Revista Indústria & Competitividade - FIESC

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Indústria Competitividade & Nº 6 > Santa Catarina > Março > 2015 Nº 6 > Março > 2015 NEGOCIAÇÃO FUNCIONA Paternalismo da CLT complica vida do trabalhador e da indústria MÁQUINAS INTELIGENTES Setor de bens de capital descobre oportunidades na crise CONCRETO VERDE Edificações sustentáveis convivem bem com recursos escassos Indústria Competitividade & Esta poderosa ferramenta de inovação pode transformar a sua empresa. Saiba como DESIGN A EVOLUÇÃO DA INDÚSTRIA

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A revista Indústria & Competitividade da apoiadora FIESC deste mês traz como tema "Design como ferramenta competitiva", ilustrando através de cases da região a importância deste na transformação da indústria. Entre os cases apresentados estão a Audaces Neocut (da associada Audaces) e a Estação Lancaster (da associada Lancaster), bem como um destaque sobre a importância do nosso movimento para o fomento do nosso estado como um pólo inovador e gerador de alto valor agregado através da palavra do nosso presidente Claudio Grando.

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  • IndstriaCompetitividade

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    N 6 > M

    aro > 2015

    NEGOCIAO FUNCIONAPaternalismo da CLT complica vida do trabalhador e da indstria

    MQUINAS INTELIGENTESSetor de bens de capital descobre oportunidades na crise

    CONCRETO VERDEEdificaes sustentveis convivem bem com recursos escassos

    IndstriaCom

    petitividade&

    Esta poderosa ferramenta de inovao pode transformar a sua empresa. Saiba como

    DESIGNA EVOLUO DA INDSTRIA

  • CARTA DO PRESIDENTE

    Chega de massacraro setor produtivo

    O Brasil vive um momento decisivo para a competitividade e para a prpria sobrevivncia da indstria, que foi colhida por uma enxurra-da de medidas duras do Governo Federal, em nome do ajuste fiscal. Ainda que o ajuste seja necessrio, em funo de polticas erradas implan-

    tadas nos anos anteriores pelo prprio Governo, e que tornaram a indstria

    brasileira menos competitiva nos ltimos 10 anos, no aceitvel que o setor

    produtivo pague uma conta que inclui novos aumentos da carga tributria,

    que j uma das mais altas do mundo, e altera regras que orientaram o pla-

    nejamento das empresas para 2015. O aumento dos juros e dos combust-

    veis e a impressionante elevao dos preos da energia tambm atingiram

    a indstria no contrap, num cenrio em que os custos industriais j haviam

    crescido 41% entre 2006 e 2013 (CNI, Indicador de Custos Industriais). Como

    se tudo isso no bastasse, o setor produtivo sofreu os efeitos dos protestos

    de caminhoneiros que paralisaram boa parte do Pas em fevereiro, resultando

    em prejuzos entre R$ 400 milhes e R$ 500 milhes apenas para as indstrias catarinenses

    diretamente afetadas, segundo clculo conservador.

    A indstria defende que as medidas de ajuste fiscal venham acompanhadas de uma

    agenda para a competitividade capaz de restaurar a confiana do setor produtivo e dos in-

    vestidores. Tais medidas que criaro as condies para a retomada do crescimento e o au-

    mento da arrecadao. Essa agenda inclui pontos como a modernizao das relaes traba-

    lhistas, a manuteno do Reintegra e da desonerao da folha de pagamento, a reforma do

    sistema tributrio e um modelo de concesses que viabilize a participao do setor privado

    nos investimentos em infraestrutura. Sem avanos nessas reas, o enorme sacrifcio imposto

    ao setor produtivo e aos brasileiros ser intil.

    Ao mesmo tempo em que a FIESC luta para melhorar o ambiente institucional, o industrial

    catarinense se esfora para tornar a sua empresa mais competitiva. Nessa arena, uma de suas

    armas mais eficazes a inovao. Nesta sexta edio da revista Indstria & Competitividade o tema abordado de diversas formas. A reportagem de capa, sobre design industrial, demons-

    tra como um processo elaborado de concepo de produtos pode revolucionar empresas dos

    mais variados portes e segmentos. Outras reportagens mostram o esforo da indstria de bens

    de capital em produzir equipamentos inovadores e de alto valor agregado, e a oportunidade

    que a escassez de gua e energia abre para a inovao na construo civil.

    Mais do que nunca, a indstria precisa de espao para trabalhar, com menos interferncia

    do Governo e maior eficincia das aes do setor pblico. A FIESC est ao lado da indstria

    para apoi-la e defend-la das iniciativas que, na prtica, so barreiras aos investimentos,

    produo e gerao de empregos.

    Glauco Jos CrtePresidente da FIESC

    HER

    Ald

    O C

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    IERI

  • Indstria & Competitividade 54 Santa Catarina > Maro > 2015

    EntrEvistaO paternalismo nas relaes trabalhistas resqucio de outra era e precisa acabar, afirma o economista Hlio Zylberstajn

    BEns dE capitalMquinas inteligentes desenvolvidas em Santa Catarina resolvem problemas da indstria local

    sustEntaBilidadE Cenrios de escassez de gua e energia valorizam edificaes que economizam recursos

    agEnda da indstriaA formao dos engenheiros e os protestos dos caminhoneiros em debate

    pErfilA WEG, fundada no dia do aniversrio de cinco anos de Dcio da Silva, tornou-se uma companhia global pelas suas mos

    dEsignA indstria catarinense descobre esta ferramenta para inovar com baixo custo e alta taxa de retorno, e ser destaque na Bienal Brasileira do Design de Florianpolis

    planEjamEntoPrograma de Desenvolvimento Industrial Catarinense (PDIC 2022) define estratgias para 16 setores

    nEgciosA histria de Volmir Meotti, que de comerciante passou a fazer pes e se tornou um importante industrial

    EducaoSENAI-SC usa at salas de aula montadas em caminhes para expandir o ensino tcnico

    gEntE da indstriaA paixo pela cerveja do jovem mestre Andr Buitoni, de guas Mornas

    artigoArmando Monteiro Neto, ministro do Desenvolvimento, Indstria e Comrcio Exterior

    IndstriaCompetitividade

    &

    Federao das Indstrias do Estado de Santa Catarina

    PresidenteGlauco Jos Crte

    1 Vice-PresidenteMario Cezar de Aguiar

    Diretor 1 SecretrioEdvaldo ngelo

    Diretor 2 SecretrioCid Erwin Lang

    Diretor 1 TesoureiroAlfredo PiotrovskiDiretor 2 Tesoureiro

    Egon Werner

    Diretoria executiva

    Carlos Henrique Ramos FonsecaCarlos Jos Kurtz

    Carlos Roberto de FariasFabrizio Machado Pereira

    Jefferson de Oliveira GomesNatalino UggioniRodrigo Carioni

    Silvestre Jos Pavoni

    6

    10

    18

    26

    32

    56

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    36

    SUMRIO

    Direo de contedo e edioVladimir Brando

    Jornalista responsvelElmar Meurer (984 JP)

    Coordenao de produoMarcelo Lopes Carneiro

    Edio de arteLuciana Carranca

    Edio de fotografiaEdson Junkes

    Produo executivaMaria Paula Garcia

    RevisoLu Coelho

    Colaboradores da edioDigenes Fischer, Fabrcio Marques,

    Maurcio Oliveira e Mauro Geres (textos); Eduardo Cesar

    e Ivan Ansolin (fotos)

    Apoio editorialIvonei Fazzioni, Elida Ruivo,

    Miriane Campos, Dami Radin, Leniara Machado, Fbio Almeida

    e Heraldo Carnieri

    ComercializaoAlexandre Damasio/CIESC

    [email protected](48) 3231 4670

    www.fiescnet.com.br

  • Indstria & Competitividade 76 Santa Catarina > Maro > 2015

    ENTREVISTA

    buies para o INSS e o Fundo de Garantia por Tempo de Servio (FGTS). Mas a previ-dncia no faz parte da CLT, nem o FGTS. A CLT detalhista. Veja o caso do descanso se-manal remunerado. O trabalhador da indstria tem direito a descansar no domingo e receber o salrio de um dia. Isso, desde que no tenha faltado durante a semana. Por que isso foi fei-to? Porque, naquela poca, a mo de obra no tinha a disciplina da vida industrial. A CLT deu um prmio para quem no falta. Hoje isso no tem o menor sentido. Muita gente costuma di-zer que o 13 encarece o salrio. No verda-de. Joo Goulart era o presidente da Repblica em 1963 e criou de repente o 13 salrio. Mas isso foi ajustado no preo. A inflao de 100%

    naquele ano ajudou a diluir o custo. O salrio mensal caiu para acomodar o 13. Mas veja o paternalismo. O Estado estava dizendo o se-guinte: trabalhador, voc um irresponsvel, ento eu vou guardar um salrio para voc. As-sim, voc pode comprar uma boneca para sua filha no Natal. Essa a CLT. Mas ela no enri-jece o mercado de trabalho, porque a qualquer momento se pode demitir.

    Qual o impacto da legislao trabalhista

    na competitividade da indstria brasileira?

    Ela um problema. A Consolidao das Leis do Trabalho (CLT) foi criada nos anos 1930,

    1940. O Brasil era um pas agrcola iniciando

    a industrializao. A mo de obra vinha do mundo rural e no estava acostumada disci-plina da vida industrial. O presidente Getlio Vargas no queria passar por uma crise pol-tica, com sindicatos nas ruas pedindo legisla-o, e se antecipou. Fizemos a industrializao com um olhar protetor, paternalista, interven-cionista e cooptador do Estado. Hoje, o Pas

    outro. Nossos trabalhadores no precisariam desse carinho que sufoca, que a CLT. Est mais do que na hora de pensar numa legisla-o alternativa.

    Qual o prejuzo dessa rigidez?

    Os empresrios dizem que a CLT enrijece o mercado de trabalho, que muito onerosa. Na verdade, o salrio em si baixo. Mas sobre o salrio se recolhem tributos, como as contri-

    Menos paternalismo, mais negociao

    A legislao trabalhista do Brasil precisa ser revista em nome da competitividade da indstria e uma alternativa substituir a proteo da lei pela proteo das

    negociaes entre patres e empregados, capazes de eliminar amarras obsoletas e prevenir litgios. o que afirma, nesta entrevista exclusiva, o economista Hlio Zylberstajn, professor livre-docente da FEA-USP e presidente da

    Associao Instituto Brasileiro de Relaes de Emprego e Trabalho (Ibret).

    Por Fabrcio Marques

    ser substituda pela fonte de proteo negocia-da. Contratos poderiam ter validade legal sem estar sob o guarda-chuva da CLT. preciso ter

    cuidado, para no corrermos o risco de trans-formar o mercado de trabalho numa selva.

    Como seria na prtica?

    H uma proposta do Sindicato dos Metalrgi-cos do ABC, de um contrato coletivo especfi-co, em que o sindicato pudesse negociar com a empresa alguns pontos da CLT. As meta-lrgicas, quando engravidam, tm seis meses de licena maternidade. Elas gostariam que o sexto e o stimo ms fossem meses de tran-sio. Em vez de ficar em casa o sexto ms

    inteiro, ficariam meio dia em casa e meio dia

    no trabalho durante dois meses, porque a fa-riam a transio da desamamentao do beb. A CLT no permite essa meia licena. Estou pensando em algo mais ousado: a substituio da CLT pela forma negociada de proteo. A negociao que substituiria a lei teria de obe-decer Constituio e o resto seria regulado

    No custa caro?

