Revista Pirâmide N3 1965
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clarissa-coimbra -
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P A P L~A R 1 ~ A M B A R ~ MI, ~ ~ .. PONTA .PELGADA. ---.; );;: .. DE N: 1 . ' ll ~ ~ ia a n t o 1 o FEVERE I RO
no t e ia Os t~:x'tos apresemad.qs, So em
cnaimia rlgorosarneme inata. um mai.o.r convflfio com o poeta.
x Trata-i;e de 11m documento da maio; graVil1'iite, du1t.a lnae.s:s'i.v-el figura 'de .heri, Jioje 1;0.lo~do: na pmneira fHa da poesia europd.a. A.ntnfo Maria Lisboa tnorre.u em :r:953, e comea agora viver.
A ma.for u. men(Jr vi1i Ele-. con-j.unto, a rirar deste primeiro nmero, .u.mli exigenci cumprida em rela-Qo ao p l;i.l ieo. O mesn1Q crit(!-rio ser arlp~RdO" em nl,m.e:tos SQbs,~guenfes, aos quais se JUDtar ~ indispens:, v-d eolabopao dos mais j0ven.s va-i~r:S .da 'ossa l!r lca.
PIRMI D E til O fi''lllll1\'e.nl t pela prl
mrir.,. '
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mrlo. cesariny v:as~onr;e/os
MENSA.GEM E ILUSO DO ACONTEC IMnNT O SUR_REAL LS T A
Ec:td- s-r sutrealista sem se ter Hdo B ret0i . Pod-se 1er 'Breton e ,n:o se. ser ~uriealist~. Pode-se1ser s~ea1i:~t.a ~- n,ao se s~r, real:me~1e,
m,~i'~ n~ua . J?de-se no ser surre~l:sta e p r e;st?if-se icom js~o e:i.."t'elen':t;e ~rvi~ a t~s '.o s.'.r.t'a.Is:m.0, ern sp'etial. Isto' diz._:se porm fas, tref !s, l c0nhimento, q;Ue :n.0 das do sber 1 e en no sei s anfa da.ra, il-ll_S
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cruel no poofa merecer mais valor""' citadino que o s.
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pedra oom
UM ONTEM No alto das 11vens tQd:o o dio inconceb\wel toda -a mgua molhada todo o terror 1iquefeito sobreveio da espuma rebentou do nada
como-
.nma pulga um elefante
ou uma esfin ge
No alto eram sobretudo bot.es caluniados
d voz doce nas gargan_tas secas e olhares de monstros
sobre os abismos falsos
Tudo tudo tudo
veio: da cristandade nas cnes da manteiga no disttrsar dos queijos na ditadura das pomadas
sem mas
alegria sem
desejo e sem
ambies E c;.om oS ossos esmurrados e as costas dobradas e os gestos feehados -chave chuva
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CO
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na cha-min do luar " e nas pulgas dos padres com elctricos de recordaes e loucuras
Nasceram do medo de dizer merda e ela ang'sti:a de abrir os sexos om necessidade saprfita de bigodes e pasmaceira horripilante de mitras no aconchego espiritual das lagartas que sobem 11os candeeirns da vida alargando o cs das -calas beliscando o c das mulas
se abrir no crebro uma legio deletr1a e rasgar-se na p:e-1e uma comicho neessria e levantar-se nas unhas um medo ts-ts
SO altares
erguidos no -rent-0 dos ' 'entos erguidt:ls cbU-v e ch._va erguida _ao }1,\ar
at
-com murros soprados nos c.~ebros luzidos da Esc:ada que fala na Estrela dos c~trios por tudo e por nda
co,m Jlio ~bes:a com Antnio ilharga e meninos ao co1o
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,
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FIZERAM
Cara binas das chaves com olhos e um trono dos peitos abstratos que habittn os gelos das furnas malss
As garrafas entoam plcidamente
NINGU:aM CONHECE
.desconhecido
NO PASSOU POR AQUI ERA UM: QUE LEVAVA UMA TROUXA?
