Revista Panorama - edição 46

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Panorama é uma publicação mensal da Câmara Brasileira do Livro e da Agência de Notícias Brasil Que Lê. Diretor Geral Galeno Amorim Editor-Chefe Luiz Carlos Ramos Diretor de Arte Wagner Luiz Santos Editor de Fotografia Fanca Cortez Redação Alexandre Malvestio, Elisabeth Lorenzoti, Litiane Klein, Marla Cardoso e Ricardo Costa, Jô Ribes Comunicação Revisão Rosália Guedes Diagramação Rogério Lance Pré-Impressão e Impressão Gráfica Posigraf

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2 Panorama Dezembro 2008/ Janeiro 2009

a última palavra em dicionário.

O Dicionário Escolar da Língua Portuguesa, lançamento da Companhia Editora Nacional, é o único elaborado pela Academia Brasileira de Letras, instituição responsável no Brasil pelas normas de ortografia da Língua Portuguesa.

Ele apresenta para os alunos dos Ensinos Fundamental e Médio,com clareza e precisão, todas as novas normas do Acordo Ortográfico. Traz ainda um suplemento explicativo sobre esse Acordo, não deixando margem a controvérsias. Uma ferramenta da maior confiabilidade, tanto para professores como para alunos. Não tenha dúvidas. O Dicionário Escolar da Língua Portuguesa é o pai dos dicionários.

• 33 mil verbetes• Com a nova ortografia da Língua Portuguesa• Suplemento explicativo sobre o Acordo• As novas regras para o uso do hífen • Regionalismos e neologismos• E muito mais

De acordo com as novas regras da

ortografia da Língua Portuguesa.

U m a h i s t ó r i a a s e r v i ç o d o f u t u r o

(11) 2799-7799 (São Paulo - Capital) - 08000-17-5678 (demais localidades)[email protected] - www.editoranacional.com.br

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Dezembro 2008/ Janeiro 2009 Panorama 3

a última palavra em dicionário.

O Dicionário Escolar da Língua Portuguesa, lançamento da Companhia Editora Nacional, é o único elaborado pela Academia Brasileira de Letras, instituição responsável no Brasil pelas normas de ortografia da Língua Portuguesa.

Ele apresenta para os alunos dos Ensinos Fundamental e Médio,com clareza e precisão, todas as novas normas do Acordo Ortográfico. Traz ainda um suplemento explicativo sobre esse Acordo, não deixando margem a controvérsias. Uma ferramenta da maior confiabilidade, tanto para professores como para alunos. Não tenha dúvidas. O Dicionário Escolar da Língua Portuguesa é o pai dos dicionários.

• 33 mil verbetes• Com a nova ortografia da Língua Portuguesa• Suplemento explicativo sobre o Acordo• As novas regras para o uso do hífen • Regionalismos e neologismos• E muito mais

De acordo com as novas regras da

ortografia da Língua Portuguesa.

U m a h i s t ó r i a a s e r v i ç o d o f u t u r o

(11) 2799-7799 (São Paulo - Capital) - 08000-17-5678 (demais localidades)[email protected] - www.editoranacional.com.br

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Sumário

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Políticas Públicas Arca das Letras, programa de implantação de biblio-tecas rurais do Ministério do Desen-volvimento Agrário, já ultrapassa as fronteiras do Brasil

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Boa Ideia Projeto Ler é 10 - Viva Favela leva lei-tura e conhecimento a crianças de co-munidades carentes do Rio de Janeiro

26Reportagem de capa As feiras de li-vros já fazem parte do calendário cul-tural de cidades de todo o porte. Só no Rio Grande do Sul são organiza-das cerca de 200 por ano

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Entrevista O deputado Marcelo Al-meida fala das ações da Frente Par-lamentar Mista de Leitura para uma política pública nacional em favor do livro e da leitura

Capa:Foto: Ali Farid

Arte: Wagner Luiz Santos

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Comportamento leitor Norte e Nor-deste são as regiões com mais cida-des sem bibliotecas, aponta a pesqui-sa Retratos da Leitura no Brasil

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Rotas Literárias Bairros de Salvador e outras cidades da Bahia têm presença marcante nas obras de Jorge Amado

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Como me apaixonei pelos livros O so-ciólogo Pedro Demo lê por paixão e por exigência profissional, também gosta de ficção e diz que ler é como respirar

8 Boa Leitura Mensagem da presidente da CBL14 Cadeia Produtiva As notícias das entidades do livro16 Ponto de Vista Luís Antonio Torelli18 Acontece O que é notícia no mercado de livros 20 Socialmente Responsável Leitura itinerante no Vale do Paranapanema22 Outras Mídias Radio, Intenet e Tv35 Pelo Mundo Afora Japão, Alemanha e Estados Unidos36 Mercado & Tendências Comércio porta a porta nunca este melhor38 Todo Mundo Lê Washigton Olivetto, Bob Wolfson e Erika Palomino41 Radiografia Caco Barcelos42 Eventos Notícias de feiras pelo Brasil43 Prêmios e Concursos No Brasil e na Europa44 Livros Sobre Livros Rimas da Vida e da Morte50 Cinema e Livros Jane Austin e os finais sem lágrimas52 Calendário A agenda dos eventos no Brasil e no mundo54 Empresa Amiga do Livro Correios de Campo Grande têm sala de leitura55 Vitrine O que há de novo nas prateleiras56 Gente que Lê Uma vida lá fora58 Imagem Panorâmica Um momento de ler

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Palavra do Leitor

Câmara Brasileira do LivroPresidente Rosely Boschini Vice-Presidentes Bernardo Gurbanov e Íris Odete Borges Diretores Editores Jorge Rodrigues Carneiro,

Luiz Fernando Emediato, Paulo de Almeida Lima e Wagner Veneziani Costa Diretores Livreiros Antonio Erivan Gomes, Marcos Pedri,Marcus Teles C. de Carvalho e Onófrio Laselva Diretores Distribuidores Celso Soldera, José Luiz França, Luiz Eduardo Severino e

Nassim Batista da Silva Diretores Creditistas Ítalo Amadio, Luiz Antônio de Souza, Mário Fiorentino e Pietro MaceraRua Cristiano Viana, 91 Tel: (11) 3069 1300 CEP 05411 000 São Paulo SP www.cbl.org.br

Agência de Notícias Brasil Que LêFundação Palavra Mágica Presidente Luciana Paschoalin www.palavramagica.org.br

Observatório do Livro e da Leitura Diretor Galeno Amorim www.observatoriodolivro.org.brAv. José Maria de Faria, 470 Tel (11) 8389-0041 CEP 05038 190 São Paulo SP www.brasilquele.com.br

Conselho EditorialBernardo Gurbanov, Cristina Lima, Galeno Amorim, Luis Eduardo Mendes, Luiz Carlos Ramos, Ítalo Amadio, Mário Fiorentino, Oswaldo Siciliano, Pietro Mace-

ra, Rosely Boschini e Valter KuchenbeckerDiretor Geral Galeno Amorim ([email protected]) Editor-Chefe Matide Leone ([email protected];matildeleone@brasil-

quele.com.br)Diretor de Arte Wagner Luiz Santos ([email protected]) Editor de Fotografia Fanca Cortez ([email protected])

Redação ([email protected]) Alexandre Malvestio, Talissa Berchieri, Ricardo Costa (especial) e Luís Antonio Torelli( especial)

Diagramação Rogério Lance (www.wga.com.br) Produção Gráfica ([email protected])Administração ([email protected]) Alexandre Dias Pré-Impressão e Impressão IBEP - Cia Editora Nacional

CirculaçãoCirculação ([email protected]) Murilo Casagrande Tiragem 20.000 exemplares Circulação Nacional Door To Door (www.d2d.com.br)

PublicidadeDepartamento Comercial ([email protected]) Murilo Casagrande

Tel: (11) 8389 0041 e (11) 3069-1300 Anúncios ([email protected])Panorama é uma publicação mensal da Câmara Brasileira do Livro e da Agência de Notícias Brasil Que Lê.

A revista não se responsabiliza pelo conteúdo dos artigos assinados, que expressam a opinião de seus autores. Permitida,desde que citada a fonte, a reprodução total ou parcial dos textos, que são produzidos pela agência de notícias Brasil que Lê.

www.panoramaeditorial.com.br

“A revista é, sem dúvida, a ferramenta mais importante para o mercado editorial. Trazendo excelentes matérias e entrevistas, a Panorama Editorial é, atualmente, uma indispensável referência para o nosso seg-mento. Parabéns a toda equipe ! “ Luís Antonio Torelli - Presidente da ABDL - Associação Brasileira de Difusão do Livro

“Panorama é uma revista estratégica no cenário nacional. Com matérias inteligen-tes e atuais, abre espaço e provoca o de-bate sobre temas que ainda necessitam de atenção no nosso país: o livro e a leitura”.Patrícia Leão DamacenoRevisora e jornalistaEditora da ULBRA

“A revista Panorama Editorial é fonte de consulta em minhas pesquisas literárias.Sou mestranda em literatura da UnB e meu projeto objetiva construir o mapa cultural da leitura da literatura no DF. Dessa forma, a Panorama Editorial tem contribuído de for-ma positiva em meu trabalho. Antônio Cân-dido é o teórico principal de meu projeto. Solicito, inclusive, a possibilidade de receber exemplar da revista em minha residência.Integro o grupo de pesquisa LER da Univer-sidade de Brasília, o UnBm coordenado pela professora Hilda Lontra. Trabalhamos com leitura.No que puder colaborar, estou a disposi-ção”.Abraços literáriosEdna Freitas

Caros editores,”Quero parabenizá-los pelo trabalho rea-lizado na revista Panorama Editorial, que está melhor do que nunca. O novo visual a deixou muito mais moderna e dinâmi-ca! O mercado editorial está muito bem pautado e eu, como leitora, mais satisfeita com as informações trazidas e com as ino-vações sempre de bom gosto. Parabéns!”Lilian AquinoRevisora da Editora Contexto

Recebemos e agradecemos a edição 45 da Panorama Editorial. Estamos muito inte-ressados em receber os exemplares pos-teriores para o enriquecimento do acervo da nossa biblioteca.Paulo Oliveira, Biblioteca Central da Universidade Estadual de Santa Cruz (BA)

Recebemos e agradecemos o recebimento da edição 45 da revista Panorama. Esta-mos muito interessados em continuar a receber a publicação. Maria Gorete de Jesus ColtinhoBibliotecaria, Biblioteca Central da Unimontes - Montes Claros (MG)

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Boa Leitura

O país avança nos caminho da leituraO que é uma feira? Desde os tempos medievais, ou bem antes, 500 A.C., as feiras fazem parte da cultura dos povos, como locais públicos de comércio ou recreação. Mas, acima de tudo, é um lugar de sociabilidade e de trocas. As feiras de livros não são diferentes e trazem um componente a mais: cultura, conhecimento, descobertas, relacionamento e incentivo à leitura. Um espaço democrático, onde autores e público se encontram. E essa troca de experiências, que permite o Brasil avançar pelos caminhos da leitura, é uma das grandes metas da CBL, que apoia e orienta organizadores das feiras e outros eventos de livros pelo país. De um década para cá, o número de feiras cresce diariamente também nas cidades pequenas, incentivadas pelo agito e pelos balanços das “barracas literárias” das capitais e dos grandes centros. Bom exemplo é o que acontece no Rio Grande do Sul, como mostra a reportagem de capa, inspiradas na grande feira de Porto Alegre. Sônia Maria Zanchetta, integrante da Comissão Executiva da Câmara Riograndense do Livro, diz que chegou a listar 200 feiras municipais no estado, além de outros eventos ligados à promoção da leitura. No estado de São Paulo, a cultura das feiras também se consolida e o grande impulso, sem dúvida, é o apoio da CBL, onde todos ganham: público, autores, expositores e editoras. Em todo o Brasil, as feiras já fazem parte do calendário cultural das cidades.Mas a busca de novos leitores e de uma política pública de difusão do livro e de incentivo à leitura se dá também no Congresso Nacional com a Frente Parlamentar Mista de Leitura, presidida pelo deputado Marcelo Almeida, como mostra a entrevista principal desta edição. E outro projeto, que vale ressaltar, é o Arca das Letras, do Ministério do Desenvolvimento Agrário, que já instalou quase seis mil bibliotecas rurais, levando a possibilidade da leitura ao homem do campo. São exemplos como esses que trazem uma luz para a difícil questão da falta de leitores e para o analfabetismo. Questões que estão permanentemente na pauta da CBL. Boa leitura.

Presidente da CBL ([email protected])

Rosely Boschini

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Entrevista

Marcelo AlmeidaEngenheiro civil pela Pontifícia

Universidade Católica do Paraná, Mar-celo Beltrão de Almeida, 40 anos, pos-sui, também, formação em Administra-ção de Empresas e Empreendedorismo Cívico, além de especialização em e-Gov. Foi vereador de Curitiba por dois mandatos, ocupou a diretoria geral do Departamento de Trânsito e a Secreta-ria de Estado de Obras Públicas do Pa-raná. Em 2007, assumiu o mandato de Deputado Federal pelo PMDB do mes-mo estado. Apaixonado pelos livros, formou um pequeno grupo de leitu-

ra há quatro anos em Curitiba, com 12 pessoas - Conversa entre Amigos - que hoje envolve cerca de 600 leitores. A intenção é levar o projeto para escolas públicas da capital paranaense. Tan-ta paixão pela leitura levou o deputa-do a presidir a Frente Parlamentar Mis-ta da Leitura, com o objetivo de criar o Fundo Pró-Leitura, que vai financiar as ações previstas no PNLL (Plano Nacio-nal do Livro e Leitura), que não saíram do papel.

A Frente Parlamentar iniciou em novembro a coleta de assinaturas de

deputados federais e senadores em apoio à proposta de criação do Fun-do Pró-Leitura e de recriação do Insti-tuto Nacional do Livro (INL). A deci-são foi tomada durante os debates do I Seminário de Políticas de Incentivo à Leitura no Brasil, realizado no final de 2008. O abaixo assinado foi encabe-çado pelos deputados Marcelo Almei-da (PMDB-PR), presidente da Frente, e Geraldo Magela (PT-DF), autor de um requerimento que sugere ao Executivo a recriação do INL, extinto no início do governo Collor.

Foto: Fanca Cortez

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Entrevista

O manifesto ratifica o compromisso da indústria nacional de livros de des-tinar 1% do faturamento anual do se-tor para a formação e manutenção do Fundo Pró-Leitura, conforme acorda-do há quatro anos, quando o governo Lula desonerou o setor do pagamen-to de PIS/Pasep e Cofins. O setor, re-presentado no seminário pela Câmara Brasileira do Livro, Instituto Pró-Livro, Associação Brasileira de Editores de Livros e Sindicato Nacional dos Edito-res de Livros, apoiou a declaração.

Segundo o ministro da Cultura, Juca Ferreira, o Fundo pode ser criado até por decreto presidencial, mas se o Governo encaminhar uma proposta ao Congresso, contará com o apoio de se-nadores e deputados.

Na entrevista a seguir, o deputa-

“Cada parlamentar vai garimpar em seu Estado bons exemplos de empreendedores da leitura e colocar foco nessas iniciativas. Sobre as votações, não teremos qualquer dificuldade

em aprovar os projetos importantes para o setor. Isso porque o livro e a leitura não têm partido, não é de direita ou de esquerda, da

situação ou da oposição”

Como, na época, eu trabalhava no De-tran do Paraná, como diretor geral, iniciei o programa reunindo colegas de trabalho. Inicialmente, tínhamos 30 leitores e cerca de 12 pessoas que par-ticipavam dos encontros que o pro-grama promove para debater o livro da vez. Hoje, são mais de 600 leito-res cadastrados e mais de 200 pessoas que participam dos nossos encontros de conversa. Esse é um programa que existirá para sempre, independente de eu estar ou não deputado federal.

Panorama: Por que uma bancada no Congresso para defender a leitura, um tema que, historicamente, não tem des-pertado uma ação política mais forte no parlamento brasileiro? Em que consis-te, exatamente, a atuação da Comissão Mista Parlamentar de Leitura?

Marcelo Almeida: A Frente Par-lamentar Mista da Leitura é conse-qüência da minha paixão pela lei-tura, uma extensão do programa Conversa Entre Amigos e uma das marcas do meu mandato. A leitura nunca recebeu a atenção que mere-ce porque o assunto sempre foi trata-do dentro dos projetos de educação e cultura. O Governo Federal é, hoje, o grande comprador de livros no Bra-sil, em razão do Programa Nacional do Livro Didático. Deputados e se-nadores normalmente ficam atentos aos valores gastos na compra do li-vro didático e na distribuição do ma-terial para seus redutos eleitorais. Mas o Plano Nacional do Livro e da Leitura, dos Ministérios da Cultu-ra e da Educação, por exemplo, pas-sava quase que em branco na pauta do Congresso Nacional. A necessi-dade de se ter uma estrutura admi-nistrativa para cuidar da política do livro no País não era debatida pelos parlamentares. A disseminação das boas práticas de incentivo à leitura nunca mereceu um apoio sistemáti-co e integral do Congresso. A Frente nasceu para mudar isso tudo. Os de-putados e senadores que aderiram à Frente Parlamentar Mista da Leitura querem apoiar ações concretas de in-centivo à leitura, sejam elas de inicia-tiva do poder público ou da iniciati-

do fala sobre o assunto e sobre os ca-minhos da leitura no Brasil.

Panorama: Como surgiu a ideia da criação do Clube da Leitura Conversa entre Amigos?

Marcelo Almeida: O programa nasceu da iniciativa do cidadão Mar-celo Almeida e não do político. Na re-alidade, o programa nasceu a partir da leitura do livro “Felicidade”, do Eduardo Gianetti. Fiquei com uma in-veja do bem daquele grupo de amigos que se reunia para debater assuntos sobre os quais todos já tinham lido al-guma coisa, sem precisar de um copo de bebida para tornar aquele momen-to único, com a troca de conhecimento entre eles. Quis participar de algo as-sim e criei o Conversa Entre Amigos.

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va privada. Agora, o livro e a leitura têm um espaço permanente de pro-moção na pauta política nacional.

Panorama: O senhor espera um en-volvimento mais efetivo de deputados e senadores com o tema ou só um apoio político e votos favoráveis por ocasião de votações de projetos importantes para a área do livro e leitura?

Marcelo Almeida: Com certeza! Não só o envolvimento nos seminá-rios, reuniões e audiências públicas que a Frente já começou a promo-ver, mas também de forma individu-al, nos seus estados. Cada parlamen-tar da Frente passa a ser um promotor da leitura em sua região, participando e organizando grupos de contos, con-cursos de redação, leitura compartilha-da e bibliotecas itinerantes. Cada par-lamentar vai garimpar em seu estado bons exemplos de empreendedores da leitura e colocar foco nessas iniciativas. Sobre as votações, não teremos qual-quer dificuldade em aprovar os proje-tos importantes para o setor. Isso por-que o livro e a leitura não têm partido, não é de direita ou de esquerda, da si-tuação ou da oposição. São temas de domínio público e de interesse geral e irrestrito. Por isso, os temas importan-tes e relevantes para o incentivo à leitu-ra no Brasil terão o apoio dos deputa-dos e senadores que integram a Frente.