    Para quem trabalhou um ano, a demisso custa um salrio e meio. Aparentemente no cara porque milhes e milhes de demisses ocor-rem. O Brasil, por ano, contrata 20 milhes de

    trabalhadores e demite 19 milhes. O uso da demisso virou um instrumento de gesto. No nosso modelo, no h espao para dilogo no local de trabalho. O dilogo ocorre litigiosa-mente na Justia do Trabalho. So 2,3 milhes

    de reclamaes por ano. Essa a disfunciona-lidade do sistema: uma legislao paternalista e obsoleta, que acaba induzindo o litgio. Muitos

    advogados trabalhistas tm espies nos depar-tamentos de RH e vo atrs dos demitidos. Em geral, o nosso juiz enviesado. Vai procurar uma indenizao, uma conciliao, mesmo que no seja o caso. A liberdade de demitir sai caro. Mas o sistema no rgido. ineficiente.

    Como evoluir?

    No d para revogar a CLT, mas poderamos

    permitir que a fonte de proteo da lei pudesse

    Schwartsman: produtividade

    requer investimento em infraestrutura,

    retomada de reformas e melhor educao

    Zylberstajn: sem um espao para terceirizao na indstria, ela perder competitividade

    edu

    ard

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    esa

    r

  • Indstria & Competitividade 98 Santa Catarina > Maro > 2015

    pela negociao. Os conflitos poderiam se re-solver por sistemas de mediao, de arbitragem.

    E quanto terceirizao?

    Quando se comeou a terceirizar no Brasil,

    embora o discurso fosse a busca da eficincia e

    da especializao, a realidade era diferente, pois o sindicato que representa os terceirizados em geral mais fraco. Mas se no encontrarmos no Brasil um espao para a terceirizao, va-mos perder competitividade. A tecnologia, o satlite, o computador e a internet permitiram a coordenao da produo de forma horizon-tal e global. Vou reduzir custos espalhando a produo, terceirizando partes do que eu fao e coordenando essa cadeia. Se no pudermos fazer isso no Brasil, estare-mos fora desse bonde. Mas mudanas recentes,

    como a da Norma Regula-

    mentadora n 12, no so

    animadoras.

    Esta NR-12 uma coisa

    brutal. Est impondo um custo insuportvel para a adaptao das mquinas do parque industrial brasileiro. O argumento : a vida humana no tem pre-o. verdade. Mas at hoje a gente trabalhou

    assim. E de repente a minha mquina no ser-ve e eu tenho que trocar? Algum ponto mdio deveria ser encontrado, mas o dilogo difcil.

    Como a questo do seguro-desemprego entra

    nessa discusso?

    O seguro-desemprego uma conquista impor-tante, mas precisa ter um desenho que reduza o uso excessivo e incentive a busca de empre-go. Se for muito generoso e for pago durante muito tempo, ele desestimula a procura por

    trabalho. H uns 20 anos era complicado obt--lo. O trabalhador era desligado e enfrentava filas enormes no Ministrio do Trabalho. O

    Governo, em vez de melhorar isso, obrigou as empresas a preencherem a requisio. Virou uma coisa automtica. O trabalhador demi-tido e vai Caixa Econmica. Ningum per-gunta se ele tentou arrumar emprego. Estamos gastando muito com o seguro. Para o Gover-no, a causa era a rotatividade. Ela aumentou, mas por iniciativa do trabalhador, que quando pede as contas no o recebe. O que aumentou a despesa foi a maior formalizao e o cresci-mento do salrio mnimo. Agora que entramos

    em uma estagnao, talvez recesso, haver de-misses e vai se precisar gastar com o seguro-

    -desemprego. Mas os cor-tes do Governo nessa rea atingiro os trabalhadores mais jovens e mais vulne-rveis. O ideal seria pensar em alternativas.

    De que tipo?

    Em vez de demitir, a em-presa mantm os traba-lhadores. Eles trabalham a metade ou dois teros da

    jornada, com reduo proporcional do sal-rio. O seguro-desemprego poderia aportar um complemento de salrio. O Governo gastaria menos e os trabalhadores seguiriam emprega-dos. medida que se recuperasse a produo, isso poderia ser eliminado. No fundo, ns te-mos dois seguros-desemprego no Brasil, por-que o FGTS tambm um seguro-desempre-go. Ele foi feito para substituir a indenizao em caso de demisso para quem tinha muito tempo de casa. E depois ns criamos o segu-ro-desemprego. Parece-me bvio que o que a gente precisa fundir os dois num s.

    Fizemos a industrializao com um olhar paternalista

    e cooptador do Estado. Hoje, o Pas outro. Est mais do que na hora de pensar numa legislao

    alternativa CLT

    ENTREVISTA

    A PORTONAVE EST EM UMA LOCALIZAO PRIVILEGIADA:

    EM PRIMEIRO LUGAR NA MOVIMENTAO

    DE CONTINERES EM SANTA CATARINA.

    M A I S Q U E U M P O R T O , U M P O L O L O G S T I CO CO M P L E T O .A Portonave o porto responsvel pela movimentao de 45% das cargas conteinerizadas de Santa Catarina e est preparada para aumentar cada vez mais esse nmero. Com investimentos em infraestrutura e equipamentos, est inserida em um complexo porturio consolidado e com servios integrados. Venha crescer com a Portonave.

    POR 0002-13HX AN FIESC 175x255MM.pdf 1 02/03/15 11:29

  • Indstria & Competitividade 1110 Santa Catarina > Maro > 2015

    Robustas,

    Assim so As mquinAs industriAis de novA gerAo produzidAs

    em sAntA CAtArinA. Com AltA teCnologiA embArCAdA e voltAdAs A

    demAndAs espeCfiCAs, elAs Conseguem suplAntAr As importAdAs

    por Digenes Fischer

    Bens de capItal

    na indstria de confeco, o bom aprovei-tamento da matria-prima e a qualidade do corte do tecido so cruciais para ga-rantir economia de custos e qualidade do pro-

    duto final. Com setores de corte ainda baseados

    em processos manuais, muitas pequenas e m-

    dias confeces costumam enfrentar um dilema

    quando surge uma oportunidade de aumentar

    a produo. mais encomendas implicam na con-

    tratao de mais pessoas para trabalhar no corte,

    mas cada vez mais difcil encontrar cortadores

    capacitados no mercado. uma soluo para esse

    gargalo da produtividade destas indstrias surgiu

    h pouco mais de seis anos nos laboratrios de

    uma empresa catarinense.

    lanada em 2008, a Audaces neocut foi a

    primeira mquina de corte automatizado de fa-

    bricao brasileira. At ento, o investimento

    necessrio para adquirir e manter uma mquina

    importada praticamente inviabilizava a automa-

    o industrial nas confeces de menor porte. o

    equipamento importado s vivel para quem

    produz no mnimo 500 mil peas/ms. no nosso

    caso, temos muitos clientes que compraram uma

    mquina e comearam cortando 10 mil peas/

    ms, afirma Cludio grando, presidente da Au-

    daces, empresa especializada em solues de

    automao para a indstria com sede em floria-

    npolis. As empresas menores que investem em

    um equipamento desses buscam uma produo

    extremamente enxuta, flexvel e gil. percebe-

    mos que 100% das empresas que automatizaram

    sua sala de corte cresceram. Hoje temos muitos

    clientes que conseguem perceber uma tendncia

    nova e em uma semana ter um produto na rua,

    observa grando.

    progresso tecnolgico

    Alm de ser um exemplo de como a chegada

    de uma nova tecnologia capaz de alavancar o

    desempenho de uma indstria, o caso da mqui-

    na de corte da Audaces mostra o papel essencial

    do segmento de bens de capital nos esforos para

    aumentar a competitividade das empresas catari-

    nenses. As mquinas e equipamentos impulsio-

    nam a produo e impem o progresso tecnolgi-

    co aos demais segmentos industriais, assim como

    as inovaes tecnolgicas elevam a qualidade dos

    produtos, diz silvio Cario, professor do departa-

    mento de economia da universidade federal de

    santa Catarina (ufsC).

    importante ter essa indstria no estado na

    medida em que ela produz efeitos sobretudo para

    trs na cadeia produtiva, alm de gerar novos pro-

    dutos, renda e emprego, ressalta. o estado de san-

    ta Catarina um dos principais produtores brasilei-

    ros de mquinas e equipamentos, responsvel por

    6% do valor bruto da produo industrial do pas,

    segundo o ibge. o setor enfrenta a forte concorrn-

    cia de mquinas importadas, que se tornaram mais

    competitivas graas ao cmbio nos ltimos anos

    (veja os quadros).

    parte das indstrias ainda est voltada produ-

    o de mquinas padronizadas, com pouco apor-

    te tecnolgico e baixo nvel de automao, mas E inteligentes

    porm flexveis.

    Grando, da Audaces: ambiente multitecnolgico favorece o setor

    EdSo

    n J

    un

    kES

  • Indstria & Competitividade 1312 Santa Catarina > Maro > 2015

    cada vez maior o nmero de empresas catarinen-

    ses que investem na produo e desenvolvimento

    de mquinas com tecnologia embarcada, produ-

    zidas sob encomenda e voltadas para demandas

    especficas. so as chamadas mquinas inteligen-

    tes, com elevado valor agregado. um segmento

    onde a concorrncia ocorre via personalizao e

    diferenciao produtiva, e no apenas pelo preo,

    diz Cario, ressaltando que para isso so necessrios

    investimentos em pesquisa e desenvolvimento, la-

    boratrios de testes, consultorias externas, alm de

    manter uma relao prxima com universidades e

    centros de pesquisa.

    santa Catarina se destaca pelo seu ambiente

    multitecnolgico, com uma

    diversidade muito saudvel

    para as indstrias de bens de

    capital. Alm de pessoal alta-

    mente capacitado, ns temos

    muitos polos de tecnologia

    de software, eletrnica e me-

    catrnica, acrescenta Cludio

    grando. Acabamos formando

    uma rede de conhecimento,

    com empresas trocando mui-

    ta informao entre si e s ve-

    zes at se tornando fornece-

    doras umas das outras. Antes

    de comear a fabricar plotters

    Lichtblau, da Automatisa: foco em calados e confeces

    industriais e mquinas de corte, a Audaces se es-

    pecializou no desenvolvimento de softwares para

    empresas do setor txtil, mercado que atende

    desde 1997, quando deu seus primeiros passos na

    incubadora Celta, da fundao Certi. em 2001 co-

    meou a produzir os primeiros plotters para con-

    feco at lanar sua primeira mquina de corte,

    sete anos depois.

    passar de desenvolvedor de software para

    fabricante de mquinas e equipamentos exigiu

    muita pesquisa e investimento, com a agregao

    de conhecimentos de eletrnica, mecnica e en-

    genharia de produo. A tecnologia foi trabalhada

    internamente por trs anos antes do lanamento

    da primeira mquina. os in-

    vestimentos incluram a inau-

    gurao de um parque fabril

    em palhoa, na grande flo-

    rianpolis, para a montagem

    das mquinas. desde ento

    somos capazes de automati-

    zar todo o processo da inds-

    tria de confeco, dos dese-

    nhos do estilista at o tecido

    cortado, conta grando. Hoje

    o setor txtil ainda respon-

    svel por 80% da carteira de

    clientes da Audaces, mas ela

    tambm vende verses adap-

    tadas de suas mquinas de corte para as indstrias

    automobilstica, aeronutica e naval, bem como

    para fabricantes de blindados, bolsas e estofados.

    ps-venda

    Com uma trajetria semelhante, a Automati-

    sa tambm comeou sua trajetria incubada no

    Celta e teve como primeiros clientes indstrias do

    ramo txtil. sediada em so Jos e especializada

    em mquinas de corte e gravao a laser, a empre-

    sa cresceu atendendo encomendas de mquinas

    customizadas, com ateno especial para o servio

    pr e ps-venda, incluindo consultoria no processo

    produtivo que o cliente pretende implantar, treina-

    mento de operadores e garantia de at dois anos.

    oferecemos todo esse servio acoplado ao bem

    de capital, o que d ao nosso cliente uma posio

    muito mais tranquila, explica marcos lichtblau,

    presidente da Automatisa. Atualmente, 50% dos

    clientes ainda so do setor de confeco. A outra

    metade composta principalmente por inds-

    trias de calados e de processamento de acrlico

    para comunicao visual e brindes, alm de alguns

    clientes do ramo automotivo e metalmecnico.