Talvez o 1tim0 sor.lilgio das m'os aguadas do ptimeiro canto das gnas retm~nascidas
talvez o a:nioroso ornear das bestas talvez o sdico hemoptisar dos presuntos na febre do cio
Eles levantam o zelo nas nvens o cime nas crateras e caminhm passo a passo com a
cautela dos missionrios e a histria gigante das freiras e o :roncar habilidoso aos centauros
cotn Prometec n"O.S intestinos e 0s ventres atafulhados de r.osas, botes e cravos pr~gos de estufa e ba~deiras
-desfraldadas unes frescos oom ~zinhos grelhadt'>fl unh~s sertilha
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antonin artaud A
O TEATRO E A CI ENCIA (Tr(l.d. de Ernesto Sa,m.pa.ie)
O teatro verdadeiro aparec.eli,me sempre como o exeredb dum acto perigoso e trrivel, onde se elimi;nam ta,11Jo a ideia de teatt0 e de espectculo comQ a de toda a cincia, de toda a religio e de toda a arte.
O ::i.cto -de que falo visa verdadeir~ transformao orgnica e fsica do -corp9 hUina110.
Porqu? Porque o teatro no essa -pa.rad:i. cnica onde se desen-volve vir-
tualmente e simblicamente um mito mas o cadinho de fogo e de carne verdadeira onde anato
micamente, -por espezitthament0 :ele oss0s, de_m~mbro'$ e de slabas, se refaze.In ~s corpos,
e se apresenta fisicamente e ao natural o acto mtico de fazer um corpo.
Se hefilme compreendem, a ~"ero um acto de gnese verdadeira que toda a gente extravagante e humorstica considerar no p1ano da vida real.
Porqu~ hoje ningum pode crer que um corpo possa mud_ar seno na morte e pelo tempo.
Ora eu repito que a.morte um estado inventa.do que vive apenas para que todos os reles feiticeiros; os
gurus do nada a quem aproveita, l.ele h a1~ns sculo:; se alimentem e dele vivam em estad0 de Batde. Fora disso o corpo humano imortal. uma velha histria que preciso . aclarar atascando~nos at
ao pescoo. O corp9 humano no morre seno porque se tm esquecido de
o transformar e de o mudar . .Fora disso no morre, no se desfiz em poeira, no passa pelo
tmulo. ~l ignqpil facilidade do nada que a religio, a socieda_e.e a
cincia. tm obtido da cnsdncia humana o oonsenti me1Jt0 de aban:d-o.nat o seu corpo,
e lhe tm feito crer que o corpo humano perec.vel e destinado ao cabo d poue tempo a ir-se embora.
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No, 0 crpo humano jmpereclvel e imortal e mutvel, mutvel Bsicameiite e materialmente, anatmicamente e manifestamente, mutvel visivelmente e aqui mesmo bastando_ que
queiram dar-se a pena material de o fazr mudar. Ontrnra existia uma operao de ordem menos mgica que cien-
tfica e que .o teatr-0 se tem limitado a itnta:r, pela qual o corpo humano,
logo que .reeonhecido mau passava, tr-ansprtado,
fisicamente e materialnrnnte,
objeeti-:a.mente e como q.ue molecularmente de corpo para corpo,
dum estad passado e perdido de co.rpo a um estado reforado e
exaltado do (:.Qi:po. -
E para isso bastava-lhe dirigir-s~ a todas as foras dr-amfltica,.s, recalcadas e pMdidas no.1corpo humano.
Trata:va~se duma rev(!)}u0 e n'0 h ningum que n~ apele para uma revoluq0: necessria,
mas .no sei se muitos tero pensado que uma tal revo-luo no ser verdadeira enguanto no .fur fisicamente e materialmente completa,
enqna11fo no se voltar para o homem, para o prprio co:r.po d-0 homem
que mude. e no se decidir enfim a pedir-lhe
Ora corpo tornou-se sujo e mau. porque vivemos num mundo sujo e mau que n quer que o Corpp, humano seja mudado,
e que S'oube dispor m todas as partes,
nos pontos necessrios, .. o se\!. oculto e tenebroso band de for-
ados a impedir que o mudem.
assim que este mundo no. .ma.u smente de fachada, .mas -o porque subterrneamente e ocultamente cultiva e mantm o mal que lhe deu o ser e: nos fez a todos nascer d0 mau esprito e a meio qp mau esprito.
N11o unicamente por 11.ue 0S costumes es;tejam putrefactos, mas porque a atmosfera em que vinmos est materialmente e Hsi~
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~e. ~ de alucina~o on 4e delicio qu_ese tr~ta, :n-'Ci>, . des:se acot0-velament0 lals.i~icado e verjficadlil da JI}.undo :a:l;>Qnrin.vel 4os espritos eujas partes m1serveis .todo, o impeP.ec1v~l :aetor, tode 0 iucli-ad(i) poeta do. sqro ~n;titr sempre. a enipestaf s seus t:fi:aii;g -puras -laus.
