Revista Manga Espada

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Revista Cultural do Grupo Casarão de Poesia Ano I Número 01 Março de 2013 Suetônia Batista e as Palavras Secretas Conversê Diálogos entre Artistas e Gestores Currais-novenses sobre os Equipamentos Culturais da Cidade 4 Casa de Farinha Poemas * Contos * Fotografias * Fibras Legítimas da Manga-espada 10 Maniva Grupo Casarão de Poesia e os Seis Corações de um Sonho 3 Silo Dicas preciosas de arte bem guardada 11

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Manga-espadaRevista Cultural do Grupo Casarão de Poesia • Ano I • Número 01 • Março de 2013

Suetônia Bat ista e as Palavras Secretas

ConversêDiálogos entre Artistas e Gestores Currais-novenses sobre os Equipamentos Culturais da Cidade

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Casa de Far inhaPoemas * Contos * Fotografias * Fibras Legítimas da Manga-espada

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ManivaGrupo Casarão de Poesia e os Seis Corações de um Sonho

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Si loDicas preciosas de arte bem guardada

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2 • Manga-espada

Nativa da Índia, plantada em solo africano e trazida para o Brasil pe-los lusitanos desde 1700, a manga

esteve presente e acompanhou o desen-rolar de toda a nossa história, nosso pro-cesso de interiorização, até ocupar com suas mangueiras de copas vibrantes, de um verde denso e brilhante, as veredas dos riachos correntosos e os quintais da vida de todos nós.

Resistente e viajada, ela se adaptou bem ao nosso sol de lascar... Que seria de todas as infâncias seridoenses sem uma manga verde com sal e um suco gosto-so de uma boa manga madura? E quem nunca chupou uma manga até sua polpa descer abundante, entranhando-se no corpo inteiro – para desespero de nossas mães – que atire o primeiro caroço!

E foi exatamente a vivacidade, doçu-ra e fluidez dessa maravilhosa fruta que nos fez batizar este novo projeto literá-rio do Casarão de Poesia com um nome imantado no mais feliz âmago de nossas vivências sertanejas: MANGA-ESPADA!

Nessa edição de estreia, o poeta Theo G. Alves assina uma reportagem especial sobre a poetisa currais-novense que está sendo homenageada no nosso Dia da Poesia, Suetônia Batista. Tocando nos (des)caminhos da vida de uma Sue-tônia espirituosa e à frente de seu tem-po, Theo alcança a dimensão humana da poetisa e musicista, fazendo o mesmo com a compositora e intérprete potiguar Khrystal, numa leitura sobre os bons fru-tos que o seu novo trabalho “Dois Tem-pos” está sendo capaz de procriar. Com a“Bolandeira dos Sons” girando em sin-tonia com o disco na vitrola, eis que al-cançamos a “Bolandeira das Letras”, onde a poetisa e pesquisadora Luciana Carva-lho alimenta o movimento da tradição e da modernidade inserido na obra poé-tica de José Bezerra Gomes, a principal referência literária dos Currais Novos.

E por falar em referência, não pode-ríamos nos furtar a trazer à tona um bom caldo de ideias sobre os equipamentos culturais de nossa cidade. Em “Conver-sê”, Aldenir Dantas, João Antônio e Celso Cruz, traçam um panorama do presente, passado e futuro do que seriam as princi-pais realizações no campo da cultura lo-cal, além de tracejar as mais pungentes necessidades que nascem diariamente na alma dos fazedores culturais do nosso município. Isso nos leva à “Maniva”, que

É fibrosa. É lasciva. É Manga-espada.Edi tor ia l

Expediente

Currais Novos/RN – março de 2013

GRUPO CASARÃO DE POESIAIntegrantes:Edson NetoElina CarvalhoIara Maria CarvalhoLuma CarvalhoPaula ÉricaWescley J. Gama

PROJETO REVISTA MANGA-ESPADAEquipe editorial:Iara Maria CarvalhoTheo G. AlvesWescley J. Gama

Colaboradores:Adriano NunesAldenir DantasCelso CruzElina CarvalhoHugo MacedoIara Maria CarvalhoJoão AntônioLuciene DanvieLuma CarvalhoMaria José MamedeMaria MariaPaula ÉricaTheo G. AlvesWescley J. Gama

Endereço:Rua Santo Antônio, 123, CentroCurrais Novos/RN59380-000

Contato:[email protected]

Capa, diagramação e projeto gráfico:Waldelino Duarte

Impresso na:Offset Gráfica e Editora Ltda.

Tiragem:1.000 exemplares

Sob o telhado encardido do casa-rão da universidade, gerações de alunos, amigos e amantes fizeram

ecoar palavras, sementes intensas que brotaram de vozes a declamar, aos qua-tro ventos, a paixão pela Poesia.

Em mágica recordação dos tempos universitários, alguns amigos uniram-se em torno de um ideal: fazer ressurgir a força viva e pulsante da Poesia, que, re-legada à poeira das estantes, não mais fazia repercutir, entre os paralelepípedos de Currais Novos, o seu doce devaneio, a sua desafiadora aflição.

No Espaço Avoante de Cultura, o Grupo Casarão nasceu com a apresen-tação de sua primeira performance poé-tica – “A Poesia quando chega não res-peita nada”. No Avoante, o ano de 2007 se inaugurou prometendo luz diferente aos nossos olhos, sangue novinho der-ramado em canções e corações. A esta altura, já éramos conscientes de que a nossa missão ultrapassava as fronteiras

da amizade... O nosso amor pela Poesia seria capaz de florescer cactos e enfeitar de sensibilidade esses Currais esqueci-dos de cultura.

Nasceu com sentimento esse Casa-rão... Três irmãs, uma amiga, dois amores. Todos amantes da Arte, da Vida. Espalha-mos poesia desde então pelos sem-fins do nosso lugar e de outras paisagens que estão sempre nos acolhendo com carinho.

Quando vimos que a Poesia não cabia mais em nossas mãos, que os co-rações já transbordavam e as almas se viam imensas a ponto da explosão, inau-guramos o nosso Espaço Cultural e Bi-blioteca Comunitária Casarão de Poesia. Isso foi em 2009. Viramos gente grande, com nome de Associação Casarão da Cultura Potiguar.

O começo foi tímido, mas como foi encantador! Crianças devorando livros, adultos reaprendendo a magia das pa-lavras, idosos nos inquietando com sua

vontade de viver... Hoje, o que eram 600 livros, são 6.000... o que era uma paixão sem medidas nem grandes compromis-sos, virou trabalho árduo e prazeroso, com uma missão capaz de resgatar va-lores primordiais do ser humano, tão ba-nalizados na nossa sociedade cada vez mais incompetente para o Amor.

Celebrando a Arte em todas as suas dimensões, hoje o Casarão de Poesia é um espaço para encontros e desencon-tros, pois que a Cultura carrega em suas vísceras um atropelo de desejos e uma combustão de saberes. Isso tudo funda-do dentro da gente, desses seis corações cansados de esperar.

A Poesia é nossa arma, calibre grosso, porte de ouro, quinhão de luz brilhando no topo do céu. Compartilhe desse gos-to de sonho conosco! Seja mais um verso desse poema sem fim que escrevemos com amor nas páginas dessa cidade, desse mundo. E viva a Poesia! Viva a Arte! Viva a Cultura!.