    A inovao e o desenvolvimento de novos

    produtos so pontos-chave na estratgia de cresci-

    mento. em setembro passado a Automatisa lanou

    uma verso de mquina de corte a laser adaptada

    para processamento de jeans. o equipamento

    capaz de reproduzir as tcnicas mais comuns bi-

    gode, lixado, used, destroyed, pudo , assim como

    estampas e gravao de imagens e cenrios. Alm

    de padronizar e agilizar o beneficiamento das pe-

    as, a tecnologia traz um benefcio ambiental ao

    reduzir o volume de efluentes

    emitidos pela indstria. Com

    o uso do laser, os processos

    Bens de capItal

    Desempenho estvelVBPI da indstria de mquinas e equipamentos de Santa Catarina

    (em R$ bilhes)

    Fonte: IBGE PIA, 2012; FGV, 2012. Valores deflacionados pelo IPA-oG a preos de 2012obs: VBPI (Valor Bruto da Produo Industrial)

    5,36,13

    6,69 6,83

    2009 2010 2011 2012

    A forA DAs mquinAs Brasil santa Catarina participao de sC

    * VBPI (2012) R$ 105,6 bilhes R$ 6,3 bilhes 6,0%Empresas (2013) 14.712 1.556 10,6%Empregos (2013) 428.140 43.527 10,2%Exportaes (2014) US$ 10,3 bilhes US$ 928,6 milhes 9,0%Importaes (2014) US$ 28,9 bilhes US$ 1,8 bilho 6,4%

    Fonte: IBGE PIA, 2012; FGV, 2012; TEM RAIS, 2013; MdIC. (*) VBPI (Valor Bruto da Produo Industrial)

    edso

    n J

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    kes

  • Indstria & Competitividade 1514 Santa Catarina > Maro > 2015

    Schmidt, da Indumak: primeiro rob paletizador fabricado no Brasil

    de lavanderia ficam mais rpidos, o consumo de

    gua reduzido metade e o uso de qumicos

    pode ser evitado, acrescenta lichtblau.

    A diversificao da linha de produtos com

    solues ambientalmente responsveis tambm

    foi o caminho adotado por uma veterana no seg-

    mento de bens de capital. prestes a completar 45

    anos, a Albrecht, de Joinville, tem sua trajetria

    ligada ao fornecimento de mquinas para inds-

    tria txtil, mas seus equipamentos para secagem

    de lodos tm alcanado destaque expressivo no

    mercado nacional, principal-

    mente nos segmentos de

    saneamento e tratamento

    de resduos industriais. o

    segmento txtil trouxe-nos

    o reconhecimento como fa-

    bricante de mquinas e nos

    apresentou uma oportuni-

    dade quando identificamos

    a necessidade de reduzir o

    volume de lodo gerado nas

    estaes de tratamento de

    efluentes, conta Waldir Al-

    brecht, diretor-presidente da

    empresa. A partir do desen-

    volvimento do secador de lodos, em 2000, abri-

    ram-se portas de outros segmentos geradores de

    resduos, incluindo indstrias de papel e celulose,

    curtumes e frigorficos. Hoje a Albrecht mantm

    trs linhas de produtos para diferentes aplicaes:

    a linha azul, que inclui mquinas para beneficia-

    mento txtil; a linha verde, voltada para a rea am-

    biental; e a linha amarela, focada em sistemas au-

    tomatizados de movimentao e armazenagem.

    produto ecovivel

    na rea txtil, a Albrecht pioneira na fabrica-

    o de equipamentos contnuos de lavao, com

    mquinas capazes de processar tecidos com con-

    sumo de gua 80% inferior aos processos conven-

    cionais. um produto ecovivel, representando

    um ganho produtivo com economia de gua e

    energia, observa Albrecht. no setor de papel e

    celulose, ele destaca o equipamento para seca-

    gem de lodos que reduz drasticamente a quanti-

    dade de resduos destinados a aterros sanitrios.

    esse projeto nasceu em 2003, nos ensaios de

    prototipagem da empresa, e evoluiu em parceria

    com os clientes, alm da ufsC e da finep, em-

    presa de inovao e pesquisa vinculada ao minis-

    trio da Cincia e tecnologia.

    no segmento de saneamen-

    to, h outro projeto com alto

    grau de p&d e pioneiro no

    brasil: um secador de lodos

    combinado com gerador de

    calor para secagem trmica

    e cogerao de energia el-

    trica a partir do biogs.

    outra empresa catari-

    nense com grande tradio

    no mercado brasileiro de

    bens de capital a indumak,

    de Jaragu do sul, espe-

    cializada em solues para

    empacotamento, enfardamento e paletizao

    de produtos industriais. fundada em 1963, co-

    meou como uma oficina de tornearia e hoje

    conta com mais de 8,5 mil mquinas instaladas

    no brasil e no exterior, e um parque fabril de

    5.150 metros quadrados. desde o incio nossa

    caracterstica foi trabalhar com produtos da cesta

    bsica: arroz, farinha, acar, etc. Atendamos ba -

    sicamente agroindstrias, diz gelson schmidt,

    diretor-presidente da empresa. mas como o

    mercado de produtos agrcolas sofre muita os-

    cilao, acabamos dependendo muito do rumo

    do agronegcio. mais uma vez, a soluo para

    crescer foi diversificar a produo, buscando

    clientes na rea de construo civil (com mqui-

    nas para acondicionamento de produtos como

    argamassa, rejunte e tinta em p) e tambm na

    indstria de componentes eltricos e hidrulicos

    (plugs, adaptadores, interruptores).

    A inovao e a prospeco de novos mer-

    cados mantiveram a empresa competitiva ao

    longo do tempo. H dez anos, um segmento

    at ento inexplorado pela empresa comeou

    a migrar fortemente do trabalho manual para a

    produo automatizada: a indstria de empaco-

    tamento de gelo. na avaliao do presidente da

    indumak, existem hoje cerca de 130 mquinas

    instaladas em empresas fabricantes de gelo em

    todo o brasil. dessas, 115 foram fabricadas pela

    empresa de Jaragu do sul. A indumak comeou

    a explorar este segmento h dez anos e hoje

    detm cerca de 90% do market share nacional.

    A quantidade de mquinas instaladas ainda

    pouca, mas so equipamentos de grande valor

    agregado que custam entre r$ 200 mil e r$ 230

    mil, diz schmidt.

    A necessidade de agregar mais tecnologia

    e valor a seus produtos fez com que a indumak

    investisse na criao de

    uma diviso especfica de

    robtica para desenvolver

    o primeiro rob paletizador

    fabricado no brasil. lanado em 2011, o rob vem

    com um software que prev a real aplicao do

    cliente, sugerindo e definindo a melhor forma de

    empilhamento e organizao dos produtos sobre

    o pallet. Alm de ser capaz de giro em 360, o bra-

    o robtico permite a troca do sistema de garras,

    o que possibilita seu uso com fardos, caixas ou

    sacarias. A exigncia dos clientes por uma solu-

    o na fase final de empacotamento, somada

    dependncia de um fornecedor para importao,

    fez com que optssemos por desenvolver nosso

    prprio projeto, afirma schmidt.

    percebendo a mesma necessidade junto a

    seus clientes na indstria agroalimentar do oes-

    te catarinense, Claudimar bortolin, fundador da

    torfresma industrial, chegou mesma concluso

    que schmidt: a paletizao robotizada era uma

    tendncia que vinha para ficar. tive essa per-

    cepo ainda em 2009, quando a agroindstria

    Bens de capItal

    ren

    Ald

    o J

    un

    kes

    BurACo nA BAlAnASaldo do comrcio exterior de bens de capital (exportaes menos importaes) em US$ milhes

    Ano Brasil santa Catarina

    2011 -17.603,8 -646,7

    2012 -18.475,5 -632,7

    2013 -21.944,9 - 809,9

    2014 -18.552,5 - 917,6Fonte: MdIC

  • Indstria & Competitividade 1716 Santa Catarina > Maro > 2015

    mentos para desenvolver

    uma cadeira ergonmica

    para os trabalhadores que

    faziam funes repetitivas

    na empresa. Com o sucesso do produto, Claudi-

    mar passou a oferec-lo para outras companhias

    alimentcias e conhecer de perto o ambiente de

    produo. eu ia demonstrar a minha

    cadeira em uma sala de corte de carne

    e ficava s imaginando quantas opor-

    tunidades havia ali para desenvolver

    novos equipamentos.

    essa aproximao fez com que, a

    partir do ano 2000, ele decidisse mu-

    dar o foco e se dedicar inteiramente a

    solues para o segmento frigorfico.

    tudo corria bem at 2008, quando a

    empresa chegou ao seu pice de capa-

    cidade produtiva depois de assinar um

    contrato para equipar um complexo

    da sadia em lucas do rio verde (mt).

    mas a a crise atingiu a agroindstria e

    tivemos que buscar uma sada no de-

    Bortolin (esq.), na linha de produo da Torfresma: crise abriu oportunidade

    entrou em crise e tivemos que inovar em nossos

    produtos ao mesmo tempo que atendamos a

    uma demanda por mais produtividade e eficin-

    cia na cadeia produtiva, conta bortolin. ex-aluno

    do senai, ele criou a empresa em 1993 para pres-

    tar servios de tornearia, fresagem e manuteno.

    em 1998, recebeu uma encomenda da Aurora Ali-

    senvolvimento de novas linhas de produtos mais

    de acordo com os novos tempos, conta bortolin.