Panorama: Como o senhor imagina que deva ser o diálogo entre a Frente e as entidades que representam o negó-cio do livro no Brasil?

Marcelo Almeida: O diálogo deve ser mais permanente em Brasília, tanto no Congresso, como nos Ministérios da Cultura e da Educação. Além disso, va-mos pautar reuniões e audiências pú-blicas com a participação das entidades do setor para debater e analisar assun-tos específicos, que possam gerar ação concreta em prol do livro e da leitura. Queremos manter uma agenda positi-va de encontros para reunir as entida-des do setor, o Congresso e represen-tantes do Governo, além dos próprios leitores, que têm de ter espaço no traba-lho da Frente. Nossa intenção é manter sempre os canais de comunicação para aumentar a sinergia e reunir forças.

“A Leitura nunca recebeu a atenção que merece porque o assunto sempre foi tratado dentro dos projetos de educação e cultura. O Governo Federal é hoje o grande comprador de livros no Brasil, em razão do Programa Nacional do Livro Didático. Deputados e senadores normalmente ficam atentos aos valores gastos na compra do livro didático e na distribuição do material para seus redutos eleitorais”

Panorama: Quais os resultados práticos desse trabalho até aqui e o que se espera em termos de conquis-tas substanciais para o livro e a leitu-ra em 2009?

Marcelo Almeida: Nos primeiros meses de atuação da Frente já tivemos alguns bons resultados práticos. Pri-meiramente, conquistamos a confian-ça do Congresso e do setor de que essa não é mais uma Frente pra fazer nú-mero ou para ser usada eleitoralmen-te. Esse é o primeiro resultado positi-vo. Outro resultado importante foi a repercussão do I Seminário de Políti-cas de Incentivo à Leitura no Brasil, que realizamos na Câmara dos Depu-tados, com a participação de mais de 300 pessoas, incluindo o ministro da

Cultura, Juca Ferreira. O seminário co-locou na pauta nacional a necessida-de de recriação de uma estrutura ad-ministrativa para cuidar da política do livro e da leitura no Brasil e da criação do Fundo Setorial do Livro e da Leitu-ra, dentro do Fundo Nacional da Cul-tura, para o financiamento das ações de incentivo à leitura no país.

Também recebemos o sinal verde do Ministério do Planejamento, na pes-soa do ministro Paulo Bernardo, para dar prosseguimento ao processo de criação do Fundo Setorial do Livro e da Leitura. Este foi o primeiro passo para vencer as barreiras existentes dentro do próprio Executivo em relação ao assun-to. A Frente está trabalhando de forma afinada com o Ministério da Cultura no andamento desse processo.

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“Leio, no mínimo, quatro livros por mês. Mas normal-mente eu supero a meta mensal. Acho que leio cerca de 60 livros por ano. Sou ecléti-co Leio biogra-

fias, ficção e roman-ces. Só tenho dificuldades em ler

auto-ajuda. Meu livro de cabeceira: “Pequeno tratado das grandes vir-tudes”, de André Comte-Sponville.Mais que um hábito, a leitura é uma necessidade para mim. Isso me ajuda em todas as áreas da minha vida. Na Câmara dos Deputados, por exemplo, leio os pareceres dos projetos de lei com rapidez e isso me ajuda a tomar posição e definir voto”.

Livro de cabeceira

Entrevista

“Vamos pautar reuniões e audiências públicas com a participação das entidades do setor para

debater e analisar assuntos específicos, que possam gerar ação concreta em prol do livro e da

leitura. Queremos manter uma agenda positiva de encontros para reunir as entidades do setor, o

Congresso e representantes do Governo”

Frente vai promover terão por objetivo debater assuntos relacionados ao setor. Algumas discussões poderão ser apenas teóricas. Outras, demandarão ações mais práticas e concretas, como aconteceu no I Seminário de Políticas de Incentivo à Leitura no Brasil. A partir do seminário, estabelecemos uma agenda de interlocu-ção com o Governo Federal para a cria-ção do fundo setorial pró-leitura.

Panorama: Como o Congresso pode ajudar efetivamente na recriação de ins-tituto ou secretária nacional do livro e leitura, cujo compromisso público já foi anunciado pelo Ministério da Cultura?

Marcelo Almeida: Isso já está sendo mostrado na prática. Além de articular a ação de todos os players, o Congresso terá que aprovar o projeto de recriação dessa estrutura administrativa.

Panorama: Que projetos referentes ao livro e à leitura que tramitam atu-almente no Congresso mereceriam um empurrão da Frente para virarem leis?

Marcelo Almeida: Queremos tra-balhar por demanda. Hoje, nossa for-ça tarefa é para a criação do Fundo Se-torial do Livro e da Leitura e para a recriação de uma estrutura adminis-trativa que vai cuidar da política do

Essa Frente será o porto seguro de todos os que amam o mundo da leitura.

Panorama: Por que o atraso na criação do Fundo Pró-Leitura? Quais as dificul-dades para que isso aconteça, já que todas as partes envolvidas apóiam sua criação?

Marcelo Almeida: Trata-se de um problema conceitual. A equipe do Mi-nistério da Fazenda não quer estimular a criação de fundos. De fato, a criação aleatória de fundos pode enfraquecer a política macroeconômica. Além dis-so, já temos o Fundo Nacional da Cul-tura para financiar as políticas de cul-tura, incluindo a do livro e da leitura. Então, a resistência pode ser supera-da a partir do diálogo. Quanto tem-po isso vai levar? Não sabemos. Mas estamos empenhados nesse processo. A alternativa de criação de um Fundo Setorial dentro do Fundo Nacional da Cultura tem maior aceitação da equipe econômica. Vamos resolver esses pon-tos e criar o Fundo em 2009.

Panorama: O senhor acredita que existam setores dispostos a travar a criação do Fundo?

Marcelo Almeida: A resistência é apenas de ordem técnica e conceitual. Não vejo uma oposição direta ao reco-lhimento de 1% do faturamento anual do setor editorial para a formação de um fundo que vai financiar as ações de in-centivo ao livro e à leitura no Brasil. Na minha avaliação, o cenário é positivo.

Panorama: Como a Frente pretende fazer para que as discussões travadas em seminários e debates como o realiza-do no Dia Nacional do Livro (29 de ou-tubro) deem resultados mais efetivos?

Marcelo Almeida:Os eventos que a

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livro e da leitura no País. Depois, ana-lisaremos as demais necessidades.

Panorama: Por que a sociedade pre-cisa de uma bancada do livro nos par-lamentos? Como os atores sociais, enti-dades e todos aqueles interessados no tema devem contribuir nessa discussão?

Marcelo Almeida: A participação deve ser cidadã. Todos os eventos orga-nizados pela Frente Parlamentar da Lei-tura são abertos ao público. Todos os in-teressados no incentivo à leitura devem participar. Por meio do site da Frente (www.frentedaleitura.com.br), pesso-as de todo o Brasil podem encaminhar exemplos de boas práticas de incenti-vo à leitura, além de apresentar propos-tas de ações. Pelo site, qualquer cidadão pode acompanhar a nossa agenda e es-tabelecer um canal de comunicação di-reta. Basta ter interesse pelo assunto e disposição para sair da zona de confor-to, que muitas vezes nos impede de par-ticipar de forma mais efetiva.

Panorama: Em sua opinião, que me-didas a sociedade pode adotar para au-mentar o número de leitores e incenti-var o gosto pela leitura no país?

Marcelo Almeida: A primeira me-dida é ler mais. Se cada cidadão adotar como meta de vida pessoal ler mais, se-remos um País mais leitor. E podemos começar lendo jornais e revistas. Se to-dos trocarem uma hora por dia em fren-te ao computador ou à TV por um livro, já teremos um grande avanço. Para esti-mular isso, quero deixar com todos al-guns pensamentos e frases para reflexão.

“O homem que não lê bons livros não tem nenhuma vantagem sobre o ho-mem que não sabe ler” – Mark Twain.

“Meus filhos terão computadores, sim. Mas antes terão livros. Sem livros, sem leitura, os nossos filhos serão inca-pazes de escrever, inclusive a própria história”- Bill Gates.

“De três coisas precisa o homem para ser feliz: bênção divina, livros e amigos”- Henri Lacordaire. P

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14 Panorama Dezembro 2008/ Janeiro 2009

EditoresUma semana também para a

literaturaA União Brasileira de Escritores está

comemorando a instituição do Dia Na-cional da Leitura e da Semana Nacional da Leitura e da Literatura pelo presi-dente Luiz Inácio Lula da Silva. Mas as comemorações acontecem por um moti-vo em especial: a inclusão do segundo L na semana festiva. O presidente da Ube, Levi Bucalem Ferrrari, conta que desde a criação da antiga Câmara Setorial do Livro e da Leitura (CSLL) que a entidade tem insistido no acréscimo de Literatu-ra, que foi incorporado, ficando CSLLL. A Ube acredita que esse pode ter sido um dos motes para o acréscimo da pa-lavra literatura no nome da semana.A premiação acontecerá em dezembro.

Editores

Snel prepara Bienal do Rio Principal acontecimento do mercado editorial brasileiro, a Bienal Internacional

do Livro do Rio de Janeiro faz parte do calendário de grandes eventos da cidade há mais de 20 anos. Em sua última edição, realizada em 2007, foram vendidos 2,5 milhões de livros.

Este ano, em sua 14ª edição, ela será realizada novamente no Riocentro, entre os dias de 10 e 20 de setembro. Segundo o Sindicato Nacional dos Editores de Livros, responsável pelo evento, serão mais de 900 expositores. A expectativa de público supera o número de 600 mil visitantes.

O objetivo do Snel é realizar, mais uma vez, uma grande festa, repleta de novi-dades, que possibilite o encontro entre leitores e aqueles que são os grandes prota-gonistas da bienal: os autores, escritores, poetas e pensadores.

Didáticos

Maior apreensão de livros do país Se depender do resultado da primeira grande apreensão do 2009, vão sobrar mo-

tivos para a campanha Comércio do Livro do Professor: Apague essa Ideia comemo-rar este ano. É que três sebos do Recife tornaram-se, em janeiro, palco da maior apre-ensão de livros do professor do país. Mais de cinco mil exemplares novos e usados foram levados por 12 policiais da Delegacia de Prevenção e Repressão à Pirataria.

Criada há três anos pela Associação Brasileira de Editores de Livros (Abreli-vros), a campanha tenta combater o comércio ilegal das obras didáticas. As ações acontecem nas principais capitais. A venda dos livros do professor por atravessa-dores gera um prejuízo anual para as editoras do país estimado em R$ 40 milhões.

GráficasSetor ainda não sente crise

A Associação Brasileira da Indústria Gráfica (Abigraf) vai conseguir saber, em fevereiro, se houve ou não retração no consumo de cadernos e produtos edi-toriais, especificamente livros, devido à crise financeira internacional. Segundo o presidente da entidade, Alfried Plöger, os pagamentos desses serviços gráficos pelas papelarias, livrarias e distribuidores são realizados em fevereiro e março, após o início das vendas diretas, no período de volta às aulas (janeiro a março). Assim, explica, a cadeia depende do comporta-mento do consumidor final para saber se houve retração nas vendas de produtos escolares.

AssociaçõesInstituto Pró Livro participa de estudo

O Instituto Pró Livro está promoven-do, ao lado de outras entidades do setor do livro e leitura, a pesquisa O Livro no Orçamento Familiar (LOF). O estudo vai atender uma antiga demanda do segmen-to livreiro e editorial: conhecer, de fato, o seu consumidor. A partir dos dados já co-letados sobre a despesa familiar, os dados efetivos dos gastos com material de leitura (livros e de outros como jornais, revistas, fotocópias etc.) permitirão traçar o perfil do mercado consumidor, por nível de ren-da, escolaridade, local de compra e outras variáveis importantes. A pesquisa será fi-nalizada neste primeiro trimestre.

A Associação Nacional de Livrarias realizou um levanta-mento inédito junto às suas as-sociadas, que representam 67% do setor entre pequenas, médias e grandes livrarias. O objetivo foi apresentar uma amostragem do desenvolvimento do setor li-vreiro no Brasil

A primeira questão abordou a expectativa de crescimento que tinham os livreiros no início de 2008, em comparação com 2007. O resultado médio foi de 12,12%. Em seguida, um novo levantamento, realizado nas duas últimas semanas de no-vembro de 2008, questionou se a meta seria atingida. O resultado foi um crescimento observado de 10,46%, incluindo o mês de dezembro.

De acordo com o presidente

da ANL, Vitor Tavares, o estu-do teve como objetivo conhecer melhor os números do segmen-to livreiro, tendo como base as associadas da entidade. Com os dados em mãos, a ANL será capaz de dirigir suas ações para o aperfeiçoamento do setor. O presidente da entidade acredi-ta que as diversas campanhas e políticas de difusão do livro no País, muitas delas por iniciati-vas governamentais, tem fun-damental importância no cresci-mento do setor livreiro.

Para 2009, a expectativa dos entrevistados é de um crescimen-to médio de 11,89%, em relação a 2008. Já a ANL acredita que esse número será inferior em função dos impactos da crise mundial, que ainda não havia sido detec-tada na época do estudo.

Livrarias

Setor livreiro cresce 10,46%

Cadeia ProdutivaFotos: Heitor Costa

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Dezembro 2008/ Janeiro 2009 Panorama 15

Eventos

AmazonasFlifloresta promove debate sobre indígenas

A Câmara Amazonense do Livro e Leitura foi uma das realizadoras do Sim-pósio Cultura e Natureza na Amazônia, que integrou a programação do primei-ro Festival Literário Internacional da Floresta (Flifloresta). Com 400 inscritos, entre estudantes, professores, pesquisadores, escritores e outros intelectuais, o evento aconteceu no município de Presidente Figueiredo (AM), na Cachoeira da Onça, onde foi lida a Carta da Floresta. O documento, redigido pelos pa-lestrantes e demais convidados do evento, expressa sentimentos, preocupações e compromissos em relação ao presente a ao futuro da Amazônia e das suas populações.

Rio Grande do Sul Mais de 400 mil livros

Segundo dados divulgados pela Câmara Rio-Grandense do Livro, foram vendidos, em toda a 54ª edição da Feira do Livro de Porto Alegre, no ano pas-sado, 424.046 livros, 8% menos que em 2007. Durante os 17 dias do evento, que é o maior do setor realizado a céu aberto no continente americano, 829 obras foram lançadas. Desta vez, o tradicional cortejo de encerramento da feira foi diferente dos anos anteriores. Em vez das rosas vivas, coloridas e perfumadas, o público recebeu um marcador de páginas que convida para a 55ª edição da feira, que acontece este ano e já tem data marcada para começar: 30 de outubro.

CearáVoz para o Nordeste

Um ciclo de debates sobre livro e leitura esquentou a 8ª edição da Bienal Internacional do Livro do Ceará. Dividida em cinco mesas, a programação foi focada especialmente na organização política do setor na região Nordeste. A opinião do Sindicato do Comércio Varejista de Livros do Estado do Ceará (Sin-dilivros) é de que o autor local não entra nas listas de livros escolares e, por isso, toda a cadeia produtiva do livro é prejudicada. A presidente da entidade, Milei-de Flores, acredita que as bibliotecas das regiões Norte e Nordeste não têm voz na escolha dos acervos. “É uma cultura homogeneizante”, diz.

Rio de Janeiro Salão escolhe livros para escolas estaduais

A Associação dos Representantes de Editoras do Estado do Rio de Janeiro apoiou, mais uma vez, a realização do Salão do Livro das Escolas Estaduais. No evento, que aconteceu no Centro de Convenções Sulamérica, no centro do Rio de Janeiro, durante três dias, representantes das 1.600 escolas dos 92 municípios fluminenses puderam escolher novos livros para as bibliotecas escolares. 160 editoras ocuparam 126 estandes no evento, que recebeu cerca de cinco mil pes-soas por dia. As obram selecionados são adotados como material de apoio, uma vez que o material didático é fornecido pelo Governo Federal para todo o País.

Bahia Câmara do Livro tem nova diretoria

Eleita por unanimidade, a nova diretoria da Câmara Bahiana do Livro to-mou posse em Salvador. Presidida por Carlos Vilarinho, a equipe está empe-nhada em vários projetos, com destaque para uma parceria com a Seg Livros Representações. O objetivo é dar mais visibilidade ao autor baiano, divulgando e comercializados livros dos escritores associados em todo o estado. Fundada há 50 anos, a CBaL congrega escritores, livreiros, distribuidores, gráficas, editoras e profissionais ligados à literatura. A entidade tem por finalidade fomentar o hábito da leitura e promover a cadeia do livro no estado.

Papel Lançado boletim do setor

A Bracelpa publicou a primeira edi-ção do boletim Conjuntura Bracelpa, nova publicação da Associação Bra-sileira de Celulose e Papel, que trará mensalmente os dados mais recentes sobre o desempenho do setor de celulo-se e papel do Brasil. O objetivo é ofere-cer insumos para acompanhamento do mercado de celulose e papel, facilitan-do a cobertura de temas do setor. Em sua primeira edição, o boletim trouxe uma radiografia do setor, informando os volumes de produção, vendas do-mésticas, exportações e importações de celulose e dos diversos tipos de papéis. O informativo ainda reúne dados sobre a balança comercial do setor.

RegionaisLetrasPosse da nova diretoria da ABL

Em sessão solene no Salão Nobre do Petit Trianon, em sua sede no Rio de Janeiro, a Academia Brasileira de Letras empossou a sua nova diretoria. O escritor e jornalista Cícero Sandroni foi reeleito, por unanimidade, para um segundo mandato como presidente da entidade. Logo depois de sua eleição, Sandroni anunciou que 2009 será o Ano Euclides da Cunha na ABL, em homena-gem ao centenário de morte do autor de Os sertões, que morreu em 15 de agosto de 1909. O presidente também afirmou que a entidade pretende expandir as ati-vidades literárias em 2009 por meio dos recursos tecnológicos, como a internet.

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16 Panorama Dezembro 2008/ Janeiro 2009

Ranking dos maiores revela pujança do porta a portaMercado porta a porta surpreende e comemora o terceiro lugar entre os

maiores canais de venda de livros no Brasil

Sem dúvida, a divulgação dos da-dos da pesquisa “Produção e Vendas do Setor Editorial Brasileiro”, realiza-da pela FIPE – Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas, em acordo com a CBL – Câmara Brasileira do Livro e o SNEL – Sindicato Nacional de Edito-res de Livros, revelou ao grande públi-co uma faceta surpreendente do merca-do livreiro. A venda porta a porta de livros, que para muitas pessoas que vivem nas grandes metrópoles evoca lembranças do passado, mostrou que está presente sim e gozando de muita saúde em nosso país.