Manivaa raiz de um sonho | Seis Corações de Poesia

Edson NetoMenino cearense, filho do coração desses Currais, encanta a todos com sua sensibilidade traduzida nas canções mais antigas e belas. É o amor de Luma Carvalho, pai dedicado, filho carinhoso e professor cheio de números e complexidades. Também é um habitante do intrincado mundo dos Anos 80: irreverente sem ser rebelde, puro sem ser ingênuo.

Paula ÉricaUm poço de verdes águas mora nos olhos dessa cantora e poetisa currais-novense. Mãe de Erasmo e povoada de amor, Érica assume os sonhos com verdade e luta. Escreve como quem dança, canta como quem vive. Doce o samba a diagnosticar suas raízes. Atua no Serviço Social com competência e paixão, senhora de seu próprio coração.

Iara Maria CarvalhoDe Currais Novos é filha, com o Seridó no coração.

Amor de Wescley e mãe de Iago – uma imensidão de sentimentos intraduzíveis. Gosta da Palavra, tanto em

verso quanto em prosa, já tendo sido premiada em diversos concursos. Agente de Cultura e Mestra em Estudos da Linguagem, gosta de formigas e noites

longas. É filha de Teca e Dedé de Cota, com orgulho de ser Carvalho.

Elina CarvalhoMoça bela do Seridó, mesmo nascida em Natal. Divide seu cotidiano entre ser mãe de duas princesas, amada por seu amor e apaixonada pelo Serviço Social, que exerce com garra e carinho. Encantadora de palavras, brinca com elas sabiamente, resultando em poemas de alto teor de beleza. É filha de Teca e Dedé de Cota, com orgulho de ser Carvalho.

Wescley J. GamaMenino nascido perto da Serra, mas com os dois pés dentro dos Currais Novos. É o amor de Iara e o pai de Iago. Poeta, contista e músico, vive as inquietações da Arte pulsando forte nas suas sensibilidades. Wescley é graduado em Letras, maneja as palavras com a destreza de um mestre e a humildade de um aprendiz, e nos comove, diariamente, com a sua leveza de espírito.

Luma CarvalhoMoleca dada a ligeirezas, mulher cortinada por sonhos, Luma é de Currais Novos e é o amor de

Edson. A mãe de três meninos matreiros é também uma educadora apaixonada por Poesia, tanto que

escreve e recita com delicadeza e intimidade quase maternais. Graduada em Letras, a poetisa tem

especial afeição por gatos e inteirezas, sendo mais uma das filhas de Teca e Dedé de Cota,

com orgulho de ser Carvalho.

O Casarão de Poesia é uma entidade sem fins lucrativos. O Espaço Cultural e a Biblioteca Comunitária oferecem aos seus usuários empréstimos gratuitos de livros, revistas e DVDs, além de cursos de violão e sanfona, oficinas de poesia, contações de histórias, saraus poético-musicais, comemorações do Dia da Poesia, dentre outras atividades. Todas as suas ações visam à democratização do acesso à cultura, compreendendo-a como instrumento de transformação humana e social.

traceja um sensível retrato dos respon-sáveis por essa empreitada tão saborosa com gosto de manga. É do Grupo Casa-rão de Poesia que falamos, com todas as suas cores e vibrações, o qual nos reme-te, tal qual a nossa maniva típica, a uma identidade cultural tão genuína quanto complexa, e que representa o Grupo que assumiu o risco de botar pra ser comida uma Manga-espada que é pura fusão de anseios, semblante incólume de nossas inquietações culturais mais latentes. Daí pra “Casa de Farinha” é só um passo: con-tos, poemas e fotografias de autênticos seridoenses na moenda da Arte, com seus terreiros bem varridos e andanças sertanejas que conduzem ao coração de nosso lugar.

A primeira Manga-espada também traz guardadas num “Silo” acolhedor dicas preciosas de uma peça de teatro genuinamente seridoense, de um livro repleto de memórias sertanejas e de um filme que redimensiona o drama do amor e da vida motivado por silêncios, agruras e belezas. Importante lembrar que essa Manga-espada não estaria aqui, toda exposta em sua matreirice de menina nascendo, sem o patrocínio do Governo Federal, do Banco do Nordeste e do BNDES, através do Programa de Cul-tura Banco do Nordeste/ BNDES, Edição 2012, que aprovou o projeto “VI Dia da Poesia em Currais Novos”, dentro do qual a Manga-espada pôde ser idealizada, construída e lançada, neste 14 de março festivo.

Agora é só se entregar à leitura. Es-palhem-se por essas fibras, aproveitem com unhas e dentes essa temperada tra-vessia de saberes e sabores. Pois não dá pra ler uma Manga-espada se não for pra se melar com seu sumo vivaz e instigan-te. Boa leitura!

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ferve o caldo das ideias | conversê pergunta a nomes importantes do atual panorama da cultura currais-novense:Conversê

gundo seus interesses, em que o único fim é o lucro, o mercado. Dominador, cria adversidades à ação cultural, visto que esta abrange a totalidade das ne-cessidades do ser humano, indepen-dente de uma resposta econômica, tornando-se desinteressante, algo de valor secundário.

Frente a esse quadro, faz-se urgen-te trabalhar a ampliação e difusão da consciência cultural de forma estraté-gica em sua mobilidade política, que sedimentem as práticas culturais. Isso de forma que possa inserir-se ante aos outros setores da sociedade, am-pliando as discussões sobre o tema e tendo como proposição a organização dos produtores culturais, associada à implantação de equipamentos físicos adequados, bens que sejam capazes de desenvolver ações efetivas de cará-ter formador e produtor do saber. Se desejamos uma sociedade produtiva, capaz de dar respostas criativas para seus problemas e que tenha sensibi-lidade para referenciar a beleza como parâmetro humano de harmonia e equilíbrio, é necessário pensar no es-paço de cultura como ferramenta de desenvolvimento.

Esta responsabilidade cabe à socie-dade civil e ao estado, porém, é preci-so, primeiramente, criarmos nosso pró-prio espaço interno de entendimento de que a cultura é um bem coletivo que utilizamos para construir nossas experiências, e entender que benefi-ciá-la melhora a qualidade de vida de todos. Pensar em cultura é pensar co-letivamente.

A criação de entidades culturais organizadas não governamentais que visam à transformação qualitativa do indivíduo tem trazido alento ao nosso baixo índice de desenvolvimento hu-mano, o IDH. Movimento cultural esse que, ampliando a cada dia o espaço de ação, não pode ser mais ignorado pelos organismos públicos e privados de Currais Novos. Autônomas e respal-dadas pela opinião pública, apontam soluções para os problemas sociais, consolidando um novo cenário de po-der para o nosso município.

Como vocês avaliam os equipamentos culturais existentes na cidade de Currais Novos, suas formas de acesso, gestão e fomento? Que sugestões vocês dariam para que houvesse uma melhoria nas condições desses equipamentos culturais, sejam públicos ou privados? E, por fim, o que falta em Currais Novos em termos de equipamentos culturais que vocês julgam essencial para a democratização do acesso aos bens culturais de uma forma geral?

