidos, escraviza-dos, humilhados, até se converterem ao Islã, ou serem abatidos caso não se submetam as imposições dos tex-tos ditos vindos da parte de Deus. O próprio legado de Muhammad, os fa-tos históricos de seus seguidores e a própria declaração contida no Alcorão têm produzido um rastro de sangue e lágrimas em toda a história do mundo. Os versos do Alcorão têm grande poder de violência, por isso é tão perigoso, afinal todos os ordenamentos descri-tos nele recebem o peso de ordem di-vina. Os terroristas muçulmanos tomam como literal tudo o que está descrito em seu livro sagrado, e en-tender o que é o Islã só se torna com-pleto com a prática da Jihad. Tentam contradizer tais versos com o intuito de trazer a paz e o amor, porém suas ver-dadeiras intenções são conquistar os ignorantes, afinal a cada doze versos descritos no livro sagrado do Islã, um fala do ódio de Deus para com os não muçulmanos ou os condena a morte, a conversão forçada ou submissão. Longe de ser mera história ou construção teológica, os versículos violentos do Alcorão têm desempenhado um papel fundamental nos diversos massacres e genocídios que acontecem dia após dia.

Domínio Islã

Além do fato dos muçulmanos não terem matado todos os outros povos sob seu domínio, há poucas coisas que eles podem apontar como uma prova de que a sua crença é uma re-ligião pacífica e tolerante. Onde o Islã é dominante (como no Oriente Mé-dio e Paquistão) minorias religiosas sofrem perseguições brutais com pou-ca resistência. Onde é minoria (como na Tailândia, Filipinas e Europa), há ameaças de violência se as ordens muçulmanas não são cumpridas. Qualquer situação parece apresentar uma justificativa para o terrorismo reli-gioso, que é persistente e endêmica ao fundamentalismo islâmico, que tam-bém defendem a submissão da mulher,

a perseguição aos cristãos e o assassi-nato de dissidentes em países islâmi-cos. Eles reconhecem alguns elemen-tos de outras religiões, como judaísmo o cristianismo. Todos os profetas ju-deus são reconhecidos como profetas também no islã, assim como Jesus, que de acordo com a perspectiva muçul-mana teria anunciado a vinda de Maomé.

Para refletir O pensamento que nos cabe é, até que ponto a religião ou um conjunto de regras religiosas como é o caso da religião islâmica, pode influenciar a vida e a morte de tantas pessoas ao redor do mundo? Como, na atual con-juntura global, é permitido que pes-soas matem umas as outras apenas por causa de um preceito religioso escrito há tantos anos? Pode uma re-ligião baseada na intolerância, segre-gar aqueles que não aceitam e caça-los como párias simplesmente pelo fato de discordar? Onde mulheres são trata-das como bens e não podem ter voz, a não ser através de seus pais, irmãos e maridos? O que causa tanta revol-ta nos mulçumanos? Ou o que lhes faz tão orgulhosos e certos de sua fé para acharem que só ela e mais nenhuma é a verdade absoluta? Reflexões... .H

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Alcorão, livro sagrado do Islamismo

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PUBLICIDADEREVISTA HITCHENS

HITCHENS pense por si mesmo

“PENSE PORSI MESMO”

LEIA A HITCHENS, QUESTIONE...

2015. N9 PRESS. DIVISÃO EDITORIAL DO JORNALISMO N9. TODOS OS DIREITOS RESERVADOS.O LOGO E SLOGAN “PENSE POR SI MESMO” SÃO PROPRIEDADES DO JORNALISMO N9.

