Revista Origem

3

Click here to load reader

description

Edição especial em comemoração aos 180 anos de Imigração Alemã em Santa Catarina, com gancho extra para a gastronomia típica destes imigrantes. Em Origem, produzi a maior parte dos textos, traduções para o Inglês e fotografias (inclusive a capa).

Transcript of Revista Origem

Page 1: Revista Origem

61

Ori

gem

18

0 an

os d

a im

igra

ção

alem

ã em

san

ta C

atar

ina

60

Ori

gem

18

0 an

os d

a im

igra

ção

alem

ã em

san

ta C

atar

ina

arQUitetUra

Enxaimel subtropicalSubtropical fachwerk

Adaptada ao clima local, a técnica medieval é hoje um traço marcante da influência alemã

A medieval technique adapted to local weather became a unique sign of German influence

Page 2: Revista Origem

“Queridos avós!

Espero que a carta os encontre bem de saúde.

Fico contente em saber que agora estão se

sentindo melhor. Aqui vivemos no meio da

natureza, a ti meu avô certamente gostaria de

passar aqui. A casa onde moramos é coberta de

Palmito e palha é o seu lar. Sem janelas e sem

assoalho (...).”

62

Ori

gem

18

0 an

os d

a im

igra

ção

alem

ã em

san

ta C

atar

ina

63

Ori

gem

18

0 an

os d

a im

igra

ção

alem

ã em

san

ta C

atar

ina

esmo em tom otimista, as primeiras palavras da carta que Rose Gartner escreveu de Blu-

menau para seus avós em Dresden-Sachsen, na Alemanha, em 1860, revelam a falta de conforto experimentada pelos colonos europeus que apor-taram em Santa Catarina no século 19. A casa des-crita na carta era uma habitação temporária: com a evolução das colônias, a família de Rose e outras tantas logo morariam em residências com janelas de vidro, porta e assoalho.

Motivados pela vontade de viver em melhores condições, aqueles imigrantes não imaginavam que suas construções deixariam um legado arqui-tetônico único no mundo, uma adaptação subtro-pical da técnica enxaimel (em alemão, Fachwerk) utilizada pelos etruscos seis séculos antes de Cristo e posteriormente difundida por toda a Europa. De São Pedro de Alcântara em direção ao Nordeste catarinense, as harmoniosas, simples e centenárias casas de tijolos à vista e madeiras cruzadas re-presentam um período singular da história de um povo que teve de criar um novo modo de vida em um lugar distinto de suas origens.

Uma construção enxaimel era erguida com bar-rotes de madeira que formavam um engradado, preenchido com taipa (mistura de barro, argila, estrume, pelos de animais e capim) ou, posterior-mente, com as primeiras olarias, com os tijolos vermelhos encontrados na maioria das edificações preservadas. O calor das terras brasileiras levou os colonos a desenvolver adaptações arquitetônicas para o clima local. As casas ganharam varandas, área sem muita utilidade na fria Europa, que nos dias mais quentes servia como espaço de lazer para

M n spite of their optimistic tone, the first words of the letter that Rose Gartner wrote from Blu-

menau to her grandparents in Dresden-Sachsen, in Germany, 1860, unveil the lack of comfort expe-rienced by the European immigrants that settled in Santa Catarina in the 19th century. The house des-cribed in the letter was a temporary shelter. With the development of the colonies, Rose’s family and many others would live very soon in places with glass on the windows and a wooden floor.

Driven by the will to improve their living stan-dards, those settlers couldn’t imagine that their houses would become a world unique architec-tonic legacy, a subtropical adaptation to the fa-chwerk (framework) technique, used by the Etrus-cans six centuries before Christ and then spread to the whole Europe. From São Pedro de Alcântara to the entire Santa Catarina’s Northeast, the har-monious, simple and centenary houses, with their red bricks and crossed woods, represent a singular period of the history of a people who had to build a new way of life in a place very different from their origins.

A fachwerk house was usually put up with wood beams forming frames that would then be filled with mud, clay, manure, animal fur and straw. Later, with the first pottery factories, the filling would be replaced by the bricks that still remain in most of the preserved buildings. But the Brazilian heat required a few changes on the original tech-nique. Balconies, useless in the cold northern Eu-rope, became a must in Santa Catarina. They were extremely useful on hot summer days as leisure and resting space.