A palavra substantiva pela voz de...

João AntônioQuadrinista e artista plástico, graduado em

Educação Artística e Letras pela UFRN, idealizador e coordenador do Espaço Avoante de Cultura

As contingências do Espaço

A noção de espaço implica numa relação situacional que se dá através do contraste em face de outras coisas. Facul-tado pela coexistência torna-se recurso preponderante do homem na dinâmica das relações sociais, na mobilidade polí-tica e de poder, definindo as instituições, estruturando o modelo de sociedade em que vivemos.

No contexto social atual encontra-mos o poder econômico, detentor do poder político, impondo os espaços se-

estabelecer parcerias entre os setores público e privado; criar instrumentos de gestão democráticos para o acom-panhamento e avaliação das ações de-senvolvidas; viabilizar capacitações pre-senciais com material técnico adequado; articular e implementar movimentos que promovam a interação da cultura com as demais áreas sociais, destacando seu papel estratégico, essencial ao de-senvolvimento humano.

A palavra em ação nas mãos de...

Aldenir DantasInstrutor da Caixa Econômica Federal

Graduado em Letras, especialista em EAD e mestrando em Ciências da Educação.

Cultura: Equipamentos e Políticas Públicas

Há nos equipamentos culturais exis-tentes em Currais Novos, assim como nas suas formas de acesso e gestão, nítidas diferenças entre o público e o privado, tanto em termos qualitativos, como quantitativos. Na estrutura pública há uma inércia explicável, talvez, pela falta de conhecimento dos gestores e pela postura dos que, tendo o conhecimento, não se dispõem a sair das zonas de con-forto.

Fala-se na carência de recursos finan-ceiros e humanos, contudo, a falta maior é de comprometimento e de vontade política. Basta dizer que os recursos gas-tos com uma dessas bandas de péssima qualidade que tocam em nossas praças dariam para manter um projeto de “ofi-cina de poesias” nas escolas públicas por um ano.

Temos, no Curso de Letras, ricas pos-sibilidades de ações via projetos de ex-tensão, através dos quais a Universidade pode atuar na Comunidade favorecendo a todos. Temos, sobretudo, a Fundação Cultural José Bezerra Gomes que pode, e deve, se desvencilhar da cantilena da falta de recursos e buscar parcerias.

Já o setor privado vem apresentando os resultados de uma atuação perseve-rante e comprometida com a Cultura e

com a Comunidade. Pode-se dizer que este trabalho de formiguinha iniciou há quase trinta anos, com o professor Jef-ferson Fernandes e demais integrantes de grupos de teatro locais. Sem tirar o mérito dos demais, chamo a atenção para estes protagonistas por serem vo-zes dissonantes que, além de procura-rem fazer cultura de qualidade, refletiam acerca da realidade, com suas problemá-ticas políticas, sociais e culturais.

Com o ingresso neste movimento, há vinte anos, do artista plástico João Antônio de Medeiros Neto, aprofunda-ram-se as ações a partir de uma visão sintonizada com os conceitos contem-porâneos de cultura e arte, associadas à consciência da indissociabilidade entre ação cultural e política, sempre com o foco na Comunidade. Além do estudo dos aspectos técnicos norteadores do fazer artístico, neste trabalho buscaram-se novas experiências estéticas, levando a práticas inovadoras para a realidade local, como a da construção a partir da desconstrução.

Dos artistas plásticos, músicos, poe-tas e outros que passaram a comparti-lhar desses ideais e perseguir dias me-lhores para a cultura local, temos hoje ações e espaços que colocam o setor privado muito adiante do setor público: Espaço Avoante de Cultura, Grupo Casa-rão de Poesia, ACMUSIC, Grupo Caçuá de Mamulengos, Grupo de Chorinho, Cur-sos, Oficinas, Shows, além de uma rica produção no campo das artes plásticas, da literatura, da música...

A situação do setor público, em ter-mos de cultura, é desastrosa. A do setor privado poderia ser muito melhor se contasse com políticas públicas locais. Para que haja uma melhoria nas condi-ções desses equipamentos culturais, jul-go necessário que o poder público ouça os produtores culturais e, juntamente

A palavra adjetiva sob os olhos de...

Celso CruzPandeirista e aprendiz de poeta. Respondendo

pela Secretaria de Desenvolvimento Econômico e Turismo e pela Fundação Cultural

José Bezerra Gomes

A Cultura em Currais Novos

Sabemos ser a cultura o símbolo maior de um povo desenvolvido. Bus-caremos estreitar os laços e andarmos juntos aos que labutam na área cultural e são portadores dos mesmos sonhos.

A cultura carece de infraestrutura de espaços e equipamentos, sejam eles pú-blicos ou privados. Os espaços destina-dos à sociabilidade, como clubes, casas de shows, centros de convivência, etc, devem incorporar atividades culturais e oferecerem condições para a produção, difusão, circulação, fruição e uma con-sequente democratização do acesso à cultura. O poder público e a sociedade têm papéis complementares, e podem e devem atuar juntos em benefício da cul-tura na sua forma mais ampla.

Currais Novos, de forma ainda inci-piente, já demonstra o caminho que quer seguir. Já existem espaços e movimentos que caminham a passos largos, sem ne-nhum apoio do poder público, mas que denotam a capacidade empreendedora de alguns abnegados. O teatro que está sendo construído com certeza dará um novo impulso aos movimentos culturais. Sabemos ser um povo diferenciado no que tange as potencialidades artísticas, berço de artistas plásticos, músicos e poetas memoráveis, que nos dignificam e nos motivam a lutar pela união de es-forços e uma consecução mais breve de objetivos colimados.

Urge a necessidade de andarmos em consonância com os princípios do Sis-tema Nacional de Cultura. Envidaremos esforços para implementação do nosso Sistema Municipal de Cultura, com a criação do Conselho Municipal e de um Fundo de Cultura.

Objetivamos trabalhar de forma a

O ESPAÇO AVOANTE DE CULTURA é coordenado pela ASSOCIAÇÃO AVOANTE DE CULTURA, entidade sem fins lucrativos. Construído ao longo de mais de

20 anos pelo artista plástico João Antônio, é um dos principais equipamentos culturais da cidade, oferecendo a um público diversificado cursos, oficinas,

exposições, debates, shows, peças teatrais, dentre outras atividades.Com capacidade para 120 pessoas, o Espaço já recebeu em seu palco artistas como Khrystal, Cátia de França e Jarlene Maria, filha da nossa homenageada

Suetônia Batista. Localiza-se na Rua Major Felizardo, 59, próximo ao CAIC,em Currais Novos/RN e espera pela sua visita!

Tiquinha Rodrigues, integrante da Banda Rosa de Pedra, no palco do

Avoante neste 14 de março de 2013

com estes, trace estas políticas, com es-paços para parcerias entre ambos.

Enfim, para a democratização do acesso aos bens culturais de uma forma geral, faltam em Currais Novos políticas públicas sintonizadas com a realida-de local e construídas a partir de uma base sólida que contemple produtores culturais e Comunidade. Infelizmente, são comuns entre os gestores públicos ações moldadas nos padrões da cultura de massa e de eventos criados a partir da monoideia de uma “mente iluminada”.