    Com o desenvolvimento de um rob paletizador

    especfico para o setor, a empresa conseguiu no-

    vamente a ateno do mercado, e acabou se tor-

    nando a propulsora da automao no segmento

    frigorfico no pas.

    emirados rabes

    Contando atualmente com 210 colabora-

    dores e uma rea fabril de mais de 6 mil metros

    quadrados, a torfresma tem ampliado sua atu-

    ao para alm dos frigorficos, atendendo ou-

    tras reas da indstria alimentar com lavadoras

    e esterilizadoras, mquinas para produo de

    alimentos industrializados, transferncia e logs-

    tica de caixas, empacotadoras e encaixotadoras

    automticas. As solues so modulares e custo-

    mizveis a todo tipo de estrutura produtiva. pos-

    so dizer que a cada 10 agroindstrias brasileiras,

    pelo menos seis tm hoje algum equipamento

    da torfresma instalado.

    no ano passado, a empresa fechou contrato

    com a brf para fornecer mquinas para a fbrica

    de Abu dhabi, nos emirados rabes unidos. so

    mquinas para a linha automtica de hambr-

    gueres, steaks e empanados. primeiro fomos cha-

    mados para projetar o fluxo do processo de em-

    balagem dos hambrgueres. depois, a brf pediu

    oramento a fabricantes de mquinas de diversos

    pases e acabamos conquistando tambm o pe-

    dido de parte das mquinas da planta no oriente

    mdio, conta bortolin, que mesmo assim prioriza

    95% das suas vendas para empresas brasileiras.

    temos um grande mercado no brasil para aten-

    der e muito espao para implantar a automao

    em diversos setores produtivos.

    Bens de capItal

    ivA

    n A

    nso

    lin

    /Ag

    nC

    iA iA

    f

    EUA Mxico Argentina Paraguai China

    China Alemanha Itlia EUA Noruega

    18 13 8 7 5

    48 10 7 7 4

    prinCipAis Destinos DAs eXportAes De sC (% - 2014)

    prinCipAis oriGens DAs importAes De sC (% - 2014)

    obs: de bens de capital

  • Indstria & Competitividade 1918 Santa Catarina > Maro > 2015

    Diante De perturbaDores cenrios De escassez De recursos e Da

    possibiliDaDe De proporcionar mais conforto, a construo civil

    avana no conceito De green builDing

    por Maurcio Oliveira

    Marcelo Gomes e o Office Green:

    conceito ampliado de construo

    sustentvelEdSo

    n J

    un

    kES

    SUSTENTABILIDADE

    prdios futurodo

    Osj esto de p

    impulsionado pela vulnerabilidade hdrica que atingiu em cheio o brasil, o conceito de green building como so conhecidas internacional-mente as edificaes sustentveis ganha espao

    na construo civil. so projetos que incorporam

    uma srie de benefcios ambientais, a exemplo

    de reuso de gua, gerao prpria de energia e

    aproveitamento da iluminao natural. alm de

    se habilitar a enfrentar os desafios da escassez,

    esse mercado se alimenta do fato de que inves-

    timentos na sustentabilidade das construes se

    relacionam com o conforto e a sade de quem vai

    ocupar os imveis.

    um estudo divulgado no final do ano passado

    pelo World green building council, que concede a

    certificao leeD (leadership in energy and envi-

    ronmental Design), considerada a mais importante

    do setor, relacionou atributos do projeto e dos ma-

    teriais usados em edifcios comerciais ao desempe-

    nho dos profissionais e aos ndices de absentes-

    mo, licenas mdicas e at nveis de rotatividade.

    De acordo com o estudo, a melhoria do ar interior,

    com altas taxas de ventilao e baixas concentra-

    es de dixido de carbono, pode ser responsvel

    por elevar a produtividade em at 11%. algo seme-

    lhante ocorre em relao poluio sonora, que

    irrita e provoca distraes. mas o fator considerado

  • Indstria & Competitividade 2120 Santa Catarina > Maro > 2015

    naturais. Do custo total de um prdio em seus 50

    anos de vida til, apenas 20% esto na construo

    e 80% estaro na manuteno ao longo do tempo.

    Quem conhece e entende esse grfico percebe o

    quanto importante investir em sustentabilidade

    na fase da construo, diz gomes.

    a evoluo tecnolgica e a maior escala de

    adoo das tcnicas e equipamentos relacionados

    sustentabilidade levaram a uma queda dos pre-

    os na ltima dcada. o custo de construo de

    um prdio sustentvel fica ainda em torno de 15%

    acima do cub, mas essa diferena j foi bem maior

    e agora pode ser recuperada num horizonte de cin-

    co anos, diz o diretor administrativo e de qualidade

    1.060empreendimentos

    possuem certificao LEED no Brasil.

    S os EUA e a China tm mais

    balhadores, seguindo a proposta de construir um

    bairro em que as necessidades principais da vida

    se concentrem numa rea reduzida e verticaliza-

    da, tendncia do urbanismo contemporneo.

    a sustentabilidade dos prdios comerciais

    um atributo essencial do empreendimento, mas

    nem sempre fcil convencer os clientes em po-

    tencial de que vale a pena pagar um pouco mais

    por detalhes que no do retorno imediato. um

    exemplo so os ps-direitos altos, com 2,95 metros

    do piso laje 35 centmetros acima do padro do

    mercado , fator que contribui para o isolamento

    acstico entre os pisos e maior conforto trmico,

    com aproveitamento de ventilao e iluminao

    comerciais do prdio j foram vendidas.

    o atrium, outro prdio de escritrios que est

    em construo na pedra branca, com 192 salas e

    entrega prevista para setembro de 2016, foi proje-

    tado para chegar categoria ouro da leeD, faixa

    de pontuao que vai de 60 a 80. os principais

    ganhos em relao ao office green

    esto na otimizao da performan-

    ce energtica, com um sistema de

    ar-condicionado capaz de atingir a

    mesma eficincia utilizando menos

    energia, e o melhor desempenho

    dos vidros na misso de reduzir o

    calor sem prejudicar a luminosida-

    de. Dentro do conceito ampliado de

    sustentabilidade que o projeto ado-

    ta h tambm a preocupao em

    contemplar expectativas dos novos

    profissionais, como a de desfrutar

    ambientes de trabalho mais flex-

    veis, descontrados e conectados a outras dimen-

    ses do cotidiano por conta disso, o hall de en-

    trada do atrium ter lojas, cafs e salas comerciais.

    Queda de preos

    iniciado h 14 anos e impulsionado pela insta-

    lao do campus da universidade do sul de santa

    catarina (unisul), o projeto da cidade criativa pe-

    dra branca tem perspectiva de mais duas dcadas

    de desenvolvimento at alcanar o potencial de

    1,7 milho de metros quadrados de rea constru-

    da, suficiente para abrigar 40 mil moradores e 30

    mil trabalhadores a inteno que haja a maior

    interseo possvel entre esses grupos. cerca de

    12 mil pessoas j circulam diariamente pelo bairro,

    entre moradores, trabalhadores e estudantes. os

    prdios residenciais vo do luxo aos mais popula-

    res, diversidade que permite o convvio de classes

    sociais e a disponibilidade de diversos tipos de tra-

    mais decisivo para a produtividade a proximida-

    de com grandes janelas, especialmente quando

    voltadas a paisagens agradveis da natureza.

    J foram emitidos 1.060 certificados leeD

    no pas, a maior parte para imveis de natureza

    comercial, a exemplo de prdios de escritrios,

    shoppings e hotis. o primeiro

    edifcio comercial catarinense

    a obter o certificado o office

    green, localizado na praa cen-

    tral da cidade criativa pedra

    branca, um bairro planejado de

    palhoa que tem como prin-

    cpio possibilitar que moradia,

    trabalho, estudo e lazer se con-

    centrem em um mesmo ncleo

    urbano, reduzindo a necessida-

    de de deslocamentos. o bairro

    incorpora um conceito mais am-

    plo de construo sustentvel,

    que abrange todo o ambiente em torno dos im-

    veis. o escritrio sustentvel apenas parte de

    uma vida sustentvel, um elemento que precisa

    estar integrado s outras dimenses do cotidia-

    no. De pouco adianta sair de um prdio bem pla-

    nejado e pegar quilmetros de engarrafamento

    para chegar em casa, afirma o diretor-executivo

    do empreendimento, marcelo gomes.

    inaugurado no ano passado, o office green

    obteve 57 pontos num total possvel de 100, o

    que o colocou na categoria prata da certificao

    do leeD. contriburam para o reconhecimento

    aspectos como o uso de materiais ambiental-

    mente corretos tintas base de gua, cermica

    nas fachadas, ao reciclado, madeira certificada

    e a utilizao consciente da gua e da energia

    eltrica, com lmpadas ecoeficientes, sensores

    de presena, elevadores inteligentes, aprovei-

    tamento da chuva e sistemas hidrulicos que

    proporcionam economia. Duzentas das 180 salas

    SUSTENTABILIDADE

    EdSo

    n J

    un

    kES

    Baptista, diretor da Dgitro, e desenho

    do prdio da empresa: vidros com pelculas

    barram o calor

  • Indstria & Competitividade 2322 Santa Catarina > Maro > 2015

    para uma semana de uso a iniciativa compro-

    vou ser to vantajosa que a capacidade est sen-

    do ampliada para 100 mil litros. alm da diminui-

    o dos custos, a estrutura livra a empresa e seus

    funcionrios de sofrer com as crises sazonais de

    fornecimento de gua.

    os vidros do prdio tm pelculas que deixam

    passar praticamente 100% de luminosidade, mas

    apenas 30% do calor, combinao que represen-

    ta uma reduo considervel na necessidade de

    aparelhos de ar-condicionado. para melhorar ainda

    mais o desempenho do sistema, clulas fotovoltai-

    cas em implantao vo produzir energia suficiente

    para a iluminao interna diurna. outro truque a

    cor branca escolhida para as

    paredes do prdio que so

    revestidas de pastilhas, para

    reduzir o custo da manuten-

    o com tinta e tambm

    para o telhado, o que aumen-

    ta o ndice de reflexo da luz

    solar. esses detalhes fazem a

    temperatura interna ser redu-

    zida em um grau e meio.

    atento crescente de-

    manda por construes

    sustentveis, o sindicato da

    indstria da construo civil

    (sinduscon) da grande flo-

    rianpolis criou no final do ano passado o selo

    verde, em parceria com a fatma, para certificar

    empreendimentos com planos adequados de

    gesto ambiental e facilitar, nesses casos, o tr-

    mite das documentaes e licenciamentos. para

    o vice-presidente de meio ambiente e susten-

    tabilidade do sindicato, olavo Kucker arantes,

    a construo civil j evoluiu muito em relao

    a essas questes, mas a fase agora de investir

    na especializao dos profissionais envolvidos.

    estamos em um processo de franco amadureci-

    conceitualmente as duas grandes vocaes eco-

    nmicas da capital catarinense: o turismo, que est

    diretamente relacionado preservao do meio

    ambiente, e a tecnologia, setor de atividade da D-

    gitro, descreve baptista.

    no projeto da Dgitro, a captao da chuva

    supre todos os sanitrios, detalhe que contribui

    para que a conta de gua do prdio, frequentado

    por 500 funcionrios, no chegue a r$ 2 mil por

    ms. Duas horas de chuva abundante abastecem

    os 60 mil litros do reservatrio, volume suficiente

    R$ 16,6 bi Valor total das construes sustentveis no Brasil em

    2013, correspondente a 10% do PIB de edificaes

    da Dgitro, luiz aurlio baptista. incluem-se nessa

    projeo a queda das despesas com energia e gua

    e a economia com a manuteno do prdio.

    a Dgitro construiu a nova sede, na entrada de

    florianpolis, com base em uma srie de princpios

    pesquisados com cuidado ao longo de dois anos,

    que incluiu uma anlise criteriosa do know-how e

    da reputao dos fornecedores. alm da perspec-

    tiva de obter vantagens financeiras a longo pra-

    zo, o projeto foi desenhado tambm pelo ganho

    institucional que representaria. Decidimos fundir

    mento do setor, diz. Quem toma conhecimento

    das vantagens de um imvel verde percebe o

    real valor disso.