Sua participação, que em 2006 tinha sido de 5,43% em número de exem-plares vendidos, saltou para 9,61% em 2007, ostentando uma variação de 91,37% em comparação ao mesmo pe-ríodo do ano passado. Ao dobrar sua participação, ele se tornou o terceiro maior canal de comercialização de li-vros do país. O primeiro continua sen-

do as livrarias (47,69%), o segundo, as distribuidoras (21,58%) e os canais res-tantes respondem por 21,12% do total.

Embora o número de leitores no Brasil continue acanhado quando com-parado ao dos países desenvolvidos, o desempenho do porta a porta surpre-ende e, ao mesmo tempo, confirma a estratégia de compensar este cenário desfavorável com a busca pelo consu-midor e pelo novo leitor.

A criatividade é a principal ferra-menta empregada por mais de 30.000 vendedores espalhados por todo o país para convencer consumidores, princi-palmente das classes C e D, a comprar livros, valendo-se de um atendimen-to diferenciado e personalizado capaz de tornar o livro um objeto de desejo. É uma vitória para o porta a porta man-ter-se tão bem e por tantos anos em um ambiente tão desfavorável e ainda con-seguir expandir seus negócios.

E quanto ao futuro? Não podemos ignorar os efeitos das turbulências atuais do mercado financeiro e as ondas de im-pacto que estão por vir, mas a expectati-va para este ano ainda é de crescimen-to. Uma vantagem preciosa desse setor sobre a concorrência é que, além de es-tar capitalizado, ele financia seu negócio com recursos próprios. Dispondo de um exército de vendedores que diariamen-te vai ao encontro do cliente onde quer que ele esteja, ele é pró-ativo e não de-pende como os outros segmentos da vi-sita oportuna do cliente em seus estabe-lecimentos físicos e/ou virtuais.

Esta constatação reforça ainda mais as ações que estamos desenvolvendo para o futuro. Através da ABDL – As-sociação Brasileira de Difusão do Livro, entidade que representa o setor porta a porta, apresentamos ao Ministério do Trabalho e Emprego um projeto para recrutar e qualificar inicialmente 2.000 vendedores de livros em todo o país. Ba-tizado de PLANSEQ – Agente de Leitu-ra (Plano Setorial de Qualificação), este

é um convênio entre a ABDL e o FAT (Fundo de Assistência ao Trabalhador) que será financiado com os recursos or-çamentários do exercício de 2009 e tem por objetivo oferecer às empresas asso-ciadas profissionais capacitados, atuali-zados, com visão estratégica e empre-endedora que lhes possibilitem ampliar suas atuações no mercado.

Além disso, visando abrir uma nova opção de crédito aos nossos clientes e mi-nimizar a inadimplência, apresentamos neste ano um projeto para disponibilizar um cartão de crédito com forte apelo cul-tural que lhes será oferecido pelo vende-dor. Este cartão, que já recebeu aprovação da bandeira VISA, é mais uma novidade entre tantas que estamos prospectando.

O aumento do número de vendedo-res, a melhor qualificação destes pro-fissionais, produtos diferenciados e de qualidade, controle da inadimplência em níveis aceitáveis e a manutenção do padrão de renda das classes C e D vão promover o crescimento desse segmen-to como um todo, inclusive pela adesão de novas empresas.

O gestor moderno deve perceber este momento favorável e tentar acompanhar o mais rápido possível as mudanças nes-se mercado tão promissor, pois à medi-da que o consumidor moderno se torna mais informado, ele tende a exigir for-mas de comercialização mais flexíveis, preços mais alinhados à sua realidade e a melhoria da qualidade dos produtos.

A vista destas realidades, indepen-dentemente dos efeitos da crise ex-terna, continuamos muito otimistas e esperamos que as vendas no porta a porta sigam o ritmo observado nos úl-timos anos.

Luis Antonio Torelli, presidente da Associação Brasileira de Difusão

do Livro (ABDL) - mailto:torelli@trilhaeducacional.

com.br

Foto: Divulgação

Ponto de Vista

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Dezembro 2008/ Janeiro 2009 Panorama 17

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18 Panorama Dezembro 2008/ Janeiro 2009

Terceira maior fabricante de papel-cartão do Brasil, a Ibema, do Paraná, quer aumentar sua participação no segmento editorial e livreiro em 2009. Em 2008, quando o faturamento da empresa foi de R$ 210 milhões, 11% de sua produção foi destinada a pro-dutos para o mercado Editorial e Pro-mocional, que engloba livros. Este ano, a empresa, que possui duas unidades no Sul do País, quer aumentar a par-ticipação para 15%, ao menos. A ideia é apresentar a Ibema como uma nova alternativa para as editoras.

Ibema vai investir no mercado editorial

Dona da editora de livros didáticos Moderna, a editora espanhola Santilla-na investirá R$ 8 milhões, entre 2009 e 2010, em seu sistema de ensino no Bra-sil, que engloba apostilas para alunos e serviços pedagógicos para escolas. En-tre 2007 e 2008, o investimento do gru-po foi de R$ 2 milhões. O setor de siste-mas de ensino movimenta anualmente cerca de R$ 600 milhões, representando aproximadamente 30% do faturamento das publicações educacionais. A San-tillana ainda detém as editoras Objetiva e Salamandra.

Santillana investe mais em apostilas

Iniciado em dezembro de 2007, o Fórum Nacional de Direito Autoral, promovido pelo Ministério da Cultura, contou com encontros em 2008 e con-tinuará em 2009. A proposta do MinC para modificar a atual legislação dos direitos autorais no Brasil tem mobili-zado editores, escritores e outros profis-sionais do livro em um amplo debate. A mudança na lei ainda será submetida a uma consulta pública neste primeiro se-mestre, antes de seguir para o Congres-so. Está prevista uma nova discussão para março, em Salvador.

Continua debate sobre direito autoral

Após três anos de negociação, a Li-vraria Cultura anunciou a venda de parte de suas ações à gestora de recur-sos Neo Investimentos. O controle acio-nário da empresa continua nas mãos do empresário Pedro Herz, que assumirá a presidência do recém-criado Conselho de Administração da Cultura. O obje-tivo é acelerar a expansão da rede, que tem oito lojas em cinco cidades e prepa-ra-se para inaugurar mais uma em Bra-sília. Herz diz que há espaço para pelo menos mais 30 grandes lojas nas princi-pais cidades do País.

Fundo compra parte da Cultura

A Academia Brasileira de Letras (ABL) lançou, pela Companhia Editora Nacional, a 2ª edição do Dicionário Es-colar da Língua Portuguesa, executada pelo seu Setor de Lexicologia e Lexico-grafia. Com 56 correções, a nova edição, com 1.312 páginas e 33 mil verbetes, tem tiragem de 20 mil exemplares. A ABL também atualizou o Vocabulário Orto-gráfico da Língua Portuguesa (Volp), que será lançado em março pela Editora Global. Além de se enquadrar nas regras do acordo ortográfico, ele incorporará mais de 10 mil novos verbetes.

ABL lança nova edição de dicionário

Acontece

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Dezembro 2008/ Janeiro 2009 Panorama 19

O Ministério da Educação vai pu-blicar os dez textos vencedores do 2º Concurso Literatura para Todos e dis-tribuí-los a 1,5 milhão de estudantes. Entidades parceiras do Programa Brasil Alfabetizado, universidades da Rede de Formação de Alfabetização de Jovens e Adultos, presídios e núcleos de educa-ção de jovens e adultos de instituições de educação superior vão receber as obras. O prêmio é promovido pelo MEC para estimular a produção literária des-tinada a jovens e adultos em processo de alfabetização.

Literatura para 1,5 milhão de alunos

Para digitalizar as obras doadas por José Mindlin à biblioteca Brasiliana USP, cujo prédio é construído na Ci-dade Universitária, a Universidade de São Paulo (USP) acaba de adquirir um scanner robotizado. Segundo o profes-sor István Jancsó, coordenador do pro-jeto, esse é o primeiro equipamento do gênero no País, adquirido por R$ 1,5 milhão. O dinheiro foi conseguido com verba da Fundação de Amparo à Pes-quisa do Estado de São Paulo (Fapesp). Mindlin oficializou a doação de 30 mil volumes de sua biblioteca em 2006.

Um robô para digitalizar livros

Na esteira do sucesso da minissé-rie Maysa: Quando Fala o Coração, de Manoel Carlos, exibida pela Globo em janeiro, duas biografias sobre a canto-ra acabam de ser relançadas. Maysa (edição independente), de José Roberto Santos Neves, e Meu Mundo Caiu: A Bossa e a Fossa de Maysa, de Eduardo Logullo (Novo Século Editora), estão de volta às livrarias. Maysa: Só Numa Multidão de Amores, de Lira Neto (Editora Globo), que serviu como base de consulta para o programa, foi parar direto na lista dos mais vendidos.

Maysa naslivrarias

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20 Panorama Dezembro 2008/ Janeiro 2009

Socialmente Responsável

Conhecimento itineranteProjeto Ecoteca proporciona cultura às

comunidades da beira do rio Paranapanema

“Um público comprometido com a leitura é crítico, rebelde, inquieto, pou-co manipulável e não crê em lemas que alguns fazem passar por ideias”. Sãopa-lavras de Mário Vargas Llosa, um dos maiores escritores de língua espanhola e reconhecido mundialmente, como ro-mancista, jornalista, ensaista e político. E foi seguindo o mesmo conceito que a Duke Energy, empresa multinacio-nal de comercialização, geração, dis-tribuição e transmissão de eletricidade e transporte de gás, juntamente com a BEÏ Comunicação, implantou um pro-jeto de responsabilidade social que leva leitura a vários municípios localizados ao longo do rio Paranapanema – SP, re-gião onde a empres atua

A Ecoteca é um projeto criado para promover a leitura entre a população. Inspirada pela meta de “pensar glo-balmente e agir localmente”, a Ecoteca conta com o apoio das diversas Secre-tarias Municipais da Educação e Pre-feituras locais para realizar oficinas, cursos e eventos de valorização da lei-tura, nos municípios do vale. O mundo mágico dos livros é levado à população por meio de uma van, que percorre as cidades, instala-se em espaços públi-cos e oferece uma biblioteca de títulos variados como ficção e paradidáticos, destinados a adultos e crianças. Ao mesmo tempo, promove rodas de lei-tura animadas por contadores de his-tórias que desenvolvem a arte da narra-tiva e da leitura compartilhada, capaz de despertar o interesse e o prazer de ler nos participantes. Outro objetivo do projeto é a formação de contadores de história locais, por meio de oficinas de-senvolvidas para capacitar educadores e outros interessados a estimularem a leitura, não só junto à rede pública de ensino, mas também na comunidade onde estão inseridos. “Há oito anos de-senvolvemos este trabalho. Já são mais de 15 mil pessoas atendidas. Para nós, é um orgulho poder contribuir com a educação de crianças das várias co-munidades onde estamos presentes. É como se ampliássemos o nosso traba-lho e a nossa família.”, afirma com en-tusiasmo a gerente geral de Relações Institucionais da Duke Energy Ana Amélia Conti.

Nesses 8 anos de projeto, a Ecoteca já visitou 77 municípios, percorrendo

Foto: Arquivo/Duke EnergyA gerente Ana Amélia Conti

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Dezembro 2008/ Janeiro 2009 Panorama 21

Segundo dados de 2008 o projeto atingiu 10 municípios da região do Paranapanema, entre os es-tados de São Paulo e Paraná.

Bernardino de Campos – SPCarlópolis – PRCerqueira César – SPItaí – SPJardim Olinda – PRParanapoema – PRPirapozinho – SPRibeirão Claro – PRSandovalina – SPSantana do Itararé – PR

aproximadamente 45 mil Km ao lon-go do Paranapanema, onde entregou cerca de 1.800 livros para bibliotecas e escolas. Além da participação maciça das mais de 2.500 pessoas que partici-param das oficinas entre educadores e membros da comunidade.

Para a Duke Energy o estímulo à leitura é de fundamental importância porque permite o desenvolvimento das ideias e da fantasia existentes dentro de cada ser humano. O argumento da empresa é que o exercício da leitura nos faz entender melhor os mecanis-mos que regem o mundo e que orga-nizam o modo de vida das pessoas. A leitura deve se tornar um hábito na vida da população, não apenas para distrair ou soltar a imaginação. E mais: na sociedade globalizada, a leitura tem papel fundamental na vida atuante do individuo e para pertencer de fato à sociedade é necessário saiber ler seus códigos, suas leis, sua regras, suas his-tórias.

“Vamos avaliar a continuidade das ações e o início de outras que possam contribuir para o enriquecimento da educação e da cultura de nossas cida-des”, garante Ana Amélia.

Crianças lendo em praça de Sandovalina na tenda da Ecoteca

Monitora conta histórias para crianças durante Ecoteca em Ribeirão Claro, Paraná

Monitora monta teatro de fantoches durante Ecoteca em Pirapozinho, São Paulo

Fotos: Arquivo/Duke Energy

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22 Panorama Dezembro 2008/ Janeiro 2009

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CapaOutras Mídias

Em 2008, o programa cultural Metrópolis completou 20 anos no ar. Lembrado por ser o único programa diário dedicado exclusivamente as diversas áreas da cultura e artes em geral, o Metrópolis sempre tem um espaço reservado também para o mundo dos livros, trazendo resenhas, dicas e informações sobre lançamentos e eventos ligados ao meio do li-vro e leitura. O programa é apresentado por Cunha Jr, Domingas Person e Paulo Vinícius e vai ao ar todos os dias às 21h30 na Tv Cultura.

O site Verdes Trigos, no ar desde 1998, é um es-paço conhecido e respeitado pelo público interes-sado por literatura. O principal objetivo do portal é apresentar ao leitor curioso os principais lança-mentos do mundo editorial por meio de resenhas, textos, comentários, assim como a produção lite-rária brasileira. “O novo leitor não tem o hábito de frequentar livrarias ou bibliotecas. Ele se infor-ma pelo Google. Portanto, fornecemos aos nos-sos visitantes os links para acessar o pensamento contemporâneo, a construção deste pensamento

pós-moder-no e digi-tal, de for-ma crítica e ampla”, afirma o criador do site, Hen-rique Cha-gas.

O livro no rádio

O Livro na Internet

O programa Letras & Leituras, comandado pela

jornalista Mona Dorf na rádio Eldorado, já completa

dois anos no ar. Segundo a apresentadora, mesmo

com um tempo limitado de 10 minutos na AM e um

minuto na FM, o Letras & Leituras consegue alcan-

çar os candidatos a leitores. ”Tenho tido muito retor-

no, as pessoas vem me dizer que leram o livro sobre

o qual falamos na entrevista tal ou escrevem para o

site pedindo o nome e o título”, afirma Dorf. Além

disso, Dorf acredita que o rádio seja uma boa ferra-

menta de difusão do gosto pela leitura. “Hoje em dia

perdemos muito tempo no trânsito, o rádio é compa-

nheiro nessas

horas”, diz. O

Letras & Lei-

turas vai ao ar

de segunda à

sexta, às 11h45

durante o Pa-

norama Eldo-

rado. Tam-

bém é possível

conferir as en-

trevistas na

íntegra no site

www.letrase-

leituras.com.

br.

O livro na TV

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Bob Wolfenson(fotógrafo)

Washington Olivetto (publicitário)

Erika Palomino(jornalista)

O livro da minha vida

Dica de leitura

O que eu estou lendo

Grande Sertão: Veredas (João Guimarães Rosa)“Leio e releio constantemente, integralmente e em

trechos. É uma aula de Brasil, de identidade brasileira e, principalmente, de literatura, linguagem, ritmo e pontuação. Minha maior escola de escrita e técnica literária. Terminei meu primeiro livro com ‘no nada’, frase que abre o livro. Coincidência: eu nasci no dia e ano em que João Guimarães Rosa morreu!”

Dez! Nota Dez! Eu Sou Carlos Imperial (Denilson Monteiro)

“Uma biografia literalmente da pesada, escrita por um jovem e talentoso jornalista. Imperial foi uma figuraça que influiu na carreira de nomes como Roberto Carlos, Tim Maia e Elis Regina. Um livraço. Divertido e dramático. Não deixem de ler.”

D. Pedro I: Um Herói Sem Nenhum Caráter (Isabel Lustosa)

“Eu adoro história do Brasil e ler esse livro é bom porque a gente se acostuma a só aprender sobre o tema quando está estudando, depois não vê nada mais a respeito. Nunca aprendi tanto sobre história quanto com essa leitura.”

Todo mundo lê

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Page 24: Revista Panorama - edição 46

24 Panorama Dezembro 2008/ Janeiro 2009

Boa Ideia

Transformar a vida das pessoas de sua comunidade através do lúdico mundo da leitura. Esse foi o principal objetivo de um jovem, nascido e cria-do no subúrbio do Rio de Janeiro, fi-lho de uma dona de casa e um pedrei-ro. Desde 2003, Otávio César Santiago de Souza Junior, com muita determi-nação, vem mudando a realidade de comunidades carentes com o Projeto Ler é 10 – leia favela. “Queremos, aci-ma de tudo, democratizar a leitura e dar acesso a livros às crianças de co-munidades de baixa renda”, esclarece.

Cansado de ver as crianças de sua comunidade ociosas e sem contato com o livro, o jovem decidiu criar um proje-to de incentivo a leitura. Com os poucos exemplares de seu acervo pessoal e com idéias obtidas em cursos de promoção de leitura, escrita e participação em seminários e feiras de livros, o projeto

começava a caminhar. “Quando criança, descobri o prazer pela leitura por acaso, depois que encontrei um livro no lixo e não desejo que crianças de comunida-des de baixa renda descubram a leitura como eu descobri”, explica.

Para Otávio, ver o projeto, que teve inicio em 2003, em andamento, é a re-alização de um sonho. O sonho de ver as crianças do bairro onde cresceu e outras comunidades lendo e aprecian-do literatura. Em menos de dois anos e meio o número de crianças atendidas passou de 2500 para 5000. Atualmen-te o projeto já atende as comunidades de Vila Cruzeiro, Grota, Fazendinha, Caracol, além de apoiar ONGs, asso-ciações de moradores que já atuam na comunidade, com atividades lúdi-cas e educativas para a promoção da leitura. E através de muito trabalho e dedicação Otávio conseguiu realizar

O incentivo que faltavaProjeto idealizado por jovem de favela carioca vem disseminando o

gosto pela leitura entre comunidades carentes do Rio de Janeiro

Fotos: Divulgação

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Dezembro 2008/ Janeiro 2009 Panorama 25

um sonho antigo de inaugurar o pri-meiro espaço de leitura na comunida-de, no Parque Proletário da Penha, a 200 metros da Vila Cruzeiro. Dentro do projeto, as comunidades têm aces-so a atividades como o “Lanchinho li-terário”, “Cinema literário” onde são apresentados filmes adaptados de li-vros literários, “Maratona de leitura”,

“Pombo-Correio literário” e as oficinas de produção de livretos.

Apesar dos históricos de violência dos subúrbios cariocas, Otávio afirma que o projeto foi muito brm aceito.

“As pessoas enxergam as comunida-des cariocas como antros violentos, mas não sofremos retaliação alguma por parte do crime organizado. Eles não impedem o nosso trabalho, pois nossa meta é a inserção da cultura e educação. A receptividade sempre foi muito boa”, garante.