FACEBOOK.COM/JORNALISMON9JORNALISMON9.BLOGSPOT.COM.BR

pense por si mesmo

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Impressionante o quanto os religio-sos se irritam com tudo o que suposta-mente vai contra os dogmas ou doutri-nas de sua crença. Seja uma citação na internet, uma entrevista polêmica, pro-gramas ou propagandas de tv, vídeos no youtube ou o beijo gay na novela. Tudo, absolutamente tudo, incomoda essas pessoas. Se esquecem da liberdade de expressão que todos nós temos. Enquan-to isso, eles inundam as redes sociais com frases, imagens e músicas gospel o tempo todo, e somos obrigados aceitar. Mas as coisas não param por aí e começam a piorar quando vejo cam-panhas de boicotes a isso ou aquilo, capitaneada por pastores interesseiros, oportunistas que só enganam e mani-pulam. Ora, se determinada pro-gramação transmite ideias das quais você não concorda, não assista e vida que segue. Simples assim. Mas não, eles insistem em criar correntes, campanhas e apelos para que se retire o programa do ar ou o que quer que seja, como se fossem os mais ofendidos do mun-do. E se acham no direito de ameaçar citando o “inferno” como presente para os que se posicionam contra essa ati-tude completamente hipócrita deles. Usam a bíblia como instrumento de propagação de valores, baseando seus argumentos de ataque e preconceito nos ensinamentos desse “livro sagra-do”. Se esquecem apenas, de contar as histórias mais imorais e antiéticas que existem nas escrituras. Em Gênesis 19:32 temos as filhas de Ló se deitando com

ele, capítulos depois, lemos a brinca-deira que deus fez a Abraão pedindo que ele matasse seu filho Isaque e não posso deixar de citar a loucura de Juíz-es 19, onde uma moça é jogada para ser estuprada durante a noite toda por alguns homens. E poderia citar vários outros ab-surdos, como a ursa que matou quaren-ta e duas crianças simplesmente porque resolveram brincar e chamaram o profeta de careca. Não vejo os crentes boicotando esses trechos dizendo que fazem apolo-gia ao incesto ou estupro, por exemplo. E sabem porque não fazem isso? Porque vivem presos aos seus mundinhos de con-tos de fadas achando que a vida se resume ao que eles veem todos os domingos na igreja. Gritarias, choros, quedas ao chão, exorcismos, céu, inferno, profecias, etc. Sentimentos vazios, de culpas e cons-tantes arrependimentos. Não percebem o quanto são enganados por líderes que só querem saber de dinheiro sem se im-portar com nada ao redor. E ficam assim, seguindo conselhos cegamente sem ao menos buscarem informação, achando que o mundo é contra deus. Não aceitam a liberdade das pessoas, as diversidades, as culturas diferentes, as outras formas de pensamento, enfim, discordam de tudo. Temos sempre que levantar a ban-deira de uma melhor educação, do res-peito, do pensar por si mesmo, da ciên-cia e combater o fanatismo. O conheci-mento faz bem e sempre será o suporte para um mundo de ideias e projetos que agregam e muito para uma vida melhor, e é isso que todos nós queremos. .

O incômodo nossode cada dia...

RAPHAEL DE ARAÚJO

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A Santa InquisiçãoPerseguição e morte para quem

contrariava as doutrinas da IgrejaPor: Marcos Lenmah

UM POUCO DE HISTÓRIA...

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Pouco se fala sobre um dos perío-dos mais cruéis de que temos conhe-cimento. Os relatos dessa época foram em grande parte reescritos para ame-nizar os fatos reais e poucas pessoas conhecem os detalhes específicos de uma campanha que torturou e supri-miu milhares de pessoas. Em nome de Deus, sacerdotes católicos montaram um esquema gigantesco para eliminar todos os “hereges”, principalmente na Europa. A heresia era definida da forma como Roma quisesse definir, abrangen-do desde pessoas que discordavam da política oficial a filósofos, judeus, bru-xas e os reformadores protestantes. Um tempo que a Igreja Católica não enfatiza e resultou em um dos maiores massacres já ocorridos na história da humanidade, onde milhões de vítimas foram sentenciadas e morreram por não seguirem as doutrinas da igreja. A Santa Inquisição começou na Idade Média, no século XII e foi con-duzida pela Igreja Católica Romana. O principal objetivo era julgar a to-dos que representassem uma ameaça às doutrinas da igreja. Os julgamen-tos eram realizados em tribunais que aplicavam as mais diversas formas de punição e tortura que se possa ima-ginar. Após serem perseguidos, os sus-peitos que fossem condenados eram submetidos a cumprir prisão tem-porária, perpétua, ou até queimados em praças públicas. A inquisição al-cançou seu apogeu na Europa e foram muitos os países que aderiram aos tri-bunais e que julgavam todos aqueles que tinham ideias contrárias a doutri-na da igreja católica. Portugal, França, Itália e Espanha foram os principais cenários de um período obscuro onde os acusados não tinham direito de sa-ber quem estava acusando, porém, po-diam dizer os nomes de seus inimigos para avaliação dos tribunais que lhes aplicariam sua sentença. Cientistas e intelectuais dessa época foram um dos principais alvos dos inquisitores por te-