Democratização se faz com discus-são, participação, inclusão e, sobretudo, reflexão a partir da própria realidade. Estamos no início de uma nova gestão pública. Temos um movimento organi-zado ao longo de quase três décadas e um município vazio de políticas cultu-rais. Acrescentemos a este cenário um pouco de vontade política, com abertura para o diálogo, e teremos um significa-tivo avanço em direção à consolidação de um movimento cultural forte, repre-sentativo e aberto a todos os setores da sociedade, especialmente, àqueles por muito tempo privados do acesso aos bens culturais.

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Fazer um disco de estreia já foi mais difícil. Dificílimo, aliás. Com tanta tecnologia à disposição, gravar ma-

terial com boa qualidade requer peque-nos investimentos e redes sociais para espalhar a brasa do disco. Muita gente acaba sendo ouvida assim: discos inde-pendentes, praticamente feitos em casa. Essa facilidade tem permitido que mui-tos novos artistas utilizem algo que a tal indústria do show business hesita em aceitar: criatividade. Definitivamente, o mundo das gravadoras não se permite ser espaço para experimentações. Por essas e por outras, os discos de estreia saem cercados por poucas expectativas e quase isentos de cobrança: uma per-

na gira da poesia na gira da músicaBolandeira das letras Bolandeira dos sons

José Bezerra Gomes, filho de família tradicional e de posses do sertão do Seridó, nasceu em 09 de março de

1911, no Sítio Brejuí, município de Cur-rais Novos.

Acompanhou de perto a urbaniza-ção de sua cidade nas primeiras décadas do século XX. Ainda menino, seguiu para Natal, concluiu o curso ginasial no colé-gio Ateneu e logo depois formou-se em Direito pela Universidade de Direito de Minas Gerais.

Foi um homem simples, mas de ideais bastante ousados para sua época. Em sua vida, dedicou-se à politica, à cul-tura e às letras literárias.

Considerado como um dos represen-tantes da prosa e da poética modernis-tas norte-rio-grandenses, José Bezerra Gomes buscou apresentar em toda a sua obra o universo do homem seridoense, ora urbano, ora rural, expresso em cos-tumes, tradição, religiosidade, trabalho, entre outros aspectos.

Dentre as suas publicações estão os romances Os Brutos (1938), Por que não se casa, Doutor? (1944), A Porta e o Ven-

o sentimento de identidade do sujeito contemporâneo com sua história social.

A segunda parte de sua obra poética contempla poemas mais curtos, inclu-sive alguns poemas-minuto, marcas de vanguarda na poesia de José Bezerra Gomes. São alguns exemplos desses poemas: Seridó, Limite, Todos.

Ler a poesia de José Bezerra Gomes é sem dúvida um outro caminho possí-vel para compreender o Seridó. O avô, a avó, a casa, o curral, as feiras, a terra, o rosário de contas, o mês das flores, os algodoeiros são alguns dos elementos que pintam a poesia desse escritor cur-rais-novense de completa identidade seridoense e fazem assim um percurso de mão dupla, pois visitam o passado através da lembrança e se fazem vivos e [re]significados no presente por meio da memória e da tradição.

Há que se concordar que o roman-cista, poeta, advogado e politico Seu Gomes, como também era conhecido o poeta currais-novense, foi um homem de espírito inovador, conectado ao seu tempo e a seu espaço e responsável por incluir o cenário e os personagens do Se-ridó potiguar na Literatura Brasileira e é a Antologia Poética uma verdadeira reu-nião de poemas representativos da tradi-ção e da memória seridoenses, embora muitos destes textos se configurem gra-ficamente como um projeto de ruptura, e sirvam enfim para as inúmeras funções as quais a literatura se propõe, sobretu-do para a impressão e a permanência do sertão seridoense e seu povo nas linhas e entrelinhas da Literatura e da História Brasileiras.

Para além dos tempos: O Seridó de sempre na poesia de José Bezerra Gomes

Khrystal em Dois Tempos

Luciana Carvalho

Graduada em Letras pela UFRN e aluna da pós-graduação em Educação e Linguagem promovida pela mesma instituição. É educadora, agente de leitura do Casarão de Poesia com ativi-

dades voltadas ao incentivo da leitura e contadora de histórias, inventadas ou não.

to (1974) e o livro de poemas, Antologia Poética (1974).

A Antologia Poética é a sua única pu-blicação desse gênero. A obra foi lançada pela Fundação José Augusto e é dividida em duas partes, compondo um total de 32 poemas.

A primeira parte do livro é compos-ta por catorze poemas, sendo estes os textos mais longos de toda a obra e que apresentam em sua maioria uma fre-quente evocação aos elementos da na-tureza física e social do Seridó potiguar. Mealheiro, O cântico da terra, Multiplica-ção, Meu pai e Mãe são, certamente, os poemas que melhor representam esse caráter de desvelamento do Seridó, pois fazem um convite ao passado do homem seridoense a partir de uma viagem indi-vidual do eu-lírico, promovendo assim

Theo G. Alves

Escritor currais-novense, professor e graduado em Letras pela UFRN. Entre outros livros, publicou Pequeno Manual Prático de

Coisas Inúteis (poesia), pela Editora Flor do Sal, A Casa Miúda (prosa) e Loa de Pedra (poesia), em edições artesanais. É editor

do blog Museu de Tudo.

missão para serem mais inventivos. E, por isso, o segundo disco tornou-se um desafio ainda maior.

Khrystal, cantora, compositora e ins-trumentista potiguar, gravou seu disco de estreia – Coisa de Preto – em 2007: um disco vibrante, transbordante da energia jovial da moça que atualiza o coco tradi-cional sem perder os traços fundamen-tais de sua gênese. O disco e a cantora rodaram por aí, fixaram um nome, um estilo e estabeleceram que Khrystal era uma promessa. Assim, o segundo disco teve suas expectativas elevadas, e muito.

Então, em 2012, Khrystal lançou Dois Tempos, seu segundo e muito esperado disco. Se em 2007 sobrava energia, agora a cantora sublimou essa força, domou--a, manteve-a sob a rédea longa de sua criatividade e potencial. Dois Tempos é o disco de uma cantora madura, única, inequívoca, que alia técnica e emoção à maneira de Elis Regina, e outras pou-cas. Tudo o que estava em seu disco de

estreia – a vibração, a energia, a novida-de – permanece em Dois Tempos, agora acrescido de serenidade e controle vo-cal, delicadeza e elegância. Em seu novo disco, Khrystal exige definitivamente o seu lugar como diva – na melhor cono-tação que essa palavra pode apresentar – da música brasileira.

As composições estão distribuídas por Ricardo Baia, Luiz Gadelha e a pró-pria Khrystal, entre outros. Porém, mes-mo divididas, elas apresentam uma uni-dade das mais interessantes, resultado da ótima produção assinada por Baia. Arranjos, instrumentos, músicos... Dois Tempos é o disco em que tudo está mui-to acima da média, mas sem exageros: tudo é preciso e indispensável, música por música, desde “Na Lama na Lapa” (que abre o novo disco e anuncia Khrys-tal cantando seu pé no samba e sua recusa aos rótulos, à padronização) até “Compositor”, que encerra o disco apre-sentando uma cantora descolada, que batalha todo dia para viver de música.