Segundo Otávio o que falta para aumentar o interesse pela leitura é o incentivo. “Falta investimento de po-líticas públicas e privadas para a de-mocratização e acesso ao livro. Há vá-rias questões que afastam o brasileiro do livro, como o alto preço, a falta de hábito, o avanço de novas tecnologias. Mas tenho esperanças que esse qua-dro seja revertido em um curto espaço de tempo”, afirma.

O projeto venceu no ano passado o Premio Faz Diferença e, oficialmente, conta com o apoio da Afeigraf e Institu-to Kinder do Brasil. Recebe doações de livros de escritores, ilustradores e pes-quisadores de literatura infanto juvenil.

Aos 24 anos Otávio César já é autor de duas obras infanto-juvenis, publi-cadas de maneira independente, além de autor, contador de histórias e pro-dutor executivo teatral.

Otávio César Santiago

Fotos: Divulgação

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26 Panorama Dezembro 2008/ Janeiro 2009

De março a novembro, o mercado editorial movimenta milhões de reais e de livros

nas feiras e bienais, que já fazem parte do calendário cultural das metrópolis às pequenas

cidades de norte a sul do país

As feiras ganham o país e o país ganha com as feiras

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Dezembro 2008/ Janeiro 2009 Panorama 27

A curitibana Aline Cristina de Souza visi-tou a 54ª Bienal de Porto Alegre e voltou com 8 livros na bagagem

Fascinada pela leitura, a curitibana Aline Cristina de Souza sonhava um dia conhecer uma Bienal ou uma gran-de feira de livros. Aos 19 anos, concre-tizou o sonho. Durante a viagem a Por-to Alegre, lembrava-se das reportagens em que o mundo da leitura se desven-dava em cada linha que descrevia o evento. Ao chegar à 54ª Feira do Livro, deparou-se com obras de escritores que não conhecia, folheou, comprou lança-mentos e apreciou livros de seu escritor preferido, José Saramago.

Aline voltou para casa com oito li-vros na bagagem e uma sensação de que faltou algo no evento. “Fui com a impressão de ser um evento cultural mais voltado para contagiar o gosto pela leitura, com palestras, exposições, enfim, um lado mais estudioso. Em-bora tenha adquirido vários livros por preços excelentes, senti falta de um en-foque a mais do que é o mundo da lite-ratura”, opina.

As impressões de quem visita as fei-ras são inúmeras: fascínio, encanto, crí-ticas, descoberta. Em Porto Alegre, ce-nário da jovem leitora, a Feira é uma das maiores a céu aberto do mundo e a mais antiga no Brasil.

Em 1955, o jornalista e diretor do ex-tinto Diário de Notícias, Say Marques, viajou ao Rio de Janeiro para visitar a

Cinelândia, bairro carioca, onde exis-tia o comércio de livros em 40 barracas ao ar livre. Ao voltar para Porto Alegre, adaptou o que tinha visto e criou uma feira com o objetivo de aumentar as vendas dos livros. Com 20% de descon-to, foram comercializados em 14 dias, 35.813 exemplares. Com o tempo e ex-periência, o evento foi sendo lapidado e hoje, a capital gaúcha em sua 54ª edi-ção, contou com 167 expositores livrei-ros e a venda 600 mil livros.

Patrono dessa edição, Charles Kie-fer, 50 anos, autor de clássicos da litera-tura infanto-juvenil como Caminhando na Chuva, O Pêndulo do relógio, Um outro olhar, Antologia Pessoal, Você Viu Meu Pai por aí?, que recebeu por três vezes o prêmio Jabuti pela Câmara Brasileira do Livro, acredita que a Feira de Porto Alegre cumpre, sim, seu papel de difundir e estimular a leitura, con-trariando as impressões da jovem estu-dante Aline. “A Feira do Livro é um dos fatores que fazem do Rio Grande do Sul o estado brasileiro de maior con-sumo per capita do Brasil: 5,6 livros por habitante/ano”, afirma.

Para o escritor, o evento representa um espaço de prazer e conhecimento: “Uma festa da cultura. Um momento ímpar, nesta que é a maior feira aberta em torno do livro da América Latina. O evento, em minha opinião, é divul-gação, venda, troca de idéias, tudo isso e muito mais, já que em Porto Alegre são realizadas mais de 1.500 ativida-des culturais como Simpósios, Semi-nários, Encontros, Maratonas de Lite-

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Charles Kiefer, escritor e patrono da 54ª Bienal de Porto Alegre – “A Bienal do Livro é um dos fatores que fazem do Rio Grande do Sul o Estado brasileiro de maior consumo per capita de livros do Brasil.

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ratura, Oficinas etc.” O presidente da ANL – Associa-

ção Nacional de Livraria, Vitor Tava-res, afirma que as feiras de livros sem-pre são um bom momento para o mercado livreiro, principalmente para a região onde ela se realiza, especial-mente se ela for bem planejada tan-to por parte dos organizadores como dos expositores. A realização de even-tos paralelos com a presença de auto-res, livreiros, editores e bibliotecários e, ainda, uma boa divulgação na mídia com o envolvimento de toda a comu-nidade são fundamentais para este su-cesso. “É importante destacar que mes-mo que as vendas durante o evento não sejam a esperada, números apon-tam que num período pós-feira — que pode variar entre 30 e 60 dias — o seg-mento de livros apresenta, naquela re-gião onde ela aconteceu, um crescimen-to em suas vendas. Indiscutivelmente, isso deixa bem claro que um dos princi-pais objetivos de uma feira de livros é o de difundir e democratizar o acesso ao livro e, principalmente, formar novos e fieis leitores”, afirma Tavares.

Democratizar a leitura

Num movimento sem precedentes na história nacional, nesta década as feiras se proliferam com incrível rapi-dez também nas médias e em peque-nas cidades do interior, como é o caso da cidade de Picada Café, interior do Rio Grande do Sul. Com uma popula-

ção de apenas cinco mil habitantes, a 8ª Feira do Livro, em 2008, vendeu 15 mil exemplares segundo os organizadores. ( veja box sobre as feiras do Rio Gran-de do Sul)

Em todas as feiras de livros, o dis-curso é o mesmo: O objetivo de cada uma, ou de todas, é consolidar-se como o maior evento literário da região, esta-do ou país, popularizar o livro e demo-cratizar a leitura.

Na região sudeste, a média de livros lidos por ano é de 4.9. Uma das cidades que compõem esta região, Rio de Janei-ro, realiza uma das maiores bienais, a Bienal Internacional, que recebeu na sua 18ª edição em 2007, mais de 540 mil pessoas. Entre elas, Kika Carrera, 25 anos, atriz, esteve não só na última Bienal Internacional do Livro no Rio de Janeiro, que acontece em anos ímpares, como também nas edições anteriores. “Vou à Bienal desde criança, com a es-cola, agora vou sozinha. Prefiro. Assim, vou embora só quando termino de visi-tar os stands que me interessam”.

Na última edição, Kika comprou mais de 10 livros, que somou no fatu-ramento do evento, em torno de R$ 43 milhões, mais que o dobro dos R$ 20 milhões investidos no evento, segundo a organização.

O que mais chamou a atenção da leitora foi o romance de Fadia Faqir. “Meu Nome é Salma é é um livro fan-tástico. Outro que adorei foi Comer, Rezar e Amar, da autora americana Eli-zabeth Gilbert. Comprei diversos livros

Foto: Elias Oliveira

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Picada do Café, interior do Rio Gran-de do Sul. Com uma população de ape-

nas 5000 habitantes, a 8ª Feira do Li-vro vendeu 15 mil exemplares

Kika Carrera, a carioca freqüen-ta a Bienal Internacional do Livro do Rio de Janeiro desde a infância

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sobre assuntos que me interessam: tea-tro, poesia, romance e, claro, não pode-ria faltar de auto-ajuda”.

Ela conta que pôde ter acesso à qua-se todo material das editoras, e o preço dos livros era bem acessível. “Pra mim, o evento é uma ótima oportunidade de interação entre nós leitores e as edito-ras”. Embora satisfeita, faz uma crítica em relação à localidade do evento.“A Bienal fica distante do centro da cidade. Além de ser longe, o estacionamento é um absurdo! Os R$ 10,00 que desem-bolso poderiam ser gastos em livros”.

A I Bienal do Livro do Rio de Janei-ro aconteceu em 1983 nos salões do Co-pacabana Palace numa área de um mil m². Porém com a necessidade de am-pliar este espaço, em 1987, o evento mudou-se para o Riocentro, e aumen-tou área para 15 mil m² pelo fato de ser um dos acontecimentos editoriais mais importantes do país.

Mas a distância não é empecilho para uma leitora assídua como Kika, que descreve o prazer de ler: “É poder compor a própria história dentro do que me é emprestado, quebrar barrei-ras, não ter idade, preconceito, nem re-ligião”.

Tradição européia

Para o publicitário Miguel Zimmer-mann Martins, 24 anos, ler é uma forma de aprender por si mesmo, dependen-do apenas da vontade de quem quer instruir-se. “Ler é brincar com a ima-ginação, aprender a interpretar as pa-lavras de um autor e trazer esse conte-údo para o seu dia a dia. Isso faz com que tarefas de interpretação do cotidia-no fiquem mais simples, devido à práti-ca que se adquire com a leitura”.

A 20ª edição da Bienal Internacio-nal do Livro de São Paulo, visitada por aproximadamente 728 mil pessoas, in-cluindo alunos das redes públicas e pri-vadas e visitantes, deixou em Miguel a impressão de que o tempo do evento é relativamente curto. “A Bienal me mos-trou de forma acessível tudo o que está

acontecendo no mercado literário, mas fica complicado acompanhar todos os lançamentos pelo curto espaço de tem-po”, lamenta.

A média de livros lidos pelo publi-citário é de um a dois por mês sobre as-suntos específicos de caráter técnico, como fotografia, linguagem e comu-nicação e biografias. “Apesar de pare-cer fútil, como publicitário, fiquei im-pressionado com a trajetória de vida do Roberto Justus em Construindo uma vida- Trajetória profissional, negócios e O Aprendiz . Quem o vê hoje, na posi-ção que ocupa, não faz idéia do cami-nho que ele teve de percorrer. Outro li-vro que gostei bastante foi O Vendedor de Sonhos, do Augusto Cury. A Bienal de São Paulo mostrou que, por mais que eu aprenda, busque e conheça de-terminados assuntos, sempre vai haver mais algo a aprender. O conhecimento não tem limites. É preciso estar prepa-rado para nunca deixar de aprender”, diz Miguel.

A Bienal de São Paulo teve um iní-cio tímido até chegar ao sucesso de hoje. A então 1ª Feira Popular do Livro realizada em São Paulo, capital, aconte-ceu pela primeira vez em 1951 na Pra-ça da República com o objetivo de in-troduzir no Brasil a tradição das feiras de livros européias. Em 1956, foi reali-zada no Viaduto do Chá, mudança mo-tivada pelo número de pessoas que por ali passavam, e em 1961, promoveu-se a 1ª Bienal Internacional do Livro e das Artes Gráficas, em parceria com o Mu-seu de Arte de São Paulo. Esses even-tos serviram como projeto para que, em 1970, a CBL trouxesse com exclusivida-de a 1ª Bienal do Livro Internacional.

Abdala Jamil Abdala, 61 anos, pre-sidente da Francal Feiras, empresa or-ganizadora de eventos, afirma que a Bienal do Livro de São Paulo é o maior evento cultural da América Latina. “Ao reunir as principais editoras do País - e estrangeiras - num único espaço e pro-mover uma série de atividades cultu-rais paralelas, aproxima pessoas e li-vros e, com isto, dá uma importante

Abdala Jamil Abdala – “A 20ª Bienal de São Paulo foi realizada com grande sucesso”

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Vitor Tavares: “As feiras são um bom momento para o mercado livreiro”

Maria Auxiliadora Seabra, secretária de Educação e Cultura de Tocantins: “O mercado editorial responde bem ao comprar espaço e au-mentar o número de expositores a cada ano”.

contribuição para o desenvolvimento da cultura nacional”.

Por ser um evento de grande con-tribuição ao incentivo à leitura, conta com o apoio da Prefeitura da Cidade de São Paulo, do Ministério da Cul-tura e também de patrocinadores que colaboraram na realização dos even-tos paralelos: Volkswagen, Ipiranga, HSBC, Submarino e Visa, entre outras empresas.

Incentivo à leitura

Se as feiras e bienais de livros real-mente conseguem mudar o comporta-mento do leitor ou criar novos adeptos, ainda não existem estatísticas para me-dir esse resultado. Mas o número de livros vendidos em cada uma sugere que sim, o que não se aplica à popu-lação de baixa renda. Mas as adminis-trações públicas tentam se aproximar das camadas sociais mais simples por meio do cheque livro ou vale livro, li-berando verbas para as secretarias de educação comprarem livros didáticos e paradidáticos e, assim, enriquecer as bibliotecas escolares com mais títulos, o que possibilita maior acesso dos alu-nos à leitura.

É o caso de muitas cidades, como Caxias do Sul, que, em 2007, na 23ª edi-ção da feira, recebeu 210 mil visitan-tes e comercializou 52 mil obras, 15% a mais que no ano anterior. Em parce-

ria com o poder público, a feira criou o projeto Passaporte da Leitura, que be-neficiou 30 escolas públicas com 30 li-vros cada uma.

Em Tocantins, o governo do esta-do também se encarrega de enviar re-cursos para que o livro chegue aonde o povo está. Cada professor de rede pública recebe R$150,00 para compras pessoais de livros na feira e, este ano, o presente foi estendido aos vigias, ser-ventes e merendeiras das escolas: cada um recebeu R$ 40,00. “O objetivo é que todos leiam mais”, diz a secretária de Educação e Cultura de Tocantins, Ma-ria Auxiliadora Seabra Rezende, con-victa de que o salão de livros cumpre seu papel de difundir a leitura, além de ser economicamente viável; “O merca-do editorial responde bem ao comprar espaço e aumentar o número de expo-sitores a cada ano”.

Já João Scortecci, do Grupo Edito-rial Scortecci, tem outra visão: “Não gosto de ver aquele bando de crian-ças correndo pelos corredores. É o lado ruim de uma bienal. Nós precisa-mos repensar tudo. Repensar significa apoiar e olhar o futuro”, avalia. Quan-to a ser um bom negócio para o livreiro, ele diz: “Sou livreiro de pequeno porte. Algumas redes participam, outras não. Cada um justifica do jeito que lhe pa-rece melhor. Dinheiro, garanto que não dá. O leitor não compra livro porque é vantajoso. Compra porque gosta e quer ler. Um desconto e uma promoção são “ameixas” na empada. Sair com a saco-la cheia é o máximo. Gostaria que todas as pessoas deste Brasil pudessem com-prar muitos livros. Pena que apenas uma pequena parte pode fazê-lo. Para quem não pode, deveriam existir mais bibliotecas”, critica

De acordo com o Ministério da Cul-tura, quase 90% dos municípios brasi-leiros têm pelo menos uma biblioteca, porém, a pesquisa Retratos da Leitu-ra no Brasil, revelou que apenas dos 66% dos entrevistados conhecem esta informação e apenas 10% freqüentam

Foto: Gustavo Sá

Foto: Divulgação

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Bienal de Porto Alegre incentiva cidades do interior do RS

ainda programas em Caxias do Sul e São Leopoldo, uma zona de imi-grantes italianos, cujo organizador das feiras, Jari Rocha, levou a expe-riência de oito anos na Secretaria de Educação e Cultura de Morro Reuter, cidade a 60 km ao norte de Porto Ale-gre, com 5.500 habitantes e com um dos menores índices de analfabetis-mo do páis. A pequena cidade gaú-cha, colonizada por alemães, osten-ta em frente à prefeitura o Obelisco de Livros, criação do artista Gustavo Nakle, erguido para registrar o traba-lho do município em relação à leitura, a paixão de seus moradores pelos li-vros. O monumento de 11 metros de altura é representado por uma pilha de 72 livros. A feira do livro de Mor-ro Reuter já está na 14ª edição. Mas, não somente as feiras contribuem para o crescente número de leitores no estado. Sônia cita como um fenô-meno, a iniciativa da Santa Casa de Porto Alegre, onde circulam 33 mil pessoas por dia, com a criação de uma biblioteca e a realização de uma feira de livros por ano.

O número de feiras no Rio Gran-de do Sul cresce a cada ano. Se-gundo a coordenadora da área in-fanto-juvenil e membro da comissão executiva da Câmara Riogranden-se do Livro, Sônia Maria Zanchet-ti, mais 200 cidades do estado rea-lizam feiras de livros todos os anos.

“ Surgiram em função da Feira de Por-to Alegre e todas elas têm o apoio da Câmara Riograndense”, afirma. Para ela, a comunicação entre os organi-zadores e as secretarias de cultura e de educação dos municípios é mui-to importante para a troca de idéias e orientação sobre que autores con-vidar, que eventos paralelos progra-mar. E isso acontece constantemen-te. Todos os anos, a Câmara envia editais a 496 municípios pedindo as datas dos eventos e, a cada ano, au-menta o número de adesão às feiras.

Algumas cidades têm outros bons meios de incentivo aos livros além da feira. Em Bento Gonçalves, a prefei-tura realiza um programa de leitura para alunos das escolas municipais, estaduais e particulares. Sônia cita

Sônia Maria Zanchetti: As feiras têm apoio e orientação da Câmara Riograndense

o espaço. (veja matéria Comportamen-to Leitor).

Em São José do Rio Preto, interior de São Paulo, existe uma biblioteca central e quatro ramais, localizados em bairros da cidade, “Além de uma bi-blioteca móvel que percorre 15 bairros da cidade. Temos também, grandes li-vrarias como a Saraiva e a Nobel, além de outras menores de proprietários rio-pretenses. Não falta estímulo para lei-tura na cidade, a prefeitura mesmo in-vestiu na bienal deste ano cerca de R$ 600 mil”, diz o coordenador geral da 2ª Bienal do Livro de São José do Rio Preto e assessor de gabinete na Secreta-ria de Cultura da cidade, Deodoro Mo-reira. Ele alega que o principal objetivo do setor é despertar o gosto pela leitu-ra tanto em crianças como em adultos. “A prefeitura por meio da Secretaria Municipal da Educação investiu R$ 140 mil na distribuição de cheques-livros.

A Secretaria de Educação repassou cer-ca de R$2 mil para cada uma das esco-las municipais. Os livros adquiridos fo-ram para o acervo das bibliotecas das escolas”, diz.

Discutir qual a feira mais importan-te, mais relevante, parece algo sem sen-tido. Pela programação que contém, pelo empenho dos organizadores, cada feira cumpre o mesmo papel, não im-porta o tamanho do evento. É propor-cional. Só no Brasil, existem mais de vinte grandes eventos literários entre feiras e bienais, segundo o Sindicato Nacional dos Editores de Livros, SNEL, mas parece que tanto incentivo à leitu-ra ainda é pouco para um país com um índice de 70 milhões de não-leitores. Mas, é uma questão de tempo e de de-terminação para mudar esses quadro. Se as feiras estão ganhando o país, a ex-pectativa é de que o Brasil e os brasilei-ros também ganhem com as feiras.