    Normas mnimas

    fornecedores da construo civil j percebe-

    ram. a tigre tem linhas de produtos sustentveis

    para prdios comerciais e industriais, que vo da

    canalizao de gua e esgoto rede de energia

    eltrica e telefonia. J a Docol, fabricante de me-

    tais sanitrios, lanou no fim do ano passado uma

    linha de torneiras e misturadores, a blend flex,

    que possibilita at 70% de economia de gua.

    a tecnologia Docolpresen-

    ce possibilita o acionamento

    de torneiras e descargas sem

    contato fixo e a interrupo

    do fluxo assim que o usurio

    se afasta. com essas e outras

    tecnologias, a Docol se gabari-

    ta como a maior fabricante de

    produtos economizadores de

    gua do brasil.

    J no plano institucional, o

    conselho brasileiro de cons-

    trues sustentveis (cbcs)

    lanou recentemente um am-

    plo estudo com sugestes de

    polticas pblicas e diretrizes para incentivar pro-

    jetos que promovam uso racional de gua, efici-

    ncia energtica e seleo adequada de materiais.

    as iniciativas consideradas mais importantes so o

    treinamento e a capacitao de projetistas e cons-

    trutoras; a ampliao das alternativas de incenti-

    vo e financiamentos; e a adaptao da legislao

    para estabelecer padres e normas mnimos de

    desempenho da construo civil. os desafios cada

    vez mais urgentes sugerem que no se perca tem-

    po em adotar as resolues.

    SUSTENTABILIDADE

    A fbrica 100%Na GM de Joinville no h gerao de resduos e a gua reciclada volta ao processo industrial

    As plantas industriais tambm esto se adaptando tendncia das construes susten-tveis. um bom exemplo catarinense a fbrica de motores e cabeotes da General Motors em Joinville. Inaugurada em 2013 aps investimen-tos de R$ 350 milhes, a unidade recebeu no ano seguinte a certificao LEEd categoria ouro, tornando-se a primeira fbrica do setor automo-tivo a obter a distino na Amrica Latina.

    um sistema de energia solar com 1.280 m-dulos fotovoltaicos foi instalado para aquecer 15 mil litros de gua por dia e iluminar a fbrica e os escritrios, o que evita um consumo equivalente ao de 220 residncias e a emisso anual de 17,6 toneladas de dixido de carbono. outro desta-que o sistema de osmose reversa para filtrar a gua reciclada e permitir seu uso industrial, re-sultando na economia de 22,9 milhes de litros por ano, volume de nove piscinas olmpicas. Cem por cento dos resduos industriais so reciclados, enquanto o esgoto e efluentes so tratados ini-

    FoTo

    S: d

    Ivu

    LGA

    o G

    M

    Panorama da fbrica de motores (no alto), jardins filtrantes e mdulos fotovoltaicos: LEED categoria ouro

    cialmente por meio de jardins filtrantes, que re-movem 90% dos poluentes sem utilizar produtos qumicos apenas a prpria vegetao e redu-zindo em 60% o consumo de energia eltrica.

  • Indstria & Competitividade 2524 Santa Catarina > Maro > 2014

    MaiS Calor, MenoS gua e ConSuMo eM alta requereM inovaeS eM larga eSCala da indStria de ConStruo Civil

    Tecnologia para tempos fechados

    Nos ltimos 50 aNos multiplicou-se por 3 a quantidade

    de gua retirada da natureza

    A disponibilidade hdrica no Brasil 4,5 vezes maior que a dos EUA e 21,5 vezes maior que a da China.

    Porm, 81,8% das guas disponveis se encontram na Amaznia

    Fontes: CBCS, Data360.org, Dgitro, EPE, GBC Brasil

    Consumo per capita de gua (litros por dia)

    O custo de implantao de um prdio sustentvel at 15% mais caro, mas as vantagens so evidentes

    seriam necessrios para suprir o consumo de gua

    da populao mundial, se todos consumissem tanto quanto os norte-

    americanos

    36,4%ndice de perdas na distribuio de

    gua tratada na Regio Sul do Brasil

    Aumento da temperatura mdia

    no Sul do Brasil previsto at o fim

    deste sculo

    3oC3,5 PLANETASTERRA

    Bens escassosgua e energia |

    Custo x Benefcioresultados |

    Como fazerPrdio sustentvel |

    ClulaS fotovoltaiCaS Convertem energia solar em eletricidade e contribuem com o sistema energtico do prdio du rante o dia

    BRiSeS Instalados nos beirais, bloqueiam o excesso de luz solar e atenuam a entrada de calor

    aqueCimento SolaR Utiliza a energia do sol para aquecer a gua usada nas pias e chuveiros

    vidRoS eSpeCiaiS Bloqueiam at 70% do calor, sem reduzir a luminosidade natural. Cumprem tambm a funo de isolamento acstico

    pintuRa ClaRa O uso de tinta branca nos telhados contribui para a reflexo da luz solar e reduz a absoro de calor

    paRede ReveStida de CeRmiCa O uso de pastilhas claras nas paredes externas contribui para refletir a luz solar e reduz custos com pintura

    Captao de gua Apro veitamento da gua da chuva para fins no potveis, especialmente descarga de sanitrios

    BeiRaiS amploS Facilitam a captao de gua da chuva e a manuteno externa do prdio

    Coleta Seletiva Separao por tipo de resduo, incluindo postos de coleta de materiais como leo de cozinha, lixo eletrnico, pilhas e baterias

    tRatamento de eflu enteS Processo biolgico que possibilita purificao de at 90%, com utilizao da gua resultante na irrigao dos jardins

    (*) caractersticas do prdio da Dgitro, em Florianpolis

    575

    366

    187

    eua

    374Japo

    mxico287

    frana

    O Brasil o quinto maior mercado mundial de condicionadores de ar

    A mdiA de 0,23 ApArelhos por domiClio.

    Em 2050 SEro 0,65

    30 %35 %50 %80 %

    8 % queda nos custos operacionais

    reduo mdia no consumo de energia

    diminuio de emisses de gases de efeito estufa

    reduo no consumo de gua

    diminuio no descarte de resduos gerados

    Brasil

    SUSTENTABILIDADE

    63 mILhESnmero de residncias no Brasil

    98 mILhESnmero estimado para 2050

    Consumo mdio residencial de energia (kWh/ms)

    Ano Brasil Santa Catarina

    2009 150,1 195,82010 154,0 195,2 2011 155,8 196,12012 158,9 199,12013 163,0 201,8

    do consumo total de energia eltrica do pas

    realizado pelas edificaes (incluindo residncias, edifcios

    comerciais e pblicos)

    48%

    Indstria & Competitividade 2524 Santa Catarina > Maro > 2015

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  • Indstria & Competitividade 2726 Santa Catarina > Maro > 2015

    De acordo o Ministrio da Educao e do IBGE,

    h 680 mil engenheiros empregados no Pas, mas

    apenas 42% atuam em sua rea de formao e pou-

    co mais da metade est na indstria. Cerca de 5%

    dos diplomados no Brasil so formados em enge-

    nharia, enquanto nos pases desenvolvidos a mdia

    de 12%. Sete em cada dez indstrias apontam a

    falta de pessoal qualificado como principal barreira

    para desenvolver inovaes, segundo a Pesquisa de

    Inovao Tecnolgica (Pintec) de 2011.

    para atender a essa demanda que a FIESC rea-

    liza em Lages, com a Universidade do Planalto Cata-

    rinense (Uniplac), um curso de engenharia de abor-

    dagem mais prtica, contando com o suporte dos

    laboratrios do SENAI. A escassez de profissionais

    especialmente sentida em perodos de crescimen-

    to econmico. A demanda por engenheiros cresce

    a um ritmo duas vezes maior do que a expanso

    do PIB industrial. Infelizmente, nos ltimos trs anos

    a demanda no vem sendo pressionada no Brasil,

    O ENSINO DE ENGENhArIA DEvE

    CONTEMPLAr COM MAIS INTENSIDADE

    AS DEMANDAS DA INDSTrIA E A

    vIvNCIA PrTICA DOS ALUNOS. A

    ACADEMIA, OS PrOFISSIONAIS E AS

    EMPrESAS TM A GANhAr COM ISSO

    Por Fabrcio Marques

    Lugar deestudante

    na fbricaMotivao do aluno depende da aplicao do conhecimento terico

    AgendA dA IndstrIA

    SHU

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    AConfederao Nacional da Indstria (CNI), por meio do movimento Mobilizao Em-presarial pela Inovao (MEI), lanou uma srie de recomendaes para modernizar os curr-

    culos dos cursos universitrios de engenharia, cuja

    configurao atual apontada como um gargalo

    no esforo da indstria brasileira para ampliar sua

    competitividade. Entre as mudanas propostas

    destaca-se o fortalecimento do vnculo entre a for-

    mao dos engenheiros e as demandas da inds-

    tria, criando disciplinas voltadas para a resoluo de

    problemas prticos j nos primeiros anos da gradu-

    ao e intensificando os estgios profissionais e a

    formao acadmica em parceria com empresas

    (veja o quadro).

    hoje, os estudantes passam geralmente os dois

    primeiros anos de faculdade envolvidos com disci-

    plinas tericas, com pouca ou nenhuma vivncia

    prtica, embora sejam forados a escolher j no

    vestibular entre mais de 30 especializaes na car-

    reira. Com dificuldade para perceber a aplicao

    do conhecimento, o aluno se desmotiva facilmen-

    te, afirma Paulo Ml, superintendente do Instituto

    Euvaldo Lodi (IEL), vinculado CNI. Esse problema,

    associado a deficincias no ensino de matemtica e

    fsica, produz um dramtico ndice de evaso: entre

    2001 e 2011, mais da metade dos alunos abando-

    nou os cursos de engenharia, segundo a CNI.

  • Indstria & Competitividade 2928 Santa Catarina > Maro > 2015

    Lezana, da UFSC: currculos esto sobrecarregados

    Paulo Ml, do IEL: residncia para engenheiros

    e trabalho em grupo. Para Ml,

    o exemplo da carreira de medi-

    cina inspirador: a formao

    consolidada com o perodo de residncia, quando

    os jovens profissionais se especializam realizando

    atividades remuneradas sob acompanhamento di-

    reto de mdicos especialistas.

    novos contedos

    lvaro Lezana, professor do departamento de

    engenharia de produo e sistemas da Universida-

    de Federal de Santa Catarina (UFSC), v com bons

    olhos uma aproximao mais estreita entre acade-

    mia e indstria. J temos contato com todos os se-

    tores industriais de Santa Catarina, que so bastante

    diversificados, diz, mas aponta alguns entraves para

    implementar as recomendaes da CNI. Um deles

    a sobrecarga dos currculos, que tm de contemplar

    exigncias estabelecidas pelo MEC e pelos conse-

    lhos de engenharia. Da forma como funciona hoje,

    h dificuldade em introduzir novos contedos vin-

    culados s demandas da indstria, explica.