É preciso ainda destacar a ótima “Bem ou Mal”, fruto da parceria com Luiz Gadelha, talvez a música mais gostosa do disco; a emblemática “Zona Norte/Zona Sul”, uma das melhores crônicas da vida nas grandes cidades, particulariza-das aqui na figura de Natal; e “Dois Tem-pos”, que dá título ao disco e versa sobre a dificuldade de se viver de música nesse universo distante das grandes estrelas da música medíocre apadrinhadas por grandes gravadoras.

Dois Tempos é, certamente, um ates-tado de que Khrystal fez a música acor-dar para si e que agora é hora de o país inteiro acordar para ela.

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É curioso como o espírito – palavra aqui desprovida de qualquer conotação religiosa – de Suetônia se estendeu sobre a família, apesar dos quase 30 anos de sua morte. Desde a menina que cavalgava pelas ruas da cidade usando calças com-pridas e causando pasmo nas senhoras mais tradicionais – passando pela grande organizadora de festas temáticas, de blo-cos carnavalescos, a aderecista, figurinista, bailarina, coreógrafa, piadista, espirituosa, musicista, arranjadora, compositora, poeta e cronista – até chegarmos à mãe, esposa e avó, há em todos os momentos uma marca indelével da mulher Suetônia Batista, ca-paz de escandalizar e apaixonar quem dela se aproximava.

Suetônia Dalva de Castro Nunes Ba-tista nasceu em 12 de abril de 1913, em Guarabira – PB, mudou-se para Florânia, conhecida à época como Vila de Flores, e finalmente para Currais Novos, onde fixou residência e casou-se com João Batista Fi-lho, em 1931. Há registros de publicações suas desde 1927, quando assinou uma crô-nica em O Porvir.

Desde seus primeiros escritos, Suetô-nia mostrou ousadia e disposição para se opor ao machismo vigente na provinciana Currais Novos, bem como se dispunha a chocar a sociedade bem comportada: foi a primeira mulher a ter um programa de rá-dio na cidade, tocava em grupos de música regional, nos quais era a única mulher, cos-tumava dançar durante todas as noites de festa, causando pasmo na tribo engessada dos bons costumes.

Há registros muito significativos da vida de Suetônia em poder da família, es-palhados entre as várias filhas e filhos, mas a casa onde viveu até seus últimos dias ainda é pouso de poemas escritos à mão – posteriormente publicados pelo pesqui-

sador Adriano Santori no livro “Suetônia Batista – Obra Reunida”, em 2007 –, de fotos de suas festas, passagens marcantes e pes-soas importantes, como registrado na foto autografada de Luiz Gonzaga, quando da estada deste na casa dos Batistas, motiva-do por uma de suas famosas turnês Brasil adentro.

Pode-se perceber em seus filhos, na alegria com que contam as histórias de sua mãe e de seu pai, a alegria e espirituosida-de ainda impregnadas na casa, nos discos de vinil guardados na estante e que iam desde a música mais tradicional ao que ha-via de mais novo em sua época. É possível imaginar alguém apaixonado por Beatles e entusiasta do Tropicalismo em uma Currais Novos extremamente provinciana, cravada nos grilhões da década de 1960? A discote-ca de Suetônia prova que sim.

É lamentável que, tendo escrito até seus últimos dias de vida – ela morreu em decorrência das complicações de um cân-cer, em 1986 – seu mais significativo regis-tro poético tenha desaparecido: Suetônia havia organizado um livro de seus poemas que perpassavam suas mais distintas ver-ves: desde a mulher apaixonada até seu espírito livre e gozador, capaz de fazer dan-çar as dores anteriores à morte. – Os filhos contam que, pouco antes de morrer, quan-do as dores do câncer eram mais lancinan-tes, Suetônia convidava para sua casa uma amiga querida e elas dançavam ao som das músicas preferidas da musicista e poeta –. O livro, lamentavelmente, foi roubado e até os dias de hoje continua inédito e desapa-recido.

Mas não são sempre mais belos os versos que se evadiram, que se perderam na lida? Afinal, estes são sempre os versos impossíveis.

Impressões de Suetônia Batista Poemas de Suetônia Bat ista

A Ti

Quando eu ligar o meu destino ao teu

E então viveremos numa casinha bela,

Hei de falar numa expressão singela,

Hei de contar como este amor nasceu.

Quando eu for tua e quando fores meu,

(pouco me importa que me julguem louca)

Hei de beijar, sorrindo a tua boca

Porque entre nós o amor floresceu.

Satisfazendo aos meus e aos teus desejos

Não cansarei de ofertar meus beijos

Em belas noites e ao clarão da lua...

Isto, no entanto, agora é quimera,

Mas, se me amas, meu amor espera

Que enfim tudo farei quando for tua.

Currais Novos, 29 de fevereiro de 1961

Nunca pensei que fosse possível es-crever algo a respeito de Suetônia Batista sem ir à sua casa – localiza-

da em uma das ruas mais tradicionais de Currais Novos e constantemente referida como “a casa dos Batistas”. Sempre achei que houvesse certa magia na música que eu ouvia de passagem, emanada de lá, quando caminhava pela rua onde ficam os fundos da casa grande e os filhos, netos, amigos e chegados costumam se encon-trar para fazer música e beber as alegrias dessa vida tão amarga. Por isso preci-sávamos conduzir a equipe editorial de Manga-espada à casa de Suetônia, a seus filhos Jarluce, Juciane e Jovâneo (há ainda outros, mas que não estavam presentes), a seu espólio, seu legado, música e poesia.

Depois de alguns contratempos, con-seguimos nos encontrar na casa dos Ba-tistas em uma manhã quente de sábado, interrompendo a rotina de preparação do almoço, intervindo na alma da casa para o que os filhos chamaram “uma entrevis-ta”. Cercados de fotos, de memórias e da presença constante da figura de Suetônia Batista, ouvimos histórias, façanhas, ane-dotas, recordações e, especialmente, o que pudemos nomear de “as impressões de Suetônia”.

Foto autografada por Luiz Gonzaga, quando de sua

hospedagem na casa da poeta

Suetônia e seu marido João em festa junina organizada por ela Manuscritos de Suetônia Batista

Esquece-te

Esquece-te de mim, que eu me sinto esquecer-te!

Varre do pensamento o meu nome modesto

Procura quem melhor saiba amar-te e querer-te

Que louvarei o teu inesquecido gesto!

Depois, faze constar a todos que eu não presto

Que sempre procurei magoar-te, aborrecer-te...

Que tenho um coração capaz de enlouquecer-te...

O porquê não dirás, ocultarás o resto.

E vamos caminhando indiferentemente,

Esquecidos da vida e dos males do mundo,

A viver do passado , a sorrir do presente...

E podes me atirar as pedras injuriosas,

Que lança o ódio teu, o teu gênio iracundo,

São elas para mim quase pétalas de rosa.