rem ideias contrárias à doutrina cristã. Um dos casos mais conhecidos foi o do astrônomo italiano Galileu Galilei, que foi acusado pela inquisição de bruxaria porque seus estudos e pesquisas na época já afirmavam que o planeta Terra girava ao redor do Sol, porém ele não foi condenado à morte. Já o cientis-ta, teólogo e filósofo italiano, Giorda-no Bruno não teve a mesma sorte que Galilei e acabou julgado e condenado a morte pelo tribunal, assim como Joana D’arc, que acreditava que libertaria a França com a ajuda de Deus. E mui-tas outras mulheres também sofreram com a perseguição nesse período, pois usavam medicina caseira por meio de plantas, ervas, chás e outras substân-cias e foram condenadas à morte pelos

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inquisidores que consideravam essas práticas rituais de bruxaria. As que conseguiram escapar da morte não se livraram de punições e atos de torturas extremamente violentos. A “Tortura d’Água”, o “Burro Espanhol”, “A Serra”, “A Pêra”, a “Mesa de Evisceração”, o “Ar-ranca Seios” e a “Roda do Despedaça-mento”, são alguns dos instrumentos de tortura usados pelos inquisitores. A inquisição foi ganhando cada vez mais força e atraindo interesses políticos. Um exemplo disso acorreu durante o século XV, quando o rei e a rainha da Espanha se aproveitaram desta força e passaram a perseguir os nobres e principalmente os judeus, utilizando as práticas inquisitórias, diminuíram o poder da nobreza, torturaram e mataram milhares de judeus para se apossar de seus bens e propriedades. No Brasil, os tribunais de inquisição

chegaram a ser instalados no período Co-lonial, por volta do século XVII até meados do século XVIII, só que não alcançaram a mesma força e dimensão que tiveram na Europa. Relatos históricos apontam que no Nordeste e também na região onde hoje está o estado de São Paulo, ocorre-ram cerca de quinhentos casos de julga-mentos e condenações, em sua maioria porque eram praticantes de outras cultu-ras e manifestações religiosas que não o cristianismo. Houve também perseguição a judeus que viviam no país nesse período. Uma época em que as pessoas es-tavam sendo sentenciadas por acusações que muitas vezes, eram injustas e sem fundamento. Com seu início no sécu-lo XII, somente foi abolida no início do século XIX, quando teve fim a perse-guição a protestantes, judeus e todos que discordavam ou iam contra às doutri-nas da igreja Católica Romana. .H

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Tribunal da Inquisição

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HITCHENS ATUALIZE

Livro: FOME DE SABER - A formação de um cientista - MemóriasAutor:Richard Dawkins Tradutor: Erico AssisIdioma: PortuguêsEditora: Companhia das LetrasAssunto: AutobiografiaEdição: 01Ano de Edição: 2015Ano: 2015

Documentário: Minha Máxima Culpa-Silêncio na Casa de Deus.

Título Original: Mea Maxima Culpa: Silence in the House of God

País de Origem: EUA / Reino UnidoGênero: Documentário, Filmes 2012

DIRETOR: Alex GibneySinopse: Alex Gibney examina os crimes do Pa-

dre Murphy, que abusou de mais de 200 meninos surdos em uma escola, dando origem a um grave

caso de pedofilia nos Estados Unidos e desencade-ando uma série de escândalos de abuso sexual na

Igreja Católica.