    Ele observa que as prprias indstrias aprovei-

    tam pouco a capacidade prtica dos jovens enge-

    nheiros. medida que os engenheiros mostram

    servio no cho de fbrica, costumam ser rapida-

    mente deslocados para funes gerenciais, que

    nem sempre tm vnculo com suas habilidades

    tcnicas. A indstria, lembra Lezana, enfrenta a

    concorrncia do setor de servios, que recruta en-

    genheiros para funes que, originalmente, seriam

    mobilidade. Apenas ao final do

    segundo ano eles escolhem en-

    tre duas vertentes: veculos ou

    transportes. No final do terceiro ano, podem deixar

    o curso, recebendo diploma de bacharel interdis-

    ciplinar em mobilidade. Quem no sai e escolhe a

    rea de veculos tem, ento, cinco opes pela fren-

    te: engenharia automotiva, ferroviria e metroviria,

    naval, aeroespacial e mecatrnica. J quem prefere

    a linha de transporte deve

    optar por engenharia de in-

    fraestrutura ou de transpor-

    tes e logstica. No quarto

    ano de graduao, o aluno

    pode ingressar diretamen-

    te para o mestrado e seu

    trabalho de concluso de

    curso da graduao vale

    como projeto de mestra-

    do. Esse projeto poder ser

    feito dentro de uma empresa. O primeiro curso de

    mestrado comeou a ser oferecido em 2015.

    terceira lngua

    Enquanto a maioria das faculdades de enge-

    nharia prev estgios em empresas perto da forma-

    tura, o curso de engenharia de materiais da UFSC

    tem uma experincia diversa. Os quatro primeiros

    trimestres so dedicados ao conhecimento bsico,

    mas depois disso o aluno alterna um trimestre de

    teoria com um trimestre de estgio em indstrias

    de administradores e economistas. Ultimamente,

    tambm significativo o nmero de estudantes

    que optam por criar startups, em vez de procurar

    emprego na indstria. O compromisso da univer-

    sidade formar engenheiros que saibam lidar com

    problemas complexos e no somente com deman-

    das das empresas, afirma Lezana.

    Uma experincia em implantao no campus

    Joinville da UFSC promete tornar a formao dos

    engenheiros mais prtica. No lugar da especializa-

    o precoce, os 200 alunos que ingressam a cada

    ano so admitidos no curso de engenharias da

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    A engenhAriA nA prticAAlgumas propostas da CNI para mudanas no ensino

    Introduzir, desde o incio do curso, disciplinas que explorem conheci-mentos prticos

    Intensificar os estgios profissio-nais e a formao acadmica em cooperao com empresas

    Instituir programas de bolsas para ps--doutores das enge-nharias para desen-volverem trabalhos nos departamentos de P&D das empresas

    Fonte: Documento recursos humanos para inovao: engenheiros e tecnlogos

    Estimular a criao de novos cursos de mestrado profissionalizante em engenharia

    Estimular que os trabalhos de con-cluso de mestrado e doutorado en-volvam a colaborao com empresas

    Modernizar os currculos para uma abordagem in-terdisciplinar, que integre elementos de design e empreendedorismo, bem como aprendizagem ba-seada em projetos

    mas se quisermos voltar a crescer precisaremos de

    engenheiros em quantidade, diz Ml.

    Os recm-formados chegam s empresas com

    escassez de vivncia nos problemas concretos. Os

    engenheiros tm conhecimentos tcnicos slidos,

    mas frequentemente precisam de um treinamen-

    to adicional que dura at mais de um ano para se

    adaptar ao cho de fbrica. No incomum, por

    exemplo, que um engenheiro eletricista comece

    a trabalhar sem nunca ter operado equipamentos

    eltricos, afirma Ml, que aponta outras lacunas na

    formao em habilidades como gesto de projetos

    680 milEngenheiros empregados

    no Brasil

    42%atuam em suas

    reas de formao

    SHU

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  • Indstria & Competitividade 3130 Santa Catarina > Maro > 2015

    Ramos: professor tambm deve ter tempo dedicado indstria

    uma terceira lngua, alm

    do portugus e do ingls,

    diz a professora. O curso

    mantm parceria com empresas que oferecem os

    estgios, como a ArcellorMittal, a Whirlpool e a Por-

    tobello, alm de empresas menores, inclusive de

    outros estados. Snia hickel ressalta que a organi-

    zao dos estgios bastante trabalhosa, mas os re-

    sultados compensam. A prerrogativa da formao

    dos estudantes da universidade. voc no vai ter

    um bom engenheiro se ele no tiver uma formao

    terica slida. Mas se a academia ficar no seu caste-

    lo sem ver a evoluo das profisses e a demanda

    do mercado, vai se tornar obsoleta.

    Segundo Mozart Neves ramos, engenheiro

    qumico e ex-reitor da Universidade Federal de Per-

    nambuco, a experincia internacional mostra que

    possvel aperfeioar a formao do engenheiro

    tornando-a mais prtica. h um movimento cha-

    mado Tuning, com mais de 500 universidades, que

    adota o chamado ensino por competncias, no

    qual as habilidades que o aluno precisa desenvol-

    ver so estimuladas desde o incio do curso, afirma.

    Mozart, que j presidiu o Movimento Todos pela

    Educao e parceiro da FIESC no Movimento A

    Indstria pela Educao, cita o exemplo da Univer-

    sidade de Tecnologia de Compigne, na Frana, na

    qual a formao dos engenheiros feita num am-

    biente de forte cooperao com indstrias.

    Ele adverte, porm, que esse modelo exigiria

    uma grande adaptao das empresas e das univer-

    sidades brasileiras. Antes de pensar em residncia,

    preciso aperfeioar os estgios curriculares. Muitas

    indstrias usam o estgio para obter fora de tra-

    balho barata e as universidades no acompanham

    a qualidade do estgio. Tambm seria necessrio

    criar um plano de carreira que permitisse ao profes-

    sor dedicar parte de seu tempo indstria, o que

    hoje no possvel. Se o professor no pode sair da

    universidade, como o aluno ter um acompanha-

    mento complementar estagiando na indstria?

    ou at instituies no exterior, num total de seis es-

    tgios ao longo dos cinco anos de formao. in-

    teressante porque o aluno fica mais motivado, per-

    cebe logo se a profisso vai lhe agradar e traz para

    discusso nas aulas tericas problemas prticos

    que vivenciaram no estgio, afirma a professora S-

    nia hickel Probst, coordenadora do curso. Para fazer

    um estgio no exterior, preciso ter feito pelo me-

    nos dois estgios no Brasil. Os institutos Frauhofer

    da Alemanha e laboratrios na Frana so os desti-

    nos internacionais mais frequentes dos estudantes.

    Os alunos tambm so estimulados a aprender

    Se a academia ficar no seu castelo sem ver a evoluo

    das profisses e a demanda do mercado, vai se tornar obsoleta

    Snia hickel probst, coordenadora do curso de engenharia de materiais da UFSC

    EDU

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    MANIFESTAES DE CAMINhONEIrOS COLOCArAM UMA BOA PArCELA DA

    ECONOMIA CATArINENSE EM rISCO. A CAUSA JUSTA, MAS A FOrMA EQUIvOCADA

    DE PrOTESTO PODE AGrAvAr AINDA MAIS A SITUAO

    processados deixaram de ser escoados. Em funo

    do desarranjo, aps o fim dos protestos mais de um

    ms ainda seria necessrio at que o sistema produ-

    tivo se normalizasse.

    As paralisaes expuseram ao risco esse patri-

    mnio catarinense que o modelo agroindustrial,

    baseado na parceria entre produtores rurais e in-

    dstria, diz Crte. O prolongamento da situao

    poderia at levar o Estado a perder o status sanitrio

    de zona livre de febre aftosa sem vacinao, ates-

    tado que permite a exportao de alimentos para

    o Japo e Estados Unidos. Fato que tornaria ainda

    mais crtica a situao do setor de transportes.

    A FIESC defende o direito manifestao e s

    reivindicaes, desde que o dilogo e as negocia-

    es orientem a resoluo de conflitos. Nessa linha,

    a FIESC apresentou proposta ao Governo Federal

    para que tributos incidam somente sobre o valor

    do diesel praticado em 2014, livrando de impostos

    a parcela do aumento de preo aplicado em 2015.

    uma forma de ao menos atenuar a asfixia do setor

    produtivo, para que o Pas no pare de vez.

    Com os recentes tarifaos seguidos aumen-tos de preos da energia e dos combustveis e carga tributria crescente combinados a um cenrio de recesso e inflao, a indstria vive

    um de seus momentos mais difceis em dcadas.

    Sujeitos mesma lgica perversa, caminhoneiros

    tm protestado, no sem razo. Mas o mrito da

    questo no justifica a forma de protesto: os blo-

    queios de estradas em fevereiro causaram prejuzos

    de r$ 400 milhes a r$ 500 milhes em Santa Cata-

    rina. No se pode fazer um movimento que cause

    um abalo econmico e social dessa magnitude,

    afirma Glauco Jos Crte, presidente da FIESC.

    A indstria de alimentos foi especialmente pe-

    nalizada. Organizado em uma complexa cadeia de

    suprimentos e logstica que envolve fornecimento

    de insumos para criao de animais em milhares

    de propriedades rurais e processamento de carne

    e leite em dezenas de indstrias, o setor paralisou

    as atividades por vrios dias na regio Oeste. Milha-

    res de frangos e sunos morreram nas propriedades

    e milhes de litros de leite estragaram. Produtos j

    O Pas no pode parar

    AgendA dA IndstrIA

  • Indstria & Competitividade 3332 Santa Catarina > Maro > 2015

    Dcio Da Silva, preSiDente Do

    conSelho De aDminiStrao

    Da WeG, aprenDeu com o pai

    que para realizar objetivoS

    GranDioSoS preciSo

    aSSentar um tijolinho toDo

    Dia. aSSim ele conStruiu uma

    DaS maioreS empreSaS Do

    munDo em Seu Setor

    e realizaesPERFIL

    Silva: receitas no exterior j

    superam as obtidas no Brasil

    aos 58 anos, Dcio da Silva o elo entre o passado, o presente e o futuro da WeG, uma das maiores fabricantes mundiais de equi-pamentos eletroeletrnicos. Filho de eggon joo

    da Silva, um dos trs fundadores, Dcio passou por

    diversos cargos at chegar presidncia, funo

    que exerceu por quase duas dcadas. em 2008, as-

    sumiu o comando do conselho de administrao,

    de onde continua a ter atuao decisiva na defini-

    o dos rumos e estratgias da corporao catari-

    nense de maior presena global, com unidades fa-

    bris ou comerciais instaladas em mais de 20 pases.