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Políticas Públicas

Navegando pela leituraPrograma Arca das Letras leva o mundo dos livros para a

população rural e já ultrapassa as fronteiras do país

Foto: Ubirajara Machado

Assim como na passagem Bíblica, quando Noé construiu uma Arca para salvar a população da época de um dilúvio que durou 40 dias e 40 noites, um projeto desenvolvido pela Secreta-ria de Reordenamento Agrário do Mi-nistério do Desenvolvimento Agrário vem trazendo esperança de dias me-lhores para famílias das zonas rurais do país, no que se refere ao acesso ao conhecimento.

O Programa de Bibliotecas Rurais Arca das Letras foi criado em 2003 para incentivar a leitura e facilitar o acesso aos livros em assentamentos, comunidades de agricultura familiar e de remanescentes de quilombos. Cada biblioteca possui cerca de 200 títulos obtidos por doação, entre lite-ratura infantil, literatura para jovens e adultos, livros didáticos, de pesquisa e

técnicos -cidadania, saúde, agricultu-ra- incluindo assuntos de interesse das populações rurais e suas necessidades. Segundo a coordenadora nacional do programa, Cleide Cristina Soares, os resultados positivos podem ser confe-ridos em relação ao desenvolvimento comunitário, já que parte do acervo é destinada a livros relacionados à rea-lidade rural, como publicações sobre agricultura. “O que podemos destacar também é a diminuição da evasão es-colar depois da chegada dos livros às comunidades”, destaca.

Instalada na casa de um morador ou na sede de uma associação rural, é a pró-pria comunidade que escolhe os assun-tos que formam os acervos, o local onde a biblioteca irá funcionar, e indica os moradores que serão capacitados como Agentes de Leitura, voluntários que

são responsáveis pela organização do programa e pelo incentivo à leitura na comunidade. E de acordo com a coorde-nadora, os bons resultados obtidos des-de a implantação em 2003, se dá pelo en-volvimento da comunidade no projeto. “Eles participam ativamente do plane-jamento das bibliotecas, dão sugestões e isso proporciona uma aproximação maior dela com os livros”, afirma.

Por meio de um trabalho bem arte-sanal, a biblioteca é organizada em um móvel de madeira fabricado em marce-narias de penitenciárias por trabalha-dores sentenciados, que recebem bolsas de trabalho e redução de suas penas. São confeccionadas também na Funda-ção Pão dos Pobres no Rio Grande do Sul, no Centro de Profissionalização In-tegrado do Piauí - Secretaria de Estado da Educação e em alguns municípios

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Foto: Regina Santos

da parceria com o Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação do Mi-nistério da Educação (FNDE/MEC); Departamento Penitenciário Nacional do Ministério da Justiça; Ministério da Cultura e outros órgãos públicos fede-rais, estaduais e municipais. Também participam os movimentos sociais e sin-dicais, editoras, artistas e a população urbana - que contribui com a doação de livros. Toda sociedade de mãos dadas para levar mais cultura e conhecimento às comunidades necessitadas.

Os capitães da Arca

O sucesso do programa não seria possível sem a preciosa ajuda dos Agen-tes de Leitura, que voluntariamente dão o apoio necessário as comunidades be-neficiadas pela Arca. São aproximada-mente 12 mil em todo Brasil, e o jovem de 24 anos, Welton Pinote Rozetta é um deles. Atuante no programa desde 2007 na comunidade de São João da Barra Seca em Colatina - Espírito Santo, ele garante que ajudar a comunidade onde vive é fundamental. “A maior impor-tância do projeto para mim é auxiliar a comunidade na qual eu resido, aten-dendo principalmente o estudante, que vem para cá depois da aula para fazer

pesquisas e receber ajuda nos deveres de casa”, ressalta. A atitude altruísta do jovem Agente, que disponibiliza parte do seu tempo às necessidades de sua comunidade tem proporcionado a ele melhor convívio social. “Além de aju-dar pessoas aqui eu consegui aumentar meu círculo de amizades e isso é muito gratificante”, confirma.

Outra apaixonada pela Arca das Letras é a professora Simone Regina Del Belo Rodrigues, Agente da comu-nidade Aparecida do Bonito em Santa Rita D’oeste, São Paulo. Antes do pro-grama, ela já realizava um trabalho voltado para a leitura, mas com a che-gada da Arca as coisas mudaram. “O programa Arca das Letras chegou aqui em maio de 2008, e veio somar com o trabalho que eu já realizava na minha comunidade, deu uma injeção de âni-mo”, garante.

Para ela a importância do projeto vem diretamente ao encontro das ne-cessidades da comunidade rural. “Essa é uma população carente de informa-ção, que necessita de conhecimento para poder gerar renda no local onde residem”.

Mas Simone sabe que o trabalho nem sempre é fácil e aceito prontamen-te. Por isso, ela trabalha constante-

mente para tornar o programa cada vez mais atrativo. “Eu sempre digo que não basta ler livros;a gente tem que montar estratégias, essa é a parte mais difícil para que a população se interesse pela leitura. Diante dessas necessidades eu desen-volvo várias atividades para que a biblioteca seja visitada. Hoje, minha comunidade usa a biblioteca folheando livros e, para mim, isso é importante porque mesmo que ela chegue e só “passe” a mão nos livros já é um contato que elas não tinham”, explica.

Interessada em agregar ain-da mais valor ao seu trabalho, Simone fez um curso de espe-cialização em projetos e através disso vai levar Arca das Letras para fora da sua comunidade. “Eu apresentei o projeto numa escola no município vizinho e a diretora se interessou muito,

por iniciativa das Prefeituras.Em todo o Brasil, o Arca das Letras,

já implantou mais de 5.800 bibliotecas rurais em mais de 1,7 mil municípios brasileiros. Até o momento, mais de 1,2 milhões de livros foram distribuídos, beneficiando cerca de 700 mil famílias do campo. O trabalho de atendimento oferecido nas bibliotecas é feito por 12 mil agentes de leitura, que contribuem para melhorar os índices educacionais de suas comunidades, além de apoiar o trabalho e valorizar a cultura no meio rural. O programa já ultrapassou fronteiras implantando três Bibliotecas Arca das Letras em Díli noTimor Leste e na capital cubana, Havana, como co-operação solidária.

Para Cleide, apresentar o mundo da leitura para as crianças e fazer com que ela se interesse não é a tarefa difí-cil. “Nosso maior desafio é incentivar a leitura entre os jovens e adultos. Por isso, apresentamos primeiro publica-ções que tenham a ver com a realida-de daquelas pessoas, e assim, estamos conseguindo atingir nossas metas e a leitura acaba se tornando um hábito na vida dessas pessoas”, conclui.

Depois de implantadas na comuni-dade, as bibliotecas são visitadas pela equipe do programa na intenção de acompanhar o seu desenvol-vimento junto à comunidade. “Pelas nossas contas nós entre-gamos cerca de três bibliotecas por dia, desde 2003. Depois de implantado o programa, volta-mos a comunidade para acom-panhar o trabalho e os resulta-dos dele. Cada encontro dura em média dois dias, quando discutimos os avanços e as su-gestões de toda comunidade participante. No meio rural, o livro chega e é lido”, garante Cleide.

A Arca da Letras conta com o apoio do Projeto Banco do Brasil/Fome Zero, Banco do Nordeste, MME Luz para todos e por meio dos Centros Culturais Banco do Brasil (DF/SP/RJ), Missão Criança, Eletro-sul e Furnas. Em Petrolina/PE, Mossoró/RN e Fortaleza/CE conta com o apoio do Ministé-rio da Justiça/DEPEN. Além

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Feira da Agricultura Familiar - RJ

Taracatu - PE

Políticas PúblicasFoto: Silvia Souza

agora é só correr atrás e botá-lo para funcionar”, diz.

Emocionada com o resultado obti-do até agora, a Agente se diz apaixona-da pelo que faz. “Às vezes eu me emo-ciono quando vejo as crianças vindo de tão longe, debaixo do sol para partici-par do programa. Para mim, esse é o melhor projeto que eu já vi em termos de incluir a população rural nos pro-jetos sociais, é muito gratificante. Por isso que eu sempre digo que a gente tem que ler para alcançar o conheci-mento”, completa.

Valdinéia Soares Moreira também disponibiliza parte do seu tempo para auxiliar a Comunidade Gravatá, na Chapada do Norte -Vale do Jequiti-nhonha. Lá, ela desenvolve o programa numa comunidade quilombola. “Eu considero este projeto importantíssimo, pois me trouxe uma grande oportuni-dade de adquirir experiência e muito mais conhecimento a respeito da nossa origem, ainda mais por ser de uma co-munidade quilombola”, explica.

Atuante na Arca das Letras desde 2006, Valdinéia afirma que muitas mu-danças aconteceram na comunidade depois do programa. “O pessoal das

comunidades estão adquirindo mais conhecimento, os estudantes tem faci-lidade em fazer trabalhos e pesquisas. As crianças, os jovens e os adultos se dis-traem, se divertem e aprendem com os livros”, conta. Valdinéia diz, ainda, que a Arca não mudou só a vida da Comu-nidade Gravatá. “Foi através do projeto que participei e ganhei um computador no primeiro concurso em homenagem a Machado de Assis realizado pelo Mi-nistério da Cultura. Foi a realização de um sonho, pois nunca tive condições de comprar e com este prêmio, conquis-tado graças a meu trabalho com o pro-

grama, vou poder ajudar muito mais a minha comunidade”, justifica.

Apesar dos problemas que enfren-ta, numa das regiões mais necessitadas do país, Valdinéia tenta passar para a comunidade a importância da leitu-ra. “Hoje, minha maior dificuldade é atingir o publico adulto, pois eles estão sempre ocupados, trabalhando. Mui-tos deles não tiveram oportunidade de aprender a ler e a escrever quando jo-vens. Mas, devagar, eu vou incentivan-do e tenho certeza que um dia todos vão descobrir o quanto é bom se apai-xonar por um livro”, afirma. P

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Pelo mundo afora

AlemanhaBibliotecas ao ar livre na Alemanha incentivam a leitura no país

EUAObama ajuda a vender livros

JapãoLiteratura para celular se espalha

De acordo com uma pesquisa re-cente realizada pela Fundação Lesen, de Mainz, na Alemanha, enquanto em 2000 um terço da população adulta e adolescente ainda lia entre 12 e 50 livros por ano, em 2008 apenas um quarto cumpre o mesmo volume de leitura. Ou-tros 25% da população nem encostam o dedo num livro, uma proporção que se manteve constante nos últimos anos.

Para incentivar a leitura no país, algumas alternativas estão surgindo, como as bibliotecas ao ar livre, com o

Em janeiro, quando Barack Hussein Obama tomou posse como o 44º presi-dente dos Estados Unidos, o País pas-sou a ter o presidente mais pop de sua história. Porém, já desde muito antes dele se mudar para a Casa Branca que tudo o que ele lê, ouve, joga ou vê têm despertado o interesse dos americanos.

Não é novidade, assim, que os li-vros preferidos do presidente estejam provocando uma verdadeira corrida até as prateleiras das livrarias.

Acostumado a ler obras de pensado-

Não é de hoje que os japoneses e sua fissura por tecnologia decidiram usar o telefone móvel, tão popular como dis-positivo de entretenimento e comunica-ção no País, como ferramenta de leitura. Nos últimos anos, enquanto a indústria do livro discute para encontrar um for-mato apropriado para distribuir, em mídia eletrônica, o tradicional conteú-do impresso, lá os romances de celular se consagraram como uma tendência.

No início, a mania fez sucesso prin-cipalmente entre adolescentes e jovens.

intuito também de popularizar a leitu-ra entre os alemães. Quem passa pela Alameda Poppelsdorfer Allee, uma das ruas mais charmosas e luxuosas da ci-dade de Bonn, onde foi implantado o projeto, pode aproveitar para ler um li-vro, ao ar livre. As bibliotecas ficam sem controle, recepcionista ou cadeados. É um armário de madeira com portas de vidro, onde quem quiser pode pegar li-vros emprestados. Tudo na base da con-fiança. Escolheu, pegou emprestado, leu, devolveu. Se a pessoa gostar muito do

res como Maquiavel e Thomas Hobbes, além dos clássicos da literatura jurídica, o livro favorito de Obama, segundo o jornal britânico The Daily Telegraph, é Moby Dick, do escritor americano Her-man Melville, publicado pela primeira vez em 1851. Desde que a sua predile-ção pela obra foi divulgada, a procura tem sido tanta que o clássico voltou às livrarias dos EUA em uma nova edição.

O efeito tem sido sentido também no Brasil. A editora Cosac Naify, que lançou uma nova tradução da versão

Isso porque ela se caracterizava por uma narrativa ágil, com influência di-reta dos mangás - as histórias em qua-drinhos japonesas – e marcadas por frases curtas, próprias para o formato de leitura na tela do celular. Mas, pou-co a pouco, as editoras ampliaram o leque de ofertas e passaram a oferecer títulos variados no formato.

Diante disso, nada mais natural que a ideia ser exportada e ganhar novos adeptos. No ano passado, a moda se estendeu a outros países, onde os celu-

lares estão sendo cada vez mais usados para transmitir dados, incluindo vídeo, fotos digitais e música.

Agora, a novidade vem da edito-ra americana Ravenous Romance, de e-books e audiobooks. Ela decidiu se inspirar na mania criada no Japão para comercializar um outro gênero literá-rio pelo celular: o erótico. Para quem concorda que nada valida mais uma tecnologia emergente do que o envolvi-mento da indústria pornográfica com ela, foi a gota d´água.

integral de Moby Dick em abril do ano passado, não está dando conta dos pe-didos de reposição das livrarias. Isso apesar das quase 700 páginas do livro.

Além de garantir ter lido todos os volumes da série Harry Potter, de J.K. Rowling, quando ainda estava em campanha o novo presidente também divulgou uma lista de livros prefe-ridos com títulos de James Baldwin, Doris Lessing e Toni Morrison. Não deu outra: os clássicos voltaram a ser procurados nas livrarias americanas.

livro pode levar para casa, com a condi-ção de colocar outro no lugar.

A iniciativa dos armários com li-vros é resultado de uma competição para promover a vida cívica e cultural na cidade, realizada pela Fundação Ci-dadãos de Bonn (Bürgerstiftung Bonn), em 2002. Mais de 130 propostas foram apresentadas, entre elas este projeto do então estudante de design de interior Trixi Royek. Desde o início de seu fun-cionamento, os armários ganharam es-paço no coração dos cidadãos de Bonn.

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Foto: Divulgação

Os mascates das letrasO mercado de livros porta a porta continua faturando (e

muito! – só em 2007 foi quase R$ 1 bilhão) e permitindo o acesso de milhares de brasileiros à leitura

Mercado & Tendências

A estudante Kelly Cristina Pereira de Oliveira Lissoni conheceu o vende-dor Ivan Netzker Gama no ano passa-do, quando ele bateu na porta de sua casa, em Campinas, interior de São Paulo. Depois de ouvir o homem dizer que vendia livros, a menina, de dez anos, insistiu para que a mãe o deixas-se entrar.

Naquele dia, Kelly falou a ele so-bre a sua paixão pela leitura. Lembrou

dos livros que já havia lido, dos que ti-nha vontade de ler, da sua dificuldade em encontrar obras em braille e tam-bém dos altos custos cobrados por li-vros nesse formato. Deficiente visual, Kelly fez Gama prometer que, quando voltasse, traria uma bíblia em braille para lhe vender.

Mas a menina não precisou pagar pelo livro. Alguns meses depois, em São Paulo, ela recebeu o Gênesis e os

O vendedor de livros Ivan Gama entrega certificado do concurso de redação para Kelly Cristina Pereira de Oliveira Lissoni, junto a seus pais

POR ALEXANDRE MALVESTIO DA AGÊNCIA BRASIL QUE LÊ

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Salmos da Bíblia no formato braille e o Novo Testamento em MP3 das mãos do mesmo vendedor. Dali em diante, a cada três meses, ela receberia, em casa, um novo livro até completar os 38 vo-lumes das escrituras sagradas. O pre-sente, oferecido pela Sociedade Bíbli-ca do Brasil, foi entregue no evento em comemoração aos 21 anos da Asso-ciação Brasileira de Difusão do Livro (ABDL), entidade que congrega o setor porta a porta que vende e divulga li-vros em domicílio.

A exemplo de Kelly, autora da re-dação que conta a história da visi-ta inesperada, e uma das vencedoras do concurso “O amigo do meu me-lhor amigo”, organizado pela entida-de, a maior parte dos brasileiros não imagina que ainda exista uma legião de caixeiros-viajantes vendendo livros de porta em porta pelo Brasil adentro. Nas pequenas cidades, principalmen-te nas regiões mais carentes do País, onde não existem livrarias ou bibliote-cas, esse tipo de venda tem papel ain-da mais relevante no acesso das pesso-as aos livros.

De acordo com a Pesquisa do Setor Porta a Porta, divulgada em novembro do ano passado, em 2007, o setor fatu-rou, por meio dos associados da enti-dade, R$ 650 milhões. Com base em informação de que, do setor porta a porta, 70% são associados da ABDL, a entidade estimou, partindo da premis-sa de que os não-associados têm per-fil similar aos associados, um fatura-mento global de R$ 930 milhões no ano passado. O setor vendeu, no período, cerca de 65 milhões de livros.

Estima-se que o porta a porta te-nha mobilizado, em 2007, quase três-mil pessoas, exceto no ramo de vendas. É que um mesmo vendedor de livros pode ter mais de um fornecedor, in-clusive de diferentes ramos. Portanto, de acordo com a ABDL, não faz senti-do somar as quantidades de vendedo-res por conta da superposição. Separa-

damente, o levantamento mostrou que os editores do segmento contam com 1.292 vendedores empregados, os ata-cadistas com 2.738 e os crediaristas com 5.476.

Ivan Netzker Gama, responsável por visitar a garota Kelly, é um desses vendedores. Morador de Mauá, na re-gião metropolitana de São Paulo, ele inicia sua jornada na venda de livros porta a porta todos os dias às oito da manhã, quando se reúne com outros vendedores na sede da Espaço Edito-rial. O trabalho só vai terminar cerca de 12 horas mais tarde, quando ele já terá visitado cerca de 20 casas.

Gama começou a trabalhar no ramo há 22 anos, por indicação da mu-lher, que viu o anúncio de uma vaga no jornal. No primeiro dia, não gostou do trabalho. Chegou a pedir para dei-xar o cargo, mas por insistência do ge-rente, foi ficando. Anos depois, a edi-tora fechou as portas e ele chegou a se aventurar em um negócio próprio, no mesmo ramo, antes de entrar para a Espaço Editorial, onde trabalha há nove anos.

“Eu não gostava de livros e ainda não gosto muito de ler, mas aos pou-cos foi despertando o interesse. A gen-te precisa ler para poder mostrar para os clientes que conhece o produto”, ex-plica o vendedor, que estudou até o En-sino Médio.