Filme: A Teoria de Tudo Título Original: The Theory of EverythingDiretor: James MarshCom:Eddie Redmayne, Felicity Jones, Tom Prior País de Origem: Reino UnidoGênero: Drama, Filmes 2014, RomanceDuração: 123 MinutosAno de Lançamento: 2014

Deuses & HomensSite sobre sociedade/cultura

www.deusesehomens.com.br

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Até onde quero enxergar?MARCOS LENMAH

O caráter é algo que vamos construindo e moldando pouco a pouco ao longo de nos-sas vidas. Quando atribuímos nosso caráter e moralidade a crenças ou convicções pes-soais, estamos entrando em um caminho atrativo e perigoso, que nos leva a perder o senso de tudo aquilo que realmente é moral.

Durante um determinado período de minha juventude, eu acreditava estar com-pletamente realizado e imaginava que ja-mais iria deixar de pertencer ao meio no qual fui criado. Um jovem apontado pelo seu pastor como um exemplo para a igre-ja que freqüentava, exercendo funções que muitos almejavam e detentor da confiança de todas as lideranças da igreja. Foram tan-tos os elogios que inflavam o meu ego pes-soal, que não sei se recordaria ou conse-guiria relatar todos nesse texto. Procurava a cada culto, ou até mesmo nas mais sim-ples reuniões, sobressair naquilo que me propusera a fazer. O meu objetivo era ter o reconhecimento, ser visto como alguém en-gajado na “obra do Senhor”. E isso não foi difícil. Foram dias e noites dedicadas com exaustão a fazer minhas tarefas da maneira mais perfeita possível. Sabia que não podia falhar, lembrava-me sempre de uma pas-sagem bíblica que ecoava na mente: “Quem põe a mão no arado não volta atrás...”. Ali estava eu envolvido em um espetáculo onde todos usavam suas máscaras de fé e hipo-crisia, e em pouco tempo me tornara co-adjuvante naquela arena que muitos eram meros espectadores e não faziam ideia do que se passava por detrás das cortinas. Vivendo no centro-oeste do interior do Maranhão, uma região caracterizada pela extrema pobreza e mazelas sociais, eu me vi envolvido em uma cadeia de interesses financeiros cujo principal objetivo era ex-trair, como uma sanguessuga, o dinheiro das pessoas, aproveitando-se da cegue-ira que a fé e o fanatismo lhes haviam

provocado. Poderia destacar inúmeras situações onde me vi diante de um dilema moral. Meu caráter por mais apagado que estivesse não me deixava ver aquilo sem gerar dentro de mim resquícios de nojo e culpa, porque na cidade, muitas pessoas tentavam sobreviver com cem ou du-zentos reais mensais. Em contrapartida, num mundo paralelo, os líderes da igreja que eu frequentava, se digladiavam para aumentarem os percentuais de seus fartos salários, oriundos das contribuições dos fiéis. Era inaceitável um líder religioso gan-har menos do que vinte salários mínimos, porque Deus o havia escolhido para liderar sua obra e seu servo não poderia passar por dificuldades. Esse era um dos argumen-tos mais usados para justificar tamanha imoralidade que se cometia em nome da fé.

E a complacência com todo um esquema de transgressão moral foi to-mando conta de meus atos e fazen-do parte de minha vida. Por diversas vezes, talvez aguçado pelos resquícios do meu fragilizado caráter, me perguntei até onde queria enxergar o lamaçal no qual estava mergulhado. Acreditei que estáva-mos fazendo “a obra de Deus”, e que se estivéssemos errados, prestaríamos con-ta diretamente com um deus que assistia sem esboçar nenhuma reação e tudo era por sua total permissão. Afinal, uma das principais características de nossa ceguei-ra é justificar o que é errado com a des-culpa de que tudo é permissão de Deus. Hoje, relatar e admitir a minha culpa e participação num espetáculo lamentável de hipocrisia é sinal de que me permiti enxergar muito além... Que a cegueira da fé já não veda mais a verdadeira essên-cia do meu caráter e que minha morali-dade já não é condicionada a nenhuma crença ou doutrina religiosa. Enxergo hoje com os olhos da racionalidade. .H

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Fundação Hemocentro de BrasíliaSMHN Q 3 Conj A - Bloco 3 - Asa Norte Brasília -

DF - CEP: 70710-904Telefone: 160 Opção 2

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