    Fundada na pequena jaragu do Sul exata-

    mente no dia em que Dcio completava cinco

    anos 16 de setembro de 1961 , a WeG surgiu

    de uma tpica identificao de oportunidade. ao

    conversar com um amigo que fabricava pequenos

    refrigeradores artesanais e lamentava a dificulda-

    de para obter os motores, vindos de So paulo,

    eggon, insatisfeito com o emprego numa meta-

    lrgica, decidiu se lanar ao desafio de fabricar

    motores. com vocao para vendas, saiu procu-

    ra de scios que fossem capazes de levar a ideia

    adiante e chegou ao expansivo mecnico Geraldo

    Werninghaus, que trabalhava na oficina do pai em

    joinville, e ao tmido eletricista Werner ricardo

    voigt, proprietrio de uma oficina de recuperao

    de motores eltricos. a mescla de experincias,

    estilos e personalidades to diferentes se revelaria

    uma combinao vencedora. a base dessa frmu-

    la era o respeito que cada um tinha pelos demais.

    os trs sabiam que construir uma sociedade de-

    pende de um esforo rduo e que destru-la pode

    ser muito rpido, afirma Dcio.

    Base do xito

    alm de representar a combinao das ini-

    ciais dos nomes dos fundadores, a palavra esco-

    lhida para batizar a empresa significa caminho

    em alemo idioma dos colonizadores de jara-

    gu do Sul e dos antepassados dos dois scios de

    eggon. apenas ele fugia ao padro da cidade, com

    pai tipicamente brasileiro e me de ascendncia

    hngara. nico homem ao lado de quatro irms,

    Dcio buscava nos funcionrios da WeG a com-

    panhia para praticar a grande paixo da infncia:

    o futebol. era figurinha carimbada nas peladas da

    turma. aos 12 anos, a doce rotina foi interrompida

    pela responsabilidade de integrar a turma inau-

    gural do centro de treinamento da empresa, que

    se mantm at hoje em parceria com o Senai

    como a espinha dorsal da estratgia de formao

    de pessoal. j naquele tempo meu pai e os scios

    dele consideravam que ter colaboradores bem

    formados e motivados a base do xito de qual-

    quer organizao, lembra Dcio.

    ele completou o colegial na

    escola tcnica tupy, em joinvil-

    le, e partiu depois para Florian-

    polis, onde cursou simultanea-

    mente engenharia mecnica na

    universidade Federal de Santa

    catarina (uFSc) e administrao

    EdSo

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    kES

    Fundao: 1961Sede: Jaragu do Sul, SCFuncionrios: 31 mil (7.600 deles no exterior)receita lquida (2014): R$ 7,8 bilhes (+15% sobre 2013)lucro lquido (2014): R$ 954 milhes (+13%)

    Sobre sonhos

    por Maurcio Oliveira

  • Indstria & Competitividade 3534 Santa Catarina > Maro > 2015

    Fabricao de motores eltricos: produto est na origem da empresa

    marketing e design de

    produtos da oxford, e joa-

    na, que estudou naturolo-

    gia e se especializa em ioga e acupuntura.

    reforando sua misso de ser o elo entre o

    passado e o futuro da WeG, Dcio empenhou-

    -se pessoalmente na reformulao do museu da

    empresa, instalado no endereo em que tudo

    comeou. os equipamentos e recursos utilizados

    para contar a histria da companhia e introduzir

    os visitantes no universo da eletricidade so com-

    parveis aos dos mais modernos museus brasilei-

    ros. outra atividade qual ele tem se dedicado

    bastante passar um bom tempo com o pai, que

    est com 86 anos. nossa relao costumava se

    dar muito mais em outros planos, como a ao

    e o exemplo. agora adoramos conversar, descre-

    ve. o pioneirismo e a dedicao de eggon foram

    sempre uma inspirao para o filho. aprendi com

    ele que muito importante ter objetivos grandio-

    sos, mas que para construir o caminho at esses

    objetivos preciso colocar um tijolinho todo dia.

    em sntese: sonho e realizao. Duas palavras que

    traduzem bem a histria da WeG.

    de empresas na escola Superior de administrao

    e Gerncia (eSaG). aps as formaturas, comeou

    a trabalhar na WeG como engenheiro do setor de

    controle de qualidade. trs anos depois, aos 25,

    foi convocado para assumir uma gerncia na f-

    brica, liderando mais de 700 funcionrios. como

    acontece com todo herdeiro, ter a capacidade re-

    conhecida era um desafio que o acompanhava

    o antdoto para eventuais resistncias, ensinou-lhe

    o pai desde cedo, seria demonstrar humildade e

    provar dia aps dia que estava preparado para o

    cargo que ocupava.

    Depois de passar trs meses num estgio na

    alemanha, Dcio seguiu para trs anos de traba-

    lho no escritrio de So paulo. em 1989, quando

    se deu o processo de sucesso dos fundadores,

    coordenado por consultores externos, seu nome

    foi o escolhido para assumir a presidncia. ele es-

    tava com 33 anos, mesma idade do pai quando

    criou a empresa. na primeira reunio no cargo, fez

    um pronunciamento que entrou para a histria da

    companhia. Disse que a WeG nasceu com o sonho

    de se tornar relevante

    em jaragu do Sul,

    depois em Santa ca-

    Parque fabril em Jaragu do Sul: WEG possui unidades em mais de 20 pases

    tarina, em seguida no brasil. como todas aquelas

    etapas j haviam sido alcanadas, o nico cami-

    nho para continuar sonhando era se tornar uma

    empresa mundial. esse foi o ponto de partida do

    processo de internacionalizao da WeG, baseado

    na ideia de que no bastaria exportar, e sim fincar

    p para valer em outros pases, com abertura de

    representaes comerciais e fbricas. os resulta-

    dos esto no recm-anunciado balano de 2014:

    pela primeira vez, as receitas internacionais da em-

    presa superaram as nacionais 51% contra 49%.

    Legado a celebrar

    muitas dificuldades tiveram que ser superadas

    nessa trajetria, contudo. Dcio enfrentou uma

    greve logo que assumiu a presidncia e seu pri-

    meiro ano no cargo, transcorrido em meio a altas

    taxas de inflao, foi o nico em toda a histria

    da empresa que terminou em prejuzo. no ha-

    via outro caminho para superar as turbulncias a

    no ser seguir com determinao. Dezoito anos

    depois, quando Dcio deixou o cargo, havia um

    belo legado a celebrar: crescimento mdio anual

    de 21% na receita, 22% nas exportaes, 25% no

    PERFIL

    ebitda e 30% no lucro lquido.

    para quem estava habituado a colocar a mo na

    massa, deixar o comando executivo foi um baque.

    preocupado em no virar uma sombra para o novo

    presidente, harry Schmelzer jr., que comeara na

    WeG como estagirio, Dcio optou por dividir sua

    ateno com outras companhias. passou a integrar

    diversos conselhos de administrao, a exemplo

    do Grupo algar, iochpe e perdigo. aos poucos, no

    entanto, ele foi eliminando os interesses paralelos

    e voltou a se dedicar com intensidade aos neg-

    cios da WeG ocupando no apenas a presidncia

    do conselho da empresa, como tambm da Wpa

    participaes, criada para gerir o patrimnio em

    comum das trs famlias e assegurar que 50,1% das

    aes da WeG permaneam com os descenden-

    tes dos fundadores. a Wpa passou a fazer investi-

    mentos em conjunto, como a aquisio de 3% das

    aes da brF e de 78% da oxford porcelanas.

    entre trabalho e lazer, os passaportes de Dcio

    somam exatos 135 pases visitados at o momen-

    to. um dos mais recentes, o buto, resultou de um

    pedido da esposa, a artista plstica Denyse meri,

    unio que deu ao casal as filhas zaira, gerente de

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  • Indstria & Competitividade 3736 Santa Catarina > Maro > 2015

    Uma usina EmprEsas dEscobrEm o potEncial dEsta podErosa fErramEnta dE inovao, capaz dE alinhar os

    Esforos dE todos os sEtorEs E

    EspEcialistas dE uma companhia no

    objEtivo dE dEsEnvolvEr as mElhorEs

    soluEs dEsEjadas pElos cliEntEs

    DesIgn

    Indstria & Competitividade 3736 Santa Catarina > Maro > 2015

    solUesindstriapara a

    de

    o incomum que design seja

    associado a sofisticao e estilo,

    conceitos que podem ser reco-

    nhecidos, por exemplo, numa

    ferrari de us$ 1 milho proje-

    tada pelo estdio italiano pininfarina, ou numa

    cadeira desenhada pelo badalado designer bra-

    sileiro jader almeida, que pode valer us$ 25 mil.

    Este o universo do design exclusivo, autoral, que

    por consequncia muito caro e inacessvel

    ainda que bastante conhecido. mas o que dizer

    do design aplicado a uma simples vassoura com

    produo da ordem de milhes de unidades por

    ano, cujo pblico-alvo so as donas de casa bra-

    sileiras? ou a uma mquina de lavar roupas toda

    feita em plstico, vendida por r$ 200, destinada

    aos consumidores das classes c e d?

    Esse o territrio do design industrial, onde

    a esttica tambm se faz presente a seu modo,

    associada a condicionantes crticas para o suces-

    so como a funcionalidade do produto, os mate-

    riais utilizados, o desenvolvimento de processos

    industriais compatveis com o perfil de manufa-

    tura de cada indstria e custos adequados. uma

    equao que, se bem resolvida, revela-se uma

    poderosa ferramenta de inovao e competitivi-

    dade que cada vez mais utilizada pela indstria

    catarinense. boa parte da indstria j percebeu

    que o design faz a diferena, e por isso o perfil do

    por Vladimir Brando*

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  • Indstria & Competitividade 3938 Santa Catarina > Maro > 2015

    mentos tcnicos que o projeto ficou inopervel. a

    proposta parecia invivel tecnicamente, diz Ehrat,

    que hoje reconhece que se tratava de uma atitude

    carregada de preconceito.

    logo eles perceberam que o design uma

    abordagem multidisciplinar, que envolve marke-

    ting, engenharia, processos industriais, logstica,

    comercial e ainda outros setores da indstria. E

    a Wanke, finalmente, ocupou-se de pesquisar as

    necessidades dos usurios, considerando costu-

    mes, aspectos de ergonomia, os possveis locais

    de instalao das mquinas e muitos outros de-

    talhes que iriam orientar a concepo dos novos

    produtos. o design tem por funo transformar

    esse briefing em algo palpvel, define Ehrat.

    dito e feito. ao longo dos anos, o processo

    ajudou a conceber um portflio de 20 famlias

    de produtos, que incluem lavadoras, centrfugas,

    cooktops, fornos, secadoras, aquecedores, san-

    duicheiras, umidificadores e ventiladores. volta-

    Indstria & Competitividade 3938 Santa Catarina > Maro > 2015

    DesIgn

    Ehrat, da Wanke: aps superar o preconceito, a indstria de Indaial atingiu um novo patamar no mercado

    Design uma atividade pro-

    jetual que consiste em determinar as propriedades for-

    mais dos objetos a serem produzidos industrialmente. No s as caracte-rsticas exteriores, mas as relaes estruturais e funcionais que do coe-rncia a um objeto tanto do ponto de vista do produtor quanto do usurio