I

“Dear grandparents,

I hope this letter will find you in good

health. I am glad to know that now

you are feeling well. Here we live

among nature, you, grandpa, would

certainly love to spend a couple of

days here. The house where we live

is roofed with palm tree leaves and

straw is our home. No windows and

no wooden floor (...).”

na área rural de POMerOde, a rOTa dO enXaIMel Guarda eXeMPlOS BeM COnSerVadOS da arQuITeTura naS COlÔnIaS aleMÃSIn POMerOde'S COunTrySIde, THe faCHwerk rOuTe HOldS well PreSerVed eXaMPleS Of GerMan COlOnIal STyle arCHITeCTure

eM BluMenau, COnSTruçõeS IMITandO O eSTIlO TradICIOnal enfeITaM aS ruaS e

deIXaM Clara a InfluênCIa eurOPéIa In BluMenau, BuIldInGS rePrOduCInG

THe TradITIOnal STyle leaVe nO dOuBTS aBOuT THe eurOPean InfluenCe

Page 3: Revista Origem

65

Ori

gem

18

0 an

os d

a im

igra

ção

alem

ã em

san

ta C

atar

ina

65

Ori

gem

18

0 an

os d

a im

igra

ção

alem

ã em

san

ta C

atar

ina

The fachwerk technique lasted until the Second World War, when President Getúlio Vargas` poli-cies turned against any Germanic demonstration (which got criminal status) as a way of showing its commitment against the Nazism in Germany. This repression, together with the coming up of new constructive techniques, soon made fachwerk construction to fall out of practical use.

However, in the end of the 1970s, with the tou-rism business growth in Brazil, a tax sheltering law approved in Blumenau fostered the construc-tion of new buildings with the ancient technique. The result of it was the booming of a style – called “fake fachwerk” by its critics – that can be found on the streets of the city central area. The initia-tive spread to other cities and nowadays, despite of not following strictly the original methods and using modern materials like concrete and tempered glass, those new constructions gave a noticeably European look to those cities. Ironically, the “fake” polemic ended up giving a new significance to the authentic fachwerk which started to be preserved as historical heritage throughout all Santa Catari-na, creating new touristic routes.

One of the most famous, founded in 2002, is the Pomerode`s Fachwerk Route, that runs by more than 70 houses at the suburb of Testo Alto and. Among its sights there are the Casa de Taipa, built in 1898 and belonging to the Lümke Family; and the Casa Rahn, dated from 1920. North of Blume-nau, Vila Itoupava district concentrates a number of fachwerk houses. There, even the small hospital is registered as cultural heritage and it is easier to hear a chat in German than in Portuguese. In Jara-guá do Sul, the rural locality Rio da Luz Pequeno keeps a little jewel named Casa Rux, built in 1915.

São Pedro de Alcântara, Timbó, Indaial, Guabiru-ba, Ascurra, Benedito Novo, São Bento do Sul also have dozens of centenary houses spread through their streets and rural communities. Driving by any of these towns, it takes just an attentive look to find authentic treasures of colonial architecture, physi-cal witnesses of Santa Catarina’s history.

as famílias.A técnica enxaimel deixou de ser utilizada du-

rante a Segunda Guerra Mundial, quando manifes-tações alemãs passaram a ser crime no Brasil, den-tro do política do presidente Getúlio Vargas contra o nazismo. A repressão, aliada ao surgimento de novas técnicas de construção, tirou o sentido prá-tico de se manter a arquitetura enxaimel.

Mas no fim dos anos 1970, com o crescimento do turismo, uma lei de incentivo fiscal criada na cidade de Blumenau possibilitou que novas cons-truções voltassem a utilizar a técnica centenária. O resultado, encontrado hoje nas ruas do Centro da cidade, foi a explosão de um estilo que os críticos chamam de “falso enxaimel”. A ideia se espalhou para outras cidades e hoje, mesmo não seguindo a técnica estritamente e incluindo modernidades como concreto armado e vidro temperado, as no-vas construções dão uma aparência única às ci-dades de colonização germânica. A polêmica das “falsificações” acabou gerando interesse pelo au-têntico enxaimel e o resultado foi o tombamento de dezenas de casas em toda a região e a criação de roteiros de visitação turística.

Um dos mais famosos, criado em 2002, é a Rota Enxaimel de Pomerode. O percurso inclui mais de 70 casas no Bairro Testo Alto e tem como desta-ques a Casa de Taipa de 1898 da família Lümke, e a Casa Rahn, de 1920. Ao norte de Blumenau, o distrito da Vila Itoupava concentra bom número de construções enxaimel. No bairro, até o hospital local foi tombado e é mais fácil ouvir o idioma alemão do que o português nas ruas. Em Jaraguá, o Rio da Luz Pequeno guarda uma preciosidade chamada Casa Rux, construída em 1915.

São Pedro de Alcântara, Timbó, Indaial, Guabiru-ba, Ascurra, Benedito Novo e São Bento do Sul tam-bém contam com dezenas de casas espalhadas por suas ruas e localidades rurais. Passando por qual-quer destes municípios, na ausência de um roteiro específico, basta um olhar atento para encontrar verdadeiros tesouros da arquitetura colonial, teste-munhos concretos da história de Santa Catarina.

Santa Catarina guarda verdadeiros tesouros da arquitetura colonialSanta Catarina keeps authentic treasures of colonial architecture

a eSTruTura de MadeIra aParenTe é uMa daS

CaraCTerÍSTICaS MaIS MarCanTeS dO enXaIMel THe TIMBer fraMewOrk STruCTure IS One Of THe

MOST nOTICeaBle TraITS Of faCHwerk BuIldInGS