E l;fitf>. h~"V!?r tev,lo pQ1.tiJea ou mota,l J?.OSs:vi 'enqu;ant com9, da.s guerras, '5gur0s de. que a ordepi a,:[email protected] so"l)re a EJ.P,al esto f.nda'ls, tIIt , 'mst.ni:ia como a du'1'a9'0 aetllill no po:d~ 'st mtt.~ huma,R ,s~lto ~ fr~.tur.as d~ ]orn~ e~ .grit.b. a g'l"ifo tre~s . bruscas, ahettra'S*e ian.s do inteiue Gorpo das :oisas pel~
q,if~j:$ ~ctem. ser subi~ameil1te eveca:da.S,, e _ptlem esetar ou fiq1frozer jlm 'metnbro. :a,s.:Sim C:91:ll!i> tlJ'na ctr~re qu.e, pt(d-g$Mlro::;; :~ttar e e-if'izalF na 1110ntanQ.a da sU'a flo'li'esia. . . () erpo _tem .um. _sopro. e um gfit.o: B~los, ~uai?~; __ !}G>E) ~s:f!nds eeomp0.st-0s do,. or~1~ni0> s~ poae a~a:n:ar., l:.ran'Sp~rt:ntlo .. se vi.sJ:ve.1-
tfi~nte _at ao;:; a}tos'c'p,4i;tio> r~5ifa15ps [email protected] CQrj!tl !.SU,j:!~1'ot esffta. um~ t>peliaQ lrfo n'a_s p:ro.fund;e$l'.I dQ g;rit:p; '.Orgbio e d'o
so,er9 1auga:ps. . passam faos 's :'stados do Su.gue e ds hitmere&\' po's.svis~,
visvel 1:iom o-s ihoosttos 'fa1sos do psic;iuis-mo,
dt ;fi'sp.il:'il,iialibdt::, e .a seM,il!iilidade.
Ifo.uve :p~olos iineQntes;t,fiveis ela hl,stria 4-o temRQ nos qui;is essa .ope.ra~e fiSi0l&giea te:v:e lq.gar e 0nde a m vontade humana nunca ,cl>ilsegifi jiilitat as, slrasrfo:t.as~e sdltltf :como h6je os '.Seus monstfos S'an0s d-a ~opnla,o. -
Se q.u~ntQ a:. certQ:; p-ont9s e n-ru;,~ eer-tl:s, i:?as a ~li
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E que. de h sculos at agora foi abandonada uma certa opera-o de transmuta:o fisiolgica
e de verdadeira metamorfose orgnica. do corpo humano,
a qual pela sua atrocidade, .sua ferocidade material
e sua amplido lana na sombra duma morna noite psquica
lgicos ou _d.ialtiros do co:i,-ao humano. todos os dramas psicol6gieos,
Quro cl.izr que o corpo detm s0ptos de cuja palpitante pr~so,
e que o sopro detm corpos
a espantosa compresso atmosfrica tornou vos, quando a-p-arecm,
todos os est ads pa'Ssionais ou psquico.? que a conscincia pod evecar.
H um grau de tenso, de esm('\gamento, de opaca espessura, de recakamento Ultra-comprimido dum cqfj:>o,
que ultrapas!:fa de 1nge toda a filosofia, toda a dialtica, toda a m,sica, todo o fsico,
toda a poesia, toda a .magia.
No ser hoje que vos mostrarei e que, para comear a trans-parecer, pede muitas horas de exerccis progressivos,
seria preciSQ, alis, espao e ar, -
relhagem de que< no disponho. so}?r~Ji,do seria necessria uma ap:a-
Mas omeis certamente i1os text's que vo ser ditos "indos d'a_queles que 0s dizem
gritos e lans dum sthteridde que est na via dessa revoluo fisiolgica sem a qual nada pode ser mudado.