Com vendedores trabalhando para diferentes fornecedores, há diversas formas de atuação no segmento por-ta a porta. Muitos profissionais traba-lham por conta própria e organizam suas agendas de visitas. Na empresa onde Gama trabalha, há diversas equi-pes atuando juntas. Para cada uma de-las, um supervisor fica responsável por acompanhar cada grupo de ven-dedores, que visita casas em diferentes cidades da Grande São Paulo e até no interior do estado.

Apesar dos tempos de violência e insegurança, Gama diz que é sempre

muito bem recebido por onde passa oferecendo livros. “O que mais mar-ca nesse trabalho são as amizades que nós fazemos. Eu sempre tento uma aproximação com o cliente em vez de só bater na casa dele. Tem gente que me convida para almoçar e até liga de-pois convidado para festas e casamen-tos”, conta.

De acordo com o presidente da ABDL, Luís Antonio Torelli, o segmen-to do livro porta a porta é fundamen-tal para o fomento à leitura no Brasil. “Nada foi descoberto que substitua es-ses homens e mulheres que atraves-sam o País divulgando o hábito de ler”, afirma. O presidente diz que os resul-tados da Pesquisa do Setor Porta a Por-ta já permitem à entidade traçar planos estratégicos para o setor quanto à sua eficiência e lucratividade.

De acordo com Torelli, a ABDL está desenvolvendo, juntamente com o Mi-nistério do Trabalho e Emprego, um programa para formar vendedores de livros porta a porta. Além de prepa-rar novos profissionais para a ativida-de, o programa vai capacitar vendedo-res que já atuam no setor.

Em outubro do ano passado, a pes-quisa Produção e Vendas do Setor Edi-torial Brasileiro 2007, realizada pela Fundação Instituto de Pesquisas Eco-nômicas (Fipe) e divulgada pela Câ-mara Brasileira do Livro (CBL) e Sin-dicato Nacional de Editores de Livros (Snel), mostrou que a participação do segmento porta a porta no total de li-vros vendidos pelas editoras foi de 9,6% em 2007. O número representa uma evolução de 91,3% em relação ao ano anterior.

Em tempos de internet, a pesqui-sa mostrou que quase 20 milhões de exemplares foram vendidos pelas edi-toras a vendedores porta a porta, o que faz dele o terceiro canal de ven-das mais importante para as editoras, ficando atrás apenas das livrarias e dos próprios distribuidores. P

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Foto: Fanca Cortez

Biblioteca em São Paulo

Comportamento Leitor

O Piauí aparece em primeiro lugar no ranking da lista de municípios sem bibliotecas, de acordo com números do Sistema Nacional de Bibliotecas Públi-cas. “Mas, para falar a verdade, essa notícia não me surpreende, porque tenho que lidar diariamente com isso. Percebo que a leitura em casa também é deficiente. No geral, o hábito de ler é algo raro, independente da região”, diz o professor de geografia e webdesigner Igor Soares, de 26 anos.

Só no estado do Piauí, 79 municí-pios estão sem bibliotecas. “É impor-tante dar a oportunidade do cidadão ter acesso a este equipamento público, mas é importante que exista também

um trabalho de estímulo à leitura. Construir uma biblioteca e encher a mesma de livros não é suficiente”, com-pleta Igor.

Dados levantados pelo Sistema Na-cional de Bibliotecas Públicas mostram que ainda existem 361 municípios sem bibliotecas. As regiões mais críticas es-tão no Nordeste e Norte, onde também é registrado o menor índice de leitores, segundo a pesquisa Retratos da Leitu-ra no Brasil.

Em segundo lugar no ranking apa-rece a Bahia, com 67 cidades do Estado sem bibliotecas públicas. “É vergonho-so um Estado que tem 417 cidades e 15 milhões de habitantes estar numa situa-

Foto: Fanca Cortez

Sem acesso aos livrosO número de cidades sem bibliotecas no Brasil revela a falta de interesse do poder público com a questão do livro e da leitura no país. Os estados do Norte Nordeste são os mais precários

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O professor Igor Soares

ção dessas” diz o estudante de jornalis-mo, Ítalo Oliveira de Jesus. que costu-ma freqüentar a biblioteca da faculdade onde estuda. “A UFBA tem uma biblio-teca grande e completa. Quase não uso outras e desconheço quantas públicas existem em Salvador”. Ele diz que vai à biblioteca da faculdade pelo menos uma vez por semana à procura de li-vros de economia ou de literatura por interesse próprio e quando precisa para trabalhos.

Já Lucelmo Oliveira, 20 anos, não teve a sorte de nascer na capital. Em Araci, interior da Bahia, desde peque-no sonhava em ser pianista. Começou a estudar música como autodidata até perceber que sozinho não conseguiria chegar aonde pretendia. “Encontrei muitas dificuldade no início, quando ainda não estudava como acadêmico. Por várias vezes procurei livros que pudessem me dar os primeiros passos, onde eu pudesse pesquisar, aprender, mas não os encontrei. Isso fez com que, cada vez mais, eu me deslocasse para cidades vizinhas com um porte estrutural maior, já que em Araci não existia e não existe até hoje uma biblio-teca pública”.

Lucelmo mudou-se para Salvador para continuar os estudos e hoje cursa o terceiro ano de música na Faculdade Católica, onde encontra livros e todo material que precisa. “Apesar da cida-de dispor de um Centro Cultural, hoje com uma pequena melhoria no quadro de livros, na época em que eu estudava, não existia nenhum espaço para estu-dar. Deveria haver em nossa cidade, uma biblioteca estruturada, que pu-desse proporcionar aos habitantes de Araci uma gama maior de conteúdos necessários para a formação não só de estudantes, mas de indivíduos de uma sociedade”, pondera.

Muitas histórias parecidas com a de Lucelmo certamente existem na Paraí-ba que aparece na lista com 48 muni-cípios desprovidos de uma biblioteca pública, assim como o estado do Rio Grande do Norte, que hoje possui 28 cidades sem o espaço.

Mesmo com toda tradição de ser

o estado com maior índice de lei-tores, o Rio Grande do Sul aparece como o único da região que deixa de atender a todos os municípios. Faltam bibliotecas em 13 cidades. Na região sudeste do Brasil, Rio de Ja-neiro e Espírito Santo estão bem equi-pados. Em Minas Gerais, restam quatro cidades para zerar o déficit, enquanto em São Paulo aparece a surpresa. Se-gundo a Fundação Biblioteca Nacional, 15 municípios do estado estão sem bi-bliotecas.

O Amazonas lidera na região norte, a falta de bibliotecas, são 24 cidades. Em seguida aparece Goiás, região cen-tro-oeste, com 25 municípios sem elas.

No município de Santo Antônio do Iça, Amazonas, a locutora Adry Gomes, de 30 anos, preocupa-se com o fato de a pequena cidade não ter acesso à leitura. “Deveria existir mais preocupação com a educação de nossas crianças, alunos e todos que precisam de um ambiente de leitura”, diz.

Leitora assídua, quando quer ler, procura um livro na estante de casa.“Falta interesse dos políticos da ci-dade em trazer uma biblioteca pra cá”, diz. Segundo Adry, os estudantes da cidade têm como opção a internet para realizar pesquisas escolares. “Facilita muito, já que não podem ter o prazer de ter um acervo bibliotecário aqui, mas nem todos têm acesso.”

De acordo Com Ilce Carvalho, coor-denadora geral do Sistema Nacional de Bibliotecas Públicas, o SNBP da Fun-dação Biblioteca Nacional, usou vários critérios para chegar aos 361 municí-pios sem bibliotecas públicas: “Consul-ta na Base de Dados do SNBP, consulta ao site do IBGE, consulta no MinC para averiguação se o município em algum momento já recebeu verba do Minis-tério, informações recebidas das Coor-denadorias dos Sistemas Estaduais de Bibliotecas Públicas, etc”, diz.

Ela afirma que o valor anual inves-tido em bibliotecas públicas varia de ano para ano, em decorrência da alta de preços no mercado. “Em 2007, o va-lor unitário do kit de implantação ficou por R$61.600,00”.

Fotos: Divulgação

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Comportamento Leitor

A biblioteca está associada com estudos e escola, mostra a pesquisa Retratos da Leitura no Brasil ao ques-tionar aos entrevistados com qual freqüência a visitam. Afirmam que não estão na escola, por isso não fa-zem uso deste espaço.

Em 2005 o Ministério da Cul-tura revelou que quase 90% dos municípios brasileiros têm pelo menos uma biblioteca apesar de apenas 66% dos entrevistados da pesquisa conhecer essa informação. O músico carioca César Lago de 32 anos, não costuma visitar bibliotecas “não sei ao certo, quantas bibliotecas públicas existem na cidade. Pra dizer a verdade, nem me lembro quando foi a última vez que fui a uma. Cos-tumo pegar livros emprestados com amigos, além de ter um imenso acer-vo em casa. Deveria existir campa-nhas para população freqüentar e ter conhecimento deste espaço dispo-nível no Rio de Janeiro, porque ler, é uma excelente forma aprender”, diz César que prefere a leitura de revistas especializadas em música. Dados da pesquisa mostram que 40% dos 94 milhões dos entrevis-tados vão à biblioteca em busca de livros, 12% de revistas, 6% jornais, 3% para consultar a Internet e os 58% não costumam ir a biblioteca. Seria necessário criar, premiar e apoiar projetos voltados para pesso-as que não tem tempo de ler e tam-bém para aqueles que se queixam da dificuldade de acesso às bibliotecas. A Fundação Nacional do Livro In-

Foto: Fundação Santillana

Mônica Messenberg Guimarães diretora da Fundação Santillana

fantil e Juvenil e o Prêmio Vivaleitu-ra premiam projetos dessa natureza.

Diretora da Fundação Santillana, Mônica Messenberg Guimarães, fala sobre a importância de projetos como Rodas de Leitura, de Serra Pelada, no Pará, “são um exemplo de como o livro pode chegar em áreas despro-vidas de bens culturais. Nesse caso, a biblioteca tem um acervo de três mil exemplares e está em uma região onde a livraria mais próxima está há quatro horas de distância”.

Outro exemplo citado por Môni-ca, é do Ônibus-Biblioteca da cidade de São Paulo, “leva um acervo im-portante para zonas da cidade que não têm acesso a bibliotecas”.

Segundo ela, o Prêmio Vivalei-tura pode contribuir ao incentivar e mostrar iniciativas que levam o livro e o prazer de ler à comunidades ou grupos de pessoas que não tenham acesso regular a bibliotecas ou livra-rias. “Muitos dos mais de 7 mil proje-tos registrados são ações que estimu-lam a formação de leitores em áreas com essas características. Nosso es-forço é em fomentar a multiplicação dessas experiências para minimizar esse problema. O Prêmio Vivaleitura já está em sua terceira edição, cami-nhando agora para o seu quarto ano. Nesse período, temos observado que muitas das iniciativas servem de ins-piração para outras ações pelo país. A carência de bibliotecas públicas é de fato um problema que precisa ser enfrentado. Até lá, cabe à sociedade buscar alternativas”, diz.

Nas 361 cidades onde não existem bibliotecas públicas, o SNBP está to-mando providências. “Foi remetido ofício, e-mail, fax, para as prefeituras, comunicando que aquele determinado município não possui biblioteca públi-ca. Desta forma, solicitamos o envio do formulário preenchido do Progra-ma Livro Aberto com a documentação exigida a fim de que o município seja contemplado”.

Para Ilce, a existência de bibliotecas públicas nos municípios é de grande

importância, já que este espaço irá dis-ponibilizar a informação para todos os cidadãos da comunidade, sem distin-ção de raça, idade e nível econômico e social. “A Biblioteca Pública é o alicerce que dá apoio ao desenvolvimento cul-tural e educacional do cidadão brasilei-ro, pois o livro é o elemento de inclusão social”.

Apesar de encontrar-se na lista da Fundação Biblioteca Nacional, alguns estados alegam ter zerado seu déficit de bibliotecas.

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Radiografia

Os livros na vida do jornalista Caco Barcellos

HojeCem dias em Bagdá (Asne Seierstad)É uma autora corajosa que optou por cobrir a guerra por uma ótica do mais fraco.

40 aos 50 anosO Negociador (Frederick Forsyth)É um exemplo de ficcionista que usa métodos de pesquisa de não ficção, e usa a pesquisa da realidade com grande precisão e eficácia para fazer romance. A realida-de é muito mais interessante que a ficção.

30 aos 40 anos México rebelde - John ReedEu escrevi sobre a América Central e o autor era um escritor que me inspirava bastante, estava influenciado por escritores que cobriam esse tema.

20 aos 30 anosAos olhos da multidão (Gay Talese)Foi quando eu comecei no jornalismo e este foi um mestre do News Jornalism.

15 aos 20 anos Assim Falou Zaratustra (Friedrich Nietzsche)Foi um livro importante para mim

Foto: Ibraim Leão

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EventosFotos: Divulgação

Leitores para ler o mundoFundação Caloustre Gulbenkian reúne, em Portugal, especialistas

de vários países para discutir teorias e práticas de leitura

um debate moderado pelo conhecido jornalista português António José Tei-xeira, sobre a leitura como experiência de vida – três reflexões protagonizadas por José Barata-Moura (Universidade Clássica de Lisboa), Fernando Savater (Universidade Complutense de Ma-drid) e Eduardo Marçal Grilo (Funda-ção Calouste Gulbenkian).

Os participantes tiveram oportuni-dade de debater, em salas separadas, e durante 90 minutos os temas de cada um dos painéis com os congressistas de cada uma das mesas.

Para falar sobre formação de públi-cos, estratégias de leitura e projetos para a promoção da leitura foram convida-dos, por exemplo, o escritor espanhol Fernando Savater e o brasileiro Galeno Amorim, diretor do Observatório do Livro e da Leitura. Ele apresentou a con-ferência Retratos da Leitura no Brasil:

Como Construir um País de Leitores.Dolores López-Casero, do Centro

Internacional do Livro Infantil e Juvenil de Espanha, e António Nóvoa, reitor da Universidade de Lisboa, também mar-caram presença no Congresso de Lisboa

“Foi a primeira grande conferência em Portugal sobre a promoção da leitura e trouxe os melhores especialistas para falar sobre o tema com uma linguagem que fugiu ao jargão acadêmico”, disse António Prole, responsável pela Casa da Leitura, à agência Lusa. “As pesso-as sentiram que levaram para casa um algo mais, que se abriram perspectivas, que levaram interrogações, que lhe fo-ram dadas novas formas de olhar velhos problemas. Uma pequena editora, mas de grande qualidade no seu site titulava Obrigado Casa da Leitura “, relata Prole.

Mais informações no site: www.gulbenkian.pt P

O primeiro Congresso Internacio-nal de Promoção da Leitura foi realiza-do nos dias 22 e 23 de Janeiro de 2009, em Lisboa, na seda da Fundação, pela iniciativa dos responsáveis pelo proje-to Gulbenkian Casa da Leitura, com o tema Formar leitores para Ler o mundo. O objetivo foi o de seguir as áreas que estruturam o portal Casa da Leitura, ou seja, a literatura infanto-juvenil, as questões teóricas da leitura e as boas práticas e estratégias de promoção da leitura. O fio condutor dos temas abor-dados foram as políticas, estratégias, metodologias e instrumentos para a formação de novos públicos leitores.

O evento desenvolveu-se em três painéis principais, com a presença de investigadores e especialistas de Portu-gal, França, EUA, Suécia, Canadá, Reino Unido (País de Gales) e Brasil. Realizado com tradução simultânea, o Congresso foi aberto pelo especialista em Literatu-ra para a Infância, Peter Hunk, professor Catedrático na Universidade de Cardiff (Reino Unido), com o painel Literatura para a Infância e Formação de Leitores. Teresa Colomer, da Universidade Au-tónoma de Barcelona (Espanha), fez a apresentação principal no painel Estra-tégias de Leitura e Compreensão Leito-ra e o Reitor da Universidade de Lisboa, António Nóvoa, dirigiu o painel Projec-tos de Promoção de Leitura.

O Congresso foi encerrado com

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Prêmios & Concursos

Prêmio Governo de Minas Gerais de Literatura.

5º Prêmio Barco a Vapor

Concurso Banco Real Talentos da Maturidade

Prêmio Cruz e Sousa de LiteraturaAs inscrições para o maior prêmio

existente no País para originais de literatura infantil e juvenil estão abertas de 27/8/2008 a 28/2/2009. As obras devem ser inéditas e se encaixar em uma das quatro séries da coleção Barco a Vapor, das Edições SM: leitor iniciante (6 e 7 anos), leitor em processo (8 e 9 anos), leitor fluente (10 e 11 anos) e leitor crítico (12 e 13 anos).Mais informações: www.edicoessm.com.br

Já estão abertas as inscrições para o Concurso Banco Real Talentos da Maturidade. O concurso chega a sua 10ª edição, consolidando-se como uma das mais importantes iniciativas privadas do país que busca a valorização das pessoas com mais de 60 anos. Nesta década de história, o concurso vem revelado e reconhecendo uma infinidade de potenciais artísticos.Mais informações: www.bancoreal.com.br

O Prêmio Cruz e Sousa 2008-2009 destina-se a romances inéditos, escritos por brasileiros em língua portuguesa, residentes no País ou no Exterior, em duas categorias de premiação – Categoria Nacional e Categoria Catarinense. As inscrições poderão ser realizadas do dia 21 de outubro de 2008 até o dia 5 de março de 2009.Mais informações: [email protected]

A segunda edição do Prêmio Governo de Minas Gerais de Literatura oferece uma premiação total de R$ 212 mil, distribuída em quatro categorias: Conjunto da Obra, Jovem Escritor Mineiro, Poesia e Ficção. As inscrições podem ser feitas no Suplemento Literário, localizado na Superintendência de Museus da Secretaria de Estado de Cultura de Minas Gerais.Mais informações: (31) 3213.1072

Uma foto para um versoFundação espanhola

promove concurso internacional de

fotografia para jovens de 14 a 20 anos

A Fundação Blas de Otero, sediada em Bilbao, na Espanha, promove o concurso de fotografía Imágenes para unos versos com o obetivo de difundir a obra do poeta Blas de Otero entre os jovens e vincurlar sua poesia com à realidade cotidiana.Podem participar jovens entre 14 e 20 anos, de qualquer nacionalidade, e as fotografias devem fazer referência a algum dos versos da obra poética do autor, disponível no site da fundação, assim como o regulamento e o formulário de inscrição do concurso. As inscrições vão até à meia noite do dia 06 de março de 2009. As fotos podem ser enviadas pelo correio ou por e-mail

em formato JPEG. Cada participante poderá concorrer com até três fotos. O prêmio para cada modalidade ( de 14 a 17 e de 18 a 20 anos) será uma câmera digital de 10 megapixels Blas Otero nasceu em Bilbao, em 1916 e morreu em Madri, em 1979. Sua obra, que parte da angústia metafícia para desembocar no social e no testemonial é uma das mais importantes da lírica pós guerra lírica e um exemplo do chamado

“exílio interior”, que caracterizou boa parte da resistência espanhola contra o franquismo.Quem quiser participar encontra todas as informações e regulamento no site www.fundacionblasdeotero.org

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Livros sobre Livros

Título: Rimas Da Vida E Da MorteIsbn: 9788535913156Idioma: Português.Encadernação: Brochura | Formato: 14 X 21 | 120 Págs. Ano Edição: 2008Autor: Amos Oz Tradutor: Paulo Geiger

Teia de histórias

Com Rimas da vida e da morte (Cia. das Letras, 120 pp., R$ 31, trad. Paulo Geiger) Oz trilha por uma teia narrativa que viaja entre a história da criatividade de um romancista, a his-tória que ele está criando em sua men-te e a história da vida desse autor. É, como você está vendo, tudo se mis-tura. Mas de uma forma muito inte-ressante, a narrativa varia da terceira para a primeira pessoa com suavida-de e fluidez, proporcionando uma lei-tura ágil e inteligente. Com discrição e astúcia, Amós Oz parece nos dizer que por trás de cada indivíduo anônimo existe um manancial de dramas e co-médias possíveis.