Currais Novos, 29 de fevereiro de 1961

Theo G. Alves

Escritor currais-novense, professor e graduado em Letras pela UFRN. Entre outros livros, publicou Pequeno Manual Prático de

Coisas Inúteis (poesia), pela Editora Flor do Sal, A Casa Miúda (prosa) e Loa de Pedra (poesia), em edições artesanais. É editor

do blog Museu de Tudo.

Manga-espada • 9

Filhos de Suetônia emocionados com as relembranças de sua mãe

Page 6: Revista Manga Espada

arte e resguardo S i lo

Há alguns anos o Grupo Casarão de Poesia realiza visitas periódicas ao Abrigo de Idosos de Currais

Novos/RN. Sentados nas cadeiras de ba-lanço daquela entidade, entre conversas, músicas e poesias, ficamos conhecendo melhor as pessoas que ali residem, suas histórias de vida, profissões, andanças pelo mundo. A partir dessas histórias e com o patrocínio do Programa de Cul-tura do Banco do Nordeste, resolvemos entrevistá-los oficialmente, com o in-tuito de eternizar suas vivências em um livro escrito no formato de literatura de cordel. Foi assim que durante algumas semanas realizamos visitas mais fre-quentes ao abrigo e coletamos histórias de infâncias bem vividas, brincadeiras de bonecas e pastoreio de gado feito de ossos e sabugos. E a contação desses viveres foi se derramando pelos corredo-

res, enchendo o abrigo de cores e mo-vimento, quem sabe fazendo os idosos redescobrirem sua importância dentro do nosso contexto social, mostrando-os que a velhice é apenas mais uma parte da vida, um processo natural digno de respeito e atenção especial. O livro retra-ta de forma muito bem humorada desde fatos do cotidiano simples até causos pitorescos relatados pelos idosos. A lei-tura é leve, saborosa e sua construção em formato de literatura de cordel não poderia ser melhor para registrar toda a nordestinidade dos “biografados”. O livro foi lançado em dezembro de 2012 e está à venda no Casarão de Poesia e no Abri-go de idosos, sendo que os recursos ad-vindos das vendas serão revertidos para a manutenção das atividades das referi-das entidades.

Wescley J. Gama

LiteraturaNas Cordas da Memória e da Vida

Cinema Amor (Amour), de Michael Haneke: Amor e Dignidade?

matinais e de um espírito musical que agora está calado. O filme, aliás, não tem cenas externas: todas as situações se passam no apartamento do casal, com exceção de uma. A trilha sonora é abso-lutamente escassa, pois o silêncio diário de seus personagens é suficientemente ruidoso para não passar despercebido.

Se os silêncios de Amor são plena-mente audíveis, isso se deve em grande parte a atuações irretocáveis de seus dois personagens principais: Jean-Louis Trintignant e Emmanuelle Riva. Os closes em Trintignant são um momento mági-co do cinema: quando se diz tudo, de maneira absolutamente precisa, sem ex-cessos e sem faltas, sem que palavra al-guma precise ser dita. Quanto à Riva, os

prêmios que a atuação lhe rendeu e a in-dicação ao Oscar de melhor atriz dão os contornos a seu desempenho em Amor.

Haneke conseguiu dar voz à comple-xidade do amor ao fugir dos perigosos clichês que envolvem o tema ao permitir que seus protagonistas fossem huma-nos, sofressem, errassem, perdessem a cabeça e retomassem o rumo, como acontece na vida de seus expectadores, que são conduzidos à cumplicidade má-xima, contestadora da ética e da ordem estabelecida. Se é apenas na vida que se pode ter dignidade, a morte constrange-dora e embaraçosa nos faz carecer ver-dadeiramente de amor, sem concessões.

Theo G. Alves

TeatroContos Cantos e Encantos do Reino de Palmerá

Quem sabe contar uma boa histó-ria de trancoso? Com Rei, Rainha, princesa, curandeira...? Um conto

cheio de encantos? Quem conta/canta uma história com sabor de sertão, com mau assombro, crendice e muita emo-ção? Abra o baú da sua memória.

Conta o povo antigo, que no Seridó norte-rio-grandense existia um grande reino rico e feliz chamado Palmerá go-

vernado por um rei chamado Gabriel e uma rainha chamada Marta. Marta, uma dessas mulheres fortes que só encontra-mos no Seridó, deu a luz a uma linda me-nina em quem pôs o nome de Mariana. Devota de Sant’Ana, sempre entregou nas mãos da avó de Cristo as adversida-des e atropelos do caminho.

A felicidade de um reino próspero, o amor entre um homem e uma mulher concretizado em face de um coração partido, um amor não correspondido é o bastante para levantar a fúria de quem o amor não coroou e assim, uma feiticei-ra velha por nome Infelízia das Costas Ocas, apaixonada pelo rei, acaba com a felicidade do reino e condena todos à desgraça. Toma o castelo e escraviza o povo, a partir daí começa a se traçar uma nova história, um tempo de miséria, seca e fome abate o reino de Palmerá; o rei Gabriel foge para serra de Sant’Ana com sua esposa e filha recém nascida que ha-via sido prometida ao príncipe de Pedra do Mar. Lá passa a ter uma vida normal, como camponês após a morte de sua mulher.

Palmerá esconde um grande segre-do, qual será? Tá a fim de desvendar? Venha conosco nesta viagem, o texto de Adriano Nunes nos convida a irmos até o reino de Palmerá junto com Mariana, menina destemida que vai atrás do seu

“Cuidado”, “resignação”, “paciên-cia” e “humanidade”. Estes são substantivos que poderiam

figurar como o nome do último filme do cineasta austríaco Michael Haneke, mas “Amor” é mesmo o mais apropria-do à película, posto que todos os outros estão compreendidos neste. É esse o sentimento que Haneke encontra como justificativa para nos contar a história de Georges e Anne, casal octogenário de ex-professores de piano que precisa lidar com um dos mais cruéis e implacáveis obstáculos para o amor: o tempo.

Diante da nova configuração familiar a que chegamos, o enredo nos leva a confrontar o lado árduo da independên-cia dos filhos, do isolamento, do fim das

famílias numerosas, que é a decrepitude beirando a solidão. Georges e Anne mo-ram sozinhos, raramente visitados pela filha do casal e por outros poucos tercei-ros que fazem parte desse novo merca-do que a velhice em seus novos contor-nos nos legou: enfermeiros, cuidadores, empregados domésticos, carregadores, médicos, etc. Diante da saúde debilita-da de sua esposa, Georges cuida dela pacientemente: seu companheiro, seu cuidador, seu amigo, seu amor.

Enquanto a filha esporádica aparece vez ou outra para requerer cuidados e meter-se no destino de sua mãe, o ma-rido perene é quem toma as rédeas de suas necessidades em seu apartamento silencioso, cercado de livros e jornais

destino e felicidade, lá conheceremos nossa odiada antagonista e sua fiel cria-da Das Dor. Será necessário que Mariana vá ter com ela. E você? Vai com Mariana ou vai ficar ai com medo?

Não precisa muito aperreio, pode usar a sua máscara, esteja confortável, traga um tamborete que vamos levar você ao universo perdido de Palmerá 5...4...3...2...