Antonln Artaud
o
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raul leal
PSAUME Oh,- D.ieu de Pu.issance, Animateur essentiel De Mon tre profond, Substance Pure De 1' 'Jt)e Exalte Po11r illi transmetfre '.En Dlire Ta Grandeur Sublim~e Arracbe enfi:n De tonte Ma vie, Prdue dans la Dttesse, La marque infamante De la vilenie Afin que Je puisse v.ivr.e Seulement pour Toi En ext.ases vibrantes De pur :A.u-Del ... Je suis forc .Pa:r. l'existeMe q\ie J~ ,j:raiV"e, :Et pour ce q11'il y a e .decrllu bans Mon me perdhe, :A M'envelopper de t.nebres, De nuages pais -TJanation ftide D'un marais immense -Qui couvrent affreusement La Subl.ime Vision De la Splendeur Sinistre De la Mort-Dieu, E:nfonce pour jamais Dans les profondeurs extr-mes De l 'Btre meurtri De 1 t:;tre lu:qnettt Je voulais '!iv.re Seulcment ponr 'foi, Oh, Esprit Divin, Mou "Bissence mystlque, lnon,der toute Ma vie De Ton brutal fracas travers le tumulte saer De Ma Vision Exlatiqu~ Par Moi eternise Dans l 'ex.istence que. Je traine, ~faudite et sublime, De Propbte-Roi... Mais, hlas, .Les 11u~es de mati.t"e' Ne :(l![e lpiesent lamais, La vie M'obli~e A une action mfamanti;,
~loig:ne de l 'Esprit, loig:ne de Dieu,
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R11.11/ Leal (Hen nch )
Pour meurtrir Mon me presgue Divine ;Mais dont les impurets -M'ari:achell,t le povoir magique De vaincr- l es lifictllt& De la terrestre existenc.e Seulement Par la force :indomptable De l'Espxjt Di-vin Q.ue nous portous m ntius Mais affaibli -Par les vifs elments De notre n.ature pourrie, T.out imprgne
De boue ... C'est case De ces impurets infmes Que Je ne ~ttx pas vivre Seulement l'Au-Del Et que Je suis oolig tre enfin
.ne la vie entiere Un vilain fort ... Et de la matrialit ignoOle Pe Mon existence terre5tre, Po11ue par le. travai! Pour la rehrd1e de ]ler, l?ar tau.te une action affre\ise ~loigne de Dieu, S' imprgn.e ausai Tout Mon ~sprit Qui de cet~e forme 'ublie presque Le Royautne sacr De la Divine Mort .. . Des preclipations impmes, lvfesquines, Yiles,. _ E.tfaendte:s d!ans une ~i'e de Ter.re Qu'e la cltair Me force v.ivre, hcrchent obscursir enfin Toute la hauteur De Mon Esp,rit, Alfaiblissnt Mes e:&,tases
.Pour loi~ei profOJ1demebi Pour troubler la Vision Sublime De Dieu Et de l'Infutl ...
t~est Satan Qui, de l ' Au-Del, M'arrache Ca Grandeur Suprme
.O~ lV!on tr.e dchu, b e Moti fre vilain .. . !
Octobre - 1928 Do liYTO cMartyr dl! l'Oreulte, tercerro da ~~rle d,e Dernier Te~tament
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antnio maria lisboa
AVISO A TEMPO POR CAUSA DO TEMPO
Declara-se para que se saiba:
x. que nQ apoiamos qualquer partldu, grupo, directriz politi.ca ou ideologia e que na sua frente apenas nos resta tomar conhecimento: algumas vezes achar bom outras Mblir mau.. Quanto nossa prpria doutrina, os outros ho-de fa,lar.
2.0 que no simpatizando com q~lquer organizao poliial eu mi-litar achamo-las, no entanto, fruto e lemento exacto e necessrio da sociedade- com quem no simpatizamos igualmente.
3. que: s~no nf'>s individuo$ livr-es de .compromissos poltie0s perma-nooeremes em qualquer local com o t.smo -vontade. Seremos ns os melhores cofres-fortes dos segtde do Estado: ignoramo-los,
4. que sendo individualidades e. portanto abjeccioniQ,ltnente aesli-gados das norma~ convencionais, temos o m."rimo regosijo em ver essas mesmas normas nos compnentes da sociedade. Assim delas daremos per vezes testemunlio e mesmo ensino.
5.0 que no somos assim contra a ordem, o trabalho, o progresso, a famlia, patria, o conhecimento. estbelecido (Ileligioso, filastifico, 1oienttfico) ma.s que na e pela Liber.dade, Amor e Co.nheeimen.to que lhes :pa:e,sie preferimos este&. 6. que a ettiea a forma da nessa i>ermannda.
Acreditamos que nestes seis j)Ontos fundmentais vo os elemntos necessrios para que o Estado, os Govet-ttos1 'a Polcia e a Sociedade nos respeitem; IiQs .h muito que nos limitamos nele!> e neles temos conhecido a maior liberdade. No se tm domes.mo modo limitado o Estado, a Poi-cfa e a Sociedade e muito menos o seu ltimo reduto: a faniJia. .A des permaneceremos fiis, pois todo o noss.o pr.prio destino e no s parte dele a estes seis pontos andam lig.a
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Juiz pachec o
SURREALISMO E STIRA (DE ANDRE TOLENTINJ A NICOLAU BRETON)
fovecar o nome de Toleutino a prop6sito da obra dum poeta surrea-lista, mes.mo portugus, . ousadia que s o mtodo comparativo-literrio do sr. dr. Joo Gaspar $imes poderia prop0r.