O livro narra a história de um ro-mancista medianamente famoso que se prepara para dar uma palestra e participar de um debate sobre sua obra num centro cultural de bairro, em Tel Aviv. Enquanto faz hora num café – remoendo as mesmas e eternas per-guntas que são repetidas a todo autor em uma entrevista ou palestra –, passa a imaginar uma história para cada in-divíduo que vê a sua volta. A atraen-te garçonete que o serve, por exemplo, vira ex-namorada do goleiro reserva do time de futebol Bnei Iehudá. Dois

POR RICARDO COSTA, DO PUBLISH NEWS

homens que conversam numa mesa próxima se convertem, na sua fanta-sia, em mafiosos discutindo a situação de um terceiro homem, um ricaço que agora definha na UTI de um hospital.

A compulsão ficcional do escritor prossegue durante e após a palestra, resultando numa teia de histórias ima-ginárias que começam a se embara-lhar com a trajetória do protagonista, a ponto de não sabermos, por exem-plo, se ele foi ou não para a cama com a moça solitária que leu para o públi-co trechos de suas obras no evento do centro cultural.

O próprio título, Rimas da vida e da morte, é tirado do livro fictício de um autor também inventado, o poeta Tsefania Beit-Halachmi, cujos versos o protagonista e outros personagens vi-vem citando.

As perguntas que também pres-sionam a mente do autor enquanto toma o seu café e imagina sua história revelam, de certa maneira, a mente de um escritor diante da expectativa de uma entrevista ou uma palestra; e parece desvendar além disso a mente imaginativa de um romancista. Certa-mente vários escritores se identifica-rão com ele.

Seria o ficcionista um eterno sonhador? Ou um “inventador” de histórias em tempo integral? O israelense Amós Oz pode falar disso com extrema autoridade, depois de tantas letras escritas em sua bem-sucedida carreira de romancista

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Em meio às plantações amareladas de cacau da Fazenda Auricídia em Ferradas, interior da Bahia, nascia Jorge Amado. Naquele dia, 10 de agosto

de 1912, João Amado de Faria e Eulália Leal Amado carregavam nos braços aquele que viria a ser um dos maiores romancistas brasileiros

Rotas Literárias

A Bahia de Jorge Amado

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Rotas Literáriasbração a luz de uma vela à procura de um afogado.

É o mar que morreu, é o mar que está morto, que virou óleo, ficou para-do, sem uma onda.

Mar morto que não reflete as estre-las nas sua águas pesadas.

Se a Lua vier, se a Lua vier com sua luz amarela, correrá por cima do mar morto e procurará como aquela vela o corpo de Guma, o de longos cabelos morenos, o que marchou pela estrada do mar para o caminho das Terras do Sem Fim, das costas da Arocá.”

Jorge Amado escreveu Mar Mor-to, olhando para o mar de Gamboa de Cima, Salvador. Contou a triste história de uma criança criada no cais da Bahia, Guma, que apaixonou-se pela meiga

continua o mesmo, claro que com algu-mas modificações que a modernização trouxe e refletiu não só na cidade como também nos moradores. O velho ma-landro, as prostitutas e homossexuais que habitavam as ladeiras, hoje trazem um contexto diferente. A Bahia revo-lucionária de Jorge Amado não existe mais, porém o sincretismo de religiões ainda vive e respira em cada esquina onde ecoam os tambores do candomblé misturados aos gritos de súplicas das igrejas evangélicas e o silêncio dos ca-tólicos ajoelhados nas mais de 300 igre-jas espalhadas pela cidade.

Este cenário religioso da Bahia serviu para retratar a luta de Antonio Balduíno pela integração do negro na sociedade brasileira. Jubiabá, é o pri-

Jorge Amado de Ilhéus, Sergipe, Rio de Janeiro, Manaus, América, Europa. Jorge Amado do mundo. Mas antes de tudo, Jorge Amado da Bahia. É em Salvador, que “Lívia olha o mar morto de águas de chumbo. Mar sem ondas, pesado, mar de óleo. Onde estão os na-vios, os marinheiros e os náufragos?

Mar morto de soluços, quedê as mulheres que não vêm chorar os ma-ridos perdidos? Onde estão as crianças que morreram na noite do temporal?

Onde está a vela do saveiro que o mar engoliu?

E o corpo de Guma que boiava com longos cabelos morenos na água que era azul?

Na água plúmbea e pesada do mar morto de óleo corre como uma assom-

meiro romance do autor que traz ele-mentos do candomblé, religião afro-brasileira que cultua os orixás, através da figura do pai de santo Jubiabá, guia espiritual de Antonio Balduíno. “Ci-dade religiosa, cidade colonial, cidade negra da Bahia. Igrejas suntuosas bor-dadas de ouro, casas de azulejos azuis e antigos sobradões onde a miséria habita, ruas e ladeiras calçadas de pe-dras, fortes velhos, lugares históricos, e o cais, principalmente o cais, tudo pertence ao negro Antônio Balduíno. Só ele é dono da cidade porque só ele a conhece toda, sabe de todos os seus segredos, vagabundeou em todas as

Lívia. Nesta obra, a ação se desenrola principalmente na Cidade Baixa, na estreita faixa de terra entre o mar e a montanha, entre as vielas apertadas do comércio e os grandes espaços abertos do oceano Atlântico, onde vive Inaê, a mãe d’Água, senhora do mar, da vida e

da morte de marinheiros e navegantes. Foi também na Bahia, nas ladeiras

do Pelourinho que Dona Flor se entre-gou aos encantos do malandro Vadinho.

A biografia de Jorge Amado mostra a inquietude que trazia na alma pelas inúmeras viagens que fez. Ainda meni-no, fugiu do colégio e viajou por dois meses até chegar em Itaporanga, Sergi-pe, na casa do avô. Essa seria apenas o inicio de uma série de viagens que ele faria. Porém, ter morado no Pelourinho, centro histórico do Salvador, Bahia, marcou definitivamente suas obras.

Mais de oitenta anos se passaram, e o cenário que inspirou Jorge Amado,

“Começou a subir a ladeira de São Bento vagarosamen-te. Tomou por São Pedro,

atravessou o Largo da Piedade, subiu o Rosário, agora estava nas Mercês”.

(Capitães da Areia)

O Pelourinho em Salvador; capa do livro: A Cidade da Bahia no romance de Jorge Amado; Cidade Baixa

Fotos: Divulgação

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suas ruas, se meteu em quanto baru-lho, em quanto desastre aconteceu na sua cidade”.

Segundo Myriam de Castro Lima Fraga, diretora da Fundação Casa de Jor-ge Amado, a partir de Jubiabá, terceiro romance da fase urbana, publicado em 1935, começa a adensar-se a relação de Jorge Amado com a cidade do Salvador, ou cidade da Bahia, como ele preferia chamá-la. “Alargando os limites do ter-ritório onde se movem os personagens, o cenário vai aos poucos se definindo, ganhando contornos, fazendo-se mais e mais presente na narrativa”, analisa.

Para Myrian, é difícil dizer qual obra de Jorge Amado é mais importante, principalmente para um autor que es-

creveu não apenas romances, mas tam-bém biografias e memórias. “Tratando apenas dos romances relacionados com a cidade do Salvador, vamos encontrar: O país do carnaval, Suor, Jubiabá, Mar Morto, Capitães da Areia, Os Pastores da Noite, Dona Flor e seus Dois Mari-dos, Tenda dos milagres, Tereza Batista Cansada de Guerra e o Sumiço da San-ta”, enumera. “O mais característico na obra de Jorge Amado é sua fidelidade às fontes populares, onde vai buscar inspiração, a partir da observação e do conhecimento, para construir uma saga de grande realismo, embora envolta sempre num manto de fantasia, que faz

teve um início de vida atribulado, com a primeira edição apreendida e exem-plares queimados em praça publica de Salvador por autoridades da ditadura do Estado Novo, o que não impediu que logo se tornasse um grande suces-so. “Desde então, até hoje, as edições se sucedem atingindo a cifra espanto-sa de 98 edições e 16 traduções, sendo este o livro de Jorge Amado com maior número de exemplares vendidos”, diz.

Depois desse livro, são publicados, sucessivamente, mais seis romances cuja ação se desenvolve na área urba-na de Salvador: A Morte e a morte de Quincas Berro d’Água, que segundo

a diretora da Fundação Casa de Jorge Amado, na verdade, não é considera-do um romance, mas uma novela; Os Pastores da noite, Dona Flor e seus dois maridos, Tenda dos Milagres, Tereza Batista Cansada de Guerra e o Sumiço da Santa.

Para Myriam, dessas obras, a mais importante talvez seja Tenda dos Mi-lagres, embora Dona Flor seja a de maior sucesso, já que foi adaptada para cinema, teatro e televisão. “Em Tenda dos Milagres, Jorge Amado retoma os temas anteriormente abordados em Ju-biabá, traçando um painel mais apro-fundado das relações inter-raciais na

“Cidade religiosa, cidade colonial, cidade negra da Bahia. Igrejas suntuosas bordadas de ouro, casas de azulejos azuis e antigos, sobradões onde a miséria habita, ruas e ladeiras

calçadas de pedras, fortes velhos, lugares históricos, e o cais, principalmente o cais, tudo pertence ao negro Antônio Bal-

duíno. Só ele é dono da cidade porque só ele a conhece toda, sabe de todos os seus segredos, vagabundeou em todas as

suas ruas, se meteu em quanto barulho, em quanto desastre aconteceu na sua cidade”. (Jubiabá)

o encanto e o sabor de suas narrativas”, descreve.

De acordo com Myrian Fraga, o primeiro romance publicado por Jorge Amado, em 1931, O País do Carnaval põe em relevo o Largo do Pelourinho e seu entorno. “O Tabuão, a Baixa dos Sa-

pateiros e o Terreiro de Jesus, cercado de igrejas centenárias. Publicado em 1934, Suor repete o mesmo ambiente, num ce-nário limitado ao centro da cidade”, diz.

Ela ainda conta que um ano após a publicação de Mar Morto veio a público o livro Capitães da Areia, romance que

Ilustrações do livro Tieta do Agreste, pastora de cabras; Elevador Lacerda e Jorge Amado com o Afoxé Filhos de Gandhi no Pelourinho

Foto: Zélia Gattai/Fundação Casa de Jorge AmadoIlustrações: Calasans Neto

Foto: Divulgação

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48 Panorama Dezembro 2008/ Janeiro 2009

Rotas Literárias

Myriam Fraga - Diretora da Fundacao casa de Jorge Amado

Jorge Amado

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ulg

ação “Pedro Bala enquanto sobe a ladeira da Montanha, vai pen-sando que não existe nada melhor no mundo que andar assim, ao azar, nas ruas da Bahia. Algumas destas ruas são asfaltadas,

mas a grande, a imensa maioria é calçada de pedras negras. Moças se debruçam nas janelas dos casarões antigos e ninguém

pode saber se é uma costureira que romanticamente espera casar com noivo rico ou se é prostituta que o mira de um balcão

velhíssimo, enfeitado apenas de flores. Entram mulheres de negros véus nas igrejas. O sol bate nas pedras ou no asfalto do calçamento, ilumina os telhados das casas. Na sacada de um

sobradão, flores medram em pobres latas. São de diversas cores e o sol lhes dá seu diário alimento de luz.” (Capitães de Areia)

beira do cais da Baía de Todos os Santos.O Sumiço da Santa é o último dos

romances urbanos escritos por Jorge Amado. “São referidos temas gratos ao autor como: miscigenação, preconceito racial, sincretismo religioso; a memória do povo, suas histórias, suas criações, a tristeza e as alegrias do cotidiano de uma comunidade”, diz Myriam.

A diretora da Fundação define o homem Jorge Amado como uma pes-soa sempre generosa, no mais amplo sentido, fiel às suas crenças e amiza-des, que não tinha medo de proclamar

Foto: Zélia Gattai/Acervo da Fundação Casa de Jorge Amado

os seus afetos, mesmo que com isso pudesse contrariar opiniões e julga-mentos. Incondicionalmente dedicado à literatura, aos amigos e à família, teve em sua mulher Zélia Gattai, com quem viveu uma intensa e duradoura história de amor, uma companheira constante e uma interlocutora perma-nente. “Poucos escritores brasileiros tiveram uma vida tão plena de reali-zações, participando ativamente dos acontecimentos mundiais, que redese-nharam o mapa da história no século vinte”. afirma.

sociedade baiana. Talvez tenha sido também o romance preferido de Ama-do que confessou várias vezes que re-conhecia no protagonista, Pedro Ar-canjo, seu alter ego”, revela.

Já em Tereza Batista Cansada de Guerra, romance de mais de trezentas páginas, quase inteiramente dedicado à narrativa dos infortúnios da prota-gonista, a cidade do Salvador só será resgatada já quase no final do romance quando, depois de percorrer meio mun-do, Tereza Batista reencontra o grande amor de sua vida, Januário Gereba, na P

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Dezembro 2008/ Janeiro 2009 Panorama 49

Como me apaixonei pelos livros

Pedro DemoPor que gosto de ler

“Ler é como respirar”, dia o PhD em Sociologia pela Universidade de Saar-brücken, Alemanha, e pós-doutor pela University of California at Los Ange-les (UCLA), Pedro Demo. Autor de vá-rios livros, atualmente, é professor titular aposentado da Universidade de Brasília (UnB), Departamento de Sociologia. Suas áreas de atuação sistemáticas sãopolítica social e metodologia científica, o que faz com que ele se dedique mais à lei-tura de obras técnicas, para produção cinetífica. Mas, isso não quer dizer que ele não se interesse por outros gêneros. “Também gosto desta leitura (leio fic-ção frequentemente), mas, por dever de ofício dedico-me intensamente à lei-tura exigida para atualizar-me em meu campo de trabalho”, afirma, no relato sobre sua relação com os livros.

“Lembro três razões mais decisivas para gostar de ler. A primeira é meu tempo de seminário com os Francisca-nos, onde sempre havia biblioteca com incentivos imensos para ler, inclusive gincanas ou coisa parecida. Em Agudos, o seminário tinha mais de 300 alunos, em três alas, cada uma com biblioteca própria. A segunda foi o tempo de teo-logia em Petrópolis (três anos), onde já comecei a publicar alguns artigos e fazia resenha de livros. Iniciava-se aí o pre-núncio do interesse por textos científi-cos e que demandam farta leitura (estudo). A terceira foi meu doutorado na Alemanha (1967-1971), onde aprendi a aprender, por conta do sistema de estudo universitário alemão: quase sem aula, a aprendizagem baseava-se na produção de textos próprios fundamentados na leitura mais ampla e profunda possível. Tais textos eram apre-sentados em público, discutidos e avalia-dos pelos professores. Entendi, então, que aprender é pesquisar e elaborar, e leitura passaria a fazer parte decisiva de minha vida acadêmica. Trata-se aqui de um tipo

Foto/Arte: Divulgação

específico de leitura: leitura para produção científica, diferente de outra literatura ali-mentada pela curiosidade/interesse literá-rio. Também gosto desta leitura (leio ficção freqüentemente), mas, por dever de ofício dedico-me intensamente à leitura exigida para atualizar-me em meu campo de tra-balho. Já não é o caso de leitura opcional, mesmo frequente, mas de leitura pratica-

ral, quando se fala de paixão por livros, en-tende-se o gosto por literatura como conceito vinculado a autores que produzem livros li-terários. Esta paixão deveria ser despertada e cultivada na escola, desde que esta inclu-ísse leitura como fundamento da aprendiza-gem. Para nós, o fundamento da aprendiza-gem ainda é aula, quase sempre aquela aula instrucionista, copiada de alguma apostila e

repassada para o aluno. O aluno não per-cebe a necessidade de ler, porque vê que o professor também não lê. Para dar conta da prova, não recorremos à leitura, mas às anotações sumárias das aulas, até porque, como regra, só isso “cai” na prova. Então, para que ler?

A leitura tomou hoje outros rumos, em particular na tela. As pessoas leem mais, ainda que isto não implique melhor qualidade da leitura. Em certo sentido, os internautas leem muito, porque o manejo da internet se faz através de textos, ao lado de imagens. Tudo, afinal, é “texto”, tam-bém um jogo eletrônico. Esta praxe acen-tua a leitura útil, aquela necessária para dar conta do que se quer resolver. O exem-plo exacerbado deste tipo de leitura é a prá-tica de procurar na internet precisamente aquilo que se exige na prova, nada mais e, se possível, de modo plagiado. Aquela lei-tura maiúscula, alimentada por autores reconhecidos, capaz de implicar reflexão, fantasia, inspiração, parece que vai fican-

do para alguns poucos. Ler para alimentar o espírito soa como estranho ou pouco per-tinente. No entanto, não é assim que os jo-vens não leem. Leem muito, desde que seja de seu interesse ou caia no campo de suas mo-tivações. Não podemos mais imaginar que as motivações de gerações mais velhas sejam as únicas que cabem. Talvez tenhamos que aprender a envolver nossas tradições mais antigas de leitura em ambientes virtuais que possam atrair os jovens. Talvez pudessem apreciar também sonetos de Camões, desde que reestruturados digitalmente...”

mente obrigatória, uma vez que na Alema-nha compreendi claramente que professor não se faz por título ou aula, mas por au-toria. Torna-se professor na universidade alemã quem, para além da titulação, se tor-na autor renomado, o que exige publicação e leitura realmente intensa e atualizada. Professor não escapa de ter sua biblioteca própria, além de exibir uma lista notável de livros publicados. Ler é como respirar.

Existem muitas espécies de paixão por livros. Minha paixão é de sentido mais téc-nico, porque produzo livros técnicos. Em ge- P

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50 Panorama Dezembro 2008/ Janeiro 2009

Cinema & Livros

A escritora dos finais felizes

Linguagem objetiva e temas aparentemente

banais fizeram com que Austen se tornasse sucesso em Hollywood

POR TALISSA BERCHIERI DA AGÊNCIA BRASIL QUE LÊ

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Dezembro 2008/ Janeiro 2009 Panorama 51

O mercado de adaptações lite-rárias para as telonas sempre foi visto como aposta quase certa em Hollywood. Porém, mais que apos-tas, alguns escritores são garantia de sucesso aos olhos dos produto-res cinematográficos. É o caso da inglesa Jane Austen, que já teve seus livros adaptados para o cine-ma diversas vezes.