Adriano Nunes

FICHA TÉCNICA:Texto e Música: Adriano NunesCenário e Figurinos: Manoel NetoAdereços: Cia Empório Dell’ArteExecução de Figurino: NannaExecução de Cenários e adereços: Cia Empório Dell’ArtePreparação dos atores: Cia Empório Dell’ArteIluminação: Márcio LopesAssistência de Direção: Carlos MedeirosDireção Geral: Adriano Nunes

ELENCO:Adriano NunesCarlos MedeirosCris FloresLivramento SilvaLuiz SátiroManoel Neto

** A peça está em cartaz há mais de 1 ano e já percorreu estradas do Rio Grande do Norte e da

Paraíba.

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f ibras de lã derrubando as cercas dos currais conformismo às avessas

Capucho Antinome

A convocação feita à Associação Avoante de Cultura para o enga-jamento no projeto do Carnaval

Cultural 2013 nos remeteu a uma velha luta. Reporto-me à década de 90, quan-do no Arrastão da Gorette confeccioná-vamos bonecos gigantes com restos de espuma de colchão e remendávamos o parco tecido para suas roupas. Lembro-me do boneco do presidente Lula que o recepcionou quando esteve em Natal, da alegoria de mão intitulada “A Mão Que Sangra” no desfile de carnaval em protesto ao governo do Dr. Mozar Dias e do bloco “Vírus do Ipiranga” com suas fantasias feitas de material reciclado que faziam críticas à ordem vigente. Todavia, o desencanto se abateu sobre Renatão do Arrastão da Gorette que, depois de uma década de descaso do poder pú-blico com relação ao seu trabalho, não resistiu ao pensamento elitista dos pro-prietários dos Currais que não incluía a cultura popular em sua agenda.

O momento que parecia marcar o fim do carnaval popular em Currais No-vos, a partir de 2006, com as gestões municipais de Zé Lins e Geraldo Gomes, felizmente não se confirmou, pois fo-mos despertados mais uma vez com o Arrastão do Boi. A semente estava ador-mecida nos olhos das crianças que se deslumbravam com os nossos bonecos gigantes e fantasias e que, hoje, adultos, movidos por essa lembrança feliz, reto-maram mais uma vez o carnaval popular. Não foram em vão nossos esforços, nin-

Carnaval Cultural , a Resistência A complexa dinâmica cultural brasi le ira

Arrastão da Gorette na Década de 90

Arrastão do Boi em 2013

submete a população de baixa renda à extorsão eleitoral, relegando a ela uma função utilitarista para a realização de seus intentos.

As manifestações populares que va-lorizam e dignificam o indivíduo, que têm como articuladores a comunidade organizada, se inserem como instru-mento da participação popular, contra-ponto ao modelo político administrativo adotado pelos nossos governantes, que ainda seguem cartilhas de políticas rea-cionárias distantes das diretrizes consti-tucionais. Tais entidades mostraram sua capacidade de mobilização ao organizar o Arrastão do Boi conferindo-lhe força e poder.

João Antônio de Medeiros Neto

Quadrinista e artista plástico, graduado em Educação Artística e Letras pela UFRN, idealizador e coordenador

do Espaço Avoante de Cultura

Iara Maria Carvalho

Poetisa, Agente de Cultura e Mestra em Estudos da Linguagem pela UFRN

Apesar do conservadorismo que im-pera no setor governamental em Currais Novos, iniciativas de participação popu-lar aconteceram ao longo de sua história. No início da década de 90, destaca-se a iniciativa do coordenador de cultura Jefferson Fernandes. Ele construiu um projeto de carnaval junto com os artistas que consistia na realização de arrastões. Estes partiriam de cinco pontos da cida-de com bonecos gigantes representan-do os bairros envolvidos. Daí surgiu o Ar-rastão da Gorette. Em 2005 houve uma

guém pode apagar o brilho dos olhos da criança de Ronaldo, Paula Érica, Adriano Nunes, Siderley e todos os artistas envol-vidos no projeto do Arrastão do Boi, que aprenderam a ver a beleza no mundo, a importância da cultura para a trans-formação do indivíduo. Entendimento esse que os nossos governantes não conseguiram atingir, tolhidos que estão pelos interesses individualistas de seus clãs no apartheid de classes sociais em que prevalecem os valores de uma elite catequizada pelo “neocoronelismo”, que

tentativa de retomada do projeto que foi abandonado nos anos subsequentes.

A retomada do carnaval participativo e de iniciativa da comunidade civil orga-nizada evidencia uma demanda cultural de caráter popular que não é atendida pelas administrações públicas. Enquanto não for criado o espaço de direito para a cultura, por mais que tentem ignorá-la, a necessidade da expressão artística, do belo, estará sempre presente nas mani-festações populares reivindicando o re-conhecimento devido. O Arrastão do Boi é uma prova desse desejo.

Valorizar a nossa cultura é entender o quanto ela é capaz de nos huma-nizar, de tocar a nossa humanida-

de de forma profunda e reveladora. O crítico literário Antonio Candido defen-de “O Direito à Literatura”, considerando esta arte como sendo bem incompres-sível, necessidade universal e direito de todos, que não pode deixar de ser satisfeita “sob pena de desorganização pessoal, ou pelo menos de frustração mutiladora”. Da mesma forma podemos enxergar a cultura, esse instrumento de confirmação da humanidade, que traz à tona nossas singularidades e deixa ver nossos mais prementes anseios. Mas Candido aponta que a arte, a literatura e, por extensão, a cultura, só poderão ser compreendidas nessa dimensão con-forme uma “organização justa da socie-dade”, reiterando o caráter dialético da cultura, que atua negando os entornos da realidade, para transformar o homem e seu mundo social.

Diante de tal perspectiva, entende-mos como necessário considerar as três dimensões da cultura: econômica, sim-bólica e cidadã, como atitude tanto da comunidade quanto do próprio Estado. Se o Estado não leva em conta esses três aspectos, corre o risco de compar-timentalizar a nossa identidade cultural, numa atitude castradora que promove

não apenas o abandono de práticas di-versas, mas também a supervalorização da cultura de massa, homogeneizadora e fabricante de estereótipos culturais. Em consequência disso, o Estado não auxilia no desenho de um país mais jus-to, humano e soberanamente pleno em cidadania. Isso porque não assume o seu papel de fomentador responsável por conhecer o nosso multifacetado país continental, através de uma cartografia valiosa para o tracejar do retrato de nos-sa identidade cultural. Desmantela, as-sim, os horizontes de expectativas que criamos em torno do Estado, favorecen-do um clima de rivalidade entre os do-mínios públicos e privados, em cuja ba-talha somente quem perde é o próprio fazedor de cultura, sedento por estímulo e reconhecimento.