E no apenas pelo fa~to de procurar avoettgbs oitoceutis~al? para um movimento bem localizado e bem caractedstico deste sculo o crtico se arrisca a perder o p na poeira dos tempos e, trambolhando de pota para poca como O Vagabmulo dos SonJ1os, cair nalgum saboroso exemplar das c.migs de escarnho ou .maldizer, tal?lbm elas (e por que no?!) surrealisfas ... Mas, prinipalmente) p0rque em muito pequena parte esse argumentn de autoridade, chamemos-lhe assim, o favorece tia: sua miss0 de julgr a obra e de esclarecer o pblico.
Procmando demonstrar a sua compreenso (num esforo que se reconhece notrio) duma coisa nova, no podem va1er ao crtico as com-paraes forjadas, as aproximas marginais de acontecimeuto.s to remo-tamente' afastados, no tempo como no signifi~ado, tais as stiras de Nicolau To'leutino e certos asp~ct0s e personalidades da nossa poesia contempo-1itea, que s,e diz surrealista , q_ue parece sttr:realista o qu~ c5 , de .facto, por um fen6meno de simpatia e de idetttida:de de situe.es de revolta, que hoje so aqui to naturais como o er:am em Frana h trinta anos,
Se o crtjco estrem.eee per-ante a novidade, que pressente vlida, mas cuja tota1 significao humanamente se lhe escapa, (a e1e, que teve outra
form~o), o que dever fazer, digam9-l sem pretens.es doutorais, abanl-Ofr-se ao seu instinto, ignorar os resduos do passadc:i, apurar o faro e pt;~dis~or,se a ou-rir ~ss:a voz esttanha que pela primeira vez se lhe
dep~r, n:v:re de prejnizos e de concluses apressadas. Lev'-l .. famte do espelho a.comodatcio do pa:ssado, prova ae p0a vontade, q;u, '~agradece, mas a que ser de preferir a incompreenso .cerrada, a repulsa violenta que marquem limites, definam posies e esclaream os verdadeiros valo-res com que cada um joga. e, no fundo, estima como setrs. 'Tem Joo Gaspar Simes tentado captar o mistri. da poesia s'!trrea.Ii$!a. Diz-lo mal informado das fontes estrangeiras .d~ssa corrente uma afirmao gr~tultl3, , , ainda que gostssemos que ele disse1tasse com Jil'a.s vagar das fl'gur-as mximas do movimente!> ~um B:reton, uni E luard, um DesllOS, um Csah-e) e no per.desse tempo ebm e_pgonos nacionais duma meno-ridade evidente. Mas apesar de todas as suas lacunas, como no louvar os dons ele simpatia e de liberdade de esprito, que o impelem para zonas
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t'o ru::dcmtes e perigosas para iirtl P"n-sh'cista ferreiho., isto , c0nvicto, cpe,rente e miJ.itante? A,:4ui t> t~qs. de sa:L\,ditr c~m ca.sp nl!>t~el .at ao presenl:\'! nic~. ., falando j GU~a lin~em, havemqs d~ ~n:q1!a.dr~r esta ~i;: afitude swi~g:ene'i>is n'Qlll f>lpo diferente ~ - que est cer,t~ c.-0m0. v.erems ..
N:-'Q so J?,ara ~g;0ra _s m0ti:.y~s pQrque mio f'i4 11uJJl a um sttrreali.sta ser apodado de aprioo.
:Andr Breton agitaria a su~ bela cabelira a tal defini:9'.o ('ele tem uu'tra'S)., :ti'las iSso., o ~ti.' menf>s m:tv~rta. Est.m.s e:m Lisbd.a, sephere.s,
~t L1sho qe J3r~.t~il: talv~ lP.cal&e nas fllar.es, talve~ n Br""'~l... Ne tem ~qui Q lqg-r Q .distingue~.