Recentemente, chegou às prate-leiras das locadoras o longa “Amor e Inocência” (2007), estrelado por James McAvoy e Anne Hathaway. Dessa vez, o filme não é basea-do nas obras da escritora inglesa, e sim na própria vida de Austen. Em “Amor e Inocência” é possível acompanhar um pouco da trajetória pessoal da considerada pelos crí-ticos literários a segunda mais im-portante autora da Inglaterra depois de Shakespeare.

Nascida em 16 de dezembro de 1775, Austen possui seis livros pu-blicados, sendo eles: Razão e Sen-sibilidade (1811), Orgulho e Precon-ceito (1813), Mansfield Park (1814), Emma (1815), Abadia de Northan-ger (1818), Persuasão (1818).

As obras de Austen sempre ti-veram grande receptividade no ci-nema, sendo que a grande maioria teve sucesso de crítica e público,

como é o caso de “Orgulho e Pre-conceito” e “Razão e Sensibilida-de”. Segundo Ademir Pascale, es-critor e crítico de cinema, estes dois longas são fiéis aos livros. “Os dire-tores souberam adaptar com perfei-ção os dois longa-metragens, dan-do vida às obras devido à excelente escolha dos atores, assim como um roteiro bem trabalhado, fiel figurino, magnífica fotografia e uma boa tri-lha sonora. Engraçado que ao ler as obras da autora, antes de assistir aos filmes, já imaginava as mesmas cenas e sons apresentados. Um excelente escritor nos faz imaginar; viajar.”

Outro longa que também traz as obras de Austen como tema é “O Clube de Leitura de Jane Austen” (2007). Nesse filme, todas as obras da escritora são discutidas por um grupo de pessoas que leem os li-vros e refletem sobre suas próprias vidas após cada leitura. Segundo Pascale, a reflexão que os textos de Austen provoca não fica só na ficção. “A sensibilidade de Jane é inconfundível. Suas obras são im-pregnadas de impressões morais”, afirma o escritor.

Talvez pela linguagem simples e por sempre abordar temas atu-ais como o amor e o casamento,

os livros tornaram Austen popular e imortal. “As obras de Jane nos trazem alegria e melancolia; na re-alidade, mais alegria do que melan-colia, pois os finais são felizes. Toda boa obra mexe com nossos sen-timentos mais íntimos, o que não falta nas desta autora. Acredito que este seja um dos principais moti-vos das adaptações de suas obras, além do valor pedagógico inestimá-vel, pois aprendemos muito sobre aquela época tão conturbada do “dote”, além do preconceito, amor e costumes”, reflete Pascale.

Se na ficção a escritora sempre buscou finais felizes, na vida real as coisas não saíram muito bem. Austen não teve seu próprio final fe-liz, faleceu prematuramente aos 42 anos e solitária.

Para quem nunca leu um livro de Jane Austen ou assistiu a algu-ma adaptação da escritora no cine-ma, não há dificuldade em achar os filmes em locadoras e lojas es-pecializadas na venda de DVDs. “Recomendo os filmes ‘O Clube da Leitura de Jane Austen’ e ‘Amor e Inocência’. Este último, considera-do pela produtora Miramax, e por mim, a maior história de amor de Jane Austen, a dela própria, avalia Pascale. P

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52 Panorama Dezembro 2008/ Janeiro 2009

Cancelada a Book Expo Canada Segundo informações veiculadas pela PublishersLunch Deluxe, a Reed Exhibitions anunciou no domingo, 1º de fevereiro, o cancelamento imediato da Book Expo Canada no próximo mês de junho. Greg Topalian, executive da Reed, afirmou “ficou claro que um evento tradicional como esse não é o melhor para a dinâmica da indústria editorial no Canadá.” “Nosso foco no mercado editorial passou a ser o nosso evento de Nova Iorque [BEA], onde procuraremos atender as necessidades dos nossos clientes de toda a América do Norte num único evento.” BEC vai devolver o pouco que já foi pago por alguns clientes do evento, mas Topalian ressaltou que “não há muito o que devolver... “ O interessante é que o cancelamento da tradicional feira escancarou as portas para ideas de um novo evento, adequado às necessidades dos clientes canadenses.http://www.publishersmarketplace.com/login.php/lunch/archives/005015.php

Calendário No Brasil

Calendário No Mundo

Bienal do Livro da Bahia17 a 26 de abril de 2009,Centro de Convenções da Bahia, Salvador, Bahia.

3° Salão do Livro Sul Mineiro 06 a 09 de Maio, Clube Literário Recreativo, Pouso Alegre, Minas [email protected]

Feira Nacional do Livro de Poços de Caldas 17 e 26 de abril de 2009, Poços de Caldas, Minas Gerais. www.feiradolivropocosdecaldas.com.br

5º Salão do Livro de Tocantins08 a 17 de maio de 2009, Praça dos Girassóis, Palmas, Tocantins.

Festival da Mantiqueira: Diálogos com a Literatura29 e 31 de maio de 2009, São Francisco Xavier - Serra da Mantiqueira, São Paulo. www.cultura.sp.gov.br/StaticFiles/Mantiqueira/index.html

Bienal do Livro de Sergipe29 de maio a 7 de junho de 2009, Centro de Convenções de Sergipe, Sergipe.

9ª Feira Nacional do Livro de Ribeirão Preto18 a 28 de junho de 2009, Ribeirão Preto, São Paulo.www.feiradolivroribeirao.com.br

III Bienal do Livro de Santa Catarina29 de junho de 2009 CentroSerra Convention Center, Santa Catarina. www.bienaldolivrosc.com.br

VII Festa Literária Internacional de Paraty – FLIP1º a 5 de julho de 2009, Paraty, Rio de Janeiro.www.flip.org.br

Congresso Internacional sobre Promoção da Leitura22 e 23 de janeiro Lisboa, Portugal.

Salão do Livro de Paris 13 a 18 de março, Paris, França.www.salondulivreparis.com

Bologna Children´s Book Fair23 a 26 de março 2009 - Bolonha, Itália. http://www.bookfair.bolognafiere.it/

Feira do Livro de Londres 20 a 22 de abril de 2009, Earls Court, Reino Unido. www.londonbookfair.co.uk

Feira do Livro de Lima – Peru23 de julho, Centro de Convenciones Jockey Plaza, Lima, Peru. http://www.filperu.com

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Dezembro 2008/ Janeiro 2009 Panorama 53

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54 Panorama Dezembro 2008/ Janeiro 2009

Carteiro escolhe livro na sala de leitura

empresa amiga do livro

O Centro Operacional dos Correios em Campo Grande, no Mato Grosso do Sul criou, em 2004, o projeto Sala de Leitura com o objetivo de estimu-lar a leitura entre os funcionários dos Correios e seus dependentes. Na Sala são disponibilizados livros, revistas, jornais, materiais audiovisuais e com-putadores para acesso à internet. Sua localização é estratégica, num grande local de trabalho, por onde passam diariamente cerca de 400 trabalhado-res. Com o sucesso da Sala em Campo Grande, a diretoria regional dos Cor-reios implantou outra no município de Dourados. Para seus organizadores e beneficiados, o trabalho é considerado um sucesso, pois atendem aos traba-lhadores interessados na leitura, seja por meio da educação formal, leitura recreativa ou interesse cultural.

Além dos materiais disponíveis, a Sala organiza periodicamente as Ofici-nas de Leitura para crianças e adultos, com atividades culturais, gincanas e apresentações artísticas, sempre com participação de funcionários da ECT e seus dependentes.

Livros para os mensageirosProjeto dos Correios de Campo Grande oferece

cultura a funcionários e seus familiares

De acordo com Ana Catarina Cor-tez, coordenadora do projeto, hoje a Sala conta com 1.200 usuários cadastra-dos, com acesso a cerca de cinco mil livros que fazem parte do acervo, além de revistas e jornais, e já foram realiza-dos 15 mil empréstimos. Segundo ela, os funcionários dos Correios do inte-rior e até de outros estados também to-mam livros emprestados pela internet.

O projeto inclui outros trabalhos dirigidos à comunidade, como as Gin-canas Culturais, que arrecadaram até agora 3.800 kg de alimentos e mil exemplares de livros, que foram do-ados, inclusive em presídios. Outras ações para arrecadação e distribuição de brinquedos e campanhas de incen-tivo à doação de sangue também fazem parte da iniciativa. Estima-se que em cinco anos, aproximadamente 13 mil pessoas tenham sido atendidas.

Uma das frequentadoras assíduas da Sala de Leitura dos Correios é Neusa Aparecida de Figueiredo Oliveira, que garante ter passado por muitos lugares através dos livros. “Já viajei muito a bor-do deste “avião” que é o livro. A cada li-

vro que leio, descubro um mundo novo, cheio de coisas desconhecidas, eu atuo na história, me permito ser ou estar a cada página virada ou enigma descober-to. Com a leitura podemos enriquecer nosso vocabulário, obter conhecimento, dinamizar o raciocínio e a interpretação. A leitura é fundamental para a aprendi-zagem do ser humano”, afirma.

Para o diretor regional dos Cor-reios, João Rocha, a Sala de Leitura foi um projeto que deu certo, atendeu uma necessidade e vem cumprindo seu pa-pel, pois a educação contínua é hoje uma necessidade até profissional e a leitura contribui muito. “Estamos con-tentes que o projeto tenha atendido às expectativas, e isso levou a sua expan-são para Dourados. Vamos continuar investindo no estímulo à leitura entre os funcionários dos Correios e seus de-pendentes”, afirma.

E como não poderia ser diferente, os cinco anos do projeto, completados no último dia 28 de janeiro, foi come-morado com um Sarau Cultural repleto de apresentações musicais, performan-ce teatral e declamações poéticas. P

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Dicionário Escolar da Língua Portuguesa

Domingos Paschoal CegallaCia Editora Nacional, 960 pág., R$21,90

Antonio Carlos Jobim

Sérgio CabralCia Editora Nacional, 536 pág., R$48,00

Tom Jobim foi muito mais do que um dos maiores

nomes da música popular de todos os tempos. Nesta

biografia completa de Antonio Carlos Jobim, seu amigo e jornalista

Sérgio Cabral nos apro-xima amorosamente do

universo do “maestro soberano”.

Ecoeconomia – uma nova abordagem

Hugo PenteadoCia Editora Nacional, 224 pág., R$40,90

O autor, economista chefe do ABN Amro Bank, mostra

que destruir a natureza, além de gerar catástrofes

graves,pode ser um péssi-mo negócio a curto prazo para toda a humanidade.

As recentes tragédias mundo afora demons-

tram o acerto de sua análi-se. Registra ainda como o mito do eterno crescimento compro-

mete o futuro do planeta.

Gomorra

Roberto SavianoBertrand Brasil, 350 pág., R$ 39,00

Gomorra – um híbrido entre Ca-morra e a cidade bíblica destruída

pelo fogo dos céus – virou filme dirigido por Matteo

Garrone. Consagrou-se com o Grand Prix em Cannes e vai representar a Itália no

Oscar. O livro e o filme receberam a alcunha da

crítica mundial de ressur-gimento da arte italiana,

nas letras e nas telas.

Esse dicionário apresenta grande número de acepções

por verbetes, novas acepções para palavras já consagra-

das, palavras recentemente incorporadas ao léxico,

separação silábica, parôni-mos, antônimos, gírias do

dia a dia e estrangeiris-mos com indicação de pronún-

cia. Com nova ortografia!

Alberto XavierEditora Gryphus, 201 páginas., R$ 45,00.

Arte do Retrato em Marcel Proust

O livro é o resultado das deze-nas de leituras e releituras que

o autor empreendeu sobre a obra de Proust, pinçando os

fragmentos que compõem as descrições físicas ou

temporais - as vestimentas, os gestos, os olhares – dos personagens que povoam

o universo da busca do tempo perdi-do. Desde o mundo provinciano e rural de Combray, às paisagens normandas de Bal-bec até às mais altas esferas da aristocracia

e da vida mundana parisiense.

Orlando DuarteCia Editora Nacional, 280 pág., R$36,00

Palmeiras – o Alviverde Imponente

O livro é rico em informa-ções históricas e ilustrações,

com mais de 100 imagens, do início do século XX até hoje, algumas delas raras,

que revelam os primór-dios do clube e, de certa forma, ajudam a contar a história da cidade de

São Paulo.

Vitrine

Segunda Chance

Danielle SteelEditora Record., 240 pág., R$ 29,00

Nara Leão

Conversas com Woody Allen

Fran Zabaleta e Luis AstorgaEditora Record, 616 pg., R$ 59,00

MURRAY TEIGH BLOOM. Trad. SERGIO LOPES

Editora JORGE ZAHAR, 336 pág., R$ 49,00

HOMEM QUE ROUBOU PORTUGAL.

Sérgio CabralCia Editora Nacional, 254 pág., R$36,00

Eric Lax e Woody Allen. Trad. José Rubens Siqueira

Editora Cosac Naify, 512 pág., R$ 65,00

Fiona Monaghan, excêntrica executiva da alta costura, se

apaixona por John Ander-son, um publicitário char-

moso e conservador. Duas pessoas perfeitas uma

para a outra, mas de dois mundos drasticamente

diferentes.

Amigo pessoal de Nara Leão e reconhecido especialista em história da música popular brasileira, o

jornalista e escritor Sérgio Cabral compõe um relato

detalhado e vibrante da vida da cantora, voz

que não apenas esteve na linha de frente dos

principais momentos da moderna música bra-

sileira mas também se engajou como poucas

na política de seu tempo.

O biógrafo de Woody Allen, Eric Lax, reuniu 36 anos de

conversas com o cineasta para publicar esse livro. Aqui, Allen fala sobre a elaboração de roteiros,

formação de elenco, filmagem e, claro, dire-

ção. Além de saciar a curiosidade dos fãs de

Allen, que faz comentários por vezes hilariantes, o livro é de leitura

obrigatória para os cinéfilos.

Organizado cronologicamente, o livro narra a trajetória do

clube até os dias de hoje, revelando os craques que vestiram a sua camisa, os

jogos memoráveis, os cam-peonatos conquistados, a paixão da torcida. Inclui encarte com as emoções

da Série B!

Em 1924, Artur Virgilio Alves Reis, um comerciante português

falido, trama sozinho o maior golpe financeiro de todos os tempos. Em dois

anos, se tornaria o homem mais rico e poderoso de seu país. O que parecia

um plano com pouca eficácia de um homem

com muita imagina-ção, acabou causando

problemas macroeconômicos.

Jose SaramagoCompanhia das Letras, 264 pág., R$ 42,00

A Viagem do ElefanteO livro é uma idéia que Sara-

mago elaborava desde que, numa viagem a Salzbur-

go, na Áustria, entrou por acaso num restaurante

chamado ‘O Elefante’. A narrativa se baseia na

viagem de um elefante chamado Salomão, que no século XVI cruzou metade da

Europa, de Lisboa a Viena, por extravagâncias de um rei e

um arquiduque.

Corinthians – o time da fiel

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56 Panorama Dezembro 2008/ Janeiro 2009

assim como ela e as amiguinhas! – que correm, livres, pra todo lado. O que ela mais sonha é com o dia de sol em que, já do outro, ainda que não faça muito idéia do que isso signifique de verdade, possa conhecer e viver isso tudo.

Raissa, claro, é um nome inventado de uma pequena personagem pra lá de real – ela vive com a mãe numa cela do presídio feminino Madre Pelletier, em Porto Alegre. Ela nasceu e cresceu ali. Foi ali que deu os primeiros passinhos e aprendeu a falar. A história dela é pa-recida com as histórias de outras três dezenas de crianças, filhas das detentas que, em sua maioria, engravidaram lá mesmo, durante as visitas íntimas dos parceiros com quem continuaram a manter uma relação conjugal estável.

O vínculo mais forte dessas crianças com a vida lá fora se dá pelos livros. Enquanto ouvem as histórias narradas pelas mães, elas ficam a imaginar como deve ser aquele outro mundo tão perto e, ao mesmo tempo, tão distante. Vi-vem lá seu mundinho de faz-de-conta enquanto sonham uma liberdade que, em muitos casos, vai remetê-las para bem longe das mães – que estão presas por roubo, furto, estelionato ou envol-vimento com drogas, quase sempre por influência de seus homens.

Os livros chegam lá dentro pelas mãos benditas de estudantes de Le-tras e de Pedagogia da UniRitter, cen-tro universitário que criou e mantém o Projeto Liberdade pela Escrita. Duas horas por semana, esses jovens lêem crônicas, poemas e notícias de jornal. Ensinam às mulheres a arte da conta-ção de histórias e as estimulam a botar no papel, na forma de prosa ou verso, suas angústias, inquietudes e sonhos.

Uma delas, Fátima, escreveu:“Eu não sou presa/Estou presa/

Sou um poeta enclausurado...”.E a amiga Liz emendou:“Aqui/Não estamos presas/Mas,

livres para falar/E expressar nossos sentimentos.”

Outra delas, Juliana, aproveitou para colocar a correspondência com Deus em dia, enquanto Kelly faz uma profissão de fé e promete mudar de vida quando sair. Uma outra colega de cela descreve a insônia e as tristezas que a perseguem no meio da madruga-da fria enquanto as companheiras de infortúnio se deixam levar pelo sono.

Sejam elas filhas ou mães, meninas ou mulheres já calejadas pela vida, umas e outras vão buscar nas palavras e nos livros a sua razão de viver. Isso não é pouco.

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A pequena Raíssa tem três anos. Nunca saiu dali. As janelas estão fecha-das com grossas grades de ferro chum-badas naquelas paredes incomuns. A porta que dá para o galpão do andar de baixo permanece o tempo todo trancada e tampouco dá esperanças. A luz é es-cassa. Como as brincadeiras e a liberda-de de movimentos. Mas há um punhado de outras crianças como ela, e alguns be-bês, que choram no meio da noite.

A menina jamais esteve lá fora. Não viu pessoas andando nas ruas. Não co-nhece praças ou parques. O zoológico com seus bichos ou o rio imenso que banha a cidade não soam familiares. Nunca brincou de correr bestamente, até a língua ficar de fora e o coração sal-tar pela boca, como faz a maioria das crianças. É que no caminho dela e dos demais, há uma pedra, aparentemente intransponível e a obstar a passagem para o lado de lá.

Raissa, no entanto, já esteve em muitos lugares. Conheceu reis, prínci-pes, dragões, bruxas e fadas boas. Foi a castelos, visitou reinos encantados e se perdeu muitas vezes no meio de flores-tas. Também descobriu que no mundo tem gente boa e gente má.

O que mais gosta mesmo é ouvir fa-lar de outras crianças – de carne e osso,

Galeno Amorimwww.blogdogaleno.com.br

Gente que lê

Uma vida lá fora

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ImagemPanorâmica

Foto: Fanca CortezPraia Grande, Ubatuba - SP

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