Mesmo admitindo o grande avan-ço pelo qual o país passou nos últimos anos, com a criação do Ministério da Cul-tura, verbas próprias, construção cons-tante de conselhos, conferências, fundos participativos, dentre outros, sabemos que ainda há uma malha de entrança-dos quereres ainda não solucionados. Falta política de Estado e sobra política de governo, o que desemboca em ações sem continuidade em virtude de diver-gências partidárias. Falta sensibilidade para cartografar desde os aboios mais longínquos até os carnavais mais gigan-tescos. Falta mais respeito ao processo de criação artística, que deve estar além de qualquer negociata em torno dos produtos culturais. Sobram editais, mas falta ainda organização para fazê-los va-ler, cumprindo todo o cronograma e os repasses financeiros. A dinâmica cultural brasileira é tão grande e plural que, em

meio à escassez e à abundância, residem o artista e as comunidades, à espera de um Estado preocupado com as nossas singularidades e disposto a descentrali-zar o poder que tem em mãos.

Diante disso, constatamos que é de-ver do Estado fortalecer os laços entre as esferas municipal, estadual e federal, numa simbiose capaz de somar esforços por um novo panorama cultural brasilei-ro, renovado, límpido, plural, fronteiriço e livre. É dever do Estado instituir novas políticas públicas, que alcancem diver-sificados repertórios das nossas expres-sões culturais, das comunidades e suas vivências cotidianas e dos artistas que, individualmente, configuram-se como uma pedra de toque essencial à repre-sentação da nossa cultura. É dever do Estado lutar por mais verbas e incentivos que possam atingir todas as fronteiras do nosso país. E ainda, é dever do Esta-do contribuir para a construção, preser-vação, valorização da nossa identidade, sem apagar os aspectos importados por um país historicamente colonizado, mas, sobretudo, realçando o ecletismo cul-tural que corre em nossas veias, junto a um sangue multicolor que tinge a nossa alma com as cores mais vibrantes e vivas.

Um viva à cultura brasileira!

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Peixe Podrepara Leão Neto, que me apresentou respeitosamente este homem

A faca rasgava a barriga do peixe como se abrisse nuvens, de onde escor-reria uma chuva vermelha e viscosa. A arte das facas, a sorte lida nas vísceras, infortúnios em lugar de fortuna. As mãos tingidas do vermelho sangue-chuva-vis-cosa das entranhas dos peixes. O chei-ro impregnado no corpo, no couro, no osso, na origem da alma. O odor ances-tral dos peixes arrebatados pela rede de seu pai, do pai de seu pai, e do pai deste e do outro até o início dos tempos, como se Adão carregasse no ombro sua vara de pesca.

Peixe Podre o chamavam, desde an-tes, de sempre. A caixa de isopor amar-rada ao bagageiro da bicicleta e um cordão de cinco peixes raquíticos presos pelas bocas. “Peixe podre”, ele gritava pelas ruas, como a cidade o chamava.

Vendia-os por uma pequena miséria amealhada, suficiente apenas para um tanto de feijão e outro tanto de cachaça. O cheiro fétido do isopor era também o cheiro de seu corpo e da cama de rosas mortas em que se deitava aquele ho-mem miserável e sua mulher miserável ocupada do miserável legado que seus filhos receberiam.

O sol havia-lhe furtado a cor da bar-ba, refeito o tom de sua pele e entalha-do os veios de sua musculatura-osso. “Peixe Podre”, as pessoas o chamavam pelas ruas. “Peixe Morto” talvez fosse o nome mais preciso. A podridão dos pei-xes mortos mastigou os ossos de seu juízo. Peixe Podre empurrava ao braço de mar sua canoa: só o mar podia abra-çá-lo: peixe podre, pobre peixe. E o mar convidou-o às suas entranhas, as do mar. Em sua canoa rasa, Peixe Podre deixou-se carregar ao ventre oceânico, ao ventre de água do mar. Deitou-se sozinho em seu barco miserável, como miserável era seu destino. Encolheu-se, refeito o meni-no de antes de nascer, no ventre de sua mãe verdadeira, no ventre marinho de sua mãe verdadeira.

Brisa Úmida O bulbo despontaa face fria da tardinhae o verde-campestrese desfolha num instantede brisa úmida. Aqui, vejo-te pedra-mosaicoonde formas e coresse combinam.e a água siena se deslizacomo a pele escamosadas sereias,cariris.

Maria Maria

Casa de Far inha fibras de verso e prosa

O cacimbão é fundo, escuro, lodoso. Pequenos animais o rodeiam. Borboleti-nhas sobrevoam o espaço úmido e a at-mosfera carregada.

Lá vem Zé de Bia. Gira o rolamento enferrujado, que vem rangendo, maqui-naria rústica, estardalhaços no ar. Pas-sa a corda, dá um bom nó. Lá vai a lata descendo em busca da água limpinha e doce, fria e serena.

Chuá! Clang! Encontro de minerais.

A água sobe pura para saciar a sede dos simples dali. Zé despeja o líquido brilhante nos barris.

O burro, com cargas d’água, passa sede no caminho seco.

Wescley J. Gama

Cacimbão

Todas as belas fotografias que se unem aos contos e poemas da Casa de Farinha e ao poema da contracapa da Revista são de autoria do fotógrafo potiguar Hugo Macedo, que nos honra em tornar essa Manga-espada um deleite para os olhos e o coração.

Peixe Podre deixou-se arrefecer, dei-xou-se engolir, sem pensar no destino corroído de seus filhos, na podridão que empesteou o útero de sua mulher com-panheira de muitos, muitos sofrimentos e mínimas alegrias esquálidas, como es-quálido era o corpo de Peixe Podre, que não pensou em nada enquanto a boca do mar o devorava, lentamente.

Theo G. Alves

Sobre a GeografiaAqui não chovesol e lua me orientammeus pés quiseram asascada canto do mundo é minha casa

Luma Carvalho

OrigemHá uma sombra vermelho incaA pairar sobre os alimentosEmanando saudades primitivasDos americanos sentimentosColho, cozinho, fervo, seco, piloA secreta virtude do milharalVoando amplo no terreiroDesmentindo da terra seu sal.

Elina Carvalho

Tessitura das HorasNo relógio do tempogravaram-se anseiossono, cansaço - chorosde crianças.

Em murmúrioscantares de meninosteceram horas - noitesde espera despontando auroras.

Voz do vaqueiroantecipava madrugadaainda escura. Era alegriaquando rósea manhã surgia.

Maria José Mamede

Para Tardes de Chuva no Fim do MundoHá uma tarde de cheiro acreme possuindo inteiracomo o canto das lavadeiras ecoandonos meus tímpanos

A casa onde habito desde a infânciavive a assombrar-me em noites friase a cantiga das cigarras tomam-mecomo se eu fosse uma pequena folha em dias de inverno

Não sei se abro as portas do meu sótãoou se rabisco as paredes do meu estábulofinjo não me comover com as formigase sorrio levemente para os velhos discosque há tempos não tocam nem as minhas varizes

Não quero compartilhar com minhas gavetaso amargo sabor de um dia cego e velozquero vestir-me de brisa e esperar a chegada da chuva

Quem sabe ela se comova com minha caduquicee me traga o arrepio de uma ostrano tilintar da pérola dentro de si.

Paula Érica

LuzirAos que amamhá minha mão em concha,Traga-me.Dê-me.Aceito um bocado.

Aos de sedeÁgua joga-se:chuvaaguandoa espera solodo barro derramado.

Luciene Danvie

Page 9: Revista Manga Espada

Manga-espada