    Toms Maldonado, 1961

    investimento em santa catarina vem mudando

    nos ltimos anos, com mais nfase em projetos de

    design, pesquisa e desenvolvimento e novos pro-

    cessos produtivos, afirma glauco jos crte, pre-

    sidente da fiEsc. mas ainda precisamos avanar.

    por isso a fiEsc uma das promotoras da

    bienal brasileira do design 2015 floripa, que ser

    realizada entre maio e julho em florianpolis

    (mais detalhes na matria subsequente). o tema

    da bienal, design para todos, decerto ajudar a

    desmistificar a ideia do de-

    sign elitista, demonstrando

    o quanto ele pode melho-

    rar a qualidade de vida das

    pessoas comuns. Esse , ao

    fim das contas, o papel da

    indstria. E ns queremos

    que o maior nmero pos-

    svel de empresas perceba

    a relevncia do design no

    processo de inovao, diz

    natalino uggioni, supe-

    rintendente do instituto

    Euvaldo lodi (iEl/sc). o

    mais interessante que o

    design, por depender essencialmente da criativi-

    dade das pessoas, uma ferramenta de inovao

    relativamente barata, em comparao, por exem-

    plo, com a inovao tecnolgica. dependendo

    do produto, a taxa de retorno do design pode

    situar-se entre 200% e 500% do valor investido,

    diz freddy van camp, curador da bienal, citando

    pesquisas da finep.

    o conceito tem, literalmente, chacoalha-

    do empresas de diversos setores. foi o caso da

    Wanke, de indaial, uma indstria familiar j quase

    centenria que produzia implementos agrcolas

    at o fim dos anos 1990, quando resolveu fo-

    car em eletrodomsticos ela j produzia uma

    mquina de lavar roupas em madeira. seus exe-

    cutivos buscaram fazer produtos em plstico,

    baseados no que j havia no mercado. o desen-

    volvimento ficava a cargo dos engenheiros, que

    s vezes recebiam algumas dicas da agncia de

    publicidade. no foi suficiente. no trazamos

    diferenciao alguma e o nosso desempenho

    agradava menos que o dos concorrentes, conta

    rogrio artur Ehrat, diretor da Wanke.

    da surgiu a necessidade de trabalhar com

    design, conta o executivo.

    mas a essa altura eles com-

    partilhavam da mesma viso

    estreita que muita gente do

    ramo ainda carrega: queriam

    apenas novas solues es-

    tticas para as engenhocas

    que projetavam ou copia-

    vam. desconfiados, os enge-

    nheiros da empresa bateram

    de frente com os designers

    logo no primeiro projeto

    encomendado ao estdio

    design inverso, de joinville.

    colocamos tantos impedi-divu

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  • Indstria & Competitividade 4140 Santa Catarina > Maro > 2015

    onde j possui um centro de distribuio. desde

    2006 a empresa cresce a um ritmo de 20% a 25%

    ao ano, com faturamento de r$ 130 milhes em

    2014 e mais de 300 funcionrios.

    Funcionalismo

    considerando tal grau de abrangncia e efi-

    cincia, o conceito de design pode parecer no-

    vidade a muita gente que o associa somente

    aparncia dos produtos. na verdade, essa ideia

    to disseminada quanto imprecisa tem mais a ver

    com o conceito de estilo, que ligado s quali-

    dades expressivas de um produto. pode-se dizer

    que, em muitos casos, o estilo um elemento

    complementar de uma soluo de design. Esse,

    por sua vez, sinnimo de concepo e plane-

    jamento, essencialmente focado na resoluo de

    problemas (funcionalismo) e na simplificao de

    produtos e processos.

    trabalhamos com o ser humano, com pes-

    soas. o design liga todos os diferentes interesses

    existentes em uma indstria, como as reas de

    marketing, industrial e contbil, para focar nas

    necessidades das pessoas, define marcos sebben,

    diretor da design inverso, escritrio de joinville

    que contabiliza mais de 3 mil projetos executa-

    dos. o designer anglo-egpcio karim rashid, um

    dos mais badalados da atualidade, que j assinou

    uma coleo da cermica oxford, de so bento do

    sul, tambm j expressou opinio nesta linha: de-

    sign resolver problemas, moldar o futuro, no

    uma questo de estilo.

    mas o fato que quase sempre as duas coisas

    esto associadas. o primeiro a notar isso foi um

    aristocrata italiano do sculo 16, baldassare cas-

    tiglione, que ficou famoso por escrever a obra il

    libro del cortegiano, um guia dos valores e cos-

    tumes da alta sociedade renascentista. o livro traz

    Ao gosto das freguesas

    Tradicional fabricante de eletrodomsticos de linha branca, a Mueller, de Timb, que produziu sua primeira mquina de lavar em 1951, se baseia no resultado de pesquisas e demandas dos clientes para orientar as solues desenvolvidas pelo design. Os foges com trs queimadores e a lavadora de roupas Special Easy Dry a primeira de carga frontal que lava e seca desenvolvida e produzida no Brasil so dois exemplos da estratgia. Percebemos que o consumidor, na maioria das vezes, no usava os quatro queimadores do fogo. Em vez disso, prefere ter uma opo com maior potncia. Ento desenvolvemos o fogo com trs queimadores, um deles ultrachama, conta o diretor de vendas e marketing da unidade de foges, Alexandre Pires da Luz.

    As inovaes da Special Easy Dry foram adotadas em funo das dificuldades das usurias para colocar as roupas no cesto. A mquina ganhou um cesto removvel e inclinado, facilitando o processo de carregar e esvaziar a lavadora, e passou a contar com uma porta de acesso rpido. O sistema permite a colocao de mais roupas mesmo aps o incio da lavagem. A soluo permitiu Mueller conquistar mais consumidores e ganhar terreno junto s classes A e B de consumidores. Alm de conquistar prmios de design como o Museu da Casa Brasileira e o Idea Awards.

    40 Santa Catarina > Maro > 2015

    uma definio pioneira do que viria a ser conhe-

    cido, no sculo 20, como design: independente-

    mente do que se estude, descobriremos sempre

    que aquilo que bom e til tambm agraciado

    pela beleza. mesmo que seja uma vassoura.

    a condor, de so bento do sul, fabricante de

    produtos de limpeza, higiene bucal e outros arti-

    gos, era lder nacional justamente no mercado de

    vassouras, at que h cerca

    de 10 anos perdeu o pos-

    to para uma fabricante

    gacha. decidiu inves-

    tir em design para

    recuperar a posio.

    o incio do proces-

    so foi o dever de

    casa: a anlise do

    que as consumido-

    ras de fato desejam

    dos aos consumidores da classe c, so produtos

    simples e fceis de usar, que consomem pouca

    energia e gua. ou, por outra, segundo definio

    do papa do marketing philip kotler, o design con-

    feriu seus cinco principais atributos aos produtos

    da Wanke: performance, qualidade, durabilidade,

    aparncia e custo. alm dessas necessidades vi-

    tais dos usurios, os produtos atendem s neces-

    sidades da indstria em relao a quesitos como

    baixos custos de produo, reduo do nmero

    de peas, adequao ao fluxo produtivo, armaze-

    nagem e transporte. o que significou uma verda-

    deira revoluo para a indstria de indaial.

    graas ao redesenho, a Wanke passou de uma

    discreta atuao regional para nacional, com for-

    te presena na regio nordeste,

    DesIgn

    Com um novo projeto que incluiu um cesto removvel, ficou mais fcil usar a mquina de lavar da Mueller

    Quiosque multimdia da Specto, de So Jos: reunio de utilidade e forma

    O design par-te integrante

    de uma atividade mais ampla deno-minada desenvolvi-

    mento de produtos. Sua maior contri-buio est na melhoria da qualidade de uso e da qualidade esttica de um produto, compatibilizando exign-cias tcnico-funcionais com restri-es de ordem tcnico-econmicas

    Gui Bonsiepe, 1982

    Indstria & Competitividade 41

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  • Indstria & Competitividade 4342 Santa Catarina > Maro > 2015

    Nova linha de vassouras da Condor: ateno aos atributos mais valorizados pelos consumidores

    de uma boa vassoura. aps analisar at filmes rea-

    lizados em pontos de venda, chegou-se conclu-

    so de que os problemas iam do nmero aparen-

    temente insuficiente de cerdas at a aparncia,

    passando pelo excesso de peso e baixa durabili-

    dade. alm de tudo a vassoura era cara, por uti-

    lizar muita matria-prima na fabricao. Era um

    projeto repleto de desafios, resume o gerente de

    marketing denis bover. mas o design conseguiu

    dar resposta a todos os pontos.

    dentre vrias modificaes desenvolvidas,

    destacou-se o redesenho do corpo da vassoura.

    antes havia uma capa de plstico colorido co-

    brindo a base de fixao das cerdas, esta mais

    robusta, feita em material reciclado. s que as

    batidas nos cantos durante a varrio acabavam

    quebrando a capa. a soluo foi deixar exposta

    uma parte da base de material reciclado, que pas-

    sou a funcionar como um para-choque. a capa,

    feita em material mais caro, ficou menor, limitada

    poro superior do corpo da vassoura, ganhan-

    do ainda uma pequena sobrecapa, permitindo o

    uso de mais cores: o preto do para-choque, que

    ganhou estilo com um desenho mais moderno,

    e mais duas cores das capas, gerando um bonito

    efeito. resultado: a vassoura ficou mais leve, mais

    barata, mais resistente e mais bonita. E, como era

    de se esperar, vende muito mais que o modelo

    antigo, mas a almejada liderana ainda no foi

    reconquistada.

    a evoluo continua. o modelo 2015 incor-

    pora o uso de plsticos transparentes e de ni-

    chos vazados, combinando um pouco mais de

    estilo com menos material. outros produtos da

    empresa foram redesenhados ou desenvolvidos

    pelo design, como a escova de dentes trip, para

    viagens, que lder de mercado. o apreo pelo

    design coincide com um perodo de profissiona-

    lizao e crescimento da condor, que faturou r$

    300 milhes em 2013. a empresa tinha um dna

    fabril, era mais preocupada com os maquinrios

    e com a produtividade, acostumada a empurrar

    para o mercado o que produzia, descreve bover.

    passamos a olhar muito mais atentamente para

    o consumidor para identificar os nossos prxi-

    mos passos.

    Campo perigoso

    no novidade que a tradio fabril da con-

    dor semelhante de vrias das principais em-

    presas do Estado. com foco na produtividade, a

    indstria catarinense esqueceu o design durante

    muitos anos, afirma roselie lemos, presidente

    do centro design catarina e coordenadora exe-

    cutiva da bienal. isso levou a um campo perigo-

    so, o do preo baixo sem diferenciao, diz. foi o

    caso do setor txtil, que investiu na robustez de

    seu parque fabril mas nem sempre deu impor-

    tncia criao de novidades. at que nos anos

    1990, com uma maior abertura comercial brasi-

    leira, muitas indstrias sucumbiram diante da

    concorrncia asitica. Em funo de fatores no

    gerenciveis pelas empresas brasileiras, como o

    cmbio e os fatores do custo brasil, os tecidos

    e as confeces chinesas invadiram o pas com

    preos muito baixos, mergulhando o setor txtil

    em uma profunda crise.

    os chineses copiam a moda da Europa e jo-

    gam seus produtos aqui.