'~ t~as. -as :re.ser:vas. qu~ ~e lh.e aeva~ o~j'.eetar (aeix11,rems issQ a ceifo investiga-dor polemicante, de men:ta1itlade seminari'~ta'), JilGde-se f~lPJ:' de .stira em oSiJrreal'ismo. ,E, d Tolentme, tamM'JJL, ca'se. na haj n;i~o .mell{gr e~em'j)J?.. E de J l:liH[lJ;ei:ro. ~ Q.e tfqP+~ :Leal. E d~ Jos Gemes Ferrcir-a. E de muit9s ~u..tros:} que ng.e eultivando a flaut:;i. trmu.ru do bucolismo e do pii;ismo sentimen.tal, elenientos mlsH'.f::adore:; com qu~
. n:. qurefuos ser mais vezes ftg~ifados:, xeagem forlosameife (c'mo petajl., tl~xo est}, Cf>P.tr~ os. compx:;tnis.sqs do {~pq_, ttrdQl'! os cQtnpw-p:s,sp~ Sailiic~s, os surreHstas? Ta"1vez_, mfJ! de:p_ts. _ O. lcit9r,. 9\!e 'n.o ~ nt~i:es~2' 1~9~ i~~o.; P~'- ~l~! .
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petrf/& 1vt:tt;fvitch zagor.iansky
AL EM 91.11~- MiU"fa lvanovna Zag~rians1c't; i':rm QUda.s :g-.f!. esti:~atrheza ...
E 0s ~eus liira90s, d_e tbl'.-ds, erm dQt ...
... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... - ................. .
V~gnei-me td6 sobre ~la: ... 1A lior:a e'sma~ceu, .. Q a,r. t:.0:rn~u-s~ ~~is i~~itl. -HQtive utn ~.q_rt:ejo d~ est;Fela~ ...
.. :
.. .......... -.
Em :Jlaee ~aq.~la: .;g:J:~tia, .llue fumiliuya t,t:> llett0, q~e me ia s;gra:t en.fim1 Qs .meti~ l1i'ds_ ~ .esfo:r:o e a, mrnlfaJma um iseo. de ~ut-0 !:., .
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A louca acerava as pontas dos seios, 1Jara os tornar mais a{'res, para me ferir meUtr.
E os meus lbios d'nsia, sofrim j d saudade dos beijos que lhe iam dar ...
... ... ... ... .. . .. . ... ... ... ... ... ... ... ... .. . ... ... ... ... ... ... ... ...
Ao longe se~pre as casas branca ...
3
... E foi en'fo guando eu j me sen:ti ~ntrelaado d'oro, s agr.a.d d'alm-cor, qilaJ.1do era tudo enicanto em laivos de infinito - que o instante abateu e me desencantei ...
Sobre o seu corpo de equilbrio - uivQs d'horror, uivos d '..horror ! cabriolante se elanava teoria arrepiad9ra -Gumes brufis, turbilhes silvantes, linhas quebrada:> destruidoras - tudo sulcavam ! tudo sugavam ! ... A limpidez 1 A limpide~ ! ...
- Pavor sem nome!. .. E uma g'..i:ola picaresca de losangos veio descendo gutUFaJmente
a desnudar-lhe, a carne nua - de toaa . cor, de todo o som, de todo o aroma ; encer~a-:uc10-a1 a girar - em val~ dela nu;ma vertig~m mon:s-trtiosa de 1e:rculos .enclavinhados, impossiveis ! .. .
Toda a beleza em estilhaos gritava-me cjue lha salvasse .. . E o meu olhar - que saudade! - no lhe podia valer .. .
As t'asas brana!S no perdoam ! As casas brancas no perdoam ! ...
4 Triste .d.~ mim, sem dor, a oscilar, ~da todo vibra1Jte ... Queria mentir a mim mesmo, queria voltar - mas tudt;> m~. ~es
valava .. , A fora de iluso, volvi-me uma grantle mentira: fui prncipe sem
rei, iluminando a lu2 falsa - a luz que n(:) soava, e era oca, dser:ta e mdia ...
- Para qu? Para qu ? Breve o meu corpo tombava em terra firme, anoitecido em alma -
e tudo rua ao meu redor: asas de .ins(mia~ galees dourados, torres de prata, zimbri-0s d'oiro ... Tudo rua __:__ mas tudo rua em sortilgio noutras runas: 0 ouro, em seios perdidos; a prata, em glria aban-dona-da ...
S as J,"1'1,Jas df.IS casas brarrcas eram, r ilnas de casas brancas ! ... Paris - Janeiro de 1913
Mrio de S-Cairneir.o
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11)\'ill Compo110 c. fmpr~o " Tip. L eandro, l.d11.. Tt1.v. do ~or0Iihll,28a 30..A
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